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TC – 002.098/2008-0 (com 1 Volume e 5 Anexos) (TC – 002.241/2008-9) (TC – 002.246/2008-5) Natureza: Acompanhamento de Leilão e Outorga de Concessão para geração de energia elétrica. Interessados: Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Empresa de Pesquisa Energética – EPE e Ministério de Minas e Energia – MME. Responsáveis: Jerson Kelman, Diretor-Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Maurício Tiomno Tolmasquim, Presidente da Empresa de Pesquisa Energética e Édison Lobão, Ministro de Estado do Ministério de Minas e Energia. Advogados constituídos nos autos: não há. SUMÁRIO: LEILÃO PARA CONTRATAÇÃO DE ENERGIA NOVA, UHE DE JIRAU (COMPLEXO DO RIO MADEIRA). ACOMPANHAMENTO DO 1º ESTÁGIO. APRECIAÇÃO DOS ESTUDOS DESTINADOS AO ESTABELECIMENTO DO PREÇO MÁXIMO DO LEILÃO. IDENTIFICAÇÃO DE ITENS ORÇAMENTÁRIOS PASSÍVEIS DE REDUÇÃO. LIMITES DA COMPETÊNCIA DO TCU, NA FISCALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES REGULATÓRIAS. RECOMENDAÇÕES. COMUNICAÇÕES. O presente processo trata do acompanhamento do Leilão nº 005/2008, destinado à contratação de energia proveniente do Complexo do Rio Madeira, mediante construção da Usina Hidroelétrica de Jirau, com posterior outorga de Concessão de Uso de Bem Público destinada à exploração e aproveitamento hidrelétrico, para o Sistema Interligado Nacional – SIN, no Ambiente de Contratação Regulada – ACR.

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TC – 002.098/2008-0 (com 1 Volume e 5 Anexos)

(TC – 002.241/2008-9)

(TC – 002.246/2008-5)

Natureza:Acompanhamento de Leilão e Outorga de Concessão para geração de energia elétrica.

Interessados: Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Empresa de Pesquisa Energética – EPE e Ministério de Minas e Energia – MME.

Responsáveis: Jerson Kelman, Diretor-Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Maurício Tiomno Tolmasquim, Presidente da Empresa de Pesquisa Energética e Édison Lobão, Ministro de Estado do Ministério de Minas e Energia.

Advogados constituídos nos autos: não há.

SUMÁRIO:LEILÃO PARA CONTRATAÇÃO DE ENERGIA NOVA, UHE DE JIRAU (COMPLEXO DO RIO MADEIRA). ACOMPANHAMENTO DO 1º ESTÁGIO. APRECIAÇÃO DOS ESTUDOS DESTINADOS AO ESTABELECIMENTO DO PREÇO MÁXIMO DO LEILÃO. IDENTIFICAÇÃO DE ITENS ORÇAMENTÁRIOS PASSÍVEIS DE REDUÇÃO. LIMITES DA COMPETÊNCIA DO TCU, NA FISCALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES REGULATÓRIAS. RECOMENDAÇÕES. COMUNICAÇÕES.

O presente processo trata do acompanhamento do Leilão nº 005/2008, destinado à contratação de energia proveniente do Complexo do Rio Madeira, mediante construção da Usina Hidroelétrica de Jirau, com posterior outorga de Concessão de Uso de Bem Público destinada à exploração e aproveitamento hidrelétrico, para o Sistema Interligado Nacional – SIN, no Ambiente de Contratação Regulada – ACR.

2.Nos mesmos moldes da sistemática adotada por este Tribunal, no acompanhamento relativo ao leilão realizado para contratação de energia da UHE de Santo Antônio, também no Rio Madeira, (TC – 021.731/2007-4), os diversos aspectos abrangidos na presente análise passaram a constituir objeto de processos específicos, deste apartados, com vistas ao exame da consistência e exatidão dos valores relativos ao orçamento dos materiais, serviços e obras a serem empregados na concessão (TC – 002.241/2008-9), bem como os estudos de impacto ambiental e o licenciamento prévio emitido pelo IBAMA (TC – 002.246/2008-5). Os processos referenciados tiveram sua análise a cargo da SECOB e 4a SECEX, respectivamente.

3.Em vista da competência da Secretaria de Fiscalização de Desestatização (SEFID) para fiscalizar e avaliar a outorga de obras e serviços públicos e de atividades econômicas dos setores de infra-estrutura, a ela incumbiu-se a condução do presente acompanhamento, com a compilação das análises realizadas pela SECOB e 4a SECEX, em uma única instrução conclusiva, com as devidas observações e ajustes, quando necessários.

4.Destarte, com o fito de preservar o conteúdo das análises em sua inteireza, reproduzo o inteiro teor da instrução de fls. 30/87, elaborada pela SEFID, verbis:

“Trata-se de acompanhamento do leilão nº 005/2008 para contratação de energia proveniente do complexo do Rio Madeira, Usina Hidroelétrica de Jirau (UHE Jirau), com posterior outorga de Concessão de Uso de Bem Público para exploração e aproveitamento hidrelétrico, para o Sistema Interligado Nacional – SIN, no Ambiente de Contratação Regulada – ACR .

2.O empreendimento de geração de energia elétrica de Jirau está inserido no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e é um projeto de suma relevância para a política energética nacional, pois representará, de acordo com estimativas da Aneel, uma potência instalada de 3.300 MW, com entrega de energia prevista para 2013. O Rio Madeira localiza-se na bacia hidrográfica amazônica, abrangendo áreas do município de Porto Velho, Capital de Rondônia.

3.As licitações para contratação de energia e a outorga de concessão de novos empreendimentos de geração são regidas pela legislação setorial específica, especialmente pela Lei n.º 10.848, de 15 de março de 2004, pela Lei n.º 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, pela Lei n.º 9.074, de 7 de julho de 1995, pela Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993. No âmbito do TCU, a matéria está regulada pela Instrução Normativa do TCU n.º 27, de 2 de dezembro de 1998.

4.O art. 44 da Resolução/TCU nº 199 estabelece que a Secretaria de Fiscalização de Desestatização (SEFID) tem como área específica de atuação a fiscalização e a avaliação da outorga de obras e serviços públicos e de atividades econômicas dos setores de infra-estrutura e, entre outras, da atuação dos entes reguladores, por isso, coube a esta secretaria o acompanhamento do presente processo de outorga. Contudo, à semelhança do TC - 021.731/2007-4 (que trata do acompanhamento do leilão para contratação de energia proveniente da UHE de Santo Antônio, integrante do Complexo do Rio Madeira), esta SEFID propôs a constituição de processos apartados (fls. 5/7), de maneira a possibilitar um acompanhamento mais abrangente quanto aos aspectos que envolvem a expertise necessária ao enfrentamento das especificidades que exsurgem de um empreendimento como este em tela. O Sr. Ministro-Relator, Benjamin Zymler, em despacho aposto à fl. 09 dos autos, autorizou, com fulcro no art. 37 da Resolução/TCU nº 191/2006, a constituição de processos apartados. Destarte, os apartados constituídos foram encaminhados à SECOB (002.241/2008-9) e à 4ª SECEX (002.246/2008-5), respectivamente, para que examinassem a consistência e a exatidão dos valores relativos ao orçamento dos materiais, serviços e obras a serem empregados na concessão, os estudos de impacto ambiental e o licenciamento prévio emitido pelo IBAMA.

5.Haja vista a extrema importância da construção da usina de Jirau no contexto da segurança energética brasileira, o presente acompanhamento impõe grandes desafios e esforços de coordenação para que a licitação ocorra de acordo com o cronograma da expansão da geração previsto pelo MME, que, considerando o disposto na Portaria MME nº 28/2008, de 24/01/08, prevê a realização do leilão no dia 09/05/08. Nesse diapasão, foram

realizadas reuniões técnicas no TCU nos dias 21/12/07, 28/01/08 e 30/01/08, com representantes do MME, da ANEEL, da EPE, da Casa Civil, do Gabinete do Ministro-Relator Benjamin Zymler e das Unidades Técnicas deste Tribunal responsáveis pela instrução do presente processo. As tratativas estão formalizadas no Ofício nº 145/2008/GM-MME, do Secretário-Executivo do MME (fls.01/02), que comunica acerca do cronograma para entrega de relatórios parciais dos trabalhos de otimização do projeto de viabilidade, então em desenvolvimento pela EPE, para a UHE Jirau, culminando com o relatório final a ser entregue em 29/02/08, de maneira a contemplar todos os requisitos necessários à análise do 1º estágio previsto na IN/TCU nº 27/98.

6.A Portaria MME nº 28/2008, de 24/01/08, explicitou que a energia proveniente da UHE Jirau será objeto de Contrato de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado – CCEAR na modalidade por Quantidade de Energia, com prazo de duração de trinta anos, com início de entrega em 2013. Ademais, a Resolução CNPE nº 01/08, de 11/02/08, indicou a Usina de Jirau como projeto de geração com prioridade de licitação e a Portaria MME nº 36/2008, de 12/02/08, definiu as diretrizes do certame.

7.Cumpre ressaltar que, tendo em vista as dificuldades enfrentadas no acompanhamento do 1º estágio do processo do leilão de Santo Antônio (fundamentalmente a exiguidade de tempo e a falta de documentos necessários para a devida análise do 1º estágio), a SEFID e a SECOB propuseram uma representação conjunta (TC – 030.909/2007-3) relacionando os diversos estudos e documentos que devem ser encaminhados ao Tribunal para análise do 1º estágio, bem como solicitando a ampliação do prazo de manifestação da Unidade Técnica, previsto no no art. 8o, I, da IN/TCU nº 27/1998, de 30 dias para 60 dias. O pleito foi parcialmente atendido, como se depreende de excerto de voto do Sr. Ministro Benjamin Zymler, constante do Acórdão nº 145/08 –Plenário, in verbis:

‘32.Em conclusão, o Acórdão que proponho a este Plenário é no sentido de conhecer da presente Representação, dando a ela provimento parcial, de forma a admitir, em caráter excepcional, e apenas em relação ao TC – 002.098/2008-0, a dilação do prazo previsto no art. 8º, I, da Instrução Normativa nº 27/1998, o qual deverá passar de 30 (trinta) para 45 (quarenta e cinco) dias, no máximo, a contar do dia 8 de fevereiro de 2008, quando foi dado início ao cumprimento de entrega de documentação, prevista no cronograma elaborado conjuntamente pelo Ministério das Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e pela SEFID e SECOB, com a anuência deste Relator.’ (g.n.)

8.Com efeito, por meio do Ofício nº 94/EPE/2008 (fl. 11), de 07/02/08, a EPE deu início ao envio da documentação necessária para a análise desta Corte de Contas. Em cumprimento ao cronograma estipulado (ver parágrafo 5º), no dia 29/02/08 a EPE finalizou a entrega dos estudos que embasaram a fixação do preço teto do leilão.

1º Estágio

9.O acompanhamento do presente processo é regido pela Instrução Normativa/TCU n.º 27/98, a qual definiu que a fiscalização dos processos de outorga de concessão ou de permissão de serviços públicos deve ser concomitante, sendo o seu acompanhamento realizado em estágios, mediante análise de documentação remetida pelo poder concedente

ou licitante, sendo que no 1º estágio são analisados, entre outros, o relatório sintético sobre os estudos de viabilidade técnica e econômica do empreendimento e os estudos de impactos ambientais.

10.A presente instrução contempla a análise efetuada pela SEFID, bem como pela SECOB e pela 4ª SECEX. Visando uma leitura mais fluida e consistente, foram feitas adaptações das instruções (fls. 27/55 do TC – 002.241/2008-9; fls. 56/72 do TC – 002.246/2008-5), mantendo-se inalteradas a essência das análises e as conclusões advindas, e, ponderadas, quando cabíveis, as propostas de encaminhamento efetuadas por cada Unidade Técnica.

Análise da SEFID - da viabilidade técnica e econômica do empreendimento

11.Os estudos e pesquisas desenvolvidos pela EPE subsidiam a formulação, o planejamento e a implementação de ações do Ministério de Minas e Energia - MME no âmbito da política energética nacional (parágrafo único do Art. 4º da Lei n.º 10.847/04). Ademais, de acordo com o art. 20, inciso X, do Decreto nº 5.163/04, o Custo Marginal de Referência deve ser calculado pela EPE e aprovado pelo Ministério de Minas e Energia. De acordo com a sistemática do MME, o leilão de compra de energia proveniente da UHE Jirau terá um preço máximo inicial da energia para arremate por parte dos agentes interessados.

12.O preço teto para a compra da energia a ser gerada corresponde ao Custo Marginal de Referência (já que é o único empreendimento que será leiloado no certame) e sagrar-se-á vencedor do leilão o agente, privado e/ou público, que ofertar o menor preço de venda da energia, por MWh, ao Ambiente de Contratação Regulada – ACR, pelo prazo de 30 anos.

13.Reputa-se fundamental a correta precificação do valor máximo de venda da energia a ser gerada, de forma que esse preço limite seja condizente ao retorno oferecido pela exploração do serviço e também sirva à modicidade tarifária. Em um cenário de baixa competição, a definição do preço teto garante um limite, acima do qual, o poder público entende ser onerosa a aquisição da energia.

1.Custo Marginal de Referência

14.No relatório EPE-DEE-RE-049/2008 –r0 (Anexo 2, fls.19/29) estão contidas as informações e premissas relativas ao Custo Marginal de Referência para a Usina de Jirau, calculado pela EPE em R$ 91 MWh.

15.Destaque-se, preliminarmente, que o CMR fixado para o leilão da Usina de Santo Antônio foi de R$ 122 MWh, tendo havido um deságio de 35% no preço final de venda da energia a ser gerada, dado que o agente vencedor do leilão ofertou lance de R$ 78 MWh. Dada a similaridade dos dois empreendimentos , resta nítido que a metodologia e as premissas adotadas pela EPE para o cálculo do CMR sofreram alterações e atualizações objetivando uma melhor adequação do preço teto do leilão à realidade do mercado.

16.Para a definição do Custo Marginal de Referência, a EPE considerou vários parâmetros de cálculo, quais sejam:

- Dados de potência e energia

- Receitas

- Investimento

- Despesas Operacionais

- Parâmetros Financeiros (vida útil do projeto, custo de capital próprio, etc)

- Financiamento

- Tributos e Encargos

17.Definidos estes parâmetros, montou-se o fluxo de caixa do empreendimento. Conceitualmente, o fluxo de caixa é um instrumento que relaciona as entradas e saídas (desembolsos) de recursos monetários no âmbito de uma empresa em um determinado intervalo de tempo e possibilita analisar a atratividade do negócio.

18.Neste quesito de atratividade, reputa-se fundamental a idéia da Taxa Interna de Retorno (economicamente, esta taxa deve ser fixada em função do custo de oportunidade do capital). Desconta-se, então, o fluxo de caixa do empreendimento por esta taxa e determina-se a Tarifa de Equilíbrio (preço teto) do empreendimento ao trazer o Valor Presente Líquido do fluxo de caixa a zero.

19.A taxa de desconto foi calculada, em termos reais, em 11,86% e, como será analisado posteriormente, entendemos como razoáveis as premissas e a metodologia de cálculo empregadas.

1.1.Receitas

20.Na montagem do fluxo de caixa de Jirau, a EPE considerou, para o cálculo das receitas referentes à comercialização da energia, a seguinte proporção:

ï 5% da garantia física colocada no mercado de curto prazo ;

ï para os restantes 95% da garantia física:

- 70% no ambiente de contratação regulada;

- 30% no ambiente de contratação livre.

21.Neste quesito cumpre destacar que a EPE promoveu mudanças na montagem do fluxo de caixa de Jirau, se comparado ao de Santo Antônio. Neste foi considerado, no cálculo das receitas, 100% da energia a ser vendida no Ambiente de Contratação Regulada (ACR). No fluxo de caixa de Jirau, como já disposto, 30% da energia foi colocada como passível de venda no Ambiente de Contratação Livre (ACL), ambiente no qual, normalmente, os

preços são mais elevados . Prova disso é que os cálculos para a venda da energia no ACL consideraram o preço de venda equivalente a R$ 124 MWh .

22.Nesse diapasão, a EPE fez com que as receitas do fluxo de caixa do empreendimento fossem aumentadas, contribuindo para a redução, em última instância, do preço teto do leilão e servindo à modicidade tarifária.

23.Tendo em vista que no leilão de Santo Antônio 30% da energia a ser gerada foi efetivamente destacada como passível de negociações no âmbito do ACL, consideramos coerente a metodologia utilizada pela EPE no cálculo das receitas no fluxo de caixa do empreendimento de Jirau. Nos parece mais apropriada e mais condizente à realidade do mercado de geração de energia hidroelétrica que se faça a previsão, no fluxo de caixa do empreendimento, da parcela da energia que poderá ser negociada no ACL.

1.2.Investimento

24.Os dados de investimento são estimados a partir de análise técnica e orçamentária das informações dos estudos de viabilidade dos empreendedores. A análise deste item restou a cargo da SECOB e está contemplada, adiante, nesta instrução.

1.3.Potência e Energia

25.A potência instalada foi obtida do Estudo de Viabilidade elaborado pelo Desenvolvedor (Furnas/Odebrecht) e corresponde a 3.300 MW. A garantia física foi calculada pela EPE e oficializada pela Portaria MME nº 13/2008, de 19/03/08, no valor de 1.966 MW médios. A usina integrará o submercado Sudeste/Centro-Oeste, com conexão na subestação coletora de Porto Velho (RO).

26.Considerou-se um valor de perdas elétricas de 3%, resultando, portanto, uma energia entregue no centro de gravidade igual a 97% da garantia física. A consideração deste percentual de perdas elétricas está adequado à realidade do setor elétrico e o mesmo percentual foi considerado para Santo Antônio.

1.4.Despesas Operacionais

27.Os custos relativos à Operação & Manutenção foram determinados com base em estudos enviados a esta Corte de Contas no dia 27/12/07 e inseridos nos autos do TC 016.858/2005-6 (Volume I, fls. 321/354). Ressalte-se que estes estudos foram fruto de determinação do TCU, insculpida no Acórdão nº 2013/2006 - Plenário. Os estudos embasaram a fixação de custos de O&M em patamares inferiores àqueles até então utilizados pela EPE nos seus estudos.

28.A redução deste valor, calcado em estudos promovidos pela EPE, contribuiu para a redução do preço teto do leilão, já que tal rubrica é uma despesa operacional e afeta negativamente o fluxo de caixa do empreendimento. Para a UHE Jirau, os custos de O&M foram orçados em R$ 2,64 MWh.

1.5.Tributos e Encargos

29.A análise incluiu o impacto dos benefícios fiscais/tributários passíveis de serem aplicados às condições específicas do empreendimento hidrelétrico de Jirau.

2.Análise da metodologia de cálculo do Custo do Capital Próprio e de Terceiros

2.1 Custo de Capital Próprio - Prêmios de Risco de Mercado e de Risco de Crédito

30.Adotou-se o método CAPM (Capital Asset Pricing Model) para a definição do custo de capital próprio, que busca identificar a percepção do mercado sobre os riscos do setor.

31.No documento denominado ‘Metodologia e Critérios para Definição do Custo de Capital’ (Anexo 4), na definição da taxa livre de risco, à fl. 5, in fine, está explícito que foi utilizada, no cálculo do prêmio, uma série de dados mensais que compreende o período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2008, justificando esta escolha por retratar o mesmo período a ser utilizado nas demais séries de dados.

32.Neste sentido, foi expedida diligência à EPE, fl. 21, para que explicitasse o motivo pelo qual, no cálculo do prêmio de risco de mercado, fez uso de período compreendido entre janeiro de 1996 a dezembro de 2007 e, no cálculo do prêmio de risco de crédito, utilizou período desde 1996. Percebe-se que foi utilizada uma série temporal diferente para a definição destes prêmios.

33.Por intermédio do Ofício nº 224/EPE/2008, de 17/03/08, a EPE apresentou os esclarecimentos requeridos.

34.Justificativa I: Alega que o prêmio de risco de mercado deve refletir apropriadamente o retorno incremental que remunera o investidor por aplicar seus recursos no portfólio de mercado e expõe que, como disposto pela ANEEL na Nota Técnica no 045/2007-SRE/ANEEL, de 23/02/2007, admitese que a média calculada a partir dos valores históricos seja ‘um proxy (sic) apropriado do retorno esperado (ou seja, que as expectativas do investidor se realizem).’

35.Assevera que as séries utilizadas pela EPE procuraram manter a consistência temporal requerida pela literatura, mas de modo a refletir de forma fidedigna a remuneração esperada pelos investidores no horizonte estudado. Adiciona que a utilização do mesmo período de 10 anos das outras séries no caso do cálculo do prêmio de risco de mercado redundaria em um prêmio de risco de 1,9% ao ano, valor baixo quando comparado com outros períodos históricos. Com efeito, elenca cálculos encontrados na literatura especializada, envolvendo períodos recentes, que giram ao redor de 5,5% como prêmio de risco adequado ao setor elétrico.

36.Conclui, então, que ‘com o intuito de manter a maior consistência temporal possível entre as séries e, simultaneamente, respeitando a utilização das médias históricas como proxy da remuneração esperada pelo investidor compatível com o risco assumido,

utilizamos o período de 12 anos no caso do cálculo do prêmio de risco de mercado, obtendo o valor de 4,53% ao ano.’

37.Análise 1: Efetivamente, o prêmio de risco de mercado mede a diferença entre o retorno esperado no mercado acionário (investimento com risco) e o retorno de títulos livres de risco.

38.O resultado desse prêmio é bastante sensível ao período de análise escolhido, de maneira que é razoável que se promova certa acomodação da série histórica objetivando eliminar distorções pontuais. Há simulações de períodos em que o resultado do prêmio chega a valores negativos. Nesse diapasão e, tendo em vista o valor do prêmio de risco de mercado de 4,53% a.a., entendemos como razoável o período histórico e o valor do prêmio calculado pela EPE. A título de ilustração, o prêmio de risco de mercado utilizado em Santo Antônio foi de 5,24% a.a.

39.Justifcativa 2: Relativamente à questão acerca do período utilizado para cálculo de prêmio de risco de crédito, a EPE alega que o cálculo teve como base a Nota Técnica nº 045/2007-SRE/ANEEL, de 23/02/2007. Assevera que não teve acesso aos dados utilizados na Nota Técnica e optou por utilizar o último valor apresentado pela ANEEL (2007), de 2,96% ao ano.

40.Análise: O valor utilizado pela EPE reflete os cálculos e metodologia empregadas pela ANEEL na definição deste prêmio. O período utilizado é compatível com os utilizados nos cálculos dos outros prêmios e entendemos como razoável o valor utilizado.

2.2.Custo do Capital Próprio

41.O custo de capital próprio (nominal) é de 14,86%, e real, 11,86%, sendo esta a taxa de desconto do fluxo de caixa do empreendimento. Representa o retorno mínimo exigido para investimento no projeto.

42.Após análise da metodologia empregada pela EPE (método CAPM), entendemos como consistente e razoável o custo de capital próprio em 11,86%. A título de ilustração, o custo de capital próprio calculado para a UHE Santo Antônio foi de 13,2%.

2.3 Custo do Capital de Terceiros

43.O custo de capital de terceiros equivale ao retorno requerido pelos investidores dispostos a financiar um empreendimento por meio de dívida mobiliária, podendo ser observado nos mercados financeiros, quer seja de forma direta ou indireta.

44.Foram estabelecidos os seguintes parâmetros relativamente ao custo de capital de terceiros:

- percentual financiado = até 85% da parcela financiável, a qual corresponde a um valor da ordem de 90% do investimento total, resultando um valor financiado em torno de 75% do investimento total;

- taxa de juros = 5,46% ao ano, correspondendo a uma composição de 5,13% de juros reais incidentes sobre o financiamento do BNDES, considerado 90% do total financiado; e 8,42% de juros reais incidentes sobre o financiamento de outras instituições financeiras, considerado 10% do total financiado;

- amortização em 20 anos;

- sistema de amortização – SAC; e

- juros durante a construção – JDS = taxa de juros do financiamento.

45.A alavancagem máxima prevista nos estudos para a definição do custo de capital de terceiros é de 75%. Contudo, a parcela financiável pelo BNDES representa 90% do total financiado. Neste sentido, a EPE sinaliza que a provável combinação de portfólio de financiamento a ser seguida pelos investidores seja composta de parte de empréstimo do BNDES e parte oriunda de outras instituições financeiras. Nesse mix, o BNDES aporta 90% do total financiável e outras instituições financeiras aportam 10% do total financiável, de maneira que há uma previsão no fluxo da possibilidade do custo do financiamento ser superior àquele disponibilizado exclusivamente pela linha de crédito do BNDES. Nesse diapasão, após a devida ponderação da participação de cada ente financiador, o CRT que balizou o fluxo de caixa do empreendimento restou estabelecido em 5,46%.

46.A EPE ressalta que as condições de financiamento utilizadas para a estimativa do preço teto, no que se refere à parcela financiável pelo BNDES, são as mesmas que foram utilizadas para o projeto da UHE Santo Antônio. Com efeito, a EPE considerou as mesmas condições de financiamento oferecidas pelo banco de fomento ao empreendimento de Santo Antônio, contudo, a metodologia empregada pela EPE para o cálculo do custo do financiamento sofreu mudanças que podem ser correlacionadas às recomendações exaradas por esta Corte de Contas no Acórdão - TCU nº 2138/2007 – Plenário, com redação modificada pelo Acórdão nº 2276/07 – Plenário, especialmente aquelas insculpidas nos itens 9.1.1 e 9.1.2.

47.No website do BNDES pudemos verificar as condições de apoio financeiro que o banco de fomento disponibilizou para Santo Antônio e que, segundo estimativa da EPE, devem manter-se inalterados para Jirau. O spread básico está definido em 0,5% a.a. e o de risco entre 0,46% e 2,54% a.a. para o financiamento direto. Para o indireto, o spread básico mantém-se em 0,5% a.a., existe uma taxa de intermediação financeira definida em 0,8% a.a. e uma taxa de risco a ser negociada diretamente com o banco repassador. Os valores de spread básico e de risco são fixados na assinatura do contrato e permanecem inalterados ao longo do tempo, somente podendo variar a parcela referente à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

48.Para o cálculo da taxa de juros para definição do custo do financiamento do BNDES adotou-se a seguinte formulação:

Taxa de juros (rd) = Custo Financeiro + Spread ou ainda rd = TJLP (real) + Spread

49.A EPE calculou o custo financeiro a partir da junção de duas abordagens. A primeira computa o cálculo do custo financeiro através do uso de séries históricas de TJLP e IPCA. A segunda apresenta uma abordagem forward, com estimativas futuras de comportamento da TJLP e do IPCA. Entendemos pertinente tal metodologia, dado que a TJLP pode e provavelmente variará durante o contrato de financiamento, de sorte que a utilização de série histórica acomoda e aponta tendências de comportamento da taxa de juros em análise.

