t s willey e bent formby - apague a luz! durma melhor e perca peso - livro

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T. S. WILEY BENT FORMBY, Ph.D. APAGUE A LUZ! Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial e reduza o estresse

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T. S. WILEYBENT FORMBY, Ph.D.

APAGUE A LUZ!

Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial e reduza o estresse

Editora Campus2000

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Apague a luz! Durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial e reduza o estresse Bent Formby e T. S. Wiley Auto-Ajuda   377 páginas

Com base em uma pesquisa minuciosa, colhida no National Institutes of Health (Instituto Nacional de Saúde), T.S.Wiley e Bent Formby apresentam descobertas incríveis:os americanos estão doentes de cansaço. Diabetes, doenças do coração, câncer e depressão são enfermidades que crescem em nossa população e estão ligadas à falta de uma boa noite de sono.

Quando não dormimos o suficiente, em sincronia com a exposição sazonal à luz, estamos alterando um equilíbrio da natureza que foi programado em nossa fisiologia desde o Primeiro Dia. A obra revela por que as dietas ricas em carboidratos, recomendadas por muitos profissionais da saúde, não são apenas ineficazes, mas também mortais; por que a informação que salva vidas e que pode reverter tudo é um dos segredos mais bem guardados de nossos dias.

Com o livro, o leitor saberá que:

perder peso é tão simples quanto uma boa noite de sono

temos compulsão por carboidratos e açúcar quando ficamos acordados depois que escurece

a incidência de diabetes tipo II quadruplicou

terminaremos como os dinossauros, se não comermos e dormirmos em sincronia com os movimentos planetários.

T.S.WILEY e BENT FORMBY, Ph.D., são pesquisadores que trabalharam juntos no Sansum Medical Research Institute em Santa Barbara, na Califórnia – o centro de pesquisas de ponta sobre diabetes desde que a insulina foi sintetizada pela primeira vez, lá mesmo, na década de 1920.

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AGRADECIMENTOS

A primeira rodada de agradecimentos vai para nossas famílias, por sua paciência e apoio. Florence, a esposa de Bent, é uma séria candidata à canonização, e meu Neil é, e tem sido sempre, o meu Médici particular. Não sou nada sem ele. Meus filhos, os pobres negligenciados Jake, Max, Zoe e Ian continuam sendo os melhores filhos do planeta. Este esforço levou cinco longos anos, no meu caso, e quase três para o meu colaborador. Durante esse tempo, nossas famílias agüentaram mais “papo ciência” de manhã, de tarde e de noite do que qualquer pessoa mereceria. Quase sempre, o jantar saia tarde e o sofrimento deles era palpável, mas ainda assim eles nos amam, e por isso somos gratos. Tenho uma dívida especial com minhas filhas mais velhas, Mara e Aja, por seus intelectos raros e diferenciados, que serviram para inspirar e expandir meu próprio intelecto. Mara Roden passou horas infindáveis em profundo debate, acrescentou inúmeros conceitos evolucionários e neuroendócrinos, deu apoio incondicional e fez grande parte da primeira e tediosa parte da editoração. Aja Raden, consultora criativa, deu o título ao livro, assim como a vários capítulos, além de criar uma infinidade de subtítulos fortes e mordazes. Também ela passou muitas horas explicando física, química e matemática à sua velha mãe. Wiley Lorente provou que sangue é mais forte que tinta, ao trabalhar ombro a ombro comigo editando, reorganizando ou simplesmente sofrendo, durante os cinco anos e as quatorze versões da obra. E ao meu colaborador, o incrível Dr. Bent Formby, muito obrigada. Obrigada por entender o que eu queria dizer, antes de você me dar as palavras para dizê-lo. Obrigada por ser o professor e mentor mais fantástico do mundo. Obrigada por sua grande capacidade para crescer e mudar. Sem as suas centenas de horas de pesquisa, minhas teorias não passariam de “teorias”. Bent, você é a outra metade do meu cérebro. Muitos outros colegas também colaboraram com este livro. A Dra. Julie Taguchi, do Hospital Cottage, em Santa Bárbara; o Dr. Alex Depaoli, que agora está em Amgen; as Dras. Eve Van Cauter e Martha McClintock, da Universidade de Chicago; Ernst Mayr, de Harvard; e Anthony Cincotta, da Ergo Science. Todos eles me emprestaram seus cérebros mais de uma vez. Não poderia esquecer, é claro, os grandes cérebros forçados a colaborar no

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National Institutes of Health de Washington: o Dr. Thomas Wehr, su7a pós-doutorada Holly Giessen e a Dra. Ellen Leibenluft. Minha assistente Chelsey Haskins trabalhou incansavelmente nas edições e notas. Krista Silva, a gerente de nosso escritório, compilou a volumosa pesquisa de Bent. Ambas passaram horas demais na Federal Express ou no e-mail, ou simplesmente “me agüentando”. Temos também uma dívida de gratidão com todos os leitores voluntários e cobaias – cujo número é grande demais para citarmos nominalmente – que acreditaram em nossas teorias e concordaram em testá-las. Talvez o mais valoroso de todos os soldados, em nossa cruzada para trazer de volta a noite, tenha sido Débora Schneider, nossa agente. Ela identificou e lutou pela verdade anos antes de termos ao pesquisa para comprovar tudo. Sem seu apoio visionário e representação talentosa, nunca teríamos somado nossas forças às do fantástico pessoal da Pocket Books. Minha primeira conversa com emily Bestler e Jane Cavolina me convenceu de que nenhuma outra editora daria conta do recado. O entusiasmo e a rara inteligência de ambas, que se irradiavam pelo telefone a 5 mil quilômetros de distância, naquele dia, aquecem meu coração até hoje. O termo “minha editora” realmente me dá força e energia. Jane Cavolina se apoderou deste projeto e me convenceu completamente de que “não estamos sozinhos nesse negócio”. Sua metáfora para seu artístico trabalho de edição – “faxina” – não lhe faz justiça. Ela tornou o processo de escrever uma versão após outra completamente indolor, e transformou o produto final em algo de que me orgulho profundamente. Obrigado, Jane. E por fim, mas não por último em importância, queremos agradecer a Pam Duevel. Se você tem hoje este livro nas mãos é graças a ela, Pam, a absurdamente talentosa, ridiculamente criativa e dedicada líder da equipe de publicidade da Pocket Books, encarregada de colocar essas informações nas mãos das pessoas que dela precisam.

T. S. Wiley

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SUMÁRIO

Introdução 13

PARTE 1, 21SEGREDOS E MENTIRAS

UM 23Queremos acreditar: a igreja dos falsos deuses

DOIS 41No escuro: Um evento no nível da extinção

PARTE II 59NÃO ESTAMOS SOZINHOS

TRÊS 61Uma autópsia da terra:O meio ambiente controla a genética da obesidade

QUATRO 83No gelo: A evolução, a biofísica e o escuro

PARTE III 97A VERDADE ESTÁ AQUI

CINCO 99Negue tudo:O sono controla o apetite e, portanto, a obesidade, o diabetes e a hipertensão

SEIS 121Tudo está dentro da sua cabeça:Não dormir e comer açúcar demais v]ao levar você à loucura

Sete 145O melhor lugar para esconder uma mentira é entre duas verdades:O que faz parar o maior relógio de seu corpo

OITO 169Dez segundos para a autodestruição:

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No esquema evolutivo, o câncer é simplesmente o novo “você”

PARTE IV 193SÓ OS PARANÓICOS SOBREVIVEM

NOVE 195Controle dos danos:O método rítmico de comer para evitar a extinção

DEZ 235Tenha medo, muito medo:Somos uma espécie em perigo

GLOSSÁRIO 245

NOTAS 267

BIBLIOGRAFIA E SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR 363

ÍNDICE 369

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Não estamos aqui preocupados com esperanças e medos, apenas com a verdade, até onde nossa razão nos permite descobri-la. Já forneci provas, ao máximo de minha capacidade...

- Charles DarwinA descendência do homem

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Pág 13INTRODUÇÃO

O tema é notícia em toda parte. Na revista Life de janeiro de 1998, 70 milhões de americanos finalmente admitiram que, ocasionalmente, dormimos ao volante, deixamos a bola cair ou saímos literalmente do ar. Livros como Power Sleeping e recortes de notícias sobre jet lag estão sempre aparecendo nos meios de comunicação. A falta de sono é o mais novo déficit dos Estados Unidos. Este déficit é uma tremenda cratera que não temos esperança de fechar. Aparentemente, quando perdemos horas de sono, a sensação é igual a correr a pé atrás de um trem em movimento. O problema é que, no caso do sono, realmente não se pode recuperar. Por que não? Seus hormônios não são tão elásticos assim. Hormônios e sono? Isso é novidade. Hormônios como o estrogênio e, ocasionalmente, a testosterona, são sempre notícia. O DHEA e o hormônio do crescimento humano até aparecem de vez em quando, mas sempre nas matérias sobre envelhecimento. O único hormônio ligado ao sono é a boa e velha melatonina – e todo mundo sabe que pode ser comprada sem receita médica. Se precisar é fácil conseguir, certo? Então, por que deixar a falta de sono mantê-lo noites e noites acordado? Porque, quando você dorme menos no que deve, a melatonina não é o único hormônio afetado. Há pelo menos dez hormônios diferentes, e outros tantos neurotransmissores no cérebro, que começam a não funcionar direito quando você não dorme o suficiente. A melatonina é apenas a ponta do iceberg, por assim dizer. Todas as outras alterações é que modificam o apetite, a fertilidade e a saúde mental e cardíaca. Então, porque essa notícia faça parte, separadamente, de cinco ou seis disciplinas acadêmicas diferentes. Por exemplo, a Dra. Eve Van Cauter, da Universidade de Chicago, chama de “dívida de sono” as alterações hormonais que registra em seu laboratório de estudos do sono. Um

Pág 14nome que pode pegar... Talvez assim a perda do sono atraia alguma atenção. De alguma maneira, a idéia de relacionar a perda do sono a ser credor ou devedor de alguma coisa – igual a dinheiro

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– atribua ao assunto maior importância. O dinheiro sempre fala alto – e essa dívida de sono que você está contraindo tem um custo anual direto, para a nação, de 15,9 bilhões de dólares, e um custo indireto de mais de 100 bilhões de dólares, em horas perdidas de trabalho e acidentes. Mas nós dizemos que o custo é, na verdade, bem maior. É o custo da sua vida. Dormir depois que o despertador toca, cochilar no teclado do computador ou derramar o café na mesa de trabalho, não são os principais desastres para quem dorme pouco: a morte é a pior conseqüência. E, quando falamos de morte não estamos falando de acidentes de automóvel. Como a nação, estamos doentes porque não dormimos. Estamos gordos e diabéticos porque não dormimos. Estamos morrendo de câncer ou do coração porque não dormimos. Uma avalanche de artigos científicos escritos e revisados por colegas nossos dão suporte à nossa conclusão de que, quando não dormimos em sincronia com a variação sazonal da exposição à luz, alteramos definitivamente um equilíbrio da natureza que foi programado em nossa fisiologia desde o Primeiro Dia. O relógio cósmico está embutido na fisiologia de cada ser vivo. A história que estamos prestes a contar é tão óbvia e, no entanto tão fantástica, que você não acreditaria, se não fosse verdade. Há mais coisas na história da perda de sono do que qualquer um de nós esperaria, porque até agora ninguém foi capaz de enxergar o quadro completo. Nós enxergamos – e vamos mostrá-lo a você. Em Apague a luz, provamos que a obesidade e os principais assassinos relacionados a ela – doenças cardíacas, diabetes e câncer – são causados por noites curtas, por trabalhar durante horas ridiculamente longas, por, literalmente, queimar a vela nas duas pontas – e pela eletricidade, que nos permite fazer tudo isso. A causa, com toda a certeza, não é comer gordura demais ou a falta de exercício. Pesquisamos o crescimento da obesidade e das chamadas doenças relacionadas a esse aumento de peso durante dois anos e meio. Nossas conclusões são suportadas por mais de uma década de pesquisa feita no National Institutes of Health (NIH), em Washington, e em mais de

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outras fontes científicas. A nova abordagem em relação à doença pode ser humilde e desconcertante, mas é o preço da verdade. Então ouça.

* * *

Quando o dia mais longo, criado pelos ciclos artificiais de claridade e escuridão se tornou a norma, há apenas setenta anos – com o uso indiscriminado das lâmpadas elétricas – obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer de repente se tornaram as causas oficiais de morte nos relatórios dos investigadores públicos. Desde que essas doenças começaram a aparecer como as principais causas de morte, por volta de meados do século, os esforços por parte da ciência e da medicina para explicar o impressionante aumento de casos nunca examinaram qualquer outra mudança ambiental gritante, a não ser a dieta. E após todos esses anos, enquanto os americanos continuam a morrer, todos os médicos e pesquisadores continuam a insistir no mesmo ponto. É hora de ver a luz. A maior mudança pela qual os seres humanos passaram, nos últimos 10 mil anos, aconteceu há menos de setenta anos. A eletricidade e o uso indiscriminado da lâmpada elétrica figuram, ao lado da descoberta do fogo, do advento da agricultura e da descoberta do tratamento com antibióticos, entre os marcos sem retorno na história da humanidade. Em 1910, um adulto ainda dormia de nove a dez horas por noite. Hoje, esse adulto tem sorte se consegue dormir sete horas por noite. A maioria de nós não consegue. Esses números significam quinhentas horas a mais acordados por ano. Na natureza, dormiríamos 4.370 horas de um possível total de 8.760, ou metade de nossas vidas. Há oitenta anos, já tínhamos caído para 3.395 horas. Agora, temos sorte de atingir umas parcas 2.255 horas. Se a natureza conta o nosso tempo, e apostamos que sim, isso significa que só chegamos a viver a metade do que viveríamos. Talvez tenhamos dobrado esses números com cirurgias e antibióticos, mas imagine o quanto mais poderíamos viver se também dormíssemos. Na década de 1970, os americanos dedicavam 27 horas semanais ao “lazer”. Na década de 1990, essa média caiu para quinze horas. E trabalhamos pelo menos 48 horas semanais, em comparação às 35 que um trabalhador cumpria, em média, na década de 1970. naquela época

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tínhamos hobbies, jogávamos beisebol, montávamos miniaturas de navios, éramos membros de clubes e líderes de escoteiros. Hoje, embora o número de horas que dedicamos ao trabalho e ao lazer seja aproximadamente o mesmo, a proporção mudou consideravelmente. Nos últimos trinta anos, desde 1970, encontramos novas paixões para acrescentar às antigas: fazer exercícios, ir ao médico, agüentar um tráfego cada vez mais ensandecedor, assistir a 150 canais e a filmes de verdade na TV a cabo, além dos mais recentes bandidos: e-mail e eBay. Não admira que não sobra tempo para dormir ou cuidar das crianças. Então, por que os guardiões da nossa saúde não prestam atenção ao estresse e à falta de sono antes de colocarem a culpa na comida? Vai adivinhar. E quando resolveram examinar a dieta dos americanos e dar conselhos, fizeram tudo ao contrário. Disseram à população para comer açúcar e evitar gorduras. Ao revelar como seu corpo evoluiu junto com o planeta e tudo o mais que nele existe, e ao explicar como esse corpo utiliza o alimento para provocar o sono e lidar com o estresse, podemos dizer exatamente o que acontece – à sua mente, ao seu corpo e ao planeta – quando você come. Agora vamos lhe mostrar a luz. A ciência do ritmo circadiano explica tudo. Todos os mistérios podem ser desvendados. Neste livro, examinamos as evidências científicas através das lentes da biologia evolutiva e da biofísica. Os mapas moleculares nos mostram o caminho de casa e nos contam de novo o que sempre soubemos. O sono controla o apetite, e o apetite e o estresse controlam a reprodução. Dormir, comer e fazer amor controlam o envelhecimento. Os hormônios melatonina e a prolactina são atores fundamentais em nossa conexão mente-corpo-planeta. Eles se comunicam com o sistema imunológico e com o sistema de metabolização de energia, em relação aos ciclos de luz-e-escuridão. A insulina e a prolactina orquestram a química cerebral que governa a serotonina e a dopamina no cérebro, para controlar nosso comportamento e estado de espírito. Serotonina e dopamina controlam o comportamento em relação à comida e ao sexo. Resultado: pouco sono faz você ficar gordo, faminto, impotente, hipertenso, canceroso, e com o coração doente. A energia solar é a catalizadora de todo tipo de vida. A quantidade de luz que age sobre você informa os “controles” do seu “sistema” sobre a rotação e a órbita do planeta em que vivemos. Esse posicionamento global ajuda nossos sentidos a ficarem de olho no estoque de alimentos.

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Pág 17É essa comunicação cósmica que nos diz, desde o início dos tempos, quando comer, o que comer e quando reproduzir, para maximizar a comida disponível. Nós e todos os outros organismos neste planeta evoluímos com o giro do planeta – dentro e fora da luz do sol. O fato de você estar lendo isto significa que o sistema teve sucesso. O fato de você querer ler isto mostra que o sistema está desmoronando. A maioria das pessoas está absolutamente cansada de controlar o peso e preocupar-se com o coração. Estamos prestes a lhe dizer como parar. Poderíamos ter dado a este livro o título de Perca peso enquanto você dorme, mas nos pareceu demasiado vulgar. Quase o chamamos de Mantido no escuro, depois que descobrimos exatamente onde eram conduzidos os estudos que provavam nossa premissa: em Washington. E ninguém menos do que o National Institutes of Health confirma que é um “dado” científico dizer que os ciclos de luz-e-escuridão:

ligam e desligam a produção de hormônios ativam o sistema imunológico determinam a liberação diária, particularmente a sazonais,

dos neurotransmissores

Acabamos de dizer que, anos e anos atrás, nós existíamos em sincronia com todos os ciclos biofísicos e ritmos da natureza. Hoje, não apenas controlamos o estoque de alimentos, mas também fazemos retroceder a noite e o tempo. Neste livro dizemos qual é o preço que estamos pagando por querer brincar de Deus. Aqui está a conta: a infindável luz artificial com a qual convivemos é registrada, em nosso relógio interno, igual aos longos dias de verão, porque a noite nunca cai e o inverno nunca chega. Como mamíferos, somos teleguiados para armazenar gordura durante a exposição a dias longos e depois dormir – um pouquinho – ao menor sinal de fome. Só que agora não dormimos e também não sentimos fome; pelo menos, não temos fome de carboidratos. É por isso que estamos gordos e ficamos cada vez mais gordos. Afinal, é sempre verão! Enquanto o fogo, com sua luz, estendeu nosso dia o suficiente para afetar o intelecto e a reprodução, a eletricidade ilimitada pode simplesmente acabar com a gente.

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A menos que o governo faça isso primeiro.

Pág 18 Se o NIH realizou a maior parte dos estudos que fornecem as provas de que a depressão, a obesidade, as doenças do coração e o câncer podem ser prevenidos, em grande parte dos casos, se as pessoas simplesmente dormirem mais e apagarem as luzes, por que eles nos mantiveram no escuro até agora? Por que continuar a insistir que dietas ricas em carboidratos e exercício vão nos curar? Será que eles estão realmente tentando nos matar? A verdade é sempre mais estranha que a ficção. Os cientistas da MacArthur Mind/Body Foundation, da Universidade de Chicago, da NASA, do National Institutes of Health e do National Institutes of Mental Health, esses últimos em Washington, vêm estudando biofísica ao longo da última década. Isso significa que os mais importantes pensadores científicos dos Estados Unidos estão pesquisando a mesma ciência que nós pesquisamos para este livro. Enquanto você lê, também eles estão provando que nos reproduzimos e nos alimentamos sazonalmente, que temos um metabolismo fartura-fome, que desenvolvemos diabetes, doenças cardíacas, câncer e depressões graves se dormirmos menos de nove horas e meia por noite durante pelo menos sete meses no ano. Quando perguntamos ao Dr. Thomas Wehr, o chefe do departamento que estuda os ritmos sazonais e circadianos no NIH em Washington, se ele achava que a população tinha o direito de saber que com menos de nove horas e meia de sono por noite – ou seja, no escuro – as pessoas a) nunca serão capazes de deixar de comer açúcar, fumar e beber álcool; e b) com grande margem de certeza desenvolverão uma das seguintes condições: diabetes, doenças cardíacas, câncer, infertilidade, doença mental e/ou envelhecimento precoce, ele respondeu:”Bem, sim, ela tem o direito de saber. E deve ser informada; mas isso não vai mudar nada. Ninguém vai apagar mesmo as luzes...” Talvez não. Afinal, a luz é sedutora. Quanto mais tempo ficamos acordados, mais aprendemos. É por isso que os americanos são os melhores e os mais brilhantes – e também os mais doentes do mundo. Mas ainda acreditamos que algo pode acontecer. Afinal, quando os números divulgados pelas autoridades disseram aos americanos, no final da década de 1960, que era melhor encontrarem tempo para fazer exercícios ou então morreriam, eles passaram a fazer exercícios. E quando nos disseram para cortar a

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gordura de nossa dieta porque senão morreríamos, todas as fábricas de alimentos se prepararam para isso. Quando a medicina declarou que os remédios para

Pág 19diminuir o colesterol seriam a nossa salvação, enquanto ficávamos cada vez mais doentes. A gente botou as pílulas para dentro como se fossem balas de chocolate. É claro que muita gente ganhou dinheiro com o movimento do condicionamento físico, com os alimentos de baixo teor de gordura e com os remédios. Mas a única pessoa que vai se beneficiar com o sono é você mesmo. O que está em jogo, aqui, é se queremos ou não ir mais cedo para a cama e trabalhar menos horas por dia. Com os minimercados 24 horas, 250 canais de televisão e a internet para surfar a noite toda, reverter nosso ritmo exigiriam um esforço hercúleo. Sabemos disso, mas estamos prestes a fazer da volta ao tempo dos dinossauros uma escolha pessoal, não federal. Acreditamos que a população merece, de nosso governo, o acesso aos fatos e a uma consultoria nutricional mais precisa. Nós pagamos por isso. Todos os americanos sabem que Washington é pródiga em segredos, mas é um pouco difícil de engolir que, ao mesmo tempo que o Departamento Federal de Medicina nos diz para ingerir uma dieta pobre em gordura e 58% de carboidratos para curar obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer, o NIH, que fica do outro lado da rua, está provando que o consumo excessivo de carboidratos, provocado pela privação do sono, figura entre as causas dessas mesmas doenças. Por que vimos sendo mantidos na ignorância, quando eles sempre souberam da verdade?

PARTE ISEGREDOS E MENTIRAS

Pág 23UMQUEREMOS ACREDITAR:A igreja dos falsos deuses

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Em algum momento do passado, os cientistas descobriram que o tempo flui mais vagarosamente quanto mais longe estivermos do centro da Terra. O efeito é minúsculo, mas pode ser medido com instrumentos extremamente sensíveis. Uma vez conhecido o fenômeno, algumas pessoas, ansiosas por permanecer jovens, mudaram-se para as montanhas. Agora, todas as casas estão construídas em Dom, no Matterhorn, Monte Rosa e outras elevações. É impossível vender casas em qualquer outro lugar... Pilotis... Pessoas ansiosas por viver mais construíram suas casas nos pilotis mais altos... Elas celebram sua juventude e caminham nuas em suas varandas... Com o tempo, as pessoas esqueceram a razão por que o mais alto é melhor. Mesmo assim, continuam a ensinar a seus filhos a evitarem deliberadamente outras crianças que vivem em elevações menores. Elas até se convenceram de que o ar rarefeito é bom para seus corpos e, seguindo essa lógica, adotaram dietas parcimoniosas e recusam tudo que não seja o alimento mais leve. No final, o povo se tornou fino como o ar, ossudo e velho antes da hora.– Alan Lightman,Os sonhos de Einstein

Em O Dorminhoco, clássico de Woody Allen, o personagem Miles Monroe, dono de uma loja de alimentos naturais e clarinetista, dá entrada no Saint Vincent’s Hospital em 1977 para um procedimento de rotina. Tem uma úlcera péptica. Quando acorda, duzentos anos depois, descobre que morreu – e que uma tia carinhosa o colocou em suspensão criogênica.

Pág 24 A trama engrossa quando dois cientistas fora-da-lei o descongelam ilegalmente para tirar vantagem do fato de que ele é uma não entidade numérica – e, como tal, pode ajudá-los a derrubar o regime fascista que controla os Estados Unidos em 2173. Há uma conversa em que eles discutem o progresso do paciente:

– Ele pediu algo especial? – No café da manhã, pediu umas coisas chamadas germe de trigo e mel orgânico. – Aah, sim, parece que naquele tempo as pessoas pensavam que essas coisas eram substâncias encantadas, que continham propriedades capazes de preservar a vida.

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– Quer dizer que não havia gordura, churrasco ou cobertura de chocolate quente? – Oh, não, essas coisas eram consideradas más para a saúde – exatamente o oposto do que hoje a gente sabe ser verdade. – Incrível!

O que é mais enervante a respeito desse pequeno flash de cinematografia? Que os números do seguro social classificam todo cidadão em um banco de dados de computador tipo “O Grande Irmão”, que um regime fascista controla os Estados Unidos ou que o New England Journal of Medicine divulgou um estudo em 1998 que conclui que a gordura pode, na verdade, proteger contra doenças cardíacas? Será que a sabedoria nutricional de 1970, na qual confiamos há décadas, pode estar completamente equivocada? O que vem agora? Durma mais ou você terá câncer? Pode considerar profética esta última afirmação. Mais tarde, Miles (Woody) vê o personagem vivido por Diane Keaton acender um cigarro por razões médicas e reclama: “Como pudemos errar tanto? Todo mundo sabia que gordura e cafeína eram substâncias tóxicas!” O outro respondeu: “Miles, todo mundo sabe que as únicas coisas que mantiveram viva a humanidade foram café, cigarros e carne vermelha!” De certa forma não parece tão engraçado, agora que pode ser verdade. Sem dúvida, café e cigarros parecem manter os franceses vivos. Eles até têm uma aparência melhor que a nossa. Nessa mesma cena tragicômica, o germe de trigo é dublê muito velado de nossas saladas e barras

Pág 25nutritivas. Na década de 1970, as saladas e barras nutritivas certamente seriam classificadas como “comida saudável” para os “maníacos da saúde”. Todos se sentiam muito confortáveis com o fato de que havia os “maníacos da saúde” e o resto de nós. Atualmente, se você não cuida da sua saúde, é considerado um imbecil. Hoje em dia tudo é rotulado “de baixo teor de gordura”, “sem gordura”, “99% livre de gordura” ou “com 30% menos de gordura”, na tentativa de se qualificar um “alimento saudável”. Até mesmo os sucos de frutas e as massas secas são vendidas como “sem gordura” porque somos todos imbecis. Seu médico e os doutores que aparecem na mídia, todos dizem – mesmo depois que os livros

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Protein Power do Dr. Atkins, já provaram o contrário – que você não consegue carboidratos de alta qualidade para perder peso a menos que consuma:

5 a 7 porções de frutas e verduras por dia, além das 5 a 7 porções recomendadas de grãos e pães, além de Massas e vinho

Eles nunca contam a Pepsi, a Coca, o mel no chá o xarope de milho com alto teor de frutose, que aparece como conservante em quase todos os alimentos processados. Agora vamos imaginar toda a comida que eles recomendam empilhada sobre a mesa (isto porque jamais caberia no prato). Não lhe parece muita coisa? E se todas essas promessas de baixo teor de gordura gerando vida longa, sem câncer e diabetes, num corpo magro e esbelto, ativado por um coração forte, limpo e sem hipertensão, fossem falsas desde o início? E se os carboidratos, e não a gordura fossem a causa da obesidade, do diabetes e do câncer?

O MÓDULO DE DEUS

A gente acha que o exercício explica por que as pessoas se sentem tão bem quando estão morrendo. É também a razão pela qual algumas pessoas conseguem manter regimes de baixo teor de gordura durante tempo suficiente para se matarem. O que faz uma pessoa agir assim? O desejo de ser magra e se sentir bem? De forma alguma. Michael Persinger, Ph.D., professor de neurociência e psicologia na Laurentian University, no Canadá, isolou uma área dos neurônios, nos

Pág 26lobos temporais do cérebro, que emite repetidamente fagulhas de atividade elétrica quando a pessoa pensa em Deus ou tem qualquer sentimento relativo à espiritualidade. Nós, cientistas, conhecemos isso através das tomografias de monges, freiras e esquizofrênicos, quando “falam com Deus”. Quase na frente desses lobos temporais está a amigdala, um órgão de formato amendoado que imbui os eventos de intensa emoção e de sensação de significado. Devido à forma como os lobos temporais são estruturados e sensorialmente conectados com a amigdala, eles são as regiões mais eletricamente sensíveis do cérebro. O Dr. Persinger tem

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conhecimento pessoal sobre isto porque ele criou um elmo com molas de fios de aço colocadas logo acima das orelhas (lembra Woody Allen em O Dorminhoco?). Ao passar uma corrente elétrica cuidadosamente controlada através dessas molas, o médico cria um campo magnético pulsante que imita os padrões transmissores de energia dos neurônios nos lobos temporais. Isso gera uma experiência espiritual mística completa, com uma saudável dose de paz. Os cobaias do Dr. Persinger relatam um “efeito opiáceo, com uma queda substancial da ansiedade e uma elevada sensação de bem-estar, semelhante aos relatos de iluminação”. Enquanto o Dr. Persinger caprichava em sua melhor caracterização de cientista louco, Vilayanur Ramachandran, Ph.D., diretor do Laboratório do Cérebro e da Percepção da Universidade da Califórnia, em San Diego, entrava em contato com o céu. O Dr. Ramachandran anunciou, em 1998, que havia descoberto o “módulo de Deus”. Este “módulo” está localizado no cérebro, numa área dentro dos lobos temporais, que se torna eletricamente ativada quando uma pessoa pensa em Deus ou em espiritualidade, ou relembra uma experiência “mística”. Olha, isso me parece familiar. Sabemos também que o estresse, a tristeza e principalmente a falta de oxigênio estimulam fortes descargas elétricas na mesma área, vizinha ao módulo de Deus. Como a falta de oxigênio desencadeia estas explosões neurais, alguns cientistas acreditam que esse mecanismo pode ser o responsável pelas várias experiências de euforia e tranqüilidade próximas da morte. Também a apnéia do sono, em pessoas com lobos temporais descontrolados, pode significar que elas ouvem alguém chamar seu nome quando adormecem, ou que têm uma “experiência fora do corpo”, como a sensação de estar voando, durante o sono. Podemos dizer também que a hiperventilação resultante do exercício, junto com o estilo de vida Yuppie-urbano de baixo teor de gordura,

Pág 27aciona o módulo de Deus. É por isso que o barato do corredor é uma experiência tão religiosa. Seu cérebro pensa que você está morrendo. Mas você só está sem fôlego. Receamos que você esteja sem tempo também. A verdade é que todo esse exercício está fazendo mais do que lhe dar um barato. Está exacerbando a queima de seus receptores de cortisol. Correr é uma resposta de medo. No mundo real, significa algo está querendo te pegar; pelo menos é o que seu

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corpo e seu cérebro pensam. Se você correr por tempo suficiente, todos os seus sistemas acreditarão que você vai conseguir ultrapassar aquele predador. A química cerebral que acompanha as corridas longas evolui para tornar mais agradável a saída deste mundo. Isso significa que a falta de oxigênio, sozinha, vai acionar aquela parte do cérebro que nos leva para o céu ou, neste mundo, nos dá uma razão para continuar correndo. O mecanismo da química cerebral que o faz ver Deus enquanto fica sem oxigênio evolui a partir das respostas programadas – respostas a impulsos ambientais que não mais existem, respostas que, num passado remoto, podem ter salvo sua vida ou tornado a morte agradável. Pois agora essas respostas o estão matando.

VIDA SAUDÁVEL?

Que outros impulsos ambientais estão acionando os mecanismos ancestrais da sobrevivência? A resposta a essa questão é uma cena arrepiante, digna de um romance de ficção científica. Ou de um livro como o nosso. Trabalhar até tarde, com luzes bem claras após escurecer, assistir ao programa de David Letterman ou conferir os e-mails tarde da noite, mesmo que seja por apenas meia hora – tudo isso fica registrado como se fosse um longo dia de verão, em seus controles ambientais internos. Isso significa que seu cérebro o forçará a buscar energia para armazenar, através da ingestão de açúcar. O açúcar (carboidratos) é o único caminho para a liberação da insulina; e a função da insulina é armazenar o excesso de carboidratos como gordura e colesterol, para que você tenha algo com que viver quando terminar o verão. A faixa de gordura no abdome, comum nos pacientes cardíacos resistentes à insulina e com colesterol alto, assim como nos diabéticos Tipo

Pág 28II teria servido, em outro tempo e lugar, para manter aquecidos os órgãos internos e ser utilizada como energia durante o período normal de fome (o inverno). A ingestão cada vez maior de carboidratos (açúcar) sempre acaba numa produção maior de colesterol também, porque os carboidratos baixam a temperatura de congelamento da membrana celular. No mundo real, você nunca teria acesso a uma tal quantidade de açúcar, a menos que fosse verão antes do inverno. Mas você não vive no mundo real.

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Da próxima vez que seu médico disser que seu colesterol está alto demais e que você deve cortar gorduras e fazer mais exercício, diga-lhe que ele está errado. Diga-lhe que você não está doente, que só vai hibernar – e que não quer congelar. Talvez ele ache graça. Você, por outro lado, deveria estar chorando pois tem um grande problema. Todos os sistemas que evoluíram para mantê-lo vivo, e que o mantiveram até este ponto, estão berrando: “A fome está chegando!!!” Quando você se exercita dia e noite para driblar o ganho de peso que seu corpo e sua mente desejam, você aciona sua “resposta de estresse”. E a mensagem que você envia a esses sistemas é: “Ai, meu Deus, a fome está chegando e tem um tigre atrás de mim!” Acredite, isso não é solução. Na realidade, o exercício pode muito bem ser o último prego de nossos caixões coletivos. A resposta de estresse ancenada quando você corre para salvar sua vida naquela esteira eleva seus níveis de cortisol. Se você faz isso de vez em quando – digamos, a cada dez dias, a resposta episódica natural do cortisol vai manter seu coração e cérebro saudáveis. Mas se você faz exercício feito um maníaco mais de uma vez por semana, os altos níveis de cortisol resultantes de todo o exercício crônico na verdade imitam o estresse da época da procriação, quando as longas horas de luz e a competição (principalmente para os machos) mantinham o cortisol em picos anuais. A competição sexual é a situação mais estressante possível na natureza, depois da morte. O período da procriação seria um fracasso sem uma base de gordura para sustentar uma gravidez durante o inverno. Assim sendo, não é por acaso que a compulsão por carboidratos, para gerar gordura, coincide com os altos níveis de cortisol e de hormônios sexuais. É preciso ter pão no forno em agosto ou setembro para a maioria dos mamíferos, para que o bebê possa nascer em abril ou maio, na primavera, quando o alimento é abundante.

Pág 29 Agora você está na academia de ginástica, é novembro e o horário é um momento qualquer entre seis e meia e nove e meia da noite; pelo menos dez watts de luzes florescentes estão acesos, intensificados pelos espelhos que brilham diretamente em seus olhos e sobre a pele de seu corpo superexposto. Você levante pesos, corre e caminha numa esteira ou trilha, e se for realmente suicida, está num StairMaster ou girando.

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Saiba que, para seu corpo e sua mente – que evoluíram, ao longo de milênios, para reconhecer os sinais da Natureza – você está numa luta, uma disputa mortal, igualzinho aos gnus que golpeiam com os chifres, que você vê no Discovery. Você está lutando por um ovo, pela imortalidade ou apenas por uma chance no próximo round. Essa luta parece razoável para seu corpo porque as luzes à noite (a luminosidade da sala de ginástica) significa que estamos no auge do verão, e que você deve se acasalar ou vai se tornar violento. É por isso que o cortisol fica elevado durante o dia: para fornecer glicose aos músculos para correr ou fugir, e para mantê-lo calmo para os processos de tomada de decisão – no caso, acasalar-se. É por isso que, quando somos constantemente banhados por luzes inesgotáveis, sentimo-nos todos tão nervosos (leia-se: paranóicos, agressivos, histéricos, apressadíssimos), até mesmo quem não se exercita, até nos desligarmos de tudo. Nesse estado crônico, você não está apenas mantendo alto o nível de açúcar no sangue, o que sobrecarrega o sistema de resposta da insulina com os efeitos mobilizadores do açúcar no sangue do cortisol; na verdade, também está se tornando resistente à insulina enquanto se exercita. Esse fato significa que o exercício pode engordar. Enquanto você faz exercícios feito um maníaco e vive numa dieta de baixo teor de gordura, ganha peso até se cheirar um biscoito. Além disso, de quebra, desperdiça hormônios sexuais, causa câncer e provoca supressão do seu sistema imunológico. O cortisol alto crônico também altera sua percepção do tempo e fez com que você viva constantemente correndo. É essa percepção alterada do tempo que provoca o período de divagação tarde da noite, antes de ir para a cama, quando você fica acordado sob a impressão de que deve haver algo a ser feito, ou de que você não concluiu seu trabalho. Aí você enche mais de açúcar, porque não dormiu – e sua insulina vai à estratosfera. Sabemos que só esse comportamento já o torna gordo e doente. Acredite, a culpa não é da falta de exercício, da carne ou da manteiga. Nem da gordura, de jeito nenhum.

Pág 30 De verdade, gente. Se a ingestão de gordura saturada causasse obesidade, já estaríamos lá na frente, no sentido de reduzir a obesidade nutricionalmente. Todos nós teríamos a aparência de supermodelos. Estamos comendo menos gordura e nos exercitando

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mais do que nunca, mas não lembramos em nada os supermodelos. Na verdade, estamos horríveis. Estamos mais gordos e doentes do que nunca, em toda a história do nosso país. E o problema não é apenas a nossa aparência terrível: nossos planos de erradicar doenças cardíacas, câncer e diabetes foi para o brejo. O americano mediano na verdade ganhou, em média, quatro quilos de peso desde o início da uerra do baixo teor de gordura” contra a obesidade. O pressuposto que cultivamos com carinho durante trinta anos era que perder peso cortando gorduras e fazendo exercícios levaria a uma redução importante nas ocorrências de doenças cardiovasculares, sem mencionar o diabetes e o câncer. Mas não foi o que aconteceu. E quando não aconteceu, a medicina disse que os cientistas disseram que a gente não tinha cortado gordura suficiente. E que, se diminuíssemos o teor de gordura de todos os alimentos processados, se reduzíssemos o consumo de carne vermelha e criássemos imitações de gordura com o Olean, a marca do olestra, a maré finalmente se reverteria. Hoje, todos esses milagres e metas já se concretizaram, a gente se exercita dia e noite – e, no entanto, muitos de nós já tentaram, pelo menos uma vez durante os últimos anos, virar vegans.* Todos os dias os apresentadores de televisão, os documentários, novos âncoras e programas de culinária nos dizem que a vida de baixo teor de gordura funciona. E você jamais saberá que não funciona, a menos que dê uma olhada nas estatísticas e no crescimento das vendas de remédios para dieta. Esses números mostram um quadro totalmente diferente. Dizer que o cenário não é tão róseo, no mínimo, uma brincadeira de mau gosto. Estudos recentes mostraram que perdemos mais de

________________ ___*Vegans: vegetariano radical, que não consome qualquer produto de origem animal, nem mesmo laticínios. (N.T.)

Pág 31um milhão de vidas, só de doenças cardíacas. O grande rumor, entre os estatísticos, é que as mortes por doenças cardiovasculares têm sido omitidas indiscriminadamente. De alguma forma, embora o número de mortes por doenças cardíacas tenha caído, o verdadeiro número de ataques cardíacos subiu bastante. Isto significa que alguém está manipulando os números. Significa, também que as pessoas continuam tendo tantos ataques cardíacos e doenças cardiovasculares quanto sempre

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tiveram; no entanto, procedimentos como cirurgias, angiogramas, uma droga que dissolve coágulos chamada t-PA, 911 e angioplastia as têm salvo, por enquanto, e com isso o índice de mortes tem caído. Isso para falar só em morte cardiovascular; outros 60 milhões de pessoas (isso é 25% da popoulação norte-americana) vão acabar morrendo de doenças cardíacas, tendo em vista seu perfil de risco. Alguns desses “riscos” são cigarro, idade, gênero, pressão alta, elevadas taxas de colesterol, diabetes, estresse e, logicamente, a obesidade, o pesadelo médico de quase todo o mundo (em nossa sociedade), o terror não é a pogreza, as doenças cardíacas ou sequer os crimes violentos; a idéia assustadora de que, um dia, a pessoa pode simplesmente acordar de manhã e constatar que está realmente gorda). Muito bem, agora acorde e sinta o cheiro do milk-shake dietético. O homem mediano, nos Estados Unidos, não é magro. Tem 23% de gordura corporal, enquanto a mulher mediana tem 32%. Esses números tornam o cidadão médio 53% mais gordo do que o ideal saudável, e a cidadã média pelo menos 50% mais gorda. Em 1961, a obesidade atingia, historicamente – ou pelo menos assim se pensava – 20% de toda a população. Em 1995, o Centers for Disease Control and Prevention nos revelou que o número de americanos gravemente obesos havia aumentado 30%, somente durante a década de 1980. lembre-se da academia de ginástica. Nos vinte anos anteriores, essa mesma estatística de obesidade permaneceu inalterada, em um quarto da população. E este é exatamente o mesmo período de vinte anos em que se desenvolveu o grosso da pesquisa nutricional que hoje seguimos. Esse intervalo de vinte anos assistiu também ao fim da comida de verdade, da semana de trabalho de quarenta horas e das férias de suas semanas, assim como ao advento da TV a cabo, dos telefones celulares, do correio de voz e do e-mail.

Pág 32JÁ PENSOU NISSO?

Todos os anos, 80 milhões de americanos “começam com uma dieta”. A quantidade de peso que perdem nem conta, porque 95% deles engordam tudo de novo (e ainda ganham mais alguns quilos) num prazo de cinco anos. Vimos diminuindo regularmente o nosso consumo de gordura e colesterol – e mesmo assim aumentou a incidência de obesidade, doença e morte.

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Desde a virada do século, o consumo de açúcar aumentou 150%. Como o açúcar se revelou um conservante barato, virou aditivo em quase todos os alimentos processados – e, como sabemos, o consumo de alimentos processados nos Estados Unidos vem crescendo exponencialmente ao longo dos últimos cinqüenta anos. Na década de 1940, os aparelhos de televisão eram raros. Em meados da década de 1950, três em cada dez residências já recebiam ondas de rádio visíveis. Mesmo no período de glória da programação tipo Nickelodeon, só ocasionalmente as assoberbadas donas-de-casa envenenavam suas famílias com jantares comprados. Hoje, a família mediana tem dois adultos que trabalham em horário integral e comem fora, ou comida congelada, pelo menos quatro noites por semana. Se essa é a norma numa família tradicional, imagine quão raramente uma casa com um único resposável pode se dar ao luxo de servir uma refeição caseira. Ou a mãe pega as crianças na creche e sai com elas para comer, ou então chama a babá para começar a ferver a água para cozinhar a massa. Já são seis e meia da tarde quando jantar é servido (massa, suco ou leite desnatado para as crianças, além de pão e sobremesa). A mãe precisa de um drinque para se manter de pé – e ainda tem o dever de casa, os banhos a mais a “atenção de qualidade” para das às crianças. Se a mãe faz jantar de verdade, com mais de dois grupos de alimentos reconhecidamente importantes, em vez de alimentar a próxima geração com massa, tudo se atrasa ainda mais. Para isso, a mãe precisa de dois drinques. Bom, já são nove ou nove e meia da noite, e ela não teve ainda um minuto para sentar e descansar depois do trabalho. No verão, isso seria natural. Mas a cena de descrevemos ocorre durante o ano escolar, o que significa durante os “dias escuros” na natureza. Então, essa família de mãe solteira, ou de mãe que trabalha e de “pai ausente”, seja por preguiça ou por trabalhar ainda mais horas, vai agüentar pelo menos

Pág 33cinco, ou talvez sete horas a mais de luz, num período de 24 horas, dia sim dia também, durante sete meses por ano, completamente fora de estação. Isso entra ano e sai ano, década após década – até a mãe ter câncer de mama e a filha ter acne e ser gorda demais para estar na capa da Vogue. E o Júnior, com apenas 1.70 m de altura, ainda por cima ter asma. Se o nosso pai imaginário estiver presente, terá artérias obstruídas, pressão alta e excesso de açúcar no sangue.

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Como tudo isso acontece é um completo mistério para a ciência médica. A desastrosa derrocada na saúde do povo americano corresponde ao aumento das atividades noturnas estimuladas pela luz e ao consumo de carboidratos que as acompanha. Considere apenas o aumento do peso médio de jovens adultos e adolescentes ao longo dos últimos quinze a vinte anos. Na média, esse peso aumentou, previsivelmente, mais de 5 quilos. O percentual de adolescentes obesos estava em 15% na década de 1970, e subiu para 21% na década de 1990. agora, está acima de 30%. Um recente artigo de primeira página do New York Times citou a televisão como a causa do aumento da obesidade entre os jovens. O artigo se baseava apenas na premissa “preguiça”, alegando falta de atividade física exercício). A causa é a televisão, sim, – mas não da forma que eles pensam. Grande parte dos jovens de hoje nasceram num mundo de baixo teor de gordura/exercícios pesados. Mais de um terço deles se autodeclaram vegetarianos, ciclistas, montanhistas e patinadores. E há aproximadamente 12,5 milhões de jovens como esses hoje nos Estados Unidos. E quando se pergunta a esses jovens adultos por que são vegetarianos, a maior parte diz que é por causa da saúde; o resto só acha que é legal. Eles não tem idéia do que estão fazendo a si mesmos.

