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FÁBIO MAGALHÃES CHAVES JULIANA ABADE DOS SANTOS BORGES GOMES JULIANA RODRIGUES AFFE A INCLUSÃO DO EX-PRESIDIÁRIO NO MERCADO DE TRABALHO DO DISTRITO FEDERAL Taguatinga, DF 2011

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Trabalho de conclusão de Curso. Este relatório complementa o documentário "A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho". Em breve o documentário estará disponível.

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FÁBIO MAGALHÃES CHAVESJULIANA ABADE DOS SANTOS BORGES GOMES

JULIANA RODRIGUES AFFE

A INCLUSÃO DO EX-PRESIDIÁRIO NO MERCADO DE TRABALHO

DO DISTRITO FEDERAL

Taguatinga, DF2011

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FÁBIO MAGALHÃES CHAVESJULIANA ABADE DOS SANTOS BORGES GOMES

JULIANA RODRIGUES AFFE

A INCLUSÃO DO EX-PRESIDIÁRIO NO MERCADO DE TRABALHO

DO DISTRITO FEDERAL

Este Relatório, relativo ao documentário, complementa o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) visando à obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC sob a orientação da Professora MSc. Eliane Muniz Lacerda.

TAGUATINGA, DF2011

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FÁBIO MAGALHÃES CHAVESJULIANA ABADE DOS SANTOS BORGES GOMES

JULIANA RODRIGUES AFFE

A INCLUSÃO DO EX-PRESIDIÁRIO NO MERCADO DE TRABALHO

DO DISTRITO FEDERAL

O documentário, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), do qual o presente relatório é parte integrante, foi aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC, pela seguinte banca examinadora:

Taguatinga - DF, 15 de junho de 2011.

___________________________________________________Prof. MSc. Eliane Muniz Lacerda(Orientador)

Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITECPresidenta

_____________________________________________________Prof. MSc. José Geraldo Campos Trindade

Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC1º Examinador

_______________________________________________________Prof. Carlos Leonardo Gomes Vidal

Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC2º Examinador

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Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus, por

nos permitir tal realização. Aos nossos familiares, por ter nos

apoiado e incentivado nos momentos mais difíceis ao longo de

toda esta graduação e aos colegas de classe que nos

acompanharam em meio a tantas adversidades, sempre com

muita irreverência, profissionalismo e descontração.

Dedicamos ainda àqueles que iniciaram esta jornada

acadêmica conosco, mas, por forças maiores, não puderam

concluí-la.

Page 5: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

Agradecemos a todas as pessoas que contribuíram

direta ou indiretamente para o bom andamento deste trabalho.

Em especial lembramos aqui a grandiosa ajuda dos

nossos familiares, colegas de classe, das professoras Eliane

Muniz, Adriana Machado e do professor José Geraldo que

tanto nos apoiaram no decorrer desta pesquisa e do curso

como um todo.

Agradecemos, ainda, a disponibilidade de tempo e a

boa vontade que as fontes tiveram conosco para que este

trabalho de conclusão de curso pudesse ser desenvolvido,

embora com inúmeras dificuldades técnicas.

Page 6: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

“… A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se

sentou na areia da praia e disse: ‘Não há mais que ver’, sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver

outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto

maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao

lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”

José Saramago

Page 7: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

RESUMO

O presente relatório descritivo objetiva apresentar uma análise acerca da eficácia do

processo de ressocialização oferecido no sistema penitenciário do Distrito federal.

Como tema central, serão tratadas as dificuldades enfrentadas por egressos na

busca pela inserção no mercado de trabalho. Para constatar a realidade dos ex-

presidiários na procura por emprego, foram realizadas entrevistas, com registros

audiovisuais, na intenção de compor o documentário do qual este relatório é parte

integrante. O formato adotado para a apresentação do tema tem embasamento

teórico por meio de pesquisa bibliográfica da história da TV no Brasil, perpassando

as origens do documentarismo brasileiro. São relatados os mecanismos de inclusão

do ex-presidiário no mercado de trabalho, bem como a abordagem das leis

brasileiras sobre o assunto e a logística que a Secretaria de Segurança Pública do

DF disponibiliza para o sistema penitenciário local.

Palavras-Chave: Documentário, Ex-presidiário, Mercado de trabalho,

Ressocialização, Sistema penitenciário.

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ABSTRACT

This report aims to present a descriptive analysis of the effectiveness of the process

of social rehabilitaion supported by the the prison system of Distrito Federal. As the

main subject, we discuss about the difficulties ex-convicts found when looking

forward reinsertion in the labor market. In order to verify the reality of ex-convicts in a

job search, audiovisual interviews were made to compose the documentary which

this report is part of. The format adopted for the presentation of the issue is based in

bibliographic researchs about the history of TV in Brazil, passing through the origins

of Brazilian documentaries, also noticing the inclusion of ex-convict in the labor

market's mechanisms, with the approach to Brazilian laws existing on the subject and

tasks made by the Secretary of Public Security of Distrito Federal for providing the

local prison system process of social rehabilitation.

KEYWORDS: Documentary, Ex-convict, Labor market, Social rehabilitation, Prison system.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 10

1 COMUNICAÇÃO TELEVISIVA E A TRANSMISSÃO DE IMAGENS....................................................... 11

1.1 A origem da Televisão............................................................................................................ .....11

1.2 A TV no Brasil.............................................................................................................................. 12

2 NOVO MODO DE COMUNICAÇÃO: O DOCUMENTÁRIO................................................................. 15

3 PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS: A REALIDADE DENTRO E FORA DAS GRADES................................ 19

3.1 Dos direitos e deveres do detento.............................................................................................. 19

3.2 O que diz a Lei............................................................................................................................. 20

4 EDUCAÇÃO NO PROCESSO RESSOCIALIZADOR............................................................................... 21

4.1 Definição..................................................................................................................................... 21

4.2 Ressocialização no Distrito Federal............................................................................................. 21

5 METODOLOGIA.............................................................................................................................. 23

6 PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO.............................................................................................. 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................... 25

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 27

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INTRODUÇÃO

Ressocializar, no contexto que aqui interessa, é o processo de reeducar um

recluso para o novo convívio em sociedade após o cumprimento de penas

designadas pela Justiça, em virtude de o mesmo ter infringido as leis e praticado

algum delito (MENDONÇA E PESSOA, 2008).