2.3.1 Uso do IPCA como deflator do custo real do capital de terceiros

50.Dever mencionar que o uso do IPCA como deflacionador do custo nominal de capital de terceiros foi amplamente discutido quando da análise do 1º estágio da UHE Santo Antônio. O TCU considerou o IPCA, em detrimento ao IGP-M, como o índice mais apropriado para o cálculo do custo real do financiamento. Tendo em vista que a EPE utiliza-se do método de Fisher () para deflacionamento do custo nominal, importa dizer que, quanto menor o denominador da equação de Fisher, maior o CRT. Dado que o IGP-M, nos últimos anos, foi um índice que reduziu-se expressivamente, devido especialmente à sua grande sensibilidade ao câmbio e à significativa valorização do real frente ao dólar, sua utilização criava uma superestimativa do custo real de capital de terceiros.

51.Contudo, mostra-se oportuno frisar que o TCU não recomendou a utilização do IPCA pelo fato deste índice implicar em redução do custo do capital, mas sim por entender que os pressupostos do estudo de fluxo de caixa devem ser coerentes entre si e evitar distorções. Como o estudo utiliza sempre valores reais tanto de despesas como de receitas, consideramos coerente a utilização de um único índice tanto para atualização de valores passados, como para a obtenção de valores presentes de estimativas futuras. Sabendo que as receitas serão reajustadas pelo IPCA e por isso puderam ser consideradas em valores reais, não é lógico utilizar outro índice para a transformação de valores nominais em reais. Ademais, ressalta-se que a TJLP é reajustada pelo Conselho Monetário Nacional, considerando as previsões do IPCA. A intenção foi garantir a coerência interna da metodologia utilizada pela EPE e proporcionar a consistência entre o deflacionador do custo de capital e o indexador das receitas.

52.Relativamente àquele empreendimento, a EPE, por orientação do Ministério de Minas e Energia, acatou a recomendação do TCU e recalculou o custo real de capital de terceiro utilizando o IPCA como deflator do custo nominal. O custo real de terceiros reduziu-se, então, de 6,65% para 5,85%. A recomendação do Tribunal naquele processo trouxe consequências positivas para este em análise, na medida que o uso do índice sugerido foi internalizado na metodologia de cálculo do custo de capital apresentado para Jirau, restando nítido o benefício qualitativo de aperfeiçoamento da metodologia de precificação do preço teto do leilão.

2.3.2 Utilização de spreads fixos no cálculo do custo do capital de terceiros

53.A EPE considerou um spread básico médio de 0,9% e um spread de risco médio de 1,75% (incluso a taxa de intermediação financeira do repasse indireto). Tais números são consistentes e razoáveis tendo em vista as condições de financiamento ofertadas pelo

BNDES. Diferentemente da metodologia empregada pela EPE no cálculo do custo do capital de terceiros nos estudos da UHE Santo Antônio, para a UHE Jirau ela utilizou os valores fixos dos spreads, tanto na série histórica quanto na série forward.

54.Tal assunto foi amplamente discutido nos autos do processo de Santo Antônio e o entendimento desta Unidade Técnica foi transparente em considerar que a melhor alternativa para corretamente estimar o custo do capital de terceiros era a utilização dos valores pré-fixados dos spreads, já que somente a parcela referente à TJLP poderia sofrer variações. Nesse diapasão e tendo em vista a metodologia empregada pela EPE nos estudos da UHE Jirau, resta visível a contribuição do controle externo promovido pelo Tribunal de Contas da União no aperfeiçoamento da gestão dos recursos públicos (Acórdão – TCU - nº 2138/2007 – Plenário, com redação modificada pelo Acórdão nº 2276/07 – Plenário, itens 9.1.1 e 9.1.2.).

55.A partir destas considerações, podemos calcular os benefícios advindos das recomendações do TCU, exaradas nos autos do processo de acompanhamento da UHE Santo Antônio, que impactaram no cálculo do custo de capital de terceiros e, consequentemente, no custo do empreendimento e na tarifa a ser estabelecida como preço teto do leilão da UHE Jirau.

56.A EPE calculou em 5,85% o CRT no empreendimento de Santo Antônio, e, no presente caso de Jirau, em 5,46%. Uma simulação do valor de 5,85% como CRT no fluxo de caixa do empreendimento de Jirau, em oposição ao valor de 5,46%, representa um aumento da ordem de R$ 2 MWh na tarifa de equilíbrio. Tal aumento implicaria um incremento de R$ 16 milhões semestrais (R$ 96 milhões em 3 anos) na receita bruta do empreendimento, podendo ser considerado como um benefício do controle em prol da modicidade tarifária. Benefício no sentido de que a mudança da metodologia de cálculo, intrinsecamente ligada às recomendações do Tribunal, permitiu uma redução da tarifa a ser paga pelo consumidor.

57.O grande benefício, contudo, é qualitativo, na medida que a interface entre o controle exercido pelo Tribunal e os técnicos da EPE responsáveis pela elaboração dos estudos de otimização do empreendimento, levaram a uma metodologia que nos parece mais apropriada e condizente com a realidade do setor de geração hidroelétrica no nosso país. Tal ganho é perene, já que o aprimoramento das metodologias de cálculo do preço teto dos empreendimentos a serem leiloados representarão maior segurança de uma correta precificação das tarifas, de maneira a, concomitantemente, proteger a modicidade tarifária e oferecer um retorno adequado aos investidores.

3.Conclusão da análise efetuada pela SEFID

58.A partir da análise das premissas que embasaram os estudos de viabilidade econômico-financeira do projeto, não vemos impedimento à continuidade do processo licitatório de outorga de concessão de uso de bem público para exploração e aproveitamento hidrelétrico de Jirau, no Rio Madeira.

59.Cumpre ressaltar que, em comparação a outros estudos de viabilidade econômico-financeira, vide os estudos da UHE Santo Antônio, a metodologia e as premissas

empregadas pela EPE no cálculo do preço teto de leilão da UHE Jirau mostraram-se mais consistentes e atuais, no sentido de tentar adequar-se à realidade do mercado. Recomendações exaradas por esta Corte de Contas, por intermédio do Acórdão - TCU nº 2138/2007 – Plenário, com redação modificada pelo Acórdão nº 2276/07 – Plenário (especialmente aquelas insculpidas nos itens 9.1.1 e 9.1.2. - utilização de spreads fixos no cálculo do Custo de Capital de Terceiros e uso do IPCA como deflator do Custo de Capital Real de Terceiros) foram acatadas pela EPE e contribuíram no processo de aperfeiçoamento e aprimoramento de metodologia de cálculo do preço teto do leilão. (parágrafos 50 a 57)

60.Dever mencionar que, na análise do fluxo de caixa do empreendimento, trabalhamos com os dados de investimento como se correto fossem. A análise dos custos de investimento foram analisados pela SECOB e os custos ambientais foram analisados pela 4ª SECEX, de forma que achados destas Unidades Técnicas, que impliquem em alterações nos valores de investimento, devem ser considerados e simulados no fluxo de caixa do empreendimento. No final da presente instrução abordaremos, conjunta e conclusivamente, os achados da SEFID, SECOB e 4ª SECEX.

Análise da 4ª SECEX

61.A análise consistiu em analisar o procedimento de avaliação dos impactos ambientais do AHE – Jirau até o momento da concessão da licença prévia pelo órgão ambiental: Licença Prévia n.º 251/2007, emitida pelo Ibama em 09/09/2007 (fls. 14/16 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5).

5.Licenciamento ambiental

62.O processo de licenciamento ambiental possui três fases: licença prévia – LP (que atesta a viabilidade do projeto do ponto de vista tecnológico e locacional e autoriza a elaboração do projeto básico de engenharia); licença de instalação – LI (atesta o detalhamento dos programas ambientais e autoriza o início das obras); e a licença de operação – LO (atesta o bom andamento dos programas ambientais e autoriza a operação do empreendimento).

63.O AHE – Jirau está em fase de licenciamento prévio, ou seja o empreendedor já teve reconhecida a viabilidade ambiental do empreendimento e recebeu o aval dos órgãos ambientais para detalhar os programas ambientais e confeccionar o projeto básico de engenharia. Assim, estão aprovadas a solução tecnológica e locacional do empreendimento.

64.Todo o processo de licenciamento ambiental do AHE – Jirau foi realizado de acordo com a Resolução Conama n.º 237/1997, haja vista tal empreendimento não se enquadrar na categoria de empreendimentos cujo licenciamento pode ser regido pela Resolução Conama nº279/2001.

65.Considerando-se o critério de definição de competência estabelecido no inciso II do artigo 4º da Resolução Conama n.º 237/1997, o licenciamento de Jirau foi conduzido corretamente sob a competência do Ibama, pois trata-se de empreendimento em que os impactos ambientais diretos ultrapassam os limites de um estado da Federação.

66.Com base na documentação constante do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5, cujas peças foram extraídas do endereço de internet www.ibama.gov.br/licenciamento, as fases do processo de licenciamento ocorreram de acordo com os itens listados no artigo 10 da Resolução Conama n.º 237/1997, como segue:

I) o órgão ambiental visitou o local indicado pelo empreendedor e definiu os documentos, projetos e estudos ambientais necessários ao licenciamento prévio do empreendimento, entre eles o EIA e o correspondente RIMA, em atendimento ao inciso VII do artigo 2º da Resolução Conama n.º 01/1986 (linha 1 da tabela de fls. 12/13 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

II) o empreendedor elaborou e apresentou ao IBAMA os estudos e projetos ambientais requeridos (linhas 22 a 44 da tabela de fls. 12/13 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

III) o órgão ambiental verificou o cumprimento do Termo de Referência (fls. 47/51), analisou os estudos ambientais e solicitou esclarecimentos e complementações, tendo sido atendido pelo empreendedor (fls. 42/46 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

IV) disponibilizou para consulta pública o EIA e o RIMA do empreendimento (linha 10 do quadro de fls. 12/13 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

V) o órgão ambiental realizou audiências públicas em quatro localidades distintas, na área de influência do empreendimento (fls. 35/41 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

VI) foram ouvidos os seguintes órgãos: Ministério da Saúde, FUNAI e IPHAN (fls. 20/34 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

VII) foi conseguido, pelo empreendedor, a outorga para uso do potencial hidráulico junto à Agência Nacional de Águas – ANA (fls. 17/19 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5);

VIII) foi emitido, no âmbito do Ibama, parecer técnico favorável à concessão da Licença Prévia (fls. 1/11 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5); e

IX) o órgão ambiental emitiu a competente Licença Prévia – LP n.º 251/2007, com 32 condicionantes (fls. 14/16 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5).

5.1 Análise do EIA

67.Especificamente quanto aos estudos ambientais, após a visita à área do empreendimento, o Ibama exigiu a elaboração do Estudo de Impactos Ambientais – EIA e do correspondente Relatório de Impacto Ambiental – RIMA. Essa exigência veio a atender o que prescreve o inciso VII do artigo 2º da Resolução Conama n.º 01/1986, segundo o qual, dependerá da elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA obras hidráulicas para a exploração de recursos hídricos tais como barragens para fins hidrelétricos, acima de 10 MW. Ora, como o AHE Jirau deverá desenvolver 3.300 MW, fica claro que o Ibama agiu corretamente ao exigir EIA/RIMA para o seu licenciamento prévio.

68.Da análise do EIA do AHE – Jirau depreende-se que o mesmo atendeu aos requisitos estabelecidos no artigo 5º da Resolução Conama n.º 01/1986, a saber:

- ‘contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto’ (inciso I do artigo 5º da Resolução Conama n.º 01/1986). Comentário: o EIA do AHE – Jirau avaliou as seguintes alternativas: o aproveitamento Hidrelétrico, em contraposição à termoelétrica, concluindo que há vantagem para a primeira; a construção de barramento único, contra a construção das duas usinas (Santo Antônio e Jirau) e a construção de uma outra (Teotônio) junto com Santo Antônio ou Jirau.

- ‘identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade’ (inciso II do artigo 5º da Resolução Conama n.º 01/1986). Comentário: o EIA consistiu mais em identificar do que em avaliar. Convém salientar que o referido estudo foi pródigo em identificar aspectos e impactos ambientais, sociais, culturais e históricos da região afetada pelo empreendimento, sem, contudo, partir para a avaliação, propriamente dita. Muito menos avaliação sistemática, como manda a Resolução do Conama (art. 5º da Resolução Conama n.º 01/1986). Entretanto, essa aparente deficiência foi suprida ao longo do processo de análise do EIA pelo Ibama.

-‘definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza’ (inciso III do artigo 5º da Resolução Conama n.º 01/1986). Comentário: pode-se considerar este mandamento regulamentar atendido.

- ‘considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implementação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade’ (inciso IV do artigo 5º da Resolução Conama n.º 01/1986). Comentário: com respeito a esse tópico é importante mencionar que desde a sua gênese os projetos de AHE no rio Madeira partiram da iniciativa do próprio empreendedor. Entre os estudos desenvolvidos pelo empreendedor ainda constam a Estimativa de Potencial Hidrelétrico, o Estudo de Inventário Hidrelétrico e o Estudo de Viabilidade (as três primeiras etapas para a implantação de aproveitamentos hidrelétricos). Portanto, os estudos consideraram os programas governamentais existentes na área de influência do projeto.

69.Outro aspecto que se observa do EIA do AHE Jirau é que o mesmo possui os tópicos mínimos determinados pelo art. 6º da Resolução Conama n.º 01/1986, que são:

‘I.diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, contendo descrição completa e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:

a) meio físico – o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;

b) meio biológico e os ecossistemas naturais – a fauna e a flora, destacando as espécies indicadoras de qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;

c) meio socioeconômico – o uso e ocupação do solo, os usos da água e a socioeconomia destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.

II.análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando os impactos positivos e os negativos, diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; e a distribuição do ônus e benefícios sociais;

III.definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos , entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas;

IV.elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.’

5.2.Análise do RIMA

70.A respeito do RIMA, foi verificado que aquele relatório não atende aos critérios especificados no parágrafo único do artigo 9º da Resolução n.º 01/1986, combinado com o artigo 10 da Resolução n.º 06/1987, ambas do Conama, a saber: não foi redigido em linguagem acessível à população da área de influência do empreendimento.

71.Por outro lado, há que se reconhecer que o RIMA foi feliz ao apresentar o capítulo denominado ‘Principais dúvidas e questões sobre as usinas de Santo Antônio e Jirau’. Nele são esclarecidas na forma de perguntas e auto-respostas questões que poderiam suscitar mal-entendidos acerca dos objetivos e dos impactos socioambientais, dos empreendimentos. Esse tópico provavelmente pode ter sido bem sucedido em evitar ilações e mitos a respeito do empreendimento.

72.Com respeito aos outros itens considerados necessários ao RIMA pelo art. 9º da Resolução Conama 01/1986, apresentam-se a seguir as impressões que se teve da leitura daquele relatório de impactos ambientais:

- o RIMA deverá conter ‘os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais’ (inciso I do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: foi constatado que o relatório contém os objetivos e justificativas do projeto, mas não aborda a compatibilidade do mesmo com ‘as políticas setoriais, planos e programas governamentais’;

- o RIMA deverá conter ‘a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados’ (inciso II do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: o relatório contém esse tópico, que está bem elaborado. Porém, considera-se que a linguagem está excessivamente técnica; pouco acessível para a comunidade.

- o RIMA deverá conter ‘a síntese dos resultados dos estudos e diagnósticos ambientais da área de influência do projeto’; (inciso III do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: a leitura do relatório permite o contato com os resultados do diagnóstico, só que esses resultados não estão dispostos de forma sintética. Estão dispersos ao longo de todo o relatório.

- o RIMA deverá conter ‘a descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação’ (inciso IV do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: considera-se não atendido esse item pois, conforme já mencionado, a abordagem do assunto não foi suficiente.

- o RIMA deverá conter ‘a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;’ (inciso V do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: o quadro constante da página 60 do RIMA (fl. 56 do Anexo I) é muito preciso em comparar o cenário atual com o cenário futuro (com a implantação das usinas). Entretanto, as comparações não abordam ‘as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas.’

- o RIMA deverá conter ‘a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado’; (inciso VI do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: considera-se que o capítulo do RIMA denominado ‘Ações para corrigir ou compensar os impactos negativos dos projetos’ atende a esse item.

- o RIMA deverá conter ‘o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; (inciso VII do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: o relatório da usina de Jirau não contém o programa de monitoramento dos impactos.

- o RIMA deverá conter ‘recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral)’. (inciso VIII do art. 9º da Resolução Conama 01/1986). Comentário: em seu último capítulo, o das conclusões, o relatório afirma a viabilidade do empreendimento como sendo uma alternativa para o desenvolvimento da região, mas não como a mais favorável, como manda a legislação. Essa abordagem é feita apenas no EIA.

73.A completude do RIMA, a clareza e a simplicidade da linguagem na qual o mesmo é redigido, aliadas à publicidade dos atos e à correção e à competência técnica do órgão ambiental licenciador, é que vão conduzir o processo de licenciamento ao bom termo.

74.Quanto à completude dos seus tópicos e à clareza e simplicidade da sua linguagem, há que se reconhecer que o RIMA de Jirau deixou a desejar. A seguir são apresentados alguns trechos extraídos do RIMA de Jirau, com o objetivo de mostrar a pouca clareza de sua linguagem:

‘a região das usinas de Santo Antônio e Jirau apresenta as características gerais do ambiente amazônico, reproduzindo e confirmando sua influência para a biodiversidade’.

‘a organização estratificada da vegetação amazônica propicia a criação de diferentes ambientes e nichos, explorados por inúmeras espécies de animais, favorecendo a diversidade’.

‘haverá um número elevado de espécies raras, com poucos indivíduos por espécies e reduzidas espécies dominantes. Ambientes heterogêneos, como os das florestas pluviais, criam essa situação. É a diversidade predominando sobre a dominação’.

‘ao lado do Madeira, o leitor observará mamíferos aquáticos e semi-aquáticos’.

‘depois de desmatadas, as áreas lindeiras são utilizadas para cultura de subsistência e pastagem’.

‘sua implantação, em área de fronteira agrícola, oferece uma alternativa ao modelo vigente, operado por inúmeros agentes econômicos e sociais individuais, que atuam sob perspectivas imediatistas, visando a resultados de curto prazo, até por não serem apresentadas outras opções’.

‘região onde os Projetos serão implantados apresenta notória biodiversidade, rica em números de espécies vegetais e animais. Estimula o espírito investigativo dos cientistas e atrai os olhares dos visitantes, a quem se oferece a oportunidade de observar a vida se realizando nas formas mais diversas, aproveitando cada compartimento de um mosaico que parece não ter fim’.

75.Entretanto, cabe ressaltar que todas as falhas relacionadas ao RIMA, listadas neste tópico, são de natureza formal, não sendo, em si, capazes de desqualificar o procedimento de licenciamento ambiental em questão. Ora, sendo o RIMA documento que visa a suprir a sociedade de informações a respeito do empreendimento e de seus impactos ambientais, eventuais falhas quanto à completude dos seus tópicos e à clareza de sua escrita podem ser supridas, inclusive mediante a solicitação de informações diretamente ao Ibama, ou a formulação de questionamentos durante as audiências públicas.

5.3 Participação de outros órgãos públicos

76.Em atendimento ao que prescreve o § 1º do artigo 4º da Resolução Conama n.º 237/1997, foram ouvidos no processo de licenciamento do AHE – Jirau os seguintes órgãos/entidades que atuam na área do empreendimento.

5.3.1 Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS do Ministério da Saúde (fl. 20/25 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5)

77.Em cumprimento ao artigo 2º da Resolução Conama n.º 286/2001, o Ibama solicitou junto à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde parecer acerca da viabilidade do empreendimento, considerando que a formação do lago da barragem tem potencial para interferir no desenvolvimento de malária na região.

78.Foi esclarecido por aquela Secretaria do Ministério da Saúde que o prosseguimento do processo de licenciamento do empreendimento carecia de dois documentos oriundos da Secretaria de Vigilância em Saúde, a saber: o Laudo de Avaliação do Potencial Malarígeno, anterior à emissão da licença prévia e o Atestado de Aptidão Sanitária, posterior à licença prévia e anterior à licença de instalação.

79.Entretanto, a primeira comunicação enviada ao empreendedor pela SVS causou um mal-entendido ao basear-se na Portaria Ministerial n.º 509, de 6/4/2006. Segundo tal dispositivo, a licença prévia e o projeto básico do empreendimento eram condições para a solicitação do Atestado de Aptidão Sanitária.

80.Ora, se, conforme o artigo 2º da Resolução Conama n.º 286/2001, a participação do Ministério da Saúde é condição para o licenciamento, não pode a existência da licença prévia vir antes da participação do Ministério da Saúde.

81.Esse equívoco foi suprido com o advento de nova portaria ministerial, a de n.º 47/2007, que estabeleceu que o Laudo de Avaliação do Potencial Malarígeno é anterior à emissão da licença prévia, e o Atestado de Aptidão Sanitária deve ser anterior à licença de instalação.

82.Em função do advento da nova portaria ministerial, ficou evidenciado que os estudos exigidos pela SVS para a concessão do Atestado de Aptidão Sanitária somente seriam necessários para a concessão da licença de instalação.

83.A SVS concedeu o aval para a emissão da licença prévia após elaborar o Laudo de Potencial Malarígeno e o Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau.

84.Entretanto, com base no despacho da SVS, cabem aqui duas observações: primeiro, o empreendedor não participou da elaboração desses estudos, que conforme o art. 1º da Resolução Conama n.º 286/2001, deveriam ser elaborados por ele, empreendedor; segundo, o aval para a licença prévia foi concedido mediante a ressalva de que o empreendedor deverá elaborar o Plano de Ação para Controle da malária, com base no Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária e apresentar esse documento à SVS, junto com a solicitação do Atestado de Condição Sanitária ‘instrumento que assegura que o órgão executor do projeto desenvolveu estudos e está executando atividades voltadas para o

controle da malária e de seus vetores, nas diversas fases desses empreendimentos, de modo a prevenir, eliminar ou controlar os fatores potencializadores da transmissão da malária, surgidos e/ou potencializados’.

85.Essa situação, aliada ao fato de que a SVS reconhece que a área do empreendimento é ‘uma área malarígena, com transmissão ativa de malária’, conduz à formulação da seguinte proposta:

- determinar à SVS que avalie a necessidade de seu ressarcimento junto ao empreendedor dos custos havidos na elaboração do Laudo de Potencial Malarígeno e do Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau, uma vez que a obrigação de elaborá-los era do empreendedor;

- ao Ibama que ao elaborar termos de referência de empreendimentos que se enquadrem na categoria definida na Resolução Conama n.º 286/2001, inclua entre os documentos necessários à solicitação da licença prévia o Laudo de Potencial Malarígeno.

5.3.2. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN (fl. 30/34 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5)

86.Com base no artigo 18 do Decreto-Lei n.º 25/1937, foi solicitado pelo Ibama parecer do IPHAN a respeito da interferência da implantação do AHE – Jirau no tombamento do Pátio Ferroviário e de parte do Traçado da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

87.Após disponibilizados ao IPHAN os devidos estudos, aquele Instituto considerou, a respeito do empreendimento, que: a sua área de influência direta causará impactos em vários trechos da antiga Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (tombada); existem diversas comunidades ribeirinhas residentes nas margens do Rio Madeira detentoras de expressivo patrimônio cultural, histórico e imaterial; investigações já realizadas indicaram grande potencial arqueológico, histórico e pré-histórico na área do AHE – Jirau; trata-se de empreendimento causador de impacto ambiental sobre a região, colocando em risco de destruição o patrimônio cultural da Nação, especialmente o arqueológico, protegido por lei federal. O IPHAN autorizou a concessão da Licença Prévia, desde que atendidas algumas condicionantes, entre elas:

a) apresentação no prazo de dois meses após a obtenção da Licença Prévia de projeto de diagnóstico arqueológico prospectivo;

b) implantação de programa de prospecção arqueológica pré-histórica e histórica, envolvendo a área de influência direta e indireta potencialmente lesiva ao patrimônio arqueológico, áreas limítrofes e de provável expansão favorável após a conclusão do empreendimento;

c) execução de um programa de resgate arqueológico envolvendo trabalhos de salvamento arqueológico dos sítios, registro detalhado de cada sítio e do seu entorno, relatório que especifique as atividades desenvolvidas em campo e laboratório, resultados científicos sobre a arqueologia da área de estudos e projeto de educação patrimonial;

d) projeto de construção de um Centro de Cultura das nações indígenas impactadas pela construção da Linha Férrea Madeira-Mamoré, para a preservação de seu potencial cultural;

e) projeto de construção de um Centro de Memória dos trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

88.Tendo em vista que essas medidas foram estabelecidas como condições para o aval do IPHAN ao licenciamento do empreendimento, e que as mesmas já foram incluídas como condicionantes da LP nº 251/2007 (condicionante nº 2.30, fls. 16 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5), a presente instrução considera sanadas as medidas referentes à área de atuação do IPHAN.

5.3.3. Fundação Nacional do Índio – FUNAI (fl. 26/29 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5)

89.Após serem submetidos à apreciação da Fundação Nacional de Índio – FUNAI, os documentos referentes ao AHE – Jirau, aquela autarquia pronunciou-se no sentido de que autorizava a emissão da licença prévia, desde que eventuais impactos não previstos no EIA/RIMA, que vierem a surgir sobre terras e povos indígenas, deverão ser considerados no âmbito da concessão da licença de instalação, em forma de medidas mitigadoras e/ou compensatórias.

90.Da leitura das observações e ressalvas feitas pela FUNAI ao longo do procedimento de licenciamento prévio, ficou a percepção de que pode não haver restado claro o suficiente aos interesses dos indígenas três pontos: a área de influência real do empreendimento; os impactos reais do mesmo; e os direitos a compensações sociais por parte dos grupos indígenas.

91.Esta questão é importante pois, enquanto os não-índios podem ter algumas vantagens com o desenvolvimento econômico gerado pela UHE – Jirau, é de se esperar que os indígenas, por serem mais dependentes da natureza, sejam mais afetados que os não-índios, principalmente pela mudança no regime das águas da Bacia do Rio Madeira, pelas alterações na ictiofauna e pela redução dos sedimentos a jusante da barragem.

92.Esse foi um dos motivos que levaram o Ibama a ampliar as condicionantes referentes às populações indígenas, principalmente com a introdução da condicionante n.º 2.27 da LP n.º 251/2007 (fl. 16 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5).

5.3.4. Agência Nacional de Águas – ANA (fl. 17/19 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5)

93.Apesar de não se constituir em uma das fases do licenciamento, é importante aqui mencionar que, quando da concessão da licença prévia pelo Ibama, em 09 de julho de 2007, o empreendimento já dispunha da competente reserva de disponibilidade hídrica, concedida pela Agência Nacional de Águas – ANA, mediante a Resolução ANA n.º 555, de 19 de dezembro de 2006.

