tcc - carolina zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/carolina zukoski pedro.pdf ·...

50
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS CURSO DE PSICOLOGIA Promoção de saúde e estilo de vida: dimensões do comportamento religioso CAROLINA ZUKOSKI PEDRO Itajaí 2007

Upload: ngongoc

Post on 19-Jan-2019

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS

CURSO DE PSICOLOGIA

Promoção de saúde e estilo de vida: dimensões do

comportamento religioso

CAROLINA ZUKOSKI PEDRO

Itajaí

2007

Page 2: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

CAROLINA ZUKOSKI PEDRO

Promoção de saúde e estilo de vida: dimensões do

comportamento religioso

Monografia apresentada como requisito

parcial para obtenção do titulo de Bacharel

em Psicologia da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI.

Orientador: Prof. MS Aurino Ramos Filho

Itajaí

2007

Page 3: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

Dedico esta Monografia para as pessoas que

acima de tudo dão valor à vida e ao que é

essencial a ela. Para aqueles que refletem sobre

suas ações, sobre o seu mundo e seus

significados, que se sentem sujeitos ativos e

responsáveis em relação à vida.

Page 4: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

AGRADECIMENTOS

A todos os meus professores durante a caminhada pelo Curso de Psicologia, que

tantas vezes me inspiraram a continuar.

Ao Prof. Aurino Ramos Filho, que me orientou desde os primeiros períodos do

Curso, e que foi meu tutor na composição desta Monografia.

Aos profesores Márcio Espíndola Patrianova e Mário Uriarte Neto, que se

propuseram a avaliar meu trabalho com boa vontade e interesse.

À minha familia, que sempre me deu suporte para seguir aquilo que me inspirasse

e me deixasse feliz, sendo verdadeiros amigos.

Ao meu namorado, Rafael de Santiago, que esteve ao meu lado ajudando,

alegrando e sendo um ótimo companheiro.

Aos meus amigos que deram suporte e apoio, quando era necessária uma boa

risada ou um momento de desabafo.

Page 5: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

SUMÁRIO

Resumo................................................................................................................... 5 1 Introdução ............................................................................................................ 6 2 Saúde................................................................................................................... 9

2.1 Saúde no Brasil ........................................................................................... 11 2.2 Promoção de Saúde .................................................................................... 14 2.3 Psicologia e saúde....................................................................................... 16 2.4 Promoção de saúde, qualidade de vida e estilo de vida.............................. 22

3. Comportamento Religioso ................................................................................. 25 3.1 Religiosidade e espiritualidade .................................................................... 25 3.2 Psicologia da Religião.................................................................................. 27 3.3 Comportamento religioso, saúde e promoção de saúde ............................. 30 3.4 Ações realizadas acerca do tema atualmente ............................................. 35 3.5 O profissional da saúde e suas práticas ...................................................... 40

4 Considerações Finais......................................................................................... 43 5 Referências Bibliográficas.................................................................................. 45

Page 6: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

PROMOÇÃO DE SAÚDE E ESTILO DE VIDA: DIMENSÕES DO COMPORTAMENTO RELIGIOSO

Orientador: Prof. MS Aurino Ramos Filho Defesa: junho de 2007

Resumo

A compreensão da promoção de saúde trás à reflexão suas possíveis relações com os

comportamentos diários das pessoas, levantando hipóteses e suscitando estudos que exploram

cientificamente a correlação entre religiosidade e saúde. Foi objetivo desta Monografia investigar,

por meio de uma Metodologia Bibliográfica, sobre essa correlação entre o comportamento religioso

dos indivíduos e a promoção da saúde, sobretudo em relação ao estilo de vida incorporado pelas

pessoas e que caracteriza-se como comportamento religioso. Descobriu-se uma forte correlação

positiva entre estas duas dimensões, podendo-se afirmar que o comportamento religioso é promotor

de saúde. Conclui-se que este comportamento colabora para a promoção da saúde dos indivíduos, e

compreende-se a importância disto para os profissionais da saúde e estudantes desta área o

conhecimento acerca de como trabalhar com a religiosidade de seus pacientes.

Palavras-chave: promoção de saúde; comportamento religioso; estilo de vida

Abstract

The constant interest about health promotion brings to reflection its possible correlations with the

daily bahavior of people, with the coming of researches and the crescent interest about que religion

question, and if this would be allied to men´s health. Uniting these two ideas, studies come to

explore cientifically this theme in search for answers about the correlation between religiosity and

health. It was objective of this monography to investigate, through a bibliographic methodology,

about this correlations between religiosity and spirituality of the individuals and health promotion,

above all in its relation with life style incorporated by people and that characterizes as a religious

behavior. It was uncovered a strong positive relation between these two dimensions, being possible

to confirm that the religious behavior is a health promoter. Concludes that it is important for the

health professionals and students of this field the knowledge about how to work with the religiosity

of their patients.

Key-words: health promotion; religious behavior; life style

Page 7: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

1 Introdução

A discussão acerca de novas formas de ver-se e trabalhar a saúde vem

sendo tema de pesquisas recentes, não se envolvendo somente a teoria, mas

também as práticas dos profissionais desta área. Desde a definição do que

chama-se saúde, até de que formas ocorrem as ações vinculadas a ela, há

transformações a fim de adequar-se à proposta da promoção da saúde, e

sobretudo ao ambicioso lema que moveu e vem movendo a Organização Mundial

da Saúde (OMS) e demais envolvidos, de “saúde para todos no ano 2000”

(BRASIL, 2001). Este lema foi sendo apresentado pela Declaração de Alma-Ata

(1978) e pela Carta de Ottawa (1986), sendo, contudo, reconhecidamente utópico

desde seu princípio (MACEDO, 1984).

Ainda hoje se trabalha a fim de ao menos tentar se aproximar deste

objetivo, surgindo trabalhos recentes que abordam o tema da saúde de diferentes

formas, incluindo-se o questionamento sobre possíveis correlações entre a saúde,

e o comportamento religioso. Esta monografia procura responder esta mesma

questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se

compreende por saúde.

Entender de que formas se define a saúde em determinados contextos e

determinadas épocas ajuda a compreender a realidade atual, estando este

trabalho, portanto, em compromisso com uma visão da Psicologia Social de

compreender os fenômenos. A saúde, essencial ao homem, com o passar do

tempo passou por definições que iam desde um puro apego ao pensamento

mágico, crenças em curas divinas, até um distanciamento que colocasse a

Biologia como a fonte de todas as respostas. Nas épocas mais atuais, o que se

percebe são as definições mais ligadas a esse apego biológico ainda bastante

forte, mas que aos poucos modifica-se a fim de acrescentar-se a essência

subjetiva e objetiva do homem como indivíduo, não generalizando-o.

A fim de compreender-se o relacionamento com a religiosidade e

espiritualidade, estas também necessitam de maiores explicações e compreensão,

de modo que também a Psicologia lhes dá o significado de expressões do ser

Page 8: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

7

humano, em seu meio social, seja micro ou macro, e da mesma forma em ação de

forma subjetiva e íntima. São fenômenos e sentimentos que fazem parte de um

processo cultural e político, que moldam o indivíduo e que consegue nos contar

um pouco sobre sua história, suas escolhas e o motivo de suas crenças.

Relacionar as formas como o sujeito se compõe como pessoa pelo viés da

sua religiosidade e espiritualidade é mostrar como seus hábitos e costumes para

com a saúde se formaram e se mantém. Fatores ligados a religião e

espiritualidade correlacionam-se de forma positiva para com a saúde dos

indivíduos. Contudo, não é papel deste presente trabalho explicar o inexplicável,

ou julgar que o místico e o desconhecido são capazes de curar. O que aqui

investigou-se foi de que formas as crenças de uma pessoa, contidas e compostas

pelo seu pensamento e sua ação ligados a religião e a espiritualidade,

correlacionam-se com comportamentos que promovem sua saúde.

É motivo para tal preocupação a reconhecida presença de uma grande

população que declara-se adepta a uma religião no Brasil. De que forma ignorar-

se uma dimensão tão presente na população brasileira, quando as pesquisas

apontam para uma relação positiva entre práticas religiosas e saúde? Como o

profissional da saúde pode lidar com estas questões, quando o tema da religião

lhe cerca tanto em contexto como em sua própria crença e na fala de seu cliente?

E como Levin (2001) coloca, como negar para a sociedade científica a descoberta

de uma nova forma de fazer bem ao seu paciente? Como negar esta

compreensão a ele?

Investigou-se tais questões por meio de uma Metodologia Bibliográfica, a

fim de responder a questão tanto da correlação entre saúde e comportamento

religioso como à pergunta sobre o que fazer sabendo-se a resposta para a

questão da correlação entre religiosidade e promoção da saúde. Apesar de

pautar-se em conceitos próprios da Psicologia, este trabalho procurou englobar a

compreensão e ação dos demais profissionais da saúde, tendo-se em vista que

atualmente é primordial o trabalho multidisciplinar e interdisciplinar. É importante

que, desde o meio acadêmico, procure-se não somente a integração com as

demais áreas de conhecimento, mas que exista um pensamento direcionado tanto

Page 9: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

8

para a ação do psicólogo, como também para todos aqueles profissionais da

saúde que procuram respostas para questões relacionadas à subjetividade dos

indivíduos que atendem.

Page 10: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

2 Saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão da Organização das

Nações Unidas (ONU) especializado em saúde, que define seu principal objetivo

como alcançar o maior nível possível de saúde para todas as pessoas. Define

saúde como “um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não

meramente a ausência de doença ou enfermidade” (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2007).

Deve-se levar em conta, contudo, que o conceito que é definido hoje não é

uma constante imutável, e muito menos universal. Conceituar a saúde é defini-la

dentro de um momento histórico e cultural, e de uma determinada visão dentro

deste contexto. Não é algo natural e que sempre existiu, mas algo construído

dentro dessas realidades. Portanto, é impossível compreender e criticar

conscientemente um modelo em saúde se forem ignorados os momentos

históricos, sociais e culturais de sua criação e de sua atual ação. Como colocam

Medeiros, Bernardes e Guareschi (2005, p.264), “(...) não existe uma unidade no

conceito de saúde, mas formas que o conceito vai assumindo de acordo com os

campos que o atravessam”.

Dois modelos merecem destaque para a compreensão deste processo: o

biomédico e o biopsicossocial. O modelo biomédico, fruto das descobertas da

Medicina durante os séculos XVIII e XIX e da crença no modelo cartesiano que

propõe a divisão entre mente e corpo, coloca a prioridade da compreensão das

doenças no orgânico; não leva em consideração a mente no que diz respeito a

alguma alteração no corpo, tendo em vista a separação proposta por aquele

modelo. O foco de todo o tratamento a fim de melhorar a saúde de um indivíduo

está no médico e na enfermidade (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001).

O modelo biopsicossocial pretende expandir a visão um tanto limitada do

biomédico, juntando aos fatores biológicos as dimensões psicológicas e sociais

relacionadas às enfermidades e estados de saúde. Contudo, apesar de adicionar-

se à compreensão da saúde os aspectos primordiais para a compreensão do

próprio indivíduo, é ainda difícil a total integração desses aspectos, que ainda

Page 11: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

10

parecem estar inclusos somente na retórica a respeito do tema. A prática, dentro

da proposta biopsicossocial, que atende à definição de saúde proposta pela OMS,

corre um grande risco de atuar de uma forma biologista, dado todo o histórico de

atuação dos profissionais da saúde, bem como a formação destes ainda não

compromissada com esta nova visão (TRAVERSO-YÉPEZ, op. cit.).

