Tecnologia educacional sobre cuidados no pré-natal: uma contribuição para a

enfermagem na saúde pública

Resumo

Objetivos: desenvolver uma tecnologia educacional sobre cuidados no pré-natal. Método:

estudo metodológico desenvolvido em três etapas: identificação do conteúdo do almanaque; processo

de elaboração do almanaque e avaliação da tecnologia com o público alvo. O conteúdo do almanaque

foi fundamentado no conhecimento prévio das gestantes, através de entrevistas não diretivas em

grupos de educação em saúde, dos quais participaram 34 gestantes. Resultados: a pesquisa deu

origem a uma tecnologia educacional impressa intitulada Almanaque da gestante, que foi avaliado

por 41 gestantes, quanto aos critérios: objetivos, organização, estilo da escrita, aparência e motivação.

A tecnologia foi considerada validada, com mais de 80% de concordância em todos os itens de

avaliação. Considerações finais: o público avaliou a tecnologia como atrativa, compreensiva e capaz

de motivar boas práticas na gestação, contribuindo para as práticas de enfermagem na saúde pública

e aprimorando o conhecimento das gestantes acerca dos cuidados no pré-natal.

Descritores: Gravidez; Tecnologia Educacional; Educação em Saúde; Cuidado Pré-natal;

Enfermagem.

Descriptors: Pregnancy; Educational Technology; Helph Education; Prenatal care; Nursing

Descriptores: Embarazo; Tecnología Educacional; Educación en Salud; Atención Prenatal;

Enfermería

Introdução

A gravidez é um evento singular, pois, é marcada por alterações psicológicas, hormonais e

físicas, que preparam o organismo materno para o desenvolvimento de um novo ser. Essas

modificações complexas, que são experiências únicas entre as mulheres, são recebidas de formas

diferentes por cada uma delas, podendo acarretar medos, dúvidas, angústias ou até mesmo a

curiosidade de saber o que está acontecendo com seu corpo(1).

Como um fenômeno fisiológico, a gravidez, deve ser vista como parte de uma experiência de

vida saudável. Assim, a assistência integral à saúde da mulher no pré-natal deve ser organizada para

atender às reais necessidades das gestantes, mediante fortalecimento dos sistemas de saúde. O pré-

natal tem como objetivo, assegurar o nascimento do recém-nascido saudável, sem impacto para a

saúde materna, através do acompanhamento da gestação. Uma atenção pré-natal de qualidade é capaz

de diminuir a morbidade e a mortalidade materno-infantil. Para isso, é indispensável a garantia de

recursos mínimos, como número de consultas recomendadas, captação precoce das gestantes,

abordagem psicossocial, atividades educativas e preventivas e conhecimentos técnico-científicos

adequados(2).

Ações de educação em saúde podem ser um diferencial para a saúde das gestantes e não

implicam custos para o SUS, sendo unicamente dependentes das atitudes dos profissionais. A falta

de orientação durante as consultas, atrelada à má condução dos cuidados essenciais, contribuem

negativamente na qualidade do pré-natal. Portanto, é imprescindível que os profissionais estejam

sempre atentos e sensíveis aos questionamentos das gestantes. Esses aconselhamentos se tornam mais

eficazes quando ocorre o intercâmbio de experiências entre profissionais e gestantes, que pode ser

promovido de forma individual ou através de grupos educativos (3-4).

Para facilitar a compreensão das gestantes e tornar mais dinâmica e interativa a atuação do

Enfermeiro, como mediador de atividades educativas, a criação de tecnologias educacionais tem sido

tema de diversos trabalhos e publicações na área de Enfermagem. Como exemplo dessas tecnologias

temos a produção de cartilhas, álbum seriados, roteiro de desenho animado, almanaques, histórias em

quadrinho, livretos, entre outros. A função da tecnologia é intensificar as habilidades do indivíduo e

auxiliar na aquisição de conhecimento, através da busca de novas informações que levem a

transformação de si mesmo(5-8).

