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TEATRO CIENTÍFICO COMO PROPOSTA MULTIDISCIPLINAR PARA O ENSINO DE FÍSICA Renato Alves dos Santos Orientador: Aníbal Livramento da Silva Netto Juazeiro -BA Fevereiro de 2017

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TEATRO CIENTÍFICO COMO PROPOSTA MULTIDISCIPLINAR PARA O

ENSINO DE FÍSICA

Renato Alves dos Santos Orientador: Aníbal Livramento da Silva Netto

Juazeiro -BA Fevereiro de 2017

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RESUMO Apresentamos uma estratégia de intervenção que pode ser útil tanto para ensinar Física de forma multi ou transdisciplinar, quanto para fins de divulgação científica. A partir de um roteiro para peça de teatro em que se explora um corte histórico da vida do físico Galileu Galilei, propomos a criação de um grupo de Teatro Científico. Esta estratégia foi testada em uma escola de Ensino Médio, conseguindo envolver um grupo de estudantes nas etapas relacionadas à construção e apresentação da peça: escrita/adaptação do roteiro, estudo dos personagens e seu contexto histórico e sociocultural, construção de figurinos e cenários, técnicas e conceitos em Teatro e, por fim, a apresentação da peça a uma plateia. A implementação da estratégia seguiu os passos que geraram uma sequência didática, que contém orientações para os professores que desejem levar adiante a ideia. Duas oficinas são propostas: uma de leitura e outra sobre Teatro. Os participantes estudarão um roteiro e exploraram tanto os conceitos e princípios físicos ali abordados, quanto, no recorte histórico, aspectos sociais e culturais daquela época. É sugerida uma atividade de sondagem, antes da intervenção, e outra após, a fim de verificar os avanços na aprendizagem. A partir dos resultados obtidos na experiência teste deste produto, acredita-se que a proposta tem potencial para melhorar a aprendizagem de temas em Física. Como perspectiva, espera-se que o presente produto possibilite elaborar novos roteiros teatrais explorando temáticas variadas em Física, por exemplo, Termodinâmica, Eletromagnetismo, Física Quântica e Relatividade onde biografias de grandes cientistas, conjunturas sócio-político-econômicas em que revoluções científicas ocorreram apresentam um leque imenso de possibilidades para o fim pretendido.

Juazeiro- BA Fevereiro de 2017

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Sumário

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 1

1- CONHECENDO O ROTEIRO ............................................................................ 3

2.0- PRINCÍPIOS DE APRENDIZAGEM .................................................................. 5

2.1- TIPOS DE APRENDIZAGEM ............................................................................. 5

2.2- APRENDIZAGEM SIGNIFICANTE DE CARL ROGERS ................................ 5

2.3- APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA CRÍTICA DE MOREIRA ...................... 7

3.0- ELEMENTOS DE MECÂNICA NEWTONIANA E CAMPOS

GRAVITACIONAIS .................................................................................................... 10

3.1- SOBRE RELÓGIOS, RÉGUAS E VARIAÇÕES .............................................. 10

3.2- MASSAS, QUEDAS E LANÇAMENTOS ........................................................ 22

CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS.............................................. 27

Referências Bibliográficas ........................................................................................... 29

Apêndice A .................................................................................................................... 30

(Roteiro ‘O Julgamento de Galileu’) .......................................................................... 30

Apêndice B..................................................................................................................... 38

(Sequência Didática)................................................................................................... 38

Apêndice C .................................................................................................................... 46

(Questionário 1) .......................................................................................................... 46

Apêndice D .................................................................................................................... 48

(Questionário 2) .......................................................................................................... 48

Apêndice E..................................................................................................................... 49

(Breve Relato Sobre o Conflito Entre Galileu e a Igreja Católica Romana) .............. 49

Apêndice F ..................................................................................................................... 52

(Manual do Cenário e Figurino) ................................................................................. 52

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APRESENTAÇÃO

O produto desenvolvido no presente trabalho consiste em um projeto de

implantação de grupos de Teatro Científico em escolas da Educação Básica. Ele

envolve a construção de alguns materiais didáticos essenciais. A construção

desses materiais pode ocorrer antes ou durante o desenvolvimento dos trabalhos.

Eis a lista de materiais:

• Um roteiro inicial de peça teatral;

• Um manual de orientações para construção de um figurino;

• Um texto falando um pouco sobre aspectos em História e em Física

relevantes para a construção do roteiro da peça;

• Uma sequência didática proposta para nortear uma proposta de

intervenção envolvendo as disciplinas Física, História e Artes.

Esses materiais possibilitam uma abordagem que envolva diferentes

disciplinas e que esteja centrada no diálogo entre os saberes. Além disso, sua

aplicação é possível em diferentes realidades encontradas nas escolas do Brasil.

A proposta pode ser aplicada tanto no contexto de espaços formais de ensino

quanto de espaços não formais de ensino. Desde que realizadas as devidas

adaptações à proposta original. A propósito, algumas adaptações são sugeridas

no próprio produto.

Nesta proposta levamos em consideração a íntima relação entre Física e

História, quando se trata do desenvolvimento da Física. Também adotamos uma

estratégia similar à famosa obra de Galileu Diálogo sobre os dois principais

sistemas do mundo. Nesta última, Galileu utilizou diálogos entre personagens de

uma forma bastante propícia a adaptações teatrais com vistas à transmissão de

conteúdo científico.

O tema inicialmente sugerido, Mecânica Clássica, permeia o primeiro roteiro

(Apêndice A). A ênfase é dada a um recorte da biografia de Galileu e de algumas

de suas contribuições à Física. O roteiro utilizou, nas falas das personagens, uma

linguagem e alguns termos mais próximos da realidade dos estudantes, visando

maior participação e engajamento. Além disso, o tema foi escolhido por sua

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simplicidade e relevância para a Física e para a História da Ciência; bem como

pela possibilidade de servir como primeiro passo para a criação e consolidação de

um grupo de Teatro Científico em escolas da Educação Básica.

No Apêndice B é apresentada uma sequência didática sugerida para orientar

os professores de Física, História e Artes envolvidos na utilização do roteiro

descrito no Apêndice A. No Apêndices C e D encontramos dois questionários

sugeridos; o primeiro para fins de avaliação diagnóstica e o segundo para

avaliação de alguns impactos da presente abordagem ao público-alvo. No

Apêndice E é apresentado um texto inicial, tanto para orientar a discussão na aula

de História, quanto para estimular pesquisas adicionais. Por fim, no Apêndice F é

disponibilizado um manual de construção de figurino para utilização durante a

realização da peça teatral.

Esta sequência didática, incluindo o roteiro sobre o julgamento de Galileu, foi

testada na Escola Estadual Padre Luiz Cassiano em Petrolina/PE, tendo

apresentado bons resultados. Importa ressaltar que o professor é livre para a

escolha de outros temas, podendo adequá-lo ao mesmo formato da abordagem

aqui sugerida, fazendo as devidas adaptações.

A partir do primeiro contato com o roteiro mencionado, outros roteiros podem

ser elaborados; envolvendo outras temáticas e outras estratégias; envolvendo

Física e outras disciplinas. Aproveitando o lúdico, a presente estratégia pode

contribuir ainda para a quebra de certos paradigmas. Por exemplo, a visão de que

a Física seria “chata” e sem relevância prática para o dia a dia das pessoas. Além

disso, cabe lembrar a reforma do Ensino Médio ora em curso. Com todas as

vantagens e problemáticas inerentes à forma como este processo está sendo

levado a cabo. Assim fica mais evidente a necessidade de mostrar o quão

importante a Física é na vida das pessoas. Isso também pode contribuir para

atrair mais estudantes talentosos para carreiras científicas e para as Engenharias.

E, quem sabe, até mesmo para a própria (injustiçada) Física.

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1- CONHECENDO O ROTEIRO

O roteiro é intitulado ‘O JULGAMENTO DE GALILEU’ e se divide em três

momentos: 1- movimento, repouso e referencial; 2- queda livre, concentração de

matéria e aceleração; 3- o julgamento de Galileu. Ele foi construído pelo autor

desta dissertação, com melhorias sugeridas por seu orientador e por um dos

alunos da turma onde o projeto foi desenvolvido. A seguir falaremos um pouco

sobre cada um desses três momentos.

Primeiro momento: Retrata um diálogo fictício entre Galileu e suas duas filhas,

Lívia e Virgínia. Virgínia levanta questionamentos filosóficos como, por exemplo,

por que o Sol brilha? Será mesmo que a Terra está imóvel no centro do universo?

Copérnico estaria certo e é a Terra quem gira ao redor do Sol? Lívia discorda e a

manda lavar a louça. As duas chegam a um impasse com relação ao movimento

da Terra. Galileu, então, entra em cena e esclarece o conceito de movimento

relativo, afirmando que as duas podem estar corretas. E que a questão ali é

apenas de referencial. Afinal, podemos estar em movimento com relação ao Sol,

já que a Terra está em movimento. Ou podemos estar em repouso com relação a

um objeto na Terra que não muda sua posição com o passar do tempo. Em

seguida, Galileu dá o exemplo de um pombo defecando em pleno voo, pergunta

para as meninas como serão as trajetórias do cocô do pombo, primeiro para uma

pessoa observando em Terra firme e, segundo, para outra no referencial1 do

pombo. A partir das respostas a esse questionamento, busca-se que fique claro

para a plateia que a trajetória do movimento depende do referencial de

observação.

Segundo momento: Nessa parte da história, Virgínia e sua amiga Ágata se

aproximam de Galileu, que está realizando experimentos de queda livre com

objetos na superfície da Terra. Ao ser questionado sobre o que ele estava

fazendo, Galileu então responde às garotas com outra pergunta: qual chegará

primeiro ao solo, uma esfera de metal ou uma esfera de madeira, sendo que

ambas possuem mesmas dimensões e são abandonadas, simultaneamente, da

mesma altura? Representando o pensamento aristotélico, Ágata aposta na

chegada da esfera maior massa em primeiro lugar e argumenta que ela é mais

1 Ou, dito de outra forma, em um referencial que se move junto com o pombo.

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pesada. Virgínia, por sua vez, comenta que peso (ou massa) nem sempre é

documento. Galileu comenta que corpos com mesmas dimensões e mesmo

volume podem ter concentrações de matéria diferentes. E a propriedade que

define essa concentração de matéria nos corpos é chamada de densidade. Isso

significa que um corpo menor que outro pode ser mais pesado a depender de sua

densidade. É feita a verificação com a realização da experiência de queda livre

das esferas. Fica visivelmente claro que as esferas chegam juntas ao chão. As

meninas indagam: por quê? Galileu explica que as esferas são abandonadas com

velocidades iguais a zero e vão aumentando suas velocidades a uma taxa

constante chamada de aceleração da gravidade. Tal aceleração independe das

massas. Em seguida, Galileu repete a experiência de queda livre com uma esfera

de metal e uma folha de papel aberta. Nitidamente a esfera cai mais rapidamente

que a folha e as meninas novamente questionam Galileu por quê. Ele dá dicas

que levam as meninas a compreender que a folha sofre maior ação da resistência

do ar, já que possuiria maior área de contato; compara a aceleração da gravidade

com um puxão para baixo e a resistência de ar com um puxão para cima, de tal

forma que, se não houvesse resistência do ar, tanto a esfera quanto a folha

chegariam juntas ao chão.

Terceiro momento: Trata de momentos marcantes do Julgamento de Galileu

pela Inquisição. O primeiro episódio acontece em 26 de fevereiro de 1616,

quando Galileu tem sua primeira audiência com os Dominicanos. Nessa ocasião,

lhe foi informado do decreto do Tribunal da Santa Inquisição, que incluíra o livro

de Copérnico no Índex. Galileu é advertido para que deixe de disseminar o

modelo heliocêntrico. Anos mais tarde, em 1626, Galileu consegue uma maior

aproximação com a Igreja Católica, devido ao novo Papa que foi escolhido.

Galileu, então, recebe recomendação de expor em livro os dois modelos de

Universo, geocêntrico e heliocêntrico; sem favorecer qualquer um deles. Contudo,

seu livro é entendido como afronta à Igreja Católica e Galileu sofre perseguição.

O infortúnio de Galileu acontece a despeito do grande sucesso que teve com o

público na época. O livro, escrito em italiano, alcançara não só o público

acadêmico, mas também pessoas leigas no assunto. Galileu é obrigado a renegar

suas ideias e jurar não crer mais nas ideias de Copérnico. Ainda assim, Galileu é

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condenado à prisão perpétua, tendo, posteriormente, a pena reduzida a prisão

domiciliar.

2.0- PRINCÍPIOS DE APRENDIZAGEM

A presente estratégia de ensino apoiou-se em alguns princípios encontrados

nas teorias de aprendizagem desenvolvidas, respectivamente, por Carl Rogers e

por Marco Antônio Moreira. A seguir faremos uma breve descrição de tais

pressupostos.

2.1- TIPOS DE APRENDIZAGEM

A aprendizagem pode ser classificada em três tipos gerais: a cognitiva, que

promove o armazenamento organizado de informações na mente do indivíduo

que aprende; a efetiva, que resulta de ações externas ao indivíduo levando a

experiências satisfatórias ou não, associadas a situações de prazer ou

descontentamento; a psicomotora, que está associada a respostas musculares

adquiridas com treino e repetições. Em termos de ensino, as teorias de

aprendizagem podem ser divididas em grupos segundo suas principais

características; eis os grupos: Comportamentalismo, Cognitivismo, Construtivismo

e Humanistas. O presente trabalho se apoiou principalmente nas correntes

humanista e construtivista. No humanismo a essência humana ganha destaque,

os alunos estão em primeiro lugar e são entendidos como seres humanos que

possuem sentimentos, ações, crenças e ideais. Para esta corrente, não levar em

consideração esses aspectos humanos no processo de ensino-aprendizagem

pode causar prejuízos para o ensino; uma vez que os alunos são, acima de tudo,

seres humanos. No Cognitivismo a aprendizagem se dá em um processo de

cognição que enfatiza os significados do que é aprendido. Dessa forma o aluno

atribui significado ao aprendizado, fazendo relação com a realidade em que se

encontra.