94.A reserva de disponibilidade hídrica garante ao Consórcio Madeira Energia que a ANA não vai outorgar o mesmo recurso hídrico a outro projeto, que não o AHE - Jirau. Garante, ainda, que a formação e a manutenção do lago de acumulação da barragem não tendem a saturar a bacia hidrográfica.

6.Custo dos Programas Ambientais

95.O documento analisado para a avaliação dos custos ambientais foi o relatório da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, constante de fls. 11/52 do TC n.º 002.246/2008-5 .

96.Para levantar esses custos, a EPE relacionou as ações ambientais previstas no EIA do empreendimento e seus respectivos custos, que resultaram em R$ 613.989.770,00, que é o total da conta 10 do orçamento do projeto (Tabela 5, constante de fls. 25/26 do TC n.º 002.246/2008-5). Em seguida, a EPE verificou quais as condicionantes da LP nº 251/2007 (Tabela 6, fls. 27/28 do TC n.º 002.246/2008-5) possuem correspondentes entre as medidas ambientais estabelecidas no EIA; quais podem ser atendidas mediante um acréscimo de custo em medida já prevista no EIA; e quais são totalmente novas em relação àquelas já estabelecidas no EIA.

97.Assim, de acordo com a EPE, foram responsáveis por acréscimo nos custos ambientais a condicionante 2.6, não contemplada no EIA (fls. 31/32 do TC n.º 002.246/2008-5); e as condicionantes 2.10 (fls. 34/35 do TC n.º 002.246/2008-5), 2.20 (fls. 39/41 do TC n.º 002.246/2008-5), 2.21 (fls. 41 do TC n.º 002.246/2008-5), 2.23 (fls. 42/343 do TC n.º 002.246/2008-5) e 2.27 (fls. 46/47 do TC n.º 002.246/2008-5), que foram objeto de incremento nos seis objetos. Os custos adicionais introduzido pela LP 251/2007, em relação às medidas previstas no EIA são comparados na tabela apresentada a seguir.

Acréscimos nos custos ambientais surgidos com a análise do EIA, segundo a EPE

Condicionante da licença prévia-Programa ambiental-Custo no EIA (R$)-Custo após a LP (R$)

2.6-Construção de um centro de reprodução de peixes migratórios-0,00-2.000.000,00

2.10-Ampliação do Programa de Monitoramento Limnológico-10.821.680,00-12.444.932,00

2.20-Ampliação da área de preservação permanente-3.043.980,00-9.131.940,00

2.21-Compensação ambiental-54.491.340,00-108.982.670,00

2.23-Compensação social-47.523.600,00-57.028.320,00

2.27-Acompanhamento das questões indígenas-2.996.470,00-5.500.000,00

Totais-118.877.070,00-195.087.862,00

Aumento dos custos ambientais em relação ao EIA, segundo a EPE-76.210.792,00

98.A respeito desses acréscimos de quantitativos propostos pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, serão tecidas algumas considerações, a seguir. Portanto os comentários feitos nos parágrafos seguintes referem-se à tabela apresentada acima.

99.A condicionante 2.6 preconiza a construção de um centro de reprodução de peixes migratórios, caso essa categoria de peixes tenha os seus hábitos prejudicados pela implantação do empreendimento. O custo dessa medida foi estimado em até R$ 2.000.000,00 pela EPE (fl. 32 do TC n.º 002.246/2008-5).

100.Entretanto, da leitura do parágrafo acima, bem como do enunciado da condicionante (fl. 15 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5) observa-se que esta medida possui caráter condicional. Outro aspecto a se observar é que a eficácia da condicionante 2.5 (transposição de peixes) pode tornar desnecessária essa condicionante, pois a eficácia na transposição de peixes torna desnecessária a existência de centro de reprodução de peixes migratórios (condicionante 2.6).

101.Por essa razão, e tendo em vista a obrigatoriedade da implementação da condicionante 2.5, entende-se que os R$ 2.000.000,00 estimados pela EPE para a implementação da condicionante 2.6 devem ser desconsiderados dos custos ambientais do AHE – Jirau.

102.À condicionante 2.10, ampliação do Programa de Monitoramento Limnológico, a EPE estimou um acréscimo de 15%, correspondente ao aumento da quantidade de estações de coleta. Nesta condicionante, certamente haverá incremento de custos.

103.A condicionante 2.20, ampliação da área de preservação permanente, de 100 metros para 500 metros lineares a partir da margem do reservatório, é certamente uma das medidas de cunho ambiental que mais vão impactar os custos do empreendimento, sobretudo, devido a novas desapropriações de terrenos que serão necessárias.

104.Porém, considera-se bastante pertinente esta medida, pois o uso indevido do solo na área de proteção permanente, notadamente mediante a construção de habitações, pode levar ao adensamento populacional do entorno do lago da barragem e consequentemente à sua eutrofização.

105.A eutrofização excessiva pode levar à redução da qualidade de vida da população e, até, a uma redução na autonomia do reservatório, devido ao excessivo acúmulo de sedimentos no fundo do lago e ao assoreamento das suas margens.

106.Quanto ao incremento do custo da compensação ambiental, condicionante 2.21, a compreensão do presente parecer é de que os 100% (vide tabela acima) de acréscimo estimados pela EPE não se justificam. Isto porque, de acordo com o art. 15 da Resolução Conama nº 371/2006, o valor da compensação ambiental permanece fixado em 0,5% dos custos previstos para a implantação do empreendimento, até que o órgão ambiental estabeleça e publique metodologia para definição do grau de impacto ambiental.

107.Os acréscimos de custos propostos para a condicionante 2.23 e a condicionante 2.27, respectivamente, compensação social e acompanhamento das questões indígenas, podem ser acatados pois as demandas sociais e indígenas podem vir a aumentar durante o período de instalação e de operação do empreendimento.

108.Em suma, com relação aos custos adicionais estabelecidos e estimados pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, a presente análise entende que devam ser desconsiderados do custo final dos programas ambientais do Projeto Jirau, R$ 56.491.340,00, sendo: R$ 2.000.000,00 referentes à construção de um centro de reprodução de peixes migratórios (condicionante 2.6) e R$ 54.491.340,00 que seriam correspondentes à elevação da compensação ambiental de 0,5% para 1% dos custos das obras civis (condicionante 2.21).

109.A exclusão desses R$ 56.491.340,00 permite chegar-se a um novo valor para os programas ambientais, ou seja R$ 633.058.930,00, cerca de 8,2% inferior aos R$ 689.550.270,00 orçados pela EPE.

110.Com esse novo valor, a relação entre os custos ambientais e o custo das obras civis representa 6,15%. Este coeficiente foi obtido pela divisão dos custos ambientais totais R$ 633.058.930,00 pelo valor do custo das obras civis R$ 10.284.280.000,00 (fornecido nas Tabelas 7 e 8 de fls. 50 e 51 do TC n.º 002.246/2008-5). Esse índice situa-se abaixo dos 7,6% do AHE Santo Antônio, empreendimento similar alocado na mesma bacia hidrográfica.

7.Documento procedente da Liderança do Partido Verde

111.Em 15/02/08, deu entrada no Sistema de Protocolo e Expedição do TCU o documento constante de fls. 53/54 do TC n.º 002.246/2008-5. Trata-se de documento da lavra do Líder do Partido Verde, Deputado Federal Sarney Filho, no qual são postas algumas questões a respeito do licenciamento ambiental do AHE – Jirau. Essas questões foram extraídas do Parecer n.º 14/2007 – COHID/CGENE/DILIQ/IBAMA, de 21/03/07, e ensejaram opinião da equipe técnica que o elaborou pela inviabilidade ambiental do AHE - Jirau.

112.Ocorre que as questões evocadas no Parecer n.º 14/2007 – COHID/CGENE/DILIQ/IBAMA como impeditivas da viabilidade do empreendimento e elencadas na informação de fls. 53/54 do TC n.º 002.246/2008-5, foram, segundo o Parecer Conclusivo da lavra do Diretor de Licenciamento do Ibama, constante de fls. 1/11 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5, ‘aceitas e incorporadas’ no processo de licenciamento ‘não restando óbice intransponível ou impeditivo para a presente etapa, de licenciamento prévio’.

113.Entretanto, mesmo já tendo sido sanadas, no âmbito do Ibama, por se tratarem de questões de interesse da sociedade brasileira, à qual o TCU sempre atende com a máxima dedicação, essas questões serão objeto de considerações, a seguir.

‘a inexistência de estudos ambientais do sistema de transmissão de potência do UHE – Jirau’

114.A legislação aplicável não exige a unificação dos estudos de impactos ambientais do AHE e do sistema de transmissão de potência. Ao contrário, no artigo 2º da Resolução Conama n.º 01/1986, percebe-se que a prescrição do EIA para usina destinada à geração de energia é estabelecida no inciso XI; enquanto que para as linhas de transmissão é no inciso VI.

115.No mesmo sentido, a resolução Conama n.º 06/1987 estabelece que a LP dos AHE deve ser requerida no início do estudo de viabilidade da usina (art. 4º), enquanto que a LP das linhas de transmissão devem ser requeridas antes da definição da localização da própria linha de transmissão (art. 6º).

116.Esse cronograma é coerente pois a implantação de um AHE não necessariamente depende da existência prévia dos sistemas de transmissão. De acordo com o Manual da Eletrobrás (Eletrobrás, 1997) a implantação dos aproveitamentos hidrelétricos se dá em cinco fases: estimativa de potencial, inventário hidrelétrico, estudo de viabilidade, projetos básico e projeto executivo. Ou seja a implantação de AHE não tem como condição o planejamento dos sistemas de transmissão de potência.

117.Conceitualmente, o processo de Avaliação de Impactos Ambientais – AIA, do qual faz parte o licenciamento prévio, contempla um empreendimento específico e o respectivo empreendedor. Diferentemente do processo de AIA o processo de Avaliação Ambiental Estratégica – AAE (que não tem previsão legal no Brasil), pode contemplar mais de um empreendimento, ou toda uma região. Mas a AIA é específica para um empreendimento.

118.Ao demandar a licença prévia, o empreendedor manifesta ao órgão ambiental o interesse de planejar o seu empreendimento, em local específico, mediante a adoção de uma solução técnica específica. Essas considerações levam a dois impasses possíveis: 1) se o empreendedor responsável pelo AHE é diferente do que será responsável pelo sistema de transmissão terá que haver diferentes solicitações de licença prévia; 2) se é o mesmo empreendedor, na fase de licença prévia ele vai buscar uma definição para a alocação da UHE, pendente de confirmação pela LP. Assim, não tem como ele nessa fase já se dispor do traçado das linhas de transmissão.

‘a não participação das comunidades interioranas nas audiências públicas, que tiveram a participação nas audiências públicas dificultada pelo fato de as mesmas haverem sido realizadas apenas na capital do estado, Porto Velho’

119.Considera-se que as audiências foram realizadas de acordo com a legislação, por dois motivos: primeiro, foi realizada mais de uma audiência pública (em atenção ao § 5º do artigo 2º da Resolução Conama n.º 09/1987), durante as referidas audiências foram apresentados aos interessados o conteúdo dos projetos e o RIMA dos empreendimentos; as audiências foram conduzidas pelo representante do Ibama (artigo 3º da Resolução Conama n.º 09/1987), e por último pelo fato de haver sido dada publicidade aos editais das referidas audiências.

120.Quanto à realização de novas audiências, pelo fato de o processo haver ocorrido de acordo com as formalidades prescritas em leis e regulamentos, entende-se que não cabe aqui sugerir tais providências.

121.Consideram-se também esgotadas as possibilidades regulamentares de marcação de novas audiências constantes do artigo 2º da Resolução Conama n.º 09/1987.

‘a necessidade de se identificar áreas afetadas não contempladas no estudo de impacto’

122.Antes da elaboração dos Termos de Referência dos estudos ambientais, ainda no ano de 2004, os servidores do Ibama fizeram uma vistoria no local indicado pelo empreendedor e produziram o ‘Relatório de vistoria para subsidiar a elaboração do Termo de Referência’. A partir desse relatório, foi elaborado o Termo de Referência para a elaboração dos estudos ambientais.

123.Importante mencionar que no Termo de Referência do AHE – Jirau foi estabelecido que os estudos ambientais deveriam considerar além das áreas de influência direta (áreas sujeitas aos impactos diretos da implantação e operação do empreendimento) e indireta (áreas real ou potencialmente ameaçadas pelos impactos indiretos da implantação e operação do empreendimento), a área de abrangência regional (na qual os impactos ambientais deveriam ser contextualizados). E esta última foi definida como sendo toda a parte brasileira da bacia do rio Madeira.

124.No Parecer Técnico n.º 133/2005 – COLIC-HID/CGLIC/DILIQ/IBAMA (fls. 47/51 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5), o Ibama considerou satisfatória a delimitação das áreas de influência e da área de abrangência regional nos estudos ambientais. Também foi considerado atendido o item referente à definição do meio socioeconômico. Por esse motivo entende-se que não restaram pendentes questões a respeito da definição da área de influência do empreendimento.

‘a necessidade de dimensionar vários impactos com ausência das respectivas medidas de mitigação e de controle ambiental necessárias à garantia do bem-estar das populações e uso sustentável dos recursos naturais, dentre os quais a questão do depósito de sedimentos e a coleta de peixes no meio da calha de arrasto de fundo’

125.Quanto aos impactos ambientais do projeto, o órgão ambiental acatou a listagem dos 118 impactos ambientais levantados nos estudos ambientais. A propósito, entre esses 118 impactos listados, 13 foram considerados de difícil qualificação. Tratavam-se de impactos sobre os quais, naquele momento, ainda não era possível precisar e determinar as suas características.

126.O Parecer Técnico n.º 133/2005 COLIC-HID/CGLIC/DILIQ/IBAMA (fls. 47/51 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5) sugeriu, para os impactos cujas características não puderam ser determinadas com precisão no EIA/RIMA, ‘o monitoramento e o aprofundamento dos estudos em fases subseqüentes de implantação dos projetos’.

127.Para aqueles que porventura viessem a apresentar repercussões diferentes das previstas nos estudos ambientais, o referido parecer recomendou que fossem adotadas medidas mitigadoras para os componentes com conotação adversa.

128.Esse entendimento do parecer 133/2005 vem a demonstrar que nenhum novo impacto ambiental que venha a surgir em qualquer fase do projeto, nem quaisquer componentes adversas de impactos ambientais deixarão de ser enfrentadas pelo órgão ambiental.

129.Especificamente no tocante à questão do depósito de sedimentos no fundo do lago de acumulação e a conseqüente perda de sedimentos no leito do rio a jusante, percebe-se que esta última questão foi considerada no RIMA, na página 60 do TC n.º 002.246/2008-5.

130.Quanto à deposição de sedimentos, esta questão foi objeto das condicionantes n.º 2.2 e 2.3 da LP.

131.Ademais, todos os aspectos relativos ao monitoramento da qualidade da água do reservatório, inclusive o acúmulo de sedimentos, serão detalhados no Programa de Monitoramento Limnológico (condicionante 2.10 da LP n.º 251/2007).

132.O detalhamento do Programa de Monitoramento Limnológico e das demais condicionantes da Licença Prévia n.º 251/2007 serão objeto de análise pelo Ibama como condição para a emissão da licença de instalação.

133.Portanto, eventuais falhas ou omissões do empreendedor no detalhamento dessas condicionantes terá como única conseqüência, invariavelmente, o atraso do início das obras civis e na entrada de operação da usina, com conseqüente prejuízo para o fluxo de caixa e o retorno dos investimentos. Certamente essa não é uma situação desejada pelo empreendedor de Jirau.

134.Quanto à ‘coleta de peixes no meio da calha de arrasto de fundo’, por ser uma questão inserta no âmbito das condicionantes 2.4 e 2.5 da LP, esta questão também deverá ser suprida com o detalhamento das condicionantes da LP 251/2007, a ser apresentado ao Ibama, com vistas à emissão da licença de instalação.

‘a necessidade imperiosa da realização de um estudo de impacto ambiental, mais abrangente, tanto em território nacional, quanto para atender as áreas transfronteiriças, incluindo a realização de novas audiências públicas’

135.O pleito aqui feito pelo Excelentíssimo Parlamentar nacional somente pode ser atendido mediante a realização de uma Avaliação Ambiental Estratégica – AAE (procedimento não contemplado na legislação brasileira). Por ser indicado para um empreendimento específico, o processo de Avaliação de Impactos Ambientais – AIA, em progresso no empreendimento Jirau não contempla a perspectiva de uma abordagem mais ampla, que só é possível na Avaliação Ambiental Estratégica.

136.Entretanto, cabe mencionar que por ser um processo complexo e muito caro, o processo de avaliação ambiental estratégica ainda não se difundiu satisfatoriamente em

países de grande extensão territorial como o Brasil. Nada obsta, entretanto, que iniciativas sejam tomadas nesse sentido. Notadamente por órgãos e entidades responsáveis pelo planejamento setorial.

137.Especificamente no tocante ao Setor Elétrico, não fora pelas dificuldades técnicas e financeiras inerentes ao processo, avaliações ambientais estratégicas poderiam ser realizadas nas bacias hidrográficas, inclusive, concomitantemente às fases de Estimativa de Potencial Hidrelétrico e de Estudo de Inventário Hidrelétrico. Assim, a Avaliação Ambiental Estratégica serviria, inclusive, para subsidiar os estudos de viabilidade e o licenciamento ambiental, tornando-os mais baratos e mais céleres.

8.Parecer Técnico pela Viabilidade do Empreendimento

138.Após realizadas as audiências públicas, foi elaborado, por equipe multidisciplinar de técnicos integrantes do quadro do Ibama, o Parecer n.º 14/2007 – COHID/CGENE/DILIQ/IBAMA (fls. 58/113 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5), com a seguinte conclusão (fl. 113 do TC n.º 002.246/2008-5):

‘dado o elevado grau de incerteza envolvido no processo: a identificação de áreas afetadas não contempladas no Estudo; o não dimensionamento de vários impactos com ausência de medidas mitigadoras e de controle ambiental necessárias à garantia do bem-estar das populações e uso sustentável dos recursos naturais; e a necessária observância do Princípio da Precaução, a equipe técnica concluiu não ser possível atestar a viabilidade ambiental dos aproveitamentos Hidrelétricos Santo Antônio e Jirau, sendo imperiosa a realização de novo Estudo de Impacto Ambiental, mais abrangente, tanto em território nacional como em territórios transfronteiriços, incluindo a realização de novas audiências públicas. Portanto, recomenda-se a não concessão da Licença prévia.’

139.A proposta do referido parecer não foi acatada pela Diretoria que, em despacho de fls. 57, V. Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5, asseverou: ‘deixo de acolher o Parecer técnico 14/2007 COHID/CGENE/DILIC solicitando sua revisão, em face de dubiedade de suas conclusões, uma vez que no último parágrafo da página 220 a equipe técnica sugere a reelaboração do EIA e no parágrafo final da página 221 sugere a realização de um novo Estudo de Impacto Ambiental’.

140.No corpo do mencionado despacho, o Diretor de Licenciamento ainda manifestou entendimento de que o momento atual do processo era de complementações previstas no § 2º do art. 10 da Resolução Conama n.º 237/1997; concordou com a impossibilidade da emissão da licença prévia naquele momento e comprometeu-se a, no âmbito das complementações, adotar medidas com vistas a sanar as questões levantadas, inclusive com a participação prioritária da equipe técnica responsável pelo Parecer n.º 14/2007.

141.Convém observar que a fase para a rejeição dos estudos ambientais, ou para o pedido de complementações dos mesmos, é após o seu recebimento. Nesse sentido, o Parecer n.º 133/2005 – COLIC-HID/CGLIC/DILIQ/IBAMA (fls. 47/51 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5) foi conclusivo ao considerar satisfatório o atendimento do termo de referência.

142.Após a confecção do referido parecer foram ainda as necessárias complementações dos estudos ambientais (linhas 8 e 9 da tabela de fls. 12/13 do TC n.º 002.246/2008-5).

143.Portanto, quando da elaboração do Parecer n.º 14/2007 – COHID/CGENE/DILIQ/IBAMA (fls. 58/113 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5), era de se esperar indicações de novas complementações, e não a proposta da feitura de um novo EIA, haja vista a existência de um EIA elaborado em consonância com o termo de referência elaborado pelo próprio Ibama.

144.Após sanadas as questões levantadas no Parecer n.º 14/2007, foi emitido o Parecer Conclusivo constante de fls. 1/11 do Anexo I do TC n.º 002.246/2008-5, informando que aquelas questões foram ‘aceitas e incorporadas’ no processo de licenciamento ‘não restando óbice intransponível ou impeditivo para a presente etapa, de licenciamento prévio’.

145.Mesmo tendo sido sanada tal controvérsia, importa ressaltar que esse episódio prejudicou o andamento do processo. Suscitou, inclusive a representação abordada no item IV da presente instrução, na qual a emissão da Licença Prévia n.º 251/2007 é questionada pela liderança do Partido Verde, exatamente com base em situações questionadas no Parecer n.º 14/2007 (item 7 da presente instrução).

146.Visando a evitar que situações assim voltem a ocorrer, gerando insegurança aos empreendedores, e à sociedade em geral, propõe-se ao Ibama que oriente as suas equipes técnicas a respeito das fases do procedimento de licenciamento ambiental em que é possível rejeitar os estudos de impacto ambiental ou solicitar complementações dos mesmos.

9.Conclusão da análise efetuada pela 4ª SECEX

147.As análises do conjunto seqüencial de atos administrativos praticados desde a vistoria no local indicado pelo consórcio Madeira Energia, realizado em 2004, até a emissão da LP n.º 251, em 2007, permitem as seguintes conclusões:

a) cada ato administrativo foi realizado de acordo com as formas, as competências e a ordem cronológica previstas em leis e regulamentos;

b) EIA foi elaborado pelo empreendedor, entregue ao Ibama e disponibilizado para consulta pública, conforme prevê a legislação;

c) em linhas gerais, o RIMA atendeu ao que prescreve a legislação, exceto pela redação considerada, muitas vezes, rebuscada e pouco objetiva, o que pode ser considerado como falha de natureza formal, não tendo comprometido as discussões daquele relatório nas audiências públicas;

d) até onde o nível de detalhamento permite, os custos ambientais estão em 6,15% dos custos das obras civis, abaixo dos 7,6% do AHE Santo Antônio, empreendimento similar alocado na mesma bacia hidrográfica; e

e) com vistas a evitar insegurança nos procedimentos de licenciamento ambiental, considera-se pertinente recomendar ao Ibama que oriente as suas equipes técnicas a respeito das fases do licenciamento em que é possível rejeitar os estudos ambientais ou solicitar as necessárias complementações dos mesmos.

148.Portanto, no entendimento da análise efetuada pela 4ª SECEX, especificamente no que diz respeito ao processo de licenciamento prévio (incluindo-se a elaboração e a análise dos estudos ambientais), não há óbice a que seja dado prosseguimento à concessão da Usina Hidrelétrica de Jirau, localizada no Rio Madeira.

10.Proposta de Encaminhamento da 4ª SECEX

149.Considerando o disposto no art. 17 da IN TCU n.º 27/98 e tendo em conta a necessidade de atuação preventiva do TCU, a fim de resguardar o erário, os consumidores de energia elétrica e o interesse público, submetemos os autos à consideração superior propondo, com fulcro no art. 6º, § 1º da Lei 8.987/1995, e art. 2º, I, da Lei 10.848/2004, ao Tribunal que:

I) autorize a Agência Nacional de Energia Hidrelétrica (Aneel) a publicar o edital de licitação para outorga de concessão da Usina Hidrelétrica de Jirau, localizada no Rio Madeira, recomendando que seja avaliado, por parte da EPE, a exclusão de R$ 56.491.340,00 nos custos dos programas ambientais, referente à condicionante 2.6 - construção de um centro de reprodução de peixes migratórios - e ao acréscimo na condicionante 2.21 - elevação da compensação ambiental de 0,5% para 1% dos custos das obras civis (parágrafos 95 a 110);

II) determine à Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS do Ministério da Saúde que avalie a necessidade de seu ressarcimento junto ao empreendedor dos custos havidos na elaboração do Laudo de Potencial Malarígeno e do Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau, uma vez que a obrigação de elaborá-los era do empreendedor (parágrafo 85);

III) determine ao Ibama que, ao elaborar termos de referência de empreendimentos que se enquadrem na categoria definida na Resolução Conama n.º 286/2001, inclua entre os documentos necessários à solicitação da licença prévia o Laudo de Potencial Malarígeno (parágrafo 85);

IV) recomendar ao Ibama que, com vistas a evitar insegurança nos procedimentos de licenciamento ambiental, oriente as suas equipes técnicas a respeito das fases do licenciamento ambiental em que é possível rejeitar os estudos ambientais ou solicitar as necessárias complementações dos mesmos (parágrafo 146).

11.Considerações da SEFID quanto a análise da 4ª SECEX

150.Concordamos com a essência da análise empreendida pela 4ª SECEX, contudo, entendemos pertinente alguns ajustes nas propostas de encaminhamento feitas pela Unidade

Técnica, em razão das determinações e recomendações exaradas terem como destinatários entes não integrantes do presente processo.

151.Quanto ao item II, propomos a seguinte redação: determine ao MME que preveja mecanismo de ressarcimento junto ao vencedor do leilão, em benefício do Ministério da Saúde, dos custos havidos na elaboração do Laudo de Potencial Malarígeno e do Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau, uma vez que a obrigação de elaborá-los era do empreendedor.

152.Quanto aos itens III e IV, propomos a seguinte redação: “Seja enviado, para que tomem as providências que entenderem cabíveis, cópia do Acórdão e dos correspondentes Relatório e Voto que o fundamentarem ao IBAMA e ao Ministério da Saúde”.

Análise da SECOB

153.O foco desta avaliação recaiu sobre o resultado do estudo empreendido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), visando a otimizar as estruturas e o arranjo geral do projeto e a reduzir o custo de investimento do empreendimento, tendo por base o Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) desenvolvido pelo consórcio empreendedor formado pelas empresas Construtora Norberto Odebrecht e Furnas Centrais Elétricas. Este EVTE original foi aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) por meio do Despacho 909, de 30/03/2007.

154.As conclusões do estudo realizado pela EPE foram fornecidas ao TCU em relatórios parciais, tendo sido considerados nesta análise realizada na SECOB os seguintes documentos (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 2-123):

- Relatório EPE-DEE-RE-036/2008-r0 – AHE Jirau: Sistema de transmissão associado ao AHE Jirau – Descrição e custos de conexão;

- Relatório EPE-DEE-RE-042/2008-r0 – AHE Jirau: Avaliação técnico orçamentária – Parte 1;

- Relatório EPE-DEE-RE-043/2008-r0 – AHE Jirau: Avaliação técnico orçamentária – Parte 2;

- Relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0 – AHE Jirau: Avaliação técnico orçamentária – Parte 3.

