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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Administração Mestrado Acadêmico em Administração SUSTENTABILIDADE É ATRIBUTO DE QUEM? CRÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A PARTIR DE UM ESTUDO EM TERRITÓRIO MINERADOR RAQUEL OLIVEIRA WILDHAGEN Belo Horizonte 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-graduação em Administração

Mestrado Acadêmico em Administração

SUSTENTABILIDADE É ATRIBUTO DE QUEM?

CRÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A

PARTIR DE UM ESTUDO EM TERRITÓRIO MINERADOR

RAQUEL OLIVEIRA WILDHAGEN

Belo Horizonte

2015

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Raquel Oliveira Wildhagen

SUSTENTABILIDADE É ATRIBUTO DE QUEM?

CRÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A

PARTIR DE UM ESTUDO EM TERRITÓRIO MINERADOR

Dissertação apresentada ao Programa da Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador: Prof. Dr. Armindo dos Santos de

Sousa Teodósio

Belo Horizonte

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Wildhagen, Raquel Oliveira

W671s Sustentabilidade é atributo de quem? críticas às práticas de

responsabilidade social empresarial a partir de um estudo em território

minerador / Raquel Oliveira Wildhagen. Belo Horizonte, 2015.

158 f.: il.

Orientador: Armindo dos Santos de Sousa Teodósio

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Sustentabilidade. 2. Responsabilidade social da empresa. 3. Administração

de conflitos. 4. Divisões territoriais e administrativas. 5. Meio ambiente -

Aspectos sociais. I. Teodósio, Armindo dos Santos de Sousa. II. Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em

Administração. III. Título.

CDU: 658:577.4

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Raquel Oliveira Wildhagen

Sustentabilidade é atributo de quem? Críticas às práticas de Responsabilidade Social

Empresarial a partir de um estudo em território minerador

Dissertação apresentada ao Programa da Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Área de Concentração: Administração

______________________________________________________

Orientador Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

______________________________________________________

Profa. Dra. Andrea Luisa Zhouri Laschefski

Universidade Federal de Minas Gerais

______________________________________________________

Prof. Dr. Valdir de Castro Oliveira

Fundação Osvaldo Cruz

_____________________________________________________

Profa. Dra. Sylmara Lopes Francelino Gonçalves-Dias

Universidade de São Paulo

Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2015

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Guilherme

minha eterna gratidão por tudo que você tem feito e representado para mim.

Seu companheirismo foi fundamental para esse ciclo.

Foi difícil e maravilhoso ao mesmo tempo.

Que venham mais desafios para enfrentarmos juntos!

Te amo para sempre!

Almir e Lúcia

Não estaria aqui se não fosse por vocês! Vocês são os meus pilares e os meus exemplos.

Me fizeram quem sou hoje com seus valores, afeto e dedicação à família!

Amo vocês meus pais queridos!

Flora e Christie

Irmãs amadas! Obrigada por terem segurado a onda nessa fase de incertezas.

Sou muito grata a vocês por tudo!

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AGRADECIMENTOS

Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio

pela orientação nesse projeto.

Téo, não tenho como agradecer pela dedicação, atenção, "puxões de orelha".

Essa pesquisa foi muito importante para mim, pois me permitiu

conhecer e me encantar pelo município onde cresci.

Foi um desafio e tanto, mas sua orientação foi fundamental

para que essa pesquise se realizasse.

Sou muito grata por tudo que aprendi, tenho aprendido

e ainda vou aprender com você.

Profa. Dra. Denise de Castro Pereira

por me apresentar a pesquisa acadêmica.

Denise, muito obrigada por apresentar e me convidar a participar do projeto LABCEN.

Esse processo foi essencial para minha caminhada até aqui.

Obrigada pela generosidade em compartilhar a sua paixão pela pesquisa.

Profa. Dra. Sylmara Lopes Francelino Gonçalves Dias

por se interessar e contribuir para o aprimoramento dessa pesquisa.

Sylmara, muito obrigada por ter se interessado pelo trabalho e tão gentilmente

ter contribuído para a melhoria dessa pesquisa.

FAPEMIG

por conceder-me a bolsa de estudos parcial.

Benefício este, que foi fundamental para a execução do curso de mestrado.

Amigos do NUPEGS

por colaborarem com discussões tão ricas e complexas.

Faço um agradecimento especial a Daniele Cardoso por ter sido uma companheira

de estudos e pesquisa, por ter compartilhado comigo momentos de alegrias,

de tristezas e de desespero com a pesquisa.

Por termos dado boas risadas para descontrair!

E por ter se tornado uma amiga muito querida!

Agradeço também à Danusa Coutinho pelos projetos realizados em parceria

e pelos projetos que ainda virão.

Agradeço à Júnia Guerra, Yasmine Mansur, Vander Aquiar,

Paula Pessoa, Daniela Viegas e Maria Flávia Diniz

pelos conhecimentos compartilhados.

Programa de Pós-Graduação em Administração da PUCMinas

na pessoa do Prof. Dr. Antônio de Carvalho Neto, coordenador do programa

e da Equipe da Secretaria

por nos atenderem de maneira tão gentil e eficiente.

Prof. Antônio Carlos Bertucci

por sempre ter acreditado em mim.

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Prefeitura de Brumadinho e Câmara Municipal de Brumadinho

pela gentileza e disponibilidade dos membros colaboradores dessa pesquisa.

Aos brumadinhenses das comunidades e representantes de OSC's

pela generosidade, atenção e acolhimento para com a pesquisadora.

Aos funcionários das empresas incluídas nessa pesquisa

pela atenção e dedicação de seu tempo a essa pesquisa.

E finalmente ao Universo

que tem colocado bons desafios e pessoas admiráveis no meu caminho...

Om shri shiva!

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"Que me importa, a mim, mineiro, que não vê minério, perder o nariz?

À vista dos intermináveis vagões mortuários,

Perco, vagão a vagão, minha mineiridade.

E nossas montanhas, envergonhadas, nuas, mortas.

Pegue ritmo depressa

Antes ora tua prece

Antes olhe tua face

Pois agora acordamos

o mal, que em ti não nasce."

AUGUSTO DUTRA

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RESUMO

WILDHAGEN, R. O. (2015). Sustentabilidade é atributo de quem?: Críticas às práticas de

Responsabilidade Social Empresarial a partir de um estudo em território

minerador.Dissertação (Mestrado em Administração) - Faculdade de Administração,

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte

A presente pesquisa teve como objetivo analisar como os atores locais se relacionam na

promoção da sustentabilidade em um território minerador. Dessa forma, buscou-se discutir a ação

e visão da sociedade, poder público e empresas construída acerca do processo de mineração e

suas implicações para a sustentabilidade naquele território. Para isso, buscou-se nas teorias de

Sustentabilidade, Territórios e Responsabilidade Social Empresarial (RSE) os pilares de

argumentação dessa pesquisa. Nesse trabalho, a sustentabilidade é entendida como atributo de

territórios, no qual o próprio território se encontra no centro da discussão. Nessa visão, as

empresas passariam a serem um dos atores dentro do território, e não o ator central. Como base

de argumentação, recorreu-se aos estudos críticos sobre RSE, especialmente sobre a Teoria dos

Stakeholders (TS), apontando as rupturas do conceito ao se tratar os territórios. Diante disso, a

pesquisa buscou alinhar as discussões teóricas da administração, dialogando com estudos de

outros campos de conhecimento, notadamente a geografia e sociologia, na tentativa de traçar um

raciocínio teórico que considerasse os territórios com suas dinâmicas e complexidades. Para

conectar os estudos organizacionais com os estudos de territórios apresentados pela Geografia e

Sociologia, essa pesquisa trabalhou com a Nova Sociologia Econômica (NSE) a entendendo

como um ponto de partida para a inserção das dinâmicas complexas dos territórios nos estudos

organizacionais. A partir dessa compreensão teórica buscou-se analisar empiricamente o território

de Brumadinho que se desenvolveu a partir da atividade de extração mineral e que hoje vivencia

um expressivo crescimento do turismo, especialmente cultural, gastronômico e ecológico,

impulsionado pela criação do Museu de Arte Contemporânea Inhotim, apresentando-se como

uma potencial frente econômica. A sua dependência socioeconômica em relação à mineração

ainda é bastante significativa, entretanto, diante da possibilidade de retração dessa atividade no

município, o principal desafio enfrentado pelo poder público hoje está em planejar e preparar

Brumadinho para além da atividade de extração mineral. Pôde-se perceber que Brumadinho ainda

se atém aos modelos econômicos tradicionais e as influências das empresas nas ações das

políticas públicas ainda são bastante fortes. Entendem que o município pode se destacar com uma

estrutura de desenvolvimento voltado para a sustentabilidade, mas as amarras econômicas

conservadoras ainda são fortes. A pesquisa está dividida em três partes principais: na primeira

faz-se uma discussão teórica iniciando-se pelas diversas abordagens sobre a sustentabilidade, a

trajetória das políticas públicas ambientais no Brasil e seus desafios atuais, define-se o conceito

de território adotado por essa pesquisa, fechando-se essa primeira parte com as diferentes

abordagens e críticas às teorias de RSE pelo olhar da NSE. Em seguida apresenta-se a

metodologia do trabalho e logo após a análise dos dados da pesquisa.

Palavras-chaves: Sustentabilidade, Territórios, Responsabilidade Social Empresarial, Conflitos

Socioambientais.

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ABSTRACT

Wildhagen, R. O. (2015). Sustainability is an attribute of who ?: Critical practices of Corporate

Social Responsibility from a study minning area. Dissertation (Masters in Management) -

School of Management, Catholic University of Minas Gerais, Belo Horizonte

This study aimed to analyze how local actors relate in promoting sustainability in a mining

territory. Thus, we attempted to discuss the action and vision of society, and public power

companies built on the mining process and its implications for sustainability in that territory. For

this, we sought in Sustainability theories, Territories and Corporate Social Responsibility (CSR)

the argument of the pillars of this research. In this work, sustainability is understood as an

attribute of territories in which the own territory at the center of the discussion. In this view, the

companies would be one of the actors in the territory, not the central actor. How argument base,

we used the critical studies on CSR, especially on the Theory of Stakeholders (TS), pointing out

the concept breaks when it comes territories. Therefore, the research sought to align the

theoretical discussions of the administration, dialoguing with studies from other fields of

knowledge, especially geography and sociology in an attempt to draw a theoretical reasoning to

consider the territories with their dynamics and complexities. To connect organizational studies

with studies of territories presented by Geography and Sociology, this research worked with the

New Economic Sociology (NSE) to understand as a starting point for the integration of complex

dynamics of the territories in organizational studies. From this theoretical understanding sought

to empirically analyze the territory of Brumadinho that developed from the mineral extraction

activity and now experiences a significant increase in tourism, especially cultural, gastronomic

and ecological, driven by the creation of the Museum of Contemporary Art Inhotim , presenting

itself as a potential economic front. Its socioeconomic dependence on mining is still significant,

however, given the possibility of retraction of this activity in the city, the main challenge faced

by the government today is to plan and prepare Brumadinho beyond the mining activity. It could

be perceived that Brumadinho still sticks to traditional economic models and the influences of the

companies in public policy actions are still quite strong. Understand that the municipality can

stand out with a development framework focused on sustainability, but the conservative

economic ties are still strong. The research is divided into three main parts: the first is made a

theoretical discussion, beginning in the various approaches to sustainability, the trajectory of

environmental public policies in Brazil and their current challenges, we define the concept of

territory adopted by this research, closing this first part with the different approaches and critical

theories of CSR by the look of the NSE. Then presents the methodology of the work and after the

analysis of the survey data.

Keywords: Sustainability, Territories, Corporate Social Responsibility, Environmental Conflicts

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Caracterização dos Entrevistados............................................................. 79

Tabela 2. Diretrizes de análise................................................................................ 82

Tabela 3. Cursos de Qualificação Profissional..........................................................

109

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Paradoxo da Circularidade................................................................ 29

Figura 2. Abordagens Francesa e Inglesa da NSE........................................... 51

Figura 3. Inovação Empresarial frente a Questão Socioambiental..................

Figura 4. Abordagens Teóricas Norteadoras da Pesquisa................................

65

68

Figura 5. Estrutura metodológica da pesquisa................................................. 75

Figura 6. Ruína do Forte.................................................................................. 86

Figura 7. Igreja Piedade do Paraopeba............................................................. 86

Figura 8. Estação Ferroviária de Brumadinho................................................ 87

Figura 9. Mapa de Brumadinho...................................................................... 92

Figura 10. Empreendimentos turísticos em Brumadinho................................. 110

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LISTA DE SIGLAS

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CEFEM Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais

CMMD Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento

CODEMA Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente

COPAM Conselho de Política Ambiental

COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

DS Desenvolvimento Sustentável

FJP Fundação João Pinheiro

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IMRS Índice Mineiro de Responsabilidade Social

LABCEN Laboratório de Cenários Socioambientais

MAUSS Movimento Antiutilitarista nas Ciências Sociais

NSE Nova Sociologia Econômica

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU Organizações das Nações Unidas

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OSC'S Organizações da Sociedade Civil

PIB Produto Interno Bruto

PNMA Política Nacional de Meio Ambiente

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

RSE Responsabilidade Social Empresarial

SEMA Secretaria de Meio Ambiente

SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

SLAP Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras

TS Teoria dos Stakeholders

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO 24

2.1 Sustentabilidade: trajetória e contradições 24

2.2 Política Ambiental no Contexto Brasileiro 36

2.3 Territórios e Sustentabilidade 41

2.4.Empresas e Territórios 50

2.4.1 A abordagem da Nova Sociologia Econômica 50

2.4.2 Novos olhares sobre a Responsabilidade Social Empresarial 54

3 PROCECIMENTOS METODOLÓGICOS 72

3.1 Participação nas reuniões do CODEMA e Audiências Públicas 76

3.1 Entrevistas semiestruturadas 79

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 84

4.1 Das águas e dos minérios, das serras e das minas: Brumadinho 84

4.1.1 Brumadinho e a construção de sua história com a mineração 85

4.1.2. As ações do poder público para o desenvolvimento de Brumadinho 91

4.1.3 O papel dos atores no desenvolvimento do território 97

4.1.3.1 Mineradoras 97

4.1.3.2 Inhotim 102

4.1.3.3 Empresas de Turismo 108

4.1.3.4 Organizações da Sociedade Civil 112

4.1.4.Os conflitos socioambientais e a responsabilidade socioambiental das

empresas

118

4.1.5 E o futuro, qual será? 128

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 132

REFERÊNCIAS 138

APÊNDICE 147

A Roteiro de Entrevista – Integrantes das OSCs 147

B Roteiro de Entrevista – Integrantes das Empresas 150

C Roteiro de Entrevista – Integrantes das comunidades 153

D Roteiro de Entrevistas - Integrantes do poder público 156

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1 INTRODUÇÃO

O debate sobre sustentabilidade vem se ampliando cada vez mais no contexto global

impulsionado por uma série de fatores que tem levado uma parcela da sociedade a repensar os

padrões de desenvolvimento que vem sendo adotados. Entretanto, essa discussão incita muitos

debates, visto que, não raras as vezes, os países chamados do Sul reivindicam o direito ao

crescimento econômico tendo como espelho os países do Norte, justificando seu atraso

econômico pelos séculos de colonialismo outrora sofrido. Esse discurso, entretanto, pode levar a

um outro tipo de colonialismo, esse muito mais sutil, que induziria a uma integração e

homogeneização forçada, orientada para as oportunidades do mercado mundial (Sachs, 1988;

Layrargues,1998; Leff, 2009).

Em momentos de debate sobre os rumos do desenvolvimento, é comum ainda se

manifestarem posições que têm como pressupostos a oposição entre crescimento econômico e

proteção ambiental e/ou a ideia de que o avanço das atividades econômicas, metrificadas pelo

produto interno bruto (PIB), por si só seriam capazes de gerar soluções para outros campos da

vida em sociedade, chamado “efeito transbordamento”, ou seja, do crescimento econômico

surgiriam melhorias para a equidade e justiça social, a ampliação das liberdades democráticas e

até mesmo para a proteção continuada do meio ambiente. Pensar no desenvolvimento de forma

sustentável implica em buscar novos caminhos em meio às interpretativas dicotômicas sobre o

desenvolvimento. A sustentabilidade, porém, se cerca de contradições, tornando-se, por vezes,

um jargão vazio de sentidos abrindo espaços para diversos grupos da sociedade o utilizarem da

maneira como bem entenderem, da forma como melhor lhes convir, visando interesses diversos

(Sen, 2000; Jacobi, 2005; Veiga, 2009; Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011).

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Acompanhado de uma polissemia de significados, atribuições e usos, a sustentabilidade

sofre com o fato de que atores sociais imaginam que a conservação ambiental necessariamente

restringiria o desenvolvimento ou que desenvolvimento necessariamente significaria poluição

ambiental. Há na literatura uma revisão crítica sobre o tema, sendo muitas vezes os termos

desenvolvimento sustentável (DS), ecossocioeconomia e sustentabilidade usados com o mesmo

sentido, embora tenham significados distintos. De toda forma, as diversas noções acerca da

sustentabilidade destacam a necessidade do envolvimento de diferentes atores ligados às esferas

social, ambiental, cultural, política e econômica em torno de uma proposta de transformação

efetiva do território. (Lelé, 1991; Baroni, 1992)

A partir da segunda metade do século XX, os debates acerca da sustentabilidade se tornam

crescentes, advindos dos movimentos ambientalistas da sociedade e das séries de conferências

sobre o tema. No Brasil, após a Conferências de Estocolmo em 1972, diversas ações importantes

foram tomadas fortalecendo a legislação com um foco maior na preservação do meio ambiente.

Após a criação da Política Nacional de Meio Ambiente em 1981 e a Constituição Brasileira de

1988, os processos de Licenciamento Ambiental e os Estudos e Relatórios de Impactos

Ambientais tornaram-se obrigatórios em todo o país para empreendimentos com alto potencial

poluidor. Além disso, com o aumento do poder decisório dos estados e municípios e a

legitimação da participação popular conferida pela Constituição de 1988, os espaços

democráticos começam a ganhar forças com a criação de Conselhos tanto em níveis federais,

quanto estaduais e municipais (Layrargues, 1998; Burzstyn, 2001; Cavalcanti, 2004; Rezende,

2007; Veiga, 2009).

Entretanto, estudos das áreas da Geografia e da Sociologia apontam para as fragilidades

ainda existentes no processo de Licenciamento Ambiental, especialmente no que se refere à

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participação das comunidades e povos tradicionais e as consequências que um determinado tipo

de empreendimento pode trazer para o nível local. Questões culturais, históricas e as relações

afetivas que se estabeleceriam no e com o território não seriam consideradas pelas empresas, e as

relações de poder entre os atores envolvidos no processo beneficiaria os detentores do capital

(Zhouri, 2008; Acselrad & Bezerra, 2009; Leff, 2009).

Por outro lado, emerge do lado empresarial o discurso cada vez mais crescente da

Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Para além de demonizações e santificações das

ações empresariais a temática socioambiental hoje vai além e coloca-se como um item estratégico

aos gestores empresariais. Ao se revisar a literatura sobre a RSE é possível perceber dois

caminhos sendo traçados: um que vai no sentido das discussões clássicas de Freeman (1984),

incorporando o sentido da ética nos negócios, aprimorando e relegitimando as empresas como

atores centrais à sustentabilidade. Outro que caminha na linha dos estudos críticos sobre RSE,

discutindo suas fragilidades e rupturas, questionando o papel das empresas na sustentabilidade

dos territórios em que atuam e se essa sustentabilidade seria possível mantendo os padrões de

produção, consumo e desenvolvimento atuais (Weiss, 1995; Abramovay, 2009; Gonçalves-Dias

& Teodósio, 2011; Banerjee, 2012).

As lacunas teóricas identificadas e trabalhadas nessa pesquisa apontam para dois pontos

principais: por um lado, os estudos da geografia, da sociologia e do desenvolvimento regional,

por vezes deixam de envolver os atores empresarias ou, quando os fazem, os remetem a posturas

e ações que necessariamente são nefastas ao meio ambiente e a sustentabilidade em si; por outro

lado há poucos estudos na administração incorporando a noção de territórios, tema que

recentemente vem sendo incorporado pelo Encontro Nacional de Pesquisadores da Gestão Social

(ENAPEGS), mas em congressos mais tradicionais da área de administração como Encontro da

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Associação Nacional de Pós-graduação em Administração (ENANPAD), Conferência Latino

Americana de Estudos em Administração (CLADEA), Seminário em Administração (SEMEAD),

por exemplo, ainda aparecem de maneira tímida e, quando o fazem, raramente tratam dos atores

empresariais, ou ainda o fazem de forma a apontar problemas e críticas à sua atuação não

estabelecendo uma análise dos atores empresariais vis-a-vis outros atores do território, ou seja, a

própria crítica aos atores empresariais acaba por não considerá-los como mais um dos atores do

território.

Para a construção da argumentação teórica dessa pesquisa, buscou-se nas teorias da Nova

Sociologia Econômica (NSE) os links que poderiam, de fato, correlacionar os estudos de RSE

com a sustentabilidade dos territórios uma vez que aponta para a importância da dimensão

sociológica e se contrapõe a uma visão eminentemente utilitarista dos fenômenos econômicos. O

aumento dos riscos na vida social contemporânea poderiam chegar ao ponto de que os atores

sociais não hesitariam mais em falar dos riscos ambientais, o que levaria a questão do

sustentabilidade ao centro das preocupações. O crescimento dos riscos revelaria os limites da

racionalidade tecnocientífica e a necessidade de uma racionalidade social e ética (Abramovay,

2004; Serva & Andion, 2006; Levèsque, 2007).

A partir de uma abordagem teórica, que evidencia os paradoxos intrínsecos aos processos

da sustentabilidade, esse estudo pretende responder a seguinte questão: como os atores locais de

territórios mineradores se relacionam na promoção da sustentabilidade?

A escolha pela pesquisa em território de mineração partiu da experiência de mais de um

ano adquirida pela pesquisadora no projeto de pesquisa de extensão executado pelo Laboratório

de Cenários Socioambientais em Municípios com Mineração (LABCEN) da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), cuja proposta é traçar o cenário

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socioambiental de municípios mineradores. Nesse projeto, a pesquisadora pôde se relacionar com

as comunidades atingidas pelo projeto de mineração coletando dados através das técnicas de

Diagnóstico Rápido Participativo (DRP). O amadurecimento da pesquisa se deu através das

discussões nas reuniões mensais do Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social (NUPEGS)

ligado ao Programa de Pós-graduação em Administração da PUC Minas, que, tem como objetivo

reunir pessoas interessadas pela área da gestão socioambiental, afim de debaterem, sob um olhar

crítico, o que vem sendo desenvolvido acerca do tema. Desde que ingressou no mestrado, em

2013, a pesquisadora participa regularmente das reuniões do NUPEGS e pôde acompanhar

discussões sobre Gestão de Territórios, RSE, participação social, entre outras, que enriqueceram

a construção teórica e metodológica dessa pesquisa.

A escolha por Brumadinho/MG se deu pela relevância e riqueza desse território que vem

apresentando diferentes propostas de desenvolvimento com foco no futuro do município, ora

convergido para a preservação do meio ambiente e da cultura local, ora caminhando para uma

dinâmica economicista conservadora. Por ter sua história intimamente ligada à exploração

mineral, os debates sobre as dinâmicas que se apresentam no município atualmente para além da

mineração, voltando-se para a via do turismo, principalmente após a chegada do Museu do

Inhotim que tem projetado o município internacionalmente, geram controvérsias e conflitos

acerca de novas frentes de desenvolvimento.

O município de Brumadinho está localizado na região metropolitana da capital mineira,

Belo Horizonte, no Maciço Espinhaço e início do Tabuleiro do Oeste. Com uma extensão

territorial de 639,434 km², maior do que a capital Belo Horizonte, 33.973 habitantes (IBGE,

2010), e uma densidade demográfica de 53,13 hab/Km² (IBGE, 2013), Brumadinho é um dos

principais municípios mineradores de Minas Gerais, tendo arrecado em 2013, R$ 50.682.793,90

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de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CEFEM), ou royalties de

minério, para o Estado Minas Gerais.

Ele é o sétimo entre cerca de 400 municípios mineradores que mais arrecadam, ficando

atrás apenas de Nova Lima, Mariana, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Congonhas e Itabirito,

nessa ordem (DNPM, 2014). O Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) de 2013 da

Fundação João Pinheiro (FJP) aponta Brumadinho como um dos 10 primeiros municípios com

melhores indicadores sociais. Com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) acima do

nível brasileiro, de 0,747, Brumadinho aparenta desenvolvimento. Porém, alguns fatores podem

mascarar a realidade do município como, por exemplo, o fato de Brumadinho possuir diversos

condomínios horizontais de alto luxo em seu território, o que eleva alguns índices, como o da

renda per capta - R$ 910,31 (Atlas Brasil, 2010). Essa renda, entretanto, está concentrada nas

mãos de poucos, e os distritos do município, que vivem basicamente da agricultura de

subsistência, recebem pouco incentivo e apresentam um nível de qualidade de vida bastante

aquém do que parece indicar o IDH geral desse território. Prova disso, é que em regiões como

Sapé e Marinhos, áreas que concentram populações quilombolas, a vulnerabilidade social é

marcante.

Detentor de ruínas históricas localizadas na Serra da Calçada, diversos mananciais de água,

parte do Parque do Rola Moça e do Museu de Arte Contemporânea Inhotim, o município

apresenta alto potencial para se desenvolver no campo do turismo, seja pela via cultural e

histórica, seja pela via do ecoturismo ou da gastronomia. No entanto, esse potencial presente em

diferentes localidades desse território permanece, salvo algumas exceções, pouco explorado.

Mesmo tendo rivalizado com a extração mineral em termos de geração de trabalho e renda, bem

como de proposição de perspectivas de desenvolvimento para o município, a atividade turística

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ainda não conseguiu fazer frente à pujança das mineradoras, ainda as principais empregadoras do

município ao lado da própria prefeitura de Brumadinho.

Por estar inserido no Quadrilátero Ferrífero, onde as cangas e formações ferríferas

constituem o principal sistema de aquíferos que armazenariam cerca de 4 bilhões de m3 de água,

Brumadinho se torna importante para a região metropolitana de Belo Horizonte pois, um quarto

da água que abastece a região metropolitana vem dos mananciais desse município e dos

municípios vizinhos, através dos sistemas Rio Manso e Catarina, operados pela Companhia de

Saneamento de Minas Gerais (COPASA) (Senac, n.d).

A região possui beleza natural que se torna um atrativo para o turismo local, destacando-se

sítios paisagísticos marcantes como o maciço rochoso conhecido como Pedreira de Casa Branca

ou Serra Ouro Fino, a Serra do Rola Moça, a Serra da Calçada, Serra dos Três Irmãos, Serra da

Jangada, a Serra da Moeda, dentre outros. Além disso, a altitude elevada, as ocorrências

topográficas especiais, o clima frio, os grandes mananciais aquíferos, a vegetação preservada e a

proximidade de Belo Horizonte, entre outros fatores, têm estimulado a exploração turística no

município, atividade muito promissora para o desenvolvimento da economia local. Mas foi a

criação do Inhotim Instituto Cultural, do outro lado do município com acesso pela BR 381, que

marcou o ingresso de Brumadinho na lista dos municípios de grande interesse turístico em Minas

Gerais. O Inhotim é atualmente o maior museu a céu aberto do mundo, com seus exuberantes

jardins tropicais e os destacados pavilhões de arte contemporânea e que tem atraído

aproximadamente 10.000 visitantes por mês (Senac, n.d).

Dentre os povoados rurais, merecem atenção os que se sobressaem no contexto histórico e

religioso, como é o caso de Conceição de Itaguá (antigo Brumado do Paraopeba), São José do

Paraopeba e Piedade do Paraopeba. Este último, também ao pé da Serra da Moeda, já se

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consagrou como um centro de romaria, devido à fé dos inúmeros devotos a Nossa Senhora da

Piedade que ali vão para agradecer, cumprir promessas e pedir graças (As minas Gerais, 2008).

Apesar disso, Brumadinho apresenta uma dinâmica controversa em seu desenvolvimento,

uma vez que ainda é economicamente dependente das atividades de extração mineral. Um intenso

debate sobre as perspectivas de desenvolvimento através das atividades de extração mineral vem

acontecendo no governo brasileiro, gerando algumas preocupações em relação aos territórios

mineradores. Os governos vêm incentivando cada vez mais o crescimento econômico e a

atividade mineradora é uma das frentes desse crescimento. De acordo com o Plano Nacional de

Mineração 2030 (2010), a demanda por bens minerais e produtos de base mineral no Brasil e no

mundo, especialmente nos países emergentes, deverá crescer substantivamente nas próximas duas

décadas, o que significa que haverá mais pressão para o aumento da produção mineral. Dessa

forma, coloca-se em debate a sustentabilidade dos territórios, principalmente, no que se refere à

sua capacidade em comportar essas demandas econômicas em nível local, considerando suas

dinâmicas sociais, ambientais, culturais, e sua infraestrutura.

Sendo assim, o presente estudo procura discutir como os atores locais se relacionam na

promoção da sustentabilidade no território de Brumadinho. Para o alcance do objetivo geral

proposto, buscou-se como objetivos específicos:

(I) Identificar atores relevantes na dinâmica social, política, econômica e cultural de

Brumadinho;

(II) Caracterizar as atividades mineradoras e turísticas em Brumadinho e suas implicações

para os processos de desenvolvimento desse território;

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(III) Discutir a ação dos atores da sociedade civil, do Estado e de mercado em relação ao

processo de mineração nesse território e suas implicações para a sustentabilidade do

território.

Os capítulos teóricos dessa pesquisa estão divididos da seguinte forma: no primeiro

capítulo serão discutidas as noções ligadas à sustentabilidade e as perspectivas, desafios e

contradições associadas ao termo. No segundo faz-se uma discussão sobre o cenário das políticas

públicas ambientais no Brasil e os desafios enfrentados, principalmente no que condiz a

participação social. No terceiro capítulo serão apresentadas as discussões conceituais sobre

territórios e os seus sentidos simbólicos, abordando-se as teorias de topocídio e chantagem

locacional. O quarto e último capítulo teórico será introduzido pela abordagem da Nova

Sociologia Econômica (NSE) seguido pela discussão crítica sobre Responsabilidade

Socioambiental Empresarial de forma a prover um modelo de análise mais robusto quanto ao

papel e à ação das organizações na sustentabilidade dos territórios. Em seguida serão

apresentados os procedimentos metodológicos utilizados nessa pesquisa, seguidos da análise dos

dados da pesquisa e considerações finais.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Sustentabilidade: trajetória e contradições

A história nos pregou uma peça cruel. O rápido crescimento econômico,

através de seus efeitos de propagação, deveria supostamente assegurar prosperidade

a todos. Nos países periféricos pós-coloniais, a expansão do setor moderno gradualmente

absorveria, acreditava-se, toda a força de trabalho do setor tradicional em

vias de extinção. Em vez disso, os processos de dualização assumiram o controle

dos países industriais avançados e o espectro do apartheid social ameaça os países

ricos e pobres sem distinção.

