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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DA ECONOMIA CRIATIVA TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENTO CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE DE BÚZIOS Rio de Janeiro 2018

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DA ECONOMIA CRIATIVA

TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENTO

CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE DE BÚZIOS

Rio de Janeiro

2018

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TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENTO

CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE

DE BÚZIOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para a obtenção do título de Mestre em Gestão da Economia Criativa [Linha de pesquisa: Gestão Estratégia de Setores Criativos] pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM

Orientador: Daniel Kamlot

Rio de Janeiro

2018

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Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da Biblioteca ESPM

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TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENO

CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA DESENVOLVIMENTO

DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE DE BÚZIOS

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Gestão da Economia Criativa pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2018.

__________________________________________ Prof. Daniel Kamlot

Orientador (a)

__________________________________________ Prof. Luís Alexandre Grubits de Paula Pessôa

Avaliador 1

__________________________________________ Prof. Diego Santos Vieira de Jesus

Avaliador 2

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Dedico esse trabalho a Jesus, o autor e consumador da minha fé.

“Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas”. Habacuque 3:17-19

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus que me permitiu chegar até aqui.

A meu marido e meu filho que são meus maiores incentivadores.

A meu orientador Daniel Kamlot que me conduziu por entre os caminhos nebulosos durante todo o curso... serei eternamente grata.

Aos professores Diego de Jesus, João e Veranise Dubeux, vocês são exemplos de mestres, aprendi muito com vocês.

A o grupo 1 (Vê, Leo e Marcos), vocês fizeram minhas sextas e sábados mais alegres.

Amo todos vocês!!

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RESUMO

As cidades até 2020 irão abrigar 70% da população mundial, sendo responsáveis

pelo consumo de 75% dos recursos naturais mundiais, 75% do consumo de energia e 80%

das emissões de gases relacionados ao efeito estufa. Devido a essa aceleração urbana, há

uma necessidade cada vez maior de disponibilização e uso de recursos, o que resulta em

ambientes urbanos sobrecarregados e insustentáveis. Está cada vez mais difícil manter o

ritmo frenético de produção e sustentabilidade das cidades, portanto é necessário repensar

um novo modelo de desenvolvimento urbano (FERREIRA, 2017).

É neste contexto que as cidades inteligentes ou Smart Cities aparecem, com o intuito

de tornar as cidades mais habitáveis, seguras e produtivas, oferecendo melhor qualidade

de vida. Esse tema tem influenciado inúmeros países. É um conceito que ainda está

formação, mas é fato que ele está relacionado a transformações tecnológicas, econômicas,

políticas e socioculturais (HAUSER; BOCHI, 2017). A Smart city também se apresenta

como um grande desafio, pois pressupõe uma visão holística e sistêmica do espaço

urbano, além da integração de diversos atores e setores.

Em 2011 a AMPLA/ENEL iniciou o projeto Cidade Inteligente Búzios, voltado

para a eficiência energética da região. Ele propunha que no Balneário a rede inteligente

ou smart grid utilizaria soluções digitais avançadas que permitiriam que a rede elétrica

funcionasse de modo semelhante à internet. Fazendo a ligação entre a rede tradicional de

distribuição com as soluções modernas que enviariam além da energia, dados e

informações que iriam alimentar toda a cadeia gerando uma rede energética eficiente e

sustentável. O projeto teve um prazo de 5 anos com um investimento de 54 milhões e

atingiu inúmeros stakerholders.

Palavras chave: Cidade inteligente. Smart city. Smart grid. Eficiência energética.

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ABSTRACT

Cities by 2020 will house 70% of the world's population, accounting for 75% of the

world's natural resources, 75% of energy consumption and 80% of greenhouse gas

emissions. Because of this urban acceleration, there is an increasing need for resource

availability and use, resulting in overburdened and unsustainable urban environments. It

is increasingly difficult to maintain the frantic pace of production and sustainability of

cities, so it is necessary to rethink a new model of urban development (FERREIRA,

2017).

It is in this context that smart cities or smart cities appear, with the aim of making

cities more livable, safe and productive, offering a better quality of life. This theme has

influenced countless countries. It is a concept that is still forming, but it is a fact that it is

related to technological, economic, political and socio-cultural transformations

(HAUSER; BOCHI, 2017). Smart city also presents itself as a great challenge, since it

presupposes a holistic and systemic vision of the urban space, besides the integration of

diverse actors and sectors.

In 2011, AMPLA / ENEL started the Búzios Intelligent City project, focused on

energy efficiency in the region. He proposed that in the Balneario the smart grid or smart

grid would use advanced digital solutions that would allow the electrical network to

function in a similar way to the Internet. Connecting the traditional distribution network

with modern solutions that would send energy, data and information that would feed the

entire chain generating an efficient and sustainable energy network. The project had a

term of 5 years with an investment of 54 million and reached countless stakerholders.

Keywords: Intelligent city. Smart city. Smart grid. Energy efficiency.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Dimensões e Fatores da Smart City...............................................................23

Figura 2: Dimensões da Smart City...............................................................................23

Figura 3: Cidade inteligente...........................................................................................25

Figura 4: Evolução Cidades digitais para Cidade inteligente....................................... 28

Figura 5: Setores do Connect Smart Cities....................................................................30

Figura 6: Concentração das Cidades mais inteligentes..................................................31

Figura 7: Dimensões CIMI.............................................................................................33

Figura 8: Comparação entre Nova Iorque e São Paulo..................................................35

Figura 9: Comparação entre Buenos Aires e São Paulo.................................................35

Figura 10: DEC – Horas sem Energia............................................................................37

Figura 11: FEC – Número de vezes sem energia elétrica..............................................38

Figura 12: Economia Criativa, Cidades Criativas e Cidades Inteligentes......................44

Figura 13: Blocos do Projeto – Búzios Cidade Inteligente............................................46

Figura 14: Site Búzios Cidade Inteligente......................................................................48

Figura 15: Divulgação passeio aquataxi elétrico...........................................................58

Figura 16: Bonecas Negras............................................................................................61

Figura 17: Ponto de venda - Bonecas Negras................................................................62

Figura 18: Projeto Energia que Educa...........................................................................63

Figura 19: Painel Solar – Escola Municipal Nicomedes – Búzios................................64

Figura 20: Centro de Monitoramento e Pesquisa (CMP)...............................................65

Figura 21: Portal Bonecas Negras – Búzios...................................................................71

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Descrição das dimensões – Smart City.........................................................24

Quadro 2: Programa Brasil Inteligente..........................................................................26

Quadro 3: Programa Minha Cidade Inteligente.............................................................28

Quadro 4: Ações para as cidades selecionadas pelo programa Minha Cidade Inteligente....................................................................................................................... 29

Quadro 5: Ranking Geral................................................................................................31

Quadro 6: Ranking Primeira Colocação por Setor.........................................................32

Quadro 7: TOP 5 da América Latina..............................................................................34

Quadro 8: Comparação entre Economia Criativa, Cidades Criativas e Cidades Inteligentes......................................................................................................................43

Quadro 9: Seleção dos sujeitos.......................................................................................50

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 OBJETIVO FINAL 13

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 13

1.3 DELIMITAÇÃO DO TEMA 13

2 JUSTIFICATIVA 14

3 REFERENCIAL TEÓRICO 16

3.1 CRIATIVIDADE VERSUS INOVAÇÃO 16

3.2 ECONOMIA CRIATIVA - UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO . 18

3.3 CIDADES CRIATIVAS - A CULTURA E CRIATIVIDADE COMO DIFERENCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE CRIATIVA E SUSTENTÁVEL 22

3.4 CIDADES INTELIGENTES – TECNOLOGIA COMO INTEGRADOR DA CIDADE . 25

3.4.1 Cidades inteligentes no cenário brasileiro 32

3.4.2 Ranking das cidades inteligentes no brasil e no mundo . 35

3.5 REDES INTELIGENTES - UM DOS CAMINHOS PARA TRANSFORMAÇÃO DE UMA CIDADE EM CIDADE INTELIGENTE 41

3.6 ECONOMIA CRIATIVA, CIDADES CRIATIVAS E CIDADES INTELIGENTES – PERCEPÇÕES, DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES 45

3.7 PROJETO BÚZIOS CIDADE INTELIGENTE – A EXPECTATIVA 49

4 METODOLOGIA 55

4.1 TIPO DE PESQUISA. 55

4.2 SELEÇÃO DE SUJEITOS 55

4.3 COLETA DE DADOS 56

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS . 56

4.4.1 Abordagem qualitativa 56

4.4.2 Análise de discurso 57

4.5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 57

5 DESDOBRAMENTOS PRÁTICOS E PRODUTOS ORIUNDOS DA PESQUISA 59

5.1 A GÊNESE . 59

5.2 O PROJETO – A REALIDADE 61

5.3 O PÓS PROJETO. 73

6 CONCLUSÃO 76

7 REFERÊNCIAS 79

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1 INTRODUÇÃO

O tema Cidade Inteligente, ou Smart City, tem estado no centro das discussões, no mundo

todo, no que se refere a desenvolvimento urbano sustentável. Neste âmbito, a tecnologia é usada

para tornar os serviços e a infraestrutura mais eficientes e apresenta-se como um grande desafio

para os gestores públicos (CAMPOS, 2015). A evolução para uma cidade mais inteligente, mais integrada, mais inovadora, pressupõe uma visão holística e sistêmica do espaço urbano e a integração efetiva dos vários atores e setores urbanos. Para tal, é necessário ir além dos investimentos em inovação tecnológica e inovar também na gestão, no planejamento, no modelo de governança e no desenvolvimento de políticas públicas (CAMPOS, 2015, p. 6).

Segundo relatório da ONU (2015), hoje 54% da população mundial vivem em áreas

urbanas e em 2050 esse número subirá para 66%. Consequentemente, inúmeros desafios

deverão ser enfrentados por todos os países para se adequarem a esse crescimento populacional.

Campos (2015) complementa que, para que as transformações urbanas sejam executadas com

sucesso e a cidade se torne inteligente, é de suma importância que haja governança e

planejamento em busca de soluções integradas.

O crescimento da população exigirá dos gestores e dos próprios indivíduos uma melhor

utilização dos recursos. Camargo (2015) pontua que há necessidade da execução de um novo

modelo de progresso, o qual está voltado para o conceito de equilíbrio e reposição permanente

dos recursos. Complementa que a sustentabilidade é o novo paradigma do tempo em que

vivemos. Com isso, é necessária uma nova consciência sobre a forma de produção e consumo,

baseado na eficiência energética, redução de desperdícios, alocação correta de recursos,

mobilidade urbana, dentre outros. Os gestores precisam estar alinhados com essa tendência,

criando assim mecanismos que busquem alcançar, dentro de suas cidades, desenvolvimento

sustentável, tornando-as mais inteligentes. "É preciso, antes de mais nada, que a cidade

inteligente seja o melhor lugar para se viver" (CAMARGO, 2015, p. 19).

Um projeto de cidade inteligente pode contribuir para atender a essa demanda, por meio

da criação de mecanismos que auxiliem na busca por um maior controle e organização desses

espaços e ajudem tais cidades a se tornarem lugares sustentáveis. Implantar sistemas de

mobilidade urbana, tratamento de resíduos, eficiência energética, dentre outros, são caminhos

normalmente escolhidos pelos gestores das cidades brasileiras.

Nesse contexto, este trabalho visa à resposta da questão: Como a implementação do

projeto Búzios cidade inteligente, por meio de uma identidade energética, se relaciona com o

conceito de Smart City de uma maneira criativa? E se essa implementação se enquadra com o

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modelo de cidades inteligentes? E se pode ser considerada como um modelo de cidade

inteligente?

1.1 OBJETIVO FINAL

O objetivo deste trabalho consiste em analisar os motivos responsáveis por levar à

implementação de um projeto, na cidade de Búzios, focado na infraestrutura da área de

energia, em particular no modelo de eficiência energética, identificando se tal projeto

pode ser responsável por transformar a cidade em uma cidade inteligente.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar o papel da criatividade e inovação como catalisadores de valor

econômico na economia criativa e seu impacto no desenvolvimento das

cidades;

• Verificar como as cidades criativas utilizam a criatividade e a cultura para

mobilizar a sociedade e solucionar problemas urbanos;

• Definir o que é cidade inteligente no contexto brasileiro;

• Levantar as percepções, aproximações e diferenças entre economia criativa,

cidades criativas e cidades inteligentes;

• Analisar a situação macro ambiental da cidade de Búzios e sua relação com a

implementação do projeto em questão;

• Identificar as relações do investimento em infraestrutura de energia e o

desenvolvimento de cidades inteligentes.

1.3 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Não faz parte do escopo do estudo a análise do melhor modelo a ser implantado em

Búzios. O objetivo do trabalho é identificar o porquê de o modelo energético ter sido

escolhido em detrimento dos outros modelos existentes, não contemplando assim outros

enfoques possíveis, que podem ser eventualmente citados, mas não serão analisados como

uma alternativa à escolhida pelos gestores da cidade investigada.

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2 JUSTIFICATIVA

O termo “economia criativa” foi apresentado inicialmente por Howkins (2001), que

descreveu o relacionamento entre criatividade e economia. Para o autor, “a criatividade é a

capacidade de gerar algo novo. Significa a produção, por parte de uma ou mais pessoas, de

ideias e invenções que são pessoais, originais e significativas” (HOWKINS, 2013, p. 13). Já

para a UNCTAD (2010, p. 10), “a ‘economia criativa’ é um conceito em evolução baseado em

ativos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento econômico”. O

conceito de economia criativa é muito abrangente e permeia diferentes áreas, com conexões e

interseções importantes.

Landry (2013) pontua que a criatividade pode ajudar a desenvolver inovações e invenções

que podem auxiliar na resolução de problemas urbanos incontroláveis. As cidades precisam

disponibilizar espaços para que a população possa pensar, planejar e agir com imaginação.

Porém, o autor cita que existe um paradoxo que gira em torno da criatividade. Segundo ele,

quanto mais ela é discutida, mais há um retorno a uma cultura de aversão ao risco. É importante

que se tenha em mente que inovação está extremamente ligada a riscos. Não há como criar algo

novo sem se cometerem erros. “A questão central é ter uma mentalidade disposta a reavaliar as

coisas abertamente e ser criativo quando necessário” (LANDRY, 2013).

As cidades criativas aparecem como novo fenômeno em um cenário em que o colapso

das fronteiras geográficas desencadeou grandes e profundas mudanças econômicas, sociais e

culturais. Elas surgem em um contexto de transição de uma sociedade tradicional voltada para

força e matéria prima finita para uma sociedade voltada para a informação e para o

conhecimento. “É um processo de transformação sem precedentes, catalisado pela interconexão

tecnológica e pela mobilidade global das pessoas, dos produtos e das ideias, que denominamos

globalização e que tem efeitos negativos, mas também cria novas oportunidades” (PARDO,

2011, p. 87).

A cidade criativa se torna uma aceleradora de oportunidades quando promove a

sociabilidade, o intercâmbio, maximizando a mistura em um ambiente físico diverso e uma

atmosfera criativa. Sua infraestrutura criativa, ou “meio social criativo”, combina

equipamentos, programas e infraestrutura mental. Porém requer mudança de mentalidade,

permitindo que o povo atue como agente de mudança e não como vítima dessas transformações

(LANDRY, 2013, p. 27).

Em paralelo a tudo isso surgem as cidades inteligentes, ou smart cities, que são

ecossistemas urbanos inovadores que, para gerir seus recursos, utilizam a tecnologia da

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informação e comunicação (TICs). O desenvolvimento social, cultural e urbano é melhorado

por meio da utilização de uma infraestrutura em que a conectividade é a fonte de

desenvolvimento, possibilitando uma melhor eficiência econômica e política. O foco da cidade

inteligente é melhorar a qualidade de vida do cidadão, tornar a cidade sustentável e aprimorar

a gestão dos recursos, por meio da conexão entre o capital humano, social e a infraestrutura

tecnológica (DEPINÉ, 2016). Os conceitos relacionados à smart city surgiram num contexto de problemas urbanos agudos, associados a um ambiente de colaboração, para resolver algumas das dificuldades da vida nas cidades. O desafio é como estimular ainda mais a inovação de forma econômica e com baixo risco, de modo que, mesmo as cidades com recursos mais restritos, possam investir na prosperidade local e abordar os principais objetivos de sustentabilidade (HAUSER; BOCHI, 2017, p. 25).

Esse tema tem influenciado inúmeros países, porém não há uma compreensão única para

o termo "inteligente", contudo é notório que ele está relacionado a algum tipo de inovação que

utiliza tecnologia da informação e comunicação de maneira positiva, com o objetivo de

melhorar a vida urbana. É um conceito que ainda está formação, mas é fato que ele está

relacionado a transformações tecnológicas, econômicas, políticas e socioculturais (HAUSER;

BOCHI, 2017).

Este trabalho apresenta relevância teórica, uma vez que busca cobrir um gap na literatura

referente à relação da economia criativa e cidades criativas com as cidades inteligentes. Como

implicações práticas, visa alimentar o debate sobre as cidades inteligentes no contexto das

cidades criativas e da economia criativa, que não chama a atenção apenas do cidadão que é

afetado diretamente pelo mau funcionamento do lugar em que vive, mas atrai a atenção do

poder público e do empresariado. Do poder público, porque vai exigir a alteração de políticas

públicas de leis de regulamentações de uma série de elementos que favoreçam a implantação

do projeto. No que diz respeito ao empresariado, uma grande preocupação das empresas da área

de economia criativa é promover uma noção mais holística de envolvimento, como as empresas

se envolverão e auxiliarão na promoção do desenvolvimento sustentável, inclusão social, enfim,

uma série de elementos neste contexto.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta uma reflexão quanto aos conceitos apresentados por meio de

revisão da literatura existente sobre o problema estudado. Sua utilidade consiste na

apresentação do tema a partir da visão de autores cujas pesquisas tenham levantado questões

ou trazido à luz análises relevantes para o presente estudo. Para Vergara (2010) é no referencial

teórico que são levantados os gaps percebidos na literatura, os pontos a serem confirmados ou

as discordâncias, as preferências, dentre outros. Ela pontua que é nesta seção onde ocorrerá a

contextualização permitindo ao leitor tomar conhecimento sobre o assunto a ser exposto nas

demais sessões (VERGARA, 2010).

