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Tarifa de Energia Residencial Social Introdução Este é um estudo da classe de consumo de energia residencial monofásica (1), ou seja, dos consumidores de baixa renda ou, ainda, da tarifa social paga por esses consumidores. O objetivo é avaliar, com base nesse estudo, se essa tarifa residencial proporciona a esses consumidores de baixa renda um nível de vida qualitativamente satisfatório. Os resultados obtidos serão apresentados nas quatro seções que se seguem, sendo a última seção dedicada a proposições e considerações finais e a um adendo às considerações finais. 1 – Caracterização dos Consumidores de Energia Elétrica Residencial – Tarifa Residencial Social – Baixa Renda. A tarifa de energia elétrica, que vamos chamar de tarifa residencial social, foi uma forma de o governo federal tentar dar acesso, via preços considerados por ele razoáveis, aos benefícios da energia a milhares de brasileiros marginalizados econômica, política e socialmente, chamados, por ele, de consumidores de baixa renda. As tarifas de energia elétrica residencial (consumidores de baixa tensão) têm um custo mais elevado que as que incidem sobre a classe de consumo industrial (consumidores de alta tensão). Vamos mostrar como se situa, em Minas Gerais, os consumidores de energia elétrica, de acordo com a seguinte tabela: Tabela 1 Consumo e número de consumidores de energia elétrica por classe (a) Ano Classe residencial Classe industrial Classe comercial Classes totais (b) Nº. de Cons. Consumo kwh Nº. de Cons. Consumo kwh Nº. de Cons. Consumo kwh Nº. de Cons. Consumo kwh 2000 4.526.461 8.064.458.704 73.032 22.709.993.051 504.121 3.851.744.280 5.495.423 39.075.855.384 2001 4.724.247 6.889.688.845 72.146 21.207.927.639 575.529 3.460.241.188 5.792.284 36.298.726.426 2002 4.918.883 6.780.654.095 72.478 21.734.119.950 550.872 3.473.430.158 5.983.634 36.355.081.900 2003 5.042.169 6.960.817.477 72.372 21.437.051.897 558.368 3.599.337.916 6.148.151 36.609.478.492 2004 5.152.303 6.960.467.125 72.476 22.488.233.411 566.098 3.756.927.143 6.289.513 37.884.377.703 Fonte: Fundação João Pinheiro (a) – inclui as seguintes concessionárias de energia de Minas Gerais: Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina, Mococa, DME de Poços de Caldas, Bragantina e CEMIG. (b) Total de todas as classes de consumo de Minas Gerais _____________________________________________________________________ (1) Monofásico: uma fase e um neutro, sendo esta a menor capacidade de atender os consumidores residenciais de energia elétrica. 1

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Tarifa de Energia Residencial Social

Introdução

Este é um estudo da classe de consumo de energia residencial monofásica (1), ou seja, dos consumidores de baixa renda ou, ainda, da tarifa social paga por esses consumidores.

O objetivo é avaliar, com base nesse estudo, se essa tarifa residencial proporciona a esses consumidores de baixa renda um nível de vida qualitativamente satisfatório.

Os resultados obtidos serão apresentados nas quatro seções que se seguem, sendo a última seção dedicada a proposições e considerações finais e a um adendo às considerações finais.

1 – Caracterização dos Consumidores de Energia Elétrica Residencial – Tarifa Residencial Social – Baixa Renda.

A tarifa de energia elétrica, que vamos chamar de tarifa residencial social, foi uma forma de o governo federal tentar dar acesso, via preços considerados por ele razoáveis, aos benefícios da energia a milhares de brasileiros marginalizados econômica, política e socialmente, chamados, por ele, de consumidores de baixa renda.

As tarifas de energia elétrica residencial (consumidores de baixa tensão) têm um custo mais elevado que as que incidem sobre a classe de consumo industrial (consumidores de alta tensão).

Vamos mostrar como se situa, em Minas Gerais, os consumidores de energia elétrica, de acordo com a seguinte tabela:

Tabela 1Consumo e número de consumidores de energia elétrica por classe (a)

Ano Classe residencial Classe industrial Classe comercial Classes totais (b)Nº. de Cons.

