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Sustentabilidade empresarial. Guia de práticas econômicas, ambientais e sociais João Salvador Furtado

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Sustentabilidade empresarial. Guia de práticas econômicas,

ambientais e sociais

João Salvador Furtado

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504.03F992 Furtado, João Salvador.

Sustentabilidade empresarial: guia de práticas econômicas, ambientais esociais / João Salvador Furtado – Salvador:NEAMA/ CRA, 2005.

177 p. ; 23 cm.

ISBN 85-88595-29-X

1.Desenvolvimento Sustentável. 2. Gestão Ambiental. 3. Política Organizacional. I. Furtado,João Salvador. II.Título

Copyright 2005 Centro de Recursos Ambientais (CRA)

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 5.988, de 14/12/73.Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sem autorização prévia por escrito da Editora, sejam quais

forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Capa: ELIAS MONTEIRO

Projeto gráfico: ROSANA ZUCOLO

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIAPaulo Ganem Souto

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS - SEMARHJorge Khoury Hedaye

CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS - CRAMaria Lucia Cardoso de Souza

DIRETORIA DO NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO MEIO AMBIENTE - NEAMAJúlia Maria Santana Salomão

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................... 7PREFÁCIO .............................................................................................................................................................. 9SOBRE O GUIA .................................................................................................................................................... 1102. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE ....................................................................................... 1503. ORIENTAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL(DS). AÇÕES, CONCEITOS E ATITUDES PARA DIRECIONAMENTO

DOS ESFORÇOS .................................................................................................................................................. 25 PERSPECTIVAS PARA A INCLUSÃO DE DS NAS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS .................................................................................................. 25Iniciativas para a adoção de práticas de Sustentabilidade ......................................................................................................... 25Opções para a inserção de práticas de sustentabilidade nas operações da Organização ................................................. 28Opções para inserção de ações incrementais em práticas correntes ..................................................................................... 28Aprendizagem organizacional global: integração gestão - processo produtivo -produto - consumo descarte e

destinação ambiental ....................................................................................................................................................................... 31Construção de conceitos, temas, paradigmas e direcionadores para práticas de Sustentabilidade ................................. 32Criação de ecotime organizacional e definição de papéis, designação formal do grupo encarregado das ações e

desdobramentos ............................................................................................................................................................................... 44Pressupostos para elaboração da Visão e dos Princípios de Sustentabilidade. Fundamentos conceituais e de política

de Sustentabilidade Organizacional ............................................................................................................................................. 50Construção definitiva da Visão de Sustentabilidade. Elaboração de texto formal de direção a ser seguida ......................

............................................................................................................................................................................................................. 54Construção definitiva dos Princípios de Sustentabilidade. Elaboração de texto formal de valores a serem praticados .

............................................................................................................................................................................................................. 55Validação de proposta de DS. Reconhecimento e aceitação pelos interessados internos e externos relevantes ......... 55Sugestão de fontes para eleição do sistema econômico e socioambiental ............................................................................. 56Identificação de conduta de responsabilidade socioambiental organizacional. Definição de padrões de conduta

perante todos os interessados ...................................................................................................................................................... 61Validação – pelos interessados relevantes – de caso organizacional e demais documentos propostos. Transparência,

exposição, diálogo e construção de compromissos ................................................................................................................. 61Validação operacional da Proposta. Documentos de Visão e de Princípios de Sustentabilidade. Formalização da

Política ... ....................................................................................................................................... ...................................................63 Estratégias para inserção de DS no eixo principal de negócios e atividades organizacionais. Operacionalização de

práticas organizacionais .................................................................................................................................................................. 64Consolidação de parcerias estratégicas. Compartilhamento de riscos e benefícios ............................................................. 6604. ESTABELECIMENTO DE MACRO-OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS SUSTENTÁVEIS (MACRO-PLANEJAMENTO) ...................... 73CORRELAÇÃO ENTRE GOVERNANÇA E MACRO-OBJETIVOS SUSTENTÁVEIS - ALINHAMENTO DE PROCESSOS DECISÓRIOS E DISTRIBUTIVOS .............. 73Revisão do sistema de tomada de decisão ..................................................................................................................................... 73DEFINIÇÃO DE GRANDES ALVOS SUSTENTÁVEIS ............................................................................................................................................. 75Definição de perfis críticos e relevantes para a construção de macro-objetivos da Organização ................................... 75Construção de conceitos e processos para definição de macro-objetivos sustentáveis......................................................75

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IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DE CRIAÇÃO DE MACRO-OBJETIVOS ............................................................................................................... 77Criação de ato de descontinuidade no modelo de gestão (management) e produção (processo e produto) ............... 77Capacitação para formulação de macro-objetivos ....................................................................................................................... 78Relacionamento entre eco-inovação e formulação de macro-objetivos .................................................................................. 78 05. ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS E TÁTICAS PARA A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIOAMBIENTAL .............. 81CONSTRUÇÃO DE INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIOAMBIENTAIS ............................................................................................................... 81 Identificação de indicadores importantes para a Organização ............................................................................................... .81Construção do conceito de indicador integrado econômico-socioambiental para a Organização ................................. 83Estabelecimento do processo para construção do quadro ou esquema apropriado de indicadores econômico-

socioambientais integrados para as atividades ou negócios da Organização .................................................................... 84Construção do esquema de indicadores apropriados para as atividades ou negócios da Organização ........................ 88 ESTABELECIMENTO DE CENTROS DE CUSTOS PARA O DESEMPENHO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO ........................................... 88Identificação de custos, de acordo com a natureza do evento ................................................................................................. 88Classificação por centros de custos ................................................................................................................................................ 90Definições gerais internacionais ....................................................................................................................................................... 91REAFIRMAÇÃO DA POLÍTICA ORGANIZACIONAL .......................................................................................................................................... 92Procedimentos para estabelecer a linha de base da Proposta de Sustentabilidade ............................................................. 92ARTICULAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AOS DEMAIS ELEMENTOS DA POLÍTICA ORGANIZACIONAL .................................................................... 94ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES ............................................................................................................................................................. 94Consolidação da Linha de base para o desempenho, abrangendo efeitos e impactos de Resultado Final Tríplice.

Propostas de Políticas de Sustentabilidade ................................................................................................................................ 95CONSOLIDAÇÃO DE COMPETÊNCIAS ............................................................................................................................................................ 9606. GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COM RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ............................................... 99PRESSUPOSTOS E ENTENDIMENTOS ............................................................................................................................................................... 99Bases estratégicas ................................................................................................................................................................................. 99FLUXO DE ATIVIDADES .............................................................................................................................................................................. 100Conceitos e princípios relevantes .................................................................................................................................................. 100CONSTRUÇÃO DO MODELO DE GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO ...................................................... 102Caracterização macroeconômica ................................................................................................................................................... 102Alinhamento dos princípios de RSA na gestão da Organização ............................................................................................ 102Identificação das características socioambientais do mercado................................................................................................. l04Inserção dos princípios de desenvolvimento sustentável (Rio-92 - Princípio 4) na gestão .............................................. 104Elaboração do plano estratégico socioambiental integrado .................................................................................................... 106Definição da Política de Ação Alinhada à RSA, ao DS e à Visão de Produto ...................................................................... 107Definição de Planos e Programas Sociambientais Responsáveis ............................................................................................ 108Medição de desempenho dos indicadores socioambientais ..................................................................................................... 108 IMPLEMENTAÇÃO DE PRODUÇÃO LIMPA - PL ........................................................................................................................................... 109Tópicos e subtópicos para implementação de Produção Limpa ............................................................................................ 112Migração para PL ............................................................................................................................................................................... 112Gestão da Produção Limpa ............................................................................................................................................................. 112

João S. Furtado

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Formulação do plano de sustentação de Produção Limpa ...................................................................................................... 11307. MEDIAÇÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL................................................................................... 115DEFINIÇÃO DO ARCABOUÇO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ................................................................................................................. 115Relações de Causa e Efeito .............................................................................................................................................................. 123Listagem de efeitos ou impactos ..................................................................................................................................................... 125Sugestão de tabela para organização dos efeitos ou impactos ................................................................................................ 13108. ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL ............................................................................................ 139FUNDAMENTOS PARA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO ..................................................................................................................................... 139Seleção do modelo de relatório ..................................................................................................................................................... 142Composição de ítens ......................................................................................................................................................................... 142Como usar o modelo de RDS ........................................................................................................................................................ 142RDS PARA GRANDE E MÉDIA ORGANIZAÇÃO ........................................................................................................................................ 1421.Título e Período .............................................................................................................................................................................. 1422.Declaração do dirigente máximo ............................................................................................................................................... 1423. Aspectos gerais .............................................................................................................................................................................. 1434. Perfil da Organização ................................................................................................................................................................... 1445. Resumo executivo ......................................................................................................................................................................... 144Módulo I. Políticas e sistemas de gestão ....................................................................................................................................... 1456. Política organizacional de sustentabilidade ............................................................................................................................. 145Módulo II. Indicadores de desempenho ........................................................................................................................................ 1507. Capital Natural .............................................................................................................................................................................. 1518. Capital Social .................................................................................................................................................................................. 1578.1. Práticas e condutas laborais .................................................................................................................................................... 1578.2. Direitos humanos ...................................................................................................................................................................... 1588.3. Impactos econômicos indiretos .............................................................................................................................................. 165Modulo III ............................................................................................................................................................................................. 165Relacionamento com as partes interessadas ............................................................................................................................... 165Módulo IV. Indicadores integrados de Desempenho Sustentável ............................................................................................ 170RDS para pequena e média Organização .................................................................................................................................... 170GLOSSÁRIO E ABREVIATURAS ...................................................................................................................................................................... 175

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Introduzir o conceito de Produção Limpa nas empresas einstituições é uma tarefa bastante árdua, a envolver mentes e mãos,as mais diversas, tal como o eco-sistema. Envolve não apenas oesclarecimento do que ela, a Produção Limpa representa, masestratégias competentes e contínuas para sua implementação. En-tretanto, mesmo diante dos desafios, é um caminho que inevitavel-mente será percorrido e seguido, por uma simples razão: a huma-nidade tem que encontrar os meios para se sustentar na Terra.

Produção Limpa envolve uma visão ampla, às vezes pensoampla demais, para o que estamos acostumados a considerar nonosso dia a dia, tanto do ponto de vista espacial como temporal.Implica em considerar desde aspectos internos a um processo atésua inter-relação com toda a cadeia produtiva e entorno ambientale social. Implica num esforço que vai da concepção do produto àsua utilização e re-inserção na economia após uso. Produção Lim-pa representa um apelo a não nos conformarmos com a geração deresíduos. Em entender que perdas materiais impactam o ambientee a competitividade da nossa economia por igual. Que os ganhosambientais são ganhos sociais e econômicos. É fazer compreenderque não existem ganhos econômicos sustentáveis se eles não repre-sentarem também ganhos sociais e ambientais.

Produção Limpa é a convicção de que o conceito Resíduo foiinventado para encobrir a falta de competência produtiva, numdeterminado momento e lugar. Mas é também a convicção quetemos de poder superar este equívoco conceitual.

Este Guia para Organizações é uma publicação cuja faltaera sentida no meio produtivo e acadêmico pelo fato de aliar refle-xões consistentes a propostas concretas para orientar e colocar asorganizações no caminho da sustentabilidade.

Editar e publicar este livro de João Salvador Furtado é mo-tivo de orgulho para a Rede de Tecnologias Limpas da Bahia,

TECLIM. Mas é também um reconhecimento do coletivo deempresas, órgãos públicos e universidades, que formam a rede, àcolaboração que João têm prestado ao desenvolvimento da Produ-ção Limpa na Bahia e no Brasil.

Este projeto não teria chegado a público se não fosse o esforçode Mario Pino, da Braskem e Ângela Teixeira, Rosana Zucolo,Lilian Reichert , Tássia Novais e Gabriel Anjos, dentro doProjeto Prata da Casa, do TECLIM, Departamento de Enge-nharia Ambiental da Universidade Federal da Bahia.

O projeto Prata da Casa foi concebido para divulgar os esfor-ços e resultados da Produção Limpa na Bahia, como mais umaparceria entre empresas, NEAMA/CRA, órgão ambiental daBahia e UFBA.

Mas, como entra o paulistano João no Prata da Casa daBahia? Entra porque, mesmo suas idéias e publicações, anteceden-do o próprio surgimento da Rede TECLIM, e fomentado suaconsolidação, nos consideramos João Salvador Furtado prata danossa casa, da mesma maneira que nos consideramos prata dacasa dele.

Nossa casa é a mesma.

Asher Kiperstok

APRESENTAÇÃO

Coordenador da Rede de Tecnologias Limpas da Bahia-TECLIMCurso de Mestrado Profissional em Gerenciamento e TecnologiasAmbientais no Processo Produtivo- Ênfase em produção Limpa.

Departamento de Engenharia Ambiental, Escola Politécnica/UFBA.

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PREFÁCIO

Uma questão que se apresenta nos dias atuais, a título dedesafio, é como “equilibrar o Desenvolvimento Sustentável”. Pormeio de analogia, torna-se possível oferecer uma resposta bastantesimplificada. Explico-me. Imagine-se o conceito de Desenvolvi-mento Sustentável como uma bola de cristal. Essa bola, emborabem definida, pode ser percebida de diversos modos, cada olharcontendo experiências múltiplas, registros, fluxo de pensamentosarticulados e articuladores.... Cada pessoa que para ali se dirigevê parte de si refletida naquele objeto. Isto nos permite compreen-der porque empresários, ambientalistas ou agentes sociais enten-dem o conceito do Desenvolvimento Sustentável cada um sob de-terminado ângulo, à sua maneira.

O Desenvolvimento Sustentável, segundo agentes mais interes-sados na economia, favoreceria a “ecoefi-ciência”, ou seja, os gan-hos econômicos a partir da produção de mais bens com um usorelativamente menor de recursos naturais. Favoreceria tambémas atitudes voltadas ao aumento da “produtividade social” comfoco na melhoria das condições de trabalho (melhoria do climaorganizacional, das condições de saúde e segurança etc.).

Entretanto, os agentes centrados no social argumentam serinsuficiente o desenvolvimento econômico que não promova a “eqüi-dade econômica” e a “eqüidade ambiental”, o que também impli-ca em acesso mais uniforme aos recursos econômicos e ambientais.

Agentes mais interessados nas questões ambientais, defenden-do o Desenvolvimento Sustentável, certamente questionam o de-senvolvimento apenas focado na ecoeficiência, deixando claro quejá se atingiu uma situação tal que se torna premente reduzir o usodos recursos ambientais em valores absolutos, o que é chamado de“ecoeficácia”. Questionam também, estes profissionais, a respeitoda distribuição da renda sem que a sociedade indague a respeitodo consumo, de como este se processa, o que é denominado “sufici-

ência”. Tais abordagens nos conduzem a refletir, uma vez mais,sobre o que já foi dito de outras formas: seriam necessários váriosplanetas Terra para que toda a humanidade tenha um nível deconsumo similar à sociedade dos países desenvolvidos.

Há, em um artigo de Bieker e outros (2003)1 , uma ilustra-ção bastante pertinente que pode ser utilizada para o entendimen-to dessa idéia.

Então, diante do que se apresenta, de qual desenvolvimentosustentável o professor João Furtado está falando? Creio que oprofessor tenta dar um equilíbrio a essas visões. Apesar de o textoestar principalmente dirigido a organizações privadas e, por essemotivo, a meu ver, estar inicialmente mais próximo do vérticesuperior do triângulo, o texto vai se desenvolvendo em paralelocom o propósito de nos presentear com uma série de recomendaçõesobjetivando que cada organização, utilizando-as, aproxime suas

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estratégias e ações da base do triângulo. É, sem dúvida, umacontribuição preciosa o bastante para se “Equilibrar o Desenvol-vimento Sustentável”!

Para concluir, ressalto um outro lado do equilíbrio que aflorado texto. Como biólogo, o professor João Furtado tenta equilibraressas visões tal como um ecossistema, onde todas as partes interagem,onde os seres são, ao mesmo tempo, predadores e presas a interagiremem várias cadeias alimentares. Principalmente aqueles que estãona base da pirâmide, onde se situariam os conceitos. Compete a

1 Bieker, Thomas; Dyllick, Thomas ; Gminder, Carl-Ulrich eHockerts, Kai (2003), “Towards A Sustainability Balanced Scorecard- Linking Environmental and Social Sustainability to BusinessStrategy”, 11th International Conference of Greening of IndustryNetwork, San Francisco, USA

NOTA

cada leitor buscar organizar suas ações em uma linha de tempoque lhe permita tirar o maior proveito do conhecimento expostoneste guia do professor Furtado. E, assim o fazendo, possa, defato, promover ações concretas que lhe permita contribuir efetiva-mente para iluminar essa bola de cristal, ou seja, efetivar o Desen-volvimento Sustentável. Que essa luz nos ilumine!

Jorge Soto

Engenheiro químico e mestre em Engenharia Química. GerenteCorporativo de Saúde, Segureança e Meio Ambiente da Braskem S.A

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SOBRE O GUIA

As práticas sugeridas neste Guia são destinadas, es-sencialmente, para Empresas produtoras de bens e ser-viços que desejam caminhar em direção à sustenta-bilidade econômica, ambiental e social. Entretanto, asrecomendações também servem para quaisquer outrostipos de Organizações, de direito privado ou público,aqui incluídas as agências reguladoras, instituições deensino e pesquisa e as organizações do chamado Ter-ceiro Setor, por exemplo.

Por isso, o texto está em alinhamento com agênciasmultigovernamentais criadas pela Organização dasNações Unidas (ONU); governos de vários países, es-pecialmente os de economia avançada; ONGs am-bientalistas e sociais como Instituto Socioambiental,Greenpeace, Amigos da Terra, e empresariais tais comoInstituto Ethos, Conselho Empresarial Brasileiro parao Desenvolvimento Sustentável CEBDS e sua matrizWorld Business Council for Sustainable Development;GEMI, SustainAbility, levando em conta as diferençasideológicas existentes.

A decisão de criar o Guia teve várias motivações.Inúmeras manifestações de líderes empresariais,governantes e porta vozes da sociedade civil organiza-da estão apontando para a importância do caminhopara o Desenvolvimento Sustentável (DS), tambémreferido como Sustentabilidade. Entretanto, fica a im-pressão de que os discursos não são acompanhados deprática equivalente.

Enquanto isso, considerável tempo e energia é de-dicado à discussão de divergências a respeito do signi-ficado do termo e a comentários de uso inadequadoda expressão DS, por diferentes partes interessadas.

Líderes de Organizações Não-Governamentais

(ONGs) sociais e ambientalistas questionam a maneiracomo as grandes Corporações Transnacionais de ne-gócios e ONGs representativas de interesses econômi-cos privados têm se apropriado da expressão. De ou-tro lado, ícones de negócios dizem que DS não foiconcebido por ambientalistas e que muitas definiçõessão excessivamente “verdes” e predominantementefocadas no futuro. Governantes, por sua vez, aprego-am a Sustentabilidade como sendo indispensável, massão poucos os que estabelecem políticas públicas, pla-nejamento e programas de DS com visão estratégicados ativos e passivos ambientais e sociais nacionais, ousequer incorporam ações ambientais e sociais aos as-pectos econômicos.

As práticas ambientais, quando implementadas, ali-nham-se, geralmente, às questões econômicas e, dessamaneira, acabam atendendo aos pressupostos de ges-tão ambiental, segundo as Normas da Série ISO14000ou, em casos mais diferenciados, à ecoeficiência, aquientendida como o resultado econômico resultante darelação entre criação de valor e conseqüências ou im-pactos ambientais.

As questões sociais – quando tratadas – enfocam opúblico interno. O público externo, considerado emcasos ainda mais diferenciados, não é tratado comoparte interessada, em consonância com a Missão, Visãoe Princípios organizacionais. No geral, as ações sociaissão implementadas pela ótica da Responsabilidade So-cial Organizacional ou Corporativa, separada da Mis-são e implementada como algo que ultrapassa o papela ser cumprido pela Empresa no mercado.

Os fatos e condutas de conhecimento geral e a ex-periência como consultor e observador da cultura de

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Organizações e seus gestores mostram a predominân-cia da prática de fim-de-tubo, com perdas materiaisvolumosas, emissões exageradas e impactos não-pre-venidos, resultando na transferência de custos ou deexternalidades para a sociedade, em nome do prag-matismo de negócios e da garantia de competitividade.

Algumas Organizações diferenciadas adotarammudanças de paradigma e conduziram esforços para aimplantação de Produção Mais Limpa, mas não deProdução Limpa, próximas em nomenclatura, mas dis-tintas quanto a compromissos e resultados, conformeabordado no Glossário.

Poucos são os casos de ações de ecodesign e de usode informações de Avaliação de Ciclo-de-Vida de Pro-duto. O enfoque de Sistema de Produto, do-berço-à-cova, com fechamento de ciclos, ainda não faz parteda agenda das Organizações. A proposta de ecoefe-tividade, orientada para o modelo do-berço-ao-berçoainda não aparece em discussões acadêmicas mais am-plas.

A motivação mais forte para a produção do Guiafoi decorrente da oportunidade de abordar a inserçãode práticas de DS na Braskem S/A, durante 2004.Mesmo tendo sido em bases preliminares – foi experi-ência importante, graças à iniciativa da gerência am-biental corporativa, fundamentada em documentos daPolítica Organizacional e na declaração pública daEmpresa de orientar-se para a Sustentabilidade.

Assim, o Guia foi produzido contendo grande di-versidade de práticas gerenciais, de bases econômica,ambiental e social, decorrentes da seleção, ajuste, com-binação, adaptação ou inserção direta de sugestões ex-traídas das fontes mencionadas ao longo do texto.

A publicação do texto tem como propósito com-partilhar conceitos, informações e sugestões, para o usode diferentes partes interessadas em aumentar o valorda empresa e, conseqüente do acionista, da imagem

organizacional perante fornecedores, clientes, consumi-dores, beneficiários e demais membros ou organiza-ções da sociedade.

A metodologia desenvolvida tem como propósitoestimular a reflexão para a construção de conceitos eentendimentos, no âmbito da Organização, com fortesimplicações para a execução das tarefas sugeridas.

As recomendações consideram a gestão integradade processo-produto-consumo e descarte, com fecha-mento de ciclos a montante e a jusante, segundo omodelo do-berço-à-cova e, idealmente, do-berço-ao-berço. Os termos DS e sustentabilidade são usadoscomo sendo sinônimos. O vocábulo socioambiental éexpresso com freqüência, principalmente pela dificul-dade de estabelecer limites precisos para as conseqüên-cias dos impactos para a saúde humana e a qualidadedos recursos e dos serviços naturais. O sentido seráesse, mesmo quando os vocábulos social e ambientalestiverem grafados individualmente.

O grande número de tarefas sugeridas e a amplitu-de do conteúdo de várias delas decorre da complexi-dade dos temas envolvidos. Portanto, os interessadospoderão, após a devida análise, eleger as ações quemelhor se adaptarem às condições de sua Organiza-ção.

O Guia propõe ações organizacionais orientadaspara mudança na conduta de processos e produtos,com vistas ao aprimoramento no desempenho. As re-comendações não estão restritas às questões ambientaisou aos impactos diretos causados pela Organização,mas, em detalhes, aos aspectos de impactos diretos eindiretos de base tríplice (Triple Bottom Line) econômicos,ambientais e sociais, com ênfase nos socioambientais, aquelesque resultam da relação de causa-e-efeito. Por isso, aabordagem envolve o Capital Econômico (ouconstruído pelo homem), o Capital Natural e o CapitalSocial, neste incluídos os aspectos institucionais, huma-

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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nos e culturais.O Guia ultrapassa a abordagem das relações entre

negócios, nas Empresas, e atividades, em Organizaçõessem fins lucrativos, e as operações gerenciais, no senti-do de management propriamente dito. As recomenda-ções abrangem também e em especial as práticas e fer-ramentas técnicas relativas a processo de produção eproduto.

O foco é de múltiplas partes interessadas, envol-vendo as visões do-berço-à-cova e do-berço-ao-ber-ço, incorporando o comportamento dos diferentes ato-res na cadeia de negócios, inclusive o consumidor.

As ações inspirativas, geralmente recomendadas paraatitudes pró-ativas ou além-de-conformidade, são ilus-tradas por sugestões de tarefas com expectativas deresultados tangíveis e intangíveis, com foco em partesinteressadas relevantes.

O texto não contém exemplos de Cases, como acon-tece em diversas publicações. A citação da fonte dereferência foi feita para que o leitor interessado possaampliar a leitura de argumentos, condutas e pensamen-tos de diversos autores. Os Cases mencionados nas fontesconsultadas e outras conhecidas não abordam aspec-tos relativos à integração de elementos de Susten-tabilidade Ecológica e Sustentabilidade Social comoparte ou em alinhamento ao eixo principal de negóciosou de atividades da Organização.

A ausência de argumentação, para convencimentode dirigentes de Alta e Média Gerência poderá ser con-siderada, por leitores habituados a Cases, como falhado Guia. É preciso enfatizar, porém, que o texto parteda premissa de que a Organização interessada já to-mou a decisão de caminhar em direção ao DS. Comoconseqüência, a Alta Administração irá assumir a res-ponsabilidade de determinar as ações necessárias, de-signar e atribuir responsabilidade a grupo ou equipe detransição, denominada de Ecotime, para atuação trans-

versal, trans e interdepartamental, envolvendo todas asatividades Organizacionais. De outra forma, as reco-mendações permaneceriam no terreno da inspiração enão do engajamento e compromisso.

O Guia sugere a necessidade de sólida construçãode paradigmas e de conceitos e a execução de ações decurto, médio e longo prazo, bem como de opções es-tratégicas de implementação orientadas para incrementode práticas correntes ou para aprendizagem organi-zacional global. Isto desloca o centro de atividades,usualmente atribuído a unidades que cuidam de meio-ambiente, saúde e segurança, para todas as unidadesadministrativas e produtivas.

Como resultado, propõe a elaboração de Visão ePrincípios de Sustentabilidade incorporada à MissãoOrganizacional, devendo resultar na elaboração de Pro-posta de sustentabilidade, decorrente de ampla e pro-funda revisão do modelo de Governança, das práticasgerenciais e produtivas correntes e da construção devisão de futuro desejado.

A sugestão de empoderamento de equipe transdis-ciplinar e transdepartamental – o Ecotime – é passoimportante para o sucesso da jornada, para o que sãoapresentadas tarefas visando a validação institucional eo fortalecimento das relações com todas as partes inte-ressadas, sem desconsiderar aspectos de conformida-de mandatária e acordos voluntários definidos porcódigos de conduta.

A formação de parcerias estratégicas e compar-tilhamento de riscos e benefícios tem o propósito deampliar o diálogo interno e externo e fortalecer princí-pios de ética, transparência, respondência e outros ele-mentos relacionados à imagem, confiança e credi-bilidade da Organização.

O Guia propõe tarefas para construção de macro-objetivos sustentáveis, para serem alinhados ao eixo deinteresse organizacional, com embasamento na cons-

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João S. Furtado

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trução de indicadores de ecoeficiência (econômico-ambiental) e de sustentabilidade (econômico, ambientale social integrados), com recomendações para a cons-trução de centros de custos correspondentes para per-mitirem a contabilização apropriada e aferição de cus-to total.

Como não poderia deixar de acontecer, as propos-tas conduzem para a construção de modelo de plane-jamento estratégico incorporando aspectos ambientaise sociais aos econômico-financeiros clássicos (BottomLine) e alinhamento a Responsabilidade Socioambientale DS. Como corolário, é apresentada sugestão estraté-gica de implementação de Produção Limpa no mode-lo de produção de bens e serviços.

As sugestões para a construção de arcabouço deavaliação de desempenho levam em conta os elemen-tos selecionados para caracterizar os aspectos de DSadotados para a Organização, do ponto de vista deações gerenciais e produtivas e considerando aspectostangíveis e intangíveis. Especial atenção é dada para oestabelecimento das relações de causa-e-efeito de im-pactos positivos e negativos das atividades organi-zacionais focadas em DS, com extensa lista de indica-dores de base tríplice, a fim de que a Organização ela-bore seu próprio quadro de referência.

O capítulo dedicado ao relatório de desempenhosustentável apresenta embasamento teórico-conceituale propõe tópicos e respectivos conteúdos, para Orga-nizações que desejarem adotar o modelo proposto peloGRI - Global Reporting Initiative ou procedimentosimplificado, recomendado pelo PNUMA - Progra-ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Por último, o glossário é composto de expressões,termos e siglas direta ou indiretamente relacionados aoconceito e às práticas apresentadas, para que sirvam dereferência e permitam que a Organização construa seuvocabulário próprio.

O mérito das ações recomendadas deverá ser cre-ditado aos respectivos autores e fontes. Os equívocosna escolha são meus.

João Salvador Furtado

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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02 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE

O termo “Sustentabilidade” tem sido utilizado comintensidade e, em muitas situações, como sinônimo deDesenvolvimento Sustentável (DS). Falta, entretanto,consenso quanto ao entendimento do significado deambos, especialmente quando governantes e atuantesno setor financeiro referem-se a crescimento sustentá-vel e economia sustentável, sem qualquer correlaçãoao DS.

DS representa a aquisição quantitativa e qualitativade bens e serviços providos pela natureza para atendi-mento das necessidades econômicas, ambientais e so-ciais dos atuais integrantes de todos os setores da soci-edade humana – sem comprometer o direito das gera-ções futuras de disporem de bens e serviços naturaispara atenderem a suas próprias necessidades, de acor-do com o espírito da definição proposta pela Comis-são Brundtland, em 1987. É neste sentido, portanto,que os termos DS e Sustentabilidade são usados aolongo do Guia.

O termo “sustentável” significa defensável, supor-tável, capaz de ser mantido e preservado, se determi-nadas condições e recursos não forem depletados, de-bilitados ou danificados permanentemente. Em decor-rência, a palavra “sustentabilidade” representa um pro-cesso contínuo, de longo prazo, capaz de impedir aruína de determinado sistema ou de conjunto de bense meios, pela garantia de acesso e de reposição de bense serviços. A permanência de longo prazo demanda aconservação, proteção, reposição ou o desenvolvimen-to de recursos intra, inter e trans-gerações.

Os termos “crescimento” e “desenvolvimento” sãousados como se fosse a mesma coisa. A distinção entreos dois é fundamental para a compreensão de DS.

Crescimento significa acesso e acumulação de materi-ais físicos e financeiros em termos quantitativos. De-senvolvimento representa o acesso a bens e condiçõesem bases qualitativas e medidas por índices de eficiên-cia.

Neste contexto, “crescimento” e “desenvolvimen-to” ficam na dependência de direcionadores represen-tados por aumento populacional, globalização, ambi-ente, economia, tecnologia e governança, os quais, porsua vez, estão sujeitos a forças determinadas por valo-res e necessidades, entendimento, estruturas de poder ecultura.

Em conjunto, crescimento e desenvolvimento de-terminam o destino da humanidade e servem para abusca de respostas a questões fundamentais como: ondeestamos? para onde estamos indo? onde pretendemoschegar? e como chegaremos lá?

DS representa, portanto, a maneira de se buscar amelhoria das condições de bem-estar, com consumode qualidade – por envolver relações harmônicas, delonguíssimo prazo, para o crescimento e desenvolvi-mento da comunidade humana, com eqüidade e ga-rantia da qualidade física e biológica dos sistemas eco-lógicos, que fornecem e garantem os meios para asustentabilidade da própria sociedade humana.

Reduzir consumo não significa, necessariamente, di-minuir o nível de atividade produtiva e, conseqüente-mente, econômica. É importante destacar que o mo-delo atual do sistema produtivo é considerado extre-mamente ineficiente, de acordo com as medições dePegada Ecológica, Intensidade Material Total e FardoEcológico tendo em vista as afirmações de que 90%dos materiais retirados da natureza não chegam ao con-

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sumo final sob a forma de bens e serviços. Assim, ain-da há suficiente espaço de manobra para o sistema pro-dutivo implementar o Fator 10 de ecoeficiência nosprocessos de manufatura.1

Algumas interpretações servem para orientar a re-flexão a respeito do uso do conceito de DS. Entreelas, a de que no Brasil, o entendimento jurídico dizque o DS consiste na exploração equilibrada dos re-cursos naturais, nos limites da satisfação das necessida-des e do bem-estar da presente geração, assim comode sua conservação no interesse das gerações futuras2 .

Para a Organização de Cooperação e Desenvolvi-mento Econômico (OCDE) DS significa a rota de de-senvolvimento ao longo da qual a maximização dobem-estar do ser humano na geração atual não leve aodeclínio do bem-estar futuro3 .

Outra definição, que merece ser citada, é a do WorldBusiness Council for Sustainable Development, muito próxi-ma da definição original de DS: “a forma de progres-so que atende as necessidades do presente, sem com-prometer a habilidade das gerações futuras de atende-rem a suas necessidades”4 .

A linguagem utilizada na área empresarial consideraque “desenvolvimento sustentável significa a adoção deestratégias de negócios e atividades que atendam às ne-cessidades da organização e suas partes interessadas, aomesmo tempo em que protege, mantém e aprimoraos recursos humanos e naturais que serão necessáriosno futuro”5 .

Outras concepções propõem que o DS é conside-rado processo evolutivo de aperfeiçoamento da eco-nomia, do ambiente e da sociedade, para o benefíciodas gerações presentes e futuras (Interagency WorkingGroup Indicators), ou o progresso da qualidade da vidahumana, enquanto viver em consonância com a capa-cidade de sustentação dos ecossistemas (UNEP, WWFWorld Wildlife Foundation e IUCN International Union for

Conservation of Nature).A diversidade de conceitos é representada por in-

terpretações e opiniões6 que foram produzidas antes edepois da definição clássica da Comissão Brundtland,em 1987.

A falta de unanimidade no entendimento de DStambém acontece quanto às divergências na imple-mentação das idéias, uma vez que DS permanece, pra-ticamente, no plano de declarações públicas, sem açõesconcretas por parte de governos, empresas em geral,pessoas e de organizações civis que se declaram pala-dinas da sustentabilidade.

As causas da divergência de entendimento e aceita-ção de conceitos são atribuídas a diversas razões. 7

Ícones da indústria dizem que a expressão DS não foiinventada por grupos ambientalistas. Outra refere-se àatitude do Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA), quando introduziu a expressãoDesenvolvimento Ambientalmente Sustentável.

Afirma-se ainda, que a proposta de DS é conside-rada excessivamente “verde” pelos desenvolvimentistase enfaticamente orientada para as necessidades do fu-turo, ao invés do presente. Ou que o entendimento évago, permite múltiplas definições e não atende aomodelo disciplina-orientado do mundo acadêmico. Portodas as razões levantadas, os críticos dizem que o con-ceito de DS tornou-se vago e confunde o público emgeral, que deveria abrir mão de práticas de consumo àsquais está habituado.

Estes comentários também estão sujeitos a críticas,o que serve para demonstrar a complexidade que en-volve a compreensão e abrangência do conceito de DS8 .

Apesar das diferenças, DS trará importante contri-buição para reorientar as atividades humanas, se as re-sistências e objeções ideológicas puderem ser removi-das. Há, entretanto, o fato inconteste de que a questãoda sustentabilidade não deve, nem pode, ser atribuída

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unicamente ao setor produtivo com fins lucrativos, masa todos os integrantes da sociedade humana.

Qualquer que seja o enunciado adotado, DS temque ver com as pessoas, as comunidades e a justiça.Portanto, requer a obrigatória integração dos objetivoseconômicos aos sociais e ambientais; a manifestaçãoinequívoca de vontade política, de âmbito global parasua implementação; o envolvimento e co-responsabili-dade de todos os agentes e atores, nos diferentes setoresda sociedade humana, e a inclusão no topo das agen-das dos protagonistas.

A busca do DS deveria significar a mudança estra-tégica de rumo a ser adotada por toda a sociedadehumana, sem a necessidade de estabelecimento de le-gislação nacional e internacional que representasse mar-co regulatório obrigatório.

No presente, a maior cobrança recai sobre as Or-ganizações produtoras de bens e serviços. As empresassão consideradas os agentes primários da criseambiental, derivada da ineficiência dos processos pro-dutivos que geram e despejam no ambiente volumescrescentes de resíduos tóxicos e perigosos. Outro fatoincontestável é de que o atual modelo econômico esti-mulou a apropriação dos bens naturais de modo pre-datório e a transferência dos custos ambientais – cha-mados pelos economistas de externalidades - para asociedade como um todo. Contemporaneamente, ossistemas privado e público têm condições de mitigaros efeitos e mudar o rumo atual da situação. Mas, oconsumidor não pode ser excluído da problemática,por ter sido ator coadjuvante da sociedade do desper-dício.

A partir de 1992, grandes Corporações Transna-cionais (CTNs) começaram a divulgar a necessidadedo setor produtivo incorporar práticas de DS em suasatividades. Tal processo foi reforçado por várias ONGsdefensoras do ambientalismo de resultado, criadas e

mantidas pelas mesmas CTNs. Desde 2002, as CTNse ONGs pró-setor produtivo privado estabeleceramfortes relações e, conseqüentemente, mecanismos deinfluência sobre as agências da Organização das Na-ções Unidas (ONU) que se dedicam ao tratamento dequestões ambientais globais.

Desde então, vários desdobramentos foram mar-cados pela emergência de novos movimentos, even-tos, programas e projetos, tecnologias, ferramentasgerenciais, publicações e negócios que ultrapassamUS$600 bilhões anuais, cristalizando o mercadoambiental.

Parcerias foram estabelecidas envolvendo empre-sas, governos, ONGs e instituições acadêmicas em di-versas partes do planeta. Levantamentos de casos em-presariais de sucesso e análises de desempenho são re-alizados, com premiações e apontamento de ícones na-cionais e internacionais de sustentabilidade. Mas, a ên-fase na sustentabilidade corporativa não foi clara nemsuficientemente integrada ou condicionada à susten-tabilidade ambiental, humana e social.

O desempenho das empresas promotoras do DScontinuou sendo medido pelo resultado econômicoclássico (Bottom Line), sem incorporar componentessociais e ambientais nas decisões de negócios. As práti-cas produtivas também ficaram de fora. Em muitoscasos, transformou-se em instrumento de relações pú-blicas e, em casos mais avançados, em ações de res-ponsabilidade social corporativa. Nestas condições, aintegração de custos e ganhos econômicos, ambientaise sociais, que consiste no Resultado Final Tríplice (TripleBottom Line), ficou longe de ser contabilizada. Além disso,as Organizações não atenderam à expectativa dasONGs, que reivindicam transparência e auditoria ex-terna de conduta e desempenho socioambiental dasCTNs e, por extensão, das empresas de negócios.

A declaração do setor privado de introduzir as prá-

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ticas de DS em suas operações deve ser vista comoreconhecimento de que o rumo precisa ser mudado.Todavia, os críticos mais severos consideram que gran-de parte dos casos organizacionais de sustentabilidadesão exemplos de greenwashing (maquiagem verde), ouseja, representada por falsos apelos ecológicos eambientais inexistentes em produtos e processos; e tam-bém de bluewashing (maquiagem azul), no caso de gran-des CTNs que aderiram ao código de conduta GlobalCompact, criado pela ONU, ou em parcerias com agên-cias das Nações Unidas. Tudo isso resultou da falta deacompanhamento externo ou de divulgação pública deinformações e resultados dos compromissos assumi-dos.

A ausência de articulações entre as declarações e aadoção de práticas de sustentabilidade ou de DS tam-bém acontecem nas organizações de educadores (emvários níveis de escolaridade), dirigentes e técnicos deórgãos públicos, políticos e governantes. O cidadãocomum está incluso nesse processo e, muitas vezes, éestimulado pela repetição de termos na mídia popular.

Em geral, a sociedade acaba praticando o modelofim-de-tubo, em que os resultados do consumo de bense serviços são acumulados para descarte através do lixourbano, via de regra sem coleta seletiva, uma vez que asadministrações municipais adotam a mesma prática dedescarte de resíduos.

Desenvolvimento Sustentável significa mais do queaumentar os índices percentuais no crescimentoeconômico definido pelo Produto Interno Bruto (PIB),ignorando a marca ou Pegada Ecológica (EcologicalFootprint) deixada pelo modelo de crescimento con-vencional, que compromete a capacidade de recupera-ção da superfície bioprodutiva da Terra – a Ecosfera. Éimportante reforçar, por isso, que a prática de DS eSustentabilidade por Organizações e demais setores dasociedade precisa considerar a integração das três di-

mensões de necessidades humanas, o Resultado FinalTríplice (Triple Bottom Line).

Neste contexto, a dimensão econômica é represen-tada por prosperidade e aquisição de bens materiais efinanceiros das partes interessadas (stakeholders), incluí-dos os acionistas (shareholders) e investidores nas empre-sas de negócios. A dimensão social, por seu turno, secaracteriza pelo bem-estar e justiça social (equidade einserção) das pessoas, individualmente ou em comuni-dade, enquanto a dimensão ambiental é expressa pelaconservação e qualidade dos estoques de recursosrenováveis, extensão de vida útil dos não-renováveis esustentação dos serviços naturais, como clima, recupe-ração de fertilidade do solo, garantia da cadeia de nu-trientes entre outros indicadores.

As Organizações – principalmente as produtorasde bens e serviços – terão que pensar o que fazer emrelação à Sustentabilidade planetária e sua própria so-brevivência, enquanto dependente de suprimento derecursos naturais e dos serviços ambientais dependen-tes da Sustentabilidade Ecológica.

Entre 2005 e 2015, a Organização deverá repensare reorientar os processos de produção e produtos, vi-sando à incorporação de elementos causadores de im-pactos socioambientais a valores econômicos relacio-nados à eficiência energética, poupança de água e dematérias-primas; ao reaproveitamento de materiais, naplanta e fora dela; ao uso ou à geração de não-produ-tos (resíduos) tóxicos e perigosos. Também será neces-sário articular todas as partes interessadas e assumir ní-veis elevados de Responsabilidade Socioambiental To-tal (transparência, capacidade de resposta e conformi-dade), entre outras condições, como estão abordadasnesse Guia. Além disso, deverá implementar ferramen-tas de base econômica e socioambiental já disponíveise suficientes para atendimento das necessidades degovernantes, produtores e consumidores.

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Tendências atuais indicam o caminho para a mu-dança na legislação ambiental, passando do modelo decontrole de níveis de emissões (threshold) para limites deuso de recursos. Será preciso internalizar os custos so-ciais e ambientais e outros efeitos sistêmicos, abrangen-do as cadeias de valor e hábitos de consumo que fa-zem parte do processo social. As mudanças poderãocomeçar antes do previsto, através de pressões de mer-cado e de marcos regulatórios (nacionais e internacio-nais).

O desafio será maior no período de 2015 a 2055,ou seja, entre 10 e 50 anos, período no qual será exigi-do que as organizações estejam preparadas para mu-danças mais radicais, a fim de ultrapassar o nível deprocesso, de produto, alcançando o modelo econômi-co e o sistema de produção de bens e serviços comoum todo. Nesse contexto, a disponibilidade de recur-sos naturais, progressivamente exaurida ou ameaçadade extinção, será mais crítica, devido a questões comoo aquecimento do planeta. É preciso considerar que oaquecimento global é decorrente, em grande parte, dopróprio modelo industrial e de consumo atual (businessas usual).

Parte das ferramentas existentes e em desenvolvi-mento deverá ser aplicada no futuro. Outras que aindanem foram pensadas deverão ser criadas, juntamentecom eco-inovações tecnológicas inexistentes, de cará-ter radical, visando produtos também não imaginadosno momento.

Produtos e materiais tóxicos gerados pelas indústri-as desaparecerão ou serão proibidos. Produtos inúteis,supérfluos, ineficazes ou ineficientes terão dificuldadesde aceitação ou não resistirão a avaliações de custo-benefício do próprio portfólio das empresas. E os sis-temas de produção fechados, com balanço próximode zero de material e de energia, serão fatores de com-petitividade elevados para as empresas sustentáveis.

Assim, a concepção, desenho e implementação deuma proposta de sustentabilidade representam iniciati-vas muito importantes para o incremento dessa jorna-da. Tais atitudes, no entanto, não garantem isoladamenteque as Organizações passem a ter meios para perma-necerem competitivas em seus ramos de atividades oude negócios por longo período de tempo. É necessá-rio que as empresas estejam seguras de que terão aces-so a meios e recursos naturais e humano-sociais portempo indeterminado. Portanto, não poderão jogar “ro-leta russa” com os bens comuns.

A sustentabilidade organizacional precisa relacionar-se à sustentabilidade ambiental, humana e social. Justa-mente por isso, as ações aqui incluídas estão ancoradas,orientadas ou alinhadas a inúmeros temas, questões oucondições que envolvem a inseparável tríade - econô-mica, ambiental e social.

O sucesso das ações na Organização dependerá dainiciativa e do engajamento do dirigente ou líder, compoder de decisão de alto nível administrativo e da cons-tituição e operacionalização – com dedicação e intensi-dade – de grupo, equipe de transição ou ecotime, paraexecutar as tarefas, ações ou atividades necessárias.

O caminho para a sustentabilidade poderá ser inici-ado e conduzido de diferentes maneiras. Pode aconte-cer pela aprendizagem organizacional e construção davisão global de sustentabilidade ou através da seqüênciae forma das tarefas ou ações incluídas neste Guia,selecionadas e ajustadas aos interesses e condições daOrganização. A identificação de práticas organizacionaisjá em curso, consideradas prioritárias ou relevantes, e aseleção de ações propostas que resultem no aprimora-mento incremental das operações gerenciais e produti-vas escolhidas, é outro caminho que pode ser adotado.Ou ainda a combinação e simultaneidade das opções.

É difícil estimar quantos anos uma organização –especialmente a empresa com fins lucrativos – irá ou

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poderá durar no segmento ou setor de atuação. Orga-nizações públicas estão sujeitas às transitoriedades polí-tico-administrativas. Empresas privadas passam por dis-tintos ciclos de fusões, aquisições, falência ou fecha-mento por diferentes razões.

Apesar de tudo, é possível afirmar que, atualmente,as condições que mais contribuem para a sobrevivên-cia da empresa de negócios são o desempenho corretodas finanças e da gestão de patrimônio (especialmenteo intangível) e a influência na economia e nos impactossociais e ambientais.8

Nessa perspectiva, cabe salientar que o sistemagestão-processo produtivo-produto-consumo, repeti-damente mencionado neste Guia, deve ser entendidocomo o conjunto de operações gerenciais e produtivasembasado no sistema de produto do-berço-ao-berço,isto é, da fonte de matérias-primas à destinação final ereaproveitamento de não-produtos (resíduos), impac-tos baseados na Avaliação de Ciclo de Vida e fecha-mento de ciclos. Isso deve acontecer tanto à montante(upstream) - para incorporar os métodos extrativos,conservação e recomposição de fontes, inclusive oprocessamento e transporte de matérias-primas e bensintermediários quanto à jusante (downstream) – paraincluir os hábitos e condutas dos consumidores e pro-cessos de descarte e destinação final de embalagens,restos e os próprios produtos ao final da vida útil.

O conceito atual de riqueza é mais amplo do que ode crescimento econômico. A riqueza real da comuni-dade inclui bens ou situações que as pessoas valori-zam, como emprego, educação, acesso à informação,saúde, segurança, liberdade, direito de escolha, qualida-de social e ambiental, participação, lazer e equidade.

A riqueza da pessoa é representada pelo acesso in-dividual aos bens e serviços. Já a riqueza da nação édefinida pela totalidade dos bens e serviços acessíveis àsua população.9

A proposta de DS, portanto, é substituir o cerne domodelo econômico clássico que coloca o homem nocentro do universo, ignorando, deliberadamente ou não,as diferenças entre crescimento e desenvolvimento. Alémdisso, opera no sentido de acumular e valorizar o esto-que de capital material (físico) construído, através doaumento da produção e, em decorrência, do consumode bens e serviços.

O modelo de desempenho prevalente está em con-formidade com a legislação estabelecida, a qual favo-rece a prática de fim-de-tubo (end-of-pipe), caracterizadapor contenção de emissões de não-produtos (resídu-os) e posterior tratamento ou descarte para aterros eincineradores; ações de comando-e-controle, baseadasem padrões sócio-ambientais restritos ao processo eao produto, mas que não fecham os ciclos a montante(upstream), relativo à fonte de recursos, nem a jusante(downstream), correspondente ao consumo e à destinaçãofinal e à ausência de discriminação entre crescimento edesenvolvimento.

Do ponto de vista propositivo, a definição clássicade DS 10 foi incorporada como Princípio 3 da Decla-ração do Rio 92. Os limites sociais, econômicos eambientais para o DS, no entanto, ganharam novas di-mensões, de natureza ideológica, a partir da articulaçãoda questão da sustentabilidade (Princípio 3) da Decla-ração do Rio11 , ao Princípio de Participação (Princípio10), Prevenção e Precaução (Princípio 15), PoluidorPagador (Princípio 16) e Avaliação de Impacto (Princí-pio 17), entre outros.

Implementação de desenvolvimentosustentável

A leitura e a implementação do DS no mundo ul-trapassam ações de ordem técnica, econômica e

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socioambiental. Requerem, acima de tudo, vontadepolítica, instrumentos normativos e iniciativas de go-vernos nos âmbitos global(multilateral) e nacional.

A conduta atual das Organizações, inclusive de muitasque defendem e promovem o DS, é a ausência de açõespara sua própria sustentabilidade. Exemplos podemser analisados a partir de iniciativas que reivindicamsustentabilidade ao setor privado, mas que não fazemsua parte, tais como: agências ambientais, universida-des e instituições de pesquisa, entidades de classe, ban-cos, escolas, clubes e organizações não governamentais– ONGs - tanto sociais, como ambientalistas, entreoutras.

Entre as organizações – principalmente as de negó-cios - que buscam seu lucro na extração e uso de recur-sos naturais – , são pouquíssimas as que tomaram ainiciativa de integrar a sustentabilidade econômica esocioambiental em os seus procedimentos operacionaisregulares.

Dentre cinco mil empresas, que representam 95%do mercado de capitalização em economias desenvol-vidas e 80% de mercados emergees, 996 demonstraramseu interesse em DS, em respostas a consultas realiza-das a 450 delas e análises de 546 anúncios publicitários.Cerca de 50% publicam, de alguma forma, informa-ções sociais e ambientais, mas apenas uma em cada trêspublica informações ambientais e sociais que cobremtodas as operações.12

Tomando como base o conceito original e as inter-pretações de DS e sustentabilidade em função das ca-racterísticas de atividades e negócios das organizações,nota-se que muitas ações de caráter social e ambiental,que abrangem âmbito interno ou interno/externo, tor-naram-se publicamente reconhecidas como de respon-sabilidade social organizacional/corporativa, com enor-me alcance social mas, em grande parte, não estão ali-nhadas ao eixo de negócios, nem estão articuladas aos

procedimentos operacionais regulares. Outras iniciati-vas atendem ao desempenho de ecoeficiência e repre-sentam avanços notáveis do ponto de vista ambiental(algumas vezes com reflexos sociais), mas não incor-poram, nem contabilizam, aspectos de justiça social,como inserção e eqüidade.

Inúmeras atividades incorporam, de fato, o concei-to de DS, porém apenas alguns itens das operações, oque foi suficiente para que o “caso Organizacional” setornasse ícone de referência internacional.

Os comentários reforçam, portanto, o entendimentode que a inclusão de sustentabilidade nas atividades ounos negócios das organizações está em sua infância eque não é fácil, nem pode ser considerada como op-ção momentânea e temporária.

Trata-se na realidade, de um processo contínuo, delongo prazo, que implica em mudanças profundas eabrangentes na cultura e nos modelos de governança,de gestão organizacional, de processos e produtos; fe-chamento de ciclos desde a exploração das fontes demateriais, até o descarte e destinação de não-produtos,ou resíduos, durante o processo produtivo; caracterís-ticas do produto e nos impactos do ciclo de vida, in-clusive no tipo de uso ou de consumo do bem ouserviço – por todos os integrantes da cadeia de valor –até o descarte e destinação pós-uso ou ao final da vidaútil.

Os casos mais citados de sustentabilidade empresa-rial são de grandes corporações transnacionais. Mesmoassim, não faltam críticas quanto à atuação parcial, nãonecessariamente de Resultado Final Tríplice (Triple BottomLine); maquiagem verde (greenwashing) e duplo padrãode comportamento, principalmente nos casos em quea conduta declarada não é cumprida por filiais, subsi-diárias ou empresas associadas que operam em dife-rentes países.

No Brasil, por exemplo, o Ministério Público ini-

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ciou ação de responsabilidade civil por infração aoCódigo Ambiental Nacional, contra empresas íconesinternacionais de alegada sustentabilidade, cujos dirigen-tes máximos tornaram-se formadores de opinião emDS corporativo.

O caminho para a sustentabilidade

Antes de iniciar a rota para a sustentabilidade, é in-dispensável que os gestores organizacionais reflitamsobre o esforço coletivo a ser exigido, para que nãoinicie um processo com o objetivo exclusivo de pro-moção de imagem, ou de uso como instrumento derelações públicas, fracassando no objetivo primordial.

Uma vez decidida a empreitada, é preciso estabele-cer o entendimento do conceito original de DS e desustentabilidade e sua aplicação à realidade e ao dia-a-dia da organização.

Para as empresas com fins lucrativos “susten-tabilidade” significa a qualidade do modelo de gestãopara manter a presença competitiva da organização porlongo prazo, com garantia de acesso a bens e serviços,através da preservação, conservação e reposição derecursos e serviços proporcionados pelo Capital Eco-nômico e Financeiro, Capital Natural, Capital Humanoe Capital Social (ver Glossário).

Numa Organização sem fins lucrativos, o conceitode sustentabilidade é o mesmo, partindo-se do ajustede linguagem em função dos instrumentos de políticaorganizacional, com destaque para missão, visão, prin-cípios, valores e objetivos organizacionais.

As principais causas da não-aderência das organiza-ções às práticas de sustentabilidade estão relacionadas aresistências determinadas por modelos de governançahierárquicos, patriarcais e monolíticos e à culturaprevalente, uma vez que ambas dificultam ou, no ex-tremo, impedem as inovações necessárias para o DS.

Além disso, ainda não foram identificados vários indi-cadores econômicos mensuráveis que demonstrassemcom clareza os ganhos financeiros para os acionistasque, hoje, são classificados como intangíveis ou menostangíveis.

Ironicamente, as maiores dificuldades para a incor-poração do paradigma de sustentabilidade ocorrem nasorganizações públicas, inclusive nas agências de regula-mentação e controle ambientais. Nestas, há várias difi-culdades a serem superadas. A transitoriedade, instabi-lidade e descontinuidade político-administrativa nosdiversos níveis diretivos, gerenciais e de liderança, acom-panhadas da falta de modelo coerente de governançaorganizacional, impedem o estabelecimento, com cla-reza, de missão, visão, princípios, valores, objetivos, pla-nejamento estratégico e outros elementos de políticaorganizacional. O modelo de comando e controle defim-de-tubo (inclusive em agências que promovemprevenção de poluição, produção mais limpa, ecoefi-ciência, avaliação de ciclo-de-vida, etc) e a deficiênciado sistema interno de informação e de comunicação,falta de aceitação de papéis, lideranças, coesão, identifi-cação e engajamento das partes interessadas são anta-gônicas à sustentabilidade.

Os conceitos e entendimentos adotados levam emconta os limites naturais determinados por condiçõesbiológicas, físicas, químicas e geológicas para atendi-mento das necessidades do presente e das geraçõesfuturas.

Independente do tipo de organização, a susten-tabilidade econômica e socioambiental integrada de-pende de iniciativas básicas voltadas para a reunião degestão, produção e consumo de bens e serviços, comvisão de avaliação de ciclo de vida; visão de sistema deproduto, do tipo do-berço-à-cova ou, idealmente, do-berço-ao-berço; foco na cadeia de valor (algumas ve-zes denominada cadeia de negócios, cadeia de supri-

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mento ou de logística); envolvimento e atendimento àsexpectativas dos interessados – também chamados deagentes, atores ou partes que afetam ou são afetadospelo sistema (os stakeholders). No caso das organizaçõescom fins lucrativos, deverão ser incluídos os acionistase investidores (shareholders).

Assim, a sustentabilidade implica na adoção de prá-ticas adequadas, do ponto de vista econômico esocioambiental, envolvendo: extração e uso de materi-ais (inclusive água e energia); processo de produção,distribuição e comercialização de bens e serviços; des-carte, disposição e destinação ambiental de não-pro-dutos (resíduos), embalagens, restos pós-uso ou pro-dutos ao final da vida útil e que levem em conta aobrigatoriedade de impedir a ruína dos recursos natu-rais, sociais e humanos; estender a disponibilidade dosrecursos não-renováveis (abióticos); conservar, garan-tir a capacidade de bio-reprodução e a biodiversidadedos recursos renováveis (bióticos); prevenir ou – nafalta temporária de recursos ou meios científicos,tecnológicos e econômicos para isso – reduzir aomáximo a ineficiência econômica e socioambiental daspráticas gerenciais e de produção (ecoeficiência); osdanos ou impactos maléficos para a qualidade de vida,inclusão e justiça social, a qualidade dos ecossistemas edos meios ar, água e solo.

A jornada para a sustentabilidade organizacional écomplexa, trabalhosa e árdua, pelo fato de mexer coma cultura institucionalizada, em geral monolítica e acos-tumada com o fim-de-tubo, as externalidades e o aces-so irrestrito aos recursos naturais. Mas, é caminho semvolta no qual o preço da desistência será a incerteza dapermanência da Organização no mercado.