3.1 CRIATIVIDADE VERSUS INOVAÇÃO

A criatividade surge na economia criativa como catalisador de valor econômico, e essa

economia aparece como uma oportunidade de resgate do cidadão por meio de ativo que emana

de sua formação, cultura e raízes. A convergência entre diversos fatores como tecnologia,

globalização e a insatisfação com o atual quadro socioeconômico mundial atribui à criatividade

o papel de motivar e embasar novos modelos de negócios, processos organizacionais e uma

arquitetura institucional, e é neste contexto que reside a novidade (REIS, 2008).

Vivemos hoje um momento único na história, em que a tecnologia assumiu papel central em nossas vidas. Nos últimos anos, a tecnologia se moveu rapidamente para dentro dos nossos bolsos. E o universo de funcionalidades (apps) é simplesmente infinito e diretamente proporcional à criatividade humana (FIRJAN, 2016, p. 47).

Anteriormente o conceito de criatividade estava relacionada apenas a atividades artísticas,

porém no relatório da UNCTAD (2010), houve ampliação deste conceito abrangendo qualquer

atividade econômica dependente da propriedade intelectual por meio da produção de produtos

simbólicos. Este novo posicionamento exige com que respostas adequadas sejam

implementadas, visto que situações novas e imagináveis estão ocorrendo e essas mudanças tem

impactado substancialmente a vida de todos (FIRJAN, 2016).

Esse novo paradigma traz à tona a importância da criatividade, que neste caso é

considerada a matéria prima da economia criativa. Reis (2008) apresenta criatividade como

combustível renovável que, à medida que é utilizada, aumenta seu estoque. Ela frisa que: “a

‘concorrência’ entre agentes criativos, em vez de saturar o mercado, atrai e estimula a atuação

de novos produtores”.

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Criatividade. Palavra de definições múltiplas, que remete intuitivamente à capacidade não só de criar o novo, mas de reinventar, diluir paradigmas tradicionais, unir pontos aparentemente desconexos e, com isso, equacionar soluções para novos e velhos problemas. Em termos econômicos, a criatividade é um combustível renovável e cujo estoque aumenta com o uso. Além disso, a “concorrência” entre agentes criativos, em vez de saturar o mercado, atrai e estimula a atuação de novos produtores (REIS, 2008, p. 15).

Desde o início dos tempos, a criatividade é conhecida como combustível da inovação.

Schumpeter (1988) pontua que uma inovação só é completa, no sentido econômico, quando

gera riqueza. Ele complementa que inovações incrementais são melhorias nas inovações

radicais e essa última provoca mudanças no sistema econômico.

No nível macro, há um substancial conjunto de evidências de que a inovação é o fator dominante no crescimento econômico nacional e nos padrões do comércio internacional. No nível micro — dentro das empresas — a P&D é vista como o fator de maior capacidade de absorção e utilização pela empresa de novos conhecimentos de todo o tipo, não apenas conhecimento tecnológico (OCDE, 2005, p. 31).

A inovação sempre esteve presente na estratégia organizacional e foi responsável por

mudanças significativas no mercado. Ela é movida pela habilidade de estabelecer relações,

detectar oportunidades e tirar proveito das mesmas, mas não consiste apenas na criação de

novos produtos – pode também significar novas formas de atualizar produtos já estabelecidos

e maduros (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008).

Duas dimensões são utilizadas para mapeamento dos tipos de inovação, figura 1. Ela não

ocorre somente quando há mudanças nos produtos / serviços oferecidos pela empresa (inovação

de produto), ela acontece também quando há mudança na forma que os produtos / serviços são

criados e entregues (inovação de processo), quando há mudanças no contexto em que produtos

/ serviços são introduzidos (inovação de posição) e quando há mudança nos modelos mentais

que orientam o que a empresa faz (inovação de paradigma), caracterizando assim a primeira

dimensão (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008).

Já a segunda dimensão está relacionada ao grau de novidade envolvido. Quando existe

algo completamente novo que transforma a forma como vemos ou usamos as coisas, ela é

classifica como uma inovação radical. Já a inovação incremental está relacionada à melhoria

do produto ou processo dentro da organização. (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008).

Este trabalho irá considerar que a criatividade como ponto de diferenciação para uma

cidade ser considerada criativa e a tecnologia, sendo ela oriunda de uma inovação incremental

ou radical, como ponto crucial para o desenvolvimento de uma cidade inteligente.

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3.2 ECONOMIA CRIATIVA - UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

A economia criativa é um conceito em evolução baseado em ativos criativos que

potencialmente geram crescimento e desenvolvimento econômico (UNCTAD, 2010). Para Reis

(2008), ela se apresenta como oportunidade de resgate do cidadão e do consumidor, por meio

de um ativo que emana de sua própria formação, cultura e raízes. A autora acrescenta que a

valorização da singularidade, do simbólico e do intangível constitui os três pilares da economia

da criatividade. “Economia criativa é o conjunto de atividades econômicas que dependem do

conteúdo simbólico – nele incluído a criatividade como fator mais expressivo para a produção

de bens e serviços” (IPEA, 2013, p.7).

O papel da economia criativa se apresenta como desdobramento da economia do

conhecimento, agregando como traço crucial a cultura. Os ativos intangíveis (inclusive a

cultura) convertem-se em diferenciais econômicos em um mundo de crescente padronização.

A economia criativa também bebe das águas da economia da experiência, gerando um ambiente

no qual há manifestações imprevistas de ideias e respostas a novos e antigos desafios (REIS;

URANI, 2011). Ela pode se relacionar de forma simbiótica com as novas tecnologias e com a

comunicação; além disso, promove a diversificação econômica, de receitas, de comércio e de

inovação (IPEA, 2017).

Throsby (2010) aponta que em uma economia em constantes mudanças, a economia

criativa, juntamente com a cultura e as artes, tem sido vista por políticos, estudiosos e líderes

como um grande potencial no aumento da criatividade. Novas questões surgem e se faz

necessário que discussões existentes na pesquisa e na prática de políticas culturais, sejam

revisitadas. O autor traz ao debate as questões referentes à ampliação do escopo das políticas

culturais que migraram das artes criativas para os setores criativos e culturais e, como

consequência, novas áreas surgiram.

A economia criativa contribui de várias formas que vão desde dimensões econômicas,

sociais, culturais até as dimensões referentes ao desenvolvimento sustentável. “Sabe-se que

iniciativas culturais de base que promovem a inclusão social podem ser potencializadas a partir

da abordagem da economia criativa, e que o desenvolvimento de certas indústrias criativas pode

reduzir disparidades de gênero” (IPEA, 2013, p. 8). Podemos encontrar tanto na tecnologia

quanto na economia os principais fatores responsáveis pelo crescimento das indústrias criativas.

Na economia criativa, a geração de riqueza depende da capacidade do país de criar conteúdo criativo, transformá-lo em bens ou serviços comercializáveis e encontrar

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formas de distribuí-los, no mercado local e no exterior, ganhando escala e divulgando seu conhecimento. Esse valor é incrementado quando a região aproveita sua maior e mais inimitável vantagem competitiva: sua própria marca, como promissor veículo de exportações. (REIS, 2008, p.41).

Em uma economia baseada em matéria prima finita, a economia criativa apresenta-se

como alternativa para o desenvolvimento econômico, em que a criatividade aparece como ponto

chave. Para que a criatividade se concretize e tenha sucesso, é necessário que existam condições

favoráveis, tendo como base um processo de transformação contínua, uma essência

profundamente local que a distinguirá das demais (REIS; URANI, 2011).

Saber conectar os pontos ainda não conectados. Com a extrema abundância de informações e conhecimentos, com o vasto espectro de produtos e de iniciativas, as possibilidades se tornam praticamente infinitas. Mas não dá para ser criativo apenas olhando para o próprio quintal. É preciso sair do casulo, experimentar novos ambientes, pessoas e sistemas novos, além de estar permanentemente aberto a ouvir o contraditório (FIRJAN, 2016, p. 50).

A economia criativa é profundamente arraigada nas economias nacionais. Ao produzir

benefícios econômicos e emprego nos setores de serviços e manufatura relacionados, ela

promove a diversificação econômica, receitas, comércio e inovação. Ela ajuda a reavivar áreas

urbanas decadentes, a abrir e desenvolver áreas rurais remotas e a promover a preservação dos

recursos ambientais e patrimônios culturais de um país (UNCTAD, 2010, p. 23).

Em toda a história da humanidade, nunca se presenciaram tantas mudanças em tão curto

período de tempo. Inúmeros desafios são apresentados, mas por outro lado, há um campo

repleto de oportunidades em que anteriormente não se havia pensado. Segundo a FIRJAN

(2016, p. 48) em 2020, teremos 3 bilhões de pessoas a mais conectadas via internet, 100 milhões

de dispositivos conectados em rede e 1 trilhão de sensores, câmeras em telefones, drones, carros

autônomos, satélites, tudo sendo gravado e interpretado em tempo real, por inteligência

artificial. A previsão para os próximos 20 ou 30 anos é de que os robôs e a inteligência artificial

substituirão 48% das profissões. Isso demonstra que precisaremos usar a criatividade para

resolver o problema de milhares de pessoas que não terão com que trabalhar. Será necessário

gerar novas profissões, nunca antes pensadas.

A educação em tempos de criatividade requer o uso de competências que nos fazem humanos e nos diferenciam de qualquer outra espécie. O futuro espera muito de nós. E a melhor maneira de prever esse futuro é cocriá-lo. Das mentes para as mãos, das mãos para o mundo e do mundo para o universo (FIRJAN, 2016, p. 50).

Segundo Reis (2008), os primeiros conceitos referentes à economia criativa tinham foco

em indústrias criativas e em sua dinâmica econômica. Ela pontuou que havia muita indefinição

entre os autores sobre esses conceitos e que essa questão foi resolvida após definição da

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UNCTAD para indústrias criativas. Para a UNCTAD (2010), as indústrias criativas encontram-

se no centro da economia criativa.

[...]as indústrias criativas são, portanto, não apenas economicamente valiosas por si mesmas, mas funcionam como catalisadoras e fornecedoras de valores intangíveis a outras formas de organização de processos, relações e dinâmicas econômicas de setores diversos, do desenho de cosméticos que utilizam saberes locais a equipamentos e artigos esportivos que comunicam a marca de um país. Na economia criativa, indústria e serviços fundem-se cada vez mais. (REIS, 2008, p. 25)

É importante que o país seja capaz de conceber objetos criativos, gerando riqueza por

meio da comercialização de bens e serviços no mercado nacional e internacional. “Esse valor é

incrementado quando a região aproveita sua maior e mais inimitável vantagem competitiva: sua

própria marca, como promissor veículo de exportações” (REIS, 2010, p. 41). Segundo a

UNCTAD (2016, p.16), “aglomerados de negócios criativos podem crescer em qualquer

localidade, desde que existam condições para o desenvolvimento de um grupo criativo”.

Ao se agruparem, as empresas serão capazes de economizar em suas interligações espaciais, obter as múltiplas vantagens dos mercados de trabalho concentrados de forma espacial, conectar-se ao abundante fluxo de informações e potenciais inovadores que se faz presente sempre que muitos produtores com especialidades diferentes e complementares se reúnem, e assim por diante (SCOTT 2005 apud UNCTAD, 2010, p. 16).

É possível demonstrar que a eficiência e a produtividade são aprimoradas por meio do

desenvolvimento de produtos e serviços criativos, além da promoção da sustentabilidade

(PORTER 1990 apud UNCTAD, 2010). A proximidade entre empresas permite um melhor

desenvolvimento da criatividade, visto que o ambiente em questão estimula os indivíduos que

convivem neste espaço a “pensar fora da caixa” e inovar sem medo.

Em seu livro Creative Ecologies, Howkins (2011), ao observar várias espécies que

convivem em um ecossistema, pontua que a criatividade depende da relação entre quatro

condições ecológicas: diversidade, mudança, aprendizado e adaptação. Ele acrescenta que a

aprendizagem melhora quando as pessoas trabalham ao lado de outras mais inteligentes.

Segundo ele, a ecologia criativa é o lugar onde as pessoas se expressam de forma sistêmica e

adaptativa, ou seja, é o celeiro ideal para o nascimento de ideias.

A criatividade pode desabrochar em qualquer lugar e podemos ter uma grande ideia, sentados no meio de um deserto. Mas se quisermos ir além da criatividade e chegar à ecologia criativa, precisamos de diversidade, mudança, aprendizado e adaptação, com abrangência e escala suficientemente amplos. Precisamos de lugares com mais pessoas, mercados mais ativos, um ambiente construído adequado e as maiores redes de banda larga. Nesses locais, o aprendizado é mais rápido, a colaboração é mais fácil e a novidade é mais estimulante. Em outras palavras, são cidades criativas (HOWKINS, 2011, p. 126).

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É essa diversidade que faz com que novas ideias surjam e gerem mais combustível para

a criatividade, o que manterá as cidades vivas. A diversidade, juntamente com o estranhamento,

com as diferenças e a tolerância, compõe os itens vitais à manutenção das cidades criativas.

Florida (apud HOWKINS, 2011, p. 127) pontua que as cidades para serem economicamente

bem-sucedidas precisam de pessoas talentosas e excêntricas.

O indivíduo assume o papel central, e é este ponto que faz com que a economia da

criatividade se diferencie da economia tradicional, cujo foco principal era a empresa e tudo

girava ao seu redor. O indivíduo deixou de ser coadjuvante e passou a ser protagonista na era

da criatividade (HOWKINS, 2013). Um novo estágio de relacionamento das pessoas com o

meio em que vivem e com a cultura ao seu redor foi criado, onde bens e serviços culturais e

criativos podem ser adquiridos sem que haja necessariamente a intermediação do mercado

(REIS, 2008). Vivemos hoje numa economia baseada na atenção, que se tornou um dos ativos mais preciosos do mercado. Apesar de dispormos de recursos tecnológicos praticamente ilimitados, só podemos contar com as mesmas limitadas 24 horas para comer, trabalhar, estudar e dormir. Nesse contexto, é natural que tantas empresas, apps, informações e redes sociais disputem ferrenhamente a nossa atenção (FIRJAN, 2016, p. 48).

O impacto da cultura é muito forte dentro da economia criativa e é ela que traz a

diferenciação ao produto ou serviço gerado. Ela muda de um lugar para outro e essa

metamorfose cria inúmeras possibilidades. O que sintetiza a economia criativa é o constante

recomeço do ciclo de criatividade. Talento, ideias novas e originais e a transformação de ideias

em capital econômico e em produtos comercializáveis é a matéria-prima desta nova economia

(REIS, 2008).

A vitalidade que surge do choque de ideias é absolutamente imprescindível para o entendimento de problemas complexos. Não se pode esquecer de que uma ideia muito boa depende da colisão entre ideias medianas. E ideias medianas dependem da colisão entre ideias ruins. Então, é preciso se munir de muita coragem para ter ideias ridículas e tentar colocá-las em prática (FIRJAN, 2016, p. 50).

A moeda mais valiosa, no contexto da economia criativa, não é o dinheiro, mas sim as

ideias, que são intangíveis e móveis. Para o desenvolvimento próspero da sociedade é

necessária a utilização correta de seus recursos criativos; investimento em educação,

pensamento e pesquisa potencializam o valor da criatividade (HOWKINS, 2013). “A economia

criativa também pode ser um instrumento muito eficaz para promover equidade e felicidade, se

o potencial de todos os segmentos, classes e grupos sociais for gerido por políticas que

incorporem os critérios de inclusão social e desenvolvimento” (PARDO, 2011, p. 88-89).

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3.3 CIDADES CRIATIVAS - A CULTURA E CRIATIVIDADE COMO DIFERENCIAIS NA

CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE CRIATIVA E SUSTENTÁVEL

As cidades abrigam mais da metade da população do mundo, por esse motivo, a UNESCO

pontua que é necessário repensar o urbano para um modelo sustentável. Neste novo cenário, a

cultura e a criatividade têm papel chave dentro do desenvolvimento sustentável das cidades. A

cultura é reconhecida como um motor de crescimento em todas as suas dimensões, atuando

como um poderoso recurso socioeconômico. A promoção da cidade como um local habitável,

segura, produtiva e com uma melhor qualidade de vida ocorre quando a criatividade é colocada

no centro da renovação e do planejamento urbano (FERREIRA, 2017).

Como um setor de atividade, por meio do patrimônio tangível e intangível, das indústrias culturais e de várias formas de expressões artísticas, a cultura é um poderoso contribuinte para o desenvolvimento econômico sustentável, para a estabilidade social e para a proteção ambiental. Como repositório de conhecimento, significados e valores que permeiam todos os aspectos de nossas vidas, a cultura também define o modo como os seres humanos vivem e interagem uns com os outros e com o meio ambiente (UNESCO, 2012, p.65).

Estamos passando por uma mudança de paradigma, de um modelo baseado no

desenvolvimento quantitativo para um modelo de desenvolvimento qualitativo. Este novo

modelo traz consigo desafios relacionados ao equilíbrio ambiental, demográfico, sustentável e

cultural dentro do território. "Nossa viabilidade como espécie depende de um novo modo de

entender o desenvolvimento, no qual a criatividade tem papel fundamental para vencer os

maiores desafios da humanidade" (PARDO, 2011, p. 88).

“A cidade enfrenta uma crise crescente que não pode ser resolvida por uma atitude de “conformidade”. Ela deve abranger o desafio de conviver com uma grande diversidade e diferença, abordar a agenda da sustentabilidade, repensar seu papel e finalidade para sobreviver bem em termos econômicos, culturais e sociais e administrar a crescente complexidade” (LANDRY, 2013, p. 5).

É necessário trocar os insumos baseados em recursos naturais que são finitos, para uma

matéria prima infinita - informação, conhecimento e criatividade - que quanto mais é usada,

mais se renova (REIS, 2008; LANDRY, 2013). Tudo que ocorre na cidade criativa afeta a vida

de todos e ela assume uma responsabilidade importante no contexto atual (LERNER, 2011, p.

51).

A cidade criativa é um território social em que existe a cooperação dos agentes

econômicos, sociais e culturais por meio de novas ideias que auxiliam no desenvolvimento e

na transformação de novos produtos e serviços. Neste âmbito, o cidadão passa a ser o agente de

mudança na promoção da transformação dentro das cidades, vivenciando a metamorfose do

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lugar em que vive. “Pessoas, com sua criatividade e sua capacidade cultural, científica, técnica

e artística, podem oferecer a base fundamental para que as cidades se tornem sistemas

inovadores” (PARDO, 2011, p. 89).