Diante da temática, despertou-me o interesse em desenvolver uma tecnologia educativa

criativa, capaz de trazer informações de forma simples e promover a ludicidade. A tecnologia em

forma de almanaque foi escolhida por representar um gênero popular de transmissão do

conhecimento, através do diálogo narrativo, que objetiva conversar com o leitor de forma informal,

mesclando variações do conhecimento e discurso, para aproximar o saber cientifico do conhecimento

popular(9).

Nesse sentido, metodologias participativas são consideradas essenciais para a correspondência

entre as necessidades das gestantes e a eficácia do material educativo. Logo, o presente estudo teve

como objetivo desenvolver uma tecnologia educacional sobre cuidados no pré-natal.

Método

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ciências da

Saúde (CCS), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), nº 2.404.583, conforme Resolução

nº 466/2012.

Tipo de estudo

Trata-se de estudo metodológico dividido em três etapas: identificação do conteúdo do

almanaque; processo de elaboração do almanaque e avaliação da tecnologia com o público alvo.

Cenário e População do estudo

A pesquisa teve como cenário de estudo uma unidade de Atenção Primária a Saúde. Os

sujeitos da pesquisa foram gestantes que realizavam o pré-natal nesta unidade, escolhidas por

conveniência, conforme comparecimento das mesmas no local para consulta de pré-natal ou

participação em atividades educativas.

Procedimentos metodológicos

A primeira etapa, a identificação do conteúdo do almanaque, foi realizada por meio da

abordagem às gestantes em grupos de educação em saúde. Utilizou-se como técnica da atividade

grupal, um processo denominado entrevista não diretiva. Nessa técnica, o pesquisador não formula

perguntas, apenas sugere temas que direcionem a reflexão do entrevistado sobre o tema de estudo

através de suas experiências.

Foram escolhidos três temas para discussão nos grupos: a gravidez; o pré-natal; e o parto. As

gestantes foram colocadas em cadeiras em semicírculo, de frente para um quadro, utilizado para afixar

os temas, um de cada vez. As gestantes eram encorajadas a discorrer livremente sobre cada tema e

somente após esgotamento do assunto, se passava para o próximo.

Os grupos ocorreram em encontros semanais, entre os meses de março e maio de 2018. Ao

final desse período, foram realizados cinco grupos educativos com a participação de um total de 34

gestantes e duração média de 90 minutos cada encontro. Os grupos foram gravados por meio de

aparelho mp3 e a coleta de dados encerrou-se após saturação. Quanto à análise dos dados, as

gravações foram transcritas e lidas exaustivamente e submetidas à análise de conteúdo categorial

segundo Bardin(10).

Após a etapa de coleta e análise dos dados, foi utilizado como material de apoio, na

fundamentação científica do conteúdo, manuais do Ministério da Saúde, cartilhas de gestantes, artigos

científicos e livros de enfermagem obstétrica. Foi realizado ainda, um levantamento, em diferentes

revistinhas passatempo e almanaques já existentes, acerca das possibilidades de jogos educativos a

serem construídos, como caça-palavras, criptograma, dominox, caça-resposta, sete erros, entre outros.

A etapa de elaboração do material educativo foi realizada pela pesquisadora a partir de figuras

da internet, que pudessem representar a ideia inicial do que seria o almanaque. O conteúdo teórico

foi construído com base nos relatos das gestantes sobre cuidados no pré-natal e suas experiências

vivenciadas nesse período.

Por último, o conteúdo do modelo piloto foi adequado e corrigido por uma professora doutora

do Departamento de Línguas e Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da

Universidade Federal do Espírito Santo. A ilustração e diagramação da tecnologia educativa contou

com a colaboração da equipe de design do LOOP (Laboratório e Observatório de Ontologias

Projectuais) do Curso de Graduação em Design que é parceiro do CuidarTech: Laboratório de

Tecnologias em Saúde, ambos da Universidade Federal do Espírito Santo.

Para a etapa de avaliação da tecnologia com o público alvo, as gestantes foram convidadas a

participar do estudo e agendadas para um grupo, na própria unidade de saúde. Foram agendados seis

encontros, com duração média de 90 minutos. A cada encontro, as gestantes eram acolhidas e

convidadas a realizar a leitura conjunta do material, analisando as figuras e textos. Diante da presença

dos jogos, era dado um tempo as gestantes para sua realização antes do seguimento da leitura. Foi

orientado que, diante de dúvidas quanto ao vocabulário e conteúdo do texto, as gestantes

interrompessem o pesquisador para perguntas e esclarecimentos.