2.2- APRENDIZAGEM SIGNIFICANTE DE CARL ROGERS

Nascido em Chicago, em 1902, graduado em História pela Universidade de

Chicago, com doutorado em Psicologia Educacional na Universidade de

Columbia, em Nova York, Rogers é considerado um humanista. O tipo de

aprendizagem que Rogers identifica como significante abrange e transcende os

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três tipos gerais (cognitiva, efetiva e psicomotora); sendo pautada em princípios

derivados de uma transposição de relações terapêuticas para o contexto escolar.

Aqui os aspectos em destaque são o aluno e seu potencial para aprender. Para

Rogers, o maior objetivo da educação é facilitar a aprendizagem. Extrapolando

princípios de terapia centrada no cliente, Rogers propõe princípios de

aprendizagem. Os princípios de aprendizagem de Rogers constituem uma base

para uma aprendizagem de qualidade e ressaltam aspectos humanos dos alunos;

a partir de conceitos como: autocrítica e a aprendizagem significativa,

desenvolvida através de ações, qualificando o aluno como sujeito ativo ROGERS

(1973). O presente trabalho apoia-se em alguns dos princípios do paradigma de

Rogers, princípios estes elencados a seguir.

Princípio 1: Seres humanos têm uma potencialidade natural para aprender.

Os seres humanos são curiosos sobre seu mundo; até que, e a menos que, essa

curiosidade seja neutralizada pelo sistema educacional. E possuem uma

tendência natural para aprender, descobrir e aumentar o conhecimento e a

experiência. Muitas vezes as metodologias ultrapassadas, comumente utilizadas

em sala de aula, neutralizam habilidades, em lugar de aprimorá-las. O uso do

Teatro no ensino, por outro lado, pode facilitar o alcance de grupos de alunos

excluídos pela falta de interesse por determinada área do conhecimento; dando-

lhes espaço para desenvolver habilidades e integrar conhecimentos de forma

interdisciplinar.

Princípio 7: A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa

responsavelmente do processo de aprendizagem. Esse princípio se aplica bem ao

contexto de ensino-aprendizagem mediado pelo Teatro Científico. Nessa

hipótese, certos elementos ligados a um aumento do senso de responsabilidade

do aluno podem se constituir em reforço positivo. Por exemplo, quando se

considera a possibilidade de reconhecimento pela sua dedicação ou de vaias por

conta do cometimento de erros diante da plateia (que pode incluir colegas de

escola, parentes ou desconhecidos). Importa mencionar que diferentes

habilidades e preferências de cada aluno podem ser úteis para a concretização de

uma peça teatral. Assim, cada aluno pode desempenhar diferentes funções numa

peça de Teatro. Dependendo de seu perfil e preferências, o aluno pode realizar

diferentes funções: roteiristas, atores, figurinistas, contrarregras, maquiadores,

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produtores dentre outros; criando um vínculo de dependência com o grupo.

Percebe-se que responsabilidade e comprometimento são inerentes a essas

funções e fundamentais para o desenvolvimento de um bom trabalho, em

concordância com Rogers.

Princípio 8: A independência, a criatividade a auto-confiança são todas

facilitadas quando a autoavaliação e a auto-crítica são básicas; a avaliação feita

por outros é secundária. Com base nesse princípio, as apresentações e ensaios

dos alunos foram gravadas em vídeo; com a finalidade de avaliar seus

desempenhos, tanto individual quanto coletivamente, bem como para elaborar

autocríticas na perspectiva construtiva; melhorando suas participações em

trabalhos futuros e, assim, podendo sugerir modificações que aprimorem o roteiro

e a atuação de cada um dos participantes do grupo teatral.

Princípio 10: A aprendizagem socialmente mais útil no mundo moderno é a do

próprio processo de aprender, uma contínua abertura à experiência e à

incorporação, de si mesmo, do processo de mudança. Segundo esse princípio, a

aprendizagem assume um papel, ao mesmo tempo, transformador e capaz de

influenciar socialmente. Nesse aspecto, cabe ao professor encorajar o aluno a

participar desse processo de mudança; o que pode acontecer através de práticas

que destaquem a participação do aluno como sujeito ativo. Olhando

especificamente para as possibilidades inerentes ao uso do Teatro Científico

como ferramenta para o ensino, o aluno tem oportunidade de criar histórias

envolvendo conceitos físicos (com a orientação do professor), interagir com a

sociedade por meio das apresentações, contribuir na divulgação da ciência,

participar do processo de mudança no ensino de Física. Abandonando o ensino

tradicional e caminhando para um ensino mais inovador. Por essas e outras

razões, acredita-se que o Teatro pode influenciar de maneira positiva no ensino

de Física, colaborando na disseminação de novas práticas lúcidas na escola.

2.3- APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA CRÍTICA DE MOREIRA

Baseando-se nos trabalhos de Postman e Weingartner, bem como na teoria

da aprendizagem significativa de David Ausubel, Marco Antônio Moreira

desenvolveu a teoria da Aprendizagem Significativa Crítica. Moreira discute

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conceitos fora de foco como: verdades absolutas, certezas e dicotomias. Que em

1969 já eram qualificados por Postman e Weingartner como ultrapassados; mas,

embora antigos, é fácil constatar que ainda estão presentes nas escolas nos dias

de hoje. Moreira ressalta que, em uma sociedade em constante mudança, são

grandes os desafios para o ensino de Física; o aluno deve estar preparado para

lidar construtivamente com essas mudanças, sem deixar-se dominar por elas.

Viagens espaciais, relatividade, probabilidade e incerteza estão no cotidiano dos

alunos; em contrapartida, a escola ainda transmite a ilusão da certeza

(MOREIRA, 2011). O autor formaliza princípios de aprendizagem que objetivam

tornar o aprendiz capaz de enfrentar a incerteza e a ambiguidade; visando que os

estudantes sejam mais flexíveis, inovadores e criativos.

Neste trabalho vamos enfatizar alguns princípios de Aprendizagem

Significativa Crítica de Moreira que foram utilizados, os quais são listados a

seguir.

Princípio da interação social e do questionamento. Ensinar/aprender

perguntas ao invés de respostas. Nosso ensino ainda é baseado em uma troca de

respostas prontas. Nesse paradigma, o professor em aulas tradicionais entrega

respostas ao aluno que, por sua vez, as memoriza e as devolve nas provas; um

processo em que não há criticidade (MOREIRA, 2011). Moreira enfatiza a

importância das perguntas do professor para o aluno, levando-o a criar novas

perguntas para, dessa maneira, utilizar seus conhecimentos de maneira

significativa.

‘‘Uma vez que se aprende a formular perguntas –

relevantes, apropriadas e substantivas – aprende-se a

aprender e ninguém mais pode impedir-nos de

aprendermos o que quisermos’’ (GOWIN, 1981).

Partindo desse princípio, o primeiro roteiro de peça teatral desenvolvido neste

trabalho enfatizou questionamentos que levam a reflexão e ao pensamento

crítico. Uma das personagens, inclusive, pergunta, por exemplo, se a Terra está

(ou não) no centro do Universo; dentre outras questões não mencionados. Outros

questionamentos relevantes para a Física, embora não trabalhadas na peça,

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poderiam surgir a partir de alterações do roteiro original; inclusive sem restrições

a aspectos da Mecânica. Essas perguntas colaboraram para provocar debates

acerca de temas atrelados a certezas e dicotomias.

Princípio da não centralidade do livro de texto. Do uso, em seu segundo

princípio, de documentos, artigos e outros materiais educativos. Da diversidade

de materiais instrucionais. Moreira critica a centralidade do livro didático e enfatiza

a importância da utilização de outros materiais no ensino; como artigos científicos,

contos, poesias, crônicas, relatos e obras de arte. Em concordância com esse

pensamento, criar de grupos de Teatro em escolas pode promover a utilização de

instrumentos como vídeos, artigos, roteiros de peças teatrais, com potencial

igualmente diversificado de estímulos sobre os alunos. Além disso, não se pode

negligenciar a possiblidade concreta de favorecer a aprendizagem de modo ativo;

com a participação dos próprios alunos na construção de tais instrumentos, sejam

roteiros, sejam recursos audiovisuais, por exemplo. O professor, nesse processo,

atua como mediador e não como “passador/repetidor” no processo de construção

do conhecimento dos e pelos alunos.

Princípio do conhecimento como linguagem. O autor destaca a relevância da

linguagem na nossa percepção do mundo, e a coloca como chave do

‘conhecimento’. Usar elementos do Teatro como linguagem para transmitir

conceitos físicos não é o que propõe de forma explícita o autor. Contudo os

elementos teatrais, enquanto linguagem, podem ser boa opção para avaliar

estudantes; que, talvez, não tivessem bom desempenho em avaliações

tradicionais (provas escritas envolvendo a mera resolução de questões por

adestramento, não mediante aprendizagem significativa). Moreira, em seus

princípios de aprendizagem, enfatiza que a interação social e as perguntas podem

ser mais relevantes para o processo de aprendizagem do que apenas as

respostas; defende a utilização de diferentes estratégias de ensino e de diferentes

materiais didáticos que possibilitem a participação do aluno e incentivem o

pensamento crítico, para além do quadro e pincel. Nessa conjuntura, o Teatro

Científico é uma boa alternativa de abordagem lúdica, pois nela os alunos são

instigados a participar de forma efetiva e autônoma, além de promover a interação

em grupo.

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Com base em conceitos fundamentados pelas teorias apresentadas, o

presente trabalho visou utilizar aspectos humanos, tais como sentimentos e

ações, no desenvolvimento de uma proposta de criação de grupos de Teatro para

o ensino de Física; de forma multidisciplinar, objetivando despertar o interesse

pelo estudo de conceitos e ideias que ajudam a explicar alguns temas em Física,

principalmente em Mecânica, por jovens e adolescentes da Educação Básica.

3.0- ELEMENTOS DE MECÂNICA NEWTONIANA E CAMPOS GRAVITACIONAIS

Como forma de subsidiar as aulas do professor de Física, entregamos o

presente texto; que explora alguns dos aspectos abordados nesta estratégia.

3.1- SOBRE RELÓGIOS, RÉGUAS E VARIAÇÕES

O conceito de movimento evoluiu significativamente deste a Antiguidade. O

filósofo grego Aristóteles (300 a.C.) acreditava que o movimento só acontecia se

houvesse uma força que o mantivesse (PIRES, 2008). A partir das contribuições

de Nicolau Copérnico, Robert Hooke, Galileu Galilei, Isaac Newton e muitos

outros cientistas as ideias sobre movimento evoluíram bastante. Na atualidade,

conceitos fundamentais como posição, velocidade e aceleração são considerados

relativos, posto que dependem do referencial a partir do qual se observa o

movimento. Mas o que seria um referencial?

De maneira geral, poderíamos associar referencial à ideia de um observador

que está munido de uma régua para medir distâncias e um relógio para medir

intervalos de tempo2. É interessante mencionar que, via de regra, observadores

em referenciais diferentes podem medir, por exemplo, trajetórias e velocidades

distintas para a dinâmica de um mesmo móvel. Assim, um piloto de corridas de

automobilismo pode estar em movimento com relação aos espectadores na

arquibancada; dessa forma, a distância do piloto aos espectadores muda à

medida que o tempo passa. Todavia, simultaneamente, o piloto pode estar em

repouso, quando o movimento é observado a partir do automóvel em que o piloto

está, pois a distância entre o piloto e o carro (que ele pilota) permanece

2 No caso da Mecânica Newtoniana, a ideia de referenciais associados a observadores munidos de “régua”

e de “relógio” apresenta complicações, como veremos adiante.

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constante. Portanto, é necessário que seja especificado o referencial adotado

para definir o estado de movimento do piloto.

Na situação descrita acima o sistema analisado, constituído pelo piloto, pelo

carro e pelos espectadores é formado por “objetos” com dimensões bastante

próximas, com ordens de grandeza muito próximas. Podemos ver tais “objetos”

como corpos extensos, que são formados por partes menores: moléculas e

átomos. Entretanto, em muitas situações lidamos com “objetos” (com distintos

estados de repouso ou de movimento) que são muito pequenos; ou seja, com

dimensões muito menores quando comparadas às dimensões de outros

constituintes do sistema observado. É o caso, por exemplo, da comparação das

dimensões de uma manga em queda (a partir do alto de uma mangueira) com as

dimensões do planeta Terra que atrai3 tal manga para baixo. Nesta última

situação, em que o “objeto”, cuja dinâmica é de interesse, tem dimensões muito

menores do que o restante do sistema e, assim, é comum desconsiderar a sua

estrutura constitutiva interna e considerá-lo como se fosse uma partícula (objeto

com dimensões de um ponto). Dessa forma, o movimento da manga poderia ser

tratado como o movimento equivalente de uma partícula. Por sua vez, o

movimento de um corpo extenso (onde as dimensões do “objeto” de interesse não

podem ser desconsideradas, nem são tão menores que as do resto do sistema do

qual faz parte) pode ser descrito como equivalente ao movimento de um ponto: o

centro de massa (dependente da distribuição de massa no corpo) ou o centro de

gravidade (dependente de como a força gravitacional atua nesse corpo) do corpo

extenso. Cabe salientar que tais equivalências não “empobrecem” a descrição da

dinâmica do sistema, seja o tratamento do “objeto” como uma partícula ou

descrever o movimento de um corpo extenso a partir do movimento de um centro

relacionado à distribuição de massas ou de forças (nesse corpo)4.