NOTAS

1 Ver Furtado, J.S. 2003. Gestão com ResponsabilidadeSocioambiental.Ferramentas e tecnologias socioambientais.

pp. Texto de livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado2 Maria da Graça Krieger & col. 1998. Dicionário de direitoambiental. Ed. Universidade. UFRGS, 511 pp.3 http://www.oecd.org/EN/glossary/0,,EN-glossary-21-nodirectorate-no-no-311-21,00.html4 www.wbcsd.org 2002. The business case for sustainabledevelopment.5 Business strategies for sustainable development. 19 pp.www.bsdglobal.com/pdf/business_strategy.pdfAcessado em jan 03.6 Murcott, Susan. 1997. Sustainability principles, ecosystemprinciples. Appendix A, B, C, D. www.sustainableliving.org7 Síntese feita a partir da leitura de Holliday, Jr C. O. & col. 2002.Walking the talk. 288 pp. Greenleaf Publ.8 Para revisão parcial, ver Furtado, J.S. 2003. Gestão com Res-ponsabilidade Socioambiental. Desenvolvimento Sustentá-vel e comunidade. 46 pp. Texto de livre acesso emwww.teclim.ufba.br/jsfurtado9 Schmidt-Bleek, F. & col. 1999. A report by the The Factor 10Club.Chapter I.Factor 10:making sustainability accoun-table. Putting resource productivity into praxis. 67 pp.www.factor10-institute.org10 http://www.ceres.ca.gov/tcsf/sustainable_development.html -relatório apresentado à ONU, em 1987 pela The World Commissionon Environment and Development (The Brundtland Commission),centrado em política global e no debate “crescimento versus ambi-ente”11 Antonio Fernando Pinheiro Pedro. 2001. Aspectos ideológicosdo meio ambiente. Ver. Cult. R. IMAE, S. Paulo ano 2, nr. 4, pp.43-46.http ://www.unep.org/Documents/Defaul t .asp?DocumentID=78&ArticleID=1163 Rio Declaration12 Holliday, Jr. C. O. & col. 2002. Walking the talk. The businesscase for Sustainable Development. 288 pp. Greenleaf Publ.

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1. PERSPECTIVAS PARA A INCLUSÃO DEDS NAS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS

03 ORIENTAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL(DS)AÇÕES, CONCEITOS E ATITUDES PARA DIRECIONAMENTO DOS ESFORÇOS

Iniciativas para a adoção de práticas deSustentabilidade

A inclusão de DS nas organizações pressupõe a iden-tificação e a análise das características organizacionais eo indispensável aporte de recursos e meios que afeta-rão o modelo de gestão e, certamente, a cultura insti-tucional e o comportamento de dirigentes e colabora-dores.

O primeiro passo é a Decisão Organizacional, noplano dos dirigentes máximos que deverão reconhecera necessidade da implementação de novas práticas.Dependerá, também, da identificação e do empo-deramento de lideranças - definido como a autoriza-ção, atribuição ou concessão de poder para que as pes-soas possam se organizar, manifestar e participar dedecisões. Idealmente, recomenda-se a designação demembros do quadro interno, para conduzirem as ati-vidades, na condição de Ecotime de caráter perma-nente ou provisório, com a função principal de relacio-nar-se a outros dirigentes, lideranças ou gerências, paratransmitir a decisão da alta administração, e conduzir odesenho das iniciativas que resultarão na formalizaçãoda Proposta de Sustentabilidade Organizacional.

Em continuidade é preciso proceder a análise dedocumentos e práticas gerais relevantes, de acordo coma política organizacional vigente. Há de se considerar aMissão – como razão de ser ou intenção original dofundador da organização, de acordo com o tipo de

atividade praticada e a Visão, entendida como a moti-vação que mantém a Organização no caminho do fu-turo e expressa o que ela é, e em que deverá tornar-se;sob quais princípios ela se orienta, que valores e com-promissos assume.

Nesta etapa, é preciso identificar o estilo de gover-nança, a partir da análise do processo de tomada dedecisões e comando de operações gerais, e o modelode gestão, que poderá ser do topo-para-base, da base-para-o-topo, ou ainda processos combinados.

É importante verificar se o modelo de gestão éhierárquico, patriarcal, com as decisões tomadas dotopo-para-a-base, e ações na forma de comando econtrole. Nesses casos, são comuns argumentos como:“Este é o modo como as coisas são feitas aqui”, ou,“É assim que as coisas têm sido feitas e estão dandocerto”. Ou se o modelo é sistêmico, com decisões trans-versais e descendentes, baseado em um processoadaptativo, com responsabilidade em cascata, inovativoe empreendedor. “Você também é responsável porações estratégicas e aprimoramento contínuo para osucesso”.

Os argumentos, agora, serão distintos:“Suas idéiaspara inovação são importantes, mesmo que antagôni-cas ou contraditórias às prevalentes”. “Queremos quevocê ultrapasse sujas próprias metas”; “Seja umdirecionador além-da-conformidade, capaz de supe-rar o sistema atual”.

Nesse contexto, é fundamental a análise de condutade executivos da alta administração, dos executivosseniores, dos gerentes médios, dos líderes, dos forma-dores de opinião. Isso requer a o levantamento do en-tendimento, das formas de percepção, da crença e da

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SUGESTÃO DE INSTRUMENTOS PARA LEVANTAMENTO, ANÁLISE E REGISTRO DE OPINIÕES DE

COLABORADORES DA ORGANIZAÇÃO A RESPEITO DO MODELO DE GESTÃO PRATICADO

prática ou abertura para a proposta de inclusão de DSnos procedimentos operacionais regulares da Organi-zação. Em algumas organizações predomina a condu-ta do tipo “faça como eu faço” (walking the talk), en-quanto em outras é de “faça o que eu digo, mas não oque eu faço”.

A avaliação de conduta e práticas relevantes, segun-do a Política Organizacional, abrange instrumentos ouferramentas administrativas usadas, os meios e os pro-cedimentos para desenho, implementação e valoriza-ção do sistema de educação e aprendizagem organi-zacional, enfocados na gestão do conhecimento, nodirecionamento de mudanças e nas formas de desen-volvimento e empoderamento de lideranças, deempreendedores e deagentes de inovações, es-pecialmente quando aOrganização está orien-tada para iniciativas radi-cais, além-da-conformi-dade.

Para ampliar o co-nhecimento a respeitodo tipo de conduta oude governança é reco-mendável o levanta-mento de percepção ouopinião de outros inte-ressados internos e –idealmente – de outrosexternos, importantespara a Organização. Olevantamento irá gerarmaior entendimento oucompreensão dos cola-boradores a respeito deprocessos de decisão su-

perior, para implementação de proposta de susten-tabilidade organizacional. Proporcionará, também, co-nhecimento sobre a ocorrência efetiva ou das possibi-lidades de aceitação de condições internas para a inser-ção de princípios e conceitos de DS nos procedimen-tos organizacionais regulares, com base em declaraçõesde política organizacional e no comportamento de di-rigentes e demais colaboradores do quadro orga-nizacional. Produzirá, ainda, o entendimento, a percep-ção, a prática ou a abertura do quadro de colaborado-res para a inclusão de DS nos procedimentos ope-racionais regulares da Organização.

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INSTRUMENTO PARA ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE ACEITAÇÃO POR

DIRIGENTES E DEMAIS COLABORADORES DAS SITUAÇÕES QUE OCORREREM NA ORGANIZAÇÃO

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Por último, recomenda-se a produção de docu-mento avaliativo sobre o que representa a susten-tabilidade ou DS para a Organização, e as vantagens edesvantagens percebidas.

Opções para a inserção de práticas desustentabilidade nas operações da

Organização

O exame de cenários futuros é instrumentoessencial, para a incorporação de práticas desustentabilidade nas operações da Organização,desde que sejam englobados os aspectos e im-pactos econômicos, ambientais e sociais. Para tan-to, devem ser considerados: crescimento popu-lacional; afluência econômica; relações entre PIB- Produto Interno Bruto e IGP - Índice Genuíno deProgresso (determinado pela Pegada Ecológica); a De-manda Total de Material por Unidade de ServiçoAmbiental; Análise de Fluxo de Material; tendências naLegislação de 2ª geração, que incluem Prevenção e Pre-caução, Padrões de Excelência de Desempenho e Con-sumo de Recursos Ambientais em substituição a Limi-tes de Emissões (thresholds), Comando e Controle e Fim-de-tubo; globalização versus o controle de desempe-nho de CTNs (Corporações Transnacionais); marcosde referência, como crescimento continuado versusEconomia de Estado Estável; previsões e projeçõesreferentes a água, energia, alimento, clima, camada deozônio, pobreza, migrações, doenças infecto-contagi-osas, terrorismo, tecnologias de autodependência,tecnologias desorganizadoras do tecido social, entreoutras.

Uma vez tomada a decisão superior para o caminhoda sustentabilidade, a estratégia para iniciar a inserçãopoderá seguir dois caminhos ou opções: aprimorarpráticas gerenciais e produtivas em curso ou adotadas

e iniciar ações gerais, na Organização, como parte deprocesso de aprendizagem global. Cada opção irá re-querer tempos distintos. A primeira poderá demandarcerca de 10 anos (até 2015), enquanto a segunda – ca-racterizada pela Sustentabilidade Organizacional – po-derá ser alcançada entre 2025 e 2050.

A escolha da opção para inserir as práticas de DSdeve levar em consideração as características desejáveispara Organização, quanto aos direcionadores e os ele-mentos para a sustentabilidade. Uma vez reconhecidaa importância e necessidade de preparar a Organiza-ção, será o momento para a escolha de opções: inser-ção de ações incrementais em práticas correntes ouaprendizagem organizacional global.

Opções para inserção de açõesincrementais em práticas correntes

Para inserir ações incrementais em práticas corren-tes é necessário revisar conceitos e estabelecer limitesmínimos iniciais, observando as sugestões seguintes:

Crescimento Sustentável, Sustentabilidade e Desen-volvimento Sustentável.

Tendências: pressões de diferentes partes interessa-das; legislação e regulamentação; barreiras econômicase socioambientais; concorrência; novos paradigmas demercado; questões globais, regionais, nacionais, estaduais

SustentabilidadeOrganizacional

3. Opçõespara início

2. Conceitos elimites básicos

1. Decisão eliderança

3a. Incrementode práticas em

curso

3b. Ação globalpara

aprendizagemorganizacional

2004

2015

2025

2050

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e municipais; novos arranjos físicos – parcerias;investimentos convencionais e fundos éticos.

Sistema de ProdutoFator 10PIP - Política Integrada de ProdutoP2 - P+LEcodesignAvaliação do Ciclo de VidaEcoeficiênciaIndicadoresSGAContabilização TotalResultado Final TrípliceTambém é importante identificar e selecionar prátcas

correntes relevantes para aprimoramento incremental.Daí ser necessário determinar o estágio atual das prá-ticas, do ponto de vista da sustentabilidade, levandoem conta:

identificação do estágio em que cada ação ou ati-vidade se encontra, de acordo com os critérios e reco-mendações anteriores;

análise e avaliação dos indicadores métricos econô-micos, sociais e ambientais usados para identificar os im-pactos positivos (ativos) e negativos (passivos) da ação;

análise e avaliação do modelo de desempenhoadotado para a ação, em relação à Política da Organi-zação e à Cadeia de Valor na qual as atividades ou ne-gócios da Organização estão inseridos;

análise das relações entre as ações e os melhoresresultados obtidos por outras iniciativas na própria or-ganização ou em Organizações competitivas, no âmbi-to local, nacional e internacional (conforme o caso);

diagnóstico das competências atuais e definiçãodas competências necessárias. Depois, a elaboração deum plano para atendê-las.

O passo seguinte será escolher os tipos de práticasque poderão ser abordadas para efeito de aperfeiçoa-

mento incremental, tais como as recomendadas. Asoperações gerenciais envolvendo política e governança, pro-cessos de conformidade legal, processos gerenciais,formulação de estratégia, planejamento, orçamento econtrole, gerenciamento de desempenho organiza-cional, suprimento de materiais e serviços/logística,gestão e desenvolvimento de RH, soluções de TI, cap-tação e administração de recursos financeiros, enge-nharia e automação, comunicação com o segmento deatividade/mercado e stake-holders, desenvolvimento denovos produtos, marketing e vendas, expedição, en-trega e pós-venda.

As operações de produção englobam plantas ou gran-des instalações produtivas, sítios ou unidades de pro-dução e linhas ou tipos de produção; e (c) produtospropriamente ditos, como bens ou como serviços. Énecessário também selecionar ferramentas aplicáveis aoaprimoramento incremental de operações/atividades/práticas correntes selecionadas, como as seguintes:

Ações de fim-de-tubo que precisam migrar para P+Le Ecoeficiência.

Ações de P2 – Prevenção de Poluição – focadas noprocesso – que devem alcançar o produto e os impac-tos econômicos e socioambientais (de acordo com oenfoque de Avaliação do Ciclo-de-Vida) e posteriormigração para P+L e Ecoeficiência.

Ações de ecoeficiência, medidas através da relaçãoentre produção/construção de valor e efeito ou influ-ência ambiental, reconhecendo que os fatores sociais einstitucionais não são incluídos no conceito original deecoeficiência proposto pelo WBCSD - World BusinessCouncil for Sustainable Development.

Ações de P+L que atendem ao conceito de produ-ção e produtos mais limpos, com prevenção ou mini-mização da geração de não-produtos (resíduos) tóxi-cos e perigosos, visão holística ou por inteiro, avaliaçãodo ciclo-de vida, poupança de água e recursos, eficiên-

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cia energética, ecodesign para concepção e implemen-tação de processos e produtos, fechamento de ciclos amontante (upstream) e a jusante (downstream), através dereuso, reciclagem, remanufatura e outras estratégias deaproveitamento de não-produtos.

Evolução para ações de PL que requerem as condi-ções mencionadas para P+L, porém, que estabelecem:o princípio da precaução para substâncias que podemcausar danos ou riscos de danos permanentes ou delonga duração; a prevenção, mas, não a minimizaçãode não-produtos tóxicos e perigosos, orientada ou ca-minhando para o balanço de material zero; direito pú-blico de acesso à informação sobre segurança e riscode processo e produto, em todo o ciclo-de-vida; con-trole democrático da tecnologia, quanto às questõesambientais, sociais e institucionais; e responsabilidadesocioambiental total com verificação através de audi-toria externa.

É preciso estabelecer o plano de trabalho, para mu-dança de patamar em cada atividade selecionada, apartir do diagnóstico e tendo como horizonte oarcabouço e os limites básicos de sustentabilidade es-tabelecidos para a Organização, levando em conside-ração: estabelecimento de meta de aprimoramentodesejada; revisão e, conforme apropriado, definiçãodo novo arcabouço de indicadores métricos; eleiçãode ferramentas econômicas e socioambientais apro-priadas para a evolução de desempenho e definiçãode cronograma de mudanças.

As operações gerenciais e de produção devem sercomplementadas por:

implementação de projetos de educação corporativa,focado em competências críticas;

gerenciamento de impactos que afetam (a) as ativi-dades ou negócios, (b) os interessados, (c) os objetivose metas temporais estabelecidos, (d) as prioridades;

gestão da documentação interna, interagindo com

interessados ou parceiros relevantes ou críticos;elementos comparativos (benchmarking);definição de temas e alvos métricos prioritários,

como: água e energia, matérias-primas e outrosinsumos, investimentos, recursos humanos, processose produtos (bens ou serviços);

gestão dos principais riscos envolvendo instalações,processo, produto, negócio, mercado, legislação;

manejo adequado dos aspectos relacionados à cria-ção de valor e oportunidades para redução de custosou otimização de poupança/ganhos.

Recomenda-se também:rever o arcabouço de indicadores métricos e o sis-

tema de informação que deverão ser adotados;determinar as operações mais relevantes, para cada

ação ou prática selecionada;eleger as ferramentas de base econômica e socio-

ambientais, entre as já existentes, que poderão ser usa-das em cada operação relevante, além de estabelecer asprioridades.

O plano incremental deverá definir a natureza ouresultado da prática e as atividades ou negócios daOrganização; dominar as questões relativas à comple-xidade e viabilidade de sucesso em escala de tempoapropriada com as metas da Organização; definir otipo de aprendizagem necessária e que deverá ser con-solidada; identificar e disponibilizar o suporte internoe externo ou os recursos (naturais, humanos, sociais eeconômicos) necessários; programar a inserção de me-lhorias incrementais nas práticas selecionadas, abrangen-do, por exemplo:

Processo de produçãoProdutosSuprimentos e LogísticaGestão de RHGestão FinanceiraMarketing - Vendas

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Tecnologia da InformaçãoAutomaçãoEngenhariaRelações com o mercadoDesenvolvimento de produtosBalanço de Materiais

O sucesso do plano demanda recursos na perspec-tiva de perfis multiprofissionais e transfuncionais e pro-grama de estímulo e incentivos para participação ativae efetiva, para cumprimento de cronograma.

É indispensável configurar os mecanismos e instru-mentos de acompanhamento, avaliação e comunica-ção de resultados, em alinhamento com a proposta glo-bal de inserção de práticas de Sustentabilidade nas ope-rações organizacionais. (Ver capítulo referente à Medi-ção e Avaliação de Desempenho Sustentável).

Aprendizagem organizacional global:integração gestão – processo produtivo –produto – consumo descarte e destinação

ambiental

Trata-se de opção complexa, que poderá deman-dar várias décadas para que as organizações estejampreparadas para atenderem às necessidades e exigênci-as para o Desenvolvimento Sustentável. Além de in-corporar as questões incluídas na opção para inserçãode ações incrementais para práticas gerenciais e produ-tivas correntes, a Organização terá que se preparar parao futuro, com a visão de 25 a 50 anos.

Para isso, poderá utilizar as sugestões agrupadas nosgrandes blocos de tarefa que compõem este Guia:

Construção de Conceitos, Visão e Princípios de Sus-tentabilidade.

Macro-estratégia para definição de macro-objetivos,

construção de indicadores e definição do sistema decontabilização total.

Planejamento estratégico de base tríplice.Responsabilidade Socioambiental Total e engaja-

mento das partes interessadas.Medição e avaliação de desempenho final tríplice

(Triple Bottom Line).Relatório de Sustentabilidade, Desenvolvimento Sus-

tentável ou de Resultado Final Tríplice.Manutenção do sistema.Se preferir, poderão ser usados os modelos de re-

comendações de autores nos quais as propostas do Guiaforam inspiradas, especialmente os seguintes:

Sigma Guidelines - Liderança e visão; planejamento;entrega; monitoramento, medição, auditoria e realimen-tação.

GEMI Planner – Triagem; auto-avaliação; estabele-cimento de alvos; análise de descontinuidade; planeja-mento de ações; geração de relatórios; personalizaçãoe manutenção.

Doppelt – Leading changes toward sustainability - mu-dança de cultura; reorganização do sistema; mudançade objetivos, criação de visão e princípios de sustenta-bilidade; mudança do fluxo de informações; correçãode ciclos do sistema e encorajamento da aprendiza-gem e inovação; ajuste de parâmetros do sistema e ali-nhamento de estruturas para a sustentabilidade; alinha-mento da governança; convergência (fechamento) deidéias sobre o processo de mudança.

Grayson & Hodgers - Compromisso social e ges-tão empresarial - identificação de gatilhos; preparaçãode argumentos sólidos; avaliação da abrangência dasquestões; comprometimento para com a ação; inte-gração de estratégias; envolvimento dos interessados;avaliação e relatórios.

Holliday & col. – Walking the talk – the business case forsustainable development - Fundações – O caso de negócio

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para o desenvolvimento sustentável; dez blocos cons-trutores; o mercado; o arcabouço correto; ecoeficiência;responsabilidade social corporativa; aprendizagem paramudança; do diálogo à parceria; informando e pro-vendo a escolha para o consumidor; inovação; refletin-do o valor da terra; fazendo o mercado trabalhar paratodos; outros procedimentos.

É importante enfatizar que a aprendizagem globalpara a sustentabilidade ultrapassa os limites das unida-des organizacionais envolvidas com ou com atribui-ções para cuidar de questões ambientais, mesmo nasorganizações que hoje são consideradas mais avança-das e que criaram unidades ligadas diretamente ao diri-gente máximo da Organização para cuidarem das ques-tões ambientais.

Tais organizações terão que migrar, rapidamente,para a criação de unidade dedicada ao Desenvolvimen-to Sustentável e ligada ao alto poder decisório, umavez que a Sustentabilidade será o principal direcionadordo futuro dos negócios e atividades de organizaçõescom ou sem fins lucrativos.

O modelo de governança não poderá ser patriar-cal, mas sistêmico, transversal, inter e transdepartamental,para o engajamento de todas as funções administrati-vas e produtivas de bens e serviços. Sem isso, o sucessonão estará garantido ou, para colocar de forma maisobjetiva, o fracasso será inevitável. Por isso, é cabívelindagar por quanto tempo a Organização conseguirásobreviver, se as mudanças não forem feitas.

Além das mudanças organizacional, cultural e, por-tanto, de valores, a Organização terá que adotar para-digmas, ferramentas ou instrumentos operacionais maisavançados, dentre os quais se destacam: Resultado Fi-nal Tríplice, Produção Limpa, Passos Naturais, Eco-inovação, Capacidade de carga, Valoração de recursose de serviços ambientais, Demanda Material Total -Intensidade Material por Unidade de Serviço, Fardo

Ecológico, Emissão Zero, Pegada Ecológica.No futuro – hoje incerto – serão necessárias atitu-

des hoje consideradas esdrúxulas, facilmente ridiculari-zadas pela engenharia, como “balanço material zero”,que, talvez, venha a ser surpreendida pela nanotec-nologia ou novas formas de pensar e agir sequer ima-ginadas.

Construção de conceitos, temas,paradigmas e direcionadores para práticas

de Sustentabilidade

É fundamental consolidar o entendimento do con-ceito de DS no âmbito da Organização, com o propó-sito de harmonizar a linguagem, integrando os concei-tos de sustentabilidade organizacional aos de susten-tabilidade ambiental, social e econômica. E também,relacionar o entendimento e o foco para aplicação dosconceitos nas operações e procedimentos administrati-vos e produtivos regulares da Organização.

A dimensão do desafio, representado pela necessi-dade de entendimento e aplicação correta ou adequa-da dos conceitos e práticas de sustentabilidade, estárepresentada pelos resultados do levantamento feitopor Pricewaterhouse (Coopers, em 2002, em grandescorporações. ( Ver tabela ao lado)

É oportuno reforçar a importância do leitor estarrevendo, com freqüência, as definições e os conceitosapresentados nos diversos capítulos do Guia – especi-almente os iniciais e o glossário – uma vez que as su-gestões oferecidas estão alinhadas a dois paradigmasfundamentais. Um representado pelo pensamento con-temporâneo que entende a interdependência de Susten-tabilidade e integração das dimensões econômicas,ambientais e sociais. O outro correspondente à respon-sabilidade socioambiental, entendida como a obriga-ção ou o dever de responder as todas as partes que

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afetam ou são afetadas pelas atividades das organiza-ções.

Quando se tratar de empresa de negócios, é conve-niente analisar e avaliar a elasticidade ou capacidade derecuperação da Organização, diante de pressões ounovos paradigmas.

Esse atributo representa elemento indispensável paraa sobrevivência da empresa no mercado, cuja efetividadepode ser verificada através de diferentes elementos:

sensibilidade e adaptabilidade ao ambiente deatividades ou negócios, por meio de flexibilidade paraenfrentar situações novas ou desfavoráveis e da exis-tência ou não de coesão e senso de identidade, através

de forças unificadoras ou inter-relacionamentos;tolerância para a diversidade de múltiplas for-

mas de atuação e descentralização e a eficiência no de-sempenho, com consumo modesto de recursos e usoconservador de capital.

Confira as características dos sistemas elásticos a se-guir, conforme leitura livre da tabela de Fiskel, apresen-tada na página seguinte.

Outro elemento importante, no universo de con-ceitos da Sustentabilidade, resultam da análise dosdeterminantes de valores de significação real ou poten-cial para as partes interessadas nas atividades da Orga-nização. Neste sentido, a identificação e avaliação dos

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elementos tangíveis constituem prática regular das Or-ganizações, cabendo enfatizar a importância de ques-tões ou elementos organizacionais como as operaçõescomerciais, o atendimento a usuários, o custo de ges-tão e os custos de investimento/capital.

A abordagem aos valores intangíveis tem significa-ção especial para a prática de Sustentabilidade, uma vezque tais elementos são dificilmente incluídos nos balan-ços econômico-financeiros, mas representam ou sãoreconhecidos como indicadores de Organizações desucesso.

Encontram-se, nessa condição, os indicadores in-tangíveis já conhecidos por analistas, tais como: a habi-lidade em gestão, reputação, posicionamento estratégi-co, patentes e direitos autorais, indicadores socioam-bientais de relevância crescente.Devem ser destacados, outros não mensuráveis ou dedifícil mensuração, porém percebidos por inúmeras par-

tes interessadas, como:entendimento dos inte-

ressados a respeito dos ins-trumentos de Política Or-ganizacional;

capacidade de gestão,direcionamento;

práticas operacionais;monitoramento, avaliaçãode desempenho e re-ori-entação ou correção derumos;

auditorias, relatóriospúblicos de desempenhotríplice econômico-social-ambiental;

efeitos de ações civis;gestão de não-produtos

(resíduos);passivos e ativos socioambientais;indicadores tríplices métricos, entre outros aspectos

de governança.Outros conceitos relativos aos intangíveis compre-

endem:o compromisso explícito de responder por mudan-

ças ou impactos socioambientais e demonstração efe-tiva de ações neste sentido;

demonstração efetiva de custos socioambientais etendências, tais como metas temporais qualificadas equantificadas, relações ou relevância entre as tecnologiasempregadas;

a gestão global de custos e a demonstração de ten-dências, inclusive as relações com as metas, alvos espe-cíficos mensuráveis e tecnologias operacionais (mana-gement) praticadas;

o provimento de meios e recursos para responsabi-lidade civil e penalidades;

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o valor de marca e confiança, satisfação dos interes-sados;

a capacidade para eco-inovação, entendida como de-senvolvimento de novos bens, serviços ou processosque agregam valor, previnem ou reduzem, significati-vamente, os impactos ambientais.

Novos elementos para intangíveis abrangem:capacidade para eco-inovação, análise de ciclo-de-

vida, ecodesign, fardo ecológico, intensidade materialpor unidade de serviço, balanço de massa, revalorizaçãode materiais não-ecoeficientes, extensão da função oudo serviço e outras ferramentas;

conhecimento e a capacidade de aprendizagem, agestão integrada da sustentabilidade atual e futura;

responsabilidade que incorpora a ética, a trans-parência, a respondência e a conformidade.

A capacidade de resposta, prontidão e preparaçãopara acidentes e a identificação de riscos servem paradiferenciar, significativamente, as Organizações maisavançadas. Por isso, deve-se reconhecer o valor deempresas nas quais os procedimentos para detecçãode riscos dispõem de sistema de “antenas”; de meca-nismos de percepção e determinação de alvos efetivosou potenciais; a efetividade das medidas de precaução,prevenção, correção e mitigação; os critérios para op-ções, os registros e avaliações de impactos, e a comuni-cação aos interessados.

Ainda no âmbito dos riscos:é bom entender valores intangíveis que corres-

pondem a riscos cumulativos – como proteção de saúdehumana e qualidade ambiental;

a contabilização sustentável e socioambiental;gestão e contabilização de externalidades e outros

aspectos relacionados a processos e produtos, de acordocom o foco, do berço à cova ou, idealmente, do ber-ço-ao-berço;

periculosidade e a operacionalidade – esta última en-

tendida como desvios de funções previstas no designoriginal;

falhas na confiabilidade e desempenho de engenha-ria;

falhas de efeito no funcionamento de processo e pro-duto (bens e serviços) e no ecodesign de produto.

Finalmente, constituem, também, elementos para va-lores intangíveis o atendimento às partes interessadas ea percepção pública correspondente; o atendimento àsexpectativas de usuários, clientes e consumidores; e avisão de novas atividades ou de mercado, em funçãodo desempenho integrado econômico e socioambiental.

Uma vez identificados, selecionados, analisados eentendidos os valores tangíveis e intangíveis, é precisocomparar o significado dos dados obtidos com os fun-damentos econômicos e financeiros adotados por ana-listas de mercado, que afetam ou são afetados pelasatividades ou negócios da Organização.

Para isso, as comparações poderão abranger:rentabilidade e custo de capital; custos operacionais

clássicos;custos totais (full-cost pricing) capazes de incluir exter-

nalidades e deficiência de informação;efeitos positivos e negativos para o valor da Organi-

zação, segundo interessados relevantes;Valor Econômico Agregado (EVA Economic Value

Added), como indicador retroativo para avaliar a lucra-tividade, eficiência do capital, custo do capital e do cres-cimento;

integridade, transparência, credibilidade e respon-sabilidade socioambiental total em relação ao conjuntodos interessados, como ativos para desempenho futu-ro, em face de confiança do mercado, investimentossustentáveis de longo prazo e especulações;

valor estratégico organizacional, tais como ética,confiabilidade, gestão de riscos, segurança, P&D, visãode futuro (cenários), governança e responsabilidade

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organizacional, focada em Resultado Final Tríplice delongo prazo;

métodos para apropriação e contabilização total eco-nômico-financeira e socioambiental;

capacidade de gestão de custos e de operaçõesgerenciais;

gestão de projetos de curto, médio e longo prazos,e o uso de instrumentos econômicos, sociais e ambientaisde mercado.

A análise das forças de mercado representa outroelemento fundamental para estabelecimento de relaçõesentre elementos de valor econômico e Sustentabilidade.Neste caso, poderão ser analisados aspectos como usoeficiente de recursos, soluções custo-efetivas, liberdadede escolha, competitividade, criatividade e inovação, fle-xibilidade, informação e comunicação com transpa-rência e criação de valores e riquezas.

A análise e discussão das questões que envolvem aregulamentação socioambiental e os instrumentos demercado constituem fonte rica de dados e informa-ções para a construção do caminho para a Susten-tabilidade Organizacional, especialmente quando o de-safio for comparar a prática de fim-de-tubo versus omodelo de prevenção. Poderão ser considerados as-pectos como:

condições de licenciamento, taxas e penalidades;utilização de certificados de crédito de emissões;eficiência econômica;flexibilidade de resposta;viabilidade administrativa;introdução gradual e implementação progressiva do

modelo preventivo;neutralidade fiscal;transparência de conformidade; acordos negociais;

governança;corrupção e subornos;infra-estrutura institucional;

escolaridade e educação;saúde preventiva;justiça social e justiça civil;capacidade inovativa;responsabilidade socioambiental como moda, cren-

ça e ferramenta para competitividade.Sugere-se realizar análise das vantagens e oportuni-

dades resultantes da prática da sustentabilidade comfoco econômico e socioambiental, representadas porcriação de valor para o negócio ou atividades de orga-nizações que, embora em número limitado, reorien-taram os respectivos modelos de gestão, produção ecomercialização.

Neste caso, é preciso discutir tendências sociais, le-gais e mercadológicas que envolvem, entre outros te-mas:

a formação de preço total (full-cost princing) e a conta-bilização socioambiental total (total accounting);

as exigências de informações de ciclo-de-vida deproduto;

as metas de desempenho; o uso de melhores técni-cas disponíveis (BAT Best Available Techniques) – econo-micamente viáveis e socioambientalmente adequadas;

os limites de uso de recursos;a contabilização e a comunicação transparente e

auditável;a responsabilidade e a previsibilidade de interven-

ções governamentais e de políticas públicas;a valoração dos capitais natural, social e humano;

taxação de falhas de mercado por externalidades socio-ambientais e deficiência de informação e acesso à in-formação para tomada de decisão, justiça e corrupção.

Outros elementos imprescindíveis para avaliação deoportunidades são os conceitos direcionadores e estra-tégias para implementação das práticas de DS econô-mico e socioambiental, abrangendo:

a criação de princípios de sustentabilidade, articula-

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dos à missão, visão, valores e princípios gerais da Or-ganização;

a concepção de política de sustentabilidade holísticaou integrada deve ser capaz de expressar as vontades eexpectativas para promover a permanência da Orga-nização no mercado por período de longa duração;

a incorporação dos princípios, práticas e ferramen-tas de sustentabilidade nos processos decisórios e doeixo central de negócios ou de atividades, como práti-ca sistematizada que abranja todas as unidades da Or-ganização;

o envolvimento e o engajamento dos interessados,os entendimentos e os atendimentos de suas expectati-vas, conforme o modelo de responsabilidades compar-tilhadas e parcerias estratégicas;

o acompanhamento, medição, avaliação e comuni-cação dos resultados obtidos, frente a prioridades ecompromissos assumidos com clareza, transparênciae sujeitos à verificação externa.

É necessário fazer reconhecimento e análise de cau-sas, obstáculos e limitações para a introdução de práti-cas de sustentabilidade econômica e socioambiental.Entre estes estão:

a ausência de políticas de governo centradas no DSe, conseqüentemente, de instrumentos e mecanismosdirecionadores para a conduta dos diversos agentes nossetores público, privado e civil da sociedade;

a falta do hábito de consumo responsável e de polí-ticas públicas que o incentivem ou promovam;

o estágio atual da legislação e regulamentaçãoambiental, baseada em padrões de emissões, modelode fim-de-tubo e comando-e-controle, privilegiandoas organizações que não conseguem manter o passo(retardatárias), em prejuízo das líderes, orientadas parapadrões de prevenção, ecoeficiência e excelência dedesempenho;

a falta de capacitação ou de iniciativa para lidar com

externalidades, sistemas fechados de ciclos de produ-ção (a montante e a jusante), eliminação de produtostóxicos e perigosos;

o não reconhecimento da inutilidade de produtossupérfluos e com obsolescência programada, e reati-vidade negativa ao banimento de produtos e substân-cias tóxicas e perigosas.

Recomenda-se a identificação e a documentação daimportância e imprescindibilidade para a definição deindicadores, com base em indicadores de desempenhosustentável em relação aos bens ou questões globais; ede resultados métricos comparativos no setor e exce-lência de desempenho.

Vê-se, portanto, que o estudo dos elementos intan-gíveis é abrangente, complexo e diversificado. Portan-to, deve-se levar em conta a tendência na importânciadada a valores intangíveis importantes para indicar aOrganização de sucesso, no que se refere à habilidadegerencial, reputação, posicionamento estratégico, paten-tes e direitos autorais, transparência, capacidade de res-posta a pressões externas, eco-inovação, sustentabilidadeintegrada (econômica e socioambiental), ética, diversi-dade e melhores práticas de responsabilidade socio-ambiental.

Assim, a definição e o entendimento dos limites deatuação e de responsabilidade socioambiental, a ser feitaem nome da Alta Administração, deverá considerar ereconhecer, devidamente, as conseqüências e implica-ções estratégicas e táticas que deverão acontecer emdecorrência da inserção da sustentabilidade nas deci-sões de negócios ou das atividades da Organização.

Por isso, a proposta de DS deve abranger aspectoscomo:

integração das dimensões econômicas e socio-ambientais nas decisões de negócios ou das atividades,como operação gradual, porém permanente e de lon-ga duração;

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identificação e engajamento das partes interessadas ede indicadores de desempenho segundo as melhorespráticas e padrões elevados de responsabilidade socio-ambiental total (Accountability);

combate à corrupção, em relação a todos os interes-sados, nos setores privado, público e civil;

transparência no acesso à informação, à justiça e aosmecanismos de tomada de decisões;

contabilização total de custos (full cost pricing) e suaincorporação nos produtos, ofertados sob a forma debens ou serviços;

desempenho produtivo de excelência (ecoeficiência),contabilização total (total socioenvironmental accounting),medição, avaliação e comunicação pública dos resulta-dos econômico-financeiros e socioambientais (avalia-ção de Resultado Final Tríplice);

aprendizagem permanente e interativa com os de-mais agentes interessados e oportunidades para auto-desenvolvimento e desenvolvimento tecnológico, comforte apelo para eco-inovações radicais, especialmentequando se tratar de prevenção de riscos.

As atividades ou ações propostas até aqui, estão re-lacionadas ao processo de tomada de decisão da AltaAdministração, à escolha de opções para iniciar e con-duzir o processo de mudança e à construção de con-ceitos para embasamento do modelo de atuaçãoOrganizacional, focado em práticas de Desenvolvimen-to Sustentável e Responsabilidade Socioambiental. Paraisso, as sugestões envolveram ações gerenciais articula-das a temas, paradigmas e direcionadores para práticasde Sustentabilidade com resultados tangíveis e intangí-veis, ambos capazes de contribuirem para a constru-ção de valor para a Organização e para as demais par-tes interessadas.

O fluxo ou encadeamento das discussões deve serdefinido pela Organização, a qual poderá adotar, seassim o desejar, o esquema para inclusão de DS nas

operações organizacionais, sugerido na figura que sesegue:

O esquema toma como ponto de partida o mode-lo de fim-de-tubo e estabelece o caminho para susten-tabilidade. Assim, cada elemento de passagem no flu-xo deve ser analisado por ecotimes e os demais inte-ressados, levando-se em consideração os aspectosconceituais e as conseqüências de cada componente parao processo gerencial, bem como os resultados geradospara sociedade e o ambiente.

É esperado que as iniciativas resulte na produção

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de declaração formal, pela Alta Administração, da de-cisão de assumir o caminho para a sustentabilidade ede serem introduzidas questões relacionadas ao DS naspráticas de gestão administrativa, processos de produ-ção e produtos.

A declaração formal da Alta Administração deveráexpressar, com clareza, o reconhecimento da impor-tância da inclusão de componentes ou dimensões apro-priadas para a construção de proposta de sustenta-bilidade, tais como:

definição de visão inspirada e ideal e dos princípiosimperativos de sustentabilidade;

abertura para a revisão do modelo de governança eda cultura organizacional;

reorganização do modelo hierárquico de gestão, parao sistêmico e dos relacionamentos do-topo-para-a-basee vice-versa;

alteração de alvos;modificação dos processos de envolvimento e ex-

pansão dos critérios para identificação e engajamentodos interessados;

revisão dos possíveis represamentos, fluxos e quali-dade das informações e os respectivos destinos e mo-dificação do modelo padrões-comando-e-controle-conformidade, para melhores-práticas-excelência-de-desempenho.

O documento declaratório deverá ser claro e obje-tivo, para todos os integrantes da Organização e de-mais partes interessadas quanto à seleção, eleição e des-crição de características e componentes de forças dire-cionadoras para a Organização Sustentável. Para isso, érecomendável que a mensagem reconheça e demons-tre, entre outros elementos:

a capacidade de aprendizagem;a coesão e senso de identidade;a capacidade para encontrar a coerência provocada

por desordens causadas por inovações e mudanças;

a diversidade de pessoas e idéias, com confiança erespeito mútuo;

o empoderamento de todos os interessados (stake-holders e shareholders);

o conjunto de objetivos audaciosos, que deve ir alémde ganhar dinheiro;

a superação das próprias metas, com base no traba-lho de equipes, foco em resultados e respeito e atençãoaos colaboradores.

É importante analisar, selecionar e reconhecer osdirecionadores para a Sustentabilidade, apropriados ouaplicáveis para a Organização, para entender o signifi-cado de DS no âmbito da Organização, considerandoprocedimentos e ferramentas socioambientais, taiscomo:

melhores práticas de governança organizacional;definição de prioridades e identificação de causas e

efeitos tríplices (econômicos, sociais e ambientais);identificação de elementos pertinentes aos capitais

natural, social, humano, financeiro e manufaturados quese relacionam à Organização;

adoção de melhores práticas e códigos de conduta,de caráter global e setorial;

dimensões e princípios de passos naturais e de fato-res de desmaterialização;

sistema de produto do-berço-ao-berço;design para o ambiente;ecoeficiência;indicadores métricos;códigos de conduta e normas certificadas;Responsabilidade Social e Responsabilidade Socio-

ambiental total em relação a todos os interessados (stake-holders e shareholders), abrangendo a identificação e o enga-jamento das partes; a transparência das ações peranteeles; a respondência, capacidade e necessidade de res-ponder a todos os interessados, internos e externos; aconformidade no atendimento ou cumprimento de

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obrigações estatutárias, legais e voluntárias assumidas ea verificabilidade dos atos e atitudes por terceiros, atra-vés de auditoria interna e externa.

Política Integrada de Produto – PIP e Controle.Integrado de Processo e Produto - CIPP.

Melhores Técnicas Disponíveis - MTD.Produção Limpa para sistemas fechados e balanço

material e energético zero ou próximo de zero.A declaração formal da Alta Direção deverá in-

cluir, também, a identificação de aspectos positivos eoportunidades que a introdução dos princípios de sus-tentabilidade irá representar ou resultar para a Organi-zação, cuja verificação poderá ser feita por meio de:

correlações entre os princípios de DS e as políticas eestratégias já praticadas pela Organização;

os casos ou temas relevantes para os quais a susten-tabilidade poderá resultar em aumento de valor na ca-deia de negócios;

os impactos positivos para o sistema de gestão ge-ral (management) e integração ao processo-produto-con-sumo sustentável e oportunidades para aprimoramen-tos; as medições, avaliações e relatórios de responsabi-lidade socioambiental verificáveis;

a mudança de cultura e aprendizagem para a visãode sustentabilidade para 10, 20, 50 e 100 anos, envol-vendo a transição do modelo “negócios convencionaisou como são hoje”(business as usual) para inovações radi-cais, processos e produtos atóxicos, balanço zero e pre-paração para tecnologias e produtos sequer imaginados.

Recomenda-se o estabelecimento formal de com-ponentes básicos para inclusão do paradigma de sus-tentabilidade na Organização, como:

a definição de propósitos; a criação da visão e dosprincípios de sustentabilidade, com definição do prazoestimado em 5, 10, 20, 50 anos, no mínimo;

o desenho das estratégias para mudanças, envolven-do governança e operações organizacionais;

a definição das táticas e padrões apropriados, e ain-da, desenhar o modelo de gestão para incorporar asustentabilidade nos procedimentos operacionais regu-lares, além de criar e empoderar o ecotime Organi-zacional, para conduzir a implementação da proposta.

Uma tarefa complexa e longa – a ser feita com omáximo de cuidado e atenção – consiste na análise eseleção de ferramentas de base socioambiental que se-rão usadas para a integração gestão-processo-produ-to-consumo e transição para o DS. Para isso, são rela-cionadas as ferramentas consideradas importantes eaplicáveis a diferentes aspectos para a Sustentabilidade.

CONSTRUÇÃO DE VISÃO

Sistema de produto do berço-ao-berço ou do-ber-ço-à-cova.

Fator 4 ou Fator 10.Passos naturais.Política Integrada de Produto - PIP.Controle Integrado de Processo e Produto – CIPP.

FERRAMENTAS PARA ORGANIZAÇÃO

P+L – Produção Mais Limpa (Cleaner Production).PL – Produção Limpa (Clean Production).Ecodesign.Eco-inovação incremental (p/P+L) e radical (p/ PL).Registro e Transferência de Emissões (para transi-

ção de Fim-de-tubo, P2, P+L, Ecoeficiência).Emissão Zero/100% de produto.Sistema de Gestão Ambiental.Auditoria Socioambiental.Contabilização socioambiental

INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO

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Balanço de materiais.Capacidade de carga.Indicadores métricos.Demanda material total.Fardo ecológico.Pegada ecológica.Resultado Final Tríplice.

INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO

Avaliação de ciclo-de-vida.Avaliação de impacto.Avaliação de risco.Estudo de impacto ambiental.

FERRAMENTAS PARA COMUNICAÇÃO

Balanço socioambiental.Rotulagem.Relatório de impacto ambiental.Relatório de ecoeficiência.Relatório de sustentabilidade ou de DS.Relatório de Resultado Final Tríplice.Certificado de reconhecimento.Premiação.As ferramentas deverão ser selecionadas, fundamen-

tadas no entendimento das limitações, vantagens e des-vantagens da prática de fim-de-tubo e de conformida-de reativa e nas vantagens do modelo preventivo, comexcelência de desempenho.

Para isso, é preciso considerar que a sustentabilidadejamais será alcançada com os modelos fim-de-tubo,P2 (Prevenção de Poluição, no conceito original, restri-to ao processo produtivo), nem com P+L (ProduçãoMais Limpa), mas com sistemas produtivos com fe-chamento de ciclos, prevenção de geração de substân-

cias tóxicas e perigosas e, em futuro breve, balançomaterial e energético zero.

O caminho para a sustentabilidade será longo, masdeverá ser marcado por ganhos expressivos nessa di-reção.

Nas condições atuais do sistema econômico e in-dustrial, as seguintes questões precisam ser considera-das, para serem estabelecidos os passos para a jornadae evitar maquiagens verdes (greenwashing), intencionais enão-intencionais, de condutas organizacionais.

A abordagem a seguir tem o propósito de apresen-tar o espectro geral de tecnologias chamadas “am-bientais”, na maior parte consideradas clássicas e aspossibilidades de usos.

GESTÃO DE POLUIÇÃO - controle de poluição do ar,gestão de água residuária, gestão de resíduos sólidos eperigosos, descarte e destinação, proteção ambiental,transporte de produtos perigosos, tratamento de resí-duos, remediação e recuperação, gestão de locais (sites),redução de ruído e vibração, monitoração, análise eavaliação ambiental.

Envolve as tecnologias de limpeza (cleaning technologies)ou de “fim-de-tubo” (end-of-pipe), testes e serviços ana-líticos, limpeza e recuperação de locais contaminados,pois se preocupam com a remoção, o isolamento e otratamento de resíduos e efluentes. Corresponde a seg-mento maduro do mercado, que engloba: equipamen-tos para manipulação de ar; conversores catalíticos; sis-temas químicos de recuperação; coletores de partícu-las; separadores e precipitadores; incineradores e lava-dores; equipamentos de controle de odores; sistemasde aeração; sistemas biológicos de recuperação; siste-mas de sedimentação gravitacional; separadores óleo-água; coadores e peneiras; tratamento de esgoto; equi-pamento para controle de poluição e reuso de águaresiduária; estocagem de resíduos perigosos; coletores

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de resíduos; equipamentos de manipulação e destinaçãode resíduos; separadores de resíduos; equipamentos dereciclagem; incineradores de resíduos; equipamentospara recuperação (clean-up); serviços do tipo chave naporta (turnkey); design e engenharia; preparação cons-trução, instalação, montagem, reparo e manutenção desites; gestão de projetos de serviços ambientais; P&D;coleta, destinação e descarte; identificação, avaliação eremediação de áreas contaminadas; medições e manu-tenção de instalações; auditorias; operação, gestão emanutenção de água e resíduos sólidos e, em especial,os perigosos; design, gestão, controle e redução de ru-ídos e vibrações.

GESTÃO DE TECNOLOGIAS/PRODUTOS LIMPOS/MAIS

LIMPOS - tecnologias e processos limpos/mais limpos-recursos eficientes, produtos limpos/mais limpos-re-curso-eficientes e a modificação de materiais. Estão en-globadas as tecnologias integradas que otimizam pro-duto e processo limpo (clean-process-integrated technologies),o design do produto e processo, em todas as etapas,desde a entrada de materiais até a saída de produtopara o uso ou consumo, inclusive embalagens, desti-nação e descarte pós-uso. Inclui, também, consultoriaambiental: avaliação de impactos, auditoria ambiental,monitoramento, gestão de riscos, avaliação de ciclo-de-vida, ecodesign, avaliação de desempenho, sistemade gestão ambiental; sistemas especialistas, análise fi-nanceira, gestão de base de dados.

GESTÃO DE RECURSOS - controle de poluição do arinterno (indoor), suprimento de água, reciclagem/mate-riais reciclados, planta de energia renovável, gestão dapoupança de calor/energia, agricultura e aqüiculturasustentáveis, florestas sustentáveis, gestão de áreas na-turais e seminaturais (capital natural), gestão de riscosnaturais, eco-turismo. Abrange avaliação de ecossiste-

mas, proteção de cenários e ambientes naturais e semi-naturais; educação, treinamento e informação para pro-fissionais e público em geral, operadores de áreas einstalações; serviços de reciclagem.

A identificação e reconhecimento dos elementosrelevantes para a construção do conceito de Sustenta-bilidade aplicado à Organização deve estabelecer, porfim, a organização dos componentes relevantes para oestabelecimento de conceitos e definições envolvendoas diferentes inter-relações, que abrangem:

tecnologias integrativas de gestão-processo de pro-dução-produto-consumo;

entradas e saídas no sistema de produção de bens eserviços;

governança;ferramentas ou tecnologias de base socioambiental;articulação dos elementos acima de valores ou di-

mensões econômicas e socioambientais;combinação de todos aos instrumentos de Política

Organizacional, declarações de Visão e Princípios deSustentabilidade;

correlação aos macro-objetivos e às metas de exce-lência de desempenho;

síntese do quadro de atuação atual, que caracteriza aLinha de Base de Sustentabilidade;

proposição de metas avançadas, com objetivos, al-vos quantificados, respectivos indicadores métricos ecritérios de avaliação;

previsão de estratégias e táticas para orientação docurso de ações;

indicação de marcos de referência métricos para asmetas avançadas;

construção de indicadores ou índices de medição com-parativa entre a Linha de Base e as metas de excelência;foco no modelo de avaliação tríplice (Triple Bottom Line).

Cada organização irá elaborar documento agregan-do elementos capazes de demonstrar os âmbitos para

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inclusão de Sustentabilidade nos procedimentos ope-racionais a fim de revelar a Linha de Base da Sustenta-bilidade organizacional atual e os principais elementos

da sustentabilidade futura.O esquema a seguir deve ser visto como sugestão

para elaboração do termo de referência.

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Criação de ecotime organizacional edefinição de papéis, designação formal do

grupo encarregado das ações edesdobramentos

Para executar essa meta é necessária a identificaçãode agentes e questões econômicas, sociais e ambientaisque afetam ou poderão ser afetadas pelas atividades daOrganização.

Inicialmente é preciso definir o perfil do EcotimeOrganizacional. Daí identificar pessoas, dentro do qua-dro de colaboradores internos, que conheçam elemen-tos da Política Organizacional (missão, visão, valores,compromissos, objetivos, metas, diretrizes), a estruturaorganizacional e transorganizacional, a setorial e trans-setorial, o modelo e o estilo de governança, os aspec-tos e as atividades globais, departamentais e inter-departamentais, os procedimentos operacionais, os pro-cessos de produção de bens e serviços, as tecnologias,as práticas de gestão e a cultura organizacional.

Dependendo do interesse da Organização, é preci-so identificar os prováveis convidados externos, co-nhecedores da política e do desempenho organizacional,que podem contribuir decisivamente para a qualidadeda implantação da proposta de sustentabilidade.

Uma outra exigência é a de que os membros doEcotime Organizacional tenham os seus papéis essen-ciais definidos com clareza. Para tanto, deve-se obser-var as questões relacionadas à mudança das interaçõesda Organização ou de unidades específicas com os com-ponentes da antroposfera e ecosfera, levando em con-ta todos os interessados; o arranjo físico entre a Orga-nização ou de Unidades específicas com parceiros nacadeia de valor; a inclusão da sustentabilidade na cultu-ra e nas práticas sociais da Organização e no âmbitodas pessoas, individualmente, em grupos ou em co-munidades, e a orientação e redirecionamento de siste-

mas de informação e de envolvimento de interessados.Sugere-se selecionar os colaboradores críticos, rele-

vantes para levar o projeto de sustentabilidade avante,considerando:

a clareza de objetivos:o que fazer? Como fazer? Comquais ações? Onde implementá-las e como fixá-las?

A clareza de perfis necessários, tais como liderança,habilidades técnicas, conformação multiprofissional,com visão plural da organização (departamental, inter-departamental), capaz de articular os diversos aspectosgerenciais, produtivos e comerciais;

a clareza de papéis traduzidas em credibilidade, in-fluência, entendimento das funções Organizacionais eos relacionamentos destas com o desempenho susten-tável integrado econômico e socioambiental (TripleBottom Line), em todas as unidades e operações geren-ciais.

O passo seguinte é estabelecer os recursos necessá-rios, mecanismos, instrumentos e critérios para funcio-namento e atuação do Ecotime Organizacional. Faz-senecessário fixar os pré-requisitos fundamentais para odesempenho do Ecotime Organizacional, consideran-do-se os seguintes.

Diversidade de composição.Reconhecimento e reafirmação de suporte e empo-

deramento pela Alta Administração.Recursos, instrumentos e mecanismos para mobili-

zação dos interessados.Clareza de regras e liderança para direcionar, interli-

gar, traduzir e harmonizar as ações e iniciativas, portodos os interessados envolvidos no projeto de susten-tabilidade.

Mecanismos e instrumentos para estimular (a) a ge-ração de opiniões e informações, (b) a análise, a avalia-ção e a utilização de idéias e sugestões.

Posicionamento da Visão e dos Princípios de Susten-tabilidade no topo da agenda organizacional.

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Dedicação prioritária ao projeto de sustentabilidadee regime de trabalho permanente para evitar a descon-tinuidade (trabalho do tipo fim-de-semana, participa-ção em reuniões e eventos, engajamento descompro-missado).

Proteção contra ações ou atitudes de agentes des-trutivos, antagônicos, tanto internos como externos.

Suporte para lideranças e interessados relevantes.Direcionadores-chave da Política Organizacional.Recursos, mecanismos e instrumentos para divulga-

ção e disseminação de idéias, sugestões, propostas eresultados, tanto interna como externamente.

Envolvimento e engajamento de executivos seniores;facilitadores para mudanças, com habilidades políticase técnicas; patrocinadores; conselheiros técnicos, eco-nômicos, científicos e gerenciais, e comunicadores eeditores de documentos.

Adequação do Ecotime Organizacional ao porte, na-tureza dos negócios ou atividades, abrangência e com-plexidade dos procedimentos operacionais, processos,produtos e serviços.

Localização do Ecotime em posição apropriada noorganograma, a fim de otimizar as iniciativas, visandoinfluenciar ou efetivar a tomada de decisões e evitar aensilagem (confinamento) de informações e dos pro-blemas.

Treinamento adequado.A partir daí, tem-se condição de criar o modelo de

governança para o Ecotime Organizacional e envol-vimento de outros interessados internos e externos. Paraisso, é preciso elaborar esquema básico com previsãode infra-estrutura e recursos necessários e descrever ascondições essenciais para funcionamento do EcotimeOrganizacional.

Do Ecotime deve-se também determinar a locali-zação adequada na Organização, para a articulação eintegração necessárias e garantir o sucesso do projeto

de sustentabilidade, além de prover informações e pro-porcionar o treinamento necessário para o funciona-mento do ecotime organizacional e outros grupos for-mados.

É indispensável que as atividades gerais do EcotimeOrganizacional sejam bem definidas, acompanhadas daarticulação de ações gerenciais (management), de produ-ção (processo e produtos limpos) e consumo, levandoem conta:

princípios de (a) integração (visão holística de im-pactos multimeios na cadeia, segundo o sistema de pro-duto do-berço-ao-berço), (b) visão de mercado (agre-gação de valor e melhor informação para o consumi-dor) e (c) alinhamento a outras políticas organizacionais;

medições, avaliações e engajamento dos interessa-dos, abertura e transparência.

O Ecotime deverá apresentar, discutir e consolidarconceitos e entendimentos fundamentais, relacionadosà proposta de DS, realizando reuniões com os partici-pantes do ecotime organizacional, com a presença deobservadores; abordar conceitos e avaliar entendimen-tos; levantar e identificar opiniões a respeito dos con-ceitos e fundamentos para a proposta de sustentabili-dade organizacional.

Recomenda-se, como passo seguinte, caracterizar oentendimento dos interessados sobre a inserção desustentabilidade nos procedimentos operacionais regu-lares da Organização. (Ver sugestão de instrumento napágina seguinte).

Aplicado e analisado o instrumento, o EcotimeOrganizacional estará preparado para elaborar e con-duzir o trabalho proposto nos demais capítulo do Guia.

É necessário que dirigente com poder de decisãosuperior possa, formalmente, definir e designar osparticipantes do Ecotime que irão formalizar a Pro-posta de Sustentabilidade; estabelecer o formato e aagenda de trabalho, de acordo com os termos abor-

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SUGESTÃO DE INSTRUMENTO

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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dados nos itens anteriores do presente capítulo.O Ecotime e os outros grupos eventualmente con-

vidados, deverão examinar e avaliar o esquema de tra-balho e a conformação da proposta de sustentabili-dade (observe o esquema de proposta de sustentabi-lidade organizacional nas páginas seguintes), a fim deverificar a adequação do modelo às características e àscondições da Organização e referendar, modificar eajustar o esquema - ou produzir esquema apropriado,levando em conta todos os resultados obtidos pela re-alização das tarefas dos capítulos anteriores.

Recomenda-se analisar a viabilidade administrativapara implementação do modelo definido para a pro-posta de sustentabilidade organizacional, identificandoas lideranças críticas e realizando entrevistas para levan-tar entendimentos e percepções.

A seguir, sugere-se fazer avaliação (percepção) daaceitabilidade da proposta pelos interessados internose externos críticos, identificando-os e entrevistando-ospara o mesmo fim.

É necessário analisar o esquema atual de centros decustos e outros procedimentos contábeis Organiza-cionais, correlacionando-o, identificando tópicos, itensou elementos sociais e ambientais que deveriam sercontabilizados, conforme recomendação de organiza-ções líderes no tratamento das questões relacionadasao DS.

Deve-se também articular a proposta de sustenta-bilidade aos termos e recomendações de acordos vo-luntários aplicáveis ao ramo de negócios e à conformi-dade legal praticada pela Organização.