155.Neste último relatório foi apresentada a planilha orçamentária otimizada pela EPE (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 113-119), que segue o padrão estipulado pela Eletrobrás (OPE), sendo composta por nove contas numeradas de ‘.10’ a ‘.18’ mais duas outras denominadas ‘Redução’ e ‘Conexão’. Com exceção da primeira e das duas últimas, as contas do OPE analisado encontram-se detalhadas em subcontas, correspondentes aos serviços a serem executados para implantação da usina geradora de energia. Na tabela seguinte apresenta-se o OPE num formato sucinto, sem detalhamento em subcontas, e com a classificação das contas analisadas.

Tabela 1 - Contas do OPE/EPE do AHE Jirau (preços em out/07).

CONTA-ITEM-PREÇO (R$ MIL)-CLASSIFICAÇÃO

.10-TERRENOS, RELOCAÇÕES E OUTRAS AÇÕES SÓCIO-AMBIENTAIS-689.550,27

-

.11-ESTRUTURAS E OUTRAS BENFEITORIAS-704.065,21-Obras civis

.12-RESERVATÓRIO, BARRAGENS E ADUTORAS-2.127.852,13-Obras civis

.13-TURBINAS E GERADORES-2.924.516,37-Equipamentos

.14-EQUIPAMENTO ELÉTRICO ACESSÓRIO-359.015,62-Equipamentos

.15-DIVERSOS EQUIPAMENTOS DA USINA-371.429,37-Equipamentos

.16-ESTRADAS DE RODAGEM, DE FERRO E PONTES-8.708,76-Obras civis

CDT-CUSTO DIRETO TOTAL-7.185.137,73-

.17-CUSTOS INDIRETOS-1.549.514,51-Canteiro, administração local e projeto

.18-CUSTOS SPE-436.732,61-

CT-CUSTO TOTAL (DIRETO + INDIRETO + SPE)-9.171.384,85-

REDUÇÃO-REDUÇÃO DEVIDO A ISENÇÃO DE IMPOSTOS E INCENTIVOS-(687.130,73)-

CT-CUSTO TOTAL (DIRETO + INDIRETO + SPE) – REDUÇÃO-8.484.254,12-

CONEXÃO-LINHA DE TRANSMISSÃO E SUBESTAÇÃO-214.870,00-

TI-TOTAL DE INVESTIMENTO-8.699.124,12-

156.O escopo deste trabalho realizado na SECOB contemplou o exame das contas relativas a obras civis, equipamentos eletromecânicos, canteiro, administração local e projeto (.11 a .17), e das contas denominadas ‘Redução’, que resume descontos devidos a isenções e incentivos fiscais aplicados aos preços unitários dos serviços, e ‘Conexão’, composta do custo da linha de transmissão até a subestação de Porto Velho e a ampliação desta.

12.Preços das Obras Civis

12.1. Metodologia de Avaliação da EPE

157.A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) avaliou o preço das obras civis do Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) original do AHE Jirau com base em: (i) estimativa de preços unitários para os serviços mais relevantes e; (ii) proposta de arranjo geral do empreendimento diferente do adotado no EVTE, resultando em alterações nos quantitativos dos serviços.

158.Com o fim de dar cumprimento ao dever de estabelecer o preço máximo aceitável da tarifa de energia para a concessão do AHE Jirau, a EPE desprezou, por completo, o arranjo geral do EVTE proposto pelo consórcio empreendedor.

159.Tal arranjo, que considerava três estruturas fisicamente separadas (barragem de enrocamento, tomadas d’água/casas de força e vertedouro), foi substituído por outro de traçado retilíneo, que logrou eliminar a barragem de enrocamento componente do arranjo original, ficando o sistema, grosso modo, reduzido a duas estruturas contíguas: tomadas d’água/casas de força e vertedouros. Restou necessária pequena barragem de terra no extremo esquerdo do arranjo, de custo quase desprezível frente ao total do empreendimento. Questionada pela SECOB acerca das possíveis implicações da mudança de arranjo na operação das turbinas bulbo, face aos fluxos hidráulicos paralelos dos canais de fuga e de restituição, a EPE afirmou que ‘foram projetados muros divisores a jusante entre as estruturas do Vertedouro e da Casa de Força com comprimento suficiente para que não haja interferência do fluxo do canal de fuga com o de restituição’, complementando que ‘a otimização desse comprimento será feita no momento da elaboração dos estudos hidráulicos em modelo reduzido’, ou seja, apenas na etapa de Projeto Básico, após a Licitação.

160.Com essa mudança no arranjo – aliada a crítica dos preços propostos por Odebrecht/Furnas –, conseguiu a EPE uma expressiva redução da ordem de 60% (sessenta por cento) no preço das obras civis.

161.Relativamente à estimativa dos preços unitários, a EPE aplicou metodologia semelhante à utilizada na análise do AHE Santo Antônio, qual seja, baseando-se nos dados constantes do sistema informatizado SISORH – Sistema para Elaboração de Orçamentos de Obras Civis de Usinas Hidrelétricas.

162.Adotou, como data-base, o mês de outubro/2007 e, para atualização de preços de referência, os índices econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) específicos do setor elétrico (publicados mensalmente na Revista Conjuntura Econômica) e o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna, que pondera produção e consumo, sendo composto por: 60% do Índice de Preços no Atacado – IPA – em 15 Estados; 30% do Índice de Preços ao Consumidor - IPC - em SP e RJ; e 10% do Índice Nacional da Construção Civil – INCC), também da FGV. Tais preços de referência advêm de estudos de viabilidade e de orçamentos de empreendimentos hidrelétricos que a EPE possui no seu banco de dados. Foram considerados empreendimentos similares, selecionados os parâmetros por meio de simulações individualizadas por serviço ou material, buscando-se aproximação das características do aproveitamento hidrelétrico Jirau.

163.Definidos os orçamentos de referência por serviço ou material, o SISORH calculou, para cada serviço ou material, o valor médio ponderado.

164.Obtidos os valores de referência do SISORH, a EPE aplicou procedimento para considerar em seu orçamento os benefícios fiscais concedidos pelo Governo possíveis de serem aplicados na implantação do AHE Jirau. Entre os incentivos, a EPE citou o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-estrutura – REIDI e o Decreto Lei nº 291/67 aplicado à Amazônia Ocidental (AM, AC, RO e RR). Para consideração dos incentivos fiscais, os tributos foram transformados em fatores de redução, visando a sua aplicação diretamente nos preços dos serviços:

‘Com base no exposto, dentro de uma linha conservadora, para os serviços das obras civis foi aplicado um fator de redução da ordem de 9,25%, correspondente a taxa tributária de PIS e COFINS. Adicionalmente, para o serviço armadura foi também aplicado o fator de redução de 5%, correspondente ao IPI que incide sobre os produtos siderúrgicos, especificamente aplicados aos aços de construção.’ (Relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0 – Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 102).

165.Avaliando esse procedimento, esta equipe entende que a redução concernente a PIS e COFINS está exagerada, tendo em vista as alíquotas respectivas, de 0,65% e 3%, referentes ao sistema cumulativo ainda aplicado às receitas decorrentes de obras de construção civil, conforme o inciso XX do artigo 10 e o inciso V do artigo 15 da Lei no 10.833/2003.

166.Instada a se pronunciar sobre o tema, a EPE, em 12/03/2008, asseverou haver contratado empresa de consultoria tributária, que teria ratificado o percentual redutor de 9,25% ‘sobre o preço cotado para aquisição dos bens e serviços’ no orçamento.

167.A tabela abaixo apresenta os preços unitários propostos pelo consórcio Odebrecht/Furnas e os adotados pela EPE no orçamento do estudo de otimização do AHE Jirau.

Tabela 2 – Comparação feita pela EPE entre preços unitários das OBRAS CIVIS.

Serviços-Un.-Preços unitários (R$, out/07)-Redução

--Estudo de Viabilidade-EPE-

Escavação comum-m³-10,90-8,95 -17,89%

Escavação em rocha a céu aberto-m³-25,74-20,46 -20,51%

Remoção a seco-m³-10,55-8,31 -21,23%

Limpeza de fundação-m²-109,77-84,84 -22,71%

Cimento-t-914,25-465,05 -49,13%

CCR-m³-110,86-65,97 -40,49%

Concreto estrutural-m³-403,18-217,85 -45,97%

Concreto massa-m³-227,76-96,48 -57,64%

Concreto projetado-m²-350,73-146,25 -58,30%

Armadura-t-8.733,87-3.919,36 -55,12%

Aterro compactado-m³-10,56-8,60 -18,56%

Transições lançada/compactada-m³-22,27-21,17 -4,94%

Enrocamento/ Rip rap-m³-13,47-9,89 -26,58%

Núcleo de argila-m³-15,26-9,28 -39,19%

Fonte: Relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0, fl. 9 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 103).

168.Avalia-se com reservas a metodologia aplicada pela EPE, haja vista: (i) caráter subjetivo para escolha dos preços de referência, ensejando risco de se utilizar para o cálculo do preço de comparação orçamentos não representativos ao objeto da análise; (ii) ausência de composição analítica dos serviços, detalhando a quantidade e preço dos insumos, limitando a confiabilidade dos preços adotados; e (iii) ausência de especificações técnicas dos serviços de obras civis.

169.No tocante à proposta de arranjo geral do empreendimento diferente do adotado no EVTE pelo consórcio Odebrecht/Furnas, a EPE desenvolveu estudos de otimização e apresentou sugestões de alterações significativas. As otimizações propostas contemplam modificação do arranjo geral do AHE Jirau, além de alterações nas estruturas dos vertedouros, tomada d’água e casa de força.

170.A tabela abaixo apresenta os quantitativos propostos no EVTE pelo consórcio desenvolvedor e os adotados pela EPE no orçamento do estudo de otimização do AHE Jirau.

Tabela 3 – Comparação feita pela EPE entre quantitativos das OBRAS CIVIS.

Serviços-Un.-Quantidades-Redução

--Estudo de Viabilidade-EPE-

Escavação comum-m³-13.084.450 -11.862.400 -9,34%

Escavação em rocha a céu aberto-m³-48.925.450 -31.752.700 -35,10%

Remoção a seco-m³-4.206.750 -8.621.800 --104,95%

Limpeza de fundação-m²-205.650 -150.400 -26,87%

Cimento-t-648.102 -510.608 -21,21%

CCR-m³-289.140 -175.200 -39,41%

Concreto estrutural-m³-2.094.630 -1.707.500 -18,48%

Concreto massa-m³-46.773 -16.070 -65,64%

Concreto projetado-m²-54.300 -47.700 -12,15%

Armadura-t-118.922 -100.162 -15,78%

Aterro compactado-m³-5.737.570 -5.191.000 -9,53%

Transições lançada-m³-173.900 -106.200 -38,93%

Transições compactada-m³-538.850 -355.300 -34,06%

Enrocamento/ Rip rap-m³-3.807.600 -1.651.900 -56,62%

Núcleo de argila-m³-269.450 ---100,00%

Fonte: Relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0, fl. 7 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 101).

171.Agrupando os dados referentes às tabelas 2 e 3, obtêm-se as reduções totais obtidas pelo estudo da EPE para os principais serviços de obras civis, conforme tabela a seguir.

Tabela 4 – Avaliação comparativa dos preços dos principais serviços de obras civis

Serviços-Un.-Estudo de Viabilidade-Otimização EPE-Redução

--Quantidade-Preço unitário (R$)-Preço total (R$ mil)-Quantidade-Preço unitário (R$)-Preço total (R$ mil)-

Escavação comum-m³-13.084.450 -10,90-142.620,51 -11.862.400 -8,95 -106.168,48 -25,56%

Escavação em rocha a céu aberto-m³-48.925.450 -25,74-1.259.341,08 -31.752.700 -20,46 -649.660,24 -48,41%

Remoção a seco-m³-4.206.750 -10,55-44.381,21 -8.621.800 -8,31 -71.647,16 --61,44%

Limpeza de fundação-m²-205.650 -109,77-22.574,20 -150.400 -84,84 -12.759,94 -43,48%

Cimento-t-648.102 -914,25-592.527,25 -510.608 -465,05 -237.458,25 -59,92%

CCR-m³-289.140 -110,86-32.054,06 -175.200 -65,97 -11.557,94 -63,94%

Concreto estrutural-m³-2.094.630 -403,18-844.512,92 -1.707.500 -217,85 -371.978,88 -55,95%

Concreto massa-m³-46.773 -227,76-10.653,02 -16.070 -96,48 -1.550,43 -85,45%

Concreto projetado-m²-54.300 -350,73-19.044,64 -47.700 -146,25 -6.976,13 -63,37%

Armadura-t-118.922 -8.733,87-1.038.649,29 -100.162 -3.919,36 -392.570,94 -62,20%

Aterro compactado-m³-5.737.570 -10,56-60.588,74 -5.191.000 -8,60 -44.642,60 -26,32%

Transições lançada/compactada-m³-712.750 -22,27-15.872,94 -461.500 -21,17 -9.769,96 -38,45%

Enrocamento/ Rip rap-m³-3.807.600 -13,47-51.288,37 -1.651.900 -9,89 -16.337,29 -68,15%

Núcleo de argila-m³-269.450 -15,26-4.111,81 ---9,28 ---100,00%

172.Considerando os estudos realizados, a EPE apresentou proposta de redução do preço total das obras civis do AHE Jirau, conforme tabela abaixo.

Tabela 5 – Resumo dos orçamentos, conforme EPE.

Atividade-Preços totais (R$ mil, out/07)-Redução

-Estudo de Viabilidade-EPE-

Obras civis-5.554.139,41-2.235.205,75-59,76%

Fonte: Relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0, fl. 17 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 111).

12.2 Metodologia de Avaliação da SECOB

12.2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

173.O estudo de viabilidade do AHE Jirau não contemplou especificações e composições dos serviços, o que dificultou sobremaneira a avaliação dos preços dos itens orçados.

174.Importante ressaltar que, no item 9.2 do Acórdão TCU 2138/07-Plenário, referente ao primeiro estágio do acompanhamento da outorga de Concessão de Uso de Bem Público destinado à exploração do AHE Santo Antônio, o TCU fez a seguinte recomendação à ANEEL, não atendida no presente caso:

‘... faça constar dos editais correspondentes o orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, contendo as especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, bem como as correspondentes composições de custos unitários’.

175.Assim, a análise foi desenvolvida com base nas precárias descrições dos itens de serviços contidOs no orçamento e em informações dos técnicos da EPE acerca da existência ou não de outros serviços auxiliares inclusos nos preços daqueles citados.

176.A amostra avaliada considerou itens que representam aproximadamente 84% do total de obras civis orçado pela EPE, ou seja, R$ 1.874.126.541,72, valor este considerado significativo para a análise em questão.

177.Além de análise dos preços unitários, procedeu-se à verificação relativa aos quantitativos dos serviços e materiais.

12.2.2.Cálculo dos preços e dos quantitativos

178.Realizou-se análise comparativa dos preços dos serviços otimizados pela EPE, correspondentes às contas ‘.11 - Estruturas e outras benfeitorias’ e ‘.12 - Reservatório, barragens e adutora’, descritos na tabela seguinte, utilizando-se, para isso, composições de custos unitários do Sinapi, Sicro2 e Dnocs, e o LDI descrito no Acórdão TCU 325/2007-Plenário e ajustado conforme procedimento relatado no item 0.

Tabela 6 – Itens de OBRAS CIVIS avaliados do orçamento otimizado pela EPE.

Serviços-Un.-Quantidade-Preço unitário (R$)-Preço total (R$ mil)

Escavação em rocha a céu aberto-m³-31.752.700 -20,46 -649.660

Armadura-t-100.162 -3.919,36 -392.571

Concreto estrutural-m³-1.707.500 -217,85 -371.979

Cimento-t-510.608 -465,05 -237.458

Escavação comum-m³-11.862.400 -8,95 -106.168

Remoção a seco-m³-8.621.800 -8,31 -71.647

Aterro compactado-m³-5.191.000 -8,60 -44.643

Total de itens avaliados das contas 11 e 12-1.874.127

Total das obras civis das contas 11 e 12-2.235.206

Amostra analisada-84%

179.Apesar da deficiência do estudo de viabilidade no detalhamento dos serviços, procurou-se, dentro dos sistemas orçamentários citados, escolher e adaptar composições de referência próximas à realidade da obra, de forma a possibilitar comparação com os preços orçados pela EPE. Tais composições estão detalhadas às folhas 3 a 15 do Anexo 2 do TC - 002.241/2008-9.

180.Por meio dos projetos disponibilizados no EVTE e nas suas adaptações, constantes nos relatórios da EPE, foram levantados, de forma expedita, os quantitativos de concreto e de escavação. Com base no orçamento, foram calculadas as taxas de cimento e armadura adotados. Os quantitativos levantados foram comparados com os indicados no estudo de otimização, e as taxas comparadas com as adotadas em outras usinas hidroelétricas.

181.Ainda no tocante aos quantitativos, observou-se, por meio do Relatório EPE-DEE-RE-042/2008-r0 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 11-30), que a EPE verificou a estabilidade das estruturas do AHE Jirau (flutuação, tombamento e deslizamento), mas não detalhou os resultados obtidos no Relatório. Questionada pela SECOB acerca da adequação do dimensionamento estrutural do EVTE, a EPE apresentou os coeficientes de segurança, os quais se apresentavam consideravelmente superiores aos limites usualmente adotados, e afirmou que ‘as principais dimensões das estruturas do Vertedouro e Tomada d’água/Casa de Força foram verificadas e são suficientes para resistir aos esforços solicitantes oriundos dos carregamentos atuantes conforme as recomendações e critérios de projeto da NBR-6118, de 30/03/2004’ (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 181-182). No entanto, apesar da ‘folga’ identificada por esta equipe da SECOB no dimensionamento das principais estruturas, a resposta da EPE concluiu categoricamente que ‘na análise da EPE não há superdimensionamento dos principais componentes das estruturas mencionadas’ (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 182).

182.Não obstante a afirmação da EPE, entende-se que o fato de os coeficientes de segurança apresentarem valores bastante acima dos normalmente utilizados (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 181-182) possibilitaria a redução do volume das estruturas principais do empreendimento, hipótese que poderá ser confirmada quando do detalhamento do projeto.

12.2.3.Cálculo do LDI

183.A EPE, ao utilizar o sistema de referência SISORH, considera os preços finais propostos pelos concessionários para projetos em nível de detalhamento correspondente a EVTE.

184.Na metodologia adotada nesta análise realizada na SECOB, que parte de um custo direto de referência, é necessário incluir-se uma parcela de LDI que, ao tempo em que remunera o investidor, faz frente aos gastos indiretos, como tributos, administração central, e outros.

185.Para a fixação do percentual de LDI, arrimou-se no item 9.2 do Acórdão 325/2007-P, que aprovou faixa referencial para o LDI de obras do setor elétrico, listando os seguintes valores médios:

Tabela 7 – Valores médios para composição de LDI.

DESCRIÇÃO-Média

Garantia-0,21%

Risco-0,97%

Despesas Financeiras-0,59%

Administração Central-4,07%

Lucro-6,90%

Tributos-7,65%

COFINS-3,00%

PIS-0,65%

ISS-3,62%

CPMF-0,38%

Fonte: Acórdão TCU 325/2007-Plenário.

186.O item ‘7 Fórmula do LDI’, do relatório desse mesmo Acórdão, descreveu a fórmula para o cálculo da taxa de LDI com base na incidência de cada um de seus componentes sobre os custos diretos:

‘(...)

Para o cálculo do LDI considera-se a seguinte fórmula:

onde AC = taxa de rateio da Administração Central;

DF = taxa das despesas financeiras;

R = taxa de risco, seguro e garantia do empreendimento;

I = taxa de tributos;

L = taxa de lucro.’

187.Para o caso concreto, são necessários alguns ajustes tendo em vista o que se segue:

- A Lei n° 11.488/2007, que cria o ‘Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura – REIDI’, conforme seus artigos 2°, 3° e 4°, suspendeu a exigência da contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre a prestação de serviços para implantação de obras de infra-estrutura nos setores de transportes, portos, energia, saneamento básico e irrigação;

- O Congresso Nacional, em fins do ano passado, deliberou pela interrupção da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF);

- O orçamento otimizado da EPE, em conformidade o manual ‘Instruções para estudos de viabilidade de aproveitamentos hidrelétricos’, editado em 1997 pelas Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás – e pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE –, previu, para cada conta, o item ‘EVENTUAIS’, que supriu a parcela de riscos decorrentes da imprecisão de um estudo de viabilidade.

188.Considerando as informações acima, deve-se eliminar, no cálculo do LDI, as parcelas referentes a PIS, COFINS, CPMF e Riscos. Assim, com a fórmula citada, chega-se ao LDI ajustado de 16,35%.

189.O valor encontrado, embora aparentemente baixo, se coaduna com o arranjo do orçamento apresentado, que já especifica, dentro da planilha de custos, parcelas relevantes como mobilização, canteiro, administração local e projetos. Estes itens foram agrupados na conta ‘.17 - Custos indiretos’.

12.3Resultados

190.Após a incidência do LDI ajustado sobre os custos dos serviços levantados das composições dos sistemas de referência, foram obtidos os preços para comparação com os calculados pela EPE. Esses valores de referência estão retratados nas composições de serviços às folhas 3 a 15 do Anexo 2 do TC - 002.241/2008-9.

191.Impende reiterar que a EPE, em sua avaliação, trabalha, não com custos, mas com preços, nos quais já está contemplada a parcela referente a LDI.

192.Da comparação, conforme a tabela abaixo, verificou-se que o valor otimizado pela EPE está coerente com as referências regionais de mercado.

Tabela 8 – Resultado da análise preços das OBRAS CIVIS.

SERVIÇOS-Un.-QUANTIDADE-PREÇO UNITÁRIO EPE COM INCENTIVOS FISCAIS (R$)-PREÇO UNITÁRIO ANÁLISE (R$)-Diferença

Escavação em rocha a céu aberto-m³-31.752.700 -20,46 -24,78--17%

Armadura-t-100.162 -3.919,36 -5.710,00--31%

Concreto estrutural-m³-1.707.500 -217,85 -205,68-6%

Cimento-t-510.608 -465,05 -477,20--3%

Escavação comum-m³-11.862.400 -8,95 -8,59-4%

Remoção a seco-m³-8.621.800 -8,31 -6,49-28%

Aterro compactado-m³-5.191.000 -8,60 -9,26--7%

Total de itens avaliados das contas 11 e 12 – Preço EPE (R$ mil)-1.874.127

Total de itens avaliados das contas 11 e 12 – Preço análise Secob (R$ mil)-2.159.540

DIFERENÇA VERIFICADA (SECOB - EPE) (R$ MIL)-(285.413)

Diferença percentual verificada--13%

193.Com relação aos quantitativos de concreto e escavação, os valores levantados pela equipe de auditoria mostraram-se aderentes aos apresentados pela EPE. As taxas de cimento e armadura adotados nos estudos de otimização estão dentro de faixa aceitável, tendo em vista tratar-se de Estudo de Viabilidade, cuja precisão dos cálculos estruturais é considerada baixa devido ao pouco detalhamento dos projetos: casa de força e tomada d’água – 300 kg de cimento e 60 kg de aço por m³ de concreto; vertedouro – 250 kg de cimento e 60 kg de aço por m³ de concreto.

194.Destarte, no tocante às obras civis, consideram-se adequados os valores estimados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

13.Preços dos Equipamentos

13.1. Metodologia de avaliação da EPE

195.Para a avaliação dos preços dos equipamentos propostos para o AHE Jirau, a Empresa de Pesquisa Energética efetuou comparação dos preços constantes do orçamento proposto pelo desenvolvedor com preços adotados em outros orçamentos de projetos que ela considerou apresentarem similaridade de concepção conforme parâmetros descritos no seu relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 104-110).

196.Todos os orçamentos em questão foram elaborados com base nos critérios e formatos do Orçamento Padrão Eletrobrás (OPE). A EPE valeu-se dos valores de totalização das respectivas contas para tal análise comparativa, corrigindo-os para dezembro/2006, pela aplicação do índice IGP-DI, publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nessa avaliação global de preços de equipamentos eletromecânicos, sua conclusão foi de que os valores propostos pelo empreendedor estão adequados, por estarem próximos da média encontrada nos empreendimentos referenciais selecionados.

197.Metodologia semelhante foi aplicada na avaliação específica de preços de turbinas e geradores, concluindo-se pela adequação dos preços FOB (free on board¸ ou sem o cômputo do valor do frete) propostos no EVTE do empreendedor.

198.Por outro lado, o percentual (8%) usado na estimativa dos preços de transporte e seguro de equipamentos foi considerado elevado. Nesse caso, a EPE adotou a taxa de 5%, condizente com o adotado noutros projetos de localização geográfica similar à do AHE Jirau. Os percentuais de montagem e teste dos equipamentos também foram avaliados pela EPE, tendo-se concluído por sua pertinência, ressalvando a taxa aplicada aos equipamentos de movimentação de carga, que foi reduzida de 12% para 10%.

199.Para os itens de ‘Eventuais’, a EPE alterou as taxas encontradas no OPE proposto, limitando-as em 8% sobre o subtotal de cada conta, ‘atendendo dessa forma o preconizado nas 'Instruções para Estudos de Viabilidade de Aproveitamentos Hidrelétricos'‘. Cabe ressaltar que essa limitação foi uma das recomendações feitas pelo TCU no Acórdão 2138/07-P, quando do acompanhamento do leilão do AHE Santo Antônio.

200.O estudo de otimização da EPE acarretou redimensionamento de alguns equipamentos e especificação de outros não previstos no projeto proposto pelo desenvolvedor, bem como na variação de alguns quantitativos anteriores. A determinação do preço desses equipamentos redimensionados ou propostos pela EPE foi feita pelo cálculo do produto dos seus pesos estimados pelo mesmo preço específico unitário (preço por unidade de peso do equipamento) proposto no orçamento do desenvolvedor constante do estudo de viabilidade para os mesmos equipamentos (caso de redimensionamento) ou para equipamentos similares (caso de equipamentos novos).

201.Embora a EPE tenha adotado a data-base de dezembro/2006 em seus estudos de conformidade dos preços propostos pelo desenvolvedor, seu OPE resultante do estudo de otimização está atualizado para outubro/2007. Os preços finais foram obtidos a partir da aplicação do IGP-DI aos valores ‘otimizados’ pela EPE.

202.No seu relatório a EPE declarou que não houve, após seu estudo de otimização, modificação significativa nas características das turbinas bulbo especificadas no projeto do desenvolvedor.

