táticas da pesquisa científica_murray sidman

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Page 1: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman
Page 2: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

TÁTICAS DA PESQUISA CIENTÍFICA

NÃO TEM SIMILAR NA ESTANTE DE METODOLOGIA DO PSICÓLOGO. . . ESTE LIVRO, ESCRITO PARA O ESTUDANTE, É ACERCA DE COMO PROCEDER E COMO JULGAR A PESQUISA EM PSICOLOGIAEXPERIMENTAI___ TODO ESTUDANTEDEVE ESTAR CONSCIENTE DA ATITUDE PERANTE A PESQUISA QUE É EXEMPLI­FICADA POR ESTE LIVRO DE SIDMAN. ELE O ACHARÁ CLARO, SIMPLES E PODEROSO.

Contemporany Psychology.

PARA PSICÓLOGOS PESQUISADORES GENUINAMENTE INTERESSADOS EM ME­LHORAR SUAS TÁTICAS DE PESQUISA,

* ESTE LIVRO, COM OS CONCEITOS DE SIDMAN DA METODOLOGIA MAIS APRO­PRIADA PARA AVALIAÇÃO, É INDISPEN­SÁVEL.

The Psychological Record.

Oeditora brasiliense

;

Page 3: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

-ßmmanuel Zaguig 'Leurinhc s

TÁTICAS______DU

PESQUISA CIENTÍFICA nvnuAÇÃo

DOS DADOS EXPERIMENTAIS NA PSICOLOGIA

MURRAY SIDMAN

( t )editora brasiliense

1976

Page 4: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

T ítu lo do original em inglês: Ta ti cs o f Scientific Research © by Basic Books, Inc.

Tradução:iya,RIA EUNICE PAIVA

Revisão Ortográfica: GERALDO ANDREASI FANTIN

Capa:MOEMA CAVALCANTI

oeditora brasilîense soc. an. 01042 — rua barão de itapetininga, 93

são pau lo — brasily - .

Page 5: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

■ßmmamitl Zagurg 'Lourlnhe

TATICASDA

PESQUISACIENTÍFICA AVALIAÇAQ

DOS DADOS EXPERIMENTAIS NA PSICOLOGIA

Page 6: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

O BRAS D ESTA EDITORA

PSICOLOGIA/PEDAGOGIA

Berelson, Bernard e — Comportamento HumanoSteiner, Gary

Bussab, Wilton e — Tábuas de Estatística e MatemáticaSevero, José Camargo

Cain, Arthur - Jovens e Drogas

Cofer, Charles - Introdução à Psicologia

Despert, Louise — Crianças e Divórcio

Ellis, Albert — Sexo e o Homem Solteiro

Fitzgerald, Hiram e — Psicologia do DesenvolvimentoStrommen, Ellen

Gaiarsa, José Ângelo — Estátua e a Bailarina (A)

Gervásio, Sabá — É Natural— Sempre foi Assim

G raubar d, Allen — Liberdade para as Crianças

Jennings, Eugene — Liderança nas Organizações e na História

Leboyer, Frédérick — Nascer Sorrindo

McGregor, Douglas — Motivação e Liderança

Pappenheim, Fritz — Alienação do Homem Moderno

Reich, Wilhelm — Função do Orgasmo (A)

Roazen, Paul — Freud: Pensamento Político e Social— Irmão Animal — A História de Freud e Tausk

Wolpe, Joseph — Prática da Terapia Comportamental

Downing, George

Gunther, Bernard

James, Muriel e Jongeward, Dorothy

Jongeward, Dorothy e James, Muriel

Levy,'R onald B.

AN ÁLISE TR A N SA C IO N A L

Livro de Massagem (O)

Sensibilidade e Relaxamento

Nascido para Vencer

— Vencer Juntos

— Só Posso Tocar Você Agora

Page 7: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

-ßmmanuel ía g u tq Xoutinko

indice

Prefácio ...............................................................................'............... 7

PRIM EIRA PARTE - Guias para a Avaliação ................................... 11

1. A Importância Científica dos Dados E xperim entais............. 132. A Fidedignidade e a Generalidade dos D a d o s ............. 50

SEGUNDA PARTE - R eplicação............................................................ 75

3. Replicação D ire ta ......................................................................... -774. Replicação Sistemática................................................................. 111

TERCEIRA PARTE - V a riab ilidade ...................................................... 139

5. Variabilidade Intrínseca versus Variabilidade Imposta........... 143

6. A Variabilidade, um Problema tanto C ientífico como de

Engenharia....................................................................................... 187

Q U ARTA PARTE - Projeto E xperim ental........... » .......................... 209

7. E studos-P ilo to .............................................................................. 2118. Estados-Estáveis,............................................................................ 2279. Estados-Estáveis (c o n t.) ..................................................... 249

Page 8: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

• ~ 2721 0 . Estados de Transiçao.....................................................................11 Seleção de uma Linha de Base A dequada..............................

12. Técnicas de C ontro le .....................................................................13. Técnicas de Controle (cont.) ...................................................... 350

ADêndice - Nota Term ino lóg ica ...................................................... 379_ , - ...................... 396R eferencias.............................................................................

Page 9: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

prefácio

Embora este livro não seja um manual, no sentido comum, ofereço-o ao estudante; especialmente, ao estudante de psicologia experimental. Neste livro reuni alguns dos problemas metodoiógicos que enfrentará ao avaliar, os próprios dados e os alheios. A avaliação permanecerá como uma preocupação constante do estudante, através de toda a sua carreira. Perce­berá que é necessária continuadamente para controlar seus próprios pa­

drões de adequação e excelência. Ainda mais, na medida em que a ciência

é cumulativa e integrativa, sua capacidade de avaliar e, conseqüentemente, apreciar os dados de outros pesquisadores terá um significado importante

para o valor da sua própria contribuição.

Os processos empregados na avaliação de dados experimentais não

podem ser adequadamente descritos sem o recurso a casos específicos, e

mesmo ao histórico do caso, pois a avaliação é um problema histórico, e não, filosófico. Não pode ser separada, nem dos dados propriamente ditos, nem das técnicas que tornaram possíveis os dados. Achei necessário, entre­tanto, fazer apresentações bem detalhadas de dados especiais, em certas ocasiões, de procedimentos experimentais e de áreas de problemas técni­cos. Os exemplos que selecionei vêm, ou de minha experiência, ou de áreas ligadas à minha competência. Espero que o le itor não conclua que os considero como as únicas fontes disponíveis, ou mesmo as melhores.

Page 10: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

3 TÁ tlC A S DA PESQUISA CIENTl'FICA

Divorciadas da experiência, as práticas avaliativas careceriam do seu ingre­

diente mais essencial.

Durante os último? trin ta anos, a psicologia experimental desen­volveu suas áreas de problemas e seus requisitos técnicos até um nível que

exige alto grau de competência metodológica dos seus profissionais. Os tipos de problemas que discuto neste livro não podem ser mais conside­

rados dom ín io privativo do pesquisador adiantado. O estudante novato,

se tem que enfrentar o desafio do seu campo de estudos com o respeito que tal desafio exige e merece, deve tomar os problemas que ontem

progrediram, como seu tema de estudos de hoje. O que estava fora dos

limites anteriormente, agora é básico.

O conceito de metodologia experimental que aqui em ito não é

revolucionário, nem novo. Mas devo prevenir o estudante, para que não espere um conjunto de regras de procedimentos experimentais para ser memorizado, à maneira do manual clássico. A busca da ciência é um assunto intensamente pessoal. Os experimentadores não nos podem sem­pre contar por que, ou como, fazem aquilo que fazem, e o fato de suas conclusões serem corretas, na maioria das vezes, permanece um enigma

mesmo para os muitos filósofos, lógicos e cientistas que devotaram boa parte do seu tem po e dos seus esforços a este problema. Não tenho a pretensão de ser um sistematizador, ou mesmo um classificador das regras da prática experimental. Nem júlgo ser o porta-voz de algum grupo u n ifi­cado. Mesmo os que encontram suas atividades aqui descritas, com o máximo de precisão, sentir-se-iam desconfortável mente lim itados se tives­sem que proceder unicamente da forma que resumi. Nem a prática de experimentações, nem a avaliação dos seus resultados podem ser limitadas por quaisquer regras específicas: requisito que empresta uma certa nota

de ironia a qualquer livro de metodologia experimental.

Muitas pessoas contribuíram para a execução deste livro. Minha dívida para com B. F. Skinner tornar-se-á evidente para o leitor, mas

sinto prazer em registrá-la especificamente neste momento. Muitas partes

do livro lucraram com minha estimulante associação, tanto pessoal como profissional, com homens como Charles B. Ferster, Joseph V. Brady, David Mck. Rioch, Richard J. Herrnstein, A rth u r J. Bachrach e Richard L. Sidman. Os dois últimos deram ainda significativas contribuições com

seus comentários sobre versões anteriores do manuscrito. Devo agradeci­mentos especiais a Martha Crossen, que editou o texto com tal grau de dedicação e competência que somente o autor, que viu o livro antes e depois, pode realmente avaliar. E devo ainda gratidão profunda a Lillian

Page 11: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

PREFACIO

Howell e Katherine Moyes, cuja dedicação e trabalho levaram à produção

de um texto legível.

Nenhum dos mencionados pode, de forma alguma, ser considerado

responsável pelo conteúdo deste livro. Entretanto, há duas pessoas das

quais não posso dizer o mesmo. Fred S. Keller e William N. Schoenfeld foram meus mestres, no melhor sentido que essa palavra possa ter, e são

os responsáveis por tudo o que aqui escrevi, mesmo onde discordam. Somente posso desejar que fiquem satisfeitos em aceitar a responsa­

bilidade, pois é a eles que dedico o livro.

M U RR AY SIDMAN

Page 12: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

prim eira-------parte

guias para a avaliaçao

Há três problemas de extrema preocupação na avaliação das desco­bertas experimentais: (a) a importância cientifica dos dados-, (bj sua fidedignidade, e (c) sua generalidade. Essas considerações não são de forma alguma independentes umas das outras, mas por razões de conve­

niência tratá-las-ei aqui como se fossem separáveis.Ainda que pareçam especializadas para o leigo, a maioria das ciências

cobre campos extensos. Poucos cientistas se familiarizam com todas as facetas, mesmo com as que são da. sua própria área particular de pesquisa. A maioria de nós não tem tempo, nem energia, nem o alcance intelectual que permitam um raio de ação livre para todos os nossos interesses. Com tais limitações em mente, é preciso reconhecer que cada um de nós tem, e pará isso está autorizado, seus próprios preconceitos quanto à impor­

tância dos dados especiais.É necessário, entretanto, ser prudente no uso da suposta impor­

tância dos dados, como um critério para os avaliar. A ciência, como a moda, tem as suas manias e os seus ciclos. Uma descoberta, que se situa fora da corrente atual de interesse, pode não ser reconhecida e eventual­mente ser esquecida, para ser, talvez, redescoberta em uma outra ocasiao. No reverso da moeda, freqüentemente encontramos experimentos que sao aclamados como significativos porque resolvem um problema de grande preocupação contemporânea, mas de pouco interesse durável. E caracte

Page 13: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

12 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

rística da ciência, que o seu caminho ou seu desenvolvimento futuro possam raramente ser previstos. Muitas das publicações emocionantes de hoje serão esquecidas amanhã, enquanto a corrente do progresso cienti­fico passa por outros canais novos.

Isto não quer dizer que os experimentos de hoje sejam inúteis. Na melhor das hipóteses eles mesmos determinarão as novas direções, na pior das hipóteses demonstrarão que são infrutíferos. Mas muitos terão a função de remover a madeira podre dos pseudo-problemas, das contro­vérsias de somenos, e das falácias metodológicas que estorvam cada estágio do avanço científico.

Nunca é fácil determinar se um entusiasmo contemporâneo (ou apatia) representa um julgamento válido. Este julgamento evoluirá concor- rentemente com a ciência em particular.

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1 a importancia cientifica dos dados experimentais

Ao se avaliar a fidedignidade e a generalidade dos dados, é im por­tante se conhecer os objetivos do experimentador. No entanto, ao avaliar a importância dos resultados experimentais, a ciência se vale do a rtifíc io de colocar em segundo plano o fundamento lógico do experimentador e de encontrar um contexto mais adequado para os dados, do que o que ele propôs. Entretanto, surgem problemas quando os cientistas emitem juízos de valor sobre os motivos da realização dos experimentos, e então usam estes juízos como base para a rejeição ou aceitação dos dados. Bons dados sempre são separáveis, em relação à sua importância científica, dos objetivos para os quais foram obtidos. Há muitas razões para a experi­mentação. Todas elas influenciaram e continuam a-influenciar os experi­

mentadores. Todas são legítimas.

POR QUE R EALIZAR EXPERIMENTOS?

Provavelmente não será possível enumerar todos os propósitos dos experimentos. Entretanto, restringir-me-ei à discussão de algumas das razões mais comuns, postas em primeiro plano, para a realização de experimentos. A ordem em que são apresentadas não implica em prio ri­dade. Para cada pesquisador, suas próprias razões são as mais adequadas.

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Filosofias das ciências, um mundo oculto a se pesquisar.Mergulhe.

14 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

Experimentos realizados para avaliar hipóteses. Filosofias da ciência, que sustentam que o teste das hipóteses é um passo essencial no procedimento experimental, têm sido freqüente e habilmente expostas, e não necessitam de elaboração adicional. Hoje em dia, na psicologia, a escola de experi­

mentação do teste-das-hipóteses é, sem dúvida, a dominante. Muitos dos

que organizam a sua pesquisa nestes termos têm proporcionado contri­buições importantes. Porém, chamo a atençãç do estudante para que não caia no erro de insistir em que toda a experimentação deva derivar do teste das hipóteses. Porque esta posição também pode indicar a incapa­cidade de separar dados de objetivos do autor na coleta de dados. Os

psicólogos precisam reconhecer, como o fazem os demais cientistas, que

o progresso do conhecimento vem de áreas as mais inesperadas. Pode-se fazer uma suposição sobre a natureza, e a comprovação ou rejeição dessa suposição pode realmente significar uma contribuição importante. Por outro lado, como assinalou Skinner, "Sem dúvida nenhuma há muitos homens cuja curiosidade sobre a natureza é menor do que sua curiosidade sobre a exatidão das suas suposições . . . " (Skinner, B. F.). Tais atividades experimentais podem resultar em acúmulo de insignificâncias sobre coisas insignificantes.

As hipóteses podem ser formuladas em muitos níveis. Apesar da psicologia da formulação de hipóteses científicas não estar m uito avan­çada, a filosofia da construção da teoria é um campo ativo. A maioria dos estudantes de psicologia experimental fará um curso nesta área, e não é necessário que me aprofunde neste tópico. Mas permitam que descreva dois exemplos extremos, de modo a tornar relevantes certos pontos para a avaliação de dados.

Primeiro, tomemos o tipo de hipótese que é tão simples, que

dific ilm ente poderia ser chamada de hipótese. Por exemplo, certa vez

elaborei um procedimento experimental para determinar se um estímulo seguido por um choque inevitável alteraria a probabilidade de ocorrência

de comportamentos posteriores de esquiva. Um macaco tinha sido tre i­nado a pressionar uma alavanca, adiando desse modo a ocorrência de choques elétricos curtos. Depois que a pressão do macaco na alavanca atingiu uma freqüência estável, um estímulo auditivo (neste caso uma

campainha) fo i ocasionalmente acionado por cinco minutos, e ao final do estimulo, um choque elefrico inevitável fo i aplicado no animal. (Em outras palavras, o meio ambiente mudou: apesar do macaco ainda poder evitar a maior parte dos choques, pressionando a alavanca, havia alguns períodos ao fim dos quais esta atividade de pressionar a alavanca não mais

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Copyright(C) by Foxit Corporation,2005-2010 For Evaluation Only.A IM PO RTÂNCIA C IEN TIFIC A DOS DADOS EXPERIMENTAIS 15

serviria para a mesma função. Sempre que a campainha soasse por cinco minutos, o macaco recebia um choque inevitável).

Um colega perguntou-me o que eu esperava que acontecesse com os comportamentos posteriores de esquiva, como resultado do emparelha- mento de estím ulo e choque inevitável. Depois de alguma consideração respondi que não podia conceber que não houvesse mudança no compor­

tamento, porque a operação experimental representava uma alteração radical do ambiente do sujeito. Normalmente não se encontram orga­nismos que não respondam a esta espécie de manipulação. Também não

podia conceber que a probabilidade da resposta de esquiva declinasse,

porque se tal reação tivesse que acontecer em condições análogas fora do

laboratório, a espécie não teria sobrevivido, de forma a tornar-se sujeito dos meus experimentos. Isto fazia com que somente restasse uma possi­bilidade. A probabilidade de que o comportamento progredisse.

A confirmação subseqüente da minha hipótese não me propor­

cionou nenhuma satisfação. Nem muitos outros psicólogos teriam aplau­dido o meu experimento por ser um triu n fo teórico. O raciocínio era obviamente infundado. Apesar do ambiente do sujeito ter sido radical­mente mudado, os efeitos poderiam ter aparecido em qualquer outra

parte, exceto nas medidas que empreguei. Também não é incomum encon­trar-se no laboratório sujeitos com padrão de adaptação pouco abaixo do ó tim o. E, finalm ente, o efeito não teria que ser um aumento ou um decréscimo de probabilidade, mas poderia ser um complexo processo

cíc lico que incluiria ambos.

Felizmente havia fe ito o experimento sem nenhum compromisso prévio com esta hipótese. Assim, pude verificar o fenômeno em si mesmo, e chegar eventualmente a uma explicação relativamente segura dos resul­tados. Naturalmente nada há de intrínseco no teste das hipóteses que impeça que os dados sejam verificados. Mas quando o encadeamento do raciocínio entre hipóteses e dados é fraco, a verificação pode não apre­sentar nenhuma relação real com as descobertas originais.

As hipóteses testadas pelos psicólogos nem sempre são tão simples e ingênuas como a que fo i citada. Às vezes constituem uma série elabo­

rada de suposições, relativas tanto ao comportamento, como às técnicas para a medida de comportamento. Em alguns casos, a argumentação é reduzida a uma colocação matemática. A motivação para tal tipo de teorização não pode ser criticada. Aqueles que exercem a sua ciência desta forma, estão tentando colocar a psicologia no mesmo pé de igualdade

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16 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

com outras ciências teóricas altamente desenvolvidas. Se isto é possível, ou mesmo razoável, não é minha preocupação no momento, uma vez que esta discussão nos afastaria m uito da nossa trilha.

Experimentos que testam a adequação dos modelos matemáticos e

outros tipos de teoria dedutiva, têm atualmente m uito prestígio, e sua importância é geralmente aceita sem discussão. Quero assinalar, entre­

tanto, que a importância dos dados não é afetada pela sofisticação das hipóteses que podem ter gerado os experimentos. Com exceção daqueles que definem a importância dos dados em termos da sua maleabilidade à

integração teórica, há poucos psicológos que negariam que os fenômenos

comportamentais mais interessantes não têm sido tocados pelas teorias mais rigorosas da atualidade. Então o investigador se vê diante de um dilema. Deverá seguir a linha dos teóricos sofisticados e planejar experi­

mentos cujos dados possam ter interesse apenas com referência à teoria

em questão? Ou deve realizar experimentos que ele acredita irão produzir dados de interesse geral, sem se im portar se teorias foram elaboradas para lidar com eles? A resposta a essa pergunta não pode ser decretada. Entre­tanto, o estudante deve estar consciente de que há uma questão e que deve respondê-la especificamente para si mesmo, tendo em mente a ver­dade científica, que bons dados são notoriamente inconstantes. Que são fiéis ora a uma, ora a outra teoria, e que até mesmo conservam a sua

importância independentemente de qualquer teoria.

Experimentos realizados para satisfazer a curiosidade do investigador

sobre a natureza. De vez em quando, alguém pergunta, "P or que? " , " 0 que? " , "Como? ", A criança pergunta: "de onde vêm os bebês? Os pais perguntam: "Por que elas se comportam dessa fo rm a ? ". Samuel

Johnson salientou que a curiosidade é uma das características permanentes

e certas de um intelecto vigoroso. 0 cientista pode ser defin ido como a

pessoa cuja satisfação da curiosidade também é um meio de vida.Quais são as conseqüências do colocar a curiosidade de alguém sob

a disciplina da ciência? Há diferenças entre a curiosidade comum e a

curiosidade científica? Uma criança, por exemplo, nota um grande número de abelhas voando em torno das rosas de um jardim . Pergunta ao seu pai: "Por que aquelas abelhas estão ali? O pai responde: "Estão

coletando pólen das rosas para poder fazer m el".A criança não científica irá parar por aí, com a curiosidade satis­

feita. Um menino com um pouco mais de potencial c ien tífico poderá

continuar a fazer perguntas — "O que é o pólen? Como fazem mel com ele? Não há pólen na grama? Por que as rosas têm pólen? " . Se o pai

Page 18: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 17

não tiver ainda perdido a paciência, o cientista em formação virá com uma pergunta "arrasadora": Como você sabe? Aqui está então a primeira

diferença entre a curiosidade comum e a científica. A curiosidade c ien tí­fica relaciona-se com os métodos pelos quais as respostas a estas perguntas são obtidas. A curiosidade não se satisfaz simplesmente com a demons­

tração de que as flores sempre estão presentes onde há aglomeração de abelhas e que as flores têm pólen. Talvez as abelhas sejam atraídas por certas cores. Ou, talvez, o importante seja a forma das pétalas. Talvez o pólen, que gruda nas pernas da abelha seja apenas incidental na busca de

alguma substância que a torne atraente para as abelhas do sexo oposto. Estas possibilidades podem ser resolvidas só através de observação e

experimentação controlada.Uma outra diferença entre a curiosidade comum e a científica

reside nas conseqüências que seguem as respostas às perguntas iniciais. A curiosidade comum se satisfaz quando uma resposta direta é obtida para a sua pergunta inicial. A curiosidade científica, por ou tro lado, caracteriza- -se por uma reação em cadeia. Ao invés de acalmá-la, a resposta a uma questão apenas desperta mais curiosidade científica. Diz-se que o maior valor de um experimento reside mais no form ular questões do que no respondê-las. O investigador que esteja realmente curioso sobre a natureza

não ficará satisfeito apenas em demonstrar a simples relação entre abelhas, flores e pólen. Continuará com novas perguntas: Como as abelhas desco­brem o seu caminho para as flores e depois o caminho de volta para a colmeia? O pólen proveniente de diferentes tipos de flores produz d ife­rentes tipos de mel? Qual a função do pólen da flo r, em si? O que acon­tece com as abelhas no inverno, quando não há flores? No correr das respostas a estas perguntas, o pesquisador fará observações que poderão,

por sua vez, levar a informações sobre a estrutura social da colônia das abelhas, sobre a linguagem das abelhas, o ciclo de reprodução das flores e, eventualmente, sobre problemas ecológicos mais amplos, das interações

dos mundos, aparentemente separados, das plantas, insetos e os homens. No final de uma vida de trabalho, o cientista pode olhar para trás, para

sua carreira, não só com orgulho, mas com espanto com os resultados de pesquisas inocentes, começadas há muitos anos atrás.

Naturalmente, a curiosidade pode ser guiada por hipótese e por teoria, mas a história da ciência revela muitas descobertas que resultaram da pergunta "E u,m e pergunto o que aconteceria se . . Grandes experi­mentos foram realizados sem que o experimentador tivesse a menor idéia quanto aos prováveis resultados. Ao testar uma hipótese na qual acredita, o cientista ficará surpreso somente se os dados não sustentarem

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18 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

a sua opinião. Um cientista hostil a uma hipótese somente ficará surpreso se ela fo r apoiada pelos dados. Quando um pesquisador realiza um experi­mento, sem testar uma hipótese, sua vida é repleta de surpresas.

Há uma distinção a ser fe it? entre ter uma hipótese e realizar um experimento para testar essa hipótese. Freqüentemente fazemos supo­sições acerca dos resultados de nossos experimentos — mesmo aqueles que se julgam empiristas bem fundamentados. Mas, freqüentemente, o

experimento pode ser planejado e iniciado sem que a suposição seja formulada. O experimento é realizado por outras razões que não a dè

testar a adequação da hipótese. Assim, o resultado do experimento será considerado um sucesso ou um fracasso, nos termos da concordância ou discordância com a predição. Este ponto destaca uma propriedade im por­tante de experimentos que são planejados para responder ao tipo de

pergunta: "E u me pergunto o que aconteceria s e . . Se tais experi­mentos têm critérios adequados de fidedignidade e generalidade, jamais produzem resultados negativos. Os dados somente podem ser negativos em termos de uma predição. Quando alguém simplesmente form ula uma

pergunta sobre a natureza, a resposta é sempre positiva. Mesmo uma manipulação que não produza mudança na variável dependente pode fornecer informação útil e freqüentemente importante.

A psicologia científica está em um estágio de desenvolvimento no qual os resultados experimentais negativos seriam mais uma exceção do que a regra. 0 comportamento é um fé rtil tema de estudos, e até aqui,

somente observamos uma pequena amostra de laboratório. As variáveis, das quais o comportamento é função,'começaram a ser exploradas a duras penas. É um objetivo válido lutarmos por uma eventual integração teórica dos fatos do comportamento. Mas, é enquanto ainda não chegamos a um acordo sobre o que sejam dados significativos que tal teoria deve ser

empregada. Uma coisa é certa: nem todos os dados importantes já apare­ceram no laboratório. A inda há uma abundância de fenômenos de com­

portamento a serem postos sob controle experimental para um estudo mais preciso e análise. É por essa razão, talvez, que os resultados negativos

pareçam um desperdício.Ë exatamente por ser o comportamento um campo tão amplo, que

B. F. Skinner reconheceu o fracasso dos aparelhos como uma fonte de

novas descobertas. (Skinner 85). Com uma matéria tão complexa, tão sensível às modificações do meio e tão pouco expfcfrada, é possível que um aparelho leve a cabo um experimento por conta própria. Em meu laboratório, por exemplo, estava sendo feita uma experiência sobre comportamento de esquiva, no qual estava programado que o animal só

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A IMPORTÂNCIA CIENTIFICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 19-

recebesse 20% de todos os choques que deveria receber, quando deixava de dar a resposta de esquiva a tempo. Certo dia, uma falha de transmissão no circuito de programação automática alterou o processo de tal forma,

que cada qu in to choque era liberado, independentemente do fato do animal ter ou não dado a resposta de esquiva. A falha do aparelho fo i descoberta quando a freqüência geralmente estável do animal em pres­sionar a barra começou a aumentar, e continuou a progredir, durante o período experimental. A freqüência da resposta de esquiva, aumentada em face dos choques inevitáveis, fo i tão inesperada, que um novo programa

de pesquisa fo i iniciado, um programa que tem sido produtivo nestes

três anos, e que ainda continua.Mas é necessário um experimentador humano para avaliar os dados

resultantes de uma interrupção na transmissão, tal como ocorre quando tudo funciona harmoniosamente. E não há nada que garanta que um cien­

tista dará valor a uma descoberta acidental. A menos que a atitude do experimentador seja a de interesse por tudo o que surgir, provavelmente deixará de perceber uma descoberta surgida ao acaso. Quando um inves­tigador orientado por uma hipótese, depois de preparar o seu aparelho e o seu processo experimental para responder a uma pergunta específica, descobre que o seu equipamento se quebrou no meio de uma pesquisa,

provavelmente considerará a sua experiência um fracasso. Poderá derramar algumas lágrimas de frustração, mas provavelmente arregaçará as mangas,

consertará o aparelho, e começará tudo de novo, sabendo que a ciência

é feita por mártires como ele. Por outro lado, um experimentador que é levado por simples curiosidade, observará todos os dados que o aparelho, mesmo quebrado, lhe der. Desde que aplicou pouco de pessoal nas suas próprias suposições, poderá achar o experimento acidental mais interes­

sante do qúe o que começara a fazer — e sem lágrimas, partirá, em uma

nova trilha.Aqui, talvez, esteja a maior virtude da escola de experimentação

que testa por curiosidade. Aqueles que não têm hipóteses, ou que as têm, sem grande apego, estarão provavelmente alertas à descoberta acidental de novos fenômenos. O estudante não deve subestimar o papel do acidental

no progresso cien tífico . Descobertas importantes foram feitas no curso de investigações planejadas com outros propósitos. O famoso e produtivo

fisiólogo Walter Cannon, criou a palavra agora já bem conhecida — "seren- dipidade'' — referindo-se a tais descobertas acidentais (21).

A este respeito o estudante poderá encontrar lições valiosas na história, atrás dos bastidores, de uma série de experimentos que se tornou conhecida nos laboratórios Walter Reed como o "pro je to da úlcera".

Page 21: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

.20 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

Começou com alguns trabalhos que estavam sendo realizados por Joseph Brady nos laboratórios de comportamento. Estavam sendo realizados

alguns experimentos a longo prazo, onde macacos eran\ expostos a uma grande variedade de processos de condicionamento, inclusive uma série de

diferentes esquemas de reforçamento de alimento, esquiva de choque,

punição, esquemas de estímulo do cérebro e várias combinações de cada

um deles.* Uma característica aborrecida desses experimentos era o

número relativamente grande de mortes que ocorria entre os sujeitos. Os experimentadores poderiam ter continuado a tra ta r a freqüência de atrição simplesmente como um mal inevitável — se não fosse um feliz acidente: R. W. Porter fo i designado para trabalhar nos laboratórios de Walter Reed durante o seu tempo de serviço m ilitar. Porter havia fe ito uma quantidade considerável de pesquisas sobre úlceras, e quando ouviu falar na taxa de atrição entre os sujeitos de Brady, pediu para fazer exames post-mortem em todos os animais que estivessem disponíveis. Como Brady conta:

"Durante os meses seguintes, Porter aparecia de vez em quando em meu escritório, segurando em suas mãos com luvas de borracha, um pedaço das víceras que acabara de extrair de um macaco. Havia no tecido um n ítid o o rifíc io que, como Porter explicava cuidadosamente, era uma úlcera perfu­

rada. "Que pena", dizia eu, e Porter saía sem nada mais dizer. Finalmente, ocorreu-me que Porter trazia uma mensagem em suas mãos. Essa mensa­gem, por fim , explodiu em luzes de néon quando ele observou que dentre

duas centenas de macacos que havia tid o ocasião de examinar no passado, nenhum exibia sinal de ocorrência normal de úlcera."

Devido à simples coincidência da alta taxa de mortalidade entre os seus sujeitos e a eventual presença de um patologista interessado em úlceras, o rum o da pesquisa de Brady mudou. Mas a "serendipidade"

havia apenas começado. Outro feliz acidente fo i a seleção do procedi­mento de esquiva, entre todos aqueles a que os macacos haviam sido

expostos, coíno pretendente mais promissor a uma pesquisa mais ampla. Foi iniciado um experimento no qual o macaco tinha que pressionar uma

(*) Não desejando interromper o tema principal, in troduzi alguns termos técnicos nos primeiros capítulos, sem os de fin ir adequadamente. Embora não acre­dite que a esta altura seja necessária a definição precisa de todos estes termos para a compreensão dos pontos mais importantes, alguns leitores podem justificadamente achar a prática desconcertante, e para eles preparei um Apêndice de Terminologia (p. 379) que pode ser lido independentemente do resto do liyro. Devo prevenir o le itor de que o Apêndice não é um fndice do conteúdo do livro, mas contém somente definições, amplamente ostensivas, de alguns dos termos técnicos que achei conveniente usar.

Page 22: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

A IMPORTÂNCIA CIENTIFICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 21

alavanca para evitar choques durante um período de seis horas, sendo que

cada período de esquiva era alternado com 6 horas de descanso. A alter­nação dos ciclos de 6 horas continuava dia após dia. Finalmente, quando

os macacos do grupo experimental foram sacrificados, observou-se a existência de úlceras, enquanto que os animais do grupo controle, que

tinham recebido a mesma quantidade de choque, mas sem a possibilidade de os evitar, não apresentavam nenhuma patologia incomum.

Alguém poderia perguntar como fo i escolhido o período de 6 horas

de sessão e 6 de descanso. Este esquema demonstrou ser quase ideal para a

produção de úlceras, conforme fo i descoberto a princ íp io , quando os investigadores tentaram acelerar o processo, aumentando os períodos de

esquiva e d im inuindo os períodos de descanso — não produzindo assim nenhuma úlcera. A medição subseqüente, efetuada por Edwin Polish, da

secreção ácida do estômago (por meio das fístulas gástricas) revelou que havia pouca ou nenhuma secreção nos períodos de esquiva, mas que a secreção copiosa de ácido começava cerca de três horas após o final do período de 6 horas de esquiva. O utro acidente feliz resultou diretamente do fa to que os experimentos iniciais tinham que ser realizados na sala do Dr. Porter, por falta de espaço. Programando os períodos de 6 horas, com um período de descanso durante o dia, a sala do Dr. Porter podia ser mantida relativamente livre dos ruídos perturbadores dos aparelhos, durante as suas horas normais de trabalho.

Para m érito dos que estavam envolvidos no projeto da úlcera, não caíram na tentação, ao relatar o trabalho, de impor retrospectivamente ao seu procedimento o molde tr íp lice da hipótese, teste e confirmação. Isto poderia te r sido fe ito com facilidade a partir dos dados de Polish sobre a secreção gástrica, fornecendo a hipótese, a variação da periodi­cidade dos ciclos de sessões, fornecendo o teste, e o aparecimento das úlceras somente durante o ciclo alternado de 6 horas, fornecendo a con­

firmação. Felzimente, entretanto, os pesquisadores não se limitaram,

restringindo o seu procedimento, com qualquer concepção predeterminada de metodologia científica, e sua história contada honestamente pode ser­

v ir de inspiração tanto para o estudante, como para o filósofo da ciência.Às vezes os teóricos tendem a minimizar a importância dos experi­

mentos executados somente para satisfazer a curiosidade do experimen­tador. Sustentam que os experimentos sem uma orientação técnica condu­zem, não a um corpo sistemático de conhecimentos do tipo que a ciência procura realizar, mas somente a uma coleção casual de fatos não relacio­nados. Isto, se fosse verdade, seria uma crítica séria. A ciência não consiste, nem deve consistir em uma simples catalogação de fatos e de

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22 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

algumas misturas de informações. As observações experimentais devem ser colocadas dentro de alguma prdem antes que possam ser consideradas uma contribuição à ciência do comportamento.

O que constitu i um arranjo ordenado de descobertas experimen­

tais? Será a teoria o único método de organizar os dados? As próprias teorias estão sujeitas aos critérios de inclusão, consistência, precisão, importância, fertilidade e simplicidade. São aceitas ou rejeitadas, de acordo com o número e o tip o de fenômenos que incluem, sua consis­tência de formulação quando aplicada a vários dados, a exatidão de suas predições, a adequação lógica das relações entre afirmações teóricas e

dados, o número de fenômenos novos e interessantes para os quais volta a atenção e o número de suposições necessárias em relação à quantidade de dados que podem ser manipulados. Tendo-se por base essa lista, é óbvio que a construção da teoria, embora possa fornecer estím ulo inte­lectual, seja uma ocupação arriscada. Isto é particularmente verdadeiro em psicologia, onde os fenômenos são diferentes, complexos e relativamente inexplorados. Diante dessa complexidade, a corrente atual da teorização da psicologia é a de cobertura limitada de uma soma de dados relati­vamente simples.

Mas, onde fica o experimentador que deve coordenar sua coleta de dados com a teoria? Também ele se defronta com a rica complexidade do comportamento. Deveria abandonar sua busca do controle experi­mental e a exploração sistemática dos fenômenos comportamentais fasci­nantes, mas ainda não atingidos pela teorização, que desvenda em seu

laboratório e observa no mundo exterior?Um proeminente psicólogo teórico queixou-se a mim certa vez, de

que não havia conseguido pôr a mão em certo tipo de dados, obtidos em um experimento elementar de condicionamento animal. Estava interessado no exame de um registro poligráfico de respostas de pressão à barra, fe ito

durante o período em que o sujeito estava inicialmente aprendendo que

receberia uma porção de alimento toda a vez que pressionasse a alavanca. Não queria o registro "contam inado" por qualquer processo de ajusta­

mento deliberado, institu ído pelo experimentador para acelerar a aprendi­

zagem. Para desenvolver sua formulação teórica, tinha solicitado tais dados a um certo número de pesquisadores, mas estes nunca foram postos à sua disposição. A tribu iu esta situação ao espírito de não-colaboração decorrente do preconceito anti-teórico dos pesquisadores "que usavam esta técnica especial de condicionamento. Tive que lhe explicar que aqueles que usavam a técnica em questão tinham há m uito, passado ao estudo de fenômenos mais interessantes e complexos. Era simplesmente um caso em

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 23

que os teóricos estavam m uito atrás dos experimentadores. O preconceito não era tanto contra a teoria, mas quanto ao fa to de atrasar o relógio

da experimentação.Que outras espécies de sistematização existem, além da mera catalo­

gação de dados? Há duas grandes escolas de pensamento, diametralmente opostas, em relação aos métodos mais eficientes para a'integração dos

diversos dados. A diferença entre as duas escolas reside não na presença ou

ausência da teoria, mas no modo pelo qual a teoria é elaborada. Num caso, as teorias são formuladas primeiro e depois testadas dedutivamente por

meio da experimentação. O outro método consiste em primeiro fazer a experimentação e deixar a teoria emergir indutivamente, a partir dos

dados.Aqueles que adotam dados-antes-da-teoria freqüentemente alegam

que os dados ainda não estão suficientemente completos para que surja uma teoria válida. Aqueles que preferem teoria-antes-dos-dados respon­dem: "Como se pode saber se uma teoria adequada é possível, enquanto não se tenta? " . A solução da divergência deve surgir da avaliação das teorias atuais, Porisso indico ao estudante outras fontes (por exemplo,

28). Minha tarefa agora é apontar as técnicas pelas quais os dados podem ser sistematizados, mesmo que ainda não se possa ter uma teoria defen­sável. A familiaridade com essas técnicas também fornecerá uma resposta ao problema de como a curiosidade não teórica possa também ser seletiva a respeito dos experimentos específicos a serem realizados.

Na prática, há um número de técnicas de organização de dados fora de uma estrutura teórica. Todos esses métodos, entretanto, começam

da mesma forma. Primeiramente o experimentador escolhe uma área de pesquisa e se dispõe a investigá-la cuidadosamente. Muitos psicólogos experimentais estão mais acostumados a um plano de experimentação "pula carniça". Pulam de uma área para outra, descobrindo um fato aqui, executando um experimento "c ruc ia l" ali, abrindo um outro campo em qualquer outro lugar. Mas. o que constitui uma área de pesquisa? Esta é, ela mesma, uma pergunta que pode ser respondida somente pelos dados e pelo grau de sistematização possível. O experimentador pode achar que a área que definiu seja ampla demais e que deva restringir sua área de ope­ração, se é que se propõe a produzir um corpo sistemático de dados. Por outro lado, — e isto finalmente é o mais excitante — pode achar que seus dados revelam interconexões com fenômenos que a princíp io considerava

bem distantes da área que selecionara.O cultivo intensivo de uma área de pesquisa por um observador

atento trará à luz, inevitavelmente, inter-relações entre os fenômenos que

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24 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

fazem parte dessa área. As inter-relações assumirão a forma de semelhanças entre as variáveis que são relevantes para os diferentes fenômenos. Pode-se

descobrir que os tipos aparentemente diferentes de comportamento resul­tam de variações quantitativas em um único fa to r determinante. Ou pode-

se descobrir que um efeito comportamental complexo pode ser produzido

por uma combinação adequada de dois, ou de vários, processos de com­portamento mais simples. Às vezes uma série de experimentos aparente­mente irreconciliáveis coincidem, repentinamente, com a descoberta de

um processo comportamental não percebido anteriormente, que é comum

a todos, e que serve de elo de ligação. A mais alta forma de integração

ocorre quando se reconhecem semelhanças entre as variáveis relevantes das suas próprias experiências em um campo restrito e os experimentos de outros em uma área de pesquisa aparentemente remota.

A sistematização dos dados, pela exposição das semelhanças entre as suas variáveis determinantes, pode parecer uma investigação sem inspi­ração para o estudante ambicioso. Por exemplo, quando era um jovem estudante graduado, senti que meu trabalho tinha que ser diferente, que tinha que realizar algo de novo que surpreendesse o mundo. Seguindo esta linha, redigi um informe sobre o meu trabalho, no qual dava ênfase em como os meus experimentos eram diferentes de qualquer outra coisa

que jamais houvesse sido feita. Um dos meus professores, W. N. Schoenfeld, concordou em que os dados eram m uito interessantes. Mas prosseguia dizendo que eu havia fe ito o relatório partindo de um ponto de vista estranho. Eu havia enfatizado as diferenças entre o meu trabalho e o dos outros. Mas não é assim que a ciência normalmente avança. O papel da ciência é, descobrir ordenadamente relações entre os fenômenos,

não as diferenças. Teria sido mais ú til se eu tivesse apontado as semelhan­

ças entre o meu trabalho e os experimentos anteriores. Embora a tarefa que estabelecia para mim não fosse das mais fáceis, atingi um grau de

amadurecimento c ien tífico mais.alto, quando finalm ente aceitei seu con­selho.

Para os que eventualmente procuram uma teoria do comportamento

empiricamente correta e racional, a sistematização em termos de variáveis comuns — semelhanças percebidas — é um pré-requisito vital. Como disse anteriormente, os psicólogos ainda não conseguiram chegar a um acordo quanto aos fenômenos do comportamento que uma teoria — mesmo que seja restrita - deva englobar. Somente a descoberta de variáveis e proces­sos que sejam comuns a muitos fenômenos resolverá esse problema. Antes que ocorram tais descobertas, teremos que desenvolver nosso controle experimental sobre o tema de estudo e teremos que realizar um grande

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A IMPORTÂNCIA CIENTIFICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 25

número de experimentos com nenhuma outra hipótese, a não ser a simples fé em que a ordem surgirá. É um cientista precipitado aquele que ousa

predizer a forma que a ordenação assumirá, ou que insiste em que outros

façam essas profecias.

Experimentos executados para testar novo método ou nova técnica.

Os experimentos são freqüentemente executados para testar a fecundidade de uma nova técnica. Algumas vezes a técnica é desenvolvida delibera­damente para obter uma informação que não seria conseguida pelos métodos comuns; algumas vezes a técnica é apenas testada por curiosidade

em relação ao tip o de dados que produzirá. Todos os experimentadores reconhecem a necessidade de um avanço da técnica. Surgem desenten­

dimentos entretanto, quando se julga o que constitui um avanço. De fato, às vezes é d if íc il, se não impossível, conseguir um acordo entre os psicólogos quanto ao que constitui uma técnica. Desde que a avaliação da importância de uma técnica depende antes de mais nada do seu reconhe­cimento como ta l, é importante investigar o problema, "O que constitui

uma técnica, para a psicologia experimental? .Como em outras ciências, o desenvolvimento técnico da psicologia

experimental pode inclu ir progressos nos instrumentos de medida, méto­dos aperfeiçoados para a coleta de dados, sofisticadas análises de dados, o preparo de aparelhos especializados para realizar um trabalho especial

ou de aparelhos em geral para realizar várias funções, e a ampliação de velhas técnicas para novas áreas. Há, entretanto, um tip o de desenvolvi­

mento técnico que é somente adequado para a psicologia experimenta!. É o desenvolvimento das técnicas de controle do comportamento. Obser­vei anteriormente que ainda existem muitos fenômenos comportamentais

que não foram postos sob o controle experimental. Também existem muitos fenômenos que somente conseguimos estudar no laboratório, nas

condições mais primitivas. Por exemplo, todas as vezes que somos forçados a usar grupos de sujeitos ou grandes amostras de comportamento de um' sujeito individual para uniform izar os dados, demonstramos uma falta de controle experimental sobre o nosso objeto de estudo. Os progressos

técnicos que nos permitem trazer para o laboratório um comportamento novo, ou que permitem melhorar o controle experimental sobre o com­portamento, estão entre as mais importantes contribuições que podemos

proporcionar.Mas os psicólogos divergem quanto aos fenômenos que consideram

importantes. Sua avaliação, entretanto, de uma nova técnica de controle comportamental será marcada pela importância que atribuem ao fenô­

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TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

meno sobre o qual fo r demonstrado o aperfeiçoamento do controle. 0 estudante deverá se acautelar em relação a ambos os julgamentos. Técni­cas aparentemente inúteis, como dados aparentemente esotéricos, têm um modo de se tornarem importantes da maneira a mais imprevisível.

Bastante estranho é que o desenvolvimento das técnicas de controle

comportamental seja raramente citado como um dos principais objetivos da pesquisa psicológica. Os estudantes ouvem que a sua pesquisa deve

ser orientada para o desenvolvimento teórico, ou que nossa maior neces­sidade é de mais dados, mais relações funcionais. As técnicas são consi­deradas secundárias para esses objetivos. Mas as técnicas de controle

comportamental não são secundárias; são primordiais, tanto para a teoria como para os dados. Sem as técnicas de controle comportamental, uma

ciência do comportamento seria impossível. Aqueles que ampliam a rtif i­cialmente os limites entre as várias áreas da ciência estão, pelo menos, parcialmente certos quando se referem à teoria e aos dados. Uma ciência não se distingue da outra nem pela teoria, nem pelos dados. As técnicas diferentes de controle experimental sobre vários temas de estudo forne­cem as características definidoras. Os fenômenos que interessam à ciência somente são acessíveis por meio de uma variedade de abordagens técnicas, embora os dados resultantes possam m uito bem ser levados à integração que atravessa áreas definidas tecnicamente. O psicólogo experimental pode contribu ir para esta integração somente na medida em que descobrir e aplicar técnicas de controle experimental. Precisamos considerar nossa

ciência imensamente enriquecida toda a vez que alguém submeter ao controle experimental preciso uma outra amostra de comportamento.

O fracasso em reconhecer a importância de tais demonstrações se reflete na classificação superficial das técnicas de controle experimental que são feitas pelos manuais. Os métodos de laboratório para o controle de comportamento não são, freqüentemente, analisados além de uma descrição do espaço no qual o sujeito é colocado para observação. Por

isso podemos encontrar descrições de labirintos abertos, labirintos fecha­dos, caixas de Skinner, caixas de shuttle e Aparelho de Teste Geral de

Wisconsin, etc. Freqüentemente se inclui breve menção a uma resposta especial que fo i selecionada para a medida. A qui o estudante aprende sobre respostas de correr, virar para a esquerda, virar para a direita,

pressão na barra, saltar obstáculos ou ficar irritado. Tais detalhes obvia­mente são importantes mas não como descrição de tipos de comporta­mento de que os psicólogos fizeram o controle experimental. As técnicas de controle comportamental são adequadamente caracterizadas não em termos do aparelhamento empregado, mas sim em termos de variáveis

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A IMPORTÂNCIA CIENTI'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 27

que são manipuladas e das conseqüências comportamentais que resultam de tais manipulações. A adequação de uma técnica deve ser estabelecida quanto à precisão à fidedignidade do controle que realiza.

É de interesse geral a metodologia que Ferster e Skinner elaboraram para estudar os fenômenos do reforçamento condicionado. O problema é de importância básica para a psicologia. Reforçamento - o controle

do comportamento através das suas conseqüências — é geralmente reco­nhecido como a variável chave na determinação das características do comportamento. Mas é óbvio que algumas conseqüências do comporta­mento, que não podem ser denominadas por qualquer esforço de imagi­nação como reforçadores "p rim ários" ou "natura is" (como alimento, água, oxigênio), são responsáveis pelo aparecimento e manutenção de muitos, se não da maioria, dos comportamentos dos organismos mais evoluídos. Esta dificuldade tem sido contornada pela noção de reforçador "condicionado". Eventos emparelhados, de alguma forma no tempo, com reforços primários são considerados como tendo obtido uma função de reforço. Assim um estímulo que precede imediatamente a libertação do alimento para um organismo fam into é considerado como capaz de con­

tro la r o comportamento de forma m uito semelhante à do próprio ali­mento. Infelizmente, a demonstração deste fenômeno tem sido até agora bem pouco satisfatória. Onde o efeito fo i conseguido, era pequeno e de curta duração. Tem havido muitos fracassos reais em demonstrar o reforço condicionado, e quando demonstrado, fo i necessário usar técnicas estatís­

ticas de modo a extrair dos dados o efeito desejado. Em contraste, Ferster e Skinner desenvolveram técnicas pelas quais padrões complexos de comportamento podem ser desenvolvidos e mantidos indefinidamente

por meio do reforço condicionado (34, pp. 658-702). O fenômeno é fielmente demonstrável no organismo individual e tem sido obtido com

pombos, ratos, macacos e chimpanzés.

Sua técnica não é apenas a assim chamada caixa de Skinner. O estudante que está satisfeito com a especificação da técnica em termos do tipo de compartimento no qual o sujeito é colocado, ou em termos da forma da resposta registrada, nunca aprenderá como controlar reforços condicionados com a precisão e o rigor exigidos para que seu estudo seja ú til. Ferster e Skinner desenvolveram sua técnica somente depois de uma longa análise experimental dos esquemas de reforçamento e de enca­

deamento.O exemplo que segue é relativamente simples: um pombo fam into

pode ter um curto acesso ao alimento, bicando um disco ou uma chave situados na parede do seu compartimento experimental. Entretanto, o

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28 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

alimento aparece somente na décima quinta bicada. Ainda mais, só fo r­

nece o alimento se a chave estiver iluminada por uma luz verde. Algumas vezes a luz verde torna-se vermelha, mas depois de permanecer vermelha durante cinco minutos o pombo pode bicar a chave e fazer com que ela fique verde. Temos, então uma seqüência encadeada de acontecimentos:

a luz vermelha precisa permanecer ligada pelo menos durante cinco m inu­

tos. Depois que passaram os cinco minutos, a bicada seguinte produzirá a

luz verde. Com a luz verde a ave pode conseguir uma pequena quantidade de alimento bicando a chave quinze vezes. Depois de receber alimento,

a chave volta a ficar vermelha e o ciclo recomeça.A luz verde é um reforço condicionado. Seu aparecimento é respon­

sável pelo com portamento do pombo de bicar a chave quando ela fica

vermelha. A luz verde adquire uma função de reforçamento, em virtude do reforçador prim ário, alimento, que fica ao alcance do animal quando ela é ligada.

Ferster e Skinner demonstraram que um estím ulo como a luz verde pode manter a sua eficiência como reforçamento condicionado indefin i­damente, se o sujeito puder produzir o reforço final (alimento neste caso) de acordo com um esquema adequado. A eficiência do reforçamento condicionado em manter o comportamento anterior é em grande parte uma função do esquema de acordo com o qual se produz o reforço final. O encadeamento de respostas e estímulos, conduzindo finalm ente a um reforço fina l, é fundamental para a técnica. Seu refinamento do processo de encadeamento perm itiu a Ferster e Skinner replicar, com reforçamento

condicionado, muitos dos efeitos do reforçador primário, e descobrir variáveis exclusivas do comportamento controlado por reforçamentos condicionados. O estudante que insistir em que as técnicas sejam especí­

ficas quanto às variáveis empregadas e ao comportamento observado, independentemente do tipo de aparelho que usar, será capaz de submeter a controle experimental o reforçamento condicionado.

As técnicas de controle comportamental utilizadas no estudo do reforçamento condicionado podem ser usadas de muitas maneiras, para gerar probabilidades altas ou baixas de resposta, padrões cíclicos de res­posta, respostas discretas, ou cadeias longas de comportamento. Algumas

vezes, entretanto, uma técnica de controle é válida porque produz um padrão específico de comportamento. Pode ser interessante, por exemplo, examinar o comportamento enquanto está sendo em itido com uma fre ­qüência extremamente alta ou extremamente baixa. Há uma grande proba­bilidade de que comportamentos que diferem amplamente em relação à sua freqüência de ocorrência, possam também d ife rir em outros aspectos,

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A IMPORTÂNCIA CIENTIFICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 29

quantitativa e/ou qualitativamente. Assim, têm sido desenvolvidas técnicas

para a manutenção do comportamento em freqüências de mais de 10.000 respostas/hora, por muitas horas. Por outro lado também é possível

manter freqüências estáveis de resposta tão baixas como uma resposta a cada 2 minutos, durante um período de várias horas ou mesmo de

vários dias. Tal nível de controle experimental constitu i uma técnica. Torna possível o estudo experimental no organismo individual, de fenô­menos comportamentais que jamais haviam sido submetidos ao controle

de laboratório.Além da sua importância na demonstração de princípios compor­

tamentais ou da produção e manutenção de tipos especiais de comporta­mento, as técnicas de controle são válidas também para a produção de linhas de base do comportamento a serem utilizadas no estudo de fenô­menos relacionados. Por exemplo, existe um grande interesse nas relações entre comportamento e ação de agentes farmacológicos. Um aspecto importante de uma droga é o curso do seu tempo de ação. Como exemplo, estabelecemos uma linha de base de comportamento de esquiva usando um rato branco como sujeito. O animal recebe um choque elétrico de curta duração de 20 em 20 segundos, se não pressionar a barra. Cada vez que pressionar a barra o choque é adiado por 20 segundos. Em tais circunstâncias o rato aprenderá a pressionar a barra, e o fará em uma

freqüência suficientemente alta para evitar a maioria dos choques. Depois de alguma prática, o animal irá apresentar uma freqüência estável de pressão à barra, que permanece constante durante períodos de 6 horas

ou mais. Uma vez atingido um nível estável de comportamento de esquiva, podemos então administrar a droga, por exemplo, sulfato de anfetamina

(comumente chamado de Benzedrina), ao animal. Nosso registro de fre­qüência de pressão à barra pelo sujeito vai então mostrar uma freqüência

de desvios do seu aspecto normal. Pouco depois da droga ter sido admi­

nistrada, o rato começará a pressionar a barra cada vez mais rapidamente,

e o registro mostrará uma aceleração da freqüência da linha de base. A freqüência atingirá um certo valor lim ite, digamos, três a quatro vezes

mais alta do que a usual, e permanecerá nesse nível durante duas ou três horas. Então começará a declinar, e o registro mostrará uma volta suave à freqüência inicial de pressão à barra. A freqüência realmente dim inuirá abaixo do seu nível da linha de base e permanecerá dim inuída por várias horas.

Para acompanhar as relações temporais entre uma droga e o compor­tamento, é necessário manter o comportamento em um nível estável durante longos períodos de tempo. Além disso, as medidas empregadas

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30 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

para caracterizar o comportamento devem ser potencialmente variáveis

em uma outra direção. Isto quer dizer que a medida, além de ser estável no tempo, também deve ser capaz de aumentar ou d im inu ir em larga

escala de modo a fornecer um teste sensível da ação da droga. Uma técnica de controle de comportamento que possua tais propriedades

perm itirá o registro, momento a momento, do curso do tempo de ação da droga. Acrescente-se a isso que, se são registrados ao mesmo tempo medidas fisiológicas e comportamentais da atividade da droga, pode ser

possível separar os efeitos fisiológicos especiais que estarão mais prova­velmente ligados aos efeitos comportamentais. O valor de tais técnicas

comportamentais é atestado por um grande número de laboratórios de comportamento que foram estabelecidos em instituições farmacêuticas.

Estes estabelecimentos industriais não classificaram suas técnicas compor­

tamentais nos termos da caixa de Skinner ou da resposta de pressão à barra. Não se impressionaram com a câmara experimental, mas com a precisão de controle e sensibilidade do comportamento do indiv íduo à manipulação farmacológica sob a influência das mais diversas variáveis. Tornou-se evidente que, quando os lucros estão em jogo, as técnicas de controle comportamental são avaliadas em função do seu sucesso no controle do comportamento, e não em termos de um esquema de classi­ficação arquitetural fora de moda. O cientista "p u ro " pode bem aprender essa lição.

O que constitu i uma técnica comportamental noval É possível inventar uma técnica aparentemente nova que, na realidade, não seja um aperfeiçoamento de métodos antigos. Isto é especialmente verdadeiro para novos desenhos de equipamento. O editor de uma revista de psicologia salientou certa feita que era orientação da sua revista publicar novas técnicas, mas declarou enfaticamente que nunca mais publicaria uma

descrição de um novo taquistoscópio. Entretanto, estou certo de que ele ficaria m uito contente se pudesse publicar uma nova forma de utilização

do taquistoscópio. Um dos critérios para distinguir uma técnica nova é o seu sucesso na produção de dados que jamais foram vistos anteriormente. Esses novos dados podem ser obtidos por um taquistoscópio, por um

teste projetivo, por um labirinto, por uma caixa problema ou por uma caixa de Skinner, mas se esses instrumentos são utilizados de uma forma

nova para produzir novos dados, então nasce uma nova técnica com por­tamental. Enquanto o método fo r mais intensamente usado no labora­tó rio , poderá também abrir áreas de pesquisa que não haviam sido conce­bidas durante suas aplicações iniciais.

Por exemplo, a combinação de métodos de esquemas de reforça-

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 31

mento com uma adaptação da técnica de audiômetro de Békésy resultou

no desenvolvimento de nova uma área da psicofísica animal. Na técnica

de Békésy, o sujeito é ensinado a pressionar uma chave sempre que ouve

um som, e a soltá-la sempre que o som se tornar inaudível. Um atenuador acionado continuamente d im inui gradualmente a intensidade do som, sempre que o sujeito apertar a chave. Quando o sujeito não mais ouvir o som e soltar a chave, o atenuador muda de direção e traz de volta a intensidade acima do lim iar. Registrando a posição do atenuador enquan­to se move para cima e para baixo através da intensidade audível mais baixa do tom , obtém-se uma medida contínua do lim iar auditivo.

A técnica de Békésy fo i modificada por Blough que a usou para

medir limiares de intensidade visual em pombos (9). Naturalmente os pombos não podem ser instruídos verbalmente, e Blough teve que empre­gar outras técnicas para poder submeter o seu comportamento ao controle de estímulo. A situação planejada fo i colocar a ave em uma câmara experimental com duas chaves disponíveis. Com o uso de técnicas ade­quadas de esquemas de reforçamento, treinou o pombo a bicar uma chave quando o estím ulo era visível, e a outra chave, quando o estímulo estava

desligado. Entretanto, bicadas na primeira chave d im inuíam a intensidade do estímulo, enquanto as bioadas na segunda chave aumentavam a inten­sidade. Um registro das oscilações da intensidade do estímulo descreve

o lim iar visual continuadamente no tempo.

Como salientou Blough, "A novidade do método Békésy repousa na forma pela qual as respostas do sujeito governam a intensidade do estímulo. Igualmente importante, entretanto, o controle exercido na direção oposta: a intensidade do estímulo controla as respostas do sujei­to " (9, p. 31 ). A contribuição das técnicas de controle de comportamento

está no estabelecimento deste elo de feedback. Se o estudante refletir um pouco sobre este problema, perceberá que é uma proeza notável

ensinar um pombo a indicar o momento exato em que não vê um facho de luz, especialmente quando seus limiares estão mudando durante a

adaptação à escuridão e se exige que faça seus julgamentos continua­damente no tempo. Os detalhes do procedimento de Blough são muito

complicados para que sejam descritos aqui, mas recomendo insisten­temente que o estudante recorra à literatura para obter uma descrição

completa da maneira pela qual o controle preciso do estímulo fo i desen­volvido e mantido. Dessa associação de dois conjuntos de técnicas aparen­temente não relacionadas está aparecendo uma nova concepção do

problema da "sensação subjetiva".Assim, uma nova técnica pode envolver instrumentos novos ou

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32 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

aperfeiçoados, ou pode ser simplesmente o resultado de novos usos ou

combinações de métodos mais antigos. Na avaliação da importância de uma nova técnica o critério principal são os dados resultantes.

Experimentos realizados para estabelecer a existência de um fenô­meno comportamental. A introdução de uma nova técnica de controle pode resultar da demonstração de um tip o de comportamento não observado, não medido e não controlado previamente. Freqüentemente entretanto,

os experimentos são realizados com o propósito específico de demonstrar um efeito especial de comportamento.

Os experimentos que simplesmente demonstram um novo fenômeno comportamental são às vezes postos de lado, como "exp loratórios". A ciência, como se alega, procede pela manipulação de variáveis de forma sistemática e pela unificação dos resultados de tais manipulações dentro de uma estrutura conceituai. A simples demonstração de um efeito

comportamental é mantida apenas como prelúdio de uma investigação sistemática. Há algumas justificativas para esse procedimento. Pode ser uma experiência frustrante acompanhar as publicações de alguns cientis­tas que parecem ter devotado suas carreiras a demonstrar novos fenô­menos, não seguindo qualquer deles através de um estudo sistemático.

Entretanto não é uma boa conduta perm itir que tais sentimentos in flu ­

enciem nossa avaliação dos fenômenos relatados. Nossas frustrações morrerão conosco, mas as descobertas experimentais permanecerão. Se o descobridor de um fenômeno não o acompanhar, alguém mais o fará,

quando fo r reconhecida a importância da descoberta. É verdade que sua importância será provavelmente menos valorizada se a descoberta não fo r imediatamente elaborada experimentalmente. Mas é exatamente este fa to

que nos fará tom ar cuidado ao deixar de lado um fenômeno novo, por considerá-lo triv ia l.

Às vèzes parece que um experimentador brilhantemente criativo não possui as qualidades de paciência e perseverança para percorrer os caminhos que muitos de nós achamos serem vitais para o progresso c ie n tí­fico. Ainda que fosse desejável que todos os experimentadores fossem brilhantes e cuidadosos, na realidade, tal combinação é rara. Muitos de nós somos colaboradores das descobertas dos outros; dentre nós, poucos são criativos; apenas alguns são ambas as coisas. Somos todos necessários, pois mesmo o cientista mais cria tivo constrói sobre um alicerce já fu n ­dado. 0 desprezo pelo pesquisador metódico impedirá o estudante dever as contribuições m uito valiosas e necessárias, que só podem surgir de um trabalho duro, e muitas vezes sem inspiração, de "pá e enxada". Por

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oA IMPORTÂNCIA CIENTIFICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 33

outro lado, se o estudante é ensinado, como muitos o são, que trabalho

de "pá e enxada" é Ciência, então ele inevitavelmente deixará de apreciar os resultados de descobertas importantes, mas não elaboradas.

Acima de tudo, a descoberta de novos fenômenos é uma atividade criativa (apesar do papel do acidental não poder ser ignorado, tanto aqui, quanto em outras espécies de experimentação). Algumas ciências bem

desenvolvidas im plicitamente reconhecem este fato, batizando o novo

fenômeno com o nome do seu descobridor. Mas raramente ouve-se dizer que um processo comportamental tenha recebido o nome do homem que

o descobriu. Muitos psicólogos experimentais parecem estar preocupados com a coleta de dados ou construção de teoria ou medotologia estatís­

tica ou muitos outros problemas, alguns valiosos, outros triviais. Mas quando um leigo inteligente observa as suas atividades, poderá perguntar espantado — "Onde está o pensamento? O que está fazendo a respeito da neurose ou da psicose? Esqueceu-se que o comportamento ocorre tanto na dimensão espacial, quanto na temporal? O que descobriu acerca

do comportamento multideterminado? Sabe alguma coisa a respeito da apatia profunda desenvolvida pelos americanos prisioneiros de guerra nos

campos chineses? " Essas perguntas podem ser multiplicadas indefinida­mente. A resposta-desculpa para a maioria delas é que ainda não fomos capazes de reproduzir os fenômenos necessários, ou seus equivalentes, no laboratório. Não é suficiente nos justificarmos humildemente explicando

g que estamos tentando desenvolver uma ciência do comportamento, que 2 ciência envolve necessariamente a investigação de muitas coisas que g somente são importantes em relação à sua própria consistência interna,

que temos que começar com o que é lim itado e simples, de modo a esta­belecer um sólido trabalho de base para que pesquisas mais significativas possam ser feitas futuramente. Tais preocupações são válidas, mas como

resposta ao nosso visitante hipotético, possuem uma sinceridade duvidosa, a menos que possamos lhe demonstrar que dispomos de uma grande receptividade para fenômenos comportamentais novos. De fato, a recepti­vidade não é suficiente. Precisamos buscar ativamente novos processos comportamentais no laboratório, treinando nossos estudantes para essa finalidade e providenciando recompensas profissionais adequadas. Então

aceleraremos o processo pelo qual nossa ciência possa ser levada a enfren­tar o comportamento como realmente se desenvolve no mundo que nos rodeia.

Como se descobrem novos processos comportamentais para trazê-los

para o laboratório? Não existem fórmulas a seguir. A fonte de novos fenômenos pode surgir da investigação sistemática de cada um, da obser-

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34 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

vação casual do comportamento fora do laboratório, de previsões geradas por uma teoria ou de problemas práticos que surgem de algumas áreas,

como educação, planejamento de equipamentos, terapia ou controle de trânsito. Novos processos que emergem de dados experimentais apresen­

tam uma vantagem sobre aqueles derivados de outras fontes — sua dispo­nibilidade imediata para a manipulação experimental. Uma vez que esses fenômenos foram produzidos por processos específicos, sua elaboração na forma de investigação sistemática pode ser realizada com um m ín im o de tentativa e erro.

Quando se tenta estabelecer controle experimental sobre um fenô­meno comportamental observado fora do laboratório, surge um problema criativo d if íc il. Devem ser feitas suposições relativas às variáveis relevantes. Serão as variáveis supostas semelhantes a alguma que já tenha sido previa­mente estudada experimentalmente? Se não fo r, como poderemos en­contrar uma form a de colocá-las sob controle? A té que ponto o com por­tamento em questão pode ser conceituaiizado? Por exemplo, deveríamos reproduzir precisamente a paralisia histérica de um paciente hospitalizado ou podemos lidar com o mesmo fenômeno em termos de atividade dos macacos na pressão à barra? Estarão os processos comportamentais suficientemente bem compreendidos que os pudéssemos reproduzir em

qualquer ou tro lugar, fora da situação original?Coloquei essas questões de maneira um pouco diferente da forma

pela qual são habitualmente colocadas. Um problema freqüentemente discutido em psicologia é se os dados de laboratório podem ser extrapo­lados para a vida diária. Mas agora estamos perguntando se podemos levar

o comportamento da vida cotidiana para o laboratório. Esta questão nos

aproxima de um aspecto do problema da generalidade dos dados experi­mentais, problema com o qual me preocuparei até certo ponto nos capí­

tulos seguintes. Minha preocupação, agora, é como a resposta a essa

pergunta irá afetar nossos julgamentos sobre a importância dos dados.

Os psicólogos têm sido freqüentemente criticados porque seus expe­rimentos estão m uito distantes da vida diária para fornecer informações úteis a respeito do comportamento humano fora do laboratório. Parece que o comportamento é um dos últimos assuntos a ser aceito como ciência experimental. Objeções semelhantes têm sido levantadas a todas as ciências no passado. Mas nos dias de hoje ninguém espera que o fís ico estude a gravidade observando o cair das folhas no outono, ou que o fisiólogo estude a velocidade da transmissão neurológica medindo tempos de reação. Da mesma forma, pode-se esperar que as leis do comporta­mento sejam válidas, quando obtidas no laboratório. E, à medida que

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 35

existir uma continuidade biológica desde os organismos inferiores até os superiores, podemos esperar também que isto ocorra com o seu compor­

tamento.Infelizmente os próprios psicólogos estão divididos com relação a

esta questão. Alguns não se preocupam se o seu trabalho é ou não rele­

vante para o comportamento humano. Podem estar interessados no com­

portamento de animais inferiores, ou podem, simplesmente, estar lidando

com qualquer tip o de comportamento que lhes agrade. Pode não haver

uma objeção real a este ponto (de vista. O conhecimento da natureza, em

si mesmo, é um propósito legítim o e pode dar muitas satisfações.

Entretanto, há alguns psicólogos que sentem que a relevância para o comportamento humano é o principal objetivo dos seus estudos experi­

mentais, mas que pretendem uma relevância especial para um tipo de experimentação e nenhuma relevância para outros. Assim temos o homem que usa ratos brancos como seus sujeitos experimentais pretendendo que

o estudo da paramécia seja uma perda de tempo. Um putro experimen­tador defende o macaco e não o rato, dizendo que aquele é um melhor representante da raça humana. Nega qualquer semelhança entre seu próprio comportamento e o de um rato. Um psicólogo mais meticuloso argumenta que o calouro da Universidade é o único sujeito que pode fornecer dados que valham a pena. Depois descobrimos que o colega calouro fo i substitu ído pelo m ilitar bem treinado, sentado diante de um painel de instrumentos, ou "demonstração". Finalmente, considera-se, algumas vezes, que só se pode fazer boa pesquisa em hospitais para doentes mentais.

Tais pontos de vista não são na realidade mais sofisticados do que aqueles que defendem que todas as pesquisas de laboratório são irrele­vantes para a compreensão adequada do comportamento humano. Têm em comum a noção errada de que devemos, de alguma forma, planejar analogias experimentais do comportamento que observamos em nossos

semelhantes. "Para estudar psicoses em animais é necessário aprender como tornar os animais psicóticos". Mas porque devemos esperar que a

psicose do rato tenha qualquer semelhança aparente com a dos seres

humanos? Enquanto uma constelação particular de variáveis vividas pelo homem pode levá-lo a se isolar numa caverna e comer excrementos, a mesma classe de fatores pode levar um rato a continuar a pressionar uma barra com grande rapidez, bem depois de termos retirado qualquer refor­çador visível. Nosso problema não é o da analogia, mas de conseguir uma compreensão suficiente tanto dos ratos, como dos homens, para que pos­samos reconhecer semelhanças nos processos comportamentais. Temos

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36 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

que ser capazes de classificar nossas variáveis de uma tal maneira, que

nos permita reconhecer semelhanças entre os seus princípios de operação, apesar de que suas especificações físicas possam ser bem diferentes.

Vamos supor que estamos interessados no problema da depressão

humana, subseqüente à morte de um ente querido, e que achamos que esta investigação possa ser feita proveitosamente em laboratório animal. Nossa tarefa não será simplesmente descobrir um macaco que caia em

depressão quando sua companheira morrer. Nosso curso de ação será, sobretudo, o de aplicar ao macaco os princípios comportamentais que supomos serem atuantes no caso humano. Precisamos criar as condições

adequadas no laboratório para que então p n ^ m o s manipulá-las e exami­nar suas contribuições respectivas. Talvez nossa análise prelim inar do problema nos leve a suspeitar que o tip o de depressão comportamental em questão resulte da remoção de um forte reforçador generalizado. Poderíamos então, por meio de toda a capacidade técnica à nossa dispo­sição, estabelecer um reforçador generalizado para o nosso macaco expe­rimental. Talvez esse reforçador generalizado possa ser mesmo um outro macaco. Neste caso, o segundo macaco seria associado ao maior número possível de reforçadores do animal experimental, e com um grande número de respostas diferentes. A associação seria realizada de acordo com os princípios de encadeamento e reforço condicionado, que já se mostraram os mais eficientes em outros experimentos de laboratório. Uma vez estabelecida a relação desejada entre os dois macacos, o segundo poderia ser retirado, deixando o prim eiro privado da fonte de muitos dos seus reforços. Poderíamos então observar quaisquer mudanças subse­qüentes no comportamento do animal. Poderíamos até mesmo usar um estímulo sinal para indicar a retirada do reforçador generalizado e registrar o comportamento do nosso macaco na presença desse estímulo.

Seriam as mudanças de comportamento do macaco do laboratório semelhantes, em princip io , ao tip o de depressão humana em que estamos interessados? Certamente estamos lidando com variáveis semelhantes às do caso humano. Pode ser que não tenhamos a história toda, mas teremos dado a largada para a identificação e investigação dos fatores críticos. Realizar um tal experimento com um macaco não nos garante, é claro, uma compreensão crescente do comportamento humano. O macaco pode demonstrar não ser um organismo adequado ao estudo do problema em questão, ou, mesmo se este não fo r o caso, nosso conhecimento técnico

e sistemático pode não ser adequado à tarefa.

Uma barreira ainda mais séria à extrapolação, entretanto, será a escassez de dados objetivos no lado humano. Embora o comportamento

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 37

do macaco possa ser extensiva e cuidadosamente pesquisado, nossas técnicas de controle e observação no lado humano provavelmente perma­necerão bem atrás. A extrapolação a partir do macaco será d if íc il, porque

o caso para o qual a extrapolação deverá ser feita, estará insatisfa- toriamente defin ido em vários aspectos. Todavia, a possibilidade de obter

a clareza desejada da definição é um dos valores principais da experi­

mentação preparada para estabelecer um fenômeno comportamental no

laboratório. Ë provável que a nossa compreensão do comportamento humano aumente, através da experimentação e das observações clínicas

acumuladas, até que possa ser estabelecida uma conexão com as desco­bertas de laboratório. Além disso, os dados de laboratório podem realmente sugerir novos ângulos de observação do comportamento huma­

no. Sugestões deste tipo nem sempre ficam auto-evidentes nos dados. Como qualquer ato de indução, serão o resultado de cuidadosa experi­mentação, imaginação criativa, e de um conjunto de fatores que exigirão uma análise mais completa do que é possível aqui. A analogia poderá ou não fazer parte, mas certamente não é uma componente necessária, nem mesmo sempre desejável.

Algumas vezes, quando um tip o de comportamento comumente observado é demonstrado no laboratório, ouvimos a observação, "E daí? " Todo mundo sabe que as pessoas agem assim. Quem se preocupa com o fato de ratos de laboratório, macacos, ou calouros de Universidade agirem também assim? " Tal declaração admite de antemão que a obser­vação comum é um substituto adequado da observação controlada. Às vezes as duas podem estar de acordo, mas isto não pode ser previsto antes

de serem empreendidos estudos experimentais. A observação diária do

comportamento, notoriamente, não é fidedigna. Em nossas impressões e interpretações do comportamento, como ocorre ao nosso redor, tendemos a deixar de lado muitas propriedades do comportamento e das suas

variáveis de controle: Lemos em nossas descrições do comportamento muitas coisas que realmente não existem, e admitimos com bem pouca

evidência, que dois ou mais tipos de comportamento são iguais, simples­mente porque parecem iguais. A própria linguagem do nosso falar co ti­

diano serve freqüentemente para obscurecer os dados críticos. “ E xp li­

camos" o comportamento utilizando termos que se referem a alguma condição hipotética do organismo. Como observava Skinner:

Um organismo tem um "h á b ito " na medida em que certa formade comportamento é observada com uma certa freqüência — a tr ib u í­vel a acontecimento da história do indivíduo. Possui um " in s tin to ".

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38 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

na medida em que uma certa forma de comportamento é observada com uma freqüência especial — neste caso por ser membro de uma espécie determinada. Uma "a titu d e " exprime uma freqüência espe­

cial de um número de formas de comportamento. Estas freqüências são os fatos observáveis e podem ser estudados como ta l . . .

(84, p. 69).

Por razões como essas, a confirmação completa de nossas impressões

diárias de comportamento, em um estudo de laboratório, tenderá a ser relativamente rara. Estamos quase certos de observar variáveis não sufici­entemente bem delineadas nas conversas animadas do mundo com porta­mental fora do laboratório, e de descobrir que fatores aparentemente semelhantes são realmente irrelevantes, ou são, no máximo, concomitantes desnecessários do comportamento em questão.

Além dessas vantagens da precisão analítica e manipulativa, o controle de laboratório de sujeitos animais inferiores é ú til ao estudo de fenômenos que não são suscetíveis de experimentação humana, em razão de nossas tradições éticas e culturais. Reconhece-se, por exemplo,

que a punição, branda ou rigorosa, é uma forma de controle de compor­tamento de quase todas as sociedades, inclusive a nossa. Mas não reconhe­cemos este fa to , a ponto de adm itir a utilização de castigos severos no laboratório, a não ser com sujeitos sub-humanos. A punição e os vários tipos dos fenômenos de stress são entretanto, áreas chaves nas quais é extremamente importante se obter o controle do laboratório sobre fenô­

menos relevantes. Se quisermos conseguir insights da pesquisa controlada

nessas áreas, precisamos fazer com que toda a nossa engenhosidade esteja dirigida para o problema da reprodução dos processos comportamentais

envolvidos no controle da aversão./

A inspiração para a descoberta experimental de novos fenômenos

comportamentais necessariamente não deriva diretamente de uma preocu­

pação com problemas humanos como são percebidos na vida diária, ou no sofá do analista. Walter H unt, por exemplo, desenvolveu delibera­damente sua bem conhecida técnica da resposta adiada (48) originada

do seu desejo de investigar processos simbólicos. Mas outra técnica ú til da resposta adiada, "introduzida por B. F. Skinner, fo i desenvolvida simplesmente como subproduto (81, pp. 306-307). Nos seus estudos dos processos de reforço de rçzão-fixa, nos quais o sujeito deve responder um número fix o de vezes a cada reforço, Skinner realizou um experimento de controle para demonstrar qual o papel exercido pela correlação entre

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 39

reforço e freqüência de resposta. Simplesmente estabeleceu uma condição

em que uma determinada resposta nunca seria reforçada se tivesse sido precedida, dentro de quinze segundos, por outra resposta semelhante. 0 comportamento originado por essa técnica, uma baixa freqüência de respostas espaçadas, tornou-se desde então, uma das linhas de base mais úteis e interessantes dos psicólogos experimentais.

Um programa experimental consistente e integrado, então, pode

fornecer uma fonte abundante de descoberta de novos fenômenos compor­tamentais. Se o programa fo r suficientemente intensivo, será atingido um ponto no qual as antigas concepções começarão a ru ir e novas técnicas

tornar-se-ão necessárias à investigação de variáveis que não foram reco­nhecidas anteriormente. Tal ponto, quando alcançado, constitu i uma crise no progresso experimental. Alguns pesquisadores não conseguem perceber quando o atingiram e simplesmente continuam a fazer experimentos

segundo as linhas que estabeleceram no começo do seu programa. Outros cientistas reconhecem a crise quando com ela se deparam, e sem inspi­

ração para enfrentar o desafio, desviam-se para outras direções. A ciência, entretanto, tem os seus maiores avanços, quando o pesquisador é capaz de crescer com os seus dados; quando está preparado para pôr de lado, ou modificar drasticamente, suas velhas técnicas ou concepções, em favor de outras novas e não ortodoxas. Uma ciência que não consegue levantar novos fenômenos pelo que podemos chamar de "técnica de pesquisa

intensiva", está a caminho da decadência. D ificilm ente se poderá dizer

que a psicologia atingiu esse estágio.

O impulso para a demonstração experimental de novos fenômenos

pode vir ainda de outra direção. Não somente o psicólogo, mas também o fisiólogo, o anatomista funcional, o psiquiatra, o sociólogo, o antro­pólogo, o ecólogo, o farmacologista, o geneticista e os representantes de outras disciplinas científicas estão preocupados com fenômenqs compor­tamentais. Entretanto, estas outras disciplinas estão geralmente preocu­padas com o comportamento como instrumento de pesquisa de alguma outra coisa, tal como, o sistema nervoso, drogas, cultura, movimentos de

população, ou hereditariedade. Possuem técnicas engenhosas para inves­tigar suas próprias esferas de interesse, mas quando querem relacionar suas observações ao comportamento, freqüentemente recorrem ao psicó­

logo em busca das técnicas de comportamento adequadas. O psicólogo experimental deve enfrentar o desafio dessas solicitações, ainda que im­ponham um esforço às suas possibilidades experimentais. Pode ser capaz de dar contribuições importantes em áreas mais amplas do que a esfera

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40 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

particular de competência da psicologia; mais do que isso, pode ter a oportunidade de trazer para o controle experimental novos fenômenos

de comportamento.

Muitos cientistas, não diretamente preocupados com o comporta­

mento em si, são, ainda assim, perspicazes observadores do com por­tamento. Além disso, suas técnicas podem produzir ou revelar mudanças de comportamento, que têm um interesse direto para o psicólogo. A l­gumas vezes essas mudanças são sutis e d ifíceis de defin ir. É importante mantê-las sob o controle experimental o mais rigoroso possível. Deixem-

-me citar um exemplo no qual, infelizmente, a psicologia experimental

ainda não se distinguiu por nenhuma contribuição notável.

Uma vez, um neurologista me apresentou a um paciente cujo diagnóstico era o da psicose de Korsakoff. Os sintomas eram os clássicos

dessa síndrome. Quando lhe perguntaram aonde estava (em um hospital), respondia freqüentemente com o nome de um hotel no qual havia estado

algumas vezes no passado. Quando lhe perguntaram sobre a sua fam ília,

dizia que não a possuía, ou dava o nome de um membro da fam ília já falecido. Quando o neurologista lhe perguntou o seu nome (do neuro­logista), o paciente não conseguiu responder. O neurologista lhe disse o seu nome avisando-o de que perguntaria novamente daí a alguns minutos. Quando a pergunta novamente fo i feita, o paciente disse outros nomes, inclusive os de outros médicos do hospital que freqüentemente o entre­

vistavam. Quando esses médicos estavam presentes, entretanto, o paciente não conseguia se lembrar dos seus nomes. Durante essa entrevista o paci­ente parecia realmente estar se esforçando e ficava embaraçado com as respostas que dava às perguntas. O paciente conseguia jogar damas, mas se ocorresse uma interrupção momentânea, era incapaz de voltar a jogar

a mesma partida.

O neurologista me fez uma pergunta simples. "Com o classifico a

deficiência de comportamento desse homem? Ë uma falta de memória, uma desorientação geográfica e temporal, uma deficiência de concentração e discriminação? Ou será um problema motivacional? Estará mentindo

deliberadamente? Isto o preocupa? " Não houve, é claro, uma resposta pronta. O que quero tornar claro é que o fenômeno estava ali, esperando

pelas técnicas de análise comportamental. O problema nem mesmo exigia -que reproduzíssemos o fenômeno no laboratório. O neurologista havia fe ito um bom trabalho de observação, com a capacidade que estava à sua disposição. Estava simplesmente pedindo ao psicólogo que contribuísse, se possível, com uma análise mais refinada dos processos de comporta-

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 41

mento envolvidos. Se isso pudesse ter sido realizado, teria sido possível

voltar ao laboratório e produzir um processo comportamental semelhante para um estudo mais preciso, com um intercâmbio contínuo entre o labo­

ratório e a 'tlin ica , contribuindo para o progresso de ambos. A psicologia está, simplesmente, no lim iar deste tipo de colaboração.

Experimentos realizados para investigar as condições sob as quais os

fenômenos ocorrem. Uma vez que tenha sido introduzida uma nova técnica, ou que um novo fenômeno apareça no laboratório, ou que se form ule uma nova teoria, ou que a curiosidade seja despertada por alguns dados, novas tarefas se estabelecem para o pesquisador. Uma nova desco­berta experimental, ou uma teoria promissora permanecem um desafio enquanto isoladas, não relacionadas com outras descobertas e teorias. 0 processo para descobrir as condições sob as quais um fenômeno ocorre constitui o prim eiro passo para a integração. A maioria dos dados da

ciência são sub-produtos desse processo, e esta é a razão pela qual muitas descobertas experimentais são de pouco ou nenhum interesse para o

observador não c ien tífico . O leigo freqüentemente pergunta, "O que está tentando provar? " Quando o investigador responde, por exemplo, que está simplesmente tentando descobrir se os reforçamentos primários e condicionados obedecem às mesmas leis, o que perguntou poderá ficar

imaginando porque um problema tão esotérico deverá exigir um tão

grande dispêndio de energia, tempo e dinheiro. Um psiquiatra meu conhe­

cido tinha uma resposta pronta para essa indagação: "masturbação m ental" era a sua caracterização.

O que não é facilmente visível, mesmo para o não cientista educado

e simpático, é que o cientista, antes de mais nada, esteja procurando a

ordem na natureza. Somente a descoberta extraordinária passa a ser ú til da maneira prática. Mas as descobertas extraordinárias são edificadas sobre um alicerce de pequenas descobertas, nenhuma capaz por si mesma

de abalar o mundo, sem as quais o passo finãl jamais poderia ser dado. A maior preocupação da Ciência é a solidez do seu ed ifíc io básico. Assim,

muitas experiências são realizadas somente para estabelecer um sistema sólido e racional dentro de uma área particular de interesse. Ninguém

pretende que tais experimentos produzam descobertas imediatas d.e inte­resse prático. Freqüentemente os dados são importantes somente enquan­to estabelecem — ou contradizem — a solidez dos outros dados ou de alguma conceituação dos fenômenos naturais. Servem para robustecer a consistência in terior da ciência; nesse papel são fundamentais para o progresso do conhecimento. Dificilmente é possível predizer o ponto da

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42 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

corrente de evidência em que os dados se espalharão para o mundo,

fora do laboratório.Na busca das variáveis de controle, relevantes para um determinado

fenômeno de comportamento, há várias considerações que influenciam as

direções da experimentação. Muitas vezes o impulso inicial vem do desejo

de atingir um nível melhor de controle experimental. O experimentador pode confiar na sorte ao preparar um experimento que produza um efeito

comportamental determinado, e se as variáveis com as quais está acostu­mado a trabalhar forem suficientemente poderosas, sua sorte poderá

continuar. Mas pode ser uma experiência frustrante descobrir, por exem­

plo, que somente uma certa porcentagem de sujeitos experimentais produzem o tip o especial de dados da linha de base necessários a um

experimento bem sucedido.Em tais casos, o experimentador, se estiver mais interessado no

controle experimental do que no estatístico, dará um passo para trás. Temporariamente abandonará o seu objetivo imediato e, em vez disso, começará uma pesquisa das variáveis que influenciam suas condições da linha de base. Por exemplo, procurará um tipo de dieta que seja ideal­mente eficiente como reforçador, no sentido de manter o comportamento em um estado de equ ilíb rio durante um longo período de tempo. Ou procurará as condições que irão manter uma forma especial de compor­tamento, em um nível intermediário, para que assim possa ter uma medida mais sensível, capaz de mudar em qualquer direção, quando finalmente aplicar as variáveis nas quais estiver mais interessado. Tais pesquisas podem ocasionalmente produzir dados que são de maior interesse do que o problema original; sua função usual, entretanto, é a de estabelecer uma metodologia segura para a pesquisa de problemas mais gerais. Esta função

raramente produz experimentos espetaculares; apesar disso, sua im por­

tância não deve ser subestimada.Estes experimentos, planejados para descobrir a combinação ideal

de variáveis para serem usadas com algum outro propósito, podem ser marginalizados como "exp lora tórios" porque geralmente não são obser­vados com objetivo próprio. As próprias variáveis podem não ter um

interesse intrínseco; podem não servir a nenhuma função adicional, uma

vez que a informação necessária tenha sido obtida. Ainda assim, deverão ser relatados aos colegas. Ainda que os dados possam não preencher

nenhuma lacuna importante do conteúdo fá tico sistemático da ciência, fornecem informação metodológica vital. Por exemplo, a dimensão ideal da chave de resposta, em um experimento com pombos, as condições de iluminação de um labirin to, as instruções de um experimento psicológico.

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 43

tudo isso oferece problemas que qualquer experimentador que use tais mecanismos deverá resolver. Se o problema já fo i resolvido e as soluções estiverem disponíveis de modo geral, economizará tempo e trabalho para

outros laboratórios.

A experimentação planejada para explorar as condições sob as quais os fenômenos ocorrem também pode ter implicações mais gerais para a

metodologia. Por exemplo, alguém pode estar interessado no comporta­mento em equilíb rio , comportamento cujas características não mudem durante longos períodos de tempo. No curso da determinação das variáveis responsáveis pela manutenção de um tipo particular de comportamento no estágio de estabilidade, pode-se chegar a princípios gerais que serão

também aplicáveis a outro comportamento.Geralmente a definição de um estado estável envolve algum tipo

de critério. Durante quanto tempo deve ser mantido e que magnitude de variabilidade pode ser permitida antes que alguém se convença que um estado estável fo i atingido? O critério pode ser determinado em termos de conveniência, ou pela inspeção visual das curvas, ou por procedi­mentos matemáticos elaborados, dependendo da precisão exigida pelo problema em consideração (veja o Capítulo 9). No curso da determinação da conveniência de um critério, podem ser feitas observações cuja impor­tância transcende ao problema imediato. Tais observações precisam ser reconhecidas como importantes e oferecidas ao dom ínio público para os usos gerais da ciência. Por exemplo, o esquema de reforço intervalo- -variável, no qual ó tempo entre os reforços é irregular, tornou-se uma

técnica relativamente comum para estabelecer um nível estável de compor­tamento da linha de base, tanto nos experimentos com animais, como

com homens. Este esquema tem a virtude de gerar uma freqüência de resposta estável, consistente para um sujeito determinado durante longos períodos de tempo. Mas poucos pesquisadores que usam esta técnica estão cientes que o comportamento sob controle dos esquemas de reforço intervalo-variável muitas vezes revela flutuações cíclicas de grande duração.

O comportamento pode ser consistente durante o período coberto pela maioria dos experimentos; mas pesquisas de longa duração exigirão estudo

mais intenso desse fenômeno cíclico, não somente para os dados de impor­tância metodológica imediata, mas também para a informação básica sistemática relevante para o problema geral mais amplo de comportamento em estado estável.

Outro tipo de problema freqüentemente encontrado é o da reversi­bilidade de um processo de comportamento (Capítulo 8). Depois de observar uma mudança comportamental como função de alguma manipu­

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44 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

lação experimental, será possível recuperar o comportamento original da linha de base? A irreversibilidade é o principal fenômeno comportamental;

que variáveis são responsáveis nas ocasiões em que aparece? Em qualquer caso particular a solução do problema terá, além da sua importância sistemática, um efeito sobre a metodologia experimental no estudo do comportamento. Se o comportamento do sujeito pode ser manipulado antes em uma direção, depois em outra, com um retorno ao seu estado original sempre possível, m uito da variabilidade entre-sujeitos que pertur­

bou a psicologia experimental pode ser posto de lado (quando não é a variabilidade, em si mesma, o objeto de estudo).

Estes exemplos constituem somente uma fração insignificante dos problemas que exigem exploração das variáveis possivelmente relevantes. São somente uma parte dos problemas de interesse corrente. Não há

previsão da natureza das exigências que serão feitas pelas metodologias futuras. Se a história nos ensina que não podemos predizer, com nenhuma precisão duradoura, as direções da pesquisa no fu tu ro , também nos ensina que as sementes do progresso fu tu ro estão sendo lançadas agora. Por essa

razão, não podemos adm itir o menosprezo da demonstração de qualquer variável im portante. Ainda que a variável pareça de pouca relevância sistemática ou metodológica corrente é, apesar de tudo, um fa to do comportamento. E como tal, é importante.

A pesquisa detalhada das condições sob as quais ocorre um fenô­meno freqüentemente realiza mais do que uma demonstração da consis­tência interna dentro de uma área determinada. A avaliação quantitativa de variáveis relevantes pode estabelecer conexões entre fenômenos até agora não relacionados. A sistematização não requer necessariamente que

muitas observações sejam subordinadas a um único conjunto de princípios, embora tal unificação seja, talvez, a melhor forma de sistematização. Há muitos problemas que realmente não se sobrepõem e que ainda assim se relacionam. A sistematização ocorre não somente quando um fenômeno “ absorve" um outro , mas também quando se descobre que dois fenômenos possuem fronteiras comuns. A integração sistemática de duas descobertas experimentais não requer que sejamos capazes de deduzir uma da outra. Quando fo r possível fazer essa dedução sem suposições adicionais, esta­remos lidando com um fenômeno, e não com dois. Uma dedução bem sucedida significa que a exposição do fenômeno A realmente inclui o fenômeno B, a não ser que a complexidade da exposição exija uma análise lógica para revelar o seu conteúdo.

Os dados podem ser integrados de outras maneiras, entre as quais não se inclui o processo dedutivo. Dois sistemas de fenômenos podem

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 45

não ter nenhuma relação entre si, a não ser que por algum valor de uma variável comum a ambos, se considere que os dois fenômenos se fundem em um só. Por exemplo, tomemos a análise dos processos de reforçamento

proposta por Schoenfeld, Cumming, e Hearst, embora sua adequação não

tenha sido ainda estabelecida .(67). Nessa análise não há tentativa de deduzir as conseqüências de um programa de reforçamento das de um outro programa de reforçamento. Em vez disso, esses escritores tentam demonstrar que, em valores limitados de certas variáveis empíricas, o comportamento gerado por vários esquemas é idêntico. Não importa que,

em outros valores quantitativos das variáveis críticas, os esquemas pro­

duzam padrões de comportamento acentuadamente diferentes. Nem há aqui qualquer problema proposto pelo fa to de que, enquanto as variáveis se afastam cada vez mais dos seus valores limites, os comportamentos

submetidos a esquemas diferentes mostrem efeitos acentuadamente d ife­rentes quando expostos a manipulações experimentais semelhantes. Porque sistematização não é necessariamente sinônimo de redução. Certos fenô­menos não são deriváveis uns dos outros. Mas uma demonstração de que

eles se encontram a certa altura e que depois se afastam sistematicamente é a principal realização da integração. Esta técnica de integrar dados experimentais pode ser denominada o "m étodo da contigüidade quanti­

ta tiva".Uma segunda técnica de sistematização pode ser denominada de

"m étodo da contigüidade funcional". Através desse método, a conti­güidade — na forma de semelhanças funcionais — entre dois fenômenos poderia ser estabelecida mesmo que as variáveis críticas sejam quantitativa e qualitativamente diferentes nos dois casos.

Por exemplo, tomemos uma situação experimental em que um

animal receba reforço alimentar para uma certa resposta — como a pressão à barra. Entretanto, durante um estímulo determinado — talvez o soar de uma campainha — o animal nunca recebe reforço alimentar. Perce­bemos que o estím ulo tanto pode servir para aumentar como para dim inuir a probabilidade da resposta que o precede. Se o estímulo funciona positi­

vamente ou negativamente, é determinado pela duração relativa de dois intervalos críticos de tem po: um, a duração do estímulo em si; outro, o intervalo de tempo médio entre os reforços de alimento recebidos na

ausência do estím ulo (42). Chamemos a isso fenômeno A.O fenômeno B é observado em um experimento de esquiva de

choque no qual o animal recebe choque somente diante de um estímulo determinado. Novamente, o estímulo tanto pode aumentar como dim inuir

a probabilidade da resposta que o precede, com sua função negativa ou

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46 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

positiva determinada pela duração relativa de dois intervalos cri'ticos de tempo. Neste caso, o primeiro é a duração do intervalo de tempo pelo qual cada resposta de esquiva emitida no estímulo adia o choque. O segundo é a duração do intervalo de tempo pelo qual cada resposta de esquiva emitida na ausência do estím ulo adia o in íc io do estímulo (73).

As variáveis críticas envolvidas nos dois experimentos são m uito

diferentes. No fenômeno A, lidamos com esquemas que determinam com que freqüência uma resposta pode produzir reforço alimento. No fenô­meno B, lidamos com esquemas que determinam a duração do tempo que uma resposta pode adiar o choque. Mas em cada caso, a variável de controle tem que ser especificada como uma relação entre os intervalos de tempo. A função do estímulo poderia ser explicada somente em se levando em conta tanto o esquema na presença do estímulo, quanto o esquema na sua ausência. Assim, mesmo que as variáveis fossem quanti­tativa e qualitativamente diferentes, a análise funcional revelaria que um processo de relação estava envolvido nos dois casos, cada um lidando com fenômenos completamente diferentes.

Tanto o método de contigüidade quantitativa como o de contigüi­dade funcional dependem, para o seu sucesso, da seleção de variáveis adequadas dependentes e independentes. Os fenômenos comportamentais

podem ser examinados a partir de vários pontos de vista, cada um deles dando ênfase a variáveis diferentes. 0 primeiro requisito para uma siste­matização adequada, entretanto, exige que selecionemos, como nossa variável dependente, algum aspecto do comportamento que prove ser suficientemente básico para servir de foco de tentativas de integração. Embora algumas variáveis dependentes tenham sido sugeridas, os psicó­logos até agora não chegaram a um acordo substancial a respeito de nenhuma delas. Deveríamos nos concentrar nos aspectos temporais do

comportamento, ou nas suas características espaciais ou nas suas proprie­dades intensivas, para citar pelo menos algumas das alternativas? As

variáveis independentes, das quais o comportamento é uma função, co­locam problemas semelhantes. Quais entre as inúmeras variáveis que afetam o comportamento demonstrarão ser as mais eficientes como estrutura para a sistematização?

As respostas a esses problemas são vitais para uma ciência do comportamento, como têm sido para outras ciências. A quím ica não poderia ter surgido como uma ciência moderna antes de reconhecer que o peso, mais do que a cor, era a variável crítica . A física passou por uma revolução quando, por meio da equivalência de energia e massa, o número de variáveis fo i reduzido a um.

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 47

A fim de sistematizar, por meio de variáveis demonstradas como comuns em diversas situações, será necessário preparar experimentos

voltados para a pesquisa da série de variáveis relevantes para um deter­minado fenômeno. Considerações teóricas podem ditar a direção específica de tal experimentação, mas o estudante deverá se acautelar para que a

sua teoria não o aprisione. Pode ser possível resolver o problema teórico por um experimento "em dois pontos"; apesar disso, o estudante deverá testar uma série ampla de valores das variáveis em questão, como tema

de prática geral. Então, ainda que a teoria não seja sustentada, os dados estarão suficientemente completos para revelar outras possibilidades de

integração. Se o estudante fo r um praticante atento dos métodos de indução, pode-se predizer que alguns graus de sistematização resultarão de experimentos que produzam uma série de relações funcionais completas

dentro de uma área relativamente circunscrita.A demonstração da relevância de uma variável em uma situação

particular, pode não ser reconhecida como a principal descoberta até que outras variáveis e situações experimentais diferentes tenham sido explo­radas. Com freqüência, tais dados permanecem relativamente isolados até que descobertas posteriores os coloquem adequadamente em um esquema

sistemático mais amplo. O trabalho de Skinner "Superstição do pom bo" (82) oferece um exemplo notável de aceitação tardia (veja p. 334). Duran­te vários anos, os dados que ele relatou foram considerados apenas uma

curiosidade interessante. Mas recentemente as variáveis descritas nesse relatório demonstraram ser de fundamental importância em uma grande variedade de situações experimentais e clínicas. Alguns teóricos agora concordam em que a maior parte do comportamento humano está sob o controle de contingências "espúrias" semelhantes às descritas por Skinner. Os fenômenos comportamentais atribuíveis a contingências fortuitas dé

reforçamento têm sido observados em situações experimentais que vão desde estudos de adaptação ao escuro até pesquisas sobre punição. Tais

contingências começam a ter um papel unificador na sistematização de

uma ampla variedade de dados.Se alguém desejar investigar as condições sob as quais um fenô­

meno ocorre, como deverá determinar as variáveis com as quais trabalhar?

Não há uma resposta definitiva a esta pergunta. É possível selecionar as variáveis relevantes de uma teoria determinada; ou proceder baseado no que é análogo em fenômenos semelhantes sobre os -quais temos maiores

conhecimentos; ou selecionar uma variável por alguma razão da qual não se está bem informado ou não se consegue verbalizar adequadamente. Nem estes, nem quaisquer outros métodos de seleção têm qualquer signi-

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48 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

ficado quanto à importância dos dados resultantes. Uma variável pode vir

a ser relevante em contextos jamais suspeitados pelo experimentador, ou

pode v ir a ser secundária ou de m ínim a importância sistemática. Desde

que as direções do progresso sempre são incertas, o estudante não deve tentar tom ar uma decisão final sobre a importância de qualquer variável

demonstrada.

COMO A V A L IA R A IM PORTÂNCIA DOS DADOS?

Ao discutir a importância dos dados experimentais, considerei muitas facetas da ciência. Pode parecer que tenha divagado, bem distante do tópico que está sendo considerado, mas isto é em função da natureza do animal. 0 problema da avaliação dos dados experimentais não pode ser resolvido por uma simples e ordenada discussão. É um problema tão grande como a própria ciência e o cientista profissional experimentado reconhecerá que minha discussão, longe de ser abrangente demais, tem sido bastante circunscrita. Mas, de preocupação mais imediata para o estudante, depois de 1er estas páginas, será a própria sensação de que não recebeu respostas definitivas. Foi levantado um problema, mas as soluções não foram sugeridas. Discuti vários tipos de dados e várias razões para a

experimentação. A importância dos dados é geralmente julgada segundo essas bases, mas (não obstante meus preconceitos indubitavelmente apa­rentes) tentei tornar claro que estas bases não são de fa to fundamentos

adequados para julgar.Então, o que deveremos substituir? Supõe-se que a ciência seja

um processo lógico, ordenado, não sujeito aos caprichos do preconceito e a outras fraquezas humanas dos seus participantes. Se a ciência deve

usar a importância dos dados como um critério para aceitar ou rejeitar

um experimento, deve haver uma série de regras imparciais com a qual o

cientista possa operar quando tiver que fazer a sua avaliação. Exiátirão

realmente tais regras? A resposta é não.Se tivesse deixado o estudante em apuros e abandonado à própria

sorte, teria sido proposital, pois nada mais posso fazer. Goste ou não,

ficará em apuros pelo resto da sua vida científica. Se aderiu à ciência com a ilusão de te r descoberto um meio de vida no qual uma série fixa de

regras fornecer-lhe-ia segurança e isenção de erro, é bom que conheça a realidade da situação o mais depressa possível. Alguns cientistas ou jamais se dão conta que estão sentados em um galho pouco firm e, ou negam esse fato e afirmam que os seus pés estão bem firmes no chão. Não hesitam

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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 49

em condenar o trabalho de um colega como sem importância, porque para eles a importância está, por definição, circunscrita à sua própria coleção de regras. A posição fornece segurança, mas o faz às custas da objeti­

vidade, que é o prim eiro requisito para a ciência efetiva.Entretanto, não recomendo ao estudante que se permita entrar em

luta com todos os dados que lhe despertarem a atenção, aceitando todos

desesperadamente, na tentativa de vir a ser o Homem universal. Como observou Bachrach, "Ser eclético pode .. . significar que tenha os pés

firmemente plantados em pleno a r" (4, p. 43). O estudante deve possuir

algumas convicções em relação aos dados que são mais necessários à sua

ciência. Isto dará direção à sua pesquisa, e o proverá de uma unidade global que lhe perm itirá dar uma contribuição mais segura. Mas não deverá jamais estar tão concentrado em suas convicções que ignore metodolo­gicamente os dados que surgem de outros pontos de vista. E, à medida

que sua ciência progredir, precisará ser capaz de mudar as direções da sua

pesquisa com novos desenvolvimentos.O desenvolvimento cumulativo de uma ciência fornece a única

resposta final quanto à importância de qualquer dado em particular; às

vezes são os jovens cientistas, que entram no campo livres dos precon­ceitos das controvérsias passadas, que apanham os fios da continuidade do emaranhado da teoria, dados, e pseudo-problemas que formam uma

parte de cada estágio do progresso científico.

Page 51: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

c. a f idedignidade e a generalidade dos dados

A importância científica é apenas um dos critérios pelos quais os dados são avaliados. Já salientei que esta é, quando m uito, uma base duvidosa para aceitar ou rejeitar dados. O restante do livro será dedicado a dois outros critérios, fidedignidade e generalidade, sendo que este capítulo servirá de introdução geral.

Como no caso da importância dos dados, a decjsão sobre fidedigni­dade e generalidade exige maturidade de julgamento. Há, entretanto,

muitos psicólogos que insistem em que fidedignidade e generalidade sejam julgadas em bases puramente impessoais. A aceitação deste ponto de vista é possível devido ao reconhecimento por parte do psicólogo, diante

da natureza do seu objeto de estudo, das fraquezas do julgamento humano. Não lhe agrada confiar decisões importantes aos impulsos do

julgamento pessoal. Mas julgamento individual não é, de forma nenhuma, sinônimo de impulso individual. Embora o julgamento possa não ter

fundamento lógico, e o seu resultado não possa ser expresso em túmeros, apesar disso, lida com coisas tangíveis e verificou-se que

lunciona. Os erros são possíveis, mas há formas de serem notados e corrigidos. A objetividade da ciência consiste não tanto em regras estabelecidas de procedimento, mas na natureza auto corretiva do processo científico.

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 51

A prática de julgamento maduro avaliando a fidedignidade e a gene­

ralidade dos dados experimentais é raramente discutida em compêndidos

de métodos experimentais. Contudo, obtivemos um papel básico na avaliação dos dados. Um conhecimento perfeito desse fato comum provará ser mais importante que quaisquer das técnicas de avaliação individual, que são descritos nos capítulos seguintes.

F ID ED IG NIDAD E

Quando perguntamos se os dados são fidedignos, geralmente queremos dizer: "O experimento, se repetido, chegará aos mesmos

resultados?". Em psicologia, esta pergunta é geralmente respondida por meio de uma coleção elaborada de suposições estatísticas e computações

aritméticas.O principal antagonista da fidedignidade estatística é o "Acaso".

A psicologia considera o Acaso como o seu demônio. Todos os dados, no seu nascedouro, são considerados portadores dfe vícios, e qualquer dado que não possa ser provado independentemente do Acaso é imediatamente e irrevogavelmente mandado para o inferno. A Teologia é severa.

Considera-se que a marca do Acaso nunca poderá ser completamente apagada de qualquer dado. O melhor que podemos fazer é determinar

que os dados específicos tenham uma baixa probabilidade de pertencer ao Acaso e, com alguma cautela, incluirmos tais dados no "rebanho".

Se não pertencem ao Acaso, pertencem à Ciência. Desta forma os dados são aceitos pela ciência por exclusão. Não possuem virtudes positivas, somente a virtude negativa de serem devidos ao Acaso, com um baixo

grau de confiança.

O conceito de acaso não significa para a ciência o mesmo que significa para o homem comum. Para ele Acaso é sinônimo de imprevisto.

Mas existe uma ciência do acaso. E quem já ouviu falar de uma ciência cujo objeto de estudo seja imprevisível? De fato, existem as/e/s do acaso, e toda vez que houver lei, haverá previsibilidade. Ë a existência de tais leis que permite aos cientistas avaliarem a fidedignidade dûs seus dados,

diante das linhas de base fornecidas pela teoria estatística.Suponhamos, por exemplo, que conseguimos dois sistemas de

observações quantitativas, um sob condições de controle e outro seguindo alguma manipulação experimental. Dois grupos de números estarão à disposição para a comparação. Agora, será digna de confiança a diferença

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5 2 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

entre eles, ou antes, a média dos dois conjuntos de números? Isto quer dizer, se o experimento fosse realizado com os dois conjuntos de observações obtidos somente sob condições de controle, poderia uma diferença comparável ter ocorrido simplesmente por causa das variações do acaso? O experimentador consciencioso dirá que a diferença não é digna de confiança, e que apareceu por acaso. Então se empenhará em provar que estava errado. Se somente o acaso estivesse operando, e se realmente a variável experimental não tivesse efeito, então os dois

conjuntos de números obtidos teriam que provir de uma mesma popula­ção de origem, que possuísse certas características quantitativas. Fará

então algumas suposições sobre a distribuição de números dentro da

população de origem, depois das quais determinará se os dados obtidos podem ser razoavelmente considerados como tendo sido extraídos ao acaso de tal distribuição. Se seus cálculos lhe disserem que havia somente pouca possibilidade de que os dois conjuntos de valores observados fossem extraídos da mesma distribuição de origem, concluirá que a diferença era real e que os dados eram dignos de confiança.

