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Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo, uma análise da revista online Warm Up e do Jornalismo Segmentado no Brasil.TRANSCRIPT
FACULDADE PITÁGORAS UNIDADE DIVINÓPOLIS
JORNALISMO ESPORTIVO SEGMENTADO: UMA ANÁLISE DA REVISTA ONLINE WARM UP
Lincow Clóvis da SilvaRoberto Eleotério da Silva JúniorSérgio da Silva Santiago Júnior
Spartacus Alexandre Silva
DIVINÓPOLIS2011
LINCOW CLÓVIS DA SILVAROBERTO ELEOTÉRIO DA SILVA JÚNIOR
SÉRGIO DA SILVA SANTIAGO JÚNIORSPARTACUS ALEXANDRE SILVA
JORNALISMO ESPORTIVO SEGMENTADO: UMA ANÁLISE DA REVISTA ONLINE WARM UP
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras Unidade Divinópolis como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Jornalismo.
Orientador: Prof. M.e Ricardo Nogueira
DIVINÓPOLIS 2011
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autores: Lincow Clóvis da Silva Roberto Eleotério da Silva Júnior Sérgio da Silva Santiago Júnior Spartacus Alexandre Silva
Título: Jornalismo esportivo segmentado: uma análise da revista online Warm Up
Conceito:
Banca Examinadora
Prof. M.e Ricardo Nogueira (Orientador)
Assinatura:______________________________________________________
Profª. Laura Nívea Dias
AguiarAssinatura:______________________________________________________
Prof. Leonardo Marcos Rodrigues
Assinatura:______________________________________________________
Data da aprovação:
DEDICATÓRIA
A Deus pela conquista, aos pais por acreditarem e nos incentivarem na realização de nossos sonhos e aos mestres pelo conhecimento passado.
AGRADECIMENTO
Ao dedicado e compreensivo professor Ricardo Nogueira, que nos orientou de forma ímpar na conclusão deste trabalho. Ao pessoal da Revista Warm Up, principalmente ao Victor Martins
pela atenção dispensada. A todos vocês, o nosso muito obrigado.
RESUMO
Trabalho de conclusão de curso realizado com o objetivo de analisar a produção jornalística
esportiva segmentada no Brasil, uma vez que a imprensa esportiva nacional dedica a grande
maioria do seu espaço para a cobertura do futebol. Como objeto de pesquisa foi feita uma
análise empírica da revista online Warm Up, que trata exclusivamente de automobilismo. Os
meios de comunicação mais utilizados, a forma de seleção de notícias e o processo de
cobertura jornalística das modalidades esportivas também foram abordados. Com base nos
autores estudados e por meio da análise do material empírico da revista, os resultados da
pesquisa mostram que a internet configura-se hoje como um importante espaço para a
publicação de notícias do jornalismo esportivo segmentado e que, neste meio, é possível fazer
jornalismo esportivo além do futebol.
Palavras-chave: Jornalismo Esportivo, Automobilismo, Segmentação.
ABSTRACT
This graduation conclusion article was produced in order to analyze the production of
segmented sports journalism in Brazil, since the national sporting press devotes most of its
space to the coverage of soccer. As the object of research was made an empirical analysis of
the online magazine “Warm Up”, which deals exclusively with motor sports. The media most
commonly used, the news selection process and the journalistic coverage were also discussed.
Based in the authors studied and by analyzing the empirical material of the magazine, the
research results show the internet today as an important space for the publication of news
from segmented sports journalism and that it is possible to do journalism besides soccer.
Keywords: Sports Journalism, Motor Sports, Segmentation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Capas das três primeiras edições da Revista Warm Up ........................................42
Figura 02 – Capas das edições 17, 18 e 19 da Revista Warm Up ............................................45
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Número de reportagens por modalidade de automobilismo na Revista Warm Up
...................................................................................................................................................48
Tabela 02 – Número de colunas por modalidade de automobilismo na Revista Warm Up ....48
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................10
2. JORNALISMO...................................................................................................................12
2.1. Jornalismo Segmentado .................................................................................................12
2.2. Jornalismo Esportivo no Brasil .....................................................................................14
2.2.1. Jornalismo Esportivo no Rádio ..................................................................................17
2.2.2. Jornalismo Esportivo na TV........................................................................................18
2.2.3. Jornalismo Esportivo na Web......................................................................................20
3. A SEGMENTAÇÃO NO JORNALISMO ESPORTIVO...............................................23
3.1. A Especialização .............................................................................................................24
3.2. A Cobertura de Esportes Especializados.......................................................................29
4. ANÁLISE DE CASO – REVISTA WARM UP..................................................................37
4.1. Metodologia. .....................................................................................................................38
4.2. Warm Up e Grande Prêmio. ...........................................................................................39
4.2.1. A Revista Warm Up .....................................................................................................40
4.3. Análise do Material Empírico.........................................................................................42
4.4. Resultados ........................................................................................................................47
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................51
REFERÊNCIAS....................................................................................................................53
ANEXOS ...............................................................................................................................57
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é conhecido internacionalmente como “o país do futebol” pelas vitórias
internacionais, por ser o país que mais êxito obteve em Copas do Mundo e pela imensa
produção de ídolos neste esporte, como Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo. Devido a paixão
do brasileiro por futebol e pelas alegrias que o esporte proporciona a toda população, a sua
cobertura jornalística tende a ganhar sempre um espaço maior em todos os noticiários.
Mas o Brasil se destaca-se também em outros esportes. O país tem formado
gerações vitoriosas em esportes que têm formação olímpica, como o basquete, bi campeão
mundial na década de 1960; vôlei, com vitórias significativas em Copas do Mundo e
medalhas de ouro em Olimpíadas; e também o automobilismo, que revelou ao mundo ídolos
como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Isso fez com que os noticiários
esportivos tivessem que abrir mais espaço para tratar de tais competições que ficavam em
evidência.
No entanto, percebe-se que este espaço ainda é pequeno nos veículos de
comunicação tradicionais, que dedicam a grande maioria do espaço no noticiário esportivo à
cobertura do futebol.
O surgimento e consolidação da internet como veículo de comunicação de massa
propiciou a jornalistas especializados em esportes que não o futebol e fãs destas modalidades
esportivas criar e manter espaços para a disposição e troca de informações. Acompanhando a
tendência da segmentação na cobertura esportiva, já bem definida em veículos como revistas
e TV a cabo, a internet configura-se hoje como um importante ambiente para a circulação de
informações referentes aos esportes que, tradicionalmente, não têm tanto espaço nos
noticiários de veículos como jornal impresso, rádio e TV.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar como é feita a cobertura jornalística
esportiva fora do futebol, ou seja, nos esportes que tradicionalmente não têm grande espaço
nos noticiários, no chamado jornalismo esportivo segmentado. Pretende, ainda, analisar a
relação “Ídolos e Popularidade”, e verificar a dependência da presença de um ídolo nacional
ou de uma sequência de vitórias, para que os esportes, que não o futebol, mantenham-se em
evidência na cobertura da imprensa.
A metodologia utilizada neste trabalho foi a revisão de literatura em obras que
discutem o processo de produção jornalística nos diferentes veículos, além de autores que
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tratam as especificidades do jornalismo esportivo e da cobertura de modalidades nem tão
populares no Brasil. Foi realizado ainda, um estudo empírico nas edições da Revista online
Warm Up, objeto desta pesquisa, para analisar o seu conteúdo e verificar como os assuntos e
informações são trabalhadas nesta publicação. Para se chegar a um resultado satisfatório,
foram realizadas entrevistas, por email, com profissionais envolvidos na produção da revista,
para verificar, através de sua experiência, as rotinas produtivas e as dificuldades para manter
ativa uma publicação de jornalismo esportivo segmentado.
O primeiro capítulo trata do jornalismo segmentado, o conceito de segmentação
no jornalismo e aprofunda uma editoria específica: a esportiva, mostrando como se deu o
desenvolvimento do jornalismo esportivo no Brasil nos diversos meios de comunicação, como
rádio, TV e internet.
O segundo capítulo discute a forma como a produção jornalística foca um público
ainda mais específico, como os fãs de esportes olímpicos por exemplo. A seguir, pontua sobre
a especialização necessária dos profissionais para a cobertura de esportes olímpicos e
apresenta a relação entre a presença de ídolos e a popularidade de um esporte, elementos
necessários para a atenção da imprensa. Logo após relaciona a história do basquete, do vôlei e
do automobilismo no Brasil com o espaço destinado a estas modalidades esportivas na
imprensa nacional, e termina focando na especialização que os profissionais do jornalismo
automobilístico precisam ter para realizarem uma cobertura satisfatória.
O terceiro capítulo apresenta, detalhadamente, a metodologia utilizada para a
realização desta pesquisa, com base na obra de Duarte (2005), e a forma como foram
analisadas as edições da revista Warm Up. Em seguida, conta a história da Warm Up, desde o
surgimento da Agência de notícias Warm Up, até a criação da revista, hoje uma das principais
publicações sobre o automobilismo esportivo no Brasil. Por fim, apresenta os dados
resultantes da pesquisa empírica com as edições selecionadas para análise e faz a discussão
dos resultados.
2. JORNALISMO
O jornalismo possui diversas faces. Desde seu surgimento vem evoluindo de
forma a sempre se reinventar e de encontrar novas maneiras de transmitir informações. Esta
pesquisa aborda o Jornalismo Segmentado, que trata de assuntos específicos para nichos de
públicos específicos. Para isso, demanda profissionais com entendimento do assunto e que
tenham facilidade em transmitir as informações de modo ágil e claro, até mesmo para o
público leigo, que não tem costume de acompanhar intensamente tais informações. Falaremos
sobre como a segmentação jornalística é tratada e como ela se dá até mesmo dentro de áreas
específicas, como o esporte.
2.1. Jornalismo Segmentado
Ao processo de dividir os assuntos com a produção de matérias específicas e a
criação de veículos direcionados, somente com um tipo de tema e voltado para um
determinado público, denominamos, nesta pesquisa, segmentação ou especialização. O
desenvolvimento do jornalismo especializado caminha lado a lado com a lógica econômica,
visando atingir grupos específicos, e pode ser considerado como uma estratégia de mercado,
que gera lucros respondendo a uma demanda por informações direcionadas. Toda estratégia
de segmentação, tanto no jornalismo quanto em qualquer área do mercado, é desenvolvida a
fim de atingir a preferência de um público que deseja cada vez mais produtos personalizados.
No jornalismo, no início da especialização, o melhor caminho para as informações
segmentadas foi a publicação em revistas.
Notícias para públicos específicos ou selecionados, que se situam numa classificação de especializadas, encontram seu melhor formato na revista. Fora do mercado de assuntos gerais, publicações técnicas, dirigidas, house organ, etc. dedicados aos mais variados temas, se realizam no padrão Standard da revista (BAHIA,1990, p. 401).
Na década de 1970, as transformações da sociedade também influenciam a
produção editorial da imprensa. Começam a ser consumidas em larga escala as revistas
informativas no Brasil, tendo como principal exemplo a revista Veja, fundada em 1968.
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Antes, no entanto, várias outras publicações direcionadas já haviam sido criadas, como a
revista Cigarra, em 1933, e Cláudia, em 1961, ambas voltadas ao público feminino.
A aceitação das produções segmentadas indica que os indivíduos necessitam encontrar um fator de união e de identificação entre si. O que pode ser conseguido através da partilha de interesse com o segmento que busca o mesmo tipo de informação (ABIAHY, 2000, p.4).
Para um processo de segmentação, os assuntos são divididos em editorias.
Segundo Ferreira (2004, p.251), “Editoria é a atividade editorial de planejar e executar,
intelectual e graficamente, livros, enciclopédias, preparando textos, ilustrações, diagramação
etc; cada uma das seções dos órgãos de imprensa”. De acordo com Amaral (1982, p.73) dois
tipos de notícias deram origem ao aparecimento dos jornais e foram responsáveis pela
segmentação: política e economia.
A editoria econômica tem outro grande crédito a seu favor, além de ter
contribuído para a formação dos jornais e da segmentação como conhecemos hoje. A ela se
deve também o aparecimento das agências noticiosas internacionais. “A Havas, antecessora
da France-Presse, era no início um escritório de traduções de informações exclusivamente
econômicas.” (AMARAL, 1982, p.81)
Com o tempo, outras editorias especializadas foram surgindo, como o caso da de
Polícia, para onde eram enviados os jornalistas recém formados “para uma espécie de
tratamento de choque que os fazia perder, em questão de dias, as idéias líricas que porventura
tivessem da vida jornalística.” (AMARAL, 1982, p.85)
Há ainda diversos outros tipos de editorias, como Cultura, Cidades e Feminino,
entre outras, que trazem assuntos específicos. Cada segmento ou especialização na editoria
vem de encontro também à área que o jornalista tem mais intimidade ou conhecimento,
podendo assim informar e repassar fatos com maior clareza e qualidade. “Por mais
competente e inteligente que seja, não consegue bons resultados ao redigir sobre um assunto
que ignora.” (ERBOLATO, 1981 p. 11-12) Para Rossi (1991, p.75), “a fórmula correta para a
boa informação jornalística deveria ser a especialização dos jornalistas e não especialistas
praticando jornalismo”.
Nilson Lage (2005, p. 109) vem complementar o pensamento de Rossi, e defende
que, se as redações se dividem em editorias, e se cada uma dessas áreas pressupõe
conhecimento específico, por que não “transformar especialistas [...] em jornalistas e não o
contrário?” O autor defende que para escrever sobre um determinado assunto específico, o
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trabalho não deve apenas ser feito por um especialista, pois cabe ao jornalista, como agente do
público, relatar e repassar as informações, seguindo todos os critérios jornalísticos. “Um
professor de primeiro grau não precisa ser criança para comunicar-se com seus alunos, nem
um médico abandonar o que sabe para expor um diagnóstico a alguém.” (LAGE, 2005, p.
109-110)
A segmentação jornalística ocorre em todos os tipos de mídia, como a TV a cabo,
com a criação de canais dedicados a apenas um assunto, como esportes, outros somente com
filmes, outros voltados ao público infantil ou puramente informativos. As revistas continuam
sendo um meio bastante utilizado para a comunicação segmentada, porém hoje encontramos
canais de TV, sites e até emissoras de rádio voltadas para um público-alvo específico. Não é
raro encontrarmos veículos impressos, eletrônicos e digitais para todo e qualquer nicho de
mercado, atraindo assim aquele público específico e dando a ele informações com maior
aprofundamento e clareza no assunto que se propõe.
2.2. Jornalismo Esportivo no Brasil
Segundo Bahia (1990), um dos primeiros registros de uma publicação esportiva
no Brasil teria data de 1856, com O Atleta, que trazia ensinamentos para o aprimoramento
físico dos moradores da cidade do Rio de Janeiro. Já em 1886 circula a revista Sport, que traz
conceitos científicos sobre corpo e mente. Para Paulo Vinícius Coelho (2003), o esporte
começou a ganhar espaço nos jornais a partir da primeira década do Século XX, sendo uma
das principais publicações o jornal Fanfulla, voltado para o público italiano em São Paulo. O
jornal não trazia matérias elaboradas nem detalhadas com informações sobre equipes e
torneios, como conhecemos hoje, eram apenas relatos e informações esportivas.
