teatro olodum

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REDAÇÃO Diretora de Núcleo: Ethel Santaella; Diretora de Redação: Maria Helena da Fonte. Editora-chefe: Wivian Maranhão; Redatora: Shirley Santos; Chefe de Arte: Luciana Cestini; Assistente de Arte: Marcela de Barros; Estagiárias: Priscila Moreira e Tatiana Duarte; Assistentes de redação: Denise Mello e Juliana Centamori Produção gráfica: Carolina Venturini e Marcelo de Castro, [email protected]. br Consultores: Roseli Rossi, Luiz Alberto Py, Valéria Goulart, Cynthia Antonaccio e Marcia Dal Médico. Colaboradores: Fabiana Gonçalves, Rita Trevisan, Rosani Andreani, Maria Araujo, Cláudia Zani e Ivonete Lucírio (texto); Marcela Pereira de Almeida (revisão); Priscila Prade, Marko Fortes e Fábio Mangabeira (foto); Cristian Heverson e Alê Duprat (produção); Elcio Aragão e Érica Monteiro (make); Tratamento de imagens: Giliard Andrade e Eduardo Barbosa Ononononono é uma publicação mensal da Editora Escala Ltda. ISSN 9999-9999. Onononono não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes. Av. Profª Ida Kolb, 551, Casa Verde, CEP 02518-000, São Paulo- SP, Brasil Tel.: (+55) 11 3855-2100 Fax: (+55) 11 3951-7313 Caixa Postal 16.381, CEP 02599-970, São Paulo-SP, Brasil PUBLICIDADE Diretor: João Queiroz – joaoqueiroz@escala. com.br AGÊNCIAS Gerente: Fernanda Dias – fernandadias@ escala.com.br Executivos de Negócios: Fernanda Berna, Mariana Galvão, Paulo Sérgio de Moraes, Ricardo Inocêncio Pereira, Rogério Oliveira e Ulisses Martins DIRETOS Gerente: Claudia Arantes – [email protected] Executivos de Negócios: Adriana Mauro, Bruno Guerra, Marcelo Pires, Miriam Campanhã, Yone Catoira e Zélia Oliveira REGIONAIS Gerente: Alessandra Nunes [email protected] REPRESENTANTES: Brasília e Goiânia: Solução Publicidade - Beth Araújo (61) 3226 2218 / Ceará: Dialogar Comunicação – Izabel Cavalcanti (85)3264 7342 / Interior de São Paulo: L&M Editoração – Luciene Dias (19) 32317887 / Minas Gerais e Espírito Santo: NS&AMG – Newton Santo, Roberto Lúcio e Vera Santo (31) 2535 7333 / Paraná: Starter – Paulo Roberto Cardoso (41) 3332 8955 / Rio de Janeiro: Marca 21 - Marta Pimentel (21) 2224 0095 / Rio Grande do Sul: Starter - Cristina Zimmermann e Marcelo Lima (51) 3327 3700 / Santa Catarina: Starter – Wiviani Wagner (48) 3024 4398. ASSISTENTES COMERCIAIS: Luciane Freitas (11) 3855 2247 - Taciana Oliveira (11) 3855 2244 TRÁFEGO: Adriana Neiva (11) 3855-2179, Carolina