Constantemente citada e utilizada, a definição da OMS sobre a saúde tem

sido discutida. A principal crítica é a falta de especificidade do que seria uma

condição de completo bem-estar. Critica-se que o formato deixa espaço para uma

interpretação ainda bastante biologista, e que isto é decorrente das dificuldades

econômicas e sociais de muitos países, onde a ação acaba por focar-se no

controle de doenças e índices de mortalidade, que são a prioridade para garantir

uma sobrevivência básica da população (ELIAS, 2004).

Busca-se adicionar na compreensão da saúde a dimensão espiritual do ser

humano, já havendo alguns avanços nesta direção, como é o caso da inclusão

disto no instrumento criado pela OMS para medir e avaliar a qualidade de vida, o

World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100), composto por cem

questões. Neste instrumento, foram dedicadas quatro questões ao tema da

espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais, com o esforço de fazê-las do

modo mais genéricas possível, a fim de que qualquer tipo de adepto ou não

adepto de uma crença ou religião fosse capaz de responder (FLECK, 2003).

Neste sentido, surge a questão espiritual no questionamento das

concepções do que é saúde. Isto pode ser percebido pelo aumento de pesquisas

relacionadas ao tema, de várias áreas da saúde (FLECK, 2003; FARIA; SEIDL,

2005; MARQUES, 2003; VOLCAN et al, 2003).

O objetivo de uma saúde para todos é algo complicado, que implica muito

além da boa vontade de órgãos e instituições, pois precisariam se apropriar de

realidades culturais que muito diferem ao redor do mundo. Trabalhar com

conceitos mundiais seria um tanto generalista e omitiria muitos dados e realidades

concretas. Deste modo, se percebe importante focar-se em uma realidade local,

principalmente do ponto de vista das grandes diferenças entre cultura ocidental e

oriental, bem como em relação as realidades econômicas um tanto distantes entre

Page 12: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

11

os países atualmente, para se compreender melhor o significado de saúde para

determinada população.

2.1 Saúde no Brasil

No Brasil, a OMS atua com um escritório regional, nomeada como

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), presente nos outros países da

América Latina também. Utiliza os mesmos conceitos da instituição matriz, mas

apropria-se da realidade local para a realização de ações e estudos com técnicos

e cientistas vinculados. Deste modo, a OPAS coopera com os governos para

melhorar a implementação de serviços públicos de saúde, a fim de alcançarem-se

metas comuns a vários países e deste modo promover a equidade em saúde

(OPAS, 2007).

A primeira forma de se garantir direito à saúde para um grande público, no

Brasil, foi por meio da Lei Eloi Chaves de 1923, na constituição do Sistema de

Saúde Brasileiro. Contudo, não se garantia atendimento para todo o cidadão, mas

apenas para aqueles trabalhadores que colaboravam financeiramente com a

Previdência Social, que trabalhassem com sua carteira de trabalho assinada. As

demais pessoas precisavam aderir ao atendimento particular ou às instituições

filantrópicas. Desta realidade histórica, cria-se a forte idéia da saúde pública como

uma mercadoria, não se diferenciando do atendimento privado (ASSOCIAÇÃO

PAULISTA DE MEDICINA, 2004).

Na década de 1970, iniciam-se questionamentos quanto a este sistema de

saúde, que culmina em um movimento de democratização da saúde, que pretende

alterar o estado de hegemonia dos praticantes da medicina. Isto gera o eixo do

processo de luta pela Reforma Sanitária Brasileira, movimento que buscou

investigar as práticas médicas e sua relação histórica que tornou esta uma mera

produção de serviços de saúde. Buscou-se organizar o sistema de saúde,

caracterizando-se primeiramente quais modelos médico-assistenciais

hegemônicos estavam presentes: o modelo privado e o sanitarista, que

correspondem às possibilidades pelo atendimento privado e aquele garantido pela

Page 13: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

12

previdência social, ambos focados no atendimento à doença, e não ao indivíduo;

bem como práticas manicomiais em casos de saúde mental. Compreendidas as

problemáticas partiu-se, então, para a elaboração de estratégias para se alterar

este quadro, utilizando-se para isto a noção de Vigilância da Saúde (PAIM;

TEIXEIRA; VILASBOAS, 2002).

Este conceito não surge no Brasil a fim de lidar com a crise em seu sistema

de saúde, mas sim na era renascentista da Europa, onde se levantavam dados a

respeito dos óbitos e suas causas. Contudo, este armazenamento de informações

só passa a ser utilizado com objetivos científicos a partir do século XVII, mas

somente no século XVIII e XIX considera-se esta vigilância uma parte integral para

prover-se saúde à população, interpretando-se os dados a fim de identificar-se

ações apropriadas, como no caso de epidemias. Este conceito evolui cada vez

mais, contudo até a década de 1950 ele permanece como um sistema de

observação próximo das pessoas expostas a doenças, identificando-se sintomas e

realizando medidas de isolamento e controle. Contribuindo para as práticas em

saúde pública, a vigilância é reconhecida, no ano de 1968 nas Discussões

Técnicas da 21ª Assembléia da OMS, como uma função essencial deste

processo, possuindo como características básicas a coleta sistemática de dados,

a consolidação e análise destes, e a disseminação da informação por meio de

relatórios epidemiológicos. Em 1979, com o fortalecimento do movimento pela

reforma sanitária brasileira, surge a proposta da criação do SUS, deixando-se um

pouco a visão de vigilância de saúde e partindo-se para uma visão de promoção

desta (FREITAS in COSTA; FREITAS, 2003).

No ano de 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil trás uma

proposta para uma nova maneira de ver-se a saúde e a seguridade social,

preparando-se a partir daí o Sistema Único de Saúde (SUS), que é assim definido

na Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990:

Art. 4 O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração Direta e Indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde – SUS” (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2004, p. 42).

Page 14: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

13

Isto significa que a saúde pública, bem como os setores privados, devem

atuar no Brasil por meio dos princípios e diretrizes do SUS, projeto já em atuação

que pretende moldar a visão mercantilista da saúde para uma visão sistêmica e

participativa de todos os sujeitos envolvidos no processo de produzir-se saúde.

Suas diretrizes são de descentralização, participação da comunidade e

atendimento integral das pessoas, realizando-se propostas fundamentadas nos

princípios de universalidade, igualdade, equidade e gratuidade aos usuários dos

serviços (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2004). Deste modo, o SUS

coloca a responsabilidade pela saúde não apenas naquele que possui as formas

de cura e prevenção, mas também em todas as pessoas envolvidas neste

sistema, bem como seus governos, dando grande atenção às ações municipais e

comunitárias, já que descentralizar significa colocar o poder das decisões nas

mãos daqueles responsáveis pela execução das ações, ou seja, cada vez mais

perto da realidade tangível e da pessoa sendo atendida.

Tanto entidades públicas como privadas podem estar envolvidas com o

SUS, já que sua essência são as diretrizes e princípios. Busca-se é que tais ideais

sejam seguidos, a fim de proporcionar-se, principalmente, as questões da

equidade e universalidade. São muitas as questões políticas que cercam os

projetos envolvidos com o SUS, entre eles a possibilidade de continuidade ou

descontinuidade de programas vinculados aos governos nas mudanças de

mandatos, além das questões de financiamento.

Inúmeras são as críticas ouvidas a respeito do SUS, mas nem todas podem

ser consideradas, tendo-se em vista as inúmeras afirmações feitas sem

fundamento ou conhecimento do que se trata esse sistema. O SUS surge em uma

época em que as relações de custo/efetividade, típicas de um pensamento

mercantilista da saúde, estão bastante marcadas na mente das pessoas, e logo, a

população pouco espera de um atendimento público comparando-se com os

planos privados já em vigor. Esta população ainda custa a adaptar-se a idéia de

que possui o direito ao atendimento na saúde, por estar ainda imersa em uma

cultura de consumo deste serviço. O pagamento para conseguir o tratamento

Page 15: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

14

garantido é forte na idéia das pessoas, mas não tão distante da realidade

(ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2004).

A grande quantidade de pessoas sendo atendidas através do sistema de

saúde pública gera filas, falta de vagas e falta de remédios. Estes problemas,

geram a visão de que o sistema público de saúde é algo meramente

assistencialista, havendo conformidades para com esta atuação e a falta de

envolvimento em prol de mudanças a fim de se objetivar uma real promoção de

saúde. Outro problema é a falta de humanização, onde ocorre um distanciamento

entre o usuário e o profissional que vão muito além daquele que estabelece o

profissionalismo da relação, e que acabam por tornar a situação de atendimento

desconfortável e mecânica. O distanciamento, além de prejudicial na ação do

profissional da saúde, é uma grande falha no planejamento de programas de

ação. É necessária a participação de todos os envolvidos, tanto o profissional da

saúde quanto, principalmente, a própria pessoa que procura desenvolver a sua

saúde (DIMENSTEIN, 2001).

As reivindicações por parte da população são cruciais para melhorar este

processo. Ouvir as demandas torna mais fácil a organização de um sistema que

possa atendê-las. É preciso, contudo, que a população, incluindo-se então os

profissionais da saúde, conheçam melhor o que é o SUS. A fim de tornar possível

que os ideais propostos pelo SUS apliquem-se cada vez mais à realidade e que

sejam conhecidos no meio acadêmico, a fim de construir-se um sistema de saúde

o mais universal e preocupado com a diferença de cada pessoa, aplica-se uma

visão a fim de definir-se a saúde e as ações envolvidas com ela, que já são

familiares às diretrizes do SUS: a promoção da saúde.

2.2 Promoção de Saúde

A fim de atender-se a uma demanda que busca cada vez mais uma saúde

não centrada na doença, e um atendimento mais humanizado, vêm-se agregando

às práticas e estudos acerca do SUS o conceito da promoção de saúde. É

importante compreender que promoção, prevenção e educação de saúde são

Page 16: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

15

conceitos distintos. Trabalhos de prevenção atuam com riscos e probabilidades de

adoecimento, enquanto que a educação atua de forma a transmitir informações

relativas à saúde, possibilitando que o indivíduo seja o principal responsável por

sua saúde, optando por adotar ou não mudanças de comportamento que visem a

adoção de um estilo de vida saudável. A promoção de saúde engloba múltiplas

estratégias, podendo utilizar-se de métodos educativos e de prevenção, de forma

a tornar mais viáveis tais processos, bem como sustentar em seus projetos as

mudanças requeridas que vão além do contexto do setor da saúde de um Estado,

como o econômico, sócio-cultural e legislativo. (SOUZA; GRUNDY, 2004, BRASIL,

2001).

Segundo o documento elaborado com base na Primeira Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em novembro de 1986, a

“Carta de Ottawa”, define-se promoção de saúde como um “(...) processo de

capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e

saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”. (BRASIL,

2001, p.19). Trata-se de um projeto ao qual não somente o setor da saúde de um

Estado deve estar comprometido, mas vários setores de sua sociedade, dentre

pequenas e grandes comunidades. A promoção da saúde é algo a ser tomado

como ações e intervenções focadas em grupos sociais e instituições, sendo

utilizadas múltiplas estratégias e métodos, a fim de se adequar aos diferentes

resultados esperados. (MOYSES; MOYSES; KREMPEL, 2004).

