tcc geral mídia_e_evangelização_2006
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Trabalho de conclusão de curso superior em Relações Públicas.TRANSCRIPT
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Ciências da Comunicação
Curso de Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas
Mídia e evangelização:
Arquiteturas midiáticas e paralelos com programas de auditório.
Maurício Castro Pinzkoski
Prof. Dr. Valério Cruz Brittos
Orientador
São Leopoldo, novembro de 2005.
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Ciências da Comunicação
Curso de Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas
Mídia e evangelização:
Arquiteturas midiáticas e paralelos com programas de auditório.
Maurício Castro Pinzkoski
São Leopoldo, 2005
Monografia de Conclusão em Relações
Públicas. Para a obtenção do título de Bacharel
em Comunicação Social – Habilitação
Relações Públicas
3
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais, Aldoir e Clarinda, irmãos,
Alexandre, Ana Cristina e Aldoir Filho por de alguma maneira me
apoiar a cumprir esta importante etapa da minha vida. Não os
esquecerei e sempre poderão contar com a minha pessoa.
A toda minha família que é cheia de guerreiros.
A todos os professores (Efendi, Erica, Cláudia, Helenice, Ricardo,
Gilmar, Gabriela, Lauro, Nadege, Nísia, Fabrício Suzana, Vera e o
Zé) que sempre serão lembrados no decorrer dos meus pensamentos.
Aos excelentes profissionais Valério Cruz Britto e Dênis Simões pelo
apoio incondicional e força descomunal empreendida para a
conclusão dessa monografia.
4
Agradecimentos
Agradeço ao deputado Ney Lopes do Rio Grande do Norte que em
1976 propôs a criação do crédito educativo, pois sem ele não teria
condições de concluir minha formação.
Agradeço a todos que colaboraram para que esta conquista fosse
alcançada. Com dificuldades e pedras no caminho cheguei aqui com
o auxilio de vocês.
Um agradecimento especial, pois foi muito importante, ao professor
Valério e ao seu bolsista Dênis.
5
“Não é muito bom ser sábio entre tolos e lúcidos no meio de
lunáticos!”
Baltazar Gracián
6
Sumário
Resumo.......................................................................................................................................7
Abstrat........................................................................................................................................8
Introdução..................................................................................................................................9
1. Traçando Cenários..............................................................................................................13
2. Técnicas midiáticas para a conquista de corações e mentes. R. R. Soares o missionário
da televisão...............................................................................................................................25
2.1 O texto do discurso religioso...................................................................................37
2.2 entendendo os planos do programa R. R. Soares....................................................41
2.2.1 Enquadramento do orador (tabela).......................................................................42
2.2.2 gráfico dos planos do tele-evangelista Soares......................................................43
2.3.1 Enquadramento do público...................................................................................44
2.3.2 enquadramento do público (gráfico)....................................................................44
2.4 Testemunhos............................................................................................................46
2.4.1 Testemunhos de associados e milagres................................................................46
2.5 Tempo de fala..........................................................................................................49
2.5.1 Contagem, em segundos, do tempo da fala do orador e programa......................49
2.5.2 proporção gráfica do tempo de segundos do Tempo do Orador (TO) e do Tempo
do Programa (TP)......................................................................................................................50
3. Missão ou programa de auditório......................................................................................51
3.1 Palco........................................................................................................................51
3.2 R. R. Soares e os programas educativos..................................................................58
3.3 A Novela da Vida Real............................................................................................63
4 Considerações conclusivas...................................................................................................68
5 Referência Bibliográfica......................................................................................................76
7
Resumo
Uma análise de conteúdo e interesses religiosos associados à mídia televisão com
práticas de programas de auditório. Essa é uma das idéias principais da monografia Mídia e
evangelização: arquiteturas midiáticas e paralelos com programas de auditório. O presente
trabalho é composto por três capítulos que buscam responder algumas questões mais
interessantes no contato religião-comunicação-público.
Os capítulos são delineados da seguinte forma: no primeiro á uma introdução das
origens da televisão, no segundo capítulo tem-se análises qualitativas e quantitativas a cerca
dos programas de R. R. Soares da Igreja Internacional da Graça de Deus e por fim, no último
capítulo, um comparativo da comunicação de Soares com alguns programas de auditório.
Em meio a um mundo de ofertas televisivas, missionário, pastores, padres e outros
religiosos, descobriram na mídia TV uma aliada para a conquista de corações e mentes. Seus
objetivos não são declarados, mas a forma como trabalham com a televisão, essa sim é
comentada aqui.
Um pouco de respostas em meio à diversidade de estratégias comunicacionais e entre
públicos é o que essa monografia oferece.
Palavras chave:
Evangelização – auditório - mídia
8
Abstract
A religious analysis of content and interests associates to the media television with
practical of audience programs. This is one of the main ideas of the monograph Media and
evangelização: parallel midiáticas architectures and with audience programs. The present
work is composed for three chapters that they search to answer some more interesting
questions in the contact religion-communication-public.
The chapters are delineated of the following form: in first a an introduction of the
origins of the television, in as the chapter has qualitative and quantitative analyses about the
programs of R. R. Soares of the International Church of the Favour of God and finally, in the
last chapter, a comparative degree of the communication To be sounded with some programs
of audience. In way to a world of televising offers, missionary, shepherds, priests and other
religious ones, had discovered in media TV an allied for the conquest of hearts and minds.
Its objectives are not declared, but the form as they work with the television, this yes is
commented here. A little of answers in way to the diversity of comunicacionais strategies and
between public is what this monograph offers.
Keywords:
Evangelização – audience - media
9
Introdução
Em meio às novas ordens da globalização e das injunções políticas brasileiras, a
sociedade passa por mudanças profundas neste início do século XXI. A televisão, como
destaque entre os meios de comunicação, acompanha essas alterações até pelo fato de ser um
meio provido de tecnologia e com isso precisar de adaptações constantes (como necessidade
de transferência de tecnologia) ou temáticas (advindo de movimentos democráticos sociais
e/ou políticos). A própria mídia se alimenta com novas idéias e serve como ponte para
transmitir informações rápidas e pluralizadas.
Assim essas informações passam a contribuir para novos produtos, que são
consumidos pela coletividade. Produtos em rádio, jornal, internet ou a própria televisão,
gratuitos ou não, correspondem ao alimento informativo da população. No caso TV,
programas como Caldeirão do Huck e Big Brother Brasil, transmitidos pela Rede Globo, são
exemplos mais atuais do novo cenário dos veículos televisão.
Contudo, a exigência por parte dos receptores (pessoas que consomem determinados
programas produzidos pela mídia) passa pela necessidade de transformação progressiva dos
conteúdos, havendo introdução de filtros de rejeição e, em menor escala, discussões sobre os
temas.
Inseridas nesse cenário, algumas emissoras de televisão trabalham com conteúdos que
vão ao encontro dos anseios da sociedade e, dentro da nova safra de produtos televisivos, um
tipo merece atenção especial. Trata-se do programa religioso. Pode-se citar como referência,
os programas da Igreja Internacional da Graça de Deus, da Igreja Católica e também os
programas da Igreja Universal do Reino de Deus. No primeiro caso, apresentado por um tele-
evangelista e, no segundo, por um padre. Os tele-evangelistas são missionários ou pastores
que pregam a palavra de Deus através da TV, religiosos preparados com o dom da palavra
para a pregação da evangelização.
Procurando entender como esse tipo de construção televisiva ocorre num programa
religioso, buscou-se, através desses pastores, encontrar os pontos levantados pelos principais
teóricos da comunicação. Como forma de proceder a esse estudo foi analisado o missionário
Rodomildo Ribeiro Soares, também conhecido como R. R. Soares. Ele trata de discursos
evangélicos, com temas do cotidiano, mas apresentados de forma tecnológica e envolvente. A
verbalização e os elementos de transmissão de informações e conhecimentos efetivada entre
ele e seu público deve ser estudada a fim de que se entendam os motivos de crescimento
10
dessas religiões (evangélicas), em especial a Igreja Internacional da Graça de Deus por ele
representada.
Soares apresenta dois programas Show da Fé (transmitido de segunda a domingo em
horários variados) e o programa que leva seu nome, transmitido nas segundas, quartas e
sábados, das cinco às 7 horas. 1 Os programas têm características muito próximas. O Show da
Fé é transmitido em horário nobre e é composto de quadros como Pergunte ao Missionário.
Além disso, têm 52 minutos, enquanto o programa que leva seu nome, R. R. Soares, tem
como diferencial, uma permanência maior da sua pessoa, como orador principal. Por esse
motivo, o foco deste trabalho será o missionário R. R. Soares.
Neste sentido, a problemática de pesquisa envolve as seguintes questões:
1) A comunicação do orador R. R. Soares seria a mesma se seu programa não
dispusesse de um auditório com público?
2) Qual a participação efetiva do público na construção do texto do orador?
3) Qual a paridade da comunicação entre o orador R. R. Soares e o público existente
em seu programa, em relação aos principais programas de auditório do Brasil?
Deve-se, como o objetivo principal do trabalho de conclusão do curso de
Comunicação Social Habilitação em Relações Públicas, pesquisar o processo de comunicação
do missionário R. R. Soares.
Por conseguinte, tem-se o objetivo específico:
1) Estudar a relação público e tele-evangelista.
2) Analisar os elementos comunicacionais usados no programa.
3) Verificar se, havendo depoimentos, esses influenciam no discurso.
4) Observar a participação do fiel.
Cabe salientar que – com mais intensidade – o pregador fala e age como se conhecesse
quem está do outro lado da tela. Ele se comunica demonstrando estar dialogando com o
telespectador. Para entender o porquê de este profissional estar cada vez mais íntimo do
receptor é que se buscou estudar a sua construção discursiva:
Contribuindo para as novas formas de permanência da religião na esfera publica os
processos midiáticos apresentam-se como uma instância organizadora de operações
1 ONGRACE. Programação. Disponível em: <http://br. www.ongrace.org>. Acesso em: 20 out. 2005.
11
tecno-simbólicas que são apropriada pelo campo religioso para dar forma e instituir
um novo tipo de discurso religioso. 2
Entendendo o discurso religioso e a comunicação do tele-evangelista, é possível
compreender qual a mensagem que a instituição tenta passar. Será possível observar quais
objetivos estão por trás desta figura, que funciona como porta voz da igreja. Às vezes essas
observações passam despercebidas ao olhar do telespectador, que nem se dá conta de todo o
jogo de interesses que há por trás deste discurso e acaba sendo capturando facilmente pelas
idéias que estão sendo ditas. Esse trabalho visa mostrar que na retaguarda de tudo que diz um
pastor midiático da Igreja Internacional da Graça de Deus há mais do que um simples discurso
religioso sem pretensões.
A amostragem utilizar-se-á da análise correspondente a um total de 11 edições do
programa R. R. Soares, veiculado no canal 10 de Porto Alegre, pertencente à Rede
Bandeirante de Televisão. O período escolhido, de três de setembro a três de outubro de 2005,
se deu de forma aleatória, em função deste não interferir na maneira que se dá à construção do
programa do tele-evangelista pela emissora. O programa R. R. Soares vai ao ar – segundo
consulta á grade de programação do jornal Correio do Povo das edições dos dias 20, 23 e 25
de agosto de 20053 - nas segundas e quartas-feiras e aos sábados, das 5h às 7h, apresentado
pelo próprio missionário R. R. Soares e também com alguns pastores convidados.
Todas as edições foram gravadas em fitas de vídeo VHS e as imagens captadas de uma
antena de VHF. Nas gravações foram incluídos os comerciais (sem utilização e análise), por
situações técnicas. Algumas edições poderão ter falhas, tendo a imagem e o som prejudicados,
em função de problemas técnicos de captação, por causa do mau tempo. Mas esse dado não
atrapalhará a análise desta pesquisa.
A primeira parte da apreciação se constituirá numa análise quantitativa, verificando o
tempo de fala dos pastores da televisão em cada programa, os enquadramentos usados para
focá-los, a postura, signos (como, por exemplo, a Bíblia) e palavras mais ditas. Enfim, na
segunda parte haverá um mergulho nos dados, com base qualitativa. De posse desses dados,
será feita uma inspeção para verificar como essas observações (considerando o uso de
imagens, objetos e outros incrementos mais, no discurso do tele-evangelista) se tornam
relevantes na construção da imagem do pregador e seu discurso.
2FAUSTO, Antonio Neto, A Igreja Doméstica: Estratégias Televisivas de Construção de Novas
Religiosidades, in Cadernos Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo: editora Unisinos. 2004. 3 IBOPE, Pesquisa, Disponível em <http://www.almanaqueibope.com.br/asp/busca_tabela.asp>. Acesso em: 31
out. 2005. 3 Correio do Povo, Programação, Porto Alegre, dias 20, 21, 23 e 25.p.24.
12
O uso de objetos nos cultos televisivos também é uma importante forma de atração
dos tele-evangelistas. Sinal da necessidade das classes mais desesperadas de resolver
seus problemas através de um meio material. A Bíblia agitada pelo pastor, a figura
de Jesus como um grande empreendedor, a compara de objetos que legitimam a
ação. 4
Comenta-se ainda, a importância do uso de objetos no decorrer dos cultos. Bíblia,
gestos rápidos, expressão de voz, são componentes importantes na construção desse discurso.
Dessa forma, para avaliar a maneira que os discursos dos tele-evangelistas da Igreja
Internacional da Graça de Deus são criados (dialogo e interação com seu público) são
analisados certos quesitos levantados por alguns autores descritos neste trabalho, como, por
exemplo, o grau de informalidade de o programa estar ligado ao horário de veiculação. Ainda
é observada, na análise, a maneira com que esse tele-evangelista dialoga verbalmente, o
conteúdo ideológico das falas, se no discurso são usadas falas que buscam uma interação entre
o destinador e o destinatário, criando, desta maneira, uma ilusão de diálogo:
O impacto dos conteúdos ideológicos metropolitanos (novo estilo de vida, novas
opiniões, toda a pletora de bens e serviços da moderna sociedade de consumo) sobre
comunidades fechadas, com sua poderosa carga pedagógica, é capaz de alterar
comportamentos e de remanejar atitudes. Modernização não significa, entretanto,
desenvolvimento real das possibilidades humanas e políticas dos indivíduos. 5
A análise do impacto dos conteúdos tem importância na construção do discurso, pois é
usada como base para interação entre os públicos. O uso de assuntos do cotidiano aproximada
quem fala de quem ouve. Há uma interação por familiaridade de pautas.
Nesta parte da análise haverá também algumas transcrições das falas do pregador do
programa. Algumas frases relevantes serão transcritas verificando-se a exposição de idéias e o
uso do poder de convencimento de Soares.
É preciso ter cuidado para não desrespeitar o telespectador, o que pode acontecer se
o emissor não transmitir sinceridade naquilo que diz se tentar enganar o
telespectador com argumentos falsos ou então apelar para o convencimento a partir
da exposição de idéias irreverentes ou autoritárias. 6
A presente investigação está estruturada em torno de três capítulos, que examinam os
seguintes aspectos:
Num primeiro momento, é feito uma explanação genérica do assunto em questão. Ele
será composto de religião, televisão e por fim, religião e televisão juntas. Um pouco do
desenvolvimento das religiões desde o seu surgimento até os dias de hoje abrirá o capítulo; a
seguir será comentada a respeito da história da televisão, ressaltando quando nasceu e
localizando-a no Brasil do século XXI (para que o leitor situe-se a respeito do surgimento e
4 GOMES, Pedro. Processos Midiáticos e a Construção de Novas Religiosidades. São Leopoldo: Unisinos,
Programa de Pós Graduação da Comunicação, 2004. 5 Muniz , SODRÉ. O monopólio da Fala, Rio de Janeiro, 1998.
6 GOMES, Pedro. op. cit.
13
desenvolvimento deste meio de comunicação); por fim, será apresentada uma conexão entre
religião e televisão: o que os tele-evangelistas têm feito, visão da religião via televisão e o
discurso do missionário R. R. Soares.
O capítulo seguinte trata de uma exposição de dados quantitativos e qualitativos em
paralelo com programas de auditório. Os dados quantitativos referem-se à quantidade e tipo
de ângulos, tempo de permanência do orador no programa e quantidade de palavras mais ditas
que, por conseguinte constroem o discurso. Já a base de dados qualitativos, refere-se aos
quadros expostos no programa de Soares. A Novela da Vida Real, Pergunte ao Missionário e
Abrindo o Coração, são as fontes para análise do conjunto da comunicação religiosa
mediatiza de Soares.
Já no terceiro capítulo, serão comparados os dados qualitativos e quantitativos, frente
ao que o mercado televisivo brasileiro oferece. Os programas balizadores serão o Domingão
do Faustão e Domingo Legal.
Assim sendo, o próximo passo é composto das considerações conclusivas e o
fechamento da monografia Mídia e evangelização: Arquiteturas midiáticas e paralelos com
programas de auditório.
14
Traçando cenários
A comunicação é um fator que existe desde que o homem é homem, seja do início dos
tempos ao homem desse século. Desde o tempo das cavernas, nossos antepassados mais
primitivos, já trocavam informações para garantir sua sobrevivência da coletividade. Por isso
determinadas raças prosperaram e outras sucumbiram ao longo dos tempos.
Através de pinturas rupestres, nas cavernas que até hoje são estudadas, ou por tradição
de pai para filho o homem continua a transmitir conhecimentos através de suas relações.
Mesmo que esses conhecimentos não sejam para a sobrevivência de uma raça e sim para
prover interesses próprios.
Porém, ainda que primitiva a comunicação do homem das cavernas, ela indicava
muitos elementos que podem, sim, serem estudados até hoje. Pinturas rupestres com ambições
teológicas e os fenômenos da natureza são indicativos de comunicação que colaboravam para
a manutenção desse homem. Nossos antepassados não se preocupavam com detalhes. Para
eles as pinturas representavam algo a ser conquistado, logo, se houvessem detalhes o animal
pintado já teria sido capturado. Eram pinturas ambiciosas. Dessa mesma maneira eles também
se comunicavam com os deuses, desenvolvendo técnicas através da produção de imagens e
sons que os representavam. Logo, com esses Deuses idealizados, era possível um diálogo.
Essas crenças se constituíam como fugas e explicações aos aspectos do cotidiano, até por
essas razões nossos antepassados eram politeístas agregando acontecimentos a sua respectiva
divindade.
Passaram-se séculos, outros povos continuaram com o desenvolvimento da
comunicação. Já na Grécia a comunidade democrática tinha na comunicação sua base social.
Com praças próprias para o diálogo, chamadas de ágoras, expressavam-se e colaboravam
para o incremento da sociedade baseada na comunicação social.
A ágora grega era o espaço no qual a limitação da esfera pública urbana estava
claramente decidida: aí se praticava a democracia direta, sendo o lugar, por
excelência, da discussão e do debate de idéias entre os cidadãos. A ágora
normalmente se delimitava por um mercado, uma stoa e demais edifícios, sendo que
dela era possível ver a acrópole, a morada dos deuses na mitologia grega.7
Ao mesmo tempo em que os gregos desenvolviam sua comunicação social com
democracia em praças públicas, eles também tinham sua teologia preservada. Através da
mitologia que os antigos gregos construíram sua condição social. O desenvolvimento dos
gregos, na comunicação, não passava apenas pela oral, eles trabalhavam a arte em esculturas e
7 WIKIPÉDIA. Praça. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a>. Acesso em: 20 out. 2005.
15
também na escrita. Livros como Ilíada8 e Odisséia
9 são referências literárias ainda no século
XXI.
Já no império Romano, varias modificações nas estruturas sociais e políticas
aconteceram. Com destaque às forças militares, o regime tornou-se opressor e a democracia
reduzida a focos resistentes. Com o cristianismo houve a transição do politeísmo ao
monoteísmo, resultando em mudanças culturais. Através dessas alterações no império
Romano, todos os povos dominados por ele foram obrigados a aderirem a nova tendência
religiosa, cultuando assim Jesus Cristo, promovendo o cristianismo por diversos povos e
culturas.
O cristianismo dentro da Europa constituiu, oficialmente, a Igreja Católica Apostólica
Romana, que com o passar dos anos sofreu uma ruptura interna por forças de poderes
próprios. Isso fez com que surgissem dois novos grupos, os católicos ortodoxos (oriente) e os
católicos romanos (ocidente). A própria comunicação e a forma de cultuar, fizeram com que à
distância entre os dois grupos aumentasse, nascendo novas formas de expor a religiosidade,
foram surgindo ao longo dos tempos caracterizando de forma mais clara a igreja oriental da
ocidental.
O poder do papado já estava enfraquecido. O Papa Alexandre VI apoiava monarcas
sanguinários e tentava vender indulgências. Era uma Igreja Católica do ocidente com muitas
terras, mas pobre. Nesse cenário, revoltado com ações diretas da igreja, o monge Martinho
Lutero promove a Revolta Protestante. No Consílio de Trento10
há a oficialização da
separação entre católicos e protestantes. 11
Com o protestantismo aconteceram processos de comunicação que inovaram as
relações das novas igrejas e os fiéis. Dessa revolva oficializaram-se novas religiões, entre elas
a Anglicana12
(Inglaterra), Calvinista13
(França) e Luterana14
(Alemanha).
8 A Ilíada [...] é um poema épico grego que narra os acontecimentos [...] da Guerra de Tróia e cuja gênese radica
na cólera "inumana" [...] , de Aquiles. O título da obra deriva do nome grego de Tróia, Ílion. WIKIPÉDIA.
Ilíada. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada>. Acesso em: 20 out. 2005. 9 Odisséia [...] é um poema [...] em 24 cantos atribuído, [...] a Homero. WIKIPÉDIA. Odisséia. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Odiss%C3%A9ia>. Acesso em: 20 out. 2005. 10
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, [...] convocado pelo Papa Paulo III [...] O Concílio de Trento
foi o mais longo da história da Igreja: é chamado Concílio da Contra-Reforma. Emitiu numerosos decretos
disciplinares [...] A nova missa estandardizada tornou-se conhecida como a "Missa Tridentina", [...] Regula
também as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na eucaristia. WIKIPÉDIA. Concílio de
Trento. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento>. Acesso em: 20 out. 2005. 11
VASCONCELOS, Yuri, O triunfo da cruz. Aventuras na história, São Paulo, ed. 16, p. 30-39, dez. 2004. 12
A Igreja Anglicana, ou Igreja de Inglaterra, [...] é o tronco principal da Comunhão Anglicana Mundial, [...] foi
o resultado [...] do corte de relações com a Igreja Católica Romana no reinado de Henrique VIII de Inglaterra.
WIKIPÉDIA. Anglicanismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Anglicano>. Acesso em: 20 out.
