tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

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LUCIANO JOSÉ DIAS O MITO E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO RELIGIOSO CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS (CCEJ) SÃO PAULO 2011

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Page 1: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

LUCIANO JOSÉ DIAS

O MITO E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO RELIGIOSO

CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS (CCEJ)

SÃO PAULO 2011

Page 2: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

LUCIANO JOSÉ DIAS

O MITO E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO RELIGIOSO

CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS (CCEJ)

SÃO PAULO 2011

Monografia de conclusão do curso de

Pós-Graduação Lato - Sensu,

Especialização em Ensino Religioso,

Práticas pedagógicas em Ensino das

Religiões. Exigido pelo Centro Cristão

de Estudos Judaicos como Requisito

parcial para conclusão do curso de

Especialização. Orientador: Professor

Dr. Jarbas Vargas Nascimento.

Page 3: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

LUCIANO JOSÉ DIAS

O MITO E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO RELIGIOSO

Aprovado Nota

_____________________________________________________________________________

Orientador: Prof. Dr. Jarbas Vargas Nascimento.

Monografia de conclusão do curso de

Pós-Graduação Lato - Sensu,

Especialização em Ensino Religioso,

Práticas pedagógicas em Ensino das

Religiões. Exigido pelo Centro Cristão

de Estudos Judaicos como Requisito

parcial para conclusão do curso de

Especialização. Orientador: Professor

Dr. Jarbas Vargas Nascimento.

Page 4: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

Sumário

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5

CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 7

A CONTRIBUIÇÃO DO MITO NA EDUCAÇÃO HUMANA ............................................ 7

1. O mito na evolução da humanidade ................................................................................ 8

1.1. O Mito e seu objeto ...................................................................................................... 10

1.2. Por que estudar o Mito? .............................................................................................. 12

1.3. Mito e Ensino Religioso ............................................................................................... 13

CAPITULO II ......................................................................................................................... 16

RELIGIÃO MITO E ENSINO RELIGIOSO ....................................................................... 16

2.1. Conceitos, perspectivas e abordagens ......................................................................... 17

2.2. Religião e Ensino Religioso ............................................................................................ 22

2.3. Ética e o Ensino Religioso ............................................................................................... 29

3.O Mito no Ensino Religioso ................................................................................................. 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: .................................................................................... 40

Page 5: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

5

INTRODUÇÃO

O presente estudo sobre mito e Ensino Religioso, vem contribuir para que o

leitor tenha a oportunidade de erigir uma análise comparativa própria e coletiva

a respeito do mito na vida humana, mais precisamente dentro da dimensão

religiosa. Todo desenvolvimento integral de que o ser humano é protagonista

ou não, passa por representações abstratas, as quais tornam possíveis a ele

portar-se diante da vida de maneira a extrair da sua experiência terrena, uma

centelha que o sustente para o sentido buscado como resultado das

inquietações que estão encerradas desde antes de sua existência no mais

profundo do seu ser. Toda pessoa mostra-se como que através de um véu.

Traz em si parte de mistério e Do Mistério, da Transcendência. Sua

dinamicidade se move de maneira excepcional, que às vezes foge de um

instante de vislumbrarmento diante da maravilha que se é e que se pode vir a

ser. Os mitos são expressões do espírito humano sobre sua concepção a

respeito dos fenômenos físicos e espirituais de seu ambiente e dentro de sua

sociedade.

Observaremos que é preciso que o profissional de Ensino Religioso esteja

atento à importância de estudar e compreender os mitos, assim como o seu

processo, sua origem, sua estrutura, sua finalidade, pois estes estudos podem

em muito contribuir nas aulas de Ensino Religioso assim como pra sua

formação pessoal, docente e cultural.

Os mitos estão presentes em varias culturas e tradições Religiosas sendo

necessária uma leitura histórica, antropológica, sociológica e filosófica, assim

sendo só o senso comum não basta, é preciso analisar os mitos em sua

conjuntura.

Em nosso trabalho, veremos que é o Ensino Religioso que “costura” o mito que

cada um cria, expandindo e alargando horizontes, motivando para o respeito.

Se cada um é formado para viver com propriedade sua crença, este acaba

respeitando o diferente do outro, porque acaba compreendendo que todos

buscam respostas iguais que supram sua necessidade de transcender.

Page 6: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

6

Constataremos que o Ensino Religioso tem o desafio de contribuir para uma

formação integral, integrada e integradora da pessoa em relação consigo

mesma, com os outros, com a natureza e com a Transcendência,

proporcionando uma aprendizagem intercultural e inter-religiosa, formando a

identidade e educando para a alteridade.

O rabino Henry Sobel1 expressa isto muito bem ao afirmar: “Temos que

permanecer, todos nós, enraizados em nossas respectivas tradições, sem

jamais violar aquilo que é sagrado para cada um de nós. Mas, ao mesmo

tempo, temos que reconhecer a santidade do credo e das tradições alheias.”2

Neste sentido, o presente trabalho traz uma contribuição muito oportuna e

importante para a nossa reflexão sobre culturas e religiões, seus desafios e

suas implicações para o Ensino Religioso. Nosso trabalho esta organizado em

dois capítulos, no primeiro, trataremos da possível contribuição do mito na

Educação Humana, sua evolução; seu objeto e o sentido de estudar sobre

mito; e as implicações do mito no Ensino Religioso. No segundo capitulo,

veremos a relação entre Religião, Mito e Ensino Religioso; os principais

conceitos, perspectivas e abordagens, tal como a ética no Ensino Religioso. Ao

percorrermos as páginas que seguirão, seremos interpelados a encontrar um

possível caminho para nos ajudar na pratica do Ensino Religioso nas Escolas.

1 Henry Sobel (Lisboa, 9 de janeiro de 1944) é um rabino de cidadania norte-americana há 37 anos

radicado no Brasil, onde foi presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP) até outubro de 2007, onde afastou-se formalmente. 2 SOBEL, Henry I. A tolerância religiosa, os direitos humanos e o século XX. Disponível em:

www.interacaovirtual.com/Espiritualidade/tolerancia. Acessado em 06/10/2011.

Page 7: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

CAPÍTULO I

A CONTRIBUIÇÃO DO MITO NA EDUCAÇÃO HUMANA

Page 8: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

8

1. O mito na evolução da humanidade

Desde os primórdios da humanidade estamos em meio e contribuímos com as

evoluções. As descobertas, as criações e invenções sempre foram uma

constante na vida das pessoas. O ser humano quer buscar algo que ao mesmo

tempo parece estar ao seu alcance pela sua inteligência e em contrapartida

através das suas buscas anseia pelo não desvendado como se fosse a

resposta sobre as indagações a respeito do mistério de estar e permanecer

vivo. O desconhecido interpela, incita, provoca a ação em favor de uma

resposta que seja adequada às inspirações mais íntimas que cada ser traz em

seu interior. Onde está a origem da vida, então? Qual o significado que ela tem

para cada pessoa?

Daí a importância de que todos aqueles que são compromissados com a

educação façam o esforço de trabalhar a partir da sua formação, para que as

diversas matizes a respeito da significação do sentido da vida seja abarcado de

maneira a valorizar o que todas a Tradições Religiosas dizem.

O mito, segundo a Enciclopédia Britânica do Brasil3, “constitui uma realidade

antropológica fundamental, pois ele não só representa uma explicação sobre

as origens do homem e do mundo em que se vive como traduz por símbolos

ricos de significado o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a

existência.”

O ser humano anseia desvendar o seu fim último, indaga-se de onde veio, o

que faz aqui neste mundo e para onde vai, essas perguntas são pertinentes

durante sua breve vida. Sua busca é em prol do seu desenvolvimento cultural,

social, psicológico. E o interessante é que cada pessoa busca do seu jeito,

segundo a crença na qual foi iniciado ou na qual fez a opção. O que importa é

o sentido da vida, almejado, ansiado por todos independente da condição

étnica, social ou cultural.

O mito é fantasia, porém é concretude. Mito é a extensão do anseio, do desejo

do ser humano de explicar e ser explicado, de entender e de ser entendido.