Deste modo, para cada comunidade, grupo ou instituição, serão

diferenciadas as formas de ação e intervenção, não se esperando resultados fixos,

como em uma fórmula. Deve haver uma adaptação dos projetos às necessidades

e possibilidades de cada país e região, sua cultura, economia e sistema social.

(BRASIL, 2001).

Os objetivos de um projeto de promoção de saúde devem procurar atender

aos pré-requisitos para a saúde, aos quais, se presentes, formam uma base ideal

sólida para que ocorram melhorias nas condições de saúde. Os requisitos seriam

paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos

sustentáveis, justiça social e eqüidade, sendo este último referindo-se não a uma

Page 17: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

16

possibilidade de tratamento igual para todos, mas sim de um olhar que seja capaz

de captar as diferenças individuais dos sujeitos e saiba respeitar isto e promover a

saúde do indivíduo sem tentar generalizá-lo e padronizá-lo (BRASIL, op. cit.).

A preocupação existente para com o compromisso da equidade, em um

país com as extensões territoriais e variedades culturais como o Brasil, deve ser

grande por parte dos profissionais da saúde, se é intenção destes a melhor

compreensão e atendimento à tão variada população. O próprio estudo de temas

que tentam englobar toda uma população brasileira, no quesito saúde, precisa

atentar-se para esta enorme diversidade presente, a fim de não haverem

generalizações injustas. Promover saúde, no caso do Brasil, mais do que nunca

se deve ater às diferenças culturais presentes em Estados, Municípios e

comunidades, tanto em relação a modos de atuação, quantidade de pessoas,

recursos disponíveis, compreensão da linguagem, problemáticas levantadas pela

população, entre outros.

2.3 Psicologia e saúde

A Psicologia, como ciência que estuda o comportamento humano,

relaciona-se não somente com a saúde mental dos indivíduos, mas também com a

somática, já que comportamentos que visam o cuidado ou a falta de cuidado para

com a saúde são também objetos de estudo, sobretudo da área que se designa

como Psicologia da Saúde (SILVA, 2005). Assim, a Psicologia procura

compreender de que modos as pessoas agem a fim de cuidar de sua própria

saúde e a do outro, ou mesmo como que deixa-se de tomar este cuidado.

Em seu trabalho junto à saúde, a Psicologia foca-se principalmente nos

comportamentos, suas aprendizagens e condições de manutenção e extinção dos

mesmos, já que é o processo de vida das pessoas que trará as doenças e a

saúde, sendo, portanto, primordial investigar-se não somente condições de cura,

mas também de prevenção e promoção da saúde dos indivíduos. Deste modo,

criou-se uma disciplina chamada Psicologia da Saúde, que iniciou-se com um

Page 18: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

17

grupo de trabalho em 1970, tornando-se oficialmente uma divisão da American

Psychological Association (APA) em 1979. É definida como:

Um conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais da disciplina da Psicologia para promoção e manutenção da saúde, a prevenção e tratamento de doenças, a identificação da etiologia e diagnóstico dos correlatos de saúde, doença e funções relacionadas, e a análise e aprimoramento do sistema e regulamentação da saúde (MATARAZZO apud KERBAUY, 2002, p. 815).

Além desta denominação, foi ainda formulada a chamada Medicina

Comportamental, que une conhecimentos da medicina com aqueles das ciências

comportamentais, a fim de compreender os processos de saúde e doença, e a

partir daí elaborar estratégias e técnicas de prevenção, diagnóstico, tratamento e

reabilitação (KERBAUY, op.cit.).

Promover saúde no âmbito da Psicologia é trabalhar com a subjetividade

dos indivíduos inseridos nos contextos de saúde e doença. São vários os

materiais e as práticas produzidas acerca de trabalhos realizados por psicólogos

em hospitais, centros de atendimento, programas de educação, atendimento

particular, acompanhamentos e encaminhamentos (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001;

KERBAUY, 2002; ROEHE, 2004; MEDEIROS; BERNARDES; GUARESCHI,

2005). Percebe-se, pois a atuação em prol da promoção da saúde, em que o foco

não está na doença, mas sim naquele que está doente e nas possibilidades não

somente globais, mas também individuais de melhora e tratamento.

A Psicologia é uma importante interface para trabalhar-se com a prevenção

e adesão a tratamentos que visam a recuperação de um estado enfermo, ou ainda

de um estilo de vida que venha a promover condições mais saudáveis. Auxilia não

somente a compreender o que ocorre com o corpo e a mente enferma, mas

também a saber aceitar e adaptar-se a novas condições de vida, sejam elas

permanentes ou passageiras. Colabora ainda com a compreensão do cuidado

próprio e com o poder e responsabilidade com a qual cada indivíduo possui sobre

a sua vida e saúde. Kerbauy (2002, p.5) coloca que:

Page 19: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

18

explicar a mudança e demonstrar que podemos exercer algum controle no decorrer de vida é peça chave para construir novos estilos de vida que a saúde ou a doença exigem e conseqüentemente os programas de prevenção, tratamento e manutenção.

Relacionar-se com contextos e culturas, no que a Psicologia Social estuda

como o contexto sócio-histórico-cultural, é compreender o indivíduo de forma

“verdadeira”, sem retirá-lo de seu espaço e generalizando suas características

íntimas ao ambiente e sua história de vida. Utilizando-se da mesma metáfora que

Patto (in BOCK, 2003) utiliza para explicar a importância de contextualizar-se os

conceitos da psicologia com seus momentos históricos, pode-se perceber que

olhar para o sujeito desconsiderando seu contexto é como tentar separá-lo em um

varal, onde sua posição é individual e separada dos demais. Contudo, no chão

ficou toda sua história, cultura e contexto social. Pode parecer, com este exemplo,

que será mais fácil caracterizar este indivíduo, por estar separado da “pilha de

roupas”, mas, contudo, ao mesmo tempo que retira-se as informações que não

parecem cruciais ao entendimento de um processo de cura, ignoram-se também

aspectos essenciais para compreender-se o comportamento que leva ou levou

àquela situação, elemento essencial para ocorrer a prevenção e a educação em

relação aos processos de saúde e doença.

Contudo, o que é ainda freqüente, é a separação entre o subjetivo e o

coletivo, entre o individual e o comunitário, e principalmente entre a psicologia, a

saúde e a política. Estas separações reforçam a manutenção de estruturas e

procedimentos como padrões a serem aplicados não em sujeitos, mas em coisas,

por ignorar-se a dimensão em que este está inserido, no que Lukács (1974 apud

RODRIGUES; FIGUEIREDO, 2003) define como reitificação, que é o processo de

deixar que as relações entre as pessoas tomem o aspecto de uma coisa, não

humana e nem máquina.

O que se pretende, conhecendo-se formas mais ideais de trabalho e a

limitação desta dualidade entre o social e o individual é que a Psicologia agregue

seus conhecimentos e assuma o compromisso de atuar junto à saúde, em

especial junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). É preciso que o psicólogo tome

para as suas práticas os princípios do SUS, da inseparabilidade entre o contexto e

Page 20: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

19

o indivíduo, da autonomia e co-responsabilidade, que coloca não somente o

sujeito doente como responsável por sua cura, mas também os profissionais em

serem responsáveis por seu papel dentro deste processo, e a transversalidade,

que é reconhecer a impossibilidade de esgotar o problema somente por uma

ciência, e de saber agregar-se os demais conhecimentos a fim da obtenção de

respostas e soluções, através da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade

(BENEVIDES; PASSOS, 2005).

Analisar a saúde, sob a ótica ligada à Psicologia Social, é considerar o

processo da saúde e da doença como uma construção. Isto significa olhar para o

indivíduo e compreender que a sua história de vida construiu toda uma rede de

significados, crenças e regras que fazem com que se comporte de determinada

maneira, em destaque, neste caso, aqueles comportamentos que voltam-se para a

saúde, seja a prevenção e manutenção de algo prejudicial ou que traga

benefícios. O processo social ao qual o indivíduo está inserido e produzindo toda

esta subjetividade que expressa-se em seu comportamento, não é meio natural,

mas sim construído. A fim de compreender-se o sujeito, busca-se compreender

sua história de vida e o seu meio social (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001).

Promover saúde é também tarefa da Psicologia, não somente pela

possibilidade deste profissional trabalhar com essa subjetividade dos sujeitos, mas

também por trabalhar com o comportamento dos indivíduos. A práxis não é

somente ater-se à saúde ou ao Psicólogo, é também área primordial para o

trabalho interdisciplinar e multidisciplinar. Não somente o hospital, as clínicas, os

consultórios, e os postos de saúde são alvos de um trabalho da Psicologia, mas

também a escola e as organizações.

A produção do aluno e o seu tempo dentro da escola são espaços para a

promoção da saúde, pois todo um conhecimento e atitudes para com o meio social

se formam neste contexto, bem como a aquisição de comportamentos e estilos de

vida. O momento escolar dos indivíduos perpassa a infância, onde se constróem

concepções que servirão para conduzir a vida desta pessoa adulta. O que

geralmente se realiza neste contexto da escola é a prevenção e a educação para

a saúde, com palestras e oficinas a fim de tratar de temas sobre a prevenção de

Page 21: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

20

doenças e campanhas de vacinação. Promover saúde, contudo, engloba estas

práticas e vai além, pensando-se nas relações que estão inseridas naquele

contexto, entre a sociedade e o indivíduo, a fim de conhecer a instituição e ser

agente de mudanças. Sendo a educação um importante fator na vida do homem, é

este momento também um promotor de saúde. A aprendizagem é um forte agente,

que permite que a informação torne-se conhecimento, e que o conhecimento

torne-se ação. Informar a fim de prevenir, não é promover saúde, se não prestar-

se atenção à dimensão da educação e a importância de aprender-se e não

somente passar-se conteúdos. É papel do profissional da saúde, inserido nesta

tarefa, de tornar a criança um indivíduo ativo na relação com sua própria saúde

(CONTINI, 2000).

É comum ainda, como prática dos profissionais da saúde, a educação para

a saúde além da educação formal da escola, que ocorre por meio de palestras,

oficinas, visitas às famílias e produção e divulgação de material pela mídia. Neste

meio, há também o desafio da informação em tornar-se conhecimento, pois não

basta que saiba-se que determinado comportamento é bom, e o outro ruim, mas

sim de significar-se isto na vida do indivíduo, ou seja, construir uma compreensão

do que realmente é aquela informação, de saber que o próprio comportamento e

cuidado é agente de mudanças na saúde do indivíduo, e não somente a situação

passiva ao qual a própria palavra “paciente” carrega consigo (KERBAUY, 2002).

A realização de programas educacionais relacionados à saúde já é pratica

comum, sendo questões chaves a adesão dos indivíduos por vontade própria e a

utilização de uma abordagem educacional, e não somente a transmissão de

conhecimentos sem o compromisso da aprendizagem. É objetivo destes

programas, que, sobretudo, as pessoas sejam capazes de se auto-gerenciar e

melhor se conhecer, associando as informações a suas realidades, a fim de

produzir-se compreensão e sentido.