Ao termino de cada grupo, as gestantes eram convidadas a responder o instrumento de

avaliação e discursar brevemente sobre sua opinião em relação ao Almanaque. Foi aplicado um

formulário de avaliação de tecnologias educativas que aborda os itens: objetivos, organização, estilo

da escrita, aparência e motivação do material educativo, sendo as respostas assinaladas com um X

em uma das opções: 1- concordo, 2-não concordo. Para validação do conteúdo, foi avaliada a

porcentagem de concordância entre as gestantes, considerados validados os itens com concordância

mínima de 80%(11).

Resultados

A pesquisa resultou na construção de um material impresso, com 40 páginas que contém

histórias em quadrinhos e jogos do tipo caça-palavras, caça-resposta, sete erros, dentre outros e tem

como intuído estimular o autocuidado das mulheres durante o pré-natal.

Para elaboração da tecnologia educativa, os personagens foram os integrantes da família Silva

e uma enfermeira, sendo eles: a gestante Ana, o marido Zeca, o filho Rafa, a bebê esperada Nina, a

vovó Lena, tia Tetê e a enfermeira Flora. Esses personagens fazem parte do laboratório de pesquisa

CuidarTech e também de outras histórias e tecnologias educativas criadas por estudantes pertencentes

ao grupo. Todos esses personagens estão ilustrados na Figura 1.

Figura 1: personagens do almanaque

Para ilustrar essa história e buscar uma aproximação do público com os personagens, foi feita

uma breve apresentação da família Silva nas primeiras páginas do almanaque. A capa do almanaque,

Figura 2, teve como intuito ser convidativa e atrativa para as mulheres que vivenciam a experiência

da gravidez. A escolha da capa foi baseada em imagens que despertassem a importância do apoio

familiar na gravidez, para que as gestantes não se sentissem sozinhas nesse momento.

Figura 2: capa do almanaque e apresentação dos personagens.

Ainda em relação à descoberta da gravidez, as gestantes destacaram alguns desconfortos

inerentes à experiência da gestação, como enjoo, dor abdominal e dor na mama. Dentre esses, o enjoo

foi o mais citado, estando presentes em 62 relatos, seguidos de dor na mama, com 33 relatos e 12

sobre dor abdominal. Essas experiências relacionadas a tais desconfortos foram apontadas nos

diálogos seguintes: Eu to enjoada, eu forço, mas a comida não fica, a única coisa que eu to conseguindo comer é goiaba verde com sal (G7). O meu é só à noite, de sete horas até a hora de dormir. Mas aí eu não consigo nem fazer comida. Não posso sentir o cheiro da comida (G28). Eu por ter muito seio tenho que ficar sempre de sutiã, porque se não pesa, dói (G8). Eu sinto uma dor assim no pé da barriga, dos outros eu não sentia (G15). Eu sinto cólica, muita cólica, parece assim que a menstruação vai descer, mas nunca desce (G13).

Outros desconfortos como vômitos, azia, dor nas costas, dor de cabeça, dor nas pernas também

foram relatados pelas gestantes. A Figura 3, mostra algumas páginas do almanaque que foram

elaboradas para explicar a normalidade desses sintomas no início da gravidez, através do jogo de

caça-palavras e o jogo de ligação, que objetiva corroborar no alívio dessas queixas.

Figura 3: páginas do almanaque com informações e jogos sobre as queixas das gestantes.

Ao abordar o tema pré-natal, as gestantes foram questionadas sobre quais cuidados julgavam

necessários para ter uma gravidez saudável. Os discursos das gestantes deram origem a nove

categorias diferentes, sendo elas: alimentação; higiene dos alimentos; prática de exercício;

hipertensão arterial e diabetes gestacional; infecções sexualmente transmissíveis (ISTs);

toxoplasmose; Dengue/Zika/Chikungunya; vacinação e uso de vitaminas (sulfato ferroso e ácido

fólico).