Venturini e Joel Brogliato – [email protected] MARKETING E COMUNICAÇÃO Gerente de Marketing: Suelene Veludo Assistente de Marketing: Jackelin Wertheimer Assistente de Marketing Web: Bruna Pelligotti Gerente de Comunicação: Patricia Filgueira Assessora de Imprensa: Júlia Furquim Assistente de Criação: André Martins Assistentes de Arte: Priscila Fosco e Bruno Miramontes Gerente de Projetos Especiais, Eventos e Parcerias: Ritha Corrêa Assistente: Luiz Eduardo Oliveira VENDAS DE REVISTAS E LIVROS (+55) 11 3855-1000 [email protected] ATACADO – REVISTAS E LIVROS (+55) 11 4446-7060 [email protected] CENTRAL DE ATENDIMENTO Tel.: (+55) 11 3855-1000 Fax: (+55) 11 3857-9643 [email protected] Distribuição com exclusividade para todo o BRASIL, Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907. Tel.: (+55) 21 3879-7766. Números anteriores podem ser solicitados ao seu jornaleiro ou na central de atendimento ao leitor, ao preço do número anterior, acrescido dos custos de postagem. Disk Banca: Sr. jornaleiro, a Distribuidora Fernando Chinaglia atenderá os pedidos dos anteriores da Editora Escala enquanto houver estoque. www.escala.com.br LOGO E SITE DA REVISTA DADOS DA REDAÇÃO Filiada à IMPRESSÃO E ACABAMENTO Oceano Indústria Gráfica Ltda. Nós temos uma ótima impressão do futuro RESPONSABILIDADE AMBIENTAL Esta revista foi impressa na Gráfica Oceano, com emissão zero de fumaça, tratamento de todos os resíduos químicos e reciclagem de todos os materiais não químicos. HOUVE ALTERAÇÕES SOMENTE AQUI ATENÇÃO: LOGO ESCALA MUDOU ----- > por MAÍRA AZEVEDO | (nos palcos e nas telas) Realidade do texto e fotos MAÍRA AZEVEDO, de Salvador 22 | RAÇA BRASIL NA PEGADA! | ESPECIAL texto e fotos MAÍRA AZEVEDO, de Salvador A ausência de atores negros nos palcos baianos e a falta de uma dramaturgia que refletisse a contribuição que as tradições e heranças africanas deixaram na Bahia foi o pontapé inicial para que Márcio Meirelles tivesse a idéia de criar um grupo de atores exclusivamente negro e que falasse a sua própria história. Assim, em 1990, o diretor propôs ao Grupo Cultural Olodum a formação de um grupo de teatro, idéia que logo foi aceita. Em parceria com Chica Carelli e outros artistas baianos, Marcio abriu oficinas para pessoas com e sem experiência teatral, mas que tivessem compromisso com um discurso político sobre a situação do negro no Brasil. Era o inicio de uma nova era no teatro baiano Cássia Valle e Ridson Oliveira...