203.Entretanto, nesta análise efetuada na SECOB, entende-se que a comparação econômica quanto às alternativas com turbinas bulbo ou kaplan deveria ser melhor avaliada, haja vista ser aquela solução tecnológica ainda muito pouco empregada no Brasil, a despeito de ser a mais indicada pela literatura técnica especializada, bem como apontada pelo próprio

desenvolvedor em seu relatório de EVTE, para baixas quedas e vazões altas (caso do AHE Jirau).

204.Nesse sentido, em resposta a questionamentos feitos por esta equipe da SECOB (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fls. 183-184), a EPE declarou que descartou aprofundar os estudos para uma solução com turbinas kaplan vertical porquanto os seus estudos preliminares direcionaram ‘para um maior custo dessa solução em relação à solução Bulbo’. Os valores teriam sido calculados pela EPE com base nos pesos estimados para os equipamentos (turbinas e geradores) e nos ‘custos médios unitários de turbina e gerador adotados ‘ em outros empreendimentos, para unidades tipo Kaplan Vertical’.

205.Mesmo assim, nessa resposta a EPE confirmou que, ante a metodologia de cálculo empregada, para a potência total do empreendimento, os custos para as 44 unidades tipo bulbo seriam de R$ 1.985.701.960,00; já para 33 unidades tipo kaplan vertical o custo seria de R$ 2.275.102.950,00. Ou seja, estimou-se vantagem econômica, equivalente a cerca de 13% do valor de turbinas e geradores, quando adotado o tipo bulbo. Com base nestes dados produzidos pela EPE, o custo total para equipamentos de geração com unidades bulbo seria, então, menor, e não equivalente como consta no EVTE original e no relatório da EPE supracitado. Por conseqüência, obtendo-se referências de custos para unidades kaplan de porte similar, tais valores poderão se tornar balizadores para fins comparativos.

13.2.Metodologia de avaliação da SECOB

206.Considerando a dificuldade de obtenção de informações junto aos fornecedores, problema também verificado quando da recente apreciação da documentação relativa ao empreendimento do AHE Santo Antônio, a avaliação dos preços dos equipamentos foi realizada por comparação com os adotados noutros empreendimentos hidrelétricos. Todos os valores usados neste procedimento foram corrigidos para a data-base de outubro/2007, por meio da aplicação do IGP-DI.

207.Assim como feito pela EPE, buscou-se preliminarmente identificar empreendimentos que apresentassem similaridade de concepção com o AHE Jirau, de forma que a comparação seja válida. Foram adotadas inicialmente as mesmas premissas consideradas pela EPE, descritas no Relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0 e reproduzidas a seguir:

‘- As usinas devem ser de baixa queda;

- As turbinas adotadas devem ser do tipo Bulbo, ou do tipo Kaplan vertical com queda de até 30 m;

- A obtenção do preço FOB total dos equipamentos deve considerar as contas 12, 13, 14, 15 e o custo da conexão, dos orçamentos.’

208.Merece destaque neste estudo a premissa de que são comparáveis as turbinas bulbo e kaplan, fundamentada na declaração do consórcio desenvolvedor do EVTE de que os custos totais de ambas as alternativas, obtidos em consulta preliminar a quatro fabricantes (não identificados), são equivalentes no que se refere a turbina, gerador e equipamentos

associados. Tal afirmativa foi corroborada pela EPE no Relatório EPE-DEE-RE-043/2008-r0 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl.54).

209.Dada a elevada dispersão de valores observada na seleção feita com base apenas nas premissas acima, procurou-se refinar a amostra adicionando novas condições para os AHEs referenciais:

- OPEs os mais atuais possíveis;

- localização na região norte do país, para obter custos de transporte compatíveis;

- turbinas de potência unitária semelhante à prevista para o AHE Jirau.

210.Mediante esses critérios adicionais, e em função dos dados disponíveis, foram identificados três empreendimentos hidrelétricos com características adequadas para que fossem considerados referenciais: Estreito, Santa Isabel e São Salvador. Embora atendesse a todas as premissas, o AHE Santo Antônio não foi considerado para comparação, pois, assim como no caso do AHE Jirau, seu OPE foi otimizado pela EPE com base em EVTE elaborado pelo mesmo consórcio empreendedor.

211.Na tabela abaixo apresentam-se os dados dos AHEs que compõem a seleção realizada pela EPE e a adotada nesta análise. Para os empreendimentos inicialmente selecionados pela EPE, mas desconsiderados nesta análise, cita-se, na última coluna, em que critério ele não se enquadrou.

Tabela 9 – Seleção de AHEs para comparação dos preços de EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS.

AHE-UF-QUEDA (M)-Turbina-Potência instalada

(MW)-Data-base-SELEÇÃO EPE-SELEÇÃO DESTA ANÁLISE-Critério para desconsideração

---Quant.-Tipo-Potência (MW)-----

Jirau – EPE-RO-15,10-44-Bulbo-76,5-3.300-out-07---AHE em avaliação

Sto. Antônio – EPE-RO-13,90-44-Bulbo-71,6-3.150-dez-06-X--OPE elaborado pela EPE

Cambuci-RJ-7,30-2-Bulbo-25,0-50-dez-05-X--Baixa potência unitária, localização noutra região

Barra do Pomba-RJ-12,59-2-Kaplan-41,6-80-dez-05-X--Baixa potência unitária, localização noutra região

Baixo Iguaçu-PR-16,58-3-Kaplan-116,7-350-ago-04-X--Localização noutra região

Estreito-TO/MA-19,90-9-Kaplan-120,8-1.087-dez-01-X-X-

Capim Branco II-MG-43,40-3-Kaplan-70,0-210--

-X--Queda acima de 30m, localização noutra região

Sta. Isabel-TO/PA-26,20-8-Kaplan-137,8-1.080-ago-00-X-X-

Aimorés-MG-23,97-3-Kaplan-110,0-330-jun-98-X--Localização noutra região

São Salvador-TO/GO-22,60-4-Kaplan-80,0-241-mar-02--X-

13.3.Resultados

212.As planilhas orçamentárias elaboradas segundo o padrão da Eletrobrás adotam três contas que dizem respeito especificamente a equipamentos: ‘.13 – Turbinas e geradores’, ‘.14 – Equipamento elétrico acessório’ e ‘.15 – Diversos equipamentos da usina’. Estão contidos nessas contas, custos relativos a: montagens e testes, dispositivos e equipamentos auxiliares, transporte e seguro. Na presente comparação, o preço relativo ao ‘Total de Equipamentos’ do AHE referir-se-á ao somatório de todos esses itens e mais a parcela de equipamentos da conta ‘.12 – Reservatório, barragens e adutoras’.

213.A tabela abaixo resume a comparação entre os preços dos equipamentos relativos ao AHE Jirau e aos empreendimentos da amostra selecionada. Os dados originais pesquisados podem ser encontrados no Anexo 2 do TC - 002.241/2008-9, fl. 16.

Tabela 10 – Resultados da análise de preços de EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS.

AHE-Preços na data-base de outubro/2007 (R$ mil)-Relação preço/potência instalada (R$ mil/MW)

-Conta .12 (só equipamentos)-Conta .13-Conta .14-Conta .15-Conta .13-Contas .12equip + .14 + .15-Total equipamentos

Jirau – EPE-359.931-2.924.516-359.016-371.429-886-330-1.217

Estreito-227.469-911.469-154.795-31.628-839-381-1.219

São Salvador-37.365-186.128-40.704-10.100-776-367-1.143

Santa Isabel-90.194-758.178-139.290-36.840-702-247-949

MÉDIA (sem Jirau)-772-332-1.104

DIFERENÇA (Jirau – MÉDIA)-114--1-113

Economia percentual estimada-15%-0%-10%

214.Para comparação entre os diversos aproveitamentos hidrelétricos, foi empregada a relação preço/potência instalada, um parâmetro simples e eficaz que produz resultados coerentes.

215.Pelos dados da tabela acima, percebe-se que a relação preço/potência instalada calculada para a conta ‘.13’ do AHE Jirau (R$ 886 mil/MW) está 15% acima da média obtida com os três empreendimentos referenciais, de R$ 772 mil/MW. Observa-se, inclusive, que o valor de Jirau é superior a todos os demais. Esta conta engloba turbinas, geradores e equipamentos associados.

216.Já para os demais equipamentos eletromecânicos, o valor do AHE Jirau (R$ 330 mil/MW) é praticamente idêntico à média de referência (R$ 332 mil/MW).

217.Considerando a totalidade dos equipamentos, verifica-se uma diferença de 10% entre a relação preço/potência instalada referente ao AHE Jirau (R$ 1.217 mil/MW) e a média dos demais aproveitamentos hidrelétricos (R$ 1.104 mil/MW), sendo a primeira maior.

218.Duas importantes conclusões advêm da análise realizada: considera-se superestimado o preço total dos equipamentos do AHE Jirau, principalmente os constantes na conta ‘.13’.

219.Em termos monetários, a adequação do orçamento de equipamentos à média praticada nos AHEs referenciais corresponderia a uma economia de R$ 113 mil/MW gerado, ou, considerando os 3.300 MW de potência instalada da usina de Jirau, seria alcançada uma redução em torno de R$ 372,9 milhões (a valores de outubro/2007) para o total de equipamentos eletromecânicos.

220.Dado o valor significativo da superestimativa de preços, considera-se necessário determinar à EPE a revisão dos preços dos equipamentos eletromecânicos, de forma a adequá-los à relação preço/potência instalada média praticada nos empreendimentos de concepção e localização similares ao AHE Jirau, verificando especialmente os preços da conta ‘.13’.

221.Deve-se lembrar que a análise de preços de equipamentos partiu da premissa de que os preços das soluções em turbinas bulbo ou kaplan seriam equivalentes, conforme descrito anteriormente. Portanto, a conclusão obtida seria a mesma caso, no projeto do AHE Jirau, houvesse sido adotado o tipo kaplan. Ou seja, não se questiona neste ponto o tipo de turbina, mas o preço indicado no OPE.

14.Custos indiretos

222.A conta ‘.17’ do OPE, ‘Custos indiretos’, foi subdividida nas subcontas ‘.17.21 – Canteiro e acampamento’ e .’17.22 – Engenharia e administração do proprietário’, que, por sua vez, possuem outras subdivisões, além do item ‘.17.27 – Eventuais da conta .17’. No EVTE original, elaborado pelo consórcio empreendedor, os preços que compõem a

subconta ‘.17.21’ estão em valores globais absolutos, enquanto que os da subconta ‘.17.22’ são percentuais aplicados ao ‘Custo direto total’ (CDT) do empreendimento.

223.Os valores presentes no OPE decorrente da otimização realizada pela EPE correspondem à atualização, pelo IGP-DI, dos valores absolutos da subconta ‘.17.21’ e à aplicação dos percentuais da subconta ‘.17.22’ ao novo CDT. Nos estudos da EPE, não se encontrou uma avaliação crítica dos preços apresentados pelo empreendedor, mas apenas um comentário no item 2.3 do relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0 (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 111) quanto ao percentual que a conta ‘.17’ representaria em função do ‘Custo direto total’: 16,83% no OPE original e 16,90% no da EPE.

224.Todavia, o percentual indicado para o orçamento da EPE foi determinado em função do ‘Custo total (direto + indireto)’. Quando calculado com relação ao CDT, no intuito de uniformizar os dados comparados, essa taxa equivale a 21,6%, bem superior aos 16,83% do orçamento original.

225.Procedeu-se, então, à análise da adequação dos preços que compõem a conta ‘.17’ do orçamento da EPE. Inicialmente, foram calculados os percentuais que cada subconta representa com relação ao ‘Custo direto total’ do empreendimento. Em seguida esses valores foram comparados com seus correlatos obtidos em OPEs de outros AHEs da região norte.

226.Como resultado, observou-se divergência considerável de valores entre o OPE do AHE Jirau apresentado pela EPE e os demais OPEs tomados como referência. Na tabela comparativa abaixo, percebe-se, em especial, que a subconta ‘.17.21 – Canteiro e acampamento’ aparenta estar superestimada, pois representa 13,8% do Custo Direto Total, enquanto que a média dos outros quatro AHEs está em 6,0%.

Tabela 11 - Avaliação comparativa dos CUSTOS INDIRETOS - Conta .17 (preços em R$ mil, na data-base indicada)

AHE-Jirau - EPE-Percentual relativo ao CDT-Jirau -

Aprovado ANEEL-Percentual relativo ao CDT-Estreito-Percentual relativo ao CDT-Sta. Isabel-Percentual relativo ao CDT-São Salvador-Percentual relativo ao CDT--MÉDIA

(sem Jirau)-DIFERENÇA

(Jirau - MÉDIA)

Data-base do OPE-out/07--dez/05--dez/01--ago/00--dez/00----

Potência instalada (MW)-3300--3300--1087--1080--241----

UF-RO--RO--TO/MA--TO--TO----

--------------

CDT-CUSTO DIRETO TOTAL-7.185.137,73--9.934.003,34--1.608.019,54--1.233.113,49--338.818,10----

--------------

.17-CUSTOS INDIRETOS-1.549.514,51-21,6%-1.672.064,61-16,8%-274.890,94-17,1%-212.551,62-17,2%-56.193,80-16,6%--17,0%-4,6%

.17.21-CANTEIRO E ACAMPAMENTO-992.849,68-13,8%-909.117,53-9,2%-104.521,27-6,5%-80.152,38-6,5%-16.940,90-5,0%--6,0%-7,8%

.17.21.38-CONSTRUÇÕES DO CANTEIRO E ACAMPAMENTO-673.938,56-9,4%-617.103,34-6,2%-64.320,78-4,0%-49.324,54-4,0%-8.470,45-2,5%--3,5%-5,9%

.17.21.39-MANUTENÇÃO E OPERAÇÃO DO CANTEIRO E ACAMPAMENTO-318.911,12-4,4%-292.014,19-2,9%-40.200,49-2,5%-30.827,84-2,5%-8.470,45-2,5%--2,5%-1,9%

.17.22-ENGENHARIA E ADMINISTRAÇÃO DO PROPRIETÁRIO-441.885,97-6,2%-610.941,21-6,2%-133.465,62-8,3%-112.179,55-9,1%-33.831,81-10,0%--9,1%--3,0%

.17.22.40-ENGENHARIA (% do custo direto total)-298.183,22-4,2%-412.261,14-4,2%-85.225,04-5,3%-65.355,01-5,3%-16.890,91-5,0%--5,2%--1,0%

.17.22.40.36-Engenharia Básica e Assistência Técnica-269.442,66-3,8%-372.525,13-3,8%-72.360,88-4,5%-55.490,11-4,5%-13.552,72-4,0%--4,3%--0,6%

.17.22.40.37-Serviços Especiais de Engenharia-28.740,55-0,4%-39.736,01-0,4%-12.864,16-0,8%-9.864,91-0,8%-3.338,18-1,0%--0,9%--0,5%

.17.22.41-ADMINISTRAÇÃO DO PROPRIETÁRIO-143.702,75-2,0%-198.680,07-2,0%-48.240,59-3,0%-46.824,54-3,8%-16.940,91-5,0%--3,9%--1,9%

.17.27-EVENTUAIS DA CONTA .17-114.778,85-1,6%-152.005,87-1,5%-36.904,05-2,3%-20.219,68-1,6%-5.421,09-1,6%--1,8%--0,2%

Fonte: OPEs dos Estudos de Viabilidade dos empreendimentos considerados.

227.Observou-se, portanto, que o procedimento adotado pela EPE, de corrigir preços absolutos pelo IGP-DI, maximizou uma distorção em termos percentuais em relação ao CDT, aumentando taxas já acima da média praticada para outros AHEs localizados na mesma região do país. Portanto, existe uma possibilidade de redução de custos de aproximadamente R$ 561,7 milhões na subconta ‘.17.21 – Canteiro e acampamento’. Considerando o montante de toda a conta ‘.17’, a economia estimada se reduz para cerca de R$ 330,0 milhões.

228.Instada a se manifestar sobre a análise acima, a EPE citou possíveis explicações para um maior valor da subconta ‘.17.21’ do AHE Jirau: empreendimentos do porte do AHE Jirau exigiriam um canteiro mais amplo, em face da grande extensão do barramento, a instalação de atracadores/portos de apoio nas margens do rio e a utilização de chatas flutuantes e lanchas empurradoras, visando atender a necessária travessia entre as margens do rio, operação indispensável à viabilização do transporte de máquinas, materiais e mesmo de pessoal, para o cumprimento das metas construtivas impostas pelo cronograma de obras (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9 , fl. 190).

229.Mais adiante na sua manifestação, a EPE apresentou duas faixas distintas de percentuais de ‘Custos indiretos’ em relação ao ‘Custo direto total’ empreendimentos hidrelétricos (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 191):

‘1-Para empreendimentos que exigem grandes canteiros de obras, às vezes até com instalações industriais adicionais, bem como, os situados na região Amazônica, as incidências percentuais do Custo Indiretos em relação ao CDT variam entre 15% e 25%, dependendo do porte da obra, da maior ou menor necessidade de mobilização e conseqüente desmobilização de máquinas e mão-de-obra, como também do tempo de construção.

2 -Para empreendimentos cujo arranjo geral das estruturas tem sua concepção mais concentrada, na maioria dos casos se limitando a implantação de um único canteiro de obras e gerando distâncias de transporte interna menores, as incidências aplicadas aos Custos Indiretos variam ente 10% e 20% do CDT.’

230.Ao se analisar as informações trazidas pela EPE, considera-se razoável sua afirmação de que uma obra de grande porte como o AHE Jirau necessita de canteiro mais amplo. Também não se contesta a implementação de um serviço de transporte entre as margens. Todavia, há que se observar que uma obra de grande porte possui maior ‘Custo direto total’ e que um percentual aplicado a um valor maior produz resultado maior. Ou seja, sem alterar o percentual de ‘Custos indiretos’, seu valor absoluto cresce na mesma proporção em que aumenta o CDT da obra.

231.Para que se justificasse a elevação do preço relativo atribuído à subconta ‘.17.21’ seria imprescindível que ela estivesse decomposta em quantidades de serviços unitários propriamente especificados, o que não é o caso. Isso ratifica a já mencionada necessidade de orçamento detalhado, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos adequadamente avaliados.

232.Quanto às faixas de percentuais em que se situariam os ‘Custos indiretos’ de empreendimentos hidrelétricos, os valores apresentados pela EPE foram obtidos ‘com base nas informações disponíveis na EPE’. Como os dados que fundamentaram tais faixas não foram fornecidos, não foi possível avaliar sua pertinência.

233.Diante do exposto, conclui-se pela necessidade de determinação de preços mais adequados para a conta de ‘Custos indiretos’ do AHE Jirau, em especial para as subcontas ‘.17.21.38’ e ‘.17.21.39’.

15.Preços de Conexão

234.A EPE apresentou à SECOB, em 07/02/2008, o relatório EPE-DE-RE-036/2008-r0, que tratou da descrição e dos custos de conexão presentes no Sistema de Transmissão associado ao AHE Jirau.

235.A abordagem adotada pela EPE para a determinação dos custos de conexão do AHE Jirau difere significativamente daquela que foi adotada para o AHE Santo Antônio, apesar da semelhança das especificações técnicas, já que ambas as instalações contarão com linhas de transmissão de 500 kV, sendo, no caso do AHE Jirau, 3 linhas com extensão de 105 km cada. No AHE Santo Antônio apenas 2 linhas, de 5 km cada, foram necessárias.

236.Comparando-se as metodologias de cálculo para os custos de conexão, observa-se que aquela definida para o AHE Santo Antônio foi menos precisa do que a proposta para o AHE Jirau. No entanto, para ambos AHEs, a EPE admitiu como referência os custos modulares constantes do ‘Banco de Dados da Eletrobrás’ (data-base junho/2004).

237.Para o AHE Santo Antônio, a EPE atualizou os preços da Eletrobrás até a data-base do orçamento (dezembro/2006), por meio da aplicação direta do índice IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas- FGV, adicionando, ao final, um incremento a título de ‘custos ambientais adicionais admitidos’, correspondente a 1,5% do preço total. Essa metodologia foi apresentada na planilha de custos do item ‘m’ do Ofício nº 1500/2007 - EPE/DEE, de 26/09/2007, em resposta à solicitação feita à época pela SECOB, objetivando um maior detalhamento dos custos de conexão daquele AHE. Registra-se que caso essa mesma metodologia fosse aplicada também para o AHE Jirau, o custo final deste seria quase 22% superior ao determinado no relatório EPE-DE-RE-036/2008-r0, apresentado à SECOB. Dessa forma, há um indicativo de evolução metodológica por parte da EPE, que permitiu otimizar os custos de conexão para o AHE Jirau.

238.Apesar de a metodologia definida para o AHE Jirau resultar em custos mais otimizados, a mesma se apresentou pouco detalhada no relatório apresentado pela EPE, dificultando sua reprodução, o que resultou em alguns questionamentos por parte da SECOB.

239.O primeiro questionamento referiu-se à necessidade de reconhecimento, pela ANEEL, do Banco de Dados da Eletrobrás como referência de custos. Em resposta, a EPE afirmou que ‘o método utilizado para a determinação do custo da conexão se baseia naquele utilizado pela ANEEL, ou seja, determinar os custos dos equipamentos e linhas de acordo com o banco de dados de custos da ELETROBRÀS Jun/2004 e atualizados de acordo com a variação do dólar e do IGPM’ (Anexo 1 do TC - 002.241/2008-9, fl. 191). A EPE informou também que ‘esses custos são compatíveis com aqueles utilizados nos leilões’ e que, em comparação com os resultados do leilão de transmissão de 2005, os custos da Eletrobrás estariam apenas 10% superiores aos das propostas vencedoras do leilão.

240.Rebatendo tal afirmativa, apresentam-se algumas informações mais recentes, referentes aos resultados do Leilão no 004/2007-ANEEL para ‘Outorga de Concessão para a

Prestação de Serviço Público de Transmissão de Energia Elétrica’, para construção, operação e manutenção desse tipo de instalações, por um período de 30 anos.

241.De acordo com o ‘Relatório do Resultado Final do Leilão’ (Anexo 2 do TC - 002.241/2008-9, fls. 17-22), assinado pela Comissão Especial de Licitação e publicado no site da ANEEL, os lotes A (entre os Estados do Tocantins e do Piauí) e B (entre os Estados do Piauí e do Ceará) podem ser utilizados como referência, pois representam linhas de transmissão de 500kV com distâncias totais de 720 km e 400km, respectivamente. O deságio em relação à Receita Anual Permitida, que visa remunerar, além das obras, as despesas com operação e manutenção, para os lotes A e B foi de 56,60 e 56,86%, respectivamente. A propósito, o menor deságio obtido em todos os 7 lotes do leilão foi de 40,00%, referente a um trecho de 110km (extensão muito próxima à projetada para o AHE Jirau), em 230kV, na região nordeste. Tais informações oferecem fortes indicativos de que a metodologia adotada pela ANEEL (com referência no banco de dados da Eletrobrás), utilizada também pela EPE para o AHE Jirau, pode estar superestimando os investimentos necessários em linhas de transmissão.

242.Apesar dos recentes resultados, a metodologia apresentada no relatório EPE-DE-RE-036/2008-r0 adotou como referência os preços dos equipamentos da conexão da Eletrobrás (junho/2004), obedecendo à seguinte seqüência de atividades:

a) definição dos percentuais de componentes nacionais e importados para cada ‘módulo’ (serviço e material) da conexão elétrica, de acordo com as informações da Nota Técnica no 104/2005-SCT/ANEEL, de 20/06/2005;

b) atualização dos custos unitários de referência, em R$, para a data-base outubro/2007, considerando o índice IGP-M/ FGV (variação adotada de +17,9%) para os componentes nacionais e a taxa de câmbio do dólar (US$ 1,000=R$1,744) para os componentes importados;

c) determinação dos custos unitários em US$, aplicando-se a cotação de junho/2004 (US$ 1,000=R$3,140), obtendo-se US$192.900/km para ‘LT 500kV’; US$755.740/unid. para ‘IB 500kV’; e US$2.050.990/unid. para ‘Vão de linha 500kV-DJM’;

d) determinação dos custos totais por módulo (custos unitários multiplicados pelos quantitativos), a ‘valor presente’ no ano de 2013, em US$, por meio da aplicação de uma taxa de desconto de 11%;

e) fixação do valor do ‘investimento’, para cada módulo, desprezando-se o cálculo do ‘valor presente’ efetuado no item anterior, posto que foram desconsiderados os ‘anos de referência’ para o desembolso dos investimentos (2013 para o 1o circuito, 2014 para o 2 o circuito e 2015 para o 3o circuito).

243.Um ponto que não foi adequadamente esclarecido pela EPE foi o cálculo final dos ‘investimentos’, presente na planilha enviada à SECOB. A pergunta enviada pela SECOB em 11/03/2008, foi: ‘Por que a coluna ‘investimentos’ (milhões de R$) traz os maiores valores calculados na coluna ‘valor presente 2013’ (milhões de R$)?’ [grifo acrescido].

244.Em resposta, a EPE se limitou a informar que ‘a coluna Investimentos (milhões R$) equivale à soma simples das parcelas de desembolsos anuais de 2013, 2014 e 2015, sem atualizações e sem ano de referência’ [grifos acrescidos]. Observa-se que a EPE informou como era composto o total da coluna ‘investimentos’, mas não justificou o porquê dessa decisão. Dessa forma, observa-se que o cálculo do custo a ‘valor presente’ (em 2013) foi ignorado, desconsiderando-se que os investimentos não serão concentrados no ano de 2013, mas sim parcelados ao longo de 3 anos, conforme informação contida na página 7 do relatório EPE-DE-RE-036/2008-r0. Ressalta-se que, no orçamento final, a data-base deve ser outubro/2007 para todos os itens, incluindo os custos de Conexão. Ao proceder de maneira divergente, prevendo um custo em 2007 que se realizará somente entre 5 e 7 anos no futuro, a EPE desconsidera na análise os ganhos acima da inflação relativos às aplicações financeiras dos recursos previstos no orçamento. Portanto, a diferença entre as colunas ‘valor presente 2013’ e ‘investimento’ indica um aumento de custo da ordem de R$ 20,58 milhões.

245.Por fim, na resposta à SECOB de 17/03/2008, a EPE informou que ‘novos custos foram publicados mais recentemente: Eletrobras 2006, e ANEEL resolução 181 e estão sendo usados na segunda etapa dos estudos do Madeira para elaboração do relatório R1’. Segundo a EPE, a aplicação dos custos provenientes da ‘Resolução 181’ da ANEEL somente sobre o item ‘linhas de transmissão’ já resultaria em uma redução da ordem de 5,7% no valor total da verba destinada às obras de conexão, o que configura uma economia de R$ 12,31 milhões no custo do empreendimento.

