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    SUZANA VARGAS E AS RODAS DE LEITURA: A LITERATURA EM FOCO

    GT7 Educao, Linguagens e Artes

    Maria Carolina Barcellos1 Larissa Dias Feitosa2

    RESUMO

    O trabalho que se segue toca, ainda que superficialmente, em um projeto de prtica de leitura nico no Brasil: As Rodas de Leitura, realizadas pioneiramente pela professora e escritora Suzana Vargas. Colocaremos a literatura em destaque, mostrando sua especificidade (segundo os tericos) e as consequncias de uma relao maior do leitor com esse tipo de texto. A questo do lugar do literrio na cultura e da materialidade do livro tambm so dadas como relevantes. Alm de mostrar problemas que a literatura encontra no ensino formal, apontaremos algumas alternativas que tm como objetivo trazer a leitura de volta para o espao do ldico. As rodas representam uma das iniciativas culturais que caminham nessa direo. Palavras-chave: Educao. Literatura. Prticas de leitura.

    ABSTRACT

    The following work touches, albeit superficially, on a project of reading practice unic in Brazil: Rodas de Leitura (reading circles), pioneering made by the teacher and writer Susana Vargas. Well put the focus on the literature, showing its specificity (according to theoretical writer) and the consequences of a higher contact of the reader with that kind of text. The issue of the place of the literary culture and materiality of the book are also considered relevant. Besides showing that the literature finds problems in formal education, we consider some alternatives that aim to bring reading back to the space of playfulness. The circles are one of the cultural initiatives moving in this direction.

    Key-words: Education. Literature. Reading practices.

    1 Graduada em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, aluna especial em disciplina do

    Mestrado em Histria da Educao (NPGED). Email: [email protected] 2 Mestre em ensino de cincias e matemtica (NPGECIMA/DFI/Universidade Federal de Sergipe)

    Email: [email protected]

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    Baseado no trabalho da professora e escritora Suzana Vargas, este artigo

    consistir em uma breve divagao sobre tcnicas de leitura em grupo e as

    possibilidades de trabalhar um texto literrio tendo como objetivo principal a fruio.

    Suzana Vargas, nascida no Rio Grande do Sul, escritora, poeta e ensasta com

    vrios ttulos publicados. Estudou letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    onde tambm obteve seu mestrado em teoria literria. Ensinou literatura por 30 anos

    em vrios nveis de ensino (do primrio ao universitrio). Desde 1996, coordena a

    Estao das Letras, indito no pas (como um espao alternativo dedicado somente

    leitura e escrita).

    No projeto Rodas de Leitura, Suzana Vargas pe em prtica a tese de seu

    livro (resultado de seu mestrado) Leitura: uma aprendizagem de prazer. Para

    Vargas, aspectos absolutamente negligenciados pelo ensino formal brasileiro do

    sculo XX, como a relao com o livro (suporte material), a autonomia do leitor

    capacitado e a leitura como forma de interao humana so prementes. Ela

    distingue ento o que uma leitura propriamente dita, aquela que diferencia

    leitores de meros ledores:

    Distinguir ledores de leitores sempre fundamental quando se trata de educao. A estrutura educacional brasileira tem formado at agora mais ledores que leitores. Qual a diferena entre uns e outros se os dois so decodificadores de discursos? A diferena est na qualidade da decodificao, no modo de sentir e de perceber o que est escrito. O leitor, diferentemente do ledor, compreende o texto em sua relao dialtica com o contexto, em sua relao de interao com a forma. (VARGAS, 2009, p.29)

    A autora tambm trabalha sobre a funo do mediador de leitura e das

    prticas leitoras fora do ambiente escolar, alm do lugar privilegiado da literatura.

    Propomos, portanto, analisar uma forma de trabalho com o texto que se desvia

    (aparentemente) de uma leitura que visa avaliao de contedos para a obteno

    de notas, diplomas e se desloca em direo prtica de leitura ldica, antes de

    associ-la a objetivos terceiros.