3 Enciclopédia Britânica do Brasil. Publicações. Rio de Janeiro, São Paulo, v. 10, 1997. p. 85.

Page 9: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

9

De acordo com VIESSER4, mito-mythos – advém do grego, que significa

etimologicamente fábula. Significando fábula, torna-se algo que é transmitido

oralmente por nossos antepassados, tendo como base a fidelidade do repasse

na transmissão das narrativas; para que o ser humano possa compreender a

realidade na qual vive e assim, para que construa seu conhecimento acerca do

que acredita. A existência humana em sua essência é uma fábula, onde o que

se é não está escrito. Pode-se prever alguma coisa, mas nunca delimitar em

certezas estáticas, pois o ser humano é dinâmico, ativo. Com o passar do

tempo faz parte da historicidade dos outros e vai construindo a sua de maneira

criativa, única, peculiar.

Já temos nos deparado com inúmeras ferramentas que apontam experiências

que vêm tentar ajudar o ser humano a construir-se como pessoa. O mito é,

seguindo esta idéia, mais uma delas que, alargam de maneira extraordinária as

opções para o fim buscado. Ele materializa o que não é concreto. Tem a

função de explicar algo que não se vê, mas que se acredita. Com este intuito,

busca-se aqui oferecer, através desta abordagem a quem lê, uma oportunidade

de interpretar de maneira rica e criativa como o mito se aplica na vida humana,

a partir é claro, da atuação nas entrelinhas feita por indução do Ensino

Religioso. Ele está aí como uma ferramenta que auxilia a destrinchar, a

clarificar, a trazer à tona, ao alcance das pessoas, com a precisão mais

eficiente possível, o que está subentendido na cultura religiosa na qual está

inserido e ou mesmo o que há em outras culturas. Não dá para fechar os olhos

ou recusar-se a perceber que as crenças que envolvem o que é o campo de

trabalho do Ensino Religioso, é exclusivamente matéria para que ele se

desenvolva se aprimore e contribua para a harmonia entre as culturas e

religiões.

O mito colabora, quando se trata também da religiosidade das pessoas, ele

está incutido na mente humana, é fato indispensável na existência humana. O

mito envolve o ser humano em sua teia e faz com que os fatos do passado

sejam parte do seu presente, mostra que a ação e a vida humana estão

interligadas. O mito “envolve acontecimentos supostos, relativos a épocas

4 VIESSER, Lizete Carmem. Fundamentos Pedagógicos do Ensino Religioso. IESDE, Curitiba: 2005. p.85.

Page 10: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

10

primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens, ou com os “primeiros”

homens5.

Segundo Eliade6, a tentativa de definir mito é a seguinte, “o mito é uma

realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e

interpretada em perspectivas múltiplas e complementares....o mito conta uma

história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial,

o tempo fabuloso dos começos...o mito conta graças aos feitos dos seres

sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade

tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal,

um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação,

descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir...” 7

1.1. O Mito e seu objeto

O objeto do mito são as diversas situações em que se procura dar sentido ao

mundo8. É mediação entre o sagrado e o profano. É verdade escatológica e

tem o ser humano como o ponto de ligação entre a realidade e o seu sentido

último, a sua transformação última. O mito transcende a experiência do senso

comum, e a razão. O mito não precisa de demonstração. Por isso, é uma

linguagem apropriada à religião. Abrange maior amplitude de mensagens,

desde atitudes antropológicas muito imprecisas, até conteúdos religiosos, pré-

científicos, tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos9.

O ser humano na busca incessante em desvendar o mistério de sua existência

tenta compreender esta realidade através dos mitos que lhe são apresentados

desde seu nascimento; ou pelo menos, convencer-se de que o existir não é um

acaso.

5 Enciclopédia Britânica do Brasil. Publicações. Rio de Janeiro, São Paulo, v. 10, 1997. p. 86.

6 Escritor e historiador romeno nascido em Bucareste, Romênia, considerado o mais importante e

influente especialista em história e filosofia das religiões, ficou conhecido pelas pesquisas que empreendeu sobre a linguagem simbólica das diversas tradições religiosas. 7 ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. Edições 70, Lisboa, 1989. p. 12-13.

8 ELIADE, Ibidem..

9 ELIADE, Ibidem.

Page 11: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

11

Sendo o ser humano repleto de questionamento a respeito de tudo que o

cerca, cabe a ele se envolver na complexidade de sua vida, buscando as

inúmeras alternativas que enobrecem e valorizam sua existência. Conhecendo

a existência da diversidade de culturas, e que há uma infinidade de mitos

através dos quais as pessoas se apóiam, Ele se direciona para um itinerário

que remete a compreensão e o prepara para que se adapte ao mundo em que

vive de maneira pessoal e coletiva.

O mito só fala daquilo que realmente aconteceu do que se manifestou, sendo

as suas personagens principais seres sobrenaturais, conhecidos devido aquilo

que fizeram no tempo dos primordios10. Os mitos revelam a sua atividade

criadora e mostram a “sobrenaturalidade” ou a sacralidade das suas obras. Em

suma os mitos revelam e descrevem as diversas e frequentemente dramáticas

eclosões do sagrado ou sobrenatural no mundo. É está eclosão, ou melhor

dizer, desabrochamento do sagrado (sobrenatural), que funda, que dá origem

ao mundo tal como ele é hoje. Sendo também graças à intervenção de seres

sobrenaturais que o homem é o que é hoje. Ainda segundo Eliade:

“O mito é considerado como uma história sagrada, e portanto uma

história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito

cosmogónico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o

provar, o mito da origem da morte é também verdadeiro porque a

mortalidade do homem prova-o...e pelo fato de o mito relatar as gestas

dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus poderes sagrados,

ele torna-se o modelo exemplar de todas as actividades humanas

significativas11”.

Para Eliade o homem arcaico, “é resultado de um número de eventos míticos...

que constituem uma história sagrada” 12, ou seja, é o que é, porque entes

sobrenaturais permitiram que fosse assim; já para o homem moderno, ainda

segundo Eliade, é como é hoje, porque houve contribuição de toda a

sociedade; desde o descobrimento do fogo até os acontecimentos maléficos ou

10

ELIADE, Ibidem, p. 12-13 11

ELIADE, Ibidem, p. 13. 12

ELIADE, Ibidem, p. 16.

Page 12: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

12

benéficos ocorridos com a humanidade o fazem ser um sujeito que está à

mercê de tudo o que ocorre no passado e presente e que isso contribuirá para

os que futuramente passarem por aqui, ou seja, a vida está repleta da rica

característica da história.

1.2. Por que estudar o Mito?

O ser humano dentro de sua perspectiva de ser em relação, busca o

autoconhecimento, interage e interfere no meio em que vive. Portanto, busca

um envolvimento com o Transcendente como forma de encontrar e assumir

sua identidade; por isso a compreensão dos mitos presente na vida humana é

relevante: de acordo com Eliade “conhecer os mitos é aprender o segredo da

origem das coisas” 13, é identificar de maneira inteligível como o sentido existe

e como encontrá-lo no cotidiano. Desse modo, o conhecimento torna-se claro,

passa da mente para o coração, a partir do momento que realmente se

vivencia e conhece o que é buscado, encontra-se o que se procura.

As ações humanas são reflexos dessa busca diante de todas as situações que

surgem no seu cotidiano. Cada solução almejada perante o que é

aparentemente inexplicável ou sem nexo, revela seu desejo de estar à procura

do sentido para sua existência. Com isso, a transcendência, o querer ir além do

natural torna-se companheiro na jornada terrena do ser humano: em suas

ações e utopias, mesmo sem que ele próprio o saiba; daí as crenças,

superstições, mitos incutidos e mesclados em sua existência.