A SÍNDROME DO ETERNO VERÃO

Além de um aumento regular na ocorrência de doenças cardíacas e de obesidade, as estatísticas já mostram que o diabetes e o câncer também estão aumentando. Talvez não seja só por causa da comida. Na edição de 12 de janeiro de 1998 do U.S. News and World Report, Walter Willet, o chefe do departamento de nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard – um homem muito inconstante – foi questionado

Pág 34com relação ao fracasso da dieta de baixoi teor de gordura em curar doenças ou salvar vidas. Sua resposta fraca e inconsistente: “Desde o início isso era apenas uma hipótese” – não demonstrou vergonha alguma. Essa “hipótese” custou mais vidas do que as duas guerras mundiais e o conflito do Vietnã juntos. Basta verificar as estatísticas da American Câncer Society e da American Heart Association nas

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últimas três décadas. Em 1999, a previsão era de que, só de câncer, 1.257.800 pessoas iriam morrer. Se preferir uma projeção de futuro, consulte os números misteriosos da American Diabetes Association sobre a crescente população de diabéticos Tipo II. Agora, os pesquisadores estão em busca de explicações genéticas para a obesidade porque, se temos certeza de alguma coisa, essa certeza é de que a obesidade é o começo do fim. A obesidade é a precursora do diabetes adulto. Não é coincidência o fato de que, até o final do ano 2000, haverá mais de 25 milhões de diabéticos Tipo II. É cerca de 98% de toda a população diabética. Se todos os 25 milhões se tornarem diabéticos, com certeza uma grande parcela deles terá doenças cardíacas e pressão alta – duas condições que levam ao derrame. Essas complicações são as que mais matam os diabéticos. Há anos que se prevê que a redução da gordura na dieta reduziria também o câncer; só que as estatísticas nos mostram uma crescente incidência de câncer de colo, associada a uma queda na incidência de morte. Isso significa que o câncer de colo está aumentando, mas as pessoas estão morrendo menos disso. Isso não quer dizer cura; no caso do câncer de mama e de próstata, podemos ver aumento na incidência e também nas mortes. Esses dados sobre câncer de mama, próstata e colo são os que, com toda certeza, deveriam ter apresentado queda, dadas as mudanças que os americanos fizeram na dieta dos últimos quinze anos. Em vez de reconhecer a dieta de baixo teor de gordura, a pesquisa médica nos deu Mevacor, Provachol, Proscar – e agora Tamoxifen e Raloxifene. A medicina admite que a “melhora” nas estatísticas de câncer é conseqüência do diagnóstico precoce, não do tratamento ou da prevenção. Mas o diagnóstico procece aumenta apenas o período de conhecimento – a vitima só fica sabendo antes que vai sofrer e morrer. Na verdade, não muda a data da morte. O diagnóstico procece nunca salva vidas; com maior freqüência, apenas as prolonga por tempo suficiente para confundir os números. E todos esses números provam que estamos no caminho ERRADO. Concordamos que a intervenção da dieta com certeza

Pág 35pode reverter o curso da doença. Cortar carboidratos pode curar a obesidade e grande parte do diabetes, mas não as doenças cardíacas, e com certeza nem todos os tipos de câncer. O final dessa história é a EXTINÇÃO. A comida é parte dessa equação, está bem, mas não é a resposta. A resposta está no ritmo circadiano e na evolução.

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A resposta está em comer, dormir e reproduzir-se em sincronia com a órbita do planeta, ou acabar como os dinossauros. As longas horas de luz artificial que confundem seu ancestral sistema regulador de energia também destroem o revestimento de seu coração, e portanto o colesterol em excesso pode obstruir o fluxo sangüíneo. Ao longo do curso da evolução, seu subconsciente foi condicionado e ajustado para acreditar a agir da seguinte maneira quando as luzes ficam acesas por um período muito longo: “Coma carboidratos agora, ou morra mais tarde.” Da mesma forma, ao longo do curso da evolução, seu subconsciente foi condicionado e ajustado para acreditar e agir da seguinte maneira quando as luzes ficam acesas por um período muito longo: “Acasale-se ou morra.” Esse instinto que responde à luz tem sido a base de nosso metabolismo fartura-ou-fome e, em última análise, de nossa sobrevivência, durante pelo menos 3 milhões de anos. Todos os efeitos da exposição crônica à luz e o consumo de carboidratos que acompanha essa exposição, em outro tempo e lugar, ter-nos-iam preparado para o pior: para a falta de comida e para os dias mais frios, curtos e escuros, em que há menos sol. Nós sempre “nos fartamos” para agüentar a “fome” que certamente viria – até agora. Infelizmente, a verdade em nosso tempo é que ingerimos carboidratos hoje e morremos mais depressa. Nosso corpo traduz como “verão” as intermináveis horas de luz artificial. Como ele sabe, instintivamente, que o verão vem antes do inverno, e que o inverno significa falta de comida, começamos a desejar carboidratos, para acumular gordura para um período em que o alimento é escasso e deveríamos estar hibernando. Esta é a fórmula:

A. Longas horas de luz artificial = verão na mente.B. Inverno significa fome, para seus controles internos.C. Fome no horizonte significa desejo instintivo de carboidratos, para armazenar gordura para a hibernação e para a escassez.

Pág. 36Essa escassez é acompanhada de:

1. Consumo cada vez maior de carboidratos, até que seu corpo responda a toda a insulina, tornando-se resistente à insulina no tecido muscular;

2. Garantia de que os carboidratos ingeridos se transformem em depósito de gordura;

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3. Fazer com que o fígado use o excesso de açúcar na produção de colesterol, o que evitará que as membranas celulares congelem com as baixas temperaturas.

Se você dormir à noite durante o número de horas em que normalmente estaria escuro lá fora, só vai desejar carboidratos no verão, quando as horas de luz são mais longas. É a “adaptação perene”, ou a crônica e constante intenção de hibernar, que provoca o consumo excessivo de carboidratos e a obesidade – e a conseqüente pressão arterial elevada, o colesterol alto e a inevitável falência cardíaca. As etapas 1, 2 e 3 correspondem também ao quadro hormonal do diabetes Tipo II – doença, na verdade, é o resultado final da fadiga extrema provocada pela “toxidade” da luz. Na caminhada rumo ao fim. Você certamente encontrará uma das seguintes condições: obesidade, doença cardíaca, derrame, doença mental ou câncer. A comunidade médica, a FDA, o Instituto Nacional de Saúde e sua televisão dirão que a causa é uma praga dos céus – que só poderá ser curada com uma dieta com 80% menos de gordura, três a seis horas semanais de exercício pelo menos, e um monte de suplementos e vitaminas. Em quem você vai acreditar? O mercado está saturado de informações sobre dietas de baixo teor de gordura: como se alimentar com pouca gordura, por que se alimentar com pouca gordura, quem deve se alimentar com pouca gordura. Existem apenas algumas opiniões dissidentes, embora o número esteja crescendo a cada dia. Está vazando lentamente na consciência nacional a idéia de que “para algumas pessoas, o baixo teor de gordura talvez não seja a melhor opção”, de acordo com Walter Willet. Este recuo, meio balbuciado, meio escondido, é muito tímido – e vem tarde demais para aqueles que conhecemos e que não sobreviveram ao movimento pela pouca gordura. Esta catástrofe nacional da saúde, na verdade, vem sendo construída há 75 anos. Durante todo esse tempo, um número incalculável de almas lutaram e fracassaram ao seguir um aconselhamento nutricional que nunca poderia levar ao sucesso. Fracassaram porque a comida não era

Pág 37realmente a culpada. A história nos ensina que todas as doenças da civilização surgiram com força total depois da Revolução Industrial, quando a eletricidade tornou real a disponibilidade da luz artificial ilimitada e barata. Foi a lâmpada elétrica que transformou a noite

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em dia. A curva do desempenho de preços da lâmpada elétrica é semelhante à curva do desempenho de preços de um computador portátil. Uma lâmpada de 100 watts custa 33 centavos de dólar em qualquer supermercado; em 1883, a mesma quantidade de luz custaria ao consumidor US$1.445. Os especialistas concluíram que as máquinas usurparam nosso bem-estar físico; na verdade, foram os alimentos processados, refinados e adoçados que entraram pela primeira vez na nossa vida (ao mesmo tempo que as luzes estenderam o nosso dia e mudaram nosso apetite) que provocaram todo esse processo. Embora o instrumento da destruição possa ser a alimentação, a causa da morte é algo bem mais insidioso.

A CAUSA DA MORTE

Seu apetite é apenas um dos sintomas dessa disfunção mortal, assim como a obesidade está associada às doenças cardíacas mas não é a causa. A grande verdade é que a necessidade urgente de dormir é também a causa do diabetes Tipo II. Todas as doenças que não são causadas por contágio ou maus-tratos são provocadas por disfunções imunológicas, em função do metabolismo. Seu sistema imunológico é governado por duas substâncias: a prolactina e a melatonina – e ambas são controladas pelos ciclos de luz e pela escuridão. São esses controles biológicos fundamentais que estão em perigo. A variação sazonal e a intensidade da luz do dia controlam a floração, o crescimento e o estado de dormência nas plantas e nos animais; as mudanças sazonais na iluminação ambiente controlam a hibernação, a migração e o acasalamento. Expor as pessoas ao brilho incessante da luz artificial por um número de horas maior do que o dia claro em si é problema na certa. Até 75 anos atrás, passávamos até quatorze horas por noite, dependendo da estação, no escuro. Por volta de 1920, a maioria das pessoas tinha condições de manter as luzes acesas durante umas duas ou três horas à noite. Tinham condições de comprar uma ou duas novas “lâmpadas” elétricas de Edison, e também a eletricidade necessária para mantê-las acesas, porque a mesma fonte de energia estava construindo uma economia que utilizava uma

Pág 38enorme força de trabalho. As luzes geravam empregos para pagar por elas. No final da década de 1920, as caras máquinas instaladas nas fábricas já haviam começado a funcionar junto com os

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ponteiros do relógio. De repente, estavam rodando durante as 24 horas do dia, enquanto, apenas uma década antes, a energia proveniente do gás era cara demais para ser usada durante a noite inteira. Antes da eletricidade, as fábricas só funcionavam durante dez horas. Essa segunda Revolução Industrial remapeou o panorama econômico. O trabalho noturno trouxe mais dinheiro de várias maneiras. Não apenas forrou os bolsos dos donos das fábricas; gerou também mais empregos e dinheiro para uma subclasse econômica de novos imigrantes. O mais importante, porém, é que o trabalho noturno trouxe com ele uma economia de serviço. Essa economia fez proliferarem transportes, restaurantes e mercados 24 horas, quadras de tênis e jogos de beisebol noturnos, pontos de jogo e por aí vai. A eletricidade alimentou o telefone, que é a base de nossa atual capacidade de comunicação de ficção científica, e que permitiu que os pequenos mercados se tornassem globais. Existe até uma nova pérola de terminologia, na língua inglesa, para este fenômeno, graças à Internet: 24 por 7. Foi um golpe de sorte ridiculamente terrível, num século que de outra forma seria bem interessante, o fato de que, exatamente ao mesmo tempo que o açúcar começou a ser usado para preservar e embalar “comida” industrializada, nós tivéssemos a oportunidade de ficar acordados a noite toda para comê-lo. É claro que, naquela época, não havia muitos alimentos industrializados no mercado; porém os que existiam utilizavam xarope de milho altamente refinado (em máquinas industriais) para evitar perda de umidade e aumentar a vida de prateleiras de produtos. Muitos alimentos industrializados ainda usam o mesmo conservante. Até os pãezinhos de aveia adoçados com mel, feitos com grãos integrais e de baixos teores de gordura, bem embaladinhos, que você encontra próximo às caixas registradoras dos minimercados, são preservados com açúcar. É altamente esclarecedor observar, neste ponto, que a incidência de diabetes Tipo II caiu tremendamente durante as duas guerras mundiais, época em que o açúcar era racionado.

O INSTRUMENTO DA MORTE

Para entender por que os carboidratos são o instrumento da morte, precisamos de um pouquinho de ciência. Só recentemente a ciência e a

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Pág. 39medicina começaram a reconhecer uma condição chamada hiperinsulinemia crônica. Este é o termo que designa a insulina elevada crônica, produzida no próprio organismo. Isso só pode ocorrer quando a pessoa consome carboidratos de forma crônica. Na natureza, nunca seria possível uma pessoa comer carboidratos de forma crônica. As árvores e plantas dão frutos apenas em uma estação e floresce na outra. Viver só de açúcar por mais de um ou dois meses não seria possível, a menos que você estivesse se preparando para hibernar, como uma marmota, durante um longo sono de inverno. A mídia não fala muito sobre insulina, a não ser em relação ao diabetes do Tipo I; por isso mesmo, as pessoas pensam na insulina como um remédio para os diabéticos do Tipo I – que, seja por razões virais ou por serem auto-imunes, não conseguem fabricar a própria insulina. A insulina é o elemento central em ambas as formas de doença, pois ela controla o nível de açúcar no sangue ao se encaixar nos receptores das células como uma chave que abre uma tranca. Uma vez abertos os portões, o açúcar presente no sangue pode entrar e energizar todas as células do organismo. A resistência à insulina é a incapacidade do corpo em responder à insulina que é produzida normalmente, porque os receptores recuam para salvar sua vida. Cada função do seu corpo – desde a comunicação básica molécula a molécula até operações complexas, como o controle do apetite ou da temperatura – está numa estreita zona de normalidade chamada homeostase. Um recuo dos receptores de insulina é uma tentativa de controlar a quantideade de açúcar permitida. Insulina demais não é normal. A pista reveladora de nosso destino ameaçador é que a incidência de resistência à insulina vem ocorrendo em pessoas cada vez mais jovens. A população inteira está envelhecendo em ritmo acelerado. A resposta lógica seria reequipar todas as indústrias alimentícias e aconselhar as pessoas a evitarem o açúcar, certo? Foi essa a nossa abordagem em relação á gordura, e a população aderiu em massa. Acredite em nós, com o açúcar isso não seria assim tão fácil. Seria mais parecido com Proibição. Somos tão viciados numa dieta de baixo teor de gordura e alto teor de açúcar quanto os alcoólatras são viciados em álcool, porque os altos níveis de insulina criam, no cérebro, o mesmo estado criado pelo álcool. Os alcoólatras “dormem” depois de um pileque não apenas porque o álcool em si temum efeito sedante sobre seus receptores opiáceos, mas

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Pág. 40também porque a enorme carga de carboidratos da uva, dos grãos, da batata, do cactus ou, no caso do rum, da cana-de-açúcar contida na bebida literalmente os faz adormecer. Lembre-se disso toda vez que tomar aquela taça de vinho após o jantar. O pico de insulina depois de um pileque transforma a serotonina do cérebro em melatonina – e isso quer dizer luzes apagadas. Em nossa cultura, ingerimos tantos carboidratos num único dia quanto um bêbado durante um porre. Para ele e para nós, a recuperação natural é a mesma. Dormir.

A RESSURREIÇÃO DA VERDADE

Será que a perda de sono pode estar destruindo o relógio endócrino que controla o ganho de peso? Será que a quantidade de horas que você dorme realmente pode controlar seu apetite? Nossas descobertas são quase simples e extraordinárias demais para se acreditar. Mas aqui gostaríamos de recordar a legendária regra da lâmina de Occam, que diz: “Em condições iguais, a resposta mais simples é sempre a correta.” Sabemos que, para a maioria de nós o que estamos dizendo é algo como descobrir que tudo aquilo que você acreditou desde pequeno é mentira. E é! Você não quer saber? Ocorre que tudo o que era fato sobre nossa saúde acaba não sendo mais do que conjecturas absurdas. Conjecturas que não têm evidências científicas que as apóiem. Conjecturas que, para algumas pessoas, fizeram sentido. Só que não fazem mais.

Pág. 41DOIS

No escuro:Um evento no nível de extinção

Dormir, talvez sonhar. - William Shakespeare, Hamlet, 3.2.54, 1554

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Dormir, talvez sonhar,quem sabe transformer a realidade. - Sony Corporation, 1997

Ó tu, escuridão, envolve o espírito daqueles que ignoraram a tuaglória. Leva-nos agora. - Mayra Montero, uma prece para os que estão morrendo, extraído de you, Darkness, 1999

O suave conforto proporcionado pelos sons dos anfíbios na noite está profundamente enraizado na consciência humana, assim como a música prateada do som da água correndo. A batida dos oceanos na praia, uma borbulhante fonte romana, grilos cantando e sapos coaxando – tudo isso antecipa o bem para a humanidade. E nós contamos com isso. Desde o primeiro dia da criação que nos sentimos seguros ao ouvir esses sons, pois eles sempre se traduziram em sobrevivência: comida, água e companhia. Agora, porém, tudo isso está mudando. Os sapos andam quietos demais. O silêncio está ficando surdo. Os anfíbios, sapos e rãs estão morrendo sob cinscunstâncias misteriosas. Em alguns casos, nem os corpos são encontrados. De acordo com a revista New Scientist, no Parque Nacional de Causuco, em Honduras, várias espécies de sapos selvagens desapareceram sem deixar rastro; e também não há mais

Pág 42girinos. Na Austrália, quatro – nem uma, nem duas, nem três: quatro – espécies desapareceram das florestas de Queensland. Na ilha havaiana de Kauai, um tipo de rã que antes abundava na região simplesmente não existe mais. Os nativos disseram aos pesquisadores que todos os sapos tinham “ido embora” um dia. Essas criaturas, agora ausentes, viviam em delicado equilíbrio entre água e terra, ar e luz. Assim como nós. É uma perspectiva apavorante compreender que, no final, o nosso desaparecimento – assim como o dos anfíbios – vai ocorrer, mais provavelmente, como um colapso geral e inespecífico, e não por causa de um asteróide cadente ou um holocausto nuclear. Sabemos que já começou. Nós, os seres humanos vivos de hoje, estamos disparando rumo à extinção.

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O LIVRO DOS MORTOS

Será que nossa extinção é iminente? As perspectivas contrárias a ela não são boas. Já aconteceu mais de uma vez – e pode acontecer de novo. Trinta milhões de espécies vivem atualmente conosco no planeta, e muitas milhões de outras já viveram conosco e desapareceram. Os especialistas em extinção concordam que a biodiversidade está desaparecendo rapidamente, particularmente quando a gente se dá conta de que ocorreram apenas algumas extinções importantes, ao longo dos últimos três bilhões e meio de anos de vida do planeta. Talvez esse seja apenas o curso natural das coisas, a Idade do Gelo que está chegando. O mais provável, porém, é que tudo isso tenha sido inventado por nós mesmos. Seja qual for a causa, o registro histórico verifica os sinais, e esses sinais estão em toda parte. Da queda das taxas de natalidade ao aumento absurdo de diabetes e do câncer, muitos de nós não estão “qualificados” para viver. Alguns estão a ponto de seguir o caminho de outros ramos menos adaptáveis de nossa família, como o Homo habilis, o Homo erectus ou o Homo neanderthalensis. Alguns desses hominídios foram superados, em número, por outros ramos da família, mas a maior parte deles simplesmente eram menos adaptáveis. Quando você transforma o ambiente, o hambiente transforma você – se seus genes assim o permitirem. Toda a nossa atual configuração genética evoluiu num período ocorrido antes de termos a habilidade de trazer a luz à escuridão só porque assim o quisemos um dia – algo tão inimaginável quanto poderia

Pág 43parecer. Nossa primeira investida no terreno do controle celestial – o fogo – transformou aqueles, dentre nós, que tinham condições de ser transformados. O domínio e o uso do fogo foi a primeira descoberta que aumentou nossos dias e encurtou nossas noites. Noites mais curtas significam menos melatonina. Menos melatonina significa mais estrogênio e testosterona, mais cortisol – e, é claro, mais insulina. Aqueles de nós que conseguiram se adaptar a uma vida com menos sono, mais carboidratos e o aumento da fertilidade que isso trouxe, sobreviveram. Os que não conseguiram se adaptar morreram, incapazes de sobreviver ao novo ambiente. O maior réquiem de morte que se seguiu foi a maciça extinção humana que acreditamos deva ter ocorrido bem no limiar do

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advento da agricultura. Como qualquer outro animal, nós nascemos para caçar à luz do dia – seja à cata de frutas e peixes no verão ou de porcos selvagens e cascas no inverno – e para descansar no escuro. Cultivar grãos perto dos locais onde vivíamos mudou tudo isso. Embora o suprimento de energia fornecida por carboidratos o ano inteiro tenha nos ajudado a ser mais populosos do que qualquer coisa viva, exceto os micróbios, este novo milagre – a agricultura – também nos proporcionou a primeira praga auto-infligida. A mudança relativamente súbita na concentração e no tempo de ingestão da nova alimentação à base de carboidratos acabou com muitos de nós ao perturbar o equilíbrio de nossa nutrição, que era 90% proteína e, de repente, passou a ser 80% carboidratos (ou seja, açúcar). Em todo o período prévio da vida humana, ainda que os carboidratos estivessem disponíveis nos meses que vão da primavera ao final do outono, nós nunca os desejamos intensamente até as horas de luz do dia mudarem, ou seja, quando março virava abril e quando abril virava maio. Por volta de junho e julho, nossas noites duravam apenas sete ou oito horas, em comparação com o auge do inverno, quando a escuridão duvara pelo menos treze horas por dia. A agricultura significava que, de repente, passávamos a viver com uma quantidade de carboidratos (açúcar) cada vez maior, até por um período superior a um ano inteiro, devido à nossa habilidade de controlar os períodos de crescimento das lavouras. Depois de atravessar centenas de milênios e algumas Idades do Gelo sem comer açúcar fora da estação, a rapidez (em termos evolutivos) com que ele chegou causou o mesmo tipo de morte que estamos testemunhando atualmente.

Pág 44 Nosso colapso geral e inespecífico mais recente começou com a chegada da eletricidade. Nossa primeira manobra inocente foi carregar as brasas incandescentes que sobrevam da queda dos raios. Aquele “fogo” tinha possibilidades reais. Em seguida, demos um jeito de aprender a reanimar as brasas que haviam esfriado. E assim vivemos por talvez um milhão e meio de anos; depois, em menos de uns ínfimos oitenta anos, resolvemos morar com os deuses.

LUZES INTENSAS, GRANDES CIDADES, MUITO DINHEIRO

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Dessa vez, a gente fez melhor: aprendemos a recriar o raio que nos trouxe a mágica das brasas ardentes. Passamos a deter o tesouro do deus Thor. O controle sobre a energia primal do raio nos deu as chaves do reino; agora vamos pagar por isso. Desde meados do século XVIII até o final do século XIX, europeus como Michael Faraday, Alesandro Volta e alguns outros dispersos pelo mundo perseguiram o magnetismo até que a natureza, sob a forma de elétrons, perfilou-se e bateu continência. Agora, oito mil anos depois do início da agricultura, nós, os arrependidos sobreviventes dessa última grande ameaça da humanidade, enfrentamos um novo tipo de extinção: a luz artificial, a nós proporcionada por Thomas Alva Edison, o Homem do Milênio, segundo a revista Look. Em 1831, Michael Faraday criou o gerador elétrico. Edison viu o aparelho na Exposição de Filadélfia e, assim diz a história, foi inspirado – tão inspirado que veio a se tornar o Bill Gates do século que então se iniciava. A lâmpada elétrica, o fonógrafo, partes do telefone e seus fios e ainda o projetor de cinema – tudo saiu da mente desse único homem. Em 1877, ele tomou dinheiro emprestado com J. P. Morgan e lhe prometeu uma lâmpada elétrica. A equipe inglesa de Sawyer e Mann estava bem próxima de produzir a sua, e Edison queria derrotá-los. Por volta de 1878, ele ainda não tinha uma lâmpada que funcionasse. Um ano depois ele havia perdido sua família e seu dinheiro, e nada de lâmpada. Naquele ponto, porém, ele ainda enxergava. Sob a mira de um revólver, por assim dizer, ele trabalhou 24 horas por dia durante três semanas inteiras, com apenas uma muda de roupa e uma equipe de quinze homens. Fumava vinte cigarros por dia, bebia sem parar e não dormia um minuto sequer. Durante aproximadamente quinhentas horas, com apenas um ou outro cochilo de vinte minutos

Pág 45aqui ou acolá, Edison examinava filamentos incandescentes em tubos no vácuo, tentando descobrir um que pudesse ser confiavelmente religado. Ele tentou de tudo, desde platina a bambu, passando até por linha de costura assada (cujas fibras, ao serem queimadas, produziam carbono). Queimou filamento por filamento, até que um deles ficou aceso durante treze horas. Depois, meio cego, ele finalmente foi dormir, graças ao uísque e a uma quantidade razoável de morfina. Na manhã seguinte, ele convocou uma coletiva de imprensa e

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anunciou uma demonstração. Três mil pessoas foram a Menlo Park, em New Jersey. Edison havia espalhado fios e uma centena de lâmpadas por toda a pequena cidade. Durante a demonstração, ele prometeu encher Nova York de luzes dentro de um ano; só isso já fez dele uma “personalidade”. Embora não tenha cumprido a promessa, dois anos e 3,22 Km de fios mais tarde, cerca de quatrocentos metros de Pearl Street, no centro de Nova Yoirk, ganharam 2.323 lâmpadas que funcionavam. Sua busca enlouquecida pelo filamento perfeito lhe custou sua família, pelos menos metade de sua visão e uma parcela ainda maior de sua saúde. Desde aquele período, ele nunca mais consegiu dormir, de dia ou de noite, sem morfina. Mas ganhou a briga. E sua conquista reconstruiu o mundo, em termos permanentes. Em apenas dois curtos anos, que culminaram em uma noite muito clara, tudo mudou para sempre. Nossa forma de comer, dormir, viver e morrer nunca mais foi a mesma. Embora isso não sirva de muito consolo, aqueles anos também mudaram o próprio Edison. Ele se associou aos ingleses, em 1900, para fundar a General Electric, e perdeu uma amarga batalha AC/DC para a Westinghouse. Embora tenha morrido só um pouco doido, tinha entre seus amigos íntimos homens como Henry Ford e Harvey S. Firestone. Afinal, os carros precisavam de pneus e de faróis.

BEM-VINDOS AO PARADOXO

Por volta de 1925, todas as cidade americanas, não importa o tamanho, estavam acesas; só as áreas rurais ficavam para trás. É um ponto importante o fato de que as áreas rurais ainda são os locais onde a extrema longevidade ocorre com maior freqüência entre os americanos. Todas as doenças contra as quais a medicina moderna declara guerra nunca parecem atingir esses agricultores de noventa anos de idade, que

Pág 46passaram a vida inteira comendo bacon, ovos e manteiga. A mídia, que segue a atual sabedoria médica do baixo teor de gordura, considera isso um paradoxo. Nós não. Para nós, existe uma correlação entre esses exemplos de menos doença e vida mais longa e o fato de a eletricidade ter chegado mais tarde. O REA (Rural Electrification Administration), que foi fundado em 1935, foi criado porque menos de onze fazendas, num universo de cem, possuíam eletricidade naquela época. Em 1950, trinta das cem tinham luz, mas só no finalzinho da década de 1970

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é que 99% delas possuíam rede elétrica e luz. O REA ainda é uma organização viável e ativa, que leva rede elétrica e luzes que ficam acesas 24 horas por dia aos territórios americanos e a Porto Rico, para que todos possamos morrer juntos. O clima, o suprimento de alimentos e a competição sexual serviram para nos adaptar, a nós e a outras espécies, ao ambiente e ao tempo em que vivemos. Somente na última metade do último milhão de anos, mais ou menos, é que nós, humanos, decidimos tomar a nosso cargo a tarefa de criar os meios para nossa extinção, e para a extinção de incontáveis outras espécies. A eletricidade não só nos trouxe luz infindável, renovável e barata; deu-nos também os meios de controlar tudo na natureza, tanto plantas como animais. Iluminar o escuro significava que podíamos ter tratores com faróis e microscópios com luzes internas, e que podíamos controlar outras espécies com estímulos e cercas elétricas.

EX-PLICAÇÕES

Na verdade, não podemos lutar contra o futuro, mas sem dúvina nenhuma podemos adiá-lo. A partir do momento em que entendermos de verdade os pontos-limite e os mecanismos sinérgicos da vida aqui na Terra, será possível mexer nos botões para tentar driblar a extinção. Neste momento, não há esperança de controle, porque os americanos estão sufocando e, em última análise, morrendo debaixo de pilhas de informações incoerentes. A televisão repete o dia inteiro, programa após programa, as mil maneiras de “diminuir a ingestão de gorduras e aumentar os exercícios”, enquanto seu médico faz coro. Nos Estados Unidos, a Nabisco repõe “a gordura” (?) nos biscoitos SnackWell. O Fen-Phen é retirado do mercado, e depois restituído. As vendas do Prozac vão à extratosfera. Os

Pág 47jornais, é claro, confundem o público ao divulgar, prematuramente, qualquer esperança de salvação, por menor que seja: Angiostatin, Endostatin, Tamoxifen, Raloxifene, Mevacor, Provachol, Zyban, Allegra, Valtrex (“tem a ver com a supressão”) – e, é claro, os primos-irmãos do Fen-Phen, Meridia e Orlistat. Para aqueles de nós que estão cansados ou ligados demais para sacudir a poeira, tem o Tylenol PM – e finalmente o Viagra. Enquanto isso, você, sua família e os amigos ficam cada vez mais doentes.

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Nossa intenção é lhe contar o que tudo isso significa. Nos próximos capítulos, vamos lhe dar uma idéia geral do que existe além da linha mutante que define os limites de seu conhecimento. O mundo é muito mais estranho do que pensamos. A física newtoniana é apenas a ponta do iceberg. Há um universo quântico lá fora, especialmente quando se trata da sua saúde. Os aspectos incompreensíveis dos mapas cósmicos, seu comportamento, sua sorte sob a forma de seus genes, e a doença, tudo isso está conectado em níveis cada vez mais elevados de interatividade, onde tudo se junta para formar um noto tipo de sentido – que significa muito mais do que você jamais imaginou. Nada acontece em contradição com a natureza, somente em contradição com aquilo que sabemos sobre a natureza. A mecânica quântica é um exemplo perfeito. A física newtoniana nunca poderia acomodar a luz. Maçãs em queda, a conseqüente velocidade, até algum tipo de puxa-empurra sob a forma de gravidade, talvez, mas jamais a essência quântica da luz, a luz do sol vem em pacotes de energia, a que chamamos fótons. Esses pacotes de energia luminosa, também chamados de quanta, são ao mesmo tempo uma partícula e uma onda. Imagine uma bola de luz que quiçá e, à medida que quiçá, solta uma trilha de luz. Essa bola quicante de luz – o fóton – também é uma onda de energia. A onda de luz que fica pode ser calor, luminosidade ou energia vibratória, dependendo do ritmo das quicadas. A luz, a temperatura e a gravidade controlam todo o metabolismo de energia e a reprodução, no nível molecular, em cada canto desta terra. Conseqüentemente, controla sua saúde e sua própria existência. Na edição de 5 de junho de 1998 da revista Science, Jay Dunlap, do departamento de bioquímica da Escola de Medicina de Dartmouth, admitiu abertamente:

Os ritmos circadianos e os osciladores celulares que estão abaixo dele são onipresentes – e por uma boa razão. Para a maioria dos

Pág 48organismos, a aurora significa comida, predação e mudanças em todas as variáveis geográficas que acompanham o sol: calor, ventos e assim por diante. Quando o sol nasce, é um acontecimento – e a maior parte das coisas vivas tem seus dias contados a partir de um relógio interno que é sincronizado por senhas externas. Devido a essa pressão evolutiva comum e ancestral, os

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relógios circadianos devem ter evoluído muito cedo, e os elementos comuns tendem a estar presentes ao longo de toda a árvore evolutiva, de cima abaixo. Uma série de artigos que apareceram esta semana nas publicações Science, Cell e Proceedings of the National Academy os Sciences revelam um padrão interessante na “mecânica” dos osciladores circadianos dos seres vivos, desde os fungos até os mamíferos – e isso nos dá uma visão mais aproximada da forma como as engrenagens dentro do relógio fazem funcionar o sistema circadiano de realimentação e retorno.

O que o homem quis dizer é que nós, e todas as outras formas de vida, desde o plâncton e os fungos até os elefantes e as formigas, estamos cincronizados com a órbita e a rotação da Terra, fora e dentro da luz do sol, de modo a garantir a cada um uma cota de alimento. Todas as coisas, grandes ou pequenas, possuem sensores internos de sol, que medem o tempo com relógios moleculares presentes em todas as células, que por sua vez trocam entre si enormes tesouros de genes reguladores que entram e saem. A luz, seja ela uma partícula ou uma onda, sempre provoca reações bioquímicas. A esfera inteira esquenta e esfria, esquenta e esfria, várias vezes, dia sim dia também. As plantas crescem. Os animais as comem e devoram uns aos outros. Nós morremos e viramos fertilizantes. As plantas crescem – e começa tudo de novo. Um mundo sem fim. Amém. Toda essa química selvagem está acontecendo numa terra que gira, roda e oscila – e que toca como um sino (é o que você ouviria, se pudesse escutar a canção do cosmos, do espaço sideral). O sol metaboliza e inspira. A Terra se ergue e suspira – e nós e os vermos tornamos tudo isso que existe fértil de novo. Os antigos estavam certos. Existe um fluxo circulante de energia em constante agitação, movido pela luz. Cada parte de nós lê as mudanças na intensidade e no espectro da luz. Quando você coloca as costas de suas mãos na janela, as células chamadas criptocromos, que estão em sua corrente sangüínea, captam o espectro azul da luz através de sua pele. Esses criptocromos carregam

Pág 49então um pedaço do céu por toda parte, dentro de você. A energia da luz e os carboidratos (açúcar) que você come mantêm até a bactéria simbiótica que vive nas profundezas de seu ser crescendo.

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E, como recompensa por ser um bom hospedeiro, elas o mantém crescendo também. Nós e todos os outros seres vivos da Terra somos verdadeiros seres da luz. Para dar algum sentido às “doenças” como obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer, tudo o que você precisa entender são suas conexões fisiológicas com a Terra, o sol e o céu. A menos que um micróbio, vírus, toxina ou tigre peguem você de jeito, todos os outros “estados de doença” podem ser explicados pela identificação da função que aquela “doença” específica pode ter tido na cadeia evolutiva, e pela localização do estímulo cultural moderno que desencadeou a resposta fisiológica ancestral. Nós, como pesquisadores, fizemos isso com a obesidade e o diabetes, em relação à variação sazonal no estoque de alimentos e na duração do dia. Fizemos isso com doenças mentais, infertilidade e perda de sono. Ao examinarmos a alimentação, o sono e a reprodução, descobrimos que o câncer e as doenças do coração também têm uma explicação biofísica. Estamos prontos a apostar que tudo o mais também pode ser explicado.

NO MUNDO DAS MARGARIDAS

Na década de 1970, um homem chamado Lovelock propôs uma teoria que dizia que toda vida na Terra se auto-regula. Chamou sua teoria de Gaia. Em termos bem simples, é o conceito de que a terra, as rochas e tudo o mais são seres tão vivos quanto nós. Assim como nossos corpos, a Terra mantém o próprio equilíbrio físico. Na época, ninguém, salvo uns poucos ambientalistas, comprou a idéia. A premissa de Lovelock era vantajosa para os ambientalistas, pois faz sentido presumir que, se nós podemos morrer, uma Terra viva também pode. Embora a idéia possa parecer simplista, os componentes subjacentes da teoria de Gaia envolvem muitas disciplinas – metereologia, oceanografia, entomologia, antropologia e geologia, só para citar algumas. Um modo fácil de entender a hipótese Gaia é observar o modelo do Mundo das Margaridas. Lovelock chegou à conclusão de que todos os organismos alteram seus ambientes só pelo fato de existirem – e que o

Pág 50ambiente alterado, por sua vez, muda o organismo – que, de novo, altera o já alterado ambiente, que certamente transforma ainda mais o organismo, e assim sucessivamente.

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Aceitando essa premissa como a regra fundamental da via, vamos ao Mundo das Margaridas, onde as únicas formas de vida que existem são margaridas pretas e brancas. No início desse nosso hipotético Mundo das Margaridas, quando está escuro e frio, uma margarida preta possui vantagem seletiva, pois consegue absorver toda e qualquer luz solar disponível, por menor que seja. Em outras palavras, como ela tem calor suficiente para se reproduzir, pode espalhar a característica da cor preta. As margaridas brancas não conseguem bons resultados porque não conseguem absorver calor suficiente para florescer e se reproduzir. Temos aqui uma dose de darwinismo puro: é a proliferação da característica da cor preta (ou seja, o crescimento de mais margaridas pretas) que aumenta a temperatura do mundo o suficiente para que as margaridas brancas possam começar a florescer. Quando as margaridas brancas se multiplicam, o mundo começa a esfriar de novo, e aí as margaridas pretas florescem novamente. Aqui, o princípio importante de Darwin é que, quando as margaridas brancas começam a tomar conta do mundo, é sinal de que a temperatura do planeta já chegou ao ponto em que o fato de ser preta não confere mais uma vantagem seletiva ao outro tipo de margarida. No Mundo das Margaridas original, a alteração do meio ambiente que resulta da proliferação de uma característica específica acaba por reduzir a vantagem daquela mesma característica. Em outras palavras, a vida se auto-regula. Todos têm uma chance. Embora esse argumento possa parecer muito restrito à questão do controle do clima, seus princípios se aplicam a qualquer variável ambiental que possa afetar o crescimento. E qualquer pressão seletiva que pode afetar a liberação de hormônios afeta o crescimento. Agora, você está começando a perceber aonde queremos chegar. Essa auto-regulagem é uma propriedade do sistema da vida como um todo,intrinsecamente atrelado ao seu ambiente. Além do mais, a evolução dos organismos e de seu ambiente são tão intimamente ligadas que ambos formam um único processo individual. Plantas, pessoas, animais, rochas e céu, tudo é uma coisa só, um organismo físico gigante que depende tanto da energia solar como do alívio do sol. O calor do sol, que as margaridas absorvem, sempre aumenta. Isso provoca movimento no ar, o que sempre significa vento. O vento

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Pág 51provoca ondas no oceano. As microalgas presentes na água que bate podem viajar até alturas que chegam a 4,6 mil metros, enquanto os sulfitos que elas contêm recolhem o vapor d’água presente nos pontos quentes das margaridas pretas e formam nuvens. Isso significa que as nuvens possuem vida. Enquanto as algas se reproduzem nas nuvens, a 4,6 mil metros de altura, elas produzem calor, que provoca chuva. A chuva esfria o planeta ao mesmo tempo, para que todo o processo recomece. E onde é que nós nos encaixamos, nesse sistema de vida aspirante, suspirante e multiorgânico? A maioria de nós perambula pelo mundo se esquecendo que é parte dele; a verdade, porém, é que nós vivemos no Mundo das Margaridas. Quando você caminha pelo jardim ou no parque, enquanto suas pernas roçam as plantas, as plantas enviam umas às outras moléculas de comunicação – os feromônios que avisam que você está vindo. Quando as plantas que estão à sua frente recebem essa mensagem molecular das plantas que você acabou de saltar, passam por uma alteração bioquímica: tornam-se túrgidas. Essa rigidez é um mecanismo de autodefesa, que as protege de quaisquer danos que você possa causar. Para as plantas, o sacrifício de algumas em favor da maioria sigfnifica uma chance na luta para serem a maioria. Os princípios darwinianos da seleção natural e das características favoráveis são uma combinação ainda mais poderosa quando você os expressa assim: os tipos de vida que deixam o maior número de descendentes acabam por dominar o seu ambiente. Aí, realmente, passa a ser um caso de “ter cuidado com o que você deseja”, porque, ao espalhar as características que lhe deu o predomínio, você automaticamente garante que aquela característica se tornará a menos valiosa. Nunca se esqueça das margaridas pretas, e de que as mudanças que um organismo provoca no ambiente podem ser favoráveis ou desfavoráveis ao crescimento. É precisamente o que está nos acontecendo agora. Quando descobrimos as utilizados do fogo e o levamos para dentro das cavernas, o excesso de luz durante a noite suprimiu nossa melatonina. A falta de melatonina, que normalmente suprimiria os hormônios sexuais como o estrogênio e a testosterona, aumentou a fertilidade daqueles que foram suficientemente espertos para dominar o fogo. Nossas características nos tornaram, então, naturalmente escolhidos, pois, com o aumento da fertilidade, deixamos mais descendentes.

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Pág 52 No entanto, quando esses descendentes descobriram a eletricidade e todo mundo passou a poder deixar as luzes acesas o tempo inteiro, a mesmíssima característica que nos tornou os sobreviventes líderes – nossa capacidade de controlar o ambiente – “mudou de novo a temperatura do ambiente”, por assim dizer. Ao levar as coisas longe demais, ao transformar a noite em dia, cruzamos a fronteira. E alteramos novamente, de maneira fundamental, os requisitos para a homeostase. No passado, os hormônios extras – insulina, estrogênio e testosterona –, que permitiam que nos reproduzíssemos durante o período de escuridão, ampliaram nosso potencial reprodutivo ao nos conseguir “dias” a mais, que os outros animais não tinham. Com isso, todos os nossos hormônios sexuais em excesso não são suprimidos pela melatonina normalmente controlada pelo planeta, porque as luzes estão sempre acesas. Os hormônios sexuais fornecidos pelo fogo aceso, que nos tornaram capazes de procriar o ano inteiro, agora provocam o crescimento desordenado do câncer. Mais uma vez, estamos ameaçando o equilíbrio. Exatamente como no Mundo das Margaridas, a característica que nos deu condições de deixar mais descendentes – maior fertilidade em função da não supressão da melatonina pela luz – agora auto-regula nossa população através do câncer. A natureza odeia coisas boas em excesso. O mesmo princípio se mantém quando analisamos o advento da agricultura. Aqueles que foram espertos o suficiente para gerar um estoque de plantas (carboidratos) o ano inteiro e conservá-los para a época da fome (o inverno) foram recompensados com mais filhos. No início, também, a dieta com maior quantidade de carboidratos, que aumentou nossa insulina, aumentou também as chances de termos gordura corporal para o inverno. No entanto, à medida que a característica de se manter gordo o ano todo se espalhou, a quantidade de insulina que precisávamos por apenas três ou quatro meses no ano passou a causar novos problemas, com a obesidade seguida de diabetes. Toda vez que um organismo conquista um diferencial, o ritmo natural da vida – um passo à frente, dois para trás – segura esse diferencial. Isso tem a ver com equilíbrio. A vida dança. Nunca fica parada.

VOZES ALIENÍGENAS

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Se você curvar sua cabeça por um momento apenas, em total silêncio, quase poderá ouvir uma voz que emana de dentro. Essa voz é um

Pág 53padrão de explosão de neurotransmissores dentro de sua consciência, que vem sendo afiado há milênios. Essa voz é o “instinto”. O sono é um instinto. Quando você está cansado, seu instinto é dormir. Por que você luta contra isso? Se você for bem-sucedido demais, a natureza vai lhe roubar seus descendentes de qualquer jeito. Todo mundo sabe a verdade. E a gente sabe num nível tão profundo que, em toda nossa “arte” humana, desde o desenho animado mais primário, as plantas e os animais cantam e dançam, e as nuvens sorriem. Não os estamos antropormofizando; estamos simplesmente relembrando como as coisas eram. Pense nas margaridas em O Mágico de Oz, cantando: “Saia do escuro e venha para a luz”. É absolutamente assustador como o “plano do jogo” é intrinsecamente tecido nas malhas de nosso tipo de vida. Tão estranho é o conceito, tão completa a amnésia de nossa espécie, que lhe oferecemos uma pequena homilia: Se você não dormir a noite inteira, talvez consiga terminar o trabalho. Se você não dormir por uma semana inteira, não apenas o seu trabalho vai sofrer: você pode morrer.

TODAS AS MENTIRAS LEVAM À VERDADE

O cair da noite, clássico de Isaac Asimov, acontece num planeta que está na órbita de cinco sóis. Nessa história, o mistério proposto é descobrir por que essa civilização entra em colapso a cada dez mil anos. Curiosamente, o colapso sempre coincide com um raro evento astronômico, no qual quatro dos sóis estão abaixo do horizonte e o quinto sofre um eclipse total da única lua do planeta. Quando a história começa, esse evento está prestes a acontecer de novo. A solução para o mistério é tão inevitável quanto o nascer do sol, quando o leitor compreende que a escuridão à noite é o terror final para um povo que, a vida inteira, só conheceu luz perpétua; Do jeito que combatemos o sono, é quase isso o que acontece com os americanos de hoje. Quando a escuridão à noite realmente

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ocorre, durante um eclipse, o efeito é quase o mesmo do cair da noite, que há muito tempo não vivenciamos. Uma sombra surge rapidamente do oeste e então, enquanto a lua dá a primeira mordida no sol, ouve-se um fantástico barulho, pois os pássaros, em pânico, voam para seus ninhos

Pág 54 – levados a pensar quer a noite caiu de repente. Ao mesmo tempo, a temperatura cai precipitadamente. Sem a proteção da luz elétrica, a experiência é ao mesmo tempo impressionante e singela. Na história de Asimov, isso acontece apenas uma vez a cada dez milênios. E assim, uma vez após outra, os habitantes do planeta são levados à loucura quando a noite cai pela primeira vez em dez mil anos. Eles ateiam fogo em qualquer coisa que possam queimar, numa tentativa desesperada de restaurar a luz, inclusive com o registro da última vez que o fenômeno aconteceu. A única razão por que nadamos em menos ironia é que, em nosso caso, o registro chegou tarde demais para que nos lembrássemos da morte que se seguiu à descoberta do fogo e ao advento da agricultura. Em nosso planeta, as culturas ancestrais na Europa, África, Ásia e nas Américas foram aterrorizadas além do que podiam suportar por eclipses, que os antigos acreditavam ser um monstro comendo o sol. Toda vez que esse monstro mergulhava a Terra inteira na fria e densa escuridão da noite, nossos ancestrais se reuniam para fazer tudo o que estivesse ao alcance deles para assustar o monstro e afugentá-lo. Isso normalmente envolvia o rufar dos tambores, além de gritar e berrar o mais alto possível. A medicina vem adotando essa mesma técnica para curar a obesidade, o diabetes, as doenças cardíacas e acima de tudo o câncer. Será que algum dia essa forma de abordar as doenças e o envelhecimento poderá salvar a sua vida? Quem pode saber? Naquele planeta longínquo, numa galáxia distante, o sol voltava toda vez. É esse tipo de sucesso que alimenta a fé profunda em falsos milagres. E a ciência e a medicina estão cheia deles. Desde The 8-Week Cholesterol Cure, publicado no início da década de 1980, até o mais novo compêndio de todas as tendências atuais, The Breast Cancer Preventio Diet, a medicina vem prometendo uma cura após outra, sem que sequer se tenha entendido o mecanismo da doença. Só à luz de uma visão geral da interação subconsciente/inconsciente de todas as formas de vida com as quais convivemos é que as “contradições” que os

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pesquisadores médicos investigam o tempo todo podem ser explicadas. A verdadeira razão pela qual não houve, e nem haverá, qualquer progresso na questão da saúde em nível governamental ou institucional é o fato de eles não entenderem isso.