IGNACY SACHS

A Sustentabilidade vem sendo cada vez mais incorporada aos discursos organizacionais,

entretanto, diversas noções são adotadas para caracterizar, explicar e tentar operacionalizar o

termo. Esse universo tão grande de definições, muitas vezes divergentes e contraditórias entre si

podem dar margem a diversos tipos de interpretações, fazendo com que seja adotada aquela mais

conveniente a um determinando grupo de interesse em um contexto específico, enfraquecendo as

lutas pelo desenvolvimento que seja, de fato, sustentável (Baroni, 1992). Nesse capítulo, optou-se

por apresentar as diferenças entre os conceitos de (1)desenvolvimento sustentável (DS),

(2)ecossocioeconomia e (3)sustentabilidade, que, não raras as vezes, são tratados como

sinônimos.

A palavra desenvolvimento, etimologicamente, é um termo originário da biologia. Nesse

campo de conhecimento, desenvolvimento se associa à ideia de crescimento de um espécime

animal ou vegetal qualquer. Esse termo foi apropriado por economistas anglo-saxões, gerando

sua deturpação para um conceito voltado ao crescimento econômico (Layrargues,1998). O termo

em francês, porém, abrangeria um sentido mais amplo, pois developper significa literalmente

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“desenvelopar”, ou seja, tornar aparente ou de domínio público (Layrargues,1998). Esse

significado estaria relacionado à superação de obstáculos, permitindo às potencialidades

individuais ou coletivas de um povo, transparecer a possibilidade de um desenvolvimento a partir

do próprio país, ou seja, promover o desenvolvimento endógeno (Sachs, 1988; Layrargues,1998).

O sentido econômico do desenvolvimento tornou-se bastante usual e convencional, sendo

dominado pelo modelo anglo-saxônico, que durante muitas décadas teve como principal alvo o

crescimento industrial. Esse modelo promoveu um desenvolvimento muito acelerado em alguns

países europeus e nos Estados Unidos, o que fez com que os países subdesenvolvidos à época

quisessem vislumbrar o mesmo horizonte. Aquele momento foi extremamente oportuno aos

países desenvolvidos, pois daquela forma poderiam expandir suas indústrias ao oferecer ajuda aos

países de terceiro mundo, através de planos de atividades industriais, e em especial aos Estados

Unidos, pois, além de barrar a expansão do socialismo, perpetuaria, em grande escala, o

capitalismo norte-americano (Sachs, 1988; Layrargues,1998). Os países subdesenvolvidos por

sua vez, assumiram um tipo de desenvolvimento mimético, negando suas especificidades

regionais e culturais e aceitando a sua suposta condição de inferioridade devido ao seu passado

como colônia (Layrargues,1998). Afinal, a exploração outrora sofrida acarretaria tantas

destruições das riquezas nacionais, bases para o desenvolvimento endógeno, que só restaria

espaço ao paternalismo do primeiro mundo, jamais ao engajamento autônomo para a mudança

das condições econômicas, sociais e ambientais do país (Sachs, 1988; Layrargues,1998).

De acordo com o Abramovay (2012), enquanto a economia mundial cresceu de forma

acelerada, nos últimos 30 anos a pobreza mundial vem declinando. A conclusão que poderíamos

chegar seria a de que o caminho mais curto para se enfrentar a pobreza ainda permanece na

aceleração do crescimento econômico. Essa aceleração, porém, esbarraria nos limites ambientais

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cada vez mais restritos, já que o mundo é um sistema fechado e não um plano ilimitado de

recursos (Cechin, 2010). Além disso, perduram severas desigualdades entre países, regiões e

territórios, permanecendo aproximadamente quatro bilhões de pessoas na pobreza. (Abramovay,

2012).

Por outro lado, se os problemas sociais e ambientais permanecem muito agudos, observa-se

que os movimentos sociais e ambientalistas tornaram-se mais dinâmicos no século XX,

principalmente no período pós-segunda guerra. As ameaças dos testes nucleares e o intensivo

aumento das indústrias, assim como a elevação da concentração urbana acarretando no aumento

do consumo de recursos naturais e um crescente aumento da poluição, são alguns dos elementos,

dentro de um grande espectro de problemas e desafios socioambientais, que têm levado à

sociedade civil a buscar formas mais incisivas sobre a governança em diferentes níveis, seja no

global, no nacional ou no local, de forma a oferecer novas perspectivas de superar esse quadro

(Burztyn, 2001; Abramovay, 2012).

A partir da década de 60 os debates sobre os limites da natureza e os questionamentos sobre

o modelo de desenvolvimento que vinha sendo praticando se intensificam, tendo como grandes

colaboradores pesquisadores das ciências biológicas como Rachel Carson e Garret Hardin

(Burzstyn, 2001). Na década de 70, esse debate chega às ciências econômicas a partir do relatório

de Meadows, intitulado “Os limites do crescimento” (Burzstyn, 2001). A partir de então, as

discussões sobre novas formas de desenvolvimento, para além do viés, predominantemente

econômico à época, começam a serem debatidos com maior frequência.

Em 1972, foi realizada em Estocolmo a primeira Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente Humano. Essa conferência reuniu a comunidade internacional para discutir

questões relacionadas ao meio ambiente global e as necessidades de desenvolvimento. Nessa

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Conferência, o Brasil defendeu o desenvolvimento a qualquer custo e não reconheceu a gravidade

dos problemas discutidos (Bursztyn, 2001; Barbieri, 2001). O governo brasileiro à época

empenhava-se na sustentação de uma política desenvolvimentista via industrialização e expansão

das fronteiras agrícolas e dos distritos minerais de ecossistemas frágeis, especialmente nas áreas

do cerrado e floresta amazônica (Barbieri, 2001). Essa política foi altamente desastrosa tanto em

nível ambiental quanto social. A Conferência, porém, levou à formulação do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e conseguiu articular países em via de

desenvolvimento e desenvolvidos, iniciando uma sequência de Conferências da ONU (Bursztyn,

2001; Barbieri, 2001).

Em 1982, foi realizada uma avaliação da Conferência de Estocolmo em Nairóbi, sob a

coordenação do PNUMA. Nesse encontro estabeleceu-se a intenção de criar a Comissão Mundial

de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMD), sendo implementada em 1983, com o objetivo

de propor estratégias ambientais de longo prazo prevendo formas de desenvolvimento mais

sustentáveis para o ano 2000 e daí por diante; recomendações para que a preocupação ambiental

se traduzisse em maior cooperação entre os países; e consecução de objetivos comuns e

interligados que considerassem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e

desenvolvimento (Layrargues, 1998). Após quatro anos de pesquisa em cerca de 10 países , em

1987, a CMMD publicou suas conclusões no relatório intitulado Nosso Futuro Comum ou

Relatório de Brundtland - nome da então presidente da CMMD e Primeira-Ministra da Noruega,

Gro Harlem Brundtland - apresentando a noção de DS como "aquele que atende as necessidades

do presente sem comprometer a possibilidades de as gerações futuras atenderem as suas próprias

necessidades" (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991, p.46).

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Os apontamentos desse Relatório, porém, esbarram em um grande paradoxo conforme

aponta Layarargues (1998). Para o Relatório "Nosso Futuro Comum", "há sempre o risco de que

o crescimento econômico prejudique o meio ambiente, uma vez que ele aumenta a pressão sobre

os recursos ambientais" (CMMD, 1991, p.44). O DS, portanto, apresentaria limites, não limites

absolutos, mas impostos pelo atual estágio da tecnologia e da organização social frente aos

recursos ambientais e a capacidade da biosfera de absorver os efeitos das atividades humanas

(Layrargues, 1998). Essa tecnologia e organização social podem ser aprimoradas e geridas,

porém, no sentido de um novo modo econômico. Dessa forma, a CMMD (1991) aponta que a

pobreza generalizada não seria mais fato inevitável, sendo que dentro do contexto do

desenvolvimento sustentável ela passaria a não ser apenas um mal em si, pois "num mundo onde

a pobreza e a injustiça são endêmicas, sempre poderão ocorrer crises ecológicas e de outros tipos"

(CMMD, 1991, p.47). O relatório atesta que a pobreza seria um dos principais problemas

ambientais do mundo, afirmando que seria inútil abordar esses problemas sem uma perspectiva

global das desigualdades do mundo (Lélé, 1991).

Tal ideia sugere uma circularidade como uma retroalimentação positiva, isto é, quanto mais

pobre, maior pobreza haverá.Ocorre a partir daí uma intensa propaganda em torno do

círculo vicioso da pobreza, com o propósito de justificar a necessidade da continuidade do

crescimento econômico, e omitir o peso da responsabilidade ambiental do consumo

excessivo do Norte, a poluição da riqueza (Layrargues, 1997, p.6).

Essa forma de entendimento apontada pela CMMD frisa que o crescimento econômico

poderia continuar no mesmo ritmo, desde que novas tecnologias não poluentes sejam

incorporadas nas atividades industriais. No entanto, mesmo que as tecnologias se adequem ao

contexto, será que as mudanças sociais e culturais acompanhariam essas transformações, uma vez

que uma das características da sociedade industrial de consumo é justamente o desperdício?

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(Layarargues, 1997). Sem essa mudança os recursos naturais continuarão sendo tencionados e as

novas tecnologias terão um impacto muito voltado na diminuição das emissões de poluentes, mas

os recursos naturais continuarão correndo o risco da escassez. O paradoxo da circularidade se

encontra exatamente nesse ponto: o Relatório aponta que há sempre o risco do crescimento

econômico degradar o meio ambiente, mas seria a pobreza, porém, o fator de maior contribuição

para essa degradação, e como solução dever-se-ia agir em prol da diminuição da pobreza, através

do crescimento econômico.

Figura 1.Paradoxo da Circularidade Nota. Fonte: Original desta pesquisa, a partir de adaptação de Layrargues (1998).

Além disso, Lélé (1991) afirma que muitos dos conceitos disseminados sobre DS, são, na

verdade, abordagens conceituais da sustentabilidade ecológica e/ou social. Portanto, Lélé (1991)

e Veiga (2009) acreditam ser o DS, nada além do que um “desenvolvimento que pode ser

Crescimento Econômico Degradação Ambiental

Desenvolvimento

Sustentável Pobreza

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continuado”, e esse desenvolvimento pode ser medido, inclusive, pelo PIB e não necessariamente

pela incorporação das questões ambientais. O problema da mensuração do desenvolvimento pelo

PIB é que muitas vezes escolhe-se populações de países que tiveram crescimento intensivo

aumentando-se, inclusive, o IDH, ou uma população de países em crescimento, como é o caso

dos BRICS, sem medir os efeitos negativos desse crescimento (Veiga, 2009). Tome-se como

exemplo a emissão de carbono de China e Brasil ou o índice de pobreza da Índia (Veiga, 2009).

Entender o desenvolvimento a partir da existência de condições ecológicas necessárias para

dar suporte em um nível específico de bem-estar da vida é sustentabilidade ecológica e não DS

(Lélé, 1991). Diante do amplo “leque” que o conceito de DS apresenta, Sachs (2007) argumenta

que apesar de o DS ser uma alternativa média entre o economicismo arrogante e o

fundamentalismo ecológico, ele deveria ser socialmente receptivo e implementado por métodos

favoráveis ao meio ambiente, através de uma distribuição diferente da propriedade e da renda e

requerendo algum tipo de intervenção e planejamento por parte do Estado, além de estratégias

complementares entre o Norte e o Sul. Assim, lamenta que "a revolução ambiental tenha

coincidido com a contra-revolução neoliberal e o ressurgimento do mito do laissez-faire"(Sachs,

2007, p. 63), o que o levou a justificar a necessidade de uma ecosocioeconomia.

Esse termo surgiu na década de 70 com a obra do economista e ambientalista Karl William

Kapp e foi incorporada à discussão do ecodesenvolvimento que também ganhava fôlego na

década de 70 e cujo um dos percussores foi justamente Ignacy Sachs. A proposta da

ecosocioeconomia seria a de trazer para o debate do DS questões relacionadas a um

desenvolvimento mais integrado, combinando três pilares: eficiência econômica, justiça social e

prudência ecológica (Sachs, 2004). Esses três pilares apresentados por Sachs (2004) levariam ao

desenvolvimento mais equitativo dos países subdesenvolvidos, uma vez que, o critério

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econômico provocaria um rearranjo nas estruturas econômicas da sociedade ao integrar o meio

ambiente como dimensão do desenvolvimento; o critério social buscaria mitigar as disparidades

sociais, gerando maior equidade, justiça e valorização de comunidades locais; e o critério

ambiental colocaria o meio ambiente em uma condição central nas discussões, análises e ações de

desenvolvimento.

Essa noção teria como foco principal o crescimento endógeno, considerando os saberes

locais. De acordo com essa perspectiva, para o Terceiro Mundo se desenvolver seria necessário

que percorresse um caminho diferente daquele marcadamente industrial adotado pelo primeiro

mundo (Layrargues, 1998; Sachs, 2007). "Deveria engajar-se na pesquisa de modelos de

desenvolvimento endógeno, qualitativamente diferentes do norte-americano e europeu"

(Layrargues,1998, p.135). Nessa perspectiva, o quadro cultural, antes ignorado, tornar-se-ia

relevante, bem como os estilos de vida próprios de cada nação. O desenvolvimento passaria a não

ser apenas pela ótica da economia, mas traria como tema central a criatividade cultural e morfogênese

social (Cechin, 2010).

Outra discussão que a noção da ecosocioeconomia apresenta é sobre a perspectiva do

chamado “teto de consumo” (Sachs, 2007), na qual o nível de consumo dos países do Norte é tido

como insustentável. Tentar igualar o consumo dos países do Sul ao nível dos países do Norte

levaria o planeta a um colapso, sendo ideal aumentar o consumo dos países do Terceiro Mundo

ao passo que se diminui o consumo dos países de Primeiro Mundo até que se chegue ao ponto de

equilíbrio da biosfera (Layrargues, 1997; Sachs, 2007).

A CMMD visivelmente evita essa ótica, uma vez que aponta para o desenvolvimento de

novas tecnologias que minimizariam os impactos ambientais e permitiriam erradicar a pobreza,

levando os países a níveis menos desiguais de consumo, através do aumento do consumo e não na

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sua diminuição. Dessa forma, os países do Norte não seriam responsabilizados pela degradação

ambiental, sendo que o problema com o qual o desenvolvimento sustentável teria que lidar seria

apenas um: a “poluição da pobreza” (Layrargues, 1998). Fato é que o DS, em um primeiro

momento, foi aceito tanto pelo Sul quanto pelo Norte, devido a diferentes fatores e interesses.

Enquanto um, o Sul, buscava investimentos para mitigar a pobreza tão poluidora, o outro, o Norte,

queria omitir a poluição da riqueza. O grande desafio, segundo Layrargues (1997) aparecerá

quando chegar o momento em que o Sul terá que arcar com o ônus financeiro da recuperação

ambiental no futuro, uma vez que aceitou que a poluição vem, única e exclusivamente, da

pobreza, desonerando o Norte de suas responsabilidades pela geração de problemas ambientais.

Sachs (2007) acredita que a ecossocioeconomia é um noção altamente operacional,

exigindo para isso, que as culturas e os ecossistemas sejam reconhecidos, problematizando as

formas de produção local e seu relacionamento com o ambiente, de forma a compreender em

maior complexidade os dilemas e problemas enfrentados por cada população nos territórios.

Além disso, essa noção parte de um planejamento e da construção de estratégias dentro de um

processo participativo nos quais os cidadãos - detentores de maior saber local - possam participar

dos processos de tomada de decisões (Layrargues,1998).

A ecosocioeconomia vai além das proposições de acelerar ou diminuir o ritmo do

crescimento, significando alterar-se drasticamente os rumos da civilização. Considerando a

transição do liberalismo para o neoliberalismo, na qual o Estado intervém cada vez menos e os

mercados atuam de forma mais independente, a resposta para o aumento da competitividade e

também para a solução dos problemas sociais e ambientais estaria concentrada no mercado,

conforme postulam algumas abordagens sobre desenvolvimento sustentável. Já na noção da

ecosocioeconomia, a solução para os desafios sociais e ambientais não residiria apenas no

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mercado e na ação das organizações empresariais, mas sim na ação conjunta e participativa que

se daria a partir da articulação entre sociedade civil e Estado (Lélé, 1991; Layrargues, 1998;

Levésque, 2007).

Outra noção que se faz presente nas discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento e

que foi adotada como referência para essa pesquisa, é a da sustentabilidade. Essa terminologia,

com frequência, é confundida com o conceito de DS e ecosocioeconomia. A noção de

sustentabilidade tem sua origem nas vertentes ambientalistas a partir de duas correntes: (1)

conservacionista e preservacionista, difundida por filósofos, cientistas naturais e políticos no

século XIX; e (2) interior da corrente tradicional, porém, a partir da década de 60 passa por

mutações polissêmicas com a politização do tema e divide-se em duas concepções: (1) gestão

ambiental; e (2) ecologização do sistema social (Neder, 2002).

A primeira vertente, a do conservacionismo, vai de encontro às ideias iniciais sobre

sustentabilidade das Ciências Biológicas, que a aplicam a recursos renováveis, principalmente

aqueles que podem ser exauridos pela exploração descontrolada. A sustentabilidade para

exploração desses recursos está na ideia de que só é possível uma exploração permanente se

observados os ciclos naturais de renovação desses produtos (Barbieri, 2001; Neder, 2002). Para

os recursos não renováveis, como combustíveis fósseis e exploração mineral, a sustentabilidade

seria sempre uma questão de tempo, pois, obviamente, quanto mais racionados e menos

desperdiçados esses recursos forem, mais tempo durarão (Barbieri, 2001; Neder, 2002).

A segunda vertente define sustentabilidade como um processo de “ecologizar” o sistema

social, "obtendo uma soma positiva do planejamento local e global em torno de processos

produtivos sinérgicos ou afins aos ecossistemas" (Neder, 2002, p. 37). Nesse contexto, a

sustentabilidade dialogaria muito fortemente com a ecosocioeconomia, sendo considerada por

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autores como Neder (2002), como a mesma coisa. Essa vertente, assim como a ecosocioeconomia,

exigiria uma alteração nos hábitos de consumo humano, se contrapondo aos argumentos a favor

do caráter universalmente construtivo do crescimento econômico que defendem que o modelo

produtivista tem como virtudes a geração de emprego e o incentivo à inovação (Veiga, 2009;

Abramovay, 2012). Converge com a ideia de uma nova economia, em “cujo centro estejam os limites

da biosfera e a ética na tomada das decisões sobre o uso dos recursos (públicos, privados e associativos)”

(Abramovay, 2012, p. 65)

A sustentabilidade implicaria em uma visão holística sobre os sistemas do planeta,

buscando articular as dimensões social, econômica, ecológica, geográfica e cultural

simultaneamente nas discussões, análises e ações voltadas ao desenvolvimento. Para Sachs

(1993), essas cinco dimensões representariam respectivamente: (1) a melhoria dos direitos e

condições da vida humana, assim como, a diminuição da desigualdade social; (2) alocação e

gestão eficiente de recursos, avaliada mais pelos critérios macrossociais do que

microempresariais e por fluxos regulares de investimento público e privado; (3) redução do

consumo e da produção de resíduos, adoção de tecnologias limpas e regras claras que limitem a

exploração de recursos naturais; (4) melhor distribuição dos espaços territoriais, principalmente

em relação ao excesso de acumulação em áreas urbanas; (5) busca de concepções endógenas de

desenvolvimento que respeitem as particularidades de cada ecossistema, de cada cultura e cada

local.

Podemos considerar que, sendo o conceito de Sustentabilidade provindo da Biologia e da

Ecologia, cuja lógica é circular e includente, representaria a tendência dos ecossistemas ao

equilíbrio dinâmico, à cooperação e à coevolução, e responderia pelas interdependências de todos

com todos, garantindo a inclusão de cada um. Diferentemente das definições de DS e

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ecosocioeconomia, a sustentabilidade incorporaria em seu sentido o equilíbrio da natureza pela

natureza, saindo do foco antropocêntrico presente nas outras abordagens.

O DS, entendido, literalmente, como o desenvolvimento que pode ser continuado,

incorporou a discussão da sustentabilidade ecológica e o sentido integrador da ecosocioeconomia.

Entretanto, a interpretação que hoje dominaria o debate sobre DS, é a de que as formas

tradicionais de desenvolvimento podem ser mantidas uma vez que houvesse uma mudança

societal que englobaria os objetivos ou as restrições da sustentabilidade ecológica. Esses

objetivos ecológicos, somados aos objetivos tradicionais, poderiam reforçar-se mutuamente. Lelé

(1991) entretanto, questiona de que forma esses dois objetivos poderiam reforçar-se uma vez que,

no passado se anulavam. Como não cair novamente em contradição? Colaborando para esse

questionamento de Lélé (1991), Rattner (2010) contesta a incorporação da dimensão ambiental

nos projetos de crescimento econômico, considerando-os insuficientes para a melhoria da

qualidade de vida no planeta e, vai além, apontando para a necessidade de buscar-se padrões de

consumo e de produção determinados socialmente para que, dessa forma, se possa avançar sobre

a discussão de sustentabilidade fugindo dos padrões normativos. Assim, tanto para Rattner (2010)

quanto para Lélé (1991), sustentabilidade é uma perspectiva que é definida pelo consenso social e

reconhecem que a discussão sobre sustentabilidade deve responder três questões: (1) O que tem

que ser sustentado?; (2) Para quem?; e (3) Por quanto tempo?.

O Estado democrático seria um ator importante na transição dos modelos atuais para a

dinâmica da sustentabilidade, apresentando-se como uma sexta dimensão incorporada pela

sustentabilidade, pois, transcenderia a lógica de acumulação capitalista dos mercados fazendo

frente às multinacionais, aos processos subjacentes do comercio internacional e às

regulamentações ambientais internacionais (Acselrad, 2001; Barbieri, 2001; Abramovay, 2012).

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Dessa forma, a dimensão política da sustentabilidade associar-se-ia aos processos de

incorporação plena das pessoas no desenvolvimento local abrindo espaço para a prática da

cidadania, que por sua vez exigiria a manutenção de regimes democráticos e o aperfeiçoamento

de suas instituições.

2.2. A Política Ambiental no Contexto Brasileiro

O discurso ambientalista governamental brasileiro,

aponta a existência de duas matrizes discursivas sobre a questão ambiental: um

discurso ecológico oficial, enunciado pelo ambientalismo governamental, representante

da ideologia hegemônica e encarregado de manter os valores culturais instituídos na

sociedade; e um discurso ecológico alternativo, proferido pelo ambientalismo original

strictu sensu, corporificado pelo movimento social organizado, representante da

ideologia contra-hegemônica e encarregado de disseminar valores subversivos à

ordem social e econômica instituída.

PHILLIPE LAYRARGUES

O estabelecimento da política ambiental mundial e, consequentemente, da política

ambiental brasileira, está muito atrelado ao desenvolvimento do conceito de sustentabilidade. A

partir da evidência da crise ambiental ocorrida na segunda metade do século XX com a ampliação

dessas discussões pelas conferências da ONU e os relatórios resultantes desses encontros, assim

como os protestos populares crescentes acerca do tema, delimitou-se os princípios que definiram

as políticas ambientais em todo o mundo.

Um ponto de inflexão que merece destaque na institucionalização da política ambiental

brasileira verifica-se após a Conferência de Estocolmo em 1972, quando, no ano seguinte, o

Brasil cria a Secretária Especial do Meio Ambiente (SEMA) sob inspiração da Conferência de

Estocolmo e, principalmente, sob forte pressão internacional (Cavalcanti, 2004). Mas o maior

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passo em direção à política ambiental no país se deu em 1981, com a aprovação da Lei 6.938/81,

que estabeleceu uma Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), consequência dos trabalhos

da SEMA e de alguns grupos da sociedade civil organizada (Cavalcanti, 2004; Rezende, 2007).

Essa lei instituiu, além das bases legais, o arcabouço institucional para a formulação das políticas,

tanto em nível da União, quanto em níveis Estaduais e Municipais, criando, a partir dela, o

Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), tendo ligado a ele, o Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA) responsável por assessorar, estudar e propor ao órgão superior

diretrizes para políticas de meio ambiente e recursos naturais, além de deliberar sobre as

resoluções regulamentadoras (Cavalcanti, 2004; Rezende, 2007).

A Lei nº 6.938/81 "aceita o princípio do poluidor-pagador como a forma de se identificar

culpa e estabelece a obrigação de que quem causa prejuízo ambiental é responsável por repará-

lo." (Cavalcanti, 2004, p. 4). Além disso, criou instrumentos para a PNMA, como a Avaliação de

Impactos Ambientais (AIA) e o processo de Licenciamento Ambiental, uma exigência para

empreendimentos considerados efetivos ou potencialmente poluidores ou causadores de impactos

ambientais de nível elevado (Cavalcanti, 2004; Rezende, 2007). O Licenciamento Ambiental está

baseado no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O

AIA, por sua vez, seria um “conjunto de procedimentos adotados para permitir uma cognição

acerca do uso adequado do meio ambiente” (Rezende, 2007, p. 34). Dessa forma, procedimentos

como o Licenciamento Ambiental constituiriam formas para se chegar ao AIA.

Em 1988, a Constituição Brasileira “consagrou a proteção do meio ambiente em capítulo

específico [...], elegendo o desenvolvimento sustentável como um projeto nacional” (Hartmann,

2009, p. 35). Para Hartmann (2009), apesar da pressão pelo desenvolvimento fazer com que

muitos empreendimentos consigam encontrar lacunas na lei, foi a partir da introdução do assunto

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pela Constituição de 1988 que se pode equiparar o respeito ao meio ambiente aos direitos sociais

fundamentais. Da mesma forma, a obrigação de estudos prévios de impacto ambiental,

devidamente publicados, ganhou espaço em artigo constitucional, atrelando-se diretamente aos

impactos sociais gerados pelos empreendimentos (Hartmann, 2009).

As transformações político-institucionais e a ampliação de canais de representatividade dos

setores da sociedade civil organizados, principalmente, após a Constituição de 1988, aumentando

sua atuação junto aos órgãos públicos, mostram a potencialidade de construção de sujeitos sociais

identificados por objetivos comuns na transformação da gestão pública, associado à construção

de uma nova institucionalidade (Jacobi, 1999). Nesse sentido, a configuração desse novo

paradigma se concretizaria de forma efetiva através da ampliação e democratização das relações

de poder, práticas participativas de discussão das políticas públicas e compartilhamento das

informações e estímulo ao debate público sobre o significado social das ações desenvolvidas,

tendo em vista o caráter difuso e coletivo das questões socioambientais (Jacobi, 1999; Rodrigues,

Malheiros, Fernandes, Darós, 2012). No Brasil, os conselhos são as aberturas políticas

institucionalizadas para que haja a participação da sociedade nos processos de decisão por meio

de representação (Rodrigues, Malheiros, Fernandes, Darós, 2012)

Apesar disso, questões relacionadas aos processos políticos-estruturais e políticos-

procedimentais ainda apresentariam problemas significativos, especialmente, no que concerne o

Licenciamento Ambiental, conforme apontado por Zhouri (2008). O primeiro, de ordem político-

estrutural, se encontraria nos Conselhos de Política Ambiental (COPAM), que deveriam ser

espaços de consenso e, portanto, de boa governança. No entanto, o que se observaria seriam

processos de oligarquização do poder deliberativo e de juridicialização do campo ambiental ao se

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controlar o ingresso de novos membros, concentrando o poder de decisão em uma minoria, que,

não raras as vezes, desempenham o mesmo papel por anos (Carneiro; 2003; Zhouri, 2008).

O capital específico do campo é caracterizado pela formação e pela reputação técnica e/ou

científica dos agentes, pela “representatividade” de determinado segmento da sociedade e,

finalmente, pelas relações pessoais. Há nessa dinâmica uma circulação de posições dos

atores, ora em cargos públicos deliberativos, ora como consultores ambientais e mesmo

como empreendedores. Tal círculo vicioso evidencia o mecanismo pelo qual se dá a

perpetuação de uma visão dominante acerca dos recursos naturais, ou seja, da apropriação

sempre capitalista da natureza. (Zhouri, 2008, p.100)

O segundo, de ordem político-procedimental, se encontraria na marginalização de

comunidades atingidas durante o processo de Licenciamento Ambiental. De acordo com Zhouri

(2008), a falta de transparência no processo de licenciamento seria um dos principais empecilhos

à participação da população. O conhecimento prévio, aprofundamento dos projetos e

acompanhamento desde a fase inicial de planejamento representam formas e oportunidades de

inclusão das comunidades no processo participativo para tomada de decisão (Zhouri, 2008).

Apesar de esses procedimentos estarem previstos em lei, o que se assistiria é à ausência de

mecanismos institucionais que considerem, de fato, a demanda e o conhecimento das

comunidades locais na caracterização dos impactos socioambientais dos empreendimentos. Não

raras as vezes, as comunidades são comunicadas no estágio avançado dos empreendimentos,

quando acordos e intervenções já foram feitos entre empresas, poder público e organizações da

sociedade civil. Dessa forma, sem conhecimento sobre as reais dimensões dos projetos, as

comunidades não teriam informações suficientes para um posicionamento frente às propostas

(Zhouri, 2008).

Considerando que o município é o nível de governo mais próximo da população, a

participação deveria ir além daquela representativa nos conselhos, utilizando-se de maneira mais

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efetiva outros canais disponíveis à população que podem facilitar a participação, como, a Câmara

de Vereadores, Associações de moradores, Fóruns Locais, e outras entidades não-governamentais

que podem atuar juntamente com o poder público para o cumprimento da política local de

proteção ao meio ambiente (Rodrigues et. al. 2012). Nesse contexto, a percepção da população se

tornaria um importante aliado para o poder público local na gestão das políticas socioambientais

locais.

Entretanto, Zhouri (2008) aponta que a sociedade chamada a participar é aquela intitulada

como organizada. Mas essa sociedade organizada, seria composta por participantes “capacitados”

dentro dos moldes eleitos pelos segmentos dominantes, detentores de conhecimentos técnicos,

linguagem de projetos e domínio de língua estrangeira (Zhouri, 2008). Porém, conforme

apontado por Leff (2009), o saber ambiental não estaria relacionado ao conhecimento da biologia

e da ecologia e não trataria apenas do saber a respeito do ambiente, sobre as externalidades das

formações teóricas centradas em seus objetos de conhecimento, trataria sim, da construção de

sentidos coletivos e identitários que formam múltiplos significados culturais na perspectiva de

um futuro sustentável.

A compreensão do ser no saber, a concentração das identidades nas culturas, incorpora um

princípio ético que se traduz em diretriz pedagógica; para além da racionalidade dialógica,

da dialética entre fala e escuta, da disposição para compreender e colocar-se no lugar do

outro, a política da diferença, a ética da outredade e a hibridização de identidades levam a

interiorizar o outro em um, no jogo de mismidades que introjetam outredades sem renunciar

ao seu ser individual e coletivo. As identidades híbridas que assim se constituem não são a

expressão de uma essência, tampouco na entropia do intercâmbio subjetivo e comunicativo.

Elas emergem da afirmação de seus sentidos diferenciados frente a um mundo

homogeneizado e globalizado (Leff, 2009).