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Matéria da edição 138

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Redação diretora de Núcleo: Ethel Santaella; diretora de Redação: Maria Helena da Fonte. editora-chefe: Wivian Maranhão; Redatora: Shirley Santos; Chefe de arte: Luciana Cestini; assistente de arte: Marcela de Barros; estagiárias: Priscila Moreira e Tatiana Duarte; assistentes de redação: Denise Mello e Juliana Centamori Produção gráfica: Carolina Venturini e Marcelo de Castro, [email protected] Consultores: Roseli Rossi, Luiz Alberto Py, Valéria Goulart, Cynthia Antonaccio e Marcia Dal Médico. Colaboradores: Fabiana Gonçalves, Rita Trevisan, Rosani Andreani, Maria Araujo, Cláudia Zani e Ivonete Lucírio (texto); Marcela Pereira de Almeida (revisão); Priscila Prade, Marko Fortes e Fábio Mangabeira (foto); Cristian Heverson e Alê Duprat (produção); Elcio Aragão e Érica Monteiro (make); Tratamento de imagens: Giliard Andrade e Eduardo Barbosa

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zero de fumaça, tratamento de todos os resíduos químicos e reciclagem de todos os materiais não químicos.

HOUVE ALTERAçÕES SOMENTE AQUI

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por MAÍRA AZEVEDO |

(nos palcos e nas telas)Realidade do povo negro

texto e fotos MAÍRA AZEVEDO, de Salvador

22 | RAÇA BRASIL

NA PEGADA! | ESPECIAL

texto e fotos MAÍRA AZEVEDO, de Salvador

A ausência de atores negros nos palcos baianos e a falta de uma

dramaturgia que refletisse a contribuição que as tradições e

heranças africanas deixaram na Bahia foi o pontapé inicial para

que Márcio Meirelles tivesse a idéia de criar um grupo de atores

exclusivamente negro e que falasse a sua própria história. Assim,

em 1990, o diretor propôs ao Grupo Cultural Olodum a formação

de um grupo de teatro, idéia que logo foi aceita. Em parceria

com Chica Carelli e outros artistas baianos, Marcio abriu oficinas

para pessoas com e sem experiência teatral, mas que tivessem

compromisso com um discurso político sobre a situação do

negro no Brasil. Era o inicio de uma nova era no teatro baiano

Cássia Valle e Ridson Oliveira...

por MAÍRA AZEVEDO |

(nos palcos e nas telas)Realidade do povo negro

texto e fotos MAÍRA AZEVEDO, de Salvador

22 | RAÇA BRASIL

NA PEGADA! | ESPECIAL

texto e fotos MAÍRA AZEVEDO, de Salvador

A ausência de atores negros nos palcos baianos e a falta de uma

dramaturgia que refletisse a contribuição que as tradições e

heranças africanas deixaram na Bahia foi o pontapé inicial para

que Márcio Meirelles tivesse a idéia de criar um grupo de atores

exclusivamente negro e que falasse a sua própria história. Assim,

em 1990, o diretor propôs ao Grupo Cultural Olodum a formação

de um grupo de teatro, idéia que logo foi aceita. Em parceria

com Chica Carelli e outros artistas baianos, Marcio abriu oficinas

para pessoas com e sem experiência teatral, mas que tivessem

compromisso com um discurso político sobre a situação do

negro no Brasil. Era o inicio de uma nova era no teatro baiano

Cássia Valle e Ridson Oliveira...

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Realidade do povo negro

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ão existia uma dramaturgia, uma estética, nem uma

sistemática de transposição para os palcos dos problemas

atuais do negro no Brasil como tema, nem de sua

tradição cultural como matéria-prima. Afora uma ou

outra experiência pontual. A criação desse grupo trouxe

um enorme ganho pessoal para todos nós”, declara o diretor Márcio Meirelles.

O primeiro núcleo de atores do grupo experimentou, cresceu e consolidou uma

dramaturgia e estética própria, tendo a tradição sociocultural afro-baiana como

matéria-prima de seus espetáculos. Surgia, então, o Bando de Teatro Olodum, nas

entranhas de Salvador. Para fazer parte desse novo grupo de teatro era necessário

possuir alguns pré-requisitos, entre eles, estar envolvido nas questões da comunidade

negra e vontade para colaborar na pesquisa dessa “nova” linguagem. Nas ladeiras

tortuosas do Pelourinho, o grupo ampliou os seus horizontes. Nos

primeiros anos, foi o Olodum que deu a base institucional e estrutura

para o Bando de Teatro, que logo captou os seus recursos para

desenvolver o projeto de forma independente.

“Não existia uma dramaturgia, uma estética, nem uma

sistemática de transposição para os palcos dos problemas

atuais do negro no Brasil como tema, nem de sua

tradição cultural como matéria-prima. Afora uma ou

outra experiência pontual. A criação desse grupo trouxe

um enorme ganho pessoal para todos nós”, declara o diretor Márcio Meirelles.

O primeiro núcleo de atores do grupo experimentou, cresceu e consolidou uma

dramaturgia e estética própria, tendo a tradição sociocultural afro-baiana como

matéria-prima de seus espetáculos. Surgia, então, o Bando de Teatro Olodum, nas

entranhas de Salvador. Para fazer parte desse novo grupo de teatro era necessário

possuir alguns pré-requisitos, entre eles, estar envolvido nas questões da comunidade

negra e vontade para colaborar na pesquisa dessa “nova” linguagem. Nas ladeiras

tortuosas do Pelourinho, o grupo ampliou os seus horizontes. Nos

primeiros anos, foi o Olodum que deu a base institucional e estrutura

para o Bando de Teatro, que logo captou os seus recursos para

desenvolver o projeto de forma independente.