O Fanfulla, por exemplo, serve de acervo histórico ainda hoje, pois ele registrou
diversas informações como quando surgiu o futebol no Flamengo, ou o primeiro jogo do
Santos, do Corinthians e do Palestra Itália, hoje Palmeiras. Apesar do registro, o futebol ainda
ocupava pouco espaço no noticiário, sendo o remo e o turfe os mais destacados, por serem os
esportes mais populares da época.
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Nos primeiros anos de cobertura esportiva era assim. Pouca gente acreditava que o futebol fosse assunto para estampar manchetes. A rigor, imaginava-se que até mesmo o remo, o esporte mais popular do país na época, jamais estamparia as primeiras páginas de jornal. Assunto menor. Como poderia uma vitória nas raias – ou nos campos, nos ginásios, nas quadras – valer mais do que uma importante decisão política do país? (COELHO, 2003, p.10).
Para Antônio Alcoba (2005 apud SILVEIRA, 2009, p.21), os primeiros jornalistas
esportivos “foram escritores subjugados pela emoção da competição, impressionados com os
feitos dos atletas”. Quando o esporte como competição começou a figurar nas páginas dos
jornais, era uma editoria que ocupava pouquíssimo espaço e dispunha de baixo prestígio. A
partir da década de 1920, o esporte começa a ganhar um pouco mais de espaço no noticiário.
Em 1925, o futebol já era considerado o esporte nacional, movido pelos sucessos da Seleção
Nacional nos torneios sul-americanos de 1919 e 1922. Porém, seu espaço ainda era reduzido
se comparado ao turfe, por exemplo. “O Correio Paulistano liberava apenas uma coluna para
as matérias que incluíam futebol. E duas para o turfe.” (COELHO, 2003, p. 11)
Na década de 1930, o futebol se profissionalizou no Brasil, decisão que provocou
grandes polêmicas nos clubes existentes. O Paulistano, maior vencedor estadual de São Paulo,
não quis mais manter equipes de futebol, por considerar absurdo pagar jogadores para que
entrassem em campo e jogassem futebol. Paralela à profissionalização do futebol, surge no
Rio o Jornal dos Sports, fundado por Mário Filho, o primeiro diário exclusivamente dedicado
aos esportes no país. Aliás, Mário Filho – que hoje batiza o estádio do Maracanã – é
considerado por muitos jornalistas como o pai do jornalismo esportivo como conhecemos
hoje, com informações e matérias detalhadas sobre todos os acontecimentos esportivos.
A Mário Filho deve-se a criação e a valorização do jornalismo esportivo enquanto gênero no Brasil, no início dos anos 30. Depois de organizar um caderno totalmente dedicado aos esportes nos jornais A Manhã e Crítica, ambos de propriedade de seu pai, ele fundou o Mundo Esportivo e, posteriormente, o Jornal dos Sports, primeiros jornais totalmente dedicados aos esportes no Brasil (ANTUNES, 1999, p.186).
Em 1931 é registrada a primeira transmissão de um jogo de futebol pelo rádio no
Brasil. No dia 19 de julho, Nicolau Tuma, da Rádio Educadora de São Paulo,
narrou de forma ininterrupta a partida entre as seleções Paulista e Paranaense. Os jogadores
não possuíam numeração e não havia comentarista nem repórter de campo, o que obrigava o
narrador a falar sem parar.
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O jornal A Platéia (de 20/7/1931, p.2) registrou que somente “às 15:20 surgem os paulistas no gramado. Pouco depois vêm os paranaenses. Há troca de flores e, às 15:25, se alinham as turmas [...]” Sem transmissões anteriores que lhe sirvam de modelo, o jovem radialista tem de criar um estilo. Opta por uma descrição fotográfica que dê ao ouvinte a imagem exata do campo e do jogo” (SOARES, 1994, p. 29).
Na década de 1940 já era possível realizar, via rádio, transmissões internacionais
e, ao final da década de 1950, a transmissão esportiva no rádio começa a ganhar um padrão.
Havia muita limitação técnica e os custos eram reduzidos ao máximo. “Os locutores
enfrentavam muitas dificuldades, por causa da falta de recursos técnicos e suas irradiações
raramente saíam perfeitas. A tecnologia tinha pouco a oferecer.” (SOARES, 1994, p. 32).
No início da década de 1960, com o segundo título mundial da Seleção Brasileira
de Futebol na Copa do Mundo do Chile, em 1962, os jornais começaram a dispensar cada vez
mais espaço para o esporte e, principalmente, para o futebol. A aceitação crescente deste
esporte em nosso país fez com que os jornais, superando a fase inicial de certa indiferença, o
reconhecessem como um conteúdo próprio à difusão de massa. (FERNANDEZ, M., 1974,
p.71).
Em 1970 surge a revista Placar, da Editora Abril, que até hoje é uma das maiores
e mais influentes publicações esportivas do país. A Copa do Mundo de 1982 foi outro marco
na história do jornalismo esportivo. Transmitida com exclusividade pela TV Globo, a
competição mobilizou mais de 150 profissionais da emissora, que fizeram a cobertura in loco,
na Espanha, sede do evento. Segundo Roberto Ramos, “Houve a montagem de uma infra-
estrutura enorme. A Globo não se esqueceu do mínimo detalhe. Teoricamente, tudo estava
perfeito.” (RAMOS, 1984, p.42) Já no rádio, a emissora paulista Record também mandou
profissionais à Espanha, com o intuito de trazer mais informações aos ouvintes. “A Rádio
Record AM e FM desafiou o monopólio da Globo. Lutou pela conquista do som.” (RAMOS,
1984, p.43)
Hoje, o jornalismo esportivo divide espaço nos noticiários com as outras editorias
de forma igualmente importante, tendo inclusive canais exclusivos para tratamento do tema.
Na mídia impressa destacam-se os jornais Lance e Jornal dos Sports. No rádio, surgiu em
2011 a Rádio Estadão ESPN, com uma proposta de programação com esportes e notícias. Na
TV a cabo, os canais ESPN, SporTV e BandSports e, na TV aberta, a TV Esporte Interativo.
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2.2.1 Jornalismo Esportivo no Rádio
De acordo com Edileuza Soares (1994, p. 38), “a iniciativa da irradiação
sistemática de futebol coincidiu com a profissionalização desse esporte no Brasil, ocorrida em
janeiro de 1933.” O rádio foi fator determinante para o surgimento de clubes e o aumento do
interesse das torcidas pelo esporte. Depois de Nicolau Tuma e a primeira transmissão, várias
outras rádios entraram no ramo e mais profissionais surgiram no cenário nacional. No início
das irradiações esportivas em São Paulo, a Rádio Record foi a que mais se destacou. A
emissora passou a se dedicar aos esportes após ser comandada pelo empresário Paulo
Machado de Carvalho.
Ainda de acordo com Soares (1994), além de Tuma, outro grande pioneiro das
narrações esportivas foi Gagliano Neto. Ele narrou pela primeira vez um jogo direto da
Europa, quando transmitiu Brasil x Polônia. Depois, narrou a Copa do Mundo de 1938,
disputada na França, onde transmitiu na íntegra os cinco jogos do Brasil para a cadeia das
Emissoras Byington, em São Paulo e Rio de Janeiro.
As transmissões de longa distância, como as realizadas por Neto na Copa de 1938,
demandaram por uma modernização no sistema de rádio. Soares (1994) destaca a importância
do rádio esportivo na evolução do rádio como um todo, a partir da necessidade de ampliar o
alcance das informações transmitidas ao público.
O rádio esportivo é também em grande parte responsável pela incorporação no Brasil das inovações tecnológicas que surgiram na radiodifusão mundial. Seu desenvolvimento passa ainda pela apropriação de técnicas de planejamento e de organização, resultando na implantação e funcionamento de departamentos especializados (SOARES, 1994, p.14).
A partir da década de 1950, as transmissões passaram a se modernizar, com as
emissoras dedicando cada vez mais espaço em sua programação para transmissões de eventos
esportivos. Mesmo com a chegada da televisão, que passou a ser a principal concorrente do
rádio, as emissoras investiram cada vez mais para tornar as transmissões mais profissionais.
Atualmente, mesmo com a concorrência da TV e da internet, o rádio permanece
firme e cada vez mais investe para a sofisticação das transmissões esportivas. Exemplo disso é
o surgimento, no início de 2011, da Rádio Estadão ESPN em São Paulo, que entrou no
mercado com uma proposta de rádio 24h com notícias e esportes. Destacam-se ainda, em São
Paulo, a Jovem Pan, Bandeirantes, Transamérica e Globo/CBN. No Rio de Janeiro, Rádio
18
Globo/CBN e Rádio Tupi. Em Porto Alegre, Rádio Gaúcha e Rádio Guaíba e, em Belo
Horizonte, as Rádios Itatiaia, Inconfidência e Globo/CBN.
2.2.2. Jornalismo esportivo na TV
O primeiro registro do jornalismo esportivo na televisão brasileira é de 1950,
quando a extinta TV Tupi exibiu uma reportagem sobre uma partida realizada entre
Portuguesa e São Paulo. Em 1955, mais precisamente em 18 de setembro, a TV Record
realizou a primeira transmissão de um jogo de futebol. Santos e Palmeiras jogaram na Vila
Belmiro.
No gramado, a equipe da Record fazia milagres para agradar o chefe. O repórter de campo não tinha retorno na base – só sabia a hora de entrar no ar depois que o motorista do ônibus de externas da emissora, Geraldo Campos, acenava com a mão para Silvio Luiz iniciar as entrevistas. Durante a partida, dois fotógrafos, cada um atrás de um gol, registrava os lances mais perigosos e polêmicos. No começo do intervalo corriam para revelar as fotos que minutos depois eram exibidas na televisão. Era replay caseiro inventado pelos diretores de TV, Tuta e Salvador Tredice, o Dodô (GUERRA, 2000, p. 106).
Até o início dos anos 1970, as experiências em jornalismo esportivo na televisão
eram como parte integrante do noticiário geral. Em especial a TV Globo já levava para o
vídeo reportagens com a proposta incorporada a partir dos modelos que começavam a chegar
dos Estados Unidos.
Inspirado no modelo do programa norte-americano ABC Sports, a Globo colocou
no ar, em 1973, o programa semanal Esporte Espetacular, com uma proposta editorial que se
mantém até hoje com algumas alterações proporcionadas, sobretudo pela tecnologia: unir
jornalismo e entretenimento no noticiário esportivo. A matéria-prima do Esporte Espetacular
era basicamente notícias relacionadas majoritariamente ao futebol e suas celebridades. Em
1978, a TV Globo lança o jornal esportivo Globo Esporte, que continua no ar até hoje.
Na década de 1980, a hegemonia nas transmissões esportivas ficou por conta da
TV Bandeirantes, que travava com a TV Record grandes disputas para os direitos de
transmissão das competições esportivas. A Bandeirantes, como destaca Coelho (2003, p. 64),
“se intitulou o Canal dos Esportes e transmitiu jogos do Campeonato Brasileiro, com
exclusividade, de 1986 a 1993, além de outros torneios.” Destaque na programação esportiva
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da Bandeirantes, o Show do Esporte que ia ao ar todos os domingos com apresentação de Elia
Junior e Silvia Vinhas, tinha em média de 8 horas de duração e abordava, além dos
campeonatos de futebol nacional, torneios internacionais e outros esportes como o
automobilismo e tênis.
A Bandeirantes ocupa horários estratégicos nos fins de semana. No sábado, a partir das 17 horas acontece a desmobilização das pessoas geralmente. Os trabalhadores estão de folga e já desincumbiram de seus esparsos compromissos. [...] No domingo existe mais ostensividade no objetivo (RAMOS, 1984, p. 69-70).
A partir daí, percebendo os grandes índices de audiência que a Bandeirantes vinha
obtendo com o esporte, a TV Globo entrou na briga para aquisição dos direitos de transmissão
de diversos campeonatos, porém com exclusividade. A partir de 1995, a Rede Globo investiu
pesado para aquisição única dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol,
passando a investir também em transmissões mais elaboradas, recheadas de efeitos visuais,
replays, tira-teimas e recursos gráficos. Com o princípio de exclusividade por parte da Globo,
por diversos momentos, como relata Coelho, o direito à informação passou a ser prejudicado.
[...] o show produzido depois das compras de direitos não pode acabar como jornalismo de outras emissoras. Nos tempos em que não pagava somas absurdas de dólares para transmitir seus campeonatos, a Globo mostrava imagens feitas dentro dos estádios por seus próprios repórteres. Em julho de 2002, a TV Alterosa, de Minas Gerais, enviou duas equipes para as sedes da Copa dos Campeões torneio (hoje extinto) que dá uma vaga para a Copa Libertadores e é disputado nas cidades de Belém, Fortaleza, Teresina e Natal. Surpreendentemente, para os diretores da emissora, afiliada do SBT, a Globo alegou que tinha os direitos e que, por isso, nenhuma outra poderia entrar no estádio, nem se quer para produzir material jornalístico. A direção da Alterosa decidiu processar a TV Globo. Mas não teve direito de receber nem mesmo as imagens dos gols do torneio (COELHO, 2003, p.65-66).
Atualmente quase todo o calendário do futebol brasileiro é reservado à
exclusividade da TV Globo (Campeonatos Estaduais, Copa do Brasil, Taça Libertadores e
Campeonato Brasileiro). Além do futebol, a emissora também tem na grade a Fórmula 1,
Stock Car e algumas competições de vôlei. A TV Bandeirantes detém também os direitos de
transmissão do Campeonato Brasileiro, em parceria com a Globo, que determina a grade de
programação. A Bandeirantes ainda mostra o Campeonato Brasileiro da Série B, aos sábados,
a Fórmula Indy, e possui diversos programas jornalístico-esportivos em sua grade de
programação, como o Terceiro Tempo, o Jogo Aberto e o Band Esporte Clube.
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A TV Record, que atualmente investe pesado na programação esportiva, adquiriu
com exclusividade os direitos de transmissão das Olimpíadas de Inverno de 2010, dos Jogos
Pan-americanos de 2011 e dos Jogos Olímpicos de 2012. A Rede TV, após perder a briga para
a TV Globo pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol, investe na
exibição de outros esportes, como o UFC (Ultimate Fighting Championship) e também exibe
jogos dos campeonatos Inglês e Italiano. Na TV aberta ainda se destaca o canal Esporte
Interativo, que dedica toda sua programação ao mundo esportivo, exibindo jogos dos
campeonatos Inglês, Italiano e Espanhol de futebol, tênis, NBA, além de esportes americanos
como a NFL (futebol americano), MLB (baseball) e NHL (hockey no gelo).
Na TV a cabo, a Globo mantém dois canais exclusivos para esportes, o SporTV e
o SporTV 2. Nesse ramo também se destacam os canais ESPN, de propriedade da Disney, que
possui três canais no Brasil. A Bandeirantes também possui um canal exclusivo de esportes, o
BandSports, fundado em 2002.
2.2.3. Jornalismo esportivo na Web
O surgimento da internet se deu no final da década de 1950 e início dos anos de
1960, nos Estados Unidos, quando da criação da rede de comunicação militar denominada
“ARPA” (Advanced Research Projects Agency), no período da Guerra Fria. Já a Web, que é o
modelo de internet que conhecemos hoje, com sua diversidade de páginas e assuntos, surgiu
apenas nos meados dos anos 1990.
Embora a Internet tivesse começado na mente dos cientistas da computação no início da década de 1960, uma rede de comunicações por computador tivesse sido formada em 1969, e comunidades dispersas de computação reunindo cientistas e hackers tivessem brotado desde o final da década de 1970, para a maioria das pessoas, para os empresários e para a sociedade em geral, foi em 1995 que ela nasceu (CASTELLS, 2003, p. 19).