Porém este conceito possui gaps, pois nem sempre existe cooperação entre os atores e

nem sempre os desenvolvimentos das cidades ocorrem da mesma forma. No Brasil temos

inúmeros problemas no que se referem a condução dos projetos pelo governo. Muitas vezes

uma ação só dura pelo período em que o governante está no poder, após a sua saída há a

descontinuidade.

Búzios é uma cidade conhecida mundialmente por suas belas praias que encantaram a

atriz Brigitte Bardot. Devido a isso esse município se tornou um destino turístico muito

procurado nacional e internacionalmente. A cidade respira o turismo e busca de forma criativa

encantar seus turistas por meio de seu artesanato, gastronomia, dentre outros.

Para Landry (2013), para a criação de uma “ecologia criativa” dentro de uma cidade, faz-

se necessário desenvolver uma plataforma de criatividade que será utilizada como ferramenta

estratégica.

Para ser criativa, a cidade requer milhares de mudanças de mentalidade, criando as condições para que as pessoas possam se tornar agentes de mudança, ao invés de vítimas dela, vendo a transformação como uma experiência vivenciada, não como um evento que não irá se repetir (LANDRY, 2011, p. 14).

Marinho (2009, p. 51) pontua que o conceito de cidade criativa "passa pela releitura dos

sítios urbanos como um complexo objeto de análise, em constante mutação". A autora

complementa que para ser uma cidade criativa, a cidade necessita possuir uma interconexão

entre diversas áreas de conhecimento, pois ela é interdisciplinar. A cultura passa a ser

reconhecida como a fonte que alimenta a nova economia e aparece como pilar para o

desenvolvimento da sociedade pós-industrial, na chamada era do conhecimento (MARINHO,

2009).

Pardo (2011) coloca que a cidade criativa está voltada a inovação e cultura e que valores

de mudança, melhoria e progresso são gerados por meio da implementação de critérios que

viabilizam a criatividade. As cidades atraem pessoas que produzem e compram, que estão

dispostas a aprender, a se adaptar e a buscar novas percepções. São indivíduos exigentes em

busca de novidade e estilo. E é nessas cidades que ocorrem esses encontros e trocas que geram

combustível para a criatividade. “O ativo mais importante são as pessoas. Pessoas, com sua

criatividade e sua capacidade cultural, científica, técnica e artística, podem oferecer a base

fundamental para que as cidades se tornem sistemas inovadores (PARDO, 2011, p. 89).

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A cultura da criatividade passa a ser inserida no modo de participação dentro de uma

cidade criativa, ampliando o leque de soluções para os problemas urbanos, pois legitima o uso

da imaginação nas esferas pública, privada e da sociedade civil (LANDRY, 2011). A cidade

criativa precisa construir um sonho coletivo, mobilizando seus cidadãos a transformarem

sonhos em realidade – essa é a essência que transforma as cidades em territórios criativos. “Ela

também reconhece que é parte do mundo, com uma responsabilidade compartilhada pelo bem-

estar de seus clientes, seus recursos naturais e o futuro do próprio planeta” (STRICKLAND,

2011, p. 51).

É importante que as pessoas se sintam parte de todo processo e ter um sonho coletivo é

vital para o envolvimento dos habitantes e consequentemente melhoria da qualidade de vida

(LERNER, 2011). O sucesso futuro será determinado pelas pessoas que vivem e trabalham nas

cidades, que contribuirão na resolução de problemas sociais, de infraestrutura e espaciais

(LANDRY, 2013; JOFFE, 2011).

Em uma cidade criativa, a geração de riqueza, oportunidades e prosperidade se dá a partir

da habilidade de construir valor com a força de ideias, informação, conhecimento e talento. Ela

promove elementos de ecossistema sociocultural, que está inserido no sistema produtivo, em

que todos os setores interagem entre si buscando criar um cenário econômico e vital e que

promova a criação de riqueza, coesão social, qualidade de vida e atratividade (PARDO, 2011).

Neste âmbito, a UNESCO criou a rede de cidades criativas, que coloca a criatividade e a

cultura como fatores estratégicos de desenvolvimento das cidades em âmbito local ou

internacional. Essa rede funciona como uma plataforma de conexão entre as cidades e é vista

como um terreno fértil para a implementação da agenda 2030, que busca promover o

desenvolvimento sustentável (FERREIRA, 2017).

Inovação, conexões e cultura são três elementos que prevalecem em uma cidade criativa,

independente da história, tamanho e condição socioeconômica (REIS; URANI, 2011). Quando

uma cidade é criativa, ela se torna atraente para indústrias e pessoas criativas,

independentemente de seu tamanho (REIS; URANI, 2011; LANDRY, 2011). Ela estimula a

inserção de uma cultura de criatividade, no modo como se participa da cidade. Ao incentivar a

criatividade e legitimar o uso da imaginação nas esferas pública, privada e da sociedade civil,

amplia-se o conjunto de ideias de soluções potenciais para qualquer problema urbano

(LANDRY, 2011, p. 13-14). Este também é o entendimento de Reis (2012, p. 223), enfatizando

que: só se ama o que se conhece; expandir os mapas mentais e afetivos que cada um de nós faz de sua cidade a torna una. Cuidar do micro, sentindo-se parte do macro. E esse

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deslocamento do olhar, da parte para o todo, do produto para o processo, da criatividade individual para a inovação urbana, dos mapas individuais para os coletivos, que iça as velas da cidade criativa. (REIS, 2012, p. 223).

Para que a transformação da cidade ocorra, é necessário o esforço de todos visando ao

bem comum e à melhoria do local em que se vive. Neste contexto, todos podem trazer suas

ideias e elas irão contribuir na resolução de problemas dos mais simples aos mais complexos.

Landry (2011, p. 13) complementa que “[a cidade criativa] pressupõe que sejam criadas

condições para que as pessoas pensem, planejem e ajam com imaginação, para estimular

oportunidades ou resolver problemas urbanos aparentemente incuráveis”. Uma cidade criativa

estimula o engajamento e a criatividade de seus habitantes.

Landry (2011) coloca que uma cidade criativa só pode se desenvolver se houver uma

ecologia criativa que permite a interação de modo transversal que vai muito além das indústrias

criativas ou da presença de uma classe criativa. E este ecossistema conecta uma administração

pública imaginativa, com inovações sociais, criatividade na área da saúde, serviços sociais,

política e governança, ou seja, "uma cidade criativa deve ser criativa por completo" (LANDRY,

2011, p. 10).

Landry (2013) pontua ainda que o conceito de cidade criativa se tornou controverso.

Explica que a palavra criatividade “está na moda”, o que faz com que seu real significado muitas

vezes não seja entendido corretamente, podendo ser aplicado irrefletidamente. O autor

complementa que a partir deste cenário, podem surgir outras variações consideradas como a

“grande novidade do momento”, e cita como um dos exemplos o termo “cidades inteligentes”

como uma dessas mutações. Será que a Smart City é uma variação da cidade criativa, ou seja,

uma adequação do termo de acordo com o “frenesi” tecnológico e criativo que vivemos neste

momento?

O próximo capítulo foca nessa questão, abordando os conceitos e importância das cidades

inteligentes no cenário mundial, e especialmente como esse tema está sendo absorvido pelas

cidades brasileiras.

3.4 CIDADES INTELIGENTES – TECNOLOGIA COMO INTEGRADOR DA CIDADE

As cidades possuem grandes desafios a serem superados, pois até 2020 irão abrigar 70%

da população mundial, sendo elas responsáveis pelo consumo de 75% dos recursos naturais

mundiais, 75% do consumo de energia e 80% das emissões de gases relacionados ao efeito

estufa. Ao mesmo tempo em que as cidades possuem riquezas, elas também consomem de

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forma desenfreada e não sustentável os recursos ambientais que são necessários para a

sobrevivência da humanidade. Além de tais problemas, esses espaços urbanos também

apresentam questões relacionadas à má distribuição de renda, violência, segurança e mobilidade

urbana (FGV, 2015; SOUPIZET, 2017).

Devido a essa aceleração urbana, há uma necessidade cada vez maior de disponibilização

e uso de recursos, o que resulta em ambientes urbanos sobrecarregados e insustentáveis. Está

cada vez mais difícil manter o ritmo frenético de produção e sustentabilidade das cidades,

portanto é necessário repensar um novo modelo de desenvolvimento urbano (FERREIRA,

2017). É neste contexto que as cidades inteligentes aparecem, com o intuito de tornar as cidades

mais habitáveis, seguras e produtivas, oferecendo melhor qualidade de vida.

Os conceitos relacionados à Smart City surgiram num contexto de problemas urbanos agudos, associados a um ambiente de colaboração, para resolver algumas das dificuldades da vida nas cidades. O desafio é como estimular ainda mais a inovação de forma econômica e com baixo risco, de modo que, mesmo as cidades com recursos mais restritos, possam investir na prosperidade local e abordar os principais objetivos de sustentabilidade (HAUSER; BOCHI, 2017, p. 25).

A definição de Smart City, ou cidade inteligente, ainda é impreciso, emergente e difuso

(PANHAM; MENDES; BREDA, 2016; SOUPIZET, 2017; HAUSER; BOCHI, 2017). Ao

mesmo tempo em que aparece como uma oportunidade de melhoria na qualidade de vida da

população, também se apresenta como um grande desafio, pois pressupõe uma visão holística

e sistêmica do espaço urbano, além da integração de diversos atores e setores. Segundo Hauser

e Bochi (2017, p.7), “a viralização do debate sobre smart cities parece ter sido influenciada por

alguns fatores que vêm gerando grandes desafios para a definição de políticas públicas e

práticas urbanas”. Ela combina novas e velhas tecnologias na construção de uma nova cidade

que priorize a qualidade de vida e sustentabilidade e não apenas fatores econômicos

(PANHAM; MENDES; BREDA, 2016).

[...], porém não existe critério único ente a arquitetura da cidade e a adoção desta denominação para a cidade. Algumas cidades utilizam a palavra inteligente para nomear iniciativas que envolvem o emprego das tecnologias da informação em projetos de comunicação (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p. 15).

O conceito de cidades inteligentes não pode ser aplicado da mesma forma para todas as

cidades, pois o tipo de cidade, seu tempo de existência, seu tamanho, suas especificidades

influenciarão na forma de desenvolvimento desse processo no território (SOUPIZET, 2017).

Panham, Mendes e Breda (2016, p. 56), entendem que “[...] uma cidade inteligente (CI) é capaz

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de "sentir" o ambiente e "reagir" automaticamente, e tomando decisões com o objetivo de

manter o equilíbrio de sistema ligados a ela”.

Cidade Inteligente é um novo conceito definindo uma cidade que atua proativamente para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos pela garantia da sustentabilidade social, econômica e de desenvolvimento urbano. Uma Cidade Inteligente é baseada no uso e na modernização da nova Tecnologia da Informação e das Comunicações para prover um gerenciamento mais eficiente dos recursos e dos serviços municipais (BCN Smart City apud PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p. 131).

Para Marinho (2009), uma cidade torna-se inteligente quando estimula e é estimulada por

uma economia específica, com base na cultura e na tecnologia. Ao apropriar a inovação nos

ciclos econômicos, os territórios criativos transformam cadeias produtivas em cadeias de valor,

qualificando os processos de criação, produção, fruição, distribuição e consumo de bens e

serviços. Tais territórios se diferenciam das cidades tradicionais, pois usam o conhecimento, a

criatividade e o capital intelectual como principais recursos de produção. Para Camargo (2015,

p. 19), “[A cidade inteligente] é necessariamente, um centro cultural e científico importante e

um gerador de saberes diversificados na sociedade da informação e do conhecimento”. Já para

Panham, Mendes e Breda (2016, p. 22), “[a] cidade que sente e que fala é cidade inteligente”.

[...] a cidade inteligente deve oferecer uma forte concentração de serviços e talentos[...]. Ela é também um valioso hub de comunicação com outras cidades e outros países – integrada a uma rede globalizada – graças a um importante centro de serviços. A economia precisa ser competitiva e adequar-se ao papel das indústrias criativas – cultura através do teatro, televisão, cinema e vídeo, tendo à sua disposição conhecimento e tecnologia de última geração, serviços informatizados, design, editoras, artesanato de luxo e bens sofisticados. Nada disso ocorrerá longe dos centros universitários e de pesquisa que produzem e multiplicam o conhecimento, criando uma palavra-chave para qualquer cidade inteligente: atratividade (CAMARGO, 2015, p. 19).

O modelo de cidade inteligente contribui para uma nova forma de desenvolvimento

urbano em que o progresso está voltado a um novo estilo de vida cujo foco é a sustentabilidade,

ou seja, à promoção do crescimento sem o desperdício dos recursos naturais, perpetrando sua

reprodução e agredindo o mínimo possível a natureza, aumentando assim a capacidade de se

(re) produzir infinitamente (CAMARGO, 2015). A participação de todos é estimulada, visto

que configura insumo para esse novo sistema que se retroalimenta, garantindo assim que a

cidade se conecte a um grande ecossistema. Essa transformação é o cerne da cidade inteligente,

ou seja, um novo modelo mental em que os dados captados de diferentes lugares são utilizados

para auxiliar a gestão urbana a melhorar seu controle sobre o espaço urbano (SOUPIZET,

2017). Em suma, este é o novo modelo que, ao invés do progresso a qualquer preço, baseia-se no conceito de equilíbrio dinâmico e de reposição permanente, combatendo o

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crescimento predatório que, uma vez esgotados os recursos, desloca-se para outras regiões, criando “cidades mortas” e sem vida (CAMARGO, 2015, p. 18)

As cidades inteligentes se posicionam como um "hipermeio" que aproxima entre si os

atores, viabilizando uma melhor interconexão e um inter-relacionamento (PANHAM;

MENDES; BREDA, 2016). Por intermédio desse novo modelo de cidade é possível fazer com

que todos olhem “na mesma direção” – que visa à melhoria da cidade, da qualidade de vida e

de sua sustentabilidade. A responsabilidade passa a ser compartilhada entre o poder público, o

privado, universidade e a sociedade, que passam a trabalhar para o bem comum e por uma

cidade mais inteligente e mais humana.

Segundo Giffinger et al. (2007), uma cidade inteligente atua de forma prospectiva em seis

características que o autor define como "inteligente", formando uma estrutura onde ainda

podem ser incorporados achados e fatores adicionais, conforme figura 1. É necessário

desenvolver uma estrutura hierárquica transparente e fácil, para descrever uma cidade

inteligente e suas características. Essa estrutura é definida por 31 fatores, sendo que cada nível

é descrito pelos resultados dos níveis abaixo.

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Figura 1 − Dimensões e Fatores da Smart City

Fonte: HAUSER; BOCHI (2017) apud GIFFINGER (2007)

Essas dimensões apresentadas na figura 1 são constituídas por diversas atividades,

sistemas, funções que estão ligadas a diferentes aspectos relacionados ao dia a dia da cidade,

como: educação, mobilidade, saúde, energia, dentre outros (GIFFINGER, 2007; HAUSER;

BOCHI, 2017). Todos esses aspectos contribuem para a formação de uma grande teia que

contribuirá para o desenvolvimento de uma cidade mais inteligente.

Figura 2 − Dimensões da Smart City

Fonte: HAUSER; BOCHI, 2017

Hauser e Bochi (2017), com base em estudos sobre as dimensões das cidades inteligentes

que são amplamente discutidas, elaboraram um modelo com as 7 dimensões principais, de

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acordo com a frequência com que são citadas na literatura (figura 2). As características estão

descritas no quadro 1 abaixo:

Quadro 1: Descrição das dimensões – Smart City

Dimensões Descrição

Infraestrutura

A dimensão da infraestrutura é entendida por muitos autores como sendo um elemento essencial, pois está diretamente associada aos insumos necessários para a realização das atividades nas cidades, abrangendo tanto a infraestrutura virtual quanto a infraestrutura física.

Economia

Essa dimensão está associada ao setor econômico da cidade, abrangendo as funções e atividades relacionadas ao mercado de trabalho e à indústria. Incluem-se ainda nessa dimensão inovação e empreendedorismo, no que se refere ao desenvolvimento de tecnologias de ponta, à produtividade e à flexibilidade do mercado de trabalho a fim de promover a integração entre a economia local e a global.

Meio Ambiente

Refere-se aos recursos e às questões associadas ao meio ambiente, como a proteção e a utilização racional dos recursos naturais, visando a uma gestão ambiental eficiente. Ações voltadas ao meio ambiente impactam na sustentabilidade e na habitabilidade da cidade, por isso devem ser levadas em consideração ao se examinarem as iniciativas de cidades inteligentes.

Pessoas

É a principal dimensão, pois as pessoas são os atores fundamentais em todo o processo de criação de uma cidade inteligente. Pessoas mais informadas, qualificadas e participativas possibilitam o desenvolvimento de projetos de inovação nas mais diversas áreas. Conhecer e discutir os desejos e as necessidades de comunidades e grupos permite implementar a gestão urbana participativa.

Governança

Esta dimensão se refere a aspectos de gestão pública e governo, abrangendo os serviços sociais e públicos, a transparência de governo e as ações participativas. A governança inteligente visa à maior influência da população na tomada de decisões, a partir do uso de ferramentas TIC que permitam a interação entre a sociedade e o governo.

Qualidade de Vida

Vários fatores podem interferir na qualidade de vida do cidadão, tais como o acesso: à educação; aos meios de transporte rápidos, seguros e econômicos; à saúde; à cultura; ao lazer; dentre muitos outros. Embora essa dimensão seja tratada por alguns autores como um objetivo a ser alcançado pelo bom desempenho da cidade, entende-se que, devido à sua abrangência e importância, deve ser avaliada separadamente, considerando os diversos fatores que a impactam.

Tecnologia

As TICs são os principais impulsionadores das iniciativas das cidades inteligentes. A integração das TICs com os projetos de desenvolvimento pode oferecer uma série de oportunidades que podem melhorar a gestão e o funcionamento de uma cidade, mas também podem aumentar as desigualdades e promover uma divisão digital.

Fonte: HAUSER; BOCHI, 2017

“Percebe-se que o adjetivo inteligente implica, claramente, algum tipo de inovação e

mudança tecnológica urbana positiva por meio de da utilização de Tecnologias de Informação

e Comunicação – TIC” (HAUSER; BOCHI, 2017, p.6). Essa definição vai ao encontro do

entendimento de vários autores que sinalizam que uma cidade inteligente é uma cidade que

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possui a tecnologia como ponto crucial para seu desenvolvimento, cujo objetivo é a

sustentabilidade e a qualidade de vida dos cidadãos (SOUPIZET, 2017).

