tatiana aparecida da costa · 2018-04-26 · ³a desvalorização do mundo humano aumenta em...

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Faculdade Boa Viagem Devry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE Tatiana Aparecida da Costa O Superendividamento como consequência da publicidade de acesso ao crédito Recife, 2016

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Faculdade Boa Viagem – Devry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

Tatiana Aparecida da Costa

O Superendividamento como consequência da publicidade de acesso ao

crédito

Recife, 2016

Tatiana Aparecida da Costa

O superendividamento como consequência da publicidade de acesso ao

crédito.

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do título de

Mestre em Gestão Empresarial do Centro

de Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração – CPPA da Faculdade Boa

Viagem - DeVry Brasil, sob a orientação da

Prof. Dr. Janaína de Holanda Costa

Calazans.

Recife, 2016

Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

C837s Costa, Tatiana Aparecida da. O superendividamento como consequência da publicidade de

acesso ao crédito / Tatiana Aparecida da Costa. – Recife: FBV |

DeVry, 2016.

102 f.

Orientador (a): Janaina de Holanda Costa Calazans

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

Inclui anexo e apêndice.

1. Consumidor. 2. Crédito. 3. Publicidade. 4.

Consumismo. 5. Superendividamento. I. Título. DISS 658[16.1]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

“A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do

mundo das coisas.”

Karl Marx

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela graça de me conceder novas possibilidades todos os dias, sustentando-

me em todos os momentos com sua imensa misericórdia.

A minha família, que também se torna responsável por esse momento em minha

vida, obrigada pela torcida, pelas orações, enfim, por tudo.

A minha querida e competente orientadora, Dra. Janaina Calazans, pelo trabalho

sério e compromissado. Sempre à disposição, com muita confiança e agilidade. Que sempre foi

muito além do que uma orientadora, foi incentivadora. Gostaria de expressar toda a minha

admiração pelo seu jeito absolutamente dedicado à profissão e pela sua grandeza como pessoa,

nada disso seria possível sem seu apoio.

Ao meu marido José Ailton, meu amor obrigada por se manter firme ao meu lado

em todos os momentos, me segurando quando acredito que não vou conseguir, obrigada pelo

incentivo, pelo afeto e cuidado, por suportar toda a tensão gerada, por ser minha fortaleza em

muitos momentos, a você todo o meu amor.

As amigas Ariana e Newdylande, obrigada por existirem, pela significância que têm

em minha vida, ter vocês em minha vida foi essencial para a concretização desse momento,

obrigada pela incondicionalidade do apoio, amo vocês por tudo e pelo que representam na

minha vida.

A Patrícia Lapa, “Plima” obrigada pelo apoio, incentivo, nossas sextas de risadas

eram um acalento para os dias difíceis.

A Luciana Rosas e Ana Júlia, obrigada por todo apoio, companheiras de mestrado

por um longo período e amigas de sempre.

A Raissa minha companheira de jornada no mestrado, aprendi muito com você,

obrigada por tudo.

A minha queridíssima Vera Cabral, obrigada pelas palavras sempre amigas,

conviver com você é um privilégio.

A Helder França, que me ensinou o quanto as pessoas podem nos surpreender, você

foi uma grata surpresa, com seu enorme coração, sua obstinação e seu jeito de ver a vida, me

fez perceber qual maravilhoso ser você é, obrigada por ter dividido esses dois nos aprendendo

a cada “Carona solidária”

A Rita de Cássia e Janne Dayse, responsáveis por minha entrada no mestrado e por

muito do que sou, obrigada pelo carinho.

A doce professora Maria Auxiliadora, nossa Dorinha, obrigada por fazer esse

momento mais leve com seu coração enorme e sua doçura, suas aulas maravilhosas onde pude

aprender muito, aprendizado esse que levarei para o resto da vida.

Ao meu queridissmio amigo Ciro, costumo dizer que a Favip me trouxe muitas

coisas boas, dentre elas, as amizades que cativei, sua é umas dessas coisas boas que a Favip me

proporcionou, obrigada por poder compartilhar tamanha amizade.

Aos colegas de trabalho, obrigada pelo apoio sempre.

E a todos que de forma direta ou indireta ajudaram na conclusão do Mestrado,

RESUMO

O presente trabalho trouxe uma de análise sobre a influência da publicidade de acesso a bens e

serviços como fator determinante para o crescimento do consumo por parte dos consumidores

e, como essa publicidade pode ser determinante no que tange a decisão de compra por impulso.

Sabe-se que o consumismo em excesso, presente nas sociedades capitalistas, pode gerar uma

situação de superendividamento, que tem se tornado um problema de grandes proporções no

Brasil, pois geralmente o consumidor não consegue liquidar suas dívidas, comprometendo parte

significativa da sua renda com pagamento de juros e assim limitando o seu próprio sustento,

bem como o de sua família. Sendo assim, o presente trabalho tem também como objetivo

levantar questões inerentes ao consumismo e as consequências causados pelo

superendividamento na sociedade. Desta forma, a metodologia adotada neste estudo consistiu

na análise exploratória de dados secundários referentes ao endividamento e taxas de juros no

Brasil, com destaque para Pernambuco, além da análise de dados primários obtidos através de

questionários socioeconômicos com informações referentes ao nível de endividamento e aos

efeitos da publicidade na aquisição dos contratos de crédito. Esta pesquisa também adotou uma

análise qualitativa através da realização de entrevistas sobre o tema.

Palavras chaves: Consumidor – Crédito – Publicidade – Consumismo- Superendividamento

ABSTRACT

This work brought a analysis on the influence of advertising access to goods and services as a

determinant for the growth of consumption by consumers and, as such advertising can be crucial

when it comes to impulse buying decision. It is known that excessive consumerism, present in

capitalist societies, can generate an indebtedness situation, which has become a problem of

major proportions in Brazil, because usually the consumer can not settle their debts by

committing significant part of their income on payment of interest and thus limiting their own

support and that of his family. Thus, this study also aims to raise issues related to consumerism

and the consequences caused by over-indebtedness in society. Thus, the methodology adopted

in this study consisted of the exploratory analysis of secondary data related to indebtedness and

interest rates in Brazil, especially Pernambuco, in addition to the primary data analysis obtained

through socioeconomic questionnaires with information regarding the level of indebtedness and

effects of advertising on the acquisition of credit agreements. This research also adopted a

qualitative analysis by conducting interviews on the subject.

Key words: Consumer - Credit - Advertising - Consumerism- overindebtedness

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Propaganda de Crédito.........................................................................38

Figura 02 - Comprometimento de renda das famílias com amortização da dívida com o

Sistema Financeiro Nacional ................................................................................55

Figura 03 – Concessões de crédito com recursos livres no Brasil–Pessoas

Físicas......................................................................................................................57

Figura 04 –Saldo das Operações de crédito pessoas físicas – PE..........................58

Figura 05 –Nível de inadimplência no Brasil – recursos livres (%)..........................59

Figura 06 - Participação (%) dos endividados, por gênero......................................60

Figura 07- Participação dos endividados, por faixa etária.......................................60

Figura 08 - Participação (%) dos endividados, por estado civil ...............................61

Figura 09 - Participação (%) dos endividados, por escolaridade.............................62

Figura 10 - Participação (%) dos endividados, por vínculo empregatício................62

Figura 11 - Participação (%) dos tipos de crédito....................................................63

Figura 12 - Crédito solicitado para quitar dívidas?...................................................64

Figura 13 - Crédito solicitado para adquirir bens e os serviços?...65

Figura 14 - Influência de algum evento sobre a decisão de se endividar................65

Figura 15 - Percepção sobre os custos do crédito...................................................66

Figura 16 - Valor da dívida ultrapassa o limite de 30% da renda?...........................66

Figura 17 - O Endividamento compromete a garantia das necessidades básicas?...67

Figura 18 - As ofertas de crédito são realistas?........................................................68

Figura 19 - O crédito foi influenciado pela publicidade?...........................................68

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

URV Unidade Real de Valor

CDC Código de Defesa do Consumidor

CONAR Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 14

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ....................................................................................... 16

1.2 Objetivos ................................................................................................................................................. 16

1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................................................... 16

1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................................................ 16

1.3 Justificativa ......................................................................................................................... 16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................. 18

2.1 Origem do crédito ............................................................................................................. 18

2.2 Definindo Crédito ............................................................................................................... 20

2.2.1 Tipos de crédito ............................................................................................................... 21

2.2.2 Cheque especial .................................................................................................................................... 22

2.2.3 Cartão de crédito ................................................................................................................................... 22

2.2.4 Contrato de crédito ............................................................................................................................... 23

2.2.5 Crédito direto ao consumidor ............................................................................................................... 23

2.2.6 Crédito imobiliário ............................................................................................................................... 23

2.2.7 Leasing ................................................................................................................................................. 24

2.3 Consumo x Consumismo .................................................................................................... 25

2.3.1 Cultura do consumo ......................................................................................................... 26

2.3.2 O comportamento do consumidor ................................................................................... 28

2.3.3 A vulnerabilidade do consumidor.................................................................................... 29

2.4 O fenômeno do superendividamento .................................................................................. 32

2.4.1 O superendividamento e o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana .......................... 33

2.4.2 O superendividamento e a responsabilidade do fornecedor de Crédito .......................... 36

2.4.3 A publicidade como meio para o superendividamento .............................................. 41

2.4.4 Superendividamento e reforma do Código de Defesa do Consumidor..................... 43

3. METODOLOGIA ........................................................................................................................................... 45

3.1 Delineamento e classificação da pesquisa .......................................................................... 45

3.2 Desenho operacional de pesquisa ............................................................................................................ 47

QUADRO 01 - DESENHO OPERACIONAL DA PESQUISA DESCRITIVA ............................................. 47

3.3 Locus ....................................................................................................................................................... 48

3.4 População e amostra ................................................................................................................................ 48

3.5 Instrumento de coleta de dados ............................................................................................................... 50

3.6 Coleta de dados........................................................................................................................................ 51

3.7 Mensuração ............................................................................................................................................. 51

3.8 Limites da pesquisa ............................................................................................................ 53

3.9 Limitações da pesquisa ....................................................................................................... 53

4 ANÁLISES DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 55

4.1 Análise descritiva: Indicadores de endividamento das famílias brasileiras ............................................. 55

4.2 Análise quantitativa da pesquisa de campo: Os efeitos da publicidade na Inadimplência em Pernambuco

....................................................................................................................................................................... 59

4.3 ANÁLISE QUALITATIVA .......................................................................................................................... 68

4.4 Análise e discussão da primeira categoria temática: Necessidade de consumo ....................................... 69

4.4.1 Primeira unidade de registro: A busca pelo consumo ........................................................................... 70

4.4.2 Segunda unidade de registro: Aquisição de contratos de crédito como meio de consumir bens e

serviços. ......................................................................................................................................................... 73

4.5 Análise e discussão da segunda categoria temática: Vulnerabilidade ..................................................... 78

4.5.1 Primeira unidade de registro: Ausência de planejamento ..................................................................... 78

4.5.2 Segunda unidade de registro: Influência publicitária ............................................................................ 81

4.6 OBJETIVOS PROPOSTOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................... 84

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 92

5.1 Sugestões ............................................................................................................................ 94

APÊNDICE A- TERMO DE AUTORIZAÇÃO ............................................................................................... 98

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO .................................................................................................................... 99

APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA INDIVIDUAL ................................................................. 102

14

1. INTRODUÇÃO

O crédito é um instrumento que o consumidor tem para adquirir bens e serviços.

Todavia, esse aumento do consumo financiado pode comprometer a capacidade de consumo

futuro das famílias, uma vez que, ao adquirir contratos de crédito, o consumidor compromete

parte de sua renda com a amortização da dívida e com o pagamento de juros.

As operações de crédito voltadas para o consumo no Brasil só ganharam força na

década de 90, após a implementação do Plano Real e, a consequente estabilização financeira do

país. A partir desse momento, diante de uma maior possibilidade de compras financiadas, o

brasileiro passa a ter não só o salário como meio de obter bens de consumo, mas também o

crédito de uma forma geral que pode lhe proporcionar a obtenção de bens. Devido ao fato da

hiperinflação observada entre os anos 1980 e início dos anos 1990 ter comprometido o

financiamento de longo prazo das famílias e ter resultado uma queda no poder de compra real

da população brasileira, após a adoção do Plano Real, houve uma disseminação de créditos para

os brasileiros que passou a ser direcionado para aquisição de bens de consumo duráveis como,

geladeiras, televisores, automóveis, entre outros, assim como bem de consumo não duráveis.

Desse modo, o consumo ganhou uma nova cara, uma vez que o consumidor de

baixa renda estimulado constantemente por uma sociedade movida pelo consumo e pela

publicidade cada vez mais forte nos mercados passa a gastar no intuito de comprar cada vez

mais e de maneira excessiva, contraindo dívidas além do que pode saldar, comprometendo sua

renda e até o consumo básico. Desta forma, o consumidor padrão brasileiro tende a entrar em

uma situação de superendividamento ao longo do tempo. O que tem como consequência a

exclusão desse consumidor do comércio e muitas vezes da vida social, colocando-o novamente

à margem da sociedade.

Desta forma, observa-se que as facilidades de crédito na sociedade brasileira

recentemente geram uma “armadilha” para o consumidor, uma vez que, há uma tendência ao

superendividamento, todavia, o custo do crédito no Brasil é bastante elevado e pode gerar a

impossibilidade de adimplemento.

Ainda quanto à responsabilidade desse superendividamento, não se pode deixar de

mencionar os efeitos da publicidade no mercado de crédito, já que a oferta de crédito através

de campanhas publicitárias é feita muitas vezes de forma invasiva e, porque não dizer abusiva?

Uma vez que deixa de levar em consideração o excesso de convencimento quanto à necessidade

de produtos e serviços totalmente dispensáveis ao consumidor, desse modo há que se observar

15

se de fato a publicidade influencia o aumento do consumo exagerado e, consequentemente, o

superendividamento.

No Brasil, o superendividamento se desencadeia pela oferta de crédito e bem como

sua aquisição de forma descomedida, pois de um lado, a oferta de crédito faz com que as pessoas

consumam mais e propicie um dinamismo na economia do país, porém, por outro lado, este

consumo pode resultar a falência do consumidor, perdendo a possibilidade de arcar com seu

sustento. Nesse momento, a violação do princípio da dignidade humana, pois submete esse

consumidor a situação de exclusão do mercado, da vida social, bem como, em muitas situações,

passa a viver em estado de miserabilidade, tendo em vista, o comprometimento total de sua

renda.

16

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

De que forma a publicidade de acesso ao crédito contribui para que o consumidor

eleve o consumo de bens e serviços, causando, dessa forma, o superendividamento?

1.2 Objetivos

No intuito de responder ao problema de pesquisa acima proposto, a presente

pesquisa será desenvolvida de acordo com os objetivos indicados a seguir.

1.2.1 Objetivo geral

Investigar como a publicidade de acesso ao crédito, pode influenciar o consumo

excessivo causando o consequente superendividamento.

1.2.2 Objetivos específicos

Este trabalho segue os seguintes objetivos específicos:

Analisar o comportamento do consumidor superendividado diante das ofertas de crédito

em Pernambuco.

Investigar o consumo como meio de inclusão;

Analisar o nível de endividamento dos consumidores;

1.3 Justificativa

O interesse pelo tema proposto surge da importância de pesquisar sobre o consumo

como uma forma de incluir o cidadão, gerando um consequente consumismo pela necessidade

de afirmação perante a sociedade, trazendo a lume a publicidade em forma de propagandas de

acesso a crédito, como propulsor desse consumismo exagerado. Ademais, a necessidade de

tratar sobre o tema surge também da problemática que o consumo exagerado traz para o

consumidor, qual seja, o superendividamento, devido a oferta de crédito ser por vezes muito

maior que a necessidade e a possibilidade deste. Essa possibilidade ou não de adimplemento

por parte do consumidor nem sempre é observado pelas empresas, pois ampliam a margem de

17

crédito sem ter a preocupação em saber se a condição do consumidor em saldar tais dívidas

seria de fato possível, por muitas vezes a oferta é bem maior do que a necessidade e

possibilidade de quitação por parte do devedor. Sendo assim, como meio de garantia as

empresas tendem a aumentar consideravelmente as taxas de juros, pois se o tomador de crédito

se tornar inadimplente, tem-se ao menos a garantia do pagamento crédito.

Nos últimos anos a oferta, tem crescido consideravelmente, o que faz com que as

empresas se utilizem de meios publicitários cada vez mais contundentes para tornar as ofertas

interessantes aos olhos do consumidor. O estudo deste tema tem como escopo esclarecer se de

fato existe uma relação entre os anúncios de ofertas de créditos através de propagandas e o

consumo excessivo. Desse modo visa compreender essa relação de influência da publicidade e

o poder de decisão do consumidor

A importância do tema proposto também tem o cunho de demonstrar aos

empreendedores que o número de consumidores inadimplentes pela falta de condições de arcar

com dívidas adquiridas muitas vezes com o supérfluo cresce cada vez mais. Objetiva-se, dessa

forma, analisar quais meios de proteção e tratamento, tanto para o consumidor que, é parte

hipossuficiente nas relações de consumo, como também as empresas que arcam com prejuízos

imensos pela falta de liquidação das dívidas do consumidor.

O consumo cresce a cada ano de forma considerável, no entanto, algumas situações

peculiares são inerentes da relação de consumo, bem como as relações contratuais, os direitos

inerentes às partes. Desse modo, o presente trabalho tem ainda como finalidade demonstrar a

necessidade de regulamentação quanto aos tipos e formas de propaganda, no intuito de prevenir

o consumo desnecessário e a consequente impossibilidade de saldar dívidas por parte dos

consumidores, uma vez que quase que na totalidade desconhecem os encargos ocultos em cada

transação de crédito, há ainda no presente trabalho a necessidade de evidenciar a possibilidade

de regulamentação a respeito do superendividamento.

18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Origem do crédito

O crédito passou por várias fases até os dias atuais, consolidando-se de fato durante

a Idade Média. Durante esse período, sua concessão era considerada ilegal, pois acreditava-se

que os grandes comerciantes que o concedia, constituía deste modo uma forma de agiotagem1,

tendo em vista que concediam um determinado valor e exigiam do devedor no momento do

pagamento uma quantia bem superior àquela do valor devido, essa cobrança se tratava de uma

espécie de juros sobre cedido. Na era medieval, o crédito era utilizado para custear guerras,

onde se utilizava como forma de pagamento desses valores, as terras dos devedores, o crédito

nessa época era bastante utilizado como forma de financiar insumos para que os agricultores

produzissem, sendo que para o pagamento dos valores concedido utilizava-se de parte dos

produtos que fossem produzidos pelo devedor.