Consumo kwh Nº. de Cons.

Consumo kwh Nº. de Cons.

Consumo kwh Nº. de Cons.

Consumo kwh

2000 4.526.461 8.064.458.704 73.032 22.709.993.051 504.121 3.851.744.280 5.495.423 39.075.855.384

2001 4.724.247 6.889.688.845 72.146 21.207.927.639 575.529 3.460.241.188 5.792.284 36.298.726.426

2002 4.918.883 6.780.654.095 72.478 21.734.119.950 550.872 3.473.430.158 5.983.634 36.355.081.900

2003 5.042.169 6.960.817.477 72.372 21.437.051.897 558.368 3.599.337.916 6.148.151 36.609.478.492

2004 5.152.303 6.960.467.125 72.476 22.488.233.411 566.098 3.756.927.143 6.289.513 37.884.377.703Fonte: Fundação João Pinheiro (a) – inclui as seguintes concessionárias de energia de Minas Gerais: Companhia Força e Luz Cataguases

Leopoldina, Mococa, DME de Poços de Caldas, Bragantina e CEMIG. (b) Total de todas as classes de consumo de Minas Gerais

_____________________________________________________________________(1) Monofásico: uma fase e um neutro, sendo esta a menor capacidade de atender os consumidores residenciais de energia elétrica.

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Tabela 2Consumo Mwh

Ano Residencial/industrial Residencial/total Industrial/total

2000 35,51% 20,64% 58,12%

2001 32,49% 18,98% 58,43%

2002 31,20% 18,65% 59,78%

2003 32,47% 19,01% 58,56%

2004 30,95% 18,37% 59,36% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da Tabela 1.

A participação percentual do consumo da classe residencial em relação à industrial é da ordem de 30%, na série histórica apresentada. O industrial, em comparação com o total de energia consumida, fica na faixa de 58%, enquanto o residencial fica na de 18,50%.

O número de consumidores da classe residencial representa algo próximo de cinco milhões de consumidores e o da industrial 72 mil consumidores. O total de consumidores (todas as classes de consumo de energia) sai de cinco milhões no ano de 2000 para mais de seis milhões em 2004. Os dados apresentados englobam todas as concessionárias que atuam no Estado de Minas Gerais, quais sejam: Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina, Mococa, DME de Poços de Caldas, Bragantina e CEMIG, esta última atendendo a mais de 90% do território mineiro.

Os consumidores residenciais pagam o que consomem em kwh, já os da classe industrial pagam pelo kw contratado e pelo consumo kwh, sendo que o investimento necessário para atender a este último tem um custo bem menor que o residencial.

Se voltarmos a 1995, observaremos que as tarifas da classe residencial por faixa de consumo já começam a ter seus preços aumentados ou, de outra forma, a ter os percentuais de desconto por faixa de consumo reduzido. Isto pode ser verificado na tabela 3 abaixo:

Tabela 3Percentuais de desconto sobre a tarifa residencial por faixa de consumo mensal

Kwh/mês Desconto (%)Anterior Após novembro de 1995

0 – 30 82% 65%31 – 100 55% 40%101 – 200 24% 10%

Acima de 200 0% 0%Fonte: DIEESE

Foi também em 1995 que “a classe de consumo residencial foi desmembrada em duas – a residencial baixa renda e a residencial” (DIEESE). Os consumidores residenciais são atendidos em baixa tensão e são estruturados em monofásico, bifásico e trifásico. O trifásico, a bem dizer, é insignificante e mesmo

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quase inexistente. Os consumidores residenciais são, em sua quase totalidade, monofásico ou bifásico.

O consumo residencial de até 80 kwh monofásico (baixa renda) paga uma tarifa calculada na forma de “cascata”, ou seja, os primeiros 30 kwh pagam uma tarifa “X” e de 31 a 80 kwh pagam uma tarifa “X+Y”. Os valores dessas tarifas vão aumentando para cada faixa de consumo. O consumo do residencial de até 90 kwh é isento de ICMS (lei número 12. 729 de 30 de dezembro de 1997), mas não é isento dos impostos federais - PASEP e COFINS -, que valem para toda a classe residencial e variam mês a mês, situando-se aproximadamente entre 7% a 9% sobre o preço da tarifa residencial. Acima de 90 kwh o ICMS é de 30% sobre o consumo de energia. Este imposto é o maior entre os aplicados no consumo da energia elétrica residencial no Brasil. O consumo mensal regional estabelecido pelo governo federal é de 180 kwh para todo o Estado de Minas Gerais (2).