Falemos agora um pouco sobre alguns conceitos, princípios e ideias

importantes para a descrição do movimento de uma partícula. Ressalte-se, como

acabamos de discutir, que é possível, em certas condições, fazer a equivalência

3 Vale lembrar que, assim como a Terra atrai a manga, a manga também atrai a Terra via interação

gravitacional. 4 A propósito, a Mecânica Newtoniana, utilizando os pressupostos apresentados, funciona muito bem

quando se trata de dimensões macroscópicas e de baixas velocidades (em comparação com a velocidade

da luz no vácuo).

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entre a descrição do movimento de um corpo extenso e a dinâmica de uma

partícula.

Nesse ínterim, imaginemos que tenha sido tirada uma “foto” de certa

posição ocupada por um objeto em movimento em uma dimensão; objeto este

que, de agora em diante, chamaremos de móvel, em determinado instante de

tempo. Sejam tiradas várias fotos sucessivas, sempre tiradas a partir do mesmo

sistema de referência (atrelado a determinado lugar e a um determinado “relógio”)

das várias posições ocupadas por este móvel em determinado intervalo de tempo.

Poderíamos, assim, de forma semelhante ao método tradicional para a feitura dos

quadros de uma sequência de desenho animado5, juntar as várias “fotos” do

móvel e “desenhar” a trajetória descrita. Aqui, para deixar claro, a trajetória é

entendida como a união das várias posições ocupadas pelo móvel; ou dito de

outra forma, das várias “fotografias” das posições ocupadas pelo móvel nos

distintos instantes de tempo, e que formam uma curva.

Figura 1.0: Trajetória no movimento unidimensional

Fonte: elaborada pelo autor

E se o movimento agora ocorre ao longo de duas dimensões? Ou de três

dimensões? A descrição do movimento de um objeto pode ser simplificada

quando se utiliza a ideia de vetor e aplicarmos tal ideia às grandezas definidas

como vetoriais. Vetores podem ser entendidos como entidades geométricas que

representam o módulo, a direção e o sentido de uma grandeza física vetorial.

Assim, entendendo a grandeza posição como uma grandeza vetorial, podemos

5 Nesta etapa seria interessante propor aos participantes do grupo, caro leitor, uma rápida pesquisa sobre o

método de animação tradicional que notabilizou desenhos animados antigos, como os dos estúdios Walt

Disney. Quem sabe até a organização de uma oficina sobre o método de animação por célula (que é o

método tradicional de animação).

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13

associar coordenadas a esse vetor que representa a posição em relação a

determinado sistema de referência. Se utilizarmos um sistema de coordenadas

cartesianas e o movimento ocorre em uma direção apenas (digamos, direção X),

o vetor posição 6r poderá ser representado por

𝒓 = 𝒙 î . (1)

onde î representa o versor (vetor unitário7) na direção X. Por sua vez, a

velocidade associada a esse objeto que se move ao longo da direção X pode ser

representada por

𝒗 = 𝑣𝑥î . (2)

Se, por sua vez, o movimento ocorrer em três dimensões, e utilizando

coordenadas cartesianas, poderemos decompor o vetor posição nas direções X,

Y e Z. Assim, teremos para o vetor posição a seguinte representação:

𝒓 = 𝑥 î + 𝑦 𝑗̂ + 𝑧�̂� . (3)

Se o móvel desenvolve velocidade constante com componentes nas direções

X, Y e Z, o vetor velocidade será dado por

𝒗 = 𝑣𝑥 î + 𝑣𝑦 𝑗̂ + 𝑣𝑧�̂� . (4)

Assim, falando apenas na representação das trajetórias, cada ponto (na

trajetória) estará associado a um vetor posição e um valor de tempo t como

mostra a Figura (1.1). Ter-se-á, deste modo, vetores ligando a origem do sistema

de coordenadas aos pontos (associados às “fotografias”) que constituem a curva

que determina a trajetória.

6 As grandezas vetoriais nesse texto serão representadas em negrito. 7 Vetor unitário associado a um vetor qualquer é aquele para o qual se divide o vetor pelo valor do seu

módulo.

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14

Figura 1.1: Trajetória de um móvel no espaço

Fonte: elaborada pelo autor

Vale lembrar ainda que a trajetória do móvel representa o caminho percorrido

por esse móvel e, como veremos adiante, o comprimento desse caminho pode

nos dar informações acerca de outras grandezas físicas.

Retomando o movimento de um móvel em duas dimensões, a posição desse

móvel será determinada por suas coordenadas 𝑥 (abscissa) e 𝑦 (ordenada)

(NUSSENZVEIG, 2002), que constituem um vetor posição 𝒓: Assim, quando uma

partícula muda sua posição de 𝒓𝟏 para 𝒓𝟐, dizemos que houve um deslocamento

∆𝒓, definido como a variação da posição:

∆𝒓 = 𝒓𝟐 − 𝒓𝟏 (5)

Caso ocorra uma variação do vetor posição num certo intervalo de tempo,

podemos definir outra grandeza, a 8velocidade vetorial média, definida a partir da

relação:

𝒗𝒎 = ∆𝒓/∆𝒕 (6)

8 A velocidade média não é necessariamente a velocidade que o móvel possui em todo o

trajeto, pois ele pode assumir diferentes valores de velocidade entre dois instantes 𝑡1 e 𝑡2. A velocidade média é uma média dos valores assumidos no percurso.

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15

Neste ponto é interessante distinguir a grandeza velocidade vetorial média,

que acabamos de definir, da grandeza (escalar) velocidade escalar média.

Enquanto a velocidade vetorial média está, além do tempo, relacionada ao

deslocamento 𝒓 que é uma grandeza vetorial, a velocidade escalar média está

relacionada ao comprimento da trajetória do móvel, além do tempo. Entendido

isso, definimos a velocidade escalar média como a razão entre o comprimento da

trajetória (ou seja, o caminho percorrido pelo móvel) e o intervalo de tempo para

percorrer tal trajetória.

𝒗𝒆𝒔𝒄𝒂𝒍𝒂𝒓 𝒎é𝒅𝒊𝒂 = ∆𝒔/∆𝑡 (7)

Como mostra a Figura 1, a velocidade escalar média de um móvel durante um

intervalo de tempo não é igual ao módulo da velocidade (vetorial) do móvel

medida em cada instante de tempo durante todo aquele intervalo. Representa, em

verdade, a média das velocidades que ele assume durante o percurso. A

propósito, a velocidade (vetorial) do móvel medida em cada instante é definida

como velocidade instantânea (vetorial) desse móvel.

Figura 1.2: Velocidade escalar média entre dois instantes de tempo

Fonte: elaborada pelo autor

O caminho percorrido (comprimento da trajetória) pelo móvel e o

deslocamento também se diferenciam porque o primeiro é uma grandeza escalar,

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16

ao passo que o segundo é uma grandeza vetorial. É possível, inclusive, que um

móvel percorra uma trajetória associada a um caminho percorrido não nulo, mas

realize um deslocamento nulo. Esta aparentemente estranha situação ocorre, por

exemplo, quando o móvel descreve um circuito fechado em que a posição inicial e

final coincidem.

Figura 1.3: Deslocamento e distância percorrida em um caminho fechado.

Fonte: elaborada pelo autor

Outra grandeza física de interesse é a aceleração. A aceleração é a razão

entre a variação de velocidade e o intervalo de tempo em que tal variação (de

velocidade) ocorre. Analogamente ao caso da grandeza velocidade, é possível

obter a aceleração escalar média e a aceleração vetorial média.

𝒂𝒆𝒔𝒄𝒂𝒍𝒂𝒓 𝒎é𝒅𝒊𝒂 = ∆𝒗𝒆𝒔𝒄𝒂𝒍𝒂𝒓/∆𝒕 (8)

A aceleração escalar média está relacionada à variação da velocidade escalar

e ao tempo que o móvel leva para percorrer o comprimento da trajetória. Por sua

vez, a aceleração vetorial média está relacionada à variação da velocidade

vetorial e ao tempo que o móvel leva para descrever um deslocamento do início

até o fim da trajetória entre dois instantes de tempo.

𝒂𝑚é𝑑𝑖𝑎 = ∆𝒗𝑚é𝑑𝑖𝑎/∆𝑡 (9)

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17

Até aqui passeamos um pouco pelo movimento sem explorar as causas dos

movimentos. Nesse aspecto, a interação, seja de contato, seja mediada por

campos, entre partes de um sistema pode ser a causa da alteração do estado de

movimento de objetos. Assim, quando uma pessoa empurra uma caixa e segue

empurrando, sem perder contato com a caixa, com uma velocidade constante ou

variável, ocorre uma interação entre a pessoa e a caixa. E, para algum

referencial, esta caixa pode se movimentar com uma velocidade não nula9 (e

constante ou variável). Como outro exemplo, temos o planeta Terra que realiza o

movimento de translação em torno do Sol devido à interação gravitacional,

mediada por um campo, entre o planeta e a notável estrela do Sistema Solar.

Figura 1.4 força de ação a distância e força de contato

Fonte: elaborada pelo autor

Em ambos os exemplos de interação que acabamos de apresentar, a causa

do movimento de uma ou mais partes do sistema relaciona-se a uma interação.

Por sua vez, certas interações podem ser associadas ao que podemos chamar de

força, que consiste na representação matemática de determinada interação.

Como dois exemplos pode-se mencionar, dentre outras, a força gravitacional e a

força eletromagnética10.

9 Vale lembrar que para um referencial que se movimente na mesma direção, no mesmo sentido e com

velocidade de mesmo módulo (ou intensidade), teríamos uma situação em que a caixa estará em repouso.

Reforçando: falar em movimento ou em repouso depende do referencial a partir do qual se observa o

movimento (ou repouso). 10 Seria interessante, nobre leitor, realizar uma pesquisa sobre as interações fundamentais, por exemplo,

interação forte, interação fraca, interação eletromagnética e interação gravitacional, bem como as forças

que já foram “unificadas” (caso da unificação das interações eletromagnética e fraca, “gerando” a

interação eletrofraca).

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18

Quanto à relação entre o movimento e suas causas, devemos olhar para a

contribuição de Sir Isaac Newton para a dinâmica de sistemas. Em sua obra

Principia, Newton apresenta três leis ou princípios que alicerçam o estudo da

Dinâmica.

O primeiro dos princípios, também conhecido como Primeira Lei de Newton

nos diz que um sistema, com determinado estado de movimento uniforme (de

repouso ou com velocidade constante), só vai mudar seu estado de movimento

se, após somar todas as forças que atuam no corpo, a força resultante que atua

sobre o sistema for não nula11. Outro aspecto presente na Primeira Lei de Newton

é a tendência, maior ou menor, que se observa de um sistema de permanecer em

seu estado de movimento. A essa tendência de manter inalterado o estado de

movimento do sistema chamamos de inércia. Será mais difícil alterar o estado de

movimento do sistema quanto maior a quantidade de matéria contida no sistema.

Em outras palavras, quanto maior a massa do sistema, maior será a sua inércia.

A partir da ideia de inércia pode-se entender por que é mais fácil colocar uma

bicicleta em movimento do que um ônibus, considerando que ambos, bicicleta e

ônibus, estivessem inicialmente em repouso12.

O segundo princípio, ou Segunda Lei de Newton, nos diz que a variação do

movimento é proporcional à força aplicada e na direção desta (força aplicada).

Dessa forma, para uma mesma força aplicada, móveis com diferentes massas

sofrem diferentes variações em seu movimento. Poderíamos, por exemplo,

observar qual é a variação da velocidade num certo intervalo de tempo 𝛥𝑡, ou

seja, mediríamos a aceleração, sofrida por cada um dos móveis com diferentes

massas; o móvel de maior massa sofrerá uma aceleração de menor módulo, e

vice-versa.

𝑭 = 𝑚1 𝒂𝟏 = 𝑚𝟐 𝒂𝟐 (10)

11Não podemos esquecer, neste ponto, que a referida soma de forças é uma soma de vetores (as forças)

que estão atuando sobre o sistema. Ou seja, não faz sentido somar apenas os módulos ou intensidades das

forças que atuam sobre o sistema. 12A priori, consideramos que as condições iniciais para a bicicleta e o ônibus são idênticas. Poderíamos

ter, para ambos, por exemplo, uma situação em que ambos estão em uma superfície plana e não

completamente lisa.

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O terceiro princípio, ou Terceira Lei de Newton, nos diz que quando um

primeiro sistema aplica uma força 𝑭 sobre um segundo sistema, o segundo

sistema reage aplicando uma força aplicada sobre o primeiro sistema, sendo que

a força 𝑭’ tem o mesmo módulo e a mesma direção que a força 𝑭; mas atua em

sentido contrário. Dessa forma, quando uma pessoa puxa (aplica uma força de

tensão) sobre uma corda, a corda puxa a pessoa de volta, com uma força de

tensão de mesmo módulo que aquela que a pessoa aplicou inicialmente, na

mesma direção daquela, mas em sentido contrário. Aqui cabe esclarecer um

aspecto conceitual importante: a força de ação não cancela o efeito da força de

reação, de algum modo que a força resultante pudesse ser anulada apenas a

partir da soma dos vetores força de ação e força de reação. Por quê? A razão é

simples: o ponto de aplicação da força de ação é diferente do ponto de aplicação

da força de reação. Assim, aproveitando nosso exemplo da mão de uma pessoa

que puxa a corda, se a força de ação é a força que a mão aplica sobre a corda, o

ponto de aplicação desta força está na corda. Por sua vez, se a força de reação é

a força que a corda aplica sobre a mão da pessoa, aqui o ponto de aplicação (da

força de reação) está na mão da pessoa. Ora, não faz sentido algum imaginar que

forças em pontos de aplicação diferentes se cancelem; uma vez que quando se

fala em força resultante sobre um corpo ser nula implica que as forças que atuam

sobre o mesmo corpo, sobre um mesmo ponto de aplicação das forças se

cancelam.