Dentre as categorias citadas, as mais significativas nos relatos das gestantes foram ISTs e

alimentação, sendo 76 relatos relacionados à primeira categoria e 44 à segunda. Quanto as falas sobre

alimentação, percebe-se a presença de alguns mitos, como o consumo de carne suína no pós-parto

cesárea, no entanto, o destaque para uma alimentação saudável, rica em verduras e legumes foi o que

prevaleceu nos discursos, como se pode ver a seguir: O refrigerante tô tirando, porque me dá azia, mas na gravidez da minha filha eu tomei e ela não teve cólica nenhuma, eles dizem que dá cólica. E assim, uma coisa que eu amo é carne de porco, durante a minha primeira gravidez eu não comi, aí quando passou o resguardo foi a primeira coisa que eu comi e a minha foi cesárea (G10). Tem que comer mais verdura, que nem eu adoro tomar uma cerveja, eu adoro beber, só que agora eu vou dar uma parada (G13). Comer de três em três horas (G12). Eu cortei fritura, refrigerante, cerveja, tudo isso (G17). Eu gosto muito de salada. Coloco limão, cebola, coentro junto com as verduras, como tudo e eu não engordo, eu não como nada pra engordar (G13).

Para orientação sobre a importância da alimentação saudável na gravidez foi criada a história

em que Ana e Zeca conversam sobre a alimentação saudável e Ana fala sobre o que aprendeu no

grupo de gestantes. O título, Descasque mais e desembale menos, tem o objetivo de conscientizar

sobre a importância de produtos frescos in natura em detrimento dos industrializados que contêm

sódio e conservantes. Além da história em quadrinhos, o tema alimentação também foi abordado em

um jogo de escolhas entre produtos saudáveis e não saudáveis para as gestantes, que também orienta

quanto ao consumo de álcool e outras drogas na gestação.

O segundo assunto mais abordado pelas gestantes, as ISTs, também contou com uma história

em quadrinhos em que Ana fala com Zeca sobre os riscos da sífilis e outras infecções para o feto e a

importância da prevenção. Devido à relevância do tema e ao elevado número de casos de sífilis

congênita nos últimos anos no Brasil e no mundo, uma parte significativa do “Almanaque da

Gestante” foi dedicada à abordagem sobre as infecções sexualmente transmissíveis, principalmente

para enfatizar a importância da abordagem sobre tais infecções com o parceiro, que esteve pouco

presente nas atividades educativas desenvolvidas na unidade de saúde. Além da história em

quadrinhos, foi criado um jogo de caça palavras sobre a sífilis e um jogo de ligação, em que as

gestantes precisam associar cada infecção aos respectivos sinais e sintomas.

Os demais temas também foram abordados no almanaque através de histórias em quadrinhos

cartão de vacinação e/ou jogos. Com o objetivo de conscientizar e trazer conhecimento para as

gestantes. Antes de cada joguinho tem um texto informativo sobre o assunto que está sendo abordado,

sendo a enfermeira Flora a protagonista da informação. Temos alguns exemplos na Figura 4.

O terceiro e último tema, o parto, deu origem a três categorias relacionadas aos sinais de parto,

que foram: dor/contração, o rompimento da bolsa e presença do tampão mucoso. A presença de

contrações foi o mais frequente, referenciado pela palavra dor, como mostram os relatos a seguir:

[...] eu senti muita dor. Eu tava em casa com minha mãe na hora (G13). O meu eu tava saindo do trabalho e aí comecei a sentir dor, aí eles queriam me levar e eu falei, não, que ele não vai nascer agora, aí no dia seguinte a dor continuou, aí eu fui [...] (G17).

Figura 4: páginas do almanaque com jogos sobre o cuidado pré-natal.

Para abordagem do tema parto, foi elaborada a história em quadrinhos que fala sobre os sinais

de parto referidos pelas gestantes e também sobre o meio de transporte para chegar a maternidade

mais próxima e arrumação da mala. Ao final, ainda para a abordagem sobre o parto o almanaque

contém um jogo de labirinto com um discurso inicial da enfermeira Flora sobre os sinais de parto e

uma página com um quadro de sugestões do que deve ser levado na mala do bebê e da gestante.