Para Spink (2001), quando se fala em poder local, ambiente local, comunidade local, saber

local esbarra-se nas tecnoburocracias empresariais e públicas que considerariam o local “como

parte intrínseca de uma lógica de ordenação de espaço — construído e produzido num dado

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processo socioeconômico — que automaticamente o subordina a algo maior” (Spink, 2001, p.

15). Dessa forma, Spink (2001) traça um paralelo com o termo descentralização, cujo uso muitas

vezes é uma forma sutil de valorizar o centro. Assim, volta-se à problemática do todo e das partes

e à dificuldade de se focalizar no menor sem a tutela do maior (Spink, 2001).

O Brasil, desde a década de 30, adota uma postura desenvolvimentista, apropriando-se do

discurso da lógica do desenvolvimento econômico, justificando práticas social e ambientalmente

insustentáveis. Conforme discutido acima, os países em desenvolvimento adotaram e muitos

ainda adotam uma postura na qual reivindicam o seu direito de desenvolver-se economicamente

assim como os países desenvolvidos. O Brasil encabeça essa discussão e adota políticas

conservadoras de desenvolvimento econômico que teriam reduzido o meio ambiente e a justiça

social “ao estatuto de barreiras ao desenvolvimento” (Zhouri, Laschefski & Pereira, 2005, p.5).

Para que alcancemos um planejamento do desenvolvimento efetivamente sustentável ainda temos

que avançar muito como gestores públicos e privados e cidadãos.

2.3. Territórios e Sustentabilidade

A primeira condição para aqueles que partem de uma ideologia – que é o meu caso —, é oferecer

claramente os termos do debate que desejam. Se não o proclamo, fujo à discussão, evito-a,

impeço que debatam comigo. Há que definir por conseguinte essas duas palavras:

o território e o dinheiro.

MILTON SANTOS

A definição do que é território impulsiona uma discussão complexa sobre seus conceitos.

Milton Santos, uma das principais referências nessa discussão, acredita que território é "o lugar

em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as

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fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da

sua existência" (Santos, 1999a). Para o autor, o território não pode ser entendido apenas pelo

conjunto de sistemas naturais e de coisas superpostas, mas sim como território usado, ou seja, o

chão mais a identidade, e identidade entendida como "o sentimento de pertencer àquilo que nos

pertence" (Santos, 1999a, p.8). O território, portanto, "é o fundamento do trabalho, o lugar da

residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida" (Santos, 1999a, p.8). Para

Saquet (2011), é preciso compreender a dialética no e do território entre o concreto e o abstrato,

superando o que é visível, o que está apenas no nível do concreto. Saquet (2011) afirma que a

abstração é imprescindível para se compreender o território e, para isso, as formas e os conteúdos

dos territórios precisam ser expressos no pensamento.

De acordo com Santos (1999b), a ciência política acabaria por ignorar o território, uma vez

que o entenderia, na maioria das vezes, apenas a partir da divisão entre estados e municípios, mas

não do conteúdo social nele inserido. Trata esse conteúdo de maneira quantitativa, medindo-o

através de estatísticas, e excluí o dinamismo socioterritorial, que, segundo o autor, são formas-

conteúdo relacionados à existência fazendo com que o território deva ser visto sempre como algo

em constante processo (Santos, 1999b). É o território que constitui o traço de união entre o

passado e o futuro imediatos e deve ser visto como um campo de forças, como o lugar do

exercício, de dialéticas e contradições entre o vertical e o horizontal, entre o Estado e o mercado,

entre o uso econômico e o uso social dos recursos (Santos 1999b). O território poderia ser

entendido como uma construção social, a partir das diferentes formas de uso e apropriação do

espaço geográfico (Saquet, 2011). Dessa forma, o território traz em si os contextos históricos e

relacionais, formados a partir das relações de poder que ali se estabelecem, porém, envolvendo as

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redes de circulação e comunicação, a natureza exterior ao homem, as diferenças, as desigualdades

e as identidades culturais e identitárias (Saquet, 2011).

Em relação ao uso econômico do território com a expansão cada vez maior das instalações

das multinacionais o dinheiro a circular nos territórios começa a ser cada vez mais o dinheiro

global (Santos, 1999a). O autor levanta uma questão importante apontando que o dinheiro "cria

sua lei e a impõe aos outros, forçando mimetismos, adaptações, rendições, a partir de duas outras

lógicas complementares: a das empresas e a dos governos mundiais" (Santos, 1999a, p.11). Dessa

forma, a lógica do dinheiro das empresas seria a da competitividade, que faz com que qualquer

empresa que busque o universo global aumente sua esfera de influência e de ação para se

expandir, e isso transforma qualquer lugar, por mais insignificante que pareça ser, em uma peça

fundamental no mundo da competitividade (Santos, 1999a). Para que essa lógica da

competitividade empresarial funcione plenamente, é preciso apoiar-se nos governos mundiais

como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, bancos internacionais regionais, como o

BID, pelo consenso de Washington, pelas Universidades centrais produtoras de ideias de

globalização e pelas Universidades subalternas que aceitam reproduzi-las, já os Estados podem

optar por atender os reclames da sociedade uma vez que, as multinacionais escolhem lugares, em

função das respostas que imaginam poder ter e desertam esses lugares quando descobrem que já

não podem mais oferecer tais respostas (Santos, 1999a).

O que estaria em jogo seria a ampliação do poder e a utilização cada vez maior do espaço

da natureza socializada (Santos, 1999a). Essa relação entre a natureza e a sociedade poderia ser

entendida como o suposto da produção do homem, que, através de suas ações sobre ela, acabaria

por provocar alterações e modificações deste espaço e do próprio homem, refletindo na

reprodução social e na construção da paisagem (Machado & Saquet, 2011). A paisagem não

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seria, no entanto, algo estático, como um quadro que congela as externalidades sociais e da

natureza (Machado & Saquet, 2011). Ela seria, em uma determinada porção do espaço, "o

resultado da combinação dinâmica, portanto, instável, de elementos físicos, biológicos e

antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto

único e indissociável, em perpétua evolução" (Bertrand, 1971, p.2). A paisagem deve ser

entendida como a expressão concreta da relação entre sociedade e natureza destacando-se as

dimensões históricas e temporais, ou seja, analisar suas transformações com base no tempo e na

história (Bertrand, 1998; Machado & Saquet, 2011).

Levando-se em consideração essa abordagem, a análise do território pode e deve ser

somada às dinâmicas da paisagem, uma vez que esta serviria de instrumento de diálogo, com o

qual, busca-se entender a diversidade e como as pessoas se organizam, constroem sua identidade

e representam seu espaço (Machado & Saquet, 2011). “Uma paisagem é uma escrita sobre a

outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes

momentos” (Santos, 1997, p. 66). O real do território e do desenvolvimento estaria em suas

contradições e unidades dialógicas, fundindo-se entre as relações sociais, sociais-naturais,

sociais-espirituais, em conflitos, contradições e interações, contendo em si heterogenias,

mudanças, permanências, desigualdades, diferenças e identidades (Saquet, 2011).

Quando se pensa em território como demarcações geográficas que abrigam sistemas

humanos e ecossistêmicos complexos, um jogo de oposições é evidenciado a partir de uma

racionalidade imposta sobre as outras formas de ações e saberes ligados ao uso e apropriação da

natureza (Floriani, Ríos & Floriani, 2013). Tal jogo conflitivo refletiria as formas como o modelo

hegemônico de produção e consumo do espaço é planejado para ser, em sua ação individual,

forçosamente indiferente ao seu entorno (Floriani et. al., 2013; Santos, 2009). Esse modelo

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ancora-se na visão hegemônica, tanto nas teorias de sociedade quanto nas ciências da natureza, da

independência das populações frente aos territórios, refletindo um processo político de

construção social de espaço e tempo (Floriani et. al., 2013).

Esses modelos fundamentar-se-iam na forma de “conceber o espaço como estático, através

do tempo, como representação, como um sistema fechado, e assim por diante, são todos modos

de subjugá-lo” (Massey, 2008, p. 94). Assistimos à perturbadora hegemonia de um tipo de cultura

científica sobre velhos paradigmas de análise da realidade social. Conforme Boaventura de Sousa

Santos (1988) afirma:

[…] todos os conceitos com que representamos a realidade (a sociedade, o estado, o

indivíduo e a comunidade, a cidade e o campo, as classes sociais, etc...) têm uma contextura

espacial física e simbólica, que nos tem escapado pelo fato de nossos instrumentos

analíticos estarem de costas viradas para ele, mas que, vemos agora, é a chave para a

compreensão das relações sociais de que se tece cada um desses conceitos. Sendo assim, o

modo como imaginamos o real espacial pode vir a tornar-se a matriz das referências com

que imaginamos todos os demais aspectos da realidade (Sousa Santos, 1988, p.141).

Não obstante, o território se oporia à plenitude dessa hegemonia, além das racionalidades

típicas que atravessam o território, o espaço vivido admitiria a presença de outras racionalidades

(e irracionalidades) cujo âmago são priorizadas formas de convivência e regulação criadas a

partir do próprio território, a despeito da vontade de unificação e homogeneização que

caracterizam a racionalização econômico-instrumental do espaço (Floriani et. al., 2013). Ao se

colocar os dispositivos da ação-cognição humana nessas bases, se abriria a possibilidade do não

aprisionamento de antemão na rigidez de um esquema mental que tende a impedir e reconhecer a

ocorrência de emergências, de incertezas e de ambiguidades pela ação humana no interior dos

processos sociais. Com isso, a própria criatividade desafiadora poderia operar a partir de um

sistema de racionalidade aberto (Floriani et. al., 2013).

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A instauração de uma “imaginação espacial alternativa” permitiria pensar o espaço

abertamente, como multiplicidades discretas, nos quais os elementos estão impregnados de

temporalidades, isto é, como multiplicidades contemporâneas de outras trajetórias e vozes, cuja

interpretação requer “uma mentalidade aberta à subjetividade espacializada” (Massey, 2008, p.

93). Trata-se, portanto, de defender um modo de ser e pensar diferentes, a partir de uma

imaginação e de uma atitude capazes de propiciar o desenvolvimento potencial de uma

mentalidade aberta à subjetividade praticada, isto é, à vivência do espaço enquanto experiência de

multiplicidades de coisas e de relações (Floriani, et. al., 2013). Em outras palavras, a vivência do

espaço deveria ocupar uma das posições de destaque no estudo da relação sociedade-natureza, a

partir de um novo paradigma para pensar a sociedade-espaço: o paradigma da cultura, que

negaria os antigos modelos, porque nenhum deles consegue dar conta dos sujeitos emergentes,

cujas ações estariam centradas não apenas na política ou na sociedade, mas também na cultura

(Floriani et. al., 2013). A cultura, interpretada pelo viés do espaço geográfico, não pode ser

separada da ideia de território e paisagem, pois seria pela existência de uma cultura que se criaria

um território. E é por ele que se exprimiria a relação simbólica existente entre a cultura e o

espaço e identidade de um grupo social (Bonnemaison, 2002; Floriani, et. al., 2013).

Nessa abordagem da geografia, os estudiosos reconhecem que as paisagens materiais não

são neutras, mas refletiriam as relações de poder e as ‘dominantes maneiras de ver’ o mundo.

Com isso, a paisagem passaria a ser entendida não apenas como resultado das interações

materiais entre sociedade e meio ambiente, mas como consequência de uma maneira específica

de olhar, passando a ser concebida como uma imagem cultural (McDowell, 1996; Floriani, et. al.,

2013). De acordo com Floriani et. al. (2013), entre os homens e suas paisagens existiria

efetivamente uma conivência secreta, da qual o discurso racional científico, dissecador e

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classificador não pode dar conta. A paisagem seria ao mesmo tempo o seu prolongamento e o seu

reflexo (Floriani, et. al., 2013).

A partir daí, entramos em outro constructo desenvolvido fundamentalmente pelos estudos

no campo da geografia: o topocídio. Este termo definiria a aniquilação deliberada dos lugares.

Essa aniquilação decorreria de uma posição ideológica e cultural frente ao ambiente que é

transformado (Santos, & Machado, n.d.; Tuan, 1980). Se agora paisagens são entendidas como

reflexos sociais e culturais dos homens, qual o real impacto de empreendimentos que alteram essa

paisagem? Nessa visão, os impactos iriam além da natureza, afetando a expressão mais clara de

apego, cotidiano e sentimentos que explicam uma série de experiências pessoais e íntimas para

com o território (Santos, & Machado, n.d.; Tuan, 1980).

Esse fator por si só já seria um forte gerador de conflitos entre as empresas e a sociedade,

somado à falta de transparência por parte das empresas, as resistências frente aos

empreendimentos que causariam fortes alterações nas dinâmicas do território se intensificam. Por

não terem interesse em lidar com conflitos, as empresas, numa tentativa de neutralizá-los,

causariam um outro impacto, ao que Acselrad e Bezerra (2009) denominam de “chantagem

locacional” ou “chantagem de localização/deslocalização”. As estratégias territoriais de capital,

dotadas de mobilidade potencial acrescida às empresas, aprisionaria parcelas importantes das

populações locais na “alternativa” de promessas de emprego e renda (Acselrad & Bezerra, 2009).

Esse aumento da mobilidade do capital seria, então, um dos “pivôs” dos conflitos ambientais

locais por “desregulação” nas áreas dos investimentos, assim, observar-se-ia um cenário de

“denúncias e resistências à despossessão ambiental de populações locais, observada em áreas de

expansão de fronteira capitalista, ou à imposição de riscos ambientais aos grupos sociais mais

destituídos, em áreas de ocupação intensa” (Acselrad & Bezerra, 2009, p. 3).

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Atores da resistência acabariam entrando em embate, não apenas com as empresas

geradoras dos conflitos, como também com parcelas da população interessada nas promessas de

desenvolvimento. As empresas, portanto, ganham uma força a mais, sendo suas pressões podendo

se dar através de dois meios: (1) pela ameaça de retirada do investimento para outro local; ou (2)

pela ameaça de que não se aceitando o empreendimento tal como a empresa o deseja, nenhuma

outra atividade irá ali ser implantada (Acselrad & Bezerra, 2009). Com a imposição dessas

condições, os empreendimentos acabam tornando-se ““quase-sujeitos” das políticas de regulação

dos territórios e “quase-sujeitos” dos limites de aceitabilidade dos riscos para a própria população

local” (Acselrad & Bezerra, 2009, p.4).

Em síntese, no processo da chantagem locacional, a população tenderia a submeter-se à

essa manipulação por ter um poder de barganha restringido pelas condições econômico-sociais

débeis em que vive, ficando, assim, cada vez mais sujeita aos riscos socioambientais dos

empreendimentos. Estaria em vigor, segundo Acselrad & Bezerra (2009), uma “divisão

socioespacial da degradação ambiental” reduzindo o potencial socioprodutivo de várias

comunidades e, consequentemente, seu bem-estar socioambiental. O próprio poder público

estaria legitimando a atração locacional chantagista de investimentos, oferecendo uma série de

benefícios, seja em recursos físicos ou fiscais, e estimulando inclusive uma “guerra predatória

regional”.

Os impactos sobre as comunidades locais podem ir além da atividade fim das empresas,

sendo causados também pelas próprias contrapartidas ambientais exigidas pela legislação

ambiental no processo de licenciamento, como é o caso das Unidades de Conservação ou dos

Parques Ecológicos. No caso da mineração, por exemplo, exige-se que uma área semelhante

àquela a ser minerada seja destinada para a conservação ambiental. Entretanto, se essas áreas

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forem espaços utilizados por comunidades tradicionais locais para suas atividades de

subsistência, um novo conflito pelos espaço se manifestaria, pois, restringiria os direitos ao uso

daquela terra (Diegues, 1996).

Por construírem uma relação simbólica com o espaço, sendo ali, o meio pelo qual

desenvolvem seu trabalho, suas relações sociais e manifestações culturais, a restrição do uso da

terra implicaria na impossibilidade de continuar existindo como grupo social, portador de uma

cultura e de uma relação específica com a natureza (Diegues, 1996). O Estado ao conduzir a

criação desses espaços, age em favor dos interesses das sociedades industriais que passam a

utiliza-los como áreas de exploração do turismo, em grande parte voltado para a parcela da

sociedade que vive nos centros urbano-industriais, ou criando áreas restritas como contrapartida

ambiental das empresas que as utilizam sob o discurso das práticas de RSE.

Na verdade, o que está implícito é que as comunidades tradicionais rurais deveriam

"sacrificar-se" em prol do "direito" das sociedades urbano-industriais em usufruírem de espaços

naturais de lazer, em contato com a natureza (Diegues, 1996). Ou ainda, legitimando o modo de

produção predatório e insustentável enquanto houverem áreas para contrapartidas ambientais. A

experiência tem mostrado que os proprietários individuais ou as empresas tem degradado esses

recursos naturais dentro de suas propriedades e que o próprio Estado tem criado políticas

degradadoras do meio ambiente (Diegues, 1996).

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2.4. Empresas e Territórios

2.4.1 A abordagem da Nova Sociologia Econômica

Qual deverá ser o fim do homem e como ele deverá escolher seus meios?

O racionalismo econômico, no senso estrito, não tem resposta a essas perguntas,

pois implicam motivações e conceitos de valor de uma ordem moral

e prática que vão além da exortação irresistível, conquanto vazia, de ser

‘econômico’

KARL POLANYI

A Nova Sociologia Econômica (NSE) ganhou fôlego a partir da década de 80, tendo origem

na sociologia econômica de Weber, Durkheim e Marx, voltando seu interesse para as bases

deixadas pelos seus precursores, ou seja, os estudos dos fenômenos econômicos à luz de uma

abordagem sociológica (Abramovay, 2004; Serva & Andion, 2006; Levèsque, 2007). A

sociologia econômica nessa década, por meio de suas diferentes correntes, passou então a se

contrapor aos fundamentos da ciência econômica neoclássica na tentativa de demonstrar que o

mercado e os demais fenômenos econômicos são construções sociais (Serva & Andion, 2006).

Os pressupostos e noções que configuram as análises da NSE, entretanto, não se definem de

maneira unanime, surgindo diversas vertentes no interior de seu campo epistemológico. Essa

diversidade pode apresentar uma dicotomia: se por uma lado se configura como um aspecto

preocupante por gerar o risco de ruptura interna ou um novo “adormecimento”, por outro, tal

configuração atesta a riqueza do movimento, ensejando debates vigorosos e constituindo rica

fonte de energia para seu próprio avanço (Serva & Andion, 2006). Para melhor entender o campo

atual da sociologia econômica, é importante realizar algumas distinções entre os seus

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representantes destacando-se a clivagem entre os autores clássicos, que deram origem ao campo e

construíram as suas bases – Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Tornstein Veblen,

Vilfredo Pareto, Joseph Schumpeter, Marcel Mauss e Karl Polanyi – e os autores que,

principalmente após a década de 1980, constituíram a sociologia econômica contemporânea. Sob

o guarda-chuva desta última, se incluem várias correntes e autores (Serva & Andion, 2006;

Levèsque, 2007), destacando-se as abordagens francesas e inglesas, conforme figura 2:

Figura 2. Abordagens Francesa e Inglesa da NSE Nota.Fonte: Levésque, B. (2007). Contribuição da nova sociologia econômica para repensar a economia no sentido

do desenvolvimento sustentável. Revista de Administração de Empresas, 47 (2), pp. 60.

A abordagem francofônica relacionar-se-ia à sociologia e antropologia, representada pelo

Movimento Anti-Utilitarista nas Ciências Sociais (MAUSS), economia solidária e plural, escola

da regulação e abordagem das convenções (Serva & Andion, 2006; Levésque, 2007). Os autores

dessas correntes, além de realizarem uma crítica aos pressupostos da economia neoclássica,

fazem também propostas em termos de transformação social, redefinindo o que deve ser

entendido por atividade econômica e buscando responder aos desafios colocados pelos novos

contextos da modernidade.

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Por outro lado, se enquadram os trabalhos dos autores de língua inglesa no campo da NSE,

com destaque para o institucionalismo e a socioeconomia (Serva & Andion, 2006; Levésque,

2007). Na sua maioria, os estudos elaborados por essas correntes anglosaxônicas se contraporiam

à economia neoclássica, mas não se concentrariam em propor alternativas contundentes. Nesse

espectro, buscariam mostrar que as teses neoclássicas seriam reforçadas, mesmo em seu domínio

mais central, se lhes fossem acrescentadas uma perspectiva sociológica dialogando com os

autores da economia (Granovetter, 1994).

Existem diversas correntes no âmbito da sociologia econômica, cada uma delas com seus

conceitos centrais, suas opções de pesquisa, seus autores e obras-chave. Entretanto, pode-se

observar que tais correntes têm em comum o fato de realizarem uma crítica aos fundamentos da

economia neoclássica e de partirem do pressuposto de que os fenômenos econômicos são

essencialmente uma construção social. Swedberg (2004) descreve a sociologia econômica como

o conjunto de teorias que se esforçam para explicar os fenômenos econômicos a partir de

elementos sociológicos. Segundo Fligistein (1996, p. 8), “diferentemente dos clássicos, a

moderna sociologia econômica dos mercados raramente conecta as suas ideias teóricas a uma

visão de sociedade ou à mudança social. Ao contrário, a maioria dos estudos enfoca o seu objeto

empírico e a literatura no qual ele está inserido” (Fligstein, 1996, p. 8). Os pressupostos centrais

da NSE afirmam que “toda ação econômica é uma ação social; a ação econômica é socialmente

situada; e as instituições econômicas são construções sociais” (Serva & Andion, 2006, p. 13).

Tais pressupostos confirmam a importância da dimensão sociológica e se contrapõem a uma

visão eminentemente utilitarista dos fenômenos econômicos.

Levèsque (2007) aponta para algumas hipóteses que guiam as pesquisas no campo da NSE,

destacando-se aquela relacionada à chamada “sociedade de risco”, conforme a entende Ulrich

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Beck. O aumento dos riscos na vida social contemporânea poderia chegar ao ponto de que os

atores sociais não hesitariam mais em falar dos riscos ambientais, o que poderia levar a discussão

da sustentabilidade ao centro das preocupações. O crescimento dos riscos revelaria os limites da

racionalidade tecnocientífica e a necessidade de uma racionalidade social e ética, “se quisermos

que o futuro não seja moldado por cegos” (Levèsque, 2007, p. 50).

Mudanças constantes, manutenção da estabilidade e da capacidade de permanecer frente a

transformações inesperadas seriam princípios paradoxais necessários para compreender todos os

sistemas em nosso planeta, sejam eles indivíduos ou coletivos (Ruiz-Ballesteros, 2011). A chave

para o sucesso da gestão de processos de mudanças com vista a atingir a sustentabilidade residiria

na capacidade de resiliência, o que evitaria a dissolução do desenvolvimento circundante. Este

não significaria resistência a uma mudança inerente ou estabilidade total - o que seria impossível

-, mas sim se constituir ao mesmo tempo como remanescente e em mudança. Este é o paradoxo

que definiria a realidade (Ruiz-Ballesteros, 2011). O chamado “processo de resiliência” dos

territórios se interessa pela redução da vulnerabilidade das populações através da gestão de risco,

estimulando o debate sobre a formulação de novas políticas públicas. Isso levaria as Ciências

Sociais a investigar a evolução e a eficácia das políticas públicas, problematizar as inovações

introduzidas pelo termo resiliência na compreensão dos riscos e buscar novas formulações

conceituais e metodológicas para a análise dos territórios (Metzger & Robert, 2013).

No campo dos riscos e da preparação anti-desastres, o termo resiliência encontra sua

origem na psicologia e na ecologia. Desde meados do século XX, pesquisadores do campo da

psicologia têm trabalhado com a questão da resiliência para descrever as capacidades e

fenômenos psíquicos que permitiriam a um indivíduo recuperar sua integridade psicológica após

sofrer um estresse traumático. A ecologia por sua vez, adotou a resiliência como questão central

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da evolução dos ecossistemas silvestres, constituindo-a como uma das referências para a

mitigação dos riscos ambientais. Posteriormente, o termo resiliência encontra a Economia, mais

especificamente o mercado financeiro, na busca de uma teoria geral que pudesse integrar

sociedade e meio ambiente (Metzger & Robert, 2013). O termo resiliência, portanto, passa a ser

tratado como a capacidade de adaptação, constituindo-se em uma forma de gestão de sistemas

complexos frente a quaisquer riscos, choques ou perturbações, permitindo assim, a evolução dos

sistemas e seu fortalecimento, evitando colapsos e bifurcações (Metzerger & Robert, 2013; Ruiz-

Ballesteros, 2013).

Incorporar as premissas da NSE, associadas às noções de resiliência dos territórios nos

permite ampliar o olhar sobre as dinâmicas entre atores da sociedade civil, Estado e mercado em

torno das questões ambientais. Essa perspectiva teórica permite uma análise mais complexa das

possibilidades, riscos, contradições e armadilhas da busca pela sustentabilidade dos territórios.

Além disso, reconhece o poder de diferentes atores, não apenas aqueles do mercado, nas

interações das quais resultam os processos de sustentabilidade e insustentabilidade dos territórios.

2.4.2 Novos olhares sobre a Responsabilidade Social Empresarial

Colocar a ética e o respeito aos ecossistemas no centro das decisões econômicas exige a ruptura com a

maneira como os mercados são encarados pela esmagadora maioria da ciência econômica

e, portanto, com essa rígida separação entre economia e sociedade,

como se a primeira fosse a expressão exclusiva dos interesses privados

e só a segunda exprimisse a esfera pública.

RICARDO ABRAMOVAY

A partir da década de 60, as questões ambientais começam a ganhar força, conforme visto

anteriormente. Nesse cenário de contestações as empresas passaram a ser alvo de movimentos da

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sociedade civil que exerceram sob elas pressões, especialmente relacionadas à poluição,

desemprego, consumo e descriminações, entre outras (Kreitlon, 2004). É nesse contexto que a

conduta ética das empresas começa a ser debatida por um olhar mais crítico, questionando-se sua

responsabilidade para além de seus portões. O dogma segundo o qual as empresas devem

consagra-se, exclusivamente, à maximização de seus lucros começa a ser questionado por vários

movimentos de contra-cultura (Kreitlon, 2004).

Segundo Kreitlon (2004), esse questionamento ético e social das empresas existe desde os

primórdios do capitalismo, fato confirmado por obras de Engels e Marx, por exemplo. Entretanto,

a partir da década de 60, essa problemática ganha força justamente em uma época em que o sistema

capitalista encontrava-se sob críticas acirradas. A temática suscitou uma grande variedade de

discussões teóricas, tendo acabado por institucionalizar-se durante os anos 80 sob a forma de três

correntes básicas, a saber: (1) Ética nos Negócios (Business Ethics); (2) Negócios e Sociedade

(Business& Society); e (3) Gerenciamento das Questões Sociais (Social Issues Management)

(Kreitlon, 2004).

A primeira corrente, Ética nos Negócios, ressaltaria a relevância dos valores e julgamentos

morais dos atores econômicos, muitas vezes entendidos como indivíduos inseridos nas

organizações, e em sua capacidade e responsabilidade em assumir deveres morais. Apesar de

vários autores dessa corrente considerarem diferentes perspectivas dos estudos éticos na filosofia,

a presença de abordagens normativas a partir de imperativos categóricos é marcante nas

discussões. Outra característica dessa abordagem seria a centralidade atribuída à formação moral

dos gestores como estratégia para a difusão de práticas de responsabilidade social empresarial.

Dessa forma, faz-se uma contraposição à mão invisível dos mercados e à regulação da “mão do

governo” (Galbraith, 1986), perspectivas que rejeitam o fato de as empresas poderem ter

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julgamento moral independente (Teodósio, 2008). Para Weiss (1995), essa parece ser uma das

grandes debilidades dessa corrente, na medida em que não reconhece que valores e instituições

são socialmente construídos, “acabando paradoxalmente por consolidar os fundamentos do

mercado e suas dinâmicas de racionalidade auto-interessada como pilares inquestionáveis da

sociedade contemporânea” (Teodósio, 2008, p. 73).

A segunda corrente, Negócios e Sociedade, reconhece que as instituições sociais permeiam

e dão sentido às atividades empresariais. Nesse sentido, pressupõe-se que a legitimidade

empresarial advém dos papéis que exercem e das expectativas que provocam junto à sociedade.

Diferentemente de algumas abordagens da primeira corrente, essa assume caráter eminentemente

sociopolítico, sendo a sociedade é trazida para o primeiro plano das discussões e deixando de ser

assumida como mera beneficiária das virtudes morais desenvolvidas pelas empresas (Kreitlon,

2004; Teodósio, 2008).

A terceira corrente, Gerenciamento das Questões Sociais, fundamenta-se nitidamente no

utilitarismo, com destacada concepção instrumental da RSE (Teodósio, 2008). Essa corrente é

apoiada por três pressupostos: (1) a empresa pode tirar proveito de vantagens do mercado se

antecipando a mudanças de valores da sociedade; (2) posturas e ações socialmente responsáveis

se constituem em vantagens competitivas para as corporações; e (3) a proatividade permite a

antecipação de mudanças na legislação e nas exigências de diferentes formas de controle social,

trazendo impactos positivos para o empreendimento a longo-prazo (Jones, 1996; Teodósio,

2008). Dessa forma, essa abordagem apresenta concepções que vão de encontro ao pensamento

neoclássico, na medida em que reafirmam que o único interesse legítimo da empresa é perseguir

seus próprios interesses, o crescimento e a lucratividade, e consolidam a ideia de que os atores

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econômicos são movidos pelo estrito auto-interesse, racionalidade instrumental e sentido de

utilidade (Logsdon e Palmer, 1988; Teodósio, 2008). Como sintetiza Teodósio (2008):

[...] enquanto a primeira corrente seria a precursora desse campo de estudos, com marcada

natureza normativa, a segunda vertente procuraria incorporar variáveis sócio-políticas e

contratuais (no sentido de interações sociais), ao passo que a terceira perspectiva focaria

suas análises na gestão estratégica da ética empresarial, com forte caráter instrumental.

(Teodósio, 2008, p. 85).

Esse processo não necessariamente resultou em avanços em termos de cidadania e da

sustentabilidade, bem como não pôde ser percebido de forma homogênea em todos os lugares,

pois, cada campo organizacional possui dinâmicas e repostas diferentes aos desafios que enfrenta

em cada território (Gonçalves-Dias, Teodósio & Barbieri, 2007). Mas a regulação legal e pressão

social, somadas ao desejo de melhoria da reputação organizacional e diminuição dos riscos,

diferenciação e busca por segmentos específicos de mercado e a internalização das questões

socioambientais por conta das pressões externas, estariam impulsionando as organizações à um

processo de mudança, ainda que, permeado de contradições, idas e vindas e em uma velocidade

muito aquém do necessário para a sustentabilidade (Gonçalves-Dias, Teodósio & Barbieri, 2007).

Esse debate sobre a RSE, que tem incitado diversas abordagens conceituais que partem de

campos e princípios distintos sobre os questionamentos éticos e sociais das empresas, muitas

vezes adotam elementos conceituais de variadas vertentes, não constituindo, portanto, em um

campo de pesquisa unificado e independente (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011). Esse fato

acaba promovendo críticas às teorias de RSE pelos adeptos à Teoria de Maximização de Riqueza,

uma vez que as consideram conceitualmente frouxas e agregam muitos atores as dinâmicas

empresariais sem explicar como os conflitos entre esses diferentes atores deveriam ser resolvidos,

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deixando o executivo sem qualquer princípio para tomada de decisões e avaliação de

desempenho, valendo a lei das preferências pessoais (Silveira, Yoshinaga & Borba, 2004).

