Sandra Cruz http://estilo.br.msn.com/tempodemulher

Do consultório para a cozinha

Ela deixou de lado a carreira de psicóloga para se dedicar a uma grande paixão: fazer doces. O empreendimento deu certo e Tatiana, hoje quituteira, conta a experiência.

Decidir ter seu próprio negócio requer muita determinação e planejamento. Claro que um empurrãozinho do destino também pode ajudar. Esse foi o caso de Tatiana de Oliveira Mendes, psicóloga formada que deixou os consultórios clínicos para se dedicar totalmente à culinária.

Tudo começou quando teve que abandonar a tranquilidade da pequena Jaboticabal, no interior paulista, acompanhando o marido, que ia trabalhar na capital, São Paulo. "Tentei me recolocar no mercado, mas é difícil ter que começar tudo de novo, principalmente em uma área pouco valorizada como a psicologia", disse Tatiana.

Ela poderia ter desanimado nessa fase, afinal, jogaria para ao alto mais de sete anos de experiência profissional. Mas foi justamente quando percebeu que aquela seria a oportunidade de colocar em prática a uma velha paixão: produzir bolos e doces. Coragem e apoio do marido não faltaram.

Brincadeira de criança

O talento de encantar olhos e paladares foi estimulado desde cedo - aos cinco anos de idade ganhou seus primeiros "equipamentos de trabalho": uma batedeira e um liquidificador de brinquedo. Esse momento marcou minha memória. "Sempre gostei de ficar na cozinha aprendendo. Sou ótima observadora".

Já adulta, o dom para elaborar guloseimas a ajudou inclusive a pagar as despesas extras do curso de psicologia. Daí para tornar-se uma quituteira profissional foi um pulo. "Sempre me questionavam porque não me dedicava exclusivamente à culinária, já que era bastante elogiada por fazer tudo com muito carinho e capricho. Além, é claro, de o resultado final ser uma delícia! Acho que aquele foi o momento certo de acreditar que isso era possível".

Tatiana salienta que o começo é realmente difícil, envolve medos e incertezas, e que só o tempo e um bom planejamento mostrarão se valerá a pena. "Você precisa perseverar, acredita no seu trabalho, e executá-lo da melhor forma possível, pois com o tempo as coisas acontecem. E com o apoio da família, tudo fica menos difícil".

Hoje, dois anos depois, a Cake Delícia vai de vento em popa, com um cardápio recheado de criativas e saborosas produções. Ela divulga a sua arte no Facebook, que dá água na boca só de visitar a página.

Carinho e dedicação

"Quando estou na cozinha, é como se me desligasse do resto do mundo. Costumo dizer que é minha verdadeira terapia, é onde procuro fazer meu melhor, desde a preparação da massa até a cobertura, sempre pensando em cada detalhe para superar as expectativas do cliente. Entendo que meu produto irá fazer parte de um momento marcante, como em um aniversário ou chá de bebê. Então procuro torná-lo único e especial, desde o seu sabor até a decoração. Essa é a essência de meu trabalho: artesanal, feito exclusivo para aquele momento. Um bolo nunca será igual ao outro".

O feedback positivo é a certeza do bom trabalho e alimenta a motivação para seguir confiante nesse caminho. "Com certeza essa é melhor recompensa de um trabalho: o reconhecimento. É quando clientes me retornam agradecendo e citam até que os convidados adoraram e perguntaram quem foi que fez aquela delícia". Brasil empreendedor

Entre os 20 países mais ricos do mundo, o Brasil tem o maior número de empreendedores. Em 2010 eram 21,1 milhões de brasileiros atuando em empreendimentos com três anos e meio de vida. São dados de pesquisa divulgada pelo Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Os números são impressionantes, ainda mais se considerarmos que os brasileiros não são preparados para empreender. "Esse é um erro da maioria dos cursos na graduação - formar profissionais para serem empregados", opina Tatiana. "Assim, quando conseguimos um bom emprego, o dia a dia acaba anulando nossos (talvez) verdadeiros sonhos, dando a falsa sensação de realização profissional".

O que fazer?

O primeiro passo pode ser avaliar a própria vida e começar a traçar caminhos baseados naquilo que lhe traga felicidade. "Cabe a cada um olhar para dentro de si e questionar se o seu trabalho lhe faz bem, se sente realizado. Como dizem 'dinheiro não é tudo'. Agora consigo enxergar essa diferença. Não me vejo mais fazendo outra coisa. A psicologia será aplicada somente aos meus bolos e doces".