O objetivo primordial da ressocialização é fornecer, ainda durante o

cumprimento da pena, uma base formada por educação profissional, noções cívicas

e suporte psicológico, como são assegurados pelo artigo 41 da Lei de Execuções

Penais (Lei 7.210, de 11 de julho de 1984) que também prevê, entre outros direitos,

a assistência pós-penal que decorre da obrigação do Estado de assistir moral e

materialmente o egresso na sua volta ao convívio em meio livre.

O tema deste projeto de pesquisa viabiliza-se em virtude da constatação de

que os egressos do sistema penal do Distrito Federal, na maioria das vezes, não

conseguem uma nova oportunidade no mercado de trabalho, voltando, assim, a

praticar crimes. Isso se dá devido à situação precária em que se encontra o referido

sistema prisional, que não oferece as diretrizes estabelecidas na legislação,

ocasionando a não-ressocialização do preso.

O objetivo central é documentar as dificuldades enfrentadas por egressos do

sistema penitenciário quando buscam a inserção no mercado de trabalho. Haverá

um aprofundamento no estudo quanto: às principais dificuldades que ex-detentos

encontram na busca por emprego, à função dos programas ressocializadores

oferecidos pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal

(SSP-DF), à eficácia das medidas de reinclusão social e as possíveis causas de

reincidência na prática de crimes e quanto aos motivos que levam uma empresa a

contratar, ou não, um ex-presidiário.

Para retratar a realidade desse tema, o formato escolhido é o audiovisual,

especificamente por meio de um documentário. Motiva-nos a fácil veiculação

televisiva e online, que poderá atingir grande parte da população por sua divulgação

em meios de comunicação de massa. Com o documentário, é possível transmitir

relatos fiéis, expondo depoimentos e imagens referentes à realidade de ex-detento.

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1 COMUNICAÇÃO TELEVISIVA E A TRANSMISSÃO DE IMAGENS

1.1 A origem da Televisão

Desde o início da civilização humana, o homem sente a necessidade de se

expressar por meio de imagens. Hoje, é possível conhecer a história dos

antepassados graças a essas imagens. As sociedades primitivas representavam

com desenhos o seu dia a dia, como as caçadas a animais. Com o aperfeiçoamento

das técnicas, por meio da pintura, o homem passou a reproduzir quase fielmente

retratos e paisagens. O surgimento da fotografia possibilitou a impressão de

imagens com maior fidelidade. O cinema permitiu que os quadros parados

ganhassem vida e a televisão herdou muitas características desse meio.1

Para adentrar a história da TV, é preciso conhecer cientistas e

pesquisadores do passado que estavam à frente do seu tempo. Foi o químico sueco

Jakob Berzelius que deu início ao processo de criação da televisão, quando

descobriu que a luz modificava a capacidade de um elemento chamado selênio. A

descoberta foi importante e deu abertura para novas formas de utilização da energia

elétrica. Em 1880, Maurice Le Blanc criou um sistema de transmissão de imagens,

apresentadas sucessivamente em certa velocidade, que dava a impressão de

movimento. Nessa época, muitos pesquisadores estavam envolvidos com a corrida

pela transmissão da imagem (PATERNOSTRO, 2006).

Em 1901, Boris Rosing iniciou pesquisas sobre tubos de imagens na antiga

União Soviética. O americano Charles Jenkins, em 1920, fabricou um disco

perfurado com o qual captava e transmitia imagens. No ano de 1923, Vladimir

Zworykin inventou o iconoscópio, um tubo a vácuo com uma tela de células

fotoelétricas. Esse equipamento, que é utilizado até hoje, faz uma varredura

eletrônica de imagens, que se tornou a base do olho na TV, ou seja, ele age nos

mesmos princípios do olho humano. Quatro anos depois, Zworykin conseguiu

realizar a primeira transmissão a uma distância de 45 quilômetros, utilizando o

1 Tudo sobre TV: Disponível em www.tudosobretv.com.br/histortv/tv50.html

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iconoscópio. A partir daí, vários países deram início a uma série de transmissões de

imagem (PATERNOSTRO, 2006).

A TV era, então, uma realidade, mas havia um problema a resolver: o

iconoscópio exigia muita luz e, mesmo assim, a imagem transmitida era deficiente.

Vladimir Zworykin encontrou a solução, desenvolvendo a chamada válvula Orthicon,

um tubo de raios catódicos que firmou-se, nos anos 40, momento em que o sistema

já era totalmente eletrônico. Durante a Segunda Guerra Mundial, seu

desenvolvimento sofreu uma parada. Mas, no início de 1950, a TV entrou na vida

das pessoas em praticamente todos os países e estabeleceu-se como meio de

comunicação de massa (PATERNOSTRO, 2006).

1.2 A TV no Brasil

Os primeiros registros da utilização da TV no Brasil são concomitantes ao

auge do processo de industrialização dos anos 30, mas somente em 1950, sob a

influência de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, adotou-se um

sistema comercial respaldado por um esquema de concessões do Estado à

imprensa privada (BOLAÑO, 2004).