A análise1 estatística tem os seus méritos para certos tipos de experi­mentos, mas um número de dificuldades sérias está a ela relacionado. Por exemplo, a população de origem, com a qual os dados empíricos deverão ser comparados, apresenta um problema. Idealistica mente, a forma e os parâmetros da distribuição de origem terão sido empiricamente determinados, mas esse caso é raro. Postular as propriedades de ta l d is tri­buição envolve grandes riscos, porque há um número infindo de d is tribu i­ções à escolha. Especialmente arriscada, em razão da sua circularidade, é a

prática, que já fo i geral, de deduzir as propriedades da distribuição de origem dos dados que estão sendo testados. Esta prática tem agora uma aceitação declinante. Mesmo a chamada estatística não paramétrica de livre-distribuição não escapa totalm ente deste dilema, porque sempre se

requer alguma distribuição como linha de base com a qual se comparam as

observações empíricas.A questão de que se o experimento, quando repetido, produzir uma

diferença comparável entre as observações experimentais e de controle, provoca um segundo problema da fidedignidade — não o mesmo problema

que consistia em perguntar se o acaso poderia contar para a diferença obtida em um experimento, mas antes um problema de replicação. Uma operação experimental determinada pode, na realidade, não ter nenhum efeito significativo. Mas uma série de replicações provavelmente irá pro­duzir algumas estimativas das diferenças estatisticamente significativas entre observações experimentais e de controle. Em uma série de

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 5 3

replicações do mesmo experimento, é possível que ocorra, certo número

de vezes, uma diferença estatisticamente significativa, unicamente baseada no acaso. Da mesma forma, mesmo que a variável experimental tenha um efeito real, é provável que uma série de replicações produza poucos fatos estatisticamente significantes. Um único experimento sem replicações está, então, sujeito a qualquer destes dois tipos de erro. Um julgamento estatís­tico de significação ou não significação pode ser ele mesmo um produto

do acaso.Finalmente, ficamos com o problema básico do que significa "aca­

so". As observações experimentais serão sempre o resultado do acaso? Para alguns experimentadores, acaso é simplesmente o nome para efeitos combinados de variáveis não controladas. Se tais variáveis forem de fato

controláveis, então acaso nesse sentido é simplesmente uma desculpa para a experimentação descuidada, e nada mais há a comentar. Se as variáveis

não controladas são realmente desconhecidas, então, como disse Boring, é

um sinônimo de ignorância. A ciência está presumivelmente dedicada a estampar a ignorância, mas a avaliação estatística dos dados diante de uma linha de base, cujas características são determinadas por variáveis desco­

nhecidas, constitui uma aceitação passiva de ignorância. Esta é uma curiosa negação dos objetivos professados pela ciência. Mais compatível com aqueles objetivos está a avaliação de dados por meio do controle experimental, um conjunto alternativo de técnicas, que será a maior preo­

cupação dos capítulos seguintes.Pode-se aceitar que o acaso seja sinônimo da ignorância, mas pode-se

argumentar que as estatísticas são necessárias para avaliar o grau de igno­rância de alguém. Com base na informação assim obtida, utiliza-se então o controle experimental para identificar e d im inu ir o papel de fatores não

controlados. O procedimento, se bem sucedido, não pode ser condenado.

Mas, como apontarei depois, a avaliação da variabilidade não controlada

deve levar em conta um número de fatores que não podem ser levados a

qualquer tratamento estatístico conhecido; que, de fato, são muitas vezes

bem subjetivos e idiossincráticos de um experimentador em particular ou um laboratório determinado. Mesmo entre os que declaram que conside­

ram úteis as técnicas avaliativas estatísticas, estas outras considerações

podem obter precedência.Para alguns experimentadores, acaso significa a mesma coisa que

para o homem comum: imprevisibilidade. Ainda que a verdadeira impre-

visibilidade ponha o cientista natural fora de ação. Se ele se refere ao tipo de imprevisibilidade estatística, que se tornou conhecida na física, então se sentiria obrigado a procurar as leis estatísticas que governam tal "impre-

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54 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

visibilidade", e a basear seus testes de fidedignidade dos dados nessas leis, em vez de baseá-los nas suposições que se desenvolveram a partir das esta­

tísticas de inferência.

G EN ER ALID AD E

Problemas como os que apareceram acima não são novos. Esses e outros têm sido percebidos há m uito tempo pelos estatísticos e psicólogos que usam estatísticas, e as soluções continuam a ser procuradas.

Existe uma situação semelhante no que se refere à generalidade dos

dados. Métodos estatísticos tornaram-se, na verdade, quase que uma condi­ção sine qua non para a determinação da generalidade. Mas, generalidade tem vários significados, e os métodos estatísticos, mesmo quando livres das suas próprias dificuldades intrínsecas, não seriam aplicáveis na avaliação

de todos os tipos de generalidade.

Generalidades do sujeito ou representatividade. Se um determinado

resultado experimental tiver sido obtido com um único sujeito, quão representativo será esse resultado para outros organismos da mesma espécie? Esta é uma questão decepcionantemente simples. Qual o aspecto dos dados que faz com que alguém deseje testar em busca da genera­lidade? Será simplesmente pelo fato de uma variável ser efetiva? Estará esse alguém interessado no aspecto geral de uma relação funcional? Ou serão de importância crítica os valores quantitativos, os números reais? É na resposta a essas perguntas que deve ser levada em conta a intenção do experimentador. Muitas vezes, em psicologia, alguns aspectos dos

dados em um experimento demonstram ordenação considerável, enquanto

outros aspectos parecem caóticos. O experimentador, então, preocupar-

-se-á com a representatividade daquela porção de dados que apresentam

ordem. A ciência raramente tenta fazer da desordem um caso, porque o progresso surge quando conseguimos controlar dados aparentemente caóticos. Porisso, não se deve criticar os dados' experimentais que não

apresentam regularidade em todos os seus aspectos. A única exceção ocorre

quando temos motivos para suspeitar razoavelmente de que a variabili­dade possa ter obscurecido os dados críticos, ou tenha neles interferido de alguma forma.

Uma vez que o experimentador tenha isolado as características dos dados com os quais está particularmente preocupado, como proceder para determinar a sua generalidade? Esse problema será discutido detalha-

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 55

damente nos capítulos sobre replicação, mas cabe aqui um comentário negativo. Não podemos tratar o problema da generalidade do sujeito empregando grandes grupos de sujeitos e usando medidas estatísticas,

tais como, a média e a variação dos grupos. Não é verdade que quanto

maior o grupo, maior a generalidade dos dados. A representatividade é um problema atuarial, para o qual o planejamento estatístico, atualmente em voga, não se aplica. Suponhamos que alguém, por exemplo, exponha

um grupo de sujeitos a uma determinada condição experimental e propo­nha uma medida experimental estabelecida em termos de desvio médio e padrão. Então alguém perguntará, "Quão representativos são esses dados? A quantos sujeitos da população são aplicáveis?"

O primeiro problema é selecionar o aspecto dos dados cuja genera­lidade se quer provar. Pode-se indagar sobre a generalidade da forma

especial de distribuição que fo i obtida. A adição de sujeito ao grupo irá, sem dúvida, ajudar a responder a esta pergunta, e talvez possamos declarar, com um alto grau de confiança, que todos os sujeitos da população,

em algum ponto, cairão dentro da distribuição obtida. Por uma razão simples, nenhuma pesquisa experimental em psicologia fo i levada suficien­temente longe para que fornecesse tal informação: seria um trabalho

insano, e não valeria a pena. Uma tal latitude de especificação produziria um grau de generalidade para o qual, por definição, poderia não haver exceção. Qualquer dado seria automaticamente representativo.

Tipicamente, entretanto, um aspecto mais restrito de distribuição é escolhido para ênfase. Por exemplo, podemos perguntar quão represen­tativo é o valor médio de todos os sujeitos da população. Na prática atual, tal questão é raramente respondida. Se o fosse, poderíamos 1er nos trabalhos publicados, não somente o valor médio do grupo, mas também o número de sujeitos que estão incluídos realmente no valor médio. Se o grupo fosse suficientemente grande, seríamos então capazes

de afirmar que, por exemplo, 30 por cento dos sujeitos produziriam um valor médio y, da medida comportámental. Esta seria uma afirmação verdadeira do grau de representatividade da média do grupo. Seria o tipo

de informação ú til para o estatístico de seguros, ou para o psicólogo que está interessado na d istribuição populacional das características com­portamentais. Realmente, poucos psicólogos experimentais estão preocu­

pados com tal distribuição populacional. Se houvesse um grande interesse, veríamos mais dados experimentais expressos, não simplesmente em termos de medidas comportamentais, mas sim em termos de número de sujeitos que fornecem cada valor da medida comportamental. A menos que os dados comportamentais sejam expressos dessa maneira, o uso de

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56 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

grandes grupos de sujeitos nada acrescenta à representatividade dos resul­tados. Da mesma forma, a menos que o tipo de distribuição da população

seja conhecido, será impossível determinar a representatividade dentro de uma espécie, simplesmente por média e desvio padrão de uma amostra

de distribuição obtida através de experimentos.Métodos estatísticos para assegurar a generalidade do sujeito indu­

bitavelmente parecem necessários em razão da grande soma de variabi­lidade comumente observada entre os sujeitos, nos experimentos compor­

tamentais. Infelizmente, devido à concepção lim itada do programa de experimentação, o fato da variabilidade parece ter tido exploração experi­mental relativamente pequena. Com o crescimento do interesse no compor­

tamento do indivíduo, entretanto, alguns fatos elementares sobre a variabilidade parece que estão surgindo, fatos que tornam possível uma abordagem diferente do problema da generalidade do sujeito. No experi­

mento psicológico tradicional, e ainda comum, dois grupos de sujeitos são expostos, cada um por sua vez, a diferentes valores de alguma variável

independente. Enquanto cada grupo pode mostrar um valor médio d ife­rente de comportamento resultante, haverá uma dispersão em torno dessas médias, com possível justaposição entre os dois grupos. O problema trad i­cional da generalidade em tal situação tem sido "se todos os membros de uma população pudessem ter sido expostos a um ou outro desses valores da variável independente, quão representativos seriam os sujeitos desses dois grupos?"

A questão serve somente para enganar o perguntador. Um número

suficiente de investigações experimentais têm demonstrado que o compor­tamento do sujeito individual é uma função ordenada de um grande número das assim chamadas variáveis independentes. Na verdade, podemos

agora supor que tal ordenamento seja uma regra, mais do que uma exceção. A variação entre os sujeitos freqüentemente deriva das d ife­

renças dos parâmetros das relações funcionais entre comportamento e suas condições de controle. Por exemplo, a relação funcional entre duas variáveis pode ser uma relação linear, com indivíduos diferindo na inc li­

nação e nas intersecções da função (veja Figura 1). Ou as curvas relacio­nando as duas variáveis podem passar por um máximo, com sujeitos diferindo na posição do máximo (como na Figura 2). Qualquer grupo

suficientemente grande de sujeitos mostrará variabilidade comportamental consistente com a distribuição populacional dos parâmetros da relação funcional. Na Figura 1, por exemplo, a maior parte da população pode se assemelhar ao Sujeito S2. Se a amostra, presumivelmente uma amostra adequada, fo r exposta ao valor X, de uma variável experimental, as

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A FID ED IG N ID AD E E A G ENERALIDAD E DOS DADOSI

57

Valores da variável independente

Figura 1. Um conjunto de curvas de uma população hipotética de sujeitos experimentais. O comportamento de cada sujeito está relacionado linearmente à variável independente, mas as inclinações e intersecções das curvas diferem.

medidas comportamentais irão se concentrar em torno do valor Y 2. Mas alguns dos sujeitos também irão reagir à variável experimental com o comportamento representado por Y 1( Y 3, e Y4. O número de sujeitos

em cada uma das classes dependerá da distribuição populacional daqueles fatores que produzem as diferenças na inclinação e intersecção das curvas individuais.

A Figura 2 pode ser analisada da mesma maneira. O tipo de curva­tura da relação mostrado aqui também serve para revelar mais claramente ou tro aspecto da variabilidade. Sujeitos S3 e S4 mostrarão respostas quantitativas m uito semelhantes ao valor X, da variável experimental.

De fato, esse valor da variável dependente atinge os Sujeitos S3 e S4 em fases acentuadamente diferentes do processo que está representado pela função curvilínea. O delineamento tradicional do grupo não revelará este fato, porque as funções tradicionais do indivíduo não são examinadas, nem mesmo obtidas. Temos aqui um caso no qual a generalidade será

falsamente atribuída aos dados. A semelhança quantitativa do compor-

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58 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

oaE

-o

Valores da variável independente

Figura 2. Um sistema de curvas de uma população hipotética de sujeitos experi­mentais. 0 comportamento de cada sujeito passa por um valor máximo enquanto a variável independente cresce em magnitude, mas cada sujeito reage maximamente a um valor diferente da variável.independente.

tamento dos sujeitos é um a rtifíc io de um plano experimental que não

permite a análise das causas da variabilidade.

As diferenças ou semelhanças quantitativas entre sujeitos em pontos únicos isolados de uma relação funcional não fornece critérios de avali­ação da representatividade dos dados experimentais. Além disso, ninguém

se importa realmente, a não se possivelmente por certas aplicações práticas,

quantos ratos, por exemplo, emitem 100 respostas de extinção após 20 reforços, e quantos emitem 200, etc. Tal variabilidade preocupa o

experimentador sistemático somente na medida em que lhe mostra que

não possui a informação e a capacidade técnica para obter os dados nos

quais está realmente interessado. Informa-o de que tem uma considerável soma de trabalho a fazer antes de poder mesmo começar a avaliar a representatividade dos seus dados. A dispersão de um valor médio fornece poucas informações sobre as relações ordenadas, como as das Figuras 1

e 2, cuja variabilidade é refletida por tal dispersão. Se fo r possível demons­trar que um fa tor determinado produz o mesmo tipo de normatização nos indivíduos da população, então a descoberta possui uma grande generalidade, apesar do fato das diferenças quantitativas serem ainda observadas. É a generalidade de tais relações normativas que deveria ser

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 59

a principal preocupação, e não a representatividade de números esoecí-

ficos extraídos do contexto.

Tudo isto não é para sugerir que a variabilidade quantitativa possa

ser ignorada, como indicarão os próximos capítulos. O tópico apareceu

aqui somente para ilustrar a inadequação das concepções tradicionais de variabilidade na determinação da representatividade dos resultados

experimentais. Provavelmente é válido, a esta altura, prestar atenção à

queixa, "Mas e os problemas experimentais que, pela própria natureza, não podem sér conduzidos à pesquisa com sujeitos individuais? Não

será a avaliação estatística tradicional da generalidade o único caminho

que se nos oferece em tais casos?"A primeira resposta a esta pergunta queixosa é que tais situações

estão se tornando cada vez mais raras. Técnicas novas e engenhosas reduziram bastante o número de fenômenos comportamentais que pare­cem somente ser passíveis de tratamento estatístico em grupo e pode-se esperar que muitos mais fiquem à margem enquanto o controle experi­mental se torna mais refinado. Mas a chave da maioria destas técnicas repousa na reversibilidade dos fenômenos comportamentais. Se uma manipulação experimental produzir uma mudança irreversível no aspecto do comportamento de um indivíduo que estamos observando, pode-se tornar muito d if íc il, se não impossível, obter relações funcionais do tipo retratado nas Figuras 1 e 2. E, embora a evidência seja dificilm ente conclusiva até agora, alguns processos comportamentais podem na verdade demonstrar que são irreversíveis.

Se a verdadeira irreversibilidade deve ser enfrentada, há uma solução honesta à disposição: estudar tais processos como ocorrem na natureza. Um processo irreversível deve ser aceito como tal, e as técnicas para estudá-lo devem levar em conta a propriedade da irreversibilidade. A irreversibilidade, se puder ser demonstrada inequivocamente, será uma

propriedade fundamental de qualquer comportamento que a revele, e não

pode ser posta de lado. Estatística de grupo não é a resposta. Um

processo de comportamento irreversível existe no indivíduo e não tem continuidade de um grupo de indivíduos para outro.

Tomemos, por exemplo, o clássico problema da relação entre o

número de reforços e a resistência à extinção; e aceitemos, pelo menos

por agora, a suposição de que uma exposição original à extinção experi­

mental exerce uma influência irreversível sobre exposições posteriores.

Esta suposição pareceria impedir qualquer tentativa de usar um sujeito individual para determinar a relação funcional entre o número de reforços

e a resistência à extinção, porque isto iria exigir exposições repetidas

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60 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

do sujeito ao processo de extinção, seguindo períodos interpolados de recondicionamento com números variados de reforços. Mas as operações sucessivas de extinção iriam ser supostamente contaminadas pelas ante­

riores, e os dados resultantes não seriam uma pura função do número de reforços; seriam também uma função das operações de extinção

precedentes.A solução usual para esse problema tem sido expor grupos separados

de sujeitos a cada valor da variável Independente, número de reforços, e então expor cada grupo uma só vez à extinção experimental. Os resul­tados desse procedimento nos fornecerão algumas informações práticas

úteis. Se os dados forem adequadamente tratados, seremos capazes de

fazer uma estimativa do número de reforços a serem dados a um sujeito se quisermos, em razão de algum propósito experimental, gerar uma determinada resistência à extinção. O grau de precisão com o qual nos satisfaremos dependerá da tarefa em questão. Mas a função assim obtida

não representa um processo comportamental. O uso de grupos separados destrói a continuidade de causa e efeito que caracteriza um processo comportamental irreversível. Dados da extinção "não contaminados", obtidos de grupos separados, produzem uma relação funcional que não tem contrapartida no comportamento do indivíduo. A função obtida

do indivíduo é o resultado de um processo interativo que se estende de um para ou tro segmento do comportamento do sujeito. Os pontos empíricos na função obtida de grupos separados não mantêm tal relação entre si.

Se fo r impossível obter uma relação não contaminada entre o número de reforços e a resistência à extinção em um único sujeito,

em razão do fato de que extinções sucessivas interagem entre si, então a relação "p u ra ", simplesmente não existe. A solução para o nosso

problema é deixar de tentar descobrir tal relação pura, e d irig ir nossa pesquisa para o estudo do comportamento como existe na reali­dade. Se a reversibilidade não existe na natureza, não existe no labora­tório.

O fato de a função de um grupo não ter contrapartida no compor­tamento individual é independente do problema da possibilidade da curva de um grupo poder ter a mesma forma que a curva individual. Este problema tem sido amplamente discutido na literatura (5, 27, 41, 55, 68). O caso que venho discutindo é aquele no qual as curvas individuais e de grupo simplesmente não podem fornecer a mesma informação, ainda que suas formas sejam idênticas. A distinção entre os dois tipos de função pode ser feita, não com base em raciocínios lógicos e matemáticos.

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 61

mas baseada nos fenômenos comportamentais que representam. Onde é encontrada a irreversibilidade, não há curva individual que possa

responder a questões que forem propostas à curva de grupo, e vice-versa. O estudante não deveria ser levado a concluir que o tipo grupai de experimento de qualquer modo forneça um substituto mais adequada­

mente controlado ou mais generalizável para os dados individuais.

Se a minha idéia fo r bem aceita, deveria levar o estudante a reavaliar

muitos dos dados supostamente sistemáticos da psicologia experimental. Descobrirá que esta distinção não tem sido feita com freqüência, e que os dois tipos de dados, individuais e de grupo, estão freqüentemente misturados dentro de uma única estrutura sistemática. Em conseqüência, há um grande trabalho de elucidação a ser fe ito. Quando isso fo r feito, pode ser que o estudante ache que deva abandonar muitas das mais caras generalizações da psicologia. Também é provável que se encontre diante de uma escolha. Porque os dois tipos de dados representam, em um sentido bem real, dois diferentes objetos de estudo. Pensará, de fato, que alguns experimentadores e sistematizadores já fizeram a sua escolha em relação a quais tipos de dados, individuais ou de grupo, formarão as bases da ciência que estão tentando edificar. Esta escolha não representa necessa­riamente limitação de interesse. É muitas vezes o resultado de uma decisão bem considerada e consciente sobre o tipo de dados mais ade­quados ã uma ciência do comportamento. Em cada área da ciência,

existem ocasiões críticas em que tais decisões devem ser feitas, e as conseqüências são de longo alcance. Se a decisão correta é aceita em

geral, a ciência progredirá. Se fo r adotada a decisão incorreta, a ciência passará por um período de estagnação até que a situação seja retificada.

Se não houver nenhuma decisão, o resultado pode levar a uma desesperada confusão de princípios e dados basicamente incompatíveis. Na alegação de que o ecletismo seja o caminho da generalização pode estar a armadilha

da indecisão.

Generalidade entre espécies. As descobertas experimentais serão obtidas com uma espécie que pode ser generalizada a outras espécies de organismos? Este é o problema da generalidade entre as espécies, e tem um passado histórico m uito infeliz. A solução proposta por muitos psicó­logos representa um dos últimos vestígios da falácia do homem, que se considera o centro do universo. O fato da modificação evolutiva é aceito em outras áreas da biologia; apesar disso, freqüentemente se considera que o Comportamento Humano representa uma transição descontínua do Comportamento Sub-humano. Além disso, muitos dos que consideram

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62 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

que o comportamento se desenvolveu através de um processo normal de evolução, ainda pensam no homem como algo especial. Ainda mais,

não somente se sustenta que o comportamento seja diferente, em prin­cíp io, do comportamento de outros organismos, mas também que o comportamento de qualquer uma das espécies seja pretensamente diferente do comportamento da espécie imediatamente inferior. A cada passo da

evolução, se admite que algum avanço fo i fe ito em direção àquela façanha final, da qual o psicólogo, por suposição, é um exemplar.

Este preconceito produziu uma solução curiosa para o problema

da generalidade dos dados comportamentais nas espécies. A psicologia comparada tornou-se uma disciplina largamente devotada a descobrir. diferenças de comportamento entre as várias espécies de organismos. Quando se encontram semelhanças, material de que é feita a maioria

das ciências, são abandonadas, como fenômenos sem importância. A medida em que se faz a abordagem do homem ao longo da escala filoge- nética, as diferenças que visam o desenvolvimento dos processos de ordem superior são escolhidas como os únicos dados comparativos va­liosos.

Uma psicologia comparada que procura determinar as diferenças,

mais do que as semelhanças, entre as espécies, realmente tem um trabalho fácil. As diferenças não são difíceis de ser encontradas. Qualquer experi­mento no qual a espécie é a variável de maior preocupação também incluirá as diferenças entre outras variáveis importantes ligadas ao conti­nuum das espécies. Por exemplo, gatos e macacos diferem, não somente na classificação filogenética, mas também nos tipos e quantidades de reforços que manterão o seu comportamento, nos tipos e graus de privação que são exeqüíveis, na capacidade de manipulação, na acuidade sensorial, no tempo de vida, etc. Diante das dificuldades em equacionar estes fatores, as diferenças entre as espécies poderiam facilmente resultar deles, mais do que da classificação das espécies em si mesmas.

Examinemos um experimento hipotético da psicologia comparada Uma uva é posta diante de um macaco para que ele a veja e então, enquanto o macaco aparenta observá-la, a uva é colocada debaixo de uma das duas caixas diferentes. Uma tela então é abaixada entre o macaco

e as caixas, para que não as possa ver, nem alcançar. Depois de trans­corrido um certo tempo, a tela é^erguida e o macaco pode virar as

caixas. O experimentador observa se o macaco escolhe a caixa "certa",

isto é, a que contém a uva. O experimento será repetido com intervalos de tempo cada vez maiores entre o abaixar e erguer a tela, e será deter­

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 63

minado o máximo espaço de tempo em que o animal poderá "lembrar-se"

de qual das caixas é a que contém a uva.

Então é realizado um estudo comparativo, com um cachorro como sujeito. Mas os cachorros normalmente não comem uvas, então um bife é posto para substituí-las. Descobre-se (suponhamos) que o macaco é

capaz de adiar a sua resposta, sem erro, por mais tempo que o cão. Desde que a resposta adiada seja, obviamente, uma "função superior", não será uma surpresa para o psicólogo comparativo que o macaco,

parente mais próxim o do psicólogo comparativo do que o cão, seja o

melhor executor.

Mas o que aconteceria se o cão tivesse sido privado de alimento

há três dias? Ou se na caixa tivessem colocado o dobro de carne? Ou se cada um dos animais, ou ambos, fossem mais velhos ou mais jovens? Ou se o experimento tivesse sido realizado na semi-escuridão? Ou se a carne de cavalo e laranjas tivessem substituído o bife e as uvas? É bem possível que fatores como esses teriam alterado os resultados da experiência, tanto aumentando a superioridade aparente do macaco, como dando van­

tagem ao cão.

Não há uma solução segura para esta dificuldade. Se fosse possível conseguir as condições ideais para ambas as espécies, poderíamos fazer uma comparação do desempenho ideal. Mas até agora, não temos o conhe­cimento para que se realize tal experimentação. No estágio atual do assunto, as variações em qualquer dos vários parâmetros conhecidos ou

supostos poderiam inverter nossa avaliação da generalidade nas espécies em experimentos de resposta adiada. Então, o que buscamos para aferir a generalidade nas espécies de dados experimentais? Isto nos faz voltar ao mesmo problema que encontramos no caso da generalidade do sujeito

— a saber, generalidade do quê? O que segue é apenas uma lista parcial dos tipos de generalidade que se pode procurar determinar. (Pode-se também notar que esses aspectos da generalidade são importantes em

si mesmos, independente dos problemas da generalidade do sujeito e das espécies.)

Generalidade das variáveis. No atual estado, relativamente prim itivo

da ciência comportamental, é importante determinar se uma variável determinada, ou classe de variáveis, é relevante fora dos limites de um experimento em particular. A generalidade assim definida pode ser deter­minada pela alteração de alguns aspectos do experimento original ou pela realização de experimentos novos e aparentemente não relacionados.

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64 TÁTICAS DA PESQUJSA CIENTl'FICA

Pode-se empregar os mesmos sujeitos até o fim , ou outros sujeitos da

mesma espécie, ou de espécie inteiramente diferente. Se puder ser demons­

trado que uma variável determinada influencia o comportamento de tocjos esses experimentos, ou mesmo de vários, terá sido alcançada uma

forma de generalidade.A intermitência de reforço, por exemplo, é uma variável de ampla

generalidade relativa ao seu efe ito sobre a resistência à extinção. Se um

rato receber um reforço alimentar a cada resposta de pressão à barra (reforçamento contínuo), um certo número de respostas será em itido mesmo depois que tornarmos o mecanismo de distribuição de alimento inoperante, para que não surjam mais reforços alimentares (extinção). Mas se originalmente somente reforçarmos as respostas que seguem o reforço precedente depois de dois minutos, por exemplo, então um número bem maior de respostas será subseqüentemente em itido na

extinção, depois que tivermos desligado o alimentador (81, pp. 133 e

seguintes). O fa to de reforçarmos somente uma proporção relativamente pequena das respostas do animal parece tornar o comportamento mais persistente, depois do reforço ter sido completamente eliminado. A gene­ralidade desta variável tem sido estabelecida de maneiras diversas. O reforço interm itente também aumenta a resistência à extinção, por exem­plo, quando empregamos diferentes esquemas de intermitência. Podemos dar reforços depois de períodos de tempo variáveis, em vez de fixos, ou podemos tornar os reforços condicionados a um número fix o ou variado de respostas. Além disso, a intermitência tem um efeito seme­lhante sobre a extinção do comportamento que está sob outros tipos de

controle que não o reforço positivo. Se uma resposta fo r d im inuída pelo castigo ocasional com choques, levará algum tempo para o com porta­mento ser recuperado depois que a punição fo r descontínua, mais do que se o choque tiver sido dado a cada resposta (26). Também, se um

animal receber choques inevitáveis no final de, digamos, um estímulo de alerta de cinco minutos, seu comportamento usualmente cessará durante o período de apresentação do estímulo (29). Entretanto, o animal logo recuperará o comportamento se fo r perm itido que o estí­

mulo termine sem choque subseqüente. Mas se os choques forem admi- nisjrados não juntamente com os estímulos, mas somente com uma pequena proporção deles, o comportamento levará um tempo m uito maior para voltar ao normal, depois dos choques terem sido desconti­nuados (76).

Além destes e de outros tipos de situações experimentais, a inter­mitência do reforço tem demonstrado exercer um efeito semelhante

Page 66: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 65

quando são estudadas outras formas de respostas, e em outras espécies,

inclusive a humana. Apesar da intermitência não ter o mesmo efeito quantitativo em todos os casos — há ainda algumas condições sob as

quais a resistência à extinção decresce — o fa to de que a variável seja

tão amplamente eficiente constitui uma generalização importante.Quando as diferenças quantitativas são observadas, o experimentador

se vê diante de um problema de investigação mais extenso. No caso da intermitência de reforço, por exemplo, estudos subseqüentes revelaram

um número de fatores contribuintes que podem servir para atenuar, ou de alguma forma m odificar, o resultado básico. Se os reforços interm i­tentes se tornam dependentes da emissão de um número fix o de respostas,

as características do comportamento de extinção subseqüente serão bem diferentes do caso no qual os reforços são dados depois de períodos fixos de tempo (81, pp. 293 e segs.). O estágio de condicionamento

no qual a extinção fo i iniciada também será um fa tor relevante, como o serão as condições históricas mais remotas. Mas o fa to qualitativo de que uma variável determinada seja em vários contextos experimentais diferentes e/ou em diferentes espécies de organismos é uma forma básica

de generalidade que precisa ser atingida antes que uma análise mais sofis­

ticada seja realizada.Há uma distinção importante entre os métodos para avaliar a gene­

ralidade do sujeito e aqueles para avaliar a generalidade de uma variável. A generalidade do sujeito pode ser avaliada, pelo menos parcialmente. em termos do número de replicações bem sucedidas que foram realizadas entre os membros de uma espécie determinada. Não há forma mais honesta de avaliar a generalidade de uma variável, poraue cada experi­

mento sucessivo que sirva para ampliar tal generalidade será necessaria­

mente diferente, de alguma forma, dos experimentos precedentes. No

caso do reforço interm itente, por exemplo, a maior generalidade é alcan­çada por meio dos experimentos nos quais o esquema de reforço fo i variado, ou naqueles em que foram usadas técnicas de controle aversivo? Ninguém ainda planejou uma técnica estatística bem sucedida para res­ponder tal questão. Nem existe nenhuma técnica para ser rigorosamen­

te derivada das regras da lógica.

Não há, de fato, critério objetivo, que possa derivar de qualquer fonte, que permita uma resposta inequívoca a esta pergunta. E, posso acrescentar, o mesmo é verdadeiro para o processo da generalidade, que

será discutido a seguir. Quando a replicação é sistemática, e não direta (veja Capítulos 3 e 4), os critérios avaliativos necessariamente envolvem áreas de julgamento que estão acima de qualquer método de qualificação

Page 67: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

conhecido no momento. Temos aqui, em miniatura, o problema não

resolvido do raciocínio indutivo.

A indução e a avaliação da generalidade. Não tenho a intenção

de estabelecer um tratado sobre a indução, porque estaria bem além do

objetivo deste livro. Mas tenho me referido à indução anteriormente, em contraste com o método dedutivo de teorização (pág. 23), e terei ocasião de mencioná-la novamente, tanto explicitamente como indireta­mente, em conexão com o papel da experiência na avaliação dos dados.

Algumas palavras, entretanto, sobre a indução, que adaptei do pequeno livro fascinante de Polya, Induction and Analogy in Mathematics (63).

Em uma frase em que descreve a atitude indutiva, acredito que Polya

tenha mais do que ninguém se aproximado do âmago do problema. “ Esta atitude tem como objetivo adaptar nossas crenças à nossa expe­riência, da maneira a mais eficiente possível" (61, p. 7). Se estivesse familiarizado com a linguagem da análise comportamental, Polya bem poderia ter remodelado a sua afirmação assim, "Nosso comportamento indutivo é uma função da história do nosso re forço". A indução é um processo comportamental, e não um processo lógico, o que é a razão da análise lógica ter fracassado ao se responsabilizar por ele. Podemos fazer ou não uma inferência indutiva, e o grau de tenacidade com o qual nos apegamos a essa inferência, dependerá da nossa história comporta­mental (experiência). Refiro-me a essa história quando digo que a avalia­ção da generalidade é uma questão de julgamento. A partir de um ato de indução baseado em nossa experiência acumulada, julgamos a soma de generalidade que deve ser acrescentada a uma variável quando se revela

eficiente nos experimentos que têm pouca, ou nenhuma, conexão opera­cional entre si.

Para que o estudante não sinta que fu i m uito longe ao interpretar a afirmação de Polya sobre a indução, deixem-me citar o seguinte; a última frase fala por si mesma:

A experiência modifica o comportamento hum ano.. .

Sim, e modifica o comportamento animal também.

Na minha vizinhança há um cachorro comum que late e pula nas pessoas sem ser provocado. Mas descobri que posso me proteger com muita facilidade. Se me abaixar e fing ir que vou pegar uma

pedra, o cachorro foge ganindo. Nem todos os cães fazem o mesmo, e é fácil imaginar que tip o de experiência causou esse comporta­mento no cão.

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 67

O urso no zoo "im plora com ida". Isto é, quando há algum obser­vador por perto, assume aquela postura rid ícula que com muita

freqüência leva o visitante a jogar um torrão de açúcar na gaiola. Os ursos que .não estão cativos provavelmente jamais assumirão tal atitude absurda e é fácil imaginar que tipo de experiência levou o urso do zoo a esmolar.Uma investigação cuidadosa da indução deveria incluir, talvez, o estudo do comportamento animal (63, p. 10).

Ao estabelecermos a generalidade de uma variável, de um processo,

de um método, etc., estamos tentando verificar nossas observações iniciais dentro de um conjunto de condições cada vez mais amplo. Polya sugeria uma base sobre a qual os cientistas avaliariam o grau de verificação fornecido por qualquer extensão determinada das condições. Sua discussão é camuflada em termos de verificação de uma "con jun tura", mas as

substituições podem ser feitas facilmente:

Os procedimentos mentais do naturalista experimentado não são essencialmente diferentes daqueles do homem comum, mas são

mais conscientes. Tanto o homem comum como o cientista são levados a conjecturar por algumas observações e ambos prestam

atenção aos casos mais recentes que poderiam estar ou não de acordo com a conjectura. Um caso concordante torna a conjectura mais provável, o discordante, a contradiz, e aqui começa a diferença: Gente comum está geralmente mais apta a procurar o primeiro tipo de casos, mas o cientista procura o segundo tipo. A razão é que

todo o mundo é um tanto vaidoso, tanto o homem comum como o cientista, mas gente diferente se orgulha de coisas diferentes. O senhor João Ninguém não gosta de confessar, mesmo para si, que estava errado, e como não gosta de casos conflitantes, evita-os, e está mesmo inclinado a minimizá-los com explicações, quando surgem. O cientista, ao contrário, está suficientemente pronto a reconhecer uma conjectura errônea, mas não gosta de deixar pro­blemas sem solução. Mas, um caso concordante não resolve o problema definitivamente, mas um conflitante o faz. O cientista, na procura de uma decisão definitiva, vai em busca de casos que

têm uma chance de perturbar a conjectura, e quanto mais chances aparecerem, mais serão bem recebidas. Há um ponto importante a observar. Se um caso que ameace perturbar a conjectura, depois de tudo, passar a concordar com ela, a conjectura sairá do teste

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6 8 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

grandemente fortalecida. Quanto mais perigo, maior glória; passar pelo exame mais ameaçador confere o maior reconhecimento, evi­dência experimental mais fo rte à conjectura. Há exemplos e exem­plos, verificações e verificações. Um exemplo que provavelmente será mais conflitante, de qualquer forma aproxima melhor a conjec­tura da decisão do que um exemplo menos conflitante, e isso explica a preferência do cientista. . .Um caso um pouco diferente de casos previamente examinados,

se concordar com a conjectura, aumenta a nossa confiança, é claro, mas aumenta pouco. De fato, facilmente acreditamos antes do

teste, que o caso em questão se comportará como os casos ante­riores, dos quais só difere um pouco. Desejamos não somente outra verificação, mas uma verificação de outro t ip o ... (63, p. 41).

Se aplicarmos este critério ao nosso próprio problema (pág. 65), poderemos então decidir que o experimento que envolve o estímulo de

aviso e choque inevitável acrescenta a maior soma de generalidade à variável intermitência. Porque naquele experimento alteramos não apenas

o esquema temporal de reforço, mas também o tipo de reforço (de alimento para choque), e, tornando o choque inevitável, eliminamos qual­

quer relação necessária entre ele e o comportamento medido. Talvez haja aqui uma sugestão de critério objetivo para avaliar qual a diferença entre

os dois casos e, com isso, avaliar o grau de confirmação fornecido por cada um deles. Mas um simples cálculo das diferenças de procedimento não resolve o assunto. Todas as mudanças de procedimento não podem

receber um peso igual, porque não têm a mesma probabilidade de alterar os resultados de um experimento. 0 peso a ser a tribuído a qualquer mudança determinada das condições experimentais dependerá tanto do estágio geral do conhecimento existente na área c ientífica em questão, como do conhecimento que qualquer cientista em especial desenvolveu em relação a essa área. O grau de confiança que prevalece em uma comu­

nidade científica relativo a qualquer indução particular será, entretanto,

uma função da extensão em que os membros dessa comunidade compar­tilham uma história comum de experiência.

Generalidade do processo. O term o "processamento comporta- m ental" é geralmente usado nos dois sentidos. Um deles se refere à interaçao das variáveis. Quando interagem algumas variáveis diferentes ou operações experimentais, freqüentemente caracterizamos o comporta-

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 69

mento resultante como um processo. Por exemplo, operações de reforço

e extinção podem ser combinadas de form a a produzir um processo

comportamental que estamos acostumados a chamar de "discrim inação".

Ou contingências de reforçamento podem ser estabelecidas de tal maneira

que as diferentes formas de comportamento se combinem em um processo

chamado timing. A identificação de tais processos, enquanto forem interações complexas de diferentes variáveis "elementares", representa

um avanço integrativo. Mas a demonstração da generalidade do processo entre espécies é, às vezes, d if íc il de realizar. A própria complexidade de

um processo comportamental d ificu lta a avaliação de todos os fatores

relevantes, tanto quantitativa quanto qualitativamente.Os problemas se multiplicam quando a replicação é tentada com

uma nova espécie. Por essa razão, o trabalhador cuidadoso nem mesmo tentará demonstrar a existência de um processo comportamental em uma nova espécie até que tenha explorado completa e cuidadosamente seus vários aspectos nos sujeitos originais. Uma tentativa mal sucedida é um desperdício, não somente quanto ao tempo e custos, mas também em termos de dados úteis que poderiam ser obtidos em seu lugar, se a genera­lização mal sucedida tivesse sido adiada. O ponto em que é possível procurar o processo de generalidade entre as espécies é um problema cuja solução dependerá da experiência do cientista em particular e dos outros que trabalham na mesma área.

A experiência acumulada pode indicar que a generalidade do proces­so, em uma área dada de pesquisa, seja relativamente fácil de atingir, e

assim muitos experimentadores podem preferir nem mesmo tentar a demonstração de um determinado processo. Em tal caso, o problema pode ser passado para o estudante que faz o seu mestrado, ou mesmo para os membros de um curso de laboratório para não graduados. É importante que os experimentos sejam realizados, ao menos para evitar que aqueles

que trabalham em uma área determinada façam suposições em demasia. Podem assumir a missão importante de salientar a necessidade da explora­ção mais profunda dos fenômenos que consideravam estar bem compreen­

didos.Por ou tro lado, em algumas áreas, a generalidade do processo pode

ser d if íc il de atingir. O experimentador então deverá ter cuidado com o

seu programa de pesquisa. Deve-se observar, entretanto, que um fracasso

em demonstrar a generalidade em outras espécies não nega a possível

importância de um processo comportamental. A variabilidade, ainda que dentro ou entre espécies, resulta não da precocidade dos sujeitos experi­mentais, mas da ignorância por parte do investigador.

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70 TÁTICAS DA PESQUISÀ CIENTIFICA

O comportamento do sujeito é normal com respeito às variáveis de

controle. O fracasso em replicar um resultado, em uma espécie ou entre

espécies, é o resultado da compreensão incompleta das variáveis de con- trole. Esta abordagem positiva, quando contrastada com a atitude negativa que o fracasso em replicar deve marcar um processo como não geral, é realmente o único caminho para uma avaliação adequada da generalidade. A maioria dos experimentadores são cuidadosos no proclamar que um

efeito é "re a l". Mas o cuidado cien tífico nem sempre prevalece, em geral, quando os experimentos deixam de demonstrar um fenômeno. Ainda a negativa falsa é um erro tão importante quanto a falsa afirmação. A acei­tação desta pode minar a utilidade do trabalho posterior, mas a primeira impedirá que m uito trabalho ú til seja tentado e pode impedir o progresso

por um tempo considerável.Há ocasiões em que as demonstrações da generalidade do processo

podem parecer triviais. O que se ganha, por exemplo, quando se mostra que um fenômeno chamado de "transposição" (88) é comum tanto nos homens como nos macacos? Realmente, cada vez que extrapolamos com sucesso um processo para ou tro organismo tendemos a realizar mais do que a extensão de um fenômeno restrito. Isto é particularmente verdade se o

processo em questão é somente um segmento de uma sistematização mais

amplà. Em tal caso a extensão de um aspecto do sistema aumenta a proba­bilidade de que outros aspectos possuam um grau semelhante de genere-

lidade. Suponhamos, por exemplo, que fosse observado um processo, que poderíamos chamar de "extinção descriminada", tanto na "Espécie A " , como na "Espécie B ". Extinção descriminada é o nome que se dá ao

declínio gradual, observado na extinção da resposta em uma série de expe­

rimentos alternados de extinção e recondicionamento (62). A confirmação' desse processo particular na Espécie B também estenderá nossa confiança

na aplicabilidade à Espécie B, de muitos princípios relacionados de condi­

cionamento e extinção.

O processo satisfatório de generalização nunca requer a replicação exata de cada parte de um sistema. Quantas demonstrações individuais de

generalidade exigimos antes de aceitar a generalidade de uma estrutura

total? Não há uma resposta quantitativa simples a essa pergunta. O ponto final variará de acordo com considerações como a complexidade das gene­ralizações bem sucedidas, sua obviedade, a reputação dos experimenta­dores envolvidos, a magnitude dos efeitos demonstrados, a coesão do siste­ma como um todo, a espécie particular para a qual a generalização é reali­zada, e outros julgamentos quantitativos nos quais a maturidade de uma ciência e dos seus cientistas membros desempenham um papel importante.

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 71

O segundo sentido no qual usamos o termo, processo comporta­

mental, realmente representa o aspecto quantitativo da generalidade da

variável. Determinando os efeitos de uma ampla gama de valores quantita­

tivos de uma variável dada, pode-se obter um quadro mais completo do seu modo de agir. O quadro pode ser apresentado em forma de uma curva

que relaciona quantitativamente alguma medida de comportamento aos

valores diferentes da variável experimental. Poderíamos achar que a medi­

da comportamental cresce linearmente, enquanto a variável experimental

cresce em magnitude; ou que o comportamento cresce, passa por um valor máximo, e depois dim inui; ou qualquer uma de um número in fin ito de outras relações funcionais possíveis. Então, muitas vezes caracterizamos a relação funcional observada como um processo comportamental. Conta-

-nos como se modifica o estado do comportamento em resposta às varia­ções sistemáticas em pelo menos uma de suas condições de controle.

A generalidade pode ser pesquisada tentando replicar a função sob novas condições experimentais e/ou com outros organismos. Quando a função é determinada para espécies diferentes, temos os fundamentos de uma verdadeira ciência da psicologia comparada. A pergunta que estamos fazendo é se uma variável dada exerce influência semelhante nas várias

espécies. A variável atua similarmente sobre toda a sua série de valores possíveis? Gera o mesmo processo comportamental nas várias espécies? Poderíamos achar, por exemplo, nos ratos, que a freqüência da resposta de esquiva, em certas condições, mantém uma relação logarítmica com a extensão de tempo em que cada resposta de esquiva adia o choque (veja

Figura 27, Capítulo 8). Poderíamos então procurar a generalidade das espécies determinando se a relação logarítmica também se mantém com gatos, pombos, macacos e homens. Se se mantiver, teremos alcançado mais

do que a generalidade de uma simples variável. Saberemos não apenas que

a variável é efetiva em todas as espécies que verificamos, mas também que exerce seus efeitos de forma quantitativamente semelhante em uma ordem global de valores.

Mesmo desta forma, uma resposta negativa não pode ser aceita como

final. Suponha que percebamos, por exemplo, que, com o gato como sujeito, a relação seja linear e não logarítmica. Ainda não sabemos se as

mudanças em outros parâmetros da função podem ser responsáveis pela

diferença. Talvez a intensidade do choque seja crítica. Podemos achar que em ambas as espécies a relação funcional passa gradualmente de logarít­mica para linear, à medida que, de forma sistemática, variarmos a intensi­dade do choque. As mudanças em outras variáveis podem então produzir semelhanças onde previamente somente foram encontradas diferenças. Por

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72TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

0SSa r.^ão o investigador deveria abster-se de verificar a generalidade dasespeci'H até que tivesse verificado a generalidade do processo, sob diversas

^es, com a espécie original. Tentativas prematuras em demonstrar a— T>\iríade das espécies podem ser um desperdício de tempo e trabalho;

tambe^----- ;------- ------- ---------;— ;-------------------------------------------------- podem resultar em conclusoes enganosas.

go ^ u ã o rigorosamente uma replicação deveria nos satisfazer na avalia-.• ^ generalidade de uma relação funcional? Deveremos procurar a

■ ^ão quantitativamente exata de uma espécie para outra? ou de um

de condições auxiliares para outro? AoreciMP-flUS se exigirá, na:^ ^ p % o da generalidade de uma relação funcional, dependerá do estado~ ~ ^Q _ijesenvolvim ento da ciência. Em alguns casos poderíamos nos

Har se todas as várias espécies produzissem, digamos, uma função cr cscçk*te, independente de que essa função fosse linear, logarítmica, expo-nenciQi

dade etc‘ outros casos, poderíamos ficar satisfeitos com a si mi lar i- mater>?a orma 013 relação funcional, como está descrita péla expressão

„ ^§tica adequada, sem insistir em uma correspondência exata entreaS C O h

de evv antes °*a exPressão. Raramente, na psicologia, estamos em posição Nossa uma rePi‘cai?ao numérica exata de uma relação funcional, tal ta ^ técnicas de controle experimental são, em geral, inadequadas a uma em gr ^ a> O ^rau de generalidade que podemos atingir será determinado

^~\n d e parte pela precisão de nossas técnicas experimentais.

técni ^ eneral'dade Metodológica. As demonstrações da generalidade das

proor^ 5 experimentais de uma espécie para outra é um tipo im portante de f-n ^ fr^ s o c ientífico . Isto é particularmente verdadeiro para técnicas de

p o rta^*8 comportamental. Tomemos como exemplo o controle do com- ra air» através da manipulação dos esquemas de reforçamento. Embo-re fo rç ^ a haja m uito que aprender sobre as propriedades dos esquemas de seus 6^ ment° . um amplo grau de generalidade tem sido atingido quanto a

até o * e'tos sobre o comportamento das diferentes espécies, desde o polvo

de ta i ^ omem- Uma razão da importância da demonstração da generalidade conve^ técnicas deriva do fato de que nem todas as espécies são igualmente

ratóri den te s como sujeitos experimentais. As técnicas de controle de labo-

possí\^ Podem e devem possuir um grau de rigor e precisão que seria im-

fossery^* ^e imaginar com o código ético em vigor, se os seres humanos

princi os suJeitos experimentais. Assim, os pesquisadores cujo interesse

Podetv^3' esta no comportamento humano têm dois caminhos a seguir, ciand^x* usar seres humanos nos seus experimentos de laboratório, renun- que ^ deliberadamente a um alto grau de precisão e rigor na esperança de

^ variáveis que manipulam provarão ser suficientemente poderosas

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 73

para produzir dados significativos; ou poderão obter um grau satisfatório de controle experimental usando animais inferiores como sujeitos dos seus experimentos, com a esperança de que seus dados demonstrem ser mais

tarde generalizáveis, direta ou indiretamente, para seres humanos.I I

Com este ú ltim o caminho, a demonstração da generalidade das

técnicas de controle para as espécies é de suprema importância. Quando

uma técnica demonstra ser aplicável a várias espécies, ganhamos mais confiança nas técnicas relacionadas. Algumas técnicas — por exemplo,

métodos de controle aversivo — provavelmente não serão testadas com seres humanos. Esta situação não é peculiar à psicologia, e a solução do problema para os psicólogos deve ser a mesma que é usada em outras ciências, como a farmacologia. As técnicas devem ser aplicadas a uma variedade de organismos inferiores que se aproximam do homem o máximo possível. Quanto maior o número de espécies a que uma técnica possa ser estendida, maior poderá ser nossa confiança em que também seja aplicável ao homem. A extensão final para o comportamento humano

pode então ser feita, não baseada no método em si mesmo, mas sim baseada na informação obtida com o uso do método em organismos inferiores, aplicando os princípios derivados do método para o comporta­

mento humano e realizando, com seres humanos, experimentos permi­tidos, baseados em um fundamento lógico derivado do trabalho mais recente.

Algumas vezes uma técnica de controle comportamental mostrar- -se-á efetiva na manipulação do comportamento humano, mas não repli­cará dados obtidos com outras espécies. Como exemplo hipotético, um esquema de reforçamento de intervalo fixo pode produzir um padrão

temporal característico da resposta com um sujeito humano, mas este padrão temporal pode não ser exatamente o mesmo que é demonstrado

por um pombo. O esquema exerce um efeito controlador em ambos os casos, mas os tipos de controle são diferentes. A primeira tarefa de um

investigador, então, deveria ser a determinação de que outros parâmetros, além da espécie, poderiam ser responsáveis pelas diferenças. Através da manipulação de outras variáveis, podemos tornar o comportamento do pombo semelhante ao do homem e vice-versa? Mesmo que a tentativa seja in fru tífera , a extensão da técnica de controle para o comporta­mento humano permaneceria uma contribuição ú.til. Outro meio de abordar o estudo do comportamento humano ter-se-ia tornado disponível.

A aplicação da técnica em espécies inferiores não representa um desper­dício de trabalho, porque teríamos, então, uma verdadeira diferença entre espécies — talvez uma diferença importante - que jamais poderia

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74 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

ter sido avaliada sem o conjunto de informações obtidas através <

estudo de organismos inferiores.

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segunda____parte

_______ replicação

Freqüentemente, a ciência é considerada como uma metodologia para a avaliação objetiva da evidência, uma metodologia suficientemente rigorosa para elim inar a maioria dos erros humanos. Por essa definição, deveríamos ser capazes, por meio do experimento, de encontrar respostas

inequívocas para todos os problemas naturais, tanto animados como inanimados. Tanto os escritores profissionais como os cientistas, nas suas

tentativas de divulgar a ciência, tendem a estimular a impressão de que a ciência seja infalível, ao menos dentro de seus próprios domínios.

As teorias podem ser incorretas ou inadequadas — a destruição que

Einstein fez da física Newtoniana é uma fábula moderna — mas os fatos experimentais, é o que se supõe, são incontestáveis.

O m ito de que a ciência seja uma disciplina na qual o fato possa ser aceito como um fato em campos divorciados do que é pessoal ou de outras considerações arbitrárias, ainda é aceito por muitos cientistas. Os fatos, na verdade, são, por definição, inatacáveis. Mas um olhar mais de perto em um método experimental como é atualmente posto em prática

nos levará a pensar no que seja realmente um fato. Para o observador neutro será óbvio que a ciência está longe de ficar livre dos preconceitos

humanos, mesmo na sua avaliação da evidência fática. Ainda mais, as descobertas experimentais são tão frágeis quando consideradas dentro da matriz to ta l dos fenômenos naturais de onde são tiradas, e as conclusões

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76 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

tiradas de tais dados freqüentemente são tão tênues, que somente pode­mos nos surpreender com as realizações atuais da metodologia experi­

mental. Com o que devemos trabalhar em qualquer experimento? Variá­veis não controladas, e mesmo desconhecidas; os erros de uma percepção seletiva surgindo de um desvio teórico e de observação; medidas indi­

retas; a teoria envolvida nas próprias técnicas de medida; as suposições

envolvidas na transição brusca, dos dados para a interpretação. Em resumo, temos uma margem de erro tão grande, que qualquer avanço verdadeiro

poderia ser considerado um acidente, se não fosse o fato de que dema­siados avanços genuínos tivessem ocorrido em tempo curto demais para que a hipótese fosse considerada seriamente.

Os lógicos modernos estão tentando sistematizar as regras da evi­dência científica para caracterizar a adequação de tais evidências em termos de probabilidades numéricas. Seu sucesso provavelmente não tem

sido m uito grande porque a prática científica da avaliação da evidência permanece essencialmente pragmática. Na medida em que realmente existem, as regras de evidência se desenvolveram de uma longa história de experiência científica. Os critérios que os cientistas utilizam vão desde as considerações objetivas, como a precisão dos instrumentos de medida, até os julgamentos altamente pessoais, referentes à adequação do expe­

rimentador. Alguns tipos de evidência têm mais peso do que outros; uma determinada amostra de evidência pode ser considerada mais, ou menos, adequada, dependendo da pergunta que está sendo feita pelo

experimentador. O restante da discussão é planejado para descrever alguns dos principais critérios avaliativos, como são usados realmente.

0 teste em pírico mais completo da fidedignidade dos dados é

fornecido pela replicação. Há, entretanto, vários tipos de replicação; alguns exigem mais respeito do que outros; alguns fornecem mais do que simplesmente uma indicação de fidedignidade. O valor posto nas técnicas replicativas específicas, resulta não de considerações lógicas a priori mas

de um background de realização científica. A experiência e o julgamento do cientista individual sempre estão envolvidos na avaliação dos dados.

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replicaçao direta

A técnica replicativa mais simples é a repetição de um determinado experimento pelo mesmo investigador. A replicação direta pode ser reali­zada, tanto executando novamente o experimento com novos sujeitos; como fazendo repetidas observações dos mesmos sujeitos sob cada uma das várias condições experimentais. Dependendo da apresentação dos dados, ou como estatística do grupo, ou em termos de comportamento dos sujeitos individuais, denominamos a replicação com novos sujeitos de

replicação "interqrupos,,. ou replicação "intersuje itos". respectivamente. Quando se mantêm os sujeitos originais, usamos os termos, replicação

"in tragrupo" ou "in tra su je ito ".Nos experimentos psicológicos que empregam grandes populações e

técnicas de dados de grupo, a repetição é rara. Disse anteriormente que

tal repetição iria realmente ajudar a estabelecer a fidedignidade da ten­dência central, mas que iria trazer pouca, se alguma, relevância para o

problema da generalidade ou representatividade com relação aos indi­víduos. A replicação dos dados individuais, entretanto, pode perm itir uma

avaliação direta da fidedignidade e generalidade de um fenômeno.

REPLICAÇÃO INTERSUJEITOS

Quando um experimento é realizado com um único organismo como sujeito, a replicação intersujeitos é freqüentemente exigida porque o

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78 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

sujeito original pode te r sido uma "anom alia". Outra escola de pensamento julga que não existem anomalias, que quaisquer dados obtidos cuidado­samente são dados reais, que nunca devem ser ignorados. Se um experi­mento deve ou não ser replicado com outros sujeitos, dependerá do julgamento do experimentador sobre a adequação das técnicas e sua con­fiança na consistência dos dados dentro de um corpo estabelecido de

conhecimentos.Se o investigador tiver alguma razão pa.a suspeitar de que sua téc­

nica possa ter sido falha, ou se é uma nova técnica com a qual não tenha ainda muita experiência, é provável que emprégue sujeitos adicionais. Do mesmo modo, se os seus resultados pareçam ter uma variação com outros

dados, ou se ocorrer o caso raro em que os dados pareçam revelar uma nova área de pesquisa para a qual haja um pequeno, ou nenhum background, é provável que o experimento se repita. Entretanto, enquanto as técnicas forem consideradas corretas, o experimento não será repetido,

unicamente com o propósito de verificar se o fenômeno observado é "rea l". A realidade da descoberta original é tida como certa. O objetivo da replicação intersujeitos é determinar se as variáveis não controladas e/ou desconhecidas poderiam ser suficientemente poderosas para a repe­tição bem sucedida. Se isto provar que é esse o caso, o fracasso da

replicação intersujeitos servirá de estímulo para uma pesquisa posterior,

em vez de levar à simples rejeição dos dados originais. Voltarei em seguida a esse tópico e novamente nos capítulos sobre Variabilidade, porque suas implicações não parecem estar amplamente compreendidas pelos psicó­

logos.

Os experimentadores que decidem se vão ou não tentar a replicação intersujeitos, com base na própria experiência de suas técnicas e em uma área particular de conhecimento, devem aceitar uma conseqüência inevi­

tável. Um investigador, baseado na experiência, pode ter grande confiança na adequação desta metodologia, mas não se pode esperar que outros experimentadores participem dessa confiança, sem evidência convincente. É preciso tempo para se acumular essa evidência. Consistirá na replicabi- lidade do seu trabalho por outros experimentadores e na consistência interna dos resultados, demonstrada pela replicação sistemática (veja Capítulo 4).

Também a personalidade e o caráter do experimentador serão le­vados em consideração por seus colegas e companheiros. Por exemplo, um homem pode revelar, em conversa casual, uma excessiva ambição de sucesso po lítico dentro da sua profissão, ou sérias deficiências em seus padrões éticos pessoais. Em qualquer dos casos, seus resultacTos científicos

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REPLICAÇÃO DIRETA 79

provavelmente serão olhados como conseqüência de suas atividades extra- científicas, requerendo uma quantidade de confirmação ainda maior que

a usual.Como critério de fidedignidade e generalidade, a replicação inter-

sujeitos é um instrumento mais poderoso do que a replicação intergrupos. A replicação intergrupos fornece um indicador de fidedignidade na medida em que demonstra que as mudanças na tendência central de um grupo podem ser repetidas. Em relação à generalidade, entretanto, a replicação

intergrupos não responde à pergunta sobre quantos indivíduos os dados

realmente representam. Com replicação intersujeitos por outro lado, cada

experimento adicional aumenta a representatividade dos resultados. Na

verdade, a replicação de um experimento com dois sujeitos estabelece maior generalidade dos dados entre os indivíduos de uma população do

que a replicação com dois grupos de sujeitos cujos dados individuais foram

combinados.Em contraste com os experimentos de estatística de grupo, nos

quais a replicação intergrupos raramente ocorre, experimentos com sujeito individual que utilizam mais do que um sujeito, automaticamente contêm

as replicações intersujeitos. Cada sujeito constitui pelo menos uma tenta­tiva de replicação de experimento. Na pesquisa biológica, por exemplo, é comum encontrar cada sujeito catalogado como um experimento separado, mesmo quando as mesmas operações foram realizadas em cada

caso.Com quantos indivíduos deverá um experimento ser replicado para

que os dados sejam considerados representativos? Os psicólogos não deram a esse problema a análise intensiva que sua importância requer; por uma razão, porque só recentemente o número de investigações que usam sujeitos individuais tornou-se suficientemente grande para causar um efeito perceptível na massa de dados psicológicos publicados todos os anos. 0 problema somente agora está se tornando crítico para os psicó­logos. O mais im portante conjunto de fatores contribuintes vem de consi­derações sutis, de natureza tanto qualitativa quanto quantitativa, envol­

vidas na decisão de quantas replicações de um dado experimento são

desejáveis. A esta altura, somente indicarei alguns dos grandes problemas que devem ser enfrentados em qualquer tentativa de desenvolver uma

"estatística de replicação". Tal metodologia deveria tomar, como ponto de partida, a prática científica real, para que não se,questione a eficácia

da prática, por mais informais que possam ser as suas regras.Comecemos com o exemplo apresentado na Figura 3. Será neces­

sário descrever o procedimento experimental com alguns detalhes, porque,

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J j100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Percentagem de choques "devidos" realmente aplicadosV

Figura 3. Um conjunto de cinco curvas, cada uma proveniente de um sujeito experimental d iferente, mostrando a relação entre a freqüência da respòsta de esquiva e a porcentagem de choques aplicados aos sujeitos (De Boren e Sidman, 13).

como veremos depois, os dados não podem ser adequadamente avaliados

em termos de números somente.Estes dados são de um experimento de comportamento de esquiva,

com ratos como sujeitos (13). No começo do experimento, o^animal recebe um choque breve a cada 20 segundos. O choque entretanto' poderá ser evitado se o animal pressionar uma pequena barra. Cada vez que a barra descia, adiava o choque seguinte por 20 segundos. Assim, pressio­nando a barra com freqüência suficiente, o animal podia adiar o choque

indefinidamente. Realmente nenhum rato at^jge esse pico no desempenho, mas a maioria aprende a pressionar a barra ê assim evitar a grande maioria dos choques, sendo que alguns recebem menos do que dez choques durante uma sessão experimental de seis horas. Na curva do Rato J-2, na Figura 3, o ponto na extrema esquerda representa a freqüência média de pressão à barra (cerca de 5.3 resposta por m inuto no procedimento que acabamos de descrever).

Este procedimento pode ser ponderado como aquele em que um choque passa a ser "m erecido" cada vez que o animal ficar 20 segundos sem pressionar a barra. Como já fo i explicado, o animal recèlae um choque cada vez que ficar 20 segundos sem pressionar a barra. Realmente são

TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

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REPLICAÇÃO DIRETA 81

descarregados cem por cento dos choques "devidos" ao animal por deixar

de pressionar a barra. 0 restante do experimento fo i dirigido para o problema do que aconteceria à freqüência de pressão à barra se alguns dos

choques "m erecidos" não fossem descarregados. Então, a freqüência do

comportamento de esquiva do Rato J-2 fo i observada subseqüentemente

quando 50 por cento dos choques "devidos" foram realmente descar­regados, e depois 30, 20, 10, e 5 por cento, nessa ordem. No valor menor,

por exemplo, o animal recebia um choque somente em 5 por cento das vezes em que ficasse 20 segundos sem pressionar a barra.

No decorrer do experimento, surgiu o problema de por quanto

tempo submeter o animal a cada uma das percentagens de choque. Com

base na experimentação prelim inar, decidiu-se fazer o experimento durante sete sessões de seis horas para cada percentagem de choque. As primeiras três sessões foram postas de lado como constituindo um período de transição, e a média da freqüência usual de respostas no final de quatro sessões de cada percentagem de choque fo i admitida como representando o estado estável final para aquele valor.

Examinemos agora a curva que representa o comportamento do Rato J-2. Em uma ampla ordem de percentagens de choque, de 100 a 30 por cento, há uma pequena modificação na freqüência de resposta. Há depois uma queda pronunciada na freqüência de resposta, à medida em que a percentagem de choque cai de 30 para 5 por cento. Esses dois aspectos, a porção nivelada da curva seguida pela queda de freqüência final, fornece um quadro geral dos dados. Há, entretanto, muitos outros detalhes, como por exemplo, a pequena elevação nos 50 por cento, a queda ínfim a, quase zero, entre 10 e 5 por cento, e os valores numéricos reais dos pontos individuais na curva. Todos esses aspectos devem ser

levados em consideração ao ser tomada uma decisão quanto a se fazer ou não uma replicação intersujeitos.

A ordenação to ta l dos dados se abranda diante da replicação. Com

seis pontos na curva havia uma boa oportunidade de ocorrência de irregula­ridades, ainda que as mudanças fossem essencialmente contínuas, dentro

dos limites de variabilidade que a maioria dos experimentadores tivessem

que esperar nas pesquisas comportamentais. A regularidade da curva

também é comparável favoravelmente com outro trabalho fe ito no mesmo laboratório. Tais considerações levam a um alto grau de confiança

na fidedignidade dos dados. De fato, se a replicação subseqüente com outros animais não confirmar os resultados, nosso curso de ação não será o de rejeitar os dados do Rato J-2, mas sim de interrogar experimental­mente as razões das diferenças.

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82 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

No caso em questão, entretanto, uma consideração superior pedia a replicação dos dados. A porção nivelada da curva de 100 a 30 por cento não parecia concordar com os resultados de outros experimentos relacio­nados. Será digna de consideração esta aparente inconsistência de alguns detalhes, porque a sua natureza deve ser levada em conta na determinação de quantas replicações serão necessárias. O desacordo com um resultado bem confirm ado torna um novo dado mais suspeito e requer um grau maior de confirmação do que uma divergência com dados que são fracos em si mesmos. O estatístico ou o lógico que desejem quantificar a adequação da replicação precisam descobrir alguma forma de traduzir esse critério em termos numéricos. Isto quer dizer, quando a replicação é reclamada por causa do desacordo com dados anteriores, a quantidade de replicação exigida será uma função do grau em que os resultados anteriores

foram solidamente estabelecidos.Qual é o problema levantado pela curva do Rato J-2? Se conside­

rarmos primeiramente o esquema de choques de 100 por cento, veremos que é possível especificar a extensão do intervalo de tempo com o qual

cada resposta de pressão à barra adia o próxim o choque. Esse intervalo, controlado pelo experimentador, é de 20 segundos. O adiamento do

choque realizado pela ocorrência da resposta tem sido denominado " in te r­valo resposta-choque". Os efeitos da magnitude do intervalo resposta- -choque sobre a freqüência do comportamento que adia o choque tem

sido extensivamente investigada em algumas espécies, com diversas va­riações no procedimento básico e também com outros fatos nocivos

além do choque elétrico. O resultado geral, com algumas qualificações

em detalhe, tem sido que a freqüência da resposta é uma função inversa do intervalo resposta-choque (veja Figura 27). À medida que aumentamos

a duração do intervalo de tempo que pode decorrer entre uma resposta e o choque seguinte, a freqüência de ocorrência da resposta declina.

Examinemos agora o esquema de 50 por cento de choques em termos do efeito que essa manipulação pode ter no intervalo entre resposta

e choque. Suponhamos que o experimento progride e o animal acaba de pressionar a barra. Os próximos 20 segundos se escoam sem uma pressão à barra, e o choque pode então ser descarregado. Mas de acordo com o

esquema de 50 por cento de choque que estabelecemos, há uma probabi­lidade igual de que não haverá choque ao terminarem os 20 segundos. Neste caso, pode transcorrer um período adicional de 20 segundos sem

resposta, e depois de um tota l de 40 segundos sem pressão à barra há novamente uma chance de s0/ 50 de que o choque seja descarregado. (Nota: ao final de cada intervalo consecutivo de 20 segundos de falta de

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REPLICAÇÃO DIRETA 83

resposta, a probabilidade de choque será de 0.5 somente, se a seqüência estabelecida no aparelho fo r casual. Embora uma seqüência casual não

seja empregada neste experimento, o principal ponto da discussão continua válido). Vamos supor que o choque ocorra neste ponto. Quarenta segundos

terão decorrido entre o choque e a pressão à barra precedente. Isto

equivale a dobrar o intervalo resposta-choque de 20 segundos, que ocor­reria inevitavelmente no esquema de 100 por cento de choque. Com base

nos resultados anteriores, deveríamos esperar um declínio correspondente

na freqüência de resposta.Podemos aplicar uma análise semelhante para o caso de 30 por

cento de choque. Neste caso, a possibilidade de que o choque ocorra depois de 20 segundos sem resposta é de somente 0.33. Há então uma ainda maior possibilidade de que o animal passe intervalos resposta-choque maiores do que 20 segundos. Mas os dados não parecem compatíveis com estas probabilidades. Nossa generalização prévia de que a freqüência da resposta seja uma função inversa do intervalo resposta-choque não parece se manter no caso do Rato J-2. Apesar dos intervalos resposta- -choque mais longos que os esquemas de 50 a 30 por cento de choque parecem tornar possíveis, não há declínio na freqüência de resposta nesta porção da curva. O primeiro passo, entretanto, era determinar se os dados obtidos com o Rato J-2 podiam ser reproduzidos ou se eram o resultado de alguma variável desconhecida, cujo controle experimental ainda não estava bem estabelecido.

A magnitude e importância da discrepância entre os dados de J-2 e os resultados anteriores e os efeitos dos intervalos resposta-choque

justificavam a replicação inicial com quatro novos animais. Como se chegou ao número quatro? Seria m uito agradável poder apresentar um encadeamento lógico de raciocínio, que levasse à conclusão inevitável de que exatamente quatro, nem mais nem menos, fosse o número ideal

de sujeitos exigidos para a replicação deste caso. Mas tal lógica não fo i

empregada. É mais provável que se encontrem as razões desta escolha na história dos reforçamentos dos experimentadores e na economia de orga­

nização do seu laboratório particular. Tem sido a experiência comum nesse laboratório que, quando um número de quatro animais (geralmente menos) produzem os mesmos dados, a experimentação subseqüente rara­mente deixará de realizar a replicação.

Então, aqui está um segundo problema para o estudante de lógica confirmatória que gostaria de quantificar a avaliação dos dados. Como fazer a estimativa dos sucessos e fracassos passados do experimentador?

Não parece haver a í nenhuma justificação lógica para tal critério, porque

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84 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

qual relação poderiam ter as replicações bem sucedidas de experimentos passados, completamente diferentes, com a probabilidade de que um experimento no presente também seja replicável? A resposta é que ne­nhum dado experimental independe do experimentador. Seus experimentos do passado e do presente não são independentes uns dos outros. O expe­rimentador estabelece uma linha de correlação que se estende através de todos eles, uma correlação que não se origina da presença física do experimentador ou do seu nome, mas das suas técnicas de controle expe­

rimental.Se suas técnicas demonstraram ser adequadas, por replicações bem

sucedidas no passado, há uma grande probabilidade de que os experi­mentos subseqüentes também tenham variáveis relevantes sob um controle suficientemente rigoroso para tornar aplicáveis os mesmos padrões de replicação. Esta não é uma afirmação lógica, mas comportamental. E um princíp io empírico que se aplica ao comportamento do cientista.

O laboratório não é o lugar para modéstia excessiva. Embora o cientista cuidadoso não permita que sua reputação abrande o seu julga­mento sobre a adequação do próprio trabalho, precisa estar preparado

para avaliar realisticamente os padrões em que se encontra realmente a sua experimentação. Se os padrões de controle comportamental da sua experi­mentação são altos, é preciso que reconheça este fato e permita que seu trabalho seja dirigido adequadamente. A ciência é uma ocupação séria, cara e que leva tempo. Se o julgamento da adequação do próprio experi­mento fo r fraco demais, diante de uma evidência contrária, gastará tempo,

energia e dinheiro demais na demonstração desnecessária da própria competência.

Esta não é uma filosofia perigosa, apesar de os cientistas mais conscienciosos e capazes serem passíveis de erro. Quanto aos que super-estimam a própria competência, não poderão ignorar suas defi­ciências por m uito tempo. Outras técnicas replicativas, tanto de natureza direta quanto sistemática, eventualmente revelarão a deficiência de julga­mento de um homem. Isto também vale para o cientista experimentado que comete um dos seus erros técnicos relativamente raros. Realmente nada mais podemos esperar.

Voltando à Figura 3, vemos os resultados das quatro experiências replicativas. Os dados do Rato J-2 terão sido de fato replicados? Ou existem discrepâncias que precisam ser resolvidas antes que quaisquer conclusões possam ser estabelecidas?

Algumas discrepâncias são evidentes. Os valores absolutos dos pontos correspondentes nas curvas mostram acentuada variabilidade de um animal

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REPLICAÇÃO DIRETA 85

para o que segue. Não podemos proclamar, por exemplo, que todos os

ratos responderão a uma freqüência de 5.5 respostas por m inuto, quando somente 50 por cento dos choques são descarregados. Notamos também que certas pequenas variações nas curvas do indivíduo não são consistentes

de animal para animal. A pequena ascensão de 100 para 50 por cento na

curva do Rato J-2, por exemplo, não demonstra ser consistente, embora haja uma sugestão de modificação semelhante para uma freqüência mais ampla em algumas das outras curvas. Embora indubitavelmente haja uma razão, que pode ser descoberta, para estas mudanças, apesar da sua incon­

sistência, não foram investigadas posteriormente porque uma variabilidade desta magnitude estava bem dentro dos limites normalmente observados e tolerados neste laboratório. As tentativas de reduzir a variabilidade não

eram consideradas econômicas, desde que as mudanças comportamentais de maior interesse fossem suficientemente amplas para sobrepujar essa relativamente pequena monta de " ru íd o " nas linhas básicas. Dever- -se-ia ter em mente, entretanto, que um trabalho posterior e melhor controlado poderá provar que essas pequenas variações são reais e

importantes.Enquanto isso, dentro dos nossos limites atuais de erro experimental,

parece possível concluir que pelo menos uma característica dos dados do Rato J-2 fo i replicada. Em uma série ampla de percentagens de choque há uma pequena modificação, se houver alguma, na freqüência da resposta de esquiva. Também parece estar estabelecida uma segunda característica. A queda eventual da freqüência de resposta é relativamente repentina, quando se compara a seqüência de percentagens, dentro da qual aparece a queda, com a seqüência em que se observa a constância.

Alguns dos critérios em que os experimentadores baseavam o seu julgamento de uma replicação bem sucedida eram rudemente estatísticos. A replicação em cinco animais era comparada com outras experiências replicativas do passado, envolvendo freqüentemente menos animais. Cinco

eram considerados como mais do que suficientes para constitu ir um caso.

A variabilidade observada era comparada com a que fo i vista em outros experimentos, no mesmo ou em outros laboratórios. A grandeza da mu­

dança de freqüência em percentagens baixas de choque era avaliada diante

de uma linha de base que contivesse uma certa soma de variabilidade. Na medida em que tais comparações precisem ser feitas inevitavelmente entre os fenômenos que revelem um maior ou menor grau de variabilidade, o julgamento será envolvido, implicitamente, entretanto. Mas o processo estatístico empregado ainda não fo i publicado em qualquer manual. A complexidade e sutileza das considerações envolvidas permitem um

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86 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

julgamento que é bem mais rigoroso e exato do que qualquer processo

estatístico já planejado.Os dados provenientes de experimentos inteiramente diferentes são

levados em conta, por uma razão. 0 grau de solidez dos dados relacionados

é uma consideração importante. Além disso, uma única exceção nunca é sepultada em um desvio padrão, mas é avaliada quanto à adequação das técnicas de controle. Tanto a quantidade quanto a qualidade dos dados imediatos e também dos resultados mais remotamente relacionados são

avaliadas, como o é o grau em que os resultados relacionados foram sistematizados.

Em razão de alguns aspectos dos dados serem irrelevantes para os - resultados principais, freqüentemente são menosprezados na avaliação das replicações. Na Figura 3, por exemplo, os valores absolutos das freqüências podem ser ignorados na comparação das curvas relativas às características de maior importância. A série ampla de freqüência relativamente cons­tante e a série limitada de freqüência decrescente aparece em cada uma das curvas, independente de sua altura na ordenada, sugerindo que essas características dos dados não dependem da freqüência inicial. Alguns testes estatísticos, levando-se em conta as diferenças absolutas das fre ­qüências entre os animais, levariam à conclusão de que os dados obtidos seriam m uito variáveis para serem aceitos. Na prática atual, a consistência das curvas individuais em face das diferenças individuais de freqüência

serve para ampliar a sua generalidade e fidedignidade. Cada demonstração de que um fenômeno comportamental é independente de variáveis que

se tem razões para suspeitar que sejam fatores importantes, serve para ampliar a generalidade e fidedignidade deste fenômeno. A significação que se atribuirá a tal demonstração não é basicamente uma questão de

estatística.

O sucesso de nossas tentativas de replicação nos traz de volta o

problema que era a principal consideração na decisão original de repetir

o experimento. Esta era a discrepância aparente entre estes e outros resultados bem estabelecidos. Baseados nos últim os, não era de se esperar

a extensão ampla em que se observa a constância de freqüência. Depois disso, para onde iremos? Continuaremos a replicar tanto este quanto os primeiros experimentos até que surjam algumas exceções? Tal caminho iria contrariar tanto o senso comum estatístico como o experimental. Iremos tentar uma avaliação quantitativa rigorosa da evidência de ambas as séries de experimentos e depois jogar fora os dados que parecem ter menor sustentação? Não seriam muitos os cientistas que iriam subscrever

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REPLICAÇÃO DIRETA 87

tal rumo de ação, porque a ciência progride pela integração, e não pela rejeição, de dados aparentemente discrepantes.

0 terceiro caminho seria o desenvolvimento de uma teoria que

fosse consistente em um conjunto de dados, e então abandonar o outro. Geralmente encontramos duas afirmações sagradas acompanhando esse procedimento. Uma, "é claro que modificaremos a teoria quando novos dados o exig irem ", ignora o fato de que existem já novos dados à dispo­

sição. Um outro preceito contraditório, "é necessário uma teoria para

derrubar outra teoria", é o mais freqüentemente proferido; muitos teóricos

assim se imunizam contra o desafio de qualquer dado contraditório que se apresente sem uma teoria alternativa. Aqueles que não adotam a teoria

original, entretanto, vivem uma vida d ifíc il até que as diferenças empíricas

sejam resolvidas.

Um quarto caminho, ainda mais básico do que a replicação direta, é

investigar os fatores que poderiam explicar as divergências e alinhar-se uns com os outros. Esta tentativa pode envolver uma teoria em plano secundário, porque se pode começar por suposições quanto às variáveis que possam estar envolvidas, ainda que chamar tais suposições de "teorias" sejam um uso triv ia l do termo.

Mas .as suposições nem sempre são necessárias. De fato, o processo inverso pode demonstrar ser mais proveitoso. Uma discrepância aparente entre dois conjuntos de dados pode ser o resultado de admissões teóricas implícitas e não reconhecidas. Foi este realmente o caso do experimento resumido na Figura 3, e a discrepância fo i resolvida pelo reconhecimento do raciocínio teórico não justificado, e pela observação mais cuidadosa de algumas características mais importantes dos dados, mais do que as

apresentadas na Figura 3. Tenho notado que a omissão de uma certa percentagem de choques permite a ocorrência de períodos de mais de

20 segundos entre as respostas de pressão à barra e os choques. O aumento dos intervalos resposta-choque tinha anteriormente demonstrado dim inuir

a freqüência da resposta. O problema surgiu porque não havia declínio

da freqüência da resposta nos níveis de 50 a 30 por cento de choque, apesar dos intervalos resposta-choque mais longos que esses esquemas

possibilitaram.

A falha do raciocínio anterior surgiu da suposição não declarada de que a possibilidade de intervalos resposta-choque mais longos fosse verificada realmente no fato. Se os. resultados percentuais de choque da Figura 3 e a freqüência inicial vs. intervalo resposta-choque dos dados fossem ambos fidedignos, então uma suposição unificadora racional seria

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88 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

o oposto, isto é, embora fossem possíveis intervalos resposta-choque mais

longos, na realidade não ocorreram. Se não ocorreram, então a constância de freqüência com percentagens decrescentes de choque seria consistente com o corpo anterior de dados. A plausibilidade de tal noção é aumentada

quando se reconhece que, no ú ltim o experimento, os intervalos resposta-

-choque foram , em grande extensão, uma função do próprio comporta­mento do animal. Nas investigações anteriores, entretanto, o experimen­tador tinha controle exclusivo dos intervalos de tempo entre respostas

e choques.Não há necessidade de se entrar em maiores detalhes. O exame dos

intervalos de tempo entre respostas sucessivas indicaram que os animais permitiam que poucos desses intervalos durassem m uito mais do que 20 segundos, apesar dos choques omitidos. De fa to , os dados foram consis­tentes nos resultados anteriores, e a maior razão da suspeita da sua fidedignidade fo i eliminada. O ponto que desejo salientar é que a recon­ciliação dos dados com um corpo de informações existentes forneceu uma demonstração bem mais satisfatória da fidedignidade e generalidade, do que a simples replicação com os quatro animais adicionais. Tal demons­tração constitui outro tipo de replicação para o qual voltarei com maiores

detalhes no C apítulo 4.

REPLICAÇÃO INTRASUJEITO

A replicação intrasujeito e, em menor extensão, a replicação intra- grupo fornece uma demonstração única de fidedignidade de uma técnica.

Quando o comportamento de um organismo pode ser manipulado muitas

vezes de forma quantitativamente consistente, o fenômeno em questão é real, e o experimentador mantém bem controladas as variáveis rele­vantes.

A Figura 4 resume alguns dados de um experimento (17) no qual

os ratos, pressionando a barra, fizeram com que uma corrente elétrica

breve passasse diretamente no seu cérebro através de eletrodos permanen­

temente implantados. 0 experimento investigava os efeitos de dois níveis de privação de água sobre a freqüência de resposta de pressão à barra reforçada pelo estímulo elétrico intracraniano. Em vez de dois grupos de animais, um em çpda nível de privação., os experimentadores mudaram o nível de privação em sessões alternadas para cada animal. Nos dias experi-

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REPLICAÇÃO DIRETA 89

RATO K-32 RATO K-33

12Jl t - 12

o 11 à A A A - 11*->13 \ / \ • / \ / \ 3J

f 10 \ \ \ / \ \ ~

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8 oO8- 703

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CC \ \ — - 4 6 horas de privação \ c6 — a W - o - 0 horas de privação \~ 6 o

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Sessões

Figura 4. Curvas de dois sujeitos individuais mostrando as flutuações da freqüência de resposta enquanto o grau de privação de água era alternadamente aumentado e d im inu ído em sessões experimentais sucessivas. (De Brady, Boren, Conrad e Sidman, 17. )

mentais ímpares, o animal era privado de água 46 horas antes do período

de pressão à barra e estimulação. Nos dias pares permitia-se ao animal um acesso irrestrito à água até o começo do período experimental. A F i­gura 4 mostra mudanças nítidas na freqüência das respostas correspon­

dendo á variação nos estados de privação de água durante sessões experi­mentais alternadas. (Uma replicação intersujeitos é também mostrada na Figura 4.)

Essa manipulação experimental tem um refinamento consideravel­

mente maior do que a demonstração estatística de uma variável experi­mental. Os planejamentos estatísticos são geralmente, embora nem sempre, coisas para um único lance. Isto é, cada valor da variável inde­

pendente é aplicado somente uma vez, e a diferença entre os tratamentos é avaliada em face de uma teoria que afere a possibilidade de tal diferença

ter ocorrido por. acaso. Em uma série de manipulações com um único

sujeito, o possível papel do acaso dim inui rapidamente a cada replicação

bem sucedida.Os critérios estatísticos estão envolvidos implicitamente, mas os

estatísticos ainda não desenvolveram um conjunto exp líc ito de regras para cobrir esse caso. 0 problema geralmente exposto é: Quantas replicações

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90 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

de um experimento são exigidas para exprim ir um determinado grau de confiança e fidedignidade nos resultados? É um problema d if íc il para o

estatístico. Seria preciso que antes respondesse à pergunta, "O que cons­

titu i- uma replicação?" É provável que a resposta varie consideravelmente de um experimento para outro. Os experimentadores levam em conta fatores como a magnitude dos efeitos observados, sua confiança na ade­quação do seu controle experimental, a consistência dos seus resultados com os dados relacionados, a estabilidade de suas condições básicas, etc.. A maioria dos cientistas fazem tais julgamentos de forma in tu itiva, sem perceber que estão continuamente fazendo computações complexas que envolvem uma teoria de probabilidades avançada e ainda não formulada. Essas avaliações são para eles quase que uma segunda natureza, realizadas informalmente com as atividades normais diárias de planejar experimentos, observar os seus progressos, mudando-lhes o rumo e interpretando-lhes os resultados.

Depois de ter sido determinado o que constitui a replicação de um caso determinado, deve-se então tom ar a decisão sobre quantas replicações são necessárias. Esse julgamento variará de campo para campo, de labora­tó rio para laboratório, de experimento para experimento. Às vezes,

somente uma repetição será suficiente, às vezes, duas, às vezes, mais.

Eventualmente o experimentador chegará a um ponto em que resolva que

outras replicações seriam menos proveitosas do que um experimento novo. Se em uma área dada, uma série de experimentos fo r planejada ou fo r

realizada, o número de replicações diretas será provavelmente pequeno,

pois haverá maior confiança na replicação sistemática (veja C apítulo 4).

Por exemplo, no experimento que deu origem à Figura 4, outras repli­cações intrasujeito foram consideradas desnecessárias porque a replicação

intersujeitos também fo i obtida, a replicação interespécies fo i bem suce­dida e a replicação fo i realizada com outros esquemas de reforçamento, empregados para produzir linhas de base, e com outro método de variação de graus de privação.

A replicação intrasujeito tem uma característica refinada e pode­rosa, impossível de obter com a abordagem estatística de um só lance: a facilidade com a qual se pode conseguir o controle experimental, à von­tade, com o correr do tempo. A Figura 4 fornece um exemplo excelente. A figura poderia ter sido desenhada de outra forma, com uma linha ligando os pontos altos nas 46 horas de privação; é outra linha ligando os pontos baixos nas zero horas de privação. Û método de ligar tem po­

rariamente pontos sucessivos com uma única linha fo i escolhido porque dá ênfase às reversões sucessivas da freqüência da resposta como uma

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REPLICAÇÃO DIRETA 91

função da privação de água. A alternação da freqüência, de acordo com

um padrão temporal determinado pelo experimentador, aumenta a nossa confiança na realidade do efeito. A imposição de um padrão determinado

de mudança sobre a freqüência de resposta, eliminava a passagem de

tempo, em si, como uma variável relevante. Essa demonstração do controle relativamente independente do tempo no experimento, torna possível

uma redução do número de replicações necessárias para estabelecer o

efeito com base sólida.A replicação intrasujeito também tem a virtude evidente de eliminar

a variabilidade intersujeitos como fa tor de avaliação de um resultado experimental. Os procedimentos de estatística de grupo geralmente operam em comparação com uma linha de base da variabilidade intersujeitos. Se> por exemplo, a diferença entre dois tratamentos é menor do que a

variabilidade intersujeitos entre cada um dos grupos, a diferença não será considerada "significativa". Á replicação intrasujeito está livre dessa fonte de erros. Operam em termos de uma linha de base da varia­bilidade intrasujeito somente. Como técnica prática, a replicação intra­sujeito somente é possível quando a linha de base do comportamento, cujas mudanças são medidas, atingir um estado estável e recuperável, ou quando a linha de base estiver mudando de forma ordenada e

conhecida.A Figura 5 oferece um exemplo de linha de base do comportamento

relativamente estável, de onde se constitui uma medida da eficiência de uma variável. O comportamento de um macaco pressionando a barra fo i

mantido perm itindo ocasionalmente que a pressão à barra produzisse um

reforçamento de alimento (esquema de reforçamento em intervalo va­riável). As respostas são acumuladas ao longo da ordenada e o tempo é

continuamente registrado ao longo da abscissa. A inclinação da curva, entretanto, representa a freqüência de pressão à barra (respostas por

m inuto). A freqüência de resposta relativamente constante normalmente produzida pelo esquema de reforçamento intervalo-variável, fornece uma

linha de base admirável para a observação de uma modificação compor­tamental, como está representada na porção nivelada da curva na Figura 5. Na primeira flecha um estímulo (uma séire de cliques rápidos) fo i ofere­

cido ao animal. O estímulo durou cinco m inutos, e então terminou simultaneamente com a aplicação de um choque elétrico curto e inevi­

tável, nos pés do animal. A segunda flecha na Figura 5 marca o ponto em que o choque fo i descarregado. Depois de várias experiências com a combi­

nação clique-choque, o animal mostra uma profunda mudança de comportamento durante- o estímulo. Seu comportamento existente está

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92 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

Figura 5. Um registro cumulativo do comportamento de pressão à barra do macaco,

mostrando uma modificação clara no comportamento da linha de base existente, graças ao estím ulo que precede um choque inevitável. Depois do choque o animal volta ao seu desempenho normal.

completamente modificado, sendo a pressão à barra substituída por um comportamento locom otor intenso e agitado, alternando-se com períodos de completa imobilidade.

Na Figura 5, a interrupção da pressão à barra, durante os cinco minutos de duração do estímulo, é bem aparente. A estabilidade da linha de base, anterior ao in íc io e seguindo a cessação do estím ulo, fornece ampla evidência de que os cinco minutos de supressão da resposta estavam de fato correlacionados com a presença do estímulo.

A replicação intrasujeito, entretanto, torna o caso ainda mais convin­cente. Na Figura 6, representando o comportamento de um macaco

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REPLICAÇÃO DIRETA 93

diferente, o estím ulo é oferecido durante períodos alternados de cinco minutos. A sessão começa com a resposta de pressão à barra sendo refor­çada ocasionalmente, de acordo com o esquema de intervalo-variável.

Depois de cinco minutos começa o clique, e o seu in ício é marcado na Figura 6 pelo ligeiro deslocamento da curva para baixo e pela marca "c l" .

O estímulo do clique permanece durante cinco minutos e então termina, ao mesmo tempo em que o animal recebe um choque breve e inevitável

nos pés. 0 prim eiro choque é marcado pelo ligeiro movimento da caneta

para cima, e pela marca "sh". 0 ciclo então começa novamente, com períodos de cinco minutos sem estímulo, alternados com períodos de cinco minutos com estímulo. O choque aparece no final de cada estímulo.

Vemos na Figura 6 que a supressão da freqüência de resposta acompanha cada estímulo de clique, enquanto que a freqüência da linha de base é rfcuperada durante os períodos entre as apresentações do estímulo. Há, ao todo, nove replicações de supressão comportamental, durante o período de uma hora e meia. O número de replicações e a seqüência temporal precisamente controlada das modificações comporta­mentais não deixam dúvidas de que o efeito do estímulo é genuíno. A simples integridade dessa demonstração, que se tornou possível graças à estabilidade da linha de base comportamental, é uma característica da replicação intrasujeito, que é da melhor tradição da metodologia científica. Nenhuma demonstração estatística de efeito semelhante, como média de um grupo de sujeitos, poderia ser tão convincente.

Outra conseqüência da estabilidade da linha de base, combinada

com o controle repetitivo, que é característica da replicação intrasujeito.

Figura 6. Nove replicações intrasujeitos, em uma única sessão, da mudança de comportamento que fo i ilustrada na Figura 5.

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94 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

é a demonstração fidedigna de efeitos menores do que teria sido possível demonstrar de outra forma. Um pequeno efeito obtido em um experi­mento do tip o grupo provavelmente seria apagado na variabilidade inter­sujeitos. Quanto mais estável é a linha de base individual que se pode

conseguir, entretanto, menos provável será a rejeição de efeitos pequenos,

mas consistentes. Os pequenos efeitos comportamentais são, em si

mesmos, sempre suspeitos, em função da possibilidade sempre presente de que tenham sido produzidos por algum fa tor não controlado, do qual o experimentador não está consciente. Mas se são constantemente obser­

vados como resultado da aplicação repetida de uma variável a um único sujeito, e se a estabilidade da linha de base geralmente sugere controle experimental adequado, então o experimentador estará mais do que

justificado se tentar descobrir os fatores relevantes que servirão para aumentar a magnitude do efeito. Desta maneira poderá obter uma "m ani­

pulação" para estabelecer mais firm em ente a observação e plantá-la segura­mente dentro de um contexto sistemático.

As linhas de base estáveis, a serem usadas como fundamento das replicações intrasujeito, não implicam necessariamente em constância ou mesmo simplicidade. Uma linha de base pode estar continuadamente se modificando da maneira a mais complexa. Mas se as mudanças forem

ordenadas e em si mesmas replicáveis, a sua utilidade como linha de base não será de forma nenhuma dim inuída. O emprego engenhoso de uma linha de base complexa está ilustrado na Figura 7. O sujeito desse experi­mento (24) era um pombo fam in to que havia sido ensinado a bicar um disco iluminado, na parede do compartim ento experimental. O com por­tamento de bicar fo i então colocado sob controle do estímulo m úftip lo (veja Capítulo 11). Quando o disco se tornava azul, deveriam transcorrer 15 minutos antes que uma resposta de bicar pudesse fazer com que um alimentador de grão se erguesse de sua posição debaixo do chão. O com­portamento com a luz azul logo assumiu as características temporais normalmente observadas nesses esquemas de reforçamento com intervalos fixos, ilustrados na curva superior da seção D, Figura 7. Durante alguns minutos depois de aparecer a luz azul, cessa o comportamento de bicar. Na medida em que o final do intervalo de 15 minutos se aproxima, entretanto, a resposta é gradualmente acelerada até uma alta freqüência final, e o registro cumulativo revela uma curvatura característica desse esquema de reforçamento.

Uma complicação adicional fo i introduzida nesta já complexa linha de base. Quando a cor do disco mudava de azul para vermelho, o alimen­tador de grão ficava à disposição da ave se bicasse o disco 60 vezes. Isto

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REPLICAÇÃO DIRETA 95

é, uma razão de 60 respostas por reforço predominava, quando a luz era

vermelha. O comportamento com a luz vermelha atingia uma alta fre­

qüência, característica desse esquema de reforçamento de razão-fixa, e acentuadamente diferente do comportamento com luz azul (veja a curva

inferior da seção D, Figura 7).Assim temos uma linha de base comportamental, na qual dois

padrões de comportamento são "solicitados" simplesmente pela mudança

de iluminação do disco. O comportamento não é nem simples, nem

constante. Não só se modifica de acordo com a luz do disco, mas também

varia sistematicamente enquanto transcorre o tempo diante do disco azul.

Mas, embora complexo, também é ordenado e reprodutível e sua utilidade se demonstra m uito berr) quando é empregado para avaliar os efeitos comportamentais do phénobarbital sodium. A Figura 7 segue os efeitos

dessa droga através do tempo em cada um dos componentes da linha de base. A primeira ação da droga é eliminar o comportamento de intervalo- -fixo e interromper o curso contínuo do comportamento de razão

Figura 7. Registros cumulativos que ilustram o uso de uma linha de base comporta­mental complexa mas estável, obtida com a finalidade de seguir o curso temporal da ação da droga. As curvas superiores mostram o comportamento de intervalo-fixo, inicialmente quase destruído pela droga e depois recuperando gradualmente suas características normais. As curvas inferiores mostram as mudanças iniciais e de curta duração que ocorrem simultaneamente no comportamento de razão-fixa (Dews, 24).

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96 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

(seção A, Figura 7). No seu segundo estágio (seção B), o comportamento do intervalo retorna, mas sem a aceleração característica. 0 com porta­

mento de razão é essencialmente normal nesse ponto. 0 comportamento de intervalo se recupera parcialmente (seção C) e, finalmente, ambos os componentes da linha de base exibem níveis anteriores à droga

(seção D).Nesse experimento, o emprego de uma linha de base complexa

torna possível uma análise diferencial altamente sofisticada de ação da droga. A ordenação controlada e a recuperabilidade da linha de base depois do desaparecimento da droga tornam possível uma replicação intrasujeito dos efeitos da droga. A complexidade, em si, não impede a replicação intrasujeito.

Muitas vezes, especialmente em uma ciência jovem, um experimento

é realizado com o único propósito de determinar se é possível obter um certo fenômeno. Em tal experimento, a demonstração de um fenômeno em um organismo, com a fidedignidade estabelecida pela replicação

intrasujeito, é todo o necessário. O julgamento da sua importância pelo experimentador determinará o grau de trabalho a ser empregado no estabe­lecimento da generalidade do efeito. Tendo demonstrado que a variável

pode produzir um certo efeito, seu maior interesse nessa variável pode ser simplesmente no sentido de eliminá-la de futuros experimentos. Se,

entretanto, a variável fo r considerada im portante, mais pelo seu valor inform ativo do que pelo seu valor prejudicial, tentará determinar a sua

generalidade.Mas note-se que o fracasso na replicação em todos os sujeitos, não

relega a descoberta ao "lim b o do acaso". Uma vez que descobrimos que a manipulação repetida de uma variável produz mudanças consistentes no comportamento de um único organismo, o fracasso em obter replicações consistentes intersujeitos simplesmente indica o caminho para uma investi­gação funcional mais intensiva. Estudos paramétricos da variável em questão, combinada com a manipulação de outros fatores contribuintes, revelarão muitas vezes condições quantitativas sob as quais todos os sujeitos mostram formas semelhantes de comportamento. A manipulação sistemática de variáveis, como técnica para estabelecer tanto a fidedig­nidade quanto a generalidade, será discutida mais profundamente a seguir.

Esse método de tratar os fracassos replicativos compõe o problema enfrentado pelo lógico que procura a expressão matemática do sucesso replicativo. Será forçado a equilibrar sucessos e fracassos, para chegar a

uma afirmação de probabilidade que exprim irá o grau de confiança/Com o qual poderemos aceitar o resultado em questão.

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REPLICAÇÃO DIRETA 97

Entretanto, replicações bem sucedidas não podem ser contraba­lançadas por qualquer número de fracassos no replicar. Na ocorrência de

replicações mistas, com fracassos e sucessos, há somente dois caminhos

a seguir além do abandonar o problema de uma vez. Um deles é

demonstrar que as replicações bem sucedidas foram o resultado de algum

a rtifíc io experimental. 0 outro é demonstrar que os fracassos em replicar

podem ser evitados pela identificação experimental e o controle das variáveis relevantes para o fenômeno em questão. Não há meio termo.

Um resultado, ou é verdadeiro, ou não é, e as condições em que se aplicam uma ou outra dessas afirfnações, é um problema experimental e não um

problema de lógica ou de estatística. Um processo natural existe, indepen­

dente do nosso grau de confiança na sua realidade. Este ponto é im por­tante, e o estudante não deverá ficar confuso com a moderna filosofia científica, que sustenta que a verdade é um fenômeno estatístico. Na avaliação da teoria, é claro, sabemos por experiência que os novos dados irão eventualmente juntar-se para demonstrar a inadequação de alguma formulação teórica. Nossa aceitação de uma teoria, entretanto, deve se habilitar com-alguma forma de probabilidade. Também os dados podem ser verdadeiros somente dentro de certos limites de probabilidade, mas esses limites são impostos pelos nossos erros de medida, inevitáveis. Sempre há um grau de precisão, além do qual a acuidade de mensuração se torna cada vez mais duvidosa. Antes que se atinja esse ponto, entretanto, a verdade ou falsidade dos dados não pode adm itir equívocos. Se um dado não consegue ser replicado consistentemente, o cientista não pode permitir-se o afrouxamento da sua consciência com a racionalização de que vivemos, afinal, em um mundo de probabilidades, onde a verdade é somente uma questão relativa. A inferência correta a extrair a variabili­dade é que as nossas técnicas de controle são inadequadas.

Alguns dos problemas mais difíceis da análise comportamental

surgem quando a replicação intersujeitos é realizada com sucesso embora

todas as tentativas de replicação intrasujeito fracassem. Qualquer um dos vários fatores pode contribu ir para essa situação, mas todos podem ser

afinal reduzidos a fracassos em recuperar a linha de base original do

comportamento do indivíduo. Esse não é necessariamente um problema sério. Se a linha de base está se modificando, como uma função ordenada

do tempo, independente da operação particular experimental que está sendo sobreposta à linha de base, então a modificação pode ser levada em

consideração para avaliar a replicação. Não sei de nenhum caso em que esss^écnica tenha sido realmente empregada. Mas sua utilidade potencial fíarece suficientemente promissora para a solução de alguns problemas de

-,

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98 TÁTICAS d a p e s q u is a c ie n t if ic a

replicação persistentes na psicologia, para justificar o exemplo seguinte,

detalhado embora hipotético.Um problema antigo da área de interesse de muitos psicólogos tem

sido a influência de um número de variáveis sobre a resistência compor­tamental à extinção. Quando se interrompe o reforço para um comporta­mento, o organismo continuará a em itir este comportamento por um período lim itado de tempo, mesmo que o reforço não esteja acessível. O processo de suspender o reforço para uma resposta previamente condi­cionada tem sido denominada, "extinção experim ental". Quanto mais tempo a resposta continuar a ser dada em face do não reforçamento, tanto

maior será a "resistência à extinção".

Os efeitos sobre a resistência à extinção exercidos por variáveis —

como o número de reforços dados previamente ao comportamento, o esquema de reforçamento, o grau de privação durante o condicionamento, a extinção, etc. — têm sido problemas particularmente interessantes. Examinemos mais de perto o ú ltim o caso e observemos os problemas que apresenta para a replicação intrasujeito. Podemos sim plificar o caso, menos­

prezando alguns dos fatores complicados mais sutis, e considerando os

efeitos de somente dois graus de privação sobre a resistência à extinção.A expectativa simples poderia ser a de que o experimento pudesse

ser realizado da seguinte maneirai primeiro, condicionar a resposta com

um grande número de reforços de alimento. Em seguida, extinguir o comportamento depois que o sujeito fosse privado de alimento, digamos, durante 48 horas, e registrar o número to ta l de respostas de extinção.

Recondicionar o comportamento com um número igual de reforços e então extinguir novamente, desta vez depois que o sujeito tivesse sido privado de alimento, digamos, durante 12 horas. Comparar então o número de respostas emitidas durante os dois períodos de extinção para determinar como a resistência à extinção é afetada pelo estado de privação alimentar do organismo na ocasião. Depois disso, replicar o experimento com o mesmo sujeito, talvez invertendo a ordem de exposição às duas condições de privação.

O problema, infelizmente não é de solução tão simples. O procedi­mento acima é baseado na presunção de que a linha de base da extinção seja constante. Mais especificamente, que, se o sujeito fosse exposto repetidamente a ciclos de reforçamento e extinção alternados, sob um grau constante de privação de alimento, )a resistência à extinção também seria constante, de um ciclo para o outro seguinte. Esta suposição não é válida de fato. O número de respostas de extinção declina com as expo­sições sucessivas ao processo de extinção, mesmo que a resposta seja

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REPLICAÇÃO DIRETA gg

recondicionada entre cada uma dessas exposições (62). Assim, em nosso experimento original, como descrevemos acima, não podemos dizer que

uma resistência à extinção, mais baixa com 12 horas de privação do

que com 24 horas, esteja correlacionada com o estado de privação. É pro­

vável que o segundo período de extinção tenha produzido um número

menor de respostas, mesmo que o nível de privação não tivesse sido modificado. Replicações adicionais do experimento intrasujeito também

seriam excluídas em virtude do fa to de que a linha de base da extinção

está sendo mudada continuamente.Se o comportamento de extinção varia de uma forma ordenada, a

ordenação, entretanto, pode ser posta em prática tanto no experimento original, como nas replicações intrasujeito que se sucederem. Desde que não tenha sido relatada nenhuma investigação na qual esse problema tenha

sido enfrentado, com um grau de rigor experimental suficiente que reve­lasse o tip o de ordem produzido pelo sujeito individual, inventei os dados exibidos na Figura 8, seção A. Este é um plano hipotético do número de respostas emitidas pelo sujeito individual nas sessões sucessivas de extinção, cada uma separada por uma sessão de recondicionamento, com a manu­tenção constante da privação de alimento durante todo o tempo. Por razões de simplicidade na exposição, fiz a curva linear. 0 primeiro passo ao enfrentar o problema da extinção, relacionada com o nível de privação, sèria determinar a forma dessa função para um número de sujeitos individuais.

1 Se estamos lidando com um processo natural consistente, e temos controle suficiente sobre as variáveis relavantes, é provável que obtenhamos uma curva semelhante para cada sujeito, talvez com variações nas cons­tantes de inclinação e intersecção. Uma vez que estejamos convencidos de

que podemos obter a função para qualquer sujeito, dentro de limites estreitos de variabilidade intrasujeito, poderemos continuar com o nosso principal objetivo, a manipulação dos níveis de privação.

Tomemos agora um sujeito novp e determinemos somente os-pri­meiros dois pontos na sua função de extinção, realizando tanto o condi­

cionamento, como a extinção, num nível de privação de 48 horas. Uma vez determinados os dois primeiros pontos, o restante da curva poderá ser

traçado, uma vez que a sua forma linear já é conhecida, a partir de uma experimentação anterior. Isso fo i feito, por hipótese, na Figura 8, secção B. A porção da curva em linha interrompida é a extrapolação das duas prrcneiras determinações empíricas em 48 horas de privação. Realizemos agora o terceiro período de extinção, depois do sujeito ter sido recondi­cionado com a privação original de 48 horas e depois privado de alimento

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1 0 0 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

durante 12 horas somente. O número de respostas durante essa sessão de extinção está no gráfico com o o primeiro ponto de 12 horas na Figura 8.

Note-se què o declín io na resposta de extinção é consideravelmente maior do que o que teria ocorrido normalmente, se a privação tivesse sido man­tida em 48 horas. Se o prim eiro ponto de 12 horas tivesse caído na linha quebrada, então teríamos que concluir que a privação mais baixa não teria efeito sobre o comportamento de extinção.

O experimento pode ser replicado, com o mesmo sujeito, recupe- rando-se primeiramente o desempenho da linha de base. Isto é fe ito com a realização de mais dois ciclos de recondicionamento e extinção com 48 horas de privação. Os resultados da extinção aparecem na Figura 8, como o segundo par de pontos de 48 horas. Outra sessão de extinção é

realizada em seguida com o sujeito privado de alimento por 12 horas. Isto

está colocado no gráfico como o segundo ponto de 12 horas. Vemos novamente que a dim inuição da resposta de extinção é bem maior do que teria sido se a privação fosse mantida por 48 horas. O fa to de que o

segundo ponto de 12 horas seja mais baixo do que o primeiro reflete o declín io normal na resposta de extinção que ocorre com operações

sucessivas de recondicionamento e extinção. Replicações adicionais podem ser realizadas da mesma maneira, e mesmo com variações na seqüência.

Sessões

FiguraS. Replicação intrasujeito diante de uma linha de base que se modifica. A curva A representa dados hipotéticos de um experimento no qual a resposta era alternadamente condicionada e extin ta, com a manutenção constante da privação de alimento durante 48 horas. Essa curva é então utilizada em B como uma linha de base, com a qual se avaliam quaisquer mudanças no comportamento que resultem de uma diminuição na privação para 12 horas.

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REPLICAÇÃO DIRETA 101

O resultado de uma terceira replicação está indicado pelo ponto de 12 horas finais no gráfico.

Temos então, na Figura 8, seção B, a representação de um experi­

mento original e duas replicações subseqüentes, todas realizadas com o

mesmo sujeito, e todas bem sucedidas apesar das linhas de base não serem constantes. A distância vertical entre cada ponto de 12 horas e a linha

quebrada nos diz quanto do declínio na resposta de extinção pode ser a tribu ído à dim inuição da privação de alimento. As diferenças entre os pontos sucessivos das 48 horas, e entre os pontos sucessivos das 12 horas, mostram o declín io normal da resposta de extinção a cada um desses níveis de privação de alimento. Assim, as replicações intrasujeito pro­duzem dados que tanto confirmam como ampliam o resultado original.

A informação adicional também poderia estar garantida. Poderíamos, também, por exemplo, ter escolhido um terceiro grau de privação como nossa linha de base e diante dela avaliar os efeitos, tanto das 12 como das 48 horas. Poderíamos ainda ter empregado mais do que dois níveis de privação durante as sessões de teste de extinção. A técnica pode também ser generalizada para outros tipos de experimento nos quais uma mudança de linha de base poderia parecer impedir a replicação intrasujeito. Se o curso da mudança fo r conhecido, poderá ser levado em conta na avaliação das replicações.

Outros problemas podem entrar no quadro. Em nosso exemplo, para citarmos um deles, pode haver interações entre os dois níveis de

privação. A diferença entre os dois níveis de 12 e 48 horas pode ser uma função composta tanto de privação, como do número de sessões de extinção através das quais o sujeito passou. Se isso fo r verdadeiro, os

pontos das 48 horas não coincidirão com a curva extrapolada na seção B. Talvez, por exemplo, seguindo o primeiro período de extinção com 12 horas de privação, o restante da função de 48 horas estaria colocado

acima da linha quebrada. Mas tais possibilidades podem ser verificadas

experimentalmente e, se existirem, também poderão ser avaliadas.Será uma tarefa d ifíc il. Para refinarmos os dados da linha de base

até o ponto em que a variabilidade excessiva não destrua sua utilidade, será preciso manter um grau de controle experimental bem mais rigoroso do que aquele a que a maioria dos psicólogos experimentais está acostu­

mada. Para se avaliarem possíveis efeitos de interação entre a linha de base em modificação e as operações experimentais, o experimentador terá que realizar um número de experimentos cuidadosos e demorados, naquilo que na ocasião poderá parecer secundário. Mas isto é o comportamento. Onde existem essas complicações, não adianta tentar fugir. Seria o mesmo

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10 2 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

que tentar fug ir do próprio tema de estudos. Para o experimentador profundamente interessado no comportamento, e que possua a virtude científica tradicional de pesquisar um problema cuidadosamente em todos os seus aspectos importantes, tais complicações são um desafio fascinante. Persegui-las é possivelmente adicionar dimensões novas e significativas ao

problema relativamente simples do qual o investigador partiu.Há um segundo tipo de situação em que a replicação intrasujeito

pode parecer excluída: por exemplo, no estudo do comportamento em processo de mudança de um estado para outro. Um caso lim itado por este estágio de transição é o fenômeno muitas vezes chamado "aprendi­

zagem", no qual o estágio inicial do comportamento em questão tem freqüentemente um valor quase igual a zero. Muitos pesquisadores notaram que o estado inicial da transição muitas vezes não é recuperável. Por exemplo, podemos colocar um animal fam into em um compartim ento experimental pela primeira vez. Ao alcance do animal estáum a barra; se ele a pressionar, uma porção de alimento cairá automaticamente em uma bandeja, de onde o animal poderá tomá-la e alimentar-se. Estamos inte­

ressados na rapidez com que o animal aprende a pressionar a barra. Para avaliar o curso de aprendizagem, devemos registrar as respostas de pressão à barra cumulativamente, como uma função do tempo, e observar como a freqüência de resposta se modifica de quase zero até o seu nível final. Uma amostra de registro é vista na Figura 9, seção A. Vemos que o animal

a princíp io emite poucas respostas m uito espaçadas, mas que sua fre­qüência aumenta gradualmente até que um nível final estável seja alcan­

çado. Poderíamos agora, se parecer ú til, reduzir a uma equação essa "curva de aquisição". Isto nos proporcionaria uma afirmação matemática do estado do comportamento, em termos da sua freqüência de ocorrência, enquanto atravessa o seu estágio de transição.