Nas organizações, o trabalho também tende a centrar-se na prevenção e

educação, sobretudo em relação a acidentes de trabalho e situações de risco, que

não somente colocam em risco a vida de funcionários, mas que também causam

às empresas gastos adicionais. Neste contexto, educar e prevenir vem junto com

Page 22: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

21

uma série de regras a serem seguidas, de forma a tornar o ambiente de trabalho

mais saudável e livre de riscos. Promover, contudo, engloba estas práticas e vai

além, como no caso das escolas: é tornar o indivíduo responsável e capaz de

administrar a sua saúde tanto no contexto de sua empresa como fora dela, bem

como promover formas da informação tornar-se conhecimento. Enxergar o

indivíduo como parte do seu contexto é primordial, a fim de compreender-se

motivos de recusa a utilizar-se materiais de segurança, bem como a aceitação de

riscos em prol da bonificação salarial por alto risco (SPECTOR, 2002).

É trabalho do psicólogo e outros profissionais da saúde, a produção de

projetos a fim de haverem mudanças e implantações de propostas que visam esta

promoção da saúde tanto nestes como em outros contextos. O psicólogo atua

como aquele que compreende a relação e os comportamentos desses indivíduos

em relação, inseridos em seus contextos sócio-cultural-históricos, a fim de

trabalhar-se em conjunto com os demais profissionais a fim de elaborar projetos

que se encaixem com a proposta do SUS, sobretudo a equidade.

Contudo, o trabalho a ser realizado corre o constante risco de levar-se pelo

modelo médico, onde procura-se adaptar o paciente em relação à instituição onde

insere-se, bem como aos padrões de normalidade que vêm a ser estabelecidos

como possíveis curas, além de poder-se cair no modelo cartesiano em que

separa-se mente e corpo. A fim de evitar tais situações, é primordial que os

profissionais da saúde atenham-se ao contexto em que se inserem ao relacionar-

se com o paciente a sua frente, não somente de que realidade veio este indivíduo,

mas também onde ele está no momento do atendimento. É preciso questionar que

instituição é esta onde tanto o profissional quanto o paciente estão inseridos, e

onde ocorre a sua relação, a fim de investigar-se de que formas o processo

saúde-doença ali ocorre, de que formas as relações com os demais profissionais

se estabelecem junto aos pacientes, e como fluem as informações e a

colaboração, se o trabalho é isolado, multidisciplinar ou ainda interdisciplinar

(KERBAUY, 2002).

Page 23: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

22

2.4 Promoção de saúde, qualidade de vida e estilo de vida

A Organização Mundial de Saúde define qualidade de vida como

a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (THE WHOQOL GROUP apud FLECK, 2000).

Este conceito vem ao encontro com aquele proposto para a promoção da

saúde, onde a percepção de todos os indivíduos envolvidos, sobretudo a pessoa

em relação a sua própria saúde, é de extrema importância a fim de haver

reflexões e descobertas a respeito daquilo que é melhor para si e para sua

comunidade. Propõem-se controle social do processo, e não meramente esperar-

se por ajuda ou somente buscar este tema em situações de doença, mas sim

construir-se a saúde enquanto um projeto de vida, indo além da prevenção e da

educação.

Qualidade de vida, deste modo, vem a ser um conjunto de realidades

objetivas e subjetivas, uma relação entre meio ambiente, seus aspectos físicos,

psicológicos, o nível de independência deste sujeito, suas relações sociais e

crenças pessoais. Deste modo, promover saúde é também ajudar os indivíduos a

pensarem sobre a sua qualidade de vida.

O Brasil está envolvido nas questões relativas a qualidade de vida, em seu

auxílio junto com outros países à Organização Mundial da Saúde (OMS) na busca

de melhor compreender a esta questão dos indivíduos ao redor do globo,

elaborando o World Health Quality of Life – 100 questões (WHOQOL-100). Para

criar tal instrumento, foi necessária uma metodologia transcultural bastante

original, envolvendo-se profissionais de todas as partes do mundo, com a

finalidade de tornar o trabalho acessível ao maior número possível de culturas e

países. A elaboração de cada questão e trocas de informações foi discutida

amplamente, e a tradução recebeu a ajuda de grupos focais que além de suas

colaborações para verificar-se a compreensão da escala, auxiliaram dando

sugestões para a mesma (FLECK, 2000).

Page 24: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

23

O instrumento é composto por cem questões divididas em seis domínios:

físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e

espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. Cada um destes domínios é

dividido em vinte e quatro facetas, cada qual apresentando quatro perguntas. Há

ainda uma vigésima quinta faceta com perguntas gerais sobre qualidade de vida.

A testagem da escala apresentou um bom resultado, podendo e sendo utilizada

atualmente. Contudo, devido à grande extensão de suas questões, foi criada uma

versão mais compacta, chamada de WHOQOL-bref, composto por vinte e seis

questões (FLECK, op.cit.).

É uma importante novidade a utilização da dimensão espiritual, religiosa e

de crenças em uma escala de uso em nível mundial, sobretudo relacionando-se à

qualidade de vida, fator tão próximo e necessário à saúde. Uma das grandes

preocupações foi a de tornar o módulo respondível a pessoas que se consideram

tanto “crentes” como “descrentes” de uma religião ou espiritualidade, a fim de não

se tornar uma área do instrumento a ser deixada em branco ou sem sentido algum

para essas pessoas, tendo-se em vista que são importantes tanto as respostas

daqueles que se consideram crentes como dos descrentes, não havendo a

intenção de tornar o resultado tendencioso a relevar ou ignorar a espiritualidade e

sua relação com a qualidade de vida.

O estilo de vida, seus comportamentos e costumes são freqüentemente

associados com a manutenção de condições favoráveis ou desfavoráveis à saúde,

bem como a qualidade de vida (KERBAUY, 2002; MOYSES; MOYSES;

KREMPEL, 2004; SOUZA; GRUNDY, 2004; MEDEIROS; BERNARDES;

GUARESCHI, 2005). Muitas doenças são diretamente relacionadas com

comportamentos específicos, que juntamente com questões genéticas teriam a

chance de gerar distúrbios e doenças nos indivíduos. Do mesmo modo, certos

estilos de vida ajudam a prevenir as pessoas de adquirirem certas doenças e

moléstias. Alguns exemplos de casos seriam os das doenças cardíacas,

respiratórias, doenças sexualmente transmissíveis, transtornos alimentares,

distúrbios psicológicos, problemas odontológicos, doenças na pele, entre outros.

Page 25: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

24

Muitas situações são evidentes na relação entre um comportamento e uma

causa que pode beneficiar ou prejudicar a saúde, como o uso de preservativo em

relações sexuais e a manutenção da higiene, mas outros casos, onde

conseqüências negativas estão mais distantes, é um pouco mais difícil

compreender-se a relação entre comportamento e saúde, e do mesmo modo mais

difícil é a educação para evitar-se um estilo de vida que não colabora para a

saúde do indivíduo.

Page 26: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

3. Comportamento Religioso

3.1 Religiosidade e espiritualidade

As definições de religião tendem a se distinguir entre o reconhecimento de

um mistério que exige uma interpretação, até o sentimento de absoluta

dependência a esse mistério ou crença e entidades relacionadas. Podem-se ainda

encontrar definições que focam ora o aspecto individual, ora o aspecto comunitário

da religião.

A espiritualidade é uma relação entre a pessoa e um ser ou força superior

ao qual ela acredita e dá valor sendo esta uma experiência individual, capaz de

exteriorizar-se (ser percebida por outros) caso esta se relacione com aspectos

institucionais e valores religiosos, realizando-se os comportamentos religiosos.

Contudo, é possível que o indivíduo não se associe direta ou indiretamente com

uma religião a fim de vivenciar sua espiritualidade, que também pode ser

entendida como um sistema de crenças pessoais que pode auxiliar a pessoa a

compreender a sua realidade objetiva e subjetiva (SEIDL; TROCCOLI; ZANNON,

2001; MOREIRA-ALMEIDA; NETO; KOENING, 2006).

Já a religião, é definida como um aspecto não tão amplo, contemplando

aquelas práticas específicas e centradas em uma instituição, cada uma com seus

costumes, regras e modos de organização social. Assim, “a religião é a

formalização social da espiritualidade” (ROEHE, 2004, p. 401), pois trás ao meio

público expressões e sentimentos subjetivos de crença e fé. Do ponto de vista

psicológico, a religião é um fenômeno tipicamente individual, mas pode e deve ser

estudado em sua dimensão social e coletiva.

Pode-se perceber dois tipos de espiritualidade, uma mais conectada e

próxima de aspectos religiosos, e mesmo presente na prática religiosa, onde há a

presença de rituais, freqüência a cultos e instituições daquela religião, bem como

a formação de comunidades, e ainda uma outra, que se relaciona mais com a

busca de um sentido para a vida e seus mistérios, sem necessariamente vincular-

se à instituição ou comunidade religiosa (VOLCAN et al, 2003). As chamadas

Page 27: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

26

crenças pessoais são valores sustentados por um indivíduo, e que compõem a

estrutura de seu estilo de vida e comportamento, não estando, necessariamente,

vinculado a uma religiosidade ou espiritualidade.

São muitas as definições propostas por diversos autores, que colocam a

espiritualidade e a religiosidade como fenômenos distintos, mas não distantes;

eles se diferenciam, estando o primeiro mais relacionado com aspectos

individuais, particulares, e o segundo mais ligado a aspectos que envolvem

práticas de rituais e adesão a comunidades e instituições. Apesar de definidos de

formas diferentes, religiosidade e espiritualidade atuam em conjunto no fenômeno

da fé das pessoas, sendo esta “separação” algo útil somente para definições de

conceitos.

Nesta pesquisa, compreende-se a religiosidade na dimensão proposta por

Martín-Baró (SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004), que a define como

o conjunto de todas as formas concretas de expressão das pessoas em relação a

sua religião, que podem aparecer através de suas representações sociais, práticas

religiosas ou derivadas desta e pelas relações ou vínculos estabelecidos com os

membros da comunidade religiosa em que se encontra inserido o sujeito.

Martín-Baró coloca dois elementos que compõem as representações

religiosas dos indivíduos: a verticalidade-horizontalidade e a transcendentalidade-

historicidade. O primeiro elemento refere-se a como a pessoa percebe-se diante

de sua divindade, referenciada pelo autor como Deus: o indivíduo pode perceber-

se distante e submisso ou próximo e companheiro. O segundo elemento refere-se

à idéia de salvação, seja para aceitar aquilo moldado por Deus, sendo passivo em

sua espera por salvar-se ou como um indivíduo ativo rumo a essa salvação

(ROEHE, 2004). Coloca ainda que:

A opção por um ou outro tipo de religião ou religiosidade, não é somente um assunto de valores individuais ou preferências subjetivas, é também uma decisão social e política que transcende para bem ou para mal na vida dos povos (SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004, p.79).

Deste modo, a religiosidade do indivíduo é muito mais do que

características subjetivas não visíveis ao observador, pois é também a história de

Page 28: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

27

vida deste indivíduo e as suas ações concretas, seja na comunidade ou no

contexto familiar e privado. Leva-se em conta a construção dos significados que

levam às ações, bem como as motivações e códigos de conduta.

3.2 Psicologia da Religião

A área da ciência psicológica, historicamente, evoluiu de suas bases

filosóficas, fisiológicas e biológicas, a fim de tornar-se uma ciência única e

competente em estudar o seu objeto de investigação, o comportamento humano.