Em Roma, a execução os títulos de crédito eram sobre a própria pessoa que não

cumprisse com a obrigação pactuada, ou seja, eram efetuados castigos físicos contra o devedor

dos títulos a ele confiado. No entanto, por volta de 326 a.C, foi publicada a Lei Poetelia, a qual

proibia que as execuções dos títulos de crédito se dessem em forma de castigos ou escravidão

por parte dos credores em detrimento dos devedores, como se dava até então.

A partir da Revolução industrial é que o crédito surge de forma mais popular, pois

com a industrialização começava um aumento na oferta de bens, necessitando desse modo seu

aumento para que tais produtos fossem adquiridos, com o aumento da oferta, os trabalhadores

passaram a consumir mais, pois, a partir de então, estes trabalhadores das indústrias passaram

a receber salários fixos, o que gerava por sua vez a possibilidade de giro de dinheiro aumentando

ainda mais as possibilidades de linhas de crédito e, consequentemente, motivava o

desenvolvimento da economia, (SINGER, 2004).

Posteriormente, o crédito ganha forças nos Estados Unidos como uma forma de

ascensão das classes sociais baixas, pois possibilitava a aquisição de bens e serviços que até

então não podiam ser adquiridos pelas classes sociais menos abastadas. Logo em seguida o

crédito ganha força também na Europa e, posteriormente, nos países menos desenvolvidos

economicamente, (GREMAUND, 2009).

1- Especulação sobre fundos ou mercadorias com vistas a lucros exagerados.

19

No Brasil, a partir dos anos 20, apresenta-se uma rápida mudança no que diz

respeito à economia, pois passava de um simples exportador para se tornar um país que passa a

acumular capitais, (SCHRICKEL, 1998). Apesar dessa mudança, o crédito só passa a ganhar

forças no Brasil após a década de 1990, com a implementação do Plano Real, que passou a

substituir a moeda até então utilizada, o o Cruzeiro Real, que tinha indexador o Unidade Real

de Valor – URV essa força do crédito surge com estabilidade econômica gerada a partir de

então, tendo em vista que até o momento, o Brasil sofria com um grande desequilíbrio

financeiro por causa dos altos índices de inflação.

Com a chegada do Plano Real, a economia do país começa a se estabilizar, atraindo,

inclusive, um número maior de investidores, gerando, um maior número de receitas:

As empresas também ampliaram os investimentos pela maior certeza em relação ao

futuro, pelo próprio crescimento da demanda e pela maior disponibilidade de crédito.

Assim, tanto o aumento do consumo, como do investimento, pressionaram a demanda.

O aumento da demanda provocou expansão da atividade econômica. Isso pôde ser

observado pelo aumento significativo da produção industrial nos meses posteriores ao

plano, com destaque para os setores de bens de consumo duráveis e bens de capital.

(GREAMUND, 2009, p. 454).

Desse modo, o crédito foi se expandindo, tendo em vista a necessidade cada vez

maior de consumo, bem como, pela situação estável da economia do país, trazendo junto o

desenvolvimento financeiro do país.

Com o desenvolvimento acelerado o crédito ganha lugar de destaque, tendo em

vista a necessidade da sociedade em consumir cada vez mais, pois mesmo que de forma

implícita a possibilidade de se autoafirmar diante da sociedade. Numa busca incessante pela

inclusão e pelo status, o consumo tem aumentado bastante ao longo do tempo, assim diante da

necessidade do consumo, o crédito vai se fortalecendo a cada dia, pois é este quem tem o poder

de alavancar de vez o desenvolvimento econômico, (MIRAGEM, 2014).

De acordo com Baumam (2008), a maior frustração do consumidor é a falta de

recursos, que lhe permite se filiar ao meio social e por isso, o empréstimo ganha tanta

importância, pois permite que o consumidor viva a urgência do presente para se incluir num

determinado espaço social, que, até então, era frequentado apenas pelas pessoas de classes mais

abastadas. Assim, o crédito é disponibilizado de forma a saciar os anseios do indivíduo, no que

diz respeito aos seus desejos materiais.

20

2.2 Definindo Crédito

Como visto anteriormente, o crédito tem o poder de modificar a economia do país,

ao mesmo tempo que dá aos indivíduos a possibilidade de realização de seus anseios matérias.

Desse modo, é imperioso que seja aqui esclarecido o que de fato pode ser

considerado como crédito, definindo-o.

De acordo com Silva (2004, p. 395/396), pode-se dizer que seria:

Em sua acepção econômica significa a confiança que uma pessoa deposita em outra,

a quem entrega coisa sua, para que, em futuro, receba dela coisa equivalente.

A confiança gozada por uma pessoa no ânimo daquela de quem vai tornar devedora,

em virtude da entrega atual de coisa, que vai ser transformada em prestação futura,

fundamenta o próprio conceito de crédito, em seu aspecto econômico.

E esta confiança, indicativa do crédito generaliza-se a todas as relações comerciais,

tomando as mais variadas formas de câmbio de coisas atuais e presentes contra coisas

equivalentes no futuro, servindo de base a uma série avantajada de operações

mercantis.

Segundo Schrickel (1998), crédito é de vontade ou disposição de alguém de ceder,

de forma temporária, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta

parcela retorne a sua posse integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado entre as

partes.

Já Lopes (1996, p.109), constata que o crédito seria de fato uma forma de instigação

ao consumo:

O crédito ao consumo é um estímulo ao consumo, é um elemento de dinamização da

produção capitalista. Pressupõe um movimento perpétuo, jogando para o futuro uma

perspectiva de incessante crescimento e desenvolvimento.Sendo que o mercado

depende do constante crescimento do consumo (planejado pelas unidades produtivas,

especialmente por aquelas que acumulam saber, conhecimento e informação, como as

grandes corporações capazes de influir determinantemente nos mercados).

Diante disso, pode-se verificar que o crédito tem caráter de confiança, pois há nessa

relação a entrega de algo de valor que pertence à parte cedente; em contrapartida, a parte

favorecida, com a entrega do valor ou aval tem a obrigação de retornar a posse do que lhe fora

cedido ao seu titular.

A respeito da importância e da função social do crédito, Silva (2000, p.68) traz uma

importante explanação:

21

O crédito, sem dúvidas, cumpre um importante papel econômico e social a saber:

possibilita as empresas aumentarem seu nível de atividade; estimula o consumo

influenciado na demanda; ajuda as pessoas a obterem moradia, bens e até alimentos;

A necessidade pelo crédito faz com que muitos indivíduos também passem a utilizá-

lo para poder suprir suas necessidades, desde as mais básicas até as mais desnecessárias, no

entanto, quando esses indivíduos perdem a possibilidade da aquisição de bens e serviços pela

ausência do crédito até então tido de forma acessível, isso faz com que não consigam suprir

sequer as necessidades diárias.

Bauman (2008) diz que a maior frustração do consumidor é a falta de dinheiro, pois

esta é a forma garantir ao indivíduo a ligação aos ciclos sociais e, por isso, o crédito é tão

importante. Ele permite que o consumidor aproveite o tempo presente. A sociedade os

disponibiliza para que o indivíduo realize com facilidade os desejos instantaneamente ao

momento do seu nascimento, respondendo positivamente aos apelos do consumo.

A satisfação desses anseios de consumir bens e serviços utilizando a aquisição de

crédito como meio de adquiri-los, tende a gerar gastos maiores do que o que se possa prever,

tendo em vista as taxas de juros das operações de crédito. As taxas de juros nas operações de

crédito são elevadíssimas, isso porque de acordo com Santos (2000) o mercado brasileiro tende

a aumentar as taxas de juros pela incerteza do adimplemento do contrato. Tal elevação no valor

final do contrato pode ser um dos fatores de determinam o não cumprimento do mesmo.

Dessa forma, o crédito pode ser utilizado como meio de inclusão, uma vez que

possibilita ao indivíduo a participação de determinados grupos, no entanto impende salientar

que há um custo final bem mais elevado através das taxas de juros utilizadas em cada transação,

desse modo o indivíduo pode deixar de adimplir sua dívida perdendo por conseguinte a

credibilidade diante dos seus credores e passam a não ter mais o mesmo poder de compra, tem-

se uma situação de exclusão de determinados grupos sociais, pela ausência do crédito.

2.2.1 Tipos de crédito

Tendo em vista a necessidade cada vez maior dos consumidores nas mais diversas

áreas, começa a surgir diversas possibilidades e modalidades de crédito no intuito de satisfazer

as particularidades e a necessidade de cada usuário de linha de crédito. Nesse momento serão

estudadas as linhas de crédito mais populares e de maior adesão por parte desses usuários.

22

De acordo com Santos (2000), o fim a que se designa o crédito deve estar ligado

diretamente com a necessidade do consumidor. Deste modo, faz-se necessário conhecer

minuciosamente a situação financeira e patrimonial do indivíduo para que seja ofertado de

acordo com sua necessidade bem como com sua possibilidade de liquidação. Nesse sentido,

existe uma divisão, onde têm-se que, algumas linhas são ofertadas as pessoas físicas e às

pessoas jurídicas, tendo em vista o tema proposto, analisaremos os tipos para pessoas físicas,

que atendem as necessidades fundamentais do consumidor, são elas, cheque especial, cartão,

contratos, crédito direto ao consumidor, imobiliário e leasing

Para melhor compreensão de cada linha de crédito acima citada, será feita uma

análise mais específica de cada uma das modalidades.

2.2.2 Cheque especial

O cheque especial é uma linha ofertada para situações emergenciais do usuário.

Segundo Santos (2000), o cheque especial é uma modalidade rotativa para atender as

necessidades casuais ou provisórias do consumidor. Sendo que a aprovação desse tipo de

crédito se dá somente com a prévia análise de risco do cliente, sempre se baseando no histórico

financeiro do consumidor, comumente as instituições financeiras analisam o limite para

disponibilização dessa modalidade de acordo com a renda comprovada.

Nesse tipo de transação, geralmente as taxas de juros conseguem ultrapassar

bastante os valores das taxas de outras espécies.

2.2.3 Cartão de crédito

O cartão é uma modalidade criada por volta de 1914 na Europa, mas somente na

década de 40 é que estes foram emitidos com o formato de hoje. Apresentam duas modalidades,

a do débito e do crédito, que permite ao cliente realizar operações de saques e aquisição de bens

e serviços de acordo com o limite estabelecido.

Com o cartão, as pessoas passam a ter uma variedade de bens e produtos antes não

possíveis de estar ao seu alcance, além de ter a vantagem de não ter que ter o dinheiro sempre

a mão nas transações financeiras.

23

O cartão na última década tem representado a maior parcela do número de pessoas

endividadas no país, de acordo com a pesquisa realizada em todo o País, em 2015, pelo Serviço

de Proteção ao Crédito, 52 milhões de brasileiros usam o cartão para pagar suas contas, desse

total, quase metade (47%) parcelam as compras com esse meio de pagamento pelo menos uma

vez ao mês, principalmente no caso de roupas (48%), calçados (44%) e eletrodomésticos (44%),

e desse montante (38%), já pagaram apenas o mínimo da fatura. Entre os entrevistados, (61%),

apontaram o cartão como sendo a principal razão para estarem com o nome incluso aos órgãos

de Serviço de Proteção ao Crédito, seguida de empréstimos e boletos bancários.

2.2.4 Contrato de crédito

Nessa modalidade de crédito, o empréstimo está condicionado à diminuição de

forma parcelada sendo incluídos ao valor principal da dívida os juros. Nesse tipo de

empréstimo, o banco tem conhecimento a quem fim se destinará os valores emprestados,

podendo ser para construção de imóvel, saúde educação, etc, (SANTOS, 2000).

2.2.5 Crédito direto ao consumidor

Trata-se de linha de crédito para financiar bens e serviços duráveis, como

financiamento de carros, maquinários, etc., o pagamento também ocorre através de

parcelamento onde são incluídas taxas de juros ao valor principal. Geralmente, o próprio objeto

financiado serve como garantia ao banco, (SANTOS, 2000).

Já para Wernke (2008), o contrato direto ao consumidor é uma forma de

financiamento de bens duráveis, na qual o lojista se responsabiliza pela análise de crédito, além

de se responsabilizar pela dívida, caso o cliente não a pague.

O que se pode verificar nessa modalidade é que esse tipo de crédito é uma tentação

aos olhos do consumidor, pois é uma forma fácil de utilizar-se de empréstimo para a realização

da compra de bens desejados.

2.2.6 Crédito imobiliário

24

Modalidade de crédito que se destina ao financiamento de aquisição de imóveis

novo ou usado ou para a sua construção, seja ele residencial ou comercial. O financiamento

imobiliário tem crescido de forma considerável nos últimos anos, pois o brasileiro tem cada vez

mais realizado o sonho de adquirir sua casa própria.

Segundo o Banco Central do Brasil:

As sociedades de crédito imobiliário são instituições financeiras criadas pela Lei

4.380, de 21 de agosto de 1964, para atuar no financiamento habitacional. Constituem

operações passivas dessas instituições os depósitos de poupança, a emissão de letras

e cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros. Suas operações ativas são:

financiamento para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou

construção de casa própria, financiamento de capital de giro a empresas

incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. Devem ser

constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando obrigatoriamente em sua

denominação social a expressão "Crédito Imobiliário". (RESOLUÇÃO CMN 2.735,

de 2000).

De acordo com a Caixa Econômica Federal, o financiamento imobiliário vem

crescendo de forma significativa nos últimos anos, desde 2011 o número de financiamentos tem

subindo de forma considerável, chegando em 2013 com aumento de 41% do valor total do

crédito imobiliário, ainda segundo a Caixa a expectativa era que em 2014 esse percentual

aumente em pelo menos 10%, chegando a ultrapassar a expectativa, aumentou no referido ano

cerca de 25,7%.

2.2.7 Leasing

O leasing também conhecido como arrendamento mercantil, é uma operação de

crédito com algumas características próprias. Nessa operação, o proprietário de um bem o

arrenda a um terceiro, que terá a posse e poderá usufruir dele enquanto vigorar o contrato, com

a opção de adquiri-lo ou não definitivamente no final do contrato.

O objeto do contrato é a aquisição, por parte do locador, do bem escolhido pelo

locatário para sua utilização. Podem ser objeto do arrendamento bens móveis ou imóveis de

fabricação nacional, bem como aqueles produzidos no exterior e autorizados pelo Conselho

Monetário Nacional (art. 10 da Lei nº 6.099/74). O contrato de arrendamento mercantil pode

prever ou não a opção de compra, pelo locatário do bem de propriedade do locador. Esta é uma

das principais diferenças entre o leasing e o financiamento tradicional, já que no financiamento

o bem é de propriedade do contratante, já no ato da compra, (PORTAL, BRASIL 2012).

25

Percebe-se que o leasing é um contrato bem melhor que o aluguel de coisas, pois o

contratante poderá usufruir do bem, tendo ainda a possibilidade de ao final do contrato comprar

o bem arrendado, desde que estabelecido pelas partes.

2.3 Consumo x Consumismo

No que tange o consumo existem diversas conceituações a seu respeito, ademais

percebemos ao longo do trabalho que consumir é inerente do ser humano, sendo inclusive

necessário a sua sobrevivência, o ato de consumir é mais que um desejo, se trata também de

necessidade.

Dessa forma se faz necessário para melhor entendimento do tema que o consumo

seja aqui conceituado.

Para Bauman (2008, p. 98):

O consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites

temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós

humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos.

Na concepção de Silva (2004, p. 362), o consumo tem como significado o gasto, a

extração, e diferencia-se da consumação, pois na consumação não se tem o sentido de gasto,

mas sim de perfeição.

O consumo é dotado de aspectos por considerações culturais, sendo o mesmo

conduzido e obrigado a adaptar-se em todos os seus modos a essa cultura. O significado dos

bens de consumo e a criação de sentido para esses são alterados pela implicação dos processos

de consumo que são, de certa forma, partes integrantes e importantes para a definição da

realidade vivida. Quando o consumidor adquire bens de consumo, desperdiça tempo, atenção e

renda, em contrapartida supre suas necessidades e ganha significados pelos bens adquiridos

(McCRACKEN, 2003).

Pode- se perceber nessa urgência do ser humano em consumir cada vez mais, uma

necessidade de inclusão em determinados grupos. Esses indivíduos passam a encontrar nesse

constante consumo um sentido e estilo de vida, tendo em vista que o consumo passou a ser algo

cultural, o indivíduo no mundo atual vive do e para o consumo em todos os aspectos de sua

vida, ademais a sociedade atual tem uma necessidade pela permuta, onde a troca e a

26

modernização são necessárias, coisas surgem e desaparecem num imediatismo surpreendente,

(BAUMAN, 2009).

De acordo com Baudrillard (2003), é incutida a ideia de que a própria sociedade na

ânsia de se mostrar cada vez melhor gera um ciclo de consumo para manter um status social,

pois aquele que tem a mais do que necessita para sobreviver acaba se destacando em meio aos

que possuem apenas o necessário para sua subsistência.

Assim, pode-se concluir que o consumo é um meio pelo qual o indivíduo tenta

realizar seus anseios, suas expectativas, numa busca pela concretização da felicidade através do

que se pode comprar.

Já o consumismo se trata de uma forma de consumo exacerbada, de modo a

configurar uma compulsão.

2.3.1 Cultura do consumo

Antes de adentrar no tema de cultura do consumo, faz-se necessário um breve

passeio pelo conceito de cultura, para só após analisá-la dentro da sociedade de consumo.

Na acepção da palavra, segundo Laraia (2001, p. 26):

1. A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem

e justifica as suas realizações.

2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram

parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou. (Voltaremos a

este ponto mais adiante.)

3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em vez de

modificar para isto o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento

superorgânico.

4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras

das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu hábitat.

5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que

a agir através de atitudes geneticamente determinadas.

6. Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é este processo

de aprendizagem (socialização) ou endoculturação, não importa o termo) que

determina o seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.

7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das

gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.

27

Para McCracken (2003), a cultura deve ser entendida como as ideias e atividades

pelas quais é fabricado e construído o mundo, sendo a mesma profundamente ligada e

dependente do consumo. Portanto, a cultura determina de certa forma, o comportamento dos

indivíduos, o que o liga diretamente ao consumo.

A cultura de uso gera uma preocupação de estar sempre de acordo com o que é

ditado pela moda. Nesse sentido, o consumo também se pauta pela cultura e costumes de um

determinado local.

Para Bauman (2009), a síndrome cultural consumista consiste, acima de tudo, na

negação enfática da virtude da procrastinação e da possível vantagem de se retardar a satisfação

– esses dois pilares axiológicos da sociedade de produtores governada pela síndrome

produtivista.