Naquele ano, Chateaubriand era dono do primeiro império de comunicação

do país, Diários e Emissoras Associadas. Na época em que a indústria brasileira

estava em processo de crescimento, os Diários e Emissoras Associadas se voltaram

para a TV. A empresa decidiu trazer para o Brasil técnicos da Radio Corporation of

America (RCA) e implementar a TV no território nacional. Importou, também, os

equipamentos e uma antena transmissora, instalada no alto do edifício do Banco de

São Paulo (PATERNOSTRO, 2006).

Existem controvérsias quanto à primeira transmissão de imagens do Brasil,

mas a data que marca a inauguração oficial da primeira emissora do país foi 18 de

setembro de 1950. Nesse dia, entrava no ar a PRF-3 TV Difusora, que, depois,

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passou a se chamar TV Tupi de São Paulo, tornando-se pioneira na América Latina

(PATERNOSTRO, 2006).

Em 1952, e por vários anos seguidos, os telejornais e alguns programas possuem o nome do patrocinador, como: "Telenotícias Panair", "Repórter Esso", "Telejornal Bendix", "Reportagem Ducal", "Telejornal Pirelli", "Gincana Kibon", "Sabatina Maizena", "Teatrinho Trol". O valor para a compra de um televisor é três vezes maior que a mais sofisticada radiola do mercado e um pouco mais barato que um carro. Por isso, existem apenas 11 mil televisores.2

Em 1960, o equipamento de videotape chegou ao Brasil. Era uma revolução:

racionalização de produção, economia de tempo e de custo e melhor qualidade nos

programas. Em 1965, o jornalista Roberto Marinho criou, no Rio de Janeiro, a Rede

Globo de Televisão, que se transformou em uma das maiores emissoras de TV do

mundo. A TV brasileira entrou nos anos 70 sob regras impostas pelo governo

militar. Foi a fase da censura prévia ao conteúdo de programas de todos os gêneros.

Nessa época, as emissoras criaram uma programação totalmente nacional. No final

dos anos 70, o empresário Sílvio Santos ganhou uma emissora de TV no Rio de

Janeiro. Na década de 1990, as transmissões ao vivo de eventos esportivos, de

acontecimentos de toda parte do planeta e a transmissão de imagens fortes não

eram mais marcantes na TV brasileira como na época do seu surgimento. O

telespectador estava, então, totalmente acostumado com a televisão

(PATERNOSTRO, 2006).

Atualmente, a televisão faz parte da vida dos telespectadores, ajuda na

formação de opinião e de comportamentos. Ela fascina e assusta. O poder político e

econômico dos que dominam a TV cresce assustadoramente. A sociedade se vê

diante de uma força que impõe valores éticos e padrões culturais. Olhando para a

história da televisão, percebe-se que essa foi uma invenção que refletiu, moldou e

criou a cultura do século passado (CASHMORE, 1994).

De acordo com Paternostro (2006, p. 20), “o sucesso de um acontecimento

se mede pela audiência envolvida”. Com sua pluralidade, a TV consegue unir todas

as regiões do Brasil, que é um país tão rico e diversificado em cultura. Por meio dela

é possível demonstrar as mais diferentes manifestações culturais e os fatos que

causam impacto direto e indireto na vida de milhares de cidadãos, em diversos

2 Tudo sobre TV. Disponível em: http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv 50.htm

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locais do território nacional e, agora, com o aperfeiçoamento tecnológico, fatos de

todos os locais do mundo.

Muito popular, já que abrange todo o arco da sociedade, a televisão é um meio de comunicação que transforma a vida das pessoas: muda conceitos, forma opiniões, cria hábitos, inspira comportamentos, reduz distâncias, aproxima. É veículo de informação e entretenimento. O canadense Marshall MacLuhan, sociólogo e pesquisador da Teria da Comunicação, morto em 1980, criou o conceito da aldeia global, uma síntese do que já via acontecer ao seu redor. A tecnologia reduzia o planeta de tal forma que ele se transformaria em uma pequena aldeia, na qual todos teriam conhecimento de tudo que nele acontecesse. Ele se referia ao processo de integração da TV via satélite, o início da era do real time. (PATERNOSTRO, p. 20 e 21)

Neste sentido, a televisão instalou-se definitivamente na vida cotidiana como

uma forma de entretenimento, de acesso à informação e dentre as modalidades

mais comuns de difusão de notícias neste meio de comunicação está o telejornal e a

reprodução de documentários.

Verificada a história da televisão, a forma como ela foi introduzida no Brasil e

sua influência na sociedade atual, concentramo-nos agora no documentário como

um novo modelo de comunicação.

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2 NOVO MODO DE COMUNICAÇÃO: O DOCUMENTÁRIO

Analisando a bibliografia existente sobre documentarismo, são encontradas

as mais variadas definições para o termo. Umas delas é a de Bill Nichols, que divide

o documentário em dois tipos de filmes: documentários de satisfação de desejos e

documentários de representação social. Nichols (2005, p.26) afirma que “todo filme

é um documentário. Mesmo a mais extravagante das ficções evidencia a cultura que

a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazem parte dela”.

Os documentários de satisfação de desejos são o que normalmente chamamos de ficção. Esses filmes expressam de forma tangível nossos desejos e sonhos, nossos pesadelos e terrores. Expressam aquilo que desejamos, ou tememos que a realidade seja ou possa vir a ser. Tais filmes transmitem verdades, se assim quisermos. São filmes cujas verdades, cujas idéias e pontos de vista podemos adotar como nossos ou rejeitar. (…) Os documentários de representação social são o que normalmente chamamos de não-ficção. Esses filmes representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos. Tornam visível e audível, de maneira distinta, a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a seleção e a organização realizadas pelo cineasta. (NICHOLS, 2005, p. 26)

Na década de 1960, desenvolveu-se uma das mais paradoxais formas de

documentário: o chamado cinema-verdade ou o cinema direto. Usando equipes

minúsculas, câmeras leves e gravadores de som, os realizadores se propunham a

garantir acesso à vida de outras pessoas. Fatos reais eram filmados em sincronia e

apresentados sem música ou narrador visível, de forma que o receptor não percebia

a operação técnica. Embora os personagens pareçam estar indiferentes à presença

da equipe de filmagem, pela lógica, é perceptível que a intromissão dos cineastas

afetava o seu comportamento. Mesmo que os realizadores do documentário não

sejam vistos na tela, as marcas da sua presença, como o balanço da câmara ou a

sombra do microfone, tornam autêntica a visão de que a obra não é ficção, é vida

real (ARMES, 1999). “De maneira inversa, toda evidência do processo de edição é

em geral oculta, embora possam ter sido filmadas mais de vinte horas de material

para gerar pouco mais de meia hora de trabalho acabado” (ARMES,1999).