Essa argumentação tem fundamento na abordagem Neoclássica do economista Milton

Friedman (1970) que, baseando-se na teoria da “mão-invisível” de Adam Smith, afirmava que há

uma e apenas uma RSE, voltada para a utilização dos recursos em atividades destinadas a

maximização dos lucros, contanto que permanecesse dentro das “regras do jogo”, ou seja, se

engajasse na concorrência aberta e livre, sem enganos ou fraude (Falkenberg & Brunsael, 2011).

Empresas envolvidas em atividades que não servissem aos interesses dos seus acionistas, como

projetos sociais, por exemplo, deveriam repassar os custos inerentes a essas atividades aos

clientes e, em última instância, à sociedade (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011), dessa forma, o

mercado seria suficiente para promover o equilíbrio entre as empresas e a sociedade. Friedman

(1970) argumenta que a prática da RSE é antidemocrática, pois, investe poder governamental a

pessoas que não possuem mandato para governar, e fútil, porque é improvável que o executivo

seja capaz de antecipar as consequências sociais de suas ações e porque impõe custos a seus

acionistas, clientes e/ou funcionários, o que provavelmente faria com as empresas perdessem

apoio e, consequentemente, seu poder (Mulligan, 1986).

Contrapondo-se à essa visão, Freeman (1984) argumenta que as atividades sociais não

poderiam ser distinguidas das atividades econômicas, pois, uma teria impacto direto sobre a

outra. Com base nesta perspectiva, o autor argumenta que as empresas não responderiam apenas

aos acionistas, mas também aos funcionários, clientes, comunidades afetadas e a sociedade, sobre

questões como os direitos humanos, bem-estar empregado e as alterações climáticas (Jenkins &

Yakvleva, 2006; Falkenberg & Brunsael, 2011). Diferentemente do exposto por Friedman (1970)

e pela abordagem neoclássica, Freeman (1984) acredita que a RSE seria uma ferramenta

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importante para se alavancar o desempenho econômico de uma empresa e, consequentemente,

maximizar a riqueza dos acionistas. A instrumentalização da RSE, para Freeman (1984), poderia

melhorar a reputação da empresa, identificar oportunidades, testar novas tecnologias e produtos e,

dessa forma, adquirir vantagens competitivas no mercado globalizado (Porter & Kramer, 2006;

Shen & Chang, 2009).

A abordagem defendida por Freeman (1984), afirma que as empresas devem responder a

suas partes interessadas, seus stakeholders. Mas como definir quem são esses stakeholders? São

aqueles que têm uma relação estreita e “direito” à voz dentro das organizações? Ou, englobaria

amplamente todos os grupos que podem afetar e/ou serem afetados pela organização, incluindo-

se ativistas, concorrentes, o ambiente natural, a mídia? Para Phillips (2004), os stakeholders são,

no mínimo, aqueles grupos com os quais a organização tenha, voluntariamente, aceito benefícios

e para quem a organização tem obrigações decorrentes de equidade, incluindo-se grupos como:

financiadores, funcionários, clientes, fornecedores e comunidades locais. Freeman (1984) vai um

pouco além e inclui em sua “lista” qualquer grupo ou indivíduo que poderiam ajudar ou

prejudicar a empresa, apontando, além dos acima citado, os ambientalistas e o governo. Phillips

(2004) destaca que os concorrentes podem certamente afetar uma organização e devem, portanto,

serem considerados legítimos interessados, mas a organização e seus gestores não tem obrigações

morais de comparecer com seu bem-estar.

Tullberg (2005) apresenta uma abordagem que inclui um “teste de publicidade” em que a

gestão seria encorajada a considerar certas reações dos stakeholders em relação às atividades de

RSE ou a falta delas. Uma organização poderia gastar recursos na gestão de cobertura da mídia

para o único propósito de fazer avançar os seus próprios objetivos e não por uma questão de valor

da mídia intrínseco (Phillips, 2004), mas também poderia optar por cuidar de certas questões,

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como o meio ambiente, por exemplo, porque seus stakeholders legítimos se preocupariam

profundamente com isso (Phillips, 2004).

A Teoria dos Stakeholders (TS) pode ser indicada nos termos descritivos, instrumentais ou

normativos, conforme Donaldson e Preston (1995). Brenner e Cochran (1991), apontam para uma

TS cujo objetivo seria descrever como as organizações operam para ajudar a prever o seu

comportamento organizacional. Freeman (1984), por outro lado, utiliza a TS para desenvolver

uma aproximação instrumental entre as práticas gerenciais, especialmente a estratégica.

Donaldson e Preston (1995), no entanto, entendem a TS como essencialmente normativa. Para

esses autores ela não poderia ser suportada apenas por motivos descritivos e instrumentais. Iria

além da simples ideia de que empresas possuem stakeholders e que os interesses desses devem

ser considerados nas operações das organizações (Donaldson & Preston, 1995). Ela incitaria uma

análise sobre quais interesses as organizações deve atuar e a quem a administração serve.

Enquanto a perspectiva geral da TS parece plausível para alguns, Donaldson & Preston (1995)

acreditam haver rachaduras em sua base conceitual e empírica. Estas falhas enfraquecem-na e

mascaram algumas de suas implicações, subestimando a necessidade de uma mudança na sua

estrutura fundamental se os interesses das partes interessadas tornarem-se parte integrante das

operações da empresa (Donaldson & Preston, 1995).

Por causa das "rachaduras na fundação" da TS uma série de questões podem ser levantadas

sobre a utilidade e validade de quaisquer conclusões morais ou prescrições que oferece.Weiss

(1995) afirma que a TS goza do status de paradigma no campo dos estudos organizacionais sobre

RSE. Trata-se de um sistema geral de ideias e suposições, padrão, exemplos e afirmações

estabelecidas. Apesar disso, o autor afirma que os fundamentos teórico-conceituais que

estruturam a interpretação da postura e ação empresariais baseados na noção de stakeholders

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permanecem pouco debatidos. O autor critica as abordagens sobre stakeholders, visto que não

colocariam em questão a natureza do capitalismo contemporâneo, com a expansão de grandes

corporações globais detentoras de grandes capacidades e recursos concentrados. Além disso,

assumiria que princípios utilitaristas movem os grupos na luta por seus interesses, apesar de

paradoxalmente negar o utilitarismo, assim como a concepção neoclássica sobre ação social dos

atores econômicos. Ao partir do princípio que as empresas e os mercados são formados por

interesses voluntários, a TS justificaria o próprio comportamento auto-interessado dos atores

empresariais, apesar de afirmar pretender reprimi-lo e negá-lo (Weiss, 1995).

Para que de fato a RSE ocorra na perspectiva dos stakeholders, Jones (1999) afirma que os

gestores precisam desenvolver valores compatíveis e interesse em se responsabilizar pelos

impactos causados pela organização. Além dessa dimensão individual, os níveis socioculturais e

a racionalidade do setor empresarial e da própria empresa também precisariam avançar no sentido

de dialogar com as partes envolvidas (Jones, 1996; Teodósio, 2008). Dessa forma, os projetos

passariam a ser concebidos e desenvolvidos em conjunto com as comunidades, inclusive

partilhando ações, custos e soluções a serem implementadas. "Nessa perspectiva, as comunidades

e associações locais assumiriam status de parceiro privilegiado entre os stakeholders." (Teodósio,

2008, p. 79).

Para avançar nesse sentido, seria necessário se modificar a concepção sobre a relação de

aprendizagem entre empresas e comunidades. Anteriormente, tinha-se a ideia de que os

indivíduos, membros de comunidades afetadas, não poderiam sair de sua condição de excluídos.

Isso faria, em tese, com que, passivamente, aceitassem as intervenações tecnológicas e gerenciais

promovidas pelas empresas nos territórios como a solução de problemas sociais e ambientais,

(Teodósio, 2008). No entanto, os defensores de uma perspectiva modernizadora do investimento

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social de empresas afirmam que, atualmente, a relação com comunidades poderia ser

extremamente frutífera para as empresas, visto que formas criativas, de baixo custo e mais

adequadas às realidades sociais específicas, poderiam surgir do contato entre gerentes e

funcionários com indivíduos empreendedores pertencentes a essas comunidades. Assim, a

aprendizagem tecnológica e gerencial se daria em via de mão-dupla na relação entre organização

e sociedade. (Teodósio, 2008).

Essa discussão, entretanto, gera alguns debates e controvérsias, tal como a assimilação dos

saberes locais e tradicionais por grandes corporações sem as contrapartidas esperadas para as

comunidades, ampliando a dominância de relações de mercado para bens e esferas da vida antes

caracterizadas pela sua natureza pública e coletiva (Teodósio, 2008). Outra ideia apontada

Teodósio (2008), é a de que os projetos não podem caracterizar-se pela extrema dependência de

uma única fonte de financiamento externa, devendo caminhar para a autosustentação no médio e

longo-prazos. De acordo com Pereira (2001), esse ponto seria fundamental para romper com as

práticas assistencialistas, pois, partiria da ideia de investimentos alocados e multiplicados através

do seu gerenciamento adequado.

Para Teodósio e Carvalho Neto (2003), no entanto, o questionamento mais relevante diz

respeito à possibilidade de avanço da cidadania através do provimento de políticas públicas por

agentes privados, cujos interesses e/ou resultado das ações voltar-se-iam para o aumento do

comprometimento de seus trabalhadores com o trabalho e para a melhoria da imagem junto aos

stakeholders, inclusive a comunidade no entorno de suas atividades, podendo resultar em maior

dependência social do que emancipação. Ainda que as possibilidades de ganhos compartilhados

entre comunidades e setor privado apontassem cenários atrativos para os investimentos sociais de

empresas, grande parte da literatura gerencial sobre stakeholders distanciar-se-ia da ideia do

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conflito como estruturante das relações sociais, seja ele de natureza econômica, política, cultural,

social ou de poder. (Teodósio & Carvalho Neto, 2003).

Com isso, é possível afirmar que uma das motivações das empresas é a neutralização dos

atores em conflito. Nesse sentido, as parcerias com OSC’s representariam forte temor às

empresas pelo fato de que estas, ao descobrirem suas debilidades operacionais, poderiam levá-las

a público (Teodósio, 2008). Em contrapartida, as OSC’s correriam o risco de terem seus nomes,

portanto, sua legitimidade e credibilidade, acessados pelas corporações através das parcerias para

certificar práticas, produtos e serviços questionáveis do ponto de vista social e ambiental

(Teodósio, 2008).

A literatura aponta para seis aspectos decisivos que deveriam ser considerados e

operacionalizados para aprimoramento da performance das alianças entre empresas e OSC’s: (1)

identificação de projetos específicos para colaboração e dos recursos requeridos para o processo;

(2) formulação de critérios para a seleção de parceiros; (3) desenvolvimento de procedimentos

mutuamente aceitáveis para a colaboração; (4) definição clara e precisa de problemas e

exploração de soluções viáveis; (5) focalização em tarefas de implementação rápida; (6)

manutenção de confidencialidade por todas as partes (Rondinelli & London, 2003; Meirelles,

2005).

Entretanto, esses aspectos podem reproduzir a visão de que os problemas sociais e

ambientais se dariam de maneira pontual, podendo ser resolvidos por projetos específicos. “Além

disso, situações de conflito são assumidas como indesejáveis e improdutivas, a menos que se

manifestem dentro do fluxo de cooperação das parcerias” (Teodósio, 2008, p. 83). De acordo

com Teodósio (2008), essa visão poderia acabar reforçando a ideia de uma sociedade voltada

apenas para as micro mudanças, subtendendo que caberia ao Estado ou outras OSC’s o combate a

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fenômenos estruturais que levariam aos problemas sociais e ambientais. As parcerias, nesse

modelo, se dariam com a presença do Estado e as OSC’s assumiriam apenas a função de

fornecedoras de soluções para os problemas empresariais, podendo se transformar em instituições

especializadas em bens concretos, perdendo o foco das lutas sociais mais amplas, muitas vezes

marcadas pelo conflito entre sociedade civil e empresas. Além disso, as comunidades

permaneceriam marginalizadas nesse processo (Teodósio, 2008).

Vasconcellos, Alves e Pesqueux (2012) apontam para duas perspectivas analíticas sobre a

TS a partir das ideias de Habermas. A primeira, trataria da avaliação ético-normativa da

racionalidade, das decisões administrativas por uma racionalidade comunicativa, com base no

envolvimento dos stakeholders em debates travados em condições não distorcidas de “discurso

ideal” (Habermas, 1987a, 1987b, 1984). A segunda compreenderia as ações de responsabilidade

social das empresas em contextos de criação de espaços deliberativos e de globalização, nos quais,

apesar de ainda dominante a visão econômica por influência da TS, muitas empresas passariam a

agir em diversas áreas antes exclusivas ao poder público.

Costa (2002) classifica três esferas para as quais as empresas privadas destinariam seus

investimentos sociais: (1) os esforços estariam voltados para o público interno da organização,

sendo característica deste tipo de investimento a melhoria das condições de trabalho, estrutura

salarial, alimentação fornecida e benefícios aos empregados, dentre outros fatores; (2) a

organização privada destinaria recursos e ações para o público localizado no entorno de suas

atividades, como por exemplo, a manutenção de áreas de esporte e lazer, escolas e outras

instalações de provisão de políticas sociais com restrições maiores ou menores quanto ao público

beneficiário; e (3) os recursos e ações seriam focalizados na luta por direitos sociais,

independentemente do público-alvo estar ou não ligado diretamente à empresa ou às

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comunidades nas quais opera. Costa (2002) afirma que esse último seria o nível ideal e desejável

para as políticas, estratégias e/ou ações de RSE. No entanto, o autor afirma que grande parte das

empresas brasileiras se encontram na esfera 2, preocupando-se com o entorno geográfico de suas

plantas industriais.

As modalidades de inovação empresarial frente às questões socioambientais poderiam ser

impulsionadas por diversos tipos de capital, conforme apresenta a figura 3:

Figura 3. Inovação Empresarial frente às Questões Socioambientais Nota. Fonte: Gonçalves-Dias, S., & Teodósio, A. S. S. (2011). Perspectivas de análise do ambientalismo empresarial

para além de demonizações e santificações. Revista de Gestão Social e Ambiental, 5 (2), pp. 10.

De acordo com Gonçalves-Dias e Teodósio (2011), a primeira modalidade refere-se à

defesa, por parte das empresas, de um campo em crise e no qual se procura restaurar a confiança

provocada por episódios especialmente marcantes, sem, no entanto, que haja mudanças

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significativas no padrão de operação das organizações, tendo o capital econômico maior peso que

o capital social ou cultural. A segunda modalidade de intervenção seria definida como

“construção de pontes” como, por exemplo, a criação de instâncias para discutir temas

socioambientais com ONGs e movimentos sociais. A terceira modalidade de intervenção

envolveria a captura, por parte de uma empresa ou grupo de empresas, de questões

socioambientais, sem alterar, porém, as relações entre seus membros ou as relações de poder

existentes no setor. Para tanto, as organizações empresariais precisariam mobilizar capital

cultural capaz de persuadir formadores de opinião de que estas mudanças são reais e

significativas, ainda que não alterem as forças que dominam o mercado em questão. A quarta

modalidade estaria no esforço de criar um novo campo social e, em torno dele, organizar o

mercado.

Autores como Windsor (2001) argumentam que esses discursos são representados e

construídos baseando-se nos interesses corporativos e não nos interesses da sociedade. Para

Abramovay (2009), porém, afirmar que as empresas só tomam estas iniciativas por interesse,

apenas para consolidar sua posição competitiva por razões egoístas e não por uma preocupação

socioambiental legítima, implicaria em um ponto de vista ilusório, parcial e incapaz de

compreender a complexidade que envolve a difusão de práticas de responsabilidade

socioambiental do setor privado. É claro que o setor privado age por interesse. A questão

consistiria em saber de que maneira se formam e se exprimem estes interesses. A principal crítica

que se pode fazer aos que rejeitam, em princípio, o conceito de RSE é que tratam os interesses

empresariais como se fossem imunes à pressão social. Tudo se passa como se os mercados, de

fato, fossem mecanismos de equilíbrio, neutros, impessoais e situados, por assim dizer, acima da

vida social. (Abramovay, 2009).

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Para Abramovay (2009), a responsabilidade socioambiental refere-se, antes de tudo, a uma

inversão na perspectiva que dominou a formação e o desenvolvimento das ciências sociais desde

o século XVIII. É um convite para que se examinem não apenas os impactos do mercado na

sociedade, mas ao contrário, a maneira como a sociedade, que só poderia ser compreendida de

forma organicamente articulada aos ecossistemas com que interage, produz e transforma os

mercados (Abramovay, 2009). A ideia de que os mercados são mecanismos de equilíbrio, neutros

e impessoais, dão lugar a uma nova visão: a de que os mercados não são autônomos em relação

ao conjunto da vida social e não podem ser encarados como engrenagem de vidas permanentes.

"Quando se abre a caixa-preta dos mercados, o que há dentro é a sociedade" (Abramovay, 2009,

p.2) com seus conflitos e divergências.

A partir dessa perspectiva, o que se observaria é o mercado influenciando o meio ambiente

e a sociedade e a sociedade e o meio ambiente influenciando o mercado. Nesse sentido, o sucesso

empresarial não poderia ser analisado em separado da dinâmica de legitimação ou deslegitimação

social das atividades, atitudes, ações, produtos, serviços, impactos e desdobramentos que as

empresas causam nos territórios (Abramovay, 2009, Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011).

De acordo com Acselrad (2000), é difícil não perceber que o debate sobre sustentabilidade

tem se pautado, predominantemente, pelo recurso a categorizações socialmente vazias. Para o

autor, as noções evocadas costumam não contemplar a diversidade social e as contradições que

perpassam a sociedade quando está em jogo a legitimidade de diferentes modalidades de

apropriação dos recursos territorializados. Essas abordagens embasam muitas discussões sobre a

sustentabilidade, porém, cabe destacar que a abordagem baseada na teoria dos stakekholders

considera as empresas como atores centrais responsáveis pela sustentabilidade. Desconsidera o fato

de que sustentabilidade não é adjetivo de organizações e sim atributo dos territórios, e territórios não

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teriam stakeholders, ao contrário, apresentam atores em constante interação e ação em seu interior,

ora convergindo, ora divergindo em torno de interesses, valores, motivações e posturas.

O que se propõe com esse trabalho é que se problematize o papel das empresas, poder público e

sociedade na promoção da sustentabilidade dos territórios. Essa sustentabilidade não ocorrerá pelas

mãos das empresas, tão pouco pelas mãos do poder público ou da sociedade civil de maneira isolada e

egocentrada. Ocorrerá sim, quando esses diferentes atores, convergindo ou divergindo, pensarem,

debateram e buscarem desenvolver e suportar processos que visem a sustentabilidade do território.

Dessa forma, poder-se-á vislumbrar um desenvolvimento a longo prazo, pautado em valores

econômicos, sociais, ambientais e culturais que possam contribuir e não fragilizar, a sustentabilidade

dos territórios. A figura 4 esquematiza a proposta teórica dessa pesquisa:

Figura 4. Abordagens Teóricas Norteadoras da Pesquisa Nota. Fonte: Original desta pesquisa.

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Dada a importância dos governos, a possibilidade de êxito, ou não, dos territórios estaria

diretamente relacionada ao sucesso das políticas públicas que seriam adotadas. Boa vontade

apenas não bastaria, visto que:

[...] sociedade alguma logrou reformar-se a si mesma, substancialmente, com movimento

partido de cima ou com simples decisão voluntária de uma classe superior, originada com

sua consciência social de tornar-se igual às classes inferiores e permitir-lhes o livre acesso

aos monopólios de classe. Os ideais e a consciência social desempenham papel muito

importante, que não pode ser menosprezado; mas são fracos como forças autopropulsoras

que iniciam reformas sociais em grande escala – necessitam do impulso de reivindicações

que se definem, e com isso passem a exercer pressão. (Myrdal, 1972, p. 112)

É improvável que qualquer revisão radical sobre a RSE vá emergir das organizações

empresariais, dado como o discurso é construída em níveis mais elevados da economia política.

Para que qualquer revisão radical ocorra, seria necessária uma abordagem mais crítica no campo

da teoria das organizações. Novas questões precisariam ser levantadas, não só sobre a

sustentabilidade ecológica e social das corporações de negócios, mas da economia política em si.

Revisões radicais neste nível só poderiam ocorrer se houver uma mudança de pensamento no

nível macro. Seria preciso abrir novos espaços e oferecer novos quadros para diálogos entre

organizações empresariais e os demais atores sociais, bem como analisar, criticamente, as

dinâmicas das relações entre empresas, OSCs, governos e sociedade civil. (Banerjee, 2012).

A RSE não poderia ser avaliada apenas por critérios econômicos. A ética ambiental, por sua

vez, não poderia ser desenvolvida através de uma moralidade "eticamente pragmática de gestão",

que atende, via de regra, aos interesses organizacionais (Fineman, 1998; Snell, 2000). Enquanto

as OSC’s servirem como contrapontos importantes às corporações, a sua relação com as

empresas e os governos poderão ser ambíguas e emolduradas por categorias ditadas por

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instituições internacionais como as Nações Unidas e o Banco Mundial (Spivak, 1999; Teodósio,

2008; Banerjee, 2012).

O aumento da responsabilidade das organizações (incluindo-se aqui as OSC’s) em relação

as comunidades locais, dotando de concretude e vigor à participação popular em contextos locais,

permanece como um desafio para o futuro (Escobar, 1992; Derman, 1995). As limitações de um

modelo-espelho de RSE e as deficiências do racionalismo econômico baseado no mercado

precisam ser superadas. O próprio termo racionalismo econômico é problemático e precisa ser

descompactado (Banerjee, 2012).

Outro ponto importante a ser destacado, é o de que as empresas não têm a capacidade de

assumir o papel dos governos no bem-estar social, simplesmente porque sua função básica é

inerentemente impulsionada por necessidades econômicas. Se uma empresa, por exemplo,

decidisse encerrar suas atividades em um determinado local (o que provavelmente ocorreria por

razões econômicas ou demandas do mercado, e não por razões sociais ou ambientais), o que

aconteceria com a comunidade local que se tornasse completamente dependente de seu bem-estar

econômico, social e ambiental? Verdade é, que as empresas nem sempre irão agir conforme os

interesses da sociedade, os investimentos sociais e justiça social nunca poderão tornar-se

atividades principais de uma empresa privada, a não ser que essa se constitua como uma Empresa

Social. (Banerjee, 2012).

A economia política que vigora nos dias de hoje influenciam as estratégias corporativas

direcionando-as para a criação de valor para os acionistas e retorno sobre o capital, não para a

justiça social ou moral (Banerjee, 2012). Isso faz com que as tentativas emergentes para

conceituar a responsabilidade social como "capital social" ainda fiquem aquém, ao menos que

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haja uma reestruturação radical da economia política repensando o papel de uma empresa na

sociedade (Banerjee, 2012).

A perspectiva desse trabalho é discutir as possibilidades de margem de manobra para os

territórios encontrarem uma via alternativa de desenvolvimento. Além disso, busca analisar

profundamente e de forma crítica a atuação de governos, empresas e sociedade civil para o êxito

(ou não) das estratégias de sustentabilidade de territórios mineradores.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o objetivo de investigar e analisar como os atores locais se relacionam na promoção

da sustentabilidade em um território minerador,s realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa

pelo método de estudo de caso (Greenwood, 1973; Bonoma, 1985; Eisenhardt, 1989; Yin, 2005)

buscando-se identificar os fatores que estimularam a ocorrência de eventos, bem como

compreender a interação que se estabeleceu entre as variáveis, revelando as inter-relações e as

complexidades que poderiam se manifestar (Greenwood,1973; Bonoma, 1985). Através do

método de estudo de caso, pôde-se obter uma visão holística do objeto analisado. Para tanto,

buscou-se identificar uma experiência prática que melhor se apresentasse como fenômeno

relevante para análise, de acordo com o foco delimitado para a pesquisa, ou seja, a

sustentabilidade de territórios marcados pela atividade de mineração.

O estudo de caso foi desenvolvido tendo como unidade de análise o município de

Brumadinho/Minas Gerais, que tem sua história fortemente ligada à exploração mineral. A

proposta desse trabalho é analisar as articulações dos atores com a sustentabilidade desse

território. Com base na abordagem proposta por Yin (2005), foi desenvolvido um estudo de caso

único, contextualizado com sentido interpretativo dos depoimentos dos entrevistados sobre os

fatores que potencializavam ou enfraqueciam, tanto os processos de sustentabilidade do

município, quanto a relação dos três setores com esse desenvolvimento, tomando como base a

compreensão da experiência subjetiva dos atores envolvidos.

A coleta de dados foi composta por representantes das esferas de governo, empresas e

sociedade civil, por se configurarem como os atores que fazem parte da construção do

desenvolvimento do território de Brumadinho. Foram entrevistados funcionários de duas

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mineradoras com atividades no município, um funcionário de um instituto de cultura de

Brumadinho, representantes de OSC's e comunidades, e membros do poder executivo e

legislativo de Brumadinho.

Velasco e Díaz de Rada (1997) argumentam que a pesquisa de campo, em especial aquela

aplicada em ambientes comunitários, é uma forma de investigação sociocultural que exige a

utilização de um conjunto de procedimentos e normas que possibilitam a organização e a

produção do conhecimento sobre a realidade local permitindo ao pesquisador maior interação

com o objeto pesquisado. Por meio do critério definido pelo processo “bola de neve” (Yin, 1981,

2005; Eisenhardt, 1989; Meyer, 2001), nessa pesquisa buscou-se favorecer a coleta de dados com

entrevistas por indicação, ampliando o acesso aos discursos e diálogos de atores desse território

sobre as questões socioambientais que o envolvem.

As coletas de dados foram feitas através de dados primários e secundários utilizando-se,

preferencialmente, as (1) entrevistas semiestruturadas, (2) pesquisas bibliográfica, (3)

documentos e arquivos e a (4) observação in loco como estratégia de coleta de dados. A

entrevista e a observação in loco foram fontes de evidência importantes nessa pesquisa qualitativa,

especialmente, porque pretendia-se compreender em profundidade uma situação sociocultural e

ambiental complexa a partir da perspectiva dos atores envolvidos, considerando-se o contexto no

qual ela ocorre (Eisenhardt, 1989). Por se tratar de uma técnica que permite captar a percepção,

as experiências e as motivações dos indivíduos, fez-se apropriada à essa pesquisa qualitativa

priorizando o entendimento do fenômeno a partir do sujeito (Godoy & Balsini, 2004).

Para se obter fontes de evidências empíricas, a pesquisadora participou de reuniões mensais

do Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente de Brumadinho

(CODEMA), no período entre os meses de fevereiro a setembro de 2014, assim como audiências

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públicas de assuntos relevantes à essa pesquisa e agendamentos de entrevistas in loco com os

integrantes da pesquisa. As entrevistas foram estruturadas a partir de um conjunto de perguntas

definidas a priori, porém, essa estruturação foi flexível, contendo apenas um roteiro para orientar

o diálogo durante a coleta de dados e permitindo a alteração da ordem das perguntas, supressão

de algumas questões de acordo com o contexto e andamento de cada entrevista e inserção de

outras indagações, configurando-se o chamado roteiro de entrevista semiestruturadas (Bauer &

Gaskell, 2002). Assim, no momento da entrevista, a pesquisadora teve liberdade para explorar

novas questões não identificadas, mas que se apresentaram relevantes para o estudo em questão.

O roteiro da entrevista dessa pesquisa foi ainda construído considerando os registros dos diálogos

dos participantes já coletados pela pesquisadora em conversas iniciais, como: membros da

prefeitura, mineradoras, comunidades e membros de OSC’s entre os meses de agosto e dezembro

de 2013.

As principais diretrizes contempladas na elaboração do roteiro das entrevistas envolveram

questões como: a visão dos integrantes dos setores sobre o desenvolvimento do município, a

realidade de conservação (ou não) da diversidade ambiental e sociocultural nos processos de

desenvolvimento do município, as ações de cada setor para que essa diversidade fosse preservada

e valorizada, a percepção dos entrevistados acerca das parcerias intersetoriais e a participação das

empresas mineradoras no processo de sustentabilidade do território de Brumadinho, dentre outros

temas relevantes para o foco da pesquisa. Tais questionamentos auxiliaram na análise das

dimensões que guiaram a coleta dos dados secundários, conforme exemplificado na Figura 5.

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Figura 5. Estrutura metodológica da pesquisa Nota. Fonte: Original desta pesquisa.

A pesquisa apresentou algumas limitações relacionadas ao acesso da pesquisadora aos

atores sociais do município considerados importantes para o trabalho. Apesar de ter vivido por 27

anos no território de Brumadinho, a relação da pesquisadora com o município, em especial, com

a sede, sempre foi muito distante. Para superar esse fato e acessar os atores selecionados para a

pesquisa, a pesquisadora contou com o apoio de seu orientador que viveu durante muitos anos na

sede do município e facilitou o acesso a vários entrevistados por suas ligações com Brumadinho.

Entretanto, alguns atores locais não se disponibilizaram para a pesquisa, como a Secretária de

Governo do município que saiu de férias na época das entrevistas e a após retorno as tentativas de

novo contato não foram bem sucedidas, e o representante dos quilombolas que, por conta de sua

luta com uma empresa de mineração que atua no município, atendeu ao pedido de sua família de

não mais se envolver com assuntos relacionados à mineração.

Para conferir maior confiabilidade e qualidade aos resultados da pesquisa, a análise dos

dados obtidos a partir das fontes primárias e secundárias, permitiu comparar e confrontar a

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percepção de diferentes atores acerca de uma mesma dimensão de análise, bem como realizar a

triangulação das fontes dessas evidências (Eisenhardt, 1989). A pesquisa recorreu a triangulação

como estratégia de análise de conteúdo para auxiliar no tratamento e na interpretação dos dados

coletados sobre o processo. Tanto os documentos e arquivos das fontes secundárias, como os

dados obtidos por meio das entrevistas (fontes primárias) foram gravados, transcritos na íntegra e

analisados para interpretação do conteúdo das informações levantadas, a fim de compreender

melhor o discurso dos entrevistados.

3.1 Participação nas reuniões do CODEMA e Audiências Públicas

O processo da pesquisa em Brumadinho se iniciou com algumas visitas da pesquisadora à

sede do município e com algumas conversas informais com atores mais envolvidas com as

dinâmicas do município. Um desses atores, compunha a mesa do CODEMA e através dele a

pesquisadora era informada sobre as reuniões que aconteciam mensalmente no período da manhã,

com cerca de três horas de duração no, até então, prédio da Secretaria de Meio Ambiente de

Brumadinho, hoje, sede da Secretaria de Planejamento de Brumadinho.