Pág 55 Compreender uma disfunção fisiológica humana é o mesmo que colar um vaso quebrado. Você começa com as peças grandes – e, finalmente, tudo o que resta é o ponto de impacto. No final, aqueles fragmentos pequenos vão se juntar, mas você nunca poderia ter começado por eles. Aqueles fragmentos são as únicas notícias que chegam até o grande público. É por isso que jornais e revistas estão cheios de “descobertas de ponta” que ostensivamente vão mudar sua vida, mas, em tempo real, jamais respondem por uma única cura. Nos próximos capítulos, vamos examinar o estado da doença – e depois levar em conta a biologia e o comportamento evolutivos, provas clínicas, anedóticas ou folclóricas, práticas de várias culturas e, finalmente, as estatísticas. Nesse ponto, formulamos pressupostos, aos quais aplicamos a ciência da medicina molecular, de genética, da psiconeuroimunologia e da neuroendocrinologia. Em essência, vamos começar com o quadro mais amplo e depois subdividi-lo para você, até chegar às moléculas. Porque Deus está nas moléculas.

HOMENS DE BRANCO Justiça seja feita aos médicos: é o sistema que está subvertido. As faculdades de medicina presumem que algo tão básico como o funcionamento do corpo tenha sido ensinado aos alunos antes de chegarem à faculdade. A maioria dos futuros médicos que entrava nas faculdades de medicina, no passado, vinham de programas de ciências com duração de quatro anos em suas universidades. Isto não é mais o que acontece no mundo todo. Esses estudantes são convencidos por professores confiáveis de que o corpo é um sistema linear e estático, que deve ser tratado apenas durante as crises. A medicina preventiva é vista nos Estados Unidos como uma espécie de medicina alternativa. E não se ensina aos jovens médicos a arte de curar; ensina-se farmacologia. As palestras sobre “drogas e fisiologia”, sempre muito freqüentadas por esses novos médicos, de forma geral sustentam essa abordagem de crise. Em última análise, os médicos americanos aprendem que o paciente é curado quando eles dão um

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jeito de apagar os sintomas da doença. Essa abordagem é particularmente contraproducente e contra-intuitiva, porque todas as doenças são

Pág 56definidas através de seus sintomas. Mas esse método é tudo que eles têm. É por isso que Mevacor, Provachol, Tamoxifen, Raloxifene, Meridia e o grande Fen-Phen ressuscitado, ao lado do Prozac, encabeçam a lista dos mais vendidos. Esses “remédios” obliteram os sintomas de um mal maior, mais insidioso e mais invasivo, que ainda precisa ser identificado pelas pessoas e pelos profissionais que cuidam da sua saúde. A sabedoria médica atualmente aceita não passa de um festival de imprecisões misturadas, para encobrir o fato de que eles não têm sequer uma pista da verdadeira razão pela qual estamos todos morrendo. A única esperança que os médicos e pacientes têm é que os pesquisadores inventem uma nova droga ou terapia genética.

MOSTREM O DINHEIRO

O modelo dentro do qual os pesquisadores devem funcionar, para que continuem a existir, também é contraproducente. A pesquisa farmacológica, nos Estados Unidos, é custeada principalmente pelos fabricantes de remédios e pelo governo. Este método é o que realmente bagunça a pesquisa e os pesquisadores. Até os mais dedicados profissionais não conseguem, na realidade, pesquisar nada, a menos que seja vendável. A medicina é um grande negócio, como tudo o mais. A verdade sobre a pesquisa é que a pesquisa não é feita para descobrir a verdade, e sim para fazer dinheiro! Se os pesquisadores ganham a vida sendo pagos para procurar, eles procuram aquilo que o grupo que os paga quer que eles encontrem. Ao se concentrarem nos potenciais de mercado do produtor de remédios [laboratórios farmacêuticos!!!!] ou no dinheiro tendencioso das fontes do governo, eles acabam fazendo experimentos com peças pequenas, que nunca vão se encaixar. Eles encontram respostas constantemente, sem fazer qualquer pergunta. Os médicos e o público, no entanto, presumem que os pesquisadores estão fazendo o que nós estamos fazendo aqui: engenharia reversa. Só que eles não estão fazendo nada disso.

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Toda a informação incoerente que o público recebe através da mídia, sob a forma de releases, ou da televisão, vem de “pescaria”. Os pesquisadores simplesmente continuam pescando no mesmo laguinho limitado, tentando obter financiamento para os projetos da moda e com retorno

Pág 57garantido, para que possam garantir os próprios salários. Depois tentam fazer com que o que descobriram se encaixe no resto dos dados que todos os outros já coletaram. Imagine esse processo com algo parecido com palavras cruzadas: os pesquisadores deduzem a resposta a uma determinada charada, depois preenchem os claros, uma charada de cada vez, até que todos os claros estejam preenchidos. Eles montam o quebra-cabeça, mas mesmo com as respostas certas de cada charada, individualmente, o conjunto completo ainda não diz nada. Depois eles apresentam ao público um monte de respostas que não têm qualquer relação coerente uma com a outra. É por isso que o pânico e a angústia fora de controle continuam a crescer entre a população. Nada parece fazer sentido. Como os pesquisadores estão trabalhando sem uma hipótese, eles não possuem um mapa da estrada de volta para casa. Com essa abordagem, não há esperança de uma verdadeira recuperação para nós; só uma dieta regular de comprimidos até morrermos. As drogas caras não podem curar nenhuma de nossas doenças, porque as doenças, numa escala evolutiva, são uma resposta de “pressão ambiental”. Não são nenhum tipo de praga real. As novas drogas “milagrosas” são o pior de tudo. A premissa da intervenção da droga é a seguinte: se A é saudável, B está doente e C é a terapia com drogas, C, de alguma forma, fará você voltar a A. C jamais poderá ser A, em planeta algum da galáxia. C está sempre ainda mais distante de A do que o próprio B. A razão pela qual a medicina convencional usa a fórmula ABC está no fato de que as primeiras drogas que foram inventadas foram antibióticos. E como os antibióticos operam para subjugar as outras espécies, o ABC funcionou e nós sobrevivemos. Só que é insano tentar derrotar todos os estados patológicos dessa forma, porque a maioria deles não deriva de patógenos como as bactérias. Os pressupostos dos médicos poderiam ser válidos se eles estivessem lidando com vírus ou germes, e agentes antivirais ou antibióticos. No entanto, quando doenças como a obesidade, o diabetes, cardiopatias ou, em última análise, câncer, surgem de

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disfunções metabólicas com raízes na biologia e na física, as drogas não só são inúteis como, na verdade, atrapalham. As drogas causam novos problemas, mas raramente resolvem algum. Esse fato gritante, aparentemente, nunca vem à baila no FDA. Muitos de nós somos prova disso, particularmente aqueles que já desapareceram. Como os sapos!

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SONO DE FÉ

Estamos morrendo hoje porque perdemos a fé. O homem sempre recorreu aos céus para decidir sua sorte. Os médicos e os homens da medicina sempre recorreram aos céus para decidir sua sorte. Todo mundo sabia como funcionava. A própria palavra “influenza” se referia à “influência” do sol, da lua, dos planetas e das estrelas sobre nossa saúde. Sempre soubemos que havia determinadas regras para permanecer vivos, em harmonia com todas as outras coisas vivas – a quantidade de comida que se podia comer, o número de horas que se podia ficar acordado e o volume de estresse que se podia suportar. Do alto de nossa arrogância, desprezamos as regras. Nós já fomos mais sábios. Existe uma enorme diferente entre conhecimento, informação e entendimento. Em nosso tempo, conquistamos um enorme entendimento do mundo natural, através de um tesouro de informações, mas perdemos o conhecimento de como nos encaixamos nesse mundo. Em função dessa queda em desgraça, estamos perdendo nossas vidas prematuramente. A devoção que temos pelo mundo da medicina e das drogas é um equívoco. A recuperação pode vir de dentro de nós mesmos. Nós, o povo, temos o poder de curar essas doenças “incuráveis” com o simples apertar de um interruptor. [apagar a luz] Os primeiros médicos gregos, como Galeno e Hipócrates, há mais de dois milênios, “modernizaram” a medicina ao insistir em que as causas da doença não são atribuíveis a deuses contrariados e vingativos, como o sol ou a lua. Bem, nós estamos aqui para insistir no contrário... e afirmar que talvez essa seja a hora de encarar isso como religião.

PARTE IINÃO ESTAMOS

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SOZINHOS

Pág 61TRÊS

Uma autópsia da Terra:O meio ambiente controla a genética da obesidade

O argumentador ideal seria capaz de, ao lhe ser mostrado um único fato, em todas as suas implicações, deduzir a partir dele não apenas toda a cadeia de eventos que levaram àquele fato, mas também todas as conseqüências que decorreriam dele. – Sir Arthur Conan Doyle,As cinco sementes de laranja de Sherlock Holmes

Nós fomos feitos para correr atrás de comida e sexo, conseguir os dois e depois seguir para as montanhas, onde havia cavernas onde era frio e escuro à noite. Nada muito complicado. Uma cena exatamente igual à vivida pelos ancestrais de seus cães e gatos – e igual ao que os gorilas das montanhas fazem ainda hoje. Pense nisso. Você não vê um monte de esquilos plantando, ou cobras e pássaros fazendo churrascos por aí. A Mãe Natureza ainda entoca o resto do mundo animal quando a noite cai, mas o homem se tornou um órfão. Num planeta habitado por trilhões de formas de vida, somente nós, humanos, temos o controle da luz. E acredite, é caro. Possuir a noite não ficou nada barato. O uso do fogo para proteção, calor e para cozinhar deixou uma marca em nossos sistemas imunológico e reprodutivo que ainda hoje exige sacrifício de vidas humanas. Ao alterar o ritmo da exposição à luz e à escuridão, nós, que controlamos a luz, nunca sentimos frio, e repelimos a noite e quaisquer predadores, humanos ou animais, que possam estar à espreita, nas sombras. E também alteramos, literalmente, a

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rotação de nosso planeta, até onde nossas mentes e corpos podem registrá-lo. Virtualmente, interrompemos a órbita do nosso planeta em torno do Sol, assim como interrompemos sua rotação. Abolimos o inverno. Agora apenas nós, em toda a galáxia e no universo, ficamos em pé. O inverno, ou qualquer período de frio, é algo muito importante na evolução. A adversidade (neste caso, o frio) é um dos principais agentes motivadores. Pense na forma como você lida pessoalmente com a sensação de frio: você faz tudo o que estiver a seu alcance para se aquecer. Seu carro quebra na neve, você encontra logo um lugar para esperar o socorro, bola um plano para consertá-lo e a lembrança do incidente permanece dentro de você, mudando para sempre o seu comportamento. Os vencedores, em qualquer loteria evolucionista, são os que resolvem problemas. Se todas essas mudanças ocorreram dentro de você por causa de um inconveniente isolado – o fato de seu transporte/abrigo ter quebrado na neve – imagine o que milênios de gelo e neve fizeram à nossa espécie, em termos intelectuais. Tudo o que evoluiu em nossa fisiologia e em nosso intelecto é, literalmente, direcionado para luz e escuridão, quente e frio. Assim como o conteúdo mineral de nossos ossos, idêntico à poeira de estrelas, é testemunho de nossa origem extraterrestre, as células fotoperiódicas em nosso sangue nos ligam ao Sol e à Lua. Somos sempre, a cada minuto de cada dia em nossa existência terrena, uma parte integral disso tudo. Até mesmo o propalado “aquecimento global”, que vivemos estudando, está fora do nosso controle. Quando o nosso planeta esquenta, o que ocorre a cada dez ou quinze mil anos, tudo germina e prolifera, até alcançar um verdadeiro estado febril – e depois, previsivelmente, a febre “se parte” e o frio entra em cena, para esfriar e exterminar o excesso de vida. Pense nesta grande virada do pêndulo como um botão cósmico que liga tudo outra vez, para que a dança comece de novo. No último século, após sobreviver a muitas, muitas idades do gelo, começamos a viver num planeta com múltiplos “sóis”, como os personagens da história de Isaac Asimov. Em vez da escuridão do eclipse à tarde, que os levou à loucura, no entanto, nós criamos a manhã à meia-noite. E pode acreditar isto está nos levando à loucura. Todas as formas de vida precisam adormecer para poder sobreviver à escuridão e ao frio, ou perderão a capacidade de planejar e adaptar-se. Os estudos da hibernação provam que a aprendizagem e a retentividade melhoram nos animais que têm permissão de encontrar algum alívio da vida.

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Pág 63 Durante longos períodos de frio, nossos ancestraiss dormiam aqui e ali durante semanas seguidas de cada vez, em cavernas escuras, desacelerando as funções metabólicas para economizar energia, quando o alimento era escasso. Este sistema espelhou, ao longo de toda uma revolução em torno do Sol, o mesmo plano de jogo que utilizamos a cada rotação para dentro e para fora do sistema solar. Falando em termos de “padrões”, o dia e a noite são “versões reduzidas” do verão e do inverno. Ao longo dos milênios, passamos por períodos de hibernação e gestação que sempre terminavam na primavera, quando o alimento era fresco e abundante. Nosso primeiro encontro com o “controle da energia” ou, mais precisamente, com o fogo, mudou tudo isso para sempre. A luz que vinha do fogo era suficiente para criar o verão em nossos ovários o ano inteiro. A partir do instante em que todos esses hormônios sexuais abundantes para a reprodução nos mantiveram acordados o inverno inteiro, por suprimirem a melatonina, nós deixamos a família da Terra – para nunca mais voltar.

O SALTO QUÂNTICO

Nós estamos fisiologicamente interconectados com todas as outras formas de vida na Terra. A vida é um emaranhado quântico. Os emaranhados quânticos são o que os físicos chamam de um problema de “perfeita ordem”. A perfeita ordem é a teoria de que toda matéria é viva e interligada, através de um fluxo constante de energia. Tudo o que existe é uma coisa só. Todos nós, juntos, somos então mais ligados ainda ao Sol, à Lua e às estrelas, pela biofísica. Isso significa que nossa biologia é um produto dos fótons, do magnetismo e da gravidade. Existem monitores sensíveis à luz embutidos nas células de nossos olhos, pele, sangue e ossos. E nós – desde os tempos mais imemoriais – sempre registramos a rotação da Terra em torno do Sol. Mamutes, carnívoros, ratos e micróbios, todos com a mesma origem humilde, desenvolveram controles fisiológicos baseados em luz e escuridão. Nós e as plantas somos um. A molécula de hematina, que estrutura o grupo de células sangüíneas chamada hemoglobina, é a mesma molécula que estrutura o sangue das plantas – ou seja, a clorofila. Nós realmente somos todos um. A energia que o Sol libera sustenta a bioquímica que é a base dos sistemas biológicos que respondem por toda a vida aqui na Terra.

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Pág. 64Biofísica, portanto. A energia da luz solar – como os fótons, o calor (temperatura) que os fótons produzem e a gravidade eletromagnética a que estamos sujeitos – controla cada milímetro do metabolismo de energia e da reprodução, no nível molecular, aqui na Terra. A luz, não importa a forma que tome – seja ela uma partícula ou uma onda – provoca reações bioquímicas maciças em cascata em todas as formas de vida, exceto à noite, quando todas as coisas descansam da luz. O grande problema de cancelar a noite e o inverno está numa questão de dualidade: yin e yang, para cima e para baixo, aqui e lá, esquerda e direita. O dia precisa da noite para existir. A primeira parte de toda equação só existe por causa da existência da segunda parte. No universo, a simetria é tudo que existe. Verão/inverno, primavera/outono, luz/escuridão, branco/negro, quente/frio, homem/mulher, mortos e vivos – todos têm um ao outro para agradecer por sua existência. Os físicos quânticos de vanguarda acreditam que o Universo é feito de energia, em padrões que obedecem a uma “ordem de simetria”. Faz sentido para nós. A teoria quântica líder atualmente é até chamada de supersimetria. Se a supersimetria é uma lei quântica cósmica, pode apostar que é uma lei biológica também. Toda espécie de vida, tal como a conhecemos, baseia-se nos princípios da biologia, que, por sua vez, baseiam-se nos princípios da bioquímica. Em qualquer reação química, a forma como as moléculas se ligam às outras moléculas, ou a forma como as células distribuem a polaridade dentro e fora de todas as reações químicas, continua a ser regida pelas regras da atração elétrica. As reações de atração e de polarização, que são a marca registrada da bioquímica, são definidas pelos princípios da física que utilizam. Tudo o que estamos mostrando, em nossas teorias sobre o metabolismo da energia, é que, nessa hierarquia, o sol é o gerador de toda a vida e energia básicas. O sol é o principal controlador de todo tipo de vida, simplesmente por causa da estrutura da matéria. Existem dois ramos principais da física: a newtoniana e a quântica. A física newtoniana se concentra nos mecanismos – a maçã em queda sempre atinge Newton na cabeça, e se você fechar o punho e socar alguma coisa, existe uma equação para mensurar a força do soco. A física quântica tem mais chances de explicar o QI e a telepatia. A diferença teórica entre as previsões mecânicas da física newtoniana e as previsões da mecânica quântica é que as mesmas

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condições experimentais podem levar a vários resultados finais diferentes num mundo quântico – mas nunca num mundo newtoniano.

Pág. 65 A imprevisibilidade da vida, além do domínio da mecânica newtoniana, é explicada pela teoria das cordas. Trata-se de uma noção romântica, porém não totalmente infundada. Segundo ela, a música da vida é, na verdade, uma função de um universo formado por cordas, todas elas vibrando. De acordo com a teoria das cordas, toda vida emana da mesma estrutura fundamental: uma corda esticada. Assim, um número infinito de resultados são possíveis para qualquer situação, por causa das diferentes maneiras como a corda fundamental pode vibrar, da mesma forma que diferentes harmonias estão presentes no som emitido por uma corda de violão. Como há um número infinito de vibrações possíveis, é razoável que haja um número infinito de resultados para o mesmo conjunto de condições iniciais. A compreensão da supersimetria e da teoria das cordas dá um novo sentido à idéia de que a vida é um jogo de dados. A única esperança de possuir uma perna com que ficar de pé (todos os trocadilhos são intencionais) é uma coisa chamada teoria do caos. A teoria do caos sustenta que os eventos ou ocorrências que parecem mais aleatórios ou sem sentido são, na verdade, bastante previsíveis, se você puder se distanciar deles o suficiente para observá-los. Sustenta, também, que, ao longo do tempo, tudo possui um padrão de comportamento genuíno, embora difícil de discernir. Se partirmos dessa premissa, podemos compreender os enigmas da doença na medicina. Só precisamos aprender a melodia para apreciar a música.

DE PÉ NUMA PRANCHA SOBRE UM TRONCO

Já que somos, parte por parte e até os ossos, apenas uma ínfima peça do universo, que existe dentro de um sistema de leis como a do caos e a da simetria, nossa fisiologia e nosso ânimo também devem ser regidos por elas. Essa dualidade, ou simetria, existe para nós como equilíbrio. Em termos harmônicos, somos parte de uma música maior. O tom em que cantamos é escrito pelos ritmos naturais de nosso ambiente.

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A única maneira de permanecer no jogo ou de continuar estável é ser capaz de rolar com os golpes. Todos os sistemas que funcionam hoje para realizar as ações compensatórias constantes, necessárias à sobrevivência foram desenvolvidos pela “inteligência” adaptativa, em resposta às pressões ambientais ao longo de milênios. Nenhuma característica ou Pág. 66comportamento é caprichoso. Viver ou continuar vivo é exatamente como ficar de pé numa prancha sobre um tronco. Só que, nesse caso, se você perder o equilíbrio, a queda é longa. E não há sobreviventes lá embaixo. Nossa viabilidade, como forma de vida, significa que nossa capacidade de responder às estações do ano, em termos de comida e reprodução, é tudo que pode nos garantir uma chance de terminar no topo, no sentido darwiniano. É por isso que nossos genes possuem interruptores de “ligar e desligar”, controlados pelos hormônios, que respondem aos sinais ambientais. Estamos em sintonia fina com a sobrevivência, ao dar respostas evento a evento, pois o único fato certo na natureza é que as circunstâncias mudam. Sem esse sistema, não poderíamos variar nosso comportamento em sincronia com o imediatismo de cada ocorrência. A vida é uma dança. Nós escutamos a música e gingamos. As vibrações vindas do ambiente são captadas pela interface hormonal que chamamos sistema endócrino. Esse sistema endócrino age como o software que aciona um computador orgânico chamado corpo/cérebro. A quantidade de luz (luminosidade, temperatura e eletricidade) e de gravidade (magnetismo) á qual você é exposto é o programa que roda o software. Sob os auspícios deste software hormonal, que aciona os interruptores dos genes que controlam a máquina nanossegundo por nanossegundo, você se equilibra na prancha sobre o tronco. Essa “submáquina humana” inteira é parte integrante da máquina maior do ambiente, ou biosfera. Todo ser vivente é uma máquina interativa ou biocomputador, programado para a inteligência adaptativa. Isso significa que a definição de “vida” é a capacidade de aprender e mudar em resposta às experiências. Esse sistema decisório baseado na experiência permite que cada forma de vida mude em resposta a todas as outras formas de vida, porque os hormônios controlam seu comportamento e seus genes. As atitudes que você toma, ao longo de um dia, não são realmente decorrentes da livre vontade. São, ao contrário, um produto do “pensamentoware”. Os elementos presentes no

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ambiente controlam os processos hormonais em seu corpo, que programam seu cérebro para controlar seu comportamento. Dessa forma, um cérebro sem um corpo não possui mente, mas um corpo sem um ambiente não possui cérebro. A base de gordura flutuante naquele corpo é, na verdade, uma resposta imunológica que o protege e o torna viável em todas as estações do ano.

Pág 67Seu comportamento em relação às compulsões alimentares e ao apetite é simplesmente uma resposta imunológica também. Tudo ao redor com o qual coexistimos se equilibra em tensão conosco. Imagine duas pessoas, num ginásio, jogando uma pesada bola para a frente e para trás. Quando duas pessoas jogam cath com uma bola pesada, elas são mais ou menos empurradas para trás, por causa do peso. A constante troca de peso faz o jogo andar. O mesmo acontece com a vida: para a frente e para trás, para a frente e para trás. Para permanecer no jogo temos uma existência circunscrita a um pequeno conjunto de opções. Considere essas opções como sendo um “campo de jogo”. As horas de luz a que você fica exposto controlam os interruptores genéticos reais de “ligar e desligar”, a atividade enzimática e, o que é mais importante, o crescimento de dois quilos de bactérias simbióticas que vivem em suas entranhas. Essas “meninas” são a chave da vida, da morte e do manequim que você usa.

NÃO ESTAMOS SOZINHOS

Suas “bactérias pessoais” estão constantemente em guerra com outras bactérias e vírus, para controlar você. A forma como esse Armagedon cria e mantém seu sistema imunológico – o mesmo que controla seu metabolismo e sua fertilidade – é a chave de toda a luta mortal entre a luz e a saúde. Mas essa batalha só é travada à noite, quando você dorme. A cada manhã, o resultado da guerra dita não só sua imunidade, fertilidade e peso, mas também sua saúde mental. Nossas vidas, como você vê, não são nada nossas. Não passamos de simbiontes controlados por uma forma de vida diferente que tem prioridades próprias. Quando estamos expostos à luz, captamos essa luz através da pele e carregamos essa energia, em células chamadas criptocromos, até as bactérias simbióticas que vivem em nossas entranhas. Elas adoram luz e açúcar.

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Acreditamos que adorem hormônios reprodutivos também. A idéia, muito difundida, de que os jovens e os velhos possuem sistemas imunológicos mais frágeis é uma interpretação errônea. A verdade é que os adultos reprodutivos possuem sistemas imunológicos mais fortes do que os velhos e as crianças pequenas porque as bactérias dentro da gente adoram esteróides sexuais no café da manhã, e porque, quando nos

Pág 68reproduzimos, geramos mais “condomínios” para elas morarem. Esse princípio é o motivo pelo qual as mulheres costumam ter diarréia durante o período menstrual, quando seus níveis hormonais estão estáveis e os bichinhos estão abandonando o navio afundado.

O NÚMERO UM É O MAIS SOLITÁRIO

Em seu artigo “Co-evolutionary Theory os Sleep”, publicado em 1995 no Journal of Mecical Hypothesys, Carsten Korth concorda conosco, no sentido de que o desenvolvimento do sono, tal como o conhecemos, foi uma estratégia evolucionista para nos dar condições de empatar com os micróbios. A colônia de bactérias dentro de você libera endotoxinas que controlam sua fisiologia. As endotoxinas liberadas são constituintes da parede celular – espécie de feromônios, ou suor dos germes. À medida que as bactérias proliferam ao longo de um dia, as endotoxinas vão se acumulando. Num determinado nível, seu sistema imunológico entra em cena para baixá-las, para que você continue a funcionar. Isso é conhecido como resposta do hospedeiro. Nós só vamos dormir quando uma substância chamada endotoxina LPS é liberada, ao longo do dia, por essas bactérias amigas que vivem dentro de nós. Vamos dormir quando a LPS em nossa corrente sangüínea atinge uma concentração crítica o suficiente para provocar uma resposta imunológica. E dormir é uma resposta imunológica. As células brancas, chamadas macrófagos e leucócitos, multiplicam-se e matam algumas das bactérias de seu sistema. É sabido que o sono é induzido por uma “expressão” imune, ou uma citocina, chamada interleucina-2, que ocorre em resposta à LPS liberada pelas bactérias de nossas entranhas. Esses “vizinhos” se tornaram participantes ativos de toda nossa existência imunológica, na medida em que tem relação com a órbita

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do planeta e todos os seus outros habitantes. Eles são mais numerosos que nós. E estão em toda parte. Só o nosso intestino contém um quilo de bactérias. E tem mais em sua boca e em sua pele. Todas as espécies em evolução tiveram de evoluir em torno de – ou, mais precisamente, com – as bactérias. Elas eram donas do terreno muito antes de qualquer um de nós ter chegado aqui. Não tivemos escolha, a não ser negociar.

Pág 69 Nossa co-evolução é só um caso de domesticação, de ambas as partes. Ao longo de milênios de simbiose entre nós e elas, nossos sistemas imunológicos humanos evoluíram em resposta à orquestração delas. Elas nos deram um sistema imunológico para funcionar como um mecanismo autocontrolado e também como defesa do território delas. Para nós, o sono na verdade é só uma forma de “diminuir o rebanho”. As colônias de bactérias são exatamente iguais às criações de gado bem-sucedidas, onde se atinge a homeostase comendo ou vendendo só o suficiente para manter o rebanho administrável. Nossa forma de domesticar bactérias funciona do mesmo jeito. Tanto o rebanho quanto o rancheiro se beneficiam. A tática evolucionista do sono é só uma adaptação esperta, que nos permite ter vantagem sobre elas, uma vez a cada rotação planetária. A desigualdade, em qualquer guerra, só surge quando um dos lados pára de avançar; assim sendo, sem sono não há vantagem. As expressões imunológicas, ou citocinas, que sucedem os altos níveis de endotoxinas, podem atuar como neurotransmissores e literalmente derrubar a gente também. Ao torná-lo incosnciente, elas fecham seus olhos. E olhos fechados significam que aí vem melatonina – e mais tarde, no meio da noite, prolactina. Ambos os hormônios intermedeiam a função imunológica através de outras citocinas, chamadas interleucinas. Em vez de nomes, as interleucinas possuem números, como IL-1, 2 ou 3, provavelmente porque existem zilhões delas. Altos níveis de IL-2 são sempre encontrados nos estados de sono, até mesmo naqueles de decorrem de doenças. Logo que você adormece, a onda de melatonina estimula a atividade dos leucócitos, nesse caso voltada especificamente para responder a patógenos como as bactérias que vivem dentro de você. Desnecessário dizer que, seja porque alguém fechou os olhos ou porque o sol está do outro lado do globo, escuro é escuro; e quanto mais escuro, melhor para a produção de melatonina. O sono doentio é mais intenso e mais relacionado ao fenômeno da febre,

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através das IL-1 e 6. Você precisa dormir quando está doente, ou não sobreviverá a um ataque da “outra”. O sono é o momento em que a melatonina e a prolactina entram em cena para fabricar leucócitos, células T e células NK (assassinas naturais). Um intestino “fora de ordem” – ou seja, com pouca quantidade ou com o tipo errado de bactérias atacando um relógio interno quebrado – é sinal de um sistema imunológico seriamente danificado.

Pág 70 Por isso, não dormir de propósito, quando escurece, é o mesmo que destruir um ecossistema ancestral. Lembre-se de que a co-evolução significa que devemos dançar, não pisar nos dedões. Essas bactérias o mantêm vivo; é claro que por razões próprias, mas ainda assim é vida. Tudo o que elas querem é um pouco de açúcar, um pouco de luz e alguns hormônios sexuais, para controlar seu ambiente interno – que, por sua vez, controla seu ambiente externo.

MENTES CURIOSAS QUEREM SABER

Todos os seus hormônios – melatonina, prolactina, cortisol, insulina e hormônios sexuais também – são a interface entre seu sistema nervoso central (pensamento e reações) e o ambiente. As perguntas que ficam no ar, no “quadro maior”, entre você, as bactérias e o ambiente se reduzem a: Está claro? Está escuro? Está frio? Está quente? Onde está a comida? O que está me perseguindo? E com quem posso me acasalar? Todas as informações relacionadas a essas perguntas são adquiridas através de visão, audição, paladar, toque e olfato. Da mesma forma que assar biscoitos ou pão evoca uma reação por parte de suas glândulas salivares, a luz que bate em seus olhos e em sua pele ativa outras glândulas e diz às bactérias dentro de você que horas são. Ao marcar as horas em 24, a melatonina dispara o timer da prolactina, para dizer a seu cérebro que tipo de alimento ele deve desejar. Os níveis de insulina estão em sinergia com os hormônios sexuais, como estrogênio e testosterona, para procriar. Todos esses fragmentos de informação são espremidos pelo prisma de seu hipotálamo (que marca o tempo), sua pituitária (que controla o sexo) e suas glândulas adrenais (que medem o estresse). Esse eixo hipotálamo-pituitária-adrenais, ou HPA, serve como um timer embutido, não muito diferente daquele que liga sua

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cafeteira automaticamente todas as manhãs, a não ser pelo fato de estar ligando e desligando funções biológicas. Esse “eixo HPA” funciona de acordo com o ambiente, para sintetizar e disseminar os “raios” de informação traduzidos, que foram recolhidos dos sinais provenientes do ambiente. Sem essa constante síntese entre os sinais do ambiente e sua reação física a eles, não há forma de se adaptar às flutuações do ambiente e de permanecer vivo.

Pág. 71 Um grande segredo: a vida é baseada num paradoxo. A estabilidade de funções necessárias para permanecer vivo só é possível através da mudança constante em resposta ao ambiente. Os hormônios produzidos por essas glândulas – seus hormônios HPA – são, por sua vez, chamados a atuar. Esses hormônios percorrem toda a escala, desde os esteróides sexuais, como estrogênio e testosterona, ao cortisol, ao hormônio do crescimento humano e à leptina, presente em sua base de gordura. Esses hormônios acionam os interruptores que desligam e ligam instantaneamente as funções vitais. Os hormônios fazem isso ao se fixarem a “regiões promotoras” nos filamentos de DNA chamados genes, e acionarem os interruptores que estimulam a ação genética. O fato de o gene produzir ou não sua proteína é função de ser ou não acionado por um hormônio, fator de crescimento, pelo sol ou por um impulso elétrico. As proteínas produzidas por esses genes, quando ligados, encaixam-se em receptores em todas as suas células – que, por sua vez, enviam as mensagens ao núcleo da própria célula, para acionar outros interruptores, e assim sucessivamente. Esses comunicados são efêmeros. Sua rede hormonal toma decisões em meio segundo, para responder às pressões ambientais. Se algum desses interruptores enguiçar ligado ou desligado, a natureza o considera doente demais para fazer parte do projeto. É quando seus interruptores enguiçam – ligados ou desligados – que a doença ocorre. Níveis elevados de qualquer hormônio, se mantidos por muito tempo, são instintivamente inadaptáveis para manter seu equilíbrio em cima da prancha, sobre aquele tronco. Na nossa sinfonia química, qualquer nota hormonal sustentada destrói a harmonia. Dessa forma, estrogênio elevado, sem progesterona caçadora para diminuí-lo, causa câncer; e níveis elevados e crônicos de insulina, entra dia e sai dia, levam às doenças cardíacas, ao diabetes e ao câncer. Como perdeu o ritmo uma vez,

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você está fora do esquema e perde o equilíbrio. Aqui começa a queda – em desgraça.

ESTRANHAS VIBRAÇÕES

Como acima, embaixo. As mesmas cadeias que atiram elétrons, quarks e neutrinos em dez diferentes dimensões, que fazem os átomos, que fazem as moléculas, que fazem os hormônios e recebem vibrações das ondas

Pág. 72de luz e da gravidade, tocam a música do cosmos para nossos corpos, através de nossos receptores hormonais. Somos como diapasões. Vibramos – literalmente – no impacto com o ambiente. As vibrações que conhecemos como verdadeira música provocam vibrações verdadeiras, que atingem os neurônios no cérebro através do tímpano e provocam emoção. Em seu livro A Medusa e o Caramujo, Lewis Thomas disse: “A música é o esforço que fazemos para explicar a nós mesmos como nosso cérebro funciona. Ouvimos Bach em transe porque isso significa ouvir uma mente humana.” Em 1976, Leonard Bernstein tentou aplicar o trabalho de Noam Chomsky com a linguagem ao seu esforço para encontrar uma estrutura para a resposta humana à música. Chomsky descobriu que bebês com apenas quatro meses de idade sempre preferem músicas com intervalos constantes de ritmo; a natureza também. Em seu livro How the mind works, Steven Pinker utilize a terminologia musical de “prolongamento e redução” para definir a forma como as melodias são dissecadas. Ele define seu processo como “o fluxo musical captado ao longo de frases, com a tensão sendo construída e liberadas em passagens cada vez mais longas ao longo do curso da peça – e culminando com uma sensação de repouso ao final... A tensão aumenta à medida que a melodia se afasta das notas musicais estáveis, em direção às menos estáveis, e é descarregada quando a melodia retorna às notas estáveis”. Nas palavras do inesquecível Frank Sinatra: “É a vida.” Para citar nós mesmos; “É o caos.” Da mesma forma que a música se satisfaz ao conduzir tensão e resolução ao longo de intervalos instáveis e estáveis, seu metabolismo banquete-ou-fome tem a mesma necessidade de intervalo e ritmo,caso contrário você ficará doente. Seu sistema

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imunológico e suas bactérias, num período de 24 horas, têm a mesma necessidade de tensão e resolução. O mesmo acontece com sua mente. Em seu aparelho de CD no nível molecular, existe e tem de existir um ritmo que aumenta e diminui, para medir a sua rotação no planeta – seja ela a batida de seu coração em 4/4, seu ritmo circadiano ou seu ciclo menstrual. De outra forma você não poderia lidar com os ataques. E a chave de tudo é descobrir uma forma de lidar com os ataques. Sua consciência e vontade são formadas por interações complexas entre o ambiente, os hormônios e o comportamento, todas as quais

Pág. 73acionadas por cronômetros. Estamos dizendo que essas mesmas interações existem entre você e o ambiente, e que tudo que os sistemas circulares de resposta fazem é monitorar e registrar a melodia. A música pode soar como Wagner ou Pachelbel, mas precisa ser música, deve parar e continuar, ou então não é adaptável. E o que não é adaptável, de acordo com nossas definições anteriores, quase sempre acaba em morte, ainda que isso aconteça por suas próprias mãos. Quando os esquizofrênicos ouvem vozes, essas vozes, essas vozes invariavelmente dizem; “Mate-se.” Como precursor da morte, o comportamento não adaptável quase sempre significa não reprodutivo, e isso é o que faz soar um alarme na natureza. Quando você não se reproduz, você não conta, no grande esquema das coisas aqui na Terra. É por isso que o câncer, o diabetes tipo II e as doenças cardíacas sempre acompanham a obesidade, que sempre significa envelhecimento acelerado, em anos planetários. No mundo real, a vida durava enquanto durava o potencial reprodutivo. Um período de 25 a 30 anos era suficientemente longo para duplicar o DNA e a cultura. Agora, vivemos demais e comemos demais para nossos marcos antiquados.

O HOMEM COM DOIS CÉREBROS

Quem responde ao seu sistema endócrino é seu sistema nervoso central, através de seu cérebro e de suas entranhas. Seus hormônios informam quaisquer alterações em seu eixo HPA ao sistema imunológico, que utiliza as citocinas ou neuropeptídeos para dirigir todo o tráfego relacionado à homeostase. O sistema imunológico se parece mais com a medula óssea ou o baço, os

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nódulos linfáticos agregados ou células do timo. Mesmo o sistema linfático é apenas uma parte daquilo que chamamos de sistema imunológico. Esses pontos, na verdade, são apenas fábricas que produzem os leucócitos, os linfócitos ou as agora infames células T. Cerca de 80% da força total de seu sistema imunológico defensivo está em seus instintos ou entranhas. Isso faz sentido, já que a maior parte das toxinas entra por sua boca. Embora tenhamos sido levados a acreditar que o sistema imunológico é o nosso sistema defensivo, nada poderia estar mais longe da verdade. O sistema imunológico é planetário, não individual. Nossa interface hormonal com o mundo, representada pelo eixo HPA, significa que o sistema imunológico é, na realidade, “o homem por trás da cortina” que

Pág. 74aciona os botões e dials que fazem com que o cérebro pareça tão competente. Todos os elementos do sistema imunológico – entranhas, pele, gordura, linfa, cérebro e glândulas – reconhecem, comunicam, memorizam, reagem e até planejam sobreviver às mudanças na Terra que foram inseridas em nossa programação ao longo de milênios de experiência. Essas capacidades significam que o sistema imunológico é tão sensível quanto você acredita que você próprio seja. Também faz sentido o fato de 80% do sistema imunológico estar localizado no intestino, porque o intestino era originalmente o nosso cérebro. Enquanto deslizávamos nas rochas, antes do “cérebro na cabeça”, os neurotransmissores que conhecemos hoje, como a dopamina, a serotonina, e a norepinefrina, além de hormônios como adrenalina e a insulina, rodaram O Projeto a partir de nosso plexo solar. A verdadeira chave para o impressionante poder e controle que o sistema imunológico possui está na compreensão de que ele é completamente móvel, assim como o indivíduo livre e pensante que você acredita ser. O sistema imunológico interno é, pelo menos igual. Seu sistema imunológico controla seu comportamento ao controlar a atividade dos neurotransmissores. Todas as células imunes possuem receptores que lêem tanto os neurotransmissores quanto os hormônios que controlam o fluxo de energia e os hormônios sexuais. Da mesma forma, as expressões imunológicas chamadas citocinas são ativas em suas entranhas, em seu cérebro, em sua base de gordura e gônadas. É o sistema imunológico, em estreita cooperação com a pressão ambiental e bioecosfera, que pode marcar o Dia do Juízo, seja por

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falta de defesa ou em função de um ataque completo ao seu corpo. Se você perde o equilíbrio em relação a outras formas de vida no cosmos, o sistema imunológico vai reagir para compensar isso. Muitas vezes, as causas reais daquilo que percebemos como doença são apenas os mecanismos compensatórios. Quando você sente a garganta arder, em conseqüência dos padecimentos de uma infecção viral, a dor que você sente não vem, de forma alguma, do vírus; em vez disso, é a dor das células agonizantes, sacrificadas (assassinadas) por seu próprio sistema imunológico. O mesmo ocorre nas dores do corpo, febre e dor de cabeça. Não é o patógeno, de jeito nenhum, o que o torna doente. É o sistema imunológico planetário dentro de você que o torna doente, na tentativa de livrá-lo de tecido infectado pelo vírus no ponto de origem, que é a sua garganta ou seu nariz – tudo para restabelecer a ordem em todas as coisas viventes. Se o vírus chegar até seu estômago, seu sistema imunoló-

Pág 75gico vai sacrificar a parede do estômago para acabar com o vírus. Aí você vai ter dor de estômago e diarréia, para aumentar seu sofrimento.

SINTA FRIO

O controle da temperatura durante o sono é outra estratégia antibactérias que desenvolvemos. Embora um organismo muito quente tenha diversas vantagens adaptativas, em função da flexibilidade de conquistar novos habitats, o calor constante oferece condições ideais para o crescimento da maior parte das bactérias. O melhor é esfriar. É por isso que nossa temperatura cai à noite. Como você não consegue encontrar comida à noite – na verdade, o mais provável seria você virar comida – a melatonina age como um reostato, que baixa a temperatura do corpo durante o sono NREM (Non-Rapid Eye Movement, ou movimento não acelerado dos olhos), de modo a desacelerar os processos metabólicos e enganar a fome. O lucro é que as bactérias também respondem à temperatura menos balsâmica. O frio que desacelera nosso metabolismo desacelera também o delas No início do sono, você sonha um pouco enquanto o corpo esfria e a melatonina sobe; você sonha de novo durante as horas que antecedem o raiar do dia, antes de acordar, enquanto o nível de melatonina cai e o corpo se aquece. Os mamíferos que vivem em

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climas frios dormem durante meses a fio, ou hibernam, para desacelerar os processos metabólicos durante os períodos de escassez de comida e os dias mais escuros. Ao nos esfriar no escuro, a melatonina executa um trabalho antioxidante, acerta o relógio das funções ovariana e testicular, e acelera o sistema imunológico para o próximo período acordado, quando vamos precisar manter os micróbios noviços afastados, por trás das trincheiras. O sono é o maior esquema de defesa imunológica que já surgiu, pois não só nos defende contra outros organismos em nosso ambiente interno como também nos defende contra a fome, através do sistema insulina-melatonina. A insulina só é produzida quando o corpo percebe açúcar ou estresse. Como o estresse é anunciado pelo cortisol, e o cortisol fica elevado enquanto você se banha em luz, o ritmo circadiano, ou os ciclos de dia e noite, controla sua produção de insulina, junto com os carboidratos. Os ciclos de luz e escuridão controlam a insulina para

Pág 76que você possa armazenar gordura para a hibernação ou a dormência. Dias longos significam o fim do verão e do alimento abundante. Os ciclos curtos de sono dos dias longos se traduzem, hormonalmente, numa necessidade maior de carboidratos, para armazenar gordura, e desencadeiam uma reação em cascata dos outros hormônios para fazê-lo dormir. A compulsão por carboidratos é um precursor do sono ao qual ainda respondemos todas as noites em que ficamos acordados até tarde. As tendências à hibernação nos fazem tomar sorvete ou beber uma taça de vinho após um longo dia. Lembre-se, o lanchinho no meio da noite nunca é um ovo quente. Aquele último alimento em que você pensa, que você quer comer antes de desistir da luz, é sempre qualquer tipo de açúcar que caia em suas mãos. A produção de insulina é controlada pelos alimentos que você ingere, mas o alimento que você quer é controlado pelo seu sistema imunológico, em resposta à variação sazonal de luz percebida por ele. Quando seu corpo e cérebro precisam dormir, para manter a imunidade e a capacidade reprodutiva, a melatonina e a prolactina precisam fluir. Temos receptores de melatonina até nos ovários e testículos, que “lêem” os ciclos de luz e escuridão. A melatonina é um potente antioxidante que, junto com a prolactina, controla a imunidade enquanto você dorme. Sem o sono, você se torna indefeso e auto-imune. Seu sistema imunológico

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também, como qualquer outro mecanismo de vida, é dotado de uma dualidade sagrada. As células Th1 e Th2 ficam em pé naquela prancha, sobre aquele tronco, como as duas metades de uma função imunológica. Um lado controla a defesa e o outro controla o ataque, porque aquilo que chamamos de “seu sistema imunológico” não pertence realmente a você, per se. A verdadeira entidade que funciona como seu sistema imunológico é uma força sensível, assustadora, inteligente, que lembra a proverbial figura da Morte, e que conta seus pontos. Esse policial/porteiro espiritual realmente existe para equiparar os pontos de tudo que é vivo. Na verdade, é o sistema imunológico da biosfera, não o seu. Você só conseguirá ser parte de todo o esquema se jogar de acordo com as regras. Isso quer dizer: levante junto com o sol, durma junto com a lua, coma apenas a sua parte, frutifique-se e multiplique-se. É isso aí. É para isso que você foi feito, nem mais, nem menos. Na verdade, a evolução não reservou nada mais do que isso para você.

