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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO ESPECIAL EM BIBLIOTECAS Niterói 2016

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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO

ESPECIAL EM BIBLIOTECAS

Niterói 2016

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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO

ESPECIAL EM BIBLIOTECAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

ORIENTADORA: Prof.ª Dr. ª Elisabete Gonçalves de Souza.

Niterói 2016

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ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

C348 Castello, Ana Beatriz Svenson, 1992-

Livros de artista: tratamento e organização de uma coleção especial em bibliotecas / Ana Beatriz Svenson Castello. – 2016

62 f. : il. color. ; 30 cm

Orientador: Profª. Drª. Elisabete Gonçalves de Souza.

Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Departamento de Ciência da Informação, Curso de Biblioteconomia e Documentação, 2016.

1. Livro de artista. 2. Catalogação. 3. Indexação (documentação). 4. Acondicionamento. 5. Preservação e conservação. I. Título.

 

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ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO

ESPECIAL EM BIBLIOTECAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

Aprovada em 21 de julho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Dr.ª Elisabete Gonçalves de Souza (Orientadora) UFF – Universidade Federal Fluminense

Prof.ª Dr.ª Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza UFF – Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr. Carlos Henrique Marcondes UFF – Universidade Federal Fluminense

Niterói 2016

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À minha família e amigos que me proporcionaram todo o apoio para realizar esse trabalho.

Aos meus docentes que me garantiram o conhecimento necessário para elaborar a seguinte pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço minha família e amigos pelo total apoio durante a produção deste

trabalho, proporcionando todas medidas necessárias para tonar a redação deste o

mais sereno e natural possível.

Meus agradecimentos aos colegas do Museu de Arte do Rio que

possibilitaram a realização desta pesquisa, e possibilitaram a oportunidade de

estágio que motivou essa pesquisa. Em especial à Andrea Barboza, bibliotecária

chefe da instituição na maior parte da minha experiência, motivadora e auxiliar do

trabalho. E às amigas de biblioteca Andrea Oliveira e Crislane Rocha, que até hoje

ajudam como podem a realização desse trabalho.

À Universidade Federal Fluminense, e seus docentes, pela oportunidade de

aprender e conviver em um âmbito acadêmico.

Agradeço à Prof.ª Dr. ª Elisabete Gonçalves de Souza, pelo suporte em um

curto período, pelas suas correções e interesse em uma pesquisa diferente.

Aos professores Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza e Carlos Henrique

Marcondes por fazerem parte da banca desse trabalho.

Agradeço minha mãe Ingrid Svenson Castello, minha maior incentivadora

em momentos difíceis, de desânimo e cansaço.

E a todos que direta e ou indiretamente fizerem parte da minha formação

acadêmica e de caráter, o meu muito obrigada.

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“Eu faço arte só para sustentar o meu hábito, que é

escrever e publicar livros.”

(Dieter Roth, tradução nossa)

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RESUMO

Esta pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa do tipo exploratória, pautada em levantamento bibliográfico e estudo de caso, sobre as práticas biblioteconômicas em relação à organização de coleções de livros de artistas, com foco na catalogação descritiva, indexação de assuntos, acondicionamento, preservação e conservação dessas obras. Discute como as áreas de biblioteconomia e museologia abordando o conceito de documento tendo em vista ser o livro de artista um documento peculiar. Evidencia os conceitos de catalogação, indexação, acondicionamento e preservação, para em seguida apontar os metadados essenciais na descrição catalográfica de livros de artistas. Finaliza analisando a política de descrição adotada por dois grandes museus: o Museu de Arte Moderna de Nova York e o Museu de Arte do Rio. Traz como resultado a necessidade de se estabelecer uma política para organização de coleções de livros de artista que estão sob a curadoria das bibliotecas de museus, com vista ao estabelecimento de normas e práticas especiais para o tratamento, organização e recuperação da informação desse tipo especial de coleção.

Palavras-chave: Livro de artista. Catalogação. Indexação (documentação). Acondicionamento. Preservação e conservação.

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ABSTRACT

This research presents an exploratory qualitative approach about library practices regarding the organization of artists’ books collections, with a focus on the descriptive cataloging, subject indexing, storage, preservation and conservation of these works. Discusses the concepts of documents for library science and museology, presenting their significant parts to the treatment of artists’ books by libraries. Introduces various concepts for artist book, given its absence of definition. Highlights the concepts of cataloging, indexing, storage and preservation, to then point the essentials metadata’s elements in the cataloging os artist books. It ends by analyzing the cataloging policies by two museums: The Museum of Modern Art, New York, and the Art Museum of Rio. It brings as a result the need for policies for organizing artist book collections that are in guardianship of museum libraries, with a view of establishing special rules and practices for treatment, organization and information retrieval of this special type of collection.

Keywords: Artist book. Cataloging. Subject cataloging. Storage. Preservation and conservation.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – NOÇÃO DE DOCUMENTOS NAS TRÊS ÁREAS..............................22

QUADRO 2 – EXEMPLO DE CATALOGAÇÃO DA ÁREA DE DESCRIÇÃO FÍSICA E ÁREA DE NOTAS DE LIVRO DE ARTISTA..............................................................34

QUADRO 3 – EXEMPLO DE CATALOGAÇÃO DA ÁREA DE DESCRIÇÃO FÍSICA E ÁREA DE NOTAS DE LIVRO DE ARTISTA..............................................................34

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – LIVRO OBRA, LYGIA CLARK (1983)....................................................12

FIGURA 2 – O LIVRO DE ARTISTA – ESQUEMA CLIVE PHILLPOT (2013)...........25

FIGURA 3 – LIVRO DA ARQUITETURA, LÍGIA PAPE (1959-1960).........................27

FIGURA 4 – FLUX YEAR BOX 2, COLETIVO FLUXUS (1965-1968).......................28

FIGURA 5 – AN UNREADABLE QUADRAT-PRINT, BRUNO MUNARI (1953)........36

FIGURA 6 – EYE DROPPER BOTTLES, COLETIVO FLUXUS (1991).....................40

FIGURA 7 – ESTANTE DE LIVROS DE ARTISTA DA BIBLIOTECA MAR...............41

FIGURA 8 – CAIXA PARA PRESERVAÇÃO DE LIVROS E OBRAS DE ARTE.......42

FIGURA 9 – BOUNDLESS, DAVID STAIRS (1983)..................................................46

FIGURA 10 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 – BIBLIOTECA DO MOMA – BOUNDLESS, DAVID STAIRS (1983).......................................................................46

FIGURA 11 – THE XEROXED BOOK, ERIC DOERINGER (2010)...........................47

FIGURA 12 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 - BIBLIOTECA DO MOMA – THE XEROXED BOOK, ERIC DOERINGER (2010)..................................................48

FIGURA 13 – POEMOBILES, JULIO PLAZA E AUGUSTO DE CAMPOS (1966)....51

FIGURA 14 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 – BIBLIOTECA DO MAR – POEMOBILES, 2. ED., AUGUSTO DE CAMPOS E JULIO PLAZA (1984)...............53

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LISTA DE SIGLAS

AACR2 Código de Catalogação Anglo Americano

AAT Art & Architecture Thesaurus

A.B.C. Artist’s Book Collection

CDU Classificação Decimal Universal

EBA Escola de Belas Artes

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

MAR Museu de Arte do Rio

MARC Machine Readable Cataloging

MoMA Museum of Modern Art

RDA Resource Description and Access

SNBU Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12

2. O CONCEITO DE DOCUMENTO: PARA A BIBLIOTECA E O MUSEU..............20

2.1 A OBRA DE ARTE COMO DOCUMENTO...........................................................20

2.2 LIVROS DE ARTISTA COMO OBRA DE ARTE: APROXIMAÇÕES

CONCEITUAIS.....................................................................................................22

3. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM ARTES...................29

3.2 REPESENTAÇÃO DESCRITIVA EM ARTES......................................................29

3.3 INDEXAÇÃO EM ARTES.....................................................................................35

3.4 ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO.........................38

4. A BIBLIOTECA E O LIVRO DE ARTISTA............................................................43

4.1 A EXPERIÊNCIA DO MoMa.................................................................................43

4.2 O CASO DA BILBIOTECA DO MAR....................................................................49

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................56

REFERÊNCIAS..........................................................................................................59

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1. INTRODUÇÃO

“Produção emblemática de tal contexto, o livro de

artista é a coisificação maior do livro enquanto

médium de arte.”

(Sérgio Cabral Bento)

Artistas consagrados, e inéditos, internacionais e nacionais, produzem livros

como obras de arte. Muitos deles o fazem, para disseminar os seus trabalhos a um

público estranho ao âmbito da arte. Lygia Clark (1920-1988), artista brasileira do

movimento concretista do século 20, foi uma das mestras da arte nacional que

trabalhou com esse gênero. Outros artistas nacionais importantes para o gênero

foram Ligia Pape, Waldemir Dias-Pino, Rosangela Rennó, Almandrade, Ana Maria

Maiolino, Waltercio Caldas, e etc. Internacionalmente podemos mencionar Dieter

Roth, Ed Ruscha, Lawrence Weiner, Andy Warhol, entre outros.

FIGURA 1: Livro obra, Lygia Clark (1983).

Fonte: Instituto Ihnotim. In: http://doobjetoparaomundo.org.br/artista/lygia-clark/.

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Livros de artista são na maior parte das vezes colecionados em bibliotecas

de arte e tendem a ser uma problemática para bibliotecários ao redor do mundo,

primeiramente, e essencialmente, porque não é possível definir e delimitar o que

essas obras constituem. Para ser possível que um bibliotecário seja responsável por

uma coleção de livro de artista, esse precisa familiarizar-se com essas obras e

entender que apesar de ser praticamente impossível a delimitação do conceito livro

de artista, é bastante plausível que uma biblioteca, e o seu bibliotecário, tenham

manuais e normas internas para a identificação, catalogação, acondicionamento e

manuseio desses trabalhos singulares.

Neste trabalho usaremos as definições de Clive Phillpot (2013), pesquisador

e antigo bibliotecário e diretor da biblioteca do Museum of Modern Art (MoMA) de

Nova York, para apresentarmos o conceito livro de artista. Phillpot possui uma

mestria e experiência no tema e já publicou diversos artigos sobre o mesmo nos

últimos trinta anos.

É importante apresentarmos um autor específico, tendo em vista as

dificuldades de delimitar o objeto, para que assim o trabalho tenha um objetivo que

seja claro para os leitores. Ademais, Phillpot diferencia os diversos termos usados

na descrição de livros de artista, como “livres d’artistes”, “artists books”,

“bookworks”e “book objects”. Esses termos são importantes para este trabalho já

que, na maior parte das coleções de livros de artista de bibliotecas, estes são os

termos usados na indexação de assuntos da obra.

De acordo com Phillpot o termo “artists books” ou livros de artista era usado

como sinônimo para a tradução do termo “livres d’artistes”, no entanto esse último é

usado para identificar livros de luxo, ilustrados por artistas renomados. Trata-se de

edições de luxo, numeradas e assinadas pelos artistas, e aqui já encontramos um

problema na definição do objeto, pois muitas instituições consideram hoje este tipo

de obra um livro de artista, apesar de Phillpot fazer essa diferenciação.

De acordo com Phillpot, existe:

[...] uma distinção entre livros de artistas, livros e livretos de autoria de artistas, e livros-obra, que são obras de arte em forma de livro. Livros de artistas são distintos pelo fato deles estarem provocativamente na junção onde a arte, a documentação e a

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literatura se encontram em uma só. (PHILLPOT, 2013, p.185, tradução nossa).