A tarifa social ou baixa renda só incide sobre os consumidores monofásicos. A tarifa residencial é monômia, ou seja, engloba a da demanda (kw) e do consumo (kwh). Já a tarifa industrial é binômia, quer dizer, tem uma tarifa para a demanda (kw) e outra para o consumo (kwh) separadamente.

2 - Relação entre o Aumento de Tarifa e os Índices de Custo de Vida da Classe Residencial Social – Baixa Renda.

Nesta seção tentaremos explicitar a relação do aumento da tarifas da classe residencial com alguns índices de custo de vida.

Tanto o IPCR (Índice de Preço ao Consumidor Restrito) como o IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo) do IPEAD (Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas) são calculados somente para Belo Horizonte.

Se compararmos os aumentos verificados no IPCR (Índice que compõe os salários de um a oito salários mínimos) e o respectivo peso da energia na composição desse índice com o aumento verificado da tarifa de energia elétrica, temos a seguinte configuração abaixo:

Tabela 4Índice de preços ao consumidor restrito (IPCR)Percentuais

Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Índice Geral 9,93 6,78 3,28 9,40 6,26 7,69 14,42 9,18 8,46 3,92

Energia Residencial 21,12 9,76 9,86 19,76 8,58 13,15 11,43 32,89 11,74 18,07

Peso ND ND ND ND ND 4,23 4,27 5,00 5,20 5,85Fonte: IPEADND: Não DisponívelOBS: Os Pesos são referentes ao mês de dezembro de cada ano.

(2) O número de habitantes de Minas Gerais, apurado pelo Senso de 2000, foi de 17.891.494 e, para o Brasil 169.799.170. A estimativa para 2005, para o Brasil, foi de 184.184.264 habitantes e de 19.237.450 para Minas Gerais.

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A tabela 4 por si só já explicita o aumento bem mais acentuado da tarifa de energia residencial em comparação ao IPCR. Os pesos apresentados e disponíveis de 2001 a 2005 indicam o quanto representa para esta faixa de renda (de um a oito salários mínimos) na composição do IPCR. Como veremos a seguir, (Tabela 5) o peso que compõe o IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), que abrange de um a quarenta salários mínimos, é menor, mas o aumento da tarifa do residencial é o mesmo do IPCR.

Tabela 5Percentual

Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Índice geral

10,36 6,18 1,19 8,94 5,98 6,04 11,24 8,85 8,74 5,13

Energia residencial 21,12 9,76 9,86 19,76 8,58 13,15 11,43 32,89 11,74 18,07

Peso 1,93 2,00 2,16 2,39 2,45 3,44 3,38 3,95 4,08 4,55

Fonte: IPEADObs.: Os pesos são referentes ao mês de dezembro de cada ano.

Em relação ao INPC (Índice Nacional de Preço do Consumidor) nacional, que tem como balizamento os reajustes salariais em nível nacional para os setores privado e governamental, temos o seguinte:

Tabela 6INPC (IBGE) Brasil – Anual

Ano Índice do INPC %1996 9,121997 4,341998 2,491999 8,432000 5,272001 9,442002 14,742003 10,382004 6,132005 5,05

Variação acumulada 105,83 Fonte: Conjuntura Econômica – FGV, 2006.