... Arlete Dias, Robson Mauro, Rejane Maia, Jorge Washington (ao fundo de camisa listrada), Jamile Menezes, Valdinéia Soriano e Merry Batista (alunos das o�cinas do Bando), na peça Ó Pai ó

24 | RAÇA BRASIL

NA PEGADA! | ESPECIAL

ESCOLA E REFERÊNCIAA partir de 1994, o Bando passou a ser o grupo residente de um dos mais importantes espaços da cultura baiana: o Teatro Vila Velha, uma parceria que dura até hoje. Após quase duas décadas de luta para dar voz e vez aos negros de Salvador e do Brasil, os atores do Bando fazem parte de uma ilustre exceção. São convidados com frequência para festivais internacionais para darem palestras e são escolhidos por muitos jovens como ídolos. Podem até não saber o nome dos atores, mas os bordões da peça, do filme e da série Ó pai ó, são ecoados com freqüência. “As referências precisam ser – e estão sendo – restauradas para todos os brasileiros, não só para a população negra. Temos que entender que esta herança genética e cultural está em todos nós, em maior ou menor grau, e que muitos símbolos e representações do Brasil são negros em sua origem e alma. Estranhamente o país se orgulha deles, mas não dos cidadãos que os produzem. O Bando pode afirmar que contribui para o inicio dessa mudança”, afirma a co-diretora Chica Carelli. O sucesso se configura pelo fato deles terem a oportunidade de falar a realidade como se fosse uma mera obra de ficção. O Bando também demonstra o seu poder de formação. Lázaro Ramos - um dos maiores atores da atual geração e colunista da RAÇA BRASIL, faz questão de ressaltar que é e sempre será um dos integrantes do Bando de Teatro Olodum. Foi no grupo que ele aprendeu a cantar, dançar e atuar no palco, mas, principalmente, a gostar de si mesmo. “Ganhei argumento para falar de mim. Descobri quem sou. É fundamental a aceitação de quem se é. O que você é nem sempre é aceito aonde você vai. O Bando me ensinou a gostar de mim e essa foi a minha maior lição. O elenco tem uma capacidade incrível e o que o Brasil está vendo hoje é resultado de anos de trabalho. E eu, como outros artistas, sou fruto desse trabalho”, afirma Lázaro. Outra estrela de alcance internacional revelada pelo Bando é a cantora Virginia Rodrigues, que participou da peça Bye Bye Pelô e impressionou público e crítica com o poder da sua voz. O jornal americano The New York Times a definiu como “uma das mais impressionantes cantoras que surgiu no Brasil nos últimos anos”.

Todos juntos: Valdinéia Soriano, Rejane Maia, Jorge Washington, Cássia Valle, Auristela Sá e Enrico Brás (em pé). Lázaro Ramos, Leno Sacramento e Ridson Oliveira (agachados). A alegria é a tônica do Bando de Teatro Olodum