Voltamos agora o nosso interesse para a replicação. Haverá alguma forma de verificarmos nossas observações obtendo uma segunda curva de aquisição com o mesmo animal? Um método aparentemente simples poderia ser o da extinção da resposta, desligando-se o mecanismo que fornecia o alimento. Depois que a freqüência da resposta tivesse voltado ao seu nível baixo, poderíamos ligar novamente o alimentador e observar a aquisição. Se fizermos isso, provavelmente observaremos um registro seme­lhante ao da seção B da Figura 9. Em vez de um crescimento gradual, a freqüência da resposta modifica-se de forma relativamente abrupta do seu estado inicial para o final, com sorriente uma fase breve de transição

intermediária. Se fo r aceita essa situação, como geralmente tem sido, sem uma análise crítica mais profunda, a replicação intrasujeito deverá ser

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REPLICAÇÃO DIRETA 103

Figura 9. A Curva A representa uma aquisição relativamente lenta da resposta de pressão à barra, por parte de um animal experimental. A Curva B ilustra a rápida aquisição da resposta, em seguida a um período de extinção.

âbandonada, como técnica para que se estabeleça a fidedignidade do nosso resultado original. Se o estado de transição não fo r recuperável, não é

passível de replicação intrasujeito.Estas observações podem ter levado muitos psicólogos a concluir

que o aprendizado inicial provoca uma mudança irreversível no compor­

tamento de um organismo. Alguns admitem também uma mudança irrever­sível no organismo, de preferência, em algum ponto do sistema nervoso.

A pesquisa do "centro de aprendizagem" no interior do cérebro ou em

qualquer outra parte continua a preocupar a atenção experimental e espe­culativa dos cientistas nos mais variados campos. Entretanto, há uma concepção alternativa. Podemos tér sido incapazes de recuperar o estado

inicial de transição, não pór causa de uma mudança irreversível no compor­tamento, ou no sistema nervoso, mas em razão de um controle experi­mental incompleto sobre as variáveis envolvidas na transição. A variável explicitamente introduzida no experimento de aquisição descrito acima, fo i a contingência entre a pressão à barra e a liberação da porção de alimento. Sabemos, entretanto, que outras variáveis, não controladas pelo experimentador, também são introduzidas juntamente com essa contin­gência diretamente manipulada. Tais variáveis "ocu ltas", embora acom­panhem a introdução da contingência automaticamente, podem depois exigir operações independentes para eliminar os seus efeitos. Por exemplo.

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104 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

a operação de extinção neste caso serve amplamente para destruir a relação entre a resposta de pressão à barra e algumas das ligações subse­qüentes à cadeia de acontecimentos que levam à ingestão do alimento. Mas outros elos da cadeia não são afetados porque não ocorrem durante o

processo de extinção.Antes de entrarmos na análise específica, permitam-me resumir meu

ponto de vista em termos gerais. É um problema de não recuperabilidade aparente do estado de transição original. Se a não recuperabilidade fo r um fato verdadeiro, a replicação intrasujeito não será possível. Entretanto, introduzi a consideração de que a irreversibilidade pode estar em algum

outro lugar que não no organismo ou no seu comportamento. Pode ser uma conseqüência do controle experimental incom pleto sobre as delações entre o comportamento do organismo e o ambiente de controle. A ope­

ração de extinção, como se realiza normalmente, destrói somente algumas

das relações que foram estabelecidas durante a aquisição original. Uma maior atenção experimental a todos os fatores envolvidos, inclusive àqueles que entraram pela porta dos fundos, por assim dizer, pode corrigir algumas das nossas noções sobre irreversibilidade.

O experimento de condicionamento que descrevi acima freqüente­mente é denominado como simples", mas não é bem assim. A situação de pressão à barra tem sido analisada, tanto conceitualmente como experi­mentalmente, em uma seqüência complexa, na qual a resposta de pressão à barra se destaca unicamente em virtude do fa to de termos decidido regis- trá-la (81, pp. 52-55). Entre os vários comportamentos envolvidos na seqüência estão a aproximação para as vizinhanças da barra, o levantar-se, ou o alcançar a barra, o pressionar a barra, soltar a barra, ir em busca do alimento, tomá-lo, pô-lo na boca, mastigá-lo e enguli-lo. Entre os vários estímulos envolvidos na seqüência estão o perceber a barra, o seu movi­mento, a bandeja de alimento, o ru ído do mecanismo de liberação do alimento, o som da bola de alimento caindo na bandeja, a percepção da

bolota, sua textura, seu gosto, etc.. Nenhuma dessas respostas é indepen­dente uma da outra. Nenhum dos estímulos exerce um controle inde­pendente de outros estímulos pertinentes à situação. Mais pertinente

ainda é o fato de que todas as respostas da seqüência têm que ser apreen­

didas, assim como suas relações com os estímulos adequados. Nossos

dados registrados fornecem um quadro m uito indireto do processo global. O animal não somente aprendeu aquelas respostas que se sucederam até a pressão à barra, mas aprendeu também aproximar-se da bandeja, tomar

a bola de alimento, levá-la à boca, etc.. E essas respostas foram aprendidas na sua seqüência correta, porque o seu reforço fo i correlacionado com

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REPLICAÇÃO DIRETA 105

estímulos adequados, tanto do ambiente como do comportamento prece-

( dente. A aproximação da bandeja poderia ter sido reforçada somente

depois do som do depósito de alimento; a busca do alimento poderia ter

sido reforçada somente depois que a bolota tivesse caído na bandeja, etc..

Diante destas complexidades, não podemos analisar agora o pro­cesso de extinção que usamos em nossa tentativa de recuperar o compor­tamento no seu nível de pré-condicionamento. O que extinguimos quando desligamos o mecanismo de alimentação? Uma vista d'olhos no ponto da

íi seqüência em que introduzimos a mudança nos ajudará a responder a essapergunta. O ponto c rítico está em algum lugar entre a pressão à barra e a resposta de aproximação da bandeja. Depois de completamente pressio­nada a barra, a maioria dos estímulos restantes deixam de ser apresentados. Não há mais o som do depósito de alimento, de bolota, não há visão da bolota, nem o ta to da mesma, etc.. E possível ainda a aproximação da ban­deja, mas somente na ausência de alguns dos seus estímulos de controle.

f As respostas que consistiam em tom ar e ingerir o alimento não podemmais ocorrer no seu contexto originalmente aprendido.

Embora o nosso procedimento de extinção possa ter devolvido a resposta de pressão à barra ao seu nível de pré-condicionamento, outros

componentes da seqüência to ta l aprendida não poderiam ter sofrido uma extinção completa. Muitos desses componentes não poderiam mesmo ocorrer de forma a perm itir a operação de não reforçamento que exercesse qualquer i efeito sobre eles. E na medida em que os membros da cadeia fossem depois parte do complexo reforço condicionado para a resposta

de pressão à barra, mesmo o ú ltim o não terá sido reduzido completamente ao seu nível de pré-condicionamento. Quando o reforço fo i introduzido

novamente na tentativa de replicação, o animal não deveria aprender a

seqüência to ta l, uma vez que a seqüência não tinha sido extinta na sua

totalidade. A nova curva de pressão à barra era influenciada por um

número de variáveis que não- estavam presentes no experimento original.

O processo de aprendizagem que estava sendo medido não era o mesmo

nos dois casos.Se fosse aplicada atenção experimental a todos os componentes da

seqüência, o comportamento poderia ter voltado ao seu nível inicial,

tornando possível assim a replicação intrasujeito. Por exemplo, a extinção mais completa da seqüência to ta l poderia ser realizada perm itindo que o mecanismo sem alimentação produzisse os seus sons característicos, o que não seria provavelmente suficiente. Poder-se-ia também perm itir que as bolotas Caíssem na bandeja, mas de maneira inacessível, com a interpo­sição de uma barreira entre elas e o animal. Provavelmente, seria ainda •

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106 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

mais eficiente substituí-las por uma bolota não nutritiva, de gosto neutro,

qye o animal fosse tomando e ingerindo até que a resposta se extinguisse. Se essas operações pudessem ser realizadas, seria possível atingir uma

rev6rsibilidade mais completa.O exemplo que citei é específico e d if íc il, mas o princ íp io a í envol­

t o pode ter aplicação geral. Quando a irreversibilidade aparente parece

eXclu ir a replicação intrasujeito de um estado de transição, leve-se em “ ^sideração a possibilidade de variáveis não controladas terem entrado no ^ üadro durante a transição. Embora essas variáveis, não tenham sido

‘^•"oduzidas deliberadamente, podem exigir manipulação deliberada para ne|Jtralizar sua influência. A tarefa pode ser complexa e tecnicamente

d if íc il, mas, como salientei anteriormente, embora a complexidade na

na*Ureza possa em princ íp io ser simplificada pela integração dos fenô- mehos dentro de um contexto sistemático, esta integração não é sinônimo de simplicidade experimental. As sistematizações mais limpas, mais sim- ples e mais satisfatórias são geralmente resultados de trabalho experimental

cu'cladoso, árduo e compulsivamente completo.Para que a ilustração precedente não seja considerada hipotética

derhais, dado que os experimentos sugeridos não foram realizados, per^ ^ ‘tam-me descrever um outro exemplo realmente como aconteceu. Os Pe$quisadores estavam interessados em ter sob controle experimental um

de comportamento de esquiva que estava sendo relativamente pouco e*fclorado. Em lugar de se usar o choque elétrico como estím ulo a ser

ev'tado pelo sujeito (pombo), queriam empregar um estímulo, que na e*t>eriência da ave, tinha sido associado com não reforçamento ou

e*tinção. Prepararam o experimento da seguinte maneira (60).Dois discos iluminados, ou chaves, estavam ao alcance das bicadas

d° animal. Bicando a chave do lado esquerdo quando iluminada por uma vermelha, fazia com que o alimentador soltasse o grão algumas vezes,

^^s io n a lm e n te , entretanto, a luz da chave esquerda mudava de vermelho Pa<"a verde. Enquanto permanecia verde o alimentador ficava desligado e

as respostas de bicar não podiam mais produzir o reforço. Finalmente, o S|JÍe ito aprendeu a parar de bicar com a luz verde, enquanto mantinha j ^ a freqüência estável de resposta quando a chave estava vermelha, / ' tã o , a cor da chave esquerda fo i posta sob controle de comportamento Q próprio sujeito. Sempre que aparecia a cor verde, ela podia ser extinta substitu ída pela vermelha se a ave bicasse a chave do lado dire ito. E mais

air*da: se o pombo bicasse a chave do lado d ire ito quando a esquerda Bstivesse vermelha, o aparecimento da cor verde seria adiado. O pombo, er*tretanto, podia controlar a cor da chave esquerda de duas maneiras:

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REPLICAÇÃO DIRETA 107

poderia evitar que a luz verde aparecesse, bicando com freqüência sufi­ciente a chave da direita; ou, se permitisse que a chave da esquerda

passasse de vermelho para verde, poderia mudar as Cores com uma bicada na chave da direita. Assim, bicando a chave da direita, dependendo da

ocasião em que ocorresse, poderia tanto adiar como extinguir a cor verde que estava correlacionada com o não reforçamento.

Até este ponto o experimento fo i bem sucedido, no coçnportamento

de esquiva do tip o descrito, que parece ter sido posto sob controle expe­rimental. Vários pombos aprenderam tanto a evitar o in íc io do estímulo

da luz verde, bicando a chave da direita, como a escapar da luz verde cada vez que não conseguissem evitá-la. Uma substancial freqüência de resposta fo i mantida na chave da direita. Mas os experimentadores não

estavam satisfeitos somente com a replicação intersujeitos do resultado. Uma vez que desejavam investigar mais profundamente o fenômeno no sujeito individual, era necessário determinar se haviam conseguido o con­trole suficiente para realizá-lo. Contudo, a replicação intrasujeito era

necessária.O primeiro passo era determinar a reversibilidade ou não do efeito.

O comportamento na chave da direita poderia ser extin to e depois ser recuperado de acordo com a conveniência do experimentador? Para res­ponder esta pergunta os experimentadores desligaram o dispositivo do aparelho que acendia a luz verde. A cor da chave da esquerda agora perma­necia sempre vermelha, independentemente do comportamento do pombo com relação à outra chave. Isto é análogo ao desligamento do choque em uma situação de esquiva de choque, onde o resultado comum é o desapa­recimento final do comportamento de esquiva. Mas neste estágio o expe­rimento esbarrou em um obstáculo. A ave continuava a bicar a chave da

direita, apesar das bicadas não servirem mais a nenhuma função aparente. Como conseqüência, pareeia que a replicação intrasujeito estava forà de cogitações.

Felizmente, os experimentadores não abandonaram esta linha de

pesquisa. Apesar de enfrentarem uma situação na qual a replicação inter­

sujeitos tinha sido conseguida, se bem que a replicação intrasujeito parecia

impossível, estavam convencidos de que tinham um exemplo legítimo de comportamento de esquiva. Experimentos anteriores haviam mostrado

que as aves não bicavam a segunda chave simplesmente porque estava à mão. Entretanto, as contingências de esquiva e de escape das quais a segunda chave participava, devem ter sido responsáveis pelo aumento original da freqüência dos pombos em bicá-la. Alguma outra variável, raciocinavam os experimentadores, deve ter entrado no quadro em um

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108 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

estágio posterior. Depois de terem sido eliminadas as contingências de esquiva e escape, este outro fa to r deve ter sido responsável pela manu­tenção do comportamento. Contudo, em vez de abandonar a técnica, os pesquisadores se dedicaram ao problema de identificar esse fa to r não

controlado. Se pudesse ser identificado, poderia ser eliminado e a repli­cação intrasujeito do resultado básico poderia ser tentada novamente.

A história daqui por diante é uma história fe liz, mas vou esboçar

aqui somente alguns detalhes. Os experimentadores recordaram experi­mentos anteriores nos quais algurin comportamento explicitamente não reforçado pelo experimentador tivesse, apesar disso, caído casualmente sob controle de um reforço alimentar (82), isto é, fo i por acaso que o compor­

tamento apareceu imediatamente antes do oferecimento de alimento. Ape­sar do oferecimento de alimento não ter sido dependente da emissão desse comportamento em particular, a correlação casual serviu para aumentar sua freqüência de emissão. Conseqüentemente, a tendência de correlações casuais com o reforço subseqüente aumentou originando um processo em aspirai. O comportamento finalmente acabou sendo controlado pelo refor­ço quase tão precisa e poderosamente como se a correlação tivesse sido deliberadamente estabelecida pelo experimentador (veja Capítulo 12, pp.

348-349, para uma descrição mais completa desse experimento).Um processo similar pode te r ocorrido ao manter o comportamento

na chave da direita no experimento de esquiva descrito acima. Ocasional­mente, a ave poderia bicar a chave da direita e imediatamente após mudar para a chave da esquerda, conseguindo alimento. Embora somente a res­posta da chave da esquerda fosse exigida para fornecer alimento, sua

apresentação também poderia servir como reforço casual para a bicada precedente na chave da direita. Tais correlações acidentais entre o apareci­

mento da comida e o comportamento de bicar a chave da direita, podem

ter sido responsáveis pela manutenção do ú ltim o comportamento, mesmo depois de a esquiva e o escape não terem sido mais necessários. Racioci­

nando nessa linha, os experimentadores mudaram ligeiramente o procedi­mento. Prepararam o aparelho de modo que a resposta da chave da esquerda não fornecesse alimento se houvesse uma respôsta na chave

da direita nos três segundos precedentes. Assim, havia sempre pelo menos três segundos entre uma bicada na chave à direita e o oferecimento de alimento. Este atraso do reforçamento adventício serviu aos seus fins. O comportamento na chave à direita desapareceu. A reintegração das contingências de esquiva e escape trouxeram o comportamento de volta e a remoção dessas contingências reduziram-no quase a zero novamente. A replicação intrasujeito fo i realizada e um grau de controle experimental

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REPLICAÇÃO DIRETA 109

fo i demonstrado, o que perm itiu a iniciação de um programa de pesquisa

frutuoso.Quero acentuar novamente que a replicação intrasujeito não é um

caminho fácil de percorrer. Problemas como os descritos anteriormente exigem não só trabalho técnico, como engenhosidade criativa para a solução. Realmente, não há outra alternativa. Uma psicologia que não possa descrever, sistematizar e controlar a fonte prim itiva de todos os seus dados — o ind iv íduo que se comporta — será para sempre uma irmã frágil

das outras ciências. A replicação intrasujeito é um dos nossos mais pode­

rosos instrumentos para demonstrar a adequação de nosso controle e com isso avaliar os dados resultantes.

A té agora, discuti a replicação intrasujeito como se ela fosse sempre

possível, dando ênfase à necessidade de realizar essa replicação mesmo nas ocasiões em que à primeira vista ela não pareça exeqüível. Contudo, a possibilidade alternativa não pode ser menosprezada. Uma transição

inicial pode realmente efetuar uma mudança permanente no estado de

comportamento do organismo, tornando o processo verdadeiramente irreversível. A té esta data conheço poucos experimentos que foram especi­ficamente orientados para este problema. Em lugar de investigação empí­

rica, um dos dois possíveis rumos de ação tem sido geralmente seguido ao se encontrar a irreversibilidade aparente.

Uma alternativa tem sido ignorar os efeitos de transição e concentrar o trabalho de investigação em estados reversíveis estáveis. Essa abordagem, que será discutida em capítulos posteriores com maiores detalhes, possui uma fraqueza óbvia no que se refere à exclusão do estudo de dados interessantes.

Uma segunda alternativa, que é a mais freqüentemente empregada, é usar um grupo diferente de sujeitos cada vez que o efeito de uma variável dada, em uma fase de transição, deva ser observada. Infelizmente, como já salientei, a importância dos dados resultantes depende da distribuição na população dos vários parâmetros dos processos comportamentais indi­viduais em questão. A própria natureza dessa técnica estatística impede a determinação desses valores paramétricos nos indivíduos da população,

uma vez que os mesmos indivíduos nunca são expostos a mais de um valor. Muitos autores têm demonstrado que os dados obtidos por esse método podem produzir uma descrição distorcida, ou mesmo falsa, do comportamento do indivíduo. Assim, o compromisso efetuado pelo uso de grupos desta maneira é estranho Os dados resultantes não são ade­quados como descrição do comportamento individual, nem são do tipo de dados de grupo que o psicólogo social iria reivindicar como seu campo.

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110 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

Os resultados obtidos dessa maneira possuem um alto grau de fidedigni­

dade, e desse modo não podem ser excluídos do reino da ciência por um

fiat. Mas não são generalizáveis nem entre os indivíduos, nem entre os

grupos de indivíduos que estão ligados pela interação social.Vemos, então, que a replicação intrasujeito, como uma técnica para

estabelecer fidedignidade e generalidade, gera alguns problemas com pli­cados que não estão satisfatoriamente resolvidos pelas técnicas de uso generalizado hoje em dia. É possível ainda que o desafio oferecido por tais dificuldades possa ser enfrentado pela aplicação de princípios trad i­cionais de experimentação e pela engenhosidade experimental criativa. Estender-me-ei mais em ambas as possibilidades na discussão posterior da

replicação sistemática e do projeto experimental.Com as técnicas replicativas descritas acima, tanto quanto com as

que serão discutidas posteriormente, um peso adicional é acrescentado à evidência quando os experimentos são realizados por experimentadores diferentes ou laboratórios diferentes; e os dados se tornam mais dignos de fé quando replicados por cientistas de convicções opostas. O cientista ind i­

vidual tende a convencer-se de que os dados replicados por alguns dos seus colegas têm mais probabilidade de se mostrarem fidedignos e representa­tivos do que os de outros colegas. Embora não haja uma base lógica nessas decisões, representam uma experiência científica prática e acumulada.

Mas o papel da experiência individual na avaliação de dados é ainda mais complexo. Por exemplo: numa pesquisa biológica em geral, e parti­

cularmente na psicologia, alguns dos detalhes técnicos relevantes de um experimento são om itidos dos relatórios publicados, simplesmente porque

sua relevância não está reconhecida a tempo, ou porque detalhes requin­tados de uma técnica podem ser demasiadamente longos e confusos para

serem descritos em publicações. É uma prática comum na ciência b ioló­gica um pesquisador fazer uma visita pessoal a quem deu origem ou a quem usou com sucesso uma técnica experimental para aprender as habili­dades necessárias em primeira mão. O "d ire to r de lab irin to " experimen­tado pode facilmente deixar de replicar alguns dos resultados de "condicionadores operantes" simplesmente com o emprego de uma fita de programação de intervalo-variável com intervalos demasiadamente longos na gravação. Da mesma forma, um fracasso na orientação adequada do rato na caixa inicial de um labirinto-T pode convencer o condicionador operante de que os dados do labirinto nao são fidedignos. Os fra cassos em replicar devem ser avaliados em termos de background e treinamento

do experimentador, mesmo que a pesquisa em outras áreas tenha lheproporcionado uma reputação respeitável.

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4 replicaçao sistemática

O investigador experiente geralmente possui uma estimativa de fide­

dignidade e de limitações das suas técnicas mais sofisticadas do que o cientista que jamais as usou. Em regra geral, tem um grande número de experimentos realizados ainda inéditos; alguns deles m uito triviais para serem relatados, alguns fracassados por causa da técnica errônea, outros

tão em discordância com o conhecimento estabelecido que o leva a hesitar em publicá-los até que possa desenvolver uma estrutura sistemática onde situá-los. Tem seus instrumentos de medida verificados um sem número de vezes; descobriu que os próprios dados fornecem certos sinais de perigo; fez muitas observações, embora não sistemáticas, das variáveis

incidentais e mesmo acidentais. De todas essas experiências extrai uma

estimativa subjetiva da fidedignidade de dados específicos.Passemos agora do cientista em geral para o psicólogo experimental

em particular. Acaba de completar uma série de observações nas quais um simples organismo fo i exposto a um conjunto de operações experi­mentais, cujo resultado fo i uma relação ordenada entre essas operações e o comportamento do sujeito. Agora, vê-se diante da tarefa de demonstrar a fidedignidade dos seus resultados. Isso pode ser realizado ou pela repli­cação direta, ou pela sistemática. É a í que o jogo entra no laboratório na base da probabilidade subjetiva. Se a experiência de psicólogo lhe deu confiança nas suas técnicas, escolherá de preferência a replicação siste-

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112 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

mática e não a direta como instrumento para estabelecer a fidedignidade. Em vez de simplesmente repetir o experimento, usará os dados que

recolheu como base para a realização de novos experimentos e obtenção

de dados adicionais relacionados.Na psicologia, uma das restrições mais consagradas impostas ao

planejamento é a exigência de que todos os sujeitos de uma pesquisa

sejam tratados da mesma forma, exceto quanto à variável independente

em questão. Essa restrição suprime efetivamente a replicação sistemática como método primordial para estabelecer a fidedignidade e generalidade, pois cada replicação sistemática bem sucedida demonstra que o resultado em questão pode ser observado sob condições diferentes das que prevales- ceram no experimento original. Onde a replicação direta ajuda a estabelecer a generalidade de um fenômeno entre os membros de uma espécie, a replicação sistemática também o faz e, ao mesmo tempo, estende sua

generalidade a uma ampla ordem de situações diferentes. Por esta razão,

um experimentador que desenvolveu um " fa ro " para uma área particular de pesquisa muitas vezes deixará de controlar deliberadamente certas

variáveis. Se estiver, por exemplo, realizando um experimento com animais inferiores, poderá perm itir que seus sujeitos difiram quanto à privação de alimento, história anterior, idade, duração das sessões experimentais e variáveis adicionais que podem ter provado ser relevantes em outros con­textos. Se, apesar dessas diferenças, obtiver um ordenamento semelhante de cada um dos seus sujeitos, terá realizado uma replicação bem sucedida e mais generalizável do que teria sido possível de outra forma.

Mas este procedimento é um jogo. Se a replicação sistemática falhar, o experimento original deverá ser refeito, sem o que não haverá outra maneira de determinar se um fracasso na replicação derivou da introdução de novas variáveis no segundo experimento, ou se o controle de fatores relevantes era inadequado no primeiro experimento.

Por òu tro lado, se a replicação sistemática fo r bem sucedida, o resultado fina l será esplêndido. Não só a fidedignidade do resultado o ri­ginal será acrescida, como também sua generalidade referente a outros

organismos e a outros procedimentos experimentais estará bastante real­çada. E mais ainda: os dados originais agora estão disponíveis, o que não poderia ser ob tido com uma simples repetição do primeiro experimento.

Este ú ltim o ponto exige pelo menos uma breve consideração sobre o que poderia ser chamado de "economia da experimentação". A merca­doria mais im portante da ciência experimental são os dados. Para o pesquisador, a economia de tempo, espaço e verba disponível são deter­minantes importantes do seu programa experimental. O cientista se vê

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REPLICAÇÃO SISTEMÃTICA 113

diante de um problema perpétuo de usar os seus recursos com uma máxima

produtividade ao mesmo tempo que manter a qualidade do seu produto.

A replicação sistemática é um método testado pelo tempo para incre­

mentar tanto a quantidade quanto a qualidade de um trabalho. Um expe­

rimento original pode ter sido longo e árduo. A replicação direta não só ocuparia um grande segmento do tempo do experimentador como também

obstruiria a aparelhagem cara que poderia ser usada para obter outras informações importantes. Por ou tro lado’, a replicação sistemática adquiriria fidedignidade, generalidade e informação adicional.

A esta altura, deveria salientar que não estou tentando justificar a replicação sistemática como um plano para economizar trabalho. Não é uma fórmula mágica que permitirá a um cientista passar mais tempo com

süa fam ília ou seus hobbies. Realmente, as técnicas de replicação sistemática não permitem qualquer abrandamento no esforço experimental; ajudam o experimentador a conseguir de fa to uma distribuição mais eficiente de tal esforço.

A TÉCNICA D A "L IN H A DE BASE" DA REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA

Bem próxima à replicação direta está uma forma da replicação

sistemática que utiliza um determinado fenômeno comportamental como linha de base para investigar outras variáveis. O. experimento origina!, com efeito, na realidade é repetido, mas não como um fim em si mesmo.

Por exemplo: o comportamento gerado por um certo procedimento experimental pode te r exatamente aquelas características exigidas para investigar um problema até agora indefinido. A longa série de experi­

mentos feitos por Brady e Hunt e seus colaboradores, nos quais a técnica de supressão condicionada de Estes-Skinner fornecia uma linha de base

para a investigação objetiva da terapia de choque eletro-convulsiva (ECS), é um exemplo (18). Essa linha de base era uma ruptura condicionada da freqüência normalmente estável de pressão à barra que é mantida pelo esquema de reforçamento de intervalo-variável (veja Capítulo 3, pp. 88-90). Os pesquisadores investigaram um grande número de problemas envol­

vidos no uso da ECS para modificar o comportamento. Depois de estabelecer o fa to de que a ECS abolia a ruptura comportamental condi­cionada, continuaram a investigar a duração do efeito, seu aspecto espe­c ífico comportamental, a relevância do número e do espaçamento tem ­poral dos tratamentos ECS, etc.. Seus experimentos não só constituíram

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114 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

por si mesmos um programa de pesquisa im portante, mas serviram também para solidificar e estabelecer a técnica de Estes-Skinner como um

instrumento de pesquisa fidedigno e generalizável. A técnica fo i estendida

subseqüentemente para fornecer linhas de base, para os efeitos comporta­

mentais das lesões cerebrais e das drogas, e para a elaboração experimental das relações entre a tensão comportamental e a função endócrina. No processo de abrir e sistematizar novas áreas de pesquisa, a descoberta

original fo i replicada novamente muitas vezes.Outro efeito interessante do método de linha de base de replicação

deve ser notado, porque ilustra uma das formas pelas quais se originam novos experimentos. Durante a seqüência de experimentos em que a supressão condicionada serviu como linha de base experimental, conside­rações práticas ditaram a introdução de muitas variações no processo original. Os sujeitos originais, por exemplo, eram ratos brancos. Numa parte posterior do trabalho, entretanto, os macacos substituíram os ratos porque os macacos forneciam um veículo mais conveniente para as técnicas envolvidas em muitos dos experimentos. Para aumentar a quantidade de

dados que podiam ser recolhidos em um tempo lim itado, os pesquisadores utilizaram a descoberta de Azrin (3) de que um grande número de parea- mentos estímulo-choque (operação que produzia supressão comporta­mental) podia ser fornecido em uma única sessão experimental (veja

Figura 6). Os experimentos originais tinham aplicado somente um desses pareamentos por sessão. Para m inim izar os efeitos do chóque em si sobre algumas das medidas psicológicas, fo i empregado um processo de “ re for­

çamento in term itente", no qual os choques eram administrados somente

depois de uma pequena porcentagem de estímulos de supressão, e em algumas das sessões experimentais os estímulos eram apresentados sem

qualquer choque.As variações do processo, juntamente com várias outras, pareciam

produzir alterações sutis no desempenho da linha de base; isto criava um interesse renovado no próprio fenômeno da supressão condicionada.

Institui-se um número de estudos para determinar explicitamente, em termos comportamentais, as conseqüências das mudanças de procedi­

mento. Assim, a manipulação de variáveis para considerações de colabo­ração científica, mais ou menos práticas, fornecia o ím peto para uma série adicional de experimentos puramente comportamentais. Conseqüente­mente, nosso controle sobre o fenômeno da supressão condicionada fo i enormemente aumentado, tornando-se por sua vez um instrumento de pesquisa dè colaboração ainda mais ú til; a maior compreensão do fenômeno perm itiu uma integração mais estreita com dados de outras áreas, e o

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 115

grande número de replicações sistemáticas, muitas delas de um tipo a ser

discutido posteriormente, estabeleceu a fidedignidade e generalidade cres­cente da estrutura global (76).

A técnica da linha de base de replicação tornou-se possível e valiosa

somente quando uma forma extremamente estável de comportamento, em um tip o determinado de situação experimental, fo i atingida. Para a máxima utilidade, é preciso ser possível manter a linha de base em um

nível intermediário para que outras variáveis possam mover a linha de base em qualquer direção. Por exemplo, durante m uito tempo o comporta­mento de esquiva fo i estudado por meio de uma técnica que impunha um lim ite superior sobre a medida do desempenho do sujeito (92). O método

consistia na apresentação de um estímulo sinal, seguido em poucos segundos por um choque, se o sujeito não emitisse uma resposta especial.

Se a resposta ocorresse durante o estímulo e antes do choque, este não

seria aplicado. Este procedimento fo i repetido com intervalos especiais até que um número de "tentativas" fosse observado.

A medida da atuação do sujeito era tipicamente a porcentagem de tentativas em que ocorria a resposta de esquiva. Embora a resposta de es­quiva pudesse ser mantida de maneira estável, a medida não permitia que o comportamento fosse usado vantajosamente como uma linha de base para o desempenho individual, porque quando o sujeito estivesse atuando ao nível de 100 por cento, ou quase, nenhuma variável que melhorasse o desempenho poderia ser investigada. Para estudar variáveis que pudessem melhorar o nível de desempenho o único método era manter o compor­tamento em um baixo nível de sucesso, por exemplo, 50 por cento de esquiva. Mas um nível baixo de atuação nessa situação também implica em

controle experimental fraco. O comportamento é fraco porque as variáveis de controle não são aplicadas a valores que permitam esquiva bem suce­

dida.Nessas circunstâncias surpreendentes achamos poucas aplicações

para esse procedimento como uma linha de base para o desempenho indi­vidual. Somente um alto nível de desempenho faz com que o compor­tamento se torne passível de replicação por meio de uma técnica de linha

de base.Esta análise da metodologia clássica de esquiva adquire maior força

convincente em vista do tipo de desenvolvimento que seguiu a introdução de uma técnica diferente (69). O aspecto da técnica, importante para esta

discussão, é a eliminação da medida de "sucesso", porque o sucesso tem um lim ite superior natural em 100 por cento. Em vez de medir o desem­penho do sujeito relativamente ao número de choques que consegue

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116 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

evitar, a freqüência da resposta de esquiva é usada para descrever o comportamento. Utilizando a situação de "resposta livre", isto é, aquela em que o sujeito pode realizar a resposta de esquiva a qualquer tempo, e perm itindo que cada uma das respostas adie o choque, podemos realizar uma freqüência estável de comportamento de esquiva que pode ser medida

continuamente no tempo.Embora possua um teto determinado pela capacidade física do

organismo, a medida da freqüência entretanto pode variar em torno de uma dimensão tão ampla que não reflita todos os efeitos, com exceção de uma pequena amostra das variáveis relevantes para o comportamento

de esquiva.

Como uma conseqüência dessa técnica de esquiva modificada, conse­guiu-se uma linha de base sensível ao desempenho individual. Sua in tro ­

dução fo i seguida, quase automaticamente, pelo emprego aumentado da técnica da linha de base da replicação sistemática nas investigações do

comportamento de esquiva. Foi realizada uma série de estudos experi­mentais em que a linha de base original era empregada para correlacionar os efeitos das variáveis ambientais e fisiológicas no comportamento. Como

no caso da técnica de supressão condicionada, as modificações da linha de base foram introduzidas e replicadas com técnicas semelhantes. E nova­

mente, não só a linha de base mostrou-se fidedigna e generalizável para novas situações, mas a sua utilização ampliada para novos contextos irradiou mais luzes sobre a própria linha de base. O desenvolvimento de um novo tipo de linha de base comportamental muitas vezes permite, e estimula mesmo, novas perguntas a serem feitas sobre o comportamento, dúvidas cuja existência jamais poderia ser imaginada, até que uma técnica

adequada tenha sido desenvolvida. Finalmente, para fechar o c írcu lo , a clássica técnica de esquiva, abordada experimentalmente a partir de uma direção diferente, conseguiu um novo status sistemático, como um caso

especial de uma classe mais geral de fenômenos de esquiva.A história completa desse desenvolvimento terá que aguardar uma

exposição mais prolongada (77). A esta altura é im portante como exemplo de um método para realizar a replicação dos dados individuais por meio da técnica da linha de base. É um exemplo drástico e desafiador: se um investigador desejar explorar uma área na qual as técnicas disponíveis não dão origem a linhas de base individuais comportamentais precisamente controladas, sua primeira tarefa será ou abandonar a antiga metodologia, ou modificá-la até que satisfaça suas exigências. Se simplesmente adotar os padrões do controle inadequado e falta de sensibilidade talvez neces­sários nos trabalhos pioneiros de qualquer área particular, seu status

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 117

eventual na história da ciência não seria nem o de pioneiro, nem o de sintetizador, nem mesmo o de um apoio intermediário. Seu trabalho

simplesmente será um "tapa-buraco", representando um período estéril no progresso tradicionalmente descontínuo da ciência. Isto pode acon­

tecer a qualquer pesquisador, independentemente da significação que seus contemporâneos atribuam a seu trabalho. Mas, sobretudo, é um desper­d íc io aceitar voluntariamente esse status.

A técnica da linha de base e os experimentos sobre o aprendizado.

De uma descoberta inicial, então, é possível desenvolver-se uma série de experimentos, uns diferentes dos outros, ainda que com uma linha comum na forma de linha de base comportamental que corre através de todos eles. A noção de uma linha de base comportamental não se desen­volveu de maneira extensiva até recentemente, em parte devido à aceitação não crítica da máxima que diz que o comportamento é por demais variável para ser estudado no organismo individual. Os termos "variabili­dade" e "linha de base" são incompatíveis, porque a menos que uma linha de base,seja estável não terá utilidade experimental.

O uso que fiz do qualificativo "não c r ític o " para caracterizar a aceitação da variabilidade pelos psicólogos é deliberado. Não pretendo negar a existência da variabilidade; mas há muitas espécies de variabilidade e muitas maneiras de tratá-la. (Veja Capítulos 5 e 6.)

Um segundo fa to r que tem atrasado o desenvolvimento de linhas de base comportamentais é o crescimento de uma área de pesquisa da psico­logia experimental, que se chama "aprendizagem". Os que trabalham nesse campo estão interessados na aquisição de um novo comportamento, e presumivelmente não o estão no comportamento que atingiu um nível "assin tó tico" ou um nível estável. O termo "aquisição" comumente se refere à aparição de novas formas de comportamento que não existiam no repertório do organismo antes das manipulações experimentais. Como se presume, em razão de todos os objetivos práticos que o comportamento

recentemente adquirido exista originalmente em um nível zero, os estu­

dantes de aprendizagem raramente são levados a considerar o estado da linha de base do comportamento do sujeito como um parâmetro de aqui­

sição. A alegação comum é de que uma linha de base comportamental com um valor maior que zero iria impor uma condição especial, de modo

que as características de aquisição não pudessem ser generalizadas para outras situações.

Mas, se de fato uma linha de base zero fosse viável, sefia a aquisição do comportamento a partir de uma linha de base zero uma condição

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118 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

menos especial do que a sua aquisição de um estado mais ativo? Não seria, por exemplo, a mudança de um padrão de comportamento para outro também um caso de aquisição? 0 ajustamento do comportamento existente a uma ríova variável é um exemplo de aprendizagem cuja consi­deração iria ampliar bastante a generalidade dos princípios de aprendi­zagem. Na Figura 10 a linha de base comportamental (pressão à barra) estava sendo mantida por um esquema de reforço em intervalo-fixo que tornou os reforçamentos disponíveis para o rato a cada cinco minutos. O registro em A ilustra o desempenho da linha de base. Começando pelo registro em B, o esquema de reforço fo i mudado para razãò-fixa, com a exigência de quatro respostas por reforço. A curva inferior ilustra o estágio de transição através do qual passou a freqüência de resposta do organismo enquanto se ajustava ao novo esquema. Seria essa mudança um exemplo menor de aprendizagem do que a aquisição original da própria resposta de pressão à barra?

A noção de uma linha de base comportamental é compreensível exceto em termos de comportamento individual. Se o experimentador não possuir técnicas que permitam a manipulação e o controle do comporta­mento individual, não pode esperar estudar as transições comportaméntais com qualquer nível mais alto de precisão, como uma função de estados de linha de base maiores do que zero. Muitos pesquisadores, entretanto, preferem o que presumem ser a solução mais fácil. Tentam investigar as transições a partir de uma linha de base zero, descuidando de exemplos

como os da Figura 10. Isto os isenta da necessidade de manipular o

comportamento antes que introduzam as variáveis que devem produzir a aprendizagem. Conseqüentemente, a maioria das teorias contemporâneas

de aprendizagem estão baseadas em um conjunto circ'unscrito e especia­

lizado de experimentos que restringem desnecessariamente sua generali­

dade. O caminho correto da aprendizagem inclui qualquer transição que resulte de mudanças nas contingências ambientais que mantêm o compor­

tamento Não há fundamento racional para que se excluam as transições de um nível de linha de base maior do que zero.

Um problema ainda mais pertinente, talvez, seja a extensão em que os estudos de aquisição tradicional realmente satisfaçam a suposição de uma linha de base zero. O comportamento de pressão à barra, pór exemplo, raramente existe com probabilidade zero, antes que o experimentador deliberadamente reforce a resposta. Mesmo quando este ní,vel inicial é identificado empiricamente, o hábito é simplesmente subtrair a linha de base de um estado final calculando-se, por exemplo, a velocidade de apren­dizagem. Entretanto, é uma questão discutível, se a transição admite essa

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REPLICAÇÃO SISTEMÄTICA 119

Figura 10. A curva A representa o comportamento de pressão à barra do rato, num esquema de reforçamento de cinco minutos de intervalo fixo . A curva B mostra a transição para uma freqüência de resposta alta depois que o esquema de reforçamento fo i mudado para uma razão-fixa de quatro respostas por reforço. (Skinner, 81, p. 280.)

relação simples com o estado inicial. Há considerações similares envolvidas em outros tipos clássicos de experimento; p o r exemplo, aqueles que medem a velocidade da corrida em uma rampa, a escolha de comporta­mento em um labirinto, os efeitos em série na aprendizagem de rotina, etc.. Na maioria desses experimentos a linha de base não é zero. É desco­nhecida. Mas seria a ignorância deliberada do estado de linha de bßse

preferível ao estado especial, mas que pode ser especificado?É nesta observação que nossa aparente digressão nos faz voltar para

a técnica da linha de base da replicação sistemática. Sugiro que um uso mais generalizado das linhas de base do comportamento, sistematicamente

replicadas no estudo da aquisição, produzirão um aumento da generalidade nessa área de pesquisa, o que será mais consoante com o seu próprio

t ítu lo geral,"aprendizagem". As propriedades da aquisição são uma função

do estado anterior do comportamento. Entretanto, para investigar tais

relações precisaremos de técnicas para produzir e manter níveis estáveis

de comportamento para medir as transições. A replicação sistemática das

linhas de base revela suas propriedades, favorecendo assim o aumento do controle. O controle mais rigoro.so conduz a uma utilidade ampliada. Ouanto maior fo r a variedade de situações nas quais uma dada linha de base fo r usada, e quanto mais operações experimentais forem dedicadas a ela, maior será a generalidade, não só da própria linha de base, como

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1 2 0 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

também das transições que a empregam como ponto de partida. A técnica da linha de base de replicação sistemática é um instrumento natural para o estudo da aprendizagem. Cada aplicação de uma nova operação, que se torna bem sucedida ao alterar a linha de base original, automaticamente produz uma curva de aquisição. Replicando a linha de base com variações nos seus próprios parâmetros de controle, será possível obter um quadro mais completo das transições que seguem uma operação experimental particular. Desenvolver-se-á uma ciência da aprendizagem que leva em consideração uma variedade qualitativa e quantitativa de operações e linhas de base.

A TÉCNICA DE "SO N D AG E M " DA REPLICAÇÃO SISTEM ÁTICA

As propriedades de alguns tipos de comportamento tornam-se úteis

como sondagens para o esclarecimento de processos comportamentais em outras situações. Quando uma descoberta original pertence a este tipo, o experimentador pode preferir usar a técnica de sondagem da replicação

sistemática em lugar de, ou além da técnica de linha de base.

Sondando o estado do comportamento. Suponhamos que as mu­

danças comportamentais precisem ser observadas por um longo período de tempo — horas, dias ou mesmo semanas. Nesse caso precisamos manter a

linha de base do comportamento durante o período de observação neces­sária. Mas pode surgir uma contradição: o tip o de linha de base especial que desejamos estudar pode ser inadequado para manter o comportamento

em progresso durante a ámpla extensão de tempo que é necessária. Além

disso, uma linha de base adequada a esse propósito pode ser insensível à variável cujos efeitos desejamos estudar. Assim, a técnica de sondagem torna-se aplicável. O comportamento pode ser mantido por uma linha de base que não seja sensível à variável de longa duração que está sendo investigada, e as mudanças comportamentais em estudo podem então ser

sondadas pela aplicação de um processo de linha de base mais sensível em ocasiões específicas. Para que isso se realize, a linha de base da sondagem deve ser uma, cuias propriedades iá sejam conhecidas, e sobre a qual tenhamos conseguido um alto grau de controle experimental. O uso desta linha de base, então, não só ajudará a obter a nova informação, como replicará os resultados anteriores nos quais a mesma linha de base estava envolvida.

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 121

Por exemplo: à técnica da sondagem fo i usada para estudar mudanças

comportamentais durante a privação de sono. Descobriu-se que um

esquema de reforço, interrom pido por pausas de pelo menos três minutos

entre as respostas, manteria o comportamento de bicar de um pombo

fam into durante vários dias consecutivos, com nenhuma pausa entre a resposta além de quinze minutos, e poucas pausas maiores do que cinco

minutos (86). Neste experimento o pombo bicava um disco branco, e se

qualquer bicada fosse precedida por um período de três minutos ou mais,

no qual não houvesse nenhuma bicada, a resposta proporcionava ao

pombo um breve acesso ao abastecedor de grãos.Com intervalos de uma hora, a cor do disco mudava de branco para

vermelho ou verde. Quando verde, a primeira resposta depois de dez m i­

nutos era reforçada (esquema de intervalo-fixo). Quando o disco ficava vermelho, a quinta resposta era reforçada (esquema de razão-fixa). O esquema de intervalo fixo , nas condições desse experimento, dá origem

tipicamente a um comportamento caracterizado por uma baixa freqüência de bicadas no começo do intervalo, com uma aceleração gradual positiva á medida em que se aproxima o fim do intervalo e do reforçamento. O desempenho da razão é caracterizado por uma freqüência de resposta

alta e firm e (Veja Figura 7).O processo da resposta espaçada, então, fo i empregado para manter

o comportamento de bicada, durante o curso do experimento, a longo prazo (nossa linha de base conhecida). Uma vez por hora, entretanto, a cor do disco mudava para indicar, ou o esquema de razão-fixa, ou o esquema de intervalo-fixo, e quaisquer mudanças no comportamento de bicada durante äs sondagens de intervalo e razão indicavam os efeitos da privação progressiva de sono (87). Os esquemas de razão-fixa e intervalo- -fixo, por si mesmos não teriam mantido o comportamento de bicada diante da crescente perda de sono. O uso de esquemas de intervalo e razão, como sondagem do estado atual do comportamento, esclareceu os efeitos de uma variável não estudada previamente nesse contexto e deu a replicação adicional dos dados do esquema de reforçamento

anterior.

Sondagens do comportamento, que utilizam e replicam relações conhecidas entre o comportamento e seu ambiente de controle, também

podem ser usadas para observar mudanças a longo prazo no estado do comportamento. Na técnica de resposta espaçada, por exemplo, as pausas entre respostas são produzidas porque o reforço depende das respostas que são precedidas por pausas. Pode-se estar interessado em estudar o estado

do comportamento como existe durante as pausas, quando nenhum exem­

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122 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

plo da resposta registrada pode ser observado. Um método para enfrentar

esse problema tem sido desenvolver uma segunda amostra de comporta­

mento para usar como sondagem. A segunda resposta é submetida ao controle do estím ulo de tal forma que ocorra, com suas características

conhecidas, somente quando aparecer o estímulo. O estím ulo é então

apresentado em várias ocasiões durante as pausas que ocorrem no compor­tamento da linha de base. As características da mudança da segunda

resposta são observadas como uma função da sua relação temporal com as

respostas espaçadas (72). Tal procedimento somente se torna possível quando as propriedades da sondagem são conhecidas anteriormente e a técnica, por sua vez, serve para replicar as propriedades observadas previamente.

Aplicando a técnica de sondagem da replicação, o experimentador faz o uso direto das propriedades conhecidas do comportamento, e.mpiri- camente determinado, para realizar uma análise melhor do que teria sido possível na falta de tal conhecimento — um processo que até recentemente tem sido relativamente raro na psicologia experimental. Dois desenvolvi­mentos tornaram isso possível. O primeiro fo i um aumento da convicção de que o comportamento do indivíduo pode ser objeto de análise funcional em termos de variáveis de controle especificáveis, tanto quanto os fenô­menos estudados em outras ciências naturais. O segundo desenvolvimento fo i a realização de fato dessa análise funcional, operação que está longe de ser completa, mas que cresce de importância à medida que novos fenô­menos são submetidos a controle experimental. A sondagem técnica não pode ser usada para replicar e refinar os dados comportamentais enquanto não fo r possível manipular o comportamento individual de forma relati­

vamente precisa. Para usar o comportamento como uma sonda, o experi­

mentador precisa ser capaz de produzir o comportamento exigido e

sempre quando desejar aplicá-la. Um fenômeno que aparece em média um

certo número de vezes entre um grupo de sujeitos não pode ser utilizado

desta maneira.

Sondagem das variáveis de controle. Nas mãos de um pesquisador atento, um programa experimental bem entrelaçado produzirá um con­

junto de variáveis unificantes, comuns a muitos dos experimentos relacio­nados. A descoberta e elaboração dessas variáveis constitui o tipo principal

de sistematização, e o pesquisador deverá procurar obtê-las todas as vezes que surgir a oportunidade, entretanto, a natureza da evidência pode tornar d ifíc il essa tarefa. Embora o pesquisador possa inferir responsabilidade real de uma única variável pelas várias formas de comportamento, todas

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 123

aparentemente diferentes, são essas mesmas diferenças a prova de que o

controle da variável em questão era indireto. Nesse sentido, precisa provi­denciar uma demonstração, a mais direta possível, da generalidade da variável de que se suspeita. Se tiver ao seu alcance uma tecnologia compor­

tamental bem desenvolvida, talvez empregue a técnica de sondagem para determinar se uma variável dada é a de controle, em contextos experi­

mentais diferentes. No . processo, também replicará e generalizará a sua tecnologia. Muitas vezes esses casos, são relativamente complexos, e

envolvem minúcias da técnica de sondagem que irão compensar o exame

detalhado. Tomemos como exemplo a técnica do esquema tandem

planejada por Ferster e Skinner (34).Entre as conclusões que parecem emergir de um programa longo de

pesquisa sobre vários tipos de esquema de reforçamento, estava a genera­lização de que as propriedades do comportamento durante longos períodos de tempo são determinadas pelas características que o comportamento demonstra logo antes do reforçamento. Em um esquema em intervalo- -variável, por exemplo, as respostas são reforçadas de acordo com um

programa estabelecido por um. relógio variável. A probabilidade da apli­cação do reforço aumenta com o passar do tempo. Pausas relativamente longas, sem resposta, entretanto, irão provavelmente terminar com uma resposta reforçada. O resultado é uma freqüêpcia intermediária de resposta, determinada pelo programa de espaçamento dá reforço.

Em um esquema em razão, por outro lado, a aplicação do reforço é

relativamente independente da passagem do tempo, mas requer a emissão de um número especial de respostas. A probabilidade de reforço não aumenta se o sujeito fizer, pausá entre as' respostas. Quando admite

ligeiras irregularidades na freqüência da résposta, é mais provável que o reforço venha depois de uma seqüência rápida de respostas. A probabi­

lidade de uma longa, pausa term inar com uma resposta reforçada é pe­quena. Conseqüentemente, uma alta freqüência de respostas, próxima do

máximo, é desenvolvida.

Este tip o de análise parece explicar suficientemente o comporta­mento gerado por um grande número de esquemas diferentes de reforço. Tanto a freqüência de respostas quanto o padrão temporal do compor­tamento parecem ser determinados pelo espaçamento das respostas logo antes dò reforçamento. Muitos dos esquemas, porém, representaram somente métodos indiretos para controlar as características do com­portamento antes do reforçamento. Poderá esse fa to r ser manipulado mais diretamente e sua eficácia ser analisada com detalhes mais pre­cisos?

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124 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

Para responder a essas perguntas fo i planejada a técnica do esquema tandem. INlum experimente, por exemplo, o tandem consistia em dois

esquemas: 0 primeiro, era o esquema em intervalo-variável (V I) que des­crevi anterjormente. o reforço é programado por um relógio variável de maneira que a resposta do animal seja reforçada ocasionalmente em inter­

valos de te^pQ jrregulares. Primeiramente, fo i estabelecida uma freqüência

estável intermediária de respostas neste esquema. 0 segundo esquema, o que era u t j | jzacj0 como sonda para determinar a influência das condições

imediatamente ant es do reforçamento, tem sido chamado esquema DRL

(Reforçarnent 0 Diferencial de baixa freqüência de respostas). 0 esquema

DRL pernr>jte 0 reforçamento diferencial de baixas freqüências, reforçando uma resposta no caso ^ ngQ ter havido uma outra resposta nos dez

segundos |3recedentes, por exemplo. Num D RL de dez segundos, o reforço sq ÍCa disponível quando o comportamento está ocorrendo

numa freqüência relativamente baixa, de uma resposta a cada dez segundos ou mais.

Forais, utilizadas propriedades conhecidas do esquema D R L pára determinar os ef ejtos das condições logo antes do reforçamento, sobre o

comportarrignto nominalmente mantido pelo esquema de reforçamento em interva|0 variável. Os dois esquemas, VI e DRL, foram combinados num esquerng tandem de tal maneira, que o reforço estava disponível a intervalos Variáveis mas, além disso, a resposta não poderia produzi-lo, a menos que houvessem passado dez segundos da resposta precedente. Desta forma, o esquema intervalo-variável, empregado para gerar a linha de base do com por^amento, f 0 j mantido. O esquema D R L acrescentado ao tandem assegurava 0 contrôle preciso sobre o intervalo de témpo entre as duas respostas, imediatamente antes de cada reforço. Se o esquema de intervalo- -variável esi;ivesse atuando sozinho, este intervalo entre as respostas seria

variavel, sg jejto a flutuações locais da freqüência de resposta. Com

a adição ciD esquema DRL, o intervalo entre as duas respostas, imedia­

tamente a r,tes do reforço, nunca poderia ser menor do que de dez segundos.

^ ua' seria o efeito da restrição acrescentada na contingência doreforço? S erja mantida a freqüência intermediária normalmente geradapelo esquema de intervalo-variável? Où a especificação de dez segundos,

o unico intervalo de tempo entre as duas respostas antes do reforço,produziria Q característica de baixa freqüência do esquema DRL? A res- posts e s - -

Ultima. Os animais começavam a espaçar a maioria das suas respostas e g f reqüência caiu no nível normalmente gerado pelo esquema DRL de d ^ 2 SSgundos. Adicionando estrategicamente as condições para a

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 125

baixa freqüência ao esquema de intervalo variável, um organismo de res­

posta rápida fo i convertido em um de resposta lenta (34).

Esse experimento, além de demonstrar a validade de um princíp io

geral induzido de estudos anteriores de esquematizar reforçamentos, pro­duziu uma replicação sistemática econômica das características comporta-

mentais do esquema DRL. Se as propriedades comportamentais do esquema DRL não tivessem sido conhecidas antecipadamente, o decrés­cimo da freqüência, que se seguiu à introdução do esquema como uma sondagem, teria sido um resultado não sistemático, não relacio­nado com outros dados e impossível de se integrar num princíp io mais

geral.A replicação sistemática não deve necessariamente marcar um resul­

tado experimental como final — uma das vantagens sobre a replicação

direta. Visto que a replicação direta reafirma o que já é conhecido, a replicação sistemática pode, além disso, produzir uma nova informação sobre o fenômeno em questão. Isso é ilustrado por outro experimento no

qual um esquema em razão-fixa, no tandem com um esquema DRL, fo i

usado como sonda para investigar o controle exercido pelas condições

imediatamente antes do reforço.

Em um esquema em razão, uma resposta é reforçada somente depois de ter sido precedida por um certo número de respostas. Exceto na medida em que o tempo é consumido pela própria resposta, a probabilidade de reforço não é uma função da passagem do tempo, como o é no caso do intervalo-variável e do esquema DRL. O reforçamento depende simples­mente do número de respostas que foram emitidas pelo organismo. 0 esquema em razão-fixa, exigindo um número de respostas constante

de cada reforçamento, gera uma freqüência de resposta extremamente

alta.Qual seria o efeito de se acrescentar uma razão-fixa do tandem ao

DRL? O comportamento resultante seria consistente com a generalização em investigação e exibiria as propriedades conhecidas da sondagem em razão-fixa? Quando apareceu, o comportamento replicava tanto as proprie­

dades do DRL e da razão-fixa, como lançava ao mesmo tempo novas

luzes sobre as variáveis responsáveis pelos efeitos do esquema.0 experimento tandem fo i realizado como segue: a resposta fo i

levada primeiramente para um estado-estável em um esquema DRL de dez segundos: nunca uma resposta fo i reforçada se ocorresse uma outra res­posta nos dez segundos precedentes. Todas as respostas que se seguiam à precedente em dez segundos ou mais produziam o reforço. Como resultado dessa contingência, ocorreram respostas espaçadas na baixa freqüência

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126 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

característica do D RL de dez segundos. Uma razão-fixa de duas respostas

por reforço fo i então acrescentada ao tandem. Pausas de dez segundos ou

mais ainda tornavam disponível o reforço, mas agora eram necessárias duas respostas para produzir o reforço. Respostas espaçadas preparavam

um reforçamento, mas uma razão-fixa o produzia.0 comportamento resultante mostrou claramente os efeitos de

ambos os esquemas. As características do D RL foram mantidas, conti­nuando a ocorrer pausas entre as respostas de aproximadamente dez segundos. A contingência da razão era evidente na ocorrência freqüente de "explosões" de duas respostas com espaço restrito. O padrão temporal predominante do comportamento eram a5 duas respostas com espaço restrito, seguidas por uma pausa de aproximadamente dez segundos,

seguidas por outras duas respostas rápidas, seguidas de outro espaço de dez segundos, etc. (58).

Neste caso, então, vemos uma replicação simultânea de dois esque­mas de efeitos, a realização mais econômica. Além disso, torna-se evidente que não é suficiente explicar os efeitos do esquema somente em termos de freqüência de resposta que precede imediatamente o reforço. Nossa genera­lização requer modificações. O desenvolvimento das características da razão assegura que o reforço sempre seguiria duas respostas de espaço restrito. Mas era preciso uma pausa de pelo menos dez segundos, antes que o rápido par de respostas pudesse ser reforçado. Portanto, a seqüência to ta l reforçada precisa ser levada em conta, apesar da seqüência estender-se por um período de tempo relativamente longo após o reforçamento. Esta descoberta não somente propôs novos problemas à pesquisa pos­

terior, como também prometeu ampliar o controle dos psicólogos sobre o objeto de estudo, o comportamento do indivíduo, até a um grau que

rivalizasse com as ciências "exatas". São esses os frutos da técnica de

sondagem da replicação.

Nesse sentido, a aplicação bem sucedida da técnica de sondagem realiza um grau de generalidade m uito além da mera generalidade do sujeito. A demonstração de que um princ íp io encerra mais do que uma única série de dados representa a mais alta ordem da realização científica. Nas suas aplicações mais hábeis, a técnica de sondagem de replicação fornece generalidade deste tipo , além da fidedignidade e generalidade do sujeito. Poderá haver aqui uma comparação realmente séria entre técnica de sondagem e planejamento estatístico convencional? Para usar um termo próprio da história agrícola do planejamento estatístico, a "co lhe ita" da técnica de sondagem é incomparavelmente superior em qualidade e quantidade. Além disso, economiza esforço, é excelente no controle expe-

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 127

rimental, e de integridade única — em outras palavras, a elegância indefi­

nível que é um dos critérios mais subjetivos, ilógicos e úteis do cientista,

para avaliar a experimentação.

REPLICAÇÃO PELA A FIR M AÇ ÃO DO CONSEQÜENTE

O terceiro tipo de replicação sistemática é o mais arriscado e,

quando bem sucedido, possivelmente o mais satisfatório. 0 risco provém

de duas fontes: a) o método não tem justificação lógica; b) não há um

critério estabelecido de sucesso. Como todó estudante que fez um curso elementar de lógica sabe, afirmar a conseqüente é um procedimento peri­goso. De fato, é geralmente caracterizado como uma "fa lácia". A falácia

lógica pode ser ilustrada da seguinte maneira:Comecemos com a afirmação: "se A fo r verdadeiro, B é verdadeiro".

Então realizamos um experimento e descobrimos que B é de fato verda­deiro. A partir disso, concluímos que A também é verdadeiro. Nossa conclusão pode estar errada, no entanto, uma vez que não afirmamos que a verdade de A é um pré-requisito necessário para a verdade de B, A pode ser falso, ainda que B passe a ser verdadeiro. A verdade de B não permite logicamente qualquer inferência relativa a A.

O lógico não pode ser contestado nessa matéria, mas há um pro­blema. Poucos estudantes do curso de lógica elementar foram ensinados que a afirmação da conseqüente, apesar da sua ilusão lógica, está m uito próxima do sangue vital da ciência. Há, em outras palavras, uma discre­

pância entre as regras de lógica e a prática de laboratório.Voltando ao nosso exemplo abstrato, cientistas bem treinados sabem

que é perigoso fazer a inferência de B para A. Mas o estabelecimento da

verdade de B lhes diz algo sobre A. Por qualquer razão eliminou uma das condições que poderia ter provado que A fosse falsa. Se B se tornasse

falsa, então a verdade de A não poderia ser sustentada. Sua confiança na verdade de A é, no entanto, aumentada por alguma coisa imponderável.

Irá explorar outras conseqüências da verdade de A. As proposições C, D,

E, F, etc., todas as que precisam ser verdadeiras para que possam sustentar

a verdade de A, serão verificadas experimentalmente. Além disso, as

conseqüências dos novos resultados serão testadas da mesma maneira, e

cada demonstração bem sucedida irá aumentar a confiança em A.Um apoio 'm aior para A será a sistematização geral obtida. Quando

vários resultados experimentais aparentemente isolados se mostram relacio­nados, cada um dos componentes individuais do sistema adquire estatura.

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128 TÁ TIC A S DA PESQUISA C IEN TIFIC A

Tomemos como um exemplo de A o seguinte experimento: o sujeito,

o pombo, fo i ensinado a bicar um disco iluminado na parede da câmara

experimental. O reforçamento era o aparecimento de um fornecedor de grão onde a ave podia se alimentar durante três segundos. Um esquema

especial de reforçamento do tipo razão-fixa fo i empregado (no qual o

sujeito deve em itir um número fix o de respostas a cada reforço). Nesse experimento, a razão das respostas exigidas para o reforçamento poderia

assumir um ou dois valores, casualmente mudando depois de cada reforço.

Algumas vezes eram exigidas 50 respostas, outras vezes 150, com nenhum

estímulo exteroceptivo apresentado para "d ize r" ao sujeito qual das duas razões estava programada no momento (34, pp. 580 ff) .

O comportamento da ave seguia o padrão típ ico da razão-fixa. Foram

mantidas freqüências de respostas extremamente altas, com pausas freqüen­

temente seguindo o reforço. Mas surgiu um fenômeno interessante: às vezes, quando a razão exigida era de 150, pausas semelhantes àquelas que seguiam os reforços seguintes ocorriam freqüentemente depois que a ave houvesse emitido aproximadamente 50 respostas. O comportamento cor­rente da ave parecia ser controlado pelo número de respostas que havia

sido emitido desde o reforço precedente. A "contagem " parecia ser um fator crítico no desempenho da razão. Quando a ave om itia o número de respostas exigido pela razão menor, e não sobrevinha nenhum reforço, aparecia a pausa, ou "tensão" característica da razão maior.

Se essa interpretação das pausas que ocorriam depois de aproxima­damente 50 respostas, estiver correta, será possível demonstrar que a contagem é uma variável em outros contextos. Por exemplo: fo i realizado um experimento com ratos no qual havia duas barras à disposição dos animais. Para produzir o reforço, era necessário que os animais pressio­

nassem uma barra 12 vezes e depois pressionassem a outra (54). Isto é, uma razão fixa de 12 respostas por reforço era programada em uma barra e os animais podiam utilizar a contagem como "de ixa " para mudar para a

outra barra. Em conclusão, o seu comportamento mostrava que os animais realmente usavam a contagem dessa forma com eficiência consi­

derável. Demonstrou-se diretamente que a contagem era uma variável de

controle do comportamento originada de um tip o de esquema em razão- -fixa. A sugestão de que essa variável fosse responsável pelas pausas no

experimento original cresce em plausibilidade. À medida que a explicação se torna mais plausível, a própria observação se torna mais generalizável. Uma observação que não seja real, não poderá sobreviver ao processo de uma replicação sistemática.

Um segundo processo que ajudava a estabelecer o resultado original

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 129

surgiu das observações do comportamento durante a fase de transição de um esquema de razão-fixa para outro. Por exemplo: depois que o compor­tamento dos sujeitos (ratos) havia se estabilizado num esquema de razão-

-fixa de 25 pressões à barra por reforço, a razão era reduzida para 15. Embora o reforço fosse liberado depois da décima quinta resposta, os animais continuavam a pressionar a barra ultrapassando a contagem de 15, sem parar para ingerir o reforço (10). Parecia que a contagem de 25 estabe­lecida anteriormente, era tão poderosa que anulava temporariamente o controle exercido pela liberação do reforço. Esta observação não somente sustentava o resultado original mas era, por sua vez, fortalecida por ele. O apoio é recíproco.

Uma replicação sistemática posterior fo i realizada num experimento cuja conexão com o resultado original parecia mais remota ainda. Foi demonstrado que o comportamento originado por certos esquemas de reforço com intervalo-fixo também é controlado pelo número de respostas emitidas durante o intervalo anterior, mesmo que esse reforçamento seja programado por um relógio (32). Eis aqui um dos aspectos mais ilógicos

da replicação pelo método da afirmação da conseqüente. Quanto menor fo r a sua plausibilidade inicial, maior o poder a tribu ído à replicação. Isto é, quanto menos plausível parecer alguma conseqüência do resultado A, maior será a nossa confiança em A se essa conseqüência fo r verificada. (Veja a citação de Polya, pp. 60-61).

Plausibilidade? Esse conceito é estranho para a estatística clássica, e com boas razões, porque a significação da plausibilidade deriva, pelo

menos, tanto do observador como da‘ coisa observada. Não existe uma escala comum de plausibilidade em todos os observadores. Sua subjeti­vidade torna o conceito de plausibilidade, na verdade, a noção mais não

científica. Apesar disso, os cientistas empregam-na com proveito. Desco­briram, através da experiência, que as tentativas de provar o óbvio tornassem mais excitantes quando fracassam; qüe tais fracassos originam revoluções científicas. Mas a demonstração de uma conseqüência não plausível é a forma mais satisfatória de replicação sistemática. Quando se descobrem muitos fatores que se apagam diante da realidade de uma conseqüência, essa conseqüência não é plausível. Se a conseqüência puder enfrentar o desafio do ceticismo inteligente e sobreviver à luta, pelo teste empírico, a estatura da descoberta original crescerá enormemente. Terá

produzido um resultado mais d ifíc il do que o usual, o que atesta sua própria força. Será poesia? Claro que é. Mas também é boa ciência. As duas se misturam porque tanto os cientistas como os poetas — pelo menos os melhores deles — sabem mais do que as regras da lógica lhes perm itiria

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130 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

derivar da evidência disponível. A descoberta quase sempre precedeu a prova e as duas operações nem sempre são realizadas pela mesma pessoa. Freqüentemente, o descobridor continua a merecer crédito, mesmo quando

a evidência formalmente convincente tenha que ser suprimida por alguém. Os cientistas podem falar solenemente sobre a frieza da objetividade da

sua pesquisa, mas seus outros comportamentos são a prova de que real­mente sabem mais.

Por ser ilógico e não poder fornecer uma prova definitiva de qualquer

proposição, o método de afirmar a conseqüente não nos permite, pelo raciocínio lógico, convencer os que duvidam, da adequação da nossa evi­

dência. Se a estrutura sistemática, realizada pela afirmação da conseqüente,

fo r um fato sólido, então os dados contidos nessa estrutura serão eventual­mente tomados em conjunto e eles mesmos formarão a base para uma

sistematização posterior. 0 teste final é pragmático. O seguinte parágrafo,

publicado por Thomas Huxley em 1897, ilustra a aplicação deste prin­c íp io a alguns dados que já foram altamente controvertidos, mas que depois passaram a ser solidamente defendidos, por um meio que não poderia ser outro além da afirmação da conseqüente:

Há não m uito tempo atrás, a dúvida sobre o fa to de que os chamados "fósseis" fossem realmente restos de animais e plantas era discutida calorosamente. Pessoas bem informadas afirmavam que não se tra­tava de nada disso, mas um tipo de solidificação ou cristalização, que havia se realizado dentro da pedra na qual foram encontrados; e que se assemelhavam às formas de vida vegetal e animal, exatamente como o gelo numa vidraça im ita a vegetação.. . A posição seria inexpugnável, tanto quanto fosse impossível provar o contrário. Se alguém decidir defender que uma casca de ostra fóssil, apesar da sua correspondência, nos mínimos detalhes, com a casca de uma ostra fresca tirada do mar, nunca conteve uma ostra viva, mas que é uma solidificação mineral, não adianta demonstrar o seu engano.

Tudo o que deverá ser fe ito é mostrar-lhe que, seguindo o mesmo raciocínio, provavelmente admitirá que um monte de cascas de ostras diante da porta de um peixeiro poderia ser "um a brincadeira da natureza", e que um osso de carneiro numa lata de lixo também poderia ter a mesma origem. E quando não é possível provar que as pessoas estão erradas, senão meramente absurdas, o melhor que se faz é deixá-las em paz (49, pp. 12-13).

Uma vez que existem perigos reais envolvendo a replicação pelo

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 131

método de afirm ar a conseqüente, muitos cientistas, conservadoramente,

preferem não empregar a técnica até que hajam utilizado antes procedi­

mentos mais diretos. Quando a inferência lógica de um resultado experi­

mental para ou tro é tênue, mesmo onde a relação sistemática dos dois

experimentos seja uma questão de julgamento individual, pode haver

muita ocasião de erro. A este respeito a história do experimentador é m uito im portante como consideração. Há alguns cientistas que parecem

ser capazes de afirm ar a conseqüente quase com impunidade, e seria uma tolice não ouvi-los com respeito. Por outro lado, é muito freqüente acontecer que depois da identificação de uma nova variável, surja uma erupção de replicações sistemáticas nas quais a nova variável seja mantida incorretamente como o elo de ligação. A nova variável está na crista da onda, e passa a ser possível a tribuir todas as mudanças comportamentais à sua influência. Provavelmente, será este o caso em especial, se as con­

dições sobre as quais a nova variável fo r efetiva estiverem ainda mal

compreendidas.Certa vez, os psicólogos estavam inclinados a a tribu ir todos os tipos

de dados experimentais não explicáveis de outra forma à operação de reforço secundário. Muitos tipos variados de experimentos eram consi­derados replicações sistemáticas e, portanto, generalizações, dessa variável. Esta tendência logo acabou quando conseguimos perceber quão pouco sabemos sobre as circunstâncias em que o reforçamento secundário opera. Tais situações raramente duram m uito tempo. Provavelmente será melhor

aprender a conviver com elas do que eliminá-las às custas das contri­buições impossíveis de se avaliar dos que possuem um faro para afirmar a conseqüente. Os erros serão corrigidos na medida em que a experimen­tação revelar que muitas das conexões supostas- entre os experimentos

forem .mais aparentes que reais.Um problema mais sério surge do fato de que o processo da repli­

cação sistemática pela afirmação da conseqüente não termina. Em nenhuma ocasião se pode afirmar conclusivamente que a replicação fo i realizada positivamente. As implicações de uma descoberta experimental podem ser de um número in fin ito , e um exemplo negativo pode aparecer a qualquer momento.

O que acontece quando ocorre um exemplo negativo? Há muitos

fatores que irão determinar o curso da ação nesses casos. O experimentador precisa avaliar o número de conseqüências de A que foram confirmadas, sua plausibilidade e a integridade ou fraqueza das suas conexões, tanto em relação a A , quanto em relação ao exemplo negativo. A todos os dados em questão ele precisa aplicar os critérios usuais de rigor do controle

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132 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

experimental. Estes deverão levar em consideração os outros tipos de replicação, que foram realizados, tanto direta como sistemática, assim como as reputações dos experimentadores que estão envolvidos, 0 pesqui­sador pode então encontrar discrepâncias na evidência que estava sendo observada. Pode encontrar afirmações sumárias não apoiadas pelos dados, ou pode encontrar alguns dados que não foram levados em conta de nenhuma maneira. Talvez seu próprio exemplo negativo poderá combinar

com estas outras facetas, e nesse caso sua contribuição pode ser a mais positiva.

Mas, e se o levantamento da área não revelar nenhuma fraqueza

importante na estrutura empírica? Neste caso, a validade do exemplo negativo deverá ser deixada para um teste posterior. O cientista dirigirá a sua atenção para as replicações, diretas ou sistemáticas, do caso negativo.

Se também o caso negativo aparecer na replicação, o cientista então estará inclinado a suspeitar que as condições que definiam a descoberta original

foram inadequadamente especificadas. Talvez a afirmação original das condições relevantes para os experimentos iniciais eram demasiadamente

gerais e não levaram em conta as variáveis específicas de controle. Ou, ainda, a afirmação original era restrita demais e assim não foram reconhe­cidas variáveis de controle suficientes. Uma melhor especificação das variáveis de controle poderia pôr em linha o caso negativo, ou talvez revelar que ela não está relacionada.

Exemplos "pre to no branco" em psicologia experimental são m uito difíceis de ser encontrados, mas tem havido casos em vários tons de cinza. Um tip o de resultado, por exemplo, que parecia replicável numa ampla variedade de situações, d iz respeito ao grau de controle experimental exercido por um estímulo como uma função da sua relação temporal com o reforço. Tem-se observado numa situação de esquiva que quanto mais longo o intervalo entre o estím ulo de aviso e o choque, mais fraco será o condicionamento de esquiva (92). Outros experimentos demons­

traram que acima do valor ideal, quanto maior a duração de um estímulo que precede um choque inevitável, menos se produzirá a supressão comportamental pelo estím ulo (52). Concluiu-se tamhém; por alguns

dados, que a eficiência do reforço condicionado de um estímulo atinge um máximo e depois declina, na medida em que aumentamos a duração do estím ulo anterior ao oferecimento de um reforço positivo (7). A gene­ralização que parecia emergir de todos esses estudos era que quanto mais longa a duração de um estím ulo pré-choque, ou pré-reforçamento, menor seria o controle experimental exercido por aquele estímulo.

Estes resultados foram replicados tanto diretamente como sistema-

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 133

ticamente por meio de um número de diferentes arranjos experimentais. Entretanto, tem havido alguns experimentos cujos resultados estão fora da

linha, e sem dúvida existem outros que jamais foram publicados porque

os seus resultados pareciam contrários à evidência. A atenção experimental

tem sido recentemente dirigida para as discrepâncias, e a conclusão dom i­nante é que os experimentos originais simplesmente deixaram de levar em conta algumas variáveis poderosas. Os dados dos prifneiros experi­

mentos não podem ser considerados no mesmo caso. Parece que simples­mente representam casos especiais dentro de uma estrutura mais geral. Quando são levadas em consideração variáveis adicionais, tanto os dados originais quanto as contradições aparentes "ficam sob o mesmo te to ". Enquanto os experimentos mais recentes não controlarem adequadamente as variáveis descobertas ultimamente, eles deixarão de constituir-se repli- cações sistemáticas válidas dentro do sistema geral.

Mais concretamente, uma série de experimentos tem demonstrado que prolongando o intervalo entre o estímulo e o choque produz-se menor condicionamento de esquiva somente quando o próprio estímulo é curto (condicionamento de traço) (50). Se o estím ulo de aviso continua até o choque (condicionamento de atraso), as mudanças na duração do estímulo parecem ter pouco efeito (19). Outros experimentos mostraram que qualquer avaliação da duração do estímulo deve levar em conta também a extensão do período entre as apresentações do estímulo (90). A duração do estímulo em si nem sempre é uma variável crítica. Um estímulo de longa duração pode exercer um controle comportamental fraco, se o intervalo entre-estímulos fo r relativamente breve. Se fo r aumentado o inter­

valo entre-estímulos, a mesma duração do estím ulo pode exercer forte controle experimental. Alguns experimentos ainda foram mais longe, para mostrar que as contingências de reforçamento, tanto na presença como

na ausência do estímulo, contribuem poderosamente para a sua eficiência

(34, pp. 658-702). Está se tornando evidente também que, em alguns

casos, pelo menos, as variáveis do reforçamento são básicas para uma

compreensão dos fatores temporais (42).A especificação mais adequada das variáveis que são relevantes para

um fenômeno ou um processo comportamental pode então ajudar a explicar as discrepâncias que aparecem quando as replicações são tentadas pelo método de afirmação da conseqüente. Outro exemplo é mostrado

num trabalho anterior de Shoenfeld, Anton itis e Bersh (65) sobre o pro­blema do reforço condicionado ou secundário. Esses pesquisadores reali­zaram originalmente dois experimentos para investigar " . . . a possibilidade de que as propriedades do reforço secundário atribuídas a um estímulo

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134 t A t ic a s d a p e s q u is a c ie n t i 'f ic a

previamente neutro pudessem agir independentemente das condições exis­tentes durante sua aquisição" (65, p. 40). Este problema era sofisticado, mas a sua investigação fo i mal sucedida quando o estím ulo não exibiu nenhuma função de reforçamento condicionado em qualquer das con­dições experimentais. Os colaboradores foram incapazes de replicar o

fenômeno sobre o qual estavam procurando uma informação mais geral.

Como passo seguinte, os experimentadores realizaram um experi­mento, o mais simples possível, que pudesse se adaptar à afirmação preva-

lente das condições necessárias para o estabelecimento de reforçamento secundário. Com esses procedimentos, acharam possível criar um refor­çador condicionado. Evidentemente, as especificações para estabelecer um estímulo como um reforçador condicionado estavam bem longe de ser

definidas. O reexame dos procedimentos e parâmetros nas replicações mais recentes, bem ou mal sucedidas, levou os investigadores a descobrir

— também im p líc ito nos textos anteriores de B. F. Skinner (81) — o papel vital de encadeamento operante no fenômeno do reforço condi­cionado. Quando a presença ou ausência de tal encadeamento era levada em conta, eram capazes de produzir replicações sistemáticas de reforça­

mento secundário. Ambos esses conjuntos de resultados tornaram-se consis­

tentes uns com os outros, uma vez que os fatores de controle foram mais

adequadamente especificados.

Falei anteriormente sobre os problemas que surgem quando pro­cessos irreversíveis impedem a replicação direta de um experimento com um único organismo. A técnica de afirmar a conseqüente oferece uma solução para esses problemas. Em vez de tentar replicar os próprios dados, pode-se conseguir a replicação investigando as implicações dos dados. Se fo r realizada uma série de experimentos, cada um produzindo resul­tados consistentes uns com os outros, a fidedignidade e generalidade dos experimentos individuais serão suficientemente ampliadas. O número de tais experimentos que precisam ser realizados não pode ser preconcebido. Dependerá dos mesmos critérios pessoais, subjetivos, pragmáticos que a ciência e os cientistas individualmente aprenderam a usar para avaliar, todos os tipos de dados.

Dados e teoria. A técnica de afirmar a conseqüente é explorada freqüentemente como um método de testar a teoria. Embora aplicado com menos freqüência, é tão aplicável para testar a fidedignidade como a generalidade dos dados experimentais. Se um certo resultado experimental fo r verdadeiramente fidedigno e geral, e se possuir uma compreensão adequada das variáveis envolvidas, então os resultados de. outros experi-

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 135

mentos deveriam ser especificáveis antecipadamente. Este processo não é

necessariamente dedutivo; a inferência de um experimento para outro

pode ser por indução ou mesmo por analogia. Os experimentos podem ser tão diferentes operacionalmente que seu único elo de ligação é o

próprio salto indutivo. Quando fo r este o caso, a confirmação da desco­

berta poderá acrescentar um peso maior aos dados originais do que se

replicações sucessivas mais obviamente semelhantes — uma extensão do

princípio de que uma confirmação improvável nos dá mais confiança

do que uma altamente provável.Embora a técnica de afirmação da conseqüente possa ser usada para

avaliar tanto a teoria como os dados, ela está geralmente reservada para as teorias. Os critérios para a avaliação dos dados são amplamente estatísticos, e relativamente rigorosos. Uma variável é freqüentemente rejeitada (consi­derada ineficiente) se puder ser demonstrado que as mudanças observadas no comportamento poderiam ter resultado do "acaso" numa freqüência de duas vezes em cem. É quase sempre rejeitada se a contribuição do acaso fo r considerada alta, tanto quanto de cinco em cem. Por outro lado, a divisão numérica de meio-a-meio na evidência pró e contra de uma teoria, raramente fará com que o psicólogo teórico abandone sua posição.

A razão torna-se evidente ao examinarmos as controvérsias teóricas da última década. Mesmo as teorias mais rigorosamente afirmadas estão tão imprecisamente especificadas, que experimentos vitais eram impos­síveis. Isto é, as condições sob as quais A fosse verdadeiro nunca eram totalmente afirmadas antecipadamente. Se uma implicação da teoria deixasse de ser confirmada, o teórico sempre poderia apontar algum aspecto do experimento que poderia ter contribu ído para o fracasso.

Toquei neste ponto somente para tornar claro ao estudante que a prática que acabo de descrever não é uma fraqueza do método de afirmação da conseqüente. É, isso sim, uma fraqueza da parte daqueles

que empregam o método. A utilidade do método como teste da teoria é

lim itado pelo aspecto específico das afirmações teóricas em questão. É

loucura avaliar uma teoria pela afirmação da conseqüente quando as a fir­

mações básicas da teoria estão sujeitas a equívoco. Da mesma forma, não pode ser usada para avaliar dados que foram obtidos em condições pouco

compreendidas. A teorização vaga à qual tantos de nós nos inclinamos

tem servido para ocultar a maior força da técnica de afirmação da conse­qüente. Quando essa técnica de replicação sistemática é aplicada com

sucesso, obtém-se confiança não somente na fidedignidade e generalidade dos dados, mas também na compreensão que se tem dos dados. Quando sua aplicação é mal sucedida — isto é, a replicação não é realizada — os

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136 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

dados ou a interpretação, ou ambos devem ser rejeitados. Não pode haver equívoco. Exemplos negativos são fatais. Uma citação de Polya descreve

perfeitamente a situação:

O matemático como o naturalista, ao testar alguma conseqüência de

uma lei geral hipotética por meio de uma nova observação, faz uma pergunta à Natureza: "Suspeito de que essa lei seja verdadeira. Será? " Se a conseqüência é claramente refutada, a lei não pode ser verdadeira. Se a conseqüência é claramente verificada, há alguma indicação de que a lei possa ser verdadeira. A Natureza pode dizer Sim ou Não, mas murmura uma resposta e troveja a outra: seu Sim

é provisório, seu Não é defin itivo (63, p. 10).

O cientista que tenta usar a técnica de afirm ar a conseqüente para avaliar tanto os dados como a teoria precisa mostrar a disposição simul­tânea de se sujeitar às regras severas que o método impõe. Caso contrário,

demonstra sua própria inadequaçao, não a da técnica.

O PLANEJAM ENTO DA REPLICAÇÃO SISTEM ÁTICA

As técnicas de replicação sistemática que tenho citado, de maneira

nenhuma encerram uma classificação exaustiva. Tampouco os vários métodos sempre separáveis distintamente entre si. Há muitas variações e

combinações possíveis. Como o cientista decide que método ou combi­nações de métodos irá empregar? Haverá uma série de regras que possa

seguir em qualquer caso específico e ter certeza de que terá escolhido o

caminho correto? A resposta é não; a replicação sistemática não é lógica,

nem mesmo um processo bem definido. Há poucos cientistas que realizam

um experimento para o propósito deliberado de replicação sistemática.

Dei um nome ao processo, mas, a longo prazo, isso é artific ia l. A replicação sistemática, embora seja necessária e valiosa para o progresso científico ,

aparece amplamente como um sub-produto do interesse do pesquisador em seu objeto de estudo.

O investigador de primeira rama realiza experimentos para analisar os fenômenos naturais e determinar suas interrelações. Explora os fenômenos de seu maior interesse em todas as suas possíveis ramificações. Em seus experimentos individuais observa os mínim os detalhes, tentando a melhor análise experimental possível. Em seu plano global de pesquisa, tem em mente a mais ampla concepção da natureza, na qual suas desco-

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REPLICAÇÃO SISTEMÁTICA 137

bertas experimentais deverão finalmente assumir seu lugar próprio. Este

investigador segue um programa experimental consistente e bem integrado no qual a replicação sistemática ocorre naturalmente e geralmente sem

deliberação consciente. A replicação sistemática é um acompanhante inevi­

tável da experimentação sistemática, na qual fo i realizado o controle adequado, tanto sobre as variáveis dependentes como independentes.

Quando se descobre que um fenômeno tem características que permitem

seu uso como linha de base, o pesquisador não deve deliberadamente sentar-se e planejar uma série de experimentos preparados para demonstrar

a sua replicabilidade por meio de uma técnica de linha de base. Entretanto,

realmente emprega o fenômeno como uma linha de base porque suspeita que será ú til na elucidação dos efeitos das variáveis relacionadas.

O fa to de que uma replicação sistemática ocorra como sub-produto de um interesse mais básico nos fenômenos naturais, para seu próprio bem não deverá d im inu ir a sua importância. Digo isso somente para enfa­

tizar que podem não haver regras explícitas para determinar a técnica replicativa mais adequada. O método a ser empregado será selecionado entre as escolhas postas à disposição pelos dados experimentais e pelas

técnicas de controle mais à mão.Há, no entanto, um aspecto comum a todas as técnicas de replicação

sistemática. Todas exigem a utilização de um corpo existente de conheci­mento. Este conhecimento pode consistir simplesmente num repertório de habilidades úteis ao controle do comportamento, ou pode assumir a forma de um corpo sistemático de dados e princípios interligados. As replicações sistemáticas de qualquer tipo não são possíveis sem essas habilidades e dados. De fato, a maturidade de uma ciência pode ser julgada, em parte, pela extensão em que a replicação sistemática estabelece a fidedignidade e generalidade dos seus dados. A psicologia, por exemplo, cujos investigadores não têm controle adequado sobre o seu dado principal, o comportamento, será incapaz de empregar a replicação sistemática dfe qualquer forma extensiva. Além disso, o psicólogo que não permita que suas descobertas experimentais determinem o curso do seu programa de

pesquisa nunca descobrirá a utilidade e elegância da replicação sistemática.

O método não é adequado para o programa experimental do tipo pula- -pula. O fato de que um cientista empregue a replicação sistemática para

dar substância à sua descoberta, é, em si mesmo, quase uma garantia da

sua integridade científica. Indica que as suas satisfáções, cientificamente falando, são derivadas dos seus dados o que permite que os mesmos,

mais do que as considerações estranhas, determinem seu programa experi­

mental.

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terceira______ parte

_______ variabilidade

Embora as suas leis gerais somente possam ser verificadas aproxima­damente no laboratório, o objeto de estudos da física clássica era conside­rado constante. A variabilidade geralmente, era atribuída a erros de

mensuração, pelos quais o experimentador e seus instrumentos eram

responsáveis. Embora esse ponto de vista tenha sido alterado enquanto a evidência adequada continuava disponível, demonstrava ser ao mesmo tempo uma posição ú til. O refinamento das técnicas experimentais e a redução conseqüente do erro experimental em muitas áreas da ciência física tornaram possível confirm ar as leis naturais com um notável grau de precisão. Quando as descobertas de pesquisadores responsáveis demons­travam discrepâncias, tornava-se ser mais sensato form ular novos princípios a aceitar os dados como basicamente variáveis.

A psicologia tem adotado, no que é principal, um modo de operação diferente. A maioria dos psicólogos aceita a premissa de que o objeto de estudo seja em si mesmo intrinsecamente variável, além do erro experi­mental. Em conseqüência direta dessa pressuposição, o grau de confiança

estatística tem sido substituído pela replicação como um meio de avaliar os dados. Muitos desses psicólogos que reconhecem as limitações da avaliação estatística justificam-na, apesar de tudo, como sendo o melhor método disponível para organizar um tema de estudos recalcitrante. Esta filosofia tem recebido considerável apoio em pírico na psicologia, assim

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140 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

como acontece na tradição oposta da física. Em razão da doutrina da

variabilidade natural do comportamento parecer ter sido correta, até recentemente, os dados sobre os quais a maioria do interesse sistemático corrente está concentrado têm sido produzidos por experimentadores

que operam dentro da doutrina. Se esses dados continuarão ou não a

ser úteis a uma ciência do comportamento, dependerá das alternativas

disponíveis.

A inda não se demonstrou pela evidência experimental que a

suposição de variabilidade intrínseca do comportamento seja falsa. Além

disso, é possível que nunca seja demonstrado, porque é d if íc il provar uma

negativa. Entretanto, d ific ilm ente se poderá .dizer que a psicologia alcançou os limites da precisão no seu controle e nas técnicas de mensu- ração. Antes que se possam oferecer razões convincentes na defesa da variabilidade intrínseca, será necessário desenvolver uma ordem elevada de precisão técnica. Enquanto isso, a aceitação prematura da variabilidade intrínseca, como propriedade básica do comportamento, levou à adoção dos planos experimentais cuja natureza impede efetivamente umá^investi- gação mais extensa do problema. O planejamento estatístico experi­mental adota a variabilidade como ponto de partida na avaliação de dados.

A variabilidade pode ser medida, e mesmo usada como um dado, mas não pode ser eliminada sem que se destrua a estratégia experimental.

À medida que uma análise de tais tipos e fontes de variabilidade bem como a citação de planos experimentais provenientes dessa análise

tornarem-se claros, vão existir alternativas para a estratégia atualmente predominante. A principal alternativa é a de tratar as variações como exemplos de ordenamento, em vez de extravagâncias da natureza. Tal abordagem, se bem sucedida, irá circunscrever severamente a doutrina da

variabilidade natural. Para se tra ta r qualquer exemplo dado de variabili­

dade como uma manifestação de um processo ordenado, precisamos não

somente identificar a fonte da variabilidade, mas também o seu controle. Cada vez que se realiza esse controle, a variabilidade perde mais um apoio.

A conseqüência mais imediata para o praticante dessa estratégia será a crescente insatisfação com muitos dos dados da psicologia experimental. Como a noção de variabilidade intrínseca se torna cada vez mais uma base

limitada para a ação no laboratório, o corpo tota l de dados experi­mentais existente, baseados naquela noção, torna-se cada vez menos relevante para a compreensão da própria matéria de estudo. Isto não deveria constitu ir um problema sério para os estudantes, que quase sempre estão ansiosos por se libertar da tradição e começar novamente. É mais d ifíc il para nós que supomos ser professores. Muitas vezes não gostamos de

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V A R IA B IL ID A D E 141

nos descartar de dados obtidos com dificuldade, recolhidos por nós, ou por

nossos respeitáveis professores, colegas e contemporâneos.

Minha breve comparação do tratamento da variabilidade na psico­logia e na física não fo i um prelúdio para uma justificação mais ampla de que a psicologia im ite a física. O contraste fo i apresentado somente como um método para esclarecimento da situação corrente em psicologia. O conceito de constância na física clássica pode mesmo ser encarado como um erro que a psicologia não deveria repetir, pois a física moderna está profundamente envolvida num setor de fenômeno em que a variabilidade é a regra. Essa modificação, porém, não é uma questão de filosofia; fo i forçada pelos dados. E os dados que necessitavam de mudança jamais poderiam ser obtidos se a variabilidade natural tivesse sido aceita desde o começo. A essência d ifíc il da variabilidade intrínseca fo i aceita somente

depois que os erros de medida foram reduzidos a uma significação quantitativa, e depois que a exploração de fatores possivelmente contri­buintes deixaram de eliminar a variabilidade. Poucos psicólogos iriam

alegar que a sua ciência teria realizado esse estado de sofisticação. Temos um longo caminho a percorrer antes de provar convincentemente que a variabilidade observada em qualquer experimento determinado seja irre­dutível.

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oooooQo

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5 variabilidade intrínseca versus variabilidade imposta

Suponhamos que assuminos a posição de que a variabilidade não seja intrínseca ao comportamento. Que concepção alternativa poderemos ter para explicar o fato de que a variabilidade seja observada? Se a variabili­dade não é uma propriedade natural do comportamento em si, a única possibilidade que resta é que nós impomos variabilidade ao comporta­mento por meio das nossas operações experimentais.

Se a variabilidade fo r mais imposta do que intrínseca aos dados, ela poderá então ser explicada por demonstrações nas quais a variabilidade seja eliminada pela manipulação experimental. Depois que fatores respon­sáveis por qualquer exemplo dado de variabilidade tiverem sido identifi­cados, este exemplo especial não mais existirá. Será removido do campo do indeterminismo e assumirá o seu lugar dentro do corpo crescente das relações funcionais conhecidas entre os fenômenos comportamentais e as

condições de controle relevantes. A identificação experimental de uma fonte de variabilidade automaticamente implica em controle experimental, e depois de realizado o controle, quaisquer exemplos subseqüentes da variabilidade em questão deverão ser considerados como uma função do

experimentador, não do seu objeto de estudo.

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144 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

VARIAÇÕES TR ATAD AS COMO EXEMPLOS DE ORDENAMENTO

Demonstra-se que a variabilidade tem sido imposta aos dados pela

manipulação experimental de fatores, que se suspeita terem produzido as

variações.Por exemplo, depois de ter estabelecido uma linha de base comporta­

mental da mesma espécie em dois sujeitos, suponhamos que realizemos depois a mesma operação experimental em cada um deles. Podemos achar que a linha de base do comportamento se modifica, mas em direções opostas. Uma análise estatística poderia nos levar a concluir que a operação experimental não teve nenhum efeito maior do que aquele que poderia ter ocorrido por acaso. Mas lembrando a admoestação de Boring de que o acaso, usado desta forma, é simplesmente um sinônimo de ignorância (14), preferimos observar os dados novamente. Nossa interpretação é a de que a operação experimental às vezes tem um efeito e outras vezes o efeito oposto, dependendo de outras condições do experimento. 0 problema

agora é como dar substância a essa interpretação.0 método mais simples seria o de procurar as diferenças que foram

descuidadas ou ignoradas a partir da linha de base do comportamento dos dois sujeitos. Vamos supor, por exemplo, que o nosso dado é a freqüência de resposta, com a linha de base consistindo em uma freqüência estável, mantida por um esquema especial de reforçamento. Talvez, ao reexami­narmos a linha de base do comportamento, descubramos que as freqüências de resposta dos dois sujeitos não eram as mesmas. Isso nos poderia levar a suspeitar de que a linha de base da freqüência de resposta fosse um fa tor crítico , contribuindo para a variabilidade intersujeitos. Talvez nossa operação diminua as altas freqüências de resposta e aumente as baixas. Uma das formas que esta relação poderia assumir está ilustrada na Figura 11. Vemos a í que há uma linha de base de freqüência de resposta X, que não está afetada pela operação experimental. Freqüências

de linha de base abaixo desse ponto de equ ilíb rio são aumentadas pela

variável independente, embora as freqüências acima do ponto de igualdade tenham dim inuído.

Podemos empregar cada um, ou ambos os procedimentos para verificar a nossa suspeita de que algum processo, como o ilustrado na Figura 11 seja responsável pela diferença entre os dois sujeitos. O primeiro

método seria testar os sujeitos adicionais e observar se há uma correlação entre a freqüência de resposta de linha de base, e a direção da mudança induzida pela variável independente ou manipulada. Entretanto, uma correlação baixa poderia ser mal conduzida, em razão de um. tipo de

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 145

variabilidade que entre em outro nível. 0 que parece ser uma alta

freqüência de resposta para um sujeito, enquanto medida pelos efeitos da

nossa operação experimental, bem pode ser uma freqüência baixa para algum outro sujeito. Outra maneira de dizer isso é que a colocação do

ponto de igualdade que se vê na Figura 11 pode variar entre sujeitos diferentes. Assim, a mesma freqüência da linha de base poderia crescer para um sujeito e d im inu ir para outro. Dependendo do montante e da distribuição desse segundo tipo de variabilidade na nossa população de sujeitos, poderemos ou não ser capazes de observar a correlação que estamos buscando.

0 segundo método de verificar a fonte de variabilidade envolve a manipulação direta do comportamento da linha de base do nosso sujeito original. Se pudermos estabelecer novas linhas de base, nas quais os dois sujeitos troquem de posição em relação à freqüência de resposta, elas também podem inverter em relação ao efeito da operação experimental. Aqui não está envolvido nenhum problema estatístico. O que se requer

Baixa X AltaFreqüência de resposta da linha de base

Figura 11. Dados hipotéticos que indicam como o efeito de alguma operação experimental sobre a freqüência de resposta depende da freqüência do comporta­mento da linha de base cuja mudança é medida.

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146 TÁTIC AS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

simplesmente é que uma tecnologia comportamental suficientemente

desenvolvida nos forneça o know-how experimental para a manipulação do comportamento dos nossos sujeitos nos níveis desejados. Deveríamos,

de fato, possuir vários métodos para alterar as freqüências de resposta.

Somente assim poderemos avaliar a extensão de que o efeito da nossa operação experimental original é uma função da freqüência de resposta em

si, independentemente do nosso método de gerar a freqüência de resposta.

Se formos capazes, com os nossos dois sujeitos, de inverter o efeito da

variável independente, à vontade, manipulando simplesmente as freqüên­cias de resposta da linha de base, o nosso experimento então constituirá uma demonstração bem sucedida da variabilidade imposta.

0 que teria acontecido se o experimento original tivesse sido realizado de acordo com o tradicional plano de estatística de grupo? Vamos preparar este experimento e examinar as possibilidades. Selecio­nemos antes um grupo grande de sujeitos de acordo com algum proce­dimento ao acaso, e continuemos a estabelecer a linha de base comporta­mental da qual deveremos medir os efeitos da nossa operação experi­mental. Depois que a freqüência de resposta da linha de base ficar estável com respeito à média do grupo e sua variação, iremos administrar a variável independente. O le ito r lembrar-se-á de que o efeito da variável independente irá ser uma função do desempenho da linha de base do sujeito, mas o experimentador não o sabe. Sua manipulação experimental irá d im inu ir a freqüência de resposta dos sujeitos cuja linha de base é baixa. Os dados resultantes, no entanto, irão depender da distribuição da população dos sujeitos em freqüências de linha de base altas, baixas e

A Figura 12 ilustra três das muitas distribuições possíveis de população. Na seção A temos uma distribuição bimodal de freqüências de

linha de base. Como seriam os dados do grupo se fosse uma representação

verdadeira da população de onde tiramos nossos sujeitos? A manipulação

dim inuí-la nos de alta freqüência. Desde que a distribuição seja simétrica

em torno de um valor intermediário, não haveria nenhuma mudança na média da freqüência de resposta para todo o grupo, embora a variabilidade

intersujeitos pudesse dim inuir. Facilmente se poderia concluir que a operação experimental não tinha nenhum efeito estatisticamente signifi­cativo. Entretanto, se houvesse uma preponderância marcada de sujeitos com linha de base baixa na população, como está representada na secção B, a estatística poderia concluir que a operação aumenta a freqüência de resposta. Com uma distribuição cujo modo está na região de alta-

intermediárias.

experimental iria aumentar a resposta nos sujeitos de baixa freqüência e

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 147

Freqüência da linha de base

Figura 12. Très maneiras possíveis de distribuir freqüências de linha de base de valores diferentes entre uma população de sujeitos.

-freqüência (secção C), a conclusão poderia ser invertida, porque a

maioria dos sujeitos iria exib ir uma freqüência de resposta rebaixada, como uma função da variável independente. Em nanhuma dessas circunstâncias a generalização seria correta.

O experimento original, no entanto, realizado com dois sujeitos somente, está exposto a um erro similar da tendência da população. Se, por exemplo, a distribuição da população tivesse o seu pico na região das linhas de base baixas, haveria uma boa chance de que ambos os sujeitos tivessem sido extraídos dessa região. Desse modo, ambos iriam mostrar uma freqüência aumentada, e assim pareceriam justificar uma generali­zação incorreta.

Infelizmente, essa possibilidade é muitas vezes usada para justificar dados de grupo como nos pequenos experimentos N. Uma pequena amostra não pode encerrar todas as variações que existem em uma população. A tendência mais forte, de fato, é que uma pequena amostra represente as características modais de uma população. Mas sempre existe a possibilidade de que os extremos tenham sido selecionados, e de que os dados obtidos nesses casos relativamente especiais serão generali­

zados para o resto da população. Estes temores são bem fundados. Mas o problema deveria ser resolvido com dados de grupo? 0 estudante deveria reconhecer que os dados de grupo não só não podem resolver esse problema, como tornam realmente impossível sua solução. Como já disse

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148 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

anteriormente, os dados de grupo nem revelam, nem eliminam a varia­

bilidade da população. Num caso como o que vimos discutindo, onde o

fa tor que realça a variabilidade está, ele mesmo, d is tribu ído desigualmente entre a população, os dados de grupo também impedirão o reconheci­

mento de que o problema não existe de modo algum.O problema é o das diferenças nas relações funcionais entre uma

série de variáveis de controle e o comportamento de um número de indivíduos. A menos que as estatísticas do grupo sejam abandonadas e os dados dos sujeitos individuais examinados, não há nenhuma virtude em um N grande. E se os dados individuais forem utilizados assim, o experi­mento de "g ru p o " será transformado num plano baseado na replicação direta intersujeitos, como está descrita no C apítulo 3. Isso nos proporciona a chave do nosso problema.

A única maneira pela qual se pode detectar a inclinação de uma população, do tipo que nos tem preçcupado, é através da replicação, direta ou sistemática, com sujeitos individuais. A média do grupo pode ser

replicada um número in fin ito de vezes, mas a tendência da população jamais se revelará, porque também será replicada, e a variabilidade natural somente ficará mais "firm em ente estabelecida". Aqui temos um caso em que a replicação das médias do grupo podem servir somente para

perpetuar um erro, embora a replicação com sujeitos individuais seja inevitavelmente auto-corretivas. Se a possibilidade de erro não puder ser

eliminada, o caminho mais sábio a seguir será o uso de procedimentos

que eventualmente serão capazes de detectar o erro.Para voltarmos a nossa demonstração da variabilidade imposta,

podemos notar que realmente realizamos m uito mais nesse experimento hipotético. Quando invertemos o desempenho da linha de base dos nossos dois sujeitos, também invertemos a direção das suas reações à operação experimental. Por essa técnica, não somente expusemos e controlamos

uma fonte de variabilidadé dos dados, mas também realizamos uma replicação sistemática que m uito ampliou a nossa confiança na fidedigni-

dade e generalidade dos resultados. Somos capazes de tom ar os dados

aparentemente discordantes de dois sujeitos e, com a manipulação de uma fonte de variabilidade, mostrar que os dados discrepantes constitu íam

realmente dois pontos ao longo do mesmo continuum . Controlando uma fonte de variabilidade aumentamos nossa confiança na fidedignidade de ambos os conjuntos de dados aparentemente contraditórios. A técnica replicativa que empregamos é uma variante do método de afirmação da conseqüente.

No processo de unificação de conjuntos de dados aparentemente

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discrepantes também ampliamos bastante a generalidade dos resultados. 0

principal teste de generalidade é a replicação, e fontes conhecidas ou desconhecidas de variabilidade são as únicas barreiras em potencial para a

replicação. No presente caso hipotético temos agora um princíp io disponível por meio do qual pudemos explicar e mesmo eliminar uma porção da variabilidade que os sujeitos adicionais poderiam ter demons­trado na tentativa replicativa. Temos, num certo sentido, aumentada a generalidade de nossos dados, mesmo antes de tentar qualquer replicação

adicional.Buscar as fontes de variabilidade é assim uma técnica fundamental

para estabelecer a generalidade. A generalidade e a variabilidade são basicamente conceitos aritméticos. E se houver fontes importantes de variabilidade não descobertas, num determinado conjunto de dados, qualquer tentativa de se realizar a generalidade do sujeito ou do princíp io, provavelmente falhará. Cada vez que se descobrir e realizar o controle de um fa to r que contribua para a variabilidade, aumentamos a probabilidade de que esses dados possam ser reproduzidos com novos sujeitos e em diferentes situações. A experiência nos tem ensinado que a precisão de controle leva a uma generalização mais extensiva dos dados.

Algumas vezes se discute o caso oposto. Sustenta-se que quanto mais estritamente controlarmos nossa situação experimental, tanto menos os nossos dados serão aplicáveis a condições diferentes. Uma forma

extremada dessa posição é a afirmação freqüentemente ouvida de que os dados comportamentais de laboratório são restritos demais para que

sejam generalizados para o mundo real, onde se precisa lidar com uma multidão de variáveis. Isso envolve uma concepção básica má da técnica de

se eliminar a variabilidade através do controle experimental. 0 controle de uma variável não implica em que ela tenha sido ignorada. 0 melhor tip o de

controle experimental sobre uma variável não é obtido pela sua eliminação.

Na verdade, isso raramente é possível. O controle experimental é realizado pela deliberada manipulação das variáveis de forma sistemática, para que seus efeitos possam ser compreendidos. Não há nenhum mérito em usar o mundo "re a l" como nosso laboratório se as variáveis envolvidas têm conseqüências mal definidas, ou, como ocorre freqüentemente, se não são nem mesmo conhecidas. A variabilidade resultante em nossos dados provavelmente será maior do que os efeitos produzidos pelos fatores em que o nosso interesse se concentra. A investigação experimental das fontes de variabilidade de nossos dados conduz a uma maior compreensão dos fenômenos em investigação. A aceitação da variabilidade como, inevitável ou, em algum sentido, como representativa, do "m undo real"é

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150 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

uma filosofia que conduz à ignorância de fatores relevantes. Quando uma ampla variabilidade é encontrada em uma investigação, é de boa prática presumir que uma "grande" variável (ou conjunto de variáveis) esteja envolvida. Se as diferenças entre os dados de vários sujeitos forem tão

grandes que obscureçam os efeitos de um fa to r deliberadamente mani­pulado, é provável que o experimentador tenha cometido um erro de julgamento na orientação da sua pesquisa. Achará proveitoso mudar o seu

curso' e examinar os fatores cujos efeitos não controlados avultam tão

amplamente em seus dados. Esse é um método de teste do tem po para

descobrir as variáveis principais.Voltemos mais uma vez ao nosso experimento hipotético no qual

solucionamos as diferenças intersujeitos pela manipulação da fonte principal de variabilidade. Poder-se-ia objetar que nossa análise da variabilidade entre os dois sujeitos desse experimento fosse espureamente bem sucedida. Nossa explicação de variabilidade produzida pela operação experimental fo i realizada somente pelo apelo à variabilidade em outro nível — no comportamento da linha de base. Por que, se os organismos foram tratados da mesma forma, houve uma diferença no seu comporta­mento anterior à introdução da variável experimental? Seria esta então a porta pela qual entra a variabilidade intrínseca?

Antes de continuar a discussão desta questão, preciso salientar que este problema é irrelevante para a avaliação do experimento original. Demonstramos com nosso exemplo, que a diferença original entre os sujeitos era legítima, capaz de manipulação por meio de operações que

podiam ser especificadas e repetidas. Essa diferença não pode mais ser atribuída a qualquer variabilidade intrínseca nos efeitos da nossa mani­

pulação experimental. É preciso que se julgue que os dados sejam orde­nados, e não atribuíveis ao acaso. A avaliação dos dados tem sido realizada

mais pela manipulação experimental do que pela estatística. A variabili­

dade da linha de base torna-se um problema no caso do nosso interesse experimental ser d irig ido para o comportamento da linha de base como

um problema em si mesmo, ou se estivermos preocupados com o problema geral da variabilidade em si. A questão, linha de base intrinsecamente

variável, torna-se então uma conseqüência relevante, de d ire ito próprio,

independentemente dos dados após-linha de base. O que se exige agora é uma verificação experimental da natureza da variabilidade da linha de base para determinar se fo i imposta ou se é intrínseca.

Como empreender a avaliação da variabilidade da linha de base? Um dos métodos e'examinar a história comportamental dos organismos em questão. Por exemplo: um deles pode ter sido exposto a uma organização

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experimental (ou mesmo a um experimento não controlado) na qual fo i

gerado um comportamento eficientemente espaçado. Talvez essa forma eficiente de comportamento persistisse nas condições que organizamos para provocar o comportamento da linha de base, e resultasse numa baixa freqüência de resposta. Como anteriormente, podemos testar as possibili­dades pela manipulação sistemática das variáveis que suspeitamos serem relevantes. Poderíamos, por exemplo, expor deliberadamente os nossos sujeitos a condições que sejam conhecidas para produzir o comportamento eficientemente espaçado, e assim deliberadamente edificar uma história comportamental que pudesse ser especificada. Podemos então estabelecer nossa linha de base e observar se a freqüência, de resposta seria de fato uma função desse fa tor histórico particular. Se fo r observada uma relação ordenada, podemos proceder então à replicação sistemática, produzindo histórias semelhantes de resposta eficiente por meio de operações experi­mentais diferentes. O sucesso nesse trabalho seria uma vitória completa a ser imposta à variabilidade intrínseca. Mesmo que sejamos incapazes de identificar a história em particular que era responsável pela variabilidade

da linha de base em nosso experimento original, o encargo explanatório terá sido mudado de fatores desconhecidos ou casuais para potencialmente identificáveis e reprodutíveis. Neste caso, não há o apelo para um grau diferente de variabilidade.