O índice acumulado anual do aumento da energia residencial, de 1996 a 2005, demonstrado na tabela 5 do IPCA, foi de 319,81% para Belo Horizonte (CEMIG). A variação do INPC (IBGE) de 1996 a 2005 foi de 105,83%. Portanto, a tarifa residencial, no período considerado, teve um aumento maior que o dobro do IPCR (IPEAD). O acumulado dos anos de 1996 a 2005 do IPCA (IPEAD) foi de 100,95%. O peso relativo que vai compor o IPCA foi menor do que o peso do IPCR. Isto pode ser atribuído ao nível de renda diferenciado entre esses dois índices em que esses diferentes pesos têm

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maior impacto no IPCR do que no IPCA. O IPCR acumulado de 1996 a 2005 ficou na casa de 113,69%, portanto superior ao IPCA, o que vem representar um impacto mais acentuado do aumento no preço da tarifa residencial no nível de renda de um a oito salários mínimos, enquanto o IPCA, no mesmo período, para a classe de renda de um a quarenta salários mínimos, ficou em 100,95%.

A classe de consumo residencial de 0 a 100 kwh, de 1999 a 2005, em Mwh, teve o seguinte comportamento:

Tabela 7Consumo residencial (Mwh)Faixa 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

0 – 100 kwh/mês 888.149 997.467 1.443.974 1.625.009 1.682.463 1.785.435 1.867.369Fonte: CEMIG

O número de consumidores para a mesma faixa foi o seguinte:

Tabela 8Consumidores residenciaisFaixa 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

0 – 100 kwh/mês 1.568.399 1.647.479 2.652.895 2.514.958 2.776.329 2.677.608 2.837.079Fonte: CEMIG

O consumo médio do residencial em kwh/mês nas duas faixas mais baixas foi o seguinte:

Tabela 9Consumo médio residencial (kwh/mês)

Faixa 1999 2000 2001 2002 2003 2004 20050 – 30 kwh/mês 9 9 9 10 9 10 10

31 – 100 kwh/mês 63 67 56 67 63 69 68Fonte: CEMIG

A participação percentual dos consumidores residenciais (0 a 100 kwh) em relação ao número total dos consumidores do mercado CEMIG é a que se segue:

Tabela 10Participação percentual do número de consumidores residenciais no total CEMIG

Faixa 1999 2000 2001 2002 2003 2004 20050 -100 kwh/mês 31,90 32,04 30,54 44,98 48,33 45,58 47,21

Fonte: elaboração do autor com dados da CEMIG

Esta faixa de consumo de 0 a 100 kwh/mês do número de consumidores do mercado CEMIG chega à metade do número de consumidores totais da CEMIG, o que é bem significativo. Isto sugere que alguns fatores são determinantes na composição do consumo acima registrada para os consumidores 0 – 100 kwh/mês, tais como: o nível de renda, o número reduzido ou mesmo a inexistência de qualquer aparelho eletrodoméstico nas residências, pois é nesta faixa de consumo que se encontram os consumidores considerados de baixa renda (até 80 kwh/mês).

A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, IBGE) constatou para Minas Gerais os seguintes eletrodomésticos mais utilizados pela população urbana: rádio, televisão, geladeira, freezer e máquina de lavar roupa, sendo que o percentual de um a cinco salários mínimos em 2004 e da participação na população urbana total foi:

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Tabela 11Número de Consumidores da população urbana de Minas Gerais que tinham e não tinham esses eletrodomésticos e sua participação percentual na população urbana de Minas Gerais.

Tipos de eletrodomésticos De 1 a 5 salários mínimos Participação % da população urbana total

Rádio Tinham 9.629.648 59,86

Não tinham 1.119.049 6,96Televisão

Tinham 10.063.048 62,55Não tinham 674.353 4,19

GeladeiraTinham 9.713.067 60,38

Não tinham 1.037.366 6,45Freezer

Tinham 502.266 3,12Não tinham 10.245.851 63,69

Máquina de lavar roupaTinham 1.590.586 9,89

Não tinham 9.158.278 56,95Fonte: PNAD – IBGE – 2004 – urbana

O eletrodoméstico mais utilizado pela população de Minas Gerais é a televisão e o menos utilizado é o freezer (3).

Pelos dados apurados acima observamos que para cada salário mínimo (hoje R$350,00) a menos diminui a possibilidade dos consumidores de até cinco salários mínimos (R$1.750,00) terem em seus domicílios um maior número de eletrodomésticos. Isto reflete a perversa distribuição de renda no Estado, pois a população de baixa renda não tem condições de adquirir esses eletrodomésticos e mesmo quando os tem os utiliza esporadicamente. É só observar o baixo consumo médio residencial (kwh/mês) apresentado nas tabelas anteriores: enquanto o consumo médio de 0 a 30 kwh/mês varia de 9 a 10 kwh/mês, o de 31 a 100 kwh/mês está na faixa de pouco mais de 60 kwh/mês.

