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Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 Técnicas de análise de dados censitários multitemporais aplica- das às cidades estudadas pela rede nacional de pesquisa QUAPÁ-SEL Guilherme de Oliveira Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC [email protected] Manoel Lemes da Silva Neto Requalificação Urbana CEATEC [email protected] Resumo: Propor intervenções nas cidades que vi- sam melhoria e qualidade de vida de seus habitantes é uma questão delicada e envolta em conflitos de natureza territorial, especialmente quanto à variável demográfica. Definir os locais onde pode ser desti- nada maior atenção para investimentos públicos é tema a ser constantemente aprimorado por meio, por exemplo, de análises urbanísticas fundamentadas em análises populacionais. Neste sentido, almejando o aprimoramento de metodologias relacionadas aos estudos na dimensão intra-urbana, propõem-se apresentar um material que não somente oferece suporte para a compreensão do território levando em consideração variáveis dinâmicas da demografia tomadas como base o banco de dados do IBGE, como subsidia análises que devem preceder a im- plantação de edificações de grande porte e decisões para estratégias urbano-regionais. Palavras-chave: Urbanização, Dinâmica populacio- nal, Adensamento Urbano. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo 1. INTRODUÇÃO Implantar uma edificação de grande porte em um contexto urbano pode contribuir ou não para o de- senvolvimento das cidades. Tem o poder de acentu- ar ou atenuar as desigualdades socioespaciais. Mas, paradoxalmente, quando se trata da implantação de edifícios de grande porte, e que na maioria dos ca- sos provem de decisões governamentais, não nos é deixado claro e transparente se são ou não adotadas análises locacionais, que certamente deveriam visar o desenvolvimento das nossas cidades. De um modo geral, tais decisões deveriam ter um embasamento em análises minuciosas e precisas dos fenômenos urbanísticos e suas inter-relações espaciais e tempo- rais, garantindo, dessa forma, intervenções territori- ais que podem contribuir para a redução de questões estruturais, a exemplo da segregação socioespacial. No entanto, em se tratando de análise intra-urbana e no que tange a demografia, pode-se dizer que é uma experiência complexa e dificultosa porque se traba- lha com fenômenos territorialmente variáveis ao lon- go do tempo, como, por exemplo, a densidade popu- lacional. A questão é que trabalhar com um fenôme- no dinâmico requer a obtenção e compatibilização dos dados obtidos para uma mesma área em diver- sos períodos. Entretanto, os dados demográficos primários coletados pelo Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE) [1], que delimita unidades territoriais mínimas, os setores censitários, possuem demarcação distinta para os diversos censos demo- gráficos, pois um critério aplicado na delimitação dos setores é o número de domicílios, em torno de 250 moradias. Logo, comparar dados de períodos dife- rentes que não possuem áreas coincidentes passa a ser um problema fazendo com se comprometa a acurácia da análise territorial. Para sanar essa dificuldade, utiliza-se na nesta pes- quisa, os princípios da “metodologia de aplicação universal para compatibilização de dados de setores censitários multitemporais”[2]. Com a aplicação des- sa metodologia é possível analisar e comparar dados dinâmicos para o território, lançando material analíti- co que poderá servir como suporte para estratégias de planejamento urbano-regional e a implantação de equipamentos, serviços e infraestruturas, em particu- lar as edificações públicas de âmbito regional. 2. OBJETIVOS A pesquisa de iniciação científica que fundamenta o presente artigo tem por objetivo geral o desenvolvi- mento e aprimoramento de técnicas para analisar dados censitários multitemporais, ou seja, que permi- tem a comparação de dados de diversos períodos censitários. Tem, ainda, como finalidade a pretensão de apresentar recursos que podem subsidiar e nor- tear o trabalho de profissionais como arquitetos e urbanistas, no que diz respeito à elaboração de aná- lises locacionais para edificações e estratégias para

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Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178

Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

23 e 24 de setembro de 2014

Técnicas de análise de dados censitários multitemporais aplica-das às cidades estudadas pela rede nacional de pesquisa