De acordo com o PCNER14 “... pelo espírito de reverência às crenças alheias (e

não só pela tolerância) desencadeia-se o profundo respeito mútuo que pode

conduzir a paz.” 15 Sob a perspectiva do ser em relação, abre-se campo para

uma miscelânea de descobertas; faz-se necessário conhecer as mais

diferentes crenças que surgem e conseqüentemente abrir-se para o novo que

desponta em cada pessoa e aqui, em cada aluno oriundo das mais diversas

realidades, sobretudo quando se fala em nível de Brasil. O Ensino Religioso, na

13

ELIADE, Ibidem, p. 18. 14

Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso Edições AM São Paulo, 1997. 15

Ibidem, pg. 20.

Page 13: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

13

escola, tende a unir as mais diferentes culturas, ou dimensões religiosas, a fim

de que haja entendimento mútuo e a aquisição de novos conhecimentos a

respeito das diversas religiões existentes.

A reverência e o respeito à maneira do outro acreditar e manifestar sua fé, é

um paradigma a ser estudado com comprometimento, sem preconceitos, pois

que este vem enfatizar não a visão sob determinado ângulo, mas sim, vem

“desmistificar” o que foi se construindo no sentido negativo em relação às

tradições religiosas, enquanto ponto de partida para um entendimento mais

harmonioso entre as pessoas.

1.3. Mito e Ensino Religioso

É o Ensino Religioso que “costura” o mito que cada um cria, expande e alarga

horizontes, motiva para o respeito. Se cada um é formado para viver com

propriedade sua crença, este acaba respeitando o diferente do outro, porque

acaba compreendendo que todos buscam respostas iguais que supram sua

necessidade de transcender, mas é claro, de maneira diferente e este é um

direito que não pode ser negado a ninguém.

Para Eliade,“... a religião mantém a „abertura‟ para o mundo sobre-humano”16,

ou seja, a religião contém valores absolutos para todas as atividades humanas,

nas quais o ser humano se confronta com o mistério compreendendo a

linguagem que o mundo lhe oferece. Para tal explicação, é imprescindível que

se identifique os modelos que os mitos lhe revelam, a fim de que se construa

significação ao mundo, levando-se em conta que o que se busca é despontar

para as idéias de “realidade, de valor e de transcendência”17.

O mito que envolve o ser humano precisa ser realmente “desmistificado”; nada

de complicação e sim buscar entender a complexidade impossível de se

ignorar. Implantar a harmonia e o enriquecimento mútuo ao invés da

hegemonia de uma tradição religiosa. É difícil tal caminho, mas o encontro com

o Transcendente perpassa pela experiência com o outro, portanto é caminho

16

Ibidem, p. 123. 17

Ibidem, p. 128.

Page 14: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

14

necessário. Toda ação transcendental interpela e possibilita refletir e agir em

prol do outro: a alteridade também tem a ver com respeito, com valorização do

diferente. Essa é ou deveria ser uma das missões do Ensino Religioso na vida

das pessoas.

O fenômeno religioso dentro da diversidade religiosa existente se fundamenta

fazendo-se imprescindível ser reconhecido como a ação mítica entre as

pessoas. Ao trabalhá-lo, dá-se oportunidade para que a construção da

liberdade na prática da sua fé seja cada vez mais incentivada e valorizada.

Todos têm direito de ter ou optar pela religião que quiserem, pois segundo

CAMPBELL18, “toda religião é verdadeira, de um modo ou de outro” 19, mas faz-

se necessário compreendê-la em sua essência, não criando suas próprias

metáforas. O Ensino Religioso, diz em sua prática que é muito bom que o

conhecimento a respeito seja externado para outras pessoas: todo

“conhecimento é patrimônio da humanidade”20, logo, a socialização só trará

benefícios para todos.

A função da escola, além do conhecimento sistematizado é contribuir para que

o conhecimento religioso esteja ao alcance dos alunos. A escola é formadora,

portanto sua participação no cotidiano das pessoas é um marco importante

para a abertura às novas conquistas nesse campo. Quando a aprendizagem é

desenvolvida de maneira integral, a criança conhece a si, reconhece-se e

conhece o outro, nisto consiste a educação de qualidade que trabalha a partir

do seu próprio mito. Cabe à escola conduzir o Ensino Religioso sob uma

reflexão crítica, na qual se estabelece significados, fazem-se comparações,

orienta-se para a compreensão da dimensão religiosa na qual o educando está

inserido em sua concepção de mundo. A escola ajudará para que haja

comprometimento com a construção do sentido da vida que terá como

desfecho a experiência concreta com o Transcendente.

Cabe aos educadores trabalhar com variedades de metodologias que

despertem e auxiliem a motivação interna do educando para o conhecimento.

18

Joseph Campbell nasceu em 26 de março de 1904 e cresceu em White Plains, Nova Iorque. Pesquisador de mitologia e religião comparada. 19

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: ed. Palas Athena.1990. P. 59. 20

Ibidem.

Page 15: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

15

Despertando neles o interesse por saber o porquê dos diferentes mitos

existentes na vida das pessoas e o porquê a eles devotam tanta importância.

É preciso cautela, cuidado, para não magoar ou insinuar qualquer postura que

venha ferir a maneira que cada um tem de buscar e refletir sobre os mitos que

envolvem a origem de sua vida, de sua morte e para além da morte; o encontro

com o Ser Superior.21

O mito enquanto fato da vida diária da humanidade traz e sempre trará

desafios a serem desvendados e trabalhados na educação das pessoas22. O

Ensino Religioso é a área que vai conduzir, reger a ação a fim de conseguir

harmonizar os anseios religiosos que estão guardados no âmago de cada ser;

o conhecimento das diferentes tradições religiosas só tende a trazer benefícios.

O mito que envolve o que parece ser inatingível sob o olhar humano é o

segredo que motiva e apela para a busca da felicidade e conseqüentemente do

sentido da vida humana23.

Não há humanidade sem crença, sem uma fé. Não há humanidade sem o mito,

sem ser ou estar inserida num mito. Pois a verdade se veste de muitas caras e

assim a visão é mais ampla que a compreensão natural. O sonho pela paz será

alcançado à medida que os passos são dados com consciência e clareza do

que se procura apresentar e assimilar. O mito enquanto reflexo da “certeza”

sobre o desconhecido abre portas para a descoberta de si e do outro como

participante indispensável na grande jornada da vida rumo a realização plena24.

21

Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso Edições AM São Paulo, 1997. P. 20. 22

Ibidem. 23

BRASIL, Elizandra dos Santos e DMENGEON, Ivone de Lourdes, Ensino Religioso: o mito como contribuição na educação humana. www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pdf , acessado dia 07/07/2011. 24

BRASIL, Ibidem.

Page 16: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

CAPITULO II

RELIGIÃO MITO E ENSINO RELIGIOSO

Page 17: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

17

2.1. Conceitos, perspectivas e abordagens

Para o historiador das religiões, toda manifestação do sagrado é importante;

todo rito, mito, crença ou figura divina reflete a experiência do sagrado e, por

conseguinte implica as noções de ser, de significação e de verdade.

É difícil imaginar de que modo o espírito humano poderia funcionar sem a

convicção de que existe no mundo alguma coisa de irredutivelmente real; e é

impossível imaginar como a consciência poderia aparecer sem conferir

significado aos impulsos e às experiências do homem. A consciência de um

mundo real e significativo está intimamente ligada à descoberta do sagrado.

Por meio da experiência do sagrado, o espírito humano captou a diferença

entre o que se revela como real, poderoso, rico e significativo e o que é

desprovido dessas qualidades, isto é, o fluxo caótico e perigoso das coisas,

seus aparecimentos e desaparecimentos fortuitos e vazios de sentido.25

Em suma, o sagrado é um elemento na estrutura da consciência, e não uma

fase na historia dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver

como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e

o trabalho têm um valor sacramental. Em outras palavras, ser – ou, antes,

torna-se – um homem significa ser “religioso”26

A maioria das pessoas tem alguma idéia do que seja “religião”. Costuma-se

pensar essa definição como crença em Deus, espíritos, seres sobrenaturais, ou

na vida após a morte. É possível pensar, ainda, esse conceito como o nome de

algumas das grandes religiões mundiais: Cristianismo, Hinduísmo, Budismo ou

Islamismo. Embora parte do senso comum sobre o conceito de “religião”

aplique-se aos estudos dos fenômenos e sistemas religiosos, eles são

insuficientes para estudos científicos.27

O próprio termo “religião” originou-se da palavra latina religio, cujo sentido

primeiro indicava um conjunto de regras, observâncias, advertências e 25

MIRCEA, Eliade, La Nostalgie dês origines, p. 7s. 26

MIRCEA, Eliade, Historia das crenças e das idéias religiosas, da idade da Pedra aos mistérios de Elêusis, Zahar, Rio de Janeiro, 2010. 27

DA SILVA, Eliane Moura, Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania, rever, pcsp, n 2, 2004.