Isso demonstra que a cultura de consumir tem se tornado uma necessidade de

imediatismo, pois as novidades surgem de forma acelerada, tornando os produtos extremamente

descartáveis, pois a ânsia de obter o novo faz com que produtos antes adquiridos, percam sua

utilidade para o consumidor, trazendo para o indivíduo a condição de consumidor pela

consequência da regra da produção. Tudo isso, devido aos avanços tecnológicos, pois o homem

vive na busca incessante pelo inovador, além da necessidade constante do mercado em se

manter vendendo seus produtos, por isso cria-se no consumidor uma ideia de necessidade em

adquirir produtos.

Sobre essa necessidade de inovações humana Laraia (2001, p.19), assim tem falado:

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de

um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência

adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e

criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções.

A respeito da cultura de consumo assim define Barbosa (2008, p.10):

A cultura de consumo ou dos consumidores é a cultura da sociedade pós-moderna, é

o conjunto de questões discutidas sob esse rótulo é bastante específico. Ele inclui a

relação íntima e quase casual entre, consumo, estilo de vida, reprodução social, e

identidade, a autonomia da esfera cultural, a estetização e comoditização da realidade

o signo como mercadoria e um conjunto de atributos negativos atribuídos ao consumo

[...]

De acordo com Baudrillard (2008) a sociedade capitalista contemporânea tem por

base o consumo, analisando que o dia-a-dia do ser demostra que o consumo está atrelado as

28

relações sociais, de modo que a reprodução da vida encontra sentido através do consumo de

produtos. Desse modo o consumo passa a ser essencial nessa cultura da acumulação, do ter, na

sociedade capitalista.

Na concepção de Marx (1984) o capitalismo gera novas necessidades ao trabalhador

subordinado causando assim uma dependência do que era produzido, desse modo por não ter

meios para adquirir tais produtos o trabalhador estaria obrigado a vender sua mão de obra para

satisfazer suas necessidades, adquirindo inclusive parte daquilo que ele mesmo produz.

Percebe-se deste modo que no capitalismo tudo finda por se relacionar ao consumo,

pois a movimentação e fabricação de bens e serviços têm crescido demasiadamente nos últimos

tempos, ademais tudo no mundo pós-moderno está ao alcance dos consumidores, sejam bens

necessários ou supérfluos, por isso tem ganhado o rótulo de sociedade do consumo.

Além de que é incutido ao indivíduo uma necessidade de consumo, ou seja, na

sociedade de consumo não são produzidos apenas objetos para satisfazer as necessidades do

indivíduo, há a criação da necessidade de consumir por parte desse indivíduo.

2.3.2 O comportamento do consumidor

O comportamento do consumidor como tantas outras áreas das ciências humanas,

requer compreensão, diante dessa necessidade de saber como se comporta o consumidor, se faz

necessário que haja um estudo para conhecer e prever o comportamento do ser humano em

determinadas situações, nesse caso, como se comportam as pessoas diante de situações de

compras ou de planejamentos para adquirir bens ou serviços. Para compreender como se portam

os consumidores é de suma importância conhecê-lo, saber de seus desejos e anseios, pois o que

impulsiona o consumo é essa constante sensação de que lhe falta alguma em sua vida, isso faz

com que o mesmo adquira bens no intuito de suprir essa lacuna.

Assim surgem diversos estudos visando compreender o comportamento e quais

meios influenciadores no momento da decisão de compra. De acordo com Farias (2004), as

pesquisas sobre o comportamento do consumidor têm impulsionado e influenciado os

profissionais da área de publicidade, nas últimas três décadas, que se focam principalmente nos

aspectos cognitivos das tomadas de decisão e nos trabalhos sobre memória, processos de

pensamento e respostas racionais. Esta abordagem, no entanto, negligenciou fatores não

racionais que também influenciam as decisões. Constitui-se então crescente interesse pelos

29

aspectos referentes ao afeto e às emoções como parte integrante do processo de decisão do

consumidor.

Sabe-se que muito se tem para estudar sobre o comportamento e individualidade

desse consumidor contemporâneo que compra cada vez mais no intuito de satisfazer suas

necessidades e anseios, tais estudos têm apontado cada vez mais os caminhos pelos quais o

consumidor perpassa desde o planejamento até a execução da compra.

Para Bauman (2009, p.108):

Todos os seres humanos são e sempre foram consumidores, e nossa preocupação com

o consumo não é novidade; decerto precede o advento da variedade “líquida” da

modernidade. Seus antecedentes podem ser facilmente identificados em tempos bem

distantes do nascimento do consumismo contemporâneo. É, portanto altamente

ineficiente e equivocado examinar simplesmente a lógica do consumo (sempre uma

atividade profundamente individual e solitária, mesmo que realizada em conjunto) a

fim de compreender o fenômeno do consumidor atual. Em vez disso, é necessário

focalizar a verdadeira novidade, que é de natureza basicamente social e apenas

secundariamente psicológica ou comportamental [...].

De acordo com Churchill (2000), o consumidor sofre influências internas e

externas, chamadas respectivamente de sociais, que são compreendidas como a cultura,

subcultura, classe social, grupos de referência e família, o meio onde vive, e as influências

situacionais, que juntam ambiente físico, social, tempo, trabalho e condições dos momentos.

Assim, percebe-se que não só o comportamento do consumidor é influenciado por

diversas coisas, como também a sociedade e a cultura em que se vive, a necessidade de

autoafirmação, o desejo pelo antes não tido, e percebendo como ocorre essa influência é que

profissionais da área da comunicação, principalmente das áreas de marketing e de publicidade,

passam a utilizar-se de artifícios para influenciar o consumidor no momento da decisão de

compra e aquisição de bens e serviços necessários, do mesmo modo que influenciam no

momento da compra pelo impulso.

2.3.3 A vulnerabilidade do consumidor

Antes de analisar a vulnerabilidade do consumidor propriamente, é de suma

importância que possa ser feita uma breve análise preliminar sobre os conceitos de ambos os

institutos, quais sejam, vulnerabilidade e consumidor, para só então tratarmos deles

conjuntamente.

30

A priori e de acordo com o que preleciona o artigo 2º com o Código de Defesa do

Consumido (CDC), definiremos o que seria o consumidor, de acordo com o artigo acima

mencionado:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou

serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que

indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

De acordo com Marques (2014), seguindo a teoria finalista2, o consumidor seria

aquele onde se conclui o consumo. Nessa situação a pessoa adquire ou utiliza o produto ou

serviço para finalidades de uso próprio, não visando lucros ou repasses dispendiosos. Para a

teoria finalista, o consumidor não aufere lucros com o produto adquirido, ou seja, ele é o último

na cadeia do consumo.

Para Schwartz (2013, p. 26), consumidor é aquele que adquire o produto com a

finalidade de utilizá-lo sem nenhum fim lucrativo se caracterizaria o consumidor de fato,

vejamos:

Em outras palavras, o bem e o serviço empregados na atividade lucrativa deve ter sua

circulação encerrada nas mãos da pessoa natural ou jurídica, posto que sua utilização,

ainda que indireta, na atividade econômica exercida, descaracterizaria a fruição final

do bem.

Desse modo, os legisladores passam a ver e entender que o consumidor seria a parte

mais frágil na relação de consumo, pois seria ele o usuário final do produto ou serviço adquirido,

ou seja, a parte mais vulnerável na relação consumerista. Em se falando de parte frágil da

relação, faz-se necessário analisar a definição de vulnerabilidade.

O sentido de vulnerabilidade de acordo com o dicionário da língua portuguesa é

aquilo que pode ser entendido por espécie de risco em que uma pessoa se encontra, ou até

mesmo um conjunto de situações arriscadas, que situam a pessoa numa condição de carente,

necessitada, impossibilitada de responder com seus próprios recursos a dada demanda que vive

e a afeta.

2- O consumidor é aquele que adquire o produto do mercado para fazer uso, ou seja, o produto adquirido não será utilizando para outra finalidade que não o próprio uso por aquele que o adquiriu, é aquele que se utiliza do serviço para finalidades restritas, não para criar uma outra corrente de transmissão do produto.

31

O Código de Defesa do Consumidor, por ser norma jurídica de defesa do

consumidor, considera que este é a parte frágil na relação de consumo, pois é desprovido de

conhecimentos técnicos sobre o que está adquirindo, não podendo assim conhecer com

aprofundamento das condições do produto ou serviço adquirido. Desta forma, os legisladores

entendem que por ser parte frágil na relação esse merece, portanto, a proteção jurídica, que está

também elencado no artigo 4º, I, do CDC que dá ao consumidor a condição de pessoa vulnerável

diante das relações de consumo.

A vulnerabilidade é um dos princípios fundamentais que rege o Direito do

Consumidor, pois tem como condão o de proporcionar uma relação igualitária entre consumidor

e fornecedor. Vejamos o que diz Miragem (2014, p. 121/122):

O princípio da vulnerabilidade é o princípio básico que fundamenta a existência e

aplicação do direito do consumidor. O artigo 4º, I, do CDC estabelece entre os

princípios informadores da Política Nacional das Relações de Consumo o

“reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”. A

existência do direito do consumidor justifica-se pelo reconhecimento da

vulnerabilidade do consumidor. É esta a vulnerabilidade que determina ao direito que

se ocupe da proteção do consumidor.

É perceptível nesse contexto que o fato da vulnerabilidade ser a situação em que

uma das partes da relação de consumo é mais frágil que a outra e, por esse motivo necessita da

proteção estatal e com uma legislação vigente para lhe dar a garantias de que seus direitos vão

ser respeitados.

Esse entendimento é corroborado por Miragem (2014, p.122) quando afirma que:

A vulnerabilidade do consumidor constitui presunção legal absoluta, que informa se

as normas do direito do consumidor devem ser aplicadas e como devem ver aplicadas.

Há na sociedade atual um desequilíbrio entre dois agentes econômicos, consumidor e

fornecedor, nas relações jurídicas que estabelecem entre si. O reconhecimento desta

situação pelo direito é que fundamenta a existência das regras especiais, uma lei

ratione personae de proteção do sujeito mais fraco da relação de consumo.

Como visto anteriormente, parte-se da premissa de que as partes nas relações de

consumo não estão em pé de igualdade, por isso mesmo que o consumidor carece mais da

proteção do que o fornecedor, de acordo com os direito e garantias fundamentais tutelados na

Constituição Federal em seu artigo 5º, onde determina que os iguais devam ser tratados de

forma igualitária, bem como os desiguais devem ser tratados de forma desigual, na medida de

suas desigualdades, sendo exatamente por força dessa desigualdade que o consumidor é

protegido.

32

Como demonstrado, o Direito do Consumidor e o Código de Defesa e Proteção do

Consumidor tem por finalidade, igualar, proteger e solucionar conflitos, nas relações

consumeristas, fazendo valer direito constitucional de isonomia entre as partes, trazendo a esse

consumidor a possibilidade de proteção diante de qualquer abuso pela parte hipersuficiente.

2.4 O fenômeno do superendividamento

Antes de adentrar no mérito do superendividamento, é interessante para o debate

caracterizar o endividado, que é o consumidor de boa-fé que por motivos alheios a sua vontade

não consegue mais adimplir suas dívidas, eis ai o motivo pelo qual se torna pessoa

superendividada.

O fenômeno do superendividamento foi conceituado por Marques (2014, p.257) da

seguinte maneira:

O superendividamento pode ser definido como uma impossibilidade global do

devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas as suas dívidas

atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com Fisco, oriunda de delitos e

alimentos) em um tempo razoável com sua capacidade atual de rendas e patrimônio.

O fenômeno do superendividamento pode ser apontado como a sedimentação de

um processo ordinário que perpassa a experiência da grande maioria daqueles que vivem em

sociedades capitalistas neoliberais – ou no seio de uma economia do endividamento.

De acordo com o conceito acima, verifica-se que dentro dos consumidores que não

conseguem adimplir suas dívidas, estão inclusos aqueles que não agem de má fé. Como acima

comentado, através da conceituação de superendividamento, pode-se pressupor que o

consumidor endividado não tinha à época da aquisição da dívida, pretensão alguma em deixar

de arcar com seus compromissos, este agiu de boa fé. No entanto, circunstâncias alheias à

vontade do mesmo tornando-o impossibilitado de arcar com essas obrigações, fazendo-o

inadimplente.

Sobre a boa fé do consumidor, o autor Rizato Nunes (2009, p.132), diz:

Desse modo, quando se fala de boa-fé objetiva, pensa-se em comportamento fiel, leal,

na atuação de cada uma das partes contratantes a fim de garantir respeito à outra. É

um princípio que visa garantir a ação sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão a

33

ninguém, cooperando sempre pra atingir o fim colimado no contrato, realizando os

interesses das partes.

Conclui-se, a partir das afirmações acima, que o fenômeno do superendividamento

é uma ausência de possibilidade do consumidor de arcar com os compromissos financeiros, sem

a menor pretensão de lesar bem patrimonial do outro.

Nesse sentido, é necessária uma solução para aqueles que mesmo de boa fé acabam

se tornando superendividados, de modo que haja um possível reestabelecimento desse

consumidor diante de seus credores.

Nesse sentido tem proposto Marques,(2014, p. 1.041):

Dada a situação complexa atual, pareceu-me sempre que seria necessário elaborar

regras específicas sobre os devedores de boa-fé, informação, cuidado e cooperação

especificamente para evitar o superendividamento da pessoa física no Brasil, que

tratassem de temas materiais (direito de arrependimento no crédito ao consumidor,

limites as garantias pessoais, vinculação entre o pagamento, os contratos acessórios e

o contrato principal de consumo) e temas processuais ou administrativos, a exemplo

do direito francês.

Essa necessidade de reestabelecer o crédito para esse consumidor é um meio de

possibilitá-lo viver de forma mais digna, pois sabe-se que com o superendividamento, o

sustento do mesmo, bem como de sua família, passa a ser afetado, pois a ausência do crédito

faz com que fique impossibilitado de usufruir de bens e serviços necessários para sua

subsistência, comprometendo, por vezes, as necessidades mais básicas do ser humano como

alimentação, saúde e educação.

2.4.1 O superendividamento e o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

Como visto anteriormente, o superendividamento causa um grande impacto na vida

do consumidor, principalmente pelo fato de afastá-lo do mercado de consumo, seja de bens

necessários ou não, afetando seu sustento e, impossibilitando-se de viver de forma digna.

Impossível falar em vida digna, indignidade e não ser remetido imediatamente a um

dos princípios basilares da Constituição Federal de 1988, que é o Principio da Dignidade da

Pessoa Humana, estabelecido em seu artigo 1º, inciso, III, do diploma legal acima citado:

34

Artigo 1º. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático

de Direito e tem como fundamentos:

[...] omissis

III- a dignidade da pessoa humana;

De acordo com o que estabelece a lei maior do país, é perceptível que o direito à

vida de forma digna, está pautado de forma a ser prioridade do Estado. Não foi à toa que, no

mesmo diploma legal são estabelecidos às garantias que ao cidadão será dado o direito à

educação, à saúde, à alimentação, à moradia, ou seja, a bens fundamentais a existência.

Conceituar o que é dignidade da pessoa humana é tarefa árdua, tendo em vista a

miscigenação entre o conceito e a própria essência do termo. A doutrina tem grande dificuldade

em realizar tal tarefa. O constitucionalista Ingo Sarlet (2001, p. 38) relata que “tal dificuldade,

consoante exaustiva e corretamente destacado na doutrina, decorre certamente (ao menos

também) da circunstância de que se cuida de conceito de contornos vagos e imprecisos, [...]”.

Contumazmente, faz-se alusão que a dignidade da pessoa humana poderia ser

conceituada como sendo os requisitos a que o ser humano faz jus em função da sua essência,

sendo, portanto, dignidade o núcleo mínimo de direitos fundamentais, como: o direito à vida, à

saúde, à integridade físico-psíquica, à propriedade, à educação e outros tantos direitos

fundamentais. Percebemos que o conceito é tão tênue que não raras as vezes deparamo-nos

tecendo definições que em muito se entrelaçam com a sua forma de exteriorização. E

proclamamos que a dignidade da pessoa humana é o direito à vida, à saúde, educação entre

outros, sem, contudo, pausarmos a reflexão e intuirmos que na verdade estamos relatando

direitos fundamentais que em nada se confundem com a dignidade, ainda que sejam estes

direitos inerentes à condição humana. O derradeiro autor citado (2001, p. 38), declara:

[...] diversamente do que ocorre com as demais normas jusfundamentais, não se cuida

de aspectos mais ou menos específicos da existência humana (integridade física,

intimidade, vida, propriedade, etc.), mas, sim, de uma qualidade tida como inerente a

todo e qualquer ser humano, de tal sorte que a dignidade – como já restou evidenciado

– passou a ser habitualmente definida como constituindo o valor próprio que identifica

o ser humano como tal, [...].

No entendimento de Moraes (2007), a dignidade da pessoa humana “é um valor

espiritual e moral inerente à pessoa”, de modo que nela encontra-se incutida sua

35

autodeterminação para a vida, logo, cumpre ao Estado garanti-la ao indivíduo, como forma de

preservação dos direitos fundamentais.

Logo, pode o princípio da dignidade da pessoa humana ser encarado como o

princípio que rege os direitos fundamentais como, acesso a educação, a justiça, ao lazer, à

moradia, entre outros, que surgem na esperança de modificar o cenário de desigualdades de

classes, trazendo tratamento de igualdade e dignidade para todos.

Sarlet (2001, p. 60), assim conceitua o tema debatido:

Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e

distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração

por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de

direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer

ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições

existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua

participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em

comunhão com os demais seres humanos.

Para Bulos (2012, p. 509), o princípio da dignidade da pessoa humana se consagra

da seguinte maneira:

Quando o texto maior proclama a dignidade da pessoa humana está consagrando um

imperativo de justiça social, um valor constitucional supremo. Por isso o primado

consubstancia o espaço da integridade moral do ser humano, independentemente de

credo, raça, cor, origem ou status social. O conteúdo do vetor é amplo e pujante,

envolvendo valores espirituais ( liberdade de ser, pensar e criar, etc.) e materiais

(renda mínima, saúde, alimentação, lazer, moradia, educação, etc.). Seu acatamento

representa a vitória contra a intolerância, o preconceito, a exclusão social, a ignorância

e opressão. A dignidade humana reflete, portanto, um conjunto de valores

civilizatórios incorporados ao patrimônio do homem.

Percebemos que, no comentário acima colacionado, a dignidade muito mais que um

conceito fixo, determinado e taxativo é, na verdade, a própria essência humana. Importante

frisarmos que esta essência é vislumbrada em todo e qualquer ser humano, mesmo o indigno é

dotado de dignidade. Que numa ideia sistêmica não pode receber um conceito determinado, em

virtude da constante evolução humana. Nem o homem e, tão pouco o direito, são estáticos. Com

isso, conceitos fixados acabam por sofrer alterações ao longo da história, ou mesmo, recebem

novas e aprofundadas conotações.