Há sempre a possibilidade de que a manipulação da história do comportamento do sujeito possa deixar de revelar as fontes da variabili­dade da linha de base. Neste caso, precisaremos recorrer a um tipo de

análise mais sutil. Nenhuma linha de base comportamental é tão simples quanto as nossas descrições tentam fazer com que pareçam. Descrevendo

qualquer fenômeno natural, e o comportamento é apenas um exemplo, sempre simplificamos, abstraindo os aspectos que são ordenados e

passíveis de integração sistemática. Quando descobrimos que as especifi­cações que escolhemos para abstrair em uma amostra de comportamento demonstra uma relação variável com nossas manipulações experimentais,

poderemos estar justificados por suspeitar da adequação de nossa seleção.

Talvez nossa especificação original do comportamento da linha de base habitualmente não esteja sendo feita em termos de freqüência de resposta, mas sim em termos de freqüência de reforçamento. No caso do comportamento mantido por Um esquema de reforçamento em intervalo- -variável, freqüentemente especificamos só o tempo médio entre os reforços, ao descrevermos a linha de base. Mas as exigências de uma fita de programação intervalo-variável podem ser satisfeitas por qualquer uma da

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igura 13. Um fracasso aparente em replicar uma relação funcional em todos os sujeitos (Herrnstein, 42.)

l 5 2 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

ampla série de freqüências de resposta. Podemos achar que uma manipu­lação experimental cujos efeitos mantenham somente uma relação desor­denada com a freqüência de reforço, entrará perfeitamente na linha,

quando relacionada com a freqüência de resposta.Um exemplo excelente de um caso como esse é encontrado num

experimento realizado por R J. Herrnstein (42). Usou três pombos como

sujeitos, mantendo seu comportamento de bicar a chave por meiò de um esquema de reforçamento de alimento com intervalo-variável. A ope­

ração experimental consistia, em parte, de interrupções ocasionais do experimento. Estas eram realizadas apagando-se a luz do espaço experi­

mental e ao mesmo tempo desligando-se a chave de resposta do alimen-

tador, a fim de que nenhum reforço pudesse ser obtido durante os períodos de "descanso". A segunda parte da operação experimental era mudar a cor da iluminação da chave de resposta 30 segundos antes de cada período de descanso. Seu interesse estava concentrado no desem­penho do animal durante este sinal de aviso, anterior ao tem po de descanso. Media a freqüência de resposta durante este período compa-

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rando-o com um background de vários esquemas diferentes de intervalo-va-

riável.A Figura 13 mostra a razão da freqüência de resposta durante o

sinal de aviso (W) para a freqüência na ausência do sinal de aviso (VI).

Essa razão é posta no gráfico tanto em função do tempo médio entre os reforços, como determinada pelo esquema de intervalo-variável. Dois dos animais, S-1 e S-3, mostraram uma relação similar e relativamente ordenada. À medida que a freqüência de reforço crescia, a razão das duas

freqüências de resposta decrescia. A análise adicional dos dados demons­

trava que o declínio da razão era a resultante tanto do aumento da freqüência V I, como da diminuição da freqüência do sinal de aviso, enquanto freqüências maiores de reforço eram programadas.

O terceiro sujeito, no entanto, desviava-se acentuadamente dos outros dois. Para S-2 a razão das freqüências de resposta aumentava com a freqüência de reforço. Seria essa a variabilidade intrínseca? Herrnstein

pensava que não, porque havia notado um aspecto interessante nas

Figura 14. A replicação bem sucedida das relações funcionais em todos os três animais depois da especificação adequada das variáveis de controle (Dados re-

-assinalados por Herrnstein, 42.)

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154 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

freqüências de resposta do S-2. Em vez de aumentarem como uma função da freqüência de reforço, como fo i o caso dos dois outros sujeitos,

a freqüência V I do S-2 permanecia constante numa ampla série de intervalos de reforçamento. 0 S-2 havia aparentemente desenvolvido o que se conhece por "freqüência-trancada", que torna a freqüência de resposta

insensível à freqüência de reforçamento, tanto quanto a um número de outras variáveis (veja pp. 172-173).

À luz desses dados, Herrnstein realizava dois tipos adicionais de operação. Primeiro, tom ou providências para eliminar a freqüência trancada e, uma vez conseguida, tornou a determinar alguns dos pontos originais da Figura 13. Então, em vez de se desfazer dos seus dados originais, procurou a consistência por meio de uma especificação alterna­tiva da linha de base. Em vez de descrevê-la em termos de freqüência de reforçamento, passou para a freqüência de resposta. Quando os dados foram postos no gráfico como uma função da freqüência de resposta da linha de base, em vez de freqüência de reforçamento, as relações da Figura 14 foram obtidas, de maneira geral consistentes para todos os três sujeitos e estabelecendo que a variabilidade original intra-sujeitos resul­tava de uma especificação inadequada das variáveis de controle.

Podemos esperar encontrar vários problemas deste tipo. Como já

salientei alhures, os psicólogos ainda não entraram em acordo sobre as variáveis cuja especificação fundamentará sua ciência. A té que chegue essa hora, não poderemos tratar superficialmente a variabilidade atribuindo-a a

fontes não controladas.

O PAPEL DAS RELAÇÕES FUNCIONAIS NA A V A L IA Ç Ã O DOS DADOS DAS V A R IÁ V E IS

Se um exemplo de variabilidade não puder ser explicado pela manipulação da história do comportamento, ou pela especificação mais adequada das variáveis correntes relevantes, precisaremos nos voltar para um tipo mais complexo de análise experimental. Esse é o estudo paramé­trico das variáveis suspeitas de serem relavantes para o fenômeno em questão. O comportamento é suficientemente complexo para tornar impossível estudar todas as variáveis relevantes simultaneamente. Entre­tanto, na maneira clássica de experimentação, tentamps manter a constância de todas as variáveis exceto aquelas em que estamos interes­sados no momento. Quando, por meio da replicação sistemática, podemos

demonstrar a irrelevância de certas variáveis, ficamos encantados, porque

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assim aumentamos a generalidade de nossas descobertas e, ao mesmo

tempo, tornamos mais leve a nossa tarefa experimental. Mas, em nossas

preocupações com o rigor c ientífico , freqüentemente nos esquecemos de

que as variáveis, mantidas quantitativamente constantes, não exercem

necessariamente um efeito constante através de todas as fases do

experimento.

Voltando ao nosso hipotético exemplo anterior (p. 144); vamos supor que nossa tentativa de explicar a variabilidade em termos das diferenças do comportamento da linha de base tenha sido mal sucedida. A manipulação adequada das variáveis históricas ou atuais da linha de base não apagaram as diferenças entre os dois sujeitos. Poderíamos colocar a fonte de variabilidade em algum fa tor que entrasse no quadro somente depois que a operação experimental fosse introduzida? Podemos, por exemplo, possuir dados indicando que o estado de privação de alimento não tem efeito sobre o comportamento da linha de base. Apesar disso, os dados relacionados, ou mesmo simples "palp ites", podem fazer com que suspeitemos de que a variabilidade seja explicável como uma função do grau de privação de alimento. Se nosso palpite fo r correto, a privação de alimento deve ser considerada como uma variável oculta, não exercendo nenhum controle sobre o comportamento, até que uma nova série de condições de manutenção seja introduzida.

Prosseguimos então variando sistematicamente o grau de fome dos dois sujeitos. Se fôssemos felizes em nossos palpites, poderíamos obter dados semelhantes similares aos que estão representados na Figura 15. Como background para esses dados, vamos adm itir que no experimento

original o comportamento da linha de base fo i originado quando os

sujeitos foram privados de alimento durante 24 horas, e que esse nível de fome fo i mantido durante a exposição inicial em condições experimentais.

Em benefício da ilustração vamos também escolher como nossa medida comportamental o número de respostas por unidade de tempo, ou

freqüência de resposta.Os dados hipotéticos da Figura 15 foram obtidos da seguinte

maneira. Primeiramente fizemos com que os animais voltassem às condições da linha de base e suas freqüências de resposta foram medidas depois de vários períodos diferentes de privação de alimento. Para a sim pli­

cidade, vamos adm itir que a linha de base de ambos os sujeitos era

idêntica e insensível à privação de alimento. Isso está representado pela linha horizontal, que nos diz que ambos os sujeitos mantiveram uma freqüência de linha de base de cinco respostas por m inuto em todos os níveis de privação.

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156 t á t ic a s d a p e s q u is a c ie n t if ic a

Horas de privação de alimento

Figura 15. Uma ilustração de como a privação de alimento, que não influencia o com portam ento da linha de base, pode se tornar um fa to r relevante depois de uma mudança das condições experimentais, e pode contar para a variabilidade inter- sujeitos.

Depois introduzimos nossa variável experimental, ou independente, e novamente medimos as freqüências de resposta depois de vários períodos diferentes de privação de alimento. Observamos agora que os dois sujeitos desenvolvem curvas caracteríticas, cada uma delas sensível,

mas de maneira diferenciada, à privação de alimento. Depois da introdução da variável independente, a freqüência de resposta para ambos os sujeitos

aumenta, com o uma função da prolongada privação de alimento. Embora

a privação não seja um fator de controle na manutenção do com porta­mento da linha de base, entre poderosamente no quadro, depois que uma variável independente á introduzida. Quando o comportamento fica sob o contro le da nova variável, coincidentemente, fica também sob o controle da privação.

As funções pensadas até agora, em nossa amostra hipotética, que

relacionam freqüência de resposta e privação, são notavelmente seme­lhantes na f orma para ambos os sujeitos. A maioria dos psicólogos

experimentais ficaria muito contente em atingir o grau de consistência de um suje jto para oUt r0j qUe aparece na Figura 15. Mas há diferenças

quantita tivas entre as duas curvas, e essas diferenças bem poderiam ser responsáveis pelas diferenças intersujeitos que observamos em nosso

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V A R IA B IL ID A D E IN TpiN S EC A VERSUS IMPOSTA 157

primeiro experimento. A relação entre essas funções e a nossa observação original de variabilidade tornar-se-á aparente se confinarmos a nossa

atenção imediata naquelas freqüências de resposta obtidas com o nível de

privação de 24 horas. Esse é o grau de privação que fo i mantido durante

todo o experimento original.Sob as condições da linha de base, estabelecidas antes da operação

experimental, ambos os sujeitos respondem com uma freqüência de cinco respostas por m inuto. Entretanto, em seguida à operação experimental, o Sujeito A passa para cerca de uma resposta por m inuto, enquanto o Sujeito B aumenta" sua freqüência aproximadamente para o ito por

m inuto. A freqüência de resposta de um sujeito dim inuiu, enquanto a do outro aumentou como uma função da mesma operação. 0 que não

sabíamos em nosso experimento original era que, juntamente com a manipulação experimental deliberada também introduzimos a privação como uma variável relevante. Desse modo, colocamos cada sujeito no

ponto das 24 horas na sua própria curva de privação versus freqüência. Para um sujeito, este ponto produzia uma freqüência mais alta do que o

nível da linha de base, e para o outro, uma freqüência mais baixa.Se tivéssemos empregado um período de privação de 60 horas,

ambos os sujeitos teriam mostrado uma freqüência de resposta aumentada

e m uito semelhante com uma função da operação experimental. Se tivéssemos usado um nível de privação de 12 horas, ambos os sujeitos teriam mostrado uma freqüência mais baixa. Em ambos os casos anteriores, jamais saberíamos que o problema estava ali. Em ambos os casos, talvez tivéssemos sido apanhados numa falsa generalização.

Somente expondo e perseguindo as principais fontes de variabili­dade, é possível atingir a verdadeira generalidade. Como resultado de nossa investigação hipotética, estaríamos em posição de fazer uma especifi­cação mais completa dos efeitos da nossa manipulação experim ental. Com efeito, teríamos demonstrado que os dados de ambos os sujeitos do experimento original estavam corretos. A ampla diferença entre os dois sujeitos depois da manipulação experimental inicial era a conseqüência de uma diferença entre sujeitos relativamente pequena na inclinação das curvas ligando a freqüência de resposta à privação de alimento. Embora a

privação de alimento tivesse sido mantida constante, através do experi­mento inicial, seus efeitos sobre a freqüência de resposta não permane­ceram invariáveis, tanto durante a fase de linha de base quanto durante a fase de experimentação. Os resultados do nosso experimento inicial, no entanto, realmente refletiam processos ordenados e não alguma forma de quase-caos. Aum entar o número de sujeitos e tratar estatisticamente os

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158 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

resultados combinados não teve como resultado a revelação de ordenação

básica dos dados.Novamente podemos ter explicado aqui a variabilidade dos dados

nas quais estamos principalmente interessados, mas somente a custo da

posição da variabilidade em outro nível. Se tivermos que promover

a conclusão do assunto, teremos que enfrentar o problema de explicar a

diferença entre os dois sujeitos, com respeito aos parâmetros da função freqüência versus privação. Nossa solução de forma nenhuma estabeleceu

o problema geral da possibilidade da existência efetiva da variabilidade intrínseca no comportamento. Simplesmente, removemos uma fonte de variabilidade de uma relação funcional e colocamo-la um passo à frente

em outra relação.O processo poderia continuar em in fin ita regressão, enquanto

houvesse ali variáveis remanescentes e combinações de variáveis a serem investigadas. Não há nada basicamente indesejável nessa situação. Como continuamos a identificar fontes de variabilidade em experimentos sucessivos removemos uma porção cada vez mais ampla do nosso tema de

estudo do dom ín io da variabilidade intrínseca. A regressão será detida em qualquer ponto em que: a) a variabilidade não fo r mais encontrada; b) a

variabilidade ficar tão pequena e tão não sistemática que possamos atribuí-la a variações não controladas mas sem importância em nossas técnicas; c) definitivamente, poder-se-á demonstrar que a variabilidade tem sido imposta pelo experimentador; d) será finalmente descoberta uma classe de fenômenos comportamentais que possua realmente variabilidade inerente. Como no caso da física, a últim a eventualmente abrirá novas e

excitantes áreas de pesquisa. Mas ainda temos um longo caminho a

percorrer antes que essa façanha se torne possível. Enquanto isso, há

outras fontes de variabilidade a serem consideradas, assim como os

métodos para lidar com eles.

V A R IA B IL ID A D E PRO DUZIDA PELO CONTROLE COMPORTAMENTAL FRACO

Um dos mais desencorajantes e, ao mesmo tempo, desafiantes aspectos da ciência comportamental é a sensibilidade do comportamento a um tremendo exército de variáveis. Há poucas condições a que se pode expor um organismo experimental, sem que se observe alguma mudança. Embora na estrutura experimental mais rigorosa, o organismo esteja continuadamente exposto a mudanças do seu ambiente. No mínim o.

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 159

estas serão limitadas a mudanças que ocorrem como um resultado do seu próprio comportamento, e as variáveis relacionadas com a duração da exposição à situação experimental. No caso mais comum, haverá também variações em fatores cofno temperatura, umidade, ruídos, sono, fome, sede, ciclos sexuais, e muitos outros. Além disso, há mudanças fisiológicas, cuja função conhecida é regular à economia interna do organismo, mas cujos efeitos também podem se estender ao comportamento. Variáveis como essas, a menos que sejam em si mesmas o objeto da investigação, são geralmente consideradas fatores "pertubadores". O experimentador prefe­riria não ter que considerá-las um experimento específico, embora possa estar bem consciente da sua importância num quadro geral sistemático. Quando possível, elimina-se ou estabiliza-as por meio do controle experi­

mental, mas nem sempre isso é possível. A combinação da capacidade exigida, tempo disponível e recursos financeiros, nem sempre pode ser

alcançada.

O reconhecimento destes fatores tem contribu ído para a aceitação

sem protestos, por parte do psicólogo, de uma filosofia estatística da

experimentação. Mesmo que estes fatores fossem controláveis, surge algumas vezes o debate, por que desperdiçar o trabalho experimental

adicional e os custos, quando os efeitos das variáveis "irrelevantes" poderiam ser eliminados estatisticamente?

Mas as variáveis não são canceladas estatisticamente. Simplesmente são enterradas para que seus efeitos não possam ser vistos.

O fundamento lógico para a imobilização estatística de variáveis indesejáveis é baseado na suposição da natureza casual de tais variáveis. Num grupo amplo de sujeitos, continua o raciocínio: os fatores não controlados modificarão o comportamento de alguns sujeitos em uma direção e afetarão os sujeitos restantes na direção oposta. Quando os dados representam a média de todos os sujéitos, os efeitos das variáveis não controladas são considerados como equivalentes algebricamente a zero. Então os dados compostos são vistos como se fossem represen­tativos de um sujeito ideal, que jamais fo i exposto a variáveis não controladas.

A suposição de casualidade com respeito às variáveis não controladas não só não fo i testada, como também é altamente improvável. Existem

poucos, se é que existe algum, fenômenos casuais no mundo do comporta­mento. A razão principal talvez seja a interação que;age continuadamente entre' o comportamento e suas variáveis de controle. Quando se modifica em função de alguma variável, o comportamento muitas vezes, altera a

própria variável. Mesmo que isso não aconteça, o efeito de uma certa

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160 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

variável raramente é independente do estado corrente do comportamento. Enquanto o comportamento se modifica, o grau de influência da variável de controle também se modifica. Esta é apenas uma outra form a de declarar que o comportamento raramente sustenta uma relação simples linear com suas variáveis de controle. Em tais condições, a suposição de

casualidade é verdadeiramente insustentável.Ainda que fosse sustentável a suposição de casualidade, o controle

estatístico não seria uma solução satisfatória para o problema. As variáveis de controle interagem reciprocamente não somente com o comportamento, mas também entre si. O efeito de uma dada variável sobre o comportamento depende das propriedades quantitativas e quali­tativas de outras variáveis que estão presentes simultaneamente. Estas incluem não somente os fatores que o experimentador manipula direta­mente, mas também aquelas condições "irrelevantes" que o experi­mentador prefere não considerar. Mesmo que as variáveis específicas agissem casualmente num grupo de sujeitos, seria altamente improvável que grupos de tais variáveis combinassem de tal maneira a produzir

efeitos casuais.Finalmente, há a observação básica de que os estados comporta­

mentais persistem durante algum tempo, depois que suas variáveis de controle foram retiradas. Terei algo mais a dizer sobre essa característica do comportamento nos capítulos sobre o planejamento experimental. É importante citá-lo aqui, no entanto, em função do bloqueio que coloca no caminho do controle estatístico da variabilidade. Mesmo que uma variável

não controlada tivesse que exercer efeitos casuais no comportamento, seus

efeitos poderiam persistir depois que a variável casual desaparecesse. Quando reaparecesse, ou quando outras variáveis a substituíssem, o estado do comportamento não seria o mesmo. Assim, é possível para uma certa variável não controlada, se ocorresse com uma freqüência ligeira­mente maior do que outras dessas variáveis, assumir o controle relativa­mente completo e poderoso do comportamento em questão. Tudo quanto se exige é para que a variável não controlada reapareça toda vez, antes que os efeitos da sua ocorrência anterior tenham desaparecido. Haverá desse modo um processo cumulativo por meio do qual se pode gradualmente edificar o seu controle até mesmo onde se torna dominante sobre outros fatores. Este é essencialmente o processo que está envolvido na aquisição de comportamento "supersticioso" (82). Tem-se observada que reforços estranhos ocasionais, cujos efeitos são relativamente permanentes, estabe­lecem controle sobre o comportamento, com poder suficiente para anular deliberadamente as variáveis experimentais manipuladas.

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 161

Diante dessas considerações, não é provável que qualquer medida comportamental possa estar livre dos efeitos das variáveis não controladas,

simplesmente por manter a média sobre um grupo de sujeitos. A média será composta de medidas individuais que refletem efeitos diferenciais não casuais de todos os fatores da situação não controlados. A variabilidade

não controlada, embora não sendo vista, permanece presente nos dados. Qualquer avaliação dos dados de grupo precisa levar em conta essa

situação. Infelizmente, uma vez que o agrupamento de dados esconde esta variabilidade, estes não podem ser avaliados adequadamente.

Por exemplo: o grau de umidade normalmente mantido num certo

laboratório iria produzir variações significativas nos dados? O controle da umidade, não existindo tal conhecimento, poderá ser uma perda de

tempo; e, a menos que a umidade seja uma variável na qual o experimen­tador esteja interessado, por ela mesma ou por sua relevância sistemática, relutará em organizar um programa experimental para determinar a sua possível importância. O que irá fazer é observar as variações da umidade

natural que ocorrem e observar se elas estão correlacionadas de qualquer maneira importante e consistente com seus resultados experimentais.

Mesmo que observar uma relação importante, no entanto, provavelmente adotará um caminho diferente que não o de instalar aparelhos caros para o controle da umidade.

Antes de descrever esse procedimento, é importante notar um aspecto básico desse primeiro passo. É o emprego de dados individuais para determinar se a umidade é uma variável que exige controle deliberado. Em razão de possíveis interações, tanto com o comportamento, còmo com outras variáveis, os efeitos individuais podem ser amplos, mas discrepantes. Os dados médios podem esconder as divergências, mas os dados individuais revelarão a sua magnitude e importância. Ou pode haver amplos efeitos em somente alguns sujeitos e, assim, a significação estatística seria baixa apesar da significação experimental ser alta. Os dados individuais são capazes de revelar os efeitos das variáveis que os dados de grupo poderiam esconder.

Assim, o que aconteceria se fosse descoberto que a umidade real­mente contribui de modo importante para a variabilidade dos experi­mentos comportamentais? Variáveis indesejáveis do tipo que venho

considerando exercem o seu maior efeito sobre o comportamento que está sendo mantido de maneira fraca. Acredito que este seja um princípio suficientemente geral para justificar uma maneira prática de proceder: quando se encontra uma variabilidade intolerável, fortalece as variáveis que são diretamente resposáVeis pela manutenção do comportamento em questão. Por exemplo: no campo com que estou mais familiarizado,

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162^ á t ic a s d a p e s q u is a c ie n t i 'f ic a

poder se^^aumentgt. Q n jve| , je prjvação de alimento do sujeito, aumentar

a dimensão o reforcamento, aumentar a intensidade do choque, prover o comportamento . v , ,, , .. .

I nte d um ^ exteroceptivo, empregar estímulosfacilmente is c r i^ em g e ^ i, fazer uso do maior número possívelde variaveis e cçw. , . . . „ , . ,

^binacoes de variaveis que sao conhecidas, para exercer um alto grau de • » 1 r- » ,

. Controle experimental. Em outras palavras, em vez de tentar manipular . .. . » . .

diretamente variaveis estranhas, pode-se muitas vezes anular os seus e* . , . , .

, • „ . 6itos pelo estabelecimento de linhas de base que saorelativamente in*D

_ ehsíveis a sua influencia.O empreqo ,

^em sucedido desta técnica de lidar com a variabilidade depende da disB„ , . , . , _

.I , uhibilidade de um sistema de ipformacoes. A menos quese saiba algo so tw . . . ~ ~ j

re as variaveis que sao mais eficientes na manutençao do comportamento - , - , - ■ , , ,• • ■ u ^. , . , , um a to mvel, sera impossível eliminar a variabi idadeindesejada pela u , , ,

. ecnica de fortalecer o controle comportamental. O grau em que esta teç^.. , „ , . , . ..

‘ica é empregada, entao, e outro critério para avaliar oprogresso numa, ... . . área de investigação científica. Dados ordenados, não

danificados pel9 , x .• variabi idade proveniente de fatores estranhos, e assegu­

rados por meio K „explicitamente arranjos experimentais, nos quais estes fatores nao sao

mais poderosos e' ' rn'nac*os' indicam que os investigadores têm os dados

A e x te n s ã ^ à mã0-. . , „ , u de que essa técnica depende do conhecimento estabe­lecido pode ser li Hinvestigar os Estrada por um exemplo. Foi institu ído um projeto para

. 6^eitos da lesão localizada no cérebro de ratos, sobre ocomportamento , _ , . . . .mental selecio ^ara Proc*uzir uma linha de base comporta-„ ; m,| ______^HlOS, para começar, um procedimento que exigia que oanimai espaças^ Nsegundos para suas resPostas c'e Pressao a barra em pelo menos 20estável de N a n t ir a recompensa de alimento (94). Uma freqüência

destinava se a ^Ostas esPaÇadas durante um período de duas horas

das lesões c o r t i ^ ^ d8 ^aS8' 3 part' r c,ua* se mediam os efeitos„ Cais nroduzidas experimentalmente.Bem ante* . , ~ .

um obstáculo C,ue se atentassem as lesoes- no entanto, esbarramos comde manter ^ asPect0 comportamental desse empreendimento. Depois

freqüências d r' ' Ve' estave' durante a primeira hora da sessão, algumas dasdurante a resposta dos animais tornaram-se extremamente variáveis

animais p a s s a v ^ 3 hora‘ frec^ências 0)6 Pressão à barra declinaram e osassemelhava uma P°r?ao considerável de tempo numa atitude que sepressão à barr° s° na ^sse comportamento juntamente com as curvas derecebido rec 9 negativamente aceleradas, sugeria que os animais haviamsaciedade Co Pensas suficientes durante a primeira hora para produzir a

^'ção em que outras variáveis além do esquema de reforço

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 163

apareceram para dominar o comportamento. Dados anteriores no entanto,

mostravam que a saciedade é uma questão relativa, controlada por outras variáveis somadas à quantidade de alimento consumido. Esses dados podem ser resumidos, de maneira não m uito precisa, pela afirmação de que quanto mais favorável tornarmos um esquema de reforçamento alimentar, tanto mais o animal comerá. Em razão dessas descobertas, o caminho que escolhemos para elim inar a variabilidade e prolongar o desempenho estável da linha de base era diferente do que havia sido sugerido pelas nossas observações iniciais. Nossa primeira tendência tinha sido a de d im inuir a dimensão dos reforços e atrasando assim a saciedade. Realmente, no entanto, fizemos o oposto. Aumentamos a dimensão das recompensas. Por meio dessa operação anulamos com sucesso o efeito das variáveis indesejáveis, que estavam interferindo em nosso controle sobre o comporta­mento da linha de base. O reforço maior, em vez de produzir uma sacie­dade antecipada, aumentou o controle exercido pelo esquema de reforça­mento, até o ponto em que as variáveis não corïtroladas foram efetiva­

mente imobilizadas.Sem dúvida terá ocorrido ao estudante que essa técnica tem as suas

limitações. Aumentando a eficiência das variáveis de manutenção, prova­velmente se reduzirá a sensibilidade do comportamento, não somente às variáveis estranhas, mas também às variáveis principais em investigação.

Por exemplo: o comportamento mantido por certos esquemas de reforça­mento, nos quais um número fixo de respostas é exigido para cada reforço,

é reconhecido como sendo extremamente estável e resistente à influências estranhas. Também passa a ser extremamente resistente a um número de drogas que deprimem o comportamento mantido por outros esquemas de reforçamento. Se houver interesse na avaliação dos efeitos dessas drogas sobre o comportamento, não é preciso empregar o esquema de razão-fixa para dar ori.gem à linha de base, apesar da sua relativa insensibilidade às variáveis irrelevantes. Blough' sugeriu uma analogia evidente: "Se, para estudar as ondas de água, é desejável uma superfície de água calma como linha de base, não é necessário que se congele a água para se conseguir essa linha de base" (8, p. 343). Assim, uma certa soma de julgamento e tenta- tiva-e-erro precisa ser empregada pelo investigador, na seleção do método mais adequado para se obter uma relativa libertação da variabilidade indesejável. Ele não deve cometer o erro de escolher úm método que tprnará o comportamento insensível às variáveis de primordial interesse.

O controle comportamental fraco também pode resultar de um a1' escolha desajuizada dos valores quantitativos das variáveis que deverão

manter a linha de base. A Figura 16 apresenta um exemplo em potencial.

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164 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

I------------------------1 10 minutos

f ig u ra 16. O gráfico do centro revela um estado do comportamento que oscila entre os extremos da estabilidade mostrada nas curvas superior e in ferio r (Dados inéditos de Sidman, 73.)

Nesse experimento, qualquer um dos dois estímulos sempre estava

presente, dependendo do comportamento do sujeito (rato branco).

Quando o primeiro estímulo (S i) estava presente, cada resposta de pressão

à barra pelo animal servia para adiar o aparecimento do segundo estím ulo (S j) por 20 segundos. Sempre que o animal fizesse uma pausa de 20

segundos nas respostas, S2 aparecia. Se o animal deixasse de responder diante do S2 , receberia um choque e o S | reapareceria. Cada resposta no

S2 , no entanto, adiaria um choque e prolongaria a duração do S2.

Descobriu-se nesse estudo que o comportamento na presença de S! era em parte determinado pela extensão de tempo que cada resposta S2 adiava o choque. Vemos na Figura 16 que o montante de respostas no S i, declina, enquanto aumentamos o intervalo de adiamento do choque (Intervalo RS) na presença de S2 . Com um intervalo RS de 10 segundos, o sujeito emite a maioria das suas respostas na presença de S j . Com um

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 165

intervalo RS de 30 segundos, praticamente não há respostas na presença de S ^ Quando o intervalo RS é de 20 segundos, o desempenho em Sj é intermediário dos dois extremos. É essa curva intermediária que importa para a nossa presente discussão. Note que a freqüência de resposta tem dois valores. Períodos de freqüência relativamente estável são intermeados com platôs sem resposta. A freqüência estável é semelhante à da curva superior, enquanto os platôs se assemelham à curva inferior. O comporta­

mento, então, pode ser considerado como em estágio de transição entre a freqüência alta de resposta exibida na conjunção com um intervalo RS de 10 segundos, e a freqüência baixa associada com o intervalo RS de 30 segundos. O comportamento está “ balançando" entre as duas posições

extremas.Este estado de transição oscilante é um exemplo do controle

comportamental fraco que pode aparecer quando o controle flu tua entre dois valores quantitativos dc uma variável. As oscilações não apresentam variabilidade casual. Uma vez que o comportamento está sendo mantido num estado intermediário entre dois extremos, outros fatores da situação não controlados atuarão para empurrar o desempenho, às vezes para um

lado da linha divisória, e às vezes para o outro. Nesta situação, a variabili­dade da linha de base pode ser reduzida, alternando-se os valores quantita­tivos das variáveis de controle, e fortalecendo assim o controle expe­

rimental.

V A R IA B IL ID A D E PRO DUZIDA PELAS FLUTUAÇÕES LOCAIS NA M ANUTENÇÃO DAS CONTINGÊNCIAS

Já notamos que as mudanças comportamentais muitas vezes persistem por um tempo considerável, depois que as variáveis que iniciaram as modificações não mais estão fisicamente presentes. A extinção é um exemplo bem conhecido. O comportamento pode ocorrer de forma essencialmente imutável, bem depois que o reforço fo i interrompido. Entretanto, há casos mais refinados do que esse. As pequenas mudanças nas contingências de reforço podem surgir brevemente durante o curso de um experimento em andamento, com efeitos que sobreviverão bastante às flutuações locais. Tais flutuações geralmente não são planejadas pelo

experimentador. Podem ocorrer como uma conseqüência do método de programação das contingências de reforçamento, ou podem ser um sub-produto da interação recíproca que ocorre entre o comportamento e

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166 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

seu ambiente de controle. Em ambos os casos seus efeitos persistentes

provavelmente irão contar para uma porção importante da variabilidade,

tanto nos sujeitos como entre os sujeitos.Há um método de programar um experimento que irá quase

inevitavelmente produzir flutuações locais do tipo das que agora nos preocupam. Esse método se caracteriza pelo uso de seqüências casuais. Por

exemplo: a série de intervalos de tempo que constitui um esquema de reforçamento intervalo-variável pode ser gravada numa fita de programação

de acordo com alguma ordem ao acaso, ou uma série de estímulos à qual o sujeito deve responder diferencialmente é apresentada numa seqüência ao acaso. A série casual geralmente é empregada porque o experimentador deseja elim inar qualquer efeito consistente que poderia surgir da própria seqüência. Por exemplo: o experimento pode envolver dois estímulos de comprimento de onda diferente, sendo exigida uma resposta diferente para produzir reforço na presença de cada estímulo. O interesse do experi­mentador está na ducrim inalidade dos dois comprimentos de onda. Entretanto, ele não apresenta os dois estímulos alternadamente, porque se o fizesse, o sujeito poderia obter reforço alternando a sua resposta em cada exposição, independentemente do comprimento da onda em parti­cular. Desde que a preocupação do experimentador seja que o comporta­mento do sujeito seja uma função do comprimento da onda do estímulo, e não da seqüência, apresenta os estímulos numa ordem ao acaso.

A ordem ao acaso, no entanto, não elimina os efeitos da seqüência.

Qualquer série de eventos se aproxima da verdadeira casualidade somente a partir de uma freqüência extremamente grande de ocorrências dos seus componentes. Descobrir-se-á que segmentos locais da série não são casuais. Conterão algumas sucessões longas de componentes únicos, alguns alternando os padrões de dois componentes, e muitos outros tipos

de seqüência ordenada. Tais desvios locais da casualidade não podem ser ignorados. O comportamento é governado pelas contingências locais,

independentemente da possibilidade de que tenham sido explicitamente

preparadas pelo experimentador ou que ocorram como flutuações não controladas numa seqüência casual global. Se a mesma resposta foi reforçada cinco vezes em seguida, é bastante provável que a próxima

resposta será influenciada por essa seqüência, especialmente se os

estímulos envolvidos estão próximos do lim iar da diferença. Podemos esperar que parte da variabilidade em resposta ao m ^ a io estímulo seja uma função de tais seqüências ordenadas. Numa determinada seção experimental pode não haver ocorrências de cinco eventos similares sucessivos, embora na sessão seguinte possa haver vários desses exemplos.

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V A R IA B IL ID A D E INTRlKlSECA VERSUS IMPOSTA 167

Uma porção considerável da variabilidade de interseção é provável que surja dessas flutuações locais numa seqüência casual.

Fatores semelhantes podem contribu ir para a variabilidade numa linha de base comportamental, obscurecendo assim os efeitos das variáveis que estão sobrepostas na linha de base. Um esquema de reforçamento em intervalo-variável, por exemplo, é comumente usado para gerar uma freqüência estável de resposta, cujos desvios fornecerão uma medida dos

efeitos de outras variáveis. De acordo com esse esquema, o reforço fica à disposição do sujeito depois de decorridos períodos de tempo variados desde o últim o reforço. A seqüência de intervalos de tempo podia ser programada ao acaso, mas é improvável que uma freqüência de resposta estável fosse obtida desta forma. Uma seqüência de intervalos de tempo curtos entre os reforços produzirão um aumento da freqüência de resposta, um aumento que poderá persistir bem depois que a seqüência de intervalos curtos tiver terminado. Uma série de intervalos longos entre os reforços

não somente dim inuirá a freqüência mas é provável que produza um padrão de resposta semelhante ao que fo i gerado pelo esquema em intervalo-fixo. 0 sujeito pode parar de responder imediatamente depois de

receber um reforço, e acelerar gradualmente até que o próxim o reforço seja liberado. Mesmo um animal in ferior como o rato pode refletir, em sua freqüência de resposta, uma seqüência de intervalos alternadamente longos e curtos. Estas flutuações numa série de intervalos ao acaso, no entanto, refletirão as flutuações comportamentais correspondentes.

Uma resposta parcial a esse problema deve usar, em vez de seqüência casuais, uma série mista de intervalos. Uma série casual será

misturada com as regularidades locais sobre as quais o experimentador não tem controle. Uma seqüência mista, mas controlada, de intervalos pode

minim izar os efeitos da seqüência com m uito mais eficiência. Por exemplo: o experimentador pode preparar uma seqüência em que cada intervalo é seguido com igual freqüência por todos os outros intervalos da

série. Se necessário, pode realizar a mesma preparação para pares de intervalos, trincas, etc. Entrentanto, pode ser mais provável o caso, em que as freqüências de resposta mais estáveis sejam asseguradas quando ocorrem alguns intervalos com maior freqüência do que os outros, porque a freqüência não é uma função linear simples do intervalo entre os reforços.

Atualmente poucos dados empíricos do tipo exigido para resolver estes problemas técnicos estão disponíveis. Muitos psicólogos experi­mentais ainda não sentiram a necessidade de lidar com eles. Estão satisfeitos em atingir a estabilidade comportamental de uma natureza

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168 TÁTICAS DA PESQUISA C IENTIFICA

estatística global, na qual as flutuações locais são menosprezadas. Assim

faz-se a média dos dados entre os diversos sujeitos individuais, ou em cada um dos sujeitos individuais, por blocos de "experim entos" bloqueios das

"tentativas" ou em períodos de tempo relativamente longos. Mas enquanto

os problemas de que estamos tratando tornam-se mais refinados, e

enquanto cresce a nossa compreensão do comportamento, seremos forçados a lutar com detalhes mais refinados do comportamento, detalhes

esses que estão agora obscurecidos pela variabilidade que surge das

flutuações das contingências de manutenção.É preciso que se diga, se já não é evidente, que essa variabilidade

não pode ser eliminada completamente. Necessariamente, o comporta­

mento se realiza no tempo, e os efeitos conseqüentes, no entanto, são inevitáveis. Se houver alguma variabilidade verdadeiramente intrínseca,

provavelmente ela aparecerá neste momento. Mas, — e isso não pode ser demasiadamente enfatizado — a variabilidade que surge >dos efeitos conseqüentes é intrínseca não ao comportamento, mas às suas condições de controle. 0 comportamento é uma função legítima das flutuações locais das contingências de manutenção. São as próprias contingências que se modificam, tanto por causa dos imprevistos do meio natural, como pelas necessidades práticas da técnica experimental. A única solução real é avaliar estes efeitos e levá-los em conta nas nossas descrições, tanto teóricas quanto experimentais, do comportamento.

As flutuações locais das contingências que mantêm o comporta­mento podem ocorrer como uma função da interação recíproca entre o comportamento e seu ambiente de controle. Os prórpios fatores que governam o comportamento podem ser, eles mesmos, alterados pelo comportamento que produzem. A variabilidade no comportamento pode assim surgir porque o comportamento modifica as suas próprias condições

de controle. Este interação recíproca pode levar a qualquer um dos vários

efeitos diferentes. O sistema em qúe se engrenam o comportamento e as

contingências de controle pode ser auto-regulado. Neste caso o resultado

será um processo cíclico. O comportamento flutuará, de maneira mais ou

menos regular, passando por dois ou mais estados, com um valor médio

que pode ser relativamente constante num período de tempo suficiente­

mente longo. Entretanto, em períodos curtos, a variabilidade será

evidente, e comparações entre segmentos de um desempenho serão atingidas, na medida em que os segmentos forem tirados de estágios

diferentes de ciclo.O comportamento de esquiva fornece um exemplo no qual o

experimentador deliberadamente prepara condições de tal maneira que o

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 169

comportamento m odifique algumas das variáveis de controle. Em experi­

mentos de esquiva o sujeito geralmente recebe o choque de acordo com

um esquema temporal programado pelo experimentador. A resposta de

esquiva, no entanto, ajtera esse esquema. Cada vez que o sujeito emite a

resposta de esquiva, o choque é adiado, e a freqüência global de choque, com isso, declina. Mas enquanto a freqüência dim inui, a resposta de

esquiva torna-se mais fraca e finalmente deixa de ocorrer a tempo de

evitar o choque. Um ou mais choques que então são recebidos servem para "bom bear" o comportamento e um novo ciclo começa. Parte do processo está ilustrado na curva de resposta cumulativa da Figura 17 que representa um estágio intermediário de esquiva condicionada em um macaco. Cada resposta de pressão à barra dada pelo macaco servia para adiar um choque durante 180 segundos. O animal recebia um choque a cada 180 segundos se deixasse de pressionar a barra. O registro ilustra a ciclicidade do tip o que venho descrevendo. Depois de cada choque a freqüência de resposta á alta, com um declín io gradual subseqüente na medida em que o tempo passa sem nenhum choque. Finalmente, a freqüência declina até o ponto em que uma pausa de 180 segundos nova­mente produz um choque, e assim se inicia um novo ciclo.

No começo do condicionamento, os ciclos geralmente são menores, com vários choques ocorrendo entre cada série de respostas. Num estágio posterior ao que é mostrado na Figura 17, os ciclos tornam-se extrema-

Figura 17. As flutuações cfclicas na freqüência de resposta causadas pelas interações entre o comportamento de esquiva e os choques. A pequena marca obliqua no registro indica os choques (Sidman, 75.)

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TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

merne longos, com alguns animais mantendo o comportamento de esqu'va durante muitas horas sem receber um choque. Assim, não só o cornPortamento altera de fato a freqüência de choque, como o faz

tam k-ér*i diferencialmente em estágios diferentes do processo de condicio- nament0 / \ própria variabilidade cíclica entretanto passa por uma

mudança ordenada. Os experimentos realizados durante a últim a fase do proceSSo condicionamento terá menor probabilidade de sofrer flutua- Ç°es C|C|jcas

A interação entre o comportamento de esquiva e o choque é de

e*a auto-reguladora. À medida que as respostas reduzem a freqüência 6 C °que, a resposta torna-se menos provável, para finalmente atingir-se

d a d e ^ ^ *0 n° qUal ° choque ocorre novamente, aumentando a probabili- £ d resposta. A variabilidade cíclica deste tipo auto-regulável também

^onstrada pelo comportamento que é mantido por esquemas de E m e n to positivos temporariamente específicos. A Figura 18 contém r ®9istro cum ulativo do comportamento de um pombo de como é

gerac|0 ^ esquema de reforçamento em intervalo-fixo. Nesse

eSq> a a resposta de bicar do pombo, num disco ilum inado, pode um reforço com uma freqüência nunca maior do que uma vez

natur.

UrT1 6sç>^^ ^ variabilidade cíclica característica do comportamento mantido por^ema de reforçam ento em intervalo-fixo. (Ferster e Skinner 34, p. 159)

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VARIABILIDADE INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 171

cada quatro minutos. Depois da liberação de cada reforço, o intervalo de

quatro minutos começa de novo, e depois de decorrido, é oferecido de

novo um reforço.0 comportamento característico originado por esse esquema em

intervalo fixo , quando outras condições são adequadamente controladas, é a resposta positivamente acelerada que pode ser vista na Figura 18 na maioria dos reforços. A porção nivelada da curva que segue imediata­

mente o reforço, no entanto, pode ser vista variando de duração.

Ocasionalmente, a porção nivelada ocupa quase todo o segmento da curva entre dois reforços, não aparecendo, neste caso, a forma típ ica de "concha". Tal variabilidade fornece a evidência de um processo auto- -regulador. Quando a porção nivelada da curva é breve, a frequência final é

atingida rapidamente e um número relativamente grande de respostas ocorre antes que o reforço fique disponível. O resultado final, em termos de reforço por resposta, é relativamente baixo. Um ou mais desses

ciclos de baixo resultado enfraquece o comportamento, e a pausa depois do reforço torna-se mais longa, estendendo-se talvez pelos quatro minutos totais. Estas pausas longas tornam o reforço disponível depois de

um número relativamente pequeno de respostas, aumentando assim o resultado final em termos de reforços por resposta. 0 comportamento é fortalecido e a pausa depois do reforço torna-se curta novamente.

Observamos, então, mais uma vez, a variabilidade resultante de um processo contínuo dê ajustamento entre o comportamento e a variável de controle. Tal variabilidade não pode ser atribuída ao acaso. Cada estado pelo qual passa o comportamento é estritamente determinado pelas condições antecedentes e correntes. Até que um grau de controle satisfa­tó rio possa ser estabelecido no processo cíclico, pode ser que seja necessário empregar uma descrição estatística do comportamento. Mas as estatísticas avaliativas são inadequadas. Uma vez especificados os processos que realçam a variação cíclica, a avaliação estatística não pode fazer desaparecer os ciclos, nem torná-los mais reais. Nossos esforços deverão

estar dirigidos no sentido de assegurar o controle experimental suficiente para determinar se a análise final irá exigir também uma descrição

estatística.A interação recíproca entre o comportamento e suas contingências

de manutenção não é necessariamente um processo.de auto-ajustamento.

A interação pode ser de tal ordem, que produza tanto o térm ino total do comportametno, como o seu comportamento oposto de "fuga". O comportamento mantido pot um esquema de razão fixa, por exemplo, não

tem um mecanismo de ajustamento incorporado. Se tornarmos grande

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172 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

demais a razão necessária de respostas por reforço, o comportamento em

questão simplesmente desaparecerá. Razões amplas originam longos

períodos sem resposta, especialmente depois da liberação de um reforço.

Ao contrário dos esquemas de intervalo, as longas pausas num esquema de

razão não aumentam a probabilidade de que a próxima resposta será

reforçada. Seu efeito é simplesmente o de d im inu ir a freqüência de reforçamento. À medida em que ainda mais o reforçamento declina, as pausas tornam-se mais longas, d im inuindo ainda mais a freqüência do refor­çamento. O processo em aspirai continua até que o comportamento cesse

completamente.Dependendo da razão de respostas aos reforços, o comportamento

pode apagar-se repentinamente ou pode continuar num estado de "tensão" durante um período considerável. Neste caso, a linha de base não somente mostrará uma flutuação considerável, mas também produzirá resultados variados quando usada para avaliar os efeitos de outras variáveis. Por exemplo: algumas drogas, que não têm efeito sobre um desempenho de razão fixa relativamente sereno (24), produz mudanças marcantes numa "razão-tensa" (59). Novamente, isto não é variabilidade ao acaso. Quando um sujeito determinado produz dados divergentes em ocasiões diferentes, ou quando há diferenças marcantes intersujeitos, ou

quando experimentadores diferentes apresentam dados conflitantes, existe uma grande possibilidade de que mudanças não controladas tenham surgido nas contingências que mantêm o comportamento. Entretanto, estas mudanças poderão ser controladas se o comportamento em questão tiver sido investigado de maneira suficientemente intensiva para que suas principais variáveis de controle tenham sido identificadas.

A variabilidade que surge de um processo não auto-regulável do

tipo que tende a extinguir o comportamento é geralmente de fácil identificação, porque o fenômeno pode ser observado diretamente. Quando o processo caminha noutra direção, no entanto, algumas vezes não

é facilmente especificável. As contingências de manutenção podem mudar

no sentido de produzir o comportamento de "fuga", que pode ser caracterizado por altas freqüências de ocorrência e relativa insensibilidade à manipulação por outras variáveis.

Por exemplo: quando um pombo passou por uma grande experi­ência com um esquema de reforçamento em intervalo-variável, respon­dendo com uma freqüência alta, dia após dia, a própria freqüência se torna um aspecto importante da contingência de reforçamento. Isto é, o reforçamento está correlacionado não só com a resposta de bicar a chave, mas também com o bicar a chave caracterizado por uma freqüência

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VARIABILIDADE INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 173

particular de ocorrência. O fato de que a freqüência de resposta não tenha realmente nada a ver com o aparecimento do alimentador de grãos, é de poucas conseqüências. O fa tor importante é que a apresentação do grão

está consistentemente precidida por uma determinada freqüência de

resposta. A freqüência em si mesma, no entanto, torna-se condicionada, de maneira fo rtu ita . Logo que isto acontecè. É claro que ao acontecer isto, o comportamento mantido por um esquema de reforçamento de intervalo variável não é mais uma linha de base satisfatória a partir da qual se medem os efeitos de outras variáveis. A freqüência de resposta, ela mesma

condicionada, perde m uito da sua sensibilidade. Além disso, os dados

divergentes provavelmente irão causar controvérsias inúteis se uma "freqüência trancada" não fo r reconhecida.

Tem-se notado, por exemplo, que a freqüência de resposta originada

por um esquema de intervalo-variável de reforçamento de alimento, pode fielmente refle tir o grau de privação de alimento do sujeito. Mais recente­mente, no entanto, a linha de base de intervalo-variável tem sido descrita como relativamente insensível à privação de alimento (34). No últim o caso, o sujeito fo i exposto ao esquema por um período maior de tempo do

que o usual na maioria dos laboratórios. Além disso, as outras condições do experimento eram tais, que produziam uma freqüência de resposta consistente relativamente alta. É provável que uma freqüência trancada tenha se desenvolvido, e que ambos os resultados que se referem à privação estejam certos, dadas as condições especiais dos experimentos.

Esse exemplo expõe um aspecto único de variabilidade entre os resultados experimentais que surgem de um ciclo de fuga de interação entre o comportamento e suas variáveis de controle. A insensibilidade da linha de base de intervalo variável fo i observado num laboratório, que é notável pela importância dedicada ao controle rigoroso das variáveis básicas. Os fatores estranhos são minimizados caracteristicamente pelo uso de altos níveis de privação, somas relativamente amplas de reforçamento, chaves de resposta sensíveis etc. Conseqüentemente, um alto grau de reprodutividade do comportamento de animais individuais é um aspecto

deste trabalho de laboratório. A experimentação caraterizada por este alto grau de rigor, em virtude da estabilidade das suas linhas de base, terá uma grande possibilidade de revelar efeitos nos quais as propriedades do

comportamento se tornam, elas mesmas, determinantes importantes das contingências de manutenção. Somente quando o comportamento

demonstra características consistentes durante longos períodos de tempo é que um fenômeno como uma freqüência condicionada ou trancada pode ser observado. Temos um caso incomum, no entanto, em que a insensibili-

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174 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

dade pode resultar de um controle experimental extremamente rigoroso, e

não, inadequado. Ao avaliar resultados relativos à discordância entre laboratórios diferentes, é necessário considerar os modos característicos

de operação dos investigadores em questão. Embora relações funcionais ordenadas seja, em geral, uma boa indicação de técnica adequada, há sempre a possibilidade de que um controle ainda maior produza uma

não-variação.Os problemas de variabilidade surgidos quando o comportamento

entra em seu próprio controle não são necessariamente do tipo que precisa ser envolvido. Qualquer resposta determinada se apresenta em tempo, dentro de uma matriz de outros tipos de comportamentos semelhantes ou diferentes. As interações que ocorrem são parte de um mundo comportamental real. Problemas de laboratório também são

fascinantes. A variabilidade que surge destas interações, é variabilidade

determinada, e não casual. É um tipo de variabilidade que precisa ser entendida antes que possamos providenciar uma avaliação do comporta­mento que será ü til tanto descritivamente, quanto como base para integração teórica e aplicação prática. As técnicas experimentais plane­

jadas para eliminar a interação recíproca, entre o comportamento e seu ambiente de controle, podem bem ser instrumentos inadequados para a

tarefa em questão. Por exemplo: uma técnica comum é empregar "ensaios" discretos, bem espaçados. Digamos que o sujeito é exposto às condições experimentais somente uma vez por dia, quando se permite a ocorrência de uma resposta somente em cada exposição. Desta maneira,

supõe-se que os efeitos da interação do tipo que venho discutindo serão eliminados.

Certamente a reparação temporal entre as respostas assegura que a

freqüência de resposta não entrará como um fator importante de controle. Mas não está tão claro que outras características do comportamento serão

impedidas de interagirem entre si e com as contingências de manutenção. Quando uma resposta com propriedades incidentais determinadas é

reforçada sob certas condições, então essa resposta, em particular, com muitas das suas propriedades incidentais, provavelmente, ocorra na

próxima vez em que surgirem condições semelhantes. Isto será verdadeiro se a próxima resposta fo r ocasionada dentro de dois segundos ou dentro de

dois anos. A ação do reforçamento é automática e duradoura, e o espaça­mento aritific ia l dos ensaios não elimina os efeitos cumulativos. Assim, num experimento que exige um sujeito humano para pressionar uma ou duas chaves disponíveis de telégrafo para obter reforço, numa seqüência de cinco respostas consecutivas e bem sucedidas numa das chaves terá um

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VARIABILIDADE INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 175

efeito cumulativo que não se dissipa durante um período de 24 horas ou mais. Embora uma freqüência de resposta não seja provavelmente condi­

cionada fortuitamente, seqüências diferentes de resposta nas duas chaves podem m uito bem ser acidentalmente reforçadas com freqüência sufici­ente para produzir variabilidade considerável nos dados.

A menos que uma dada seqüência se torne dominante por ser

reforçada com freqüência suficiente para que se inicie um processo de fuga em aspirai, essa fonte de variabilidade provavelmente não será revelada pela análise estatística dos dados, pois as seqüências fo rtu ita ­

mente reforçadas irão variar no que diz respeito aos seus padrões particu­

lares e à duração do tempo em que persistem. O fa to de sabermos que estes efeitos se realizam não vem da análise de dados especiais, mas sim de um conhecimento dos princípios gerais que foram diretamente demonstrados

em experimentos adequados.Isso acarreta o principal defeito das técnicas experimentais plane­

jadas para eliminar a variabilidade que resulta de relações circulares, entre o comportamento e seu ambiente de controle. Não somente estas técnicas são geralmente mal sucedidas em eliminar tal variabilidade, mas, na realidade, escondem-na da observação direta e assim impedindo

uma análise adequada. Além da interação entre as respostas que produzem o dado principal do experimento, há uma cadeia de acontecimentos geralmente desconhecidos que se desenrola entre os ensaios. O comporta­

mento que aparece imediatamente antes, num período consideravelmente anterior e imediatamente depois que o sujeito esteja em situação expe­rimental, não é irrelevante para o seu comportamento registrado. O experimento pode ser confinado a seções limitadas de tempo, mas o sujeito continua a se comportar durante os períodos intermediários. O não reconhecimento de que as interações estão se realizando, entre o comportamento registrado e o não-registrado, não é equivalente à eliminação de tais interações dos dados.

V A R IA B IL ID A D E COMO UM PROBLEMA DE "C A P A C ID A D E "

Aparentemente não existem dois indivíduos que tenham a mesma herança genética. Além disso, ou talvez, por causa disso, as diferenças hereditárias dos indivíduos também se diferenciam quanto à sua "geo­grafia" é função anatômica, sua psicologia, sua química corporal, e muitos outros aspectos do seu funcionamento interno. Supõe-se que fatores como

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176 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

estes afetam o comportamento que num nível geral de análise há

evidência considerável de que realmente afetam. A noção da variabilidade intrínseca deriva dessa evidência como parte mais forte da sua susten­

tação.Quando formulada diante desse background, a variabilidade in­

trínseca é um conceito um pouco diferente daquilo que d iscuti ante­riormente. A variabilidade intrínseca, como está sendo vista agora, não implica em indeterminismo. O psicólogo considera-a intrínseca somente porque a sua competência não se estende aos domínios psicológicos nos quais se supõe que a variabilidade se origina. Por outro lado, o psicólogo que está convencido de que o seu objeto de estudo está intrinsecamente ordenado, pode a tribu ir a variabilidade que observa à bioquím ica do sujeito. A variabilidade é intrínseca somente na medida em que o psicólogo não possui a informação e a capacidade exigidas para investigar os fenômemos bioquím icos relevantes. O bioquím ico, por sua vez, pode resguardar sua ciência do estigma da inconstância, legalizando a fonte da variabilidade no genes. O geneticista então leva a caî'ga to ta l em seus ombros, embora ultimamente tenha começado a passar parte dessa carga para o bioquím ico. (Existe ainda em desenvolvimento a possibilidade fascinante, de que a corrente de casualidade possa virar-se mais para a

direção oposta. A responsabilidade final da explicação de parte da variabilidade da ação genética pode ainda permanecer com o psicólogo).

Alguns geneticistas, assim como muitos membros das disciplinas intermediárias na cadeia que conduz da psicologia à genética, aceitam o fardo prazenteiramente, como um artigo de fé. O que muitos deles não percebem no alto da estrutura é a fraqueza de que presumem ser a base. A grosso modo, estão sendo iludidos, pois como já disse nas seções precedentes, os psicólogos ainda não são capazes de afirmar inequivoca­

mente se a variabilidade dos seus dados provém, ou não, do controle experimental inadequado, da compreensão insuficiente dos processos envolvidos, ou de fatores que estão fora da sua esfera de competência. Ou talvez eu esteja sendo injusto com os geneticistas. Seu reconhecimento in tu itivo dessas inadequações pode explicar a escassez de investigações experimentais, em colaboração à suposta determinação genética do comportamento. A té que o psicólogo possa preencher provisoriamente as linhas de base de onde foram eliminadas as fontes importantes de variabilidade, haverá pouco proveito em unir as duas disciplinas numa empresa comum. (A mesma dificuldade, é claro, poderá ocorrer na direção oposta, mas não posso me considerar um ju iz competente nessa disputa). Declarações semelhantes podem ser feitas a respeito de outras áreas

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VARIABILIDADE INTRIlMSECA VERSUS IMPOSTA 177

biológicas que supostamente têm controle sobre algumas variáveis compor-

tamentais chave.Como conseqüência, pelo menos parcial, da especificação inade­

quada dos processos em nível estritamente comportamental, a pesquisa na psicologia fisiológica (que agora usarei como um termo geral para

compreender as relações entre o comportamento e todos os outros tipos

de variáveis biológicas) tem-se orientado amplamente em termos de um conceito vulgar, amorfo, abrangente que podemos chamar de "capaci­dade". Os sujeitos experimentais (mais comumente, grupos de sujeitos) são comparados quanto à sua habilidade em desempenhar tarefas estabelecidas.

Uma raça de ratos pode ser considerada superior a outra no aprendizado de

percorrer um labirinto sem cometer erros. A diferença entre os dois tipos é freqüentemente atribuída a variações na "capacidade de aprendizagem". Em outro experimento típ ico , animais que têm uma porção removida do

seu cérebro são considerados como tendo perdido, pelo menos temporaria­mente, um determinado tipo de aprendizado apreendido, como por exemplo, a resposta de esquiva. Esta porção do cérebro que fo i extraída é admitida como tendo algo a ver com a "m em ória" ou mesmo como sendo a sede dela, ou da "capacidade de retenção''. Ou então, um animal que recebeu estimulação elétrica no cérebro simultaneamente a um estímulo para uma reação de escolha, não consegue mais fazer a escolha correta consistentemente. A estimulação cerebral é considerada então como tendo destruído a "capacidade de d iscrim inar" do animal.

Baseados nestas e em outras descobertas experimentais, tem-se «

adm itido que as variações psicológicas não controladas num organismo

podem ser consideradas responsáveis por muita variabilidade comporta­

mental observada. O tip o de raciocínio aqui envolvido é suficientemente fundamentado. Quando se descobre que uma variável pode afetar o comportamento, é razoável admitir-se que ela realmente o faz sob condições adequadas. Mas o que realmente descobrimos sobre a relação suposta? O Tipo de ratos A pode conhecer um labirinto especial mais

rapidamente do que o T ipo B, mas o Tipo B pode aprender uma resposta de esquiva, ou mesmo outro tipo de labirinto, mais depressa. Se este fo r o caso, o que dizer da relação entre a herança genética e a capacidade de aprendizagem? É evidente que não analisamos suficientemente os processos comportamentais envolvidos nas várias situações de "aprendi­zagem" para compreender onde está a verdadeira relação entre o genes e o comportamento. Experimentos que envolvem outros fatores psicológicos

são similarmente vulneráveis. Não é a "capacidade" do organismo para alguma coisa que está sendo afetada. Mais do que isso é algum processo

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178 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

comportamental que pode ou não possuir a generalidade do tipo mais amplo que está im plíc ita em termos como aprendizagem, memória, etc..

O que se pretende na discussão acima não é negar a importância dos fatores fisiológicos como determinantes, tanto da consistência como da variabilidade do comportamento. O meu propósito tem sido sobretudo

enfatizar a natureza supergeneralizada de boa parte da evidência que sustenta tal concepção. Também, é possível suaerir alguns rumos que a

pesquisa deveria tom ar para fornecer uma explicação mais sólida da

variabilidade do comportamento que se origina dos fatores fisiológicos.

Como outras fontes de variabilidade, esta também deve ser descoberta e explorada antes que possamos nos ocupar dela.

É claro, um dos passos é o refinamento das técnicas fciológicas.

Este processo de refinamento está sempre em marcha na fisio logia, anatomia e áreas afins. Não há necessidade, e talvez nem seja mesmo desejável, que o desenvolvimento técnico dessas áreas seja influenciado de

alguma maneira pelos problemas da pesquisa comportamental. A maioria

das técnicas fisiológicas que se mostraram úteis ao psicólogo fisiólogo —

técnicas cirúrgicas, métodos para co lorir fibras nervosas, a estimulação

elétrica dos nervos e músculos e o seu registro, testes hormonais, drogas, etc. — desenvolveram-se a partir de interesses imediatos que são indepen­dentes do comportamento. Os fisiólogos interessados nas contribuições psicológicas ao comportamento raramente têm sido culpados de ignorar as técnicas fisiológicas. Seu erro tem sido geralmente quanto à orientação de empregar as técnicas cedo demais, antes que os dados disponíveis tenham sido suficientemente bem compreendidos.

No reverso da moeda está o problema de desenvolver técnicas para a investigação comportamental e de sistematizar os dados resultantes.

Poderia parecer uma exigência óbvia que houvesse uma técnica firm e e um

apoio sistemático no aspecto tanto comportamental como fisiológico antes

que houvesse qualquer colaboração frutuosa entre ambos. Com bastante

estranheza, isto se tornou um problema form ulado emocionalmente em

psicologia e, mesmo hòje em dia, é debatido com calor considerável.

B.F. Skinner serve tanto de vilão como de herói na maioria das discussões recentes. Em 1938 Skinner sugeria, com a melhor das intenções, que a pesquisa comportamental intensiva, em seu próprio benefício, fosse um pré-requisito para a compreensão adequada das correlações do

comportamento (81, pp. 418-432). Juntamente com essa sugestão, apresentava um argumento em pírico poderoso para uma ciência do comportamento independente.

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VARIABILIDADE INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 179

Uma grande parte da psicologia subdividiu-se imediatamente em dois

campos, cada um deles reagindo aparentemente contra a sugestão de Skinner de acordo com as suas próprias esperanças e os seus temores. Muitos dos que não tinham interesse na pesquisa de pontos de contacto entre o comportamento e a fisiologia argumentavam que Skinner havia

demonstrado a futilidade de tal empresa. O outro grupo sentia que

Skinner estava tentando torpedear a ciência da psicologia fisiológica, então em luta. Foi identificado como alguém que propunha o "orga­

nismo vazio", uma caracterização que o estudante provavelmente ainda

encontra em alguns dos seus temas de exame.Os desenvolvimentos subseqüentes têm servido para demonstrar que

cada um dos lados tem exagerado o caso. Freqüentemente ouço expressões de espanto de investigadores de ambos os lados quando chegam a perceber que algumas das pesquisas psicológicas mais significativas atualmente têm sido realizadas por meio das técnicas comportamentais que foram

desenvolvidas por Skinner e.seus seguidores. Este desenvolvimento não fo i

o resultado de qualquer abandono, por parte dos grupos extremistas, das suas posições insustentáveis. Foi um resultado natural de uma apreciação crescente, tanto da parte dos psicólogos como dos fisió logos, das técnicas de ambos. A contribuição das técnicas de condicionamento operantes na compreensão das variáveis fisiológicas tem-se tornado possível, até agora, pela consistência e reprodutividade das linhas de base comportamentais. Outras fontes de variabilidade têm sido suficientemente eliminadas de algumas dessas linhas de base para perm itir o seu uso na identificação das fontes de variabilidade fisiológica e neurológica.

Entretanto, estamos agora no lim iar de avanços mais significativos, que se tornaram possíveis pelo tipo de análise funcional do comporta­mento, que tem sido realizada nos laboratórios que operam em condicio­namento. É possível agora gerar linhas de base que não somente sejam estáveis, para o organismo individual, mas também sejam, além disso, controladas por variáveis de grande generalidade. Por exemplo: muitas características distintas do desempenho comportamental numa variedade de esquemas de comportamento foram consideradas como dependentes

dos padrões particulares do reforçamento dos intervalos entre as respostas. A ação bem difundida dessa variável está sendo rapidamente confirmada e ampliada no laboratório. O mais importante nessa discussão, também é possível produzir linhas de base comportamentais que são controladas quase completamente pelo reforçamento deliberado de intervalos entre as respostas especificados. Quando o comportamento precisamente contro­lado de ampla generalidade é empregado para o estudo de fatores

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180 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

fisiológicos, os dados podem ser aplicados em situações diversas. Podemos

esperar ver o uso crescente de linhas de base comportamentais que, como

revela a análise funcional, estão sob o controle das variáveis relevantes numa variedade de contextos.

A descoberta de tais variáveis não pode ser realizada pela classifi­

cação do comportametno em termos de "habilidades" ou "capacidades"

do organismo. Nem é suficiente conceituar o comportamento como uma atividade de "solução de problema". Tais termos meramente agrupam

diferentes variedades de comportamento em grupos classificatórios, e estes ficam à margem logo que processos comportamentais d ife ren te^ se

demonstram envolvidos. Uma análise funcional detalhada das relações do comportamento e suas variáveis específicas de controle pode, por outro lado, produzir um corpo de observações interligadas que aumentarão amplamente a generalidade comportamental de quaisquer variáveis fis io ­lógicas.

Uma análise semelhante dos problemas pode ser feita no seu aspecto fisiológico. A investigação intensiva das variáveis fisiológicas, por meio de técnicas fisiológicas, deve preceder qualquer aplicação aos estudos

comportamentais. Um método que produza conseqüências fisiológicas desconhecidas ou parcamente compreendidas é de valor reduzido como instrumento de investigação das contribuições fisiológicas para a variabi­lidade comportamental.

A investigação dos fatores fisiológicos relacionados aos processos comportamentais exige um alto grau de integração descritiva e de competência individual em várias áreas. O crescente reconhecimento desse fato nos últim os anos tem levado a uma abordagem de alguma forma nova do problema da pesquisa interdisciplinar das ciências comportamentais. Tem sido o hábito, ao se form ar um grupo de pesquisa interdisciplinar, ir em busca de um psicólogo fisiológico, ou um biopsicólogo, ou um

psicofarmacologista - um investigador que demonstre competência tanto

em psicologia como em outras disciplinas biológicas. Com muita

freqüência, no entanto, o psicólogo fisiologista vem a ser um fisiologista

competente e um psicólogo diletante, ou vice-versa. Ou o psicofarmacolo­gista pode ter sido bem treinado em técnicas de farmacologia, mas é quali­

ficado como psicólogo somente por causa do seu interesse pelas drogas do sistema nervoso central.

A concepção mais recente de pesquisa interdisciplinar exige um grupo de investigadores, cada um deles competente num campo restrito, seja em psicologia, eletrofisiologia, farmacologia, anatomia, endocrino- logia, ou qualquer uma de uma ampla variedade de possibilidades. Como

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VARIABILIDADE INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 181

cada um se preocupa com seus próprios problemas, em seu próprio benefício e sem considerações interdisciplinares, desenvolverá suas técnicas e sua compreensão da área até onde puder aplicá-las com confiança a problemas que exigem pesquisa em colaboração. Com este cenário é suficiente que cada investigador tenha um interesse inteligente em outras áreas para que aprecie os pontos de contacto em potencial. Não é nhsmo necessário que este grupo seja, de alguma forma, uma "equipe" organizada, pois o investigador competente e organizado terá orgulho em ver suas técnicas levadas para outras áreas nas quais a sua importância não tinha sido prevista. As competências exigidas para a colaboração tornam- -se disponíveis na medida em que cada área procurar o seu caminho de desenvolvimento independente. O desenvolvimento e a sistematização das disciplinas científicas individuais envolvidas é o meio para um ataque eventual às fontes de variabilidade comportamental que se pode atribuir

aos fatores fisiológicos.

A variabilidade e a seleção de dados. Geralmente ansina-se aos

estudantes que se alguns dados de um experimento em particular forem apresentados, todos os dados devem ser apresentados. A seleção de dados

é considerada o maior crime, indigno da imparcialidade objetiva que a ciência reclama para si mesma. Muitos estudantes, no entanto, logo começam a perceber que nem todos os seus professores são persistentes em

aplicar esse padrão, especialmente em seu próprio trabalho. Percebem que a regra, na realidade, é que os estudantes nunca devem selecionar dados.

Pode parecer injusto, mas é sensato, por razões que irei expor brevemente. Alguns estudantes aceitam a sabedoria do padrão duplo, e,na medida em que amadurecem, adotam gradualmente uma atitude respon-

sável e racional para a seleção de dados nos seus próprios experimentos. Alguns poucos estudantes, infelizmente, jamais amadurecem a este respeito. Seus experimentos podem estar infestados da variabilidade que

resulta do controle insuficiente, mas. puros na sua objetividade, eles relatam todos eles. Continuam a temperar a literatura com relatórios entulhados de "se, depois e mas" característicos de dados não-conclu- dentes.

Antes de continuar a descrever e justificar a prática necessária da seleção de dados, é justo salientar que o problema é delicado. As situações mais difíceis surgem quando os experimentos são realizados para testar uma teoria. Reconhece-se que, pelo menos implicitamente, apesai; dos protestos públicos em contrário, os cientistas em geral estão intensamente e pessoalmente envolvidos com as suas teorias. Conseqüentemente, a

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182 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

seleção de dados nos experimentos de testar a teoria exige um ceticismo

inteligente. Alguém poderá perguntar se a seleção fo i feita com base nas práticas legítimas ou, conscienciosamente ou de outra forma qualquer,

com base na coerência com uma hipótese.Posso dizer que numa ciência altamente sistematizada, mesmo o

segundo caminho freqüentemente é justificado. Em algumas áreas, a sistematização tornou-se regra e os conceitos unificadores são, caracteris­

ticamente, m uito bem especificados, sem brechas aparentes no raciocínio.

Nestas áreas os dados que estão em variação com uma estrutura sistemá­tica geralmetne bem sucedida podem ser rejeitados como surgidos de

fontes de variabilidade não controladas. Por outro lado, numa ciência bem

desenvolvida, é provável que esta variabilidade seja relativamente rara, exceto, talvez, nos seus limites mais longínquos. Podemos também ouvir expresso o ponto de vista contrário; isto é, que a variabilidade incomum numa disciplina científica bem integrada e altamente controlada é de significação incomum, e pode exigir uma revisão maior na sistematização. A psicologia tem poucas (se é que tem alguma) teorias tão firmemente formuladas e tão bem documentadas para que esse problema se torne importante. Mas existe, pelo menos em processo de desenvolvimento, um número de generalizações empíricas locais que irão exigir uma resposta para=;o problema de se os dados que variam deverão ser rejeitados ou deverão ser aceitos como sendo importantes sistematicamente.

Como será resolvido o problema? A resposta honesta parece ser a mais simples: relatar todos os dados. Mas esta resposta não é tão honesta quanto parece; e é completamente irresponsável. Se o experi­mentador tiver boas razões para acreditar que uma ocasião de maior variabilidade surge das fontes não controladas, não tem a obrigação de impor estes dados à literatura e aos seus colegas. Se a variabilidade não controlada .somente ocorre raramente, ele pode justificadamente nem mesmo mencionar os dados em questão. Nenhum colega está tão in fo r­

mado sobre as possíveis fontes de variabilidade não controlada ocasional

num determinado laboratório quanto o experimentador que trabalha neste laboratório. Está em melhores condições para avaliar tais exemplos

e não pode passar a sua responsabilidade para os outros. Se a variabilidade

ocorre com freqüência suficiente para se tornar um problema sério, nenhum dos dados deveria ser relatado até que as fontes dos dados variantes tivessem sido eliminadas. Não há meio termo.

Uma decisão sobre se alguma variabilidade observada constituiria

um problema sério não. deverá ser uma decisão arbitrária. Nem é necessário, ou mesmo desejável, que se apele para os critérios estatísticos.

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 183

Uma das considerações mais importantes é a ordenação dos dados

variantes. Se as exceções do corpo principal de dados mostrarem evidência

de legitimidade, então exigirão explicação. Não podem ser menosprezadas

como exemplos de variáveis caprichosas. Não importa a raridade da exceção; se mostrar regularidade em si mesma, deverá merecer atenção. 0 sujeito discordante cuja curva mostra, digamos, uma posição inversa, em

vez da positiva usual com a variável independente, deve ser respeitado. Não se deverá portanto ignorar seus dados ou fazê-los participar da média

com outros sujeitos. Por outro lado, se um sujeito discordante ocasional não mostrar ordem aparente em seu comportamento, poderá não sèr levado em consideração. No máximo, o experimentador poderá relatar que o sujeito existiu, mas não precisará sobrecarregar seus colegas com seus

dados.Existe uma situação semelhante no caso da variabilidade intrasujeito

Se um comportamento de um determinado sujeito revelar flutuações cíclicas ou ordenadas, não se poderá ignorar a variabilidade; porque é provável que esteja presente e que desempenhe um papel c rítico em tentativas de replicação posteriores feitas pelo mesmo investigador ou por

outros. Por outro lado, se as flutuações não parecerem sistemáticas, e forem de pouca relatividade com os fenômenos de maior interesse,

poderão ser tratadas como "ba ru lho" inconseqüente do background.Também é uma prática legítima ignorar um desvio amplo se aparecer

raramente. Estes desvios não são de maneira nenhuma indeterminados. Mas sua natureza não freqüente e a falta de relação aparente com as variáveis críticas do experimento indicam que são controlados por fatores estranhos à investigação. Podem ser ignorados porque não é provável que

apareçam nas replicações, e porque a sua inclusão num relatório,

provavelmente injetaria considerações estranhas que serviriam para obscu­recer os principais resultados.

Algumas vezes, as flutuações ocasionais principais podem ocorrer

com freqüência suficiente para serem correlacionadas com algum fator

específico que está fora da gama de interesses da investigação em particular. Por exemplo: pode ser que um aparelho de ar condicionado deixe de funcionar durante um experimento. Se o experimentador observar mudanças significativas em linhas de base anteriormente estáveis, na ocasião da quebra do aparelho, estará justificado ao rejeitar os dados variantes baseado em que a variabilidade fo i produzida por condições estranhas ao propósito da investigação. Se os dados variantes fossem

incluídos numa linha de base de outra maneira estável, é possível que as mudanças subseqüentes, induzidas por uma variável deliberadamente

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184 TÁTICAS D A PESQUISA CIENTl'FICA

manipulada, fossem erradamente rejeitadas porque não ultrapassam a variabilidade da linha de base.

Várias vezes tenho fe ito uma distinção entre variabilidade ocasional e freqüente. Mas, pode ser que perguntem, como se poderá determinar se um exemplo excepcional é ocasional? O que constitu i uma freqüência aceitável de dados divergentes? Não há resposta estabelecida para essas perguntas porque cada caso exige a sua avaliação própria. É necessário depender em alto grau da experiência e integridade do investigador. Quanto mais tiver trabalhado numa área determinada, e quanto mais extenso seu relacionametno com o trabalho dos outros no mesmo campo, maior será a sua habilidade em avaliar um determinado exemplo.

É claro que erros serão cometidos, mas há princípios gerais de cautelas a serem observados. Logo no in íc io de um programa experimental

nenhum exemplo de variabilidade pode ser ignorado, por que é impossível fazer-se uma estimativa realista da probabilidade de que tal variação volte

a ocorrer. Esta estimativa somente pode ser feita com base numa amostra existente de dados, e quanto maior a amostra, mais apurado poderá ser o julgamento. Esta é a razão pela qual não são permitidos padrões duplos

para os experimentadores novatos selecionarem os dados, apesar de ser perm itido aos colegas mais experientes. A solução ideal é estimular a publicação de sériés de pesquisas integradas e relativamente longas. Quando um experimentador atingir o final desse programa, terá experi­ência suficiente com seu tema de estudo para se perm itir julgamentos de aceitação ou rejeição dos dados variáveis. Infelizmente, a pressão atual sobre a freqüência de publicação, com suas recompensas econômicas, dim inui acentuadamente diante desse rumo de ação.

Uma das conseqüências é a quantidade pouco salutar de dados triviais e de discussões explanatórias extensivas que caracteriza muitas das dissertações doutorais em psicologia. O investigador jovem, em razão da pressão dos seus pares e da sua própria insegurança a respeito da área na qual está trabalhando, precisa apresentar todo.s os seus dados, incluindo cada exemplo da variabilidade. Tendo inclu ído esses exemplos, é forçado a discuti-los, e eles passam a ser entrelaçados numa estrutura intrinsecada

de teoria, especulação, e experimentos confirmadores sugeridos para justificar os pequenos efeitos cuja legitimidade não está em posição de julgar.

Um aspecto crítico do problema é o estágio da investigação em que aparece a variabilidade. Um sujeito pode ter produzido centenas de horas de dados de linha de base estável, mas nas horas que precedem imediata­mente a introdução planejada de uma nova variável, pode ocorrer uma

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V A R IA B IL ID A D E INTRÍNSECA VERSUS IMPOSTA 185

mudança repentina no comportamento. Mesmo que o experimentador treinado jamais tenha observado essa mudança no passado, e não consiga

correlacioná-la com qualquer variação em suas condições de controle, não

deve ignorar a variaçãQ naquele estágio. Precisa mudar os seus planos e adiar a introdução de uma nova variável até que possua dados adicionais.

Repentinamente, a variabilidade pode representar uma mudança perma­

nente no comportamento da linha de base, produzida talvez por um

processo insuspeito que se form ou lentamente. Entretanto, a linha de base precisa ser continuada para determinar se a variabilidade inesperada

pode ser ignorada, ou se precisa ser levada em conta para avaliar os

resultados subseqüentes.Pode acontecer também que o comportamento, modificado por um

fa tor desconhecido, mas brevemente atuante, leve um tempo considerável para voltar ao seu estado de linha de base. A discussão desse problema será mais adequada nas seções sobre a reversibilidade e estados estáveis (Capítulo 8), mas representa uma das possibilidades que exigem cautela na aceitação dos dados variáveis. O fato de que a variabilidade persista por um tempo razoavelmente longo não é um critério absoluto para aceita- -la como relevante para o comportamento em investigação.

Algumas vezes é ú til não só rejeitar dados variáveis de um determi­nado sujeito, mas também eliminar sujeitos da consideração, quando da avaliação dos dados. Entretanto, o segundo procedimento somente é justificado quando o experimentador pode identificar as condições responsáveis pelo comportamento dos sujeitos discordantes. De outra forma irá arcar com a responsabilidade de ter selecionado dados com base em preconceitos sobre os resultados experimentais.

Suponhamos, por exemplo, que três sujeitos produzam uma relação inversa linear entre a probabilidade de resposta e uma variável indepen­dente, embora um quarto sujeito não seja afetado pela variável indepen­dente. Geralmente o experimentador teria que considerar os dados dos

quatro sujeitos, para avaliar a fidedignidade das manipulações experimen­

tais. Mas descobre evidência adicional de que a diferença entre os dois tipos de curva pode ser levada em conta, em termos de uma diferença especial nas histórias comportamentais dos sujeitos. Pode então afirmar que. a relação inversa linear é característica de sujeitos com uma história

comportamental especial, e o sujeito excepcional serve então para esclarecer, em vez de obscurecer, o processo -comportamental em investigação.

Não se perde a generalidade dos dados limitando-se ássim a população a que se aplica um determinado resultado experimental.

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186 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

Quanto a esse fato, a generalidade é aumentada. Não é realista esperar que uma determinada variável terá os mesmos efeitos sobre todos os sujeitos

em todas as condições. Enquanto identificamos e controlamos um maior

número de condições que determinam os efeitos de uma operação

experimental qualquer, a rigor dim inuím os a variabilidade que pode ser esperada como uma conseqüência da operação. Torna-se então possível

produzir os mesmos resultados num maior número de sujeitos. Esta generalidade pode ser que nunca seja alcançada, se aceitarmos simples­

mente a variabilidade intersujeitos e dermos o mesmo status a todos os sujeitos discordantes numa investigação.

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6 a variabilidade, um problema tanto científico

_____ como de engenharia

No capítu lo anterior referi-me a algumas das fontes principais de variabilidade e a alguns dos principais métodos de entrentá-la nos experimentos comportamentais. A tese que se sustenta é que a variabili­dade não é intrínseca à matéria em estudo, mas deriva de causas contro­láveis que podem ser descobertas. Abriu-se o caminho para a admissão da variabilidade intrínseca, mas somente depois que um alto grau de desenvolvimento técnico e de sistematização de dados nos forçar a isso, se

é que essa possibilidade existe.Qualquer amostra de comportamento está sob o controle de uma

multiplicidade de variáveis, algumas delas presumivelmente consideradas

constantes numa determinada experimentação, e outras simplesmente desconhecidas. Algumas vezes a variabilidade de um conjunto de dados

pode se localizar entre esses fatores. Pode-se descobrir que dois discordam na sua resposta à variável A, não porque haja uma variabilidade intrínseca

na relação entre a variável A e o comportamento, mas porque diferem na sua resposta à variável B que interage com a variável A. Uma solução deste tipo explica a variabilidade num determinado experimento, de forma

determinista, sem adm itir que seja inerente ao comportamento.0 processo de perseguição sistemática das fontes de variabilidade,

para assim explicar os dados da variável, é uma característica do empre­endimento científico. Entretanto, a variabilidade pode ter implicações

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188 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

diferentes para os investigadores que podemos chamar de engenheiros

comportamentais (sem que isso implique em nenhuma atribuição de valor, ou mesmo de dicotomia estrita entre os termos, "c ien tis ta" e "engenheiro"). Entre os engenheiros comportamentais incluo aqueles cujo trabalho se preocupa com a inteligência e aptidão do teste, as interações

homem-máquina, a terapia e o dignóstico do comportamento, amostragem de opinião e controle, e os aspectos relacionados à psicologia aplicada. Estes trabalhadores não podem em regra, lidar com a variabilidade nas formas que apontei, e os dois tipos de problemas não deveriam ser confundidos. Geralmente, o engenheiro comportamental precisa aceitar a variabilidade como a descobre e assim ocupar-se dela, como de um fato da vida inevitável. Por exemplo: a pesquisa básica pode sugerir, como o tem fe ito, que uma forma de aumentar a probabilidade de que um observador de radar capte sinais não freqüentes é fazer reluzir um número de sinais

artificia is na tela (46). Muitos problemas surgirão ao se aplicar essa sugestão. Por exemplo: com que freqüência deverão ser apresentados os sinais? A freqüência ideal de apresentação irá indubitavelmente variar de acordo com os diversos observadores. Não é nenhum consolo dizer ao engenheiro que as fontes dessa variabilidade podem ser identificadas. A

menos que a variabilidade possa ser eliminada, por exemplo, por meio de

treinamento especial, terá que ser um pouco transigente com ela. Acabará por apresentar os sinais artificiais numa freqüência que desconfie,

ou que tenha experimentalmente determinado, que seja a ideal para a maioria dos observadores, nas mais variadas condições.

Cronbach tem fe ito uma distinção entre a psicologia básica e a aplicada, e embora essa distinção seja mais ampla do que a que estou

acentuando, apesar disso tem m uito em comum com ela (22). Fala de "duas correntes históricas de método, pensamento e filiação que atra­

vessaram o ú ltim o século da nossa ciência". Denominando uma dessas correntes de psicologia experimental e a outra de psicologia correlacionai, Cronbach caracteriza-as da seguinte form a:

O valor reconhecido do método experimental é o de manter sob controle ríg ido as variáveis da situação. Assim permite testes rigorosos das hipóteses e afirmações confiantes sobre a causação. O método correlacionai, por sua vez, pode estudar o que o homem não aprendeu a controlar ou aquilo que não se espera mesmo poder controlar. A natureza vem experimentando desde o princ íp io dos tempos, com uma ousadia e uma complexidade bem acima dos recursos da ciência. A missão de quem faz a correlação é observar e

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UM PROBLEMA CIENTIFICO E DE EN G EN H AR IA 189

organizar os dados dos experimentos da Natureza. A menor conseqüência disso será a de estimular as decisões imediatas e guiar a experimentação. Na melhor das hipóteses, um Newton, um Lyell, ou um Darwin podem ajustar as correlações numa teoria subs­

tancial (22, p; 672)

O engenheiro comportamental raramente tem os recursos ou o

tempo que seriam necessários para eliminar a variabilidade que encontra

num certo problema. Podemos ser solidários com seus apuros e admirar as suas conquistas diante de tais dificuldades. Alguns cientistas básicos, no

entanto, vão além da admiração. Realmente admiram o engenheiro e enfrentam os problemas científicos básicos, como se fossem engenheiros

dos problemas. Vem daí a insistência em amostragens amplas e critérios estatísticos da generalidade, dando mais importância à generalidade do sujeito que à generalidade de princípios, e a aceitação resignada da

variabilidade intrínseca.Mas o cientista básico pode dispor de um luxo que o engenheiro não

pode sustentar; e que de fato muitos engenheiros não consideram desejável. É o luxo de poder refinar as condições experimentais até que mantenham somente as relações mais abstratas com o mundo como o vemos normal­mente. É um luxo porque exige uma quantidade de tempo que a pressão das exigências dos problemas práticos geralmente não permite; e porque

exige um investimento financeiro a longo prazo, que não poderia ser normalmente tolerado, se esse gasto tivesse que ser incluído no custc, e algumas vezes no preço de mercado de um produto de engenharia. O cientista básico tem a obrigação de tira r proveito desse luxo, porque se considera que será recompensado tanto pelas contribuições à nossa compreensão dos fenômenos naturais, como por aplicações práticas nos problemas de engenharia.

A eliminação da variabilidade nos experimentos de laboratório pode parecer que não constitua um procedimento racional para descobrir

qualquer coisa sobre o mundo obviamente variável ao nosso redor. Mas, como fato empírico, esse procedimento tem tido um enorme sucesso. Princípios de grande generalidade, descobertos em laboratório, muitas

vezes se percebe que estão atuando em alguma parte do mundo. O conhecimento das técnicas de manipulação e observação de condições relevantes, adquirido em laboratório, muitas vezes é suficientemente poderoso para anular as fontes naturais de variabilidade. A obrigação do pesquisador básico é ainda maior porque é somente ele que se dedica a essa tarefa.

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190 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TÍFIC A

A pesquisa básica tem ganho um grande prestígio, e pela primeira vez na história está agora recebendo um apoio público tangível. O cientista básico, no comportamento ou em qualquer outra área, não está

cum prindo a sua obrigação quando trata a sua matéria de estudo como se

fosse um problema de engenharia. Quando orienta suas técnicas experi­

mentais em torno de condições de variabilidade intrínseca aceita fatalisti-

camente, perde os seus direitos aos luxos da investigação da ciência

fundamental. De fato, ele se encontra numa situação peculiar e interme­

diária. Seus objetivos adotados são os da pesquisa fundamental, mas as suas técnicas são as adequadas para a solução de problemas imediatamente

práticos. Conseqüentemente, muitas vezes não realiza nem um nem outro.

A V A R IA B IL ID A D E COMO UM DADO

A distinção metodológica entre o cientista básico e o engenheiro ressalta o contraste entre a variabilidade como um problema de fo rm u­lação das leis comportamentais, e como um problema de técnica experi­mental. Na medida em que a variabilidade fo r considerada um resultado da compreensão inadequada e/ou do controle insufuciente das variáveis relevantes, ela permanece um problema puramente experimental. O cientista básico dirigirá os seus esforços para a eliminação da variabilidade, ao menos até o ponto em que não interfira nas suas principais descobertas. Necessariamente o engenheiro aceitará a variabilidade, procurará avaliá-la e leva-la-á em consideração nas suas recomendaçêos. As recomendações do engenheiro assumem a forma de sugestões para a ação concreta; por exemplo: como preparar os mostradores do painel de instrumentos do avião, que itens inclu ir num teste de inteligência, que medidas terapêu­ticas deverão ser adotadas, etc.. O pesquisador fundamental faz as suas

recomendações na forma de leis comportamentais. Estas podem variar desde a descrição de uma relação empírica entre duas variáveis, até uma

sistematização compreensiva de um grande número dessas relações.

Muitas vezes as leis não são estabelecidas de forma a considerar a

variabilidade que realmente fo i observada nos experimentos. Muitas vezes

admite-se que teria sido reduzida a um grau desprezível em relação aos fenômenos contidos nas leis estabelecidas, e, se necessário, poderia ser

ainda mais reduzida posteriormente, por meio de uma técnica experi­mental mais rigorosa. A lei é assim muitas vezes declarada como se existisse na sua forma pura, não contaminada pela variabilidade que sempre pode ser observada, se as medidas forem suficientemente precisas.

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UM PROBLEMA CIENTl'FICO E DE ENG ENHARIA 191

Entretanto, quando a variabilidade observada é ordenada, o cientista

é obrigado a levá-la em consideração para a formulação das suas leis. A variabilidade, de fato pode ser tão conspícua que forneça o principal dado experimental; por exemplo; o fornecido pelo comportamento observado, de oscilar de forma legítima. A oscilação e os efeitos das variáveis rele­vantes nas características da oscilação, podem fornecer os dados em que se

baseia uma afirmação de lei comportamental.Podemos, por exemplo, programar um esquema de reforçamento de

razão, com uma base auto-ajustável. Sujeitos que atuam num esquema de razão fixa exibem uma freqüência bivalente de resposta. Imediatamente após cada reforço há uma pausa, enquanto isso a freqüência é zero. Logo

que se iniciam as respostas, no entanto, elas continuam numa freqüência alta, próxima do máximo, até que ocorra um novo reforço. Isso está ilustrado na Figura 19. Sabe-se que a duração de pausa, depois do reforço, é uma função da razão das respostas aos reforços. Quanto mais alta a razão, isto é, quanto maior fo r o número de respostas exigidas pelo

Figura 19. Registros de dois sujeitos, mostrando o desempenho característico da razão-fixa, de pausas seguindo cada reforço (marcado pelas linhas obl(quas) e a rápida transição para uma freqüência final alta (Ferster e Skinner, 34, p. 52).

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192 TÁTIC AS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

reforçamento, tanto maiores serão as pausas. Valendo-nos dessa in fo r­

mação, podemos programar especificamente um esquema de razão, de tal

forma a produzir um estado de oscilação. Simplesmente permitimos que o

valor da razão se ajuste com base na extensão da pausa que segue o reforçamento. (34, p. 720).

0 número de respostas necessárias à produção de um reforçamento em particular pode ser estabelecido inversamente proporcional à duração

da pausa precedente. Uma pausa longa fará então com que o aparelho de

programação diminua o número de respostas necessárias ao próximo

reforço. Tais diminuições na razão necessária encurtarão automaticamente

as pausas subseqüentes. Pausas mais curtas, por sua vez, farão com que o

aparelho de programação aumente o número de respostas exigidas para o

reforçamento, e tais aumentos produzirão novamente pausas mais longas.

O comportamento, na medida em que é medido pela duração da pausa após o reforço, oscilará em torno de qualquer valor que seja o ideal nas condições especiais do experimento. O período e a amplitude das osci­lações serão uma função de variáveis, como a proprocionalidade constante entre duração da pausa e grandeza da razão, limites máximo e m ín im o da grandeza da razão, seu reforçamento to ta l, drogas e outros fatores.

O comportamento resultante é, em princíp io, intrinsicamente variável, e pode ser descrito compreensivamente em termos de carac­terístico das suas oscilações. A variabilidade, nessa circunstância, torna-se o dado sobre o qual as leis comportamentais devem se basear. Não é um problema que simplesmente exige refinamento das técnicas experimentais. A relação desta variabilidade com a técnica é uma relação indireta. Se, por manipulação experimental deliberada, pudermos produzir e controlar um estado de oscilação, teremos acesso à informação que nos permite compreender exemplos semelhantes de variabilidade quando ocorrem em situações não controladas. A oscilação comportamental no esquema de razão ajustável ajuda-nos a compreender porque é d if íc il manter um desempenho de razão forçada — isto é, um desempenho de razão caracterizado por longas pausas seguindo os reforços — em qualquer

período prolongado de tempo. O procedimetno comum de razão não

possui qualquer mecanismo de auto-ajustamento estabelecido. Desde que a

razão permaneça a mesma, independentemente da duração da pausa, as pausas longas irão provavelmente produzir outras mais longas, e o comportamento irá finalm ente desaparecer. Da mesma forma, as pausas curtas iniciam um processo em aspirais na direção oposta, até que o desempenho final seja caracterizado por pausas após reforçamento extremamente breves.

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UM PROBLEMA CIENTIFICO E DE ENG ENHARIA 193

A informação sistemática dessa espécie terá pelo menos duas

implicações para a tecnologia da razão-fixa. Ao se produzir o comporta­

mento da linha de base por meio de um esquema de razão-fixa, temos, antes de mais nada, uma base racional para decidir até onde estender a dimensão da razão; segundo, uma técnica de mensuração. A extensão da pausa após-reforçamento tem-se demonstrado como um barômetro sen­

sível do desempenho da razão.Uma descoberta de que a variabilidade deriva da ação de um

processo cíclico auto-ajustável, ou do fracasso de tal processo, terá uma implicação importante no estabelecimento das leis comportamentais. Não podemos adm itir que a variabilidade possa ser reduzida por um controle experimental mais rigoroso. Entretanto, as leis não podem ser formuladas de tal forma a ignorar a variabilidade que fo i realmente observada nos experimentos relevantes. Elas devem, de preferência, levar em conta essa variabilidade, e na verdade, devem tomar essa variabilidade como ponto de partida. Tal variabilidade não é meramente uma "algazarra" no sistema. É o dado principal. Temos aqui um caso em que as leis baseadas na variabilidade terão precedência sobre as que admitem

constância nas variáveis fundamentais.No exemplo da razão ajustável observamos uma técnica de investi­

gação e justificação do comportamento que varia em torno de um estado ideal. Com um'pouco de engenhosidade, a técnica pode ser aplicada a uma

variedade ampla de outras situações. Uma parte da variabilidade nos experimentos comportamentais, no entanto, deriva das oscilações entre

duas ou mais formas diferentes de comportamento, mais do que entre os

vários estados de uma única resposta. A investigação experimental direta

tornará possível um cálculo sistemático dos fatores responsáveis por essa "variabilidade da resposta".

Num tipo de experimento, por exemplo, um pombo tem duas chaves ao seu alcance onde pode bicar. A resposta numa chave produz o

reforço alimentar num esquema em razão. Mas depois de cada reforça­

mento, o número exigido de respostas, isto é, a dimensão da razão,

aumenta. Respondendo na segunda chave, no entanto, faz com que a razão volte ao seu valor m ínim o. A freqüência da oscilação entre as duas chaves depende de fatores, como a dimensão do acréscimo dado à razão depois de cada reforço e o número de respostas exigjdas na segunda chave para reduzir a razão. Estas duas variáveis podem ser ajustadas para produzir quase qualquer freqüência de oscilação desejada entre as duas chaves (36). Estes experimentos indicam que a oscilação da resposta está sob o controle de fatores que podem ser especificados e manipulados e não é, como

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194 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

muitos teóricos pretenderam adm itir, uma fonte da variabilidade irredu­tíve l, ou intrínseca. Na medida em que os experimentos de resposta m últipla se tornarem cada vez mais freqüentes, podemos esperar luzes

adicionais nesse aspecto da variabilidade.Outros experimentos têm demonstrado que a variabilidade da

resposta pode surgir da restrição inadequada da contingência do reforça­

mento. O caso extremo é aquele em que o reforço é apresentado indepen­dentemente de qualquer forma de comportamento. Seja qual fo r o comportamento que se está desenvolvendo na ocasião da ocorrência do reforço, aumentará de freqüência, mas a topografia do comportamento

condicionado fortu itam ente mostrará um desvio gradual (82). Isto porque as variações ligeiras das respostas podem ser reforçadas, uma vez que o

reforçamento seja, de fato, independente de qualquer forma especificada

de comportamento. Depois de um período de tempo suficientemente longo, a resposta que fo i originalmente "chamada" pejo reforçamento

pode não ser nem mesmo reconhecida no padrão de comportamento mantido correntemente.

Na maioria dos experimentos a situação é de alguma forma mais limitada do que essa, mas há, usualmente, uma latitude considerável. Quando uma resposta é especificada como "pressão à barra", o comporta­mento é lim itado somente a aquelas ações que se saem bem na pressão á barra. A pressão à barra pode, no entanto, variar através de uma topo­grafia ampla, incluindo respostas de força e duração variadas, e realizadas com partes diferentes do corpo.

Não está claro até o momento se a variabilidade que resulta da limitação insuficiente das contingências de reforço seria um problema de técnica experimental ou um fa tor que deveria ser considerado na formulação das leis comportamentais. Temos poucos dados experimentais relativos a essa questão. A sua formulação usual está em termos da definição da resposta. Quando uma resposta é definida em termos das suas conseqüências, isto é, reforçamento, surge o problema quanto a se uma definição em termos, digamos, das suas características físicas faria surgir um tipo diferente e talvez mais bem sucedido de sistematização comporta­

mental. Parece provável que a solução final desse problema represente um comprimisso. As respostas serão definidas em termos de contingências de

reforçamento nas quais elas entram, mas as leis comportamentais também incluirão declarações descrevendo os efeitos da variabilidade permissive! nas propriedades da resposta. Essa variabilidade não pode ser eliminada completamente por qualquer refinamento da técnica experimental, despro­vida da transformação do sujeito numa preparação cirúrgica sobre a qual

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UM PROBLEMA CIENTIFICO E DE EN G ENHARIA 195

as contingências de reforçamento não têm nenhum efeito. O problema em questão é em pírico, para determinar se, e como, a restrição quantitativa e/ou qualitativa da variabilidade da resposta irá exigir modificações na

nossa finalidade descritiva do comportamento. Pode ser que estas modificações não sejam necessárias, mas que a limitação crescente simplesmente aguce a precisão das nossas técnicas descritivas atuais.

V A R IA B IL ID A D E E COMPORTAMENTO ADAPTÁVEL

Muitos autores têm apontado que se os organismos não demons­trarem variabilidade no seu comportamento, não sobreviverão muito

tempo. O meio ambiente nunca é constante, e nenhum organismo enfrenta exatamente sempre a mesma situação duas vezes. A modificação do comportamento é exigida para que se possa enfrentar eficientemente um ambiente que se modifica. Os hospitais de doenças mentais estão repletos

de gente que acha impossível enfrentar situações novas por meio de alterações adequadas no seu comportamento. Numa sociedade menos protetora, a estereotipia resultaria em morte. Infelizmente estas obser­vações têm ajudado a produzir uma filosofia do indeterminismo a respeito do comportamento. Desde que a natureza exige a variabilidade para a a sobrevivência, admite-se que aqueles organismos que têm mantido a sua existência são dotados intrinsecamente de variabilidade comporta­mental.

A variabilidade como um fato, é claro, não pode ser nagada. Mas a variabilidade como um princíp io fundamental do comportamento merece um exame mais de perto. A simples observação de que um fenômeno comportamental tenha a função útil de preservar a existência de um organismo, ou de suas espécies, não é uma razão suficiente para tomar esse fenômeno como ponto de partida na análise do comportamento. A variabi­lidade, como tenho salientado nas páginas precedentes, surge de várias fontes e é passível de análise; sua análise tem sido um risco científico proveitoso.

O erro básico em aceitar a variabilidade como ponto de partida da análise comportamental é o fracasso em distinguir entre função útil e processo legítimo. Estar crente de que o comportamento desempenha uma função, que tipos diferentes de comportamento servem a diferentes funções de um organismo, é útil de muitas maneiras. O reconhecimento, por exemplo, por parte de algum gênio remoto e não celebrado de que todos os organismos exigem alimento para sobreviver marcou um avanço

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196 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

do conhecimento biológico, cuja magnitude provavelmente desde então jamais fo i igualada. Mas permanece o fato de que nenhum organismo individual se dedica ao comportamento de buscar alimento para cumprir

um compromisso de preservar a sua espécie. A função desse comporta­

mento pode ser conceituada diante do background global da evolução.

Mas os processos que controlam e são controlados pelo comportamento, dirig ido para o alimento, compreendem pelo menos parte da matéria de estudo de várias ciências biológicas, desde a biofísica até a psicologia.

A variabilidade comportamental está numa categoria semelhante.

As espécies cujo comportamento era estereotipado demais para perm itir que enfrentassem condições ambientais alteradas não mais existem para contar a sua história. As únicas exceções desse quadro são as espécies, tais como o lungfish cujo ambiente não sofreu qualquer alteração importante. Mas novamente, nenhum exemplo individual de variabilidade comporta­mental pode ser entendido unicamente em termos de sua função na preservação das espécies — se é que tal função pode mesmo ser entendida. A investigação experimental da variabilidade revela processos comporta­mentais cuja descrição nos fornece leis comportamentais. A variabilidade pode ser um componente dessas leis, ou uma conseqüência delas. Deve-se procurar uma explicação da variabilidade nas condições em que os processos comportamentais ocorrem e nos fatores que determinam as suas características. A função adaptadora da variabilidade é um fe liz sub­p ro d u to dos processos comportamentais fundamentais.

Pode realmente haver mesmo um erro fundamental em buscar a

função adaptadora de qualquer amostra de comportamento. Uma vez que o processo de evolução, na maior parte, tem eliminado os organismos e

espécies cujo comportamento não era adaptável, baseamos nossas obser­

vações numa amostra preconcebida. Vemos ao nosso redor organismos

cujo comportamento está sob o controle de porcessos que permitem a sobrevivência. Processos que se abrandam diante da sobrevivência tornam- -se visíveis quando examinamos o comportamento no laboratório. A í, animais em que nossas operações experimentais geram processos não

adaptáveis permite-se que sobrevivam, e a realidade destes processos torna-se aparente.

Como exemplo, podemos tomar um comportamento que é originado e mantido por um esquema de reforçamento de razão-fix^. O esquema de razão fixa normalmente gera uma freqüência de resposta extremamente alta, mas se a razão de respostas exigidas para os reforços fo r alta demais, o animal pára de responder. Suponhamos que se exija que um rato garanta todo o seu alimento com a pressão à barra. Cada qurnquagésima pressão à

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UM PROBLEMA CIENTl'FICO E DE ENG ENHARIA 197

barra dá-lhe uma pequena quantidade de uma dieta especialmente preparada, que contém todos os ingredientes necessários a uma manu­

tenção saudável. Nestas condições, a maioria dos ratos manter-se-á

indefinidamente. Vamos agora aumentar a carga de trabalho de 50 para 500 pressões à barra por reforço. A pressão à barra continuará por algum

tempo na sua freqüência alta habitual, mas aparecerão pausas cada vez

mais longas até que o animal responda tão infreqüentemente que seu consumo de alimento não será suficiente para manter-lhe a vida. Final­

mente o animal morrerá de inanição.Nesse exemplo, o meio ambiente modificou-se, mas não de tal

forma a tornar possfvel que o rato garantisse um suprimento adequado de alimentação. Embora a nova contingência de reforçamento não fosse capaz de manter a alta freqüência de razão fixa de pressão à barra, o animal poderia ter continuado numa freqüência mais baixa e ainda assim garantir alimentação suficiente para mais do que compensar a energia

gasta. O animal sente fome no meio de abundância por causa dos processos comportamentais específicos gerados pelos esquemas de reforçamento de

razão-fixa. Quando o reforçamento se torna condicionado ao fato dn animal produzir um número fixo de respostas, certas variáveis se combi­nam de tal forma a produzir ou uma alta freqüência de resposta, ou uma freqüência zero. Se prevalecer a freqüência zero, nenhuma consideração a longo prazo da sobrevivência dos organismos ou das espécies alterará o processo. O processo revela-se mais forte do que a função.

Em princíp io, casos semelhantes, podem m uito bem ser responsáveis pelo comportamento não adaptável que nos força a condenar uma grande parte da nossa população às instituições mentais. Muitos psiquiatras continuam a supor que o comportamento revelado por pacientes mentais, embora inadequado à sobrevivência física, não possui nenhum tipo de função adaptadora. A terapia é freqüentemente orientada em torno da busca dessa função oculta e supostamente idiossincrática.

O paciente que, por exemplo, não revela praticamente nenhuma

forma de comportamento é algumas vezes visto como o produto de uma

história comportamental em que quase todo o comportamento produzia punição ou trauma de algum tipo, real ou imaginário. A perda subseqüente

de todo o comportamento é visto /como uma adaptação ao meio ambiente

em que "não responder" é o único caminho seguro. Entretanto, também

é possível que esse paciente esteja simplesmente demonstrando a resposta

normal e automática a um meio ambiente que deixou de fornecer reforços

suficientemente freqüentes. O processo da extinção comportamental pode

ter sido suficientemente poderoso para anular a função do comportamento

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TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

de sobrevivência. A distinção é im portante na prática, como em princíp io, porque o tip o de terapia a ser empregada irá d iferir acentuadamente, dependendo de qual das possibilidades o terapeuta suspeitar.

Embora o costume seja tom ar a variabilidade como uma propriedade fundamental do comportamento que permite a adaptação a um ambiente

que se modifica, é possível se adotar uma visão diferente da relação entre o ambiente e a variabilidade. Em vez de considerar a variabilidade adapta­

dora como um fenômeno prim ordial, vamos examinar a possibilidade de que seja imposta pelo meio ambiente. Há uma inversão sutil na ênfase aqui

envolvida. Em vez de avaliar a variabilidade quanto á sua função de adaptação no controle do meio ambiente, podemos ver a variabilidade

como sendo gerada por um ambiente continuamente em modificação, para que a sua função adaptadora seja secundária.

O meio ambiente pode originar variabilidade comportamental de

muitas maneiras. O método mais d ire ito é pela força brüta. Um organismo

pode descobrir que uma resposta é bem sucedida na primeira vez em que se depara diante de uma determinada situação, mas na próxima vez em que a situação surge, seu comportamento original não dá mais o mesmo resultado. Todo o pai que observa o comportamento que se desenvolve nos seus filhos, acima de um interesse superficial, terá visto exemplos desse processo. Um bebê de nove meses, por exemplo, pode ter descoberto que pode conseguir sorrisos e carícias de seus pais com um pequeno truque, como batendo palmas. Eventualmente, se os pais estiverem preocupados, isso não irá funcionar. O choro subseqüente, no entanto, poderá ter sucesso onde o bater palmas fracassou. Mais tarde, outro truque, “ dar adeus", pode produzir os mesmos resultados. Algumas vezes é neces­sário somente que a criança abra um grande sorriso. Cada um desses tipos de comportamento é condicionado separadamente, e qualquer um deles pode ocorrer no ambiente paterno. A criança pode de fato, ser observada ocasionalmente a passar rapidamente através da seqüência de bater palmas, sorrir e dar adeus até que o reforçamento habitual seja concedido.

Exemplos semelhantes podem se m ultip licar através da história da vida dos organismos que se comportam, até que se torne impossível

deslindar os sistemas entrelaçados de múltiplas respostas diretamente

condicionadas. Respostas diferentes podem ser reforçadas em ambientes que parecem semelhantes, embora ambientes aparentemente diferentes

provocarão formas comuns de comportamento. O comportamento rica­

mente diversificado que resulta pode ser altamente adaptável, mas a diversificação não surge espontaneamente com o propósito de adaptação.

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UM PROBLEMA CIENTl'FICO E DE ENG ENHARIA 199

As variações comportamentais são diretamente condicionadas. São adap­

táveis somente na medida em que o ambiente continuar a fornecer

reforçamento de acordo com as mesmas regras.0 que acontece quando as regras se modificam e o comportamento

que antes era adequado não mais logra sucesso? A evidência experimental

indica que o processo de extinção produz variabilidade comportamental aumentada (2). Aqui, então, estamos diante de um mecanismo comporta­mental que não parece estar designado para promover a sobrevivência. A menos que os organismos possam desenvolver novos rumos de ação, quando o meio ambiente deixa de reforçar formas de comportamento anteriormente adequadas, suas chances de sobrevivência estarão enorme­mente diminuídas. A extinção da variabilidade produzida é um mecanismo de adaptação tão perfeito como qualquer um que tenha sido observado

em outras áreas biológicas.Mas novamente, a função de adaptação pode ser somente secundária

para um processo de condicionamento direto. Os dados a esse respeito são escassos. Tem-se sugerido, no entanto, que as variações ocorridas durante a extinção consistem em formas comportamentais que no passado haviam sido reforçadas (64). O fato de que tal reforçamento possa ter sido somente incidental ou mesmo acidental, não dim inui a sua eficiência. O reforçamento sobrevêm tipicamente quando o comportamento produz um certo efeito final, mas pode haver somente poucas restrições no caminho em que uma seqüência de comportamento pode tom ar na busca da sua

conclusão.Um jogador de xadrez sente-se recompensado depois que põe o rei

do seu adversário numa posição comprometedora, mas a grande variedade de lances pelos quais este objetivo pode ser atingido torna o jogo uma fonte inesgotável de fascínio para os seus aficcionados. Um jogador

experimentado, quando encontra um adversário que não é suscetível à sua

estratégia favorita, tem um repertório reforçado de outros rumos de ação de que se poderá valer. A variabilidade de adaptação demonstrada por um

mestre é o resultado sofrido de uma longa história de reforçamento e extinção. Este princíp io é admitido na construção de máquinas de jogar xadrez. A probabilidade de que a máquina faça um determinado lance

depende não somente da configuração das peças atualmente no,tabuleiro, mas também das conseqüências que lances semelhantes tiveram no passado, em circunstâncias semelhantes.