Page 18: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

18

interdições, sem fazer referência a divindades, rituais, mitos ou quaisquer

outros tipos de manifestação que, contemporaneamente, entendemos como

religiosas. Assim, o conceito “religião” foi construído histórica e culturalmente

no Ocidente adquirindo um sentido ligado à tradição cristã. O vocábulo

“religião” - nascido como produto histórico de nossa cultura ocidental e sujeito a

alterações ao longo do tempo – não possui um significado original ou absoluto

que poderíamos reencontrar. Ao contrário, somos nós, com finalidades

científicas, que conferimos sentido ao conceito. Tal conceituação não é

arbitrária: deve poder ser aplicada a conjuntos reais de fenômenos históricos

suscetíveis de corresponder ao vocábulo “religião”, extraído da linguagem

corrente e introduzido como termo técnico.

Por isso, uma definição para uso acadêmico e científico não pode atender a

compromissos religiosos específicos, nem ter definições vagas ou ambíguas,

como, por exemplo, definir “religião” como “visão de mundo”, o que pressuporia

que todas as “visões de mundo” fossem religiosas. Do mesmo modo, se

“religião” é definida como “sagrado”, a questão torna-se saber o que é

“sagrado” e o seu oposto, o “profano”. Outras definições são muito restritivas: a

definição “acreditar em Deus” deixa de fora todos os politeísmos e o Budismo,

enquanto a crença numa realidade sobrenatural ou transcendental também não

satisfaz, por não ser comum a todas as culturas religiosas.28

A definição mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de organização e

análise, tem sido a seguinte: religião é um sistema comum de crenças e

práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e

culturais específicos29.

Aqui, é necessário fazer duas observações: de um lado, é importante ressaltar

que, nas línguas de outras civilizações e culturas distintas do Ocidente pós-

clássico, não existe um termo para designar “religião” (no caso da tradição

hindu, por exemplo); de outro, que todas as culturas conhecidas possuem

manifestações que costumamos chamar de “religião”. Isto significa pressupor

28

DA SILVA, Eliane Moura, Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania, rever, pcsp, n 2, 2004. 29

Ibidem.

Page 19: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

19

que pode existir uma religião sem essa conceituação, ou que o nosso conceito

de “religião” é válido para determinados conjuntos de fenômenos nas culturas

onde aparecem, mas não se distinguem como “religiosos” no interior de outros

universos histórico-culturais. Assim, o conceito de “religião” deve levar em

conta a variedade dos fenômenos que costumamos chamar de “religiosos”.30

Segundo o dicionário Ilustrado das religiões de SCHWIKART,31 Religião é difícil

de ser definida, já que está presente em todos os tempos e em todas as

culturas, sob as mais diversas formas. Religião tem a ver com as questões

fundamentais do homem: Quem sou eu? De onde vim? Por que e para que eu

vivo? O que devo fazer? O que vai acontecer comigo depois da morte? São

questões a respeito do transcendente, do divino, do sagrado. - A origem do

termo religião tem várias explicações.

Segundo alguns, vem de “religare” = reatar. Segundo outros, vem de “relegere”

= reler, observar conscienciosamente; lembra o respeito devido às prescrições

da religião romana.

JOHNSON32, Em sua definição nos diz que tal como todas as Instituições

sociais, religião é definida sociologicamente pelas funções que desempenha

em sistemas sociais. De modo geral, é um arranjo social constituído para

promover uma maneira compartilhada, coletiva, de lidar com aspectos

desconhecidos e incognoscíveis da vida humana, com os mistérios da vida,

morte e existência, e com os dolorosos dilemas que surgem no processo de

tomar decisões de natureza moral. Como tal, a religião fornece não só

respostas a duradouros problemas e perguntas humanos, mas forma também

uma das bases da coesão e da sociedade sociais.

ABBAGNANO,33 Nos diz que Religião= (lat. Religio; in. Religion; fr. Religion;

AL. Religion; it. Religione). Crença na garantia sobrenatural de salvação, e

técnicas destinadas a obter e conservar essa garantia. A garantia religiosa é

sobrenatural, no sentido de situar-se além dos limites abarcados pelos poderes

30

DA SILVA. Ibidem. 31

SCHWIKART, Georg , dicionário Ilustrado das religiões . Aparecida, São Paulo : O Santuário, 2001. 32

JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: Guia pratico da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 33

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes ,2007.

Page 20: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

20

do homem, de agir ou poder agir onde tais poderes do homem são impotentes

e de ter um modo de ação misterioso e imperscrutável.

Outra possíveis definições para religião é:

Uma estrutura de discursos e práticas comuns a um grupo social

referentes a algumas forças (personificadas ou não, múltiplas ou

unificadas) tidas pelos crentes como anteriores e superiores ao seu

ambiente natural e social, frente às quais os crentes expressam certa

dependência (criados, governados, protegidos, ameaçados etc.) e diante

das quais se consideram obrigados a um certo comportamento em

sociedade com os seus “semelhantes”34.

Fundamental para a realidade social da religião é a distinção estabelecida por

DURKHEIM35 entre o sagrado e o profano. O profano consistiria de tudo que

podemos saber através dos sentidos. É o mundo natural da vida diária, que

experimentamos como compreensível ou pelo menos, em última análise, como

cognoscível. Em contraste, o sagrado abrange tudo que existe além do mundo

da vida diária, natural, que vivenciamos com nossos sentidos. Como tal, o

sagrado inspira sentimentos de respeito porque é considerado incognoscível e

além das limitadas capacidades humanas de perceber e compreender. A

religião é organizada principalmente em torno dos elementos sagrados da vida

humana e cria condições para uma tentativa coletiva de construir uma ponte

entre o sagrado e o profano.

Para Durkheim, o sobrenatural é uma noção tida geralmente como

característica de tudo que é religioso. Entende-se por isso toda a ordem de

coisas que ultrapassa o alcance de nosso entendimento; o sobrenatural é o

mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível. A religião seria,

portanto, uma espécie de especulação sobre tudo o que escapa à ciência e, de

maneira mais geral, ao pensamento claro.36

34

AZEVEDO, M. C. Modernidade e cristianismo. O desafio à inculturação. São Paulo: Loyola, 1981, p. 336. 35

DURKHEIM, Émile, As formas elementares da vida religiosa, São Paulo, Abril cultural, 1973. 36

DURKHEIM, Ibidem, p. 5

Page 21: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

21

Após tantas definições, percebemos que é preciso ficar atento aos usos e

sentidos dos termos que, em determinada situação, geram crenças, ações,

instituições, condutas, mitos, ritos, etc.

Estudar os fenômenos e sistemas religiosos como parte da cultura significa

apreender um fator identificável da experiência humana, que se apresenta

como imagens que passaram através de milhares de pessoas, ao longo de

diferentes tradições, algumas modeladas nos santuários, outras nas

universidades.

Religiões, religiosidades, experiências religiosas se expressam em linguagem e

formas simbólicas. Saber o que foi experimentado, vivido e como isso pode ser

compreendido exige a capacidade de identificar coisas, pessoas,

acontecimentos, através da nomeação, descrição e interpretação, envolvendo

conceitos apropriados e linguagem37. Atualmente, os estudos sobre religião e

religiosidade valorizam os fenômenos religiosos de forma diversificada. Há o

reconhecimento de que as questões religiosas permeiam a vida cotidiana como

religiosidade popular, sob formas de espiritualidade que fornecem elementos

para construção de identidades, de memórias coletivas, de experiências

místicas e correntes culturais e intelectuais que não se restringem ao domínio

das igrejas organizadas e institucionais.