A mesa do CODEMA era presidida pelo Secretário de Meio Ambiente, e composta por

mais dois membros. Um deles representando a rede de empresários do município e o outro

representando as empresas mineradoras que atuam no município. Os demais participantes eram

conselheiros que representavam diversos setores, incluindo-se membros da sociedade civil,

representantes do poder legislativo, e até mesmo do Inhotim, que hoje parece não ocupar mais

cadeiras nos conselhos municipais, segundo relato de um conselheiros do CODEMA. Apesar da

abertura, a participação da pesquisadora em todas as reuniões não foi possível pois, houveram

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alguns reagendamentos que não chegaram a seu conhecimento. Nas reuniões em que participou, a

pesquisadora percebeu a ausência de representantes das comunidades e um distanciamento da

linguagem utilizada pelos membros do conselho que, a todo momento, se referiam ao CODEMA

como um conselho, cuja função, era discutir aspectos técnicos dos projetos.

A pesquisadora participou de três Audiências Públicas no período entre Fevereiro e Agosto

de 2014 no município de Brumadinho. A primeira aconteceu no dia 23/03, as 19:00, na Câmara

Municipal de Brumadinho e tinha como objetivo colocar em discussão as mudanças pelas quais o

Plano Diretor do município está passando e as leis de Uso e Ocupação do Solo, que tem gerado

diversos impactos ambientais em Brumadinho. Interessante destacar, que nessa reunião colocou-

se em discussão o tipo de desenvolvimento que se queria para Brumadinho: o crescimento

expansivo do território com abertura para novas indústrias ou o desenvolvimento sem

crescimento, ou seja, desenvolver o município a partir dos potenciais já explorados, sem

expansionismo do território. Esse debate tem gerado polêmicas, uma vez que, vai em sentido

oposto aos interesses dos empresariado, em especial, daqueles ligados ao setor da construção civil.

Na época, o debate tinha sido liderado pelo, então Secretário de Planejamento de Brumadinho,

José Bones, que saiu da secretaria pouco tempo depois dessa audiência por motivos que não

ficaram claros à pesquisadora.

A segunda Audiência Pública aconteceu no dia 24 de junho, às 19:00, na Câmara

Municipal e teve como objetivo apresentar os projetos que a Secretaria de Meio Ambiente vinha

realizando até então. A maioria desses projetos estão sendo realizados em parceria com o setor

privado, em especial as empresas de mineração, sendo muitas dessas obras nada mais do que

condicionantes impostas às mineradoras por suas operações na região.

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A terceira Audiência Pública foi realizada no dia 30 de maio, as 18:30, na Casa Guará em

Casa Branca. Essa audiência tinha como objetivo, o esclarecimento da Vale S/A em relação ao

projeto de expansão da mina da Jangada, operada por ela. A audiência acabou não acontecendo

pois, os representantes da empresa não compareceram. A justificativa dada pela empresa foi a de

que, esse projeto ainda não estava definido e não justificaria, portanto, uma audiência pública

naquele momento. Dessa forma, a reunião seguiu com a apresentação dos estudos de impactos

que o projeto poderia causar, feito por representantes de OSC’s e apresentado à população de

Casa Branca pelo vereador Lucas Machado. Nessa apresentação, mostrou-se o mapa de expansão

da mina da Jangada e os possíveis impactos nas comunidades do entorno, principalmente,

relacionados ao abastecimento de água.

Nas reuniões do CODEMA e nas Audiências Públicas, a participação desta autora

aproximou-se muito do método de pesquisa-ação, considerando-se a solicitação de seu

envolvimento em algumas plenárias e trabalhos em grupo. A pesquisa-ação é normalmente

utilizada, quando o objetivo da investigação é conhecer uma determinada realidade, onde os

dados e as informações necessárias não são encontradas em livros ou em outros trabalhos

científicos, e sim no seio de uma comunidade, um grupo, uma organização ou um movimento

social que esteja sendo estudado (Thiollent, 1987). O método de pesquisa-ação é considerado

adequado ou recomendável, quando a investigação prevê a participação dos sujeitos envolvidos

no estudo para se chegar a uma conclusão do que deve ser feito para solucionar um problema real

(Thiollent, 1987).

Após visitas ao município com observações in loco, dados coletados nas reuniões do

CODEMA e nas audiências públicas, a pesquisadora seguiu para as entrevistas semiestruturadas

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com os atores representantes dos quatro setores considerados por essa pesquisa e que compõem o

município de Brumadinho: poder públicos, empresas, comunidades e OSC’s.

3.2 Entrevistas semiestruturadas

A segunda etapa da coleta de dados utilizou a aplicação de entrevistas semiestruturadas

como método de natureza qualitativa próprio de pesquisas empíricas. Foram realizadas quinze

entrevistas, gravadas e transcritas, com representantes dos quatro setores de Brumadinho (poder

público, empresas, comunidades e OSC’s). Desses, quatro são representantes do poder público do

município sendo, dois do Poder Executivo e dois do Poder Legislativo, três são representantes de

empresas, sendo dois de mineradoras e um de um instituto cultural, quatro representantes de

OSC’s, sendo um representante de ONG, dois professores universitários e um ex-membro da

política local, e três representantes de comunidades: um da comunidade de Córrego do Feijão, um

da comunidade de Colégio e um da comunidade da Jangada. Dessa forma, tornou-se possível o

estudo de importantes dimensões de uma análise baseada no relato sobre os motivos pelos quais

aquele território era o alvo do estudo de caso da pesquisa.

Por meio de uma lista codificada, descreveu-se o perfil dos públicos, omitindo-se a

identificação nominal dos entrevistados, que foram substituídas pelas seguintes siglas: Poder

Público (PP), Empresa (EM), Organizações da Sociedade Civil (OSC) e Comunidades (COM).

Essas pessoas foram selecionadas pelo método ‘bola de neve’, (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989;

Meyer, 2001) após observações in loco por parte da pesquisadora e conversas informais com

moradores da região sobre as dinâmicas pelas quais o município vem passando.

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Tabela 1

Caracterização dos entrevistados

Atores Siglas Característica Local de Moradia Tempo de relação com Brumadinho

Empresas EM 1 Mineração Sede 40 anos

EM 2 Mineração Belo Horizonte 47 anos

EM 3 Cultura Belo Horizonte 5 anos

Poder Público PP 1 Executivo Palhano 43 anos

PP 2 Executivo Sede 54 anos

PP 3 Lesgislativo Casa Branca 15 anos

PP 4 Legislativo Sede 51 anos

OSC’s OSC 1 ONG Suzana 7 anos

OSC 2 Professor Sede 60 anos

OSC 3 Professor Belo Horizonte 7 anos

OSC 4 Ex-membro do PP Sede 44 anos

Comunidades COM 1 Córrego do Feijão Morador da comunidade

72 anos

COM 2 Colégio Morador da comunidade

39 anos

COM 3 Jangada Morador da comunidade

6 anos

Nota. Fonte: Original desta pesquisa.

Os roteiros de entrevista (Apêndices A, B, C e D) foram estruturados com base em

dimensões temáticas predefinidas no planejamento do referencial teórico, contendo onze

perguntas objetivas, questões abertas e flexibilidade para reorientar a entrevista durante a coleta

das informações (Bauer & Gaskell, 2002). Foram formulados quatro roteiros, adaptados para

cada grupo de atores locais analisado. No primeiro momento, foram realizadas duas entrevistas

com um ‘roteiro teste’ para dois integrantes de OSC’s, afim de verificar se as questões elaboradas

atendiam requisitos, como: (i) alinhamento com a dimensão teórica; (ii) clareza e entendimento

das perguntas pelo entrevistado; (iii) tempo previsto para a entrevista (até uma hora de duração);

e (iv) respostas correlacionadas com os objetivos específicos da pesquisa. Desde o início, o

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roteiro se mostrou eficiente e aplicável para a pesquisa mantendo-se o roteiro inicial para dar-se

segmento à pesquisa.

Em relação ao roteiro de entrevistas, teve-se o cuidado de estruturá-lo de forma que, as

perguntas mais polêmicas relacionadas aos conflitos socioambientais no município, fossem feitas

do meio para o final da entrevista. Dessa forma, buscou-se iniciar as entrevistas com perguntas

que permitissem à pesquisadora entender a história de cada entrevistado no município, assim

como seus pontos de vista sobre a trajetória de desenvolvimento do município ao longo dos anos,

desde a sua fundação. A partir daí, buscou-se compreender os pontos positivos e negativos das

diferentes fases do desenvolvimento do município, para então analisar o papel atual dos diversos

atores no desenvolvimento de Brumadinho. Após esse levantamento, o roteiro de entrevistas

abordou a relação dos setores da mineração, do turismo, das ONG’s e do poder público com a

população de Brumadinho e os conflitos socioambientais no município buscando-se compreender

como esses conflitos tem-se dado e como tem sido tratados. Ao final da entrevista, pediu-se para

os entrevistados exporem as suas expectativas sobre o futuro do município, afim de, identificar as

motivações ou desesperanças em relação às dinâmicas que vem sendo traçadas em Brumadinho.

Nesse momento final da entrevista a pesquisadora pode perceber os anseios pessoais de

cada um dos entrevistados, e a relação afetiva com o município para além da racionalidade das

questões anteriores. Foi interessante observar nesse momento, as expressões nos olhares e nas

vozes ao se abrir a possibilidade de falarem livremente sobre os sentimentos em relação à

Brumadinho.

O roteiro de entrevistas foi elaborado com base nos três eixos teóricos: (1)

Desenvolvimento e Sustentabilidade; (2) Políticas Públicas Ambientais; e (3) Empresas e

Territórios, sendo divididos em três dimensões de análise. A primeira dimensão relacionada ao

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eixo teórico (1), buscou compreender as diferentes noções sobre sustentabilidade e as ações que

tem sido implementadas no território de Brumadinho voltadas para a sustentabilidade do

município (Sachs, 1988; Lélé, 1991; Layrargues, 1998; Barbieri, 2001; Neder, 2002; Rattner,

2010). A segunda dimensão relacionada ao eixo teórico (2), buscou identificar as políticas

públicas voltadas para a proteção ambiental e como os municípios podem se valer de certos

instrumentos para se proteger dos impactos ambientais de empreendimentos cuja atividade fim é

extremamente degradadora, como é o caso da mineração (Carneiro, 2003; Cavalcanti, 2004;

Barbieri, 2007; Zhouri, 2008; Leff, 2009). Dessa forma o foco recaiu sobre a Prefeitura

Municipal de Brumadinho e o seu papel na sustentabilidade do município.

Na terceira e última dimensão, relacionada ao eixo teórico (3), buscou-se compreender o

que é território na visão dos entrevistados, quais características e identidades esse território

carregaria e como as empresas compreenderiam e se relacionariam com essas dimensões

(Freeman, 1970; Friedman; 1984; Santos, 1987; Weiss, 1995; Santos, 1999; Kreitlon, 2004;

Teodósio, 2008; Abramovay; 2007; Abramovay, 2009; Saquet, 2011). Essa última dimensão foi o

ponto alvo dessa pesquisa uma vez que partiu do questionamento sobre o papel das empresas no

território em que atuam, buscando avaliar as práticas de RSE e sua real efetividade. Fato é, que

um território possui diversas dinâmicas e complexidades que devem ser tratadas de maneiras

muito singulares. A compreensão das empresas sobre a RSE muitas vezes se restringe a projetos

padrões que não consideram as particularidades de cada território. Sendo assim, buscou-se com

essa dimensão, analisar a atuação das empresas em Brumadinho.

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Tabela 2

Diretrizes de análise

Objetivo Geral Objetivos

específicos Eixos Teóricos Principais autores Abordagens teóricas Dimensões de análise

Discutir como os

atores locais se

relacionam na

promoção da

sustentabilidade no

território de

Brumadinho.

1. Identificar atores

relevantes na

dinâmica social,

política, econômica

e cultural de

Brumadinho;

2. Caracterizar as

atividades

mineradoras e

turísticas em

Brumadinho e suas

implicações para os

processos de

desenvolvimento

desse território;

3. Discutir a ação dos

atores da sociedade

civil, do Estado e de

mercado em relação

ao processo de

mineração nesse

território e suas

implicações para a

sustentabilidade do

território

Desenvolvimento

e

Sustentabilidade

Layrargues

(1997,1998);

Sachs (1988, 1993,

2007);

Lélé (1991);

Neder (2002);

Rattner (2010);

Burztyn (2001),

Veiga (2009).

Desenvolvimento Sustentável

e suas contradições

Ecosocioeconomia

Sustentabilidade como

conceito norteador da

pesquisa.

Ações para a sustentabilidade

do território de Brumadinho;

Desafios para a

sustentabilidade do território

de Brumadinho.

Políticas

Públicas

Ambientais

Cavalcanti (2004);

Rezende (2007);

Zhouri (2008);

Leff (2009);

Spink (2001).

Instrumentos de Políticas

Públicas;

O cenário brasileiro;

Contradições e conflitos entre

as relações do poder público

e das empresas com a

sociedade.

Papel da prefeitura e das

políticas públicas na

sustentabilidade do território

de Brumadinho.

Empresas e

Territórios

Santos (1999)

Saquet (2011)

Acselrad (2000,

2001)

Weiss (1995)

Teodósio (2008)

Gonçalves-Dias

(2011)

Abramovay (2004,

2009, 2012)

Definições de território

Conflitos socioambientais

Democratização do espaço

Conceitos clássicos da RSE

Contradições e críticas sobre a

TS

NSE

Participação das ONG’s e

sociedade civil no território;

Conflitos socioambientais do

território de Brumadinho.

Papel das empresas na

sustentabilidade dos

territórios.

Problema: Como os atores locais se relacionam na promoção da sustentabilidade nos territórios?

Nota. Fonte: Original desta pesquisa.

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Para construir o eixo teórico e, consequentemente, as dimensões de análise dessa pesquisa,

foram consultados livros, artigos, sítios e bases eletrônicas e materiais disponibilizados pelas

instituições envolvidas. Cabe destacar que, a pesquisadora deparou-se com uma certa escassez de

conteúdos produzidos, tanto em idioma portuguesa, quanto em idioma estrangeiro, em relação ao

argumento central desta pesquisa “Sustentabilidade como atributo de territórios”, identificando-se

assim, um espaço aberto à realização de outras pesquisas sobre o tema, a partir da abordagem

desse estudo. Alguns autores foram referenciados com mais frequência do que outros, mesmo

esta autora tendo buscado artigos publicados em datas distintas (como o caso de Milton Santos e

Ricardo Abramovay), o que não deixou de enriquecer este estudo com mais informações sobre as

diferentes abordagens do fenômeno estudado.

A partir dos dados coletados e das análises enunciadas, foi possível destacar considerações

que apontam para alguns resultados identificados na pesquisa de campo, que foram melhor

explorados nos capítulos: Análise de Resultados e Considerações Finais. A seguir, tem-se a

descrição do perfil do território de Brumadinho/MG.

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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1. Das águas e dos minérios, das serras e das minas: Brumadinho

A partir da análise dos dados coletados no período de novembro de 2013 a outubro de 2014,

são explorados, neste capítulo, aspectos da realidade concreta vivenciada e relatada pelos atores

dos diversos setores que compõe o território de Brumadinho em relação à sustentabilidade do

município. Dessa forma, o capítulo foi dividido em cinco subtópicos, cada um tratando de

aspectos relevantes à essa pesquisa, que foram construídos com o levantamento de dados

secundários, com a análise de conteúdo das entrevistas semiestruturadas comparando-se ou

confrontando-se com os eixos teóricos apresentados no capítulo 2.

O primeiro subtópico tratará da construção histórica de Brumadinho, apresentando a sua

relação com a atividade de extração mineral e a importância desse setor no desenvolvimento do

município. Em seguida são discutidas as ações da prefeitura no município apontando-se alguns

projetos em andamento no território, analisando-se, a partir dos relatos da entrevista, os

resultados percebidos pelos entrevistados. No terceiro subtópico, são discutidos os papeis de cada

um dos setores selecionados para essa pesquisa no desenvolvimento do município. O quarto

subtópico tratará dos conflitos socioambientais presentes nos municípios: como os setores/atores

os enxergam, como tem sido tratados e quais são os principais conflitos aos olhos dos

entrevistados. Finalizando-se o capítulo, com a apresentação das expectativas de cada ator

entrevistado quanto ao futuro de Brumadinho.

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4.1.1 Brumadinho e a construção de sua história com a mineração

Sua história está intimamente ligada às bandeiras, quando desbravadores das Bandeiras

Organizadas exploraram vários territórios nas regiões do Vale do Paraopeba e Vale do Rio das

Velhas criando núcleos de abastecimentos e pouso para os tropeiros. Neste contexto, formaram-

se as localidades de São José do Paraopeba, Piedade do Paraopeba e Brumado do Paraopeba

(atual distrito de Conceição do Itaguá), que fazem parte da primeira fase da história de ocupação

do território de Minas Gerais. Aos poucos, esses territórios transformaram-se em pequenos

arraiais de mineradores fugidos da repressão e das altas taxas cobradas pela Coroa Portuguesa

(As Minas Gerais, n.d.; Canabrava, 1984). Era um momento de intenso conflito caracterizado

pela corrida ao ouro, em que a disputa pelas jazidas eram determinantes em um cenário onde

ainda não havia sido implantada de maneira efetiva a ordem político-administrativa da metrópole

(Canabrava, 1984).

No final da década de 1720, floresceu no vale do Rio Paraopeba, na base da atual Serra da

Moeda – nome bastante sugestivo –, o que acredita-se ter sido uma verdadeira fábrica de barras e

moedas de ouro. Alguns historiadores afirmam que a fundição produzia ininterruptamente, e

ganhou fama pela qualidade do ouro utilizado e pelo acabamento das peças. Só tinha um

problema: acredita-se que era totalmente ilegal (Cavalcanti, 2008). Essa casa clandestina de

fundição de moeda, hoje em ruínas, tornou-se patrimônio cultural e turístico da região de

Brumadinho.

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Figura 6. Ruínas do Forte Nota. Fonte: Empório Fazendinha (2014). Recuperado em:

http://www.emporiofazendinha.com/pontosturisticosdebrumadinho.html

Além disso, a Igreja de Piedade do Paraopeba, uma das mais belas da região com

características arquitetônicas missionário-jesuíticas, indica que a região pode ter sido um dos

maiores centros de mineração do ouro.

Figura 7: Igreja Piedade do Paraopeba Nota. Fonte: Empório Fazendinha (2014). Recuperado em:

http://www.emporiofazendinha.com/pontosturisticosdebrumadinho.html

Desde a época da decadência da mineração do ouro, Minas Gerais passou por um processo

de estagnação econômica, praticando apenas a lavoura de subsistência e uma pequena mineração

de ouro (As Minas Gerais, n.d.). Esse período de estagnação foi então interrompido pelas novas

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demandas crescentes por café e minério de ferro, o que fez com que a construção ferroviária não

só fosse necessária, como também, uma grande saída para o desenvolvimento. Assim, a

construção do Ramal do Paraopeba fez parte dessa fase "áurea" da construção ferroviária em

Minas e no Brasil. A origem do Distrito Sede de Brumadinho, se deve a construção desse ramal.

O povoado nasceu e se desenvolveu em consequência do estabelecimento da Estação Ferroviária,

em 20 de junho de 1917. Juntamente com a Estação Ferroviária de Brumadinho, foram criadas as

estações de Belo Vale, Fecho do Funil, Sarzedo, Ibirité, Jatobá e Gameleira, concluindo o ramal

(As Minas Gerais, n.d.).

Figura 8: Estação Ferroviária de Brumadinho. Nota. Fonte: Brumadinho em Foco (2013). As históricas estações ferroviárias. Recuperado em:

https://brumadinhoemfoco.wordpress.com/2013/02/06/as-historicas-estacoes-ferroviarias/

O município de Brumadinho foi criado através do Decreto-Lei n° 148, no dia 17 de

dezembro de 1938, desmembrando-se de Bonfim. Nessa nova formação, foram anexados os

distritos de Aranha e São José do Paraopeba, saídos do município de Itabirito, e Piedade do

Paraopeba, desmembrado do município de Nova Lima. O distrito de Brumado do Paraopeba

(atual distrito de Conceição do Itaguá), em 1953, se torna distrito de Brumadinho, que passa a

possuir cinco distritos. (As Minas Gerais, n.d.).

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Dessa forma, a relação do município com a atividade de extração de minério de ferro foi

cada vez mais se ascendendo e alterando significativamente as dinâmicas das comunidades locais,

conforme o relato abaixo nos demonstra:

As mineradoras entraram com uma vontade de destruir tudo de uma só vez, não deixando

continuar aquele fluxo (agricultura) que poderia durar mais anos, as pessoas desfrutando

daquela renda. Então vieram com a vontade de acabar com tudo! Parece assim, uma coisa

que vai azedar e nós temos que comer, se nós não comermos azeda [...] A Ferro Carvão

começou lá (na sua comunidade) na década de 20. Aí ela (comunidade) tinha uma

expectativa de que o minério de ferro não tinha tanto valor como tem hoje [...] - o pessoal

mais antigo chamava de pedra ferro - então essa pedra ferro para a comunidade não tinha

nenhum valor, porque quando é essa pedra branca ela serve para fazer calçamento, ela serve

pra fazer...então essa pedra tinha valor, a branca, agora a pedra ferro era assim: todo mundo

que tinha um lugar que era cheio de pedra ferro a pessoa "dispunha" daquilo o mais rápido

possível porque plantação nenhuma de valor ali dava, só que a gente não tinha "descobrido"

que esse lugar da pedra ferro era para nós de grande importância, que era aonde fazia a

recarga dos nossos córregos que a gente tinha, quer dizer, a gente só pensava que a pedra

ferro não tinha valor em si pra fazer construção, mas nós não tínhamos ideia que ela era um

bem dado pela natureza que tinha muito haver com a nossa comunidade, com a nossa roça,

com os nossos córregos. [...] Então a Ferro Carvão difundiu, entrou a Ferteco, a Ferteco

também, devagarzinho com os caminhões transportando minério de lá no caminhão, quer

dizer, que dava o emprego para o motorista, que se trabalhava três horários, a família

também, tinha a pessoa que trabalhava de mecânico, tinha a pessoa que vendia o pneu, quer

dizer, era aquela renda pra muita gente através do caminhão. Só que depois que a Ferteco

passou para a Vale, a situação é que a Vale hoje veio com uma sede porque o minério foi

valorizando, ela veio com uma sede que ela não pode perder tempo, quer dizer, uma coisa

que dava pra 50 anos já acabou, quer dizer, não durou 20 anos. Veio com aquela força toda

de destruição [...]. No capitalismo o negócio é o lucro. Nós temos que acabar aqui para

pegar lá. (Entrevistado COM 1)

Com base no relato acima, podemos considerar que a ideia de Sousa Santos (2007) sobre a

Ecologia dos Saberes - que visa recuperar práticas e saberes de grupos sociais diversos que, em

função do capitalismo e dos processos coloniais, ao longo do tempo foram sendo colocados,

social e historicamente, em uma postura de meros objetos ou ainda de matéria-prima dos saberes

que dominavam e foram considerados por muitos séculos como a única verdade ou os únicos

saberes válidos - o entrevistado acima expõe as alterações no modo de vida local que as

empresas mineradoras de ferro impuseram, em um primeiro momento, alterando-se a atividade

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econômica na região da agricultura para a dinâmica industrial da exploração de recursos naturais

com um mercado aquecido e gerador de empregos, em um segundo momento, quando essas

comunidades perceberam que a moeda de troca era o bem mais precioso que dispunham, a água,

e em um terceiro momento, quando viram que com os avanços da tecnologia e com a sede na

geração do lucro, aquela nova dinâmica se esgotaria antes do tempo previsto por eles.

Não se pode negar no entanto, que a atividade de extração mineral em Brumadinho tornou-

se tão significativa que hoje ela representa cerca de 50% da atividade econômica do município,

apresentando números altíssimos em arrecadação da CEFEM, que no ano de 2014 foi de cerca de

R$200 milhões no total, sendo 65% desse valor destinado para o município. Apesar desses

números impressionarem, principalmente por não se tratar de um município populoso, a

influência das mineradoras no território vai além das fronteiras econômicas.

Brumadinho teve um papel importante, principalmente na Segunda Guerra Mundial, porque

a quantidade de minério exportado do Brasil para o estrangeiro a maior parte saía daqui, do

Quadrilátero Ferrífero, que era 40% do minério exportado pelo Brasil e boa parte saía daqui

de Brumadinho porque graças a estrada de ferro o transporte ficou fácil [...]. Qual foi a

grande contribuição das mineradoras para o município? Na minha opinião eles deixaram

muito pouco. O que as mineradoras deixaram é muito desproporcional ao que eles tiraram

daqui como riqueza. Afora que essas mineradoras interferiram muitas vezes no destino

político do município, tanto é que o primeiro prefeito era um Engenheiro de Minas que vai

governar a cidade, e obviamente que como Engenheiro de Minas ele tinha uma visão mais

tecnocrática da cidade, mas na verdade com um olho na mineração e um olho na cidade o

que causava um certo desequilíbrio ora para um lado e ora para o outro. Mas até 1950 você

vê que a cidade não tinha absolutamente nada. [...]. A cidade tinha um desenvolvimento

muito precário e as mineradoras nunca tiveram uma ação para alterar ou melhorar esse

quadro. (Entrevistado OSC 2)

Ainda hoje é possível perceber a influência das mineradoras nas políticas públicas do

município. Através das observações in loco e em conversas informais no início da pesquisa,

pode-se perceber que alguns membros do poder executivo e/ou legislativo municipais trabalham

em mineradoras da região, ou possuem empresas que prestam serviços para essas mineradoras.

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Recentemente, no jornal da Câmara Municipal de Brumadinho, foi publicada uma enquete feita

com os vereadores, cujo a pergunta era: "O que as comunidades atingidas por mineradoras em

Brumadinho devem esperar do Novo Código Minerário?" (Câmara em Ação, 2014), lendo-se as

respostas dos vereadores é possível perceber nitidamente em alguns a influência que a atividade

de extração mineral ainda exerce, a exemplo:

A mineração, a meu ver, é o maior legado do Município. Aqui em Brumadinho, mesmo

sendo vereadores, não podemos fazer nada. O novo Código é discussão do Congresso de

Deputados em Brasília e podemos, talvez, cobrar do relator do Projeto [...] um olhar maior

sobre as comunidades atingidas. (Câmara em Ação, p.8, 2014)

A resposta acima, do vereador Daniel dos Reis, retrata a postura de alguns brumadinenses

em relação às mineradoras.

Tem um buraco na serra. Então isso é ruim. [...] E é um dilema porque todo mundo sabe

que precisa de minério, nós usamos, todo mundo que faz discurso contra a mineração usa

produto vindo do minério e por outro lado, também eu sinto que há muito pouca

consistência no discurso das pessoas contra a atividade minerária, ou uma parcela muito

pequena da população, digamos, que dá “bola” para isso. Lógico que ela (população) fica

chateada de ver a serra comida, mas não consegue muito se articular contra. Nos últimos

anos, quando [...] tem audiência publica e a população tem que dizer ok, ela ta dizendo ok.

Todas as vezes ela diz ok. [...] Porque na hora de pesar a questão econômica do município e

as outras questões, a questão econômica pesa muito. (Entrevistado PP 4)

As raízes da mineração se entrelaçam às raízes do território e no fim, o resultado é a

sensação de orgulho e receio. Orgulho pela importância do território para o Estado e para o país

em relação a produção do minério de ferro, e receio de que essa dinâmica econômica se

enfraqueça, seja diante da escassez dos recursos minerários, seja diante de frentes de lutas por

justiça social e/ou ambiental.

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4.1.2 As ações do poder público para o desenvolvimento de Brumadinho

Brumadinho é um município com uma extensão territorial de 639,434 km², quase o dobro

da capital Belo Horizonte, com 33.973 habitantes e densidade demográfica de 53,13 hab/km²

(IBGE, 2010). Está localizado a cerca de 55 km de Belo Horizonte, mas apesar da proximidade

com a capital mantém características bastante interioranas. Cercado por serras com solos de

cangas ferruginosas, característica do Quadrilátero Ferrífero, Brumadinho, além do minério de

ferro, é um dos principais municípios do entorno de Belo Horizonte em captação e distribuição de

água. Preservando 40% do remanescente de Mata Atlântica, o município é cercado por belas

paisagens, um dos principais atrativos para quem vai conhecer a região.

Com a arrecadação do município vinda principalmente da mineração e dos condomínios,

Brumadinho é uma cidade aparentemente rica, apresentando IDH acima do nível brasileiro, de

0,747 e renda per capta de R$ 910,31 (Atlas Brasil, 2010). De acordo com o entrevistado PP 1,

Brumadinho tem uma boa autonomia financeira e não depende tanto dos repasses do governo

federal, investe o dobro do que a lei permite na saúde e investe na educação apresentando uma

evasão escolar muito pequena.

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Figura 9. Mapa de Brumadinho Nota. Fonte: SENAC. (2013). Descubra Minas. Recuperado de

http://descubraminas.com.br/Turismo/DestinoMapa.aspx?cod_destino=170

De um modo geral, há um reconhecimento de que a nova gestão do município vem

apresentando alguns avanços em relação às administrações passadas. De acordo com os

representantes do poder público entrevistados nessa pesquisa, um dos principais desafios para a

gestão municipal se encontra na extensão do território. Na tentativa de superar essa dificuldade, a

atual gestão do município criou um programa chamado "Bate-papo com o prefeito" onde o

prefeito do município, junto com os secretários, vão até as comunidades e distritos para em uma

espécie de reunião pública, ouvir as demandas daquele lugar de forma que possam tomar ações

mais pontuais.

Nessa atual gestão municipal, a relação do poder público com as comunidades está sendo a

melhor dos últimos tempos[...]. Ele (o prefeito atual) está indo nas comunidades...conversa

com a população[...]. Lógico, fica muita coisa ainda a desejar, mas já estão dando esse

passo. (Entrevistado COM 2)

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A ideia do projeto é interessante e de fato essas reuniões tem acontecido, entretanto, na

visão dos representantes de comunidades e OSC's entrevistados nesse pesquisa, as demandas

apresentadas ainda não se transformaram em ações efetivas por parte do poder público. Os velhos

modelos políticos ainda se fazem muito presentes no município. A prefeitura é o órgão que mais

emprega em Brumadinho, por exemplo, sem exigência de concurso público e isso é uma questão

relevante, uma vez que se " [...] enche a prefeitura de trabalhadores, sem concursos público

porque isso garante reeleição, garante voto no meu candidato" (Entrevistado PP4)

Eu vejo Brumadinho como qualquer cidade de pequeno porte no Brasil. Muito centrado nas

relações familiares, muito centrado em uma geração com pouca renovação da geração de

liderança e transmitindo uma forma de fazer política que é uma forma conservadora,

tradicional vinculado a pessoas e não tanto às ideias. (Entrevistado OSC3)

Eu acho que o poder público padece dessa falta de eficiência, de competência, da muita

politicagem, de ser isso: "Vou empregar minha vizinha." É esse fisiologismo político que

tem. [...] Falta compreender o município. (Entrevistado OSC 1)

No desenvolvimento de Brumadinho, ele (poder público) é muito lento, lento porque há

falta de vontade política [...] Para você ter uma idéia, no governo passado nós tínhamos o

desenvolvimento aqui que era o hospital que estava sendo criado [...] só que eu não sei com

que dinheiro que o governo estava fazendo hospital que hoje está parado. Agora aonde o

governo passado tinha dinheiro para tá erguendo hospital e porque hoje parou? Parou a

fonte de renda? (Entrevistado COM 1)

Os depoimentos acima apontam que o município ainda precisa avançar muito em termos de

políticas públicas. Durante as reuniões do CODEMA em que a pesquisadora participou,

percebeu-se uma ausência muito grande das comunidades, contrapondo-se assim ao objetivo dos

conselhos municipais que é justamente a participação popular na gestão pública. Conforme

apontado no tópico 2.2, os conselhos de meio ambiente tem caminhado para uma linguagem e

visões muito tecnicistas, e isso não tem sido diferente no CODEMA de Brumadinho. A

pesquisadora pode perceber que os diálogos que ali se dão são feitos de uma forma verticalizada.