Figura 1.5

Fonte: elaborada pelo autor

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20

Na parte (A) da Figura (1.5) temos um par ação-reação formado pela

interação a distância da Terra com uma maçã. A força 𝑭𝑻,𝒎 é a força com que a

maçã atrai a Terra e a força 𝑭𝒎,𝑻 é a força com que a Terra atrai a maçã. Em

razão da grande diferença de massa entre elas, a maçã, que é mais leve, sofre

maior aceleração; enquanto a Terra, muito mais massiva, permanece

praticamente imóvel; tudo isso apesar da força sofrida por ambas ter a mesma

intensidade.

A propósito, voltando a falar de referencial, há uma classe especial (de

referenciais) em que valem as leis de Newton; a esses referenciais nós

chamamos inerciais. Considera-se que esse tipo de referencial está em repouso

ou em movimento retilíneo e uniforme em relação às chamadas estrelas fixas. Ou

seja, referenciais inerciais têm aceleração nula em relação às estrelas fixas. Outra

coisa: olhando para um mesmo sistema, em movimento ou em repouso, a partir

de distintos referenciais inerciais, os observadores medirão acelerações iguais

para o sistema; mesmo as acelerações sendo medidas a partir de referenciais

inerciais diferentes. Outro fato interessante é que a Terra não é um referencial

inercial, mas sim um referencial acelerado. Isso explica por que observamos o

aparecimento de forças inerciais ou pseudoforças como a força centrífuga e as

forças de Coriolis13.

Um aspecto importante na Mecânica Newtoniana é a ideia de que o tempo e o

espaço são absolutos. Dito de outra forma, Newton defendia que o tempo e o

espaço seriam grandezas matemáticas que fluiriam uniformemente, sem a

influência de fatores externos. Para ilustrar esse pressuposto, a partir do que

Newton propunha a “régua” e o andamento dos ponteiros de um “relógio”

associados a um referencial não seriam afetados, mesmo se o referencial se

movesse a altas velocidades14.

É interessante ainda falar a respeito de duas categorias de movimentos, o

movimento retilíneo uniforme (M.R.U.) e o movimento retilíneo uniformemente

variado (M.R.U.V.). Um móvel em M.R.U. mantém velocidade constante (e

13 Tais forças inerciais ou pseudoforças não seriam medidas se a Terra fosse um referencial inercial. Vale

a pena, caro leitor, fazer uma pesquisa sobre alguns tipos de forças inerciais, começando pelas duas aqui

citadas. 14 A Teoria da Relatividade Restrita de Einstein contesta essa ideia, mostrando que as medidas de espaço

e de tempo são afetadas pela velocidade com que o referencial se move.

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aceleração resultante nula), enquanto um móvel em M.R.U.V. mantém uma

velocidade variável e uma aceleração resultante constante e não nula.

A descrição matemática de um M.R.U. pode ser obtida a partir da seguinte

equação horária (que expressa a posição em função do tempo):

𝒔(𝒕) = 𝒔𝟎 + 𝒗𝑡 . (11)

Por sua vez, a descrição matemática de um M.R.U.V. é obtida a partir das

seguintes equações horárias (posição e velocidade como funções do tempo) e da

equação de Torricelli (terceira equação):

𝒔(𝒕) = 𝒔𝟎 + 𝒗𝟎𝒕 + ½ 𝒂𝑡2 , (12)

𝒗(𝒕) = 𝒗𝟎 + 𝒂𝒕 , (13)

𝒗𝟐 = 𝒗𝟎𝟐 + 2𝒂 ∆𝒔 . (14)

Nas expressões acima: 𝑡 representa o tempo; 𝒔(𝑡) e 𝒗(𝑡) representam,

respectivamente, a posição e a velocidade como funções do tempo; 𝑠0 e 𝒗𝟎

representam, respectivamente, posição inicial e velocidade inicial; 𝒂 representa a

aceleração; ∆𝒔 representa a diferença entre a posição final e a posição inicial que

foram ocupadas pelo móvel.

Apresentadas as três leis de Newton e as grandezas cinemáticas15 mais

relevantes, atentemos de agora em diante para a interação gravitacional; que tem

relação com a força peso, causa dos movimentos de queda livre e de lançamento

oblíquo, por exemplo, relacionados ao roteiro proposto da primeira peça desta

proposta de implantação do grupo de Teatro Científico.

15 É comum dividir a Mecânica Clássica ou Mecânica Newtoniana em três ramos: a Cinemática, que

estuda o movimento sem se preocupar com as causas (desse movimento); a Dinâmica, que estuda o

movimento em conjunto com as causas desse movimento; e a Estática, que estuda forças atuando em

sistemas em equilíbrio estático.

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22

3.2- MASSAS, QUEDAS E LANÇAMENTOS

A força gravitacional está relacionada à interação gravitacional e, assim como

no caso das Leis da Mecânica Newtoniana (ou Mecânica Clássica), também

devemos sua formulação a Sir Isaac Newton. A lei de força relacionada à

interação gravitacional é comumente conhecida como Lei da Gravitação

Universal. Para compreender como acontecem essas interações, vamos

comentar um pouco sobre os conceitos de massa e densidade. Imaginemos a

situação em que um atleta chute consecutivamente duas bolas, uma de futebol e

outra de boliche. Além da fratura no pé ao chutar a bola de boliche, mesmo que

as duas tenham o mesmo volume, ou seja, ocupem o mesmo espaço, é fácil

concluir que a bola de futebol adquirirá maior aceleração e, com isso, inferir que

possui menor massa. Mas como medimos a massa a partir da informação sobre o

movimento do sistema? Podemos medir a massa de um corpo comparando a

aceleração sofrida por ele devido à ação de uma força constante.

E como definimos o que seja massa? Podemos dizer que ‘‘a massa de um

corpo é a propriedade que relaciona uma força que age sobre o corpo à

aceleração resultante’’. (HALLIDAY, 2014, P.95). Agora consideremos duas

esferas com massas M e m, onde 𝑀 > 𝑚. Vamos assumir que apenas uma delas

flutua quando colocada em um recipiente com água. É possível afirmar que a

esfera que irá flutuar é a de maior massa? Não podemos afirmar. A propriedade

que permite determinar se um objeto afunda ou flutua em um 16fluido é chamada

de densidade (𝜌) , que fornece sua massa por unidade de volume (YOUNG,

2003).

𝜌 = 𝑚/𝑉 (14)

A densidade determina a quantidade de matéria contida no volume de um

objeto; para substâncias puras e homogêneas a densidade permanece constante.

O corpo humano, por exemplo, é composto por substâncias com valores distintos

de densidade; em casos como esse, a densidade não é constante, é conveniente

calcular a densidade média, que é a massa total dividida pelo volume total do

corpo.

16 Qualquer substância com a capacidade de fluir, escoar, fluidos abarcam líquidos e gases.

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Voltemos à Lei da Gravitação Universal. Segundo esta, a força com que dois

corpos com massa atraem um ao outro é diretamente proporcional ao produto das

massas deles e inversamente proporcional ao quadrado da distância separando

tais corpos. Desse modo, a força gravitacional entre duas bolas de sinuca

separadas por uma distância de 15 centímetros tem uma intensidade muito menor

que a correspondente força gravitacional entre o planeta Terra e o Sol17.

Ressalte-se que, conforme aprendemos da Terceira Lei de Newton, a intensidade

da força com que a Terra atrai o Sol é a mesma da força (de reação) com que o

Sol atrai a Terra; algo análogo vale para o par de bolas de sinuca, obviamente.

𝑭𝑮 = 𝐺 𝑚1.𝑚2

𝑑2 �̂� (15)

Se o par de corpos interagindo gravitacionalmente é formado por um corpo e

a Terra, podemos reescrever a força gravitacional a partir da expressão que

conhecemos para a chamada força peso; que depende do valor da aceleração da

gravidade e da massa 𝑚 do corpo; para obter o peso desse corpo a partir da

expressão

𝑷 = 𝑚 𝒈 . (16)

Onde 𝒈 representa o vetor aceleração da gravidade no ponto em que o corpo

está. Se o corpo está sobre a superfície da Terra, a expressão para a aceleração

da gravidade em termos da massa 𝑀 da Terra, do raio 𝑅 da Terra e da constante

de gravitação universal 𝐺 que é dada por:

𝒈𝒔𝒖𝒑𝒆𝒓𝒇í𝒄𝒊𝒆 = 𝐺𝑀

𝑅2 �̂�. (17)

17 Caro leitor, deixamos como exercício para você obter a intensidade da força gravitacional para cada um

dos dois pares de corpos interagindo. Você pode utilizar o valor 𝐺 = 6,67.10−11 𝑁. 𝑚2/𝑘𝑔2 para a

constante de gravitação universal, pesquisar os valores das massas da Terra e do Sol, além de estimar (ou,

quem sabe, medir) a massa típica de bolas de sinuca. Poderá fazer isso sozinho ou com a ajuda do seu

professor.

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Ao passo que, se o corpo está a uma altura ℎ qualquer em relação à

superfície, a expressão para a aceleração da gravidade nesse ponto será

𝒈𝒂𝒍𝒕𝒊𝒕𝒖𝒅𝒆 = 𝐺𝑀

(𝑅 + ℎ)𝟐 �̂� . (18)

Para pontos próximos à superfície (ou seja, quando a altitude é muito inferior

ao raio da Terra) a aceleração da gravidade é, com boa aproximação, constante.

Dois tipos de movimentos são de especial interesse para este trabalho: a queda

livre e o lançamento oblíquo. Falaremos um pouco sobre eles a seguir.

A queda livre ocorre quando abandonamos um corpo a uma altitude ℎ a partir

de um nível de referência (superfície do chão, por exemplo). Tal corpo ficará

sujeito à atuação da força peso, realizando um movimento acelerado sob a

influência da aceleração da gravidade. As equações horárias e a equação de

Torricelli que regem a queda livre de um corpo são dadas por:

𝒉(𝒕) = 𝒉0 + ½ 𝒈𝑡2 , (19)

𝒗(𝒕) = 𝒈𝑡 , (20)

𝒗𝟐 = 2𝒈∆𝒉 . (21)

Um fato importante é que o tempo de queda (livre) não dependerá da massa

do objeto que cai. Assim, se dois corpos diferentes fossem abandonados de uma

mesma altura e se a única força atuando sobre eles fosse o peso, ambos

chegariam simultaneamente ao chão; ou passariam no mesmo instante de tempo

por uma mesma altura intermediária entre a posição de abandono e o chão.

Obviamente que alguns fatores influenciam nesse movimento de queda, se o

corpo é abandonado ao ar livre; dentre esses fatores pode-se mencionar a

resistência do ar, que acaba reduzindo a intensidade da aceleração resultante na

queda do corpo. Observa-se também que a resistência do ar18 afeta de forma

distinta objetos com geometrias diferentes. Assim, quando abandonamos uma

esfera de pequeno raio e uma placa plana, o objeto que tiver maior superfície de

18 Obviamente, se há resistência do ar, o movimento não será de queda livre.

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contato com o ar sofrerá maior resistência e, por isso, a aceleração resultante terá

uma maior redução em sua intensidade do que o outro que tenha menor

superfície de contato com o ar.

Outro tipo de movimento cuja descrição cinemática nos interessa é o

lançamento oblíquo. Ele ocorre quando um móvel é arremessado com

determinada velocidade inicial que forma certo ângulo com a direção horizontal.

Tal movimento pode ser decomposto em suas componentes horizontal e vertical.

Na direção horizontal verifica-se que o móvel realiza movimento uniforme (com

velocidade constante) e na direção vertical têm-se um movimento uniformemente

variado (com aceleração igual à da gravidade). As equações horárias para o

lançamento oblíquo são expressas por

MOVIMENTO UNIFORME NA DIREÇÃO HORIZONTAL

𝒙(𝒕) = 𝒙𝟎 + 𝒗𝟎𝒙𝑡 (22)

MOVIMENTO UNIFORMEMENTE VARIADO NA DIREÇÃO VERTICAL

𝒚(𝒕) = 𝒚𝟎 + 𝒗𝟎𝒚𝑡 + ½ 𝒈𝑡2, (23)

𝒗𝒚(𝒕) = 𝒗𝟎𝒚 + 𝒈𝑡 , (24)

𝒗𝒚𝟐 = 𝒗𝟎𝒚

𝟐 + 2𝒈∆𝒉 . (25)

O sinal de 𝒈 nas equações acima depende exclusivamente da escolha do

referencial. Por exemplo, se uma partícula é abandonada de uma altura 𝑦 = 10 𝑚,

ela será acelerada a uma taxa 𝑔 = 9,81𝑚/𝑠2 na direção do sentido negativo do

eixo, logo essa aceleração será negativa. Se o eixo adotado tiver sentido contrário

ao mencionado, então, a aceleração será positiva, como mostra a Figura 1.6.

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Figura 1.6

Fonte: elaborada pelo autor

Aqui mencionamos dois aspectos interessantes neste tipo de movimento.

Primeiro, a máxima distância percorrida na direção horizontal, a partir da posição

inicial de lançamento, é obtida quando o ângulo entre a velocidade inicial e a

direção horizontal é de 45º; essa máxima distância horizontal percorrida também

é conhecida como alcance. Segundo, na altura máxima a componente vertical da

velocidade do móvel é nula.

É interessante relembrar que diferentes observadores, postados em diferentes

referenciais, podem enxergar diferentes trajetórias para um mesmo movimento.

Nesse aspecto, e ainda falando de movimentos relacionados ao lançamento

oblíquo, nos perguntemos qual seria a trajetória descrita por uma pequena pedra

lançada verticalmente para cima por um skatista em movimento. O resultado

depende do referencial de observação. Um observador posicionado em uma linha

paralela afastada da trajetória do skate verá a pedra descrever uma parábola19

(Figura 1.7), embora o skatista observe uma trajetória retilínea e vertical. O fato

da trajetória da pedra ser em forma de parábola nos leva à pergunta: qual a

função cujo gráfico é parabólico? É uma função quadrática. Espera-se que a

resposta seja bem conhecida de alunos do 9ª ano no Ensino Fundamental.