A informação digital teve seu início anterior ao surgimento da Web, na década de
1980, também nos Estados Unidos. Neste período, a American Online já produzia conteúdo
jornalístico para internet disponível ao setor público. (CONFORTIN, SPRANDEL e WOLFF,
2010, p. 4)
21
O aparecimento da Web e a rápida popularidade que ela atingiu suscitou a velha
discussão de substituição de meios de comunicação, como já havia ocorrido quando do
surgimento da TV em relação ao rádio. Por utilizar de uma instantaneidade e rapidez só
possível no jornalismo radiofônico, porém acrescido da possibilidade de conjugar imagens e
textos, agregando assim os meios impressos e televisivos, a Web desencadeou diversas
discussões sobre o futuro da comunicação.
O boom dos diários digitais foi entre 1995 e 1996, e desde então muitos teóricos das mais diversas áreas (filosofia, informática, comunicação, sociologia, etc.) discutem sobre a extinção do jornal impresso. São tertúlias sem fim que terminam quase sempre em estéreis exercícios de futurologia. Normalmente, apresentam previsões do que já está ocorrendo. Talvez pelo fato do óbvio ululante ser tão presente em muitas delas, como: o jornal não vai acabar, apenas sofrerá mudanças, tal como sempre ocorre quando surge um novo meio. Outros, não menos cansativos, continuam a fazer previsões apocalípticas sobre o fim do jornal. A frase de Nicholas Negroponte, diretor do MIT, os átomos serão transformados em bits, foi incorporada em muitos discursos, como prova de erudição digital (DE QUADROS, 2002 apudCONFORTIN, SPRANDEL E WOLFF, 2010, p.5).
Sobre essas discussões, há visões otimistas como a do filósofo Pierre Levy
(1993)1, que afirma que a internet “é um dos temas filosóficos e políticos do nosso tempo” até
os mais pessimistas, como o sociólogo francês Jean Baudrillard (1997)2 que “crê que ela
reforçará a dominação e o controle exercido pelos grandes grupos econômicos.”
Fato é que, atualmente, é quase impensável o mundo do jornalismo sem a
utilização de computadores e internet. A Web cumpre hoje um papel de protagonista, ao lado
da TV e ainda do Rádio, como uma das principais fontes de informação ao grande público.
Entramos, definitivamente, na era digital. Recebemos informação por meio de bits em vez de átomos. Não é preciso ir exclusivamente à banca para comprar jornal. Navegamos no ciberespaço jornalístico com uma linha telefônica, um modem e um computador. O jornal está agora disponível sob a forma de bits (MOHERDAUI, 2000, p. 15).
O jornalismo esportivo também encontrou na Web uma possibilidade muito
grande de desenvolvimento e divulgação, principalmente para assuntos relacionados aos
esportes especializados. Atualmente os espaços dedicados exclusivamente a esportes como
vôlei, tênis, basquete ou automobilismo é bem menor em veículos tradicionais, como rádio,
1 apud CONFORTIN; SPRANDEL; WOLFF, 2010, p.4. Weblog: alternativa para o jornalista online. 2010. Disponível em: <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/c/c2/GT1-_01-_WEBLOG_Alternativa_para_o_Jornalismo_Online.pdf -_>. Acesso em 03.nov.2011.2 apud CONFORTIN; SPRANDEL; WOLFF, 2010, p.4. 2010. loc. cit.
22
TV e jornais, se comparado com o futebol, o que não acontece na internet. Sobre o
automobilismo, que teve amplo espaço principalmente na década de 1980, o jornalista Flávio
Gomes destaca que, após a morte do piloto Ayrton Senna, em 1994, o interesse da cobertura
no Brasil, pelos veículos tradicionais, diminuiu consideravelmente, deixando nos fãs uma
lacuna pela busca de informações.
E veio a internet a partir de 1996, para preencher uma lacuna nas necessidades do público consumidor de informações d’além mar. Hoje, pra os brasileiros, a internet é a maior fonte de notícias da categoria, dado o espaço reduzido nos jornais, na própria TV, que tem a exclusividade dos eventos e a inexistência de periódicos especializados (GOMES In VILLAS BOAS, 2005, p. 149).
Alguns sites se destacam pela cobertura ampliada de esportes, como o ESPN.com
e o GloboEsporte.com. Ambos, apesar de terem o futebol como carro chefe, mantém páginas
dedicadas inteiramente a outros esportes como vôlei, tênis, basquete e automobilismo. O
portal de notícias IG também possui várias páginas especializadas, com profissionais
dedicados somente ao assunto tratado, como o caso de Fábio Sormani (basquete), Flávio
Gomes (automobilismo) e Rogério Romero (natação). Para Gomes, a saída encontrada por
estes esportes para a divulgação é a “adaptação e a necessária migração para uma cada vez
mais em voga modalidade de jornalista, o tal do ‘multimídia’. Atuar em apenas um tipo de
veículo de comunicação já não basta. Interagir as mídias é algo absolutamente vital.”
(GOMES In VILLAS BOAS, 2005 p. 149)
3. A SEGMENTAÇÃO NO JORNALISMO ESPORTIVO
Dentro da segmentação jornalística, tratada no capítulo anterior, o Jornalismo
Esportivo permite a criação de ainda mais segmentações dentro de seus próprios assuntos.
Isso porque percebe-se que o Jornalismo Esportivo tem como principal assunto o futebol,
esporte que move milhões de fãs espalhados por todo o mundo. No Brasil, considerado
popularmente como o “país do futebol”, os noticiários dedicados ao esporte têm um espaço
grande destinado ao futebol. Os fãs de futebol raramente ficam sem notícias do seu clube de
coração e sobre o que está acontecendo no país ou no exterior. Mas e os fãs dos outros
esportes, como Vôlei, Basquete, Tênis e Automobilismo? É neste ponto que surge a
segmentação no Jornalismo Esportivo.
O jornalista é peça fundamental na construção da notícia. Para que ela aconteça, é
preciso do fato e do profissional. Um complementa o outro na divulgação da informação. O
jornalista deve apurar os fatos, coletando o máximo de informações possíveis, pois ele é a
ligação da notícia ao público. O acontecimento pode se tornar um assunto público, desde que
jornalistas o apurem e o transformem em uma notícia, pois nem todo acontecimento é notícia.
De acordo com Rodrigues (1999, p. 29) a notícia é no mundo moderno o negativo da
racionalidade. O racional é o previsível. O acontecimento é imprevisível, um reflexo
inesperado. É por isso que se diz que um cão que morde um homem não é um fato
jornalístico, mas se um homem morder um cão passa a ser uma notícia.
O acontecimento jornalístico é, por conseguinte, um acontecimento de natureza especial, distinguindo-se do número indeterminado dos acontecimentos possíveis em função de uma classificação ou de uma ordem ditada pela lei das probabilidades, sendo inversamente proporcional à probabilidade de ocorrência (RODRIGUES, 1999, p. 28).
Outra forma de se pensar na seleção dos fatos noticiados, tendo em vista a
estrutura empresarial dos meios de comunicação, é a busca de notícias que satisfaçam o gosto
do público. Pode-se dizer, então, que há uma seleção regulada pelos interesses do consumidor.
Há uma escala teórica já relativamente bem estabelecida: Seja na perspectiva das emoções primárias que exigem certos conteúdos, na esfera racional que pede informações originais ou no âmbito da vontade de um público que quer estar informado para participar, os interesses representam para a notícia um termômetro indispensável (MEDINA, 1988, p. 20).
24
Devido a este interesse do público, a forma de selecionar as notícias e classificá-
las teve que estabelecer outros padrões para se fazer o jornalismo, abrindo um leque de
possibilidades e situações, que interessam o leitor, fazendo com que o jornalismo se tornasse
um veículo mais voltado ao capital e ao interesse. De acordo com Medina (1988, p. 21), foi o
argentino Felipe Tarroba Quiros, em 1968, que estabeleceu uma pirâmide de assuntos que
poderiam ser levados em conta, quando uma notícia for selecionada em detrimento de outra:
proeminência; celebridade das pessoas envolvidas nos fatos; importância das conseqüências;
raridade do acontecimento, animação vital e interesse humano; rivalidade, conflito ou luta que
o fato pressupõe; utilidade imediata do serviço informativo; entretenimento que proporciona.
3.1. A Especialização
Para Sérgio Xavier Filho, editor da revista Placar, “no Brasil é assim mesmo, só
existem dois esportes: o futebol e o levantamento de medalhas”3, referindo-se ao interesse que
o público brasileiro tem apenas em quem está vencendo, quando se trata de outros esportes
que não o futebol. Mas nem sempre foi assim. Como destacado no capítulo anterior, o futebol
só começou a estampar as manchetes após a década de 1930, sendo o turfe e o remo os dois
esportes que tinham o maior espaço nos noticiários até então.
Com o cenário invertido, passa a ser dos outros esportes a responsabilidade de se
fazer notar. Para a jornalista Claudia Coutinho, é um desafio fazer com que os demais
esportes ganhem notoriedade em relação ao futebol. “Como convencer o editor de Esportes,
na maioria das vezes com uma bagagem conquistada nos gramados de futebol, de que as
demais modalidades têm seus encantos, suas histórias, seus ídolos?” (COUTINHO In
VILLAS BOAS, 2005, p. 105).
Coelho (2003) destaca que, apesar do espaço menor de divulgação, os esportes
especializados podem ser uma boa opção para jornalistas. Alguns começaram a ver nos
esportes fora do futebol um mercado promissor e cheio de possibilidades.
3 In Jornalismo Esportivo não é só futebol. Disponível em: <http://aryannaoliveira.yolasite.com/resources/Docs/Jornalismo%20Esportivo%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20s%C3%B3%20futebol.pdf> Acesso em: 11 out. 2011.
25
Os atletas carecem de divulgação e muitas vezes ajudam aos que chegam aos ginásios com finalidade de aprimorar-se. Em pouco tempo, o repórter ganha respeitabilidade, menos pelo conhecimento técnico de que dispõe e mais pelo reconhecimento dos atletas pelo fato de ele estar lá, disposto a aperfeiçoar-se. Uma legião de grandes jornalistas se formou assim. Outros, como Jorge Luiz Rodrigues, brilhante repórter de O Globo, investiram na cultura de todos os esportes [....] Especializar-se nunca é demais. A questão quando se trata de esportes olímpicos, de pouca divulgação no Brasil, é saber esperar pela hora certa de o trabalho aparecer (COELHO, 2003, p.49-51).
O autor defende ainda que, para isso, o profissional deve estar bastante preparado.
É necessário um estudo detalhado e conhecimentos das regras, competições e características
dos esportes para a informação ser passada com clareza. “O conhecimento de quem faz a
pergunta precisa existir. [...] E quem demonstra mais conhecimento acaba levando a melhor.”
(COELHO, 2003, p. 50)
O despreparo ou o desconhecimento de esportes especializados por parte dos
jornalistas, aliás, é um assunto bastante discutido entre os próprios profissionais de
comunicação. Numa cobertura de um torneio de Tênis, por exemplo, “corre-se o risco de
encontrar repórteres que, embora com razoável tempo de profissão são verdadeiros ‘focas’
naquele assunto.” (COUTINHO In VILLAS BOAS, 2005, p. 111)
A popularidade de tais esportes com o público também influencia na maneira
como os profissionais fazem a sua cobertura.
A popularidade de um esporte ajuda e muito o trabalho [...] Quem sabia o que era um duplo twist carpado antes da ginasta gaúcha Daiane dos Santos conquistar a medalha de ouro em 2003 e depois errar por duas vezes na sua apresentação nos jogos olímpicos de Atenas em 2004? Quantos imaginavam o que seria uma escapada no iatismo quando Robert Scheidt conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996 e, oito anos depois conquistou o bi em águas gregas? E termos como drop shot, slice, tie-breakse Guga não ganhasse em Roland Garros? (COUTINHO In VILLAS BOAS, 2005, p. 112, grifo do autor).
Para a jornalista venezuelana Eumar Essa, isso não pode servir de desculpa para
uma falta de conhecimento do assunto. “Um correspondente de guerra por exemplo, tem um
background específico de determinado conflito. Um jornalista esportivo nos Jogos Pan-
Americanos deve ter conhecimentos mais que básicos desde o nado sincronizado até o
basquete.” (ESSA apud LINHARES, 2006, p.52)
As coberturas de eventos que envolvem modalidades que não só o futebol, como é
o caso dos Jogos Olímpicos e os Jogos Pan-Americanos, são atividades geralmente
realizadoras para qualquer jornalista de esportes. Porém, desafiadoras e repletas de
responsabilidades. Como destaca Juca Kfouri (apud LINHARES, 2006, p. 13), “não há nada
26
que os jornalistas esportivos disputem mais do que ser escalados para uma cobertura
internacional.”
Para Linhares (2006, p. 15), “cobrir qualquer que seja o evento esportivo requer
preparação e disposição. São horas passadas a procura do detalhe, do inusitado, do ângulo
novo da história a ser contada”. O jornalista André Kfouri, em seu livro “Aqui Tem”, que
conta a biografia do tenista Fernando Meligeni, ao descrever como conheceu o atleta, acaba
também por descrever um pouco das dificuldades que teve na cobertura das Olimpíadas de
Atlanta, em 1996.
A ESPN Brasil fazia uma cobertura na raça, narrando os eventos do Brasil, com repórteres trabalhando in loco, mas sem credenciais. [...] Minha missão era ficar ali, do outro lado da rua, esperando. Quando algum atleta voltava dos treinos ou das competições eu pedia uma entrevista. Muitos atletas entenderam a situação e saíram para falar. Alguns, várias vezes. E houve os que, por saber que estaríamos de plantão dia e noite, vieram sem que fosse preciso pedir (KFOURI,A. In KFOURI; MELIGENI, 2008, p.17).
A preparação e o conhecimento dos assuntos por parte dos profissionais voltam a
ser discutidos aqui. Para o jornalista André Plihal, a preparação do profissional deve ser muito
bem feita para a cobertura de um evento de tais proporções.
Normalmente a cobertura esportiva é realizada sob a forma de um grande evento em que o jornalista tem o trabalho facilitado pela estrutura do local. Existem dificuldades, lógico, mas se o profissional viajar preparado, com uma boa noção do que vai encontrar, não terá muitos problemas (PLIHAL apud LINHARES, 2006, p.55-56).
O interesse do público brasileiro nos esportes que não o futebol está diretamente
ligado ao bom desempenho de representantes compatriotas em cada modalidade. O fator de
identificação faz com que o cidadão comum se sinta representado nas vitórias através do
esporte, como diz França (2006, p. 16): “muitos dos valores nacionais podem ser analisados
em grande escala, como a auto-estima de seus cidadãos, o patriotismo e o relacionamento
externo com outras nações do planeta.” O fato é que o bom desempenho de um patrício em
alguma modalidade, mesmo que desconhecida, volta as atenções da mídia para tal esporte, o
que traz uma divulgação ao esporte, mas não é garantia de sucesso a longo prazo.
27
Não há dúvida, as vitórias dos atletas brasileiros em importantes competições internacionais são essenciais para a popularidade do esporte, para o aumento no espaço da mídia [...]. O basquete feminino é um excelente exemplo. Apesar da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996 e do título do campeonato mundial na Austrália, em 1994, o esporte das estrelas Hortência, Paula e Janeth não conseguiu se desenvolver em nível profissional fora de São Paulo (COUTINHO In VILLAS BOAS, 2005, p. 112).