Para tanto, apropriou-se do método de estudo próprio de toda ciência, com o

empirismo e a objetividade de suas observações e investigações. Contudo, é a

Psicologia que estuda ainda a subjetividade dos indivíduos. Apesar de isto não ser

objetivamente observado por qualquer pessoa, é o profissional psicólogo aquele

quem estuda e treina sua percepção e técnicas de entrevista a fim de entender os

fatores menos tangíveis às pessoas, mas que habitam incansavelmente suas

mentes (KERBAUY, 2002).

A religião e a espiritualidade, como fenômenos caracteristicamente

humanos, são estudadas por diversas ciências, como a Teologia e a Antropologia.

Contudo, somente a Psicologia apropria-se deste conhecimento com o olhar para

o fenômeno mental e comportamental, ou seja, psicológico; é a Psicologia quem

estuda o comportamento do homem para com aquilo em que este chama de

sobrenatural e místico, sagrado e superior, bem como as relações que este

estabelece para com as outras pessoas devido a sentimentos e crenças

envolvidas nisto, buscando-se o significado da experiência religiosa nos

indivíduos.

A Psicologia da Religião estuda o comportamento religioso dos indivíduos,

seja este expresso de forma individual, em uma comunidade, de forma pública ou

privada, não estando a ausência deste comportamento descartada de seu estudo.

Como parte da ciência psicológica, utiliza-se de sua metodologia descritiva e

objetiva, a fim de pesquisar e estudar o seu fenômeno comportamental. Não se

defendem ideologias ou credos das religiões e crenças, mas busca-se a

Page 29: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

28

compreensão do que é o comportamento religioso, de que formas ele surge, ou

não, na vida das pessoas, e em que o significado disto influi no seu cotidiano e em

sua história de vida. (ROSA, 1971; PAIVA, 2003).

Pode-se citar o início dos estudos em Psicologia da Religião nos primórdios

do pensamento filosófico, com Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Jeremias e

Buda, pois são estes pioneiros em questionar tanto a religião como a relação do

ser humano com ela, obviamente dentro de seus contextos histórico-cultural e

social, com suas limitações e métodos não aceitos por nossa ciência psicológica

hoje. Contudo, assim como a própria Psicologia, a reflexão e curiosidade a

respeito do relacionamento do homem com o sobrenatural sempre foi alvo de

investigação (ROSA, 1971; PAIVA, 2002; FARIA; SEIDL, 2005).

O primeiro livro lançado sobre o assunto dentro da ciência psicológica foi de

autoria de Edwin Diller Starbuck, no ano de 1899 intitulado “Psicologia da

Religão”, marcando o início do estudo sistemático e científico do tema (ROSA,

1971). Posteriormente, surgiram outras obras que vieram a se tornar clássicos a

respeito do tema.

Em 1902, é lançado o livro “As variedades da experiência religiosa”, por

William James. Este autor, filósofo e psicólogo, representa grande importância

para a história da Psicologia por acrescentar um pensamento funcionalista a esta

ciência e a filosofia do pragmatismo, onde apenas aquilo que possui uma

conseqüência faria sentido (SCHULTZ, 2002). Defendeu também a idéia de

considerar-se aspectos menos exigentes no método científico do empirismo dentro

da Psicologia, a fim de considerar-se aspectos mais subjetivos, como o fatos

espiritual e religioso na vida das pessoas.

Burrhus Frederic Skinner, biólogo e posteriormente psicólogo, em seu livro

“O mito da liberdade”, de 1983, aborda o tema da religião em sua busca em

responder a respeito da liberdade humana, partindo de sua teoria

comportamentalista, onde o ambiente é provocador dos comportamentos do

homem. Sigmund Freud, criador do modelo psicanalítico de compreender-se e

aplicar a psicologia, expõe em seu livro “Cinco lições de psicanálise” o artigo “O

Page 30: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

29

futuro de uma ilusão”, onde procura aspectos racionais da religião para os

homens, considerando-a uma “ilusão necessária”, uma neurose (FREUD, 1974).

Uma associação mais direta existente entre um autor da psicologia e as

questões da religiosidade e espiritualidade surge com Viktor Frankl (1983), que

compreende as motivações dos indivíduos de forma diferente de seus mestres,

que ora consideravam como busca de poder, ora como satisfação sexual. Frankl

compreendeu que o que os indivíduos buscavam era o significado de suas vidas,

e a partir disto fundou sua teoria da Logoterapia, que mais do que todas as outras

escolas de Psicologia, leva em conta os aspectos espirituais e religiosos do

indivíduo, a fim de compreender a sua subjetividade e o sentido que dá à vida

(SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004).

Atualmente, pesquisas sobre o tema encontram grande força nos Estados

Unidos e na Europa, não somente na Psicologia propriamente dita, mas também

na Medicina e sua curiosidade sobre as influências da religiosidade e da

espiritualidade sobre a saúde (LEVIN, 2001; PAIVA, 2002, 2003; FLECK et al,

2003; FARIA; SEIDL, 2005; PANZINI; BANDEIRA, 2005; MOREIRA-ALMEIDA;

NETO; KOENING, 2006).

No Brasil, vêm-se abordando o tema de forma cada vez mais freqüente,

não somente dentro da Psicologia, mas também nas diversas áreas da saúde,

procurando-se, sobretudo, formas de compreender como a religiosidade e as

crenças pessoais envolvem-se com a saúde das pessoas, seja no enfrentamento,

tratamento, cura e explicação de transtornos mentais (AMATUZZI, 2003; FARIA;

SEILD, 2005; MARQUES, 2003; PANZINI; BANDEIRA, 2005; VOLCAN et al,

2003).

É importante ainda destacar um livro considerado clássico no tema, do ano

de 1971 entitulado “Psicologia da Religião”, escrito por Merval Rosa. É nesta obra

que encontram-se reunidos muitos conceitos que até hoje não encontram melhor

forma de serem definidos, como a do comportamento religioso.

Várias teorias psicológicas procuram uma forma de determinar o que

definem por “comportamento”, e de que formas o estudam. Pode-se encontrar,

portanto, aqueles que se focam ora no comportamento objetivamente observado,

Page 31: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

30

e ora aqueles que incluem em sua gama de investigações aqueles

comportamentos que são relatados pelo indivíduo, e que somente ele experiencia

e tem conhecimento. O comportamento religioso é definido como atitudes e ações

que se referem especificamente ao divino ou sobrenatural, ocorra este no meio

público ou privado (ROSA, 1971). Deste modo, portanto, não somente aquilo que

mais de uma pessoa observa será tido como um comportamento religioso digno

de investigação científica, mas também aquilo que vier pelo diálogo que a pessoa

traga, pois é experiência vivida e possuidora de significado, como qualquer outro

evento da vida que se relata para alguém, mesmo esta não tendo sido capaz de

presenciar. Investiga-se, portanto, de que formas estas crenças, ou ausência de

crenças, influencia na vida das pessoas, se colaboram ou não para a saúde e o

bem-estar geral do ser humano e seu bem-estar percebido, e de que formas estão

envolvidas no desenvolvimento da personalidade destes.

3.3 Comportamento religioso, saúde e promoção de saúde

Compreender a relação entre a saúde do indivíduo e o trabalho de

profissionais tanto da área especificamente científica da saúde com de outras

áreas, exige também a compreensão de que houveram processos históricos de

separação e união entre estas duas áreas. A medicina e a religião, em seu

nascimento intrincado, uniam as habilidades de cura com as significações das

doenças e males. Desta época até os dias atuais, percebe-se que é mais fácil

para o paciente aceitar uma condição debilitada ou de dor se esta for melhor

compreendida, seja como causa de estar doente ou simplesmente como aquilo

funciona em seu organismo, seja para compreender aquilo como um castigo

divino, como um destino melhor do que a morte, ou ainda como um golpe de má

sorte. Os profissionais da saúde e os pregadores religiosos são capazes de

unirem seus esforços a fim de proporcionarem melhores condições de cura,

conforto durante a doença, seu enfrentamento (ou coping) e compreensão dos

estados terminais (SERRANO, 2003).

Page 32: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

31

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), em

sua quarta edição revisada, coloca a questão espiritual e religiosa como possível

causa de transtorno clínico. Lê-se na seção “Condições Adicionais que Podem Ser

um Foco de Atenção Clínica”:

V.62.89 Problema Religioso ou Espiritual: Esta categoria pode ser usada quando o foco de atenção clínica é um problema religioso ou espiritual. Exemplos incluem experiências angustiantes que envolvem a perda ou o questionamento da fé, problemas associados com a conversão a uma nova fé, ou o questionamento de valores espirituais que podem não estar, necessariamente, relacionados com uma igreja ou religião institucionalizada (DSM-IV, 2000, p.645).

Contudo, ocorrendo um distanciamento entre a ajuda que a religião

proporciona a significação da doença (principalmente no fator de enfrentamento,

aceitação e esperança), bem como sua cura, a doença passa a ser vista e

explicada de forma puramente biologista, vista as vezes sequer de forma

compreensível ao paciente, como uma anomalia a ser removida do corpo:

Cada doente, cada sofredor, busca um sentido para sua dor e seu mal-estar, no plano psicológico ou no plano espiritual. É possível conviver com a dor, desde que para ela se construa explicação e significado. (...) Para o mundo científico, porém, a doença não tem propósito nem significado. Ela é anormalidade: é patologia a ser extirpada (SERRANO, 2003, p.03).

Com essa separação entre instituições de saúde e instituições religiosas,

resta ao paciente suas crenças pessoais, familiares e comunitárias para ajudar a

significar o momento da doença; isto é claramente visível pela oração e esperança

presentes em pacientes em estados terminais ou com doenças incuráveis, que

surgem a fim de aliviar ansiedades e temores de perder a própria vida ou a de

entes queridos. Contudo, por mais irracional que pareça manter a esperança em

face da morte já dita como certa, não se pode afirmar que as orações e a

esperança de nada irão adiantar para esses pacientes, mesmo sabendo-se da

impossibilidade de uma melhora física, já que é com a mente que se trabalha nos

estados terminais, com medidas paliativas, a fim de se garantir qualidade de vida

até os últimos momentos da pessoa.

Page 33: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

32

Pesquisas apontam a religião como uma forma de enfrentamento, ou seja,

como um suporte para que o indivíduo enfrente situações difíceis de sua vida,

muitas vezes geradoras de stress (FARIA; SEIDL, 2005; LEWIS; MALTBY; DAY

2005; PANZINI; BANDEIRA, 2005; SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA,

2004; SEIDL; TROCCOLI; ZANNON, 2001). O comportamento religioso auxilia na

preservação de pensamentos positivos, ou seja, que mantém a esperança e a

força de vontade para que o indivíduo busque ajuda para a resolução de seus

problemas.

Marques (2003), relaciona a espiritualidade a um “pára-choque” contra o

estresse, por favorecer a pessoa na formulação de significados mais positivos e

produtivos para si mesmo e para as outras pessoas na ocorrência de situações

perturbadoras, graves ou que gerem um alto estresse. Se o comportamento

religioso auxilia na manutenção de esperança, auto-estima e significação do

processo de enfermidade, seja ela crônica ou não, então é possível dizer que o

comportamento religioso é um elemento que contribui para uma adaptação

positiva do sujeito.