Como o jogador de xadrez, o animal de laboratório pode variar as suas respostas ao longo de muitas dimensões, contanto que produzam o efeito necessário. As pressões à barra podem variar de força e duração;

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TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

podem ser realizadas com qualquer uma das patas, com o focinho, ou mesmo a cauda; podem ter sido precedidas de qualquer outra resposta do repertório do animal. Mas enquanto o animal fo r bem sucedido em

desviar o in terruptor, o reforço ser-lhe-á concedido. Finalmente, o comportamento de pressão à barra torna-se relativamente lim itado em sua

forma, mas a história do reforçamento das variações iniciais pode aparecer

novamente durante a extinção. A observação quantitativa deverá revelar uma correlação entre as formas divergentes de resposta observadas durante a extinção e a história do reforçamento das variações.

Se a latitude perm itida pela contingência inicial de reforçamento fosse suficientemente ampla, a variabilidade produzida na extinção provavelmente perm itiria ao animal oferecer um tipo de resposta relem­brada com sucesso. Se, no entanto, a nova exigência pedir um comporta­mento que não está relacionado a formas reforçadas anteriormente, o organismo pode morrer. Quando o meio ambiente torna o reforço depen­dente de formas limitadas de comportamento, também d im inui o “ reservatório" de comportamento que estará disponível, quando as exigências se modificarem

O controle ambiental da variabilidade do comportamento pode ainda tom ar um outro rumo. Se as contingências de reforçamento se modificam

cântinuamente, podemos esperar observar um grau correspondentemente de variabilidade comportamental. Num ambiente que exige constante

reorientação e ajustamento de condições que se modificam, a variabilidade pode se tornar o aspecto mais importante do comportamento. Em algumas circunstâncias a própria variabilidade pode se tornar condicionada. Quer

dizer, o reforçamento pode estar condicionado não só à emissão de uma determinada resposta diante de estímulos adequados, mas também à

emissão de comportamento variável. Em tais casos a variabilidade será a re­

gra, porque será a principal exigência para que o reforçamento ocorra. O comportamento criativo bem sucedido na ciência, nas artes, ou çm outro

lugar qualquer tem um forte componente de variabilidade condicionada.

Uma lição consistente da ciência é que as soluções dos problemas experi­mentais ou teóricos muitas vezes exigem o distanciamento das formas trad i­

cionais de pensamento. Os cientistas que persistentemente questionam as formulações tradicionais e as abordagens ortodoxas estão mostrando os

efeitos de uma história do reforçamento para a variabilidade comportamen­

tal. Descobriram que quando velhas respostas deixam de funcionar, devem ser tentadas novas respostas.

A variabilidade condicionada comportamental tem um valor de sobrevivência indubitável — observa o comportamento do animal de caça,

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UM PROBLEMA CIENTl'FICO E DE EN G EN H AR IA ' 201

do estrategista m ilitar, do amante, assim como do cientista criativo. A variabilidade comportamental nesses casos é tão obviamente adaptadora

que é fácil adm itir que com isso a explicamos. Mas a declaração de que a variabilidade comportamental possua valor de sobrevivência é realmente uma afirmação da disponibilidade do reforçamento. O comportamento é adaptável na medida em que garante os reforçamentos que mantêm o organismo vivo, saudável, ou em seu campo escolhido de esforço. Se quisermos entender a função de adaptação da variabilidade comporta­mental precisaremos, antes de mais nada, investigar as relações entre a

história do comportamento e do reforçamento. A variabilidade pode ser condicionada, mas as formas particulares de comportamento que surgem de estágios diferentes de uma seqüência variável são uma função das

contingências que precisam ser justificadas.Está aqui, então, o problema básico envolvido na explicação de

qualquer exemplo determinado de variabilidade, se está no nível da manutenção física ou da criatividade científica abstrata. Quais são as

variáveis específicas históricas e atuais que produzem o comportamento bem sucedido? Reconhecer a função de adaptação da variabilidade

comportamental não ajuda a responder a ésta questão.

A generalização do estímulo e a indução da resposta. Dois fenô­menos que parecem ser exemplos de variabilidade fundamental e parecem possuir uma função conspícua de adaptação são a generalização do estímulo e a indução da resposta. As observações básicas que definem esses fenômenos são conhecidos há muitos anos, mas até recentemente só produziram um ataque experimental fraco. O experimento que demonstra

a generalização do estímulo na sua forma mais precisa e quantitativa é o seguinte (38).

Um pombo fam into é colocado numa câmara experimental escura; há um disco ilum inado ou uma chave em uma das paredes da câmara. Bicando essa chave, o pombo pode ter acesso a uma pequena quantidade

de grãos. Depois que o pombo aprendeu a bicar a chave, o reforçamento de grãos é programado de acordo com um esquema de intervalo variável, isto é, a resposta de bicar produz alimento em intervalos de tempo irregular­

mente espaçados. Durante as fases do experimento em que a resposta é reforçada, a iluminação da chave é mantida num comprimento de onda constante — digamos, 550 milimicrons.

A próxima fase do experimento, que é crítica, é realizada na condição de extinção experimental. O mecanismo de liberação de alimento é desligado, e a ave não mais recebe alimento na câmara experimental. O

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2 0 2 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

esquema de reforçamento de intervalo-variável fo i empregado na primeira

fase porque é conhecido por gerar alta resistência à extinção da resposta, previamente reforçada. Durante o período de extinção, em que uma

freqüência estável seria normalmente mantida, a cor da chave é sistemati­camente mudada numa ampla gama espectral. As cores são mudadas freqüentemente, mas cada uma é apresentada durante um período igual de

tempo to ta l, para que o número de respostas de bicar diante de cada cor possa ser comparado diretamente.

Os resultados típ icos de um único pombo aparecem na Figura 20. O maior número de respostas de extinção fo i em itido quando o compri­mento de onda da luz que ilim inava a chave era de 550 milimicrons. Esse era o comprimento da onda presente na fase de reforçamento em intervalo-variável. Na medida em que cada vez mais o comprimento da onda difere dos 550 m ilim icrons, o número de respostas dim inui. Esta curva tem sido denominada de "gradiente de generalização". Mostra que o sujeito responde não só aos estímulos què lhe são apresentados durante o reforçamento, mas também aos estímulos a que nunca fo i previamente exposto nesta situação em particular. Na medida em que os novos estímulos diferirem dos originais, no entanto, a probabilidade de resposta declinará.

A generalização gradiente fornece um mecanismo por meio do qual o comportamento pode se adaptar a um meio ambiente que jamais repete qualquer combinação de estímulos. Se uma form a de comportamento bem

sucedido tivesse que ser somente controlado por circunstâncias precisas que estivessem présentes ao tempo da sua aquisição, teríamos que

Comprimento de onda (milimicrons)

Figura 20. Gradiente de generalização do estímulo (Adaptado de Guttman e Kalish, 39)

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UM PROBLEMA CIENTl'FICO E DE ENG ENHARIA 203

reaprender o comportamento cada vez que a situação original tornasse a

ocorrer, com suas inevitáveis variações. Keller e Schoenfeld conseguiram

dizer o que pretendiam de uma maneira m uito agradável:

Nosso ambiente está em fluxo perpétuo, e é m uito pouco provável

que qualquer estím ulo ocorra novamente de forma idêntica. Os estímulos visuais fornecidos por uma lebre correndo, de uma raposa,

ou pelo rosto de um amigo, quando você o vê de vez em quando, estão sujeitos a variações sem conta quanto à forma, o movimento, brilho, etc., embora a raposa continue a sua caça, e você não se sinta diante de uma procissão de estranhos. No ambiente sempre em modificação, a generalização dos estímulos dá estabilidade e consis­tência ao nosso comportamento (51, p. 116).

Embora a generalização funcione para produzir comportamento consistente, o gradiente também contém em si uma fonte de variabilidade. Como se mostra na Figura 20, a probabilidade de uma resposta adequada não é constante numa série de variações de estímulos. A natureza pode muitas vezes apresentar situações marcadamente diferentes que, apesar de

tudo, podem pedir o mesmo comportamento. A probabilidade de que o comportamento adequado ocorra torna-se menor, na medida em que as situações diferirem mais nitidamente. A variabilidade comportamental pode assim ocorrer onde a consistência fo r exigida.

Além disso, cada situação, no laboratório ou fora dele, contém muitos estímulos, cada um deles podendo variar ao longo de um sem

número de dimensões. Os gradientes que interagem na generalização são

uma fonte em potencial de variabilidade do comportamento, cuja influência apenas começamos a explorar. As observações de laboratório têm sido feitas com a preponderância de um estímulo sobre o outro,

quanto ao grau de controle exercido sobre o comportamento, mas nada se sabe sobre os gradientes de generalização que estão interagindo de tal

forma a produzir preponderância. A área é fascinante, e a sua exploração

irá, indubitavelmente, fornecer dividendos à nossa compreensão e ao

nosso controle da variabilidade comportamental.Têm sido observados casos extraordinários da preponderância dos

estímulos que poderíamos normalmente esperar que tivessem um pequeno efeito. Um exemplo surgiu num experimento sobre comportamento de esquiva, em que o sujeito era um macaco (15). O começo de cada sessão experimental era assinalado por um jato de luz vermelha, que permanecia aceso durante a sessão. Quando o jato era apagado, o experimento era

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nJ rrï

TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

dado por terminado naquele dia, e o animal podia descansar. Depois de

alguma experiência, o animal normalmente iniciava uma freqüência

estável de resposta de esquiva, logo que a luz era ligada. Um dia, no

entanto, houve uma falha do aparelho, e o jato de luz não funcionou. Uma luz vermelha mais suave apareceu, em vez do jato habitual.

Nessas circunstâncias, poder-se-ia esperar observar a p rin c íp io uma freqüência de resposta mais baixa do que a habitual, ou mesmo uma

freqüência zero, com uma recuperação imediata logo que o animal recebesse alguns choques. Parecia razoável supor que o choque exercesse

um controle mais potente do que o facho de luz, nessa situação. Entre:

tanto, o que o macaco fez fo i sentar-se e receber várias centenas de

choques, um a cada 20 segundos, sem dar nenhuma resposta de esquiva. A pequena mudança de um facho de luz, para uma luz mais branda realmente produziu uma modificação significativa ao longo do gradiente de generali­zação - talvez o da freqüência com o facho de luz. Isto ocorreu apesar do fato de que outras variaveis demosntravelmente poderosas, como o choque, não tivessem mudado. Casos semelhantes não registrados em maior ou menos grau, indubitavelmente estão presentes em muitos experimentos comportamentais. Enquanto os fatos da generalização permanecerem envoltos em mistério, o conceito de variabilidade intrínseca continuará a ser aplicado. O melhor dos experimentos que têm sido realizados nessa área indicam que a generalização é um fenômeno orde­

nado. A interpretação do processo, em termos da sua função de adaptação ou de não adaptação, irá finalm ente chegar a uma análise funcional

baseada no tipo de dados quantitativos ilustrado na Figura 20.

A indução da resposta é algumas vezes considerada como sendo a

resposta em contraposição à generalização do estímulo (81). A observação experimental que segue é típ ica do pequeno número de medidas que foram

feitas nos gradientes da indução. Nesse experimento (47), um rato

fam into recebia uma bolota de alimento cada vez que pressionasse uma

barra. A contingência do reforçamento, no entanto, não tinha uma

restrição importante. A pressão à barra devia ser de 21 gramas ou mais para

que a bolota de alimento fosse liberada. A pressão de cada resposta à barra

foi registrada, e a modulação da freqüência das pressões em uma série de

100 reforços é apresentada na porção superior da Figura 21. Uma conside­

rável variabilidade pode ser observada, variando as pressões desde 13 até

45 gramas. Tal variabilidade tem uma grande utilidade de adaptação, porque o ambiente raramente requer um comportamento com proprie­dades estreitamente circunscritas. Chega-se a tolerâncias requintadas nas habilidades altamente desenvolvidas, como tocar piano em concerto.

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UM PROBLEMA CIENTIFICO E DE EN G ENHARIA 205

— i— i— i— i— i— i— i— i— i— i— i— r

13- 17- 21 - 25- 29- 33- 37- 41 - 45- 49- 53- 57-

8 8---- I----1---- 1----1---- 1----1----1---- 1----1 I I I1 3 -1 7 -2 1 -2 5 ; 29-33- 37- 41- 45- 49- 53- 57-

Intensidade das pressões em gramas

Figura 21. A distribuição da frequência, na parte superior, ilustra as variações da pressão exercida por um rato ao pressionar a barra. Todas as pressões à barra, com uma pressão de 21 gramas ou mais, produziam uma bolota de alimento. Na parte de baixo a distribuição mostra as mudanças que ocorreram quando a pressão exigida subiu para 38 gramas, ou mais. (Hull, 47, p. 305.)

Normalmente, no entanto, uma gama considerável das variações nas dimensões de uma forma particular de comportamento não é permissível, mas é realmente exigida. As dimensões de um meio ambiente variam, e o comportamento precisa variar de modo correspondente se quiser ser bem

sucedido.A indução da resposta nos proporciona um dos mecanismos de

adaptação mais elegantes que a pesquisa comportamental já logrou descobrir. Suponhamos que o meio ambiente se modifique de tal forma a exigir um comportamento com propriedades que nunca apareceram antes

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206 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

no repertório do organismo. Olhando novamente a distribuição da parte de cima da Figura 21, podemos imaginar o que teria acontecido se a

pressão exigida fosse repentinamente aumentada das 21 gramas originais para 57 gramas ou mais. Uma vez que pressões dessa magnitude nunca foram observadas, é provável que o comportamento se extinga por falta de

reforçamento. Se todo o seu alimento tiver que ser obtido na sessão experimental, o animal também provavelmente morrerá, juntamente com o seu comportamento de pressão à barra.

Suponhamos, no entanto, que passemos a escolher 38 gramas, como

nosso novo ponto de interrupção. O animal ocasionalmente emite uma resposta leve com 38 gramas de pressão, ou mais e assim recebe algum

reforçamento. Os resultados dessa nova exigência estão apresentados na distribuição mais embaixo da figura. Notamos que a distribuição passou

a ser dirigida marcadamente para altas pressões. A margem de variabilidade também cresceu. Mas, o mais im portante, observamos agora pressões que não haviam sido registradas anteriormente. Modificando-se a exigência de pressão para um ponto dentro da margem normal de variação, fez-se com que aparecesse um novo comportamento. Agora é possível reforçar a pressão à barra de 57 gramas para mais. Por meio desse procedimento, níveis de força iguais ao peso fís ico do animal foram atingidos.

Como declararam Keller e Schoenfeld, "o reforçamento de uma resposta que possua uma certa intensidade aparentemente é suficiente para fortalecer topograficamente respostas semelhantes que possuam intensidades amplamente diferentes" (51, p. 171). Mas o "p o rq u ê " da indução da resposta não fo i ainda suficientemente solucionado. Uma das razões é o fa to de que um caso puro de indução da resposta nunca fo i examinado em laboratório. No experimento, por exemplo, cujos resultados são apresentados na Figura 21, indubitavelmente a indução fo i responsável pelo aparecimento inicial de novas respostas, quando a exigência de pressão fo i modificada para mais. Mas uma vez aparecidas as novas respostas, são subseqüentemente mantidas por reforçamento d ire to e não mais constituem um caso puro de indução. O problema, de fato, passa a ser o de explicar porque ocorrem tão raramente.

A té que se consiga um caso de indução não contaminada, a variabi­lidade que surge dessa fonte permanecerá mal compreendida, e o

fenômeno continuará a receber classificações superficiais como a de mecanismo de adaptação". Mas uma demonstração de uma indução da

resposta genuína, através de técnica experimental refinada, provavelmente será acompanhada da menor quantidade de variabilidade atribuível à indução. Num experimento como o da Figura 21, por exemplo, podíamos

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UM PROBLEMA CIENTIFICO E DE ENG ENHARIA 207

colocar tanto um lim ite in ferior como um superior nas pressões das

respostas que produzem reforçamento. Em vez de reforçar todas as

pressões acima de 38 gramas, poderíamos reforçar somente as respostas

que ficassem entre 38 e 41 gramas. Quaisquer pressões acima de 41

gramas, então, representariam mais um caso de indução quase não conta­

minado. Mas não há dúvidas de que a margem de variabilidade seria bem dim inuída. Outro fa to r que deveria ser eliminado é o reforçamento de certas seqüências. Por exemplo: se respostas "corretas" fossem caracteris­ticamente precedidas por uma ou mais respostas "incorretas", poderíamos

estar reforçando as últimas como membros de uma cadeia adventícia. A eliminação dessa possibilidade talvez diminuísse posteriormente a quanti­dade de variabilidade que normalmente atribuím os à indução.

Então, pode haver realmente o caso em que a indução da resposta, apesar da sua utilidade adaptadora, seja na realidade somente uma colabo­radora menor para a variabilidade comportamental. É provável que esse efeito principal seja indireto, no que contribui para o aparecimento inicial de um novo comportamento que pode subseqüentemente entrar numa contingência de reforçamento e ser mantido diretamente.

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quanta_______parie

projeto ___________experimental

Nos capítulos anteriores tenho considerado, de maneira mais ou

menos geral, alguns dos problemas que surgem na avaliação dos dados experimentais. Agora indicarei como essas considerações entram no proje­to e condução reais do experimento. Sempre que possível, recorrerei a experimentos reais para a ilustração, mas ocasionalmente terei que fazer

demonstrações hipotéticas.0 uso de experimentos publicados para esclarecer um princíp io de

projeto experimental tem a virtude de prover o estudante de fontes para a obtenção de descrições relativamente detalhadas de procedimentos experi­mentais, e às quais poderá recorrer toda a vez em que surgir uma necessi­

dade de informação técnica. Por outro lado, há o perigo de que uma

"conseqüência da g lória" o vincule a experimentos citados como bons exemplos de uma determinada técnica. Somente o experimento raro é modelar em todos os seus aspectos. Um experimento selecionado, por

certos aspectos .desejáveis, pode muito bem ser deficiente por outras fo r­mas. Insisto nesse ponto, em parte para manter o leitor com os pés no chão, e em parte para que me absolvam antecipadamente da culpa de

imodéstia que possa surgir da citação de meus próprios experimentos, e dos outros relacionados como exemplos de técnicas desejáveis. Meus exem­plos são extraídos, necessariamente, das áreas com as quais estou mais familiarizado. Entretanto, os problemas e soluções que ilustram têm a

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TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

pretensão de ser gerais em princíp io. Os que têm um interesse e compe­

tência técnica em outras áreas, poderão ter uma pequena dificuldade em fazer as traduções necessárias.

Uma possibilidade mais pertubadora é que os exemplos possam ser aceitos como constituindo uma série de regras, que devam ser seguidas no

projeto de experimentos. Nunca é demais insistir que isso seria um desas­tre. Poderia fazer a afirmação corriqueira de que cada regra tem a sua

exceção, mas isso não seria suficientemente forte. Nem o é a afirmação

mais branda de que as regras do projeto experimental são flexíveis, para serem empregadas somente onde forem adequadas. O fa to é que não

existem regras para o projeto experimental.Cada experimento é único. Os experimentos são realizados para des­

cobrir alguma coisa que ainda não sabemos. Se soubermos os resultados antecipadamente, não haverá razão para realizarmos o experimento. Em nossa busca de novas informações precisamos estar preparados para a qual­quer momento alterar nossa concepção do que é desejável no projeto experimental. A natureza não entrega os seus segredos facilmente, e cada novo problema de investigação exige suas próprias técnicas. Algumas vezes as

técnicas adequadas serão as mesmas que já foram empregadas em algum lugar. Muitas vezes métodos conhecidos terão que ser modificados, e, na ocasião, novos princípios de projeto experimental e procedimento terão que ser planejados. Não há uma regra para inform ar um experimentador de qual dessas eventualidades ele terá que enfrentar.

Quando enfrentar um problema de projeto experimental, o experi­mentador tem que contar consigo mesmo. Se descobrir que outros inves­tigadores enfrentaram problemas semelhantes, então precisará avaliar as suas soluções à luz das suas próprias exigências especiais. Pode ser possível fazer um julgamento com base na combinação da experiência dos outros e e da sua. Por outro lado, pode ser que o problema só seja solucionado por

procedimentos empíricos. Poderá te r que realizar o experimento não uma, mas várias vezes, com maiores ou menores modificações, antes que uma

solução satisfatória esteja ao seu alcance. O projeto experimental adequado não pode ser normatizado, tanto por princípios lógicos como empíricos.

Page 212: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

estudos-piloto

Os experimentos preliminares ao trabalho principal são muitas vezes denominados estudos-piloto ou exploratórios. Fora da tradição da psico­

logia, em que todos os experimentos são planejados para testar alguma hipótese, surgiu a concepção de que estudos-piloto devam preceder qual­quer experimento defin itivo. Se o trabalho exploratório não indicar a con­firmação da hipótese, normalmente o investigador ou alterará o seu plano experimental de ataque, ou abandonará o problema e passará para outra

coisa qualquer que lhe pareça mais promissora. A justificação para esses

rumos de ação é simples. Considerando o estado atual da teorização psico­

lógica, o investigador sempre pode apontar algjm a ambigüidade na sua teoria, que justifique resultados-piloto negativos. Também, uma vez que as

teorias psicológicas raramente especifiquem com algum rigor os meios para

testá-las, pode-se geralmente demonstrar que um estudo-piloto negativo

não estava à altura de um número de especificações post hoc. O trabalho exploratório é tido como necessário porque serve para d im inuir a quanti­

dade de tempo e esforço que de outra forma seria gasta no testar hipóteses incorretas, ou nos testes inadequados de hipóteses corretas.

Entretanto, há uma concepção fundamental çrrônea envolvida no uso de estudos p ilo to com o propósito de se obter uma pré-estréia a preços baixos, por assim dizer, de resultados experimentais mais definitivos. De que maneira este estudo-piloto se distingue do seu sucessor mais defini-

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TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

tivo? O experimento-piloto, se fo r o precursor de um estudo estatístico do tipo grupo, pode utilizar apenas um pequeno número de sujeitos. Ou pode­rá empregar sujeitos com uma história experimental ianterior, ao passo que

o estudo projetado pede sujeitos ainda não utilizados experimentalmente. 0 aparelhamento de um estudo-piloto pode estar sujeito a uma falha oca­

sional, o que jamais seria tolerado num experimento em pleno desenvolvi­mento. 0 experimentador não se inclina a usar o seu melhor equipamento, assim como uma parte significativa do seu tempo e atenção, num trabalho

exploratório que nunca poderá produzir dados úteis ou publicáveis.

Os estudos-piloto concebidos desta maneira possuem um status inte­ressante. Admite-se que proporcionam ao investigador uma estimativa do sucesso provável, ou fracasso, de um bem planejado experimento subse­qüente. Mas o aspecto que define esse tipo de estudo-piloto é a falta de

controle sobre certas variáveis. O controle inadequado é considerado per- missível num estudo-piloto porque, antes de mais nada, "só desejamos obter uma noção aproximada de como será o nosso experimento. Não há

nenhum sentido em se gastar grande quantidade de tempo e esforço até que estejamos razoavelmente seguros da recompensa".

Mas se um estudo-piloto não fo r desenvolvido exatamente sob as mesmas condições que seriam necessárias num experimento em grande escala seu valor profético será completamente anulado. Po.- exemplo: se as histórias experimentais dos sujeitos não forem consideradas como fatores importantes no trabalho p ilo to , por que a preocupação de controlá-las no trabalho principal? 0 mesmo se pode dizer de qualquer outra diferença

entre os experimentos exploratórios e em grande escola. Os estudos-piloto

que não são realizados com um padrão o mais rigoroso possível, não possuem nem valor positivo, nem negativo, como indicadores dos resulta­

do subseqüentes. Um experimento descuidado é um experimento medío­

cre, e jamais poderá ser justificado pela etiqueta de "p ilo to " .

Tudo isso nos leva a indagar sobre as diferenças que existem entre um estudo p ilo to e um experimento em pleno desenvolvimento. Se as

mesmas operações devem ser adotadas em cada um dos casos, onde estará

a diferença? A resposta é que não há nenhuma distinção a ser apontada,

nos termos em que introduz esta discussão.

Nunca um experimento é deliberadamente planejado para ser um estudo-piloto. Passa a ter essa denominação somente depois de ter sido realizado, e ainda assim, somente em certas condições. Uma dessas condi­ções não é a de ter sido um fracasso do experimento ao comprovar uma

hipótese. Nem se permite classificar um experimento como exploratório, e assim abandoná-lo, com base na inadequação do seu desenvolvimento

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EST U DOS-PI LOT O 213

teórico. Se um experimento fo r tecnicamente adequado, seus dados devem ser aceitos, independentemente de serem ou não adequados ao propósito

do investigador na realização do estudo. Por outro lado, se um experimen­to fo r tecnicamente inadequado, seus dados serão inaceitáveis, mesmo que apóiem os conceitos antecipados do investigador.

Entretanto, o primeiro passo ao se planejar um experimento, é avaliar a sua adequação técnica. O objetivo final de um experimentador

pode ser provar, ou testar uma hipótese, ou pode estar simplesmente à procura de informações novas e imprevisíveis. Não obstante o seu objetivo final, sua atenção principal deve ser dirigida para a técnica experimental. Precisa decidir que variáveis controlar e selecionar os métodos adequados a esse controle. Qual deverá ser a linha de base cujas modificações deverão ser medidas, e que medidas serão exequíveis e adequadas ao comporta­mento especial que será produzido? Será possível produzir o tipo de com­portamento que será de maior utilidade na investigação?

Problemas como estes dão origem aos estudos-piloto. Porque o expe­

rimentador muitas vezes não conhece as respostas e precisa proceder ins­tintivamente. Faz a melhor estimativa possível da adequação e propriedade da sua técnica, e faz o experimento prosseguir. Em algum ponto ao longo do caminho, pode ser que se torne evidente que a técnica que escolheu tem uma falha séria. Nesse momento, o experimento torna-se um estudo- -piloto. Seus dados são úteis somente na medida em que revelam a inade­quação técnica, embora também possam conter pistas quanto aos meios de

retificar a falha. Depois de feitas as modificações necessárias, o experimen­

to continua o seu caminho. O investigador sempre é otimista. Prossegue cautelosamente com a suposição de que seu procedimento seja tecnicamen­te adequado e que o seu experimento produzirá informações válidas. Uma vez que emprega toda a capacidade e todo o conhecimento de que dispõe ao estabelecer qualquer experimento, sempre está preparado para levar a

cabo uma investigação até uma conclusão satisfatória. Torna-se um estudo-

-p ilo to somente quando algum fa tor negligenciado entrar em cena e

revelar uma falha técnica no procedimento.O procedimento experimental que segue, descrito por Blough (8), é

um exemplo excelente dos estágios iniciais de um projeto experimental. Dedicar-me-ei ao procedimento nos seus detalhes importantes, porque as soluções para muitos dos seus problemas são de interesse prático conside­rável para o estudante da técnica experimental. Fazendo justiça a Blough, no entanto, preciso notar que ele simplesmente não esperou que surgisse cada um dos problemas, antes de elaborar as suas soluções. É um investi­gador competente e imaginativo, e muitos dos problemas descritos a seguir

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214 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TÍFIC A

foram antecipados e resolvidos antes que começasse o experimento. Alguns deles não surgiram até que ele estivesse em pleno experimento, e isso fez

com que classificasse o trabalho precedente como um estudo-piloto. Para

fins de exposição, no entanto, será ú til descrever cada um dos problemas

como se pertencessem àquela categoria. Isso bem poderia ter sido um caso

verdadeiro se o investigador fosse de menor estatura.

Blough estava iniciando um programa de pesquisa num processo

comportamental conhecido como "discriminação condicional". Sua p ri­

meira tarefa fo i estabelecer um procedimento por meio do qual pudesse originar e manter um tipo adequado de comportamento. A propriedade

desse comportamento era poder submeter-se à avaliação contínua da sua

utilidade e validade como uma linna de base onde medir a participação de

variáveis relevantes no processo da discriminação condicional.Não me deterei nos problemas que foram enfrentados na seleção

adequada dos sujeitos, construção de aparelhamento, e estabelecimento do procedimento básico. Podemos passar diretamente para a Figura 22, que fornece uma ilustração esquemática do sujeito e do aparelho.

O pombo (com fome) está diante de duas chaves de resposta semicir- circulares, translúcidas e desligadas, separadas por uma divisão de plástico. A beirada visível dessa divisão forma um terceiro elemento

de estímulo que chamarei de "barra ". Cada chave pode ser iluminada pela lâmpada de 6 w a tt (direita ou esquerda) que está por detrás, e a barra vertical pode ser iluminada pela lâmpada B. A repartição de plástico claro conduz a luz da lâmpada B para a barra, mas os seus

lados são escuros para lim itar a luz de cada lâmpada à sua própria área de estímulo. A vista de frente mostra as chaves de resposta e a barra como são vistas pelo pombo. Um dos vários tipos possíveis de formas de estímulo está representado. Somente uma chave é ligada de cada vez e a barra pode ser ou não iluminada. Assim há quatro combinações possíveis de estímulo.

Para tornar os reforços os mais imediatos e eficientes possíveis, o

depósito de grãos está colocado diretamente abaixo das chaves de

resposta. Pode ser posto ao alcance do animal por um solenóide.

Durante o reforçamento, uma lâmpada que está acima da cabeça é ligada, e os grãos podem ser alcançados pelo animal durante mais ou menos dois segundos (8, p. 335).

O pombo pode obter alimento bicando a chave iluminada quando a barra está sem iluminação, e bicando a chave não iluminada quando a barra

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ESTUDOS-PI LOTO 215

/

Vista de frente

Figura 22. Uma ilustração esquemática do sujeito e do aparelho na investigação de Blough. A vista de "fre n te " mostra uma das quatro formas possíveis de estímulo.

(Blough, 8).

está iluminada. A resposta está portanto sob o controle do estím ulo tanto da luz da chave quanto da luz da barra. É necessário ter certeza de que a ave faz a discriminação baseada somente nesses dois estímulos. Se outras sugestões forem usadas pelo sujeito, a linha de base não medi.á o que o experimentador pretende medir. De fato, o processo pode então não envol­

ver nenhuma discriminação condicional.Suponhamos, por exemplo, que o experimento tenha começado com

as quatro combinações possíveis de estímulo, sendo apresentadas numa seqüência fixa. A ave pode então basear a sua discriminação na ordem em que os estímulos aparecem em vez de baseá-la nas configurações do estí­mulo. Por exemplo: uma sequência fixa poderia ser: (1), chave esquerda

apagada, barra iluminada; (2), chave direita apagada, barra iluminada; (3), chave esquerda iluminada, barra apagada; (4), chave direita iluminada, barra apagada. Diante da form a de estím ulo (1), as respostas na chave

esquerda seriam reforçadas. Na forma (2), o reforço seria desviado para a chave direita. Na forma (3), respostas na chave esquerda novamente seriam reforçadas; e na forma (4), novamente seria a chave direita que daria a

recompensa. Assim a cada apresentação do estím ulo o animal poderia tro ­

car as chaves. A form a alternada de responder indicaria uma discriminação altamente desenvolvida, mas o comportamento poderia não estar baseado

absolutamente na form a de iluminação da barra e da chave.Se o experimentador tivesse que mudar a seqüência, para que as

combinações de estím ulo aparecessem na ordem (1), (3), (2), (4), pode ser que descobrisse que o pombo, em vez de fazer um ajustamento comporta­

mental imediato, continuasse a alternar de uma chave para a outra. Quando

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216 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

o experimentador descobrisse seu erro técnico, teria que classificar o seu experimento como um estudo-piloto, retificar a situação, e continuar a

partir daí.Mesmo assim, no entanto, o comportamento de alternação poderia

ter se demonstrado interessante em si mesmo, e o experimentador poderia ter resolvido adiar o objetivo inicial em favor desse novo desenvolvimento. Neste caso, o trabalho original não mais constitu iria um estudo-piloto, e poderia ser integrado no programa de pesquisa.

Blough adotou a solução geralmente aceita do problema da alterna­

ção. Simplesmente apresentou os quatro arranjos de estím ulo numa se­

qüência mista, para que o comportamento de alternação não pudesse ser

reforçado consistentemente. Mas logo surgiram outros problemas. Quando reforçava cada resposta na chave correta, a ave logo ficava saciada de com i­da, e não fo i possível garantir a linha de base de cinco horas que era necessária, a alguns estudos planejados no decorrer do tempo da ação da droga. A dificuldade fo i superada pelo emprego de um esquema de refor­çamento segundo o qual o alimento poderia ser obtido, em média, não mais do aue uma vez a cada m inuto e meio. Com essa técnica, as respostas incorretas não foram mais reforçadas e as respostas corretas somente pro­duziam reforço ocasionalmente.

O oferecimento de alimento introduzia um novo problema. O apare­lho estava preparado para que cada apresentação do estím ulo durasse 15 segundos e cada apresentação estava preparada da próxima por um " in ­tervalo de escuro" de 15 segundos, durante o qual todas as luzes estavam

apagadas. Mas depois que tivesse recebido um reforço, o pombo poderia então não fazer caso das luzes de estím ulo durante os 15 segundos restantes

do período de estím ulo e simplesmente continuar a dar a resposta que se

havia revelado como a correta. A libertação do reforço, mais do que as luzes do estím ulo, tornou-se a base da discriminação, nessas circunstâncias.

Novamente trabalho p ilo to. O erro fo i retificado pondo-se fim ao estím ulo toda as vezes em que fosse liberado um reforço. Para impedir uma discri­

minação temporal, os reforços foram esquematizados para ocorrer em vá­

rios pontos de intervalo de apresentação. Por exemplo:. 1, 3, 6, ou 13 se­

gundos depois do começo do estím ulo. Dessa form a, fo i produzida uma freqüência constante de resposta que fo i mantida através da duração do estímulo.

Apesar de todo esse trabalho p ilo to , necessário em vista das d ificu l­dades anteriormente mencionadas, restou um número de problemas adici­onais para atrasar o in íc io da experimentação em escala to ta l. O problema seguinte apareceu quando, depois de longa experimentação, parecia impos­

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ESTUDOS-PILOTO 217

sível reduzir o número de respostas incorretas a um nível suficientemente baixo para indicar uma discriminação bem desenvolvida. A análise desse problema feita por Blough, e a sua solução, ficam mais bem descritas com

suas próprias palavras.

Quando são usadas duas chaves de resposta e a descriminação dese­jada envolve a resposta a somente uma das chaves de cada vez, há o perigo de que a chamada cadeia "superticiosa" de duas respostas ocorra. Por exemplo: freqüentemente pode acontecer que o aparelho ponha um reforço à disposição enquanto a ave esteja bicando a chave incorreta. Nesse caso logo na primeira bicada dada na chave correta, depois dessas respostas incorretas, haverá o reforço. Em vez de

aprender a dar respostas corretas, o pombo poderia aprender a dar

uma ou mais respostas incorretas e depois uma resposta correta. Poderia mesmo tender a obter o reforço bicando as chaves alterna­damente, em vez de bicar somente a chave correta. Para impedir essas possibilidades, faz-se com que a resposta incorreta adie o refor­ço. Cada resposta incorreta põe em funcionamento um cronômetro

regulado para um segundo e, durante esse segundo, nenhuma respos­

ta será reforçada. Uma vez que entre cada resposta incorreta e o reforço há um segundo de intervalo, diminui-se a resposta incorreta e

se desestimula a alternação. (8, p. 336)

Assim, outra dificuldade técnica fo i superada, mas um relatório do andamento, nessa ocasião, havia declarado que o experimento ainda estava no estágio de estudo-piloto. Havia ainda um número de problemas adicio­nais a serem enfrentados e superados, e pode-se encontrar uma descrição

disto no relatório de Blough que são um tanto complexos para serem expostos aqui.

Nem todo o experimento envolve uma fase exploratória tão ampla e d if íc il como a que acabo de descrever. Por ou tro lado, há outros experi­mentos que exigem ainda m uito mais. Infelizmente, é só a publicação rara do tipo técnico que descreve este trabalho exploratório. 0 estudante pode estar certo de que geralmente existe uma certa quantidade de material não escrito entre a introdução e o corpo principal de qualquer relatório expe­rimental. Algumas vezes é possível perceber esse material nas entrelinhas. Ao descrever um experimento de esquiva, por exemplo., o experimentador

pode ter escrito que a sua barra de resposta estava ligada ao circuito de choque. Seu colega experimentador perceberá, sem mais explicações, que ele se deparou com o problema de sujeitos que não largam a barra, e trans­

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TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA218

formando a barra num dos eletrodos de choque, conseguiu solucionar o

problema.Um estudo-piloto, então, é aquele em que os problemas técnicos são

enfrentados. 0 investigador precisa ter certeza de que o comportamento

com o qual está trabalhando é o adequado à sua tarefa de experimentação.

ma. Mas, contrariamente à uma impressão generalizada, o experimentador

não diz para si mesmo, "agora vou empreender a Fase 1, um estudo-piloto. Se o experimento p ilo to der certo, passarei então para a Fase 11, e vou fazer o experimento adequadamente". Em vez disso, prepara o seu experimento.

imprevista, admite que o experimento progredirá até chegar a uma conclu­são satisfatória. Somente quando esta dificuldade aparecer de fa to classifi­ca o trabalho realizado até esse momento como pilo to. Se o investigador tiver tanta sorte quanto habilidade, esta ocasião apresentar-se-á bem antes que tenha gasto uma grande quantidade de esforço e tempo. Às vezes, no entanto, um problema pode passar desapercebido até que o relatório " f i ­nal" esteja sendo fe ito , ou mesmo até depois que o relatório esteja publi­cado. Nesse caso, o experimento terminado torna-se um estudo-piloto, um

experimento se transforma de estudo-piloto em contribuição substancial.Se alguém estiver tentando testar uma teoria fraca, ou tentando de­

monstrar um fenômeno comportamental específico, cuja existência seja bastante duvidosa, os estudos-piloto não são geralmente publicados. Sua

função é simplesmente a de aprimorar a técnica experimental. Mas deve­mos lembrar-nos de que se a técnica de alguém tiver uma utilidade geral,

além dos propósitos específicos do experimento em questão, uma descri­

ção dos estudos-piloto pode ser valiosa para outros pesquisadores. Se pude­

rem saber de antemão algumas das dificuldades que provavelmente irão

lho. Além disso, outros investigadores poderiam tentar empregar a técnica

sem mesmo reconhecer todos os problemas que estão envolvidos, e a

publicaçgo dos estudos-piloto poderia melhorar o nível da realização cien­tífica em áreas nas quais a técnica é empregada. É claro que se a técnica

fo r somente aplicável a um experimento específico, o trabalho p ilo to

poderia m uito bem permanecer esquecido.Em experimentos realizados simplesmente com o propósito de satis­

fazer a curiosidade de alguém, os estudos-piloto podem servir a uma outra função. Uma dificuldade técnica imprevista pode dar origem ao com porta­mento que passe a ser de maior interesse do que aquele que o experimento

A fase inicial do projeto de experimentação preocupa-se com esse proble-

desde o in íc io , como se fosse a Fase II, e até que surja alguma dificuldade

trabalho não terminado. Não há uma linha n ítida para demarcar onde o

encontrar, e as suas soluções, pouparão uma boa soma de tempo e traba-

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ESTUDOS-PILOTO 219

havia originariamente preparado para investigar. O experimentador pode então modificar o seu rumo e, em vez de eliminar a dificuldade técnica,

observá-la mais intensamente. O experimento torna-se um estudo-piloto incompleto em relação ao projeto original, mas passa a ser um degrau importante na nova investigação. Particularmente, gosto m uito da ilustra­

ção seguinte de como um estudo-piloto pode ser transformado no veículo propulsor de uma nova investigação. Não somente uma nova orientação fo i trazida nesse caso à minha própria pesquisa, mas as novas investigações

realmente forneceram a chave do problema original que ocasionou o

estudo-piloto.A história começa realmente em 1941, com um trabalho de Estes e

Skinner in titu lado: "Algumas propriedades quantitativas da Ansiedade" (29). Neste trabalho, os-autores introduziram a sua técnica da "supressão condicionada". Os sujeitos, ratos brancos famintos, foram primeiramente treinados a pressionar uma barra, para o que ocasionalmente recebiam uma

pequena pelota de alimento. Depois que a freqüência de pressão à barra

tornou-se relativamente estável, fo i introduzida uma nova operação. En­quanto o animal trabalhava para obter alimento, fo i apresentado um estí­mulo durante cinco minutos. Durante o estímulo, o animal podia conti­nuar a pressionar a barra e receber uma pelota ocasional. Mas após cinco minutos de estímulo, um choque breve era aplicado nos pés do animal, e,

ao mesmo tempo, o estímulo terminava.Durante a primeira apresentação do estímulo, a freqüência de pres­

são à barra do animal não se modificou. Depois de alguns pareamentgs choque-estímulo, no entanto, o comportamento de pressão à barra que se seguiu fo i profundamento perturbado. Figura 5(no capítu lo 3) ilustra o efeito. O estímulo, depois de várias apresentações com o choque, suprime

completamente o comportamento de pressão à barra em andamento. A fre ­qüência de resposta durante o estímulo cai quase a zero, e, numa observa­ção superficial, o animal parece profundamente perturbado.

Nos dez anos que se seguiram, pouco fo i fe ito em relação à obser­vação experimental do fenômeno da supressão condicionada. 0 procedi­

mento fo i finalmente ressuscitado por Brady, Hunt e seus colaboradores, que o empregaram para produzir uma linha de base comportamental para o estudo da "te rapia" de choque eletro-convulsiva, lesões cerebrais, drogas e outras operações fisiológicas (18). Devido amplamente ao seu uso extensi­vo como técnica de estudo das relações entre o comportamento e outros

fenômenos' biológicos, a supressão condicionada começou, nos últimos

anos, a atrair a atenção experimental como um fenômeno comportamental em si mesmo interessante. O estudo-piloto e sua conseqüente elaboração,

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220\

TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

que começarei a descrever, formaram uma das trilhas para as quais fo i canalizado o interesse experimental que ressurge.

A questão que nos pôs em movimento fo i bem simples. A supressão

condicionada também ocorreria se empregássemos comportamento de es­

quiva de choque como linha de base, em vez do comportamento de reforço de alimento? O que aconteceria se introduzíssemos pareamento choque- -estímulo enquanto o animal estivesse dedicado a pressionar uma barra que servisse para adiar um choque? Nossa resposta experimental a essa pergun­

ta demonstrava que o sujeito, um macaco neste caso, não somente deixava de mostrar qualquer supressão da sua resposta de pressão à barra durante o estímulo pré-choque, mas realmente aumentava a sua freqüência de res­

posta. (78)Nosso procedimento era o seguinte. O macaco recebia um choque

breve toda vez que deixasse que se passassem 20 segundos sem uma respos­ta de pressão à barra. Cada vez que pressionasse a barra, no entanto, o choque era adiado por 20 segundos. Pressionando a barra com freqüência suficiente, o animal poderia evitar completamente o choque. O processo produzia uma freqüência relativamente constante de pressão à barra, du­rante um longo período de tempo. Quando esse comportamento de linha de base se estabilizava, os pareamentos de choque-estímulo eram in trodu­

zidos. Era apresentado um estímulo de cinco minutos de duração, no final do qual o animal recebia um choque inevitável. Os estímulos eram apre­

sentados em intervalos regulares, com cinco minutos intervindo entre cada choque inevitável e o in íc io do próxim o estímulo. O procedimento de esquiva estava completamente em vigor. Toda vez que se passavam 20

segundos sem uma pressão à barra, tanto na presença como na ausência do estímulo, o animal recebia um choque. Como já observei, este procedi­

mento resultava numa freqüência mais alta de resposta, em vez da supres­

são, durante o estím ulo pré-choque.

Quando o procedimento de esquiva fo i eliminado, o resultado fo i ainda mais surpreendente. Com essa modificação, os únicos choques que

o animal recebia eram os inevitáveis, no final de cada apresentação do

estímulo. O choque não mais era controlado pelo comportamento do ani­

mal de pressionar a barra. A Figura 23 mostra o resultado típ ico , uma freqüência de resposta, de quase zero, na ausência de estím ulo e uma

aceleração marcada durante o estímulo, até que recebesse o choque inevi­tável. O contraste com o resultado de Estes-Skinner é marcante. Form u­lamos a conclusão experimental de que uma resposta que tivesse tido uma história de condicionamento de esquiva manifestaria uma freqüência au­mentada, ou uma facilitação, em vez da supressão, quando exposta a uma

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ESTUDOS-PILOTO 221

Figura 23. Curva cumulativa de resposta mostrando a quase completa ausência de pressão à barra, quando o estímulo de aviso não estava presente, e resposta acelerada quando o estím ulo se apresentava. A caneta é desviada para baixo no in íc io de cada estímulo e volta quando o choque é aplicado. O gráfico está dividido em segmentos de uma hora para apresentação compacta, com as apresentações do primeiro e do sétimo estímulos indicados pelo número. (Sidman, Herrnstein e Conrad, 78.)

seqüência de estím ulo e choque inevitáveis. Essa conclusão fo i fortemente sustentada quando descobrimos que o estím ulo pré-choque facilitaria também uma resposta reforçada por alimento se tivéssemos dado àquela resposta uma história anterior de condicionamento de esquiva (45).

Agora chegamos ao âmago da questão, quanto à nossa discussão dos experimentos p ilo to . Nosso próxim o passo era determinar se podíamos demonstrar, com um sujeito, uma freqüência aumentada e uma supressão simultânea; durante o estímulo pré-choque (74). Se isso pudesse ser reali­zado, teríamos uma grande confiança em nossa capacidade de controlar as variáveis relevantes para o fenômeno oposto. Primeiramente, condiciona­mos concorrentemente duas respostas, pressionando uma barra, o macaco

podia adiar o choque por 20 segundos. Pressionando outra barra, o macaco podia produzir reforçamento de alimento. A libertação de alimento estava programada de acordo com um esquema de intervalo variável. O animal assim possuía um repertório experimental de duas respostas concorrentes, uma delas mantida pelo reforçamento ocasional de alimento, e a outra, pela esquiva do choque. Ambas as respostas foram emitidas freqüentemen­te durante cada sessão experimental, e cada uma delas fo i registrada

separadamente.

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222 TÁTIC AS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

O que aconteceria agora quando introduzíssemos o estím ulo e o

choque inevitável? Para tornar a situação comparável àquela que produ­

ziu os dados da Figura 23, novamente removemos do animal o controle do choque. Os únicos choques emitidos eram os inevitáveis, no final de cada

apresentação do estímulo. Haveria uma supressão da resposta de reforça­

mento de alimento e, ao mesmo tempo, um aumento na freqüência da resposta que tinha tido uma história de esquiva?

De fato, descobrimos um aumento na freqüência de ambas as respos­

tas durante o estímulo pré-choque. A Figura 24 ilustra a bela identidade na natureza do controle exercido pelo estím ulo sobre cada resposta, simulta­neamente. Ambas as respostas mostraram uma freqüência quase zero du­

rante os períodos entre os estímulos e durante os primeiros poucos m inu­tos dos próprios estímulos. Nos minutos que antecediam imediatamente os choques inevitáveis, no entanto, ambas as respostas começaram a ocorrer numa freqüência relativamente alta, que continuava até que os choques fossem realmente aplicados.

Aparentemente deixamos de demonstrar a adequação de nossa supo-

Figura 24. Gráficos concorrentes cumulativos de resposta em cada uma das duas barras. Cada deslocamento do gráfico para baixo indica o começo do sina! de aviso. (Sidman, 74).

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ESTUDOS-PILOTO 223

sição original. Porque aqui estava uma resposta reforçada pelo alimento

que não havia recebido uma história de esquiva e, no entanto, mostrava

facilitação, em vez de supressão, durante o estím ulo pré-choque.

Uma pista, entretanto, nos levou a considerar a possibilidade de que nossa tentativa de demonstração havia falhado por causa de uma inade-

dequação técnica, e não uma inadequação interpretativa. Essa pista, bas­tante interessante, nos fo i sugerida por uma falha do aparelho. Num está­gio dos experimentos, um transformador elétrico no circuito de força do

choque repentinamente falhou. Como isso impedia que qualquer cho­que fosse aplicado ao animal, e a resposta na barra de esquiva gradualmen­te dim inuía de freqüência. Para nossa maior surpresa, havia uma d im inui­

ção correspondente na freqüência de resposta de pressão à barra de refor­çamento de alimento. As mudanças nas duas respostas eram quase perfei­

tamente sincronizadas.Então, por que se extinguiria a resposta reforçada pelo alimento,

juntamente com o comportamento de esquiva, quando os choques deixas­sem de ocorrér? 0 experimento havia sido preparado para produzir duas respostas independentes, uma delas possuindo, e a outra não, uma história de esquiva. Seria um plano realmente bem sucedido? Se não o fosse, então a linha de base não era adequada ao propósito em questão e o experimento deveria ser classificado como exploratório, pelo menos quanto ao proble­

ma que fo i designado para se investigar.Então a nossa tarefa passou a ser a de determinar se havíamos realiza­

do um experimento defin itivo, ou se de fato era somente um estudo-pilo­

to. Haveria algo mais de que uma história de esquiva envolvida na fre­qüência de resposta aumentada durante o estímulo pré-choque? Ou have­ria alguns fatores, de que não nos apercebemos em nosso experimento,

com duas respostas concorrentes?Em termos experimentais, a questão fo i colocada como segue: seria a

resposta reforçada por alimento realmente independente da contigência de esquiva? Ou estaria de alguma forma sendo mantida, pelo menos em parte, pelo reforçamento da esquiva do choque? Tornou-se necessário realizar outro experimento para determinar se esta possibilidade era de fato verda­deira. Enquanto isso, tivemos que deixar em suspenso nossa decisão quan­

to ao status de p ilo to do experimento original de duas respostas.As novas manipulações eram simples, e não envolviam a combinação

de estímulo e choque inevitável. Simplesmente retomamos a condição em que uma resposta era mantida pelo reforçamento de alimento e a outra, concorrentemente, pela esquiva do choque. Então tentamos extinguir a resposta reforçada pelo alimento, desligando o mecanismo que fornecia a

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224 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

alimentação. A tentativa fo i mal sucedida. A resposta que tinha uma his­tória de reforçamento alimentar persistia enquanto a contingência de es­

quiva estava em vigor para a outra resposta. Não era possível demonstrar independência entre as duas respostas. Nosso experimento original de duas

respostas, no entanto, não havia estabelecido uma linha de base adequada

para testar a relevância da história comportamental, como um fa tor deter­minante dos efeitos do estím ulo pré-choque. Embora tivéssemos dado

explicitamente uma história de esquiva a somente uma das respostas, nosso procedimento, por algum modo desconhecido, também tinha dado à res­posta reforçada por alimento um componente de esquiva. O experimento

era, inequivocamente, um estudo-piloto.

A q u i há duas lições a serem aprendidas. Uma delas é que o status de pilo to de um experimento pode não estar imediatamente claro. Poderão ser necessárias outras experimentações antes que se possa fazer uma ava­

liação adequada. A segunda lição é a que começou essa discussão, e deriva

a sua importância do rumo tom ado pelo nosso programa experimental depois que fo i demonstrada a dependência das duas respostas. A falta de independência, em si mesma, parecia ser um fenômeno que valia a pena ser observado, por m érito próprio. A atenção experimental, no entanto, fo i desviada para o paradigma de Estes-Skinner, para uma investigação dos fa­tores envolvidos na ligação de duas respostas. Foi realizada uma série de experimentos em que as duas respostas eram condicionadas e extintas sepa­radamente, ou eram ambas extintas e separadamente recondicionadas. Uma resposta de puxar a corrente então substituiu a resposta reforçada de pressão à barra. Foram empregadas novas medidas que avaliavam as se­quências nas quais as duas respostas ocorriam. Quantas vezes o puxar a corrente era seguido por uma pressão à barra, e quantas vezes por outro

puxar a corrente, etc.? Outros esquemas de reforçamento de alimento, além do intervalo-variável foram empregados para manter a resposta de

puxar a corrente.

Uma conseqüência desse novo programa fo i esclarecer cada vez mais os fatores responsáveis pela não independência do comportamento man­

tido concorrentemente. Quanto a esse programa, o experimento inicial com duas respostas não podia de form a nenhuma ser considerado um estudo-piloto. Embora não tivesse sido projetado para estudar a ligação das respostas, passou a ser adequado a esse propósito.

Porém, mais importante para o nosso .objetivo atual, o novo progra­ma de pesquisa fornecia a chave para a solução do nosso problema original,

No decorrer do estudo da interdependência das respostas, descobrimos uma série de condições através das quais podíamos manter respostas con­

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ESTUDOS-PILOTO 225

correntes de esquiva e reforçadas por alimento relativamente independen­

tes. Deixem-me completar o quadro simplesmente com a descrição do experimento resultante, sem penetrar em todos os desenvolvimentos que

levaram a isso. A pressão à barra, como no experimento inicial, era a res­

posta com um passado de esquiva. A outra resposta, a de puxar a corrente, era reforçada de acordo com um esquema de razão-fixa de 15:1. Eram

necessários quinze puxões na corrente para cada reforço. Então fo i rein- troduzida a seqüência inevitável de estímulo e choque. Os resultados po­dem ser vistos na figu ra 25. Então, na presença do estímulo, vemos a

facilitação da resposta de esquiva e a supressão da resposta de puxar a

corrente reforçada por alimento.Nossas investigações da não independência haviam produzido uma

técnica (cujo aspecto c rítico era o esquema de reforçamento de razão-fixa)

para aumentar a independência das duas respostas mantidas concorrente-

Figura 25. Gráficos de resposta concorrentes cumulativos da corrente e da barra. As porções dos gráficos deslocada para bàixo denotam períodos durante os quais havia estímulo de aviso. As linhas quebradas temporariamente ligam pontos corres­pondentes (in íc io do estímulo) em cada curva. (Sidman, 74).

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226 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

mente. A aplicação dessa técnica tornou possível produzir uma linha de base adequada ao problema original. 0 controle experimental sobre um

dos fatores críticos, responsáveis pelo comportamento durante o estímulo pré-choque, fo i realizado. Entretanto, relativamente ao seu propósito o ri­

ginal, o primeiro experimento da série fo i um estudo-piloto negativo, Sua

inadequação técnica os impedia de tira r qualquer conclusão válida sobre os

fatores que levavam à supressão ou facilitação do comportamento durante o estímulo pré-choque. Com referência ao problema de independência da

resposta, no entanto, o primeiro experimento fo i uma contribuição posi­

tiva. E quando o resultado positivo fo i observado em si mesmo, fo i des­coberto um meio de retificar o defeito técnico original, e assim transfor­mar o estudo-piloto negativo num experimento defin itivo.

Então, o estudo-piloto não é um primeiro passo necessário para o projeto experimental. É uma consequência não planejada da experimen­tação que é realizada sem o conhecimento suficiente das variáveis impor­tantes. Os experimentos p ilo to ocorrem com a freqüência que lhes é pecu­liar porque há muitos fatores mal compreendidos envolvidos, isolados ou não, na maioria das pesquisas comportamentais. Mas também é devido ao nosso estado de ignorância relativa que os estudos-piloto podem freqüen­temente passar a ter uma boa utilização. 0 experimentador que procura observar os seus dados e aceitar o desafio de novas variáveis na medida em que aparecem pode usar freqüentemente os seus estudos-piloto vantajosa­

mente. Mas só poderá fazê-lo se cada experimento fo r realizado nas condi­ções que o tornariam defin itivo se não surgissem problemas inesperados.

Um experimento p ilo to deliberado, no qual o experimentador voluntaria­mente deixa de manter as condições mais rigorosas, jamais poderá ser mais

do que isso.

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8 estados-estãveis

Uma decisão para estudar o comportamento no estado-estável, em vez de nos estados de transição, ou vice-versa, pode influenciar m uito o projeto de um experimento particular. Podemos, no momento, defin ir um

estado-estável, ou constante como aquele em que o comportamento em

questão não modifica as suas características durante um período de tempo. O comportamento atravessa um estado de transição no processo de mudan­

ça de um estado constante para outro. Assim os dois não estão completa­mente separados. Para se identificar o começo e o fim de um estado de transição, é preciso que se conheça um pouco sobre as propriedades dos

limites dos estados-estáveis.Os dois tipos principais de interesse experimental no comportamento

em estado constante desenvolveram-se. Um deles pode ser denominado "descritivo" e o outro, "m anipulative". No estudo puramente descritivo, uma série de condições experimentais é mantida num período extenso de tempo, fornecendo uma soma de aspectos tanto estáveis como transitórios

do comportamento resultante. Essa forma de pesquisa é fundamental para o estabelecimento das técnicas de controle experimental e de linhas de base com as quais medir as modificações comportamentais. O plano de tais

experimentos do estado constante puramente descritivos contrasta clara­mente com o plano tradicional da pesquisa na psicologia.

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228 TÁTICAS DA PESQUISA C IE N TIF IC A

Estudos descritivos do comportamento em estado-estável são estabe­

lecidos de acordo com um projeto simples. Um procedimento fix o é pre­

parado no aparelho de controle automático, o sujeito é colocado no ambi­

ente experimental, e liga-se um botão para que o experimento comece.

A partir desse ponto, até que chegue a hora de se avaliarem os dados, o investigador nada mais faz do que observar. Focaliza a sua atenção nos

instrumentos de registro e nos sujeitos. Pode acrescentar novos tipos de

registro à medida em que o experimento se desenvolve, a fim de obter uma

descrição mais completa do processo comportamental que produziu, mas

não realiza nenhuma nova manipulação das condições experimentais. So­

mente na seleção original das variáveis a serem ligadas ao aparelho de con­trole é que de fato o investigador exerce sua engenhosidade criativa, seu

conhecimento das sutilezas comportamentais e sua capacidade manipula- dora. Uma vez iniciado o procedimento, todas as sutilezas e manipulações aparecem no comportamento do sujeito, não do experimentador.

Os dados produzidos por um tal experimento não relacionam um aspecto do comportamento a vários valores de uma variável independente

manipulada. Em vez disso, as curvas resultantes mostram alguns aspectos

do comportamento como uma função do tempo na situação experimental.

Sob uma série constante de condições de manutenção, é a característica do comportamento a tempo a que é de maior interesse. De experimentos des­

se tipo temos aprendido, por exemplo, as principais propriedades a longo prazo do comportamento enquanto é mantido por vários esquemas de re­

forçamento. O experimentador estabelece o esquema desejado no aparelho da programação e não o altera até que se convença que pode fazer uma

descrição fidedigna do comportamento gerado pelo esquema.Um exemplo interessante, entre os muitos que poderiam ser escolhi­

dos, é o esquema de reforçamento misto de intervalo-fixo e razão-fixa (34, pp. 620-629). Depois de cada reforço deste procedimento, o aparelho programa tanto um esquema de razão-fixa como de intervalo-fixo. Não se

fornece nenhum estímulo para inform ar o sujeito qual dos dois esquemas

está em vigor em qualquer ocasião. Assim, o sujeito tanto precisa em itir um número fix o de respostas, como deixar que um período fix o de tempo transcorra antes que o próximo reforço esteja ao seu alcançe, com nenhu­ma indicação exterior de qual dessas alternativas é a adequada no momen­to. Depois de várias horas de exposição a esse esquema misto, o pombo

prodgz consistentemente um gráfico, do tipo que é mostrado na Figura 26. Uma alta freqüência de resposta, característica do comportamento em es­quema de razão-fixa, segue cada reforçamento. (Os leforçamentos estão in ­dicados pelas marcas oblíquas no gráfico cumulativo). Quando o esquema

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EST A DOS-EST ÁVEIS 229

Figura 26. Gráfico cumulativo ilustrando uma atuação bem desenvolvida de um pombo num esquema de reforçamento misto de razSo-fixa e intervalo-fixo. Os traços oblfquos indicam o reforço. (Ferster e Skinner, 34, p. 622.)

corrente é o de razão-fixa, ocorre outro reforçamento quando fo i em itido o número necessário (27) de respostas. Se um reforçamento não sobrevier

depois de um número de respostas aproximadas da exigência da razão, a alta freqüência cessa abruptamente e aparece uma ''concha", caracte­

rística do comportamento em intervalo-fixo. A "contagem " da razão-fixa serve como um estím ulo produzido pelo comportamento, que serve para

inform ar à ave qual dos dois esquemas está atualmente sendo empre­

gado.

O comportamento gerado pelo esquema misto é bem complexo, mas

extremamente ordenado. Resulta de uma série de condições precisamente

especificadas, que, quando se mantêm imutáveis durante um período longo de tempo, produzem finalmente um padrão de comportamento consisten­te. Os dados da Figura 26 são uma contribuição sólida para a análise do comportamento. Mas uma vez que o plano experimental não requer a ma­nipulação de qualquer variável depois que o esquema fo i estabelecido, al­

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230 TÁTICAS D A PESQUISA C IEN TIFIC A

guém poderia negar status de experimento aos dados como os da Figura

26. Em vez disso, preferem classificar tais dados como uma demonstração.

A Figura 26 é, certamente, uma demonstração. Demonstra um padrão de

comportamento temporal complexo do sujeito individual que pode ser re­

produzido por qualquer investigador que observe as precauções normais de

controle experimental. A relação entre o comportamento e seu esquema de

reforçamento de controle é suficientemente precisa para requerer a sua in­clusão em qualquer teoria ou descrição compreensiva do comportamento.

Certamente é verdade que novas perguntas são sugeridas pelos dados, per­

guntas cujas respostas exigirão a manipulação de outras variáveis. Essa é a

marca de um experimento mais do que comumente criativo. Não há ma­nual de projeto de experimentos comportamentais que inclua esta técnica

de projeto altamente produtiva — a simples descrição das propriedades comportamentais como se revelam durante um longo período de tempo e

sob uma série constante de condições.Os psicólogos experimentais estão acostumados, ao planejar os seus

experimentos, a assegurar as observações de controle em cada um dos seus

experimentos. Os mesmos controles podem realmente ser sempre exercidos juntamente com operações experimentais diferentes. Mas o experimento de esquema misto da Figura 26 não parece fornecer as observações de con­

trole comuns, e talvez esta seja uma outra razão para a relutância em classi­

ficá-locomparação com o comportamento em esquema de razão-fixa somente, e similarmente, em esquema de intervalo-fixo. Seriam os breves períodos de

alta freqüência de resposta, que seguem cada reforço, realmente uma con­seqüência do componente razão no esquema misto, ou também ocorreriam

se o intervalo-fixo fosse programado sozinho, sem nenhuma complicação a

mais? Ou talvez a comparação desejável fosse um esquema m ú ltip lo (veja

Capítulo 11), que difere do esquema misto, somente na provisão de um

estímulo exteroceptivo para "d ize r" ao sujeito qual é o esquema que está sendo programado no momento. Com um estím ulo externo para indicar o

esquema que prevalece, iria a ave ainda mostrar um comportamento de razão depois de cada reforço? Se assim fosse, o esquema misto não nos iria contar nada de novo.

Tais controles não foram om itidos por acaso. Experimentos que ser­vem para revelar e descrever o condenamento do comportamento numa série constante de condições de controle não permanecem por si mesmos, necessariamente, como partes isoladas de trabalho. Os dados dg Figura 26,

por exemplo, derivam m uito da sua significação de uma comparação com outros experimentos nos quais a* razão-fixa, o intervalo-fixo, e outros es-

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ESTADOS-ESTÁ VE IS 231

quemas, isolados ou em vários tipos de combinações, têm sido semelhante­

mente investigados. As observações de controle têm sido feitas em experi­

mentos indèpendentes. Mas é possível usar estas observações de controle

obtidas independentemente, sem ser necessário repeti-las em cada experi­

mento, somente em áreas nas quais um alto nível de controle experimental e replicabilidade fo i atingido. Nestas áreas os experimentos podem ser pla­

nejados para utilizar informação que tenha sido solidamente estabelecida em experimentos anteriores.

A investigação descritiva de um comportamento em estado estável deve preceder qualquer estudo manipulador. Muitas vezes a manipulação de novas variáveis produzirá modificações comportamentais, mas para

descrever as modificações precisamos ser capazes de especificar a linha de base a partir da qual ocorreram; senão vamos enfrentar problemas de con­trole, mensuração e generalidade insolúveis.

O problema de controle é básico. Discuti-o anteriormente em cone­xão com a variabilidade, mas a ampliação agora será importante. Quando um plano experimental pede a manipulação de alguma variável indepen­dente, uma linha de base em estado-estável anterior à operação experimen­tal revela-nos se variáveis estranhas irão provavelmente desempenhar um papel importante na determinação dos resultados do nosso experimento. Se antes de iniciarmos a fase manipuladora do experimento mantivermos o comportamento num estado-estável de características conhecidas, podere­mos atribuir quaisquer desvios consistentes do desempenho típ ico estável a variáveis não desejadas que estão se insinuando no quadro. Desvios não habituais do desempenho estável típ ico exigirão refinamento posterior da

nossa técnica, antes que façamos a introdução das operações experimen­tais. Mas, a menos que o comportamento em estado-estável seja primeira­

mente investigado descritivamente, não seremos capazes de julgar se o

desempenho é típ ico ou se está contaminado por fatores estranhos.

Como aplicação geral do comportamento em estado-estável inves­tigado descritivamente, posso citar o esquema de reforçamento em inter­valo-fixo, como uma técnica de revelar o controle experimental inadequa­

do. Lembraremos que o esquema em intervalo-fixo torna o reforço dispo­nível somente depois que um período determinado de tempo tenha decor­rido a partir de um ponto de partida bem definido, tal como um reforço anterior. Um exemplo de comportamento em intervalo-fixo típ ico fo i mos­trado na Figura 18(veja p. 1). Os reforços são primeiramente seguidos por

um período em que não há resposta e depois geralmente por um aumento gradual na curva de resposta até o próxim o reforço. Mas a curvatura nesse gráfico cumulativo é típ ica somente num sentido restrito. Há alguns expe-

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232 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

rimentadores que trabalham com esquemas em intervalo-fixo que jamais

viram essa curvatura pronunciada em seus dados. A experiência tem mos­

trado que o grau de curvatura em gráficos de intervalo-fixo é um indicador sensível do grau de controle experimental, especialmente com intervalos de

10 ou 15 minutos, ou mais.

Em condições bem controladas, é possível manter-se, digamos, um

desempenho consistente em intervalo-fixo de dez minutos no qual o sujei­to leva mais de cinco minutos "50 por cento do intervalo para em itir os primeiros 25% do tota l das respostas em cada intervalo. Essa medida tem sido denominada o quarter-life (44). Se a curva fosse linear, os primeiros

25% das respostas seriam emitidos no primeiro quarto do intervalo, e o

"quarto de vida" em nosso exemplo seria de 2,5 minutos. Se a curva fosse acelerada negativamente, o quarto de vida seria menos do que 2,5 minutos. Com curvatura positiva, o quarto de vida seria maior que 2,5 m inutos".

Estudos descritivos de comportamento em intervalo-fixo em estado estável têm demonstrado que um quarto-de-vida menor do que 50% de um

intervalo-fixo longo reflete controle fraco sobre certas variáveis, como a privação, tip o de reforço, magnitude do reforço, etc... Estas variáveis são comuns a um grande número de procedimentos experimentais, e o seu controle adequado é um tema de preocupação geral. É uma prática comum cada vez mais ampla, no entanto, que antes de começar um programa expe­rimental, os experimentadores ajustem a adequação das suas variáveis de reforçamento a um esquema de intervalo-fixo de 10 ou 15 minutos. Quan­do podem manter um desempenho em intervalo-fixo de dez minutos com

um quarto-de-vida maior do que cinco minutos, juntamente com uma alta freqüência fina l, podem continuar a manipular as variáveis de maior inte­resse, num contexto de procedimentos que não o de intervalo-fixo, com a

confiança de que as suas variáveis de reforçamento estejam sob controle

adequado para a maioria dos- propósitos. Em geral, quanto maior a p ri­

vação, quanto maior a magnitude de um reforçamento, e quanto mais

adequado fo r o reforçamento alimentar como dieta de manutenção, tanto maior será a probabilidade do experimentador realizar o melhor controle possível.

O comportamento em estado-estável também fornece uma indicação do rigor do controle experimental nas situações mais restritas. No exemplo que precedeu, um estado-estável de comportamento em intervalo-fixo fo i empregado para verificar a adequação do controle das variáveis que são comuns a muitos dos procedimentos diferentes. Se o procedimento pro­posto fosse um que envolvesse a manipulação de variáveis específicas para

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ESTADOS-ESTÁVEIS 233

o contexto de comportamento em intervalo-fixo, a demonstração do con­

trole sobre a curvatura de intervalo-fixo seria ainda mais diretamente rele­

vante. Suponhamos que, por exemplo, desejemos investigar os efeitos de

uma droga sobre o comportamento que é mantido por um esquema de reforçamento em intervalo-fixo. Se primeiramente não estabelecermos uma

linha de base em que o grau de curvatura nos garanta o controle rigoroso, nossos efeitos da droga irão provavelmente se demonstrar embaraçosamen-

te variáveis. O pobre pesquisador irá a tribu ir a variabilidade a fatores ine­

rentes à droga ou ao comportamento, quando a falha verdadeira está no

seu prórprio pouco caso da informação descritiva fundamental.

O mesmo é verdadeiro para outros tipos de procedimentos que não o

de intervalo-fixo. Sem uma estimativa descritiva adequada anterior do

comportamento de esquiva, por exemplo, um experimentador pode mani­

pular indefinidamente variáveis em experimentos de esquiva em estado-

-estável, mas nunca saberá se os seus dados são típ icos ou se resultam de

uma combinação de fatores que são simplesmente irrelevantes para os re­

sultados principais.

Uma linha de base em estado-estável, obtida antes da instituição de quaisquer manipulações experimentais, também torna possível um tipo relativamente refinado de medida das modificações comportamentais. Per­mite que os efeitos das variáveis manipuladas sejam avaliadas com referên­

cia ao próprio comportamento do indivíduo. O experimento psicológico

clássico usa, como medida da mudança comporfamental, a diferença entre

um grupo que fo i exposto a uma variável experimental e um grupo de con­tro le que não fo i exposto. Uma qualidade imediata do estado-estável como um substituto do grupo de controle é a eliminação da variabilidade intersu­

jeitos. Isso aumenta enormemente a sensibilidade das mensurações com­portamentais. Variáveis que podem ser postas de lado por terem pouco ou

nenhum efeito, quando são feitas as comparações de grupo, podem se de­monstrar extremamente poderosas quando avaliadas diante de uma linha

de base individual estável. A variabilidade intersujeitos não é um aspecto

dos processos comportamentais do organismo individual, e quando esta

variabilidade é incluída na mensuração dos processos individuais presumi­

dos, o poder de solução das medidas é inevitavelmente sacrificado.

Quanto mais rigoroso o controle experimental, e quanto mais precisa e sensível a técnica de mensuração, tanto maior será a generalidade obtida pelos resultados experimentais. Na medida em que as linhas de base do estado-estável comportamental puderem contribu ir desta forma para a generalidade, deveriam ser estabelecidas num projeto experimental sempre

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234 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

que fosse possível. 0 restante desse capítu lo incluirá um número de exemplos de manipulação de estados estáveis nas investigações experi­

mentais: estas iriam dramatizar a utilidade desses planos experimentais.

REVERSIBILIDADE

Se manipularmos o comportamento de um sujeito de um estado-

-estável para outro, é importante saber se iremos produzir quaisquer mudanças irreversíveis que possibilitem a recuperação de um estado anterior do comportamento. Suponhamos, por exemplo, que queiramos investigar o comportamento de pressão à barra em esquema de reforça­mento em intervalo-variável, enquanto é afetado por um número de doses de uma certa droga. Queremos obter uma curva de "resposta à droga". Nosso prim eiro passo poderia se expor o sujeito a um esquema em intervalo-variável, sem a droga, até que fosse obtida uma freqüência de resposta estável. Nessa altura iríamos administrar a primeira dose da droga, que chamamos de Dose 1. Vamos supor que a freqüência de resposta aumente depois da administração da Dose 1.

Agora temos dois pontos em nossa curva de resposta à droga. Conhecemos a freqüência de resposta sem droga, e com a Dose 1. Surge agora um problema a respeito da Dose 2. Teria a administração inicial

da droga alterado de tal forma a freqüência de resposta que tornasse impossível a recuperação do desempenho da linha de base original em intervalo-variável? Se esse fo r o caso, não poderemos legitimamente

acrescentar o terceiro ponto à nossa curva, porque a resposta à segunda dose da droga refletiria, também, a influência da primeira dose. O terceiro, e possivelmente, os valores seguintes da curva não representariam o mesmo

processo igual ao segundo. Entretanto, é necessário para determinar se

a freqüência de resposta original pode ser recuperada depois de cada administração da droga. Não deveriam ser dadas doses adicionais até que a freqüência original tivesse sido reproduzida em alguma ordem tolerável

de variabilidade. 0 projeto experimental então envolverá determinações alternadas dos efeitos da droga e a recuperação do comportamento em estado-estável. 0 mesmo plano é certamente aplicável a outras variáveis além das drogas.

Há outros métodos de avaliação da reversibilidade, mas antes de descrevê-los, é preciso que se saliente que a irreversibilidade não anula, necessariamente, os dados que surgem da manipulação de estados-estáveis do organismo individual. As relações funcionais obtidas em face da irrever-

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ESTADOS-ESTÁ VE IS 235

sibilidade podem também fornecer informação ú til, embora também irão

exigir uma certa soma de qualificação adicional. O tipo de qualificação

mais satisfatório assumirá a forma de uma explicação da não reversibi­

lidade.Num experimento, por exemplo, Boren estudava a freqüência de

resposta num esquema de reforçamento em razão-fixa como uma função

da grandeza da função exigida (11). Descobriu que enquanto aumentava a

razão de respostas por reforço, numa série ascendente, a freqüência de resposta aumentava de forma ordenada até um valor lim ite. Depois que a freqüência máxima fo i atingida, Boren então reduziu a razão. Descobriu, com alguns dos seus sujeitos, que não podia reproduzir quantitativamente a função que havia obtido na série ascendente original. A í estava um caso n ítido de irreversibilidade parcial (veja Figura 28).

Entretanto, tanto Boren como outros experimentadores haviam

fe ito um corolário de observações para a freqüência de resposta nos experimentos que envolviam razões-fixas altas. Notaram que à medida em

que uma razão era aumentada, a topografia da resposta do animal se

modificava de forma marcante. Um rato, por exemplo, pode ficar no chão da câmara e pressionar a barra com as patas da frente, quando o esquema de reforçamento está em razão-fixa baixa. Com uma razão mais alta, o animal pode se apoiar na parede da câmara, com as suas patas da frente no alto da barra, eliminando assim a necessidade de se levantar até a barra e apoiar todo o seu peso nas pernas de trás. Quando a razão é aumentada

ainda mais, o rato pode agarrar a barra com os dentes e fazâ-la vibrar quase a uma freqüência máxima. Depois, quando a razão fo r novamente

reduzida, algumas dessas últimas formas de comportamento persistem, e as baixas freqüências originais não são recuperadas.

A luz dessas observações auxiliares, a descoberta de que a freqüência

de resposta aumenta com os valores progressivamente mais altos de um esquema de razão fixa não é invalidada pela não reversibilidade.

O estudante poderá imaginar se a situação não poderia ter sido retificada simplesmente misturando a ordem em que as razões foram

programadas originalmente, em vez de se usar uma série ascendente. Entretanto, uma pequena experiência logo iria demonstrar que esse plano não evitaria o problema. Por uma razão, um salto grande demais no

tamanho da razão faria com que o comportamento desaparecesse, em vez de aumentar a freqüência. As razões altas devem ser atingidas gradatr- vamente, se o comportamento tiver que ser mantido. Em segundo lugar, mesmo que os saltos não sejam muito grandes, a topografia do compor­tamento também iria se modificar quando a razão fosse aumentada. Com

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236 TÄTICAS DA PESQUISA CJENTÏFICA

a programação de uma menor razão-fixa subseqüente, os efeitos da m odi­

ficação da topografia refletir-se-iam na freqüência de resposta. Entre­tanto, a irreversibilidade ainda seria enfrentada. Além disso os dados da

freqüência provavelmente pareceriam caóticos, uma vez que os efeitos das mudanças topográficas se d istribuiriam desigualmente através da

função tota l que relaciona grandeza de razão e freqüência. A curva seria

quase uma mistura não avaliável das funções descendentes e ascendentes

de Boren. Então, aumentar gradualmente a razão era o único método de apresentar a relação ordenada que Boren descobriu.

Essas restrições à interpretação dos resultados experimentais d im i­

nuiriam a sua generalidade? A relação descoberta por Boren, entre a freqüência de resposta e a dimensão da razão pode ser observada somente quando a razão é aumentada gradualmente. Misturar' a ordem, na qual a razão é modificada e aumentar a razão em largos passos não produzirá a relação. D im inuir o alto valor da razão não produzirá a função. Diante dessas qualificações, possuiria a função alguma generalidade, ou seria trivial?

A resposta a essa pergunta é favorável à generalidade. Enquanto identificamos mais precisamente as condições em que um fenômeno irá ocorrer, automaticamente aumentamos a sua generalidade. Nenhuma correlação entre duas variáveis existe sem ser afetada por outras condições, como se estivesse num vácuo. Na medida em que outros fatores con tri­buintes permanecerem desconhecidos, seremos incapazes de declarar,

com um m ín im o de segurança, as condições em que a relação será verda­

deira. A ignorância acerca de quais as variáveis que são relevantes ou

irrelevantes, torna a generalidade ilusória. Provavelmente, iremos atribu ir

uma importância geral a uma descoberta que não esteja justificada pelo fato, e a sua reprodutibilidade irá d im inu ir amplamente. Cada fa to r con tri­

buinte que descobrirmos oporá maiores restrições à nossa interpretação do fenômeno. Pode-se descobrir que uma determinada relação funcional

se mantenha somente, por exemplo, quando é empregado um esquema especial de reforçamento, quando o sujeito é privado de alimento por

mais de 24 ou 48 horas, quando a temperatura não excede os 90 graus,

quando a variável independente é manipulada em ordem ascendente, quando o sujeito teve uma história de condicionamento de esquiva, e tc . . .

Mas quando essas restrições importantes são conhecidas, a função pode então ser reproduzida à vontade. Uma vez que controlamos os fatores conhecidos importantes, a função permanecerá de pé diante de outras possíveis variações nas condições adjacentes.

Reprodutibilidade deste tipo , que pode ser conhecida, é a caracte-

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ESTADOS-EST ÁVE IS 237

rística básica definidora da generalidade e não deve ser confundida com simples fidedignidade. Um fenômeno pode ser reproduzível, e portanto fidedigno, na falta de conhecimento preciso das suas variáveis determi­nantes importantes. É possível manter as condições constantes sem saber

quais sejam precisamente, dentre todos os fatores constantes, os que são necessários à reprodutibilidade do fenômeno. Entretanto, quando é pos­

sível identificar as condições para essa reprodutibilidade, a generalidade

é acrescentada à fidedignidade.

Shoenfeld e Cumming, que enfrentaram um caso de irreversibilidade, ou "inelasticidade" semelhante ao de Boren, resumiram m uito claramente

suas implicações para o projeto experimental.

Funções comportamentais como as presentes, obtidas de um orga­

nismo isolado, cada uma servindo como o seu próprio controle e

levadas ao equ ilíb rio de resposta ou "estado-estável", de acordo com valores sucessivos e sistematicamente em modificação de uma

variável experimental independente, não são, é claro, invalidadas por qualquer "inelasticidade". Portanto, o fenômeno impõe de fato uma condição adicional à interpretação dessas funções; além do mais, traz várias implicações para o planejamento de experi­

mentos comportamentais, por exemplo, o desejo, em casos como este, de se evitar o uso casualmente ordenado dos valores da variável independente, em favor desta exploração sistemática do conti­nuum, enquanto não contaminasse o efeito primário da variável

com qualquer irreversibilidade. Ao lado dessas considerações, no entanto, qualquer "inelasticidade" demonstrável numa função com­portamental é em si mesma importante, como a própria fun ­

ção. (6 6 , p. 352).

A avaliação da reversibilidade. A reversibilidade pode ser avaliada de outras maneiras diferentes de replicação direta, ou seja, pela replicação

sistemática. Como exemplo — em vez de replicar uma função com o mesmo sujeito, sujeitos adicionais podem ser expostos aos mesmos valores da variável experimental, mas numa ordem diferente. Se a relação fu n ­cional é a mesma em todos os casos, pode-se concluir com segurança que

não há efeito de ordem. Um caso que ilustra tanto esta técnica, como uma sua variação mais refinada, pode ser encontrado num experimento que relatei há vários anos atrás (70).

O experimento lidava com o comportamento de esquiva ao choque, com três ratos como sujeitos, e investigava duas variáveis mais impor-

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238 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

tantes. A primeira delas era o intervalo choque-choque. Definido como

o tempo entre os choques sucessivos que ocorrem quando o animal não

emite a resposta de esquiva. Quando nenhuma resposta ocorria, os choques eram liberados numa' freqüência especificada pelo intervalo

choque-choque. Entretanto, sempre que ocorresse a resposta de esquiva (pressão à barra), o próxim o choque era adiado. Cada resposta de esquiva

adiava o próxim o choque devido, por um determinado período de tempo. O intervalo em que cada resposta adiava o choque, isto é, o intervalo

resposta-choque, era a outra variável manipulada. Foram obtidas curvas

que relacionavam a freqüência de respostas de esquiva a cada uma das variáveis independentes.

O plano geral era o seguinte: mantendo constante o intervalo

choque-choque para um determinado animal, a freqüência de respostas de esquiva no estado estável era medida para uma variedade de intervalos resposta-choque. A seqüência em que os intervalos resposta-choque foram programados era bem diferente para cada um dos três sujeitos. Por exem­

plo: o sujeito # 1 fo i exposto a intervalos resposta-choque de 2 0 , 15, 30, 10, 50, 7, 4, 90 e 150 segundos, nesta ordem. O sujeito # 2 percorreu a

série na seguinte ordem: 10, 30, 15, 50, 7, 90, 20, 4, 150 e 2,5 segundos. Com o sujeito # 3, fo i empregada uma terceira seqüência.

Depois de terminada uma primeira série de intervalos resposta-cho­que, um novo intervalo choque-choque fo i programado e novamente uma sequência de intervalos resposta-choque fo i investigada. A ordem de expo­sição aos intervalos resposta-choque novamente variava entre os três sujei­tos. As seqüências também foram diferentes das três primeiras empregadas. O mesmo procedimento fo i então seguido várias outras vezes para cada animal. Ao todo, houve 14 replicações da função relacionando freqüência

de respostas de esquiva e intervalos resposta-choque, cada replicação reali­

zada com uma seqüência diferente de intervalos resposta-choque.

Não somente a sequência dos intervalos resposta-choque variava entre os três sujeitos para cada valor de intervalo choque-choque, mas a ordem de exposição a vários valores de intervalo choque-choque também

era diferente. Com o sujeito # 1, por exemplo, a primeira série de interva­los resposta-choque fo i acompanhada de um intervalo choque-choque de

aez segundos. As sucessivas seqüências resposta-choque ocorreram com um intervalo choque-choque de 30, 5, 2,5 e 15 segundos, nesta ordem. A ordem de exposição aos intervalos choque-choque para o sujeito # 2 fo i: 5, 20, 10, 2,5, 50 e 0 segundos. Outra seqüência fo i usada com o sujeito # 3.

9

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ESTADOS-ESTÁ VE IS 239

Cada uma das 14 funções obtidas constituem uma replicação siste­

mática do caso. Uma porção dos dados resultantes pode ser vista na Figura

27, em que a freqüência de respostas de esquiva na forma logarítmica está posta no gráfico comparada ao logaritmo do intervalo resposta-choque. Os valores choque-choque estão indicados à esquerda de cada curva. Notamos que as funções para todos os animais assumem a mesma forma, a despeito

do fa to de que tanto os intervalos choque-choque como os de resposta-

choque tenham sido programados numa seqüência diferente em cada caso.

A ordem de apresentação, no entanto, era crítica e os processos envolvidos

são aparentemente reversíveis.

Log(R-S intervalo-K)

Figura 27. Logaritmo da freqüência de resposta posta no gráfico comparado ao logaritmo do intervalo resposta-choque para cada um dos três animais. Os números è esquerda de cada curva identificam os intervalos choque-choque. Para facilitar a comparação, as curvas foram deslocadas para cima nas ordenadas; o to ta l do desloca­mento, em unidades log., é indicado pelos números à direita (Sidman, 70).

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240 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

A replicação da forma de função para um determinado animal fo i

mais sistemática que direta. Em vez de replicar a função exatamente sob as

mesmas condições, uma das principais variáveis, o intervalo choque-cho- que mudou de valor para cada replicação. Também, a seqüência de in ter­

valos resposta-choque era variada em cada replicação. A repetição da rela­

ção funcional num único sujeito, com novas seqüências de intervalos res-

posta-choque e novos intervalos choque-choque, nos dão outra confirm a­

ção de reversibilidade.

O experimento ilustra então duas variantes da replicação sistemática

como um método para a avaliação da reversibilidade. Um método envolvia o sujeito individual somente, com diferentes seqüências de manipulação de

uma variável (intervalo resposta-choque), juntamente com cada valor suces­

sivo da segunda variável (intervalo choque-choque). O segundo método envolvia o uso de sujeitos adicionais, com variáveis independentes sendo manipuladas em ordens diferentes. A consistência dos dados diante dessas

variações indica que os processos comportamentais são verdadeiramente

reversíveis. Além da demonstração da reversibilidade, há também o d iv i­dendo, comum a todos os tipos de replicação sistemática, de dados adicio­nais. Nós fomos capazes, por exemplo, de examinar as relações entre a freqüência de resposta de esquiva e intervalo choque-choque para cada um dos vários valores de intervalo resposta-choque. Outras análises mais deta­

lhadas foram também possíveis. A replicação direta das funções teria sido um procedimento mais dispendioso.

Experimentos em que os estados-estáveis são manipulados habitual­

mente levam um período de tempo relativamente longo para se realizarem.

O processo de mudança de um estado para ou tro é muitas vezes, prolon­gado, e o próprio estado-estável precisa ser observado num intervalo exten­

so para se determinar que de fa to a estabilidade fo i atingida. A não rever­

sibilidade pode surgir, nesses experimentos a longo prazo, dos processos que exigem um período extenso de tempo antes que possam exercer qual­

quer efeito im portante. Quando se suspeita deste processo, é possível, com

freqüência, uma verificação m uito simples. No experimento estava envol­vido um exemplo cujos dados foram apresentados na Figura 3 (veja C apí­tu lo 3). Os pontos dessas curvas foram obtidos em ordem, da esquerda para a direita, consecutivamente. Uma queda relativamente repentina na freqüência de resposta ocorre em algum valor baixo da porcentagem de choque, à qual o animal fo i exposto no fim do experimento. A variável independente nesse experimento é de natureza a fazer com que se suspeite de que a queda repentina possa ter ocorrido como resultado de um proces­so de extinção a longo prazo, em vez de ser uma função de qualquer valor

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ESTADOS-ESTÁ VE IS 241

especial da variável independente. A implicação está em que o declínio repentino da freqüência possa ter ocorrido naquele estágio particular tem­

poral do experimento, mesmo que o choque tenha sido mantido, digamos,

no valor de 50 por cento no todo. Neste caso, então o processo tornar-se-ia

irreversível.

A possibilidade fo i simplesmente verificada fazendo com que os su­

jeitos voltassem à percentagem de choque a que haviam sido expostos, logo

antes da queda da freqüência. Se fosse recuperada a freqüência de resposta, então um processo a longo prazo seria eliminado como determinante do

declín io de freqüência. Não fo i necessário replicar pontos adicionais da

curva quando esta replicação de "pon to -un ico" fo i bem sucedida.

A reversibilidade então pode às vezes ser avaliada pela simples verifi­cação de partes escolhidas ao acaso em vez de por um tipo de replicação

mais extensivo. A economia no planejamento experimental pode ser au­mentada se o investigador estiver atento a essa possibilidade.

Quando se observar que os efeitos da ordem impedem a reversibili­dade, como salientaram Schoenfeld e Cumming, não podem ser ignorados.

(6 6 ) Nem podem ser eliminados. As modificações irreversíveis do compor­tamento, induzidas por uma exposição anterior do organismo a alguma

variável, não pode ser simplesmente aceita sem análise posterior. A ordem de apresentação das variáveis não é, em si mesma, uma variável básica. Cada instância em que a seqüência se demonstre crítica deve ser analisada em termos de processos comportamentais gerados pela seqüência. Estes não serão os mesmos em cada caso. Valores diferentes de uma razão-fixa, por exemplo, podem gerar topografias diferentes de resposta; valores d ife­rentes de um esquema em intervalo-variável podem produzir reforçamento adventício de freqüências altas; alguns valores do intervalo resposta-choque

tendem mais do que outros a produzir comportamento timing eficiente, etc..Estes são processos comportamentais interessantes e importantes de

d ire ito próprio. A sua investigação freqüentemente irá se revelar mais proveitosa do que a atenção continuada para uma função que tornam irreversível.

Qualquer plano experimental preconcebido então fica marginalizado quando os efeitos da ordem sugerem novos caminhos a serem explorados.

Esse desvio não é necessariamente irrelevante para o plano original, pois a

relação funcional do interesse inicial exigirá, para a sua descrição completa,

uma avaliação dos processos responsáveis pela sua ineslaticidade.

A irreversibilidade pode e deve ser considerada em qualquer descri­ção ou teoria do comportamento. Não pode ser eliminada pelo "balancea-

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242 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TÍFIC A

m ento" das condições experimentais, ao contrário de algumas noções que

prevalecem no planejamento experimental. Um pro tó tipo de projeto equi­

librado está ilustrado no Quadro 1. Nesse experimento há dois valores de uma variável independente, denominada "Condição A " e "Condição B ". 0 Sujeito # 1 é exposto à Condição A na primeira fase do experimento, e à

Condição B, na segunda fase. A ordem inversa é empregada para oSujéito #

2, com a Condição B prevalecendo na Fase I e a Condição A , na Fase II.

Suponhamos que a medida comportamental do experimento seja latência da resposta. Descobre-se que para o Sujeito # 1, a Condição B

produz a latência mais curta, enquanto o Sujeito # 2 mostra uma latência mais curta na Condição A. A descoberta resiste depois à replicação com outros sujeitos. É evidente que a latência é uma função não somente de duas condições experimentais mas também da ordem em que os sujeitos são expostos às duas condições.

Depois dos controles adicionais terem demonstrado que a latência

não se modifica meramente como uma função do tempo, a Fase III é acres­centada ao experimento, voltando-se com cada sujeito à mesma condição da Fase I. Descobre-se que as latências de resposta para ambos os sujeitos permanece curta e não volta ao nível observado na Fase I. O fenômeno

parece irreversível.

Então, como irá o investigador resolver seu problema original, que era o de determinar a relação entre latência e as duas condições experi­

mentais, independentemente da sua seqüência de apresentação? A variável

da seqüência tem sido geralmente tratada como uma maçada metodoló­gica, a ser posta de lado sempre que possível. Nosso investigador hipo­

tético retorna ao seu experimento original de duas fases, que fo i planejado para cuidar justamente desta eventualidade. Ele tem um truque bem à mão. Tirando a média dos dados de ambos os sujeitos na Condição A,

e novamente na Condição B, ele "e lim ina" o efeito da ordem e se desvia do problema da irreversibilidade. Com uma simples operação aritmética,

os dois sujeitos se tornaram um só, e uma variável fo i eliminada.Este desempenho assemelha-se ao do mágico que faz a lebre desa-

Q UADRO 1. Uma Ilustração de Plano Equilibrado

S u /e /fo \.Fase 1 Fase II Fase III

Sujeito 1 Sujeito 2

Condição A Condição B

Condição B Condição A

Condição A Condição B

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ESTADOS-ESTÁVEIS 243

parecer numa cartola. Todos os que o assistem, com exceção talvez das crianças, sabem que a lebre continua por aí, mas ficam a pensar para onde terá ido, e como o mágico o conseguiu. Neste caso, o mágico fez

com que os números que descreviam o comportamento desaparecessem, mas todos nós sabemos que o comportamento realmente apareceu e ficamos a imaginar para onde terá ido.

De fato, não fo i para parte alguma. Os números podem estar desti­

nados a desaparecer, somando-os e subtraindo-os uns dos outros. Cinco maçãs, menos três maçãs são duas maçãs. Os números podem ser fac il­mente modificados por alguns rabiscos da caneta, mas é necessário que alguém coma as maçãs para que elas desapareçam completamente. Em nossa ilustração, a única operação análoga a comer as maçãs seria a elim i­

nação dos efeitos da ordem por meio de alguma manipulação experi­mental. Isso somente pode ser realizado identificando-se os processos responsáveis pelo efeito irreversível da ordem, e obtendo-se o controle experimental sobre tais processos. A variável da seqüência não é e lim i­

nada pelo cálculo da média, porque a média contém os efeitos de ambas

as variáveis.Suponha que a média da latência para a Condição A passe a ser

mais alta do que a média para a Condição B. A conclusão será que, com o cancelamento dos efeitos da seqüência, a Condição A produz latências mais longas do que a Condição B. Este resultado poderia surgir se as latências da Condição A em cada uma das fases isoladas do experimento fossem mais altas do que as latências correspondentes da Condição B.

Mas também poderia acontecer que a Condição A produzisse uma latência m uito mais alta do que a B na Fase I, e somente uma latência ligeira­mente mais baixa na Fase II. Ou as latências podem ser iguais na Fase I, com a Condição B produzindo m uito maior do que A na Fase II. Médias semelhantes, então, poderiam resultar de efeitos de seqüência quantita­tivamente diferentes. A generalização de efeitos relativos das Condições

A e B, na realidade, não seriam independentes da seqüência. Efeitos da seqüência estariam presentes nos números, mas estariam ocultos.

Underwood, que discute o plano balanceado com alguns detalhes, salienta que, "o balanceamento não elimina os efeitos (da seqüência); o balanceamento somente distribui esses.. . efeitos igualmente por todas as condições quando os efeitos são considerados para todos os sujeitos combinados" (91, p. 325). De acordo com a nossa própria discussão,

também reconhecemos que "se o experimentador tem razão para acreditar que o efeito de ir de A para B é completamente diferente do efeito de ir de B para A, o método não deveria ser usado, desde que proporcio­

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244 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

naria um quadro distorcido da influência das condições experimentais

como ta l" (91, p. 326).Podemos ir mais longe do que isso. A menos que a variabilidade

intersujeito tenha sido reduzida a proporções negligenciáveis, haverá inevitavelmente amplas diferenças individuais nos efeitos das seqüências

de A para B e de B para A. Isto é, não somente o efeito de ir de A

para B pode d ife rir do efeito de ir de B para A, mas essa diferença em si mesma é provável que varie tanto na direção como em magnitude

de um sujeito para outro. A d m itir que as diferenças são os efeitos da

variabilidade não controlada, e que portanto estarão fora da média, seria

gratuito e perigoso. Com o grau de variabilidade intersujeitos habitual­mente tolerado nos experimentos comportamentais, a suposição mais

razoável é que as seqüências de A para B e de B para A produzem

de fato efeitos diferentes de um sujeito para outro, e que se deveriadesconfiar do plano contrabalançado.

De fa to , não há nenhum projeto experimental que possa anular a verdadeira irreversibilidade. Não pode ser fe ito pelo controle estatís­tico, nem mesmo pelo controle experimental. Se a modificação de um valor de uma variável experimental para outra gerar um processo compor­tamental que depois impeça a recuperação do comportamento em estadooriginal, este processo deve ser inclu ído em nossas descrições. Se issosignificar que uma simples relação funcional não servirá para abranger os resultados do nosso experimento, então que seja. O comportamento,

ou qualquer outro tema de estudos, não pode ser forçado num esquema simples descritivo só porque nós, como cientistas, achamos que as leis sim­ples são preferíveis às complexas. Um esquema descritivo pode não ser

mais simples do que o tema de estudos que ele abrange. O investigador,

portanto, precisa estar preparado para lidar com a ineversibilidade quando

a encontra.Atualmente, quase não existem dados disponíveis que descrevam

processos comportamentais irreversíveis. Os projetos experimentais que

iriam requerer tais descrições parecem tediosos, e isso, talvez, seja a razão da lacuna. Mas um projeto experimental somente será tedioso quando os

dados em potencial tiverem pouco interesse para o investigador. Portanto,

vamos focalizar alguns projetos experimentais, tanto para expô-los à aten­ção do estudante como para verificar quão interessantes podem ser os dados em potencial.

Suponha que selecionamos, como nosso primeiro caso, o experimen­to de Boren, ao qual já me referi. Esse experimento, para recordar, lidava com o comportamento que era mantido por um esquema de reforçamento

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ESTADOS-ESTÁVEIS 245

em razão-fixa. Boren manipulava a grandeza de razão-fixa, isto é, o número de respostas exigidas por reforço, e media freqüência de resposta como uma função da grandeza da razão. Começava com uma razão baixa e gra­

dualmente mudava a razão para mais, em uma série ascendente. A curva

sólida da Figura 28 mostra um nível de estado estável de um animal res­

pondendo a cada valor da razão-fixa.A próxima fase do projeto de Boren era realmente o primeiro passo

para uma descrição da irreversibilidade. Tentava replicar a função, no mes­mo animal, começando pela razão mais alta e voltando a trabalhar com a

mais baixa. O resultado aparece na curva em linha interrompida. A repli­

cação não fo i atingida.A investigação se interrompeu neste ponto, porque o problema da

irreversibilidade não era a preocupação de Boren nessa época. Uma descri­ção mais completa da irreversibilidade da função teria exigido vários outros estágios. Os animais podiam ter sido expostos uma segunda vez às grande­zas ascendentes da série de razões, e novamente à série descendente. Talvez várias outras repetições teriam sido necessárias.

Isso poderá parecer uma série de manipulações tediosas e não inspi- radoras. Mas dados novos e interessantes não têm que surgir somente de projetos experimentais criativamente diferentes. No caso presente, os da­dos resultantes seriam os primeiros da sua espécie. Teríamos um quadro do

Razão-fixa (respostas/reforçp)

Figura 28. Curva relacionando a freqüência de resposta de um animal ao número de respostas exigidas por reforço. Os pontos na curva in interrupta foram obtidos na ordem de grandeza da razão ascendente; os pontos na curva em linha interrompida, na ordem de grandeza decrescente da razão. (Curvas feitas com dados de Boren, 11).

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246 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

processo da própria irreversibilidade, como se desenvolve e talvez como termina. Como seria esse quadro? A variedade de possibilidades e a incer­teza da predição conferem a esses dados em potencial m uito da sua fasci­

nação.

Por exemplo, a segunda série ascendente iria replicar a primeira série descendente? Ou iria revelar também irreversibilidade? Iríamos obter uma

fam ília de curvas, cada uma delas subindo sucessivamente mais alto na

ordenada, até que a função finalm ente se tornasse estável? Iriam todas gs

curvas girar em torno da mesma freqüência máxima, ou a própria freqüên­

cia máxima iria se modificar sistematicamente? Cedo ou tarde os fatores

que causam a irreversibilidade iriam eles mesmos alcançar um ponto final,

e daí por diante, as replicações subseqüentes iriam demonstrar reversibi­

lidade. Aonde estaria esse ponto? Seria a função estável ainda uma função

crescente, ou assumiria uma outra forma?

Dados como esses iriam abrir uma área de pesquisa comportamental completamente nova. O plano experimental é um plano simples, aplicável a

uma ampla variedade de situações e procedimentos. Os dados, no entanto, seriam complexos. Mas seriam dados nítidos, avaliáveis da mesma forma

que quaisquer outros que tenho descrito. A irreversibilidade iria se mostrar como é, um fenômeno comportamental valioso e possível de ser estudado,

não alguma coisa para ser escondida em armário.Um segundo plano experimental para avaliar a irreversibilidade pode

ser ilustrado no contexto de alguns dados fornecidos por Findley (35). Ele estava realmente usando outra abordagem do problema que acabamos de discutir, o da frequência da resposta como uma função da grandeza da ra­zão. (Terei algo mais a dizer sobre essa abordagem no C apítulo 11).

Findley tentou superar o problema da irreversibilidade encontrado por

Boren. Ele o fez correlacionando cada grandeza da razão com um estímulo diferente, e programando a série tota l de grandezas de razão durante cada período experimental isolado. O procedimentb se desenvolveu como segue.

Com um macaco como sujeito, Findley programou cinco grandezas

diferentes de razão, a mais baixa exigindo 33 respostas por reforço. 0

período experimental fo i d ivid ido em ciclos de duas horas, com os prim ei­

ros 30 minutos de cada ciclo depois subdivididos em períodos de seis m i­nutos. O animal podia obter um único reforço durante cada período de seis minutos. Durante o primeiro período de seis minutos, ligava-se o es­

tím u lo # 1, e liberava-se um único reforço quando o animal emitisse 33 respostas. Durante os seis minutos seguintes, na presença do estímulo # 2 , eram necessárias 6 6 respostas para produzir o reforço. Em cada período sucessivo de seis minutos o estímulo era mudado e o número de respostas

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EST A DOS-ESTÁ VE IS 247

necessárias para a produção do reforço era dobrado. Depois do quinto pe­ríodo, todas as luzes do estímulo foram apagadas e assim permaneceram durante o restante do ciclo de duas horas, e depois começava um novo

ciclo, novamente com o estímulo # 1 .Um gráfico do comportamento em estado estável, resultante desse

procedimento pode ser visto na Figura 29. A figura começa com período

de 33 respostas, que produz o reforço. Há somente algumas respostas adi­cionais até que o Estím ulo # 2 apareça, e então a caneta volta para linha

de base. Depois há um período de 6 6 respostas que precedem o próxim o

reforço. O gráfico continua assim até o período final de 528 respostas. Orestante do ciclo de duas horas não é mostrado.

Usando essa técnica, Findley replicou o modelo da função original de

Boren. A freqüência de resposta aumentava juntamente com a grandeza da razão. O problema da reversibilidade, no entanto, não é aqui igual ao que

havia no experimento de Boren. Não há dúvidas de que a função seja recu­perável, porque, de fato, ela é recuperada várias vezes numa sessão experi­mental. Quando um estado estável fo r atingido, o sujeito terá experimenta­do cada grandeza da razão um grande número de vezes. Essencialmente Findley estava trabalhando no estágio que Boren teria alcançado se tivesse

continuado a repetir sua série ascendente até que o processo que havia ge- ' rado a irreversibilidade tivesse alcançado o seu lim ite. O problema no caso de Findley pode ser expresso assim: Teria obtido a mesma função se pro­gramasse a razão maior durante o prim eiro período de seis minutos, e de-

I I Seis minutosFigura 29. Gráfico do comportamento de pressão à barra de um macaco, num esquema de reforçamento em razão-fixa, na qual a exigência da razão dobrava depois de cada reforço. (Dados generosamente fornecidos por Finfley, 35).

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248 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

pois diminuísse a razão pela metade durante os períodos sucessivos? A função original seria recuperável se as razões fossem programadas em ordem decrescente de grandeza, em vez de crescente?

A té agora a resposta a esta pergunta é desconhecida. Mas admitamos,

para fins de ilustração, que a função não fosse replicável se as razões

fossem apresentadas em ordem inversa. De acordo com as concepções

clássicas do projeto experimental na psicologia, considerar-se-ia que os dados de Findley teriam somente uma generalidade lim itada. A solução comumente aceita seria a de adotar um projeto experimental diferente, em

que a seqüência de razões variariam de ciclo para ciclo. Neste projeto,

poder-se-ia alegar, não haveria nenhum efeito de seqüência, e os dados

possuiriam a generalidade maior possível.

Mas, na verdade, se os efeitos da ordem estivessem presentes, m istu­rar a seqüência de ciclo em ciclo seria o procedimento mais indesejável. Os efeitos de várias seqüências ainda estariam presentes nos dados, mas esta­riam irremediavelmente confundidos uns com os outros, e, portanto, im ­

possíveis de serem avaliados.Somente a manipulação deliberada e sistemática das seqüências fo r­

necerá uma solução adequada ao problema. O projeto experimental, que é

necessário neste caso, exige que o comportamento seja levado ao estado-es­tável com um número de possíveis seqüências de apresentação de grandezas

de razão. Por exemplo: deverão ser feitas comparações entre as funções obtidas com as seqüências ascendentes, com as seqüências descendentes,

com seqüências em que a grandeza da razão primeiro aumenta e depois

dim inui, etc..Desta forma, uma descrição precisa dos efeitos da seqüência poderá ser alcançada. Os fatores que impedem a reversibilidade podem ser

estimados e incluídos entre as determinantes da função que relaciona a

freqüência de resposta à grandeza da razão.Novamente vemos que o projeto experimental adequado num caso

que envolve irreversibilidade não é necessariamente, o mais simples. Talvez

quando soubermos mais sobre a irreversibilidade em geral, projetos experi­

mentais simples poderão ser usados. A té lá, no entanto, não temos outro

caminho.

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estados - estáveis ________ :( cont. 1

O CRITÉRIO DE ESTABILIDADE

Em experimentos que envolvem a manipulação de estados-estáveis, como o experimentador decide se o comportamento está estabilizado? Como se identificar um estado-estável? Antes de mais nada quero declarar que, independentemente do critério de estabilidade que se empregar, não há certamente uma resposta final. A utilidade dos dados dependerá não da possibilidade de se ter atingido a estabilidade definitiva, mas sim

da fidedignidade e validade do critério. Isto é, o critério seleciona um

estado do comportamento reproduzível e generalizável? Se assim for, a manipulação experimental dos estados estáveis, definidos pelo critério,

irão produzir dados que são ordenados e generalizáveis para outras situações. Se o critério de estado-estável fo r inadequado, os fracassos

na reprodução e na replicação sistemática dos resultados experimentais

revelarão esse fato.

Como escolher um critério de estado-estável? Novamente, não há

nenhuma regra a seguir, porque o critério dependerá do fenômeno que

está sendo investigado e do nível de controle experimental que puder

ser mantido. Então, os estudos descritivos a longo-prazo do comportamento

em estado-estável serão extremamente úteis. Observando-se o comporta­mento durante um extenso período de tempo, sem modificações nas condições experimentais, será possível fazer-se uma estimativa do grau

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250 TÁTICAS D A PESQUISA C IEN TIFIC A

de estabilidade que pode ser finalmente mantido, um critério poderá

então ser escolhido, baseado nessas observações.

Já descrevi, com alguns detalhes um experimento no qual a fre ­

qüência da resposta de esquiva era manipulada de um estado-estável para ou tro , por meio de variações experimentais em intervalos choque-choque a resposta-choque (Capítulo 8 , pp. 237-240). O critério de estabilidade fo i derivado de estudos descritivos anteriores de comportamento de esquiva, com valores fixos e imutáveis de dois parâmetros temporais. Como resultado desses estudos descritivos a longo-prazo, parecia possível fazer-se uma generalização do estado-estável. Quando a freqüência de resposta se estabeleceu num nível especial de estabilidade, era im pro­vável que houvesse modificação sistemática posterior. Este nível fo i esco­lhido como critério de estabilidade. Uma combinação particular de intervalos choque-choque, e resposta-choque fo i mantida até que a

freqüência de resposta estivesse de acordo com o critério . O critério necessário de estabilidade, antes da mudança de um esquema de choque para outro , era uma diferença na freqüência que não fosse maior do que 0 , 1 respostas por m inuto entre quaisquer dois, dentre três períodos

experimentais consecutivos.