De acordo com o idealismo Kantiano a dignidade da pessoa humana está atrelada à

autonomia da vontade.

36

Podemos perceber que, para Kant, a dignidade humana exterioriza-se no exato

momento em que o homem, dotado de razão, pode optar, escolher, decidir sobre sua vida. E

assevera Kant apud Sarlet (2001, p. 33):

Os seres cuja existência depende, não em verdade da nossa vontade, mas da natureza,

têm contudo, se são seres irracionais, apenas um valor relativo como meios e por isso

se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam pessoas, porque a sua

natureza os distingue já como fins em si mesmos [...]

Logo, é de se perceber que a situação de superendividamento vai absolutamente de

encontro ao princípio aqui discutido, pois quando fala-se de superendividamento, não há que

se falar em autonomia da vontade do indivíduo, pois este não tinha a menor pretensão de estar

na situação em que se encontra.

Ora, o consumidor endividado não perde apenas o crédito perante seus credores,

além de perder a credibilidade diante do mercado e ter que suportar um débito acumulado, tem

que suportar uma “marca” dentro do mercado consumerista, pois tem seu nome incluído dentro

de serviços de proteção ao crédito, constando como “mau pagador”. Não bastasse essa situação

de humilhação, também tem que se deparar com a impossibilidade de poder se manter e

proporcionar o sustendo digno de sua família.

Dessa forma, entendemos que o superendividamento não se trata apenas de uma

situação financeira, trata-se de uma situação onde o indivíduo é ferido na sua dignidade, torna-

se uma questão social, onde se faz necessária a criação de políticas públicas por parte do Estado,

no intuito de regulamentar meios que possibilitem o Estado intervir nos contratos adquiridos,

buscando também uma prevenção para o superendividamento.

2.4.2 O superendividamento e a responsabilidade do fornecedor de Crédito

Como explanado anteriormente, essa responsabilidade no que tange o

endividamento não pode recair apenas sobre o consumidor, sabendo-se que a relação de

consumo tem a parte que consome e o que fornece. Antes de adentrar no mérito da discussão a

respeito da responsabilidade daquele que fornece o crédito no fenômeno do

superendividamento, será feita uma breve conceituação de fornecedor.

Para Rizzatto Nunes (2009, p. 86) a definição de fornecedor é:

37

Na realidade são todas as pessoas capazes, físicas ou jurídicas, além dos entes

desprovidos de personalidade. Não há exclusão alguma do tipo de pessoas jurídicas,

já que o CDC é genérico e busca atingir todo e qualquer modelo. São fornecedores as

pessoas jurídicas públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, com sede ou não no

país, as sociedades anônimas, as pessoas por quotas de responsabilidade limitada, as

sociedades civis, com ou sem fins lucrativos, as fundações, as sociedades de economia

mista, as empresas públicas, as autarquias, os órgãos da administração direta, etc.

O CDC também traz em seu artigo 3º, uma definição daquilo que seria o fornecedor:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou

estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de

produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,

distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Ora, sabe-se que o superendividamento é uma realidade no país, e cumpre destacar

que essa responsabilidade não pode ser atribuída apenas ao consumidor, pois esse não tinha a

menor pretensão de se tronar insolvente, por outro lado, não podemos também entender que o

crédito seria o causador desse mal, como já fora supramencionado, já que tem papel de extrema

importância para o crescimento econômico do país.

É necessário observar que parte da parcela da culpa do surgimento desse fenômeno,

é dos fornecedores de crédito, bem como do Estado, que por vezes têm sido omisso. Quando

diz-se que os fornecedores de crédito têm grande parcela de culpa no endividamento do

consumidor podem ser analisadas duas vertentes; a primeira é que, por vezes, é oferecido ao

consumidor um crédito superior à possibilidade de adimplemento do mesmo; a segunda

vertente, é que para que esse crédito seja utilizado pelo consumidor, as instituições financeiras

têm investido pesado na publicidade massiva, de modo que o consumo se torne quase uma

obrigação.

Ora, como não viver de crédito numa sociedade onde as pessoas são estimuladas a

comprar, seja para ter, seja para ser. Em uma sociedade movida pelo consumismo, o importante

é sempre consumir.

Desse modo, não tem como não atribuir grande parte da responsabilidade pela

inadimplência dos consumidores aos fornecedores, que na ânsia de venderem, deixam de passar

informações importantes ao consumidor, com perceptibilidade. Muitas vezes, o que se percebe

é uma intenção em ocultar informações, a título de exemplo, podemos nos remeter as

propagandas de ofertas de créditos por financeiras ou instituições bancárias, que passam as

38

informações sobre taxas de juros e outros encargos, referentes aos contratos, em letras tão

minúsculas que chegam a ser imperceptíveis. Vejamos:

Figura 01 – Propaganda de Crédito

Fonte: Portal propaganda

O CDC em seu artigo 6º, determina que, ao consumidor, é dado o direito a

informação de forma clara:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...] omissis

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,

asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

[...] omissis

39

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações

desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem

excessivamente onerosas;

Tais princípios são ainda observados no artigo 4º do mesmo diploma legal, onde

determina que as informações ao consumidor devem ser claras.

A prestação da informação ao consumidor é de extrema importância, uma vez que,

estando esse esclarecido sobre as regras do contrato, poderá fazer valer sua vontade de forma

racional.

O Direito a informação é um dos princípios basilares do CDC, pois repercute

diretamente na relação contratual e em seu cumprimento ou não, devendo ser passada de forma

clara e compreensível ao consumidor.

Miragem (2014, p.200) assim tem dito:

O conteúdo do direito a informação do consumidor não é determinado a priori.

Necessário que se verifique nos contratos e relações jurídicas de consumo respectivas,

quais as informações substâncias cuja efetiva transmissão ao consumidor constitui

dever intransferível do fornecedor. Isto porque, não basta para o entendimento do

dever de informar pelo fornecedor que as informações consideradas relevantes sobre

o produto ou serviço, sejam transmitidas ao consumidor. É necessário que esta

informação seja transmitida de modo adequado, eficiente, ou seja, de modo que seja

percebida ou pelo menos perceptível ao consumidor.

O artigo 31 do CDC também determina que quando da oferta de produtos ou

serviços, essa seja feita de modo a assegurar ao consumidor as informações sobre o que esta

sendo ofertado de forma clara, transparente e compreensível sobre todos os aspectos.

No que tange a conduta da transparência das informações Marques (2014, p.820),

tem dito que é “possibilitar uma aproximação mais sincera e menos danosa entre consumidor e

fornecedor”. Tem ainda um significado de lealdade nas relações contratuais, onde o consumidor

tem as informações sobre o que está adquirindo previamente, para só depois decidir sobre a

adesão ou não.

Além do Direito de informação inerente ao consumidor, temos do outro lado o

dever do fornecedor de informar através dos meios de oferta, no intuito de permitir ao

consumidor, o conhecimento a respeito daquilo que está adquirindo, sem que possa ser levado

a contrair um contrato por demais oneroso.

40

É, portanto dever do fornecedor prestar informações sobre todo o conteúdo do

contrato, bem como as condições, as obrigações contratuais, as taxas de juros e todo e qualquer

ônus advindo dessa relação contratual, pois cabe a partir dessas informações, ao consumidor

decidir ou não pela aceitação de tais condições, não sendo surpreendido posteriormente com

obrigações que o impossibilite cumprir com o que fora pactuado, pois não tinha conhecimento

no momento em que adquiriu tal contrato.

É perceptível desse modo que é extremamente importante que o consumidor tome

conhecimento, antes mesmo de pactuar qualquer contrato de crédito, o artigo 52 do CDC, a

respeito dos contratos de crédito assim estabelece:

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou

concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros

requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;

II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;

III - acréscimos legalmente previstos;

IV - número e periodicidade das prestações;

V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo

não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.(Redação dada pela

Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)

§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou

parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

Nesse mesmo sentido é o entendimento do Conselho Nacional de

Autorregulamentação Publicitária-CONAR, que dispõe em seu artigo 27, § 3º, da seguinte

maneira:

Artigo 27- O anúncio deve conter uma apresentação verdadeira do produto oferecido,

conforme disposto nos artigos seguintes desta Seção, onde estão enumerados alguns

aspectos que merecem especial atenção.

§ 3º - Valor, Preço, Condições O anúncio deverá ser claro quanto a: a. valor ou preço

total a ser pago pelo produto, evitando comparações irrealistas ou exageradas com

outros produtos ou outros preços: alegada a sua redução, o Anunciante deverá poder

comprová-la mediante anúncio ou documento que evidencie o preço anterior; b.

entrada, prestações, peculiaridades do crédito, taxas ou despesas previstas nas

operações a prazo; c. condições de entrega, troca ou eventual reposição do produto;

d. condições e limitações da garantia oferecida.

41

A ausência de clareza sobre esses valores atribuídos aos contratos é um dos

contribuintes para o superendividamento dos consumidores, pois não sabe de fato qual é o valor

real do contrato que chega a ser muito superior ao valor adquirido.

Tais valores são elevados porque na maioria das vezes não se consegue identificar

os possíveis riscos futuros de inadimplência por parte do contratante, nem quais são as

verdadeiras intenções futuras do mesmo no que tange ao acordo firmado, desse modo os

fornecedores de crédito tendem a supervalorizar os contratos elevando as taxas de juros como

meio de garantia de recebimento do valor contratado.

De acordo com Aldrighi (2006), essa ausência de informação contribui para que

haja uma aumento, não fazendo acepção de tomadores de crédito, assim todos são elevados a

mesma condição, sejam eles bons pagadores ou não.

A ocorrência de equilíbrios em que subsiste uma demanda excedente incapaz de

induzir os fornecedores de crédito a aumentarem as taxas de juros resulta da

heterogeneidade no grau de risco dos que demandam crédito e da dificuldade e dos

custos dos ofertantes de crédito para discriminar entre devedores "bons" e "ruins". A

assimetria de informações entre potenciais credores e tomadores de empréstimos pode

fazer com que um aumento na taxa de juros gere um impacto negativo tanto sobre a

composição do pool de solicitantes de crédito (o efeito da seleção adversa) como

sobre o comportamento destes em relação a riscos (o efeito incentivo, ou o efeito

do moral hazard). O problema da seleção adversa surge porque, dadas as diferentes

probabilidades de default dos clientes e o custo para que o credor as conheça, o

aumento na taxa de juros de empréstimo como resposta ao excesso de demanda por

crédito induz os solicitantes mais avessos a riscos (e que talvez disponham de projetos

de melhor qualidade) a não tomarem crédito, remanescendo entre os demandantes

apenas aqueles com maior probabilidade de default. Assim, a taxa de juros que um

agente está disposto a pagar pode atuar como um instrumento de "detecção"

(screening device) para o credor. (ALDRIGHI, 2006).

Não se trata aqui de responsabilizar apenas o fornecedor de crédito pelo fenômeno

do superendividamento, pois sabe-se que existe nessa relação uma corresponsabilidade, entre

os consumidores e os fornecedores. No entanto, as elevadas taxas de juros e a ausência de

informação por parte do fornecedor, contribui para que o haja o endividamento.

2.4.3 A publicidade como meio para o superendividamento

Como estudado anteriormente, o fornecedor de crédito deve passar as informações

necessárias ao consumidor, e independentemente do meio pelo qual a oferta é veiculada, ele se

42

utiliza da publicidade. Por isso, antes de analisarmos a publicidade como um meio para o

superendividamento, vamos entender um pouco do que se trata a publicidade.

A priori é interessante frisar que a publicidade é parte do Marketing, se trata a

publicidade de uma técnica de comunicação designada para um determinado fim.

De acordo com Dias (2010, p.21):

Com efeito do ponto de vista mercadológico, a publicidade pode ser conceituada como

o meio de divulgação de produtos e serviços com a finalidade de incentivar o seu

consumo. Trata-se do duto par excellence através do qual se leva conhecimento dos

consumidores em geral a existência de bens e serviços a serem examinados e

eventualmente adquiridos.

É também a publicidade de acordo com Moutinho (2003, p. 02), “publicidade é uma

forma criativa de emitir informação comercial para atrair possíveis compradores, usando os

suportes e meios disponíveis”

Ainda de acordo com Moutinho (2003), a publicidade tem como objetivo principal

não o da informação, mas sim o de fazer a imaginação fluir, ou seja, criar no público a vontade

da aquisição em serviços ou marcas que, muitas vezes, não lhe interessavam, de forma a fazer

com que o consumidor passe a adquirir esses serviços.

A publicidade se faz necessária numa sociedade movida pelo consumo, onde a

oferta por vezes é maior que a procura, sendo assim é preciso que haja meios de trazer interesse

ao consumidor, e a publicidade é a forma eficiente pela qual, produtos e serviços são ofertados

de modo a convencer o indivíduo a adquirir o que lhe fora oferecido.

A publicidade quanto a oferta de crédito, principalmente os consignados por parte

de Bancos e principalmente de instituições financeiras, tem tido um crescimento alarmante, seja

por meio de anúncios na TV, rádios, e internet, as instituições chegam a propor ao consumidor

uma forma de recompensa caso o mesmo adquira o contrato de crédito, há inclusive em

veiculação televisiva, uma propaganda da Crefisa, onde garante que se o empréstimo não for

aprovado, o consumidor sai da loja com R$ 100,00 (cem reais), no entanto quanto as

informações necessárias ao consumidor, essas são ocultadas.

Não há como dizer que a publicidade não tenha uma influência sobre a decisão do

consumidor em adquirir ou não os serviços ofertados, a publicidade se torna cada vez mais

incisiva e convincente, influenciando nas relações de consumo.

43

2.4.4 Superendividamento e reforma do Código de Defesa do Consumidor

Como fora demonstrado durante todo o texto acima, o fenômeno do

superendividamento não se trata de algo tão simples, motivo pelo qual merece guarida estatal,

sendo necessário que o Estado crie meios para a garantia dos direitos das partes nas relações de

consumo.

De acordo com Marques (2014), o Estado deve principalmente por meio da

instituição da prevenção e do tratamento criar equilíbrio entre as partes que pactuam o contrato.

Dessa segurança jurídica é que dependeria o funcionamento, de forma sustentável, do mercado.

Quando feita menção à criação de meios estatais para criar equilíbrio nas relações

contratais, fala-se de situações em que a contratação de um bem ou serviço não se torne por

demais custosa para o consumidor, podendo o Estado intervir mais nas relações contratuais,

principalmente, nas em que os contratos sejam desproporcionais.

A medida cabível seria intervir antes da efetivação do contrato, ou seja, as medidas

devem ser preventivas, como forma educadora. Outro meio preventivo seria maior

regulamentação quanto aos meios de informação e a forma com que são passadas ao

consumidor, evitando as propagandas enganosas.

No intuito de regulamentar o fenômeno em discussão para que seja tratado de forma

adequada pela legislação brasileira, surge à proposta de uma nova lei para prevenir e tratar dos

consumidores de boa-fé que estão em situação de superendividamento. Isso se daria, a partir de

um documento intitulado de Prevenção e Tratamento do Superendividamento, proposto pelo

Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor, proposto em 2010, com o apoio da

doutrinadora Claudia Marques.

De acordo com a proposta, os que estiverem em situação de superendividamento

podem realizar a quitação de suas dívidas por meio de acordos com os credores, e se impossível

o acordo entre as partes, há uma possibilidade de exposição de um plano de pagamento de forma

judicial.

Existe também um Projeto de Lei de nº 283/2012 de autoria do Senador José Sarney

propondo alterações no Código de Defesa do Consumidor para aperfeiçoamento da disciplina

44

do crédito ao consumidor e dispondo medidas preventivas ao superendividamento, onde prevê

além das medidas preventivas a possibilidade de acordos entre as partes.

45

3. METODOLOGIA

Neste momento serão expostos os métodos utilizados para a realização da presente

pesquisa, bem como instrumentos de coleta e análise dos dados que foram empregados para a

realização do presente trabalho. Também será demonstrado a população e a amostra da presente

pesquisa, no intuito de investigar o problema aventado, bem como no intuito de alcançar os

objetivos traçados.

3.1 Delineamento e classificação da pesquisa

Para a elaboração de uma pesquisa foi de extrema importância um planejamento

prévio quanto aos procedimentos que foram adotados para sua realização, levando em

consideração quais métodos aplicados para que se chegasse ao resultado pretendido.

Desse modo, para a realização da presente pesquisa adotou-se duas formas de

abordagem, quais sejam: Abordagem de natureza quantitativa descritiva e qualitativa. Ambas

foram necessárias no intuito de responder a pergunta da pesquisa.

A abordagem quantitativa descritiva foi de suma importância pois, para esta

pesquisa, foram utilizados dados em amostras maiores para o esclarecimento do problema

proposto, a fim de se fazer uma exteriorização dos dados, utilizando-se do levantamento de

informações e de confrontação dos mesmas, no intuito de comprovar as hipóteses propostas,

buscando encontrar uma solução.

Lakatos (2011, p.287), sobre a pesquisa com abordagem quantitativa explica:

O enfoque quantitativo vale-se do levantamento de dados para provar hipóteses

baseadas na medida numérica e da análise estatística para estabelecer padrões de

comportamento. Ele procura principalmente a expansão dos dados, ou seja, a

informação.

No presente estudo será avaliada a relação entre o comportamento do consumidor

em situação de superendividamento e a influência da publicidade de acesso ao crédito,

analisando a relação entre ambos.

Desse modo, a pesquisa descritiva se fez necessária, pois foram expostas

características de uma determinada população, que no caso em apreço, as pessoas que adquirem

46

contratos de créditos a ponto de se superendividarem. Do mesmo modo, visou analisar o

fenômeno do superendividamento nessa população, mostrando sua incidência na vida dos

consumidores. Para Gil (2005), a pesquisa descritiva visa descrever características de

determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis, tendo

como uma de suas principais características, a utilização de técnicas padronizadas de coletas de

dados.

Quanto à pesquisa qualitativa, segundo Gil (2005), essa se preocupa com o

aprofundamento da compreensão de grupos, organizações, entre outros. Esse tipo de realização

de pesquisa auxilia na compreensão do sentimento de satisfação ou insatisfação do consumidor.

As informações obtidas têm natureza qualitativa, pois proporcionam uma maior

visão e conhecimento, possibilitando uma observação direta, (MALHOTRA, 2006).