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Brian Winston, em “A maldição do jornalístico na era digital”, diz que não se

deve deter na definição de que o documentário é o tratamento criativo da realidade e

afirma que ela é desigual (WINSTON, 2004).

Acho injusto porque os antigos documentários, o cinema pré-direto, contém (sic) a semente de todas as abordagens e métodos do documentário contemporâneo, especialmente a exploração da vitimização social como o principal tema do documentário engajado. Até mesmo recursos como a entrevista já era observados setenta anos atrás em Three Songs of Lenin [Três canções sobre Lênin] ou em Housing Problems [Problemas de moradia]. E me parece que essas técnicas ainda são bastante utilizadas (MOURÃO, p. 16).

Portanto, o documentarismo surge como um estilo cinematográfico e se

firma como contrário ao cinema de ficção, já que é um documento da realidade. A

grande discussão é se a realidade deve ser retratada como ela é ou se deve ser

adaptada de acordo com a visão do documentarista.

Nos documentários, encontramos histórias ou argumentos, evocações ou descrições que nos permitem ver o mundo de uma nova maneira. A capacidade da imagem fotográfica de reproduzir a aparência do que está diante da câmera compele-nos a acreditar que a imagem seja a própria realidade representada diante de nós, ao mesmo tempo em que a história, ou o argumento, apresenta uma maneira distinta de observar essa realidade. (…) os documentários também significam ou representam os interesses de outros. A democracia representativa, ao contrário da democracia participativa, funda-se em indivíduos eleitos que representam os interesses de seu eleitorado. (…) Os documentaristas muitas vezes assumem o papel de representantes do público. Eles falam em favor do interesses de outros, tanto dos sujeitos tema de seus filmes quanto da instituição ou agências que patrocina sua atividade cinematográfica. (NICHOLS, p. 28)

Foi somente nos anos 20 do século passado que surgiu o cinema nessas

duas modalidades: cinema de ficção e cinema da realidade.

Era um momento de júbilo e comemoração da conquista da narratividade, ou seja, quando um parâmetro negativo se impôs, quando o dispositivo de associação linear entre imagens, típico do saber contar história da literatura e do saber contar história da literatura e do teatro, estabeleceu-se. (TEIXEIRA, p. 8)

No Brasil, o cinema chegou em 1896 com exibições em São Paulo que,

depois, foram expandidas para o Rio de Janeiro. Época em que as cidades

brasileiras sofriam com a falta de infraestrutura, o que implicou a produção

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cinematográfica no período compreendido entre 1910 e 1920. “Durante as décadas

de 10 e 20, predominou a criação de um cinema natural, com a produção de

documentários e cine-jornais a fim de levantar recursos para a produção de filmes

ficcionais” 3.

A grande indagação que estava no processo de produção do documentário

era sobre a ética na representação da realidade. Para Fernão Pessoa Ramos (2001,

p.3), a ética está em representar a realidade e não em construir uma representação

da realidade.

1. Parte-se do postulado de que, para alguns, o documentário busca, ou tem como objetivo, estabelecer uma representação do mundo;2. Na medida em que o postulado está estabelecido ("eu posso representar o mundo", diria necessariamente o documentarista), a ideologia dominante, hoje, sobrepõe facilmente a esta possibilidade o seu caráter especular e falsamente totalizante;3. A isto, segue-se o discurso sobre a necessária fragmentação do saber e da subjetividade que sustenta a representação;4. E, necessariamente atrelado, surge a saída ética dominante da ideologia contemporânea: a reflexividade como postura correlata ao indispensável recuo do sujeito (pois necessariamente fragmentado, senão imediatamente ideológico) na articulação da representação.Poderíamos dizer: o recuo reflexivo é o ponto cego ideológico da ideologia contemporânea. É o ponto cego onde a ideologia da ética contemporânea não consegue ver-se enquanto tal. Em outras palavras: é ético mostrar o processo de representação; não é ético construir a representação para sustentar a opinião correta (como defendiam Grierson, ou Eisenstein, em outro parâmetro).4

No Brasil, até o início dos anos 80, os documentários produzidos não eram

frutos de uma reflexão sobre sua função, sobre a intervenção do documentarista no

ambiente a ser registrado ou sobre a influência do aparato técnico. As discussões

limitavam-se à estética e não se aproximavam da linguagem. Seguia-se

religiosamente o modelo clássico.5

Nessa época, os meios de produção, ainda um tanto arcaicos, dificultavam

as gravações e a edição do vídeo. Hoje, com a evolução de equipamentos e o

aprimoramento de técnicas, o documentarista terá um grande ganho em seu

trabalho.