Neste caso, é preciso identificar aspectos relaciona-dos à administração-supervisão; condições de traba-lho e emprego justo; práticas de negócios justas; cum-primento de regras e da lei; respeito aos direitos huma-nos; cidadania; combate ao suborno, falsidades ecorrupção; responsabilidade; excelência de desempe-

nho, medição e comunicação pública de resultados.Os elementos de conduta aplicáveis à proposta de

sustentabilidade baseados, entre outras fontes, em:Códigos de conduta internacionais.Accountability 1000.Caux Roundtable. Center of Applied Ethics. Ceres Principles.European Governance Institute.Global Compact.Global Sullivan.Good Corporation Standards.Greenpeace Bophal Principes.Institute for Global Ethics.International Center for Applied Commerce,

Business Charter for Sustainable Development Principles.

International Chamber of Commerce.Labor Practice.London Benchmarking Group.OECD Principles of Corporate Governance.Responsible Care.Social Accountability SA 8000.The Human Rights.The Natural Steps.UN Global Compact.World Business Council of Sustainable Develop

ment.Códigos de desempenho econômico-socioambiental

– Indexadoras internacionais:Calvert.Dominici.Dow Jones Sustainability Group Index.FUTSE4Good Global Investment.Goodmoney.Greenmoney.Innovest.

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ESQUEMA DE PROPOSTA DE SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL

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Jantzi Social Index.Códigos de conduta nacionais:

ABN-AMRO Asset Management no Brasil –Fundo Ethical.

IBASE – Balanço Social.IDEC-Instituto de Defesa do Consumidor.Instituto Ethos.Transparência Brasil.

Estrategicamente, é importante relacionar a Propostade Sustentabilidade a Normas e práticas certificadas

ou consolidadas, como:ISOs e NBrs – Série 14000,18000, 19011,

9000, 9001.AA 1000.SA 8000.0HSAS 18001.GAAP Generally Accepted Accounting Practice.

Outra atitude necessária consiste em correlacionaros componentes da Visão de Sustentabilidade a ele-mentos socioambientais e sócio-econômicos, como:

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equidade no acesso a recursos, terra e localizaçãodos altos impactos ambientais provocados por instala-ções industriais e de serviços;

criação de emprego, distribuição justa de riquezas,oferta de bens e serviços para necessidades sociais, in-vestimento na educação dos empregados, acesso defornecedores minoritários aos mercados e doações;

ecoeficiência na produção de bens e serviços, agre-gação de valor financeiro e econômico à Organização,responsabilidade e transparência.

A diversidade de expectativas pode limitar a aceita-ção de códigos de conduta. Portanto, para facilitar odiálogo com as partes interessadas é recomendável com-preender as relações entre a Proposta de Sustentabilidadee as Normas e Códigos, a partir do levantamento de:

opinião organizacional, envolvendo o reconhecimen-to por empresas líderes e por governos;

a abrangência da aplicação dos códigos, e a consis-tência com investidores socioambientalmente respon-sáveis;

opinião de ONGs a respeito de medição de res-ponsabilidade baseada em melhores práticas, abrangen-do: consciência, política definida, sistema administrati-vo, desempenho, monitoramento e orientação; resulta-do de desempenho, marcado por melhoria contínua,marcos de referência externos, expectativas sociais, le-gislação, códigos de conduta e acordos internacionais;prática de auditoria externa independente.

A revisão da política e estratégias em uso na Orga-nização e a verificação da compatibilidade com os ter-mos da Proposta de Sustentabilidade, deverá ser feitaatravés do exame de documentos internos aplicáveisou úteis para consolidar a base de conhecimento ne-cessário à construção da proposta de sustentabilidade,com o auxílio de entrevistas com interessados críticos,internos e externos, para coleta de subsídios.

Por fim, deve-se alinhar a Proposta de Sustenta-

bilidade às características da Organização e ao DS. Paratal, é preciso analisar registros, anotações e informa-ções, derivados de documentos, estudos e opiniões delideranças e interessados (internos e externos) que semanifestaram nas ações, e produzir documento con-clusivo de alinhamento.

Pressupostos para elaboração da Visão edos Princípios de Sustentabilidade

Fundamentos conceituais e de política deSustentabilidade Organizacional

Para a elaboração da visão e dos princípios de susten-tabilidade, a primeira etapa envolve a análise do esque-ma geral de montagem da Proposta de Sustentabili-dade. É preciso rever a documentação organizacionalque define Política – princípios de governança que es-tabelecem as escolhas, compromissos e bases normati-vas para o relacionamento entre a direção e a platéiainterna e externa (todos os interessados), a fim de que aorganização alcance os fins desejados. A missão e a vi-são são conceitos já apresentados. Valores são direciona-dores de conduta pública e operacional; padrão, as-pectos, pontos ou posições defendidas. A partir desseentendimento, reexaminar e refinar a proposta, paraimplantação de sustentabilidade e esclarecimento dedúvidas.

A seguir, deve-se analisar os elementos ou des-critores sugeridos na Proposta para Sustentabilidade,em especial a construção da visão e dos princípios desustentabilidade organizacional, capazes de expressar orumo, a orientação, as intenções, os valores e as regraspara situações repetitivas.

Para isso, é preciso analisar e interpretar os concei-tos que envolvem os elementos sugeridos, para esco-lher aqueles que expressam o estado ideal de susten-

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tabilidade desejado pela e para a Organização, em lon-go prazo, integrando aspectos econômicos, sociais eambientais nas operações gerenciais e produtivas, comoparte da cultura e procedimentos em todas as áreas,unidades e atividades.

Esse procedimento permite que todos os interessa-dos possam perceber, com clareza e rapidamente, asdiferenças organizacionais entre a condição atual, cha-mada situação convencional ou business a usual, e a dese-jada, a qual pode ser determinada (a) a partir daprospecção de futuro (forescasting) ou (b) através de vi-são ideal de futuro, pela regressão ao presente e estabe-lecimento do que fazer para atingí-la (backcasting).

É necessário identificar e reforçar os direcionadoresa fim de articular DS e orientação para a competitividadede mercado e aumento da qualidade de vida, com aten-ção para:

a eco-inovação (tecnológica, econômica e socio-ambiental);

a ecoeficiência de processo, produto e consumo;a informação pública para livre escolha do consu-

midor;o aperfeiçoamento de políticas públicas para a es-

trutura de resultados no mercado;a valoração dos bens naturais da terra;o acesso universal ao mercado e a transparência.É preciso prever os meios e mecanismos para que

a função econômico-financeira – congênita do propó-sito da empresa de negócio – não fique ofuscada, masreforçada pelo foco de Responsabilidade Socioam-biental Total, capaz de aumentar a competitividade emostrar o caminho de futuro a ser trilhado pela Orga-nização, no longo prazo, isto é, superior a 50 anos.

Para que tal ocorra, é necessário incorporar, na vi-são e princípios de sustentabilidade, a maneira como:

os processos e produtos seriam vistos, de acordocom o sistema de produto do-berço-ao-berço e os

impactos, conforme a avaliação de Ciclo-de-Vida doproduto;

a organização seria vista, ao passar do modelo defim-de-tubo (pegar recursos, usá-los e gerar resíduos),para o de prevenção na fonte (tomar emprestado, usare devolver);

qual deveria ser a opinião dos interessados, internose externos, sobre a imagem da Organização;

ela contribuiria para as expectativas de sustentabi-lidade dos respectivos interessados, e

a organização irá se preparar para os desafios am-bientais, sociais e institucionais mais restritivos, nas pró-ximas cinco décadas.

O próximo passo é analisar as pressões sociais eambientais que poderão afetar ou que poderão ser afe-tadas pelas atividades organizacionais executadas emfunção de políticas públicas, legislação, taxas, incenti-vos ou condutas dos consumidores. Para tanto, é pre-ciso correlacionar a definição de visão e de princípiosaos aspectos da sustentabilidade e ao que a visão e osprincípios passariam a representar para:

a Organização, agregando valores em benefício dosacionistas e investidores, oferta de emprego e renda;

os consumidores, proporcionando bens e serviçosmais adequados, do ponto de vista socioambiental;

as Comunidades, como instrumentos para o desen-volvimento das pessoas e da nação;

e o Ambiente, como forma de respeito, responsabi-lidade e integridade.

E ainda, o levantamento de informações internas,por meio de contatos com lideranças relevantes e ex-ternas, a partir de casos (mercado e literatura) e de su-gestões de interessados críticos, indispensável, para quepossam ser incorporadas na visão e nos princípios desustentabilidade.

Em seguida, é preciso identificar oportunidades ouimplicações da visão global e setorial de futuro para a

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Organização. Isso pode ser feito pela identificação desituações ou ocorrências de mercado ou recomenda-ções na literatura, com especial referência a estudos decenários, que poderão ter significado relevante paraserem incluídas na visão e nos princípios de sustenta-bilidade, em relação ao entendimento de DS e susten-tabilidade.

Para tanto, é fundamental distinguir e considerar aconceitualização de sustentabilidade nas dimensões eco-nômica, ambiental, humana, social, ecológica e Desen-volvimento Sustentável - nos termos da proposta daComissão Bundtland, citada internacionalmente: o de-senvolvimento que atende às necessidades do presente,sem comprometer a habilidade das gerações futurasde atenderem as suas próprias necessidades.

Consolidado o entendimento dos conceitos, abor-dados no capítulo teórico, é possível estabelecer as re-lações entre os documentos organizacionais, a visão denegócios futuros e as possíveis correlações aos princí-pios de sustentabilidade.

A etapa seguinte consiste em analisar os processosde gestão e de conduta de liderança na Organização,cujo intuito é identificar questões críticas ou relevantespara a elaboração ou a efetividade de implementaçãoda visão e dos princípios de sustentabilidade.

Para tanto, é necessário considerar os elementos oucondições a seguir, para avaliar as prováveis contribui-ções ou influências negativas na efetividade da visão edos princípios de sustentabilidade.

DOCUMENTOS QUE DEFINEM

Política – princípios de governança, que estabelecemas escolhas, compromissos e bases normativas para orelacionamento entre a direção e a platéia interna e ex-terna (partes interessadas; interessados e sharehol-ders), afim de que a organização alcance os fins desejados.

Missão – razão de ser ou intenção original do fun-dador da organização; ou tipo de atividade praticada.

Valores – direcionadores de conduta pública eoperacional; padrão, aspectos, pontos ou posições de-fendidas.

Visão – motivação que mantém a organização nocaminho de futuro e expressa o que a organização é,deseja ser e em que deverá tornar-se.

SISTEMA DE GESTÃO ORGANIZACIONAL

Variáveis econômicas, tecnológicas, ambientais, so-ciais, demográficas, físicas e fiscais.

Configuração organizacional.Tecnologia organizacional e softwares.Estratégia – maneira de pensar e de agir, padrão de

conduta, designação de recursos, posição ou percep-ção para a construção de plano ou arcabouço prepara-tório antes que ações concretas sejam postas em práti-ca.

Tática – forma como os recursos são manejadosdurante as ações.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Meios e métodos para alcançar o fim desejado, envol-vendo:

determinação da direção, caminho ou curso a serseguido para que a política de atuação da organizaçãoseja praticada, levando-se em conta a missão, valores evisão organizacionais;

estabelecimento das forças direcionadoras – queabrange produtos, usuários e beneficiários, necessida-des e oportunidades no meio, marketing, tecnologias,capacidade produtiva, recursos naturais, porte e cresci-mento, retorno e lucratividade – para que a organiza-ção possa alcançar as mudanças e os fins desejados;

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identificação e distribuição de meios e recursos e de-finição de como aplicá-los;

indicação de focos estratégicos, representados pelosfins a serem alcançados, os meios, os modos e os re-cursos para obtê-los, a organização dos recursos e meiospropriamente ditos, principalmente os disponíveis e atática para o uso;

previsão da triagem estratégica, no setor de ativida-des e, no caso das organizações com fins lucrativos, aconcorrência, com base em ferramentas de análise comoFOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Amea-ças), correspondente à prática de SWOT (do inglês).

Corresponde à gestão de (i) dados de cenário ex-terno, que representam variáveis ou fatores externos(macro e micro) e internos (a serem monitorados), (ii)os quais constituem efeitos no desempenho, (iii) de gran-de força, neutralidade, fraqueza ou grande fraqueza e(iv) de importância grande, média ou pequena, (v) emrelação à política e objetivos da organização. Estabele-cimento de metas de melhoria para aspectos prioritáriose de baixo desempenho; aproveitamento de oportuni-dades e prevenção de ameaças.

indicação do direcionamento estratégico para acompetitividade, por processos de diferenciação, foco,objetivos e metas, para que a organização possa com-petir e se contrapor a movimentos ou acontecimentos,previstos ou já em curso, no ambiente, os quais repre-sentam ameaças ou prejuízos para os interesses inter-nos e das demais partes interessadas.

A implementação e efetividade da Visão de Princí-pios de Sustentabilidade não poderão prescindir dasdiferenças de expectativas para a aceitação dos códi-gos de conduta.

Opinião organizacional, que inclui o reconhecimen-to por empresas líderes e por governos; a aplicaçãoampla e a consistência com investidores socioambien-talmente responsáveis.

Opinião de ONGs que envolve diversos aspectoscomo:

Medição de responsabilidade baseada em me-lhores práticas, abrangendo: consciência, política defi-nida, sistema administrativo, desempenho, monito-ramento e orientação.

Resultado de desempenho, marcado por: melho-ria contínua, marcos de referência externos, expectati-vas sociais, legislação, códigos de conduta e acordosinternacionais.

Transparência, respondência e conformidade.Auditoria externa independente.Honestidade e combate à corrupção.Não-intervenção nas estruturas sociais e institu-

cionais, especialmente nos modelos e sistemas democráticos.

Não-interferência em práticas de governo.Segurança alimentar.Comprometimento com marcos legais globais

de Resultado Final Tríplice.A validação das opções será fortemente amparada

através de entrevistas com lideranças relevantes, visan-do consolidar entendimentos acerca da adoção dosprincípios propostos.

Recomenda-se, a seguir, a revisão de planos de ati-vidades ou de negócios correntes e futuros da Organi-zação, a partir do exame de documentos internos, iden-tificando as relações reais e potenciais dos planos à vi-são e aos princípios de sustentabilidade.

O passo seguinte consiste na análise da condutaorganizacional quanto às práticas de transparência e deconformidade ambiental regulamentada, a partir dadefinição das possíveis relações entre os modelos depadrões regulamentados, e comando e controle versusexcelência de desempenho.

Realizado isso, sugere-se a análise da conduta organi-

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zacional em relação ao monitoramento do desempe-nho social e econômico e à transparência nos relatóriose comunicação produzidos e divulgados e sua prová-vel correlação com a formulação de visão e de princí-pios de sustentabilidade. Para tanto, é preciso examinaros documentos internos e realizar entrevistas com inte-ressados críticos, internos e externos.

O último passo é a análise da efetividade dos pro-cessos de diálogo praticado entre a Organização e osmúltiplos agentes interessados (shareholders e stake-holders),em sintonia com a documentação interna e os resulta-dos das entrevistas com interessados críticos, internos eexternos.

Construção definitiva da Visão de SustentabilidadeElaboração de texto formal de

direção a ser seguida

Duas medidas são importantes nessa direção. Aprimeira é a análise e avaliação de textos, para constru-ção de mensagem, como visão de futuro desejado oude direção a ser seguida pela Organização.

Ao redigir a visão de sustentabilidade, é indispensá-vel considerar definições, conceitos, propostas, enten-dimentos, práticas, cenários e outros aspectos pertinentesao DS.

Eleger os fundamentos ou combinações de funda-mentos de DS que melhor se aplicarem às atividadesou negócios da Organização, como visão de futuro.Entre eles:

os passos naturais – The Natural Steps;a Produção Limpa;a ecoeficiência;a Emissão Zero;

a demanda total ou intensidade material por unida-de de serviço;

o resultado final tríplice, entre outros.Recomenda-se ainda:

Integrar, inserir ou combinar os elementos de susten-tabilidade à missão ou eixo central de atividades ou denegócios da Organização, de maneira direta, objetiva etransparente, para ultrapassar, no caso Organizaçõescom fins lucrativos, o objetivo de ganhar dinheiro.

Adotar postura positiva do que fazer em futuro delongo prazo, e não a negativa, do que não fazer.

Assumir clareza de propósito ou intenção, para mos-trar caminhos a serem seguidos por todos, não gerardúvidas, nem conflitos ou polêmicas intermináveis esem saídas.

Pensar de maneira ideal, majestosa, provocativa edesafiadora, quase inatingível, mas com demonstraçãode critérios e foco em objetivos, a fim de estimular oestado permanente para a tomada de decisões, eco-inovações, para excelência e conseqüente superação demetas.

Redigir de forma simples, clara, objetiva, pertinente,relevante, e que sirva para nortear práticas de susten-tabilidade em todos os procedimentos e em todas asoperações na Organização.

A segunda medida consiste no alinhamento ou arti-culação da Visão de Sustentabilidade à visão organi-zacional geral.

É preciso que o texto produzido seja bem entendi-do por todas as partes interessadas, com especial aten-ção de: dirigentes seniores, lideranças e gerência média;executores; acionistas e investidores e outros integran-tes da cadeia de valor.

E uma outra ação importante consiste em desen-volver atividades para a prevenção de desentendimen-tos, desinformação e assimetrias informacionais relacio-nadas à Visão de Sustentabilidade.

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Construção definitivados Princípios de Sustentabilidade

Elaboração de texto formal devalores a serem praticados

Este procedimento requer, inicialmente, a análise eavaliação de textos de Política Organizacional e elabo-ração de documento contendo os critérios éticos e mo-rais que irão representar ou permitir a construção devalores a serem seguidos na Organização.

Para isso, é importante reconhecer os conceitos deprincípios – como guia, arcabouço ou conjunto de ele-mentos, fatores ou condições que estabelecem valoresorganizacionais a serem respeitados e seguidos, e devalores – enquanto conjunto de crenças, princípios emotivos normativos de conduta, declarados interna epublicamente, determinantes e reveladores de como aspessoas – individualmente ou em grupos – devem secomportar e agir, em relação à missão, visão, planos,programas, projetos ou qualquer atividade.

Exige, também, a revisão das definições, conceitos,propostas e entendimentos de normas e códigos devalores voluntários e regulamentados já adotados.

Assim, recomenda-se elaborar a proposta de Prin-cípios de Sustentabilidade articulada aos processosoperacionais já praticados e em alinhamento com osinteresses de todos os envolvidos. Isso implica analisara proposta de visão de sustentabilidade, os conceitos eos instrumentos que resultaram na visão. E ainda, rela-cionar os fatores, elementos ou condições, de caráterorientador e normativo, a fim de que tais princípiossejam praticados em todos os procedimentos opera-cionais regulares e em todas as unidades organizacionais.

Da mesma forma como recomendado para a cons-trução definitiva da Visão de Sustentabilidade, a for-malização dos Princípios deverá estabelecer critérios e

mecanismos para prevenir desentendimentos, desin-formação e outras assimetrias informacionais.

Validação de proposta de DSReconhecimento e aceitação pelos

interessados internos e externos relevantes

O primeiro passo constitui delinear o plano desensibilização e disseminação da visão e de princípiosde sustentabilidade organizacional para as partes inte-ressadas e os devidos mecanismos de realimentação(feedback).

Isso exige:produzir a lista de interessados-alvo que deverão ser

envolvidos;identificar e relacionar as atividades-chave a serem

abrangidas;estabelecer a pauta e a agenda para a comunicação

com os interessados;programar eventos, organizar a pauta, e realizar e

alocar recursos;prever e relacionar os resultados esperados e os ins-

trumentos para controle, avaliação e realimentação. E ainda, prever, definir e relacionar focos críticos:

como os agentes vão reagir e se comportar em rela-ção à orientação futura da Organização para a susten-tabilidade;

quais as melhores opções para o engajamento, o com-prometimento e a participação dos interessados, paracima (bottom-to-top) e para baixo (top-down);

lideranças reativas e pró-ativas e,mecanismos para aprimoramento do projeto e do-

cumentos apropriados.O segundo passo é organizar ecotimes, envolven-

do as diversas áreas e unidades da Organização. Paratanto, faz-se necessário:

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adotar práticas já experimentadas e outras resultan-tes de lições aprendidas;

analisar e avaliar resultados, para incorporar as con-tribuições;

preparar o caso organizacional de DS de longo pra-zo;

identificar, com clareza, o eixo principal de ativida-des ou de negócios da Organização;

garantir que a alta direção reconheça os termos daproposta de sustentabilidade e forneça o suporte insti-tucional, através de dirigentes e lideranças relevantes,da Organização;

fortalecer as pessoas por meio da seleção e recruta-mento de colaboradores preparados ou com potenci-al para participação na construção do caso organiza-cional, preparar e implementar atividades de capaci-tação e qualificação de pessoal para a construção docaso. E ainda, identificar ou eleger o sistema (econô-mico e socioambiental) a ser conservado ou protegi-do, que contribua para a sustentabilidade organizacio-nal e sustentabilidade socioambiental.

Sugestão de fontes para eleição do sistemaeconômico e socioambiental

CAPITAL NATURAL – (i) recursos renováveis - ecos-sistemas , biomas, seus componentes (biodiversidade)e dinâmica (produtividade) e água; (ii) recursos não-renováveis e (iii) serviços naturais - oxigênio, energiarenovável (solar, eólica, marés) e fóssil, fossas (ou su-midouros naturais), capacidade de carga (assimilação,bioconversão), regulação climática, prevenção de ero-são, topografia, depuração de água, regeneração de solo,controle natural de vetores, cadeia alimentar, recrea-ção, paisagens e cenários, destinados ao abrigo, alimen-tação, defesa, educação, lazer e outros aspectos da qua-

lidade de vida, de curto, médio e longo prazo para obem-estar humano e de outras espécies do planeta, apartir dos quais o homem obtém ou cria sua riqueza.

CAPITAL SOCIAL – valores e normas sociais, cultura,lazer, confiança; cooperação, aprendizagem, respeito,interações, relacionamentos (amizades, afinidades, etc.),parcerias, cooperação; inserção econômica e ambiental,equidade, empoderamento; redes sociais, canais de co-municação, famílias, comunidades, empresas, entidadesde classe, Organizações Não-Governamentais (Tercei-ro Setor ou Setor Cívico).

CAPITAL HUMANO – saúde, conhecimento, habilida-des, produção intelectual, motivações, engajamento,comprometimento, reputação, liderança, capacidadepara relacionamento.

CAPITAL CONSTRUÍDO, FÍSICO OU FINANCEIRO – bensmateriais construídos e acumulados, como edificações,bens manufaturados e os valores físicos e monetáriosacumulados e direitos de propriedade industrial.

IMPACTOS BENÉFICOS E DANOS – intencionais e não-intencionais, percebidos e não-percebidos, reais ou po-tenciais – causados pelo modelo atual de processo pro-dutivo e de produto (bens e serviços).

PRINCIPAIS DIRECIONADORES DE CENÁRIOS, em suascondições atuais e visão de futuro (forecasting e backcasting),como paz e segurança, diante de regimes opressores,conflitos, guerras e os eventos decorrentes, como au-mento da violência e criminalidade, insegurança, eco-terrorismo, migrações e urbanização, marginalizaçãosocioeconômica. Incluem-se aqui os conflitos econô-micos e conseqüências da afluência e pobreza e dife-rentes níveis de bem-estar e saúde, equidades e inser-ção socioeconômica. Há também a influência do setorfinanceiro e de Corporações Transnacionais sobre asorganizações globais/multigovernamentais (ONU,FMI, OMC, Banco Mundial) e conseqüências daglobalização para as economias em transição ou não-

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desenvolvidas. É preciso considerar os desníveis emtecnologia, produção e consumo de bens e serviços eas diferenças em consumo de matérias-primas, água,energia e outros fatores de produção, disparidades emvalor agregado por produção/produto.

Outro ítem a ser levado em conta são as condiçõesdos bens comuns ou globais decorrentes da ética e daqualidade de desempenho em governança, atuação nomercado globalizado e qualidade das instituições – comatenção especial para mudanças climáticas:

poluição e degradação de rios, oceanos e criadourosaquáticos;

efeitos sobre a camada de ozônio; degradação do solo e desertificação; destruição de florestas (principalmente as tropicais);

perda da biodiversidade.a escassez de alimentos, de água e de energia;os desastres naturais, e a legislação e marcos regula-

mentares globais relacionados a padrões uniformes eresponsáveis de conduta econômica e socioambiental,

o monitoramento do estágio das questões econô-micas e socioambientais selecionadas, abrangendo, per-cepção ou latência; em curso ou crescimento acelera-do; em expansão ou sistematização; natura ou institu-cionalizada.

É recomendável levantar exemplos (benchmarking)de casos de sucesso ou já implementados. Neste caso,é importante considerar que este Guia inclui princípiosque não são considerados em modelos ou situaçõesmencionadas por outros autores como o Princípio daPrecaução, o Princípio da Prevenção, o Direito Públicode Acesso à Informação, o Controle Democrático daTecnologia, e a Política Integrada de Processo-Produ-to, com enfoque em Avaliação de Ciclo-de-Vida e Sis-tema de Produto do Berço-ao-Berço, entre outrosamplamente abordados na apresentação das Tarefas.

O levantamento de marcos de referência pode ser

feito por meio de textos mencionados no Guia1; ar-quivos de buscas na Internet2; ou sugestões oferecidaspor diferentes autores e fontes, tomando o cuidadopara não perder de vista o que ficou estabelecido paraa Organização, através de:

Visão, Princípios e Proposta de Sustentabilidade.Linha de Base da Sustentabilidade Atual e Susten-

tabilidade Futura.Padrões de Excelência – cobertura, profundidade,

relevância e pertinência.Responsabilidade Socioambiental – escopo, objeti-

vos sustentáveis, metas e alvos métricos.Os exemplos incluídos a seguir foram extraídos e

simplificados, para efeito de listagem, de GEMI SDPlanner, Sigma Business Case Tool e Grayson & HodgesSete Passos para Minimizar os Riscos e Maximizar asOportunidades.3 Grayson & Hodges propõem açõesfundamentadas em questões, desafios e crises econô-micas e socioambientais que devem ser abordadas noâmbito do compromisso social e gestão empresarial4.

Os modelos abordam fundamentações e propõemmodelo com amplo espectro de práticas relevantes paraa Sustentabilidade Organizacional, as quais foram, emgrande parte – ou pelo menos em sua essência -, usa-das na montagem do presente Guia.

A estratégia para adoção ou implementação daspropostas varia de um para outro.

GEMI SD PLANNER5

Bem-estar dos colaboradores.Direitos.Práticas responsáveis no local de trabalho.Saúde e segurança no trabalho.Equilíbrio trabalho-lazer-família.Respeito à diversidade.Compensação/remuneração justa.

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João S. Furtado

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Qualidade de vida.Equidade social.Necessidades humanas básicas.Capital Humano.

Ética nas atividades e negócios.Direitos humanos fundamentais.Impactos positivos.Cultura e povos indígenas locais.Competição justa e aberta.

ÂMBITO ECONÔMICO

Criação de valor para o acionista/financiador.Retorno e proteção de patrimônio competitivos.Marca e reputação.

Desenvolvimento econômico.Estímulo ao desenvolvimento local.Apoio às comunidades em desvantagens.

DIMENSÃO AMBIENTAL

Minimização de impactos.Emissões e resíduos.Acidentes operacionais.Produtos e serviços.

Proteção de recursos naturais.Recursos biológicos.Energia.Água.Matérias-primas.

SIGMA BUSINESS CASE TOOL 6

Passos principais que se constituem em entender osignificado dos impactos; identificar as questões-chaverelacionadas aos interessados; tornar o Caso relevante;

apoiá-lo, e manter a dinâmica e a atualização.Áreas de impactos para a construção do Caso Orga-

nizacional de Sustentabilidade e que remetem aos cus-tos operacionais; antecipação e gestão de riscos; relaci-onamento com os interessados; produtividade; recru-tamento e retenção de colaboradores; finanças; dife-renciação no mercado e vendas; marca e reputação.

Atitudes e procedimentos importantes para consi-derar o caso como elemento estratégico, relacionadoàs atividades ou negócios da Organização; incluir in-formações relevantes sobre os processos operacionaise oportunidades para melhores práticas de susten-tabilidade, com destaque para questões relacionadas adiferentes tipos de riscos, além de mencionar as práti-cas sustentáveis ou relacionadas à sustentabilidade, cor-rentes na Organização.

SETE PASSOS PARA MINIMIZAR OS RISCOS E MAXIMIZAR AS OPORTUNIDADES

Identificar gatilhos: moções de acionistas, pressãode investidores, pressão de ONGs, exigências legais,pressão governamental, recessão econômica, ação defuncionários, de concorrentes e de consumidores, exi-gência de compradores, crise de produto ou trabalhis-ta, pressão de novo dirigente e inspiração.

Preparar argumentos sólidos (Caso Organizacional):diversidade e direitos humanos, comunidades, necessi-dades de fortalecer as pessoas, o negócio e a reputa-ção, conquistar os interessados

Avaliar a abrangência das questões: mapeamento dequestões relacionadas às comunidades, à ecologia e aomeio ambiente, saúde e bem-estar, diversidade e direi-tos humanos, avaliação de abrangências, consulta àspartes interessadas, como os investidores, funcionári-os, consumidores, fornecedores, governos, comunida-des locais, comparação com outras Organizações, ava-

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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liação de impactos sociais, investimento social e uso decenários futuros.

Assumir compromisso, agir e garantir a supervisão.Integrar as estratégias fazendo a revisão e a amplia-

ção de procedimentos: qualidade e excelência, gestãoda cadeia de suprimentos, conformidade, gestão deriscos, inovação. E ainda, construir as novas políticas epráticas operacionais.

Envolver os interessados, através da comunicação ediálogo; do comprometimento de colegas; da partici-pação em discussões públicas; do envolvimento dosinteressados em parcerias; da busca de benefícios mú-tuos, e a abordagem de necessidades.

Fazer avaliações e relatórios, tendo claro questõescomo: porque medir? O quê e como medir? Indica-dores, e a elaboração de relatórios.

Uma vez conhecidos os casos de referência, o pas-so seguinte é construir ou escolher situação real, deseja-da ou simulada, para demonstrar como a Organizaçãoseria em longo prazo. Para isso recomenda-se, integraros aspectos econômicos sociais, que afetam todas aspartes, internas e externas à Organização, além dos as-pectos ambientais, relacionados à conservação e à qua-lidade de ecossistemas e à extensão de disponibilidadede recursos não-renováveis.

É essencial para tanto, eleger os indicadores de susten-tabilidade de médio e longo prazos, com base, porexemplo, em cenários, previsões ou projeções de agên-cias globais, como:

Saúde – redução de 1/3 da mortalidade infantil (basede 1990) até 2015.

Educação – redução de 50% do analfabetismo (basede 2000) até 2015 e eliminar as diferenças de acessoaos graus 1º e 2º entre homens e mulheres até 2005.

Fome – redução de 50% (base de 2000) até 2015 eeliminação de doenças causadas por deficiência de vi-tamina A.

Pobreza – redução de 50% (base de 2000) das pes-soas que recebem menos de US$1/dia até 2015

Habitação – garantia de acesso a serviços de sanea-mento para 75% da população humana em seus laresou em instalações comunitárias (meta prevista para 2000e, portanto, ultrapassada).

Gases com efeito-estufa – redução global de pelomenos 5% (abaixo do limite de 1990) entre 2008-2012e de emissões (em diferentes níveis estabelecidos emacordos específicos).

Produtividade oceânica – estabilização da condiçãobiológica (indicadores não quantificados).

Mudança da cobertura e da qualidade da terra – re-dução de uso de superfície/mudança de condições (in-dicadores não quantificados).

Manutenção da biodiversidade – indicadores nãoquantificados.

Emissões de dioxinas e furanos – prevenir ou elimi-nar as emissões não-intencionais, como estabelecido noProtocolo de Estocolmo.

Recomenda-se também:estabelecer objetivos, metas e alvos métricos que re-

velem expectativas de benefícios e os respectivos inte-ressados;

identificar ou caracterizar os vínculos ou relações en-tre crescimento (aquisição quantitativa de bens, em ge-ral de curto prazo) e DS (aquisição qualitativa e reposi-ção de bens, necessariamente de longo prazo);

determinar o padrão de desempenho a ser adotadopela Organização, podendo incluir limites legais ou re-gulamentares estabelecidos, aprimoramento de limites,determinado pela Organização e limites mais restrin-gentes (estabelecidos a partir de benchmarking);

estabelecer as relações ou articular o padrão de de-sempenho desejado a instrumentos e ferramentas já emuso na Organização, como códigos de conduta e pro-cessos e métodos específicos. E mais, selecionar os

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João S. Furtado

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direcionadores socioambientais para as tecnologiasorganizacionais e de produção a serem adotadas, en-volvendo questões como:

respeito à cidadania das comunidades, inclusive asindígenas,

contribuição para a coesão social e melhoria da qua-lidade de vida das pessoas,

utilização de materiais renováveis, de baixo impactosocioambiental,

redução do uso de energia por unidade de bens eserviços,

redução de impactos negativos (emissões, descar-gas, resíduos) nos ecossistemas,

redução do consumo de materiais por reciclagem,reuso, remanufatura, por unidade de bens e serviços, a

redução de custos de investimentos e crédito, pormedidas socioambientais,

redução da obsolescência e aumento da vida útil deprodutos,

gestão responsável de acidentes internos e externos,provocados por processos e produtos,

redução de impactos globais (aquecimento do pla-neta, depleção da camada de ozônio, biodiversidade,transporte transfronteiriço de resíduos perigosos e tó-xicos e a destinação e descarte responsáveis de lixo in-dustrial, embalagens e produtos pós-uso).

É necessário estabelecer o método ou o processode medição de desempenho em relação ao sistema deindicadores escolhido para a Proposta de Sustentabili-dade (de acordo com as recomendações para o tipode padrão de desempenho escolhido), levando emconta, por exemplo:

criação de renda;criação de empregos;expansão de atividades ou negócios na cadeia de

valor e em regiões selecionadas ou específicas;desenvolvimento de recursos e serviços

ambientais;desenvolvimento de recursos humanos;desenvolvimento sócio-institucional;participação e expansão de atividades ou negó-

cios internacionais;democratização tecnológica e de informação

sobre segurança e uso de processos e produtos;oferta de processos e produtos econômica e

socioambientalmente mais adequados do ponto devista da sustentabilidade.

Sugere-se a consulta aos capítulos e tarefas específi-cas para “Construção de Indicadores”, “Conta-bilização” e “Medição e avaliação”.

É preciso identificar as partes interessadas, envolvi-das, afetadas ou que afetam o sistema identificado ouescolhido; os beneficiários dos resultados esperados ouprevistos; e identificar ou indicar as possibilidades deagregação de valores relativos aos capitais econômicoconstruído, natural, social e humano.

Sugere-se também:indicar ou identificar os resultados econômico-finan-

ceiros ou vantagens competitivas de mercado para in-teressados com fins lucrativos ou institucionais, comenfoques socioambientais ou em políticas públicas, semfins lucrativos;

identificar as correlações entre o caso organizacionalde DS e códigos legais e voluntários e os respectivosprocessos ou mecanismos de execução (enforcement);

as possíveis penalidades (pela não execução da ativi-dade ou o não alcance dos padrões eleitos para abor-dagem ao sistema escolhido) e premiações (tangíveis eintangíveis);

as perspectivas de vantagens competitivas e compa-rativas no setor de negócios, nacional e internacional-mente.

Faz-se necessário:alinhar o caso organizacional à visão e princípios de

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DS construídos para a Organização;determinar o roteiro geral para relacionamento do caso

de sustentabilidade às operações gerais da Organização;estabelecer as bases para confiabilidade do Caso com

base em clareza de propósito e ações;alinhar à estratégia organizacional;inserir nas atividades do dia-a-dia;diferenciar no macroambiente e no segmento de

atividades ou de negócios.Clarificar o objetivo principal do caso, estabelecen-

do os limites: organizacional; geográfico (local, regio-nal, nacional, global); econômico-socioambiental; ca-racterizar os agentes interessados e identificar as princi-pais bases ou meios para implementação, de acordocom os parâmetros, indicadores ou elementos que de-limitam a Proposta. Além disso, é necessário:

estabelecer os processos gerenciais envolvidos e re-lacionados a gestão geral como processos produti-vos, produtos, consumo ou uso - efeitos pós-consu-mo, eco-inovações e reorientação de conduta para aSustentabilidade, aprendizagem organizacional, inser-ção nas práticas regulares, e o engajamento de parcei-ros estratégicos e outros interessados.

E identificar agentes internos e externos relevantes,tais como especialistas, gerentes e líderes em diferentesníveis, tomadores de decisões, formadores de opini-ões, líderes externos com influência na cadeia de valor,em outras cadeias do segmento e no macroambienteem geral.

Identificação de conduta deresponsabilidade socioambiental

organizacional.Definição de padrões de conduta perante

todos os interessados

É recomendável conduzir entrevistas e levantamen-

to de informações nas diversas áreas e unidades orga-nizacionais nas quais as atividades são realizadas. Iden-tificar áreas ou unidades relevantes, se as questões, prin-cípios e conceitos relacionados ao DS fazem parte daagenda e quais são as reações das pessoas em relação aeles.

O esquema sugerido na página seguinte, sintetiza aproposta. Com base nela, conclui-se que as informa-ções obtidas devem ser organizadas e usadas na prepa-ração de termos de referência apropriados para a rea-lização de eventos ou de atividades necessárias para ajus-te, aprimoramentos ou mudanças de valores e culturaque permitam levar avante o projeto de DS desejado.

Validação – pelos interessados relevantes –de caso organizacional e demais

documentos propostos.Transparência, exposição, diálogo e

construção de compromissos

A primeira medida trata de garantir adesão dosinteressados relevantes. Para tanto, faz-se necessárioentrevistar, reunir e debater, em eventos com a partici-pação do ecotime organizacional e os demais interes-sados, os documentos para validação e divulgação, coma adoção de práticas já concluídas e experiência acu-mulada de lições aprendidas e teste interno das suges-tões, idéias e documentos, por meio de entrevistas, reu-niões, oficinas e outros mecanismos de comunicação.Outras ações são recomendadas em seguida.

Promover o engajamento e estabelecer o compro-misso de aderência dos diversos ecotimes e demais in-teressados, individualmente, em grupos ou em comu-nidades;

avaliar as opiniões de interessados relevantes e debenchmarking;

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revisar e formatar os textos de visão e de princípiosde sustentabilidade, a partir da experiência obtida como caso organizacional. E mais,

analisar e avaliar o conteúdo de comentários e su-gestões dos diversos interessados, para estabelecer ascorrelações entre a visão e os princípios em pauta, le-vando em conta questões como a proposta de sus-tentabilidade organizacional (forma e conteúdo), o en-tendimento, comentários e recomendações dos inte-ressados, e os aspectos estratégicos e táticos envolvi-dos.

Validar, reconhecer e referendar a proposta e de-mais documentos pertinentes pela alta direção, com oapoio e o engajamento (compromisso) de liderançasrelevantes e outros colaboradores (internos e externos).

Outras medidas são úteis para delinear o plano ini-cial para implementação da proposta de projeto deDS e promover sua disseminação.

Sintetizar os processos atuais de desempenho sus-tentável da Organização.

Identificar e priorizar as ações-chave de sustenta-bilidade em curso, seus impactos ou resultados (positi-vos e negativos).

Analisar os mecanismos e procedimentos para to-mada de decisões.

Rever as principais questões que afetam ou podemser afetadas – na cadeia de valor – pelas ações queserão realizadas, com base na proposta de sustenta-bilidade econômica e socioambiental.

Estabelecer diretrizes estratégicas gerais para alinha-mento progressivo do modelo de DS aos processosde gestão e de produção, com previsão de meios paraavaliação e gestão de impactos e resultados.

Identificar os principais recursos e meios táticos paraações de curto prazo que apóiem e garantam as estra-tégias de DS, com objetivos, alvos mensuráveis e atri-buição de papéis e responsabilidades.

Por último, é necessário ampliar a identificação,engajar e dialogar com os interessados, através de açõescomo as seguintes:

expandir a relação de interessados e elaborar os es-quemas para engajamento dos agentes críticos ou rele-vantes para dar início à implementação da Proposta desustentabilidade Organizacional;

identificar e propor estratégias para engajamento deinteressados internos e externos relevantes;

identificar e organizar os interessados, em função deseus perfis, qualificação e capacitação para ações e ini-ciativas que contribuam para o aprimoramento dasatividades previstas na Proposta de Sustentabilidade;

criar e implementar instrumentos, mecanismos e prá-ticas de comunicação efetiva e com qualidade a todosos interessados relevantes, inclusive o sistema de con-trole de qualidade e de realimentação do processo.

Validação operacional da Propostadocumentos de Visão e de Princípios de

Sustentabilidade.Formalização da Política

A formalização da política de sustentabilidade pres-supõe os várias iniciativas.

Inicialmente, realizar atividades piloto com gruposinternos e interessados externos na cadeia de negóciosselecionada. Nesse caso, é preciso: definir, selecionar eenvolver agentes relevantes para análise, avaliação e buscado comprometimento e aderência das pessoas à pro-posta de sustentabilidade e definir e preparar questões-chave para o engajamento, buscando respostas paraquestões como:

os instrumentos de Política Organizacional foram as-similados e incorporados pelas pessoas?

as pessoas sabem do que se trata?Estão preparadas para o que se espera delas?

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Têm recebido tratamento e atenção adequados departe da Organização?

Seus progressos de desempenho têm sido reconhe-cidos?

Os supervisores têm cumprido suas funções ade-quadamente, em relação aos supervisionados?

As opiniões emitidas pelas pessoas têm merecido adevida atenção?

Há relacionamentos de amizade, no ambiente de tra-balho e fora deste?

São oferecidas e aproveitadas oportunidades paraaprendizagem e desenvolvimento pessoal?

A mensagem da proposta de sustentabilidade estáclara e bem elaborada, em forma e conteúdo?

O processo e os recursos para comunicação adota-dos estão bem elaborados e definidos?

O mecanismo de realimentação está bem definido?Os participantes estão preparados para assumir seus

papéis?Os indicadores métricos para avaliação dos resulta-

dos esperados estão definidos?A continuidade do processo está definida?Uma vez que o quadro geral for melhor conhecido

é preciso estabelecer os temas ou alvos relevantes para:implementação de políticas sociais,oportunidades de ação tripartite (econômica, social,

ambiental),reconhecimento, premiação e remuneração,condutas e diversidades,práticas sociais, inserção, equidade e justiça social,responsabilidades compartilhadas, diálogos, etc.metas e alvos quantificados econômicos e socio-

ambientais.O Ecotime organizacional deve programar e reali-

zar reuniões (seminário, oficina, palestra, curso) comagentes interessados selecionados, para apresentar, dis-cutir e obter a contribuição dos participantes, a fim de

aprimorar a proposta de sustentabilidade, de documen-tos relevantes e do caso organizacional.

A seguir, é preciso aprimorar do caso organiza-cional, o que exige rever a documentação e os subsídi-os e avaliar:

os termos e descritores (em forma e conteúdo) daproposta, dos conceitos de DS, da visão e dos princí-pios de sustentabilidade organizacionais;

as análises de comentários e outras manifestações deinteressados internos e externos relevantes e outrosCasos organizacionais de sustentabilidade selecionados(benchmarking).

O aprimoramento do caso organizacional é feitocom o alinhamento máximo às práticas operacionaisorga-nizacionais de gestão(management)-processo-produ-to-consumo, levando-se em conta: o sistema de pro-duto do-berço-ao-berço; os impactos previstos na ava-liação de ciclo-de-vida e as ferramentas ou instrumen-tos para Resultado Final Tríplice. E ainda, a realimenta-ção do sistema de informação e comunicação com osinteressados.

Estratégias para inserção de DS no eixoprincipal de negócios e atividades

organizacionaisOperacionalização de práticas

organizacionais de DS

Nesse aspecto é recomendável:estabelecer as bases e propor o modelo de planeja-

mento estratégico organizacional, com a inserção de ele-mentos focados no DS;

dominar conhecimentos e conceitos, analisar e avali-ar casos de sucesso e suas relações com as atividadesorganizacionais regulares;

identificar, corretamente, o eixo principal de atividades

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ou de negócios da Organização e estabelecer as rela-ções destes com a missão, visão e valores organiza-cionais gerais;

revisar o caso organizacional, à luz dos textos devisão e princípios de sustentabilidade.

Recomenda-se:rever o modelo geral de operações da Organização,

com foco nas principais dimensões – gestão (mana-gement), produção, marketing, vendas, finanças, pós-venda, atos, atitudes e conduta do consumidor ou usu-ário, na cadeia de valor;

identificar riscos, oportunidades, desafios e metastemporais qualificadas e quantificadas relacionadas aosindicadores econômicos e socioambientais, nas ativi-dades ou gerências específicas de recursos humanos,compras e suprimentos, marketing e vendas, inovaçõese tecnologias, desenvolvimento de produtos, logísticae gestão da cadeia de valor, comunicações e informa-ções, finanças e contabilidade, conformidade e legisla-ção, unidade de produção;

analisar as oportunidades, desafios e dificuldades paraa integração de ações compartimentadas ou ensiladas,com base em documentos e instrumentos de políticade sustentabilidade organizacional, caso organizacionalde sustentabilidade e proposta de sustentabilidade.

rever os resultados de diálogo com os interessadose identificar os principais aspectos de relacionamentoscríticos que poderão ser aprimorados, na cadeia devalor, sob as perspectivas econômica e socioambiental,com vistas à visão de sustentabilidade da Organização;

analisar as áreas ou atividades da Organização, emsintonia (parcial ou total) com a visão e princípios desustentabilidade e das oportunidades para a prática deexcelência em desempenho integrado de plataformasde produção que pratiquem o modelo gestão-proces-so-produto focado no princípio do-berço-ao-berço;

analisar também as áreas de represamento ou confi-

namento (silos) de informações e manutenção de con-dutas convencionais (business as usual) e as novas tendên-cias para integração de saúde, segurança, ambiente edesenvolvimento social à valorização do capital cons-truído (inclusive o financeiro);

analisar as oportunidades para a transformação decondutas reativas (conformidade legal) em pró-ativas(metas qualificadas e quantificadas de excelência de de-sempenho) no que se referem à gestão de resíduos,conservação e uso de recursos, eco-inovações e outrosaspectos convencionais, como elementos para agregarvalor à cadeia de negócios. E também,

analisar as qualidades e potencialidades para mudan-ças de foco integrado, com fechamento de ciclos amontante (upstream) e a jusante (downstream), combinan-do gestão e produção e tomando o produto comoalvo principal para interligar negócios com desempe-nho socioambiental e potencializar a competitividade epermanência de longo prazo (sustentabilidade organi-zacional);

promover a participação de lideranças nas diferen-tes áreas ou unidades organizacionais – jurídica, finan-ças, suprimento, marketing, recursos humanos, produ-ção –, para identificação de valores socioambientais re-ferentes aos diversos tipos de interessados, agregaçãodesses valores aos econômicos tradicionais, e combi-nação deles para a remuneração de financiadores, acio-nistas e investidores;

prever e executar programas de treinamento envol-vendo os interessados indispensáveis e outros impor-tantes, na cadeia de valor da Organização;

prever e implementar esquemas e instrumentos dereconhecimento e recompensas para desempenho di-ferenciado dos agentes e atores que contribuírem parao aprimoramento da proposta de sustentabilidadeorganizacional.

É preciso:

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recomendar temas ou sugestões e garantir a imple-mentação de campanhas para a divulgação do modeloe do novo cenário de sustentabilidade, nos diversosníveis de interesse e através dos diferentes meios de co-municação, com foco aos distintos tipos de interessa-dos;

priorizar as oportunidades de sucesso com foco navisão e princípios de sustentabilidade organizacionais;

identificar, recrutar e engajar os recursos humanosrelevantes da Organização, para participação nas açõese atividades relacionadas à proposta de sustentabilidadeorganizacional;

organizar e implementar projetos e atividades paracapacitação dos participantes, inclusive os processos decomunicação interna. E mais:

comunicar a importância da proposta em toda e atra-vés da Organização e construir o entendimento dasquestões e a importância do caminho a ser percorrido;rever, consolidar e divulgar os indicadores métricos desustentabilidade e os de desempenho da Organização;

estabelecer as bases para articular a proposta de sus-tentabilidade nas atividades organizacionais de todas asunidades da Organização.

Consolidação de parcerias estratégicasCompartilhamento de riscos e benefícios

A consolidação de parcerias estratégicas com com-partilhamento de riscos e benefícios exige que se iden-tifique os fatores ou elementos críticos de sucesso,focados na visão e nos princípios de sustentabilidade ede responsabilidade socioambiental total, como o pri-meiro passo para a consolidação de parcerias estratégi-cas e compartilhamento de riscos e benefícios.

Para isso é necessário,considerar as metas e os alvos políticos, econômi-

cos, tecnológicos, gerenciais, produtivos e mercado-lógicos;

selecionar temas ou focos relevantes para a integraçãogestão-processo-produto-consumo, segundo o modelodo-berço-ao-berço e o potencial de competência e decontribuição de cada parte, como a independência dosetor civil, as habilidades gerenciais, estratégicas, finan-ceiras e produtivas, do setor produtivo privado e osdispositivos regulamentares do setor público governa-mental.

É necessário também identificar e prevenir obstá-culos e dificuldades, tais como desconfiança, causadapela diversidade de expectativas e interesses; expectati-vas não-realísticas e agendas ocultas; desigualdade emcapacitação gerencial, técnica, informações e poder paramanifestação, participação e intervenção e ineficácia dosmétodos de monitoramento, avaliação, medição e co-municação de resultados verificáveis.

Outro passo recomendado é identificar os interes-sados críticos e outros de importância genérica, abran-gendo aspectos de natureza política, gerencial, técnica,financeira e estratégica para a proposta de sustenta-bilidade organizacional, os interesses dos parceiros eoutras potencialidades cooperativas.

Para que se efetive, é necessário levantar os pressu-postos e requisitos técnicos e gerenciais, no intuito dedesenhar o modelo de trabalho ou as ferramentas quedeverão ser usadas para estruturar o processo deengajamento e a participação dos interessados, levan-do em consideração. Exemplos a seguir.

Quem e quais são os atores e seus vínculos?Redes de comunicação existentes e formas de rela-

cionamento (individual, comunitário, social, etc.).Opções derivadas de análises de pontos fortes e fra-

cos, ameaças e oportunidades como, por exemplo:o envolvimento gradual de dois ou mais tipos de inte-

ressados e subseqüente incremento de participantes;

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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seleção de interessados que contribuem para aumen-to de valor, seguido de outros neutros e que potencialou efetivamente contribuem para a redução de valorna cadeia de negócios;

contatos pessoais ou à distância;entrevistas, seminários, oficinas, reuniões públicas,

questionários, internet;gestão de conflitos, coleta de informações, constru-

ção de consenso, identificação e engajamento institucio-nal, construção de confiança;

Quem são os interessados?Que mensagens são emitidas e captadas?Qual é o entendimento de risco ou dano?Qual e como é o processo de comunicação? Também é recomendável identificar e promover

os direcionadores favoráveis, tais como:os ideais das partes e confluências; os objetivos co-

muns, complementaridade e empatia, definição e dis-tribuição balanceada de direitos, papéis e responsabili-dades;

a definição do modelo e do processo de tomada dedecisões;

o exercício de governança responsável, em cada se-tor, segmento ou componente envolvido ou partici-pante, levando em consideração a realimentação aber-ta e transparente, a assunção de compromisso e ocompartilhamento de benefícios.

São consideradas ações indispensáveis: estabeleceros níveis ou padrões de ética e valores de sustentabi-lidade assumidos para determinar a linha de base parao entendimento da responsabilidade socioambientalorganizacional, a visão e os princípios de sustenta-bilidade.

Consolidar parcerias, requer:identificar valores e princípios comuns e conflitantes,delimitar as questões e os temas envolvidos e suas

articulações aos fundamentos de DS,

definir os objetivos comuns e individualizados, combase em critérios de relevância, materialidade e respon-dência,

estabelecer os limites de responsabilidade (Accoun-tability) das partes envolvidas,

determinar os processos e indicadores de conta-bilização, medição, avaliação e comunicação pública etransparência para todas as partes interessadas,

estabelecer a abrangência e o escopo para o diálogo:limites físicos (unidades e instalações), geográficos (dis-tribuição) e operacionais (atividades),

definir o quadro de indicadores métricos de desem-penho para os objetivos e as aspirações comuns e indi-viduais das partes envolvidas, com foco em questõesglobais (sustentabilidade), negócios ou atividade-espe-cíficos (ecoeficiência), os métodos de medição, audi-tagem e comunicação periódica, com metas negocia-das de excelência de desempenho que ultrapassem aconformidade baseada em padrões gerais e coman-do-e-controle de fim-de-tubo,

estabelecer o mecanismo e o sistema de coleta, tra-tamento, produção e disseminação de informações e odevido processo de realimentação (feedback). Para que o processo se consolide, é preciso:

abrir canal de comunicação de duas mãos e estabe-lecer qualidade e integridade das mensagens;

consolidar a credibilidade das propostas;garantir a coerência e continuidade dos procedimen-

tos e a adequação de linguagem ao tipo de interessado-alvo.

Recomenda-se explicitar o Caso organizacional usa-do para demonstrar o modelo de conduta desejado,como plano de longo prazo, e estabelecer as relaçõesentre o modelo de conduta da Organização e a visãode sustentabilidade local, nacional e global, para a qualé preciso construir parcerias estratégicas sólidas.

Durante o processo de comunicação da proposta

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organizacional, é necessário definir as expectativas deconduta dos parceiros, de acordo com o princípio deresponsabilidade total compartilhada, abrangendo ospapéis da Organização, dos consumidores (em todasas fases da cadeia de valor), dos agentes de governo eda sociedade como um todo.

Somente assim haverá o exercício pleno da susten-tabilidade e compartilhamento de oportunidade e atri-buições nos diferentes setores.

Ao proceder o levantamento de expectativas, é ne-cessário tomar algumas precauções, uma vez que vári-as partes interessadas poderão ser involuntariamenteomitidas, do ponto de vista do conceito de responsa-bilidade socioambiental total proposto no Guia.

Isto pode acontecer, por exemplo, com segurado-ras e o próprio sistema financeiro. No caso de seguri-dade, é importante destacar a influência dos planosprivados de previdência. Em relação aos geradores detecnologia, merece atenção especial o fato de que asatividades não estão restritas ao setor empresarial, con-siderando que os governos financiam projetos de ino-vação, pelo menos até a fase pré-competitiva.

As fontes de incentivos fiscais são outro segmentoconsiderável, levando-se em conta que os recursos po-dem ser concedidos para realocamento de empresas.Parcelas de impostos são transferidas para entidadesdo setor empresarial aplicarem em capacitação de re-cursos humanos e outras atividades de interesse especí-fico dos setores representados, como acontece nas Fe-derações de Indústrias, SEBRAE, Sistema SENAI-CNI,entre outros que atuam no Brasil.

De maneira geral, os setores civil, público e empre-sarial tendem a enfatizar expectativas próprias. Para osetor civil, é necessário considerar, no plano dos esfor-ços individuais, a educação, imaginação, herança,criatividade e individualidade. No plano do conheci-mento popular, campanhas, diálogo, difusão, presta-

ção de serviços, contratos e voluntariado, educação esistema de treinamento, saúde, instalações públicas etransporte. Em relação à cultura e a tradição, a trans-missão de cultura e identidade nacional da comunida-de. Quanto à legitimação, destacam-se o consentimen-to e autorização para atuar, aceitação de instituições lí-deres e endosso ao processo democrático.

No setor público, as expectativas quanto à regula-mentação abrangem: impostos, aplicação da lei, anti-corrupção, segurança e saúde, ambiente, direitos traba-lhistas e comércio. Para a infra-estrutura: estradas, trans-portes, energia, telecomunicações, saneamento básicoe distribuição. Na infra-estrutura social: sistema educa-cional e profissionalizante, assistência de saúde, prédiospúblicos de atendimento e transporte. Para os sistemasde seguridade: seguridade social e serviços sociais, pen-sões, seguros, benefícios e prevenção da rejeição. Emsegurança e proteção: forças armadas nacionais, parce-rias e projetos comunitários interculturais.

O setor empresarial comporta expectativas de in-vestimentos sociais, abrangendo: projetos sociais e eco-nômicos em parcerias, instituições educacionais, cultu-ra e projetos comunitários e capacitação. Na discussãode políticas públicas: políticas educacionais e de treina-mento, políticas ambientais e políticas econômicas. Paradefinição e aperfeiçoamento de padrões: governançaempresarial, segurança e saúde, ambiente, qualidade eética. A formação de cadeia de suprimentos compor-ta: produtos e serviços e desenvolvimento de fornece-dores locais. O desenvolvimento de recursos conside-ra: treinamento da força de trabalho e aprimoramentoda rede local de ensino. Quanto a finanças: privatização,tecnologia e multiplicação de riquezas locais.

Por fim, cabe identificar os recursos necessários parao estabelecimento de parcerias, os respectivos papéis eas responsabilidades para o provimento dos meios erecursos financeiros, materiais, humanos e institucionais.