A ordenação dos dados resultantes poderia confirm ar que o critério,

nessa situação experimental em particular, era o adequado. Havia uns poucos desvios marcantes nas funções obtidas, e é provável que estas

ocorreram em razão do critério de estabilidade não ser suficientemente rigoroso. Uma pequena soma de variabilidade desse tipo pode ser tolerada,

se os dados restantes forem suficientemente extensivos e consistentes

para tornar claro que os pontos de desvio não refletem uma variável

importante não avaliada.

Investigações posteriores extensivas do comportamento de esquiva

deram origem a uma objeção mais séria ao critério de estabilidade em particular que fo i usado aqui. Tornou-se claro que, em algumas condições, o critério não representava um estado-estável válido. Por exemplo, quando

macacos, em vez de ratos, eram usados como sujeitos, a ampliação do

intervalo resposta-choque produzia somente um declínio m uito lento e bem demorado da freqüência de resposta de esquiva. O critério de uma diferença não maior do que 0 , 1 respostas por m inuto, em duas dentre três sessões consecutivas, era atingido muitas vezes mais no lento processo de mudança de resposta de uma freqüência alta para uma baixa. Cada vez que o critério é satisfeito, especifica-se uma freqüência de resposta progressivamente mais baixa.

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 251

Os resultados originais, com ratos como sujeitos, são também generalizáveis para os macacos, mas o critério de estabilidade precisa ser modificado nos experimentos com macacos. Isso não deprecia a

generalidade dos dados. Se o mesmo critério tivesse que ser usado para

ambas as espécies, não iria especificar estados de comportamento equi­

valentes para cada animal. A capacidade do critério em selecionar um

estado reproduzível é a sua característica definidora importante.

Se o critério de estado-estável produzir relações funcionais orde­

nadas e replicáveis, poderá ser aceito como adequado. De fato, não é

necessário que represente o estado-estável ideal do comportamento em questão. Ê possível que uma exposição mais extensa do sujeito a uma

série de condições experimentais produzirá modificações comporta­mentais posteriores, acima do nível que é arbitrariamente escolhido

como o estado-estável. Mas se o estado escolhido pelo critério é um, através do qual o comportamento precise passar inevitavelmente no seu caminho para o estado-estável final, então os dados serão ordenados e

significativos.

Desde que seja necessário, em experimentos de estado-estável, que se adote algum critério de estabilidade, e desde que os experimentos raramente sejam a duplicata uns dos outros em todos os seus aspectos,

deve haver uma considerável soi ia de experiência e intuição envolvida na

seleção de um critério adequado. Uma seleção inadequada pode m uito bem transformar um experimento num estudo-piloto. A experiência do

investigador será um composto de suas próprias observações de estabilidade

em experimentos relacionados, dos resultados dos estudos descritivos a longo prazo, da soma de variabilidade a que está acostumado em seu próprio laboratório, do seu conhecimento da área em que trabalha e da experiência relatada de outros investigadores. Essa últim a fonte de in fo r­

mação precisa ser cuidadosamente avaliada. Os critérios de estabilidade serão transferíveis de um laboratório para outro, somente se os dois forem

comparáveis a respeito do grau de controle experimental em geral que tenham atingido. Por exemplo, o critério de estabilidade adotado por um laboratório em seu programa de pesquisa em certos tipos de esquema de

reforçamento fo i defin ido como segue:

Os primeiros sete dias de qualquer esquema não são considerados para computar a estabilidade. Durante os próximos seis dias a média dos três primeiros dias dos seis é comparada com a dos últimos três dias; se a diferença entre essas duas médias fo r menor do que

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252 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

5 por cento da média dos seis dias, considerar-se-á que a ave está estabilizada e mudar-se-á para o esquema seguinte. Se a diferença

entre as sub-médias fo r maior do que 5 por cento da média principal, outro dia experimental acrescentar-se-á e são feitos cálculos seme­

lhantes para aquele dia e os cinco dias que o precederam imediata­

mente. Tais extensões do experimento e dos cálculos de estabilidade são continuados diariamente até que a ave atinja o crité rio de 5 por

cento antes mencionado. (67, p. 567)

Esse critério é relativamente severo, embora seus autores não

estejam convencidos da sua validade geral. O ponto que destaco é que somente os experimentadores, cujos laboratórios se caracterizam pela

atenção meticulosa aos detalhes do controle experimental, serão capazes

de empregar o mesmo critério de estabilidade. A variabilidade que observam será também tão grande que fará com que passem toda a vida, se é que são tão teimosos, no mesmo experimento incompleto. Mesmo que por acaso o critério fosse satisfeito, no correr da variabilidade não controlada, os dados seriam caóticos. Como resultado, não só o experimento seria abandonado (com uma conseqüente perda de tempo e trabalho), como

também os dados seriam invalidados (com uma conseqüente confusão sistemática).

Os dois critérios de estabilidade descritos até agora foram de natureza

estatística, simplesmente. Esta é uma característica inevitável destes cri­térios, porque precisam inclu ir comparações entre as várias ordens de observações. As técnicas estatísticas m uito poderosas, no entanto, não são exigidas e podem mesmo ser inadequadas. O grau de variabilidade a ser tolerado na definição do estado-estável será determinado pela consis­

tência das relações funcionais assim obtidas è pelo grau de controle experi­mental que puder ser atingido. A teoria estatística não ajuda nesses

assuntos.Além disso, esse é o caso em que a significação experimental e

estatística não somente são diferentes, mas podem mesmo ser opostas. Um estado-estável, que é defin ido pelas diferenças estatisticamente insigni­ficantes no desempenho durante ura período de tempo, pode ser comple­tamente inútil experimentalmente, se um alto grau de variabilidade contribu ir para a avaliação estatística. Uma descrição estatística do estado- -estável pode ser adequada, mas a avaliação estatística da estabilidade deveria ser substituída pela avaliação experimental. Se, entretanto, a experiência acumulada do experimentador, planejar e desenvolver experi­mentos de estado-estável, não fo r suficiente para lhe perm itir a escolha

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ESTADOS-ESTÁ VE IS (CONT.) 253

de um critério ú til de estabilidade, nenhuma soma de manipulação estatística o tirará das suas dificuldades.

A experiência acumulada e o bom julgamento experimental entram

na seleção dos critérios de estabilidade também de outra maneira. O cri­

tério especial escolhido pode depender em parte da economia da organi­

zação do laboratório. Por exemplo: o critério descrito anteriormente, que exige cálculo e comparação diários das médias e sub-médias, talvez para vários sujeitos, envolve trabalho considerável. Um método alternativo seria

expor todos os sujeitos a cada valor da variável independente durante a mesma extensão de tempo e defin ir o conjunto final de observações como o estado-estável.

Por exemplo, cada sujeito poderia ser exposto a um esquema deter­minado durante 100 horas, com o desempenho médio durante as 30 horas finais sendo aceito como o estado-estável. Este procedimento, para ser maximamente eficaz, dependerá de observações anteriores da amplitude dos períodos de tem po em que uma população de sujeitos irá provavel­mente atingir a estabilidade. Pode-se selecionar um período de exposição suficientemente longo para abranger o caso mais lento. O critério de estabilidade nessa circunstância também deve selecionar o estado-estável final, e não um intermediário; de outra forma, os sujeitos individuais podem ser detidos em diferentes estágios na sua aproximação da estabi­

lidade ideal.Enquanto o primeiro tipo de critério envolve trabalho de compu­

tação, geralmente realizado pelos que trabalham no laboratório, um critério baseado num período fixo de tempo é provável que estenda a duração de um experimento e bloqueie o equipamento de controle e

programação. Uma escolha entre os dois métodos de defin ir a estabilidade dependerá em parte da disponibilidade relativa das horas do pessoal edas

horas do aparelho. O laboratório com pequeno investimento pessoal e

um amplo investimento em equipamento automático provavelmente irá desenvolver critérios de intervalo de tempo fixo . O caso inverso é próvável

que produza critérios de estabilidade que envolvam computação humana

mais ou menos complexa.Os três critérios de estabilidade descritos anteriormente têm incluídos

todos eles uma ou mais restrições planejadas para eliminar das medidas os

efeitos desconcertantes dos estados iniciais de transição: Em dois dos casos, a avaliação do estado-estável nem mesmo começa até que um número determinado de horas experimentais tenham transcorrido depois da introdução de um novo valor da variável independente. Uma certa quantidade de dados, no entanto, é arbitrariamente ignorada. Esta fase

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254 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

"p ré-crité rio " executa uma função importante. Uma transição de um estado comportamental para outro pode se realizar lentamente, particular­

mente se a modificação da condição experimental fo r pequena. Em tal circunstância, um critério de estabilidade poderia ser atingido antes que a transição tivesse mesmo começado, e se tiraria erroneamente a conclusão de que valores sucessivos da variável independente produ­zissem estados de comportamento idênticos. Geralmente se faz uma ten­

tativa para adotar uma fase pré-critério de duração suficiente para garantir que a modificação comportamental, se é que haverá alguma, pelo menos terá começado antes que os dados dos critérios fossem exami­nados.

A rapidez da transição de um estado para outro pode ser uma função da magnitude da diferença entre os dois valores da variável experimental.

Ou pode também ser uma função da direção da mudança. Por exemplo, uma modificação no intervalo resposta-choque de 20 para 15 segundos

pode somente ser seguida vagarosamente pelo aumento adequado da freqüência de resposta. Uma mudança de 30 para 15 segundos, no entanto,

pode produzir uma transição rápida. Além disso, enquanto uma mudança de 30 para 15 segundos, que provavelmente produza um aumento quase

imediato da freqüência de choque, provavelmente irá resultar num ajusta­mento comportamental rápido; uma mudança no intervalo resposta-choque para outra direção, digamos, de 30 para 60 segundos, é provável que resulte em uma adaptação comportamental mais gradual. A fase pré-critério deve ser de duração suficientemente longa para abranger todas essas eventualidades. De outra forma o critério pode ser atingido antes que a

transição tenha mesmo começado, e as tentativas para recuperar um determinado estado comportamental a partir de linhas de base diferentes

serão frustradas.

Uma precaução semelhante de natureza mais local precisa muitas

vezes ser tomada ao se avaliar o estado-estável. Não somente há efeitos da transição a longo prazo de um estado comportamental para outro, como também, em muitos casos, aparecem estágios de transição no começo

de cada sessão experimental. Freqüentemente se observa, por exemplo, que a freqüência de resposta no começo da sessão difere da freqüência do

final da sessão, e da freqüência do final da sessão precedente. Ratos brancos, num procedimento de esquiva, muitas vezes recebem um número de choques com pequeno espaço no começo da sessão até que estabeleçam um padrão eficiente de resposta. Macacos, num esquema de reforçamento em intervalo-fixo, podem mostrar uma pequena curvatura no seu registro cumulativo de resposta durante os intervalos iniciais da sessão. Esses

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ESTADOS-ESTÁ VE IS (CONT.) 255

estados locais de transição recebem freqüentemente o nome de "efe ito de

aquecimento".Temos poucas informações de natureza experimental referentes aos

efeitos de aquecimento. Ao avaliar os estados-estáveis, estes efeitos são comumente ou absorvidos pelos dados do critério ou excluídos explicita­

mente do critério da estabilidade. Por exemplo, os dados do critério

podem ser tirados somente da porção final de cada sessão experimental.Um problema importante é proposto pela exclusão dos dados, tanto

da fase pré-critério como da fase de aquecimento. Os estados de transição

são de interesse potencial como fenômenos comportamentais importantes de pleno direito. É provável também que o estado de transição, seja de longo prazo, ou local, çontenha algumas das chaves para uma compreensão do estado-estável subseqüente. A variabilidade nas fases de aquecimento podem contar para alguma variabilidade nos estágios finais das sessões

experimentais. A duração do período de aquecimento num procedimento de esquiva pode m uito bem ser uma determinante importante da fre ­qüência final de resposta. Processos comportamentais em aspirai durante a fase de transição pré-critério podem determinar o estado final. Estes efeitos não invalidam as relações funcionais que descrevem comportamento em estado-estável, mas ignorando-as podem adiar uma compreensão mais precisa da função.

O investigador é assim posto diante de um dilema ao planejar experi­mentos manipuladores do estado-estável. É forçado a adotar um critério de estabilidade, mas assim fazendo, subtrai da consideração alguns aspectos possivelmente importantes dos processos comportamentais nos quais

está interessado. É importante reconhecer-se que o problema envolve dois requisitos. Um deles é a descrição do estado-estável, em termos da sua

relação funcional com a variável independente, o outro é a procura de

uma contagem sistemática em que a função possa ter o seu lugar na relação com outros processos comportamentais. Os critérios de estabili­

dade, com todos os seus defeitos, são necessários para a primeira tarefa. Uma abordagem experimental diferente pode ser exigida para a segunda, quando os processos sistematicamente envolvem estados de transição,

em vez de estados-estáveis. Terei mais a dizer sobre o assunto no Capítulo 1 0 .

Evidentemente, há várias possibilidades de erro na seleção de urn critério válido de estabilidade. Às vezes um erro pode não ser detectado mesmo que o experimento tenha prosseguido até m uito longe, para que o dado torne claro que o critério era insatisfatório. A investigação deve então ser inutilizada e planejada novamente. Mesmo com um critério

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256 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

geralmente satisfatório, no entanto, um pequeno número de exceções podem aparçcer, surgindo, talvez, como pontos de desvio das relações

funcionais. Quando pontos divergentes forem poucos, em números rela­

tivos ao to ta l coberto pelo experimento, é legítim o redeterminar seus valores experimentalmente. As divergências, além de serem poucas, tam ­

bém precisam ser de natureza não sistemática; senão seria mais racional

supor que representem um processo comportamental verdadeiro, para ser investigado e não eliminado. O experimento de esquiva, cujo critério de estabilidade fo i descrito acima, produziu um to ta l de 138 pontos experi­

mentais compreendendo as funções empíricas. Destes, cinco eram clara­

mente divergentes da tendência geral dos dados. Uma vez que esses cinco pontos pareciam ocorrer em valores de intervalos choque-choque e res­posta-choque, que não tinham relação sistemática uns com os outros,

foram todos determinados uma segunda vez, depois do que, na verdade,

se alinharam com os outros dados.Uma inadequação ocasional no critério pode-se revelar antes que

todos os dados tenham sido obtidos, e neste caso uma certa elasticidade no plano experimental não só é permitida como desejável. Algumas vezes é possível que o sujeito satisfaça um critério, se o seu comportamento se fixa dentro dos limites toleráveis da variabilidade, mas ainda para mostrar uma inclinação incompleta, continuada, de mudança no seu comporta­mento. Esses casos são mais facilmente detectáveis, e com maior probabi­

lidade de ocorrência, quando um período fix o de tempo define o critério

de estabilidade. Cem horas por exemplo, podem ser suficientes para se atingir um estado-estável pré-definido na maioria das circunstâncias de

um determinado experimento, mas ocasionalmente pode-se observar que

o comportamento ainda está se modificando sistematicamente no final deste período. Não é sensato, neste caso, apegar-se cegamente ao cri­

tério. As condições experimentais deveriam ser mantidas, sem qualquer modificação, durante um número de horas adicionais. O propósito

do experimento é, antes de mais nada, investigar o comportamento

em estado-estável, e se uma escolha deve ser feita entre a estabili­

dade e o critério ocasionalmente inadequado, o critério deverá ser m odi­

ficado.

De fa to , há um risco considerável vinculado a modificações ad hoc do critério de estabilidade. Uma razão im portante para se aderir a critérios predeterminados é impedir a seleção arbitrária e inconsciente somente

daqueles dados que o experimentador quer ver. Sem um critério específico o experimentador pode decidir, com fundamentos insuficientes, que um estado-estável tenha sido atingido quando o comportamento preenche as

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 257

suas expectativas. Entretanto, as exceções do critério de estabilidade

devem ser somente ocasionais em relação à soma to ta l dos dados reco­

lhidos. Se se tornarem freqüentes, o melhor caminho é começar de novo o experimento, com um critério mais severo. 0 experimentador não deve se expor à responsabilidade de interromper os estados de transição em pontos calculados para lhe fornecer os dados que quiser.

Incidentalmente, o experimentador ao publicar as suas descobertas

deveria anotar quaisquer objeções que tenha fe ito ao critério de estabi­

lidade.

Variabilidade e critério de estabilidade. Os critérios de estabilidade contêm dentro de si mesmos uma especificação da soma de variabilidade que um experimentador considera permissível na definição de um estado-

-estável. Mas uma preocupação constante deve preceder qualquer especifi­cação desse tip o : se os dados forem extremamente variáveis, tanto por causa da técnica experimental deficiente, como por causa de compreensão

inadequada dos processos envolvidos, nenhuma especificação de variabi­lidade permissível produzirá relações funcionais ordenadas. A utilidade de um critério de estado-estável é uma função inversa do nível de variabilidade

hão controlada. Este é simplesmente uma outra maneira de se dizer que

os estados-estáveis não podem ser investigados experimentalmente a menos que eles possam realmente ser observados. A primeira tarefa, antes que um estudo paramétrico de comportamento em estado-estável possa

começar, é refinar as técnicas de controle até que todas as flutuações principais dos dados sejam removidas. Somente então um critério de

estabilidade será experimentalmente significativo.Certos tipos de flutuações, particularmente aquelas de natureza

sistemática, não podem ser eliminadas pelo refinamento técnico. Podem, de fa to se tornar mais proeminentes, na medida em que o nível geral de "ba ru lho" é reduzido. Terei mais a dizer sobre esses casos, a seguir. A esta altura, gostaria de anotar as mudanças sistemáticas que podem ocorrer na própria variabilidade como uma função das operações experimentais. A probabilidade dessas mudanças deve ser considerada ao selecionarmos

um critério de estabilidade. Por exemplo, poder-se-ia esperar que o comportamento que ocorre em freqüência baixa será caracterizado por um baixo nível de variabilidade absoluta quando comparado com o comportamento que ocorre com freqüência alta. Um critério de ajusta­mento da estabilidade poderia então ser usado. O experimentador poderia estabelecer dentro do critério um mecanismo que avaliasse as mudanças

de variabilidade.

Page 259: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

Um dos critérios já descritos possui essa natureza. Na diferença entre

as freqüências médias de resposta em dois blocos sucessivos de três sessões exigia-se que fosse de 5 por cento da freqüência média de seis

dias totais, antes que a estabilidade fosse aceita. Esse critério permite uma latitude mais ampla da variabilidade absoluta quando a freqüência de

resposta fo r alta, do que quando fo r baixa.

Se a própria variabilidade se modifica como uma função das ope­rações experimentais, um critério de ajustamento de algum tipo deveria ser usado, de outra forma, poderão^urgir dados enganosos. Por exemplo:

suponhamos que em vez de especificar a variabilidade permissível em termos de porcentagem usamos um critério baseado em freqüência absoluta

de resposta. Digamos que aceitaremos a estabilidade quando a amplitude

de freqüências de resposta em seis dias consecutivos não exceda 0.5 res­

postas por m inuto. Este critério fixo , independente das mudanças siste­

máticas da variabilidade, iria impor realmente uma exigência mais rigorosa sobre os estados que são caracterizados por uma variabilidade absoluta

maior, mesmo que a variabilidade relativa possa ser bem estável. Se, num determinado experimento, freqüências altas de resposta mostram de fato maior variabilidade do que as freqüências baixas, então um critério fixo de estabilidade levará mais tempo para ser atingido quando as freqüências

altas prevalecerem. O estado-estável eventual realizado por freqüências altas de resposta podem representar um estágio funcionalmente diferente de comportamento que não aquele em que a freqüência baixa atinja o cri­tério. A relação funcional obtida não representará nessas circunstâncias

um processo comportamental unitário.Entretanto, um critério ajustável também tem suas falhas. Também

pode produzir dados enganosos se o método de ajustamento não corres­ponder à realidade do comportamento. Em esquemas de reforçamento em razão-fixa, por exemplo, a baixa freqüência de resposta pode ser caracterizada por um nível maior de variabilidade absoluta do que as de alta freqüência. Se o critério de estabilidade perm itir maior variabilidade

para altas freqüências pode resultar um quadro distorcido do estado-

-estável. O critério neste caso será m uito severo na parte baixa da escala, e brando demais na parte superior. Uma maneira de contornar esse problema

é empregar um critério de tal severidade, que mesmo em suas aplicações mais vagas será ainda suficiente para conduzir o comportamento ao seu

estado-estável final.Uma segunda alternativa é a de preceder o experimento principal

por uma série de estudos planejados para avaliar a variabilidade em si, e então escolher um critério de estabilidade baseado nos resultados desses

258 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

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/ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 250

estudos. Por exemplo, em vez de expressar a variabilidade permitida

como uma porcentagem da freqüência tota l durante o período do cri­

tério, pode-se selecionar uma porcentagem de alguma função da recíproca

da freqüência to ta l. Esse critério levará em conta a maior variabilidade em freqüências baixas.

A terceira alternativa é ter o critério ajustado, não para alguma

estimativa predeterminada da variabilidade, mas para a variabilidade observada (colocada empiricamente enquanto o experimento prossegue). A diferença permitida, por exemplo, entre as freqüências médias de dois blocos sucessivos de cincïj sessões pode perm itir que variem de um estado

para outro, não como função da freqüência tota l, mas como função da variabilidade tota l. Por exemplo, se a variabilidade fo r alta, poderíamos aceitar uma diferença de 15% entre as suas médias, ao passo que se a variabilidade fo r baixa, poderíamos aceitar somente 3% de diferença. Este método não envolve suposições anteriores sobre a relação entre a variabilidade e as manipulações experimentais.

Há um ú ltim o critério que é particularmente d if íc il de especificar;

o critério baseado na simples inspeção visual dos dados. Tal critério de estabilidade geralmente não é empregado nos estudos paramétricos em que valores quantitativos admitidos pelas medidas comportamentais são criticamente importantes. Entretanto, muitos experimentos são dirigidos simplesmente para a exploração de variáveis relevantes, com pouco ou nenhum interesse em seus efeitos quantitativos exatos. Ferster e Skinner, em seu livro Esquemas de Reforçamento apresentaram os resultados

de um programa de pesquisa de seis anos, amplamente dedicado a experi­mentos desse tipo. Suas investigações envolviam um exame de inúmeras variáveis relevantes para o desempenho em vários esquemas de reforça­

mento. Onde o interesse era um comportamento estável, os critérios de

estabilidade eram baseados na inspeção de registros cumulativos. Esta prática, por mais arbitrária que pudesse parecer, produziu dados de grande generalidade.

Uma das exigências básicas para o sucesso deste "crité rio por inspeção" é que as manipulações experimentais produziram grandes mu­

danças comportamentais. Se as mudanças eram de uma magnitude tal que fossem facilmente percebidas pela inspeção visual, então tal inspeção automaticamente assumiria maior validade como um critério de estabi­lidade. Um critério mais quantitativo poderia mostrar que o compor­tamento em questão estava ainda em desenvolvimento e uma avaliação mais precisa do efeito da variável independente poderia exigir uma especi­ficação comportamental mais rigorosa. Mas a demonstração de que uma

Page 261: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

variável seja efetiva não requer a obtenção de um estado estável, severa­mente definido, quando a mudança demonstrada é suficientemente grande

para cobrir o "ba ru lho" da linha de base.Um bom exemplo é dado pela demonstração de Ferster e Skinner

da eficácia do time-out no desenvolvimento e manutenção da curvatura

de um registro cumulativo do desempenho, em longos esquemas de refor­çamento em intervalo-fixo. Num tip o de experimento, o intervalo-fixo fo i programado à maneira clássica, com o reforçamento disponível para

a resposta que ocorresse 45 minutos depois do reforço precedente. Depois

de extensa observação deste desempenho da linha de base, o time-out fo i introduzido depois do reforçamento alternado. Isto simplesmente

envolvia a interrupção do experimento por 2 0 minutos depois de cada reforçamento alternado. A aparelhagem de programação era desligada

durante os 2 0 minutos de "tim e -o u t" e as luzes da câmara experimental

eram apagadas (34, pág. 185-226). Sob a condição de time-out, o comportamento que estava sendo registrado cessou completamente. Du­rante o intervalo-fixo que seguia o time-out, no entanto, o compor­

tamento mudara radicalmente, como pode ser visto na Figura 30. É visível que a introdução do time-out depois do reforçamento produziu um acentuado aumento na curvatura do intervalo-fixo.

É provável que nenhum dos registros da Figura 30 represente um estado-estável fina l, dentro dos limites de variabilidade que podem ser definidos por um critério rigoroso. Apesar disso, é também visível que

o time-out é uma variável poderosa. Seu efeito é grande o bastante

para ser claramente visível no registro cumulativo. Uma especificação mais precisa de estabilidade pode ser exigida se se estiver interessado, digamos, na relação quantitativa entre a curvatura e a duração do "tim e- -ou t", mas o experimento de Ferster e Skinner serve a seu propósito de

maneira mais do que adequada.

O critério por inspeção nao e, certamente, uma questão comple­tamente arbitrária. O experimentador deve ter uma experiência passada considerável, tanto no seu próprio laboratprio como de trabalhos trans­mitidos por outros laboratórios. O primeiro registro da Figura 30, por

exemplo, mostrando a linha de base de intervalo-fixo sem "tim e-ou t", representa o ponto final de muitas horas experimentais. Baseado em sua

experiência com este e com outros experimentos, os experimentadores têm

razão em não esperar mudanças posteriores no desempenho dos sujeitos

dentro do tempo normalmente gasto nos seus experimentos. Seu ponto de interrupção não fo i predeterminada de acordo com um critério de estabi­lidade quantitativamente especificável, mas também não era arbitrário.

260 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 261

Figura 30. Registros cumulativos do desempenho de um pombo num esquema de reforçamento em intervalo-fixo de 45 minutos, em que um time-out de 20 minutos ocorria depois de cada reforçamento alternado. As curvas do esquema mostram o comportamento típ ic o durante intervalos não precedidos por um time-out, as curvas da direita mostram o comportamento durante os intervalos que foram precedidos por um período de time-out de 20 minutos. (Ferster e Skinner, 34,

p. 195).

Um outro tipo de dados que confirmam esse critério surge de uma

demonstração de reversibilidade. Na terceira fase do experimento repre­sentado na Figura 30, o time-out fo i removido e o desempenho o ri­

ginal da linha de base recuperado. Tal reversibilidade, em si mesma, justi­fica o critério de inspeção. Embora o comportamento em linha de base

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262 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

não pudesse ser recuperado, precisamente em sua forma original, suas características são tais que demonstra conclusivamente a importância do time-out. Uma volta 9 condição original deve ser sempre incluída no

planejamento de experimentos que exploram a relevância de uma variável

num comportamento estável, seja a estabilidade avaliada por inspeção ou

por um critério quantitativo.A confiança do experimentador num critério de estabilidade de

inspeção visual pode ser posteriormente aumentada por dados colaterais, do tipo que surge de um programa de pesquisa intensivo e de longa duração. A replicabilidade tanto direta, como sistemática, aumentará a validade do critério. Uma justificativa adicional do critério empregado no experimento que eu citei vem da replicação sistemática do efeito em outras situações experimentais (34, pp. 422-429). Mostrou-se, por exem­

plo, que o time-out exercia um controle semelhante sobre a curvatura, quando intervalo-fixo e razão-fixa são programados num esquema tan­dem. Isto é, o reforçamento ocorre somente quando um número fix o de

respostas fo r obtido depois do térm ino de um intervalo-fixo. O número exigido, adicionado ao intervalo-fixo, produz mudanças acentuadas no comportamento, mas d efeito do time-out permanece essencialmente o mesmo. A avaliação do critério de inspeção visual deve considerar tais replicações. A generalidade do resultado é o teste ideal da variabilidade de um critério de estabilidade.

Ainda que um investigador possa adm itir a validade de experimentos

particulares de estado-estável cujo planejamento envolve critério de esta­

bilidade de inspeção, ele pode ser perturbado pelo problema de reproduzir os dados em seu próprio laboratório. Como saberá que os estados-estáveis

que avaliou por inspeção, à luz de sua própria experiência, são os mesmos estados que foram observados por outros experimentadores? 0 problema real é enfrentado por investigadores em vários campos. Para evitar tais dificuldades, um experimentador deve tornar públicos os dados em que

ele baseou sua estimativa de estabilidade. Quando esta estimativa é feita por simples inspeção, os registros devem estar disponíveis para que outros

realizem a mesma inspeção. Algumas vezes é possível se preservar espaço

valioso de publicação com a referência a dados protótipos que já apare­ceram previamente, mas quando o estado-estável é uma descoberta o ri­ginal, é necessário- apresentá-la, para que possa ser replicada pelos investigadores.

Comportamento instável. Os critérios de estabilidade não podem ser

selecionados às cegas, nem receber uma adesão submissa, porque o compor­

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 263

tamento em algumas situações não é de maneira nenhuma estável. Os métodos para se lidar com o comportamento instável diferirão de acordo com o tipo e grau de instabilidade em qualquer caso particular.

Quando um procedimento experimental produz um comporta­mento instável a primeira tarefa do experimentador é assegurar-se, dentro

dos limites razoáveis, de que a variabilidade observada não surge do controle precário das condições estranhas ao próprio procedimento.

Isto é, exclui fatores como ruídos perturbadores, falhas no mecanismo de reforçamento, variações não controladas na intensidade de choque,

defeitos nos circuitos de programação, grandes flutuações de temperatura,

e tc .. . Com a eliminação destas e de variáveis semelhantes, ele pode estar

razoavelmente certo de que a instabilidade é um produto característico de suas manipulações experimentais. Sua próxima tarefa então é examinar

a instabilidade e descrevê-la tão completamente quanto os métodos dispo­níveis irão perm iti-lo. É somente depois desta descrição que ele e outros

poderão determinar como lidar com a instabilidade quando aparecer em

experimentos subseqüentes.Uma forma de instabilidade é caracterizada por flutuações cíclicas

no comportamento. Os ciclos podem variar desde aqueles com uma periodicidade facilmente reconhecível, até os que parecem não ter padrão consistente. Nos casos mais simples, como esquemas de reforçamento em intervalo-fixo e razão-fixa, alguma dimensão do ciclo é determinada por uma operação experimental bem definida. No esquema de intervalo-fixo, o período do ciclo é constante, sendo definido como o tempo m ínim o

entre reforçamentos. Cada reforçamento inicia um novo ciclo de pausa e

resposta acelerada. No esquema em razão-fixa, cada reforçamento inicia um novo ciclo, mas neste caso a amplitude é fixada. A razão de respostas

exigida por reforçamento determina a altura de cada ciclo, mas a periodi­cidade pode variar. No outro extremo, as flutuações cíclicas na freqüência

de respostas durante a extinção, por exemplo, não têm limites de ampli­

tude ou periodicidade marcadas por mudanças especificáveis nas condi­

ções experimentais.Quando alguma dimensão de uma flutuação cíclica é operacional­

mente fixada, é relativamente fácil descrever as características dos ciclos.

O comportamento pode mesmo ser tratado como um fenômeno em estado-estável. Por exemplo: um esquema de razão-fixa de tamanho inter­mediário gerará mudanças cíclicas na freqüência de resposta. Mas de um ciclo para ou tro , a pausa que segue o reforçamento será relativamente constante, as freqüências locais serão invariantes, e, certamente, o número de respostas em cada ciclo é fixado pelo procedimento. Certas variáveis

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264 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

experimentais produzirão mudanças, digamos, somente na pausa após reforçamento, e a duração desta pausa pode caracterizar o estado estável

como uma. função das mudanças na variável experimental.

A seleção dos aspectos do comportamento que são estáveis é, então, um método de lidar com formas que seriam instáveis de ou tro modo. Uma

segunda técnica empregada freqüentemente para lidar com a instabilidade cíclica é tomar medidas somente em grandes amostras de comporta­

mento. As amostras devem ser suficientemente grandes para a variabi­

lidade cíclica ser igualmente distribuída através de cada uma. Por exemplo: do reforçamento diferencial de baixas freqüências (D RL) tem-se

notado freqüentemente que os reforçamentos ocorrem em grupos sepa­

rados por períodos de freqüências relativamente altas. Um exemplo extremo aparece na Figura 31. Neste procedimento, um rato com sede tinha que espaçar suas respostas de pelo menos 2 0 segundos para obter

uma gota de água. As pequenas marcas oblíquas no registro cumulativo

I-------------------- 1 15 minutos

Figura 31. Registro cumulativo do desempenho de um rato quando o reforço era dado somente por respostas espaçadas em pelo menos 20 segundos. As pequenas marcas obliquas, indicando os reforços, ilustram a natureza cíclica do desempenho.

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 265

da Figura 31 indicam os reforçamentos que ocorreram somente quando o critério de baixa freqüência fo i atingido. A tendência de dois ou mais reforçamentos ocorrerem em grupos estreitamente espaçados é evidente.

A curva, portanto, flu tua de um modo cíc lico irregular entre freqüências relativamente altas, não reforçadas, e baixas freqüências aproximada­

mente iguais ao m ín im o exigido de uma resposta por 2 0 segundos.

Uma descrição da freqüência de resposta na Figura 31 sofreria grande variabilidade, se as freqüências fossem medidas em períodos suces­sivos numa curta duração de 10 minutos. Alguns dos períodos de

10 minutos seriam ocupados por uma parada no ciclo. Outros poderiam conter somente as porções do gráfico em alta freqüência. Também outros intervalos de dez minutos conteriam proporções variadas de segmentos

em alta e baixa freqüência do desempenho. Uma descrição dos efeitos de alguma variável independente nos termos dos segmentos da curva poderia ser prejudicada por variabilidade não sistemática. Um método

para lidar com esse problema é simplesmente aumentar o tamanho da amostra de comportamento do qual é medida a freqüência. Na situação

DRL, uma amostra de duas horas se demonstrou adequada. Apesar das variações cíclicas, a freqüência de resposta em períodos sucessivos de duas horas é relativamente constante, e o desempenho a longo-prazo é caracte­rizado pela estabilidade.

O uso de amplas amostras de comportamento para "suavizar" a instabilidade cíclica é semelhante, em outro nível, à prática de combinar

dados de um grupo grande de sujeitos para obter a média da variabilidade individual, e é passível de limitações semelhantes. De fato, com um sujeito único não há nenhum dos problemas que surgem quando se aglo­

meram as diferenças individuais. Quanto a isto, o método de se usar grandes amostras de comportamento individual marca um avanço sobre os dados de grupo. Entretanto, estamos juntando as variações comporta­

mentais que ocorrem num sujeito individual. A média da freqüência

durante duas horas não elimina as flutuações locais em nada mais do que

a média do grupo elimina as diferenças individuais. Tudo o que realizamos pelo processo da média é esconder as variações cíclicas. Os efeitos ainda estão presentes no comportamento e não podemos supor que sejam irre­

levantes, especialmente quando sistemáticos.;.

Antes de prosseguir com este assunto, dever-se-ia notar que os dados obtidos da média do comportamento do indivíduo são, pelo menos em dois aspectos, preferíveis aos dados obtidos da média do compor­

tamento de um grande número de sujeitos. Já observei que uma vantagem é a eliminação de uma grande fonte de variabilidade. As médias de grupo

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266 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

são contaminadas tanto pela variabilidade intrasujeito, como pela inter- sujeitos. As médias individuais estão livres da últim a. A segunda vantagem

surge de uma consideração dos processos comportamentais realmente

descritos pelos dados. Muitas vezes os dados de grupo podem descrever um processo ou uma relação funcional, que não possui validade para qualquer indivíduo. A validade de uma descrição comportamental obtida de um grupo de dados relacionar-se-á inversamente à soma de variabi­

lidade intersujeitos. Mas, o mais im portante: freqüentemente não temos maneiras de avaliar se um determinado exemplo de dados de grupo realmente fornece um quadro verdadeiro dos processos comportamentias individuais.

Como já observei anteriormente, os dados de grupo que podem ser reproduzidos descrevem algum tipo de ordem no universo e, como tais,

podem m uito bem formar a base de uma ciência. Entretanto, não pode ser uma ciência do comportamento individual no seu sentido mais geral.

E não é uma ciência do comportamento de grupo no sentido em que o termo "g ru p o " é empregado pelo psicólogo social. É uma ciência da média do comportamento dos indivíduos que estão interligados somente pela própria média do processo. De que modo essa ciência concorda com o esquema dòs fenômenos naturais é uma questão de conjectura. O que sinto é que isso pertence ao estatístico atuarial e não ao investigador dos processos comportamentais.

A média dos dados num indivíduo, por outro lado, fornece pelo menos uma verdadeira descrição do comportamento do ind iv íduo dentro dos lim ites da mensuração empregada. Apesar das flutuações locais, a

média da freqüência de resposta extraída de um período de duas horas é uma verdadeira descrição do desempenho de um sujeito individual.

Pode ser que não possamos descrever o comportamento em pontos espe­

ciais do tempo, mas podemos afirmar, sem qualificação, que o sujeito

em itiu um número particular de respostas num período de duas horas sob certas condições experimentais; e que em outras condições, uma

freqüência média diferente fo i registrada. Embora a descrição não seja precisa, é válida para o indivíduo.

0 maior problema associado ao uso de amplas amostras de dados

individuais para minim izar as flutuações cíclicas não é então uma questão de representatividade dos dados. Em vez disso, é um problema ligado à precisão e inteireza com que esses dados nos permitem atingir a nossa

compreensão dos processos comportamentais. Reunindo as flutuações cíclicas numa medida única e global, tal como a freqüência média da

resposta, podemos perder informações importantes sobre as caracterís­

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 267

ticas do comportamento que está sendo estudado. Uma das maiores

virtudes da técnica de registro planejada por Skinner, exemplificada pelos registros cumulativos de respostas que empreguei aqui como ilustrações, é o quadro contínuo e rapidamente visível que produz do comporta­mento do sujeito momento a momento. Este registro nos permite avaliar a contribuição das flutuações locais a uma medida sumária. Para uma ilustração mais completa, examinemos as Figuras 32 e 33.

A Figura 32 representa o desempenho de um macaco e de um rato,

cujos comportamentos de pressão à barra foram reforçados com líquido

num esquema de razão-fixa que exigia 25 respostas por reforço. O com­portamento tem características normalmente geradas por esse esquema. No começo da sessão são observadas freqüências de respostas altas e mantidas. Na medida em que os animais ficam saciados, as pausas que seguem os reforços tornam-se mais freqüentes.

A Figura 33 mostra o desempenho dos mesmos animais depois que foram alimentados com uma grande quantidade da substância de refor-

Horas

Figura 32. Desempenho de um macaco e de um rato num esquema em razSo-fixa exigindo 25 respostaspor reforço. (Adaptado de Sidman e Stebbins, 79)

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268 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

Horas

Figura 33. Desempenho em razão-fixa dos mesmos sujeitos da Figura 32, depois de terem sido pré-alimentados com uma grande quantidade de agente de reforçamento (Sidman e Stebbins, 79).

çamento logo antes da sessão experimental. A freqüência média de res­

posta depois da pré-alimentação é consideravelmente menor do que a

registrada na Figura 32. O efeito da operação de pré-alimentação poderia

ser descrita como um rendimento d im inu ído no tota l da sessão expe­

rimental. A descrição seria perfeitamente precisa, mas dific ilm ente repre­

senta toda a história, pois, quando o animal responde de fa to , as suas freqüências são as mesmas, com ou sem a pré-alimentação. O principal

efeito da pré-alimentação era o de alterar o padrão cíclico das freqüências de resposta zero e máximas. Depois da pré-alimentação, as pausas que seguem os reforços, aparecem com mais freqüência e mais cedo na

sessão. Quando os animais realmente respondem, imediatamente assumem

a freqüência característica alta e constante. Isso nos dá um quadro dos efeitos da saciedade sobre o comportamento em razão-fixa bem diferente do que poderíamos obter considerando somente a freqüência média de resposta numa sessão completa.

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 269

Algumas vezes o fato da própria ciclicidade pode ser um dado

crítico . Quando isso acontece, será necessário preparar medidas para indicar a quantidade e o tipo de flutuação. Existe somente um pequeno

número de experimentos publicados nos quais a ciclicidade em si fo i examinada de forma detalhada. A maioria das mensurações de flutuações

comportamentais têm sido derivadas da simples inspeção dos dados ou

foram de forma sumária, tiradas de uma amostra de comportamento

relativamente grande. Na primeira categoria estão as observações das flutuações da freqüência de resposta durante a extinção experimental de uma resposta. A curva cumulativa de extinção, registrada depois de refor­

çamento contínuo, mostra flutuações proeminentes, com ciclos irregulares

de pausa e resposta rápida. O processo de extinção depois de reforçamento intermitente, no entanto, é relativamente suave e não perturbado por

flutuações da freqüência de resposta. Essa diferença, que considero como potencialmente uma das observações mais produtivas do estudo do compor­tamento, não tem sido m uito explorada além da observação original (81).

Nenhum investivador preparou ainda um instrumento descritivo suficien­temente preciso para captar, de modo quantitativo, o tipo de flutuação

irregular da freqüência de resposta que ocorre durante a extinção. Até que uma mensuração adequada da ciclicidade em si seja desenvolvida, fenômenos como este permanecerão como problemas desafiadores mas não intocáveis. Os experimentos cujo planejamento englobe tais dados sofrerão com o nosso estado atual de inadequação técnica.

Há técnicas disponíveis para lidar com certos tipos de oscilação comportamental, especialmente aquelas em que o comportamento flu tua

entre dois ou mais estados facilmente identificáveis. Por exemplo, o sujeito pode revelar alguma forma de alternação entre duas respostas. Medindo-se as seqüências em que ocorrem as duas respostas é possível

se caracterizar a flutuação da resposta em termos da sua freqüência e padrão. Se designarmos as respostas como A e B, poderemos medir a

probabilidade de ocorrência de cada uma das quatro possíveis seqüências

duplas, AA, BB, AB e BA. Quantas vezes a resposta A é seguida de outra

resposta A , e quantas vezes é seguida de uma resposta B, etc? Isto nos

dará alguma indicação da soma de oscilação entre as duas respostas.Medidas semelhantes podem ser tomadas em seqüências de três,

quatro, ou mais respostas, cessando a análise no ponto em que cessar a ordenação. Este ponto irá ele mesmo fornecer outra medida de ciclicidade da alternação da resposta. De medidas como essas poderemos derivar também uma afirmação sumária que descreve a ciclicidade tota l em termos da ''incerteza'' com a qual podemos predizer a próxima resposta de uma

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270 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

seqüência (37 56). Embora técnicas de medida desse tipo , derivadas de uma área comumente chamada de "teoria da conform ação" têm se

demonstrado cada vez mais úteis, ainda se ressentem do fa to de exigirem uma amostra ampla de dados. A descrição estatística que fornecem é semelhante, neste aspecto, a uma freqüência média de resposta. Ambos os tipos de medida ignoram as flutuações locais que podem ser de grande importância funcional.

As flutuações funcionais, então, são um sério desafio ao estudo do comportamento em estado estável. Na medida em que continuarmos a

refinar nossos métodos de controle experimental, é provável que o desafio se torne cada vez mais urgente. Sem dúvidas estamos perdendo uma

grande quantidade de ciclicidade legítima porque está encoberta pela variabilidade que nossas técnicas atuais nos obrigam a aceitar. Este, porém, não é inteiramente um problema de medida. Se pudermos obter uma compreensão maior dos fatores subjacentes na ciclicidade com por­

tamental, poderá ser possível planejar nossos procedimentos com por­tamentais para aumentar a ordenação dos ciclos. É quando as flutuações são irregulares que surgem problemas sérios de mensuração. Ciclos estáveis,

como temos observado, podem ser seguidos momento a momento através

dò curso de um experimento, com nenhuma perda de detalhes através da aferição da média.

Como atingiremos um grau de compreensão dos processos cíclicos que nos permitam planejar experimentos para estudá-los em detalhe?

De fato, cada caso exigirá sua abordagem própria, mas há um princíp io geral de orientação para nos servir de guia. Quando os ciclos com por­tamentais são observados num experimento, e não houver estímulos

exteriores correlacionados com os ciclos, as fontes de ciclicidade podem muitas vezes ser encontradas no próprio comportamento. Se tivermos

mantido um alto grau de constância nas condições ambientais, um lugar provável para se procurar as variáveis oscilantes será no próprio com por­tamento que estamos estudando. Já existem várias circunstâncias conhe­cidas em que o comportamento gera as condições que produzem a sua própria oscilação (23), e de experimentos adequadamente preparados pode-

-se esperar que descubram outras mais. Por exemplo, tem-se demonstrado

que o comportamento durante qualquer segmento de um esquema longo de reforçamento em intervalo-fixo é fortemente influenciado pelo número de respostas que foram emitidas nos segmentos que precederam imedia­tamente ou mais remotamente. Salientei a natureza cíclica desse processo no Capítulo 5, pág. Pela técnica de time-out de Ferster e Skinner, é possível minimizar os efeitos das variáveis que surgem do com por­

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ESTADOS-ESTÁVEIS (CONT.) 271

tamento precedente, e assim regularizar a curvatura de intervalo-fixo num grau notavelmente alto (34).

A técnica de time-out, no entanto, pode nem sempre ser ade­

quada ao problema em questão. Pode-se desejar, em vez de se eliminar

o controle que surge do comportamento anterior, aumentá-lo ao máximo para que os seus componentes possam ser estudados. Então o experi­

mentador pode ser capaz de d im inu ir a variabilidade do próprio processo

cíclico e, conseqüentemente, inclu í-lo numa avaliação sistemática e quanti­tativa. Anteriormente eu discuti a ciclicidade das curvaturas em intervalo-

-fixo em termos de mudanças no número de respostas emitidas por

reforço. Se a análise fo r correta, uma conexão fundamental entre o comportamento em intervalo-fixo e razão-fixa será assim estabelecida. Mas pode ser que o número de respostas não seja somente variável. Também a freqüência de resposta pode ser crítica, como o podem ser a aceleração, a duração da pausa no começo do intervalo, a extensão de tempo em que a freqüência final é mantida. Os experimentos preparados para isolar esses aspectos podem aumentar a regularidade das variações cíclicas na

curva de intervalo-fixo, tornando-a mais passível de manipulação e mensu- ração experimental.

A natureza experimental da minha discussão indica que a instabili­dade cíclica do comportamento é uma área relativamente inexplorada. As implicações para o projeto experimental não podem ser apontadas com grande segurança. Até agora, os trabalhos experimentais têm sido dirigidos para a eliminação da instabilidade cíclica. Enquanto nos to r­namos mais seguros da nossa adequação técnica dos procedimentos de controle, talvez voltemos a estudar mais os estados instáveis que conse­guimos eliminar. O passo principal que a apontamos é estabilizar a insta­

bilidade. Quando se conseguir que a variabilidade combine com um padrão, poderemos estar certos de que temos uma linha de base onde medir os efeitos das operações importantes. Se o experimentador deseja

eliminar ou estudar a instabilidade cíclica, depende do tip o de problema que está investigando. Se preferir estudar as modificações cíclicas do

comportamento, as técnicas tradicionais demonstrar-se-ão de pouca ajuda,

e podem mesmo ser um obstáculo. O trabalho exigirá inovações, e o

inovador não pode permitir-se aceitar qualquer técnica ou descoberta

"estabelecida" pelo seu valor extensivo.

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10 estados de transicao

Temos visto alguns dos problemas que surgem nas investigações de comportamento em estado-estável: problemas da variabilidade cíclica e irregular, tendências a longo prazo, tamanho da amostra de comporta­mento, critérios de estabilidade e reversibilidade. As mesmas dificuldades serão, encontradas nos estudos dos estados de transição, alguns dos quais

intensificados. O primeiro problema ao se estudar um estado de transição é determinar os limites do estado em questão. Quando começa a tran­

sição e quanto termina? A resposta exigirá algum conhecimento dos

limites dos estados estáveis. A menos que as condições experimentais sejam modificadas antes que se completem, um estado de transição sempre

envolverá uma mudança de um estado-estável de comportamento para

outro. Por essa razão, o estudo dos estados de transição não pode ser facilmente separado do estudo dos estados-estáveis.

Em muitos procedimentos, o começo de uma transição pode ser identificado operacionalmente como o ponto em que modificamos as con­

dições experimentais. 0 começo da extinção pode ser identificado, por exemplo, anotando-se o ponto em que o alimentador é desligado. Mesmo essa definição aparentemente simples faz com que surjam problemas. Suponhamos que o estado-estável inicial era mantido por um esquema de reforçamento em intervalo-fixo, e que o alimentador fo i desligado imedia­tamente após um reforço. Do ponto de vista do sujeito, a extinção não

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 273

começa até que tenha transcorrido o próxim o intervalo-fixo e o reforço deixe de aparecer. A qui estamos nos envolvendo em campo perigoso. Toda vez que o experimentador adotar o ponto de vista do sujeito, corre o risco de inclinar seus dados na direção das suas suposições. Entretanto, no exemplo presente, há pouco a recear. O ponto em que o reforço deixa de aparecer é ligeiramente mais complicado de defin ir, operacionalmente,

do que o é o ponto em que o alimentador fo i desligado. Mas é possível

fazê-lo. As complicações surgem do fa to de termos que levar em consi­deração, não apenas uma mudança ambiental, mas também uma m odifi­cação nas relações entre o ambiente e o comportamento.

As vantagens e desvantagens de uma definição desse tip o são de

natureza prática. Há uma vantagem imediata em se defin ir o começo de uma transição em termos de operações que envolvem contingências comportamentais. Desta maneira é possível se eliminar das medidas de transição aqueles aspectos comportamentais que estão completamente sob

o controle de variáveis do estado-estável anterior. Suponhamos que, por exemplo, se queira investigar a extinção como função do tamanho do intervalo-fixo. Fazemos a extinção depois de se obter estados-estáveis em

esquemas de intervalo-fixo, digamos, de 5, 10, 20 e 40 minutos e defi­nimos o in íc io da extinção pela operação de desligar o alimentador imediatamente após um reforçamento. Nossas medidas de extinção após os esquemas de intervalo-fixo de diversas durações incluirão, portanto, diferentes quantidades de comportamento, que não tiveram a oportu­nidade de "se n tir" os efeitos das novas condições. Após ym intervalo-fixo de dez minutos, por exemplo, os primeiros 1 0 minutos de comportamento em extinção estarão totalm ente sob o controle do esquema. Apenas depois de decorridos dez minutos, o fato de que o depósito de alimentos não funcione pode estabelecer contacto com o comportamento.

Porém se o intervalo-fixo fo r de um m inuto, a mudança crítica da

contingência ocorrerá logo depois de ter sido desligado o alimentador. Esta diferença pesará mais em nossa comparação da extinção após inter- valos-fixos de um e 40 minutos e estará presente em pequena escala na comparação de pontos intermediários. Por outro lado, se definirmos o

in ício da extinção como o momento em que o primeiro reforçamento deixar de ocorrer, nossa medida estará livre de tais complicações.

Uma modificação no tip o de contacto que o comportamento faz com o seu ambiente nem sempre define tão satisfatoriamente o in íc io de uma transição. Suponhamos, por exemplo, que o comportamento da linha de base a partir da qual iniciamos a mudança seja mantido por uma contin­gência variável, tal como um esquema de reforçamento em intervalo

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2 7 4 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

variável. Seria d ifíc il e, provavelmente, não teria sentido em termos comportamentais, especificar como in íc io da transição o prim eiro ponto

em que o reforçamento programado fo i liberado. A melhor solução aqui

seria um critério operacional, com a transição sendo medida a partir do

ponto em que o esquema fosse mudado no aparelho de programação.

O grau de erro introduzido por esse critério poderia ser especificado em termos de distribuição dos intervalos entre os reforçamentos que haviam sido perfurados na fita programadora.

Porém, podemos pesquisar o desenvolvimento de técnicas mais racionais para a identificação de um estado de transição. À medida em que as variáveis que mantêm uma determinada amostra comportamental forem identificadas .com mais precisão, tornar-se-á possível medir um estado de transição a partir do ponto em que tais variáveis fazem seu primeiro contacto com o comportamento. Voltando ao caso hipotético em discussão, suponhamos que se descobriu que a taxa de resposta gerada por um esquema de intervalo-variável esteja sob controle unicamente da freqüênn:L ue reforçamento. Se mudarmos para um novo valor do esquema,

pcüeremos então medir a transição a partir do ponto em que a freqüência de reforçamento muda, uma vez que se sabe ser esta a variável crítica.

Talvez o exemplo não seja particularmente adequado, mas eu o escolhi porque propõe uma outra dificuldade. Uma modificação numa variável como a freqüência de comportamento exigirá, em muitas con­dições, um longo período de tempo, antes que seus efeitos sejam obser­

vados no comportamento. Isto é especialmente verdadeiro se a freqüência fo r caracterizada por variabilidade a curto prazo, a constância se mantendo apenas por períodos mais longos, como é o caso do intervalo variável.

Assim, como podemos determinar precisamente, como uma mudança na freqüência de reforçamento entra em contacto com o comportamento e

inicia uma fase de transição?Podemos medir a distribuição das freqüências de reforçamento em

pequenos segmentos sucessivos de comportamento em estado-estável e,

então, selecionar como in íc io da transição, o ponto do novo esquema em que a freqüência de reforçamento cai significativamente fora da d is tri­buição original. Mas não se tem qualquer razão para garantir ou mesmo para esperar que uma modificação estatisticamente significativa na fre­

qüência de reforçamento corresponda a uma modificação comportamental significativa. Um critério deste tipo deve se basear na determinação em pí­rica da quantidade e consistência de mudança que deve ocorrer na variável, antes que seus efeitos comecem a se mostrar no comportamento.

O estudante deve ter percebido, com a discussão acima, que um

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 275

estado de transição comportamental pode conter dois segmentos. Um deles é o tempo que uma nova variável leva para iniciar uma mudança:

o outro é a transição comportamental que ocorre, uma vez que a nova variável tenha começado a atuar. Ambos os estágios são importantes, mas na maioria das vezes são confundidos em experimentos que envolvem

estados de transição.Estudos de aprendizagem, onde as duas fases são geralmente combi­

nadas numa única medida, são exemplos básicos. Quanto tempo demora até que um animal atinja um desempenho final estável de correr até um

prato de comida no fim de uma pista? A fase inicial da transição — neste

caso, a partir de um suposto nível zero de desempenho — pode não estar, de maneira alguma, sob controle do reforçamento alimentar. Quase se

pode pensar que a identificação do ponto onde o reforçamento irá ter efeito sobre o comportamento medido seja um problema piicofísico. Em que ponto do procedimento a operação de reforçamento tem um efeito apenas perceptível? Uma vez que o efeito inicial seja sentido, o

restante da fase de transição pode seguir um curso inteiramente indepen­dente ou pode, na realidade, ser função da fase inicial. Ambas as fases

merecem estudo e deve-se esperar que o refinamento metodológico per­mita que as duas sejam avaliadas independentemente.

As dificuldades envolvidas na identificação do começo de um estado

de transição do comportamento são pequenas, comparadas às que enfren­tamos na tentativa de determinar onde termina uma transição. Quais são os critérios pelos quais podemos marcar a linha divisória entre o fim

de uma transição e o começo de um estado-estável subseqüente? No expe­rimento tradicional de aprendizagem, por exemplo, como decidir que

a aprendizagem está completa? Dependendo do aspecto do compor­tamento que está sendo medido, a resposta a essa pergunta pode ser uma fo rte determinante das conclusões a serem tiradas de um dado

experimento.A Figura 34 mostra duas fases de transição; ambas começam do

mesmo nível comportamental e atingem estados estáveis semelhantes. Mas

cada um chega ao estado final através de caminhos diferentes. Uma questão que se pode levantar é qual das transições se realizam mais rapidamente. O estudante vai reconhecer que é esta a questão comumente colocada em

estudos experimentais de aprendizagem. A resposta vai depender do ponto em que se julga que a transição está completa. Se o investigador encerrar seu experimento em A , vai relatar que a transição I se realiza mais rapidamente do que a transição II. Este não é de forma alguma um procedimento incomum. Experimentos sobre aquisição de comportamento,

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276 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

freqüentemente não são suficientemente continuados para que se atinja o

nível final de desempenho.Se, por outro lado, o experimento fosse interrom pido em C, na

Figura 34, poderia ser tirada outra conclusão. No momento em que C

fosse atingido, as duas curvas teriam se mostrado indistinguíveis durante grande parte do experimento. Se C fosse tomado como ponto final,

poder-se-ia concluir que ambas as transições ocorreram com a mesma rapidez. De fato, as curvas se demonstraram semelhantes numa margem

tão grande de valores da abcissa, que alguns testes estatísticos levariam à

conclusão de que não há diferença alguma entre as duas transições. Neste

caso o erro seria causado por não se haver interrom pido suficientemente cedo. Os estados estáveis finais aqui são confundidos, de maneira a nãose

desembaraçarem, com as fases de transição.A inspeção visual das curvas da Figura 1 sugere que a transição I

terminava em Bl f e que a transição l i terminava em B2 . Se isso fosse correto, nós teríamos que concluir que a transição I era a mais rápida das duas. Qual seria o critério quantitativo através do qual poderíamos correta­

mente chegar a essa conclusão? 0 problema essencialmente é defin ir o in ício do estado estável final. O ponto onde o estado-estável começa,

também assinala o fim da transição.

Tentativas, ou tempo

Figura 34. Duas curvas hipotéticas de aprendizagem.

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 277

Em nossa discussão anterior dos critérios de estabilidade observamos

que o procedimento usual era o de adotar um critério mais restritivo do que o necessário. Estávamos interessados numa identificação relativa­mente inequívoca do estado-estável fina l, e não nos preocupávamos com o

ponto no qual a estabilidade se iniciava. Vimos então que a maioria dos critérios de estabilidade desprezava os dados com os quais agora nos preocupamos. Uma certa quantidade de dados fo i jogada fora porque não

estava claro se pertenciam ao estado de transição, ou ao estado-estável.Uma solução para esse problema não seria im portante apenas em

princíp io; teria também conseqüências práticas convenientes. Se o ponto

final de uma transição pudesse ser identificado claramente, o problema do critério de estabilidade desapareceria automaticamente. Haveria uma eco­nomia de horas experimentais incontáveis, atualmente dedicadas a colocar o comportamento de acordo com algum critério de estabilidade ampla­

mente rigoroso. Isso porque o fim de um estado de transição e o in íc io do estado-estável são um único e mesmo ponto.

Uma vez que a solução para esse problema não fo i ainda nem mesmo abordada, podemos propor a questão da sua possibilidade. Será

possível algum dia delim itar com alguma precisão um ponto em que a transição termine e a estabilidade comece? A metodologia atual pode

perfeitamente conduzir a uma resposta negativa. Os processos comporta­mentais ocorrem no tempo e, portanto, devem ser observados durante alguma extensão de tempo. O conceito de um estado comportamental é

muitas vezes empregado como se fosse alguma coisa momentânea, mas nossas observações atuais sempre ocupam um período de tempo. Houve tentativas de se evitar este problema programando, por exemplo, experi­

mentos em tentativas discretas. Mas não podemos escapar das propriedades

temporais contínuas de um estado comportamental, através da seleção

arbitrária de pontos discretos de observação.

Estados de transição e de estabilidade são extremos ao longo de um continuum de mudança comportamental, um representando um grau

máximo de mudança, e o outro, o m ín im o. Pelo menos duas observações

separadas no tem po devem ser usadas para medir qualquer mudança. Uma vez que se detectou uma mudança, pelo menos uma observação adicional

deve ser feita para determinar quando a mudança acabou. Três medidas no m ínim o devem ser feitas então para identificar o fim de um estado

de transição.Naturalmente, m uito mais do que três medidas serão exigidas na

prática. Um dos problemas fundamentais na identificação do fim de um estado de transição é a freqüência com que se deve medir. A mensuração

Page 279: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

“ 1,

278 TÁTICAS D A PESQUISA CIENTl'FICA

contínua no tempo seria a mais desejável, mas as metodologias atuais não são bem adequadas a isto. O registro cumulativo de Skinner, que permite

uma avaliação visual contínua de um processo comportamental, não se presta adequadamente a uma avaliação numérica contínua. Mesmo se fôssemos aplicar alguma sofisticação matemática, digamos, na forma do cálculo, teríamos que fazer prim eiro um grande número de observações

quantitativas discretas. As observações teriam que estar suficientemente

próximas no tempo para que se tornassem equivalentes, num sentido

prático, a uma medida contínua. Quanto mais próximas no tempo to r­

narmos as nossas medidas, maior a precisão com a qual poderemos assinalar

os limites da transição. Por outro lado, quanto mais próximas forem as nossas medidas entre si, menor a nossa confiança de que um ponto lim ite verdadeiro tenha sido identificado, a não ser que estendamos as medidas

até m uito além dos limites. Se, por exemplo, o comportamento do sujeito esteve mudando estavelmente por diversas horas, com medidas sendo feitas uma vez por segundo, provavelmente não iremos aceitar a invariância em duas medidas sucessivas, como uma indicação de que a mudança tenha

sido completada. E aqui estamos, pois, de volta ao ponto de partida.Talvez, porém, alguma coisa tenha sido ganha porque podemos agora

colocar parte do problema com precisão um pouco maior. Os processos

comportamentais ocorrem no tempo e devem ser medidos através do tempo. Para identificar os lim ites precisos de um processo são necessárias mensurações freqüentes. À medida em que fazemos observações mais próximas devemos utilizar um número maior delas para identificar os

pontos lim ite. O ponto final de uma transição se torna confuso, se ju n ­tarmos ou separarmos m uito as nossas medidas. No primeiro caso teremos

que levar em consideração um grande número de medidas e fazer algum tip o de avaliação estatística; no ú ltim o, deixamos uma área maior de

incerte2a com respeito ao ponto exato do térm ino.

A avaliação estatística será a resposta? 0 problema pode ser visto como aquele que exige a identificação de um ponto no qual a mudança

termina. Devemos ser capazes de afirm ar que não há diferença entre os valores de cada um dos aspectos deste ponto. Através de algum tip o de análise da seqüência ou da inclinação, poderemos avaliar o ponto final de uma transição em termos relativamente inequívocos? Certamente está é uma maneira de abordar o problema, mas, infelizmente, a metodologia estatística não elimina as dificuldades básicas. A avaliação estatística deve sempre u tilizar amostras de pelo menos diversos valores do comportamento em questão, a fim de perm itir o julgamento de ausência de diferença significativa. Qual deve ser a distância entre os itens de cada amostra?

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 279

Qual deve ser o tamanho da amostra e qual o tamanho da mudança que

será admitida dentro da margem de ausência de diferença significativa?

As duas últimas questões são geralmente consideradas respondíveis em

termos de teoria estatística, mas isso não corresponde à verdade. As ques­

tões são empíricas. Uma diferença que seja significativa em qualquer

método estatístico especial para lidar com a variabilidade, pode muito

bem não ter conseqüências no que diz despeito a manipulações experi­mentais. E, por outro lado, uma diferença sem conseqüência estatística

pode ser da maior importância comportamental.A avaliação estatística não contém fraquezas que não estejam tam­

bém presentes em qualquer outra abordagem do problema atualmente

utilizado. 0 principal fa to r subjacente na má qualidade metodológica e na

falta de precisão da maior parte da pesquisa moderna sobre estados de transição comportamental é o fracasso dos próprios experimentadores em enfrentar os problemas que estão envolvidos.

Atualmente há uma situação curiosa. Em termos de quantidade de trabalho, na psicologia experimental deste país predomina a pesquisa sobre estados de transição. Experimentos sobre aprendizagem em muitas espécies, sob muitas condições diferentes e, freqüentemente, com um background de engenhosa teorização ocupam a maioria das páginas dos jornais. E tudo isso, com pouca ou nenhuma tentativa de se resolver os problemas téc­nicos básicos existentes no estudo de transições comportamentais. Des­cobrir se situações semelhantes existiram em outras ciências deve ser um exercício histórico interessante; situações em que um dado problema teria ocupado a atenção experimental e teórica da maioria dos pesquisadores, sem que nem mesmo uma devoção aparente fosse dedicada a problemas técnicos não resol/idos. Os psicólogos estão ocupados com o estudo dor

estados de transição chamado aprendizagem, em que não são capazes de

identificár, com um grau razoável de precisão, nem o in íc io nem o fim do

processo. Lidam com a variabilidade, tratando um grupo de sujeitos como se representasse um sujeito único ideal. A reversibilidade é um termo que

tem sido imposto à sua atenção por investigadores preocupados com o comportamento em estado-estável mas, até agora eles apenas tomaram

conhecimento experimental do problema. A ilusão de que a aprendizagem

e outras transições comportamentais sejam processos contínuos — um ponto de vista mantido pela utilização quase que exclusiva de médias de grupo e controle experimental inadequado — permanece quase intocada,

apesar de poucas demonstrações evidentes de que freqüentemente se deva

esperar uma mudança descontínua.Quando tais dificuldades forem encaradas verdadeiramente, podemos

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280 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

esperar que o estudo de transições comportamentais tomem seu lugar como um empreendimento firm e. A tarefa é d if íc il e exige o tip o de tra­

balho experimental doloroso que deve acompanhar qualquer problema

ainda não explorado. Não tenho como predizer para onde nos levará tal pesquisa, mas certamente é possível mostrar que tipo de passos iniciais devam ser tomados. O primeiro requisito será uma nova orientação nos fundamentos experimentais. O estudante não deve continuar form ulando seu problema em termos gerais. Não mais estará estudando a aprendizagem ou, em termos ainda mais gerais, transições comportamentais. Deve,

primeiramente, escolher um exemplo específico de um estado de transição e, clém disso, um aspecto específico desta transição para estudo detalhado. Nesta altura do jogo, deve estudar a propriedade da transição escolhida como um fenômeno de interesse próprio e não como um exemplo de alguma classe mais geral. As generalizações virão com o tempo, depois que as propriedades de certo número de estados de transição individual tenha

sido estudado. Semelhanças começarão a surgir e conexões com outros fenômenos tornar-se-ão evidentes ao observador atento. Uma área de estudo (talvez chamada de estados de transição, talvez não) será gradual­mente definida. É pouco provável que a ciência resultante tenha alguma

semelhança, mesmo remota, com o que é hoje o estudo da aprendizagem.Para tornar a discussão mais concreta, vou sugerir um exemplo

específico e acompanhar seu desenvolvimento hipotético. Para sim plificar, vou u tilizar uma transição replicável num mesmo organismo — o efeito de "aquecim ento" freqüentemente observado no comportamento de esquiva com ratos, no in íc io de cada sessão experimental. O fenômeno é ilustrado pela Figura 35, que mostra uma sessão de sete horas de compor­

tamento de esquiva, de um só rato. Para fac ilita r a reprodução, o registro fo i d ivid ido em sete segmentos de aproximadamente uma hora, nume­

rados em ordem consecutiva, do in íc io para o fim . A sessão mostrada é a décima quinta para este animal.

A visualização do efeito de "aquecim ento" fica mais clara em termos da densidade de choque relativamente maior no in íc io da sessão. Há

também um aumento gradual na freqüência de resposta durante a parte inicial do registro. Agora precisamos encontrar uma maneira ú til de des­crever a transição para que possamos determinar suas variáveis de controle.

Vamos tom ar o in íc io da sessão como um ponto de partida arbitrário e dedicar nossa atenção ao problema de identificar o fim da transição.

Como se disse antes, um aspecto im portante da transição é a d im i­nuição na densidade de choque à medida que o experimento continua. Podemos usar o choque à medida em que o experimento continuar. O

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 281

Figura 35. Gráfico cumulativo do comportamento de esquiva de um rato durante uma sessão experimental de sete horas. Os traços oblíquos indicam os choques, e são bem pouco separados no começo da sessão.

exame visual do registro sugere que a densidade de choque pode se tornar relativamente estável depois do quadragésimo choque, indicado por A , na Figura 35. Este ponto assinala o fim da transição?

Podemos obter uma noção grosseira das mudanças na densidade de

choque contando o número de choques que ocorriam em cada hora suces­siva. O Quadro 2 apresenta o resultado desta contagem para a sessão mostrada na Figura 35 e para as duas sessões seguintes. É aparente nesse

quadro que o fim do "aquecim ento" não pode ser considerado como tendo ocorrido depois que um número constante de choque tenha sido recebido.

Nas sessões I e II, a densidade de choque tornou-se relativamente cons­tante depois de terem sido liberados cerca de 50 choques, enquanto que, na sessão III, foram exigidos aproximadamente 80 choques. Do mesmo modo, não podemos assinalar o fim da transição em termos de uma quanti-

dade constante de tempo a partir do in íc io da sessão. O tempo exigido para que a densidade de choque se torne constante varia consideravel­mente, mesmo com a divisão grosseira da sessão em períodos de uma hora. Uma análise simples de dados simples, portanto, não leva à uniformidade, do tipo que nos permitia generalizar sobre o ponto final da transição de

"aquecim ento".

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282 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

QUADRO 2. Número de Choques

Horas ConsecutivasSessões

I II III

1 40 39 482 12 12 143 8 8 194 7 6 105 6 7 86 5 14 97 9 8 11

O próxim o passo é tentar uma identificação experimental do ponto final. Daqui em diante, os procedimentos serão altamente especulativos, mas servirão para indicar o tipo de pesquisa que, podemos esperar, levará à solução do nosso problema. Não deveríamos nos surpreender entretanto, se a resposta passasse a consistir num simples desaparecimento do pro­blema, porque o método de abordagem é de natureza a produzir novos dados. Sempre que novos dados aparecerem, deveremos estar preparados para a possibilidade de que permitam, ou mesmo forcem, uma nova orien­

tação em relação a velhos problemas.Um método de atacar experimentalmente o fenômeno de "aqueci­

m ento", seria manipular deliberadamente algumas das variáveis suspeitas. Poderíamos, por exemplo, desligar o experimento durante períodos alter­nados de 15 minutos. Isso nos diria se o simples fa tor tempo na

câmara experimental contribui para o "aquecim ento". Um resultado possível de tal experimento é mostrado na Figura 36. Pusemos em gráfico o curso normal do "aquecim ento", como se revela em termos de número de choques recebidos pelo sujeito durante segmentos suces­sivos de 15 minutos, numa sessão. A linha sólida mostra os dados de

controle, obtidos quando o procedimento de esquiva é programado sem interrupção.

Na fase experimental, vamos desligar o choque durante períodos alternados de 15 minutos. O animal pode continuar a responder durante estes períodos, mas nenhum choque será recebido. Se este procedimento alterar o período de aquecimento, saberemos que os choques que seriam normalmente recebidos durante períodos em que o choque está desligado, são essenciais.

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 283

Dados hipotéticos da segunda fase do experimento são mostrados pelos círculos vazios da Figura 36. Eles indicam o número de choques

recebidos durante os períodos alternados de 15 minutos. Vemos que a dim inuição na freqüência de choques segue, aproximadamente, o mesmo padrão temporal anterior, apesar dos períodos de 15 minutos de desli­

gamento do choque. A freqüência de choque fo i d im inuída pela metade, por causa dos períodos de desligamento do choque, ainda que o "aque­

c im ento" transcorresse naturalmente. A partir de tais dados imaginários,

parecia que o tempo de permanência na câmara era um fa to r crítico para o "aquecim ento", mesmo que os choques não fossem aplicados.

A fim de tornar ainda mais precisa essa observação, poderíamos realmente remover o sujeito da câmara durante períodos alternados de

15 minutos, e a curva em linha interrompida da Figura 36 mostra um resultado provável desta manipulação. Vemos que, quando o animal é

removido periodicamente do espaço experimental, há uma redução nítida no aquecimento. A freqüência de choque não d im inui como fazia anterior-

Horas

Figura 36. Dados de um experimento hipotético de comportamento de esquiva. A curva contínua indica o número de choques recebidos pelo animal durante períodos sucessivos de 15 minutos numa sessão. Os círculos vazios'mostram o número de choques recebidos quando o choque fo i desligado durante períodos alternados de 15 minutos. A curva em linha interrompida mostra o número de choques recebidos quando o animal fo i removido da câmara experimental, durante períodos alternados

de 15 minutos.

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284 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

mente. Acompanhando a dim inuição do aquecimento, há uma perda de

eficiência no próprio comportamento de esquiva, o que é indicado pelo

maior número de choques.Descobertas como' as descritas acima seriam de grande interesse e,

normalmente, seriam observadas em razão do seu próprio m érito. É bas­

tante provável que o investigador esqueça, pelo menos temporariamente, o problema original de identificar o ponto final dos estados de transição comportamental. Em vez disso, vai-se atingir um objetivo mais imediato. Provavelmente, à medida em que mergulha profundamente nas caracterís­

ticas deste tip o particular de transição, o investigador vai descobrir proprie­

dades que eram até então desconhecidas, ou mesmo imaginadas. Estudo posterior detalhado de outras transições pode revelar características

generalizáveis que permitirão um conjunto mais abrangente das especifi­

cações para a identificação de limites dos estados de transição. Em nosso

exemplo, lim itado e hipotético, o investigador terá identificado um dos principais fatores de controle do aquecimento. Talvez se descubram

outros tipos de transição sob controle semelhante. Isso mostrará ao inves­

tigador que a transição deva ser medida, não em termos da freqüência de choques mas, em termos de alguma outra variável, correlacionada com a duração da exposição à situação experimental. Talvez um processo emo­cional, passível de mensuração independente, preencha as exigências. Ou talvez não devamos ver nada além de um número de respostas emitidas pelo organismo na situação experimental. 0 térm ino da transição pode exigir, simplesmente, um certo número de respostas do sujeito.

Sem dúvida o estudante perceberá que não lhe dei a resposta para o problema da identificação do ponto final de uma transição comporta­mental. 0 problema ainda está fora dos limites da experimentação e não

conheço a resposta. O que tenho tentado fazer é apresentar um método geral — não um plano experimental, mas sim um plano de experimentação — por meio do qual o estudante interessado poderá ser capaz de descobrir

a resposta sozinho. 0 rumo que venho sugerindo é essencialmente o de eliminar a variabilidade através do conhecimento e controle das variáveis

relevantes. Quando os fatores que governam a ocorrência e a marcha do tempo de um estado de transição se tornam conhecidos, o ponto final da

transição tornar-se-á mais precisamente especificável. Como regra geral, toda vez que um problema parecer mal definido como o que tenho discu­

tido, a origem do problema será geralmente identificada como sendo a falta de informação. A té que as propriedades de um processo comporta­mental sejam conhecidas, pouco poderá ser realizado na busca da resposta de questões mais sutis.

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 285

Diante da longa discussão acima, das grandes dificuldades envolvidas

na identificação do in íc io e do fim das transições comportamentais, o estudante poderia considerar completamente gratuito da minha parte

discutir a quantificação destas transições. De fato, não entrarei com muita profundidade neste aspecto. Mas, o estudo da transição não é um estudo completamente sem esperanças, mesmo com a metodologia inadequada de hoje em dia. A maioria das pessoas que fazem contribuições experimentais a esta área têm, como ponto de partida, a prática atual, com exceção provável dos raros inovadores, que são capazes de abandonar a metodo­logia antiga e começar de novo. Além de colocar o estudante em contacto com as práticas atuais de mensuração, gostaria de chamar a atenção para alguns procedimentos adicionais, cuja contribuição ainda não fo i testada.

A medida tradicional de uma transição é a velocidade ou taxa de mudança comportamental. Quanto tempo, ou quantas tentativas, um

organismo faz para atingir um dado nível arbitrário de desempenho? Muitos psicólogos dedicaram todo o seu trabalho para investigar curvas de aprendizagem sob diversas condições experimentais. Relataram-se curvas de quase todas as formas e tamanhos imagináveis e, como resultado, vemos raramente referência ainda ao conceito antigamente im portante, de Curva de Aprendizagem. Atualmente os psicólogos modestamente quali­ficam suas curvas particulares de aprendizagem como uma exposição das

condições experimentais onde elas aparecem. Existe a possibilidade que se tenha embarcado na canoa errada. A velocidade da mudança pode não ser o aspecto dos estados de transição mais apropriados para a sistema­

tização efetiva.De fato, e isso nos traz de volta aos problemas metodológicos, a

única grande generalização que parece possível é a de que qualquer tran­sição comportamental não instantânea é Um produto das condições

especiais. É altamente provável que a curvatura numa curva de aprendi­zagem seja simplesmente um reflexo indireto da interação de outros processos, que não aqueles sob controle experimental direto. Na maioria dos experimentos sobre aprendizagem o sujeito está, na realidade, apren­

dendo mais do que está sendo ensinado. Ou seja, se aprende mais do que o experimentador deliberado tenta ensinar. Assim como a curvatura pode resultar da média de um número de curvas descontínuas num grupo de indivíduos, ela também pode resultar da combinação de um número de curvas descontínuas de respostas individuais, num único sujeito.

Por exemplo, o que se reflete na curva de aquisição da simples

QUANTIFICAÇÃO DOS ESTADOS DE TRANSIÇÃO

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286 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

resposta de pressionar a barra em busca do reforçamento alimentar? Só medimos a pressão à barra, mas o animal está aprendendo também outro comportamento que se reflete apenas indiretamente na curva de pressão à barra. O animal precisa aprender que a pelota é comestível, que deve ser

procurada num lugar especial, que aparece somente após te r ocorrido o ru ído do alimentador, que a barra deve ser abaixada pelo menos até um

certo ponto com uma certa força, que o ru ído do alimentador ocorre

após a pressão à barra, que a barra está localizada num certo lugar a uma determinada altura, etc.. Há uma longa cadeia de comportamentos envol­vida e pode-se supor que cada elemento tenha sua própria curva de

aprendizagem. A resposta de pressão à barra que podemos medir é apenas um elo intermediário na cadeia e, portanto, um reflexo indireto de toda a

aprendizagem que está ocorrendo na situação. Ao se ensinar ao sujeito o maior número possível de outros elos da cadeia, antes de in troduzir a

barra, a forma da curva de aprendizagem estará mais próxima de uma

função contínua. (81, pág. 66-74)Há outros exemplos possíveis do mesmo tipo , a maioria não inteira­

mente explorada. Levam à promissora generalização de que sempre que se

observa uma curva gradual numa transição comportamental deve-se sus­peitar de processos não controlados. O estudo de estados de transição vai atingir um novo status quando tais processos forem identificados. Uma vez identificados, podem ser eliminados, corrigidos, ou deliberadamente estu­dados. O efeito principal será o de desvendar a transição em que se está particularmente interessado, de modo que outras propriedades, além da

sua velocidade, possam ser estudadas diretamente.No experimento de pressão à barra descrito acima, a eliminação dos

processos auxiliares envolverá um período prelim inar de tre ino exaustivo e completo com o alimentador; adaptação à câmara experimental, a fim de perm itir extinção de comportamento irrelevante; experimentação p ilo to para determinar a localização mais apropriada da barra, ajustar a sua sensibilidade de movimentação e o meio mais eficaz de fornecer feed­back) e a providência de um estímulo eficiente do alimentador. Na reali­

dade, há de fa to alguma evidência de que a própria resposta de pressão à

barra seja m uito complexa para o objetivo proposto. Sua dificuldade para um organismo como o rato, produz amplas variações na topografia da

resposta. O aumento resultante no tip o de resposta que é reforçado aumenta sem dúvida a probabilidade de uma curva de aquisição gradual.

O estudo adequado de tais curvas pode exigir a utilização de uma resposta que seja mais compatível com o organismo e que seja de topografia mais consistente.

Page 288: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

ESTADOS DE TRANSIÇÃO 287

Se se deseja investigar adequadamente os estados de transição, outros

tipos de resposta e aparelhos usualmente empregados em experimentos

comportamentais exigirão que se dê atenção semelhante a detalhes téc­

nicos. Mas, e os outros tipos de transição que não os envolvidos na

aprendizagem de uma nova resposta? As curvas de transição que carac­

terizam, por exemplo, a aprendizagem de uma discriminação estão sujeitos a limitações de tip o semelhante. Vamos novamente tomar um exemplo

simples. O sujeito já aprendeu a pressionar a barra mas, agora, queremos

ensiná-lo a pressionar apenas em presença de uma luz. Arranjamos uma situação em que a resposta de pressionar a barra produza reforçamento apenas quando a luz estiver ligada e nunca na ausência dela. 0 resultado habitual em situações desse tipo é uma curva de aprendizagem gradual. Respostas na ausência da luz, embora já não sejam reforçadas, continuam a ocorrer por algum tempo, com uma freqüência de aceleração gradual.

Os mesmos fatores complicados que entraram na aprendizagem original da resposta também estão presentes aqui. Na ausência da luz, o sujeito tem que desaprender mais do que a resposta de pressionar a barra. Todos os comportamentos juntamente condicionados com a resposta de pressão à barra contribuem para a curva de aprendizagem de discrim i­nação. Se o tre ino discrim inativo fo r iniciado juntamente com o aprendi­zado original da resposta, o processo será consideravelmente acelerado.

Além disso, outros fatores podem entrar no quadro. Respostas de pressionar a barra, que ocorram logo antes de acender a luz, serão aciden­talmente reforçadas. A discriminação progredirá mais rapidamente se se fizer com que tais respostas adiem o estím ulo positivo, de modo que

correlações acidentais nunca possam ocorrer. Há também o problema de generalização de estímulos; embora a presença e ausência da luz possam ser facilmente distinguíveis, todos os outros estímulos da situação são

comuns tanto ao estím ulo positivo quanto ao negativo. Se o sujeito fo r realmente colocado num aparelho diferente durante o estímulo negativo,

a discriminação poderia ser feita abruptamente sem transição gradual.

Toda a discussão acima leva à conclusão de que as medidas da velocidade de uma transição comportamental podem encobrir mais do que revelam.

A discussão mais adequada e mais completa de um estado de transição deve ser feita em termos das variáveis e processos que controlam o compor­tamento durante a transição. Estados de transição gradual são fenômenos de segunda ordem e sua rapidez deveria ser derivada de observações mais

básicas.Esta conclusão tem duas conseqüências para o planejamento expe­

rimental. Primeiro, se a principal preocupação do investigador é a veloci-

Page 289: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

288 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

dade de uma transição comportamental, ele deveria fazer todos os esforços

para refinar suas condições experimentais, até o ponto em que a transição

ocorresse abruptamente. Poderia, então, manipular variáveis combinadas

ou isoladas, e observar as mudanças que ocorrem na curva de referências. Há uma vida inteira de trabalho — diversas vidas, de fa to — condensada nas duas últimas frasfes e talvez isso explique porque ainda não fo i feito. Porém, o campo está aberto e há colheitas valiosas para o estudante que se aventurar por ele.

Uma segunda conseqüência para o planejamento experimental é que pode ser possível uma caracterização mais fundamental de transições em

outros termos, que não sua velocidade de ocorrência. Voltemos ao efeito

de aquecimento como nosso exemplo de uma transição e vamos tratá-lo como um comportamento em estado de mudança, além da sua taxa de

modificação: podemos supor que o comportamento mostrará uma variada resistência à extinção em fases diferentes da transição. Para se verificar essa suposição, podemos, simplesmente, desligar o choque em vários pontos

durante o aquecimento.Se descobrirmos que há, realmente, uma função legítima, podemos

caracterizar a transição de aquecimento por meio de uma escala de extinção. Num estágio mais adiantado do nosso progresso, podemos tentar determinar se outros tipos de transição comportamental podem ser des­

critos da mesma maneira. Se a res-stência à extinção não executar a tarefa, quer parcial, quer to ta l, teremos que começar novamente, com

outra possibilidade. O que se está tentando aqui é descrever estados de transição em termos de sua interação com variáveis, cujo efeito é alterar

o curso da transição.

TRANSIÇÃO COMO UM A FUNÇÃO DO ESTADO DO

COMPORTAMENTO PRECEDENTE

Qualquer comportamento corrente é, em grande extensão, determi­

nado por fatores históricos. As variáveis a que o organismo fo i exposto no passado, continuam a exercer influência mesmo depois que não estejam mais presentes fisicamente. Esta consideração tem animado grande parte da nossa discussão até agora, e se torna particularmente relevante para as investigações experimentais de estados de transição, pois transições comportamentais são sempre uma função, não somente de novas variáveis que produzem a transição, mas também de variáveis que têm mantido o comportamento até aquele momento. Os estados de transição não podem ser estudados isolados da sua história.

Page 290: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

ESTADOS DE TRANSIÇÃO 289

Freqüentemente tem-se alegado que as técnicas que produzem tran­

sições rápidas não são adequadas para o estudo de processos como os da aquisição de comportamento. Se nossa situação comportamental produzir

aprendizagem rápida, tem-se sustentado que estamos negando o nosso

próprio propósito, porque os processos relevantes não se tornam dispo­

níveis para o estudo. Somente quando a aquisição fo r lenta se admite que

estejamos aptos a bem observar o processo. Mas tenho vigorosamente sugerido que os estados de transição lenta representam casos especiais,

que uma transição gradual surge através de fatores contribuintes que não são em princíp io intrínsecos da transição. As transições lentas, então, longe de fornecerem os experimentos de referências em que se basear uma

avaliação sistemática, impõem-nos a obrigação de examinar os fatores

históricos e correntes que são responsáveis pelo seu aparecimento gradual. Na seção precedente, já toquei em algumas das variáveis atuais relevantes para o problema. Que implicações especiais para o planejamento experi­

mental são trazidas pelos fatores históricos?

A primeira implicação vem de uma simples observação experimental como a que segue: a transição experimental que se realiza quando o valor de um esquema de reforçamento em razão-fixa é aumentado de, por exemplo, cinco a cem, é uma função do método pelo qual a razão é aumen­tada. Se o número de respostas exigidas por reforço fo r aumentado lenta­mente, o comportamento pode desenvolver alguma tensão, isto é, pausas

longas seguindo o reforço mas será mantido na razão de cem. Se a razão fo r aumentada abruptamente, no entanto, de cinco diretamente para cem, é provável que a transição vá para a direção oposta. A tensão aumentará até o ponto em que o comportamento desapareça por completo.

Então, para realizar algumas transições, uma história comportamental específica precisa ser edificada no organismo. Mudando de uma razão-fixa baixa para uma alta, certas variáveis precisam ter a oportunidade de se

fixarem antes de que a transição possa ser estudada. Não adiantará argu­

mentar que a transição seja artific ia l, simplesmente porque as manipulações

experimentais são especificáveis, e não são mais arbitrárias do que a adição

gradual do calor no estudo do curso de uma reação química.Entretanto, a partir de um ponto de vista sistemático, não é sufi­

ciente especificar as nossas operações experimentais simplesmente como "modificação repentina vs. gradual" num esquema de razão-fixa. Devemos ir além e indagar como estas operações alteram as relações entre o compor­tamento e suas variáveis imediatas de controle. O que aconteceu com o comportamento, como resultado da mudança gradual da razão, que permita sua manutenção continuada numa exigência de razão-alta? Terá a

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290 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

nossa operação perm itido que a "contagem " se tornasse um reforçador

condicionado? As possibilidades já foram habilmente discutidas por

outros (34) e não há necessidade de que sejam tratadas aqui. O ponto importante a que nos levou a nossa discussão é que os fatores históricos

são provavelmente importantes, não porque sejam de algum tipo de ação

temporalmente distante, mas porque usam de alguns resíduos dos seus

efeitos que se autosustentam no presente. Deficiência dietética produzida

por bebida excessiva pode resultar em lesão no fígado, que é irreversível, mesmo depois que a bebida já tenha sido abandonada. Do mesmo modo, uma história particular do comportamento pode modificar a relação entre o comportamento e suas variáveis de controle, de tal forma que a nova relação persista mesmo depois de originar condições que não mais estão

presentes.Vimos, então, duas implicações relacionadas com os fatores histó­

ricos para o estudo dos estados de transição: a) uma transição pode exigir

manipulação experimental deliberada para estabelecer uma história de controle que torne possível a transição; e b) a compreensão completa do processo envolvido numa transição pode exigir a investigação dos elos

de ligação entre esta história e as variáveis correntes.A afirmação acima nos traz de volta à conclusão que fiz antes; mas

é bom enfatizá-la novamente. O estudo adequado dos estados de transição exige um conhecimento da história comportamental, certamente a história

imediata e provavelmente também a mais remota. Não existe uma condição como a ausência de história comportamental, e a ignorância não é substi­

tu ída pela especificação. A melhor maneira de um experimentador especificar a história comportamental de um organismo, na medida em

que é importante para um determinado problema, é construir deliberada­mente essa história no organismo. De fato, histórias diferentes exercerão

efeitos diferentes em estados de transição subseqüentes, mas este é um

fato do comportamento, não alguma coisa de que se tente fugir. A falta

de informação sistemática, descrevendo as transições como uma função

da história comportamental, deixa um grande vazio nos dados da psico­logia experimental, e na área da aprendizagem em particular. A especifi­

cação do estado do comportamento anterior a uma transição é, contudo,

tanto um problema metodológico em qualquer experimento particular, como um problema que vale a pena estudar por seu próprio valor.

No aspecto metodológico, há um problema interessante que precisa ser inevitavelmente encarado. Uma transição comportamental pode ser estudada tanto enquanto se desenvolve a partir de um estado precedente, como enquanto emerge de uma outra transição incompleta. A segunda

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 291

alternativa tem recebido atenção experimental ainda menor do que a pri­meira, ainda que mantenha a promessa maior de revelar as propriedades dos estados de transição. O método envolve uma mudança nas condições experimentais embora o comportamento ainda esteja em transição de um

estado-estável para outro. Esse é um procedimento delicado porque

envolve todas as incertezas da mensuração e do controle que caracterizam as técnicas atuais para estudar as transições comportamentais. Não só

temos o problema de simplesmente identificar o começo e o fim da pri­

meira transição, mas também o de especificar estágios intermediários de

forma a perm itir a replicação significativa. O problema de como caracte­

rizar uma transição, tem aqui uma magnitude dobrada, porque estamos lidando com duas transições quase simultaneamente.

Apesar de tais problemas, essa técnica vale a pena ser tentada. Embora as dificuldades possam ser dobradas, o potencial resultante pode

ser m ultiplicado ainda mais. Pode ser que uma função demonstre variar como uma função do estágio de uma transição anterior de onde se origina, então perceberá que é possuidor de informações valiosas sobre ambos os

estados de transição. Este é o tip o de informação que provavelmente irá m odificar algumas das nossas noções tradicionais sobre os estados de transição, porque descreve as transições quanto às suas interrelações. Dá ênfase às propriedades de uma transição que se estendem para, e também

se derivam de, outros aspectos do comportamento de um organismo.Além dessas implicações que essa técnica acarreta para os planos do

experimento original, suas próprias dificuldades também exigem uma nota de sobreaviso para aqueles investigadores que irão preferir usar outras abordagens experimentais dos estados de transição. A menos que se planeje um experimento deliberadamente para o exame das transições

enquanto se desenvolvem de uma linha de base de outras transições, seria fatal perm itir que esta complicação entrasse inadvertidamente no quadro. Um estado-estável é a única alternativa para uma linha de base de tran­

sição. Se um estado de transição não fo r desejado como uma linha de base de onde iniciar uma segunda transição, o investigador deverá tomar todas as precauções para garantir que comportamento da sua linha de base seja

mantido no estado-estável. Se ignorar esse controle, provavelmente desco­

brirá que seus dados não são replicáveis.Como um exemplo simples, suponhamos que desejemos examinar a

transição que se efetua quando passamos de um procedimento de esquiva discriminado para um não discriminado. Na esquiva discriminada, o sujeito adia o choque, por exemplo, por 2 0 segundos cada vez que pressionar a barra. Além disso, um sinal de aviso aparece cinco segundos antes que

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292 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

um choque deva ser aplicado, se não tiver ocorrido nenhuma pressão à

barra para adiar o sinal. Descobriu-se, com este procedimento, que o rato

branco finalm ente chegou a esperar pelo estímulo do sinal antes de pressionar a barra, com poucas respostas em outras ocasiões. Depois do

desenvolvimento desse comportamento de espera, suponhamos que desli­

guemos o estím ulo de aviso, mantendo imutáveis todos os outros aspectos do procedimento. Nosso interesse está no desenvolvimento da mudança comportamental que se realiza depois da eliminação do sinal.

Num experimento desse tipo , descobriu-se que a eliminação de estí­mulo sinal resultava num aumento da freqüência da resposta de esquiva. Os animais não mais esperavam até que um choque estivesse im inente antes de pressionar a barra, mas respondiam bem mais rapidamente do que era necessário. O rumo desse aumento de freqüência podia ser m uito bem observado num gráfico cumulativo de resposta. Entretanto, com outros sujeitos, não houve nenhuma transição. Embora os estímulos tenham sido

eliminados, os animais continuavam a se comportar como se os sinais ainda participassem do procedimento. Abstinham-se de pressionar a barra até os restantes cinco minutos, ou menos, que precediam o próxim o choque, exatamente como faziam quando o período de cinco segundos

era marcado por um sinal (71).Uma demonstração subseqüente demonstrou que os resultados d ife­

rentes eram explicáveis em termos do estado da linha de base. Com a longa

exposição dos sujeitos ao procedimento da linha de base de esquiva descri­minada, desenvolveu-se o controle temporal sobre o comportamento, e o

sinal tornou-se supérfluo. Os animais respondiam no momento adequado, mas não usavam mais o nosso estím ulo de aviso como um sinal. Desenvol­veram alguma outra técnica para contar o tempo. Não é preciso pensar

m uito, então, para ver que o seu comportamento não se m odificou quando

eliminamos o estím ulo de aviso.

Temos, aqui, um exemplo extremo das dificuldades que podem

ameaçar a replicação, quando o comportamento da linha de base não tiver sido levado a um estado-estável, e estiver ainda em transição. Aqueles

animais cujo comportamento da linha de base estava ainda em transição

do controle do estím ulo para o controle temporal, mostraram uma m od ifi­cação no comportamento quando eliminamos o sinal de aviso. Mas essa operação não produziu nenhuma mudança nos animais que haviam comple­tado a transição, do controle do estímulo para o controle temporal.

Pode-se notar que a transição do controle do estímulo para o con­trole temporal que se realizava durante o procedimento de esquiva discri­minada, não era nem mesmo suspeitada, até que uma mudança tivesse

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 293

sido ferta nas condições experimentais. Nosso exemplo, pois, serve a uma

segunda função, pela qual ilustra como alguns aspectos de uma transição - até a própria existência da transição — pode ser revelada somente através das suas relações com outros aspectos do comportamento.

RECUPERABILIDADE DOS ESTADOS DE TRANSIÇÃO

Uma história comportamental pode continuar a exercer controle mesmo depois que uma série diferente de variáveis tenha sido introduzida.

As características de uma transição podem então modificar-se sistematica­

mente a cada repetição com um único sujeito. Seria possível nesta situação a replicação intrasujeito de uma transição?

Antes de excluirmos a replicação intrasujeito em casos onde a his­

tória seja im portante, temos que propor a questão que discutia anterior­mente: "com que aspectos da transição nos preocupamos? " Se numa

transição nos satisfizermos em não nos aprofundar além do aspecto da sua velocidade, poderemos concluir que uma observação original não é recupe­rável. Mas, se a nossa preocupação fo r com processos comportamentais

envolvidos na transição, pode ser que possamos realizar replicação siste­mática individual mesmo que a rapidez da transição se m odifique a cada

repetição sucessiva.

Por exemplo, tomemos como nosso modelo uma transição descrita com grandes detalhes experimentais por Ferster e Skinner. Sua descrição do desenvolvimento comportamental que segue uma mudança do esquema de reforçamento contínuo para o de intervalo-fixo é uma avaliação clássica de uma transição comportamental. A Figura 37 constituirá nossa

curva de referência, para ilustrar os aspectos importantes da análise.

Parafraseei o texto de Ferster e Skinner ao descrever a transição.

1. Quando começa o esquema de intervalo-fixo, o reforçamento contínuo precedente produz primeiramente uma curva de extinção nagativamente acelerada, sugerida pelo primeiro segmento b e a

curva em linha interrompida a. A freqüência geralmente atinge um

nível baixo, como em c, que está consideravelmente abaixo da

freqüência que irá finalmente ser mantida pelo esquema de reforça­mento em intervalo-fixo. Cada reforço, indicado pelas linhas

cheias verticais, é seguido por um aumento de freqüência, e o intervalo geralmente está marcado por um pequeno segmento negativamente acelerado. A maior aceleração negativa atribuída à extinção está combinada com essas curvas menores.

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TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

T empo

Figura 37. Curva estilizada da transição de um esquema de reforçamento contínuo para o de intervalo-fixo. (Ferster e Skinner, 34, p. 135).

2. Uma freqüência de resposta relativamente uniform e aparece, então, durante um intervalo, e de intervalo para intervalo, como em e. Esta freqüência constante parece se desenvolver a despeito do tamanho do intervalo e, supostamente, é devida à probabilidade especial de reforçamento de baixas freqüências resultante das contingências até esse ponto. A alta freqüência de resposta no in íc io dos segmentos marcado b é correlacionada com o não reforçamento, enquanto a baixa freqüência no fim desses segmentos constitui um estímulo provável. Os segmentos negativamente acele­rados de intervalo-fixo geram, portanto, baixas freqüências e a relação entre a baixa freqüência e o reforçamento é a diferença mais importante entre transições de reforçamento contínuo.3. Diante da uniformidade da freqüência que se desenvolve, o

número de respostas por ocasião do reforçamento se torna bastante constante. Esta condição parece produzir seqüências breves oca­sionais de freqüências mais altas, como em f. A té então, nenhum exemplo de freqüências tão altas fora observado e, é claro, nem tais freqüências haviam sido reforçadas. Assim, as seqüências breves

parecem ser causadas pelo reforçamento automático resultante do

progresso quanto ao número de respostas que caracteristicamente prevaleciam por ocasião do reforçamento. Uma vez que tais

seqüências destróem a constância desse número, a situação é instável.

4. No últim o estágio da transição, não ilustrado na Figura 37, desenvolveram-se pausas depois de um reforço que são seguidas por

Page 296: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

ESTADOS DE TRANSIÇÃO 295

uma aceleração suave até a freqüência final, que é mantida até o próxim o reforço. (Ver Figura 18) (34, pág. 135 e seg.)

Esta descrição de uma transição comportamental, que é apenas uma parte da história, é notável pela ausência de ênfase sobre a velocidade da transição. A contagem poderia ter sido apresentada sob a forma de curvas de aprendizagem tradicionais, mas isso teria apenas obscurecido a riqueza e a complexidade do processo. Além disso, teria eliminado a replicação intrasujeito.

Ferster e Skinner, porém, fizeram inúmeras replicaçêos intrasujeito. Prestando atenção experimental e analítica aos m últiplos processos envolvidos na transição em intervalo-fixo, não apenas puderam fazer replicações sistemáticas de suas observações iniciais, mas também conse­guiram esclarecimentos sobre as variáveis que controlam os diversos aspectos da transição. Por meio de manipulações, como as de passar de um

intervalo-fixo pequeno para um grande, e vice-versa, programar um time-out em seguida a cada reforço tanto nos intervalos grandes como nos pequenos, introduzindo como sondagem um time-out durante o

intervalo, acrescentando relógios e contadores exteroceptivos, programando

outros esquemas em tandem com o intervalo-fixo, foram capazes de acentuar, ou elim inar seletivamente os vários aspectos da transição. O

controle experimental realizado dessa maneira perm itirá agora, a qualquer

experimentador que assim o desejar, produzir uma transição, quase tão rápida ou tão lenta, de um esquema de reforçamento contínuo para o de intervalo-fixo, e à vontade.

Com a informação que fo i fornecida por Ferster e Skinner, no entanto, a rapidez de uma transição tornou-se uma característica superfi­cial. A esta altura dos acontecimentos, para que um pesquisador perca a coragem diante da dificuldade em replicar a freqüência da transição,

implica em que o seu interesse pelo comportamento seja, de alguma forma, somente superficial. O processo envolvido na transição pode ser posto sob controle experimental e pode ser replicado em sujeitos individuais.

Infelizmente, há m uito poucos exemplos semelhantes que possam ser

citados. 0 estudante deve encarar esse fato não como uma barreira, mas como um desafio. A tarefa de analisar os componentes das transições

comportamentais terá as suas compensações, tanto em termos de novos dados como em termos de avanço técnico.

Um caso interessante em que a repetição produz uma transição progressivamente mais rápida é o fenômeno algumas vezes chamado de

"postura de aprendizagem" ou "aprendendo como aprender", extensiva-

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29 6 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

mente investigado por Hariow e seus colaboradores. 0 resumo do

experimento de Harlow é o seguinte:

(O ito macacos Rhesus foram treinados) em uma série de 344

problemas de discriminação de objetos utilizando um par de estímulos diferentes para cada discriminação. Cada um dos primeiros

32 problemas ia até 50 tentativas; os 200 problemas seguintes, 6

tentativas; e os últimos 112 problemas, uma média de 9 tentativas.

As curvas de aprendizagem mostrando as porcentagens de respostas corretas estão apresentadas na Fig. 38. Esses dados demonstram que

a capacidade dos animais para resolver os problemas de discrim i­nação progrediu cada vez mais. Os macacos aprenderam gradual­mente como aprender problemas individuais com um m ínim o de erros, um processo designado pelo termo de "postura de aprendi­zagem". Os animais conseguiram uma tal maestria que se escolhessem o objeto correto na primeira tentativa, dific ilm ente fariam algum erro nas tentativas subseqüentes. Se escolhessem o objeto errado na primeira tentativa, imediatamente passavam para o objeto certo

e subseqüentemente respondiam quase perfeitamente (40, p. 200).

O aumento na inclinação inicial das curvas de aprendizagem com os

blocos sucessivos de problemas fornece uma indicação de transições progressivamente mais rápidas. Muitos pesquisadores haviam aceito esta

transição da mudança em seu valor aparente, e haviam-na empregado para medir as diferenças entre as espécies. Escreve Harlow: "a rigidez de hábitos relativamente imutáveis e fixos tão característica de alguns dos

animais mais inferiores se rende diante da plasticidade do comportamento

e da capacidade de mudar de atitude, que são típicas dos primatas"

(40, p. 208).

Entretanto, outros têm sido levados a investigar a natureza das

mudanças no controle comportamental que são responsáveis pelas

transições mais rápidas. O próprio Harlow notava que "a única pista para o problema das mudanças era a falta de recompensa para uma resposta anteriormente correta" (40, p. 207). Outros investigadores têm estudado

este fenômeno mais básico algumas vezes chamado de "discriminação de

extinção". No correr da sua demonstração, mesmo num organismo tão inferior como o do rato branco, conseguiram ao mesmo tempo esclarecer o processo pelo qual o não reforçamento do comportamento adquire controle discriminador e levanta novos problemas sobre a natureza deste controle.

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ESTADOS DE TR AN SIÇ Ã O 297

8 0 -

6 0 -

TentativasDiscrmi nações

___________ 1-100

__________ 101-200

+ + + + + - H 201-256

------------------ 257-312

Curvas de aprendizagem da descriminação

1 2 3

Discriminações preliminares

+ -H - H m 1-8

------------------ 9-16

------------------ 17-24

— + — +■— 25-32

Figura 38. Curvas de aprendizagem da discriminação em blocos sucessivos de problemas (Harlow, 40, p. 201 ).

0 plano básico deste experimento fo i o de reforçar e extinguir uma resposta alternadamente sem nenhuma outra deixa exteroceptiva correla­cionada com o começo da extinção a não ser a omissão do reforçamento

alimentar. A transição em mudança se reflete num número de respostas

que declinam durante períodos sucessivos de extinção (20, 62). Quando o comportamento é somente reforçado de maneira interm itente, o declín io da resposta de extinção é retardado (93), um resultado que deve

ser esperado se a transição fo r controlada por estímulos associados com a omissão do reforçamento.

Por outro lado, descobriu-se que uma mudança progressiva seme­lhante à transição ocorre quando o comportamento de esquiva de choque é condicionado e extin to alternadamente (12). Como irá um organismo

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298 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

discriminar o fa to de que o choque não mais o ameace, quando não há um

acontecimento exterior que assinale a omissão do choque? Aqui existem ainda problemas não resolvidos, problemas propostos, mas não resolvidos pelas observações dos sistemas de aprendizagem. Nossa compreensão dos sistemas de aprendizagem dependerão das investigações funcionais das variáveis de controle. O uso prematuro da técnica como um instrumento para estudar aspectos comparativos do comportamento pode somente nos dar generalizações errôneas das diferenças comportamentais entre os

organismos.As mudanças sistemaficas, que nos impedem de replicar a velocidade

de uma transição inicial com um único sujeito, podem ser atribuídas a

mudanças correspondentes nas relações entre o comportamento e uma ou mais das suas variaveis de controle. Quando estas mudanças interferem na

investigação de um estado de transição, o plano experimental deverá ser

alterado para revelar a natureza das relações de controle. A informação assim obtida tan to tornará possível a volta ao problema original, com um grau mais eficiente de controle experimental, como mostrará as fraquezas

no estabelecimento original do problema, perm itindo assim uma re-

■avaliação.

QUANDO INICIAR UMA TRANSIÇÃO?

O comportamento de um sujeito está geralmente colocado sob controle experimental por períodos de tempo discretos e limitados. Nos relatórios experimentais, freqüentemente se acham gráficos nos quais alguma medida do comportamento é representada como uma função dos "d ias", "tenta tivas", "horas", "sessões", etc.. Os que estão familiarizados com a metodologia típ ica perceberão que os dias, tentativas, horas, sesseos, etc. não representam usualmente períodos contínuos de tempo. Com muita freqüência há períodos intervenientes durante os quais o sujeito fo i retirado do seu ambiente experimental e durante o qual o seu

comportamento não é nem manipulado nem observado. Os sujeitos animais são devolvidos à suas gaiolas durante esses períodos intervenientes, e sujeitos calouros de universidade voltam para o mundo de fora do

laboratório, e os militares em treinamento retornam à sua rotina.

Períodos discretos de observação provavelmente se .tornaram regra nos experimentos comportamentais, por causa de problemas práticos que de outra forma surgiram da programação, registro e análise contínua dos dados. Tais problemas são reais, embora estejam sendo desenvolvidos

Page 300: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

ESTADOS DE TRANSIÇÃO 299

métodos para a sua solução. Neste ponto, gostaria de considerar apenas a

influência que os usuais períodos discretos de observação exercem sobre o

ponto em que iniciamos, geralmente, as transições comportamentais.

Em geral, as transições são iniciadas pela alteração das variáveis

controladoras logo no in íc io do período de observação. Provavelmente,

esta prática tem a sua origem em duas fontes. Uma delas é a aceitação geral da variabilidade intersujeitos e o conseqüente uso de dados de grupo. Os

experimentadores têm sido relutantes em modificar as condiçêos experi­

mentais em algum ponto estabelecido depois que o comportamento esteja

em andamento, porque nem todos os sujeitos do grupo atingiram o mesmo estado de desempenho. A segunda consideração contra mudanças durante o período de observação tem sido a relativa dificuldade de alterar o equipamento de programação com rapidez suficiente para não perturbar o

comportamento em curso.Embora recentemente tenham sido desenvolvidas técnicas de

controle adequadas a sujeitos individuais e a aparelhos de programação que permitem mudanças automáticas e quase instantâneas nas condições experimentais, a prática de realizar mudanças no in íc io de um período experimental ainda é a que prevalfesce. Acredito que isto nada mais seja do que inércia. As técnicas avançadas de controle de programação foram desenvolvidas com outros objetivos que não o estudo de estados de transição, e alguns daqueles que utilizam as técnicas, simplesmente não

reconheceram esta aplicação.Quais os prós e os contras de se iniciar uma transição comporta­

mental no começo ou no meio de uma sessão experimental? Apesar de ter

usado quase exclusivamente a primeira maneira em meu trabalho, posso dizer pouca coisa a seu favor. Transições comportamentais estabelecidas

por mudanças nas variáveis de controle no começo de uma sessão estão contaminadas pelo comportamfento não controlado e usualmente não

observado, que ocorreu antes da sessão.