ARQUIVOS SEXUAIS

A característica fundamental da sobrevivência é a reprodução. A vida continua. Por isso, depois de corações batendo e pulmões respirando, toda a energia é dirigida para a reprodução. A vida, sem tudo aquilo que a gente faz para matar o tempo, resume-se a dormir, comer e fazer sexo. Essas atividades têm de ser mantidas a qualquer custo, ou a natureza o identifica como indesejável. Dormir, e depois comer, são pré-requisitos para a reprodução, nessa ordem. Os primatas humanos sempre foram reprodutores sazonais, até que o fogo chegou para ficar. É desnecessário dizer que a reprodução sazonal é controlada por um relógio totalmente dependente dos ciclos de luz e escuridão. As funções reprodutoras dependem de relógios e mecanismos metabólicos. Não se pode reproduzir sem gordura suficiente para sobreviver. É por isso que as atletas femininas magrinhas costumam parar de ovular e de ter períodos menstruais. Sem gordura não há futuro... para você ou suas crias. Então, por que desperdiçar os ovos? É assim que a natureza vê o assunto. A fertilidade e o sono estão tão intimamente ligados quanto a alimentação e o sono, porque, no final, é tudo uma coisa só. No mundo real, a função perfeita – seja ela a reprodução, uma boa noite de sono ou ter o peso certo – existe numa fronteira

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estreita, que é dinâmica em relação a todas as outras formas de vida. Não há realmente margem para erro. O “dar e receber” entre as formas de vida em nossa bola feita de rocha cria nosso bioecossistema, nosso mundo. A força vital do bioecossistema é toda energia do sol que circula naquilo que a ciência conhece como a cadeia alimentar. Cadeias alimentares simples se entrelaçam, em função de suas interações entre si, para encadear todas as substâncias e espécies em “sistemas circulares de resposta” menores, dentro dos quais cada espécie afeta outra. Os peixes grandes comem os peixes pequenos, que comem peixes ainda menores, que comem plantas e retiram nutrientes das rochas, e assim sucessivamente. Este é um sistema circular de resposta positivo. Muitos, porém, são “negativos”, ou sistemas circulares de resposta inseguros. Todos os sistemas circulares de resposta funcionam como a transmissão automática de seu carro. Se você aumenta a pressão sobre o acelerador, à medida que o carro anda mais rápido, a transmissão vai acionar um mecanismo para compensar. Se você desce uma ladeira, diminuindo a marcha no caminho, a transmissão naturalmente aciona

Pág 78outro mecanismo para que você desacelere. A transmissão funciona perfeitamente a menos que você mantenha a pressão no acelerador enquanto mantém o pé no freio. Tenha em mente essa imagem. Não somente você está indo a lugar algum como está destruindo o seu carro. Sistemas circulares de resposta são mecanismos delicados que lêem um sinal de um sistema no corpo e enviam de volta para outro. Sistemas circulares de resposta negativa lêem um sinal e controlam a reação nesse sistema como a transmissão de um carro ladeira abaixo. Em geral, o sinal enviado em um sistema circular de resposta negativo será pare, ou pelo menos diminua o ritmo. Esses sistemas transmitem informações dentro de você e de todas as outras espécies, e depois dão retorno ao ecossistema mais amplo. Todos os chatos do Greenpeace estão certos. O cosmos, o planeta, os pequenos animais e as pessoas estão todos conectados biologicamente em um grande sistema circular de resposta, igualzinho ao Mundo das Margaridas. Se você estivesse no parque de sua cidade de tange, esses sistemas teriam uma chance de fazer seu trabalho acuradamente. Estar sentado diante de uma mesa de trabalho ou em uma sala de reuniões, sob luz fluorescente, usando Calvin Klein muito depois do

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cair da noite bagunça totalmente seus sistemas circulares de resposta. De acordo com um recente estudo da revista Nature, até sexo demais ou de menos muda o tamanho dos neurônios. Se isso é verdade, sem dúvida podemos concluir que a quantidade de sono afeta o apetite e a fertilidade, o que afeta o metabolismo. Todas essas ações, juntas, são parte integrante do sistema imunológico.

AUTOCONTROLE

Lembre-se de que a inteligência adaptativa continua a evoluir, ao reagir aos estímulos do ambiente, fornecidos pelos sistemas circulares de resposta movidos pela informação. Esses sistemas circulares de resposta são, na verdade, apenas fluxo de informação que voltam de vários “postos avançados” aos seus pontos de origem, de modo a controlar o processo. Façamos uma viagem a um lugar imaginário: o mundo natural, onde você não vive mais. Você está andando de quatro com um amigo, quando vê uma enorme fruta-pão. O fato de você ter visto uma enorme fruta-pão significa que as árvores estão dando frutos, não florescendo, e

Pág 79que estamos no final da primavera ou no início do verão. O cheiro faz suas glândulas salivarem, e você se lembra de ter comido uma antes. E, como foi uma boa experiência, você toma a decisão de comer outra. O açúcar atinge a veia porta entre seu fígado e o estômago, e o pâncreas entra em cena, com uma grande injeção de insulina. Justo quando o açúcar da fruta está cruzando a barreira entre o sangue e o cérebro, para mandá-lo à Terra da Alegria, aquela superinjeção de insulina, ao mesmo tempo, envia o excesso de açúcar para a armazenagem rápida. A armazenagem rápida em seu fígado e músculos não tem condições de receber muita quantidade, porque você comeu aquele outro tipo de fruta com larvas dentro e aquele arbusto com espinhos e frutos, há cerca de uma hora. Então, em vez disso, a insulina converte parte dessa fruta-pão em colesterol, e o resto é mandado para sua coxa interna para armazenagem de gordura, porque, se você come fruta-pão e bagos ou qualquer outra fruta, seu sistema imunológico sabe que o inverno deve estar chegando – e, como todo sistema imunológico também sabe, isso significa que em pouco tempo não vai haver mais fruta-pão.

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Dessa forma, a insulina e o açúcar armazenado sob a forma de gordura chegam à sua perna (armazenagem de longo prazo). Você come muito, e já ganhou uns dez quilos de gordura; por isso, a leptina de suas células de gordura envia um sinal ao seu cérebro. Essa leptina aciona um botão em seu cérebro, chamado neuropeptídeo Y, que controla o apetite por carboidratos. Esse apetite então se desliga. Você para de comer, porque já tem energia suficiente, na armazenagem de curto e de longo prazo, para chegar até o dia seguinte. Esse é um sistema circular de resposta negativo – ou seja, um programa autocontrolado que funciona dia a dia. Existem também sistemas circulares de resposta de autoperpe-tuação. Esses tendem a funcionar anualmente, ou a cada estação. Por exemplo, se estamos no final do verão e os dias são longos, e se você já tem mais de dez quilos de gordura e mais um bom estoque na armazenagem de curto prazo, a história é muito diferente. Trata-se de um conto de inverno. Em vez de um sistema circular de resposta negativo, o positivo vai entrar em ação. Uma cena adaptativa hormonal e comportamental vai ocorrer, porque foram apertados os botões ambientais diferentes. Os dias em setembro estão encurtando e, portanto, em vez de contar apenas com o “sinal da luz”, a natureza inventou um sistema de bônus para um dia literalmente chuvoso. O sistema circular de resposta positivo em seus recém-adquiridos dez quilos significa que você pode

Pág 80continuar a engordar, impelido por sua base de gordura em expansão, até que todos os carboidratos tenham realmente acabado. Isso vai enganar a resposta à luz e lhe dar um mês ou dois para ficar realmente gordo. Só então a comida terá acabado definitivamente até a próxima primavera, quando o planeta despertará de novo. Assim sendo, o final do verão é a única época, na natureza, em que você poderia ter bons estoques e dez quilos a mais, proporcionados pela maior quantidade de luz e pelas noites curtas. A prolactina empurrada para o período do dia pelas noites curtas suprimiu a leptina e deixou seu apetite por carboidratos (o neuropeptídeo Y) “ligado”. Isso lhe deu dez quilos para manter a bola rolando. Depois, a leptina de sua base de gordura assumiu o controle para criar resistência à leptina. Esse mecanismo de desativação da leptina serve ao propósito de evitar que você fique querendo alguma coisa (açúcar) que acabou

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há algum tempo e só estará disponível no próximo verão. Seus receptores de leptina no botão do neuropeptídeo Y ficam inativos devido à sobrecarga. Sem receptores para decodificar a leptina, é como se não tivesse nenhuma, e seu apetite por carboidratos fica permanentemente ligado, até que todos os carboidratos acabem. Este mecanismo existe porque, na natureza, você nunca engordaria, a menos que precisasse, porque todo o alimento iria acabar. O problema, no mundo em que vivemos, é que o alimento (açúcar) nunca vai acabar. Em nosso mundo antinatural, de verão e açúcar infindáveis, esse “botão de excesso” de leptina fica com defeito. Em nosso mundo, tudo o que você precisa fazer é ficar dez quilos acima do peso, para que a leptina que flui de sua base de gordura em expansão faça com que os receptores de leptina em seu cérebro deixem de funcionar, criando a resistência à leptina e fazendo com que os gordos engordem mais, porque as pessoas gordas estão sempre com fome. Por quê? Porque o seu sistema circular de resposta negativo está quebrado: seus receptores de leptina se exauriram, e não há mais controle de sua compulsão por açúcar.

AGENDA OCULTA

A insulina e os hormônios contra-reguladores cortisol, hormônio do crescimento humano e epinefrina lidam com o uso final dos alimentos

Pág 81que você ingere. E também controlam o sono junto com a melatonina e a prolactina. Para os primatas humanos, o alimento existe num total de três possibilidades: proteína, gordura e carboidrato. Os caminhos de proteína, gordura e carboidratos, dentro do corpo, são todos distintos. E três neurotransmissores muito diferentes controlam o seu apetite por cada uma das três substâncias. O controle da ingestão de carboidratos pelo neurotransmissor NPY (neuropeptídeo Y) em nada se parece com os controles de seu apetite por proteínas ou por gordura. O consumo de carboidratos é parte de um metabolismo planetário de energia, que é o mesmo para todos os organismos que têm insulina. Os carboidratos são energia que pode ser armazenada, e eles só podem ser armazenados através da insulina. É por isso que

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você não consegue comer gordura e ficar gordo; mas você come açúcar e fica gordo. Nenhuma outra substância que você come provoca uma resposta insulínica. Esses diferentes caminhos do açúcar e da gordura na dieta são, e sempre foram, ditados pela interação dos hormônios, em resposta ao ambiente e a seus níveis de estresse. A insulina está de um lado, na prancha sobre o tronco, e a epinefrina, o cortisol, o hormônio do crescimento humano e o glucagon estão do outro lado. O equilíbrio entre os dois lados da prancha é alcançado quando uma molécula de hormônio se dirige para um receptor – em geral que lhe seja próprio, porém nem sempre. Lembre-se de que a sobrevivência reside na comunicação cruzada. Os hormônios e seus receptores são moléculas isoladas de pesos diferentes. “Ligando” é outro termo que designa qualquer molécula que adere a um receptor – não apenas hormônios, mas também neuropeptídeos do cérebro e dos intestinos e citocinas do sistema imunológico. Lembre-se da metáfora do cadeado e da chave. As moléculas do receptor são grandes e as moléculas do ligando são pequenas. Ligare vem do latim e significa “aquilo que liga”. (Ligare é também origem da palavra “religião”. Não se trata de coincidência.) Os receptores flutuam à superfície, vindos de dentro das células, como folhas de vitórias-régias com raízes bem compridas. Quando as folhas das vitórias-régias recebem um chamado para “ir à superfície” para ter uma interface, as raízes se esticam, para se conectarem ao núcleo da célula. Um mecanismo chamado quemotaxe guia a molécula parceira em perspectiva até o encontro com o receptor, na folha das vitórias-régias. A quemotaxe funciona igual ao raio trator, do filme Jornada nas Estrelas. Quando a

Pág 82molécula de hormônio, neurotransmissor ou expressão imunológica (citocina) cai na vitória-régia, as “pétalas” respondem. O receptor muda de forma na presença de um ligando. A molécula do receptor, na verdade, abraça a chave química do ligando. Quando isso acontece, o receptor começa a sacudir e tremer, e a dança – ou mensagem – é transmitida enquanto o receptor e o ligando vibram e murmuram – literalmente, não figurativamente. Em Molecules of Emotion, Candace Pert diz que “uma descrição mais dinâmica desse processo poderia defini-lo como duas vozes – a do ligando e a do receptor – atingindo a mesma nota”. Temos aí a música de novo.

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Hormônios, neurotransmissores e citocinas são ligandos cuja mensagem é traduzida pelo efeito de uma molécula cutucando um receptor, até que a perturbação cria uma mudança que acomoda tudo. A partir do momento em que o receptor domina a situação e o “crescendo” acaba, a mensagem da molécula do ligando viaja através da raiz da vitória-régia, bem abaixo da superfície, para acionar interruptores no filamento de DNA dentro do núcleo. Quando você deixa as luzes acesas, você come açúcar; seus hormônios respondem de forma apropriada aos carboidratos que você consome, o que finalmente afeta o DNA de todas as células de seu corpo. É assim que uma espécie consegue se adaptar ao ambiente e ao alimento disponível. Se a disponibilidade de um dos três grupos alimentares muda, o animal vai acabar mudando também. Portanto, se você tentar viver com apenas um dos grupos alimentares e excluir os outros dois, acontecimentos ruins vão suceder. Em essência, aqueles de nós que ainda não são capazes de lidar com a mudança nos ciclos de luz e/ou no estoque de alimentos vão morrer. A exposição à luz artificial foi mínima durante a maior parte da existência da humanidade; uma brasa ardente aqui, uma vela ali. Dormíamos mais e não tínhamos acesso ao poder calórico do açúcar e da farinha refinados. Agora, nossa existência de 24 horas bem acesas, que substituiu a noite pelo dia, diz aos nossos controles internos que o verão não acaba nunca, e essa mensagem exige um banquete contínuo. Então, banqueteamos-nos. Porque o açúcar não acaba nunca.

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QUATRO

No gelo:A evolução, a biofísica e o escuro

Sou parte do sol, como minha Eva é parte de mim. Que sou parte da terra, meus pés o sabem perfeitamente, e meu sangue é parte do mar. – D. H. Lawrence

O açúcar é a luz do sol capturada. A energia revigorante do sol é absorvida pela vida vegetal do planeta. Quando comemos açúcar,

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as moléculas dos carboidratos se transformam em energia ATP (trifosfato de adenosina), nos centros de força de nossas células. Qualquer porção da energia solar que não seja imediatamente utilizada é reorganizada para ser armazenada, sob a forma de gordura corporal, para garantir alimento no dia em que as plantas estiverem adormecidas. Sobreviver é ter açúcar em quantidade suficiente para se armazenar um pouco para quando não houver nenhum disponível. Sobreviver nunca foi comer gordura, sempre foi fabricar gordura. Sobrevivência, teu nome é açúcar. Esta é a única verdade que existe, aqui e agora nos Estados Unidos, e desde o tempo mais longínquo que se possa imaginar. Sempre foi assim, desde a nebulosa história pré-humana. Pelo menos desde que se originou um verme sem cérebro e sem coração, chamado C. elegans, a sobrevivência sempre teve a ver com o açúcar. O nome científico do açúcar é carboidrato. Os carboidratos são o único alimento que podemos armazenar, ao contrário do que lhe informaram. Muitos carboidratos que comemos hoje “vieram com” o planeta – maçãs, ervilhas, feijões, cenouras, cana-de-açúcar e beterrabas, em sua forma original. Nós humanos, sempre ansiosos para melhorar a natureza, inventamos muitos outros: pão, sacarose, vinho, massas e bolos de arroz. E não importa muito se se trata de um carboidrato

Pág 84complexo ou simples refinado; tudo não passa de açúcar, e para qualquer organismo dotado da mágica molécula de insulina, isso significa sobrevivência. Os vermes lhe diriam isso, se possuíssem mente. Ainda é objeto de debate descobrir o que, exatamente, seria um carboidrato para o C. elegans, mas sabemos que ele o utilizava para sobreviver, pois possuía um gene capaz de produzir insulina quase exatamente igual ao nosso. O que significa que o tataravô de nossas origens comuns, há centenas de milhões de anos, era movido pelo mesmo combustível que nós, porque era o que o planeta tinha para oferecer. A insulina é a razão pela qual o nosso sangue pode ser usado como combustível por nossas células. Sem a insulina, nossos tecidos passam fome, e os mecanismos celulares e mitocondriais se desfazem em pedaços. Se a vida é lux, ficar sem insulina é a escuridão.

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O TEMPO CERTO É TUDO

Para a maioria dos americanos, insulina é um remédio. Sem dúvida, todos os diabéticos sabem que não podemos viver sem ela. As pessoas que viram o filme O reverso da fortuna sabem que o excesso de insulina envenenou Sunny von Bülow. Mas, para a maioria dos americanos, a insulina é algo sem maior importância, ou assim eles acham. A insulina é uma molécula relativamente pequena, produzida nas células beta de seu pâncreas. Tem a dupla tarefa de dar às células acesso ao açúcar que está no sangue, e de girar os botões para armazenar o restante, numa forma “mais leve”, como gordura corporal. A insulina é o hormônio da armazenagem. Além de proporcionar aos músculos, cérebro e fígado o acesso ao açúcar, a principal tarefa da insulina é lidar com o excesso. Possuímos este mecanismo receptor de insulina para administrar o excesso de açúcar ingerido porque sempre se esperou que ingeríssemos açúcar em excesso toda vez que pudéssemos. Comer açúcar demais, em termos de sobrevivência, é instinto. Na natureza, que para nós mal existe ainda, os animais sempre comem carboidratos em excesso toda vez que os encontram, para o caso de não encontrarem mais no dia seguinte. Todo o açúcar que você come é muito pesado, porque os carbo-“hidratos” são hidratados. Os carboidratos são combustível e água juntos. Sem a água embutida, as moléculas de carbono pesam bem

Pág 85menos. Essas moléculas de duplo carbono liberadas depois que a água se dissipa, através das lágrimas, do suor ou da urina, são gordura corporal. Você pode concentrar muito maior quantidade da energia dos carboidratos na forma de gordura leve. A quantidade de gordura que você precisa armazenar, como mamífero, depende do tempo que você planeja ficar sem comida e de quanto tempo você precisa para se reproduzir. Isso nos traz de volta a questão da sobrevivência. O prolactina é o hormônio da sobrevivência. A maioria de nós pensa que a prolactina só produz leite humano. Ela realmente faz isso, mas seu papel mais importante é fazer com que possamos sobreviver durante a nossa vida, pois ela controla o nosso apetite. Como recém-nascidos, o primeiro gosto de sobrevivência que sentimos é doce. Precisamos gerar gordura a partir do açúcar desde o primeiro dia. O leite de todos os mamíferos tem um teor

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astronômico de açúcar. O leite do seio é um fluido corporal rico em carboidratos, incrementado com um pouco de proteína, para criar as moléculas necessárias à função imunológica, e uma quantidade enorme de cadeias de ácido graxo molecular, para produzir hormônios que vão interagir com o novo ambiente da criança. É a prolactina da mamãe, que não apenas cria nossa dependência do sabor doce, tipo “a primeira dose é de graça”, mas cria também nossa ligação com o sistema imunológico do planeta, ao alimentar essa dependência. No mesmo nível de importância, a prolactina da mamãe vai à estratosfera quando ela produz esse leite, porque prolactina altíssima é sinônimo de um estado de ser auto-imune. A auto-imunidade significa apenas que o sistema imunológico da mamãe está trabalhando além da conta, despejando funções imunológicas no leite do peito, para programar o sistema imunológico do bebê com toda a memória coletiva que o sistema imunológico da mamãe, assim como o de sua mãe e o da mãe desta, vem transmitindo sobre seus ambientes, muito antes que o bebê sequer tivesse um nome. Enquanto a insulina nos torna capaz de desviar os golpes quando lutamos com a natureza, ao armazenar energia do sol/açúcar para usar mais tarde, a prolactina é quem realmente controla nosso apetite pelo resto de nossas vidas, ao suprimir a leptina – que, obviamente, é o botão que aciona o NPY, responsável por nosso gosto pelos alimentos que podem ser armazenados. Mesmo com a capacidade de armazenar carboidratos, a sobrevivência – antes dos hortifruti e dos freezers – dependia inteiramente da época certa de cada alimento, particularmente durante a escassez provocada pelas mudanças do clima. Nosso metabolismo banquete-ou-fome nos dava a dianteira.

Pág 86 Nossos genes internos sensíveis à luz, movidos pelos céus, na verdade “cronometram” o tempo necessário para produzir a melatonina, de modo a dar à prolactina a “previsão do tempo”, para que essa possa programar nosso apetite em sincronia com o ciclo de rotação. A conseqüente duração da produção de prolactina, a partir do relatório da melatonina, vai determinar se será necessário ou não produzir prolactina no dia seguinte. No inverno, o “relógio melatonina” faz o “timer da prolactina” trabalhar um pouco mais à noite, o que, por sua vez, significa que não secretamos prolactina durante o dia. Isso ocorre porque se a prolactina for produzida durante o dia, ela não apenas suprimirá a ação da leptina e deixará à solta o seu desejo por açúcar (numa

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época em que não há açúcar disponível), mas também, no glossário da natureza, significará que homens e mulheres estariam na “lactação”. Graças, portanto, ao envelhecimento e aos relógios enguiçados, todos nós, a essa altura, somos muito auto-imunes. (Este é o efeito colateral de estar fora de ritmo que gera grandes lucros para os fabricantes de anti-histamínicos). A produção de leptina a partir de nossa base de gordura é o “mediador graduado” que informa o NPY quais são nossos níveis de gordura, e se ele deve ou não ativar nossa compulsão por açúcar. A premissa é que, se você possui gordura suficiente, a leptina que ela produz vai desativar o seu apetite por açúcar. Lembre-se dos caras da fruta-pão. Quando a prolactina do dia suprime de sua base de gordura, o NPY interpreta isso como “falta de gordura” – e seu apetite por açúcar permanece ativado durante todo o dia e parte da noite. Se você não dormir, e a luz (ou sua ausência), que acertaria seu relógio de melatonina ao longo de todos esses ciclos, nunca se apagar, você simplesmente continuará a comer açúcar e a produzir gordura até explodir, porque seu relógio está andando depressa demais. Sua mola-mestra está quebrada. É pessoal, é mais ou menos onde nós estamos agora. Esse metabolismo banque-ou-fome, embutido no sistema insulina/carboidrato, facilitava nossa sobrevivência ao armazenar os carboidratos como gordura. Essa conexão programada com o ambiente tornou possível a adaptação a um clima completamente diferente, quando migramos para o norte, além da África. À medida que seguíamos para lugares de climas cada vez mais frios, com enormes variações em relação à abundância sazonal, a capacidade que o nosso

Pág 87corpo tinha de marcar os ciclos de luz e escuridão assumia uma importância ainda maior. O fato de possuir uma conexão solar que controlava o momento de direcionar nosso apetite para carboidratos e o nosso despertar para a reprodução não foi apenas o que nos manteve vivos a cada dia; na verdade, foi o que nos garantiu a própria vida humana. Nossa sobrevivência, como espécie, dependia de comer o suficiente para que pudéssemos nos reproduzir, e de fazer com que a reprodução coincidisse com a primavera, quando haveria alimento suficiente para manter vivos a mãe e a prole. A subida aparição de um sol que nunca se põe está matando aqueles de nós que evoluem mais lentamente, nos menos de

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oitenta anos desde que foi criado – período que não é, pelos padrões de hoje, sequer a duração completa de uma existência humana. A ironia é que nós conseguimos usar o fogo durante pelo menos 45 mil existências humanas somadas. O trabalho arqueológico de campo desenterrou pontas de lança de madeira de 300 mil anos atrás que pareciam ter sido endurecidas pelo fogo; no entanto, levou muito tempo até que o domesticássemos. Em algum momento dos 230 mil anos seguintes, nós começamos a “viver” dentro de habitações, não apenas a buscar abrigo para dormir ou se proteger da inclemência do tempo; mas não há evidências de que o fogo tenha sido usado para cozinhar até há uns 70 mil anos atrás. É mais ou menos o mesmo período em que a arte das cavernas da era Paleolítica começa a apresentar sinais de desenhos feitos a carvão. Até aqui – depois do inverno gelado, escuro e sonolento de dias curtos e de noites longas – o sol sempre voltava, as plantas cresciam e os bebês nasciam. Os dias espelhavam os anos: a cada revolução do planeta, da luz para a escuridão, quando o sol desaparecia, tudo adormecia – até despertar de novo, assim como o verão sempre se transformava em inverno e depois voltava novamente. Era um sistema perfeito, até o homem dominar a arte de transportar o fogo. Já que podíamos levar e finalmente recriar as conseqüências de relâmpagos e trovões, tudo começou a mudar. Com a energia portátil, podíamos estender o dia para nosso uso internamente – à noite. Nenhum outro ser vivente podia fazer aquilo. Nós, os filhos de Prometeu, distanciamo-nos assim das outras formas de vida. Foi essa luz após cair da noite, em bases regulares, o que fez os ciclos de melatonina encurtarem o suficiente para deixar a testosterona e o estrogênio virem à tona, que ótimo, o ano inteiro. Essa mudança

Pág 88aparentemente simples apagou os sinais sazonais normais que indicavam a época da procriação. Nossas estimativa é que paramos de “hibernar”, ou dormir durante dias ou semanas a cada vez, também durante a escassez de comida nos climas frios, porque foram encontrados restos fossilizados de moluscos, crustáceos e pequenos gamos em cavernas da Idade do Gelo. Agora, então, vivíamos dentro de habitações, longe do gelo, relativamente aquecidos e, sem dúvida, incrivelmente entediados. Esse período produzir a primeira fase da arte das cavernas, talvez também a arte de contar histórias e a religião. Talvez rezássemos

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para ter algo algo que fazer além de desenhos na parede. Em vez de dormir ou cochilar para reduzir o metabolismo e as necessidades físicas, e também aumentar as funções imunológicas, ficávamos o dia inteiro à-toa, sem ter o que fazer, a não ser comer e ficar deitado. Igualzinho a hoje. Como ocorre com todos os sistemas circulares de resposta positivos, menos torpor queria dizer mais tempo acordado – e mais tempo acordado era igual a maior uso do fogo, e assim por diante. Esse crescimento auto-alimentado do uso do fogo significava, é claro, ainda mais luz para bagunçar a capacidade da melatonina de transmitir informações relativas à rotação e à órbita. Veja você como a evolução simplesmente fica fora de controle. Durante todos os períodos antes do atual – não apenas no período humano ou mesmo no hominídeo/primata –, desenvolvemos estratégias bem-sucedidas para lidar com as forças da natureza. De uma vivência marcada por ritmos sazonais associados à existência de alimento para permitir a reprodução, nós viemos – assim como todos os outros animais da terra – para um lugar novo, sozinhos, sem o resto da família. Uma fez fora do Éden, não havia mais volta. A luz nos transformaria mais do que sequer ousaríamos imaginar. A luz, em si, era muito mais sedutora do que qualquer serpente com um carboidrato. A luz nos deu mais tempo para aprender do que qualquer outra espécie poderia ter e, em última análise nos deu, também, a capacidade de nos reproduzirmos mais do que todas as outras espécies. É claro que teve de haver algumas compensações. As pessoas começaram a morrer de novas maneiras. Fumaça em espaços fechados e o aumento dos hormônios sexuais acabaram logo de cara com muitos de nós.

ESPÉCIE II

Mas aqueles que permaneceram vivos após o milagre do fogo móvel dormiram menos, imaginaram mais e começaram a falar durante o período escuro e frio, porque não era mais tão escuro ou tão frio dentro de casa, graças ao fogo. Não sabíamos que o fogo, através da sua luz, podia matar sem deixar marcas, sem mais do que uma bolha. Não tínhamos idéia, então, de que o fato de sermos banhados por luz artificial durante aquelas horas da noite em que sempre havia reinado a mais completa escuridão estava nos transformando por dentro.

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Moléculas como a melatonina, um hormônio que sabemos que é produzido durante o período escuro, informam sobre o ângulo e a órbita do planeta. Quando as horas de luz pararam de variar gritantemente com as estações, graças à luz produzida pelo fogo, nossas “molécula-sentinela” ficaram paradas numa informação de primavera. No início, foi só o suficiente para nos tornar um pouco mais inteligentes também. Os sonhos, que costumavam acontecer só à noite, passaram a acontecer também de dia, graças à transferência da produção de prolactina para a manhã. Começamos a imaginar. A crescente necessidade de comunicar e simbolizar esses sonhos diurnos nos deu a língua. Depois da conquista do fogo, foi a reprodução o que nos diferenciou de todas as outras formas de vida ao aumentar artificialmente a nossa quantidade. Os bebês não esperavam mais a primavera para nascer. Éramos férteis o ano inteiro, porque o verão era eterno em nossos ovários e em nossas mentes. Embora muitos bebês tenham morrido de fome no início, havia tantos que, de alguma maneira, era mais fácil criá-los. A memória, também, graças ao aumento da dopamina provocado pela luz, começou a povoar nossos cérebros em expansão com “atalhos de recompensa” para nos dar vantagem intelectual. Esse fenômeno, junto com toda a carne que comíamos no inverno, tornou a expansão do cérebro uma realidade física também. Imagine a bagunça homeostática que todos aqueles artistas sensíveis, que ficavam acordados a noite inteira e o inverno inteiro, que se multiplicavam sem controle, que tinham cérebros grandes e mentes pequenas, que estavam eternamente famintos e eram loucos por sexo, devem ter criado para o resto das criaturas que, na Terra, ainda viviam em sincronia umas com as outras e com o cosmos.

Pág 90 GELO, GELO, BABY

Durante as últimas centenas de milhares de anos, mais ou menos, nossa Família Humana caçou para obter proteínas sob a forma de peixes, animais, amêndoas e insetos, e colheu frutas, raízes comestíveis, cascas e folhagens da estação, durante o período de dormência que chamamos de inverno. Durante grande parte deste período, as condições climáticas foram esfriando lentamente o planeta, e muitos de seus habitantes, até chegar a um congelamento profundo que durou muitos milênios e condenou grandes quantidades de vegetação à extinção permanente. Se ainda não tivéssemos o fogo, teríamos perecido também. O mais

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recente desses períodos glaciais cíclicos que duravam 100 mil anos terminou há cerda de 10 mil anos. Essa última idade do gelo enterrou grande parte da Europa Continental e da América do Norte, onde chegou ao sul, além de Nova York, e também a Chicago, com uma camada de gelo sólido que, em alguns lugares, chegou a ter 4,8 km de profundidade. Nós, humanos, não vivemos nenhuma das idades do gelo anteriores, porque não havíamos migrado para o norte até essa última. As grandes rochas redondas que se destacam no Central Park de Nova York vêm de uma vasta planície, no alto do continente norte-americano, chamada Labrador Oon Gala. O termo nativo que designa as rochas – na língua esquimó dos povos que vivem onde elas se originam – é nuno tacs, ou “pedras solitárias”. Sempre que um glaciar derrete, essas rochas ficam. O gelo virá de novo. Vai esmagar cidades e sugar os mares. Mas nós vamos sobreviver, assim como os nossos ancestrais sobreviveram. O gelo sempre voltará, até o final da vida da Terra no universo, porque sua chegada é marcada pelo tempo de nossa viagem em torno do sol, e pelo ângulo em que viajamos. Nossa posição em relação ao sol, ou a inclinação em nosso eixo, varia a cada 41 mil anos mais ou menos, e nosso “sacolejo” (pense num pião girando) provoca uma perturbação importante a cada 20 mil anos. Quando essas duas variações acontecem juntas, desencadeiam um grande evento – uma mudança no formato da órbita terrestre, que passa de circular para elíptica. Isso que acontece a cada 100 mil anos, como um relógio, para mergulhar a Terra e nós homens em outra Idade do Gelo. O efeito combinado de três ciclos orbitais altera o ângulo e a distância em que a luz do sol atinge a Terra nas latitudes mais ao norte. O norte é a chave desse processo. Quanto menos sol no norte, no pólo, mais gelo se acumula, mais reflexiva fica a

Pág 91superfície do gelo, mais sol se reflete para longe da Terra – o que significa ainda menos sol, mais gelo, e assim por diante... Esses séculos de Idade do Gelo mudaram mudaram nosso metabolismo de forma permanente. Durante verões muito curtos e não terrivelmente quentes, conseguimos carboidratos que mal foram suficientes para sobreviver. Aqueles que eram mais sensíveis à luz e tinham maior potencial de armazenagem sobreviveram, e nós somos os seus descendentes. Agora, essas características são uma sentença de morte.

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Se o homem paleolítico não tivesse ingerido uma dieta em que predominavam a proteína e a gordura na melhor porção de cada dia, isso significaria que ele teria de ficar sem alimento durante milhares de anos a cada vez. Lamento, vegans, mas isso seria altamente improvável. Esses milhares de anos marcados por uma violenta ingestão de proteínas e gorduras provocaram um aumento direto no peso do cérebro, o que alimentou a expansão neural evolutiva da qual já falamos. Durante toda a trajetória da humanidade, o homem viveu e evoluiu com uma dieta composta de 80% a 90% de proteína e de teor de gordura nela presente, durante pelo menos sete ou oito meses no ano, e durante o resto do tempo de vegetação colhida somente na estação. A total ausência de pedras de amolar, pilões e pás define com clareza o tipo de nutrição da Idade do Gelo. Eles nunca tiveram alimentos em quantidade suficiente para se darem ao trabalho de inventar a moagem ou a trituração. Os esqueletos remanescentes também são testemunho do tipo de dieta da época. Em 1988, antropólogos da Emory University compararam os estilos de vida atual e paleolítico no trabalho “The Paleolithic Prescription”: “Ao estudarmos os esqueletos remanescentes o último período paleolítico e analisarmos os atributos de recentes grupos de caçadores-coletores, é possível desenvolver um perfil anatômico – e até certo ponto bioquímico – detalhado. Deduzimos a estatura do primeiro ser humano a partir de um único osso de um dos membros, com uma fórmula que relaciona a altura total ao tamanho do osso de um membro. Há 30 mil anos, os machos do leste mediterrâneo tinham uma altura média estimada de 1,77 m, mas os fósseis Leakey-Walker apontam mais na direção de uma média em torno de 1,88 m”. Esses povos atingiam alturas maiores que as, ou comparáveis às, das populações “bem-nutridas” de hoje. Os antropólogos prosseguem: “Esses esqueletos remanescentes também refletem força e musculatura; o tamanho das juntas e os locais

Pág 92onde os músculos se encaixam nos ossos indicam a massa muscular dessas pessoas e a quantidade de força que podiam exercer. O CrogMagnon médio era sem dúvida tão forte quanto os atletas femininos e masculinos superiores de hoje em dia. Eles trabalhavam muito menos horas do que os posteriores agricultores, mas eram muito mais robustos.”

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Mesmo há 50 mil anos, não é possível distinguir o hominídeo Homo sapiens sapiens de nós, em termos biológicos. Se estivesse usando chapéu e óculos escuros, não conseguiríamos identificá-lo numa fila. Em termos culturais e sociais, as mesmas características que o mantiveram vivo são as que nos mantêm vivos hoje. Criamos utensílios de pedra, deixamos uma estrutura cultural, aprendemos técnicas e praticamos soluções, tudo dentro das noções aceitas de família e estrutura de parentesco. Essas qualidades de vida ainda são reconhecidas hoje como importantes ao bem-estar mental funcional. Os antropólogos e especialistas em medicina forense, que recriam as faces verdadeiras a partir de partes fossilizadas de mandíbulas e crânios, dizem que as faces do Cro-Magnon eram completamente modernas. Embora as pessoas que viveram no período entre 40 mil e 10 mil anos atrás não tenham alterado o mundo natural à sua volta de modo a continuar a existir por um milhão de gerações, talvez algum dia alguma mulher, cansada de montar e desmontar o acampamento, tenha dito ao marido: “Meu bem, e se a gente tentasse fazer essa coisa crescer bem pertinho da nossa porta?” Nesse dia, o mundo mudou para sempre. Foi só há 10 mil anos realmente curtos, não importa se um milênio a mais ou a menos, que nós nos tornamos capazes de controlar o estoque interativo de alimentos fornecidos pela terra que asseguravam nossa sobrevivência. Até este último século, desde aquele momento distante, dez milênios atrás – ou seja, durante nossa existência pré-histórica inteira – só podíamos comer os carboidratos que pudéssemos roubar e tomar da cornucópia do planeta. Isso significa que comemos os mesmos tipos de carboidratos “naturais” durnate os últimos 9.900 anos, nas mesmas quantidades. Agora não é mais assim. Nenhuma outra espécie, em tempo algum, teve acesso ilimitado à energia de carboidratos sem se preocupar com esforço, estação, competição e desastres naturais. A agricultura alterou para sempre o equilíbrio da natureza. Se antes tínhamos problemas, a partir daí passamos a corre sério perigo.

Pág 93 O advento da agricultura, há 10 mil anos, como uma alternativa viável em relação a caçar e a colher os frutos da natureza, concluiu efetivamente o período paleolítico e praticamente eliminou o estilo

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de vida de caça e colheita no mundo todo. A Revolução Neolítica trouxe o fim de nossa coexistência com tudo o mais, nos termos da Terra. A partir daí, todas as interações aconteceriam nos nossos termos. “Revolução” implica uma derrocada intencional de uma instituição em favor de outra. Na realidade, a súbita abundância que se tornou possível quando o estoque de alimentos passou a ser controlado pelo consumidor também proporcionou calorias em número suficiente para sustentar os padrões de reprodução em transformação.

O HOMEM SE FIXA À TERRA

Depois que aprendemos a “cultivar essa coisa perto da parta de casa”, paramos de nos mudar tanto. Em vez de seguir o gado para comer o que precisávamos, começamos a armazenar quantidades cada vez maiores de grãos e frutas selvagens, além da carne. Essas previsões eram pesadas demais para transportar em viagens, mas com elas podíamos alimentar todas as novas boquinhas; então, pelo bem das crianças, começamos a nos fixar. Nos velhos tempos, um caçador podia sustentar a si mesmo, a uma mulher grávida, talvez duas crianças e até mesmo um parente idoso. As mulheres grávidas e os mais velhos, junto com uma ou duas crianças, ajudavam a aumentar as provisões recolhendo insetos e nozes para suplementar as proteínas necessárias. A dupla caçador-colhedor, homem-mulher, representava uma divisão do trabalho economicamente “igual”. Quando nos fixamos para cultivar a terra, no entanto, a dinâmica passou a pesar mais na direção do controle econômico pelo macho. Foi assim que nasceu a desigualdade sexual. Um fazendeiro podia sustentar não apenas mais filhos, em termos nutricionais; às vezes podia até sustentar mais mulheres e seus filhos. Um “dono” de terras, na verdade, podia sustentar tudo isso e mais os homens necessários para defender a terra, além das mulheres que esses homens possuíam. Em algum ponto da jornada, o grande fazendeiro dono de terras se transformou num sultão, dono de 16 mil virgens, porque podia alimentá-las. A agricultura não se traduziu apenas pelo fato de o número de fazendeiros superar o de caçadores-colhedores; ela

Pág 94se tornou também o meio para qualquer homem alcançar um sucesso inimaginável em termos reprodutivos.

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A Bíblia nos diz isso. Começamos também a trabalhar juntos em grupos maiores. Essa domesticação se estendeu além de nossa pequena esfera humana. Ao dominarmos as plantas, finalmente dominávamos os animais. Tudo o que cultivávamos em volta de nossos assentamentos atraía os animais até nossa porta – e tínhamos duas espécies pelo preço de uma. Pela primeira vez, desde que aprendemos a mentir uns para os outros, comíamos regularmente, ao enganarmos outras espécies com oferta de comida. Todo o excesso de luz e de aprendizagem estava desenvolvendo em nós um novo tipo de memória e de instinto, do qual os outros animais não podiam participar. Esse pacto com o diabo, que chamamos de agricultura, alimentou uma enorme explosão populacional. Nós, macacos humanos, não estávamos mais apenas perturbando uns aos outros; éramos uma força a ser computada. Havia seres humanos em número suficiente para “reformar” a Terra de acordo com nossas necessidades e escravizar a maior parte das outras formas de vida. Isso não se parecia, de jeito nenhum, com nossa humilde origem de caçadores-colhedores.

DESDE a.C.

Como os glaciares começavam a se derreter lentamente e o globo estava mais quente e molhado, e porque a noção de tempo de nossos ancestrais era impecável, a civilização deu um salto naquele período. No início, quando ficávamos acordados por mais tempo, enganávamos os órgãos reprodutores, fazendo com que trabalhassem em “turnos duplos”, o que nos mantinha reprodutivos o ano todo. A supressão da melatonina e a crescente exposição ao estrogênio e à testosterona já haviam modificado nossa capacidade de nos reproduzirmos. Agora a insulina seria testada. Que qualidade de açúcar poderíamos suportar? A agricultura havia transformado o equilíbrio nutricional para 90% de carboidratos e 10% de proteínas e gordura – quase uma dieta de baixo teor de gordura. Seguiram-se séculos de morte e doença. Os humanos, ao longo do curso dos últimos 7.500 anos, perderam uma média de 1,5 cm em altura. Éramos seres bem pequenos, de forma geral, até recentemente.

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É por isso que, nos museus, você vê aquelas armaduras pequeninas e aqueles sapatos vitorianos do tamanho do pé de Cinderela – e na rua, do lado de fora do museu, encontra nisseis americanos muito altos, que abandonaram sua dieta predominantemente baseada em arroz, desde que vieram viver nos Estados Unidos. Só no último século é que a nossa dieta provocou um retorno a um potencial fenotípico de dormência recuperado. Traduzindo: com mais proteína em nossa dieta, quase voltamos ao nosso tamanho original. As conseqüências, em termos de doenças, da dieta gerada pela agricultura só foram mitigadas pelo esforço físico insano necessário para manter as plantações. A agricultura é um trabalho pesado – pesado o suficiente para queimar mais de 90% de uma dieta de carboidratos, se você fizer todo o trabalho pessoalmente – você e talvez seu touro. O fato é que o dispêndio de calorias necessário para os fazendeiros puxarem os próprios arados e trabalharem dez horas por dia explica porque sobrevivemos tão bem, mesmo comendo a quantidade de pão que comíamos. A agricultura também acrescentou outra mentalidade à nossa visão da nutrição: a economia acima da necessidade. A principal razão para o crescente percentual de carboidratos na dieta foi que matar os animais simplesmente para comer nos parecia uma visão curta. Dividir a colheita com eles significava que haveria menos para nós durante o inverno; por outro lado, se os mantivéssemos vivos, eles poderiam nos fornecer leite para fazer queijo – e ainda continuar a produzir filhotes de sua espécie. Começava a se desenvolver uma espécie de especulação. Não estávamos enganando apenas duas outras espécies; estávamos enganando a Mãe Natureza. A agricultura, assim como o fogo, não só nos isolou de todos os outros seres viventos; também nos fez ficar muito doentes, mais uma vez. Logo que os bebês começaram a nascer o ano todo, a taxa de mortalidade cresceu, mas naquela época isso mal era notado, em função do grande aumento da população em geral. O valor da vida foi ficando menor por causa da onipresença do homem Mais um Mundo das Margaridas déjà vu.

O ENVELHECIMENTO DA MÁQUINA

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Nosso próximo passo gigantesco para sair do éden (este foi o terceiro) foi criar máquinas simples para aumentar nossa força física e nossa

Pág 96capacidade. Isso impulsionou nossa capacidade de especulação um pouco mais para cima, e nos levou a conquistar o trovão, depois as plantas e depois os animais. Tudo começou com o pilão e a pá. Se partíssemos os grãos em pedaços menores, ele durava mais. Um pão feito com duas mancheias de grãos podia alimentar mais de duas pessoas; com o aumento do número de pessoas, muito, muito mais pessoas passaram a querer muito, muito mais pão. Esse crescente e contínuo consumo de carboidratos, por pessoas que estavam programadas para comê-los apenas durante alguns meses do ano, matou tanta gente naquela época como mata agora. A verdadeira dizimação começou – e continua para nós, 10 mil anos depois – quando o homem passou a refinar os carboidratos. Os grãos moídos e, mais tarde, o suco doce das beterrabas e da cana-de-açúcar, depois de seco e transformado em pó, eram registrados pelo nosso sistema insulina/açúcar no sangue como pássaros no fundo do oceano. Não tínhamos qualquer referência para aquilo; não fazia sentido. Não havia um lugar, em nossos sistemas, onde tanta energia, chegando de uma vez só, pudesse caber. Mais e mais pessoas, com isso, passaram a usar seus casacos de gordura ao longo da primavera e do verão também.

BRILHANTES IDÉIAS

Embora tenham diminuído a nossa marcha, todas as bocas a mais para alimentar também passaram a demandar, de seus pais, soluções criativas. Um homem que adorava a eletricidade uma vez disse: “A necessidade é a mãe da invenção”. Para os seres humanos, a necessidade perturbou o equilíbrio. Até hoje, não fomos superados por qualquer outra espécie na Terra, quando o assunto é a produção de alimentos e a quantidade que podemos armazenar. Nós, humanos primatas, nos distinguimos das outras espécies que habitam o planeta não porque caminhamos eretos, mas porque ficamos acordados por mais tempo para aprender – e porque aquecemos o nosso ambiente quando estava frio demais para sobreviver. Nós aumentamos o abismo entre “eles e nós” com a agricultura – ou, mais precisamente, ao capturá-los e confiná-los. Não dá mais para voltar.