19 Na verdade a trajetória é quase parabólica, se considerarmos que existe resistência do ar, por exemplo.

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Figura 1.7: A Trajetória pode mudar a depender do referencial de observação.

Fonte: elaborada pelo autor

A equação (23) descreve como a posição varia com o tempo, no caso do

movimento em questão, como já vimos.

CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS

Diante da receptividade dos alunos que participaram da aplicação da proposta

e do potencial transformador observado durante a implementação da mesma,

pretendemos, a partir da formação e fortalecimento do grupo de teatro na escola

Estadual Padre Luiz Cassiano, elaborar novos roteiros de peças de teatro. A partir

da criação de mais roteiros, o grupo de teatro servirá tanto para o propósito de

favorecer os processos de ensino/aprendizagem em Física a partir de uma

estratégia multidisciplinar e transdisciplinar quanto para fins de divulgação

científica.

Em virtude da realidade da formação dos docentes que atuam nas escolas

públicas brasileiras a abordagem pode apresentar algumas limitações, com

relação ao aprofundamento de temas relacionados as disciplinas envolvidas.

A partir da abordagem como perspectiva deste trabalho, espera-se que

temáticas variadas em Física possam ser exploradas, por exemplo,

Termodinâmica, Eletromagnetismo, Física Quântica e Relatividade onde

biografias de grandes cientistas, conjunturas sócio-político-econômicas em que

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revoluções científicas ocorreram apresentam um leque imenso de possibilidades

para o fim pretendido.

A partir da análise dos questionários, conversas com alunos, professores,

apresentações dos alunos entre outras formas de avaliação, pode-se apontar que,

de maneira geral, houve avanços no entendimento de ideias e princípios em

Física, História e Artes. Com base no projeto piloto deste produto entendemos

que a estratégia aqui apresentada pode contribuir com um ensino mais inovador.

Que proporcione maior participação efetiva dos alunos e, dessa forma,

concordando com os princípios de aprendizagem de Moreira. Por conseguinte,

acreditamos que é somente em uma postura multi, inter, e transdisciplinar que

professores e alunos atingem compartilhamento de saberes e fazeres; de modo

que a aprendizagem torne-se significativa, além de crítica/reflexiva. Física,

História e Artes não são disciplinas separadas em conteúdos, são conhecimentos

que podem trazer uma visão mais holística de ser humano no mundo.

Para uma abordagem em espaços não formais de ensino, enfatiza-se a

transdisciplinaridade, a participação da comunidade e o papel do aluno como

agente transformador do seu ambiente social. Nessa abordagem as adaptações

do produto são facilitadas pela liberdade criativa dos envolvidos.

De modo similar ao que foi desenvolvido na Escola Estadual Padre Luiz

Cassiano, o projeto pode ser dividido em três etapas, cada uma dividida em

momentos. É interessante que os participantes sejam voluntários e as atividades

aconteçam em locais de fácil acesso para a comunidade, como por exemplo,

escolas, associações de moradores, centros comunitários entres outros

ambientes. Os principais objetivos nessa abordagem são: promover atividades

voltadas para o Teatro Científico, favorecer a cultura científica e o diálogo entre

Física, História e Artes, assim também transmitir conteúdos científicos para

fortalecer a divulgação científica.

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Referências Bibliográficas

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HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; walker, J. Fundamentos de Física Mecânica. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Livros Técnicos e Científicos (Ltda). 2013.

MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. 2ª ed. São Paulo: Editora pedagógica e universitária LTDA, 2011 (p.137-149; 223 - 239).

NUSSENZVEIG, M. H.1 Curso de Física Básica Mecânica. 4ª Ed. São Paulo: Editora Blücher, 2002.

PEDUZZI, L. O. Q. (1996). Física Aristotélica: Por que Não Considerá-la no Ensino da Mecânica? Caderno Catarinense de Ensino de Física, v.13, n. 1: p.48-63, 1996.

PIRES, A. S. T. Evolução das Ideias da Física. 1ª ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2008 (p. 115- 145).

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Apêndice A

(Roteiro ‘O Julgamento de Galileu’)

1ª Momento – (Movimento, Repouso e Referencial)

(Virgínia) Hoje eu acordei cheia de dúvidas e percebi que tudo que eu sei é que

nada sei.

(Lívia) Deixa de besteira, vai lavar a louça e vê se tira essas caraminholas da

cabeça!

(Virgínia) Você nunca se perguntou menina! Será mesmo que a Terra está imóvel

no centro do universo?

Ou por que o Sol brilha? Ou por que o céu é azul? Nem por que algumas pessoas

comem buchada?

(Lívia) Aristóteles estava certo; a Terra está paradinha. O Sol e os planetas que

giram em seu redor; por isso estamos em repouso.

(Virgínia) Você acredita em tudo que lhe dizem! Mas e se Nicolau Copérnico

estiver certo? Nesse caso, a Terra e os planetas é que giram em torno do Sol. Ou

seja, estamos em movimento!

Ao observar, atento, Galileu comenta a conversa:

(Galileu) Com relação ao movimento as duas podem estar corretas, é apenas

uma questão de referencial.

a) Movimento em relação ao Sol.

b) Repouso em relação a mim, por exemplo.

(Virgínia) Papai, explique um pouco melhor essa questão do referencial.

(Galileu) “Vivi”, você já observou um pombo voando?

(Virgínia) Já sim, papai.

(Galileu) Pois bem; imagine que o pombo estava inicialmente em um telhado bem

alto e resolveu fazer suas necessidades em pleno voo, após percorrer uma

distância em linha reta de algumas dezenas de metros. Imagine ainda como será

o movimento do projétil que seguirá do “compartimento traseiro” do pombo até a

cabeça de algum indivíduo. Pois bem; diga-me agora: como será o movimento do

cocô de pombo, quando observado pelo próprio pombo?

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(Virgínia) Acredito que será um caminho em linha reta, vertical, papai.

(Galileu) Isso mesmo! Bicha inteligente! Agora essa vai pra você, Lívia. Imagine

agora que você estava em frente à entrada térrea de uma casa em frente ao

telhado de onde partiu o pombo e observou a queda do cocô a partir desse lugar

em que estava. Que caminho você acha que o cocô fez?

(Lívia) Papai, para minha infelicidade, ontem eu presenciei exatamente essa

situação: um elemento, muito burro por sinal, foi “alvejado” na cabeça por cocô de

pombo. Não sei por que, mas fiquei em êxtase, olhando cada detalhe da queda

do cocô. Pelo que vi, o caminho do cocô parece a segunda metade do movimento

de uma flecha lançada por um arqueiro.

(Virgínia) E você já viu uma flecha voando, Lívia?

(Lívia) Sim. Estava olhando de longe o treinamento do Sebastião, aquele

cavaleiro para quem sua amiga está prometida para casar. Lembra? (Ele é tão

lindo!)

(Virgínia) Lembro sim. Ô menina arrogante… Mas deixa pra lá... Voltando ao

assunto, me explique melhor essa coisa da segunda metade do movimento da

flecha.

(Lívia) Claro. Sem problemas. A flecha, após ser lançada pelo arqueiro, começa

um movimento de subida até uma altura máxima. Após atingir essa altura

máxima, ela começa a cair. O caminho percorrido pela flecha tem uma forma que

lembra a geometria do teto daquela catedral que vimos lá em Roma numa viagem

com o papai.

(Virgínia) Hum! Que legal. Acho que o papai explicou pra gente que curva era

aquela; seria uma parábola. Então, pelo que você me diz, a trajetória do cocô do

pombo é a metade de uma parábola, da altura máxima até o chão. É isso?

(Lívia) Isso mesmo, “Vivi”. Estou certa, papai?

(Galileu) Com certeza, minhas filhas. Certíssimas. Pois bem; vocês perceberam

que, dependendo do observador, o caminho realizado pelo cocô parece mudar?

(Virgínia e Lívia) Percebemos sim, papai. Muito estranho isso.

(Galileu) Parece algo não muito comum mesmo, filhinhas. Vocês acabaram de ver

uma situação que mostra que para observadores diferentes as trajetórias podem

ser diferentes. Cada observador diferente, ou seja, respectivamente o próprio

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pombo que fez cocô em pleno voo e a pessoa na casa do outro lado da rua

representam referenciais de observação diferentes.

(Virgínia) Então a gente pode concluir que, para saber o caminho percorrido por

um objeto em movimento, temos que definir qual é o referencial de observação,

papai?

(Galileu) Exatamente, “Vivi”. Esse caminho percorrido pelo cocô, que podemos

chamar de “trajetória do cocô”, vai depender do lugar a partir do qual se observa o

movimento. Esse lugar é o que chamamos de referencial.

2ª Momento - (Queda Livre, concentração de matéria e

aceleração)

Galileu prepara o aparato para realizar o experimento. Lígia sai de cena. Entra

Ágata, amiga de Virgínia.

Virgínia e Ágata caminham em direção a Galileu.

(Virgínia) O meu pai é brilhante! Você vai gostar dele.

(Ágata) ‘sussurrando ironicamente’ É aquele que estava jogando pedras do alto

da Torre de Pizza.

(Galileu) O que disse?

(Virgínia) Nada, papaizinho querido. Essa é minha amiga Ágata.

(Galileu) Tudo bem?

(Ágata) Tudo tranquilo, tudo favorável! O senhor está brincando de que?

O senhor está brincando de quê?

(Galileu) Estou tentando entender o modo como os corpos caem.

(Ágata) Já sei: o senhor está tentando descobrir qual chegará primeiro.

(Galileu) Isso mesmo, Ágata. Então, meninas, o que vocês acham que

influenciará nessa ordem de queda? O que faz um corpo chegar antes de outro?

(Ágata) Acho que o de maior tamanho chegará primeiro, porque é mais pesado.

(Galileu) Bom, tamanho nem sempre significa ser pesado. Na verdade, ser mais

leve ou menos leve vai depender do material de que é feito o corpo. Dessa forma,

corpos feitos de alguns materiais concentram mais matéria em seu interior do que

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outros corpos feitos de outros materiais. Essa quantidade de matéria no corpo é o

que chamamos de massa.

(Virgínia) Papai, o senhor pode dar algum exemplo disso que o senhor falou, ou

seja, do comportamento diferente em relação à concentração de matéria para

cada corpo?

(Galileu) Sim, com certeza, minha filha. Exemplo disso pode ser observado

quando pegamos duas bolas de mesmo tamanho, mas uma feita de ferro e outra

feita de barro. A bola de ferro concentra mais matéria do que a bola de barro.

(Ágata) Muito interessante isso, Sr. Galileu. Entendi: objetos que tenham o

mesmo tamanho podem ter concentrações diferentes de matéria. Estou certa?

(Galileu) Exatamente, Ágata. E te digo ainda que uma propriedade chamada

densidade é o que determina se há maior ou menor concentração de matéria em

um corpo ou objeto. Materiais com maior densidade concentram mais matéria que

materiais com baixa densidade.

(Virgínia) Então, papai, agora que já sabemos que “tamanho não é documento” e

que materiais com que tenham o mesmo tamanho não necessariamente terão a

mesma quantidade de massa, como vamos saber quem chega primeiro?

(Galileu) Vamos investigar isso juntos, meninas? Vamos testar com uma folha e

uma esfera de ferro que tirei de um mangual20 velho que o Sebastião me

emprestou para minhas experiências.

(Virgínia e Ágata) Vamos.

(Galileu) Pois bem, meninas. Primeiro vamos usar duas esferas de mesmo

tamanho, ou seja, com mesmo volume, mas feitas de materiais diferentes.

(Ágata) Sim! Nesse caso, as esferas terão diferentes concentrações de matéria,

não é?

(Galileu) Isso mesmo, Ágata. Pois bem; num segundo momento, vamos fazer a

mesma experiência com uma das esferas e uma folha de papel. Prontas?

(Virgínia e Ágata) Sim, estamos prontas.

20 Mangual é um tipo de arma medieval. Para saber um pouco mais, consulte, por exemplo, este link:

http://projetorandom.com.br/armas-medievais-de-infantaria-mangual/.

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Queda livre. (Experimento)

(Galileu) E agora o que me dizem?

(Ágata) Não entendo! As duas esferas de mesmo tamanho chegaram ao chão ao

mesmo tempo!

(Galileu) Isso mesmo, Ágata. Para entender isso, vamos imaginar o que está

acontecendo. Ambas as esferas, à medida que vão caindo, vão mudando sua

velocidade. Elas partem da velocidade zero, ou seja, do repouso e vão

aumentando a velocidade a uma taxa constante. Por exemplo, digamos que a

velocidade de cada esfera, durante a queda, aumente em 2m/s a cada segundo.

Dessa forma, se as esferas inicialmente estavam em repouso, com velocidade

zero, após 1s elas terão uma velocidade de 2m/s; após 2s, as esferas terão uma

velocidade de 4m/s. Agora me digam, meninas, após 3s do início da queda, qual

será a velocidade das esferas? Alguma de vocês sabe?

(Virgínia) Eu sei, papai. A velocidade será 6m/s, porque vou acrescentar 2m/s ao

valor da velocidade que as esferas tinham um segundo antes.

(Galileu) Isso mesmo, minha filha. Pois bem; essa taxa de variação da velocidade

a cada segundo ou a cada instante de tempo, pois poderíamos ter uma variação

de velocidade de hora em hora, chamamos de aceleração. As duas esferas

chegaram juntas ao chão porque estavam sofrendo a mesma mudança de

velocidade a cada instante, ou seja, estavam sujeitas à mesma aceleração.

Sendo assim, os corpos são “puxados” para o chão com uma aceleração positiva.

(Ágata) Então deixa ver se eu entendi: as duas esferas que chegaram juntas ao

chão e que tinham mesmo tamanho chegaram juntas porque sofreram a mesma

mudança de velocidade a cada instante de tempo. É isso?

(Galileu) Acertou, miseravi! E quanto à segunda parte da nossa experiência? O

que me dizem?

(Virgínia) Na parte usando uma das esferas e uma folha de papel?

(Galileu) Isso mesmo.