Segundo o DIEESE, o salário mínimo plausível para uma família de quatro pessoas, para julho de 2006, seria de R$ 1.436,74, o que significa que o salário mínimo atual representa 24,36% daquele.

3 – Perfil do Consumidor Tipo de Energia Elétrica e a Utilização de Aparelhos Eletrodomésticos.

Vamos elaborar um consumidor hipotético de baixa renda, ou seja, até 80 kwh/mês, tendo em sua residência os seguintes eletrodomésticos:

Tanquinho – 270 waltsTelevisão – 150 walts Geladeira – 190 waltsFerro de passar – 1.000 waltsChuveiro – 4.400 waltsLâmpada incandescente de 60 w – 60 walts

(3) A estimativa da população para Minas Gerais em 2005 é de 19.237.450, segundo cálculo do IBGE.

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O tempo de utilização desses aparelhos foi arbitrado pelo autor tendo como referência a média de consultas verificadas pelos consumidores nos setores de atendimento da CEMIG.

Tabela 12Eletrodomésticos utilizados em um consumidor hipotético Baixa Renda arbitrado pelo autor, com tempo de utilização, número de aparelhos e seu consumo kwh/mês.Eletrodomésticos Nº. de aparelhos Tempo de

utilização/mês Consumo kwh/mês

Tanquinho 01 4 dias/mês durante 1 hora cada dia

1,08 kwh/mês

Televisão 01 4 horas/dia durante um mês

18 kwh/mês

Geladeira 01 16 horas durante todos os dias do mês

91,2 kwh/mês

Ferro de passar 01 1 hora e 20 minutos durante 4 dias do mês

5,33 kwh/mês

Chuveiro 01 20 minutos por dia durante todo o mês

44 kwh/mês

Lâmpada incandescente

04 2 horas e 30 minutos por dia durante um mês

18 kwh/mês

Total kwh/mês 177,61 kwh/mês Fonte: Simulador de Consumo por Equipamentos Eletrodomésticos – CEMIG – dados arbitrados pelo autor.

Um consumidor com essas características gasta aproximadamente 177,61kwh/mês. O custo de energia para esse consumidor, em 2005, é de R$ 62,09 usando como critério a tarifa média total do residencial. Já o custo da energia quando usamos o preço da tarifa em 2005 “cascateadas” é de R$ 48,31, tendo a tarifa residencial por faixa de consumo como referência.

Para obtermos o benefício da tarifa social ou baixa renda, o consumidor tem que estar cadastrado nos programas sociais do governo federal, tais como: Bolsa Escola, Vale Gás, Bolsa Família entre outros. Mesmo ultrapassando os 80 kwh/mês ele não perde a condição e benefícios de baixa renda (Tarifa Social). Só vai perdê-los se a média anual de 220 kwh/mês for ultrapassada. Se o consumidor não for cadastrado nos programas sociais do governo federal, mas for baixa renda, ou seja, consumir uma média anual de até 80kwh/mês, ele também possui os benefícios de baixa renda (Tarifa Social). Se ultrapassar, perde o beneficio e só volta a tê-lo se obtiver novamente a média anual/mês que é de 80 kwh/mês.

Para os consumidores “cascateados”, o gasto com a energia deve girar em torno de R$ 48,00. Além do custo da energia o consumidor residencial está isento do ICMS (Imposto Estadual) até 90 kwh e, passando este limite ele paga 30% desse imposto sobre o consumo total. Também existem os impostos federais como o PASEP e o COFINS, que abrangem todos os consumidores residenciais, sejam de baixa renda ou não, variando entre 7 a 9% sobre o valor da energia. Portanto, a média de gasto de uma família, como a relatada, é de aproximadamente pouco mais de R$ 60,00 por mês, o que significa um comprometimento de 17% do salário mínimo atual de R$ 350,00.