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Fica desleal né (o diálogo). Porque lá é onde se decide, se encaminha coisas importantes.

Os conselhos são deliberativos e tal. Mas aí você chega lá, você tem várias cadeiras desse

poder econômico de influência das mineradoras, desse vício, e os outros poucos tentando

quebrar uma barreira que não são só das pessoas ali que representam naquele momento,

mas de uma história desenvolvida a partir do município que cresceu naquela lógica. Então é

comum que a maior parte das pessoas esteja nessa lógica, porque "foi assim que eu cresci,

que aprendi, que eu vi que é assim que funciona" e além de ter esse problema, eu acho que

tem o problema de incompetência de gestão deles. Eles não são bem geridos, bem

organizados. As suas pautas não são feitas de forma imparcial. Não é imparcial a gestão do

Conselho. Porque o presidente do conselho já é um secretário que já tem um irmão que já

trabalha na empresa, então ele cumpre uma fachada de participativo e democrático mas ele

efetivamente não é, porque não querem que ele seja, porque ele não é construído para que

seja, e aí o povo tenta aqui, tenta acolá e aí vai ficando difícil e aí a própria sociedade

aaa...E aí o CONDESP todo desestruturado, sendo reestruturado agora, o CODEMA

funciona, mas se não tem uma pauta importante de determinado interesse nem tem reunião,

pula reunião, enfim, o pouco que eu tenho visto aqui é assim. É fachada de que os espaços

democráticos estão aí. (Entrevistado COM 3)

Eu, sinceramente, não acredito no trabalho do CODEMA não. Ele é um conselho viciado,

assim como outros conselhos que existem aqui em Brumadinho que são viciados, que se

tiverem que discutir instigando um conflito, eles não vão fazer isso. Os conselhos

funcionam mais para amortecer os conflitos do que para gerar os conflitos e isso é ruim,

porque o conselho tinha que gerar o conflito, o próprio conselho tinha que gerar o conflito e

ele funciona para acalmar o conflito, para acabar com o conflito. E aí não existindo o

conflito as ideias não aprecem, as discussões não despontam. (Entrevistado OSC 4)

De fato, os conselhos devem ser entendidos como espaços de mediação de conflitos, onde

interesses e visões diversos se encontram para debaterem e chegarem a um consenso (Zhouri,

2008). Entretanto, alguns estudos já apontam para o deslocamento da esfera da política para

esfera do econômico onde sujeitos coletivos são invisibilizados dando lugar aos interesses de um

pequeno grupo de atores particulares (Zhouri, 2008). De fato, isso pode ser percebido no

município, principalmente no discurso dos atores políticos. A influência das empresas é muito

grande, assim como sua contribuição através de impostos para o município. A invisibilidade das

comunidades e distritos rurais é algo perceptível. Apesar dos esforços em ouvir essas

comunidades, as ações efetivas do poder público em Brumadinho tendem a beneficiar muito a

sede, o desenvolvimento da sede, em especial, o desenvolvimento econômico focado nas

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industrias minerarias, geradoras de empregos, em sua maioria para os moradores da sede. Por isso,

o discurso pró mineração das pessoas que moram na sede do município é tão presente. Entretanto,

quem sofre os danos diretos da mineração, em sua maioria, são os distritos e comunidades rurais,

uma vez que, esses empreendimentos estão instalados nessas regiões. Talvez, falte ainda ao poder

público pensar no município como um todo, superando o desafio da extensão territorial e,

principalmente, a diversidade e especificidade da capacidade produtiva e de desenvolvimento de

cada extensão do território.

A momento atual do município, é de transformação, inclusive com a reformulação do Plano

Diretor. Na reunião pública ocorrida em 20 de março de 2014, na Câmara Municipal, a prefeitura,

através da Secretaria de Planejamento apresentou à população brumadinense a proposta de

alteração da Lei de Uso e Ocupação do solo definindo novas regras para a construção civil no

município. Essa proposta foi feita visando atender ao Estatuto das Cidades e a solicitação do

CONDESP (Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Planejamento de

Brumadinho), que desde 2013, vem discutindo a reformulação do Plano Diretor. Nessa reunião,

foram levantadas questões importantes sobre o desenvolvimento do município e questionou-se

qual seria o melhor desenvolvimento para a cidade: continuar crescendo atraindo cada vez mais

os investimentos da indústria ou optar por não crescer e se manter um município pequeno e

preservado? Esse questionamento, visivelmente, incomodou os empresários e comerciantes,

principalmente, ligados ao mercado imobiliário.

Partindo do principio de que o desejo é a sustentabilidade, o que nós temos? O que garante

a sustentabilidade? Para mim, isso é obviamente um conjunto de discussões que vai gerar

documento. Então nós temos hoje um Plano Diretor que é bastante razoável, agora,

politicamente, é fazer cumprir o que está nele. Esse é o maior desafio que nós temos para o

município. [...] Mas a interferência de diferentes atores sociais nem sempre contribui para o

cumprimento deste Plano Diretor, e nesse Plano Diretor estão previstas uma serie de

atividades regulamentares que, infelizmente, o último secretario de planejamento que nós

tivemos durou 6 meses no cargo porque, obviamente, ele estava no meio de um conflito.

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Houve inabilidades políticas dele, mas também ele estava no meio de um "tiroteio" de

interesses difusos e interesses confessos que envolvia tanto mineradoras, empreiteiras, o

museu, e imobiliárias aqui no município (Entrevistado OSC 2).

Olha, a gente, vamos falar desse governo que eu posso falar como secretário. A gente tem

um convenio com o Estado de Minas Gerais que classificou a secretaria como a 7º do

Estado no setor de licenciamento que hoje é cargo chefe de qualquer desenvolvimento,

então hoje, a gente consegue auxiliar. Nós temos uma independência de autorização e

temos o controle. O Estado licencia um empreendimento e depois que o município fica

sabendo que empreendimento que está chegando, meramente o município é consultado,

quando muito, transcorre a âmbito estadual. Quando a competência é do município, ele

sabe o que é bom pra ele e o que não é. Então a gente tem tido esse cuidado de não querer

[...]. Pode ser um empreendimento que financeiramente é interessante, que trás um impacto

enorme, tão desgastante, que a gente tem que pensar mesmo assim. Muita gente bate na

nossa porta e a gente vê que aquilo não vai...é bom hoje, mas amanha já não vai ser. Então

ele tem feito isso, ele tem cuidado bem do município pra não deixar ele se deteriorar com

esse crescimento, com essa expansão em todos os sentidos e na questão de investimento em

infraestrutura porque ninguém cresce sem infraestrutura. Ninguém se desenvolve sem

infraestrutura e nós estamos priorizando esse investimento em infraestrutura. (Entrevistado

PP 1)

O desafio de Brumadinho nesse momento é pensar, de fato, no tipo de desenvolvimento que

querem. Optar por não crescer é sim uma maneira de se desenvolver. Etimologicamente, os

termos "crescer" e "desenvolver", significam, respectivamente: "aumentar naturalmente em

tamanho pela adição de material através de assimilação ou acréscimo” e "expandir ou realizar os

potenciais de; trazer gradualmente a um estado mais completo, maior ou melhor”, ou seja,

quando algo cresce fica maior, quando algo se desenvolve torna-se diferente (Daly, 2004). No

caso da economia, ela pode parar de crescer, mas continuar se desenvolvendo, nesse caso, o

termo desenvolvimento sustentável faz sentido para a economia, mas apenas se entendido como

desenvolvimento sem crescimento, ou seja, "a melhoria qualitativa de uma base econômica física

que é mantida num estado estacionário pelo transumo de matéria-energia que está dentro das

capacidades regenerativas e assimilativas do ecossistema" (Daly, 2004, p. 198). Atualmente, o

termo desenvolvimento sustentável é usado como um sinônimo para o oxímoro crescimento

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sustentável. Oxímoro, porque crescimento e sustentabilidade podem trazer uma contradição nos

seus próprios sentidos. Politicamente, admitir que o crescimento, com suas conotações quase

religiosas, deva ser limitado, pode ser difícil. Mas é exatamente a insustentabilidade do

crescimento que dá urgência ao conceito da sustentabilidade.

4.1.3 O papel de cada ator no desenvolvimento do território

Brumadinho é um município, cujo as principais atividades econômicas tem girado em torno

da mineração e do turismo. Esses atores econômicos tem gerado muitas discussões a respeito dos

caminhos para o desenvolvimento que o município buscará no futuro. Devido a isso, uma das

questões abordadas na entrevista semiestruturada foi o papel desses atores econômicos no

desenvolvimento de Brumadinho e o posicionamento do terceiro setor nessa conjuntura. Além

disso, buscou-se entender nesse momento, a relação desses atores com as comunidades.

4.1.3.1 Mineradoras

Do alto da encosta da Serra da Moeda, a visão que se tem de Brumadinho não deixa restar

dúvidas de que a cidade nasceu em um lugar privilegiado pela natureza. As montanhas que

cercam a região guardam um verde exuberante e uma fauna bastante diversificada, mas também,

concentram o minério de ferro que é responsável por quase toda riqueza produzida na cidade.

Nos seus mais de 600 km² de território que fazem do município o quarto mais extenso do Estado,

estão mineradoras como, Vale, MMX, Ferrous e Vallourec do Brasil, entre outras de menor porte,

que têm contribuído para que os indicadores de desenvolvimento econômico locais alcancem

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níveis elevados. Não por acaso, Brumadinho tem a terceira melhor colocação no Índice Mineiro

de Responsabilidade Social (IMRS), elaborado pela Fundação João Pinheiro em 2013.

Atualmente, cerca de 50% da arrecadação geral de Brumadinho vem da mineração. A

maior mineradora atuante na cidade é a Vale. O complexo Paraopeba responde pelas operações

de Belo Horizonte, Nova Lima e Sarzedo, contando com as minas Córrego do Feijão e Jangada,

além do terminal ferroviário Alberto Flores. Ao todo, a empresa produziu, somente no primeiro

semestre desse ano, 14,6 milhões de toneladas de minério de ferro (Hoje em Dia, 2014). O setor

de exploração mineral não criou somente empregos diretos em Brumadinho, mas também uma

enorme cadeia de serviços terceirizados que, hoje, ao lado do turismo, responde por quase toda

economia local. A prefeitura adota um discurso otimista e acredita que a atividade mineral ainda

irá se prolongar por muitos anos no município, tempo o suficiente para que alternativas de

arrecadação sejam elaboradas e colocadas em prática.

Como contrapartida à atividade minerária, o município tem conseguido firmar ações de

cooperação socioambiental junto às mineradoras. É o caso da pavimentação da estrada da

Conquistinha, que liga a cidade à BR-381, financiada pela MMX, os projetos de drenagem

pluvial realizados em conjunto com a Mineração Ibirité e a revitalização de praças públicas, feitas

em parceira com a Vale. A Vale também mantém na cidade uma unidade da Estação do

Conhecimento, complexo esportivo e educacional idealizado pela Fundação Vale. No complexo,

457 crianças e adolescentes do município têm acesso gratuito à infraestrutura para o

desenvolvimento de uma série de atividades que vão do atletismo às aulas de música. Além disso,

a empresa é a maior patrocinadora do museu do Inhotim, realizando, junto ao museu, diversos

programas como, por exemplo, o Inhotim para Todos que tem o objetivo de promover o acesso

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de jovens, adultos e idosos integrantes de programas sociais, associações e grupos comunitários

ao acervo e também ao espaço de forma gratuita (Vale, 2013).

Outra empresa com presença significativa no município é a Ferrous Resources que também

realiza alguns projetos no município como, por exemplo, o Turismo de Base Comunitária (TBC)

que é um projeto desenvolvido pela Ferrous, desde 2011, em parceria com a comunidade de

Brumadinho. O objetivo é estimular produtores e empreendedores locais a se organizarem em

torno de iniciativas que incrementem o turismo, a partir da valorização de seus saberes, fazeres e

de sua produção, contribuindo para a organização de uma rede de empreendedores

economicamente sustentável (Ferrous, n.d)

Mas será que isso seria o suficiente? Discutir a importância econômica da atividade

mineral no município seria "chover no molhado", entretanto, as contrapartidas socioambientais

estariam em equilíbrio com que o município tem gerado de riquezas à essas empresas ao longo de

todos esses anos de exploração mineral? E estariam de acordo com as reais demandas do

município? Ao longo da pesquisa foi possível perceber que a visão das pessoas sobre as

contrapartidas socioambientais das empresas é a de que não suprem o que é tirado do município

em questões ambientais e culturais. Em contrapartida, as mineradoras adotam a postura de que

tais contrapartidas, para além das condicionantes, deveriam ser solicitadas pelo poder público,

conforme demonstrado pelo trecho abaixo:

O poder público tem muita culpa também, porque o poder público nunca procurou muito

também não, só procurava em época de eleição para pedir dinheiro, então não tinha aquela

coisa de ficar exigindo também não. Acho que o poder público teve muita culpa nisso

porque, é aquela coisa né, se eu preciso, eu é que tenho que ir lá e chamar e ver "o que

vocês podem fazer?", "em que podem nos ajudar?". Mas também não é ficar extorquindo

igual fazem né. [...] uma empresa as vezes quer implantar uma coisa lá que custa 50

milhões em projetos e eles querem em outra. Uma empresa não vai fazer isso. Você pega aí

quase 10% do investimento para fazer uma coisa que não é competência dela. Aí fica essa

disputa, fica essa briga lá. [...] eles já conseguiram aproximar das empresas, mas falta ainda

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essa coerência para implementar as compensações que o município exige. (Entrevistado

EM 2).

O próprio poder público reconhece que durante muito tempo manteve uma postura muito

permissiva em relação às mineradoras e replica a afirmação acima, conforme trecho da fala de

um representante do executivo do município:

Até pouco tempo atrás era muito pouca essa participação[...]. Antes a mineração apenas

cumpria suas obrigações legais dentro do licenciamento e com seus impostos que são muito

pequenos [...], então a compensação era muito pequena. Com a autonomia ambiental do

município, a gente criou essa relação para mostrar para a mineradora que ela realmente

precisa fazer essa compensação no entorno onde ela está instalada[...]. [...] na verdade o que

a gente sempre ouvia da mineração é que nunca deixou nada, mas ninguém nunca foi lá

pedir nada também. (Entrevistado PP 1)

Interessante observar, comparando-se os trechos acima, a permissividade e cumplicidade

entre os discursos ao concordarem que é preciso pedir para que as empresas ajam de forma

responsável, pois, caso contrário, ela não teria como saber em que poderia ajudar. Isso demonstra

como as relações entre o poder público e o poder privado, detentor do desenvolvimento

econômico, permanecem engessadas. Dessa forma, essa relação ganha uma nova face mais oculta,

isso porque muitas vezes os interesses se sobrepõe às reais demandas das comunidades, conforme

relatos abaixo:

Geralmente eles investem em projetos culturais, a maior parte, são projetos culturais,

incentivo a cultura local, mas, assim, muito incipiente, eu acho, muito incipiente. Ajuda.

Não quer dizer que não ajuda, mas, pouco diante do que eles tiram de exploração aqui da

terra e do que eles degradam. (Entrevistado OSC 4).

Eu não vejo nenhum investimento das mineradoras aqui. Tem esse do TBC (Turismo de

Base Comunitária) que é uma estratégia para a Ferrous ter uma anuência aqui nas

comunidades. [...] Vejo só as mineradoras investindo em propaganda (Entrevistado OSC 1)

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Eu não vejo nenhum investimento deles para tentar recuperar os impactos ambientais

causados por eles mesmos. Eu não conheço nenhum projeto de mineração aqui para dentro

de Brumadinho, nenhum projeto social que está acontecendo aqui dentro de Brumadinho. A

Estação do Conhecimento? Será? [...] Talvez a Vale apoie projetos sociais no município. É

um projeto até bacana, mas é o único. (Entrevistado COM 2)

Elas cumprem algumas coisas se o poder público estiver em cima, a comunidade em si não

tem esse poder de exigir. E tem outra coisa que também acontece que é a questão de "rasgar

a calça no joelho direito e por o remendo no joelho esquerdo". O que eu quero dizer é o

seguinte, se Córrego do Feijão está sendo degradado, quando vem uma mitigação, essa

mitigação vai para um outro setor e Córrego do Feijão fica só com a degradação. [...] Qual

o retorno que lá teve? Quer dizer, o poder público não obriga ela a atuar lá, e ela também

não faz questão de estar fazendo isso. (Entrevistado COM 1)

Muitos dos projetos de responsabilidade social que as empresas vem implementando no

município tem sido muito desconectados das comunidades atingidas por seus empreendimentos.

São implementados na sede, geralmente financiando-se projetos de outras instituições já

existentes, projetos esses, que as comunidades impactadas muitas vezes nem tem acesso. As

relações que se estabelecem ainda são muito verticalizadas e nem empresas, nem o poder público

se movimentam em prol dessas comunidades. O que se vê são problemas socioambientais sendo

tratados como pontuais e modelos prontos de projetos sendo injetados nas comunidades,

desconsiderando-se suas demandas. Em Brumadinho, esse caso se exemplifica na comunidade do

Tejuco, uma comunidade que sofre com a falta e má qualidade da água, provocado pelas

atividades de mineração ali estabelecidas e que recentemente recebeu um investimento

sociocultural de uma das empresas de mineração que ali atua, cujo objetivo, seria retratar o

cotidiano ou o que adolescentes e crianças gostariam de ver ao sair às ruas de sua comunidade

através de pinturas de grafite. Esse projeto foi idealizado para estreitar a relação da empresa com

uma comunidade de outro município que estava em conflito por conta do muro que esta empresa

ergueu para separar a comunidade da ferrovia. Apesar de ser um projeto interessante, e que

alcançou o objetivo de melhorar sua relação com aquela comunidade, tentar replicá-lo a outra,

cujo conflito não é um muro e sim a água, parece uma tentativa de se ocultar uma evidência.

Apesar da acelerada expansão da participação social do setor empresarial, existe forte

resistência ao movimento de responsabilidade social empresarial, tanto em âmbito nacional

quanto em sua atuação global, advindas principalmente das OSC’s. Beghin (2009, p. 65) salienta

que muitas OSC’s, contrárias as práticas de RSE que vem sendo adotadas “se articulam em torno

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de uma espécie de contramovimento, o da responsabilização das empresas que, embora dividido e

fragmentado, surge como obstáculo à expansão desenfreada da globalização”. Levy e Kaplan

(2008) acreditam que a análise da RSE no âmbito global leva a diferentes visões, representando o

que eles chamam de “terreno contestado”. Deste modo, enquanto os defensores entendem a RSE

como um movimento em direção a uma forma de regulação civil, que é mais sensível para as

questões sociais, os críticos a veem como um sistema privatizado de governança corporativa, que

desloca a autoridade reguladora do Estado e, frequentemente, volta-se para as relações públicas e

marketing da empresa, do que, de fato, para uma mudança social substancial.

4.1.3.2 Inhotim

O Inhotim foi fundado em 2002 como uma fundação sem fins lucrativos que visava a

conservação, exposição e produção de trabalhos contemporâneos de arte e que desenvolvesse ações

educativas e sociais. Em 2005 abriu-se para visitações pré-agendadas para escolas da região e grupos

específicos e, finalmente em 2006, abre-se para o grande público. Em 2008, é reconhecido como uma

Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) pelo governo do Estado e no ano

seguinte pelo governo federal (Inhotim, n.d.).

A criação do museu se apresentou como forte impulsionador para uma nova vertente

econômica no município voltada para o turismo. Apesar de já existente em Brumadinho uma rede de

empresários voltados para o turismo, principalmente ecológico e gastronômico, foi com a chegada do

museu do Inhotim que essa corrente veio se fortalecendo e recebendo números cada vez maiores de

visitantes.

Diversos projetos paralelos à exposição de arte contemporânea e projetos paisagísticos são

realizados pelo museu do Inhotim, em parceria com diferentes empresas que o patrocinam, sendo a

principal delas a Vale S/A. Dentre esses projetos destacam-se, a parceria com escolas da rede pública

de Belo Horizonte e região metropolitana promovendo oficinas e atividades multidisciplinares

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aproveitando a estrutura do museu, com professores capacitados pelos programas de parceria, como é

o caso da Escola Integrada, onde crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos de idade, cursando ensino

fundamental, participam de atividades que acontecem nas terças e quintas-feiras nos jardins e galerias

do Inhotim (Inhotim, n.d.) e projetos voltados para as comunidades brumadinhenses visando articular

[...]diversas atividades em conjunto com a comunidade da cidade de Brumadinho e do seu

entorno. Desde a valorização de manifestações culturais populares, ao incremento de negócios

das redes gastronômica e hoteleira, passando pela mobilização social e pesquisas de resgate

histórico[...]. (Inhotim, n.d).

Muitos desses projetos são voltados para os jovens de Brumadinho, como é o caso do

primeiro emprego. O Inhotim hoje é o segundo maior empregador do município (Inhotim, n.d),

ficando atrás apenas da prefeitura de Brumadinho. Muitos desses empregos são oferecidos aos jovens

que estão se inserindo no mercado de trabalho. Além disso, diversos projetos culturais são realizados

para esse público-alvo como a Escola de Cordas, que oferece formação instrumentalista gratuita para

os jovens de Brumadinho, os Corais e o projeto "Brumadinho pelos Caminhos da Educação Musical",

responsável pela formação musical de quase 200 crianças e jovens matriculados, desenvolvido em

parceria com as bandas Nossa Senhora da Conceição de Brumado, Santa Efigênia, Santa Efigênia,

Santo Antônio de Suzane e São Sebastião (Inhotim, n. d.). O museu do Inhotim também trabalha em

parceria com a Rede de Artesãos de Brumadinho e com a Rede de Empresários de Turismo de

Brumadinho visando o fortalecimento dessas atividades.

A relação do Museu Inhotim com Brumadinho nem sempre foi harmônica e ainda é

controversa. Existia um sentimento de não pertencimento dos brumadinhenses em relação ao

museu. Muitos ainda veem o museu com muita resistência pela forma como chegou na região.

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Primeira coisa super importante é que o Inhotim deu visibilidade para Brumadinho, embora

no começo era uma reclamação que nós tínhamos com o Inhotim em como o Inhotim se

recusava a admitir que ele estava em Brumadinho. E a imprensa regional, nacional e

internacional se referia ao Inhotim como se não existisse Brumadinho. Eu tenho contato

com eles desde 2004, então eu sentia um barrismo, eles tratavam a gente como se a gente

fosse a província. Mas acho que isso mudou. A ultima vez que estivemos com o Bernardo

(Bernardo Paz, dono do Inhotim) ele pediu pelo amor de Deus para aceitar o Inhotim

(Entrevistado PP 4).

O museu foi fundado em um espaço onde antes existia uma comunidade chamada Inhotim.

Localizada na zona rural do distrito de Conceição do Itaguá em Brumadinho, a comunidade

Inhotim foi fundada em 1870. A partir de 2002 até 2009 o proprietário do museu, Bernardo Paz,

que tinha uma propriedade na comunidade e ali residia desde o final da década de 80, começou a

comprar as casas do entorno de sua propriedade, já como um prenúncio do que viria a acontecer

(Oliveira, 2010). Nesse período, a comunidade Inhotim tinha cerca de 300 habitantes e 70

moradias (Oliveira, 2010). Apesar de as negociações terem sido feitas de forma respeitosa e, de

certa forma, pacíficas, pagando-se um preço justo pelas propriedades, o sentimento de

pertencimento de alguns moradores daquela comunidade se mostrou como uma frente de conflito.

Muitos não aceitavam o fim da comunidade, criticando o museu pela interferência na paisagem

local e pela destruição dos bens comunitários, construídos, muitas vezes, em regime de mutirão

durante os anos de existência (Oliveira, 2010).

É possível perceber que, mesmo em empreendimentos voltados para a cultura e o turismo,

que intencionalmente são fundados para promover um tipo de desenvolvimento mais harmônico,

a ideia do topocídio, tratada acima, se manifesta de forma bastante evidente. Uma das

características fundamentais do topocídio é a sua implementação de forma suave, sem que a

população envolvida perceba o que está acontecendo e quando percebem, já é tarde (Porteous,

1988).

Em 2000, ele (Bernardo Paz) começou a fazer umas construções lá que espantou os

moradores do Inhotim, construções que ninguém sabia o que era. Na verdade, era o

prenúncio do museu que estava sendo construído por ele, já colocando algumas obras de

arte lá e ele passou a interferir na geografia do lugar. (Entrevistado OSC 2)

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Após matéria de um jornalista, morador da comunidade, no jornal local criticando as

interferência do empresário na comunidade, o mesmo expôs sua intenção em criar o museu,

porém, informando que seria algo de pequeno porte, conforme trecho da entrevista abaixo:

Ele foi lá em casa [...] e disse: 'Eu queria era te explicar qual é o meu projeto'. [...] Então ele

explicou qual era o projeto dele: 'Eu vou construir um museu, só que pequeninho e tal, e eu

quero é conviver com essa comunidade aqui, fazer parceria com a comunidade. Você como

liderança da comunidade, eu quero que você me ajude.' E eu falei: se é isso, vamos ajudar

né. [...] A partir daí continuei ajudando em muita coisa porque achava o projeto dele

interessante e trocava ideia com o Bernardo Paz sobre a perspectiva do meio ambiente,

desenvolvimento, do futuro. Mostrava para ele o que de negativo as mineradoras estavam

fazendo, que ele não deveria repetir aquilo e que ele deveria ter uma convivência boa com a

comunidade [...], só que com o passar do tempo o projeto Inhotim se tornou incompatível

com a comunidade e aos poucos o próprio museu foi pressionando os moradores a vender

suas propriedades[...] (Entrevistado OSC 2)

O processo de desvanecimento dessa comunidade foi chamado por Oliveira (2010) de

diáspora devido ao desmembramento dessa comunidade e a dispersão dos antigos moradores

após a venda das propriedades. Oliveira (2010), em seu livro "Réquiem para o Inhotim", conta

através de poesias, a história dessa comunidade e expressa o sentimento dos moradores da

seguinte forma:

Inhotim

Inhotim

O que estão fazendo aí?

- Estão construindo estrada de ferro!

[...]

Inhotim

Inhotim

O que estão fazendo aí?

- Estão levando nosso chão de ferro!

Inhotim

Inhotim

O que estão fazendo aí?

- Estão instalando museu de arte contemporânea!

[...]

Inhotim

Inhotim

O que estão fazendo aí?

- Estão comprando nossas terras!

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Inhotim

Inhotim

O que estão fazendo aí?

- Levaram nosso chão,

nosso ferro,

nossos projetos

nosso nome

nossos sonhos! (Oliveira, 2010, p. 111)

Em 2007 é criada a diretoria de Inclusão e Cidadania que era responsável pela relação do

museu com os diversos setores do município: comunidades, setor político, empresas e etc.

Foi um trabalho onde buscou-se realmente reconhecer todos os atores que assumiam algum

papel econômico ou social ou cultural no município e como eles poderiam pensar o

desenvolvimento do município. Então trabalhou-se com três eixos principais que era o eixo

de música, parte mais cultural; um eixo que era de organização do empresariado de turismo;

e um eixo que era o desenvolvimento das associações, dos grupos coletivos que tinham lá.

(Entrevistado OSC 3).

O trabalho dessa diretoria foi aos poucos aproximando o museu da população de

Brumadinho e esse trabalho parece ter apresentado resultados positivos. Em recente pesquisa de

opinião feita pelo museu, o resultado mostrou que a população de Brumadinho já o reconhece

como parte do município, conforme relato abaixo:

Mostrou (a pesquisa) que a população de Brumadinho tem orgulho de Inhotim, sabe que é

um bom empregador, sabe que é uma oportunidade para os jovens, as pessoas veem o

aspecto positivo da instalação do Inhotim lá [...]. (Entrevistado EM 3)

Entretanto, o museu hoje, reconhece o distanciamento inicial e os fatores de resistências por

parte da população:

Teve sim (uma distancia entre Brumadinho e Inhotim) no início, e tem relatos e

documentos que mostram isso [...]. Arte contemporânea não é uma arte que as pessoas tem

um repertório já consolidado de uma pintura, essa coisa mais comum quando você pensa

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em arte né. [...] é o novo né. E o novo sempre contrapõe. Além disso, para se criar o

Inhotim, para se ampliar - e o Bernardo é uma pessoa muito visionária - ele comprou

aquelas áreas ali no entorno do Inhotim, onde era a vila, e pagou super bem. Inclusive a

terra ali é super valorizada em função do Inhotim, então, mesmo que as pessoas tenham

vendido e vendido bem as suas propriedades, tem uma perda né. Tem uma perda histórica.

Então tem uma parte da população que olha para o Inhotim e fala: 'Olha! Lá era uma igreja.'

A gente tem um funcionário que foi batizado na capela que tem dentro do Inhotim. Agora,

isso é negativo? Não! É um processo mesmo de estranhamento. Além disso, querendo ou

não, final de semana quando as pessoas vão para o Inhotim elas tem que passar por

Brumadinho e uma coisa que eu sempre escutei o pessoal da cidade falando é que o pessoal

passa de vidro fechado e nem olha. São os ricos que vão para o Inhotim e fecham os vidros

para não ver a cidade. Não olham. Não param. E não ficam por aqui. (Entrevistado EM 3)

Recentemente foi aprovada a construção de uma estrada que irá ligar a MG-040 à

Brumadinho, facilitando o acesso ao museu do Inhotim. Dois pontos precisam ser analisados

nesse projeto: (1) por um lado a importância do museu na visibilidade que tem dado ao município

facilitando captações de recursos, principalmente, para investimento na infraestrutura do

município; (2) por outro lado, e contraditoriamente, as queixas da população em relação à

invisibilidade do município pelos turistas que visitam o museu e não ficam na cidade, não

consomem, não utilizam seus serviços, tem fundamento se pensarmos que uma alça que dará

acesso direto ao museu não passará por dentro da cidade.

O que eu percebo é que o desenvolvimento é essencialmente do território Inhotim, mas pelo

menos este território Inhotim já se percebeu dentro de um outro território que é

Brumadinho, mas o desenvolvimento de Brumadinho é, desde que, seja bom para o

território Inhotim (Entrevistado COM 3)

De toda forma, a presença do Inhotim em Brumadinho vem movimentando uma rede de

empresários focados no desenvolvimento do turismo na região, se colocando como uma

alternativa de reconversão econômica para o município, frente à dependência da mineração.

Resta saber, se as relações políticas e econômicas do Inhotim, não seguirão os mesmos padrões

colonizadores das mineradoras.