(Ágata) A esfera chegou primeiro, antes da folha de papel. Só não sei por quê.

(Galileu) Vocês notaram que no segundo caso a área da superfície externa que

fica em contato com o ar é maior no caso da folha, quando comparada à

superfície da esfera?

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(Virgínia) Verdade, papai. Mas por que isso acontece?

(Galileu) Como a folha de papel tem uma maior área de superfície externa em

contato com o ar, ela sofre uma maior ação da chamada resistência do ar. Essa

resistência do ar, em vez de aumentar a velocidade a cada segundo, provoca

uma diminuição da velocidade a cada segundo. Ou seja, a aceleração causada

pela resistência do ar é negativa.

(Ágata) Hum… Considerando que o “puxão pra baixo” que faz os corpos caírem e

a resistência do ar estão atuando nos corpos ao mesmo tempo, como explicar

que os corpos continuam caindo, Sr. Galileu?

(Galileu) As duas causas de mudança de velocidade, ou seja, o “puxão pra baixo”,

em direção ao solo e a resistência do ar vão causar uma aceleração efetiva,

digamos assim, meninas. Consideremos que o referencial que escolhemos

considera o movimento para baixo como sendo positivo. Então, aceitemos como

válido que o “puxão pra baixo” está associado a uma aceleração positiva e o

“empurrão pra cima” da resistência do ar associado a uma aceleração negativa.

(Virgínia) A aceleração do “puxão pra baixo” é maior, menor ou igual que o

“empurrão pra cima” da resistência do ar, papai?

(Galileu) A aceleração do “puxão pra baixo” não será menor que a aceleração

associada à resistência do ar. Ou seria possível abandonar as esferas e vê-las

subir em vez de cair.

(Ágata) Então o “puxão pra baixo” é maior ou igual à aceleração associada à

resistência do ar, Sr. Galileu?

(Galileu) Espera-se que a soma dos efeitos dessas duas acelerações, ou seja, do

“puxão pra baixo” e daquela associada à resistência do ar, possa levar a duas

possíveis situações. Ou as duas acelerações se igualam, o que nos levaria a uma

queda com velocidade constante; ou o “puxão pra baixo” seria maior que a

aceleração associada à resistência do ar, o que nos levaria a uma “aceleração

efetiva” que seria um pouco menor do que a aceleração sofrida pelo corpo se não

houvesse resistência do ar.

(Virgínia e Ágata) Muito legal!

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3ª Momento (O Julgamento de Galileu)

1º- (narrador) informacões gerais sobre Galileu e Copérnico.

2º-(narrador) 26/02/1616 Galileu pediu uma audiência com o cardeal Belarmino.

Ao ser recebido Galilei é surprendido ao ver que Belarmino está acompanhado

pelos domenicanos mais importantes de Roma.

-(Belarmino) Antes de começarmos, quero informar-lhe do decreto da Inquisição

que foi assinado ontem, onde consta que a ideia de que a Terra gira ao redor do

Sol é tola e filosoficamente herética, pois se opõe à doutrina da Santa Igreja

Católica. Devido a esse decreto, o livro de Copérnico foi incluído no Index e

proibido para qualquer um que queira ensinar essa teoria como verdade.

Galileu sai entristecido (Música triste)

-(narrador) É importante salientar que, do grupo de monges que condena

Copérnico, nenhum tinha lido seu livro.

1626 O Papa morre e o homem que é escolhido como novo papa, Urbano oitavo,

é ninguém menos que Barmerino, amigo de Galileu.

Galileu vai a Roma, onde é recebido várias vezes pelo papa em audiências

particulares.

-(Galileu) E aí Parceiro! Preciso de seu apoio para trazer à tona as descobertas

de Copérnico.

(Papa) Galileu! Eu sugiro que você escreva um livro expondo as duas ideias. As

de Copérnico e as de Ptolomeu sem tomar partido de ambas.

-(Narrador) O livro de Galileu foi publicado no ano de 1632 e é chamado de

“Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo”.

-----Falar sobre o livro O livro relata um diálogo

-(narrador) Assim que o livro é publicado, os teólogos analisam e percebem que

Copérnico e o modelo heliocêntrico são o grande destaque da obra.

Sobre a influência do seus assistentes, o papa acredita que Galileu fez o livro

para defender Copérnico e que o tolo Simplicio que defende as ideias de

Ptolomeu é uma caricatura do próprio papa.

(Assistente do Papa) Já fizemos o estudo do livro de Galileu como você pediu.

(Papa) Bom, então o que vocês concluíram?

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(Assistente do Papa) Bom, o livro trata de um dialogo no qual três personagens

conversam sobre os sistemas do mundo. Fica claro que o autor defende

Copérnico e o modelo heliocêntrico. Além disso há um certo personagem

chamado tolo Simplício, o qual representa as ideias de Ptolomeu.

(Assistente do Papa) Isso é uma afronta, uma tentativa de ridicularizar o senhor

Papa!

(Papa) Farei um decreto agora proibindo a leitura e a venda desse livro! E mande

chamar Galileu para que possa responder sobre tamanha calúnia. Não vou mais

ser amigo desse falso!

-( narrador) Galileu é levado por guardas a prisão aos 69 anos. Galileu espera por

três meses o seu julgamento.

23/06/1633 No convento de Santa Maria Minerva (“quartel general” dos

domenicanos) acontece o julgamento de Galileu.

-(Cardeal) Então Galileu, você renega, você se retrata com relação as calúnias

proferidas por você à Santa Igreja.

-(Galileu) Eu me retrato.

- (narrador) E, bem baixinho, Galileu baixa levemente a cabeça e murmura:

(Galileu) No entanto, se move.

-(Cardeal) Galileu você deve declarar que não crê mais na ideia em que a Terra

gira em torno do Sol ou será condenado a morte.

- (narrador) Com a mão estendida Galileu simboliza um juramento.

(Galileu) Eu, Galileu Galilei, juro não acreditar mais na teoria de Copérnico e juro

que estava enganado todos esses anos a respeito da Terra girar em torno do Sol.

(Cardeal) Declaro o julgamento encerrado. O réu é considerado culpado e será

condenado a prisão perpétua.

-(narrador) Galileu tem sua pena reduzida a prisão domiciliar e passa o resto de

sua vida escrevendo sobre seus achados. Antes de sua morte em Galileu teve

tempo de publicar “DISCURSO SOBRE DUAS NOVAS CIÊNCIAS”, que é a

origem da nossa Mecânica moderna.

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Apêndice B

(Sequência Didática)

Introdução

A prática de ensinar Física para alunos de Ensino Médio abordando o

conteúdo em aulas expositivas, sem levar em consideração o contexto histórico

envolvido nessa prática, pode reduzir a História da Ciência a meros nomes e

datas (MARTINS, 2001). Além disso, muitas vezes Arte e Ciência são tratadas

como áreas completamente dissociadas e sem nenhuma relação possível entre

si; nessa visão, Arte seria apenas entretenimento, enquanto que o termo Ciência

seria ligado à racionalização. Tal visão acerca destes dois campos de saberes é

um grande equívoco. É possível, inclusive, integrar Artes e Ciências; neste

trabalho buscamos tal integração através do teatro, a partir de roteiros de peças

que tenham conteúdo científico.

Para uma compreensão completa sobre determinado conteúdo é

indispensável levar em conta as contribuições de todas as áreas do conhecimento

envolvidas (MEDINA, 2010). Por essa razão, buscamos explorar roteiros que

possam se aproveitar de práticas multi ou interdisciplinares, levando em conta o

contexto físico, histórico e social da época; bem como redescobrindo o

conhecimento científico e viabilizando uma construção do conhecimento de

maneira mais sólida.

Inicialmente os materiais de cada disciplina devem ser estudados pelos

professores que irão utilizá-los. É importante que os professores envolvidos

estejam em regência de disciplinas para a turma onde será feita a intervenção.

Isso facilitará as atividades em sala de aula, possibilitando uma ligação direta

entre professores e alunos. Cada professor desenvolverá as atividades sugeridas

nesta sequência didática, a saber: oficina de leitura (durante a aula de História),

construção do figurino e oficina de Teatro (durante a aula de Artes) e estudo e

discussão do roteiro, oficina de animação (durante a aula de Física), nessa

ordem. Para o desenvolvimento dessas etapas serão necessários alguns

encontros de cada professor com a turma; esses encontros devem ser divididos

em momentos. Os professores contarão com orientações descritas nas seções

seguintes e com o apoio dos manuais e do roteiro. Após essas etapas, os

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trabalhos individuais da turma com cada professor culminarão em apresentações

da peça pelos alunos em espaços formais ou não formais de ensino.

Objetivo Geral:

Criar um grupo de Teatro Científico, tanto para o propósito de divulgação

científica quanto de apoio a um processo de ensino-aprendizagem inter ou

transdisciplinar, em espaços formais ou não formais de ensino.

Objetivos Específicos:

• Apresentar um roteiro, inicialmente elaborado sobre um recorte histórico da

vida de Galileu a um grupo de adolescentes e/ou jovens de uma

comunidade ou escola de educação básica, como etapa inicial da formação

de um grupo de Teatro Científico;

• Alistar adolescentes e/ou jovens, bem como professores interessados em

participar da proposta;

• Aplicar um questionário de sondagem sobre os conhecimentos prévios dos

adolescentes/jovens acerca dos conceitos, ideias e princípios relacionados

à Física e às outras disciplinas abordadas no roteiro da peça a ser

trabalhada;

• Realizar uma oficina de leitura onde serão definidas tarefas e

responsabilidades, por exemplo, para atores e figurinistas;

• Viabilizar a realização de uma oficina de teatro sobre aspectos básicos em

linguagem corporal e outros aspectos em Artes Cênicas relevantes para a

realização da peça teatral;

• Realizar um momento de discussão entre os jovens/adolescentes,

professores das disciplinas envolvidas e coordenador da proposta, onde os

jovens/adolescentes apresentarão as informações que levantaram sobre os

aspectos sociais, econômicos e culturais do recorte histórico em que vivem

as personagens representadas na peça teatral a ser trabalhada;

• Realizar reuniões para construir e finalizar o figurino e o cenário da peça;

• Ensaiar o roteiro da peça;

• Apresentar a peça em um espaço formal ou não formal de ensino,

preferencialmente para uma plateia de adolescentes/jovens cursando série

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e nível de ensino no qual o recorte histórico e a temática em Física e/ou

outras ciências esteja sendo abordado;

• Aplicação de questionários para os integrantes do grupo de teatro e/ou

para a plateia;

• Construir mais roteiros de peças para agregar ao portfólio do grupo de

Teatro Científico recém-criado;

• Expandir a proposta de criação de grupos de Teatro Científico para outras

escolas.

Público-alvo:

O roteiro inicialmente proposto visa estudantes do 9º do Ensino Fundamental

ao 2º ano do Ensino Médio, que tenham aulas de História, Física e Artes. Todavia,

com o incremento de novos roteiros de peças teatrais ao portfólio do grupo de

teatro, esse público-alvo pode ser expandido e novas disciplinas podem ser

abarcadas.

Metodologia:

Enquanto ponto de partida, é sugerida uma atividade de sondagem que pode

ser concretizada mediante a aplicação de um questionário (vide Apêndice C). O

tema da atividade deve envolver conteúdos relacionados à peça que será

desenvolvida, principalmente em Física, além de História.

A partir da análise da atividade é possível elaborar um plano de ações e um

cronograma de atividades, conforme sugerido neste apêndice. Tal plano de ações

propõe estratégias que possam sanar possíveis dificuldades encontradas pelos

alunos, bem como adaptar os materiais aqui sugeridos à realidade da escola.

Cada etapa será desenvolvida sob a orientação de cada um dos professores

das disciplinas relacionadas ao roteiro da peça e contará com textos e materiais

de apoio trabalhados e/ou construídos durantes as aulas das referidas disciplinas.

A implementação da proposta começa trabalhando com o primeiro roteiro de

peça, tendo os seguintes momentos principais:

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1.0- OFICINA DE LEITURA

Nessa etapa os alunos farão a leitura e discutirão um texto sobre a história de

Galileu e os aspectos sociais e econômicos da época, ressaltando o papel de

Inquisição e do Índex.

1.1- Oficina de Leitura e Definição das Funções (ao Professor de História)

Primeiro momento: em sua aula o professor apresentará a ideia do projeto de

implantação de um grupo de Teatro para a turma, buscando sensibilizá-los em

relação ao projeto. O documentário GALILEU O MENSAGEIRO DAS ESTRELAS

pode ser exibido para introduzir o contexto histórico que Galileu viveu. Em

seguida, dois grupos de alunos devem ser formados, segundo suas funções e

papeis na peça, para discutir o documentário:

• Grupo dos alunos que participarão como atores.

• Grupo dos alunos que participarão como figurinistas.

Segundo momento: O professor pode propor para os mesmos grupos a leitura

e discussão de um texto sobre fatos e personagens relevantes para a Física, mas

inseridos em um contexto histórico. Além disso, pode estimular o grupo a realizar,

se necessário, pesquisa complementar de outras fontes, detalhando os aspectos

sociais, econômicos e tecnológicos mais expressivos para o período histórico. No

Apêndice E é sugerido um texto compatível com o tema aqui abordado.

Ao final das discussões, deve-se propor que os grupos apresentem para a

turma em um próximo encontro. Nessas condições, respeitando a seguinte

divisão de tarefas:

• Grupo dos atores: Estudar o roteiro, apresentar seus personagens e um

resumo da história presente na peça para a turma.

• Grupo de figurinistas: Apresentar aspectos do contexto histórico de

Galileu, comentar sobre Índex e Inquisição, poder da Igreja Católica na

Idade Moderna.

Terceiro momento: Objetivando promover a participação de todos, buscar-se-

á desenvolver a oratória e a habilidade de trabalhar em grupo. Os alunos também

devem apresentar seus personagens e aspectos históricos, econômicos e sociais,

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no contexto europeu do século XVII, conforme acordado na oficina de leitura.