    Isso nos remete s questes que envolvem no somente o ato da leitura, mas

    tambm a ascenso de meios para os literatos e suas obras chegarem ao pblico. A

    mediao se torna uma vitrine para a produo, que depende de leitores

    consumidores para chegar s livrarias. Em sua obra Cultura, Raymond Williams trata

    das relaes (contrao/encomenda, patronato, patrocnio comercial) que envolvem

    a produo artstica e toca especificamente nessa questo:

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    Em literatura, embora ainda haja casos de relaes artesanais e ps-artesanais distributivas, as relaes ps-artesanais produtivas predominam h muito tempo, e importantes mudanas internas tm levado grande parte da atividade editorial na direo de uma fase posterior de mercado. (WILLIAMS, p.46)

    O pensamento educacional j questiona os mtodos de avaliao h bastante

    tempo. Em suas anotaes, Antonio Gramsci divagou sobre como a escola de seu

    tempo j confundia instruo e educao, causando problemas na aprendizagem de

    disciplinas que envolviam a esttica (por exemplo), pois como se poderia averiguar a

    compreenso atravs de uma prova?

    Os novos programas deveriam ter abolido completamente os exames; prestar um exame, hoje, deve ser muito mais um jogo de azar do que antigamente. Uma data sempre uma data, qualquer que seja o professor examinador, e uma definio sempre uma definio; mas e um julgamento, uma anlise esttica ou filosfica? (GRAMSCI, p.45)

    Destarte, estamos tratando da conscientizao sobre o prejuzo que

    transformar a leitura em uma prtica opressora e enfadonha. O hbito da leitura, e

    mais especificamente o hbito de ler literatura por prazer, um gosto que se

    adquire. Observar a prtica o primeiro passo para aprender que desse objeto se

    pode tirar no somente as informaes que um texto traz, mas a fruio decorrente

    da forma com que as palavras se organizam.

    A literatura deve ser a arte que mais encontra dificuldades para ser apreciada,

    porque esbarra na necessidade dessa instrumentalizao que a formao de um

    leitor capaz. Por causa disso, ela se torna algo distante, dificultoso. Isto porque a

    dificuldade na apreenso de um texto no deve apenas aos processos mentais, mas

    sobretudo a uma aprendizagem orgnica, como refletiu Gramsci: Deve-se

    convencer muita gente de que o estudo tambm um trabalho, e muito cansativo

    (...) no s intelectual, mas tambm muscular-nervoso: um processo de

    adaptao, um hbito adquirido com esforo, aborrecimento e at mesmo

    sofrimento (p.51).

    Tambm so colocados alguns problemas na maneira como a literatura

    apresentada no ensino formal, propondo uma diluio ao apresentar diferentes

    gneros textuais e suas funes e destacar a leitura do texto literrio como fonte de

    prazer. Sendo assim, alm do ganho intelectual, esse tipo de leitura volta ao

    patamar de entretenimento e, por conseguinte, objeto de consumo. Dentro da lgica

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    de mercado, podemos encontrar outros meios, alm do estatal, para custear essa

    prtica de leitura mediada, que demanda, alm do suporte material (texto impresso,

    acomodao adequada) o pagamento para os mediadores, coordenadores e autores

    convidados.

    A direo que o mercado toma no que diz respeito s publicaes editoriais

    extremamente relevante quando pensamos na formao do leitor hodierno. O

    mercado, saturado de best sellers e livros ditos de autoajuda mais um elemento

    formador do pblico, que no pode adquirir aquilo cuja existncia desconhece. E

    as editoras so unnimes em declarar que alguns gneros literrios, sobretudo a

    poesia, no geram lucro.