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Recomenda-se:revisar os princípios de Ecologia Industrial e fecha-

mento de ciclos de sistemas produtivos de bens e ser-viços no eixo da cadeia de valor e em cadeias secundá-rias;

examinar os modelos ou casos de ecoparques in-dustriais e avaliar as possibilidade de estimular a im-plantação deste modelo ou de participar de caso já exis-tente, de acordo com o porte, estágio ou poder deinfluência da Organização;

e participação ou montagem de sistema de reapro-veitamento de não-produtos (resíduos), inclusive águae energia (Emissão Zero), envolvendo sua esfera deinfluência na cadeia de valor ou além desta, conside-rando-se as atividades atribuídas aos diferentes tiposde participantes envolvidos, nos distintos níveis do sis-tema.

Ver esquema de configuração dos participantes doSistema de Emissão Zero ou de Conceito Zeri.

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Uma das maneiras para desenhar o modelo geralde inserção de temas e ações relevantes para parceriasestratégicas é através da ancoragem social das ativida-des.

Qualquer que seja o procedimento adotado paraestabelecer as parcerias, é preciso assegurar o estabele-cimento de estratégias, processos, instrumentos e ou-tras ferramentas para organizar o diálogo com os inte-ressados.

Para que isso ocorra, é recomendável: organizar eimplementar redes ou grupos multi-interessados dediálogo (painéis, comitês, grupos de discussão, confe-

rências, seminários, consultas e outras formas conven-cionais de contatos).

A partir daí, selecionar agenda e temas relevantes ede interesses comuns alinhados ao eixo principal de ne-gócios e atividades organizacionais, no âmbito do DS,abrangendo, por exemplo: perfil de produtos, eco-ino-vações, indicadores, elementos e relações de causa-e-efeito, medições e avaliações de impactos, responsabi-lidades compartilhadas, destinação de não-produtos ede produtos pós-uso, consumo sustentável e preven-ção/minimização de impacto socioambiental, merca-do e comercialização, regulamentação, políticas públicas.

Os resultados das ações exe-cutadas devem estabelecer a na-tureza e o conteúdo de interro-gativas para discussão tais co-mo:

como será o futuro?Quais são as incertezas?Como deverão ser as condu-

tas futuras dos vários agentes epartes interessadas?

Como articular as atividadessocioambientais e econômicas?

Quais são os principais alvosmensuráveis?

Estabelecer as dimensões ouâmbitos gerais para abordagemtais como visão, missão e dire-trizes de política; objetivos estra-tégicos de RSA na parceria, as-pectos significativos, atividades-chave de alta, média e baixa re-levância, respostas esperadas erespectivos requisitos, linha debase de RSA, metas qualificadase quantificadas.

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Para solidificar as parcerias estratégicas é preciso ca-racterizar alguns aspectos relevantes.

Segurança, riscos e impactos – benéficos e maléfi-cos – de processos e produtos.

Partes interessadas que afetam ou possam afetar osnegócios ou atividades.

Temas socioambientais relacionados direta ou indi-retamente ao eixo principal de negócios ou atividadesdos agentes na cadeia de valor.

Variáveis ou elementos econômicos e socioam-bientais relevantes aos temas.

Indicadores métricos e suas unidades de medição.Métodos de medição, avaliação e comunicação (re-

latório), com transparência e responsabilidade, paratodas as partes interessadas.

Além disso, a solidificação de parcerias passa por:definição de quem estará envolvido no engajamento;

da capacitação gerencial e técnica;representatividade e liderança no tema e respectivo

âmbito (local, nacional, internacional);expectativas individualizadas e integradas;efeitos ou impactos esperados que afetam ou pos-

sam afetar todas as partes interessadas;temas, atividades e questões envolvidos;onde e quando o engajamento ocorrerá, e por quan-

to tempo;contribuições e aportes financeiros, materiais, técni-

cos e informacionais;como será a estrutura geren-

cial da parceria;funcionamento do fluxo de

informação e comunicação;processos e mecanismos de

tomada de decisões;processos e mecanismos de

acompanhamento e avaliaçãode resultados;

instrumentos jurídicos apropriados;compartilhamento de ganhos e perdas.Concluídas as tarefas, será preciso:

distribuir e compartilhar informações e conhecimen-to;

definir prioridades, alvos e objetivos comuns;identificar, envolver, distribuir, atribuir e reconhecer

os poderes envolvidos nas parcerias;estabelecer e demonstrar os valores agregados aos

processos, produtos ou outras formas de interesses es-pecíficos ou comuns;

desenvolver confiança e flexibilizar; estabelecer a tem-poralidade, freqüência e intensidade dos relacionamen-tos e processos, e formar redes de relacionamento insti-tucional.

É recomendável a definição do padrão de excelên-cia gerencial para os projetos ou ações de parceria, combase na negociação de condições, critérios e outrosparâmetros gerais para atuação dos parceiros, confor-me demonstrado no quadro na página a seguir, sobreo processo de comunicação na Organização.

Sugere-se a negociação do processo de comunica-ção dos parceiros; a avaliação e a construção das basespara a busca de fatores de sucesso nas negociações efortalecimento de parcerias estratégicas. E analisar, porexemplo, a matriz de Long-Arnold (abaixo) de fatoresde sucesso de parcerias, especialmente com ONGs.

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Por fim, a concepção e a implementação de esque-mas que favoreçam e recompensem as lideranças emDS.

NOTAS

1São quase 300 códigos de conduta, mundialmente. Ver Furtado,J.S. 2003. Princípios, códigos de ética e capacitação paraResponsabilidade Socioambiental RSA. Livre acesso em

www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina. Gestão com Respon-sabilidade Socio-ambiental.2www.google.com,www.wisenut.com, www.copernic.com3www.projectsigma.org oferece inúmeras ferramentas, modelos eexemplos, abrangendo diversos aspectos envolvidos na construçãode sustentabilidade organizacional.4 Grayson, D. & Hodges, A. 2002. Compromisso social e gestãoempresarial. 320 pp. Publifolha, S.Paulo.5 http://www.gemi.org/sd/6 http://www.projectsigma.com/Toolkit/SIGMABusinessCase.pdf

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Revisão do sistema de tomada de decisão

O processo de revisão do sistema de tomada dedecisões exige a análise dos efeitos positivos e negati-vos do modelo de governança praticado e o estabele-cimento das relações com a Visão e com os Princípiosde Sustentabilidade definidos para a Organização. As-sim, é preciso considerar o modelo de governançaorganizacional vigente, para definição de objetivos e atomada de decisão, levando-se em conta as caracterís-ticas dessa governança. Se é vertical, monolítica, patri-arcal, controladora, fechada a agentes externos ou se étransversal ou horizontal, adaptativa, comunitária, dis-tributiva, aberta às expectativas e objetivos de agentesexternos.

Se adota o modelo de cima para baixo ou de baixopara cima, o envolvimento de executivos e os mecanis-mos adotados para aproximação ao quadro de cola-boradores.

Deve-se observar a ensilagem ou confinamento dequestões econômicas, sociais e ambientais e seu ali-nhamento (ou desalinhamento) ao eixo de negócios oude atividades da Organização. É necessário, além disso,ater-se à Visão de resultado final (Bottom Line) versus re-sultado final tríplice (Triple Bottom Line), aos mecanis-mos de aprendizagem e treinamento, além de oportu-nidades para institucionalização de novos valores e cul-tura organizacionais.

Uma outra ação consiste em rever o processo paraenvolvimento, engajamento e comprometimento delideranças e demais colaboradores à participação nadefinição de macro-objetivos que atendam ao modelointegrado de gestão-processo-produto-consumo sus-tentáveis. É preciso situar o objetivo entendido comoo que se pretende fazer, o espaço ou distância entre arealidade presente e a esperada, os resultados, tangíveis(métricos) ou intangíveis (valores indiretos, contextuaisou potenciais), esperados. E ainda, o macro-objetivosustentável traduzido em objetivo de larga escala, gran-de volume ou de alcance de longo prazo, alinhado aoconceito de DS, em suas três dimensões.

É necessário verificar como o modelo atual degovernança opera em relação à prática de mercadorepresentada pela definição de objetivos não-sustentá-veis, que resultam em aumento sistemático e crescenteuso de recursos naturais e energia, materiais proceden-tes da produção e consumo de bens e serviços. E tam-bém no desarranjo da superfície da terra, especialmenteda camada fértil do solo, dos recursos na natureza e adegradação biogeofísica e dos ciclos naturais, decor-rente de atividades humanas, relacionada à produção efruição de bens e serviços. Faz-se imprescindível,

rever o conceito expandido de “produto”, conside-rando-se o valor incorporado (porém, não necessaria-mente medido) de volumes distintos de recursos bióticose abióticos desorganizados em seu arranjo natural, mate-rial retirado da natureza (capital natural);

área (superfície) da terra comprometida para abioprodução e serviços naturais; energia usada para a ex-tração e o transporte de materiais; energia e materiais usa-dos na produção;

CORRELAÇÃO ENTRE GOVERNANÇA EMACRO-OBJETIVOS SUSTENTÁVEIS -

ALINHAMENTO DE PROCESSOSDECISÓRIOS E DISTRIBUTIVOS

04 ESTABELECIMENTO DE MACRO-OBJETIVOS ORGANIZACIONAISSUSTENTÁVEIS (MACRO-PLANEJAMENTO)

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emissões de resíduos e de energia dissipada;energia entrópica no processo, produto e emissões;missões e energia para o funcionamento do produto;materiais descartados em embalagem e restos do pro-

duto ao final da vida útil;energia para transporte e tratamento de descartes e,destinação ambiental de resíduos, embalagens e pro-

duto ao final da vida útil, levando em conta, a biode-gradabilidade, a bioacumulação, o deslocamento nacadeia alimentar e lixiviação (percolação, mobilização).

Outra ação importante na análise dos efeitos do mo-delo de governança é identificar as áreas ou unidades naOrganização, onde existam ou possam existir zonas deperigo para a efetiva sustentabilidade integrada. Taiszonas são representadas pelo pensamento patriarcal epelo falso senso de segurança, pela abordagem socio-ambiental e econômicaconfinada, pela visãoobscura da sustentabi-lidade, pela confusãosobre causa e efeito, pelafalta de informação, peloinsuficiente mecanismopara aprendizagem e fa-lha na institucionalizaçãoda sustentabilidade.

A revisão do sistemade gestão exige tambémcorrelacionar os Princípi-os de Sustentabilidadedefinidos para a Organi-zação aos macro-objeti-vos já estabelecidos, ba-seados em padrões de ex-celência de produção jápraticados.

Algumas ações devem

ser executadas, como:rever os macro-objetivos estabelecidos e identificar

os aspectos econômicos, sociais e ambientais explícitose implícitos;

identificar os principais direcionadores (drivers) – nosetor ou no mercado – que determinam a concepçãode macro-objetivos focados na sustentabilidade globalda Organização, além de identificar os macro-objeti-vos sustentáveis de organizações atuantes no setor (bench-marking), necessidades ou indicadores mercado-orien-tados, que possam atender, incluir ou corresponder,implícita ou explicitamente, a cada uma das três dimen-sões do DS. Verifique a sugestão de direcionadores no esquemaa seguir:

DIRECIONADORES DE MACRO-OBJETIVOS INTEGRADOS

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DEFINIÇÃO DE GRANDES ALVOSSUSTENTÁVEIS

Definição de perfis críticos e relevantespara a construção de macro-objetivos da

Organização

É importante selecionar os colaboradores críticos erelevantes, levando em consideração a clareza de macro-objetivos, no sentido de questionar o que deve ser feitoe como deve ser feito, por meio de quais ações, ondeimplementá-las e como fixá-las. Deve-se também terclareza quanto aos perfis necessários relacionados à li-derança, às habilidades técnicas, à conformação multi-profissional, com visão plural da organização (depar-tamental, interdepartamental), capaz de articular os di-versos aspectos gerenciais, produtivos e comerciais.

A clareza de papéis no âmbito da credibilidade, in-fluência, entendimento das funções Organizacionais eos relacionamentos destas com o desempenho susten-tável integrado econômico e socioambiental (TripleBottom Line), em todas as unidades e operações gerenciaistambém é um fator relevante na construção de macro-objetivos organizacionais sustentáveis.

Construção de conceitos e processos paradefinição de macro-objetivos sustentáveis

Nesse processo, é importante definir as bases con-ceituais, organizacionais, produtivas e de mercado, re-lacionadas à prática de DS na Organização, para uso naconstrução de macro-objetivos sustentáveis. Isso pres-supõe analisar os resultados obtidos com a execuçãodas Tarefas; selecionar e consolidar os conceitos, osprincípios, as diretrizes e outros elementos infor-

macionais relevantes para a construção de macro-ob-jetivos sustentáveis. E construir a definição do que se en-tende por “objetivo economicamente viável e socio-ambientalmente adequado”, quando comparável ao cha-mado “objetivo não-sustentável ou socioam-bientalmenteinadequado”, no âmbito da Organização, com metastemporais e alvos mensuráveis.

Construir o arcabouço ou sistema para estabeleceros macro-objetivos sustentáveis para a Organização éoutra exigência. Para tanto, é preciso a identificação eanálise dos processos para definição de objetivos e re-gras de engajamento, de acordo com as práticasorganizacionais correntes; dos fluxos de informação ede comunicação mais relevantes e os pontos críticospara fechamento de ciclos de informações – a mon-tante e a jusante.

Deve-se eleger prioridades, no âmbito de negóciosou de atividades, de acordo com a missão da Organi-zação, que possam servir para a definição de macro-objetivos sustentáveis alinhados à visão e aos princípiosde sustentabilidade e representativos da proposta demelhoramento contínuo das práticas de gestão geral,processo de produção, características dos produtos eo desempenho destes últimos no ambiente de consu-mo.

É preciso utilizar os recursos e as habilidades (pes-soais e institucionais) disponíveis em relação aos inte-ressados críticos para o estabelecimento de técnicas oumetodologias (por exemplo, backcasting, forecasting, Delfi),a fim de identificar, selecionar e priorizar temas ou pro-blemas (distância entre a realidade atual e a futura dese-jável) mais impactantes, no setor de atuação e outros,de caráter global. Certos temas e problemas que deve-rão receber atenção imediata, por estarem diretamenterelacionados a tipo de negócios, processo, produto ounatureza do consumo e destinação pós-consumo de-vem ser identificados, além de outros que deverão ser

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atendidos em prazos maiores, em conseqüência dosestágios tecnológico, econômico ou das estruturasinstitucionais nos setores governamental, social e priva-do.

Os temas priorizados do ponto de vista econômi-co e socioambiental, para que sejam objeto de aborda-gem integrada de gestão-processo-produto-consumosustentável e de acordo com o foco do berço-ao-ber-ço e fechamento de ciclos a montante e a jusante.

É preciso adotar e implementar o modelo de pre-venção ou de processo de transição acelerada, paramigrar de fim-de-tubo para prevenção e ecoeficiência.

Adotar e institucionalizar os termos e condições paracumprimento do compromisso de longo prazo, po-rém com metas temporais pré-estabelecidas, por exem-plo, levará 5, 10, 15, 25 anos ou mais.

Combinar e priorizar as alternativas para o uso deferramentas como, por exemplo, Fator 10 (para des-materialização e substituição), orientação por indicado-res, ecodesign, dados de análise de ciclo-de-vida, pro-dução limpa, ecoeficiência, emissão zero, fardo ecoló-gico, entre outras necessidades.

É recomendável identificar as reais possibilidadesgerenciais e produtivas, na Organização, para tornar osmacro-objetivos viáveis, levando em consideração di-ferenças de pontos de vista e influências internas e ex-ternas, como:

os diferentes níveis hierárquicos que poderão influ-enciar a aceitação,

a harmonia no entendimento de conceitos envolvi-dos e os níveis de responsabilidade compartilhada pe-los diversos interessados (aqui incluídos os shareholders),

as informações necessárias, disponíveis e faltantes,levando-se em consideração os aspectos como urgên-cia, seriedade, relevância, consistência, clareza, atualida-de e originalidade dos dados e informações com juízode valor,

e a necessidade ou conveniência de construção deparcerias estratégicas. Identificar de que maneira determinado macro-ob-jetivo poderá contribuir para a competitividade da Or-ganização no mercado, levando em conta:

efetiva agregação de valor ao produto e ao valor daOrganização, em longo prazo,

prevenção ou minimização de falhas de mercadocausadas por externalidades e informações deficientes,

diferenciação de produto-serviço-consumo no mer-cado setorial ou área de atividade,

visibilidade, reputação e construção de confiança namarca ou no nome da Organização perante todos osinteressados,

importância ou significação da sustentabilidade dosresultados previstos, na cadeia de valor.

É preciso estabelecer os critérios, os instrumentos,os mecanismos e os demais elementos do arcabouçopara a definição e a avaliação de macro-objetivos sus-tentáveis alinhados ao eixo de negócios ou de ativida-des e inseridos na visão e nos princípios de sustenta-bilidade da Organização.

Os elementos apresentados a seguir, entre outrosde interesse próprio para a Organização:

articulação ao eixo central de negócios ou de ativi-dades organizacionais, à visão e aos princípios de susten-tabilidade estabelecidos;

alinhamento às três dimensões do DS.A seguir alguns indicadores integrados, de caráter

econômico, social e ambiental, de importância local eglobal, envolvendo saúde, qualidade de vida e dos sis-temas naturais.

Acesso a bens pessoais: bens materiais, emprego, edu-cação, acesso à informação, saúde, segurança, liberda-de, proteção, liberdade de escolha, direito de participa-ção, qualidade de vida social e ambiental, lazer e eqüi-dade.

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Sustentabilidade social: qualidade de interações e re-lacionamentos, valores, cooperação, aprendizagem,confiança e respeito.

Recursos renováveis: ecossistemas; biomas, junto comseus componentes (biodiversidade) e dinâmica (pro-dutividade); fluxos de energia e de água.

Extensão de disponibilidade de longo prazo dosrecursos minerais.

Manutenção dos serviços ou utilidades naturais - oxi-gênio, energia renovável (solar, eólica, marés) ou fóssil,fossas ou sumidouros naturais, onde os materiais e ener-gia são depositados, capacidade de carga (assimilação,bioconversão), regulação climática, prevenção de ero-são, topografia, depuração de água, regeneração de solo,controle natural de vetores, cadeia alimentar, recreação,paisagens e cenários.

O uso da natureza para o bem-estar humano e ou-tras espécies do planeta, a partir dos quais o homemobtém ou cria suas riquezas.

IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DECRIAÇÃO DE MACRO-OBJETIVOS

Criação de ato de descontinuidade nomodelo de gestão (management) e produção

(processo e produto)

É preciso criar um ato simbólico de descontinuidadeno modelo de gestão, produção e produto, segundo avisão do-berço-ao-berço, para demonstrar a impor-tância do modelo de criação de macro-objetivos sus-tentáveis. Para isso deve-se identificar os riscos (que in-cluem: acidentes, falhas, penalidades, custos ocultos, gas-tos contingenciais, expansões, externalidades, não-con-formidades, mudanças de legislação, barreiras não al-

fandegárias, perda de produtividade, perda de compe-titividade, passivos socioambientais, ações judiciais eoposições cívicas). Isso feito, é necessário identificaroportunidades para:

redução de custos, ao ingresso em novos mercados,tecnologia,produtos socioambientais diferenciados,diferenciação em gestão integrada econômica e

socioambiental,avaliação positiva de colaboradores e outros inte-

ressados,retenção de pessoal qualificado,avaliação por terceiros, à qualificação de fornecedo-

res,qualificação e confiança de consumidores, imagem perante a comunidade,receptividade local,parcerias estratégicas fortes,balanço neutro de CO2,diálogo com oponentes,trabalho voluntário pelos colaboradores.Depois, é recomendável avaliar as situações e siste-

matizá-las de acordo com critérios de abrangência, re-levância, pertinência e emergência e, se apropriado, es-tabelecer comparações (benchmarking), além de identifi-car pressões, expectativas e restrições de interessadosrelevantes para a Organização, por exemplo: acionis-tas/investidores/analistas de mercado, ONGs, agênci-as reguladoras, colaboradores/funcionários, concorren-tes, participantes na cadeia de valor, consumidores, com-pradores, seguradoras, formadores de opinião, lide-ranças internas e externas, tendências internacionais enacionais, ícones, paradigmas e ferramentas emergen-tes, parcerias, investimentos, mercado.

Os próximos passos comportam ações como,preparar argumentos de convencimento sobre as

questões identificadas e selecionadas com análise de FOFA,

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fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças,produzir e distribuir texto com reafirmação de com-

promissos para e com o DS, reforçando a necessidadede participação de todos;

destacar ações inovadoras das pessoas;apresentar aos colaboradores internos resultados de

auditoria socioambiental já realizada ou documentoequivalente com resultados de ações sociais e ambientaise levantar opinião a respeito.

Também é importante selecionar textos de tercei-ros ou da Organização que abordam as vantagens com-parativas ou competitivas baseadas em medidas de re-dução de consumo de materiais (inclusive água e ener-gia), prevenção ou minimização de emissões de resídu-os (não-produtos), principalmente os tóxicos e perigo-sos. Feito isso, deve-se submetê-lo à análise dos cola-boradores internos, solicitar comentários a respeito daimportância dos resultados econômicos para a Orga-nização, oportunidades de emprego e apoio da comu-nidade ou da sociedade.

Consistem ações relevantes nesse contexto:solicitar a manifestação de colaboradores internos e

interessados externos a respeito dos resultados mais im-portantes alcançados pela Organização e a indicaçãoou sugestão de temas importantes que ainda não fo-ram abordados;

estimular os colaboradores a pensarem em macro-ob-jetivos orientados para consumidor verde, marketing eco-lógico, acesso público à informação socioambiental, com-pras governamentais verdes e confiabilidade de marca;

demonstrar as vantagens competitivas e comparativasdo alinhamento dos macro-objetivos à visão e aos princí-pios de sustentabilidade.

Uma outra ação a ser implementada é identificar asquestões legais e regulamentares críticas a serem evitadase, até mesmo, superadas, e os pontos fortes para o saltono desempenho qualitativo e quantitativo em relação aos

resultados esperados ou percebidos.Também é recomendável comparar os macro-ob-

jetivos sustentáveis a outros não-sustentáveis ou até mes-mo parcialmente sustentáveis, preferencialmente afins ecom valor de mercado. Nesse sentido, deve-se conside-rar:

os impactos e os resultados socioambientais faltosos,deficientes, maléficos ou insatisfatórios;

a prevenção de situações indesejáveis em curto, mé-dio e longo prazo;

os mecanismos de prevenção e, quando impossível,temporariamente (nível de estágio tecnológico), de mini-mização, preparação e prontidão para riscos e acidentes.

Por último, é necessário estabelecer o foco em interes-sados responsáveis, parcerias estratégicas, cadeia de valore no compartilhamento de bens e responsabilidades.

Capacitação para formulação de macro-objetivos

As ações devem ser concentradas em:identificar meios e instrumentos para mudanças;identificar as condições e características do treinamen-

to interno e externo;identificar a necessidade, a capacidade e a qualidade

das habilidades necessárias para a implementação do mo-delo de DS;

delinear ou desenvolver programa de treinamento parao quadro interno e externo.

Relacionamento entre eco-inovação eformulação de macro-objetivos

Para isso, torna-se necessário analisar sistema implan-tado (in place) de avaliação (assessment) para tecnologiasavançadas e ambientalmente adequadas com foco em

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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DS e considerar os aspectos:econômico (mercado-orientado, valoração dos ca-

pitais financeiro, natural, humano e social);ambiental (condições, efeitos e impactos multimeios

água, ar, solo, saúde e segurança humana e comunitá-ria);

ecológico (princípios e ciclos biogeofisicoquímicos,produtividade biológica e biodiversidade);

social (eqüidade, construção de relacionamentos, in-serção, empoderamento, instituições, etc.) e cultural (pa-râmetros não monetários, tradições, crenças, monumen-tos, etc.).

Outras ações previstas implicam,detectar estudos prospectivos, analíticos e de avalia-

ção de políticas públicas;conhecer os ecossistemas e o valor dos serviços ou

utilidades ambientais proporcionados pelo capital na-tural;

corrigir as falhas de mercado causadas por infor-mações deficientes e preços não apropriados para acompetição e, por fim,

avaliar modelos ou critérios de precaução e preven-ção para uso de recursos críticos ou perigosos.

O processo de eco-inovação envolve sistemas inte-grados - visão do berço-ao-berço e permutação (trade-off), multimeios, água, ar, solo - para identificação detendências e lideranças tecnológicas. Depois, deve-sedesenvolver oportunidades para estratégias inovado-ras que levem em conta o equilíbrio ou balanço entreos componentes regulatórios e mercadológicos;.

É importante avaliar tendências em formulação depolíticas tecnológicas, orientadas para a economia, so-ciedade e ambiente (ecodesign). Para isso:

formar parcerias nacionais e internacionais com focona cadeia de valor;

identificar oportunidades eco-inovadoras para o con-sumo sustentável responsável de produtos e,

prevenir ou minimizar os efeitos do consumo finalna cadeia de valor - a montante e a jusante.

Os passos seguintes referem-se a envolvimento dosconsumidores industriais e prestadores de serviços paramatérias primárias e secundárias e consumidores finaisde produtos (bens e serviços), e reconhecimento dasforças e dos paradigmas de mercado como direito deescolha, diversidade de produtos ofertados, multipli-cidade de interessados e dos riscos (relações de causa eefeito existentes ou previstas) de acordo com a visãode avaliação do ciclo de vida.

A identificação das oportunidades eco-inovadoraspara tecnologias remuneratórias e promotoras de lide-rança de mercado envolve:

medição e avaliação dos impactos (positivos e nega-tivos) de processos e produtos em relação ao aprimo-ramento ou reconstrução socioambiental;

consideração de fatores ou elementos críticos comoredução do consumo de energia e recursos, efeitos glo-bais como acordos, protocolos, e arcabouços interna-cionais, além dos efeitos locais e nacionais, e

passagem de conduta reativa baseada em processoscom padrões mínimos regulamentados para pró-ativa- melhores práticas para excelência em desempenhointegrado ao DS.

A construção de programas de capacitação e apren-dizagem para eco-inovação abrange,

explicitação de demandas ao setor público de finan-ciamento,

geração da fase pré-competitiva de tecnologias parasustentabilidade (em oposição às tecnologias de fim-de-tubo) nas universidades e institutos de pesquisa,

passagem para tecnologias custo-competitivas (oude mercado) pelas empresas para tecnologias sustentá-veis;

adoção da linha de base representada pela avaliaçãode ciclo de vida, cenários prospectivos (forescasting) e

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retroativos (backcasting), junto com os fatores aprimo-ramento 4 e 10 (50 em alguns estudos) da ecoeficiênciae eco-reestruturação.

Há, ainda, outras ações que merecem ser desenvol-vidas. Entre elas estão os desafios a serem abordadosem programas de capacitação para a construção demacro-objetivos sustentáveis a fim de determinar o quefoi feito para que a Organização atingisse a situaçãoatual.

Avaliar aspectos ou questões fundamentais para aconcepção de macro-objetivos sustentáveis, toman-do-se o futuro ideal e construindo o caminho em suadireção e quais as ferramentas recomendáveis e maiseficazes para isso.

Analisar os critérios que deverão ser usados para se-lecionar impactos e indicadores integrados (econômi-cos e socioambientais) de processo-produto-consumoe usá-los como elementos estratégicos a partir de en-tendimento global ou geral do tema. Para isso é preci-so compreender a situação atual com relação aos pa-drões ou impactos quali-quantitativos; apontar possí-veis soluções e prioridades fundamentadas em viabili-dade econômica e técnica dentro de limites de excelên-cia de desempenho socioambiental e com margens deretornos adequadas e apropriadas às expectativas dosinteressados.

Deve-se também procurar ações ou iniciativas, noâmbito da Organização, que contribuam para prevenirou eliminar a concentração sistemática de substânciasna superfície da terra, resultante ou derivada dos pro-cessos geradores de bens e serviços, como o consumode combustíveis fósseis em relação a renováveis, desma-

terialização e substituição, prevenção ou minimizaçãodo fardo e da pegada ecológica.

Na busca por alternativas à concentração sistemáti-ca de substâncias na superfície da terra derivadas douso e da fruição de bens e serviços pela sociedade emtodos os níveis de consumo, torna-se pertinente desen-volver ações como: o uso de tecnologias e materiaismenos dissipativos e emissores não-intencionais de re-síduos, a prevenção do uso e de geração de materiaispersistentes (especialmente os bioacumulativos), a ado-ção de modelos de resíduo zero, os ecoparques indus-triais e outras formas de parcerias estratégicas.

Observa-se que a degradação e o desarranjo dosrecursos na área bioprodutiva da terra (ecosfera) sãocausados por processos, produtos, resíduos e hábitosde consumo em toda cadeia de valor resultantes damá-gestão da parte bioprodutiva (ecosfera) da terra,de instalações ou complexos produtivos que necessi-tam de grandes superfícies, grandes volumes de bio-diversidade, áreas e transporte massivo.

Outro fator negativo é a redução sistemática da ca-pacidade da sociedade em encontrar meios sustentá-veis para atender a suas necessidades, derivada da ofer-ta de produtos desnecessários, não-sustentáveis, pro-cessos e produtos com elevada externalidade, tecno-logias de autodependência para o consumidor e eleva-dos preços socioculturais com venda de produtos quepoderiam ser substituídos por venda de serviços.

Outras questões como falta de contabilização totalde preços (full cost pricing), falta de orientação e educa-ção para o consumo sustentável/responsável nas ca-deias de valor estão incluídas no processo.

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CONSTRUÇÃO DE INDICADORESECONÔMICOS E SOCIOAMBIENTAIS

Identificação de indicadores importantespara a Organização

Consistem de procedimentos necessários para iden-tificar, analisar, avaliar e selecionar indicadores métri-cos que expressem as relações entre as atividades ounegócios da Organização e os aspectos positivos (ati-vos) e negativos (passivos) econômicos, ambientais esociais em relação aos interesses e expectativas de to-dos os interessados. Sugere-se examinar, também, ainserção no capítulo Medição e Avaliação de Desem-penho Sustentável.

Os indicadores intangíveis organizacionais, que jásão conhecidos pelos analistas, como capital humano,incluem a habilidade em gestão, informação, culturaorganizacional, reputação, posicionamento estratégico,patentes e direitos autorais.

Outros indicadores socioambientais intangíveis derelevância crescente, são valor de marca e confiança,satisfação dos interessados, capacidade para eco-ino-vação e desenvolvimento de novos bens, serviços ouprocessos que agregam valor, mas previnem ou redu-zem, significativamente, os impactos ambientais, combase em elementos como: análise de ciclo de vida,ecodesign, fardo ecológico, intensidade material porunidade de serviço, balanço de massa, revalorizaçãode materiais não-ecoeficientes, extensão da função oudo serviço e outras ferramentas, conhecimento e ca-pacidade de aprendizagem, gestão integrada da susten-tabilidade atual e sustentabilidade futura, ética, trans-

parência, capacidade de resposta, prontidão e prepara-ção para acidentes, habilidade para identificação de ris-cos e oportunidades, riscos cumulativos (proteção dasaúde humana e qualidade ambiental, contabilizaçãototal socioambiental) gestão de externalidades e outrosaspectos relacionados a processos e produtos, confor-me o foco do berço-ao-berço.

Existem fatores negativos, como periculosidade eoperacionalidade, representados por desvios de fun-ções previstas no design original, falha na confiabilidadee desempenho de engenharia; falha de efeito no funci-onamento de processo e produto (bens e serviços) efalha no ecodesign de produto.

Por isso, há necessidade de revisar o modelo adota-do de gestão de emissões e transferência de resíduos, afim de identificar os aspectos, efeitos ou agentes deimpactos provocados pelas atividades da Organização.Rever os manuais de produção ou de geração de emis-sões.1 E ainda, revisar as recomendações de quadrosde referência de indicadores econômicos e socio-ambientais (oficializados, propostos ou simplesmentemencionados) para a atividade ou negócio da Organi-zação, em dois níveis fundamentais.

Sustentabilidade Global – contribuição para o es-quema estabelecido pelo IBGE para o Brasil e suaharmonização aos modelos ou esquemas de Organi-zações internacionais ou agências multigovernamentaisque monitoram a sustentabilidade do planeta.

Sustentabilidade Setorial (mais apropriadamente,Ecoeficiência), envolvendo indicadores de negócio-es-pecíficos e genéricos, aplicáveis ao eixo principal deatividades, bens e serviços ofertados pela Organização,em sintonia com políticas públicas às quais a Organiza-

05 ESTABELECIMENTO DE ESTRATÉGIAS E TÁTICAS PARA ASUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIOAMBIENTAL

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ção está sujeita nos níveis federal, estadual e municipal.Além disso, deve-se criar instrumentos de mercado emrelação às partes interessadas, de acordo com parâmetrosfundamentais, como integrantes na cadeia de valor amontante (upstream) e a jusante (downstream) e responsa-bilidade organizacional total, abrangendo, entre outrosaspectos, a capacidade de gestão econômico-financei-ra e socioambiental, transparência, capacidade de res-posta, conformidade e verificabilidade perante todosos interessados.

O enfoque atual de conceito de riqueza deverá serrelacionado com os bens pessoais, compostos por bensmateriais, emprego, educação, acesso à informação, saú-de, segurança, liberdade, proteção, liberdade de esco-lha, direito de participação e decisão, qualidade de vidasocial e ambiental, lazer e justiça social (inserção socio-econômica e equidade). O de bens nacionais - à totalida-de de bens e serviços acessíveis ao povo sem distinção.

Há de se considerar os problemas gerados pelomodelo atual de produção e consumo de bens e servi-ços para as próximas cinco décadas, conforme o Pro-grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente(PNUMA) no que diz respeito aos setores industriais(energia, agricultura, construção civil, indústria de trans-formação, serviços, transportes, saúde) que, por suavez, relacionam-se com temas econômicos e socio-ambientais, como mudança do clima, resíduos em ge-ral, poluição do ar, ambiente marinho e costeiro,depleção de recursos, poluição de água, assentamentosurbanos, dispersão de tóxicos, perda de biodiversidade,depleção da camada de ozônio.

De acordo com o World Resources Institute, assuntosrelacionados à população são desafios para países não-desenvolvidos ou de economia em transição. Nissodeve-se considerar as características da população emcrescimento como: aumento de desigualdades; rendacrescente, porém, ainda menor do que nos países de-

senvolvidos; aumento da força de trabalho apesar decontinuar os problemas de emprego; aumento da ex-pectativa de vida, mas com sérios problemas de saúde;dificuldades de acesso à disponibilidade de alimentos,necessidade crescente de educação formal e de habili-dades profissionais; dificuldade de acesso à água (esti-ma-se 40% da população em áreas de escassez) e au-mento notável da população urbana.

Além disso há demandas especiais, como: a mu-dança do modelo de produção, transporte e armaze-nagem de alimentos, agricultura orgânica e fazendas pes-queiras (fish farming); Emissão Zero e Produção Limpa,fontes alternativas de energia e tecnologias com efici-ência energética, Capital Natural com valor de merca-do; tecnologias poupadoras de água; sistema de trans-porte sustentável, tecnologia democrática de informa-ção e comunicação; democracia pluralística e respon-sabilidade das Organizações. Em tal contexto, é neces-sário falar sobre controle democrático, ou seja, esforçoorganizado para aumentar o controle sobre os recur-sos e instituições reguladoras em uma situação socialde parte de grupos ou movimentos dos excluídos. Etambém sobre controle democrático da informação,isto é, direito público de livre acesso à informação, queafeta os interesses dos indivíduos e comunidades.

Outro aspecto a ser observado são os enfoques paraeco-inovações tecnológicas:

inventário de resíduos,balanço de material e de energia, eefeitos integrados econômicos e socioambientais.É preciso ficar atento para as influências de legisla-

ção e regulamentação ambiental (mudança de mode-los) relacionadas com a 1ª geração (até anos 90), quecomando-e-controle e fim-de-tubo para a de 2ª gera-ção (tendências atuais), com prevenção-sistemas de de-sempenho-responsabilidade socioambiental de acessopúblico. Observe o esquema na página ao lado.

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Construção do conceito de indicadorintegrado econômico-socioambiental para

a Organização

É necessário estabelecer o conceito levando em con-ta que os indicadores constituem, em geral, unidades

ou elementos-chave que possam ser medidos e utiliza-dos para construir estatísticas, revelar a exatidão de si-tuações ou eventos, sinalizar sintomas ou índices,visualizar a condição de um determinado sistema, re-velar ou permitir antever tendências cronológicas so-bre aspectos importantes acerca de fenômeno, estadoou condição, aspecto ou atividade cujo significado ul-trapassa as propriedades associadas às estatísticas.

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O indicador deve ser unidade de medida - elemen-to informativo de natureza física, química, biológica,econômica, social ou institucional - representado porum termo ou expressão que possa ser medido, ao lon-go de um espaço de tempo para caracterizar ou ex-pressar os efeitos e as tendências e avaliar as inter-rela-ções entre os recursos naturais, saúde humana e a qua-lidade ambiental dos ecossistemas.

Estabelecimento do processo paraconstrução do quadro ou esquema

apropriado de indicadores econômico-socioambientais integrados para as

atividades ou negócios da Organização

Considerando as possíveis situações para constru-ção de indicadores, é preciso observar os recursos na-turais renováveis e não-renováveis do planeta, como:

a extinção de espécies animais e vegetais a taxa mai-or do que a garantia da biodiversidade,

a extração de madeira acima da capacidade de re-posição natural dos estoques florestais,

a recomposição de biodiversidade e dos estoquesde recursos naturais e,

valoração de recursos bióticos.Os serviços naturais, excluem:

depósito ou prevenção de resíduos sobre a crostada terra (ecosfera ou biosfera), em relação aos limitesde bioconversão ou biorecuperação dos rejeitos e resí-duos depositados,

consumo de água maior ou menor do que a capaci-dade da recuperação dos ciclos e reposição dos esto-ques,

proteção ou erosão do solo acima da capacidade derecuperação das áreas degradadas,

destruição ou recomposição de criadouros (man-guezais, brejos, matas ciliares) superior à taxa de recu-peração natural.

Outro fator relevante é o valor cênico ou estéticonatural, como:

conservação ou destruição de monumentos e ou-tras formas de belezas cênicas e,

atividades turísticas benéficas ou predatórias, que atra-palham a capacidade de regeneração dos sítios naturaise arqueológicos.

Vale mencionar a importância do Capital Humano,com referência aos impactos positivos ou negativos parahabilidades humanas, saúde e educação, e do CapitalSocial como:

construção ou danos sobre os relacionamentos in-terpessoais e comunitários, permitindo ou impedindoque as pessoas possam se organizar para atuar compoder de voz e voto;

a consolidação ou destruição das condições para ajustiça e eqüidade em relação à capacidade de organi-zação das comunidades e outros segmentos sociais.

Contribuições ou danos às organizações, instituiçõese governos, em relação à capacidade de resposta ou dereorganização não devem ser ignoradas.

O Capital Físico construído pela comunidade refe-re-se a edificações, infra-estrutura, informações queatendam as necessidades humanas dentro de padrõesde qualidade, sem comprometer a capacidade de su-primento de materiais pela natureza e a otimização dosmateriais existentes.

É importante construir visão integrada a longo pra-zo, que abranja os aspectos sociais, econômicos e am-bientais, justiça, equidade, visando as gerações atuais efuturas.2

Observe as sugestões de passos para possíveis situ-ações de construção de indicadores, nas páginas a se-guir.

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SUGESTÃO DE ESQUEMAS DE PASSOS

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Construção do esquema de indicadoresapropriados para as atividades ou negócios

da Organização

Primeiro, deve-se produzir a relação completa deindicadores criados nas categorias sustentabilidade, ne-gócio ou atividades específicos e genéricos com po-tencial de uso para a Organização. Por último, é neces-sário selecionar os indicadores por categoria, que serãoutilizados pelas unidades e em todas as operaçõesgerenciais da Organização, e caracterizar, descrever edelimitar cada indicador, a fim de designar a respectivaunidade e o método de medição; fixar a periodicidadede aferição e avaliação de desempenho com base nosindicadores eleitos e, por fim, estabelecer a relação en-tre indicador e centro de custos no sistema de contabi-lidade da Organização.

ESTABELECIMENTO DE CENTROS DECUSTOS PARA O DESEMPENHO

ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTALINTEGRADO

Identificação de custos, de acordo com anatureza do evento

Os custos das atividades próprias das organizaçõesprodutoras de bens e serviços, os custos privados oucustos internos, são gerados pelo próprio negócio. Osvalores impostos aos consumidores e ao ambiente, sãocustos sociais também chamados de externalidades oucustos externos, não podem ser legalmente imputadosao negócio.

As ferramentas para contabilizar e entender o am-plo espectro de custos ambientais causados pela Orga-

nização e incorporá-los na decisão de negócios aindanão estão suficientemente desenvolvidas nem utiliza-das. Porém, há várias propostas, sugestões e até mes-mo manual para lidar com instrumentos que visem aredução de custos através do enfoque ambiental 3. Tra-ta-se de um aspecto importante a ser consolidado pararevelar custos e ganhos ambientais que, na maior parte,ainda não são visíveis para as Organizações.

Nessas condições estão, por exemplo, o consumoexcessivo de matérias-primas, água, energia e outrosinsumos, o mau uso do produto pelo consumidor,processos industriais de riscos, passivo ambiental, mul-tas e obrigações para remediação, impactos visuais esonoros, matérias-primas inadequadas, auditoria e ava-liação de riscos, controle de acidentes e emergências,seguro ambiental com prêmio de alto risco, perda desubprodutos úteis, sistema inadequado de segurança deprocesso, gastos com manejo e destinação de resíduose danos à imagem.

Classificação por centros de custos

Segundo a ONG Global Environmental Manage-ment Initiative (GEMI), os custos diretos estão direta-mente relacionados a projetos, produtos ou processos;os custos de capital, com operações e manutenções.Os custos ocultos são os gastos inaparentes, associadosa produtos, processos, projetos, serviços, entre outros.Já os custos de responsabilidade (contingent liability) sãodecorrentes de eventos, impactos, efeitos e outras açõesda Organização em relação ao meio social e ambiental,inclusive as penalidades. Custos menos tangíveis são gas-tos de difícil quantificação, mas percebidos na cadeiade valor.

A classificação mais próxima aos custos de qualida-de4 propõe os tipos seguintes:

Custos de prevenção que compreende substituição

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de matérias-primas; implantação de melhorias e pre-venção; participação em atividades de prevenção emelhorias; treinamento para ações preventivas; contro-le de processos, tratamento e acondicionamento deresíduos.

Custos de avaliação: abrangem avaliação de novosprocessos; avaliação ambiental de fornecedores; moni-toração ambiental na produção; monitoração ambientalna expedição e avaliação de passivo ambiental.

Já os custos de falta de controle, correspondem a:Custos de falhas internas: correção de não-confor-

midades, saúde ocupacional, disposição de efluentes eresíduos e remediação de passivos internos.

Custos de falhas externas: reclamações, remediaçãode passivos externos e recuperação de imagem.

Custos intangíveis: perda de valor da Organizaçãopor efeitos ambientais relacionados a projeto, proces-so, produto.

Definições gerais internacionais

As definições gerais internacionais são relativas aoscustos ambientais privados.

Custos regulamentários: gastos com atendimento àlegislação e regulamentação, isto é, das responsabilida-des obrigatórias, ou custos para conformidade.

Custos voluntários: compromissos resultantes deacordos ou códigos de ética voluntários, ou seja, dasações pró-ativas da Organização, além das obrigaçõeslegais.

Custos antecedentes (upfront, no original): operaçõese gastos prévios à aquisição ou pré-produção e queafetam a operação de um processo de produção, siste-

ma ou da planta de produção.Custos operacionais: gastos durante a execução de

processos, produtos, sistemas e sites.

Custos prospectivos (back-end): que ocorrem após avida útil de processo e produto, já que podem estar(ou não) incluídos no modelo de gestão. Resultam nafutura desmobilização de laboratórios, fechamento deaterros, desmonte de depósito de resíduos e atendi-mento a legislações futuras.

Custos convencionais: familiares às Organizações (ca-pital, trabalho.).

Custos contigenciais: de caráter probabilístico que po-derão ocorrer (ou não) no futuro, como remediaçãoambiental, acidentes com poluentes, multas ambientais,conformidade a novas regulamentações. São chama-dos, às vezes, passivo (liability) ambiental, custos compassivo e passivos contingenciais.

Custos de imagem e relacionamento: geralmente in-tangíveis ou “menos tangíveis”, como fruto de per-cepção dos gerentes, consumidores, empregados, co-munidades e agentes reguladores. Envolvem comuni-cação ambiental, relatórios, melhoria ambiental, pro-gramas de educação ambiental etc.

Overhead : termo genérico, sinônimo de custos indi-retos ou escondidos que, obviamente, não podem seridentificados como custos diretos.

A sequência de tabelas que se seguem nas próximaspáginas, mostra exemplos de custos de acordo com ascategorias mencionadas e que estão no texto da EPA-US, “An introduction to environmental accounting as a businessmanagement tool: key concepts and terms”.5

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REAFIRMAÇÃO DA POLÍTICAORGANIZACIONAL

Procedimentos para estabelecer a linha debase da Proposta de Sustentabilidade.

Primeiro, deve-se reforçar e reafirmar, com freqüên-cia, os elementos da proposta de sustentabilidade, pro-duzir documentos e disseminá-los. Depois, analisar eavaliar entendimentos, percepções e sua incorporaçãopelos interessados. Em terceiro lugar, deve-se analisar

todos os elementos de cadacampo do esquema sugeridona página 26, tendo comobase os fundamentos da pro-posta de sustentabilidade,comatenção especial para visão eos princípios de sustentabili-dade criados pela execução decapítulos específicos e pelosfundamentos do conceito desustentabilidade. Os fundamen-tos se apóiam:

nas inter-relações de gestãogeral-processo produtivo-produto-consumo,

no modelo do-berço-ao-berço,

nas questões, efeitos ou im-pactos durante o ciclo de vidade bens e serviços,

no comportamento doconsumidor,

no destino final de emba-lagens e restos de materiaispós-uso, e

na visão de cadeia de valor.

Recomenda-se engajar o departamento financeiroe contábil para estabelecer as relações de indicadoresde desempenho econômico e socioambiental integra-do e o sistema de contabilidade da Organização. E tam-bém articular grupo-multiprofissioal, transorganizacionale com interessados externos relevantes e construir asrelações entre indicadores integrados e centros de cus-tos estabelecidos, com enfoque no Resultado FinalTríplice ( Triple Bottom Line).

Observe o esquema a seguir baseado em J. Fiskel.

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Logo após, é preciso decidir sobre a aplicabilidadedo esquema para a Organização, a fim de selecionar ostópicos relevantes ou indispensáveis, e avaliar a rele-vância e pertinência do esquema e dos respectivos tó-picos em relação às atividades ou negócios correntes.

Outras avaliações incluem:ajustar o conteúdo e esquema definitivo à realidade

da Organização;levantar informações nas unidades organizacionais a

respeito dos tópicos selecionados para o esquema a serdefinido;

analisar, avaliar e enquadrar as ações, iniciativas ouos procedimentos já realizados ou que estejam em cur-so e que correspondam a cada tópico nos distintosâmbitos do esquema da página 26 que contemplem ouatendam à proposta de sustentabilidade e contribuampara a integração econômica e socioambiental na práti-ca organizacional de gestão-processo-produção-con-sumo de bens e serviços.

Deve-se destacar com particular atenção: os proce-dimentos nas unidades de produção de bens e serviçoscom avaliações a montante e a jusante, de acordo comos conceitos e instrumentos socioambientais e tambémos procedimentos de governança.

São aspectos relevantes:na integração gestão- processo-produto-consumo;exercício de poder e autoridade;mecanismos de coesão;construção de identidade e articulação entre pessoas

e grupos;inserção de valores e princípios relacionais à pro-

posta de sustentabilidade nos aspectos topo para base,base para topo e mecanismos de livre associação e cons-trução de mudanças não lideradas;

sistema de informação, comunicação, treinamento eaprendizagem, em relação às questões e ferramentas

para a sustentabilidade;processos de eco-inovação em questões gerenciais e

produtivas;mecanismos de avaliação de desempenho;reconhecimento e recompensas e sistema de distri-

buição de recursos para unidades e transorganizacional.Outras ações relevantes implicam:

identificar os recursos ou ferramentas de base socio-ambiental em uso;

registrar os resultados obtidos pelo Ecotime Orga-nizacional e outras equipes, na consolidação de concei-tos e procedimentos;

definir macro-objetivos interpretação dos resultadosapurados de inserção de sustentabilidade nos procedi-mentos e no desenho do padrão de desempenhosocioambiental atual da Organização;

estender a sustentabilidade, desejada para períodode tempo pré-determinado (1-5, 10-15, 15-25 e maisque 25 anos).

Recomenda-se ainda promover a integração de da-dos e informações de natureza ambiental e social àseconômico-financeiras, por meio de entrevistas e avali-ação de documentos, levantamentos locais e identifi-cação de eventos, efeitos, impactos e os respectivosindicadores métricos sobre os diferentes tipos de fon-tes de meios e recursos – os capitais natural, social, hu-mano e construído.

Outro aspecto é relacionar as informações aos ele-mentos normativos e de Política Organizacional. Paratanto, é necessário levar em cosnideração instrumentosnormativos para a conduta na Organização baseadosna proposta e nos princípios de sustentabilidade e namissão.

Faz-se necessário relacionar as atividades e os pro-cedimentos reconhecidos como articulados à susten-tabilidade aos macro-objetivos sustentáveis e às metasde excelência de desempenho.

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ARTICULAÇÃO DA SUSTENTABILIDADEAOS DEMAIS ELEMENTOS DA POLÍTICA

ORGANIZACIONAL

Articulação de estratégias e táticas de sustenta-bilidade socioambiental com as de sustentabilidade eco-nômica, deve levar em conta elementos que estejam deacordo com o interesse da Organização.

A redução de custos pode ser alcançada por:gestão de operações;tecnologia de informação;P&D;gestão e formação de preços de produtos;procura e foco na cadeia de suprimentos;manufatura – gestão de demanda e inventário;produção enxuta;sincronização de planta de produção;manufatura integrada de produto;supervisão gerenciada (stewardship) e arrumação da

casa (housekeeping);PIP (Política Integrada de Produto), CIIP (Controle

Integrado de Processo e Produto), marketing; venda eserviços;

logística e distribuição.Além da redução de custos, deve-se pensar na arti-

culação dos meios, instrumentos, recursos e atividadesà missão, visão, princípios e valores no estabelecimentode objetivos (gerais e específicos), metas, planos, pro-gramas, projetos e atividades repetitivas, alinhadas aoDesenvolvimento Sustentável. Constituem ações rele-vantes:

detectar conflitos, discutir, aprimorar o entendimentoe eliminar problemas de entendimento e de práticas,para o que será estabelecido e determinado;

identificar, analisar, avaliar e promover o compar-tilhamento de valores , o entendimento e cooperação

na implementação de missão, visão e princípios desustentabilidade, em todos os níveis e unidades orga-nizacionais;

articular estratégias e táticas de sustentabilidade inte-grada econômica e socioambiental através do engaja-mento e desempenho de recursos humanos, com co-nhecimento de seus papéis, atribuições, responsabilida-des na Organização. Para atingir tal objetivo, as suges-tões são:

preparo para o desempenho sustentável integrado;disponibilidade de recursos materiais;

oportunidades para o melhor desempenho no localde trabalho;

cooperação, parcerias e reconhecimento;empoderamento e participação em decisões;reconhecimento de progressos alcançados e opor-

tunidade para aprendizagem e progresso pessoal.Deve-se também:

estabelecer as bases e meios para definir o focosustentabilidade em todas as atividades e operações daOrganização, e

estabelecer as conexões entre o quadro de colabora-dores e a Alta Direção;

consolidar Ecotimes operacionais nos diversos níveisorganizacionais;

estabelecer os mecanismos e meios para engajamentodos interessados relevantes e em alinhamento ao eixode negócios ou atividades da Organização, e

desenvolver meios, instrumentos e processos paraas melhores práticas de sustentabilidade tríplice (eco-nômica, social e ambiental).

Atribuições e responsabilidades

A construção das bases operacionais para otimizaros fluxos decisórios do topo para a base, vice-versa e

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outros mecanismos de participação não liderada, en-volve recursos, instrumentos e questões que afetam ousão afetadas pela inserção dos elementos de susten-tabilidade nos negócios e atividades organizacionais. Paraisso, é necessário rever o esquema de distribuição deresponsabilidades, atuação e desempenho de papéis,definindo quem fará o quê, quando, onde, como, comque propósito e como o progresso será rastreado.

Também é importante identificar, analisar, avaliar epropor medidas para prevenção ou correção de con-flitos dando ênfase: à objetividade, a eventos, a ques-tões ou situações reais ou acontecidas, a entendimentosalternativos, dúbios ou substitutos, dispersões ou diva-gações. Além disso, deve-se implementar, acompanhar,analisar e avaliar o processo e o desempenho dos me-canismos e instrumentos de comunicação de desem-penho sustentável.

CONSOLIDAÇÃO DA LINHA DE BASEPARA O DESEMPENHO, ABRANGENDOEFEITOS E IMPACTOS DE RESULTADO

FINAL TRÍPLICE.

Propostas de Políticas de Sustentabilidade

É importante estabelecer as condições básicas paraa prática da sustentabilidade, abrangendo, por exem-plo, questões ou situações como o tipo de negócio ouatividade envolvidos, a direção ou caminho seguido, aposição assumida ou defendida pela organização, a si-tuação, condição ou estágio desejado, em relação à prá-tica da sustentabilidade e de responsabilidadesocioambiental Organizacional.

Em seguida, deve-se analisar e avaliar as condiçõesbásicas em determinado período de tempo ou estágioalcançado em relação à linha de base proposta ou atra-

vés de comparação ao desempenho de outras organi-zações consideradas relevantes (benchmarking).

A etapa seguinte consiste em analisar como se che-gou à condição ou posição, quais são os marcos dereferência relevantes que deverão ser destacados e oque fazer para chegar ou alcançar, onde não se conse-guiu. Deve-se ainda identificar, analisar e avaliar objeti-vos (temas ou questões específicas a serem atendidasou alcançadas), alvos (marcos de referência mensu-ráveis), resultados de desempenho tangíveis e intangí-veis alcançados. Outros esforços a serem inclusos são:priorizar ações para a correção de desvios e falhas demercado, superação de metas e outras situações consi-deradas importantes para o aprimoramento além daconformidade, e incluir as decisões no planejamentoestratégico.

A realimentação do processo de execução de ativi-dades integradas de gestão-processo-produto-consu-mo inclui rever as prioridades organizacionais corren-tes e, entre estas, as que atendem à Sustentabilidade –no todo ou em parte. Para isso, sugere-se analisar ouestabelecer prioridades futuras que atendam à visão eprincípios de sustentabilidade Organizacional.

A definição da Sustentabilidade futura precisa con-siderar a análise ou o estabelecimento de prioridadesfuturas que atendam à visão e princípios de susten-tabilidade Organizacional. Portanto, é preciso identifi-car e relacionar questões, elementos ou ações previstaspara os objetivos futuros, do ponto de vista de exigên-cias legais ou de códigos de conduta voluntários, inclu-sive os certificados e focados em sustentabilidade; im-pactos socioambientais (positivos e negativos); objeti-vos, metas e alvos métricos; direção, caminhos e cur-sos; forças direcionadoras; meios, recursos,distribuiçãode atribuições e responsabilidades.

Recomenda-se para tanto:definir focos estratégicos para integrar elementos eco-

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nômicos e socioambientais e o melhor modelo deGovernança compartilhado;

conceber ações e mecanismos de favorecimento apráticas inovadoras;

criar e implementar procedimentos para estimular acriação de processos otimizados, e

estabelecer procedimentos e mecanismos para iden-tificar e implementar iniciativas que resultem na agrega-ção de valor na cadeia de negócios.

CONSOLIDAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Para consolidar competências é preciso proceder aavaliação de desempenho. Para tanto necessita-se:

definir o que se pretende atingir, alcançar, preservar,evitar e eliminar;

prever meios e mecanismos para incorporar indica-dores de excelência, relacionamentos, competitividadee liderança;

identificar e analisar causas e efeitos;avaliar condutas reativas e pró-ativas;prever medidas futuras corretivas ou para melhor

desempenho;desenvolver novas ações estratégicas ou táticas;priorizar ações, descrevê-las e comunicá-las.Recomenda-se ainda, em relação à avaliação,

estabelecer o melhor desempenho global, a partirde focos, situações ou condições representadas por po-líticas organizacionais de sucesso;

ações civis (liability) e iniciativas preventivas, mitigantes,corretivas ou reparadoras;

operações gerenciais (mecanismos de decisão), pro-cessos produtivos, produtos, consumo (cadeia de va-lor) e pós-uso;

benchmarking em relação à linha de base desustentabilidade e melhor desempenho no setor, liçõesaprendidas;

treinamento disponibilizado e requerido pelos cola-boradores e demais interessados;

riscos, acidentes e impactos relevantes, preparação,prontidão e respostas a riscos e acidentes;

oportunidades para aprimoramento;contribuições para formulação de políticas públicas;diferenciação no mercado, resultado de comunica-

ção com os interessados;efeitos na cadeia de valor;conduta frente a modificações globais e setoriais, con-

duta frente a situações similares no setor;eventos relacionados a questões globais de sustenta-

bilidade e aos princípios de Precaução, Poluidor Paga-dor, Responsabilidade Objetiva e ResponsabilidadeContinuada do Produtor.