Dessa forma o professor pode sanar as possíveis dúvidas, fechando o momento

com uma breve síntese dos conceitos abordados em uma miniaula.

2.0- COLOCANDO A MÃO NA MASSA

Essa etapa consiste da construção de um figurino com base no manual. Ela

será desenvolvida pelos alunos em grupos na aula de Artes com a orientação do

professor e o auxílio do manual do figurino. A ideia principal é explorar a

participação artística colaborando para a divulgação da ciência.

2.1- Construção do Figurino e Oficina de Teatro (ao Professor de Artes)

De maneira geral esta etapa deve auxiliar o grupo na construção de um

figurino, para ser usado nas apresentações. Para o caso de uma abordagem em

espaço formal de ensino (sala de aula), isso acontecerá nas aulas da disciplina ou

no contraturno. Essas tarefas devem, preferencialmente, ocorrer na mesma

semana da oficina de leitura, para não quebrar a sequência. Em se tratando de

espaços não formais de ensino, fica a critério do professor e do grupo ajustarem

horários e locais com a disponibilidade de cada um. Recomenda-se que os

materiais utilizados sejam de baixo custo e de fácil acesso. Importante destacar

que o potencial artístico dos alunos deve ser explorado em favor da Física e da

História. Um manual de construção de figurino também é disponibilizado

(Apêndice F), relacionado ao julgamento de Galileu. O professor pode optar por

utilizá-lo ou criar seu próprio manual.

Primeiro momento: O professor deve elaborar uma lista de materiais e

providenciar a compra dos mesmos; se possível com apoio financeiro da diretoria

da escola e/ou dos professores envolvidos, tendo em vista o baixo custo

orçamentário do figurino em questão. Em sua aula, munido dos materiais

necessários, o professor dividirá a turma em grupos. Através do manual para

construção do figurino, devem-se seguir as orientações do manual e confeccionar

as peças que serão utilizadas na peça; respeitando sempre a autonomia e

criatividade dos alunos para criar e adaptar quando necessário. Na confecção das

peças utilizadas pelos soldados, a participação do professor de Matemática seria

bem vinda, principalmente porque é possível explorar ideias geométricas básicas.

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Por exemplo, comprimentos, área, formas geométricas, dentre outros

relacionados aos desenhos, modelagem e construção dos itens do figurino.

Segundo momento: Para o fechamento dessa etapa é necessário realizar

oficinas de Teatro; preferencialmente por pessoas com experiência teatral. Os

professores podem buscar apoio de grupos de Teatro em suas regiões, para a

realização de uma oficina, desde que esse trabalho seja voluntário. Entretanto,

escolas que não disponham do apoio desses profissionais, podem contar com os

professores de Artes da escola, os quais podem contribuir para motivar os alunos

e auxiliá-los no desempenho dos papeis. Ou seja, a falta de um profissional com

experiência teatral não se constitui em obstáculo definitivo para a formação do

grupo de Teatro amador.

3.0- ESTUDO DO ROTEIRO: O JULGAMENTO DE GALILEU. OFICINA DE

ANIMAÇÃO

A turma deve ser dividida em grupos de para viabilizar a leitura do roteiro. O

professor deve estabelecer uma ligação com os assuntos já abordados em sua

respectiva disciplina ou utilizar o roteiro como forma de apresentar os assuntos.

Esse também é o momento de dividir os papeis das personagens entre os alunos-

atores. Um primeiro ensaio pode ser realizado já nessa etapa. Além disso, de

acordo com as condições objetivas da escola, pode ser viabilizada a realização de

uma oficina de animação; que ajudaria reforçar o entendimento do significado de

trajetória de um móvel e a relação desta com a variação da posição no decorrer

do tempo.

3.1- Estudo e Discussão do Roteiro e Oficina de Animação (ao Professor de

Física)

Primeiro momento: Deve-se estimular o grupo para que leia atentamente todo

o roteiro (O JULGAMENTO DE GALILEU), identifique os conceitos e princípios

físicos que são abordados/discutidos no referido roteiro. Este pode ser impresso e

entregue aos alunos, ou projetado em uma lousa para leitura em grupo. Nesse

momento podem ser mescladas diferentes estratégias de avaliação dos

conhecimentos prévios dos participantes do grupo. Por exemplo, podem ser

apresentadas situações-problema para serem resolvidas nesse momento de

encontro presencial. E, dependendo dos resultados apresentados pelos

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participantes, podem ser propostas pesquisas, elaborados resumos e fichamentos

de textos.

Segundo momento: Em outro encontro, os grupos podem apresentar os

resultados de suas pesquisas em forma de resumos e fichamentos de textos.

Miniaulas podem acontecer aqui; sobre os conceitos e princípios mais

significativos e possíveis dúvidas; em conformidade com a carga horária de

escola. Essa abordagem pode ser integrada à ministração dos conteúdos de

Cinemática, servindo como motivação para maiores aprofundamentos nos

conteúdos por parte dos alunos. Ou, após abordar os conteúdos, com a finalidade

de revisá-los.

Terceiro momento: Visando aprofundar conhecimentos a respeito dos

conceitos de movimento relacionados a pontos no espaço, trajetória, referencial e

animações, uma oficina de animação pode ser realizada pelo professor de Física.

Ela ilustraria a construção de trajetórias pela mudança das posições (pontos no

espaço), no decorrer do tempo, de uma partícula. Aqui a intenção é explorar a

ideia de trajetória de uma partícula, a partir do princípio de construção de

animações.

4.0- ENSAIOS E APRESENTAÇÕES

Alternadamente, nas aulas de Artes, Física e História a turma deve se

preparar para as apresentações, realizando ensaios e sanando dúvidas restantes

com os professores. As apresentações, por sua vez, constituirão a oportunidade

de mostrar o trabalho para outras turmas na escola ou de outras escolas; ou em

espaços não formais de ensino. É também importante que as apresentações

sejam filmadas e disponibilizadas para a turma, para que seja possível uma auto-

avaliação.

4.1- Ensaios e Apresentações

Após a conclusão das etapas anteriores, relacionadas a cada disciplina

envolvida, pode-se realizar ensaios; um ensaio para cada disciplina (Física, Artes

e História), de forma a não prejudicar o cronograma de conteúdos do ano letivo.

Nos três primeiros ensaios os alunos poderão usar o roteiro em papel para fazer a

leitura das falas. O professor deve enfatizar que o aluno deve entender o texto,

para que seja capaz de improvisar; usando suas palavras, com base no que

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aprendeu, para encenar os personagens. Os três últimos ensaios podem

acontecer no contraturno. Com tais ensaios, espera-se que os estudantes possam

memorizar suas falas e desenvolver sua capacidade de improvisar, otimizando o

andamento das atividades. Paralelamente aos ensaios, o grupo do figurino

trabalhará nos ajustes finais da confecção das vestimentas e outros materiais

utilizados na peça.

Neste momento cabe esclarecer que a escolha das séries (9º ano do Ensino

Fundamental e 1º ano do Ensino Médio) deveu-se aos temas, em Física e

História, que foram abordados no texto do primeiro roteiro. Todavia, conforme

esclarecemos anteriormente, a ideia é que seja plantada uma semente de criação

de grupo de Teatro Científico, em cada escola onde esta proposta for aplicada.

Espera-se que, após estes momentos com os professores das três disciplinas e a

partir dos momentos de avaliação, discussão e ação, o grupo esteja preparado

para apresentar a peça em escolas ou para plateias de pré-adolescentes,

adolescentes e jovens.

21Cronograma Sugerido

1ª Semana

(6 aulas)

ou (4,5 h)

Oficina de Leitura

(Aula de História)

Colocando a Mão

Na Massa

(Aula de Artes)

Estudo do Roteiro

(Aula de Física)

2ª Semana

(6 aulas)

ou (4,5h)

Ensaio, tirar dúvidas

(Aula de Física)

Ensaio, tirar dúvidas

(Aula de Artes)

Ensaio, tirar dúvidas

(Aula de História)

3ª Semana

(6 aulas)

ou (4,5 h)

Avaliação

Prova escrita, questionário

Ou mapa conceitual.

Apresentações em

Espaços formais ou

Não formais de ensino.

Aula de Revisão,

Aula expositiva, mapa

conceitual, solução de

problemas.

21 Recomenda-se que antes e durante as atividades do cronograma sugerido os docentes das áreas

envolvidas se reúnam para acertar detalhes de planejamento e execução das ações do projeto.

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Apêndice C

(Questionário 1)

EU___________________________________________, aluno da turma ___________ 01) Quem foi o primeiro estudioso a fazer uso científico do telescópio?

a) Isaac Newton b) Michael Faraday c) Galileu Galilei d) Albert Einstein

e) Tycho Brahe

02) Assinale a alternativa correta com relação a Galileu Galilei

a) Foi um grande pintor francês. b) Foi um químico que viveu no século XVII. c) Um físico e Astrônomo italiano que estudou a Mecânica Clássica. d) Um matemático que desenvolveu o primeiro modelo atômico. e) Um dos filósofos da Antiguidade Clássica.

03) Qual alternativa apresenta conceitos corretos com relação à teoria

geocêntrica e a teoria heliocêntrica, respectivamente.

a) Teoria que coloca o Sol no centro do sistema solar; Teoria que coloca a Terra no centro do sistema solar. b) Teoria que coloca a Terra no centro do sistema solar; Teoria que coloca

o Sol no centro do sistema solar. c) Afirma que o Sol gira em torno da Terra; Afirma que a Terra gira em torno

da Lua. d) Terra gira em torno do Sol e os outros planetas giram em torno da Terra;

O Sol gira em torno da Terra e os outros planetas giram em torno do Sol. e) O sol gira em torno da Lua; A Terra gira em torno do Sol.

04) Acerca da disciplina Física, assinale, com sinceridade, o que você acha dela.

a) Ótima, amo de paixão. b) Legal, necessária na vida. c) Ruim! Não entendo nada. d) Chata! Só estudo por causa do ENEM. e) Um verdadeiro terror, Se pudesse não estudaria.

05) Dê exemplos de situações em que a Física está presente na sua vida. 06) Considere dois objetos, uma bola de boliche e uma bola de ping – pong.

Ambos são abandonados ao mesmo tempo de uma mesma altura. Qual objeto você acredita que chegará primeiro ao chão?

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07) Você já ouviu falar da Inquisição? Se sim, fale um pouco a respeito dela. 08) Você já ouviu falar do Índex, um conjunto de obras de leitura proibida durante

a Idade Moderna? Se sim, fale um pouco a respeito.

09) Durante a Idade Média houve muitos avanços científicos? Explique e cite alguns exemplos.

10) Você acredita que os órgãos do sentido (visão, audição, tato, olfato e paladar)

são suficientes para que nos permitam entender o mundo ao nosso redor e explicá-lo cientificamente? Explique.

11) Você lembra de alguma situação em que o que o seu professor falou algo em

Física, relacionado à Cinemática e à Dinâmica, que é diferente daquilo que você esperava ser? Fale um pouco disso.

12) O que você acha que acontece com o Sol durante a noite? Ele vai para algum lugar ou fica ‘‘escondido’’ em algum lugar? Explique.

O que você acha que acontece com a Lua e as estrelas (exceto o Sol) durante o

dia? Elas vão para algum lugar ou ficam escondidas em algum lugar? Explique.

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Apêndice D

(Questionário 2)

Eu, _________________________________________, aluno da turma ___, do

__ ano do Ensino ________________

Obs.: Este questionário tem por finalidade avaliar o nível de conhecimento acerca da temática abordada através da peça teatral “Julgamento de Galileu”. Ele não vale nota. As respostas devem ser escritas no verso ou em folha anexada. 01) Escreva os aspectos históricos, econômicos e sociais que você lembra

acerca da Europa do século XVII em que viveu Galileu.

02) Escreva o que você lembra ter estudado para as atividades do Teatro

Científico a respeito da Inquisição.

03) Escreva o que você aprendeu durante o projeto sobre o Index.

04) O movimento de um objeto depende do referencial a partir do qual é

observado? Explique.

05) O que é um referencial inercial? Explique e dê alguns exemplos de

referenciais inerciais.

06) Escreva o que você aprendeu durante o projeto sobre os conceitos de

densidade, volume e massa.

07) Escreva o que você lembra ter estudado para sobre o conteúdo de queda

livre.

08) Há alguma diferença em relação a grandezas físicas como aceleração e

velocidade quando se compara a queda de um paraquedista com o

paraquedas aberto e a queda dele com o paraquedas fechado? Explique.

09) Escreva o que você se lembra do modelo geocêntrico.

10) Escreva o que você se lembra do modelo heliocêntrico.

11) Você achou interessante trabalhar com o Teatro para aprender Física?

Explique.

12) Que outros conceitos físicos você aprendeu e que não foram mencionados

nas questões anteriores? Explique.

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Apêndice E

(Breve Relato Sobre o Conflito Entre Galileu e a Igreja Católica Romana)

Desde tempos longínquos, o céu tem sido motivo de grande mistério e

admiração para o ser humano. Muitos tentaram explicar tamanha beleza das

estrelas, dos eclipses e como se comportam os planetas do nosso sistema solar.

Um cientista que deu grandes contribuições para a Astronomia foi Galileu Galilei,

físico e matemático Italiano (PIRES, 2008, pg.115-145). Estudou grego aos

catorze anos; quando fez dezessete foi para universidade estudar Medicina. Em

1585, por dificuldades financeiras, teve que deixar a universidade sem obter o

título de doutor. Estudou e fez experimentos sobre a queda dos corpos,

movimento sobre um plano inclinado e desenvolveu um telescópio com

capacidade de ampliar trinta vezes o tamanho da imagem focada. Fato curioso é

que o modelo de telescópio da época só ampliava nove vezes o tamanho de

imagens observadas. Fez observações da Lua o do Sol e descobriu as manchas

solares, projetando a luz do Sol em uma tela branca.