Diante de inúmeros conceitos aqui apresentados, para este trabalho uma cidade inteligente

é um território que coloca o indivíduo como cerne do processo e utiliza a tecnologia como

ferramenta principal para desenvolvimento de sua sustentabilidade. Ela busca resolver os

problemas da cidade por meio de uma interação entre o governo, universidade, empresa e

sociedade de forma colaborativa visando o bem comum, por meio de uma rede viva que se

retroalimenta trazendo ganhos econômicos, sociais e ambientais, figura 3.

Diferentemente do que o autor Charles Landry pontua em seu livro Origens e futuros da

cidade criativa, acredito que existe diferença entre o conceito de cidade criativa e cidade

inteligente e não apenas um “frenesi” do momento como ele cita. A cidade inteligente se

apresenta como um modelo de cidade criativa e o seu diferencial se baseia na tecnologia como

apoio para resolução dos problemas do território. Figura 3 − Cidade inteligente

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018

A smart city não atua apenas em uma área específica da cidade, mas visa o

desenvolvimento do todo. Como o foco principal dela é o cidadão, há a necessidade de uma

mudança de mentalidade, pois o indivíduo passará a contribuir com a solução de problemas,

deixando de ser um agente passivo, que antes era apenas impactado pelas mudanças, para um

agente ativo, sendo parte da mudança. Uma cidade inteligente é uma cidade viva que sente,

participa e colabora buscando sua evolução, sustentabilidade e o bem comum.

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Porém, a implantação de um modelo de cidade inteligente dentro de um país periférico é

uma realidade muito diferente daquela que os autores de smart city apresentam. Esses conceitos

foram desenvolvidos tendo por base países de primeiro mundo em que existe infraestrutura

básica, investimento financeiro e uma mentalidade cooperativa, pois a sociedade compreende

o seu papel. O contexto atual da cidade de Búzios assim como o estado do Rio de Janeiro não

é favorável, pois nos últimos anos ambos estão passando por um momento de crise financeira

grave o que pode impactar diretamente no resultado. Isto aliado a uma política pública voltada

para o tempo de governo que não é pensada para ser contínua, dificulta ainda mais as chances

de sucesso de uma smart city no Brasil.

O próximo tópico fala sobre o posicionamento do Brasil no que se refere a implantação

do modelo de cidades inteligentes e como o governo interpreta o conceito de Cidade Inteligente.

3.4.1 Cidades inteligentes no cenário brasileiro

Em maio de 2016, o Governo Federal instituiu o decreto nº 8776, denominado Programa

Brasil Inteligente, com 11 objetivos, sendo que o sexto deles tratava da promoção da

implantação de cidades inteligentes no Brasil, conforme o quadro 2.

Quadro 2: Programa Brasil Inteligente Finalidade Objetivos

Universalização

do acesso à

internet no

território

Brasileiro

I - Expandir as redes de transporte em fibra óptica;

II - Aumentar a abrangência das redes de acesso baseadas em fibra óptica

nas áreas urbanas;

III - Ampliar a cobertura de vilas e de aglomerados rurais com banda larga

móvel;

IV - Atender órgãos públicos, com prioridade para os serviços de

educação e de saúde, com acesso à internet de alta velocidade.

V - Ampliar a interligação com redes internacionais de telecomunicações;

VI - Promover a implantação de cidades inteligentes;

VII - Promover a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação em

tecnologias móveis de quinta geração;

VIII - fomentar o desenvolvimento e a adoção de soluções nacionais de

internet das coisas e sistemas de comunicação máquina a máquina;

IX - Promover a capacitação e a qualificação profissional em tecnologias

da informação e comunicação;

X - Disponibilizar capacidade satelital em banda larga para fins civis e

militares; e

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XI - Expandir redes de transporte em fibra óptica na Amazônia por meio

de cabos subfluviais.

Fonte: EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016, p.2

Como desdobramento desse programa, surgiu o programa Minha Cidade Inteligente

(quadro 3), que é uma evolução do Projeto Cidades Digitais, o qual tinha como objetivo

disponibilizar acesso a informação e a banda larga à população e, assim, promover inclusão

social, redução de desigualdades e desenvolvimento econômico e social, conforme figura 4

(EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016). Esse projeto visa desenvolver a infraestrutura da cidade,

melhorando e desenvolvendo seu mercado e dando melhor qualidade de vida à população.

Dessa forma, o projeto Minha Cidade Inteligente pretende, além da implantação de redes e sistemas de alta capacidade, também implantar serviços e infraestrutura de monitoramento e acompanhamento das condições locais, permitindo gerar dados para criação de aplicações inovadoras, bem como permitir o amplo acesso às informações. Além disso, buscará dotar as localidades de alta capacidade de formação e capacitação da população (EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016, p. 3)

Figura 4 − Evolução Cidades digitais para Cidade inteligente

Fonte: SECRETARIA DE INCLUSÃO DIGITAL, 2017

No contexto desse projeto, uma cidade inteligente é um território que traz, dentro da

mesma localidade, tecnologia da informação e sistemas inovadores, caracterizadas pela alta

capacidade de aprendizado e inovação por meio da criatividade de sua população. Ela combina:

oferta ampla de banda larga para empresas, prédios governamentais e residências; educação,

treinamento e força de trabalho eficazes para oferecer trabalho do conhecimento; políticas e

programas que promovam a democracia digital, reduzindo a exclusão digital, para garantir que

todos os setores da sociedade e seus cidadãos se beneficiem da revolução da banda larga;

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inovação nos setores público e privado e iniciativas para criar agrupamentos econômicos e

capital de risco para apoiar o desenvolvimento de novos negócios; e marketing do

desenvolvimento econômico efetivo, que alavanque a comunidade digital, para que ela atraia

empregados e investidores talentosos (EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016).

Quadro 3 − Programa Minha Cidade Inteligente OBJETIVOS

I - Democratizar o acesso à informação;

II - Construir uma política de e-gov, a partir de uma visão que tem o cidadão como centro do

modelo de gestão de serviços públicos, baseado na universalização do acesso, na qualidade e

na integração;

III - Ampliar a transparência das contas públicas municipais através da utilização das

Tecnologias de Informação e Comunicação;

IV - Produzir redução de custos e racionalização no uso de recursos;

V - Modernizar e viabilizar a qualificação da gestão pública para dinamizar a prestação de

serviços públicos ao cidadão nos municípios, como segurança pública, saúde e educação;

VI - Fomentar e promover a produção e a oferta de conteúdos nos municípios brasileiros; e

VII - Estimular mecanismos participativos e colaborativos de gestão pública.

Fonte: EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016, p. 3-4

O investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações

(MCTIC) nesse programa é superior a R$ 241 milhões, entre inúmeros projetos que visam

auxiliar no desenvolvimento de cidades. Os munícipios selecionados serão apoiados por meio

de ações, conforme quadro 4 (ITFORUM, 2017).

Quadro 4 − Ações para as cidades selecionadas pelo programa Minha Cidade Inteligente

OBJETIVOS

I - Implantação de uma infraestrutura de rede para conexão à internet de órgãos e

equipamentos públicos locais;

II - Instalação de pontos públicos de acesso à internet para uso livre e gratuito pela

população;

III - Instalação de solução de gerenciamento da infraestrutura para o funcionamento da rede;

IV - Implantação de infraestrutura e serviços de monitoramento e vigilância, de melhoria de

eficiência de serviços públicos e otimização de ações do município, conforme descritas em

termo de referência a ser definido pelo Ministério das Comunicações;

V - Apoio e suporte técnico ao longo de seis meses (operação assistida) para garantir o

funcionamento da rede e da infraestrutura implantada; e

VI - Programas de formação e capacitação dos servidores públicos e da população para o uso

das ferramentas das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para melhoria da gestão

pública e promoção da cidadania.

Fonte: EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016, p. 4

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O governo busca, por meio desses esforços, fazer com que os gaps que existem nas

cidades possam ser minimizados e que o Brasil possa avançar no que diz respeito ao

desenvolvimento de cidades com melhor infraestrutura e que proporcionem uma melhor

qualidade de vida por meio de uma melhor dinâmica de funcionamento das cidades. No centro

de todo esse movimento está o cidadão, que também precisa ser suportado e preparado para

viver e participar de todas essas mudanças, pois ele será o maior impactado e beneficiado com

essas ações.

Muitas cidades no país já têm investido neste âmbito, porém ainda é pouco diante de um

país com dimensões continentais. O desafio é gigantesco, visto que muitas cidades brasileiras

ainda carecem do básico, como saneamento básico, água potável, calçamento, dentre outros. O

Brasil ainda está muito longe de outros países no que diz respeito a um país com uma estrutura

“inteligente”.

O debate internacional para cidades inteligentes não previa os gaps, deficiências e

problemas encontrados em um país em desenvolvimento. Além disso no Brasil, tivemos o

estreitamento deste conceito na compreensão do Governo Federal o que impacta diretamente

nas políticas públicas desenvolvidas, dificultando ainda mais a transformação da cidade em

uma smart city.

3.4.2 Ranking das cidades inteligentes no brasil e no mundo

Anualmente, no Brasil, é divulgada uma lista com as cidades mais inteligentes. O

Connected Smart Cities (CSC) (Figura 5) é um levantamento sobre cidades inteligentes e

conectadas do país, cujo objetivo é mapear as cidades com maior potencial de desenvolvimento

no Brasil por meio de indicadores que retratam inteligência, conexão e sustentabilidade. Ele é

elaborado pela Urban Systems Brasil, uma empresa de Business Intelligence especializada em

pesquisa comportamental e análise de dados estatísticos em mapas digitais, para

dimensionamento de mercados e levantamento de tendências em mercados e cidades (CSC,

2017).

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Figura 5− Setores do Connect Smart Cities

Fonte: CSC, 2017

O ranking também classifica as três melhores cidades por porte: cidades com mais de 500

mil habitantes, cidades entre 100 e 500 mil habitantes e cidades com até 100 mil habitantes.

Além disso, são analisados 11 setores de mais de 700 municípios, a partir de 70 indicadores.

Os setores são: mobilidade, urbanismo, tecnologia e inovação, empreendedorismo, governança,

educação, energia, meio ambiente, saúde, segurança e economia, conforme figura 4. Pelo

segundo ano consecutivo, São Paulo foi considerada a cidade mais conectada e inteligente do

Brasil, seguida por Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória, conforme quadro 5 (CSC,

2017).

Quadro 5− Ranking Geral Posição

Município (UF)

Pontos 2017 2016

1º 1º São Paulo (SP) 33,197 2º 3º Curitiba (PR) 32,472 3º 2º Rio de Janeiro (RJ) 32,125 4º 5º Belo Horizonte (MG) 30,785 5º 6º Vitória (ES) 30,426 6º 7º Florianópolis (SC) 30,281 7º 4º Brasília (DF) 29,987 8º 10º Campinas (SP) 29,788 9º 13º São Caetano do Sul (SP) 29,418 10º 9º Recife (PE) 29,339

Fonte: CSC, 2017

O Sudeste mantém a maior concentração de cidades inteligentes do Brasil, possuindo 6

posições entre as 10 primeiras do ranking, conforme figura 6. A única região que não apareceu

entre as primeiras colocações é a região Norte, cuja melhor colocada foi Palmas, que ficou na

15ª posição.

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Figura 6 − Concentração das Cidades mais inteligentes

Fonte: CSC, 2017

O ranking também trouxe a colocação das cidades que tiveram as melhores colocações

em cada um dos 11 setores avaliados. A cidade de São Paulo, além da primeira colocação geral,

também ficou na primeira colocação nos setores de mobilidade e empreendedorismo, conforme

quadro 6.

Quadro 6 − Ranking Primeira Colocação por Setor

São Paulo (SP)

Pontos: 3,381

Santos (SP)

Pontos: 7,719

Belo Horizonte (MG)

Pontos: 5,243

Tubarão (SC)

Pontos: 1,946

Rio de Janeiro (RJ)

Pontos: 6,199

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Curitiba (PR)

Pontos: 5,801

Vitória (ES)

Pontos: 4,099

Vinhedo (SP)

Pontos: 2,172

São Paulo (SP)

Pontos: 5,304

Barueri (SP)

Pontos: 6,798

Barueri (SP)

Pontos: 7,747

Fonte: CSC, 2017

Já no âmbito internacional, os resultados do Brasil não foram satisfatórios. No ranking de

cidades inteligentes publicado pelo IESE Cities in Motion Index (CIMI) da Business School

University of Navarra, São Paulo aparece como a cidade mais bem colocada do Brasil,

ocupando a 101º posição, seguida pelo Rio de Janeiro em 114º, ficando atrás de Buenos Aires

(Argentina) em 83º, Santiago (Chile) em 85º e Montevideo (Uruguai) em 99º.

O CIMI foi projetado com o objetivo de construir um indicador de "avanço" em termos

de integridade, características, comparabilidade e qualidade e objetividade de suas informações.

O objetivo é permitir a medição da futura sustentabilidade das principais cidades do mundo,

bem como a qualidade de vida de seus habitantes (CIMI, 2017).

Assim como o Connect Smart Cities, esse ranking também é dividido em dimensões,

sendo que neste caso possui um total de 10, e cada uma delas possui uma série de indicadores,

totalizando 68, que foram considerados para o ranqueamento das cidades, conforme figura 7.

As dimensões consideradas neste índice são: capital humano, coesão social, economia, gestão

pública, governança, meio ambiente, mobilidade e transporte, planejamento urbano,

desenvolvimento internacional e tecnologia.

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Figura 7− Dimensões CIMI

Fonte: CIMI, 2017

Todos os indicadores estão ligados a um objetivo estratégico que leva a uma nova forma

de desenvolvimento econômico local: a criação de uma cidade global, a promoção do espírito

empreendedor e a inovação, entre outros (CIMI, 2017).

Segundo o ranking CIMI, a América Latina é uma das áreas com maior concentração

urbana no planeta, de modo que os desafios que enfrentam essas cidades são cada vez mais

globais, com problemas comuns a todas elas. Na lista, dentre as cinco cidades latino americanas

mais inteligentes, não há nem sinal das brasileiras, conforme quadro 7.

Com base neste cenário, podemos verificar que o Brasil ainda precisa avançar muito para

alcançar um melhor posicionamento no índice mundial. Os programas de governo que

incentivam o desenvolvimento das cidades juntamente com as parcerias privadas e

universidades podem ajudar, e muito, no desenvolvimento de um Brasil mais “inteligente”. Quadro 7 − TOP 5 da América Latina

Fonte: CIMI, 2017

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Fazendo uma comparação entre a melhor cidade no índice geral, Nova Iorque, e a cidade

de São Paulo, que é a cidade brasileira com a melhor colocação, é possível notar o quanto é

necessário melhorar para chegar às primeiras colocações, conforme figura 8. Na figura 9,

podemos notar a situação da cidade de São Paulo em comparação a Buenos Aires que é a cidade

com a melhor posição na América Latina. Podemos notar que a diferença é menor, porém ainda

existem gaps a serem trabalhados. Daí a importância das cidades brasileiras investirem em

planejamento estratégico para mitigar essas questões.

Figura 8 − Comparação entre Nova Iorque e São Paulo

Fonte: CIMI, 2017

Figura 9 − Comparação entre Buenos Aires e São Paulo

Fonte: CIMI, 2017

Segundo o CIMI (2017), cada cidade é única e não copiável e tem suas próprias

necessidades e oportunidades, por isso deve projetar seu próprio plano, definir suas prioridades

e ser flexível o suficiente para se adaptar às mudanças. A cidade inteligente deve desenvolver

uma rede de ecossistemas que envolverá vários atores: membros do público, organizações,

instituições, governo, universidades, especialistas, centros de pesquisa e o setor privado,

gerando inúmeras oportunidades de negócios. Todos têm muito a ganhar com essa rede, porém

é importante atentar que o fator humano é fundamental no desenvolvimento das cidades (CIMI,

2017).

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É necessário que a cidade possua uma sociedade participativa e ativa; qualquer estratégia,

ainda que inteligente e abrangente, estará condenada ao fracasso se essa questão não for

observada. É o público a chave para que as cidades passem de cidades tradicionais para cidades

"inteligentes", juntamente com o desenvolvimento tecnológico e econômico. Cada cidade deve

aspirar que as pessoas que vivem lá, e seus líderes, usem todos os seus talentos para alcançar o

progresso, esse é um dos objetivos mais importantes de uma cidade inteligente (CIMI, 2017).

3.5 REDES INTELIGENTES - UM DOS CAMINHOS PARA TRANSFORMAÇÃO

DE UMA CIDADE EM CIDADE INTELIGENTE

Energia elétrica é um insumo fundamental para o desenvolvimento da economia e da

sociedade, e seu acesso precisa ter qualidade, segurança e preços justos, visto que impacta na

competitividade do país. Ela foi um ponto fundamental dentro do modelo industrial, permitindo

o desenvolvimento das fábricas por meio de um modelo baseado na reprodução. Agora ela

aparece como um divisor de águas dentro da cidade inteligente, pois faz necessário uma

reinterpretação do conceito de energia elétrica, com um olhar voltado para a questão tecnológica

e buscando a sustentabilidade (RELATÓRIO SMART GRID, 2018).

No passado a preocupação com a rede elétrica era uma busca por inovação meramente

incremental buscando potencializar os processos existente. Com o crescimento da população

mundial há a necessidade de uma inovação mais radical ou mesmo disruptiva onde novos

modelos serão gerados buscando a sustentabilidade desse recurso. É nesse contexto que surge

a cidade inteligente que usa a tecnologia para apoiar essas questões. Neste aspecto, o Brasil

precisa investir em ações de melhoria no fornecimento de energia. Pesquisa realizada pela

Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2016) mostra que um ponto dois terços das indústrias

tiveram prejuízos de milhares de reais devido a falhas no fornecimento (FIRJAN,2017).

A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) é responsável por regular e fiscalizar

as questões referentes à energia elétrica, e possui indicadores que permitem a ela monitorar a

quantidade de horas com interrupção – DEC, figura 10 (Duração Equivalente de Interrupção

por Unidade Consumidora) e quantas vezes a energia foi interrompida – FEC, figura 11,

(Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora). Por meio do

monitoramento desses indicadores, foi possível verificar que o Rio de Janeiro teve uma piora

no que diz respeito à qualidade da energia elétrica nos últimos 5 anos. Entre 2011 e 2016 houve

um aumento de 10,6% nas interrupções no fornecimento de energia e 11,5% nas vezes em que

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ficou sem energia. O Rio de Janeiro corresponde à segunda economia do país e a frequência

com que falta energia impacta diretamente nas empresas presentes nesse estado (FIRJAN,

2017).