O esporte quase sempre está ligado ao orgulho patriótico, sendo os atletas
verdadeiros representantes do “orgulho nacional”, quando do confronto contra estrangeiros.
Essa devoção, apesar de contribuir às vezes para a popularização do esporte, pode ser
compreendida também como uma falta de organização social que deposita nos ídolos todos os
anseios e esperanças de vitórias de um país.
O espetáculo esportivo mescla sonho, política e pragmatismo, na medida em que as competições, sejam elas regionais ou internacionais, revelam no balanço do quadro de medalhas as discrepâncias que diferenciam as nações, tanto em nível econômico, político-ideológico quanto sócio cultural (RUBIO, 2001, p. 97).
O jornalista Victor Martins, editor-chefe do site Grande Prêmio e da Revista
Warm Up, tem uma visão particular para tal “fenômeno”, citando a identificação do brasileiro
com o automobilismo após o aparecimento de Emerson Fittipaldi e suas conquistas em
circuitos europeus.
Até os anos 70, o brasileiro era sempre visto como pobrezinho, aquele complexo de inferioridade que vez ou outra aparece, “só um brasileirinho naquele mundão”. Quando Emerson deu o pontapé para os títulos e Piquet e Senna mantiveram a boa fase, o brasileiro passou a se achar como no futebol – e, de novo, a TV fazendo a lavagem cerebral ajudou muito: era o melhor do mundo. Qualquer derrota no esporte passou a ser vista como um absurdo. Como um alemão pôde ter passado Senna? Como agora a Alemanha passou o Brasil em menos de 20 anos em termos de títulos mundiais? É claro que em todos os países seus povos admiram mais esportistas locais do que os de fora, mas no Brasil se ensinou que estrangeiro é inimigo. O brasileiro nunca erra. O brasileiro não é desonesto. O outro, se ganha, tem um pormenor. Foi roubado (MARTINS, 2011)4.
A imprensa tem grande parcela de influência na construção de ídolos e também
contribui para o rápido esquecimento dos mesmos. O que pode ser notado também na
ausência de legados em esportes em que o Brasil teve recentemente um grande ídolo, como o
caso do Tênis, com Gustavo Kuerten. Em reportagem do jornal Folha de São Paulo de 08 de
4 MARTINS,Victor. São Paulo: 15/10/11. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva
28
junho de 2007, os repórteres Fernando Itozaku e Luis Ferrari descreveram a não continuidade
do sucesso do tênis nacional na era pós-Guga.
Atletas, dirigentes e os principais personagens do mercado nacional do tênis são unânimes na avaliação: dez anos depois de o cabeludo surfista do saibro colocar o Brasil no mapa da modalidade, o legado para o tênis nacional é quase nulo [...] Se algo foi feito, não está dando resultado. Entre os profissionais, o último título relevante na ATP foi em setembro de 2004 (ITOZAKU; FERRARI, Folha de São Paulo, 08 jun. 2007)5.
Coutinho destaca que o trabalho dos jornalistas de outras modalidades seria
facilmente influenciado e teria tido mais espaço com o aparecimento de ídolos.
O primeiro dos três títulos de Guga em Roland Garros, em 1997, era o sonho e qualquer jornalista que trabalhasse com Tênis no Brasil nos anos de 1970. [...] seguindo a trilha de tantos outros esportes, olímpicos ou não, o tênis brasileiro se ressentia de um ídolo, e com ele, de maior popularidade o que resultaria em espaço diretamente proporcional na mídia (COUTINHO In VILLAS BOAS, 2005, p.95).
Em 2011, o único tenista brasileiro entre os 100 mais bem colocados no ranking
da ATP (Associação de Tênis Profissional) é Thomas Belucci, que ocupa a 35ª posição6. Os
outros esportes também sofrem com a inexistência de um ídolo e, com isso, a falta de
popularidade entre o público em geral. O Boxe, que ganhou destaque nas eras Maguila, no
final da década de 1980, e Acelino Popó Freitas, final da década de 1990, hoje possui apenas
um brasileiro nos rankings da WBA (World Boxing Association): Laudelino Barros, que
ocupa a 8ª posição na categoria Cruiserweight7.
Gomes contesta o comportamento do brasileiro, destacando como a Fórmula 1,
que perdeu interesse no país após a morte de Ayrton Senna, ainda consegue ser atrativa em
diversas partes do mundo.
5 ITOZAKU, Fernando, FERRARI, Luís. Tênis do Brasil não vê legado de Guga. 2007. Folha de São Paulo. 08/06/07. Disponível em: <http://www.ceme.eefd.ufrj.br/ive/boletim/bive200706/imprensa/fsp/pdf_fsp/T-NIS%20DO%20BRASIL%20N%C2%A6O%20V-%20LEGADO%20DE%20GUGA.pdf>. Acesso em: 15 out. 2011.6 Rankings. ATP, 2011. Disponível em;< http://www.atpworldtour.com/Rankings/Singles.aspx>. Acesso em: 13 out. 2011.7 WORLD BOXING ASSOCIATION. Official Ratings as of September 2011. 2011. Disponível em: http://wbanews.com/artman/uploads/1/WBA_09-11_2.pdf. Acesso em: 13 out. 2011.
29
O interesse por ela (pela modalidade), no mundo todo, não é condicionada à nacionalidade dos vencedores. Claro que ajuda. O dia em que a Malásia tiver um piloto ganhando corridas é provável que o autódromo de Sepang fique mais cheio do que habitualmente. Mas a fórmula 1 corre na Malásia mesmo assim. Isso vale para qualquer país. Nunca um japonês venceu um GP. Mas Suzuka, todos os anos, recebe multidões para sua corrida (GOMES InVILLAS BOAS, 2005, p. 151).
Para Martins, a tendência dos esportes que não produzem ídolos é despencar na
preferência do público, devido à cultura do brasileiro, já destacada, de se interessar pelas
modalidades que têm compatriotas em alta, diminuindo assim o espaço de cobertura e
divulgação de tais modalidades.
Não produzir ídolos, nesta cultura já dita, representa perda de interesse. E quando o interesse se vai, o jornalista tem um público menor pra escrever. E o veículo de comunicação começa a destinar menos espaço e demanda para tal. A F1 na Globo começa minutos antes das corridas. A Stock Car mal tem sua temporada passada ao vivo. A Indy, absurdamente, não terá transmissão ao vivo nem da Bandeirantes nem do Bandsports. [...] A TV está acabando com sua cobertura de automobilismo, é a verdade. E a tendência é essa, mesmo, até que não surja alguém “interessante” (MARTINS, 2011)8.
Pode-se concluir que a cobertura de esportes no Brasil, que não o futebol, está
estritamente ligada ao aparecimento de figuras de referência em tais modalidades.
3.2. Cobertura de Esportes Especializados no Brasil
Três esportes tiveram grande destaque na concorrência com o futebol durante
algumas décadas, seja devido ao número de vitórias, ídolos ou a conquista de fãs e
consumidores de tais modalidades. O Basquete, o Volei e o Automobilismo, foram alguns dos
esportes além do futebol em que o Brasil conquistou notoriedade e grandes resultados
internacionais, consolidando por um bom tempo o espaço que cada um recebeu nos veículos
de comunicação.
O basquete surgiu no Brasil no início do século XX, após ter sido inventado pelo
professor canadense James Naismith, em Massachussets, nos Estados Unidos. O esporte
chegou no Brasil por intermédio do norte-americano Augusto Shaw que, após se graduar em
8 MARTINS, Victor. São Paulo. 15 out.2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.
30
artes em seu país de origem, veio lecionar no Mackenzie College em São Paulo. Em 1912,
tem-se notícia dos primeiros torneios de basquete, no Rio de Janeiro.
Ao final da década de 1950, o esporte viveu seus momentos de glória, quando a
geração comandada por Wlamir Marques conquistou o primeiro título mundial, em 1959, no
Chile. O Jornal do Brasil dedicou a capa e boa parte do caderno de esportes ao feito em solo
chileno.
Vencendo ontem à noite o Chile por 73 a 49, o Brasil sagrou-se campeão mundial de basquetebol [...]. O Brasil iniciou o jogo com sua equipe titular Algodão, Edson, Amauri, Wlamir e Waldemar. Os brasileiros no início pareciam sentir o peso da responsabilidade de um título mundial, mas aos poucos a equipe foi se firmando (BARROS, Jornal do Brasil, 1° fev. 1959, p. 13)9.
Após o título no Chile, o esporte voltaria a brilhar quatro anos mais tarde,
pegando carona no sucesso do futebol, bi-campeão mundial em 1958 e 1962. Nos anos
seguintes, o basquete também conquistava títulos que o firmavam como o segundo esporte na
preferência dos brasileiros. Em matéria do Jornal do Brasil de 24 de maio de 1963, na fase
final do campeonato mundial disputado no Brasil, fica clara a popularidade do esporte no
país.
A renda de ontem no Maracanãzinho, apesar do televisionamento da partida, foi recorde absoluto de arrecadação para Basquetebol no Brasil: Cr$ 5.500 mil. Brasileiros e Soviéticos jogaram para o maior público de basquetebol registrado no país: 20 mil pessoas, lotação máxima do Maracanãzinho. Na entrada do ginásio, pouco antes de começar a partida preliminar entre Estados Unidos e Itália, cambistas vendiam arquibancadas a Cr$ 2 mil e encontravam fregueses a quantidade, apesar de ser Cr$ 400 o preço normal (ALMEIDA, Jornal do Brasil, 24 mai. 1963, p. 12)10.
Após a geração bi-campeã mundial, na década de 1980 outra geração marcou
época e popularidade no esporte, revelando ídolos como Oscar, Marcel e Demetrius, que
levaram a Seleção Brasileira a um ouro inédito nos Jogos Pan Americanos de 1987,
derrotando os Estados Unidos na final. Na década de 1990 o basquete feminino que ganhou
notoriedade, com o surgimento da geração de Paula, Hortência e Janeth, campeãs mundiais 9 BARROS, Célio. Brasil é o novo campeão mundial de basquete. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 fev. 1959. p.13. Disponível em: <http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19590202&printsec=frontpage&hl=pt-BR>. Acesso em: 12 out. 2011.10 ALMEIDA, Dácio. Brasil venceu União Soviética por 90 á 79. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 24 mai. 1963. p.12. Disponível em:<http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19630524&printsec=frontpage&hl=pt-BR>0.Acesso em: 12 out. 2011..
31
em 1994. Mas ao final da década de 1990 o esporte sofreria grandes abalos em popularidade,
com a não participação em Jogos Olímpicos.
Para o jornalista Fabio Balassiano, do blog especializado em basquete, Bola na
Cesta, do Portal UOL, a queda da popularidade do basquete nos últimos tempos se dá devido
a não produção de ídolos e aos fracos resultados internacionais.
Há menos clubes, menos atletas de nível, mas em termos jornalísticos isso é bom, porque você pode se debruçar sobre os motivos que levaram a isso nos últimos anos. Acho que é o que mais tento fazer no blog. Focar menos naquestão técnica da coisa, e mais na questão estrutural. [...] (o interesse do público) é pequeno. O nível de interesse varia sempre de acordo com os resultados internacionais obtidos. O basquete não tem ido bem, o público esquece da modalidade. Se classifica para Londres, o público lembra. É natural e bem simples (BALASSIANO, 2011, grifo nosso)11.
Atualmente, as principais ferramentas de divulgação do basquete no Brasil estão
na internet. Apesar da falta de resultados internacionais, vários portais de notícias mantém
sites especializados na modalidade, como o caso do “Bala na Cesta”, do Portal UOL. O
ESPN.com mantém uma página sobre o tema, mas não um profissional específico. Os
jornalistas/comentaristas José Roberto Lux, Paulo Antunes e Everaldo Marques falam sobre o
esporte em seus blogs. No Portal IG destaca-se o blog do jornalista Fabio Sormani e no
GloboEsporte.com os blogs “Rebote”, do jornalista Rodrigo Alves, e “Lance Livre”, de Byra
Bello. Balassiano destaca a força que a internet tem no processo de informação do esporte,
mas chama a atenção para a forma da cobertura.
Existe um movimento sem igual no basquete que é a proliferação de blogs/sites/tumblrs/facebooks na internet sobre o assunto, mas ainda há muita imaturidade jornalística em relação a conteúdo, noticiário e formas de lidar com atletas e entidades. Até os grandes portais e jornais acabam se curvando ao diz que me diz e não apuram como deveriam. Na internet, o número de sites é muito bom, mas o conteúdo, não (e eu me incluo aí). Existe, hoje em dia, um "tesão" pelo furo que é irritante demais. Acho que esse "tesão" é péssimo para uma modalidade que precisa muito pouco de informações rápidas e muito de informações bem dadas. Ao invés de nós, conteudistas, nos preocuparmos em darmos a melhor notícia, o que se vê é uma turma querendo dar a notícia mais rápida, como se isso fosse o "melhor do jornalismo.” (BALASSIANO, 2011)12.
Muito da cobertura de basquete no Brasil também vem da NBA (National
Basketball Association), a liga Norte-Americana, que é o campeonato mais popular do
mundo. Em 2011 são quatro brasileiros atuando na NBA: Anderson Varejão (Cleveland
11 BALASSIANO, Fábio. Rio de Janeiro. 15 out. 2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.12 BALASSIANO, Fábio. Rio de Janeiro. loc. cit.
32
Cavaliers), Nenê Hilário (Denver Nuggets), Leandrinho Barbosa (Toronto Raptors) e Tiago
Splitter (San Antonio Spurs). O Brasil possui atualmente uma liga de clubes, o NBB (Novo
Basquete Brasil), que tem crescido em popularidade diante do público de basquete. Para
Balassiano, este crescimento e organização do esporte no país podem ser fundamentais para a
mudança de foco quase exclusiva que se tem hoje.
A criação de uma Liga Nacional e o desenvolvimento das ligas européias fazem com que o foco mude um pouco e não se restrinja apenas à NBA. Isso é muito bom para o leitor, e muito bom para o jornalista, que não precisa ficar "parado" em apenas um tema (BALASSIANO, 2011)13.
A classificação da Seleção Brasileira Masculina de basquete para a disputa dos
Jogos Olímpicos de Londres em 2012, após ficar de fora das três edições anteriores, devolve a
empolgação aos fãs e também a jornalistas especializados no assunto.
O Voleibol é considerado hoje, no Brasil, o segundo esporte em popularidade e
aceitação perante o público. Por possuir times extremamente vitoriosos nas duas modalidades,
masculino e feminino, o vôlei, dos anos de 1980 até hoje, passou a produzir diversos ídolos e
profissionais respeitados não só no país, mas também em todo o mundo.
As primeiras ações para a profissionalização do vôlei no Brasil datam de 1975,
com a entrada de Carlos Arthur Nuzman na presidência da Confederação Olímpica Brasileira.
O esporte então começou a ser encarado não como complemento das modalidades esportivas
do país, mas como um esporte que poderia sim estar entre as grandes paixões do brasileiro.
Coerentemente, Nuzman tratou de solidificar sua base de apoio político-conservador e empresarial, buscando estratégias que propiciassem uma lógica na forma de administração da instituição esportiva de sua responsabilidade (MARCHI JR, 2001, p.123).