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Vamos colocar na tabela abaixo o valor do ICMS de algumas concessionárias de energia por Estado:

Tabela 13ICMS

Empresa Estado Residencial IndustrialCEMIG MG 30% 18%COPEL PR 27% 27%

ESCELSA ES 25% 25%CELESC SC 25% 25%

CELG GO 25% 25%RGE RS 25% 20%

LIGHT RJ 18% 30%Fonte: Boletim Energia Popular; MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens)

O ICMS é aplicado sobre o valor em reais das contas do consumidor. Isto representa 42,86% sobre o valor em reais do faturamento da energia. Os 42,86%, que é o resultado do cálculo do ICMS por dentro, e que é o valor de fato, significa que o preço da conta, em termos líquidos, ou seja, só aplicando a tarifa media, é feito por dentro com a seguinte fórmula: R$ 62,09 x 30/70 = R$ 26,61 menos os R$ 62,09 apurados anteriormente, resultando em R$ 35,48. Somando o valor de R$ 62,09 temos R$ 95, 57, que é o valor a ser pago pelo consumidor só levando em consideração o ICMS.

Portanto, calculando o ICMS por dentro, implica um ICMS real de 42,86%. Isto sem contar o PASEP e o COFINS que também incidem sobre os consumidores residenciais. Neste caso, não há limite de consumo, e todos os consumidores residenciais são tachados por esses dois impostos federais.

O consumo médio de energia na faixa de 0 a 30 kwh/mês era de 9 kwh, aproximadamente, em 2005, e os consumidores dessa faixa totalizavam 636.770. Com um consumo nessa faixa, mal dá para o consumidor ter uma lâmpada em sua residência.

Já os consumidores de 31 a 100 kwh/mês situam-se aproximadamente em 67 kwh/mês e eram, em 2005, 2.200.309 consumidores. Nessa faixa o consumidor pode ter alguns aparelhos eletrodomésticos, o que pode tornar sua vida mais digna em termos de uso que a energia elétrica proporciona, mas, quero frisar que ele tem que estar cadastrado num programa social do governo, ser monofásico ou ter uma média anual de 80 Kwh/mês, ou ser baixa renda.

O número total de residências da faixa de 0 a 100 kwh/mês era de 2.837.079, o que representava, em 2005, 47,21% do total de consumidores atendidos pela CEMIG, ou seja, quase a metade destes.

O consumo da faixa de 0 a 100 kwh/mês era de 1.867.369 Mwh e o total do consumo da CEMIG, em 2005, era de 39.614.000 Mwh, aquele consumo de 0 a 100 kwh/mês representando somente 4,71% do mercado consumidor dessa empresa. Logo, os grandes beneficiários do consumo da energia estão concentrados no residencial de maior consumo e renda e nas outras classes de consumo como industrial, comercial entre outros.

Considerações Finais

O governo federal tem feito aportes e programas, como a Luz para Todos, junto aos estados da federação, para que um número cada vez maior da população brasileira tenha acesso à energia elétrica.

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O que podemos realçar é que muitas dessas chamadas residências são taperas, cortiços, barracos de favelas, ou estão em bairros extremamente pobres onde se convive com uma situação muito precária de infra-estrutura de água e esgoto e de calçamento, e são de difícil acesso.

O fato de termos no mercado CEMIG cerca de 2.200 milhões de consumidores consumindo na faixa de 0 a 67 kwh/mês não significa que todos vivam em taperas, cortiços e barracos sem condições técnicas de receber a energia elétrica. Existem normas técnicas, ou seja, normas de distribuição, que são elaboradas pelas concessionárias, e aprovadas pela Aneel, que devem ser obedecidas, pois foi fruto de estudos técnicos, realizados por profissionais, para que a energia chegasse às residências com segurança e qualidade e para que os consumidores residenciais tivessem estrutura física adequada para recebê-las com segurança e qualidade para eles e suas famílias.

Os chamados “gatos” são uma forma de uma grande parte da população pobre e miserável ter acesso à energia, mas representam um alto risco, não só técnico como de segurança, para esses. Basta acompanhar as tragédias ocorridas que resultaram em curto-circuito, queimando todo um aglomerado que utilizava desse procedimento, causando perdas materiais e humanas.