Através da abordagem qualitativa foi possível analisar a relação entre os construtos

propostos, ou seja, a relação entre o fenômeno do superendividamento e a publicidade de acesso

ao crédito. Desse modo, determinou-se como estudo fenomenológico, tendo em vista que foram

analisados os fenômenos acima citados, bem como, trazendo a realidade no intuito de captar o

essencial de cada um.

De acordo com Gil (1999, p. 32):

O intento da fenomenologia é, pois o de proporcionar uma descrição direta da

experiência tal como ela é, sem nenhuma consideração acerca da sua gênese

psicológica e das explicações causais que os especialistas podem dar. Para tanto é

necessário orientar-se ao que é dado diretamente à consciência, com a exclusão de

tudo aquilo que pode modifica-lo, como o subjetivo do pesquisador e o objetivo que

não é dado realmente no fenômeno considerado.

Quanto aos fins, também pode ser considerada exploratória uma vez que visa

esclarecer a respeito do tema proposto e tornar mais explícita a realidade da publicidade de

oferta de crédito aos consumidores, bem como a realidade do fenômeno do

superendividamento. Segundo Gil (2005), pesquisa exploratória é aquela que tem como

principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a

formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.

A pesquisa também tem cunho explicativo, uma vez que buscou formas inteligíveis

de mostrar a realidade dos fatos, sempre justificando os motivos de posicionamentos advindos

das descobertas encontradas no percorrer da investigação. Buscou-se explicar e compreender

47

um fenômeno, qual seja, o superendividamento motivado ou não pela publicidade de acesso ao

crédito, sendo assim, se exige uma detalhada descrição a respeito do tema.

Quanto aos procedimentos adotados, trata-se de uma pesquisa de campo, pois

objetiva conseguir informações e conhecimentos de um determinado problema, em um

determinado espaço demográfico para o qual pretendemos uma resposta, bem como, a

comprovação de uma hipótese Lakatos (2010).

Sobre pesquisa de campo Gil (1999, p.72) tem dito:

O estudo de campo apresenta algumas vantagens em relação principalmente aos

levantamentos. Como é desenvolvido no próprio local em que ocorrem fenômenos,

seus resultados costumam ser mais fidedignos. Como não requer equipamentos

especiais para a coleta de dados, tende a ser bem mais econômico. E como o

pesquisador apresenta nível maior de participação, torna-se maior a probabilidade de

os sujeitos oferecerem respostas mais confiáveis.

Sendo assim, a pesquisa de campo foi a mais indicada para a realização do presente

trabalho, uma vez que, objetiva estudar um grupo de pessoas específico, obtendo subsídios para

atingir o fim desejado.

Ao final da pesquisa, com a devida coleta de dados, foi realizada uma análise dos

dados coletados de acordo com o que será detalhado a seguir no desenho da pesquisa.

3.2 Desenho operacional de pesquisa

A pesquisa foi conduzida na sequência metodológica, de acordo com os quadros

abaixo expostos, onde nortearam os procedimentos seguidos para realização de cada fase da

pesquisa, no intuito de obter os resultados pretendidos.

Quadro 01 - Desenho operacional da pesquisa descritiva

Definição do fenômeno Confiabilidade da escala pela

TRI

Obtenção das frequências

pelo spss

Definição da população e

amostra

Coleta de dados Testes de hipóteses não

paramétricos

48

Elaboração de instrumento

de coleta de dados

Pré-testes Teste para avaliar a

influência das variáveis.

Fonte: Elaboração própria

Seguindo o exposto, o trabalho de análise dos dados qualitativos foi organizado em cinco fases

segundo procedimento sistematizado por Moraes (1999), inspirado nos estudos de Bardin

(1979):

Quadro 02- Desenho operacional da pesquisa qualitativa

1ª FASE Preparação das informações coletadas

2ª FASE Transformação do conteúdo em unidades;

3ª FASE Classificação das unidades em categorias temáticas

4ª FASE Descrição

5ª FASE Interpretação e inferência

Fonte: Elaboração Própria

3.3 Locus

Por se tratar de um estudo fenomenológico de acordo com o método indicado, o

locus está relacionado diretamente com o objeto da pesquisa, sendo assim, nesse caso são o

superendividamento e a publicidade de acesso ao crédito.

Desse modo, para a realização da presente pesquisa e no intuito de atingir os

objetivos estabelecidos, buscou-se analisar os fenômenos superendividamento e a publicidade

de acesso ao crédito, analisando a relação entre ambos.

3.4 População e amostra

O local de realização da presente pesquisa foi o Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo

Wanderley, mas especificamente a Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem

49

Proendividados, inaugurada em de 2012, localizada na cidade do Recife, capital do Estado de

Pernambuco.

A preferência pelo local acima citado para a realização da pesquisa se deu pela

especificidade do público atendido, quais sejam, pessoas em situação de superendividamento.

Nesse espaço foi possível realizar a pesquisa com os sujeitos necessários para o que se pretende

verificar, pois se tratam de pessoas com a mesma característica, ou seja, pessoas

superendividadas, o que possibilita delimitar a população necessária para a análise.

Para Cozby (2014, p.145), a “população é composta por todos os indivíduos de

interesse para o pesquisador”. Ainda de acordo com Cozby (2014, p. 86), não seria necessário

fazer o estudo de toda uma população para a realização da pesquisa:

Na maioria dos casos, no entanto, estudar a população total poderia ser um

empreendimento exagerado. Felizmente, isso pode ser evitado pela seleção de uma

amostra da população de interesse. Com uma amostragem apropriada, podem-se usar

as informações obtidas dos participantes (ou “respondentes”), que foram amostrados,

para estimar precisamente características da população toda. A teoria estatística

permite inferir, com base nos dados obtidos, que a população comporta-se como a

amostra.

Nesse sentido, percebe-se que a amostra se trata de um subgrupo da população que

será selecionada para participar da pesquisa. Conforme Gil (2005), uma amostra precisa

apresentar um número adequado de elementos para que os dados obtidos num levantamento

sejam significativos.

A amostra escolhida para este estudo foi representada por 100 (cem) usuários do

programa Proendividado, em situação de superendividamento e que necessitam do apoio

jurisdicional para recuperarem a credibilidade perante seus credores.

No que tange ao número da amostra, Hair Jr. (2009, p.108) expressa que quanto “à

questão do tamanho da amostra, o pesquisador dificilmente realiza uma análise fatorial com

uma amostra com menos de 50 observações, e de preferência o tamanho da amostra deve ser

maior ou igual a 100”.

Desse modo, pode-se comprovar que um número de 100 respondentes é suficiente

para alcançar os resultados pretendidos, principalmente, por não ser o intuito da presente

pesquisa, generalizar os resultados conseguidos, mas, apenas de realizar testes a respeito das

relações hipotéticas demonstradas no modelo teórico sugerido.

50

Os sujeitos foram abordados para a realização da presente pesquisa, que será feita

pelo próprio pesquisador, que justificou o motivo da pesquisa, incentivando a participação dos

sujeitos no ato de responder as questões que lhes foram apresentadas, através de um

questionário, e em seguida será solicitado que os mesmos respondam os questionários

apresentados.

A abordagem a ser utilizada na presente pesquisa foi a não probabilística, pois tem

como técnica a amostragem acidental ou por conveniência de acordo com Cozby (2014). A

técnica de amostragem por julgamento, segundo Apolinário (2012), permite ao pesquisador

selecionar os sujeitos da pesquisa de forma intencional, por acreditar que esses representam

uma determinada população. Essa técnica é utilizada frequentemente, pois acredita-se que os

sujeitos são mais significativos para um determinado campo.

O instrumento de coleta de dados utilizado, qual seja, o questionário, foi tratado de

forma mais aprofundada a seguir, bem como será exposto ao final do trabalho na parte dos

apêndices deste.

3.5 Instrumento de coleta de dados

Apesar de já ter adentrado anteriormente no instrumento de pesquisa a ser utilizado

no presente trabalho, neste momento será discutido de forma mais minuciosa.

O instrumento de pesquisa utilizado foi questionário composto por 17 perguntas

estruturadas, de múltipla escolha, aplicado aos usuários do Proendividado, sendo que dessas 08

(oito), são direcionadas ao tema proposto e as demais tratam-se de questões socioeconômicas.

O objetivo dessa coleta de dados foi perceber, a partir do julgamento dos

respondentes, o nível de influência ou não da publicidade de acesso a crédito, no que tange às

compras impulsivas e um posterior endividamento.

Os questionários têm, além das perguntas relativas à condição econômica, social,

bem como idade, gênero, estado civil, nível de escolaridade e região geográfica dos

respondentes, questões a respeito das variáveis sobre o superendividamento influenciado ou

não pela publicidade de acesso ao crédito, essas variáveis serão ligadas, principalmente, no que

tange ao envolvimento do consumidor face aos anúncios publicitários de ofertas de créditos.

Para a presente pesquisa foi utilizada a escala de Likert de 5 pontos, sendo: 1 –

Discordo totalmente; 2 - Discordo; 3 – Nem concordo, nem discordo; 4 – Concordo e 5 –

51

Concordo totalmente, em razão das possibilidades que essa escala propõe, as quais são

adequadas à investigação inserida na pesquisa e comento.

3.6 Coleta de dados

A coleta de dados se deu entre os meses de julho a outubro de 2015, quando foram

aplicados os questionários e, posteriormente, as entrevistas. Foram realizados a aplicação de

100 (cem) questionários na Câmara de Conciliação do Proendividado, na Cidade de Recife, que

atende pessoas em situação de endividamento todos os dias. Desse modo, no intuito de facilitar

o diálogo com os respondentes bem como, a aplicação dos questionários, entramos em contato

com funcionários da Câmara, que durante toda a pesquisa auxiliaram na abordagem e nos dados

necessários para a realização da mesma.

O Proendividado atende diariamente pessoas do Estado de Pernambuco, que vêm

em busca de orientação sobre como negociar suas dívidas. Durante seus 03 (anos) de

funcionamento já atendeu mais de 10.000 (dez mil) pessoas em situação de endividamento.

Dessa forma havia ali uma grande possibilidade de respondentes, no entanto, nem todas as

pessoas se dispuseram a participar da pesquisa, desse modo, foi de suma importância o apoio

de alguns funcionários da Câmara na identificação de possíveis respondentes. Sendo assim

foram necessários 3 (três) meses para a coleta dos dados por meio da aplicação dos

questionários.

Somente após a aplicação dos questionários é que foi possível a realização das

entrevistas, pois a seleção dos entrevistados se deu através da pergunta 17 (dezessete) do

questionário aplicado, onde o respondente se disponibilizava a participar.

3.7 Mensuração

É imprescindível, ao tratar da realização de uma pesquisa abordar a esfera da

mensuração, tendo em vista que em uma pesquisa deve ser mensurado o resultado do que se

buscou investigar.

Entre os conceitos inseridos no arcabouço teórico do contexto, tem-se a definição

de Malhotra (2008, p.244):

52

Mensuração é a atribuição de números ou símbolos a características de objetos de

acordo com certas regras predefinidas. Observe que o que se mede não é o objeto, mas

uma de suas características. Assim, não medimos consumidores – apenas suas

percepções, atitudes, preferências ou outras características relevantes. Em pesquisa de

marketing, é o costume atribuir números por dois motivos. Primeiro, os números

permitem uma análise estatística dos dados resultantes. Segundo, os números

facilitam a comunicação de resultados e regras de mensuração.

O presente trabalho visa mensurar a influência da publicidade de acesso a crédito

sobre os consumidores, analisando quais são suas atitudes, quais as percepções desse

consumidor, de que forma a publicidade pode interferir no momento da compra, principalmente

da compra por impulso, influenciando no superendividamento.

Importante ressaltar que, em que pese o termo mensuração levar à ideia imediata da

matemática, está presente nas mais variadas ciências, conquanto surge com uma função inerente

a cada espécie, ou seja, ela se adéqua ao que se pretende investigar.

Verifica-se, pois, a possibilidade da mensuração voltar-se ao fator psicológico das

pessoas, materializando os resultados em números. Nesse diapasão, tem-se que a mensuração

pode se dá por escalas. No caso em tela, em razão da natureza do presente trabalho, mencionar-

se-á a escala de Likert, considerando o liame entre as características da pesquisa e as

particularidades da mencionada escala.

Tratar sobre escala impõe a ciência da distinção entre escala paramétrica e não

paramétrica. Segundo Dornelas (2014), as escalas não paramétricas se contrapõem às

paramétricas pela incapacidade de obter resultados com absoluta precisão, em razão das

rigorosas condições impostas pelas escalas, quando se declinam a mensurar o âmbito

psicológico. Isto posto, tem-se que:

A psicometria é a mensuração de variáveis psicológicas com objetivo de medir e

comparar indivíduos e grupos (MICHELL, 1977). Para atingir esta meta, Pasquali

(2003) exalta a importância das escalas oriundas da psicologia social, como é o caso da

escala de Likert. (DORNELAS, 2014, p. 43).

A pesquisa em tela tem a característica acima abordada, considerando que trata da

influência gerada pela publicidade no momento da decisão da compra pelo consumidor,

observando assim, a reação psicológica dos mesmos, daí a utilização da escala Likert, cujos

métodos são capazes de trazer a confiabilidade necessária aos resultados propostos.

53

3.8 Limites da pesquisa

Conforme o tema escolhido e no intuito de atender aos objetivos propostos, e de

acordo com a justificativa e metodologia utilizada, delimitou-se a pesquisa.

De acordo com o método fenomenológico, a presente pesquisa se deu através do

fenômeno superendividamento. Portanto, teve como locus os consumidores superendividados,

desse modo optou-se por pesquisar pessoas atendidas pela Câmara de Conciliação do

Proendividado, localizado no Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley, na cidade de

Recife/Pernambuco, como já apresentando nesse capítulo.

Foram convidados a responder os questionários os consumidores que

compareceram à Câmara entre os meses de Julho e outubro de 2015, e que estavam em situação

de superendividamento. Os critérios adotados para a realização da entrevista de seu da seguinte

forma: 1º- Aplicou-se o questionário contendo uma pergunta a respeito de uma possível

entrevista, caso o respondente tivesse interesse em participar assinalaria a opção Sim, deixando

seu contato para marcar a data para a entrevista. 2º- A pesquisadora entrou em contato com

todos que a princípio se mostraram disponíveis para participar da entrevista, no entanto, apenas

04 (quatro) pessoas tinham de fato interesse e disponibilidade no período do contato.

Em razão dos recortes acima estabelecidos pela pesquisadora, a presente pesquisa

obedeceu os limites estabelecidos de acordo com a metodologia empregada, bem como com o

tema proposto a fim de alcançar os objetivos do presente trabalho.

3.9 Limitações da pesquisa

Uma das limitações deste estudo está relacionada a participação de respondentes no

questionário que lhes foi disponibilizado, para que as pessoas aceitassem responder o

questionário foram feitas diversas tentativas, inclusive com o apoio de do funcionários da

Câmara de mediação, que também se disponibilizaram a aplicar os questionários, deixando-o a

disposição no balcão e divulgando a pesquisa, no entanto, a maioria dos que aceitaram

responder, só o fizeram depois que a pesquisadora explicou que se tratava de uma pesquisa de

cunho científico e que nenhum dado do respondente seria divulgado.

54

Outro fator que implicou na limitação foi a entrevista, pois dos 19 respondentes do

questionário que haviam se disponibilizando para participar da entrevista, quando entramos em

contato para marcar o possível dia, apenas 04 de fato puderam comparecer.

Quanto à entrevista essa teve uma aplicação mais complexa do que a dos

questionários, pois como a pesquisadora reside na cidade de Caruaru e os Entrevistados em

Recife e região metropolitana, o encontro foi um pouco difícil, inclusive pelos horários

disponibilizados pelos entrevistados, que não coincidiam, na maioria das vezes, com os horários

da pesquisadora.

55

4 ANÁLISES DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os dados e os resultados obtidos durante a pesquisa,

de tal forma que se possa atender tanto aos objetivos propostos, considerando como os efeitos

da publicidade interferem no comportamento da demanda por crédito, bem como testando as

hipóteses levantadas neste estudo. Na primeira etapa serão demonstrados os resultados obtidos

na análise quantitativa, e, posteriormente, será realizada a análise qualitativa da pesquisa em

questão. Sendo assim, este capítulo está dividido em 3 seções, sendo a primeira composta por

uma análise do nível de endividamento das famílias brasileiras; a segunda, a análise dos fatores

que influenciam o nível de endividamento, a partir das informações obtidas através da aplicação

dos questionários mencionados neste estudo. Por fim, a última seção é referente à análise

qualitativa sobre as características do endividamento dos entrevistados.

4.1 Análise descritiva: Indicadores de endividamento das famílias brasileiras

Esta seção pretende apresentar uma breve análise da situação de endividamento das

famílias brasileiras. Desta forma, a partir dos dados do Banco Central do Brasil (BCB) pode-se

observar a trajetória das operações de crédito na economia brasileira, com ênfase nas pessoas

físicas; a relação entre essas operações de crédito e as taxas de juros cobradas no mercado; e,

consequentemente, o nível de inadimplência das famílias. A Figura 1 mostra o

comprometimento de renda das famílias com amortização da dívida com o Sistema Financeiro

Nacional, considerando o ajuste sazonal, no período de março/2005 a março/2015.

FIGURA 02 - Comprometimento de renda das famílias com amortização da dívida

com o Sistema Financeiro Nacional

Fonte: Banco Central do Brasil/SGS (2015).

56

A partir da Figura 02 ficou evidente que entre 2005 e 2014 houve um aumento do

pagamento de amortizações das dívidas das famílias, que representavam 11% no início do

período, e atingiu o máximo de 13,42%, em 2011. Desde então, apresenta uma tendência

decrescente, sobretudo a partir do segundo semestre de 2014. Segundo o último relatório

disponível de Economia Bancária e de Crédito do Banco Central do Brasil, referente ao ano

de 2013, as atividades de crédito no país começaram a apresentar uma desaceleração devido

ao aumento da taxa de juros e redução, principalmente, do crédito voltado ao consumo.

Atrelado a esse novo cenário, passou a ocorrer um aumento nos prazos de pagamento e

redução da inadimplência no Brasil, o que contribuiu para uma redução do percentual da renda

familiar voltada ao pagamento de dívidas.

Uma matéria publicada recentemente pelo site UOL1, no dia 27 de outubro de 2015,

destacou o aumento das taxas de juros ao consumidor no Brasil, com informações

disponibilizadas pelo Banco Central do Brasil, referentes aos meses de agosto e setembro do

ano de 2015, em que ficou nítido o elevado custo dos empréstimos na economia brasileira,

que fatalmente podem levar ao não pagamento das dívidas por parte das famílias (bankruptcy)

e a restrição futura ao crédito. O Quadro 03 mostra as principais taxas de juros aos

consumidores no Brasil e suas variações entre agosto e setembro de 2015.