Todo o trabalho começou a dar resultado no início dos anos 1990, quando nos
Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, a Seleção Masculina, com uma geração que tinha
Marcelo Negrão, Tande, Giovane e Maurício, conquistava uma medalha de ouro inédita para
o Brasil. Demais sucessos viriam a seguir, consolidando de vez o Volei no hall dos esportes
mais bem sucedidos do Brasil.
13 BALASSIANO, Fábio. Rio de Janeiro. loc. cit.
33
Nenhum país no mundo possui ambos os selecionados (masculino e feminino) com posicionamento tão bom em nível internacional, como o Brasil. O nosso voleibol é, hoje, o melhor do mundo, graças ao empenho e capacitação de técnicos, atletas e dirigentes.O nosso esporte tem um apelo popular muito forte (BOJIKIAN, 1999, p.39).
No Brasil, já houve tentativas de se implantar uma imprensa especializada em
Volei, como no lançamento da revista Saque, que “durou de 1984 até o final da década,
quando deixou de ser publicada.” (COELHO, 2003, p. 36)
Um dos grandes nomes do esporte no país é o treinador Bernardo Rocha de
Rezende, ou simplesmente Bernardinho, como é popularmente conhecido. Autor do livro
“Transformando Suor em Ouro”, ele conta uma parte da história deste esporte no país. Antes
dos anos de 1970, não só o Volei, como qualquer outro esporte olímpico no Brasil, não era
visto como profissão, pelo baixo nível de profissionalização do esporte.
É verdade que o voleibol brasileiro estava a quilômetros de distância do profissionalismo então a caminho [...] Ao mesmo tempo em que meus pais me incentivaram a praticar esporte, não viam com bons olhos a possibilidade de fazê-lo como atividade única, exclusiva, quase como um meio de vida. Nos anos 1960 e na maior parte dos 1970, futebol á parte, o esporte no Brasil estava longe de ser profissão. Por isso eles exigiam que eu pusesse os estudos em primeiro lugar, deixando em segundo plano minha paixão pelo voleibol (REZENDE, 2006, p.31 e 37).
Atualmente, diversos sites possuem páginas especializadas em Volei, alguns
destacando profissionais para fazer a cobertura de eventos esportivos e campeonatos ao redor
do mundo. No ESPN.com, destaca-se o blog do jornalista Mauricio Jahu. No
GloboEsporte.com, o “Sexto Set”, assinado pelo jornalista Alexandre Oliveira, e no Portal IG,
o blog “Mundo do Volei”, mantido pela ex-atleta e jornalista Aretha Martins, todos dedicados
exclusivamente ao esporte. Na TV a cabo, a ESPN Brasil possui o noticiário semanal “Por
Dentro do Volei”, enquanto a SporTV transmite diversas partidas da Superliga Masculina e
Feminina de clubes, além de jogos esporádicos das seleções. Na TV aberta, a Rede Globo
transmite as finais das Superligas de clubes, além de jogos esporádicos das Seleções.
O automobilismo surgiu no Brasil no início do século XX, com seu primeiro
registro acontecendo em São Paulo, em 1902, no hipódromo da Mooca, como destaca Paulo
Scali, em sua obra “Autódromo de Interlagos”14. Em 1908, logo após a fundação do
Automóvel Clube do Brasil, foi realizada uma das primeiras competições oficiais que se tem
notícia: uma corrida que se iniciava no Parque Antártica, em São Paulo, ia até o centro da
14 SCALI, 2004, p.13 apud FRANÇA, 2006, p.34.
34
Itapecerica da Serra e voltava ao Parque Antártica. De acordo com Scali15, cerca de 10 mil
espectadores acompanharam o espetáculo, que fora vencido por Sylvio Álvares Penteado,
considerado o primeiro vencedor de uma corrida de automóveis no país.
Na década de 1930, mais precisamente em 8 de outubro de 1933, o Brasil
promoveu o primeiro evento internacional de automobilismo, o Grande Prêmio Cidade do Rio
de Janeiro, que contou com pilotos argentinos, italianos, portugueses e franceses entre os
participantes. (FRANÇA, 2006) O primeiro piloto brasileiro a correr na Europa foi Chico
Landi, inclusive o primeiro a correr pela Fórmula 1, que teve o primeiro campeonato
disputado com este nome em 1950.
O pioneirismo da cobertura jornalística do automobilismo no Brasil é atribuído a
Wilson Fittipaldi, o Barão, que “lá pelo fim da década de 1940 já se aventurava na Europa
para transmitir corridas para a Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan.” (GOMES In VILLAS
BOAS, 2005, p.142) Ainda de acordo com Gomes, “Wilson foi o jornalista que percebeu
antes de todos o que era automobilismo, e quanto aquelas provas de velocidade podiam ser
interessantes para o público.”16
A cobertura do automobilismo só ganhou força mesmo no país a partir do final da
década de 1960, quando Emerson Fittipaldi despontou como um grande talento da
modalidade, vencendo corridas no exterior. Mas antes disso, como destaca Gomes,“já havia
alguma cultura automobilística na imprensa nacional, pelo menos desde o final da década de
1950”. Em agosto de 1960 surge a revista Quatro Rodas, da Editora Abril. Em seu primeiro
editorial, assinado pelo jornalista Victor Civita, diz
Quatro Rodas aparece por três motivos. Primeiro porque a indústria automotiva brasileira brotou e se expandiu tão rapidamente nos últimos quatro anos, que o nosso país já se tornou um dos grandes produtores de automóveis e caminhões. Este progresso, este mercado, exigem a cobertura jornalística de uma publicação séria e objetiva. Segundo porque os proprietários e compradores de carros no Brasil necessitam de uma publicação que lhes forneça informações completas e compreensíveis sobre manutenção, [...] etc. Terceiro porque belíssimos recantos do nosso país estão esperando para serem descobertos ou valorizados turisticamente por aqueles que possuem carro e espírito de aventura (CIVITA, 1960, p.5).17
15 SCALI, 2004. loc cit16 GOMES In VILLAS BOAS, 2005, p. 14217 CIVITA, Victor. 1960, Carta do Editor. p.5. QUATRO RODAS. São Paulo: Editora Abril,1960. Disponível em: <http://quatrorodas.abril.com.br/acervodigital/home.aspx >. Acesso em: 15 out. 2011.
35
Quando a revista completou 50 anos, em 2010, seu editorial destacava o espírito
de pioneirismo que Civita teve, em lançar a primeira publicação dedicada exclusivamente a
um mercado em processo de consolidação no país.
“Seu” Victor teve a ousadia de vislumbrar e de fazer acontecer uma revista especializada em carros e turismo na época em que os modelos nacionais não passavam de sete e as rodovias eram raras. “Não tem carro e não tem estradas neste país e você vai fazer uma revista sobre carros?”, era a pergunta inevitável. Nem é preciso dizer que a resposta chegou em altíssima velocidade: logo no ano de estréia foram vendidas 63000 unidades (BEREZOVSKY, 2010, p.5).18
Quatro Rodas foi a precursora de outras publicações, como a AutoEsporte, mas
como fica claro nos editoriais, não era uma revista voltada a competições automobilísticas, e
sim focada no mercado de consumo e que se aventurava até no turismo. A partir da década de
1970, mais precisamente em 1972, quando Emerson Fittipaldi ganhou seu primeiro título na
Fórmula 1, é que as publicações passaram a dar maior visibilidade às competições a motor.
Os anos de 1970, assim, acompanharam o nascimento de gerações. Primeiro, de admiradores e seguidores da formula 1; depois de jornalistas especializados naqueles carros e pilotos, conhecedores de um universo ainda inexplorado. Emerson seria bicampeão em 1974. Outros pilotos surgiram como José Carlos Pace e Nelson Piquet. Era um caminho sem volta (GOMES In VILLAS BOAS, 2005, p.145).
O interesse do público pelo esporte passou a crescer cada vez mais, e a imprensa
já não podia mais ignorar a modalidade.
Dos esportes fora do futebol, o automobilismo talvez seja o que exija o maior grau
de especialização e conhecimento por parte dos profissionais. Como destacado por Coelho
(2003, p. 36), “Quem faz automobilismo tem bom nível de especialização. [...] O fato de
obrigar quem trabalha com o esporte a conhecer coisas específicas – o motor, por exemplo –
obriga maior nível de dedicação.”
Devido ao alto número de detalhes envolvidos e ao contexto completamente
diferente de um esporte de massa, como o futebol, o nível de especialização deve ser ainda
maior do que em outros esportes, como Volei ou Basquete, por exemplo. Como destaca
Gomes:
18 BEREZOVSKY, Sergio. 2010, Passado, Futuro e Presentes... p.5. QUATRO RODAS. São Paulo: Editora Abril, 2010. Disponível em: <http://quatrorodas.abril.com.br/acervodigital/home.aspx>. Acesso em: 15 out. 2011.
36
Explicar o resultado de uma corrida era tarefa mais difícil do que dizer que o Flamengo ganhou do Vasco porque jogou melhor. Era preciso entender de motores, pneus, estratégias, câmbios, conhecer os bastidores, os negócios, o dinheiro envolvido, detectar tendências, imergir num mundo muito particular em suas relações e interesses (GOMES In VILLAS BOAS, 2005, p.146).
Porém, assim como em todos os outros esportes, o automobilismo também sofre
com a falta de preparação e conhecimento de alguns profissionais. Para Martins,
A maior parte dos jornalistas de automobilismo, diria que 70% dela, não entende do que está falando. Tem gente que nunca guiou um carro na vida. Não que seja imprescindível, mas ter conhecimento de um carro é muito mais valioso do que você transformar um boleiro em comentarista de futebol. Se você precisar de um comentário técnico, é importante (MARTINS, 2011)19.
A falta desse profissional no mercado possibilita o aparecimento cada vez maior
de pessoas que já trabalharam no meio do esporte como comentaristas e analistas de
determinado assunto específico. Exemplos são ex-pilotos que comentam a Fórmula 1 ou ex-
jogadores que viraram comentaristas de futebol.
19 MARTINS, Victor. São Paulo. 14 out. 2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.
4. ANÁLISE DE CASO – REVISTA WARM UP
Como esta pesquisa tem por objetivo analisar a segmentação dentro do Jornalismo
Esportivo, tomou-se como objeto de estudo a Revista Warm Up20, publicação online, voltada
exclusivamente ao automobilismo. Como relatado no capítulo anterior, o automobilismo é
uma modalidade esportiva que já atingiu seu ápice no Brasil, com as gerações de Emerson
Fittipaldi (década de 1970), Nelson Piquet e Ayrton Senna (décadas de 1980 e início de 1990)
na Fórmula 1, e hoje vive uma grande escassez de títulos e ídolos. Além da Revista,
abordaremos também o site Grande Prêmio e a Agência Warm Up, que deram origem à
publicação.
Através deste estudo, pretende-se mostrar como uma publicação que trata de um
esporte que não o futebol mantém-se viva e com conteúdo sempre atualizado, e como convive
com a falta de ídolos e popularidade do grande público.
De acordo com Duarte (2005, p. 219) “o estudo de caso deve ter preferência
quando se pretende examinar eventos contemporâneos”, e a revista Warm Up encaixa-se nesta
contemporaneidade pelo fato de a publicação ser online, destinada apenas a leitores que
possuem acesso a internet, seja por meio de estações fixas, como computadores e notebooks
ou em aparelhos móveis, como tablets e celulares.
O estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas formas de evidência são utilizadas (YIN, 2001, p. 32 apud DUARTE, 2005, p. 216).
A segmentação do público (pelo assunto e pelo modo de distribuição) fez com que
a análise fosse viável e interessante, pois aborda todos os assuntos tratados nos capítulos
anteriores.
20 WARM UP – Expressão em inglês que significa “aquecimento” no sentido de preparação para algum evento esportivo. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/ingles/index.php?lingua=ingles-portugues&palavra=warm-up&CP=257138&typeToSearchRadio=exactly&pagRadio=50>. Acesso em 01 dez. 2011
38
4.1 Metodologia
Para se realizar a análise da Revista Warm Up, foram utilizados alguns métodos
para se chegar a um resultado satisfatório. O primeiro dos métodos empregados para a análise
de dados foi a consulta a todo o arquivo da Revista, disponível integralmente na internet, no
site da mesma. A consulta aos blogs dos profissionais envolvidos na publicação, Flávio
Gomes 21 Victor Martins 22 e Ivan Capelli 23, também serviu como fonte de informação, já que
trazia a palavra dos jornalistas envolvidos diretamente na confecção da revista online.
O estudo de caso utiliza para a coleta de evidências, principalmente, seis fontes distintas de dados: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos, cada uma delas requerendo habilidades e procedimentos metodológicos diferenciados (DUARTE, 2005, p. 219).
Além da consulta em arquivo e coleta de dados e textos da revista, foram ouvidos
também, separadamente, os jornalistas Flávio Gomes, criador da Agência Warm Up e chefe
geral de redação da Revista Warm Up e Site Grande Prêmio, e Victor Martins, editor-chefe da
Revista e Site Grande Prêmio. As entrevistas foram realizadas por email, em variadas datas, e
estão publicadas anexas a esta pesquisa, para uma análise mais pertinente do universo de
pesquisa delimitado e cruzamento das informações.
A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer (DUARTE, 2005, p. 62).
Com todos estes dados em mãos e a seleção das evidências, cruzam-se os dados
para obter um resultado satisfatório.
Para garantir a qualidade da pesquisa, Yin aponta ainda três princípios a serem empregados na atividade de coleta de dados, também fundamentais para essas seis fontes: (1) a utilização de várias fontes de evidências; (2) a criação de um banco de dados para o estudo de caso; e (3) a manutenção de um encadeamento de evidências (DUARTE, 2005, p. 219).
21 http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes/ e http://flaviogomes.warmup.com.br/.22 http://colunistas.ig.com.br/victormartins/ e http://victormartins.warmup.com.br/.23 http://blogdocapelli.warmup.com.br/.
39
Ainda de acordo com Duarte (2005, p. 230), a entrevista em profundidade “é
considerada uma das mais importantes fontes de informações para um estudo de caso.”
Assim, para o conhecimento do dia a dia da redação e a forma de trabalho e distribuição da
Warm Up, este método também foi utilizado nesta pesquisa.
O universo de pesquisa delimitado para este estudo, por restrições de tempo e
espaço, compreende a análise de seis das dezenove edições já publicadas da revista Warm Up,
sendo elas: Março (Edição Zero), Abril (Edição Um) e Maio (Edição Dois) de 2010, e as de
Agosto (Edição Dezessete), Setembro (Edição Dezoito) e Outubro (Edição Dezenove) de
2011. Optou-se por analisar as três primeiras edições e as três mais recentes, para notar as
principais diferenças desde o seu lançamento e quais as modalidades mais citadas e que detém
o maior espaço na revista.
4.2 Warm Up e Grande Prêmio
A história da Warm Up começou em 1994, quando o jornalista Flávio Gomes
criou a agência de notícias homônima, especializada em automobilismo, a fim de abastecer
jornais brasileiros e internacionais com notícias da Fórmula 1 (F1). Na época, Gomes fazia a
cobertura da modalidade pela Rádio Jovem Pan de São Paulo, viajando o mundo todo, e
distribuía as notícias aos jornais utilizando os métodos de transmissão de informações da
época. De acordo com Gomes, a Agência atendia, em 1994, a 55 jornais no país inteiro.
Viajava, cobria as corridas pela Pan e mandava matérias para 55 jornais por fax. Na verdade mandava pelo computador para uma empresa, a ProdutoBrasil, que usava três linhas simultâneas para retransmitir para os jornais. Era uma operação cara e primitiva, quando se vê as possibilidades atuais. Mas era o que havia disponível (GOMES, 2011)
24.