Inovações significativas na forma como a energia elétrica é fornecida não acontecem há

muito tempo, sendo que ela “[...] foi a primeira das engenharias da eletricidade a requerer a

construção de redes metropolitanas” (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p.10). Porém, as

redes de distribuição não evoluíram para encarar os desafios das mudanças modernas, limitando

sua capacidade devido ao uso de tecnologias desenvolvidas há muito tempo. Para mudar esse

panorama é necessário vencer alguns desafios que passam pelo uso de energias alternativas,

controle das demandas, confiabilidade e diminuição de ameaças à queda de energia, picos,

dentre outros. Figura 10 − DEC – Horas sem Energia

Fonte: FIRJAN, 2017

Segundo o relatório Retrato da Qualidade da Energia no Estado do Rio de Janeiro

elaborado pela Firjan (2017), o Rio de Janeiro tem muito a avançar no que diz respeito à

qualidade da energia. Para isso existe a necessidade de investimento nesta área. Pôde-se notar

que nos últimos anos houve melhora no indicador que monitora a quantidade de horas de

interrupção de energia - DEC, porém é imprescindível que avanços continuem ocorrendo para

que níveis adequados ao setor produtivo sejam alcançados (FIRJAN, 2017). Em uma era na

qual a tecnologia está presente em todos os lugares, as empresas de energia dependem de seus

consumidores para serem informadas da queda de energia (RELATÓRIO SMART GRID,

2018). Com o aumento do consumo de energia, estamos cada vez mais utilizando energias

geradas por usinas térmicas que é cara e suja. Faz-se necessário repensar o modelo de

fornecimento de energia para um modelo mais eficiente e sustentável.

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Figura 11 − FEC – Número de vezes sem energia elétrica

Fonte: FIRJAN, 2017

A FIRJAN (2017) apresentou, como ações para a melhoria da qualidade de energia,

proposta para o aperfeiçoamento da regulação da qualidade da energia elétrica no Brasil, como:

criar indicadores que mensurem interrupções menores que três minutos, fornecer transparência

nos conjuntos elétricos das classes de consumo, ampliar o acesso dos consumidores industriais

ao mercado livre incentivando a concorrência, criar condições para o desenvolvimento de um

mercado de energia elétrica com qualidade e preço diferenciado para a indústria e estimular a

expansão das redes inteligentes de energia (smart grids).

Como citado acima, as redes inteligentes ou Smart Grids aparecem como uma das

respostas a esses desafios. Elas utilizam o sistema de energia elétrica, usando a tecnologia com

o objetivo de fazer com que o sistema seja mais eficiente (econômica e energeticamente),

confiável e sustentável. Nesse contexto, o papel do consumidor é ampliado, pois ele assume o

controle de seu consumo, podendo acompanhá-lo diariamente, por meio de um medidor

inteligente.

A rede inteligente incorpora dentro de si usuários e seus eletrodomésticos, neste âmbito

o usuário é o protagonista. Ele poderá, por meio deste novo sistema, produzir a sua própria

energia, podendo exportá-la para a rede quando não a estiver utilizando (OLIVEIRA, 2012;

MONZONI, 2015). E essa micro geração poderá ampliar o mercado de fornecimento, aliviando

o sistema. Trata-se da capacidade de agregar, ou seja, uma rede que se complementa unindo o

fornecimento tradicional e o fornecimento doméstico (RELATÓRIO SMART GRID, 2018). Essa descentralização da produção fomenta a expansão das fontes renováveis, especialmente de energia solar fotovoltaica, e reduz perdas técnicas na transmissão ao aproximar a geração dos centros de consumo. A previsão é que, até 2030, o Brasil será o sexto país do mundo em investimento nessa tecnologia, com a instalação de mais de 63 milhões de medidores inteligentes (MONZONI, 2015, p. 103)

Segundo Oliveira (2012, p.58), "Smart Grid não é um sistema, e sim um conceito de rede

dotada de tecnologias digitais que oferece mais eficiência e confiabilidade". Ela integrará

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tecnologias avançadas, unindo rede elétrica e telecomunicações. Sua gestão inteligente irá

facilitar a conexão de energias renováveis, inclusive colocando o consumidor como produtor.

Essa tecnologia apresenta três principais benefícios: redução do consumo de energia por

parte da empresa concessionária, para fornecer um serviço com qualidade igual ou melhor;

redução de falhas no sistema de fornecimento e integração de ponta a ponta, do gerador ao

consumidor (MONZONI, 2015). Esse novo sistema não traz apenas ganho para as pessoas, ela

também traz ganho para as empresas que atuam como concessionárias deste serviço

(OLIVEIRA, 2012).

Neste novo cenário, as empresas que administram esses sistemas terão o maior controle

sobre a rede, evitando perdas, sejam elas técnicas ou não-técnicas como por exemplo o furto de

energia. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, esta perda pode chegar a

13%, o que equivale a R$ 7 bilhões por ano. O modelo Smart Grid está presente em 178 projetos

da ANEEL no que se refere a contratos de concessão da energia elétrica no país. As empresas

são obrigadas a investir 1% da receita líquida em projetos de pesquisa e desenvolvimento e

eficiência energética (OLIVEIRA, 2012). Produção, distribuição e consumo de eletricidade nas grandes cidades são repensados a partir de soluções que promovem descentralização, monitoramento e eficiência, e demandam novos modelos de planejamento e gestão do sistema elétrico. Aplicam-se tanto à redução de perdas e consumo, quanto à promoção das fontes alternativas renováveis e melhoria no serviço ao oferecerem informação para ação preventiva a problemas no fornecimento (MONZONI, 2015, p. 101)

Monzoni (2015) nomina esse novo modelo como “redes de energia elétrica do futuro”,

isto porque ele é responsável pela transformação da relação entre as empresas de energia e o

consumidor. Pontuando que isso se dá por meio de uma maior interatividade entre os clientes e

as fornecedoras de energia, trazendo consigo maior transparência, o empoderamento do

consumidor e consequentemente seus impactos positivos no meio ambiente visto que uma

gestão mais eficiente garante uma melhor utilização dos recursos naturais (MONZONI, 2015).

Ocorrerá uma mudança muito impactante no dia a dia das cidades após a implantação de

rede inteligente, pois a cidade passará a ter vida. Tudo estará conectado e as informações

geradas servirão de insumos e estímulos para a cidade. Panham, Mendes e Breda (2016)

pontuam que a cidade começa a “falar”, por meio dos objetos inanimados. Esses equipamentos

passarão a fazer parte de um grande sistema interligado que se comunicará e enviará

informações que serão relevantes para toda a cidade e para todos os cidadãos.

A TV fala. A geladeira fala. A rede de energia fala. O chuveiro vai ter que falar para dizer que é hora de fechar a torneira e economizar. A cidade fala. Estamos

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conseguindo embarcar inteligência em objetos antes inanimados (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p. 22; 63).

A cidade passa a ser uma cidade pulsante e viva por meio da implantação de redes

sensoras. Passa a se acoplar como uma grande conexão nervosa que, ao ser excitada, transmite

os estímulos. Isso faz com que a cidade deixe de ser passiva e adquira um comportamento ativo,

sentindo seus cidadãos, suas ruas, avenidas, rios, parques, ou seja, tudo que está em seu redor

(PANHAM; MENDES; BREDA, 2016).

Sua implantação requer que sejam vencidos alguns desafios que passam por projetar

interfaces comuns que possam abstrair a heterogeneidade em termos de hardware e software,

pois existem diferentes tecnologias sendo empregadas. Porém, um ponto crítico e que merece

atenção refere-se à proteção e controle das informações geradas com a implantação das redes

inteligentes. Esse novo sistema irá gerar bilhões de dados, referentes a consumo do consumidor,

informações sobre a rede técnica, equipamentos do consumidor, se ele está em casa ou não,

dentre outras. As empresas que operarão esses sistemas necessitarão possuir sistemas seguros.

[...] as informações podem (e devem) ser disponibilizadas em sites abertos para garantir que o cidadão acompanhe o que está acontecendo na cidade. Estas informações são fundamentais para se construir um estado de transparência total e a definição do conceito de saúde econômica, social e política para a cidade. Através de situações como estas poderemos não apenas saber o que tem que ser feito, mas também quem tem que fazer e se os responsáveis estão agindo ou não. Ou seja, a Cidade Inteligente poderá levar à primeira definição plausível e operacional de Cidade Saudável (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p. 58).

Uma solução para essa questão poderá ser a utilização de soluções existentes como as

utilizadas na rede bancária, na certificação digital ou até mesmo a criptografia, para evitar que

pessoas não autorizadas tenham acesso a essas informações e possam lesar o consumidor

(OLIVEIRA, 2012).

3.6 ECONOMIA CRIATIVA, CIDADES CRIATIVAS E CIDADES

INTELIGENTES – PERCEPÇÕES, DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES

Os assuntos referentes a economia criativa, cidades criativas e cidades inteligentes se

cruzam em vários momentos, criando interseções e conexões entre si. Muitas vezes dependendo

da forma como cada autor coloca sua visão sobre o assunto, há dificuldade em discernir sobre

qual tema se está tratando.

A economia criativa tem, entre outros, o intuito de abrir e desenvolver áreas remotas,

remodelar áreas urbanas degradadas, além da preservação dos recursos ambientais finitos,

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investindo na criatividade, tecnologia e cultura como fatores diferenciais para o país

(UNCTAD, 2010, p.23). As cidades criativas buscam promover a qualidade de vida, segurança,

um lugar habitável e produtivo, tendo como ponto crucial a criatividade que é colocada como

a chave na elaboração de um planejamento urbano renovado (FERREIRA, 2017).

A tecnologia aparece como ponto crucial para o desenvolvimento da cidade inteligente,

pois por meio dela entende-se que é possível desenvolver uma cidade sustentável, oferendo uma

melhor qualidade de vida à população (SOUPIZET, 2017). Por meio de um sistema conectado,

é possível promover um crescimento da cidade de forma mais eficiente, evitando o desperdício

dos recursos naturais, minimizando a agressão ao meio ambiente e aumentando a capacidade

de produção contínua e infinita (CAMARGO, 2015).

Howkins (2013) pontua que na economia criativa o indivíduo assume o papel central,

sendo este ponto o principal diferenciador entre a economia tradicional e a economia da

criatividade. Isso também pode ser visto no âmbito das cidades criativas, pois tudo que ocorre

afeta diretamente a todos (LERNER, 2011, p.51). A transformação da cidade em um território

criativo só é possível quando há a criação de um sonho coletivo que mobiliza toda a população

a fazer que ele se transforme em realidade.

O indivíduo passa a entender o seu papel no sistema e como suas ações podem impactar

o ambiente à sua volta. (STRICKLAND, 2011, p.51). A cidade inteligente também pontua que

a participação de todos é importante, pois são as informações geradas pela população que

servirão de insumo para alimentar os sistemas e gerar informações que servirão de base para

tomadas de decisões mais assertivas, fazendo com que a gestão do espaço urbano seja mais

eficiente (SOUPIZET, 2017).

Quando existem, dentro da economia criativa, políticas de incorporação da inclusão social

e desenvolvimento, ela passa a atuar como um instrumento de equidade e felicidade para a

população (PARDO, 2011, p.88-89). No âmbito das cidades criativas, a UNESCO criou a rede

de cidades criativas, que funciona como uma plataforma de conexão entre as cidades e é

entendida como um terreno fértil para a promoção do desenvolvimento sustentável

(FERREIRA, 2017). Já nas cidades inteligentes, a incorporação de uma cultura voltada para a

tecnologia faz com que ocorra inovação na cadeia produtiva, tornando-as cadeias produtivas de

valor, pois utilizam a criatividade e o capital intelectual como os principais recursos da

produção.

A criatividade amplia o leque de soluções dos problemas urbanos e, quando há a conexão

entre os atores da esfera pública, privada e sociedade civil, há maior probabilidade de

assertividade na solução dada na resolução dos problemas (LANDRY, 2011). É necessário o

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desenvolvimento de um novo modelo mental em que a utilização dos dados captados de

diferentes lugares servirá de insumo para a melhoria na gestão urbana, sendo que este é o cerne

da cidade inteligente, ou seja, a cidade – ou as cidades – se torna um grande ecossistema que se

retroalimenta (SOUPIZET, 2017).

Landry (2011) menciona a necessidade de serem criadas condições que permitam a

participação e estímulo da população na resolução de problemas relativos à cidade, ressaltando

a importância do engajamento como ponto fundamental na nova realidade das cidades.

[...] faz necessária uma mudança de mentalidade, percepção, ambição e vontade, uma compreensão da capacidade que a cidade tem de estabelecer redes de comunicação, além de sua profundidade e riqueza culturais. Essa transformação possui um forte impacto sobre a cultura organizacional. Ela necessita de milhares de mudanças na mentalidade, criando condições para as pessoas se tornarem agentes da mudança, em vez de vítimas dela, enxergando a transformação como uma experiência viva, e não um evento isolado. Ela demanda burocracias que sejam criativas (UNCTAD, 2010, p. 14).

Camargo (2010) pontua que as cidades inteligentes devem funcionar como um hub de

comunicação, fazendo a conexão entre as cidades em uma rede globalizada, tornando-se

competitiva, adequando-se ao papel da indústria criativa e estando ligadas aos centros

universitários cujo objetivo seria gerar conhecimento e atratividade.

A diferença entre cidade inteligente e criativa ocorre porque a primeira está preocupada

com a aplicação de infraestrutura digital, sensores e dispositivos de captura de dados, e poder

de computação em larga escala para dimensões sociais e governamentais da vida urbana,

visando à melhoria da gestão da cidade e à qualidade de vida do cidadão. Por sua vez, o foco

da cidade criativa é mobilizar a cultura e a criatividade para a marca da cidade, a regeneração

urbana e o crescimento das indústrias culturais, apontando para novas formas de planejamento

urbano e governança, conforme mapeado no quadro 8 (Em vermelho o item que cada uma das

cidades tem foco). A cidade criativa se mostra ligada à classe criativa e ao empreendedorismo,

voltada mais para questões associadas às indústrias criativas e contribuindo para o crescimento

econômico, inclusão social e diversidade (MONASH UNIVERSITY, 2017).

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Quadro 8 − Comparação entre Economia Criativa, Cidades Criativas

e Cidades Inteligentes.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018

Para o desenvolvimento de uma cidade criativa a tecnologia e a inovação não aparecem

como pontos cruciais para o seu aparecimento. Muitas cidades são classificadas como criativas,

por exemplo, por terem uma gastronomia diferenciada ou mesmo um artesanato especifico

daquela localidade. Porém isso não impede de uma cidade criativa utilizar mecanismos

tecnológicos para desenvolvê-la. Nos últimos anos, muitas empresas, conhecidas como startups

surgiram utilizando tecnologia e a inovação transformando assim o lugar em estão em um

território criativo. Já na cidade inteligente a tecnologia por meio da inovação, seja ela

incremental ou disruptiva, é o ponto chave desse tipo de cidade que usa esses mecanismos para

possibilitar que uma cidade seja mais inteligente para a sua sociedade.

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Figura 12 − Economia Criativa, Cidades Criativas e Cidades Inteligentes

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018

Com base no exposto, este trabalho considera que a cidade inteligente é uma modalidade

de cidade criativa, cuja característica primordial gira em torno das noções de tecnologia

particularmente no que diz respeito a noção de inovação, figura 11.

3.7 PROJETO BÚZIOS CIDADE INTELIGENTE – A EXPECTATIVA

Búzios possui uma extensão territorial de aproximadamente 70 Km2 e, segundo o censo

realizado pelo IBGE (2010), uma população de aproximadamente 27.560 habitantes. A cidade

está a 165 km do Rio de Janeiro e possui um PIB per capita de R$ 74.286,00. Suas atividades

econômicas estão relacionadas ao turismo e à pesca. Possui em toda sua extensão mais de 20

praias e é banhado pelas águas do Oceano Atlântico, localizando-se na zona tropical do

subcontinente sul-americano (PREFEITURA de BUZIOS, 2018).

Por possuir numerosas conchas de moluscos gastrópodes em suas praias, seu nome de

batismo português foi “Ponta dos Búzios”. Seu nome muda para “Armação dos Búzios" após a

construção do estabelecimento comercial Armação das Baleias de Búzios. Sua geografia

paradisíaca e sua proximidade com o Rio de Janeiro atraiu, na década de 1950, famílias da

burguesia brasileira e francesa como local preferencial para casa de veraneio (PREFEITURA

de BUZIOS, 2018).

Sua transformação começou a ocorrer no início da década de 1960, quando a atriz Brigitte

Bardot e seu namorado passaram férias na cidade. A presença da atriz em Búzios foi muito

divulgada, o que atraiu vários visitantes para aquele que seria considerado um dos balneários

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mais charmosos do mundo. Em 1995, após um plebiscito em que os eleitores buzianos

compareceram de forma ordeira e maciça às urnas, foi decidida a emancipação da cidade

(PREFEITURA de BUZIOS, 2018).

Ser um munícipio relativamente pequeno e um destino turístico internacionalmente

reconhecido foram alguns dos fatores que levaram a AMPLA/ENEL a investir em um projeto

de cidades inteligentes voltado para eficiência energética em um modelo denominado Smart

Grid – em português, “rede inteligente”. As cidades que implantam esse modelo são

consideradas cidades do futuro, pois “começam a experimentar um tipo de gestão energética

que vai trazer um melhor aproveitamento e novas formas de geração, interação e uso da

eletricidade tanto para as empresas produtoras e distribuidoras da energia como para o

consumidor” (OLIVEIRA, 2012, p. 57). A construção do futuro começa hoje. E com inovação, tecnologia e sustentabilidade, a AMPLA se prepara para superar desafios e construir um mundo melhor. Búzios é um balneário reconhecido internacionalmente e foi escolhido para abrigar um novo modelo de gestão energética. Será utilizada uma rede inteligente, que integrará tecnologias tradicionais com modernas soluções digitais para melhorar a flexibilidade da rede e a gestão das informações. E o cidadão vai estar no centro dessa transformação (AMPLA CIDADE INTELIGENTE, 2018).

O projeto propunha que em Búzios, a rede inteligente utilizaria soluções digitais

avançadas que permitiriam que a rede elétrica funcionasse de modo semelhante à internet. Ela

faria a ligação entre a rede tradicional de distribuição com as soluções modernas que enviariam

além da energia, dados e informações que iriam alimentar toda a rede. Há a união de diversos

itens para possibilitariam a criação de um sistema que geraria uma rede energética eficiente e

sustentável.