A adaptação relaciona-se com a capacidade do sujeito em adaptar-se a

mudanças em sua vida que geram stress, seja a perda de um emprego, o

nascimento de um filho, a morte de um ente querido, a descoberta de um quadro

clínico grave. A capacidade em adaptar-se às novas situações, ou aprender a

viver com constantes e incontroláveis mudanças, faz parte de um conjunto de

comportamentos que favorecem a saúde do indivíduo, pois este será capaz de

manejar melhor seu stress gerado deste tipo de situação e que pode vir a

prejudicar a saúde deste indivíduo (MARGIS et al, 2003).

Tamanha foram as relações entre comportamentos religiosos e o

enfrentamento, no decorrer de pesquisas, que estudos levaram a formulação do

chamado “enfrentamento religioso”, que é este enfrentamento elaborado a partir

de estratégias que utilizam-se de comportamentos religiosos, tais como a busca

maior ou menor pela resolução de um problema, atribuindo ou não maior

responsabilidade à sua crença de auxiliar neste processo (FARIA; SEIDL, 2005).

Panzini e Bandeira (2005) trazem ao Brasil a Escala de Coping Religioso-

Page 34: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

33

Espiritual (Escala CRE), realizando o trabalho de tradução, elaboração e validação

do constructo para a realidade brasileira. A escala possui por objetivo aprimorar

pesquisas futuras na temática da Psicologia da Religião, saúde e qualidade de

vida, tendo-se claro que a relação entre o enfrentamento religioso e a saúde,

segundo a revisão do tema pelo autor, é positiva.

Outro fator dentro desta dimensão é o suporte social próprio das

comunidades religiosas, onde a pessoa não sente-se sozinha, recebendo e tendo

onde buscar ajuda. A Religião é responsável pela formação de inúmeros grupos

de pessoas e comunidades, ora de realidades e contextos bastante distintos, ora

de realidades próximas, tanto culturalmente como economicamente. A presença

de um estilo de vida comunitário compõe uma rede de apoio que representa um

recurso para a promoção da saúde das pessoas (OLIVEIRA; BASTOS, 2000).

Uma das metas da promoção da saúde é justamente o trabalho que as

comunidades são capazes de exercer sobre o indivíduo, como de cuidado e

suporte, a fim de que não somente o setor público responsável pela saúde esteja

encarregado destes indivíduos, mas também uns aos outros sejam capazes de se

auxiliar, e principalmente o próprio indivíduo. O convívio comunitário entre as

pessoas gera tanto o comportamento de cuidado como de troca de informações,

sejam elas técnicas médicas ou saberes populares (op.cit.).

As comunidades e o convívio familiar também moldam comportamentos e

estilos de vida, e sendo o estilo de vida fator que influencia na saúde (KERBAUY,

2002; MOYSES; MOYSES; KREMPEL, 2004; SOUZA; GRUNDY, 2004;

MEDEIROS; BERNARDES; GUARESCHI, 2005), é interessante atentar-se para

as dimensões mais diretamente relacionadas com contextos e doutrinas religiosas.

É popular que certas religiões colocam que seus adeptos devem ou não devem se

comportar e agir de certas formas, bem como não consumir certos produtos.

As crenças, tanto no sentido religioso como de verdades e mitos a respeito

da saúde também são constantes, pois moldam atitudes para com a saúde dos

indivíduos, principalmente em relação à adesão a tratamentos médicos. Algumas

pessoas param certas medicações por acreditarem já estarem boas, mesmo que

isto seja contrário à orientação médica, bem como terem a crença de que não

Page 35: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

34

necessitam de remédios. Contudo, simplesmente negar-se estas crenças não é

suficiente, sendo necessária uma compreensão e educação a este respeito. É

preciso desconstruir a crença, entendê-la, a fim de que o individuo não se

prejudique com ela, mas sim que possa aprender formas de colaborar

positivamente para sua saúde.

Esta é a proposta, e a realidade não se distancia muito. Mesmo não se

levando em conta aquilo que é dito sobre a promoção de saúde atualmente, as

comunidades religiosas, por serem um grupo de pessoas que tende a ser unido,

acaba por propiciar essa promoção da saúde. Grupos fortes tendem a dar suporte

para as pessoas em momentos de crise e altamente estressantes, bem como de

cuidado e preocupação, fatores que colaboram para a recuperação e aceitação de

doenças. Neste caso, não é a crença em si que auxilia, mas sim as pessoas que

se organizam em torno desta crença.

Estudos apontam as doutrinas religiosas como fatores que diminuem a

propensão das pessoas abusarem no uso de álcool e outras drogas, de

manterem-se dentro de um núcleo familiar, e a partir daí associar-se a demais

instituições sociais como a escola, havendo ainda a desistimulação de estilos de

vida desregrados e promíscuos, atenuando-se ainda efeitos de solidão, de

atitudes intolerantes de violência e de autodestruição (SERRANO, 2003).

Sarriera (in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004) aponta para diversas

pesquisas realizadas nos Estados Unidos correlacionando estes temas, onde a

maioria aponta para correlações positivas entre saúde e espiritualidade. A

ocorrência de correlações negativas se dá em relação a chamada “religião do

ópio”, que limita-se em tornar o indivíduo não pensante e acrítico, fato este que

ocorre não somente a nível religioso, mas também a nível político.

Percebe-se, portanto, que a religião é fator que pode proporcionar ao

sujeito estratégias de enfrentamento, bem como de aceitação e promoção de

saúde (LEVIN, 2001; MARQUES, 2003; SERRANO, 2003; ROEHE, 2004; FARIA;

SEIDL, 2005; PANZINI; BANDEIRA, 2005; DALGALARRONDO, 2006; MOREIRA-

ALMEIDA; NETO; KOENING, 2006).

Page 36: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

35

3.4 Ações realizadas acerca do tema atualmente

Estudos acerca da relação entre comportamento religioso e saúde crescem

em número e aproximam-se cada vez mais de ações. Tais estudos, na ótica da

Psicologia da Religião, evoluem tendo-se em vista a capacidade de não se limitar

a um credo religioso, mas sim de expandir-se acerca da experiência religiosa do

indivíduo, seja fato objetivo ou subjetivo (PAIVA, 2003). Tendo-se isto como o

objeto de pesquisa, a ação passa a ser possível.

A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) dá um passo importante a

fim de que se torne legítimo o comportamento religioso como dado relevante para

a compreensão do ser humano em seu processo de saúde e doença, ao elaborar,

dentro de seu instrumento de qualidade de vida, o World Health Organization

Quality of LIfe – 100 questions (WHOQOL-100), um módulo destinado a

espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais (FLECK et al, 2000, 2003). Com

este instrumento, a questão da relevância da experiência religiosa para a

contribuição na qualidade de vida dos sujeitos é clara e impossível de ser

ignorada. Se as relações são positivas ou negativas, contudo, isto cabe a cada

sujeito e a sua experiência, sendo comprovado, contudo, numa perspectiva

epidemiológica, que a relação destas duas dimensões é positiva.

Em um nível mais próximo a realidade aqui tratada, percebe-se que

também as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) dão abertura para

trabalhar-se com aspectos mais subjetivos do indivíduo, como a qualidade de vida

e o bem-estar. Isto ocorre por embasar-se na conceituação da promoção da

saúde, que coloca como primordial a compreensão do indivíduo em sua

individualidade e coletividade, ou seja, uma visão de equidade (ASSOCIAÇÃO

PAULISTA DE MEDICINA, 2004) levando em consideração, portanto, que não

trata-se mais somente da doença, mas sim do indivíduo, de como suas ações

moldam atitudes que ora prejudicam e ora promovem a saúde.

Partindo-se desta compreensão, o que se percebe nos estudos

encontrados, é a relação positiva entre o comportamento religioso e a promoção

da saúde, indo de encontro às afirmações de alguns autores (LEVIN, 2001;

Page 37: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

36

TILLMANN in TEIXEIRA; MULLER. SILVA, 2004; SARRIERA in TEIXEIRA;

MULLER; SILVA 2004).

Cerqueira-Santos, Koller e Pereira (2004), em seu estudo sobre as práticas

entre os neopetencostais, constata que a procura pela religião a fim de

resolverem-se problemas, não somente da saúde, deve-se ao fato de que a igreja

proporciona uma inclusão social muitas vezes não encontrada nos sistemas

públicos de saúde. Há ainda uma dimensão de inclusão junto a essa comunidade,

algo que muitas vezes não é experenciado no cotidiano fora do contexto religioso,

dada as exigências da globalização, que torna as pessoas individualistas e

competitivas.

Isto mostra a dimensão da humanização dos serviços de saúde como uma

necessidade, a fim de que as pessoas sintam-se confortáveis não somente no

contexto mais próximo a elas, mas também naquele um pouco mais distante e que

ainda assim é essencial para a sua saúde, que é a prática médica e demais áreas.

Serrano (2003) descreve o processo de aproximação à religião e distanciamento

da saúde exclusiva ao cuidado médico como algo advindo do reducionismo das

artes médicas, que facilitariam o retorno de idéias que muitos acreditavam que

seriam extintas com a evolução cada vez maior da Medicina. Tais idéias são as

crendices e o pensamento mágico, como de curas milagrosas, a utilização de

remédios caseiros e simpatias excluindo-se o medicamento farmacológico, entre

outros.

O que se percebe é que esta dimensão está cada vez mais exposta, sendo

necessário, contudo, algumas ressalvas. As experiências religiosas e espirituais,

apesar de contribuírem muito para a composição do indivíduo e para o tratamento

e compreensão de sua saúde, não é algo a ser receitado ou colocado como um

ingrediente de cura. Como já foi frisado, todo resultado acerca das correlações

positivas ou negativas, entre comportamentos religiosos e saúde, são fruto de

olhares epidemiológicos, que levam em consideração uma generalização nos

casos vistos, a fim de que seja possível elaborar-se uma resposta para questões

como as relações entre fumo e câncer de pulmão. Não é garantido que o fumante

terá câncer pulmonar, e também não é garantido que o não fumante jamais o terá.

Page 38: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

37

Contudo, se a maior parte dos resultados de pesquisas apontam para maios casos

de câncer de pulmão entre pessoas fumantes, é possível afirmar-se que o hábito

de fumar pode causar câncer, ou ainda afirmar de forma mais categórica que sim,

o hábito de fumar causa o câncer pulmonar.

Da mesma forma, comportamentos religiosos contribuem para a promoção

da saúde dos indivíduos. Não de forma a ignorar-se a ciência médica e ficar-se

somente com as práticas religiosas e sentimentos positivos em relação à

espiritualidade, mas de modo a unir os fenômenos que interagem neste meio. Pois

se a experiência religiosa proporciona melhores sentimentos em relação à própria

pessoa e aos demais, além de prescrever modos de vida mais saudáveis, como

não fumar e beber, é inegável que isso esteja promovendo saúde, mais do que

somente prescrever-se de forma informativa, e não educativa, que determinados

hábitos lhe prejudicam e outros não.