QUAPÁ-SELGuilherme de Oliveira

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC

[email protected]

Manoel Lemes da Silva Neto Requalificação Urbana

CEATEC [email protected]

Resumo: Propor intervenções nas cidades que vi-sam melhoria e qualidade de vida de seus habitantes é uma questão delicada e envolta em conflitos de natureza territorial, especialmente quanto à variável demográfica. Definir os locais onde pode ser desti-nada maior atenção para investimentos públicos é tema a ser constantemente aprimorado por meio, por exemplo, de análises urbanísticas fundamentadas em análises populacionais. Neste sentido, almejando o aprimoramento de metodologias relacionadas aos estudos na dimensão intra-urbana, propõem-se apresentar um material que não somente oferece suporte para a compreensão do território levando em consideração variáveis dinâmicas da demografia tomadas como base o banco de dados do IBGE, como subsidia análises que devem preceder a im-plantação de edificações de grande porte e decisões para estratégias urbano-regionais.

Palavras-chave: Urbanização, Dinâmica populacio-nal, Adensamento Urbano.

Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo

1. INTRODUÇÃO Implantar uma edificação de grande porte em um contexto urbano pode contribuir ou não para o de-senvolvimento das cidades. Tem o poder de acentu-ar ou atenuar as desigualdades socioespaciais. Mas, paradoxalmente, quando se trata da implantação de edifícios de grande porte, e que na maioria dos ca-sos provem de decisões governamentais, não nos é deixado claro e transparente se são ou não adotadas análises locacionais, que certamente deveriam visar o desenvolvimento das nossas cidades. De um modo geral, tais decisões deveriam ter um embasamento em análises minuciosas e precisas dos fenômenos urbanísticos e suas inter-relações espaciais e tempo-rais, garantindo, dessa forma, intervenções territori-ais que podem contribuir para a redução de questões estruturais, a exemplo da segregação socioespacial.

No entanto, em se tratando de análise intra-urbana e no que tange a demografia, pode-se dizer que é uma experiência complexa e dificultosa porque se traba-lha com fenômenos territorialmente variáveis ao lon-go do tempo, como, por exemplo, a densidade popu-lacional. A questão é que trabalhar com um fenôme-no dinâmico requer a obtenção e compatibilização dos dados obtidos para uma mesma área em diver-sos períodos. Entretanto, os dados demográficos primários coletados pelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE) [1], que delimita unidades territoriais mínimas, os setores censitários, possuem demarcação distinta para os diversos censos demo-gráficos, pois um critério aplicado na delimitação dos setores é o número de domicílios, em torno de 250 moradias. Logo, comparar dados de períodos dife-rentes que não possuem áreas coincidentes passa a ser um problema fazendo com se comprometa a acurácia da análise territorial. Para sanar essa dificuldade, utiliza-se na nesta pes-quisa, os princípios da “metodologia de aplicação universal para compatibilização de dados de setores censitários multitemporais”[2]. Com a aplicação des-sa metodologia é possível analisar e comparar dados dinâmicos para o território, lançando material analíti-co que poderá servir como suporte para estratégias de planejamento urbano-regional e a implantação de equipamentos, serviços e infraestruturas, em particu-lar as edificações públicas de âmbito regional.

2. OBJETIVOS A pesquisa de iniciação científica que fundamenta o presente artigo tem por objetivo geral o desenvolvi-mento e aprimoramento de técnicas para analisar dados censitários multitemporais, ou seja, que permi-tem a comparação de dados de diversos períodos censitários. Tem, ainda, como finalidade a pretensão de apresentar recursos que podem subsidiar e nor-tear o trabalho de profissionais como arquitetos e urbanistas, no que diz respeito à elaboração de aná-lises locacionais para edificações e estratégias para