2005.
16
No campo da cultura, Lutero defendia que todos os cidadãos (também as mulheres!)
deviam saber ler, para, ao menos, entenderem as Sagradas Escrituras. Por isso, a sua
primeira medida foi à tradução da Bíblia para a língua alemã.15
Como uma das alterações provenientes do protestantismo, por exemplo, há uma forma
de repensar o modo como o conteúdo da Bíblia é passado aos fiéis, na questão dos luteranos.
A inclusão da mulher e o acesso à bíblia traduzida, acrescem a essas comunidades uma
semente de novas visões.
A partir de agora todo um conjunto de ações fez com que a Igreja Católica repensa-se
sua forma de discursar, lançando a Contra-Reforma16
. O próprio incentivo à alfabetização,
para discussão de assuntos teológicos, propiciou transformações intelectuais, que foram
sentidas na sociedade. Os fiéis deixam de ser passivos, passando a dialogar e interessar-se por
novos assuntos.
Passada as reformas, parte dessas novas igrejas acabam por denominar-se evangélicas.
Ocorreu uma reorganização das igrejas cristãs européias, assim como a formação de
comunidades religiosas independentes (divisões tanto provenientes dos católicos quanto dos
protestantes). A própria colonização da América propiciou novas expectativas aos
movimentos religiosos, seja pela cristianização dos índios, seja pela comunidade européia ali
instalada.
Diferente dos primórdios do Brasil, onde a religião católica era a única permitida, o
país do século XXI está repleto de varias crenças, cristãs, afro-brasileiras, muçulmanas,
judaicas, espíritas, entre outras. Mesmo com a configuração variada, no panorama religioso
brasileiro as comunidades cristãs ainda representam a imensa maioria.
A comunicação concatenada com todas suas pluralidades e também as pluralidade das
inúmeras igrejas estabelecidas no Brasil tem auxiliado no processo de conquista e manutenção
de fiéis. Instituições, como a Igreja Internacional da Graça de Deus (foto II), deixaram de
fazer cultos como nas décadas passadas, pois em tempo passados, não havia meios que
colaborasse para uma comunicação tão versátil e diversificada como tem no século XXI.
13
O Calvinismo recebe o seu nome de João Calvino, que exerceu uma influência internacional no
desenvolvimento da doutrina da Reforma Protestante, [...] o Calvinismo é também o resultado de uma evolução
independente das idéias protestantes no espaço europeu de língua francesa, surgindo sob a influência do exemplo
que na Alemanha a figura de Martinho Lutero tinha exercido. WIKIPÉDIA. Calvinismo. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Calvinismo>. Acesso em: 20 out. 2005. 14
Igreja que foi fundada a partir do movimento de Martinho Lutero. 15
LUTERO, Base de dados, Disponível em: <http://www.lutero.com.br/vida_de_lutero_reforma.php>. Acesso
em: 20 out. 2005. 16
Com avanços do protestantismo e com a perda de fiéis, bispos e papas reúnem-se na cidade italiana de Trento
objetivando traçar um plano de reação. [...] Catequização dos habitantes de terras descobertas, através da ação
dos jesuítas; Retomada do Tribunal do Santo Ofício - Inquisição : punir e condenar os acusados de heresia [...]
evitar a propagação de idéias contrárias à Igreja Católica. SUA Pesquisa.com. Reforma Protestante e Contra-
Reforma. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/protestante>. Acesso em: 20 out. 2005.
17
Assim sendo, os cultos evangélicos fazem-se compostos por verdadeiros shows como é o
título de um dos programas do Missionário R. R. Soares.
Mas e a comunicação e a televisão? Quem quer comunicar quer dizer algo a alguém.
Mas o quê quer dizer comunicar? Comunicar significa tornar comum; por em contato ou
relação. Travar ou manter entendimento; entender-se.17
O ato de comunicar pode ser muito
além da voz, escrita ou da imagem. Comunicar vai pela via do relacionamento. Todo ser
humano que se relaciona, se comunica. É insociável a comunicação das relações. Com esse
preceito, pode-se afirmar que através das relações de confiança são criados vínculos entre
determinados públicos, regulamentados por conjuntos de regras técnicas em determinados
meios. Por exemplo, no meio jornal impresso, há formas precisas e disciplinadas na
construção de texto. Evidente que tem variação, mas as regras existem para regulamentar e
padronizar determinadas formas de se dizer algo. Já no rádio, a comunicação é feita de forma
dinâmica. Ela pode ser trabalhada com frases muito curtas e com a inserção de efeitos sonoros
que dificultam ou mesmo colaboram para que a mensagem do receptor seja transmitida da
melhor forma possível.
Por conseguinte a televisão trabalha com uma das formas de comunicação mais ágeis
que existe.
A televisão desperta os mais íntimos desejos do telespectador. É nela que ele gosta de
ver tragédias e os coisas que não pode fazer é que são transmitidas por esse meio. Eugêncio
Bucci comenta:
A maldade é essencial para que o bem seja eficiente. Até mesmo a novela [...], que
nunca foi católica (ao contrário sempre foi o tradicional festim de traições e de crimes).18
É a rapidez com que um flagrante pode ser filmado, a dinamicidade de entrar ao vivo
em um programa de televisão mesmo estando a mais de 10 000Km de distância. Em outras
palavras, a comunicação aproxima as pessoas, e faz com que o longe, inatingível, seja real ao
menos por um determinado período de tempo.
Assim o que se pode considerar, mais para o futuro, observando as
empresas/instituição que vão continuar a prosperar, são aquelas que se preocupam com a
opinião dos leitores, das suas mensagens.
Logo, partindo desse pressuposto de que a comunicação via televisão, funciona como
uma das vias modernas de comunicação muito utilizada pelos homens do século XXI,
17
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio. 2.ed.Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1988. p. 126. 18
BUCCI, Eugêncio. Brasil em tempo de TV. São Paulo: editora Boitempo, 1997.
18
considera-se um meio de comunicação de massa (MCM)19
, característica tal que populariza
estratégias televisivas e faz da televisão o meio mais popular dentre as opções rádio, internet,
jornal ou revistas.
Os MCM ajudam a quebrar a identidade cultural na medida em que recolhem os
produtos de seus lugares de origem e os multiplicam em grande quantidade,
vendendo-os ou transmitindo-os a milhares de pessoas em territórios e regiões
diferentes.20
Ora para se transmitir um enlatado americano ao mercado brasileiro ou qualquer outro
mercado, deve-se ter uma relação com os mesmos. O mínimo de conhecimento estabelecendo
assim, parâmetros para aceitação ou não de tais produtos.
É importante considerar que antes da televisão outros meios foram desenvolvidos até
chegar-se ao estágio atual de tecnologia. Não somente o desenvolvimento físico e
tecnológico, mas o desenvolvimento cultural da sociedade que é composta de expectadores
que entre si fazem comunicação. A base, mas remota da televisão, vem da fotografia.
Descoberta em 183121
por Jacques Daguerre, a fotografia foi um invento revolucionário no
mundo da comunicação.
Depois da fotografia houve o invento do cinema, posteriormente o rádio, até chegar a
televisão. Mas se a televisão teve origem na fotografia e depois na evolução do cinema, de
onde partiu todo o conjunto de profissionais e a própria cultura que formou esse espaço
televisivo?
Mais do que a invenção e a tecnologia de outros meios, a televisão absorveu idéias e
conceitos. Assim foi com o rádio, programas de auditório, antes transmitidos sem imagens e
só com sons (ainda que de baixa qualidade) faziam do rádio o início para o desenvolvimento
mais completo da TV. Ora, evidente que um meio de comunicação não brota do nada e
desenvolve-se até o século XXI e, além disso, tem grandes evoluções futuras. O que
aconteceu foi uma transposição de artistas, técnicas e idéias que já existiam e que agora
passam a serem adaptadas para um meio mais dinâmico e capaz de possibilitar um
envolvimento maior.
Pode-se tomar como exemplo o programa do Chacrinha, como era chamado, José
19
Falar à sociedade brasileira [...] mais de 160 milhões de pessoas, [...]. Em nossa história recente,
experimentamos a grande capacidade de integração dos meios de comunicação de massa e seu poder de
influenciar usos e costumes e de mudar mentalidades. Também os modernos recursos da informática acenam
com possibilidades pouco exploradas de produção, uso e difusão rápida de informação e formação. A
comunicação torna-se, assim, um espaço político em si, estratégico para a defesa da igualdade do
desenvolvimento e da paz. Meios de Comunicação. Disponível em:
<http://www.ibam.org.br/viomulher/info157.htm>. Acesso em: 21 out. 2005. 20
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão a vida pelo vídeo. 3.ed. São Paulo: Polêmica, 1989. p. 31. 21
FOTOGRAFIA. Daguerreotipia - a fotografia começa a caminhar no tempo, Disponível em:
<http://www.cotianet.com.br/photo/hist/daguerre.htm>. Acesso em: 21 out. 2005.
19
Abelardo Barbosa de Medeiros, que iniciou suas atividade como primeiro comunicador do
Brasil. Em 1956 estreou seu programa na extinta TV Tupi, em São Paulo, apresentando o
programa o Rancho Alegre, a seguir programas de auditório como Discoteca do Chacrinha,
Buzina do Chacrinha e o Cassino do Chacrinha, fizeram da carreira do palhaço do povo,
como se autodenominava, um sucesso duradouro. Seu programa mais comentado é a Buzina
do Chacrinha, último antes de falecer, transmitido pela Rede Globo de Televisão22
. Com
características muito próximas do rádio, Chacrinha utilizava-se de elementos como auditório,
piadas, efeitos sonoros, (inclusive muitos na televisão) e assim apresentava calouros para um
jurado classificarem ou ridicularizarem frente ao público ouvinte e o público do auditório.
Assim, com métodos muito próximos do rádio, a televisão facilita o acesso aos
telespectadores e ajuda na necessidade de falar como o emissor estivesse contando os
acontecimentos a um único interlocutor. Ela tem a capacidade de ser um meio intimista, que
busca conquistar a cumplicidade do telespectador e, que por isso mesmo, exige a linguagem
conversada, coloquial, própria de quem está contando confidências a um amigo.23
Porém, de
outra forma, se com as imagens, a televisão possui fatores importantes na comunicação social
ela é feita muito além de imagens e sim, também, com oratória e eventos, promovendo uma
informação a um receptor.
Logo, se a televisão apossou-se de técnicas do rádio, como programas de auditório, de
onde o rádio obteve as suas características e técnicas? O rádio tem semelhanças fortes com o
mundo do circo.24
Os espetáculos circenses nada mais são do que as origens de programas
como Domingão do Faustão (transmitido pela Rede Globo de televisão) ou Domingo Legal
(transmitido pelo Sistema Brasileiro de Rádio e Televisão-SBT). Pode-se notar semelhança
em situações como piadas apresentação de músicos, aberrações, curiosidades e desfiles de
mulheres são alguns pontos que tiveram origem remota lá nos espetáculos circenses e ainda
no século XXI, a briga continua a ser a mesma. Observa-se que os circos eram palcos que
viajavam e se instalavam em determinados locais por tempo estipulado. E o objetivo principal
desse mundo circense era atrair o maior número possível de pessoas, lotando as arquibancadas
dispostas ao público.
Nesse século as mudanças que ocorrem só vieram a agregar novas formas de
conquistas para esse mundo espetacular. A televisão não precisa mais se deslocar como o
circo fazia, os telespectadores é que vão de encontro à programação que mais interessa.
22
WIKIPEDIA, Abelardo Barbosa, Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Chacrinha>. Acesso em: 21
out. 2005. 23
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit. 24
MARCONDES FILHO, Ciro, op.cit.
20
Porém o princípio de querer atrair o maior número possível de telespectadores permanece e
assim as guerras por audiência persistem acabando por prejudicar o desenvolvimento de
programações mais completas e agradáveis. Ao povo ―Pão e Circo‖, essa expressão criada
durante o Império Romano pelo imperador Otavio25
, ainda descreve os objetivos dos
programas de auditório apresentados nesse século XXI.
Especificamente no caso da televisão brasileira, não importa mais nada ao povo, se
após um dia de trabalho ele não parar e não assistir a ―sua novela‖ ou, no domingo, o seu
programa preferido. A fórmula é antiga, mas os efeitos são reais e presentes. O programa
Domingão do Faustão tem 19 pontos de audiência e o programa Domingo Legal tem 14
pontos.26
Observa-se, dessa forma, que a fórmula pão e circo têm sua validade e sua
funcionalidade e mais, agregado a isso a televisão passa a ser referência para outro tipo de
comunicação. Sim a religião, de olho em um negócio que funciona para atrair, manter e
fidelizar ―clientes‖, passa a fazer uso do meio TV como forma de acessar e relacionar-se com
seus fiéis.
A religião, bem como a teledramaturgia, utiliza-se de temas atuais e polêmicos para
fazer com que o telespectador envolva-se no que está sendo apresentado. A Rede Globo de
Televisão, empresa com mais de 40 anos de atuação no Brasil que levou ao ar a sua primeira
novela em 1966, produzida pela cubana Glória Magadan é vanguardista nesse tipo de
programa lançando tendências, no sentido de incrementar as novelas brasileiras que são
exportadas para vários países do mundo. Com seus mais de oito mil funcionários envolvidos
direta e indiretamente, a Globo, fundada pelo falecido jornalista Roberto Marinho, coloca no
ar anualmente, mais de 4.420 horas de programação própria27
.
Mas qual é a fórmula das novelas? Elas são compostas por imprevistos e indo mais
além, por mocinho, mocinha, a ingênua, o bandido, o filho perdido que não sabe quem são os
pais verdadeiros, o velho, o jovem e o romance jovem. Em sua maioria é conectada com os
acontecimentos mais atuais, algo que esteja em evidência e que possa sair na TV.
Ao todo são três novelas diárias a Alma Gêmea (transmitida por volta das 18 horas), a
Bang Bang (vai ao ar aproximadamente às 19 horas) e a novela do horário nobre28
das 20
25
WIKIPEDIA, Abelardo Barbosa, Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ot%C3%A1vio>. Acesso em:
21 out. 2005. 26
IBOPE, Pesquisa, Disponível em <http://www.almanaqueibope.com.br/asp/busca_tabela.asp>. Acesso em: 31
out. 2005. 27
MICROFONE, História da televisão brasileira, Disponível em
<http://www.microfone.jor.br/hist_globo.htm>. Acesso em: 21 out. 2005. 28
O chamado Horário Nobre é a faixa de horário das 20 as 21hrs da televisão brasileira. Ele é considerado, por
todos as emissoras de televisão, o horário que mais possui telespectadores. Por isso seu nome e por essa razão é
o horário mais oneroso para se fazer investimentos em mídia.
21
horas, América29
. A manipulação das novelas é tão contagiante que a autora Glória Perez
afirma "A novela tem esse poder de fazer com que o país inteiro discuta um determinado
assunto‖.30
Além dessas novelas, há mais 42 programas no ar. Dentre eles destacam-se os
programas de auditório Domingão do Faustão (no ar desde 1989) 31
, TV Xuxa e o programa
Vídeo Show. As características são semelhantes observando-se o tema tratado anteriormente, o
que diferencia é o público a quem se destina os conteúdos exibidos. No caso Domingão do
Faustão, trata-se de um público muito misto, variando de idade, classe social e cultura.
Lógico que há foco de público e o relacionamento principal se dá para um público menos
capaz intelectualmente e mais descompromissado com assuntos importantes. O programa TV
Xuxa é um desdobramento do antigo Planeta Xuxa, também apresentado por Xuxa Meneguel.
O foco de público se dá sobre uma faixa mais restrita de baixinhos32
como chama Xuxa.
Antes era para crianças e até adolescentes, porém hoje33
as atenções são voltadas para
crianças na faixa de um até oito anos. Já o programa Vídeo Show, é para um público mais
adolescente que inclui adulto, sendo transmitido por volta das 14 horas. O programa é
caracterizado pelos quadros: Dê seu Pitaco, Erros de Gravação, Flagra. Além disso, são
feitas perguntas e jogos.
Evidente que a Rede Globo não optou pelo mercado da teledramaturgia sozinha. Junto
com ela outros canais como SBT e a Rede Record criam e desenvolvem novelas que já fazem
parte da cultura do povo brasileiro. O Sistema Brasileiro de Televisão surgiu a mais de trinta
anos34
, seu fundador Silvio Santos (e ainda presidente do grupo Silvio Santos) começou com
a TVS e passando, logo a seguir, com o desmantelamento do império de Assis Chateaubriand,
a adquirir as redes TV Tupi, TV Marajoara, TV Piratini e TV Continental, compondo assim o
SBT (hoje com uma novela própria no ar). Mas o programa que mais se destacou, no SBT, é
foi o Programa Silvio Santos – hoje fora do ar. Tratava-se de um programa de auditório com
muita animação e festa, como Silvio costumava dizer, auditório mais feminino do Brasil.
Compunha-se por quadros como Show de Calouros (pessoas com alguma habilidade artística
29
GLOBO.COM, Entretenimento, Disponível em <http://www.globo.com/>. Acesso em: 21 out. 2005. 30
TELEDRAMATURGIA, Frase, Disponível em <http://www.teledramaturgia.com.br>. Acesso em: 21 out.
2005. 31
MICROFONE, Domingão do Faustão, Disponível em <http://www.microfone.jor.br/hist_auditorio.htm>.
Acesso em: 21 out. 2005. 32
Baixinho é o termo que a apresentadora usa para referir-se ao seu público. Geralmente são crianças compostas
pelas faixas de idade de 1 ano até 10 anos. 33
Outubro/2005. 34
SBT.COM, Institucional, Disponível em <http://www.sbt.com.br/institucional/default.asp>. Acesso em: 21
out. 2005.
22
se apresentavam frente a jurados e eram selecionadas para passar para a próxima fase ou
desclassificadas). Mas Silvio Santos era mais que um simples apresentador, sua origem foi o
circo. Começou contando piadas e as suas habilidades aflorando no trato com o público. Um
dia Manoel da Nóbrega convida Sílvio para ser animador do quadro Cadeira de Barbeiro.
Manoel da Nóbrega35
, devido à má fé de seu sócio, fica em situação financeira delicada
pedindo a Sílvio que intercedesse por ele junto aos clientes. Santos fez mais, associou-se a
Nóbrega e ficaram sócios durante quatro anos. No ano de 1964, Santos começa sua carreira
como apresentador de televisão, e por acaso na empresa que seria anos depois sua maior
concorrente, na TV Globo. Trabalhando nas tardes de domingo, Sílvio Santos cresceu e
desenvolveu suas performances com o auditório. A seguir, veio o seu canal de televisão TVS
e, por conseguinte o SBT. Sílvio sempre manteve um estilo elegante e uma posição de
apresentador flexível e ao mesmo tempo acessível. Simpático com o público, ele ficou
eternizado por participar de quadros como Programa de Calouros, Qual é a música?, Quem
sabe mais o homem ou a mulher?, Namoro na TV, Boa noite Cinderela, Domingo no parque,
Os galãs cantam e dançam aos domingos, Porta da Esperança, Câmera Escondida, Quem
quer dinheiro?, Tentação, Em Nome do Amor e Show do Milhão.36
A história da Rede Record foi um pouco diferente. Fundada em 1953 quando só a TV
Tupy estava no ar, a Record teve seu ponto alto com programas Circo de Arrelia e Praça da
alegria, na década de 6037
. Hoje a TV Record tem, no ar, as novelas Essas Mulheres, Vidas
Cruzadas e Roda da Vida.
Essas três emissoras são as principais em se tratando de assuntos de teledramaturgia,
mas o início de tudo deu-se com a primeira emissora de televisão brasileira. A TV Tupi,
pouco mais de um ano após sua inauguração, em 1951, inaugurou o sucesso da dramaturgia
nacional com a novela Sua Vida me pertence38
. O drama tinha 15 capítulos e seu autor, Walter
Forstes, também ator, foi o primeiro homem a beijar na televisão brasileira.
Mas foi a Rede Globo, com seus altos investimentos em tecnologia e estudos da arte
da dramaturgia, que obteve um destaque e leva produtos com a cultura brasileira para além
35
Manoel da Nóbrega foi um radialista de sucesso na cidade de São Paulo nas décadas de 50 e 60. Participou da
fundação do programa A Praça da Alegria e foi sócio de Sílvio Santos no Baú da Felicidade. Faleceu em 1976.
SANTOS, A História de Silvio Santos, Disponível em
<http://www.paginadosilviosantos.com/pags/historia/livro/cap3.htm >. Acesso em: 21 out. 2005 36
SANTOS, Silvio Santos, Disponível em <http://saulo.guerra.vilabol.uol.com.br/silvio.html>. Acesso em: 21
out. 2005 37
MICROFONE, História da televisão brasileira, Disponível em
<http://www.microfone.jor.br/hist_record.htm>. Acesso em: 21 out. 2005. 38
TELEDRAMATURGIA, Telenovela Brasileira: história, Disponível em
<http://www.teledramaturgia.com.br/historia.htm>. Acesso em: 21 out. 2005.
23
das fronteiras territoriais. O Clone que tratava se assuntos como religião e drogas, rendendo
prêmios para a Rede Globo e sua autora Glória Perez39
.
Apesar de TV ter tecnologia, grandes investimentos e enormes mudanças, o princípio
permanece o mesmo com tímidas alterações estruturais para adaptar as antigas novelas do
rádio a vida agitada e corrida do século XXI.
Mas se o povo tem o pão e o circo com novelas e entretenimento (mesmo que de baixa
qualidade – esse julgamento não cabe aqui), porque ainda assim as religiões têm atingido um
crescimento tão adjacente como nas últimas décadas?
Vale lembrar, ainda, que a televisão – com seus programas de auditório – têm aquela
áurea envolvente e que baseado em todos os incrementos e assessórios tecnológicos sempre
haverá alguém discursando para algum público. As relações entre públicos são vitais e dão
calor humano para os programas. Logo surge uma pergunta, porque pastores, missionários,
bispos e padres, têm conseguido atrair fiéis para templos de fé? Destarte, em especial, como é
desenvolvida a comunicação de R. R. Soares?
Muito mais que pão e circo, o povo necessita de conteúdo. Pressões psicológicas,
financeiras, políticas e outras tantas, fazem com que o povo necessite de drogas especiais.
Não é intenção deste trabalho julgar o bem ou o mal que as religiões fazem para quem está
nela inserido. O objetivo desse trabalho é entender como a comunicação contribui para que o
crescimento da religião visa televisão, sejam incrementadas a ponto de obter tamanho sucesso
e para que instituição dita religiosa invista exorbitantes quantias de dinheiro em investimentos
nessa mídia.