Há um certo medo dos profissionais da saúde quanto à substituição da

ciência da Medicina pela Religião; isto já faz parte de fatos relatados, de

tratamentos que são abandonados em virtude de maiores promessas e melhores

condições vindas de outros serviços prestados por instituições religiosas. Isto se

dá, contudo, em grande parte pela falta de proximidade que o profissional da

saúde, em sua preocupação com a cientificidade, vem tomando, ao se descartar

uma linguagem melhor compreensível pela população sendo atendida, e fechar-se

espaços de diálogo que iriam além dos roteiros de anamnese. Torna-se nesses

casos mais interessante buscar ajuda naquele que melhor parece compreender,

que usa a mesma linguagem. Há ainda o fator de confiança, tendo-se em vista as

relações de “lealdade” aos quais as pessoas criam freqüentando sempre o mesmo

serviço e comunidade religiosa, geralmente nas proximidades de seu bairro e com

sua família; o adepto da religião é o seu cliente, que procura sua instituição em

busca do atendimento de suas necessidades, alívio de medos e um maior sentido

para sua vida (CERQUEIRA-SANTOS; KOLLER; PEREIRA, 2004).

A exclusão das ciências da saúde em detrimento das crenças e religião,

contudo, é mais uma fantasia catastrófica, por parte da maioria dos críticos, do

que uma realidade possível de ocorrer. Ignorar-se a dimensão da religiosidade e

Page 39: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

38

espiritualidade é ignorar-se um aspecto da subjetividade do indivíduo, bem como

de que modo constrói redes de apoio social e enfrentamento, não sendo, contudo,

estes aspectos suficientes para garantir saúde plena aos indivíduos.

Críticas mais concernentes, contudo, apresentam-se acerca de questões

éticas e metodológicas (SERRANO, 2003). Por um lado, percebe-se que pode

haver desconforto em tratar-se de questões de cunho religioso e espiritual, tanto

da parte do médico como do paciente. Isto, porém, é parte de qualquer interação

que ocorre entre profissionais da saúde, não bastando a questão de desconforto

para descartar esta dimensão, tendo-se em vista que diversos temas podem

causar o mesmo efeito, como casos de violência, abuso sexual,

homossexualidade, entre outros.

Quanto à metodologia, é um problema presente em todas as ciências, que

é o perigo das informações tendenciosas e da omissão de dados. Muitas

pesquisas são acusadas de terem seus dados manipulados a fim de que os

resultados corroborem com aquilo que é desejo do pesquisador, não

correspondendo, portanto, a verdade (PAIVA, 2003; SERRANO, 2003). Outra

dificuldade metodológica é a falta de precisão em medir-se de forma objetiva a

crença e a fé, afirmando-se, contudo, que isto não é de extrema necessidade,

tendo-se em vista que não é precisamente isto que promove ou não a saúde dos

indivíduos, mas sim fatores que derivam destas crenças e valores. Medir a

presença ou não dos aspectos de crença ou fé só não coerentes quando há um

objetivo maior do que a mera especulação de haver ou não haver tal presença.

Fator importante dentro das críticas realizadas, não em relação as

pesquisas, mas em relação a religião atuando sobre os indivíduos, relaciona-se ao

fato de que, assim como a mídia, a religião é fonte de forte poder coercitivo sobre

as pessoas. Isto pode levar a tomada de ações e mudanças no estilo de vida dos

indivíduos, bem como a adesão de práticas de prevenção ou não, que é o caso do

uso de preservativo e anticoncepcional, censurados em algumas crenças.

Atualmente, contudo, percebe-se que apesar das pessoas declararem-se adeptas

de determinadas religiões e credos, alguns fatores ligados a estilos de vida, e que

não mostram uma coerência com modos de saúde, não são seguidos, como é o

Page 40: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

39

caso citado a respeito de métodos anticoncepcionais (LEVIN, 2001; SERRANO,

2003).

Ainda dentro do poder coercitivo das religiões, questiona-se sobre as

“religiões-espetáculo”, dadas a promover a adesão de pessoas a suas doutrinas,

com promessas e propagandas. Critica-se, sobretudo, a comercialização de

favores e a circulação alta de dinheiro em meio a aqueles que realizam o

sacerdócio. O que compreende-se disto, contudo, é que a religião, assim como a

própria Medicina já há alguns anos, adaptou-se a idéia capitalista ocidental, de

imediatismo frente a comercialização. Isto significa que, não é o adepto uma

simples vítima de um processo capitalista, mas sim um construtor dele, que talvez

sinta-se mais confortável imerso em um contexto e trocas imediatas a esperar

atitudes a longo prazo, sem realizar uma troca material, mas somente espiritual.

Lida-se, portanto, com adaptações a realidades já há muito tempo existentes, e

que encontram uma população que contenta-se com este serviço (SERRANO,

2003).

Mas não são somente as religiões que exercem poderes coercitivos sobre

os indivíduos. A palavra da ciência também é carregada de um misticismo de

verdade inquestionável, sendo o profissional da saúde aquele que a carrega, e

que muitas vezes assume um papel de grande poder sobre a vida dos indivíduos

que atende. A mídia, tendo rápido acesso às informações acerca da ciência, as

repassa ao público, que logo absorve isto como verdade única e inquestionável.

Prega-se uma evolução na Medicina sem limites, e esta passa a ser muito mais

cobrada e adorada do que as próprias religiões. Como coloca Serrano (2003,

p.10) “(...) a morte e o mal-estar na cultura deixam de ser vistos como naturais. O

médico e o psicólogo passam a ser culpabilizados por deixá-los ocorrer”. O que se

compreende, portanto, é que as ciências da saúde, assim como as religiões,

também pregam promessas de paraísos e soluções milagrosas aos problemas de

saúde das pessoas. Contudo, a história de verdade absoluta e inquestionável da

ciência expõe descontentamento quando isto não ocorre.

É importante, portanto, a todo profissional da saúde, compreender este

papel que pode estar representando, de uma falsa onipotência sobre aqueles que

Page 41: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

40

atende. A fim de trabalhar com as questões religiosas do paciente, é necessário

primeiramente, como coloca Serrano (2003), desconstruir a deificação própria, de

médico, de terapeuta. É compreender não ser o único agente a auxiliar na saúde

do indivíduo em sua frente, reconhecer que a própria pessoa é de suma

importância para este processo, bem como todos aqueles que fazerem parte de

suas relações sociais.

3.5 O profissional da saúde e suas práticas

Assim como seu paciente ou cliente, o profissional da saúde é um indivíduo

socialmente construído, com sua história própria e valores. A presença de uma

religião ou espiritualidade pode ser constante, forte, fraca ou inexistente, como em

qualquer outra pessoa. Contudo, o que se questiona é de que formas isto pode

estar interagindo com os indivíduos que atende. De que formas as crenças do

profissional irão se encontrar com as crenças do paciente?

Primeiramente, pode-se pensar na questão do diálogo. É saber popular o

comentário de que “música, religião e gosto não se discutem”. De que maneira,

então, conversar com um paciente que suas crenças de vida e de religião opõem-

se aquela do profissional? Partindo-se de exemplos mais simples, sabe-se que

certas religiões proíbem a transfusão de sangue, procedimento este bastante

comum em cirurgias. Outro fato, são os jejuns, períodos onde a pessoa recusa

alimentar-se devido a determinada crença. E pegando-se um exemplo mais ligado

a crenças pessoais do que religiosas, vemos pessoas que recusam-se a tomar

remédios, que não comem certos tipos de alimentam, ou que possuem crenças

errôneas acerca de procedimentos e tratamentos médicos, recusando-os mesmo

antes de conhecer a verdade.

Como cientista em sua formação e como profissional a zelar por códigos de

ética, os cabe aos profissionais da saúde saberem divulgar e expor a verdade

acerca da ciência que representa ao paciente. Crenças errôneas, sejam ligadas de

forma pessoal ou religiosa, precisam ser mostradas pela lente científica, objetiva e

comprovada de sua eficácia, de modo a ser compreendida. É opção do paciente

Page 42: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

41

optar por procedimentos, aderir a tratamentos ou não, mas é dever do profissional

da saúde fazer o possível para que haja uma compreensão do que esta pessoa

está recusando ou aceitando.

Em relação a suas próprias práticas, contudo, como pode proceder o

profissional que recusa-se a realizar os procedimentos que considera impróprios

segundo suas crenças pessoais, morais e religiosas? Exemplos disso referem-se

principalmente a transfusão sanguínea e a prática do aborto legal. Tais questões,

assim como para os pacientes, são de cunho bastante pessoal, cabendo ao

profissional definir prioridades e ações. Em seu código de ética profissional, e em

seu juramento quando formado, obtêm conhecimento de seus deveres, e sabe

que a lei, acima de tudo, tratará de suas ações de forma objetiva e sem considerar

detalhes subjetivos. Ou seja, independente de crença ou de valor moral, o

profissional da saúde precisa exercer a sua função conforme a ciência, quando

está representando a mesma. Fatores que recusa e discorda precisam ser

manejados a fim de ou serem evitados ou trabalhados, com o intuito de

compreender-se que sua crença não é maior ou menor que a do outro, e que isto

não pode ser critério para recusar-se atendimento de direito, por lei, a pessoa que

lhe procura.

Considerações quanto a subjetividade contudo, passam cada vez mais a

fazerem parte da realidade do profissional da saúde e de seus pacientes e

clientes. Como já foi exposto, as diretrizes do SUS apresentam a dimensão da

promoção da saúde, que colocam uma visão de equidade, de consideração pela

subjetividade dos indivíduos, bem como sua história de vida. Leva-se em

consideração, portanto, questões de crença, fé e religião, mas não de modo que

estas sejam determinantes de alterações na própria ciência, mas sim de modo que

tudo aquilo englobando tais fenômenos, como o suporte social, as questões de

enfrentamento e sentimentos positivos advindos destas práticas, sejam

trabalhados com maior intensidade.

É comprovado que, havendo a presença de comportamentos religiosos, a

presença deste enfrentamento, suporte social e sentimentos positivos também

possuem grande chance de estarem em conjunto, e é sobre estas dimensões que

Page 43: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

42

o profissional da saúde estará especificamente trabalhando. Não ignorar a fala

sobre religiosidade e espiritualidade, é o primeiro passo, pois é através da

compreensão disto que poderá se compreender os modos de enfrentar-se

situações da vida, de encontrar suporte em sua comunidade e igreja, bem como

que sentimentos estão prevalecendo nos momentos de saúde e doença.

A psicoterapêutica, própria do psicólogo, estando nesta fase em que tenta

escapar do modelo biomédico para um modelo biopsicosocial, mais do que nunca

precisa estar atenta a questão da religiosidade como forma de promover saúde,

tendo-se em vista a enorme carga de subjetividade presente nesta realidade do

indivíduo. A ação do psicólogo como psicoterapeuta, em sua investigação tanto

individual como grupal dos indivíduos, leva em conta inúmeros aspectos e

inúmeras construções da vida desses sujeitos, e ignorar-se esta dimensão seria

uma perda de importantes dados a fim de não somente compreender-se o

indivíduo, mas também de lhe mostrar que todas as áreas da sua realidade

colaboram para o seu meio de vida, mesmo que considere certas dimensões

impróprias para o estudo do homem ou mesmo sobrenaturais.

A Psicologia não atuará a fim de desvendar o sobrenatural ou procurará

desafiar as verdades do universo procurando pela morada dos deuses e se estes

realmente existem. O interesse desta ciência são os indivíduos que a procuram e

aquilo que eles vivem, seja isto diretamente observável ou compreendido somente

pelo relato da pessoa.

Page 44: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

4 Considerações Finais

A associação entre saúde e comportamento religioso é coerente, tanto

quanto associar a modos de higiene e hábitos alimentares. São condições que

auxiliam, mas não condenam ou determinam totalmente a condição de saúde ou

doença de um indivíduo. Sob um olhar epidemiológico, que leva em conta dados

que mostram generalizações apontando para determinada resposta padrão, é

constatado que a religião é sim um fator que contribui para a manutenção de

saúde, menores incidências de doenças e taxas menores de mortalidade (LEVIN,

2001).

Contudo, tendo-se este conhecimento, surge a questão de como agir com

este novo dado. Não há como ignorar uma verdade que vem a contribuir com a

saúde das pessoas atendidas pelos profissionais da saúde. Seria como ignorar

que a boa circulação do ar auxilia a não propagação de doenças dentro de um

ambiente ou ignorar a descoberta de um novo medicamento que alivia a dor.

Surge a questão de que ignorar passa a significar a negação de um recurso a

mais no tratamento dos indivíduos pelo serviço da saúde.

O que se nega ou passa-se a considerar, contudo, não é um dado objetivo

e fixo, passível de uma padronização, como a aplicação de um medicamento ou a

organização de uma sala de espera a fim de haver melhor circulação de ar. O que

passa a ser um novo recurso, tanto aparado pela lei como pelas novas

descobertas das ciências da saúde, é a subjetividade dos indivíduos como item a

ser considerado em todo o processo de promoção da saúde. É relevante, e é uma

verdade amparada pela ciência.

Critica-se, contudo, neste tipo de proposta, que a religião é assunto por

demais subjetivo e delicado, individual demais. Deve-se esclarecer, contudo, que

não se discutem credos e fé, e nem trata-se disto a função do profissional da

saúde. Sua missão, tendo-se em vista a consideração da subjetividade do

indivíduo durante o tratamento, e neste caso a face religiosa disto, é que passa a

ser considerado em uma anamnese. Por exemplo, comportamentos do dia-a-dia

da pessoa, relações sociais, crenças de cura, crenças de doença, regras de

Page 45: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

44

conduta do seu meio. Todos estes dados subjetivos e não diretamente ligados à

doença como é vista atualmente, tem por objetivo investigar a construção do

processo de saúde ou de doença, pois conhecer as variáveis que levaram o

indivíduo a ser o que é hoje colabora para a elaboração de comportamentos

saudáveis a serem seguidos, bem como dos que devem ser evitados.

Compreendeu-se que é responsabilidade dos profissionais da saúde

manterem-se atualizados sobre o sistema de saúde onde atuam, bem como

acerca das variáveis que contribuem no processo, como o aqui investigado da

promoção da saúde e sua relação com o comportamento religioso. Havendo esta

relação, é objeto a ser trabalhado, e não mais ignorado ou erroneamente dito

como inválido. É uma questão comprovada cientificamente, e que vem reforçar a

importância dos aspectos subjetivos dos indivíduos nos processos de saúde e

doença.

Page 46: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

5 Referências Bibliográficas

AMATUZZI, M. M. Fé e ideologia na compreensão psicológica da pessoa. Psicologia reflexão e crítica, Porto Alegre, v. 16, n. 3, p.569-575, 2003. ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. SUS: o que você precisa saber sobre o Sistema Único de Saúde. São Paulo: Atheneu, 2004. BENEVIDES, R.; PASSOS, E. A humanização como dimensão pública das políticas de saúde. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000300014&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 16 Abril 2007. BOCK, A.M.B (Org.). A perspectiva sócio-histórica na formação em psicologia. Petrópolis: Vozes, 2003. BRASIL. Promoção da saúde: declaração de alma-ata, carta de Ottawa, declaração de Adelaide, Declaração de Sundsvall, declaração de Santafé de Bogotá, declaração de Jacarta. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. CERQUEIRA-SANTOS, E.; KOLLER, S. H.; PEREIRA, M. T. L. N. Religião, saúde e cura: um estudo entre neopentecostais. Psicologia ciência e profissão v.24, n. 3, p. 82-91, 2004. Disponível em <http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000300011&lng=es&nrm=iso>. ISSN 1414-9893. Acesso em 17 março 2007. CONTINI, M. L. J. Discutindo o conceito de promoção de saúde no trabalho do psicólogo que atua na Educação. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, p. 46-59, 2000. COSTA, D. C.; FREITAS, C. M. de. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. DALGALARRONDO, P. Relações entre duas dimensões fundamentais da vida: saúde mental e religião. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 28, n. 3, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462006000300006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 Abril 2007. DIMENSTEIN, M. The psychologist and their social commitment in the collective health context. Psicologia em estudo, Maringá, v. 6, n. 2, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722001000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 Mar 2007.

Page 47: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

46

ELIAS, P. E. Estado e saúde: os desafios do Brasil contemporâneo. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 3, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000300005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 Mar 2007. FARIA, J. B. de; SEIDL, E. M. F. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: revisão da literatura. Psicologia Reflexão e Crítica, v.18, n.3, p.381-389, set./dez 2005. FLECK, M. P. de A. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100): características e perspectivas. Ciência saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232000000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 23 Mar 2007. ______. et al . Desenvolvimento do WHOQOL, módulo espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. Revista Saúde Pública., São Paulo, v. 37, n. 4, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102003000400009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 Outubro 2006. FREUD, S. Cinco lições de psicanálise: A historia do movimento psicanalítico; O futuro de uma ilusão; O mal-estar na civilização; Esboço de psicanálise. São Paulo: Abril Cultural, 1974. KERBAUY, R. R. Comportamento e saúde: doenças e desafios. Psicologia USP., São Paulo, v. 13, n. 1, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 16 Abr 2007. LEFÉVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C. Promoção de saúde: a negação da negação. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004. LEVIN, Jeff. Deus, fé e saúde. Cultrix: São Paulo, 2001. LEWIS, C.A., MALTBY, J.; DAY, L. Religious orientation, religious coping and happiness among UK adults. Personality and Individual Differences, n. 38, p. 1193-1202, 2005. Disponível em < http://www.infm.ulst.ac.uk/~chris/100.pdf>. Acesso em 1 maio 2007. MACEDO, Carlyle Guerra de. Saúde nas Américas, perspectivas para o ano 2000. Revista Saúde Pública, Dec. 1984, vol.18, no.spe, p.67-74. MANUAL diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-IV-TR. 4. ed. texto rev. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

Page 48: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

47

MARGIS, R. et al . Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Revista de psiquiatria, Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n. 25 (suplemento 1), p. 65-74, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082003000400008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 06 Maio 2007. MARQUES, L. F. A saúde e o bem-estar espiritual em adultos Porto-Alegrenses. Psicologia Ciência e Profissão, v. 23, n. 2, p.56-65, 2003. MEDEIROS, P. F. de; BERNARDES, A. G.; GUARESCHI, N. M. F. O conceito de saúde e suas implicações nas práticas psicológicas. Psicologia Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 21, n. 3, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722005000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 16 Abril 2007. MOREIRA-ALMEIDA, A.; NETO, F. L.; KOENIG, H. G. Religiosidade e saúde mental: uma revisão. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 28, n. 3, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462006000300018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 Abr 2007. MOYSES, S. J.; MOYSES, S. T.; KREMPEL, M. C. Avaliando o processo de construção de políticas públicas de promoção de saúde: a experiência de Curitiba. Ciência saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232004000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 02 Abr 2007. OLIVEIRA, M. L. S; BASTOS, A. C. de S. Práticas de atenção à saúde no contexto familiar: um estudo comparativo de casos. Psicologia Reflexão e Crítica, v.13, n.1, p.97-107, 2000. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. A OPAS. <http://www.opas.org.br/opas.cfm>. Acesso em 19 de março de 2007. PAIM, J. S.; TEIXEIRA, C. F.; VILASBOAS, A. L. Promoção e vigilância da saúde. Salvador: CEPS-ISC, 2002. PAIVA, G. J. de. Ciência, religião, psicologia: conhecimento e comportamento. Psicologia reflexão e crítica, v. 15, n. 3, p.561-567, 2002. ______. Psicologia da religião: um pouco de história, da situação presente e de perspectiva futura. 1º Encontro catarinense de psicologia da religião: a psicologia da religião na discussão atual, Itajaí: 2003. 1 CD-ROM. PANZINI, R. G. e BANDEIRA, D. R. Escala de coping religioso-espiritual (Escala CRE): elaboração e validação de construto. Psicologia em estudo, v.10, n.3, p.507-516, set./dez. 2005.

Page 49: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

48

RODRIGUES, C. R.; FIGUEIREDO, M. A. de C. Concepções sobre a doença mental em profissionais, usuários e seus familiares. Estudos em psicologia Natal, v. 8, n. 1, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2003000100013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 16 Abril 2007. ROEHE, M. V. Experiência religiosa em grupos de auto-ajuda: o exemplo de neuróticos anônimos. Psicologia em estudo, Maringá, v. 9, n. 3, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000300008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 Abril 2007. ROSA, M. Psicologia da religião. S.ed. São Paulo : Aste, Casa Publicadora Batista, 1971. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 16.ed. São Paulo: Cultrix, 2002. SEIDL, E. M. F., TROCCOLI, B. T. e ZANNON, C. M. L. da C. Análise Fatorial de Uma Medida de Estratégias de Enfrentamento. Psicologia Teoria e Pesquisa, v. 17, n. 3, p. 225-234, 2001. SERRANO, A. I. Medicina e Religião: uma Abordagem Inicial.. In: 1.º Encontro Catarinense de Psicologia da Religião, 2003, Florianópolis, SC. [CD ROM]. 1.º Encontro Catarinense de Psicologia da Religião. Itajaí, SC : UNIVALI, 2003. SILVA, L. B. de C. A psicologia na saúde: entre a clínica e a política. Revista do Departamento de Psicologia da UFF, Niterói, v. 17, n. 1, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-80232005000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 15 Abril 2007. SOUZA, E. M. de; GRUNDY, E. Promoção da saúde, epidemiologia social e capital social: inter-relações e perspectivas para a saúde pública. Caderno de Saúde Pública, v. 20, n.5, p.1354-1360, 2004. SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2002. TEIXEIRA, E. F. B.; MÜLLER, M. C.; SILVA, J. D. T. (Org.). Espiritualidade e qualidade de vida. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. TRAVERSO-YEPEZ, M. A interface psicologia social e saúde: perspectivas e desafios. Psicologia em estudo, Maringá, v. 6, n. 2, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722001000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 16 Abril 2007.

Page 50: TCC - Carolina Zukoski - corre es.doc)siaibib01.univali.br/pdf/Carolina Zukoski Pedro.pdf · questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se compreende

49

VOLCAN, M.A., SOUSA, P.L.R., MARI, J.J., HORTA, B.L., Relação entre bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores: estudo transversal. Revista Saúde Pública, v. 37, n. 4, p.440-445, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. About WHO. <http://www.who.int/about/en/>. Acesso em 18 março 2007.

6.1 Bibliografia Consultada

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. Sistema único de saúde (SUS) – Secretaria Estadual de Saúde. <http://www.saude.sp.gov.br/portal/24088259c89b06a70174d93a6c1ad6a4.htm>. Acesso em 19 de março de 2007.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. 1º Encontro Catarinense de Psicologia da Religião [recurso eletrônico]: A Psicologia da Religião na discussão atual. Teoria do desenvolvimento religioso. Medicina e Religião: uma abordagem inicial.. Itajai: 2003.