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PARTE III

A VERDADEESTÁ AQUI

Pág 99CINCO

Negue tudo:O sono controla o apetite e, portanto,a obesidade, o diabetes e a hipertensão

“Tenho apenas um parco conhecimento funcional do cérebro humano, mas ele é suficiente para me tornar orgulhoso por ser americano. Seu cérebro possui um trilhão de neurônios, e cada neurônio possui dez mil pequenos dendritos. O sistema de intercomunicação inspira admiração. É como uma galáxia que você pode segurar com as mãos, só que mais complexa, mais misteriosa.” “E por que isso o torna orgulhoso por ser americano?” “O cérebro da criança se desenvolve em resposta aos estímulos. Em termos de estímulos, nós ainda somos os líderes mundiais...” - Don DeLillo, White Noise

Os Estados Unidos são a terra das pessoas melhores, mais brilhantes e mais doentes do mundo. Somos os líderes em produtividade, distúrbios alimentares, pontuação em testes de aptidão acadêmica, diabetes, tecnologia de ponta, doenças cardíacas e câncer. O que todas essas realizações têm em comum? Sem dúvida não é a dieta rica em gorduras. Em nossa cultura, as pessoas se vangloriam da pouca gordura que comem e da pouca quantidade de sono de que necessitam. Essas duas conquistas são uma revelação direta de nossa ambição e força de vontade. Nosso lema nacional é: “Se cochilar, você perde.” A expressão “hora extra” se tornou arcaica. Para aplicar tal medida ao tempo, teríamos de reconhecer um ponto de parada no

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dia de trabalho. O conceito de “abolir o tempo” é que é o verdadeiro achado hoje.

Pág 100 Veja quantos termos nós inventamos para descrever o estresse do sucesso – desde as inofensivas “personalidades tipo A” ou “quem corre atrás” até termos mais disparatados como “um caso de exaustão” e “fanático pelo sucesso”. Os europeus não chamam uns aos outros de nomes assim. Nos Estados Unidos, trabalhamos pelo menos dez horas por dia, tentamos fazer exercício durante algumas horas por semana – e sofremos. Dean Ornish diz que o amor vai nos manter juntos e o Dr. Andrew Weil até sugere um “baseado” ou dois por razões médicas. Nessa cultura, quando somos jovens, tomamos drogas para relaxar; quando ficamos velhos, tomamos drogas para sobreviver. Será que sempre foi assim? Só para os baby-boomers. Por volta de 1940, os Estados Unidos pós-guerra descreviam nosso estilo de vida com expressões do tipo “aturar os vizinhos”, “ascender na escala corporativa” – e o nosso sucesso com frases do tipo “é o bom e velho trabalho duro”, como se fôssemos as únicas pessoas do mundo que tentavam realizar alguma coisa. Para conquistar a liderança mundial, os americanos, em termos metafóricos, resolveram “virar uma noite” que já dura oitenta anos. Vivemos em cidades que nunca dormem, num país que se agita 24 horas por dia. Ocorre que deter a liderança em obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer foi só um bônus. É claro que o golfe teve de ser sacrificado, assim como aqueles piqueniques dominicais com a família. Nós, americanos, só temos tempo para um hobby realmente sério na década de 1990: preocuparmo-nos com a morte. Agora, que manter nossos falhos corações funcionando toma todo e qualquer tempinho que teríamos depois do trabalho para nossas esposas ou filhos, uma coisa tão sem importância como dormir é verdadeiramente inimaginável.

SAIR DO ÉDEN

Os americanos acabaram desistindo de dormir. No máximo, conse-guimos umas cinco ou seis horas direto por noite. E todos nós acre-ditamos que estamos muito bem assim. Usamos despertadores, café e, na década de 1980, quando queríamos ser os donos do Universo, coca. Nesse caso, a coisa real, não abebida. Talvez este-

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jamos cansados, mas não estamos demonstrando... ou será que estamos?

Pág 101 De acordo com estudos sobre incompetência relacionada ao trabalho, parece que estamos começando a desmoronar. A Comissão Nacional de Pesquisa sobre Distúrbios do Sono estimou que o custo direto anual para os empregadores, como já mencionamos antes, é da ordem de US$ 15,9 bilhões – e olhe que eles estão falando apenas de dinheiro. Setenta milhões de americanos relatam problemas para dormir, mas o que isso significa? Em 1982, o Journal of the American Medical Association publicou os resultados do “Projeto Sono”, conduzido pelo Centro da Associação de Distúrbios do Sono. O caso relatava o estudo de 5 mil pacientes ao longo de dois anos. O distúrbio mais comum era a hipersonolência, ou sono excessivo. Quarenta e dois por cento das pessoas, em 1982, estavam cansadas demais para se manterem acordadas. Vinte e seis por cento delas não conseguiam dormir ou continuar dormindo. O estudo concluiu que a hipersonolência é o resultado da apnéria do sono. A apnéia do sono é um fenômeno em que a pessoa esquece de respirar. O fato de esquecer de respirar significa que o cérebro está cansado demais. Somente aqueles que podem perder sono sem engordar, ficar doentes ou esquecer de respirar continuarão a evoluir após o surto de velocidade evolutiva induzida pela luz artificial. Os descendentes destes serão capazes de sobreviver sob forte luz durante 24 horas e comer as embalagens plásticas. A maioria de nós com certeza não estará entre essas pessoas. Felizmente para o resto de nós, no entanto, a luz ficou limitada durante milênios. Embora pudéssemos queimar qualquer coisa que pegasse fogo, a qualidade da luz produzida variava. E o estoque de material combustível disponível também controlava as horas e a qualidade da luz depois do escurecer. A melhor luz vinha da cera de abelhas e da gordura animal chamada sebo. E nenhuma dessas duas substâncias era barata. Mesmo milhares de anos depois que construímos cidades e países, o mundo, à noite, era escuro como breu. As casas isoladas possuíam luz fraca após o pôr-do-sol, mas o mundo lá fora ainda era um vácuo repleto de barulhos assustadores. Viajar era perigoso. As pessoas nunca se aventuravam a sair depois que escurecia,se pudessem evitar. E quando o faziam, pagavam alguém para

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escoltá-las com uma tocha. Esse velho “esquema de proteção” se transformou naquilo que conhecemos hoje como a polícia. A nossa polícia trabalha à noite sob a luz do dia virtualmente recriada; no entanto, os policiais ainda carregam porretes de madeira.

Pág 102 Há quanto tempo somos donos da noite? Evoluímos com um único tipo de iluminação durante 70.600 anos. Depois, há apenas quatrocentos anos, o tempo de duração da luz em um ponto fixo mudou substancialmente. Paris se tornou a primeira cidade do planeta a erguer velas de sebo nas ruas à noite. A palavra curfew, na língua inglesa, que significa “toque de recolher”, na verdade é composta por duas palavras francesas, couvre feu, que significa “cobre-fogo” – ou seja, luzes apagadas, volte para casa. Até a idéia francesa pegar, o cidadão mediano de todas as grandes cidades contratava um cicerone com uma tocha para acompanhá-lo depois de escurecer. Com exceção de Paris, a iluminação doméstica, em 1600, era exatamente igual ao que havia sido durante milhares de anos. Paris manteve o título de Cidade-Luz durante quase duzentos anos, até que os lampiões de fás foram instalados em algumas outras cidades em meados de 1800. Era uma iluminação cara e que provocava sujeita. Ainda que, em termos de qualidade, a luz a gás fosse sem dúvida mais intensa e mais fácil de usar do que as velas individuais, não era nada em comparação à luz artificial que conhecemos hoje. Mesmo assim, os lampiões de fás da era vitoriana tinham claridade suficiente para iluminar mentes científicas como as de Faraday e Volta, que nos trouxeram às portas da extinção.

DORMIR, SONHAR E MORRER

O que acontece quando não dormimos o suficiente? Não apenas cansaço, mas obesidade, diabetes Tipo II, depressão, doenças cardíacas, infertilidade e câncer acenam no horizonte, se antes disso você não desmaiar de sono ao volante. Insuficiência mental e intelectual são apenas alguns dentre os vários sintomas da fadiga; mas todo mundo sabe que os sinais são realmente físicos. Quando você está exageradamente cansado, o corpo inteiro dói, os olhos queimam – e algumas pessoas até têm dor de estômago. Esses sintomas, que se parecem com os da gripe, sustentariam a teoria do crescimento da endotoxina LPS bacteriana. À medida que as

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endotoxinas das bactérias que vivem dentro de você aumentam por causa da falta de sono, elas fazem você ficar doente. Mas isso é apenas o que nós percebemos, cognitivamente, como pistas sintomáticas. Sentir-se péssimo quando se dorme pouco é um sintoma de acontecimentos muito maiores, que ameaçam a vida e que estão se revelando dentro de você.

Pág 103 Você está perdendo o passo. Todas as coisas vivas precisam ser parto do projeto. Na tela grande, moléculas chamadas quemóforos estão presentes em todos os animais, plantas e bactérias. Pense nelas como transdutoras de energia. Quando atingidas pela luz, as células dos quemóforos captam a energia e a transmitem. Os fótons da luz provocam mudanças químicas e elétricas no núcleo de todas as células. Isso é como um raio em meio ao céu azul. Essa eletrificação por energia radiante ocorre em todos os lugares dentro de você. Cada uma de suas células é um relógio que marca exatamente uma revolução em torno do sol. Toda a maquinaria molecular que você precisa para acompanhar o ritmo dos cosmos está dentro de cada célula individual. Cada célula de seu corpo é um relógio. Você possui um gene, expresso em cada célula do corpo, chamado dCLOC – e um outro, chamado dBMAL1. As proteínas que esses dois genes codificam são fabricadas na célula e se unem. As proteínas do dCLOCK e do dBMAL1, quando se juntam agregam-se e acionam os botões de dois outros “genes-relógio”, chamados “per” e “tim”. Per e tim, uma vez unidos e ativados, começam a produzir proteínas próprias que, de forma muito genérica, acumulam-se dentro da célula, apenas flutuando no citoplasma em volta do núcleo, onde elas se juntam à medida que as horas do dia passam. Esse é o “tic” do relógio. Mas é o “tac” que conta. O tac acontece quando as proteínas de per e tim atingem uma massa crítica que flutua no citoplasma e entram novamente no núcleo, onde bloqueiam a função dos velhos conhecidos dClOCK e dBMAL1. E o relógio pára – para ser acertado novamente. Ao fazer dCLOCK e dBMAL1 pararem, este sistema circular de resposta negativo autolimita a produção de per e tim. Num relógio mecânico, a oscilação do pêndulo de um lado para o outro envolve uma parada muito rápida, antes de o movimento continuar para o outro lado. Na célula, esse soluço evanescente dura apenas o tempo necessário para as proteínas de per e tim se dissiparem no núcleo. Depois começa tudo de novo. Como um

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relógio d’água chinês, que pinga de uma tigela para outra; logo que uma delas fica cheia, esta tomba e derrama o conteúdo na tigela seguinte. É claro que, nas células, leva exatamente um dia – ou uma volta em torno do sol – para que o sistema circular de resposta se complete. Esse metrônomo celular se tornou evidente quando os cientistas encontraram células fotorreceptivas nas pernas da mosca conhecida como drosófila. Para testar a mesma localização nos seres humanos, os

Pág 104 pesquisadores da Universidade de Cornell colocaram um cabo de fibra ótica atrás do joelho de um participante do estudo. Iluminaram então uma área de pele menor que o tamanho de uma moeda de 25 centavos. O resto do corpo do participante ficou na mais completa escuridão. No entanto, essa pequena quantidade de luz afetou a temperatura do participante e sua produção de melatonina. Imagine o que o banho de sol, a televisão ligada a noite toda, viagens aéreas entrando e saindo de aeroportos amplamente iluminados o tempo inteiro e ficar diante da tela do computador fazem para confundir os sistemas que sustentam a vida da gente. Como você não é feito de outra coisa senão relógios em cima de relógios em cima de outros relógios, se o tempo de duração da luz muda, é apenas uma questão de tempo até que os interruptores ancestrais que acionam os milhões de genes que controlam seus estados físicos e mentais sejam ligados. E você inteiro, em cada célula do seu corpo, vai fazer tic-tac. Por isso, se você apagar as luzes às onze e meia da noite e fechar seus olhos para as luzes da rua que brilham em sua janela, para o brilho verde do videocassete ou, ironicamente, para seu despertador, não estará enganando uma de suas células sequer.

A HIPÓTESE DA HIBERNAÇÃO

A infindável luz artificial que brilha constantemente em torno de você durante todas as horas do dia e metade da noite, que são registradas em seu relógio de sol interno como se fossem os longos dias de verão que antecedem o inverno, é o motivo pelo qual é tão difícil se manter magro ou sadio. Como mamífero, você é programado para comer açúcar, fazer filhos, armazenar gordura e depois dormir bastante, e então fazer tudo de novo.

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As doenças que sabemos ter relação com a obesidade – pressão alta, doenças cardíacas, diabetes, câncer e depressão – na verdade são, todas elas, o resultado de um vestígio de instinto de hibernação despertado pelo excesso de luz. Os estudos sobre mamíferos concordam em que, uma vez iniciado o ciclo de preparação para a hibernação, a hiperlipidemia (colesterol elevado), a pressão alta e a resistência à insulina (que leva à obesidade) são estados normais que se resolvem com o prolongado sono que segue o curso da natureza. Em outras palavras, todas as criaturas de Deus engordam e têm colesterol e pressão arterial elevados – e

Pág 105depois vão dormir, ou pelo menos ficam um bom tempo sem comer açúcar. É por isso que só os nossos animais de estimação têm problemas cardíacos, ficam gordos demais para caminhar e têm câncer. Eles vivem com a gente. No estado hormonal provocado por longas horas de exposição à luz, a necessidade de consumir carboidratos ou beber álcool para formar uma base de gordura para o inverno que vai chegar se torna metabólica e psicologicamente impossível de evitar. Para poder controlar nosso apetite por carboidratos e perder peso, baixar os níveis de insulina e ficar sadios e férteis, precisamos dormir mais. É por isso que os americanos estão comendo até morrer e se matando uns aos outros. Eles estão cansados. Mortalmente cansados.

O TERCEIRO OLHO

Neste capítulo, começamos a dissecar os efeitos fisiológicos e mentais da falta de sono sobre a população americana e sobre todas as pessoas, no mundo inteiro, que se aproximam do nível tecnológico em que nos encontramos. Podemos dizer por que o câncer, as doenças cardíacas e a depressão, que caminham de mãos dadas com o diabetes, têm, todos eles, relação com a obesidade. Sustentamos que a obesidade, tal como a conhecemos em nosso tempo, é o prelúdio para a hibernação. A obesidade, como fisiologia pré-hibernação, fatalmente evolui para o diabetes Tipo II, porque o resultado final da resistência prolongada à insulina é a inocuidade da insulina. Sem a ação da insulina não há como dispersar o açúcar que entra no sangue em conseqüência do consumo de carboidratos.

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Num estado como este, você está tão diabético como se não possuísse pâncreas. Este mecanismo do estágio final da resistência à insulina é o meio que a natureza tem para interromper o ganho de peso e evitar que você congele no inverno que nunca chega. Nos diabéticos Tipo I, cujos pâncreas produzem pouca ou nenhuma insulina em função de deficiência das células beta, produtoras de insulina, é impossível ganhar peso. A ação da insulina sobre os receptores de insulina é a única forma de colocar a energia dos carboidratos dentro das células de gordura. Um homem de negócios de Michigan, que recebeu um diagnóstico de diabetes Tipo I em 1907, descreveu a doença como “um buraco dentro dele”. Ele vivia num estado indolor, em que, não importava o quanto

Pág 106comesse, perdia peso, como se a comida “vazasse” através de um buraco aberto em seu estômago. O relato sobre esse homem diz: “Ele se tornou uma sombra de si mesmo, em estatura, em força e na cor, e morreu em 1917.” Isso não é surpresa. O tratamento mais avançado que havia em 1907 para o diabetes Tipo I era a dieta de baixa caloria. A premissa que sustentava essa abordagem era a de que, quanto menos calorias o diabético ingerisse, mais calorias seriam utilizadas pelo corpo. Não funcionou. Pacientes já bastante magros em função da doença foram postos em dietas de quinhentas a mil calorias por dia; com isso, os diabéticos Tipo I morriam de fome, de qualquer jeito. Além de fazer mal, o tratamento insultava o doente. O diabetes, dos Tipos I e II, foi a 28ª causa mais importante de morte no ano de 1900, a segunda em 1920 e a sétima em 1940. em 1999, era a terceira causa mais comum de morte nos Estados Unidos. Pode-se argumentar que um aumento crescente da longevidade em todo o país, devido às cirurgias e ao uso de antibióticos, resultou numa população que de repente estaria vivendo o suficiente para desenvolver a doença, ou que a boa vida, e conseqüentemente os bons hábitos alimentares da Europa e dos Estados Unidos, tornaram-se mais doces de repente. O que vemos é que o apetite por açúcar, nos Estados Unidos e na Europa, aumentou exatamente ao mesmo tempo e exatamente no mesmo padrão que a disseminação da eletricidade e das luzes artificiais. Por volta de 1925, todas as principais cidades norte-americanas tinham eletricidade, e a incidência de diabetes Tipo II estava perto de quadruplicar.

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As estatísticas do parágrafo anterior demonstram uma expansão assustadoramente rápida do diabetes tipo II – que pulou do 28º lugar entre as causas de morte em 1900 para o 12º, em 1925. De 1920 a 1940, o aumento foi igualmente impressionante. O único incidente que pôs um freio nessa “epidemia” foi o racionamento de açúcar durante a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e na Europa. Mesmo assim, no último século, o diabetes tipo II cresceu demais – e, de uma doença relativamente obscura, passou a ser um dos três maiores assassinos do mundo ocidental. Quando examinamos os números que dividem o diabetes Tipo I e o diabetes Tipo II em duas doenças distintas, o contraste fica ainda mais evidente: os diabéticos Tipo I, dependentes de insulina, representam apenas cerca de 10% de todos os diabéticos. Isso significa que os outros 90% caem na categoria que gostamos de chamar de “vítimas da luz”. Mas isso é agora; vamos ver como era antes.

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A SOBREVIVÊNCIA DOS MAIS GORDOS

De que forma o estágio final da resistência à insulina interrompe o ganho de peso e evita que você congele? Bem, sabemos que, quando era frio e escuro demais para sustentar as plantas e os animais dos quais nós humanos vivíamos, a disponibilidade de alimento era imprevisível e só deixava uma alternativa para a evolução: a obesidade. A obesidade era a chave da sobrevivência, a adaptação fundamental para todos os mamíferos. Para poder acumular gordura suficiente para o inverno, era preciso que você se tornasse resistente à insulina. Os receptores de insulina, que permitem que a glicose, ou açúcar no sangue, penetre suas células musculares depois que seu fígado estiver cheio, precisam fechar a fábrica, pra que todo o açúcar que você come seja enviado às células de gordura para ser armazenado, ou então se transforme em colesterol. O objetivo imediato da insulina é fazer essa distribuição. O objetivo da insulina, na evolução, é a insulação. A necessidade de engordar realmente tem a função de proteger as pessoas de morrerem de fome e de congelar. A insulina armazena o excesso de energia como gordura interna, primeiro em torno de seus órgãos vitais, antes mesmo que você veja aquelas ondulações se formarem sob a pele. O objetivo é insular seu coração, pulmões e sistema digestivo, para protegê-los do frio –

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assim como o feto, na barriga de uma mulher grávida, é protegido por uma camada de energia gordurosa. No cenário de hibernação, a produção de colesterol mais alta que o normal, a partir de um consumo de carboidratos, a partir de um consumo de carboidratos maior que o normal, também servia para proteger do congelamento a parede externa de todas as suas células. No entanto, ser diabético de verdade é a verdadeira estratégia evolutiva. O açúcar no sangue fora de controle, que acaba ocorrendo no diabetes Tipo II, é o resultado final dessa preparação para a hibernação. Se você fosse diabético, não congelaria até a morte, em virtude do efeito natural anticongelamento da glicose. Uma concentração anormalmente alta de açúcar no sangue evitaria que o interior de suas células congelasse, por causa do efeito dos carboidratos sobre as moléculas de água. E tudo que é anticongelante, até mesmo o produto que você usa no carro, tem gosto doce.

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OS SAPOS ANDAM QUIETOS DEMAIS

Fora da costa da Antártica, os peixes brincam ao pé dos glaciares que se estendem pelos mares. Se pudéssemos tirar a temperatura do sangue deles, constataríamos que está abaixo do ponto de congelamento – e no entanto o sangue não está congelado. Na outra extremidade do globo, na ponta de água de um lago gelado no Canadá, os sapos da floresta estão absolutamente parados, sem o mínimo sinal de respiração enfumaçada no ar congelado. Eles estão completamente congelados. Se pegássemos um desses sapinhos com a mão enluvada e o jogássemos contra uma árvore, ele quebraria? Felizmente ninguém ainda tentou fazê-lo, mas o sapo faria pelo menos um sonoro barulhão. Acredite se quiser, assim que o gelo do lago derreter, os sapos também vão descongelar. O sangue em suas veias vão se aquecer tão logo seus corações começarem a bater de novo e, no espaço de um dia, seu sangue vai estar quente o suficiente para que possam acasalar-se. Os peixes antárticos e os sapos, junto com insetos e seres humanos resistentes ao frio, gozam da proteção do anticongelante presente no sangue, sob a forma de glicose. Nos peixes, essa substância tem outro nome – glicoproteína – mas ela funciona do mesmo jeito em todos nós. À medida que o sangue começa a

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congelar, a formação de cristais de gelo na verdade desidrata os glóbulos vermelhos do sangue, absorvendo-lhes toda a água. Uma vez congelados, os cristais de gelo se tornam pontiagudos como se fossem microscópicos cacos de vidro. Esses cristais pontiagudos são formados quando as moléculas de água em forma de V se combinam em moléculas de hidrogênio, formando um desenho rendilhado que se parece com um floco de neve. As pontas afiadas das espadas de gelo cortam as paredes das membranas celulares, e o animal morre. Esse seria o final da hipotermia e da exposição ao frio – não da hibernação. A hibernação é muito diferente da hipotermia. Durante a hipotermia, uma animal não preparado que não estiver num estado diabético simplesmente congela. No cenário da hibernação, a glicose resultante do estágio final da resistência à insulina protege as células ao baixar a temperatura de congelamento do sangue – assim como a água faz num carro, revestindo as moléculas de água com açúcar, para impedir que elas se liguem e formem cristais pontiagudos. Toda a produção extra de colesterol, a

Pág 109partir dos carboidratos consumidos, completa o mecanismo, ao travar os vazamentos que ocorreriam quando as moléculas de gordura que controlam o trânsito de íons e água através das membranas celulares começassem a congelar como gotas geladas de carne. As células se tornam, então, à prova de vazamento e cheias de anticongelante. Quando os sapos começam a descongelar, os órgãos que se congelaram por último são aqueles cuja consistência se assemelha à de um melado, por causa do açúcar, e por isso são os primeiros a descongelar. O coração começa a bater de verdade, de modo a bombear o sangue aquecido para descongelar as extremidades. Dessa forma, nenhuma parte do sapo é privada de oxigênio, em momento algum. Eles literalmente descongelam de dentro para fora. O Dr. Kenneth Storey, pesquisador da Universidade de Carleton, em Ottawa, diz: “Os sapos começam com a mesma quantidade de glicose que nós temos, e vão aumentando até ficarem diabéticos”, exatamente igual as pessoas que nunca saem do modo de hibernação – ou seja, os diabéticos Tipo II. O consumo constante de carboidratos só pode significar uma coisa para os controles ambientais ancestrais: esteja pronto para morrer de fome ou congelar. É por isto que os diabéticos Tipo II se tornam resistentes

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à insulina: para produzir gordura. Uma vez tendo produzido o suficiente, porém, a etapa seguinte consiste em seus fígados derramarem mais açúcar na corrente sangüínea do que o pâncreas e o sistema insulínico conseguem administrar. Toda essa glicose mantém as células com a consistência de um melado por dentro – exatamente igual aos sapos da floresta, ainda que 65% do sapo tenha virado gelo.

TUNGUSKA

Os resultados do congelamento experimental dos órgãos humanos, para posterior utilização, também sustentam nossa premissa. Em um dos

Pág 110estudos, após seis horas de congelamento, as células do fígado humano ainda tinham condições de produzir bile, num recipiente de cultura. Isso significa que estavam efetivamente ressuscitando. Assim como os sapos e os mamíferos utilizam o açúcar como anticongelante, o camarão ártico de água salgada utiliza um açúcar chamado trealose. A trealose foi usada num experimento na Universidade da Califórnia, em San Diego, conduzidos pelos Drs. Gillian Beatrie e Alberto Hayek, que, em 1998, preservaram células pancreáticas beta humanas numa solução de trealose. Em períodos regulares de alguns meses, Beattie ressuscita algumas dessas células, para ver se ainda são viáveis. E são. Elas ainda produzem insulina em tubo de ensaio – e também quando implantadas em ratos ou em macacos Rhesus. Se as células beta ainda conseguem produzir insulina mesmo depois de congeladas, então o açúcar no sangue ainda pode ser distribuído novamente pelos outros órgãos e membros, depois do grande resfriamento para o grande congelamento. Lembre-se, essas são células beta humanas. Nem tanta ficção científica assim, não é mesmo? O recorde de células congeladas por mais tempo e reanimadas pertence aos russos. Uma bactéria descoberta na Sibéria, perto de Tunguska, no final de 1980, foi ressuscitada pelo Dr. David Gillchinsky, um microbiólogo da Academia Russa de Ciências, em Moscou. Ele extraiu bactérias congeladas do solo, a 150 pés abaixo da superfície, em solo permanentemente congelado, cuja temperatura não era superior a 23ºC há pelo menos 3 milhões de anos. Em poucas horas após chegarem à superfície, elas já se dividiam alegremente – porque a vida continua.

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Em 1992, a empresa de criogenia BioTime, de Berkeley, na Califórnia, resfriou um babuíno chamado Daniel a uma temperatura corporal de 17ºC por 55 minutos. Embora Daniel tenha saído fisicamente ileso, ninguém, até o momento, examinou em profundidade as suas faculdades mentais. Sem dúvida, a experiência deve ter deixado marcas. Nós sustentamos, simplesmente, que o diabetes Tipo II só ocorre porque a fase pré-hibernação, de armazenagem de carboidratos, e a resistência à insulina que se segue nunca terminam realmente em hibernação. Em vez disso, permanecemos no estado de acumulação de gordura, resistência à insulina e hipertensão subclínica, dentro de casa e aquecidos o ano todo. A maior parte das pessoas que vive nessas condições durante décadas vão acabar se tornando diabéticos Tipo II, e seus médicos vão pôr a culpa no envelhecimento.

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ENQUANTO VOCÊ NÃO ESTÁ DORMINDO

Carboidratos e insulina reúnem as ferramentas de que precisamos para sobreviver à escassez somente se soubermos quando esta vai acontecer. É preciso haver um mecanismo tipo relógio em atividade, para nos avisar quando a escassez estiver batendo à porta. Os hormônios melatonina e prolactina são os condutores da percepção de tempo do nosso corpo – nosso mecanismo-relógio. A população não tem uma idéia precisa do real efeito que a melatonina que eles compram na farmácia, como antídoto para o jet lag, tem sobre o organismo. Ela é mais um componente do problema, pois na verdade faz diminuir a produção natural do hormônio, ao encolher a glândula pineal, que produz a melatonina no cérebro. Para podermos entender o mecanismo-relógio da forma que foi projetado, vamos pular no carrossel (sistema de realimentação). Para essa viagem, o passaporte é a hora do dia. Se você pulasse no carrossel às seis da tarde, dependendo da época do ano e de sua latitude (localização), a luz do sol estaria começando a cair, ou diminuir. Pouco antes do pôr-do-sol é hora de jantar em todas as culturas. A qualidade, ou espectro de luz, também está mudando, pois o sol dá uma parada. Nesse devaneio, tivemos um bom dia de caça, e agora nos juntamos ao grupo para uma refeição. Vamos supor que você fizesse uma refeição nessa hora. A insulina se elevaria, para administrar os carboidratos que você secou durante o último verão, para comer posteriormente, e o

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cortisol começaria a baixar, porque você se alimentou. É por este motivo que todos nós buscamos o açúcar quando estamos estressados. Lembre-se de que, neste caso, estamos imaginando o mundo natural mítico, não o nosso atual. Em nosso mundo, o cortisol nunca baixa, até que estejamos completa e inconscientemente adormecidos –, e, mesmo assim, por causa das brechas de luz, não completamente. Quando o sol sai de cena, você e seus companheiros podem tentar prolongar o dia e o calor, reunindo-se em torno de uma pequena fogueira para se distrair. Ao reviver os eventos do dia, você os incorpora ainda mais à memória e exercita sua imaginação aumentando-os. O sexo poder ser uma opção, mais uma vez, dependendo da estação, do clima e de seu charme. Você teria de consumir muita energia para juntar madeira em quantidade suficiente para desperdiçar, matando o tempo em volta da

Pág 112fogueira, no final do dia. Por isso, sua reunião noturna não pode durar muito. Assim que a luz rósea do por-so-dol começa a tomar conta da paisagem, você começa a ficar realmente sonolento, porque, enquanto a clara luz “verde” do dia, refletida, interrompe a produção de melatonina (no ponto pré-óptico de conexão com a glândula pineal, em seu cérebro) a luz “rósea” do sol que se põe bloqueia o espectro verde e com isso provoca uma liberação de melatonina para facilitar sua entrada no estado alterado da noite. Como esse processo evoluiu com as e não “em resposta às”, mudanças nos ciclos de luz e escuridão, no clima e no estoque de alimentos, faz muito sentido que a luz azul e verde do dia refletida e a luz rósea e amarela do pôr-do-sol despertem respostas hormonais e de neurotransmissores que possamos identificar como comportamento normal. É claro que a medicina ocidental não aceita nossa premissa de que a interferência dos neuropeptídeos seja a base da conexão mente-corpo, para ela, o esclarecimento da interação entre nós e os eventos cosmológicos equivaleria à leitura do horóscopo. No extremo oposto, a medicina oriental rejeita a perspectiva linear em favor de uma síntese mais dinâmica e acurada – porém ininteligível aos olhos dos pesquisadores ocidentais que insistem em dividir e classificar as partes da fisiologia dos seres vivos, como se estivessem lidando com um cadáver montado com partes mecânicas, igual a um carro.

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De volta ao ambiente paleolítico, você estaria procurando um lugar quentinho para descansar, porque a melatonina em elevação já está fazendo você sentir frio. Embolar todo mundo junto para esquentar reforça também a comunicação pelos feromônios. Naqueles dias, você seria literalmente capaz de sentir o cheiro de um inimigo ou de um amante. O primeiro sono normalmente é o sono REM, de modo que as premonições, ou “visões” alucinógenas, dão continuidade ao entretenimento que rolou no início da noite, enquanto seu cérebro seleciona e rotula as percepções da mente. O mergulho no sono NREM, ainda mais profundo, enquanto o nível de melatonina sobe muito, desvia a atividade do cérebro para a manutenção da imunidade. Toda atividade reprodutiva diminui à noite. Isso significa que o acasalamento durante o dia aumenta as chances de uma gravidez. À noite, os hormônios sexuais esteróides dão lugar ao aumento da produção de prolactina pela glândula pituitária. Tanto a prolactina quanto a melatonina são agentes poderosos no processo de reprodução também, devido ao simples fato de que a melatonina controla a produção do estrogênio

Pág 113e da testosterona, e a prolactina produz leite. A melatonina e a progesterona são, ambas, controladoras hormonais mestras. Se uma das duas estiver fora de sincronia, a natureza interpreta como “acionar o botão vermelho”. Uma falta crônica de melatonina ou de progesterona, tal como a que ocorre no envelhecimento, informa à natureza que a pessoa não é mais viável. Quando você não consegue acompanhar o jogo, a natureza elimina você. Por causa da melatonina, qualquer aumento ou diminuição do período de escuridão desencadeia mudanças fisiológicas e comportamentais em muitas espécies, através dos hormônios sexuais – mudanças, por exemplo, na muda, na procriação e na migração. A distribuição sazonal dos índices de concepção e nascimento nos seres humanos confirma a teoria de que a função da melatonina é controlar o período adequado à reprodução, mesmo atualmente. A receptividade à reprodução, por sua vez, determina a quantidade e o tempo de hibernação da progesterona nas mulheres e da deidrostestosterona (DHT) nos homens. Assim sendo, ir dormir com o pôr-do-sol garante um banho de corpo inteiro em melatonina, e um rápido aumento da prolactina. A prolactina não é ativa apenas na produção humana de leite; é essencial para a lactação em todos os mamíferos. Nos pássaros,

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isso se traduz no “comportamento de chocar a ninhada”, ou seja, na quietude necessária para incubar os ovos. O principal efeito provocado pela prolactina, em todas as espécies, é a ampliação da produção das células T e NK (assassinas naturais). Essas são as primeiras linhas de defesa do câncer. Como não existe câncer na natureza entre as outras espécies, a não em nossos animais de estimação, você – ao fazer parte do panteão da vida global – também NÃO vai ter câncer, se DORMIR quatorze horas por noite nos períodos de dormência. Mas será que você conseguirá dormir tanto tempo assim? Mais ou menos. Em primeiro lugar, as cavernas são escuras e nossos quartos não. Tentamos dormir com as luzes acesar o tempo inteiro, se é que chegamos a ir para a cama. E não vivemos apenas num verão infindável; vivemos também num repasto infindável. Tem sempre comida, em geral carboidratos; no que tange à luz, é sempre dia claro. Não só perdemos metade de um ano inteiro com luzes, aquecimento interno e ar condicionado; perdemos a noite para os timers digitais que piscam o tempo todo, para as sirenes da polícia, luzes da rua, letreiros e cartazes luminosos, restaurantes, hotéis, esportes noturnos, televisão, Internet e

Pág 114filmes. Tudo isso era representado pelas histórias contadas em torno das fogueiras se apagando. O grande problema é que hoje a fogueira nunca se apaga, porque a televisão está sempre ligada.

A VERDADE REALMENTE ESTÁ LÁ FORA

Estudos realizados em 1993 e em 1994 relataram que voluntários humanos no Instituto Nacional de Saúde tiveram a liberação de hormônios e a atividade cerebral monitoradas pelo Dr. Thomas Wehr. Os voluntários dormiam durante períodos de oito horas (noite curta) e de quatorze horas (noite longa). O primeiro resultado foi o óbvio: períodos mais longos de produção de melatonina elevavam a produção de macrófagos e linfócitos dos leucócitos. Isso é algo bom. A segunda diferença hormonal mais óbvia entre as noites curtas e longas era a quantidade e a duração da produção de prolactina. Essa mudança na produção de melatonina e de prolactina refletia o padrão de sono fragmentado da noite longa. Os voluntários em noite longa passavam cerca de cinco das quatorze horas em repouso, quase acordados. O grupo de Wehr dormia em dois turnos

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noturnos, cada um deles precedidos por até duas horas e meia de tempo acordado, ao longo do qual ocorria uma elevada produção de prolactina. Isso significa que eles tinham um total de nove horas de sono real, tal como o conhecemos. E, em nosso tempo, nove horas de sono é tudo o que a gente conhece. As cinco horas sem sono eram muito parecidas com o estado acordado-alerta que as crianças apresentam repetidamente, num período de 24 horas. As leituras das ondas cerebrais eram semelhantes às observadas durante meditação transcendental. Interromper os transes dos voluntários – falando com eles – fazia caírem os níveis de prolactina. O estudo de Wehr prossegue e sugere que “a prolactina, nos seres humanos, facilita uma transição para o estado de repouso alerta, da mesma forma que predispõe ao comportamento de chocar a ninhada nos pássaros”. O médico do Instituto Nacional de Saúde concorda que o período de escuridão de quatorze horas, no inverno, ou ao longo de pelo menos sete meses do ano, é exatamente o que nossos ancestrais teriam vivido, antes da invenção das fontes de luz artificial. Esse período de repouso alerta, nos adultos, agora é um estado de sono extinto.

Pág 115 Está estatisticamente provado que 90% ou mais de todos os bebês nascem entre meia-noite e quatro horas da manhã, exatamente o período no qual suas mães, na natureza, estariam num estado meditativo, com níveis elevados de endorfinas (anestésicos para dor) – igual aos iogues, que são capazes de caminhar sobre pregos ou carvões em brasa sem sentir nada. Nesse estado, um parto não assistido seria mais bem tolerado. Era nesse período de tempo, ao qual não mais temos acesso, que resolvíamos problemas, reproduzíamo-nos, transcendíamos o estresse e, muito provavelmente, falávamos com os deuses. Em testes padronizados de acompanhamento, concebidos para avaliar o estado de espírito e a fadiga, os voluntários submetidos a noites de quatorze horas de duração se autodefiniam como mais felizes, mais cheios de energia e mais acordados durante o dia seguinte. Mas esses testes tinham o objetivo de revelar apenas os estados de sonolência debilitantes. A sonolência é apenas um sistema cognitivo. Quando você está cansado, na verdade está passando por uma séria briga metabólica entre você e as bactérias que controlam seus sistemas imunológico e reprodutivo-briga, que se traduz em aberrações mentais. As noites curtas, que imitam o verão, significam:

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Produção reduzida de melatonina, o que reduz a função imune dos glóbulos brancos;

Uma grande redução do mais potente antioxidante que você possui – ou seja, da melatonina;

Menos prolactina à noite e muito mais durante o dia. (A produção noturna de prolactina significa células NK e T mais fortes e em maior número. A produção de prolactina durante o dia significa auto-imunidade e compulsão por carboidratos.)

Mas o maior problema com as noites curtas o ano todo, além dos distúrbios alimentares, é que a insulina vai continuar alta durante o período escuro, quando deveria estar estável, e o cortisol cai tão tarde que não consegue se normalizar até de manhã. Isto é uma reversão do ritmo hormonal normal. Você deveria acordar com o cortisol elevado, para administrar o estresse ao longo do dia. Você deveria acordar com fome, com baixa insulina e o cortisol subindo. Em vez disso, seu cortisol está baixo e a insulina ainda está elevada. Nesse estado, é fácil pular o café de manhã; com insulina alta, você não tem fome.

Pág 116 A reversão que você cria, ao ficar acordado até tarde – o que faz o nível de insulina e de cortisol permanecer alto à noite, quando deveria estar baixo –, prossegue durante as horas do dia. O primeiro sintoma de transbordamento de melatonina é precisar de despertador para acordar. Quando você tem uma “ressaca” de melatonina, fica sonolento demais para acordar, embora a luz da manhã devesse suprimir espontaneamente a melatonina. O verdadeiro problema é que, sem uma elevação do cortisol, você não tem dopamina. Seu nível de cortisol não está suficientemente alto para administrar o estresse durante o dia, e confunde a percepção do tempo. Sem o cortisol, para ampliar os efeitos da dopamina, o dia parece passar depressa demais. Agora diga que você nunca passou por isso. Com um nível anormalmente alto de prolactina pela manhã, e sem dopamina, você fica meio abobado também, com memória fraca e pouca capacidade de planejar. A mesma cena se repete à tarde. A prolactina suprime anormalmente a leptina de novo; portanto, por volta de três da tarde, você têm compulsão por carboidratos – e fica impaciente e mais abobado ainda.

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Isso tudo têm importância? Qual a diferença quando você sofre uma inundação de hormônios, desde que isso ocorra? Infelizmente, o tempo certo é tudo. Você não consegue produzir melatonina durante o dia, ou com as luzes acesas. Então, como se explica o fato de você ainda estar dormindo, com a luz do sol brilhanto? Bem, a fome deveria ser o seu despertador. Uma das funções evolutivas da melatonina é que ela amplia o efeito supressor do apetite da leptina, para que você continue com sono, em vez de perambular a noite toda com fome. É um mecanismo circular de resposta: a melatonina melhora o efeito da leptina e a leptina mantém o seu cérebro no estado de “alimentado”, e assim você continua a dormir e a produzir mais melatonina. Infelizmente, para nós, menos sono à noite – e portanto menos melatonina e menos leptina – faz com que você coma mais, de dia e de noite. Só o sono que você perde no início da noite já é sufici-ente para aumentar seu apetite por açúcar e fazer você engordar.

“Só o sono que você perde no início da noite já é suficiente para aumentar seu apetite por açúcar e fazer você engordar.”

É por isso que dissemos que a perda do sono o torna gordo. Mas, na verdade, isso é nem da missa a metade. Quando você começa a comer carboidratos todos os dias, começa também a reter água. E isso é mau.

O MUNDO DA ÁGUA

Quase todas as pessoas do mundo ocidental, homens e mulheres, já entraram numa dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos – e experimentaram uma perda de peso entre 7 e 8 quilos, no espaço de duas semanas. O princípio bioquímico no qual esses regimes alimentares esbar-raram é a primeiríssima base do processo de pré-hibernação: a re-tenção de líquidos. No momento em que você corta sua ingestão de carboidratos para menos de 45 gramas diárias, você sinaliza para todo o sistema endócrino que a fome e o inverno estão chegando, e deixa de dar corda no relógio. É exatamente isso que uma dieta rica

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em proteínas e pobre em carboidratos faz. Os adeptos da contagem de calorias e advogados do baixo teor de gordura descartaram durante anos as dietas ricas em proteínas, taxadas de perigosas e não científicas. Os mais céticos costumam exagerar, para os leigos, o potencial de danos aos rins. Que seria remoto, mesmo que a dieta prosseguisse por mais de sete meses, sem nenhuma ingestão de carboidratos; mas isso é impossível, pois até as castanhas de caju têm carboidratos. Neste mundo, ficar completamente sem carboidratos durante sete meses não é apenas altamente improvável; é impossível. Na verdade, contrariando a popular sabedoria médica, além de não prejudicar os rins, sem a entrada de carboidratos, você perde cinco quilos ou mais só de líquidos retidos, baixa a pressão arterial e queima sua base de gordura. Este processo elimina as cetonas e reduz também a serotonina e, portanto, você fica menos paranóico e deprimido. A queda na pressão arterial é um descanso para suas funções renais. Mas, ainda que você pare de comer carboidratos, o cortisol, a insulina e a prolactina não vai cair aos níveis do inverno, a menos que você durma pelo menos nove horas e meia por noite, começando o mais próximo possível do escurecer. Isso significa que as longas horas de luz artificial, sozinhas, sem o consumo maciço de carboidratos, conseguem, de algum modo, elevar a sua pressão arterial, porque o cortisol, que está sempre elevado quando as luzes estão acesas, é parte do controle de sua pressão arterial pelo sistema nervoso simpático. Assim sendo, você não está realmente livre do problema, a menos que aumente suas horas de sono. Quando esse sistema ancestral de contagem de tempo entra em ação, você sente necessidade dos alimentos que aumentarão seu nível de insu-

Pág 118 lina para criar “resistência” à insulina em seus músculos. Com isso, você tem condições de mandar toda a energia para ser armazenada como gordura, para o longo período de fome que você teria de enfrentar, caso vivesse no mundo real. Quando isso se repete dia após dia, semana após semana, década após década, mesmo que você nunca engorde, seu cortisol fica elevado e você retém os cinco ou mais quilos de peso em água que você precisa para hibernar. Esses cinco quilos de líquido vão gerar mudanças na absorção de sal e de glicose em seu intestino e na função renal para a

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hibernação; na realidade, porém, vão causar o que identificamos como a hipertensão subclínica que a maioria dos americanos apresenta atualmente. Esses estados de ser – consumo de carboidratos, resistência à insulina, produção de colesterol, retenção de água, hipertensão subclínica – são, todos eles, preparações para a hibernação que agravam as doenças cardíacas, porque a função renal controla a pressão sangüínea através dos hormônios chamados angiotensina I e II, que atuam junto ao seu coração para determinar o fluxo de cálcio e íons (ou seja, a força com que seu coração realiza o seu bombeamento). Essa cascata é outro mecanismo ancestral que se interpõe no caminho de seu “congelamento virtual”. As alterações de cálcio que determinam a força do bombeamento do coração estão em ação para proteger seu cérebro contra a falta de oxigênio quando você congela, pois derramam cálcio a partir de suas células para prevenir a hipoxia, ou falta de oxigênio.

O APOCALIPSE MUITO, MUITO CEDO

Todos nós ficamos acordados na cama, quando deveríamos estar dormindo, pensando na mesma velha questão: o quanto, na realidade, estamos próximos das “portas da morte”? Bem, se as estatísticas do primeiro capítulo estiverem corretas, estamos muito próximos mesmo. A solução à qual a medicina se agarrou é, na verdade, apenas um antídoto contra a dieta de baixo teor de gordura: fazer exercícios histericamente. Tudo o que a medicina sugere que você faça é viver de açúcar e correr feito um alucinado para queimá-lo. É claro que queimar todos os carboidratos que você ingeriu em conseqüência da perda do sono através de exercícios histéricos parece reverter o processo, em termos fisiológicos. À medida que seu peso baixa, baixa também a produção de insulina, porque você produz insulina em proporção às gramas de peso corpóreo.

Pág 119 Quando o nível de insulina baixa, seus receptores de insulina se elevam; com isso o açúcar no sangue também cai, porque seus músculos vão suá-lo enquanto você se exercita, através dos receptores de insulina, agora em funcionamento. É dessa forma que o exercício baixa o açúcar no sangue. Quando seu nível de insulina está baixo, você não consegue produzir tanto colesterol e esse

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número também cai. Aí o médico o declara curado. Mas você não está curado! Agora, você tem uma nova doença – e isto porque nunca ocorreu a eles que você não precisa queimar aquilo que não ingere, para começo de conversa. Na verdade, correr, saltar ou praticar StairMaster funciona, para seu corpo – que ainda responde com as sub-rotinas ancestrais –, como uma “resposta de medo” que eleva seu cortisol à estratosfera, enquanto você vê Deus. O cortisol alto é um mobilizador do açúcar no sangue e, portanto, eleva o açúcar em seu sangue; quando esse açúcar se eleva, a insulina vem logo atrás. Isso significa que o rebote contínuo provocado só pelo excesso de exercício pode torná-lo, com o tempo, resistente à insulina. Veja como funciona:

Correr, pular, escalar = ser perseguido Perseguição = resposta de estresse Estresse = liberação de cortisol = mobilização de açúcar no

sangue Açúcar no sangue elevado = insulina elevada = resistência à

insulina – armazenamento de gordura e hipertensão

Vamos encarar os fatos: você jamais iria correndo de sua cadeira até à porta, a menos que algo o estivesse perseguindo. Esse estímulo ao medo provocado pelo cortisol é a grande chave para a doença mental e para as doenças cardíacas.