24 | RAÇA BRASIL

A partir de 1994, o Bando passou a ser o grupo residente de um dos mais importantes espaços da cultura baiana: o Teatro Vila Velha, uma parceria que dura até hoje. Após quase duas décadas de luta para dar voz e vez aos negros de Salvador e do Brasil, os atores do Bando fazem parte de uma ilustre exceção. São convidados com frequência para festivais internacionais para darem palestras e são escolhidos por muitos jovens como ídolos. Podem até não saber o nome dos atores, mas os bordões da peça, do filme e da série Ó pai ó, são ecoados com freqüência. “As referências precisam ser – e estão sendo – restauradas para todos os brasileiros, não só para a população negra. Temos que entender que esta herança genética e cultural está em todos nós, em maior ou menor grau, e que muitos símbolos e representações do Brasil são negros em sua origem e alma. Estranhamente o país se orgulha deles, mas não dos cidadãos que os produzem. O Bando pode afirmar que contribui para o inicio dessa mudança”, afirma a co-diretora Chica Carelli. O sucesso se configura pelo fato deles terem a oportunidade de falar a realidade como se fosse uma mera obra de ficção. O Bando também demonstra o seu poder de formação. Lázaro Ramos - um dos maiores atores da atual geração e colunista da RAÇA BRASIL, faz questão de ressaltar que é e sempre será um dos integrantes do Bando de Teatro Olodum. Foi no grupo que ele aprendeu a cantar, dançar e atuar no palco, mas, principalmente, a gostar de si mesmo. “Ganhei argumento para falar de mim. Descobri quem sou. É fundamental a aceitação de quem se é. O que você é nem sempre é aceito aonde você vai. O Bando me ensinou a gostar de mim e essa foi a minha maior lição. O elenco tem uma capacidade incrível e o que o Brasil está vendo hoje é resultado de anos de trabalho. E eu, como outros artistas, sou fruto desse trabalho”, afirma Lázaro. Outra estrela de alcance internacional revelada pelo Bando é a cantora Virginia Rodrigues, que participou da peça Bye Bye Pelô e impressionou público e crítica com o poder da sua voz. O jornal americano The New York Times a definiu como “uma das mais impressionantes cantoras que surgiu no Brasil nos últimos anos”.

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Convivendo há anos e sabendo bem os defeitos e qualidades de cada um, a relação dos atores é familiar e a característica mais presente é o humor. “É uma estratégia, ainda que o bando carregue na sua essência a função social de denunciar as mazelas vivenciadas pela população negra no país”, afirma Cássia Vale, integrante do Bando desde a sua formação, em 1990. Acompanhando as gravações da nova temporada de série, logo de cara percebemos que não é apenas nos palcos e na tela que os artistas fazem piadas. As gargalhadas estão presentes no cotidiano. São tantas as brincadeiras que não são raras as vezes que confundimos ficção com realidade durante os ensaios. Tudo é motivo para fazer graça. “A gente convive entre si muito mais do que entre as nossas famílias sanguíneas. Já sabemos o time de cada um. Além disso, entendemos e respeitamos o limite um do outro e esse entrosamento influencia diretamente em nossa atuação. Nos conhecemos a tal ponto que podemos, com um olhar, saber o momento certo de se fazer uma improvisação. O nosso humor é uma das nossas armas mais fortes”, declara o ator Jorge Washington, que na série faz o papel de Matias.

HUMOR COMO ESTRATÉGIA

Em 1992, os integrantes do Bando de Teatro Olodum decidiram retratar o cotidiano dos moradores do Centro Histórico de Salvador sob a ótica do humor – mas sem perder de vista o caráter de denúncia social. Naquele período existia um movimento para revitalizar o Pelourinho e, coincidentemente, muitos jovens negros estavam sendo assassinados. Vem daí o nome do espetáculo Ó pai ó, expressão baiana que quer dizer “olhe para isso”, “fique atento”, “preste atenção para o que estamos dizendo”. O elenco levou o mundo real para o palco, atitude que se tornaria uma de suas características mais marcantes. Caetano Veloso foi quem teve a ideia de transformar o espetáculo em filme quando o assistiu durante uma temporada no Rio de Janeiro. O sonho foi adiado até 2006, quando Monique Gardenberg rodou nas ruas de Salvador o longa - sucesso de crítica e de público. Daí para uma série de televisão não demorou muito. Esta veio em 2008 pelas mãos de Guel Arraes e, com uma média de 39 pontos no Ibope nos três primeiros episódios, o Bando conquistou o seu espaço na

telinha e a oportunidade de gravar a segunda temporada de Ó pai ó, que tem estreia prevista para o mês de novembro e com grandes novidades para o público. Desta vez, os atores não colaboraram com o processo de criação dos textos como ocorreu na primeira temporada. Agora, quem assina os episódios são os autores João Falcão, Guel Arraes e Adriana Falcão. “Entregamos o nosso corpo para a interpretação. Então, estamos falando de algo que vivemos, mas sob a perspectiva de um outro olhar, o que é um grande desafio”, afirma Auristela Sá, intérprete da personagem Carmem na série.