Nenhuma tradição religiosa é “total”, nem existe um status de favoritismo de

religiões38.

Conhecer o lugar onde estamos e onde os outros estão em relação à fé e às

crenças leva nos a desenvolver um sentido de proporção no amplo campo das

religiões, religiosidades, experiências religiosas - onde todos devem ser

ouvidos e respeitados. A diversidade se faz riqueza e deve conduzir à

compreensão, respeito, admiração e atitudes pacificadoras.

37

DA SILVA, Eliane Moura, Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania, rever, pcsp, n 2, 2004. 38

DA SILVA. Ibiem.

Page 22: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

22

Religião sempre foi um assunto de vida e morte, não somente em termos de

suas próprias funções (batismos e funerais), mas também um assunto

existencial decisivo para milhões de pessoas.

Em quase todas as religiões as experiências religiosas transcendentais ou

divinas estão relacionadas diretamente ao sentido vida-morte, e sobre isso

podem ser encontradas definições, tanto nos monoteísmos quanto nos

politeísmos, procurando combater a desesperança e ocupando um grande

espaço na realidade cotidiana de nosso tempo. Qual é o sentido da vida? De

onde viemos? Para onde vamos depois da morte? Questões ainda e sempre

fundamentais, para as quais livros foram escritos, esculturas e pinturas

produzidas, poesias e músicas compostas que, nos últimos cinco mil anos,

formaram um patrimônio cultural que pertence a todos e à história de cada um.

2.2. Religião e Ensino Religioso

A sociedade brasileira é caracterizada pelo pluralismo religioso e diversidade

cultural, que se refletem nas escolas entre docentes e discentes. A nova LDB

reconhece e considera esta realidade e este dinamismo escolar, e, no que diz

respeito ao Ensino Religioso, prevê esta disciplina como parte integrante da

formação básica do cidadão e garante o direito constitucional de liberdade de

consciência e de crença39.

A Lei número 9.475, de 22 de julho de 1997, assegura “o respeito à diversidade

cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. Se, por

um lado, a lei assegura o direito à diversidade cultural religiosa, por outro lado,

a prática dos educadores e das educadoras, em muitos casos, ainda está

orientada pelo ensino confessional, no qual a atuação, em geral, ocorre a partir

de um pressuposto cristão, desconsiderando as outras expressões religiosas40.

Diante dessa realidade histórica, começam a surgir questionamentos e

proposições para o ensino, com o objetivo de considerar e valorizar o

39

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997. 40

MARKUS, Cledes. Monografia de Culturas e Religiões: Implicações Para o Ensino Religioso, apresentada para a Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Ensino Religioso, do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, da Escola Superior de Teologia. São Leopoldo, RS, 2002. p. 9.

Page 23: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

23

pluralismo religioso e a diversidade cultural do nosso país, presentes na sala

de aula. No que se refere ao Ensino Religioso, essa temática ainda não foi

suficientemente abordada: a diversidade cultural e religiosa, em muitos casos,

ainda não é considerada em sala de aula; não existem propostas concretas de

como proceder o diálogo inter-religioso; o educador, a educadora ainda estão

por demais atrelado e atrelada a sua confessionalidade, o que dificulta a

abordagem, a sistematização e o diálogo com experiências diferentes; faltam

conhecimentos dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso e o

papel das tradições religiosas no contexto sociocultural; enfim, falta a

compreensão das implicações da matriz cultural religiosa nesta disciplina41.

A diversidade cultural e religiosa no contexto brasileiro é decorrente de um

longo processo histórico influenciado principalmente, por aspectos políticos e

econômicos, de ordem nacional e internacional. Remonta ao início da

colonização em 1500, quando se dá o encontro desigual e problemático não só

de três povos, mas de inúmeras identidades desenraizadas. Índios, negros e

brancos não eram identidades uniformes, mas cada qual composta por

inúmeros povos que apresentavam uma diversidade cultural e religiosa muito

grande42.

Além disso, não se pode desconsiderar que o quadro que hoje se apresenta

sempre teve as influências das relações desiguais de poder que aconteceram

no decorrer da história entre as diferentes etnias, obrigando essas diferentes

culturas a viverem no mesmo espaço sob exploração, dominação e

discriminação.

Esse processo, portanto, se apresenta como uma construção cultural e

religiosa muito complexa, onde coexistem culturas singulares cujas origens

estão ligadas a diferentes grupos étnicos, e apresentam características locais e

regionais. Além disso, há uma permanente elaboração e redefinição da

identidade nacional em sua complexidade devido ao entrelaçamento de

influências recíprocas que ocorrem entre as culturas de todos estes povos.

41

MARKUS, Ibidem. p. 9. 42

MARKUS, Ibidem. p. 28.

Page 24: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

24

Fazem parte dessa configuração social e cultural uma variedade de povos

indígenas, cada um com suas peculiaridades e identidades; a imensa

população de afro descendentes cujas origens se encontram em diversas

etnias africanas; um numeroso grupo de imigrantes e descendentes de

diversos continentes e uma variedade de grupos resultantes de “mestiçagens”

como os caboclos e cafuzos.

Fazer a identificação de tipos de grupos existentes no Brasil atual é uma tarefa

complexa devido à grande mobilidade que existe entre etnias, tradições e

culturas. Além disso, um mesmo indivíduo pode identificar-se com diferentes

grupos, com o mesmo sentimento de pertença devido à sua descendência

múltipla.

No que se refere ao aspecto religioso, existe uma diversidade muito ativa de

manifestações religiosas no contexto brasileiro, ligada essencialmente à

multiplicidade de culturas e às variações e “cruzamentos” destas culturas.43

Vê-se, portanto, que a diversidade permeia a sociedade brasileira, onde ainda

encontramos as características regionais; as diferentes formas de vida entre o

campo e a cidade; diferentes modos de organização social nos diferentes

grupos e regiões; diferentes processos migratórios; formas diversas de relação

com a natureza, de vivência da religiosidade, de cosmo visões.

Tudo isso propicia à população brasileira vivências e respostas culturais e

religiosas muito diferenciadas que implicam valores e propostas de vida

distintas. Toda a complexa realidade se reflete na escola, onde a diversidade

se faz presente diretamente nas pessoas que compõem a comunidade escolar.

Esse processo complexo presente na vida brasileira, geralmente é ignorado ou

descaracterizado. Isto também acontece na escola, onde a diversidade é

ignorada, silenciada ou minimizada.44

A escola também contribuiu para a disseminação de preconceitos através de

conteúdos indevidos e errôneos, presentes em materiais didáticos e livros. Um

43

MARKUS, Ibidem. p. 29. 44

MARKUS, Ibidem. p. 29.

Page 25: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

25

exemplo encontramos nos dicionários, em que ainda hoje são reproduzidos

conceitos e significados altamente discriminadores. Veja-se a palavra

“selvagem”, que em geral tem o mesmo significado em todos os dicionários,

como sendo: habitante das selvas, pessoa que não vive na sociedade civilizada

mas que vive na selva, inculto, rude, grosseiro, não civilizado, que nasce sem

cultura, não domesticado, pessoa sem convivência, facilmente se enfurece, etc.

Alguns ainda acrescentam a estes os termos: aborígine e tribo de índios. Nota-

se, portanto, uma forte carga ideológica e discriminatória em relação aos povos

indígenas, que são considerados sem civilização, sem cultura, rudes,

grosseiros.

A escola, portanto, se encontra marcada por práticas, teorias e políticas

educacionais que, além de desconsiderarem a diversidade cultural e religiosa,

ajudaram a reproduzir preconceitos e discriminações no ambiente escolar.