Esse estímulo ao medo provocado pelo cortisol é a grande chave para a doença mental e para as doenças cardíacas.

Quando as luzes ficam acesas por muito tempo, dentro das 24 horas do dia, é sinal que é verão. Durante o verão nos acasalamos e comemos até explodir. A luz, as lutas e comer açúcar eram sinais de que nosso cortisol nunca baixava, durante três a cinco meses do ano. Você, por outro lado, vive, em sua mente, em constante medo e pânico diante da morte. Nos dois capítulos seguintes, vamos lhe mostrar que o pânico mental de estar constantemente fugindo de nada é o que realmente destrói seu coração e sua mente. Pense só no que você faz num dia, em sua vida, e como seu corpo percebe suas atitudes. É óbvio que parar para beber algo com baixo teor de

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gordura no caminho da ginástica após o trabalho – digamos, às sete ou oito da noite – e depois se exercitar como

Pág 120 louco sob luzes brilhantes durante uma hora ou mais, provável-mente não está surtindo o efeito que você esperava, não é mesmo? Na verdade, podemos apostara que, ao chegar em casa (e não vai ser antes das nove e meia ou dez da noite), já estará acordado há pelo menos dezesseis horas. Você está mais do que cansado – e as luzes ainda estão acesas. É nesse ponto que sua psique vai entrar em cena, para tentar salvá-lo de si mesmo e fazê-lo dormir, quando lhe diz para “procurar um lanchinho”. Agora sua mente vai guiá-lo até a geladeira atrás de açúcar – ou pior, atrás de um drinque. Quando você se vê diante da geladeira como um zumbi, com aquele sopro de ar frio na cara e sem saber direito como chegou até lá, saiba que a razão pela qual você chegou até lá está bem na sua frente. A mesma luz artificial que ilumina seu caminho até aquela última fatia de bolo foi quem começou todo o processo – desde a neces-sidade de se exercitar até a “necessidade” de comer algo doce à meia-noite. Você não está com fome; está apenas cansado demais. No em-tanto, por dentro, seu corpo sabe que o bolo vai elevar seu nível de insulina, para transformar a serotonina em melatonina e – finalmente – fazê-lo dormir. Aja assim durante uns bons dez anos e talvez não consiga mais se recuperar.

Pág 121

SEIS

Tudo está dentroda sua cabeça:Não dormir e comer açúcar demais vão levar você à loucura

“Meu Deus, eles não imaginaram que poderia causar danos? A população não se levantou contra Caim com relação a isso?” “Acho que você não compreende inteiramente a população, meus amigos; neste país, quando alguma coisa está fora de ordem, a

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maneira mais rápida encontrada para consertá-la fica sendo a melhor maneira... É absolutamente indolor.” - Ken Kesey Um estranho no ninho

Como você já compreendeu, se ficar acordado até muito tarde, seus hormônios se transformam e fazem com que seu apetite também se transforme. Os açúcares que você adora aumentam seu nível de insulina, para criar a resistência à insulina de que você precisa para engordar. Em seu caminho para virar bola, você converte todos os carboidratos que comeu em colesterol VLDL, e também retém líquidos, o que altera sua pressão arterial. A essa altura, qualquer médico lhe diria que há uma doença cardíaca no horizonte. E nós concordamos. Mas vamos lhe dizer que o primeiro sintoma de doença cardíaca não é a pressão alta e nem o colesterol: e a depressão.

FARSCAPE

Quando você vive no modo pré-hibernação mas nunca hiberna, você enlouquece. Enlouquece porque está acordado há tempo demais. Veja, na

Pág 122 natureza, se você ficasse acordado tanto tempo assim, já teria de-vorado metade do planeta, o que seria muito mais do que sua cota. E, muito provavelmente, você já não seria mais fértil, nadando em toda aquela insulina. Por isso, não tem sentido você viver. Assim sendo, a natureza o elimina alterando a sua realidade, para que você não queira mais viver. Você literalmente enlouquece – e então você mesmo se elimina. É o princípio do “menor esforço do hospedeiro”, manifestado na Mãe Natureza. A natureza cria esse mecanismo em seu corpo provocando, em última análise, um estado de espírito bipolar. Com isso, a natureza dobra as chances de você se suicidar, até que a sua mania chegue ao ponto de se transformar numa perda completa do controle dos impulsos. Assim, se você não acabar consigo mesmo no limite do desespero, durante o estado depressivo, provavelmente fará algum movimento perigoso e com risco de vida durante a euforia. Em qualquer dos dois casos a natureza vence.

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E não se esqueça do princípio do cortisol: se o sol nunca se põe, ou se você nunca apaga a luz, seu cortisol nunca baixa. E cortisol alto só ocorre na natureza quando você precisa dele para fugir de algum perigo ou lidar com a dor. O cortisol alto foi feito para ser episódico, não crônico. Na natureza, cortisol alto crônico significa que você é um perdedor em termos reprodutivos (a melhor razão para ser eliminado) – e, portanto, um paria social. Durante a depressão, no entanto, ele trabalha de forma mais subreptícia. Cortisol elevado crônico alto e insulina elevada crônica, juntos, colocam sua mente no constante estado de “pânico” do acasalamento, que ocorre durante o verão. As luzes estão acesas, a comida (carboidratos) deve ser abundante, porque seu nível de insulina está elevado – e, naturalmente, por causa da luz e de tanto exercício, seu cortisol também está elevado para poder competir. Você acaba de estimular programas e sub-rotinas ancestrais que só seriam acionados em estados de verdadeiro perigo – como “corra para salvar sua vida”, ou “seu DNA não vai dar sinal de vida na pró-xima geração”. Quando seu relógio sazonal de insulina/cortisol está quebrado, podem ocorrer doenças mentais reais – não apenas mudanças bruscas de humor, mas esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva real.

PSICOASSASSINO, QU’EST-CE QUE C’EST?

O National Institutes of Mental Health concorda conosco em que a causa primária da depressão, da psicose maníaco-depressiva e da esqui-

Pág 123sofrenia é simplesmente estar fora de ritmo em relação à luz e à escuridão. O NIMH concluiu um recente estudo (1996) de cinqüenta páginas, que analisa os efeitos dos antidepressivos mais amplamente receitados. O objetivo dessa empreitada de vulto era compreender exatamente como essas drogas – inibidores seletivos da reabsorção de serotonina (SSRIs), inibidores da oxidase de monamina (inibidores MAO) e antidepressivos tricíclicos – agem sobre a depressão. Parece que sua eficácia reside, toda ela, tão-somente em sua capacidade de restabelecer os ritmos normais de sono em cérebros cansados, agitados e fora de sincronia. Quando você dorme, sente-se melhor e mais saudável. Ora, bolas: sua mãe já dizia isso...

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Este documento é muito importante porque, nele, os pesquisadores admitem que todas as doenças mentais, desde os vários tipos de depressão até à esquizofrenia, derivam de um “sintoma” comum: a disfunção (leia-se perda) de sono. Todas as drogas que sabidamente atuam de modo positivo sobre a depressão e suas várias formas dão resultados simplesmente porque recolocam os ciclos de sono novamente no ritmo. Parece que eles concluem, assim como nós, que quando você não consegue dormir, você enlouquece. E o inverso também é verdade: quando você enlouquece, não consegue dormir. Pense nisso como “O Segredo” do NIMH. Veja, sua mente não é seu cérebro; é o eco que acompanha uma pulsação por trás das ações bioquímicas e biofísicas, no corpo e no cérebro. Sua mente é um receptor que amplifica e dá um contexto a tudo o que ocorre em seu corpo e no ambiente. É como se fosse um aparelho de televisão para triagem, que recebe sinais de uma fonte remota (corpo, planeta e outros seres vivos). Quando assis-timos à televisão, sabemos todos que não há seres pequenininhos dentro do aparelho. É difícil de compreender, mas isso é verdade também em relação à cabeça da gente. Existem forças importantes e nomes capciosos – serotonina, dopamina, GABA e melatonina – para identificar os volteios do equipamento, mas a essência ainda é a mesma: o sono controla o estoque de alimentos e a reprodução, que por sua vez controlam seu estado mental. Neste capítulo, o que pretendemos é causar o mesmo impacto que a campanha antidrogas da era Reagan provocou; só que, aqui, estamos iluminando sua mente confusa e mostrando que “este é o seu cérebro, com insulina elevada e nenhuma melatonina”.

Pág 124 Nancy Reagan dizia para você “Simplesmente dizer não”. Nosso conselho é: “simplesmente diga boa noite”. A doença mental é a segunda doença mais incapacitante do he-misfério ocidental, depois das doenças cardíacas. Não existe coincidência. As palavras mais importantes da última frase são “hemisfério ocidental”, “doença mental”, e “doenças cardíacas”. Sabemos de que forma a doença mental e as doenças cardíacas têm sua causa atrelada à superexposição à luz em nosso hemistério.

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VOZES ALIENÍGENAS II

A esquizofrenia é a forma de doença mental mais incapacitante. Essa doença afeta 2,7 milhões de americanos. A esquizofrenia é quase sempre uma forma extrema de psicose maníaco-depressiva, que também é conhecida como psicose bipolar. Em termos bem simples, a esquizofrenia é uma quantidade excessiva e fora de controle de dopamina no cérebro, que leva a episódios de mania que vêm acompanhados de alucinações, inclusive sons e cheiros. Encontramos pesquisas que dão suporte à premissa de que a superprodução de dopamina dos esquizofrênicos pode significar que eles são, no sentido mais literal do termo, desequilibrados. Quando você come carboidratos demais, não apenas o seu corpo se torna resistente à insulina; o cérebro também pode ter o mesmo problema. No cérebro, a serotonina e a dopamina ficam nos lados opostos da prancha sobre o tronco. Se uma delas está elevada, a outra está baixa. É a dualidade mais uma vez. Serotonina demais e você fica paralisado; dopamina em excesso e você fica preso no teto. No metabolismo, a serotonina e a insulina estão do mesmo lado da equação (ou da prancha sobre o tronco). Também no cérebro elas estão do mesmo lado. A insulina, portanto, pode suprimir os nçiveis de dopamina da mesma forma que a serotonina, porque os hormônios também podem ser neurotransmissores. Mas nem a serotonina nem a insulina podem suprimir a dopamina, se não houver receptores para registrar a presença delas. Se os únicos controles sobre a dopamina em seu cérebro são tirados de cena, e não há guardas na porta do zoológico, inúmeras situações podem ocorrer. A esquizofrenia é o estado final da resistência à insulina no cérebro. É, na verdade, um diabetes cerebral (Tipo II) – o resultado do verão infindável dentro de sua cabeça. Como você vê, a perda do sono realmente pode levá-lo à loucura.

Pág 125 Para dar ainda mais suporte à nossa teoria, a esquizofrenia foi recentemente relacionada à hora do nascimento. Isso trabalha a nosso favor. Até há pouco tempo se acreditava que a história familiar (genética) era a melhor base para prever se uma pessoa poderia ou não desenvolver esquizofrenia; mas agora os especialistas estão abertos a admitir que influências ambientais, tais como o local e a estação do ano do nascimento, podem ter uma importância muito maior do que jamais se imaginou. Um estudo publicado na edição

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de 25 de fevereiro de 1999 do New England Journal of Medicine concluiu que pessoas que nascem no final do inverno, principalmente nas áreas urbanas, têm um risco muito maior de desenvolver esquizofrenia do que pessoas com história familiar da doença. O estudo foi realizado na Dinamarca e cobriu 1,75 milhão de pessoas, todas nascidas entre 1935 e 1978, e todas filhas de mães dinamarquesas. Esse período de tempo coincide com o advento da luz elétrica na Europa e com o aumento da presença de carboidratos na alimentação o ano inteiro. Acreditamos que é por isso que as pessoas nascidas em Copenhague, capital da Dinamarca, tinham 2,4 chances a mais de desenvolver esquizofrenia do que as nascidas em áreas rurais, onde o escuro à noite e há uma variedade menor de frutas e verduras importadas disponível. A alteração do processo evolutivo deve se originar na arena fetal. Algum fator genético deve ser fortemente afetado pelas longas horas de exposição à luz durante a gravidez. Acreditamos que aqueles com maior predisposição genética a apresentar uma resistência muito baixa à toxicidade da luz (ou seja, pessoas extremamente intolerantes à luz) provavelmente seriam, também, reprodutores sazonais que sobraram da época anterior ao fogo. Com isso, dar à luz durante a estação em que normalmente deveria ocorrer a hibernação deve ter gerado algum tipo de ônus em termos evolutivos. É óbvio que a iluminação durante a gestação, seguida pelo fato de ter nascido “fora de estação” e depois ser criado num ambiente urbano (luzes 24 horas por dia o ano todo e um consumo incessante de carboidratos), é suficiente para empurrar alguns de nós para a beira da gangorra rumo à resistência à insulina de origem cerebral, ou diabetes cerebral. Enquanto o resto das pessoas ficam apenas deprimidas, muito deprimidas ou deprimidas até os ossos, algumas realmente ultrapassam o limite. Quando a luz que controla o apetite, que por sua vez controla a insulina, fica permanentemente acesa, a produção de neurotransmissores

Pág 126 como a serotonina e a dopamina, que são controlados pela insulina (o estoque de alimento), tornam-se incontrolavelmente instáveis. O mesmo acontece com você, a caminho das mais variadas formas de exaustão.

ZUMBIS

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Setenta milhões de americanos admitem que estão cansados. Destes, 17 milhões tomam Prozac regularmente e alguns outros milhões tomam Paxil ou Serzone. Isso significa que estão deprimidos também, ou que pouco mais de um quarto dessas pessoas cansadas já estão além do seu limite. Acreditamos que os números reais sejam ainda maiores, porque quase todo mundo nos Estados Unidos toma algum comprimido para dormir de vez em quando, o que indica que há muito mais pessoas clinicamente deprimidas. Para aqueles que buscam ajuda além dos remédios vendidos sem receita, os médicos prescrevem antidepressivos para elevar seus níveis de serotonina, e eles passam a se sentir melhor. É aí que começa a confusão. Pessoas deprimidas e cansadas não têm baixos níveis de serotonina. Pessoas deprimidas têm baixo nível de dopamina. A dopamina, ao longo da evolução, ficava alta na presença da luz, exatamente como o cortisol. A dopamina é que está presente nos atalhos de recompensa da memória e controla a percepção do tempo, junto com o cortisol. Enquanto as luzes estão acesas e podemos ver, a dopamina fica alta e a gente continua a aprender e a se lembrar das coisas. É por causa desse mecanismo que a luz é tão sedutora, que é tão difícil apagá-la e ir para a cama. As luzes que piscam nos videogames, a televisão e seu computador viciam só por causa da liberação de dopamina que provocam. As luzes que piscam podem ter o mesmo potencial viciante que a bebida, o jogo ou as drogas. O diferencial evolutivo que a luz do fogo nos deu foi o poder de estender o dia. O dia mais longo aumentou a aprendizagem e o tamanho do cérebro, aumentou a capacidade de reprodução e, quando o levamos para dentro da caverna, seu calor nos deu também uma mãozinha com o clima. O preço de tomar assento na mesa dos deuses é a vingança imposta à nossa química cerebral e à fisiologia do coração. Lembre-se: a luz é o eterno zeitgeber, ou cronômetro, que controla a liberação de dopa-

Pág 127 mina e do cortisol. O cortisol é o hormônio do estresse e a dopamina é o neurotransmissor diurno. A dopamina e a serotonina são equilibradas e reequilibradas no cérebro de acordo com os sinais vindos do ambiente. Assim sendo, quando você bagunça sua dopamina, bagunça também a serotonina. É parte do plano.

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Quando o sol eleva sua dopamina, você se torna impulsivo e faminto. É dia, e dependendo da duração da luz natural, pode ser verão. A dopamina controla a compulsão por proteína, da mesma forma que o neuropeptídeo Y controla a ingestão de carboidratos. Com seu nível de dopamina elevado, a serotonina baixa e você passa a querer carne. A dopamina lhe dá a vantagem competitiva necessária para obtê-la e trocá-la por sexo. Para ter libido, a dopamina precisa estar alta. É por isso que os remédios que aumentam a serotonina causam impotência. Pessoas que têm originalmente níveis mais baixos de serotonina são felizes, porque baixos níveis de serotonina significam níveis elevados de dopamina, naquela prancha sobre o tronco. Todo mundo gosta de ter dopamina elevada; é uma experiência que fica entre ganhar velocidade e estar apaixonado. A serotonina em grande quantidade é que põe a pessoa pra baixo. E se você não fabricar melatonina a partir de sua serotonina, durante o sono... bem, você já sabe.

CONTROLE DA MENTE

A serotonina é muito mal compreendida pela mídia. A maior parte das pessoas nos Estados Unidos, e provavelmente um bom número de médicos, acredita que baixos níveis de serotonina no cérebro são a causa da depressão e da ansiedade, quando na verdade o que ocorre é justamente o contrário. Níveis de serotonina mais altos que o normal são sinal de perigo, porque o estoque de ali-mentos é abundante e deve ser época de acasalamento; com isso, a disposição para competir governa todos os nossos sistemas. A serotonina é o neurotransmissor encarregado do controle dos impulsos – porque, para ter serotonina, você precisa ter insulina elevada, o que significa que há carboidratos em quantidade e é verão – e isso significa tome cuidade, não bagunce o acasalamento ou a luta, ou então pode ser o seu fim. A serotonina controla sua im-pulsividade de maneira muito furtiva: ela consegue seu objetivo re-duzindo sua capaci-

Pág 128 dade de fazer conexões. A recuperação da memória fica enfra-quecida, porque a serotonina filtra as informações sensoriais. A dopamina, por outro lado, coloca tudo sob foco definido. As emoções e os impulsos primitivos que governam o sono, o estado

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de espírito, o apetite, o despertar, a dor, a agressividade e até mesmo o comportamento suicida estão todos sob o comportamento da serotonina e da dopamina. Os neurotransmissores são mole-culas semelhantes aos hormônios, em termos de seu mecanismo de ação, no sentido de que elas têm um alvo (receptor) – e, uma vez atingido esse alvo, seu comportamento muda. Embora a serotonina seja muito mais um controlador sazonal do apetite e do sono, o problema começa, em termos fisiológicos – pelo menos para o seu coração – quando ela entra em cena sob a forma de uma resposta de pânico, que só aconteceria quando hou-vesse muita luz. Os níveis de serotonina sempre acompanham os níveis de insulina, e há receptores para ela em todos os lugares do corpo e do cérebro. Você sente os efeitos da serotonina sobre as células do trato gastrintestinal quando está preocupado, ou com medo mesmo. Não ocorre apenas o efeito-borboleta (pense no medo do palco), mas a motilidade das entranhas diminui e se transforma numa contorção, porque o nosso homem das cavernas não podia parar para defecar, caso estivesse correndo para salvar a própria vida, perseguido por um tigre. E é a serotonina que faz com que suas artérias se fechem, no caso de você não vencer a corrida contra o tigre ou a briga pelo ovo. Mas tem outro elemento na briga, que controla o tempo. Se o pânico continuar por um período suficientemente longo, a superfície de suas plaquetas sangüíneas vai ficar grudenta, devido à resistência à serotonina, que se segue ao transbordamento de serotonina, em conseqüência do pânico. Em seguida, as plaquetas se aglutinam fortemente, para que você são sangue até morrer. Os sintomas de um nível diurno de serotonina mais elevado que o normal, que são clássicos em animais vítima de pânico e também em pessoas deprimidas, são:

Retirada, que pode ser definida como evitar o perigo ou escapar dele;

Imobilidade, o que significa congelar ou ficar aparentemente paralisado;

Defensibilidade, o que implica tanto a agressão quanto a submissão.

Topos esses comportamentos são evidentes em todas as espécies, e também na depressão humana. O termo “paralisado de medo” diz tudo.

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O nível elevado de serotonina provoca uma rigidez de compor-tamento que pode se tornar repetitiva, como acontece com pessoas com distúrbios obsessivo-compulsivo (DOC), ou virar paralisia, co-mo ocorre com pessoas severamente deprimidas. Todos os sinto-mas típicos da serotonina elevada – estômago apertado, coração descompassado, pressão alta, mãos e pés em concha e o grande sinal de alerta, que é boca seca – são sintomas de um clássico ataque de pânico, descritos em qualquer livro de medicina do nosso mundo. Diante de um perigo real, a serotonina faria o nosso homem das cavernas correr mais depressa, respirar mais profundamente e sangrar menos. Quando um rato é apanhado por um predador numa área aberta, a serotonina em seu cérebro aumenta e ele congela, aparentemente paralisado pelo medo; na realidade, esse comportamento já foi testado pelo tempo, ao longo de eras, para salvar sua vida. Ao congelar, com os movimentos suspensos, o rato acredita estar escapando de todos os predadores cuja visão depende do movimento para detectar objetivos. Muitas pessoas deprimidas descrevem o próprio estado como “encolhido e paralisado”. Esses sentimentos são absolutamente verdadeiros, graças à serotonina elevada. Quando opera em níveis “normais”, a serotonina mantém o ins-tinto – em relação a impulsos como comer, fazer sexo e agredir – controlado o suficiente para garantir a sobrevivência. A única razão pela qual a cultura pop definiu a serotonina como o neurotrans-missor “feliz” é o mantra de Rodney King. O mundo em que vivemos exige um excessivo controle dos impulsos, só para “ir levando”. Não há espaço para comportamento impulsivo e instintivo num mundo como o nosso, cheio de gente e que depende das relações interpessoais. No entanto, no mundo real, de onde a maioria de nós veio, mas ao qual jamais retornaremos, os níveis baixos de serotonina são adaptáveis, porque o mundo real é um lugar ameaçador. Até agora, evoluímos muito bem com baixos níveis de serotonina durante as horas do dia. Com baixo controle dos impulsos, você pode se alterar mais depressa e responder mais rapidamente a uma ameaça. Nenhum de nós estaria aqui para discutir os méritos de ter serotonina alta ou baixa se não tivéssemos vindo de um estado de baixa serotonina. Neste mundo, a metade da humanidade se sente muito mal, pois nós não temos controle sobre nossos impulsos, e esta vida o exige; e a outra metade está literalmente paralisada e paranóica, por causa dos carboidratos e da luz.

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Pág 130 Então, para aqueles que se encontram paralisados, a resposta seria descobrir uma droga que baixasse a serotonina? Não temos de baixá-la. A natureza fará isso por você, quer você queira, quer não. Tudo o que você tem a fazer é permanecer em qualquer estado crônico de sobrecarga hormonal por tempo suficiente para perder seu ritmo e a natureza mandar você sossegar. Este processo é chamado homeostase. Nós já ouvimos falar dele antes. Como todo sistema na natureza, inclusive a própria evolução, é um algoritmo repetitivo ou um sistema circular de resposta infinito, existe a necessidade de uma resposta negativa. Tem que haver um mecanismo de interrupção para manter o equilíbrio naquela prancha sob o tronco. No caso do estresse e da serotonina ou do cortisol, se houvesse excesso de alguma substância boa, o receptor se torna resistente à ação daquele hormônio ou neurotransmissor. Assim sendo, o estresse infindável o torna insensível ao cortisol ou à serotonina. E o único estresse verdadeiro no mundo natural provém do excesso de acasalamento, de comida ou de ser comido – e, é claro, de não dormir quando tudo o mais dorme. Perder o sono seria uma impossibilidade no mundo natural, porque, com tudo escuro como breu, não há mais nada a fazer – a menos que você estivesse acalentando um bebê ou de olho naquele predador noturno que deu cabo do braço de seu amigo Eddie a noite passada. Vivemos num plano totalmente diferente da existência. Que pena que nossos corpo e mentes ainda não entraram no ritmo!

ATACADO MUNDO NOVO

A serotonina é muito importante no mundo moderno. Você precisa controlar seus impulsos no metrô, no escritório ou quando está preso no trânsito. Aqueles que têm serotonina muito baixa puxam da pistola uns contra os outros e planejam massacres. É por causa da baixa serotonina que todos nós nos automedicamos com açúcar em momentos de estresse. Quando você está preso num engarrafamento e prestes a surtar de tanta frustração, é mais provável que a substância que vai aliviar sua dor seja uma barra de chocolate. Ninguém compra queijo ou carne-seca para aliviar a tensão. A insulina produzida em conseqüência do carboidrato que você comeu fabrica serotonina – e você adquire controle instantâneo de seus impulsos. Este é um mecanismo ancestral de equilíbrio.

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Pág 131 Quando a noite era longa, comíamos açúcar (carboidratos). Açúcar elevado era sinônimo de insulina elevada. A insulina é necessária para converter a proteína que você

comeu (porque sua dopamina estava alta) em serotonina. A serotonina equilibrava a dopamina e baixava durante o

sono. O dia seguinte, como todos os dias naquela época, era outro

dia. E começava tudo de novo.

Agora, que a gente vive unicamente no verão interminável, esta-mos presos em apenas uma fase desse sistema específico de res-posta: a produção de serotonina. Na natureza, este ato de equilíbrio entre a serotonina e a dopamina só acontecia quando as horas do dia fossem longas, e as horas do dia nunca eram longas – a menos que fosse época de acasalamento, ou se houvesse perigo iminente. Dificilmente alguém nos Estados Unidos fica num estado bom e normal de serotonina baixa e dopamina alta durante as horas do dia. Atualmente, aqueles que não estão paralisados até a menina-dos-olhos pela serotonina elevada, ou dentro de um completo rebote bipolar, estão completamente fritos, em termo de receptores. A natureza diz que, se a serotonina está alta, a dopamina tem que estar baixa. A única vez em que esta regra é quebrada é quando ocorre a queima de receptores. Aí o sistema circular de resposta negativo, ou o botão de desligar, quebra. Quando estamos sob estresse crônico e inescapável, a produção de serotonina pára totalmente, em função do sistema circular de resposta da resistência à serotonina, permitindo que a dopamina busque uma saída. O estado crônico de serotonina alta, decorrente de nossas dietas crônicas de carboidratos, cria resistência à serotonina por atacado. Você se lembra de nossa descrição da resistência à insulina, que os receptores resistentes à ação desse hormônio não reconheciam o hormônio. Com isso, você passa a ter, na verdade, nenhuma insulina. A primeira vez que os cientistas testaram em ratos as drogas que baixam o nível de serotonina, e que tinham potencial para tratar a depressão, elas pareciam agir como afrodisíacos. Num estado de ausência de serotonina, os ratos apresentavam uma terrível compulsão sexual. Infelizmente, a serotonina zerada não trazia apenas uma boa fase sexual. O estado de inexistência do controle

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de impulsos, provocado pela serotonina baixa, despertava também uma velha companheira da luxúria: a agressividade.

Pág 132 Amor e ódio são, na verdade, sexo e defesa em formas social-mente aceitáveis. Ambas as atividades exigem uma perda do con-trole dos impulsos (ausência de serotonina) e uma boa dose de dopamina. Lembre-se de que a dopamina elevada coloca tudo em grande destaque. A resistência completa à serotonina significa que a agressividade, ou a liberação da inibição que resulta da completa alta da serotonina, será coberta pela “sobrecarga sensorial” da dopamina em elevação. A insensibilidade resultante é acrescida da percepção exagerada de todo e qualquer estímulo sensorial, o que cria na mente humana um estado permanente distorcido, agressivo e paranóico. Só esta fórmula – nenhum sono e uma dieta cheia-de-açúcar-o-tempo-todo – poderia explicar nossa marca registrada de “violência americana”. Viver numa dieta composta de 90% de carboidratos não tem apenas o efeito de transmitir o estresse da época de acasalamento para todo o seu ser e criar a resistência à serotonina que gera a agressividade. Significa também a exaustão de cortisol para o cérebro, de forma que não há como lidar com o estresse. A essa altura, acabamos tendo violência nas ruas, vandalismo, racismo exacerbado – e as pessoas da próxima geração acabando umas com as outras. Se todo mundo no país é testemunha dessa infindável violência três vezes ao dia, na televisão, e é exposta à violência simulada (os filmes) tarde da noite – quando todos deveríamos estar dormindo – a situação se agrava ainda mais. Veja, por exemplo, as crianças que testemunharam o massacre dos colegas em Littleton, no Colorado, em 1999. Elas nunca mais serão as mesmas. Crianças expostas continuamente à violência, geração após geração, apresentam o mesmo esgotamento do sistema de resposta ao estresse observado nos veteranos de guerra com síndrome de choque pós-traumático. Os dispositivos evolutivos normais que avisam o corpo e a mente do perigo ficam permanentemente ligados, e a experiência se torna biologia. Será que as testemunhas de Littleton, no Colorado, vão viver vidas violentas – e com isso “infectar” seus filhos? Lembre-se de que a possibilidade de um gene se expressar – neste caso, o gene responsável pela produção de serotonina – vai depender inteiramente dos sinais do ambiente, ou do tipo de

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experiências que o indivíduo terá, no início da vida, em seu ambiente doméstico. O fato de ele viver com pessoas hostis ou violentas, ou de ter experiências calmas e razoáveis, poderá fazer toda a diferença do mundo. Essa questão ultrapassa a barreira das espécies, como pode ser visto num expressivo instantâneo de comportamento animal, relatando no livro

Pág 133 Inside the Brain, do Dr. Ronald Kotulak, que dá provas claras da conexão genética-ambiental com a agressão violenta. Nas salamandras “tigre” do Grand Canyon, podemos observar a versão da natureza para os nossos Dr. Jekyll e Mr. Hyde:

As salamandras vivem em lagos, ao longo de uma margem isolada do Grand Canyon. Quando há água e comida em abundância, a salamandra assume a salamandra assume a forma do Dr. Jekyll – um animal gregário e pacífico, que se alimenta de insetos. Mas quando a água começa a secar, a comida a escassear e as condições de vida se tornam insuportavelmente competitivas e dolorosas, algumas das salamandras passam por uma impressionante transformação e viram Mr. Hyde. As pressões ambientais alteram rapidamente o funcionamento de alguns de seus genes e geram transformações em sua forma física, além de torná-las agressivas. Os músculos se alargam para tornar suas cabeças e bocas maiores. Além disso, elas ganham um novo conjunto de dentes enormes – adaptações que lhes permitem atacar e comer suas colegas salamandras. Tornam-se canibais, mas apenas durante um curto período de tempo. Logo que engolem salamandras suficientes para reduzir a população, elas voltam à forma de Dr. Jekyll. Suas cabeças encolhem e retornam ao tamanho normal, e elas voltam a comer insetos.

Isto é o meio ambiente controlando a expressão genética.

É POR ISSO QUE A CHAMAM DE DROGA

O estado interminável de serotonina anormalmente elevada (produzida por todos os carboidratos que consumimos, porque as luzes estão acesas) é o que faz com que você se sinta tão triste,

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porque você vive o tempo inteiro como se estivesse sob ameaça. Se essa ameaça dura tempo demais, a homeostase faz você re-tornar a um estado de serotonina muito, muito baixa ou zerada, o que acaba fazendo você explodir em violência ou o torna comple-tamente esquizofrênico. Nos vários tipos de depressão, seus sintomas são respostas que representam manifestações ancestrais de medo e pânico, resultan-tes da serotonina elevada. Um estado crônico de serotonina alta se traduz num estresse interminável, ou numa ameaça da qual você nunca vai conseguir se livrar, não importa o que você faça. As vidas que vivemos e os alimentos que comemos criam um estado per-manente de desesperança, através do estado de elevada seroto-nina.

Pág 134 É por isso que um número cada vez maior de pessoas busca aju-da médica contra a depressão. Os antidepressivos atuam nos níveis de serotonina através dos inibidores seletivos de reabsorção de serotonina (SSRIs). O termo “reabsorção” se refere à volta da serotonina ao neurônio, após sua mensagem ter sido enviada. Essas drogas atuam aumentando ainda mais o nível já anormalmente elevado de serotonina, até um estado mais absurdamente transbordante. Elas conseguem isso bloqueando os receptores que reabsorvem (sugam) a serotonina e a retiram do espaço entre os neurônios, para ser utilizada novamente. Um inibidor seletivo de serotonina trabalha apenas para inibir o retorno da serotonina a determinados receptores. A quantidade real de serotonina que você produz não aumenta; só que o volume que você têm fica disponível por mais tempo, dando-lhe uma espécie de “lucro”. Com um nível de serotonina mais constante, seus receptores buscam e alcançam a homeostase. Neste estado você apresenta resistência aos receptores de serotonina, o que silencia esses receptores. A resistência à serotonina, neste caso, significa que o pânico e a paranóia físicos e mentais despertados da memória genética coletiva por um estado crônico de serotonina elevada acabam, ou pelo menos são neutralizados. Como você não registra mais o nível elevado da serotonina no nível dos receptores, na realidade virtual, o perigo passou. Instala-se aí uma sensação de bem-estar idêntica à percebida se a serotonina estivesse, na realidade, num nível normal (baixo). A forma de fazer isso virar realidade é apagar as luzes.

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O sono neutraliza os níveis de serotonina porque a melatonina produzida durante o sono só pode ser fabricada com o uso da serotonina disponível. É por isso que as pessoas deprimidas tendem a se automedicar, ou dormindo o tempo todo ou não dormindo de uma vez. Ambas as opções funcionam exatamente como os antidepressivos. Ficar sem dormir por 24 horas provoca a elevação da serotonina a níveis de exaustão antidepressivos, porque ela nunca se transforma em melatonina. Quando ela sobe muito, “ultrapassa o limite” e a sobrecarga faz com que os receptores vão lá embaixo, e – voià! – é exatamente como se a serotonina estivesse baixa, ou igualzinho a tomar Prozac. O “sono de fuga” – dormir o dia inteiro e parte da noite – funciona ainda melhor, porque a serotonina na qual você está mergulhado vai virar melatonina em cascata, levando-o a um estado de serotonina normal ou baixa, pelo menos por um tempo. Mas a maioria de nós não

Pág 135 consegue dormir o dia inteiro, a menos que tenhamos sido demitidos ou estejamos nos divorciando, de modo que precisamos de uma “coisinha”, só para sobreviver. Como lamentou Aldous Huxley, em Admirável mundo novo:

A civilização não tem qualquer necessidade de nobreza ou heroísmo. Não existem mais guerras, atualmente. Toma-se o máximo de precauções para evitar que você ame demais não importa o quê. Não existe algo como lealdade dividida; estamos tão condicionados que não podemos deixar de fazer o que devemos fazer. E o que devemos fazer é, no geral, tão agradável que não há tentações a resistir. E se algum dia, por algum acaso infeliz, um fato desagradável de alguma forma acontecer, bem, sempre há Soma para nos dar um pouco de alívio. E Soma sempre estará lá para acalmar nossa ira, para nos reconciliar com nossos inimigos, e nos tornar pacientes para agüentar melhor o sofrimento. No passado, só se podia fazer isso com grande esforço, e após anos de duro treinamento moral. Agora, basta engolir dois ou três tabletes de meio grana, e pronto.

Soma, para você, é Prozac. O Prozac é o mais famoso SSRI, ou inibidor seletivo da reabsorção de serotonina. O Prozac muda tanto a vida das pessoas que muita gente até escreveu líricas exaltações a seus milagres. A

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variação da seletividade do retorno é a razão pela qual, para muitas pessoas, o Prozac parece alterar a natureza do eu. Ou, como disse o Dr. Peter Kramer em seu best-seller Listening to Prozac, “ele dá ao introvertido a habilidade social de um vendedor”. Muito bem. Pelo fato de atingir apenas determinados receptores, o Prozac é essencialmente um antidepressivo feito sob medida, cujos efeitos não são os mesmos em todas as pessoas. A bulimia, por exemplo, agora vem sendo tratada com Prozac, porque, como o nível de serotonina se eleva em alguns receptores, a ação da serotonina na verdade faz caírem os elevadíssimos níveis de dopamina nas entranhas, o que por sua vez evita o vômito. Dezessete milhões de americanos já tomaram Prozac, desde que este ganhou notoriedade dez anos atrás, e muitos já usaram a droga há quase uma década. A Eli Lilly and Company, o orgulhoso e rico fabricante do Prozac, acaba de lançar uma nova campanha publicitária, criada para aumentar a base de consumo do produto. Aparentemente, o fato de as vendas terem dobrado entre 1990 e 1999, assim como as 20 milhões de prescrições registradas em 1998, não foram suficientes. Só em 1998, os

Pág 136lucros nos Estados Unidos chegaram a US$ 1,37 bilhão. Setenta por cento das prescrições do Prozac são feitas por clínicos gerais – os médicos de família. Embora seja razoável imaginar que alguém à beira de uma doença mental deva consultar um psiquiatra, seu médico não concorda. Custaria caro demais. Agora, se você se sente sem ânimo para ir à ginástica por causa de todas as luzes flamejantes e barras de cereais em sua vida, tudo o que tem a fazer é pagar aquela consulta anual com seu médico e pedir uma receita de algo que o levante, já que você está lá. Qualquer clínico geral resolve. Em 1996, foram registradas 735 mil prescrições de Prozac para crianças. (Apesar disso, a Eli Lilly ainda não pode anunciá-lo como um remédio para crianças, porque a FDA diz que ainda está estudando essa aplicação). O fato mais sinistro é que a Eli Lilly desenvolveu uma versão com sabor menta – para potenciais consumidores que são CRIANÇAS. Isso significa que qualquer médico tem condições de prescrever Prozac sabor menta para uma criança, sem sequer a necessidade de uma avaliação psiquiátrica.

O PRIMEIRO É DE GRAÇA

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As pessoas que nunca ouviram falar em Prozac (devem existir umas quatro no mundo) costumam sobreviver à base de remédios vendidos sem receita – entre os quais a nicotina, a cafeína e, o grande favorito, o álcool. Ou então buscam alguma panacéia em fontes mais agressivas. Sir Arthur Conan Doyle, em O sinal dos quatro, escreveu:

Sherlock Holmes pegou sua garrafa no canto da lareira, e sua seringa hipodérmica em sua bela caixa marroquina... “O que vai hoje?, perguntei. “Morfina ou cocaína?”, disse. “Uma solução de 70%. Gostaria de experimentar?” “Decerto que não”, respondi bruscamente. Ele sorriu diante da minha veemência. “Talvez você esteja certo, Watson”, disse ele. “Suponho que a influência, em termos físicos, seja má. No entanto, acho-a tão transcendentalmente estimulante e esclarecedora para a mente que seus efeitos secundários são uma questão de menor importância.” “Mas pense!”, disse eu candidamente. “Leve em conta o custo disso! Seu cérebro pode, como você diz, ficar alerta e excitado, mas é um processo patológico e mórbido, que envolve uma alteração cada vez maior dos tecidos, e pode no mínimo deixar seque-las permanentes. Você sabe, também, o que um black

Pág 137pode fazer a você. Sem dúvida, o jogo dificilmente vale a pena. Por que deveria você, por um mero prazer passageiro, arriscar-se a perder esses magníficos poderes com que foi aquinhoado?” “Mas eu abomino a árida rotina da existência. Eu amo a exaltação mental...”

Por que os viciados em drogas e os alcoólatras que se recupe-ram (Sherlock nunca se recuperou) se voltam para o café, os cigar-ros e os carboidratos? Bem, um pouco de cafeína e um pouco de nicotina têm a ver com aquilo que os afeta, mas por que a comida? A maioria dos viciados que tem sucesso percebem que não são capazes de controlar seu peso após a recuperação. De que forma a comida – especialmente os carboidratos, a julgar pelo ganho de peso – tornam mais amena a retirada? Por causa do mesmo mecanismo utilizado pelas próprias drogas e pelo álcool, eis como. Existe um par de receptores mestres que presidem toda a ati-vidade neurotransmissora e que governam todos os hormônios que

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agem como neurotransmissores. Esses controles mestres estão en-carregados de queimar ou não queimar os neurônios que, em seu cérebro, controlam o efeito quântico da “ausência de luz”. O ato de estimular eletricamente os neurônios é sempre chamado de “queima” – e essas duas substâncias controlam o processo. O botão de “parar” é chamado de receptor GABA. O botão de “ligar” é conhecido como receptor NMDA. Os receptores GABA são a chave para os efeitos do álcool e dos carboidratos sobre a consciência. O álcool aperta o botão de “parar” ao elevar os receptores GABA. Isso literalmente desliga as células, eletricamente falando. O desligamento induz uma sensação de calma. Barbitúricos, anestesia, carboidratos e gordura, queimados como cetona, funcionam da mesma forma. Os carboidratos agem através da insulina, que eleva os receptores GABA da mesma forma que o álcool. O problema ocorre quando os receptores GABA ficam “elevados” durante muito tempo ou de forma demasiado invasiva. Lembre-se da prancha sobre o tronco: quando o GABA está lá em cima, o NMDA está lá embaixo. Lá embaixo, mas não zerado. Os receptores NMDA, na verdade, aumentam em proporção à elevação prolongada dos receptores GABA. Em seu livro The Craving Brain, o Dr. Ronald Ruden utiliza a seguinte metáfora: enquanto as luzes estão apagadas, seu cérebro está substituindo todas as lâmpadas por outras mais fortes. Ao aumentar o

Pág 138 número e a intensidade dos receptores NMDA, enquanto a GABA está elevada, o cérebro está “equilibrando” as coisas. O “você-sabe-o-que” atinge o limite quando você para com o álcool, as drogas ou o açúcar, e o nível de GABA cai, porque aí o nível de NMDA sobe pelo menos duas vezes mais do que antes. Como, neste caso, há duas vezes mais botões de “ligar” do que o normal, o barulho e a luz ficam ensurdecedores, insuportáveis. Duas vezes mais ativi-dades sinápticas e elétricas é muita, muita coisa. Você não tem opção, a não ser voltar para seja lá o que for que provocou o estado de calma inicial. Agora pode se considerar um viciado. E cada vez que você tenta voltar, só fica pior. A menos que você esteja dormindo, porque a melatonina eleva novamente os receptores GABA para a última “luz apagada”. No cenário da vida moderna, você está viciado numa taça de vinho à noite ou num pãozinho de centeio de baixa caloria com geléia na hora do almoço. Você é sem dúvida um viciado se

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consumir todos os três num único dia, todos os dias, todos os anos, entra ano e sai ano. Graças à insulina proveniente do consumo de carboidratos e da resposta direta da GABA à insulina, nós, os viciados em junk-food, temos o mesmo potencial identificado nos alcoólatras. Existem algumas pessoas que podem tomar um único drinque ocasionalmente. Mas a maioria de nós não consegue parar após o primeiro copo de cerveja ou de Coca-Cola, ou depois da primeira batata frita ou bolinho de arroz. É tudo a mesma coisa.

RETIRADAConsidere a cena descrita por J. Madeleine Nash, na edição da Time de 5 de maio de 1997:

Imagine que você está tomando um gole de uísque. Que está dando uma tragada num cigarro. Que está fumando um cigarro de maconha. Que está cheirando um carreirão de cocaína. Ou tomando uma injeção de heroína. Não entre no mérito da legalidade ou não dessas drogas; concentre-se, por ora, na química. No momento em que você toma aquele gole, dá aquela tragada, fuma aquele cigarro de maconha, cheira aquele carreirão ou toma aquela injeção, trilhões de moléculas potentes invadem sua corrente sangüínea e seu cérebro. E, uma vez lá, desencadeiam uma série de efeitos químicos e elétricos em cascata – uma espécie

Pág 139de reação neurológica em cadeia, que ricocheteia por todo o crânio e rearranja a realidade interior da mente.

Gostaríamos de acrescentara àquela lista enorme de substâncias geradoras de dependência, “uma porção de qualquer carboidrato”, ou no “dialeto de rua” de Mary Poppins, “uma colher cheia de açúcar”. As moléculas a que a Sra. Nash se refere, em sua descrição absolutamente precisa, nada mais são do que dopamina. A dopamina normalmente fica alta diante da luz, porque permanece em atalhos de recompensa no sistema límbico do cérebro, ao criar uma memorável sensação de euforia. O sistema límbico conecta as partes do cérebro que são fundamentais para a sobrevivência ao

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córtex cerebral – a parte da qual emana o pensamento, e que fará com que você se lembre de como a sensação foi boa. A dopamina ativa um sistema de recompensa que leva a informação límbica à área do cérebro que faz você agir. É por isso que a dopamina é também um importante elemento no mecanismo da doença de Parkinson: para agir, é preciso ativar as funções motoras. O sistema límbico, com a dopamina a bordo, seleciona e rotula zilhões de bits de estímulos sensoriais como sendo “quentes” ou “frios”. O Dr. Kotulak, em Inside the Brain, descreve assim o processo:

As coisas quentes são para ser lembradas, e são borrifadas com sensações prazerosas, desde a excitação do sexo até o brilho de uma boa ação. Os estímulos sensoriais frios não recebem qualquer rótulo emocional e se desvanecem, para serem esquecidos.