16.Preço do ‘Sistema Complementar Interceptor de Corpos Flutuantes’

246.A análise empreendida na SECOB, tendo como base o orçamento otimizado pela EPE, procurou identificar itens do orçamento cujos custos mostravam-se relevantes. Nesse sentido, chamou atenção a verba destinada ao denominado ‘Sistema Complementar Interceptor de Corpos Flutuantes’ (item ‘.12.19.30.30’ do OPE), cujo montante global alcançava R$ 142.158.600,00. É importante frisar que tal valor corresponde a quase 43% do custo total dos equipamentos eletromecânicos de toda a conta 12 do OPE (‘Reservatório, Barragens e Adutoras’) e também a quase 2% do Custo Direto Total do AHE.

247.O orçamento apresentado pela EPE já prevê, em sua composição, um montante superior a R$ 44 milhões para as grades, a fim de proteger as turbinas contra a entrada de corpos flutuantes diversos. Além disso, prevê-se um montante de quase R$ 2 milhões para o equipamento denominado ‘Limpa-grades/Pesca Troncos’, que removerá os corpos presos nas grades, e que não existia no orçamento do EVTE. Observa-se que a verba destinada ao ‘Sistema Complementar’ é 3 vezes superior ao total destinado à aquisição de todas as grades da UHE e equivalente a 74 vezes o custo com os ‘Limpa-grades/Pesca Troncos’.

248.Cumpre destacar que o problema de transporte de corpos flutuantes no rio Madeira é complexo e fora abordado nos Estudos Ambientais do EVTE, que destaca como justificativa para os Programas Ambientais de desmatamento, a ‘necessidade de limpeza de parte da vegetação do reservatório, objetivando minimizar o comprometimento do material em decomposição, bem como a presença de troncos e galhos junto ao barramento’ [grifos

acrescidos]. Tais procedimentos, de fato, tendem a reduzir a presença de corpos vegetais flutuantes junto ao barramento, porém não impedem a acumulação daqueles corpos captados ao longo dos mais de 973mil km2 da área de drenagem a montante do eixo do AHE Jirau. Registra-se que a verba destinada ao ‘Sistema Complementar’ corresponde a cerca de 20% do total de toda a Conta 10 do OPE (‘Terrenos, relocações e outras ações sócio-ambientais’).

249.Apesar da expressiva verba destinada ao sistema, apenas o item 14.4.9 do EVTE o descreve:

‘No arranjo ora apresentado não está incluída a localização nem a indicação de detalhes de um possível sistema complementar de interceptação de corpos flutuantes (...).

Em virtude de não se dispor, nesta fase dos estudos, de elementos suficientes para uma adequada caracterização dos requisitos técnicos a serem atendidos pelo projeto de um tal sistema específico para o AHE Jirau, na composição do orçamento do empreendimento (OPE) foi prevista uma verba para atender a essa rubrica. Essa verba foi estimada com base numa concepção preliminar, bastante simplificada, de dispositivos flutuantes interceptadores, compatíveis com as dimensões aproximadas do vale do rio Madeira no local e ao posicionamento das estruturas no arranjo do aproveitamento, além de uma margem de folga para compensar as imprecisões e incertezas da própria estimativa.’ [grifos acrescidos]

250.Em reunião realizada no TCU em 10/03/2008, os representantes da EPE informaram que o Sistema Complementar a ser implementado no rio Madeira seria mais complexo do que o implantado no reservatório da UHE Tucuruí, no rio Tocantins. Segundo os técnicos, o sistema de Log Boom (barreira flutuante) não se mostrou eficiente naquele AHE, pois não conseguiu reter corpos que desciam o rio de forma semi-submersa e, por este motivo, no rio Madeira prevê-se o uso de ‘lanchas-empurradoras’ e de obras civis para o píer de atracação. Os técnicos da EPE não souberam informar acerca da composição de custos do sistema presente no OPE final.

251.Diante do exposto, observa-se que o sistema não apresenta qualquer descrição que permita uma avaliação, ainda que expedita, acerca da adequação da verba principal. No entanto, na análise da planilha da EPE, além da ‘margem de folga’ inerente à verba principal, é previsto um acréscimo de 8% referente aos ‘Eventuais’, o qual incide sobre os R$ 142 milhões. Diante da injustificada dupla incidência de ‘margem de folga’ e ‘eventuais’ para o custo do sistema, propõe-se a eliminação dos 8%, o que corresponde a uma redução de R$ 11,37 milhões.

17.Análise do dimensionamento do vertedouro do AHE Jirau

252.Na avaliação técnico-orçamentária realizada pela EPE, objetivando otimizar o EVTE do AHE Santo Antônio, os critérios para determinação da cheia de projeto do vertedouro já haviam sofrido uma série de questionamentos. Na presente avaliação do AHE Jirau, a EPE volta ao tema, no item 2.1.1 do Relatório EPE-DEE-RE-043/2008-r0 (Anexo 1 do TC – 002.241/2008-9, fl. 39):

‘O estudo de vazões extremas elaborado para o dimensionamento do vertedouro da UHE Jirau nos Estudos de Viabilidade considerou, além do ajuste por meio de métodos tradicionais (Gumbel e Exponencial de dois parâmetros), um intervalo de confiança de 95%, o que conduz a um acréscimo da cheia de projeto da ordem de 15%.

Além da aplicação do intervalo de confiança de 95%, foi aplicado ainda o critério de Füller para correção da vazão diária em instantânea, que resulta em novo incremento da ordem de aproximadamente 4%. Tal aplicação não parece justificável dada as dimensões da bacia, 972.000 km2, e forma da calha do rio.’ [grifo acrescido]

253.No seu relatório, a EPE informa: ‘considerando que a vazão decamilenar do Estudo de Viabilidade foi fixada na Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH) expedida pela Agência Nacional de Águas – ANA, a EPE manteve para o dimensionamento do Vertedouro a vazão de 82.600 m³/s’.

254.Em primeiro lugar, ressalta-se que a lista de documentos exigidas pela Resolução ANA nº 131/2003 para análise e emissão da DRDH não inclui a apresentação do orçamento da obra. Assim sendo, observa-se que as análises realizadas pela ANA se atêm exclusivamente aos aspectos de bom uso dos recursos hídricos, não se preocupando, direta ou indiretamente, com o custo do empreendimento.

255.No caso do AHE Jirau, a ANA, por solicitação da ANEEL, expediu, em 19/12/2006, a Resolução nº 555, contendo a DRDH do AHE Jirau. Dentre as exigências da DRDH figura que ‘o futuro outorgado deverá implantar e manter estações de monitoramento e reportar os dados monitorados regularmente à ANA’ e, no tocante a prevenção de cheias, que ‘o nível d’água normal do reservatório deverá variar acompanhando as condições naturais do rio Madeira, observando a curva-guia abaixo, avaliada anualmente (...)’ [grifos acrescidos]. A citada ‘curva-guia’, foi uma recomendação do EVTE e preconiza um rebaixamento de até 7,50m no nível d’água normal do reservatório de Jirau na época de cheias, de forma a evitar uma sobrelevação de níveis do rio que venha a afetar o território boliviano. A DRDH informa ainda que a transformação em Outorga definitiva está condicionada à apresentação do Projeto Básico do AHE. Entende-se, portanto, que a apresentação de uma hidrologia otimizada na fase pós-licitação, desde que fundamentada por estudos de custo-benefício, pode eliminar as majorações excessivas da fase de EVTE e ser aceita pela ANA.

256.Na análise do estudo de vazões extremas constante do EVTE, a ANA, conforme Nota Técnica n.º 100/2006/GEREG/SOF, considerou o valor máximo calculado para dimensionamento do vertedouro por entender ser favorável à segurança, visto que está acima das cheias decamilenares, conforme segue:

‘57. Para fins desta Nota Técnica, as vazões máximas anuais foram verificadas por meio de ajustes da série de 34 vazões máximas anuais observadas no posto Porto Velho, obtidas no sistema HIDRO, no período de 1968 a 2004, às distribuições exponencial e Gumbel. Como resultado, a Tabela 10 mostra que os valores adotados no EVI para dimensionamento dos vertedores estão acima das cheias decamilenares, devido à majoração para um intervalo de

confiança de 5%, em favor da segurança, podendo ser considerado adequado.’ [grifos acrescidos]

257.Os cálculos empreendidos pela ANA, demonstraram valores inferiores aos calculados pelo EVTE. Para a cheia de recorrência decamilenar, o valor do EVTE para o local de Jirau, mesmo descontando as majorações, é de 69.340m3/s, ainda superior ao valor calculado pela ANA para a mesma distribuição de probabilidades de Gumbel, que foi de 67.710m3/s.

258.Portanto, avalia-se que a majoração da vazão do EVTE devido ao ‘intervalo de confiança de 95%’ foi arbitrária e desnecessária, já que, avaliando os graus de aderência obtidos entre cada distribuição de probabilidade e as amostras no teste de Kolmogorov-Smirnov, o EVTE concluiu:

‘A aplicação do teste, resumida na Tabela 7.41, indicou que para todas as séries de vazões analisadas, a hipótese de adequação de ajuste (D2 < D2 crítico) é aceita para nível de significância de 5 %’. [grifos acrescidos]

259.O EVTE também admite a arbitrariedade da aplicação do coeficiente de Füller, conforme trecho destacado a seguir:

‘Como a bacia hidrográfica do rio Madeira em Porto Velho tem uma área de drenagem significativa, cerca de 988.997 km2, não se espera que ocorram grandes diferenças entre as máximas vazões médias diárias e as máximas vazões instantâneas no mesmo dia. Entretanto, optou-se, conservadoramente, por majorar os valores obtidos pela aplicação da equação de Fuller’. [grifos acrescidos]

260.A confirmação de uma operação cuidadosa do reservatório do AHE Jirau, amparada por sistemas de previsão de afluências em tempo real e pelo rebaixamento do reservatório seguindo a curva-guia, adiciona um fator de segurança que não fora previsto nos cálculos do EVTE, qual seja, a possibilidade de abatimento do pico de cheia pelo amortecimento natural da onda no reservatório. Em resumo, a vazão adotada para projeto do vertedouro no EVTE do AHE Jirau, e que foram mantidos pela ANA na DRDH e pela EPE em seu estudo de otimização, está claramente superestimada.

261.De todo o exposto, em respeito ao princípio da economicidade, recomenda-se a adequação da vazão de projeto do vertedouro, eliminando as majorações indevidas e adotando-se como referência o valor calculado pela ANA para a vazão de recorrência decamilenar, de 67.710 m³/s, a qual promove um abatimento de 18% na vazão de projeto do vertedouro. A vazão decamilenar deverá ser confirmada por meio do aprofundamento dos estudos hidrológicos do Projeto Básico, com a atualização da série hidrológica até 2007. Os estudos hidrológicos otimizados servirão de base para a proposição da vazão de projeto do vertedouro à ANA, visando a emissão da Outorga definitiva.

262.Sobre os benefícios da proposta da SECOB, estima-se uma redução de mais 2 vãos do vertedouro, além daqueles 2 já excluídos pela EPE. Tal estimativa de redução é segura, pois foram utilizados critérios de operação hidráulica bastante conservadores, como a

interrupção de 9 unidades geradoras (número máximo de comportas ensecadeiras disponíveis para as 44 disponíveis) no momento de passagem do pico da cheia, o que aumentaria a vazão que passa pelo vertedouro.

263.A respeito da carga parcial sobre a soleira do vertedouro, mantida pela EPE na sua otimização, a decisão sobre seu uso foi assim justificada pelo EVTE: ‘A carga hidráulica de projeto é igual a 16,50 m, deliberadamente inferior à máxima de funcionamento, de modo a se poder contar com maiores coeficientes de vazão durante eventos hidrológicos excepcionais’ [grifo acrescido]. Apesar da possibilidade real da carga máxima chegar a 22,00m, o estudo da SECOB também manteve a carga de projeto de 16,50m, a favor da segurança. Para essa carga hidráulica, o coeficiente de vazão do vertedouro afogado foi mantido em 2,11 (adimensional), conforme calculado pela EPE.

264.A recomendação aqui proposta reduziria o número total de vãos do vertedouro para 17 (dezessete), promovendo redução proporcional, estimada em R$ 97,35 milhões, nos custos da obra.

18.Precisão necessária à apropriação dos custos do investimento para licitação de concessão de uso de bem público para geração de energia elétrica

265.Conforme visto ao longo das análises empreendidas na SECOB, é fato que, em virtude do baixo nível de precisão nas especificações, dimensionamento e orçamento, os EVTEs dos aproveitamentos hidrelétricos do rio Madeira não apresentam elementos suficientes para adequada apreciação da ‘regularidade, consistência e exatidão dos valores relativos ao orçamento dos materiais, serviços e obras, a serem empregados na concessão’, conforme determinado pelo Ministro Relator.

(...)

275.Com este espírito foi feita a recomendação à ANEEL contida no item 9.2 do Acórdão TCU 2138/07–Plenário:

‘...faça constar dos editais correspondentes o orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, contendo as especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, bem como as correspondentes composições de custos unitários’.

(...)

279.Diante do exposto, mantém-se o entendimento de que, para que um projeto de engenharia seja considerado adequado para fundamentar a licitação de uma Concessão Pública, ele deve conter o orçamento detalhado da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos de materiais e equipamentos propriamente avaliados. Além das especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, são também necessárias as correspondentes composições de custos unitários, que não foram apresentadas nos EVTEs dos AHEs do rio Madeira.

(...)

282.No entanto, considerando que a EPE tem competência legal para ‘efetuar o acompanhamento da execução de projetos e estudos de viabilidade realizados por agentes interessados e devidamente autorizados’ (art. 4o, inciso XI da mesma Lei), é importante que a EPE aprimore cada vez mais a metodologia de otimização dos EVTEs, e já a aplique àqueles autorizados e em andamento, ou mesmo já em análise na ANEEL.

19.Impacto das recomendações do Acórdão 2138/07-TCU-Plenário

283.O Acórdão 2138/07-P resultou do processo de acompanhamento do leilão do AHE Santo Antônio (TC 021.731/2007-4) e teve sua redação dada posteriormente pelo Acórdão 2276/07-P. Nele foram estabelecidas diversas recomendações à ANEEL, à EPE e ao MME relativas à continuidade da licitação daquele empreendimento e uma dirigida a futuros certames do mesmo tipo. Dada a similaridade entre os leilões de Santo Antônio e Jirau, e a subseqüência deste em relação àquele, comenta-se neste tópico sobre a aplicação das recomendações do TCU no caso ora analisado. Serão considerados apenas os aspectos relacionados ao escopo desta instrução.

284.Ressalta-se que não se trata de monitoramento relacionado ao processo de acompanhamento do leilão do AHE Santo Antônio, mas de avaliação do impacto daquelas recomendações nos procedimentos executados até este momento, por aqueles mesmos entes envolvidos, na preparação do certame do AHE Jirau.

19.1.Detalhamento do Orçamento

285.Este foi o assunto da recomendação direcionada a licitações futuras. Sugeriu-se à ANEEL que fizesse constar dos editais o orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, contendo as especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, bem como as correspondentes composições de custos unitários.

286.Tal indicação teve o objetivo de aprimorar a estimativa de custo do investimento, a fim de tornar possível a definição mais precisa da tarifa de energia a ser repassada para a sociedade. Esta recomendação não foi acatada, tendo sido mantido o mesmo grau de detalhamento para o AHE Jirau.

19.2.Comparação entre turbinas bulbo e kaplan

287.A recomendação feita à ANEEL sugeriu uma reavaliação do estudo comparativo dos Estudos de Viabilidade entre as soluções de projeto com as turbinas bulbo e kaplan, de forma a verificar qual opção resulta em uma melhor relação custo-benefício para o empreendimento.

288.No caso do AHE Jirau, observou-se maior atenção à questão por parte da EPE, porém sem que fosse apresentada uma análise quantitativa da relação custo-benefício. O impacto, portanto, foi parcial.

19.3.Vazão de projeto do vertedouro

289.Com relação ao AHE Santo Antônio, recomendou-se à ANEEL estabelecer objetivamente no edital do leilão os critérios de segurança a serem observados na implantação do empreendimento, dentre eles o dimensionamento do vertedouro de acordo com a vazão mínima de projeto estabelecida no inciso X do art. 2º da Resolução 556, de 19/12/2006, da Agência Nacional de Águas – ANA. Tal critério esteve presente naquele edital.

290.Nesta análise referente ao AHE Jirau, a mesma questão foi tratada de forma diversa, aprofundando-se a discussão sobre os aspectos hidrológicos da obra. Assim, espera-se contribuir mais efetivamente para o aprimoramento do projeto a ser licitado.

19.4.Taxa de LDI (ou BDI)

291.A recomendação feita no Acórdão à EPE e ao MME foi para que adotassem taxa de LDI compatível com a legislação vigente e com a jurisprudência do TCU, em particular com o Acórdão 325/2007-Plenário, evitando também a adoção, em sua composição, de itens já contemplados na planilha de custos.

292.Contudo, a composição orçamentária feita pela EPE advém de preços praticados em AHEs que constam do seu banco de dados, não havendo controle sobre a taxa de LDI. Mesmo assim, constatou-se que a EPE procurou ajustar os preços coletados em função de isenções de impostos e incentivos fiscais atualmente aplicáveis ao projeto do AHE Jirau.

293.Como o comentário sobre a possibilidade de isenção fiscal nos serviços de construção foi apresentado no relatório que baseou o Acórdão, no tópico em que se estabeleceu a taxa de LDI referencial para o AHE Santo Antônio, verifica-se que houve impacto efetivo da recomendação relativa ao LDI na elaboração do OPE do AHE Jirau, pelo acolhimento parcial da argumentação desta Corte pela EPE.

19.5.Preços de armadura e cimento

294.Quanto aos preços de armadura e cimento, recomendou-se à EPE e ao MME que os reduzissem na estimativa de custos do AHE Santo Antônio, de forma a contemplar ganhos de escala na aquisição desses insumos.

295.Embora não tenham sido fornecidos detalhes sobre o procedimento de determinação dos preços de cimento e armadura que compõem o orçamento elaborado pela EPE para o AHE Jirau, pode-se inferir que ele foi modificado, resultando em valores unitários menores que aqueles atribuídos no OPE do empreendimento anterior.

296.Na análise apresentada no item 12.3 desta instrução, verificou-se que os preços estabelecidos pela EPE estão inferiores ao referencial de mercado consultado. Tal situação coaduna-se com o esperado, uma vez que esse referencial não considera a economia de escala. Portanto, observa-se que a recomendação do TCU produziu resultados satisfatórios.

19.6.Taxas de ‘Eventuais’

297.No Acórdão 2138/07-P recomendou-se à EPE e ao MME que limitassem, no OPE do empreendimento a ser leiloado, as taxas denominadas ‘Eventuais’, presentes em cada conta, ao teto de 8%, de forma a atender as ‘Instruções para estudo de viabilidade’, editadas por Eletrobrás e DNAEE em 1997.

298.No item 2.2.6 do relatório EPE-DEE-RE-044/2008-r0 (Anexo 1 do TC – 002.241/2008-9, fl. 109), referente ao AHE Jirau, a EPE registrou concordância com a recomendação do TCU e limitou a taxa de ‘Eventuais’ de todas as contas do OPE a 8%.

20.Conclusão da SECOB

299.O escopo deste trabalho de acompanhamento do TCU, realizado pela SECOB, contemplou o exame OPE (Orçamento Padrão da Eletrobrás) do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau (AHE Jirau) na versão ‘otimizada’ pela EPE. Foram avaliadas as contas relativas a obras civis, equipamentos eletromecânicos, canteiro, administração local e projeto (.11 a .17) e as contas denominadas ‘Redução’, que resume descontos devidos a isenções e incentivos fiscais aplicados aos preços unitários dos serviços, e ‘Conexão’, composta do custo da linha de transmissão até a subestação de Porto Velho e a ampliação desta.

300.Vale salientar que o esforço de otimização feito pela EPE produziu resultados sensivelmente melhores, se comparados àqueles do AHE Santo Antônio (aproveitamento integrante do complexo do Rio Madeira), analisados pelo TCU quando do acompanhamento do 1º estágio do leilão daquele empreendimento.

301.Passando-se às conclusões relativas ao AHE Jirau, inicialmente deve-se ponderar que o grau de exatidão desta análise está condicionado à precisão do próprio Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica examinado. Entende-se que um EVTE adequado para fundamentar uma licitação de concessão dessa natureza deve conter, dentre outras informações, orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados. Em especial, devem ser apresentadas especificações técnicas e composições de custos unitários dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos constituintes do empreendimento.

302.Isto porque daí deriva o cálculo do valor máximo admitido da tarifa, objetivo capital de todo o processo. O valor definido nesta etapa refletir-se-á diretamente nas contas de energia pagas pelos diversos tipos de consumidores – residenciais, industriais, comerciais e poder público – de todo o país.

303.Embora tenha sido verificada a ausência desses elementos de especificação técnica e custos unitários no Estudo de Viabilidade examinado, procedeu-se à análise dos preços do OPE do AHE Jirau procurando-se estabelecer metodologias adequadas ao detalhamento disponível.

304.Quanto aos preços dos serviços de obras civis, ressaltando-se, mais uma vez, o baixo nível de detalhamento, considerou-se razoável o valor encontrado. Esta conclusão foi resultado da análise dos preços unitários, com base nos custos de referenciais de mercado disponíveis no Sinapi, no Sicro2 e no Dnocs, e dos quantitativos dos serviços e materiais.

305.A avaliação dos preços de equipamentos eletromecânicos foi realizada por meio de comparação com os valores orçados nos estudos de viabilidade de uma amostra de empreendimentos que apresentam similaridade de concepção em relação ao AHE Jirau.

306.Duas importantes conclusões advieram da análise realizada: considerou-se superestimado o preço total dos equipamentos do AHE Jirau. Em termos monetários, a adequação do orçamento de equipamentos à média praticada nos AHEs referenciais corresponderia a uma economia em torno de R$ 372,9 milhões (a valores de outubro/2007) para o total de equipamentos eletromecânicos.

307.Analogamente ao procedimento adotado no caso dos equipamentos, a análise de adequação dos valores constantes da conta ‘.17 – Custos indiretos’ também foi feita por comparação com a mesma amostra de AHEs. Como resultado, observou-se uma possibilidade de economia de cerca de R$ 330,0 milhões.

308.Quanto aos custos estimados para a conexão elétrica do AHE Jirau, estimou-se ser possível reduzir o custo em, pelo menos, R$ 32,9 milhões. O percentual encontrado em relação ao total dos custos de conexão foi da ordem de 15,3%. Mesmo considerando a baixa precisão do EVTE, entende-se ser necessária uma redução desses preços.

309.No tocante ao ‘Sistema Complementar Interceptor de Corpos Flutuantes’, registra-se que o EVTE classifica este item orçamentário como uma ‘possibilidade’ e não apresentou qualquer indicativo acerca da composição de seus custos, admitindo que sequer previu sua localização no arranjo. Os dispositivos flutuantes não foram dimensionados, mas apesar disso a ‘verba’ destinada chega a R$ 142 milhões. Considera-se necessário que o preço desse sistema seja estabelecido com base na sua especificação detalhada. Além disso, o EVTE já previu no total da verba uma ‘margem de folga’. Por este motivo, é possível uma economia de R$ 11,37 milhões no orçamento da EPE, pois se previu uma nova majoração, de 8% da verba total, a título de ‘eventuais’.

310.Em face do entendimento da EPE para a questão do dimensionamento do vertedouro, concluiu-se que tanto a vazão mínima de projeto estabelecida na DRDH (82.600m3/s) quanto os cálculos hidráulicos de determinação da largura do vertedouro carecem de nova apreciação. A primeira, por parte da Agência Nacional de Águas (ANA), que calculou na Nota Técnica 100/2006 a vazão decamilenar de 67.710m3/s para o AHE Jirau. A segunda, pela própria EPE, que não considerou que a carga hidráulica sobre a soleira do vertedouro no N.A. máximo maximorum pode chegar a 22,00m. Mantida a segurança da estrutura, esta equipe da SECOB estimou uma redução de custos de, pelo menos, R$ 97,35 milhões, caso as considerações sejam acatadas pela ANA. Deve-se lembrar que a Lei 10847/04, no seu art. 4º, inciso VI, concedeu à EPE competência para obter DRDH para os empreendimentos de geração hidrelétrica por ela selecionados.

311.Em suma, ainda existe margem para redução do custo total do empreendimento em aproximadamente R$ 747,17 milhões, na data-base de outubro/2007, assim distribuídos: R$ 372,9 milhões em equipamentos eletromecânicos, R$ 330,0 milhões em custos indiretos, R$ 32,9 milhões em conexão e R$ 11,37 milhões relacionados ao sistema interceptor de corpos flutuantes, que fazem parte dos serviços de obras civis. Além disso, a reavaliação da vazão de projeto do vertedouro possibilitaria uma economia adicional de cerca de R$ 97,35 milhões. Dito de outra forma, a redução total estimada representa cerca de 10% do valor do empreendimento.

21.Proposta de Encaminhamento da SECOB

312.Com base nos resultados obtidos e tendo em vista que esta análise tem o propósito de subsidiar os trabalhos da SEFID, sugere-se a adoção dos seguintes encaminhamentos:

I) Determinar à EPE a reavaliação do OPE do AHE Jirau, considerando:

a) revisão dos preços dos equipamentos eletromecânicos, de forma a adequá-los à relação preço/potência instalada média praticada nos empreendimentos de concepção e localização similares ao AHE Jirau, verificando especialmente os preços da conta ‘.13’;

b) reavaliação dos preços da conta ‘.17 – Custos indiretos’ do AHE Jirau, em especial das subcontas ‘.17.21.38’ e ‘.17.21.39’, adequando-os aos percentuais médios observados noutros AHEs localizados na mesma região geográfica;

c) revisão dos preços da conta ‘Conexão’, com base em valores referenciais mais atuais adotados pela ANEEL, considerando ainda haver margem para redução conforme observado no Leilão de Transmissão 04/2007-ANEEL;

d) estabelecimento do preço do item ‘.12.19.30.30 – Sistema Complementar Interceptor de Corpos Flutuantes’ fundamentado na sua especificação detalhada.

II) Determinar à EPE que, com base na competência oriunda da Lei 10847/04, art. 4º, inciso VI, que verifique junto à ANA a possibilidade de revisão da vazão de projeto do vertedouro registrada na DRDH do AHE Jirau e, se for o caso, proceda à adequação da vazão de projeto do vertedouro, eliminando as majorações indevidas citadas no Relatório EPE-DEE-RE-043/2008-r0, redimensionando o vertedouro do AHE Jirau.

III) Determinar à ANEEL que, nas futuras licitações de concessão de aproveitamentos hidrelétricos, haja, obrigatoriamente, orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, contendo as especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, bem como as correspondentes composições de custos unitários.