Em 1996, com a consolidação da internet no país, surgiu o site Warm Up 25 e,
com ele, a maneira de distribuição é adaptada e passa a ter a cobertura ampliada. De acordo
com Gomes, “em 1996 começamos a transmitir por BBS. Depois, por e-mail e, mais tarde,
através de um site aos quais os jornais tinham acesso através de senha”26. O site Warm Up foi
um dos primeiros especializados em Fórmula 1 no Brasil.
24 GOMES, Flávio. São Paulo. 7 nov. 2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.25 http://www.warmup.com.br.26 GOMES, Flávio. loc. cit.
40
No ano 2000, o site Warm Up tornou-se “Grande Prêmio” 27. A mudança do nome
se deu porque o site passou a integrar o portal IG, que exigiu o nome em português. O site
então ampliou sua cobertura jornalística, que até então era somente de Fórmula 1, para as
demais modalidades do automobilismo, como Fórmula Indy, Stock Car, GP2 e Moto-GP.
Hoje, na página inicial do site, constam, além das modalidades citadas, links com notícias de
Rali, Fórmula Turismo, F-2, F-3, F-Superliga, F-Renault, A1 GP e Kart. De acordo com
Victor Martins, a Agência Warm Up ainda fornece hoje conteúdo a 8 jornais, todos no Brasil.
4.2.1 A Revista Warm Up
Concomitantemente à mudança do nome do site de notícias, a Agência Warm Up
continuou existindo e, em março de 2010, lançava o mais novo projeto, chamando-o de “o
braço eletrônico” do site Grande Prêmio: a Revista online Warm Up, com periodicidade
mensal. Como relatado pelo jornalista Ivan Capelli, na edição do 1º aniversário da revista, a
Warm Up foi “uma idéia que apareceu um dia, numa despretensiosa conversa por MSN entre
mim e o Bruno Mantovani [...] Logo em seguida adicionamos o Victor Martins à conversa e,
surpreendentemente, o projeto ganhou rapidamente o apoio e o incentivo do Grande
Prêmio.”28
Como revelado no primeiro editorial da Revista, a idéia passou a ser divulgada
como “projeto secreto” nas redes sociais, até ser, de fato, lançada em março de 2010. A
equipe na época contava com Flávio Gomes, Victor Martins, Evelyn Guimarães, Marcelo
Ferronato, Marcus Lellis, Luana Marino, Felipe Paranhos, João Paulo Borgonove, Ivan
Capelli (editor) e Bruno Mantovani (arte).
De acordo com Flávio Gomes, a revista fez-se necessária “porque a natureza do
(site) Grande Prêmio é de 'hard news', noticiário diário, quente, de leitura rápida e puramente
informativa."29 Pela periodicidade mensal da Warm Up, as matérias passariam a ser mais
trabalhadas e profundas, como destacou Gomes. "Mal comparando, o (site) Grande Prêmio é
27 http://grandepremio.ig.com.br/.28 Revista Warm Up, edição 12. p.12. Disponível em: < http://www.revistawarmup.com.br/edicoes/12/>. Acesso em 08.nov.201129 Grande Prêmio lança braço eletrônico pioneiro na internet, Revista Warm Up. 2010. Disponível em <http://grandepremio.ig.com.br/formula1/2010/03/10/grande+premio+lanca+braco+eletronico+pioneiro+na+internet+revista+warm+up+9423178.html#> grifo nosso.
41
um jornal, que precisava ter sua revista 'dominical', digamos assim. Material de leitura mais
demorada, temas mais aprofundados, com tratamento gráfico diferenciado."30
De março de 2010 a outubro de 2011, a revista teve 19 edições, abordando os
mais variados temas dentro do automobilismo. Em dados fornecidos pelo editor-chefe Victor
Martins, a Revista Warm Up tem uma média de 110 mil acessos por mês. A edição campeã de
acessos foi a de setembro de 2010, com 172 mil acessos. Ela trazia na capa o caso da saída do
piloto brasileiro Nelson Angelo Piquet, o Nelsinho, da Fórmula 1, após o escândalo com
Flavio Briattore, chefe da equipe Renault. Gomes considera que a edição trouxe “o maior
escândalo de todos os tempos na F-1”31, por isso o grande número de acessos.
A especialização no automobilismo, de todos os profissionais envolvidos, é um
dos principais diferenciais da Warm Up. No editorial da edição 12 (março 2011), Martins cita
que a Warm Up é feita por “gente que gosta do que faz, cada um a seu modo e estilo.”32
É fácil se acomodar nas "hard news" [...] Uma revista online tornou-se uma descoberta. Uma redescoberta. Não tenho dúvidas de que a revista, por mais trabalhosa e quase filantrópica que pareça ser, trouxe a mim e a meus companheiros de trabalho, um jornalismo que a gente sonha em fazer, com a independência que a casa nos permite.
33
Na mesma edição, Flávio Gomes vai além: “Editorialmente é a melhor publicação
sobre automobilismo em língua portuguesa do mundo. Falo isso sem falsa modéstia. Temos
pauta, criatividade, competência e gente que entende do assunto fazendo.”34 O
aprofundamento das matérias da Warm Up mostra o conhecimento dos repórteres e editores
no assunto.
Martins destaca ainda que um dos pontos fortes da revista é a linha editorial, que
não segue a padrões pré-estabelecidos e dá aos profissionais total liberdade para criar,
investigar e publicar qualquer assunto relevante. “Aqui na Warm Up temos uma liberdade
editorial irrestrita e fazemos um trabalho investigativo, sem estarmos amarrados a ninguém.
Pagamos um preço pela independência, mas é recompensador ver que se trata de algo bem
feito e diferenciado.”35
30 Grande Prêmio lança braço eletrônico pioneiro na internet, Revista Warm Up. 2010. loc. cit31 GOMES, Flávio. São Paulo. 7 nov.2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.32 Revista Warm Up, edição 12. p.4. Disponível em: < http://www.revistawarmup.com.br/edicoes/12/>. Acesso em 08.nov.201133 Revista Warm Up, edição 12. loc. cit34 Revista Warm Up, edição 12. p.9. Disponível em: < http://www.revistawarmup.com.br/edicoes/12/>. Acesso em 08.nov. 201135 MARTINS,Victor. São Paulo. 14 out.2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.
42
O caso de doping do piloto Tarso Marques, que foi capa da edição de abril de
2011, foi a maior sequência de reportagens da revista e, para Gomes, a mais trabalhosa.
Segundo ele, foram “mais de seis meses apurando, cruzando informações, ouvindo todos os
lados possíveis.”36
Em outubro de 2011, a equipe conta com Flávio Gomes, Victor Martins, Evelyn
Guimarães, Fernando Silva, Felipe Paranhos, Felipe Giacomelli, Juliana Tesser, Paula
Gondim e Mauro de Bias, além de Ivan Capelli e Bruno Mantovani.
4.3 Análise do Material Empírico
Em março de 2010 surgiu a Revista Warm Up e, como capa da primeira edição,
veio a reportagem “F1 Retrô”, assinada por Felipe Paranhos e Marcelo Ferronato. A edição
tem 60 páginas. Das 6 reportagens apresentadas, 5 falavam sobre a Fórmula 1 e uma sobre a
Fórmula Indy. As colunas de Victor Martins, Ivan Capelli e Flávio Gomes, além da charge
inicial, também abordavam temas referentes à Fórmula 1.
FIGURA 01 – Na ordem as capas das três primeiras edições da Revista Warm Up.
A sequência do conteúdo da Edição Zero da Warm Up é a seguinte: “Pilotoons”
(Charge); Coluna Primeira Pessoa, de Marcelo Ferronato, “O exílio que priva a encheção”,
relatando os problemas na cobertura dos treinos e GP de Barcelona, na Fórmula 1. Seção
Contraponto, onde os jornalistas da equipe respondem a questionamentos em 140 caracteres
(limite da rede social Twitter). Reportagem “Whatever Stefan Wants, Stefan Gets”, assinada
36 GOMES, Flávio. São Paulo. 7 nov.2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.
43
por Victor Martins, sobre as várias tentativas do empresário sérvio Zoran Stefanovic de ter
uma equipe na F1. Coluna de Victor Martins, sobre a matéria anterior. Reportagem “Virgin
Rocks”, assinada por Evelyn Guimarães e Marcelo Ferronato, sobre a apresentação da mais
nova equipe da Fórmula 1, a Virgin Racing. Coluna de Ivan Capelli, sobre a reportagem
anterior. “Perfil – Kamul Kobayashi”, assinado por Marcelo Ferronato, com um perfil da
carreira do piloto japonês que estreava na Fórmula 1 naquela temporada. Reportagem de capa
“F1 Retrô”, por Felipe Paranhos e Marcelo Ferronato, que aborda a nostalgia que a Fórmula 1
vivia ao receber de volta várias equipes antigas. Coluna de Flávio Gomes sobre a reportagem
anterior. “As Curvas da Asa Delta”, assinada por João Paulo Borgonove, sobre as mudanças
que a Fórmula Indy pode passar na temporada 2012. E é fechada com a seção Click, que traz
fotos exóticas de alguma modalidade do automobilismo. Nesta edição, uma foto dos treinos
para o GP da Bélgica, na Fórmula 1. A revista teve 97 mil acessos, até a data de 09 de
novembro de 2011.
Em abril de 2010 foi publicada a segunda edição. Como matéria de capa, Michael
Schumacher, o maior campeão da Fórmula 1, que, após anunciar a aposentadoria, retornou às
competições em 2010. Como não obteve os mesmos resultados, o título da capa é “Ele não é
mais o mesmo?”, assinada por Victor Martins. A edição tem 106 páginas. Das 9 reportagens
apresentadas, 5 falavam sobre Fórmula 1. Duas matérias falavam da Stock Car e duas sobre a
Fórmula Indy. Nas colunas de Flávio Gomes, Ivan Capelli e Victor Martins, somente a de
Martins fala sobre a Fórmula 1. A de Gomes complementa a sequência de matérias sobre
Automobilismo e Futebol e a de Capelli trata de um assunto fora do automobilismo. A charge
inicial “Pilotoons” também tem como tema a F1.
A primeira série de reportagens da revista é “Automobilismo Futebol Clube”, que
trata da inserção de clubes de futebol em modalidades do automobilismo. “Devagar se vai ao
longe”, de Luana Marino, que fala sobre o Flamengo na Fórmula Superliga. Logo após, “100
anos, 1 meta”, assinada por Marcus Lellis, que trata da entrada do Corinthians, em
modalidades como a GT Brasil e Fórmula Truck. “O ‘Ba-Vi’ fora dos estádios” é a matéria
assinada por Felipe Paranhos, que trata dos dois clubes rivais de Salvador (BA) e suas
categorias no automobilismo. “Paulistão em quatro rodas” vem na sequência, por Marcus
Lellis, Victor Martins e Evelyn Guimarães, abordando a entrada dos quatro grandes times de
futebol de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos) no automobilismo. A
coluna de Flávio Gomes faz um apanhado geral do assunto e mostra como a relação “futebol-
automobilismo” começou.
44
A matéria “Duas corridas, um mesmo personagem”, por Evelyn Guimarães, fala
sobre o piloto Cacá Bueno, da Stock Car. “Voltar ou não voltar, eis a questão”, fala sobre a
possível volta de Ingo Hoffman (maior campeão da Stock Car) às pistas após a aposentadoria
(link com a matéria de capa, sobre a volta de Michael Schumacher).
O assunto Fórmula 1 é abordado de forma consistente, na sequência de análises
dos primeiros GPs da temporada (Bahrain, Austrália e Malásia). A reportagem de capa é “O
que acontece com Schumacher?”, assinada por Victor Martins. A Fórmula Indy aparece pela
primeira vez em reportagem de João Paulo Borgonove, “Foca [nem tão] fora d’água”, que
relata a experiência de cobertura do GP de São Paulo. Na sequência, Victor Martins traz
“Nota... Dez (o que falta para)”, uma análise da etapa brasileira da Indy. A revista se encerra
com a seção Click. A revista teve 112 mil acessos, até a data de 09 de novembro de 2011.
Em maio de 2010 a capa trazia a manchete “Interlagos 70 anos”, em referência ao
aniversário do principal autódromo do Brasil e que sedia as etapas da Fórmula 1. A edição
tem 108 páginas e 12 reportagens, sendo 4 sobre Fórmula 1 (além da sequência de
reportagens de capa, que falam sobre a modalidade e o autódromo de Interlagos). Uma
matéria é sobre Stock Car, uma sobre automobilismo em geral e uma sobre Super GT. As
colunas de Ivan Capelli, Victor Martins e Flávio Gomes falam sobre Fórmula 1, a de Gomes
sobre o autódromo.
A charge “Pilotoons” abre a revista, com o tema Fórmula 1. Depois um especial
sobre Ayrton Senna, em que jornalistas da revista e comentaristas convidados opinavam sobre
qual o maior feito e o maior fracasso de Ayrton nas pistas. Logo após, “Na Fila do
desemprego”, de Felipe Paranhos, sobre pilotos de várias modalidades que têm dificuldades
para se empregarem. “Morte e vida à gaúcha”, de Ivan Capelli, fala sobre a Stock Car. Coluna
de Ivan Capelli. Sequência de análises dos GPs da China e Espanha, na Fórmula 1. A
sequência de reportagens de capa começa com “Interlagos, um setentão enxuto”, por Victor
Martins. Sobre o mesmo tema, “A experiência de quase-morte e o renascimento”, de
Fernando Silva e João Paulo Borgonove; “Plástica, Botox e Lipo” e “Arena Interlagos”, por
Marcus Lellis; “Do Lado de Fora”, por Luana Marino e Evelyn Guimarães; “A Casa de
Barrichello”, por Evelyn Guimarães. A coluna de Flávio Gomes fecha a sequência.“Um
nasce, o outro renasce”, por Luana Marino e João Paulo Borgonove, fala sobre a GT Brasil. A
revista encerra-se com a seção Click. A edição teve 88 mil acessos até a data de 09 de
novembro de 2011.
Segue agora a análise das três edições mais recentes (Agosto, Setembro e Outubro
de 2011).
45
FIGURA 02 – Na ordem as capas das edições 17, 18 e 19 da Revista Warm Up.
Em agosto de 2011, a Warm Up chegava a sua 18ª edição (número 17 na capa). A
reportagem de capa, “Michael Schumacher, 20 anos de F1”, aborda o tempo de carreira do
maior campeão da história da categoria. A edição tem 94 páginas. São 9 reportagens, sendo
somente a sequência de reportagens de capa sobre a Fórmula 1. Uma matéria fala sobre o
aniversário da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), uma sobre o piloto
brasileiro Raphael Matos, uma sobre a Fórmula Indy, uma sobre a Nascar, uma sobre a Moto
GP, uma sobre a WRC, uma sobre o piloto de kart Kevin Felippo e uma sobre Rali. As
colunas de Fernando Rees e Flavio Gomes e a charge “Pilotoons” falam sobre Fórmula 1.