Os atalhos de recompensa são muito importantes para a premissa básica da evolução. O ato de evoluir se baseia na habilidade de continuar a existir, que se baseia na adaptação, que por sua vez se baseia na apren-dizagem e na capacidade de lembrar. Esta também é a base do mecanismo do vício. A dopamina envia as experiências diretamente ao hipocampo. O próprio hipocampo é quem processa as memórias contextuais de longo e de curto prazo. O hipocampo está em ação quando o barulho dos cubos de gelo ou o cheiro do café fazem com que você fique louco por um cigarro, ainda que tenha parado de fumar cinco anos atrás. Nós, os viciados de meio expediente, que estamos apenas 10 ou 15 quilos acima do peso por causa dos alimentos adoçados e processados,

Pág 140 somos atirados num caminho sem volta de autodestruição, em alta velocidade, quando a AMA e a American Heart Association dizem para retirarmos a proteína ou a gordura de nossas dietas e viver de nada a não ser açúcar, com uma dieta de carboidratos e de baixo teor de gordura. Quando os alcoólatras bebem, estão ingerindo carboidratos concentrados e refinados – exatamente como você, quando come pão, massas ou bolo de chocolate. Quando você bebe, o álcool normalmente se agrega aos receptores de serotonina e os ativa. Ele

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não se liga aos receptores de dopamina, o que explica por que alguns de nós, quando bebemos, produzimos melatonina e caímos no sono. Em outras pessoas, a ativação de um receptor provoca uma liberação de dopamina. Lembre-se da natureza. Lembre-se de que, para serem adaptativas, nossas respostas devem ser capazes de realizar uma infinita variedade de estratégias de combinação. Em conseqüência, a atividade hormonal, imuno-lógica e neurotransmissora é, muito parecida com um jogo de fliperama; você atinge um ponto aqui e uma luz pisca lá na frente. Quando um receptor é atingido, ele pode provocar a fabricação do produto de um outro receptor. É uma série de verificações e equilíbrios, de ações compensatórias que visam restaurar sua homeostase, não importa o que a vida lhe atire em cima. As pessoas que respondem ao álcool com uma liberação anormalmente alta de dopamina se tornam viciadas. Depois do primeiro drinque, ficam com baixa de serotonina, porque seu receptor respondeu com dopamina. Baixa serotonina significa, por exemplo, que colocar a cúpula de um abajur na cabeça pode parecer uma coisa razoável. A maior parte dos verdadeiros alcoólatras são completamente desinibidos, porque eles não têm serotonina para controlar os impulsos. E também são bêbados maus, porque são agressivos. A cada drinque, a serotonina cai ainda mais e a dopamina sobe, provocando numa euforia que é armazenada nos atalhos da memória. Essas são as pessoas que se lembram da experiência e bebem mais e mais. Essas se tornam alcoólatras. Em nosso tempo, só a bebida já é suficientemente difícil de se administrar, pois já estamos cronicamente exaustos e deprimidos. Mas vamos imaginar que você seja um recém-chegado na área, em termos genéticos. A adaptação, como você já sabe, leva tempo. De que forma você vai ser afetado por uma aceleração na velocidade – ou na mudança – evolutiva, é algo que vai depender, em larga medida, do período de tempo em que

Pág 141seu grupo genético ficou exposto a uma mudança ambiental, como por exemplo a disponibilidade de carboidratos, e de quanto tempo os componentes do grupo levaram para se adaptar à escala artificial de tempo da luz constante. Se você quer realmente saber o que significa ser um recém-chegado à nossa cultura, tudo o que tem a fazer é, ironicamente prestar muita atenção ao mais antigo grupo de

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americanos conhecido neste continente, ou seja, os americanos nativos.

O HOMEM QUE FUMA CIGARROS

A história que se segue é interessante porque exemplifica as combinações de inépcia jornalística e médica que nos desinforma a todos e, ao mesmo tempo, lança uma luz sobre a extinção cultural generalizada, na pessoa de um tal Britton MataDireito, que já foi um orgulhoso americano nativo que o New York Times alçou à fama – e que, em vez disso, tornou-se o garoto-propaganda da doença induzida pela luz que atinge a todos nós. Britton MataDireito é o personagem principal de um artigo muito confuso do New York Times, publicado em 23 de dezembro de 1997, que mergulha ostensivamente no sofrimento dos americanos nativos presos nas garras do alcoolismo. O artigo começa com a informação estatística de que, embora os homens americanos nativos vivem somente até a idade de 56 anos, e que as mulheres americanas nativas morrem pelo menos quatorze anos antes de seus homens. Para explicar essa estatística, o artigo sugere que “o diabetes é comum nas reservas”. Em seguida, como se de alguma forma isso explicasse a conexão entre o diabetes e o alcoolismo, o artigo conclui que “algumas pessoas vivem a quase uma hora de viagem do hospital”. A forma como o artigo foi redigido nos faz ficar pensando se o diabetes ou o alcoolismo matam essas pessoas no caminho para o hospital. A razão pela qual a redação é obscura é o fato de o jornalista ficar procurando algo a mais nos fatos e evidências que possui. Está em busca de algo “relevante” (leia-se tendencioso) para relacionar a esses fatos. Então, logo em seguida, sem sequer juntar duas idéias, ele apresenta seu argumento (?) ao declarar: “Aparentemente, a grande maioria fuma cigarros.” Muito bem, nós conseguimos compreender a relevância, mas se você não tivesse lido este livro, acha que conseguiria?

Pág 141 A seguir, o autor descreve “os engarrafamentos na estrada de mão dupla que leva à loja de bebidas mais próxima”. O que? Bem, pelo menos voltamos ao alcoolismo. Será que ele está insinuando que essas pessoas estão morrendo de tanto fumar em carros fechados, enquanto esperam na fila para comprar uma garrafa de

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bebida em seu caminho para o hospital, de modo que possam dirigir bêbadas e bater com o carro, quando o seu diabetes era a grande questão desde o início? É claro que essas pessoas abrem caminho para o diabetes bebendo, fumando e comendo. Geneticamente, porém, são pessoas que não possuem tolerância em relação à perda de sono e suas conseqüências: compulsão por açúcar e depressão. Elas estão vivendo num ambiente alienígena para sua genética grupal. O nosso ambiente. Todas elas apresentam os mesmos sinais que nós de toxicidade provocada pela luz, aliada a um nível extraordinário de estresse. obesidade, doenças cardíacas, hipertensão, alcoolismo, suicídio em conseqüência de depressão e, finalmente, infertilidade – tudo isso está no futuro delas. O fumo é o menor dos seus problemas.

MATA DIREITO

A genética e o estilo de vida têm peso igual na situação dos americanos nativos, quando a gente se lembra da máxima “Mude o ambiente e o ambiente vai mudar você”. Como é previsível, sem a adaptação genética para administrar a mudança tóxica no ambiente, todos vão morrer. Na verdade, na época e no tempo em que vivemos, apenas os americanos nativos que não tiverem seu complemento genético “normal” vão sobreviver. No momento, eles estão encalhados no mesmo “surto de velocidade” evolucionário que nós enfrentamos, há cerca de 80 mil anos, com o advento da agricultura, e mais a nova cruz que temos de carregar, a toxicidade pela luz, que resulta na privação do sono – a mesma cruz que nos leva a comer até morrer. A maior diferença para eles, em nosso tempo, é sua situação socioeconômica. Nossa hegemonia cultural só faz aumentar os danos, em toda e qualquer instância possível. Um povo que vive sob constante estresse, sem um período adequado para a adaptação genética, vicia-se naturalmente quando tem oportunidade de se automedicar. A verdade dessa questão se forma através do perfil de Britton MataDireito na matéria do New York Times.

Pág 143 No excerto do artigo que transcrevemos a seguir, o Sr. MataDireito está discutindo o caminho vermelho, uma nova

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abordagem para o tratamento do alcoolismo que vem sendo testada nas reservas indígenas. O Caminho Vermelho é uma referência à antiga crença, entre as tribos, de que só há duas escolhas para os povos nativos: o Caminho Negro, que leva ao desespero e à morte, ou o Caminho Vermelho, que leva à paz e à harmonia. Esse programa de consciência-cultural-suada, pseudo-doze-passos, convoca os nativos americanos alcoólatras a “viverem num Dia Vermelho”. Tarefa nada fácil. Assim como a maioria dos participantes do programa, o Sr. MataDireito vive num mundo marcado pelo abandono, pelo vício e pela violência. E pode apostar que essas experiências se transformam na sua biologia. Ele começou a beber com a idade de seis anos, quando viu um homem branco jogar sua mãe de uma janela. Com doze anos, comprou uma tatuagem que dizia: “Mais cerveja.” Aos 25, estava desempregado e vivendo num alojamento do governo, enquanto tentava reavaliar sua curta existência. Em sua entrevista, ele atribuiu o fracasso de sua tentativa anterior de deixar o álcool aos métodos de tratamento usados pelo homem branco:

“Participei do tratamento contra o álcool do homem branco com dezesseis anos”, disse o Sr. MataDireito, os cabelos negros presos num rabo-de-cavalo, o olhar intenso e os punhos cerrados. “Eles mandavam a gente fazer umas coisas, como dançar com os vídeos de Richard Simmons. Eles punham a gente para fazer exercícios com músicas que eu não conhecia – ‘suar ao som dos velhos sucessos’, é isso que eles diziam que era.”

Ele devia ter ligado para o Escritório de Assuntos Indígenas. Resumindo: apenas uma semana depois de deixar o tratamento pela abstinência, ele estava bebendo novamente. Não sabemos como ele conseguiu agüentar tanto tempo. O New York Times publicou uma foto do Sr. MataDireito durante sua recuperação, em sua casa-trailer, exibindo orgulhosamente sua tatuagem de “Mais cerveja”, debaixo do brilho incessante de uma luz fluorescente de teto, com a televisão ao fundo. Repare a garrafa de Pepsi de dois litros, vazia até à metade, à sua frente – e o cinzeiro repleto de pontas de cigarro. Achamos que essa foto diz tudo.

Pág 144 O Sr. MataDireito apenas trocou de lugar no Titanic. Se ele tiver sorte, algum assistente social bem-intensionado da clínica indígena próxima ao centro de tratamento de diabéticos vai

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lhe conseguir uma receita de Prozac – e quem sabe algum Zyban para combater o fumo. Quando se descobrir que ele tem doença coronariana e diabetes aos 36 anos, os médicos vão por a culpa no cigarro ou na proximidade da loja de bebidas alcoólicas, sem nunca perceber que uma vida inteira de estresse incompatível e doze anos de Prozac para aliviar o tormento criaram um “estado de pânico” de serotonina alta tão insuportável que seu coração está prestes a parar.

Pág 145

SETE

Melhor lugar para esconder uma mentira é entre duas verdades:O que faz parar o maior relógio de seu corpo

Nossos batimentos cardíacos nos dão a certeza de que estamos bem. Temos pavor de pensar que ele possa parar, temos pavor de pensar que o coração daqueles que amamos possa silenciar. Meu coração está partido, respondemos, como se ele fosse um bloco de giz espatifado por um martelo. – Diane Ackerman, A Natural History of the Senses

A verdade, escondida, enterrada no fundo da síndrome do uso de antidepressivos, é que o fenômeno “insone” que cria os níveis anormalmente elevados de serotonina no cérebro, responsável pela depressão que todos nós experimentamos, causa simultaneamente doenças cardíacas. A mídia, os médicos e os pesquisadores vão todos dizer que as pessoas gordas têm mais probabilidade de ter ataques do coração, porque têm colesterol alto e pressão alta – porque são gordas. E todo mundo sabe que as pessoas gordas são gordas porque consomem alimentos gordurosos. As pessoas gordas realmente têm colesterol alto e pressão alta, que provocam ataques cardíacos, mas o fato de consumirem alimentos ricos em gordura não tem

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nada a ver com isso. Esta é a mentira que eles estão escondendo. Pág 146 As pessoas gordas simplesmente estão cansadas demais para viver. O sono controla o seu apetite por carboidratos, cujo consumo controla a retenção de líquidos (para modificar sua pressão arterial) e a produção de insulina (que facilita a produção do colesterol). Se não há sono, não há controle. E a serotonina se acumula. Quando você não dorme e come carboidratos todos os dias, meses, anos, décadas, você fica nadando num estado crônico de serotonina elevada, porque ela nunca consegue se transformar em melatonina. É daí que vêm a depressão e os problemas cardíacos. É sabido que as pessoas tristes têm coração partido, e as pessoas com o coração partido são realmente tristes. As pessoas deprimidas têm mais ataques cardíacos, e as pessoas com doenças cardíacas estão sempre deprimidas. Os cientistas sabem que a depressão e a doença cardiovascular andam de mãos dadas. Só o público é que não tem a menor idéia de que isso acontece.

Pág 146

Já delineamos aqui o efeito de ficar sem dormir – mais carboidratos, mais cortisol e menos melatonina – sobre a compulsão e o metabolismo dos açúcares e gorduras na corrente sangüínea. Concluímos que, quando você não passa fome e nem hiberna durante uma boa parte de uma viagem planetária em torno do sol, todo o açúcar e os carboidratos que você consome “fora de estação” causam obesidade, depressão e finalmente diabetes Tipo II (não-dependente de insulina). Isso acontece porque a insulina existe para facilitar, apenas por algum tempo, o “uso” dos açúcares como glicose no sangue. Após aquele período evolutivo normal – uns poucos meses – estimulam-se adaptações diferentes às mudanças do clima. Podemos lidar com o intenso estresse da época de acasalamento e de preparação para a hibernação apenas durante alguns dos doze meses do ano. Durante o resto do ano, todos os nossos sistemas necessitam de um alívio para se preparar para o próximo soar do gongo, quando o verão chega de novo. O estresse do acasalamento é único. Na natureza, quando há muita luz, um homem vai passar os dias tentando se acasalar – o

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que significa luta contínua com outros machos, e também sangramento constante, na maioria das vezes. Uma mulher, vendo tantos homens tentando acasalar-se com ela, também passa por um estresse excessivo.

Pág 147 A serotonina (que se eleva em resposta ao estresse do medo, quando você come carboidratos) controla a vasoconstricção e a agregação de plaquetas, por uma razão real, no mundo natural. Você nunca entraria num estado de pânico, a menos que o que o estivesse assustando arrancasse sua perna fora ou o atingisse com um tacape e o fizesse sangrar até morrer. A principal cadeia de eventos na doença cardiovascular – pressão alta, constricção dos vasos sangüíneos, aumento dos fatores coagulantes, colesterol alto e canais de cálcio porosos – espelha todos os sintomas da síndrome de hibernação prolongada. Todos esses sintomas são reversíveis com uma quantidade adequada de sono, que eleva a melatonina e suprime seu apetite por carboidratos. Para evitar doenças cardíacas, você precisa parar de comer açúcar durante mais da metade do ano, porque os níveis anormalmente elevados de serotonina provocados pela insulina na qual você está nadando não apenas cria um estado maníaco-depressivo; ela também aciona seu sistema nervoso simpático, que é o motor quântico primitivo que conecta seu coração e seu cérebro. Ele controla a resposta “lutar ou fugir” que pode salvá-lo quando você não consegue se salvar sozinho. Mais importante ainda: o sistema nervoso simpático corre através de moléculas chamadas fatores de crescimento nervoso (NGF), em seu coração, e de seus contrapartes no cérebro, os fatores neurotróficos derivados do cérebro (BDNF). O BFNF é responsável pelo crescimento das células cerebrais chamadas neurônios e suas ramificações, os dentritos. Os centros de energia que alimentam o crescimento desses neurônios e dentritos são as células de seu cérebro chamadas glias. Em pessoas cronicamente deprimidas, os pesquisadores observam uma perda drástica das células glias. E as células só morrem quando ficam sem combustível. Acreditamos que esta morte seja o resultado de resistência lozalizada à insulina no cérebro, que precede o diabetes cerebral da esquisofrania. As células gliais normalmente crescem quando alimentadas pelo açúcar que chega a elas através dos receptores de insulina. No entanto, graças à resistência à insulina (provocada pela ingestão de carboidratos durante um período longo demais) atinge o cérebro, as

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glias morrem e o BDNF cai. O efeito sobre a consciência é a depressão. Não importa se é um desequilíbrio de serotonina/dopamina, de GAQBA/NMDA ou de insulina/cortisol, ou se é uma falta de BDNF/NGF, porque tudo é a mesma coisa. Todos os trilhões de sistemas circulares de resposta dos trilhões de diferentes moléculas em

Pág 148 suas células, com trilhões de nomes diferentes, fazem seu trabalho simultaneamente, para que você continue se adaptando. Normalmente, uma das principais funções evolutivas do BDNF sobre seus neurônios é adaptar-se às mudanças ambientais, fomentando o crescimento de dentritos, que abrem novos caminhos para que se possa aprender coisas novas e recordá-las. Essa capacidade nos permite mudar nosso comportamento para nos adaptarmos a novas circunstâncias e sobreviver. Sem o BDNF para reforçar a expansão ao longo dos atalhos de serotonina e de dopamina e fortalecer as conexões com o hipocampo, nós não apenas seríamos incapazes de suportar circunstâncias, lembrar ou aprender: nós morreríamos. Ou a gente se suicidaria ou nosso coração pararia. O NGF (fator de crescimento nervoso) no coração realiza as mesmas tarefas de crescimento nervoso que ajuda o coração a se lembrar e a suportar dificuldades. Mas a resistência à insulina nos músculos do coração significa que nenhum açúcar do sangue vai para as células que fornecem NGF. Quando falta NGF, as conexões da memória (sinapses) enfraquecem e o coração literalmente esquece de manter o ritmo. Essa falha afeta a variabilidade dos batimentos de que você precisa para lidar com as situações estressantes. Seu coração e sua mente são uma coisa só. Quando você mantém as luzes acesas para criar um verão infindável, e tem acesso a um estoque inesgotável de carboidratos, todos os seus hormônios permanecem também no modo de verão. Não apenas as nossas mentes, mas também os nossos corações vivem no “pânico” constante da época do acasalamento (competindo para conseguir recursos, mudanças hormonais bruscas de humor e, no final, perda), que costumava coincidir com o verdadeiro verão. Dessa forma, dia e noite, o ano todo e década após década, nossos hormônios sexuais ficam em franca atividade – e nós, prontos para a luta. Esse estado de pico e prontidão é uma circunstância com a qual só estamos preparados para lidar durante uns cinco meses, no máximo, dos doze meses do ano.

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As mentiras sobre baixo teor de gordura das décadas de 1970, 1980 e 1990 só fizeram exacerbam um enorme problema técnico evolutivo, ao recomendarem uma dieta com mais carboidratos e exercícios, que induzem a picos de cortisol e de insulina jamais vistos em seres humanos. E tem também a psicose de uma população mentalmente consumida pelo sexo, mas não precisamos chegar lá. Porque o que é importante você saber, e saber até os ossos, é que, quando você não dorme, seu coração morre. É simples assim.

PÁG 149ARRASTANDO-SE PARA MORRER

O que acontece ao maior relógio de seu corpo quando a luz nunca se acaba ao pôr-do-sol? Quando o combustível que alimenta seu coração nunca varia e o pânico percebido em sua mente nunca tem fim? Tantas coisas que você nem pode imaginar. E nenhuma delas é boa. Suas artérias realmente “sentem” o sangue correr através delas. Os sensores que lêem a força com que seu sangue puxa e empurra, ao correr através de seu corpo, são chamados células endoteliais. Essas células vivem à própria maneira. Elas mudam de forma, movimentam-se e ativam/desativam uma miríade de genes, em resposta à pressão sangue e à velocidade, aos hormônios e citocinas que detectam no sangue e aos fótons trazidos ao sangue pelas células chamadas criptocromos. (As células endoteliais controlam sozinhas a dinâmica de fluidos do fluxo sangüíneo; ou seja, elas distribuem as forças para evitar extremos perigosos.) As células endoteliais também controlam a metabolização dos ácidos graxos que flutuam em seu sangue. Os ácidos graxos são aquilo que o médico mede quando o ameaça por causa de seu colesterol alto. Os exames de sangue que ele pede para avaliar seu colesterol analisam diferentes componentes cujas siglas são VLDL, HDL e LDL. Se as LDLs (lipoproteínas de baixa densidade) são divisões das VLDLs (lipoproteínas de baixíssima densidade) que foram fabricadas em seu fígado, a partir dos carboidratos que você comeu e se transformaram em partículas LDL – menores, pesadas e oxidadas –, tudo isso vai depender exclusivamente de suas células endoteliais. O médico lhe diz para não comer antes do exame. Isso é necessário não porque uma refeição rica em gorduras vai mascarar os resultados; uma refeição rica em carboidratos é o que o faz. Os

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carboidratos se transformam em triglicérideos (gordura corporal), para insulá-lo e nutri-lo quando não houver mais açúcar disponível para comer. Os carboidratos também se transformam, simultaneamente, nesses ácidos graxos (colesterol), para proteger suas células cardíacas contra vazamentos, caso você congele, e para nutrir as células musculares de seu coração. Seu coração possui um metabolismo sazonal da mesma forma que seu cérebro. O coração do verão funciona com açúcar puro (glicose) e o coração do inverno funciona com ácidos graxos livres. Como é sempre

Pág 150 verão em nossos corações, nossas artérias nunca têm chance de usar todo o colesterol disponível. Além disso, a serotonina continua a se acumular, o que provoca resistência à serotonina, que por sua vez provoca pressão alta, no caminho para a formação de coágulos e – enquanto as luzes estiverem brilhando – cortisol permanentemente elevado. E você sabe muito bem o que significa qualquer coisa em estado crônico. A resistência ao cortisol é uma situação desastrosa. A produção de cortisol é um mecanismo sempre à disposição de suportar situações, de lidar com o estresse episódico. A cobertura de seu coração adora cortisol, em pequenas doses. As células endoteliais da cobertura de seu coração não podem realizar todas as suas tarefas sem doses pequenas e administráveis de cortisol. Doses grandes, no entanto, são sinal de grande perigo para suas células endoteliais. Doses grandes o dia inteiro, a semana inteira e o ano inteiro, durante décadas, significam resistência ao cortisol na certa. Além de mau humor, impaciência, percepção mascarada do tempo e pânico generalizado. Não importa se a gordura que você ingere é saturada ou não-saturada, se é boa ou ruim; se as células endoteliais da cobertura de seu coração estiverem mortas, você também está. A cobertura de cada vaso sangüíneo de seu corpo é fundamental no esquema maior do órgão sensorial conhecido como coração. A corrida de seu sangue, o puxa-empurra, é um esforço sobre as paredes de suas artérias. O esforço sobre uma almofada macia de cobertura formada por células endoteliais ativa três genes muito importantes: um que produz óxido nítrico, que controla o estreitamento de seus vasos sangüíneos, que por sua vez controla a velocidade e o volume de sua pressão arterial, e dois genes que inibem a formação de coágulos e suavizam qualquer formação

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muscular anormal (formações grumosas). Células endoteliais que captam turbulência demais ou, no extremo oposto, nenhuma turbulência, ativam muito pouco esses genes. E isso é mau. Isso significa que, embora correr o tempo todo numa esteira produza excesso de turbulência, ficar o tempo todo colado à televisão ou à tela do computador é ruim do mesmo jeito. Um pouco de estresse, episodicamente, é bom – da mesma forma que um pouco de cortisol, episodicamente, mantém o ritmo e prova que você está vivo. Excesso de estresse crônico, é claro, para a natureza significa que você é um perdedor e deve ser eliminado de forma permanente. Um

Pág 151 pequeno banho de cortisol, porém, faz as células endoteliais muito felizes; já o excesso vai afogá-las. Como seu cortisol fica alto enquanto as luzes estiverem acesas, você provavelmente está se afogando. Por isso, só o fato de manter as luzes acesas até tarde da noite o ano todo já causa a morte das células endoteliais. Qualquer elevação na pressão arterial, a partir de seu sistema nervoso simpático ou em função da pesada ingestão de carboidratos na estação errada, vai alterar a pressão e, com isso, criar ainda mais esforço, para matar suas células endoteliais duplamente. Lembre-se de que os cinco quilos de peso de água que você carrega enquanto está numa dieta rica em carboidratos já é um aumento de volume suficiente para responder pela pressão alta subclínica crônica, observada na maioria dos homens acima de 35 anos de idade. Qualquer pressão alta, não importa o quão leve seja, sempre significa esforço. O outro assassino importante das células endoteliais da cobertura do seu coração é o nível cronicamente alto de endotoxina LPS. Lembre-se de que a endotoxina LPS é o “suor” bacteriano proveniente dos dois quilos de bactérias simbióticas que vivem em suas entranhas, e que, à medida que se eleva, ativa seu sistema imunológico e a interleucina-2, que faz você dormir e baixa novamente o número de bactérias. Quando você luta contra o sono, porém, esse número se eleva e permanece alto. Isso mata o seu coração. A maneira mais obscura de matar suas células endoteliais por não dormir é através da homocisteína elevada. Um homem chamado Kilmer McCully percebeu, há cerca de trinta anos, que crianças portadoras de uma doença genética chamada homocisteinúria

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sempre morriam de ataques cardíacos por entupimento das artérias por volta da idade de dez ou onze anos. As crianças portadores de homocisteinúria são incapazes, geneticamente, de fabricar uma enzima que metaboliza a homocisteína, para removê-la da corrente sangüínea. McCully foi esperto o suficiente para concluir que os altos níveis de homocisteína acumulada deviam estar também associados à doença coronariana arterial em adultos. E ele estava certo. É claro que ninguém o levou a sério, até que os cientistas descobriram que um aumento de suplementos de ácido fólico compensava a falta da enzima nos caminhos de eliminação da homocisteína. E, como surgiu um tratamento, de repente apareceu também uma doença: deficiência genética de ácido fólico. Minha nossa!

Pág 152 Uma deficiência genética de ácido fólico generalizada na maior parte da população masculina que chega à idade madura é algo virtualmente impossível; então, sabendo que ninguém havia montado o quebra-cabeça, nós investigamos o caminho da fabricação e da metabolização da homocisteína. Sem dúvida nenhuma, a apenas alguns sistemas circulares de resposta e cascatas atrás, uma enzima que é crucial para metabolizar a metionina – a precursora da homocisteína – é abatida por um criptocromo carregado de luz azul. A quantidade de luz do dia a que você é exposto, agravada pela quantidade de luz artificial, controla a produção de uma coisa diminuta, aparentemente esotérica, lá em cima na cascata dos outros hormônios e funções, que pode matar você. Então. As células endoteliais – que forram o seu coração – controlam a formação de coágulos, o crescimento excessivo, o metabolismo de gorduras e a pressão arterial. Você pode matar suas células endoteliais de quatro maneiras:

1. Cortisol elevado crônico (luz inesgotável)2. Altos níveis de endotoxina LPS (não dormir)3. Homocisteína alta (luz em excesso)4. Esforço (pressão arterial elevada sazonal – junto com “peso de água” dos carboidratos, além de resistência à serotonina e à insulina – que nunca acaba)

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Como os itens 1, 2 e 3 são o resultado da vida moderna e o 4 – a dieta de açúcar o tempo todo – é conseqüência direta de 1, 2 e 3, podemos dizer, com segurança, que a doença cardíaca, que é um estado caracterizado por células endoteliais mortas, é causada por não dormir e por excesso de luz, certo?

SEM SAÍDA

A cobertura endotelial também controla o crescimento excessivo de tecido muscular macio (protuberâncias grumosas), que, ao lado do colesterol que forma placas, é o fator mais importante da arteriosclerose (artérias entupidas). Um fluxo sangüíneo difícil, em terreno acidentado, ativa um conjunto de genes totalmente diferentes nas células endoteliais. Esses outros genes são postos em marcha para “corrigir” aquilo que as

Pág 153 células endoteliais interpretam como sendo um problema de “fluxo”, simulando pelas protuberâncias grumosas. As placas de colesterol, por si mesmas, não são responsáveis pelo terreno acidentado. O problema é causado pelos “fatores” imunes liberados pelas próprias células endoteliais, numa tentativa protetora de restaurar a homeostase e distribuir o fluxo sangüíneo. Um fluxo anormal, na verdade, desliga os genes protetores e causa pânico entre as células endoteliais. Após liberarem os fatores imunes que se fecham, elevando sua pressão arterial por engano, elas começam a se agachar em torno, estendendo pseudopodos (pezinhos), para escapar de áreas onde o espaço mudou abruptamente. A migração dessas células que forram suas artérias leva ao afinamento da parede arterial. Os claros são preenchidos por células imunes, chamadas leucócitos, que formam uma casca suficientemente grudenta para atrair o colesterol que flutua na corrente sangüínea. Este faz um band-aid de gordura para reforçar a parede arterial que afinou. A essa altura, você tem placas de colesterol, crescimento excessivo de tecido muscular macio e células imunes, produzindo o que se conhece por células de espuma. As células de espuma constituem uma “lesão”. Essa nova bagunça forma um terreno excessivamente “acidentado” e um fluxo extremamente dificultado, o que enlouquece ainda mais as suas pobres células endoteliais. Elas

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fogem e a parede da artéria afina; e quando seu sistema imunológico tenta consertá-la, ela vai ficando cada vez mais acidentada – e aí, claro, as células endoteliais mais uma vez escapam, e toda a confusão começa de novo. E de novo e de novo. Você só percebe esse quadro porque não morreu ainda. Provavelmente você já teve uma forte dor no peito ao se exercitar. E sem dúvida também está achando cada vez mais difícil combater a depressão causada por todos os carboidratos que ingeriu e pela serotonina anormalmente alta que se acumula, porque não tem para onde ir. Sim, porque quando você nunca apaga as luzes, a serotonina não tem como se transformar em melatonina. Na verdade, a luz suprime a enzima que converteria a serotonina em melatonina. Além de fazer você ficar triste, esses níveis absurdos de serotonina criam resistência à serotonina nas plaquetas do sangue, o que as torna mais grudentas que o usual. Isso é importante, porque é difícil ter um ataque cardíaco sem um coágulo sangüíneo, e é difícil ter um coágulo sangüíneo sem plaquetas grudentas.

Pág 154 Você está cansado, ansioso, infeliz, miserável, viciado em açúcar ou em álcool, talvez dependente de Prozac – e anda por aí com a cobertura do coração morta, mantida de pé à custa de estacas de colesterol. Você tem uma doença cardíaca. E provavelmente vai morrer... logo.

A MORTE POR FEITIÇO

Qualquer médico que lesse a descrição anterior lhe diria que você vai ter um ataque cardíaco, e que isso vai acontecer por causa das placas de colesterol que estão entupindo as suas artérias. Mas isso não é verdade. Sim, é provável que você tenha um ataque cardíaco, mas a culpa não é do colesterol. Na verdade, ele é o menor dos seus problemas. Seu médico, os jornais e a televisão tem mais chances de matá-lo do que os band-aids de colesterol que você está usando. Declaramos isso após ler volumes e volumes de pesquisa de ponta sobre o fenômeno do “ataque cardíaco”. Doença cardíaca não é ataque cardíaco. Uma doença cardíaca pode ser qualquer ponto da escala, desde a doença cardiovascular acompanhada de pressão arterial elevada e formação de placas de colesterol, até a

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cardiomiopatia (músculos cardíacos cansados ou danificados), que leva à insuficiência cardíaca congestiva, com inúmeras variações sobre o mesmo tema. Ataque cardíaco é quando seu coração se estreita em um último e fatal batimento, e não retorna mais. Se não são as placas de colesterol, e se não são as plaquetas grudentas, qual é a causa do ataque cardíaco? Para deduzir a origem real da morte por ataque cardíaco, vamos fazer a pergunta que fizemos tacitamente em todos os outros capítulos, até agora: Quando e onde este evento físico que agora observamos poderia ocorrer na natureza? A menos que possamos responder a essa pergunta, estamos usando o “remédio” (leia-se ciência) errado. É uma técnica imbatível, que sempre nos leva à inegável verdade, ao revelar o mecanismo natural que foi inadvertidamente confundido pela vida moderna. Já desmascaramos a obesidade ao examinarmos o metabolismo banquete-ou-fome. Podemos entender a premissa metabólica por trás do diabetes tipo II, dentro da lógica da hibernação. A doença mental pode ser entendida como um

Pág 155 produto do estoque de alimentos e da fadiga, que depende do limite – ou seja, quanto você pode suportar antes de desmoronar? Então, mais uma vez e pela primeira vez, em se tratando de doença coronariana arterial, quando, e sob que circunstâncias, um ataque cardíaco ocorreria na natureza? A resposta é: somente num estado de pânico. Os animais só sofrem ataque cardíaco súbito quando literalmente morrem de medo. Seus corações são transformados em pedra pelo próprio mecanismo “lutar ou fugir” de seus corpos. A base da experiência humana de um ataque cardíaco deve residir nos mesmos mecanismos. Analisamos estudos que avaliaram mortes ocorridas durante terremotos e ataques de mísseis, para procurar evidências que dessem suporte a essa premissa. Analisamos mortes ocorridas em 1994, durante o terremoto de Northridge, próximo a Los Angeles, e, em 1991, durante o ataque de mísseis do Iraque sobre Israel. Não só descobrimos que muitas mortes não foram conseqüência do trauma, mas que pessoas sem prévios problemas cardíacos, em muitos casos, morreram realmente de medo. Na média, houve um aumento de 40% nos ataques cardíacos ocorridos em ambos os dias mencionados. O terror, em uma pessoa que em situação normal seria considerada sadia, pode provocar uma mistura química tão potente que é capaz de induzir

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um influxo cataclísmico de cálcio em todas as suas células do coração; isso faz o coração se contrair tão violentamente que nunca mais consegue relaxar. O “estado de medo” causado pelos níveis de serotonina crônica e anormalmente elevados, que já detalhamos anteriormente, coloca sua mente e seu coração num estado perene e quase permanente de pânico psicológico. Num notável ensaio, publicado há mais de quarenta anos na revista American Anthropology, Walter Bradford Cannon, um fisiologista da Escola de Medicina de Harvard, descreveu de que forma, em muitas culturas primitivas, uma maldição lançada por um mágico ou curandeiro todo-poderoso era suficiente para matar uma pessoa crente. O coração dessa pessoa literalmente parava. E se só isso já não é suficiente trágico, a medicina moderna aumenta o medo, tornando-o palpável. A televisão e os anúncios impressos nos bombardeiam com novidades do front sobre “a guerra às doenças cardíacas” – para o caso de você não ter notado que seu coração estava tentando matá-lo. Somos ensinados a odiar o nosso

Pág 156 coração. É verdade que os seres humanos sempre foram obcecados por seu coração na vida, na arte e na literatura. Agora, estamos obcecados pela saúde do nosso coração. Parecemos estar presos em relações de interdependência com cardiologistas, pesquisadores e fisiologistas especializados em exercícios – e numa luta alimentar mortal contra a sonhada indepenência de nossos corações. Graças sobretudo à mídia, e à paranóia americana em geral, estamos muito mais assustados a cada minuto com relação ao nosso coração do que em tempo algum da história – nem mesmo durante a epidemia de gripe de 1914, que matou 20 milhões de pessoas em todo o mundo. As pessoas, atualmente, estão muito mais preocupadas com as doenças cardíacas do que o pessoal daquele época estava com a gripe. Estamos vivendo tempos verdadeiramente estranhos. Acrescente-se a esse terror generalizado as duas visitas anuais ao cardiologista, ou uma ida até à quitanda da esquina, por falar nisso, para comprar suco “sem gordura”, hambúrgueres de peru sem gordura e pratos combinados de massa de baixo teor de gordura, que vão ao freezer e ao fogo, sob luzes fluorescentes cujo brilho equivale ao de dez mil sóis artificiais. Não admira que estejamos bebendo algo mais do que suco.

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INVASORES ALIENÍGENAS

Se você está tentando viver numa dieta de baixo teor de gordura e faz exercícios até ficar todo machucado, provavelmente vai ter um ataque cardíaco. Ele vai acontecer sob algum tipo de estresse fora do normal, seja ele emocional ou físico, enquanto seu coração estiver batendo só um pouquinho mais depressa do que normalmente o faz. Uma dessas placas que acabaram de se formar vai quebrar quando seu coração se espremer fortemente, e o colesterol líquido não metabolizado, acumular no centro da placa, vai se derramar em sua corrente sangüínea – e, dentro de dez segundos, seu sistema imunológico vai tentar compensar isso e vedar o buraco com uma barragem de leucócitos e coágulos sangüíneos. É a falta de espaço em sua artéria estreitada, cheia até à borda de ações imunes, que interrompe o fluxo sangüíneo para o músculo e causa a morte das células. A menos que você tenha sorte e os vizinhos precisem de um lugar para quebrar.

Pág 157 Um coração ocluso e entupido de colesterol pode não matá-lo se seu sistema imunológico tolerar a simbiose com uma ou mais das formas de vida oportunistas que inevitavelmente vão entrar nas placas que formam suas artérias. Se você seguir os artigos de jornais sobre a “nova” teoria, que citam a infecção como a causa da doença cardíaca, estará familiarizado com os nomes como H. pylori, vírus CMV, Chlamydia pneumoniae e cáries dentárias. Até certo ponto, os artigos estão corretos. Um ou mais desses coabitantes da Terra vão infectar a placa de colesterol que se formou quando suas células endoteliais o abandonaram. A H. pylori é também chamada Helicobacter pylori. É uma bactéria comum, que em geral infecta a maioria de nós durante a infância. Em pessoas com flora intestinal (bactérias) desequilibrada, a H. pylori pode causar a produção excessiva de ácido, o que leva a úlceras. Tagamet e Zantac são duas drogas muito vendidas, que suprimem a resposta do sistema imunológico a esse infeliz estado de coisas. Agora, a maioria dos médicos decidiu que uma terapia à base de antibióticos para matar a Hp, e provavelmente algumas centenas de outras bactérias inofensivas em seu intestino, é a melhor forma de lidar com as úlceras estomacais. Afinal, porque usar uma pistola, se podemos usar uma bomba de hidrogênio?

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Sentimos que as conexões entre a doença cardíaca e a Hp são, na melhor das hipóteses, frágeis. São baseadas em trabalhos sobre o sangue, que demonstram que um grande número de pessoas com doença arterial coronariana também apresentam exames positivos quanto à presença de Hp, e que o tratamento com antibióticos reduz a incidência de ataques cardíacos. Não é uma grande conexão. A evidência do citomegalovírus (CMV) como ferramenta evolutiva é muito mais forte. E a história sobre a Chlamydia é completamente fascinante. Parece que a Chlamydia não só infecta como infarta. O ataque cardíaco é chamado pelos médicos de infarto do miocárdio. Mas não é a Chlamydia, em si, que causa a inflamação que leva ao ataque cardíaco. Trata-se de uma história muito mais antiga. Sempre que um parasita realiza uma invasão, não teria o menor sentido, para ele, ameaçar a vida do hospedeiro. A Chlamydia segue essa regra. Os danos que recaem sobre seu hospedeiro acontecem em função do sistema imunológico humano e da imitação molecular. Na natureza, um dos truques mais antigos é o disfarce. Os insetos chamados bichos-pau se parecem, previsivelmente, com os galhos sobre os quais caminham. A Chlamydia cria um disfarce ao usar, em sua cobertura externa,

Pág 158 uma proteína que lhe permite penetrar em nosso sistema imunológico. Infelizmente, a proteína é exatamente igual àquela que normalmente existe no músculo cardíaco. Se você tem o azar de possuir um sistema imunológico realmente esperto, que não seja enganado pela imitação molecular executada pela falsa cobertura de proteína da Chlamydia, ainda assim estará enterrado até os joelhos em ironia, porque o próprio sistema imunológico vai eliminá-lo quando reconhecer o impostor e matar as células cardíacas infectadas por ele. Tanto a H. Pylori como a Chlamydia, junto com a endotoxina LPS, o cortisol alto, a homocisteína e a prerssão alta subclínica, são condições que poderiam ser eliminadas pelo sono em sincronia com as estações, porque seu sistema imunológico naturalmente seguraria a sua ponta do cabo-de-guerra ecológico. Os vírus, por outro lado, são animais totalmente diferentes, literalmente. Vírus não são micróbios ou germes. Vírus são fragmentos de RNA e de DNA que agem como ferramentas evolutivas. A entrada de DNA novo num organismo, no nível do genoma, significa, para esse organismo, simbiose ou morte. Em geral, o vírus que entra

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confere algum benefício que contribui para a capacidade geral de sobrevivência do novo organismo combinado, mas às vezes isso não acontece. Os vírus são específicos das espécies, e em geral preferem as espécies que escolhem. Os vírus da herpes, por exemplo, vive nos primatas, inclusive nós. A herpes não é capaz de se unir ao nosso DNA, mas também de ativar e desativar genes que regulam o crescimento, como o P53, fazendo com que muitos pesquisadores acreditem que o CVM e o MDV, ambos da família da herpes, estejam implicados no crescimento desordenados de células musculares macias, que em última instância contribuem para formar as infames células de espuma. Nós não concordamos com isso. Acreditamos que um vírus da herpes pode, na verdade, salvar sua vida. Chagamos à nossa teoria através da física, da biologia evolutiva, da bioquímica e, é claro, da cosmologia. Citamos uma pesquisa feita por Joseph Zasadzinski, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, que está trabalhando com os sistemas de distribuição interna das drogas. Ele conseguiu criar uma membrana celular com apenas uma camada de lipídios. Aparentemente, tudo o que o RNA, ou mesmo o DNA, precisa para fazer uma casa é uma casca fosfolipídica.

Pág 159 Dentro de cada uma das bolinhas de fosfolipídios, todas juntinhas, que estão dentro de nós, está o DNA. Este modelo é o modelo de todo tipo de vida. No entanto, a única razão pela qual os vírus residem num submundo ambíguo das coisas inanimadas é que eles não são realmente seres vivos, até encontrarem uma célula e se mudarem para dentro dela. Os fragmentos de DNA, assim como os de CMV ou MDV, podem morar na placa em seu coração. Correlacionamos este fato com a descoberta de que 92% de todas as placas examinadas em autópsias de mortes não relacionadas a problemas do coração possuem presença evidente de proteínas CMV. Nós sustentamos que a razão pela qual os cardiologistas concordam em que uma oclusão de 20% das artérias coronarianas vai matá-lo com muito maior freqüência que uma oclusão de 80% é o fato de o vírus se mudar para a placa e utilizar os lipídios presentes nela para criar uma “célula” onde possa viver e se reproduzir. Ao fazer isso, o vírus estabiliza a placa e faz com que ela possa suportar muito mais pressão, além de solidificar o líquido central, que é perigosamente imuno-reativo.

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Isso pode lhe causar arrepios, mas faz sentido em termos evolutivos. Encontramos mais evidências no trabalho de H. Kaunitz, publicado na revista Medical Hypotheses, em 1995. Ele concluiu que “estudos realizados em pessoas que haviam morrido com estágios avançados de aterosclerose demonstraram que [elas tinham] a maior expectativa de vida possível”. Ele percebeu que havia evidências de que “a natureza inflamatória dos vírus (particularmente os da família da herpes humana) tinha um efeito protetor”. Em outras palavras: aquilo que não o mata, torna-o mais forte.

NUM BATIMENTO DO CORAÇÃO

Tum-tum, bam-bam, ton-ton, tic-tic... seja interpretado verbalmente ou escrito, todos nós reconhecemos um batimento cardíaco ou a falta dele. Todas as células do nosso coração, como pequenos diapasões, fazem ressoar essa batida. O batimento, executado por nossas “cordas do coração”, reverbera por todo o sistema circulatório. Mas nós não pensamos nisso com freqüência, a não ser que algo cutuque lá dentro – ou pior, que a gente sinta dor. As palpitações são absurdamente alarmantes; a dor é totalmente incapacitante, emocional e intelectualmente. Os bebês, no útero

Pág 160 materno, são os convidados de um concerto em movimento, cuja sonoridade é mais parecida com a do vento e das ondas do que com qualquer outra coisa. O vento e as ondas arrastam a mesma quantidade de força ou “energia” que faz o coração bater todos os dias, de modo que a música é a mesma. Tanto a medicina tibetana como a chinesa ou a ayurvédica consideram o som das pulsações a principal chave para qualquer diagnóstico. Os médicos orientais estudam os ritmos das pulsações durante vários anos, para que possam se qualificar para a prática da medicina. Como estudam pelos menos seis pontos de pulsação diferentes, eles conseguem discernir muitos padrões rítmicos, ou “músicas” diferentes. Essas máquinas de eletrocardiograma humanas acreditam que há tantos ritmos diferentes quanto há doenças. Cada doença tem uma música própria. Eles ouvem a música e a dissonância. Felizmente, o número de batimentos cardíacos com o qual somos aquinhoados é maior do que qualquer um de nós conseguiria

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contar; caso contrário, ouviríamos e sentiríamos o terror do tempo escorrendo. A maioria de nós não conseguiria contar até um bilhão, se tivesse de fazê-lo. E este é o número mágico: um bilhão de tum-tuns. Os biólogos do Instituto Santa Fé, em sua tentativa de classificar a escala, ou a forma como as várias características de todos os seres vivos (desde o ritmo da pulsação até a expectativa de vida) mudam de acordo com o tamanho do corpo, decidiram que cada um de nós só tem um bilhão de pulsações. Desde o menor musaranho até uma baleia azul, ninguém tem mais que um bilhão. Mas tamanho não é documento, quando se trata de tempo, nesta terra. O rato esgota seu bilhão mais depressa do que o elefante, em função de suas respectivas taxas metabólicas. Esses cientistas têm uma fórmula: um gato, cuja massa é cerca de cem vezes maior do que a de um rato, vive três vezes mais tempo do que um rato. Por essa razão, o coração do gato bate um terço mais depressa que o do rato. As flutuações de todas as escalas de tempo, com o tempo de um batimento estabelecido a partir do tempo dos últimos batimentos anteriores, realmente significam que seu coração não está ligado em apenas suma freqüência. O New England Journal of Medicine relatou, num artigo publicado em fevereiro de 1999, que o coração humano apresenta uma resposta elétrica a várias freqüências de rádio. Ao responder a uma gama de freqüências, nosso coração protege o cérebro e a si mesmo

Pág 161 de danos que poderiam resultar de uma super-reação a qualquer estimulo, em qualquer freqüência dada. O coração é feito daquilo que os cientistas chamam de um meio excitável, ou seja, que gera e conduz eletricidade. As células cardíacas opostamente polarizadas, dentro e fora de seu coração, sempre apresentam uma distribuição desigual de íons, dentro e fora de si mesmas. O sistema nervoso simpático se comunica com os nervos por todo o corpo e cérebro, ao iniciar ondas de mudança de polaridade dentro e fora da membrana das células dos neurônios, assim como das células cardíacas. O derramamento de íons positivos e negativos dentro e fora, através de portões localizados nas membranas das células cardíacas, produz uma “corrente” elétrica. As células musculares do coração são acionadas por uma corrente elétrica que vem em ondas polarizadas, e que contrai e espreme o sangue através de duas câmeras de bombeamento adjacentes, os ventrículos direito e

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esquerdo. Existe uma colônia especial de células no topo do lado direito. Essas células “mantêm o ritmo”, eletricamente. O fluxo elétrico forma uma espiral ao longo do coração inteiro, desde a base até a ponta, formando um circuito completo da ponta para a base, da base para a ponta, contrai, da ponta para a base, da base para a ponta, contrai. É assim que acontece.

DE CORAÇÃO PARTIDO

Seu coração e seu sistema imunológico, muito mais do que a massa cinzenta que vemos como o constituinte principal do cérebro, são sensíveis à própria maneira. O crescimento e o desenvolvimento de seu cérebro são, na verdade, inteiramente mantidos pelas citocinas que se originam em seu coração. Nos estudos sobre o ritmo dos batimentos, encontramos evidências da participação ativa e inteligente do coração na existência humana. Seu coração se fecha e se abre como um punho cerca de seis vezes por minuto, em média. A imagem de um “órgão” organizado, constante e imutável, que bate feito um relógio, é transmitida a nós quando ainda bem crianças. Aprendemos que os termos “saúde” e “ordem” são sinônimos. Na verdade, referimo-nos a quase todas as doenças como des-ordens. Mas a verdade é justamente o oposto. Um coração “em ordem” é aquele cujos batimentos são lentos, estáveis, invariáveis. E qualquer estudante de medicina do primeiro ano sabe que este é o “tempo” de um coração doente.

Pág 162 Se você analisar os registros de uma longa série de batimentos cardíacos e calcular os tamanhos dos intervalos de um batimento para outro, parece que eles se distribuem em intervalos mais longos e mais curtos, de maneira completamente errática e aleatória. Não errática da forma flutuante com que seu coração responde ao nível de atividade de seu corpo, e sim de forma genuinamente selvagem, até mesmo durante o sono. Há acelerações e desacelerações, não apenas a cada hora, mas também de minuto a minuto. Pesquisas monitoraram dez voluntários saudáveis e dez pessoas com insuficiência cardíaca congestiva. À primeira vista, os ritmos cardíacos pareciam quase os mesmos em ambos os grupos, mas os ritmos batimento-a-batimento dos corações saudáveis eram, na verdade, muito diferentes dos corações partidos. Nos corações saudáveis, uma seqüência de duzentos passos para cima tende a ser seguida de duzentos passos para baixo, num

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eletrocardiograma, isso significa que o período no qual o coração desacelera será seguido por um período no qual ele acelera – uma espécie de mecanismo embutido que determina o batimento num período longo, para que flutue de acordo com um modelo matemático predeterminado. O coração saudável tem “memória” de longo prazo. O tempo da próxima batida depende da “história de batimentos” do passado distante. A doença, ao contrário, é realmente uma amnésia do coração. Num coração partido, se uma série de duzentos se torna progressivamente mais lenta, os duzentos batimentos seguintes têm a mesma probabilidade de desacelerar ou de acelerar. Ao medir intervalos cada vez mais longos, os cientistas podem encontrar as informações extras sobre a “média” escondida nas flutuações. Essas informações são suficientes para esclarecer as diferenças rítmicas entre corações saudáveis e doentes. Ao longo dos últimos vinte anos, os matemáticos e os físicos já compreenderam que o que parece aleatório na verdade não é nada aleatório: é caótico – e a imprevisibilidade é uma marca registrada de um sistema caótico. O caos difere do aleatório no sentido de que o comportamento caótico sempre decorre de causas simples, subjacentes. A teoria do caos nos diz isso. Ritmos irregulares, como as oscilações do El Nino, são exemplos de variações caóticas, e não de ocorrências aleatórias. Batimentos cardíacos são altamente caóticos, assim como a atividade cósmica ou o clima, porque um sistema caótico é mais adaptável. Um sistema caótico é altamente dinâmico, sempre mudando e flutuando, para manter a homeostase. Um sistema caótico é sempre equilibrado num estado incrível-

Pág 163 mente sensível às pequenas influências. Como os livros de fisiologia usados nas escolas e pelos médicos não têm insights em relação à origem dessa complexidade, todos nós aprendemos que a lentidão e a constância fazem o ritmo prosseguir – quando, na realidade, um coração que flutua muito é que é saudável.

UM CHOQUE

Uma das leis mais básicas e universais da natureza é a da memória celular. As paramecias unicelulares não tem mente e, no entanto, todas elas se lembram de nadar, encontrar alimento, acasalar-se e reconhecer e afastar os predadores. Elas são a evidência perfeita

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da memória celular, ou “memória de função”, que emana de uma única célula. Pressupõe-se o seguinte: se uma célula pode se lembrar de mais de uma função, muitas delas podem reter “lembranças” suficientes para criar quadros completos. Pelo menos, é o que dizem as pessoas que fizeram transplantes de coração. A vida de Claire Sylvia foi salva por um transplante de coração e pulmão em 1988, depois que ela foi acometida por uma doença fatal. No livro A Change of Heart, ela descreve candidamente a experiência de seu transplante. Depois de tudo, ela se tornou uma mulher completamente diferente. Imediatamente após recobrar a consciência, Sylvia se lembra de ter desejado uma cerveja, embora nunca tivesse bebido cerveja antes. Mais tarde, naquele mesmo dia, ela pediu Chicken McNuggets, que nunca havia provado. Novos gostos e lembranças, muito diferentes dos seus, e sonhos recorrentes, nos quais ela via um jovem magro e de cabelos lisos chamado Tim, fizeram-na sair em busca da família do doador. Sylvia e uma amiga foram espertas o suficiente para verificar todos os obituários no dia do transplante e no dia anterior. Num dos obituários, ela encontrou a história de um jovem que havia morrido no dia de seu transplante. Seu nome era Timothy Lasalle, e ele tinha dezoito anos. Morreu num acidente de moto a caminho de casa, após ter ido ao McDonald’s fazer um lanche; os McNuggets estavam no bolso de sua jaqueta de motoqueiro quando o despiram na sala de emergência. Histórias como a de Claire Sylvia são freqüentes na literatura sobre transplantes. É um fenômeno comum os transplantados adquirirem gostoa e traços de personalidade do doador. Dadas todas as referências

Pág 164 que nós, humanos, temos feito às qualidades e propriedades do coração, desde a Antigüidade até o presente, não há dúvida de que sabemos, e sempre soubemos em nossos corações, que a essência da personalidade está lá. Mas lembranças? Por que não? Uma das substâncias-chave no processamento da memória é a acetilcolina, que é extremamente ativa nos tecidos cardíacos. Sabemos que as moléculas de acetilcolina têm alguma relação com a degeneração de pacientes com doença de Alzheimer. Aqui está a questão da verdadeira matéria-prima das lembranças: eletricidade e RNA. Num incrível experimento, conduzido na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, (UCLA) nos idos de 1966 e publicado na revista Nature, um grupo de cientistas britânicos provaram que

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podiam transferir as lembranças de um organismo para outro apenas com a transferência de RNA. Quatrocentos vermes minúsculos foram divididos em dois grupos de duzentos cada. Um grupo de duzentos foi “condicionado” (torturado) para encontrar glicose ou açúcar pela associação com o estímulo combinado de luz e choque. Isso significa que, para conseguir alimento, eles vinham até o final de seu prato de vidro, em função da combinação luz e choque. A outra metade do grupo foi deixada na mais completa e alegre ignorância. Os vermes educados foram “extintos” (assassinados). Fragmentos de seu RNA foram extraídos e injetados nos felizes vermes bobos. Com toda certeza, a mesma seqüência de luzes e choques levou os recém-inoculados ao local, no prato de vidro, onde estava o alimento. Um experimento muito simples – que prova tudo o que dizem os transplantados. As lembranças são, na verdade, codificadas em cadeias de RNA nos núcleos de nossas células. Um único fragmento de RNA como aquele que foi transferido, no experimento com os vermes, poderia muito bem conter o código de inúmeras lembranças, em função do fato de que tudo tem a ver com eletricidade. Há três bilhões de anos, quando as moléculas orgânicas autotriplicantes se formaram, o RNA foi a primeira. Mais tarde, a replicação e a aglutinação do RNA se transformou no DNA conhecido em nosso atual genoma. Em descobertas muito recentes, publicadas na revista Science em 1997, e informações ainda mais atuais, publicadas em 1999, os cientistas concluíram que o nosso DNA, e conseqüentemente o nosso RNA, é um condutor tão bom quanto uma mola de cobre. Na verdade, genes inteiros podem enviar sinais elétricos uns aos outros ao

Pág 165 longo dos circuitos de DNA. Catherine Barton e seus colegas no Instituto de Tecnologia da Califórnia demonstrou que um único elétron pode atingir um filamento de DNA numa distância suficiente para influenciar a atividade genética. Os elétrons fazem isso ao correrem por entre as “nuvens” de elétrons superpostas das bases de nucleotídeos adjacentes, que são os tijolos moleculares formadores do DNA e do RNA. Juntas, as nuvens de elétrons em forma de disco forma, lado a lado, pilhas de chips de memória em um “computador” que pode transmitir informações químicas ao longo de grandes distâncias, ligando e desligando genes para produzir proteínas. Barton concluiu que “não

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há limite para as distâncias que os sinais podem percorrer, ao longo dos ‘cabos’ de DNA”. Essas novidades dão novo sentido à expressão “o corpo elétrico”. Dão também aos cientistas um ponto de partida para iniciar uma investigação de conceitos e práticas orientais, tais como Qi e acupuntura. A eletricidade que fala através de nosso DNA é prova da “força viva” que os antigos insistiam em ser a nossa alma. O fato de que o mais poderoso gerador de eletricidade do corpo é o coração também faz o mais perfeito sentido. O “corpo elétrico” é real. Onde há fumaça elétrica, há fogo. E onde há campos elétricos e eletromagnéticos, pode haver comunicação, vibração e magnetismo. Não há dúvida de que tecidos altamente energizados e polarizados como os músculos cardíacos devem ser capazes de emitir freqüências de rádio. As ondas de rádio recebidas pelo coração são utilizadas em certos tratamentos médicos de tecido muscular degenerado. Seu coração possui um campo eletromagnético de 5 mil milivolts, em comparação com o cérebro, que emite apenas 140 milivolts. Lembre-se de que, quando a Voyager transmitiu sinais de Saturno para a Terra, utilizou uma bateria de apenas 10 milivolts. Se só foram necessários 10 milivolts para chegar de Saturno até a Terra, então, com 5 mil milivolts disponíveis, a comunicação do cérebro com o coração, ou a comunicação de seu coração com o coração de outra pessoa, deve ser, na verdade, um no-brainer. Acreditamos que o coração fala com o cérebro por meio de um campo eletromagnético e também de reações eletroquímicas, de um sistema circular de resposta de uma coisa chamada ANP (peptídeo natriurético atrial). O ANP é a comunicação química entre o coração e o cérebro através da glândula pineal, onde é produzida a melatonina.

Pág 166 Pacientes com doença arterial coronariana produzem menos melatonina durante o sono do que pessoas saudáveis. Então, permanece a pergunta: pessoas tristes têm coração partido ou o coração partido realmente mantém a pessoa acordada à noite? Existem evidências que corroboram esta tese nas estatísticas que mensuram os níveis noturnos da melatonina na presença de campos eletromagnéticos de baixa freqüência. A melatonina é anormalmente baixa em seres humanos e animais expostos a CEM (campos eletromagnéticos). E já é sabido que melatonina baixa provoca câncer; já está comprovado, também, que a exposição

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excessiva e de longo prazo aos campos eletromagnéticos tem relação com o aumento de mortes por doenças cardiovasculares, assim como tumores cerebrais e leucemias, em trabalhadores das indústrias de aparelhos elétricos. Então, é hora de colocar a cabeceira de sua cama bem longe do aquário.

VISÃO REMOTA

A teoria da “freqüência” das comunicações entre coração e cérebro e o fato de haver memória celular poderiam explicar as histórias de lembranças, gostos e preferências de doadores, que cruzam a barreira dos transplantes. Poderia também explicar outros fenômenos curiosos, tais como a legendário experiência em que uma célula de um coração batendo foi colocada num meio, em uma placa de petri e, depois, quando foi acrescentada outra célula de uma biópsia de espécime diferente, a segunda célula pegou a batida da primeira. Sem uma sinapse ou corpo a conectá-las, elas entraram em uníssono rítmico. Essa deve ser a forma pela qual o coração do feto começa no útero: pegando a batida da mãe. Um coração removido de seu corpo ainda “se lembra” de como bater. Mesmo quando uma pessoa tem “morte cerebral” diagnosticada, e o pulmão e os membros param sem receber impulsos do cérebro, o coração continua a bater. Na década de 1970, um grupo de antropólogos japoneses criou um observatório, em um grupo de pequenas ilhas no norte do Japão, para estudar os hábitos das pequenas colônias de macacos japoneses, ou macacos da neve. Duas das mais marcantes observações que vieram desse estudo foram fenômenos de comunicação não local. O primeiro exemplo foi lavar os alimentos.

Pág 167 Uma jovem fêmea chamada Ima começou a mergulhar suas batatas no lago para remover a sujeira. Ela foi observada enquanto ensinava essa nova idéia a vários outros macacos. Depois de uma centena deles terem aprendido essa técnica, todos os macacos, em todas as colônias, em todas as ilhas, sabiam simultaneamente a técnica de Ima. O mesmo fenômeno foi observado no inverno, quando outra jovem fêmea mergulhou num dos chuveiros quentes de origem vulcânica da ilha.

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Os macacos vivem a céu aberto o inverno inteiro, quase sempre com neve cobrindo seus rostos e extremidades, mas nenhum deles jamais fez qualquer movimento no sentido de se aquecer, além de se amontoar aos outros macacos para obter calor corporal. Tudo isso mudou depois que uma centena deles mergulharam nos chuveiros quentes. Agora todos eles, rotineiramente, banham-se nos chuveiros quentes durante todo o inverno. A premissa da não localidade também é conhecida como teorema de Bell. Esta lei da física quântica diz que os objetos, uma vez conectados, afetam uns aos outros para sempre, não importa onde estejam. Acreditamos que as células do coração provavelmente falam com o cérebro e com o resto do corpo através da não localidade, também. Existem também outras descobertas, como o experimento da esteira. Neste, um grupo de células cardíacas, retiradas de um corredor através de biópsia, batia cada vez mais rapidamente em sua placa de petri, enquanto o doador fazia exercícios numa esteira, do outro lado da cidade, longe do laboratório. Ou um experimento envolvendo células salivares de dentro das bochechas de cobaias mais tarde expostas a violência visual, na qual as células nos tubos de ensaio, guardadas num local que ficava a duas salas do local da exibição violenta, produziam cada vez mais impulsos elétricos. Será que esses experimentos não passam de ficção científica vulgar e sensacionalista, ou a lei quântica da não localidade realmente é uma prova da ligação quântica nos níveis humano e animal? Será que é assim que a oração funciona? É claro que, até agora, não existe prova científica. Mas será que isto significa que não existe prova? [ “...Podemos estar falando, aqui, da física do amor.” ]

Não localidade? Ligação quântica? Podemos estar falando, aqui, da física do amor. Até que ponto isso é ridículo? Nem tão ridículo assim. Ninguém duvida do vento. É invisível e não tem gosto ou cheiro próprios – e no entanto acreditamos que ele existe, porque podemos ver e sentir seus efeitos.

Pág 168 No romance Contato, de Carl Sagan, uma jovem cientista discute a noção de “fé” com um líder religioso em ascensão, e insiste em dizer que não pode compreender sua inabalável crença em Deus, dado que não existe prova científica da existência de Deus.

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Ele responde fazendo a ela uma pergunta muito simples: “Você amava seu pai?” Ela vocifera: “Sim, claro que amava.” Ele então a desafia: “Prove.” Este diálogo é uma metáfora extremamente acurada da crença em algo tangível, porém invisível e incapaz de ser provado pela ciência. A ciência não é forte na fé em qualquer coisa que não seja ela própria.

Pág 169

OITO

Dez segundos para a autodestruição:

No esquema evolutivo, o câncer é simplesmente o novo “você”

E então eu viajei, parando sempre, e vezes seguidas, em grandes jornadas de mil anos ou mais, movido pelo mistério da sorte da Terra, observando, com uma estranha fascinação, o sol ficar cada vez maior e sem graça no céu, e a vida da velha Terra entrar em decadência pouco a pouco.

– H. G. Wells, A máquina do tempo

Quando você come carboidratos demais, durante um número excessivo de meses do ano, e nunca esgota seu estoque de açúcar, nem queima gordura para imitar os períodos de fome, a insulina produzida dia e noite por seu pâncreas, em resposta ao excesso de açúcar, provoca vícios de rebote e abuso de substâncias, por meio da produção de serotonina e dopamina,

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comportamento bipolar (em última análise), e talvez até esquizofrenia em seu cérebro cansado. E isso é apenas o que acontece do pescoço para cima. Do pescoço para baixo, as conseqüências do excesso de insulina, devido à toxicidade da luz, incluem pressão arterial elevada, em função da retenção de líquidos causada pela ingestão excessiva de carboidratos durante muito tempo, e a armazenagem dos carboidratos excedentes sob a forma de gordura corporal e colesterol, para evitar que você morra de fome e congele. Mas, como não há fome ou congelamento à vista, em seu futuro “virtual”, você vai se tornar diabético. Além de

Pág 170 tudo isso, pesadas placas de LDL vão aderir ao seu coração, porque, a essa altura, você já matou as células que revestem seu coração de pelo menos três ou quatro maneira diferentes. E então vem o câncer. Todo mundo concorda que os maiores assassinos – o câncer de mama, de colo e de próstata – estão todos fortemente ligados à obesidade. Não podemos discordar dos fatos. Mas podemos, sim, discordar da lógica. A obesidade, de acordo com o conhecimento vigente, reflete uma dieta rica em gorduras. Mas o consumo de gorduras, sejam elas saturadas ou insaturadas, não provoca liberação de insulina. Não há possibilidade de armazenar gordura nas células de gordura, a menos que a insulina abra os receptores – e isso só acontece se você comer açúcar. É por essa razão que os diabéticos Tipo I, que não têm insulina, morrem com aparência emaciada. A obesidade é apenas um sintoma diferente da mesma síndrome que causa todos os outros males que afligem o homem moderno.

Falta de sono.

CÉU SOMBRIO

A gente sabe o que você está pensando. Quando os assuntos são obesidade e diabetes Tipo II, tudo realmente se acumula: excesso de luz é igual a verão, verão vem antes do inverno, de modo que vestir uma capa de gordura em função de um apetite controlado pela luz, que é o que indica a estação do ano, faz sentido. Se você simplesmente continuar tendo o comportamento do verão, não importa qual seja a estação do ano, porque o seu sistema global de posicionamento é confundido por

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luzes artificiais e dias longos, o inevitável diabetes Tipo II parece uma conseqüência razoável de se esperar. Mas é quase impossível acreditar que você pode evitar morrer de câncer fazendo algo extremamente simples: apagando as luzes à noite. Todo mundo nos Estados Unidos, e numa boa parte do mundo, tem certeza de que o lixo tóxico, os carcinogênicos (agentes químicos causadores de câncer) e a susceptibilidade genética significa que é culpa sua. Você nasceu para ter câncer.

Pág 171 Bem, temos grandes notícias para você: a ciência e a medicina não entendem mais de câncer do que entendem de obesidade, diabetes, doenças mentais ou problemas cardíacos. Imagino que isso seja um choque para você. Estamos aqui para lhe dizer que essas disfunções não estão em seus genes – pelo menos, não da forma que você acha que estão. Você não vai ter câncer porque é uma vítima de mutações aleatórias à medida que envelhece, ou porque está exposto diariamente a carcinogênicos comuns. A natureza é bem mais organizada do que isso. Todo crescimento ou morte celular é controlado pelas regiões promotoras nos genes. Esses botões genéticos, que são acionados pelos hormônios, reagem em resposta a pressões ambientais para que você possa se adaptar continuamente, minuto a minuto ou milênio a milênio. Os “genes reguladores” envolvidos no câncer são chamados oncogenes. Todo o sensacionalismo que aparece de quando em quando na mídia, em torno de um gene cghamado P53, tem a ver apenas com esse gene regulador, que é ativo em quase todos os tipos de câncer. O P53 está presente em todas as células, de todo mundo. É um dos genes que controlam o crescimento, a morte ou e estado neutro para recuperação. As pesquisas médicas decidiram que o responsável pela maior parte dos tipos de câncer deve ser um gene P53 “com mutação”. As pesquisas sobre o gene P53 em mutação consomem bilhões de dólares todos os anos, sem resultado algum, da mesma forma que a pesquisa conhecida como BRCA I e II (sacou? BR – breast, que é seio em inglês, e CA – câncer). Os genes BRCA I e II, conhecidos como os genes do câncer de mama, também são genes reguladores comuns nos homens, e realmente nada têm a ver com o fato de se possuir seios. Os registros dos epidemiologistas examinaram a possível mutação do BRCA I em populações de descendentes de judeus asquenazes em Long Island “que procriam internamente” – onde,

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em termos estatísticos, o câncer de mama vai à estratosfera. Suas descobertas foram divulgadas prematuramente, de forma fragmentada. As recentíssimas notícias, que culparam um gene pela epidemia de câncer de mama, figuraram em todos os jornais de alcance nacional. Em função dessa suposta conexão com o “câncer de mama hereditário”, as mulheres judias no mundo inteiro correram para fazer testes genéticos. E, logo em seguida, um grande número dessas mulheres tomaram uma decisão típica do pânico: por causa de uma pesquisa que acreditaram ser correta, elas decidiram se automutilar permanentemente.

Pág 172 Ou seja: muitas mulheres fizeram mastectomias profiláticas. As mulheres vivem tão aterrorizadas em relação ao câncer de mama, e têm uma fé tão grande na ciência e na medicina, que centenas delas se automutilaram, acreditando que seu sacrifício poderia evitar que morressem de câncer. Como era previsível, pouco mais de um ano depois, os cientistas começaram a mudar de idéia. E foi apenas uma questão de tempo até que houvesse uma retratação formal em relação às evidências apresentadas. No entanto, para aquelas mulheres que agiram sob o impacto de relatórios confusos, infundados e prematuros, já era tarde demais para mudar de idéia. Seus seios já tinham ido embora para sempre. Veja como elas estavam aterrorizadas. Alguns estudos associaram três tipos de câncer – de mama, de colo e de próstata – à obesidade. No entanto, em 1994, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association – admitiu que não há ligação entre a ingestão de gordura na dieta e o câncer de mama. Bem nos calcanhares daquela retratação hesitante, o New England Journal of Medicina “indicou” que, na verdade, o que afeta o potencial de as mulheres contraírem câncer de mama não é a quantidade de gordura que comem, e sim o excesso de peso que elas apresentam. Poderíamos considerar essa uma grande pista, se os pesquisadores entendessem como a gente engorda. Mas é um começo. Agora, as autoridades têm condições de reconhecer a obesidade como um sintoma (e não a causa) de outra doença. Se existe uma conexão entre a obesidade e o câncer, e a obesidade é causada diretamente pelos elevados níveis de insulina que resultam da perda do sono, então a insulina deve estar implicada no aumento da incidência de câncer. Se as dietas ricas em carboidratos são responsáveis pelos níveis de insulina permanentemente elevados, então o advento da luz elétrica e dos

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alimentos processados deveria corresponder exatamente ao aumento da incidência de câncer. E corresponde. Lá se foi a genética.

O BRILHO

Vamos examinar o papel dos carcinogênicos. Já que estamos dizendo que tudo depende da forma como você interpreta a pesquisa, vamos

Pág 173 começar com um estudo muito recente, feito pela Universidade Johns Hopkins, que diz tudo. Os pesquisadores inocularam ratos com “carcinogênicos químicos conhecidos”, depois de alterar seus padrões naturais de sono. O experimento era simples: dar a esses ratinhos valentes “noites de rato curtas” e “noites de rato longas” e, depois, um a um, adicionar carcinogênicos aos seus sistemas insuspeitos. É importante notar que esses carcinogênicos não foram vírus ou xeno-estrogênios obscuros, mas venenos feitos pelo homem, como componentes de antiperspirantes. Os ratos da noite curta começaram a desenvolver tumores com tal velocidade que os pesquisadores não poderiam dizer qual era a substância responsável; mas nos ratos de noite longa, nenhum dos inúmeros carcinogênicos conseguiu provocar câncer. Até os pesquisadores admiraram que foi a presença de mais melatonina nos ratos de noite longa que os tornou imunes aos carcinogênicos. Os ratos são mamíferos. Assim como você. Os cientistas só comentaram que, “estranhamente, os ratos da noite curta também se tornaram fechados e paranóicos”. Que coisa... Para isso, existem duas razões possíveis. Ou:

(a) Eles sentiram que iriam ter câncer e ficaram realmente pirados. Ou

(b) As mudanças hormonais em seus sistemas imunológicos, causadas pela privação do sono, provocaram também, simultaneamente, alterações mentais nos neurotransmissores.

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A menos que os ratos decidam confiar em alguém, podemos apostar que, depois de ler até aqui, você vai optar pela alternativa (b). Ainda que você não esteja acima do peso nem seja um paciente cardíaco, se não dormir, também vai ter câncer e ficar doido, exatamente como os ratos cansados. Podemos provar isso. A pesquisa do NIH que citamos conclui que seis horas de produção de prolactina no escuro é o mínimo necessário para manter uma função imunológica como a célula T e para a produção de células assassinas

Pág 174 benignas. Mas, se você dormir seis horas por noite, não consegue seis horas de produção de prolactina, pois é preciso ter pelo menos três horas e meia de produção de melatonina, antes de aparecer alguma prolactina. Em termos de câncer: se a falta de prolactina à noite não pegar você, a falta de melatonina acaba pegando. A melatonina é o mais potente antioxidante que se conhece. Menos melatonina e mais radicais livres significam envelhecimento rápido, mesmo sem insulina elevada crônica acumulando um “tempo cronológico” de quatro anos para cada ano que você vive. A insulina é uma peça tão importante em sua atual existência quanto a melatonina. Esqueça tudo o que já lhe disseram sobre o câncer e poluentes ambientais, câncer e genética. O câncer não é um estado horrível, doloroso, destruidor e des-evolutivo, a não ser no nível pessoal. No esquema mais amplo das coisas, trata-se de uma estratégia evolutiva e de uma função matemática comprovada pela física. O câncer é simplesmente a vida encontrando uma saída. Quando o personagem do sardento John Hammond, no filme O Parque dos Dinossauros, descreve, com prazer egomaníaco, como pretende manter os predadores estéreis, o Dr. John Malcolm, personagem vivido por Jeff Goldblum, oferece-lhe a sua cota de realidade: “A vida encontra uma saída.” A vida sempre encontra uma saída diante de toda e qualquer pressão ambiental. Infelizmente, para todos os que sofrem vítimas do câncer, não há cura no horizonte, pois a única cura que existe é viver direito.

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Só gostaríamos que os médicos e cientistas começassem a tentar “pensar além” do que existe hoje, por assim dizer. A ciência criativa, assim como o pensamento criativo, significa apenas fazer as perguntas certas. Perguntas, como por exemplo:

Por que não existe câncer na natureza? Por que apenas os seres humanos e os animais de estimação

têm câncer? Por que as mulheres têm mais câncer do que os homens? Por que o câncer surge com maior freqüência depois dos

quarenta? Onde e quando mais, no corpo, os oncogenes são ativados? Se existe um momento em que eles são ativados, o que pode

desativá-los? Por que os diabéticos têm mais doenças cardíacas e câncer

do que o resto da população?

Fizemos todas essas perguntas a nós mesmos. Como estamos dividindo com vocês as respostas que encontramos, agora é a sua vez de fazer essas mesmas perguntas – esperamos que ao seu médico. Acreditamos que a situação vai mudar. Tem uma revolução vindo por aí.

A FORÇA DA VERDADE

Na época em que Ovídio estava escrevendo seu trabalho seminal, A Metamorfose, Cristo nascia dentro da estrutura vigente do Império Romano. Cristo e Roma tinham muito pouco em comum, mas os atritos entre essas duas “culturas”, no final do milênio em que estavam, provocaram grandes mudanças – assim como as que vão acontecer conosco no próximo milênio, particularmente em nosso relacionamento com os médicos e com a medicina. Em sua clássica tradução dos Contos de Ovídio, Ted Hughes retrata esses tempos em imagens que nos parecem muito familiares:

O panteão greco-romano caíra sobre as cabeças dos homens. A parafernália obsoleta da velha religião oficial jazia amontoada, como as velhas máscaras num porão de teatro. Oi plano mítico, por assim dizer, havia sido despido de suas vestes. Ao mesmo tempo, e talvez se pudesse dizer em conseqüência, o Império foi inundado por cultos estáticos.

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Em toda sua augusta estabilidade, Roma estava mergulhada na histeria e no desespero – num extremo revolvendo-se em apetites insaciáveis e sofrendo na arena dos gladiadores, e no outro buscado cada vez mais a transcendência espiritual. Os contos de Ovídio estabelecem um registro brando da sensação de se viver no abismo psicológico que se abre ao final de uma era.

Meu caro Ovídio, nós sentimos a sua dor. Essas idéias, nossas conclusões, certamente desabrocham bem na cara da medicina convencional, principalmente quando se trata de câncer. A medicina convencional acredita em cirurgia, quimioterapia, radiação – e agora nos modificadores dos receptores seletivos de estrogênio (SERMs). Todos os praticantes desses tratamentos afirmam que podem ajudar os pacientes a sobreviver ao câncer.

Pág 176 Mas eles estão mentindo. Um artigo publicado no Journal of Clinical Oncology, em outubro de 1998, compilou os resultados de um estudo de 22 anos, que acompanhou 31.510 mulheres com câncer de mama. Sua conclusão geral foi que, ao longo de 22 anos examinando doze diferentes regimes terapêuticos, em diversas combinações, as terapias de câncer só conseguiram uma “melhora modesta nos índices de sobrevivência”. Uma leitura criteriosa do artigo revela a verdade: a “melhora modesta” representa três meses. Três meses de sofrimento extra. Pense nestes números estarrecedores: 31.510 mulheres, doze diferentes combinações possíveis de terapias, ao longo de 22 anos. No caso de outras formas de câncer, o resultado poderia ser diferente? Não. Apostamos que, embora você saiba pouco sobre o câncer, médicos e pesquisadores sabem menos ainda. Eles na verdade não sabem nos dizer o que é ou de onde veio. Só conhecemos fragmentos de informações, e não tem um entendimento real da “entidade” em si, porque eles, em sua maioria, não estão familiarizados com a vida.

DE VOLTA AO INÍCIO

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O fato mais evidente sobre o câncer, e que nunca chega aos artigos publicados na seção de saúde de seu jornal local, é que os oncogenes conferem ao tecido canceroso todas as propriedades irrefreáveis de crescimento típicas do tecido fetal. Todos os genes reguladores que são reconhecidamente ativos no progresso do câncer, conhecidos por nomes como P53, P21 e survivin, só são ativos, além do câncer, no tecido fetal. Jamais são encontrados em atividade numa criança ou adulto que não tem câncer. Isso é muito importante – e uma grande pista. Pista maior ainda é o fato de que esses genes só são realmente ativos nas primeiras nove semanas de vida fetal, quando o complemento dos genes que o feto possui vai certamente determinar se aquela pessoa será do sexo masculino ou feminino, embora o feto ainda não seja nem uma coisa nem outra. Num certo sentido, “o júri ainda está em recesso”. Dependendo das pressões ambientais que controlam os hormônios que

Pág 177 o corpo da mãe fabrica durante a gravidez – estrogêneo, testosterona, cortisol, insulina etc., e sua relação uns com os outros – a criança será menino, menina ou algo aí pelo meio. Lembre-se de que o ambiente, através da luz, da comida e do estresse, aciona os genes para produzirem hormônios, que por sua vez acionam outros genes – para crescimento, morte ou reparos. Quando o câncer surge, dá-se um fenômeno de reorganização para um estado auto-semelhante. O estado auto-semelhante é fetal, no caso humano, porque nas primeiras semanas não somos fêmeas nem machos; estamos atravessando os estágios evolutivos do desenvolvimento. Aquelas belas fotos dos bebês no ventre, feitas por Lennart Nilsson, mostram-nos estágios do desenvolvimento humano – quando os fetos se assemelham a peixes embrionários e também a diversos mamíferos e pássaros. Se, antes da nova semana de gravidez, mal nos diferenciamos das outras espécies, que dirá saber se somos um macho ou uma fêmea humanos... As primeiras semanas de desenvolvimento fetal são um estado humano “crítico”, caracterizado por uma organização auto-semelhante num estado neutro, indiferenciado, nem macho e nem fêmea, observado no desenvolvimento embrionário de todas as espécies. Entramos novamente num estado crítico quando vivemos tanto que nossos hormônios sexuais entram em desequilíbrio e nós comemos demais (carboidratos). Nossos hormônios sexuais, agora ameaçados, simplesmente transbordam. Todo animal na natureza,

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com exceção de nós e de nossos bichinhos de estimação, morre quando terminam suas tarefas reprodutivas. Isso porque, quando deixamos de ser o que somos, temos de nos transformar em outra coisa. A ordem perfeita da física quântica nos demanda isso. Porém nós jamais desaparecemos sem reaparecer sob uma outra forma.

TUDO É UMA COISA SÓ

Assim como o diabetes Tipo II é o produto final da adaptação perene à fome ou ao frio que vão chegar, o câncer é o produto final do maior esquema caótico da natureza: a universalidade. O princípio da universalidade sustenta que, num determinado ponto crítico de transformação, existe uma espécie de reorganização universal, dentro da qual os detalhes de um determinado organismo são obliterados.

Pág 178 Esse princípio é o âmago da teoria do caos. Seja na biologia celular, na oncologia, na matemática, nos mercados financeiros ou na dinâmica dos ecossistemas, dissecar a dinâmica comportamental subjacente às interações entre os indivíduos que formam sistemas cooperativos, como grupo de pássaros, colônias de bactérias ou mesmo células tumorais, é uma metodologia que nos mostra o que realmente controla os sistemas físicos. A instalação do caos na verdade é um portal, ou o que os físicos chamam de transição de fase ou estado crítico. Bem semelhante à formação de um furação, maré ou terremoto, o surgimento do câncer é apenas uma manifestação de transformação durante um estado crítico. Em seu épico A Metamorfose, Ovídio elucida como, desde o início da criação até sua própria época, os corpos – estelares, humanos ou microbiais – foram magicamente transformados, pelo poder dos deuses, em outros corpos. Estados críticos são situações em que a matéria ordinária é transformada em outra coisa muito diferente, por influência do calor ou da luz. As regras da teoria da universalidade são evidentes na transformação mágica das substâncias líquidas em sólidas. A água, quando é transformada em gelo vítreo ou no evanescente vapor da fumaça, é o exemplo mais conhecido dessa magia. Uma ilustração mais exótica seria o resfriamento de uma peça comum de estanho

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num supercondutor. É parecido com o fenômeno que ocorre quando o calor desmagnetiza um pedaço de ferro magnético. Uma peça de ferro é formada por “domínios” microscópicos, cada um talvez do tamanho de um grão de areia, e cada um deles é em si um pequeno magneto. Na temperatura ambiente, todos esses domínios em forma de varetas são alinhados em fila, um do lado do outro. É a cooperação entre eles que torna o ferro magnético. Porém, a altas temperaturas, o “barulho” térmico interrompe a cooperação dos domínios e o ferro se torna não-magnético. À temperatura de 175ºF, o ferro fica no limite entre magnético e não-magnético. Alguns dos domínios conseguem ainda ficar unidos, mas apenas em amontoados localizados, que apontam em diferentes direções. Embora isso pareça aleatório, não é. Se for retirado um pedaço pequeno do magneto nessa altura e ampliado no microscópio, veremos uma imagem que é uma réplica exata da peça maior. Este fenômeno é chamado organização auto-seme-

Pág 179 lhante, num nível fractal. A auto-semelhança é a propriedade que define o estado crítico. A água a caminho de virar fumaça, o estanho a ponto de se tornar supercondutor, e os cristais sob pressão, enquanto se desmontam e se transformam numa outra estrutura molecular – todos esses são estados críticos matematicamente idênticos. Isso significa que átomos, moléculas, magnetos ou o giro dos elétrons – não importa o que esteja interagindo – no ponto da mudança de fase, todos os materiais, em toda parte, são matematicamente idênticos uns aos outros. Na fase crítica, uma ordem se espalha pelo sistema como um fungo se espalha num jardim. As partes que compõem esses sistemas são tão diferentes quanto podem ser, mas seus estados críticos não podem ser distinguidos uns dos outros. É muito difícil visualizar a matemática, mas acredite em nós: os nossos também são. O câncer é o fenômeno de fase crítica que é o subproduto da transformação. É a transformação de “ela” em “ela-masculino” e de “ele” “ele-feminino”, que ocorre na menopausa e na andropausa. Quando o declínio hormonal ocorre durante a peri-menopausa nas mulheres, a relação entre estrogênio e testosterona muda até que, na pós-menopausa, a progesterona é nula e o estrogênio se esgota. É a testosterona que fica. As mulheres idosas, para todos os fins e propósitos, são homens por dentro, após a menopausa.

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É quando começam a ter câncer. Os homens, na andropausa, perdem massa muscular à medida que a testosterona começa a se esgotar, e a glicose não tem para onde ir, a não ser se expandir em placas de gordura. Essas placas de gordura fabricam estrona – e, lá pelo final dos cinqüenta ou início dos sessenta anos, com baixa testosterona e estrogênio elevado, os homens começam a se transformar em mulheres. É quando começam a ter câncer. Essas mudanças de fase, no sentido de uma organização auto-semelhante, num estado crítico, são sempre ligadas a flutuações de temperatura (ondas de calor), assim como a água se transforma em vapor no ponto de ebulição, ou em gelo no ponto de congelamento. Em nós, a mudança de temperatura provavelmente começa quando deixamos de dormir à noite ou no inverno. O limiar dessa mudança de fase pode ser algo tão simples como aquecer as fornalhas chamadas mitocôndrias, em nossas células, com excesso de energia proveniente dos carboidratos, energia essa que se transforma em energia ATP. A oxidação ou taxa de queima para carboidratos é de 1,0, e de apenas 0,07 para as gorduras. Talvez,, assim como o

Pág 180 resto do planeta, devamos aquecer todas as nossas células no verão. O inverno é um período de desligar, em função da ausência da energia solar. Isso tem um sentido. A oxidação é uma reação química que utiliza o oxigênio para ser queimado com o alimento e liberar energia (ATP). Seus subprodutos são chamados radicais livres. Os radicais livres são, na verdade, canhões soltos, feitos de elétrons livres que quicam em volta do DNA mitocondrial como as bolinhas de um jogo de fliperama. As mitocôndrias são geradoras de energia infinitesimais, em forma de um caroço de feijão, que vivem em cada célula, e que herdamos diretamente do ovo formado em nossa mãe. Elas vem passando de mãe para filho desde o início dos tempos. Esses mapas herdados só existem em nossas mitocôndrias. Cada uma de nossas células possui cerca de 10 mil delas. O DNA de dupla hélice, que existe no núcleo de cada célula de nosso corpo, é uma mistura de DNA de ambos os pais. Esse DNA nucléico possui um mecanismo de reparo que consiste em enzimas que correm para cima e para baixo ao longo da espiral, em busca de quebras para consertar. Isso não acontece nas mitocôndrias. Lá, qualquer choque ou batida de um radical livre provoca rupturas no DNA, a menos que você tenha melatonina suficiente. É por isso

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que as lojas de alimentos saudáveis vendem melatonina como antioxidante. O declínio da capacidade atlética, da capacidade intelectual e a legendária vista cansada da meia-idade podem ser diretamente atribuídos à morte das mitocôndrias. À medida que as mitocôndrias morrem, as células perdem força. Essa lenta morte das células não é o catalisador da fase crítica. É mais provável que o estímulo para uma mudança de fase crítica seja uma falta de “ritmo de temperatura”. Se você foi feito para ficar quente, quente, quente na primavera e no verão, cheio de açúcar, insulina e estrogênio, acordado durante muitas horas sob o sol quente, então, durante o período de fome ou no inverno, quando não há mais carboidratos, a insulina e o estrogênio também caem, assim como boa parte da luz do sol, o que faz cair a temperatura de seu corpo. Com os aquecedores e os aparelhos de ar-condicionado, mantemos o “clima controlado”. Na natureza, as noites mais longas de escassez também nos resfriariam durante mais horas. Assim como os alimentos perecíveis, a carne da qual somos feitos também dura mais no refrigerador. Quando nunca dormimos, nunca vivenciamos um período de “desligamento” longo o suficiente. Temos muito pouca melatonina e excesso de calor, por causa do excesso de luz.

Pág 181 Uma das razões pelas quais a melatonina é famosa por ser um antioxidante tão glorioso é a sua propriedade de reduzir a temperatura à noite. É por isso que você sempre precisa de algum tipo de coberta enquanto dorme. E o que acontece a você, em termos de câncer, quando fica acordado até muito tarde? Você não tem melatonina, porque sua noite começa com três a sete horas de atraso; e, porque seu corpo pensa que é verão, sua insulina se eleva, o que eleva também o estrogênio.

RUMO AO ESCURO

Praticamente todas as mulheres adultas do mundo ocidental, estejam ou não considerando a hipótese de fazer terapia de reposição hormonal, podem repetir a regra do partido: o estrogênio causa câncer. Tanto homens quanto mulheres produzem estrogênio em três variações, em níveis que oscilam, ao longo de suas vidas. O estrogênio é parte da fase reprodutiva saudável normal da vida de todos os mamíferos.

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No caso do câncer de mama, a tendência mais em voga atualmente acusa o estrogênio, com base em suas propriedades como fator de crescimento. Como as mulheres gordas produzem mais estrogênio do que as magras, e porque é possível produzir uma variante desse hormônio a partir da base de gordura, o pressuposto é que o fato de uma mulher ser gorda aumenta seu risco de contrair câncer de mama. Pressuposto pouco científico, porém verdadeiro. Na verdade, porém, o mesmo fator que o fez gordo – a insulina elevada – está causando câncer, via estrogênio. Vamos partir do pressuposto de que, se o estrogênio fosse a única causa do câncer, todas as jovens mulheres estariam mortas. Assim sendo, provavelmente não é só o estrogênio. Dito isso, observemos o fato de que as mulheres grávidas apresentam níveis estratosféricos de estrogênio, de modo a fazer crescer o feto. As mulheres grávidas raramente sofrem de câncer, especialmente de mama. Na verdade, a ciência, de modo geral, concorda em que o fato de haver gerado e nutrido filhos diminui o risco de câncer de mama. Então, como se explica que as mulheres jovens e/ou grávidas, mesmo se afogando em estrogênio, estão livres do câncer, se o câncer de mama é alimentado apenas pelo alto nível de estrogênio? Bem, na realidade, só o fato de o estrogênio estar presente na corrente sangüínea não significa que esteja disponível para os tecidos do

Pág 182 corpo todo. Nem todos os hormônios em sua corrente sangüínea estão “ativos” oi tempo inteiro. Alguns estão ligados a uma molécula de proteína produzida no fígado. Existe uma proteína que se liga ao estrogênio, chamada globulina conectora de hormônios sexuais (SHBG), que conecta o estrogênio à testosterona e torna ambas disponíveis para se ligarem a pontos receptores no corpo, tais como o tecido da mama ou da próstata. Este é outro mecanismo regulador que garante a ação liberadora no momento certo. Vários estudos mostram claramente que (você adivinhou) altos níveis de insulina controlam para menos a produção dessa proteína de controle, e com isso deixam quantidades excessivas de enormes fatores de crescimento, tais como o estrogênio, em circulação, para garantir a capacidade de reprodução quando o suprimento de carboidratos for grande – o que não é uma boa coisa no mundo moderno.

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Em nosso mundo, a sinergia entre insulina e estrogênio estimula a produção de tumores. A razão pela qual toda a medicina do mundo ocidental acredita que o estrogênio, sozinho, causa câncer, está no trabalho de Charles Brenton Huggins, ganhador do Prêmio Nobel, realizado na década de 1950 na Universidade de Chicago. Ele provou que os hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, detêm o controle da proliferação, e o fez através de um experimento em que ele removeu todos os órgãos e glândulas produtores de esteróides em ratos e viu seus tumores diminuírem de tamanho. Esse novo conhecimento foi de tal forma pioneiro, durante um período em que as mortes por câncer aumentavam rumo à estratosfera, que a ciência médica abraçou essa evidência e passou a correr a partir dela. O problema é que eles correram para o lado errado.

COLONIZAÇÃO

Lembre-se sempre: na natureza existe dualidade. Dia/noite, homem/mulher, quente/frio, sol/lua, acima/abaixo, dentro/fora, crescimento/morte. Em vez de compreender que, se os hormônios sexuais podem controlar a proliferação, provavelmente podem controlar também a apoptose (ou morte celular pré-programada), os cientistas só enxergaram a “tumorgênese”. Quase que imediatamente, o principal tratamento para o câncer passou a ser histerectomia e castração, logo

Pág 183 seguidas pela invenção de bloqueadores específicos dos receptores hormonais, como o Tamoxifen, e de bloqueadores de enzimas, como o Proscar.

Que erro! A insulina e o estrogênio realmente alimentam crescimento novo. É assim que deveria ser. Mas o estrogênio, sozinho, causa tanto câncer quanto o colesterol causa doença coronariana arterial. Só a insulina pode fabricar receptores de estrogênio, e este, por sua vez, dá à insulina um segundo acesso – na forma dos IGF-I (fator de crescimento tipo insulina 1). Crescimento novo, ou neoplasma, é a forma de vida encontrada num grande número de caroços no seio, e no BHP, ou hipertrofia benigna da próstata, nos homens. A palavra-chave, neste caso, é “benigna”. Neoplasma não é câncer.

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Se você remove ou bloqueia a produção de estrogênio e de testosterona, ocorre uma pequena regressão no crescimento do tumor, mas a bonança vem sempre seguida de uma tempestade, ou seja, um virulento período de metástases rápidas, não rastreadas.

(... continua até à página 377...)

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