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distribuição de recursos de redes de infraestruturas, por exemplo. Partindo desse pressuposto, buscou-se a produção bases cartográficas georreferenciadas que contemplem análises de dados dinâmicos com a virtude de mensurar o fenômeno do adensamento urbano entre os anos de 2000 e 2010 para os muni-cípios de Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto e Vitória (ES). Esses municípios correspondem às quatro classes de tecidos urbanos propostos pelo projeto temático QUAPA-SEL I (2006) estruturado fundamentalmente na análise do que se entende por “sistema de espaços livres”. [3]

3. MATERIAIS E MÉTODOS As bases gerais da metodologia para a compati-

bilização de setores censitários encontram-se em trabalhos publicados por CÂMARA, (2004) [4] e UMBELINO e BARBIERI (2008) [5]. No entanto, a metodologia proposta nesses estudos não satisfa-zem os objetivos da pesquisa à medida que a com-patibilização é alcançada especialmente pela agre-gação de setores censitários, comprometendo-se, desse modo, a análise intra-urbana que privilegia dinâmicas apenas observáveis na escala da quadra, do bairro ou do distrito. Em contraponto, a metodologia de aplicação univer-sal para compatibilização de dados de setores censi-tários multitemporais lança mão da utilização de softwares da tecnologia de Sistemas de Informações Geográficos (SIG), no caso o ArcGis, e a extensão Hawth's Tools, que permite a operação com malhas vetoriais. Essa metodologia inicialmente proposta por BONUGLI e SILVA NETO trabalha com a transferên-cia das informações dos Resultados do Universo do Censo Demográfico de 2000 e 2010 publicados pelo IBGE, para uma malha ortogonal flexível. Tal malha pode assumir dimensões variadas de acordo com o objetivo da análise. Para demonstrar sua aplicação utiliza-se, aqui, uma malha de 200 x 200 metros que equivale em área a 4 hectares. A Figura 1 exemplifi-ca uma situação hipotética do processo de transfe-rência das informações e os cálculos envolvidos.

Figura 1. Transferência de informações com base no

percentual da área.

Logo, seguindo a hipótese presentada na figura aci-ma, podemos admitir que a população (P) na fração do setor censitário (fA) é equivalente ao percentual da área. Sendo assim temos 24% da população, ou seja, 480 pessoas. Ao interseccionar a malha regular de 4 hectares com a dos setores censitários obtém-se, como resultado, frações de polígonos em que as áreas representam uma relação proporcional sobre a área total do polí-gono expressa em porcentagem. Por consequência propõe-se que a porcentagem de área representada pela fração do polígono em relação à área de todo polígono é parâmetro aceitável para a definição do valor que uma dada variável assume naquela fração do polígono em relação ao valor da variável naquele setor censitário. Os cálculos, uma vez concluídos, permitem atribuir como valor da variável na quadrícu-la o somatório dos valores proporcionalmente assu-midos pelas frações em relação aos respectivos setores censitários, conforme ilustrado na Figura 2.

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Figura 2. Soma de variáveis para cada poligono da área.

Dessa maneira todas as variáveis dos setores censi-tários são transferidas para a malha e essa operação é feita para os dois períodos em questão: 2000 e 2010. Logo ao fazer a comparação multi-temporal serão considerados os valores das variáveis assumi-dos pelas quadrículas, que, por hipótese representa uma aproximação aceitável do valor de certa variável pela área da quadricula. No caso, na malha de 4 hectares. No caso em questão, na Figura 2, as análi-ses comparativas decorrem do valor que a variável assume naquela na quadrícula com identificador “id5” para o ano de 2000 e para o ano de 2010.