Paulo Silveira ajuda-nos a fazer essa delimitação acerca do objeto “livro de

artista” ao ressaltar que:

O livro de artista stricto sensu pode ser tanto uma obra complexa como singela na sua produção formal. Mas sua fabricação será sempre finalizada com participação intensa da razão, tendo estrutura amparada por algum grau ou tipo de desenvolvimento narrativo. […] Um envolvimento tão intenso do processo no seu resultado parece induzir à proposição: o livro de artista seria uma obra em que as expressões da narrativa se apresentariam numa condição de múltipla existência, ou seja, de existência em planos além do esperado. (SILVEIRA, 2008, p. 12).

Já Julio Plaza aproxima o livro de artista do conceito de obra múltipla,

também explorado por Phillpot, visto que para o autor esse tipo de obra preocupa-se

tanto com o conteúdo quanto com a forma, preocupações que não existem na

criação do livro tradicional.

O “livro de artista” é criado como um objeto de design, visto que o autor se preocupa tanto com o “conteúdo” quanto com a forma e faz desta uma forma-significante. Enquanto o autor de textos tem uma atitude passiva em relação ao livro, o artista de livros tem uma atitude ativa, já que ele é responsável pelo processo total de produção, porque não cria dicotomia “continente-conteúdo”, “significante-significado”. (PLAZA, 1982, não paginado).

Da mesma forma, não podemos entender os livros de artista como livros de

arte, ou catálogos de arte. A melhor maneira de diferenciar os dois, conforme

Phillpot (2013, p. 48-49, tradução nossa), é entender o livro de artista como livros

nos quais “[...] o artista assumi papel de autor, seja no sentido literário tradicional, ou

no sentido em que o artista é o autor do livro como obra de arte.” Ou seja, o livro de

artista não é somente um espaço para escrever sobre artistas ou apresentar suas

obras via imagens, o livro de artista é por essência a obra de arte.

A partir desse contexto, temos a percepção de que estas obras são

excepcionais seja pela sua idealização, forma física ou pela intenção do artista ao

conceder este trabalho. presente trabalho procura, a partir desta constatação,

apresentar porque essas características incomuns devem estar presentes na

representação descritiva e temática realizadas pelas bibliotecas que guardam e

preservam essas obras, para que os pesquisadores e curiosos desse assunto

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consigam recuperar essas peculiaridades, que tornam os livros de artista tão

especiais. Assim como investigar as práticas e modelos de acondicionamento

utilizados para esses trabalhos.

Phillpot (2013, p. 50-55) aponta como deve ser feita a seleção e aquisição,

organização, acondicionamento e preservação, e exploração dessas obras no seu

ponto de vista, e são essas questões que abordaremos nesse trabalho.

A discussão sobre o tratamento de livros de artistas em bibliotecas não é

algo que seja discutido nacionalmente, apesar de algumas instituições, como o

Museu de Arte do Rio (MAR) e a Biblioteca da Escola de Belas Artes (EBA) da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já estarem pesquisando sobre o

tema visando o desenvolvimento de uma política para as suas coleções.

A partir dessas pesquisas foi formada a primeira coleção de livros de artista

de uma biblioteca pública do país. A catalogação dessa coleção foi feita por

bibliotecárias com a ajuda do professor Amir Britto, o qual foi decisivo também na

identificação das obras. Foi percebido na época as dificuldades que podem surgir na

representação da informação de obras dessa natureza.

Durante o processo de catalogação, em muitos livros, tais informações não constavam em obras de referência, nem em sites comerciais, nem em outras bibliotecas nacionais e internacionais, nem em folhetos. Poucas vezes, encontram as informações em blogs de artistas e editores independentes. Evidenciamos que nem sempre haviam informações para descrição do livro de artista nas estruturas textuais e paratextuais que compõem um livro tradicional. (ARAUJO; SANTOS, 2014, p. 12).

Conforme afirma Phillpot (2013, p. 53, tradução nossa), “livros de artista

apresentam alguns problemas na catalogação.” Para o autor esse tipo de obra pode

conter poucos detalhes sobre a publicação, além dos problemas mais claros de

identificação se o livro em mãos é, ou não, livro de artista. Phillpot aponta que ele

não compreende muitos problemas na catalogação dessa espécie, porém é preciso

registrar que ele sendo o antigo diretor bibliotecário do MoMA, sugeriu que a

catalogação dessa instituição tendesse, na maior parte das vezes, a ser simplificada.

Outros autores, no entanto, entendem que a catalogação de livros de artista

por bibliotecários, precisa ser melhor estudada e fundamentada. Assim sendo, Maria

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White, Patrick Perratt e Liz Lawes publicaram em 2012, o “Artist’s Books: a

cataloguers’ manual”, um manual que por meio de exemplos, demonstra a

catalogação que os autores consideram ideal para essas obras de arte,

conceituados livros de artista.

Livros de artista são colecionados por muitas bibliotecas e coleções ao redor do mundo. Eles são um gênero complexo, com grande potencial para criar dificuldades em muitas áreas: definição, acondicionamento e preservação, para indicar alguns. Eles podem ser considerados obras de arte por direito próprio, porem são comumente encontrados em coleções de bibliotecas e são documentados de acordo com este contexto. (WHITE; PERRATT; LAWES, 2012, p. vii, tradução nossa).

Fica claro na leitura da bibliografia que o maior problema para os

profissionais na informação, frente a coleções de livros de artista, é a definição

desse tipo de obra. No entanto, a maior parte dos pesquisadores do tema concorda

que definir o que é um livro de artista seria quase que irresponsável, haja vista que

ao fazê-lo delimitaríamos a sua matriz, e em consequência, excluiríamos muitas

obras que são sim livros de artista.

Bibliotecários têm receio de tentar definir livros de artista. Eles sentem que o termo será sempre indefinido, porque liquidaria a essência do termo ao fixá-lo. No medo que eles excluiriam uma obra critica, eles preferem ser totalmente inclusivos, mas restrições orçamentarias evitam a inclusão abrangente. (STOVER, 2005, p. 11, tradução nossa).

Após identificar a singularidade das obras conhecidas como livro de artista a

partir da experiência de um estágio, no qual foi necessário a identificação,

catalogação, indexação e acondicionamento destes trabalhos, foi reconhecido que

devido as suas características incomuns seriam necessários cuidados peculiares no

tratamento e acondicionamento dessas obras. Nessa direção foram pensadas as

seguintes questões: Como é feita a catalogação desse acervo em bibliotecas de

museus? Como as bibliotecas vêm usando as normas do Código de catalogação

AACR2r na descrição dos livros de artista. Quais são os termos de indexação mais

adequados na representação temática do livro de artista? Como deve ser feita o

acondicionamento do livro de artista, visando a sua preservação?

Os objetivos gerais são: a) Conhecer as especificidades que cercam o

conceito de livro de artista; b) Elencar elementos essenciais na catalogação deste

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tipo de documento; c) Avaliar como deve ser feita a indexação de um livro de artista;

d) Investigar as melhores formas de acondicionamento e manuseio dessas obras,

visando a sua preservação.

Para atingi-los foram traçados os seguintes objetivos específicos: a)

Estabelecer o que diferencia um livro de artista de um livro de arte, tendo em vista

as características especiais que devem estar presentes na catalogação, indexação e

acondicionamento dessas obras; b) Comparar como duas bibliotecas de museus,

uma internacional e outra nacional, descrevem, representam e organizam suas

coleções de livros de artista; c) Apontar as áreas de catalogação mais utilizadas na

descrição de livros de artista.

A presente pesquisa se justifica, haja vista que as coleções de livros de artista

são geralmente formadas por obras com características especificas e diferenciadas,

fato que exemplifica a necessidade de acréscimos singulares ao tratamento e

organização dessas obras em bibliotecas. O tratamento desse acervo deve ser

pensado e estruturado para que seja possível a recuperação de toda informação que

um livro de artista possui, já que estes são na maioria das vezes exemplares únicos

de artistas célebres e renomados, o que torna uma coleção de livro de artista

preciosa para a cultura e o conhecimento. Além de ser imprescendível que a sua

organização seja realizada visando a sua preservação. Em vista do exposto, o

presente trabalho procura identificar como deve ser feita a catalogação, a indexação,

e o acondicionamento dessas obras, a partir de um exemplo nacional, a coleção do

MAR, e internacional, do MoMA.

A intenção deste estudo é apresentar que o livro de artista é uma obra de

arte e um livro ao mesmo tempo, e possui diversos conceitos publicados por

pesquisadores da área. E, assim sendo, exemplificar que bibliotecas colecionadoras

dessas obras precisam compreender a particularidade do livro de artista e estruturar

práticas e normas de representação descritiva e temática, acondicionamento e

preservação adequadas a esse gênero.

Quanto ao referencial teórico, trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo

exploratória. Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 63) entendemos a

pesquisa exploratória como aquela que “[...] é normalmente o passo inicial no

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processo de pesquisa pela experiência e um auxilio que traz a formulação de

hipóteses significativas para posteriores pesquisas. ” Os autores acrescentam que a

pesquisa exploratória “[...] não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas

no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre

determinado assunto de estudo.” Desse modo, a pesquisa exploratória consiste no

conhecimento do objeto, no entendimento do assunto para perceber-se novas

ideias.

Para completar a investigação será feito um trabalho de campo, de modo a

identificarmos como as bibliotecas de museus vêm tratando os livros de artista, para

que possamos identificar os elementos essenciais para descrição representativa e

temática deste tipo de obra, caracterizada como singular cujo conceito de

documento transita entre o objeto bibliográfico o museológico, e o seu

acondicionamento e preservação.

A ida a campo objetivou identificar como é feito o tratamento técnico, o

acondicionamento e preservação dessas obras em instituições museológicas

célebres que possuem bibliotecas com coleções de livro de artista. Conhecer as

diretrizes que essas adotam para catalogar, indexar e acondicionar essas obras, e

as distinções que estabelecem para diferenciar estas coleções e outras coleções

especiais.

Dentre as bibliotecas de museus escolhidas para a realização de estudos de

caso comparado escolhemos no Brasil a biblioteca do Museu de Arte do Rio (MAR)

e no âmbito internacional tomaremos como referência a biblioteca do Museu de Arte

Moderna de Nova York (MoMA).

De acordo com Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 61) “estudo de caso é a

pesquisa sobre determinado individuo, família, grupo ou comunidade que seja

representativo de seu universo, para examinar aspectos variados de sua vida.” Ou

seja, as instituições escolhidas representam experiências pertinentes a essa

pesquisa exploratória.

No que diz respeito à organização, este trabalho inicia-se com uma breve

explicação do conceito de documento para o museu e uma introdução do conceito

livro de artista, tendo em vista o desconhecimento dos profissionais bibliotecários

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sobre tais obras. É entendido que para que seja possível um bibliotecário trabalhar

com uma coleção dessa categoria, esse precisa conhecer um pouco da história

desse gênero. Evidente que a ideia deste trabalho não é de definir o livro de artista,

o que são e de onde vieram. Pela sua pluralidade de características, conceitos e

concepções, é uma tarefa quase impossível encaixar essas obras em uma única

definição e a partir dessa dar um prosseguimento ao trabalho de desenvolvimento

de coleções, tratamento técnico e acondicionamento.

A partir então da contextualização do conceito, podemos começar a

identificar como deve ser feita a catalogação, a indexação e o acondicionamento, e

em consequência a preservação, dessas obras. Portanto, o trabalho tenta apontar

os maiores problemas que um bibliotecário pode encontrar quando se depara com

um livro de artista. E como bibliotecas notáveis com coleções do gênero, tratam e

acondicionam os livros de artista.

Finalmente são apresentados dois exemplos de coleções de livro de artista

em bibliotecas de modo a conhecermos como cada uma dessas instituições (o

MoMA e o MAR) descreve o conteúdo informacional dessas obras e as organiza.