Presume-se que o sucesso de programas de auditório como, por exemplo, o Sai de
Baixo,40
contribuam para esse cenário favorável. Com sua fórmula: sitcom41
sobre as
dificuldades de uma família - gravado num teatro com direito a platéia – foi o mesmo de um
programa de sucesso: A Família Trapo, produzido pela TV Record entre 1967 e 1972.42
O
envolvimento que havia do público com o programa Sai de Baixo era, por vezes, total. Mais
39
NOVELA O CLONE. Mais notícias. Disponível em < http://geocities.yahoo.com.br/novela_oclone/>. Acesso
em: 21 out. 2005. 40
TELEDRAMATURGIA, Sai de Baixo, Disponível em <http://www.teledramaturgia.com.br/sai.htm>. Acesso
em: 21 out. 2005. 41
Sitcom é um estrangeirismo, [...] versão aportuguesada para o mesmo termo: comédia de situação. [...]
utilizado em programas de rádio - nos anos 20 do século XX -, hoje é aplicado a séries televisivas ficcionais, de
humor, provindas dos EUA, as quais surgiram em meados dos anos 40 [...]. Cada episódio tem uma duração
inferior a 30 minutos e cada temporada tem direito à cerca de 20 episódios. É freqüente ouvirem-se, nas cenas
mais cômicas, gargalhadas dos espectadores em estúdio ou estas serem adicionadas posteriormente durante a
edição. WIKIPÉDIA, Sitcom, Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sitcom>. Acesso em: 21 out. 2005. 42
TELEDRAMATURGIA, Sai de Baixo, Disponível em <http://www.teledramaturgia.com.br/sai.htm>. Acesso
em: 21 out. 2005.
24
do quê ler placas, (antigos programas usavam desse artifício para fazer a platéia sorrir) o
público dessa apresentação interagia.
Seus atores, com mais freqüência o personagem Vavá, chegavam a dialogar com a
platéia. A fórmula está completa. Um palco, próximo aos espectadores, texto para orientar,
mas que possa ser improvisado, atores simpáticos e sorridentes, assuntos em pauta que fazem
o público se identificar e o tema humor. A droga do povo está pronta para ser consumida, ou
em outras palavras, ao povo pão e circo!
Além disso, pregadores como Soares, que fazem os programas, Show da Fé, R. R.
Soares, Edir Macedo, que participa do programa Seção do Descarrego (da Igreja Universal da
Graça de Deus) e outros pregadores da Igreja Católica – como padre Marcelo Rossi – que
participam dos programas A Igreja pelo Mundo, Alegria e Esperança, são exemplos reais de
que a comunicação, via televisão, contribui para o aumento de telespectadores que acabam
por se tornarem fiéis (e fiel mesmo, no sentido literal pois a pessoa fica fidelizada pelo
programa e/ou religião).
25
2 – Técnicas midiáticas para a conquista de corações e mentes.
R. R. Soares o missionário da televisão.
Este capítulo será composto de duas estruturas. Na primeira haverá uma análise
qualitativas dos dados, ou seja, quadros como A Novela da Vida Real, Pergunte ao
Missionário e Abrindo seu Coração.
Por conseguinte a análise quantitativa vai tratar de informações técnicas como: plano
do orador, tempo de permanência da sua imagem no ar e quantidade de palavras mais dita.
Dessa forma, um dos seus programas, o que leva seu nome, é transmitido no horário
das cinco às 7 horas43
. Trata-se de um painel aos moldes do Show da Fé, mas que não vai ao
ar em horário nobre. É importante relembrar que todas as edições formam gravadas em fitas
de vídeo VHS e sem a inserção dos comerciais.
O programa é composto dos quadros A Novela da Vida Real, Abrindo o Coração e
Pergunte ao Missionário. No primeiro quadro, A Novela da Vida Real, tem-se depoimentos
de homens e mulheres, que estavam à beira da morte, com doenças fatais, no entanto,
coincidentemente, passaram na frente de uma Igreja Evangélica, e lá conheceram Jesus e seus
milagres. O quadro é composto de personagens, geralmente família, pois vislumbra mais
credibilidade, que estavam perdidos e com a igreja conseguiram salvar suas vidas.
O discurso emotivo e a narração em baixo tom, da repórter, remetem a uma situação já
resolvida, mas que antes causava muita dor ao(s) ator(es) principal(is). O quadro é seu escopo
composto por: repórter (sempre começa com a narração, introduzindo o assunto), ator
principal (contando seu drama) e uma testemunha (como forma de comprovar os acontecidos)
por repetidas vezes usam-se o pai, marido, mãe, irmão ou mesmo vizinho. A seguir vem à
solução do problema narrado - novamente pela repórter - depois o fechamento do quadro.
Num segundo momento o ator principal e o coadjuvante são entrevistados pelo missionário
dentro da igreja. Em determinadas situação, como no exemplo a seguir, Soares aproveita a
oportunidade criada para oferecer algum produto. Quase sempre são livros, mas o patrocínio
é o mais comentado, uma vez que é citado em grande quantidade.
Assim, no segundo bloco, do dia 03 de setembro de 2005, com o título Jesus me
trouxe a paz e a alegria verdadeira, foi capitado a passagem abaixo:
Repórter (R): após a morte de sua mãe, Vanilson Ferreira foi morar avó materna no
interior de Minas Gerias. Ainda criança, passou a ter medo de tudo e começou a ver
vultos e ouvir vozes.
43
Correio do Povo, op. cit.
26
Vanilson Ferreira (V): eu fui morar com minha avó, lá em Minas Gerais, ela me
levava freqüentemente ao benzedor e me benzia. Lá ele me dizia que minha mãe
tinha morrido, ia me ajudar trazendo uma luz. Lá em São Paulo seu pai ficou meio
doido e foi por isso que sua mãe morreu. Melhor você ficar aqui com a gente ele
dizia. Com essa freqüência ao benzedor, eu acabei vendo vultos e a ouvir vozes. Eu
me lembro perfeitamente. Eu lembro tipo uns flasches, cenas que ficaram gravadas.
Lembro de uma vez que eu tava de noite ai eu ouvi uma voz me chamando batendo
na porta eu com aquele medo de que ninguém mais via...só eu. Ai eu comecei a ficar
com mais medo, assustado percebendo que era alguma coisa comigo por que
ninguém mais via era só eu. Ai assim acontecia freqüentemente e um dia, até que
um dia meu pai foi lá em Minas e me buscou. Trouxe-me de volta para São Paulo.
Ele queria ficar comigo. Tinha meu irmão para criar, casou teve uma nova família.
R: o tempo passou e o pai de Vanilson superou a morte da espoca e começou a
refazer sua vida. Decidiu que o filho deveria voltar para o aconchego do lar.
Observa-se a construção de uma realidade baseada na família que foi fragmentada
após a morte da mãe do ator principal. Os problemas iniciaram para Vanilson quando
começou a ouvir vozes. Há, ainda, uma crítica ao espiritismo quando o construção verbal
refere-se ao benzedor44
. Repara-se que a responsabilidade pelas visões do personagem ver
vultos, é destinada às visitas ao homem que benze. Assim, o discurso pende ao induzimento,
do pensamento, de que não há salvação sem a palavra de Deus e que todos os outros cultos e
religiões não trazem o benefício que o evangelho, pregado por Soares, som. Continue a
observar a passagem.
Pai (P): ele sabe que eu tinha perdido minha esposa quando ele era muito criança.
Ele e a irmã dele. Ai eu não tinha condições de manter eles aqui em São Paulo e
pedi que fossem morar com seus avós maternos lá no interior de Minas Gerais. Eles
ficaram um tempo lá em Minas até que eu consegui reconstruir a minha vida. Ai
graça a Deus casei novamente e trouxe de volta para minha casa. O Vanilson veio
completamente diferente. A mentalidade diferente, ele falava palavrões, ele via
vultos, eram coisas estranhas. Eu não me preocupei por que sabia que no fundo
mesmo era tudo espiritual. Como eu já conhecia a palavra de Deus, tinha lido aquele
livro do missionário R. R. Soares que fala Morte para onde Iremos.
V: ai ele falou assim ó: isso não existe, é coisa da sua cabeça, pára com essas
maluquices, amaldiçoa que isso é coisa do demônio. Quando ele começou a falar
isso eu comecei a fazer o que ele disse. Ai passou, nunca mais eu ouvi falar até que
um dia surgiu a notícia de que meu primo tinha morrido. Quando meu tio foi
conversar com meu pai ele disse: olha to ouvindo vozes e ele contando o medo
surgiu em meu coração de novo. E eu com medo comecei a ver tudo de novo. Até
que ele falou pára com isso que isso é coisa da sua cabeça. Foi o que eu fiz e daí em
diante Deus só tem me abençoado e eu parei de ver.
R: Liberto Vanilson, hoje agradece e faz a obra. Agradece a Deus pelas maravilhas
que ele operou em sua vida.
44
Sua ―profissão‖ não passa de rezar sobre a cabeça do doente. Não receita remédios, apenas benze. Os gestos
que pratica são todos idênticos ao da religião dominante: reza fazendo o sinal da cruz.
[...]; executa sua benzedura na própria casa do enfermo ou em suas peças de roupa. Suas rezas, na maioria das
vezes, deturpações das orações oficializadas pela Igreja, entremeadas de palavras incompreensíveis,
resmungadas, do latim o mais estropiado que possa ser concebido.
As benzedeiras costumam rezar mais sobre crianças. [...] Benzedor e benzedeira são os maiores ensinadores de
simpatias. TERRA BRASILEIRA. Benzedores. Disponível em: <
http://www.terrabrasileira.net/folclore/manifesto/benzer.html>. Acesso em: 24 out. 2005
27
A introdução de um pai, que resgata seu filho da família da mãe falecida e a
reintrodução dessa pessoa no seu mundo que está sendo resolvido com um novo casamento
associado ao uso da palavra de Deus, é a solução que o texto propõem-se a passar.
Com credibilidade da palavra da figura paterna, o provedor do personagem principal
orienta (pois já foi evangelizado e orientado segundo os interesses da igreja de Soares) o filho
a expulsar o Demônio, conselhos seguidos por Vanilson.
V: hoje to transformado to fazendo a obra juntamente com o pastor Ricardo lá na
Lapa, na Rua Roma 433 e pastoreando uma igreja lá no morro Doce e sempre tendo
mais bênção em minha Vida.
P: pra mim o Vanilson hoje é uma benção, é uma pessoa exemplar, ele faz parte do
grupo de pastores auxiliares da Lapa. Com pastor Ricardo, e ele toma conta de uma
comunidade lá no morro Doce. São 30/40 pessoas e Vanilson é uma benção só me
dá alegria principalmente por estar fazendo a obra de Deus, crescendo na obra de
Deus.
Palmas.
Vanilson está curado. Com ajuda do seu pai, só em pensamento, acabou com os
Demônios e hoje ajuda na construção da obra de Deus. Mensagens como essa, contribuem
para dar credibilidade a todo o conjunto do texto aplicado no contexto. Em outras palavras,
hoje Vanilson está curado porque seu pai tem uma nova família e essa é evangelizada. Pai
traga seu filho à igreja, resolva os problemas dele. A Transcrição abaixo é continuidade da
Novela da Vida Real. Observe:
Missionário (M): glória a Deus. Mas Vanilson o quê essas vozes falavam pra você?
V: não dava para identificar, chamava meu nome.
M: chamava você pelo nome?
V: Isso.
M: no início você procurava pra vê quem estava te chamando?
V: não ficava com medo.
M: mas no início de tudo, a primeira vez que te chamou será que é alguém? Pai te
chamando, mãe?
V: eu chamava meus avós. Ó vó tem alguém lá fora chamando e eles falavam: mas
não to ouvindo nada.
M: era voz masculina ou feminina?
V: masculina.
M: e visão você tinha também?
V: tinha só que era como se fosse um vulto. Passava assim, ia ver já não tinha mais.
M: e depois do conselho do seu pai você resistiu na fé e nada mais aconteceu.
V: desapareceu, amaldiçoei, expulsei o demônio e o medo foi embora.
M: e o pai...ta feliz?
P: to feliz muito feliz graças a Deus o Vanilson é uma benção. E agradeço ao Sr.
Missionário, por aquele livro Morte Aonde Iremos.
M: Morte aonde iremos?
P: que me ajudou muito nessa trajetória.
M: me empresta esse livro. Pra você que é casado, tem filhos, leia esse livro, por
favor. Isso aqui é uma mensagem que Deus me deu.45
O processo de indução do jogo das palavras discursivas fica evidenciado, pois
Vanilson ouvia vozes e via vultos, mas agora com a palavra de Deus foi tirado desse mundo
45
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 03 de set. 2005.
28
do Demônio. A agregação do testemunho do seu pai e o enredo dos familiares torna o drama
comum e acessível ao entendimento do público em geral. Pode-se notar, ainda, que quando a
repórter fala em morte, há uma identificação quase unânime. Sobre isso Fausto comenta:
Elege-se uma outra dimensão sígnica, não mais o território das palavras, mas
construções trans-discursivas muito complexas que refletem investimentos
significantes heterogêneos. Mas não se trata apenas de fazer os fiéis, via estratégias
enunciativas, se reportarem a estes novos signos, como algo que assim sendo
permaneceria na esfera abstrata. Estes signos são mobilizados e convertidos pela
―economia do contato‖ em insumos de novas práticas pela quais a magia ganha
contornos de corporeidade. Os objetos são dinamizados em novos produtos que se
desdobram continuamente, criando-se a circulação dos significantes do mundo do
sagrado.46
Todo o enredo de signos, envolto no depoimento, remete o telespectador para uma
situação de conforto e alívio frente as mais terríveis diversidades. Evidentemente que a
linguagem, os gestos, a narração, texto e todo o conjunto da trama, é estudado e feito dentro
dos padrões de convencimento. Traçando um paralelo com os programa de auditório, tem-se a
emoção e a identificação direta de quem assiste para com quem participa.
A linguagem popular (com desconexões gramaticais) demonstra humildade e tenta
construir uma relação de credibilidade, contudo pela observação da narração, vê-se que o uso
da palavra Demônio vai e volta.
Esse movimento, que reforça as crenças de quem fala e utiliza-se de vários
pleonasmos, serve como um bater de teclas repetitivas. Ou seja, Vanilson fala em inúmeras
vezes na morte, mostra a família e por fim confirma que Deus melhorou tanto sua vida, a
ponte dele transformar-se em pastor. Como se pode notar na próxima análise, a construção
desse quadro, sempre finaliza com uma mensagem que se acredita ser a mais importante.
Especificamente nesse exemplo, a mensagem subentendida é que se o espiritismo é ruim, é
coisa da sua cabeça e que sendo liberto disso, você está em Deus e até pode se transformar
em pastor.
O conjunto das informações complementares da situação expostas, ainda é formado
por ângulos lentos e planos médio, há música no início e no final do quadro.
[...] a parte acústica de um programa é mais importante para o processo de atenção
do que imagina. [...] vozes infantis e femininas vozes não comuns, feitos sonoros,
risos e aplausos excitam a atenção e prendem-na por longo tempo, o que não ocorre
com vozes masculinas. [...] o uso da música na telenovela, por exemplo, já
demonstrou sua importância para a fixação da atenção.47
Há de se comentar, também, a utilização de mulheres em quadros emotivos desta
natureza. Sobre isso um diretor de novelas da Rede Globo comenta:
46
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit. 47
MARCONDES FILHO, Ciro. op.cit.
29
[...] as mulheres são naturalmente apaixonadas, tendo a generosidade de abrir o
coração de uma maneira que em geral, os homens não se permitem. As atrizes têm
maior facilidade para demonstrar todas as gamas de amores.48
Por esse motivo à repórter do quadro é uma figura feminina e utilizam-se mais
mulheres a homens. Assim a emoção fica mais evidenciada e capaz de se aproximar da
realidade com mais êxito.
Na questão dos ângulos, deve-se comentar que assim como nos programas de
auditório, quadros emotivos dessa natureza, trabalham com ângulos mais fechados e também
muito com primeiro plano49
. A emoção estampada no rosto do ator principal é um dos
principais argumentos utilizados. Nas expressões faciais, leituras são feitas e conexões são
estabelecidas.
O programa Domingão do Faustão tem um quadro semelhante a esse. O painel Quenta
Coração é composto, geralmente de artistas da Rede Globo que ficam expostos em frente ao
público e assistem, pelo telão no fundo do palco, vídeos de pessoas íntimas que falam de
momentos que ninguém mais contaria. Por vezes, os atores choram. Não se sabe a real
emoção daquelas pessoas por que são atores e podem choram a qualquer momento. É como se
o eles – naquele instante – fossem representados ele por eles mesmos.
Silva faz surpresa para a pessoa que participará do quadro, porém evidencia-se uma
surpresa ilusória, pois os atores convidados já estão preparados e treinados para os próximos
acontecimentos. O quadro tem duração aproximada de 5 minutos, com música se completar o
clima ideal e somado, ainda, a muitos atores coadjuvantes, como já referido anteriormente.
Sobre as estratégias de discurso da televisão, Fausto comenta:
As diferentes estratégias discursivas postas em marcha pelas igrejas para
desenvolver duelos e processos de capturas do mercado da fé, não se constituem em
ações espontâneas, apesar de muitas delas serem confiadas a desempenho dos atores
religiosos, como missionários, pregadores eletrônicos, padres cantores e outros
especialistas.50
A teoria se completa na prática e com freqüência os discursos são adaptados para se
atingir os objetivos almejados. Dessa forma, toda a lógica, do esquema, assim como no painel
A Novela da Vida Real faz um grande esforço para que quem assista, além de identificar-se
com o mesmo, seja solidário com ela e assim participe do quadro composto para criar uma
situação que não existe.
48
DANIEL Filho, O Circo Eletrônico. Fazendo TV no Brasil. Rio de Janeiro, Editor Jorge Zahar, 2.ed. 2003. 49
O chamado Primeiro Plano é o ângulo do cinegrafista, que capta o apresentador de forma bem próxima. A
proximidade é tanta que só aparece o seu rosto. Um exemplo do seu uso é quando um determinado canal de
televisão está entrevistando um atleta e esse tem um boné sobre sua cabeça. O Primeiro Plano corta esse boné a
ponto de que não seja possível enxergar. Assim somente o rosto do atleta é captado. 50
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit.
30
Hoje, a televisão trabalha com esquemas. Por exemplo, há certas características na
aparência de um homem que personifica o herói da TV. Esse traços típicos são então
construídos pelos idealizadores de tipos e apresentados na tela de forma acentuada.51
Completando o comentário de Marcondes, pode-se afirmar que as aparências
personificadas vão além dos heróis e chegam ao fator apelativo da criação de personagens
pobres52
que merecem atenção e respeito.
Voltando ao quadro da Igreja da Graça, há uma construção de personagem que de
humilde passa a ser obreiro e a seguir pastor. 53
Conclui-se que de humilde, Vanilson passou
por muitas situações difíceis – e o que A Novela da Vida Real evidencia, é que quanto mais
difícil – melhor é construção do esquema a que a apresentação se propõe – deixando de ser
carente para tornar-se um herói.
De um modo semelhante são apresentados os atores no quadro Quenta Coração. No
programa do dia 06 de agosto de 2005, foi a fez da atriz Luana Pionavi. A fórmula é a mesma,
uma pessoa vem do interior, passa por dificuldade e a seguir consegue vencer na vida. Nesse
caso a associação que existe é de quem está na mídia consegue vencer e se tornar alguém mais
importante ao passo que se você está fora, é uma pessoa triste e infeliz.
Uma construção de discursos que remetem a paralelas conclusões às orações
evangélicas assim, as construções é semelhantes, mas os mundos construtivos, dessas
―realidades‖, são distintos. De um lado um programa de auditório assistido por muitos
brasileiros todos os domingos à tarde, do outro um culto transmitido pelas manhãs e composto
por uma imensa platéia em busca da palavra de Cristo. Quer dizer, é possível que mundos
diferentes montem esquemas tão semelhantes?
Sim, com o auxílio de técnicas de comunicação e teoria colocada em prática é possível
mesmo. E os signos e os clichês, são exemplos de técnicas. Veja o que Marcondes filho
escreve:
A televisão trabalha com dois esquemas básicos de comunicação que passam para
sua linguagem os fatos da realidade que pretende transmitir. São os signos e os
clichês. O signo atua em dois lados: na cabeça do receptor e no produto de
comunicação que o receptor vê, pois o produto é realizado por pessoas que também
elaboram os pensamentos como signos. A produção sígnica só tem efeito se realiza
essa dualidade de forma plena.54
51
MARCONDES FILHO, Ciro. op.cit. 52
Podre no sentido emotivo e espiritualmente. Construções nesse sentido, também são feitas e em muitos
momentos obtém o sucesso que almejam, quando esses pobres realmente são desprovidos de maiores recursos
financeiros. Desse modo, a grande massa, identifica-se quase que plenamente com a situação. 53
Pastor é o ministro religioso nas Igrejas Protestantes. O rito de investidura do pastor é chamado ordenação ou
consagração, dependendo da denominação. EVANGÉLICOS ON LINE. Bíblia on line. Disponível em:
<http://www.evol.com.br/v3/biblia/listagem.asp?procura=pastor&banco=>. Acesso em: 24 out. 2005. 54
MARCONDES FILHO, Ciro. op.cit
31
Logo, pode-se presumir que a soma de técnicas colaboram para que um mundo de
signifique façam sentidos para quem assiste. Para todas as situação á técnicas que, se bem
utilizadas, são ferramentas para manter o telespectador sempre atento.
Observe o próximo caso analisado. Captado no dia 14 de setembro de 2005 tem como
título Ele é o Deus que Restaura:
O quadro Carta começa com uma repórter narrando e segue, geralmente, com duas
pessoas. Um ator principal e uma testemunha. Veja a transcrição a seguir:
Repórter(R): Antonieta conta que estava revoltada e pensou em abandonar os
caminhos do evangelho.
Antonieta (A): eu tava muito revoltada...pelas decepções que eu tive na vida, e eu
cheguei em casa revoltada com vontade de chutar tudo, não queria mais ir a
igreja...não queria mais nada. Ai eu liguei a TV. Quando eu liguei tava o missionário
pregando, justamente no momento de associado. Falando do associado e isso me
chamou atenção e eu me revoltei. Puxa vida seu um dia eu tiver de ser associado, eu
vou ser associado de Deus não de um homem. Aquilo ficou questionando dentro de
mim. Né! O tempo passou e foi questão de meses. Continuei a olhar televisão
inclusive outros programas, mas já sentindo que tava gostando. Ai minha irmã me
emprestou um livro: Como tomar posse da benção. E eu coloquei em prática como
tomar posse daquilo que o Senhor Jesus já tinha dado pra mim, e eu coloquei em
prática essa palavra. Como tomar posse de tudo que o senhor Jesus já me deu.55
Observa-se que tem uma arquitetura de desespero e da perda da fé na introdução do
assunto. Antonieta, a atriz principal, perdeu sua crença por completo, mas começou a ver
televisão com programas religiosos. Ela assistia, também, de outras igreja e sentindo que
estava gostando do programa do missionário R. R. Soares. Procurou mais informações até
que, emprestado da sua irmã – novamente o envolvimento de familiares –, leu o livro Como
Tomar Posse da Bênção.