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4.1.3.3 Empresas de Turismo

Conforme apresentado anteriormente, Brumadinho possui um potencial turístico que vem

sendo encarado pelo poder público e pelos empreendedores com cada vez mais seriedade. A

chegada do museu do Inhotim, em 2006, impulsionou fortemente esse setor estimulando os

empresários do turismo a investirem mais em seus negócios. Buscando o desenvolvimento

contínuo, em 2008 foi criada a Rede de Empresários do Turismo, incluindo empresários do setor

das regiões do médio e alto Paraopeba, visando fortalecer as relações entre os parceiros,

potencializar os empresários, garantir a sua autonomia e sustentabilidade (Portal de Brumadinho,

n.d).

Com a criação da Rede diversas práticas foram sendo adotadas buscando profissionalizar e

estruturar melhor o setor. Dentre elas, pesquisas tem sido feitas junto aos hotéis, pousadas, bares

e restaurantes do município de Brumadinho, com a finalidade de levantar a capacidade instalada

nos empreendimentos do município. Dessa forma, um banco de dados é alimentado permitindo o

diagnóstico de pontos positivos, pontos críticos e necessidades dos empreendimentos, sendo

possível conhecer, com detalhes, tanto as condições dos empreendimentos, quanto as

potencialidades da região, para fornecer informações e referências aos turistas que demandam

serviços de qualidade (Portal de Brumadinho, n.d).

Alguns estabelecimentos da Rede participam do programa "Amigos do Inhotim" firmando

parcerias com o museu para divulgação de seus estabelecimentos no site do Instituto Inhotim,

oferecendo desconto a todos os visitantes do museu que fazem parte do programa mediante

apresentação de uma carteirinha personalizada (Portal de Brumadinho, n.d).

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Por meio do convênio 733314/2010 entre o Instituto Inhotim e o Ministério do Turismo,

foram realizadas ações de qualificação da Rede, de acordo com a demanda dos próprios

empresários (Portal de Brumadinho, n.d). Os cursos de qualificação profissional em

Hospitalidade e Hotelaria beneficiaram diretamente cerca de 50 alunos:

Tabela 3

Cursos de qualificação profissional

Cursos Nº de alunos

Camareira (30 horas) 12

Garçom (175 horas) 20

Auxiliar de cozinha (175 horas) 20 Nota. Fonte: Portal de Brumadinho. (n.d). Rede Empresarial do Turismo em Brumadinho e entorno. Recuperado em

http://www.portaldebrumadinho.com.br/v2/exibir_secao.asp?CodSecao=3

Outra ação importante para a Rede de Empresários foi o curso “Desenvolvimento de Plano

Estratégico para Empresários da Cadeia Produtiva do Turismo de Brumadinho, Bonfim, Moeda e

Rio Manso” em 2011, que aconteceu por meio do mesmo convênio beneficiando cerca de 70

empresários envolvidos na ação (Portal de Brumadinho, n.d).

O município de Brumadinho conta hoje com cerca de 30 pousadas e hotéis, além de

restaurantes e atrativos turísticos como cachoeiras, museus, trilhas, rampa de voo livre, atividades

de aventura, cavalgada, igrejas históricas, empregando hoje cerca de 3 mil pessoas diretamente e

8 mil indiretamente (Brumadinho, 2014). Além disso, esses empreendimentos tem como

característica o perfil familiar e investimentos feitos por pessoas de fora do município que

mudam-se para lá em busca de melhor qualidade de vida.

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Figura 10. Empreendimentos turísticos em Brumadinho Nota. Fonte: Portal de Brumadinho. (n.d). Rede Empresarial do Turismo em Brumadinho e entorno. Recuperado em

http://www.portaldebrumadinho.com.br/v2/exibir_secao.asp?CodSecao=3

Apesar dos esforços em ampliar cada vez mais o setor do turismo, Brumadinho ainda

enfrenta alguns desafios, cabendo destacar a infraestrutura atualmente oferecida pelo município.

Em maio de 2014, o prefeito de Brumadinho, através do "Bate-papo com o Prefeito", recebeu a

Rede de Empresários que expuseram as carências e dificuldades que o setor encontra quando

esbarra nas deficiências de infraestrutura do município, principalmente, relacionadas ao

asfaltamento dos principais trechos de interligação turística do município, sistema de sinalização

com informações turísticas em bilíngue, alvarás de funcionamento, serviços de telefonia celular,

transporte público, coleta de lixo e políticas públicas voltadas para o setor (Brumadinho, 2014).

No distrito sede de Brumadinho, os investimentos voltados para esse setor ainda são muito

incipientes, concentrando-se a maior parte dos pólos turírsticos nos distritos rurais,

principalmente em Casa Branca e na Serra da Moeda. A maioria dos hotéis, pousadas e

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restaurantes de Brumadinho encontram-se nos distritos rurais. Isso faz com que os turistas

acabem buscando essas regiões ao invés da sede. A reclamação dos moradores da sede em

relação aos turistas que vão ao Inhotim e não ficam na cidade, respalda também na precariedade

de sua infraestrutura.

Se por um lado o setor minerário é bastante presente na memória dos brumadinhenses da

sede e, de certa forma, com um discurso favorável à esse setor, por outro, o turismo ainda é algo

que se encontra no imaginário ideológico, pouco concretizado. Já na visão dos moradores de

Casa Branca e comunidades da Serra da Moeda, o turismo é algo concreto e vivenciado e a

ameaça ali é a mineração.

Todos os funcionários são das comunidades (dos restaurantes, pousadas e condomínios). [...]

Hoje uma pessoa, por exemplo, que toma conta de uma casa dentro de um condomínio, tipo

o Retiro do Chalé e toma conta de um jardim e pega 3 casas para tomar conta, no final ele

tem uma renda de mais de dois mil reais mensais. Enquanto o funcionário que é contratado

pelo Inhotim ganha uns 800 reais, as mineradoras também, 800, 800 e pouquinho. É muito

fácil você comparar. Compara um funcionário que está dentro do Inhotim hoje, o padrão de

vida dele, um que está dentro da mineradora e um que está dentro de um condomínio. Hoje

o que trabalha em condomínio tem uma casinha muito boa e ainda vai ter na garagem dele

um carro, vai ter uma moto e vai ter uma bicicleta para o menino dele. Agora faz essa

pesquisa com os funcionários do Inhotim e com os funcionários dessas mineradoras [...].

(Entrevistado COM 2).

É possível observar que há um movimento crescente em Brumadinho para a via do turismo

e uma compreensão de que o território tem importantes possibilidades a serem exploradas por

esse setor. Esse movimento tem ganhado forte apoio de algumas organizações do terceiro setor e

de alguns representantes de comunidades. O que talvez ainda falte, na percepção da pesquisadora,

é um interesse maior, principalmente por parte do poder público nesse sentindo. Os olhares sobre

o turismo ainda estão muito periféricos no município e o discurso da mineração ainda é muito

forte para alguns representantes do poder público.

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Tem um caso recente agora em Rio Acima, onde a Vale foi praticamente expulsa de um

projeto lá. Faltou força política na época para defender, coerência[...]. Então poderia

conciliar sim. Hoje está lá o prefeito doido atrás da Vale, querendo que ela volte, os

vereadores, as associações. Quer dizer, tão sentindo falta do recurso. Eu converso com o

prefeito de Ouro Preto, com o prefeito de Tiradentes, com o prefeito de Mariana. Fala com

eles, que são hoje os precursores de turismo em Minas Gerais, para fechar as minerações?

Dá falência! Quem sustenta ainda hoje Ouro Preto, Tiradentes e Mariana é a mineração. E

sustenta Minas Gerais. Então, eu falo que a mineração está para Minas Gerais igual a soja e

o boi estão para o Mato Grosso. Você vai tirar aquilo de lá, ela vai virar o que? Então é uma

atividade assim muito importante, agora, precisamos ter esse equilíbrio. (Entrevistado PP 2)

Há um receio de que esse movimento focado no turismo atropele a transição econômica de

um segmento para o outro. De fato, é preciso considerar que Brumadinho ainda é

economicamente dependente da mineração e essa transição não deve acontecer de maneira

abrupta. Entretanto, é preciso considerá-la de maneira mais estratégica dentro das políticas

públicas municipais, visando o desenvolvimento do município como um todo, tanto nas

comunidades rurais, que em geral, anseiam pela conservação e valorização do seu modo de vida,

quanto ampliando-o para dentro da sede, hoje, muito aderente ao discurso insustentável da

mineração.

4.1.3.4 Organizações da Sociedade Civil (OSCs)

Durante a pesquisa pode-se perceber que o terceiro setor em Brumadinho é muito fraco,

principalmente no que diz respeito à participação política. De acordo com o Entrevistado OSC 2,

já houve uma movimentação maior dessas entidades no município. Ele acredita que a sociedade

civil se acomodou e, apesar de terem vários conselhos temáticos institucionalizados como, o

Conselho de Saúde, o Conselho de Assistência Social, o Conselho dos Idosos que tem um

funcionamento positivo, possuem pouca efetividade na interferência das políticas públicas em

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Brumadinho. Tendo em vista essas fragilidades, a pesquisa focou-se em dois movimentos

ambientalistas que foram apontados como os mais atuantes pela maioria dos entrevistados:

Movimento Abrace a Serra da Moeda e os movimentos/instituições de Casa Branca: Movimento

pelas Águas e Serras de Casa Branca, Instituto Casa Branca e Casa Guará.

O Movimento Abrace a Serra da Moeda surgiu em 2008 como um movimento de oposição

ao projeto de reativação da mina Vista Alegre, chamada agora de Serrinha, pela Ferrous

Resources do Brasil e que estava a 15 anos com suas atividades interrompidas deixando um

enorme passivo ambiental e social na região. O objetivo do Movimento é reivindicar dos

representantes políticas públicas concretas voltadas para a preservação integral da Serra da

Moeda de maneira a constituí-la como um monumento natural, alegando que o projeto coloca em

risco espécies endêmicas da vegetação de canga e espécies da fauna ameaçadas de extinção

(Abrace a Serra da Moeda, n.d).

A região da Serra da Moeda dividi-se entre os condomínios fechados de luxo, comunidades

de agricultura familiares, comunidades quilombolas e espaços para a prática de esportes radicais

e de aventura. Hoje, é um importante polo turístico para o município, onde se concentram

construções históricas, como a Fazenda dos Martins, e importantes mananciais que abastecem a

região. A Serra da Moeda faz parte do complexo da Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa que

atravessa os estados da Bahia e Minas Gerais e que recebeu o título de Reserva da Biosfera em

2005 pela UNESCO. De acordo com o Movimento Abrace a Serra da Moeda, a área afetada pelo

empreendimento que se constituirá, além da cava, de uma planta de beneficiamento, de uma

barragem de rejeitos e pilha de estéril, encontra-se inserida em uma zona de transição nos limites

de Mata Atlântica e Cerrado, considerada por especialistas como áreas frágeis, de alta

vulnerabilidade ambiental (Abrace a Serra, 2010).

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Enquanto o Movimento Abrace a Serra da Moeda se caracteriza como uma frente de

resistência à implantação de um empreendimento minerário, as reivindicações das OSCs de Casa

Branca já convivem com a mineração e sua luta se configura pela cobrança de condicionantes não

cumpridas, pela poluição e escassez de água, pela mitigação dos impactos ambientais e uma

atuação socioambiental mais responsável da mineradora que lá atua e contra o projeto de

expansão de uma mina que, recentemente, tem provocado um forte debate entre os moradores da

região.

Essas organizações de Casa Branca nasceram a partir de iniciativas dos moradores e

ganharam apoio dos admiradores da região. Aos pés da Serra do Rola Moça, tanto o Instituto

Casa Branca, quanto o Movimento pelas Águas e Serras de Casa Branca se voltam para a

proteção da fauna e da flora da região lutando por sua preservação e contra a degradação da

mineração. O Centro de Referência da Infância e Preservação da Vida - Casa Guará é uma

instituição de natureza filantrópica, que visa oferecer alternativas à comunidade de Casa Branca e

adjacências do município, buscando suprir a carência dos instrumentos culturais, artísticos,

sociais e ambientais da região, através do desenvolvimento de projetos voltados paras as crianças,

adolescentes e jovens (Casa Guará, n.d). A Casa Guará já recebeu recursos da Vale, mineradora

que atua na região, mas que recentemente retirou o incentivo financeiro alegando o corte de

alguns custos por conta do atual cenário econômico desfavorável.

Ambos os movimentos tem uma atuação muito pontual no município, um atuando

especificamente na Serra da Moeda e o outra na região de Casa Branca. Para algumas pessoas,

esse fato é visto de maneira negativa, conforme aponta o relato abaixo:

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A atuação das ONGs está muito fraca. Tem muito interesse pessoal. Não é um interesse

global. Então cria a ONG defendendo o seu território e eu acho que a ONG tem que

defender o município como um todo. (Entrevistado COM 1)

Assim como apontando pelo poder público como justificativa para a dificuldade de atuação

no município como um todo, a extensão territorial também é apontada pelas OSC’s como um dos

fatores que desfavorecem a expansão e integração desses movimentos. Além disso, alegam que as

complexidades dos conflitos com os quais tem lidado e a falta de recursos não as permite

expandir o seu foco de atuação.

A gente tem uma atuação muito focada. Nós não trabalhamos em Brumadinho, nós

trabalhamos na Serra da Moeda, na vertente de Brumadinho da Serra da Moeda. A gente se

posiciona contra um projeto de mineração que é insustentável e que vai secar a principal

nascente que abastece mais de 10 mil famílias que é a Mãe D'água. [...] Por mais que hoje

tenha uma tentativa de uma interlocução com outros movimentos que estão trabalhando

outras partes da Serra da Moeda ou outras partes de Brumadinho, como é o caso que a

gente tem feito agora com Casa Branca tentando fazer um trabalho mais conjunto em Casa

Branca, a nossa atuação é focada na Serrinha. [...] A gente gostaria muito de trabalhar em

outros projetos pela sustentabilidade do município, de educação ambiental, mas não tem

jeito [...]. (Entrevistado OSC 1)

Em contrapartida, é possível perceber que há uma certa adesão das comunidades do entorno

à esses movimentos, como por exemplo, no caso do Movimento Abrace a Serra da Moeda onde

um movimento paralelo encabeçado pelos representantes dos quilombolas e dos pequenos

agricultores se uniram aos representantes do Movimento Abrace a Serra da Moeda constituindo-o

assim, como uma ONG e não apenas um Movimento.

Ai do Vale do Paraopeba se não fosse a fusão dos dois movimentos que a gente tinha há 5

anos para criar a ONG Abrace a Serra. Se a gente não tivesse criado essa ONG, as 17

comunidades já tinham sido varridas do mapa. Hoje elas estariam embaixo de uma

barragem de rejeitos. [...] Para mim a ONG Abrace a Serra da Moeda tem um papel

fundamental nesse município, tanto na questão ambiental, quanto na questão cultural e

social desse município. [...] Se naquela ocasião a gente não tivesse criado essa ONG de

resistência ambiental, lá hoje era zero, socialmente os moradores tinham saído dessas

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comunidades com o dinheiro e estariam morando em uma favela, as filhas e filhos

envolvidos com drogas, vivendo na periferia, as filhas já estariam criando um, dois, três

meninos [...]. (Entrevistado COM 2)

Entretanto, existe um movimento contra a atuação dessas ONG's, principalmente na sede,

que os enxerga como movimentos de ricos por atuarem em áreas onde se localizam os

condomínios de luxo. Os próprios representantes do poder público replicam esse argumento,

conforme trecho abaixo:

Eu acho até demagogo porque a maioria mora com asfalto na porta, carro de luxo, celular

do melhor, tem chuveiro a gás, elétrico... São altamente consumistas. Eu não vejo nenhum

líder de ONG morar dentro de favela ou num ranchinho pobre na beira do matinho,

bebendo água da bica. A maioria que eu conheço estão dentro de condomínios e ficam

fazendo uma apologia em cima de um mundo que a cultura é essa mesma, então eu acho

que falta razão, falta conhecimento, falta maturidade para essas ONGs. (Entrevistado PP 1)

A apologia ao qual o representante acima se refere seria a preservação e o desenvolvimento

do turismo? Sim, os projetos de mineração são importantes para o município e isso é inegável,

entretanto, a tentativa de deslegitimar a atuação local dessas ONG's argumentando que são

movimentos de ricos e por isso, são utópicos, parece mais um discurso de desconstrução política-

econômica do que uma realidade em si.

Eu acho que, tomando como exemplo a maioria delas, primeiro que todo dia você vê um

escândalo relacionado a ONG: lavagem de dinheiro, corrupção, desvio de dinheiro, ou seja,

gente se aproveitando, outros querendo se promover politicamente, então a filosofia da

ONG que é uma organização não governamental, é de ser imparcial, a ONG não pode ter

lado. (Entrevistado PP 1)

De acordo com os representantes dessas ONG's, existe um movimento que tenta

deslegitimá-las e acusam o poder público municipal de encabeçar uma dessas frentes de oposição:

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Nos temos dois movimentos de oposição: o primeiro liderado pelo poder público que, com

articulação da empresa, tenta disseminar a ideia de que ter um monumento vai impedir o

desenvolvimento da região. É uma mentira mesmo...disseminar uma mentira.[...] Há uma

conivência, uma atuação conjunta da secretaria de meio ambiente, no caso, do secretário de

meio ambiente [...] querendo desmobilizar. As críticas que se fazem a nós, lá, o pessoal da

sede, é que são esses ricos do Retiro do Chalé querendo defender o quintal, como se

quisessem tirar a legitimidade [...] A gente sempre foi nas comunidades, mas nunca

tínhamos ido nos condomínios, agora nós estamos começando a ir nos condomínios e é

legal como as pessoas reconhecem o nosso trabalho. (Entrevistado OSC 1)

A Abrace a Serra tem uma boa relação com as comunidades porque quando ela nasceu, ela

não nasceu uma ONG burguesa igual meia dúzia pregam aqui, ela nasceu uma ONG mista.

Desde quando ela nasceu ela tem mais diretor das comunidades do que dos condomínios

dos ricos. E a bem da verdade, a Beatriz quando era presidente e a Cristina Vignoli que é

hoje é a presidente, o poder de decisão dela é tanto quanto o meu e do (representante) dos

quilombolas. [...] Ela é mais uma ONG comunitária do que uma ONG de condomínio, de

burguesia. (Entrevistado COM 2)

A fraca participação política das ONG's no município, conforme exposto acima, pode ter

sido agravada por essa rixa entre o poder público e as ONG's. De um lado, o poder público

reclama do radicalismo e falta de equilíbrio e sensatez das ONG's, utilizando-se do discurso de

classes para deslegitimar a sua pauta de reivindicações e aderindo ao discurso conservador e

economicista das sociedades industriais, por outro as ONG's reclamam da conivência do poder

público com as mineradoras. Ao final, o sentimento que permanece aos representantes da

sociedade civil é:

Nadando contra a corrente. Tem um esforço, tem um trabalho, mas a corrente é forte e é

difícil vencê-la. Então eu acho que não se consegue tanta penetração, tanta expressividade.

[...]. (Entrevistado COM 3)

Interessante observar que essas organizações, tanto o Movimento Abrace a Serra da Moeda,

quanto as OSC’s de Casa Branca, atuam nos principais polos turísticos do município.

Contraditoriamente, essas mesmas regiões turísticas são as que tem protagonizado os conflitos

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socioambientais mais significativos dentro do município, uma vez que, tem que conviver com a

ameaça de novos projetos minerários, ou seja, em um território tão extenso, duas regiões tem sido

disputadas pelas principais frentes econômicas que tem se estabelecido no município: mineração

e turismo.

4.1.4 Os conflitos socioambientais e a responsabilidade socioambiental das empresas

Durante a pesquisa, através das andanças por Brumadinho com conversas informais com

algumas pessoas e pelas entrevistas semiestruturadas, pode-se levantar os principais conflitos

socioambientais que o território enfrenta e que estão mais presentes na memória das pessoas. Três

desses conflitos foram apontadas pela maioria das pessoas, sendo eles: (1) expansão imobiliária;

(2) arbitrariedades da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA); e, em especial, os

(3) impasses com mineradoras.

Em relação a expansão imobiliária, por estar um pouco mais distante da capital, somente

nas últimas décadas Brumadinho entrou no circuito da expansão metropolitana. Sua grande

extensão territorial coloca o município entre dois eixos de articulação viária: o vetor oeste através

da BR-381 e o vetor sul através da BR-040 dando-lhes as mais diversificadas características. Essa

articulação diversa permitiu ao município que se relacionasse, através de sua sede, com a região

industrial do aglomerado metropolitano e gozasse de certo desenvolvimento enquanto polarizava

municípios vizinhos que tinham seu único acesso à Belo Horizonte através de Brumadinho

(Gaspar, 2005). Ao mesmo tempo, mantinha em sua porção leste regiões com fortes

características rurais entremeadas por pequenos povoados (Gaspar, 2005). A topografia difícil e

as más condições de acesso a algumas áreas do município fizeram com que sua ocupação fosse

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menos intensa, ao longo dos anos, nas áreas próximas a Serra da Moeda que circunda todo o

limite do município com Nova Lima e a Rodovia BR-040, deixando, essa parte em especial do

município, por muito tempo fora da rota de expansão da metrópole. O crescimento populacional

observado na última década em Brumadinho, mostra que o relevo montanhoso, não somente, não

tem mais se configurado em empecilho para ocupação dessa região, como tem se transformado

em atrativo para os seus novos moradores, colocando Brumadinho no eixo sul da expansão

metropolitana (Gaspar, 2005).

Um dos principais pontos a se destacar nesse processo de expansão imobiliária é o aumento

dos condomínios horizontais de luxo na região leste do município. Casa Branca, Serra da Moeda

e adjacências tiveram, a partir da década de 80 um "boom" no número de condomínios. Ao

mesmo tempo em que esses condomínios, de certa forma, blindam o meio ambiente, provocam a

privatização da natureza, que transforma cachoeiras e cursos d’água, antes abertos ao uso público,

em áreas privadas e de acesso bastante restrito (Gaspar, 2005). Além disso, transformam a

dinâmica da vida rural de seu entorno, onde, distritos como Piedade do Paraopeba, por exemplo,

passam a ser cenário de padrões de consumo mais sofisticados e que em nada tem haver com a

cultura local.

Dessa forma, cria-se um território dentro de outro território, pois esses condomínios

possuem uma administração própria, com leis de uso e ocupação próprios e muitas vezes com

poucos vínculos com o resto do município. Se formam "ilhas" dentro do território, desconectadas

das dinâmicas locais, onde, muitas vezes, nem os serviços públicos do município chegam.

[...] a área disponível que tem para crescimento da região de Belo Horizonte é Brumadinho,

e se realmente isso acontecer sem um planejamento, sem uma devida adequação das áreas a

serem divididas, construídas, vai ser um dos maiores impactos do meio ambiente em

Brumadinho. Já é! Porque você sabe que um condomínio gera lixo e esgoto complexos para

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o meio ambiente. E até hoje o Retiro do Chalé não tem sistema de esgoto. São fossas, o lixo

não tem coleta seletiva organizada [...] (Entrevistado OSC 3).

A postura da administração municipal é de não interferência nas áreas internas dos

condomínios, deixando a esses a responsabilidade pela implantação da infraestrutura e

administração dos serviços. Se por um lado, essa isenção do poder municipal atende ao interesse

da comunidade local se eximindo de gastos em áreas que abrigam, principalmente, população

externa (no caso de sítios de fim de semana), por outro, tal atitude se mostra irresponsável diante

do dever de gerir o desenvolvimento urbano de seu território e garantir o bem estar de seus

cidadãos. A prefeitura perde assim, o poder de controle quanto às questões que são de interesse

público, como a destinação final do lixo e do abastecimento de água.

E é justamente o abastecimento de água e tratamento de esgoto que tem sido uma

reclamação dos brumadinhenses em relação à COPASA. Brumadinho é um município com mais

de 33 mil habitantes, com uma extensão territorial de mais de 600 km², muito próximo à capital

do estado, polo minerador e sem nenhuma estação de tratamento de esgoto. Mesmo assim, a

partir de 2008, a COPASA começou a cobrar da população uma taxa para tratamento de esgoto

nas contas mensais. Em 2013, o vereador eleito Reinaldo Fernandes, entrou com uma

representação junto ao Ministério Público Estadual contra a COPASA, exigindo a suspensão da

taxa e a devolução, em dobro, do valor cobrado (Jornal De Fato, 2013) obtendo êxito no processo.

Entretanto, a COPASA recorreu da decisão e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais derrubou a

liminar que suspendia a cobrança dessa taxa. Dessa forma, a Câmara de Vereadores de

Brumadinho aprovou, por unanimidade, uma lei que proibia a empresa de cobrar tal taxa no

município estando sujeita a multa caso descumprisse. Essa lei entrou em vigor em janeiro do ano

seguinte, porém, a empresa não a cumpriu e desde então vem cobrando ilegalmente a Taxa de

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Esgoto. O processo continua em aberto no Ministério Público, mas até ao final dessa pesquisa,

sem desfecho.

O maior conflito socioambiental de Brumadinho, entretanto, se configura na relação das

mineradoras com o território. Brumadinho tem cerca de cinco grandes mineradoras atuando em

seu território e que protagonizam conflitos pontuais no local onde estão suas operações, uns de

menores e outras de maiores proporções. Interessante observar como esses conflitos são vistos

pelos entrevistados dentro município, ou não são vistos, ao serem perguntados se haviam

conflitos socioambientais em Brumadinho. Para os representantes do poder executivo municipal a

relação das mineradoras no município não chega a se configurar como um conflito. Eles apontam

que a única resistência percebida é em relação às questões ambientais, mas que o município tem

atuado de forma incisiva e as mineradoras tem se posicionado positivamente, demonstrando-se

mais responsáveis, conforme apontado pelos trechos abaixo transcritos:

Hoje o que eu posso te dizer é que a gente praticamente não tem (conflitos socioambientais).

Você pode até não acreditar porque nós temos hoje uma área bem definida. A nossa

indústria, que é a mineração, ela tem territórios próprios que foram comprados a mais

tempo onde ela atua. Ela tem por exemplo uma área que usa apenas 10% do território, o

resto são áreas preservadas, então você quase não vê. (Entrevistado PP 1)

Elas não fogem não. São extremamente responsáveis quando são chamadas. É por isso que

é importante que você tenha um poder público bem armado. Quando você faz um

chamamento a todas essas empresas elas atendem prontamente. Elas vem. Elas conversam e

propõe ajuda. (Entrevistado PP 2)

Convergindo com essa visão, os representantes das empresas reconhecem que antigamente

a postura das mineradoras era muito ruim e nociva ao município, e sua relação com a população

era muito distante, se configuravam apenas como postos de trabalho, mas hoje já constroem uma

relação de pertencimento com o território. Além disso, apontam que a legislação ambiental está

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cada vez mais exigente e, por isso, precisam cumprir essas leis para que possam ter seus projetos

aprovados.

Algumas pessoas criticam por não estarem dentro do processo, e outras realmente não

conhecem o processo [...]. As vezes eu digo, quando eu defendo, a empresa de mineração

tem todas as normas, as ISO's que são necessárias ter para fazer o processo de mineração.

Acredito que anos atrás realmente houve um descuido das mineradoras, mas com a

evolução das pessoas que trabalham no meio ambiente a cobrança se tornou muito grande.

(Entrevistado EM 1)

A relação de dependência do município para com essa atividade econômica, também é

destacada pelos representantes das empresas.

[...] As mineradoras são partes essenciais do processo e muitas vezes as pessoas não veem

isso. [...] Se cortar essa CEFEM, acabou Brumadinho...as pessoas vão trabalhar aonde? [...]

Uma relação de dependência. As pessoas precisam da mineração e ela agora está mais

presente. Está divulgando mais o que ela está fazendo [...] eu acho que são ações que

aproximam mais a população da mineração.[...] Não vejo um conflito forte no município."

(Entrevistado EM 1)

A inserção social do setor privado não é uma consequência indireta, não antecipada de sua

submissão ao sistema de preços: é uma decisão da qual pode depender a própria sobrevivência da

empresa. Para Porter e Kramer (2006) as empresas não devem escolher aleatoriamente, ou com

base apenas em operações de marketing os investimentos sociais, e sim como questões

estratégicas, assim como o fazem quando se trata, por exemplo, da ampliação de seus mercados

ou seus investimentos. As companhias precisam encontrar nichos específicos em que o

preenchimento de necessidades sociais de natureza não imediatamente mercantil (doar recursos a

uma iniciativa cultural, por exemplo) tenha repercussão de longo prazo.

É preciso compreender que a relação de Brumadinho com a mineração é de muitas décadas,

e as pessoas que trabalham, ou trabalharam, direta ou indiretamente, para essas empresas trazem

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consigo um discurso bastante favorável, pois, foram essas empresas, através do emprego, da

profissionalização, que proporcionaram a essas pessoas terem perspectivas de vida que antes não

tinham. Entretanto, dizer que Brumadinho não tem conflitos socioambientais, ou que esses não

são fortes, não é algo real. Esses conflitos não acontecem, conforme exposto acima, no distrito

sede de Brumadinho. Esses conflitos estão no entorno, nas zonas rurais, e estão invisibilizados.

Muitas desses comunidades impactadas não são organizadas, como no caso do Tejuco ou

Córrego do Feijão, por exemplo, por isso, é difícil avalia-las sem um mergulho mais profundo

para dentro do território.

Para os representantes das OSCs e comunidades, o principal desafio na tratativa desses

conflitos está na relação política que se desenha dentro do município:

O principal desafio é do ponto de vista político. [...] A articulação política, tendo em vista

que o poder público está articulado com as empresas [...]Acho que o principal problema é o

poder público defender os interesses das mineradoras porque são elas que bancam as

campanhas. (Entrevistado OSC 1)

Um dos principais conflitos de Brumadinho se configura junto às comunidades da Serra da

Moeda que temem a chegada de um novo empreendimento minerário na região. Além de

alegarem ser ali, uma região onde o município possa explorar mais o potencial turístico, as

comunidades receiam perder seus vínculos com o lugar com a implementação de um

empreendimento minerário que demandaria o esvaziamento de áreas, hoje, ocupadas por

comunidades rurais.

Essa comunidade que eu moro é uma comunidade de pequenos produtores, como todo o

Vale do Paraopeba. E no Vale do Paraopeba hoje a atividade que mais consiste lá é a

produção da mexerica Ponkan e parece que Brumadinho hoje é o 1º ou 2º município de

Minas Gerais que produz a Ponkan. Contudo, tanto a minha quanto as comunidades

vizinhas de interior sofre porque o poder público ainda deixa muito a desejar. Mas para

mim, e para a grande maioria de lá, a grande maioria é uns 90% ou mais, ainda acha muito

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interessante continuar morando nessas comunidades rurais onde a violência não chegou

ainda, onde ainda tem um significado de vida. Um se preocupa com o outro. E por mais que

o pequeno produtor não tenha muito incentivo ainda, não só em Brumadinho como no

Brasil todo, os pequenos produtores da minha região preferem estar trabalhando e

ganhando menos, mas tem uma qualidade de vida bem melhor do que a dos moradores da

cidade. A gente considera sim, e se não ganha muito para comprar tudo, ganha o suficiente

pra viver e viver uma vida mais tranquila. (Entrevistado COM 2)"

O depoimento acima, de um pequeno agricultor da região da Serra da Moeda, expressa,

claramente, o ideal de desenvolvimento almejado. Cabe ao poder público ouvir os anseios da

população e planejar, estrategicamente, os caminhos para o desenvolvimento de Brumadinho.