QUADRO 03– Principais taxas de juros aos consumidores no Brasil – 2015

Fonte: UOL (2015) / Banco Central do Brasil.

57

As elevadas taxas de juros no Brasil expostas no Quadro 03, além de tornarem as

operações de crédito muito onerosas, podem comprometer o nível de renda disponível da

população brasileira, inclusive, afetando o consumo básico, uma vez que, o endividamento no

país é alto e a população possui uma renda per capita ainda limitada. Nesse sentido, a Figura

03 mostra os valores das concessões de crédito livre ao consumidor.

FIGURA 03 – Concessões de crédito com recursos livres no Brasil– Pessoas Físicas

Fonte: Banco Central do Brasil/SGS (2015)

A Figura 03 apresenta a trajetória ascendente das concessões de crédito livre no Brasil,

entre 2011 e 2015, porém, com uma desaceleração evidente nos meses deste último ano. Esse

tipo de crédito não apresenta uma destinação específica como é o caso dos créditos

direcionados, que incluem as operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

e Social (BNDES), de crédito rural e daqueles voltados para a habitação. Essas concessões

mensais saíram de um patamar de R$105.114 milhões, em 2011, para um valor de R$141.708

58

milhões, em setembro de 2015.Durante esse período, a concessão de crédito teve o seu ápice

mensal em dezembro de 2014, quando alcançou R$162.630 milhões.

No Estado de Pernambuco, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro

Nacional, voltados às pessoas físicas, apresenta uma trajetória ascendente ao longo do tempo,

e atingiu um valor total de, aproximadamente, R$38 bilhões em setembro de 2015, conforme

mostra a Figura 04.

FIGURA 04 –Saldo das Operações de crédito pessoas físicas - PE

Fonte: Banco Central do Brasil/ SGS (2015)

Os elevados volumes de crédito disponíveis no Brasil e em Pernambuco estão sujeitos

a níveis de inadimplência que devem ser analisados para um melhor entendimento das

condições de endividamento no país. Sendo assim, as informações disponíveis no Banco

Central do Brasil mostram que entre 2011 e 2012 houve um aumento da inadimplência de

crédito livre no Brasil que ultrapassou 7% do total. Porém, a inadimplência apresentou uma

tendência dominante de queda, desde então, atingindo o menor nível em março de 2015, com

5,17%, entretanto, com um leve aumento nos meses mais recentes, cujo percentual foi de

5,69% no mês de setembro de 2015.

FIGURA 05 –Nível de inadimplência no Brasil – recursos livres (%)

Fonte: Banco Central do Brasil (2015)

59

4.2 Análise quantitativa da pesquisa de campo: Os efeitos da publicidade na

Inadimplência em Pernambuco

As primeiras informações levantadas nesta pesquisa foram referentes aos aspectos

socioeconômicos dos endividados como gênero, estado civil, escolaridade e vínculo

empregatício. Essas informações são resultados da pesquisa de campo desenvolvida neste

estudo e são consideradas dados primários inéditos. Na sequência, foram analisadas

informações sobre o tipo de financiamento demandado, a finalidade do crédito, a percepção do

custo do crédito pelo devedor, a proporção do valor mensal da dívida em relação ao rendimento

e, por fim, informações referentes aos efeitos dos anúncios publicitários sobre a decisão de

tomar o crédito.

A Figura 5 mostra que, entre os endividados, houve uma maior participação das

mulheres com um percentual de 55%, conforme pode ser observado a seguir.

FIGURA 06 : Participação (%) dos endividados, por gênero.

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Outro dado relevante nesta pesquisa foi referente à faixa etária dos tomadores de

empréstimos, em que se constatou uma maior parcela de endividados entre os grupos de 18 e

25 anos, 25%, com um valor muito próximo ao grupo entre 26 e 39 anos que atingiu 24%. Já

as pessoas com menos de 18 anos têm uma restrição ao crédito devido à baixa idade, por isso

não apareceram na amostra.

60

FIGURA 07: Participação dos endividados, por faixa etária.

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Neste estudo, também foi observado que tantos os indivíduos solteiros como os

casados têm a mesma participação percentual no total de endividados e cada grupo representou

40% do total, ou seja, esses dois grupos juntos representaram 80% da amostra, significando

uma baixa participação do grupo de divorciados e viúvos.

FIGURA 08: Participação (%) dos endividados, por estado civil.

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

61

No que se refere ao nível de escolaridade dos endividados, o maior percentual

encontra-se com o nível médio, representando 46% da amostra, enquanto que os pós-

graduados têm a menor participação no total de devedores com apenas 9%. De fato, o maior

nível de instrução está relacionado com um nível de renda mais elevado e, consequentemente,

uma menor demanda por crédito. Além disso, a educação formal permite que os indivíduos

tenham uma melhor percepção do custo efetivo do crédito e uma maior educação financeira,

evitando, por exemplo, o endividamento excessivo. A Figura 8 mostra essa participação dos

endividados, de acordo com o nível de escolaridade.

FIGURA 09: Participação (%) dos endividados, por escolaridade

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Também foi observado que a maior parte das pessoas endividadas, 34%, estavam

empregadas com vínculos formais, o que justifica uma maior facilidade de acesso ao crédito

uma vez que esses trabalhadores possuem comprovantes de renda e têm uma maior

estabilidade financeira. Sendo assim, o grupo dos estudantes foi o que obteve um menor peso,

com um percentual igual a 19%, de acordo com a Figura 9.

FIGURA 10: Participação (%) dos endividados, por vínculo empregatício

62

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Vale ressaltar que os desempregados também apresentam um percentual importante

como endividados, vistos que essas pessoas enfrentam dificuldades financeiras e já possuem

um estoque de dívidas contraídas no período em que tinham renda comprovada.

Em relação ao tipo de crédito solicitado, a maioria dos entrevistados possuíam dívidas

no cartão de crédito, esse percentual foi equivalente a 43%. Já a menor parcela de dívidas foi

referente aos empréstimos do tipo consignado, 7%, enquanto que o crédito pessoal e o

financiamento representaram juntos 50% de participação nessas operações.

FIGURA 11: Participação (%) dos tipos de crédito

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

63

As demais informações analisadas dizem respeito aos fatores que afetaram a escolha

da tomada de crédito e às características dessas operações, como finalidade do crédito; a

percepção do valor da taxa de juros; e influência dos anúncios publicitários. Assim, por meio

do questionamento sobre se o crédito tomado foi para quitar dívidas anteriores, a maioria

respondeu que discordava totalmente ou apenas discordava, apontando indícios de que,

possivelmente, o crédito foi tomado para algum tipo de consumo. Isso significa que pode

haver grande necessidade de financiamento para o atendimento de um padrão “consumista”.

A Figura 11 traz essas informações.

FIGURA 12: Crédito solicitado para quitar dívidas?

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

De fato, de acordo com a pesquisa, 88% dos endividados afirmaram que o crédito

tomado foi para adquirir bens e ou serviços, corroborando com a ideia anteriormente

apresentada, como mostra a Figura 12 abaixo.

FIGURA 13: Crédito solicitado para adquirir bens e os serviços?

64

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Outro questionamento realizado neste estudo foi sobre a ocorrência de algum evento

extraordinário como fator determinante sobre o endividamento, em que, um total de 67%

afirmou que essa variável teve relevância na decisão de se endividar, como pode ser observado

na Figura 13, a seguir.

FIGURA 14: Influência de algum evento sobre a decisão de se endividar

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Essa característica da maioria das pessoas endividadas serem afetadas por algum

evento não esperado, e o fato da maioria delas ainda possuir um baixo nível de escolaridade,

resulta em uma tomada de decisão pouco racional, fazendo com que 80% delas não tenha o

verdadeiro conhecimento do custo do crédito. A Figura 14 traz esses dados.

65

FIGURA 15: Percepção sobre os custos do crédito

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Essa falta de clareza na realização do endividamento por parte das pessoas acaba

comprometendo uma grande fração da renda individual, ultrapassando, por exemplo, o limite

máximo estabelecido pelas instituições que é de 30% da renda, o que está relacionado com

um elevado nível de inadimplência e pode comprometer de forma acentuada a qualidade de

vida das famílias devido à queda na renda disponível para o acesso aos demais bens e serviços

essenciais. A Figura 15 contém essas informações.

FIGURA 16: Valor da dívida ultrapassa o limite de 30% da renda?

66

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

A Figura 15 mostra que 69% das pessoas entrevistadas possuem um endividamento

superior a 30% do total dos seus rendimentos. Nesse sentido, 73% dos entrevistados também

revelou que o endividamento compromete o suprimento de algumas necessidades básicas

como moradia, educação e alimentação, de acordo com a Figura 16.

FIGURA 17: O Endividamento compromete a garantia das

necessidades básicas?

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

As próximas análises se referem aos efeitos dos anúncios publicitários sobre a decisão

de endividamento por parte das pessoas. Desta forma, a pergunta sobre o realismo das ofertas

de crédito, que sempre parecem “tentadoras” sob o ponto de vista dos consumidores, revelou

que 82% das pessoas pelo menos discordam de que esses anúncios correspondem à realidade,

como pode ser visto na Figura 17.

FIGURA 18: As ofertas de crédito são realistas?

67

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Atrelado ao fato de que os anúncios publicitários apresentam “vantagens” e são

bastante difundidos no mercado de crédito, 85% dos entrevistados afirmaram que já adquiram

crédito influenciados por anúncios publicitários, de acordo com a Figura 18, e, como já foi

dito, 82% admitiu que os anúncios têm aspectos “enganosos”.

FIGURA 19: O crédito foi influenciado pela publicidade?

Fonte: Dados primários, elaboração própria.

Conclui-se, portanto, que a maior parte dos endividados entrevistados foram afetados

pelas propagandas excessivas no mercado de créditos de Pernambuco e isso está

comprometendo a qualidade de vida dessas pessoas no médio e longo prazos, pois o

endividamento reduz a renda disponível para o acesso de bens e serviços básicos como

educação, moradia e alimentação. Sendo assim, deve haver uma preocupação que envolva o

68

controle dos anúncios publicitários que, muitas vezes, omitem informações relevantes sobre os

custos do crédito, representados pelas elevadas taxas de juros praticadas no mercado.

Em relação à segunda etapa da pesquisa, que foi realizada por entrevistas pessoais,

apenas 19% da amostra concordou em participar da mesma, e, consequentemente, 81% não

ficou disponível para essa parte do estudo. Essa atitude já era esperada pois as informações

solicitadas são bastante pessoais e a maioria dos indivíduos não se sente confortável diante

desse tipo de pesquisa, mesmo com a garantia de que essas informações seriam tratadas como

confidenciais.

4.3 ANÁLISE QUALITATIVA

De acordo com os objetivos propostos se fez necessário a utilização da técnica de

entrevista de modo que os dados obtidos foram analisados sob a perspectiva da técnica de

análise de conteúdo, buscando-se concluir, de maneira explicada, quais as interferências da

publicidade sobre o consumidor no que tange ao superendividamento, de acordo com o que os

próprios respondentes irão revelar.

De acordo com Bardin (1979), a análise de conteúdo trata-se de um conjunto de

técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de

descrição do conteúdo das mensagens estudadas, tendo como referência os sujeitos que as

emitiram, e o contexto em que foram emitidas ou os efeitos gerados.

Ainda para o mesmo autor, a técnica tem duas funções que se sobressaem; por um

lado tem uma função no que tange a descoberta do próprio fenômeno estudado, por outro lado

verifica hipóteses, que serão confirmadas ou refutadas.

A partir dos questionários aplicados aos 100 (cem respondentes), dos quais 19

(dezenove) se propuseram a participar da entrevista, no entanto, quando do contato para a

realização da mesma, apenas 04 (quatro) pessoas aceitaram ser entrevistadas.

Levando em consideração os objetivos e a técnica escolhida para analisar os dados,

a entrevistadora após a transcrição, procedeu com a categorização dos dados qualitativos, onde

optou por analisar as similaridades dos sujeitos, buscando compreender o fenômeno. De acordo

com Malheiros (2011), para categorizar dados o pesquisador pode se utilizar de dois caminhos,

quais sejam: desenhar as categorias de forma prévia ou fazer as categorias surgirem das

69

informações, ou seja, a análise dos dados obtidos fará com que o pesquisador crie categorias as

quais irá condizer com as informações.

No presente trabalho não houve limitação de categorias previamente desenhadas,

essas surgiram a partir da coleta das informações adquiridas com as entrevistas, após a busca

das semelhanças nas respostas dos entrevistados de modo que fosse permitido fazer deduções,

pelos dados próprios da pesquisa (MALHEIROS, 2011).

Através da leitura das transcrições foram analisadas as respostas de cada

entrevistado onde pode-se encontrar as unidades de sentido. De acordo com Malheiros (2011),

as criações das categorias são precedidas de uma unidade de sentido, fazendo com que essas

categorias sejam um agrupado de sentidos semelhantes.

Desse modo, tendo como ponto de partida os objetivos da presente pesquisa e tendo

como fundamento os dados obtidos, foram desenvolvidas as seguintes categorias: Necessidade

de consumo e Vulnerabilidade.

Quadro 04- Categorias temáticas

CATEGÓRIAS TEMÁTICAS UNIDADES DE REGISTRO

Necessidade de consumo

A busca pelo consumo

Aquisição de contratos de crédito em busca da aquisição

bens e serviços.

Vulnerabilidade

Ausência de planejamento

Influência publicitária

Fonte: Elaboração própria

4.4 Análise e discussão da primeira categoria temática: Necessidade de consumo

A primeira categoria recebeu a nomenclatura de necessidade de consumo, por ter

sido levado em consideração o comportamento dos consumidores entrevistados quando

evidenciam através de respostas similares, uma busca pelo consumo. Os entrevistados

demonstraram em suas respostas, o desejo pela aquisição de bens e serviços, utilizando-se dos

contratos de crédito como meio para sua realização.

70

4.4.1 Primeira unidade de registro: A busca pelo consumo

No intuito de responder aos objetivos propostos e de acordo com as unidades e

similaridade das respostas dos entrevistados, bem como a frequência com que se apresentaram,

a primeira unidade de registro recebeu a identidade de busca pelo consumo. Sabemos que a

sociedade em que se vive é movida pelo consumo, o indivíduo necessita do consumo para

sobreviver.

A respeito necessidade, Bauman (2008, p. 73) tem dito:

Numa sociedade de consumidores, todo mundo precisa ser, deve ser e tem que ser um

consumidor por vocação (ou seja, ver e tratar o consumo como vocação). Nessa

sociedade, o consumo visto e tratado como vocação é ao mesmo tempo um direito e

um dever humano universal que não conhece exceção.

Essa necessidade de consumir cada vez mais também está atrelada ao desejo que o

indivíduo tem de se incluir socialmente, encontrando no consumo uma forma de se fazer

presente em determinados grupos. Esses indivíduos passam a encontrar nesse constante

consumo um sentido e estilo de vida, tendo em vista que o consumo passou a ser algo cultural.

O indivíduo no mundo atual vive do e para o consumo em todos os aspectos de sua vida,

ademais a sociedade atual tem uma necessidade pela permuta, onde a troca e a modernização

são necessárias, coisas surgem e desaparecem num imediatismo surpreendente, (BAUMAN

2009).

As pessoas encontram no consumo uma forma de status, de ser melhor, pois não

basta ter apenas o essencial para se incluir, é necessário ter algo a mais.

Primeira entrevista

O primeiro entrevistado P.R.P.N.J é uma pessoa do sexo masculino, 27 anos, possui

segundo grau completo, exerce atualmente atividades como autônomo, com renda média de R$

2.000,00, (dois mil reais), já adquiriu outros contratos de crédito e atualmente está endividado

em dois contratos, um de financiamento de um imóvel e o outro um crédito pessoal.

71

Quando indagado sobre quais motivos o teriam levado a adquirir o crédito, o

entrevistado falou sobre sua necessidade de consumir e por isso está sempre comprando e

financiando bens:

Na verdade eu queria uma carro, ai financiei e depois do carro a gente financiou uma

casa também. Hoje a gente quer comprar outras coisas, arrumar a casa, mas nosso nome

ta no SPC, ai no momento não dá.

De acordo com o que diz o entrevistado é perceptível a necessidade e a busca pelo

consumo, mesmo sabendo que encontra-se endividado, o entrevistado admite que gostaria de

comprar mais bens, no entanto só não o faz pela impossibilidade no momento pois seu nome

está negativado junto ao Serviço de Proteção ao Crédito-SPC.

Com relação a essa necessidade de consumo e de inclusão Baudrillard (2003),

entende que o indivíduo tem a percepção e a ânsia de se mostrar cada vez mais bem sucedido e

atrela essa condição ao ter. Assim gera-se um ciclo de consumo para manter um status social,

pois aquele que tem a mais do que necessita para sobreviver acaba se destacando em meio aos

que possuem apenas o necessário para sua subsistência, o que gera por sua vez essa busca

incessante pelo consumo.

A pesquisadora também observou e analisou a fala do entrevistado no que tange a

essa necessidade constante em consumir quando indaga o mesmo a respeito de se havia

adquirido contratos de crédito anteriormente e o mesmo afirma que:

Sim claro...a gente precisa de um cartão pra comprar coisas, bens, precisa financiar

casa, uso cartão até pra sair com os amigos, mesmo quando não tenho dinheiro nunca

deixo de acompanhar eles nas saídas, pago com cartão mesmo, depois me viro pra

pagar.

Diante dessa fala percebe-se que o entrevistado tem a necessidade de adquirir bens

mesmo estando endividado, o que se pode analisar da fala do mesmo é que mesmo não tendo

condições financeiras de “bancar” um certo status, ele se utiliza do crédito para se manter e ser

socialmente reconhecido.

Segunda entrevista

72

O segundo entrevistado P. S. L. T.B é do sexo feminino, 45 anos, possui terceiro

grau completo, exerce atualmente atividades como Servidora Pública, com renda média de R$

7.000,00, (sete mil reais), já adquiriu outros contratos de crédito e atualmente está endividado

com o cartão de crédito.

A entrevistada quando indagada sobre a aquisição de contratos de crédito relata que

necessitava adquirir bens, de acordo com relato a seguir:

Adquiri o crédito para pagar despesas de viagem e a aquisição do anel de formatura

da minha filha caçula.

É perceptível na fala da entrevistada que a aquisição do contrato de crédito se deu

em virtude da necessidade de consumir, pois apesar de se endividar a mesma se satisfaz pelo

consumo.

Quando o consumidor adquire bens de consumo, desperdiça tempo, atenção e

renda, em contrapartida supre suas necessidades e ganha significados pelos bens adquiridos

(McCRACKEN, 2003).