Outra ação a ser destacada é a criação de procedi-mentos para a avaliação de desempenho diferenciado,com atenção para a metodologia adequada, com osrespectivos critérios e padrões de identificação, medi-ção e avaliação de desempenho, aplicados;

à gestão-processo-produto-consumo;a experiências relevantes e campeãs;às ferramentas em uso;aos procedimentos gerenciais notórios;aos marcos de excelência;aos riscos críticos superados ou prevenidos;à opinião de interessados relevantes e os efeitos;à oportunidade para aprimoramento, eà diferenciação no mercado.Outros elementos para avaliar desempenho são:

resultados de comunicação com interessados;efeitos na cadeia de valor;lições aprendidas;treinamento oferecido e necessitado;preparação, prontidão e resposta a riscos e aciden-

tes;conduta frente a situações similares no setor;

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eventos relacionados a questões específicas deecoeficiência local;

eventos relacionados aos princípios de Precaução,Poluidor Pagador, Responsabilidade Objetiva e Res-ponsabilidade Continuada do Produtor.

Para a revisão das condutas de conformidade eações para a superação de limites, deve-se levar emconta o compromisso para com a criatividade e a eco-inovação, o estabelecimento de alvos métricos corres-pondentes a objetivos esperados ou desejados e suarelação com a política organizacional de sustenta-bilidade (Missão, Visão, Princípios e Macro-objetivos),além dos mecanismos e indicadores de monitoramento,análise e avaliação de progressos.

Prevê-se também o estabelecimento de conduta re-lacionada a acordos internacionais; regulamentação na-cional, estadual, municipal, contratual, voluntária,estatutária; governança organizacional, setorial emercadológica; interessados e acionistas/investidores.

Na consolidação das competências, pode-se consi-derar ainda,

os padrões de excelência de desempenho organi-zacional, processo-produto-consumo;

os marcos de referência organizacionais e compara-tivos (benchmarking);

as unidades gerenciais e plantas industriais, com des-taque para desempenho ou resultados negativos, esta-cionários e evolutivos;

a designação e a atribuição de papéis e responsabili-dade para implementar os padrões, procedimentos, me-canismos, instrumentos e outros atributos gerenciais eoperacionais de práticas sustentáveis e sua articulaçãocom os demais componentes ou elementos da políticacorporativa, em todos os níveis organizacionais inter-nos e, externamente, na cadeia de valor.

Outros elementos úteis são: resultados e impactos,positivos e negativos; metas propostas e alcançadas, com

avaliação individualizada de resultados relevantes oucríticos, passados e presentes, com projeção ou per-cepção de comportamento necessário para o futuro;dados e resultados de ecoeficiência; avaliação de ciclo-de-vida; ecodesign; desmaterialização; Produção Lim-pa; acesso público à informação; auditorias indepen-dentes; códigos de ética e normas socioambientais, en-volvendo matérias-primas como água, energia, emis-sões, reuso, remanufatura, reciclagem, recuperação;benchmarking setorial; projeção de atividades futuras eAvaliação de Resultados Tríplice, esperados ou perce-bidos; alinhamento dos resultados ao projeto desustentabilidade corporativa e a comunicação com osinteressados.

NOTAS

1. Ver Furtado, J.S. & col. 2001. Prevenção de resíduos nafonte e economia de água e energia. 209 pp. Texto de livreacesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina ProduçãoLimpa2. Para ver listagem ampla de indicadores, é sugerido que se consul-te Furtado, J.S. 2003. Indicadores de sustentabilidade eecoeficiência. Livre acesso em www.teclim.ufba.br/jsfurtadomacropágina Gestão Socioambiental Responsável.3.Moura, L.A.A. 2003. Economia ambiental. Gestão de cus-tos e investimentos. 2ª. ed. 214 pp. Editora Juarez de Oliveira,S.Paulo.4. http://www.epa.gov/oppt/acctg/indexold.html EPAUSEnvironmental Accounting Project.5. Fiksel,J. &col.1999.Measuring procgress TowardsSustainbilitypriciples, Process and best practices.36pp.Greening of Industry Network Conference Best PracticeProceedings. http://www.eco-nomics.com/pages/8/index.htm.

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06 GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COM RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

PRESSUPOSTOS E ENTENDIMENTOS

Bases estratégicas

Trabalhar na perspectiva da responsabilidade socio-ambiental pressupõe entender que planejar estrategica-mente consiste em estabelecer os conceitos, a interpre-tação e os limites de entendimento dos termos ou di-mensões econômica, social e ambiental, para uso daOrganização. Compreende também aceitar, no todoou em parte, que o termo socioambiental incorporaquestões sociais e ambientais indissociáveis, devido àsrelações de causa-e-efeito dos eventos que compõemo binômio, abordados de diferentes maneiras pelas or-ganizações.

Nesse contexto, os temas sociais convencionais po-dem ser visualizados de duas formas pelas organiza-ções. A primeira engloba questões relativas ao que éentendido, tradicionalmente, por Responsabilidade So-cial das Organizações, usualmente desarticulado do eixoprincipal de negócios ou atividades organizacionais. Aoutra questão refere-se aos eventos sociais que resul-tam de impactos ambientais provocados tanto por ati-vidades produtivas ou comerciais das organizaçõesquanto pelo modelo de consumo de bens e serviçosdeterminado pelo próprio sistema produtivo ou dehábitos de consumidores, em conformidade ou nãocom regulamentações ou políticas públicas. Tais even-tos são representados por pobreza, favelização e ou-tros, de base ambiental.

Além dos temas sociais, existem os temas ambientaispropriamente ditos, representados por cargas, impac-tos, danos físicos, químicos ou biológicos sobre os

meios ambientais, que afetam a saúde humana e a qua-lidade dos ecossistemas naturais.

No que diz respeito ao tema social citado, a organi-zação pode optar por definir responsabilidade, a fimde estabelecer seus limites e dos demais interessados.Pode, ainda, aceitar a definição segundo a qual Respon-sabilidade Socioambiental representa o compromissoou dever de toda e qualquer organização de responderpelas conseqüências de seus atos, atividades, processosprodutivos, bens e serviços introduzidos no meio pú-blico.

Algumas condições são importantes para a gestão eplanejamento estratégico integrado- este último com-preendido como a combinação das dimensões ou as-pectos econômico, social e ambiental-, como: selecio-nar, conceituar e estabelecer os limites para entendi-mento e prática de instrumentos, ferramentas e recur-sos, incluindo o modelo de fluxo ou de seqüência, cujasetapas são listadas abaixo.

Avaliação de ciclo-de-vida.Balanço de material e fluxo de massa.Controle integrado de processo e produto.Demanda material total e intensidade de material

por unidade de serviço.Desenvolvimento integrado de produto.Desenvolvimento sustentável (DS).Design para o ambiente (DPA) ou ecodesign.Desmaterialização e substituição.Ecoeficiência.Emissão zero.Fator 10.Política integrada de produto (PIP).Produção limpa (PL).

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Sistema de produto, visão do-berço-à-cova ou do-berço-ao-berço.

As atividades estratégicas apresentadas não esgotamas possibilidades. Elas incorporam sugestões, comen-tários ou recomendações feitas por diversos autores1 ,ordenadas de maneira a representar o modelo genéri-co de seqüência, a ser ajustado às características, inte-resses ou práticas gerenciais de cada organização.

FLUXO DE ATIVIDADES

Conceitos e princípios relevantes

É preciso admitir que a inserção de questões socio-ambientais nas operações da organização resulta emsituações complexas, sendo prudente levar em contapelo menos três tipos de limitações.

A primeira refere-se à ecosfera, ou seja, ao espaçoentre a parte rochosa (litosfera) da terra e a atmosfera,sistema não-linear e complexo. Atualmente, e possivel-mente para sempre, será difícil ou impossível conhe-cer, com certeza, todos os efeitos ambientais das ativi-dades humanas. Devido às condições de incerteza e osriscos permanentes, recomenda-se adotar o Princípioda Precaução2 .

Em segundo lugar, é necessário reconhecer que osrelacionamentos entre objetos, meios e objetivos sãomúltiplos e acontecem em diferentes momentos dasações estratégicas. A listagem a ser apresentada, por-tanto, não permite estabelecer, necessariamente, os vín-culos imediatos entre as etapas.

Por último, deve-se considerar que as seqüências po-dem ser modificadas – tanto em componentes, comonos momentos em que os passos acontecem – de acor-do com a forma de entendimento dos interessados apartir dos princípios e conceitos gerenciais. A proposta

de seqüência das etapas pode seguir o modelo de ges-tão e planejamento estratégico praticado na organiza-ção, tendo em vista os procedimentos, a composiçãodos blocos de ações gerenciais e outras práticas estraté-gicas adotadas.

As ações gerenciais de base socioambiental abran-gem vários Princípios da Declaração Rio-923 sobre oambiente e desenvolvimento e são imprescindíveis paraa construção da visão integrada e sistêmica de iniciati-vas como:

definição e implementação dos modelos gestão eplanejamento estratégicos integrados

elaboração de programas socioambientais respon-sáveis

definição de política socioambiental integrada aosnegócios ou atividades

acompanhamento e medição do desempenho dosindicadores socioambientais

implantação do modelo de produção limpa paramanufatura de bens e serviços

produção de relatórios de desempenho, inclusive obalanço socioambiental.

A gestão e planejamento estratégico integrados in-clui a missão, os valores e a visão da organização, con-siderados os pilares para o planejamento, a sustentaçãoao longo do tempo4 e a prática da sua política. Ostermos destacados têm significados bastante precisos.Compreende-se missão como a razão de ser ou a in-tenção original do fundador da organização; ou tipode atividade praticada. Os valores são os direcionadoresde conduta pública e operacional; abrange padrão, as-pectos, pontos ou posições defendidas. Visão diz res-peito à motivação que mantém a organização no cami-nho de futuro e expressa o que ela é e o que deverátornar-se. Finalmente, por política entendem-se os prin-cípios de governança que estabelecem as escolhas, oscompromissos e as bases normativas para o relaciona-

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mento entre a direção e a platéia interna e externa (par-tes interessadas), a fim de que a organização alcance osfins desejados.

No universo das organizações, estratégia está cor-relacionada a plano, padrão, arcabouço, percepção,posição, perspectiva, podendo ser interpretada e defi-nida de diversas maneiras. A definição a seguir foi ela-borada a partir de textos acessíveis na Internet5 , a sa-ber: estratégia é a maneira de pensar e de agir, padrãode conduta, designação de recursos; posição ou per-cepção adotadas para a construção de plano ouarcabouço preparatório antes que ações concretas se-jam postas em prática. Tática, por sua vez, consiste naforma como os recursos são manejados durante asações.

Outro termo importante é Planejamento Estratégi-co, que engloba os meios e os métodos utilizados paraalcançar o fim desejado, em tempo ou futuro determi-nado, com vários sentidos.

Estabelecimento da direção, caminho ou curso aser seguido, para que a política de atuação da organiza-ção seja praticada.

Determinação das forças direcionadoras, queabrange produtos, usuários e beneficiários, necessida-des e oportunidades no meio, marketing, tecnologias,capacidade produtiva, recursos naturais, porte e cresci-mento, returno e lucratividade, para que a organizaçãopossa alcançar as mudanças e os fins desejados.

Identificação e distribuição de meios e recursos edefinição de como aplicá-los.

Indicação de focos estratégicos, representadospelos fins a serem alcançados, os meios, modos e re-cursos para obtê-los, a organização dos recursos e meiospropriamente ditos, principalmente os disponíveis e atática para o uso.

Previsão da triagem estratégica, no setor de ativi-dades e, no caso das organizações com fins lucrativos,

a concorrência, com base em ferramentas de análisecomo SWOT-FOFA (fortalezas, oportunidades, fra-quezas e ameaças).

Indicação do direcionamento estratégico para acompetitividade, através de diferenciação, foco, objeti-vos e metas, para que a organização possa competir ese contrapor a movimentos ou acontecimentos, pre-vistos ou já em curso, no ambiente, os quais represen-tam ameaças ou prejuízos para os interesses internos edas demais partes interessadas.

O planejamento estratégico estabelece aonde aOrganização deseja ir e como chegará lá. Para isso, abran-ge esquemas, medidas e atitudes, previamente concebi-dos, para que a missão, os objetivos e metas, pré-defi-nidos, possam ser alcançados, dentro de determinadoperíodo de tempo e com o uso de recursos pré-esta-belecidos, tendo em vista os cenários imaginados.

O papel do planejamento estratégico é maximizaro uso de recursos e aprimorar o desempenho, a fim decontribuir para que a organização possa consolidar suaposição e diferenciar-se dos demais participantes ouconcorrentes no meio onde atua. Para tanto, requer oestabelecimento de objetivos gerais e específicos, le-vando em consideração o que alcançar, preservar, evi-tar e eliminar6 .

Nas empresas com fins lucrativos, as ações estraté-gicas são lineares e verticalizadas, isto é, são propostasdo topo para a base. Refletem o modelo organizacionalde acordo com as características do segmento socio-econômico ou conforme particularidades da organi-zação e têm como foco a lucratividade econômico-financeira, com base em qualidade. Neste caso, as ge-rências de empresas consideram o Valor Presente Lí-quido - VPL como o principal direcionador dos negó-cios. Em tais condições, a RSA torna-se sinônimo defilantropia e trabalho voluntário e, de modo geral, de-senvolvimento sustentável constitui apenas parte de um

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discurso, sem ações práticas.Em outros tipos de organizações, o planejamento

estratégico é orgânico, reflexivo, com orientação do geralpara o específico. Por isso, a inserção da RSA na estra-tégia de negócios ou de atividades demanda mudançade foco: de vertical para transversal e, com freqüência,circular; de desarticulada, para sistêmica e integrada. Detemporal para permanente, com metas de aprimora-mento contínuo e aproveitamento das inter-relações emtodas as unidades operacionais e em estreita articulaçãocom todos os interessados, inclusive acionistas. Pode-se observar, a partir do exposto, que o modelo concei-tual de planejamento estratégico com RSA requer con-siderável diversidade de elementos, cuja identificaçãodepende de um conjunto de sugestões contidas empropostas de boas práticas gerenciais consideradas es-senciais7 .

A implementação de planejamento estratégico é, comfreqüência, motivo de conflitos internos, do ponto devista metodológico e, em especial, para ajuste e alinha-mento da estratégia à missão, valores, visão e objetivosinstitucionais, determinados do topo-para-a-base. Ques-tões importantes, relativas ao que alcançar, evitar, pre-servar ou eliminar são motivos de desgastes. As diver-gências serão maiores quando o planejamento estraté-gico for orgânico e incorporar as questões de RSA napolítica de negócios ou atividades e expressar a gover-nança corporativa responsável (accountability). As dife-renças entre pragmáticos e reflexivos serão maximizadase podem exigir a contribuição de agentes externos (es-pecialmente de consultores) para solucionar problemase eliminar dissonâncias.

Para finalizar, pode-se dizer que a gestão e planeja-mento socioambiental integrados abrangem diversifi-cado número de ações. Cabe ao interessado ajustar assugestões ao porte e tipo de organização, natureza dasatividades, características dos produtos e impactos à

saúde humana e à qualidade do ecossistema. O maiordesafio do gestor, portanto, consiste em combinar oplano estratégico convencional ao modelo de planeja-mento e gestão socioambiental integrados.

Observe, nas páginas seguintes, o fluxograma dadefinição do modelo de Gestão e Planejamento Estra-tégico Socioambiental Integrado.

CONSTRUÇÃO DO MODELO DEGESTÃO E PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO SOCIOAMBIENTALINTEGRADO

Caracterização macroeconômica8

Os fatores a serem considerados são: o estabeleci-mento dos indicadores de desenvolvimento, a defini-ção do papel da organização no modelo econômico ea identificação da tendência global das questões socio-ambientais.

Alinhamento dos princípios de RSA nagestão da Organização

Definir, posteriormente, os marcos de referência,que incluem tanto as práticas externas de sucesso quan-to os marcos para aprimoramento de práticas internas.Além disso, é preciso estabelecer o código de conduta,isto é, adotar o código de conduta do setor ou seg-mento socioeconômico ou selecionar os códigos oumodelos utilizados por indexadoras internacionais e na-cionais, relevantes para a Organização. Outro passo im-portante é a definição de mecanismos para a criaçãode idéias ou práticas, que pode acontecer pela incorpo-

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ração de práticas e padrões externos e pelo estabeleci-mento de diretrizes para a criação de novas idéias ounovas práticas.

É preciso selecionar os indicadores de RSA e tam-bém identificar os padrões de excelência, que abran-gem: liderança, gestão de temas, construção de relacio-namentos, estratégia, infra-estrutura e medições.

Identificação das característicassocioambientais do mercado

Investidores, acionistas e demais interessados são ele-mentos estruturais do mercado e devem ser levadosem consideração. O processo de identificação da con-duta socioambiental na cadeia de negócios compreen-de várias etapas, a saber: descrever as característicassocioambientais do segmento, identificar o comporta-mento socioambiental da concorrência, listar e caracte-rizar os órgãos normativos oficiais, listar e caracterizaras organizações normativas voluntárias, identificar asbarreiras tarifárias legais e não-tarifárias e identificar osmarcos de referência – benchmarking.

A concorrência também é um fator relevante, porisso deve-se caracterizar os padrões de desempenhosocioambiental de produção a partir das seguintes fer-ramentas: Melhor Tecnologia Disponível (fim-de-tubo),P2 (Prevenção de Poluição), P+L (Produção Mais Lim-pa), PL (Produção Limpa), DpA (Design para o Am-biente ou Ecodesing) e Ecoeficiência, entre outras.

É preciso, ainda, identificar procedimentos negociaise comerciais como eco-marketing, maquiagem verde(greenwashing) e outras práticas irregulares (whitewashing ebluewashing).

As estratégias de orientação para inovação tecnológi-ca de base socioambiental precisam ser identificadas.São elas: processo-produtividade, isto é, redução de

custos/aumento de lucratividade, por meio de deman-das públicas ou de colaboradores; ação pró-ativa emrelação à conformidade, que implica no estabelecimentode legislação e regulamentação, normas técnicas, códi-gos de conduta, padrões de excelência etc.; ecoeficiênciae eco-marketing e, finalmente, DS.

Inserção dos princípios de desenvolvimentosustentável (Rio-92 - Princípio 4) na gestão

A fim de cumprir a inserção proposta, deve-se, emprimeiro lugar, identificar os princípios gerais daecosfera/biosfera, considerando-se a subdivisão doecossistema em humano e natural.

O ecossistema humano engloba os aspectos social,econômico e ambiental. O primeiro diz respeito aocapital social ou humano, formado por critérios, valo-res, princípios, ética e paradigmas. O aspecto econô-mico compreende o capital físico construído e finan-ceiro, que inclui as medições monetárias, quantitativas,e a medida da taxa de eficiência (intensidade de uso emserviços, eqüidade na distribuição e uso dos estoques),de ordem qualitativa do desenvolvimento econômico.Por fim, o aspecto ambiental ou ecológico, referenteao capital natural e à viabilidade ecológica (Economiade Estado Estável – Steady State Economy), consideran-do a disponibilidade dos estoques para a vida atual e asustentabilidade futura; a maximização dos serviços,com estoques constantes e a maximização de saída.

O ecossistema natural consiste nos seguintes elemen-tos: princípios ecológicos, com aspectos biológicos, fí-sicos, químicos; ciclos biogeoquímicos e ações huma-nas.

Apontados os princípios gerais da ecosfera/biosfera,é necessário identificar os fluxos da sustentabilidade(Rio-92 Princípio 3). Dentre eles, destacam-se os fluxos

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litosfera-ecosfera, relativos à concentração de materiaisna crosta, observáveis por critérios como intensidade,balanço e equilíbrio, qualidade final dos depósitos.Outros são os fluxos sociedade-ecosfera, que compre-ende a concentração de substâncias produzidas pelasociedade, e podem ser vistos pelos critérios anterio-res, com um acréscimo: a degradabilidade. As açõeshumanas físicas também influem, por meio da destrui-ção física, da manipulação do ambiente e das colheitase podem ser analisadas a partir de fatores como pro-dutividade, qualidade final dos recursos e disponibili-dade de bens. O atendimento a necessidades humanase fruição de bens, que inclui as perspectivas ambientaise sociais, consiste na concentração de esforços relativosà saúde relacionada à poluição, à toxicologia e epide-miologia, à interação de substâncias com sistemas bio-lógicos e à disponibilidade e distribuição de recursos.

Na seqüência, definem-se os indicadores de compe-titividade sustentável (Rio-92 Princípio 8), que abran-gem: a eficiência administrativa, revelada pelo progres-so continuado em ciência e tecnologia, pelos fatores deprodução e vantagens competitivas e pelo aprimora-mento gerencial continuado; a responsabilidade gover-namental (Rio-92 Princípio 9), avaliada pela infra-es-trutura, pela educação e treinamento e pela coopera-ção; legislação e regulamentação (Rio-92 Princípios 2,11, 13); fiscalização e penalização.

Outro passo é a definição dos indicadores de susten-tabilidade de sistemas de vida (Rio-92 Princípio 1), apartir do estabelecimento dos atributos para os indica-dores, compreendidos em dois grandes grupos com-postos por condição, estado ou pressão, de um lado, ea classificação proposta pelo Banco Mundial (entradase saídas) de outro. Deve-se, ainda, classificar ou cate-gorizar os indicadores por grandes blocos, que inclu-em: alimentação; equidade e discriminação; educação;emprego; energia; saúde, bem-estar pessoal e comuni-

tário; direitos humanos; renda; sustentabilidade econô-mica e distribuição de renda; infra-estrutura e serviçospúblicos; segurança pessoal e comunitária; abrigo/ha-bitação e identidade cultural; participação social (liber-dade e conquista de poder); lazer e uso do tempo etransporte.

Também é necessário definir o sistema de produtoaplicado a processos de produção e de produtos, pelaidentificação de impactos ou efeitos, benéficos e malé-ficos (Rio-92 Princípios 8, 15, 16 e 17). Para isso, deve-se reconhecer os efeitos: sobre a sustentabilidade dasfontes de matérias-primas, considerando-se fatorescomo transporte, processamento e embalagem; resul-tantes da manufatura, a partir de critérios como aquisi-ção, estocagem, logística de produção, processo deprodução e embalagem; da distribuição e logística; douso ou consumo; e do descarte.

No processo de inserção dos princípios de desen-volvimento sustentável na gestão, deve-se também de-tectar o envolver das partes interessadas (Rio-92 Prin-cípio 10), pelo estabelecimento dos mecanismos paraengajamento de agentes selecionados. Para isso, é pre-ciso seguir algumas etapas. A primeira consiste em iden-tificar agentes-chave e seus perfis de origem. Eles po-dem ser oriundos:

da área de ciência e tecnologia, de universidades, ins-titutos de pesquisa, consultoria, alianças estratégicas, as-sociações empresariais;

de grupos sociais, consumidores, ONGs sociais, co-munidade internacional, classes excluídas e minoritárias,desafios e carências; de segmentos comerciais, concor-rentes, fornecedores, distribuidores, financeiras, segu-radoras e serviços; da área institucional, ligados à legis-lação, fiscalização, políticas públicas e incentivos;

de influências globais como organismos multilate-rais, ONGs ambientais e empresariais, órgãos gover-namentais de referência internacional.

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Outras etapas compreendem a identificação de te-mas ou questões de interesses comuns, a definição deprioridades, a partir das características socioambientaise econômicas da região ou área de influência de inte-resse e do quadro de referência para a geração de pro-postas, atividades, projetos e outras ações no âmbitode interesse da organização.

Deve-se também definir critérios e mecanismospara negociação, como: mecanismos de comunicação,objetivos e prioridades, responsabilidades e credibi-lidade, flexibilidade, gestão de conflitos e decisões com-partilhadas. Deve-se ainda identificar interesses comunspela previsão de diferenças e conflitos, detecção tantode valores e interesses comuns quanto específicos, iden-tificação de indicadores significativos e qualidade dosatributos. Por fim, é preciso identificar e estabelecerparcerias estratégicas.

A identificação de marcos de referência (benchmarking)socioambientais, para a organização, pode ser de doistipos: marcos internacionais e nacionais, gerais e do seg-mento, especialmente de concorrentes; e marcos pró-prios.

Para definir e delimitar a área ou campo de ativida-des ou de negócios da organização é necessário identi-ficar e descrever os aspectos econômicos, sociais eambientais mais relevantes, de maneira a permitir a ge-ração de indicadores de desempenho.

A identificação dos recursos para a gestão socio-ambiental responsável compreende, de um lado, o es-tabelecimento dos componentes ou elementos consti-tuintes, por procedimentos que considerem fatorescomo capacitação e treinamento, marketing, relaciona-mento e cadeia de negócios/suprimento, partes inte-ressadas, finanças e contabilidade, regulamentação e le-gislação, pesquisa e desenvolvimento de produtos, pro-dução de bens e serviços, infra-estrutura física e emer-gências. Do outro lado, deve-se definir os níveis de

comando, distinguindo-se o nível hierárquico superiorda localização da unidade de gestão socioambiental res-ponsável, compostas por staff, linha ou comitê (holding).

Elaboração do plano estratégicosocioambiental integrado

A elaboração do plano estratégico socioambientalintegrado prevê ações necessariamente interligadas.

É preciso, antes de tudo, identificar as variáveis queafetam e são afetadas pela Organização – econômicas,sociais, ambientais, industriais, comerciais e tecnológicas,para elaborar análises gerais compostas pelos aspectosconjuntural, socioambiental e capacitação organiza-cional.

Outro fator importante é a construção de cenáriosintegrados, de forecasting e backcasting, mais provável,pessimista e otimista. Deve-se também caracterizar osimpactos socioambientais, a partir do setor de ativida-des, do tipo de organização (industrial, comercial oude serviços), e do tipo de impacto, de acordo com osetor de atividade (econômico concentrado, semi-con-centrado, misto, diferenciado, competitivo, financeiro,especializado, público). No plano estratégico socioam-biental devem ser introduzidos:

os elementos e fatores para alinhamento de RSA,que compreende seus limites na organização, os princi-pais agentes interessados, as competências principais,as competências ancoradas socialmente;

as alianças estratégicas, as competências para RSA; a inserção de RSA nos processos produtivos e pro-

dutos da organização;o desenho e a implementação de atividades socio-

ambientais não integradas em projetos, mas em conso-nância com o eixo principal de atividades ou de negó-cios da empresa.

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É preciso também inserir os fatores de desenvolvi-mento sustentável a partir da identificação de algunselementos, como: investimento estratégico (que inclu-em visão de sucesso no futuro, flexibilidade para evitarpontos cegos, isto é, sem retorno, boa taxa de retornoe princípio da precaução); princípios sociais (que abran-gem diálogo e encorajamento, transparência, os meiospara ação política (policy), impostos e incentivos, subsí-dio, privilégios tradicionais, normas e padrões, acor-dos internacionais, acordos comerciais multilaterais elegislação. O foco do desenvolvimento sustentável podeser observado a partir da equidade, da qualidade devida, da geração e uso de energia (preferivelmente, reno-vável), do transporte, do uso da terra, da habitação,das comunidades saudáveis ou sustentáveis, da eco-in-dústria, da biodiversidade. As atividades sustentáveiscompreendem conservação, poupança, recuperação,reuso, renovação, reciclagem de recursos, inclusive águae energia, especialmente o uso responsável de recursosrenováveis e não-renováveis. As não-sustentáveis sãoobservadas pelo ingresso contínuo de recursos não-renováveis ou em maior velocidade do que a naturezatenha condições de renovar e provocam acumulaçãocontinuada na superfície da terra, destruição da biodi-versidade e prejudicam o bem-estar da população. Sãoimportantes as ferramentas de gestão como desmate-rialização e substituição, passos naturais(the natural step),pegada ecológica(Ecological footprint) , fator 10 (Factor10 ou Factor X), emissão zero (Zeri emmission), fardoecológico (ecological rucksak) e desenvolvimento detecnologia sustentável(sustainable technology development).

Outros elementos que influem no processo de de-senvolvimento sustentável são ferramentas operacionaiscomo: Produção Limpa, ecodesign, ecoeficiência, ca-deia ou gestão integrada de produto (Life Cycle Mana-gement), avaliação de impacto ambiental, avaliação derisco, a auditoria socioambiental, contabilização socio-

ambiental e a avaliação do ciclo-de-vida.Lembra-se também:

Sistema de gestão ambiental, padrões internacionais,certificação e reconhecimento (accreditation ) e fluxo ma-terial total (total material flow TMF);

comunicação, responsável pela rotulagem socioam-biental, pelo apontamento dos indicadores e pelo rela-tório de desempenho. Finalmente, é necessário definiros fatores críticos para o sucesso socioambiental, comfoco em elementos como:

perspectivas econômicas, sociais e ambientais; treinamento e fixação de competências; comunicação; implementação; controle operacional preventivo, gerencial, estraté-

gico e de apoio ou suporte e preparação e atendimen-to a acidentes e emergências.

Definição da Política de Ação Alinhada àRSA, ao DS e à Visão de Produto

A fim de alcançar a definição da política de açãoalinhada à RSA, ao DS e à visão de produto, é necessá-rio cumprir algumas etapas. Em primeiro lugar, deve-se definir a missão, isto é, estabelecer a razão de serespecífica ou para que serve a Organização, além deespecificar o tipo de clientela, usuário ou beneficiário aquem a empresa serve. Depois, estabelecer a visão, ofoco da missão, considerando-se a convicção ou aspi-ração para realizá-la. Deve-se também identificar asvariáveis ou grandes temas socioambientais que afetamou são afetados pela Organização.

Outra etapa consiste em definir os bens socio-ambientais comuns ou globais (sustentabilidade) negó-cio ou atividade-específicos (ecoeficiência) principaispara a empresa.

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Além disso, é preciso estabelecer os objetivos socio-ambientais organizacionais, discriminadamente: objeti-vo central, alvo principal ou foco concreto maior a seratingido, objetivos secundários e alvos intermediáriosprevistos, até o alcance do objetivo central.

É necessário ainda, definir as metas estratégicas glo-bais, atividade-específicas ou negócio-específicas e al-vos ou marcos de referência métricos socioambientaismensuráveis, dentro de tempo previsto.

Outras atividades devem ser realizadas, como:descrever a orientação, rumos ou linhas a serem se-

guidos por todos;estabelecer as normas ou regras de conduta e pro-

cedimentos para o curso das ações e definir;atribuir as responsabilidades pessoais, eapresentar as justificativas.

Definição de Planos e ProgramasSociambientais Responsáveis

No que diz respeito à definição de planos e progra-mas socioambientais responsáveis, é preciso descreveras diretrizes para apresentação das definições e instru-ções para execução das atividades e os objetivos estra-tégicos (a partir de critérios bem definidos), que com-preendem as atividades principais e os resultados espe-rados, os aspectos significativos do programa e os as-pectos significativos para o desenvolvimento sustentá-vel.

Outros elementos a serem identificados são os rela-tivos às atividades, às saídas-chave, às partes interessa-das (e respectivos temas), classificadas como alta, mé-dia e baixa. Além disso, é necessário descrever os alvose apontar as respostas e exigências de desempenho, in-cluindo os requisitos necessários. As metas devem ex-pressar os resultados mensuráveis em tempo previsto,

por meio de marcos de referência (benchmarking) oulinha de base para o melhor processo ou produto e deindicadores de resultados, de acordo com cronogramapré-determinado.

Medição de desempenho dos indicadoressocioambientais

Esta ação socioambientais implica na apresentaçãoda Organização ou estruturação dos indicadores porobjetivos, metas ou produtos, incluindo itens como:descrição, unidade e método de medição. Para efetivara medição necessita-se de medidas potenciais de de-sempenho pelo modo de gestão do programa e pelosfocos, como gestão de riscos, recursos, padrões de ges-tão, práticas operacionais, análise de conteúdo e análisede longo prazo.

Outras ações incluem a descrição do tipo de infor-mação e a linha de base (referencial) para cada medi-ção prevista e do nível de recurso ou de esforço exigi-do para alcançar os objetivos. A descrição da adequa-ção da medida de desempenho envolve avaliação apro-priadas para acompanhar o desempenho quanto ao con-teúdo e a qualidade esperada, e se as medidas de de-sempenho são compreensíveis, relevantes, comparáveis,confiáveis e práticas. A execução das tarefas requer oestabelecimento das relações entre a responsabilidade eos recursos para a implementação, envolvendo: resul-tados, saídas, atividades e recursos. Outro fator rele-vante é a identificação das atribuições, a partir dos se-guintes elementos:

O quê? – Bem ou serviçosPara quem? - AlvoPor quê? - VantagensCom quê? – Ferramentas e tecnologiasComo? – Prioridades e alvos

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A organização das ações deve ser descrita, a partirda configuração organizacional, da classificação de fun-ções e sistematização de tarefas por função. A atribui-ção de encargos e responsabilidades, requer critériospara engajamento, formalização de compromissos, de-finição e implementação de registros e comunicação,atribuição de responsabilidades por função/tarefa e mei-os e prazos para execução.

As operações demandam:o estabelecimento dos recursos de tecnologia de in-

formação e as bases para a ação sistêmica que envol-vem a definição de:

temas ou níveis para integração sistêmica,equipes interativas/interfuncionais,interfaces internas e externas,fluxos e nexos,mecanismos transversais de interação sistêmica - os

indicadores de gestão (socioambientais, de qualidade,de desempenho gerencial), e processos operacionais(críticos e não-críticos) e de execução das atividades.

Para fins de acompanhamento e medição é impor-tante gerenciar o procedimento, definir rotinas e esta-belecer padrões de excelência.

Na atividade de avaliação do desempenho, deve-seconcentrar as ações em:

avaliar previamente os resultados gerais;avaliar criticamente;avaliar as informações produzidas, os tipos de de-

sempenho (social e ambiental) e a estratégia organiza-cional;

comparar missão versus desempenho socioambiental,objetivos versus metas alcançadas, executar a avaliaçãode Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças –(FOFA). SWOT - para indicadores selecionados de (a)sustentabilidade e (b) ecoeficiência;

avaliar o desempenho estratégico (políticas, diretri-zes e processos de gestão) e as alternativas.

IMPLEMENTAÇÃO DEPRODUÇÃO LIMPA - PL

Neste tópico serão apresentadas sugestões paraimplementar o modelo de PL para a produção de bense serviços, independente da natureza jurídica, dos ob-jetivos comerciais, porte e tipo de Organização.

Em primeiro lugar, a empresa precisa conhecer emedir os focos de consumo de recursos e emissão deresíduos, consumo excessivo de água e energia, e dis-por de meios para implementar medidas preventivasapropriadas ao porte, objetivos imediatos e de médioe longo prazos. Para isso, poderá dispor de auditoriasexternas ou utilizar manuais apropriados, inclusive deacesso livre, através da Internet7. Para a perfeita efeti-vação, é fundamental conhecer o processo de produ-ção adotado e as características socioambientais associ-adas ou decorrentes do processo produtivo e uso doproduto, conforme o conceito do-berço-ao-berço.

A rede do Centro Nacional de Tecnologias Limpas- CNTL-RS utiliza manual para P+L adotado em Cen-tros Nacionais de vários países, mantidos pela parceriaPrograma das Nações Unidas para o Meio-Ambientee Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento Industrial - PNUMA-UNIDO. Outros gruposadotam a mesma tecnologia ou seguem esquemas pró-prios. No geral, são feitos o diagnóstico do processode produção, produto e atividades correlatas, a identi-ficação dos problemas com resíduos e consumo demateriais (inclusive água e energia), e a proposição, emgeral, das correções das situações, com aferição de cus-tos e benefícios.

O PNUMA disponibilizou, recentemente, na Inter-net7(UNEP, 2001b), um guia para a implementação deP+L, introduzindo interessantes avanços com a abran-gência dos conceitos de responsabilidade socioambien-tal, ecoeficiência e relatórios de desempenho.

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Nos termos da nova visão, a P+L dos anos 80,segundo o PNUMA, aproxima-se de PL originalmen-te proposta pela Greenpeace (informar o que é oGreenpeace em nota), acrescida da visão atual da teo-ria dos múltiplos agentes interessados (multistakeholders).

As novas sugestões do PNUMA são didáticas e apre-sentadas de forma programada, porém, sem a indica-ção de prioridades e de cronograma. Estas são ques-tões a serem estabelecidas pela própria empresa, emfunção de suas características, porte e condições atuais. O guia acima citado propõe o aprimoramento con-tínuo e recomenda:

o estabelecimento de princípios que envolvem: com-promissos, influência sobre outras partes interessadas,geração de idéias, mudança de atitudes e nova geraçãode força de trabalho, gestão integrada aos negócios,sistema de gestão ambiental (para substituição do mo-delo de fim-de-tubo), ecoeficiência, diálogo com aspartes interessadas externas, definição da linha-de-baseem operação e mudança de patamar, financiamento,adoção de acordo voluntário, e

a execução de cada princípio, através de passos, comsugestão de ações de planejamento e execução de ativi-dades.

Qualquer que seja a estratégia escolhida, a Organi-zação interessada somente irá maximizar sua competi-tividade no mercado sob a influência das questõesambientais se os critérios definidos para PL estiveremancorados a elevados padrões e código de conduta,definição de missão, visão e planejamento estratégico.

Assim, a organização terá melhores condições paralidar com temas ou questões como:

respeito à cidadania das comunidades (inclusive asindígenas);

contribuição para a coesão social e melhoria da qua-lidade de vida das pessoas;

utilização de materiais renováveis, de baixo impacto

socioambiental;redução do uso de energia por unidade de bens e

serviços;redução de impactos negativos (emissões, descar-

gas, resíduos) nos ecossistemas;redução do consumo de materiais através de

reciclagem, reuso, remanufatura, por unidade de bense serviços;

redução de custos de investimentos e crédito pormedidas socioambientais;

redução da obsolescência e aumento da vida útil deprodutos;

gestão responsável de acidentes internos e externos,provocados por processos e produtos;

prevenção de impactos globais, como aquecimentodo planeta, depleção da camada de ozônio, biodiver-sidade, transporte transfronteiriço de resíduos perigo-sos e tóxicos;

destinação e descarte responsáveis de lixo industrial,embalagens e produtos pós-uso;

prevenção de penalidades e investimentos emremediação e recuperação de áreas impactadas.

É fato notável que a boa idéia, representada porP+L ou a melhor idéia, caracterizada por PL, serãoincentivadas por legislações, consumidores e concor-rentes. A reação do empresário à mudança, sob a justi-ficativa de aumento de custos e perda de competi-tividade tende a desaparecer, em virtude das vantagenseconômicas e financeiras já registradas.

O esquema para a implementação do modelo deprodução limpa é apresentado em fluxograma simpli-ficado, seguido da relação de tópicos e subtópicos, comdetalhes de procedimentos e indicação de conteúdopara as etapas sugeridas. A proposta é fruto de análisede várias estratégias e de opinião própria, resultante deexperiência em treinamento para profissionais com di-ferentes interesses e formações.

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O principal desafio está na mudança de cultura e nacapacidade de aprendizagem interna para a inserçãodas questões socioambientais no negócio das empresasou no eixo de atividades das organizações sem fins lu-

crativos. As organizações avançadas sabem que, semisso, não sobreviverão.

O fluxograma abaixo ilustra a implantação e gestãode sistema de PL.

FLUXOGRAMA PARA IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO LIMPA

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Tópicos e subtópicos para implementaçãode Produção Limpa

Designação de Ecotime para implementar asações de mudança através da seleção de colaboradorescom visão multidisciplinar e da definição de papés eresponsabilidades.

Identificação e descrição do modelo atual de pro-dução, que inclui melhor tecnologia disponível para re-duzir emissões (fim-de-tubo), P2, P+L e PL.

Migração para PL

Identificação dos impactos e aprimoramento doproduto, que abrange: estrutura e componentes, im-pactos benéficos e maléficos, número/volume de pro-duto desperdiçado e peso/intensidade total de materi-al por unidade de produto.

Durabilidade (anos, meses, dias, horas) e opor-tunidade para extensão da vida útil, compreendendo:separabilidade, utilidade, funcionalidade, adaptabilida-de, atualização, reciclabilidade, reparabilidade, estímuloao mercado de segunda mão e substituição de produ-tos perigosos por outros menos perigosos.

Identificação dos impactos e aprimoramento doprocesso de produção. No que se refere às matérias-primas, deve-se avaliar o consumo de matéria-primapor volume/número ou outro indicador de produçãode produto selecionado. A avaliação de periculosidadeenvolve a corrosividade, a flamabilidade e a explosi-vidade. A avaliação de toxicidade, engloba os efeitosagudo e crônico, dano permanente, bioacumulatividadee biodegradabilidade. Outros fatores influem na iden-tificação dos impactos, como: oportunidade para re-dução de consumo de matéria-prima, oportunidadepara reuso, remanufatura, reciclagem de sobras e resí-

duos (não-produtos) e oportunidade para substituiçãopor matéria-prima ambientalmente mais segura.

Água – deve-se considerar o consumo total porvolume/número ou outro indicador de produção deproduto selecionado, o reaproveitamento ou reuso noprocesso e a oportunidade de poupança.

Energia – envolve o tipo usado, e pode ser: so-lar, eólica, biomassa, hidroeletricidade, gás, termelétricaa carvão, termelétrica a gás, óleo diesel e nuclear. Tam-bém é preciso levar em conta o consumo total de energiapor volume/número ou outro indicador de produçãode produto selecionado, o controle de fuga de energia,a oportunidade de redução de consumo e a oportuni-dade para privilegiar o consumo de energia renovável.

Embalagens – são classificadas como recebidase despachadas. Ambas devem apresentar descrição eidentificação do material, de duas formas: renovável xnão-renovável e sintético inorgânico x sintético orgâni-co x natural. Deve-se considerar também reciclabilidadee reuso, volumes recebidos e descartados e destinação.

Emissões – consideram-se aspectos como: natu-reza (sólida, liquida, gasosa), volumes, impactos paraar, água, solo, destinação, estação de tratamento, redepública, aterro industrial, incineração. Considera-se tam-bém oportunidade para minimização e prevenção dageração.

Gestão da Produção Limpa

Os gestores da organização ao emitirem a declara-ção de compromisso para a implementação de pro-dução limpa na manufatura de bens e serviços e aobrigatoriedade de todos os colaboradores na adoçãodos critérios, princípios e diretrizes de gestão com RSAe planejamento estratégico socioambiental integradodeflagram um processo que implica na produção de

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material para treinamento interno e para a implemen-tação do modelo.

A delimitação e implementação de princípios e cri-térios de PL envolvem: precaução, prevenção, visão in-tegral ou holística (ciclo-de-vida), participação demo-crática e direito público de acesso à informação. A iden-tificação, a obtenção e a implantação de recursos e fer-ramentas auxiliares (manuais, diretrizes, procedimentos,softwares, material para treinamento e outros recursos)devem ser ajustados ao tipo e ao porte da Organiza-ção.

Formulação do plano de sustentação deProdução Limpa

A gestão e o planejamento estratégico da produçãolimpa demanda:

definir a linha de política de produção, de acor-do com os princípios e procedimentos em sintonia como modelo de gestão e planejamento estratégico socio-ambiental integrado, alinhado ao plano de negócios ouatividades da Organização, e

estabelecer procedimentos e rotinas para audito-ria e monitoramento e difusão de informações de de-sempenho socioambiental, no nível de processo e pro-duto.

A operacionalização do plano de produção limpaconsiste na:

definição da linha de base socioambiental de pro-cesso e produto em alinhamento com os critérios eprincípios declarados;

disseminação de idéias e deliberações, no engaja-mento e comprometimento de outras partes;

no estabelecimento de processo de comunicação in-terna, para todas as áreas operacionais;

na produção de manuais, diretrizes, treinamento,

consultoria, estudos de caso, projetos sob medida.Necessita-se, também:

implementar programas de capacitação institucional,organizacional e funcional em parcerias com centrosde produção limpa, universidades, institutos de pesqui-sas, escolas técnicas, ONGs;

estabelecer diálogo com as partes interessadas exter-nas por meio de relatórios, publicações, seminários, ofi-cinas, visitas técnicas, casos de sucesso, parcerias estra-tégicas, permuta de informações, qualificação de for-necedores.

Outras estratégias consistem:na integração do processo de produção ao modelo

de gestão socioambiental responsável e planejamentoestratégico socioambiental integrado;

no estabelecimento de alvos de qualidade socio-ambiental para a produção, com foco em custos maisbaixos para a organização e a sociedade, com base nasdiretrizes de gestão socioambiental responsável, desen-volvimento sustentável e sistema de produto;

na identificação de regulamentação, princípios e es-tatutos de responsabilidade socioambiental aplicáveis -poluidor pagador, responsabilidade objetiva, princípioda prevenção, princípio da precaução, e outras iniciati-vas de conformidade e ação pró-ativa;

na aplicação dos princípios e critérios de ecodesign eecoeficência e outras ferramentas apropriadas ao pro-cesso e produto.

Também funcionam como fatores operacionais derelevância:

aplicação de gestão supervisionada (product stewar-dishp) e arrumação da casa (good housekeeping);

criação e operação de sistema de monitoramento eauditoria do processo produtivo;

implantação de sistema de gestão da informação noprocesso de produção;

definição dos investimentos e financiamentos para a

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1 Foram usadas diversas fontes já mencionadas ao longo do texto e,em especial, as seguintes: (1) Andrade, R.O.B. de & col. 2002.Gestão ambiental. Enfoque estratégico aplicado ao desen-volvimento sustentável. 232 pp. Makron Books. (2) Robert, K.-H. & col. 2002. Strategic sustainable development –selection, design and synergies of applied tools. Jour.Cleaner Production 10(2002): 197-214. Elsevierwww.cleanerproduction.net (3) . www.oag-bvg.gc.can/domino/cesd_cedd.nsf/html/pmwork_e.html (acesso em out. 2002).Developing performance measures for sustainabledevelopment strategies. p. 1-6. (4) Environment Canada.Acessado em out. 2002. Green government. www.ec.gc.ca/grngvt/apnd_e_e.htm . (5) Zero Emission. 1998. Zero emission approach.Slide show presented at 4th Annual World Congresso n ZE inNamíbia, 14-17 Oct. www.zeroemission.de/start.htm (acesso nov.2002). (6) Schmidt-Breek & col. 1999. A Report by the THEFACTOR 10 CLUB, 67 pp. www.factor10.org . (7) Diversos tex-tos na REAd Revista de Administração, Edição Temática 2002.Sistema de Gestão na Empresa.2 Referência (6) da nota anterior.3 A relação entre o procedimento estratégico proposto e item da

Declaração da Rio-92 está identificada pela citação do número doPrincípio, no tópico em que isso se aplica.4 Adams, D. The Pillars of Planning: Mission, Values, Vision. 4 pp.

http://arts.endow.gov/pub/Lessons/Lessons/ADAMS.HTMLAcessado jan 2003.5 (1) McNamara, C. Strategic Planning (in nonprofit or for-profit

organizations). http://www.managementhelp.org/plan_dec/str_plan/str_plan.htm - (2) Nickols, F. 2000. Strategy: Definitionsand Meaning. http://home.att.net/~nickols/strategy_definition.htm -(3) Nichols, F. 2000. Three forms ofstrategy. Corporate, competitive and strategy in general. 7 pp. http://home.att.net/~nickols/three_forms_of_strategy.htm - (4) Jones,J. E. & Bearley, W.L. 2002. Strategic planning, 2 pp.www.improve.org/stratplan.html Acessos em jan. 20036 Nickols, F. 2000. The Goals Grid. A Tool for Clarifying Goals

and Objectives. http://home.att.net/~nickols/goals_grid.htm77 Vários tópicos foram extraídos de Andrade, Rui O. B. & col.

2002. Gestão ambiental. Enfoque estratégico aplicado ao desen-volvimento sustentável. Makron 232 pp.

produção com responsabilidade socioambiental, porprocedimentos como a avaliação de barreiras e dificul-dades,

alocação de fundos preferenciais, casos de sucessoeconômico-financeiros, incentivos, investimentos di-ferenciados, premiações e recompensas;

o estímulo à participação democrática para aprimo-ramento do processo produtivo, com formação deecotimes, revisores e grupos de discussão.

O estabelecimento da tecnologia de processo e pro-duto envolve fatores importantes, como:

auditoria no chão-de-fábrica, com identificação deperdas, balanço de material, água e energia;

definição de política para seleção e uso de matérias-primas, que abrange levantamento e registro de maté-rias-primas preferenciais, seleção de critérios para a es-colha de materiais (naturais, renováveis, atóxicos, sim-ples, reusáveis, remanufaturáveis, reclicáveis, biode-gradáveis, duráveis);

definição de estratégias de redução de riscos de pro-dutos, pela aplicação do princípio da precaução e pelaavaliação de risco e de perigo (hazard) de produto.

A substituição de produtos perigosos por outrosmenos perigosos é realizada:

a partir da avaliação de efeitos de produtos quími-cos para a saúde humana e o ambiente,

por orientação dos operadores,uso de métodos e equipamentos para manuseio se-

guro de produtos perigosos,participação em programas de devolução garantida

(takeback),participação em programas de banimento (phase out)

e rotulagem ou selo ambiental.Por último, é necessário promover a integração do

desempenho socioambiental ao marketing do produ-to.

NOTAS

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07 MEDIÇÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL

DEFINIÇÃO DO ARCABOUÇO PARAAVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Definir o arcabouço para avaliação de desempe-nho pressupõe a seleção de grandes direcionadores pa-ra a Avaliação de Desempenho de Sustentabilidade Orga-nizacional. Entre eles:

os elementos da política organizacional de sustenta-bilidade, determinados por missão, visão, princípios,valores e macro-objetivos;

os direcionadores de sustentabilidade organizacional;a integração gestão-processo-produto-consumo e os

corolários visão de sistema de produto do-berço-ao-berço e dados de avaliação de ciclo-de-vida;

os princípios e condutas de Eco-gestão organiza-cional com especial atenção para governança, estraté-gia, contabilização total e relacionamento com todosos interessados;

definição de objetivos estratégicos e metas tempo-rais qualificadas.

São levados em conta também os critérios para aconstrução de indicadores de sustentabilidade, genéri-cos e atividades/negócios específicos, mas compará-veis a outros no segmento/setor de atividade/negóci-os, que expressem ou reflitam as relações de objetivose escala de tempo entre as Organizações e as expectati-vas dos interessados na cadeia de valor; os alvos métri-cos específicos, e os tipos de recursos reconhecidoscomo relevantes para a Organização (que abrangem oscapitais econômico, natural, humano/cultural e social/institucional).

Desse modo, define-se eco-gestão enquanto qual-quer método, processo ou procedimento para contro-

lar, minimizar, eliminar ou prevenir os efeitos maléfi-cos e potencializar os benéficos para a Organização,ambiente e a sociedade humana, causados por ações eprodutos criados pelo homem.

Outro aspecto importante para definir tal arcabouçoé a seleção de aspectos considerados relevantes para asustentabilidade da Organização levando à integraçãode elementos econômicos e socioambientais relaciona-dos a processo(s) de produção, produto(s), bem ouserviço, modalidade ou conduta do consumidor ouusuário e operação (ou operações) gerencial específi-ca.

Para o estabelecimento de objetivos e respectivosalvos (marcos de referência) mensuráveis sugere-se:

rever o caso organizacional de sustentabilidade atu-al (linha de base) e futura;

levar em consideração a proposta de política organi-zacional (por exemplo, integração gestão-processo-pro-duto-consumo, com enfoque na avaliação de ciclo-de-vida e sistema de produto do-berço-ao-berço, etc.);

analisar os macro-objetivos sustentáveis; destacar osprincipais direcionadores para o desenvolvimento eco-nômico e socioambiental da Organização;

rever o modelo ou meta de padrões de excelência;analisar os resultados alcançados por Organizações

com os melhores desempenhos de DS, como:dispêndios socioambientais totais e ecoeficiência;

poupança de recursos,produtividade, competitividade e remuneração

do acionista;redução de externalidades e benefícios para bens

globais, regionais e locais;incorporação de avaliação de ciclo-de-vida nas

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práticas e operações gerenciais em unidades adminis-trativas e de produção e os resultados para os diferen-tes interessados;

qualificação e qualidade do capital humano inter-no, decorrentes de práticas de sustentabilidade;

benefícios públicos de programas de poupançade água;

dividendos econômicos originados de elimina-ção/prevenção/não uso de substâncias tóxicas e peri-gosas;

aumento de lucratividade derivada de poupançade matérias-primas;

aumento do valor econômico-financeiro da Or-ganização, determinado por elementos intangíveis;

acesso a fundos éticos/incentivados oriundos devalorização da imagem/marca/reputação da Organi-zação;

transferência de valor econômico para integran-tes identificados da cadeia de valor, devido à qualifica-ção de agentes interessados em práticas de susten-tabilidade.

criação de valor integrado econômico e socioam-biental, por criação/expansão/aprimoramento dereciclabilidade de subprodutos, na cadeia de valor;

criação de valor para os setores privado, gover-namental e civil (sociedade em geral), pela implemen-tação de sistema de Emissão Zero para determinado(s)tipo(s) de não-produto(s);

incorporação ou reposição de recursos de bio-diversidade e significado para os capitais econômico,natural, humano e social/institucional;

aumento da capacidade de eco-inovações, de-corrente de ações de participação democrática e deacesso público a informações econômicas e socioam-bientais integradas;

resultados econômicos e ganhos socioambientaisoriginados do redesenho de processo/produto com

base em estratégias de ecodesign;aprimoramento do sistema de Gestão Ambiental

Certificado, oriundo da implementação de ferramen-tas de Produção Limpa;

aumento de competitividade e acesso a novosmercados, em razão de estratégias de ecomarketing eResponsabilidade Socioambiental Total (transparência,respondência, conformidade e além-de-conformidade).

Outro aspecto a ser considerado na definição doarcabouço é a revisão, análise e identificação de pontosfortes e oportunidades, fraquezas e ameaças (FOFA-SWOT) para a Organização. Nela, deve-se observaros critérios ou elementos convencionais, usados poranalistas de mercado e investidores que avaliam as or-ganizações, especialmente as com fins lucrativos; atra-vés da rentabilidade e custo de capital; dos custosoperacionais clássicos; do Valor Econômico Agrega-do (EVA Economic Value Added), como indicador re-troativo para avaliar a lucratividade, eficiência do capi-tal, custo do capital e do crescimento. A capacidade degestão de custos e de operações gerenciais,o compor-tamento e critérios na leitura de relatórios para tomadade decisões de investimento ou avaliação de desempe-nho devem ser considerados(Ver quadro explicativosobre tempo e fatores para decisão econômico-finan-ceiro na página seguinte).

Outra medida para a definição do arcabouço paraa avaliação do desempenho é a seleção de procedi-mentos já adotados na Organização que sirvam de focopara a avaliação e que possam revelar a qualidade dasações de sustentabilidade para os diferentes interessa-dos, na cadeia de valor e fora desta, tais como:

gestão-processo-produto-consumo, ancorado naavaliação de ciclo-de-vida e sistema de produto do ber-ço-ao-berço;

experiências relevantes já consolidadas e outrasem curso, bem como os respectivos campeões; ferra-

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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mentas com destaque, aplicadas a operações gerenciaise processos de produção de bens e serviços;

procedimentos gerenciais notórios;marcos de excelência em relação aos melhores de-

sempenhos no setor e à própria Organização;riscos críticos superados ou prevenidos;opinião de interessados relevantes e os efeitos;uso prático de oportunidade para aprimoramento;

diferenciação no segmento/mercado;resultados relevantes de comunicação com interes-

sados; efeitos positivos na cadeia de valor;

lições aprendidas;treinamento oferecido, especialmente o coincidente

com o esperado ou necessitado;preparação, prontidão e resposta a riscos e aciden-

tes; conduta frente a situações similares no setor;eventos relacionados a questões específicas de eco-

eficiência local;eventos relacionados aos princípios de Precaução,

Poluidor Pagador, Responsabilidade Objetiva e Res-ponsabilidade Continuada do Produtor;

resultados e impactos, positivos e negativos (em re-

TEMPO E FATORES PARA DECISÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA

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lação a metas propostas e alcançadas, com avaliaçãoindividualizada de resultados relevantes ou críticos, pas-sados e presentes, com projeção ou percepção de com-portamento necessário para o futuro);

dados e resultados de ecoeficiência, avaliação deciclo-de-vida, ecodesign, desmaterialização, ProduçãoLimpa, acesso público à informação, auditorias inde-pendentes, códigos de ética e normas socioambientais,etc., envolvendo matérias-primas, água, energia, emis-sões, reuso, remanufatura, reciclagem, recuperação, etc.