Acredito que providências isoladas como a Luz para Todos, sem levar em consideração a situação extremamente precária de vida, englobando habitação e infra-estrutura, não surtirão os resultados que devem ser perseguidos, ou seja, energia elétrica para todos. Não adianta muito colocar uma ou duas lâmpadas numa residência de baixa renda, ou mesmo miserável, pois isso pode resolver em termos políticos (no seu sentido pejorativo), mas não resolve as necessidades reais mais abrangentes dessa população.

Isentar do pagamento da energia elétrica para um consumo de até 100 kwh/mês é uma alternativa indireta que se pode propor como parte de um processo de distribuição de renda e de melhoria da qualidade de vida. Mas só isso não resolve, pois a dinâmica estrutural em que vem se baseando a política econômica neoliberal no país, como a privatização de grande parte do setor energético, não suportaria nem aceitaria um volume tão grande de consumidores existentes nas condições relatadas (4).

Quem pagaria por essa isenção? O governo, as empresas, ou outras classes de consumo de energia?

Adendo às Considerações finais:

É importante contextualizar a questão tratada no conjunto amplo da política econômica do país.

A pobreza e a miséria em que se encontram milhões de brasileiros têm levado, a cada dia que passa, um número cada vez maior da população a uma condição degradante, embora o governo, através de políticas sociais compensatórias, tenha tentado minimizar essa situação.

As políticas compensatórias têm alguma eficácia no curtíssimo ou curto prazo, pois a estrutura básica em que assenta sua política econômica neoliberal tem levado a que essa situação descrita não se reverta. Não abandonando essa política e não adotando

(4) Este trabalho envolve tão somente os consumidores urbanos.

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uma outra voltada para os interesses e necessidades da maioria da população não obteremos resultados econômicos e sociais que satisfaçam as reais necessidades da maioria da população.

Essas colocações podem parecer fora da questão tratada aqui, mas não o é. Isto porque a questão energética, no caso, a energia elétrica residencial social, faz parte da estrutura macroeconômica do país, e só com uma reestruturação poderemos, ao longo de um processo, reverter a situação social e econômica existente.

Podemos propor, resumidamente, algumas idéias que estão intimamente interligadas à questão energética, (tarifa residencial baixa renda), pois esta não pode ser tratada isoladamente como um setor da estrutura econômica ampla do país, pois elas se integram e interagem, com esta, estando umbilicalmente presentes na dinâmica da política econômica do Brasil.

Portanto, como sugestão para que a energia elétrica se integre a uma dinâmica de transformação, teríamos alguns pontos a considerar, quais sejam:

• Uma política de redistribuição de renda fundada numa reestruturação da dinâmica da política econômica.

• Aumento de salário, de emprego, de rendimentos e de formas de trabalhos compatíveis com as necessidades da população contemplando, dignamente os trabalhadores brasileiros.

• Eliminação dos impostos que incidem sobre o consumo residencial: ICMS, PASEP e COFINS.

• .Estabelecimento de um limite nacional de 100kwh/mês como tarifa social ou baixa renda.

• Execução de um plano habitacional para a população de baixa renda com infra-estrutura compatível com as necessidades dessa.

• Reestruturação da política econômica do país que deve estar interligada com o crescimento e desenvolvimento econômico, bem como fundada nas necessidades e interesses da maioria da população.

As forças e movimentos populares engajados na transformação da sociedade brasileira devem nortear suas ações de forma responsável, democrática e ampla, onde o que deve prevalecer são os interesses e necessidades da maioria da população, tendo como norte a transformação das estruturas econômicas e políticas que vigoraram e vigoram no país até hoje.

Nós brasileiros pagamos uma tarifa de energia elétrica considerada mais alta que a dos Estados Unidos e México, sendo que o parque energético em que se baseia a geração de energia desses países é fundalmente estruturada em termelétricas, que geram uma energia de custo mais elevado que a hidrelétrica, esta a forma de geração mais utilizada na produção de energia no Brasil.