Terceira entrevista

O terceiro entrevistado J. P. C. B. S é do sexo masculino, 21 anos, possui primeiro

grau completo, exerce atualmente atividades como estagiário, com renda média de R$ 680,00,

(seiscentos reais), já adquiriu outros contratos de crédito e atualmente está endividado com um

financiamento de um imóvel.

Com relação ao terceiro entrevistado, esse em suas falas demonstra que a

contratação do crédito se deu em virtude da necessidade do consumo de um imóvel:

Eu financiei o imóvel porque queria adquirir um imóvel, além de precisar parar de

pagar aluguel.

Em sua fala do entrevistado utiliza não só a necessidade de consumir, mas também

de conseguir sair do aluguel, o que lhe gerava uma despesa. Interessante mencionar que o

73

entrevistado traz em sua fala essa condição de forma clara quando diz não se tratar apenas da

aquisição do imóvel, mas da necessidade de parar de pagar o aluguel.

Essa necessidade, de acordo com Giglio (2004), é de segurança física, desse modo

prevalece sobre as demais necessidades, não importando a marca ou bairro onde se adquira,

mas a aquisição.

Quarta entrevista

O quarto entrevistado A.D.M é do sexo feminino, 47 anos, viúva, possui segundo

grau completo, exerce atualmente atividades como autônoma, com renda média de R$ 1.500,00,

(mil e quinhentos reais), já adquiriu outros contratos de crédito e, atualmente, está endividada

em dois contratos, cartão de crédito e crédito pessoal.

Ao ser indagada sobre os motivos que levaram a entrevistada a adquirir os contratos

de crédito, a mesma respondeu que seria para comprar alguns objetos para a casa:

Primeiro eu comprava só roupas, depois comecei a fazer a feira com o cartão, ai fui

comprando uma televisão, depois comprei até uma máquina de lavar roupa, porque

tava precisando.

Mais uma vez percebemos que o crédito é imprescindível aos sujeitos da pesquisa,

estando este atrelado ao desejo em consumir. Pois, apesar de demonstrar que está satisfazendo

as necessidades fisiológicas, como se alimentar, a consumidora também adquire bens de uso

por entender que precisa de fato deles.

A sociedade capitalista na visão de Marx (1984) traz o crescimento das

necessidades e de como satisfazê-las. Desse modo, motiva a existência de novas carências de

bens materiais e de que modo o indivíduo irá suprir, tornando-o dependente do consumo.

4.4.2 Segunda unidade de registro: Aquisição de contratos de crédito como meio de

consumir bens e serviços.

Com o objetivo de compreender o comportamento do consumidor entrevistado e

buscando atingir aos objetivos propostos, de acordo com as respostas obtidas nas entrevistas e

74

por meio de análise de paridade entre as respostas, a pesquisadora atribuiu a segunda unidade

de registro o nome de Aquisição de contratos como meio de aquisição de bens e serviços.

Desse modo, a pesquisadora atentou para verificar por quais meios esse sujeito

adquire os bens que necessita consumir, com a finalidade de constatar ou não a aquisição de

contratos de crédito para comprar bens e utilizar serviços, foram elaboradas questões voltadas

a motivação da obtenção do crédito levando em consideração a necessidade que cada indivíduo

tem em consumir para se inserir.

Numa busca incessante pela inclusão e pelo status, o consumo tem aumentado

bastante ao longo do tempo, assim diante da necessidade do consumo, o crédito vai se

fortalecendo a cada dia, pois é este quem tem o poder de alavancar de vez o desenvolvimento

econômico, Miragem (2014).

Nos últimos anos, a oferta de crédito tem crescido bastante e, com isso, tem-se uma

considerável elevação na aquisição de bens pela facilidade que o crédito proporciona ao

consumidor. É perceptível que o crédito tem sido uma das formas de acesso aos bens desejados,

por meio de financiamentos, de crédito pessoal ou qualquer forma que seja colocado à

disposição do consumidor, pois dá a possibilidade de obter o bem de forma imediata. No

entanto, possibilita a esse consumidor o pagamento parcelado.

Com a finalidade de analisar se os entrevistados endividados teriam se utilizado do

crédito no intuito de elevar seu consumo, foram feitas perguntas pertinentes ao tema.

Primeira entrevista

Visando entender os motivos pelos qual o entrevistado contraiu o contrato de

crédito, a pesquisadora trouxe, a princípio, a seguinte indagação: Adquiriu o crédito por quais

motivos? Onde recebeu como resposta do mesmo que a princípio foi para aquisição de bens, e

posteriormente para pagar parcelas em atraso do contrato anterior.

Na verdade eu financiei a casa e depois um carro, só que comecei a atrasar as

prestações porque os negócios começaram a desandar, ai foi o jeito pegar um

empréstimo pra pode botar tudo em dia, só que peguei mais um pouquinho pra

comprar umas coisas pra casa, ai pronto, virou uma bola de neve.

75

Interessante verificar que o entrevistado traz em sua fala a necessidade de contratar

o crédito para pagar outro já existente, não contentando-se apenas em solicitar o valor

necessário para o pagamento, como também “um pouquinho a mais”, para adquirir novos bens,

restando claro que utiliza-se do crédito como um meio para o consumo de bens.

Já Lopes (1996, p.109), constata que o crédito seria de fato uma forma de instigação

ao consumo:

O crédito ao consumo é um estímulo ao consumo, é um elemento de dinamização da

produção capitalista. Pressupõe um movimento perpétuo, jogando para o futuro uma

perspectiva de incessante crescimento e desenvolvimento.Sendo que o mercado

depende do constante crescimento do consumo (planejado pelas unidades produtivas,

especialmente por aquelas que acumulam saber, conhecimento e informação, como as

grandes corporações capazes de influir determinantemente nos mercados).

Assim, como visto na fala de P.R.P.N.J, o crédito possibilita o consumo de forma

imediatista. Sabendo disso, os sujeitos se utilizam desse meio para se realizarem.

Segunda entrevista

A entrevistada diz que utilizou o cartão de crédito como forma de adquirir os bens

que desejava:

Acontece que precisava comprar um anel de formatura para minha filha e também

pagar passagens de ida e volta para Nova York, ai utilizei o cartão e parcelei em dez

vezes.

Percebe-se com a resposta da entrevistada que o meio pelo qual ela realizou seus

desejos de consumo foi através do crédito na modalidade cartão.

Na fala seguinte, a entrevistada admite que tal aquisição se deu diante da

necessidade de inclusão, vejamos:

Usei o cartão para comprar o anel de formatura da minha filha porque era formatura

dela e todos iam ter, não podia deixar ela ser a única sem ter, ia ficar feio.

76

Fica evidente a necessidade do uso de crédito como meio de adquirir bens para se

incluir. A entrevistada é enfática em dizer que todos na formatura teriam o anel, não podendo,

portanto, deixar sua filha excluída do todo. Na visão da entrevistada, o fato de não possuir tal

bem, traria exclusão de um determinado grupo, o que corrobora com a afirmação de um dos

objetivos específicos propostos no presente trabalho, o uso do crédito como meio de inclusão

social.

Terceira entrevista

No que tange aos motivos da aquisição do crédito, o entrevistado afirma ter

adquirido para consumir.

Financiei um imóvel através do Minha Casa, Minha Vida. Não tinha dinheiro pra

comprar à vista ai financiei pela Caixa.

Demonstra-se na fala do entrevistado, mais uma vez, o imediatismo que o crédito

traz para aqueles que desejam consumir algo, quando o mesmo afirma que não tinha dinheiro

para comprar à vista, mas o crédito lhe proporcionou esse consumo, mesmo que de forma

financiada.

O sentimento de inclusão vem na fala seguinte quando o mesmo diz que todos têm,

ele também precisava ter.

Hoje em dia todo mundo compra casa pelo Minha Casa Minha Vida, eu tinha que sair

do aluguel e ter minha casa também.

Esse sentimento de inclusão está intimamente ligado a essa busca pelo consumo,

onde o indivíduo se sente parte da sociedade quando pode consumir aquilo que “todos”, têm.

De acordo com Bauman (2008,78):

Então a sociedade de consumidores representa um conjunto peculiar de condições

existenciais em que é elevada a probabilidade de que a maioria dos homens e das

mulheres venha a abraçar a cultura consumista em vez de qualquer outra, e de que na

maior parte do tempo obedeçam aos preceitos dela com máxima dedicação.

77

É peculiar esse sentimento de necessidade de estar incluído em uma cultura de

consumista, pois trata-se de uma questão de identidade, inclusão.

Segundo Barbosa (2008, p.10):

A cultura de consumo ou dos consumidores é a cultura da sociedade pós-moderna, é

o conjunto de questões discutidas sob esse rótulo é bastante específico. Ele inclui a

relação íntima e quase casual entre, consumo, estilo de vida, reprodução social, e

identidade, a autonomia da esfera cultural, a estetização e comoditização da realidade

o signo como mercadoria e um conjunto de atributos negativos atribuídos ao consumo

[...]

Quarta entrevista

Ao entrevistar a quarta pessoa, a pesquisadora se surpreende com as revelações

feitas pela entrevistada, pois ela se utiliza do cartão de crédito até para as necessidades mais

básicas:

Usei o cartão pra comprar uma máquina, depois as coisas ficaram tão difíceis que tava

fazendo a feira com o cartão. Pagava uma, comprava outra. Ai depois peguei um

empréstimo pra arrumar a casa que tava caindo aos pedaços.

É clara a necessidade do crédito e sua importância na vida da entrevistada. Em suas

declarações a mesma afirma utilizar-se do crédito não só como meio de obtenção de bens e

serviços, mas também para satisfazer suas necessidades mais básicas como a de comprar

alimentos e a melhoria da moradia.

Silva (2000, p.68) a respeito da importância do crédito na vida dos indivíduos faz a

seguinte explanação:

O crédito, sem dúvidas, cumpre um importante papel econômico e social a saber:

possibilita as empresas aumentarem seu nível de atividade; estimula o consumo

influenciado na demanda; ajuda as pessoas a obterem moradia, bens e até alimentos;

78

Assim, como dito anteriormente no capítulo da fundamentação teórica, é nítido que

o crédito gera estímulo ao consumo. O indivíduo pode comprar desde produtos supérfluos até

os mais básicos como a alimentação, tal como ficou demonstrado na fala do entrevistado.

4.5 Análise e discussão da segunda categoria temática: Vulnerabilidade

A segunda categoria temática foi intitulada de vulnerabilidade porque ficou

evidenciado pelas respostas dos entrevistados que esses tendem a demonstrar situações de

vulnerabilidade diante de algumas situações de consumo, a primeira situação observada é a falta

de informações nos contratos, a segunda situação seria a influência sofrida diante das ofertas

de crédito através dos meios publicitários.

4.5.1 Primeira unidade de registro: Ausência de planejamento

O impulso gerado pelo crédito e o crescimento do capitalismo fez com que fossem

associados ao comportamento do indivíduo uma necessidade constante de consumir. Produtos

passam a ser descartados com mais facilidade, motivando uma oferta massiva por meio

publicitários, de certas “vantagens”, oferecidas pelas empresas, colocando o consumidor em

uma condição de vulnerabilidade diante dessas ofertas, pois acaba por consumir de forma

impulsiva, o que não quer dizer que todo e qualquer consumidor sejam vulneráveis.

Sendo assim, a ausência de planejamento diante de algumas ofertas, bem como a

falta de conhecimento dos custos totais das operações de crédito podem acarretar no

endividamento, que por pois muitas vezes ultrapassa o orçamento familiar, dificultando o

adimplemento por parte desse consumidor.

É direito do consumidor receber as informações sobre os contratos de crédito, assim

como é dever do fornecedor repassar tais informações, no entanto na maioria das vezes tais

informações são ocultadas, tanto pelo fornecedor no momento da aquisição dos contratos que

não esclarece ao consumidor o valor final, quanto quando se utiliza de meios publicitários que

tendem a ocultar algumas informações importantes sofre as ofertas de crédito.

79

Primeira entrevista

A respeito dessa vulnerabilidade dada pela falta de planejamento financeiro e uma

possível “vantagem” em consumir no momento, a pesquisadora verificou junto ao entrevistado

sobre os motivos que o impossibilitaram de manter o pagamento de suas contas.

Comecei a atrasar as prestações porque os negócios começaram a desandar, ai foi o

jeito pegar um empréstimo pra pode botar tudo em dia, só que peguei mais um

pouquinho pra comprar umas coisas pra casa, ai pronto, virou uma bola de neve.

O entrevistado quando perguntado sobre se já havia adquirido outros contratos de

crédito, responde da seguinte forma:

Sim claro, quem vive sem tá devendo né? a gente precisa de um cartão, de financiar

casa, ai ta sempre pegando um dinheiro emprestado.

Isso também demonstra a vulnerabilidade do entrevistado e sua falta de educação

financeira. O entrevistado se utiliza de novos contratos de crédito para pagar outros, o que gera

um custo muito acima do valor adquirido, o que fará com que esse indivíduo eleve ainda mais

seu nível de endividamento.

Segunda entrevista

Perguntada sobre por quais motivos estaria sem conseguir pagar as dívidas a

entrevistada respondeu que:

As despesas extras nos últimos dois meses saíram do controle e foram além da minha

renda mensal, então, acabei apelando para o cartão de crédito.

E trouxe ainda outro elemento que fala sobre a falta de planejamento e

consequentemente, taxas de juros altas quando diz que:

80

Somando com as despesas habituais transformaram o valor da fatura em algo bem

acima do que eu costumava pagar por mês, me forçando a recorrer a um parcelamento

da dívida, que incluiu mais juros.

De acordo com o que relata a consumidora, as despesas que teve com cartão foram

acima do que está acostumada a gastar, ou seja, fugiram do seu orçamento mensal, fazendo com

que a mesma se utilize do parcelamento do cartão gerando ainda mais despesas. Tudo isso

demonstra a falta de planejamento dos gastos, a consumidora primeiro compra e depois é que

verifica que o valor não condiz com a possibilidade de pagamento que ela tem.

Terceira entrevista

O entrevistado reconhece que o motivo pelo qual está endividado é a falta de

planejamento. Em sua fala, ele admite não ter considerado passar por situações que

dificultassem o pagamento da dívida.

Mal planejamento mesmo, antes de contrair a dívida, não imaginava que podia passar

por situações difíceis, perdi o emprego e hoje com o que consigo com estágio não

estou conseguindo pagar direito as prestações, ai vem juros e as multas, tem mês que

pago uma e deixo a outra.

Interessante mencionar que em sua fala o entrevistado menciona a ausência de

planejamento, demonstrando ter consciência é o que ocorre na maioria dos casos de pessoas

que se endividam, não imaginam que uma situação superveniente possa ocorrer e o

impossibilite de arcar com os compromissos, como no caso dele a perda do emprego.

A necessidade de consumo de forma imediata faz com que o consumidor não

analise possíveis contratempos e, desse modo, acaba não efetuando compras de forma

planejada.

Quarta entrevista

A fala da entrevistada traz a falta de planejamento: “ninguém imaginava”, essa é

uma das características que demonstram que o consumidor não parou para analisar se

81

futuramente teria possibilidade de pagar suas dívidas e acaba comprando movido pelo que não

tem no momento.

Na resposta da entrevistada, quando indagada a respeito dos motivos pelos quais

havia se endividado, ela diz que:

Eu deixei de conseguir pagar as contas quando meu marido morreu, ninguém imagina

que essas coisas vão acontecer, também ele deixou dívidas demais e a maioria tive

que pagar.

De fato, ao adquirir dívidas é imprescindível ao consumidor que ele tenha

consciência de que, caso um imprevisto aconteça, as dívidas vão ter que ser pagas, por isso a

importância do planejamento.

4.5.2 Segunda unidade de registro: Influência publicitária

A publicidade se faz necessária numa sociedade movida pelo consumo, onde a

oferta por vezes é maior que a procura, desse modo, é necessário a existência de métodos para

criar no consumidor interesse por produtos, e a publicidade é a forma eficiente pela qual,

produtos e serviços são ofertados de modo a convencer o indivíduo a adquirir o que lhe fora

oferecido.

A publicidade gera influência no momento da decisão do consumidor sobre

aquisição de determinados produtos e serviços. O consumidor é cada vez mais estimulado a

consumir, seja através de meios televisivos, seja pelas propagandas nas plataformas virtuais,

estão sempre rodeados de algum anúncio lhe oferendo algo.

De acordo com Moutinho (2003), a publicidade tem como objetivo principal não a

informação, mas sim fazer a imaginação fluir, ou seja, criar no público a vontade da aquisição

de serviços ou marcas. Muitas vezes, tais ofertas sequer o interessava, mas por causa do

estímulo, a adquirir esses serviços

Primeira entrevista

82

Quando perguntado se já se sentiu atraído por propagandas de ofertas de crédito, o

entrevistado confirma:

Sim, sim, propagandas são bem visíveis em todo lugar, isso faz com que a gente se

sinta atraído a contratar o crédito.

E quando a pesquisadora perguntou se o entrevistado havia adquirido algum

contrato de crédito pela influência da propaganda, este admite que sim, sendo, inclusive, esse o

motivo pelo qual encontrava-se endividado no momento.

Sim, inclusive o que estou inadimplente hoje adquirir por ver em propagandas ai

resolvi contratar, não tem como não querer ter coisas melhores, as propagandas trazem

uma possível vida melhor, ai a gente acaba cedendo as tentações.

A publicidade traz um apelo sobre a qualidade de vida, status, e cria no indivíduo a

necessidade de ter aquilo que ela está publicizando, fazendo com que o mesmo ceda aos apelos

apresentados nos meios midiáticos.

Segunda entrevista

Quando perguntada se já se sentiu atraído por propagandas de ofertas de crédito a

entrevistada responde prontamente:

Sim, principalmente para aquisição de veículos.

No intuito de avaliar se as ofertas publicitárias influenciam no momento da

aquisição do crédito foi perguntado se já adquiriu algum contrato de crédito pela influência da

propaganda, e mesma respondeu:

Sim, justamente para aquisição de um veículo novo financiado, há dois anos atrás.

83

Percebemos de acordo com as respostas da entrevistada que essa se sentiu atraída e

que a publicidade foi um fator determinante para a aquisição do financiamento de um veículo.

Terceira entrevista

Interessante a resposta do entrevistado quando perguntado sobre se já adquiriu

algum contrato de crédito influenciado por meios publicitários, esse nega, dizendo que:

Não, sempre é diferente do que eles ofertam pela mídia, você se ilude mas na hora é

totalmente diferente.

A pesquisadora perguntou ainda se ele se sentia atraído pelas propagandas que

oferecem crédito e como resposta obteve:

Sim né, quem num quer as coisas que eles mostram na televisão, viajar, carro, mas a

realidade é bem diferente.