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2. O CONCEITO DE DOCUMENTO: PARA A BIBLIOTECA E O MUSEU

“Livros são o melhor médium para muitos artistas trabalhando hoje.”

(Sol Lewitt, tradução nossa)

O capítulo adiante tem como objetivo conceituar o que é documento para o

museu, e o que é documento para a biblioteca, para depois ser apresentado

algumas conceituações possíveis para livro de artista.

Haja vista a caraterização mista do livro de artista, o qual é tanto livro como

obra de arte, será exemplificado o que a disciplina da museologia entende como

documento, e as distinções entre esse conceito com os conceitos da

biblioteconomia.

Em seguida serão apresentados alguns conceitos para a definição de livro

de artista, assim como alguns termos utilizados para distingui-los pelos seus

formatos e/ou concepções.

2.1 A OBRA DE ARTE COMO DOCUMENTO

Para entendermos o conceito de livro de artista primeiramente vamos

apontar a conceituação da obra de arte como documento, haja vista a conexão clara

entre os dois conceitos. Paul Otlet (1937, não paginado) entende o conceito de

documento como: “[…]o livro, a revista, o jornal; a peça de arquivo, a estampa, a

fotografia, a medalha, a música; é, também, atualmente, o filme, o disco e toda a

parte documental que precede ou sucede a emissão radiofônica.” (OTLET, 1937,

não paginado).

Para Otlet o documento não é um conceito restrito ao um âmbito só, ele está

presente em diversas áreas, como a museologia que trabalha com os objetos de

arte. Para dar conta dessa diversidade cria-se uma nova ciência: a Documentação.

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21    

Em suma, a Documentação propôs extrapolar a dimensão do suporte em direção à informação contida nos variados documentos localizados em diferentes instituições. Dessa forma, os documentos abrem caminho para a formação da memória da humanidade, independente dos formatos e suportes em que são registrados pelo homem. Esse entendimento aponta para a multiplicidade de suportes e cria os contornos de totalidade e universalidade propostos por Otlet. (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 160).

Mário Chagas (1994, p. 34) aponta que o documento pode ser

compreendido como “[...] aquilo que pode ser utilizado para ensinar alguma coisa ou

alguém”, ou como “[...] suporte de informações [...]”, e exemplifica que esse também

está relacionado com o conceito de memória.

O conceito de documento nos leva também ao conceito de MEMÓRIA. Para que possamos pensar o documento como "aquilo que ensina" ou "como suporte de informação", não podemos abrir mão da memória. Não há aprendizagem e não há informação sem a presença da memória. (CHAGAS, 1994, p. 37).

Autores como Chagas (1994), entendem que a memória é uma caracteristica

imprescendível para o objeto, o documento, museológico, tendo em vista que alguns

deles não nascem como objeto de museu. Uma moeda, objeto muito presente em

coleções museológicas, não foi criada com o intuito artístico, mas com o contexto

histórico que possui ela é considerada como tal.

A memória também é imprescindível para pensarmos a discussão de

monumento, conceito muito utilizado na museologia, o qual entende o documento

como uma herança do passado que se configuram em monumentos. “Considera-se,

dessa forma, os objetos de museus, como vestígios da cultura material, os quais

servem igualmente para a (re)constituição de uma memória coletiva.” (TANUS;

RENAU; ARAUJO, 2012, p. 169).

Gabrielle Tanus, Leonardo Renau e Carlos Araújo, (2012, p. 170) após

identificarem que o conceito de documento é interdisciplinar para as áreas de

Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, apresentaram um quadro que ilustra o

que cada área entende como documento, porém apontam que essa observação não

é definitiva.

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22    

QUADRO 1: Noção de documentos nas três áreas.

Problema

Biblioteconomia Arquivologia Museologia

Análise da literatura

científica

Comprovação da origem Sentido histórico e

estético

Método

Ênfase no

conteúdo/assunto

Ênfase na

autenticidade/função

Ênfase no

objeto/informações

intrínsecas e

extrínsecas

Desenvolvimento Técnico-científico Jurídico-administrativo Artístico-cultural

Fonte: (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 170).

Neste quadro fica claro que a museologia possui um problema, um método e

uma linha de desenvolvimento distinta da biblioteconomia, o que torna o trabalho do

bibliotecário com o livro de artista único. Um livro de artista é um documento

bibliográfico e museológico simultaneamente, à vista disso a necessidade de ter

uma forma específica para tratar e organizar em bibliotecas essas obras.

2.2 LIVROS DE ARTISTA COMO OBRA DE ARTE: APROXIMAÇÕES

CONCEITUAIS

Como já indicamos na introdução, a maior dificuldade que um bibliotecário

pode encontrar quando trabalha com livros de artista é primeiramente a definição do

que estas obras podem ser, já que o formato que elas têm e o conteúdo que

possuem são singulares. No entanto, é preciso compreender que estamos lidando

com obras de arte e não literárias, e no espaço artístico tudo pode ser contestado,

mexido ou mudado, especialmente na arte contemporânea, período atual que foi de

extrema importância no desenvolvimento do conceito “livro de artista”.

Bernadette Panek (2005, p. 1) exemplifica que livros de artista foram

concebidos, em sua grande maioria, para representar o rompimento da arte com o

seu espaço tradicional, como museus e galerias. Esse rompimento da arte

contemporânea, que aconteceu no começo da década de sessenta, tinha como

propósito difundir a arte em novos espaços que não fossem tão particulares, e tendo

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23    

em vista a grande disseminação de informação que um livro propicia, o livro de

artista tornou-se um meio de comunicação entre o artista e o público que esse quer

atingir.

Os anos 60 e 70 assinalam a preocupação do meio artístico em relação aos locais tradicionais de exposição – museus, salões e galerias. Vários questionamentos a essas instituições e respectivas super estruturas são levantadas. O interesse do artista em sair do espaço institucionalizado leva-o a pensar no espaço “além do cubo branco”. Ele irá buscar esse espaço em outros locais como o das publicações eventuais ou periódicas, e principalmente, no livro de artista. O livro vai desempenhar o papel de lugar que substitui as paredes da galeria, como espaço de “apresentação pública” e disseminador de arte para um público mais abrangente (PANEK, 2005, p. 1).

Como vimos na introdução desta pesquisa, há diferentes definições sobre

livro de artista, mas a predominante é aquela que o define como uma obra de arte,

surgida na segunda metade do século 20 como expressão de:

“[...] um tipo de produção que hibridizava as funções de leitura e visualização do livro

tradicional, e transgredia seu emprego de suporte de escrita para transformar-se, per

se, em uma obra de arte.” (BENTO, 2005, não paginado).

Nesse conjunto de expressões, num primeiro momento, estavam:

Livros de luxo em edições limitadas; Livros ilustrados por pintores/as; Ilustrações; Livros de Fotografia; Livros de Historia da Arte com reproduções de obras; Livros de Design; Livros sobre Tipografia e Diagramação; Livros sobre técnicas de fabricação de materiais; Livros sobre encadernação; e toda a chamada ‘arte do livro’ estará presente no bojo daquilo que consideramos como sendo o contexto do Livro de Artista. (LUNA, 2012, p. 580).

Do ponto de vista estético, a proposta era, através das intermitentes páginas

da arte provocar e:

[...] romper fronteiras e dessacralizar o próprio estatuto da obra de arte, estetiza o objeto livro desconstruindo o corpo físico e imaginário para além dele, agora no campo da arte, funda-se no jogo da decifração e significação, de metáforas. (HOLZ, 2005, p. 16).

Phillpot, em um de seus artigos tentou apresentar os vários tipos de livros de

artista pelo seu gênero de documento, e não pelas suas características visuais e

físicas, ou do seu processo de impressão, como de costume.

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Ao invés de discutir os livros em termos de, digamos as suas costuras ou processos de impressão, nós podemos usar a prisma de gênero para diferenciar algumas das grandes variedades de livros de artista. Dentro das grandes categorias desse espectro estão: edições de revistas e magazineworks, assemblings e antologias; escritos, diários, declarações, manifestos; poesia visual e wordworks; partituras; documentação; reproduções e sketchbooks; álbuns e inventários; obras gráficas; comic books; livros ilustrados; page art, pageworks, e arte postal; e livro arte e livro-obra. (PHILLPOT, 2013, p. 193-194, tradução nossa)1.

No entanto essas dificuldades de definição não comprometem a importância

da disseminação dessas obras, que possuem informações de valor inquestionável.

Apesar de diferentes das obras raras, elas são tão relevantes quantas essas, seja

para os pesquisadores das artes como para os leigos. Assim sendo, é necessário a

preparação dos espaços das bibliotecas para que coleções de livros de artista sejam

devidamente armazenadas e suas informações catalogadas. A biblioteca de artes da

UFMG, por exemplo, criou diversas políticas de acervo, para que as singularidades

dessas obras sejam respeitadas.

Clive Phillpot (2013, p. 148), responsável pela a coleção de livro de artista do

MoMA e precursor dos estudos da ciência da informação junto a essas obras,

também pesquisa as diferenças entre um livro de artista e um livro raro. Essas

diferenças podem ser determinantes quando pensarmos todo o tratamento técnico

dessas obras. Em 1982, Phillpot apresentou um diagrama feito por ele mesmo, que

demonstra o âmbito do tema representado:

                                                                                                                         1Alguns conceitos não possuem tradução.  

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25    

FIGURA 2: O Livro de artista – Esquema Clive Phillpot.

Fonte: (PHILLPOT, 2013, p. 148).

Este diagrama é muito representativo para entendermos o livro de artista no

campo documental. Phillpot (2013, p. 148) aponta que existem três áreas que

envolvem a temática. A primeira, a maça da ilustração, representa a arte visual; a

segunda a pera, representa o livro literário, e na interseção das duas temos a lima, a

qual simboliza os livros de artista. Quando juntas, as três frutas retratam o universo

desse campo empírico, ilustrando que livros de artista podem ser livros literários,

livros-obra e livros objeto, além de poderem ser obras com múltiplos exemplares ou

obras únicas2. Tendo em vista este contexto, Phillpot define que prefere trabalhar

com os livros múltiplos.

Eu vou fazer só mais um comentário sobre esse diagrama no momento. Ele é dividido horizontalmente em obras ‘únicas’ e ‘múltiplas’. Eu vou direcionar a maior parte da minha atenção para os livros-obras múltiplos, já que obras únicas normalmente encarnam uma negação do potencial de replicabilidade de conteúdo e valor comunicativo inerente do livro impresso. (PHILLPOT, 2013, p. 149, tradução nossa).

                                                                                                                         2  O conceito de obra múltipla para Phillpot, se relaciona tanto ao aspecto físico da obra (número de exemplares) quanto ao aspecto estético. Ou seja, esteticamente é múltipla uma obra que apresenta aspectos da arte visual e de livro literário, simultaneamente. Nessa categoria estão os livros-objeto, geralmente obras únicas, que no MoMA, são acondicionadas separadamente da coleção de livros de artista. Essas formas de acondicionamento serão exemplificadas mais adiante neste trabalho.  

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26    

Silveira (2008, p. 58-59) também aponta a significância da produção

múltipla: “O livro de artista, no sentido restrito do termo, é um produto quase sempre

múltiplo e que põe em ação o gesto artístico de publicar. Como tal, não abre mão de

atingir seu público onde ele estiver. Ele agrega à arte o conceito de mídia.”

A partir do diagrama fica claro que para, Clive Phillpot, existem três termos

normalmente usados para a compreensão de livros de artista, “artists books”, “book

art” e “book objects”. No Brasil chamamos esses de livro de artista, livro-obra, e livro

objeto. Os “livres d’artistes”, apesar de algumas instituições os considerarem livros

de artista, neste trabalho não o serão. Pois como já foi apontado, de acordo com

Phillpot, estas são obras separadas da caracterização do livro de artista.