Ó PAI Ó

Fábio Lima (ex-ator do Bando que atualmente mora em Londres) e Cássia Valle na Peça By By Pelô - Trilogia do Bando, de 1992

Rejane Maia e Cássia Valle se divertem durante as gravações da segunda temporada de Ó Pai ó

26 | RAÇA BRASIL

Formado por 22 atores, o Bando de Teatro Olodum era definido no início como um grupo de ex-prostitutas ou meninos de rua, coisa que nunca foi verdade e que nem de longe fragilizou a trupe. Pelo contrário, colaborou para fortalecer uma outra característica marcante: o discurso engajado sobre a questão racial. É unanimidade o posicionamento político de utilizar a arte como ferramenta para despertar em outros negros a importância de se entenderem social e racialmente e lutarem contra as opressões que são impostas pelo racismo. “No auge dos meus 30 anos, vejo como a arte é realmente uma resposta para o racismo e outras formas de discriminação, senão tivesse essa certeza não estaria ainda fazendo teatro. Quando a arte penetra em determinados espaços, comumente fechados, ela os transforma. E, como o Bando tem uma dramaturgia própria, fomos, aos poucos, nos tornando referência. Nosso discurso afirmativo aproxima as pessoas. E para nós é gratificante ver o Bando hoje na televisão e no cinema, atrelado a uma referência positiva para a periferia. Isso é um grande fator de transformação”, afirma Érico Brás, integrante o Bando há 10 anos.Devido a esse posicionamento político, por muito tempo parte da imprensa e da classe artística não considerava como teatro o que o grupo fazia. As peças eram tratadas como um projeto social e não como um processo artístico. Muitos afirmavam que nos palcos não havia atores, mas pessoas da periferia representando suas próprias vidas. O preconceito começou a se desfazer a partir de uma temporada realizada no Rio de Janeiro, quando o cantor Caetano Veloso assistiu aos espetáculos e, impressionado, convidou amigos e imprensa. Em 1997, com a estreia da peça Cabaré da RRRRRaça, um dos maiores sucessos do teatro baiano, o Bando se afirmou como um grupo de referência nacional. O espetáculo foi inspirado na revista RAÇA BRASIL, então recém-lançada no mercado editorial com enorme sucesso. (A peça está há 11 anos em cartaz e já foi vista por aproximadamente 50 mil pessoas, do Brasil e do exterior, como Portugal e Angola).

NO INÍCIO, PRECONCEITO

Com cerca de 30 peças teatrais encenadas, a versatilidade virou um componente indissociável para a definição do Bando de Teatro Olodum. Ao longo dessa trajetória, os atores negros, além dos seus próprios textos, encenaram William Shakespeare (Sonho de uma noite de verão), Bertolt Brecht (Ópera de três mirreis), Heiner Muller (Medeamaterial) e Georg Büchner (Woyzeck). “Todo o ator espera em algum momento interpretar um grande clássico e nós do Bando tivemos esses momentos, mas emprestando um pouco da nossa linguagem. Encenar um texto de Sakeaspeare, que sempre foi tratado como algo distante, e transformar em algo afro, levando nossa musicalidade, dando uma leitura nova que permitisse que, quando os jovens negros assistissem a peça, ao invés de associarem aquela história com as princesas européias, pudessem imaginar as grandes Deusas africanas. E conseguimos isso! É fato que, ao mesmo tempo em que emprestamos as nossas características a cada espetáculo, tentamos nos relacionar com o novo e guardamos para gente. Espero que um dia possamos colocar no palco tudo o que aprendemos ao longo da nossa história de uma só vez”, explica Valdinéia Soriana, a Maria de Ó pai ó. Além dos grandes clássicos, os atores ainda flertaram com a linguagem do cordel e o universo infanto-juvenil, o que atesta que o Bando está sempre em busca do novo, seja para levar aos palcos, ao cinema ou à televisão.

ATUALMENTE, RECONHECIMENTO...

NA PEGADA! | ESPECIAL

Montagem da peça Cabaré da RRRRRaça . Em cena Rejane Maia (ao fundo), Valdinéia Soriano, Jorge Washington, Sérgio Laurentino, Elane Nascimento e Auristela Sá

26 | RAÇA BRASIL

Formado por 22 atores, o Bando de Teatro Olodum era definido no início como um grupo de ex-prostitutas ou meninos de rua, coisa que nunca foi verdade e que nem de longe fragilizou a trupe. Pelo contrário, colaborou para fortalecer uma outra característica marcante: o discurso engajado sobre a questão racial. É unanimidade o posicionamento político de utilizar a arte como ferramenta para despertar em outros negros a importância de se entenderem social e racialmente e lutarem contra as opressões que são impostas pelo racismo. “No auge dos meus 30 anos, vejo como a arte é realmente uma resposta para o racismo e outras formas de discriminação, senão tivesse essa certeza não estaria ainda fazendo teatro. Quando a arte penetra em determinados espaços, comumente fechados, ela os transforma. E, como o Bando tem uma dramaturgia própria, fomos, aos poucos, nos tornando referência. Nosso discurso afirmativo aproxima as pessoas. E para nós é gratificante ver o Bando hoje na televisão e no cinema, atrelado a uma referência positiva para a periferia. Isso é um grande fator de transformação”, afirma Érico Brás, integrante o Bando há 10 anos.Devido a esse posicionamento político, por muito tempo parte da imprensa e da classe artística não considerava como teatro o que o grupo fazia. As peças eram tratadas como um projeto social e não como um processo artístico. Muitos afirmavam que nos palcos não havia atores, mas pessoas da periferia representando suas próprias vidas. O preconceito começou a se desfazer a partir de uma temporada realizada no Rio de Janeiro, quando o cantor Caetano Veloso assistiu aos espetáculos e, impressionado, convidou amigos e imprensa. Em 1997, com a estreia da peça Cabaré da RRRRRaça, um dos maiores sucessos do teatro baiano, o Bando se afirmou como um grupo de referência nacional. O espetáculo foi inspirado na revista RAÇA BRASIL, então recém-lançada no mercado editorial com enorme sucesso. (A peça está há 11 anos em cartaz e já foi vista por aproximadamente 50 mil pessoas, do Brasil e do exterior, como Portugal e Angola).

Com cerca de 30 peças teatrais encenadas, a versatilidade virou um componente indissociável para a definição do Bando de Teatro Olodum. Ao longo dessa trajetória, os atores negros, além dos seus próprios textos, encenaram William Shakespeare (Sonho de uma noite de verão), Bertolt Brecht (Ópera de três mirreis), Heiner Muller (Medeamaterial) e Georg Büchner (Woyzeck). “Todo o ator espera em algum momento interpretar um grande clássico e nós do Bando tivemos esses momentos, mas emprestando um pouco da nossa linguagem. Encenar um texto de Sakeaspeare, que sempre foi tratado como algo distante, e transformar em algo afro, levando nossa musicalidade, dando uma leitura nova que permitisse que, quando os jovens negros assistissem a peça, ao invés de associarem aquela história com as princesas européias, pudessem imaginar as grandes Deusas africanas. E conseguimos isso! É fato que, ao mesmo tempo em que emprestamos as nossas características a cada espetáculo, tentamos nos relacionar com o novo e guardamos para gente. Espero que um dia possamos colocar no palco tudo o que aprendemos ao longo da nossa história de uma só vez”, explica Valdinéia Soriana, a Maria de Ó pai ó. Além dos grandes clássicos, os atores ainda flertaram com a linguagem do cordel e o universo infanto-juvenil, o que atesta que o Bando está sempre em busca do novo, seja para levar aos palcos, ao cinema ou à televisão.