Além disso, há a perda de controle experimental que freqüentemente ocorre durante o período entre as sessões, perda essa que se manifesta nos vários fenômenos de "aquecim ento" e sobre a qual pouco se sabe. Estes problemas podem ser evitados atrasando-se a transição até que o comporta­mento esteja em andamento por algum tempo. Deste modo ter-se-á uma linha de base especificável e imediata para se avaliarem as mudanças comportamentais que ocorrerem. Ainda mais im portante, a linha de base, mostrando propriedades conhecidas e características, demonstrará se o comportamento está realmente sob controle das condições experimentais

em curso.

Page 301: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

Eis aqui uma oportunidade para um experimentador novato fazer

um avanço considerável em relação ao trabalho de muitos dos seus predecessores. Se está interessado em estudar transições de um estado

estável para outro, obterá informações mais úteis e fidedignas planejando

seus experimentos de modo a iniciar as transições apenas depois que o

comportamento em linha de base adquirir estabilidade dentro da sessão

experimental. Mesmo o investigador cujo interesse principal esteja no

estado-estável final ganhará se seguir esta regra de planejamento experi­

mental. Porque assim provavelmente obterá informações úteis sobre as

transições, bem como sobre os lim ites dos estados-estáveis. Tais in fo r­

mações, embora fáceis de serem obtidas, têm sido extremamente raras até agora.

ESTADOS TRANSITORIOS

Os estados de transição também podem ser considerados como estados transitórios, uma vez que as mudanças comportamentais envol­vidas finalmente terminam com a obtenção de um estado-estável de algum tipo. Há porém outro tipo de estados transitórios que é mais ú til consi­derar separadamente da transição, embora os dois possam ocorrer junta­mente. Uma transição envolve uma mudança de um estado comporta­mental para outro. A o passo que o térm ino de uma fase transitória é

T empo

Figura 39. Uma ilustração dos estados de transição e transitórios.

Page 302: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

ESTADOS DE TRANSIÇÃO 301

caracterizada por um retorno ao mesmo comportamento que seria observado se o efeito transitório jamais tivesse ocorrido. A Figura 39 mostra a diferença. Na curva I, a fase B constitu i uma transição entre um estado-estável A e um novo estado-estável C. Na curva II, a fase B

constitui um estado transitório, seguido por um retorno ao estado-estável A.

No estudo de tais estados transitórios, encontrar-se-ão todas as dificuldades que discuti a respeito das transições comportamentais. Fases

transitórias, porém, colocam alguns problemas adicionais. Uma fonte de complicações é o fa to de que as mudanças transitórias no comporta­mento, freqüentemente ocorreram de maneira aparentemente espontânea.

Ou seja, podem ser observadas mesmo que o experimentador não tenha

manipulado qualquer das condições experimentais. Estes exemplos podem freqüentemente ser atribuídos à história comportamental do sujeito e/ou

a interações que ocorrem entre o comportametno em curva e suas variaveis

de controle em curso.Um exemplo em que uma história comportamental particular pode

interagir com as variáveis correntes para produzir mudanças transitórias é fornecido por um animal sujeito cujo esquema de reforçamento fo i mudado de FR (razão-fixa) para D RL (reforçamento diferencial de baixas freqüências). O esquema de razão exige um número fixo de respostas para a produção de cada reforçamento e produz uma alta freqüência de resposta. Porém o esquema D R L subseqüente exige que o sujeito emita respostas com pelo menos 2 0 segundos de intervalo para produzir o refor­çamento. Embora o esquema D R L finalm ente gere sua freqüência de respostas caracteristicamente baixas e constantes ocorrem exemplos em

que o antigo comportamento de razão "exp lode". Fases transitórias ocasionais de alta freqüência, características do antigo esquema em razão, interrompem o desempenho suave do DRL. A origem histórica destes períodos transitórios de alta freqüência é clara e serve para demonstrar a lição de que a história do sujeito deve ser levada em consideração, quando se palneja um experimento e se interpretam os seus dados. Mas há mais a ser aprendido neste exemplo. Uma determinada história não exerce seus efeitos num vácuo comportamental, como se torna evidente quando

indagamos porque as mudanças transitórias ocorrem em períodos especiais. A resposta a esta questão, em nosso exemplo específico, exige uma familiarização com algumas das características detalhadas da resposta

espaçada como é gerada pelo esquema DRL. Intercaladas entre respostas eficientemente espaçadas, observamos usualmente diversas explosões de respostas rápidas. Num organismo sem uma história de razão-fixa, o tamanho de tais explosões permanece pequeno. Mas para um sujeito que

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302 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

teve uma experiência de razão, uma explosão de respostas rápidas

reinstala uma das condições que haviam ocorrido antes do reforçamento,

no esquema de razão. O responder rápido então gera um responder rápido

adicional e o comportamento típ ico de razão emerge da pequena explosão

inicial. Este comportamento finalm ente acaba porque não sobrevêm

nenhum reforçamento e a pausa subseqüente reinstala a baixa freqüência

do DRL.Assim, fases transitórias não implicam em espontaneidade ou ca­

pricho no comportamento, mesmo que possam aparecer sem manipulação experimental deliberada. A fim de eliminar tais mudanças transitórias, será necessário investigar seus determinantes, porque o controle experi­mental fornecerá o único método adequado para evitá-las.

Se quisermos estudar, em vez de evitar, um estado transitório parti­cular, então enfrentaremos um problema sério:a natureza pouco duradoura dos estados transitórios. Se um fenômeno comportamental tiver curta

duração tornar-se-á experimentalmente d if íc il examiná-lo em detalhes. Os problemas se m ultip licam quando temos a complicação adicional da "espontaneidade" e devemos esperar pelo aparecimento da fase transi­tória, sem que possamos produzi-la de acordo com nossa vontade. Não deveria ser surpreendente que, com uma classe de processos comporta­mentais, os fenômenos transitórios tenham sido investigados com menos

freqüência e menos adequação.Um primeiro estágio necessário na investigação de um estado transi­

tó rio é a simples observação de sua ocorrência. As primeiras observações

não são usualmente o resultado de um experimento deliberadamente planejado com ta l objetivo. Usualmente, estados transitórios são obser­vados juntamente com procedimentos experimentais planejados com algum

objetivo em vista. Uma classe bem conhecida de estados transitórios

engloba as mudanças comportamentais temporárias, que ocorrem freqüen­temente quando um procedimento experimental é alterado pela primeira

vez, ou quando um novo estím ulo ou outra variável é introduzida pela

primeira vez. A exposição inicial de um organismo ao choque elétrico, por exemplo, pode produzir mudanças comportamentais profundas, que

nunca mais são observadas neste organismo. Estes fenômenos transitórios são freqüentemente denominados "em ocionais", devido tanto às suas amplas manifestações generalizadas, quanto ao fato de ocorrer uma adap­tação. Efeitos transitórios semelhantes, podem ser produzidos por estí­mulos novos.

A classificação destes efeitos como emocionais não ajuda a controlá­mos experimentalmente. A magnitude e duração das mudanças, são, no

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 303

entanto, propriedades importantes para serem recolhidas nas observações iniciais. Outros estudos que busquem determinar as propriedades relevantes para os acontecimentos que se iniciam, para a história comportamental, para o comportamento em curso, etc., serão exigidos, antes que se torne possível o controle rigoroso. Quando tais informações estiverem garantidas, alguém poderá se perm itir alguns palpites educados sobre outros estados

transitórios, nos quais os eventos que se iniciam não sejam observados

tão facilmente.Por exemplo, aumentos transitórios na freqüência de resposta são

freqüentemente observados em experimentos de esquiva, quando a resposta

do sujeito lim ita um estímulo de aviso. O fenômeno é análogo, em nível de observação, a uma "após-descarga". Esta observação nos leva a suspeitar de um processo semelhante nos casos de aumentos transitórios de fre ­qüência que ocorrem, aparentemente de modo espontâneo, quando

nenhum estímulo exteroceptivo de aviso é lim itado. (Veja os pontos marcados com A e B na Figura 17, Capítulo 5) Talvez, nestes casos, os

estímulos de aviso são fornecidos pelo próprio comportamento do sujeito. Esta noção poderia ser verificada fazendo-se com que deliberadamente algum aspecto do comportamento em andamento do sujeito funcionasse

como um sinal de aviso. Se o aspecto relevante do comportamento fosse então ele mesmo colocado sob o controle do estímulo, poder-se-ia realizar uma preparação comportamental, que permitisse uma investigação inten­siva das mudanças transitórias que ocorressem.

Algumas vezes uma mudança transitória pode ocorrer por causa de contingências acidentais entre uma ocorrência de reforço e algum aspecto do comportamento. Estas mudanças são muitas vezes observadas durante a aquisição inicial da resposta. Se exigirmos que um animal fam into pressione um pedal para obter alimento, a primeira pressão no pedal poderá ocorrer quando o animal se deitar sobre o pedal. Respostas seme­lhantes poderão ser dadas subseqüentemente da mesma maneira, mas no local errado, de modo que não sobrevenha o alimento. O próxim o refor­çamento pode ser obtido quando acontecer que o animal caia sobre o pedal, depois de pular para o alto da caixa. Pode então se observar um estágio transitório de comportamento de pular. Esses estados transitórios, quando antes do desenvolvimento de um comportamento relativamente eficiente e estereotipado, são freqüentemente denominados comporta­mento de “ tentativa e erro". Há alguns que nunca vão além dessas obser­vações iniciais e classificam o comportamento de tentativa e erro como um processo básico de aprendizagem. Assim as fases transitórias não

recebem outras investigações posteriores.

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304 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

Estes aspectos transitórios do comportamento parecem estar comple­

tamente imunes do controle experimental. Ocorrem num ambiente

experimental onde se presume que todas as condições sejam constantes.

Os próprios estágios transitórios ocorrem com freqüência e padrões alta­mente variáveis de sujeito para sujeito. Como chegar ao controle experi­

mental com estes fenômenos transitórios e variáveis? Novamente, não

tenho uma resposta definitiva para este problema. O planejamento experi­mental deverá se d irig ir para as questões específicas que estão sendo colocadas e não estou certo de que alguém tenha colocado as questões

adequadas aos estados transitórios. No caso de mudanças transitórias que ocorrem em ambiente experimental constante, pode ser proveitoso pro­curar por contingências acidentais que surgem das variações com porta­mentais. Estas contingências poderiam então ser reproduzidas experimen­talmente e as variáveis que se acredita serem relevantes, poderiam ser manipuladas. Informações adicionais desse tip o perm itirão eventualmente que se consiga o controle experimental dos fenômenos transitórios.

Mudanças comportamentais transitórias podem ocorrer, às vezes, porque o comportamento em observação está sendo mantido no que se

denomina de "estado fron te iriço ". Um exemplo já fo i apresentado em

Figura 40. Relação entre o intervalo resposta-choque e a freqüência de resposta de esquiva (Adaptado de Sidman, 70).

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ESTADOS DE TRANSIÇÃO 305

nossa discussão sobre a variabilidade que resulta do controle experimental

fraco. (Capítulo 5, pág. 168). Esta situação é particularmente possível se a função que descreve a relação entre o comportamento e a principal

variável de controle fo r descontínua, ou se a função mudar rapidamente

dentro de uma pequena margem de valores da variável de controle. Vejamos o seguinte exemplo: a Figura 40 ilustra uma relação entre a freqüência de respostas de esquiva e o intervalo de tempo pelo qual cada

resposta de esquiva adia um choque elétrico (intervalo resposta-choque). Pode-se ver que a freqüência da resposta mostra um pico agudo nas proxi­

midades dos sete segundos, por causa das condições particulares em que

esta curva fo i obtida. Pequenas variações no intervalo resposta-choque em cada lado do máximo, produzem mudanças comportamentais relativa­

mente grandes. Estes dados nos revelam que provavelmente existirá um estado fronte iriço para este sujeito, se tentarmos manter o comportamento de esquiva como um intervalo resposta-choque de sete segundos. Haverá

provavelmente ocorrências transitórias de baixas freqüências.Um fa tor que determinará a freqüência e a duração destas freqüências

transitórias será o grau de variabilidade do aparelho programador. Quanto mais variável o cronômetro que programa o intervalo resposta-choque, maior a probabilidade de se observarem períodos transitórios de baixa freqüência de resposta. Variações em outros fatores concorrentes terão o mesmo resultado. Neste exemplo, a intensidade do choque seria uma suspeita óbvia, uma vez que é uma variável d if íc il de controlar. Qualquer fator que produza a variabilidade nas propriedades temporais da resposta também aumentará a probabilidade de mudanças transitórias. Para mani­

festar vagamente este últim o aspecto, um intervalo de sete segundos pode às vezes parecer ao sujeito um período de cinco ou dez segundos e isto pode ter um efeito marcante sobre a freqüência de respostas.

O exemplo mostra, novamente, a necessidade de um completo conhecimento das características de qualquer comportamento da linha de

base que se pretenda usar experimentalmente. Um experimento planejado

em torno de uma linha de base mal compreendida pode ser contaminado

por variabilidade transitória, que poderia ser evitada por uma seleção mais

adequada dos valores dos parâmetros controladores. Isto também nos leva

diretamente ao nosso próximo problema de projeto experimental.

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■ ■ seleçao de uma linhä de base adequada

Alguns pesquisadores têm como objetivo o estudo de relações entre

vários tipos de linha de base e operações experimentais específicas. As próprias linhas de base constituirão os parâmetros do fenômeno em questão e serão selecionadas com base em considerações peculiares ao problema de que se ocupam.

Quando não se pretende manipular a própria linha de base como variável independente, sua relação torna-se um fato c rítico na preparação de um experimento. Uma escolha inadequada pode fazer com que um estudo bem planejado se torne um fracasso, ou impedindo que um fenômeno seja observado, ou levando a uma Interpretação errônea dos dados. A linha de base ideal deve possuir três virtudes principais, se não se

quer obscurecer os dados ou sua interpretação. Essas virtudes são: estabili­dade, sensibilidade e controle estrutural dos processos estranhos aos propósitos em questão.

ESTABILIDADE

O primeiro requisito é bastante óbvio. Se o comportamento da linha de base fo r excessivamente variável, quaisquer mudanças provocadas pelas operações experimentais serão obscurecidas. Em conseqüência,

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SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE ADEQ UADA 307

pode-se decidir incorretamente por critérios estatísticos, ou outros, que a

manipulação em questão não tenha efeito sobre o comportamento.

A estabilidade no deocrrer de um longo período de tempo quase

sempre permite que o pesquisador avalie sua manipulação experimental através da replicação intrasujeito. Se a linha de base fo r reversível, poderá aplicar a operação experimental muitas vezes durante o correr do período experimental e obter, assim, uma estimativa econômica da reproduti­bilidade das mudanças comportamentais observadas. A operação experi­mental pode consistir de uma mudança na contingência de reforçamento, com ou sem controle do estímulo, alteração no ambiente interno ou

externo do sujeito, aplicação de punição ou quaisquer outras possibili­dades. Se a operação de fato passar a exercer um grau considerável de controle comportamental, não há melhor maneira de demonstrá-lo do que ligando-se e desligando-se várias vezes a operação. Entretanto, para se efetuar essa demonstração o experimentador precisa selecionar uma linha de base que permaneça inteiramente consistente.

SENSIBILIDADEI

A estabilidade é, então, o primeiro requisito de uma linha de base. Porém, insucessos na observação de uma mudança comportamental

podem resultar de uma linha de base estável, porém insensível. Para se fazer uma seleção judiciosa baseada na sensibilidade, é preciso que se

tenha conhecimento profundo das propriedades conhecidas já determi­nadas das linhas de base disponíveis. Suponhamos, por exemplo, que se

queira pesquisar os efeitos da privação de alimento sobre a freqüência da resposta. Qual linha de base refletirá melhor as variações de privação? Sabe-se que os esquemas de reforçamento em razão-fixa geral um compor­

tamento extremamente estável e pode ser tentador manter o comporta­

mento de linha de base com esse esquema. O esquema de reforçamento em razão-fixa, no entanto, gera o que pode ser considerado como uma forma m uito rígida de coesão interna. As respostas no começo da contagem agem como estímulos discriminativos para as respostas seguintes e as posteriores agem como reforçadores das primeiras. Esse poderoso controle

interno deveria ter sido superado antes que as mudanças na privação pudessem se revelar na freqüência de resposta. De fato, tem se demons­trado que as freqüências de resposta em razão-fixa são relativamente insensíveis a certas variáveis, embora outros aspectos do desempenho em razão-fixa possam ser suscetíveis. Logo, a menos que se esteja especifica-

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308 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

mente interessado nos efeitos da privação sobre o comportamento em razão-fixa, será preferível usar um outro tip o de linha de base.

A insensibilidade numa linha de base comportamental, algumas

vezes, pode ser causada pelas próprias operações experimentais. Certas

operações, pôr natureza, impedem uma descrição compreensiva dos seus efeitos, a menos que se tomem precauções especiais. Uma situação desse tipo pode ser enfrentada, por exemplo, se interrompermos um experi­mento por dez minutos, cada vez que o sujeito, trabalhando num esquema

de reforçamento em intervalo-variável, fizer uma pausa menor do que dois segundos. Isto é, cada pausa menor do que dois segundos produziria um

período de dez minutos, marcado por um estímulo, durante o qual

nenhum estím ulo seria liberado.

Um método para se avaliarem os efeitos desta operação seria registrar os intervalos de tempo entre respostas sucessivas (intervalo entre as respostas) enquanto o esquema de intervalo variável estivesse em vigor. No entanto, a operação de interrom per o experimento após cada pausa breve eliminaria artificialm ente a maioria dos intervalos entre respostas menores do que dois segundos, já que o sujeito não responde durante o período de time-out. Nossa linha de base poderia assim ser insensível a

mudanças que estariam ocorrendo na freqüência dos intervalos, entre respostas menores do que dois segundos.

A solução deste problema é relativamente simples, porque a

insensibilidade é um produto, não da linha de base em intervalo variável, mas sim de nosso método de programar a operação experimental. Podemos recuperar apenas um grau desprezível da sensibilidade, simplesmente

administrando o time-out não para toda pausa menor do que dois segundos, mas para pausas ocasionais deste tipo (33). O próprio time-out pode ser produzido de acordo com um esquema de intervalo-

-variavel, ou qualquer outro programa que pareça apropriado. Haverá,

então, uma limitação m ínim a em nossas observações do comportamento

de linha de base.

Uma linha de base ideal seria aquela em que a interferência de

de fatores que apresentassem uma tendência de manipulação experimental. Um esquema em intervalo-variável, se habilidosamente programado,

adequar-se-ia provavelmente a esse requisito. Quando os reforçamentos são programados para intervalos de tempo imprevisíveis e variados, existe uma oportunidade m ínim a de que a resposta fique sob controle temporal específico, como no caso de esquemas de intervalo-fixo e de espaçamento

outras variáveis fosse a menor possível. Deveria haver um número m ín im o

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SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE ADEQ UADA 309

da resposta, ou sob controle do prórpio controle do comportamento, como nos esquemas de razão.

Entretanto, mesmo assim deve-se ter um conhecimento profundo das propriedades dos esquemas de intervalo-variável, se se quer gerar uma linha de base extremamente sensível. É m uito fácil programar, numa fita de intervalo-variável, algumas seqüências que darão ao comportamento propriedades semelhantes às do comportamento mantido em razão ou

intervalo, ou que permitirão que se formem discriminações. Se a fita tem um número relativamente grande de intervalos longos, o comportamento

pode apresentar as ondulações características do desempenho em intervalo- -fixo. Um número excessivo de intervalos curtos pode resultar numa curvatura semelhante à de extinção, com aceleração negativa durante os períodos mais longos entre os reforçamentos programados. Uma preponde­rância de seqüências, em que um número de intervalos curtos consecutivos

seja seguido por um intervalo m uito longo, produzirá diminuições abruptas na freqüência, sempre que um período curto decorrer sem um

reforçamento. Contingências desse tipo, provavelmente, interferirão com as variáveis de maior interesse, e agirão de modo a reduzir a sensibilidade da linha de base e mudanças nas variáveis manipuladas.

CONTROLE DE PROCESSOS ESTRANHOS

Selecionei o exemplo acima porque também contém elementos rele­vantes para o terceiro critério de uma boa linha de base comportamental. Esse critério requer que a linha de base seja tal que permita o controle ou eliminação de processos comportamentais indesejáveis. Esse critério é necessário não apenas porque processos estranhos podem reduzir a sensibilidade da linha de base, mas também porque tais processos impedem a avaliação não ambígua dos dados. Uma fita de programação de intervalo- -variável, por exemplo, que gera algumas das características do comporta­mento em intervalo-fixo, também introduz os processos complexos envolvidos no comportamento em intervalo-fixo. Esses processos são em si mesmos interessantes, mas servem apenas para complicar uma descrição simples do comportamento, que se supõe estar sob um controle temporal m ínim o. E o mais importante é que os próprios processos de intervalo-fixo em ta l situação, não estarão sob controle experimental, e sua interação com as variáveis do interesse principal será d if íc il de avaliar. Se se estiver interessado em estudar tais interações, será mais apropriado planejar um

experimento especificamente para esse fim .

Page 311: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

310 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

Existem várias outras maneiras pelas quais linhas de base particulares

podem gerar processos que compliquem ou obscureçam resultados experimentais. Uma fonte potencial da dificuldade pode surgir de linhas

de base que são caracterizadas por algum tipo de ciclicidade. Suponhamos,

por exemplo, que queiramos avaliar uma transição comportamental, comparando-a com uma linha de base de comportamento mantido em

intervalo-fixo. O curso da transição pode ser função do ponto da

ondulação do intervalo-fixo em que iniciamos a mudança nas condições experimentais. Uma situação semelhante pode ser verdadeira no caso do comportamento mantido em razão-fixa. Se estas interações entre a

operação experimental e a linha de base forem o interesse principal, introduzir-se-á deliberadamente a operação em vários pontos dos ciclos de razão ou intervalo, comparando-se então a seguir as transições resultantes. Mas, se tais interações forem estranhas ao problema em questão, será conveniente que o experimentador respeite o ciclo, interronpendo-se no mesmo ponto, cada vez que in troduzir uma nova operação, ou que selecione uma linha de base que não seja caracterizada pela ciclicidade.

Osf esquemas de razão-fixa e intervalo-fixo são caracterizados por ciclos comportamentais relativamente claros, mas essas e outras linhas de base podem ter também flutuações cíclicas menos óbvias, algumas das quais são menos óbvias porque se realizam durante longos períodos de tempo. Um caso intermediário é o do "aquecim ento", no qual o comportamento pode não atingir seu estado-estável, várias horas após o in íc io de cada -sessão experimental. Se se desejar eliminar a interação do fenômeno em investigação com as variáveis responsáveis pelo aquecimento, o experi­mentador tem três caminhos diante de si. Poderá utilizar uma linha de /base que não seja caracterizada por "aquecim ento"; poderá esperar que a linha de base atinja seu estado-estável antes de introduzir uma mudança

nas condições experimentais; ou poderá pôr de lado temporariamente seu

principal problema, e se angajar numa pesquisa do próprio "aquecim ento",

esperando obter controle experimental suficiente para poder eliminá-lo da linha de base.

Mudanças cíclicas no comportamento podem também estar ocultas

pelo simples fato de não estarem sendo registradas. Em qualquer

experimento há muita coisa que nossos instrumentos de registro não levam

em conta, e precisamos estar alertas à possibilidade de que aspectos não registrados do desempenho da linha de base interagirão com nossas manipulações experimentais. No esquema DRL, por exemplo, onde a contigência de reforçamento requer que o sujeito não emita a resposta

registrada durante um período de tempo, o estado do comportamento

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SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE ADEQ UADA 311

durante o período de espera sofre uma mudança progressiva, que não se revela até que técnicas específicas de sondagem sejam instituídas. Se um

tal esquema fo r empregado como linha de base é provável que a introdução de uma nova variável logo no in íc io do período de espera tenha um efeito diferente do que teria se fosse introduzida mais tarde (72).

Uma outra fon te de atividade não registrada é o comportamento

envolvido na ingestão de alimento que é, em geral, empregado como um reforçador em experimentos com animais. A menos que o comporta­

mento de linha de base seja mantido por um esquema de reforçamento

interm itente, é provável que o tempo de ingestão ocupe uma porção considerável dò período de observação. Ainda mais séria é a interferência de ta l comportamento quando não fo i colocado sob o controle rigoroso

do estímulo. A não ser que um estímulo efetivo do alimentador seja

fornecido, e o animal seja ensinado a se aproximar do comedouro apenas na presença desse estímulo, o comportamento abortivo de iijgestão ocupará um segmento considerável, embora não registrado, da afividade da linha de base. Então não ficará claro se quaisquer mudanças que possamos induzir no comportamento registrado não sejam uma reflexão indireta de mudanças no comportamento associado à ingestão.

Um outro tip o de processo estranho a ser normalmente evitado numa linha de base é aquele que realmente se opõe ao efeito da variável manipulada. Por exemplo, Ferster realizou um experimento para pes­quisar os efeitos das respostas rápidas da punição, através do "aqueci­m ento". Seu primeiro problema fo i o de selecionar uma técnica para manter o comportamento de linha de base, sobre a qual iria agir a operação de punição. Aqui é relevante o fa to de que ele rejeitou um esquema de reforçamento em razão-fixa para a linha de base porque "os fatores do esquema, no esquema de razão, reforçam diferencialmente freqüências aítas de resposta, o que se opõe aos efeitos de punição"

(33, p. 24). Isto não significa que a punição do comportamento mantido

em razão-fixa seja desinteressante. Mas, no contexto da pesquisa de Ferster, a complicação de um processo oponente não< era adequado ao problema em questão.

Uma situação semelhante surge freqüentemente ao se estudarem os efeitos das drogas sobre o comportamento. Uma droga tranqüilizante pode

tender a d im inuir a probabilidade dos comportamentos cuja função seja a

de evitar o choque, mas essa probabilidade reduzida, por sua vez, aumentará a freqüência d& choques recebidos pelo sujeito. A freqüência maior de choque poderá se opor ao efeito da droga e o experimentador poderá concluir que esta tem pouca ou nenhuma influência sobre o

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312 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

comportamento de esquiva. A seleção de uma linha de base de extinção

da esquiva, ou de esquiva com choque interm itente, tenderá a m inim izar o

efeito dos choques em oposipão à ação da droga.

Linhas de base de elementos m últiplos. Controle do estímulo. Quando se quer avaliar os efeitos de uma operação experimental compa- rando-os com mais de uma linha de base, o procedimetno tradicional tem sido o de empregar grupos diferentes de sujeitos para cada linha de base e então fazer comparações entre-grupos. Para citar, como exemplo, um experimento que é realizado com freqüência, suponhamos que desejás­semos comparar os efeitos da extinção experimental em duas linhas de base, uma delas mantida por reforçamento contínuo, e a outra por algum esquema de reforçamento interm itente. O procedimento mais comum nesses experimentos tem sido o de empregar dois grupos de

sujeitos, mantendo-se o comportamento de cada um pelo seu pró­prio esquema de reforçamento. Então, após ter sido efetuada a ope­ração de extinção, faz-se uma comparação entre, digamos, a resistência média à extinção apresentada por cada um dos dois grupos da linha de base.

\Esta comparação sofre perda do poder de resolução, o que é uma

conseqüência inevitável de comparações entre grupos. Todos os fatores não analisados, que produzem variabilidade inter-sujeito, são confundidos tanto com as condições da linha de base, quanto com os efeitos de

operação de extinção sobre a linha de base.Uma técnica mais avançada seria a de empregar os mesmos sujeitos

para cada uma das condições da linha de base. Poder-se-ia, por exemplo,

expor os sujeitos, em primeiro lugar, ao esquema de reforçamento contínuo, seguindo-se uma segunda operação de extinção. Algumas das

dificuldades envolvidas nesse procedimento já foram discutidas (Capítulo 3). Para o objetivo presente, no entanto, podemos notar a vantagem da

eliminação da variabilidade /nfer-sujeitos, tanto das próprias linhas de base,

como da sua interação com a operação experimental. Mas, ainda não temos um quadro tão claro quanto desejaríamos, Embora a variabilidade /nfer-sujeitos tenha sido eliminada, nossos dados ainda são confundidos com todos os fatores não controlados que agem no decorrer do tempo,

produzindo variabilidade /nfra-sujeito, de um período experimental para o outro. A não ser que se instituam controles explícitos, nossos dados permitirão a suspeita de que qualquer diferença nos efeitos da operação de extinção poderia ter ocorrido mesmo em duas aplicações sucessivas sobre a mesma linha de base.

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V '

A solução mais elegante para ésse problema seria usar uma linha de

base de elementos m últiplos com o sujeito individual. Dentro de qualquer período experimental, o sujeito pode ser exposto a ambas as linhas de base. A operação experimental pode, então, ser aplicada a cada elemento

da linha de base em sucessão rápida, ou mesmo, em alguns casos, simulta­

neamente.Continuando com o nosso exemplo, podemos colocar as duas

linhas de base, uma mantida por reforçamento contínuo e a outra por

interm itente, sob o controle do estímulo, e apresentar alternadamente os dois esquemas ao sujeito, dentro da sessão experimental. Suponhamos que

nosso sujeito seja um macaco e a resposta registrada a de pressão à barra.

Quando uma luz, localizada acima da barra estiver branca, cada pressão à barra produzirá reforçamento na forma de alimento. Quando a luz

estiver vermelha, a resposta produzirá reforçamentos apenas intermitentes,

de acordo com um esquema de reforçamento que tenhamos decidido empregar, como o segundo elemento na linha de base m últipla. Os dois estímulos e seus esquemas de reforçamentos associados, podem ser, agora,

programados em qualquer seqüência que desejarmos. Por simplicidade, suponhamos que os apresentados alternadamente por períodos de cinco minutos. Quando o comportamento adequado a cada esquema tiver se estabilizado na presença do seu estímulo correlacionado, poderemos então institu ir a operação de extinção experimental. Comparando-se o desem­penho durante os dois estímulos, podemos avaliar a interação entre a operação de extinção e cada um dos elementos da linha de base individualmente.

Procedendo dessa maneira, conseguimos ir além da eliminação da variabilidade inter-sujeito. No caso ideal, o controle do estím ulo de cada elemento da linha de base age, por assim dizer, no sentido de d iv id ir um único sujeito em dois (ou mais) organismos idênticos, cada um dos quais desempenhando adequadamente quanto às suas variaveis de controle e

sendo cada um deles estreitamente comparável quanto aos fatores que normalmente teriam produzido variação intra-sujeito. Se o caso ideal, realmente, é realizado na prática, é uma questão em aberto, uma vez que pode haver interações entre os elementos da linha de base múltipla. As

vantagens da técnica são no entanto, tão grandes, que vale a pena se fazer a tentativa. Os problemas que surgem das interações potenciais entre os elementos, freqüentemente podem ser superados. Uma dimensão mais

completa desse tóp ico será feita posteriormente.

0 estudante deveria reconhecer que não sugiro as linhas de base de elementos m últiplos para que se economize tempo. Elas podem exigir

SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE ADEQ UADA 313

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314 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

tempo e trabalho consideráveis, tan to para se obter o controle comporta­

mental exigido, como para se realizar testes experimentais da possibilidade

de interação. O valor da linha de base de elementos m últip los consiste,

não tanto na conveniência, mas no grau de controle experimental que ela

permite sobre fontes de variabilidade que normalmente são difíceis de

controlar. Além disso, a linha de base de elementos m últip los fornece

amostras temporais freqüentes e repetidas de cada elemento, e qualquer

perda de controle experimental que possa ocorrer, torna-se imediatamente evidente e pode ser levada em conta ao se avaliarem os dados. Essa virtude de uma linha de base de elementos m últiplos repetitivos é suficientemente

notável para justificar uma tendência avaliativa, a favor de qualquer experimento que empregue a técnica, no lugar daquele que aborda o mesmo problema de um modo mais tradicional. A replicação repetida de cada elemento da linha de base permite um grau de confiança na ade­quação do controle experimental que, de outra maneira, seria impossível.

Muitas vaíiedades de linhas de base com elementos m últip los foram descritas por Ferster e Skinner no seu tratamento sobre esquemas múltiplos de reforçamento (34, pp. 503-579). O exemplo que usei aqui é também o de um esquema m últip lo de reforçamento (reforçamento contínuo e interm itente). Um ou tro exemplo é apresentado na Figura 29 (Capítulo 8 ), que mostra cinco valores de um esquema em razão-fixa, cada um deles sob controle de estímulo. Com este ú ltim o procedimento, é possível não apenas observar as diferentes freqüências de resposta

correlacionadas com cada valor da razão-fixa, como também avaliar os efeitos de operações independentes de saciedade, administração de drogas, etc. sobre cada desempenho em razão, individualmente.

O conceito de linhas de base de elementos m últiplos sob controle do estímulo é generalizável para outros métodos de manipulação comporta­mental, além dos esquemas de reforçamento. Os dois ou mais estímulos

numa linha de base com elementos múltiplos podem para citar algumas

variáveis clássicas, estar correlacionados com diferentes intensidades de

choque, tipos ou quantidades diferentes de reforçamento, com diferentes

adiamentos de reforçamento, diferentes intervalos entre tentativas, formas

de comportamento topograficamente diferentes e com reversões de

discriminação. O número de variáveis possíveis às quais a técnica pode ser aplicada é ilim itada. Se o experimento diz respeito ao comportamento de

esquiva, cada resposta de esquiva, na presença do estímulo A pode adiar um choque de um miliampere. Na presença do estímulo B, o choque a ser evitado pode ter três miliamperes. Ou se desejarmos pesquisar os efeitos de

uma droga sobre o comportamento, em situações tanto aversivas como

Page 316: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

SELEÇÃO DE UM A L IN H A DE BASE ADEQ UADA 315

apetitivas, podemos perm itir que a resposta produza alimento na presença

do estímulo A e evite um choque na presença do estímulo B. Pode-se

inclusive empregar o mesmo tip o de esquema de reforçamento em ambos os estímulos. Poder-se-ia exigir dez respostas para a liberação do reforça­mento alimentar, na presença do estímulo A e, quando o estímulo B

estivesse presente, a décima resposta adiaria o choque. Seria possível então avaliar os efeitos de uma determinada droga sobre cada um dos elementos individuais da linha de base. A plenitude das potencialidades do método tem que ser ainda compreendida, mas existem possibilidades fascinantes,

tanto de natureza metodológica, quanto sistemática.

Manipulações com elementos múltiplos. A té agora, nossa discussão restirigiu-se aos casos em que desejamos pesquisar relações entre alguma operação experimental isolada e mais de uma linha de base experimental. A linha de base de elementos múltiplos sob o controle do estímulo fo i um procedimento sugerido. Antes de nos referirmos a outras técnicas para abordar esse tipo de problema, podemos considerar o caso em que dese­jamos pesquisar a interação entre uma única linha de base comportamental e várias operações experimentais qualitativa ou quantitativamente d ife­

rentes.Suponhamos, por exemplo, que o comportamento de linha de base

ester sendo mantido por um esquema de reforçamento em intervalo- -variável. Nosso interesse geral pode ser a perturbação que ocorre nessa linha de base quando apresentamos um estímulo, cujo término é acompa­nhado por um choque inevitável. Já se demonstrou que este estímulo, após um certo número de apresentações com o choque, produz uma

cessação completa (supressão) do comportamento da linha de base (ver

Figura ß e 6 , Capítulo 3). Nosso interesse imediato pode estar no modo pelo qual essa supressão comportamental se desenvolve em função da probabilidade de que ocorrerá o choque ao térm ino do estímulo. Isto é,

será que a supressão se desenvolverá mais rapidamente ê será mais completa, quando cada estímulo é pareado com um choque, do que

quando apenas, digamos, 30 por cento dos estímulos são pareados com

o choque?Ao invés de empregarmos dois grupos de sujeitos, um para cada

porcentagem de choque, podemos correlacionar as duas operações com diferentes estímulos e expor um único organismo a ambas. Por exemplo: enquanto o comportamento de linha de base em estado-variável está em progresso, mantido por um esquema de reforçamento em intervalo-variavel, podemos, algumas vezes, apresentar um som puro ao sujeito e outras, um

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316 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

ru ído de cliques. Cada apresentação de estímulo dura, digamos, três minutos. Ao térm ino de cada som puro administramos um choque inevitável ao sujeito. Apenas três de dez vezes, em média, no entanto, administramos o choque após o ru ído. As outras apresentações do ruído terminam sem qualquer choque. Podemos então observar o desenvolvi­mento separado da supressão da linha de base na presença de cada estímulo. Alguns dados preliminares, obtidos por Stein, sugerem que a supressão comportamental desenvolve-se mais rapidamente, na presença do estímuío, que é sempre pareado com choque (89).

Assim, temos aqui um caso onde duas operações quantitativamente diferentes, cada uma sob controle de estímulo, são aplicadas sobre um

único desempenho da linha de base. Ambas as operações podem ser assim avaliadas num único organismo. Se houver interesse, pode-se então seguir

pesquisando a interação da probabilidade de choque com um número de outras variáveis, tais como intensidade de choque, condições de reforça­

mento, etc.. Finalmente, os efeitos da probabilidade do choque sobre a resistência à extinção podem ser estudados, removendo-se o choque de

ambos os estímulos, e examinando-se a recuperação subseqüente da linha de base na presença dos dois estímulos.

Não há razão pela qual esta operação com elementos m últiplos deva ser restrita a apenas duas manipulações. Através de uma seleção adequada do sujeito experimental, será possível obter uma série de pontos que

descrevem uma relação funcional entre o comportamento de linha de base e diversas variações quantitativas de alguma operação experimental. Esta função estará livre da variabilidade inter-sujeito. A variabilidade intra-

-sujeito, usualmente, será m ínim a ou, no caso de estar presente causando

alguma perturbação mínima, sempre será detectável através das variações

incomuns no desempenho da linha de base.

Um exemplo excelente da operação de elementos m últiplos fo i

fornecido por Guttman e seus colaboradores, que a usaram para pesquisar o gradiente de generalização no pombo (38). Seu procedimento da linha de base fo i o de extinção após reforçamento alimentar em intervalo-variável.

A extinção fo i selecionada como linha de base, porque o reforçamento

alimentar teria introduzido fatores irrelevantes e complicados para a

avaliação dos dados de generalização. A extinção após um esquema de

intervalo variável fo i selecionada porque uma freqüência estável é mantida

por um período de tempo suficientemente longo, para perm itir um grande número de variações quantitativas da operação experimental. A últim a operação consistia simplesmente em mudanças periódicas no comprimento da onda de um estímulo que, anteriormente, havia sido mantido constante

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SELEÇÃO DE UMA L IN H A DE BASE ADEQ UADA 317

no decorrer do período de reforçamento em intervalo-variavel. 0 sujeito fo i exposto a um grande número de variações no comprimento de onda, e

registrou-se o número tota l de respostas na presença de cada comprimento de onda. Descobriu-se que o número de respostas dim inuía constante­mente, à medida em que o comprimento de onda do teste diferia cada vez mais daquele originalmente presente durante o reforçamento. O resultado desta manipulação de elementos m últiplos fo i uma relação funcional relativamente detalhada, entre o comprimento de onda e a freqüência de resposta para o organismo individual. (Ver Figura 20, Capítulo 6 ).

Empreguei uma técnica semelhante, a fim de obter um gradiente de generalização para o comportamento de esquiva. A linha de base, ao invés de ser extinção após reforçamento alimentar, constituiu-se de extinção após condicionamento de esquiva. O sujeito, nesse caso, era um macaco e a dimensão do estímulo era a freqüência auditiva de um clique, no lugar do com prim ento de onda. Durante o condicionamento de esquiva, os cliques eram apresentados a uma freqüência que variava de dois a seis por segundo. Novamente, o número de respostas d im inuía, à medida em

que a freqüência do clique distanciava-se em bem mais do que dois por segundo. Os sujeitos, os estímulos, o comportamento da linha de base e um número de outras condições diferiram da demonstração original de Guttman, mas a semelhança notável nos resultados evidencia que esta operação de elementos múltiplos possui uma grande generalidade.

Outros problemas, sejam novos ou de interesse clássico, podem ser abordados através de técnicas semelhantes. Uma grande abundância de

dados aguarda a combinação de linhas de base de elementos múltiplos, com operações de elementos múltiplos. Por exemplo, podemos querer

pesquisar as possíveis variações no gradiente de generalização, em função da intensidade de choque. Para realizar tal pesquisa, podemos primeiro estabelecer uma linha de base m últipla de esquiva, onde várias intensidades de choque sejam correlacionadas com, digamos, diferentes estímulos

visuais. Quando a chave de resposta estiver iluminada com um determinado comprimento de onda, o sujeito evita um choque de uma intensidade particular. Quando a iluminação da chave muda, a intensidade de choque também muda, e assim por diante, através de uma série de comprimentos de onda e intensidades de choque correlacionados.

Através de todos os elementos de linha de base múltipla, mantemos uma entrada contínua de cliques auditivos para. o sujeito com uma

freqüência, digamos, de dois por segundo. Então, durante a extinção da esquiva, podemos variar a freqüência do clique em combinação com os vários elementos de intensidade de choque da nossa linha de base

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'3 1 8 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

múltipla. Isto é, continuamos a apresentar as várias iluminações da chave, cada uma das quais controla uma freqüência apropriada de resposta à intensidade do choque com a qual fo i associada durante o condiciona­

mento de esquiva. Mas a freqüência do clique que acompanha cada com pri­

mento de onda agora varia, com cada apresentação. No curso de uma única sessão experimental, cada freqüência de clique pode ocorrer em

combinação com cada um dos vários comprimentos de onda. Podemos,

então, fazer o gráfico de uma fam ília de curvas, relacionando a freqüência

de resposta com a freqüência do clique, para cada comprimento de onda.

Assim, com o comprimento de onda controlando os elementos da linha de

base m últipla e as várias freqüências do clique abrangendo a manipulação de elementos m últiplos, temos uma série de cruvas de generalização de um

único organismo. Os gradientes refletirão as interações, se é que existem,

entre a generalização de estímulo e a intensidade do choque.

Linhas de base de elementos múltiplos. Controle concorrente. Até aqui, discutimos apenas o tipo de linha de base de elemèntos m últiplos, no qual o comportamento do sujeito é fracionado por meio de controle de estímulo sobre cada elemento separado. Tais linhas de base possuem potencialidades excitantes para proporcionar à ciência experimental da psicologia um grau de rigor e precisão que ela exige. Mas dific ilm ente representam a últim a palavra. Na medida em que os componentes de uma linha de base são separados por períodos de tempo, ainda que breves, existe ainda uma chance de que fatores não controlados afetem diferencial- mente cada elemento. A próxima etapa audaciosa será a de programar duas ou mais linhas de base comportamentais ao mesmo tempo (34, pp. 703-721).

Existem várias maneiras de se programar duas linhas de base

concorrentemente e pode-se dizer que a exploração da técnica fo i apenas

iniciada. Como sempre acontece no desenvolvimento inicial de uma nova

técnica, surgem problemas inesperados, tanto técnicos como sistemáticos. Agora não falarei dos problemas e farei apenas uma revisão dos dois tipos

principais de linhas de base concorrentes.Talvez, o procedimento mais óbvio para gerar simultaneamente duas

linhas de base seja o de empregar duas respostas, cada uma delas sob o controle de um conjunto separado de contingências mantenedoras. Já

discuti no C apítulo 7, duas linhas de base concorrentes deste tipo . Uma

resposta era reforçada com alimento, de acordo com um esquema de razão-fixa (ou intervalo-variável), enquanto a outra resposta simultânea tinha a função de evitar um choque elétrico. Essas duas linhas de base

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SELEÇÃO DE UMA L IN H A DE BASE ADEQ UADA 319

foram empregadas para se estudar um aspecto do fenômeno de supressão

condicionada, ao qual já me referi várias vezes, anteriormente.Na Figura 25, Capítulo 7, vimos o que aconteceu quando apresentá­

vamos um estímulo durante cinco minutos, uma vez em cada dez minutos,

e liberávamos um choque inevitável coincidindo com cada térm ino de estímulo. A resposta de cada linha de base ao estímulo pré-choque era tipicamente a que se observa quando dois desempenhos de linha de base eram gerados separadamente. A resposta reforçada com alimento fo i suprimida e a de esquiva fo i facilitada.

Essa demonstração é bastante sofisticada. Não existem problemas decorrentes de diferenças individuais entre-sujeitos, e a aplicação simul­tânea do estímulo, a ambas as linhas de base, elimina as variações temporais do tipo que contribuiu para a instabilidade intra-sujeito. Como no caso da linha de base m últipla sob controle de estímulo, o comporta­mento do nosso sujeito é fracionado em duas amostras. Neste caso, no

entanto, não há um intervalo de tempo que intervenha entre a aplicação da operação experimental a cada amostra. Assim, aqui temos uma outra maneira de obter dois desempenhos de linha de base de um único sujeito, com a vantagem adicional de que ambos os desempenhos ocorrem ao mesmo tempo. Assim, não há oportunidade de que qualquer uma das amostras altere de algum modo a sua composição, embora isso possa acontecer se houver oportunidade. Tais mudanças, logicamente, podem ainda ocorrer entre, e mesmo durante, äs apresentações do estímulo, mas

os fatores que produzem essas variações estarão, pelo menos, agindo sobre ambas as linhas de base ao mesmo tempo.

A Figura 41 mostra o comportamento gerado por uma outra linha de

base com duas respostas concorrentes. Aqui, novamente, cada resposta de pressão à barra, emitida pelo macaco, adiava um choque por 2 0 segundos.

O conjunto das curvas inferiores apresenta o comportamento de esquiva de pressão à barra. A segunda resposta, puxar a corrente, é reforçada ao produzir um período de cinco minutos de time-out no experimento. Durante os períodos de time-out, toda a iluminação no espaço experi­

mental era eliminada e o choque era desligado. Cada período de time-out, portanto, dava ao animal cinco minutos de suspensão do

procedimento de esquiva e, tipicamente, nenhuma resposta de pressão à barra ou de puxar a corrente ocorria nesses intervalos.

Nem todas as respostas de puxar a corrente, no entanto, produziam o time-out. O esquema de reforçamento, aqui, era de razão-fixa 1 0 0 .

Isto é, requeria-se 1 0 0 respostas de puxar a corrente para produzir o time-out. Além disso, mesmo a centésima resposta de puxar a corrente

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3 2 0 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

03(/>OaLO03

ccoo

I----------- Uma Hora ----------1

Figura.41. Registro cumulativo do desempenho num procedimento concorrente de duas respostas. As curvas inferiores mostram o comportamento de pressão à barra, onde cada pressão à barra adiava um choque por 20 segundos. As curvas superiores, num eixo de tempo comum, mostram o comportamento de puxar a corrente, onde cada centésima resposta permitia ao macaco um período de time-out do procedi­

mento de esquiva. Os traços oblíquos em ambos os conjuntos de curvas indicam os períodos de time-out, durante os quais os registros paravam. Os números identi­ficam cada quarto time-out para facilitar a comparação dos dois gráficos.

não produziria o time-out se houvesse uma pressão à barra dentro dos dois segundos precedentes. Para que o time-out oco/resse, nesse caso,

respostas adicionais de puxar a corrente teriam que ser emitidas até que

uma ocorresse pelo menos dois segundos após a últim a pressão à barra.

Esse adiamento de dois segundos fo i incluído no procedimento, a fim de se evitar que a resposta de pressão à barra fosse fortuitam ente reforçada

pelo time-out. (Ver Capítulo 12).O conjunto superior de curvas na Figura 41 fornece um registro de

comportamento de puxar uma corrente. Portanto, a Figura 41 é um registro concorrente das duas respostas e ilustra o desenvolvimento final das linhas de base de esquiva e razão-fixa. As pequenas marcas verticais

indicam os períodos de time-out durante os quais o registrador estava parado. Os dois conjuntos de curvas estão sincronizados ao eixo do tempo e cada quarto time-out está numerado para identificação conveniente

dos pontos temporais correspondentes nos dois registros concorrentes.

Cada uma das linhas de base, como se pode ver, nos dá uma visão m uito semelhante à que vemos quando as contingências de esquiva e razao-fixa são programados separadamente. As diferenças que existem

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SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE ADEQ UADA 321

quanto aos seus desempenhos isolados mostraram-se não somente inte­ressantes em si mesmas, como também serviram para esclarecer os

processos envolvidos no comportamento de esquiva e razão-fixa isolados.

Além disso, em adição ao seu interesse intrínseco como processos comportamentais complexos, as linhas de base concorrentes também

servem como instrumento ú til para investigar outros fenômenos, como os efeitos dos estímulos que precedem choques inevitáveis, os fatores que controlam o reforçamento condicionado e os efeitos comportamentais de drogas. Em cada aplicação de uma nova variável, podemos registrar simultaneamente quaisquer mudanças que ocorrem nas duas linhas de base

concorrentes.Uma segunda classe importante de linhas de base concorrentes é

aquela em que se emprega uma única resposta. Uma exigência básica precisa ser satisfeita se quisermos que uma única resposta produza dois desempenhos de linha de base concorrentes: deve haver alguma maneira de se distinguir os dois desempenhos num único registro.

A maneira mais eficiente de se conseguir tal distinção é empregar linhas de base que são caracterizadas por padrões temporais diferentes. Esta técnica engenhosa, como também muitas das outras já discutidas, fo i introduzida por Ferster e Skinner (34, pp. 709). Usando uma única resposta, eles programaram um esquema de reforçamento alimentar em intervalo-fixo, concorrentemente com uma contingência de esquiva. O padrão característico de comportamento em intervalo-fixo torna relativa-

Figura 42. Um desempenho concorrente bem desenvolvido, quando um esquema de esquiva de choque e de reforçamento em intervalo-fixo com alimento estão em vigor ao mesmo tempo. Os traços indicam os reforçamentos com alimento. (Adaptado de

Ferster e Skinner, 34, p. 714). ,

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322 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

mente fácil identificar os dois componentes da linha de base. Depois de cada reforçamento, o sujeito responde com uma freqüência baixa e

estável adequada à contingência de esquiva, como é mostrada na Figura 42.

(Em geral, como vimos antes, quando o esquema de intervalo-fixo é programado sozinho, o período que segue o reforçamento não contém respostas). Eventualmente ã ondulação típ ica de intervalo-fixo emerge da

freqüência inicial estável de esquiva. O desempenho, assim, separa-se em dois componentes: um controlado pela contingência de esquiva e o outro pela de intetvalo-fixo. É possível, agora, aplicar alguma operação experi­mental, ta l como administração de drogas, e observar seus efeitos em cada componente da linha de base concorrente.

^ CONTROLE SIMULTÂNEO DO COMPORTAMENTO POR UMA MULTIPLICIDADE DE VARIÄVEIS

Na discussão anterior, várias vezes om iti o problema principal que se pode encontrar no uso de linhas de base complexas. Sempre que programamos uma linha de base de elementos m últiplos, estamos delibe­radamente colocando o comportamento sob o controle de uma m u ltip li­cidade de variáveis. Se estivermos interessados no estudo dos efeitos de

alguma operação sobre cada elemento em separado da linha de base, precisaremos nos certificar de que não há nenhuma interação im portante entre as variáveis de ~ontrole. Por exemplo: podemos colocar a esquiva de choque e o comportamento reforçado por alimento sob o controle de

estímulos separados e programar cada um deles como um elemento de uma linha de base múltipla. Mas, até que ponto o controle do estímulo

será adequado? Seriam os dois elementos da linha de base realmente independentes entre si, ou o desempenho de um dependeria, até certo

ponto, das variáveis supostamente relevantes somente para o outro? O problema se torna cada vez mais agudo quando os elementos da linha de base são programados concorrentemente. Neste caso, as variáveis que

controlam cada elemento da linha de base estão realmente presentes ao mesmo tem po. Poderia o seu controle ser realmente encadeado indepen­

dentemente dos diversos aspectos do desempenho do organismo?No estágio atual do nosso conhecimento, as respostas as estas

questões devem ser estritamente empíricas. O ponto im portante é que existem técnicas disponíveis para determinar as respostas em qualquer caso específico (43). Os dados correntes indicam que serão encontradas

interações em alguns casos, mas que não sãó inevitáveis. As condições que contribuem tanto para a independência como para a interação entre

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SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE AD EQ U AD A 323

os componentes de uma linha de base de elementos m últiplos ainda não

foram estabelecidas.Mas o nosso interesse nestas interações não deveria ser lim itado ao

problema de eliminá-las. O controle simultâneo do comportamento por uma multiplicidade de variáveis pode ser um aborrecimento, quando

queremos empregar uma linha de base de elementos m últip los como um instrumento de estudo dos efeitos de alguma operação sobre cada elemento da linha de base de modo independente. Por ou tro lado, o

estudo deliberado deste controle m últip lo é, em si mesmo, um fascinante problema de pesquisa. Ainda mais, é um problema de pesquisa que deve ser enfrentado. O comportamento está caracteristicamente sob o controle m últip lo de variáveis que interagem, e qualquer avaliação sistemática, descritiva ou teórica, deve inclu ir tais interações. Além disso, como sub­p ro d u to deste estudo independente, surgirá a informação que nos perm itirá avaliar a precisão do controle numa determinada linha de base m últip la. As técnicas para se verificar esta precisão são as mesmas usadas para o estudo deliberado dos efeitos da interação.

Como se planejam experimentos para estudar o controle simultâneo do comportamento por meio de uma multiplicidade de variáveis? A primeira tarefa do experimentador é a de determinar se o procedimento adotado realmente estabelece este controle m últip lo.

Suponhamos que o procedimento em questão seja uma linha de base de elementos m últiplos, com cada elemento sob o controle de um estímulo. Uma form a de verificar as interações entre os elementos é

realizar experimentos de controle nos quais cada componente apareça separadamente. Pode ser feita uma comparação entre um elemento deter­

minado quando programado por si mesmo e quando programado como componente de um procedimento m últip lo. Se, por exemplo, o procedi­

mento em questão fo r um esquema m últip lo em intervalo-fixo e razão-

-fixa, poderíamos realizar procedimentos de controle de intervalo-fixo somente e de razão-fixa somente, e observar se diferem isolados ou em combinação um com o outro.

Este controle poderia parecer o mais direto e o mais satisfatório.

Realmente, constitu i somente um primeiro passo e, em si mesmo, está longe de ser adequado. Isso nos ajudará a determinar se os comporta­mentos componentes mantêm suas características gerais quando os esquemas são programados em justaposição temporal sob controle de estímulos separados. Mas ainda podem haver interações quantitativas que podem ser observadas somente através de manipulação experimental deliberada.

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324 TÁTIC AS DA PESQUISA C IEN TÍFIC A

Suponhamos, por exemplo, que façamos uma alteração quantitativa

num parâmetro de um dos componentes de um esquema m últip lo . Vamos mudar o valor da razco-fixa de 50 para 200 respostas por reforço. Uma mudança no desempenho da razão deve ser esperada, mas aqui a questão

im portante é se também haverá uma mudança no comportamento de intervalo-fixo. Se houver, precisamos concluir que nossos dois compo­

nentes não são independentes um do outro e que o comportamento de intervalo é governado tan to pelos intervalos como pelas contingências de

razão. Programar os dois componentes independentemente um do ou tro poderia não te r demonstrado isso.

Então, aqui está nosso segundo método de verificar o controle simultâneo, com mais de uma variável. O primeiro método era a verifi­cação independente; o segundo consistia na manipulação funcional. O método da manipulação funcional não é somente uma técnica para identificar os efeitos da interação; é também o principal meio para a sua

investigação ulterior. Variando-se os parâmetros do controle, podemos

produzir uma descrição quantitativa do espectro de interação. A lém dessa informação básica, que tem valor em si mesma, podemos também receber

um prêmio, na forma de uma série de valores do parâmetro sobre os quais há pouca ou nenhuma interação. Se, para outros propósitos, desejarmos estabelecer uma linha de base livre dos efeitos de interação, poderemos

então fazer uma seleção entre os valores deste parâmetro. Entremos pois nos detalhes melhores do nosso programa m ú ltip lo de intervalo-fixo e

razão-fixa. Os elementos deste programa poderiam ser esquematizados num número de possíveis seqüências. Suponhamos que tenhamos sele­cionado um padrão no qual os dois esquemas, juntamente com seus

estímulos correlacionados, se alternem depois de cada reforço. Aplicando a técnjca da manipulação funcional, sistematicamente aumentamos a exigência da razão-fixa. Adm itam os que, na medida em que aumentamos o tamanho da razão, não somente interrompemos o desempenho da razão, mas também observamos uma produção sistematicamente decrescente durante o componente de intervalo-fixo.

Poderíamos tira r várias conclusões desta observação, mas escolherei uma, arbitrariamente. Fazemos a nós mesmos a pergunta: "que processos poderão ser responsáveis pela interação entre o tamanho da razão e o

desempenho no esquema em intervalo?" No re-exame do nosso procedi­mento, vemos uma possível resposta a esta pergunta. O comportamento em conjunção com o estímulo do intervalo não somente produz alimento de acordo com a exigência do intervalo-fixo; como produz o estím ulo adequado ao esquema de razão. Podemos então imaginar se o comporta-

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SELEÇÃO DE UMA L IN H A DE BASE ADEQ UADA 325

mento de intervalo estaria sendo controlado por ambas as suas conse­qüências, o reforço de alimento e o esquema de razão ambos combinados.

Neste caso, aumentar o tamanho da razão poderia causar a diminuição do

valor de reforço da combinação, e isso poderia talvez contribu ir para a

produção dim inuída em intervalo-fixo.Partimos agora para uma nova série de experimentos. Uma variação

do procedimento original poderia ser a de interpor um período de

time-out entre cada componente. Isto iria proporcionar uma separação entre os esquemas de intervalo e razão, e manteria constante as conse­qüências imediatas do comportamento de intervalo, mesmo enquanto

variássemos o tamanho da razão. Aumentar o tamanho da razão poderia

então não ter nenhum efeito sobre o desempenhe de intervalo.Odtro rumo de ação poderia ser o de alternar os esquemas somente

depois de cada segundo reforço. Teríamos então seqüências alternadas de duas ordens de razão, dois intervalos, etc.. Isto iria manter uma série constante de conseqüências para o primeiro desempenho em intervalo de cada par, enquanto o segundo intervalo do par se supõe que demonstraria os efeitos deletérios de um tamanho de razão crescente. Se quisermos reduzir ainda mais a interação entre a razão e o intervalo, poderíamos

modificar os padrões de alternação, de forma ainda mais drástica, m odifi­cando o esquema, digamos, depois de cada décimo reforço.

Se estas manipulações realmente tiverem o resultado esperado, não somente teremos identificado uma fonte de determinação m últipla do comportamento, mas nos proporcionaremos os meios para eliminar as interações. Esta talvez seja a principal vantagem da manipulação funcional sobre a análise estatística dos efeitos da interação. A técnica estatística —

por exemplo, análise da variação — pode na melhor das hipóteses indicar que as interações estão presentes num determinado conjunto de dados. A

manipulação funcional não só fornece esta informação nos seus maiores detalhes, mas também realiza os objetivos mais avançados do controle

experimental e da compreensão sistemática da interação em questão.

Se fo r impossível eliminar a interação, como acontece na maioria

dos casos, entre as diversas variáveis de controle, o método da manipu­

lação funcional fará com que saibamos disso. Neste caso devemos aprender a conviver com o comportamento conforme o encontramos. Se acharmos

que duas ou mais variáveis se entrelaçam definitivamente no seu controle

do comportamento de um indivíduo, teremos então descoberto um fato da natureza. Nosso único caminho será o de investigar a interação por maio da manipulação funcional, para que a sua magnitude e suas compli­cações se tornem conhecidas numa grande variedade de condições. Se o

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326 TÁTIC AS DA PESQUISA CIENTl'FICA

comportamento sob observação experimental fo r controlado simultanea­

mente por duas ou mais variáveis, nenhuma quantidade de manipulação estatística poderá im obilizar qualquer dos fatores confusos. 0 controle estatístico de causação m últip la é um expediente para manipular o comportamento verbal do experimentador; não tem nenhum efe ito sobre

o comportamento dqsu je ito experimental.

Duas ou mais variaveis podem ser confundidas por natureza, ou podem ser deliberadamente combinadas pelo experimentador cujo inte­resse está na causação m últip la. Neste caso, pode ser desejável o uso de um plano experimental que permita uma avaliação contínua da interação ante uma linha de base na qual cada uma das variáveis componentes atue independentemente. Suponhamos que queiramos investigar o comporta­

mento que está sob o controle simultâneo de uma contingência de esquiva de choque e de um esquema de reforçamento alimentar em intervalo- -variável. Uma forma de realizá-lo seria a de programar concorrentemente cada um desses procedimentos, para que uma determinada resposta desempenhasse as funções simultâneas de evitar o choque e conseguir

alimento. Nosso plano agora é manipular algumas das variáveis que se

revelaram relevantes, quando cada um desses tipos de controle estiver

atuando independentemente do outro . Comecemos pela intensidade do choque. Suponhamos que descobrimos, em geral, que enquanto aumen­

tamos a intensidade do choque, a freqüência de resposta também aumenta.

Então vamos querer saber se a quantidade do aumento está de alguma forma condicionada pela presença do esquema concorrente em intervalo-

-variável. A resposta comportamental às modificações de intensidade de choque seria governada pela interação com o esquema de reforçamento alimentar em intervalo-variável, ou a resposta seria simplesmente a mesma

que seria observada, se a contingência de esquiva fosse programada separadamente?

Pode ser possível responder a esta questão incluindo nosso procedi­mento concorrente como um dos elementos de uma linha de base m últipla

sob o contro le do estímulo. A linha de base m últip la consistiria de três componentes: o esquema em intervalo-variável sozinho, a contingência de esquiva sozinha, e ambos programados concorrentemente. Cada um desses três elementos seria correlacionado com seu próprio estímulo. Poderíamos

então variar a intensidade de choque e observar os seus efeitos sobre cada componente da linha de base.

Uma vez que este experimento, pelo que sei, não fo i realizado, sinto-me à vontade para especular sobre as suas possibilidades. Aumen­tando a intensidade de choque, poderíamos descobrir que a freqüência de

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SELEÇÃO DE UMA LIN H A DE BASE ADEQ UADA 327

resposta aumenta durante o elemento concorrente da linha de base múltipla. Vamos adm itir que a mudança seja várias vezes maior do que o

auménto que também ocorre no componente de esquiva isolado. Isto

certamente indicaria que o efeito da intensidade do choque no elemento concorrente está condicionado por uma interação com o esquema em

intervalo variável que acompanha.Também quereremos examinar o componente intervalo-variável da

linha de base múltipla. Seja o que fo r que observarmos aqui, terá interesse. Se a freqüência de resposta em intervalo-variável em si mesma não mostrar

mudanças como função da intensidade do choque, então estaremos diante

de um desafio. Neste caso, como poderia o esquema concorrente em

intervalo-variável aumentar a sensibilidade do comportamento de esquiva

às mudanças de intensidade de choque?Se, por outro lado, a freqüência de resposta em. intervalo-variável

declinasse enquanto aumentamos a intensidade de choque, então teríamos

uma pista provável quanto à natureza da interação no elemento concor­rente. Este resultado sugeriria que o esquema de intervalo-variável atua como um fre io da freqüência de resposta de esquiva concorrente em intensidades baixas de choqué, mas que a ação de frear é eliminada quando as altas intensidades de choque diminuem a freqüência em intervalo-variável. Poderíamos então verificar em seguida esta noção, de outras maneiras.

O terceiro possível resultado seria um aumento na freqüência de resposta durante o componente em intervalo variável. Neste caso, iríamos atribu ir o aumento de freqüência de resposta no decurso do elemento concorrente a uma soma, ou talvez a uma função mais complexa, das mudanças observadas no decurso das duas componentes independentes

da linha de base.Poderia continuar a sugerir outras possibilidades nesta situação, mas

a esta altura já serão evidentes para o le itor atento. Neste caso, meu

propósito aqui não é o de fornecer ao estudante um problema de tese.

Estou simplesmente sugerindo uma metodologia experimental de ataque ao problema de interação simultânea entre as diversas variáveis. 0 método

depende da disponibilidade e utilização de uma tecnologia comporta­

mental que permite o controle preciso do comportamento do indivíduo.

Além dissOi não é um plano experimental que pretenda fornecer qualquer

resposta fina l. Como o nosso exemplo demonstrou, quase todos os

resultados exigirão investigação posterior. É um procedimento que será considerado adequado pelos experimentadores que desejam ampliar o seu

universo de debates, em vez de ir em busca das conclusões.

Page 329: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

técnicas de controle

O tóp ico do controle experimental não é de forma nenhuma inde­pendente da matéria dos capítulos precedentes, e já me referi a ele em várias ocasiões. As técnicas de controle são relevantes para qualquer discussão geral sobre a avaliação dos dados, tanto quanto para problemas de replicação e projeto experimental. Entretanto, o estudante pode ter notado, tan to neste contexto como em outras leituras, que o termo "co n tro le " nem sempre tem o significado que se imagina. Por exemplo: muitas vezes me referi à obrigação do pesquisador de assegurar um grau de controle experimental, o mais rigoroso possível, sobre o comportamento do indiv íduo que lhe serve de sujeito. Neste sentido, controle experimental se refere à capacidade do investigador em manipular o comportamento de

um sujeito individual, de maneira precisa e fidedigna. O fato de poder fazer sugir e desaparecer um aspecto quantitativamente consistente do

comportamento, pela manipulação de variáveis que podem ser especifi­cadas, demonstra um alto nível de controle. E ser capaz de conduzir

algum aspecto do comportamento, fidedignamente, através de uma série gradual de estados diferentes, representa um nível de controle ainda mais alto.

A tecnologia bem desenvolvida do comportamento, que está im plíc ita nesse uso do termo, também é necessária quaudo o term o é

empregado num segundo significado predominante. Freqüentemente

Page 330: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

TÉCNICAS DE CONTROLE 329

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falamos sobre "experimentos de contro le" ou sobre "observações de

contrô le". Nesse sentido estamos nos referindo às técnicas para deter­

minar se as nossas descobertas são realmente um produto de nossas

manipulações explícitas, ou se derivam da operação de alguns outros

fatores conhecidos, ou mesmo insuspeitos. Se, por exemplo, in trodu­

zirmos uma nova variável e observarmos uma modificação em alguma linha de base em andamento, poderíamos imaginar que a mudança talvez

tivesse mesmo ocorrido naquele ponto, mesmo que não tivéssemos alterado as condições experimentais. Então poderíamos realizar um

experimento de controle para verificar esta possibilidade. Ou poderíamos pensar que talvez uma observação particular resultasse unicamente das nossas manipulações experimentais correntes, ou que talvez a história comportamental do organismo representasse o seu papel. Neste caso iríamos conduzir experimentos de controle com sujeitos que possuíssem hitórias diferentes.

O Controle experimental, então, se refere à nossa capacidade de manipular o comportamento. Experimento de controle, por outro lado, denota uma técnica para verificar nossa compreensão das manipulações que realizamos. Podemos estar certos de que nossos dados resultem de nossas manipulações experimentais explícitas, ou há outros fatores atuando? Que tipos de variáveis Doderão nos decepcionar com conclusões não desejadas?

O estudante deve ter em mente que o controle experimental é tão básico para a nossa compreensão do comportamento, como o é a nossa

manipulação do comportamento. A capacidade de manipulação é o método mais produtivo de se conseguir a compreensão. É por causa dessa

relação que já abordei a maior parte da matéria sobre técnicas de controle,

nos capítulos precedentes. Entretanto, irei inclu ir aqui somente os

problemas da técnica de controle que não foram discutidos dç forma mais

adequada em outros contextos.

ESTAND ARD IZAÇÃO DA TÉCNICA

Com muita freqüência a necessidade de experimentos de controle

não surge, ou não é reconhecida, até que outro pesquisador descubra que não consegue replicar as descobertas originais. Uma vez admitido que tanto o experimento original como a tentativa de replicação foram realizados de maneira competente, a razão da divergência é muitas vezes procurada nas diferenças de técnica. Talvez um investigador use um

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330 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

alimentador em que a vasilha vazia permaneça ao alcance do sujeito entre os reforços, enquanto o ou tro investigador retira a vasilha da vista do sujeito imediatamente depois de cada reforço. Ou um laboratório pode habitualmente empregar um dispositivo de choque de corrente-constante^ enquanto outro prefere um choque de voltagem constante. Pode haver diferenças quanto ao tip o e tamanho dos reforços no tip o de mudança de ação estabelecida na chave de resposta, na duração das sessões experi­mentais, no método de term inar cada sessão (isto é, com base num período

fixo de tempo ou em número fix o de reforços), no tamanho do espaço experimental, e em muitos outros detalhes da técnica experimental.

Um ponto de vista sustenta que estes detalhes técnicos, embora importantes por suposição não são apropriados à maioria dos objetivos da pesquisa comportamental. Sente-se que são específicos para certos procedimentos de laboratroio e que não têm valor em termos de

princípios generalizáveis de comportamento. Os experimentos de controle necessários às variações dos detalhes mais importantes da técnica experi­

mental são considerados uma perda de tem po e trabalho. Uma sugestão para eliminar esta confusão desnecessária é que a técnica experimental de

uma determinada área de pesquisa, seja estandardizada. Todos os pesqui­

sadores da área deveriam empregar um conjunto de convenções sobre as quais estivessem de acordo.

Uma base sugerida para se estandardizar qualquer aspecto da

técnica, é a de que a técnica forneça o nível mais alto possível de controle comportamental. A chave de resposta, por exemplo, deveria ser caracteri­zada por um nível de sensibilidade, conformação física, colocação no espaço experimental que efetivamente minimizasse o comportamento concorrente, que de outra form a interferiria na resposta registrada. Dever-

-se-ia adotar um reforçamento alimentar padronizado, com uma tal compo­

sição, que os animais de uma determinada espécie pudessem ser mantidos com boa saúde somente com os reforços que pudessem obter em cada sessão experimental. Tal estandardização perm itiria um rigoroso controle do peso uniforme de um laboratório para outro. Poderia também

minim izar qualquer variabilidade que pudesse surgir do reforçamento do comportamento não especificado no ambiente do alojamento, entre as sessões experimentais.

Há m uito o que dizer sobre a estandardização da técnica experi­

mental. O estudante poderia considerar cuidadosamente a possibilidade de estandardização antes de iniciar o projeto de aparelhos e procedimentos

diferentes. Assim, provavelmente economizará para si e para os outros uma considerável soma de trabalho, que de outra forma seria gasta nos

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!TÉCNICAS DE CONTROLE 331

experimentos de controle planejados para reconciliar as diferenças entre os

seus dados e os que foram recolhidos pelos outros em pesquisas relacio­

nadas. Deveria prestar uma atenção especial às técnicas que são comuns a

muitos problemas experimentais. Se necessário, deveria visitar ou se

corresponder com investigadores, cujo trabalho tenha demonstrado sua

proficiência técnica e obter deles as especificações necessárias à estan-

dardizaçãp.As técnicas experimentais não estandardizadas, a longo prazo, irão

retardar o progresso de qualquer ciência experimental. Pode haver pouca continuidade no desenvolvimento de cada experimentador trabalhar no vazio, governado somente por sua própria engenhosidade e lim itado pelo suprimento possível de elásticos, clipes de papel e outros pedaços variados de apetrechos deixados no almoxarifado do laboratório há m uito tempo. A psicologia atualmente está sofrendo ue uma espécie de caos, que é atestada pela quantia considerável do espaço dos jornais que é dedicado a controvérsias, experimentos de controle, minúcias de procedimento, que são uma conseqüência direta de técnicas não estandardizadas.

Não obstante, existem alguns argumentos válidos contra a estan­dardização. Teremos informações suficientes sobre a eficiência relativa das possíveis variações de qualquer técnica experimental? Tem havido pouca exploração sistemática destas variações. Em muitos casos, variações importantes da técnica têm sido adotadas por razões difíceis de serem especificadas. Simplesmente fazem parte do conhecimento do laboratório, um composto de observações incompletas, palpites e acidentes históricos.

Assim, um laboratório emprega uma chave de resposta que é tão sensível que pode quase ser movida por um sopro, enquanto que em outro labora: tório , todas as chaves são feitas para exigir, pelo menos uma deslocação de

meia polegada para poder fazer o contacto. A o estabelecer uma linha de

base em intervalo-fixo, um grupo de pesquisadores sincroniza cada

intervalo sucessivo a partir de uma resposta reforçada enquanto outro

grupo sincroniza o intervalo somente por meio de um relógio, sem refe­

rência com o comportamento do sujeito. Aqueles que argumentam contra

a estandardização da técnica alegam que não sabemos quais dessas ou outras variações semelhantes produzem o controle comoprtamental

mais eficiente. Alegam que a estandardização seria por isso prema­

tura.

E assim, como fica o estudante? Ansioso por inieiar uma investi­gação pela qual espera aprender algo sobre o comportamento, teme desviar-se do seu trabalho nos problemas técnicos. A resposta deve estar numa forma de compromisso. A menos que esteja trabalhando numa área

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332 TÁTIC AS DA PESQUISA CIENTl'FICA

em que não haja precedentes, seria to lo se não padronizasse suas técnicas

segundo aquelas que já demonstraram ser mais bem sucedidas. Por outro lado, a experiência pessoal com uma variedade de variações técnicas é um método testado pelo tempo para dar ao investigador a maturidade de julgamento que é necessária para a avaliação adequada dos seus dados e dos dados alheios. Entretanto, cada estudante deveria dedicar uma parte do seu tempo ao aprendizado da técnica, antes de se lançar numa carreira de pesquisa. Se os seus professores não providenciarem explicitamente esse aprendizado, deveria ele mesmo incumbir-se disso. O período de aprendi­zado não somente ajudaria a fornecer ao estudante algumas noções sobre até que ponto poderá estender a estandardização da técnica mas também a deixá-lo numa atitude permanente de ceticismo quanto a questões de

técnica. Isto é, deverá reconhecer explicitamente que alguns aspectos das suas próprias técnicas e das que são usadas pelos outros estão firmemente

baseados na evidência ou em princípios sólidos relativamente gerais, mas que outros são simplesmente derivados do saber do laboratório. Os primeiros permanecerão estandardizados; os últimos provavelmente terão

desenvolvimento posterior. O compromisso, então, é o de estandardizar o mais possível a técnica a fim de manter a continuidade experimental

de um campo, mas de estar preparado para o progresso técnico quando novas evidências o promoverem.

Uma segunda objeção à estandardização técnica pode também ser

revolvida pela aplicação da prudência e de uma atitude de ceticismo. As

variações da técnica freqüentemente produzem dados que são importantes num contexto sistemático. A padronização técnica poderia efetivamente

impedir, ou pelo menos adiar, a aquisição destes dados.

Por exemplo, pela aplicação do que agora reconheço ser uma técnica pobre de reforçamento, fu i capaz de observar, pela primeira vez, o envolvimento fo rtu ito de uma resposta reforçada pelo alimento numa

.contingência de esquiva. Esta observação ocorria no contexto de um procedimento de duas respostas concorrentes, com macacos como sujeitos. Uma resposta era mantida pelo reforçamento de suco de laranja adoçado, ao alcance dos sujeitos num esquema de intervalo-variável de quatro minutos. Uma segunda resposta, disponível simultaneamente, tinha a função de evitar o choque.

As condições que mantinham a resposta reforçada por alimento deram origem a um controle fráco. Isso fo i demonstrado por uma freqüência baixa e irregular de respostas reforçadas por alimento sempre que se extinguia um comportamento de esquiva. Mas cada vez que fosse reintroduzida uma contingência de esquiva de choque, exercendo uma

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TÉCNICAS DE CONTROLE 333

forma de controle relativamente fo rte sobre a segunda resposta, o

comportamento reforçado por alimento também crescia em freqüência

e regularidade.Investigações posteriores revelaram que a resposta alimentar havia

entrado fortuitam ente na contingência de esquiva e, irrealisticamente, do ponto de vista do observador, havia se tornado uma componente do

comportamento de esquiva (veja pp. 221-226). Um trabalho adicional

indicava que, se eu originalmente tivesse empregado um reforçador mais eficiente do que o suco de laranja, e tivesse usado um esquema que

tornasse os reforços disponíveis com mais freqüência do que uma vez em

cada quatro minutos, esse fenômeno jamais teria sido observado. Em vez disso, a resposta de esquiva ter-se-ia tornado um componente de comporta­

mento reforçado por alimento, um fenômeno de grande interesse, mas

diferente apesar de tudo, de um que já tivesse sido observado em vários laboratórios.

Padronizar uma técnica, com base unicamente num alto grau de

controle experimental, pode, então, automaticamente im pedir a obser­vação de fenômenos comportamentais importantes. As variáveis que são imobilizadas pela especificação técnica podem tornar-se parâmetros significativos de um processo comportamental. A motivação fraca, por exemplo, é conhecida por perm itir somente controle experimental fraco e por isso é evitada pela maioria dos experimentadores. Mas o comporta­mento dos sujeitos com motivação baixa pode revelar fenômenos novos e pode exigir mudanças radicais em nossa avaliação sistemática do compor­tamento.

A solução para esse problema, se é que existe uma, não repousa no abandono da estandardização da técnica. Em vez disso envolverá a adoção de uma base mais flexível para estandardizar a técnica. 0 rigor do controle experimental ainda será o critério principal, mas o nível de controle deve ser avaliado quanto ao objetivo de um determinado experimento. Se alguém desejar investigar fenômenos associados a controle comportamental fraco, não há outra escolha que não seja a de partir

para a técnica-padrão. Se então fo r descoberta uma nova área de problemas

de pesquisa, a técnica dentro desta área irá desenovlver gradualmente a sua própria padronização. Mesmo que o partir de uma prática padrão não produza novos resultados, a tentativa fornecerá evidência direta a favor ou contra a desejabilidade de se estandardizar este aspecto particular da

técnica. Então saberemos se uma variável em particular é de interesse geral ou somente técnico. Mas deve-se sempre estar preparado para

descobrir que um aspecto congelado e anteriormente adm itido da

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334 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

técnica controla um número de fenômenos comportamentais altamente informativos e excitantes.

Fatores como a privação, ou saciedade, grandeza e tipo de reforço,

sensibilidade da chave, tamanho do espaço experimental, etc., estão habitualmente sujeitos a técnicas explícitas de controle. Essas variáveis são

as regiões lim ítrofes do nosso conhecimento empírico. Há evidência suficiente, publicada ou não, para sugerir não somente que exigem a aplicação de técnicas de controle, mas também que recompensarão por si mesmas á investigação intensiva. Claramente é esta investigação que revelará as técnicas de controle mais eficientes e delineará as situações específicas nas quais as técnicas de controle são necessárias. Enquanto isso, será de algum valor simplesmente apontar algumas das variáveis lim ítro fes e indicar as exigências virtuais de controle.

REFORÇAMENTO AD VEN TÍC IO

Apesar das várias tentativas de derivação racional, o princ íp io do reforçamento permanece uma afirmação empírica. A observação experi­mental básica é que há eventos que, dependendo de uma resposta, aumentarão a probabilidade de ocorrência desta resposta. A identificação das condições precisas em que tais acontecimentos funcionarão como reforçadores tem sido uma das preocupações principais dos psicólogos experimentais durante os últim os vinte e cinco anos ou mais.

Para o nosso propósito atual podemos nos concentrar num aspecto geralmente selecionado da afirmação empírica. Note que não há nenhuma referência nem à intenção do sujeito, nem à intenção do experimentador, ainda que seja mais importante. Sempre que ocorrer um tal caso, em relação adequada ao comportamento, exercerá seu efeito de reforço, independentemente do fa to do investigador ter ou oão inclu ído este efeito no seu plano experimental e de ter ou não registrado o comporta­mento que fo i assim afetado.

Uma demonstração anterior da ação automática dos casos de reforço fo i fornecida por F. Skinner (82). Devido talvez ao t í tu lo curioso, "Superstição do Pom bo", as implicações mundanas do trabalho

de Skinner para as técnicas de controle experimental não foram imediata­mente reconhecidas pela maioria dos investigadores. A demonstração era simples. Pombos famintos eram colocados num espaço experimental e

podiam ter acesso periodicamente aos grãos durante alguns segundos. Não havia a exigência de nenhum comportamento especial para que os grãos

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TÉCNICAS DE CONTROLE 335

fossem obtidos. Depois de deixar os pombos nessa situação por toda uma

noite, Skinner voltou pela manhã para encontrá-los desempenhando padrões estereotipados de comportamento bem definidos.

Uma ave estava condicionada a dar voltas na gaiola, no sentido dos ponteiros de relógio, fazendo duas ou três voltas entre os reforços. Outra enfiava a cabeça repetidamente num dos cantos superiores da gaiola. Uma terceira desenvolveu uma resposta de movimentar a

cabeça, como se a estivessem colocando sob uma barra invisível e levantando-a continuamente. Duas aves desenvolveram um movi­mento de pêndulo com a cabeça e corpo, no qual a cabeça era esten­dida para a frente e balançada da direita para a esquerda com um movimento brusco seguido por um retorno de certa forma mais lento. O corpo geralmente seguia o movimento e alguns passos precisavam ser dados quando esse movimento era amplo. Outra ave fo i condicionada a fazer movimentos incompletos de bicar ou esfregar dirigidos para o chão mas sem o tocar. . .

O processo de condicionamento geralmente é óbvio. O pombo está dando alguma resposta por acaso quando aparece o depósito alimentador; o resultado é que ele tende a repetir a resposta. Se o intervalo antes da próxima reapresentação não fo r tão grande que ocorra a extinção, é provável que haja uma segunda "contingência". Ela fortalece a resposta até que o reforço posterior e subseqüente se torne mais provável (82, p. 168).

Nos últim os anos, observações estreitamente ligadas às que foram

descritas por Skinner tornaram-se cada vez mais freqüentes. 0 reforça­

mento que fortalece o comportamento sem que haja nenhuma relação

causai de fa to entre ambos, tem sido denominado "reforçamento adventício". O fenômeno tem sido considerado útil para ajudar a explicar

formas aparentemente diversas de comportamento, como os distúrbios

neuróticos ou psicóticos e a construção científica da teoria. Ambas estas

formas de atividade são freqüentemente caracterizadas pelas correlações

adventícias entre o comportamento e as ocorrências de reforço subse­qüente. Embora esta linha de pesquisa possa parecer fascinante, nossa preocupação atual é com as implicações do reforçamento adventício nas técnicas de controle. Há um número de situações específicas experimentais em que o reforçamento adventício demonstrou representar um papel que, se não controlado, poderá distorcer enormemente nossa avaliação dos

dados resultantes.

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336 TÁTIC AS DA PESQUISA CIENTl'FICA

Experimentos de discriminação. Para se colocar uma amostra de

comportamento sob o controle do estímulo muitas vezes é desejável, não

só por razões técnicas, como numa linha de base de elementos múltiplos, como também para se investigar os processos envolvidos nestes controles

de estímulo. Podemos estar preocupados com a especificidade do controle do estím ulo, como na generalização dos experimentos; com o curso do desenvolvimento do controle do estímulo, como nos experimentos de aprendizagem de discriminação; com as relações entre as dimensões específicas do estímulo e a capacidade sensorial, como em experimentos

psicofísicos; com as concomitantes psicológicas do controle do estímulo quando reveladas, por exemplo, pelo registro eletrofisiológico concorrente. Todos estes tipos de experimentos exigem a suposição de que o estím ulo em questão exerce de fato algum grau de controle sobre o comportamento. Mas não é suficiente simplesmente se fazer a suposição; o fato do controle e o grau do controle precisam ser demonstrados. Isto pode se demonstrar impossível se não se reconhecer que os estímulos discrim i­nativos também exercem funções condicionadas aversivas ou de reforço e

que estas funções podem agir, fortuitam ente, para obscurecer o controle discrim inativo que é de maior interesse.

Uma simples ilustração esclareceria esse ponto, que é a demonstração

mais inequívoca de que um determinado estímulo controla a emissão de uma amostra de comportamento específico. É o estabelecimento de uma

linha de base em que o comportamento desejado sempre aparece toda vez que o estím ulo esteja presente, e raramente ocorra na ausência do estím ulo

em questão. Todo estudante que teve um curso elementar de psicoJogia experimental já realizou essa demonstração ou aprendeu como fazê-la.

Aqueles que realizaram o experimento como parte da sua tarefa de

laboratório podem, no entanto, se fizerem uma recordação, lembrar-se sem dúvida alguma de um número de casos nos quais os resultados não eram

bem os que tinham sido antecipados. Alguns dos seus sujeitos, embora reforçados somente diante de um certo estímulo, nunca deixaram de responder na ausência dèsse estímulo. A discriminação nunca "apareceu".

Se o assistente graduado que dirigia a seção do laboratório estava em cena, provavelmente tom ou os dados negativos como uma oportunidade de demonstrar a ação do reforçamento condicionado adventício. O estímulo discrim inativo nestes experimentos é geralmente apresentado em ocasiões arbitrárias, sem referência com o comportamento do sujeito em andamento. Este esquema arbitrário da apresentação do estím ulo permite uma chance ocasional de correlação entre a resposta registrada e o in íc io do estímulo.

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TÉCNICAS DE CONTROLE 337

Observe-o do ponto de vista do sujeito. Suponhamos que esteja apenas começando a aprender que uma resposta em particular é reforçada somente na presença de um certo estímulo quando, repentinamente, o próprio estímulo aparece logo depois que em itiu uma dessas respostas. Ele

está essencialmente na mesma posição que os pombos supersticiosos de

Skinner. O seu comportamento produziu um estím ulo em cuja presença o

reforço é iminente. O fa to de que o estímulo teria aparecido de qualquer maneira, mesmo sem a resposta, não tem conseqüências. A função do

reforço condicionado do estímulo é independente das iijtenções do

experimentador.O resultado final é um aumento da probabilidade de que a resposta

ocorra novamente durante o próxim o período sem estímulo, e um

aumento correspondente da probabilidade de que a resposta "p roduzirá" novamente o estímulo. O processo caminha em aspirai, e se o propósito

original era o de demonstrar o comportamento sob controle do estímulo, o experimento passa a ser um fracasso. O comportamento pode ocorrer com a mesma freqüência, tanto na ausência como na presença do estímulo.

Se o experimentador não estiver alerta à possibilidade do reforçamento adventício, poderá concluir que o sujeito seja surdo, ou cego, ou que tenha falta de capacidade discriminadora, e poderá desfazer-se dos dados.

O reforçamento adventício por um estím ulo discrim inativo não é nem uma forma transitória e nem fraca de controle do comporta­mento (57). O comportamento deve ser mantido adventiciamente durante um período de tempo indeterminado, mesmo por um reforçador condi­cionado. Além disso, o comportamento assim mantido pode exibir todas as características normalmente observadas quando a contingência é real. Se, por exemplo, em nossa demonstração experimental, o período sem estímulo tiver uma duração fixa, o comportamento reforçado fo rtu ita ­

mente estará de acordo com um padrão de intervalo-fixo. A Figura 43 ilustra um exemplo. O procedimento aqui era o de esquema m últip lo, com

períodos alternados de extinção (time-out) e reforçamento em razão-fixa.

Depois de cada período de extinção de 15 minutos, um novo estímulo aparecia. Na presença desse estímulo eram liberados três reforços, cada um deles depois de uma seqüência de 50 respostas.

Observe as curvaturas do intervalo-fixo durante os períodos de extinção de 15 minutos. O comportamento durante os períodos de extinção não só está sendo reforçado fortuitam ente pelo estímulo correlacionado com o reforçamento em razão-fixa, mas também está sendo mantido de maneira consistente pela periodicidade do estímulo. Tudo isso

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338 TÁTIC AS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

Figura 43. Segmentos do desempenho de um rato num esquema múltiplo em que p e río d o s de 15 minutos de time-out se alternavam com um esquema de reforça­mento em razão-fixa. As linhas horizontais separam os registros do comportamento em time-out dos registros de comportamento em razão-fixa. (Dados generosamente fornecidos por R. Hill.)

apesar do fato de que as respostas durante o período de extinção não têm,

na realidade, nenhuma influência sobre a apresentação do estím ulo emrazão-fixa.

Este exemplo do poder do reforçamento adventício nos dá uma pista para uma técnica de controle que é aplicável nos experimentos de

discriminação. Ao demonstrar o controle discrim inativo exercido por um estímulo, não é necessário que não haja resposta na ausência daquele estímulo. Se as duas funções do estím ulo, a de discriminação e a de

reforçamento, derem origem a dois padrões temporais distintos de comportamento, teremos atingido o nosso objetivo, e a Figura 43 certamente é uma demonstração adequada do controle do estímulo.

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TÉCNICAS DE CONTROLE 339

Ao se planejar um experimento de discriminação, então, seria

prudente organizar tanto o esquema de reforçamento principal como o

esquema de apresentação do estímulo de tal forma que, mesmo que ocorra uma contingência adventícia, os padrões de comporta­

mento divergirão na presença e na ausência do estímulo. Se, por exemplo,

tivermos que usar um esquema em intervalo-variável na presença do estímulo, e também variar casualmente a duração dos períodos de extinção, poderíamos chegar a padrões de comportamento indistinguíveis

nas duas condições de estímulo.Um método relatado para se lidar com esse problema é programar

uma contingência explícita entre o comportamento e a apresentação do estímulo correlacionado com o reforçamento positivo. Em vez de acumular reforçamento adventício para dar origem a um padrão de comportamento distintivo na ausência do estímulo, pode-se u tilizar a técnica em cadeia desenvolvida por Ferster e Skinner. Essa técnica é o nosso instrumento mais poderoso para demonstrar e investigar o reforçamento condicionado. É também um método excelente para demonstrar o controle do estímulo. O reforçamento principal está disponível somente na presença de um estímulo determinado, mas a apresentação deste estímulo discriminador também depende do comportamento do sujeito (reforçamento condicio­nado). Os esquemas do reforçamento principal e condicionado podem d iferir suficientemente para produzir padrões de comportamento d ife­rentes, demonstrando assim o controle do estímulo. Os dados da Figura 43

bem poderiam ter sido obtidos dessa maneira direta em vez de depender de uma contingência adventícia.

Uma terceira técnica de controle do reforçamento adventício nos

experimentos de discriminação é adequada quando, por uma ou outra

razão, exigimos uma resposta zero na presença do estím ulo discriminador. Essa técnica a tribuída na sua forma original a Page, faz com que o

contingente de estím ulo apareça na ausência da resposta (94). Podemos

programar o estím ulo para aparecer, digamos, depois de 15 minutos da

extinção, mas somente se não houver resposta durante o m inuto que precedeu a apresentação programada. Cada resposta durante o período

crítico de 60 segundos serve somente para adiar o começo do estímulo até que o critério requerido de ausência de resposta seja atingido.

Com essa técnica, o estímulo pode nunca aparecer antes do que 60 segundos depois de uma resposta, e a possibilidade de reforçamento adventício é eliminada. Entretanto, o método não é em princípio diferente do procedimento em cadeia. Ambos os casos tiram proveito da função de reforçamento condicionado do estímulo discriminativo. Um

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340 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

procedimento usa o estím ulo para reforçar a resposta registrada; o outro usa o estímulo para reforçar qualquer comportamento exceto a resposta registrada. Nenhum reforçamento funcionará se o estímulo não fosse um reforçador condicionado. Por outro lado, nem seria necessário se este fosse o caso.

Todas as técnicas de controle acima, então, têm em comum a

característica de que o comportamento na ausência do estímulo d iscrim i­nativo ainda está sob o controle de uma contingência de reforçamento,

deliberada ou adventícia. Para alguns propósitos, este controle pode ser

indesejável. Com uma linha de base comportamental como a da Figura 43,

por exemplo, poderíamos estar interessados no efeito de um choque sobre

o controle discrim inativo exercido pelo estímulo. Ou poderíamos querer

verificar o efeito de uma droga sobre este controle. Poder-se-ia considerar que a administração de um choque ou de uma droga alterasse a curvatura e

fizesse o comportamento pré-estímulo parecer-se com o componente em razão-fixa da linha de base. Podemos agora dizer que nossas operações

experimentais eliminaram o controle discrim inativo do estímulo? Mais vagamente, o choque ou a droga, impedirão o sujeito de revelar a diferença

entre a presença e a ausência do estímulo? Esta seria uma conclusão muito apressada. O efeito do choque ou da droga poderiam simplesmente ter sido específicos para as curvaturas do intervalo-fixo. Talvez o mesmo

resultado teria sido observado se um esquema em intervalo-fixo tivesse sido programado independentemente, sem o controle do estímulo discri­minativo. Teríamos então que realizar uma verificação experimental dessa

possibilidade, mesmo que a curvatura original tivesse sido originada e

mantida pelo reforçamento adventício.

Entretanto, pode ser que se torne impossível realizar esta verificação

experimental. Há uma diferença importante entre qualquer contingência de reforçamento programada explicitamente e sua contrapartida adven­

tícia. Esta diferença faz surgir o que poderia ser um problema de controle

insolúvel e proporciona razões suficientes, talvez, para plajenar experi­mentos para minim izar o controle adventício. Diz respeito à reversibili­dade potencial de uma mudança produzida experimentalmente na linha de base do comportamento.

Se o comportamento da linha de base for mantido por uma contingência de reforçamento explicitamente programada, uma operação experimental como a administração da droga pode alterar o grau de controle exercido pela contingência. Mas quando os efeitos da droga se esgotarem, pode-se esperar que a contingência de reforçamento, desde que ainda esteja sendo programada, assuma novamente o controle. Supo­

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TÉCNICAS DE CONTROLE 341

nhamos, por exemplo, que demos origem a uma linha de base aparente­

mente semelhante à da Figura 43, mas com o componente intervalo- -variável deliberadamente estebelecido. Isto é, o estím ulo em razão-fixa realmente aparece somente depois da primeira resposta que segue o

decorrer de um intervalo-fixo de 15 minutos. Uma droga agora pode fazer com que o comportamento em intervalo-fixo quase desapareça, aumen­

tando assim a duração dos intervalos-fixos. Mas a contingência ainda está

presente. Ainda se exige uma resposta para produzir o estímulo em

razão-fixa. Enquanto a droga desaparece e a contingência novamente assume o controle, podemos esperar uma volta do padrão normal de

intervalo-fixo.Pode ser que essa volta nunca se realize se a contingência de

intervalo-fixo fo r adventícia, e não programada deliberadamente. Mesmo que a droga adiasse a resposta além dos 15 minutos do período de ausência de estímulo, o estímulo em razão-fixa surgiria de qualquer forma desde que nunca se tivesse exigido uma resposta para produzi-lo. O apare­cimento do estímulo, não relacionado com uma resposta registrada, pode

reforçar ou tro comportamento, e o novo padrão pode persistir. O comportamento em intervalo reforçado fortuitam ente pode jamais voltar durante os períodos sem estímulo. Este é o caso em que uma mudança transitória do comportamento permite a entrada de novas variáveis no quadro impedindo assim a volta ao desempenho original da linha de base.

As chances de tal efeito irreversível são grandes quando o compor­tamento da linha de base é governado por fatores que não estão sob o controle experimental deliberado. As contingências fortu itas estão nesta classe de fatores de controle. Se estas contingências estiverem atuando em qualquer experimento dado, é provável que o investigador sinta que o comportamento dos seus sujeitos é fantasmagórico, indo e vindo segundo a vontade de forças invisíveis, frustrando todas as tentativas de cercá-lo com o material sólido da ciência.

Experimentos de respostas múltiplas. Os que trabalham em labora­tó rio têm debatido exaustivamente, em discussões amigáveis (às vezes) com

os pesquisadores clínicos, que o estudo do comportamento complexo será

mais proveitoso a longo prazo se primeiramente tivermos a compreensão sitemática dos fenômenos mais simples e a competência técnica para lidar

com eles. E realmente acontece que, na verdade, na medida em que nossa sofisticação sistemática e técnica aumentam, cada vez mais os processos

comportamentais complexos ficam sob o nosso controle. Mas não se deve

concluir que o estudo dos processos complexos então se torne uma simples

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3 4 2 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

questão de combinação aditiva. Embora se ache que princípios simples

estejam operando, e que a extensão de técnicas simples facilitarão a

investigação, o estudo dos fenômenos complexos inevitavelmente coloca novos problemas, tanto sistemáticos como técnicos.

Uma área de complexidade que agora recebe uma atenção experi­

mental considerável é a situação em que investigamos duas ou mais

formas de comportamento simultaneamente. Isto é a linha de base de elementos m últip los concorrentes que discutimos no capítu lo anterior.

Estabelecemos uma contingência separada de reforço para cada resposta,

e programamos essas contingências concorrentemente. As linhas de base concorrente fornecem oportunidades únicas para a ocorrência adventícia de contingências não planejadas e muitas vezes indesejadas. A simples adição de uma resposta a um arranjo experimental de outra forma relativamente bem explorado pode introduzir uma ordem de complexidade inteiramente nova. Quanto mais cedo colocarmos sob controle experi­mental simultâneo mais do que uma resposta introduzirmos a possibilidade de interações não controladas, medidas por contingências adventícias de reforçamento.

Consideremos primeiramente os casos mais simples. M uito se sabe sobre os parâmetros envolvidos no controle experimental por meio do esquema de reforçamento em intervalo-variável. Geralmente é considerado garantido empregar este esquema para gerar linhas de base de com porta­mento estáveis para o estudo de outras variaveis. O que acontece quando

aplicamos este esquema bem conhecido a duas respostas concorrente­mente? As conseqüências deste arranjo foram mais concisamente descritas por Skinner, com referência a um experimento no qual pombos foram

ocasionalmente reforçados bicando em qualquer uma das duas chaves

disponíveis. O reforçamento em cada chave era programado por esquemas em intervalo-variável iguais e independentes, isto é, o reforçamento numa

chave não alterava a probabilidade de reforçamento na outra chave. 0 que

segue é tirado da discussão de Skinner sobre esse experimento.

Reforçando-se ocasionalmente uma resposta numa chave ou na outra sem favorecer qualquer uma delas, obtemos freqüências iguais de

resposta nas duas chaves. O comportamento aproxima-se de uma simples alternação de uma chave para outra. Isto segue a regra de que as tendências para responder eventualmente correspondem às proba­bilidades de reforço. Dado um sistema em que uma chave ou outra é ocasionalmente ligada com o alimentador por um relógio externo, se a chave da direita acaba de ser atingida, a probabilidade de reforça-

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TÉCNICAS DE CONTROLE 343

mento por meio da chave esquerda é maior do que por meio da

direita, desde que um intervalo de tempo maior tenha decorridodurante o qual o relógio pode ter fechado o circuito da chaveesquerda. Mas o comportamento da ave não corresponde a esta probabilidade meramente por respeito à matemática. (Os grifos são meus). O resultado específico desta contingência de reforçamento é que o mudar-para-a-outra-chave-e-bicar é mais freqüentemente refor­çado que bicar-na-mesma-chave-outra-vez. (83, p. 211).

Skinner continua para demonstrar que quando as duas respostas são topograficamente as mesmas, precisamos levar em conta o comportamento

adicional, aquele que está envolvido no mudar de uma chave para outra. Embora reforçássemos deliberadamente somente o bicar a chave, acontingência realmente dá origem a uma cadeia de respostas: bicar a

chave, seguida de mudança, seguida de bicar a chave. O term o médio desta cadeia, a mudança, é um parceiro adventício e não registrado, mas

poderoso, na contingência de reforço.Trocar ou mudar de comportamento é um componente inerente de

qualquer situação de resposta m últipla na qual o sujeito não se lim ita simplesmente a uma das respostas disponíveis. Na medida em que uma das respostas programadas fo r emitida, mudar de comportamento é um acompanhamento necessário. Depois da análise de Skinner deveríamos ser

capazes de eliminar a mudança programando os dois esquemas em intervalo-variável de forma não independente. Suponhamos que usemos uma única fita de programação para as duas chaves. Neste caso, uma mudança de uma chave para outra não terá mais probabilidade de ser reforçada do que uma repetição na mesma chave. Este arranjo elimina de fato a troca. Infelizmente, também destrói a linha de base concorrente, porque o sujeito passa a usar predominantemente somente uma chave.

É impossível se eliminar o comportamento de mudança sem interromper a linha de base concorrente. A única alternativa, se estiver tentando minim izar o controle exercido pelo comportamento não progra­

mado de troca, e de alguma forma impedir que ele participe da contin­

gência de reforço. Um método para realizar isso é interpor uma contin­gência de adiamento tal, que uma resposta numa chave não possa ser

reforçada, se tiver havido uma resposta na outra chave dentro dos cinco segundos precedentes. Pelo menos cinco segundos devem decorrer entre

uma resposta numa chave e o reforçamento na outra chave. Este procedimento algumas vezes funciona, mas as condições em que é bem sucedido ainda não estão completamente compreendidas. Freqüentemente

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344 TÁTICAS DA PESQUISA C IE N T IF IC A

' citn Dorque o adiamento, tam bém , pode tornar-se não realiza o seu propo 'contmgêncja adventícia de reforçamento.

um componente integra ajustamento com portam ental atravésMá duas especies p n * I » ^ * caòei a de a m s n t 0

dos „u.is o .a c e n to os efeito! de um

seqüência: "resposta na chave A. segmd, Bela resposta de

mudança, “ «U' ^ ' “d' 3 d W 'imediatamente segui, uma respostacha» A. a « & - .

“ segundos an.es que . . respondet ch„ e B

sujeito po e en F n ts0 se o esquema não fornecer o reforçamento,durante c i n c o segundos^Ern ^ c i n c 0 segundos. Findley fo i capaz

pode mudar de novo p i t 0 bem registrando as duas chavesde observar este tip o de ajustameniu ^em registros cumulativos separados, como

na menos

Uma vez que o eixo do t£>fnpo corre continuamente, o gráfico de uma chave também incluíâ o tempo empregado para responder em

outra chave. A Figura 44 mostra passo a passo os registros resul­tantes para as duas aves. Neste tipo de registro, mudanças de uma

chave para outra não eram difíceis de inferir, uma vez que as aves trabalhavam durante um período bem definido de tempo em cada

chave como uma conseqüência da contingência de adiamento. Mas quando a contingência fo i subseqüentemente removida, as fre-

qüencias de mudança aproximadamente dobraram e conseqüente­

mente removeram m uito do caráter de "passo a passo" de cada registro. (36, p. 124).

O sequndo tip o de ajustamento envolve pausas, mais do queU segunao hu adiamento. O sujeito pode responder na

respostas durante o peri imediatamente para a chave B, podech„e A , e em,o, em «z demudar ^ ^ ^ ^

comportamento m antido em cada chave. O padrão consistirá d . mais de u m . £ « " £ « •

•-J j resoosta em ambas as chaves e entao umaseguida de um período sem resyu . „ . , ..__ ,. _ nitpmada A contingência de adiamento apareceraumca resposta na chave aiternaaa. n w s f , K

como um período sem resposta em vez de um período de resposta

mami O utros padrões também se podem desenvolver mas serão essencial­mente a combinação das duas que descrevi. 0 ponto principal é que o

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TÉCNICAS DE CONTROLE 345

Figura 44. Registros cumulativos de dois pombos num esquema de reforçamento em intervalo-variável de duas respostas concorrentes. As aves não podiam produzir um reforçamento numa chave, a não ser que pelo menos tivessem decorrido cinco segundos desde a resposta na outra chave. Entretanto, as respostas tendiam a ocorrer em explosões, com pausas indicando uma mudança para a outra chave. (Findley, 36).

tipo de ajustamento não está sob o controle do experimento. Dependerá da correlação temporal fo rtu ita entre o comportamento de mudança e o

refroçamento subseqüente.Comportamento de mudar ou trocar é componente essencial de

qualquer experimento de resposta múltipla. Elim inar o reforçamento para

a mudança será equivalente a reduzir nossa situação complexa para o caso

de resposta única. Em vez de eliminar o comportamento de mudança, nossa solução deve obter o controle experimental sobre as fontes de

reforçamento. Então poderemos contar com isso nas nossas sistemati­zações, e deixar que tenha um papel mais ou menos importante, como quisermos, em qualquer experimento particular. Recomendo aos estu­dantes as pesquisas de Findley sobre o comportamento de mudar. Elas

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346 TÁTICAS D A PESQUISA CIENTI'FICA

estão entre os melhores exemplos de pesquisa que tanto produzem novas

técnicas de controle como novos fenômenos comportamentais excitantes que têm interesse próprio. (36).

A té agora tenho discutido problemas de reforçamento adventício em situações de respostas múltiplas nos quais as respostas registradas são

topográficamente semelhantes. Skinner demonstrou que é suficiente considerar o comportamento registrado em experimentos como os de

operante único. A maior parte do encargo explanatório é suportado pela

noção de reforçamento adventício do comportamento de mudança. Como Skinner observou, a situação é mais complexa quando as respostas registradas diferem quanto à topografia (83). Quaisquer diferenças entre

as respostas que nos impeçam de tratá-las como um operante único nos forçará a considerar outros processos além do reforçamento adventício do comportamento de mudar. As próprias respostas registradas podem tornar-se ligadas entre si numa cadeia fortu itam ente reforçada. Já se descreveu um exemplo no C apítulo 3, pp. 106-109, onde uma resposta produzia reforço alimentar e outra tinha a função de evitar o time-out. A resposta dé esquiva, uma vez que era algumas vezes seguida pelo comportamento reforçado por alimento, também acabou ficando sob o controle do reforçamento alimentar. Foi estabelecida uma cadeia fo rtu ita ­mente reforçada, consistindo de resposta de esquiva, seguida pelo comportamento de mudar, seguida pela resposta de alimento.

Sempre que uma resposta numa linha de base de resposta m últip la é envolvida na contingência de reforçamento que mantém um componente

de resposta diferente, perde-se um grau de controle exeprimental. Os elementos da linha de base não podem mais ser manipulados independente­mente uns dos outros. A ilustração simples desse ponto vem de um

experimento que envolve duas respostas mantidas concorrentemente, com

um macaco como sujeito. Uma resposta, a de puxar a corrente, produzia

alimento de acordo com um esquema em intervalo-variável. Uma contin ­

gência de reforço fo i programada concorrentemente para a resposta de pressão à barra. Cada pressão à barra adiava um choque elétrico por vinte

segundos. Em razão da contingência adventícia, no entanto, as duas respostas não eram independentes entre si. Os parâmetros da situação

eram tais que a resposta de puxar a corrente era seguida mais freqüente­

mente por uma seqüência de pressões à barra. Por causa disso, a resposta de alimento tornou-se envolvida adventiciamente na contingência de esquiva. A seqüência, puxar a corrente, seguida do comportamento de mudar, seguida de pressões à barra, ficou estabelecida como uma resposta de esquiva reforçada adventiciamente. (7 4 ).

1

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TÉCNICAS DE CONTROLE 347

Sessões consecutivas

Figura 45. Uma ilustração da não independência das duas respostas num procedi­mento de esquiva concorrente e intervalo variável. (Dados inéditos de Sidman, 74).

A Figura 45 ilustra como a contingência adventícia impedia a manipulação experimental independente da resposta de puxar a corrente por meio do reforçamento alimentar. A primeira seção da Figura 45 reproduz a freqüência de cada resposta quando o choque era removido, isto é, durante a extinção de esquiva. Quando a contingência de esquiva fo i reintegrada, sem mudança no esquema de reforçamento alimentar, vemos na segunda seção da Figura 45 um aumento substancial na produção de ambas as respostas. Na terceira seção da figura há um declínio em ambas as respostas quando a contingência de esquiva é removida, embora o esquema

de alimento ainda esteja em vigor.Vemos, então, que a contingência de esquiva obteve um grau de

controle sobre a resposta reforçada por alimento. Este controle não

programado é provável que obscureça a interpretação de qualquer operação experimental planejada para manipular somente a resposta de

pressão à barra. Qualquer modificação no comportamento de esquiva é

provável que produza, como subproduto, uma mudança também no

comportamento de alimento.Consideremos os meios pelos quais as contingências adventícias

possam ser eliminadas. Um dos métodos poderia se programar uma exigência de adiamento. Poderíamos tornar a resposta de esquiva eficiente no^adiar o choque somente se pelo menos cinco segundos tivessem

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348 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

decorrido desde a últim a resposta de alimento. Como nos outros casos que discuti, no entanto, o adiamento poderia simplesmentefuncionar na

contingência adventícia, formando um elo mais complexo, mas igual­mente poderoso entre as duas respostas. Ou mesmo poderia negar o

objetivo de nossa linha de base de resposta m últip la impedindo a ocor­

rência de comportamento de mudar. É provável que isto ocorra especial­mente se o adiamento aumentar a probabilidade de que o comportamento

de mudar receba ele mesmo o choque.