A definição do arcabouço exige ainda, que basespara a avaliação sejam solidificadas por meio de fato-res como:

enunciados da visão e princípios de susten-tabilidade;

quadro de indicadores métricos de susten-tabilidade, genéricos aplicáveis e atividade/negócio es-pecíficos; contabilização de resultados expressos pelosindicadores selecionados; relacionamento com todosos interessados relevantes; análise, interpretação e di-vulgação pública de resultados; revisão dos dire-cionadores para a Organização Sustentável e dos ele-mentos para a sustentabilidade que definem o arcabouçoconceitual e os limites desejados para a Organização.Ver quadro com sugestões nas páginas seguintes. É necessário estabelecer o quadro de elementoscontabilizáveis tangíveis, relacionados aos capitais natu-ral, humano/cultural, social/institucional e econômico-financeiro. E ainda, os elementos intangíveis, que preci-sam ser contabilizados a fim de revelar o seguinte:

habilidade em gestão;reputação;posicionamento estratégico;patentes e direitos autorais;custos totais (full-cost pricing), para incluir externalidades

e deficiência de informação;efeitos positivos e negativos para o valor da Organi-

zação, pelos interessados relevantes;confiabilidade, integridade, transparência, credibi-

lidade e Responsabilidade Socio-ambiental Total emrelação a todos os interessados, como ativos para de-sempenho futuro, em face de confiança do mercado,investimentos sustentáveis de longo prazo e especula-ções. Também se recomenda concentrar esforços nosentido de especificar:

o valor estratégico organizacional - como ética,confiabilidade, gestão de riscos, segurança, P&D, visãode futuro (cenários), governança e responsabilidade or-ganizacional focada em resultado final tríplice de longoprazo. Incluem-se ainda os métodos para apropriaçãoe contabilização total econômico-financeira e socio-ambiental;

o valor de marca e confiança, satisfação dos interes-sados;

capacidade para eco-inovação (desenvolvimento denovos bens, serviços ou processos que agregam valore previnem ou reduzem, significativamente, os impac-tos ambientais, com base em análise de ciclo-de-vida,ecodesign, fardo ecológico, intensidade material porunidade de serviço, balanço de massa, revalorização demateriais não-ecoeficientes, extensão da função ou doserviço e outras ferramentas);

conhecimento e capacidade de aprendizagem;gestão integrada da sustentabilidade atual e sustenta-

bilidade futura;ética,transparência e capacidade de resposta;prontidão e preparação para acidentes.Um outro fator a ser considerado enquanto ele-

mento intangível é a identificação dos riscos e das opor-tunidades que revelem:

os riscos cumulativos (relativos à proteção de saúdehumana e à qualidade ambiental);

a contabilização sustentável e socioambiental (refe-rente à gestão de externalidades e outros aspectos rela

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cionados a processos e produtos, segundo o foco doberço-ao-berço);

a periculosidade e a operacionalidade (desvios defunções previstas no design original);

falha na confiabilidade e desempenho de engenha-ria;

falha de efeito no funcionamento de processo e pro-duto (bens e serviços) e,

falha no ecodesign de produto.

Procuram-se respostas a desafios socioambientaiscrescentes, como:

maior crescimento, mas com aumento de desigual-dades;

renda crescente, porém menor do que nos paísesdesenvolvidos;

aumento da força de trabalho, porém com proble-mas de emprego;

aumento da expectativa de vida, mas com sérios

Direcionadores para organização sustentável (continuação)

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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problemas de saúde;dificuldades de acesso à disponibilidade de alimentos;necessidade crescente de educação formal e de ha-

bilidades profissionais;dificuldade de acesso à água. Cerca de 40% da po-

pulação estará em áreas de escassez, com aumento no-tável da população urbana.

Nesse contexto são necessárias respostas a deman-das especiais como:

mudança do modelo de produção, transporte e ar-mazenagem de alimentos, agricultura orgânica e fazen-das pesqueiras (fish farming);

Emissão Zero e Produção Limpa;o uso de fontes alternativas de energia e tecnologias

com eficiência energética;atribuir ao capital natural o valor de mercado;empregar tecnologias poupadoras de água;implantar sistema de transporte sustentável;promoção de tecnologia democrática de informa-

ção e comunicação;desenvolvimento da democracia pluralística e res-

ponsabilidade das Organizações.Há que se considerar ainda,

o consumo excessivo de matérias-primas, água eenergia e outros insumos;

o mau uso do produto pelo consumidor;processos industriais de riscos;a perda de subprodutos úteis;sistema inadequado de segurança;gastos com manejo e destinação de resíduos;danos à imagem e o uso de matérias-primas inade-

quadas.Por outro lado, recomenda-se ações que revelem a

implementação de passivo ambiental, multas e obriga-ções para remediação; o uso de recursos de impactovisual e sonoro; o estabelecimento de auditoria e avali-ação de riscos; o controle de acidentes e emergências;

o seguro ambiental com prêmio de alto risco.A redução de custos pode ser concretizada por

meio de:gestão de operações; tecnologia de informação;

P&D;gestão e formação de preços de produtos;procura e foco na cadeia de suprimentos emanufatura. Esta abrange:gestão de demanda e inventário;produção enxuta;sincronização de planta de produção;manufatura integrada de produto;supervisão gerenciada (stewardship) e arrumação da

casa (housekeeping);PIP - Política Integrada de Produto, CIIP - Controle

Integrado de Processo e Produto);marketing, venda e serviços;logística e distribuição;impactos e resultados socioambientais faltosos, de-

ficientes, maléficos ou insatisfatórios;prevenção de situações indesejáveis em curto, mé-

dio e longo prazos;mecanismos de prevenção e, quando impossível, tem-

porariamente (em razão do estágio tecnológico) deminimização, bem como preparação e prontidão parariscos e acidentes.

A análise e avaliação de resultados econômico-fi-nanceiros integra o quadro de definição do arcabouçode avaliação do desempenho. Nesse sentido, é precisorever o quadro ou conjunto de centros de custos esta-belecidos para a contabilização da Organização, capa-zes de revelar os efeitos negativos (custos) e positivos(lucros) relativos aos tópicos eleitos como indicativospara a visão de sustentabilidade organizacional. Outrassugestões são:

estabelecer as correlações entre os indicadoressustentabilidade, atividade/negócio específicos e gené-

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rico), com o desempenho econômico-financeiro e,construir esquema, escala ou sistema de qualifica-

ção/classificação/pontuação para o desempenho re-ferente a indicadores intangíveis ou pouco tangíveis. Re-comenda-se a utilização de esquemas de cores: verme-lho (crítico), amarelo (atenção), verde (em melhoria),azul (satisfatório) e de pontuação: 0 (nenhum), 1 (mui-to baixo), 2 (baixo), 3 (médio), 4 (alto).

Outro critério pode ser o SWOT- FOFA.Deve-se proceder a avaliação do desempenho re-

sultante da articulação de estratégias e táticas de susten-tabilidade socioambiental com as de sustentabilidadeeconômica.

É preciso levar em conta os seguintes elementos, deacordo com o interesse da Organização:

a relação custos/lucros, para redução de custos(como apontado em tópico anterior);

e engajamento e desempenho de recursos huma-nos, por meio de ações como conhecimento de pa-péis, atribuições, responsabilidades na Organização;

preparo para o desempenho sustentável integrado;oportunidades para o melhor desempenho no

local de trabalho; cooperação, parcerias e reconheci-mento;

empoderamento e participação;participação em decisões;reconhecimento de progressos alcançados e

oportunidade para aprendizagem e progresso pessoal.A seguir, considerar a avaliação das expectativas/

previsões de desempenho desejado, em relação às efe-tivamente alcançadas, por objetivo, meta, alvo métrico,indicador mensurado e resultado contabilizado (resul-tado tangível) ou pontuado (intangível ou pouco tangí-vel). Deve-se ainda levar em conta questões como as aseguir.

Quais foram as políticas Organizacionais de maiorsucesso?

Que valores, índices, níveis ou outro tipo de in-dicação foram atingidos, preservados, evitados ou eli-minados?

Com que taxa ou nível de sucesso os meios emecanismos para incorporar indicadores de excelên-cia, relacionamentos, competitividade e liderança fo-ram implementados?

Qual foi a taxa/nível de sucesso das práticas aná-lise de causas e efeitos, relacionadas às questões socio-ambientais no eixo de atividades/negócios da Organi-zação?

Quais foram as condutas reativas e as pró-ativas?Que medidas (previstas) para correção de falhas

e melhor desempenho gerencial e produtivo foramalcançadas?

Que novas ações estratégicas ou táticas foramimplementadas?

As medidas preventivas para ações civis e passi-vos (liability), mitigação de danos e impactos, correçãoe recuperação de sítios ou áreas foram efetivas?

Quais foram as taxas/níveis de sucesso das ope-rações envolvendo gestão (inclusive mecanismos de de-cisão), processos produtivos, produtos, consumo (ca-deia de valor) e pós-uso de produtos/serviços ofere-cidos pela Organização?

O benchmarking em relação à linha de base de sus-tentabilidade e melhor desempenho no setor foi esta-belecido?

Quais as principais lições aprendidas, treinamen-to disponibilizado e requerido pelos colaboradores edemais interessados?

Quais as taxas/níveis de sucesso na previsão deriscos, acidentes e impactos relevantes, preparação,prontidão e respostas a riscos e acidentes?

Quais foram as oportunidades para aprimora-mento efetivamente implementadas?

Quais foram as principais contribuições da Or-

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ganização para formulação de políticas publicas?Qual foi a diferenciação alcançada pela Organi-

zação, no segmento de atividade/negócio?Quais foram os principais resultados de comuni-

cação com os interessados?Quais os principais efeitos – tangíveis e intangí-

veis – provocados pela Organização na cadeia de va-lor?

Quais foram as principais condutas frente a mo-dificações globais e setoriais no campo/negócio da Or-ganização?

Quais foram as principais condutas diferencia-das da Organização, frente a situações similares no se-tor?

Quais foram as principais ações – positivas e ne-gativas – da Organização, em relação a eventos ou ques-tões globais de sustentabilidade e aos princípios de pre-caução, poluidor pagador, responsabilidade objetiva eresponsabilidade continuada do produtor, entre outros?

Quais foram as experiências mais relevantes equais foram os campeões que as conduziram?

Quais foram as ferramentas de base socioam-biental mais relevantes ou importantes para a qualidadede desempenho econômico-socioambiental da Orga-nização?

Quais foram os marcos de excelência econômi-co-socioambientais mais relevantes que foram alcança-dos?

Quais os riscos críticos (previstos) que foram evi-tados?

E, finalmente, quais as principais opiniões (posi-tivas e negativas) dos interessados mais relevantes?

Relações de Causa e Efeito

Para o estabelecimento das relações entre causas e

efeitos é necessário tomar como base,o sistema de gestão-processo-produto-consumo;identificar os efeitos, impactos, aspectos ou ele-

mentos (que representem resultados positivos ou ne-gativos decorrentes das atividades);

selecionar os efeitos ou impactos que afetam ousão afetados pelas atividades, práticas ou ações, no Sis-tema de Gestão-Processo-Produto-Consumo;

organizar os efeitos ou impactos selecionados,de maneira a estabelecer as relações de causa-e-efeito. É recomendável que as relações de causa-e-efeitoprevejam o maior número possível de interações oureflexos como, por exemplo, a poupança de água noprocesso representa, entre outros aspectos ou efeitos:

a redução de custos diretos (preço pela água) e ou-tros indiretos (redução operações de manuseio na planta);

a diminuição no volume de emissões de água na redepública (esgoto);

a diminuição de pressão (uso) no fornecimento deágua tratada, aumentando a oferta para outros fins ediminuição de demanda sobre os estoques de água tra-tada;

a redução de custos de serviços de produção e dis-tribuição de água;

a redução de consumo de energia e materiais, prin-cipalmente produtos químicos usados para tratamentoe distribuição de água; a redução de pressão (estresse)sobre as fontes de captação de água.

Qualquer que seja o modelo adotado para a orga-nização dos efeitos ou impactos, é recomendávelsepará-lo em grandes blocos, para caracterizar (a) ope-rações ou funções gerenciais e (b) operações produti-vas de bens e serviços.

Cada uma delas pode ser subdividida, de acordocom o tipo de interesse, características e nível de deta-lhamento desejado pela Organização.

Neste sentido, sugere-se os seguintes procedimentos:

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selecionar – para cada dimensão ou âmbito, omaior número de efeitos, impactos, elementos ou com-ponentes afetados – de modo positivo ou negativo –por ações ou atividades executadas;

hierarquizar – os elementos mais relevantes paraexpressar o nível de responsabilidade socioambientalda Organização, frente a todos os interessados, na ca-deia de valor;

correlacionar os elementos hierarquizados aos in-dicadores métricos (de sustentabilidade, genéricos e ne-gócio/atividade específicos), que vierem a ser criadose estabelecidos como representativos para avaliação dedesempenho da Organização.

Estabelecer – para o conjunto de elementos hie-rarquizados, a escala de tempo a ser adotada, a fim deque as relações de causa e efeito de subconjuntos ve-nham a ser implementadas, como parte de ações ge-renciais regulares ou padronizadas na Organização;

rever o conjunto de elementos contábeis ou cen-tros de custos que forem estabelecidos para a Organi-zação, relacionados aos indicadores métricos, e

estabelecer as relações de causa e efeito, abran-gendo o conjunto de elementos hierarquizados, demaneira a incluir as atividades executadas nas unidadesorganizacionais e de acordo com o cronograma esta-belecido.

Feito isso, é recomendável fazer a listagem de efei-tos ou impactos. Entretanto, é necessário, antes, exporalguns comentários e recomendações. Um deles refe-re-se ao fato de que a lista incluída neste Guia, emboraextensa, não está, necessariamente, completa. Muitosefeitos estão representados por termo sintético; outrosestão desdobrados em diversos níveis de subcategorias.O propósito é oferecer ampla base de opções paraque cada Organização possa selecionar os efeitos quemelhor representem, para as diferentes partes interes-sadas: os impactos, de modo positivo ou negativo, ge-

rados pelo negócio ou atividade da Organização; e ascaracterísticas das práticas ou operações gerenciais eprodutivas e a demonstração inequívoca do compro-misso para o Desenvolvimento Sustentável.

A escolha dos efeitos precisa ser feita com cuidado,de maneira que a Organização tenha meios e recursospara gerenciar as informações mais representativas, le-vando em conta que o objetivo final é permitir a avali-ação de Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line).

A listagem dos efeitos está organizada com basenas dimensões ambiental (capital natural), humana (in-clusive a cultural), social, sócio-institucional, econômica(capital monetário, financeiro ou construído). Acredi-ta-se que o desdobramento dos efeitos sociais em ca-pitais permite mais detalhamento dos indicadores dedesempenho, em que pese não constitua critério uni-versal. Pretende-se que a segmentação dos efeitos, naforma apresentada, favoreça:

a integração de questões econômicas e socioam-bientais;

a identificação de efeitos ou impactos relacionadosa interesses diretos e indiretos de negócios ou ativida-des;

a demonstração da sustentabilidade da Organização;o correlacionamento às expectativas de partes inte-

ressadas específicas e a demonstração dos esforços or-ganizacionais em relação à sustentabilidade ambiental esocial globais.

De acordo com os Princípios e Escopo, recomen-da-se que os efeitos sejam escolhidos para cada etapado sistema Gestão Integrada de processo-produto-con-sumo e a visão do Sistema de Produto do berço-ao-berço. Desta maneira, o uso de determinado tipo deelemento ou recurso natural poderá ter efeitos em di-ferentes etapas, a montante e a jusante dos fluxos, emdistintas situações na cadeia de valor e para várias par-tes interessadas, como nos exemplos a seguir.

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Consumo de água: efeitos diretos em operaçõesgerenciais, processo e produto; efeitos para aqüíferosnaturais, para ecossistemas e seus componentes (bio-diversidade), para o sistema de abastecimento para alocalidade, município, Estado e país; água como servi-ço natural ou bem planetário comum.

Consumo de materiais: efeitos diretos para pro-dução de bens e serviços; esgotamento de recursos reno-váveis e não-renováveis; materiais não recuperados emdescartes e destinação; materiais reaproveitados (reuso,reciclagem, aproveitamento energético).

Consumo de energia: efeitos diretos para opera-ções gerenciais e produtivas; conseqüências para o tipode matriz energética; efeitos para o sistema provedorde energia, de acordo com a matriz energética.

Listagem de efeitos ou impactos

CAPITAL NATURAL

Recursos não renováveisDisponibilidade de mineraisDisponibilidade de recursos energéticos (petró-

leo, gás, carvão/xisto e nuclear).

Qualidade de ecossistemasAcúmulo de resíduos na superfície bioprodutiva,

decorrente de: atividades extrativistas, mineração; siste-ma produtivo, entre outros.

Desorganização do arranjo natural dos recursose perda de bioprodutividade natural.

Esgotamento de recursos exauríveis (não-renová-veis): aumento de demanda, esgotamento de fontes al-ternativas e descoberta de novos usos.

Renovação de recursos por processos: manuten-ção de ciclos biogeofisicoquímicos; capacidade de su-

porte ou sustentação (carrying capacity); conservação deestoques; recomposição natural, entre outros.

Poluição: Emissões (de CO2 Dióxido de Car-bono, CO Monóxido de Carbono, N2O Dióxido deNitrogênio, NOx Óxidos de Nitrogênio, SO2 Dióxidode Enxofre, NH3 Amônia, P Fósforo, CH4 Metano;N Nitrogênio; CFCs Clorofluorcarbonos; HFCsHidrofluorcarbonos; PFCs Perfluorcarbonos; COVcompostos orgânicos voláteis e outros), internalizaçãode danos e impactos (externalidades), internalização decustos de controle, controle integrado de processo-pro-duto-consumo, efeitos sobre bens locais, efeitos sobrebens nacionais, efeitos sobre bens regionais (poluiçãotransfronteiriça), efeitos sobre bens globais ou planetá-rios (convenções, protocolos, acordos e diretrizes), queenglobam: pesca marítima, danos nucleares, áreas úmi-das (RAMSAR), comércio de espécies em extinção(CITES), poluição do mar por navios, poluição mari-nha por fontes terrestres, espécies migratórias, coope-ração amazônica, camada de ozônio (Montreal), trans-porte transfronteiriço de resíduos perigosos (Basiléia),Antártida, Agenda 21, Diretrizes para o Desenvolvi-mento Sustentável, biodiversidade, mudança do clima(Quioto), armas químicas, desertificação, poluentes or-gânicos persistentes (Estocolmo), Fórum Internacionalde Segurança Química, entre outros. Estressantesambientais (ácido sulfúrico, água ácida, aldeído, alumí-nio, amônia, ar ácido, arsênio, chumbo, cianeto, clorados,cromo, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), de-manda química de oxigênio (DQO), dióxido emonóxido de carbono, fenol, ferro, fluoreto de hidro-gênio, fluoretos, fosfatos, fósforo, herbicidas, hidro-carbonos, íons metálicos (na água), material particulado,mercúrio, metano, níquel, nitrogênio (na água), óleo,óxido de etileno, óxidos de enxofre, óxidos de nitro-gênio, pesticidas, querosene, sólidos dissolvidos, sóli-dos em suspensão, sulfitos, vários produtos orgânicos,

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zinco, outros.Água – deve-se considerar: disponibilidade, qua-

lidade, depuração de água.Solo – levar em conta: disponibilidade de terra,

desertificação, erosão, recuperação de fertilidade.Ecossistema marinho e estuarino.Ecossistemas frágeis.Disponibilidade de água.Capacidade de carga (assimilação e bioconversão).Fossas/sumidouros naturais.Biodiversidade-extensão e disponibilidade, taxa

de crescimento, extinção de espécie, recomposição deespécies em riscos de extinção (o que abrange: fauna eflora silvestres, florestas plantadas, nativas, exóticas ecertificadas).

Recursos pesqueiros,microbiota,os efeitos do sistema produtivo de bens e servi-

ços (fauna, flora, microbiota, sítios arqueológicos, mo-numentos, áreas protegidas, ecossistemas ou biomassensíveis, habitats e nichos).

Efeitos do consumo,efeitos do pós-consumo,mudanças de habitats,cadeia alimentar,eutrofização,salinização,acidificação,controle de vetores e pragas,nitrificação,contaminação de aqüíferos (DBO-DQO),

ecotoxicidade,uso da terra,paisagem e monumentos históricos,energia renovável

Efeitos locaisValor cênico e estético (monumentos naturais e

históricos).Qualidade do micro-clima.Criadouros naturais (manguezais, várzeas, brejos

e matas ciliares).Periculosidade (envolve fatores como: flamabi-

lidade, corrosividade, explosividade, estabilidade e in-compatibilidade).

Toxicidade por: ingestão, inalação, absorção,irritação, efeito agudo, efeito crônico, bioacumulação,irreversível e resíduos nucleares.

Ruído.Esgotamento de oxigênio.Eutrofização de lagos e outros corpos de água.Nuvem de poluição (smog).Produtos recalcitrantes.Transporte perigoso.Práticas de descarte (transferência para tratamen-

to, reciclagem, co-geração de energia, aterro industrial,incineração).

Efeitos regionaisDisponibilidade de recursos.Disponibilidade de água.

Efeitos globaisCiclos bio-geo-fisico-químicos.Mudança climática,GEE - Gases de Efeito Estufa: CO2, CH4, N2O,

HFCs, PFCs, SF6 (Ton equivalentes de CO2); substân-cias incluídas no Protocolo de Montreal (ton. equiva-lentes de CFC-11 (potencial de depleção da camadade Ozônio); NOx, SOx, outras regulamentadas e con-venções internacionais: Estocolmo (POPs), Roterdam(PIC), Basiléia (transporte transfronteiriço de resíduosperigosos).

Exposição a altas temperaturas.Eventos ambientais extremos.Vetores de doenças,Alteração de alimentos

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EnchentesDoenças imunesMigrações e deslocamentosIonizaçãoRadiaçãoSubstâncias em banimento.

CAPITAL HUMANO

Saúde humanaCarcinogenicidade:

[lista em Eco-indicator 99 http://www.pre.nl/eco- indicator99/ei99-reports.htm].

Doenças respiratórias: particulados, SO3, O3,CO2, NO4, COV-compostos orgânicos voláteis,particulados.

Desorganizadores endócrinosDesorganização do sistema imuneEfeitos de metais pesados (cardiovasculares: ar-

sênico, chumbo, cádmio, cobalto; alergia e hipersen-sibilidade: níquel, cromo; reprodução: chumbo e mer-cúrio; sistema nervoso: chumbo, manganês e alumínio;osteoporose: chumbo, cádmio, alumínio, selênio).

Efeitos neurocitotóxicosEfeitos teratológicosDoenças veiculadas pela águaDoenças por vetoresDoenças por poluição urbanaPoluição domiciliarProdutos químicos e industriaisDoenças por resíduos sólidosAcesso a alimentos

Qualificação e capacitaçãoConhecimentoTreinamento: programas e atividadesHabilidades pessoais

Produção intelectualEngajamentoReputaçãoLiderançaReconhecimentoRelacionamentoEquilíbrio trabalho-lazer-famíliaPadrões e práticas no local de trabalhoCompensação-remuneração justaRetenção de talentosParticipação em decisõesHabilitação para direito de voz e votoRotatividade

Segurança e saúde no trabalhoSaúde ocupacional: condições, critérios, direitos

e deveresProgramasComitêsConformidade legal e acordos voluntários apli-

cáveis.

CAPITAL SOCIAL

Direitos humanosNão discriminaçãoTrabalho infantilTrabalho forçado/compulsórioCapacitação do quadro internoProgramas e práticasEmpoderamento das partes interessadasRespeito a populações indígenas

Justiça socialCombate ao suborno e corrupçãoTransparência em contribuições (filantropia, pa-

trocínios e campanhas políticas).Oportunidades: aprimoramento das condições

de vida e da saúde da população rural e urbana; dispo-

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Segurança no uso do produtoAssistência técnicaResponsabilidade Continuada do ProdutorRessarcimento de danos e perdas por processos

e produtos faltosos ou defeituososCultura

CrençaComportamentoValores espirituaisTradiçõesArte e recreação

CAPITAL SOCIOINSTITUCIONAL

Questões relacionadas à organização e funcionamen-to social, abrangendo conformidade legal, códigos deética, questões negociais e organizacionais, entre outras.

Competências constitucionais envolvidas ouafetadas

Acordos e legislação internacional (Quioto, Es-tocolmo, Basiléia, biodiverdade, biossegurança, FórumIntergovernamental de Segurança Química.

Cooperação nacional e internacional (parcerias,amparo ao desenvolvimento de tecnologias de baseeconômica e socioambiental, transferência de tecno-logia).

Âmbito federal (legislação, modelo de governo,políticas públicas e economia nacional).

Âmbito estadual (legislação, modelo de governo,políticas públicas e economia estadual).

Âmbito municipal (legislação, modelo de gover-no, políticas públicas e economia municipal).

Assentamentos humanosAprimoramentoDensidade populacional

nibilidade de recursos naturais; qualidade ambiental ede ecossistemas; acesso a água e saneamento e qualida-de do ar.

Segurança: redução da vulnerabilidade a mudan-ças ambientais.

Estabilidade ecológica (capacidade de superardesastres naturais).

Empoderamento: aumento da participação emtomada de decisões; direito de propriedade aos recur-sos naturais; acesso à informação ambiental; confiançae respeito; inserção socioeconômica e coesão social.

Acesso a alimentos e segurança alimentar.Diversidade (étnica, cultural, política, estética,

institucional, e de gênero).Qualidade de vidaEducação (renda e emprego, cultura, povos in-

dígenas, relacionamentos e amizades, habitação, segu-rança pessoal e comunitária, acesso a energia, saúdehumana, pública e ocupacional, percepção social decrise).

Infra-estrutura (transporte, telecomunicações, ser-viços e utilidades, infra-estrutura social, capitais natural,humano, social e cultural).

EspiritualidadeCooperação

ParceriasEquidadeCoesão socialRedes sociaisCanais de comunicação

Respeito ao consumidorCombate à propaganda enganosa e à maquiagem

(greenwashing, white washing)Direito público de acesso à informação sobre o

produtoDireito público de acesso à justiça

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HabitaçãoAlimentação/nutriçãoSuprimento de águaSaúde públicaSaneamentoLixoEducaçãoEspaço verdeEnergiaTransporteRecreação/lazerSegurança individualSegurança públicaQualidadeExpectativa de vida ao nascerEmpoderamento (autorização para participar e

decidir)Direito público de acesso à informaçãoInserção econômicaCrédito/microcréditoCoesão social/relacionamentosInserção digitalOutro (identificar)

Regulamentação socialLiberdade civil e políticaInstituições democráticasDiversidadeDinâmica populacionalDireito públicoDireitos humanosDireito administrativoDireito econômicoDireitos do consumidorDireito comercialPropriedade intelectual ou industrial

Responsabilidade fiscalHonestidade

TransparênciaCombate à corrupção

Regulamentação ambientalLegislação ambiental (Princípio da Precaução,

Princípio da Prevenção, Princípio do Poluidor Paga-dor, Princípio da Cooperação, Código do processocivil, responsabilidade civil objetiva: responsabilidadepor danos; responsabilidade solidária da administra-ção; litígios; criminalização dos danos ambientais; legis-lações futuras).

Remediação e obrigaçõesCompensação por danos socioambientais e a

propriedadesDestinação de não-produtos de longo prazoAcesso público à informaçãoAcesso à justiça

Participação socialEngajamento das partes interessadasControle democrático da informaçãoParticipação em decisões

Desenvolvimento SustentávelEstratégias para o DSIntegração econômica e socioambientalRegulamentação e legislação para o DSInstrumentos e mecanismosProgramas governamentaisCiência & Tecnologia para o DSDecisões

CAPITAL MONETÁRIO, FINANCEIRO OU CONSTRUÍDO

Renda individual (per capita)Renda de comunidadesPNB per capitaIGP Índice Genuíno de Progresso per capitaRenda do acionista/investidor

Gestão de patrimônio

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Prevenção de riscos financeirosGarantia de conformidadeRetorno dos investimentosLucroNovos mercadosRedução de custosRetorno sobre as vendasValor econômico agregadoValores pouco tangíveisValores intangíveisVida útil do produtoMateriais perigosos usadosConteúdo de materiais recicladosReciclabilidade do produtos

Desenvolvimento econômicoDesenvolvimento localComunidades em desvantagensDesenvolvimento na cadeia de valor (reconheci-

mento de papéis, atribuições e valor dos integrantes;gestão sistêmica, com base em sinergia, confiança, res-ponsabilidade solidária, interdependência com todosos interessados; compartilhamento de ganhos de pro-dução e financeiros).

Criação de empregos (diretos, contratados, indi-retos).

Lisura e pagamento de taxas e impostosPotencial de retorno de investimentos

Crescimento de mercado (aumento de partici-pação, aumento de vendas, diferenciação do produto,lealdade do cliente/consumidor, entrada em novos mer-cados, aprimoramento de inovação e qualidade, au-mento de competitividade, aprimoramento das rela-ções com o cliente e o público, produtos úteis e dura-douros, produtos atóxicos e sistema de garantia de re-torno ou de Emissão Zero).

Aprimoramento do lucro e produtividade (au-mento de eficiência e design; taxas e permissões; con-

formidade; produto seguro e confiável; treinamento ecapacitação; certificação, rotulagem e acreditação; re-dução de custos de materiais, energia e descarte de não-produtos, por processos como: desmaterialização, reuso,remanufatura, reciclagem, obrigações e remediação).

Desenvolvimento de Recursos Humanos – porprocedimentos como: aprimoramento da moral, pro-dutividade e criatividade dos colaboradores; diversi-dade (étnica, de gênero, credo); aumento da lealdade esatisfação dos colaboradores; melhoria do recrutamentode novos talentos; redução de custos de treinamento esupervisão; melhoria da capacidade para e da qualida-de de aprendizagem e inovações.

Aprimoramento do acesso a capitaisPercepção de riscos e de falta de controles (ris-

cos cumulativos – proteção de saúde humana e quali-dade ambiental; desperdícios, trabalho, não-conformi-dades, interrupções e eventos socioambientais (saúde,segurança, etc.) na planta de produção; gestão financei-ra de externalidades; produto de risco; gastos com va-zamentos, limpeza e remediação; aumento de preço/redução de oferta de matérias-primas; deficiência defornecimento de energia; necessidade de substituiçãode matérias-primas; desvios de funções previstas nodesign original; falha na confiabilidade e desempenhode engenharia; falha no funcionamento de processo eproduto; falhas externas: reclamações, remediaçãoambiental, multas, acidentes ambientais, demandas poracidentes; riscos de mercado; banimentos e restriçõeslegais a vendas; gastos com devolução garantida; boi-cotes ou redução de aceitação de produtos pelo con-sumidor; redução de demanda de mercado e reduçãoda qualidade ambiental do produto).

Riscos ambientais (responsabilidade por passivos;seguros de riscos; instalações de riscos e operações ouprocessos de risco).

Redução de custos de capital (de giro em produ-

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to, serviço e custos operacionais; fixos, através de pre-venção e redução de exigências; através de relaciona-mento público e com investidores; avaliação e qualifi-cação econômica e socioambiental de interessados re-levantes na cadeia de valor; e gestão de custos ocultos eintangíveis).

Aprimoramento da função organizacional (qua-lidade da informação para tomada de decisões; clarezana responsabilidade organizacional (accountability); esta-bilidade moral e consistência operacional e nos proces-sos negociais; correção e pontualidade no tratamentode fornecedores; gestão de temas controversos; quali-dade da gestão; participação em parcerias e Joint Ventures;posicionamento estratégico; programas estabelecidosde melhoria contínua) que envolvem: estabilidade dequadro qualificado de colaboradores; controle de qua-lidade; fidelidade na cadeia de valor; prevenção de con-sumo inadequado de materiais e energia; prevenção deacidentes no local de trabalho; gestão responsável detransportes e armazenagem na Organização e nos de-mais elementos da cadeia de valor; prevenção de pro-cessos industriais de risco; substituição de produtosperigosos e tóxicos; eliminação de resultados socio-ambientais faltosos, deficientes, maléficos ou insa-tisfatórios; prevenção de situações indesejáveis em cur-to, médio e longo prazo; eliminação/redução de exter-nalidades; prevenção de passivos socioambientais e pe-nalidades de curto, médio e longo prazo; prevenção deseguros ambientais com prêmios de alto risco; preven-ção de riscos determinados por legislações futuras; pre-visão de custos de descomissionamento e interrupçãode produção de bens e serviços; prevenção de perdasde não-produtos úteis; eco-inovações para a cadeia devalor; gestão da demanda e inventário; sincronizaçãona planta de produção; manufatura integrada de pro-duto; gestão supervisionada de processo e produto(stewardship) e registros para arrumação da casa (house-

keeping); PIP - Política Integrada de Produto (visões deciclo-de-vida e do-berço-ao-berço) e orientação a to-dos os consumidores na cadeia, para enfoque no mo-delo de PIP - Política Integrada de Produto; serviçosassistenciais e filantrópicos; e projetos de desenvolvi-mento social articulados à Responsabilidade Socio-ambiental Organizacional). Outros fatores são relevan-tes, como: mix de produtos, compras/suprimentos,logística de distribuição, marketing e vendas, investimen-tos de capital, aprendizagem organizacional, treinamento,relatoria – comunicação, superação de metas, além-de-conformidade e benchmarking de referência.

EcoeficiênciaProdução ou criação de valor (bem e serviço).Influência ambiental (na criação, na produção e

no uso)Uso de recurso (energia, água, matéria-prima, re-

curso humano, não-produto – emissões).ContabilizaçãoRelatórioAuditoriaComunicação

Sistema de Gestão Ambiental (não-certificado,certificado e auditoria)

Utilização de instrumentos de mercado (taxas,incentivos, isenções, projetos e programas, títuloscomercializáveis, prêmios e compras “verdes”).

Observe, na página seguinte, o esquema gráfico domodelo de gestão a montante, na planta e a jusantepara produtos ou atividades na Organização.

Sugestão de tabela para organização dosefeitos ou impactos

As Organizações não precisam criar, necessaria-mente, modelos ou arcabouços próprios, contendo

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os efeitos ou impactos. Para isso, poderão adotar assugestões de Códigos de Conduta e propostas já dis-poníveis na Internet. As grandes empresas – particular-mente as maiores Corporações Transnacionais – ado-tam sugestões de modelos setoriais, propostas de As-sociações Industriais ou ONGs representativas de inte-resses setoriais privados.1

O propósito da tabela é facilitar o registro das rela-ções de causa-e-efeito tanto negativas (indicativas dedano ou passivo) como positivas (indicativa de vanta-gem ou ativo). Os blocos ou campos permitem esta-belecer as relações entre os efeitos ou impactos nasoperações (a) gerenciais, (b) processos produtivos, (c)produtos e (d) consumo. Esta última considera a con-duta do consumidor e as conseqüências do descarte edestinação de embalagens, sobras do produto propria-mente dito, ao final da vida útil.

Para processo e produto, estão previstas as relaçõesde causa-e-efeito entre os efeitos ou impactos: a mon-tante (upstream), na planta e a jusante (downstream).

Para produto, poderá haver também o registro deefeitos ou impactos: no retorno, se a devolução garan-tida (takeback) estiver prevista no modelo de ecoge-renciamento da Organização e no descarte e destinaçãopara o lixo urbano ou depósito certificado, de acordocom a legislação aplicável. Além disso, a tabela propõeque, para cada efeito ou impacto selecionado, seja feitoo registro da: ocorrência ou não de efeito econômico-financeiro, valoração em reais e identificação de centrode custo-benefício (contabilização).

O modelo de tabela nas páginas que se seguem têmcaráter apenas ilustrativo. Se adotado, é necessário queo tipo de classificação e demais terminologia sejam de-finidos com clareza, para o entendimento dos leitores.

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É preciso seguir, portanto, as etapas abaixo discri-minadas:

Selecionar para cada dimensão ou âmbito – omaior número de indicadores que afetam de maneirapositiva ou negativa as atividades processo produtivoe produto.

Incluir os indicadores selecionados, e indicar seos efeitos afetam as fases ou etapas citadas para pro-cessos (a montante, na planta e a jusante) e para produ-to (na planta, no consumo e na destinação).

Mencionar para cada efeito, sempre que possí-vel, os valores em R$ envolvidos – de modo positivoou negativo; calcular o saldo para cada etapa ou fase eo resultado final para o efeito.

Hierarquizar os elementos mais relevantes ou re-presentativos para expressar o nível de Responsabili-dade Socioambiental da Organização, frente a todosos interessados, na cadeia de valor.

Correlacionar os elementos hierarquizados aos in-dicadores métricos (de sustentabilidade, genéricos e ne-gócio/atividade específicos), que foram criados e esta-belecidos como representativos para avaliação de de-sempenho da Organização.

Estabelecer para o conjunto de elementos hierar-quizados, a escala de tempo a ser adotada, a fim de queas relações de causa-e-efeito de subconjuntos venhama ser implementadas, como parte de ações gerenciaisregulares ou padronizadas na Organização.

Rever o conjunto de elementos contábeis ou cen-tros de custos estabelecidos para a Organização, relaci-onados aos indicadores métricos.

Estabelecer as relações de causa-e-efeito abran-gendo o conjunto de elementos hierarquizados, de ma-neira a incluir as atividades executadas nas unidadesorganizacionais e de acordo com o cronograma estabe-lecido.

Unidade Operacional:PeríodoDescrição do Processo/Produto/EventoDescrição da situação, condição ou problema a

ser tratado.

1Ver Furtado, J.S. 2003. Indicadores de sustentabilidade. Livre acessoem www.teclim.ufba.br/jsfurtado macropágina GestãoSocioambiental Responsável].

NOTAS

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08 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE DESEMPENHO SUSTENTÁVEL

FUNDAMENTOS PARA ELABORAÇÃODO RELATÓRIO

Há vários tipos de modelos e arcabouços de Rela-tórios, propostos ou sugeridos por agências multilate-rais, organizações não-governamentais, associações ouentidades de classes, organismos indexadores e, emcertos casos, Governos de diferentes países1 . Para asgrandes corporações, o modelo mais citado é o daGlobal Reporting Initiative - GRI2 .

A crescente adoção de modelos de RDS não sur-preende, especialmente quando se trata de empresasque captam recursos em Bolsas de Valores e já passa-ram a incluir informações sociais e ambientais exigidaspor Bancos, Fundos de Pensão e outros investidoreséticos.

As informações e sugestões introduzidas neste Ca-pítulo estão baseadas em várias fontes, com destaquepara duas, consideradas fundamentais para a monta-gem do “cardápio” de informações, desde que sejamlevados em conta o tipo de negócio ou atividade, oporte e o estágio de desenvolvimento da Organizaçãointeressada: o modelo do Programa das Nações Uni-das para o Meio Ambiente -PNUMA3 e o arcabouçosugerido pelo GRI.

Muitas empresas de negócios já adotam os mode-los de relatórios propostos por associações represen-tativas. São arcabouços fechados, restritos ou limitadosàs associadas e com distinto acesso público ao conteú-do. Um exemplo é o acesso ao relatório de desempe-nho, mas não ao modelo para elaboração, como nocaso do Relatório de Sustentabilidade proposto peloWorld Business Council for Sustainable Development

-WBCSD, implementado, localmente, pelo CEBDSConselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvi-mento Sustentável e elaborado pelas empresas associa-das4 . Ou ainda, o acesso ao arcabouço de indicadorespara produção do relatório, mas não aos dados de de-sempenho das empresas, como no caso do InstitutoEthos5 .

Neste capítulo, os modelos do PNUMA e GRI sãocombinados, desdobrados e adicionados de outros ele-mentos, os quais foram extraídos de recomendaçõesde outras organizações ou do conteúdo dos Capítulosanteriores deste Guia.

A Organização interessada em produzir seu RDSdeverá escolher itens e a seqüência que melhor atende-rem a seus propósitos, compromissos, estágio, porte,tipo de negócio ou de atividade. Baseado em sugestãodo PNUMA, será recomendado o modelo simplifica-do de RDS para pequenas e médias empresas. Paraessas, o modelo do GRI é considerado muito exten-so6 .

É preciso reconhecer que a produção do RDS nãoé simples. Requer o envolvimento de diversos partici-pantes da Organização, depende de dados e informa-ções de diferentes fontes, internas e externas, e podeser substancialmente enriquecido com o envolvimentoe a contribuição de outras partes interessadas, especial-mente as atuantes na cadeia de valor, no segmento ouramo de negócios ou de atividades.

O custo financeiro para a elaboração do Relatórionão é pequeno, levando-se em consideração o plane-jamento, as rotinas de geração, coleta, processamento,análise, interpretação, produção de materiais de mídiae comunicação.

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Por isso, as pessoas envolvidas na elaboração do RDSdevem estar preparadas para evitar que ele seja simplespeça de marketing ou de relações públicas, mas devemvalorizá-lo para que se torne uma ferramenta eficienteno aperfeiçoamento de processos e favoreça o ganhoem competitividade.

Estas recomendações são mais bem entendidas pormembros de empresas com fins lucrativos, mas nãodeveriam ser ignoradas por dirigentes de organizaçõessem fins lucrativos, cujas atividades estão focadas nafunção social ou pública.

A elaboração do RDS requer análise, combinação ecomentário de elementos econômicos, ambientais esociais e a Organização terá que definir indicadores-chave de desempenho tríplice (econômico, ambiental esocial). Para tanto, recomenda-se que sejam considera-dos:

os aspectos de governança – ética, missão, visão eprincípios de sustentabilidade da Organização;

as expectativas e o engajamento das partes interessa-das – especialmente os parceiros estratégicos – em re-lação à Organização;

as relações entre alvos, objetivos e metas organi-zacionais, gerais e de Sustentabilidade, idealmente quan-do forem estabelecidas a linha de base de Sustenta-bilidade da Organização;

as relações entre consumo de materiais e outros re-cursos, a geração de produtos ou de resultados intenci-onados;

e a demonstração comparada e por inteiro – isto é,sem omissões – dos efeitos ou impactos benéficos (po-sitivos) e maléficos (negativos) das práticas organiza-cionais, abrangendo a hierarquia da eco-gestão respon-sável: o negócio, o processo produtivo, o produto (bemou serviço), as práticas de condutas no consumo e há-bitos ou práticas de pós-consumo (destinação e des-carte final).

o modelo de eco-gestão com fins de substituiçãodo paradigma de fim-de-tubo pelo preventivo, envol-vendo a prevenção da geração de resíduo na fonte e oreaproveitamento – reuso, remanufatura, reciclagem (naplanta ou fora desta), recuperação, uso para geração deenergia.

os critérios para identificação e seleção de indicado-res métricos de desempenho.

as apropriações de custo-benefícios explicitadas pormodelo transparente de contabilidade socioambiental;

os resultados do planejamento estratégico adotado,com inserção de elementos tríplices, econômicos esocioambientais;

a medição e a avaliação de causa-e-efeito, que afetao processo produtivo, produto, consumo e pós-con-sumo de bens ou serviços introduzidos no mercado;

a demonstração da qualidade, da transparência e dacredibilidade da Organização para produzir relatóriosadministrativos e econômico-financeiros (contábeis),voluntários e obrigatórios.

É fundamental destacar o fato de que a análise dosaspectos relacionados à governança organizacional oucorporativa está cada vez mais presente em RDS nospaíses de economia em transição, nos quais prevalece aênfase na avaliação de conformidade, como se esseatributo não fosse obrigatório por lei. E, nas naçõesde economia desenvolvida, onde as empresas diferen-ciadas trabalham para validar a licença de operação,conferida por diferentes segmentos da sociedade, par-ticularmente as ONGs. Nestas, a incorporação de fa-tores ambientais e sociais no modelo de governançaestá ultrapassando a área de interesse de investidores eacionistas, para abranger setores e segmentos maisamplos da sociedade.

As Organizações que incorporam os fatores degovernança ambiental e social estão ganhando mais re-conhecimento dos que defendem a conexão entre me-

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lhores mercados de investimento – sociedades maissustentáveis7 .

Uma vez reconhecida a dificuldade de produzir oRDS, a superação de obstáculos consiste em comporeco-time pluriprofissional, transdisciplinar e multi-departamental que conheça a Organização, os proces-sos gerenciais e os fluxos de procedimentos e infor-mações e esteja preparado para entender e incorporaras expectativas dos agentes financeiros e demais partesinteressadas, conhecer a mídia e os canais adequadosde comunicação das informações8 .

Temas ou questões a serem incorporadas

O entendimento de Desenvolvimento Sustentávelapóia-se, indispensavelmente, na visão integrada de fa-tores e respectivos indicadores métricos, para três di-mensões: a econômico-financeira, representada pelocapital construído, monetário ou produzido pelo setorprivado, setor governamental, comunidades e pessoas,individualmente; a ambiental, caracterizada pelo capitalnatural, representado por bens e serviços naturais e asocial, representada por capital humano, capital socialpropriamente dito e capital sócio-institucional.

Cada dimensão poderá abranger questões ou fato-res específicos, que afetam ou são afetados pelas ativi-dades dos integrantes da sociedade e outros que resul-tam da interseção das dimensões entre si.

DIMENSÃO ECONÔMICA: valores econômico-finan-ceiros tangíveis e intangíveis agregados.

DIMENSÃO AMBIENTAL: cargas, impactos e danosfísicos, químicos, biológicos sobre meios naturais, comconseqüências para a saúde humana e qualidade dosecossistemas naturais, representados por bens e servi-ços naturais.

DIMENSÃO SOCIAL: alimentação; abrigo; saúde eatendimento médico; educação; desenvolvimento eco-nômico; relacionamentos e interação social, senso depertinência e enriquecimento espiritual.

INTERFACE ECONÔMICO-SOCIAL (ES): inserçãoeconômica, por emprego, distribuição justa de riqueza,oferta de bens e serviços para necessidades sociais, edu-cação de colaboradores e contratados, acesso de for-necedores minoritários aos mercados, doações.

INTERFACE ECONÔMICO-AMBIENTAL (EA): fatores deecoeficiência na produção de bens e serviços, agrega-ção de valor econômico-financeiro para a Organiza-ção, responsabilidade e transparência.

INTERFACE SOCIOAMBIENTAL (SA): impactos sociaiscausados por fatores ambientais, derivados do sistemade produção (fome, pobreza, favelização, doenças debase ambiental) e impactos ambientais decorrentes decomportamento social e de consumo (geração de lixo,depleção de recursos e comprometimento de serviçosambientais).

INTERFACE ECONÔMICO-SOCIOAMBIENTAL (ESA): fa-tores integrados das três dimensões, tais como: acessopúblico à informação; compromissos para a susten-tabilidade, proteção e conservação da biosfera; mudan-ça climática e temas correlatos; planejamento econô-mico-socioambiental; poupança e conservação de ener-gia e água; prevenção de emissões de resíduos; preven-ção e gestão de riscos; processos e produtos socioam-bientalmente responsáveis; regulamentação ampliadapara responsabilidade por passivos causados por pro-dutos e serviços; transparência e Responsabilidade So-cioambiental Total; uso sustentável de recursos naturais.

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Seleção do modelo de relatório

É necessário apresentar as justificativas, motivos ourazões para a escolha do modelo de relatório. Reco-menda-se que a Organização, ao optar pelo modeloampliado, consulte o manual do GRI, lembrando-sede que seu arcabouço é complexo e demanda padrãode excelência na geração, coleta e tratamento de dados,produção de informações para cobertura de amploespectro de elementos, aspectos ou questões de natu-reza econômico-financeira, ambiental e social. Isto po-derá ser ainda mais difícil para as pequenas e médiasempresas. Para estas, é sugerido o modelo de RelatórioSimplificado.

Composição de ítens

O modelo de RDS Simplificado será apresentadoao final, sendo caracterizado pelo uso de menor nú-mero de itens, mas, não necessariamente, por cobertu-ra dos itens selecionados. Os itens do modelo são apre-sentados com os respectivos títulos, descrição e indica-dores, quando disponíveis.

Como usar o modelo de RDS

Analisar o tipo de negócio (fins lucrativos) ou deatividade (sem fins lucrativos);

considerar o tipo, o porte e a estrutura organizacional;avaliar o porte financeiro, o quadro funcional, as ca-

racterísticas de processo produtivo, produto, consumoe pós-consumo, em relação a efeitos ou impactossocioambientais;

estabelecer os contornos ou limites físicos-organi-zacional (unidade, planta, localidade, filial) para a geração

do Relatório;escolher os componentes ou itens que forem consi-

derados mais adequados para o RDS da Organização;selecionar, para cada item escolhido, os subitens e –

quando disponíveis – os indicadores recomendados aorespectivo ítem;

construir o arcabouço apropriado de itens e subitens;definir e atribuir poder e competência para o Eco-

time encarregado de produzir o texto para o RDS;estabelecer as regras básicas, definir papéis, atribuir

responsabilidades, encomendar e aprovar o projeto paraelaboração do RDS;

produzir o relatório.

RDS PARA GRANDE E MÉDIAORGANIZAÇÃO

1.Título e Período

2.Declaração do dirigente máximo

Manifestação firme, objetiva e, idealmente, despro-vida de retórica, que dê credibilidade ao RDS, abor-dando os elementos-chave do Relatório, o compro-misso assumido pela empresa quanto às questões socio-ambientais, expressando a opinião do dirigente máxi-mo, de maneira a colocar o desempenho ambiental nocontexto estratégico e de negócios ou de atividades daindústria, corporação ou organização sem fins lucrativos.

Deve contemplar:visão de sustentabilidade; valores e crenças;compromissos assumidos;a síntese de FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fra-

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quezas, Ameaças) nas dimensões do DesenvolvimentoSustentável (capitais construído/econômico, ambiental,humano-cultural e social-institucional);

os marcos de referência (benchmarking) relevantes ecomparativos do conteúdo do RDS, como desempe-nho reportado em relação aos melhores resultados daprópria Organização e melhores resultados de organi-zações similares, do mesmo setor ou segmento de atu-ação;

desafios e metas (vitórias e fracassos);benefícios e malefícios;verdade por inteiro;governança e preparação da Organização para o

caminho da sustentabilidade econômica, ambiental esocial;

envolvimento e engajamento das partes interessadas;principais desafios para a integração de resultados eco-nômico-financeiros, ambientais e sociais no períodoreportado e previsões futuras nestes aspectos.

INDICADORES: orientação estratégica; inspiração; ho-nestidade; envolvimento; afirmação dos objetivos pes-soais; evidências de como as questões socioambientaissão tratadas nas reuniões e discussões da direção supe-rior; principais oportunidades, desafios ou obstáculosna caminhada para a sustentabilidade.

3. Aspectos gerais

Descrição de temas e questões abordadas neste ca-pítulo, levando em consideração o estágio, o porte e asdemais características organizacionais. Deve permitir queo leitor compreenda as relações entre o conteúdo rela-tado e o contexto de Desenvolvimento Sustentável, emgeral. Sugere-se o roteiro abaixo para sua elaboração.

3.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO RDSProvimento de informações sobre impactos, bené-

ficos e maléficos, para que a Organização cumpra odever de responder, a todos os interessados, pelas con-seqüências de atos, atitudes, processos e produtos re-sultantes de negócios e atividades, com ou sem finslucrativos.

Não omissão de dados que representem expectati-vas e relacionamento das partes interessadas com aOrganização.

Distinção clara entre dados factuais e comerciais.Orientação do leitor para entendimento do que for

relatado, com especial atenção para indicadores, medi-ções e comentários sobre desempenho.

Introdução de comentários sobre as bases ou fun-damentos que poderão ajudar o entendimento a res-peito da natureza, da forma e do conteúdo de deter-minados itens ou tópicos do Relatório.

Destaque para os aspectos que ajudam a tomar de-cisões sobre a escolha de informações que compõemo Relatório.

Informações que contribuam para a avaliação, inde-pendente de Resultado Final Tríplice.

Revelação de tendências e padrões de excelência, atra-vés de resultados presentes comparados com anterio-res e propostas concretas de aprimoramentos subse-qüentes.

Honestidade, materialidade, relevância, verificabilidade,credibilidade, utilidade, comparabilidade, transparência.

Transparência e respondência.Não omissão, isto é, relatório por inteiro.Critérios de classificação de resultado de desempe-

nho ou atendimento de alvos e metas, como confor-midade e além-de-conformidade, pontuação – valo-res numéricos, porcentagens-, conclusão ou não-con-clusão, marcos alcançados, dificilmente atingíveis.Incluem-se:PERÍODO ABRANGIDO-Anual, bienal ou outro período.ÂMBITO-Desempenho contábil-financeiro; administrativo;

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produção de bens e serviços.TIPO-Independente (stand alone); junto com o relatóriofinanceiro; ou juntamente com o Relatório AnualEXTENSÃO OU COBERTURA - Cadeia de suprimentos; or-ganização total; organização parcial; linha de negócioou atividade; processo ou produto.CONTEÚDO - Arranjo organizacional; atividades; even-tos; atitudes; resultados; proposições.ABORDAGEM - Patrimônio; mercado; conformidade ealém-de-conformidade; gestão (management); qualidade,segurança, saúde e ambiente; tecnologia.PERCEPÇÃO

EXPECTATIVAS GERAIS E ESPECÍFICAS DE DIFERENTES PARTES

INTERESSADAS

AUDITAGEM INTERNA E EXTERNA INDEPENDENTE

4. Perfil da Organização

Apresenta as informações técnicas/legais da Orga-nização como:

o nome da Organização;operações principais;produtos principais;estrutura operacional; natureza jurídica e composi-

ção proprietária;principais subunidades, afiliadas, associadas e afins;características do setor, segmento de mercado ou

da cadeia de valor; informações relevantes;faturamento ou orçamento total;volume total de produção (massa, volume, quanti-

dade) ou de atividades (número, quantidade);número de colaboradores: quadro e prestadores de

serviços contratados;empregos indiretos;vendas/receita: bruta e líquida;valor agregado da cota do acionista, investidor ou

proprietário;patrimônio total;outros indicadores de valor econômico-financeiro;informações segmentadas por: planta, localidade,

região, país;modificações relevantes no período reportado: as-

pectos organizacionais, jurídicos, econômicos, negociais,produtivos, tecnológicos e funcionais.

As informações técnicas e legais devem incluir ain-da a Política de Informação: fontes, acessibilidade, dis-ponibilidade.

5. Resumo executivo

Abordagem sucinta de aspectos selecionados e re-levantes do Relatório, com destaque para os seguintes:

Visão, princípios e compromissos para a susten-tabilidade: atitudes em relação aos desafios presentes efuturos de base econômica, ambiental e social.

Governança e ética – valores, condutas e padrõesde negócios, cidadania e direito para operar.

Políticas e sistemas de gestão em funcionamento:missão, compromissos para com os princípios de Pre-caução, Prevenção, Visão integrada de ciclo-de-vida totalde produto, direito público de acesso à informação econtrole democrático de tecnologias socioambientais.

Aspectos mais relevantes de sucesso e de fracassono desempenho econômico, ambiental, recursos hu-manos, sociais e integrados.

Comparativos relevantes (benchmarking) próprios edo setor (local, nacional, internacional).

Indicadores selecionados mais relevantes globais, ge-néricos e negócio ou atividade-específicos, que mos-tram tendências de progresso da Organização, na dire-ção da Sustentabilidade, tais como: investimentos e re-sultados financeiros;

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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valores agregados e outros indicativos de lucros paracriação de valor para investidores, outras partes inte-ressadas e sociedade em geral;

partes interessadas (expectativas e opiniões);parcerias estratégicas;condições sistêmicas naturais ou ambientais funda-

mentais; recursos naturais (conservação e restauração);redução de uso ou de consumo; reuso, reciclagem;

uso de materiais reciclados e de pós-consumo;água (poupança);energia (eficiência);carbono (neutralidade);química verde ( princípios);riscos (gestão e prevenção);Qualidade, Segurança, Saúde e Ambiente -QSSA- ;código de conduta;Capital Humano e Capital Social.

Módulo I. Políticas e sistemas de gestão

6. Política organizacional desustentabilidade

MISSÃO, VISÃO, PRINCÍPIOS E COMPROMISSOS PÚBLICOS ECÓDIGOS DE CONDUTA

Descrição de escolhas, compromissos e bases nor-mativas para o relacionamento da Organização comos meios interno e externo, para que os fins desejadospossam ser alcançados.

INDICADORES: razão de ser, intenção original ou tipode atividade ou negócio praticado (missão); motivaçãoque mantém a organização no caminho de futuro e oque pretende ser, onde deseja chegar (visão); direcio-nadores de conduta pública e operacional, pontos ouposições defendidas (princípios ou valores); passos na

direção do aprimoramento de desempenho; respostase atitudes perante o público; códigos de conduta assu-midos.

POLÍTICA SOCIOAMBIENTAL

Inclusão da última versão da política e seus princí-pios, que orientam as atividades para o desempenhoambiental na empresa e os critérios para aferir resulta-dos e compará-los aos objetivos e metas previamenteestabelecidos.

INDICADORES: princípios de atuação; datas e demaisregistros formais da fixação da política; metas quanti-ficadas para atender aos princípios; medição do desem-penho frente aos princípios da política; exigências ounovos marcos de referência para aprimoramento.

SISTEMA DE GESTÃO SOCIOAMBIENTAL

Caracterização da maneira adotada pela empresapara administrar as questões e responsabilidades socio-ambientais e indicação dos compromissos assumidosem relação a determinados padrões ou normas rele-vantes para assuntos socioambientais.

Introduzir a declaração de princípios relevantes paraa sustentabilidade (precaução, prevenção, visão integral– holística - ou de pensamento de análise de ciclo-de-vida de produto, direito público de acesso à informa-ção, controle democrático da tecnologia socioambiental,outros princípios mandatários ou voluntários)

INDICADORES: controles operacionais em funciona-mento para o aprimoramento no desempenho socio-ambiental; descrição das práticas efetivas de uso dosprincípios, em desenvolvimento de processos e pro-dutos; datas e outros dados objetivos de aplicação dos

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João S. Furtado

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princípios; ganhos materiais e econômico-financeirosdecorrentes da utilização dos princípios; foros ou ní-veis com poder decisório em questões de princípiossocioambientais; escopo e deveres nos diferentes níveisorganizacionais e gerenciais; quantificação e qualifica-ção de ações efetivas envolvendo o uso dos princípios;diferenciação da Organização em relação a outras, nosetor, segmento de mercado ou cadeia de valor; prin-cipal legislação atendida; código de conduta adotado;afiliação a associações não-governamentais industriaisde classe ou de defesa socioambiental; políticas siste-mas implantados de gestão de elementos ou de impac-tos a montante (upstream) ou a jusante (downstream);certificação, acreditação e outros reconhecimentos for-mais, certificados ou não (selos, normas, atestados.)