Apesar de admitir já ter se sentido atraído pelas propagandas ele diz que não foi

influenciado na aquisição porque é tudo diferente, refutando assim a hipótese apresentada, de

que a publicidade influência no endividamento do indivíduo.

Quarta entrevista

Comprovando que a publicidade, é capaz de a partir de apelos emocionais trazer

possibilidades do indivíduo sonhar em ter, a quarta entrevistada faz referência ao que sente

quando perguntada se a publicidade de crédito lhe atrai.

Claro, queria ter várias coisas que via passar nos anúncios, chego até a mim imaginar

com essas coisas.

Admite, inclusive que a maioria das coisas que tem em casa foram compradas

através do crédito, como o parcelamento de uma máquina de lavar roupas.

84

Vi na insinuante uma máquina e dava certinho no limite do meu cartão, ai aproveitei

e parcelei em 12 vezes.

4.6 OBJETIVOS PROPOSTOS E ANÁLISE DOS DADOS

Nesse momento, após a análise das entrevistas e dos dados adquiridos se faz

necessário a discussão dos dados obtidos com relação aos objetivos propostos para a presente

pesquisa.

Para a realização do presente trabalho foram delineados os seguintes objetivos

específicos:

Analisar o comportamento do consumidor superendividado diante das ofertas de crédito

em Pernambuco.

Investigar o consumo como meio de inclusão;

Analisar a publicidade de acesso ao crédito como influenciadora de consumo;

Analisar o nível de endividamento das famílias brasileiras

Os entrevistados, 01, 02 e 04, confirmam os quatro objetivos específicos, de acordo

com as respostas dadas em sua entrevista.

O entrevistado 03, diante de suas falas confirma apenas os objetivos específicos,

01, 02, e 04, negando, portanto, o 3º objetivo ao revelar que não adquire contratos de crédito

influenciado pela publicidade por entender que o que é anunciado não condiz com a realidade,

apesar de admitir se sentir atraído pelas propagandas.

O primeiro entrevistado responde aos objetivos específicos de forma a confirmar as

hipóteses e a fundamentação teórica da presente pesquisa. Em suas respostas percebe-se que o

mesmo tem necessidade em consumir diante das ofertas de crédito, ao mesmo tempo que se

utiliza desse crédito como meio para obtenção de bens e serviços, para se manter ou incluir-se

em determinados meios, ademais resta claro nas respostas dadas a pesquisadora que a aquisição

85

desses contratos se deram por influência de meios publicitários tornando evidente a

confirmação dos objetivos específico da pesquisa.

QUADRO 05 - Objetivos e Análise

ENTREVISTA RESPOSTAS

CONFIRMAÇÃO

/NEGATIVA

DOS

OBJETIVOS

1. Adquiriu o crédito

por quais motivos?

“Na verdade eu financiei a casa e depois um

carro.”

“Só que comecei a atrasar as prestações

porque os negócios começaram a desandar,

ai foi o jeito pegar um empréstimo pra pode

botar tudo em dia, só que peguei mais um

pouquinho pra comprar umas coisas pra

casa.”

2,4

2. Por quais motivos

não tem conseguido

adimplir a dívida?

“Juros altos por conta de pela inadimplência

ai as parcelas foram ficando altas, também

alguns eventos que a gente não espera ai

compromete o pagamento das contas e

começam a gerar juros, depois você não ta

conseguindo mais pagar de tão altas que

ficam.”

4

3. Quanto de dívida

tem atualmente

proveniente de

contratos de crédito?

“Não faço a menor ideia de quanto devo

hoje, só sei que é muito.”

4

86

4. Já adquiriu algum

contrato de crédito pela

influência da

propaganda?

“Sim, inclusive o que estou inadimplente

hoje adquirir por ver em propagandas ai

resolvi contratar, não tem como não querer

ter coisas melhores, as propagandas trazem

uma possível vida melhor, ai a gente acaba

cedendo as tentações.”

1,2,3

O segundo entrevistado também é uníssono em corroborar com os objetivos

específicos de forma a confirmar as hipóteses e a fundamentação teórica da presente pesquisa.

Em suas respostas percebe-se que o mesmo tem necessidade em consumir diante das ofertas de

crédito, quando o mesmo se utiliza de palavras como, precisava comprar, do mesmo modo que

admite ter se utilizado do crédito como meio para obtenção de bens e serviços, isso se confirma

quando diz que utilizou o cartão de crédito para parcelar as compras, e no que tange a inclusão

diz que todos tem, também quero ter, desse modo, restou claro nas respostas dadas a

pesquisadora que a aquisição desses contratos se deram por influência de meios publicitários

tornando evidente a confirmação dos objetivos específicos da pesquisa.

QUADRO 06- Objetivos e Análise

ENTREVISTA RESPOSTAS

CONFIRMAÇÃO

/NEGATIVA

DOS

OBJETIVOS

1. Adquiriu o crédito

por quais motivos?

”Adquiri o crédito para pagar despesas de

viagem e a aquisição do anel de formatura

da minha filha caçula.”

2

87

2. Por quais motivos

não tem conseguido

adimplir a dívida?

“.As despesas extras nos últimos dois

meses saíram do controle e foram além da

minha renda mensal, então, acabei

apelando para o cartão de crédito.”

“Acontece que fiz duas compras acima de

dois mil reais, cada uma, e parcelei em dez

vezes, uma para pagar passagens de ida e

volta para Nova York e outra para pagar o

anel de formatura, que somando com as

despesas habituais transformaram o valor

da fatura em algo bem acima do que eu

costumava pagar por mês, me forçando a

recorrer a um parcelamento da dívida, que

incluiu mais juros.”

2,3,4

3. Quanto de dívida

tem atualmente

proveniente de

contratos de crédito?

“Em torno de R$5.000,00 (cinco mil

reais)”.

4

4. Já adquiriu algum

contrato de crédito pela

influência da

propaganda?

“Sim, justamente para aquisição de um

veículo novo, há dois anos atrás.”

1,3

O terceiro entrevistado responde a 03 dos 04 objetivos específicos propostos de

forma a confirmar as hipóteses e a fundamentação teórica da presente pesquisa e refutar o

objetivo 3, quando o mesmo diz que comprou uma casa porque hoje em dia todo mundo tem e

88

também porque precisava, fica claro além da necessidade do consumo, a obrigação de estar

incluído nesse todo, quando afirma que não sabe o valor de sua dívida demonstra um alto nível

de endividamento, não conseguindo mensurar o quanto deve. No entanto o mesmo diz que não

adquire contratos de crédito divulgados em meios publicitários por saber que esses são

diferentes daquilo demonstrado nos meios de comunicação, o que refuta a hipótese de influência

publicitária.

QUADRO 07- Objetivos e Análise

ENTREVISTA RESPOSTAS

CONFIRMAÇÃO

/NEGATIVA

DOS

OBJETIVOS

1. Adquiriu o crédito

por quais motivos?

“Usei o cartão pra comprar uma máquina,

depois as coisas ficaram tão difíceis que

tava fazendo a feira com o cartão, pagava

uma, comprava outra, ai depois peguei um

empréstimo pra arrumar a casa que tava

caindo aos pedaços.”

“ Primeiro eu comprava só roupas, depois

comecei a fazer a feira com o cartão, ai fui

comprando uma televisão, depois comprei

até uma máquina de lavar roupa, porque

tava precisando.”

1,4

2. Por quais motivos

não tem conseguido

adimplir a dívida?

“Mal planejamento mesmo, antes de

contrair a dívida, não imaginava que podia

passar por situações difíceis, perdi o

emprego e hoje com o que consigo com

estágio não estou conseguindo pagar direito

as prestações, ai vem juros e as multas, tem

mês que pago uma e deixo a outra.”

1,2,4

89

3. Quanto de dívida

tem atualmente

proveniente de

contratos de crédito?

“Hoje em dia não sei quanto devo não.”

4

4. Já adquiriu algum

contrato de crédito pela

influência da

propaganda?

“Claro, queria ter várias coisas que via

passar nos anúncios, chego até me imaginar

com essas coisas.”

“Vi na propaganda da insinuante uma

máquina, e dava certinho no limite do meu

cartão, ai aproveitei e parcelei em 12

vezes.”

1,2,3,4

O quarto e último entrevistado confirma os objetivos específicos propostos, sem

qualquer ressalva. O primeiro objetivo restou totalmente respondido na fala do mesmo, uma

vez que afirma precisar consumir e como meios de aquisição se utilizou dos contratos de

crédito. Por fim, ficou claro nas respostas dadas pelo entrevistado que a aquisição desses

contratos se deram por influência de meios publicitários tornando evidente a confirmação dos

objetivos da pesquisa.

QUADRO 08- Objetivos e Análise

ENTREVISTA RESPOSTAS

CONFIRMAÇÃO

/NEGATIVA

DOS

OBJETIVOS

90

1. Adquiriu o crédito

por quais motivos?

”Adquiri o crédito para pagar despesas de

viagem e a aquisição do anel de formatura

da minha filha caçula.”

2

2. Por quais motivos

não tem conseguido

adimplir a dívida?

“.As despesas extras nos últimos dois

meses saíram do controle e foram além da

minha renda mensal, então, acabei

apelando para o cartão de crédito.”

“Acontece que fiz duas compras acima de

dois mil reais, cada uma, e parcelei em dez

vezes, uma para pagar passagens de ida e

volta para Nova York e outra para pagar o

anel de formatura, que somando com as

despesas habituais transformaram o valor

da fatura em algo bem acima do que eu

costumava pagar por mês, me forçando a

recorrer a um parcelamento da dívida, que

incluiu mais juros.”

2,3,4

3. Quanto de dívida

tem atualmente

proveniente de

contratos de crédito?

“Em torno de R$5.000,00 (cinco mil

reais)”.

4

91

4. Já adquiriu algum

contrato de crédito pela

influência da

propaganda?

“Sim, justamente para aquisição de um

veículo novo, há dois anos atrás.”

1,3

92

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho analisou a influência da publicidade de acesso ao crédito no

superendividamento das famílias. A partir do estudo do comportamento do consumidor,

especialmente no que tange as ofertas de crédito, pode-se constatar a força desse fenômeno.

O fenômeno do superendividamento é um tema de grande relevância, contudo a

necessidade em estudar o tema proposto se deu pelo crescimento de famílias em situação de

superendividamento e das ofertas de crédito através de meios publicitários.

Sendo assim, surgiu essa necessidade de investigar se a publicidade de acesso ao

crédito poderia, de fato, ser um dos motivos que levariam os consumidores a adquirirem mais

contratos de crédito, causando o consequente superendividamento, dessa forma, foi proposto o

objetivo geral do presente trabalho.

De acordo com o tema da pesquisa, foram abordados o fenômeno do

superendividamento e a publicidade de acesso ao crédito no intuito de analisar de que forma

essa publicidade poderia influenciar os consumidores a adquirirem contratos de crédito. Para

atingir aos objetivos propostos, o caminho metodológico desenvolvido incluiu a adoção de mais

de uma técnica de coleta de dados, pelos quais foram possíveis identificar a similaridade de

discurso (nas entrevistas), bem como as atitudes dos consumidores diante das ofertas de crédito

(verificada através dos questionários).

Os métodos de coletas de dados adotados foram a aplicação de questionários

estruturados e a entrevista semiestruturada, onde foi possível a pesquisadora extrair dos

participantes através de suas respostas, subsídios suficientes para embasar que de fato a

publicidade de acesso ao crédito influência o consumidor a adquirir mais contratos de crédito

se superendividando.

Através dos dados colhidos nos questionários, foi feito uma análise a respeito das

questões propostas. Nas entrevistas e de acordo com as respostas e similaridades entre as falas

dos entrevistados, foram estabelecidas pela pesquisadora duas categorias temáticas que

receberam os nomes respectivamente de Necessidade de consumo e Vulnerabilidade, tendo em

vista a frequência demonstrada nas respostas dos entrevistados.

Em se tratando da Necessidade de consumo, verificou-se que os entrevistados

demonstram em suas falas ter o consumo como algo primordial. Conclui-se ainda que cada

consumidor diante de suas possibilidades tem necessidades de consumo de forma diferenciada,

93

no entanto, todos destacaram a importância de adquirirem bens e serviços, mesmo que para isso

contraiam dívidas, pois na maioria das vezes sua possibilidade de comprar é inferior aos valores

do que é adquirido.

Essa necessidade também se destaca através do desejo que o indivíduo tem de se

incluir socialmente e, é através do consumo que lhe é possível a inclusão em determinados

meios sociais. A sociedade vivencia um momento em que para ser o indivíduo precisa

necessariamente ter algo a mais, o necessário para sua subsistência não o inclui, a troca

constante e a forma descartável com que as coisas são feitas com prazo de validade, faz com

que esse sujeito sinta a necessidade do consumo para sobreviver e está inserido.

Ainda de acordo com a unidade temática em comento, importante frisar também

que a pesquisadora verificou que para satisfazer suas necessidades de consumo, os entrevistados

admitem se utilizar do crédito como meio de aquisição de tais bens.

No que tange a categoria Vulnerabilidade, a pesquisadora através da análise das

respostas obtidas, extraiu duas situações em que o consumidor tende a demonstrar-se mais

vulnerável, a essas situações foram dadas o nome de ausência de planejamento e influência

publicitária (unidades de registro). Ficou evidente durante as entrevistas que os consumidores

não costumavam se planejar com relação aos seus gastos, bem como, que a publicidade atua de

forma decisiva no momento de decisão.

Em consonância com as análises ficou comprovado que os consumidores apesar de

terem um nível elevado de dívidas, sentem uma constante necessidade de consumir como forma

de se incluir socialmente, utilizando-se do crédito, em sua maioria das vezes da modalidade

cartão, como demonstrado anteriormente (análises dos questionários), como meio de obter o

que desejam, dessa forma adquirem sem um prévio planejamento e por vezes influenciado pela

publicidade massiva, tendo como consequência disso o superendividamento.

Perecebe-se dessa forma que é necessário novas políticas de tratamento a esse

consumidor superendividado, bem como se faz necessário a criação de meio de prevenção como

a educação financeira, para que o consumidor na busca pela inclusão através do consumo não

se exclua pela inadimplência diante de seus credores.

94

5.1 Sugestões

Por se tratar de uma pesquisa que envolve publicidade e o fato dessa publicidade

figurar de forma que influência no momento das decisões de compra do consumidor a ponto de

consumirem além do que está previsto em seu orçamento, seria bastante interessante uma

análise da regulamentação da informação do fenômeno superendividamento, através de meios

publicitários, associando-se a participação dos fornecedores de crédito no que tange a esclarecer

melhor o consumidor sobre as condições do contrato no momento de sua aquisição, evitando

assim grandes prejuízos causados pela inadimplência.

.Outra coisa interessante seria a regulamentação do tratamento ao consumidor

superendividado, trazendo como base a coibição de práticas abusivas por parte dos

fornecedores, em detrimento do consumidor que é parte hipossuficiente.

Seria importante analisar em futuras pesquisas também um método de verificar os

impactos trazidos para economia através desse consumo desenfreado e do superendividamento.

95

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98

APÊNDICE A- TERMO DE AUTORIZAÇÃO

CPPA - CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MPGE – MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

FBV – FACULDADE DE BOA VIAGEM DEVRY BRASIL

Pesquisadora: Tatiana Aparecida da Costa

Tema da pesquisa: O SUPERENDIVIDAMENTO COMO CONSEQUÊNCIA DA

PUBLICIDADE DE ACESSO AO CRÉDITO

AUTORIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO ENTREVISTADO COMO SUJEITO DA

PESQUISA

Eu, __________________________________________________, portador do

RG________________, do CPF_____________________, abaixo assinado, após o devido

esclarecimento do objetivo da entrevista a ser realizada, concordo em dela participar e me

proponho a assinar o presente termo, de livre e espontânea vontade, consentindo a gravação de

todo teor da entrevista.

Local e data :__________________________________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa: ________________________________________________

____________________________________

Tatiana Aparecida da Costa

Pesquisadora Responsável

99

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO

Nome:__________________________________________________________

Sexo:

( ) Masculino ( ) Feminino

Sua idade atual:

a) Menos de 18 anos

b) Entre 18 e 25 anos

c) Entre 26 e 30 anos

d) Entre 31 e 35 anos

e) Entre 36 e 40 anos

f) Mais de 40 anos.

Estado civil

( ) Solteiro

( )Casado

( )Divorciado

( )viúvo

Habilitações Acadêmicas

( )Ensino Primário

( )Ensino Secundário

( )Graduado

( )Pós Graduação/Mestrado/Doutoramento

Atividade

( ) Estudante

( )Desempregado

( )Autônomo

( )Empregado por conta de outrem

Você possui dívidas de contratos de crédito?

( ) Sim

100

( ) Não

Através de que meio de crédito o(a) Sr.(a) se endividou?

( ) Cartão de Crédito

( ) Crédito Consignado

( ) Crédito Pessoal

( ) Financiamentos

O crédito solicitado foi para quitar dívidas anteriores?

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente

O crédito solicitado foi para adquirir bens e serviços?

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente

Atribui a algum evento extraordinário o seu endividamento?

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente

Nos contratos de crédito você sabe qual será o valor final deste, incluindo taxas e juros?

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente.

O valor mensal da dívida corresponde a mais de 30% dos seus rendimentos?

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente

Em razão desta(s) dívida(s), suas necessidades básicas como moradia, educação, alimentação,

foram comprometidas?

(5) Concordo totalmente(4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente

Os anúncios publicitários a respeito das ofertas de crédito são realistas?

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente.

Já adquiriu algum contrato de crédito influenciado por meios publicitários?

101

(5) Concordo totalmente (4) Concordo (3) Nem concordo, nem discordo (2) Discordo (1) Discordo

totalmente

Caso seja necessária uma entrevista para a conclusão da pesquisa, você tem interesse em

participar?

( ) Sim

( ) Não

102

APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA INDIVIDUAL

1- Nome: ________________________________________________

2- Idade: ________________________________________________

3- Sexo

( ) Masculino ( ) Feminino

3- Habilitações Acadêmicas

( )Ensino Primário

( )Ensino Secundário

( )Graduado

( )Pós Graduação/Mestrado/Doutoramento

4. Qual a atividade que exerce?

5. Qual a sua renda?

6. Qual o crédito adquiriu para se endividar?

7- Adquiriu o crédito por quais motivos?

8- Já havia adquirido contratos de crédito anteriormente?

10- Quanto de dívida tem atualmente proveniente de contratos de crédito?

11- Por quais motivos não tem conseguido adimplir a dívida? Algum evento inesperado?

12- Já se sentiu atraído por propagandas de ofertas de crédito?

13- Já adquiriu algum contrato de crédito pela influência da propaganda?