Galileu acreditava que a Terra girava em torno do Sol, assim como os outros

planetas do sistema solar; esse é o modelo heliocêntrico de Universo. Porém, o

modelo de Universo mais aceito à época era o geocêntrico. Nesse modelo a Terra

estaria localizada no centro do Universo, com o Sol o os outros planetas girando

ao seu redor. Galileu passou a defender o modelo heliocêntrico, estabelecido pelo

astrônomo grego Aristarco de Samos (310-230 a.C.) e restabelecido pelo

astrônomo e matemático Polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). Seu

posicionamento em favor do modelo heliocêntrico rendeu a Galileu alguns

conflitos com a Igreja Católica Apostólica Romana. E Galileu conhecia bem os

riscos de disseminar uma teoria contrária aos dogmas da Igreja Católica, podendo

sofrer consequências como as que atingiram Giordano Bruno (1548- 1600), o qual

fora sido queimado vivo pela Inquisição. Giordano acreditado em um universo

infinito, com uma infinidade de deuses; nesse universo o céu era habitado por

planetas animados se movendo segundo sua própria vontade. Cabe lembrar que,

segundo PIRES (2008), a condenação de Giordano Bruno se deu por suas ideias

heréticas em relação a Santíssima Trindade e não por suas ideias ligadas à

Cosmologia.

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Para compreender melhor o quão árduo foi o processo de transição entre os

modelos, é importante salientar que o modelo vigente (geocêntrico) já perdurava

há décadas, de 1473 a 1543; e era apoiado pela instituição de maior poder

político, econômica e cultural da época, a Igreja Católica, incontestável e

absoluta; questionar esse modelo cósmico significava afrontar uma instituição

poderosa.

Reavivada pela Contra-Reforma da Igreja Católica, a Inquisição foi um

organismo da igreja com grande poder jurídico. Seu principal objetivo era suprimir

o que a Igreja Católica classificava como como heresias e punir os hereges. Esse

organismo criou um índice de livros proibidos (Index Librorium Proibitorium).

Nessa lista também passaria a constar a obra de Copérnico De Revolutionibus

Orbium Coelestium (Das Revoluções das Estrelas Celestes).

Um marco importante nessa história foi a morte do Papa Gregório XV em

1626. O novo papa (Urbano VIII) é Maffeo Barberin, um amigo de Galileu de longa

data. Com isso Galileu vai a Roma, onde é recebido varias vezes pelo novo papa

em audiências particulares. O papa pede que ele escreva um livro expondo as

duas teorias, mas sem tomar partido. Galileu concorda e o livro é publicado no

ano de 1632 “DIÁLOGO SOBRE OS DOIS MAIORES SISTEMAS DO MUNDO’’.

Sob a influência do seus assistentes, o papa acredita que Galileu fez o livro

para defender Copérnico e o o modelo heliocêntrico; e que o personagem do livro

Tolo Simplicio, que defende as ideias de Ptolomeu é, na verdade, uma caricatura

do próprio papa. 22(TOURANCHEAU, 2006). Como consequência, isso trouxe a

Galileu algumas desavenças com a Igreja Católica que, por sua vez, apoiava o

modelo de Ptolomeu e o modelo geocêntrico de Universo. Esses confrontos

levaram Galileu a ser condenado em 23 de junho de 1633 no convento de Santa

Maria Minerva (quartel general dos dominicanos). Galeliu teve que se retratar

perante a Igreja Católica para preservar sua vida, negando tudo aquilo que

defendeu durante toda a sua vida. Mesmo assim é condenado à morte, embora,

pouco tempo depois, tenha tido sua pena abrandada para prisão domiciliar. Nesse

período recluso, escreveu ‘DISCURSO SOBRE DUAS NOVAS CIÊNCIAS’, que é

a base da nossa Mecânica Clássica (VIEIRA, 2009).

22 O documentário foi produzido pela CNDB no ano de 2006, e encontra-se disponível no endereço:

https://www.youtube.com/watch?v=C2NnZgTCMz0&list=PL4355BE6BFE0B0D6E

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Figura 1.8: Galileu Galilei (1564-1642)

Fonte: (ASTRONOMIA ON-LINE, 2016)23

Referências

PIRES, ANTONIO S. T. Evolução das Ideias da Física. 1ª ed. São Paulo:

Editora Livraria da Física, 2008 (p. 115- 145).

TOURANCHEAU, P. Galileu, o Mensageiro das Estrelas. Youtube, 2006. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=C2NnZgTCMz0&list=PLYwunliIp0jLOKKh2gt0bm1P6GUC4Rl_u >. Acesso em: 15 fevereiro de 2016.

VIEIRA, A. P. As Descobertas Astronômicas de Galileu Galilei. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, (2009) pp. 55–56.

23 Disponível em: http://www.ccvalg.pt/astronomia/historia/galileu_galilei.htm> acesso em 15/02/2016

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Apêndice F

(Manual do Cenário e Figurino)

Este manual tem por finalidade auxiliar na construção do figurino da peça O JULGAMENTO DE GALILEU. O figurino completo será composto por uma parte não confeccionada em sala de aula, parte I, (basicamente roupas que os alunos possuem em casa) e outra parte que será fruto de um trabalho artísticos dos alunos com orientações do professor da disciplina de artes, parte II, (peças feitas a partir de materiais de baixo custo). Parte I: Essa parte do figurino será conseguida pelos próprios alunos e requerida pelo professor com uma semana de antecedência. As sugestões listadas abaixo de acordo com os personagens podem ser adaptações a realidade socioeconômica dos alunos. ➢ Virgínia Lívia e Ágata (Filhas de Galileu): Vestido, abaixo do joelho, de

manga ou de alça de acordo com as normas da escola e realidades das alunas que irão encenar as personagens.

➢ Galileu: Camisa de manga longa preta, meia longa para futebol de cor clara

preferencialmente branco, calça de cor escura, sapato preto. 24Rufo branco que será construído na segunda parte.

➢ Os quatro soldados: Camisa de manga longa preta, meia longa para futebol

de cor clara preferencialmente branco, calça de cor escura, sapato preto e rufo branco.

➢ Os quatro cardeais e Papa: Fardamento comum da escola, revestido com uma capa que cobrirá toda a roupa.

➢ Narrador: Camisa de manga longa, calça de cor escura, sapato preto, ou

fardamento comum da escola, a critério do professor. OBS.: O figurino dos personagens está sujeito a alterações pelo professor, tendo este, autonomia para adaptar ao contexto da escola e dos alunos segundo sua necessidade e criatividade.

24 Peça de roupa usada na idade média e moderna, símbolo de status usada para proteger o restante da

roupa.

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Parte II: Nessa parte alguns materiais de baixo custo devem ser comprados ou conseguidos na escola. A lista segue abaixo: ✓ Folha de papel cartão branco (4)

✓ Folha de papel laminado dourado (4)

✓ Papelão (2𝑚2)

✓ TNT vermelho (2𝑚2)

✓ TNT preto (8𝑚2)

✓ TNT branco (5𝑚2)

✓ Bigodes postiços podem ser encontrados em casas de produtos

importados.

✓ Cola branca (500 𝑚𝑙)

✓ Elástico (5m)

✓ Fita adesiva (durex)

✓ Linha de crochê branco. (10 𝑚)

Além dos materiais algumas ferramentas também serão utilizadas. São elas ✓ Tesoura sem ponta (5)

✓ Lápis (5)

✓ Régua milimetrada (5)

COLOCANDO A MÃO NA MASSA. O professor deverá dividir a sala em cinco grupos para a realização das atividades.

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1.0 RUFOS BRANCOS (5 PEÇAS)

Com o TNT branco, as tesuras os alunos devem fazer as 5 peças, cada grupo deve se encarregar da confecção de uma. A figura abaixo ilustra as etapas do processo:

Figura I

a) No primeiro passo, usando a régua e o pincel, desenhe um quadrado

com 56 cm de aresta.

b) Dobre o quadrado ao meio. Deixando uma distância de 22,5 cm da

extremidade inferior do semicírculo, faça o contorno como amostra a

figura.

c) Com a tesoura recorte na marcação feita com o pincel no passo b.

d) Repita o procedimento dos passos (A), (B), e (C) para fazer outra peça

idêntica, cole as duas peças de forma simétrica para chegar ao resultado

final.

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2.0 CAPACETES DOS SOLDADOS (4 PEÇAS)

Utilizando tesoura, fita adesiva, papel cartão, régua e pincel siga os passos

descritos na figura II para construir os capacetes.

Figura II

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a) Tomando como base as dimensões de uma folha 𝐴4 de oficio para

formar um retângulo com área equivalente, desenhe com o lápis uma

elipse respeitando as medidas da figura.

b) Recorte a parte contornada no item (A).

c) Usando a folha de papel cartão você irá desenhar um triangulo e um

retângulo como mostra a figura, para isso deverá determinar os pontos 1

e 2, considerando a margem vertical esquerda como origem de um

Sistema Cartesiano de coordenadas 𝑃1 é definido por um valor de

abcissa 14,5 𝑐𝑚 e ordenada 7,5 𝑐𝑚, encontre-os e faça a marcação

usando o pincel.

d) Finalize as demais marcações de acordo com a figura.

e) Desenhe com a régua um pequeno retângulo com as dimensões

mostradas na figura (II–E), recorte-o com a tesoura.

f) Junte as três peças deixando o retângulo do item (E) entre o triangulo e

a primeira peça confeccionada, cole-as como na figura (II-F) e espere

secar.

g) O tom dourado pode ser obtido pole revestimento com papel laminado

dourado, para isso basta usar a cola branca e a tesoura. Outra

alternativa é pintar a peça toda com spray dourado, isso fica a critério do

professor e dos alunos.

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2.1 AS ARMADURAS DOS SOLDADOS: (4 PEÇAS)

Figura III

a) Usando o pincel faça um quadrado com aresta medindo 36 𝑐𝑚 no papelão. Em seguida forme pequenos triângulos nos quatro cantos do quadrado como mostra a figura.

b) Recorte os triângulos. Ainda com a tesoura arredonde os dois cantos superiores.

c) Usando o papel laminado dourado e a cola revista a peça. d) Faça quatro furos para os elásticos, o tamanho dos elásticos será de

acordo com as medidas dos alunos que usarão as peças.

3.0 LANÇAS DOS SOLDADOS (4 peças)

Os passos mostrados na figura (Figura IV) lustram a montagem das peças

que representarão as lanças dos soldados na peça. Sua confecção é simples,

rápida e de baixo custo. A ideia principal é fazer pequenos cones usando papel

cartão, revesti-los com papel laminado, usando a cola branca e, por fim, fixá-los

nos cabos de vassouras.

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(Figura IV)

a) Usando as sobras do papel cartão, desenhe um retângulo com as mesmas

dimensões de uma folha de papel oficio A4, usando a régua encontre os

pontos A, B e C na figura (IV-A).

b) Com a tesoura, recorte os seguimentos AB, e AC, e arredonde os cantos

inferiores da folha, respeitando a altura dos pontos B e C.

c) Enrole a folha para formar pequenos cones.

d) Usando a cola branca e o papel laminado de cor dourado ou prata, revista

os cones, pronto! Vocês fizeram as pontas das lanças, cabos de vassouras

devem ser usados para compor o restante das lanças.

4.0 CAPAS PARA OS CARDEAIS E PARA O PAPA

a) Cardeais (4 peças): Com a tesoura e o TNT reto recorte um retângulo

com dimensões 2𝑚 de largura por 1𝑚 de altura, ainda com a tesoura

faça dois pequenos furos nos vértices superiores do retângulo em

seguida prenda um pedaço do elástico de 30 𝑐𝑚 ligando os furos.

b) Papa (1 peça): Agora com o TNT vermelho, repita os passos realizados

no item (4-A).

4.1 MITRA DO PAPA (1 PEÇA)

Utilizando tesoura, fita adesiva e o papel cartão, siga os passos

descritos na figura abaixo.

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(Figura V).

a) Cole duas folhas de papel cartão ou de cartolina de forma que o

retângulo obtido possua as dimensões mostradas na figura (V-A). Após

a secagem dobre ao meio na horizontal e também a vertical para marcar

essas regiões.

b) Dobre ao meio o lado maior da folha (96 cm) e, em seguida, usando o

lado no qual se encontra o meio da folha antes de ter sido dobrada,

dobre os vértices como na figura, tome como base a marcação feito no

item (A).

c) A parte abaixo do triângulo é composta por dois retângulos sobrepostos,

dobre o retângulo superior ao meio e depois dobre mais uma vez de

baixo para cima tomando como referência a base do triangulo.

d) Verifique se o seu resultado está como o que é mostrada na figura (V-

D), caso contrário refaça os passos (A), (B) e (C).

e) Dobre as laterais de forma que suas extremidades se encontrem no

meio do lado de traz da figura.

f) Dobre os cantos inferiores no mesmo sentido do item (E) e em seguida

ainda no mesmo sentido adentrando o plano do mostrado na figura

dobre a marcação horizontal da figura (V-F) para finalizar.

g) Recorte retângulos com o papel laminado dourado e, usando a cola

branca, revista as bordas da mitra.

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4.2 FITA PARA O PAPA (1 peça)

Essa peça será usada sobre os ombros do personagem dando a volta

em seu pescoço.

(Figura VI)

a) Usando o TNT branco e a tesoura recorte um retângulo com as

dimensões da figura (VI-A)

b) Usando o papel laminado dourado faça pequenos losangos e dois

retângulos, em seguida cole-os no TNT como mostra a figura (VI-B).

5.0 BARBA DE GALILEU

Utilizando o rosto do aluno que interpretará Galileu, faça um molde com

uma folha de papel ofício em forma de barba. Em seguida recorte pedacinhos

da linha de crochê branco, com espessura qualquer, e cole usando cola branca

no molde feito com a folha de papel. Por fim faça furos nas extremidades e

ponha um pedaço de elástico para que a barba se fixe no rosto do ator.