MODELO DE GOVERNANÇA SOCIOAMBIENTAL

Relato da política geral de governança, abrangendo,entre outras questões:

estrutura, composição e atribuições da direção su-perior da Organização;

processo de tomada de decisões e conduta de diri-gentes e relacionamento com as partes interessadas nonegócio ou nas atividades da Organização;

ética organizacional e percepção social para constru-ção e preservação de valores das partes interessadas,mediante a construção de benchmarking;

transparência na estrutura, processos de negóciosorganizacionais e tomada de decisões e responsabilida-de (accountability) dos diferentes corpos que compõema alta direção;

sistema, modo ou processo, formal ou informal, con-tínuo e sistemático de direitos e controles, internos eexternos, sobre o poder na organização (pública ouprivada);

processo e práticas de distribuição de decisões, in-cluindo as bases, normas, princípios, regras, relaciona-mentos, mecanismos e papéis;

revelação total, acurada e atualizada de dados e infor-mações financeiras e socioambientais, pela contabi-lização socioambiental total;

integridade de estratégias e sistemas operacionais ede controles, com gestão clara e forte de programa deauditoria, inclusive a estrutura e práticas de auditoriasinternas e externas independentes;

sistema e práticas de compensações e remunerações;formalização de política e registro de dados sobre ci-dadania e outros temas relevantes para os usuários dosistema de informações;

acesso das partes interessadas ao executivo principale participação em questões, especialmente processosdecisórios;

registros e informações sobre violações à legislaçãoe questões relacionadas à ética e à gestão de fatos rela-cionados à corrupção e subornos.INDICADORES: distribuição de atribuições, responsabili-dades e poder; condutas econômico-financeiras, am-bientais e sociais; incentivos, benefícios, recursos, reco-nhecimento e recompensas; política e sistema de ges-tão; meios e instrumentos usados; objetivos alcança-dos; eco-inovações.

DIRECIONADORES ORGANIZACIONAIS PARA A

SUSTENTABILIDADE

Descrever o modelo de Organização em relaçãoao foco para a sustentabilidade.

INDICADORES: governança e liderança; redução decustos e aumento de valor; conquistas de novos espa-ços e mercados; contabilização total; transparência;envolvimento de todas as unidades/departamento ecompromissos de dirigentes.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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FERRAMENTAS USADAS DE BASE SOCIOAMBIENTAL

Declaração dos tipos de ferramentas ou tecnologiasde base socioambiental, para gestão de operações eprodução de bens e serviços usadas na Organização,bem como a definição, conceito ou entendimento decada uma delas, na prática ou no dia-a-dia.

Identificar e descrever as decisões organizacionais epara operações gerenciais e produção. Além disso, iden-tificar e descrever, entre as listadas e outras não menci-onadas.

FERRAMENTAS PARA VISÃO

Sistema de Produto do berço-ao-berçoFator 4 ou Fator 10Passos NaturaisPIP – Política Integrada de ProdutoCIPP - Controle Integrado de Processo e Produto

FERRAMENTAS PARA ORGANIZAÇÃO

P+L – Produção Mais Limpa (Cleaner Production)PL – Produção Limpa (Clean Production)EcodesignEco-inovação incremental ( P+L) e radical ( PL)Registro e Transferência de Emissões (transição de

Fim-de-tubo, P2, P+L, Ecoeficiência)Emissão ZeroSistema de Gestão AmbientalAuditoria SocioambientalContabilização socioambiental

FERRAMENTAS PARA MEDIÇÃO

Balanço de materiaisCapacidade de carga

Indicadores métricosDemanda material totalFardo ecológicoPegada ecológicaResultado Final Tríplice

FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO

Avaliação de ciclo-de-vidaAvaliação de impactoAvaliação de riscoEstudo de impacto ambiental

FERRAMENTAS PARA COMUNICAÇÃO

Balanço socioambientalRotulagemRelatório de impacto ambientalRelatório de ecoeficiênciaRDS ou de DSRelatório de Resultado Final TrípliceCertificado de reconhecimentoPremiaçãoINDICADORES: tipos de ferramentas incorporadas nas

práticas gerenciais e produtivas; resultados comparati-vos internos e externos, no segmento e/ou na cadeiade valor.

LINHA DE BASE PARA A SUSTENTABILIDADE

Apresentar as características gerais da linha de basepara a sustentabilidade (o case Organizacional) do pe-ríodo anterior e relatar os sucessos e fracassos, amea-ças e oportunidades.

INDICADORES: macro-objetivos sustentáveis; direcio-nadores organizacionais para sustentabilidade; relatar osresultados comparativos do desempenho alcançado.

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MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E INSERÇÃO

DE ELEMENTOS ECONÔMICOS E SOCIOAMBIENTAIS

Relatar como as questões econômicas e socioam-bientais estão inseridas no processo e nas práticas deplanejamento estratégico (visão de futuro) e o uso derecursos tal como ocorre no dia-a-dia (tática).

INDICADORES: focos (alvos) e objetivos (situações ouresultados), estratégicos estabelecidos e alcançados; uni-dades envolvidas; sucessos e fracassos, pontos fortes efracos; lições aprendidas.

GESTÃO ADMINISTRATIVA

Descrever o modelo administrativo adotado.INDICADORES: arranjo; atribuições, responsabilidades

e respectivos nomes e localização de responsáveis; flu-xos e pessoas-chave; comunicação e informação; rela-cionamento na cadeia de suprimentos; aprendizagem ecapacitação.

GESTÃO DA PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS

Relatar a política e o sistema de gestão dos proces-sos de produção de bens e serviços.

INDICADORES: ferramentas usadas no processo deprodução; resultados positivos e negativos; pontos for-tes e fracos; lições aprendidas.

PESSOAS, CARGOS E RESPONSABILIDADES GERENCIAIS

PARA ASSUNTOS DE SUSTENTABILIDADE

Identificar, de maneira completa e clara, os respon-sáveis pelos assuntos socioambientais na empresa, paraque possam ser localizados e contatados por pessoasinteressadas.

INDICADORES: organograma com nomes, cargos,

funções, número de telefone, fax, e-mail, das pessoas-chave em assuntos socioambientais na empresa.

SISTEMA DE AUDITORIA SOCIOAMBIENTAL EM PRÁTICA

Descrição do programa de auditoria adotado edados que dão sustentação à qualidade e confiabilidadeno sistema de gestão ambiental na empresa e da políti-ca de revelação de tais informações para o público in-terno e externo, apesar do aspecto controverso dessaquestão.

INDICADORES: escopo e objetos da auditoria; esque-mas e unidades (sites) de produção; resultados; áreaspara progresso; verificação e manifestação de audito-res externos, referendando a qualidade do sistema demanejo ambiental.

OBJETIVOS, ALVOS E METAS SUSTENTÁVEIS

Correlação do desempenho ambiental a alvos e me-tas internas, estabelecidas pela empresa, que ultrapas-sem os limites de conformidade à legislação.

INDICADORES: alvos futuros; metas qualificadas equantificadas e acompanhadas de critérios e mediçõesatingidos.

CONFORMIDADE SOCIOAMBIENTAL À LEGISLAÇÃO E

ACORDOS VOLUNTÁRIOS

Descrição das atividades e resultados alcançados,no atendimento à legislação ambiental, inclusive os as-pectos negativos ou inatingidos, acompanhados de in-formações sobre medidas e estratégias para aperfeiço-ar o atendimento à legislação. Trata-se de questão ex-tremamente complexa e difícil. Poucas empresas já res-ponderam a este desafio.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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INDICADORES: acidentes e incidentes registrados; per-centual de conformidade; ações sofridas, multas e açõescorretivas.

PROGRAMA DE PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

Integração de fatores e questões socioambientais aoprograma de P&D da empresa e esforços para en-frentar os desafios existentes ou emergentes. Informa-ções sobre os compromissos internos, para revelar aosagentes econômicos a proposta de desenvolvimentoda empresa, a curto, médio e longo prazos.

INDICADORES: número e custos de projetos de P&D;resultados obtidos e suas relações a metas socioam-bientais; cronogramas; colaboradores e parceiros noprograma de P&D.

PROGRAMAÇÃO GERAL DA ORGANIZAÇÃO

Comentários sobre o programa global de produ-ção e os produtos da empresa, com destaque para osacontecimentos e fatos mais relevantes e suas relações àpolítica ambiental e às questões socioambientais maisimportantes.

INDICADORES: espectro de iniciativas globais da em-presa; atitudes, atividades e investimentos em sistemasde produção ambientalmente mais aperfeiçoados;envolvimento em produção limpa; parceiros e colabo-radores; resultados alcançados.

PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTOS

Referências a premiações externas em saúde, segu-rança e gestão ambiental conquistadas, com informa-ções sobre os critérios de julgamento e das organiza-ções concedentes, para fortalecer a credibilidade norelatório da empresa junto aos empregados e agenteseconômicos.

INDICADORES: descrição dos prêmios e detalhes dosesquemas de avaliação premiação de honrarias internase externas.

VERIFICAÇÃO E AUDITORIAS EXTERNAS

Informações sobre os resultados de verificação in-dependente, quando existir, envolvendo o que for cor-reto, verdadeiro e justo, revelado pelo sistema de audi-toria ambiental realizados na empresa. Este tema é partedas discussões para implantação de normas voluntári-as internacionais, como ISO 14000 e Eco-Managementand Audit Regulation - EMAS.

INDICADORES: resultados da verificação por tercei-ra-parte; descrição de resultados benéficos e maléficos;descrição do escopo da verificação; metodologia ado-tada e precisão de linguagem; áreas para progresso.

POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO

Razões para a comunicação ambiental, periodicida-de, opiniões sobre a significação das auditorias internase verificação por terceiras-partes. Breves comentáriossobre os métodos usados para a geração de relatórios,dos cálculos e medições realizados, para definição dosindicadores-chave, para relatar o desempenho ambientalda empresa.

INDICADORES: descrição da metodologia; definiçãode termos ou elementos-chave; hierarquia de valoresadotados; identificação dos responsáveis pela geraçãode relatórios; cronologia e periodicidade dos mesmos.

INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS E DO CONTEXTO

Breve perfil das características e das operações daempresa, com indicações sobre os pontos em que ha-

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verá implicações para o desempenho ambiental.INDICADORES: porte da empresa; localização das uni-

dades de produção; principais linhas de negócios; qua-dro geral de funcionários; programas de saúde, segu-rança e desempenho ambiental; natureza das questõessocioambientais causadas pelas operações da empresa.

GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS OU DE VALOR

Informações a respeito do desempenho dos parti-cipantes da cadeia de suprimento, focadas na produ-ção e no consumo sustentáveis de bens e serviços, soba influência da Organização.

INDICADORES: práticas organizacionais relacionadasaos integrantes da Cadeia de Suprimento; informaçõesproduzidas e transferidas para os agentes relevantes;suporte técnico-gerencial e ações da organização paraaprimorar o desempenho sustentável das diferentespartes interessadas na cadeia de suprimentos, visando àprevenção de impactos econômicos e socioambientaiscausados por partes interessadas relevantes, abrangen-do benefícios e malefícios, sucessos e fracassos, pontosfortes e fracos, novas oportunidades e desafios.

Selecionar, entre os itens ou tópicos usados para oRDS da Organização, aqueles considerados adequadospara cada agente, na cadeia de valor, em função de seutipo de negócio ou atividade, porte, estágio, recursos.

Módulo II. Indicadores de desempenho

É fundamental que o RDS contenha informaçõessobre os critérios e os procedimentos adotados para aseleção de indicadores de desempenho para a Organi-zação. Com freqüência, o termo indicador é usadocomo elemento, fator, variável ou questão. Além isso, étambém usual o emprego de níveis hierárquicos de re-

velação de informações, como a de categoria, entendi-da como grandes agrupamentos de temas ou preocu-pações; a de aspecto concebido como assunto especí-fico dentro de categoria, e a de indicador ou o ele-mento de medida de desempenho durante determina-do período, que expressa visão, sinal, sintoma, índice,estado, condição ou resposta de um sistema, capaz demedir o progresso ou mostrar a direção9 .

Apesar da ênfase dada à construção de indicadoresmétricos, é preciso reconhecer a importância dos indi-cadores qualitativos, desde que seu uso não representesubterfúgio ou conveniência para a não inclusão dosmensuráveis.

A terminologia e a tipologia adotadas para os indi-cadores estão em expansão, como resultado natural docrescente uso e da importância desses elementos paraavaliar o desempenho do sistema de produção e con-sumo de bens e serviços.

Os comentários seguintes abordam questões geraispara a seleção de indicadores que expressam o desem-penho sustentável.

É indispensável que cada Organização crie seu pró-prio conjunto de indicadores, em função dos tipos deriscos e de impactos relacionados ao negócio ouatividade e próprios do setor ou segmento para o qualos produtos são oferecidos. A listagem de efeitos eimpactos oferece grande número de opções para isso.

PRÉ-REQUISITOS

São pré-requisitos a adoção de critérios para a cons-trução e a medição de indicadores; a caracterização dosindicadores selecionados ou adotados, tais como:

indicadores globais, que afetam todo o planeta;indicadores genéricos, que afetam vários tipos de

negócios ou atividades;indicadores negócio-específicos, próprios do segmento.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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E ainda, o estabelecimento dos métodos e critériosde utilização: coleta, medição, processamento, verifica-ção e controle de qualidade dos indicadores usados.

CARACTERÍSTICAS DOS INDICADORES DE DESEMPENHO

Demonstração de impactos benéficos e maléficosdas atividades gerenciais e produtivas para: acionistas einvestidores; outras partes interessadas; sociedade emgeral.

Classificação em tipos ou categorias- Dimensões econômica, ambiental e social- Elementos ou tipos

Indicador de conformidade legal ou voluntária– padrões e normas de comando-e-controle fim-de-tubo, remediação, recuperação, emergências

Indicador estratégico além-da-conformidadecomo:

- Indicador estratégico do foco de negócio ou deatividade da Organização

-Indicador de sistema de produto “do-berço-ao-berço” (fechamento de ciclos a montante e a jusante).

-Indicador de Produção Limpa: prevenção, precau-ção, ciclo-de-vida, ecodesign, tecnologia limpa, controledemocrático da tecnologia, acesso público à informa-ção.

-Indicador de ecoeficiência organizacional, corres-pondente às relações entre custos (em volumes ou quan-tidades) no processo produtivo ou no produto (nu-merador) e os de efeitos ou influência ambiental (de-nominador).

- Indicador específico de negócio ou atividade –que diz respeito a acionistas ou investidores e a outraspartes diretamente interessadas na Organização e suacadeia de valor.- Indicador de efeito ou de impacto geral, direto ouindireto, que afeta as características econômicas da Or-

ganização em sua cadeia de valor ou segmento de ne-gócios ou atividades.

Indicador composto, integrado, de Sustentabilidadeou de Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line), eco-nômico, ambiental e social, que afeta os bens comunsda Nação ou da sociedade planetária.

Critério de escolha de indicadores, quanto às carac-terísticas e detalhes descritivos, adotados pela Organi-zação.

Sugestões do Guia (ver capítulos corresponden-tes).

Recomendações específicas do GRI GlobalReporting Initiative10 .

7. Capital Natural

Representado por recursos renováveis - ecos-siste-mas, biomas, seus componentes (biodiversidade) e di-nâmica (produtividade) e água; recursos não-renováveise serviços naturais - oxigênio, energia renovável (solar,eólica, marés) e fóssil, fossas (ou sumidouros naturais),capacidade de carga (assimilação, bioconversão), regu-lação climática, prevenção de erosão, topografia, de-puração de água, regeneração de solo, controle naturalde vetores, cadeia alimentar, recreação, paisagens e ce-nários, destinados ao abrigo, alimentação, defesa, edu-cação, lazer e outros aspectos da qualidade de vida, decurto, médio e longo prazo para o bem-estar humanoe de outras espécies do planeta, a partir dos quais ohomem obtém ou cria sua riqueza.

São recursos renováveis e não-renováveis, provi-dos pela natureza e a partir dos quais são produzidosmateriais e serviços destinados ao abrigo, alimentação,defesa, educação, lazer e outros aspectos da qualidadede vida, de curto, médio e longo prazo.

Comporta materiais recicláveis ou potencialmente

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recicláveis e os serviços naturais, representados pormanutenção do clima, recuperação de fertilidade dosolo, sustentação do ciclo de água, garantia da cadeiade alimentação, controle natural de pragas e vetores dedoenças e moléstias, entre outros.

7.1.Entradas

SUSTENTABILIDADE DAS FONTES DE RECURSOS, INSUMOS

OU DE MATÉRIAS-PRIMAS

Descrição das fontes de recursos (materiais, insumos,matérias-primas) e do modo de extração e transporte.

INDICADORES: matéria-prima, fontes renováveis;modo de extração da matéria-prima e reposição dosestoques naturais; modelo e práticas de extração de re-cursos não-renováveis; medidas para garantia de susten-tabilidade do ecossistema provedor de recursos; pou-pança de água e energia durante a extração; prevençãode uso materiais atóxicos para o ambiente; preserva-ção das características sócioculturais da comunidadelocal; transporte de matéria prima sem riscos ou comriscos mínimos para os trabalhadores e o ambiente.

USO DE MATERIAIS NÃO RENOVÁVEIS E RENOVÁVEIS

Inventário de materiais ambientalmente significantes,classificados, quando apropriado, como perigosos, tó-xicos ou associados a potenciais impactos socioam-bientais. Relato de objetivos e práticas de reciclagem demateriais na planta (on-site) industrial ou fora (off-site).

INDICADORES: balanço de material; percentual de per-das para determinado espectro de materiais; tonela-das/por ano de uso por tipo de materiais renováveis e

não-renováveis; materiais para outros processos (catali-sadores); matérias-primas primárias e secundárias paraconversão; consumo de substâncias tóxicas ou perigo-sas; porcentagem de material procedente de resíduo;uso de materiais recicláveis e efetivamente reciclados.

BIODIVERSIDADE

Informação sobre uso de recursos biológicos (bio-diversidade), com particular referência a espécies em/ou ameaçadas de extinção; locação de unidades pro-dutivas ou extrativistas em áreas de habitats ricos ousensíveis a impactos.

INDICADORES: áreas de conservação e reposição deespécies nativas e de outros estoques biológicos; açõesresultantes na impermeabilização ou contaminação dosolo de habitats protegidos, importantes ou sensíveis;recuperação de áreas degradadas; destruição e/ou re-generação de espécies em/ou ameaçadas de extinção.

CONSUMO DE ENERGIA

Indicação da composição da matriz energética e dasporcentagens de uso de cada tipo de fonte usada; con-sumo de energia, em termos comparativos a progra-mas setoriais ou nacionais de eficiência energética ouredução de consumo, ou em relação a questõessocioambientais globais, como chuva ácida, aquecimen-to do planeta, diversificação de fontes, padrões de de-manda.

INDICADORES: consumo de energia total e segmen-tado, por tipo de uso; índices e alvos para redução deconsumo em quilowatts/hora (para o modelo doPNUMA) ou em Joules (para o GRI); equivalência detoneladas de óleo combustível; toneladas de emissãode carbono; metas (percentuais) de redução de consu-mo por escala de tempo definida e indicação do alvo

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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anual pretendido; esforços e resultados para uso de ener-gia renovável.

CONSUMO DE ÁGUA

Indicação da procedência e volume de água consu-mida, incorporada nos produtos, lavagem, diluição, uti-lizada no resfriamento ou em outras operações no pro-cesso de produção; fontes de água relacionadas a habitatsou ecossistemas afetados pela extração.

INDICADORES: consumo total por origem, em metroscúbicos por ano, de todas as diferentes fontes de supri-mento e usados para processo, resfriamento, uso sani-tário e outras atividades; medidas e objetivos para re-dução de uso e consumo; água de superfície retiradacomo porcentagem da quantidade anual de águarenovável, por fonte; total de reciclagem e reuso deágua de processo, residuária e outras origens; medidaspara eficiência e eficácia de uso.

7.2. Gestão de processos

VISÃO DE PROCESSO E PRODUTO

Fim-de-tubo (do berço-à-cova) ou sistema de pro-duto (do berço-ao-berço).

Relato do modelo de visão de processo e produto.INDICADORES: atividades fim-de-tubo (pegar recur-

sos, usar, devolver ou tratar resíduos) e atividades deprevenção (emprestar recursos, usar, devolver recur-sos) por reaproveitamento (reuso, remanufatura, recu-peração, reciclagem, aproveitamento energético)

QUALIDADE, SAÚDE E SEGURANÇA E AMBIENTE

Integração de informações sobre saúde e seguran-

ça no trabalho e do trabalhador; utilização de sistemasobrigatórios de relatório ou adoção de modelos vo-luntários criados por organizações representativas desetores industriais.

INDICADORES: índice de “freqüência de perda de tem-po por injúria ou doença, por número total de horastrabalhadas”; implicações do índice nas unidades deextração, produção, comercialização, marketing e ou-tras atividades; acidentes por ano; relações entre custosde produção e utilização de planos de saúde; notifica-ções de injúrias, doenças ou efeitos sobre a saúde dotrabalhador. Integração de padrões de excelência emqualidade, saúde, segurança e ambiente, no processo,produto, consumo e pós-consumo.

ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA) & GESTÃO DE RISCOS

Informações sobre resultados de estudos de im-pacto ambiental e de gestão de riscos, conduzidos porequipes internas ou por terceiros, abrangendo detalhessobre por quê, quando, onde, como e por quem.

INDICADORES: EIAs e outras avaliações realizadas;principais projetos para os quais não foram executa-dos EIAs.

ACIDENTES E RESPOSTAS DE EMERGÊNCIA

Referências a planejamento de atividades de emer-gência e treinamento, com indicadores de medidas paraprevenção, minimização ou eliminação; comentáriossobre falhas e resultados negativos, abordando causase medidas para reverter a situação.

INDICADORES: número e tipos de acidentes por ano;resultados de investigações subseqüentes; medidas paraprevenção de acidentes; planejamento para emergênci-as e resultados de testes de respostas a emergências.

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João S. Furtado

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CONTAMINAÇÃO DE SOLO E REMEDIAÇÃO

Atividades, custos e resultados para prevenção ouremediação de contaminação do solo, causada pelasatividades da empresa, especialmente para setores eco-nômicos, como bancos e seguradoras.

INDICADORES: número de áreas e escala de conta-minação; áreas sujeitas a condições especificas para lim-peza e/ou remediação; área de terra contaminada porano e referências a normas e padrões específicos, de-terminadas por agentes reguladores.

HABITATS CIRCUNVIZINHOS

Áreas ou ambientes sensíveis, nas vizinhanças da plan-ta industrial; efeitos sobre áreas de proteção; priorida-des e técnicas de gerenciamento ambiental adotados;objetivos e iniciativas; possíveis relacionamentos comONGs e possibilidades de melhorar as relações socio-ambientais da planta industrial.

INDICADORES: áreas sob proteção; áreas afetadaspelas atividades da planta de produção; efeitos sobre abiodiversidade; áreas biofisicoquimicamente sensíveis.

7.3. Saídas – emissões, efluentes e lixo

RESÍDUOS TOTAIS POR TIPO E DESTINO

Informações sobre a geração total de não-produ-tos ou resíduos, atividades de prevenção e redução deresíduos e iniciativas de reciclagem. Sempre que possí-vel, classificar os efluentes, com base em balanço dematerial. Relatório de atividades de programas de “zeroem resíduo”; referências à liberação de potenciais po-luentes para o ar, água, reservatórios e solo; poluentestratados ou transferidos para tratamento.

INDICADORES: toneladas por ano e por categoria ou

tipos; rotas e rotinas de destinação; número de contra-tos e de auditorias de destinação de resíduos; penalida-des por destinação de resíduos fora da planta (off-site);iniciativas em prevenção ou redução de resíduos; efici-ência e eficácia na conversão de materiais em produtos.

EMISSÕES DIRETAS E INDIRETAS DE GASES COM EFEITO

ESTUFA - GEE

Relato de liberação de GEE, conforme Protocolode Quioto e Anexo A, IPCC e Códigos de Conduta,decorrente de processo, queima de combustíveis e ou-tras fontes.

INDICADORES: medições e estimativas em toneladasmétricas de CO2 equivalente para emissões de Carbo-no (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N2O),Hidro e Perfluorcarbono (HFCs, PFCs), Hexafluoretode Enxofre (SF6).

EMISSÕES DEPLETIVAS DA CAMADA DE OZÔNIO

Relato de liberação de Substâncias Depletivas doOzônio (SDO), intencional e não-intencional.

INDICADORES: lista de SDO e de substâncias poten-ciais, conforme a Lista do Protocolo de Montreal (ane-xos A até E); volumes em toneladas métricas de CFC.

DESCARGAS SIGNIFICATIVAS DE OUTROS RESÍDUOS POR

TIPO E DESTINO

Outros resíduos intencionais e não-intencionais, pre-vistos em legislação federal, estadual e municipal, Có-digos de Conduta Voluntários ou normas e delibera-ções pró-ativas da própria Organização.

INDICADORES: toneladas métricas de metais pesa-dos prioritários (As, Cd, Cr, Cu, Pb, Hg, Ni, Zn) emtoneladas métricas de Cu equivalentes; resíduos para

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transferência (Convenção de Basiléia, Anexo IV); resí-duos para aterros; resíduos para incineração; geraçãode oxidantes fotoquímicos em toneladas métricas deSO2 equivalentes para COV-Compostos Orgânicos Vo-láteis, Óxidos Nitrosos (NOx); ftalatos e outros desor-ganizadores endócrinos; substâncias eutroficantes paraágua de superfície: Fósforo e equivalentes; demandabioquímica de oxigênio: Oxigênio.

RUÍDOS E ODORES

Relato dos dados de ruído, odores, programas eatividades para medições e reduções.

INDICADORES: horas excedentes para determinadospadrões de ruídos e odores; número de queixas e re-clamações.

EMISSÕES DE TRANSPORTE, TRANSPORTE DE RESÍDUOS ERESPECTIVOS IMPACTOS, ESPECIALMENTE OS PERIGOSOS

Informações sobre planejamento e iniciativas delogística e gestão de transportes. Relato de produtosfinais e intermediários quando em trânsito, tanto aci-dentalmente quanto por emissões por fuga.

INDICADORES: vazamentos por ano e por 1.000 Kmtransportados; toneladas por ano e por tipo de trans-porte utilizado (estrada de rodagem, ferrovia, mar e ar).

7.4 Produtos

DESIGN PARA O AMBIENTE (ECODESIGN)DE PROCESSO E PRODUTO

Relatos de procedimentos para a concepção de pro-jetos de produção de bens, serviços e infra-estrutura

com maior eficiência e efetividade ambiental, ou como mínimo de consumo de materiais, de energia e degeração de resíduo, durante todo o ciclo-de-vida doproduto.

INDICADORES: iniciativas e resultados de desenvolvi-mento integrado de produto; articulado a gestão su-pervisionada (stewardship, housekeeping) do ambiente eprevenção da poluição e levando em conta, por exem-plo:

segurança e saúde ocupacional; saúde e segurança do consumidor;integridade ecológica e proteção dos recursos;prevenção da poluição e redução do uso de com-

ponentes tóxicos;segurança e uso de energia;análise de ciclo-de-vida (avaliação de desempenho

ambiental e de custos);devolução garantida (take back e recompra);eficiência econômica da remanufatura;Emissão Zero;engenharia reversa, análise de falhas e logística

reversa;estimativa de riscos ambientais de componentes

individualizados do produto e processo;menor intensidade material por serviço ou função;oportunidade de recuperação e reutilização de ma-

teriais;previsão para desmontagem e reciclagem;reutilização de partes na fase pós-consumo de pro-

dutos;recuperação e reuso de materiais e de componentes;desmontagem: simplificação, facilidade de acesso e

simplificação das interfaces dos componentes;minimização de resíduos: redução na fonte, separa-

bilidade, prevenção da contaminação, recuperação ereuso de resíduos, incineração;

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conservação de energia, com redução de energia naprodução, no consumo de força e no uso da distribui-ção e no uso de formas renováveis de energia;

conservação de material: produtos multifuncionais,especificação de materiais recicláveis, renováveis e rema-nufaturáveis, com mas longevidade, para recuperaçãode embalagens, reutilização de containers e desenvolvi-mento de programas de leasing;

redução de riscos crônicos: reduzir liberações, evitarsubstâncias tóxicas/perigosas, evitar substâncias destrui-doras da camada de ozônio, uso de tecnologia baseadaem água, garantir biodegradabilidade de produtos e odescarte de resíduos;

prevenção de acidentes: evitar materiais cáusticos e/ou inflamáveis, minimizar o potencial de vazamentos,usar fechos para proteção de crianças, desencorajar omau uso pelo consumidor.

ANÁLISE OU USO DE INFORMAÇÕES DE AVALIAÇÃO DE

CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO

Informações sobre aspectos socioambientais deprodutos e processos de produção.

INDICADORES: número de avaliação de ciclos-de-vidacompletados; resultados de análises de impactos; ma-teriais e energia por unidade de produto; volume oupeso de material de embalagem usado por volume oupeso de produto; percentual de saídas recicladas; per-centual de materiais secundários utilizados nos produ-tos; atividades em prevenção e redução de resíduos einiciativas de reciclagem.

EMBALAGEM

Dados sobre matérias-primas de embalagens e des-tas no produto, especialmente os resultados de estudosde ciclo-de-vida.

INDICADORES: toneladas de embalagens por ano epor tipo, como vidro, papelão, alumínio, aço, plásticosrecicláveis e não-recicláveis; volume ou peso de mate-riais de embalagem por volume ou peso de produto;percentual de saídas recicladas; percentual de materiaissecundários usados em produtos; envolvimento em ini-ciativas de prevenção e redução de resíduos e reciclagem.

IMPACTOS DO PRODUTO

Informações sobre segurança e efeitos sobre a saú-de associados com produtos, apesar da insuficiênciade discussões e de pesquisa, principalmente em relaçãoa produtos ambientalmente intensivos

INDICADORES: tipos e volumes de impactos socio-ambientais significativos causados por produtos e suasemissões; porcentagem de produtos recolhidos ao fi-nal da vida útil, para reciclagem ou remanufatura; emis-sões de cada substância significativa utilizada em cadalinha de produção.

GESTÃO SUPERVISIONADA (STEWARDSHIP) DO PRODUTO

Relato de resultados obtidos em atividades envol-vendo uso e destinação de produtos, principalmenteos de alto-impacto ambiental, técnicas de gestão de ris-co de produtos, avaliação de ciclo-de-vida e, especial-mente, a gestão sobre os resíduos e restos de produtosao final da vida útil.

INDICADORES: percentual de produtos cobertos porprogramas de gerenciamento total; componentes tóxi-cos e carcinogênicos; envolvimento em iniciativas deprevenção e redução de resíduos, destinação segura ereciclagem; volume e peso de produtos recuperadosou reciclados; percentual de saídas recicladas.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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7.5. Conformidade legal e voluntária

NÃO-CONFORMIDADES E AÇÕES CORRETIVAS

Relato de casos de não atendimento a normas le-gais e voluntárias- qualidade, saúde, segurança e ambi-ente, acidentes, transgressões, penalidades e demais in-cidências a acordos internacionais.

INDICADORES: tipos e número anual de acidentes,incidências e respostas a emergências; valores de mul-tas e penalidades; medidas corretivas, precaucionárias epreventivas adotadas para conformidade municipal,estadual, nacional e internacional.

AÇÕES REPARADORAS E MITIGADORAS

Iniciativas para a prevenção de contaminação do solo,ar e água, incluindo tipos e níveis de riscos e impactos.

INDICADORES: número e escala/nível de áreas/sítioscontaminados; áreas sujeitas a recuperação/remediaçãoe condições para a ação descontaminante; área ou terradescontaminada por ano e respectivo nível ou padrãoalcançado.

8. Capital Social

Caracterizado por valores e normas sociais, cultura,lazer, confiança; cooperação, aprendizagem, respeito,interações, relacionamentos (amizades, afinidades), par-cerias, cooperação; inserção econômica e ambiental,equidade, empoderamento; redes sociais, canais de co-municação, famílias, comunidades, empresas, entidadesde classe, Organizações Não-Governamentais (Tercei-ro Setor ou Setor Cívico).

CAPITAL HUMANO

Relato de política praticada para gestão e valoriza-

ção econômica e socioambiental de recursos humanos,interno e externo à Organização, expresso por saúde,conhecimento, habilidades, produção intelectual, moti-vações, engajamento, comprometimento, reputação, li-derança, capacidade para relacionamento.

INDICADORES: procedimentos, ações, projetos, resul-tados, sucessos e fracassos, dificuldades e oportunida-des em saúde humana, qualificação e capacitação, em-prego e treinamento, remuneração, reconhecimento erecompensa.

COMUNIDADES

Relato de compromissos para a sustentabilidade defamiliares e grupos que compartilham governança eherança cultural e histórica, localizados no entorno edemais integrantes da sociedade local, regional, nacio-nal e planetária.

INDICADORES: ações, investimento na comunidade eredes comunitárias, nos aspectos de sucessos e fracas-sos, dificuldades e oportunidades, com vistas à cons-trução de relacionamentos, confiança e solidariedade;ao trabalho voluntário e cooperativo; ao desenvolvi-mento de responsabilidades compartilhadas; ao desen-volvimento de habilidades e educação para a susten-tabilidade, ao acesso público à informação e à justiça; àcontribuição para o acesso e inserção social e a contri-buição para o progresso e reconhecimento das neces-sidades de todos. Incluem-se também a capacitaçãopara a autoridade e a participação (empowerment); a justi-ça social; a diversidade (não discriminação); a qualida-de de vida:os efeitos para as instituições envolvidas ouafetadas e o desenvolvimento da cadeia de valor.

8.1. Práticas e condutas laboraisEMPREGO

Descrição da política de emprego e regulamenta-

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ção da gestão e desenvolvimento do quadro de diri-gentes, colaboradores e contratados.

INDICADORES: resultados de atividades de treinamentodo quadro funcional e de colaboradores, com especialreferência à motivação, prevenção, preparação, pronti-dão e comprometimento; taxa líquida de empregoscriados; pesquisa de satisfação e avaliações de desem-penho e aprendizagem.

BENEFÍCIOS E RELAÇÕES DE TRABALHO

Relato de política e práticas pró-ativas de incentivospara o quadro funcional, contratados e prestadores deserviços.

INDICADORES: resultados numéricos e qualitativos,positivos e negativos, dificuldades e oportunidades paraplanos e programas envolvendo:

Relações no trabalho, tais como remuneração ereconhecimento, formação de lideranças, com especialfoco em Sustentabilidade, resultados de aprimoramentode desempenho de liderados, em decorrência da açãode líderes, porcentagem de trabalhadores representadapor entidades laborais independentes, provisão pararepresentação formal de colaboradores e contratadosem tomadas de decisões gerenciais, inclusive emgovernança organizacional.

Saúde e segurança, com as práticas de registro enotificações de acidentes e saúde ocupacional e suasrelações com acordos e tratados nacionais e internacio-nais, a participação de colaboradores e contratados emcomitês específicos, os padrões de injúrias, dias perdi-dos e taxa de ausência, o número de fatalidades relaci-onadas ao trabalho, as LER - Lesões de ExercícioRepetitivo -, taxa de não-conformidade, medidas cor-retivas, precaucionárias e preventivas.

Treinamento e educação, apontando a média ho-rária anual de treinamento por categoria de colabora-

dor, contratado e prestador de serviços, o tipo de pro-grama e objetivos pretendidos e alcançados, as ativida-des educacionais e de capacitação profissional de longaduração.

Diversidade e oportunidade, que constituemações de política de igualdade de oportunidades e demonitoramento de conformidade e de resultados al-cançados, e a composição da gerência média e superi-or, inclusive governança, em índice homem/mulher,etnias e outros indicadores de diversidade aplicáveis.

8.2. Direitos humanos

ESTRATÉGIAS E GESTÃO

Descrição da estratégia e modelo de gestão dasquestões relativas aos Direitos Humanos, nos termosdefinidos internacionalmente, a fim de que a Organiza-ção, em sua esfera de ação, não cometa abusos.

INDICADORES: resultados de ações, positivos e nega-tivos, dificuldades e oportunidades para:

cumprimento de política, diretrizes, estrutura orga-nizacional e procedimentos para lidar com as questõesde direitos humanos, inclusive monitoramento;

cumprimento da Declaração Universal dos DireitosHumanos Fundamentais;

consideração dos impactos de direitos humanoscomo parte de decisões de investimentos e aquisições(procurement) e contratações de terceiros (outsourcing), in-clusive a seleção de fornecedores e contratados;

monitoramento e avaliação de desempenho relativoaos direitos humanos na Cadeia de Suprimentos e con-tratados;

treinamento do quadro funcional e de contratadosem política e práticas envolvendo todos os aspectos de

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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direitos humanos.

NÃO-DISCRIMINAÇÃO

Revelação da política organizacional e o moni-toramento de práticas de não distinção, para efeito detrabalho e outros aspectos do relacionamento com to-das as partes interessadas, em razão de educação, cultu-ra, raça, cor, gênero, sexo e etnia.

INDICADORES: resultados de ações específicas, posi-tivos e negativos, dificuldades e oportunidades de moni-toramento e resultados observados.

LIBERDADE DE ASSOCIAR E NEGOCIAR

Aquisição de poder de representatividade e partici-pação em tomadas de decisões por pessoas ou comu-nidades específicas, em contextos adequados de cará-ter social, psicológico, educacional, econômico e organi-zacional, entre outros.

INDICADORES: quadro atual, resultados de planos eprogramas executados e comparativos no segmento eem outros ramos de negócios ou atividades.

EMPREGO INFANTIL

Descrição do compromisso organizacional, políti-ca e práticas referentes ao não-emprego de mão-de-obra infantil, segundo os termos de Convenção Inter-nacional (ILO 138) e outros instrumentos pertinentes.

Indicadores: quadro atual, monitoramento, resultadosde planos e programas executados e comparativos nosegmento e em outros ramos de negócios ou ativida-des.

TRABALHO FORÇADO E COMPULSÓRIO

Relato das práticas organizacionais preventivas da

coerção para a execução de atividade imposta ou depenalidade no caso do trabalho não ser executado, nostermos da Convenção ILO 29, art. 2.

INDICADORES: quadro atual, monitoramento e resul-tados de planos e programas executados e comparati-vos no segmento e em outros ramos de negócios ouatividades.

PRÁTICAS DISCIPLINARES, SEGURANÇA ERECONHECIMENTO

Informações a respeito da política, regras e práticasde conduta do quadro laboral, abrangendo o ambien-te, contexto e relações de trabalho, com o objetivo deestabelecer a harmonização dos interesses da Organi-zação, o desempenho funcional e a justiça e consistên-cia no tratamento das pessoas, além do reconhecimen-to e a retribuição de padrões de excelência de desem-penho de dirigentes, demais colaboradores, contrata-dos e outras partes interessadas relevantes para a mis-são da Organização.

INDICADORES: quadro atual, monitoramento e resul-tados de planos e programas executados para capa-citação, incentivos e aprimoramento de desempenhopara atitudes de não retaliação e sistema de confiden-cialidade para infrações cometidas; treinamento de pes-soal para respeito aos direitos humanos a todas as par-tes interessadas; prevenção de conduta comportamentalinadequada; roubos, fraudes e falsificações; assédios;danos à propriedade; insubordinação, mau uso donome da Organização, vícios, infrações, quebra de con-fiança, entre outros, além do tratamento diferenciadode agentes idealizadores, executores e promotores demelhores e mais produtivas práticas organizacionais,orientadas para a produção e consumo sustentáveis debens e serviços.

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8.3. Sociedade ou Comunidade

PROTEÇÃO ÀS COMUNIDADES INDÍGENAS E MINORIAS

Informação sobre a política, regras e práticas deconduta Organizacional em relação às populações in-dígenas e às minorias étnicas, no ambiente de trabalhoou no contexto de atuação operacional e negocial.

INDICADORES: quadro atual, monitoramento e resul-tados de planos e programas executados em capacitaçãoorganizacional para lidar com as questões especificadas,incentivos e aprimoramento de desempenho do qua-dro laboral que atue interna e externamente nas referi-das questões, abrangendo a não intervenção no regi-me governativo, nem influência na auto-determinação,cultura e crenças; a preservação de monumentos his-tóricos e geográficos; o respeito à segurança e hábitosalimentares; a manutenção de sistema para gestão con-junta de reclamações e exercício de autoridade, e a pre-servação do direito de acesso à justiça por pessoas ecomunidades minoritárias ou prejudicadas.

8.4. Responsabilidade por produto

POLÍTICA DE PRODUTOS

Descrição do quadro atual, monitoramento e resul-tados de planos e programas executados para confor-midade e além-de-conformidade, relativos à gestão deinformações sobre bens e serviços oferecidos pelaOrganização.

INDICADORES:resultados do sistema de monito-ramento de informações, decorrentes de atividadesrelacionadas à prática do Princípio da Precaução; àigualdade de procedimento, independente da localida-

de geográfica, comunidade envolvida ou mercado; àprevenção de danos econômicos e socioambientais parao consumidor; a situações de não-conformidade rela-cionada ao consumidor, inclusive multas e penalidadesrecebidas a respeito da qualidade, saúde, segurança eambiente; ao número de reclamações e atendimentoproposto; ao aprimoramento da cadeia de suprimentoou de valor; transferência de tecnologias de basesocioambiental; comunicação com as partes interessa-das.

PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Demonstração, na prática, de como a Organizaçãose comporta em relação ao Princípio da Precaução,definido como o não uso de substâncias, produtos eprocessos capazes de - ou com potencial para - causarrisco ou dano sério ou irreversível, diante de incertezasou na ausência de certeza científica formal. Pelo Princi-pio da Precaução, o ônus da prova fica por conta doproponente e não das vítimas.

INDICADORES: ações e iniciativas concretas de ado-ção do Princípio da Precaução; realização de estudoscientíficos para determinação de riscos sérios ouirreversíveis de substâncias e produtos, em todo o ci-clo-de-vida, com transparência e informação de aces-so público a todas as partes interessadas. Não uso desubstâncias e produtos para os quais não exista certezacientífica formal e para os quais exista o risco de danosério ou irreversível.

DIREITO PÚBLICO DE ACESSO À INFORMAÇÃO E À JUSTIÇA

Relato das práticas de transparência e respondênciaa consultas sobre segurança de uso e risco de tecno-logias, processos produtivos, produto, consumo e pós-

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consumo, a todas as partes interessadas.INDICADORES: sistema de informação pública socio-

ambiental em funcionamento e resultados de consultase respostas no período; estado atual da prática de res-ponsabilidade continuada (estendida) do produtor oude responsabilidade solidária, por impactos causadosdurante o uso ou consumo de produtos, conforme avisão do-berço-à-cova ou do-berço-ao-berço; meca-nismo de acesso público à informação socioambiental;conduta organizacional frente a queixas, reclamações,questionamentos e ações civis por danos ou impactosà saúde humana e à qualidade dos ecossistemas e ou-tros meios e serviços ambientais.

SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR

Descrição de práticas e do alcance da política paraa preservação da saúde e segurança do cliente, usuário oubeneficiário de bens e serviços oferecidos ao mercado.

INDICADORES: sistema de monitoramento e resulta-dos de planos e programas de aprimoramento de pro-dutos, visando à saúde e segurança do consumidor;número e tipos de não-conformidades relacionadas àsaúde e segurança do consumidor, inclusive penalida-des e multas decorrentes; número de queixas e recla-mações correlatas e atendimento prestado; sucessos deatendimento decorrentes de melhores práticas de ser-viços oferecidos a clientes, consumidores, usuários ebeneficiários; atendimento a Códigos de Conduta Vo-luntários assumidos ou a sistemas de rotulagem ou re-conhecimento socioambiental conquistados.

PROPAGANDA E MARKETING

Relato de políticas, regras, práticas e sistema de pro-moção de negócios, atividades, processos, produtos,

consumo e pós-consumo da Organização, baseado ematributos socioambientais reais e em conformidade comCódigos de Ética e outros instrumentos normativosaplicáveis.

INDICADORES:número e tipos de campanhas insti-tucionais e promocionais de produtos, destacando osatributos socioambientais verdadeiros; ações ou cam-panhas contra a Organização, por práticas de maquia-gem verde (greenwashing) ou de maquiagem azul (blue-washing), esta última referindo-se ao uso indevido dologotipo dos princípios do Global Compact , sob osauspícios da ONU Organização das Nações Unidas.

CAPITAL ECONÔMICO, MONETÁRIO OU CONSTRUÍDO

Traduzido por bens materiais construídos e acumu-lados, como edificações, bens manufaturados e os va-lores físicos e monetários acumulados, bem como di-reitos de propriedade industrial.

Recomendam-se as seguintes bases para selecionarefeitos econômicos:

Informações auditadas por partes independentes.Correlações entre informações econômico-financei-

ras e ética, probidade e sustentabilidade.Condições para manutenção de níveis estáveis de

crescimento econômico e emprego.Modelo de relatório financeiro já adotado pela Or-

ganização, desde que os efeitos, elementos ou indica-dores tenham relações com o Desenvolvimento Sus-tentável.

Recomendações neste Guia (especialmente na rela-ção incluída no capítulo sobre medição e avaliação dedesempenho sustentável).

Conversão ou transformação de indicadores quan-titativos em valor agregado (lucros & perdas) comovalor em R$ e porcentagem de mudança, e os comen-tários e explicações dos resultados do ponto de vista

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de custo/benefício para os diversos interessados.Fluxos entre a Organização e as partes interessadas e

os efeitos da Organização na economiaInfluência da Organização na economia circunvizinha Externalidades causadas pela Organização, em ter-

mos de efeitos locais, nacionais e internacionais Passivos socioambientais provocados por proces-

so, produtos e transportes Infrações, violações, multas e puniçõesDependência da comunidade local (entorno,

município, estado, país) às atividades da Organização Influência da Organização na economia geral do

município, estado, país

Resultados na cadeia de valorConsiderar elementos, questões ou fatores gerado-

res de valores econômicos para as partes interessadas,como ilustradas a seguir, baseado em GEMI.

9. Gestão de riscos

O RDS deve conter informações, análises e comen-tários referentes à capacitação organizacional para iden-tificar e gerenciar os riscos envolvidos nas operaçõesda Organização e o processo de gerenciamento.

Riscos para o negócio ou atividade

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Qualidade das avaliações: Flora, fauna e humanos:exposições, danos, morbidade e mortalidade, efeitospara a reprodução, contaminação/intoxicação/envene-namento, efeitos carcinogênicos.

Qualidade do solo: mudanças na qualidade da águade superfície e na permeabilidade, lixiviação/percolaçãode sustâncias tóxicas e perigosas, vazamentos e derra-mes acidentais, aplicação de resíduos diretamente nosolo, produção de gás em aterros.

Água de superfície e subterrânea: prevenção da con-taminação, efeitos sobre aqüíferos.

Qualidade do ar e clima: efeitos adversos para a saú-de humana, depósitos poluidores sobre a vegetação.

Saúde pública: contaminação de alimentos, emissõesacidentais e descargas no ar, água e solo, controles debaixa qualidade.

Efeitos socioeconômicos: depreciação de proprie-dades, redução de empregos, diminuição de renda percapita, mudança de padrão de atividades humanas; cor-rupção, falsidade, maquiagem verde.

EficiênciaAprendizagem organizacional.Capacitação de governança.Gestão da cadeia de negócios.Padrões de excelência e protocolos.Planejamento estratégico econômico e socioam-

biental integrado.Sistema de gestão socioambiental em prática.FinançasCustos de capital: controle de resíduos e emissões,

redesenho de processo e produtos, perda de eficiência,de uso de energia, materiais e outros recurso.

Exigências de partes interessadas relevantes. Gestão de externalidades econômicas, especialmen-

te as punitivas.Gestão de suprimentos.Projetos deficitários, incompletos, incorretos, mal

elaborados.Perda de prazos e metas.Macroeconomia e inadimplência. Mudança de conduta do consumidor. Não-conformidades: legal e regulamentar; normas

técnicas e padrões; acordos voluntários. Orçamento incorreto.Passivos socioambientais históricos. Perdas: falhas, defeitos, produtividade, retrabalho,

devolução, qualidade.Propaganda enganosa.Remuneração inadequada. Risco país.Sinergia e complementaridade.Valores de clientes – consumidores – usuários -

beneficiários.Variação cambial e aquisição de capital externo. Gestão

na cadeia de negócios ou suprimentos. Licença paraoperar (aceitação e reconhecimento pelos interessados)

Mercado: reputação, imagem, aceitação pelo cliente– consumidor – usuário - beneficiário.

Operações: emissões, descargas, responsabilidadecivil, necessidade de mudança de processos e produ-tos.

Parcerias conflitantes, inoperantes, ineficientes.Planos de emergência: coordenação, paradas técni-

co-administrativas,finanças,treinamento e testes, notifi-cação e chamadas.

Pressão: política, pública, concorrência, investidores,financiadores.

Qualidade de benchmarking.Responsabilidade civil e multas.Sistemas e mecanismos em operação como a pron-

tidão e a preparação para acidentes, e a comunicação.TransparênciaRiscos para o processo produtivo: destinação de lixo

industrial perigoso e tóxico; emissões tóxicas e perigosas;

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falhas de design, engenharia, processo, produto; inefi-ciência energética; matérias-primas inadequadas, defei-tuosas, inapropriadas; passivos ocultos, não-remedia-dos; processo industrial de alto risco, faltosos, deficien-tes, falhos; riscos cumulativos permanentes para saúdee qualidade ambiental; sabotagem, e o uso não-ecoeficiente de materiais e outros recursos

Riscos para o produto: confiabilidade, durabilidade,eficiência, periculosidade e toxicidade, reaproveitamentoe reciclabilidade, padronização.

Riscos de consumo: mau uso do produto pelo con-sumidor, mudança de valores do consumidor

Riscos de pós-consumo: conduta errada do consumi-dor, sistema de coleta e destinação pós-uso do produto.

9.1. Impactos econômicos diretos

ECO-EFICIÊNCIA: RELAÇÃO ENTRE FATOR DE PRODUÇÃO EINFLUÊNCIA OU EFEITO SOCIOAMBIENTAL

Informação sobre a prática da Organização, relaci-onada à “entrega de bens e serviços em bases compe-titivas, de maneira a satisfazer as necessidades humanas,trazer a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzir,progressivamente, os impactos ecológicos e a intensi-dade de uso de recursos, através do ciclo-de-vida, pelomenos no nível estimado da capacidade de sustentação(carrying) da terra” (WBCSD, CEBDS).

INDICADORES: ações, resultados positivos e negati-vos, dificuldades e oportunidades para o aumento deprodução de valor, com redução da intensidade de ma-teriais, da quantidade e intensidade de energia, da dis-persão de materiais tóxicos, mas, com aumento dareciclabilidade, do uso de materiais renováveis e da in-tensidade de serviços projetada para os produtos;contabilização de custo-benefício econômico-ambiental,

para evidenciar custos ocultos e demonstrar externa-lidades.

DISPÊNDIOS SOCIOAMBIENTAIS

Informações sobre custos socioambientais de capi-tal e operacional, para atenderem a modelos padroni-zados obrigatórios, recomendações voluntárias de as-sociações setoriais, ou modelos próprios, criados pelaprópria empresa.

INDICADORES: definição de dispêndios socioam-bientais; gastos anuais; despesas operacionais globais oupor item ambiental (gestão de resíduos, água, uso desolo); relações proporcionais entre despesas socio-ambientais e ganhos; retorno sobre investimentos socio-ambientais; dispêndios em remediação, pesquisa e ma-nutenção do sistema de gestão ambiental, em todo oespectro de atividades.

FINANCIAMENTOS DE FONTES ÉTICAS

Relato de nomes de Fundos que privilegiam ou se-lecionam tomadores de recursos orientados ou comprojetos para a Sustentabilidade econômica e socio-ambiental, bem como os principais direcionadores oucritérios seletivos.

INDICADORES: valores de investimentos ou emprés-timos captados no mercado de capital ético; categori-as, elementos ou indicadores econômicos e socio-ambientais constantes do projeto de tomada de capi-tal, exigidos por Indexadoras de Organizações comResponsabilidade Socioambiental ou por Fundos sele-tivos.

IMPOSTOS E TAXAS PÚBLICAS

Informação dos valores de impostos e encargossociais pagos, que demonstrem a ética e honestidadetributária da Organização.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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INDICADORES: valores financeiros totais pagos, portipo de tributo; índice (porcentagem) de tributo pagoem relação ao faturamento ou dotação orçamentáriatotal da Organização; relação entre tributos totais pa-gos e volume de recursos naturais consumidos, volu-me/número total de produtos manufaturados e volu-me/número de produtos vendidos.

PATROCÍNIOS E AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS PÚBLICAS

Descrição das ações de caráter socioambiental queforam patrocinadas, no todo ou em parte, pela Orga-nização, incluindo o objeto, objetivo, metas pretendi-das e alcançadas, parceiros e executores e alvos alcan-çados.

INDICADORES: ações ou projetos alinhados ou nãoalinhados ao eixo principal de negócios ou atividadesda Organização. E o relato de valores envolvidos, nú-mero de executores e de beneficiários ou usuários,efetividade (eficiência e eficácia) econômica e socioam-biental dos resultados para todas as partes envolvidas elições aprendidas.

CONTRIBUIÇÕES E DONATIVOS

Informações sobre contribuições e doações paraorganizações sociais sem fins lucrativos, ambientalistas,grupos acadêmicos

INDICADORES: valores, beneficiários; natureza e re-sultados das atividades subvencionadas.

9.3. Impactos econômicos indiretos

EXTERNALIDADES SOCIOAMBIENTAIS

Informação das iniciativas da Organização para

identificar as externalidades socioambientais cujos cus-tos não são pagos pelo cliente ou consumidor, masrepassados para toda a sociedade e as iniciativas nosentido de internalizá-las como preço total do bem ouserviço.

INDICADORES: projetos ou iniciativas específicas deidentificação de indicadores de externalidades de pro-cesso, produto, consumo e pós-consumo, conta-bilização de custos socioambientais totais e iniciativasde internalização no preço de produtos; comentáriossobre sucessos e fracassos e oportunidades.

INSTRUMENTOS ECONÔMICOS

Relato de taxas e impostos socioambientais pagos,de acordo com legislação específica.

INDICADORES: total pago de taxas e impostos paraquestões socioambientais relacionadas com água, ar,resíduos, transporte de resíduos; custos com preserva-ção de recursos e taxação sobre consumo de energia.

BENEFÍCIOS E OPORTUNIDADES

Relato de benefícios obtidos com novas formas deprodução, particularmente as baseadas em ProduçãoLimpa(ou Mais Limpa) e programas de redução ouminimização de resíduos.

INDICADORES: benefícios econômicos em processose produtos, relacionados a aprimoramento ambiental;retorno financeiro sobre investimentos socioambientais;integração de economias na prática global de contabi-lização financeira e planejamento da empresa

Modulo III.Relacionamento com as partes interessadas

Descrição de resultados de relacionamento.

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João S. Furtado

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Processos e instrumentos para identificação dos in-teressados relevantes e suas expectativas.

Internos – colaboradores, contratados eprestadores de serviços.

Externos – todos os demais que afetam ou sãoafetados pela Organização.

Mecanismos e tipos de engajamento.Tipos de informações elaboradas no entendimento

com as partes interessadas.Parcerias estratégicas.Co-responsabilidades.Uso de informações das partes interessadas. Comunicação e realimentação. Atuação e atividades na cadeia de valor.

Identificação.Práticas e resultados.

Resultados de planos, programas e projetos.Indicadores genéricos de qualidade: relevância, con-

fiabilidade, compreensão, neutralidade, completude,prudência, comparabilidade, atualidade, verificabi-lidade.12

COLABORADORES: DIRIGENTES, GERENTES, COLABORA-DORES DO QUADRO E CONTRATADOS

Expectativas de: Diretores/Gerentes – Otimização de desempenho,

aprimoramento de gestão, processos e produtos foca-dos em prevenção/redução de riscos a todos os inte-ressados.

Colaboradores/Empregados/Contratados – Ga-rantia de emprego, ascensão, reconhecimento e partici-pação em práticas operacionais saudáveis e ambien-talmente adequadas; impactos em recursos não-reno-váveis; conhecimento da Organização e dos níveis desegurança de tecnologias, processos e produtosEstãoincluídas as compensações, remuneração, promoção;

saúde e segurança; segurança e estabilidade; desenvol-vimento profissional, cultura organizacional e reconhe-cimento.

Sindicato/comissão de fábrica – Empoderamento,direitos humanos e remuneratórios, qualidade e padrõesde excelência no ambiente de trabalho

Informações sobre a capacitação oferecida e con-duta dos colaboradores da empresa e contratados, naOrganização e nas residências, em relação a questõessocioambientais, relacionadas a programas de TQM(Total Quality Management), sistema de gestão ambiental,séries ISO, eco-inovações, etc.

INDICADORES: resultados de levantamentos junto acolaboradores e contratados; programas de treinamento;número de pessoas treinadas; resultados de sugestõesfeitas por colaboradores, para esquemas ou círculos dequalidade ambiental; esquemas de premiações internas;mudanças de cultura e motivação, clima organizacionale incorporação de aprendizagem organizacional.

SINDICATOS, LEGISLADORES E REGULADORES

Expectativas de:Governo e agência reguladora – Garantia de exce-

lência na gestão socioambiental; conformidade e além-da-conformidade; prevenção e conservação de recur-sos e bens públicos, como parte de políticas e regula-mentação públicas; dispêndios e atitudes para o De-senvolvimento Sustentável.

Relato de resultados de programas em conformi-dade à legislação; custos para conformidade; envol-vimento de legisladores e regulamentadores nas inicia-tivas de gestão e/ou geração de informações de ges-tão ambiental na empresa.