Na abertura, uma entrevista com o ex-piloto canadense Jacques Villeneuve. Na
sequência a reportagem “A CBA faz anos. E o azar?...”, por Juliana Tesser. “Poeira
Sacodida”, por Evelyn Guimarães, fala sobre o piloto brasileiro Raphael Matos que luta por
uma vaga na Fórmula Indy. Outra reportagem na edição é “Com provas decididas na
canetada, Indy mancha campeonato e caminha para o limbo”, por Victor Martins. Logo após
aparece uma sequência de análises de outras categorias, como Nascar, por Felipe Giacomelli,
Moto GP, por Evelyn Guimarães, e WRC, por Fernando Silva. A sequência com o assunto de
capa começa com “Respeito acima de tudo”, de Evelyn Guimarães, Felipe Giacomelli e
Felipe Paranhos. Logo depois, o arquivo com o grid da primeira corrida de Michael
Schumacher na F1 e o que aconteceu com cada um dos pilotos. A coluna de Flávio Gomes
encerra a sequência.
“Problema de gente grande”, por Felipe Giacomelli, fala sobre o piloto argentino
Kevin Felippo e seu destaque no kart. Depois, “O rali da família brasileira”, por Fernando
Silva, que fala sobre o Rali Mitsubishi Motorsport. A seção Click fecha a edição, que teve 78
mil acessos até a data de 09 de novembro de 2011.
46
Em setembro de 2011 foi lançada a décima nona edição (número 18) com a capa
“O Brasil sem F1”, sobre os 20 anos sem títulos de pilotos brasileiros na Fórmula 1. São 100
páginas e 13 reportagens, sendo 4 sobre Fórmula 1. Duas sobre Moto GP, uma sequência de
reportagens sobre autódromos do Brasil: Brasília, Santa Luzia-MG e Rio de Janeiro, uma
sobre Indy, uma sobre GP2, uma sobre WRC e uma sobre Nascar. A coluna de Fernando Rees
fala sobre Fórmula 1.
A edição é aberta com a charge “Pilotoons”, que não fala de nenhuma modalidade
específica. Na sequência tem a entrevista com o engenheiro que trabalhou na F1, Fernando
Paiva. Depois, coluna de Fernando Rees. Logo após, a reportagem “Sem Base, Sem Corrida”,
por Juliana Tesser, sobre a Moto GP. “Jogo das Pistas”, de Felipe Giacomelli, fala sobre o
autódromo Nelson Piquet em Brasília. “Autódromo com tempero de folia”, de Paula Gondim,
fala sobre o autódromo de Santa Luzia-MG. “Vettel espera ponto de ouro para coroar a maior
campanha da história da F1”, por Victor Martins, é uma análise da temporada 2011 em geral,
com foco em Sebastian Vettel, campeão da temporada. “Power se recupera e termina fase dos
mistos a frente de Franchitti”, por Evelyn Guimarães, fala sobre a Indy. Após, uma sequência
de análises de outras categorias, começando com a GP2, por Felipe Paranhos, WRC, por
Fernando Silva, Moto GP, por Juliana Tesser, e Nascar, por Felipe Giacomelli.
A sequência de capa começa com “A Pátria de Rodas”, por Felipe Paranhos.
Depois, “Ser bom não basta”, por Juliana Tesser, e “Os títulos que ninguém nunca viu”, por
Felipe Paranhos, completam. “Filme Triste”, por Fernando Silva e Felipe Paranhos, fala sobre
o autódromo de Jacarepaguá no Rio de Janeiro. A edição é fechada pela seção Click. Foram
69 mil acessos até a data de 09 de novembro de 2011.
A vigésima edição (numero 19) saiu em outubro de 2011 e trouxe na capa o título
“Impacto Profundo”, sobre a morte do piloto Dan Wheldon na ultima etapa da Fórmula Indy,
em Las Vegas. São 110 páginas, com 9 reportagens, em que 3 falam sobre Fórmula 1 (duas
indiretamente). Uma das matérias aborda a Indy, duas sobre Moto GP, uma sobre WRC e uma
sobre Nascar. As colunas de Fernando Rees e Victor Martins falam sobre Fórmula Indy.
A edição começa com a entrevista com Eric Granado, jovem piloto brasileiro de
Motovelocidade. Na sequência, coluna de Fernando Rees sobre a Indy. “Uma base que não dá
base”, por Juliana Tesser, fala sobre as categorias inferiores da MotoGP. “Super Carros”, por
Fernando Silva, é uma análise dos carros que dominaram a Fórmula 1 em épocas diferentes.
“Impacto Profundo”, por Victor Martins, é a matéria de capa, sobre a morte do piloto Dan
Wheldon, na última etapa da Indy. A coluna de Victor Martins fala sobre Dan Wheldon. Na
sequência vêm as análises das modalidades: Indy, por Evelyn Guimarães; MotoGP, por
47
Juliana Tesser; WRC, por Fernando Silva, e Nascar, por Felipe Giacomelli. “A raiz do
problema”, assinada por Paula Gondim e Evelyn Guimarães, é uma suíte da matéria de capa
da edição anterior, sobre os 20 anos sem títulos de brasileiros na Fórmula 1, na visão de 3
pilotos de modalidades diferentes. “Quando a F1 não é tudo”, por Fernando Silva, fala sobre a
decisão de pilotos brasileiros correrem por outras diversas modalidades. A edição se encerra
com a seção Click. Foram 63 mil acessos até a data de 09 de novembro de 2011.
4.4 Resultados
Nota-se que houve diversas mudanças na Warm Up desde as primeiras edições.
Tanto em algumas seções da revista, que foram criadas com o tempo – como o caso das
entrevistas, que abrem as três edições mais recentes, e que não eram utilizadas anteriormente
–, quanto no espaço das publicações de cada modalidade do esporte. A Fórmula 1, que era
quase hegemônica nas três primeiras edições (nota-se que na primeira, das 6 reportagens, 5
são sobre a modalidade), já começa a dividir cada vez mais espaço com outras modalidades,
como a Nascar, a Indy e a Moto GP. No total de 51 reportagens, nas seis edições analisadas,
são 22 reportagens sobre Fórmula 1, 8 genéricas (sem focar uma categoria específica), 5 sobre
Moto GP, 4 sobre Fórmula Indy, 3 sobre WRC, 3 sobre Nascar, 3 sobre Stock Car, uma sobre
GP2, uma sobre Rali e uma sobre Super GT.
48
Reportagens – Revista Warm Up – Edições 0, 1, 2 – 17, 18, 19
Assunto Quantidade
FÓRMULA 1 22
Genéricas 8
Moto GP 5
Indy 4
WRC 3
Nascar 3
Stock Car 3
GP 2 1
Rali 1
Super GT 1
TABELA 01 – Número de reportagens da Revista Warm Up por assunto
Ao analisar as colunas individuais dos jornalistas (Flávio Gomes, Victor Martins,
Ivan Capelli, Fernando Rees e Marcelo Ferronato), a Fórmula 1 tem quase a unanimidade.
São 15 colunas, sendo 11 sobre a modalidade. Duas falam sobre a Indy e duas sobre assuntos
genéricos.
Colunas – Revista Warm Up – Edições 0, 1, 2 – 17, 18, 19
Assunto Quantidade
FÓRMULA 1 11
Genéricas 2
Moto GP -
Indy 2
WRC -
Nascar -
Stock Car -
GP 2 -
Rali -
Super GT -
TABELA 02 – Número de colunas da Revista Warm Up por assunto
49
Martins destaca o porquê deste acontecimento.
O carro-chefe do automobilismo é a F1, não adianta. É porque foi a categoria mais difundida e que o Brasil se deu melhor. Agora que os brasileiros não ganham nada é que diminuiu um pouco a diferença para as demais categorias – não que o interesse pelas outras tenha aumentado consideravelmente. A quantidade de gente que vê F1 pela TV quase que caiu pela metade em 4 anos, e isso é muito significativo.37
Percebe-se que a cultura do ídolo segue pautando as publicações que tratam de
esportes especializados, e o fã de automobilismo, que antes tinha na Fórmula 1 sua única
opção, começa a migrar para as demais modalidades, porém não com tanta intensidade.
Brasileiro, em geral, gosta de ver vitória de um igual seu. Ainda não há a cultura de se amar o esporte ou um ídolo “xeno” (sic) pela massificação que os meios de comunicação, [...] fazem para que o pachequismo sobreviva.38
Em relação às matérias de capa, a Fórmula 1 segue sendo a maioria. Das seis
edições analisadas, quatro tem como tema a modalidade: “F1 Retrô”, “Ele não é mais o
mesmo?”, “O Brasil sem F1” e “Michael Schumacher – 20 anos de F1”. Uma outra
reportagem trata indiretamente sobre o tema, pois fala sobre o autódromo de Interlagos, que
sedia a etapa brasileira da F1 e somente a edição 19 entre as analisadas, tem como capa a
Indy, devido ao trágico acontecimento com o piloto Dan Wheldon, na última corrida da
temporada.
O numero de acessos somado das edições analisadas, totalizam 507 mil acessos
(até a data de 09 de novembro de 2011), atingindo um público que, de acordo com Gomes, se
a publicação fosse impressa, não atingiria
A revista eletrônica é gratuita, por isso tem tantos acessos. Quando as pessoas têm de pagar, esse número cairá drasticamente. Não é viável economicamente. As tiragens das revistas especializadas em automobilismo são irrelevantes. Jamais vão atingir o público que atingimos no meio eletrônico.39
A Warm Up segue trabalhando com um esporte que atravessa um momento
complicado, com a falta de ídolos e de vitórias brasileiras. Esse cenário, com a cultura de
37 MARTINS, Victor. São Paulo. 14 out. 2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.38 MARTINS, Victor. loc. cit.39 GOMES, Flávio. São Paulo. 7 nov. 2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.
50
ídolos da população brasileira, já divulgada anteriormente, faz com que o automobilismo
venha a perder cada vez mais espaço nos noticiários, dando aos profissionais um cenário no
qual é preciso se reinventar sempre e usar cada vez mais a criatividade e a especialização a
favor da boa cobertura jornalística.
Por um tempo, chegou a se pensar que o automobilismo poderia conviver com o futebol enquanto esporte prioritário no Brasil. Hoje o vôlei já passou, o MMA vai passar fácil, se o basquete se reorganizar, também vai pra frente, e o automobilismo só tende a cair. Não produzir ídolos, nesta cultura já dita, representa perda de interesse. E quando o interesse se vai, o jornalista tem um público menor pra escrever. E o veículo de comunicação começa a destinar menos espaço e demanda para tal. [...] E a tendência é essa, mesmo, até que não surja alguém “interessante.”40
Para os verdadeiros fãs do automobilismo e, principalmente, da Fórmula 1,
Martins destaca que, para a próxima temporada, a revista prepara uma surpresa: “Nós estamos
buscando patrocínios para cobrir a temporada inteira da F1 ‘in loco’. Julgamos importante
fazer 1) uma cobertura diferenciada e 2) uma cobertura honesta, ao nosso público fiel, em
respeito a ele.”41
40 MARTINS,Victor. São Paulo. 14 out.2011. Entrevista concedida à Spartacus Alexandre Silva.41 MARTINS,Victor. São Paulo. loc. cit
5. CONCLUSÃO
Percebe-se que o interesse do público pelas coberturas esportivas jornalísticas
além do futebol está diretamente ligado ao número de vitórias expressivas que cada um
consegue. Nos esportes individuais, nota-se que ainda é necessária a figura de um ídolo, que,
teoricamente, representa toda a nação, carregando consigo a alcunha de “herói nacional”.
Diferentemente do futebol que, mesmo passando por décadas sem vitórias expressivas, não
sai da primeira posição na preferência dos brasileiros. Exemplo disso é que, de 1970 a 1994, a
Seleção Brasileira de Futebol não venceu uma Copa do Mundo sequer, mas o esporte cresceu
cada vez mais em popularidade e paixão por parte do público em geral, o que não acontece
com os outros esportes coletivos no Brasil.
Este fator é evidenciado no capítulo 2, que mostra que o basquete nacional viveu,
de 1996 a 2010, seu maior jejum de vitórias expressivas, com a ausência nas Olimpíadas de
2000, 2004 e 2008. Isso contribuiu bastante para que o vôlei – que, ao contrário, colecionou
títulos importantes no período – passasse à frente na preferência do público.
O fator Popularidade, que define se o esporte terá mais ou menos espaço na mídia
e, consequentemente, se atrai mais a atenção do público, dá-se então pelos fatores: Ídolo +
Vitórias = Popularidade, quando se pensa em esportes individuais, e Vitórias = Popularidade,
quando se trata de esportes coletivos.
As vitórias significativas, conquistadas nas décadas de 1970, 1980 e início de
1990, e a presença de três ídolos individuais que, durante quase três décadas, foram figuras
principais do esporte, contribuem para que a Fórmula 1 ainda seja o principal assunto quando
se trata de automobilismo no Brasil. Isso é notado no grande número de reportagens que
tratam de Fórmula 1 na Revista Warm Up, em relação às outras modalidades de
automobilismo.
A substituição quase imediata de um ídolo por outro também contribui na
expectativa que o público tem de continuar a saga de vitórias expressivas que o país
colecionou nas décadas passadas. Na Fórmula 1, desde o início da popularidade e a
descoberta do esporte pelo público em geral, sempre a figura de um ídolo foi substituída por
outra, quase que instantaneamente: Fittipaldi foi substituído por Piquet e Piquet substituído
por Senna. Após a morte de Senna, em 1994 e, consequentemente. a perda do ícone, nenhum
outro piloto conseguiu obter os resultados que os três anteriores haviam conquistado, apesar
52
de vários deles terem passado pela modalidade. O grande número de brasileiros que ainda
participam da Fórmula 1 segue mantendo a curiosidade e a expectativa do brasileiro, de ver o
surgimento do “novo Senna”.
Outros esportes individuais que tiveram a forte presença do ídolo durante um
tempo, mas não tiveram a substituição imediata do mesmo, não vivem a mesma situação da
Fórmula 1 no Brasil. Como são os casos do Tênis e do Boxe, por exemplo. No Tênis, após o
aparecimento de Maria Esther Bueno, na década de 1950, o esporte viveu um hiato de
popularidade até a década de 1990, quando Gustavo Kuerten surgiu. A queda do interesse e da
cobertura pelo esporte caiu justamente pelo público imaginar que um “novo Guga” só poderá
surgir daqui a algumas décadas.
O boxe, que viveu dias de glória com Maguila, na década de 1980, e com Acelino
“Popó” Freitas, no final da década de 1990, teve uma queda acentuada de popularidade não só
no Brasil, mas no mundo todo. A modalidade acabou sendo substituída pelo MMA, que
também sempre teve a participação de brasileiros, porém só virou o fenômeno de mídia e
popularidade que é atualmente após o aparecimento de competidores vitoriosos como
Anderson Silva, Mauricio Shogun e Junior “Cigano”. No entanto, a longo prazo, nada garante
que o MMA, esporte novo na preferência do público brasileiro, continuará sendo o sucesso
que é, caso a fase dos atletas nacionais venha a não ser mais de vitórias.
Conclui-se que somente o futebol resiste, como assunto predominante na mídia, a
um grande período sem vitórias. Qualquer outro esporte depende de ídolos e de bons
resultados para continuar popular no Brasil.
Desta forma, percebe-se que a internet é, hoje, um importante instrumento para a
publicação de informações do jornalismo esportivo segmentado, que não possui a garantia de
espaço nas pautas dos veículos tradicionais como jornal impresso, rádio e TV, dependendo de
forma excessiva da presença de ídolos e vitórias para ter popularidade e, consequentemente,
espaço na mídia. A possibilidade de levar até o público interessado informações sobre
esportes não tão populares no Brasil, aliada à liberdade editorial propiciado pelo espaço
democrático da internet, faz com que publicações como a Warm Up mantenham-se ativas e
abre um horizonte para os profissionais que almejam trabalhar com este importante, mas não
tão valorizado lado do jornalismo esportivo.