Buscou-se empregar textos curtos, de preferência semelhante à linguagem utilizada pelo

público durante os grupos. Optou-se pela linguagem dialógica, explorando a voz ativa, explorando a

enfermeira Flora como protagonista das informações educativas, no intuito de buscar uma

aproximação entre o profissional de saúde e o público, para promoção de vínculo, tornando a

aprendizagem mais simples e informal. As informações seguiram uma ordem cronológica, de acordo

com as transformações e necessidades de cada trimestre da gestação.

O gabarito com as respostas dos jogos foi colocado na última página do almanaque.

Avaliação do almanaque com o público alvo

Participaram da etapa de avaliação do Almanaque 41 gestantes, com idade entre 17 e 42 anos.

O instrumento de avaliação traçou o perfil das gestantes quanto à escolaridade, estado civil, idade,

período gestacional e número de filhos.

Das 41 gestantes que participaram desta etapa, seis tinham apenas ensino fundamental, oito

não completaram o ensino médio, 20 tinham ensino médio completo e oito tinham curso superior.

Em relação ao estado civil, nove gestantes eram solteiras, 24 casadas, duas divorciadas e sete tinham

união estável. Quanto ao número de filhos, 12 gestantes estavam grávidas do primeiro filho, 23

estavam na segunda gravidez, cinco na terceira e duas esperavam o quarto filho. A maioria das

gestantes, 35, estava no primeiro trimestre da gestação, o que se pode ser atribuído ao fato das

gestantes terem sido convidadas para a pesquisa durante a primeira consulta de pré-natal com o

Enfermeiro.

A Tabela 1 apresenta a distribuição das opiniões das gestantes em relação aos objetivos,

organização, estilo da escrita, aparência e motivação do Almanaque.

Tabela 1: Distribuição da concordância das gestantes em relação ao Almanaque. Serra, ES,

Brasil, 2019.

Variáveis Opção 1 Opção 2

n % n %

1. Objetivos

1.1 O Almanaque contém os cuidados necessários durante o pré-natal? 41 100 0 0

1.2 O almanaque esclarece suas dúvidas sobre os cuidados no pré-natal? 39 95,1 2 4,9

1.3 O almanaque estimula você a aprender sobre os cuidados no pré-natal? 41 100 0 0

2. Organização

2.1 A capa mostra o assunto do almanaque? 41 100 0 0

2.2 O conteúdo do almanaque tem sequência? 41 100 0 0

2.3 O material (papel/impressão) está apropriado? 41 100 0 0

2.4 O tamanho do título e do conteúdo nos quadrinhos está adequado? 40 97,3 1 2,7

2.5 O tamanho dos jogos está adequado? 40 97,3 1 2,7

2.6 Você conseguiu realizar as atividades propostas pelos jogos? 38 92,1 3 7,9

3. Estilo da escrita

3.1 As informações foram escritas com uma linguagem clara? 39 95,1 2 4,9

3.2 O texto é interessante? 41 100 0 0

3.3 A fala dos personagens é esclarecedora? 41 100 0 0

4. Aparência

4.1 A capa do almanaque é atraente e chamou sua atenção? 41 100 0 0

4.2 As figuras/ilustrações ajudam a entender o que está escrito? 41 100 0 0

5. Motivação

5.1 Você sentiu vontade de ler o material até o final? 41 100 0 0

5.2 O almanaque é divertido? 40 97,3 1 2,7

5.3 O almanaque permitiu você adquirir novos conhecimentos? 41 100 0 0

5.4 O almanaque estimulou você a mudar comportamentos e atitudes? 41 100 0 0

De acordo com a Tabela 1, todos os itens avaliados obtiveram taxa de concordância de mais

80%. Portanto, não haveria necessidade de mudanças no conteúdo e aparência do almanaque, de

acordo com a avaliação das gestantes. No entanto, foram realizadas algumas modificações de acordo

com as dúvidas e sugestões apresentadas pelo público.