Nos últimos anos, no entanto, existe uma verdadeira preocupação em reverter

esse processo, para que currículo, formação de professores e professoras e

pedagogias possam proceder ao “reconhecimento e valorização de

características específicas e singulares de regiões, etnias, escolas, professores

e alunos.” 45

Nesse processo de superação da discriminação e exclusão, de valorização da

diversidade e de construção de uma sociedade mais justa, livre e fraterna, o

processo educacional se propõe a contribuir e “atuar para promover processos,

conhecimentos e atitudes que cooperem na transformação da situação atual”,46

visando novos comportamentos e novos vínculos em relação a todos os grupos

que historicamente foram alvo de injustiças.

Nesse sentido, a escola tem um papel relevante a desempenhar, por um lado

porque ela é um espaço onde acontece a convivência de crianças e

adolescentes com distintas concepções, visões de mundo, valores, enfim, com

diferentes culturas e religiões; por outro porque “é um dos lugares onde são

45

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília: MEC/SEF. 1997, p. 33. 46

Ibidem. p. 24.

Page 26: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

26

ensinadas as regras do espaço público para o convívio democrático com a

diferença”47 ; e ainda porque a escola apresenta conhecimentos sistematizados

em que precisam estar necessariamente incluída a realidade da diversidade e

pluralidade do Brasil.

Tendo em vista essa contribuição, a Pluralidade Cultural foi incluída nos

Parâmetros Curriculares Nacionais como tema transversal a ser considerado

no ensino. No Volume 10 esta temática é explicitada:

“A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à

valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos

sociais que convivem no território nacional, às desigualdades

socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e

excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno

e à aluna a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo,

multifacetado e algumas vezes paradoxal” 48

Ao abordar o tema da Pluralidade Cultural em sala de aula, com vistas ao seu

reconhecimento, valorização e superação de discriminações, se está atuando

sobre um dos mecanismos de exclusão e, com isso, caminhando na direção de

uma sociedade mais democrática - tarefa primordial do trabalho educativo

voltado para a cidadania em sua plenitude.

Hoje, há o esforço de assegurar o Ensino Religioso como disciplina regular

integrante do sistema escolar, onde não pode ser visto como o ensino de uma

religião, ou das religiões, mas sim como disciplina centrada na antropologia

religiosa.49

A escola deixa de ser um espaço unitário e coerente de um grupo, rompe com

paradigmas e conceitos vigentes de educação, acolhendo novas possibilidades

e manifestações.

47

Ibidem. p. 23. 48

Ibidem. p. 19. 49

MARKUS, Cledes. Monografia de Culturas e Religiões: Implicações Para o Ensino Religioso, apresentada para a Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Ensino Religioso, do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, da Escola Superior de Teologia. São Leopoldo, RS, 2002. p. 33.

Page 27: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

27

Nesse contexto, o Ensino Religioso também busca a sua redefinição como

disciplina regular do conjunto curricular.

O artigo 210, parágrafo 1º da Constituição garante: “O Ensino Religioso, de

matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas

públicas de ensino fundamental”50.

No dia 20 de dezembro de 1996 foi sancionada a nova LDB sob o nº

9.394/12/96 onde consta o texto sobre o Ensino Religioso, mas recebeu nova

redação em 22 de julho de 1997, sob a lei nº 9.475, sendo esta a que está em

vigor hoje: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da

formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das

escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade

cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo” 51.

1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição

dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a

habilitação e admissão dos professores.

2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes

denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.

Com a nova LDB, houve avanços significativos em termos de reconhecimento

do Ensino Religioso como disciplina curricular normal do sistema de educação.

Porém, a sociedade ainda está muito dividida em sua aceitação como tal,

desencadeando os mais variados debates.

Em geral, encontramos duas concepções divergentes, uma a favor e outra

contra a sua inclusão no currículo escolar, ambas, no entanto, com a mesma

alegação de que estão salvaguardando o direito democrático da liberdade

religiosa. Entre aqueles que defendem a inclusão, ainda se encontram

compreensões diferentes nos termos em que este ensino dever ser

50

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, p. 85. 51

CARON, Lurdes (org.) e Equipe do GRERE, O Ensino Religioso na nova LDB, p. 27.

Page 28: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

28

concretizado. Alguns ainda o defendem como Ensino de uma Religião ou

Catequese52.

Da parte das Igrejas, também há posições contrárias. Algumas tendências

concebem o Ensino Religioso não mais como elemento eclesial na escola, mas

como uma oportunidade de um diálogo entre os educandos e as educandas de

diversas denominações religiosas, em respeito mútuo e evitando o

proselitismo.

Dentro dessa visão, o conhecimento religioso começa a sair do âmbito das

igrejas, para adquirir espaço e reconhecimento como conhecimento humano

disponível para todos. Por isso, a escola, mais especificamente o Ensino

Religioso, deve ser um espaço para a construção e sociabilização do

conhecimento religioso53.

Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso

apresentam a seguinte fundamentação: “Entende-se também que a Escola é o

espaço de construção de conhecimentos e principalmente de socialização dos

conhecimentos historicamente produzidos e acumulados. Como todo o

conhecimento humano é sempre patrimônio da humanidade, o conhecimento

religioso deve também estar disponível a todos os que a ele queiram ter

acesso”54.

O Ensino Religioso, portanto, não está separado das demais áreas de

conhecimento e por isso deve estar relacionado com os demais componentes

curriculares do sistema de ensino numa proposta de interdisciplinaridade, onde

contribui, de forma ativa e crítica, para o diálogo e construção conjunta da

prática educativa55.

Nesse sentido, ele pode contribuir para uma visão e uma prática mais

integradas dos conhecimentos humanos, onde a religiosidade não é mais

dissociada dos demais saberes e onde acontece uma íntima relação entre fé e

vida.

52

MARKUS, p. 36. 53

Ibidem, p. 37. 54

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso, p. 21. 55

MARKUS, p. 37.

Page 29: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

29

Outro aspecto importante que os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Religioso abordam é a integração do aspecto religioso à cultura: “Cada cultura

tem, em sua estruturação e manutenção, o substrato religioso que a

caracteriza. Este o unifica à vida coletiva diante de seus desafios e conflitos”56.

Neste sentido, cada cultura vai responder e expressar a religiosidade a sua

maneira e produzir conhecimentos diferentes.

O Ensino Religioso necessita cultivar o respeito por todas as manifestações

religiosas, não privilegiar certas expressões, mas ressaltar a alteridade.

É importante ressaltar que o fenômeno religioso como elemento inerente a

todas as culturas tem como pressuposto não só o transcendente, mas também

a experiência do cotidiano onde acontece a vida em suas relações com o

mundo, com a natureza, com a sociedade e consigo mesma.

A religiosidade perpassa a vida concreta das pessoas e das culturas,

influenciando suas relações, concepções, valores, conceitos, atitudes,

pensamentos e emoções.

No entanto, muitas vezes é acentuado o seu aspecto transcendente. Também

os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso em muitos

momentos colocam este acento, esquecendo que valores como transcendência

e imanência fazem parte da visão dualista do mundo ocidental, inexistente em

outras culturas57.

Desta forma, precisa-se superar uma visão que acentua a transcendência do

fenômeno religioso, para assumir uma postura em que a religiosidade se

efetiva na construção da realidade vivencial, na vida concreta58.

2.3. Ética e o Ensino Religioso

A palavra Ética pode ser definida como:

56

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso, p. 19. 57

MARKUS, p. 38. 58

MARKUS, Ibidem.

Page 30: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

30

Ética s.f. (gr. ethike) 1. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os

princípios ideais da conduta humana. É a ciência normativa que serve de base

à filosofia prática. 2. Conjunto de princípios morais que se devem observar no

exercício de uma profissão.59

Em Filosofia “A ética ou moral (...) é o estudo da atividade humana com relação

a seu fim último, que é a realização plena da humanidade”. 60

De um modo geral, a Ética caracteriza um conjunto de normas, regras a serem

seguidas por qualquer profissional, de qualquer área, quando do exercício de

suas funções.

Em se tratando do professor de Ensino Religioso, a Ética deve, além de

evidenciar um conjunto de princípios que norteiam seu trabalho, ser um ponto

de partida na busca do sucesso dos alunos, aqui considerados cidadãos de

direitos e deveres comuns.