Um segundo método é o de alterar as contingências programadas para m inim izar as seqüências de resposta do tipo tendente ao estabeleci­

mento de cadeias adventícias. Por exemplo: em vez de um esquema em intervalo-variável, no experimento da Figura 45, poderíamos programar o

reforçamento alimentar num esquema de razão-fixa. As características do esquema razão são tais que aumentam ao máximo a freqüência das

respostas de alim ento emitidas sucessivamente e m inim izam a freqüência

com que as respostas de alimento são seguidas por uma resposta de esquiva. Desta maneira a seqüência — resposta alimento seguida pelo

com portam ento de mudar seguido pela resposta de esquiva - pode-se fazer

com que ocorra tão infreqüentemente que impeça o seu estabelecimento como uma cadeia adventícia.

Este expediente de impedir as contingências adventícias por meio da seleção judiciosa dos esquemas de reforçamento parece promissor. No

estado atual do nosso conhecimento, no entanto, ainda não é a resposta final pois pouco se sabe dos fatores que determinam a direção em que uma cadeia de comportamento adventício irá se desenvolver. No exemplo precedente, vim os a resposta de alimento encadeada ao comportamento de esquiva. Mudando-se o esquema de alimento de intervalo-variável para razão-fixa quebrou-se a cadeia adventícia, mas havia evidência para sugerir que a cadeia simplesmente havia invertido a sua direção; isto é, a resposta de esquiva então tornou-se ligada ao reforçamento alimentar. Também há fatores mais sutis com os quais ninguém ainda começou a trabalhar.

Provavelmente não é necessário que uma resposta esteja imediatamente ligada com um re forço principal final para que uma cadeia adventícia se desenvolva. Há algumas contingências de reforço que dão origem a controle in te rno poderoso fazendo com que as próprias atuem como

reforçadores condicionados, como no comportamento em razão-fixa e na porção final de uma curvatura em intervalo-fixo. Outro comportamento que se reali2a durante uma seqüência em razão ou uma curvatura em intervalo pode tornar-se adventiciamente envolvida nas contingências de

reforço em bora as respostas irrelevantes não ocorram em estreita proxim i­

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TÉCNICAS DE CONTROLE 349

dade temporal com o reforçamento fina l. O reforçamento condicionado

fornecido pelas respostas dc in íc io em seqüência de razão-fixa, por exemplo, podem ser suficientes para capturar outro comportamento num

relacionamento espúreo em cadeia.Vemos, então, que o reforçamento adventício numa situação de

resposta m últip la é um fa tor que necessita de técnicas de controle

adequadas. O melhor que posso fazer nesse estágio é proporcionar ao estudante uma apreciação do problema. O único ponto geral que tem alguma validade é que as contingências adventícias são um aspecto

integral e inevitável das situações de resposta m últip la, e que as técnicas de

controle nos devem perm itir avaliar, em vez de eliminar, estas contin­

gências.

Page 351: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

técnicas de controle ___________E cont. 1

Num experimento, há m uito comportamento que não fica registrado e que nem mesmo é observado. É porque este comportamento não fo i selecionado para a observação; muitas vezes cometemos o erro de ignorar sua possível importância sistemática ou técnica; pode ainda representar um papel importante de mediação nos processos que estamos investi­gando. Ignorar tal comportamento em nosso esquema explanatório é uma má aplicação do princípio operacional. Se o comportamento é poten­cialmente observável, então não pode ser afastado da consideração devido a uma decisão arbitrária, numa ocasião particular, de deixá-lo sem registro.

0 comportamento de trocar, ou mudar ao qual me referi nas seções precedentes é um desses casos. A compreensão e o controle deste compor­tamento normalmente não registrado, e da sua participação nas contin­gências não programadas, é vital para o estudo das situações complexas de resposta múltipla.

O ENVOLVIMENTO DE COMPORTAMENTO NÃO REGISTRADO EM CONTINGÊNCIAS ADVENTÍC IAS

Comportamento no alimentador. Outro exemplo de comportamento geralmente não registrado (a que já me referi nas seções anteriores) é o

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 351

que está envolvido no conseguir obter reforçamento depois de ter sido

liberado pelo alimentador. O comportamento no alimentador é especial­

mente importante porque é reforçado imediatamente. Os animais refor­çados pelo alimento são freqüentemente observados gastando uma porção

considerável do seu tempo experimental em atividades como lamber, tentar agarrar"ou cheirar qualquer parte do mecanismo de fornecer ali­

mento que esteja ao seu alcance. Tal comportamento pode facilmente ocorrer com uma freqüência suficientemente alta para in terferir tanto no .padrão temporal como na freqüência de ocorrência do comportamento registrado. Pode mesmo estabelecer um lim ite superior na freqüência do comportamento registrado, dim inuindo assim a sensibilidade da linha de base quando são introduzidas as operações experimentais. A lém disso, uma vez que o comportamento excessivo no alimentador não está sob controle experimental direto, a extenção da sua influência provavelmente será m uito variável, de um experimento para outro, e de um experi­mentador para outro. De fato, o grau em que a ocorrência do compor­tamento de alimentador se restringe àquelas ocasiões em que é adequado, isto é, a liberação do reforçamento, é um critério que o investigador experimentado usa para avaliar a competência técnica de um investigador

recém-chegado ao campo.O comportamento excessivo no alimentador é geralmente gerado

pelo controle fraco do estímulo. Uma vez produzido, no entanto, pode ser perpetuado através da sua participação numa contingência adventícia. Consideremos antes a forma pela qual se origina. O experimentador cuidadoso, antes de estabelecer seu comportamento de linha de base registrado, põe os seus sujeitos num curso de treinamento de alimentador.

Este consiste simplesmente de oferecimentos livres repetidos de refor­

çamento, sem os tornar dependentes de qualquer comportamento em

particular. De fato, é preciso tomar cuidado, como veremos logo, para

nos certificarmos de que nenhuma resposta seja consistentemente correla­

cionada com a liberação de reforço.O treinamento no alimentador tem duas funções. Primeiro: ensina

ao sujeito onde encontrar reforçamento e como lidar com ele. Segundo: estabelece a função discriminativa dos estímulos que estão correlacionados

com o oferecimento do reforço (31). Isto é, os estímulos correlacionados chegam a marcar as ocasiões em que o comportamento no alimentador será reforçado. Quando ocorrem os estímulos, a aproximação do alimen­tador é seguida imediatamente pelo reforço.

O estabelecimento de uma função discriminativa para o estímulo correlacionado com a liberação do reforço também serve para um propó­

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352 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

sito duplo. Primeiro: assegura o rápido condicionamento subseqüente da resposta que fo i escolhida para observação e manipulação. Quando esta resposta fica ao alcance do sujeito, sua primeira ocorrência produzirá os estímulos do alimentador; estes, por sua vez, farão com que o sujeito entre

imediatamente em contacto com o reforço. Os estímulos do alimentador servem tan to como um reforçador condicionado para as respostas que os produziram quanto como ocorrência discrim inativa que assegura um

m ínim o atraso no recebimento do reforçamento principal. Como resul­tado, há um rápido condicionamento.

Em segundo lugar, e mais im portante para a discussão presente, o bom controle discrim inativo da parte dos estímulos do alimentador garantirá que o comportamento no alimentador jamais ocorra na ausência desses estímulos. Nos primeiros estágios do treinamento no alimentador, os sujeitos dedicam uma porção considerável de comportamento dirig ido para o alimentador, porisso o comportamento está mais estreitamente

relacionado ao reforçamento. É preciso cuidado para assegurar que a atividade anterior no alimentador não preceda consistentemente à libe­ração do alimento. Se não, o comportamento inadequado no alimentador tornar-se-á condicionado adventiciamente e interferirá no comportamento que deverá ser objeto de preocupação experimental. Fornecer o treina­

mento discrim inativo para o comportamento no alimentador no que diz respeito aos estímulos correlacionados com a liberação de reforçamento, e garantir que nenhum comportamento específico se torne fortu itam ente

correlacionado com a produção de estímulos do alimentador, são pre­cauções adequadas.

Uma exigência básica é que os estímulos do alimentador sejam distingüíveis e facilmente discrimináveis dos outros aspectos do ambiente.

O investigador experimentado geralmente acrescenta componentes distin­tivos visuais, auditivos ou táteis aos estímulos que ocorrem naturalmente

no alimentador. Por exemplo, uma luz pode brilhar, ou um som pode sèr ouvido enquanto o reforço está sendo oferecido. Uma vez que o reforço nunca é oferecido a não ser na presença desses estímulos, os ingredientes necessários ao treinamento discrim inativo estão automaticamente presen­tes na situação. A tarefa restante, e mais d if íc il, é garantir que o reforça­mento não seja consistentemente oferecido enquanto o sujeito está engajado em comportamento extra n o alimentador — ou em qualquer outra forma de comportamento. Relês de contacto, células fotoelétricas e vários a rtifíc ios de assinalar posições podem ajudar a automatizar esta tarefa. Certos aspectos do comportamento no alimentador e de outros comportamentos podem ser controlados automaticamente quanto à sua

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 353

correlação com a liberação do reforçamento durante o treinamento no alimentador. Sem essas providências, e talvez mesmo com elas, a obser­

vação direta dos sujeitos e o controle manual do controle da liberação do alimento serão necessários. Qualquer comportamento que se torne

preponderante em virtude de correlações acidentais com a liberação do reforçamento deve então ser submetido a um processo de ex­

tinção.Este procedimento é trabalhoso e consome tempo. Até recente­

mente, só teria sido possível decidir e realizar este rigor de controle

sobre o comportamento no alimentador, na medida em que fosse neces­

sário para o propósito em questão. Mas com o crescimento do interesse nos processos complexos e com o aumento da precisão quantitativa que tem sido possível, por outros desenvolvimentos da tecnologia compor­tamental, não poderemos mais pôr este problema de lado. Se a resposta

a ser registrada torna-se disponível para o sujeito, antes que tenhamos

lim itado o comportamento no alimentador à ocasião discriminativa ade­quada, uma cadeia adventícia mais complexa provavelmente se desenvol­verá. Se ocorrer freqüentemente na ausência do seu estímulo adequado, o comportamento no alimentador inevitavelmente será seguido por alguns casos reforçados de resposta registrada, e provavelmente observaremos alternação rápida e freqüente das duas. O comportamento no alimentador tornar-se-á, fortu itam ente, uma parte da ocasião discriminativa em que as respostas registradas são reforçadas. Na medida em que esta ocasião discriminativa não tenha sido deliberadamente programada pelo experi­mentador, terá perdido um certo grau de controle experimental sobre o

comportamento que escolheu para observar.

Comportamento aversivo. Os estudos experimentais de punição e comportamento de esquiva fazem uso deliberado das contingências adven­tícias. Na maioria dos experimentos de esquiva, nos quais os choques seguem algum esquema temporal, renunciamos à precisão do controle sobre a

relação entre o começo do choque e qualquer resposta em particular —

com exceção, é claro, da resposta de esquiva. Como observou Dinsmoor,

controlamos e registramos a resposta de esquiva dentro de limites relati­vamente estreitos, mas permitimos que a classe das respostas punidas inclua todo o resto do comportamento do sujeito (25). Em experimentos de punição, o procedimento é tipicamente o oposto. Especificamos e registramos o comportamento punido dentro de limites relativamente

estreitos, mas permitimos que a classe de respostas de esquiva incluam

todo o resto do comportamento do sujeito.

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354 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

Estas distinções possuem algumas implicações teóricas interessantes,

mas a sua discussão será mais apropriada em outro lugar. Meu objetivo aqui é simplesmente apontar que o abandono do controle direto, nos

experimentos de punição e esquiva, de algumas contingências m uito pode­rosas, não exime estas contingências da consideração sistemática e técnica. Ainda desempenham um papel im portante no controle do comporta­mento que realmente observamos, e este papel é determinado por fatores não avaliados. A situação ê maximamente inclinada a contingências adventícias.

0 comportamento mais estreitamente e mais freqüentemente parea- do com o choque numa situação de esquiva terá sido determinado, em parte, pela história que o sujeito traz para o experimento. Incluirá

também respostas que são componentes necessários do comportamento de esquiva, mas que não podem, por elas mesmas, conseguir adiar o choque. Tal comportamento tem um status especial porque acarreta uma força extra no sucesso da resposta de esquiva e também porque deprecia a força da resposta de esquiva. Como exemplo, digamos que especificamos

a pressão à barra como resposta de esquiva. 0 choque é adiado quando o sujeito, pressionando a barra, move um in terruptor e envia uma oscilação

elétrica momentânea ao c ircu ito que adia o aparecimento do choque. Assim estabelecemos que somente um segmento bem restrito dos movi­mentos envolvidos na pressão à barra conseguirá que o choque seja

evitado. Este é o segmento que abrange o fechamento inicial do

comutador.

Mas há outros movimentos, tanto os que antecedem, como os que

seguem o fechamento do comutador, que não conseguem im pedir o choque, mas que são acompanhamentos necessários do comportamento de mover o comutador. 0 sujeito precisa se d irig ir para a barra, alcançá-la,

tocá-la e começar a empurrá-lg, antes que consiga mover o comutador. Uma vez que o comutador tenha sido inicialmente movido o sujeito deve, nem que seja por inércia, manter a pressão à barra durante um período certo de tem po Estes componentes do comportamento de pressão à

^ barra, todos compartilham dos efeitos de reforçamento da esquiva doChoque. Entretanto, muitas vezes podem receber o choque. O choque pode ocorrer, por exemplo, logo que o sujeito tocar a barra, preparando- -se para baixá-la. Ou o sujeito pode pressionar a barra, adiar o choque e manter a barra para baixo até que ocorra um novo choque. A este respei­to, o comportamento preparatório e o comportamento de segurar a barra são simplesmente parte da ampla classe de respostas puníveis não espe­cificadas. Entretanto, diferem dos outros membros da classe, quanto ao

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 355

fato de também serem reforçados pela esquiva de choque nas ocasiões

em que as pressões à barra são realizadas até a conclusão. Entretanto,

é provável que se tornem preponderantes sobre outras respostas puníveis. Por outro lado, sua correlação ocasional adventícia com o in íc io do

choque reduzirá a sua probabilidade de ocorrência, pelo menos, tempora­

riamente. Esta redução dim inuirá necessariamente também a freqüência do comportamento de esquiva específico. O resultado líqu ido será algum

grau de variabilidade não controlada no comportamento de esquiva.Não há nenhuma forma de eiiminar a variabilidade que surge das

contingências adventícias que realmente se estabeleceram em nossas técnicas. A única solução está em introduzir novas técnicas que não deixarão que o desenvolvimento das contingências de punição e esquiva dependam das circunstâncias. Pode ser que aqui seja possível usar uma abordagem racional para desenvolver essa nova técnica. Queremos ser

capazes de especificar e controlar, com alguma precisão, tanto o compor­tamento punido como o comportamento de esquiva. Isto significa, antes de mais nada, que o choque, ou qualquer outro estímulo aversivo que usemos, não pode ser liberado num esquema puramente temporal. Preci­samos correlacionar o choque com alguma resposta específica identi­ficável. Para estabelecer esta correlação numa forma relativamente estável, será necessário dar ao comportamento punido uma fonte de força sufi­ciente para mantê-lo diante da punição ocasional.

Essas exigências podem ser em parte satisfeitas, colocando-se uma resposta em algum esquema de reforçamento intermitente positivo, e fazendo com que a mesma resposta produza um choque de acordo com

algum esquema independente, mas concorrente. Por exemplo, podemos manter a pressão è barra num rato fam into por meio de um esquema de reforçamento alimentar em intervalo-variável. Concorrentemente, a res­posta de pressão à barra também pode produzir um choque breve num

esquema de razão-fixa. Digamos que cada quinqüagésima ocorrência da

resposta produzirá o choque.Até agora temos um método para estudar a punição, mas o compor­

tamento de esquiva não está controlado. Os choques dim inuirão a fre ­qüência de pressão à barra reforçada por alimento, mas o comportamento

que substitui a pressão à barra não está especificado. Pode ser qualquer outro comportamento do repertório do sujeito.

Para incluir no quadro uma resposta específica de esquiva, neces­sitamos somente acrescentar uma condição a mais para governar a ocor­rência de choque: a pressão à barra somente pode produzir o choque se alguma outra resposta específica deixar de ocorrer. Selecionemos o pres­

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356 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

sionar o painel como a resposta de esquiva. Cada vez que o animal

pressiona o painel, o contador da razão volta para zero e começa de novo.

Se o sujeito fo r perfeitamente eficiente, poderá em itir 49 respostas de pressão à barra, algumas das quais produziriam alimento, e então em itir

uma resposta de empurrar o painel. Pressionando o painel, faz voltar o

contador da razão, impedindo que a quinqüagésima pressão à barra produza um choque.

Esta técnica nos permite especificar tanto o comportamento punido

(pressão à barra) como o comportamento de esquiva (pressionar o painel). Nenhuma contingência é deixado ao acaso ou a variáveis não controladas.

Além disso, nenhum componente da resposta de esquiva pode receber choque, porque é preciso uma pressão à barra para produzir o

choque. Os choques nunca podem ocorrer quando o animal se aproxima do painel, ou o cheira, ou durante qualquer dos estágios preliminares da resposta de pressionar o painel. Não pode haver nenhuma correlação adventícia entre qualquer aspecto não registrado da resposta de esquiva e a ocorrência do choque.

Essa técnica nos perm itiria examinar os efeitos da punição na res­

posta de pressão à barra, os efeitos da contingência de esquiva sobre a resposta de pressionar o painel, ou ambos os aspectos do quadro jun ta­mente com as suas interações. Nenhuma instabilidade será causada pelas correlações adventícias entre o comportamento não registrado e os cho­

ques. Há variações infinitas a serem realizadas com este tema, e deixo-os

para que o estudante delas se ocupe.

Reforçamento adiado. Sempre que ocorrer um adiamento entre o comportamento registrado e a sua conseqüência programada, podemos estar

certos de que o período de adiamento não está vazio. Algum com porta­mento está se realizando durante todo o tempo, e ainda que este com por­

tamento não seja registrado, pode ainda representar um papel vital ao

intermediar os efeitos do adiamento.Um exemplo clássico é o reforçamento adiado. Muitos experimentos

tem sido realizados para investigar os efeitos de se interpor um período de tempo entre a ocorrência de uma resposta e o oferecimento do reforçador

primário. A conclusão que geralmente se tira desses experimentos é que a eficiência do reforçador d im inui com os adiamentos mais longos. Con­sidera-se que o reforçamento imediato seja mais eficiente ao condicionar e manter uma resposta determinada.

Diante das contingências adventícias inevitáveis num estudo do reforçamento adiado, esta conclusão não é surpreendente. Se o reforça-

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 357

mento não seguir imediatamente a resposta que era necessária para a sua

produção, então seguirá algum outro comportamento. Seu maior efeito

então será sobre o comportamento que mantém, sem dúvida, fo rtu ita ­mente, o relacionamento temporal anterior mais próxim o do reforça­

mento. O efeito de um adiamento, pode-se dizer, é espalhar o reforça­

mento sobre um, número de respostas não registradas, em vez de concen­

trá-lo no comportamento registrado.Devido aos efeitos imediatos das contingências adventícias, o refor­

çamento adiado parece ser menos eficiente do que o reforçamento

imediato. Entretanto, é possível, por manipulação experimental adequada,

mudar este efeito de intermediação para a direção oposta. Podemos geral­mente usar as contingências adventícias para sustentar o comportamento cujo reforçamento primário está demasiadamente adiado. Um método para realizá-lo é iniciar com um adiamento curto, e depois aumentá-lo gradualmente. Este procedimento, estabelecido para um adiamento de 60 segundos, fo i demonstrado por Ferster, usando pombos como sujei­tos. O que segue é uma parte da análise de Ferster:

Devido à extinção que se realiza durante os 60 segundos de adia­mento o funcionamento do alimentador é precedido por uma ampla variedade de comportamentos, e nenhuma resposta será provavel­mente reforçada com freqüência suficiente para adquirir qualquer força. Se os adiamentos forem da ordem de um a cinco segundos, no entanto, a probabilidade de que a mesma resposta ocorra antes do funcionamento do alimentador é grande, e os membros de uma única classe de resposta serão reforçados com freqüência suficiente para serem condicionados. Quando o intervalo de adiamento é prolongado depois de um número de reforçamentos para a mesma

resposta, o adiamento define um esquema de reforçamento em

intervalo-fixo da resposta “ supersticiosa". O esquema é diferente dos comumente empregados somente quanto ao fato de que o

alimentador funcionará independentemente do fa to de haver ou não

resposta. Para se manter o comportamento "superstic ioso".. . é necessário se ajustar o intervalo do adiamento para que o alimen­tador funcione quando a freqüência de resposta "supersticiosa"

fo r maior (30, p. 223).

A demonstração de Ferster mostra como fazer um bom uso das contingências adventícias no estudo do comportamento, cujo reforça-

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358 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

mento é m uito adiado. A técnica de aumentar gradualmente o adiamento,

no entanto, tem um sério retorno do ponto de vista do controle experi­mental. A resposta que fica envolvida na contingência adventícia não pode ser especificada antecipadamente e é provável que varie de um sujeito para outro. O efeito de uma operação experimental pode m uito bem ser uma função do comportamento especial que fica envolvido na contin­gência adventícia. Como resultado, podemos ser aborrecidos pela exces­siva variabilidade intersujeitos dos nossos dados.

Ferster também nos mostrou a saída para essa dificuldade. Sua técnica envolve, antes de mais nada, o condicionamento deliberado, pelo reforçamento imediato, da resposta que eventualmente irá abranger o comportamento intermediário numa contingência de reforçamento adiado. Este comportamento também é posto sob o controle do estímulo. Então

torna o in íc io do estímulo que controla o comportamento intermediário

dependente da emissão de outra resposta. No terceiro estágio, o reforça­mento do comportamento intermediário é programado unicamente por comportamento específico, exceto da resposta remota que ligou o estí­

mulo e fez 0 relógio funcionar. Entretanto, uma vez que uma resposta específica já fo i condicionada com alguma força, esta resposta é "captu­

rada" pelo reforçamento e é mantida pela contingência agora advéntícia.

O esquema de reforçamento empregado no estágio inicial deste procedimento é crítico , e a sua seleção exige a aplicação de tecnologia

comportamental que tem sido desenvolvida em outros contextos. Nova­

mente, refiro-me diretamente a Ferster, que usou um esquema em

intervalo-fixo para o condicionamento do comportamento intermediário.

As propriedades de esquema de reforçamento em intervalo-fixo têrão um aspecto crucial, se a frequência da ocorrência da resposta "supersticiosa" fo r a alta na ocasião em que o alimentador fu n ­cionar. Um esquema em intervalo-fixo produz efeitos diferentes depois de longo treinamento, quando um desempenho estável é alcançado, em vez de fazê-lo no começo do treinamento. Nos primeiros estágios do reforçamento em intervalo-fixo, a freqüência do comportamento é alta no começo do intervalo, e declina regu­larmente até que ocorra o próxim o reforçamento. Estas condições são adversas para a manutenção do comportamento supersticioso, a menos que o adiamento seja ajustado para que o alimentador funcione na ocasião em que a freqüencia de resposta devida ao reforçamento precedente ainda seja alta. Depois de treinamento suficiente, no entanto, o quadro da freqüência se inverte. A fre-

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 359

qüência é baixa no começo do intervalo e aumenta gradualmente até que uma freqüência estável (característica do intervalo-fixo) é

alcançada. Nessas condições, o adiamento do intervalo pode ser

prolongado mais rapidamente sem produzir muitas ocasiões de que

o funcionamento do alimentador seja precedido por uma resposta

diferente da que fo i previamente condicionada (30, pp. 223-224).

Pelo estabelecimento de uma história de reforçamento adequada a

uma resposta determinada, podemos quase garantir que essa resposta será aquela adventiciamente reforçada por um reforçamento adiado. O padrão de comportamento consistente, juntamente com os seus estímulos ambi­entais associados, abrangerá um reforçador condicionado imediato sufici­entemente fo rte para manter o comportamento cujo reforçamento pri­mário fo i adiado. Esta técnica tem a vantagem de nos perm itir especificar, controlar, e registrar o comportamento intermediário mantido adventi­ciamente, e manter este comportamento consistente de sujeito para

sujeito.Entretanto, ainda há uma complicação que pode introduzir ambi­

güidades indesejáveis na avaliação dos dados dos estudos de reforçamento adiado. Esta complicação é inerente a qualquer experimento em que as contingências adventícias desempenham algum papel. Deriva do fato que, não importa como estas contingências se originem, permanecem suscetíveis a variáveis que não estão sob o controle experimental direto. No experi­mento que descrevi por ú ltim o, por exemplo, Ferster nos mostra como lim itar um acontingência adventícia a um comportamento específico. Esta

técnica marca um progresso considerável no estudo do comportamento cujo reforçamento esteja m uito atrasado. Mas mesmo que uma contin-„ gência adventícia que inicialmente moldamos segundo alguma configu­ração desejada, através da aplicação deliberada da tecnologia compor­

tamental, finalm ente passa a ter vida própria. O comportamento inter­

mediário de fa to não é necessário para que ocorram as conseqüências

que o mantêm. Se alguma operação experimental, ou mesmo alguma

variável não controlada, quebrar temporariamente a correlação entre o

comportamento e suas conseqüências adventícias, este comportamento

pode desaparecer e jamais voltar. Será substituído pelo comportamento que não fo i da escolha do experimentador, e assim levantar novamente os problemas da variabilidade e controle inadequado de variáveis rele­

vantes.

A solução deste problema nos estudos de reforçamento adiado realmente aparece no passo intermediário da técnica de Ferster para

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360 TÁTIC AS DA PESQUISA CIENTI'FICA

estabelecer o com portamento intermediário adventiciamente reforçado.

Este passo intermediário constitu ía uma cadeia do tipo que descrevi anteriormente, em conexão com os experimentos de discriminação

(pp. 338-339). Em vez de produzir um reforçamento final, faz-se com que uma resposta produza o estím ulo discrim inatório. Na presença desse estí­

mulo, a mesma resposta, ou mesmo uma diferente, produz então o reforça­mento primário, ou final. Ambos os componentes desta cadeia, aquele cuja

conseqüência é um reforçador condicionado, e o outro correlacionado com o reforçador prim ário, podem ser controlados por esquemas dife­rentes e independentes. Colocando-se o segundo membro num esquema

de intervalo, permite-se um período precisamente controlado de adia­mento na liberação do reforçador final. De fato, o adiamento é medido desde o elemento inicial da cadeia. Pondo-se o primeiro componente num esquema intermitente de reforçamento condicionado, aumenta-se a sensi­bilidade da linha de base e permite-se uma ampla margem de variação controlada como uma função dos diferentes andamentos.

0 reforçamento encadeado e o reforçamento adiado não são postos tradicionalmente na mesma pipa. Mas o reforçamento adiado realmente

dá origem a uma cadeia cujo componente final comumente não é especi­ficado ou controlado por nenhuma forma direta. A resposta, cujo reforça­mento é adiado, sempre é seguida de comportamento não analisado, que

pode agir como um estím ulo para transpor o adiamento. Uma técnica deliberada de encadeamento simplesmente torna a seqüência explícita e a expõe ao exame e à manipulação. O reforçamento adiado sempre

envolve algum com portamento fina l, imediatamente anterior à liberação do reforçamento primário. As propriedades desse comportamento são

um fator crítico para interm ediar os efeitos do reforçamento adiado.

Por que não tornar o com portam ento intermediário exp líc ito e perma­

nente? A perda do contro le comportamental no experimento de Fers­ter (30), depois da mudança de uma contingência real para uma adven­

tícia, demonstra a fraqueza intrínseca da últim a na manutenção a longo prazo do comportamento.

Resposta adiada. Há vários tipos de experimentos de resposta-adiada,

e todos são terrenos de desova ideais para as contingências adventícias. No procedimento clássico, o su je ito é presenteado com um estímulo mas é impedido de executar imediatamente a resposta adequada a-este estímulo. Depois de um período de tem po a restrição é removida e o sujeito tem uma oportunidade de em itir, ou a resposta adequada, ou qualquer das respostas alternativas. Por exem plo, pode-se perm itir que um macaco

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 361

veja a uva que está sendo colocada num dos vários recipientes diferentes. Uma barreira é então interposta para im pedir o macaco de alcançar o

recipiente. Depois de um período de adiamento, o experimentador remove a barreira e observa se o sujeito escolhe ou não o recipiente certo. Este procedimento tem sido considerado um teste de memória, ou mesmo um

"processo mental mais elevado".Vários investigadores, no entanto, cujo interesse tem sido mais

dedicado aos processos comportamentais do que as entidades intelectuais

hipotéticas, têm notado certas regularidades no comportamento dos seus

sujeitos durante o período de adiamento. Estas são às vezes descritas como respostas de orientação. O sujeito freqüentemente adotará uma postura em que todo o seu corpo, ou parte dele, mantém uma posição

consistente relativa ao recipiente correto. Este comportamento interme­diário pode incapacitar o sujeito de escolher o recipiente correto, mesmo

depois de decorrer um período considerável de tempo. Os efeitos de outras variáveis, como lesões do sistema nervoso central ou agentes farma­

cológicos, podem depender não somente da presença ou ausência deste comportamento intermediário, mas também das suas características quali­tativas e quantitativas.

Em prol da nossa discussão, podemos simplesmente notar que o comportamento intermediário nos experimentos de resposta-adiada é controlado por uma contingência adventícia. O experimentador não exige comportamento específico orientado antes de pôr a uva ao alcance do macaco. Apesar disso, uma vez que a resposta reforçada precisa ser prece­dida por outra forma de comportamento durante o período de adiamento, realmente é toda a seqüência que sente o efeito fortalecedor do reforçamento.

Esse tipo de contingência adventícia tem um aspecto um tanto diferente dos outros que tenho discutido. Embora o experimentador não inclua o comportamento intermediário nas contingências progra­madas, este comportamento permite de fa to uma melhor adaptação comportamental. As respostas precedidas por comportamento orientado

adequado serão mais freqüentemente reforçadas do que as que seguem, ou orientações inadequadas ou alguma forma de comportamento incon­sistente.

A situação de resposta adiada, então, contém restrições inerentes ao

tip o de comportamento que pode se tornar envolvido pela contingência adventícia. Temos aqui um caso de reforçamento diferencial adventício. De certa forma, isto torna mais fácil a nossa tarefa de controle. Se continuarmos o experimento por um tempo suficientemente longo, o

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362 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

próprio procedimento provavelmente selecionará a forma mais eficiente

de comportamento intermediário. A variabilidade intersujeitos será então

minimizada. Também, o problema da irreversibilidade não será tão sério

como nos outros tipos de contingências adventícias. Porque se uma

determinada operação experimental alterasse temporariamente o compor­

tamento intermediário, o reforçamento diferencial o restabeleceria na sua forma mais eficiente.

Embora os problemas de variabilidade e irreversibilidade dim inuam em severidade, não estão ausentes de maneira nenhuma do experimento de resposta adiada. Por alguma razão, pode ser que leve algum tempo até que o comportamento adquira a sua forma mais eficiente. A té que se tenha uma experiência considerável, não haverá nenhuma forma de julgar se um determinado experimento atingiu aquele estágio. Em segundo lugar, na medida em que pode existir mais do que uma forma ideal, ou quase ideal, de comportamento intermediário, os problemas da variabi­lidade e irreversibilidade ainda estarão presentes. Mas há ainda um outro sentido em que a adaptação automática do comportamento intermediário torna o nosso problema de controle ainda mais urgente do que o usual. O fato de que uma forma particular de comportamento intermediário receba reforçamento diferencial indica que as contingências adventícias não são conseqüências inoportunas secundárias dos experimentos de resposta adiada, mas que são aspectos vitais do processo comportamental que estamos examinando. Este comportamento intermediário exige o mais alto grau de controle experimental e a maior precisão de registro de que formos capazes.

A automatização é o primeiro requisito. Sem isso, o trabalho envol­

vido no prolongar o experimento de resposta-adiada, por um período de tempo suficientemente longo para estabilizar o comportamento inter­

mediário, seria pro ib itivo. Também, sem a automatização, o registro

preciso e contínuo do comportamento intermediário não seria possível.

Mas o controle automático nos perm itirá ir até além disso. Com ele podemos selecionar para reforçamento diferencial qualquer forma de comportamento intermediário que quisermos, assim eliminando comple­

tamente os problemas de irreversibilidade e variabilidade inter-sujeitos,

e abreviando o tempo exigido para que se alcance a estabilidade. Usando-se um tipo de comportamento intermediário cujas características sejam conhecidas, poder-se-á também aplicar um critério válido de estabilidade.

É bem fácil programar formas arbitrárias de comportamento inter­mediário. Organizamos um ambiente em que várias respostas registráveis sejam possíveis, sendo que algumas deverão estar ao alcance do sujeito

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 363

no final do período de adiamento e as outras deverão ser usadas como comportamento intermediário durante o adiamento. Preparamos o equi­

pamento de controle para correlacionar cada resposta intermediária com

a resposta escolhida correspondente. Então, dependendo do estímulo pré-adiamento inicial, que especifica a escolha correta da resposta, exi­

gimos que o sujeito emita somente o comportamento intermediário adequado durante o adiamento. Se ocorrer outro comportamento inter­

mediário, a resposta escolhida não será reforçada, mesmo que seja a

correta.Vou descrever um exemplo específico. Se tivéssemos que usar o

pombo como sujeito, a situação experimental poderia ser semelhante à demonstrada no C apítulo 7, Figura 22. A situação precisa ser modificada

somente com chaves adicionais em ambos os lados da barra central. O

pombo então estará diante de um arranjo de cinco componentes: a barra

central, duas chaves colocadas horizontalmente no lado esquerdo da barra, e duas outras chaves colocadas da mesma forma no lado direito da barra. Chamaremos as duas chaves imediatamente adjacentes à barra, de chaves interiores esquerda e direita respectivamente, e as duas chaves

colocadas no final do alinhamento, de chaves exteriores, esquerda e direita respectivamente. A barra central fornecerá o estímulo que inicia o período de adiamento; bicar nas chaves interiores constituirá o compor­tamento intermediário; bicar nas chaves exteriores constituirá a resposta

escolhida.O ensaio começa quando a barra central é iluminada tanto pela luz

vermelha como pela verde. (Algum tempo depois, a ave será "solicitada'' a bicar uma chave externa em especial que está iluminada com a mesma cor). Para garantir que o pombo observa a barra central, ela permanece iluminada até que o pombo a bique. Com a primeira bicada a luz da barra

central desaparece e começa o período de adiamento.No final do período de adiamento, as duas chaves exteriores serão

iluminadas, uma verde e a outra vermelha. Uma bicada na chave que com­bina com o estím ulo original da barra trará algum alimento para que o

pombo fam into o alcance se o seu comportamento durante o período de adiamento tiver sido segundo um tip o apropriado, que não descreverei.

Se as respostas adiadas escolhidas tiverem que ser reforçadas, não

somente deverá sê-lo a resposta correta, mas também a ave deverá ter

bicado uma, e somente uma, das chaves interiores durante o período de adiamento. Se a barra estiver vermelha, a ave deve bicar somente a chave interior esquerda durante o período de adiamento; se a barra estiver

verde, somente a chave interior direita deve ser bicada durante o período'

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364 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

de adiamento; se a ave não bicar nenhuma das duas chaves, ou se bicar

ambas, a resposta escolhida não produzirá o reforçamento.

O comportamento intermediário assim é forçado a fazer parte da

contingência de reforçamento. Sem o comportamento intermediário cor­

reto durante o período de adiamento, mesmo a resposta escolhida correta

não produzirá o reforçamento. O comportamento intermediário pode ser

especificado e registrado, dois aspectos que seriam provavelmente impos­síveis se tivéssemos confiado nas contingências adventícias. Com um

período constante de adiamento, o comportamento intermediário prova­

velmente adotará as características do intervalo-fixo, e as medidas usuais do comportamento em intervalo-fixo fornecerão informações detalhadas

e quantitativas sobre o estado do comportamento intermediário durante qualquer fase do experimento.

Poderíamos sim plificar o procedimento, de um ponto de vista técnico, eliminando duas das chaves e usando a mesma resposta tanto

para o comportamento intermediário como para o escolhido. Esta m odi­ficação revela a semelhança entre o experimento de resposta adiada e a linha de base de elementos m últip los encadeados sob o controle do estímulo (veja págs. 338-339). A principal diferença entre as duas situações

está nas durações relativas dos estímulos discriminativos. Na situação em

cadeia, os estímulos que controlam cada elemento da cadeia estão geral­mente sempre presentes. Quando os estímulos de controle são breves para os elementos de uma linha de base m últipla, então o próprio compor­tamento precisa sustentar a tarefa discriminativa. Esta é a essência da função intermediária assumida pelo comportamento reforçado adventi-

ciamente no experimento de resposta adiada.A técnica clássica da resposta adiada, da qual o nosso exemplo é

uma modificação, interpõe um adiamento entre a apresentação dos estí­mulos exteroceptivos e a oportunidade do sujeito de responder adequa­

damente. A duração do adiamento entre estímulo e resposta é indepen­

dente do comportamento do sujeito. No final do adiamento, o experi­mentador novamente apresenta os estímulos e registra o elemento do

estímulo para o qual a resposta do sujeito é dirigida. Quando a resposta é adequada à contingência do reforçamento, considera-se que o sujeito

transpôs o intervalo temporal com sucesso. Variando a duração do adiamento, e registrando as escolhas corretas e incorretas do estímulo, podemos obter a relação funcional que descreve o sucesso em transpor os diferentes intervalos de tempo.

Podemos obter informação semelhante por outras técnicas. O ele­mento de adiamento que é comum a todas elas exige atenção continuada

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 365

às contingências adventícias. Podemos, por exemplo, apresentar ao sujeito

um único estímulo e exigir que adie a sua resposta durante um período

f ix o de tempo, depois da apresentação do estímulo. Se a resposta ocorrer cedo demais, simplesmente não será reforçada. Nesse procedimento, lim i­

tamos o estímulo exteroceptivo a um único componente. O tempo entre

o estímulo e a resposta, no entanto, é controlado pelo sujeito, e nossos registros consistem de uma tabulação desses intervalos. Novamente, podemos obter relações funcionais que descrevem o sucesso do sujeito em transpor períodos de tempo de durações diferentes. O procedimento de resposta-espaçada (veja p. 389) é essencialmente uma variação desta

técnica, pela qual o estímulo que inicia o período de adiamento surge do próprio comportamento do sujeito, em vez de vir do ambiente.

Como na técnica clássica de resposta-adiada, os dados obtidos por meio da técnica de resposta-espaçada, ou qualquer das suas variantes, exigem a avaliação do comportamento intermediário que surge durante o período de adiamento. A resposta reforçada que segue um adiamento bem sucedido deve ser precedida por algum outro comportamento, e pode se esperar que o efeito reforçador se propague para trás até aquele compor­tamento. Devido a este reforçamento adventício, uma cadeia de compor­tamentos pode se desenvolver. De fato, muitos investigadores têm confir­mado a observação original de Wilson e Keller de que uma seqüência estereotipada de comportamentos pode se desenvolver durante o período

de adiamento (94). Como no clássico experimento de resposta adiada, este comportamento estereotipado pode desempenhar uma função útil ajudando o sujeito a transpor o período adiado. Qualquer cadeia adven­

tíc ia que se desenvolva será reforçada diferencialmente quanto à sua velocidade de execução. Se a cadeia fo r breve demais, a resposta subse­

qüente registrada não será reforçada. A seqüência é análoga ao sistema

de contagem, com a resposta final estimulada quando um certo número

è alcançado.As condições, sob as quais o comportamento intermediário se desen­

volverá na situação de resposta espaçada, ainda não está claramente

entendida, porque nem sempre é observada. Isto torna o nosso problema de controle ainda mais urgente. Além disso, diversamente do procedi­mento tradicional de resposta-adiada no qual o comportamento inter­

mediário é automaticamente lim itado a alguma forma de resposta orien­tada, a técnica de resposta-espaçada de maneira nenhuma lim ita a forma das respostas intermediárias. Então, novamente estamos diante dos espec­tros gêmeos da variabilidade inter-sujeitos e da irreversibilidade. Esta variabilidade, por exemplo, pode ajudar a explicar porque a capacidade

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366 TÁTICAS D A PESQUISA C IEN TIFIC A

dos ratos brancos em espaçar as suas respostas eficientemente parece ser

somente temporariamente perdida, quando certas áreas corticais do cére­bro são removidas. A operação pode servir somente para destruir o comportamento intermediário em particular que o sujeito estava usando,

sendo que a recuperação se faz quando uma nova seqüência é reforçada adventiciamente.

A especulação acima não precisa ser correta para trazer de volta o ponto que, o comportamento intermediário reforçado adventiciamente,

possa representar um papel importante nos processos comportamentais gerados por uma técnica de resposta espaçada. Até que este papel se

esclareça, não podemos estar certos dos métodos de controle mais e fici­ente. Uma possibilidade é preparar a situação em que o procedimento experimental lim ite a forma de comportamento intermediário. São im por­tantes aqui as recentes investigações de Mechner (54). Sua técnica envolve

uma situação de duas respostas. O reforçamento de uma resposta depende

de um número fix o de ocorrências anteriores da outra resposta. Por exemplo, o sujeito precisa pressionar a barra A dez vezes sucessivas, antes

que uma resposta na barra B possa produzir um reforço. Desta maneira,

o comportamento intermediário é especificado exclusivamente e é inde­pendentemente mensurável. Diante da nossa ignorância sobre o papel representado pelo comportamento intermediário no experimento de res­posta espaçada, pode-se debater a importância da técnica de Mechner. Mas, na medida em que a resposta espaçada é controlada pelas cadeias adventícias não registradas, a situação da contagem das suas respostas torna este controle simplesmente exp líc ito .

Tipos variados de contingências adventícias. Uma operação aplicada

a uma linha de base comportamental em andamento pode reduzir, ao

menos temporariamente a distribuição da freqüência de reforçamento. Embora finalmente possa o comportamento se ajustar às novas condições e recuperar a distribuição original da freqüência de reforçamento, o

declínio inicial temporário pode se auto-perpetuar. Isto é particularmente provável, se o começo da mudança é marcado por uma condição de estímulo periódico, como a que existe no começo da sessão experi­mental.

Suponhamos, por exemplo, que a linha de base do comportamento é mantida por um esquema de reforçamento em intervalo-variável. Enquanto o esquema está senao normalmente aplicado, cada vez que o programador preparar um reforço, ele permanecerá disponível até que ocorra a resposta seguinte. Uma openção experimental poderia insistir em lim ita r o período

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 367

de disponibilidade do reforço. Se uma resposta não fo r dada, digamos,

dentro de meio segundo depois que o reforço ficou à disposição, o sujeito perde aquela oportunidade de conseguir um reforço. Vamos supor que introduzimos esta contingência de "obtenção-lim itada" no começo

do nosso período experimental. É provável que seu efeito inicial seja

uma redução marcante da distribuição da freqüência de reforçamento.

No fim da sessão o comportamento poderá se ajustar adequadamente

aumentando a freqüência enquanto a nova contingência se fixa. Mas os estímulos que coincidem com o começo da sessão tornaram-se correla­cionados a uma baixa distribuição da freqüência de reforçamento. A baixa distribuição de freqüência, por sua vez, gera uma baixa freqüência,

e freqüências baixas de resposta, então, caracterizem o in íc io de cada

sessão sucessiva.Este processo se auto-perpetua. A baixa freqüência no começo da

sessão mantém a distribuição da freqüencia de reforço num nível correspondente baixo, e esse processo circular garante uma correlação contínua entre o começo de uma sessão e o reforçamento não freqüente.

Mas, embora este efeito de "aquecim ento" possa ser consistente num

determinado sujeito, pode não ser observado em todos os sujeitos. Sua presença dependerá da freqüência de resposta original da linha de base, da extensão da "obtenção-lim itada", e provavelmente de alguma função

dessas variáveis em combinação. Outros fatores relevantes incluirão um

grau de estabilidade normalmente observada na linha de base original, o estado de privação do sujeito, a exclusividade dos estímulos correlacio­nados com o começo das sessões experimentais e a história comporta­

mental do sujeito. Qualquer variável que permita uma exposição ainda

que breve do sujeito à verdadeira contingência no começo da sessão

pode liquidar a correlação espúrea.

Como em todas as contingências adventícias, a falta de controle direto amplia os efeitos de variáveis que poderiam quase não ter nenhum

poder diante da contingência deliberadamente programada. E, além da casualidade da variabilidade, também precisamos lutar contra a ambi­

güidade da nossa compreensão do processo comportamental em obser­vação. Porque se não reconhecermos a possibilidade de extinção adven­

tíc ia poderemos dedicar um trabalho experimetnal e especulativo consi­derável à pesquisa de outros processos para explicar o fenômeno do

"aquecim ento".A pcorrência da extinção adventícia não precisa ser limitada ao

começo de uma sessão experimental. O problema é a mais geral das relações fortu itas entre a distribuição da freqüência de reforço e os

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368 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

estímulos em particular. A relação pode ser puramente casual, e pode

dar origem tanto a uma probabilidade mais alta de resposta, como a uma

mais baixa. Tudo o que se requer é algum grau de irregularidade no comportamento da linha de base. Morse e Skinner apresentaram uma

demonstração única e defin itiva (61). Com pombos como sujeitos, o

com portam ento dâ linha de base era uma baixa freqüência média de

resposta, mantida por um esquema de reforçamento em intervalo-variável. A chave de resposta era normalmente iluminada por uma luz alaranjada, »ias uma vez por hora uma luz azul era projetada na chave, durante

Quatro minutos. 0 esquema de apresentação do estím ulo azul era inde­pendente do esquema de reforçamento.

Embora a luz azul não estivesse programada como parte de qualquer CQntingência de reforçamento, a freqüência de resposta passou para o c°n tro le desse estímulo. Em alguns casos, a freqüência de resposta caiu

a Um nível m uito baixo durante o estím ulo azul, e em outras ocasiões a *reqüência era consistentemente mais alta do que a linha de base. A d 'sCussão de Morse e Skinner nos dá uma análise concisa dos resul­t s .

Um estím ulo que está presente quando uma resposta é reforçada

pode adquirir controle discrim inativo sobre a resposta mesmo que

a sua presença no reforçamento seja adventícia. Suponhamos, por exemplo, que um organismo esteja respondendo numa freqüência

moderada num esquema de reforçamento em intervalo-variável, e deixe que um estímulo incidental (A) apareça ocasionalmente durante um breve período. Mesmo que não haja relação temporal

exp líc ita entre o aparecimento de A e o programa de reforçamento,

Uma resposta poderá ser ocasionalmente reforçada na presença de A . Durante um breve período a freqüência deste reforçamento pode

ser apreciavelmente maior do que na ausência de A. Um organismo ^U e seja sensível a pequenas diferenças na freqüência de reforça­m en to formará uma discriminação; sua freqüência de resposta na

Presença de A tornar-se-á maior do que na ausência de A. Isto Poderia ser chamado de superstição sensorial positiva. Se, por outro la^Io, acontecer que o reforçamento ocorra com relativa infre-

^ ê n c ia na presença de A, uma discriminação desenvolver-se-á na r eção oposta, com o resultado da freqüência na presença de A se

to r t ia r relativamente baixa — uma espécie de superstição sensorial ne9ativa.

^ u^n d o uma contingência acidental produz uma freqüência mais

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 369

alta ou mais baixa de resposta na presença de estímulo incidental,

segue-se um segundo efeito. Se a freqüência tiver caído na presença

de A (devido a um reforçamento relativamente infreqüente), as respostas terão uma probabilidade de reforçamento ainda menor

na presença de A. No caso extremo nenhuma resposta será dada na presença de A , e nenhuma resposta será reforçada, é claro. Ainda

mais, os reforços que ficarem disponíveis durante A não serão obtidos porque as respostas não são dadas. A primeira resposta

depois do desaparecimento de A é então reforçada, e a discri­

minação ficará bem mais fortalecida. Da mesma forma, quando a

freqüência é aumentada durante A devido a reforçamento acidental

favorável, todos os reforços preparados durante A serão provavel­mente obtidos, e se a condição precedente exigir uma freqüência

relativamente baixa, alguns reforços preparados naquela ocasião

poderão ser realmente obtidos depois do aparecimento de A, para fortalecer a discriminação (61, p. 308).

Morse e Skinner continuam e observam que a direção da contin­gência adventícia não é necessariamente estável, porque durante um longo período de tempo as relações casuais provavelmente oscilarão. Além disso, o estabelecimento de uma contingência acidental será uma função de variáveis como a duração do estímulo incidental em relação

à extensão da sessão, o esquema de reforçamento, e o tipo de desempenho que fo i gerado. Todos esses fatores se combinam para propor um

problema de controle a que poucos investigadores, se é que houve algum, deram atenção.

As implicações do controle adventício discrim inativo do tipo demonstrado por Morse e Skinner são especialmente válidos para os

experimentos em que a técnica condicionada de supressão é usada. Quando um estímulo pré-choque suprime uma linha de base em anda­

mento de um comportamento positivamente reforçado, há uma mudança concomitante na distribuição de reforços. Devido à freqüência de resposta dim inuída durante o estímulo pré-choque haverá poucos, se algum, reforços, na ausência do estím ulo pré-choque. Assim a situação é ideal

para o desenvolvimento de uma correlação entre o estímulo e a baixa freqüência de reforçamento, uma correlação cujo efeito pode ser somado ao do choque inevitável, ao manter uma baixa freqüência de resposta durante o estím ulo pré-choque. A confusão desses três fatores será aumentada posteriormente se um reforço, que se tornou disponível durante o estím ulo pré-choque, mas que não fo i recebido devido à baixa

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370 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

freqüência de resposta, é então conseguido imediatamente no térm ino

do estímulo.Considerações serpelhantes se aplicam quando colocamos uma con­

tingência de punição sob o controle do estímulo. Se uma resposta da linha de base positivamente reforçada fo r preparada para produzir um

choque na presença de um determinado estímulo, a baixa freqüência de resposta que resulta durante o estím ulo automaticamente será correla­

cionada com a baixa freqüência de reforçamento. Esta correlação pode em si mesma contribu ir para a manutenção de uma baixa freqüência. Se

tais correlações podem ser controladas e eliminadas, ou mesmo, se é

desejável fazê-lo, é, atualmente, uma questão de especulação.

HISTÓRIA DO COMPORTAMENTO

O comportamento de um organismo é determinado pelas experi­ências passadas, assim como pela situação atual, e os psicólogos experi­

mentais dispenderam muitos esforços na investigação e na délineação mais precisa dos fatores históricos. Estudos de extinção, estados de transição, efeitos cumulativos de certas variáveis, etc., tudo pertence a esta categoria. Uma das vantagens principais dos animais inferiores como sujeitos experi­mentais tem sido a facilidade relativa de controlar a sua história compor­tamental e de fornecer-lhes experimentalmente qualquer história que fosse pertinente com uma determinada investigação.

Na medida em que os psicólogos experimentais se tornaram mais confiantes nas suas técnicas de controle, começaram a mover para cima a escala filogenética, usando espécies mais adiantadas como macacos, chimpanzés, e seres humanos em suas experiências. Esses trabalhos têm sido m uito bem sucedidos em várias áreas de pesquisa, mas o uso experi­

mental de espécies mais avançadas tem criado novos problemas. O que é

pertinente è nossa discussão atual é a quantidade crescente de variabilidade

inter-sujeitos observada nos organismos superiores. Boa parte da varia­

bilidade deriva da história comportamental considerável e amplamente desconhecida que os organismos superiores carregam com eles para o

laboratório. Macacos e chimpanzés geralmente passaram um número de anos no seu habitat-natural antes de v ir para o estudo experimental. Os

seres humanos não somente chegam ao laboratório com uma história desconhecida mas continuam a aumentar essa história se o experimento é de longa duração. Geralmente não permanecem em ambiente controlado

de laboratório durante o desenvolvimento de um estudo prolongado.

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 371

Há dois fatores que são amplamente responsáveis pela técnica bem sucedida e pelas extensões sistemáticas que têm sido feitas de organismos inferiores para os superiores, apesar da variabilidade crescente da história comportamental. O primeiro destes é o uso das variáveis experimentais que são suficientemente poderosas para anular os efeitos de fatores

históricos não controlados. Por exemplo: valores dos parâmetros da linha

de base são escolhidos porque são conhecidos por provocar a máxima resistência à interferência de variáveis estranhas; são usados reforçadores

para os quais há uma história de privação; a freqüência de reforçamento é mantida a mais consistente possível com a extensão desejada do período de observação; tipos e valores dos esquemas de reforçamento são tais que diminuam a ocorrência de outras formas comportamentais não

aquelas que estão sendo observadas.Algumas vezes é possível, ao se selecionar um reforçador, fazer uso

da história do sujeito, e fazer com que trabalho a favor, e não contra, a aplicação do controle de laboratório. Pode-se tira r vantagens das idiossin­

crasias da história de um sujeito; ou pode haver reforçadores determinados culturalmente que possuam generalidade considerável de sujeito para sujeito. Lindsley, ao trabalhar com psicóticos adultos, descobriu que é possível determinar empiricamente o tipo de reforçadpr que é mais

eficiente para os sújeitos individuais (53). Para alguns sujeitos o cigarro era o mais eficiente; para outros, o dinheiro; e em outros casos retratos

de nus são os reforçadores mais eficientes e, dependendo do indivíduo, tanto nus femininos como masculinos podem se demonstrar m uito úteis;

com outros sujeitos achou-se que respondiam melhor quando o seu comportamento tinha como conseqüência alimentar um gatinho faminto.

Embora os fatores da história de um sujeito que determinam a relativa eficiência dos diferentes reforçadores ofereçam um problema fascinante, mesmo sem uma completa compreensão desses fatores, o experimentador pode usá-los para obter o controle experimental.

Alguns experimentadores fazem uso de reforçadores que provavel­mente conseguiram a sua eficiência através do background de experi­

ência que é relativamente consistente na cultura da qual provêm os sujeitos. Estes backgrounds aparecem freqüentemente com os nomes,

em linguagem comum, de espírito de competição, auto-respeito, nível de aspirações, desejo de agradar, etc. Estes nomes, é claro, não têm valor de explicação, mas os fenômenos que pretendem encobrir podem ser bem usados para se obter o controle de laboratório dos organismos superiores. Obviamente, a investigação direta desses fenômenos aumentará o grau de rigor com o qual poderemos estender as nossas técnicas de controle aos

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372 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

organismos superiores. Embora essas técnicas possam ser eficientes, não

podemos permanecer inteiramente satisfeitos se contiverem elementos

que não são completamente entendidos.

Além do uso de poderosas variáveis da linha de base, o planeja­mento cuidadoso da situação experimental pode ajudar a d im inu ir os efeitos das diferentes histórias comportamentais. Os fatores históricos

se introduzirão numa investigação na medida em que os estímulos de uma situação experimental se assemelhem aos da experiência passada. O investigador deve ser suficientemente engenhoso para planejar seu ambi­ente experimental e os procedimentos, para que os estímulos físicos

sejam, o mais diferente possível, de qualquer coisa que seja provável que o sujeito tenha encontrado antes, e ainda que forneçam latitude suficiente

para perm itir a operação dos mesmos princípios comportamentais que governam o comportamento fora do laboratório. O controle do estím ulo na situação experimental deve dim inuir o grau de generalização de estí­mulo para o mundo exterior e perm itir também que os princípios gerais sejam observados.

Este é o velho princíp io da lim itação do laboratório versus generalidade dos princípios, e para resolvê-lo o experimentador precisa~ x '

atravessar um atalho estreito. Com sujeitos humanos adultos, é claro, não é possível colocar o comportamento única e completamente sob o controle das variáveis correntes. Na época em que a idade adulta fo r atingida, o comportamento já fo i controlado por variáveis por demais complexas para serem eliminadas por quaisquer métodos permitidos nos laboratórios psicológicos. Mas dados consistentes e generalizáveis podem

ser obtidos por meio de controle combinado do estím ulo e da seleção de parâmetros poderosos da linha de base. As situações experimentais até agora têm sido relativamente simples. Entretanto, pelo menos têm desem­penhado a função técnica ú til de demonstrar os métodos para obter o

controle de laboratório sobre os organismos superiores mesmo diante

dos backgrounds comportamentais existentes. Tendo como base as situações mais simples, torna-se possível abranger fenômenos mais com ­plexos.

Embora as técnicas para se eliminar os efeitos de história compor­tamental não controlada estejam num grande progresso, elas não são a

palavra final para o problema do controle. Como muitas das variáveis que tenho discutido, a história comportamental não pode ser eliminada da consideração sistemática. Devido à sua presença inevitável é um fa tor que exige estudo por si mesmo. Num estágio determinado do progresso siste­mático pode ser conveniente eliminar os fatores históricos da nossa

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 373

história, mas eventualmente devemos avaliar esses fatores e levá-los em

conta em nossa descrição sistemática do comportamento. Através da

avaliação também proporcionaremos o controle mais eficiente, porque

então, mesmo quando parecer impossível eliminar os efeitos da história comportamental, poderemos especificar quais são aqueles efeitos. O

controle pela avaliação sempre é mais eficiente e mais satisfatório do que

o controle por exclusão.

PROCESSOS A LONGO-PRAZO

Existem algumas variáveis que, pela sua natureza, exigem período de

tempo relativamente longo antes que seus efeitos globais sobre o compor­tamento possam ser observados. Não me refiro simplesmente ao processo gradual de aprendizagem que pode estar envolvido na adaptação compor­

tamental a uma nova variável, mas sim ao fato de que um período longo , de tempo possa decorrer antes que se possa dizer que o sujeito tenha mesmo sido exposto à variável. A freqüência de reforçamento, por exemplo, é, por definição, uma variável desse tipo. O sujeito deve receber um grande número de reforços antes que a sua freqüência de ocorrência possa ter um efeito além da influência de qualquer intervalo individual de reforçamento. Por exemplo. Anger demonstrou que períodos longos

entre as respostas são raros em certos esquemas de reforçamento em intervalo-variável, porque esses períodos entre as respostas diminuem a

freqüência de resposta (1). Um fator como este requer intrinsecamente

iim longo período de tempo para invadir o comportamento. A freqüência

de chofaue é um tipo de variável semelhante. Qualquer fato deve ocorrer

um gr/Jnde número de vezes antes que sua freqüência de ocorrência possa

tornatfse um fa tor de controle, não porque o sujeito possa exigir um longo tempo para aprender a freqüência, mas porque uma freqüên­

cia não deve mesmo ser especificada durante um longo período de tempo.

Por exemplo, em que ponto poderemos dizer que o sujeito fo i exposto a uma freqüência de comportamento? Não há resposta adequada a essa questão em termos de técnicas correntemente disponíveis. Nossa melhor solução até o momento é uma solução ciruclar. Podemos somente

observar o comportamento para determinar se está sendo afetado pela freqüência de comportamento, e se o efeito se estabilizou. O tipo de observação comportamental que fazemos dependerá do procedimento em particular que estamos empregando em qualquer experimento dado.

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374 . TÁTICAS DA PESQUISA CIENTI'FICA

É possível tomarmos nossa decisão pela simples inspeção das curvas cumulativas de resposta, ou das freqüências relativas, ou outras medidas comportamentais comuns. Ou pode ser necessário, como na investigação

de Anger, realizar algum controle e operações de mensuração relativa­mente sofisticados.

A freqüência de reforçamento e outras variáveis dessa classe podem ter interesse de duas maneiras. Podemos estar simplesmente interessados em especificar e estabilizar os efeitos da freqüência de reforçamento;

ou podemos desejar manipular a freqüência de reforçamento como uma

variável experimental. No prim eiro caso não temos alternativa a não ser deixar o tempo correr, e esperar até que nossas observações compor­

tamentais nos digam que a variável assumiu o controle. Mas seria abor­

recido e dispendioso repetir esse período de espera cada vez que manipu­

larmos a freqüência de reforçamento, como uma variável experimental. Este, então, é o nosso segundo problema. Haverá alguma forma de se encurtar o tempo exigido para o estudo dos efeitos das variações a longo prazo de variáveis, como a freqüência de reforçamento?

As técnicas do controle do estím ulo podem conter a resposta deste problema. Se pudermos colocar a freqüência de reforçamento sob o

controle do estímulo exteroceptivo, então precisaremos somente mudar o estím ujo para observar imediatamente os efeitos de diferentes fre­

qüências de comportamento. O pré-treinamento envolveria a exposição

do sujeito à margem de freqüências de reforçamento desejada, ou qualquer outra variável a longo prazo que fosse interessante. Cada valor da variável, no entanto, seria correlacionada com um estím ulo distin to. Diante de uma cor, por exemplo, poderia haver a média de um reforço por m inuto; diante de outra cor, a freqüência poderia ser de dois por m inuto; e assim

por diante, através da série tota l de valores a que o sujeito é exposto.Logo que o controle estiver bem desenvolvido, o comportamento

se modificará adequadamente, assim que a cor prevalecente no estímulo fo r alterada, juntamente com a sua freqüência de reforçamento correla­

cionada. Teremos então à nossa disposição como instrumento uma linha

de base de elementos m últiplos, por meio da qual podemos estudar os

efeitos da freqüência de reforçamento em combinação com outras variáveis.

A aquisição do controle imediato através dos vários estímulos pode ser estimulada, durante a fase de pré-treinamento, fazendo com que cada

modificação da freqüência de reforçamento seja radical, para que o comportamento sinta os efeitos da mudança sem demora. Apesar disso, o estabelecimento dessa linha de base de m últiplos elementos pode

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 375

também levar um período de tempo considerável, dependendo de quanto

tempo o sujeito precisará ser exposto a uma freqüência de comporta­mento antes que assumia o controle desse comportamento. Mas a utilidade

subseqüente desse instrumento pode bem ser suficientemente grande para

justificar a despesa inicial. Sabe-se taõ pouco sobre a ação das variáveis a longo prazo, e suspeita-se de tanta coisa, que os trabalhos de investigação

intensiva nessa direção provavelmente se revelarão interessantes e úteis.

Há um segundo tipo de processo a longo prazo que está estreita­mente relacionado com nossas discussões anteriores sobre as contingências adventícias e o seu envolvimento na aprendizagem. Devido às correlações

adventícias, qualquer contingência que estabelecemos experimentalmente pode continuar a se adaptar durante m uito tempo. O processo de adaptação não se revelará necessariamente nas nossas medidas da linha de base, mas pode se manifestar como uma causa da variabilidade quando a linha de base fo r manipulada experimentalmente.

Quando estabelecemos uma contingência entre uma resposta e uma conseqüência ambiental, usualmente há uma ampla classe de variações

no aspecto da resposta que irá satisfaler a contingência. Essa classe define uma operante. Mas a margem da variação da resposta na operante está ela mesma sujeita a modificações por inúmeros fatores. Estas variações que exigem um grande dispêndio desnecessário de energia, tenderão a desaparecer. Entretanto, este processo levará tempo, uma vez que as respostas de grande energia satisfazem realmente a contingência e pro­

duzem o reforçamento. A topografia do comportamento também tenderá a se aproximar de uma forma que permite a obtenção mais rápida do

reforço depois da conclusão da resposta. 0 processo é novamente lento devido ao fato de formas relativamente ineficientes serem assim mesmo

reforçadas, e em razão do primeiro exemplo de resposta eficiente não ter

ainda ocorrido até o ú ltim o estágio do experimento. Aspectos detalhados da resposta que não são necessários para satisfazer a contingência podem também persistir durante m uito tempo, simplesmente porque acompa­nham o comportamento reforçado. Pode ser que o comportamento não

se desfaça desses aspectos desnecessários até que ocorram vários refor­

çamentos na sua ausência.Uma adaptação automática do processo, então, pode se prolongar

durante m uito tempo. Gradualmente o comportamento se encadeia bus­cando a forma mais eficiente para satisfazer a contingência de reforça­

mento. Pequenas variações não controladas na topografia da resposta contribuem para este ponto final estável. O processo se torna bem visível quando a contingência de reforço é espúrea. O comportamento inicial

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376 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

condicionado adventiciamente, gradualmente se modifica na medida em que se acumulam pequenas variações, e a resposta que irá prevalecer no

estágio fina l pode não ter nenhuma semelhança com a sua form a o ri­

ginal (82). O processo fica em aberto, com nenhum estado final necessário, porque a contingência adventícia não estabelece nenhuma relação entre

o com portam ento e o reforçamento, pela qual uma forma estável de resposta pode ser escolhida.

O processo de adaptação automática a longo-prazo coloca um problema de controle, porque obscurece nossa definição da amostra de

com portam ento com a qual trabalhamos. Se esta amostra se modifica no tempo, n ão podemos sempre estar aplicando nossas operações experi­

mentais ao mesmo material. O problema nos envolve na mais ampla

questão da definição de uma resposta. Já nos acostumamos a responder a esta questão em termos de conceito da operante de Skinner, que admite

a equivalência de todo o comportamento que produz as mesmas conse­qüências sob o mesmo controle do estímulo (80). A utilidade deste

conceito nã0 pode ser questionada, porque tornou possível a observação

de um grau sem precedentes do ordenamento do com portam ento. A identificação da operante como unidade da resposta tem sido a concepção

unificadora mais poderosa no estudo do comportamento.Mas agora estamos atingindo o estágio, que se tornou possível pelo

grande progresso da nossa sofisticação técnica e sistemática, onde os fenômenos complexos e sutis até agora intocáveis no laboratório, estão ficando ao alcance do exame experimental. A sutileza crescente dos fenômenos comportamentais em investigação deve ser igualada pelo rigor

e refinam ento crescentes do controle experimental. Não é provável que possam continuar a ignorar as variações da topografia da resposta numa classe de o p erantes, especialmente quando os fenômenos em investigação exigem avaliação quantitativa. Se aderirmos com demasiada rigidez à

suposição de que os componentes de uma unidade operante são equiva­

lentes em todos os aspectos, é provável que não apreciaremos, e subse­qüentemente não controlaremos, as principais fontes de variabilidade

nos estudos de fenômenos comportamentais mais sutis.

Uma abordagem desse problema é especificar a operante em termos de propriedade comportamental que está sendo medida. Embora tivés­

semos sido acostumados a chamar a pressão à barra de operante, a sugestão é para que se classifiquem certos aspectos mensuráveis da

pressão à barra como operantes separadas, por exemplo, freqüência de ocorrência, latência, energia, etc. Uma freqüência de pressão à barra de cinco respostas por m inuto pode ser uma operante, e uma freqüência

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TÉCNICAS DE CONTROLE (CONT.) 377

de dez por minutos, outra. É possível fazer com que o reforçamento

dependa de um valor específico de algum aspecto do comportamento,

e tratar aquele valor como uma resposta em si mesma.

Esta restrição na classe da operante pode na verdade ajudar a

d im inuir os problemas que surgem dos processos de auto-adaptação a

longo prazo. Mas isso só poderá acontecer se a especificação conceituai -for igualada por uma especificação equivalente do controle experimental.

Se a classificação da operante tiver que ser lim itada a uma resposta que

ocorra numa determinada freqüência, ou numa determinada latência,

e tc .. . então a contingência de reforçamento também precisa ser limitada, assim como o controle do estímulo. Na medida em que essas restrições lim itam o tamanho da classe de comportamento que pode entrar nas contingências, teremos que reduzir o tempo necessário para que a adaptação automática se torne completa.

Não é provável que isto seja uma solução permanente para o problema do controle. Além de uma possível dim inuição da legitimidade, há pelo menos uma outra desvantagem compensatória para a restrição

excessiva da amostra de comportamento com que trabalhamos. Quanto maior a sua restrição, com menos probabilidade a operante deverá existir com grande força inicialmente, e será mais d if íc il estabelecer a sua participação numa contingência experimentalmente controlada. A menos que o comportamento ocorra com uma freqüência apreciável no começo, não teremos a oportunidade de controlá-lo experimentalmente sem embarcar num programa deliberado de adaptação. Determinar quando

este programa estará completo, será uma tarefa tão incerta quanto especificar o fim de um processo de auto-adaptação. O problema do

prazo longo, na maioria dos casos, ainda permanecerá conosco.

Mas talvez este seja o caminho certo, porque resultados imprevistos

podem destruir a relevância da minha crítica. Talvez se quisermos

empregar um esquema de razão-fixa de, por exemplo, 50:1, deveremos

reforçar não somente cada quinqüagésima pressão à barra, mas cada

quinqüagésima pressão à barra que teve uma força de 2 0 gramas e uma duração de 0.1 segundo. Novos tipos de legitimidade também podem emergir desta limitação, trazendo com elas seus próprios problemas de

avaliação de dados.

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apenthce-------- 1

NOTA___________________ TERMINOLÓGICA

A maioria dos autores de metodologia científica tirou os seus exemplos das ciências físicas, ou das áreas da biologia, em vez de os tira r da psicologia. Por esta razão, as referências deste livro aos problemas, técnicas e dados comportamentais envolvem termos que não serão fam i­liares para muitos leitores. O objetivo desta nota é o de esclarecer suficientemente os termos, para que o leitor então possa usar vantajo­samente as ilustrações e seguir a discussão sem distrações desnecessárias. Não tentei inclu ir todos os termos psicológicos, mas somente aqueles que

usei neste livro.

APARELHAGEM

Quando o psicólogo leva um organismo para o laboratório para

estudar o seu comportamento, vê-se imediatamente diante de um número

de problemas práticos. Se o sujeito não fo r humano, é preciso que haja espaço disponível para viver, no qual ficará alojado, tanto antes que o

experimento comece, como durante os períodos entre os tratamentos experimentais. Portanto, a maioria dos sujeitos animais têm uma gaiola para morar.

A lim ento e água podem ou não estar ao alcance do animal na sua gaiola, dependendo da investigação especial da qual participa; ou podem

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380 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

estar à disposição somente em condições específicas. A disponibilidade de alimento e água é especificada como esquema de privação. Por exemplo,

um esquema de privação de alimento de 23 horas indica que, para cada hora que o animal tiver acesso ao alimento na sua gaiola, haverá 23 horas

intermediárias durante as quais ele não terá nada para comer.

Surge então o problema de selecionar um espaço experimental onde

alojar o sujeito, enquanto o experimento está sendo realizado. A experi­

mentação de laboratório automaticamente implica num certo grau de

restrição, tan to da atividade do sujeito, como dos tipos de observação que se oferecem ao investigador. Colocando o sujeito numa câmara fechada o experimentador lim ita a área de atividade do sujeito, mas não a sua liberdade de ação dentro daquela área. O tamanho do espaço, é claro,

depende do tamanho do sujeito — relativamente amplo para acomodar um ser humano ou um chimpanzé, e menor para um camondongo.

Geralmente os sujeitos permanecem no espaço experimental durante um período de tempo lim itado, que se denomina sessão experimental. O

experimento em si mesmo pode se prolongar por um grande número de sessões, com o sujeito voltando para a sua gaiola, ou, se fo r um ser humano, para o seu ambiente normal, entre as sessões.

O investigador lim ita as suas observações ao registro dos efeitos que as suas operações experimentais produzem em algum aspecto escolhido do comportamento do sujeito. Em certos tipos de estudos, o com por­tamento escolhido para ser observado pode te r um interesse em si mesmo, como quando o objeto de estudo é a investigação do comportamentò copulatório. Na maioria das investigações usei, como exemplos ilustrativos,

a resposta específica, cujas características que estão sendo registradas não

têm nenhum interesse intrínseco. Foi escolhida simplesmente como um

exemplo do comportamento do organismo, e segue possivelmente as

mesmas leis que qualquer outro exemplo que pudéssemos ter escolhido.

Esta suposição tem sido suficientemente verificada para que nenhuma das

suas exceções merecesse estudo posterior, simplesmente por serem exceções.

O problema da escolha da resposta do organismo para a observação é comumente resolvido com base na conveniência, tanto do organismo

experimental, como do experimentador. Deve ser uma resposta que não exija um esforço excessivo, e cuja repetição não canse o organismo — a menos, é claro, que o esforço e o cansaço sejam os problemas em investi­gação. Deve ser uma resposta cujas características importantes sejam facilmente registráveis, com um m ínim o de interferência do próprio pro­cesso de observação. Por razões que serão mencionadas brevemente, deve

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NOTA TERM INO LÓ G ICA 381

haver um constrangimento m ínim o sobre a freqüência de resposta do

sujeito.Com um organismo como o pombo, a resposta de bicar tem sido

considerada como a que preenche esses requisitos. Numa das paredes de espaço experimental é colocado um disco translúcido, ou chave. Quando a ave bica a chave, a pressão liga um comutador, que então envia uma corrente elétrica para o equipamento de registro e para outro aparelho usado para programar o procedimento experimental. O pombo, é claro,

está bem adaptado à resposta de bicar; bica facilmente e rapidamente, e assim que tiver bicado a chave estará pronto a repetir a resoista imedia­tamente. Ligando-se a chave a um in terruptor sensível, pode-se fornecer uma solução simples para o problema do registro. Um outro aspecto da chave é o fa to da sua translucidez; pode ser iluminada por luzes de várias cores, as luzes da chave, e padrões visuais como pingos de vários tamanhos, figuras geométricas, formas brilhantes, etc., podem ser nela proje­tados. Um exemplo pode ser visto na Figura 22, pág. 215. As luzes da chave têm a função de estímulo nos vários procedimentos experi­mentais.

A luz da casa não deve ser confundida com a luz da chave. Aquela é simplesmente uma fonte de iluminação geral do espaço experimental.

Pode também ser usada como estímulo. Geralmente, acendendo a luz da

casa, se indica ao sujeito que a sessão experimental começou; apagando-a,

marca-se o fim da sessão.As chaves do pombo também têm sido usadas com sucesso com o

rato, que pressiona a chave com o focinho. Mas até recentemente tem

sido mais comum, em experimentos com ratos e outros pequenos mamí­

feros, usar uma barra para o animal abaixar. Basicamente, a barra é

simplesmente uma haste de metal que se projeta no espaço experimental

através da parede; quando o sujeito pressiona a barra para baixo até uma

distância suficiente e com força suficiente, um comutador passa a fun­

cionar e envia um sinal para o aparelho de programação e de registro. Qualquer comportamento por meio do qual o sujeito consiga mover o comutador é contado como uma resposta de pressão à barra.

A pressão à barra é realmente uma resposta de alguma forma mais adequada a macacos, chimpanzés e seres humanos, que estão mais habi­tuados a manipular objetos manualmente. Algumas vezes, em vez de, ou além de, uma barra, o espaço experimental pode conter uma corrente pendente do teto. Todas as vezes em que o macaco puxa a corrente, põe

_ o comutador em funcionamento e, neste caso, a resposta de puxar a corrente é registrada.

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382 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

Os sujeitos numa câmara experimental pressionam barras, bicam

chaves, puxam correntes, etc., porque suas respostas têm certas conse­qüências. Por exemplo: a pressão à barra, pelo macaco, pode lhe trazer

algum alimento. Se o animal esteve num esquema de privação, e está fam into durante a sessão experimental, então o comportamento de pressão

à barra será predominante. O aparecimento de alimento como conse­qüência do animal pressionar a barra aumentará a probabilidade de que o animal pressione a barra novamente. Qualquer evento condicionado a uma

resposta do organismo, que altere a probabilidade futura daquela res­posta, chama-se reforçador.

O alimento é provavelmente o tipo de reforçador mais comumente

usado no laboratório de comportamento. Não por estar o psicólogo interessado no comportamento da busca do alimento, ou da sua ingestão,

embora em circunstâncias específicas pode ser que seja esta a preocupação. Usa o reforçamento alimentar como uma técnica prática para gerar e

manter uma amostra do comportamento do organismo para que 9 possa estudar. Na seção sobre procedimentos, descreverei algumas das formas em que o reforçador pode ser usado para produzir e manter o compor­tamento num organismo experimental.

Há geralmente um fornecedor automático de alimento, o alimen- tador, localizado numa das paredes do ‘espaço experimental. Se o refor­çador tiver o form ato de bolota, o alimentador, quando em ação, soltará uma bolota através de um tubo, para uma bandeja de alimento, onde ficará à disposição do animal. Para pombos, o reforçador é geralmente um cereal; um mecanismo solenóide põe o grão ao alcance do animal durante um número fix o de segundos para cada reforçamento. Se o reforçador fo r água, ou alimento em forma líquida, o alimentador consistirá de um reservatório e um recipiente que é deslocado por um m otor ou um sole­nóide. Cada reforçamento consiste de um período de segundos durante os quais o recipiente cheio estará à disposição do sujeito. A quantidade do reforçamento pode ser controlada pelo tamanho da bolota, pelo período

de tempo em que o grão ou o líqu ido ficam à disposição do animal, ou

pela concentração de nutrientes na substância de reforçamento.Outros tipos de reforçadores também podem ser usados para con­

trolar o comportamento experimentalmente. O espaço experimental muitas vezes tem um chão fe ito de hastes de metal — uma grade ou grelha — através da qual podem ser administrados choques elétricos ao sujeito. Qualquer resposta que permita ao organismo escapar ou impedir a ocorrência do choque elétrico, será então reforçada. O comportamento que permite ao sujeito desligar o choque chama-se comportamento de

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NOTA TERM INOLÓGICA 383

fuga. O comportamento que permite ao sujeito im pedir que o choque sobrevenha chama-se comportamento de esquiva.

Um tipo diferente e incomum de reforçador é a estimulação elétrica intracraniana. Usando adequados procedimentos cirúrgicos, o experimen­tador insere eletrodos de metal através do crânio do animal em certas áreas do cérebro. Estes são os eletrodos implantados. Quando o animal está no espaço experimental, são ligados fios aos eletrodos e conectados, por meio de um in te rrup tor que é manejado pela resposta do sujeito, a uma fonte de corrente elétrica. Então, toda a vez em que o sujeito res­ponde — por exemplo, pressiona a barra — uma corrente elétrica corre através daquela porção do seu cérebro onde estão localizados os eletrodos. Assim o animal estimula o seu próprio tecido cerebral. Se os eletrodos estiverem adequadamente localizados, sua auto-estimulação reforçará o comportamento do animal; sua probabilidade de resposta aumentará e as características do seu comportamento de auto-estimulação podem ser

modificadas pelas mesmas operações que descreverei abaixo para o refor­çamento alimentar.

Além dos estímulos visuais proporcionados por meio da luz da chave e da casa, os estímulos auditivos podem ser apresentados ao sujeito através de uma alto-falante localizado dentro ou perto do espaço experi­

mental. Um estím ulo auditivo pode ter a forma de um som constante, ou uma série de cliques. Para disfarçar os sons do aparelho que poderiam interferir no procedimento experimental, o espaço experimental é comu-

mente exposto a uma fonte de ruído branco, fe ito com uma ampla série de freqüências de som.

TÉCNICAS DE REGISTRO

0 psicólogo experimental está interessado nas leis que descrevem a

probabilidade, ou tendência de um organismo para responder de uma certa maneira. Antes de começar a descrever as manipulações que realiza para modificar a probabilidade de resposta de um organismo, vamos primei­ramente observar seus métodos de registrar o comportamento.

O registro cumulativo. Um índice da probabilidade da resposta é a freqüência de ocorrência. Quantas vezes, por exemplo, o sujeito responde por minuto? O registrador cumulativo nos dá uma visão contínua do quadro da freqüência de resposta do sujeito. O registrador é essencial­mente um aparelho do tipo do quimógrafo, com uma tira de papel movida por um m otor a uma velocidade constante e com uma caneta que anda

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384 TÁTICAS D A PESQUISA CIENTl'FICA

sobre o papel. Enquanto o sujeito nãnlinha paralela à direção em q Ue 0 , . ' 3 Ca" eta traça uma

sujeito responde - pressiona uma barra bica um n?°V6n ° ' Quando 0

fo r que estiver sendo registrado - a caneta c * C ^ ° U S ^ 3 ° qUe

perpendicular à direção em q Ue o paoe s a < " 7é uma curva como a da Figura 6 . A inclinação^a ° m° V,ld° ' 0 resultado

freqüência de resposta do suje ito Quando a n í™*! 6 proporc,onal àsujeito não respondeu nada d u ^ e “ 1 , ? * * " * • qUe °é pronunciada, significa que o sujeito e s ta v a ^ ° ,Ua d° a inclinaÇão A altura da curva em qualquer Ponto n resP°n endo rapidamente.

em que o sujeito respondeu até aquele momento ° nUmer° t0 ta ' ** “A curva é cumulativa porn.,« „

numa direção. Se o sujeito r L j ^ c ^ f ^ S° ment elevar a caneta ao alto do pape( a can a , . / 8 ^ ™ ' 3 suf,ciente Para

baixo e começa novamente a sua subida como n° T 'Camente volta para

Quando o experimento cobre um período dp t P 1 ^ V,St° 0 3 F'9Ura 5‘separadas da caneta podem ser cortarias P "Y * 5 •°n9° ' 6StaS excurs5es

ou te,escaped, para uma a p re s e n ta i ^ ^ * ° Utra'como na Figura 26. Prese" ^ a° ma.s compacta num relatório,

Há certos acessórios do reoi«t,-=>rW ^informações além da medida de freqüência r iT * ^ que fornecem outras adequado sinal elétrico fará com nu resposta. Por exemplo, um

em uma direção oblíqua à Sua t r i l te normaTd " Se.aeS'°'>u' * * « •

deslocada »m en .e mom eo,a„e® ; M7 " l d“ nda™ n“ ' 3 6 ' “ * é

0 sujeito recebeu um reforçam“ ™ 1 ! ° c T ^ " " q ”como na Figura 16. Na Figura 5 - *9Ura ' ° U Um choque<

deslocada durante vários m i n u t e L Z *? ^

estím ulo estava sendo apresentado ao suieito A li h° , Urante ° qUal umeste período nos revela que o sujeito não resnn ri ** ° nZOntal duranteestava ligado. respondeu enquanto o estímulo

Além da sua volta norma, quando atinge Q a|to rfo

Pode também voltar por meio h p um c!n=i „ix* •. - . , , . e um sinal eletrico para qualauer oontnda sua excursão. Isto é fe ito às vp7 « ™ HUdiquer pontoj . , ezes como na Figura 29 oara seoarar ncdados que surgem de estágios d iferentp, nnm P separar os

^ .. entes num procedimento exDsrimpntaiQuando um procedimento pynprim0«**i . , penmental-

dois registradores cumulativos podem spr h ^ ■ U3S respostas- Podem ser juntados e fotografados com as nT ^ S r* 9'Str0S seParados comparação conveniente. A FigUra 2 4 m 8SmaS C0° adas para uma

Dever-se-ia notar que o I ^ oreal, desenhado diretamente p e | 0 t mil 3 'V° ' nüm sentldo muito

o sujeito. Com exceção da escolha dai

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NOTA TERM INO LÓ G ICA 385

coordenadas, determinadas pela velocidade do papel e pela distância per­

corrida em cada movimento da caneta, o experimentador não faz nenhuma

modificação nos dados. É um registro direto do comportamento do

sujeito; além disso, é um registro imediato, que permite ao investigador

avaliar momento a momento o rumo do seu experimento enquanto ele

se desenvolve.

Períodos entre as respostas. A recíproca da freqüência média de

resposta nos revela a quantidade média de tempo que decorre entre respostas sucessivas, ou a média dos períodos entre as respostas. Depois

que o sujeito respondeu, quanto tempo levará para responder outra vez? Há instrumentos de medida que nos dão uma resposta estatística a esta pergunta, na forma de uma distribuição de freqüência dos períodos entre as respostas do sujeito, durante uma determinada sessão experimental, ou parte de uma sessão. No final de tal período o registrador indicará, por exemplo, quantas vezes o sujeito fez uma pausa de dois a quatro segundos entre as respostas, quantas vezes fez uma pausa de quatro a seis segundos, seis a o ito segundos, etc.. Isto também é uma medida da probabilidade de resposta. Dada uma resposta num certo momento, podemos avaliar quando é provável que a próxima resposta ocorra.

Outras características da resposta. Freqüências de resposta e pe­ríodos entre as respostas de maneira nenhuma esgotam as medidas da probabilidade da resposta, mas no interesse da simplicidade não mencionei outras no texto. O comportamento, no entanto, também possui outras características mensuráveis. Cada resposta, por exemplo, ocupa um pe­ríodo fin ito de tempo, conhecido como duração da resposta. Ela também pode manter uma relação temporal com um estímulo anterior e a resposta é a latência da resposta. Uma resposta, como pressionar a barra ou bicar

a chave, exige que o organismo exerça uma certa quantidade de força, e

esta força da resposta também é mensurável por instrumentação adequada.

Algumas vezes o comportamento é registrado só indiretamente, quanto

aos seus efeitos no ambiente. Por exemplo, o experimentador pode re­

gistrar o número de reforçamentos que o sujeito recebeu, ou o número que realmente recebeu relativo ao número tota l que poderia ter recebido

se tivesse se comportado de maneira perfeitamente eficiente. Da mesma forma, pode registrar o número de choques que o sujeito conseguiu evitar.

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386 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Treinamento no alimentador. É um princíp io de comportamento

bem estabelecido, que um reforçador é mais eficiente se seguir imediata­mente uma resposta. Para form ular esse princíp io de uma forma um tanto

diferente, poderíamos dizer que um reforçador exerce seu maior efeito

sobre a resposta que ocorreu imediatamente antes da sua apresentação. Ao se form ar uma resposta no repertório de respostas do sujeito é essencial,

no entanto, ter certeza de que o reforçador seja recebido pelo sujeito assim que responder adequadamente. 0 treinamento no alimentador tem

esse objetivo.

Suponhamos que o organismo experimental seja um macaco; a resposta, a de pressão à barra; e o reforçador, bolotas de alimento. Se o animal não tiver recebido treinamento no alimentador, o primeiro ofere­cimento da bolota de alimento depois de uma pressão à barra provavel­mente não terá o efeito desejado. O barulho do alimentador e o apare­cimento repentino da bolota na bandeja de alimento — se de fato o animal a vê — provavelmente assustarão o animal que assim saltará para o outro lado do espaço experimental. Depois de alguma adaptação a essa experiência inicial, o macaco finalmente se aproximará da bolota, ou a encontrará acidentalmente, e a pegará. Pode ser que simplesmente a jogue fora, ou brinque um pouco com ela para depois comê-la. Isto ocorre bem depois que tiver pressionado a barra. Do ponto de vista do macaco, a conseqüência da pressão à barra fo i um barulho que o assustou; a pressão à barra e a bolota permanecem não relacionadas.

Durante o treinamento no alimentador, a barra não está ao alcance do animal. As bolotas são simplesmente liberadas gratuitamente, indepen­

dentemente do comportamento do macaco. A perturbação inicial eventual­

mente se acomoda, sem mesmo ter sido associada com a resposta de

pressão à barra. 0 comportamento do macaco passa a ser controlado pelo ru ído do alimentador; sempre que o som ocorrer, o animal interromperá

o que estiver fazendo, pegará a bolota na bandeja, e a comerá. Então

aparecerá a barra. Na primeira vez que o animal pressionar a barra, o som será ouvido, a bolota será apanhada, e a conexão entre pressão à barra

e reforçador alimentar é feita. Mais alguns reforçamentos e a resposta

ficará firmemente estabelecida no repertório do animal e ficará disponível para outros estudos.

Adaptação. Quando finalm ente a barra ficar ao alcance do animal, depois do treinamento no alimentador, o experimentador poderá simples­mente esperar até que o animal a pressione, dependendo tanto do acaso

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NOTA TERM INO LÓ G ICA 387

do contacto, como da tendência do animaf de explorar e manipular o seu

ambiente. Neste caso o experimentador não terá o controle sobre a forma precisa da resposta de pressão à barra; o animal pode pressionar a barra com ambas as mãos, com a boca, ou poderá pular para o alto e cair sobre ela. E, dependendo da localização, tamanho, força exigida, e outros aspectos da barra, a primeira resposta pode não sobrevir durante algum tempo. Para conseguir uma resposta mais rapidamente, e controlar a sua forma precisa, ou topografia, o experimentador deliberadamente adapta a

resposta desejada segundo a massa de comportamentos indiferenciados que estão sendo exibidos pelo animal.

A adaptação é realizada por um processo de aproximação sucessiva. Se o animal começar por permanecer praticamente imóvel, o experimen­

tador primeiramente oferecerá uma bolota cada vez que o animal se

mover, seja qual fo r esse movimento. Assim que os reforçamentos tiverem aumentado a probabilidade de movimento, o experimentador começará a

lim itar o tipo de movimento que irá reforçar. Gradualmente exige que o animal se aproxime da barra, que fique diante dela, que levante a pata para cima até alcançá-la, que fique com a mão na barra e que finalmente

a pressione. Assim o animal gradualmente se aproxima da forma de res­

posta desejada, e assim que responder adequadamente, nenhum outro comportamento poderá reproduzir o reforçamento.

Esquemas de reforçamento. Logo que o experimentador consiga a sua resposta padrão, continua a oferecer um reforçador para o sujeito cada vez q i 'ï ocorrer a resposta. Este procedimento de reforçamento para cada resposta é denominado reforçamento contínuo. O processo total inicial pelo qual o organismo aprende a resposta é freqüentemente cha­mado de aquisição. Se o experimentador então desligar o alimentador,

para que o sujeito não possa mais produzir o reforçamento, a freqüência da resposta previamente reforçada declinará até um valor baixo, para finalmente desaparecer. A operação de não reforçamento é denominada extinção, e uma resposta cuja freqüência tenha d im inu ído devido ao não reforçamento se diz que fo i extinta.

Há um grande espaço intermediário entre o reforçamento contínuo e a extinção. Assim que o comportamento estiver bem estabelecido pelo reforçamento contínuo, não mais será necessário reforçar cada ocorrência da resposta. Um nome genérico para o procedimento de reforçamento somente de algumas ocorrências da resposta é reforçamento intermitente. O sistema, ou programa, de acordo com o qual o reforço é oferecido é

chamado de esquema de reforçamento.

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388 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

Os esquemas de reforçamento que passarei a descrever não somente

são eficientes em manter o com portamento do organismo mas também

são responsáveis por certas características do comportamento. Cada

esquema dá origem à sua forma característica de comportamento, e muitas vezes é possível, pelo exame do registro cumulativo, identificar-se o

esquema de reforçamento que está em vigor na ocasião.

Intervalo-fixo. A disponibilidade do reforçamento pode ser progra­

mada por um cronômetro. Digamos que o cronôm etro tenha sido acertado para cinco minutos. A sessão começa, o cronôm etro começa a funcionar, e nenhuma resposta é reforçada nos cinco minutos. As respostas durante

este período são sem efeito; o experimentador simplesmente as registra.

No fim dos cinco minutos o cronôm etro pára e um in terrup tor se fecha. A próxima resposta envia um sinal por meio do in terruptor para o alimen­

tador e um reforço é oferecido. 0 in te rrup tor imediatamente se abre, o cronômetro passa a funcionar novamente, durante os próximos cinco minutos seguintes o organismo não poderá produzir um reforçador. A pri­meira resposta que seguir a pausa de cinco minutos é novamente refor­çada. Os ciclos continuam, com o reforçador à disposição do organismo somente depois que cinco minutos tenham se passado desde a última resposta reforçada. Este é um esquema em intervalo-fixo de cinco minutos.

Se o organismo fo r suficientemente privado de alimento; se a quanti­dade de reforçamento fo r suficientemente grande; se o tipo de alimento fo r o reforçador de eficiência máxima, o comportamento do animal poderá ser mantido em esquemas de intervalo-fixo por várias horas. O compor­tamento do animal passará por vários estágios, mas finalmente assumirá

certas características estáveis, dos quais há um exemplo na Figura 18. Depois de cada reforçador o animal pára de responder, e o registro cumu­lativo se nivela durante esta pausa após o reforçamento. Depois da pausa,

o animal começa a responder, vagarosamente no começo, e depois com rapidez crescente. 0 período durante o qual a freqüência de resposta se

acelera dá ao registro do comportamento em intervalo-fixo a sua curvatura característica. A freqüência alta e estável que emerge da curvatura e con­

tinua até o reforçamento é conhecido como a freqüência final.0 intervalo-fixo não tem que começar com um reforçamento. Pode

se iniciar em qualquer momento arbitrariamente designado pelo experi­mentador. Depois de um reforço, por exemplo, o intervalo seguinte pode não começar até que apareça um certo estímulo. Neste caso, é claro, a pausa no começo do intervalo não é uma pausa após o reforço, e pode simplesmente ser referida como um pausa do intervalo-fixo.

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NOTA TERM INO LÓ G ICA 389

Intervalo-variável. Os reforçadores podem ser postos à disposição

do sujeito em intervalos irregulares, em vez de fixos. Um método comum

de fazê-lo é mediante uma fita perfurada que se move em velocidade constante. Quando cada furo passa sob um mecanismo sensível, um in terruptor se fecha e permite que a próxima resposta do sujeito produza úm reforço. A extensão do espaço entre os furos sucessivos na fita dé programação determina a extensão de tempo que deve decorrer entre os reforços sucessivos. Esquemas em intervalo-variável são especificados pela

extensão de tem po entre os reforços e pela distribuição dos intervalos de tempo entre os reforços, na medida em que são programados pela fita.

Se a fita de programação do intervalo-variável fo i eficientemente elaborada, o sujeito responderá a uma freqüência relativamente consis­tente em todas as ocaáiões. Não haverá nenhuma ciclicidade, que carac­teriza o comportamento em intervalo-fixo.

Reforçamento diferencial de baixas-freqüências. A disponibilidade

do reforçamento pode ser programada simultaneamente por um cronô­metro em intervalo-fixo e pelo próprio comportamento do sujeito. Por

exemplo, o cronôm etro pode tornar o reforço disponível a cada 2 0 se­gundos. Cada resposta do sujeito recompõe o cronômetro que começa novamente o período de 20 segundos. Cada vez que o sujeito esperar

2 0 segundos para respoi der, a próxima resposta produzirá um reforço.

Uma vez que este esquema tem o efeito de extinguir as respostas que ocorrem em freqüências mais altas do que a de uma em 2 0 segundos, o esquema é caracterizado como o esquema de reforçamento diferencial de baixas freqüências, algumas vezes abreviado para DRL. Quando o compor­

tamento do organismo começa a respeitar o esquema, é caracterizado pela resposta espaçada, que produz uma freqüência baixa e estável. O

comportamento é algumas vezes chamado de comportamento “ timing", ou de resposta adiada, porque o sujeito precisa ser capaz de adiar a sua resposta por um período de tempo determinado se quiser obter o refor­

çador.

Razão-fixa. É possível fazer com que a disponibilidade do reforça­

mento dependa unicamente de certas propriedades do comportamento. Uma forma comum de fazê-lo é exigir-se que o organismo responda um número fixo de vezes para cada reforço. Um animal pode, por exemplo, produzir uma bolota de alimento somente a cada quinquagésima pressão à barra, independentemente do tempo que levar para pressionar a barra cinqüenta vezes. Isto é chamado de esquema de reforçamento em razão-

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390 TÁTICAS D A PESQUISA CIENTl'FICA

-fixa, desde que a razão das respostas por reforço seja constante. O es­quema é análogo ao método de pagamento por tarefa que algumas vezes

é encontrado nas indústrias.Exemplos de comportamento que se originaram do esquema em

razão-fixa são encontrados na Figura 19. Como no comportamento em intervalo-fixo, há uma pausa após o reforçamento. Assim que o sujeito

começa a responder, imediatamente adota uma freqüência alta, próxima

do máximo, que continua até o reforçamento. Tipicamente o esquema produz uma atuação bifásica, com uma freqüência zero de resposta

imediatamente após cada reforço, e uma freqüência de resposta extrema­

mente alta em todas as outras ocasiões. Um número de condições pode

influenciar a duração de uma pausa após o reforçamento; a grandeza da

razão exigida (maiores pausas para razões maiores); a quantidade de refor­çamento (por exemplo, pausas mais curtas para bolotas maiores); a

extensão da privação (pausas maiores quando o sujeito estiver saciado);

etc.. Quando as condições forem tais que produzam pausas excessivamente longas, o comportamento é pitorescamente considerado estar num estado de tensão, e é denominado um desempenho em razão tensa.

Esquiva. Como se observou anteriormente, um comportamento do

organismo pode ser reforçado não somente para a produção de coisas como alimento, mas também para im pedir os estímulos nocivos como o choque elétrico. Um procedimento comum para dar origem ao comportamento de esquiva é administrar choques breves a um organismo, em intervalos regulares — por exemplo, cinco segundos — na medida em que não pres­sionar a barra. Quando o sujeito não responde, o intervalo entre os choques é de cinco segundos, e é conhecido como o intervalo choque- -choque. Quando o sujeito pressiona a barra, adia o próxim o choque por um determinado período — por exemplo, 20 segundos. Uma vez que o organismo tenha respondido, o próxim o choque não pode v ir durante 2 0 segundos, e cada resposta subseqüente inicia novamente os 2 0 segundos

de adiamento. O intervalo pelo qual cada pressão à barra adia o choque é o intervalo resposta-choque. Este procedimento tipicamente dá origem a

uma freqüência estável de pressão à barra (veja Figura 35), com a própria freqüência sendo determinada pelos valores dos intervalos choque-choque e resposta choque, entre outros fatores.

Controle do estímulo. Os organismos, sejam ratos, macacos, ou gente, não andam normalmente por a í respondendo todas as vezes, de todas as maneiras possíveis. Um determinado tip o de comportamento é

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NOTA TERM INO LÓ G ICA 391

comumente adequado a uma determinada situação. Por adequado, que­

remos significar que o reforçamento somente virá em seguida a certas

condições; é nestas condições que o comportamento aparece. O reforça­

mento não aumenta meramente a probabilidade de uma resposta; torna a

resposta mais provável segundo a repetição das mesmas condições ou

semelhantes às que prevaleceram durante os reforçamentos anteriores.Uma técnica simples para especificar pelo menos uma das condições

adequadas ao reforçamento de uma resposta determinada é prover o

sujeito com um estím ulo ambiental d istin tivo nas ocasiões em que o refor­

çamento estará à disposição. Por exemplo: quando um som estiver sendo produzido o macaco poderá conseguir bolotas de alimento pressionando a barra; quando o som fo r desligado, a resposta de pressão à barra estinguir-se-á. Uma vez que o animal nunca é reforçado na ausência do som, pressionará a barra somente quando o som estiver sendo ouvido. Diz-se então que o sujeito discrimina o som, e o processo pelo qual aparece é denominado de discriminação de estímulo. Uma vez que o termo, discriminação, algumas vezes recebe um certo status explanatório, além da sua definição operacional, muitos experimentadores preferem não o usar de maneira nenhuma, e preferem referir-se ao controle do estímulo. A resposta de pressão à barra passou a ser controlada pelo controle do som, como indica o fa to de que o organismo pressiona a barra somente quando ouve o som.

Esquemas m últiplos. Um estím ulo ambiental pode não somente controlar a ocorrência ou não ocorrência de uma determinada resposta

mas pode controlar as características específicas do comportamento que é reforçado na sua presença. Num sentido, pode dizer ao organismo algo

sobre outras variáveis que operam na situação. Por exemplo: quando a

chave estiver vermelha podemos reforçar o comportamento de bicar de

um pombo de acordo com um esquema em intervalo-fixo de cinco m i­

nutos; quando a chave estiver verde o esquema de reforçamento poderá

ser fixado numa razão que exija 100 respostas por reforço. Eventual­

mente, o comportamento de bicar do pombo quando a chave estivqr

vermelha será típ ic o de um esquema em intervalo-fixo; quando a chave estiver verde prevalecerão as pausas cíclicas e freqüências altas de razão- -fixa. O investigador se refere a este desempenho diferencial na presença

dos dois estímulos, dizendo que os esquemas de reforçamento passaram para o controle do estímulo. Isto significa simplesmente que o sujeito se comporta em cada estím ulo de maneira adequada ao esquema de refor­çamento que está prevalecendo. Uma vez que existe mais de um esquema.

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392 TÁTICAS DA PESQUISA C IEN TIFIC A

e mais de um estímulo, o procedimento é denominado de esquema de

reforçamento m últip lo.

Encadeamento. Até agora temos usado como exemplos de refor­

çamento as necessidades biológicas, como alimento ou esquiva de sofri­

mento. Muitos outros tipos de reforçadores têm sido considerados úteis

no laboratório, e muitos deles, como o alimento e a esquiva do choque, parecem ser reforçadores naturais. 0 comportamento de uma criança pode ser reforçado por um foco de luz; o comportamento de um rato

pode ser reforçado pela permissão de entrar numa roda em movimento; o comportamento de um macaco pode ser reforçado se o deixarmos manipular certos objetos móveis. Os reforçadores que parecem estar refor­çando por si mesmos, e não exigem quaisquer procedimentos especiais para que se tornem reforçadores, são denominados reforçadores primários, e o seu efeito sobre o comportamento é denominado reforçamento pri­mário.

Mesmo as observações mais casuais indicam que muitos, se não a maioria dos reforçamentos que operam no comportamento humano são de uma classe diferente dos reforçamentos primários. Dinheiro, por exemplo, não é um reforço primário. Os sinais de prestígio e de nível social, o evitar a desaprovação dos pais — todos são tipos de reforçamento, mas não há nada de inerentemente reforçador neles. Técnicas especiais

são exigidas para conferir uma função de reforço aos estímulos que não eram reforçadores originalmente, e estes estímulos são, no entanto, cha­mados de reforçamentos condicionados ou reforçamentos secundários.

Para se ilustrar o procedimento básico, façamos uma ligeira m odifi­

cação num esquema m últip lo. Quando uma luz verde estiver ligada, um

macaco pode conseguir uma bolota de alimento pressionando uma barra

50 vezes, isto é, num esquema em razão-fixa de 50. Depois que o animal

receber uma bolota, a cor da luz muda para verde. Não mudará de novo

para vermelho até que passem cinco minutos e então o macaco pressione

a barra novamente. Com a luz verde, então, há um esquema em intervalo-

-fixo de cinco minutos, mas o reforçamento no final dos cinco minutos

não será uma bolota de alimento; simplesmente será a mudança da cor

da luz de verde para vermelha. As bolotas de alimento estarão à dispo­

sição somente quando a luz estiver vermelha, mas a luz somente pode se tornar vermelha em virtude do próprio comportamento do sujeito.

Recapitulando a seqüência: luz verde, intervalo-fixo de cinco mi­nutos, a primeira pressão à barra depois que a luz tenha permanecido verde por cinco minutos mudará a cor para vermelho; quando a luz fo r

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NOTA TERM INOLÓGICA 393

vermelha, a quinquagésima pressão à barra produzirá a bolota de alimento; com a liberação da bolota, a luz se torna verde e o ciclo recomeça

novamente.Apesar do fa to de não haver reforçamento de alimento com a luz

verde, o comportamento do animal na luz verde será tipicamente o de um

esquema de reforçamento alimentar em intervalo-fixo. A luz vermelha está reforçando suficientemente para gerar e manter o comportamento de intervalo-fixo. A luz vermelha adquiriu a sua função reforçadora, isto é, tornou-se um reforçador condicionado, porque é somente na presença da luz vermelha que o animal é reforçado com alimento.

Em razão da luz vermelha, e o seu esquema associado de reforça­mento alimentar somente pode aparecer através da mediação do

comportamento do sujeito, este procedimento é chamado de encadea­mento. O esquema em razão-fixa da luz vermelha é encadeado ao esquema

em intervalo-fixo da iuz verde, e o elo de ligação da cadeia é a resposta do sujeito de pressão à barra. Nesta cadeia em particular, há dois membros, embora essa lim itação não seja necessária. A luz vermelha age como um reforçador condicionado para o membro inicial da cadeia, o comporta­

mento em intervalo-fixo na luz verde. A bolota de alimento, que reforça a segundo membro, que é o final da cadeia é chamado de reforçador final. Neste exemplo, o reforçador final, também é um reforçador primário,

mas não é necessário que esse seja o caso. Ele, também, pode ter sido condicionado.

Devido ao fa to de um reforçamento condicionado derivar a sua função da associação com um estímulo que já está reforçando, é possível que um reforçador condicionado torne-se m uito mais poderoso do que qualquer reforçador primário. Uma vez que o reforçador pode ser asso­ciado com uma ampla variedade de reforçamentos, tanto primários como secundários. Podemos ampliar nosso exemplo de encadeamento para que o sujeito, quando fam into, receba alimento com a luz vermelha; quando

tiver sede, receberá água; quando excitado sexualmente, consiga um com­panheiro; depois de um período de confinamento, possa ter acesso a uma

área onde se d ivertir; quando um som estiver ligado juntamente com a luz vermelha, um choque ameaçador possa ser evitado. A lista poderia ser

aumentada indefinidamente. A luz vermelha então será associada a uma ampla variedade de reforçamentos e, por sua vez, ela funcionará como um reforçador condicionado numa variedade de situações. Ter-se-á to r­

nado um reforçador generalizado. D inheiro é um exemplo conspícuo de reforçador generalizado.

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394 TÄTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

ALGUNS CONCEITOS GERAIS

As situações experimentais que usei para ilustrar, têm todas em

comum um aspecto im portante: o organismo experimental está livre para responder quando quiser. Não há arreios para constranger o animal pela força; a barra jamais é retirada do espaço experimental para im pedir o sujeito de responder em ocasiões que seriam inconvenientes para a teoria

do investigador. As únicas restrições impostas ao comportamento regis­

trado do sujeito são as inerentes às leis do comportamento. Isto se chama uma situação de resposta livre.

Os experimentos que usam a situação de resposta livre, juntamente

com o quadro contínuo do desempenho do sujeito que está disponível na

curva cumulativa, desenvolvem um exame do comportamento como um processo que é continuado no tempo. A concepção do comportamento

como um processo temporal dá nascimento ao term o comportamento em andamento, que exprime a continuidade das respostas do sujeito, embora

as próprias respostas individuais possam ser discretas e bem definidas. Se o

reforçamento para um sujeito numa situação de resposta livre fo r a esquiva de choque, as variáveis da situação produzirão um certo nível de compor­tamento de esquiva em andamento-, outras variáveis darão surgimento ao comportamento reforçado por alimento em andamento, etc..

O comportamento em andamento dá ao experimentador uma im por­tante vantagem tática: pode manipulá-la diretamente. Pode in troduzir uma nova variável, ou mudar o valor de uma que já seja relevante, e pode observar quaisquer alterações que se realizem no comportamento em andamento. O comportamento em andamento pode servir como uma linha de base de onde medir os efeitos das operações experimentais. Uma Unha de base comportamental não é algum estado de comportamento

idealizado inferido do comportamento de um grupo de indivíduos por

meio de um processo estatístico de média. É o desempenho contínuo e continuado de um único indivíduo.

Depois que o experimentador estabeleceu algum nível da linha de base está pronto para mudar as condições experimentais. Se a linha de base do comportamento fo r mantida por um esquema de reforçamento

em intervalo-fixo, pode alterar a extensão do intervalo-fixo. Ou pode modificar o tamanho da bolota de alimento. 0 tip o de linha de base mais

ú til à mensuração do efeito das operações experimentais consiste num

comportamento que é mantido em estado-estável-, isto é, comportamento cujas características não se modificam durante um período de tempo

longo; comportamento que permanece estável, ou constante. Por exemplo,

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NOTA TERM INO LÓ G ICA 395

o esquema de esquiva que descrevi acima manterá a freqüência de res­

posta do sujeito a um valor estável durante longos períodos de tempo,

muitas horas, ou mesmo dias. Quaisquer mudanças que se realizem nestes

comportamentos em estado-estável podem ser atribuídas com segurança

às manipulações do experimentador.

O com iprtam ento em estado-estável é ainda mais ú til para o experi­mentador se fo r reversível. Depois que o experimentador mudar as con­dições experimentais, alterando assim o comportamento, pode então

voltar às condições originais e esperar que o comportamento volte ao seu estado-estável original? Se o comportamento original puder ser recupe­rado, diz-se que é reversível. A reversibilidade torna possível replicar um experimento muitas vezes com um único organismo, e eliminar o problema incômodo, ainda que interessante, de levar em conta a história compor­tamental do sujeito. Quando o comportamento fo r irreversível, isto é, não recuperável no seu estado original, o investigador deve examinar as variáveis às quais o sujeito não está sendo correntemente exposto, mas que já fo i exposto no passado, e que constituem a história comporta­mental do organismo.

Page 397: Táticas da pesquisa científica_Murray Sidman

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composição e artes

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Säo Paulo