R: e nesse período que Antonieta estava sem esperanças, desgostosa da vida. A irmã
dela tava acompanhando. O quê aconteceu Nair?
T: ela tava assim...pouco revoltada...assim tipo fria na fé, vamos dizer assim, né!
Então foi que ela começou a assistir o programa do missionário, depois recebeu o
convite da amiga e foi, né! Gostou. Começou a freqüentar.
R: foram nove anos pagando aluguel cansou da situação e clamou ao senhor e em
dois meses, Antonieta conseguiu resposta de um processo que estava a mais de 10
anos para ser julgado.56
Surge um problema para ser resolvido por Deus. Uma oportunidade para a Igreja de R.
R. Soares. Assim mesmo, Antonieta continuou resistente aos apelos do missionário para com
o dízimo e seu patrocínio.
A: eu tinha tudo, se eu perdi...então senhor Deus é restaurador – eu frisei essa
palavra – quando o missionário falou um dia que Deus restaura tudo que a gente
tinha perdido. Que ele é o Deus da transformação/restaurador, que a gente não tinha
que se preocupar. Assim, já é seu...que você já podia tomar posse. Ai eu determinei
o que eu queria. Foram nove anos pagando aluguel então eu determinei: não meu
Deus, então a partir de agora eu não quero mais pagar aluguel. Eu vou comprar a
minha casa própria. Foi questão de três para quatro meses, eu tinha um processo
já...desde 91, processo trabalhista que o advogado já tinha dado como perdido a
55
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 28 de set. 2005. 56
PROGRAMA R. R. Soares, op. cit.
32
causa e eu lembrei no momento e eu comecei a participar das reuniões do ministro
Caetano e eu aprendi. Não meu Deus, vou colocar em prática e esse processo vai sair
e eu determinando assim em oração. E quanto ao processo...quando eu coloquei em
prática...em dois meses esse dinheiro saiu. Ai eu fui para Salvador... 57
Nesse caso da Novela da Vida Real, pode-se entender que o discurso utilizado pelo
ator principal, na forma de testemunho, não é para ser discutido. Evidente que há uma história
– com forte dosagem de cargas emocionais e aos moldes de todos os conteúdos que são
selecionadas para esse quadro – a ser contada para convencer alguém daquilo que se quer,
mas esse mesmo enredo é editado dentro dos esquemas do sistema de comunicação que se
utiliza e inseridos nos interesses ali existentes.
Ainda que presa a um contrato, esta participação se expande largamente, pois as
emissões estruturam-se fortemente em torno de operações específicas, que mantêm
trechos das falas do seu autor e cuja responsabilidade é daquele que o profere, no
caso, o testemunhante. Os discursos, na forma de testemunho, têm uma
característica muito específica: não pretende apresentar soluções ou desenvolver
considerações de ordens doutrinárias e/ou conceituais a respeito de um certo fato e/o
problema.58
Quer dizer, evidencia-se uma situação como problema maior e o testemunhante,
fazendo parte de um sistema, uma teledramaturgia, representa alguém que com Deus resolve
seus problemas. Apesar do texto do ator principal não ser original, o editor deve respeitar a
montagem que foi feita sobre os discursos.
Sua finalidade está mais voltada para apontar um problema visando-se com isso
produzir impacto, especialmente de natureza emocional. É pronunciado mais para
sensibilizar do que convencer e/ou persuadir a pessoa a respeito de um tema
apresentado. Um relato na forma de testemunho é pronunciado para não ser
discutido, mas para ser compartilhado, e é neste sentido que determinadas emissões
trabalham fortemente com esta dimensão afetiva existente no âmbito das
discursividades. Neste momento regras da gramática convergem para uma
dimensão: produzir emoções.59
Fausto dá a entender que não importa o quê se diz, mas como se diz. A transcrição da
fala acima procurou ser a mais fiel possível, logo se pode perceber que em determinados
momentos há dificuldades de se entender algum trecho. Mas há emoção ali contida e essa não
pode ser transcrita para o papel.
O testemunho chama atenção para o fato de ser um relato que tem uma autoria, e,
portanto, marcas singulares de um lugar de fala, um âmbito de enunciação.
Entretanto, a sua inserção no contexto das tele emissões produzidas pela esfera das
instituições religiosas passa diretamente por uma determinada autorização, o que
relativiza desta forma a autonomia do poder daquele que o profere. Assim, temos
um relato singular, mas autorizado e que funciona segundo as regras da estrutura
enunciativa do modelo que a oferta. O testemunho é não só um relato, mas um
―dizer‖ que está subordinado a determinadas regras de produção que certamente não
são definidas por aquele que o pronuncia.[...] Chama-se atenção para a presença
destas marcas de autorização e de controle, bem como para outras que dizem
57
Ibid. 58
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit. 59
Ibid.
33
respeito à presença de dispositivos enunciativos midiáticos articulados com
operações discursivas que estruturam os novos discursos religiosos.60
Assim, em nenhum dos casos, aqui comentados, há liberdade de quem se pronuncia
para quem quer ouvir. Fausta ainda completa com a idéia de que nas comunidades das tele
emissões, as pessoas são chamadas para nelas participarem de modo individual, segundo a
natureza do seu problema e a importância dele para as finalidades estratégicas das emissões.
São, de fato, consumidores ainda que em determinadas circunstâncias se constituam em co-
protagonistas da sua realização.61
Entre uma atração e outra, o missionário lê algumas passagens da Bíblia, conta
histórias engraçadas, rindo muitas vezes, daqueles que não pertencem a sua religião, e encerra
com as orações. Primeiro, ele reza e toda platéia repete. R. R. Soares fala com muita
confiança que ele vai orar e as enfermidades das pessoas ali presentes vão sumir. ―De agora
em diante, você nunca mais será um fracassado. Não existem falhas‖ 62
, profetiza. Dando
continuidade, ele pede silêncio e finaliza suas preces sozinho. Após a última oração ele faz a
seção dos milagres.
Ao mediador comete igualmente, ato contínuo, checar se o exercício deu resultados,
quando indaga “onde está o mal”, circunstâncias de respostas em que seu poder e autoridade
poderiam ser colocados em prova. Mas no fundo sinalizam também as intenções de controle
do oficiante. Observe a transcrição abaixo.
Respire fundo e faça aqui que não fazia antes, mexa o braço para cima ou para trás,
procure aquela hérnia ou aquele caroço, mioma. Deus está operando agora, tape
aquele ouvido bom e escuta com aquele que não escutava. Tape o olho e enxerga
com o olho que não enxergava. Onde está o seu mal? E faça como eu que já saiu o
meu mal. Aconteceu o milagre você conta que não é para o demônio anular o
milagre.63
Esse ritual é composto de muita energia de sua voz. Enfatizando a fé em Jesus Cristo e
Deus, Soares invoca o poder da fé das pessoas, através da comunicação direta com seu
público, para que esses acreditem estar curados. Deus vai operar muito aqui hoje, diz64
. Após
a oração solitária, ele ordena que as pessoas que não podiam enxergar abram os olhos, quem
não podia mexer o pescoço agora pode. O mais interessante de se comentar é o fato de que –
observado por continuidade – ele diz que Deus hoje curou isso e aquilo. Afirmando. Cabe
salientar aqui, que somente na continuidade a que se refere Requena, foi possível visualizar
tal situação.
60
Ibid. 61
Ibid. 62
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 16 de set. 2005. 63
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 03 de set. 2005. 64
PROGRAMA R. R. Soares, op. cit.
34
Dentro dessa análise cabe salientar a continuidade. O desenvolvimento da
observação de todos os programas concatenados. Mas o fenômeno da continuidade
não tem que ser reduzido a estes elementos. É necessário considerar, todo seu valor,
porque há pontos excedentes: a referência, do interior de um programa, a outro ou a
outros programas do para possuir o transmissor. A intercalação, ao lado dos pontos
que anunciam, de outros segmentos dos discursivos que pretendem publicar
programas de futuros. [...] 65
.
Com a observação de 11 edições do seu programa, foi capaz de identificar que o
missionário parece que prevê que em determinado dia Deus vai operar mais nisso ou naquilo.
Assim, no dia 26 de setembro, quando ele afirmou que naquele dia nódulos desapareceriam,
logo depois de sua lembrança, testemunhos começaram a surgir e os obreiros a correr para
alcançar o microfone. Dessa forma muitos milagres são realizados e comprovados por
testemunhos de inúmeros fiéis. Para finalizar, Soares diz que Deus vai continuar a operar.
Nos últimos minutos do programa (quando não sai logo depois que iniciou a oração),
volta a apresentar a Revista da Graça, pertencente à Igreja, fala de promoções, assinaturas e
pede para que as pessoas se associem a sua obra.
Além dos quadros A Novela da Vida Real, e o Pergunte ao Missionário, o programa R.
R. Soares é composto pelo quadro Abrindo o Coração. Nesse painel uma pessoa envia uma
correspondência pedindo conselhos sobre determinado assunto. A carta é editada e resumida
de maneira que o quadro não dure mais que dois minutos. Com tom humilde, sofredor e
necessitado, uma narradora lê e trata de emocionar quem escuta. Parte da carta editada
aparece no vídeo fazendo com que haja um acompanhamento pelo telespectador.
A transcrição a seguir foi retirada da análise do dia 19 de setembro de 2005.
Entra narradora lendo a carta da fiel: meu amigo missionário Soares. Estou
escrevendo porque preciso desabafar, tenho 29 anos e perdi meu esposo há pouco
tempo. Tenho duas filhas, uma de 10 e outra de oito anos. Sei que preciso ser forte
principalmente por elas. 66
O conjunto do enredo principal estabelecido no eixo desabafo-morte-filhos faz com
que a trama contenha uma alta overdose67
de emoção. É uma pessoa que está passando por
necessidades e precisa de ajuda.
Estou sem condições de confortar e alimentar as meninas. Quando elas vão para a
escola, as lágrimas em meus olhos são inevitáveis. É o momento – em que sozinha –
coloco para fora a minha dor. Quando vou a igreja consigo ficar melhor. Ouso a
palavra e me conforto. Infelizmente a igreja é muito longe da minha casa e eu não
consigo ir com freqüência. Estou muito abalada, sei que preciso ser forte e ajudar as
65
REQUENA, Jesus G. El Discurso Televisivo: espectáculo de la posmodernidad. Madri. Espanha. Editora
Cátedra, 1999, p. 35. 66
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 19 de set. 2005. 67
Overdose. É uma super dose de alguma coisa. Geralmente a overdose é associada ao uso excessivo de
entorpecentes.
35
minhas filhas que são o meu bem mais precioso. Preciso muito de sua ajuda, peço de
todo meu coração.68
Observa-se, repetidamente, que a família é envolvida no esquema. Há aflição e
angústia na carta e na voz, como já comentado tem emoção e enlaçamento. O missionário
assiste ao quadro e a seguir faz o seu comentário a respeito dos tópicos comentadas no papel.
Para essa carta, observe o comentário do missionário R. R. Soares:
Missionário: esse negócio de morte é uma coisa que às vezes a gente fala, mas isso
mexe com a gente realmente. Mexeu até com Jesus. Jesus chorou na frente do
túmulo de Lázaro. Quer dizer...é uma coisa que mexe. Agora nós que somos salvos.
Nós entendemos a coisa diferente.69
Soares continua com o assunto morte. Nisso ele separa nós (referindo-se a eles) das
outras pessoas. Assim, se eles entendem a morte dessa forma, quem não a vê assim, não faz
parte do grupo deles.
A uns quatro ou cinco anos eu tava aqui em São Paulo e recebi um telefonema que
meu pai tinha falecido. Eu tinha culto de manhã, o sepultamento era à tarde, peguei
o avião, fiz o sepultamento, voltei e fiz o culto da noite. Quer dizer, você não ama?
Puxa! Quem não ama um pai? Mas a obra de Deus é coisa maior. Agora você tem
duas filhas, é uma moça nova, olha o quê a bíblia diz. Essa semana eu já disse, 1
Corintios 7:39. A mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas, se morrer
o marido, ela fica livre e poderá casar-se com quem quiser, contando que seja no
Senhor. Claro que você tem lembranças dele, mas louva a Deus pelo marido que
você teve, acorde! Você é nova. Se você quiser, você pode casar, Deus lhe dá um
casamento no Senhor e criar suas duas filhas no temor de Deus... 70
Citando a Bíblia como argumento para suas explicações, o missionário ainda
incrementa seu discurso com exemplos. A pessoa que busca orientação na vida de um pastor
trata-o como se fosse um analista. Seus medos, angústias e frustrações, são traduzidos em
poucos linhas e expostos aos olhos de todos que participam desse grande cenário.
Além de procura de respostas. Há busca de inserção no meio social, segundo Fausto
Neto, a busca pela vivência de outras racionalidades e experiências, na falta daquelas que
foram tragadas pelo estilo de vida da modernidade, e hoje da chamada sociedade pós-
moderna, não tem assegurado a identificação de horizontes sobre as quais os indivíduos
gozem, de fato, possibilidades de autonomia e segurança nas suas escolhas.
Encravados em mercados nos quais se encontram também as instituições, como é o
caso das Igrejas, os indivíduos se vêm à mercê de ofertas discursivas e simbólicas que se
propõem, de uma forma peculiar, à solução do mal estar provocado pela falta de referências
de inserção no mundo em que vivem.71
68
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 03 de set. 2005. 69
PROGRAMA R. R. Soares, op. cit. 70
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 01 de out. 2005. 71
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit.
36
Ou seja, quem participa de quadros como o Abrindo Coração – até mesmo o nome já
mostra uma abertura, uma exposição – busca muito mais que respostas, quer inserção social, a
cura para solidão. A Igreja com seu papel, dentro de seu padrões e interesses, orienta para o
equilíbrio.
O último quadro da análise qualitativa, chama-se Pergunte ao Missionário. Duas
pessoas, transeuntes, são abordadas (mesmo sendo de outra religião). Elas têm a oportunidade
de fazer uma pergunta para a câmera que remete ao pastor.
A introdução do painel é seca, com cortes bruscos. Soares só anuncia a entrada do
quadro e ele adentra a tela do telespectador. Evidencia-se uma edição prévia das perguntas,
até mesmo pela lógica de que o programa, e também o painel não são feitos ao vivo.
Dessa maneira o evangelista tem a oportunidade de se preparar com antecedência e de
prevenir-se das perguntas absurdas ou indecentes. Há uma busca ativa por pessoas, na rua,
que possam se identificar com a religião/igreja e que interagem diretamente como quem
participasse do culto. Hoover comenta:
Diferentemente das religiões históricas, essas práticas fazem surgir novos
devocionalismos atravessados pela ―economia do contato‖, que enseja aos seus
consumidores, não apenas algo para escutar, mas também para olhar, tocar e sentir.
Através de três situações: atração que puxa as pessoas para imagens; a possibilidade
de conexão social, na medida em que as pessoas consomem as mensagens de mídias
para se sentir em contato; e terceiro as mensagens dos medias fixam identidades. 72
Supõem-se que nem a Igreja Católica ou os protestantes costumem utilizar-se de
práticas ativas para a conquista de fiéis. Contudo a Igreja da Graça, demonstrando por esse
quadro, vai a busca de pessoas que estão insatisfeitos e querem sim entrar em uma igreja para
resolverem seus problemas. O autor finaliza ainda:
Esta economia do contato ―dissolve as massas‖ em indivíduos mesmo que estes
estejam formalmente agrupados em auditórios presenciais. Significa dizer que os
processos de contagiabilidade entre produção e recepção são de natureza individual.
Os indivíduos são interpelados de forma individual, mas quem define a regra dessas
interpelações é a esfera da produção.73
O comentário do autor cabe muito bem na presente situação. As pessoas
individualmente são abortadas em locais externos aos templos e manifestam, assim, suas
dúvidas ao mesmo tempo em que se aproximam de uma religião.
Por fim, após os questionamentos, o missionário – a câmera se volta para o
estúdio/igreja e novamente a passagem é feita de forma bruta – responde as questões com
exemplos próprios, amostras de outros fiéis e com a palavra da Bíblia. Ele sempre usa a o
livro sagrado para comprovar o quê está declarando. Tal composição mostra que o tele-
72
HOOVER, Stewart. Religião, mídia e o centro de gravidade cultural. Xerox. Tradução Nashiville, USA.
1998. 6 e ss. 73
HOOVER, Stewart. op. cit.
37
evangelista tem uma credibilidade como homem de Deus, tamanha que é capaz de saber
responder tudo. Seja sobre a vida de um alcoólatra, de uma prostituta, de um vidente ou de um
irmão. Com o poder da palavra de Deus ele está imunizado contra todo mal do Diabo.
Mas seu discurso tenda desviar a atenção induzindo a ilusão de que o texto é ditado
por Deus, é um desejo divino, não dele. Dessa forma Soares consegue abertura para os
corações e mentes dos fiéis, já fragilizados pelo seu discurso desde o início do programa,
realizando assim os desejos que acredita poder saciar.
A seção dos milagres, já comentada aqui, mas que serve novamente para ilustrar,
destaca o poder de cura. Não se debate a, momentânea, mas a relação que o pastor estabelece
com seu público e a abertura que tem para invadir as pessoas com a sua oratória, fazem com
que além delas acreditarem (por que fé é inquestionável!?) acabem curadas.
O auge da credibilidade é quando ele falando em nome dele, consiga (dentro das
técnicas de relações com os públicos e todo tipo de arma possível) realizar os desejos e curar
as todos os presentes.
2.1 O texto do discurso religioso
A composição do discurso religioso, nos programas evangélicos, apresenta-se de uma
maneira simples e bastante objetiva. Com frases escritas em ordem direta, sendo que em cada
programa cabe aos pregadores dar mais conteúdo aos textos bíblicos, Soares, por exemplo,
utiliza-se mais de suas experiências de vida aos textos bíblico propriamente. Evidente que a
Bíblia serve como confirmação para tudo que ele enfatiza, mas seu tempo de orador agregado
ao conhecimento do público que lhe assiste, permite que trabalhe o discurso com uma
construção mais amena e com ilustrações – além das bíblicas – dos casos de vivencia própria.
Contudo a tabela a baixo, da contagem das palavras mais ditas por Soares, presencia-
se como necessária tendo em vista a composição daquilo que o missionário diz e
estruturalmente o quê ele fala nos discursos.
38
Observe o quadro:
Deus Diabo/inimigo Pecado Internet Palmas Jesus
68 20 3 1 7 26
63 9 2 2 4 26
52 2 1 1 5 42
74 10 2 0 5 45
91 15 1 1 14 33
90 12 9 0 10 41
41 5 1 0 6 69
40 10 1 3 3 74
96 3 0 0 5 69
60 2 0 0 13 30
41 4 2 0 11 69
716 92 22 8 83 524 Fonte: organização do autor e análise das fitas VHS.
Pode-se verificar que a palavra mais comentada ao longo das 11 edições foi Deus. O
conceito que Deus assumiu, ao longo dos séculos e as concepções, evoluindo desde as formas
mais primitivas provenientes das tribos politeístas da antiguidade até os dogmas das modernas
religiões monoteístas.
Destarte, sendo ateu ou não, a grande maioria das pessoas respeita um Deus. Tomam a
palavra Dele como algo divino que não possa ser entendido plenamente pelos mortais e que
por isso precisa de um intermediador, e apesar de não entendido é respeitado e por alguns,
venerados.
A palavra seguinte de maior importância na conjuntura textual de Soares, é Jesus.
Pode parecer claro, contudo a obviedade não se confirma se analisada toda a conjuntura visual
da Igreja. Em outras religiões, especialmente a católica, o uso das imagens do filho de Deus
tem posições especiais reservadas e é mais utilizada do quê seu próprio nome.
Desse modo, como os evangélicos não cultuam imagens, faz-se necessário que haja
um movimento contrário ao catolicismo, ou seja, mais pronunciamentos do que a enunciação
visual. Salienta-se, ainda, que as palavras Deus e Jesus geralmente são verbalizadas
anteriormente as palmas (pela contagem chegam a 83 vezes no total dos programas). A cena
dos milagres, do aqui e agora74
, do dia 12 de setembro em que após a seção dos
74
A religião deixa de ser uma abstração, e pelo trabalho dela em constituir os novos coletivos, colocando-se no
lugar de contato, os horizontes de salvação deixam de ter como parâmetros à vida depois da morte, e uma série
de novas ―práticas terapêuticas‖ são acionadas como respostas à problemática do ―aqui e agora‖. Nestas
condições, é que as estratégias tele religiosas estruturam os espaços de curas, segundo operações de compra e
venda fundamentadas nos alicerces do marketing confessional. GOMES, Pedro. Processos Midiáticos e a
Construção de Novas Religiosidades. São Leopoldo: Unisinos, Programa de Pós Graduação da Comunicação,
2004.
39
acontecimentos sobrenaturais e curas, Soares fala repetidamente glória Deus, Jesus Cristo
está operando evidencia tal quadro.
Por outro lado, a palavra Diabo/inimigo, que adicionadas chegam a 92 vezes, mostra
uma forma de intimidação do orador ao público. Mesmo que nem todos presentes no culto
saibam a história e detalhes sobre o Lúcifer, o fato de Soares pronunciá-la, evidencia a ameça:
se você não fizer isso, será punido com aquilo.
Eugênio Bacci comenta, sobre o Diabo, que as Igrejas Evangélicas não seriam nada se
não fosse essa figura, pois, para ele, o que torna aquilo interessante é o capeta que por vezes é
mais onipotente que o próprio Deus. Primeiro ele está em toda à parte e segundo que o clímax
das reuniões acontece quando Deus assume o poder em território antes ocupado pelo Mal.75
Assim, com esses elementos amedrontadores somados, o tele-evangelista fala em
pecado. Se todos são pecadores e estão em busca de salvação, quem cometer pecados está
fora do amor de Deus, trata-se de uma das idéias implícitas com arranjos de textos ditado pelo
orador.
O quadro seguinte mostra outras conjunturas utilizadas nas explanações de Soares.
Explicação Bíblia Música Artista Oração
3 3 2 0 0
11 11 1 1 3
8 8 1 1 3
13 14 1 0 0
14 3 2 1 4
6 6 0 0 1
5 10 2 0 3
14 15 3 1 6
13 15 1 1 3
5 14 2 0 1
7 8 3 1 4
99 107 18 6 28 Fonte: organização do autor e análise das fitas VHS.
As explicações referidas no painel são comentários que Soares faz após uma pergunta
ou uma passagem bíblica. Geralmente o orador fala de experiências próprias agregadas as
informações com o texto da Bíblia76
. Por conseguinte, o livro sagrado é utilizado 107 vezes,
através da força máxima que tem com a sua imagem carregada de significado. Com essa
75
BUCCI, Eugêncio. Brasil em tempo de TV. São Paulo, editora Boitempo, 1997. 76 Isso parece contraditório para diferentes igrejas, especialmente, algumas evangélicas, cuja ascendência no
mercado religioso opera justamente através de sofisticadas práticas de processos midiáticos. E que nos permite
inferir, como hipótese, que se o tema não é refletido de forma mais sofisticado á luz de formulações teóricas,
aparece contudo, ―teorizado em ato‖, isto é no próprio corpo de experimentações ensaiadas pelas práticas de
evangelização destas igrejas. FAUSTO, Antonio Neto, op. cit.
40
incrível exposição, a Bíblia colabora na construção do discurso com leitura de texto ou na
exposição visual.
É o signo e somente o signo que torna possível a comunicação entre os seres
humanos. Ou seja, aquela coisa: palavra, gesto, som, luz, imagem...que utilizarmos
para nos expressarmos. Animais semióticos que somos, não conseguimos nos mover
no universo e, muito menos falar sobre ele, se não fizermos uso dos signos. 77
As orações, que somadas na análise chegaram a 28, fazem parte do auge da
programação. É nessa hora que os mais necessitados, e os que acabaram de ficar, querem o
algo a mais (através de todo o sistema de comunicação utilizado para o acontecido), são
curados.
Evidencia-se o fato de que as curas não são feitas sem um dos ingredientes principal, a
forma, a expressão do Orador.
A multidão só se impressiona por sentimentos excessivos, o orador que quiser
seduzir, deverá abusar das afirmações violentas. Exagerar, afirmar, repetir e nunca
tentar uma demonstração qualquer mediante um raciocínio […].78
Já o uso de música, característica comum nas igrejas neopentecostais (e os músicos) se
apresentam, para suavizar o discurso do pastor e dessa forma animar a platéia. Seu efeito é
visualizado pelo retorno que o apresentador pode verificar pelos rostos que o observam e
também pelo aumento dos patrocinadores que motivados pela cura, e agora alegres,
contribuem para a obra de Deus.
Dessa maneira toda construção de sentidos, das palavras expostas, Fausto observa:
Isso é possível se examinarmos duas estratégias discursivas pelas quais se pretende
dizer que são palavras — prontas e ordenadas — que geram contatos e contágios, e
como efeito, a suposta sensação da cura, enquanto alívio do mal estar definido e/ou
constituído num outro lugar simbólico: o encosto.79
Destarte, as palavras prontas e ordenadas como Fausto Neto comenta acima, fazem
parte de todo o conjunto estrutural do discurso e comunicação de Soares. Somados a isso,
tem-se orações em línguas complexas assunto tratado a seguir.
O texto da oração da Igreja da Graça, no dia 12.09 é citado em outro idioma não
identificado. Ele surrura em determinados momentos, aos: 28min.10seg, 28min. 30seg.,
28min.38seg e 29min. 23seg, palavras que são desconhecidas aos presentes. Acredita-se que o
uso de uma língua estranha definida possa trazer credibilidade e maior respeito ao culto, ao
discurso e até ao ator. Uma passagem da Bíblia comenta melhor sobre o dom de falar em
outras línguas.
77
CARVALHO, Dirce, ―O Símbolo na vida da sociedade‖, in Oliveira Soares Ismar de, Rio de Janeiro, editora
Ática, 1998. 78
CARVALHO, Dirce, op. cit. 79
FAUSTO, Antonio Neto, op cit.
41
Empenhei-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais, mas,
sobretudo ao de profecia. Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a
Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do espírito.
Aquele, porém, que profetiza fala aos homens, para identificá-los, exortá-los e
consolá-los. Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo; mas o que profetiza,
edifica a assembléia. Ora, desejo que todos faleis em línguas, porém, muito mais
desejo que profetizeis. Maior é quem profetiza do quê quem fala em línguas, a não
ser que este as interprete para que a assembléia recebe identificação. Suponhamos,
irmãos, que eu fosse ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitaria, se
minha palavra não vos dessa revelação, nem ciência, nem profecia, ou doutrina? É o
que se dá com os instrumentos inanimados de música, por exemplo, a flauta ou a
harpa; se não produzem sons distintos, como se poderá reconhecer a música tocada?
Assim também vós: se vossa língua só profere palavras ininteligíveis, como se
compreenderá o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento.[...] Assim, uma vez
que espirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da
igreja.[...] Por isso quem fala em línguas, peça o dom de as interpreta-las. Se eu oro
em virtude do dom das línguas, o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica
sem fruto. Então o que fazer? Orei com o espírito, mas orei também com o
entendimento; cantarei com o espírito, mas cantarei também com o entendimento.
Graças a Deus, que possuo o dom de línguas superior a todos vós. Mas prefiro falar
na assembléia cinco palavras que compreendo, para instruir também os outros, a
falar dez mil palavras em línguas.[...] assim, as línguas são sinal, não para os fiéis,
mas para os infiéis; enquanto que as profecias são um sinal, não paras os infiéis, mas
para os fiéis. Se por uma assembléia inteira todos falarem em línguas, e se entrarem
homens simples ou infiéis, não dirão que estais loucos?80
Para muitos trabalhadores a vida pode facilmente tornar-se uma rotina tediosa. Com
poucos recursos ou nenhum, são raros as oportunidades de se adquirir equipamentos
eletrônicos, bens e confortos que levam a momentos excitantes acima da monotonia da
existência cotidiana.
No mundo bebedeiras, brigas e vida imoral são freqüentemente as formas de
compensação para o tédio. Muitos, entretanto, descobriram que o evangelho lhes oferece o
mesmo tipo de libertação, e que adorar a Deus pode tornar-se uma experiência extasiante.
Peter Wagner diz que: O dom das línguas produz muita satisfação espiritual para muitas
pessoas.81
2.2 Entendendo os Planos do programa R. R. Soares
Quando se fala em programa religioso, a primeira imagem que pode vir à mente do
receptor é a de um tele-evangelista em pé em um palco com luzes brancas e a Bíblia. Sim,
essa ainda é a forma mais tradicional de apresentação dos programas religiosos. Mas não é a
única e junto à composição deve-se observar os planos/enquadramentos.
Soares utiliza-se de uma bancada em acrílico transparente para colocar o livro
sagrado. Sempre em pé, ele oscila entre a posição atrás da bancada e na frente. Com pouca
freqüência, aproxima-se da beirada do palco e raramente toca algum fiel.
80
MAREDSOUS, Monges. Bíblia Sagrada, Bélgica: editora Ave Maria, (1 Coríntios 14: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9,
10, 12, 13, 14, 15, 18, 19, 22 e 23), 1987. 81
WAGNER, Peter. Porque Crescem os Pentecostais? EUA: Editora Vida, 1987.
42
Nunca sentado e tão pouco curvado R. R. Soares prega a palavra de Deus com ênfase e
energia. Características básicas para se fazer respeitar e impressionar aqueles que o observam.
Já o tipo de plano usado para enquadramento, é uma das técnicas utilizadas para captar
a atenção do seu público/fiel. Quanto mais próximo o emoção for exposta, mais fácil será para
o receptor perceber os sentidos do conjunto da comunicação e, com isso, constatar quais as
reações que o pregador está tendo ao discursar.
Além disso, o enquadramento serve também como retorno para o técnico que está
assistindo à captação e posteriormente para estudos do próprio orador frente aos efeitos
causados pelos seus discursos. É uma maneira de registrar e analisar o que ele disse e como o
público respondeu.
Através de observação da amostragem que foi coletada, constata-se que nos programas
são usados praticamente três tipos de plano. O Primeiro Plano (PP), que mostra o pregador em
close, focando-o do peito para cima; o Plano Médio (PM), que foca a pessoa da cintura para o
alto, ou do joelho para cima; e o Plano Geral (PG), que mostra os pregadores e os cenários
como um todo. Esse estudo, atenta, que a composição não é construída de forma gratuita,
como comenta Fausto: as possibilidades de estabelecimentos de elos entre instituições e fiéis
não passam mais por ações isoladas e voluntárias, fundadas na gratuidade e no
espontaneismo.82
Constata-se que há intenções maiores, além das técnicas e estéticas, para envolver o
telespectador na trama.
Dessa forma, os planos (ou enquadramentos de câmera, aquilo que se colocam dentro
da tela) podem sofrer algumas modificações qualificando ou não a cena. É a boa composição
do quadro que privilegia a imagem. O equilíbrio da visão também é de vital importância nesse
caso, pode-se contar com o bom senso para chegar à conclusão da melhor fotografia, no
entanto, o caso específico da análise, demonstra que o enquadramento é mais um produto
estudado e analisado para ser utilizado da melhor maneira possível como ferramenta.
Em meio aos planos selecionados para análise há dois estudos: R. R. Soares e o
público. A tabela abaixo reúne a quantidade total de fotos do orador, em dias. Observe:
82
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit.
43
2.2.1 Enquadramento do Orador
Dia Primeiro Plano (PP) Plano Médio (PM) Plano Geral (PG)
03.09.2005 0 72 10
05.09.2005 0 126 32
12.09.2005 0 49 11
14.09.2005 0 58 25
17.09.2005 0 69 30
19.09.2005 0 91 28
26.09.2005 0 60 26
28.09.2005 3 39 22
01.10.2005 0 59 41
02.10.2005 0 49 20
03.10.2005 0 30 26
Obs: número de vezes, por dia, que o orador-apresentador apareceu em determinado plano.
Fonte: organização do autor.
Pela contagem acima, percebe-se que o Plano Médio (PM) foi o mais utilizado entre
os três. A utilização de PM indica que além do missionário estar sendo visto pelo
telespectador, ele também é visto pelo público com o PM. Se esse plano for analisado do
sentido orador público, tem um ponto de vista. Agora, se verificado no sentido contrário, o
PM da à sensação de que o telespectador está dentro do auditório participando ativamente do
culto. O uso do enquadramento ainda contribui, segundo Tilburg para uma viajem do receptor.
Por causa do espaço enquadrado pela televisão o telespectador perde a noção exata
da construção do espaço físico em que se encontra, tornando-se um espaço não-
marcado, mesmo o telespectador reconhecendo várias pessoas e/ou mais diversos e
variados espaços televisivos permitem que o telespectador viaje, em frações de
segundos pelo mundo afora.83
Ou seja, toda uma arquitetura para o envolvimento de quem assiste (programa que
quer ser assistido dessa forma). Um obra televisiva esteticamente perfeita dentro dos padrões
de auditório. Sobre o enquadramento o gráfico abaixo mostra a quantidade de planos (PP –
Primeiro Plano, PM – Plano Médio, PG – Plano Geral) que Soares aparece no conjunto os
painéis gravados, sendo como já afirmado acima, PM o mais utilizado. Por tratar-se de
conservadorismo ou apenas por características técnicas, tele-evangelista é focado, na maioria
das vezes durante os programas analisados, no PM.
83
TILBURG, João Luís Van, Encenação dos Sentidos, mídia, cultura e política, artigo O telespectador e a
relação espaço-tempo uma questão epistemológica. Rio de Janeiro, 1995.
44
2.2.2 Gráfico dos Planos do Tele-evangelista Soares
Obs: número de vezes, por dia, que o público apareceu em determinado plano.
Fonte: organização do autor.
O quadro a seguir, mostra o enquadramento do público. A dinamicidade das cenas fica
evidenciada com a variação dos planos: Plano Médio e Primeiro Plano.
2.3.1 Enquadramento do Público
Dias Primeiro Plano (PP) Plano Médio (PM) Plano Geral (PG)
03.09.2005 21x 41x 23x
05.09.2005 26x 41x 27x
12.09.2005 9x 27x 20x
14.09.2005 24x 54x 22x
17.09.2005 13x 50x 26x
19.09.2005 15x 44x 34x
26.09.2005 13x 82x 41x
28.09.2005 3x 39x 22x
01.10.2005 21x 33x 12x
02.10.2005 11x 33x 24x
03.10.2005 8x 41x 38x
Obs: número de vezes, por dia, que o público apareceu em determinado plano.
Fonte: organização do autor.
O gráfico abaixo mostra a quantidade de planos (PP – Primeiro Plano, PM – Plano
Médio, PG – Plano Geral) que o público foi mais exibido. Com o PM, mais usado, mais uma
vez, confirma a característica da tentativa de fazer com que o telespectador esteja participando
em conjunto com os outros fiéis no auditório, do culto. Evidente que há importância, também,
na movimentação dos planos. Pelo gráfico, observa-se que apesar do PM ser o mais
12
3
S1
3Primeiro Plano
702Plano Médio
271Plano Geral
0
200
400
600
800
45
trabalhado (com 483x) o PG também tem seu destaque. São 251x que o PG entra em cena o
que demonstra que a visualização das pessoas pelo telespectador é de grande importância para
a construção da linguagem de comunicação de Soares.
2.3.2 Enquadramento do público – contagem gráfica
Obs: número de vezes, por dia, que o público apareceu em determinado plano.
Fonte: organização do autor.
Como característica do plano do público – e um contraponto com o uso das fotos de
Soares –, salienta-se o uso de PP. O PP, especificamente nessa situação, mostra a emoção do
público que assiste através do auditório. Algo como se fosse à filmagem do sofrimento alheio
que toca e comove ao ato sugestivo de padecimento. A composição de imagens como essa é
comentada por Mannoun Chimelli na passagem a seguir:
É nisto que reside à força manipuladora da imagem, uma força que a linguagem
verbal não tem. A imagem impacta diretamente o sentimento, modela a imaginação
e, através dela, todo o modo de sentir e de reagir da pessoa; não passa por essa fase
de elaboração crítica a que chamamos ―pensar‖, ―refletir‖, que acompanha a
linguagem racional. Por isso todos nós [...], estamos muito mais desprotegidos
diante dela do que diante de uma argumentação lógica.84
A exceção mostra-se novamente. O PP se destaca frente aos outros planos. Com uma
quantidade expressiva, a linguagem da TV RIT declara em transformação, evidenciado, com o
PP a expressão das emoções, principalmente das sensações dos atores sociais presentes no
culto da Igreja. Ao telespectador resta crer no sofrimento alheio e por indução acreditar,
também que sofre e que precisa de ajuda para superar seus problemas.
84
CHIMELLI, Mannoun, Família & Televisão, Editora Quadrante, São Paulo, 2002.
12
3
S1
164
483
251
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
46
As novas religiosidades evocam formas de curas, cujas cerimoniais tem como
condição de sua produção, algumas operações discursivas da televisão e nestes
termos, a sugestibilidade é um fenômeno que se efetiva também na medida em que
seus efeitos são mostrados como realidade construída pelo trabalho enunciativo
da/na televisão. 85
O conjunto técnico da linguagem das imagens está formado, com a inserção de atores
da sociedade, que fazem um elo – até mesmo pela sua identificação social, estética e pessoal –
, com os receptores é estabelecida pela composição dos ângulos e técnicas de sugestibilidade
de determinadas situação. Essa constatação faz com que sejam remetidas a um outro ponto
bastante interessante, do conjunto da comunicação do missionário, as palavras mais ditas.
2.4 Testemunhos
Os testemunhos fazem parte de dois momentos do programa do Missionário R. R.
Soares. No primeiro, há depoimentos de pessoas curadas pela seção dos milagres concedida
ali no sistema aqui e agora. Na segunda situação, os testemunhos são dos patrocinadores da
Igreja.
Os testemunhos dos milagres, no total das edições analisadas, somaram 174 frente às
declarações dos patrocinadores/associados com 27. Observe o quadro a seguir.
2.4.1 Testemunhos de associados e milagres
Associados Milagres
6x 16x
6x 16x
0x 25x
2x 5x
2x 12x
0x 25x
4x 47x
7x 2x
0x 26x
0x 43x
27 174
Fonte: organização do autor.
Como verifica-se o processo referido acontecem sempre após uma oração. Soares reza
e determina que todo mal ali presente, nas pessoas, na sua vida amorosa, financeira, em fim,
seja expulso pelo poder de Deus.
85
FAUSTO, Antonio Neto, op. cit.
47
Evocando a si o controle da explanação, o enunciador, na medida em que ocupa sem
compartilhamentos, o lugar da mediação. Publica todos os procedimentos que vai fazer,
orientando unilateralmente, a construção do processo de sugestibilidade, abrindo exceção para
dizer o momento em que Deus opera, e monitorando o trabalho de produção de sentido do seu
auditório.
Trabalhando sob horizonte maior, de problemas e de enfermidades, pois rastreia a
contenção do mal numa faixa mais ampla do corpo, distinto da estratégia do oficiante
católico. Assim ele, ordena cura da cabeça aos pés. A depressão é uma matéria prima dos
dois discursos, mas num é associado à tristeza e no outro, a saudade. As pessoas são induzidas
a acreditar nisso, como já comentado anteriormente e logo após segue a imposição, pelo
pastor, de se fazer declarações. ―Olha se você ficar com vergonha do poder de Deus, o Diabo
vem e tomam a sua benção‖ 86
, comentários como esse declara as pressões para que o público
se manifeste.
Contudo, o processo de construção da comunicação do discurso do programa e
midiatização, é edificado didaticamente tornando a emissão um misto de operações como
declara Fausto na passagem abaixo:
O testemunho reúne vários elementos: os dramas protagonizando enfrentamentos,
cujas soluções são mediadas pela força e efeito do discurso religioso sobre o qual se
apóiam suas convicções. Destaca-se a ―dimensão militante‖ através da qual a
testemunhante visa não evidenciar a singularidade do seu sofrimento, como um
caso, mas, além disso, mostrar como é possível tornar-se um membro ativo da
estrutura telereligiosa, cujo relato serve mais como um pretexto para didatizar, de
maneira pública os fundamentos que orientam os modos de existência do
empreendimento religioso. Neste caso, a emissão é um misto de operações. 87
Logo, dentro desse misto de operações, sobresai-se devido à análise contínua dos
programas, outro ponto importante. O missionário parece prever determinados milagres.
Difícil de acreditar, mas em todas as vistorias o fato é repetido, pois no dia três de
setembro foi o pescoço, dia cinco o suicídio, dia 12 a coluna, dia 14 as pernas, dia 17 os
braços, dia 19 a depressão, dia 26 nódulos, dia 28 o estômago, dia primeiro de outubro a
garganta, dia dois os ouvidos e dia três a pele.
Após o adivinhamento vem a oração e em seguida obreiros correm rapidamente para
colher depoimentos das curas milagrosas. Não é possível que ocorram tais previsões sem um
esquema formado para que as ações sejam concatenadas. Ao contrário do que se pode prever,
não e objetivo desse estudo julgar a possibilidade do pagamento de cachês para os
86
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. op. cit. 87
FAUSTO, Antonio Neto, op cit.
48
testemunhantes, mas a análise em todo seu escopo pode prever a chance real de tal fato
proceder.
Suas enunciações sugestivas convergem com aquilo que é enfrentar o desamparo: ―a
multidão só se impressiona por sentimentos excessivos, o orador que quiser seduzir,
deverá abusar das afirmações violentas‖. Exagerar, afirmar, repetir e nunca tentar
uma demonstração qualquer mediante um raciocínio. 88
A idéia que Le Bon explana faz sentido se considerado todo o trabalho uma vez que a
análise de um ou dois programas não permitiria tal enquadramento. Soares exagera no seu
discurso, nos gestos, na evocação a Deus e assim consegue salvar a todo o público presente.
Mas então se eles estão sendo salvos ali no templo, (o orador também prega que seus leais
podem ser curados através da televisão e inclusive em alguns momentos – não muitos –
comenta que ―Deus opera inclusive pela internet‖), quero deixar de ser um receptor e passar a
ter sentido nessa construção de cenário! Podem pensar os fiéis mais instruídos e mesmo os
menos letrados, são levados a tal conclusão, pois a composição do programa R. R. Soares
remete ao raciocínio.
Por outro lado, os testemunhos dos associados ocorrem ou no início do programa ou
no final. É mais costumeiro a inserção desse tipo de depoimento ao término. Nas declarações
dos patrocinador uma pergunta é sempre feita: ―quando você começou a colaborar?‖ Depois,
Soares pergunta: ―mas o quê Deus lhe retribuiu em agradeceu a sua contribuição?‖ Em todos
os programas o missionário fala mais de uma vez em patrocínio (chegando inclusive a
mostrar telefone e conta corrente da instituição) e em troca a Igreja Internacional da Graça de
Deus dá uma revista chamada Show da Fé.
Desse modo, as engrenagens do discurso apoiado pelos testemunhos, fazem com quê
os participantes do evento aumentem suas contribuições uma vez que é de interesse de todos
que ali estão, receber a graça divina e prosperar na vida.
Um dos principais pontos dos testemunhos dos associados, que ao todo chegaram aos
27 depoimentos, é quando o missionário diz que ―só deve ajudar a Deus quem sente Deus no
coração‖, quem é tocado pelo chamado. Logo o texto induz a acreditar que se você não ouve a
palavra de Deus é porque ainda não está completamente envolvido com a Igreja.
Mas se por outro lado, participa ativamente e recebe as bênçãos divinas, nessa situação
sim, tens a obrigação de colaborar. Ora, trata-se do poder de persuasão de quem com todas as
argumentações possíveis e imaginárias quer conquistar aos que querem ser convencidos.
Outra modalidade de testemunho, mas que fica posicionada no quadro Pergunte ao
Missionário, são os depoimentos em que o público é apanhado pelo enunciador (vem cá). O
88
LE BON, Gustave. Psychologia das multidões. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1921.
49
lugar de fala da testemunha não é de um fiel qualquer, pego por acaso pela emissão, mas
alguém que faz papel na estrutura de funcionamento da gestão deste projeto televisivo. O
apresentador posiciona-se como num lugar único que confere a possibilidade de ter seu
discurso autorizado.
2.5 Tempo de fala
A quantificação do tempo de fala do tele evangelista R. R. Soares está descrita nas
tabelas a seguir. Diferentes dos outros programas de auditórios que serão comentados a
seguir, o missionário não permanece exposto em período integral. Suas aparições variam com
músicas, paineis e até com a entrada de outros pastores.
A medição – variável porque não foi especificado precisão – foi feita em segundos. O
paralelo traçado foi o Tempo do Orador (TO) e o Tempo do Programa (TP).
2.5.1 Contagem em segundos do tempo da fala do orador versus Programa
DIAS T.O T.P
03.09.2005 3840 4860
05.09.2005 3180 5220
12.09.2005 3660 4860
14.09.2005 3000 4140
17.09.2005 3660 4860
19.09.2005 1741 4320
26.09.2005 3240 3320
28.09.2005 3660 4860
01.10.2005 2700 4740
02.10.2005 3451 4630
03.10.2005 2460 4920 Obs: T.O. = tempo do tele-evangelista / T.P. = tempo do programa – em segundos.
Fonte: organização do autor
O gráfico, na próxima página, comprova o tempo total de 34592 seg. do Soares para
50730 seg. do programa. Logo, o evangelista fica 68% da totalidade do tempo. Trata-se de um
painel com seu nome, mas que não tem sua presença integralmente.
50
2.5.2 proporção gráfica dos segundo do TO e TP.
Legenda:
S1 = Tempo que o Orador (TO) permaneceu no ar.
S2 = Tempo do Programa (TP).
Fonte: organização do autor.
1
S1
S2
50730seg.
34592seg.
0
20000
40000
60000
51
3 – Missão ou programa de auditório?
Com base nas análises dos programas gravados de R. R. Soares e do panorama
traçado. Vislumbram-se alguns parâmetros de semelhanças midiáticas dos painéis.89
Dessa forma, este capítulo mostra-se como necessário para que assim atinja-se uma
comparativo plausível frente aos programas de auditório citados antes e o programa religioso.
3.1 Palco
O palco90
é à parte do teatro em que os atores representam. É nele que peças teatrais
são desenvolvidas, filmes são assistidos, programas são gravados. Fazem parte dos tablados,
toda a tecnologia já desenvolvida para captar as cenas, o jogo de iluminação, construção
sonora e principalmente a composição com encenadores. Sem os atores, contracenando, os
palcos não teriam sentido e ficariam sem valor para o desenvolvimento da arte.
Na arquitetura, considera-se que há uma diversidade muito grande de estribos. Aqui
considerar-se-á os cinco principais tablados. O teatro Italiano é composto por uma disposição
frontal da platéia e também de outros elementos como palco delimitado pela boca de cena,
cortina e a presença da caixa cênica com urdimento, coxias e varandas. Ele é mais utilizado
em virtude das estrutura televisivas para que haja o espaço para o público compor o auditório.
O teatro do tipo Arena tem o estrado inserido no meio da platéia. Nesta tipologia a
público é disposta em todos os lados ou em toda a circunferência do palco, podendo sua forma
ser circular, triangular, quadrada, trapezoidal, etc. Essa configuração é muito comum ser
instalada ao ar livre. Observa-se ventos dominantes e os anteparos naturais como árvores e
montanhas ao implantar as arenas, pois, esses são elementos que definirão acústica. Assim
como no teatro Elizabetano ou Esporão, toda a estrutura do palco fica à vista do espectador,
por exemplo, à grelha para iluminação. Poucos edifícios teatrais são construídos nessa relação
tablado e platéia.
O teatro Elizabetano tem em uma configuração diferente, pois à relação palco x platéia
é invertida o que caracteriza o contrário do estabelecido no teatro italiano. A platéia envolve o
palco em três lados – frente e laterais. Não há, na maioria das vezes, a presença da boca de
89
Domingão do Faustão, Domingo Legal, Tele curso 2000 e outros mais. 90
Conceitualmente palco é a área de cena e não tem limites laterais definidos. A boca de cena define a abertura
da área de encenação. O palco será definido a partir das linhas de visão do espectador numa relação com a área
de cena proposta pela cenografia. É o espaço do espetáculo visto. Recomenda-se uma profundidade no mínimo
igual à boca de cena. Esta forma "quadrada" de propor a área de cena permite que a arquitetura cênica não seja
um agente limitador na estética da encenação. O palco e as coxias poderão receber equipamentos próprios. Os
elevadores de palco e do fosso da orquestra, palcos móveis e giratórios deverão, para o seu projeto e instalação,
receber a consultoria de profissionais especializados em cenotécnica para a definição do equipamento a ser
utilizado e de suas exigências para a instalação, funcionamento e manutenção. LAZULI. Conceitos. Disponível
em: <http://www.lazuliarquitetura.com.br/frame_conceitos.htm>. Acesso em: 26 out. 2005.
52
cena e da caixa cênica, ficando toda a estrutura da área do cenário à vista do espectador –
varas de cenário, iluminação e outros recursos técnicos e operacionais.
O teatro de rua, também chamado de passarela, tem o palco instalado
longitudinalmente entre duas platéias distintas, muitas vezes eles são instalados nas ruas,
praças, parques etc. Com ou sem caixa cênica, o espetáculo estabelece uma diferente estética
de encenação, há saídas e entradas da visão, sempre pelas laterais do palco.
Por último, o teatro Múltiplo caracteriza-se pela possibilidade de montagem do tablado
em diversas posições, não possui uma caixa cênica propriamente dita. Varas de cenário e
iluminação, varandas de manobra e carros contrapesados, são colocados visíveis aos olhos do
espectador, distribuídos por toda a extensão do espaço possibilitando a liberdade de escolha
do local e da configuração do palco e da platéia a ser instalada. 91
No quesito elementos do tablado, considera-se todo o conjunto físico, que contribui
para a formação da cena. No programa R. R. Soares, esses elementos são: púlpito
(transparente, posicionado no meio do palco, com altura aproximada de um, 50), o fundo do
estrado tem uma imagem de um céu, na lateral direita há um conjunto musical, na esquerda
tem uma televisão (na parede) tela plana para que o público veja os quadros que são gravados
externos ao estúdio, o piso é branco, os cantos do fundo são arredondados e ainda tem duas
caixas de som, na frente do palco, que dão retorno ao orador. Outros tablados ainda podem
conter, além desses elementos, outros como: bailarinas dançando e atiçando a curiosidade do
telespectador, balcão para o apresentador se apoiar e dialogar com os presentes, o uso de
pessoas conceituadas e também atores é muito trabalhado, fundos coloridos e luzes coloridas
também seduzem o receptor.
O exemplo do missionário Soares, tem características próprias, apesar de que, se
considerada a posição (o missionário fica em cima e o público em baixo) do pregador,
verifica-se que há uma idéia de professor e aluno. Aos moldes da educação do século XIX, o
orador transporta sua pessoa para a pregação da palavra divina. Acima dele não há mais
ninguém se não Deus. Com um fundo em forma de nuvem mais equipamentos de música no
lado direito, o tele-evangelista dispõe de uma área vasta para se mover e uma grande
liberdade. Há uma idéia de submissão com essa arquitetura do palco.
Apesar de características bem próprias de individuais de cada apresentação, os
programas Domingo Legal (do Gugu), Domingão do Faustão (Fausto Silva) e R. R. Soares
(do missionário que dá nome ao programa), tem lá suas afinidades no quesito palco. Soares
91
LAZULI. Conceitos. Disponível em: <http://www.lazuliarquitetura.com.br/frame_conceitos.htm>. Acesso
em: 26 out. 2005.
53
profetiza e evangeliza sobre um palco com as mesmas características físicas dos programas de
auditórios citados anteriormente. São teatros do tipo Italiano.
Gugu apresenta seu programa numa estrutura de palco igual, Faustão idem. As
características de programa de auditório (físicas) são mais próximas entre Silva e Liberato.
Mas Soares tem, ainda, outros pontos que remetem aos programas de auditório. É o caso do
púlpito do Faustão (além dessas características, o palco do Domingão é muito colorido tem
bailarinas, há espaço para uma banda de música, também o espaço do apresentador é grande)
que fica em uma lateral em frente a telas de televisão.
O fundo do palco assemelha-se ao de um teatro, pois os artistas entram através dele.
Existem outras igualdades nos tablados, mas entre os programas Domingo Legal e Domingão
do Faustão que com R. R. Soares. Exemplo disso são as bandas sobre o palco. Faustão tem
uma banda sobre o palco, (não é a banda principal) no mesmo lado do programa de Soares,
lado direito, já no programa do Gugu as bandas se apresentam no centro do tablado.
Outro ponto de igualdade nos programas analisados é por onde é feita a entrada dos
convidados e do apresentador. No caso do Faustão e Gugu, a entrada é feita pela parte do
fundo. Ao passo que no programa de Soares, além de permanecer só ele sobre o espaço – com
exceção quando uma banda participa ou o pastor convida pastores para dividir o palco – a
entrada é feita por escadas laterais que dificilmente aparecem no plano do vídeo.
Por fim, uma das outras características mais importantes é a igualdade na exposição de
aparelhos de TV (ou telões) no palco. Soares deixa seu aparelho no canto esquerdo do
proscénio. Ali são mostradas as cenas gravadas fora da igreja, mas que o público sentado pode
participar. Já as telas de Faustão e Gugu, além de serem muito maior em proporções, são
usadas com a mesma finalidade, mas causando efeitos maiores.
Assim, por se tratarem de programas semelhantes, á também o tratamento/análise as
diferenças. Os programas de Faustão e Gugu tem mulheres dançando, geralmente com roupas
bastante curtas que é para instigar a imaginação do público masculino, os convidados ficam
sentados no palco, como já comentado. Soares não recebe convidados com algumas exceções,
as bandas tocam no centro do palco (no caso do missionário o lugar da banda é fixa no canto
direito do estrado), ele não utiliza um papelote para orientar-se sobre os quadros, o que
acontece em todos os programas do Faustão e Gugu.
Quantos as características de gestos e ações promovidos por Soares e que podem se
assemelhar ao programa do Faustão podemos citar o quadro Abrindo Coração. Nessa
composição o missionário ouve a carta de uma pessoa e comenta dentro dos seus parâmetros,
situações que podem ajudar essa pessoa a resolver os problemas. Silva faz um gesto parecido
54
quando apresenta o quadro Quenta Coração. Há comentários proferidos por Fausto, quando o
panorama acaba de ser exposto. Geralmente um ator vai ao programa e recebe uma
homenagem através do Quenta Coração. A seguir Faustão sempre comenta algo como se
quisesse complementar as informações já expostas na tela.
No programa Domingo Legal, uma semelhança que se caracteriza com Soares, são os
conselhos em forma de venda. Parece que Gugu quer instruir melhor seu público oferecendo
produtos e coisas que contribuem para uma melhor qualidade de vida de quem assiste. Soares
quando oferece seus livros também age nesse sentido. No programa do Domingo Legal,
analisado dia 23 out. 2005, ele oferece, também, uma Bíblia. Trata-se do livro sagrado em
versão eletrônica (para computador ou DVD) e interativa. O líder da Igreja Internacional da
Graça de Deus, não oferece Bíblia, mas sim livros que buscam doutrinar seu público.
Logo a relação estabelecida com os programas Domingo Legal, Domingão do Faustão
e R. R. Soares, vai além de características técnicas. Pontos semelhantes como à construção e
arquitetura do palco são de fundamentais importâncias para que se chegue à conclusão de que
o programa do Soares é de cunho popular com profundo teor religioso e os prospectos dos
apresentadores citados antes, também são feitos para o povo, mas com fins comerciais.
No paralelo das falas, o tele-evangelista quando se dirige a sua platéia fala ou
diretamente, no momento que colhe depoimentos logo após os milagres, ou indiretamente,
quando olha frontalmente para o geral. Sua verbalização com os convidados é muito restrita.
De 2 a 4 minutos em média é o tempo que Soares dialoga com algum convidado, após esse
bate papo cantam, não há grupos que sobem no palco. No tablado de Soares só as pessoas
mais importantes ou cantores sobrem. Já Faustão e Gugu, fazem movimentos de falas mais
para as câmeras do que para o público do auditório. No Domingão, o apresentador, conversa
muito com o público presente no tablado, quando há convidados ou o quadro Pizzaria do
Faustão, nesse painel vários atores da Globo são convidados e assuntos pautados pelo
apresentador são debatidos ao mesmo tempo em que se degustam pizzas.
No Domingo Legal, os diálogos com os convidados se dão quando acontecem
brincadeiras. As travessuras são jogos, geralmente têm dois times, homens e mulheres,
também com artistas inseridos (mas sem discriminação para atores de outras emissoras). O
diálogo do Gugu com seu auditório é acessível, vez por outra, pessoas são convidadas a
participarem de algum evento e acabam se aproximando do apresentador. Faustão também
tem essa proximidade com o público, mas com uma menor freqüência, pelo menos com o
auditório, menor do que Liberato.
55
Os diálogos comparativos dos programas do Faustão, Gugu e Soares, remetem à
prévia conclusão de que o pastor tem um discurso mais cauteloso e concentrado (apesar de se
tratar de uma igreja com origem neopentecostal voltado a um culto mais festivo) justamente
por falar em religião. Ao passo que Liberato e Silva são mais comediantes e relaxados tanto
na forma como expressão de suas idéias quanto no conteúdo que expõe.
Assim, a forma como todos os apresentadores, citados antes, se manifestam é diferente
e carregada de características próprias. Mas como eles se utilizam dos discursos, nesse
momento sim há semelhanças entre si. Evidencia-se o jogo dos apresentadores R. R. Soares
(com crenças neopentecostal) versus Faustão e Pa. Marcelo Rossi com outras crenças.
Além dos programas Domingo Legal e Domingão do Faustão, tem outros proscénio
que – em sua composição – se assemelham ao R. R. Soares. O programa Sai de Baixo é um
deles, exibido ao vivo, ele tem em sua receita um auditório que participa ativamente das
edições. Pensado pelo diretor Daniel Filho e o ator Luiz Gustavo, eles fizeram estudos de
audiência (na Rede Globo o que pode ser pesquisado para minimizar os riscos é feito,
segundo o diretor as pesquisas de audiência servem de apoio à percepção e sensibilidade do
produtor e também para se idealizar um programa visando um público determinado) e
descobriram que o melhor público era o paulista. O produtor considerou a platéia como o
sétimo personagem. Os outros seis eram: Tom Cavalcanti (como o porteiro Ribamar), Aracy
Balabanian (como sogra do Caco), Miguel Falabela (como Caco), Marisa Orti (como Mágda),
Cláudia Jimenez (como a empregada) e o Vavá (Wanderlei Mathias interpretado por Luiz
Gustavo).
O formato sitcon expõem bem essa situação. Cotidianos comuns de famílias, são
trazidas para o teatro sendo satirizados pela arte.
O Programa do Jô, com o apresentador Jô Soares, transmitido pela Rede Globo,
caracteriza-se por um apresentador, com trajes semelhantes ao de R. R. Soares, mas que fica
sentado atrás de uma mesa a entrevistar seus convidados. Há relações entre ele e seu público,
principalmente no início do programa e ao término. Mas os diálogos não são tão pontuais
quanto os do pastor. Parecem ser mais aleatórios e espontâneos dando um ar de descontração.
Ora, conclui-se, com argumentações baseadas pelos comparativos dos programas Sai
de Baixo, Jô Soares, Domingão do Faustão e Domingo Legal, que eles têm idéias e estruturas
semelhantes contribuindo assim, para a existência de proximidades entre eles.
São programas de auditório com público para auxiliar no conjunto das sistemáticas
comunicacionais. Assim, sem platéia, nenhum programa desse gênero teria sua validade, pois
é a partir dela que se tem respostas as ações. Sai de Baixo, com sua comédia e modo
56
debochado de encarar as dificuldades da família, Domingo Legal, com informações e até
central de jornalismo (um contrapontos a aberrações que também são mostradas), Domingão
do Faustão, com muitos assuntos supérfluos e exposição permanente de atores globais, e Jô
Soares, com seu modo sério e ao mesmo tempo escachado de se relacionar com seu público e
com seus convidados, compõem características individuais que somam à pluralidade dos
programas de auditório.
Um outro item a ser considerado, é a movimentação dos comunicadores. O
missionário movimenta-se pouco. Faustão caminha a passos largos ao contrário de Gugu.
Soares só transita, mesmo com todos os espaço que já se referiu aqui anteriormente, pouco.
Do púlpito até a frente, mas sem uma proximidade maior com o público que está lá em baixo.
Faustão caminha livremente e chega a conversar com a diretora em meio ao programa. Cenas
dos bastidores já aparecerem em seu programa e isso pode caracterizar, também,
informalidade. Gugu também caminha sobre a área de apresentação, mas por seu palco ser um
pouco menor que os programas de R. R. Soares e Domingão, caminha menos. Não é comum
os bastidores aparecerem nas cenas do Domingo Legal.
Outros prospecto de auditório como Sabadaço, apresentado por Gilberto Barros, 92
poderia servir de ilustração às presentes comparações, mas isso poderia acarretar parágrafos e
mais parágrafos. Além de programas como Sabadaço, R. R. Soares tem características com os
programas: Domingo da Gente, 93
Programa do Ratinho, 94
Altas Horas95
e inclusive com o
Casos de Família. 96
Todos tratam de assuntos comuns e familiares, são compostos por palco
e auditório, são transmitidos via algum canal de televisão expressivo, trazem convidados e
principalmente relacionam-se com o seu público. Além disso, as construções midiáticas, por
estar em um mesmo meio, o TV, são semelhantes. As arquiteturas singulares, mesmo que com
temas por vezes muito diferentes, se completam.
Dessa forma, como é de costume, a dinamização das cenas através do andar dos
apresentadores, os programas de auditório trabalham, apesar de assuntos diversificados, com
movimentos similares. Uns com mais velocidade na cena, outros com gestos mais contidos e
calculados, como é o caso de programas religioso aqui pautado, mas todos eles com ações
92
BAND. Sabadaço. Disponível em: <http://www.band.com.br/sabadaco/>. Acesso em: 26 out. 2005. 93
RECORD. Domingo da Gente. Disponível em:
<http://www.rederecord.com.br/frameset.asp?prog=programas/domingodagente>. Acesso em: 26 out. 2005. 94
SBT. Programa do Ratinho. Disponível em: <http://www.sbt.com.br/programas/ratinho/>. Acesso em: 26
out. 2005. 95
GLOBO. Altas Horas. Disponível em: <http://altashoras.globo.com/index.html>. Acesso em: 26 out. 2005. 96
SBT. Casos de Família. Disponível em: <http://www.sbt.com.br/casos_familia/giro/>. Acesso em: 26 out.
2005.
57
para estimular o telespectador, pois existem diferenças significativas do envolvimento ao vivo
e do virtual.
O posicionamento do orador frente ao seu público, também é um fator que merece ser
comentado. Soares faz seu discurso com pouco movimento no palco, como já dito, mas a
visão do receptores da TV é outra. Há uma construção estudada de ângulos que fazem com
que o telespectador tenha a nítida impressão de estar participando do culto como se no próprio
local estivesse. Maria da Graça comenta sobre isso com a frase abaixo:
Sem dúvida, os melhores comunicadores de TV são aqueles que estão próximos do
povo ou os trazem próximos a si, como fazemos apresentadores de programas de
auditório. 97
Por isso com os apresentadores Faustão e Gugu, percebe-se uma construção, nesse
sentido, é mais verbal do que visual. Eles se referem muito mais ao público de casa do que
Soares. Na análise da 11 edições, há uma contagem de no máximo 11 vezes a referência do
missionário ao telespectador. O que não ocorrem na exposição dos planos.
Assim sendo, os programas Domingão do Faustão, Domingo Legal, e outros de
auditório tem suas diferenças, mas contém mais semelhanças, no contexto geral, do que
subtrações. Soares gesticula como os apresentadores, dialoga com seu público como eles
fazem, contribui para a formação de sentidos, para a construção de idéias, e dessa forma o
auditório tem a impressão de ver seus desejos saciados. Ambições essas, que podem ser
simplesmente entretenimento até vontades da fé e, por que não, comentar, a associação desses
desejos? Diferente de outras igrejas, a metodologia das pentecostais vislumbra muito mais que
sermões e situações de sofrimento. Há a alegria que tem nos palcos de programas dominicais
inseridas nos cultos evangélicos.
A construção geral do programa de R. R. Soares remete a credibilidade e imposição de
respeito. Sobre um palco mais alto que o auditório, o pastor evangeliza seu rebanho. Seu
semblante fica intocável, pois não é acessível ao povo ali adorador. Ele é tratado como
missionário e não um homem do povo como os principais apresentadores da televisão
brasileira. A missão de Soares é salvar vidas e o seu pocisionamente, frente ao seu rebanho, é
de mestre, de quem ensina e orienta a missão de Deus e Jesus Cristo.
A construção de R. R. Soares é feita de forma estudada meticulosamente, dessa forma
a exaltação que os fiéis têm é extasiaste. Sempre na abertura dos culto Soares entra depois
como se fosse divino, sublime tal qual uma estrela de Rock que tem sempre uma banda
musical menos conhecida a qual faz a abertura de um espetáculo. Há sim a construção de um
97
SILVA, Maria das Graças. A Igreja e a evangelização pela TV, editora Paulinas, São Paulo, 1991.
58
show. Com outros programas, como o Show da Fé, Soares é o tele-evangelista que mais se
expõem na TV nacional. Existem diferenças entre as construções do seu culto televisionado e
seus cultos que giram em visitas aos estados o brasileiros, de tempo em tempo. Mas a imagem
adorada permanece.
Os programas televisivos, de auditório idem os citados antes, e R. R. Soares também,
utilizam-se dessas estruturas. Num geral, essas apresentações, se utilizam do tipo teatro
Italiano esse corresponde ao formato retangular e frontal para o público. As construções de
posicionamento entre apresentadores são similares e um lembra o outro. Faustão com sua
proximidade acessível às pessoas, Gugu com o toque em seu espectador.
Contudo a relação que Soares tem com seu público classifica-os como espectadores e
expectadores. Se visto pela idéia religião é o ópio do povo, 98
eles tendem mais a serem
expectadores (no sentido de aguardar o cumprimento de uma promessa, da expectativa), pois
se comportam como massa de manobra frente às ilusões de um líder religioso que se
manifesta em nome de uma divindade. Nenhum apresentador brasileiro, citado, fala em nome
Deus, exceto aqueles que da televisão fazem uso para sua pregação.
Oradores como R. R. Soares, Edir Macedo e outros tantos utilizam-se da mídia TV
para expandir suas atividades. Seus negócios como venda de CD´s, livros, entre outros,
inegavelmente também são beneficiados nesse processo, como impulso de consumo dos
produtos ligados a ele. Conseguindo, dessa maneira, doutrinar da melhor forma possível. Não
que Faustão ou Gugu não tentem doutrinar quem os assiste, eles o fazem, mas de maneira
política e social, sem pregar religiosidade.
3.2 R. R. Soares e os programas educativos
O paralelo de R. R. Soares, e sua comunicação, com os programas educativos vai mais
além. Soares, sobre o seu palco com um metro de altura, realça-se do público. Apesar de o
auditório ter um formato na diagonal (as pessoas estão sentadas como em um cinema ou em
uma escada), o missionário escolhe individuo entre o rebanho para conversar.
Nunca ninguém se pronuncia sem antes pedir permissão, isso associado à dificuldade
de acesso, ao seu título (missionário que remeta a missão), o dom da pregação da palavra de
Deus e além da sua postura, sua vestimenta, colaboram para que haja uma edificação da
imagem de mestre. Um paralelo com antigas aulas do século passado em que o ensinador
98
Essa frase foi citada pelo pensador Karl Marx. SCIELO.BR. Marx, Religião e Política: O Protestantismo
Conservador Norte-Americano como Ópio do Povo. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581998000100006&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 03 nov. 2005.
59
ficava distantes dos alunos (pessoas sem luz) e com seu conhecimento iluminava a vida dos
quê menos sabia. Além disso, a composição do seu corpo com o fundo do cenário (o céu
ilustrado) colocam missionário mais perto de Deus. Mais próximo de quem tem algo a
ensinar, esse efeito visual fica mais evidenciado se o fiel observar o pastor a partir da primeira
fila, por um outro ângulo.
Mas qual é o papel do educador frente ao aluno? Iluminar sua existência, compor
conhecimento para que estudantes entendam os mistérios da vida. E há segredo maior e mais
divino que a fé? Por isso Soares está ali em seu palco que pode simbolizar um altar.
Técnicas de didática99
são reunidas ao seu discurso e a explanação vai se delineando.
O pastor lembra professores dos colégios de internato que além de pregar a palavras divinas
ainda faziam ameaças para quem não seguisse os passos do senhor. Ele leva a sério sua
posição de mestre, criou a Academia Teológica da Graça de Deus – AGRADE.
Uma universidade com intuito de formar homens versados como ele. O curso de pastor
credencia ao bacharelado em Teologia, além disso, também oferece aulas com mestre e
doutores no tema, teoria e prática são expostas nas turmas aos sábados, currículo com mais de
30 disciplinas (grego, hebraico e missões), dispõem de uma estrutura a 50 metros da estação
de trem do metro de São Paulo. 100
Especialista nos assuntos tem posições de destaque, é assim também, que aconteceu
nos programas de auditório do Faustão e Gugu. Em determinadas situações, como na
apresentação assistida no dia 24.10.2005, o apresentador Augusto chama um cirurgião
plástico para comentar tatuagens e outras aberrações no corpo das pessoas que participam do
painel Atualidades. Raristas em determinados assuntos chegam a ter seus próprios quadros em
99
Como adjetivo - didático, didática - o termo é conhecido desde a Grécia antiga, com significação muito
semelhante à atual, ou seja, indicando que o objeto ou a ação qualificada dizia respeito a ensino: poesia didática,
por exemplo. No lar e na escola, procedimentos assim qualificados -didáticos - tiveram lugar e são relatados na
história da Educação. [...] A situação didática, pois, foi vivida e pensada antes de ser objeto de sistematização e
de constituir referencial do discurso ordenado de uma das disciplinas do campo pedagógico, a Didática. Na longa
fase que se poderia chamar de didática difusa, ensinava-se intuitivamente e/ou seguindo-se a prática vigente. De
alguns professores conhecemos os procedimentos, podendo-se dizer que havia uma didática implícita em
Sócrates quando perguntava aos discípulos: "pode-se ensinar a virtude?" ou na lectio e na disputado medievais.
Mas o traçado de uma linha imaginária em torno de eventos que caracterizam o ensino é fato do início dos
tempos modernos, e revela uma tentativa de distinguir um campo de estudos autônomo. CENTRO EFE.
Trajetória Histórica da Didática. Disponível em: <http://www.centrorefeducacional.pro.br/trajddt.htm>.
Acesso em: 26 out. 2005. 100
ONGRACE.COM. Academia Teológica da Graça de Deus. Disponível em:
<http://www.ongrace.com/agrade/>. Acesso em: 26 out. 2005.
60
alguns programas. Esse é o caso do Dr. Dráuzio Varela que há algum tempo vem fazendo
participações constantes do programa Fantástico101
.
A posição de conhecedor do assunto dá um caráter sério, mesmo que por alguns
instantes em programas como esse, e o público sente como se estivesse recebendo um
conhecimento gratuito. O mesmo ocorre no Domingão do Faustão. É uma característica
própria de prospecto de auditório. Contudo na pregação de Soares ele é o especialista, é ele
quem afirma – sempre se pronunciando em nome de Deus – por isso, ele é quem tem que ser
seguido. Táticas midiáticas associadas ao discurso religioso e encenação de sentidos, dão a ao
missionário o título de Doutor.
Assim, elementos como a Bíblia (sua relação com o livro sagrado já tem algum
tempo, Soares cita-a, mas não depende dela para finalizar seus discurso, ele é o dono da
palavra naquele momento e todo o houve aceitando-o), sua posição frente aos fiéis, seu tempo
e experiência de pregação (aproximadamente 30 anos), 102
a construção de sentidos que o
pregador faz com a conjuntura midiática, a missão que diz ter recebido a construção do
cenário físico e, por fim, a edificação psicológica desenvolvida sobre a fragilidades humana e
principalmente dos que acabam de entrar para na igreja, forma e intitula R. R. Soares como
mestre. Aquele que sabe, ensina e pastoreia seu rebanho.
Por outro lado os apresentadores mais populares do país agem de maneira contrária.
Possuem título de ensino superior, mas atuam como verdadeiros homens do povo. Conversam
com todos, tocam no público e instigam a curiosidade dos telespectadores sobre determinado
assunto, como se já não soubessem. Usam uma linguagem aproximativa e impresionam-se
com algum fato que para o público em geral é estranho e distante. Mesmo nos programas de
auditório, há quadro que ensina a fazer determinada coisa, assim à expressão nunca é de
distanciamento.
Fausto e Gugu trabalham uma comunicação popular e acessível. Seu pessoal é
formado por pessoas com baixo grau de escolaridade. Por isso complicar significa excluir, e
exceptuar significa reduzir o número de telespectadores. O que na TV sempre é sinônimo de
prejuízo.
O mesmo vale para a apresentação de Ana Maria Braga, formada em Ciências
Biológicas, Ana – como gosta de ser chama – ensina a fazer desde bolo (em sua cozinha) até a
ler mãos. Sempre sorridente e simples ela é um exemplo para muitas mulheres. E por que não
101
O programa Fantástico vai ao ar sempre aos domingos à noite. Intitulado a Revista Eletrônica, o programa é
composto por quadros variados. São reportagens misturadas com quadros de humor e musicais. GLOBO.COM.
Fantástico. Disponível em: <http://fantastico.globo.com/>. Acesso em: 26 out. 2005. 102
PROGRAMA R. R. Soares, Fitas VHS. Disponível em arquivo particular. Gravado em: 05 de set. 2005.
61
afirmar, mestre? Sem posicionamento prepotente e em todos os momentos acessível, seu
programa tem público cativado. Ana Maria Braga vai ao ar todos os dias de segunda sexta-
feira das 8 as 9hrs.
Um líder religioso evangélico chamado por Deus. Essa é a definição do próprio
missionário R. R. Soares para com a sua pessoa. A citação ajuda a ilustrar melhor, ―Graças,
porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta
em todo lugar a fragrância do seu conhecimento‖. 103
Soares acredita e faz, quem está ao seu
redor acreditar, que tem uma missão divina e por isso é o missionário da Igreja Internacional
da Graça de Deus.
Com tal proposta divina, o pastor segue evangelizado o seu rebanho. E como todo
homem de Deus, o tele-evangelista galgou seu espaço degrau por degrau (pode-se afirmar,
inclusive, na forma literal de degrau), até chegar onde está. Neste segundo semestre de 2005,
afirma-se – com base nas análises das fitas, que R. R. Soares está distantes dos pobres mortais
– ele prega a divindade. Com sua imagem pessoal projetada sobre um fundo de cenário
remetente ao céu, Soares mostra-se mais próximo de Deus e por isso uma autoridade em seus
ensinamentos. A idéia é: eu estou próximo do divino, inclusive por isso estou aqui no alto, e a
imagem do céu indica que sou endeusado e por isso preciso ser ouvido. Lembrando que
―Deus está nas alturas‖.
A missão de evangelização proposta pelo show R. R. Soares é pregar a palavra de
Deus e Jesus Cristo, seu filho. Para isso, como já comentado, ele faz utilização da Bíblia e
explana a todo o seu público. Mas, qual a relação de pregação e educação proposta pelo
evangelista? R. R. Soares instrui seu público como professor e mestre. Ele não lê de forma
bruta e sem lapidação o livro sagrado, há interpretação e ajuda para que seus alunos tenham
uma vida mais iluminada. Com a palavra de Deus o missionário pode ser comparado a
professores e a professo, 104
que assim como ele se utiliza a mídia para doutrinar.
Desse modo, o Telecurso 2000 (programa de educação dirigido a trabalhadores de
baixa escolaridade, jovens e adultos, com curso supletivo da 2ª fase do ensino fundamental e
103
ONGRACE.COM. Academia Teológica da Graça de Deus. Disponível em:
<http://www.ongrace.com/agrade/>. Acesso em: 26 out. 2005. (2 Co 2.14). 104
que professou ou fez votos numa ordem religiosa; perito; experimentado; hábil; frade que professou; relativo
a frades ou freiras. PIBERAM.COM. Professo. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>. Acesso em: 01 nov. 2005.
62
do ensino médio, exibido diariamente pelo Canal Futura105
), faz um movimento semelhante
ao pastor. Ele utiliza a TV como ferramenta principal e a partir dela educa.
Outro programa semelhante de educação é o Futura Profissão106
(uma série de
apresentações, baseada em teledramaturgia, que oferece cursos de preparação para
profissionais de nível médio, produzida pela RBS e exibido, também, pelo Canal Futura. Os
painéis desenvolvem-se a partir de experiências práticas do cotidiano e abordam ofícios como
jardinagem, corretagem de seguros, operação de microcomputadores e telemarketing).
Logo, se o ensino à distância cativa por usar sistemas mediáticos e se em determinadas
situações esses métodos forem associados a atrações como em um auditório, a tele-
evangelização está embrenhada nessa rede de métodos que conquistam e fazem o
telespectador confundir-se com expectador, com isso acreditam que ao assistir ao programa,
ele está crescendo espiritualmente.
Assim, o público que participa do culto parece um figurante em toda a rede de ações
desenvolvidas. Trata-se de um prospecto que não é feito para quem está ali presente, mas sim
um programa que é calculado para ser transmitido via televisão (com muita semelhança ao
modelo de educação à distância escolhido pelo Tele-curso 2000) e que por trata-se de um
prospecto composto de assistência, utiliza-o para a criação de cenário litúrgico. Ou seja,
aproveita-se mais, o culto da Igreja Internacional da Graça de Deus - inclusive podendo
receber a graça, os milagres e a evangelização - através da caixa mágica, do que se for
participar presencialmente. É uma aula de religião com construções atrativas com dia e hora
para começar, como uma costumeira aula.
Colocadas todas essas análises, nos parágrafos anteriores, resta uma questão ainda:
qual a diferença entre os outros apresentadores – formadores de opinião como Jô Soares,
Fausto Silva, Augusto Liberato – e R. R. Soares? Soares posiciona-se como professor e
evangelizador, Faustão e Gugu como homens do povo, Jô como um intelectual e escritor
comediante. Todos formam opiniões, todos constroem imaginário e pautam assuntos, mas
todos têm seus públicos diferentes e segmentados.
O missionário prefere as pessoas menos providas de conhecimento e, além disso,
vazias de Deus, precisando de ajuda (se não estiver precisando, ele faz com quê necessitem
porque sem seus fiéis o orador-pastor não poderá manter seu evangelização e pregar a palavra
divina como ele diz).
105
FUTURA.ORG. Assista. Disponível em: <http://www.futura.org.br/telecurso20001og/default.asp?P=78>.
Acesso em: 03 nov. 2005. 106
FUTURA.ORG. Programas. Disponível em: <http http://www.futura.org.br/programas.asp>. Acesso em: 03
nov. 2005.
63
Jô opta por estudantes e pessoas que conhecem um pouco de determinado assunto. A
seleção pelo seu programa começa no agendamento em que ele é exibido (próximo da meia
noite, esse horário é momento em que estudantes universitários estão dispostos a assistir um
programa de entrevista).
Gugu trabalha um público também simples como o pastor, mas que busca diversão e
algo o quê fazer num domingo à tarde, depois de uma longa semana de trabalho (porque esse
público é mais vulnerável as tentativas de comercialização de produtos, o que o apresentador
faz com freqüência).
Fausto Silva – como característica igualitária – faz sua apresentação para pessoas
humildes, mas não tão simples assim, uma vez que a Rede Globo tem um padrão de qualidade
que não permite que certas situações escabrosas ocorram no ar.
Desse modo, com todos esse formadores de opinião citados, observa-se que as
construções midiáticas estudadas e aplicadas por eles, formam arquiteturas de interesses dos
diferentes públicos, capazes de cativar a quem se deseja.
3.3 A Novela da Vida Real
O que é A Novela da Vida Real? Como contado antes, trata-se de um dos ganchos do
programa de Soares. Agora se explana maiores detalhes. O quadro usa a fórmula de emoção e
pessoas que passam por atores (naquele momento), mas que são familiares a todos nós. Uma
mãe que está desesperada porque perdeu a fé, um filho que vê vultos após a morte de sua mãe,
uma criança possuída por demônios são alguns dos temas presentes nesse painel. Pessoas
choram, parentes ou vizinhos contribuem com testemunhos, mas sempre há alguém por perto
que é o salvador e conhece a Igreja que a libertará. Observe o comentário de Fausto Neto
sobre fins estratégicos mercadológicos.
O que se reconhece é justamente o tipo de pertinência que tem o caso daquele que
sofre ou pede a cura e que ascende à emissão para os fins estratégicos,
mercadológicos, etc, do programa e das igrejas. Assim, o acesso se dá sob certas
condições. Ou seja, a oferta da escuta e do encaminhamento da terapêutica...
O encaminhamento da terapêutica, a que se refere Fausto, trata de uma mensagem de
cura para uma individuo. Exclusividade do discurso que serve para a informação de todos que
estão assistindo ao quadro. Ele prossegue:
...faz-se em cima das individualidades, por assim dizer, de certas singularidades,
mas são singularidades que trazem características emblemáticas, nos termos segundo
os quais a história daquela demanda, ou de quem tem algo a dizer, é apenas um
pretexto para as razões instrumentais e mercadológicas em que se funda a emissão
da instituição religiosa. As operações enunciativas das estratégias não dão ênfase
tanto a conteúdos...
64
Ora se não há preocupações quanto ao que é dito, falado e sim como esse texto pode
complementar o envolvimento dos fiéis, os tele-evangelistas criam atmosferas ilusórias e
fictícias com semelhanças às telenovelas. O estudioso complementa ainda.
...mas para aquelas formas com que se pode, aparentemente, prever os engajamentos
dos fiéis – dos seus corpos – nessas estruturas de consumo da religião, Assim,
menos conteúdos, mais desempenho, menos reflexão e mais imaginação tutorizada,
segundo a complexidade de linguagens verbais e não-verbais que articulam campos
sociais como mídia e religião nessas tarefas de tornar Deus vivo. 107
Desse forma, então, é criada e desenvolvida a atmosfera de realidade. Um conjunto de
ações que levam o telespectador à conclusão: sofro e quando eu encontra a igreja
Internacional da Graça de Deus, seja por um amigo, vizinho ou familiar, encontrarei a paz e
serei feliz. Ilusão.
Ilusão assim como as novelas da Rede Globo fazem. Verdadeiras obras de arquitetura
televisiva, as dramaturgias são produtos genuinamente brasileiro que alimentam o povo com
aquilo que eles não tem, mas almejam ter. Vendem dinheiro, emoção, drama, amor, felicidade,
e a idéia fixa de que no fim o mal sempre pagará e a pessoa boa será gratificada.
O título Novela da Vida Real vende sim dramaturgia. Trata-se de uma direção
televisiva que demonstra a criação do drama. Cabe aqui a dúvida; são atores reais que
participam do produto? Não está contido nos objetivos responder mas até que ponto atores
são reais? O que é relevante, é o fato de pessoas humildes estarem dispostas a deporem e
alimentarem contribuindo dessa forma, para a soma das técnicas televisivas.
O quadro de Soares tem algumas diferenças das dramaturgias apresentadas por
emissoras como Globo e SBT. Primeiramente não tem atores famosos participando, (nos dois
canais citados antes, o público conhece o elenco). A duração da telenovela da Igreja é
pequena (sem a introdução de capítulos e seu espaço dentro do tempo do programa é curto se
relacionado com o tempo total). Não há efeitos visuais como nas novelas costumeiras e o
objetivo parece ser de se igualar, o máximo possível, com a vida real. Talvez por esse motivo
o quadro tenha o nome de Novela da Vida Real.
Outra característica que o diferencia da teledramaturgia da concorrência é a falta da
inserção de comerciais nos intervalos. Mesmo porque não tem intervalos. Nas novelas globais
a intenção comercial é escancarada. O público se interessa tanto por consumir objetos dos
atores que o tipo de comercial merchandising108
não pára de crescer. Essa forma de
propaganda mascarada colabora para que orçamentos altíssimos como o da América, sejam
bancados por seus patrocinadores.
107
FAUSTO, Antonio Neto. A midi(c)alização da cura. São Leopoldo, 2004. 108
Tipo de anúncio subliminar. Mensagens camufladas são inseridas em contextos simples.
65
Mas se a Igreja propõe A Novela da Vida Real, como fica a questão: quais soluções
Soares disponibiliza para resolver determinados casos vivenciados no quadro? O pastor prega
a palavra de Deus e soluciona todos os problemas. A solução já está data quando o
missionário entre em cena e conversa com os atores. Sobre o seu palco, o missionário faz
algumas perguntas ilustrativas como ―Quem lhe ajudou a sair dessa situação?‖ E assim ele
abre espaço para introduzir mais doutrinas e confirmar as já comentadas com seus públicos.
Isso acontece no capítulo da Novela da Vida Real que se chama Jesus me trouxe a paz
e a alegria verdadeira, em que o personagem Vanilson ouve vozes e depois de ouvir seu pai,
evangelizado pela Igreja da Graça, decide expulsar o mal da sua vida. No capítulo seguinte,
também comentado antes, intitulado Ele é o Deus que restaura, uma senhora chamada
Antonieta, sem fé, conhece a palavra do evangelho após ligar sua televisão aleatoriamente em
um dia qualquer. ―Então, se tens problemas, sempre há alguém ao seu lado com a
evangelização que ajudará você a achar o caminho‖. Pode-se entender que a mensagem final é
essa.
Destrinchando com mais detalhes o episódio do dia 03 de setembro, sobre a estória de
Vanilson, o enquadramento, construção do discurso, o testemunho do seu pai, a locução da
repórter que começa introduzindo o assunto e o tema principal, morte, são fatores que
contracenam com questões de interesse de Soares. Um rapaz que foi salvo pelo seu gerador
com a palavra de Deus e que agora é pastor e só dá alegrias a ele. O mal, no exemplo o
demônio que fazia o jovem ouvir vozes foi exortado e todo o bem colocado diante da vida de
Vanilson após sua conversão ao rebanho da Igreja da Graça.
Já os detalhes da estória de Antonieta, Novela da Vida Real do dia 14 de setembro,
também remetem para uma construção midiática positiva para a conjuntura da igreja
evangélica analisada. Antonieta, uma senhora de uns 50 anos, pagava aluguel há nove anos e
revoltada com tudo um dia liga a televisão e encontra-se com Soares falando sobre associado.
Ficou mais revoltada ainda, mas depois de algum tempo passa a contribuir com a obra do
missionário. Resolveu todas as questões da sua vida, comprou uma casa própria – sonho de
todo brasileiro, e tem uma vida mais feliz e próspera. Graça a igreja de Soares. A análise das
duas emissões do quadro A Novela da Vida Real, colabora para uma construção conclusiva de
que os problemas, que todos enfrentam e que tem dificuldade em solucionar, tem solução sim
com a presença do missionário em sua vida. O final feliz (aquele que as telenovelas sempre
apresentam e que são constituídos pela morte do vilão, casamentos e nascimentos de filhos)
sempre está conectado com os ensinamentos da Novela da Vida Real.
66
Por fim, traçando um comparativo entre os dois episódios do quadro, pode-se perceber
a familiaridade nas edições de vídeo. No capítulo de Vanilson, primeiro mostra-se ele em
Plano Médio, a seguir mostra a repórter junto, depois aparece seu pai testemunhando, volta
para Vanilson entra novamente seu gerador e por fim o painel encerra no jovem. São ângulos
restritos sem que haja abertura para um plano geral. Esse quadro é gravado externamente,
supõem-se que seja na casa do participante, e a equipe de gravação é composta de uma
repórter, cinegrafista e um auxiliar. Processo semelhante aconteceu com Antonieta. Entra uma
jornalista com locução, aparece à atriz sentada e em Plano Médio, depois aparece à irmã
dando depoimento em pé, mas meio corpo (Plano Médio) e a seguir entra novamente a
senhora sentada dialogando com a repórter.
Nas novelas, das redes citadas antes, as construções de planos são mais dinamizadas.
Elas dão ritmo às cenas e se um assunto deve ser tratado com tristeza, há um
acompanhamento da construção visual. Existe direção de fotografia e mais recentemente, a
Rede Globo tem ousado nos seus planos. São ângulos alternativos que modernizam a
linguagem da teledramaturgia nacional.
Além das construções de imagens do quadro, pode-se citar também, os depoimentos.
Nos depoimentos das duas cenas analisadas a interferência do apresentador fica restrita ao
final. Isso também acontece nos painel Quenta Coração (Domingão do Faustão) e Linha
Direta. No primeiro, Faustão, aparecem artista conhecidos do grande público e participantes
do elenco da emissora, e como se fosse surpresa ele recebe uma homenagem. As declarações
sempre são gravadas premeditadamente e exibidas em um telão para a pessoa que as recebe.
Os atores choram e se emocionam e no fim do quadro Faustão parabeniza e faz comentários
sobre as pessoas que falaram a respeito do homenageado.