Para Aguiar, “a ética enxerga o trabalho como sendo algo que deve ser

realizado com amor e consciência (...) Em nível individual, devemos enxergar

no trabalho a maior fonte de autoridade moral” 61.

Para Savater “o professor deve ser esse fomentador, mostrando ao grupo

como participar de controvérsias e como buscar posições que não tenham

dono. Ele pode ser um exemplo, tendo firmeza em suas posições, mas

disposto a debatê-las”62.

Ora, como contrabalançar prática pedagógica com vivência religiosa? Como

inserir e reafirmar valores morais?

Meksenas, afirma: Entre professores, o que é certo ou errado; bem ou mal;

justo ou injusto acaba determinado pela grande moral ou ideologia. Porém e

contraditoriamente, a moralidade do professor pode adquirir formas de maior

59

BARSA PLANETA INTERNACIONAL LTDA. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2001. 60

MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia. São Paulo: Paulus, 1980. 61

AGUIAR, Emerson Barros de. Professor vê a Ética na vida do profissional. Disponível em: <http://www.catho.com.br>. Acessado em 09 nov. 2007. 62

SAVATER, Fernando. Da Ética como método de trabalho. Revista Nova Escola. São Paulo: Editora Abril Cultural, Julho/2002. p. 46.

Page 31: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

31

independência frente à ideologia, pois aquela pequena moral profissional, ao

originar-se da prática cotidiana do experimentar a profissão, permite concordar

ou discordar com os prepostos da grande moral ou ideologia 63.

Ideologias à parte, o Ensino Religioso, nas escolas, assumindo-se como laico e

não proselítico, respeitando o direito que cada indivíduo deve primar pelo não

privilégio de umas religiões em detrimento de outras e pelo despertar de

consciências, reflexões e reconstruções que se mostram urgentes na

atualidade.

Assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente visa defendê-los, também

os professores, como todas as profissões, deveriam ter um código de ética,

não para ser usado como escudo moral, mas para ser parâmetro ético de

conduta na relação com alunos, escola, comunidade, pais64.

Na ausência de um código que delimite a metodologia de trabalho do professor

de Ensino Religioso, dentro de sala de aula, na escola, no convívio com seus

colegas de profissão, é impossível compreender a complicada relação entre os

valores a serem discutidos, transformados ou inseridos, entre a moral e as

diversidades existentes nestes contextos e entre as possibilidades ou

impedimentos que ocorrem durante o processo de ensino e aprendizagem.

E, aqui, quando falamos em código, pensamos tão somente na necessidade

premente da instituição de leis que possam reger a complexa rede que cerca

as determinações do ato de ensinar, formar pessoas, instruir, conduzir.

Estas leis devem considerar que o educador primeiro perceba-se como tal,

aceite sua condição de formador de opiniões, novas concepções e releituras de

mundo, permitam-se apresentar suas visões, questionando, provocando e

alertando os indivíduos quanto aos seus papéis na construção diária de um

mundo melhor e intervenha, a todo instante, no intuito de cumprir com os

objetivos centrais desta disciplina, quais sejam redimensioná-la, estruturá-la

sob o ponto de vista dos anseios e necessidades do educando enquanto

63

MEKSENAS, Paulo. O lugar na Ética no trabalho do (a) professor(a). www.espacoacademico.com.br. Disponível em 10/11/2007. 64

LIMA, Raymundo de. Falta um código de ética ao professor. Disponivel em: <http://www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br>. Acessado em: 10 nov. 2007. p 3.

Page 32: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

32

participante e transformador da sociedade na qual está inserido, propor que se

comunguem os mesmos pensamentos em prol do bem da coletividade.

Enquanto esta legislação não existe, e por causa disso, cabe ponderar que a

prática pedagógica utilizada nas aulas de Ensino Religioso deve contemplar

suas diretrizes, se pautando na consciência, capacidade e profissionalismo do

professor.65

As aulas de Ensino Religioso devem abranger as experiências de cada aluno, a

pluralidade existente dentro de sala de aula. Para isso acontecer, o profissional

da educação poderia fazer um levantamento das crenças religiosas existentes

em sala, para depois elaborar seu plano de aula de forma a impetrar este

objetivo.

Esta prática deve ser baseada em uma Ética própria da profissão.

Fundamentados em pressupostos que deveriam compor um código,

professores de Ensino Religioso devem procurar se qualificar, se capacitar. A

própria inserção desta disciplina na Constituição Federal já implicou na

movimentação destes profissionais ou daqueles que pretendiam sê-lo. O

professor, neste caso, deve ser um mediador, mais do que um interventor66.

Os conteúdos a serem trabalhados devem ir além das dimensões básicas.

“Sabendo que na escola convivem sujeitos totais e não apenas mentes sem

história, sem corpo, sem identidade, também são equacionadas como

conteúdos de docência formar a curiosidade, a paixão de aprender, a emoção

e vontade de conhecer, de indagar a realidade que vivem, sua condição de

classe, raça, gênero, sua idade, corporeidade, memória coletiva, sua

diversidade cultural e social”67

65

BARBOSA, Flávio Henrique; PORCÍNIO, Renilda Aparecida Lemes e PARREIRA, Tatiana Maria Vital. Revista da Católica, Uberlândia, a ética e o ensino religioso: reflexões sobre o trabalho do professor. Disponível em www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica Acessado em: 06 set. 2011. 66

BARBOSA, Flávio Henrique; PORCÍNIO, Renilda Aparecida Lemes e PARREIRA, Tatiana Maria Vital. Revista da Católica, Uberlândia, a ética e o ensino religioso: reflexões sobre o trabalho do professor. Disponível em www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica Acessado em: 06 set. 2011. 67

ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre. Petrópolis: Vozes, 2000.p 120.

Page 33: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

33

A Ética do profissional da educação, mais que uma legislação dentro de um

código a ser criado, deve ser contextualizada sob um conjunto de normas que

norteiem os seus trabalhos, com especificidades próprias da função.

O resgate do prazer de ensinar supõe algo que vá além da construção de

parâmetros e programas. Estes contêm os princípios básicos para o exercício

do magistério.

Professores de Ensino Religioso, à exceção de alguns corajosos que se

arriscam em inovações pedagógico-didáticas, ainda estão impregnados de

posicionamentos tradicionais, que se destacam pelo teor carregado de

indiferença e desrespeito à pluralidade religiosa brasileira.

Ainda predomina a idéia de que somente as religiões que fazem parte do

Ecumenismo podem sustentar o que deve ser ensinado na escola,

desconsiderando a atual diversidade observada entre os alunos.

Em sala de aula estudam católicos, protestantes, espíritas, budistas,

muçulmanos, ateus e outros seguimentos, incluindo as ramificações existentes

em cada religião.

Todos os indivíduos, homens e mulheres, professores e alunos, recebem ao

nascer uma sucessão de informações acerca de preceitos morais ou valores

que vão carregar em suas vidas pessoais e em sociedade. São ensinamentos

que indicarão a que grupos eles pertencem, qual a cultura que seguem, de que

modo vivem e em que acreditam.

Dentre estas indicações estará a percepção do lhe é sagrado, daquilo que

comanda seus atos, que rege suas intenções, que transcende, que não se

pode explicar, em que se crê indiscriminadamente.

É a ética que deverá orientar o trabalho do professor. Ao aceitar que existem

fenômenos que transcendem as práticas coletivas, ele estará admitindo que,

embora seja necessário e fundamental considerar os valores importantes para

o todo, existem aqueles nos quais não se deve interferir, os individuais, os

familiares, culturais e religiosos.

Page 34: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

34

“O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e seus pontos de

vista, e um pré-requisito para a coexistência humana. Isso não significa que

devemos aceitar tudo como igualmente correto, mas que cada um tem o direito

de ser respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não violem os

direitos humanos básicos” 68

Enfim, Ética e profissionalismo devem, fundamentalmente, caminharem juntos,

quando o objeto em questão estiver intimamente ligado ao aprendizado, à

aquisição e reafirmação de valores morais e religiosos e à transformação

interna e externa do homem, enquanto indivíduo social.

3.O Mito no Ensino Religioso

Todo desenvolvimento integral de que o ser humano é protagonista ou não,

passa por representações abstratas, as quais tornam possíveis a ele portar-se

diante da vida de maneira a extrair da sua experiência terrena, uma fagulha

que o sustente para o sentido buscado como resultado das inquietações que

estão encerradas desde antes de sua existência no mais profundo do seu ser.

Toda pessoa mostra-se como que através de um véu. Traz em si parte de

mistério e Do Mistério, da Transcendência. Sua dinamicidade se move de

maneira excepcional, que às vezes foge de um instante de vislumbramento

diante da maravilha que se é e que se pode vir a ser. E é com o objetivo de

parar, entender-se, compreender os outros e o Outro que este momento de

reflexão se faz propício.69

Tal como já dissemos no primeiro capítulo, a reverência e o respeito à maneira

do outro acreditar e manifestar sua fé, é um paradigma a ser estudado com

comprometimento, sem preconceitos, pois que este vem enfatizar não a visão

sob determinado ângulo, mas sim, vem “desmistificar” o que foi se construindo

no sentido negativo em relação às tradições religiosas, enquanto ponto de

partida para um entendimento mais harmonioso entre as pessoas.

68

GAARDER, Jostein, HELLERN, Victor, NOTAKER, Henry. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.p 17. 69

BRASIL, Elizandra dos Santos e DMENGEON, Ivone de Lourdes, Ensino Religioso: o mito como contribuição na educação humana. www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pdf , acessado dia 07/07/2011.

Page 35: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

35

As semelhanças com a religião mostram que o mito se refere; ao menos em

seus níveis mais profundos, a temas e interesses que transcendem a

experiência imediata, o senso comum e a razão: Deus, a origem, o bem e o

mal, o comportamento ético e a escatologia (destino último do mundo e da

humanidade). Crê-se no mito, sem necessidade ou possibilidade de

demonstração70.

O mito colabora quando se trata também da religiosidade das pessoas, ele está

incutido na mente humana, é fato indispensável na existência humana.

Dentre as grandes interrogações que o homem permanece incapaz de

responder, apesar de todo o conhecimento experimental e analítico, figura, em

todas as mitologias, a da origem da humanidade e do mundo que habita. É

como resposta a essa interrogação que surgem os diferentes tipos de mitos.

É comum encontrar nas várias mitologias a figura de um criador, um demiurgo

que, por ato próprio e autónomo, estabeleceu ou fundou o mundo em sua

forma atual. Os mitos desse tipo costumam mencionar uma matéria

preexistente a toda a criação: “o oceano, o caos (segundo Hesíodo71) ou a

terra” (nas mitologias africanas).

Ao lado da preocupação com o enigma da origem, figura para o homem, como

grande mistério, a morte individual, associada ao temor da extinção de todo o

povo e mesmo do desaparecimento do universo inteiro.

Analisemos o mito da criação de matriz afro, segundo a Cartilha diversidade

religiosa e direitos humanos72:

“...no principio havia uma única verdade no mundo. Entre Orun (mundo

invisível, espiritual) e o Aivê (mundo natural) existia um grande espelho,

assim tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiyê.

Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no

mundo material. Ninguém tinha menor dúvida em considerar todos os

70

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mi to. São Paulo: ed. Palas Athena.1990. 71

Hesíodo foi um dos dois grandes poetas gregos da idade arcaica. Junto com a de Homero, sua obra constitui um dos pilares sobre os quais se edificou a identidade helênica. Viveu por volta de 800 a.C. na Beócia, região situada no centro da Grécia. 72

BRASIL. Cartilha Diversidade Religiosa e Direitos humanos, Nov. 2004.

Page 36: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

36

acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se

quebrar o espelho da Verdade, que ficava perto do Orun e bem perto de

Aiyê.

Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito,

ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia,

inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem

parar, a mão do pilão tocou no espelho, que se espatifou pelo mundo, Mahura

correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo) Qual

não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à

sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as

desculpas de Mahura com toda atenção, e declarou que, devido à quebra do

espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única. “E concluiu

Olorum: „De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em

qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma

parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde

ele se encontra.”73

Assim, como este, existem inúmeros outros mitos que trazem ao entendimento

indagações a respeito do novo, da criação, da descoberta. É o ser humano

querendo explicar-se e buscando explicação acerca do que não conhece, mas

deseja conhecer e por que não tocar e ser tocado? O Ensino Religioso dará e

será oportunidade ao educando (a) para que este se encontre e busque o que

pode saciar sua sede infindável do sentido da vida, do sentido a si mesmo e a

tudo que o rodeia, formando conceitos e tendo explicações para os seus

questionamentos.

73

BRASIL, Elizandra dos Santos e DMENGEON, Ivone de Lourdes, Ensino Religioso: o mito como contribuição na educação humana. www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pdf , acessado dia 07/07/2011.

Page 37: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 38: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

38

As tradições religiosas fazem parte da existência dos homens por se

constituírem na primeira ferramenta da nossa humanização. Desde sua origem,

as religiões procuram humanizar os homens, é por meio da percepção do

sagrado que a vida foi se estruturando, a religião foi a primeira a utilizar os

mitos como ferramenta para a compreensão da vida, os mitos serviram de base

para os textos sagrados que estruturaram a organização pessoal e social dos

homens, as religiões propiciaram a estes homens um processo de descobertas,

primeiro da finitude, fazendo-os perceber que a morte faz parte da vida, e que a

vida propicia um processo contínuo de aprendizado, em que o ser religioso é

aquele que sabe reconhecer seus potenciais e seus limites como meio de

manter uma relação equilibrada com o seu semelhante, pois aquele que

conhece seus potenciais não se sente ofuscado com o potencial do outro,

aquele que reconhece seus limites, é mais compreensível com o limite do

próximo, não significando entretanto que ele tenha que aceitar esses limites,

pois aí está a beleza das tradições, que orienta na superação constante desses

limites, tanto no plano individual como coletivo, objetivando a humanização dos

indivíduos e, conseqüentemente, estruturando o grupo social para possibilitar

uma vida digna e justa nos moldes do paraíso, que significa um lugar onde o

mal não existe.74

Na sua função civilizadora, as tradições apontam as características do homem

religioso. Ser religioso é vivenciar a regra de ouro, comum a todas as tradições

religiosas, „Não faças aos outros, o que não queres que te façam‟, o ser

religioso é aquele que pratica o amor, a justiça, a caridade, a benevolência, a

compaixão, a humildade, a alteridade... Ser religioso é reconhecer a beleza da

vida, é admitir a nossa condição de aprendizes, sendo que aprendiz é aquele

que descobre que a vida é extremamente dinâmica, que fazem parte dela a

alegria e a tristeza, a saúde e a doença, perdas e ganhos, a felicidade e o

sofrimento, e que, se soubermos aprender com esses princípios contraditórios,

estaremos mais bem preparados para esta longa jornada que é viver.

74

MIRCEA, Eliade. Tratado de história das religiões. Lisboa: Cosmos, 1977.p 69-71.

Page 39: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

39

É preciso que o profissional de Ensino Religioso esteja atento a importância de

estudar e compreender os Mitos, assim como o seu processo, sua origem, sua

estrutura, sua finalidade, pois estes estudos podem em muito contribuir nas

aulas de Ensino Religioso assim como pra sua formação pessoal, docente e

cultural Os mitos estão presentes em todas as culturas e tradições Religiosas,

sendo necessária uma leitura histórica, antropológica, sociológica e filosófica,

assim sendo só o senso comum não basta, é preciso analisar os mitos em sua

conjuntura.

A partir desses elementos, provocaremos uma releitura do ser religioso no

cotidiano da sociedade, favorecendo a professores e estudantes da educação

básica uma compreensão mais ampla dos elementos que compõem a

educação do profano e do sagrado nas ações individuais e coletivas.

Page 40: Tcc o mito e sua relevância no ensino religioso

40

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