22.Conclusão das análises da SEFID, SECOB e 4ª SECEX

313.O acompanhamento do presente processo é regido pela Instrução Normativa/TCU n.º 27/98, a qual definiu que a fiscalização dos processos de outorga de concessão ou de

permissão de serviços públicos deve ser concomitante, sendo o seu acompanhamento realizado em estágios, mediante análise de documentação remetida pelo poder concedente ou licitante, sendo que no 1º estágio são analisados, entre outros, o relatório sintético sobre os estudos de viabilidade técnica e econômica do empreendimento e os estudos de impactos ambientais.

314.O art. 44 da Resolução/TCU nº 199 estabelece que à Secretaria de Fiscalização de Desestatização (SEFID) compete o acompanhamento do presente processo de outorga. Todavia, de maneira a possibilitar um acompanhamento mais abrangente quanto aos aspectos que envolvem a expertise necessária ao enfrentamento das especificidades que exsurgem de um empreendimento como este em tela, o Sr. Ministro-Relator, Benjamin Zymler, autorizou a constituição de apartados, encaminhados à SECOB e à 4ª SECEX, para que examinassem a consistência e a exatidão dos valores relativos ao orçamento dos materiais, serviços e obras a serem empregados na concessão, os estudos de impacto ambiental e o licenciamento prévio emitido pelo IBAMA.

I - Da análise dos requisitos ambientais

315.À 4ª SECEX incumbiu-se a análise dos estudos sobre impactos e licenciamentos ambientais, a que se refere o art. 7º, I, c, da IN/TCU nº 27/1998, a qual se houve nos autos do TC – 002.246/2008-5 (apensado).

316.A análise consistiu em analisar o procedimento de avaliação dos impactos ambientais do AHE – Jirau até o momento da concessão da licença prévia pelo órgão ambiental: Licença Prévia n.º 251/2007, emitida pelo Ibama em 09/09/2007 (fls. 14/16 do Anexo 1 do TC n.º 002.246/2008-5).

317.Em suma, a 4ª SECEX concluiu que:

a) cada ato administrativo foi realizado de acordo com as formas, as competências e a ordem cronológica previstas em leis e regulamentos;

b) o EIA foi elaborado pelo empreendedor, entregue ao Ibama e disponibilizado para consulta pública, conforme prevê a legislação;

c) em linhas gerais, o RIMA atendeu ao que prescreve a legislação, exceto pela redação considerada, muitas vezes, rebuscada e pouco objetiva, o que pode ser considerado como falha de natureza formal, não tendo comprometido as discussões daquele relatório nas audiências públicas;

d) até onde o nível de detalhamento permite, os custos ambientais estão em 6,15% dos custos das obras civis, abaixo dos 7,6% do AHE Santo Antônio, empreendimento similar alocado na mesma bacia hidrográfica; e

e) com vistas a evitar insegurança nos procedimentos de licenciamento ambiental, considera-se pertinente recomendar ao Ibama que oriente as suas equipes técnicas a respeito

das fases do licenciamento em que é possível rejeitar os estudos ambientais ou solicitar as necessárias complementações dos mesmos.

318.Ademais, recomendou que seja avaliado, por parte da EPE, a exclusão de R$ 56.491.340,00 nos custos dos programas ambientais, referente à condicionante 2.6 - construção de um centro de reprodução de peixes migratórios - e ao acréscimo na condicionante 2.21 - elevação da compensação ambiental de 0,5% para 1% dos custos das obras civis (parágrafos 95 a 110);

319.As propostas de encaminhamento sugeridas pela Unidade Técnica encontram-se no parágrafo 149. Ressalte-se que a SEFID entendeu pertinente a realização de alguns ajustes nas propostas de encaminhamento, em razão das determinações e recomendações exaradas terem como destinatários entes não integrantes do presente processo (parágrafo 150 a 152).

II – Da análise dos orçamentos relativos à implantação da UHE Jirau

320.Com vistas à análise da regularidade, consistência e exatidão dos valores relativos ao orçamento dos materiais, serviços e obras a serem empregados na concessão em tela, foi constituído o processo apartado TC nº 002.241/2008-9, no qual manifestou-se a SECOB.

321.A SECOB ponderou que o grau de exatidão da análise restou condicionado à precisão do próprio Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica examinado e alegou que um EVTE adequado para fundamentar uma licitação de concessão dessa natureza deve conter, dentre outras informações, orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados. Em especial, devem ser apresentadas especificações técnicas e composições de custos unitários dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos constituintes do empreendimento.

322.Embora tenha sido verificada a ausência desses elementos de especificação técnica e custos unitários no Estudo de Viabilidade examinado, procedeu-se à análise dos preços do OPE (Orçamento Padrão da Eletrobrás) do AHE Jirau procurando-se estabelecer metodologias adequadas ao detalhamento disponível e que, segundo a análise da SECOB, foram capazes de produzir resultados coerentes.

323.A avaliação dos preços dos serviços de obras civis deu-se com base nos custos de referenciais de mercado disponíveis no Sinapi, no Sicro2 e no Dnocs, e dos quantitativos dos serviços e materiais.

324.A avaliação dos preços de equipamentos eletromecânicos, bem como dos custos indiretos e dos custos de conexão, foi realizada por meio de comparação com os valores orçados nos estudos de viabilidade de uma amostra de empreendimentos que apresentam similaridade de concepção em relação ao AHE Jirau.

325.Comparações feitas, em suma, a SECOB concluiu que existe margem para redução do custo total do empreendimento em aproximadamente R$ 747,17 milhões, na data-base de outubro/2007, assim distribuídos: R$ 372,9 milhões em equipamentos eletromecânicos, R$ 330,0 milhões em custos indiretos, R$ 32,9 milhões em conexão e R$ 11,37 milhões

relacionados ao sistema interceptor de corpos flutuantes, que fazem parte dos serviços de obras civis. Além disso, a reavaliação da vazão de projeto do vertedouro possibilitaria uma economia adicional de cerca de R$ 97,35 milhões. Dito de outra forma, a redução total estimada representa cerca de 10% do valor do empreendimento (parágrafos 306 a 310).

326.As propostas de encaminhamento sugeridas pela Unidade Técnica encontram-se no parágrafo 312.

III – Da análise econômica do empreendimento

327.A análise econômica constitui-se em ponto fulcral da correta estimativa do valor máximo do leilão, sendo este o referencial que permite assegurar o preço justo dos serviços e a modicidade tarifária.

328.A análise empreendida pela SEFID consistiu em verificar a adequação e a razoabilidade das premissas e metodologias que embasaram a fixação do preço teto do leilão.

329.Nesse diapasão, cumpre ressaltar que, em comparação a outros estudos de viabilidade econômico-financeira, vide os estudos da UHE Santo Antônio, a metodologia e as premissas empregadas pela EPE no cálculo do preço teto de leilão da UHE Jirau mostraram-se mais consistentes e atuais, no sentido de tentar adequar-se à realidade do mercado. Recomendações exaradas por esta Corte de Contas, por intermédio do Acórdão - TCU nº 2138/2007 – Plenário, com redação modificada pelo Acórdão nº 2276/07 – Plenário (especialmente aquelas insculpidas nos itens 9.1.1 e 9.1.2. - utilização de spreads fixos no cálculo do Custo de Capital de Terceiros e uso do IPCA como deflator do Custo de Capital Real de Terceiros) foram acatadas pela EPE e contribuíram no processo de aperfeiçoamento e aprimoramento de metodologia de cálculo do preço teto do leilão. (parágrafos 50 a 57)

330.Contudo, a despeito da pertinência da metodologia de cálculo do preço teto do leilão, as análises da SECOB e da 4ª SECEX concluíram pela inexatidão dos valores previstos de investimento. Como a SEFID analisou o fluxo de caixa considerando os dados de investimento como se correto fossem, fez-se necessário uma simulação no fluxo de caixa com os novos valores de investimento sugeridos pelas 2 Unidades Técnicas.

331.Caso fossem aplicados os novos parâmetros de investimento sugeridos (redução de R$ 901 milhões dos R$ 8,7 bilhões previstos pela EPE), a tarifa máxima teria que ser reduzida em 6 R$/MWh, passando dos atuais 91 R$/MWh para 85 R$/MWh.

332.Esta nova tarifa implicaria em uma redução da ordem de R$ 57,84 milhões semestrais na receita bruta do empreendimento, podendo ser considerado como um benefício quantificável do controle. Em um horizonte de 10 anos, haveria uma economia de R$ 1,157 bilhões para os consumidores de energia elétrica.

333.Os avanços dos estudos de viabilidade econômico-financeira da UHE Jirau em relação à Santo Antônio, por exemplo, decorreram indubitavelmente do processo contínuo de

acompanhamento por parte do TCU, aliado ao fato de maior qualificação da análise em decorrência de pareceres especializados exarados pela SECOB (relativamente a obras) e 4ª SECEX (relativamente à questões ambientais), em auxílio à análise da SEFID.

23.Proposta de Encaminhamento

334.Considerando o disposto no art. 17 da IN TCU nº 27/98 e tendo em conta a necessidade de atuação preventiva do TCU, a fim de resguardar o erário, os consumidores de energia elétrica e o interesse público, submetemos os autos à consideração superior propondo, com fulcro no art. 6º, § 1º, in fine, da Lei nº 8.987/95 e art. 2º, I, da Lei nº 10.848/04, que este Tribunal:

I) Determine à EPE que reavalie:

a) os preços dos equipamentos eletromecânicos, de forma a adequá-los à relação preço/potência instalada média praticada nos empreendimentos de concepção e localização similares ao AHE Jirau, verificando especialmente os preços da conta ‘.13’; (parágrafos 212 a 221)

b) os preços da conta ‘.17 – Custos indiretos’ do AHE Jirau, em especial das subcontas ‘.17.21.38’ e ‘.17.21.39’, adequando-os aos percentuais médios observados noutros AHEs localizados na mesma região geográfica; (parágrafos 222 a 233)

c) os preços da conta ‘Conexão’, com base em valores referenciais mais atuais adotados pela ANEEL, considerando ainda haver margem para redução conforme observado no Leilão de Transmissão 04/2007-ANEEL; (parágrafos 234 a 245)

II) Determine à EPE que estabeleça o preço do item ‘.12.19.30.30 – Sistema Complementar Interceptor de Corpos Flutuantes’ fundamentado em especificação detalhada; (parágrafos 246 a 251)

III) Determine à EPE que, com base na competência oriunda da Lei 10847/04, art. 4º, inciso VI, verifique junto à ANA a possibilidade de revisão da vazão de projeto do vertedouro registrada na DRDH do AHE Jirau e, se for o caso, proceda à adequação da vazão de projeto do vertedouro, eliminando as majorações indevidas citadas no Relatório EPE-DEE-RE-043/2008-r0, redimensionando o vertedouro do AHE Jirau; (parágrafos 252 a 264)

IV) Recomende à EPE que avalie a exclusão de R$ 56.491.340,00 nos custos dos programas ambientais, referente à condicionante 2.6 - construção de um centro de reprodução de peixes migratórios - e ao acréscimo na condicionante 2.21 - elevação da compensação ambiental de 0,5% para 1% dos custos das obras civis; (parágrafos 95 a 110)

V) Determine à ANEEL que, nas futuras licitações de concessão de aproveitamentos hidrelétricos, haja, obrigatoriamente, orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, contendo as especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos

eletromecânicos, bem como as correspondentes composições de custos unitários; (parágrafos 265 a 282)

VI) Determine ao MME que preveja mecanismo de ressarcimento junto ao vencedor do leilão, em benefício do Ministério da Saúde, dos custos havidos na elaboração do Laudo de Potencial Malarígeno e do Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau, uma vez que a obrigação de elaborá-los era do empreendedor; (parágrafos 77 a 85)

VII) Envie ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e ao Ministério da Saúde, para que tomem as providências que entenderem cabíveis, cópia do Acórdão e dos correspondentes Relatório e Voto que o fundamentarem; (parágrafos 85 e 150 a 152)

VIII) Dar ciência do Acórdão, mediante remessa de sua cópia, bem como do Relatório e Voto que o fundamentarem à Casa Civil da Presidência da República; ao Ministério de Minas e Energia (MME), à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL); à Empresa de Pesquisa Energética (EPE); ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES); ao Presidente do Conselho Nacional de Desestatização; às Comissões de Infra-Estrutura, de Meio Ambiente, de Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal; às Comissões de Fiscalização e Controle, de Minas e Energia, de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados; e à 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.”

É o Relatório.

VOTO

Submeto a este Plenário o acompanhamento do Leilão nº 005/2008, destinado à contratação de energia proveniente do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau, que integra o Complexo do Rio Madeira.

2.Os trabalhos ora em apreciação regeram-se pelos termos da Instrução Normativa nº 27/1998, incumbindo-se sua coordenação à Secretaria de Fiscalização de Desestatização – SEFID. Por força da Resolução TCU nº 199/2006, compete à essa Unidade Técnica, dentre outras atividades, a avaliação de outorga de obras e serviços públicos e de atividades econômicas dos setores de infra-estrutura, assim como o acompanhamento da execução dos respectivos contratos.

3.Ressalte-se que o presente acompanhamento deu-se nos moldes já adotados no TC – 021.731/2007-4, autuado com a mesma finalidade relativamente ao leilão realizado para a contratação de energia proveniente do AHE de Santo Antônio, também integrante do Complexo do Rio Madeira. O processo correspondente a esse empreendimento foi apreciado na Sessão de 10 de outubro de 2007, com a prolação do Acórdão nº 2138/2007, cuja redação foi alterada, mediante a via recursal, pelo Acórdão nº 2276/2007, ambos do Plenário.

4.Por conseguinte, na linha metodológica de análise adotada manteve-se a opção pela constituição de processos apartados para que, em auxílio à SEFID, e sob a coordenação desta, a 4a SECEX e a SECOB pudessem agregar suas respectivas especializações – em questões ambientais e obras civis, respectivamente – de maneira a assegurar a devida abrangência no exame de empreendimento com o porte do AHE de Jirau.

5.Para tanto, foram constituídos os processos TC – 002.246/2008-5 e TC – 002.241/2008-9, nesta etapa já apensados a estes autos. Nestes processos foram analisados, respectivamente, os estudos de impacto ambiental e o licenciamento prévio emitido pelo IBAMA, em relação ao Projeto, e examinadas a consistência e a exatidão dos valores relativos ao orçamento dos materiais, serviços e obras a serem empregados na concessão.

6.Os exames efetuados pelas unidades especializadas foram compilados em uma única instrução, pela SEFID, de forma a coordenar as conclusões neles hauridas com a análise dos estudos de viabilidade técnica-econômica (EVTE) por ela empreendidos. Assim, apresentou-se a este Relator a minudente instrução que integra o Relatório precedente a este Voto, e no qual assentam-se minhas razões de decidir.

7.Não poderia prescindir, nestas linhas iniciais, de ressaltar que o presente trabalho reflete significativos avanços em relação ao acompanhamento do leilão do AHE de Santo Antônio.

8.A estreita correlação entre os dois Projetos no Rio Madeira permitiu que aquela primeira experiência concorresse de forma decisiva para o aprimoramento das metodologias, técnicas de avaliação e modelagens econômicas, necessárias ao estabelecimento do preço máximo do MWh, em torno do qual far-se-ão as estimativas dos investimentos necessários à implantação do AHE de Jirau.

9.Ainda em função das similaridades entre os dois empreendimentos, foi possível uma abordagem mais concentrada em aspectos relevantes para o melhor arranjo geral do projeto, visando à otimização de suas estruturas e à redução nos custos de sua implantação, além do conhecimento das questões ambientais, em boa parte comum aos dois Projetos.

10.Os ganhos obtidos com a experiência de Santo Antônio aproveitaram tanto às equipes técnicas do Tribunal, quanto à Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelos estudos e pesquisas que subsidiam a formulação, o planejamento e a implementação da política energética nacional, a cargo do Ministério das Minas e Energia.

11.Concorreu também para o ganho qualitativo nos trabalhos realizados, o estabelecimento de um cronograma conjunto, firmado entre as Unidades Técnicas do Tribunal envolvidas na análise da matéria, a EPE, a ANEEL e o Ministério das Minas e Energia, para a apresentação ao TCU de todos os elementos necessários ao acompanhamento em tela, em observância à Instrução Normativa/TCU nº 27/98.

12.Destaco que no cumprimento das metas e dos prazos estabelecidos no aludido cronograma, a Casa Civil da Presidência da República desempenhou papel de relevância, ao viabilizar ampla interface entre o Tribunal e os demais órgãos e entidades mencionados,

de sorte a permitir a conclusão dos trabalhos em prazo hábil para a realização do Leilão no dia 9 de maio de 2008, conforme previsto na Portaria MME nº 28/2008.

II

Dos limites da atividade fiscalizadoras do TCU, no presente acompanhamento

13.Assim como o fiz na apreciação do TC – 021.731/2007-4 (AHE de Santo Antônio), dedico parte desta introdução à colocação do real papel do Tribunal, em processos desta natureza.

14.Ainda que não se tenha condicionado a liberação do Edital nº 005/2008 à efetivação dos ajustes considerados adequados, nos respectivos âmbitos de análise, as Unidades Técnicas submeteram a este Relator determinações a serem dirigidas ao Ministério das Minas e Energia, à ANEEL e à EPE.

15.Por tal razão, reputo necessárias e pertinentes as colocações que se seguem, em vista da forma como submeto o encaminhamento das medidas a serem propostas neste acompanhamento, tal como consignado no Acórdão em anexo, ou seja, sob a forma de recomendações.

16.Reitero, neste sentido, o entendimento segundo o qual tenho me pautado, quando o tema recai sobre a fiscalização do TCU relativamente ao acompanhamento de outorgas ou execução contratual de serviços públicos concedidos, pelas agências reguladoras.

17.Sem embargo de reconhecer que as orientações advindas das análises técnicas efetivadas pelo Tribunal contribuem para as agências reguladoras pautarem-se dentro dos princípios constitucionais da legalidade e da eficiência, enfatizo que o controle do TCU é de segunda ordem, na medida que o limite a ele imposto esbarra na esfera de discricionariedade conferida ao ente regulador.

18.A partir desta premissa, verificada qualquer violação de disposição legal expressa, em ato vinculado, poderá o Tribunal determinar ao agente regulador que adote medidas tendentes ao saneamento do ato tido por irregular. Já, no caso de ato discricionário, praticado de forma motivada e em prol do interesse público, cabe a esta Corte, tão-somente, recomendar a adoção das providências que reputar adequadas.

19.Não se suprime, contudo, a competência do TCU para determinar medidas corretivas a ato praticado na esfera de discricionariedade das agências reguladoras, desde que este sido “praticado por autoridade incompetente, se não tiver sido observada a forma devida, se o motivo determinante e declarado de sua prática não existir ou, ainda, se estiver configurado desvio de finalidade”, conforme asseverei no Voto Revisor que apresentei no TC – 016.128/2003-2. Em tal hipótese, poderá o Tribunal até mesmo determinar a anulação do ato, se grave for a irregularidade perpetrada.

20.No processo que ora se examina, conforme deflui das instruções compiladas no Relatório que faço preceder este Voto, não se verifica qualquer um dos pressupostos à

atuação repressiva do Tribunal, no âmbito discricionário da ANEEL, e também do Ministério das Minas e Energia e Empresa de Pesquisa Energética. Inexistiram indícios de atos eivados de ilegalidade ou praticados por agente incompetente.

21.Portanto, em se tratando de fase interna da licitação a se realizar pelo Leilão nº 005/2008, as medidas alvitradas na manifestação consolidada da SEFID/4ª SECEX/SECOB, ainda que tendentes a reduzir o preço-teto do certame, devem se revestir sob a forma de recomendações, restando aos seus destinatários a implementação daquelas que entender oportunas e convenientes.

22.Feitas estas considerações iniciais, e considerando que as análises técnicas nas quais se fundamenta o presente acompanhamento encontram-se reproduzidas no Relatório que integra este Voto, adentro à matéria, ressaltando os pontos que se me afiguram de maior relevância no contexto examinado, e manifestando-me com relação às proposições correspondentes, na forma ora explicitada.

III

Do AHE de Jirau e sua importância no contexto de geração energética nacional

23.Cumpre esboçar, ainda que sucintamente, algumas considerações acerca do contexto em que se insere a Usina Hidrelétrica de Jirau no cenário energético nacional.

24.À similitude do AHE de Santo Antônio, e em complementaridade ao potencial de geração desta, a Usina de Jirau e futuras linhas de transmissão associadas assumem posição de relevo nesse cenário, já à partir de 2012, com a conclusão da primeira delas.

25.Juntamente com a Usina de Santo Antônio, Jirau contribuirá para a segurança energética do país, representando uma potência instalada de 3.300 MW e garantia física de 1966 MW, com entrega de energia prevista para o ano de 2013, data provável de conclusão das obras, segundo estimativas da ANEEL.

26.Ademais, sua localização no Rio Madeira, próximo à capital do Estado de Rondônia, Porto Velho, configura marco estratégico de inquestionável importância sócio-econômica para região, contribuindo com a geração de empregos, desenvolvimento da economia local e aumento da arrecadação tributária, apenas para mencionar alguns aspectos.

27.A relevância do Projeto levou-o a ser incluído, pelo Governo Federal, no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, juntamente com a AHE de Santo Antônio. Os investimentos previstos para a Usina de Jirau montam a R$ 8,7 bilhões.

IV

Da análise técnica e econômica do empreendimento

28.A energia proveniente do AHE de Jirau será objeto de Contrato de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado, na forma estatuída no §2o do art. 2o da Lei nº

10.848/2004. Para tanto, o agente privado e/ou público que vier a ofertar o menor preço de venda do MWh sagrar-se-á vencedor do Leilão.

29.Por esta razão, a definição do valor máximo do Leilão é a pedra de toque na qual se assenta toda a viabilidade do empreendimento. Seu estabelecimento deve representar o correto balanceamento entre a modicidade tarifária e a atratividade negocial.

30.No intuito de ajustar o preço justo dos serviços com perspectivas de lucro que assegurem o aporte do capital privado, para a consecução do investimento necessário ao projeto, os estudos de viabilidade técnica e econômica do empreendimento resultam no denominado Custo Marginal de Referência (CMR).

31.Este indicador retrata o preço do valor do megawatt/hora, e consiste na maior estimativa de custo de geração, considerado suficiente para o atendimento das demandas dos ambientes de contratação livre e regulada (ACL e ACR).

32.No Relatório EPE-DEE-RE-049/2008-r0, encontram-se os fundamentos para a fixação do Custo Marginal de Referência em R$ 91,00 MWh.

33.Ao ponderar-se que, em relação à AHE de Santo Antônio, o CMR fixado para o leilão correspondente foi de R$ 122,00 MWh, e o lance vencedor foi R$ 78,00 MWh – configurando um deságio de 35% no preço final de venda de energia no ACR -, fica patente que os estudos realizados com relação a Jirau adotaram premissas mais realistas e consentâneas ao mercado.

34.Os parâmetros que lastrearam o cálculo do CMR, segundo assinalado pela SEFID, foram: i) dados de potência e energia; ii) receitas; iii) investimento; iv) despesas operacionais; v) parâmetros financeiros; vi) financiamento; e vii) tributos e encargos.

35.A partir destas premissas foi montado o fluxo de caixa do empreendimento com vistas à análise de sua atratividade, considerando-se os ingressos e saídas de recursos financeiros ao longo da vida útil do projeto, a ser descontado por uma taxa que indica o custo de capital real (próprio e de terceiros), ou seja, a rentabilidade mínima do investimento, face ao seu custo de oportunidade.

36.Para a AHE de Jirau, a EPE definiu a taxa de desconto em 11,86%. Este patamar foi considerado como “consistente e razoável”, pela SEFID.

37.A este respeito, convém registrar que, no curso da análise da metodologia de cálculo do custo do capital próprio, foi suscitado questionamento quanto aos períodos adotados para cálculo dos prêmios de risco de mercado e de risco de crédito, de forma diversa daquela estatuída na Metodologia e Critérios para Definição do Custo de Capital (Anexo 4).

38.A discrepância constituiu objeto de diligência à EPE, que justificou a adoção do período de “janeiro de 1996 a dezembro de 2007” para cálculo do prêmio do risco de mercado, por ser este o de maior consistência temporal, de molde a refletir as expectativas do investidor em obter uma remuneração compatível ao risco assumido no emprego de seu capital.

39.Quanto à adoção do período “desde 1996”, utilizado para cálculo do risco de crédito, os esclarecimentos apresentados revelaram que o período utilizado mostra-se compatível com os utilizados em outros prêmios, tal como vem se pautando a ANEEL, em conformidade à Nota Técnica nº 045/2007-SER/ANEEL.

40.Os valores adotados em ambas as situações foram de, respectivamente, 4,53% a.a. e 2,96% a.a., sendo, por fim, considerados satisfatórios pela SEFID.

41.No que se refere ao custo real do capital de terceiros (CRT), observa-se que foram adotadas as mesmas condições de financiamento utilizadas no projeto do AHE de Santo Antônio, para a estimativa do preço-teto, sobretudo em relação à parcela proveniente do BNDES. No entanto, a metodologia ora adotada pela EPE, para o cálculo do custo do financiamento, veio ao encontro das prescrições emanadas do Acórdão nº 2138/2007 – TCU – Plenário (com a redação dada pelo Acórdão nº 2227/2007 - Plenário), notadamente seus subitens 9.1.1 e 9.1.2., a seguir reproduzidas:

“(...)

9.1. recomendar à ANEEL que, no Edital nº 005/2007:

9.1.1. utilize os valores de spreads básico e de risco, já prefixados pelo BNDES, para a obtenção do custo de capital de terceiros, dentro de uma faixa cujo teto é inferior aos valores históricos utilizados;

9.1.2. utilize o IPCA como índice para deflacionamento do Custo de Capital de Terceiros Nominal;

(...)”

42.Por ocasião da análise do Projeto de Santo Antônio, verificou-se que a sistemática utilizada pela EPE para determinar o custo real do capital de terceiros (CRT) contemplava valores históricos de spreads (taxa de risco agregado aos juros do financiamento) básico e de risco, os quais, no entanto, eram pré-fixadas pelo BNDES, por ocasião da assinatura do contrato de financiamento. Tal sistemática mostrou-se inadequada, uma vez que a utilização de médias históricas, não mais utilizadas e mais altas que as então vigorantes, conduziam a uma superestimativa do CRT.

43.Destarte, considerando que a fixação dos valores de spreads, básico e de risco, efetiva-se por ocasião da assinatura do contrato de financiamento, a única variação a que se sujeita o contrato recai na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Não subsiste razão, portanto, para a manutenção da metodologia então adotada, máxime no contexto atual, em que os valores de spreads adotados pelo BNDES foram reduzidos de maneira significante, em consonância à política de incrementar os investimentos em projetos estruturantes.