3 Disponível em http://www.doc.ubi.pt/01/doc01.pdf#page=854 Ramos, disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/pessoa-fernao-ramos-o-que-documentario. pdf5 Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/23323225/como-nasce-um-documentario

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A linguagem cinematográfica tem na luz e no som características essenciais na produção de sentidos. A variação do posicionamento da câmera pode tornar a fala da personagem mais ou menos dramática, com maior ou menor credibilidade. O som tem efeito cumulativo. Se é captado inadequadamente, na finalização será "uma bomba". Durante a montagem, os efeitos produzidos pelo ordenamento das cenas desta ou daquela maneira, e, é claro, os cortes. Atrevo-me a dizer que, sem o conhecimento mínimo de como funciona o cinema, não é possível realizar um vídeo com alguma qualidade. 6

O avanço dessas tecnologias e das técnicas permite que a vida cotidiana

seja registrada e exibida para milhares de pessoas por meio do cinema, da

televisão, do rádio ou de outras mídias. A necessidade de informação em uma

sociedade evoluída é constante e evita a alienação do indivíduo.

Nas penitenciárias brasileiras, por exemplo, nota-se que a disseminação da

informação é de extrema necessidade e ela funciona como uma aliada ao processo

ressocializador, tendo em vista que o detento só participará de projetos a atividades

nas penitenciárias se houver correta difusão de informações.

6 Dispoível em : http://pt.scribd.com/doc/23323225/como-nasce-um-documentario

Page 19: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

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3 PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS: A REALIDADE DENTRO E FORA DAS GRADES

3.1 Dos direitos e deveres do detento

O Estado brasileiro dispõe de legislação que regulamenta a prática de

execuções penais para pessoas condenadas por infringirem as normas da lei.

Cadeias públicas, presídios federais e estaduais com lotação superior à sua

capacidade não constituem realidade exclusiva dos outros estados da Federação.

No Distrito Federal, a situação não é muito diferente.

Atualmente, o sistema penitenciário do DF abriga 9.449 presos distribuídos

em seis unidades de detenção, segundo a Subsecretaria do Sistema Penitenciário

(Sesipe), órgão subordinado à Secretaria de Estado de Segurança Pública do

Distrito Federal (SSP-DF). Pessoas que, condenadas a cumprir grandes penas em

regime fechado, ficam ociosas por não serem contempladas com programas de

atividades físicas, educação profissional e ensino regular para aqueles que não

terminaram seus estudos. Todas essas atividades contribuem para a

ressocialização, de forma que, quando o sentenciado concluir o cumprimento da

pena, volte ao convívio social, em meio livre, mais capacitado para exercer o seu

direito de liberdade, trabalhando dignamente e consciente de que não poderá mais

praticar delitos sob pena de reincidência.

As leis brasileiras são claras ao determinar as condições às quais os

detentos devem ser submetidos. A Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, mais

conhecida como Lei de Execuções Penais (LEP), regulamenta as práticas e

procedimentos a serem tomados para garantir a integridade do indivíduo apenado. A

referida lei especifica os direitos dos presidiários e os deveres do Estado. De acordo

com o artigo 41 da Lei de Execuções Penais, os presos têm como direito:

alimentação e vestuário, remuneração por prática trabalhista, exercício de atividades

profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que estas sejam

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compatíveis com a execução da pena, dentre outros quesitos dispostos entre os 17

parágrafos que compõem este artigo.

Os referidos direitos, muitas vezes, só estão presentes nos textos

legislativos. Em efeito prático, diversos artigos e incisos desta Lei não são

executados corretamente em sua totalidade. Tem-se exemplo no artigo 10 da

referida lei, que dispõe o seguinte: “A assistência ao preso e ao internado é dever do

Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em

sociedade”. O artigo 11 estatui que “a assistência será material, à saúde, jurídica,

educacional, social e religiosa”.

3.2 O que diz a Lei

Em sua essência, a LEP busca promover a reintegração do presidiário à

sociedade. Enquanto cumpre pena, o detento deve ser atendido no quesito de

assistência educacional, como está compreendido no artigo 19 da referida lei, de

forma que o egresso do sistema penitenciário tenha subsídios para desempenhar

uma profissão ao ganhar a liberdade.

Em termos jurídicos, denominam-se egressos do sistema penitenciário todos

os ex-detentos liberados definitivamente ao término do cumprimento da pena, que já

tenham passado um ano em liberdade, a contar da data de saída do

estabelecimento penitenciário. Também recebe a nomenclatura de egresso aquele

que estiver em liberdade condicional, um benefício que permite a liberdade antes do

fim da pena.

Apesar de todo o acompanhamento que o presidiário recebe dentro das

instituições penitenciárias, o Estado é obrigado a lhe dar suporte quando este ganha

definitivamente a liberdade pelo término da pena, como assegura a LEP no seu

artigo 27, no qual se lê “o serviço de assistência social colaborará com o egresso

para a obtenção de trabalho”.

Page 21: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

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4 EDUCAÇÃO NO PROCESSO RESSOCIALIZADOR

4.1 Definição

Entende-se por ressocialização o processo de readaptação pelo qual o

indivíduo é submetido após o cumprimento de uma pena em razão da prática de um

crime. O promotor de Justiça aposentado e ex-diretor geral do Departamento

Penitenciário Nacional (Depen), Maurício Kuehne7 definiu o termo ressocialização

como sendo “o compromisso que o Estado tem de disponibilizar mecanismos para o

privado de liberdade, a fim de que possa ter uma adequada formação educacional e

profissional que não teve, daí a razão maior para ele ter delinquido”.

4.2 Ressocialização no Distrito Federal

Em diversos estados brasileiros, cabe ao Serviço Social desempenhar

medidas que ressocializem o egresso. No Distrito Federal, o aparelho governamental

responsável por tais práticas é a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso

(Funap-DF), vinculada à Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito

Federal (SSP-DF).

A Funap foi criada pelo decreto-lei nº 10.144, de 19 de fevereiro de 1987, e

tem como atribuições a formação e o desenvolvimento profissional do preso, a

comercialização dos produtos produzidos por estes, a promoção de iniciativas que

melhorem a saúde e o nível de cultura do condenado, além da assistência à família,

às vitimas do delito e outras funções não mencionadas.7 Privação da liberdade não é único mecanismo. Disponível em http://www.mp.pr.gov.br/modul

es/conteudo/conteudo.php?conteudo=983.