Segundo informações obtidas na Rede Brasil, o Brasil ocupa a décimo nono lugar em uma lista de 29 países em termos de energia cobrada. O nosso país foi colocado neste ranking considerando a tarifa média oficial calculada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) com a taxa de cambio de 2005. De acordo com a Aneel, o consumidor residencial pagou, em média, R$0,291/kwh. Usando a taxa de cambio de 2005 de R$2,43/dólar, segundo o Banco Central, resultou que a tarifa média do Brasil foi de US$0,1198/kwh, a mesma cobrada pela Turquia. Neste ranking dos maiores preços a Dinamarca lidera por ter a tarifa mais cara dos 29 países.

O Brasil é o segundo maior produtor de energia hidrelétrica do mundo segundo a IEA( Agência Internacional de Energia), em relação à participação da energia hidráulica o nosso país ocupa o segundo lugar com 83,8% de energia gerada por hidrelétricas , em

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primeiro lugar está a Noruega com 98,9%, posicionando como a segunda tarifa de energia mais barata vindo em seguida o Canadá. Ainda é preciso considerar que há uma sobrevalorização do cambio; se esta taxa estivesse subvalorizada o dólar custaria mais caro e, na conversão do valor em reais para preços em dólares, o Brasil ficaria com um preço da tarifa menor.

Estas informações aludidas acima nos proporcionam uma visão mais global da questão tratada no texto, pois a insere no contexto global da economia internacional.

Finalmente, podemos acrescentar, diante dos fatos colocados ao longo deste estudo, que a energia residencial social representa não só uma necessidade fundamental para a população brasileira de baixa renda como também faz parte de um processo amplo de reversão das políticas econômicas de cunho neoliberal que vem há cerca de 20 anos sendo adotadas. Embora não explícita no texto, podemos verificar que, em linhas gerais, está colocada sua interação com as políticas macroeconômicas adotadas.

Alguns aspectos Técnicos de Eletricidade

Disjuntor - termo magnético tem duas finalidades:a) Operação - chave que liga e desliga.b) Proteção – tem duas proteções, a primeira contra curto-circuito (função

magnética), a segunda é a sobrecarga. Todo disjuntor tem uma carga máxima que ele suporta que é a corrente nominal de placa estampada no mesmo.

A potência (walts) é a demanda que uma residência contrata de acordo com suas necessidades. No exemplo colocado nesse trabalho temos as seguintes demandas(w):

• Tanquinho – 270 walts• Televisão – 150 walts• Geladeira – 190 walts• Ferro de passar – 1000 walts• Chuveiro – 4400 walts• Lâmpada - 60 walts

O total da demanda (walts), considerando 1 aparelho cada na residência, teria um total de walts (demanda de potência) de 6250 w, transformando em kw temos: 6250/1000 = 6,25 kw que é a demanda (kw) máxima requerida. Considerando o consumidor hipotético desse trabalho teríamos, nesse caso considerou-se 4 lâmpadas de 60 w e um aparelho eletrodoméstico cada obtivemos um total de, os detalhes estão no corpo do trabalho, 177,61 kwh em 30 dias, que é a demanda máxima 6,25 vezes o número de horas, o número de dias e o número de aparelhos da residência.

Ampères é uma unidade de corrente elétrica, ou seja, é o fluxo de elétrons no condutor (fio elétrico) que conduz esta. Logo o kwh se desmembra na seguinte forma: “ k” =1000, o “walts” é a unidade de potência ativa e o “h” é a unidade de hora ou seja tempo.

Temos os seguintes tipos de carga de capacidade de receber energia:1) Monofásico – uma fase e um neutro.2) Bifásico – duas fases e um neutro.3) Trifásico – três fases e um neutro.

Unidades de medidas de eletricidade:• kwh = equivale a 1000, ou seja, a 1 elevado a 3.• Mwh = equivale a 1 milhão, ou seja, a 1 elevado a 6.• Gwh = equivale a 1 elevado a 9 que representa 1 bilhão.

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Estas unidades de medidas elétricas são utilizadas para representar o consumo de energia elétrica.

Ari de Oliveira ZenhaEconomista

Belo Horizonte/setembro/2006

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