INDICADORES: relatórios de certificação e garantia dequalidade; dispêndios, esforços e resultados de moni-toramento e aprimoramento de eco-gestão; discussão

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

167

das relações com agências governamentais; posiciona-mento em atividades de lobby; posicionamento sobreitens-chave em política ou agenda reguladora; listagemde participação em compromissos ou acordos volun-tários.

FAMILIARES, COMUNIDADE LOCAL E PÚBLICO EM GERAL

Expectativas de:Familiares/vizinhança/público em geral – Seguran-

ça e qualidade de vida, com especial atenção a riscos deacidentes e impactos socioambientais locais. Remete-seàs questões como estabilidade financeira; contribuiçãopara a economia local; filantropia e ações sociais justas;influência para inserção econômica; redução de riscose perigos; conservação e restauração de recursos natu-rais; equidade econômica; internação de externalidadessocioambientais, e a defesa de bens globais comuns delongo prazo.

Relato de resultados de atividades envolvendo oudirigidas para familiares e comunidades, com o objeti-vo de dar níveis maiores de transparência à planta (site)de produção; práticas de governança e da política decomunicação, envolvendo impactos para as comuni-dades, corrupção e suborno, políticas de contribuiçõespartidárias, preços e competição.

INDICADORES: ações, resultados positivos e negati-vos, dificuldades e oportunidades para:

Qualidade das comunidades; impactos, relatórios de emissões e programas cor-

retivos ou de aprimoramento;atividades de boa vizinhança, ou de aprimoramen-

to; articulação com a comunidade; iniciativas de portas abertas e de direito público de

acesso a informações;projetos de Responsabilidade Socioambiental;

gestão e controle de riscos, de externalidades e de-fesa socioambiental global com foco no Desenvolvi-mento Sustentável.

Corrupção e suborno;projetos de sistemas de gestão, conformidade e

mecanismos para prevenção de corrupção e de proce-dimentos corruptores e de suborno pelo quadro diri-gente e demais colaboradores e contratados.

Conformidade com as recomendações de práticasinternacionais.

Declaração de volumes de dinheiro doado ou pagoa partidos políticos ou a instituições que patrocinampartidos políticos e/ou seus candidatos.

Competição e preços;atividades para inclusão de externalidades e de custo

total explicitado;infrações e penalidades civis por desrespeito a práti-

cas desleais ou ilegais de comércio, inclusive medidascorretivas e preventivas anticompetitivas.

INVESTIDORES, FINANCIADORES E SEGURADORAS

Expectativas de:Investidores/acionistas – Valorização de cotas em

função de impactos benéficos e maléficos através de:Retorno dos Investimentos( ganhos/Investimentos

ou custos/benefícios.); redução de riscos; redução deuso de recursos; imagem pública; práticas éticas e le-gais.

Bancos/Financeiras – Relações entre as questõessocioambientais e riscos de passivos/valorização deativos econômicos; qualidade do patrimônio, especial-mente para custos contingenciais, prospectivos, desmo-bilizações e outros ocultos; sistema de gestão socio-ambiental; conformidade legal; estágio tecnológico;posicionamento de mercado.

Seguradora – Capacidade para custeio de ressarci-

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João S. Furtado

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mento por penalidades e custo de recomposição oude remediação de danos por operações de riscos eco-nômicos e socioambientais, especialmente as de longoprazo; qualidade e segurança de processos e produtos.Informações geradas e transmitidas para acionistas in-dividuais e institucionais-alvo; temas financeiros-chave.

INDICADORES: notas breves, comunicados e outrasnotícias para acionistas e investidores; reputação ou ima-gem da empresa na comunidade de investidores; deta-lhes sobre investidores ambientalmente responsáveis quedetêm ações da empresa; gestão de riscos e acidentes:capacidade econômico-financeira para remediação, res-sarcimentos, recompensas; respostas a ações civis e ca-pacidade de prevenção de passivos de longo prazo.

FORNECEDORES E ASSOCIADOS

Expectativas de:Fornecedores/Associados – Aprimoramento de

materiais e serviços para uso em processos e produtos(bens e serviços), envolvendo questões como preçospagos, pontualidade de pagamentos; estratégias e tecno-logias socioambientais compartilhadas; parceria ética;lucratividade: remuneração resultante da utilização dosativos; apoio para Produção Limpa/Mais Limpa,Ecoeficiência, Ecodesign e ferramentas afins, além depráticas responsáveis.

Resultados do trabalho realizado em conjunto comfornecedores, com vistas ao aprimoramento de pro-cessos e produtos, em termos qualitativos e quantitati-vos; desempenho da empresa para melhorar o com-portamento ambiental dos fornecedores e ao longo dacadeia de produção.

INDICADORES: desafios enfrentados em relação aosfornecedores, durante o ano; participantes da cadeiade fornecedores e resultados de campanhas; novos al-

vos e especificações; parceria com fornecedores parasolucionar problemas ou aprimorar práticas e tec-nologias.

CLIENTES E CONSUMIDORES

Expectativas de:Clientes – Bens e serviços com qualidade de desem-

penho da função e com respeito ao ambiente e à soci-edade. Corresponde às questões de preço, qualidade,valor agregado no produto; serviços de QSSA (Quali-dade, Saúde, Segurança e Ambiente) sustentáveis; prá-ticas responsáveis; passivos, multas e penalidades;reocupação (crescente) com avaliação de impactos nociclo-de-vida de produto e na cadeia de suprimento.

Relato de resultados obtidos com campanhas juntoa clientes e consumidores, visando aperfeiçoar proces-sos e produtos, do ponto de vista ambiental, especial-mente sobre as análises de valor para redução de im-pactos.INDICADORES: iniciativas de rotulagem ambiental ou seloverde e reconhecimentos obtidos durante o ano; inici-ativas orientadas para o consumidor; objetivos de ini-ciativas de comunicações para o consumidor; resulta-dos de levantamento de atitudes dos consumidores;aprimoramentos no ciclo-de-vida de produto e pro-cesso para melhoria do consumo e destinação de pro-dutos ao final da vida útil.

ASSOCIAÇÕES INDUSTRIAIS

Expectativas de:Associações – Conduta ética e melhores práticas de

governança socioambiental; promoção do segmento

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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ou setor, pela conformidade legal e voluntária, basea-da em Códigos Voluntários. Participação em ativida-des coletivas no setor industrial e resultados obtidoscom a utilização de códigos de conduta adotados; al-vos planejados e alcançados, com comentários sobreos resultados positivos e negativos.

INDICADORES: indicação clara do tipo de protocoloou documento adotado pela empresa, para produçãodo relatório ambiental (ex. CERES, PERI, ResponsibleCare, WICE); natureza e grau de envolvimento nas ini-ciativas da associação industrial à qual aderiu.

CONCORRENTES

Expectativas de:Concorrentes – Oportunidades e diferenciação de

Organizações líderes no mercado, decorrentes de im-pactos maléficos e benéficos.

Práticas concorrenciais e competitividade justasEstratégias e tecnologias socioambientais com-

partilhadasPadrões éticos e legais

INDICADORES: indicação de pontos fortes e fracos,ameaças e oportunidades no relacionamento concor-rencial; benchmarking alcançado em relação ao melhorprocesso ou produto; melhores práticas; projetos cola-borativos.

GRUPOS AMBIENTALISTAS

Expectativas de:ONGs ambientalistas e sociais – Fiscalização da con-

dutas das Organizações e defesa do ambiente, do ho-mem, de comunidades e da sociedade, em geral

Informações sobre iniciativas para tornar as ONGsclientes e consumidores ou de transformar os clientesem ambientalistas.

INDICADORES: resultados do envolvimento em pai-néis, mesas-redondas e outros eventos ambientalistas;reações de ONGs sobre o desempenho da empresa.

GRUPOS ACADÊMICOS

Expectativas de:Comunidade de C&T-Demandas e oportunidades

para linhas de pesquisa e eco-inovações.Agências reguladoras- Conformidade e além-da-

conformidade e excelência de padrões e de desempe-nho.

Relato de opiniões ou respostas da comunidade aca-dêmica sobre o desempenho ambiental da empresa,em termos do presente e projeções futuras.

Utilização de resultados mencionados em cursos aca-dêmicos sobre o uso de relatórios socioambientaiscomo recurso educacional.

INDICADORES: participação em ou apoio a progra-mas de educação ou ciência ambiental.

MÍDIA

ExpectativasMídia – Busca e divulgação de impactos positivos e

negativos no desempenho das organizações e capturade audiência.

Informações sobre atividades dirigidas para jorna-listas, para o melhor entendimento das propostas e dapolítica ambiental da empresa, com destaque para osveículos de comunicação mais relevantes no nível local,nacional e internacional; opiniões - na mídia - sobre aconduta ambiental da indústria e do setor.

INDICADORES: revisão do desempenho geral da co-municação ambiental da empresa; relação entre notíci-as boas e ruins; notas para a imprensa sobre seu apro-veitamento; resultados de mesas-redondas, coletivas e

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João S. Furtado

170

outros eventos realizados para a imprensa; presença daempresa na imprensa ou em edições dedicadas a ques-tões socioambientais.

Módulo IV. Indicadores integrados deDesempenho Sustentável

QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS GLOBAIS

Descrição de medidas para aperfeiçoar o desem-penho nas operações e produtos com impacto signifi-cativo sobre o ambiente global, em especial a destrui-ção da camada de ozônio, aquecimento global, bio-diversidade, exportação de produtos e resíduos tóxi-cos e perigosos e o desflorestamento tropical.

INDICADORES: avaliação de contribuições de proces-sos e produtos para as questões socioambientais glo-bais; descrição de iniciativas chave para reduzir impac-tos; identificação do balanço líquido dos efeitos.

TEMAS DE DESENVOLVIMENTO GLOBAL

Informações sobre a contribuição da empresa paraa redução da pobreza, a diminuição do crescimentopopulacional, o atendimento às necessidades básicas dohomem, a promoção da saúde e respeito à diversidadecultural; implicações das iniciativas nos negócios daempresa.

INDICADORES: esforços e iniciativas para atender oque foi proposto na Agenda 21, Rio 92.

COOPERAÇÃO EM TECNOLOGIA

Relato de casos explícitos de transferência de

tecnologia e cooperação para compartilhar resultadose benefícios.

INDICADORES: tipos e volumes de tecnologiatransferida ou desenvolvimento em cooperação; ter-mos que serviram de base para a cooperação; avalia-ção de tecnologia realizada.

PADRÕES DE OPERAÇÕES GLOBAIS

Informações sobre normas e padrões comuns,adotados para unidades (sites) de produção em dife-rentes partes do mundo; dados individualizados dodesempenho ambiental por unidade ou planta de pro-dução e agregação no nível mundial, incluindo unida-des nos países desenvolvidos e não desenvolvidos.

INDICADORES: provisão de inventário completo deentradas e saídas para todas as operações; unidade-por-unidade de produção.

RDS PARA PEQUENA E MÉDIAORGANIZAÇÃO

Os títulos dos ítens sugeridos para as pequenas emédias organizações são os mesmos. Entretanto, oconteúdo, em abrangência, profundidade e extensão,deverá ser ajustado ao tipo de Organização, de acordocom o porte, estágio de desenvolvimento e prepara-ção, a fim de atender aos requisitos de cada elementosugerido. Para as pequenas empresas, a produção doRDS poderá ser, inicialmente, mais simples, mas teráque avançar e, dentro de 5 anos, deve cobrir os itensrecomendados. As médias empresas têm suficiente portepara atenderem ao modelo sugerido.

Título.Período.Declaração do dirigente máximo.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

171

Aspectos do relatório.Perfil da Organização.Resumo executivo.Ajustar o conteúdo dos tópicos em função do tipo,

porte, estágio atual da Organização, prevendo-se au-mento progressivo de conteúdo de informações, deacordo com a evolução das práticas organizacionaisem direção à Sustentabilidade econômica e socioam-biental.

Modulo I – Políticas e sistemas de gestão

Missão, Visão, PrincípiosPolítica socioambiental Sistema de gestão socioambientalFerramentas usadasGestão da produção Pessoas, cargos e responsabilidadesSistema de auditoria externaConformidade e além-da-conformidade

Módulo II – Indicadores de desempenho

CAPITAL NATURAL

ENTRADAS

Uso de materiais renováveis e não-renováveis Biodiversidade Consumo de energiaConsumo de água

GESTÃO DE PROCESSOS

Sistema de produto Qualidade, saúde, segurança e ambiente Contaminação do solo e remediação

Habitats circunvizinhosSAÍDAS

Resíduos totais por tipo e destinoEmissões de Gases com Efeito EstufaEmissões depletivas para a camada de ozônioDescargas significativas de outros resíduosRuídos e odores Transporte

GESTÃO SUPERVISIONADA DE PRODUTO

EcoeficiênciaProdução LimpaAvaliação de ciclo-de-vida (política e prática de uso

de informações de ACV) Embalagem

CAPITAL SOCIAL

Capital humanoComunidades vizinhas Práticas e condutas laborais, tais como emprego,

benefícios e relações de trabalho.Direitos humanos: estratégias e gestão; não-discrimi-

nação; liberdade de associação e negociação; empregoinfantil, e trabalho forçado e compulsório.

Sociedade e comunidade: proteção às comunidadesindígenas; responsabilidade por produto; Princípio daPrecaução; direito público de acesso à informação; saúdee segurança do consumidor, e propaganda e marketing.

CAPITAL ECONÔMICO

Gestão de riscos Impactos econômicos diretos como Ecoefici-

ência; impostos e taxas públicas; patrocínio de açõessocioambientais, e contribuições e donativos.

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João S. Furtado

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www.globalreporting.org3 UNEP. 1994.Company Environmental Reporting. Ameasure of the progress of business & industry towardsSustainable Development. Technical Report. No 24, 118 pp.4 CEBDS. Ver relatórios de empresas associadas no site http://www.cebds.com5 www.ethos.org.br6 FEE Fédération dês Experts Comptables Européens. FEEdiscussion paper towards a generally acceptedframework for environmental reporting. 1999. 32 pp.wwew.fee.be7 UNEP. GLOBAL COMPACT. 2004. Who cares wins.Connecting financial markets to a changing world. 41.Acesso em www.innovestgroup.com8 Friend, Gil. 200 .Truth and transparency. The why andhow behind world-class corporate environmentalreporting. Green@work Jan(Feb)03. 27-33. http://www.natlogic.com/Articles/ROIofCSR.pdf9 http://www.sustainablemeasures.com./Training/Indicators/index.html10 Global Reporting Initiative. 2000. Sustainability ReportingGuidelines on Economic, Environmental and SocialPerformance. 53 pp. www.globalreporting.org GRI 2002.Sustainability Reporting Guidelines. 97 pp. Mesma fonte.11 GEMI. 2004. Clear advantage: building shareholdervalue. 46 pp. http://www.gemi.org/GEMI%20Clear%20Advantage.pdf12 ver Documento de discussão da Federation des ExpertsComptables Europeens 2000. http://mail.fee.be/website/fee_publication.nsf/face3387ce2ea3b6c1256998003c46ac/ad2814c15af2d43ec12569a1002eb62f?OpenDocument

IMPACTOS ECONÔMICOS INDIRETOS

Benefícios e oportunidades

Módulo III – Relacionamento com as partesinteressadas

PARTES INTERESSADAS RELEVANTES

EmpregadosClientes e consumidoresGovernoComunidade localAcionistas e investidoresAssociações de classe industrial e laboralGrupos ambientalistasGrupos acadêmicos

Módulo IV – Indicadores integrados deDesenvolvimento Sustentável

Este módulo deverá ser conduzido por associaçõesrepresentativas da Organização.

NOTAS

¹ Ver Furtado, J.S. 2003. Gestão com Responsabilidade Socio-ambiental. Ferramentas e tecnologias socio-ambientais. 68pp. Acesso livre em www.teclim.ufba.br/jsfurtado; e Reportingframeworks www.denr.sa.gov.au/reporting/frameworks.html2 GRI. 2002. Sustainability Reporting Guidelines. 97 pp.

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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GLOSSÁRIO E ABREVIATURAS

Análise da Intensidade de Material – AIMA -(MAIA Material Intensity Analysis) fornece coeficientes deingresso de materiais que servem como informações so-bre as pressões ambientais básicas, associadas com amagnitude da extração de recursos e subseqüente flu-xo de material que culmina como resíduo e emissão.

Antroposfera – área da ecosfera habitada e sob a in-fluência de comunidades humanas. Subsistematermodinâmico, auto-organizável, aberto a fluxos demateriais, energia ou a ambos.

Aproveitamento (de resíduo) para energia por in-cineração – destruição térmica de massa do resíduo,para fins de geração de energia, na mesma planta ouem outra instalação.

Auditoria ambiental - levantamento completo e do-cumentado de informações, através de pareceres in-dependentes, para verificação e certificação ou reco-nhecimento formal das operações da organização, demodo sistematizado, disciplinado, em relação à efe-tividade da gestão de riscos e dos processos de con-trole. São considerados, em especial, os aspectos deconformidade legal, finanças e economia, contabilida-de, responsabilidade civil, gestão administrativa, de for-necedores, responsabilidade ambiental e social.

Avaliação do Ciclo-de-Vida – ACV - (i) “O pro-cesso para avaliar a carga (burden) ambiental associadacom o produto, processo ou atividade, através da iden-tificação e quantificação da energia e materiais usados eresíduos para o ambiente; para acessar os impactos daenergia e dos materiais usados e liberados no ambien-te, e para identificar e avaliar as oportunidades para

afetar o aprimoramento ambiental” (SETAC).(ii) Método para prever e antecipar impactos econô-micos, ambientais e sociais, positivos e negativos, per-sonalizados ou comparativos, focados na saúde huma-na e na qualidade dos ambientes naturais, associadoscom o produto, processo ou atividade, por meio daanálise qualitativa e quantitativa dos materiais, água eenergia usados e dos resíduos gerados para o ambien-te, de acordo com a visão de ciclo-de-vida ou de siste-ma de produto. A ACV requer levantamentos e análi-ses compreensivas e sistêmicas, conectando atividadesou operações, em três blocos ou etapas:

(i)Inventário de entradas e saídas de energia e matéri-as-primas, abrangendo: extração, aquisição, armazena-gem, processo de manufatura, distribuição e transpor-te, uso, reuso e manutenção, reciclagem, gestão de resí-duos e efluentes.

(ii)Análise de impacto capaz de traduzir o significa-do do uso de recursos e das emissões nos conseqüen-tes efeitos para o ambiente e saúde humana.

(iii) Valoração, traduzindo o significado ou os valoresrelativos para os diferentes efeitos e as conclusões fi-nais sobre os impactos analisados.

Backasting - visão ideal de futuro, retorno ao pre-sente e construção da rota para o futuro de sucessodesejado.

Bluewashing (maquiagem azul) - falta de acompanha-mento externo ou de divulgação pública de informa-ções e resultados dos compromissos assumidos porOrganizações, especialmente as grandes CTNs, que

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João S. Furtado

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aderiram ao código de conduta Global Compact, criadopela ONU ou em parcerias com agências da ONU.

Capacidade de carga ou de sustentação – Carryingcapacity - Embora difícil de ser medida, traduz a capaci-dade de recuperação ambiental relacionada ao impac-to (população x afluência x tecnologia), taxa de depleçãode recursos renováveis e não-renováveis e acúmulo deresíduos perigosos no ambiente. O ponto de equilíbrioé rompido quando o crescimento da população, adepleção de recursos, ou acumulação de resíduos cau-sam o rompimento de qualquer uma das funções desustentação de vida na terra.

Capital Construído (pelo homem) - bens materiaisconstruídos e acumulados, a partir do uso de recursosnaturais, humanos e sociais, tais como edificações, bensmanufaturados e os valores físicos e monetários, bemcomo os direitos de propriedade industrial.

Capital Humano - saúde, conhecimento, habilidades,produção intelectual, motivações, engajamento, com-prometimento, reputação, liderança, capacidade pararelacionamento.

Capital Natural – estoques ou conjunto de recursosrenováveis (bióticos), não renováveis (abióticos), flu-xos de energia e os serviços providos pelo ambiente(sumidouros, regulação climática, energia renovável,ciclo de água, cadeia metabólica, recuperação do solo),de onde o homem obtém ou cria suas riquezas.

Capital Social - valores e normas sociais, cultura, lazer,confiança; cooperação, aprendizagem, respeito,interações, relacionamentos (amizades, afinidades, en-tre outros aspectos das relações interpessoais), parceri-as, cooperação; inserção econômica e ambiental,

equidade, empoderamento; redes sociais, canais de co-municação, famílias, comunidades, empresas, entidadesde classe, Organizações Não-Governamentais (Tercei-ro Setor/Setor Cívico).

Caso organizacional de sustentabilidade - descri-ção de práticas e procedimentos relevantes envolven-do processos operacionais e melhores práticas para asustentabilidade, integrando os aspectos financeiros,ambientais e sociais.

Ciclo-de-Vida de Produto – consideração de todasas etapas envolvidas para a produção de bem ou deserviço, desde a extração de material, para produçãode matérias primas, até o descarte ou destinação finaldo bem ou produto, também conhecido como visão“do-berço-à-cova” ou, de modo mais aprimorado,“do-berço-ao-berço”, como conseqüência doreaproveitamento do bem ou de partes deste, ao lon-go ou ao final do ciclo-de-vida.

Código de conduta – padrões éticos; conjunto deprincípios comportamentais ou padrões assumidos, decaráter voluntário e auto-declaratório de conduta.

Comunidade - familiares e grupos que compartilhamgovernança e herança cultural e histórica, localizadosno entorno e demais integrantes da sociedade local,regional, nacional e planetária.

Consumo - conduta ou atividade decorrente da utili-zação, pela população, das riquezas, materiais e artigosproduzidos.

Consumo eco-inteligente - uso de produtos eco-in-teligentes, de acordo com os limites de sustentabilidadede recursos naturais disponíveis.

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Contabilização ambiental – registro de custos tangí-veis provocados por efeitos, danos ou ônus sobre oambiente e a sociedade, abrangendo os custos priva-dos ou internos e os custos sociais ou as externalidades.

Contabilização total - inclusão, nos custos, de todasas despesas financeiras e externalidades sociais eambientais para a formação do preço total (full costpricing).

Controle democrático - esforço organizado para au-mentar o controle sobre os recursos e instituições re-guladoras em uma situação social, de parte de gruposou movimentos dos excluídos de tais controles.

Controle democrático da informação - Acesso àsinformações sobre questões que dizem respeito à se-gurança e uso de processos e produtos, por todos osinteressados, inclusive as emissões e registros depoluentes, planos de redução de uso de produtos tóxi-cos e dados sobre componentes perigosos de produ-tos. Este princípio tem recebido crescente atenção departe de governos de países desenvolvidos, como é ocaso da legislação do direito de saber – o RTK - Rightto Know, nos EUA. O TRI Toxic Release Inventory, obriga-tório nos EUA, é produto da legislação de RTK. Emvários países, o sistema equivalente é denominado dePRTR Pollutant Release and Transfer Register (RETP -Registro de Emissões e Transferência de Poluentes).

Controle Integrado de Processo e Produto (CIPP)– operações de controle de práticas e procedimentosorientados para o aprimoramento contínuo de produ-tos e serviços proporcionados por produtos, funda-mentado na Avaliação do Ciclo-de-Vida e com o pro-pósito de reduzir os impactos para o homem e o am-biente em todos os estágios do Sistema de Produto.

Corporação - (i) organização formada por pessoasdo mesmo credo ou profissão, sujeitas à mesma regraou estatutos, para um fim comum;(ii) corpo ou quadro artificial, legalmente constituído,com direitos, poderes, privilégios, mas que protege,individualmente, os proprietários (acionistas e investi-dores) de ações civis e danos financeiros além dos va-lores individualmente investidos; e(iii) Corporação Transnacional, como grupo ou em-preendimento que controla patrimônios (fábricas, mi-nas, escritórios de vendas e assemelhados) em dois oumais países.

Corporação Transnacional - grupo ou empreendi-mento que controla patrimônios (fábricas, minas, es-critórios de vendas e assemelhados) em dois ou maispaíses.

Crescimento – acumulação de bens materiais e finan-ceiros – e desenvolvimento – aquisição qualitativa debens tangíveis e intangíveis, inclusive os espirituais esustentabilidade é relacionada a justiça social de longoprazo, intra, inter e transgerações.

Custos privados ou internos - dispêndios derivadosde atividades das próprias organizações produtoras debens e serviços que incidem sobre o negócio ou pelosquais o negócio possa ser responsabilizado.

Custos sociais ou externalidades - despesas impos-tas aos consumidores e ao ambiente, para os quais onegócio não pode ser legalmente imputado.

Demanda Material Total – TMR - Total MaterialRequirement – volume total acumulado de materialprimário usado pelo sistema produtivo do país, repre-sentado por recursos extraídos dos estoque naturais

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nacionais e importados de outras partes do mundo.

Descarte - operação de gestão de resíduos, envolven-do a coleta, a triagem, o transporte, o tratamento, bemcomo o armazenamento e depósito à superfície ouenterrado.

Desenvolvimento Sustentável - a aquisição quanti-tativa e qualitativa de bens e serviços providos pelanatureza, para atendimento das necessidades dos atuaisintegrantes de todos os setores da sociedade humana –sem comprometer o direito das gerações futuras dedisporem de bens e serviços naturais para atenderem asuas próprias necessidades (Comissão Brundtland, em1987). Processo intra, inter e transgeracional de desen-volvimento integrado econômico, social e ambiental,quantitativo e qualitativo, que deve ser praticado portodos os integrantes da sociedade humana e que (i) res-peita, adota e aprimora os princípios e os limitesbiogeofisicoquímicos naturais para a produção de bense serviços naturais providos pelo Planeta e (ii) distribuijustiça social para todos.

Design para o ambiente (Ecodesign) - concepçãode projetos de produção de bens, serviços e infra-es-trutura com maior eficiência, eficácia e efetividadeambiental, ou com o mínimo de consumo de materi-ais, de energia e de geração de resíduo, durante todo ociclo-de-vida do produto. DpA fica na interseção deduas grandes linhas de força. De um lado, qualidadetotal, desenvolvimento integrado de produto; do ou-tro, gestão supervisionada (stewardship) e arrumação eregistro do ambiente (housekeeping)e prevenção da po-luição. Para isso, são utilizadas, entre outras, as ferra-mentas e estratégias mencionadas a seguir: análise deciclo-de-vida (avaliação de desempenho ambiental e decustos); devolução garantida (take back e recompra);

eficiência econômica da remanufatura; emissão zero;engenharia reversa, análise de falhas e logística reversa;estimativa de riscos ambientais de componentes indivi-dualizados do produto e processo; menor intensidadematerial por serviço ou função; oportunidade de recu-peração e reutilização de materiais; previsão paradesmontagem e reciclagem; reutilização de partes nafase pós-consumo de produtos.

Dimensão ambiental – conservação e qualidade dosestoques de recursos renováveis, extensão de vida útildos não renováveis e sustentação dos serviços naturais,como clima, recuperação de fertilidade do solo, garan-tia da cadeia de nutrientes, etc.; cargas, impactos e da-nos físicos, químicos, biológicos sobre meios naturais,com conseqüências para a saúde humana e qualidadedos ecossistemas naturais, representados por bens e ser-viços naturais.

Dimensão econômica – valores econômico-financei-ros tangíveis e intangíveis agregados; prosperidade eaquisição de bens materiais e financeiros por todas aspartes interessadas (stakeholders), aqui incluídos osacionistas (shareholders) e investidores nas Empresas denegócios.

Dimensão social: bem-estar e justiça social (equidadee inserção) das pessoas, individualmente ou em comu-nidades; alimentação; abrigo; saúde e atendimento mé-dico; educação; desenvolvimento econômico; relacio-namentos e interação social, senso de pertinência e en-riquecimento espiritual.

Disposição final – deposição dos resíduos em solopreviamente preparado de locais devidamente licenci-ados para recebê-los, de acordo com critérios técnico-construtivos e operacionais, em consonância com as

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exigências dos órgãos ambientais competentes.

Ecodesign – ver Design para o Ambiente

Ecoeficiência - “entrega de bens e serviços em basespreço-competitivas, de maneira a satisfazer as necessi-dades humanas, trazer a qualidade de vida e, ao mes-mo tempo, reduzir, progressivamente, os impactos eco-lógicos e a intensidade de uso de recursos, através dociclo-de-vida, pelo menos no nível estimado da capa-cidade de sustentação (carrying) da terra” (WBCSD). Aecoeficiência resulta da equação Valor do produto ouserviço (numerador), dividido pela Influência am-biental (denominador), traduzindo a proposta de fazerou produzir mais, com menos uso de recursos ambien-tais a partir de processos economicamente mais eficientes.

IMPS Intensidade de Material (inclusiveenergia) por Unidade de Serviço - MIPS- Material(plus Energy) Intensity per Unity Service (Utility) constitui amedida para estimar o potencial de estresse ecológicode bens e serviços, segundo a visão do-berço-à-covaou de Sistema de Produto, em níveis micro e médio,desde que as informações eco-toxicológicas específi-cas dos materiais estejam disponíveis. A IMPS é calcu-lado em relação à massa por unidades totais de serviçoliberado pelo produto, durante toda a vida útil, segun-do a visão de sistema de produto ou do-berço-à-cova.O cálculo da IMPS baseia-se nos fluxos de materiais ede ingresso (input) de energia, levando-se em conta todaa matriz energética envolvida. O conceito leva em con-ta os componentes materiais, energia e terra e refere-sea produtos como se fossem equipamentos liberadoresde serviços (service delivering), utilidades ou funções, usu-al-mente por período maior do que o número indica-do nas instruções de uso e garantias.

Indicador - unidade de medida ou elemento infor-

mativo – de natureza física, química, biológica, econô-mica, social ou institucional - representado por umtermo ou expressão que possa ser medido, ao longode determinado tempo, para caracterizar ou expressaros efeitos e tendências e avaliar as inter-relações entreos recursos naturais, saúde humana e a qualidade am-biental (dos ecossistemas).

Índice Genuíno de Progresso – IGP – indicador devalor per capita da condição econômica e socioambientalda sociedade humana, que incorpora custos pessoais deconsumo, os fatores que afetam a qualidade de vida eos custos ambientais representados pela degradação doCapital Humano, Capital Social e Capital Natural decurto e longo prazo.

Intensidade de Material Total - IM Total - total dematerial requerido pelo produto acabado e necessáriopara a entrega do serviço prestado pelo produto oupara o qual o produto foi concebido.

Intensidade de Superfície por Unidade de ServiçoISPS - superfície da terra necessária para o provimen-to de recurso natural para a oferta de determinado pro-duto.

Interessados ou partes interessadas - todas as par-tes ou agentes que afetam ou são afetados pelasatividades da Organização, incluindo-se os acionistas einvestidores (shareholders ou stockholders).

Interface econômico-ambiental: fatores deecoeficiência na produção de bens e serviços, agrega-ção de valor econômico-financeiro para a Organiza-ção, responsabilidade e transparência.

Interface econômico-social: inserção econômica,

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através de emprego, distribuição justa de riqueza, ofer-ta de bens e serviços para necessidades sociais, educa-ção de colaboradores e contratados, acesso de forne-cedores minoritários aos mercados e de doações.

Interface econômico-socioambiental: fatores inte-grados das três dimensões, tais como – acesso públicoà informação; compromissos para a sustentabilidade,proteção e conservação da biosfera; mudança climáti-ca e temas correlatos; planejamento econômico-socio-ambiental; poupança e conservação de energia e água;prevenção de emissões de resíduos; prevenção e ges-tão de riscos; processos e produtos amigáveis ou socio-ambientalmente responsáveis; regulamentação amplia-da para responsabilidade por passivos causados porprodutos e serviços; transparência e ResponsabilidadeSocioambiental Total; uso sustentável de recursos naturais.

Interface socioambiental: impactos sociais causa-dos por fatores ambientais, derivados do sistema deprodução (fome, pobreza, favelização, doenças de baseambiental) e impactos ambientais decorrentes de com-portamento social e de consumo (geração de lixo, de-pleção de recursos e comprometimento de serviçosambientais).

Jusante (downstream) - situação, posição ou locali-zação descendente, via de regra usada para indicar –no fluxograma ou esquema produtivo – as últimas fa-ses ou etapas relacionadas à distribuição, venda, consu-mo, descarte e destinação de embalagens, restos deprodutos ou produtos ao final da vida útil. Ver Mon-tante.

Limites de Emissões (thresholds) – padrões,medidas, estimativas, índices e outras referênciasindicativas de quantidades, medidas e outros indicado-

res mensuráveis de liberação ou de impactos causadospela liberação de não-produtos para o ar, água e solo.

Macro-objetivo sustentável: objetivo de larga esca-la, grande volume ou de alcance de longo prazo, ali-nhado ao conceito de DS em suas dimensões econô-mica, ambiental e social.

Marco de referência (benchmarking) - exemplo,caso ou situação de sucesso ou de insucesso, usado parafins comparativos de procedimentos, processos pro-dutivos, bens e serviços.

Matéria-prima - bem material, insumo, componen-te ou elemento usado no processo produtivo, quese incorpora ou não ao produto intencionado e quese apresenta:i. nos estados físico, químico, biológico, (a) indivi-dualizado ou (b) sob diferentes combinações dessesii. na condição como foi extraído da natureza, deorigem abiótica (não renovável) ou biótica(renovável)iii. como fruto do processamento industrial de re-cursos naturais bióticos , abióticos, individualmenteou combinadosiv. como derivado de:síntese química;.cultivo biológico em sistema fechado;cultivo aberto extensivo ou intensivo, sob manejocontrolado; extrativismo em larga escala.

Melhores Técnicas Disponíveis (BAT BestAvailable Techniques) – técnicas ou tecnologias eco-nomicamente viáveis e socioambientalmente adequa-das. Em geral, são casos de fim-de-tubo.

Missão – razão de ser ou intenção original do funda-

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dor da organização; ou tipo de atividade praticada.

Montante (upstream) – situação, posição ou locali-zação ascendente, via de regra usada para indicar – nofluxograma ou esquema produtivo – as primeiras fa-ses ou etapas relacionadas à fonte de matéria-prima eentrada desta na manufatura. Ver Jusante.

Não-discriminação - conduta ou política organizacionale o monitoramento de práticas de não distinção, para efeitode trabalho e outros aspectos do relacionamento comtodas as partes interessadas, em razão de educação, cultu-ra, raça, cor, gênero, sexo e etnia.

Negócio ou atividade - transações, acordos, contra-tos, ajustes e procedimentos administrativos e produti-vos, relacionados à Missão da Organização.

Negócios convencionais (business as usual) -atividades gerenciais, produtivas e negociais, da manei-ra como são conduzidas atualmente, geralmente emconformidade com práticas legais e voluntárias basea-das em modelos de comando-e-controle, fim-de-tubo,conformidade legal, e bottom line financeiro.

Objetivo – o que se pretende fazer; espaço ou distân-cia entre a realidade presente e a esperada; resultadostangíveis (métricos) ou intangíveis (valores indiretos,contextuais ou potenciais) esperados.

Organização - Todo e qualquer conjunto de pessoasou de comunidades que mantenha o inter-relaciona-mento regular das partes que formam a composição eestrutura.

Organização Não Governamental – Organizaçãojurídica constituída para realizar atividades de interesse

social e ambiental, sem fins lucrativos, através do em-prego de recursos privados e dedicados a ações com-plementares ou que não estejam sendo satisfatoriamenterealizadas por agentes públicos ou privados.

Padrão de excelência - produção, fornecimento econsumo de produto que reduz o uso de recursos,energia e água e otimiza a função para o qual o bem ouserviço foi desenhado, eliminando ou reduzindo aomáximo os impactos maléficos e potencializando osbenéficos, durante todo o ciclo de vida do produto.

Padrões internacionais - documentos elaborados eaprovados por comitês devidamente credenciados, queacabam sendo reconhecidos e usados, de modo obri-gatório ou voluntário, a partir da padronização de con-ceitos, princípios, regras, procedimentos e outros deta-lhes metodológicos. Normas e padrões nacionais quepassaram a ser adotadas internacionalmente, como noscasos de documentos emitidos pela Agência de ProteçãoAmbiental dos EUA e as diretivas ambientais da UniãoEuropéia, o National Center for Standards and Certi-fication Information dos EUA e ações semelhantes emoutros países industrialmente desenvolvidos ouorganismos regionais. Códigos Voluntários de Condu-ta, como Atuação Responsável dos fabricantes de pro-dutos químicos do Canadá e EUA; certificação flores-tal na cadeia de custódia; agricultura orgânica e rotulagemambiental.As normas certificadas, como as criadas por organis-mos pára-governamentais, como: European Community’sEco-Management and Audit Scheme (EMAS) e ISOSérie 14000.

Passos naturais – The Natural steps - arcabouçoou estrutura de princípios baseado em leis naturais ouem passos interessantes e constantes, reconhecendo-se

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que (a) sempre que um ser vivo produz alguma coisa,está utilizando material, energia, estruturando materiaise dispersando matéria e energia na biosfera e que (b) oser vivo, conseqüentemente, desorganiza e organiza si-tuações e condições, na medida em que desempenhasuas funções. Passos recomendados para prevenir aacumulação de poluentes na natureza: menor uso dedepósitos subterrâneos minerais (inclusive combustíveisfósseis) e menor depósito de resíduos na superfície(crosta da terra); menor volume de depósito na natureza,de substâncias produzidas pela sociedade; menor usode substâncias artificiais, de acumulação persistente (nãodecompostas biologicamente); garantia de maior diver-sidade e capacidade dos ecossistemas; prevenção dadeterioração sistemática da base física para a produ-tividade e diversidade da natureza; redução da necessi-dade de energia.

Pegada ecológica - PE – Ecological footprint – o quantode serviço (função ou utilidade) bio-reproduzível preci-sa ser provido, pelo Capital Natural, a fim de garantiro padrão de vida na escala avaliada – individual, familiar,urbana, regional ou global. A PE não expressa mediçõesenergéticas, econômicas ou monetárias, mas expressa aárea ou superfície eco-produtiva (ecoespaço), emmetros quadrados (representados por ares ou hectares)necessários para prover bens bióticos para garantia dopadrão de consumo humano. Por isso, a PE constitui apopularização do modelo da capacidade de sustentaçãoecológica e dos conceitos de FE Fardo Ecológico(Ecological Rucksack), este calculado pela IMPSIntensidade de Material por Unidade de Serviço e CMTConsumo Material Total Per Capita, fundamentadosna distribuição justa da produção e consumo de bens eserviços naturais. PE é, portanto, um conceito geralque considera que a tecnologia e comércio ambientaisnão expandem a capacidade de sustentação da terra,

mas desloca, de uma região para outra, os efeitos doaumento de consumo. Assim, serve de indicador paradesigualdades sociais e econômicas entre as nações, apartir do momento em que países pobres exportambens para os ricos, acompanhados de deslocamentosrurais para zonas urbanas, agricultura insustentável, semremuneração justa e benefícios para os habitantes locais,aumento de desempregos ou subempregos, entre ou-tras basicamente, a questão da geração de resíduospoluentes e aceita, com freqüência, medidas para mini-mização ou redução de emissões; não aborda o consu-mo exagerado de água e energia e não questiona omodelo de fim-de-tubo (end-of-pipe).

Princípio da integração – visão holística do sistemade produção de bens e serviços, com o uso de ferra-mentas como a ACV - Avaliação do Ciclo-de-Vida(abordado em tópico próprio).

Princípio da Precaução – não uso de substâncias, pro-dutos e processos capazes de ou com potencial paracausar risco ou dano sério ou irreversível, diante deincertezas ou na ausência de certeza científica formal.Pelo Principio da Precaução, o ônus da prova fica porconta do proponente e não para as vítimas.

Princípio da Prevenção(Prevention Principle) –consiste em substituir o controle de poluição pela pre-venção da geração de resíduos na fonte, evitando ageração emissões perigosas para o ambiente e o ho-mem, ao invés de “curar” os efeitos de tais emissões.A aplicação do Princípio está prevista na legislação doBrasil, de acordo com a Lei nr. 6.938, de 31 de agostode 1981, art. 2º.

Processo produtivo – Conjunto de práticas, meios erecursos para a produção de bens e serviços (produ-

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tos), envolvendo a integração de funções gerenciais(management) e manufatureiras, a partir de procedimen-tos, instrumentos, equipamentos, recursos (financeiros,humanos, matérias primas, água, energia), técnicas (habi-lidades humanas), tecnologia (combinação do trabalhoe saber humano, meios e materiais, para saber o quefazer e como fazê-lo), entre outros.

Processos gerenciais ou operacionais – atividadesoperacionais internas e externas, para gestão adminis-trativa e de produção de bens e serviços apropriadospara o desempenho estratégico desenhado.

Produção Limpa (PL Clean Production) e Produ-ção Mais Limpa (Cleaner Production) – são mo-delos de gestão para produção e consumo sustentáveisde bens e serviços, que adotam a visão do-berço-à-cova. Os dois modelos foram propostos no final dadécada de 80, respectivamente pela Greenpeace ePNUMA (Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente). Desde então, vêm sendo adotados por or-ganizações privadas, governamentais e não-governa-mentais que buscam padrões mais elevados de produ-ção. PL e P+L são opções de escolha para substitui-ção do modelo clássico de controle da poluição (fim-de-tubo). Mas, PL supera a P+L, do ponto de vistatecnológico, ambiental e social. O PNUMA invoca aprevenção, mas, utiliza os termos “redução e minimi-zação” de resíduos e leva em conta os aspectos a se-guir:

processo – conservação de materiais, água e ener-gia; eliminação de materiais tóxicos e perigosos; redu-ção da quantidade e toxicidade de todas as emissões eresíduos, na fonte, durante a manufatura.

produto - redução do impacto ambiental e para saú-de humana, durante todo o ciclo, desde a extração damatéria-prima, passando pela manufatura, consumo/

uso e disposição/descarte final. P+L incorpora os prin-cípios de prevenção e visão integrada (através da avali-ação do ciclo de vida do produto). Segundo a Green-peace, PL é a aplicação sistemática de princípios quepermitem satisfazer as necessidades da sociedade porprodutos ambientalmente corretos, através do uso desistemas de energia eficientes e renováveis e materiaisque não ofereçam risco, nem ameacem a biodiver-sidade do planeta.

Processo - atóxico, energia-eficiente; utilizador demateriais renováveis, extraídos de modo a manter aviabilidade do ecossistema e da comunidade fornecedo-ra ou, se não-renováveis, passíveis de reprocessamentoatóxico e energia-eficiente; não poluidor durante todo ociclo de vida do produto; preservador da diversidade danatureza e da cultura social; promotor do desenvolvimentosustentável.

Produto - durável e reutilizável; fácil de desmontar eremontar; mínimo de embalagem; utilização de mate-riais de reciclados e recicláveis.

Reciclagem atóxica e efetiva, quanto ao consumo deágua e energia. PL leva em conta os princípios de pre-venção, precaução, visão integrada, direito público deacesso à informação e controle democrático da tec-nologia, em relação a questões de segurança e uso deprocessos e produtos.

Produto (bem ou serviço) – resultado do processoprodutivo, desenhado e oferecido para consumo ouuso, em diferentes etapas da cadeia de valor ou paraconsumo ou uso final, no ambiente público, com a in-tenção especificada para desempenhar ou prover fun-ção ou funções que atendam às necessidades debeneficiários, usuários e consumidores ou de proces-sos produtivos intermediários, em diferentes níveis emomentos da cadeia de negócios ou de valor.Nesse contexto, há de se considerar os conceitos de

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bem material – produto de composição fisicoquímicaou fisicoquimicobiológica; e de serviço – procedi-mentos ou atividades humanas para realização de fun-ções, com ou sem o emprego direto de bens materiais.

Produto eco-inteligente – manufatura de serviços eprodutos preço-competitivos, que proporcionam omáximo possível de utilidades ou funções, em termosde preferências de consumidores individuais, pelo tem-po mais longo possível e com o mínimo uso de mate-rial natural, energia, área de superfície (terra) e disper-são de materiais tóxicos, de acordo com a visão do-berço-à-cova e do-berço-ao-berço.Características de Produtos Eco-inteligentes: (i) nú-mero mais alto possível de unidades de serviços deprodutos (equipamentos de distribuição de serviços ouutilidades ou funções), durante a vida útil, em substitui-ção à obsolescência programada; (ii) número menorpossível de ingresso continuado em processos, produ-tos e serviços; (iii) mais baixo possível ingresso conti-nuado de energia em processos, produtos e serviços;(iv) menor uso possível de superfície de terra por uni-dade de serviço e (v) mínima dispersão de tóxicos.

Proposta Organizacional de Sustentabilidade -intenção, sugestão ou recomendação, de caráter geral,para a inclusão ou inserção de conceitos, princípios,práticas ou instrumentos do paradigma de DS ouSustentabilidade nos procedimentos operacionais re-gulares ou padronizados da Organização. Em certassituações, o termo Proposta poderá ter a assunção deProjeto, mas deverá ser reconhecido como processocontinuado e de longo prazo.

Reciclagem – Reaproveitamento do material do qualo resíduo é composto, para a mesma finalidade ou parafinalidades distintas de uso.

Recuperação – transformação térmica, química, físi-ca ou biológica, singular ou combinada do material doqual o resíduo é constituído, visando o seu aproveita-mento para o mesmo fim ou para finalidades diferen-tes, bem como para produção de energia para uso dire-tamente no mesmo processo ou em processo distinto.

Redução ou minimização – diminuição quantitativade volume, de toxicidade, de periculosidade, individu-almente ou de forma combinada, de resíduos gerados.

Relatório de desempenho socioambiental – pro-dução e divulgação de relato de dados e informaçõessobre a condutas, práticas, metas, objetivos, alvos, fo-cos e respectivos resultados, para atendimento das ex-pectativas e interesses de todas as partes (stakeholders eshareholders), com base em princípios de Responsabili-dade Socioambiental Total.

Relatório de ecoeficiência – relatório de desempe-nho econômico e ambiental, com foco nas característi-cas e desempenho de processos e produtos.

Relatório de Impacto Ambiental – relatório con-tendo informações da Avaliação de Impacto Ambiental.

Relatório de Resultado Final Tríplice – relatório debase tríplice, econômica, ambiental e social, alinhadoaos princípios e práticas de Desenvolvimento Susten-tável. O mesmo que Relatório de Sustentabilidadee de Relatório de Desenvolvimento Sustentável.

Resíduo (não-produto) – qualquer substância, mate-rial ou objeto, inclusive embalagem, perda de energia eágua, resultante de processo de produção, manipula-ção, transformação, utilização ou consumo de bens eserviços, cuja gestão, produção, armazenagem, trata-

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mento, transporte, descarte, destinação, eliminação, pre-venção na fonte, reaproveitamento, recuperação e ou-tras formas de gerenciamento que o detentor deve pro-ceder, se propõe a proceder ou está obrigado a proce-der, por força de disposições nacionais em vigor.

Responsabilidade Socioambiental – dever ou obri-gação de responder – perante a todos os interessados(stakaholders), além dos investidores (shareholders) – poratos, atitudes, processos produtivos, bens e serviçosuma vez introduzidos no ambiente público. Obriga-ção, caráter ou estado de toda e qualquer Organizaçãode responder, a todos os interessados, pelas conseqü-ências de atitudes, processos e produtos introduzidosno meio público.

Responsabilidade Socioambiental Total (accoun-tability) – exercício pleno da ResponsabilidadeSocioambiental, com transparência, capacidade equalidade de resposta (respondência), conformidade everificabilidade (auditoria independente), perante todosos interessados.

Resultado Final- Bottom Line - lucro; última linhado balancete; diferença entre receita e despesas

Resultado Final Tríplice (Triple Bottom Line) –combinação das últimas linhas dos balanceteseconômico-financeiro, ambiental e social. O uso doconceito incorpora a equidade social, desempenhoeconômico e responsabilidade ambiental e expande oparadigma de Responsabilidade Social Corporativa. Aadoção do conceito faz com que a organização devaplanejar, programar, executar, avaliar e relatar seudesempenho em relação a três tipos de investimentos:Capital Natural, Capital Humano ou Social e CapitalConstruído, físico ou financeiro.

Reutilização ou reuso – emprego direto do resíduo– na forma original – para o mesmo tipo de uso parao qual foi originalmente concebido, assegurando-se,quando necessário, tratamento destinado ao cumpri-mento das normas ambientais e de saúde pública.

Riqueza - coisas ou situações que as pessoas valori-zam, como emprego, educação, acesso à informação,saúde, segurança, liberdade, direito de escolha, qualida-de social e ambiental, participação, laser e equidade. Ariqueza da pessoa é representada pelo acesso indivi-dual aos bens e serviços. A riqueza da nação é defini-da pela totalidade dos bens e serviços acessíveis à suapopulação

Rotulagem ambiental - sistema de avaliação de pro-cesso e de produtos, com ou sem concessão de seloou rótulo para identificar benefícios ambientais (desem-penho, características), per se ou comparativamente aprocessos e produtos similares ou alternativos. São ini-ciativas nacionais, em geral com a participação de ór-gãos governamentais, que estabelecem exigênciastecnológicas e ambientais, combinadas. Ações neste sen-tido foram iniciadas pela organização norte-americanaGreen Seal e passaram a ser lideradas pela rede mundialde rotulagem ambiental - GEN Global Ecollabeling Net-work, sob os seguinte princípios: ausência de fins lucra-tivos; independência e inexistência de interesses comer-ciais; inexistência de conflito de interesses com as fontesde sustentação financeira; orientação e manutenção deconsulta aos agentes econômicos; utilização de logo-marca sob proteção legal; instituição de critérios restri-tivos para concessão de selos, com base na visão globalda vida do produto; revisão periódica e atualização.

Sistema de Gestão Ambiental – SGA – conjuntosistematizado de operações administrativas estruturadas,

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envolvendo todas as atividades da organização, as prá-ticas em uso e os recursos disponíveis e utilizados paragerenciamento das questões, impactos e efeitosambientais resultantes das operações produtivas de bense serviços. A criação do SGA implica, especialmentequando objeto de certificação, na identificação das car-gas poluentes, nos impactos e danos causados ao ho-mem e ambiente em geral, na identificação e atribui-ção de responsabilidades, na avaliação periódica dosresultados e no compromisso de melhora progressivado padrão de responsabilidade ambiental. O SGAdeve incorporar alvos qualificados e quanti-ficados, pararedução sistemática de impactos e efeitos, a definiçãode plano para alcançar os resultados e a divulgaçãoampla e pública de resultados. Por essas e outras ra-zões, o SGA é algo muito mais amplo do que o Siste-ma de Qualidade.

Sistema de produto - integração de design (concep-ção e projetação), manufatura e processos de suporte,levando em consideração fatores de confiabilidade,sustentabilidade e competitividade no mercado, levan-do-se em consideração o conceito de sistema e com ainserção de paradigmas e ferramentas como: visão do-berço-à-cova, ou seja, da fonte de matérias primas aodescarte e, segundo proposta mais avançada, do-ber-ço-ao-berço, Avaliação do Ciclo-de-Vida do Produto,Análise de Ciclo-de-Vida, Ecobalanço, Análise da Li-nha de Produto e Gestão integrada da cadeia. A estra-tégia de design do processo pressupõe o fechamentode ciclos (loopings), visando a prevenção (ideal) ouminimização (geralmente praticada) da geração de re-síduos, especialmente os perigosos, e a poupança deágua e energia, olhando-se os fluxos (a) ascendentes oua montante (upstream) - da fonte de matérias primas aoproduto e (b) e descendentes ou a jusante (downstream) -da distribuição à destinação final de embalagens e res-

tos pós-uso ou pós-consumo.Socioambiental – integração de aspectos e relaçõesde causa-e-efeito sociais e ambientais, resultantes deimpactos (maléficos ou benéficos) derivados do mo-delo de produção de bens e serviços e que afetam asaúde e qualidade de vida da sociedade humana e dosecossistemas naturais.

Stewardship – código ou procedimento padroniza-do de gestão supervisionada para qualidade, saúde, se-gurança e ambiente como parte integral de design deprocesso e produto, manufatura, marketing, distribui-ção, uso ou consumo (modos e conseqüências) de pro-dutos comercializados, descarte (tipos e conseqüênci-as) e destinação ambiental (efeitos ou impactos).

Sustentabilidade – neste texto, o mesmo que De-senvolvimento Sustentável.

Sustentabilidade ambiental – qualidade de processosque garantem, conservam e mantêm - indefinidamente -os limites biogeofisicoquímicos naturais necessários paraa produção de bens renováveis, a extensão de vida útildos não-renováveis e a qualidade dos serviços naturaiscomo clima, recuperação da fertilidade do solo, biore-cuperação de áreas degradadas, bioconversão de despe-jos e restos depositados na superfície.

Sustentabilidade atual – qualidade da conduta pre-sente da organização em relação ao conceito e ao em-prego de práticas de Desenvolvimento Sustentável.

Sustentabilidade Corporativa - ver Sustentabilidadeorganizacional.

Sustentabilidade ecológica – qualidade das trocas einterações entre a sociedade humana os demais com-

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. GUIA DE PRÁTICAS ECONÔMICAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

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ponentes ambientais, respeitando, aplicando e aprimo-rando os princípios e os limites biogeofisicoquímicosnaturais que determinam a sustentabilidade do Planeta.

Sustentabilidade futura – qualidade da visão ou pro-posta de desempenho organizacional, enfocadas ouorientadas para o Desenvolvimento Sustentável.

Sustentabilidade humana e social – qualidade dascondutas individuais e comunitárias, que garantem a so-brevivência da espécie humana, das instituições e organi-zações sociais – indefinidamente – respeitando os limitesnaturais do Planeta para o provimento de bens e serviços,com qualidade de vida, equidade e justiça social.

Sustentabilidade organizacional ou corporativa –natureza e qualidade dos processos gerenciais e produti-vos que permitem e garantem que a organização consigamanter-se, competitivamente e por tempo indeterminado,em sua área de atividade ou de negócios, respeitando einserindo os princípios de Desenvolvimento Sustentávelem suas operações e no relacionamento com todos osinteressados.

Sustentável – qualidade de defensável, suportável, ca-paz de ser mantido e preservado, se determinadas con-dições ou recursos não forem depletados, debilitadosou danificados permanentemente. Processo contínuo,de longo prazo, capaz de impedir a ruína de determi-nado sistema ou de conjunto de bens e meios, atravésda garantia de acesso e de reposição de bens e serviços.Permanência de longo prazo que demanda, conseqüen-temente, a conservação da mesma ou de melhor posi-ção, a reposição ou o desenvolvimento de recursos intra,inter e trans-gerações.

Tática – forma como os recursos são manejados du-

rante as ações.Tecnologia socioambiental – conjunto de co-

nhecimentos científicos e empíricos, seqüência de ope-rações, recursos materiais e instrumentais, técnicas eprocedi-mentos para construir ou aprimorar proces-sos, bens e serviços em escala econômica, de naturezaorganizacio-nal ou comercial, em diferentes setores ouatividades humanas, aplicáveis a processos de gestãoou de produção de bens e serviços, e que desempenhapapel direto ou indireto no aprimoramento da quali-dade socioambiental.

Valores – direcionadores de conduta pública e opera-cional; padrão, aspectos, pontos ou posições defendi-das; conjunto crenças, princípios e motivos normativosde conduta, declarados interna e publicamente, que de-terminam e revelam como as pessoas – individualmenteou em grupos – devem se comportar e agir, em rela-ção à Missão, Visão, planos, programas, projetos ouqualquer atividade.

Visão – motivação que mantém a organização no cami-nho de futuro e expressa pelo que a organização é, desejaser e em que deverá tornar-se.

Visão de sustentabilidade – declaração majestosa,visionária, de forma simples, clara, objetiva, pertinente,relevante, e que sirva para nortear as práticas de sus-tentabilidade em todos os procedimentos e em todasas operações na Organização.

Visão integrada ou holística – consideração de im-pactos multimeios, na cadeia de valor, segundo o siste-ma de produto do-berço-ao-berço

Whitewashing – maquiagem mercadológica com baseem práticas irregulares.

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João S. Furtado

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ABREVIATURAS

ACV – Avaliação do Ciclo-de-VidaBDO - Demanda de OxigênioCEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o De-senvolvimento SustentávelCOD - Consumo de OxigênioCONAMA – Conselho Nacional do Meio AmbienteCOV - Compostos Orgânicos VoláteisCTN - Corporação TransnacionalDBO - Demanda Bioquímica de OxigênioDpA - Design para o AmbienteDQO - Demanda Química de OxigênioDS - Desenvolvimento sustentávelFMI - Fundo Monetário InternacionalFOFA - análise de Fortalezas, Oportunidades, Fraque-zas e Ameaças, do inglês SWOTGAAP - Generally Accepted Accounting PrinciplesGEE - Gases com Efeito EstufaGRI Global Reporting InitiativeHHV - High (gross) Heating ValueIASC - International Accounting Standards CommitteeIGP – Índice Genuíno de ProgressoIPCC - InternationalOMC - Organização Mundial para o ComércioONG - Organização Não GovernamentalONU Organização das Nações UnidasP&D - atividades de Pesquisa & DesenvolvimentoP+L Produção Mais LimpaP2 Prevenção de PoluiçãoPL - Produção LimpaPNUMA Programa das Nações Unidas para o MeioAmbientePOPs - Poluentes Orgânicos PersistentesRDS - Relatório de Desempenho SustentávelRSA - Responsabilidade Socioambiental

SDO - substâncias depressivas de ozônioWBCSD World Business Council for SustainableDevelopment

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