4. RESULTADOS Com a metodologia foi possível elaborar uma carto-grafia georreferenciada para os municípios de Cam-pinas, Ribeirão Preto, Sorocaba e Vitória (ES); que apresentam o Índice do Adensamento Urbano (IAU) entre 2000 e 2010 como exemplo do tipo de análise que somente pode ser elaborada se houver parâme-tro de natureza territorial equiparativo ao período analisado. A superfície estatística do IAU expõe na gama cromática tendente ao vermelho às áreas que mais adensaram nos 10 anos em consideração. As tendentes ao verde as que registraram os menores índices de adensamento. O IAU é um índice compos-to por dois subíndices: o Índice da Taxa de Cresci-mento Média Geométrica Anual 2000/2010 da densi-dade urbana populacional (habitantes/ hectare) e igual índice aplicado à densidade urbana habitacio-nal (domicílio/hectare). Para a compreensão da dinâmica territorial é impor-tante ser cotejado o IAU com os mapeamentos do Índice de Segregação Socioespacial (ISS) desenvol-vidos por Silva Neto [6]. Através da inspeção visual, estes fatores nos revelam para os municípios estu-dados, a coincidência das áreas que mais adensa-ram nos últimos anos com as áreas onde há maior presença da segregação sócio espacial. Na região

sudoeste do município de Campinas, Figuras 3 e 4, podemos verificar este fenômeno. O Índice de Segregação Socioespacial, aqui apre-sentado, expressa em valores tendentes ao verme-lho, situações onde há ocorrência de maior porcen-tagem de pessoas responsáveis com rendimento de até 3 salários mínimos e menor presença de domicí-lios particulares permanentes com existência de calçadas e menor porcentagem de pessoas respon-sáveis com rendimento de mais de 20 salários míni-mos.

Figura 3. Índice do Adensamento Urbano 2000/2010 –

Campinas - SP.

Figura 4. Índice de Segregação Socioespacial 2010 –

Campinas - SP.

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5. CONCLUSÕES

Estes mapeamentos do IAU, elaborados pela pre-sente metodologia, são exemplos de dados dinâmi-cos expressados por meio de uma superfície geoes-tatística, produto de uma compatibilização multitem-poral de setores censitários. Podemos inferir que, por utilizar processos automatizados de cálculos, esta metodologia, facilita a produção de ferramental analí-tico tendo como base a utilização de grande volume de informações em um intervalo de tempo relativa-mente curto, apresentando eficiência, tanto na locali-zação dos fenômenos, quanto na sua agilidade de produção e compatibilização de dados. Esta metodologia apresenta utilidade em analises que podem fornecer bases para implantação de edi-ficações de grande porte, na definição de estratégias urbano-regionais e especialmente como subsídio à formulação de políticas públicas de caráter territorial. Assim sendo, tal abordagem analítica pode oferecer pistas para a compreensão do fenômeno territorial, vislumbrando-se particularmente a possibilidade de auxiliar a formulação de projetos direcionados a re-dução das desigualdades sócioespaciais.

6. AGRADECIMENTOS

À família, aos amigos, à vida e a PUC-Campinas.

REFERÊNCIAS [1] IBGE (2011), Base de informações do Censo

Demográfico 2010: Resultados do Universo por setor censitário. Rio de Janeiro: IBGE.

[2] BONUGLI, F. L.; SILVA NETO, M. L. da. (2012), Desenvolvimento de bases cartográficas georre-ferenciadas com vistas ao estudo de tendências de organização espacial da macrometrópole paulista (Resumo expandido). In: XVII Encontro de Iniciação Científica, 2012, Pontifícia Universi-dade Católica de Campinas.

[3] MACEDO, S. S.(jun. 2011), Os sistemas de es-paços livres na constituição da forma urbana

contemporânea no Brasil: produção e apropria-ção - QUAPÁ-SEL II. São Paulo: FAU/USP. Mi-meo. (Projeto de pesquisa).

[4] G Câmara, MS Carvalho, OG Cruz, V Correa (2004), Análise espacial de áreas.

[5] UMBELINO, G.; BARBIERI, A. (2008) Metodolo-gia para a compatibilização de setores censitá-rios e perímetros urbanos entre os censos de 1991, 2000 e 2010. In: XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu. Anais... ABEP, Pag. 07

[6] SILVA NETO, M. L. da. (2011), Configurações espaciais da urbanização contemporânea: aden-samento urbano, sistemas de espaços livres e constituição da esfera pública no Brasil. Campi-nas: FAU/POSURB/PUC-Campinas. Mimeo. (Projeto de pesquisa).