Page 22: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

22

Atualmente, a Fundação trabalha em conjunto com várias instituições penais

do DF. Entre elas, figuram o Centro de Internamento e Reeducação (CIR), o Centro

de Detenção Provisória (CDP) e a Penitenciária Feminina do Distrito Federal

(PFDF).

Entre os recentes trabalhos desenvolvidos pela Funap em relação à

educação, à cultura e à capacitação profissional do preso está o fornecimento de

instrução escolar para detentos, de forma que eles participem de aulas desde a

alfabetização à graduação, de acordo com o grau de estudo que cada um possua.

Para realizar o direito dos presos, o qual é assegurado no Artigo 17 da LEP, a

Fundação é dotada de professores próprios, que se somam aos quadros efetivos de

docentes da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Católica de Brasília

(UCB) e da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.

Além da educação básica e superior fornecida em conformidade com a

legislação, também atendendo ao Artigo 19 da LEP, que trata da educação

profissional, a Funap oferece cursos voltados à capacitação para o mercado de

trabalho, como os de costura industrial, operação de microcomputador, artes

cênicas, curso básico de construção civil para atuar como pedreiro, dentre outras

habilitações.

A Fundação mantém acordos e parcerias com instituições privadas que

acolhem os detentos fazendo-os recuperarem a dignidade, qualificarem-se

profissionalmente e melhorarem a autoestima.

Page 23: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

23

5 METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos pretendidos, foram realizadas pesquisas

bibliográficas acerca das leis que regem a execução penal no país, bem como da

história da TV e do documentarismo. Cervo e Bervian (1983, p.55) definem a

pesquisa bibliográfica como a que “explica um problema a partir de referenciais

teóricos publicados em documentos. Pode ser realizada independentemente ou

como parte da pesquisa descritiva ou experimental”.

São parte integrante desta pesquisa entrevistas individuais, nas quais se

buscou saber dos ex-presidiários suas opiniões e reflexões sobre os benefícios e a

eficácia do processo de ressocialização pelo qual eles passaram.

Nesta análise, também foram entrevistados representantes do sistema

penitenciário, os quais apresentaram posicionamentos sobre os aspectos regulador

e fiscalizador do cumprimento das medidas ressocializadoras disponíveis no Distrito

Federal. Como parte da pesquisa, foi realizada uma visita guiada ao Complexo

Penitenciário da Papuda, com vistas a obter um recorte da realidade daquele centro

de detenção, de forma a contribuir para o embasamento deste trabalho.

Quanto aos objetivos, a pesquisa é exploratória, haja vista que é

desenvolvida no sentido de proporcionar uma visão geral sobre determinado fato.

Buscou-se conhecer com mais profundidade e precisão o assunto, de modo a torná-

lo mais claro ou construir hipóteses para a condução da pesquisa (RAUPP, 2004).

Page 24: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

24

6 PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO

Data PROCEDIMENTO

12 de fevereiro de 2011

Orientação sobre como realizar o trabalho de conclusão de curso e apresentação do tema à orientadora

19 de fevereiro de 2011

Orientação: início do Projeto de Pesquisa

26 de fevereiro de 2011

Gravação com personagens

01 a 04 de março de 2011

Pesquisa bibliográfica

05 de março de 2011

Orientação: análise das imagens já captadas

07 a 14 de março de 2011

Redação da fundamentação teórica

22 de março de 2011

Gravação com fonte oficial: Secretária Executiva da Funap-DF

26 de março de 2011

Orientação: Apresentação do andamento do trabalho à orientadora, entrega da fundamentação teórica para análise e verificação de imagens da fonte oficial.

02 de abril de 2011

Orientação: recebimento de relatório para realizar as devidas correções e alterações da fundamentação teórica sugeridas pela orientadora

03 a 08 de abril de 2011

Realização das correções e alterações da fundamentação teórica

09 de abril de 2011

Orientação: entrega do relatório com as correções da fundamentação teórica

11 de abril de 2011

Recebimento do relatório para realizar novas correções e autorização para iniciar a redação dos elementos pré e pós-textuais

16 de abril de 2011

Entrega do relatório para qualificação

18 a 20 de abril de 2011

Análise minuciosa do relatório pela orientadora

21 a 24 de abril de 2011

Últimas correções e finalização do relatório

25 de abril de Visita ao Complexo Penitenciário da Papuda

Page 25: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

25

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema penitenciário do Distrito Federal apresenta, em sua estrutura

física, organizacional e administrativa, diversas falhas que, como as penitenciárias

de todo o país, asseguram a integridade do detendo, entretanto, não lhes

asseguram programas, projetos e ações concretas que os tirem da vulnerabilidade e

da marginalidade em que se encontram.

Como no Brasil não há a prática da pena de morte ou outras medidas

desenvolvidas pelo Estado para ceifar a vida de presos, após determinado período

de tempo, por conveniência da Justiça ou pelo término da pena, o detento ganha a

liberdade em meio livre, retoma o convívio na sociedade e não mais participa da

segregação de uma penitenciária – ao menos se não reincidir na prática de crimes

e/ou cometer novos.

A reincidência é um fator agravante que causa superlotação nas cadeias,

mas é importante lembrar que o reincidente, como o próprio nome já diz, passou

pelo cumprimento de pena e, sendo no DF, em um dos Complexos Penitenciários da

Papuda (CPP).

É importante analisar o por que de um indivíduo egresso do sistema

penitenciário, conhecendo a rotina estressante de uma detenção, sofrendo

agressões de companheiros de cela e de agentes da segurança pública,

sobrevivendo à estrutura depredada, mínima e muitas vezes inadequada, volta a

cometer crimes.