Em relação a variável objetivo, apenas um item, recebeu aprovação menor que 100% (95,1%)

e está relacionado ao esclarecimento de dúvidas sobre o cuidado pré-natal. As gestantes apontaram

alguns temas, como mastite, depressão pós-parto, amamentação, porém, como o foco deste trabalho

é o cuidado pré-natal e considerando a vasta extensão de temas relacionados ao ciclo gravídico

puerperal, as sugestões não foram consideradas relevantes para este trabalho. Eu achei que ia ter mais coisa, do que fazer com o bebê, amamentar, essas coisas, porque o drama do meu primeiro filho foi amamentação, eu vejo muita mulher sofrendo com amamentação (A38). Eu acho que podia falar sobre mastite, porque eu tive, e foi muito difícil pra mim. Eu também tive depressão pós-parto. Eu sofri muito (A14).

Quanto a variável organização, dois itens obtiveram 97,3% de concordância e um item teve

92,1%, sendo que os dois primeiros referem ao tamanho do conteúdo dos quadrinhos e jogos do

almanaque e o último, fala sobre o nível de dificuldade dos jogos. Uma gestante disse não ter levado

os óculos, portanto estava com dificuldade para realizar a leitura do almanaque. Observou-se a

dificuldade de algumas gestantes na realização do jogo sobre infecções sexualmente transmissíveis,

no entanto, outras relataram ser interessante para saber os sinais e sintomas de cada doença, já que

poderiam consultar o gabarito. Eu tenho que pegar e ler bem com calma, levar pra casa... Não trouxe meus óculos (A39). Eu achei difícil esse jogo aqui, das doenças (A41). Eu achei interessante a parte sobre as doenças, neh, o modo de tratar, como detectar a doença, neh. Foi muito válido (A26).

Quanto ao estilo da escrita, duas gestantes acharam que a linguagem do almanaque não estava

clara e atribuíram essa avaliação à presença de algumas palavras cujo significado não era do seu

conhecimento. Essas palavras foram apontadas no momento da leitura do material, sendo elas: edema,

prurido e constipação intestinal. Para facilitar o conhecimento das gestantes, foi escolhida em

conjunto, uma palavra de significado familiar para ser colocada entre parênteses, mantendo a palavra

desconhecida, proporcionando assim, vocabulário mais abrangente para as gestantes.

Ao avaliar a aparência do almanaque o público concordou em 100%, já em relação a

motivação uma das gestantes não concordou que o almanaque era divertido, porém não foi feita

nenhuma consideração sobre a resposta negativa.

Em uma avaliação geral do almanaque, que foi solicitada ao final do preenchimento do

instrumento, as gestantes julgaram o material como de fácil entendimento, explicativo, de linguagem

clara, destacaram partes relevantes do material e ainda sugeririam a divulgação para outros grupos de

gestantes. Eu achei bem interessante, tá bem explicado. Tem coisa que tá dizendo aqui que eu não fazia, vou passar a fazer, eu comia muita besteira (A18). Muito valido, porque todas nós já tivemos filho, já passamos um pouco por tudo, mas tem gente que não tem esse conhecimento, então se isso for criado e puder ampliar pra outros lugares, vai ajudar essas pessoas. Eu achei ótimo! Da vontade de levar pra casa. As receitas, deu vontade de fazer, parece uma delícia (A33). A forma como está em quadrinhos, não fica aquela coisa assim, cansativa. (...) você vai interagindo e acaba aprendendo melhor (A10). Gostei muito! O almanaque é bem esclarecedor, de bom entendimento, não precisa de mudança (A40). Gostei muito! É de fácil entendimento, bom pra passar o tempo, pois os joguinhos acabam prendendo nossa atenção (A41).

Após finalizar a versão final do Almanaque, foi realizado registro de direitos autorais na

Biblioteca Nacional.

Discussão

O uso de tecnologias impressas justifica-se pelo fato de ser uma ferramenta que reforça as

informações verbalizadas, é capaz de nortear o autocuidado e auxiliar o enfermeiro no

desenvolvimento do processo educativo. Para a construção de novas tecnologias educativas, é

relevante considerar a avaliação do público ao qual se destina e a validação desses materiais é

importante para profissionais interessados em utilizar instrumentos confiáveis e adequados para a

população (5,12-13).

A avaliação quanto aos objetivos, organização, estilo da escrita, aparência e motivação do

almanaque foi considerada adequada pelas gestantes, com mais de 80% de concordância sugerindo

que a cartilha é representativa para o público alvo. Quanto ao estilo da escrita, observou-se um

porcentual satisfatório, de 95,1%, ao avaliarem o entendimento do conteúdo do almanaque como

compreensivo e de linguagem clara, com pequenas correções para esclarecimento de palavras

desconhecidas.

O entendimento da linguagem, eleva a legibilidade de um material educativo, sendo

primordial para impedir limitações de aprendizado em consequência da baixa escolaridade. A

linguagem utilizada pode facilitar ou dificultar a captação da mensagem veiculada. Deve ser

dispensada atenção especial a esse quesito. A preparação textual deve estar adequada ao nível

educacional e cultural do cliente a ser beneficiado. Nesse sentido, a participação de representantes do

público-alvo pode elevar a credibilidade e a aceitação da tecnologia educativa construída(14).

Quanto ao conteúdo proposto, a descoberta da gravidez correntemente acarreta emoções

divergentes, como medo e insegurança, ansiedade e ao mesmo tempo, satisfação e felicidade. A

gravidez não planejada pode levar a instabilidade emocional diante das mudanças que estão por vir.

A ausência do apoio familiar e do companheiro podem agravar o desequilíbrio emocional da gestante,

contribuindo para a solidão e negação da gestação. Além disso, a participação familiar influencia

favoravelmente no desenvolvimento da criança, já que essa é a fase inicial do vínculo afetivo entre

mãe e bebê(15-16). Por isso, corroboramos com a ideia de que um material educativo que trabalhe o

contexto familiar, é importante para promover esse vínculo.

O enfermeiro, deve priorizar a educação em saúde voltada para as necessidades da população,

utilizando meios lúdicos que favoreçam o interesse e entendimento da população pela temática

através de elaboração textual adequada ao nível educacional e cultural do público que pretende

alcançar(7). A problematização através de técnicas que estimulem o discurso livre, através de troca

verbal, exige do pesquisador certa experiência em conhecimento acumulado em entrevistas para que

o diálogo estabelecido possa ir além dos temas interessantes no âmbito da problemática do

pesquisador, e dar lugar a um fluxo recíproco de informação entre este e o entrevistado(17).

As tecnologias educativas são capazes de estimular o autocuidado e incentivar mudança de

hábitos, podendo auxiliar tanto o enfermeiro, como os demais profissionais da saúde que trabalham

com a temática, através da padronização de informações, evitando divergências profissionais e

insegurança às gestantes, pois, a educação em saúde devidamente estruturada é primordial a qualidade

da assistência pré-natal e eficaz no desenvolvimento saudável da gestante e do bebê(18-19).

O estudo apresentou limitações no que se refere a avaliação do material por um número

limitado de gestantes pertencentes a uma mesma região, o que dificulta a generalização dos achados

para população geral de gestantes.

Conclusão

Este estudo descreveu a produção e validação de uma tecnologia educacional para o cuidado

pré-natal. A tecnologia Almanaque da gestante é destinada a todas as mulheres em período

gestacional, como método autoexplicativo para o aprendizado sobre os cuidados durante a gravidez

e também às instituições e profissionais da área da saúde como material de apoio no processo de

educação em saúde.

Após alguns ajustes sugeridos pelo público, a tecnologia foi considerada validada, tendo

obtenção de mais de 80% de concordância em todos os itens de avaliação. A avaliação do Almanaque

pelo público mostrou contentamento deste, concernindo a tecnologia como atrativa e compreensiva,

capaz de motivar a manutenção de boas práticas na gestação.

Para atender outras demandas levantadas pelas gestantes, considera-se a possibilidade de

outras edições do almanaque com novos temas que englobem o período puerperal e cuidados com o

recém-nascido.

Estima-se que a construção desse instrumento possa estimular o desenvolvimento de novas

tecnologias educativas que promovam a ludicidade e facilitem o aprendizado diante das diversas

temáticas que envolvem o ciclo gravídico puerperal.

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