Na Cidade Inteligente, a rede elétrica será flexível, totalmente automatizada e totalmente integrada sobre os aspectos de controle centralizado, diagnóstico, reparação e telegestão de medidores. São demonstrados conceitos-chave em “Smart Energy”, necessários para contribuir com os objetivos energéticos do Brasil (AMPLA CIDADE INTELIGENTE, 2018).

Neste modelo, figura 12, o cidadão seria colocado no centro do ecossistema em questão.

Essa rede permitiria ao usuário maior informação sobre o que ocorre em sua rede elétrica de

forma transparente, permitindo que ele tivesse o controle de seus gastos. Possibilitaria também

que ele fornecesse eletricidade, tornando-o produtor e consumidor de energia (AMPLA CIDADE

INTELIGENTE, 2018).

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Figura 13− Blocos do Projeto – Búzios Cidade Inteligente

Fonte: VILACA, 2014

1. Medidor Inteligente - O medidor eletrônico vai mostrar o consumo de energia e o

cliente vai ter informações detalhadas para adequar seu consumo de acordo com o horário e

tarifas especiais. Assim ele pode economizar até 30% na conta de luz.

2. Prédios inteligentes - Com a nova tecnologia, o cliente poderá acompanhar seu próprio

consumo e até ligar e desligar seus aparelhos de qualquer lugar. Desta forma terá o controle

sobre seus gastos com energia e poderá gerenciá-los como preferir.

3. Telecomunicações, Controle e Internet Banda Larga - Todos os equipamentos da

rede elétrica estarão conectados e terão comunicação entre si. A AMPLA vai poder monitorar

em tempo real toda a rede elétrica direto da sua central.

4. Armazenamento de Energia - O novo conjunto de baterias vai viabilizar o

armazenamento da energia gerada a partir de fontes renováveis como solar e eólica. Essa

energia poderá ser consumida nos horários de pico evitando sobrecarga no sistema elétrico.

5. Geração inteligente de Energia - A distribuição da eletricidade sempre foi da empresa

de energia para o consumidor. Agora o cliente também vai poder gerar, consumir e até repassar

a energia que não usou para a Ampla e ser compensado na conta de luz.

6. Veículos Inteligentes - Além de práticos e ecológicos, os veículos elétricos tem várias

utilidades. Se a rede estiver sobrecarregada, por exemplo, o veículo pode servir de ponto

alternativo de armazenamento móvel. Para o cliente pode ser um ponto de fornecimento de

energia.

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7. Iluminação pública Inteligente - Búzios terá luminárias LED, com micro geração

eólica de pontos de luz controlados pela central. Tudo para melhorar a iluminação da cidade

ajustando a intensidade da luz a cada momento.

8. Cidadão Consciente e Informado - O grande diferencial da cidade inteligente búzios

será a educação da população para o consumo consciente da energia. Atuando em Búzios

levando palestras educativas, oficinas de reciclagem, cursos de capacitação, além da troca do

lixo reciclável por descontos na conta de luz. A participação das pessoas era colocada como

fundamental para a transformação da cidade (AMPLA CIDADE INTELIGENTE, 2018).

Como acontece nas cidades criativas, o cidadão passaria a ser protagonista na cidade

inteligente, tornando-se um prosumer, produzindo e consumindo energia.

[...] o cidadão é o protagonista que, com o uso consciente da energia, pode reduzir seus custos e preservar o meio ambiente. Com as tecnologias digitais dos eletrodomésticos de nova geração, o consumo de cada casa torna-se transparente e controlável. O cliente será sempre informado sobre o que ocorre na rede elétrica e pode escolher se quer captar energia da rede ou fornecer a eletricidade que produz em sua própria casa, tornando-se produtor e consumidor (AMPLA CIDADE INTELIGENTE, 2018).

O projeto compreenderia 10.000 clientes com medição de consumo inteligente, 4 linhas

de média tensão com 67k de circuitos, 450 transformadores, 36MVA de potência total e 55GWh

por ano de consumo. (AMPLA CIDADE INTELIGENTE, 2018). E estava voltado para redes

inteligentes contemplando transformações tecnológicas, econômicas, sociais e ambientais

realizadas na cidade, além da promoção de iniciativas de integração com a sociedade. A

implantação da cidade inteligente, assim como as cidades criativas, também se preocupava com

o desenvolvimento da cultura local em busca de um desenvolvimento sustentável (ENEL,

2015).

O Cidade Inteligente contempla também a criação de uma rede de relacionamento com os diversos segmentos sociais, criando um espaço de discussão e construção dos conceitos de sustentabilidade e inovação que envolve a Cidade Inteligente Búzios (ENEL, 2015, p. 58).

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Figura 14− Site Búzios Cidade Inteligente

Fonte: AMPLA CIDADE INTELIGENTE, 2018

O projeto foi financiado pelo P&D da ANEEL por meio da AMPLA e na época possuía

parceria com a prefeitura de Búzios, governo do estado, figura 13. Com empresas que acreditam

nesta ideia e com as principais universidades e instituições de pesquisa que tornariam Búzios

um polo de tecnologia, pesquisa e inovação e a primeira cidade inteligente da América Latina.

E previa como benefícios:

• Uso de fontes renováveis, como energia eólica e solar;

• Tarifa diferenciada por horário de consumo com até 30% de economia;

• O cidadão poderá gerar e vender energia;

• Prédios inteligentes com instalações adequadas ao novo modelo;

• Controle do consumo em tempo real por ambiente e por aparelho;

• Iluminação pública com lâmpadas de LED, mais econômicas e

eficientes;

• Controle remoto da rede, com ajustes automáticos em tempo real;

• Maior eficiência energética para reduzir o impacto no meio ambiente;

• Incentivo ao consumo consciente e engajamento da população

• Coloca a região como referência mundial na demonstração de

tecnologias limpas;

• Se adequa aos principais problemas da sociedade neste século;

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• Insere o Brasil na vanguarda mundial como centro demonstrador de

tecnologias de redes inteligentes.

• Gera conhecimento e capacidades de alto valor, de forma a impulsionar

o desenvolvimento da indústria, além da ciência e tecnologia nacionais.

• Permite adquirir experiência e desenvolver capacidades não existentes

atualmente, o que vai demandar a necessidade de novas pesquisas;

• Posiciona competitivamente a indústria e o P&D nacionais.

O projeto Cidade Inteligente de Búzios foi formalmente finalizado em 2016. Segundo a

ENEL (2016, p. 74), "Búzios é o município brasileiro com maior adesão às energias renováveis

do conceito de geração distribuída pela proporção ao número de habitantes”.

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4 METODOLOGIA

Neste capítulo será apresentado ao leitor a linha metodológica a ser empregada no

decorrer do trabalho. Serão expostos o tipo de pesquisa, a seleção e características dos sujeitos

pesquisados, como será realizada a coleta de dados, o tratamento e as limitações do método

utilizado.

4.1 TIPO DE PESQUISA

A pesquisa se classifica, quanto à abordagem, como qualitativa e quanto ao tipo como

exploratória, que segundo Gil (2017, p. 27), “tem como propósito maior familiaridade com o

problema, com vista a torná-lo mais explícito ou construir hipóteses”. Esta pesquisa também

pode ser classificada como bibliográfica e de campo, quanto aos meios de investigação, pois

buscou informações em livros e artigos nacionais e internacionais relacionados ao tema, além

de se ter realizado uma pesquisa de campo por meio de entrevistas em profundidade.

4.2 SELEÇÃO DE SUJEITOS

Os sujeitos pesquisados são pessoas com expertise/relevância na área estudada. Buscou-

se diversificar os entrevistados para verificar a visão de cada um deles sobre a implantação do

projeto de cidades inteligentes em Búzios, conforme quadro 9.

Quadro 9 − Seleção dos sujeitos Entrevistado Posição/Cargo Observações

E1 Gestor da Ampla / Enel Coordenação do projeto

E2 Gestor Prefeitura de Búzios Está na prefeitura há mais de 6 anos

E3 Diretora Geral de escola Está na gestão do colégio há mais de 9

anos E4 Professor Universitário Professor da UFF

E5 Advogado Morador de Búzios há 10 anos

E6 Gestor de Projeto CIEDS – ONG responsável por tocar a

parte social do projeto. Fonte: Elaborado pela autora, 2018

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4.3 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados por meio de entrevistas em profundidade que seguiram um

roteiro semiestruturado, e que ocorreram presencialmente e por telefone. Elas foram realizadas

com pessoas que participaram do projeto de cidade inteligente de Búzios.

Foi elaborado um roteiro com perguntas que se complementavam, visando tentar chegar

a respostas mais completas. Segundo Vergara (2010), este tipo de entrevista tem maior

profundidade, pois o entrevistado elenca os pontos a serem explorados. As entrevistas foram

gravadas e transcritas, com a autorização dos entrevistados, conforme a recomendação de

Minayo (2014), de que é de bom tom submeter a transcrição ao entrevistado para que ele valide

as informações. Para Minayo (2001, p. 43):

[...] A pesquisa qualitativa não se baseia no critério numérico para garantir sua representatividade. Uma pergunta importante neste item é quais indivíduos sociais têm uma vinculação mais significativa para o problema a ser investigado? A amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado, em suas múltiplas dimensões.

As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado e foram realizadas no período de

junho a outubro de 2018. Foram entrevistadas cinco pessoas que participaram do projeto em

questão, direta ou indiretamente. Foram selecionados para entrevista: gestor do governo, gestor

da empresa privada responsável pelo projeto, um professor da universidade que participou do

projeto, um gestor da ONG, um morador de Búzios. A fim de resguardá-los, eles serão

identificados apenas por letras e não terão seus nomes completos apresentados.

Também foram entrevistados especialistas na área de Economia Criativa para que

auxiliassem na compreensão dos assuntos relacionados a conexões e interseções entre o

conceito de cidade criativas e cidades inteligentes, com o objetivo de verificar se essas áreas

são semelhantes, complementares ou excludentes.

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS

4.4.1 Abordagem qualitativa

A análise utilizada para este trabalho foi a qualitativa, pois segundo Minayo (2012, p.

623), “o verbo principal da análise qualitativa é compreender. Compreender é exercer a

capacidade de colocar-se no lugar do outro, tendo em vista que, como seres humanos, temos

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condições de exercitar esse entendimento". A análise qualitativa tem o objetivo de absorver

caráter multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural, auxiliando a

compreensão do indivíduo no seu contexto, por meio da captação dos diferentes significados

de uma experiência vivida (ANDRÉ, 1983). Isto se mostra relevante na presente pesquisa, de

cunho exploratório.

4.4.2 Análise de discurso

A fim de analisar o discurso dos entrevistados, foi necessário considerar o contexto. Para

isso foram realizadas perguntas que se complementavam, visando chegar a respostas mais

completas. A análise do discurso é a "análise da fala em contexto", tendo por objetivo

“compreender como as pessoas pensam e agem no mundo concreto” (GONDIM e FISCHER,

2009, p.12). Essa análise é relevante quando o objetivo em questão é esclarecer o sentido do

discurso apresentado.

Para Vergara (2008), a análise do discurso é indicada quando se deseja verificar como o

indivíduo declara suas opiniões sobre determinado assunto. Logo é indicada para se perceber

como as pessoas que participaram do projeto Cidades Inteligentes Búzios expõem suas ideias

ao falarem sobre como ocorreu todo o desenvolvimento do projeto.

4.5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Não existe um método que consiga contemplar todo escopo e possibilidades, ou seja, eles

são limitados (VERGARA, 2010). Essa restrição ocorre por diversos motivos, que podem variar

de acordo com a época de realização, a localidade, as pessoas que serão entrevistadas, o recorte

do projeto, dentre outros. A investigação apresentou limitações, conforme apresentadas abaixo:

• O método foi limitado pela seleção dos entrevistados, pois não seria possível ouvir todos

os gestores envolvidos no processo de implantação do projeto Cidades

Inteligentes Búzios.

• Como se trata de um projeto em que houve a participação da Prefeitura de Búzios e

como há alta volatilidade dos profissionais, visto que muitos ocupam cargos por indicações,

pode ocorrer eventualmente a situação de um gestor que tenha participado do projeto e não

trabalhe mais no local.

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• Os entrevistados podem fornecer respostas que não traduzam a realidade ou suas

opiniões genuínas por razões como medo ou desconhecimento do assunto ou do processo.

• Outro ponto que poderá influenciar é a interpretação do pesquisador, contudo busca-se

distanciamento do objeto visando à maior neutralidade possível.

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5 DESDOBRAMENTOS PRÁTICOS E PRODUTOS ORIUNDOS DA PESQUISA

Começando a análise do que foi obtido durante as entrevistas, deve-se ressaltar que todos

os entrevistados estiveram envolvidos direta ou indiretamente no projeto, por meio da atuação

nele ou sendo impactados por ele. Sem dúvida, o olhar dessas pessoas contribuiu para o

entendimento do projeto Cidade Inteligente Búzios por diversas óticas. Com base nas

entrevistas, o presente trabalho montou o contexto do projeto desde sua origem até o pós-projeto

e assim foi possível realizar o mapeamento de todo o seu desenrolar.

O primeiro destaque é que durante as entrevistas nenhum dos entrevistados falou sobre

questões referentes à economia criativa, cidades criativas ou algo similar. Verificou-se também

que eles desconheciam esses termos ou mesmo nunca ouviram falar. Também não foi

mencionada nenhuma das ações do Governo Federal em torno dos decretos referentes a cidade

digital, projeto Minha cidade Inteligente. Grande parte dos participantes comentaram sobre

cidades inteligentes de uma forma mais focada no projeto Cidade Inteligente Búzios, o que

demonstrou o desconhecimento da profundidade do conceito.

O projeto não contou com a parceria entre a AMPLA/ENEL e a prefeitura de Búzios, por

mais que na página do projeto a Prefeitura apareça como parceira. Notou-se que esse projeto

não foi bem recebido pela gestão municipal, a qual não contribuiu e nem viu ganho para a

cidade com a implantação do projeto.

Outro ponto impactante é que menos de dois anos após a implantação, que teve um custo

de 54 milhões de reais, ou seja, 14 milhões acima do previsto, os equipamentos instalados

durante o projeto estão parados. A descontinuidade e a falta de feedback referente ao término

aparecem como os dois maiores problemas do projeto.

5.1 A GÊNESE

A energia elétrica constitui um dos insumos fundamentais para a sobrevivência e

desenvolvimento de uma cidade. Não conseguimos imaginar a vida da sociedade atual sem esse

precioso recurso que nos permite ter uma vida mais fácil e confortável. Porém, a todo momento

somos assombrados por problemas referentes a sobrecarga da rede, apagões, furto de energia,

dentre outros, que podem impactar diretamente no fornecimento desse item tão precioso.

A forma como a energia elétrica é fornecida ainda é antiga e a rede atual precisa sofrer

uma mudança significativa para conseguir suportar o crescimento das cidades. Por outro lado,

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alguns desafios também precisam ser vencidos no que se refere à criação de formas alternativas

de geração da energia.

Com base neste contexto, a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL promoveu

no ano 2010 a chamada pública nº 011/2010, para realização do projeto estratégico de P&D

“Programa Brasileiro de Redes Inteligentes (RI)”. O objetivo do projeto foi a elaboração de

uma proposta para desenvolver o Plano Brasileiro de Redes Inteligentes (PBRI), visando à

migração tecnológica do setor elétrico brasileiro do estágio atual para a adoção plena do

conceito de Redes Inteligentes em todo o país. Com base nisto, a AMPLA/ENEL se motivou a

investir em um projeto de cidade inteligente, conforme depoimento abaixo:

[...] então a pergunta foi: “vamos fazer um piloto de medição, já que a gente domina o furto de energia na medição convencional, vamos também trabalhar o furto de energia ou dominar a tecnologia da medição inteligente e do futuro quando isso for grande agente já tem os nossos colaboradores adequados e passados para essa tecnologia? ”. Então, essa foi a motivação [...] (E1).

A ideia foi bem recebida pelos responsáveis da empresa, pois entenderam que poderiam

ter ganhos em dominar essa tecnologia e que ela poderia ser utilizada em diversos países nos

quais a empresa atua. As experiências que os grupos Endesa e Enel já tinham em projetos de

RI na Itália, Espanha e Chile também contribuíram como impulsionadores do projeto.

E neste momento, a ENEL falou, poxa, se a ANEEL tem esse plano de mudar, eu quero fazer um piloto e dominar essa tecnologia de medição inteligente. E aí veio uma pergunta dentro desse pensamento, foi: Por que ao invés de fazer só um piloto de medição, a gente não faz, dá um passo a mais e não faz uma cidade inteligente? Ao invés de só o smart grid, perdão o smart mitring, que é o medidor inteligente, a gente não traz o conceito de smart city? (E1).

Porém era necessário que esse projeto tivesse uma abordagem diferente do projeto

AMPLA chip, que desenvolveu uma tecnologia de combate ao furto de energia. Na ocasião,

houve a troca dos medidores dos clientes do Rio de Janeiro, porém essa iniciativa não foi bem-

sucedida. Os consumidores passaram a receber contas com valores até mil por cento maiores

do que costumavam pagar. A repercussão foi tão ruim que a Assembleia Legislativa do Rio de

Janeiro – ALERJ criou uma CPI para investigar o caso (GLOBO, 2007).

A empresa verificou que não bastava apenas ter tecnologia, que era necessário envolver

o consumidor e conscientizá-lo das mudanças que iriam ocorrer e mais importante de tudo

educa-lo para utilizar a energia de forma consciente. Com base neste novo entendimento, o

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projeto piloto de medição inteligente teve um foco muito grande de mobilização e

conscientização da população.

[...] mas a gente aprendeu lá que quando a gente desenvolveu essa tecnologia, que não só a tecnologia resolve o problema das perdas. E junto com as tecnologias, a gente precisa ter também as pessoas que operam e usam essa tecnologia. Então, não adianta você... nós como distribuidora ter o melhor sistema tecnológico de medição, quando o usuário, não está adaptado a fazer uso dessas novas ferramentas. Então, o que isso teve como impacto, na época agente entrava em áreas carentes, que o pessoal chama aqui, área de vulnerabilidade social, e fazíamos um investimento, na época, apenas tecnológico [...] (E1).