    No estamos aqui empreendendo uma cruzada contra textos que no sejam

    tidos como literatura cannica, at porque no em torno do ponto de vista da

    crtica que elaboramos nosso argumento. Acontece que o mercado busca lucro, e no

    caso do mercado do livro, o descartvel o mais lucrativo. A leitura dos clssicos

    nunca se esgota. , portanto, um bem que se adquire para um uso prolongado,

    minucioso. Tomamos a leitura como algo, alm de prazeroso, de possibilidades

    mltiplas, que tm mais a ver com o crescimento pessoal do que com a

    compreenso do fenmeno literrio, como pontua Eliana Yunes:

    O ato de leitura no corresponde unicamente ao entendimento do mundo do texto, seja ele escrito ou no. A leitura carece da mobilizao do universo de conhecimento do outro do leitor para atualizar o universo do texto e fazer sentido na vida, que o lugar onde o texto realmente est. (...) Aprender a ler familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diferentes esferas sociais (jornalstica, artstica, judiciria, cientfica, didtico-pedaggica, cotidiana, miditica, literria, publicitria, entre outras) para desenvolver uma atitude crtica, quer dizer, de discernimento, que leve a pessoa a perceber as vozes presentes nos textos e perceber-se capaz de tomar a palavra diante deles. (2009, p.9 grifo nosso)

    A mobilizao de que fala a autora a fora motriz de diversos tipos de

    aprendizagem, e no cultivo do hbito de ler (no somente livros, mas filmes, telas,

    retratos, etc.) que o ser humano se torna capaz de ter autonomia intelectual. Se

    focamos nossa ateno nos textos literrios porque eles j possuem em sua

    construo os caminhos da arte, que tem a vantagem de entreter e comover

    atreladas liberdade da fico, que pode tirar o leitor de seu marasmo factual e

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    arremess-lo para a fantasia que desperta a possibilidade do inusitado. Ler o

    exerccio de tocar o improvvel com os dedos da imaginao.

    Apesar de ler os textos parecer o caminho mais bvio para o ensino da

    literatura, no o que acontece no ambiente escolar, e s vezes nem mesmo na

    universidade. Os professores, muitas vezes sem capacitao, impem resumos,

    questionrios objetivos. Para isso, as aulas no precisam (nem podem) incluir os

    textos literrios, pois estes permitem mltiplas interpretaes. Essa negligncia

    institucional no se d apenas com as disciplinas ligadas arte, mas qualquer uma

    que no tenha valor comercial. As instituies de ensino tornaram-se cursinhos

    preparatrios: para o vestibular, para o mercado de trabalho.

    As prticas das escolas esto muito aqum das propostas dos parmetros

    curriculares. Uma aula que priorizasse a leitura seria aquela em que o educador d

    pequenas lies sobre imagens e construes da poesia para, nas entrelinhas, levar

    o aluno a interpretar o mundo consciente do processo metafrico. A poesia faz com

    que sua leitura de mundo fique mais refinada, sem impor normas ou obras. A

    literatura aparece como uma espcie de porta para uma realidade que no

    apreendida ordinariamente. Esse tipo de leitura d a entender que a poesia (como

    todo texto literrio) no deve ser privilgio de intelectuais reconhecidos, mas como

    uma faculdade que se desenvolve a partir de uma sensibilidade. E como essa

    sensibilidade pode ser mascarada sob o silncio ou a falta de estmulos do

    ambiente.

    Toda arte possui poderes dentro do pensamento humano. Por ter um domnio

    maior sobre a linguagem verbal, a poesia poderia ser o lugar privilegiado, e o ,

    quando as condies lhe so apropriadas. Mas a literatura encontra, nesse instante,

    barreiras para o uso pleno de seus poderes. Como um instrumento de instruo e

    deleite ela s servir queles que fizerem parte do seleto grupo que foi acostumado

    leitura diletante. Para os demais, a literatura continuar em um plano distante,

    quase inalcanvel. Aqueles que possuem o conhecimento da lngua escrita, mas

    no leem por prazer no atingiro o deleite.

    O excesso de correo gramatical e necessidade de uma avaliao que limita

    a interpretao do texto denotao (ou s interpretaes cannicas), prpria das

    escolas. No existe uma cadeira que priorize simplesmente o ato de ler. Isso em

    nada diminui o valor da literatura, obviamente. O que se mostra premente o

    compartilhar a leitura e a literatura, o gosto por elas. O que vai de encontro com as

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    tendncias detectadas por historiadores que tm o olhar voltado para o tratamento

    da leitura, como Peter Burke:

    No Ocidente, os tpicos correntes de interesse e debate na histria da leitura incluem trs mudanas ou deslocamentos aparentes: da leitura em voz alta para a leitura silenciosa; La leitura em pblico para a leitura privada; e da leitura lenta ou intensiva para a leitura rpida ou extensiva, a chamada revoluo da leitura do sculo XVIII. (BURKE, p.83)

    Em dado momento, nessa tal revoluo, alguns indivduos foram levados a

    crer que um texto tem em partes dele sua essncia, como ideias-chave, e que todo o

    resto no teria qualquer serventia. Nesse aspecto, o texto literrio acaba sofrendo

    anulaes, j que o resumo, ou a essncia do texto s vezes reside em sua prpria

    forma, na musicalidade das palavras e nas imagens escolhidas pelo autor.

    Recentemente, o terico Tzvetan Todorov refez sua trajetria de estruturalista

    convicto e escreveu o livro Literatura em Perigo, cujo texto questiona o

    distanciamento dos estudantes da literatura, e as causas e consequncias dessa

    distncia. Por muitas dcadas, a esttica moderna (entre outros fatores) estimulou

    uma percepo mais analtica dos textos literrios, esquecendo-se de que a teoria

    no pode suplantar o sentido da obra. Para Todorov, hoje, urgente resgatar o

    verdadeiro lugar da literatura, valorizando a relao dos sentidos que a obra produz

    e a sua relao com o mundo:

    Sendo objeto da literatura a prpria condio humana, aquele que a l e a compreende se tornar no um especialista em anlise literria, mas um conhecedor do ser humano. Que melhor introduo compreenso das paixes e dos comportamentos humanos do que uma imerso na obra dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa h milnios? (TODOROV, p.52-53).

    O pensamento de Todorov sobre o que literatura, em vez de enaltecer

    grandes discursos sobre poesia ou sobre a biografia de escritores, mostra que a

    sensibilidade humana pode ser sensibilizada na sua extrema singularidade. Esse

    recurso permite ao expectador uma identificao imediata com a poesia, pois

    reconhece nela sua frgil condio humana. evidente que tanto a literatura quanto

    as outras formas de arte tm sua linguagem e tcnica prprias, cujo conhecimento

    extremamente importante. O mais salutar, porm, o sentido que cada uma das

    manifestaes artsticas prope levar at o seu destinatrio.

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    Partimos da perspectiva de que a literatura aproxima o homem da sua

    natureza essencial. ela (no campo da leitura verbal) que estabelece os laos,

    sejam eles afetivos ou culturais. No h poesia sem a dimenso humana; elas esto

    imbricadas, necessrio incluir as obras no grande dilogo entre os homens

    iniciados desde a noite dos tempos e do qual cada um de ns, por mais nfimo que

    seja, ainda participa. (TODOROV, p.93-94)

    A responsabilidade pela difuso da leitura no deve estar somente na mo

    das autoridades (embora esteja, em grande parte), mas nos hbitos arraigados de

    todos os que j so conscientes dessa problemtica. E atualmente cada vez menos

    pessoas, mesmo as letradas, demonstram interesse na literatura propriamente dita:

    Doravante a leitura deve ser justificada. No somente a leitura corrente, do ledor, do homem de bem, mas tambm a leitura erudita do letrado, do/da profissional. A Universidade conhece um momento de hesitao com relao s virtudes da educao generalista, acusada de conduzir ao desemprego e que tem sofrido a concorrncia das formaes profissionalizantes, pois estas tm a reputao de melhor preparar para o trabalho. Tanto que a iniciao lngua literria e cultura humanista, menos rentvel a curto prazo, parece vulnervel na escola e na sociedade do amanh. (COMPAGNON, 2009, p.56)

    V-se que a literatura no tida como um privilgio, um luxo, apenas no

    Brasil. Todas as caractersticas de pedagogia voltada para uma cultura humanista

    que no pensa na educao apenas como uma preparao da mo-de-obra e de um

    mercado consumidor so negligenciadas. A literatura , pois, algo intil. E no

    havia de ser diferente, pois o texto literrio no est atrelado a uma ideologia ou

    prxis, em sua essncia. Toda a fora da arte reside na forma esttica, que vai estar

    imbuda de outros discursos, na medida em que isso for necessrio para a

    realizao da prpria obra. Seno, a literatura nunca falaria de amor, de anseios

    existenciais. Ou tampouco se poderia pensar nas vanguardas europeias do sculo

    XX, cujo foco principal era subverter o prprio fazer artstico, para renovar a

    produo que sempre estava atrelada a valores outros que no a prpria arte.

    A questo do confronto entre iniciativas como as Rodas de Leitura com o

    que acontece entre os muros da escola no aponta apenas para um conflito, mas

    uma complementao (j que no se vai abandonar de uma hora para a outra a

    funo pragmtica que se d escola). Pensando na dupla escola/cultura, a

    histria da educao nos mostra que:

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    Acompanhar a as trajetrias dos sujeitos implicava ainda uma terceira mutao nos modos de conceber a relao da escola com a cultura, que agregava s outras duas funes anteriores (transmisso e produo). Tomada a partir do trnsito e da frequncia de indivduos e grupos sociais, a escola era tambm o local de convivncia de culturas (infantis, juvenis, adultas, religiosas,

    tnicas, dentre outras). (VIDAL, SCHWARTZ, p.18)

    Ora, se a escola pode congregar outras culturas, outros espaos ho de

    poder adotar a cultura escolar; e no sentido primeiro, a cultura literria tambm

    pode se imiscuir ao ambiente escolar de formas menos pedantes, mais acolhedoras.

    At porque ningum h de imaginar que o convite leitura em grupo uma crtica

    leitura individual e silenciosa. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens, e

    mesmo tendo como princpio bsico a fruio, a leitura em grupo tambm tem suas

    regras e mtodos:

    c) Textos o sucesso de uma roda de leitura deve-se em grande parte aos textos que seus participantes ganham e leem silenciosamente, enquanto o leitor-guia interpreta. Esse procedimento evita as abstraes das conferncias. O texto o elemento concreto atravs do qual o contato entre o leitor-guia e a plateia vai acontecer, tornando esses encontros muito vivos. Literrias ou no, as leituras devem ser saborosas, interessantes, polmicas, instrutivas. importante que o pblico reconhea na leitura seu carter informativo. (VARGAS, 2013, p.10-11)

    As tcnicas apresentadas por Suzana Vargas tambm podem ser

    instrumentais para docentes e mediadores. Vrias so os cuidados que a

    idealizadora do projeto coloca; e todas so de grande valia para quem resolver

    colocar em prtica um grupo assim. Ela sugere que seja exposto apenas um mnimo

    de recursos tericos sobre o texto escrito (produo e recepo), seguido da prtica

    da leitura propriamente dita. Os textos devem ser lidos no momento do encontro e

    haver cpias para que todos acompanhem a leitura. Todos sero convidados a dar

    opinies, independente da rea de atuao de que faam parte (mas s aps a

    leitura finalizada). A teoria textual ser revisitada quando necessrio, mas o foco

    est na prtica da leitura em grupo e a literatura ser quase sempre o campo

    privilegiado.

    Outros gneros podero ser abordados, se a plateia assim desejar.

    Apresentao: breves noes de tcnicas de leitura, nveis de linguagem e gneros

    textuais. A relao amorosa da leitura se d pelo que o texto desperta nos leitores e

    o que um pode despertar no outro durante o debate. O texto torna-se uma extenso

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    do corpo, graas ao contato direto com as palavras. H a apresentao de temas

    que podem ser trabalhados nas leituras: o amor, o erotismo, o riso, a crueldade, a

    morte.

    No projeto original, o prprio autor do texto est presente no auditrio, o que

    instiga o pblico a elucidar questes do texto e s vezes at sobre o processo de

    produo do mesmo. Isso gera uma grande participao daqueles que sentem

    vontade de escrever, mas no entendem o processo de criao. Nas Rodas de

    Leitura, no h avaliao eliminatria ou mesmo de classificao dos participantes.

    O sucesso do trabalho ser avaliado pela receptividade e interao do grupo

    presente. A prpria idealizadora do projeto prev que as leituras em grupo podem

    desencadear cursos, oficinas de maior durao, com o objetivo de desenvolver a

    escrita dos participantes.

    E o caminho da difuso da escrita que Suzana Vargas tambm pratica na

    empresa Estao das Letras, onde escritores, livreiros, editores, roteiristas e outros

    profissionais da rea da escrita so convidados a lecionar. O ensino da literatura

    problemtico em sua essncia, pois no existe uma prtica pedaggica inocente,

    nua de valores a inculcar. A literatura, se realmente lida, gera questionamentos

    que podem, inclusive, desconstruir a necessidade de uma educao formal com

    suas hierarquias, seus objetivos.

    Ensinar a ler, em sentido mais amplo, como ensinar a enxergar. No h

    apenas um modo de ver, como no existe apenas uma maneira de interpretar um

    texto. um ensino destitudo de sentido final. Uma disciplina sem objetivos

    pragmticos no teria como ser bem vista em uma escola que visa ascenso

    social, por exemplo. A literatura no almeja nada. Se os textos literrios tm fora

    ideolgica e so capazes de mudar o esprito dos homens, exatamente porque

    no so panfletos. A arte tem caminhos distintos do discurso cotidiano.

    A leitura imposta jamais tem o apelo que aquela que foi desejada e buscada.

    A literatura deve ser um direito e no um dever. A literatura deve ser compartilhada

    como a terra e o po. Eis a questo que ningum jamais resolve como a literatura,

    destituda de utilidade em sua essncia, pode alcanar tamanhos prodgios. o

    paradoxo da arte. E a escola tem papel decisivo nessa comunho. Quem l, pode

    fazer escolhas que os outros no conseguiro. Faz-se necessrio um resgate do

    lugar da literatura. Espao de que muitos professores e tericos teimam em se

    afastar.

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    REFERNCIAS

    BURKE, Peter. O que histria cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

    COMPAGNON, Antoine. Literatura para qu? Traduo de Laura Taddei Bandini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

    GRAMSCI, A. Cadernos do crcere, v.2. edio e traduao Carlos Nelson Coutinho; co-edio Luiz Srgio Henriques e Marco Aurlio Nogueira. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000.

    TODOROV, Tzvetan. A Literatura em perigo. (Traduo: Caio Meira) Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.

    VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. 6. ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2009.

    VIDAL, Diana Gonalves; SCHWARTZ, Cleonara Maria. Sobre Cultura Escolar e Histria da Educao: questes para debate. In: VIDAL, Diana Gonalves Bueno; SCHWARTZ, Cleonara Maria. (orgs.) Histria das culturas escolares no Brasil. Vitria: SBHE; EDUFES, 2010. p.13-35. (Coleo Horizontes da Pesquisa em Histria da Educao no Brasil, v.1.)

    WILLIAMS, Raymond. Cultura. Traduo Llio Loureno de Oliveira. 3. ed. So Paulo: Paz e Terra, 1992.

    YUNES, Eliana. "Apresentao". In Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymar, 2009.

    Referncias Eletrnicas:

    VARGAS, Suzana. A arte de ler em grupo ou Vamos ler juntos? Arquivo de texto escrito para treinamento no Centro de Formao Banco do Brasil. Disponvel em: < http://www.estacaodasletras.com.br/arquivos/ler_em_grupo.pdf> Acesso em 4 mai. 2013.