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ANEXO 1
Entrevista com Victor Martins (Jornalista, Editor-chefe Revista Warm Up e Site Grande Prêmio).Realizada por e-mail.
1) Pelo grau de especialização exigida do profissional, o jornalista de automobilismo tem a devida valorização no mercado? Pelo numero reduzido de profissionais, por atuar como “agência de notícias” abastecendo boa parte da mídia nacional, você acha que a cobertura corre o risco de ficar pasteurizada?
Alexandre, a maior parte dos jornalistas de automobilismo, diria que 70% dela, não entende do que está falando. Tem gente que nunca guiou um carro na vida. Não que seja imprescindível, mas ter conhecimento de um carro é muito mais valioso do que você transformar um boleiro em comentarista de futebol. Se você precisar de um comentário técnico, é importante – não duvidaria que, daqui um tempo, inventem um “engenheiro” nas transmissões, como já acontece na Itália (RAI), por exemplo. O jornalista de automobilismobom não tem a devida valorização, esteja certo disso. Também porque o automobilismo em si, no caso do Brasil, não tem proporcionado aos bons jornalistas atuação. A maioria deles vai conforme o meio – não à toa, há muitos jornalistas que são assessores de imprensa, que acabam, vez ou outra, conflitando interesses; exemplo: um piloto da Stock Car que foi punido pela CBA. Tanto ele quanto a entidade tem o mesmo assessor de imprensa.Além disso, julgo os profissionais que estão fazendo cobertura ‘in loco’ da F1 atual extremamente falhos na condução de seus trabalhos. Ao que parece, formaram um ‘pool’, em que não defendem seu veículo de trabalho ou sua atuação, mas, sim, os interesses pessoais mútuos. Não há furo de reportagem, matérias especiais, pouca coisa é trazida. Daí ser pasteurizada.Aqui na Warm Up, temos uma liberdade editorial irrestrita e fazemos um trabalho investigativo, sem estarmos amarrados a ninguém. Pagamos um preço pela independência, mas é recompensador ver que se trata de algo bem feito e diferenciado.
2) O público atualmente busca mais notícias sobre qual modalidade? Continua sendo a F1 ou outras têm ganhado espaço?
O carro-chefe do automobilismo é a F1, não adianta. É porque foi a categoria mais difundida e que o Brasil se deu melhor. Agora que os brasileiros não ganham nada é que diminuiu um pouco a diferença para as demais categorias – não que o interesse pelas outras tenha aumentado consideravelmente. A quantidade de gente que vê F1 pela TV quase que caiu pela metade em 4 anos, e isso é muito significativo. Brasileiro, em geral, gosta de ver vitória de um igual seu. Ainda não há a cultura de se amar o esporte ou um ídolo “xeno” pela massificação que os meios de comunicação, principalmente a TV Globo, fazem para que o pachequismo sobreviva.
3) A cobertura na era Piquet-Senna era mais “fácil” que atualmente? Na sua opinião, porque o brasileiro tende a se interessar apenas por esportes que tem um compatriota em evidência? Outros países também são assim ou é uma característica particular do Brasil?
Eu realmente teria pouco a acrescentar nisso porque não cobria a F1 na época dos dois, mas era uma cultura mais “puritana”, em que se valorizavam a TV e os jornais. Então eles eram
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a expressão da realidade e consumidos a pleno porque a F1 estava muito em alta. Era mais fácil no sentido de que não havia tanta gente cobrindo, não havia uma internet em tempo real para jogar notícias.Sobre o interesse do brasileiro, é algo interessante: até os anos 70, o brasileiro era sempre visto como pobrezinho, aquele complexo de inferioridade que vez ou outra aparece, “só um brasileirinho naquele mundão”. Quando Emerson deu o pontapé para os títulos e Piquet e Senna mantiveram a boa fase, o brasileiro passou a se achar como no futebol – e, de novo, a TV fazendo a lavagem cerebral ajudou muito: era o melhor do mundo. Qualquer derrota no esporte passou a ser vista como um absurdo. Como um alemão pôde ter passado Senna? Como agora a Alemanha passou o Brasil em menos de 20 anos em termos de títulos mundiais? É claro que em todos os países seus povos admiram mais esportistas locais do que os de fora, mas no Brasil se ensinou que estrangeiro é inimigo. O brasileiro nunca erra. O brasileiro não é desonesto. O outro, se ganha, tem um pormenor. Foi roubado.
4) A Warm Up 18 traz uma reportagem sobre os 20 anos que o Brasil está sem conquistar títulos no automobilismo. Como você enxerga o futuro da cobertura no país, caso esse cenário persista por mais tempo?
Por um tempo, chegou a se pensar que o automobilismo poderia conviver com o futebol enquanto esporte prioritário no Brasil. Hoje o vôlei já passou, o MMA vai passar fácil, se o basquete se reorganizar, também vai pra frente, e o automobilismo só tende a cair. Não produzir ídolos, nesta cultura já dita, representa perda de interesse. E quando o interesse se vai, o jornalista tem um público menor pra escrever. E o veículo de comunicação começa a destinar menos espaço e demanda para tal. A F1 na Globo começa minutos antes das corridas. A Stock Car mal tem sua temporada passada ao vivo. A Indy, absurdamente, não terá transmissão ao vivo nem da Bandeirantes nem do Bandsports. Eu não entendo como é que os patrocinadores renovam seus acordos sendo que não estão sendo exibidos no horário programado. Qual a graça de ver uma corrida em VT? A TV está acabando com sua cobertura de automobilismo, é a verdade. E a tendência é essa, mesmo, até que não surja alguém “interessante”.Os jornais devem continuar os mesmos: Folha, Estadão e Lance!, em parcerias com rádios (Globo, ESPN e Bandeirantes, respectivamente), além da rádio Jovem Pan (parceira do site Tazio). Nós estamos buscando patrocínios para cobrir a temporada inteira da F1 ‘in loco’. Julgamos importante fazer 1) uma cobertura diferenciada e 2) uma cobertura honesta, ao nosso público fiel, em respeito a ele.
5) Quem pode trabalhar com jornalismo automobilístico e quais as dicas que você dá para quem está começando na carreira e se interessa pelo assunto?
Teoricamente, quem tem conhecimento (acompanha corrida, tem bom português e inglês, quem se interessa pelo assunto). Na prática, hoje estão indo muitos jovens (e até nem tanto) que gostam de corrida e se contentam em tirar foto e falar pelo Twitter com os pilotos. A dica que posso dar não deve fugir a nenhuma que qualquer um daria: aperfeiçoar-se, ser um diferencial, ir atrás, ter fontes confiáveis, checar a informação, ouvir os dois lados, jamais inventar algo, as regras básicas do jornalismo. E procurar saber do que e de quem está falando: mergulhar nas histórias dos pilotos e das equipes, saber o que significam os termos, ter noções básicas da parte técnica de um carro, conhecer as pistas. Conhecer. Saber. É o que vale. E muito.
ANEXO 2
Entrevista com Fábio Balassiano (Jornalista, blog “Bala na Cesta” do Portal UOL)Realizada por email.
1) Como é ser um jornalista especializado em basquete no "país do futebol"? O profissional tem a devida valorização do mercado? Na sua avaliação, a cobertura é bem feita no geral?
Vamos lá, em três partes: a) Não é fácil ser jornalista de qualquer coisa diferente de futebol, em termos esportivos, no país. As informações não são tão "fáceis", as assessorias de imprensa ainda estão engatinhando e as divulgações das entidades também. De todo modo, é uma adequação que você precisa fazer - e que é boa para o jornalista, que não se acomoda quando a informação não chega a si. É preciso correr atrás, fuçar, investigar, apurar. É divertido.b) Acho que a valorização dos jornalistas que cobrem os esportes (com exceção do futebol) varia de acordo com os resultados internacionais de suas modalidades. A turma do vôlei está bem. A do basquete, menos. É cíclico e faz parte.c) A resposta padrão seria dizer que "sim, é bem feita". Mas eu não curto. Existe um movimento sem igual no basquete que é a proliferação de blogs/sites/tumblrs/facebooks na internet sobre o assunto, mas ainda há muita imaturidade jornalística em relação a conteúdo, noticiário e formas de lidar com atletas e entidades. Até os grandes portais e jornais acabam se curvando ao diz que me diz e não apuram como deveriam. E estou falando da CBB, entidade que faz uso ruim de dinheiro público e que há 15 anos não faz muita coisa boa pelo basquete.Na internet, o número de sites é muito bom, mas o conteúdo, não (e eu me inclui aí). Existe, hoje em dia, um "tesão" pelo furo que é irritante demais. Acho que esse "tesão" é péssimo para uma modalidade que precisa muito pouco de informações rápidas e muito de informações bem dadas. Ao invés de nós, conteudistas, nos preocuparmos em darmos a melhor notícia, o que se vê é uma turma querendo dar a notícia mais rápida, como se isso fosse o "melhor do jornalismo". Óbvio, nem todos são jornalistas, mas a questão do conteúdo e da reverência às entidades é absolutamente preocupante. Jornalismo é sempre oposição, como diria Millor Fernandes. Não é o que se vê no basquete, e o que preocupa ainda mais é que a massa não consiga diferenciar o que é bom e ruim. Pensei que era apenas no futebol...
2) Quais são hoje os principais meios de divulgação do trabalho?
Os meus são o UOL, onde meu blog está hospedado, o twitter e os blogs que acabam divulgando o meu trabalho. Não tenho uma agência de marketing para me promover - e nem sei muito bem trabalhar o marketing pessoal.
3) O Basquete brasileiro teve de 1996 até hoje um período complicado, fora das olimpíadas e com o enfraquecimento dos clubes. Até onde você acha que isso afetou a cobertura jornalística da modalidade no país?
Atrapalha porque há menos clubes, menos atletas de nível, mas em termos jornanlísticos isso é bom, porque você pode se debruçar sobre os motivos que levaram a isso nos últimos anos. Acho que é o que mais tento fazer no blog. Focar menos na questão técnica da coisa, e mais
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na questão estrutural. Dá mais trabalho, é dolorido porque nem todo mundo quer falar sobre o tema, mas eu julgo absolutamente necessário.
4) Qual o nível de interesse do público hoje sobre o basquete no Brasil?
É pequeno. Conforme disse acima, o nível de interesse varia sempre de acordo com os resultados internacionais obtidos. O basquete não tem ido bem, o público esquece da modalidade. Se classifica para Londres, o público lembra. É natural e bem simples...
5) A NBA sempre foi o principal assunto da cobertura do basquete no Brasil? Você vê alguma mudança num futuro próximo? Se sim, quais as condições pra isso acontecer?
Sim, vejo sim. A criação de uma Liga Nacional e o desenvolvimento das ligas europeias fazem com que o foco mude um pouco e não se restrinja apenas à NBA. Isso é muito bom para o leitor, e muito bom para o jornalista, que não precisa ficar "parado" em apenas um tema.
6) Quem pode trabalhar com jornalismo focado em esportes especializados, como o basquete, e quais as dicas que você dá para quem está começando na carreira e se interessa pelo assunto?
Todo mundo que gosta pode trabalhar. Minhas dicas são:- Leia muito - e de tudo (não só esporte)- Estude o esporte. É uma ciência como outra qualquer- Evite clichês- Preocupe-se menos com a rapidez da divulgação da informação, e mais com a qualidade da mesma- Não se preocupe em ser "queridinho" por atletas/dirigentes. Preocupe-se em fazer jornalismo sério.- Não seja reverente em relação aos "poderes" esportivos- Seja corajoso- Leia muito
ANEXO 3
Entrevista com Flávio Gomes (Jornalista, criador da Agência Warm Up, chefe de redação da Revista Warm Up e Site Grande Prêmio. Comentarista dos canais ESPN).Realizada por email.
Qual foi a primeira equipe da Warm Up, em 1994?
[Flavio Gomes-Warm Up] Eu sozinho. Era uma agência de notícias, eu distribuía matérias para jornais, apenas. Não existia ainda a internet. Viajava, cobria as corridas pela Pan e mandava matérias para 55 jornais por fax. Na verdade mandava pelo computador para uma empresa, a ProdutoBrasil, que usava três linhas simultâneas para retransmitir para os jornais. Era uma operação cara e primitiva, quando se vê as possibilidades atuais. Mas era o que havia disponível. Em 1996 começamos a transmitir por BBS. Depois, por e-mail e, mais tarde, através de um site aos quais os jornais tinham acesso através de senha.
Quais eram as principais dificuldades da cobertura da F1 na época pré-internet? Ou nos primórdios da internet (quando o site surgiu em 1996)?
[Flavio Gomes-Warm Up] A presença física nas corridas era essencial, porque não havia o tráfego de informações que há hoje. Só sabia o que estava acontecendo quem estava lá. Em compensação, o acesso a todos era muito maior e todos falavam sem grandes frescuras. Hoje é mais fácil transmitir informação. Mas é mais difícil de obtê-las. De qualquer forma, as transmissões de todos os treinos e a cultura do press-release facilitou bem as coisas. O que não quer dizer que a cobertura seja melhor. Ao contrário, é pior e chapa branca. Jornalistas mais novos não sabem trabalhar de outro jeito, não apuram, não correm atrás. Há um comodismo geral. E não é só na F-1.
Porque a decisão de fazer uma revista somente digital e não do modo tradicional (forma impressa)?
[Flavio Gomes-Warm Up] Primeiro porque a mídia eletrônica é um caminho sem volta. E, evidentemente, por custos. Revista impressa custa muito para fazer e distribuir. É inviável.
Existe alguma idéia, no futuro, de montar uma revista impressa? Por quê?
[Flavio Gomes-Warm Up] Não, pelos motivos acima. No máximo faremos o Almanaque duas vezes por ano só para colecionadores.
Em dados que o Victor me forneceu, são em média 110 mil acessos por mês. Acredita que uma edição impressa alcançaria este público?
[Flavio Gomes-Warm Up] Não. A revista eletrônica é gratuita, por isso tem tantos acessos. Quando as pessoas têm de pagar, esse número cairá drasticamente. Não é viável economicamente. As tiragens das revistas especializadas em automobilismo são irrelevantes. Jamais vão atingir o público que atingimos no meio eletrônico.
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Ainda com os dados de acesso fornecidos pelo Victor, a edição que mais teve acessos foi a edição 6 (Setembro 2010, com 172 mil acessos) que trazia na capa Nelsinho Piquet e sua saída da F1. Te surpreendeu? Porque?
[Flavio Gomes-Warm Up] Não. Foi o maior escândalo de todos os tempos na F-1. Era natural que fosse assim.
Nessas 19 edições, qual foi a reportagem mais difícil (trabalhosa ou que exigiu o máximo de toda a equipe) de fazer?
[Flavio Gomes-Warm Up] A do doping de Tarso Marques, mais de seis meses apurando, cruzando informações, ouvindo todos os lados possíveis.
Como você destaca a atuação dos veículos destinados apenas a esportes especializados hoje no Brasil?
[Flavio Gomes-Warm Up] Não acompanho tudo, não teria como avaliar. Há nichos, a segmentação é evidente. Mas a grande dificuldade é viabilizar financeiramente esses veículos menores. No fim das contas, o grosso da mídia continua nas mãos de quem sempre esteve, por conta das relações com o mercado publicitário.