O processo de ressocialização não é adequado? Os benefícios não são para

todos os detentos? Estas foram algumas das indagações gravadas ou feitas em off

para todos os entrevistados que contribuíram para o documentário. A resposta foi

unânime entre as fontes que representavam a Subsecretaria do Sistema

Penitenciário (Sesipe) e os ex-detentos: “O Estado não disponibiliza programas e

cursos para todos” ou “Aqui no DF só alguns podem fazer as atividades. O Sistema

é cruel”.

Crueldade é a palavra que impera entre os egressos dos presídios. Eles

alegam que faltam oportunidade e atividades para passar o ócio.

Page 26: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

26

Concluímos, portanto, que o Governo do Distrito Federal, como responsável

por manter o sistema penitenciário local e zelar pelos que se encontram encarcerado

deve tomar medidas urgentes que disponibilizem novos espaços e cursos, de forma

que mais presos possam desfrutar de atividades ressocializadoras, qualificadoras e

que, acima de tudo estas ações não sejam apenas uma forma de entretê-los, mas

de capacitá-los para que quando chegarem o convívio aberto, possam ser acolhidos

como trabalhadores dignos e honestos.

Há também que se rever a conduta da população de um modo geral. As

pessoas tendem a ser preconceituosas com tudo aquilo que foge um pouco do

padrão imposto pelas normas sociais. Neste sentido, um ex-presidiário é visto como

um cidadão indigno de exercer funções de confiança, de ter credibilidade. Para que

este entre no mercado de trabalho, então, as chances são minúsculas ou zeram-se.

Aí está mais um fator que contribui não para a ressocialização, mas para a

reincidência.

Partindo-se desta análise, verifica-se que as condições oferecidas pelo

governo a uma minoria dos detentos aliadas ao preconceito da sociedade são

alguns dos entraves que dificultam a inserção destes ex-detentos nos empregos e

em uma vida socialmente ativa.

Page 27: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

27

REFERÊNCIAS

ANGHER, Anne Joyce Angher. Lei de execução penal. Vade Mecum: acadêmico de direito. – 10. Ed. – São Paulo: Redieel, 2010) (paginas de 1010 a 1021).

ARMES, Roy. On vídeo: o significado do vídeo nos meios de comunicação/ Roy Armes (tradução de George Schlesinger). São Paulo: Summus, 1999.

BOLAÑO, César. Mercado brasileiro de televisão. 2ª edição. São Paulo: Editora da PUC-SP, 2004.

CASHMORE, Ellis. ...E a televisão se fez. Tradução: Sonia Augusto. São Paulo: Summus Editorial, 1998.

CERCO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983.

Como nasce um documentário. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/233 23 225/como-nasce-um-documentario> Acessado em 8 de fevereiro de 2011.

Decreto N° 10.144, de 19 de fevereiro de 1987. Disponível em: <http://www.tc.df.gov.br/silegisdocs/distrital/gdf/decretos/1998/dec-1987-10144-500.htm>. Acessado em 07 de fevereiro de 2011, às 13h03.

GONÇALVES, Gustavo Soranz. Panorama do documentário no Brasil. In: Revista Digital de Cinema Documentário: Histórias do Documentário. Periodicidade semestral. Disponível em: <http://www.doc.ubi.pt/01/doc 01.pdf#page=85 > . Acesso em: 09/03/2011, às 15:00 h.

KUEHNE, Maurício. Privação da liberdade não é único mecanismo. Disponível em <http://www.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?cont eudo=983> Acessado em 08 de fevereiro de 2011, às 11h05.

MEDEIROS, Luiz Lime de. A função ressocializadora do sistema prisional brasileiro / Luiz Lima de Medeiros. – Taguatinga: Facitec, 2008. 37f 30 cm.

MENDONÇA, Claudiana da Silva & PESSOA, Raimundo Wellington Araújo. A importância das penas alternativas na ressocialização do apenado. Disponível em: <http://www.panoptica.org/novfev2009/PANOPTICA_014_IV_54 _82.pdf> Acessado em 17 de abril de 2011.

MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir (orgs.). O cinema do real: organização de Maria Dora Mourão e Amir Labaki. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Tradução: Mônica Saddy Martins. - Campinas, São Paulo: Papirus, 2005.

Page 28: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

28

PATERNOSTRO, Vera Íris. O texto na TV: manual de telejornalismo. 2ª ed., revisada e atualizada. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 20, 21 12, 13.

in RAMOS, Fernão Pessoa e Catani, Afrânio (orgs.). O que é um documentário. Estudos de Cinema Socine 2000, Porto Alegre, Editora Sulina, 2001, pp. 192/20. Disponível em: < http://www.bocc.uff.br/pag/pessoa-fernao-ramos-o-que-documentario.pdf > Acesso em 08/03/2011.

RAUPP, Fabiano Maury, et tal. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade - Teoria e Prática. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

Tudo sobre TV. Disponível em: <http://www.tudosobretv.com.br/histortv/histor mundi.htm> Acessado em 7 de fevereiro de 2011.

WINSTON, Brian. A maldição do jornalístico na era digital. In: MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir. O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 15-16

Page 29: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

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ANEXOS

SEGUNDA CHANCE – A INCLUSÃO DO EX-PRESIDIÁRIO NO MERCADO DE

TRABALHO DO DISTRITO FEDERAL

ROTEIRO DE MONTAGEM

VERSÃO Final - 01/05/2011

de Fábio Magalhães Chaves,

Juliana Abade

e Juliana Affe.

***********************************************************************

ABERTURA – Sonora com imagens

SONORA: “Bom, primeiramente eu acredito na recuperação de

um ser humano. Se ele quiser realmente mudar, ele vai

conseguir. Tem muita gente que sai de lá e quer fazer tudo

pior, mas é um caminho semvolta. Se você começar a ir nele,

não vai ter volta!”