Podemos identificar que apesar de os autores e pesquisadores na área

terem receio em conceituar o livro de artista com um limite, a maior parte deles

entendem que existem diversos tipos de livros de artista e isso determina que o

conceito precisa ser amplo o suficiente para abordar todos eles. Phillpot apresenta

nos seus artigos que os livros múltiplos são mais favoráveis a concepção dessas

obras, mas não deixa de reconhecer os livros objetos e livros-obra que costumam

ser exemplares únicos. Mesmo que esses dois tenham uma tipificação mais de

obras de arte do que de livros, são colecionados por bibliotecas de arte como livros

de artista ao redor do mundo.

No livro-objeto, não há a preocupação com os padrões de forma e encadernação de um livro comum, e nem com um público em específico. Por isso mesmo, ele parece mais um objeto de percepção do que com um livro de leitura, pois possui uma característica fortemente plástica, indo além dos padrões de uma narrativa literária. Para isso, explora não apenas o sentido da visão, na leitura linear do início ao fim da página, como também o prazer proporcionado pelo estímulo dos outros sentidos: tato, olfato, audição e paladar. No livro-objeto, o leitor passa a ser um articulador, um ser manipulador e co-autor da obra, pois ele pode dialogar e interferir, modificando e experimentando. Além disso, não existe começo, meio e fim na narrativa, podendo-se começar e terminar de "ler" o livro-objeto aleatoriamente, como em um livro de poesias. (AMANTINI; UENO; CASTRO; SILVA, 2007, não paginado).

O movimento neoconcreto brasileiro, (Amantini; Ueno; Castro; Silva, 2007,

não paginado), partilhou dos livros-objetos durante as décadas de cinquenta e

sessenta. A artista Lygia Pape produziu diversas obras dessa espécie, como o Livro

da Arquitetura, Livro da Criação e Livros-Poema (1959-1960).

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27    

FIGURA 3: Livro da Arquitetura, Lígia Pape (1959-1960).

Fonte: Pape, Lygia. In: http://www.lygiapape.org.br/pt/obra50.php?i=15.

Aqui também podemos mencionar as obras do coletivo Fluxus que produziu

objetos os quais em nada lembram livros, mas que por algum motivo especial são

considerados livros de artista.

Fluxus foi um coletivo de artistas de âmbito internacional formado por

poetas, compositores e designers na década de sessenta com o pretexto de,

segundo um de seus integrantes, o artista George Maciunas, “fundir os quadros de

revolucionários culturais, sociais e políticas em [uma] frente e ação unida.”3

(MACIUNAS, 1963, p. 1, tradução nossa).

O coletivo Fluxus foi um dos precursores mais importantes do livro de artista,

visto que com a aspiração de difundir e expandir a arte o grupo promoveu concertos

e festivais, e criou uma editora na qual publicavam os conhecidos Fluxus Year Box.

A intenção do grupo, conforme Panek (2005, p. 1) era romper com as barreiras dos

museus e galerias para revelar a sua arte. As obras do Fluxus são sempre

consideradas livros de artista, não pela sua forma, mas pela sua intenção.

                                                                                                                         3MACIUAS, George. “FUSE the cadres of cultural, social & political revolutionaries into [a] united front & action.” 1963, p. 1.  

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28    

Não poderíamos falar de Fluxus sem falar das publicações que lhe deram renome e a forma de distribuição desse material publicado. Várias das primeiras edições Fluxus, como WaterYam (1963), de George Brecht, constavam de textos e partituras impressos em cartões individuais, colocados em caixas, ao invés de encadernados em formato de publicações mais tradicionais. (PANEK, 2005, p. 6).

FIGURA 4: Flux Year Box 2, Coletivo Fluxus (1965-1968).

Fonte: MoMA. In: https://www.moma.org/interactives/exhibitions/2011/fluxus_editions/index.html.

Tendo em vista todas as possibilidades das obras conceituadas livro de

artista, é imprescindível que bibliotecas que possuem coleções dessa espécie,

tenham bibliotecários que entendam que elas possuem características singulares e

percebam que é fundamental formar normas e procedimentos específicos para o seu

tratamento e organização. Seja enquanto catalogação, indexação de assuntos ou

acondicionamento.

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29    

3. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM ARTES

“Esses livros são meus filhos.”

(Ed Ruscha, tradução nossa)

Neste capítulo será exemplificado como podem ser feitas as práticas de

representação descritiva, indexação, e acondicionamento dos livros de artista, a

partir das técnicas utilizadas pela a museologia com obras de arte. Em cada parte,

será primeiramente explicado os conceitos devidos, para em seguida poder ser

apontada as melhores formas de executar tais práticas frente a coleções de livro de

artista.

Além de explicar cada atividade, o objetivo dessa seção é demonstrar o

porque de uma coleção de livro de artista precisar de ponderação nas realizações

dessas atividades, tendo em vista as suas características especiais e muitas vezes

específicas a esse gênero.

3.1 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA EM ARTES

Além da dificuldade de identificação do que são livros de artista, precisamos

entender que essas obras possuem todos os tipos de formato, conteúdo e material,

e que muitas vezes são compostas de configurações mais semelhantes às obras de

arte do que a livros. Por isso,

Livros de artista apresentam dificuldades particulares para o catalogador de coleções especiais, o qual está inicialmente treinado na catalogação de obras raras, e não na catalogação de obras de arte. Mesmo que a descrição de obras raras, que possui uma ênfase no livro como objeto, o prepare um pouco para lidar com livros de artista, livros de artista apresentam um número de termos e técnicas que não são vistas nas obras raras. (MYERS A.; MYERS W., 2014, p. 56, tradução nossa).

De acordo com Eliane Serrão Alves Mey e Naira Christofoletti Silveira a

catalogação tange:

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30    

[...] o estudo, a preparação e a organização de mensagens, com base em registros do conhecimento, reais ou ciberespaciais, existentes ou passiveis de inclusão em um ou vários acervos, visando a criar conteúdos comunicativos que permitam a interseção entre as mensagens contidas nestes registros do conhecimento e as mensagens internas dos usuários. (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 126).

O objetivo da catalogação é que o registro descrito através de instrumentos

de pesquisa, os quais são resultados da catalogação, seja recuperado pelo usuário

que o procura. Assim sendo existem códigos de catalogação que são formados a

partir da “conveniência do usuário”. (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 126).

Consequentemente, vê-se o catálogo, produto da catalogação, como meio comunicativo para interação entre criador, usuário e documento, em seu sentido amplo. Pode-se afirmar que o criador (autor, artista, ou qualquer outro responsável pelo conteúdo intelectual de uma obra) espera que o fruto de seu trabalho seja conhecido ou descoberto por um usuário (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 127).

A catalogação faz uso de uma linguagem específica, catalográfica, a qual

“[...] possui semântica e sintaxe próprias [...]” (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 128), que

tencionando a normatização da técnica é internacional.

Mey e Silveira (2010, p. 129) também ressaltam que na construção de um

catálogo, é necessário um estudo sobre o público que esse catálogo irá atender.

Aqui podemos prever que o público de uma coleção de livro de artista muito

provavelmente terá uma necessidade informacional diferente de outros tipos de

usuários, e que para um profissional acostumado a trabalhar com a catalogação

bibliográfica usual, é necessário alguns acréscimos na descrição dessas obras que

muitas vezes convergem com a documentação museológica, hajam vista as suas

características de obras de arte.

Por razões históricas, e outras circunstanciais, entende-se a documentação de museus como uma série de procedimentos técnicos para salvaguardar e gerenciar as coleções sob guarda dos museus. Há concepções metodológicas que envolvem a documentação de museus e subordinam-se a duas perspectivas que respondem por duas formas de gestão da informação que são distintas entre si. São elas a perspectiva tecnicista, bastante apoiada na abordagem norte-americana, e a reflexiva, mais interpretativa, cunhada por europeus. (CERAVOLO; TÁLAMO, 2000, apud CERAVOLO; TÁLAMO, 2007, não paginado).

De acordo com Suely Moraes Ceravolo e Maria de Fátima Tálamo (2007,

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31    

não paginado) “para a concepção tecnicista, a função primordial da documentação é

responder as organizações mantenedoras”, ou seja, o usuário para essa concepção

é a própria instituição. Já para a concepção reflexiva a documentação museológica é

pensada também para os usuários externos ao museu, assim como sua biblioteca.

Para essa última o museu faz uso dos instrumentos de pesquisa baseados nos

processos biblioteconômicos.

Tais procedimentos também são seguidos por Dina Marques Pereira Araujo

e Magna Lucia dos Santos, bibliotecárias da UFMG, responsáveis pela coleção de

livro de artista da instituição, e foram relatados no trabalho “Coleção Livro de Artista

da Universidade Federal de Minas Gerais: processos biblioteconômicos em um

acervo especial”, apresentado no XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas

Universitárias (SNBU) em 2014. De acordo com as autoras, os processos

biblioteconômicos utilizados na formação da coleção foram separados nas seguintes

categorias (2014, p. 6-7):

• Aquisição: critérios de seleção, doações, carta-convites, compra;

• Inventario;

• Conservação;

a) Higienização (quando necessário);

b) Acondicionamento;

c) Definição de localização na estante por tipologia de material,

formato e dimensões do livro;

d) Definições das modalidades de consulta (suporte de leitura,

controle de obras).

• Catalogação.

Ceravolo e Tálamo (2007, não paginado) apontam que os objetos de museu

muitas vezes não possuem distinção entre suporte e conteúdo da obra “[...] já que o

próprio suporte se constitui, por vezes, em parte do conteúdo.” Os livros de artista

possuem essa característica na sua essência, haja vista o objeto ser uma obra de

arte e livro ao mesmo tempo, e terem como informação primordial a sua forma física

e o seu conteúdo.

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32    

Para atender esse dilema a documentação museológica propõe o conceito

de matriz da informação. Nela tanto os traços físicos quanto os de conteúdo são

considerados de modo que “[...] os traços dos diferentes planos estejam associados

para que se possa conduzir a análise. Sendo assim, a análise de um objeto/suporte

é simultaneamente uma análise dessa matriz de informação.” (CERAVOLO;

TÁLAMO, 2007, não paginado).

Tendo em vista as características do livro de artista, que muito se

assemelham aos objetos museológicos, a problemática é percebida na catalogação

dessas obras, no momento em que um trabalho não apresenta um formato de

códex, ou não possui título, local, editora, data de publicação, ou simplesmente não

apresentam qualquer informação ou marcas significativas.

Livros de artista também não são identificados por esse nome no Código de

Catalogação Anglo Americano (AACR2), e nem no Resource Description and

Access (RDA). Porém pode-se utilizar o capítulo dez do código, o qual apresenta as

normas para catalogação descritiva de artefatos tridimensionais e realia.

Timothy Shipe (1991) exemplifica o dilema de livro versus obra de arte e

ainda discorre sobre a necessidade ou não de uma documentação museológica

dessas obras.

A pergunta é: deve a descrição de uma obra em um catálogo de biblioteca ser tão completo quanto uma descrição museológica? Lembre que é diferentemente de um visitante de um museu, um usuário de bibliotecas vai provavelmente encontrar uma obra pela sua descrição no catálogo. Existe um perigo que uma descrição física muito completa de um livro de artista possa reduzir o impacto estético e artístico inicial para o usuário? (SHIPE, 1991, p. 24, tradução nossa).

Muitos autores apontam que pesquisadores e usuários de coleções de livros

de artista, estão à procura de materiais específicos ou formatos e designs diferentes,

o que nos faz retomar ao estudo de usuário, conforme apontaram Mey e Silveira

(2010, p. 129). Esse fato é especialmente verdade em bibliotecas universitárias que

são depositarias dessas obras que podem ser produzidas por alunos de artes,

produção cultural, entre outros cursos. Stover (2005, p. 19) aponta que docentes

pedem aos seus alunos que criem livros de artista como parte das suas

metodologias de avaliação, e esses precisam produzir obras com alguma

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33    

característica singular. Assim sendo, é interessante as características físicas do livro

serem representadas na catalogação, para que essas informações possam ser

recuperadas. Ressaltamos também que curadores de museus e galerias costumam

pesquisar o livro de artista da mesma forma, já que esses estão acostumados em

evidenciar formatos, imagens e materiais e não conteúdos.

Esse contexto torna a catalogação física do livro de artista, ou, a

documentação do suporte como denomina a museologia, de extrema importância,

apesar de bibliotecários estarem acostumados a analisar mais detalhadamente o

conteúdo das obras. Alguns autores, como Ann K.D. Myers e William Andrew Myers

(2014), atentam que a catalogação do aspecto físico dessas obras deve ser

realizada na área de notas. Ressaltam que, os catalogadores precisam ser flexíveis

ao aplicar as normas de catalogação na descrição de material gráfico e relia, pois a

natureza visual e física das obras de arte, incluindo aqui os livros de artista, “[...] não

combina com uma descrição estritamente bibliográfica, e catalogadores devem

contar com as notas para descrever as características visuais e físicas do item.”

(MYERS A.; MYERS W., 2014, p. 57, tradução nossa).

O manual “Artist’s Books: a cataloguers’ manual”, de Maria White, Patrick

Perratt e Liz Lawes (2012, p. 28), também aponta o uso da área de notas para a

descrição das particularidades físicas e visuais do livro de artista. O manual propõe

que seja feita na área de descrição física a melhor descrição possível da forma física

do item, seguindo o AACR2 e depois essas informações devem ser detalhadas nas

notas.

A regra 10.5C do AACR2r, ao especificar os detalhes físicos do material

recomenda que se registre os materiais de que são feitos os objetos na área de

descrição física, mas caso esta informação não possa ser descrita sucintamente

seja feita a especificação em notas.

Por exemplo: uma obra que seja publicada em caixa, como as obras de

Fluxus, é preciso apontar essa informação na área de descrição física, porém o

manual de Maria White, Patrick Perratt e Liz Lawes (2012, p. 29) ressalta que

descrever mais detalhadamente a caixa na área de notas é primordial, tendo em

vista que a caixa é parte integral a obra.

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34    

QUADRO 2: Descrição física e notas - catalogação livro de artista.

Exemplo

1 v. ; em caixa de 25 x 25 x 5 cm Nota: Caixa feita de madeira, pintada nas cores vermelha e preta, com ilustrações nas margens

Fonte: Elaborada pela própia.

O uso da área de notas é pertinente, pois muitas dessas obras vêm

acompanhadas de materiais adicionais. É importante ressaltar que apesar desses

materiais serem muitas vezes catalogados como peças extras, eles são partes

absolutas do livro de artista. Diferentemente de um livro tradicional que pode

acompanhar um cartão-postal, o qual caso se perca não afeta a integridade da obra,

essas peças do livro de artista são constituintes da obra. Descrevê-las como um

documento à parte compromete a intencionalidade estética do trabalho.

A regra 10.5E1 do Código aponta para fazer-se o registro de materiais

adicionais seguindo as instruções da regra 1.5E, a qual aponta que esse registro

pode ser feito em uma entrada separada, o que não é interessante na catalogação

de livro de artista porque como já foi exemplificado, esses materiais são integrais à

obra. Ou ele pode ser feito a partir de descrições em vários níveis, como explicado

na regra 13.6, ou utilizando-se as notas, ou registrando os números das unidades

físicas e os nomes dos materiais adicionais no final da descrição física. Esse último

é o meio mais utilizado para a descrição de livro de artista.

QUADRO 3: descrição física e notas - catalogação livro de artista.

Exemplo

50 p., [10] folhas de placas : il. color. ; em caixa de 30 x 20 x 5 cm + 1 frasco + 1 pôster Nota: Caixa feita de madeira, ilustrada nas cores azul e branco. Nota: Contem 1 frasco com terra e 1 pôster da ação realizada pelo artista.

Fonte: Elaborada pela própia.

Podemos apontar que, tendo em vista a catalogação do livro de artista, a

maior necessidade é uma descrição atenta e detalhada da forma física da obra. Não

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só pela a necessidade do usuário, mas também pela representação do artista, o qual

criou tal obra com aquela forma com motivação e objetivo específicos.

Finalmente, após identificar necessidades particulares da catalogação de

livros de artista, podemos também verificar que devido a todo esse contexto,

problemas e dificuldades surgem na normatização da catalogação internacional, já

que a forma de descrição costuma variar de coleção para coleção, como aponta

Michelle A. Stover. “[...] por enquanto não há padrões estipulados para bibliotecas

seguirem, a formas de acesso podem variar de coleção a coleção, o que cria

desafios para bibliotecários e diretores.” (STOVER, 2005, p. 17, tradução nossa).

Esse fato é mais um motivo para a criação de normas e práticas de

catalogação descritivas específicas ao livro de artista, para que esse trabalho possa

começar a tornar-se normatizado e mais fácil.

3.2 INDEXAÇÃO EM ARTES

F. W. Lancaster defini a indexação como:

[...] a preparação de representação do conteúdo temático dos documentos [...] o indexador descreve seu conteúdo ao empregar um ou vários termos de indexação, comumente selecionados de algum tipo de vocabulário controlado. (LANCASTER, 2004, p. 6).

Para compreendermos a indexação dos livros de artista também podemos

retomar a indexação museológica para a compreensão.

A indexação de objetos museológicos tem muito haver com a indexação de material textual, mas existem muitas diferenças também, e essas apresentam alguns problemas interessantes e desafiadores. O principal é que enquanto a maioria das indexações feitas começam com um agrupado de textos, a catalogação e indexação museológica começa com um agrupado de objetos. Esses podem ter palavras, mas usualmente essas palavras precisam ser fornecidas. O catalogador precisa decidir se o objeto é um copo, ou uma taça, ou uma caneca ou simplesmente um objeto para beber. (WILL, 1993, p. 157, tradução nossa).

Quando trabalhando com o livro de artista também é claro a problemática de

definição do que aquela obra representa, muitos deles não possuem textos ou

títulos, e fica a cargo do indexador entender o que aquela obra representa.

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Mesmo que tenhamos apresentado anteriormente diversos exemplos que

possam ilustrar essa questão, o artista italiano Bruno Munari (1907-1998) pode

representar essa problemática muito bem, haja vista que os seus livros de artista

têm a intenção de serem “un-readeble”, ou seja, livros que não são possíveis a

leitura. Essa intenção é tão clara nas suas obras que Munari intitulou suas obras

com esse nome, e vale ressaltar que apesar das suas características de livro objeto,

as obras de Munari são livros com números de exemplares publicados muito grande,

uma informação importante quando pensamos a conceituação de Phillpot.

FIGURA 5: An unreadable quadrat-print, Bruno Munari (1953).

Fonte: Artists’ Books and Multiples In:

http://artistsbooksandmultiples.blogspot.com.br/2015/04/bruno-munari-unreadable-quadrat-print.html.

Como vimos, livros de artista podem possuir qualquer tipo de formato e/ou

conteúdo, e por esse motivo muitos autores e instituições preferem usar da

indexação de assuntos para identificar e, consequentemente, agrupar as obras

produzindo por certos termos, como livro objeto e livro-obra. Isso é feito em

bibliotecas estrangeiras usando o campo “655 – Index Term-Genre/Form”, do

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formato Machine Readable Cataloging4 21 (MARC 21), onde se registra como

assunto forma e gênero. A biblioteca do MoMA e a Biblioteca do Congresso

Americano utilizam esse campo para indexar o termo livro de artista e alguns outros

termos relacionados ao género e forma da obra, assim como a Fundação Biblioteca

Nacional brasileira.

Na maior parte das vezes a descrição física da obra é feita nos campos de

notas, apesar da vontade de alguns bibliotecários de tornar as características da

obra em pontos de acesso a partir dos assuntos.

Michelle A. Stover (2014, p. 15) aponta que haja vista a necessidade dos

usuários dessas coleções, os quais pesquisam frequentemente pelos materiais ou

tipos de encadernação usados na obra, é necessário registrar essas informações

nos assuntos, e pensando nisso usa-se o campo 655, para fazer a indexação da

forma física e dos materiais, e tornar a pesquisa mais fácil.

Mary Anne Dyer e Yuki Hibben (2011, p. 60) apontam que é ideal que a

instituição crie uma listagem de todos os termos que podem ser utilizados na

indexação da estrutura física da obra.

Entretanto, esse tipo descrição temática pode ser complicada de se fazer

para um profissional que não é da área das artes, já que este provavelmente

desconhece os termos que seriam utilizados. Stover (2014, p. 58) também

reconheceu essa dificuldade ao tentar listar potenciais categorias dos formatos e

materiais do livro.

Para descrever eficientemente os livros de artista, nós tivemos que nos familiarizar com a terminologias descritivas de críticos da arte para usá-las na descrição da costura, da fabricação de papel, do processo de imprensa, e a esfera conceitual de cada livro. [...] No decorrer do tratamento dos itens, algumas categorias ficaram mais claras, enquanto outras mais complexas. A grande quantidade de variedades de forma, método, e assunto, tornou quase impossível unir categoria de descrição. (STOVER, 2005, p. 19, tradução nossa).

Assim sendo a maior parte das instituições indexam os itens das suas

coleções com os termos mais genéricos possíveis, pois receiam fazerem atribuições

                                                                                                                         4 A Machine Readable Cataloging 21 é a vigésima primeira versão do “conjunto de códigos e designações de conteúdos definido para codificar registros que serão interpretados por máquina.” (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA, In: http://www.dbd.puc-rio.br/MARC21/conteudo.html).

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erradas. A não ser que o termo esteja claro, ou seja, possível uma comunicação

com o artista para tirar dúvidas, esse fato é muito comum na Biblioteca do MoMA

porque a coleção de livro de artista da instituição é muito conhecida e renomada.

3.3 ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO

Já determinamos que as características distintas e especiais do livro de

artista, livro-obra e livro objeto, são determinantes nos aspectos da catalogação e

indexação de assuntos de uma biblioteca que dispõe de uma coleção dessa

espécie. Assim sendo, o armazenamento, a preservação e conservação dos livros

de artista, também são diferenciadas.

Livros de artista são obras que surgem em um grande número de obras grandes demais, pequenas demais, e com formatos estranhos, o que pode causar sérios problemas para a sua segurança e proteção (como também dos livros vizinhos) se os formatos não são considerados quando armazenando-os. (HERLOCKER, 2012, p. 68, tradução nossa).

Annie Herlocker (2012, p. 68) aponta que uma coleção de objetos – como a

de livro de artista – com diferenças em conteúdo e formato, mas produzida com o

propósito de manuseio recorrente, deve ser acondicionada em locais com

preocupações de preservação e com atenção na recuperação da informação.

Por isso, manter essas coleções acessíveis é um projeto complicado para as

bibliotecas. “Se não fosse pela parte integral única de manuseio, uma coleção como

essa pareceria mais apropriada para um museu ou galeria de arte.” (HERLOCKER,

2012, p. 68, tradução nossa).

Fica claro que é preciso pensar normas e práticas específicas para o

acondicionamento e preservação dessas obras, de uma forma que o acesso não

seja prejudicado. Pois, lembrem-se: umas das mais importantes intenções do livro

de artista é disseminação da arte, tarefa esta com a qual o bibliotecário é

acostumado.

O próprio uso do termo acondicionamento, ao invés de armazenamento,

mostra que o livro de artista tem necessidade de uma solicitude maior no quesito

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preservação e conservação. Muitos livros de artista são obras únicas, como já

apontamos, e esse fato implica diretamente no trabalho do bibliotecário, o qual

precisa preservar aquelas obras para um futuro longínquo.

Por esse motivo a maior parte das bibliotecas com coleções de livro de

artista utilizam os modelos de obras raras para o acondicionamento e acesso à

essas obras, ou seja, armazenam esses separados das obras gerais, com acesso

restrito, em locais com padrões de preservação como temperatura, umidade e

exposição a luz controlados (HERLOCKER, 2012, p. 68). Podemos citar a Biblioteca

do MAR como um exemplo dessa prática.

Essas rotinas também são utilizadas para diminuir o manuseio das obras já

que “é importante destacar que as politicas de acervo, no âmbito do acesso e do

manuseio do livro raro, recomendam “conservar para não restaurar”, na medida em

que a restauração atinge, apenas, o suporte e não a informação.” (PINHEIRO, 2009,

p. 41).

Os livros de artista quando possível são acondicionados em pé, porém

alguns deles são ou muito pequenos, ou muito grandes para permanecer em pé,

então são acondicionados em prateleiras separadas, sendo que para os pequenos é

mais aconselhável o acondicionamento em caixas de Ph neutro.

Como já foi apontado, tendo em vista a variação dos livros de artista, o maior

problema na prática de acondicionamento são aquelas obras que não possuem

forma de livro códex. Obras do grupo Fluxus, por exemplo, têm estruturas e

condições completamente diferentes, as quais de nenhum jeito lembram livros.

Porém, como já definimos que elas são livros de artista, e é necessário considerar

as suas diferenças e estabelecer normas e práticas de acondicionamento

específicas para obras desse feitio.

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FIGURA 6 - Eye dropper bottles (Livros de artista), Coletivo Fluxus (1991).

Fonte: In: http://artistsbooksandmultiples.blogspot.com.br/2012/09/chieko-shiomi-water-music.html.

Herlocker (2012, p. 72) também aponta que existe uma possibilidade muito

grande de perda dessas obras com formatos peculiares. Portanto, na organização

das obras é mais oportuno fazer uso de localização fixa, com cada item tendo o seu

devido identificador e local, do que utilizar a classificação por assunto, haja vista que

muito provavelmente obras pequenas e com formatos distintos seriam

acondicionados ao lado de livros grandes e pesados, os quais afetariam a

integridade (física e estética) obra.

Localização fixa enumera de modo primário ou alternativo todos os itens da biblioteca, a partir de uma notação-base – uma sequencia lógica, com números, letras ou outros sinais, separados por vírgulas e/ou travessões, sem espaços, que identifica o ponto de acomodação do item na área de armazenamento. (PINHEIRO, 2007, p. 38).

Tipos de encadernação dissemelhantes precisam ser separados para

manter a preservação das obras, já que a química dos materiais diverge e mantê-los

juntos pode acelerar a deterioração. (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 7).

Um procedimento muito utilizado nessas coleções é a etiquetagem dos itens

com papel de Ph neutro. A etiqueta que fica localizada no topo do livro e na maior

parte das vezes é nela que escreve-se, à lápis, o número de chamada.

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FIGURA 7 – Estante de livros de artista da Biblioteca MAR.

Fonte: Biblioteca MAR (2016).

Algumas bibliotecas, como a da Universidade Harvard, utilizam caixas de

preservação para as coleções de livro de artista. De acordo com Herlocker (2012, p.

74) a coleção da Universidade Harvard em Boston, acondiciona os seus livros de

artista junto aos livros raros de Imprensa e Artes Gráficas, empregando uma

classificação específica para essa coleção e caixas de preservação.

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FIGURA 8 – Caixa para preservação de livros e obras de arte.

Fonte: Spring Leaf Press, In: https://www.springleafpress.com/move-over-horse-its-the-year-of-the-sheep/.

Outras instituições preferem acondicionar os livros de artista de acordo com

o tamanho e forma do objeto.

Um método por tamanho similar é usado na Wellesley College. Livros de artista são armazenados de acordo com o tamanho de livros em oitavo, in-quarto, e fólio, depois de acordo com cada tipo de tamanho. E os livros são organizados pelo nome do artista ou editor com o número de chamada da Library of Congress (LC). (HERLOCKER, 2012, p. 74, tradução nossa).

A coleção da UFMG também utiliza práticas desse tipo para acondicionar as

suas obras: O armazenamento é feito em estante de aço e obedece a ordenação por tamanho. A guarda de livros de tamanhos distintos, lado à lado, contribui para a degradação do acervo, sobretudo, pela pressão que um livro exerce sobre o outro. Do mesmo modo, livros muito pequenos tendem a “desperecer” dentre os maiores. Livros com encadernação em espiral causam marcas nos demais. Caixas frágeis são amassadas e/ou quebradas se ordenadas ao lado de livros pesados. (ARAUJO; SANTOS, 2014, p. 10).

Essas condutas e normas são utilizadas para preservar obras que são

elementares nas suas condições especiais. Apesar de livros de artista

proporcionarem muitas dificuldades e empenho dos bibliotecários, que precisam se

adaptar e estudar para conseguirem tratar essas obras, eles também propiciam

oportunidades inéditas para bibliotecas, seus profissionais e seus usuários. No

somatório o esforço realizado é gratificante a julgar pelo valor de possuir uma

coleção de livro de artista.

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4. A BIBLIOTECA E O LIVRO DE ARTISTA

“Utilizo livros para fazer outros livros; trato o espaço

gráfico como se fosse uma espécie de abismo.”

(Waltercio Caldas)

Nesta seção serão apresentadas duas experiências de bibliotecas que

possuem coleções de livro de artista, uma no âmbito internacional e a outra no

âmbito nacional. A primeira, do MoMA, é considerada a coleção mais prestigiada do

mundo e foi formado por Clive Phillpot, pesquisador e autor que foi considerado

neste trabalho. Já a segunda, a do MAR, é hoje uma das maiores coleções na

América Latina e continua a crescer constantemente.

Estabelecemos as historias de formação das respectivas coleções, para em

seguida ser exemplificado como são os seus procedimentos de catalogação e

indexação das obras, e as suas normas e práticas de acondicionamento e

manuseio.

O objetivo desse capitulo é destacar experiências entre o trabalho

biblioteconômico e o livro de artista, ao relatar como duas bibliotecas formaram as

suas devidas coleções e como cada uma é tratada frente as práticas da

biblioteconomia.

4.1 A EXPERIÊNCIA DO MoMa

A biblioteca do Museum of Modern Art (MoMA), ou Museu de Arte Moderna

de Nova York, possui atualmente mais de dez mil exemplares de livros de artista na

sua coleção. Essa foi iniciada por Clive Phillpot na década de setenta, após o autor

ter tido uma experiência com as obras em uma outra coleção, a da Chelsea School

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of Art Library, Biblioteca da Escola de Artes de Chelsea, uma biblioteca universitária

especializada em artes.

Ao ver-se em um contexto onde a biblioteca precisava se tornar mais

atraente para os estudantes de artes da universidade, Phillpot (2013, p. 12) teve seu

primeiro contato com obras que, na época, nem ele intitulava livro de artista. Eram

pequenos panfletos que não se encaixavam como catálogos de exposição ou livros.

De qualquer maneira, como com qualquer nova publicação, eu, como bibliotecário, tinha que pensar: “Aonde isso encaixa, para onde isso vai?” Parecia óbvio que aquilo não era exatamente um catálogo de exposição, mas também não era um livro. Era literalmente um pequeno portfolio com mais ou menos 60 folhas soltas em uma pilha, cada folha com uma fotografia de uma pilha de obras. (PHILLPOT, 2013, p. 12, tradução nossa).

Após começar a estudar e tentar localizar outras obras parecidas, o autor

(2013, p. 13) percebeu que os alunos da faculdade poderiam visitar a biblioteca para

ver e tocar a arte, e não somente publicações com reproduções de arte. Nesse

momento Phillpot teve a percepção do livro como obra de arte, obra essa que pode

ser disseminada por bibliotecas.

Assim sendo, Phillpot tornou-se um pesquisador e colecionador de livros de

artista, o que lhe proporcionou a possibilidade de presidir a diretoria da biblioteca do

MoMA. Ao começar o trabalho em 1977, ele programou parâmetros para uma tarefa

que chamou de Artist Book Collection (A.B.C.). Localizou e transferiu obras que

estavam na coleção geral da biblioteca e começou o desenvolvimento da coleção de

livros de artista ao adquirir obras na livraria Printed Matter, montada em 1976 por

Lucy Lippard e Sol LeWitt, a qual especializou-se em livros produzidos por artistas.

Foi decidido por Phillpot (2013, p. 16) que a A.B.C. seria acondicionada em

um local separado, junto às obras raras na coleção especial para que essa tivesse

uma preservação e manuseio mais cuidadoso. E naquele momento ele também

decidiu por não criar o termo ‘livro de artista’ na indexação de assuntos visando à

recuperação dessas obras pelo catálogo da biblioteca. O autor aponta dois motivos

para esta decisão:

Primeiro, parecia para mim que existia um grau de subjetividade envolvidas na designação de uma obra como livro de artista, e eu não queria que usuários tivessem que negociar a minha

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categorização; e segundo, eu não queria que usuários julgassem se uma obra designada livro de artista seria relevante ou não, quando eles estivessem buscando um artista em particular. (PHILLPOT, 2013, p. 16, tradução nossa).

Porém acrescentado ao número de chamada um prefixo que identifica os

livros de artista, de modo a auxiliar os funcionários da biblioteca na localização das

obras.

Mesmo Phillpot, na época, observou complexidades para decidir o que faria

parte da A.B.C., sendo este trabalho considerado por vários autores o mais

complicado. Phillpot (2013, p. 17) descreve que primeiramente colecionavam-se

livros em forma de códex, que continham elementos verbais/visuais, mas não

revistas, ou baralhos, ou catálogos de exposição, ou livros objetos, ou aquelas obras

numeradas e assinadas de edições de luxo.

A A.B.C. foi tão significativa na proliferação de livros de artista que

influenciou diversas bibliotecas de arte no mundo em formar coleções parecidas,

digamos parecidas tendo em vista que os critérios de avaliação e aquisição se

diferem de caso a caso.

Coleções de livro como obra de arte foram montadas em diversas instituições com divergências nos critérios, ou em ambientes diversos, o que acarretou em diferenças no escopo das coleções de livros de artista. Quase se tornou moda, e, talvez tão importante, uma fonte de prazer para bibliotecários de arte e outros, que eficientemente tornaram-se curadores. (PHILLPOT, 2013, p. 20, tradução nossa).

Assim sendo, é preciso apontar que na A.B.C. os livros de artista

colecionados são aqueles considerados múltiplos por Phillpot (2013, p. 148), haja

vista que ele prefere separar as obras únicas das obras dessa coleção. Podemos

entender que isso se deve ao fato de Phillpot ser primeiramente um bibliotecário, o

que o torna um profissional da disseminação da informação. Essa definição não é

utilizada na Biblioteca MAR, por exemplo, que coleciona os livros de artista

múltiplos, edições de luxo e também obras únicas.

O MoMA cataloga a A.B.C. detalhando as suas especificações físicas e

visuais, quando julgado necessário, na área de notas e indexa o nome do artista,

que também é descrito na autoridade, e se possível o tipo de livro de artista, mas

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sempre é usado o termo “Artist book”, livro de artista, na indexação dos livros da

coleção. Isso foi acrescido no decorrer do tempo, apesar de Phillpot inicialmente

preferir não indexar os livros de artista com o seu conceito.

A seguir veremos como foi feita a catalogação descritiva do livro Boundless,

de David Stairs (1983), no formato MARC 21.

FIGURA 9 – Boundless, de David Stairs (1983).

Fonte: Printed Matter, In: https://www.printedmatter.org/catalog.

FIGURA 10: Visualização registro MARC 21 – Biblioteca do MoMA –

Boundless, de David Stairs (1983). LEADER 00000cam a2200277ua 450 001 9032722 003 OCoLC 005 19990628140142.0 008 850501s1983 xx 000 0 eng d 035 |9NYMX85-B1677 040 NN|cNN|dNNMoMA 043 n-us--- 090 S761 A12b|t6 ̃50|i02/01/94 N|h05/01/85 C 090 N200|bSt1235 B66|p1|i04/14/98 N|h08/14/92 C 100 1 Stairs, David. 245 10 Boundless /|cDavid Stairs. 260 [S.l.] :|bD. Stairs,|c1983.

300 1 circular object ;|c8 cm. in radius x 1 cm. thick. 500 With spiral binding completely surrounding circumference and making only the covers accessible.

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47    

655 7 Artists' books|y1983.|2aat 655 7 Bookworks.|2aat 655 7 Shaped books.|2aat 655 7 Artists' books|zUnited States.|2aat

510 3 Drucker, Johanna. The century of artists' books,|b1995. 600 10 Stairs, David.

906 |3Brooklyn:|a2005 Updates 935 7844 (NNMoMA) 935 4511 (NBB) 948 LTI 11/14/2008 950 |3MoMA:|lAB|uAB per CP|h05/01/85 C 950 |3Brooklyn:|h08/14/92 C |50:|l1MAIN 955 |3Brooklyn:|s04/86 Printed Matter $3.50|qBrooklyn|h08/14/ 92 C|l1MAIN 998 |3MoMA:|a02/01/94|tc|s9114|nNNMoMA|wNYPG84B65955|d05/01/85 |cDAS|bDF|lNYMX 998 |3Brooklyn:|a04/14/98|tc|s9114|nNBB|wNYPG84B65955|d08/14/

92|cLHW|lNYBA

Fonte: MoMA, In: http://arcade.nyarc.org/search~S1?/XBoundless&searchscope=1&SORT=D/XBoundless&searchscope=1&SORT=D&SUBKEY=Boundless/1%2C28%2C28%2CB/frameset&FF=XBoundless&searchscope=1&SORT=D&5%2C5%2C.

Como pode-se observar, a descrição dos detalhes físicos do material

registrada no campo 300, foi acrescida da nota no campo 500, detalhando o formato

do livro. O termo “livro de artista”, artists’ books, conforme recomendado por Phillpot,

foi usado na indexação no campo 655, assim como o termo “livro-obra”, bookworks,

e o termo “shaped books”, que poderia ser traduzido para “livros com formatos

diferenciados”.

FIGURA 11: The xeroxed book, de Eric Doeringer (2010).

Fonte: Printed Matter. In: https://www.printedmatter.org/catalog/43031.

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FIGURA 12: Visualização registro MARC 21 - Biblioteca do MoMA - The xeroxed book, de Eric Doeringer (2010).

LEADER 00000nam 2200313Ia 4500 001 731190686 003 OCoLC 005 20120525032933.0 008 110617s2010 nyua 000 0 eng d 040 AMH|cAMH|dBRZ 043 n-us--- 049 BRZA 100 1 Doeringer, Eric. 245 14 The xeroxed book /|cEric Doeringer. 250 1st ed. 260 New York :|bCopycat,|cc2010. 300 [185] leaves :|ball ill. ;|c28 cm 500 Cover title. 500 Edition of 250. 505 0 Carl Andre -- Robert Barry -- Douglas Huebler -- Joseph Kosuth -- Sol Lewitt -- Robert Morris -- Lawrence Weiner. 520 "The Xeroxed Book is based on Carl Andre, Robert Barry, Douglas Huebler, Joseph Kosuth, Sol LeWitt, Robert Morris, Lawrence Weiner - an artists book published by Seth Siegelaub and John Wendler in 1969 that is more commonly known as The Xerox Book. The Xerox Book was conceived as an exhibition in book form: Siegelaub invited the seven titular artists to submit 25-page projects designed to be reproduced by the then-new technology of the photocopy. However, photocopying proved too expensive at the time, and the book was printed on a traditional offset press. The Xeroxed Book is a photocopied edition of the Xerox Book. Being photocopied, The Xeroxed Book is perhaps closer to Siegelaub's intent than the original book. However, as a second-generation copy, The Xeroxed Book displays the limitations of photocopying as a reproductive technology. Dust, page edges, distortions, and other familiar Xerox artifacts appear on every page, becoming as much a part of the reading experience as the original artists' projects." --Artist's website. 563 Plastic comb binding. 583 |3MoMA:|aHoused|c20130827|iPlaced in four-flap enclosure |2local|5NNMoMa 600 10 Doeringer, Eric. 600 10 Siegelaub, Seth,|d1941-|tCarl Andre, Robert Barry, Douglas Huebler, Joseph Kosuth, Sol Lewitt, Robert Morris, Lawrence Weiner|vParodies, imitations, etc. 600 10 Siegelaub, Seth,|d1941-|xInfluence. 655 7 Artists' books|y2010.|2aat 655 7 Artists' books|zBrooklyn (New York, N.Y.)|2aat|5NBB 655 7 Photocopies.|2aat 700 1 Andre, Carl,|d1935- 700 1 Barry, Robert,|d1936- 700 1 Huebler, Douglas. 700 1 Kosuth, Joseph. 700 1 LeWitt, Sol,|d1928-2007. 700 1 Morris, Robert,|d1931- 700 1 Weiner, Lawrence. 852 NNMoMA|xPRES2013vw

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852 0 NBB|hN200|iD67096 X2|xBK 852 8 NNMoMA|hD6295|iA12x|xMO20121103re 948 LTI 08/06/2012 Fonte: MoMA. In: http://arcade.nyarc.org/search~S1?/XThe+xeroxed+book&searchscope=1&SORT=DZ/XThe+xeroxed+book&searchscope=1&SORT=DZ&extended=0&SUBKEY=The+xeroxed+book/1%2C8%2C8%2CB/frameset&FF=XThe+xeroxed+book&searchscope=1&SORT=DZ&1%2C1%2C.

Já a catalogação feita para a obra The xeroxed book de Eric Doeringer

(2010) da Biblioteca do MoMA, registra no campo 500 a quantidade de exemplares

publicadas da obra, e no campo 505 as autoridades adicionais do livro, o qual

entende-se como uma exposição em forma de livro que teve como participantes os

artistas nomeados nesse campo. O campo 520 exemplifica a concepção e a

inspiração do livro e o campo 563 foi utilizado para registrar o tipo de encadernação

que ele possui. Já os campos 6XX de indexação, registram o autor, os artistas, o

termo “Livro de artista” e “Cópias”, haja vista a caracterização do trabalho como uma

exposição copiada e divulgada para todos.

A A.B.C. é a coleção de livro de artista mais prestigiosa e considerável

atualmente, não só pelos itens que abriga, mas também pelo tratamento que ela

possui da biblioteca. O Museu de Arte do Rio, que também abriga uma coleção

grande de livro de artista, tem a A.B.C. como exemplar, apesar de possuir algumas

diferenças na conceituação do gênero. O MoMA é um museu de referência para as

artes e a sua coleção de livro de artista também o é.

4.2 O CASO DA BILBIOTECA DO MAR

A Coleção de Livros de Artista do Museu de Arte do Rio (MAR) possui hoje

mais de 1000 exemplares, sendo a maior parte dos títulos doadas pelo diretor

cultural do museu, Paulo Herkenhoff. Ela é tratada e mantida sob a custódia da

Biblioteca MAR, e apesar de estar acondicionada separadamente, é aberta ao

público, sendo a consulta ao acervo feita com hora marcada.

A coleção foi iniciada com a doação da coleção particular de Paulo

Herkenhoff, referência nacional e internacional na área de artes, curador, critico e

autor. Foi também diretor do Museu Nacional de Belas Artes (2003-2005), curador

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adjunto no MoMA (1999-2002), entre diversos outros trabalhos em instituições

renomadas até chagar ao MAR em 2013.

Herkenhoff, em uma entrevista concedida à Folha de São Paulo em 2013,

aponta que a primeira missão de um museu é colecionar, talvez seja por isso que a

Biblioteca do MAR tenha uma coleção de livros de artista tão abrangente e diversa.

Diferentemente do MoMA, o MAR prefere abordar todo tipo de livro de artista na sua

coleção. Sejam esses múltiplos ou únicos; livro-obra ou livro objeto; edições de luxo

de livros comuns com intervenções de artistas renomados, ou aqueles livros

produzidos por artistas publicados em larga escala.

A Coleção abrange obras nacionais e internacionais, e cresce

continuamente por doações diretas dos artistas, doações por terceiros ou aquisições

em leilões. O tratamento é feito de acordo com as normas AACR2 e foi elaborado

primeiramente um manual de catalogação voltado somente para os livros de artista,

tendo em vista as especificidades das obras. Campos MARC 21 foram escolhidos

para sustentar algumas características específicas, como o campo 508 –

Creation/Production Credits Note (R), o qual é utilizado para a descrição dos livros

assinados e numerados pelo artista.

No MAR utiliza-se um sistema de informação integrado para todas as

coleções – bibliográfica, museológica e arquivística – o que acarretou na escolha de

um tesauro que atendesse todas as áreas do museu, e esse foi o Art & Architecture

Thesaurus (AAT) do Instituto Getty.

The Getty Research Institute é considerada a maior organização filantrópica

do mundo dedicada às artes visuais. O AAT começou a ser formulado em 1970 com

o intuito de atender a necessidade expressada por bibliotecas de arte e jornais de

arte, e posteriormente por museus, para melhorar o acesso a informação as artes,

arquitetura e cultura material. Esse compreende os livros de artista da mesma forma

que Phillpot, e aponta:

Bookworks (livro-obra) - livros de artistas que exploram a forma de livro ou alteram a sua estrutura física como parte do conteúdo do trabalho. Também inclui obras onde a ênfase é sobre a delicada elaboração do livro. Para ‘esculturas’ que parecem ou incorporam livros, mas não se comunicam na característica normal de livros, usar "livro objeto."

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Book objects (livro objeto) - arte que faz uso do formato do livro ou a estrutura do livro; normalmente o uso é limitado a obras escultóricas únicas que tomam a forma de, ou incorporam, livros, mas que não se comunicam do jeito característicos de um livro convencional, como sendo experimentado sequencialmente. Para livros feitos ou concebidos por artistas visuais, use "livros de artistas" ou "livro-obra."

Artist books (livro de artista) - Livros, seja itens únicos ou múltiplos, feitos ou concebidos por artistas, incluindo publicações comerciais (geralmente em edições limitadas), bem como itens exclusivos formados ou dispostos pelo artista. Para textos escritos por artistas por causa de seu conteúdo informacional, use "escritos". Para livros de artistas que enfatizam o livro físico, como uma obra de arte e não o conteúdo, use "livro-obra”. Para as obras que parecem ou incorporam livros, mas não se comunicam na característica comum de livros, ver "livro objeto." (THE GETTY RESEARCH INSTITUTE5, tradução nossa).

Partindo desses termos é possível definir e separar os livros de artista da

coleção. No MAR o termo “livro de artista” é usado como assunto geral e em

seguida, se concebível, é determinado se a obra em questão é um livro objeto, ou

livro-obra. No entanto, quando a obra é nacional, às vezes são utilizadas as

definições de Julio Plaza, artista espanhol radicado no Brasil que produziu diversos

livros de artista, como Poemobiles, trabalho feito pelo próprio com o poeta Augusto

de Campos em 1966.

FIGURA 13 – Poemobiles, Julio Plaza e Augusto de Campos (1966).

                                                                                                                         5 THE GETTY RESEARCH INSTITUTE. Art & architecture thesaurus online. Disponível em: http://www.getty.edu/research/tools/vocabularies/aat/.

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Fonte: Bonvicino, Régis. In: http://sibila.com.br/critica/relendo-poemobiles-de-augusto-e-plaza/4536.

Plaza (1982, não paginado), definiu no que chamou de “Quadro Sinóptico

dos Livros de Artista”, vários tipos de livro de artista, que apesar de genial, é muitas

vezes muito complexo para um profissional que não é de arte compreender. Nele

Plaza identifica e apresenta os seguintes termos:

• Livro ilustrado;

• Poema-livro/Pintura-livro/Desenho-livro;

• Livro-poema, Livro-objeto, Livro-obra/Livro-trabalho

• Livro conceitual;

• Livro-documento;

• Livro intermedia e;

• Antilivro.

Cada um desses termos possui uma conceituação, estrutura e linguagem

diferente, e foram tomados como referência para o tratamento informacional da

Coleção de Livro de Artista do MAR. Esses termos são usados para indexar as

obras além dos do tesauro, sendo as informações registradas no campo 697 do

MARC como palavras-chaves. No entanto foi rapidamente percebido que este

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trabalho é quase que impossível de ser feito por alguém que não é da área. À vista

disso atualmente os conceitos de Julio Plaza só são usados se estiver claro na obra

a designação que ele atende.

FIGURA 14: Visualização registro MARC 21 – Biblioteca do MAR – Poemobiles, 2. ed., Augusto de Campos e Julio Plaza (1984).

Fonte: Biblioteca MAR (2016).

Analisando a descrição de Poemobiles, Augusto de Campos e Julio Plaza,

obra publicada em 1984, pode-se perceber que a Coleção MAR de Livro de Artista

compreende uma catalogação diferenciada, quando comparada a de outros livros, já

que são necessárias mais informações quanto ao formato físico, detalhes do

material, etc. As responsabilidades são geralmente são mistas6. Algumas obras

contêm simultaneamente artista, autores de texto, curadores etc., pessoas que

precisam ser descritas, pois são pontos de acesso para a recuperação dessas

obras. No que diz respeito à descrição, o conteúdo pode ser artístico ou não. Assim

sendo, foi elaborado pela Biblioteca do MAR o Manual de Catalogação de Livro de

Artista que apresenta os campos MARC 21 e a forma indica como o registro dessas

informações deve ser feito no sistema pelo catalogador.

                                                                                                                         6   Obras com responsabilidade mista são aquelas que possuem contribuições, intelectuais ou artísticas, de mais de uma pessoa ou entidade, as quais podem desempenhar funções de “escritor, adaptador, ilustrador, coordenador, arranjador, tradutor.” (AACR2, 2002, p. 21-24).  

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Esse Manual apresenta alguns campos que são necessários à descrição de

livros de artista, tais como:

• 508 $a – Nota de Créditos de Criação/Produção;

• 541 $f – Nota de Fonte Imediata de Aquisição;

• 590 $a – Campo de Notas Locais;

• 697 $a – Campo de Palavras-Chave Local.

O campo 508 $a é usado para descrever as informações de obras assinadas

e numeradas pelos artistas/autores. Muitos livros de artista possuem esta

característica. Já o 541 $f é utilizado para apontar o doador da obra, tendo em vista

que esta informação é extremamente relevante para um museu. O 590 $a é

aproveitado como campo de descrição de estado de conservação e o 697 $a é

usado tanto como campo para indexar as coleções especiais, como para indexar os

assuntos que não possuem registro no tesauro Getty, como os conceitos de Julio

Plaza, por exemplo. No entanto, cabe ressaltar que esse campo deve ser evitado ao

máximo já que é preferível usar o vocabulário controlado.

Os livros de artista no MAR são classificados de acordo com a Classificação

Decimal Universal (CDU) e são identificados pela sigla LA no subcampo $d do

campo 90 que representa o complemento do número de chamada, assim como é

feito no MoMA.

Além disso, na Biblioteca MAR foi criado no sistema de base de dados um

novo “tipo de obra” para os livros de artista, o que proporciona uma planilha de

catalogação descritiva própria, diferente da usada na catalogação de outros

documentos bibliográficos, como livros, periódicos, guias e catálogos de arte, etc.

Essa especificidade facilita a busca do usuário porque permite que este filtre os seus

resultados, escolhendo o tipo de obra que quer consultar. Ou seja, se um usuário

quiser pesquisar a artista Lygia Clark na base de dados, mas estiver pesquisando

um livro de artista específico, ele pode filtrar as suas respostas para tornar a sua

pesquisa mais rápida e eficiente.

O manuseio só pode ser feito com o uso de luvas e o acondicionamento das

obras é feito intencionando a preservação dos livros. As obras são acondicionadas

em um deslizante separado do resto da coleção com acesso restrito e é necessária

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visita marcada para pesquisa na coleção, a qual é feita via e-mail. As obras são

acondicionadas primeiramente de acordo com o tipo de material e em segundo de

acordo com o tamanho. Obras muito pequenas são organizadas em caixas de

preservação em outras prateleiras e são utilizadas etiquetas especiais para

identificar as obras com o número de acervo, ou tombo; número de exemplar, e a

localização fixa do item. Ambas as caixas e as etiquetas são produzidas pela

biblioteca a partir de folhas de Ph neutro.

Apesar de as obras serem classificadas de acordo com a CDU no sistema no

momento da catalogação, fisicamente os livros de artista são acondicionados pelo

sistema de localização fixa com a finalidade de preservar a coleção. “O Sistema de

Localização Fixa aplica-se à bibliotecas onde a conservação do livro é condição para

a salvaguarda de seu conteúdo, porque os livros são organizados segundo sua

materialidade.” (PINHEIRO, 2007, p. 33).

Considerando a volumosa coleção do museu foi imprescindível a criação de

normas de catalogação particulares, acondicionamento próprio e acesso e manuseio

zeloso, para não só atender o público interno e externo, como também garantir a

preservação da coleção para que essa prevaleça por muito tempo.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Eu sempre disse que livros de artista se refusam em se comportarem como livros. Páginas, texto, encadernação, informações da folha de rosto, são todas provavelmente arremessados pela janela enquanto o artista tenta transmitir a sua mensagem.”

(Rosemary Furtak, tradução nossa)

Esta pesquisa exploratória qualitativa apresentou alguns conceitos de livro

de artista, e apontou que obras dessa tipo são simultaneamente obras de arte e

livros. Haja vista as suas características peculiares ressaltadas no trabalho, foi

exposto que as práticas biblioteconômicas de representação descritiva, através da

catalogação, representação temática, através da indexação de assuntos, e o

acondicionamento e preservação dessas obras, necessitam de estudos por parte

dos bibliotecários que trabalham com elas, visto que as peculiaridades dos livros de

artista precisam ser consideradas durante tais processos.

Para conseguimos compreender essas práticas, apresentamos os conceitos

pesquisados para a área da museologia, considerando que o livro de artista possui

natureza artística, portanto as técnicas museólogas podem ser pertinentes no

tratamento de uma coleção de tal gênero.

Durante este estudo foi constatado a ausência de pesquisas e bibliografia

acerca do tema no Brasil e, também ficou bastante claro que existe uma carência de

pesquisa sobre a organização da “informação em artes”, a qual interessava muito ao

trabalho.

Livros de artistas são muito pesquisados pela a área das artes visuais no

Brasil, porém poucos trabalhos são relacionados com a biblioteconomia, fato que

pode influenciar na organização adequada dessas coleções em bibliotecas no país.

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Assim sendo, foi necessário buscarmos fontes em bibliografia estrangeira para a

redação do trabalho.

Mesmo com esse problema, o trabalho conseguiu apontar as peculiaridades

do livro de artista e que a sua conceituação não é definitiva, tendo em conta a sua

essência de obra de arte. Porém foram apontados diversos conceitos para uma

melhor compreensão do objeto estudado.

Verificamos que para a catalogação do livro de artista é imprescendível uma

atenção adicional a forma física da obra, em razão das necessidades dos usuários

que pesquisam coleções desse tipo. Além de identificarmos que esses trabalhos

demandam certas regras do Código AACR2, e alguns campos do MARC 21, para o

registro de informações inerentes a ele que não são usuais na catalogação

descritiva de livros comuns.

Da mesma forma foi explicitado que a indexação de assuntos de um livro de

artista pode ser exaustiva, se o indexador considerar todas as possibilidades de

conceitos existentes para a definição do livro de artista, assim como os diversos

materiais e formatos que eles podem conter, os quais podem ser indexados para

facilitar a busca do usuário. No entanto, uma indexação exaustiva desse tipo é, na

maior parte das vezes, complexa demais para um bibliotecário que não é da área de

arte ou design. Consequentemente, muitas bibliotecas que abrigam coleções de livro

de artista, preferem executar uma indexação mais simples para que erros não sejam

cometidos.

Em termos de descrição bibliográfica, foi confusa a observação da

inexistência do uso do campo 655 do MARC, na indexação de assuntos de coleções

brasileiras de livros de artista. Esse campo poderia facilitar muito a pesquisa do

usuário, podendo separar os títulos que são livros de artista daqueles que falam

sobre livro de artista. O primeiro é gênero e o segundo é assunto, uma distinção

fundamental que auxiliará o usuário na busca e na recuperação da informação

relativas a essas obras.

Essa questão foi percebida como mais um motivo para estudos mais

profundos por parte do bibliotecário, na definição de normas visando à organização

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e a indexação das coleções de livro de artista, tendo em vista que em bibliotecas

internacionais, com a do MoMA, o campo 655 já faz parte do escopo descritivo.

Também foi exemplificado que o livro de artista exige um acondicionamento

visando a sua preservação e conservação, e não o armazenamento típico de livros

em bibliotecas. Especialmente porque muitos livros de artista não possuem o

formato códex de livro e, em consequência, precisam de uma organização separada

e diferenciada das outras obras. Igualmente à catalogação e à indexação, livros de

artista, por serem obras de arte e por tantas vezes únicos, precisam de normas e

práticas especiais de acondicionamento e manuseio, para que possam ser

preservados para futuras gerações.

Para ilustrar essas ideias, foram apresentadas duas experiências de

bibliotecas com coleções de livro de artista. A primeira do âmbito internacional e a

segunda nacional, para melhor demonstrar diferentes circunstâncias de bibliotecas

que colecionam livros de artista. E apesar de a Biblioteca do MAR ter a A.B.C. como

exemplo, devido a diversidade do gênero, percebemos diferenças na seleção, no

tratamento e na organização das suas coleções.

Isso ocorre porque é quase impossível definir uma só forma de uma

biblioteca tratar e organizar obras que por sua essência não seguem regras na sua

formação. O livro de artista é tanto livro como obra de arte, mesmo que ele não

lembre em nada um livro, e antes que de quaisquer práticas e normas sejam

estabelecidas é fundamental que o profissional responsável pela a coleção entenda

isso. Normas e padrões para a representação da informação são definidas a partir

da formação da coleção, levando em consideração a necessidade dos usuários da

mesma. Por isso, o trabalho apresentou algumas formas possíveis de tratamento e

organização dessas obras, as quais foram relevantes para as suas instituições,

porém podem ser adequadas e/ou modificadas em outros casos, mas com o cuidado

de ter como referência os padrões internacionais, pois estes têm regras e estas são

essenciais para garantirmos sistemas de informação consistentes.

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