Após a aprovação do projeto havia a necessidade de selecionar o local onde o piloto

deveria ser realizado. Segundo o Entrevistado 1 (E1), buscou-se dentro da base da

AMPLA/ENEL uma região que possuísse até dez mil clientes, que possibilitasse o uso de

energia renovável, mobilidade elétrica e que tornasse o projeto visível. A cidade de Búzios se

encaixava bem dentro dos requisitos necessários.

[...] e aí a gente dá conhecimento mais ou menos em julho lá para 10 de julho por aí, no palácio Guanabara junto na época com o governador Cabral, a gente faz o lançamento do projeto. [...] e aí a gente torna o projeto público[...] (E1).

O evento de lançamento do projeto Búzios Cidade Inteligente contou com a participação

do ex-governador Sergio Cabral e do ex-prefeito de Búzios Mirinho. O evento foi realizado em

Búzios, na praça Santos Dumont e reuniu várias pessoas. Nessa ocasião foi apresentado um

overview do projeto. (RJ GOV, 2013).

5.2 O PROJETO – A REALIDADE

O projeto iniciou em novembro de 2011 e tinha prazo previsto de cinco anos, com um

investimento previsto de 40 milhões de reais. Ele foi dividido em oito temas sendo que cada

um tinha um objetivo. Por conta disso, foi criado um programa dentro do qual havia 8 projetos,

denominados como “Linhas de Pesquisa”, e todos eles eram conduzidos por um responsável. A

abrangência era muito grande, envolvendo diversos atores, como por exemplo: técnicos e

gestores da AMPLA/ENEL, parceiros, universidade, ONG e principalmente a sociedade civil,

dentre outros.

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Dentro do programa, foi criada uma célula de gestão, dividida em duas linhas: uma

tecnológica e outra de gestão. Dentro dessas linhas de pesquisa, havia um gestor da

AMPLA/ENEL que trabalhava part-time para estar alinhado com o que estava acontecendo no

projeto e avaliar se ele (projeto) estava coerente com o que estava ocorrendo dentro da empresa.

A ideia era de que a rede de Búzios fizesse parte do todo e não uma ilha com tecnologia

diferente. Com isso, muitas tecnologias utilizadas na região foram utilizadas em toda a rede da

empresa. Para uma melhor gestão do projeto, foram definidos oito blocos de trabalho, cada um

possuindo um responsável pelo andamento e execução das atividades.

Os recursos financeiros vieram em parte da AMPLA/ENEL e em parte do programa de

P&D da ANEEL, tornando-se um projeto “apolítico” sem a participação dos governos estadual

e/ou municipal, mas com parcerias com universidades, ONGs e empresas privadas que

poderiam expor/oferecer seus produtos e serviços durante o andamento do projeto em questão,

ganhando assim visibilidade.

E aí vem a parte do financiamento do projeto que é com recurso de pesquisa e desenvolvimento da ANEEL e parte de recursos próprios e aí mais ou menos 50/50. [...] eu convido a Nissan, ela veio com os elétricos e aí ele me empresta os carros elétricos durante um período, aí ela fez um investimento, aí assim vai... as lâmpadas públicas, eu fui convidando dentro de uma grande vitrine que é interessante para a ENEL, mas também para os fornecedores de equipamentos também é interessante, o cara colocar o equipamento dele lá na vitrine de Búzios [...] (E1).

Durante o período do andamento do projeto ocorreu eleição municipal e o prefeito que

apoiava o projeto não foi reeleito. Isto causou impacto na parceria entre a AMPLA/ENEL e a

Prefeitura de Búzios. Segundo o gestor da Prefeitura (E2), o prefeito anterior tinha aceitado o

projeto sem exigência de nenhuma contrapartida por parte da distribuidora. Ele apontou que a

Prefeitura gostaria de participar do projeto, todavia não com uma situação “perde-ganha”, mas

com “ganha-ganha”. E questionou a empresa sobre qual retorno eles teriam, pois o projeto já

estava em andamento e a promessa de troca da iluminação da cidade para LED ainda não tinha

acontecido. Além disso, a AMPLA/ENEL solicitou à Prefeitura investimento financeiro e mão

de obra para atuar no projeto e eles não concordaram.

Então, pera aí, então vocês querem fazer o marketing de vocês, criar a cidade inteligente em Búzios, mas você quer que a Prefeitura pague também? Então quer dizer, tudo que você está falando de trocar a iluminação não é verdade? Porque desde 2011 até 2016 não foi feito nada de importante[..] (E2)

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O gestor da Prefeitura pontuou ainda que a empresa AMPLA/ENEL não envolveu a

gestão municipal no projeto e só queria utilizar a cidade por marketing. Colocou que a

distribuidora presta um péssimo serviço à cidade e que toma decisões concernentes à cidade

sem envolver a prefeitura. Sobre o projeto, ele pontuou que a cidade precisa de infraestrutura

básica, como saneamento básico, pavimentação de ruas, assuntos relacionados à coleta seletiva

do lixo e que essa questão de energia não era tão importante neste momento.

Devido a este cenário, a AMPLA/ENEL ficou responsável pela condução de todo o

projeto. Por mais que não participasse diretamente do projeto, a Prefeitura aparecia como

parceira em algumas reportagens publicadas em seu portal (Figura 15).

Figura 15 − Divulgação passeio aquataxi elétrico

Fonte: PREFEITURA BÚZIOS, 2014

A empresa também não tinha boa aceitação da sociedade local e devido a esse contexto,

a iniciativa social foi o principal pilar para o desenvolvimento do projeto Cidade Inteligente

Búzios. Usou-se como estratégia a criação de um bloco de Integração e Desenvolvimento Social

– “um laboratório vivo”, em que houvesse intensa interação com a população. [...]mas o que se ouvia lá desses grupos era que a intervenção que acontecia por parte da AMPLA não era vista com bons olhos por esses movimentos e que criar essa rede teria sido um movimento de apaziguar e quase que ressignificar a AMPLA naquele território (E6).

Para conduzir a parte social, a AMPLA/ENEL contratou a ONG CIEDS que tinha como

missão a criação do que eles chamaram de Rede de Relacionamento, cujo objetivo era fazer

com que a população conhecesse e apoiasse o projeto e que essa rede fosse sustentável, se auto

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alimentando sem dependência de um ator externo para funcionar. Nas entrelinhas, essa rede

também tinha o intuito de melhorar a relação empresa-consumidor que estava desgastada.

A ONG recebeu uma carta convite e, com bases nas informações fornecidas, elaborou

uma proposta técnica que fora aprovado pela empresa. Era um plano robusto que previa a

participação de diversos atores estratégicos da sociedade, encontros sistemáticos e uma série de

planos de ação que eram tocados por essas pessoas e mediados pelos gestores do CIEDS.

Segundo o gestor (E6), a AMPLA acompanhava de perto as ações realizadas por eles,

participando das reuniões de forma colaborativa.

E o papel do CIEDS era facilitar esse processo, a gente não chegou com nada pronto, a AMPLA também não chegou com nada pronto, as demandas partiram do território. Eles construíram esse plano de ação que era tocado por eles também com o nosso apoio... nosso apoio técnico de indicar pessoas que pudessem facilitar ou então as vezes era institucional mesmo (E6).

Eventos foram realizados em escolas, nas praças e até mesmo no mar, e tinham como

proposta a disseminação de uma consciência mais sustentável, trazendo mais visibilidade para

o projeto. Porém essas ações foram tocadas pela AMPLA/ENEL com envolvimento pontual do

CIEDS em alguns deles. A empresa também não passava uma visão completa do projeto para

a ONG e ela tinha visão apenas da parte em que atuava.

Porque se a gente estava ali no território com o papel de articular, quanto mais a gente soubesse, mais a gente teria ferramentas para melhorar essa relação entre a sociedade civil e a empresa. Mas a gente não ficava sabendo de tudo que acontecia, então... quanto menos você sabe, menos você consegue contribuir. Então quando chegava para a gente, por demanda da AMPLA, alguma iniciativa que a gente precisava fortalecer a gente fazia, mas a gente não tinha noção do todo (E6).

Para se aproximar da população, a ONG não usou o nome da AMPLA/ENEL, pois

verificou que havia grande resistência por parte da sociedade civil. Todas as atividades foram

desenvolvidas pelo CIEDS em parceria com os atores sociais, por meio de seminários em que

alguns assuntos eram tratados e por meio de técnicas como a de pesquisa-ação. A ONG também

contratou estudantes da cidade para aplicação de questionários cujas informações serviram de

base para a criação do plano de ação para Búzios. Com isso, eles puderam mapear os reais

problemas da cidade e, por meio do amadurecimento desse plano durante o projeto, foi possível

verificar as ações que poderiam ser tocadas e as que não dependiam da sociedade civil, pois era

de responsabilidade de outros atores como o governo, por exemplo.

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Após essa peneira foi possível estabelecer metas a serem alcançados pelos atores sociais.

Não havia um ambiente que obrigava a participação das pessoas, todos eram voluntários e

estavam ali porque queriam contribuir para a melhoria da cidade. Isso fez com que houvesse

aproximação entre diversas pessoas das diversas áreas da cadeia econômica e social da cidade.

Também houve o empoderamento dessas pessoas no que tange à reivindicação de seus direitos,

seja com o governo, seja com empresas prestadoras de serviço.

Por meio dessa Rede de Relacionamento os atores sociais adquiriam conhecimento sobre

diversos assuntos, sendo um deles as “cidades inteligentes e sustentabilidade”. O objetivo era

conscientizá-los sobre o uso consciente dos recursos naturas, em especial a energia elétrica.

Dentro da rede de relacionamento, a gente tinha uma amplitude bastante maior do conceito de cidade inteligente. [..] é uma cidade inteligente que estimula o turismo sustentável, uma cidade inteligente é onde os moradores fazem parte ou tem uma atitude diferenciada junto ao poder público, eram essas discussões, que se construíam ao longo de uma cidade que se ajuda, onde tem uma rede de colaboração, [...] aí tinha a amplitude da discussão dentro da rede de relacionamento e há muito além do que a rede de relacionamento. (E1)

Ao ouvir as pessoas, foi possível também realizar o resgate da cultura de Búzios. Durante

o projeto, o CIEDS visitou uma comunidade quilombola da Rasa e verificou que eles tinham

um artesanato de bonecas negras que era próprio deles e que era uma herança de seus

antepassados, conforme podemos ver na figura 15. Esse resgate trouxe para a cidade identidade

para o artesanato. Em 2017, a deputada Zeidam propôs o tombamento do Quilombo da Rasa

como patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio de Janeiro, por meio do projeto de lei nº

3281/2017 (ALERJ, 2017).

Além disso, por meio dessas ações foi possível fazer uma ponte entre os artesãos e os

hotéis. Essas pessoas passaram a produzir o enxoval e bonecas para alguns hotéis e, como

consequência, renda para si. Outro ponto importante se refere ao sentimento de fazer parte; após

essas ações, as pessoas se sentiram pertencentes ao território que até então as excluía. Elas

passaram a ter voz e exigir do poder público algumas ações para a melhoria de renda e do local

em que vivem, figura 16.

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Figura 16 − Bonecas Negras

Fonte: CIEDS, 2015

Eles têm lá um artesanato muito forte e a gente conseguiu a partir da rede articular com a rede hoteleira. [..] mas até as rendeiras de Búzios começarem a montar os enxovais dos hotéis. Teve um trabalho bacana também de um quilombo urbano que tem lá e a gente fez um resgate das bonecas negras, que eram bonecas de pano[...] oficinas de bonecas negras e essas bonecas passaram a ser vendidas nos hotéis como uma identidade de Búzios (E6).

Figura 17 − Ponto de venda - Bonecas Negras

Fonte: PREFEITURA BÚZIOS, 2016

A Rede de Relacionamento buscava atender a todo o território, porém, segundo o gestor

do CIEDS, esse alcance compreendeu cerca de sessenta e cinco por cento daquele. Isto porque,

como mencionado anteriormente, a participação era voluntária e algumas pessoas saíram

durante o processo.

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O CIEDS participava pontualmente em outras linhas do programa Cidades Inteligentes

Búzios, fazendo a interface entre a AMPLA/ENEL e a população. O gestor da ONG pontou

dois momentos em que a participação deles fora solicitada. Uma foi durante o evento do barco

elétrico, em que eles fizeram a intermediação com os pescadores, e o outro caso ocorreu quando

a distribuidora de energia queria mudar os medidores de energia por medidores mais modernos,

que impediam o furto de energia. Para atender essa questão, o CIEDS contratou algumas

pessoas da comunidade para fazer a conscientização da população para que a mudança fosse

melhor recebida, o que funcionou. Esses foram casos específicos em que a participação da ONG

foi solicitada e que estava fora do escopo de sua contratação.

Eles fizeram um movimento de trocar para... com o nosso apoio até. Eles pediram na verdade para agente contratar algumas pessoas locais, esse foi o nosso acordo, para que a gente contratasse pessoas locais para que fizessem esse processo todo de conscientização para a troca dos medidores. Pois seriam medidores automáticos, tal que reduziam as chances de gatos e desvio de energia. E o nosso papel era ir nessas casas falar sobre a troca de medidor (E6).

A ONG atuou em Búzios por quatro anos e foi bem aceita pela sociedade e conseguiu

fazer com que a resistência a AMPLA/ENEL diminuísse. Porém sua saída não foi bem recebida

pela sociedade, mesmo ela sabendo que era um projeto finito.

Durante o projeto algumas escolas participaram de eventos que buscavam conscientizar

os alunos e suas famílias sobre o uso da energia de forma sustentável. Um desses projetos foi o

“Energia que Educa”, figura 17, que premiava a escola que melhor se saísse em uma gincana

sobre o tema. Participaram dessa disputa oito escolas públicas e privadas. O gestor de uma das

escolas coloca que a AMPLA/ENEL esteve lá na escola algumas vezes e que houve eventos

que trabalharam a questão da sustentabilidade na escola.

A AMPLA sim, [...] e fez um projeto muito rico com a gente, trabalhou muito a questão do meio ambiente, trabalhou muito a questão de sustentabilidade, mas não mostrando que a nossa escola é sustentável. Eles colocaram que a nossa escola seria sustentável, mas não permaneceu[...] ganhamos com a gincana que teve aqui, ganhamos 2 notebooks novos, que a escola ganhou. Alunos ganharam celulares, porque a escola foi muito movimentada (E3).

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Figura 18 − Projeto Energia que Educa

Fonte: PREFEITURA BÚZIOS, 2015

Algumas áreas de Búzios foram contempladas com a instalação de placas solares

(sistemas fotovoltaicos) e aerogeradores (gerador eólico), como por exemplo, a praça do Portal

da Barra, a Escola Municipal Nicomedes (figura 18), a APAE de Búzios, dentre outros. Foram

instaladas 150 luminárias LED, em torno da em torno da Lagoa de Búzios, com tecnologia que

possibilita que elas sejam controladas a distância. Porém, segundo o professor da UFF (E4),

foram equipamentos de pequeno porte que tiveram um impacto muito baixo na rede elétrica.

Para o gestor do projeto pela AMPLA/ENEL, como se tratava de um projeto piloto, nem todas

as áreas puderam ser contempladas com essas tecnologias (E1).

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Figura 19 – Painel Solar – Escola Municipal Nicomedes - Búzios

Fonte: ENELX, 2016

A integração das pesquisas foi sustentada pelo Centro de Monitoramento da Pesquisa

(CMP), figura 19, que possuía 400 metros quadrados, e que proporcionou avaliação integrada

de tecnologias, infraestrutura, modelos de negócios, recursos humanos, impactos

socioeconômicos, aspectos regulatórios, tarifação, hábitos de consumo e eficiência, além de

desenvolvimento de tecnologias visando a um modelo brasileiro para aplicação em larga escala.

Isto com ênfase na formação da Rede de Relacionamento Sustentável em Búzios, que

apresentou à população os conceitos de redes inteligentes, interagindo com ela por meio de

ações sociais, o que permitiu ao projeto medir os impactos dessas ações.

Como objetivo do projeto, exatamente, a gente ia construir um laboratório vivo, onde a gente vai implantar tecnologias e conseguir medir os resultados técnicos, resultados econômicos, resultados sociais, identificar quais são nossas oportunidades, de novos negócios, de novos serviços e o desenvolvimento de uma nova relação com a sociedade, no consumo de energia (E1).

O CMP tinha uma excelente estrutura e ficava aberto de segunda a sábado, possibilitando

às pessoas visitar gratuitamente e ter uma explicação sobre seu funcionamento. Também se

incentivavam visitas de estudantes para que conhecessem o projeto. Paralelo a isso, o projeto

mobilizou as pessoas da sociedade que tinham influência e poderiam trabalhar como

multiplicadoras das informações. Isso foi feito por meio do mapeamento dos atores principais

no contexto da cidade. Mesmo assim, o gestor da AMPLA/ENEL informou que a procura era

muito baixa por parte da sociedade e que era necessária a realização de cursos e ações para que

houvesse movimento.

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A gente organizava visitas lá, guiadas. Uma das visitas que a gente tinha era visita a um barco elétrico que a gente tinha, aí a garotada andava de barco elétrico, agente explicava sobre mobilidade elétrica, os benefícios da mobilidade elétrica. [...] as visitas que agente recebia era que a gente estimulava, né. Em geral quem visitava eram um ou outro turista [...] (E1)

Figura 20 − Centro de Monitoramento e Pesquisa (CMP)

Fonte: ENELX, 2016

O gestor do colégio pontuou as ações realizadas pela AMPLA/ENEL para a divulgação

do CMP e da casa inteligente, por meio de visitas e palestras sobre sustentabilidade. Porém cita

a falta de continuidade do projeto.

[...] porque eles tinham o espaço deles lá mostrando a cidade sustentável, tiveram uma questão de maquetes, então as escolas conheciam, então a comunidade poderia conhecer, tanto que era ali perto da usina... portal da Ferradura era uma casa inteligente, então as escolas poderiam ir lá visitar. Eles fizeram um levantamento muito bom, por isso, estou falando a vocês, se tivesse dando continuidade seria ótimo. (E3)

O programa também contou com a parceria de algumas universidades, uma delas foi a

Universidade Federal Fluminense – UFF. Segundo o entrevistado 4 (E4), quando os

pesquisadores iniciaram o trabalho no projeto ele já estava em execução e eles não participaram

das reuniões iniciais e não puderam assim contribuir no desenho da solução. Porém ele pontua

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que inúmeros trabalhos foram realizados pela universidade neste período, usando os dados

captados pelo CMP.