CENA 1 – Apresentação de personagens

Nesta cena é apresentada a história de vida do personagem principal,

Sidney Rodrigues, e dos personagens coadjuvantes, Marquinhos e Nego Lu. O

objetivo é mostrar os possíveis motivos que levaram as personagens a iniciarem na

vida criminosa. Os depoimentos são apresentados de forma a contrastar a história

do protagonista com os coadjuvantes. Em vários momentos das narrativas, as

histórias possuem pontos em comum. Serão apresentados, ainda, os relatos dos

personagens sobre a prática de crimes, uso de drogas e outras infrações. O foco é

mostrar quais motivações tinham na época.

Page 30: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

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Música de suspense (Trilha Sonora Premier Pet)

TEXTO 1 – SIDNEY RODRIGUES

TEXTO 2 – MARQUINHOS

TEXTO 3 – NEGO LU

CENA 2 – Rotina na cadeia

Nesta cena os personagens descrevem a rotina que viveram dentro da

cadeia. São descritas as atividades a que eram submetidos, os esportes que

praticavam e a alimentação que recebiam. Os entrevistados foram questionados

sobre o tratamento e as atividades recebidas ajudaram na volta à sociedade e sobre

as soluções que precisam ser adotadas.

Música de suspense (Trilha Sonora Premier Pet)

TEXTO 1 – SIDNEY RODRIGUES

TEXTO 2 – MARQUINHOS

TEXTO 3 – NEGO LU

CENA 3 - FUNAP

O objetivo é descrever a função da Fundação de Amparo ao Trabalhador

Preso (Funap), bem como explicar seus mecanismos de funcionamento. Nesta cena,

os relatos da diretora-executiva do órgão, Verlúcia Cavalcante, são apresentados

em contraponto ao dos ex-presidiários. Os diálogos foram montados de forma a

revelar os diferentes pontos de vistas dos entrevistados. Nesta cena também entra a

figura do diretor do Centro de Progressão Penitenciária do Distrito Federal (CPP/DF,

José de Ribamar. O diretor apresenta a função da entidade, mais conhecida como

Page 31: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

31

“galpão”, e relata a importância da CPP no processo de ressocialização do preso.

Todos os projetos de inserção da figura do egresso do sistema penitenciário são

expostas nesta cena. Mais uma vez os diálogos são montados de forma a expor os

diferentes pontos de vista sobre o mesmo tema.

Música Somewhere in time, de John Barry.

TEXTO 1 – VERLÚCIA CAVALCANTE

TEXTO 2 – MARQUINHOS

TEXTO 3 – NEGO LU

TEXTO 4 – SIDNEY RODRIGUES

TEXTO 5 – JOSÉ DE RIBAMAR

CENA 4 – Liberdade

Nesta cena, os ex-presidiários contam como foi a volta ao convívio social.

Relatam as dificuldades encontradas e os preconceitos vividos.

Música Somewhere in time, de John Barry.

TEXTO 1 – SIDNEY RODRIGUES

TEXTO 1 – MARQUINHOS

TEXTO 1 – VERLÚCIA CAVALCANTE

TEXTO 1 – NEGO LU

CENA 5 – Mercado de trabalho

Trilha sonora mais alta.

Page 32: Tcc -  A inclusão do ex-presidiário no mercado de trabalho

32

O objetivo desta cena é mostrar as dificuldades enfrentadas pelos egressos

em conseguir uma recolocação no mercado de trabalho do Distrito Federal.

Novamente a figura do diretor do CPP é trazida para salientar o papel da instituição

no auxílio a este processo. Os entrevistados foram questionados sobre os empregos

que possuem atualmente e sobre as perspectivas de vida. Os enquadramentos

foram feitos de maneira a evidenciar a emoção dos personagens ao relembrar a

história e contar sobre a vida atual.

Música Somewhere in time, de John Barry.

TEXTO 1 – SIDNEY RODRIGUES

TEXTO 2 – MARQUINHOS

TEXTO 3 – NEGO LU

TEXTO 4 – JOSÉ DE RIBAMAR

FINAL – Depoimentos finais e créditos

O documentário é finalizado com imagens de presidiários exercendo

trabalho ou atividades laborais dentro da cadeia ou no sistema semiaberto. As fotos

são acompanhadas do off do ex-presidiário Nego Lu. Percebe-se que existem leis

que amparem a figura do ex-presidiário em sua ressocialização no mercado de

trabalho, mas falta que essas leis sejam colocadas em prática. O desejo desses

egressos, como Nego Lu, é que o governo se volte para a execução de tais leis.

*******************************************************************

CRÉDITOS:

Produção

Fábio Magalhães

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Juliana Abade

Juliana Affe

Orientação

Prof. MSc Eliane Muniz

Pauta

Juliana Affe

Supervisão Técnica

Fábio Magalhães

Roteiro e edição

Juliana Abade

Participação

Sidney Rodrigues Caixeta

Wallace dois Reis

Marcos Augusto de Freitas Souza

José de Ribamar da Silva - Diretor do CPP-DF

Verlúcia Cavalcante - Diretora da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso

(Funap)

Colaboração

Prof. Adriana Machado

Daniel

Sérgio Bezerra da Silva

Barony Silva Cruz

Músicas

Diário De Um Detento

Racionais Mc's

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Naquela Sala

Ao Cubo

Trilha Sonora

Premier Pet

Dia De Visita

Realidade Cruel

Somewhere in time

John Barry

Imagens

Cenas de abertura - Arquivo do Fantástico

Fotos finais - Assessoria de comunicação Sejus

"Em respeito aos direitos autorais e, amparado legalmente pela Lei 9.610/98,

Capítulo IV, Artigo 46, § VI, esta obra não necessita de recolhimento de tributos ou

autorização para a execução de músicas”.