Por outro lado, o prospecto Linha Direta109
começa mostrando o caso com vídeos e
locução de uma terceira pessoa que não é o apresentador. A seguir entra o apresentante e
comenta sobre os criminosos do caso apresentado. O programa Linha Direta é feito baseado
em fatos reais, assim como o quadro do Faustão e o do R. R. Soares. Há uma tentativa de dar
credibilidade a um fato que é apresentado como real, mas que pode ser apenas uma
construção televisiva. Um arranjo de construções midiáticas que prendem a atenção de quem
assiste.
109
Programa da Rede Globo que não está mais no ar. Com origem no documentário The thin blue line da TV
norte americana. O programa caracteriza-se pelo cunho popular e com intenções de utilidade pública. Específcio
para uma determinada faixa de público. DANIEL Filho, op. cit.
67
Esse tipo de construção midiática reflete no programa de Soares como uma cena
medida e adequada ao seu público. É diferente dos programas do Faustão e Linha Direta, mas
contém elementos característicos dos mesmo. Quer dizer, o enfoque é outro, mas o sentido
que quer se atingir é o mesmo, introduzir o telespectador num contexto que pode ou ser real,
mas que é apresentado como verídico, para que assim idéias sejam aceitas baseadas nos
argumentos expostos.
Além disso, a forma como a Novela da Vida Real atinge seu público é uma forma
contextualizada por realidades expostas no dia-a-dia de quem participa da comunidade
evangélica. Os assuntos são escolhidos e tratados para que sejam vistos e aceitos pelos
telespectadores.
Assim, todas essas construções associadas às técnicas midiática mais modernas e
presenciais de quem assiste aos quadros, contribuem para formação de cenários favoráveis aos
mediadores que se propõem a expor realidades construídas sobre um sentido verídico, mas
que são adequadas as argumentações a que se objetiva atingir. A validade da teledramaturgia
aplicada sobre a religiosidade midiática é expressiva, importante e existencial, por isso com
uma freqüência cada vez maior, igrejas invadem os espaços midiáticos para pregar suas
doutrinas.
68
4 Considerações Conclusivas
Considerando que se o orador R. R. Soares não dispusesse de um auditório, sua
comunicação não seria a mesma. Os motivos que apóiam a afirmação pontuam-se aqui: a
credibilidade que o auditório dá ao seu apresentador e ao programa, é essencial para o
desenvolvimento da seqüência da atividade; os testemunhos que confirmam a autenticidade da
instituição autenticam as palavras do missionário; os milagres que afirmam o poder emanado
por aquele que diz ter a missão, agregam status ao pregador; o patrocínio que mantém toda a
estrutura religiosa e midiática, usa o público presente como muleta de convencimento; e o
retorno expressivo que o auditório dá ao seu profeta, expõe ao telespectador uma aprovação
dos presentes ao trabalho ali explanados.
O primeiro ponto a ser esclarecido, refere-se ao retorno expressivo. Tratam-se das
respostas que o público dá, e contribui assim, para um emaranhado de ações que resultam na
conquista dos telespectadores. Como já foi visto aqui, o caminho, em sentido inverso, público
X orador, tem muitas variáveis. Por exemplo, a visão que o missionário tem dos rostos das
pessoas que o assistem, remetendo a significados consideráveis. Além disso, esse retorno, é
composto por: vozes, danças, testemunhos, depoimentos, milagres e outros tantos.
Programas de auditório compostos por vários fatores que demonstrem a relação de
resposta do público para o apresentador faz com que instituições telemidiáticas se fortaleçam,
cresçam e continuem a investirem nessa caixa mágica. Mídias, do tipo TV, continuarão a
receber grandes volumes de investimentos das igrejas no Brasil.
Assim sendo, a importância que se dá a todo esse processo (inclusive o missionário
Soares conhece-o muito bem e por isso segue conquistando mais horários em outras
emissoras), não só é lógico como é essencial para o sucesso da atividade. As respostas aos
estímulos para os presentes no painel, são fatores fundamentais para que apresentações desse
gênero continuem a existir. Não há sentido de existência, de programas do porte do R. R.
Soares, sem que se saiba o nível de aprovação do público que contribui para seu
acontecimento.
Outra questão que merece foco é o debate, da participação efetiva do público na
construção do texto do orador. Para o assunto usam-se os seguintes itens: oração, palmas,
depoimentos dos associados, participantes dos quadros e as festas (com danças através dos
cantores de músicas religiosas).
A participação efetiva do público na construção do texto se faz com mais ênfase. E é
através de situações que se constrói o auge das trocas de informações entre público x e
69
apresentador. Uma reza com outro apresentador leigo, por si só, ao telespectador, não teria o
mesmo impacto – com o telespectador – igual ao que Soares consegue com o programa. Sim,
o público faz orações com afinco e isso contribui em alterações ao texto do seu discurso. O
missionário vendo, estudando e entendendo a participação efetiva do público (a cada
momento do seu show) aplicam nas suas explanações presentes e futuras, estruturas pré
elaboradas e que busquem a aproximação entre as partes.
Desse modo, a participação do público reconstrói o andamento do processo discursivo
com muita importância. Uma situação similar que deve, também, ser considerada é quando
algo inusitado exalta-se em meio à platéia, como demonstração de glorificação. Todos
aplaudem.
Dão aplausos para quem? Aplaudem as divindades com todo fervor. De acordo com a
intensidade dos gestos (palmas) o pastor prega com mais ou menos energia nas suas palavras
e movimentos. Evidencia-se uma situação de permuta uma vez que um oferece o que quer e o
outro responde de acordo com suas interpretações.
Mais uma estrutura de destaque que responde a questão é o depoimento do associado.
O assunto já foi visto antes, mas, a título de relembrança convém comentar novamente. O
depoimento do associado é a fala da pessoa que contribui com a obra da igreja, aquele que dá
dízimo. Por outro lado, considera-se como testemunhante aquele que está na platéia e
consegui manifestar-se quando algum obreiro lhe alcança o microfone.
São os associados que através da sua voz afirmam, geralmente para a câmera, os
benefícios que conseguiram após o início das contribuições à Igreja. Se não há associados
para deporem, Soares estimula-os e as respostas surgem. Existe uma necessidade muito
grande do orador de manter e adquirir mais fiéis, mas para tanto é preciso que essas
testemunhas falem e que sejam excitadas a contribuir ao esquema.
Por outro vertente, os participantes dos quadros (A Novela da Vida Real, Pergunte ao
Missionário e Abrindo o Coração) estruturam demonstrações que no texto do orador, existe
espaço para todos. As variações nas religiões são bem vindas e até mesmo quem não tem
religião pode se aproximar. Além disso, o fato como as pessoas são colocadas nos quadros faz
com quê elas sejam os atores principais. Elas projetam a possibilidade de se manifestarem
livremente, sem censura alguma, porém essa realidade não procede, uma vez que, na edição,
os donos do programa selecionam o que mais interessa para a arquitetura do discurso e
formam assim, cenários positivos às suas atividades de pregadores.
Por fim, uma das manifestações mais exageradas, do auditório, são as danças.
Cantores evangélicos sobem ao palco da Igreja da Graça e movimentam todo o conjunto de
70
pessoas que está ali a assistir. Trata-se da relação mais festivas do show que por vezes
contrasta com o silêncio e com a oração.
Mas se é um culto religioso, como atitudes desse tipo são admitidas? Isso ocorre em
virtude da origem neopentecostal da instituição, caracteriza-se pelo uso desse tipo de ação.
Assim, cantores, danças e agitos formam sim, um cenário positivo e que exalta a construção
do discurso do pastor ali presente.
A partir desse ponto, ambiciona-se responder qual a paridade da comunicação (público
x orador) de Soares com um dos principais programas de auditório visto aqui (Domingão do
Faustão).
Para replicar a intrínseca pendência fala-se primeiro no tópico contato com o público,
é possível concluir que se o pastor trabalha com elementos comunicacionais do tipo A Novela
da Vida Real, Pergunte ao Missionário, Abrindo o coração mais efeitos visuais (a vestimenta
do missionário, o púlpito, os planos – Primeiro Plano, Plano Médio e Plano Geral –, a Bíblia)
e cenário (palco, fundo do palco, altura do palco – distância do público –, os convidados) ao
par que Faustão também trabalha com componentes de natureza semelhante (palco com
artista, luzes, muita música, alegria, contato e proximidade com o público, vestimenta mais
informal com uma camisa entre aberta, efeitos visuais – principalmente nos quadros Quenta
Coração, Vídeo Cacetada, Se Vira Nos 30 - enquadramento). Os dois são apresentadores de
programas tele-auditório e conhecem mecanismos que reforçam esse tipo de modelo tão
usado na televisão.
Assim, a conjuntura do esquema além de ser semelhante entre os dois programas,
colabora para haja uma aceitação cada vez maior do público para com o conjunto de ações
que o mantém logados.
Comenta-se, também, semelhança na expressão visual do público para com os
apresentadores. A alegria ou a tristeza, choro ou sorriso.
Pois em uma visão amplificada das teorias aqui compreendidas e debatidas, pensa-se:
qual mundo novo vive-se nessa era moderna de fim do século XX e início do século XXI?
Um novo tempo com novas tecnologias, novas maneira de seduzir as pessoas, novas
políticas, novas dúvidas em contraste com as já estabelecidas há séculos e mudanças, muitas
transformações que mexem e desorientam até os mais inteligentes. Mas muito além dessas
situações, de quê é composto esse mundo novo? De pessoas com intelecto cada vez mais
apurado para que se atinjam os objetivos estipulados.
Uma quantidade maior de pessoas, com engrandecimento de sua capacidade mental,
está trabalhando com intuito de encantar outras pessoas não tão beneficiadas pelo
71
conhecimento. Esse é um dos quadros expostas pela realidade dos países em desenvolvimento
e até mesmo de alguns países já desenvolvidos.
A desigualdade social, ainda nesse tempo, resiste e é ampliada por intenções escusas
que maltratam e marginalizam os menos favorecidos de sociedades. Desse modo quem detém
o conhecimento, é apto a prosseguir em um mundo competitivo e selvagem em que só manda
quem pode e obedece quem precisa.
Assim, que resultados ou problemas a desigualdade intelectual podem acarretar para
sociedade como a brasileira? Problemas de necessidade sociais muito além de pão e leite. Os
brasileiros desse novo século estão carentes de amor, fé e esperança. Corrupção, impostos,
desemprego, rápidas e exarcebadas transformações sociais, tempestades tropicais e outros
problemas, somados resultam em medo e desorientação. Então o quê ele deve fazer?
Se não tiveres fé, não andarás! A frase refere-se a um momento de um programa
religiosos televisionado. A nova tecnologia vem para suprir necessidades que estão, dia-a-dia,
crescendo naturalmente. Ninguém mais sabe, e principalmente os menos favorecidos
intelectualmente, qual a direção a seguir. A desorientação é um problema social e vê-se com
mais ênfase em classes sociais desprovidas socialmente de melhores condições.
Desse modo, instituições capazes de observar tais modificações, inflam-se de
possibilidades de crescimento instantâneo embasadas em necessidade reais que já foram
criadas naturalmente e que podem ser ampliadas com o acréscimo de conhecimentos técnico
científico. Logo, dá-se ao povo a droga de que necessita, pois dessa maneira se obtém o
retorno de estudos midiáticos avançados em prol de objetivos um tanto quanto ocultos. Ao
proletariado o que é deles.
Droga e ópio a todos aqueles que sentem necessidades especiais que com a fé podem
ser acalmados e protegidos por um Deus. Uma divindade que há muito tempo deixou de ser
algo próximo do coração e passou a ser comercializada através do meio televisão.
Mas então para quem os novos estudantes de comunicação devem trabalhar? Passa-se
anos em academias pesquisando comunicação para se honrar ações que beneficiem uma
sociedade. Contudo, devido às novas realidade opressoras comentadas antes, não há grandes
possibilidade de escolhas para se exercer a atividade.
Ora, do bem se passa para o mal ou será que participa-se de um movimento contrário?
Mas que mal é esse que dá o que o povo quer que o induz para façanhas nunca antes vista por
outros religiosos, que glorifica o esforço humano associado ao poder de Deus e resulta em
benefícios para os dois lados? São discussões profundas da teocomunicação que podem
72
render assuntos para teses de mestrados ou doutorados, ao mesmo tempo em que contribuem
para ampliação das dúvidas dos futuros comunicadores.
Desse modo a corrida para a televisão é o único caminho. Há outra maneira de se
conquistar corações e mentes em tempo hábil como a sociedade precisa? A rapidez com que
esse veículo consegue acessar os lares dos brasileiros é incrível. Assim, mais do que
instituições religiosas, grande conglomerados corporativos vislumbram lucros fáceis e
induzimento de políticas de interesse próprio as suas necessidade.
Por que se preocupar com o povo se essa plebe pode ser induzido com os nossos
pensamentos? Nesse aspecto entram todos aqueles profissionais da comunicação que de um
modo ou outros contribuem para que sistemas semelhantes continuem a serem alimentados
por máquinas usurpadoras e sanguinárias comercialmente.
Quem pode vender o poder de Deus? Quem pode oferecer um óleo a quem não tem
pão e afirmar que existe cura em quem o utiliza! Quem não tem escrúpulos ou quem quer o
bem dos que o assistem? Muitas perguntas ficarão sem respostas. Outros estudos a seguir
serão desenvolvidos, contudo o destino que se dará a conhecimentos desenvolvidos nos
bancos universitários é o que orientará a sociedade do futuro advinda de outras e outras
necessidades.
Não se julga aqui, interesses específicos de evangélicos, católicos ou outras religiões
quaisquer. Analisa-se sim, a origem de tamanha confusão que pobres, oprimidos por
pensamentos produzidos por quem tem condições de pensar, engolem diariamente.
Desse modo está criado um público consumidor natural. Desemprego, corrupção,
inflação, impostos, crises políticas, saúde, necessidade especiais, completam quadros
desenhados em exposições fotográficas de Sebastião Salgado, mundo afora. Os retratos não
são feitos só no Brasil, mas no mundo inteiro. Mais uma vez, é a comunicação respondendo a
anseios de uma sociedade, privilegiada pelo conhecimento que no sofrimento alheio vê seu
semelhante esmagado por enredos criados por todos aqueles que apreciam as obras.
Fotografias artísticas, talvez, comunicação de atos, com certeza. Onde os
neocomunicadores pararão respondendo a anseios de quem manda no mundo? Ricos e
poderosos influenciam e pagam aqueles que através de suas mãos e conhecimentos trabalham
com a arte de levar informação a quem dela precisa. São tele-evangelistas que precisam, são
presidentes, são apresentadores de programas de auditório, são diretores de grandes
multinacionais, são grupos estrangeiros que querem dominar um mercado? Quem são aqueles
que dos conhecimentos usurpam possibilidades e vislumbram crescimento financeiro?
73
A baixo-estima está ai. Retratada por Salgado, filmada pela Rede Globo, comunicada
pelo Sistema Brasileiro de Telecomunicação. Sem rumo? Nunca! Sem esperanças? Talvez.
Mas só para aqueles que não detém proventos ilucidatórios advindos da capacidade intelectual
desenvolvida. Capacidade essa, que não há interesse de desenvolvimento pelas indústrias
corporativas, pois se eles tiverem liberdade nós perderemos a nossa. E como fazem isso? Com
conhecimento, aquilo que se vê em estudos de bolsistas ansiosos por saber mais, sem grandes
ambições, mas que de algum modo somam e corrompem a sociedade que vive.
Um dito popular já afirmava: religião, política e futebol não se discutem. Mas se um
ambicioso e ético graduando em comunicação social não debater ações e questões pertinentes
a todos que aqui vivem quem os fará? Grandes empresários que importam especialistas? Não.
Basta! O que os conhecimentos adquiridos com esforço e dedicação devem fazer, é contribuir
para uma maior justiça social.
Evidente que a ética é uma questão de sensibilidade para com quem dela precisa,
porém é com essa ferramenta, a comunicação, que alunos universitários adentrarão os
próximos mercados (religioso, comercial, informativo) e prosseguirão, ou não, com o
desenvolvimento de desigualdade social inchada por quem quer mais e mais dinheiro.
Tem-se um mercado a seguir. Opta-se por contribuir para uma sociedade mais justa e
igualitária ou vender sua alma aos poderosos? Dúvidas como essas nem sempre são pensadas
por essa ótica, contudo elas existem e é no momento da formação profissionais que mais se
questiona.
Sim posso ir para a esquerda, mas a direita é potencialmente mais sedutora. Com sua
possibilidade de enriquecimento rápido e reconhecimento instantâneo do meio
comunicacional, as vertentes se dividem e confundem aqueles que com boas intenções ainda
permanecem inseridos nessa sociedade.
Religião, política futebol, no Brasil são sinônimos de poder. Jogadores de futebol sem
ao menos a finalização do ensino médio, pastores vindos de regiões muito pobres desprovidos
de conhecimentos científicos contribuem para a alegria do povo que deles necessitam. Eles
dão ao povo aquilo que sabem e aquilo que vêm que a prole quer. Ao passo que
comunicadores, mergulhados nos MCM, são recheados de conhecimentos e possuem, dessa
maneira, um poder enorme em suas mãos, mas que é editado pelos donos dos veículos.
Desse modo, em meio a todas essas variáveis, nasce o que um graduando nos estudos da
comunicação, chama de Teoria do Feed Back. O retorno que o povo dá, aos mecanismos
comunicacionais nele empregados. A soma de elementos midiáticos provindos de estudos
74
acadêmicos ou mesmo práticos, contribuindo para uma sociedade mais justa, alegre e
satisfeita.
A Teoria do Feed Back é composta por elementos informativos correlacionados a
mídia televisão. Explica-se:
A televisão com o poder de associar imagens, ela têm em suas mãos um elemento
poderoso para divulgar fatos apreciados como verdadeiros. Pode tornar o mundo muito
próximo. Rompe com a forma tradicional de comunicação à distância, que se fazia apelando
ao intelecto, num código alfabético (como correspondências escritas), e deleita-se com a
emoção introduzindo um novo código: o audiovisual.
Os elementos como: palco, platéia e seu retorno, ações do apresentador,
comportamento do apresentador x comportamento do público, discurso, contato com os
presentes, planos do apresentador/orador, enquadramento dos espectadores, composição de
quadros, posição didática, testemunhos, diálogos com o auditório, arquitetam e edificam
correlações. Essas baseadas em ações midiáticas, provindas inicialmente de sua origem mais
remota, o circo, e atualizadas pela televisão somadas as novas tecnologias. Resultam no
conjunto chamado aqui, de Teoria do Feed Back.
Além dos fatores citados, há a agregação do discurso, usado na caixa mágica em sua
totalidade, que tem o poder de intimidar quem assiste. O telespectador tem a impressão de que
a pessoa que está do outro lado do vídeo está falando diretamente a ele, e só com ele. Mesmo
que várias pessoas estejam assistindo juntas a um programa, cada uma delas terá a sensação
de que o diálogo está sendo instaurado somente com ela.
Itens como os citados somados as respostas do público, dão corpo à Teoria do Feed
Back. Ou seja, o conjunto de fatores estudados nas teorias da comunicação acrescidas das
qualidades e técnicas circenses reutilizada pela TV e readequada a linguagem religiosa
transmitida pela televisão, é o próprio Feed Beck.
Mas por que teoria do Feed Beck? O nome vem de retorno, se traduzida à palavra,
advindo das manifestações mais remotas do processo inicial das Casas de Lonas. Era nos
circos que o apresentador tinha como termômetro os gestos da platéia. Criou-se, assim, a
relação de público com apresentador e as suas respostas ao mesmo. Com estrutura, nunca
pensada para a televisão, o mundo mágico vislumbrava a os seus expectadores. Quadros do
tipo: mágica, mulher barbada e outros que se comparados a algumas situações da televisão são
semelhantes, despertavam emoções que ainda hoje continuam a serem expostas aos
telespectadores. A Caixa Mágica absorveu grande parte dessa fórmula vitoriosa e deu uma
nova releitura para quem assiste agora em casa, aos espetáculos.
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Mais uma vez a receita obteve sucesso. Inúmeros programas de auditório se
multiplicaram e hoje se observa o nascimento de programas de auditório com excitações
religiosas.
É verdade, também, afirmar que com o Feed Back os telespectadores e principalmente
o auditório (um dos atores principais) não se dão conta de que o propósito é atingir o público
que assiste pela TV, ao contrário dos que pensam que os programas são feitos para quem
deles participam. Evidencia-se a necessidade proeminente da participação do público, mas
segundo a teoria, eles não são o alvo principal. Há toda um jogo de sedução colocado por
quem cria e dirigem programas dessa linha.
Logo, para o observador casual os discurso e a sistemática da situação, podem ser
banais e fúteis, mas com propriedades que tem sua validade e funcionam plenamente quando
o que se quer é aumentar a pontuação no Ibope.
Assim, a pregação, dos apresentadores de programas de auditório do Brasil, não é
intelectual, mas sim emocional; não é experimental, mas sim racional; não é exegética110
, mas
alegórica; não é dirigida tanto à cabeça, mas ao coração. O resultado é um sentir-se melhor,
saciados por um desejo que não existia e que fora criada e saciado pela própria teoria. Trata-se
de prática com misto de doutrina para que o ópio do povo seja dado a toda plebe que necessita
de satisfações emotivas e encontra em programas desse gênero.
Mas será? Será mesmo que o Feed Back ajuda a melhorar o que está ruim e de maneira
mágica, o torna o melhor calmante do povo? Não há interesse de se discutir nesse monografia
a validade do Feed Back para o bem ou para o mal, visto que isso adentraria maiores estudos
que até mesmo envolveriam outras áreas.
Contudo questiona-se a quem o Feed Back beneficia? Ao povo ou aqueles que
provocam as reações no povo? Sem respostas, missionários, apresentadores, palhaços dos
domingos não saberiam como se comportar na próxima apresentação. Eles presenteiam o
cidadão com o que querem receber em troca. As pessoas responde me precisam de mais
droga.
Afinal é nas manhãs de domingo ou principalmente nas tardes que o auge dos
entorpecentes, de maneira lícita, adentra lares e induz todos que querem e se deixar levar, ou
sentimento de alívio e imediata culpa. Em meio às práticas utilizadas na televisão e que agora
conquistam cada vez mais ingênuos telespectadores.
110
à parte da Teologia que trata da exegese bíblica; exegese. crítica e interpretação dos livros do Antigo e Novo
Testamento, e, em geral, dos textos sagrados; por ext. interpretação, história; explicação do texto das leis;
comentário. PRIBERAM.PR. Definir. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>.
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