Foram produzidos artigos científicos, monografias, dissertações, entre outros

documentos, que são disponibilizadas no site do projeto. Além desses trabalhos, o projeto

Cidade Inteligente Búzios ganhou inúmeros prêmios nacionais e internacionais, que mostraram

a sua relevância. Essa parceria entre a UFF e a AMPLA/ENEL também deu origem a um curso

de extensão sobre Redes inteligentes que foi ministrado aos colaboradores da empresa, por

pessoas da UFF, com o objetivo de capacitá-los na nova tecnologia.

A gente participou, apoiando a construção dos produtos acadêmicos do projeto, tivemos alunos que fizeram dissertação de mestrado, trabalho de conclusão de curso, iniciação científica. E aí a gente usou algumas informações e dados que foram produzidos pelo projeto para desenvolver essas pesquisas. Então a gente participou lá da construção da memória técnica, então consolidou tudo e a ideia era até lançar um livro, mas infelizmente não teve tempo e possibilidade de fazer isso. A gente tentou... do projeto do ponto de vista técnico e acadêmico e também a gente fez uma pesquisa no final do projeto sobre impacto da medição inteligente lá em Búzios (E4).

Foi perguntado ao gestor da AMPLA/ENEL se ele conhecia o Projeto Minha Cidade

Inteligente do Governo Federal, ele informou que esse tipo de projeto é mais voltado às

prefeituras e, como o Cidades Inteligentes Búzios se referia a energia, ele acreditava que não

se enquadrava neste projeto. Já o gestor da prefeitura disse que conhecia esse programa do

governo, porém não tinha interesse para verbas relacionadas a cidade inteligente. Informou que

a cidade de Búzios necessita de verbas para mobilidade e para obras de infraestrutura.

Não era o nosso propósito, normalmente os projetos de cidades inteligentes, são muito mais focados para a prefeitura do que para uma distribuidora. A nossa ideia como projeto era mostrar a ótica de uma cidade inteligente pelo lado da energia (E1). Tenho conhecimento, mas a gente não tem interesse em verba para a cidade inteligente, a gente tem interesse em verba para a mobilidade, para infraestrutura, entendeu. (E2).

O gestor da AMPLA/ENEL informou que o projeto Cidade Inteligente trouxe inúmeros

benefícios para Búzios. Como benefícios tecnológicos ele cita o desenvolvimento de novas

ferramentas, novas metodologias de trabalho, novas tecnologias. Também foi possível criar

uma projeção de como seriam todas as tecnologias implantadas globalmente que trariam

benefícios diretos para a sociedade.

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O projeto possibilitou também que a cidade tivesse uma internet bastante rápida, por

meio de uma rede de fibra óptica que cobre toda a cidade. Mais de 10.000 medidores

inteligentes foram instalados, permitindo que o consumidor acompanhe seu consumo pela

internet, além dos benefícios sociais que alcançaram muitas pessoas da cidade.

Hoje Búzios tem uma internet bastante rápida, tem uma rede de fibra óptica que cobre toda a cidade, antes em Búzios você não conseguia contratar um mega de internet, hoje você consegue fácil 100 mega, 200 mega. [...] foram mais de dez mil medidores, onde as pessoas conseguem olhar, acompanhar pela internet seu consumo de energia (E1).

Porém, quando perguntado se o projeto cobriu toda a cidade, E1 cita que algumas

tecnologias foram pontuais, pois a cidade era grande e como se tratava de um projeto piloto,

não havia como atender toda a cidade.

E algumas tecnologias, elas foram pontuais, por exemplo, eram 150 luminárias LED telecomandadas só que Búzios tem 8600... não tem condições de, como um projeto piloto, trocar toda iluminação da cidade. A gente escolheu regiões da cidade dependendo das tecnologias. Então um exemplo, como eu coloquei, automação da rede, automação cobriu toda a cidade, uma aviação de uma subestação de energia, a rede de fibra óptica, projetos sociais, como comentei, isso cobriu toda a cidade (E1).

Para o professor universitário (E4), os benefícios para a cidade de Búzios foram pequenos

e ele acredita que muitos negócios poderiam ter sido fomentados durante a execução do projeto,

o que não ocorreu e que vê como uma oportunidade perdida. Segundo ele, o único ganho foi

referente à divulgação da cidade.

É triste o que eu vou dizer, mas eu acho que é uma grande oportunidade perdida. Não pela Enel ou pela Ampla, mas pelo setor elétrico brasileiro. Programa de P&D que é financiado por um percentualzinho da nossa tarifa, né. E aí um projeto que poderia estar até hoje produzindo frutos acadêmicos, por exemplo, poderia ter fomentado uma série de novos negócios em Búzios... o projeto acabou, sem nada. Ficou lá algumas ações... projeto... hoje em dia eu acredito que tenha tido um retorno somente do ponto de vista de divulgação para Búzios. Não vejo nenhum impacto muito efetivo na cidade não, infelizmente (E4).

Já para o gestor da prefeitura, o projeto não trouxe nenhum ganho para a cidade, apenas

para a empresa. Ele acredita que a AMPLA/ENEL se aproveitou do nome da cidade para fazer

marketing. Coloca ainda que nunca acreditou que o projeto poderia dar certo.

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A gente nunca acreditou nisso. Eu pelo menos nunca acreditei, as pessoas não acreditavam. Uma coisa que começou e tal e aí parou (E2).

O gestor da ONG CIEDS coloca que sobre a perspectiva podem ser elencados como

benefícios sociais a articulação entre a rede hoteleira e os artesãos, resgate das bonecas negras

e o empoderamento da sociedade civil para reivindicarem seus direitos. Mas o principal para

ele é a mudança de mentalidade dessas pessoas, pois o projeto acabou, mas as pessoas

continuariam lá e teriam que lutar por seus direitos.

Eu acho que os maiores ganhos tenham sido a articulação com a rede hoteleira e a articulação interna entre eles. Porque o que eu percebia lá nas reuniões era que é uma população que briga muito, mas briga muito sozinha e a partir da rede eles viram ali um espaço onde juntos eles gritavam mais alto [...]. Mais que a articulação com a rede hoteleira, que tem viés só econômico, mas esse viés de cidadania, acho que isso fica. Porque as pessoas estão em Búzios até hoje que vão ter filhos em Búzios, vão ter netos em Búzios. É a mudança de mentalidade, né (E6).

5.3 O PÓS PROJETO

A AMPLA/ENEL finalizou o projeto no final de 2016, com a modernização de toda a

rede de energia de Búzios, conseguindo desenvolver tecnologia que hoje ela aplica em toda a

sua rede. Aproximadamente dois anos após o fim do projeto pouca coisa do projeto Cidade

Inteligente Búzios sobrou. Os aero geradores encontram-se parados na praça principal e as

escolas que possuem as placas solares não sabem utilizá-las. Não existe mão de obra qualificada

para manusear ou mesmo fazer manutenção dos equipamentos instalados na cidade, cita o

professor da UFF.

Tenho uma tecnologia instalada com uma série de possibilidades que poderiam ter sido exploradas, mas que do ponto de vista que (sic) o projeto acabou e não tinha um plano para o pós-projeto, né. Infelizmente não resultou em muito resultado de longo prazo eu acho. Uma pena (E4).

Já o gestor da AMPLA/ENEL entende que o ciclo se encerrou e que a empresa atendeu a

todos os objetivos que o projeto piloto se propôs.

Aí todas as tecnologias que foram implantadas seguem em operação e nosso ciclo se encerrou. A gente tinha como objetivo implantar e divulgar nossas tecnologias e aí a gente conseguiu sim muito, muito bem, foram mais de 500

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inserções em jornais, televisões, canais de televisão, revista, dentro do que a gente tinha como proposta (E1).

O espaço onde ficava o CMP foi desmobilizado e atualmente é utilizado por um provedor

de internet. A casa inteligente é utilizada para exposições que crianças visitam durante

atividades escolares, porém os responsáveis não sabem dizer se a energia gerada pelas placas

solares é a responsável por manter as luzes e o ar condicionado funcionando.

Segundo o professor universitário (E4), não houve uma preocupação com o pós-projeto,

para que pudesse ter uma continuidade. Não houve preocupação com a formação de pessoas

que pudessem atuar na manutenção dos equipamentos.

Assim para a cidade de Búzios acredito que foi um projeto interessante do ponto de vista de divulgação da cidade, infelizmente. Porque eu acho, e aí não é questão da ENEL antiga AMPLA, é uma questão até do programa de P&D da ANEEL que lança algumas chamadas estratégicas ou fomenta alguns projetos de maior porte, projetos piloto, mas que não estão preocupados com o pós-projeto, entendeu? Não tem uma continuidade. É uma coisa que acontece e, quando acaba, no projeto a repercussão é muito baixa, entendeu[...]. É triste o que eu vou dizer, mas eu acho que é uma grande oportunidade perdida (E4).

O gestor de uma das escolas (E3) que participaram do projeto falou que, após o projeto,

tudo parou e que não entende o que aconteceu. Segundo ele, não foi dado nenhum feedback

sobre o término do projeto. Ele colocou que a escola foi muito ativa durante o projeto e que

muitos eventos ocorreram lá, inclusive colocou que eles ganharam alguns equipamentos como

notebooks, celulares e a instalação de placas solares. Perguntado sobre em quantos por cento a

placa solar estava ajudando na redução da conta de energia, ele informou que não sabe se o

equipamento funciona.

[...]colocaram uma placa grande aqui na entrada, mas para a gente mesmo, nunca ninguém falou assim quantos por cento sustenta a escola ou se tem sustentabilidade geral. A gente recebe conta de luz todo mês e eu repasso para a Secretaria de Educação (E3).

Ele falou da tristeza em ver a descontinuidade de um projeto tão rico, porém disse já estar

acostumado com esse tipo de coisa. Que não é a primeira vez que um projeto começa e para,

sem darem nenhum feedback para escola do motivo pelo qual parou.

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Figura 21 − Portal Bonecas Negras – Búzios

Fonte: FACEBOOK, 2016

A única questão do projeto que continua diz respeito ao resgate da cultura referente as

bonecas negras e a integração entre a rede hoteleira e os artesãos. Notou-se que quando houve

um mergulho no universo da sociedade daquele território, pôde-se resgatar a cultura que estava

se perdendo. Ao empoderar o cidadão e lhe dar voz, foi possível trazer à tona não só problemas

daquela cidade, mas uma tradição rica que fora revelada e que pode trazer diferencial e retorno

perene para ela, conforme figura 21.

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6 CONCLUSÃO

Em uma cidade que não possui o básico para a sociedade como saneamento básico, água

potável, empregos, pavimentação de ruas e estradas, esperar que exista um projeto de cidades

inteligentes gera curiosidade no que se refere a benefícios que ele poderá trazer para o

município.

É comum o trabalho com modelos ideais de economia criativa, cidade criativa e de cidade

inteligente que vem da literatura euro-atlântica, norte-atlântica, porém quando aplicamos esse

arquétipo aqui no Brasil, a realidade é outra. Isto porque muitas cidades no país não possui a

infraestrutura mínima aceitável. Um exemplo disso é que na cidade de Búzios, segundo o gestor

da prefeitura, 45% das ruas não são pavimentadas.

Notou-se que o conceito de cidades criativas e economia criativa é desconhecido pelas

pessoas entrevistadas. Por mais que Búzios seja uma cidade com vocação turística e tenha

cultura e artesanato que lhe são peculiares, verificou-se que tanto a gestão pública quanto a

gestão privada desconhecem o assunto. O desenvolvimento da cidade é baseado na economia

tradicional, com pouco ou nenhum olhar voltado para a economia da criatividade.

Após análise do projeto com base nas entrevistas realizadas, pode-se ter como conclusão

que o Cidade Inteligente Búzios foi um projeto de pesquisa e desenvolvimento em que a

AMPLA/ENEL investiu em desenvolvimento de nova tecnologia e em capacitação técnica. Por

mais que fosse um projeto de cinco anos e tivesse investido 54 milhões de reais, esse programa

contribuiu muito pouco para o desenvolvimento da cidade. Além disso, realizar um projeto de

melhoria da eficiência energética não é garantia de que a cidade se tornará inteligente. Isso

porque o conceito de cidade inteligente é muito mais amplo. A eficiência energética, no

entendimento deste trabalho, é apenas uma das dimensões das diversas de uma smart city.

Outro ponto crítico foi a falta de parceria entre a empresa e o governo municipal.

Dificilmente uma organização privada conseguirá implantar um projeto desta amplitude, com

êxito, sem o apoio do responsável local. Todo projeto é temporário, ou seja, tem o prazo

previamente definido para o seu término. Para que ocorra a continuidade do mesmo, o poder

concedente deve assumir a responsabilidade pós implantação.

A descontinuidade em projetos brasileiros é bem conhecida pela sociedade que sofre em

ver seu dinheiro escorrer pelas torneiras do desperdício e receber em troca pouco ou nenhum

retorno. Em Búzios não foi diferente. Não houve “passagem de bastão”, os equipamentos

caríssimos implantados durante o projeto estão parados.

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O projeto acabou e com ele o sonho de ver a cidade se tornar sustentável. O que restou

foram promessas de uma cidade que seria classificada como “inteligente”, que teria energia

renovável, carros elétricos, medidores inteligentes e a possibilidade do consumidor produzir a

própria energia, conforme sinalizado em um vídeo que apresenta as ações postado na página do

projeto.

Um ponto positivo do Cidade Inteligente Búzios foi o foco no cliente. Ele teve uma

atuação muito interessante no que se refere ao envolvimento com o social por meio da Rede de

Relacionamento. O cidadão foi ouvido, empoderado, foi feita uma ponte entre a sociedade civil

e os empresários e principalmente houve resgate da cultura que estava sendo perdida. Pode-se

dizer que, dentro do projeto, essa provavelmente tenha sido a iniciativa que trouxe mais

benefícios para a cidade. Porém o programa poderia ter utilizado o trabalho social realizado

pela ONG de forma transversal, para que ela pudesse atuar em todas as ramificações. A visão

do todo poderia trazer maior ganho para o projeto, sociedade e empresa.

No âmbito tecnológico, o projeto, trouxe melhoria com a modernização da rede, mas esses

benefícios foram mais para a empresa do que para os moradores da região. Aconteceram

também ações pontuais que trouxeram ganhos para a cidade no curto prazo, porém que não

foram benefícios contínuos, nem fomentadores de novos negócios.

O alcance desse projeto poderia ter sido bem maior se tivesse havido um olhar para o

futuro, por meio do fomento a formação de mão de obra técnica para atuar na manutenção dos

equipamentos, trazendo para a cidade empresas fabricantes de placas solares e aero geradores

que poderiam ser utilizadas nos diversos hotéis e pousadas da região, estimulando assim a

geração de empregos e o desenvolvimento da cidade.

A conclusão, após a análise do caso apresentado, é que Búzios não pode ser considerada

uma cidade inteligente. Tanto o gestor da AMPLA/ENEL, quanto o professor da UFF

corroboram com essa ideia. Eles também entendem que uma smart city é algo mais amplo e

que o projeto Cidade Inteligente Búzios foi um piloto ou mesmo um projeto tradicional de P&D

que teve como diferencial a preocupação com a sociedade local.

É obvio que essa preocupação foi motivada por problemas que a empresa teve no passado,

após a implantação de tecnologia contra o furto de energia, que gerou repercussão negativa para

a empresa. Como lição aprendida para ter êxito no projeto em Búzios, eles optaram por ter uma

atuação diferenciada no relacionamento com o consumidor local.

A contribuição deste trabalho para a academia foi fazer uma aproximação dos conceitos

de cidade inteligente, economia criativa e cidade criativa. Por meio dela, foi possível observar

que uma smart city é uma modalidade de uma cidade criativa em que a tecnologia aparece como

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um ponto primordial para o desenvolvimento desse tipo de cidade. Já uma cidade criativa pode

existir sem que haja tecnologia, ou seja, ela é maior. Porém as duas fazem referência a

importância de colocar o indivíduo no centro do processo interagindo com o poder público,

privado e as universidades.

Outro ponto que foi possível verificar é que no Brasil houve um estreitamento do conceito

de cidade inteligente, muito focado apenas no desenvolvimento tecnológico, com a

disseminação da internet, com foco em cidades digitais. O conceito internacional para smart

city é mais abrangente, atingindo inúmeras dimensões e usando a tecnologia como ferramenta

para atingimento da sustentabilidade das cidades.

Enfim, podemos notar que ainda existem muitos desafios para que o Brasil se torne um

país considerado inteligente. Além de ser um país em desenvolvimento, possui inúmeros

problemas de infraestrutura básica e o governo não tem uma política pública que olha para o

futuro. Infelizmente não existe no território brasileiro uma política de estado, mas sim uma de

governo, onde o representante do poder busca benefícios pontuais que são desenvolvidos com

base no seu tempo de governo. É muito difícil que o sucessor leve as iniciativas do governo

anterior à frente, ou se as levar, provavelmente fará alterações, mesmo que seja no nome do

projeto.

Há uma necessidade urgente de uma mudança de mentalidade dos governantes e da

sociedade brasileira para uma cultura de continuidade e de busca por benefícios para todos e

não apenas para uma parcela ou grupo social. Para que o Brasil se torne uma potência, há

necessidade de criação de um plano que olhe para o futuro e que crie uma base concreta no que

diz respeito à infraestrutura mínima aceitável, saneamento básico, pavimentação, educação,

saúde, dentre outros.

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE

PERFIL

Nome:

Idade:

Nível de escolaridade:

Profissão:

Onde trabalha:

1. Como surgiu o projeto Búzios cidades inteligentes? Houve algum evento específico que fez o projeto surgir? Houve um comitê que estudou as condições da cidade para a implantação do Projeto?

2. Qual foi a motivação do projeto. Por exemplo: Incentivo do governo, incentivo da empresa, busca por modernização da rede elétrica, sustentabilidade.

3. Que benefícios esse projeto trouxe para a cidade de Búzios? Houve benefícios específicos de curto e de longo prazos?

4. Por que começar essa modernização pela área energética e não por outra área? como mobilidade, turismo...?

5. Como foi a participação da sociedade e universidades neste projeto?

6. Existem outros projetos voltados a cidades inteligentes previstos para serem implantados em Búzios? Quais?

7. Você considera, hoje, a cidade de Búzios como sendo uma "cidade inteligente"? Por quê? Qual a consequência da implantação do projeto, em termos econômicos, sociais e ambientais?

8. O que se pode dizer da gestão do projeto? Houve apoio popular?