44.Outro avanço verificado em decorrência da implementação das diretrizes emanadas deste Tribunal, por meio do Acórdão nº 2138/2007 – TCU – Plenário, refere-se ao uso do IPCA como deflator do custo nominal do capital de terceiros.

45.Com efeito, por ocasião do exame dos estudos que precederam a concessão de Santo Antônio, verificou-se que a EPE valia-se do IGP-M para deflacionar o custo do capital de terceiros. Justificou-se esta opção em função de aspectos de difusão, liquidez e uso, os quais, segundo a EPE, melhor retratavam a correção monetária associada ao custo de oportunidade do capital.

46.No Voto que proferi na ocasião, sustentei a inadequação do IGP-M como índice a ser utilizado na deflação do custo do capital de terceiros, dentre outros fatores, por não ser este de uso no setor de geração de energia. Sua utilização preponderante está afeta à composição dos preços de produtos agrícolas e industriais no atacado, com cotação no mercado internacional.

47.No setor de geração de energia elétrica, os reajustes tarifários se dão com base no IPCA. Portanto, a utilização do IGP-M conduziria ao paradoxo de determinar-se o valor das despesas por um índice (IGP-M) e o das receitas por outro (IPCA).

48.Ademais, a utilização do IGP-M em modelagem negocial, cuja única variável no custo de financiamento é a Taxa de Juros a Longo Prazo (TJLP), resultaria em distorcida avaliação do impacto da inflação no custo nominal do financiamento, tendo em vista que os preços adotados na composição deste índice são distintos daqueles que compõem a TJLP – calculada com base no IPCA, por determinação do Conselho Monetário Nacional.

49.As recomendações contidas no subitem 9.1.2. do Acórdão nº 2138/2007 – TCU – Plenário foram observadas pela EPE, já com relação ao edital correspondente ao leilão do AHE de Santo Antônio. Na concepção do modelo negocial do AHE de Jirau já se adotou o IPCA como deflator no custo de capital de terceiros.

50.Esta providência, aliada à utilização de valores fixos de spreads, em consonância ao Acórdão nº 2138/2007, resultou na fixação do custo real do capital de terceiros em 5,46%.

51.Se comparado o impacto deste valor no fluxo de caixa do Projeto de Jirau, com o CRT de 5,85%, originalmente calculado para Santo Antônio, verifica-se que o aprimoramento nas metodologias utilizadas na presente análise implicam uma economia de R$ 2 MWh na tarifa de equilíbrio.

52.É também importante considerarmos que a EPE procedeu a alterações na montagem do fluxo de caixa de Jirau, comparativamente à Usina de Santo Antônio. Estas alterações repercutiram significativamente na redução do preço-teto fixado para o Leilão, mediante o incremento nas receitas do empreendimento.

53.Dentre estas alterações pode-se mencionar a destinação de 30% do potencial de Jirau ao Ambiente de Contratação Livre (ACL), no qual os preços praticados, em regra, suplantam aqueles do Ambiente de Contratação Regulada (ACR). É de mencionar que, nos estudos de

viabilidade econômico-financeira de Santo Antônio, elaborou-se fluxo de caixa considerando a totalidade das receitas como obtidas no Ambiente de Contratação Regulada.

54.Outrossim, as despesas operacionais (Operação & Manutenção) foram estabelecidas em patamares inferiores aos de Santo Antônio, porquanto tomaram por base os estudos encaminhados ao Tribunal em dezembro de 2007, em cumprimento à determinação contida no TC – 016.858/2005-6. Até então a EPE valia-se de parâmetros mais elevados, o que contribuía para a majoração do preço-teto dos leilões.

55.A superveniência dos novos estudos implicou a redução do cômputo de despesas operacionais no fluxo de caixa de Jirau, reduzindo, por conseguinte, o preço-teto do Leilão. Referidas despesas foram orçadas em R$ 2,64 por MWh.

56.A análise da SEFID foi concluída no sentido de que “a partir da análise das premissas que embasaram os estudos de viabilidade econômico-financeira do projeto, não vemos impedimento à continuidade do processo licitatório de outorga de concessão de uso de bem público para exploração e aproveitamento hidrelétrico de Jirau, no Rio Madeira.”

57.É de observar que esta conclusão não levou em conta a análise dos custos de investimentos e ambientais, elaboradas pela SECOB e 4ª SECEX, respectivamente, os quais foram considerados e simulados no fluxo de caixa do empreendimento, resultando na proposta final de encaminhamento apresentada a este Relator.

V

Dos aspectos ambientais

58.A 4ª SECEX examinou o procedimento de avaliação dos impactos ambientais do AHE de Jirau até a concessão da Licença Prévia nº 251/2007, emitida pelo IBAMA, em 9.9.2007.

59.Para tanto foram analisados o processo de licenciamento ambiental, com seus respectivos EIA – Estudo de Impacto Ambiental – e RIMA – Relatório de Impacto Ambiental -, verificando-se que todo o procedimento se houve em conformidade às normas legais e regulamentares pertinentes, com a estrita observância às formas, competências e ordens cronológicas previstas para os atos que o integram.

60.Outrossim, foram examinados os custos dos programas ambientais, constantes do relatório apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, conforme reproduzido no Relatório precedente.

61.As ações ambientais previstas no EIA do Projeto, após os estudos da EPE, tiveram seus custos acrescidos em R$ 72.210.792,00, relativamente às seguintes condicionantes e seus respectivos programas ambientais:

- 2.6: construção de um centro de reprodução de peixes migratórios;

- 210: ampliação do Programa de Monitoramento Limnológico;

- 2.20: ampliação da área de preservação permanente;

- 2.21: compensação ambiental;

- 2.23: compensação social;

- 2.27: acompanhamento das questões indígenas.

62.A 4ª SECEX ressalvou as conclusões da EPE, no tocante às condicionantes 2.6 e 2.21, propondo a desconsideração dos custos a estas correspondentes, no total de custos ambientais do Projeto.

63.No que se refere à construção de um centro de reprodução de peixes migratórios, entendeu a Unidade Técnica que a condicionante 2.5, relativa ao programa ambiental de transposição de peixes, pode tornar desnecessário o programa associado à condicionante 2.6.

64.Quanto ao programa de compensação ambiental (condicionante 2.21), a 4ª SECEX o reputou integralmente desnecessários os acréscimos a seu custo, conforme estimado pela EPE. Justificou-se este posicionamento com base na assertiva que “de acordo com o art. 15 da Resolução Conama nº 371/2006, o valor da compensação ambiental permanece fixado em 0,5% dos custos previstos para a implantação do empreendimento, até que o órgão ambiental estabeleça e publique metodologia para definição do grau de impacto ambiental”.

65.O impacto financeiro da exclusão dos custos acima mencionados representam cerca de 8,2%, em relação àqueles estimados pela EPE. Por conseguinte, conforme asseverou a Unidade Técnica, ter-se-ia uma relação entre os custos ambientais e o custo das obras civis da ordem de 6,51%. Este valor situa-se abaixo dos 7,6% verificado na AHE de Santo Antônio.

66.Outro aspecto salientado pela 4ª SECEX, no escopo de seu trabalho, relaciona-se à representação formulada pelo Partido Verde, questionando O licenciamento ambiental do Projeto. Ressalte-se que estas questões foram sanadas no âmbito do IBAMA, esfera de competência apropriada para tanto, não cabendo maiores considerações a este respeito.

67.Não obstante, no encaminhamento proposto pela Unidade Técnica, consta recomendação dirigida ao IBAMA, para que oriente suas equipes técnicas a respeito das fases do licenciamento ambiental em que é possível rejeitar os estudos ambientais ou solicitar as necessárias complementações destes, “com vistas a evitar insegurança nos procedimentos do licenciamento ambiental”.

68.Também foi detectada pela 4ª SECEX a ocorrência de dispêndio por parte da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, relativamente à elaboração do Laudo de Potencial Malarígeno e do Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau, cuja responsabilidade atribui-se ao empreendedor. Em vista disto, foi proposta a

adoção de medida tendente ao reembolso do Ministério da Saúde, por parte do vencedor do leilão.

69.Com as ponderações acima formuladas, entende a 4ª SECEX que “não há óbice a que seja dado prosseguimento à concessão da Usina Hidrelétrica de Jirau, localizada no Rio Madeira”.

70.De minha parte, entendo que a extensão da competente análise efetuada pela 4ª SECEX leva à conclusão de que, sob o ponto de vista ambiental, o Projeto do AHE de Jirau pode ser implementado na forma proposta nos estudos apresentados pela EPE.

71.De igual modo, entendo que os pontos ressalvados pela Unidade Técnica, embora não comprometam o prosseguimento da concessão, poderiam contribuir para a almejada redução do preço-teto do Leilão, refletindo, potencialmente, na modicidade tarifária desejada.

72.Portanto, no Acórdão que proponho em anexo, encampo o teor das medidas alvitradas pela 4ª SECEX, a título de recomendação, na linha do que já explanei no capítulo II, supra.

VI

Da consistência do orçamento de materiais, serviços e obras civis

73.A avaliação empreendida pela SECOB abordou os estudos realizados pela EPE, com vistas à otimização das estruturas e do arranjo geral do projeto, de molde a reduzir os custos dos investimentos em obras civis.

74.Em vista da elevada complexidade que reveste as questões técnicas, notadamente afetas à engenharia civil, serão abordados neste Voto somente os reflexos das análises efetuadas pela SECOB, relativamente à versão otimizada pela EPE do orçamento do AHE de Jirau. A avaliação da Unidade Técnica encontra-se reproduzida integralmente no Relatório anexo, e será objeto de remissão, se necessário.

75.Conforme assinalado pela Unidade Técnica, a EPE “desprezou, por completo, o arranjo geral do EVTE proposto pelo consórcio empreendedor”, resultante em alterações nos quantitativos dos serviços.

76.Do novo arranjo proposto pela EPE, tem-se a ressaltar que foi obtida uma redução da ordem de 60% no preço das obras civis, decorrentes de alterações nas estruturas dos vertedouros, tomada d’água e casa de força.

77.Os preços unitários estimados pela EPE foram obtidos no banco de dados do sistema informatizado SISORH – Sistema para Elaboração de Orçamentos de Obras Civis de Usinas Hidrelétricas, de forma semelhante à adotada para a Usina de Santo Antônio.

78.A SECOB registrou que avalia com “reservas” a metodologia adotada pela EPE, sobretudo em função da ausência da composição analítica dos serviços, com o

detalhamento da quantidade e preço dos insumos. É de salientar que a apresentação do orçamento detalhado do custo global da obra foi objeto de recomendação expressa, dirigida à ANEEL, por intermédio do subitem 9.2. do Acórdão nº 2138/2007 – TCU – Plenário.

79.A metodologia de avaliação adotada pela SECOB contemplou os preços unitários, além da verificação dos quantitativos dos serviços e materiais.

80.Embora consignada divergência entre a SECOB e a EPE, no tocante à adequação do dimensionamento estrutural do AHE de Jirau (flutuação, tombamento e deslizamento), a equipe técnica do TCU considerou, por fim, “adequados” os valores estimados pela EPE, no que se refere às obras civis.

81.Após avaliar amostra equivalente a 84% do total de itens de obras civis, orçados pela EPE, a SECOB fez incidir o valor ajustado de LDI – 16,35% - obtendo os preços para comparação com aqueles apresentados pela EPE. Saliente-se que o percentual de LDI, embora reputado “aparentemente baixo” pela SECOB, no entender desta coaduna-se com o arranjo do orçamento apresentado.

82.No entanto, conforme reproduzido em meu Relatório, a Secretaria de Obras verificou a possibilidade de redução no custo total do empreendimento, tal como orçado pela EPE. Mediante comparação com valores orçados em outros estudos de viabilidade de usinas de concepção similar à de Jirau, a SECOB estimou a referida margem de redução em R$ 747,17 milhões, na data-base de outubro/2007.

83.O montante acima mencionado pode ser discriminado da seguinte forma: R$ 372,9 milhões em equipamentos eletromecânicos; R$ 330,0 milhões em custos indiretos, R$ 32,9 milhões em conexão e R$ 11,37 milhões relativos ao Sistema Interceptor de Corpos Flutuantes.

84.Sugeriu, ainda, a SECOB, uma reavaliação da vazão de projeto de vertedouro. De acordo com os cálculos efetuados pela Unidade Técnica, a adoção desta medida possibilitaria uma economia adicional de cerca de R$ 97,35 milhões.

85.Estes aspectos ensejaram a simulação de novo fluxo de caixa pela SEFID, na instrução consolidada das manifestações técnicas daquela Secretaria, da 4ª SECEX e da SECOB, com o fito de subsidiar proposta de encaminhamento contendo medidas tendentes à implementação das reduções de custo acima referidas.

86.No intuito de rememorar os fundamentos adotados pela SECOB para a formulação de suas proposições, sintetizo os principais pontos da avaliação elaborada por aquela Secretaria, cujo inteiro teor encontra-se nos itens 153/312 da transcrição que integra o Relatório que antecede este Voto.

87.Com efeito, a criteriosa avaliação efetuada pela SECOB identifica possibilidades de redução no custo total da obra, notadamente com relação aos equipamentos eletromecânicos e aos custos indiretos relacionados a canteiro de obras e acampamento (vide itens 212 a 233 da instrução reproduzida no Relatório anexo).

88.Relativamente aos equipamentos, firmou-se conclusão em tal sentido mediante comparação entre três aproveitamentos hidrelétricos de características referenciais compatíveis com Jirau, a saber: Estreito, Santa Isabel e São Salvador. Tal sistemática foi adotada tendo em vista a dificuldade verificada pela SECOB em obter informações junto a fornecedores. O parâmetro de comparação consistiu na relação “preço/potência instalada”.

89.Conforme assinalado pela Unidade Técnica, o AHE de Jirau apresenta uma relação preço/potência superior em, aproximadamente, 10% da média dos aproveitamentos paradigmas. Tal diferença, segundo apontado, refere-se aos valores constantes da conta .13 do OPE (Orçamento Padrão Eletrobrás), que engloba turbinas, geradores e equipamentos associados.

90.A adoção de método comparativo com orçamentos de outras AHEs, localizadas na região norte, também propiciou a identificação de potencial redução nos custos indiretos apresentados pela EPE, sobretudo nas contas orçamentárias relativas a “construções do canteiro e acampamento” e “manutenção e operação do canteiro e acampamento” (contas .17.21.38 e .17.21.39, respectivamente).

91.No tocante aos custos de conexão (custo da linha de transmissão até Porto Velho e ampliação desta), a SECOB assinalou haver “um indicativo de evolução metodológica por parte da EPE, que permitiu otimizar os custos de conexão para o AHE de Jirau”, em relação ao AHE de Santo Antônio.

92.Contudo, com base nos resultados do Leilão nº 004/2007 – ANEEL, destinado à construção, operação e manutenção de instalações de linhas de transmissão, por um período de 30 anos, verificou-se indício de que a metodologia adotada pela ANEEL (“com referência no banco de dados da Eletrobrás”), da qual também se valeu a EPE, para Jirau, “pode estar superestimando os investimentos necessários em linhas de transmissão” (vide item 241 da transcrição no Relatório).

93.Em 17.3.2008, a EPE informou que “novos custos” publicados pela Eletrobrás e ANEEL (Resolução 181) estariam sendo usados na segunda etapa dos estudos do Complexo do Rio Madeira, “para a elaboração do relatório R1”. Segundo a Empresa, a adoção destes novos parâmetros, apenas sobre as linhas de transmissão, já implicaria uma redução na ordem de 5,7% no valor total destinado à conexão, representando cerca de R$ 12,31 milhões no custo do empreendimento.

94.Quanto ao Sistema Interceptor de Corpos Flutuantes, observou a SECOB que em relação a este item orçamentário “não foi apresentado qualquer indicativo acerca da composição de seus custos”. A despeito disto, registrou-se que o orçamento apresentado pela EPE previu, ainda, uma majoração de 8% no total da verba destinada ao Sistema, a título de “eventuais” (margem de folga). Ressalte-se que este percentual foi fixado para todas as contas do OPE, em observância à recomendação constante do Acórdão nº 2138/2007 – TCU – Plenário.

95.Por fim, no tocante ao dimensionamento do 0vertedouro, sustentou a SECOB que a vazão adotada para o Projeto, e mantida na Declaração de Reserva de Disponibilidade

Hídrica (DRDH), pela Agência Nacional de Águas e pela EPE, está superestimada. À luz de considerações técnicas, calcadas no cotejo de estudos hidrológicos e na carga hidráulica do Projeto, sugere a Unidade Técnica a redução de vazão do Projeto do Vertedouro.

96.A avaliação empreendida pela Secretaria de Obras, como já dito, resultou em propostas de medidas tendentes à redução no custo dos itens acima referidos, no OPE de Jirau. Tais medidas, no entanto, revestiram-se sob a forma de determinação.

97.Conforme já asseverado na parte inicial deste Voto, ressalvadas as hipóteses de incompetência do agente, vício de forma, ausência de motivos determinantes ou desvio de finalidade, o Tribunal respeitará os limites da discricionariedade do agente público, limitando-se a recomendar a adoção das medidas que se mostrarem pertinentes ao caso.

98.Todos os aspectos suscitados pela SECOB, cujas linhas gerais entendi por bem sintetizar no corpo deste Voto, identificam com bastante propriedade margens para alterações orçamentárias que podem resultar em significativa economia no empreendimento de Jirau, reduzindo o preço-teto do leilão correspondente.

99.Por tal razão, acolho em sua íntegra o teor do encaminhamento proposto pela Secretaria de Obras, encampando-as sob a forma de recomendação, no Acórdão que proponho em anexo.

100.Ressalto, a este propósito, que a implementação das recomendações sugeridas pelas Unidades Técnicas não repercutem no cronograma do leilão. Tratam-se de medidas de fácil implementação no modelo econômico-financeiro, bastando, para tanto, a inclusão ou alteração dos novos dados nas planilhas eletrônicas.

VII

Conclusão

101.O presente acompanhamento foi concluído com nova simulação no fluxo de caixa do AHE de Jirau, elaborada pela SEFID, com a adoção dos parâmetros de investimentos sugeridos pela 4a SECEX e SECOB, mediante os quais procedeu-se ao redimensionamento dos itens orçamentários apresentados pela EPE, considerados passíveis de redução pelas Unidades Técnicas mencionadas.

102.De tal procedimento obteve-se uma potencial redução de aproximadamente R$6 no custo da energia, o que implicaria a redução do preço-teto do leilão dos atuais 91R$/MWh para 85R$/MWh.

103.O impacto desta redução na política tarifária do empreendimento é inexorável. No entanto, não se pode descurar, tal como salientei por ocasião do acompanhamento do AHE de Santo Antônio, que os estudos analisados são prospectivos de um cenário de longo prazo. É de lembrar-se que a concessão vigorará por 35 anos (considerando que a entrega de energia se dará a partir do 5o ano). Esta circunstância expõe os estudos ora examinados aos influxos econômicos e conjunturais externos.

104.É cediço que o panorama econômico externo vivenciado por ocasião do leilão de Santo Antônio já não é mais o mesmo que se verifica para Jirau. O agravamento da crise norte-americana, com seus desdobramentos nas demais economias, associada a baixos níveis de liquidez nos mercados, repercutem diretamente em projeto de magnitude como a do que ora se examina.

105.Portanto, as dispersões verificadas, ainda que consistentes, devem ser avaliadas no âmbito de discricionariedade da Regulação. Cabe ao Tribunal apenas apontar os aspectos que, à luz do analisado, se mostram adequados para a conjugação entre a modicidade tarifária e a atratividade negocial, com a justa remuneração dos serviços.

106.O correto balanceamento destas variáveis é, sem dúvida, o pressuposto maior do sucesso do leilão.

107.E neste ponto verifico que muito se evoluiu, ao tomarmos como referência o leilão de Santo Antônio.

108.A definição do preço-teto de Jirau, no patamar de 91 R$/MWh, é o melhor indicativo de que a EPE se houve com maior acerto nesta oportunidade, partindo de premissas mais realistas e consentâneas com o mercado. Outrossim, fortemente comprometida com a otimização do OPE de Jirau, a Empresa promoveu novo arranjo geral do empreendimento, adotou índices e valores atualizados, aprimorando metodologias e técnicas de avaliação

109A despeito das sugestões formuladas no intuito de contribuir para a redução dos custos apresentados, as Unidades Técnicas do Tribunal envolvidas no trabalho sob exame ressaltaram os avanços verificados após o leilão de Santo Antônio, manifestando-se pela inexistência de óbices à continuidade do procedimento licitatório de outorga do AHE de Jirau.

110.Concorreu para o aprimoramento dos trabalhos a atuação deste Tribunal, por meio de suas equipes técnicas, que se dedicaram a um processo contínuo de acompanhamento, interagindo amplamente com a EPE e a ANEEL, sobretudo.

111.Além disto, verificou-se, uma grande disposição da EPE para o acatamento de boa parte das recomendações do Tribunal, notadamente aquelas emanadas do Acórdão nº 2138/2007 – TCU – Plenário, proferido em apreciação ao AHE de Santo Antônio.

111.Conforme se pode verificar neste Voto, bem com no Relatório que o antecede, as Unidades Técnicas apontaram, em suas respectivas áreas de atuação, a observância a prescrições originadas do aludido Acórdão.

112.Concluo, portanto, ratificando as conclusões expedidas nos autos, no sentido de que inexistem óbices à continuidade do procedimento licitatório do AHE de Jirau, sem prejuízo das recomendações no teor das manifestações conclusivas das Unidades Técnicas desta Corte.

113.Por fim, registro a competência com que se houveram os técnicos da SEFID, 4a SECEX e SECOB, que trabalharam neste processo de acompanhamento, cumprimentando-os na pessoa dos respectivos Secretários de Controle Externo, Adalberto Santos de Vasconcelos, Ismar Barbosa Cruz e André Luiz Mendes.

114.Gostaria, também, de agradecer a contribuição dada pela Dra. Maria de Fátima Haluch de Oliveira, representante da Casa Civil da Presidência da República, cuja contribuição na coordenação do fluxo de informações oriundas da EPE, da ANEEL e do Ministério das Minas e Energia, foi decisiva para o bom termo deste processo, dentro do cronograma avençado entre os mencionados órgãos e entidades e as equipes deste Tribunal.

Sala das Sessões, em 9 de abril de 2008.

BENJAMIN ZYMLER

Ministro-Relator

ACÓRDÃO Nº 602/2008 - TCU - PLENÁRIO

1. Processos nos TC – 002.098/2008-0 (com 1 Volume e 5 Anexos); TC – 002.241/2008-9 (apenso) e TC – 002.246/2008-5 (apenso).

2. Grupo I - Classe de Assunto: VII - Acompanhamento.

3. Interessados: Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Empresa de Pesquisa Energética – EPE e Ministério de Minas e Energia – MME.

4. Responsáveis: Jerson Kelman, Diretor-Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Maurício Tiomno Tolmasquim, Presidente de Pesquisa Energética e Édison Lobão, Ministro de Estado do Ministério de Minas e Energia.

5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.

6. Representante do Ministério Público: não atuou.

7. Unidades Técnicas: SEFID, SECOB e 4a SECEX.

8. Advogado constituído nos autos: não há.

9. Acórdão: Vistos, lidos e relatados estes autos de Acompanhamento de Leilão e Outorga de Concessão para geração de energia elétrica do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau;

Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante às razões expostas pelo Relator, ACORDAM em:

9.1. Recomendar à EPE que reavalie:

9.1.1. os preços dos equipamentos eletromecânicos, de forma a adequá-los à relação preço/potência instalada média praticada nos empreendimentos de concepção e localização similares ao AHE Jirau, verificando especialmente os preços da conta ‘.13’;

9.1.2. os preços da conta ‘.17 – Custos indiretos’ do AHE Jirau, em especial das subcontas ‘.17.21.38’ e ‘.17.21.39’, adequando-os aos percentuais médios observados noutros AHEs localizados na mesma região geográfica;

9.1.3. os preços da conta ‘Conexão’, com base em valores referenciais mais atuais adotados pela ANEEL, considerando ainda haver margem para redução conforme observado no Leilão de Transmissão 04/2007-ANEEL;

9.2. Recomendar à EPE que:

9.2.1. estabeleça o preço do item ‘.12.19.30.30 – Sistema Complementar Interceptor de Corpos Flutuantes’ fundamentado em especificação detalhada;

9.2.2. com base na competência oriunda da Lei 10847/04, art. 4º, inciso VI, verifique junto à ANA a possibilidade de revisão da vazão de projeto do vertedouro registrada na Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH) do AHE Jirau e, se for o caso, proceda à adequação da vazão de projeto do vertedouro, eliminando as majorações citadas no Relatório EPE-DEE-RE-043/2008-r0, redimensionando o vertedouro do AHE Jirau;

9.2.3. avalie a exclusão de R$ 56.491.340,00 nos custos dos programas ambientais, referente à condicionante “2.6 - construção de um centro de reprodução de peixes migratórios” e ao acréscimo na condicionante “2.21 - elevação da compensação ambiental”, de 0,5% para 1% dos custos das obras civis;

9.3. recomendar à ANEEL que, em futuras licitações de concessão de aproveitamentos hidrelétricos, faça constar dos editais correspondentes o orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, contendo as especificações técnicas dos serviços de obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, bem como as correspondentes composições de custos unitários;

9.4. recomendar ao Ministério das Minas e Energia que preveja mecanismo de ressarcimento junto ao vencedor do leilão, em benefício do Ministério da Saúde, dos custos havidos na elaboração do Laudo de Potencial Malarígeno e do Plano de Diretrizes Técnicas para o Controle da Malária do AHE – Jirau;

9.5. encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e Voto que o fundamentam, ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e ao Ministério da Saúde, para que tomem as providências que entenderem cabíveis, no que se refere ao subitem 9.4. supra;

9.6. encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e Voto que o fundamentam, para fins de conhecimento, à Casa Civil da Presidência da República; ao Ministério de

Minas e Energia (MME), à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL); à Empresa de Pesquisa Energética (EPE); ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES); ao Presidente do Conselho Nacional de Desestatização; às Comissões de Infra-Estrutura, de Meio Ambiente, de Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal; às Comissões de Fiscalização e Controle, de Minas e Energia, de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados; e à 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.

10. Ata nº 11/2008 – Plenário

11. Data da Sessão: 9/4/2008 – Ordinária

12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0602-11/08-P

13. Especificação do quórum:

13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Marcos Vinicios Vilaça, Valmir Campelo, Guilherme Palmeira, Ubiratan Aguiar, Benjamin Zymler (Relator), Aroldo Cedraz e Raimundo Carreiro.

13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.

13.3. Auditores presentes: Marcos Bemquerer Costa e André Luís de Carvalho.

WALTON ALENCAR RODRIGUES BENJAMIN ZYMLER

Presidente Relator

Fui presente:

PAULO SOARES BUGARIN

Procurador-Geral, em exercício