Além disso, a discussão de Topocídio (Santos, & Machado, n.d.; Tuan, 1980), que já era algo

vivido por essas comunidades, ultrapassa as fronteiras dos distritos atingidos pela mineração e

começa a ser vivenciado pela população que reside na sede do município, conforme depoimento

abaixo de um dos representantes do poder legislativo residente na sede.

Tava te dizendo que em 100, 70 anos de mineração, a menos de 2 anos eu vi a serra

acabando. Nunca tinha visto a serra acabar, mesmo com a mineração a gente olhava e a

gente via a serra. Hoje tem lugar que a gente olha e não vê a serra mais. Tem um buraco na

serra. Então isso é ruim. Isso desagrada. Eu até começo a desconfiar que seja muito do

sentimento do mineiro, do brumadinhense também, eu acho que talvez o que mais

incomoda a gente é a beleza quando você começa ver o buraco na serra. [...] (Entrevistado

PP 4)

Esse fator, por si só, já seria um forte gerador de conflitos entre as empresas e a sociedade,

somado à falta de transparência por parte das empresas que os representantes dessas comunidades

alegam sofrer na relação delas com as comunidades. As estratégias territoriais de capital, dotadas

de mobilidade potencial acrescida às empresas, aprisionaria parcelas importantes de populações

locais na “alternativa” de promessa de emprego e renda, mesmo ao custo de submissão a riscos

sociais e ambientais (Acselrad & Bezerra, 2009). Esse aumento da mobilidade do capital seria,

então, um dos “pivôs” dos conflitos ambientais locais por “desregulação” nas áreas de chegada

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dos investimentos – “denúncias e resistências à despossessão ambiental de populações locais,

observada em áreas de expansão de fronteira capitalista, ou à imposição de riscos ambientais aos

grupos sociais mais destituídos, em áreas de ocupação intensa” (Acselrad & Bezerra, 2009, p. 3).

Atores da resistência acabariam entrando em um embate, não apenas com as empresas

geradoras dos conflitos, como também com parte da população interessada nos avanços que estes

podem gerar a outros setores. Os portadores do poder, portanto, ganhariam uma força a mais,

sendo suas pressões dadas através de dois meios: (1) pela ameaça de retirada do investimento

para outro local; ou (2) pela ameaça de que, não se aceitando o empreendimento tal como a

empresa o deseja, nenhuma outra atividade ali se implantaria (Acselrad & Bezerra, 2009). Com a

imposição das condições mais acessíveis para si, os empreendimentos acabam tornando-se

““quase-sujeitos” das políticas de regulação dos territórios e “quase-sujeitos” dos limites de

aceitabilidade dos riscos para a própria população local” (Acselrad & Bezerra, 2009, p.4).

Quando a gente olha na lei que os direitos são iguais, será que você teria uma resposta para

mim para me informar quais são os direitos iguais? Ou isso é só papel? [...] Esse tal de

direitos iguais é falância. Porque está escrito na constituinte que qualquer firma que explora

um lugar a mais de meio século, tem que cuidar do entorno. (Entrevistado COM 1).

O entrevistado EM 1 afirmou durante a entrevista, com bastante clareza, que para as

empresas não é interessante o conflito. E quando se deparam com o conflito, quando percebem

que a empresa tem dificuldades de aceitação, ela se desloca para o município vizinho. Utilizam o

discurso da Chantagem Locacional (Acselrad & Bezerra, 2009), apresentado acima, de maneira

muito clara e espontânea. Dessa forma, para não perderem os recursos provenientes dessa

atividade, o poder público se articula de forma que consiga viabilizar os projetos, mesmo que

esses causem impactos irreversíveis ao município. Se articula pois, sabe que ainda não tem como

substituir essa atividade sem maiores danos econômicos a Brumadinho. Enquanto isso, as

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comunidades veem o seus diretos serem abafados alegando que os interesses atendidos são

sempre os das empresas.

É preciso compreender, no entanto, que o mercados influenciam o meio ambiente e a

sociedade, e a sociedade e o meio ambiente influenciam o mercado. Nesse sentido, o sucesso

empresarial não poderia ser analisado em separado da dinâmica de legitimação ou deslegitimação

social das atividades, atitudes, ações, produtos, serviços, impactos e desdobramentos que as

empresas geram nos territórios (Abramovay, 2007, Gonçalves-Dias & Teodósio, 2012). Por isso,

elas vem atuando dentro de práticas de RSE, porém, trazendo noções que costumam não

contemplar a diversidade social e as contradições que perpassam a sociedade.

Quando acontece (espaço de dialogo) é conflito por ponto de vistas mesmo divergentes.

[...]Eles não chegam e falam: "O que vocês querem comunidade?" [...] O que eles fazem?

[...] Projeto Fred, mulheres fazendo tapete. Isso é um projeto deles! O Fred é um ideal, um

projeto que eles criaram! Que eles levam para a comunidade. Não é o que a comunidade

quer. É uma coisa já padronizada que eles fazem em todas as comunidades. [...] as pessoas

que sofrem os impactos e que querem melhorias falam: eu preciso de estrada decente e eu

não quero fazer tapete. Essa é a demanda social que deveria ser atendida. (Entrevistado

COM 3)

Ainda que as possibilidades de ganhos compartilhados entre comunidade e setor privado

apontem cenários atrativos para os investimentos sociais de empresas, grande parte da literatura

gerencial sobre stakeholders voltada ao tema distancia-se da ideia do conflito como estruturante

das relações sociais, seja ele de natureza econômica, política, cultural, social ou de poder.

(Teodósio & Carvalho Neto, 2003). Com isso, é possível afirmar que uma das motivações das

empresas é a neutralização dos atores em conflito e para isso elas acabam muitas vezes atendendo

certas demandas sociais, quando a sociedade se organiza e cobra a resolução dos problemas

causados por elas, apropriando-se assim do discurso de RSE:

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Até atendem demandas aqui e acolá. [...] A nascente que abastece as famílias do bairro da

Jangada é dentro da área da Vale. Aí a gente precisava de um papel para poder mexer, para

arrumar a captação, até para ter a outorga porque a nascente é dentro da área deles [...] a

gente foi lá, muita luta, muita luta, muitos anos...conseguiu finalmente os canos, fez tudo

em mutirão, os usuários pagaram e a Vale cedeu a máquina para cavar. A prefeitura apoiou.

A prefeitura deu os canos e a prefeitura apoiou com a mão de obra. A população fez no

braço e a Vale cedeu a máquina. E fica linda na foto porque ela cedeu a máquina e divulga

no seu jornalzinho "Boa vizinhança", o título da matéria do jornal da Vale: "A vale cede

máquinas para a rede de águas..." Depois de 8 anos de luta ferrenha! De reuniões e reuniões!

De conflitos e conflitos! E ainda falam: "Não! Para liberar a máquina eu tenho que chamar

o presidente lá no Rio de Janeiro." E dá 1 bilhão para o Inhotim e enrola, enrola, enrola...

(Entrevistado COM 3)

As ações de RSE pelas empresas ainda são muito desconectadas das demandas sociais. Os

impulsos ainda são muito voltados para o público externo, para os “olhos do mundo”. Essa

discussão ainda é bastante nova para as empresas e apesar de haver uma tentativa, ainda que

tímida, em atuar de forma mais responsável buscando a legitimidade, o conceito de RSE e

sustentabilidade ainda não está enraizado dentro das empresas.

Não tem um real envolvimento. Tem um trocado e uma foto, porque a linha é a propaganda.

Aí é que está o eixo central. Não é ter um bom relacionamento e ser responsável com a

comunidade. É parecer ser. (Entrevistado COM 3)

O aumento da responsabilidade das empresas para com as comunidades locais dotando de

concretude e vigor à participação popular em contextos locais permanece como um desafio para o

futuro (Derman, 1995; Escobar, 1992). As empresas nem sempre irão agir conforme os interesses

da sociedade e os investimentos sociais e justiça social nunca poderão tornar-se atividades

principais de uma empresa privada enquanto vigorar uma economia política que influencia as

estratégias corporativas direcionando-as para criação de valor para os acionistas e retorno sobre o

capital, não para a justiça social ou moral.

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4.1.5 E o futuro, qual será?

Brumadinho tem apresentado um cenário de transformação, potencializado pela chegada do

museu do Inhotim, onde outras vias econômicas tem se apresentado para além da atividade de

extração mineral. Ao final das entrevistas, visando identificar o ponto de vista dos entrevistados

quanto ao desenvolvimento que considerariam ideal ao município, esse processo de

transformação fica evidente. O turismo é a atividade que mais se coloca como a alternativa

econômica que vislumbram para o município como complementar, ou até mesmo para alguns,

substituta da atividade minerária.

O poder público municipal adota em seu discurso o turismo como um potencial que deve

ser explorado em Brumadinho apresentando projetos nesse sentido, entretanto, ações pouco

efetivas tem sido implementadas. Entendem que o município precisa de uma atividade industrial,

em especial, da indústria “limpa”, e que essa sim, poderá complementar o déficit econômico e

ambiental que a mineração deixará no município quando o minério de ferro se exaurir. Esse

movimento tem começado no município com a chegada recente de uma empresa, chamada Green

Metals, que irá recuperar os rejeitos da empresa Mineral do Brasil.

Uma empresa recentemente veio para cá, a Green Metals que é uma empresa de

recuperação de rejeito, que é a sobrevivência da atividade. A empresa vai recuperar o que

era rejeito, que ta ali impactando o meio ambiente, transformando em dinheiro, em recurso.

Além disso, ela vai investir 8 milhões no seu entorno. Então essa participação agora,

começou na pratica a valer. (Entrevistado PP 1)

Em relação ao turismo, os discursos são controversos. Apesar de os representantes do poder

público executivo o utilizarem em seu discurso sobre o desenvolvimento do município, a fala

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transmite uma sensação de um cenário quase que utópico, ou seja, a distância entre o que é falado

e o que é praticado ainda é muito grande.

O poder público continua sem o menor interesse em turismo e a sensação é que o pessoal

fica até com raiva de falar de turismo: "Isso é coisa do pessoal de Casa Branca, de

Palhano...". Em uma reunião pública na Câmara uma vez, discutindo sobre mobilidade

urbana [...] aí um sujeito que é uma pessoa esclarecida pegou o microfone e falou assim:

"[...] nós estamos conversando sobre Brumadinho. Esse negócio de Casa Branca, de

turismo, isso aí não nos interessa." [...] e essa é a noção que as pessoas da sede tem em

relação ao interior de uma maneira geral (Entrevistado PP 3)

Além disso, não vislumbram o esgotamento do minério como algo que mereça ações

emergentes, conforme declarações abaixo:

Eu tenho 54 anos e quando eu era criança eu já ouvia falar “tá acabando o minério” [...] eu

sei que vai acabar um dia, mas provavelmente quem vai ver isso serão meus bisnetos

(Entrevistado PP 2)

O minério não acaba. Os processos é que tem que evoluir. (Entrevistado EM 1)

O processo de reconversão de um território que tem cerca de 50% de seus recursos

financeiros advindos da mineração, mesmo tendo a noção de que o município ainda tem

capacidade de exploração por mais cerca de 40 anos, deveria ser encarado de maneira mais séria.

Não se modifica um modelo econômico de uma hora para outra. É preciso planejamento,

experimento, e uma política que encare esse processo de maneira mais séria.

Nós não estamos tendo consequências desastrosas (do turismo) porque nem consequência

tem. Nós não estamos desenvolvendo o turismo [...] o município não tirou proveito disso

(Inhotim). (Entrevistado PP 4)

A atividade do turismo no município ainda é vista com muita descrença, por que, o poder

público municipal ainda não o encarou verdadeiramente, e ainda mantém os mesmos laços fortes

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com a mineração. A visão da população do interior, que vivencia na prática essa atividade

desenvolvendo-se no entorno de Brumadinho, é bem mais inovadora do que a dos governantes.

Mineração é do século XVIII gente! Já passou da hora de fechar e descobrir uma nova

forma que não seja tão degradante. No atual século XXI já era para a gente ter descoberto

outra forma de não destruir nossas montanhas e não rebaixar o nosso lençol freático...já era

para ter um avanço muito forte nisso. E qual é esse avanço? Incentivar o pequeno agricultor,

o homem do campo. Brumadinho é um município tão fácil de ser bem cuidado porque 80%

dele é interior, é roça e o morador do interior não pede muito do poder público a não ser

atendimento a saúde, escola para os seus filhos e estradas para se locomover...ele não pede

mais nada. É um povo muito fácil de ser cuidado. Se apoiar a pequena agricultura e o

turismo, Brumadinho dá um salto e não fica preso a esse sistema ultrapassado que é a

mineração. (Entrevistado COM 2)

E empresas que vem atuando e potencializando o desenvolvimento do turismo em

Brumadinho o consideram como um município que tem todos os elementos necessários para

fazer dessa atividade, um modelo de desenvolvimento econômico mais integrado e sustentável do

que a mineração:

Você forma quase que um lugar ideal [...] você tem memória, você tem tradição, você tem

um povo generoso, você tem um povo trabalhador, você tem um recurso mineral, quando

você não tem isso você tem outros recursos naturais que pode ser no turismo ecológico ou

no turismo em função do Inhotim (Entrevistado EM 3)

Entretanto, o fato de o poder público estar tão desarticulado com os povos do campo, do

interior, e tão articulado com o setor industrial, da indústria do minério, gera duvidas e um

sentimento de desanimo por parte da população em relação ao futuro do município:

Olha, eu costumo ter fé né! Se não tiver fé pode desistir da vida. Boto fé que tem chance de

melhorar muito, mas confesso que no meu ideal de ocupação de território, de

sustentabilidade do território, em Brumadinho em não tenho muito fé que vá acontecer

como um todo. (Entrevistado COM 3)

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A responsabilidade do poder público em relação ao desenvolvimento futuro do município é

muito grande. Como é comum às cidades de interior, Brumadinho possui grupos econômicos e

políticos que se revezam nas cadeiras e que trocam favores entre si, conduzindo o município a

uma política desarticulada com as demandas do território em si. Se a previsão de exploração de

minério no município é por mais 40, 50 anos, Brumadinho já deveria estar pensando em sua

reconversão econômica. Potenciais que podem levar o município de Brumadinho a se tornar um

modelo de reconversão com o foco na sustentabilidade, existem. Características para o

desenvolvimento de diversas atividades econômicas no território, como: indústria limpa,

agricultura familiar e orgânica e o turismo, existem. E uma população, em especial rural, que luta

pela valorização de sua cultura, de sua terra e que pensa na sustentabilidade do território, existe.

O entrave se encontra no jogo político e nos interesses difusos que beneficiam pequenas redes,

fazendo com que o município, politicamente, ainda se mantenha dentro dos mesmos modelos

insustentáveis de desenvolvimento.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do presente estudo, que se baseou em analisar como os atores locais se relacionam

na promoção da sustentabilidade de um território minerador é dada ênfase na análise do papel das

empresas nessa dinâmica através de um estudo crítico sobre a RSE, em especial, sobre a TS,

inferindo-se que essa abordagem coloca as empresas como atores centrais responsáveis pela

sustentabilidade de um território desconsiderando o fato de que sustentabilidade não é adjetivo de

organizações e sim atributo dos territórios, e territórios não teriam stakeholders, ao contrário,

apresentam atores em constante interação e ação em seu interior, ora convergindo, ora divergindo

em torno de interesses, valores, motivações e posturas.

Tal conclusão é atestada, neste estudo, pela comprovação de que as discussões clássicas

sobre a TS e RSE presentes na literatura acadêmica e praticadas pelas empresas através de

documentos de orientação, e indicadores de sustentabilidade, apresentam lacunas teóricas que

distorcem o conceito de sustentabilidade restringindo-o ao desenvolvimento econômico,

centralizando as empresas nesse processo, e muitas vezes adotando a prática do lobby junto ao

poder público, marginalizando a sociedade. Tais lacunas puderam ser identificadas pelos

apontamentos dos estudos críticos sobre RSE utilizados na construção teórica desse projeto, além

de dialogar com os conceitos teóricos de territórios apresentados pela Geografia e os símbolos e

significados sociais desses territórios discutidos pela Sociologia.

O estudo definiu três objetivos específicos que foram alcançados ao final da pesquisa.

Juntamente com seu orientador, a pesquisadora definiu os segmentos do território de Brumadinho,

que seriam importantes para a análise do território. Através das visitas ao município e conversas

iniciais com pessoas indicadas pelo orientador, a pesquisadora pode ir conhecendo as dinâmicas

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do município e ir traçando um mapa dos atores por cada segmento. Dessa forma, foram

incorporados no estudo representantes das comunidades apontadas como principais focos de

conflitos com as empresas mineradoras, representantes de OSC’s envolvidas com as dinâmicas de

conflito do município, representantes do poder público, tanto legislativos quanto executivo, o que

permitiu à pesquisadora perceber os conflitos de interesses políticos em Brumadinho,

representantes das empresas de mineração que, atualmente, estão no foco dos conflitos com

comunidades, e representante de uma organização cultural que se coloca hoje como um

potencializador da dinâmica turística-cultural em Brumadinho.

Durante o processo inicial de identificação de atores descrito acima, a pesquisadora pode

identificar as atividades econômicas que mais impactavam no município e as implicações dessas

empresas na construção política, econômica e social de Brumadinho. As atividades de mineração

compõem ainda, grande parte da arrecadação do município e, por sua longa relação com

Brumadinho, se coloca como parte da história das pessoas que, de alguma forma e em algum

momento, criariam vínculos com essas empresas. É notória a diferença de discursos entre a

população da sede do município e a população dos distritos. De uma forma geral, há um certo

tom de conformidade por parte dos moradores da sede em relação as atividades de mineração,

justificado pelo bônus econômico que essa atividade tem trazido para o município. Em

contrapartida, quem sofre com ônus da mineração se articula em um contra-movimento

reivindicando seus direitos violados pelas empresas com o aval do poder público, como é o caso

das comunidades rurais que se localizam no entorno das minas. Esses últimos, encabeçam uma

discussão em prol do desenvolvimento da atividade turística no município e valorização da

agricultura familiar, tendo como aliado, até certo ponto, o Museu do Inhotim que tem projetado o

município internacionalmente.

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O incentivo ao turismo em Brumadinho ainda é tímido, especialmente por parte do poder

público, muito por conta das amarras nas estruturas econômicas conservadoras. Tanto as

mineradoras, quanto o Museu do Inhotim, apesar de atuarem em ramos diferentes e terem

propostas diferentes, possuem uma dinâmica de influência nas políticas públicas similares. Os

interesses desses atores imperam sobre os interesses da sociedade e as práticas sociais, não raras

as vezes, estão desconectadas das demandas da população. A atuação da atual gestão municipal,

com iniciativas de aproximar essas comunidades da administração pública local, ainda não se

converteu em ações concretas para essas comunidades. Em contrapartida, a relação das

mineradoras com o poder público se dá na medida em que a gestão pública entende que dificultar

a atuação dessas empresas no município o levaria ao risco de perder tais investimentos, dessa

forma, a literatura acadêmica sobre a chantagem locacional, pode ser comprovada na prática.

Essa chantagem não seria expressa de maneira explícita, tampouco, encarada como algo amoral

por parte das empresas. Apenas como uma estratégia de barganha para minimizar os conflitos e

resistências em relação às suas atividades, com os quais elas não conseguem e não querem lidar.

Nessa relação é possível identificar duas linhas de interesse que se exprimem: por um lado,

o poder público municipal vem tentando fortalecer-se atuando de maneira conjunta com as

empresas afim de ter mais acesso a elas e estreitar as estratégias de investimento dentro do

município, seja em infraestrutura, seja em projetos socioculturais, por outro lado, os interesses de

pequenos grupos político-econômicos que se revezam nas cadeiras, impulsionam essa

aproximação do público com o privado. No final, o que se percebe, são interesses econômicos se

sobrepondo aos interesses sociais cobertos pela cortina da RSE.

Foi possível perceber nesse trabalho que, por mais que as mineradoras invistam em projetos

sociais e culturais, esses estão desconectados das demandas das comunidades. Eles acontecem

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aonde “os olhos” da maioria possam enxergá-los. Enquanto isso, os problemas com a água, os

acessos em más condições de uso, as ameaças ao modo de vida local com a expansão ou

implantação de empreendimentos sem uma consulta séria à população, permanecem.

Na tentativa de construir espaços de diálogos com as comunidades e OSC’s que atuam em

zonas de conflitos socioambientais, as empresas não tem tido sucesso, uma vez que, as

comunidades e OSC's alegam falta de transparência e manipulação de números por parte delas.

Além disso, foram relatados casos em Brumadinho, em audiências públicas, em que

representantes de ONG's foram impedidos pelas empresas de participarem. Os espaços

democráticos são dominados por interesses que se dão na relação entre empresas e poder público.

A sociedade tem assistido como espectadora, motivada, basicamente, por três questões: (I) Por

não enxergar os conflitos ou não querer se envolver, que é o caso, principalmente, da população

que reside na sede do município; (II) por não conseguir se articular, que é o caso de grande parte

das comunidades rurais; ou (III) por não acreditar mais no diálogo com as empresas e com o

poder público, se posicionando assim, como uma oposição de confronto.

O cenário em Brumadinho, que pôde ser alcançado por essa pesquisa, é o de um município

que tem diante de si muitas possibilidades para se desenvolver. Entretanto, é preciso considerar a

heterogenia do território e explorar essa diversidade para que a sustentabilidade entre na pauta

das estratégias de desenvolvimento. Para avançar nesse sentido entende-se que (I) o poder

público poderia atuar mais em prol do município em si, e menos para os interesses de pequenos

grupos político-econômicos; (II) as comunidades poderiam se articular e se organizar mais, para

que consigam ter voz frente às amarras econômicas que as afetam direta ou indiretamente,

participando, mais ativamente, das tomadas de decisão; (III) o terceiro setor em Brumadinho

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poderia se fortalecer e as ONG's atuarem de maneira mais integrada, tentando alcançar o

município como um todo.

Pensar na sustentabilidade em um território minerador parece um paradoxo, porque, por sua

natureza fim, a mineração nunca será sustentável. Além disso, conforme proposto pelo constructo

teórico dessa pesquisa, sustentabilidade precisa ser compreendida como atributo de territórios, e

não como adjetivo de empresas, caso contrário, as ações de RSE continuarão vazias de sentido e

de ações efetivas que contribuam com a promoção da sustentabilidade. Essa compreensão,

centralizaria o território nas estratégias da sustentabilidade, exigindo um mergulho profundo em

suas dinâmicas, particularidades e complexidades. Diante disso, é possível concluir que as

empresas ainda não incorporaram em seus modelos de gestão o sentido mais profundo da RS,

compreendendo-se como parte de um território específico e singular.

Novos campos e novas agendas de investigação sobre a sustentabilidade dos territórios e o

papel das empresas nesse processo ainda precisam ser construídos, visto que os registros

científicos que tratam do tema ainda são tímidos e pouco expressivos, principalmente, nos

estudos organizacionais. Tais sugestões atestam o vasto campo de investigação científica em

territórios com alta diversidade de fatores que, certamente, favoreceriam a ampliação do

conhecimento nessa área de estudo, e como os estudos de RS em territórios ainda estão distantes

de serem algo incorporado nas ações empresariais. Diante da complexidade dos fatores que

envolvem a vida humana e a sua relação com a natureza, a busca por mecanismos que possam

incorporar a sustentabilidade, não apenas como um discurso, mas como uma prática do dia a dia

de cada um, conduzindo a políticas que englobem o todo, é um desafio ainda longe de se tornar

palpável. Isso exigiria a construção de um novo modelo econômico, pois nenhum dos modelos

atuais conseguiriam dar conta.

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Como estudo futuro, espera-se que a pesquisa sobre a sustentabilidade de territórios possa

ser melhor explorada dentro dos conceitos da NSE, analisando-se as interações entre sociedade e

mercado, e avançando no sentido de entender as complexidades das dinâmicas dos territórios e

das relações que ali se estabelecem entre o homem com o homem, entre o homem com a natureza

e entre a natureza com a natureza, através das dimensões políticas, sociais, econômicas,

ambientais, culturais e espirituais na busca pelo equilíbrio. No caso de Brumadinho, as dinâmicas

que se desenvolvem ainda podem ser melhor exploradas. Por se tratar de um município com uma

grande extensão territorial, a pesquisa limitou-se a analisar o cenário configurado pelas principais

atividades de mineração de ferro que, atualmente, estão no centro dos conflitos. Entretanto, outras

dinâmicas que influenciam as ações de desenvolvimento do município podem ser melhores

exploradas, especialmente, no que concerne as vertentes políticas que, no presente, estão

enfrentando o difícil dilema de decidir para qual sentido do desenvolvimento Brumadinho irá

seguir.

Leff (2004) aponta que a racionalidade ambiental reconstrói o mundo a partir de uma linha

do tempo de vida e de morte entrópica do planeta, mas também a partir da capacidade de integrar

e organizar os sistemas e redefinir a natureza através da cultura. A condição existencial do

homem é feita pela relação complexa entre a temporalidade da vida frente à erosão das condições

ecológicas e termodinâmicas de sustentabilidade. Espera-se que esta pesquisa possa servir de

inspiração e fonte para futuros pesquisadores do campo de conhecimento da gestão

socioambiental, voltando-se para o desenvolvimento de um modelo que leve à sustentabilidade

com foco no território.

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REFERÊNCIAS

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sociais.Tempo Social. Revista de Sociologia da Universidade de São Paulo. 16(2), pp. 1-

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147

APÊNDICE

A Roteiro de entrevistas - Integrantes OSC's

1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,

Trajetória, Expectativas...)

2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases

do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de

Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do

desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da

realidade atual de Brumadinho?)

3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?

4. Qual a visão da sua organização sobre a sustentabilidade em Brumadinho? (Quais

as propostas?; O que tem dado certo em Brumadinho em termos de

sustentabilidade? E os desafios a superar?)

5. Como a sua organização compreende o desenvolvimento de Brumadinho? (Quais

são os principais projetos e ações para o desenvolvimento de Brumadinho?) -

Como você enxerga o papel da sociedade civil organizada no desenvolvimento

de Brumadinho? (Quais são os principais projetos e ações da sociedade civil

organizada para o desenvolvimento de Brumadinho?)

6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação da sua organização em

Brumadinho? E os fatores dificultadores?

7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de

Brumadinho:

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148

a. Poder público;

b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,

resultados, ...);

c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);

d. Museu Inhotim;

e. Sociedade e ONGs.

8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de

Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de

Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais

democrática e participativa efetivamente?):

a. Poder público;

b. Mineradoras;

c. Setor de turismo;

d. Museu Inhotim;

e. ONGs e lideranças comunitárias.

9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles

acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua

expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para

uma boa resolução desses conflitos?)

10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o

desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras

saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo

na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da

sustentabilidade?

11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?

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149

Caracterização

Local de moradia:

Tempo de moradia no município, caso more:

Profissão:

Idade:

Escolaridade:

Setor que representa:

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150

B Roteiro de entrevistas - Integrantes das empresas

1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,

Trajetória, Expectativas, ...)

2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases

do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de

Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do

desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da

realidade atual de Brumadinho?)

3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?

4. Qual a visão da sua empresa sobre a sustentabilidade em Brumadinho? (Quais as

propostas?; Qual a visão da prefeitura sobre a sustentabilidade?; O que tem

dado certo em Brumadinho em termos de sustentabilidade? E os desafios a

superar?)

5. Como a sua empresa compreende o desenvolvimento de Brumadinho? (Quais são

os principais projetos e ações para o desenvolvimento de Brumadinho?)

6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação da sua empresa em

Brumadinho? E os fatores dificultadores?

7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de

Brumadinho:

a. Poder público;

b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,

resultados, ...);

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c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);

d. Museu Inhotim;

e. Sociedade e ONGs.

8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de

Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de

Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais

democrática e participativa efetivamente?):

a. Poder público;

b. Mineradoras;

c. Setor de turismo;

d. Museu Inhotim;

e. ONGs ambientais e lideranças comunitárias.

9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles

acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua

expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para

uma boa resolução desses conflitos?)

10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o

desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras

saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo

na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da

sustentabilidade?

11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?

Caracterização

Local de moradia:

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Tempo de moradia no município, caso more:

Profissão:

Idade:

Escolaridade:

Setor que representa:

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C Roteiro de entrevistas - Integrantes das comunidades

1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,

Trajetória, Expectativas, ...)

2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases

do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de

Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do

desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da

realidade atual de Brumadinho?)

3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?

4. Qual a visão da sua comunidade sobre a sustentabilidade em Brumadinho?

(Quais as propostas?; Qual a visão da prefeitura sobre a sustentabilidade?; O

que tem dado certo em Brumadinho em termos de sustentabilidade? E os

desafios a superar?)

5. Como a sua comunidade colabora para o desenvolvimento de Brumadinho?

(Quais são as principais atividades desenvolvidas pela comunidade?)

6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação o desenvolvimentos dessas

atividades em Brumadinho? E os fatores dificultadores?

7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de

Brumadinho:

a. Poder público;

b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,

resultados, ...);

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c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);

d. Museu Inhotim;

e. Sociedade e ONGs.

8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de

Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de

Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais

democrática e participativa efetivamente?):

a. Poder público;

b. Mineradoras;

c. Setor de turismo;

d. Museu Inhotim;

e. ONGs ambientais e lideranças comunitárias.

9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles

acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua

expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para

uma boa resolução desses conflitos?)

10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o

desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras

saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo

na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da

sustentabilidade?

11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?

Caracterização

Local de moradia:

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Tempo de moradia no município, caso more:

Profissão:

Idade:

Escolaridade:

Setor que representa:

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D Roteiro de entrevistas - Integrantes do Poder Público

1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,

Trajetória, Expectativas, ...)

2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases

do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de

Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do

desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da

realidade atual de Brumadinho?)

3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?

4. Qual a visão do poder público sobre a sustentabilidade em Brumadinho? (Quais

as propostas?; Qual a visão da prefeitura sobre a sustentabilidade?; O que tem

dado certo em Brumadinho em termos de sustentabilidade? E os desafios a

superar?)

5. Como o poder público colabora para o desenvolvimento de Brumadinho? (Quais

são as principais atividades desenvolvidas pela comunidade?)

6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação do poder público em

Brumadinho? E os fatores dificultadores?

7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de

Brumadinho:

a. Poder público;

b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,

resultados, ...);

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c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);

d. Museu Inhotim;

e. Sociedade e ONGs.

8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de

Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de

Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais

democrática e participativa efetivamente?):

a. Poder público;

b. Mineradoras;

c. Setor de turismo;

d. Museu Inhotim;

e. ONGs ambientais e lideranças comunitárias.

9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles

acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua

expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para

uma boa resolução desses conflitos?)

10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o

desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras

saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo

na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da

sustentabilidade?

11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?

Caracterização

Local de moradia:

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Tempo de moradia no município, caso more:

Profissão:

Idade:

Escolaridade:

Setor que representa: