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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-graduação em Administração
Mestrado Acadêmico em Administração
SUSTENTABILIDADE É ATRIBUTO DE QUEM?
CRÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A
PARTIR DE UM ESTUDO EM TERRITÓRIO MINERADOR
RAQUEL OLIVEIRA WILDHAGEN
Belo Horizonte
2015
Raquel Oliveira Wildhagen
SUSTENTABILIDADE É ATRIBUTO DE QUEM?
CRÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A
PARTIR DE UM ESTUDO EM TERRITÓRIO MINERADOR
Dissertação apresentada ao Programa da Pós-
Graduação em Administração da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Administração.
Orientador: Prof. Dr. Armindo dos Santos de
Sousa Teodósio
Belo Horizonte
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Wildhagen, Raquel Oliveira
W671s Sustentabilidade é atributo de quem? críticas às práticas de
responsabilidade social empresarial a partir de um estudo em território
minerador / Raquel Oliveira Wildhagen. Belo Horizonte, 2015.
158 f.: il.
Orientador: Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Administração.
1. Sustentabilidade. 2. Responsabilidade social da empresa. 3. Administração
de conflitos. 4. Divisões territoriais e administrativas. 5. Meio ambiente -
Aspectos sociais. I. Teodósio, Armindo dos Santos de Sousa. II. Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em
Administração. III. Título.
CDU: 658:577.4
Raquel Oliveira Wildhagen
Sustentabilidade é atributo de quem? Críticas às práticas de Responsabilidade Social
Empresarial a partir de um estudo em território minerador
Dissertação apresentada ao Programa da Pós-
Graduação em Administração da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Administração.
Área de Concentração: Administração
______________________________________________________
Orientador Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
______________________________________________________
Profa. Dra. Andrea Luisa Zhouri Laschefski
Universidade Federal de Minas Gerais
______________________________________________________
Prof. Dr. Valdir de Castro Oliveira
Fundação Osvaldo Cruz
_____________________________________________________
Profa. Dra. Sylmara Lopes Francelino Gonçalves-Dias
Universidade de São Paulo
Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2015
Guilherme
minha eterna gratidão por tudo que você tem feito e representado para mim.
Seu companheirismo foi fundamental para esse ciclo.
Foi difícil e maravilhoso ao mesmo tempo.
Que venham mais desafios para enfrentarmos juntos!
Te amo para sempre!
Almir e Lúcia
Não estaria aqui se não fosse por vocês! Vocês são os meus pilares e os meus exemplos.
Me fizeram quem sou hoje com seus valores, afeto e dedicação à família!
Amo vocês meus pais queridos!
Flora e Christie
Irmãs amadas! Obrigada por terem segurado a onda nessa fase de incertezas.
Sou muito grata a vocês por tudo!
AGRADECIMENTOS
Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
pela orientação nesse projeto.
Téo, não tenho como agradecer pela dedicação, atenção, "puxões de orelha".
Essa pesquisa foi muito importante para mim, pois me permitiu
conhecer e me encantar pelo município onde cresci.
Foi um desafio e tanto, mas sua orientação foi fundamental
para que essa pesquise se realizasse.
Sou muito grata por tudo que aprendi, tenho aprendido
e ainda vou aprender com você.
Profa. Dra. Denise de Castro Pereira
por me apresentar a pesquisa acadêmica.
Denise, muito obrigada por apresentar e me convidar a participar do projeto LABCEN.
Esse processo foi essencial para minha caminhada até aqui.
Obrigada pela generosidade em compartilhar a sua paixão pela pesquisa.
Profa. Dra. Sylmara Lopes Francelino Gonçalves Dias
por se interessar e contribuir para o aprimoramento dessa pesquisa.
Sylmara, muito obrigada por ter se interessado pelo trabalho e tão gentilmente
ter contribuído para a melhoria dessa pesquisa.
FAPEMIG
por conceder-me a bolsa de estudos parcial.
Benefício este, que foi fundamental para a execução do curso de mestrado.
Amigos do NUPEGS
por colaborarem com discussões tão ricas e complexas.
Faço um agradecimento especial a Daniele Cardoso por ter sido uma companheira
de estudos e pesquisa, por ter compartilhado comigo momentos de alegrias,
de tristezas e de desespero com a pesquisa.
Por termos dado boas risadas para descontrair!
E por ter se tornado uma amiga muito querida!
Agradeço também à Danusa Coutinho pelos projetos realizados em parceria
e pelos projetos que ainda virão.
Agradeço à Júnia Guerra, Yasmine Mansur, Vander Aquiar,
Paula Pessoa, Daniela Viegas e Maria Flávia Diniz
pelos conhecimentos compartilhados.
Programa de Pós-Graduação em Administração da PUCMinas
na pessoa do Prof. Dr. Antônio de Carvalho Neto, coordenador do programa
e da Equipe da Secretaria
por nos atenderem de maneira tão gentil e eficiente.
Prof. Antônio Carlos Bertucci
por sempre ter acreditado em mim.
Prefeitura de Brumadinho e Câmara Municipal de Brumadinho
pela gentileza e disponibilidade dos membros colaboradores dessa pesquisa.
Aos brumadinhenses das comunidades e representantes de OSC's
pela generosidade, atenção e acolhimento para com a pesquisadora.
Aos funcionários das empresas incluídas nessa pesquisa
pela atenção e dedicação de seu tempo a essa pesquisa.
E finalmente ao Universo
que tem colocado bons desafios e pessoas admiráveis no meu caminho...
Om shri shiva!
"Que me importa, a mim, mineiro, que não vê minério, perder o nariz?
À vista dos intermináveis vagões mortuários,
Perco, vagão a vagão, minha mineiridade.
E nossas montanhas, envergonhadas, nuas, mortas.
Pegue ritmo depressa
Antes ora tua prece
Antes olhe tua face
Pois agora acordamos
o mal, que em ti não nasce."
AUGUSTO DUTRA
RESUMO
WILDHAGEN, R. O. (2015). Sustentabilidade é atributo de quem?: Críticas às práticas de
Responsabilidade Social Empresarial a partir de um estudo em território
minerador.Dissertação (Mestrado em Administração) - Faculdade de Administração,
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte
A presente pesquisa teve como objetivo analisar como os atores locais se relacionam na
promoção da sustentabilidade em um território minerador. Dessa forma, buscou-se discutir a ação
e visão da sociedade, poder público e empresas construída acerca do processo de mineração e
suas implicações para a sustentabilidade naquele território. Para isso, buscou-se nas teorias de
Sustentabilidade, Territórios e Responsabilidade Social Empresarial (RSE) os pilares de
argumentação dessa pesquisa. Nesse trabalho, a sustentabilidade é entendida como atributo de
territórios, no qual o próprio território se encontra no centro da discussão. Nessa visão, as
empresas passariam a serem um dos atores dentro do território, e não o ator central. Como base
de argumentação, recorreu-se aos estudos críticos sobre RSE, especialmente sobre a Teoria dos
Stakeholders (TS), apontando as rupturas do conceito ao se tratar os territórios. Diante disso, a
pesquisa buscou alinhar as discussões teóricas da administração, dialogando com estudos de
outros campos de conhecimento, notadamente a geografia e sociologia, na tentativa de traçar um
raciocínio teórico que considerasse os territórios com suas dinâmicas e complexidades. Para
conectar os estudos organizacionais com os estudos de territórios apresentados pela Geografia e
Sociologia, essa pesquisa trabalhou com a Nova Sociologia Econômica (NSE) a entendendo
como um ponto de partida para a inserção das dinâmicas complexas dos territórios nos estudos
organizacionais. A partir dessa compreensão teórica buscou-se analisar empiricamente o território
de Brumadinho que se desenvolveu a partir da atividade de extração mineral e que hoje vivencia
um expressivo crescimento do turismo, especialmente cultural, gastronômico e ecológico,
impulsionado pela criação do Museu de Arte Contemporânea Inhotim, apresentando-se como
uma potencial frente econômica. A sua dependência socioeconômica em relação à mineração
ainda é bastante significativa, entretanto, diante da possibilidade de retração dessa atividade no
município, o principal desafio enfrentado pelo poder público hoje está em planejar e preparar
Brumadinho para além da atividade de extração mineral. Pôde-se perceber que Brumadinho ainda
se atém aos modelos econômicos tradicionais e as influências das empresas nas ações das
políticas públicas ainda são bastante fortes. Entendem que o município pode se destacar com uma
estrutura de desenvolvimento voltado para a sustentabilidade, mas as amarras econômicas
conservadoras ainda são fortes. A pesquisa está dividida em três partes principais: na primeira
faz-se uma discussão teórica iniciando-se pelas diversas abordagens sobre a sustentabilidade, a
trajetória das políticas públicas ambientais no Brasil e seus desafios atuais, define-se o conceito
de território adotado por essa pesquisa, fechando-se essa primeira parte com as diferentes
abordagens e críticas às teorias de RSE pelo olhar da NSE. Em seguida apresenta-se a
metodologia do trabalho e logo após a análise dos dados da pesquisa.
Palavras-chaves: Sustentabilidade, Territórios, Responsabilidade Social Empresarial, Conflitos
Socioambientais.
ABSTRACT
Wildhagen, R. O. (2015). Sustainability is an attribute of who ?: Critical practices of Corporate
Social Responsibility from a study minning area. Dissertation (Masters in Management) -
School of Management, Catholic University of Minas Gerais, Belo Horizonte
This study aimed to analyze how local actors relate in promoting sustainability in a mining
territory. Thus, we attempted to discuss the action and vision of society, and public power
companies built on the mining process and its implications for sustainability in that territory. For
this, we sought in Sustainability theories, Territories and Corporate Social Responsibility (CSR)
the argument of the pillars of this research. In this work, sustainability is understood as an
attribute of territories in which the own territory at the center of the discussion. In this view, the
companies would be one of the actors in the territory, not the central actor. How argument base,
we used the critical studies on CSR, especially on the Theory of Stakeholders (TS), pointing out
the concept breaks when it comes territories. Therefore, the research sought to align the
theoretical discussions of the administration, dialoguing with studies from other fields of
knowledge, especially geography and sociology in an attempt to draw a theoretical reasoning to
consider the territories with their dynamics and complexities. To connect organizational studies
with studies of territories presented by Geography and Sociology, this research worked with the
New Economic Sociology (NSE) to understand as a starting point for the integration of complex
dynamics of the territories in organizational studies. From this theoretical understanding sought
to empirically analyze the territory of Brumadinho that developed from the mineral extraction
activity and now experiences a significant increase in tourism, especially cultural, gastronomic
and ecological, driven by the creation of the Museum of Contemporary Art Inhotim , presenting
itself as a potential economic front. Its socioeconomic dependence on mining is still significant,
however, given the possibility of retraction of this activity in the city, the main challenge faced
by the government today is to plan and prepare Brumadinho beyond the mining activity. It could
be perceived that Brumadinho still sticks to traditional economic models and the influences of the
companies in public policy actions are still quite strong. Understand that the municipality can
stand out with a development framework focused on sustainability, but the conservative
economic ties are still strong. The research is divided into three main parts: the first is made a
theoretical discussion, beginning in the various approaches to sustainability, the trajectory of
environmental public policies in Brazil and their current challenges, we define the concept of
territory adopted by this research, closing this first part with the different approaches and critical
theories of CSR by the look of the NSE. Then presents the methodology of the work and after the
analysis of the survey data.
Keywords: Sustainability, Territories, Corporate Social Responsibility, Environmental Conflicts
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Caracterização dos Entrevistados............................................................. 79
Tabela 2. Diretrizes de análise................................................................................ 82
Tabela 3. Cursos de Qualificação Profissional..........................................................
109
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Paradoxo da Circularidade................................................................ 29
Figura 2. Abordagens Francesa e Inglesa da NSE........................................... 51
Figura 3. Inovação Empresarial frente a Questão Socioambiental..................
Figura 4. Abordagens Teóricas Norteadoras da Pesquisa................................
65
68
Figura 5. Estrutura metodológica da pesquisa................................................. 75
Figura 6. Ruína do Forte.................................................................................. 86
Figura 7. Igreja Piedade do Paraopeba............................................................. 86
Figura 8. Estação Ferroviária de Brumadinho................................................ 87
Figura 9. Mapa de Brumadinho...................................................................... 92
Figura 10. Empreendimentos turísticos em Brumadinho................................. 110
LISTA DE SIGLAS
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
CEFEM Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
CMMD Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento
CODEMA Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente
COPAM Conselho de Política Ambiental
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
DS Desenvolvimento Sustentável
FJP Fundação João Pinheiro
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IMRS Índice Mineiro de Responsabilidade Social
LABCEN Laboratório de Cenários Socioambientais
MAUSS Movimento Antiutilitarista nas Ciências Sociais
NSE Nova Sociologia Econômica
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONU Organizações das Nações Unidas
OSC'S Organizações da Sociedade Civil
PIB Produto Interno Bruto
PNMA Política Nacional de Meio Ambiente
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RSE Responsabilidade Social Empresarial
SEMA Secretaria de Meio Ambiente
SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente
SLAP Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras
TS Teoria dos Stakeholders
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO 24
2.1 Sustentabilidade: trajetória e contradições 24
2.2 Política Ambiental no Contexto Brasileiro 36
2.3 Territórios e Sustentabilidade 41
2.4.Empresas e Territórios 50
2.4.1 A abordagem da Nova Sociologia Econômica 50
2.4.2 Novos olhares sobre a Responsabilidade Social Empresarial 54
3 PROCECIMENTOS METODOLÓGICOS 72
3.1 Participação nas reuniões do CODEMA e Audiências Públicas 76
3.1 Entrevistas semiestruturadas 79
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 84
4.1 Das águas e dos minérios, das serras e das minas: Brumadinho 84
4.1.1 Brumadinho e a construção de sua história com a mineração 85
4.1.2. As ações do poder público para o desenvolvimento de Brumadinho 91
4.1.3 O papel dos atores no desenvolvimento do território 97
4.1.3.1 Mineradoras 97
4.1.3.2 Inhotim 102
4.1.3.3 Empresas de Turismo 108
4.1.3.4 Organizações da Sociedade Civil 112
4.1.4.Os conflitos socioambientais e a responsabilidade socioambiental das
empresas
118
4.1.5 E o futuro, qual será? 128
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 132
REFERÊNCIAS 138
APÊNDICE 147
A Roteiro de Entrevista – Integrantes das OSCs 147
B Roteiro de Entrevista – Integrantes das Empresas 150
C Roteiro de Entrevista – Integrantes das comunidades 153
D Roteiro de Entrevistas - Integrantes do poder público 156
15
1 INTRODUÇÃO
O debate sobre sustentabilidade vem se ampliando cada vez mais no contexto global
impulsionado por uma série de fatores que tem levado uma parcela da sociedade a repensar os
padrões de desenvolvimento que vem sendo adotados. Entretanto, essa discussão incita muitos
debates, visto que, não raras as vezes, os países chamados do Sul reivindicam o direito ao
crescimento econômico tendo como espelho os países do Norte, justificando seu atraso
econômico pelos séculos de colonialismo outrora sofrido. Esse discurso, entretanto, pode levar a
um outro tipo de colonialismo, esse muito mais sutil, que induziria a uma integração e
homogeneização forçada, orientada para as oportunidades do mercado mundial (Sachs, 1988;
Layrargues,1998; Leff, 2009).
Em momentos de debate sobre os rumos do desenvolvimento, é comum ainda se
manifestarem posições que têm como pressupostos a oposição entre crescimento econômico e
proteção ambiental e/ou a ideia de que o avanço das atividades econômicas, metrificadas pelo
produto interno bruto (PIB), por si só seriam capazes de gerar soluções para outros campos da
vida em sociedade, chamado “efeito transbordamento”, ou seja, do crescimento econômico
surgiriam melhorias para a equidade e justiça social, a ampliação das liberdades democráticas e
até mesmo para a proteção continuada do meio ambiente. Pensar no desenvolvimento de forma
sustentável implica em buscar novos caminhos em meio às interpretativas dicotômicas sobre o
desenvolvimento. A sustentabilidade, porém, se cerca de contradições, tornando-se, por vezes,
um jargão vazio de sentidos abrindo espaços para diversos grupos da sociedade o utilizarem da
maneira como bem entenderem, da forma como melhor lhes convir, visando interesses diversos
(Sen, 2000; Jacobi, 2005; Veiga, 2009; Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011).
16
Acompanhado de uma polissemia de significados, atribuições e usos, a sustentabilidade
sofre com o fato de que atores sociais imaginam que a conservação ambiental necessariamente
restringiria o desenvolvimento ou que desenvolvimento necessariamente significaria poluição
ambiental. Há na literatura uma revisão crítica sobre o tema, sendo muitas vezes os termos
desenvolvimento sustentável (DS), ecossocioeconomia e sustentabilidade usados com o mesmo
sentido, embora tenham significados distintos. De toda forma, as diversas noções acerca da
sustentabilidade destacam a necessidade do envolvimento de diferentes atores ligados às esferas
social, ambiental, cultural, política e econômica em torno de uma proposta de transformação
efetiva do território. (Lelé, 1991; Baroni, 1992)
A partir da segunda metade do século XX, os debates acerca da sustentabilidade se tornam
crescentes, advindos dos movimentos ambientalistas da sociedade e das séries de conferências
sobre o tema. No Brasil, após a Conferências de Estocolmo em 1972, diversas ações importantes
foram tomadas fortalecendo a legislação com um foco maior na preservação do meio ambiente.
Após a criação da Política Nacional de Meio Ambiente em 1981 e a Constituição Brasileira de
1988, os processos de Licenciamento Ambiental e os Estudos e Relatórios de Impactos
Ambientais tornaram-se obrigatórios em todo o país para empreendimentos com alto potencial
poluidor. Além disso, com o aumento do poder decisório dos estados e municípios e a
legitimação da participação popular conferida pela Constituição de 1988, os espaços
democráticos começam a ganhar forças com a criação de Conselhos tanto em níveis federais,
quanto estaduais e municipais (Layrargues, 1998; Burzstyn, 2001; Cavalcanti, 2004; Rezende,
2007; Veiga, 2009).
Entretanto, estudos das áreas da Geografia e da Sociologia apontam para as fragilidades
ainda existentes no processo de Licenciamento Ambiental, especialmente no que se refere à
17
participação das comunidades e povos tradicionais e as consequências que um determinado tipo
de empreendimento pode trazer para o nível local. Questões culturais, históricas e as relações
afetivas que se estabeleceriam no e com o território não seriam consideradas pelas empresas, e as
relações de poder entre os atores envolvidos no processo beneficiaria os detentores do capital
(Zhouri, 2008; Acselrad & Bezerra, 2009; Leff, 2009).
Por outro lado, emerge do lado empresarial o discurso cada vez mais crescente da
Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Para além de demonizações e santificações das
ações empresariais a temática socioambiental hoje vai além e coloca-se como um item estratégico
aos gestores empresariais. Ao se revisar a literatura sobre a RSE é possível perceber dois
caminhos sendo traçados: um que vai no sentido das discussões clássicas de Freeman (1984),
incorporando o sentido da ética nos negócios, aprimorando e relegitimando as empresas como
atores centrais à sustentabilidade. Outro que caminha na linha dos estudos críticos sobre RSE,
discutindo suas fragilidades e rupturas, questionando o papel das empresas na sustentabilidade
dos territórios em que atuam e se essa sustentabilidade seria possível mantendo os padrões de
produção, consumo e desenvolvimento atuais (Weiss, 1995; Abramovay, 2009; Gonçalves-Dias
& Teodósio, 2011; Banerjee, 2012).
As lacunas teóricas identificadas e trabalhadas nessa pesquisa apontam para dois pontos
principais: por um lado, os estudos da geografia, da sociologia e do desenvolvimento regional,
por vezes deixam de envolver os atores empresarias ou, quando os fazem, os remetem a posturas
e ações que necessariamente são nefastas ao meio ambiente e a sustentabilidade em si; por outro
lado há poucos estudos na administração incorporando a noção de territórios, tema que
recentemente vem sendo incorporado pelo Encontro Nacional de Pesquisadores da Gestão Social
(ENAPEGS), mas em congressos mais tradicionais da área de administração como Encontro da
18
Associação Nacional de Pós-graduação em Administração (ENANPAD), Conferência Latino
Americana de Estudos em Administração (CLADEA), Seminário em Administração (SEMEAD),
por exemplo, ainda aparecem de maneira tímida e, quando o fazem, raramente tratam dos atores
empresariais, ou ainda o fazem de forma a apontar problemas e críticas à sua atuação não
estabelecendo uma análise dos atores empresariais vis-a-vis outros atores do território, ou seja, a
própria crítica aos atores empresariais acaba por não considerá-los como mais um dos atores do
território.
Para a construção da argumentação teórica dessa pesquisa, buscou-se nas teorias da Nova
Sociologia Econômica (NSE) os links que poderiam, de fato, correlacionar os estudos de RSE
com a sustentabilidade dos territórios uma vez que aponta para a importância da dimensão
sociológica e se contrapõe a uma visão eminentemente utilitarista dos fenômenos econômicos. O
aumento dos riscos na vida social contemporânea poderiam chegar ao ponto de que os atores
sociais não hesitariam mais em falar dos riscos ambientais, o que levaria a questão do
sustentabilidade ao centro das preocupações. O crescimento dos riscos revelaria os limites da
racionalidade tecnocientífica e a necessidade de uma racionalidade social e ética (Abramovay,
2004; Serva & Andion, 2006; Levèsque, 2007).
A partir de uma abordagem teórica, que evidencia os paradoxos intrínsecos aos processos
da sustentabilidade, esse estudo pretende responder a seguinte questão: como os atores locais de
territórios mineradores se relacionam na promoção da sustentabilidade?
A escolha pela pesquisa em território de mineração partiu da experiência de mais de um
ano adquirida pela pesquisadora no projeto de pesquisa de extensão executado pelo Laboratório
de Cenários Socioambientais em Municípios com Mineração (LABCEN) da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), cuja proposta é traçar o cenário
19
socioambiental de municípios mineradores. Nesse projeto, a pesquisadora pôde se relacionar com
as comunidades atingidas pelo projeto de mineração coletando dados através das técnicas de
Diagnóstico Rápido Participativo (DRP). O amadurecimento da pesquisa se deu através das
discussões nas reuniões mensais do Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social (NUPEGS)
ligado ao Programa de Pós-graduação em Administração da PUC Minas, que, tem como objetivo
reunir pessoas interessadas pela área da gestão socioambiental, afim de debaterem, sob um olhar
crítico, o que vem sendo desenvolvido acerca do tema. Desde que ingressou no mestrado, em
2013, a pesquisadora participa regularmente das reuniões do NUPEGS e pôde acompanhar
discussões sobre Gestão de Territórios, RSE, participação social, entre outras, que enriqueceram
a construção teórica e metodológica dessa pesquisa.
A escolha por Brumadinho/MG se deu pela relevância e riqueza desse território que vem
apresentando diferentes propostas de desenvolvimento com foco no futuro do município, ora
convergido para a preservação do meio ambiente e da cultura local, ora caminhando para uma
dinâmica economicista conservadora. Por ter sua história intimamente ligada à exploração
mineral, os debates sobre as dinâmicas que se apresentam no município atualmente para além da
mineração, voltando-se para a via do turismo, principalmente após a chegada do Museu do
Inhotim que tem projetado o município internacionalmente, geram controvérsias e conflitos
acerca de novas frentes de desenvolvimento.
O município de Brumadinho está localizado na região metropolitana da capital mineira,
Belo Horizonte, no Maciço Espinhaço e início do Tabuleiro do Oeste. Com uma extensão
territorial de 639,434 km², maior do que a capital Belo Horizonte, 33.973 habitantes (IBGE,
2010), e uma densidade demográfica de 53,13 hab/Km² (IBGE, 2013), Brumadinho é um dos
principais municípios mineradores de Minas Gerais, tendo arrecado em 2013, R$ 50.682.793,90
20
de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CEFEM), ou royalties de
minério, para o Estado Minas Gerais.
Ele é o sétimo entre cerca de 400 municípios mineradores que mais arrecadam, ficando
atrás apenas de Nova Lima, Mariana, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Congonhas e Itabirito,
nessa ordem (DNPM, 2014). O Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) de 2013 da
Fundação João Pinheiro (FJP) aponta Brumadinho como um dos 10 primeiros municípios com
melhores indicadores sociais. Com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) acima do
nível brasileiro, de 0,747, Brumadinho aparenta desenvolvimento. Porém, alguns fatores podem
mascarar a realidade do município como, por exemplo, o fato de Brumadinho possuir diversos
condomínios horizontais de alto luxo em seu território, o que eleva alguns índices, como o da
renda per capta - R$ 910,31 (Atlas Brasil, 2010). Essa renda, entretanto, está concentrada nas
mãos de poucos, e os distritos do município, que vivem basicamente da agricultura de
subsistência, recebem pouco incentivo e apresentam um nível de qualidade de vida bastante
aquém do que parece indicar o IDH geral desse território. Prova disso, é que em regiões como
Sapé e Marinhos, áreas que concentram populações quilombolas, a vulnerabilidade social é
marcante.
Detentor de ruínas históricas localizadas na Serra da Calçada, diversos mananciais de água,
parte do Parque do Rola Moça e do Museu de Arte Contemporânea Inhotim, o município
apresenta alto potencial para se desenvolver no campo do turismo, seja pela via cultural e
histórica, seja pela via do ecoturismo ou da gastronomia. No entanto, esse potencial presente em
diferentes localidades desse território permanece, salvo algumas exceções, pouco explorado.
Mesmo tendo rivalizado com a extração mineral em termos de geração de trabalho e renda, bem
como de proposição de perspectivas de desenvolvimento para o município, a atividade turística
21
ainda não conseguiu fazer frente à pujança das mineradoras, ainda as principais empregadoras do
município ao lado da própria prefeitura de Brumadinho.
Por estar inserido no Quadrilátero Ferrífero, onde as cangas e formações ferríferas
constituem o principal sistema de aquíferos que armazenariam cerca de 4 bilhões de m3 de água,
Brumadinho se torna importante para a região metropolitana de Belo Horizonte pois, um quarto
da água que abastece a região metropolitana vem dos mananciais desse município e dos
municípios vizinhos, através dos sistemas Rio Manso e Catarina, operados pela Companhia de
Saneamento de Minas Gerais (COPASA) (Senac, n.d).
A região possui beleza natural que se torna um atrativo para o turismo local, destacando-se
sítios paisagísticos marcantes como o maciço rochoso conhecido como Pedreira de Casa Branca
ou Serra Ouro Fino, a Serra do Rola Moça, a Serra da Calçada, Serra dos Três Irmãos, Serra da
Jangada, a Serra da Moeda, dentre outros. Além disso, a altitude elevada, as ocorrências
topográficas especiais, o clima frio, os grandes mananciais aquíferos, a vegetação preservada e a
proximidade de Belo Horizonte, entre outros fatores, têm estimulado a exploração turística no
município, atividade muito promissora para o desenvolvimento da economia local. Mas foi a
criação do Inhotim Instituto Cultural, do outro lado do município com acesso pela BR 381, que
marcou o ingresso de Brumadinho na lista dos municípios de grande interesse turístico em Minas
Gerais. O Inhotim é atualmente o maior museu a céu aberto do mundo, com seus exuberantes
jardins tropicais e os destacados pavilhões de arte contemporânea e que tem atraído
aproximadamente 10.000 visitantes por mês (Senac, n.d).
Dentre os povoados rurais, merecem atenção os que se sobressaem no contexto histórico e
religioso, como é o caso de Conceição de Itaguá (antigo Brumado do Paraopeba), São José do
Paraopeba e Piedade do Paraopeba. Este último, também ao pé da Serra da Moeda, já se
22
consagrou como um centro de romaria, devido à fé dos inúmeros devotos a Nossa Senhora da
Piedade que ali vão para agradecer, cumprir promessas e pedir graças (As minas Gerais, 2008).
Apesar disso, Brumadinho apresenta uma dinâmica controversa em seu desenvolvimento,
uma vez que ainda é economicamente dependente das atividades de extração mineral. Um intenso
debate sobre as perspectivas de desenvolvimento através das atividades de extração mineral vem
acontecendo no governo brasileiro, gerando algumas preocupações em relação aos territórios
mineradores. Os governos vêm incentivando cada vez mais o crescimento econômico e a
atividade mineradora é uma das frentes desse crescimento. De acordo com o Plano Nacional de
Mineração 2030 (2010), a demanda por bens minerais e produtos de base mineral no Brasil e no
mundo, especialmente nos países emergentes, deverá crescer substantivamente nas próximas duas
décadas, o que significa que haverá mais pressão para o aumento da produção mineral. Dessa
forma, coloca-se em debate a sustentabilidade dos territórios, principalmente, no que se refere à
sua capacidade em comportar essas demandas econômicas em nível local, considerando suas
dinâmicas sociais, ambientais, culturais, e sua infraestrutura.
Sendo assim, o presente estudo procura discutir como os atores locais se relacionam na
promoção da sustentabilidade no território de Brumadinho. Para o alcance do objetivo geral
proposto, buscou-se como objetivos específicos:
(I) Identificar atores relevantes na dinâmica social, política, econômica e cultural de
Brumadinho;
(II) Caracterizar as atividades mineradoras e turísticas em Brumadinho e suas implicações
para os processos de desenvolvimento desse território;
23
(III) Discutir a ação dos atores da sociedade civil, do Estado e de mercado em relação ao
processo de mineração nesse território e suas implicações para a sustentabilidade do
território.
Os capítulos teóricos dessa pesquisa estão divididos da seguinte forma: no primeiro
capítulo serão discutidas as noções ligadas à sustentabilidade e as perspectivas, desafios e
contradições associadas ao termo. No segundo faz-se uma discussão sobre o cenário das políticas
públicas ambientais no Brasil e os desafios enfrentados, principalmente no que condiz a
participação social. No terceiro capítulo serão apresentadas as discussões conceituais sobre
territórios e os seus sentidos simbólicos, abordando-se as teorias de topocídio e chantagem
locacional. O quarto e último capítulo teórico será introduzido pela abordagem da Nova
Sociologia Econômica (NSE) seguido pela discussão crítica sobre Responsabilidade
Socioambiental Empresarial de forma a prover um modelo de análise mais robusto quanto ao
papel e à ação das organizações na sustentabilidade dos territórios. Em seguida serão
apresentados os procedimentos metodológicos utilizados nessa pesquisa, seguidos da análise dos
dados da pesquisa e considerações finais.
24
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Sustentabilidade: trajetória e contradições
A história nos pregou uma peça cruel. O rápido crescimento econômico,
através de seus efeitos de propagação, deveria supostamente assegurar prosperidade
a todos. Nos países periféricos pós-coloniais, a expansão do setor moderno gradualmente
absorveria, acreditava-se, toda a força de trabalho do setor tradicional em
vias de extinção. Em vez disso, os processos de dualização assumiram o controle
dos países industriais avançados e o espectro do apartheid social ameaça os países
ricos e pobres sem distinção.
IGNACY SACHS
A Sustentabilidade vem sendo cada vez mais incorporada aos discursos organizacionais,
entretanto, diversas noções são adotadas para caracterizar, explicar e tentar operacionalizar o
termo. Esse universo tão grande de definições, muitas vezes divergentes e contraditórias entre si
podem dar margem a diversos tipos de interpretações, fazendo com que seja adotada aquela mais
conveniente a um determinando grupo de interesse em um contexto específico, enfraquecendo as
lutas pelo desenvolvimento que seja, de fato, sustentável (Baroni, 1992). Nesse capítulo, optou-se
por apresentar as diferenças entre os conceitos de (1)desenvolvimento sustentável (DS),
(2)ecossocioeconomia e (3)sustentabilidade, que, não raras as vezes, são tratados como
sinônimos.
A palavra desenvolvimento, etimologicamente, é um termo originário da biologia. Nesse
campo de conhecimento, desenvolvimento se associa à ideia de crescimento de um espécime
animal ou vegetal qualquer. Esse termo foi apropriado por economistas anglo-saxões, gerando
sua deturpação para um conceito voltado ao crescimento econômico (Layrargues,1998). O termo
em francês, porém, abrangeria um sentido mais amplo, pois developper significa literalmente
25
“desenvelopar”, ou seja, tornar aparente ou de domínio público (Layrargues,1998). Esse
significado estaria relacionado à superação de obstáculos, permitindo às potencialidades
individuais ou coletivas de um povo, transparecer a possibilidade de um desenvolvimento a partir
do próprio país, ou seja, promover o desenvolvimento endógeno (Sachs, 1988; Layrargues,1998).
O sentido econômico do desenvolvimento tornou-se bastante usual e convencional, sendo
dominado pelo modelo anglo-saxônico, que durante muitas décadas teve como principal alvo o
crescimento industrial. Esse modelo promoveu um desenvolvimento muito acelerado em alguns
países europeus e nos Estados Unidos, o que fez com que os países subdesenvolvidos à época
quisessem vislumbrar o mesmo horizonte. Aquele momento foi extremamente oportuno aos
países desenvolvidos, pois daquela forma poderiam expandir suas indústrias ao oferecer ajuda aos
países de terceiro mundo, através de planos de atividades industriais, e em especial aos Estados
Unidos, pois, além de barrar a expansão do socialismo, perpetuaria, em grande escala, o
capitalismo norte-americano (Sachs, 1988; Layrargues,1998). Os países subdesenvolvidos por
sua vez, assumiram um tipo de desenvolvimento mimético, negando suas especificidades
regionais e culturais e aceitando a sua suposta condição de inferioridade devido ao seu passado
como colônia (Layrargues,1998). Afinal, a exploração outrora sofrida acarretaria tantas
destruições das riquezas nacionais, bases para o desenvolvimento endógeno, que só restaria
espaço ao paternalismo do primeiro mundo, jamais ao engajamento autônomo para a mudança
das condições econômicas, sociais e ambientais do país (Sachs, 1988; Layrargues,1998).
De acordo com o Abramovay (2012), enquanto a economia mundial cresceu de forma
acelerada, nos últimos 30 anos a pobreza mundial vem declinando. A conclusão que poderíamos
chegar seria a de que o caminho mais curto para se enfrentar a pobreza ainda permanece na
aceleração do crescimento econômico. Essa aceleração, porém, esbarraria nos limites ambientais
26
cada vez mais restritos, já que o mundo é um sistema fechado e não um plano ilimitado de
recursos (Cechin, 2010). Além disso, perduram severas desigualdades entre países, regiões e
territórios, permanecendo aproximadamente quatro bilhões de pessoas na pobreza. (Abramovay,
2012).
Por outro lado, se os problemas sociais e ambientais permanecem muito agudos, observa-se
que os movimentos sociais e ambientalistas tornaram-se mais dinâmicos no século XX,
principalmente no período pós-segunda guerra. As ameaças dos testes nucleares e o intensivo
aumento das indústrias, assim como a elevação da concentração urbana acarretando no aumento
do consumo de recursos naturais e um crescente aumento da poluição, são alguns dos elementos,
dentro de um grande espectro de problemas e desafios socioambientais, que têm levado à
sociedade civil a buscar formas mais incisivas sobre a governança em diferentes níveis, seja no
global, no nacional ou no local, de forma a oferecer novas perspectivas de superar esse quadro
(Burztyn, 2001; Abramovay, 2012).
A partir da década de 60 os debates sobre os limites da natureza e os questionamentos sobre
o modelo de desenvolvimento que vinha sendo praticando se intensificam, tendo como grandes
colaboradores pesquisadores das ciências biológicas como Rachel Carson e Garret Hardin
(Burzstyn, 2001). Na década de 70, esse debate chega às ciências econômicas a partir do relatório
de Meadows, intitulado “Os limites do crescimento” (Burzstyn, 2001). A partir de então, as
discussões sobre novas formas de desenvolvimento, para além do viés, predominantemente
econômico à época, começam a serem debatidos com maior frequência.
Em 1972, foi realizada em Estocolmo a primeira Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente Humano. Essa conferência reuniu a comunidade internacional para discutir
questões relacionadas ao meio ambiente global e as necessidades de desenvolvimento. Nessa
27
Conferência, o Brasil defendeu o desenvolvimento a qualquer custo e não reconheceu a gravidade
dos problemas discutidos (Bursztyn, 2001; Barbieri, 2001). O governo brasileiro à época
empenhava-se na sustentação de uma política desenvolvimentista via industrialização e expansão
das fronteiras agrícolas e dos distritos minerais de ecossistemas frágeis, especialmente nas áreas
do cerrado e floresta amazônica (Barbieri, 2001). Essa política foi altamente desastrosa tanto em
nível ambiental quanto social. A Conferência, porém, levou à formulação do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e conseguiu articular países em via de
desenvolvimento e desenvolvidos, iniciando uma sequência de Conferências da ONU (Bursztyn,
2001; Barbieri, 2001).
Em 1982, foi realizada uma avaliação da Conferência de Estocolmo em Nairóbi, sob a
coordenação do PNUMA. Nesse encontro estabeleceu-se a intenção de criar a Comissão Mundial
de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMD), sendo implementada em 1983, com o objetivo
de propor estratégias ambientais de longo prazo prevendo formas de desenvolvimento mais
sustentáveis para o ano 2000 e daí por diante; recomendações para que a preocupação ambiental
se traduzisse em maior cooperação entre os países; e consecução de objetivos comuns e
interligados que considerassem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e
desenvolvimento (Layrargues, 1998). Após quatro anos de pesquisa em cerca de 10 países , em
1987, a CMMD publicou suas conclusões no relatório intitulado Nosso Futuro Comum ou
Relatório de Brundtland - nome da então presidente da CMMD e Primeira-Ministra da Noruega,
Gro Harlem Brundtland - apresentando a noção de DS como "aquele que atende as necessidades
do presente sem comprometer a possibilidades de as gerações futuras atenderem as suas próprias
necessidades" (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991, p.46).
28
Os apontamentos desse Relatório, porém, esbarram em um grande paradoxo conforme
aponta Layarargues (1998). Para o Relatório "Nosso Futuro Comum", "há sempre o risco de que
o crescimento econômico prejudique o meio ambiente, uma vez que ele aumenta a pressão sobre
os recursos ambientais" (CMMD, 1991, p.44). O DS, portanto, apresentaria limites, não limites
absolutos, mas impostos pelo atual estágio da tecnologia e da organização social frente aos
recursos ambientais e a capacidade da biosfera de absorver os efeitos das atividades humanas
(Layrargues, 1998). Essa tecnologia e organização social podem ser aprimoradas e geridas,
porém, no sentido de um novo modo econômico. Dessa forma, a CMMD (1991) aponta que a
pobreza generalizada não seria mais fato inevitável, sendo que dentro do contexto do
desenvolvimento sustentável ela passaria a não ser apenas um mal em si, pois "num mundo onde
a pobreza e a injustiça são endêmicas, sempre poderão ocorrer crises ecológicas e de outros tipos"
(CMMD, 1991, p.47). O relatório atesta que a pobreza seria um dos principais problemas
ambientais do mundo, afirmando que seria inútil abordar esses problemas sem uma perspectiva
global das desigualdades do mundo (Lélé, 1991).
Tal ideia sugere uma circularidade como uma retroalimentação positiva, isto é, quanto mais
pobre, maior pobreza haverá.Ocorre a partir daí uma intensa propaganda em torno do
círculo vicioso da pobreza, com o propósito de justificar a necessidade da continuidade do
crescimento econômico, e omitir o peso da responsabilidade ambiental do consumo
excessivo do Norte, a poluição da riqueza (Layrargues, 1997, p.6).
Essa forma de entendimento apontada pela CMMD frisa que o crescimento econômico
poderia continuar no mesmo ritmo, desde que novas tecnologias não poluentes sejam
incorporadas nas atividades industriais. No entanto, mesmo que as tecnologias se adequem ao
contexto, será que as mudanças sociais e culturais acompanhariam essas transformações, uma vez
que uma das características da sociedade industrial de consumo é justamente o desperdício?
29
(Layarargues, 1997). Sem essa mudança os recursos naturais continuarão sendo tencionados e as
novas tecnologias terão um impacto muito voltado na diminuição das emissões de poluentes, mas
os recursos naturais continuarão correndo o risco da escassez. O paradoxo da circularidade se
encontra exatamente nesse ponto: o Relatório aponta que há sempre o risco do crescimento
econômico degradar o meio ambiente, mas seria a pobreza, porém, o fator de maior contribuição
para essa degradação, e como solução dever-se-ia agir em prol da diminuição da pobreza, através
do crescimento econômico.
Figura 1.Paradoxo da Circularidade Nota. Fonte: Original desta pesquisa, a partir de adaptação de Layrargues (1998).
Além disso, Lélé (1991) afirma que muitos dos conceitos disseminados sobre DS, são, na
verdade, abordagens conceituais da sustentabilidade ecológica e/ou social. Portanto, Lélé (1991)
e Veiga (2009) acreditam ser o DS, nada além do que um “desenvolvimento que pode ser
Crescimento Econômico Degradação Ambiental
Desenvolvimento
Sustentável Pobreza
30
continuado”, e esse desenvolvimento pode ser medido, inclusive, pelo PIB e não necessariamente
pela incorporação das questões ambientais. O problema da mensuração do desenvolvimento pelo
PIB é que muitas vezes escolhe-se populações de países que tiveram crescimento intensivo
aumentando-se, inclusive, o IDH, ou uma população de países em crescimento, como é o caso
dos BRICS, sem medir os efeitos negativos desse crescimento (Veiga, 2009). Tome-se como
exemplo a emissão de carbono de China e Brasil ou o índice de pobreza da Índia (Veiga, 2009).
Entender o desenvolvimento a partir da existência de condições ecológicas necessárias para
dar suporte em um nível específico de bem-estar da vida é sustentabilidade ecológica e não DS
(Lélé, 1991). Diante do amplo “leque” que o conceito de DS apresenta, Sachs (2007) argumenta
que apesar de o DS ser uma alternativa média entre o economicismo arrogante e o
fundamentalismo ecológico, ele deveria ser socialmente receptivo e implementado por métodos
favoráveis ao meio ambiente, através de uma distribuição diferente da propriedade e da renda e
requerendo algum tipo de intervenção e planejamento por parte do Estado, além de estratégias
complementares entre o Norte e o Sul. Assim, lamenta que "a revolução ambiental tenha
coincidido com a contra-revolução neoliberal e o ressurgimento do mito do laissez-faire"(Sachs,
2007, p. 63), o que o levou a justificar a necessidade de uma ecosocioeconomia.
Esse termo surgiu na década de 70 com a obra do economista e ambientalista Karl William
Kapp e foi incorporada à discussão do ecodesenvolvimento que também ganhava fôlego na
década de 70 e cujo um dos percussores foi justamente Ignacy Sachs. A proposta da
ecosocioeconomia seria a de trazer para o debate do DS questões relacionadas a um
desenvolvimento mais integrado, combinando três pilares: eficiência econômica, justiça social e
prudência ecológica (Sachs, 2004). Esses três pilares apresentados por Sachs (2004) levariam ao
desenvolvimento mais equitativo dos países subdesenvolvidos, uma vez que, o critério
31
econômico provocaria um rearranjo nas estruturas econômicas da sociedade ao integrar o meio
ambiente como dimensão do desenvolvimento; o critério social buscaria mitigar as disparidades
sociais, gerando maior equidade, justiça e valorização de comunidades locais; e o critério
ambiental colocaria o meio ambiente em uma condição central nas discussões, análises e ações de
desenvolvimento.
Essa noção teria como foco principal o crescimento endógeno, considerando os saberes
locais. De acordo com essa perspectiva, para o Terceiro Mundo se desenvolver seria necessário
que percorresse um caminho diferente daquele marcadamente industrial adotado pelo primeiro
mundo (Layrargues, 1998; Sachs, 2007). "Deveria engajar-se na pesquisa de modelos de
desenvolvimento endógeno, qualitativamente diferentes do norte-americano e europeu"
(Layrargues,1998, p.135). Nessa perspectiva, o quadro cultural, antes ignorado, tornar-se-ia
relevante, bem como os estilos de vida próprios de cada nação. O desenvolvimento passaria a não
ser apenas pela ótica da economia, mas traria como tema central a criatividade cultural e morfogênese
social (Cechin, 2010).
Outra discussão que a noção da ecosocioeconomia apresenta é sobre a perspectiva do
chamado “teto de consumo” (Sachs, 2007), na qual o nível de consumo dos países do Norte é tido
como insustentável. Tentar igualar o consumo dos países do Sul ao nível dos países do Norte
levaria o planeta a um colapso, sendo ideal aumentar o consumo dos países do Terceiro Mundo
ao passo que se diminui o consumo dos países de Primeiro Mundo até que se chegue ao ponto de
equilíbrio da biosfera (Layrargues, 1997; Sachs, 2007).
A CMMD visivelmente evita essa ótica, uma vez que aponta para o desenvolvimento de
novas tecnologias que minimizariam os impactos ambientais e permitiriam erradicar a pobreza,
levando os países a níveis menos desiguais de consumo, através do aumento do consumo e não na
32
sua diminuição. Dessa forma, os países do Norte não seriam responsabilizados pela degradação
ambiental, sendo que o problema com o qual o desenvolvimento sustentável teria que lidar seria
apenas um: a “poluição da pobreza” (Layrargues, 1998). Fato é que o DS, em um primeiro
momento, foi aceito tanto pelo Sul quanto pelo Norte, devido a diferentes fatores e interesses.
Enquanto um, o Sul, buscava investimentos para mitigar a pobreza tão poluidora, o outro, o Norte,
queria omitir a poluição da riqueza. O grande desafio, segundo Layrargues (1997) aparecerá
quando chegar o momento em que o Sul terá que arcar com o ônus financeiro da recuperação
ambiental no futuro, uma vez que aceitou que a poluição vem, única e exclusivamente, da
pobreza, desonerando o Norte de suas responsabilidades pela geração de problemas ambientais.
Sachs (2007) acredita que a ecossocioeconomia é um noção altamente operacional,
exigindo para isso, que as culturas e os ecossistemas sejam reconhecidos, problematizando as
formas de produção local e seu relacionamento com o ambiente, de forma a compreender em
maior complexidade os dilemas e problemas enfrentados por cada população nos territórios.
Além disso, essa noção parte de um planejamento e da construção de estratégias dentro de um
processo participativo nos quais os cidadãos - detentores de maior saber local - possam participar
dos processos de tomada de decisões (Layrargues,1998).
A ecosocioeconomia vai além das proposições de acelerar ou diminuir o ritmo do
crescimento, significando alterar-se drasticamente os rumos da civilização. Considerando a
transição do liberalismo para o neoliberalismo, na qual o Estado intervém cada vez menos e os
mercados atuam de forma mais independente, a resposta para o aumento da competitividade e
também para a solução dos problemas sociais e ambientais estaria concentrada no mercado,
conforme postulam algumas abordagens sobre desenvolvimento sustentável. Já na noção da
ecosocioeconomia, a solução para os desafios sociais e ambientais não residiria apenas no
33
mercado e na ação das organizações empresariais, mas sim na ação conjunta e participativa que
se daria a partir da articulação entre sociedade civil e Estado (Lélé, 1991; Layrargues, 1998;
Levésque, 2007).
Outra noção que se faz presente nas discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento e
que foi adotada como referência para essa pesquisa, é a da sustentabilidade. Essa terminologia,
com frequência, é confundida com o conceito de DS e ecosocioeconomia. A noção de
sustentabilidade tem sua origem nas vertentes ambientalistas a partir de duas correntes: (1)
conservacionista e preservacionista, difundida por filósofos, cientistas naturais e políticos no
século XIX; e (2) interior da corrente tradicional, porém, a partir da década de 60 passa por
mutações polissêmicas com a politização do tema e divide-se em duas concepções: (1) gestão
ambiental; e (2) ecologização do sistema social (Neder, 2002).
A primeira vertente, a do conservacionismo, vai de encontro às ideias iniciais sobre
sustentabilidade das Ciências Biológicas, que a aplicam a recursos renováveis, principalmente
aqueles que podem ser exauridos pela exploração descontrolada. A sustentabilidade para
exploração desses recursos está na ideia de que só é possível uma exploração permanente se
observados os ciclos naturais de renovação desses produtos (Barbieri, 2001; Neder, 2002). Para
os recursos não renováveis, como combustíveis fósseis e exploração mineral, a sustentabilidade
seria sempre uma questão de tempo, pois, obviamente, quanto mais racionados e menos
desperdiçados esses recursos forem, mais tempo durarão (Barbieri, 2001; Neder, 2002).
A segunda vertente define sustentabilidade como um processo de “ecologizar” o sistema
social, "obtendo uma soma positiva do planejamento local e global em torno de processos
produtivos sinérgicos ou afins aos ecossistemas" (Neder, 2002, p. 37). Nesse contexto, a
sustentabilidade dialogaria muito fortemente com a ecosocioeconomia, sendo considerada por
34
autores como Neder (2002), como a mesma coisa. Essa vertente, assim como a ecosocioeconomia,
exigiria uma alteração nos hábitos de consumo humano, se contrapondo aos argumentos a favor
do caráter universalmente construtivo do crescimento econômico que defendem que o modelo
produtivista tem como virtudes a geração de emprego e o incentivo à inovação (Veiga, 2009;
Abramovay, 2012). Converge com a ideia de uma nova economia, em “cujo centro estejam os limites
da biosfera e a ética na tomada das decisões sobre o uso dos recursos (públicos, privados e associativos)”
(Abramovay, 2012, p. 65)
A sustentabilidade implicaria em uma visão holística sobre os sistemas do planeta,
buscando articular as dimensões social, econômica, ecológica, geográfica e cultural
simultaneamente nas discussões, análises e ações voltadas ao desenvolvimento. Para Sachs
(1993), essas cinco dimensões representariam respectivamente: (1) a melhoria dos direitos e
condições da vida humana, assim como, a diminuição da desigualdade social; (2) alocação e
gestão eficiente de recursos, avaliada mais pelos critérios macrossociais do que
microempresariais e por fluxos regulares de investimento público e privado; (3) redução do
consumo e da produção de resíduos, adoção de tecnologias limpas e regras claras que limitem a
exploração de recursos naturais; (4) melhor distribuição dos espaços territoriais, principalmente
em relação ao excesso de acumulação em áreas urbanas; (5) busca de concepções endógenas de
desenvolvimento que respeitem as particularidades de cada ecossistema, de cada cultura e cada
local.
Podemos considerar que, sendo o conceito de Sustentabilidade provindo da Biologia e da
Ecologia, cuja lógica é circular e includente, representaria a tendência dos ecossistemas ao
equilíbrio dinâmico, à cooperação e à coevolução, e responderia pelas interdependências de todos
com todos, garantindo a inclusão de cada um. Diferentemente das definições de DS e
35
ecosocioeconomia, a sustentabilidade incorporaria em seu sentido o equilíbrio da natureza pela
natureza, saindo do foco antropocêntrico presente nas outras abordagens.
O DS, entendido, literalmente, como o desenvolvimento que pode ser continuado,
incorporou a discussão da sustentabilidade ecológica e o sentido integrador da ecosocioeconomia.
Entretanto, a interpretação que hoje dominaria o debate sobre DS, é a de que as formas
tradicionais de desenvolvimento podem ser mantidas uma vez que houvesse uma mudança
societal que englobaria os objetivos ou as restrições da sustentabilidade ecológica. Esses
objetivos ecológicos, somados aos objetivos tradicionais, poderiam reforçar-se mutuamente. Lelé
(1991) entretanto, questiona de que forma esses dois objetivos poderiam reforçar-se uma vez que,
no passado se anulavam. Como não cair novamente em contradição? Colaborando para esse
questionamento de Lélé (1991), Rattner (2010) contesta a incorporação da dimensão ambiental
nos projetos de crescimento econômico, considerando-os insuficientes para a melhoria da
qualidade de vida no planeta e, vai além, apontando para a necessidade de buscar-se padrões de
consumo e de produção determinados socialmente para que, dessa forma, se possa avançar sobre
a discussão de sustentabilidade fugindo dos padrões normativos. Assim, tanto para Rattner (2010)
quanto para Lélé (1991), sustentabilidade é uma perspectiva que é definida pelo consenso social e
reconhecem que a discussão sobre sustentabilidade deve responder três questões: (1) O que tem
que ser sustentado?; (2) Para quem?; e (3) Por quanto tempo?.
O Estado democrático seria um ator importante na transição dos modelos atuais para a
dinâmica da sustentabilidade, apresentando-se como uma sexta dimensão incorporada pela
sustentabilidade, pois, transcenderia a lógica de acumulação capitalista dos mercados fazendo
frente às multinacionais, aos processos subjacentes do comercio internacional e às
regulamentações ambientais internacionais (Acselrad, 2001; Barbieri, 2001; Abramovay, 2012).
36
Dessa forma, a dimensão política da sustentabilidade associar-se-ia aos processos de
incorporação plena das pessoas no desenvolvimento local abrindo espaço para a prática da
cidadania, que por sua vez exigiria a manutenção de regimes democráticos e o aperfeiçoamento
de suas instituições.
2.2. A Política Ambiental no Contexto Brasileiro
O discurso ambientalista governamental brasileiro,
aponta a existência de duas matrizes discursivas sobre a questão ambiental: um
discurso ecológico oficial, enunciado pelo ambientalismo governamental, representante
da ideologia hegemônica e encarregado de manter os valores culturais instituídos na
sociedade; e um discurso ecológico alternativo, proferido pelo ambientalismo original
strictu sensu, corporificado pelo movimento social organizado, representante da
ideologia contra-hegemônica e encarregado de disseminar valores subversivos à
ordem social e econômica instituída.
PHILLIPE LAYRARGUES
O estabelecimento da política ambiental mundial e, consequentemente, da política
ambiental brasileira, está muito atrelado ao desenvolvimento do conceito de sustentabilidade. A
partir da evidência da crise ambiental ocorrida na segunda metade do século XX com a ampliação
dessas discussões pelas conferências da ONU e os relatórios resultantes desses encontros, assim
como os protestos populares crescentes acerca do tema, delimitou-se os princípios que definiram
as políticas ambientais em todo o mundo.
Um ponto de inflexão que merece destaque na institucionalização da política ambiental
brasileira verifica-se após a Conferência de Estocolmo em 1972, quando, no ano seguinte, o
Brasil cria a Secretária Especial do Meio Ambiente (SEMA) sob inspiração da Conferência de
Estocolmo e, principalmente, sob forte pressão internacional (Cavalcanti, 2004). Mas o maior
37
passo em direção à política ambiental no país se deu em 1981, com a aprovação da Lei 6.938/81,
que estabeleceu uma Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), consequência dos trabalhos
da SEMA e de alguns grupos da sociedade civil organizada (Cavalcanti, 2004; Rezende, 2007).
Essa lei instituiu, além das bases legais, o arcabouço institucional para a formulação das políticas,
tanto em nível da União, quanto em níveis Estaduais e Municipais, criando, a partir dela, o
Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), tendo ligado a ele, o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) responsável por assessorar, estudar e propor ao órgão superior
diretrizes para políticas de meio ambiente e recursos naturais, além de deliberar sobre as
resoluções regulamentadoras (Cavalcanti, 2004; Rezende, 2007).
A Lei nº 6.938/81 "aceita o princípio do poluidor-pagador como a forma de se identificar
culpa e estabelece a obrigação de que quem causa prejuízo ambiental é responsável por repará-
lo." (Cavalcanti, 2004, p. 4). Além disso, criou instrumentos para a PNMA, como a Avaliação de
Impactos Ambientais (AIA) e o processo de Licenciamento Ambiental, uma exigência para
empreendimentos considerados efetivos ou potencialmente poluidores ou causadores de impactos
ambientais de nível elevado (Cavalcanti, 2004; Rezende, 2007). O Licenciamento Ambiental está
baseado no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O
AIA, por sua vez, seria um “conjunto de procedimentos adotados para permitir uma cognição
acerca do uso adequado do meio ambiente” (Rezende, 2007, p. 34). Dessa forma, procedimentos
como o Licenciamento Ambiental constituiriam formas para se chegar ao AIA.
Em 1988, a Constituição Brasileira “consagrou a proteção do meio ambiente em capítulo
específico [...], elegendo o desenvolvimento sustentável como um projeto nacional” (Hartmann,
2009, p. 35). Para Hartmann (2009), apesar da pressão pelo desenvolvimento fazer com que
muitos empreendimentos consigam encontrar lacunas na lei, foi a partir da introdução do assunto
38
pela Constituição de 1988 que se pode equiparar o respeito ao meio ambiente aos direitos sociais
fundamentais. Da mesma forma, a obrigação de estudos prévios de impacto ambiental,
devidamente publicados, ganhou espaço em artigo constitucional, atrelando-se diretamente aos
impactos sociais gerados pelos empreendimentos (Hartmann, 2009).
As transformações político-institucionais e a ampliação de canais de representatividade dos
setores da sociedade civil organizados, principalmente, após a Constituição de 1988, aumentando
sua atuação junto aos órgãos públicos, mostram a potencialidade de construção de sujeitos sociais
identificados por objetivos comuns na transformação da gestão pública, associado à construção
de uma nova institucionalidade (Jacobi, 1999). Nesse sentido, a configuração desse novo
paradigma se concretizaria de forma efetiva através da ampliação e democratização das relações
de poder, práticas participativas de discussão das políticas públicas e compartilhamento das
informações e estímulo ao debate público sobre o significado social das ações desenvolvidas,
tendo em vista o caráter difuso e coletivo das questões socioambientais (Jacobi, 1999; Rodrigues,
Malheiros, Fernandes, Darós, 2012). No Brasil, os conselhos são as aberturas políticas
institucionalizadas para que haja a participação da sociedade nos processos de decisão por meio
de representação (Rodrigues, Malheiros, Fernandes, Darós, 2012)
Apesar disso, questões relacionadas aos processos políticos-estruturais e políticos-
procedimentais ainda apresentariam problemas significativos, especialmente, no que concerne o
Licenciamento Ambiental, conforme apontado por Zhouri (2008). O primeiro, de ordem político-
estrutural, se encontraria nos Conselhos de Política Ambiental (COPAM), que deveriam ser
espaços de consenso e, portanto, de boa governança. No entanto, o que se observaria seriam
processos de oligarquização do poder deliberativo e de juridicialização do campo ambiental ao se
39
controlar o ingresso de novos membros, concentrando o poder de decisão em uma minoria, que,
não raras as vezes, desempenham o mesmo papel por anos (Carneiro; 2003; Zhouri, 2008).
O capital específico do campo é caracterizado pela formação e pela reputação técnica e/ou
científica dos agentes, pela “representatividade” de determinado segmento da sociedade e,
finalmente, pelas relações pessoais. Há nessa dinâmica uma circulação de posições dos
atores, ora em cargos públicos deliberativos, ora como consultores ambientais e mesmo
como empreendedores. Tal círculo vicioso evidencia o mecanismo pelo qual se dá a
perpetuação de uma visão dominante acerca dos recursos naturais, ou seja, da apropriação
sempre capitalista da natureza. (Zhouri, 2008, p.100)
O segundo, de ordem político-procedimental, se encontraria na marginalização de
comunidades atingidas durante o processo de Licenciamento Ambiental. De acordo com Zhouri
(2008), a falta de transparência no processo de licenciamento seria um dos principais empecilhos
à participação da população. O conhecimento prévio, aprofundamento dos projetos e
acompanhamento desde a fase inicial de planejamento representam formas e oportunidades de
inclusão das comunidades no processo participativo para tomada de decisão (Zhouri, 2008).
Apesar de esses procedimentos estarem previstos em lei, o que se assistiria é à ausência de
mecanismos institucionais que considerem, de fato, a demanda e o conhecimento das
comunidades locais na caracterização dos impactos socioambientais dos empreendimentos. Não
raras as vezes, as comunidades são comunicadas no estágio avançado dos empreendimentos,
quando acordos e intervenções já foram feitos entre empresas, poder público e organizações da
sociedade civil. Dessa forma, sem conhecimento sobre as reais dimensões dos projetos, as
comunidades não teriam informações suficientes para um posicionamento frente às propostas
(Zhouri, 2008).
Considerando que o município é o nível de governo mais próximo da população, a
participação deveria ir além daquela representativa nos conselhos, utilizando-se de maneira mais
40
efetiva outros canais disponíveis à população que podem facilitar a participação, como, a Câmara
de Vereadores, Associações de moradores, Fóruns Locais, e outras entidades não-governamentais
que podem atuar juntamente com o poder público para o cumprimento da política local de
proteção ao meio ambiente (Rodrigues et. al. 2012). Nesse contexto, a percepção da população se
tornaria um importante aliado para o poder público local na gestão das políticas socioambientais
locais.
Entretanto, Zhouri (2008) aponta que a sociedade chamada a participar é aquela intitulada
como organizada. Mas essa sociedade organizada, seria composta por participantes “capacitados”
dentro dos moldes eleitos pelos segmentos dominantes, detentores de conhecimentos técnicos,
linguagem de projetos e domínio de língua estrangeira (Zhouri, 2008). Porém, conforme
apontado por Leff (2009), o saber ambiental não estaria relacionado ao conhecimento da biologia
e da ecologia e não trataria apenas do saber a respeito do ambiente, sobre as externalidades das
formações teóricas centradas em seus objetos de conhecimento, trataria sim, da construção de
sentidos coletivos e identitários que formam múltiplos significados culturais na perspectiva de
um futuro sustentável.
A compreensão do ser no saber, a concentração das identidades nas culturas, incorpora um
princípio ético que se traduz em diretriz pedagógica; para além da racionalidade dialógica,
da dialética entre fala e escuta, da disposição para compreender e colocar-se no lugar do
outro, a política da diferença, a ética da outredade e a hibridização de identidades levam a
interiorizar o outro em um, no jogo de mismidades que introjetam outredades sem renunciar
ao seu ser individual e coletivo. As identidades híbridas que assim se constituem não são a
expressão de uma essência, tampouco na entropia do intercâmbio subjetivo e comunicativo.
Elas emergem da afirmação de seus sentidos diferenciados frente a um mundo
homogeneizado e globalizado (Leff, 2009).
Para Spink (2001), quando se fala em poder local, ambiente local, comunidade local, saber
local esbarra-se nas tecnoburocracias empresariais e públicas que considerariam o local “como
parte intrínseca de uma lógica de ordenação de espaço — construído e produzido num dado
41
processo socioeconômico — que automaticamente o subordina a algo maior” (Spink, 2001, p.
15). Dessa forma, Spink (2001) traça um paralelo com o termo descentralização, cujo uso muitas
vezes é uma forma sutil de valorizar o centro. Assim, volta-se à problemática do todo e das partes
e à dificuldade de se focalizar no menor sem a tutela do maior (Spink, 2001).
O Brasil, desde a década de 30, adota uma postura desenvolvimentista, apropriando-se do
discurso da lógica do desenvolvimento econômico, justificando práticas social e ambientalmente
insustentáveis. Conforme discutido acima, os países em desenvolvimento adotaram e muitos
ainda adotam uma postura na qual reivindicam o seu direito de desenvolver-se economicamente
assim como os países desenvolvidos. O Brasil encabeça essa discussão e adota políticas
conservadoras de desenvolvimento econômico que teriam reduzido o meio ambiente e a justiça
social “ao estatuto de barreiras ao desenvolvimento” (Zhouri, Laschefski & Pereira, 2005, p.5).
Para que alcancemos um planejamento do desenvolvimento efetivamente sustentável ainda temos
que avançar muito como gestores públicos e privados e cidadãos.
2.3. Territórios e Sustentabilidade
A primeira condição para aqueles que partem de uma ideologia – que é o meu caso —, é oferecer
claramente os termos do debate que desejam. Se não o proclamo, fujo à discussão, evito-a,
impeço que debatam comigo. Há que definir por conseguinte essas duas palavras:
o território e o dinheiro.
MILTON SANTOS
A definição do que é território impulsiona uma discussão complexa sobre seus conceitos.
Milton Santos, uma das principais referências nessa discussão, acredita que território é "o lugar
em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as
42
fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da
sua existência" (Santos, 1999a). Para o autor, o território não pode ser entendido apenas pelo
conjunto de sistemas naturais e de coisas superpostas, mas sim como território usado, ou seja, o
chão mais a identidade, e identidade entendida como "o sentimento de pertencer àquilo que nos
pertence" (Santos, 1999a, p.8). O território, portanto, "é o fundamento do trabalho, o lugar da
residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida" (Santos, 1999a, p.8). Para
Saquet (2011), é preciso compreender a dialética no e do território entre o concreto e o abstrato,
superando o que é visível, o que está apenas no nível do concreto. Saquet (2011) afirma que a
abstração é imprescindível para se compreender o território e, para isso, as formas e os conteúdos
dos territórios precisam ser expressos no pensamento.
De acordo com Santos (1999b), a ciência política acabaria por ignorar o território, uma vez
que o entenderia, na maioria das vezes, apenas a partir da divisão entre estados e municípios, mas
não do conteúdo social nele inserido. Trata esse conteúdo de maneira quantitativa, medindo-o
através de estatísticas, e excluí o dinamismo socioterritorial, que, segundo o autor, são formas-
conteúdo relacionados à existência fazendo com que o território deva ser visto sempre como algo
em constante processo (Santos, 1999b). É o território que constitui o traço de união entre o
passado e o futuro imediatos e deve ser visto como um campo de forças, como o lugar do
exercício, de dialéticas e contradições entre o vertical e o horizontal, entre o Estado e o mercado,
entre o uso econômico e o uso social dos recursos (Santos 1999b). O território poderia ser
entendido como uma construção social, a partir das diferentes formas de uso e apropriação do
espaço geográfico (Saquet, 2011). Dessa forma, o território traz em si os contextos históricos e
relacionais, formados a partir das relações de poder que ali se estabelecem, porém, envolvendo as
43
redes de circulação e comunicação, a natureza exterior ao homem, as diferenças, as desigualdades
e as identidades culturais e identitárias (Saquet, 2011).
Em relação ao uso econômico do território com a expansão cada vez maior das instalações
das multinacionais o dinheiro a circular nos territórios começa a ser cada vez mais o dinheiro
global (Santos, 1999a). O autor levanta uma questão importante apontando que o dinheiro "cria
sua lei e a impõe aos outros, forçando mimetismos, adaptações, rendições, a partir de duas outras
lógicas complementares: a das empresas e a dos governos mundiais" (Santos, 1999a, p.11). Dessa
forma, a lógica do dinheiro das empresas seria a da competitividade, que faz com que qualquer
empresa que busque o universo global aumente sua esfera de influência e de ação para se
expandir, e isso transforma qualquer lugar, por mais insignificante que pareça ser, em uma peça
fundamental no mundo da competitividade (Santos, 1999a). Para que essa lógica da
competitividade empresarial funcione plenamente, é preciso apoiar-se nos governos mundiais
como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, bancos internacionais regionais, como o
BID, pelo consenso de Washington, pelas Universidades centrais produtoras de ideias de
globalização e pelas Universidades subalternas que aceitam reproduzi-las, já os Estados podem
optar por atender os reclames da sociedade uma vez que, as multinacionais escolhem lugares, em
função das respostas que imaginam poder ter e desertam esses lugares quando descobrem que já
não podem mais oferecer tais respostas (Santos, 1999a).
O que estaria em jogo seria a ampliação do poder e a utilização cada vez maior do espaço
da natureza socializada (Santos, 1999a). Essa relação entre a natureza e a sociedade poderia ser
entendida como o suposto da produção do homem, que, através de suas ações sobre ela, acabaria
por provocar alterações e modificações deste espaço e do próprio homem, refletindo na
reprodução social e na construção da paisagem (Machado & Saquet, 2011). A paisagem não
44
seria, no entanto, algo estático, como um quadro que congela as externalidades sociais e da
natureza (Machado & Saquet, 2011). Ela seria, em uma determinada porção do espaço, "o
resultado da combinação dinâmica, portanto, instável, de elementos físicos, biológicos e
antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto
único e indissociável, em perpétua evolução" (Bertrand, 1971, p.2). A paisagem deve ser
entendida como a expressão concreta da relação entre sociedade e natureza destacando-se as
dimensões históricas e temporais, ou seja, analisar suas transformações com base no tempo e na
história (Bertrand, 1998; Machado & Saquet, 2011).
Levando-se em consideração essa abordagem, a análise do território pode e deve ser
somada às dinâmicas da paisagem, uma vez que esta serviria de instrumento de diálogo, com o
qual, busca-se entender a diversidade e como as pessoas se organizam, constroem sua identidade
e representam seu espaço (Machado & Saquet, 2011). “Uma paisagem é uma escrita sobre a
outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes
momentos” (Santos, 1997, p. 66). O real do território e do desenvolvimento estaria em suas
contradições e unidades dialógicas, fundindo-se entre as relações sociais, sociais-naturais,
sociais-espirituais, em conflitos, contradições e interações, contendo em si heterogenias,
mudanças, permanências, desigualdades, diferenças e identidades (Saquet, 2011).
Quando se pensa em território como demarcações geográficas que abrigam sistemas
humanos e ecossistêmicos complexos, um jogo de oposições é evidenciado a partir de uma
racionalidade imposta sobre as outras formas de ações e saberes ligados ao uso e apropriação da
natureza (Floriani, Ríos & Floriani, 2013). Tal jogo conflitivo refletiria as formas como o modelo
hegemônico de produção e consumo do espaço é planejado para ser, em sua ação individual,
forçosamente indiferente ao seu entorno (Floriani et. al., 2013; Santos, 2009). Esse modelo
45
ancora-se na visão hegemônica, tanto nas teorias de sociedade quanto nas ciências da natureza, da
independência das populações frente aos territórios, refletindo um processo político de
construção social de espaço e tempo (Floriani et. al., 2013).
Esses modelos fundamentar-se-iam na forma de “conceber o espaço como estático, através
do tempo, como representação, como um sistema fechado, e assim por diante, são todos modos
de subjugá-lo” (Massey, 2008, p. 94). Assistimos à perturbadora hegemonia de um tipo de cultura
científica sobre velhos paradigmas de análise da realidade social. Conforme Boaventura de Sousa
Santos (1988) afirma:
[…] todos os conceitos com que representamos a realidade (a sociedade, o estado, o
indivíduo e a comunidade, a cidade e o campo, as classes sociais, etc...) têm uma contextura
espacial física e simbólica, que nos tem escapado pelo fato de nossos instrumentos
analíticos estarem de costas viradas para ele, mas que, vemos agora, é a chave para a
compreensão das relações sociais de que se tece cada um desses conceitos. Sendo assim, o
modo como imaginamos o real espacial pode vir a tornar-se a matriz das referências com
que imaginamos todos os demais aspectos da realidade (Sousa Santos, 1988, p.141).
Não obstante, o território se oporia à plenitude dessa hegemonia, além das racionalidades
típicas que atravessam o território, o espaço vivido admitiria a presença de outras racionalidades
(e irracionalidades) cujo âmago são priorizadas formas de convivência e regulação criadas a
partir do próprio território, a despeito da vontade de unificação e homogeneização que
caracterizam a racionalização econômico-instrumental do espaço (Floriani et. al., 2013). Ao se
colocar os dispositivos da ação-cognição humana nessas bases, se abriria a possibilidade do não
aprisionamento de antemão na rigidez de um esquema mental que tende a impedir e reconhecer a
ocorrência de emergências, de incertezas e de ambiguidades pela ação humana no interior dos
processos sociais. Com isso, a própria criatividade desafiadora poderia operar a partir de um
sistema de racionalidade aberto (Floriani et. al., 2013).
46
A instauração de uma “imaginação espacial alternativa” permitiria pensar o espaço
abertamente, como multiplicidades discretas, nos quais os elementos estão impregnados de
temporalidades, isto é, como multiplicidades contemporâneas de outras trajetórias e vozes, cuja
interpretação requer “uma mentalidade aberta à subjetividade espacializada” (Massey, 2008, p.
93). Trata-se, portanto, de defender um modo de ser e pensar diferentes, a partir de uma
imaginação e de uma atitude capazes de propiciar o desenvolvimento potencial de uma
mentalidade aberta à subjetividade praticada, isto é, à vivência do espaço enquanto experiência de
multiplicidades de coisas e de relações (Floriani, et. al., 2013). Em outras palavras, a vivência do
espaço deveria ocupar uma das posições de destaque no estudo da relação sociedade-natureza, a
partir de um novo paradigma para pensar a sociedade-espaço: o paradigma da cultura, que
negaria os antigos modelos, porque nenhum deles consegue dar conta dos sujeitos emergentes,
cujas ações estariam centradas não apenas na política ou na sociedade, mas também na cultura
(Floriani et. al., 2013). A cultura, interpretada pelo viés do espaço geográfico, não pode ser
separada da ideia de território e paisagem, pois seria pela existência de uma cultura que se criaria
um território. E é por ele que se exprimiria a relação simbólica existente entre a cultura e o
espaço e identidade de um grupo social (Bonnemaison, 2002; Floriani, et. al., 2013).
Nessa abordagem da geografia, os estudiosos reconhecem que as paisagens materiais não
são neutras, mas refletiriam as relações de poder e as ‘dominantes maneiras de ver’ o mundo.
Com isso, a paisagem passaria a ser entendida não apenas como resultado das interações
materiais entre sociedade e meio ambiente, mas como consequência de uma maneira específica
de olhar, passando a ser concebida como uma imagem cultural (McDowell, 1996; Floriani, et. al.,
2013). De acordo com Floriani et. al. (2013), entre os homens e suas paisagens existiria
efetivamente uma conivência secreta, da qual o discurso racional científico, dissecador e
47
classificador não pode dar conta. A paisagem seria ao mesmo tempo o seu prolongamento e o seu
reflexo (Floriani, et. al., 2013).
A partir daí, entramos em outro constructo desenvolvido fundamentalmente pelos estudos
no campo da geografia: o topocídio. Este termo definiria a aniquilação deliberada dos lugares.
Essa aniquilação decorreria de uma posição ideológica e cultural frente ao ambiente que é
transformado (Santos, & Machado, n.d.; Tuan, 1980). Se agora paisagens são entendidas como
reflexos sociais e culturais dos homens, qual o real impacto de empreendimentos que alteram essa
paisagem? Nessa visão, os impactos iriam além da natureza, afetando a expressão mais clara de
apego, cotidiano e sentimentos que explicam uma série de experiências pessoais e íntimas para
com o território (Santos, & Machado, n.d.; Tuan, 1980).
Esse fator por si só já seria um forte gerador de conflitos entre as empresas e a sociedade,
somado à falta de transparência por parte das empresas, as resistências frente aos
empreendimentos que causariam fortes alterações nas dinâmicas do território se intensificam. Por
não terem interesse em lidar com conflitos, as empresas, numa tentativa de neutralizá-los,
causariam um outro impacto, ao que Acselrad e Bezerra (2009) denominam de “chantagem
locacional” ou “chantagem de localização/deslocalização”. As estratégias territoriais de capital,
dotadas de mobilidade potencial acrescida às empresas, aprisionaria parcelas importantes das
populações locais na “alternativa” de promessas de emprego e renda (Acselrad & Bezerra, 2009).
Esse aumento da mobilidade do capital seria, então, um dos “pivôs” dos conflitos ambientais
locais por “desregulação” nas áreas dos investimentos, assim, observar-se-ia um cenário de
“denúncias e resistências à despossessão ambiental de populações locais, observada em áreas de
expansão de fronteira capitalista, ou à imposição de riscos ambientais aos grupos sociais mais
destituídos, em áreas de ocupação intensa” (Acselrad & Bezerra, 2009, p. 3).
48
Atores da resistência acabariam entrando em embate, não apenas com as empresas
geradoras dos conflitos, como também com parcelas da população interessada nas promessas de
desenvolvimento. As empresas, portanto, ganham uma força a mais, sendo suas pressões podendo
se dar através de dois meios: (1) pela ameaça de retirada do investimento para outro local; ou (2)
pela ameaça de que não se aceitando o empreendimento tal como a empresa o deseja, nenhuma
outra atividade irá ali ser implantada (Acselrad & Bezerra, 2009). Com a imposição dessas
condições, os empreendimentos acabam tornando-se ““quase-sujeitos” das políticas de regulação
dos territórios e “quase-sujeitos” dos limites de aceitabilidade dos riscos para a própria população
local” (Acselrad & Bezerra, 2009, p.4).
Em síntese, no processo da chantagem locacional, a população tenderia a submeter-se à
essa manipulação por ter um poder de barganha restringido pelas condições econômico-sociais
débeis em que vive, ficando, assim, cada vez mais sujeita aos riscos socioambientais dos
empreendimentos. Estaria em vigor, segundo Acselrad & Bezerra (2009), uma “divisão
socioespacial da degradação ambiental” reduzindo o potencial socioprodutivo de várias
comunidades e, consequentemente, seu bem-estar socioambiental. O próprio poder público
estaria legitimando a atração locacional chantagista de investimentos, oferecendo uma série de
benefícios, seja em recursos físicos ou fiscais, e estimulando inclusive uma “guerra predatória
regional”.
Os impactos sobre as comunidades locais podem ir além da atividade fim das empresas,
sendo causados também pelas próprias contrapartidas ambientais exigidas pela legislação
ambiental no processo de licenciamento, como é o caso das Unidades de Conservação ou dos
Parques Ecológicos. No caso da mineração, por exemplo, exige-se que uma área semelhante
àquela a ser minerada seja destinada para a conservação ambiental. Entretanto, se essas áreas
49
forem espaços utilizados por comunidades tradicionais locais para suas atividades de
subsistência, um novo conflito pelos espaço se manifestaria, pois, restringiria os direitos ao uso
daquela terra (Diegues, 1996).
Por construírem uma relação simbólica com o espaço, sendo ali, o meio pelo qual
desenvolvem seu trabalho, suas relações sociais e manifestações culturais, a restrição do uso da
terra implicaria na impossibilidade de continuar existindo como grupo social, portador de uma
cultura e de uma relação específica com a natureza (Diegues, 1996). O Estado ao conduzir a
criação desses espaços, age em favor dos interesses das sociedades industriais que passam a
utiliza-los como áreas de exploração do turismo, em grande parte voltado para a parcela da
sociedade que vive nos centros urbano-industriais, ou criando áreas restritas como contrapartida
ambiental das empresas que as utilizam sob o discurso das práticas de RSE.
Na verdade, o que está implícito é que as comunidades tradicionais rurais deveriam
"sacrificar-se" em prol do "direito" das sociedades urbano-industriais em usufruírem de espaços
naturais de lazer, em contato com a natureza (Diegues, 1996). Ou ainda, legitimando o modo de
produção predatório e insustentável enquanto houverem áreas para contrapartidas ambientais. A
experiência tem mostrado que os proprietários individuais ou as empresas tem degradado esses
recursos naturais dentro de suas propriedades e que o próprio Estado tem criado políticas
degradadoras do meio ambiente (Diegues, 1996).
50
2.4. Empresas e Territórios
2.4.1 A abordagem da Nova Sociologia Econômica
Qual deverá ser o fim do homem e como ele deverá escolher seus meios?
O racionalismo econômico, no senso estrito, não tem resposta a essas perguntas,
pois implicam motivações e conceitos de valor de uma ordem moral
e prática que vão além da exortação irresistível, conquanto vazia, de ser
‘econômico’
KARL POLANYI
A Nova Sociologia Econômica (NSE) ganhou fôlego a partir da década de 80, tendo origem
na sociologia econômica de Weber, Durkheim e Marx, voltando seu interesse para as bases
deixadas pelos seus precursores, ou seja, os estudos dos fenômenos econômicos à luz de uma
abordagem sociológica (Abramovay, 2004; Serva & Andion, 2006; Levèsque, 2007). A
sociologia econômica nessa década, por meio de suas diferentes correntes, passou então a se
contrapor aos fundamentos da ciência econômica neoclássica na tentativa de demonstrar que o
mercado e os demais fenômenos econômicos são construções sociais (Serva & Andion, 2006).
Os pressupostos e noções que configuram as análises da NSE, entretanto, não se definem de
maneira unanime, surgindo diversas vertentes no interior de seu campo epistemológico. Essa
diversidade pode apresentar uma dicotomia: se por uma lado se configura como um aspecto
preocupante por gerar o risco de ruptura interna ou um novo “adormecimento”, por outro, tal
configuração atesta a riqueza do movimento, ensejando debates vigorosos e constituindo rica
fonte de energia para seu próprio avanço (Serva & Andion, 2006). Para melhor entender o campo
atual da sociologia econômica, é importante realizar algumas distinções entre os seus
51
representantes destacando-se a clivagem entre os autores clássicos, que deram origem ao campo e
construíram as suas bases – Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Tornstein Veblen,
Vilfredo Pareto, Joseph Schumpeter, Marcel Mauss e Karl Polanyi – e os autores que,
principalmente após a década de 1980, constituíram a sociologia econômica contemporânea. Sob
o guarda-chuva desta última, se incluem várias correntes e autores (Serva & Andion, 2006;
Levèsque, 2007), destacando-se as abordagens francesas e inglesas, conforme figura 2:
Figura 2. Abordagens Francesa e Inglesa da NSE Nota.Fonte: Levésque, B. (2007). Contribuição da nova sociologia econômica para repensar a economia no sentido
do desenvolvimento sustentável. Revista de Administração de Empresas, 47 (2), pp. 60.
A abordagem francofônica relacionar-se-ia à sociologia e antropologia, representada pelo
Movimento Anti-Utilitarista nas Ciências Sociais (MAUSS), economia solidária e plural, escola
da regulação e abordagem das convenções (Serva & Andion, 2006; Levésque, 2007). Os autores
dessas correntes, além de realizarem uma crítica aos pressupostos da economia neoclássica,
fazem também propostas em termos de transformação social, redefinindo o que deve ser
entendido por atividade econômica e buscando responder aos desafios colocados pelos novos
contextos da modernidade.
52
Por outro lado, se enquadram os trabalhos dos autores de língua inglesa no campo da NSE,
com destaque para o institucionalismo e a socioeconomia (Serva & Andion, 2006; Levésque,
2007). Na sua maioria, os estudos elaborados por essas correntes anglosaxônicas se contraporiam
à economia neoclássica, mas não se concentrariam em propor alternativas contundentes. Nesse
espectro, buscariam mostrar que as teses neoclássicas seriam reforçadas, mesmo em seu domínio
mais central, se lhes fossem acrescentadas uma perspectiva sociológica dialogando com os
autores da economia (Granovetter, 1994).
Existem diversas correntes no âmbito da sociologia econômica, cada uma delas com seus
conceitos centrais, suas opções de pesquisa, seus autores e obras-chave. Entretanto, pode-se
observar que tais correntes têm em comum o fato de realizarem uma crítica aos fundamentos da
economia neoclássica e de partirem do pressuposto de que os fenômenos econômicos são
essencialmente uma construção social. Swedberg (2004) descreve a sociologia econômica como
o conjunto de teorias que se esforçam para explicar os fenômenos econômicos a partir de
elementos sociológicos. Segundo Fligistein (1996, p. 8), “diferentemente dos clássicos, a
moderna sociologia econômica dos mercados raramente conecta as suas ideias teóricas a uma
visão de sociedade ou à mudança social. Ao contrário, a maioria dos estudos enfoca o seu objeto
empírico e a literatura no qual ele está inserido” (Fligstein, 1996, p. 8). Os pressupostos centrais
da NSE afirmam que “toda ação econômica é uma ação social; a ação econômica é socialmente
situada; e as instituições econômicas são construções sociais” (Serva & Andion, 2006, p. 13).
Tais pressupostos confirmam a importância da dimensão sociológica e se contrapõem a uma
visão eminentemente utilitarista dos fenômenos econômicos.
Levèsque (2007) aponta para algumas hipóteses que guiam as pesquisas no campo da NSE,
destacando-se aquela relacionada à chamada “sociedade de risco”, conforme a entende Ulrich
53
Beck. O aumento dos riscos na vida social contemporânea poderia chegar ao ponto de que os
atores sociais não hesitariam mais em falar dos riscos ambientais, o que poderia levar a discussão
da sustentabilidade ao centro das preocupações. O crescimento dos riscos revelaria os limites da
racionalidade tecnocientífica e a necessidade de uma racionalidade social e ética, “se quisermos
que o futuro não seja moldado por cegos” (Levèsque, 2007, p. 50).
Mudanças constantes, manutenção da estabilidade e da capacidade de permanecer frente a
transformações inesperadas seriam princípios paradoxais necessários para compreender todos os
sistemas em nosso planeta, sejam eles indivíduos ou coletivos (Ruiz-Ballesteros, 2011). A chave
para o sucesso da gestão de processos de mudanças com vista a atingir a sustentabilidade residiria
na capacidade de resiliência, o que evitaria a dissolução do desenvolvimento circundante. Este
não significaria resistência a uma mudança inerente ou estabilidade total - o que seria impossível
-, mas sim se constituir ao mesmo tempo como remanescente e em mudança. Este é o paradoxo
que definiria a realidade (Ruiz-Ballesteros, 2011). O chamado “processo de resiliência” dos
territórios se interessa pela redução da vulnerabilidade das populações através da gestão de risco,
estimulando o debate sobre a formulação de novas políticas públicas. Isso levaria as Ciências
Sociais a investigar a evolução e a eficácia das políticas públicas, problematizar as inovações
introduzidas pelo termo resiliência na compreensão dos riscos e buscar novas formulações
conceituais e metodológicas para a análise dos territórios (Metzger & Robert, 2013).
No campo dos riscos e da preparação anti-desastres, o termo resiliência encontra sua
origem na psicologia e na ecologia. Desde meados do século XX, pesquisadores do campo da
psicologia têm trabalhado com a questão da resiliência para descrever as capacidades e
fenômenos psíquicos que permitiriam a um indivíduo recuperar sua integridade psicológica após
sofrer um estresse traumático. A ecologia por sua vez, adotou a resiliência como questão central
54
da evolução dos ecossistemas silvestres, constituindo-a como uma das referências para a
mitigação dos riscos ambientais. Posteriormente, o termo resiliência encontra a Economia, mais
especificamente o mercado financeiro, na busca de uma teoria geral que pudesse integrar
sociedade e meio ambiente (Metzger & Robert, 2013). O termo resiliência, portanto, passa a ser
tratado como a capacidade de adaptação, constituindo-se em uma forma de gestão de sistemas
complexos frente a quaisquer riscos, choques ou perturbações, permitindo assim, a evolução dos
sistemas e seu fortalecimento, evitando colapsos e bifurcações (Metzerger & Robert, 2013; Ruiz-
Ballesteros, 2013).
Incorporar as premissas da NSE, associadas às noções de resiliência dos territórios nos
permite ampliar o olhar sobre as dinâmicas entre atores da sociedade civil, Estado e mercado em
torno das questões ambientais. Essa perspectiva teórica permite uma análise mais complexa das
possibilidades, riscos, contradições e armadilhas da busca pela sustentabilidade dos territórios.
Além disso, reconhece o poder de diferentes atores, não apenas aqueles do mercado, nas
interações das quais resultam os processos de sustentabilidade e insustentabilidade dos territórios.
2.4.2 Novos olhares sobre a Responsabilidade Social Empresarial
Colocar a ética e o respeito aos ecossistemas no centro das decisões econômicas exige a ruptura com a
maneira como os mercados são encarados pela esmagadora maioria da ciência econômica
e, portanto, com essa rígida separação entre economia e sociedade,
como se a primeira fosse a expressão exclusiva dos interesses privados
e só a segunda exprimisse a esfera pública.
RICARDO ABRAMOVAY
A partir da década de 60, as questões ambientais começam a ganhar força, conforme visto
anteriormente. Nesse cenário de contestações as empresas passaram a ser alvo de movimentos da
55
sociedade civil que exerceram sob elas pressões, especialmente relacionadas à poluição,
desemprego, consumo e descriminações, entre outras (Kreitlon, 2004). É nesse contexto que a
conduta ética das empresas começa a ser debatida por um olhar mais crítico, questionando-se sua
responsabilidade para além de seus portões. O dogma segundo o qual as empresas devem
consagra-se, exclusivamente, à maximização de seus lucros começa a ser questionado por vários
movimentos de contra-cultura (Kreitlon, 2004).
Segundo Kreitlon (2004), esse questionamento ético e social das empresas existe desde os
primórdios do capitalismo, fato confirmado por obras de Engels e Marx, por exemplo. Entretanto,
a partir da década de 60, essa problemática ganha força justamente em uma época em que o sistema
capitalista encontrava-se sob críticas acirradas. A temática suscitou uma grande variedade de
discussões teóricas, tendo acabado por institucionalizar-se durante os anos 80 sob a forma de três
correntes básicas, a saber: (1) Ética nos Negócios (Business Ethics); (2) Negócios e Sociedade
(Business& Society); e (3) Gerenciamento das Questões Sociais (Social Issues Management)
(Kreitlon, 2004).
A primeira corrente, Ética nos Negócios, ressaltaria a relevância dos valores e julgamentos
morais dos atores econômicos, muitas vezes entendidos como indivíduos inseridos nas
organizações, e em sua capacidade e responsabilidade em assumir deveres morais. Apesar de
vários autores dessa corrente considerarem diferentes perspectivas dos estudos éticos na filosofia,
a presença de abordagens normativas a partir de imperativos categóricos é marcante nas
discussões. Outra característica dessa abordagem seria a centralidade atribuída à formação moral
dos gestores como estratégia para a difusão de práticas de responsabilidade social empresarial.
Dessa forma, faz-se uma contraposição à mão invisível dos mercados e à regulação da “mão do
governo” (Galbraith, 1986), perspectivas que rejeitam o fato de as empresas poderem ter
56
julgamento moral independente (Teodósio, 2008). Para Weiss (1995), essa parece ser uma das
grandes debilidades dessa corrente, na medida em que não reconhece que valores e instituições
são socialmente construídos, “acabando paradoxalmente por consolidar os fundamentos do
mercado e suas dinâmicas de racionalidade auto-interessada como pilares inquestionáveis da
sociedade contemporânea” (Teodósio, 2008, p. 73).
A segunda corrente, Negócios e Sociedade, reconhece que as instituições sociais permeiam
e dão sentido às atividades empresariais. Nesse sentido, pressupõe-se que a legitimidade
empresarial advém dos papéis que exercem e das expectativas que provocam junto à sociedade.
Diferentemente de algumas abordagens da primeira corrente, essa assume caráter eminentemente
sociopolítico, sendo a sociedade é trazida para o primeiro plano das discussões e deixando de ser
assumida como mera beneficiária das virtudes morais desenvolvidas pelas empresas (Kreitlon,
2004; Teodósio, 2008).
A terceira corrente, Gerenciamento das Questões Sociais, fundamenta-se nitidamente no
utilitarismo, com destacada concepção instrumental da RSE (Teodósio, 2008). Essa corrente é
apoiada por três pressupostos: (1) a empresa pode tirar proveito de vantagens do mercado se
antecipando a mudanças de valores da sociedade; (2) posturas e ações socialmente responsáveis
se constituem em vantagens competitivas para as corporações; e (3) a proatividade permite a
antecipação de mudanças na legislação e nas exigências de diferentes formas de controle social,
trazendo impactos positivos para o empreendimento a longo-prazo (Jones, 1996; Teodósio,
2008). Dessa forma, essa abordagem apresenta concepções que vão de encontro ao pensamento
neoclássico, na medida em que reafirmam que o único interesse legítimo da empresa é perseguir
seus próprios interesses, o crescimento e a lucratividade, e consolidam a ideia de que os atores
57
econômicos são movidos pelo estrito auto-interesse, racionalidade instrumental e sentido de
utilidade (Logsdon e Palmer, 1988; Teodósio, 2008). Como sintetiza Teodósio (2008):
[...] enquanto a primeira corrente seria a precursora desse campo de estudos, com marcada
natureza normativa, a segunda vertente procuraria incorporar variáveis sócio-políticas e
contratuais (no sentido de interações sociais), ao passo que a terceira perspectiva focaria
suas análises na gestão estratégica da ética empresarial, com forte caráter instrumental.
(Teodósio, 2008, p. 85).
Esse processo não necessariamente resultou em avanços em termos de cidadania e da
sustentabilidade, bem como não pôde ser percebido de forma homogênea em todos os lugares,
pois, cada campo organizacional possui dinâmicas e repostas diferentes aos desafios que enfrenta
em cada território (Gonçalves-Dias, Teodósio & Barbieri, 2007). Mas a regulação legal e pressão
social, somadas ao desejo de melhoria da reputação organizacional e diminuição dos riscos,
diferenciação e busca por segmentos específicos de mercado e a internalização das questões
socioambientais por conta das pressões externas, estariam impulsionando as organizações à um
processo de mudança, ainda que, permeado de contradições, idas e vindas e em uma velocidade
muito aquém do necessário para a sustentabilidade (Gonçalves-Dias, Teodósio & Barbieri, 2007).
Esse debate sobre a RSE, que tem incitado diversas abordagens conceituais que partem de
campos e princípios distintos sobre os questionamentos éticos e sociais das empresas, muitas
vezes adotam elementos conceituais de variadas vertentes, não constituindo, portanto, em um
campo de pesquisa unificado e independente (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011). Esse fato
acaba promovendo críticas às teorias de RSE pelos adeptos à Teoria de Maximização de Riqueza,
uma vez que as consideram conceitualmente frouxas e agregam muitos atores as dinâmicas
empresariais sem explicar como os conflitos entre esses diferentes atores deveriam ser resolvidos,
58
deixando o executivo sem qualquer princípio para tomada de decisões e avaliação de
desempenho, valendo a lei das preferências pessoais (Silveira, Yoshinaga & Borba, 2004).
Essa argumentação tem fundamento na abordagem Neoclássica do economista Milton
Friedman (1970) que, baseando-se na teoria da “mão-invisível” de Adam Smith, afirmava que há
uma e apenas uma RSE, voltada para a utilização dos recursos em atividades destinadas a
maximização dos lucros, contanto que permanecesse dentro das “regras do jogo”, ou seja, se
engajasse na concorrência aberta e livre, sem enganos ou fraude (Falkenberg & Brunsael, 2011).
Empresas envolvidas em atividades que não servissem aos interesses dos seus acionistas, como
projetos sociais, por exemplo, deveriam repassar os custos inerentes a essas atividades aos
clientes e, em última instância, à sociedade (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011), dessa forma, o
mercado seria suficiente para promover o equilíbrio entre as empresas e a sociedade. Friedman
(1970) argumenta que a prática da RSE é antidemocrática, pois, investe poder governamental a
pessoas que não possuem mandato para governar, e fútil, porque é improvável que o executivo
seja capaz de antecipar as consequências sociais de suas ações e porque impõe custos a seus
acionistas, clientes e/ou funcionários, o que provavelmente faria com as empresas perdessem
apoio e, consequentemente, seu poder (Mulligan, 1986).
Contrapondo-se à essa visão, Freeman (1984) argumenta que as atividades sociais não
poderiam ser distinguidas das atividades econômicas, pois, uma teria impacto direto sobre a
outra. Com base nesta perspectiva, o autor argumenta que as empresas não responderiam apenas
aos acionistas, mas também aos funcionários, clientes, comunidades afetadas e a sociedade, sobre
questões como os direitos humanos, bem-estar empregado e as alterações climáticas (Jenkins &
Yakvleva, 2006; Falkenberg & Brunsael, 2011). Diferentemente do exposto por Friedman (1970)
e pela abordagem neoclássica, Freeman (1984) acredita que a RSE seria uma ferramenta
59
importante para se alavancar o desempenho econômico de uma empresa e, consequentemente,
maximizar a riqueza dos acionistas. A instrumentalização da RSE, para Freeman (1984), poderia
melhorar a reputação da empresa, identificar oportunidades, testar novas tecnologias e produtos e,
dessa forma, adquirir vantagens competitivas no mercado globalizado (Porter & Kramer, 2006;
Shen & Chang, 2009).
A abordagem defendida por Freeman (1984), afirma que as empresas devem responder a
suas partes interessadas, seus stakeholders. Mas como definir quem são esses stakeholders? São
aqueles que têm uma relação estreita e “direito” à voz dentro das organizações? Ou, englobaria
amplamente todos os grupos que podem afetar e/ou serem afetados pela organização, incluindo-
se ativistas, concorrentes, o ambiente natural, a mídia? Para Phillips (2004), os stakeholders são,
no mínimo, aqueles grupos com os quais a organização tenha, voluntariamente, aceito benefícios
e para quem a organização tem obrigações decorrentes de equidade, incluindo-se grupos como:
financiadores, funcionários, clientes, fornecedores e comunidades locais. Freeman (1984) vai um
pouco além e inclui em sua “lista” qualquer grupo ou indivíduo que poderiam ajudar ou
prejudicar a empresa, apontando, além dos acima citado, os ambientalistas e o governo. Phillips
(2004) destaca que os concorrentes podem certamente afetar uma organização e devem, portanto,
serem considerados legítimos interessados, mas a organização e seus gestores não tem obrigações
morais de comparecer com seu bem-estar.
Tullberg (2005) apresenta uma abordagem que inclui um “teste de publicidade” em que a
gestão seria encorajada a considerar certas reações dos stakeholders em relação às atividades de
RSE ou a falta delas. Uma organização poderia gastar recursos na gestão de cobertura da mídia
para o único propósito de fazer avançar os seus próprios objetivos e não por uma questão de valor
da mídia intrínseco (Phillips, 2004), mas também poderia optar por cuidar de certas questões,
60
como o meio ambiente, por exemplo, porque seus stakeholders legítimos se preocupariam
profundamente com isso (Phillips, 2004).
A Teoria dos Stakeholders (TS) pode ser indicada nos termos descritivos, instrumentais ou
normativos, conforme Donaldson e Preston (1995). Brenner e Cochran (1991), apontam para uma
TS cujo objetivo seria descrever como as organizações operam para ajudar a prever o seu
comportamento organizacional. Freeman (1984), por outro lado, utiliza a TS para desenvolver
uma aproximação instrumental entre as práticas gerenciais, especialmente a estratégica.
Donaldson e Preston (1995), no entanto, entendem a TS como essencialmente normativa. Para
esses autores ela não poderia ser suportada apenas por motivos descritivos e instrumentais. Iria
além da simples ideia de que empresas possuem stakeholders e que os interesses desses devem
ser considerados nas operações das organizações (Donaldson & Preston, 1995). Ela incitaria uma
análise sobre quais interesses as organizações deve atuar e a quem a administração serve.
Enquanto a perspectiva geral da TS parece plausível para alguns, Donaldson & Preston (1995)
acreditam haver rachaduras em sua base conceitual e empírica. Estas falhas enfraquecem-na e
mascaram algumas de suas implicações, subestimando a necessidade de uma mudança na sua
estrutura fundamental se os interesses das partes interessadas tornarem-se parte integrante das
operações da empresa (Donaldson & Preston, 1995).
Por causa das "rachaduras na fundação" da TS uma série de questões podem ser levantadas
sobre a utilidade e validade de quaisquer conclusões morais ou prescrições que oferece.Weiss
(1995) afirma que a TS goza do status de paradigma no campo dos estudos organizacionais sobre
RSE. Trata-se de um sistema geral de ideias e suposições, padrão, exemplos e afirmações
estabelecidas. Apesar disso, o autor afirma que os fundamentos teórico-conceituais que
estruturam a interpretação da postura e ação empresariais baseados na noção de stakeholders
61
permanecem pouco debatidos. O autor critica as abordagens sobre stakeholders, visto que não
colocariam em questão a natureza do capitalismo contemporâneo, com a expansão de grandes
corporações globais detentoras de grandes capacidades e recursos concentrados. Além disso,
assumiria que princípios utilitaristas movem os grupos na luta por seus interesses, apesar de
paradoxalmente negar o utilitarismo, assim como a concepção neoclássica sobre ação social dos
atores econômicos. Ao partir do princípio que as empresas e os mercados são formados por
interesses voluntários, a TS justificaria o próprio comportamento auto-interessado dos atores
empresariais, apesar de afirmar pretender reprimi-lo e negá-lo (Weiss, 1995).
Para que de fato a RSE ocorra na perspectiva dos stakeholders, Jones (1999) afirma que os
gestores precisam desenvolver valores compatíveis e interesse em se responsabilizar pelos
impactos causados pela organização. Além dessa dimensão individual, os níveis socioculturais e
a racionalidade do setor empresarial e da própria empresa também precisariam avançar no sentido
de dialogar com as partes envolvidas (Jones, 1996; Teodósio, 2008). Dessa forma, os projetos
passariam a ser concebidos e desenvolvidos em conjunto com as comunidades, inclusive
partilhando ações, custos e soluções a serem implementadas. "Nessa perspectiva, as comunidades
e associações locais assumiriam status de parceiro privilegiado entre os stakeholders." (Teodósio,
2008, p. 79).
Para avançar nesse sentido, seria necessário se modificar a concepção sobre a relação de
aprendizagem entre empresas e comunidades. Anteriormente, tinha-se a ideia de que os
indivíduos, membros de comunidades afetadas, não poderiam sair de sua condição de excluídos.
Isso faria, em tese, com que, passivamente, aceitassem as intervenações tecnológicas e gerenciais
promovidas pelas empresas nos territórios como a solução de problemas sociais e ambientais,
(Teodósio, 2008). No entanto, os defensores de uma perspectiva modernizadora do investimento
62
social de empresas afirmam que, atualmente, a relação com comunidades poderia ser
extremamente frutífera para as empresas, visto que formas criativas, de baixo custo e mais
adequadas às realidades sociais específicas, poderiam surgir do contato entre gerentes e
funcionários com indivíduos empreendedores pertencentes a essas comunidades. Assim, a
aprendizagem tecnológica e gerencial se daria em via de mão-dupla na relação entre organização
e sociedade. (Teodósio, 2008).
Essa discussão, entretanto, gera alguns debates e controvérsias, tal como a assimilação dos
saberes locais e tradicionais por grandes corporações sem as contrapartidas esperadas para as
comunidades, ampliando a dominância de relações de mercado para bens e esferas da vida antes
caracterizadas pela sua natureza pública e coletiva (Teodósio, 2008). Outra ideia apontada
Teodósio (2008), é a de que os projetos não podem caracterizar-se pela extrema dependência de
uma única fonte de financiamento externa, devendo caminhar para a autosustentação no médio e
longo-prazos. De acordo com Pereira (2001), esse ponto seria fundamental para romper com as
práticas assistencialistas, pois, partiria da ideia de investimentos alocados e multiplicados através
do seu gerenciamento adequado.
Para Teodósio e Carvalho Neto (2003), no entanto, o questionamento mais relevante diz
respeito à possibilidade de avanço da cidadania através do provimento de políticas públicas por
agentes privados, cujos interesses e/ou resultado das ações voltar-se-iam para o aumento do
comprometimento de seus trabalhadores com o trabalho e para a melhoria da imagem junto aos
stakeholders, inclusive a comunidade no entorno de suas atividades, podendo resultar em maior
dependência social do que emancipação. Ainda que as possibilidades de ganhos compartilhados
entre comunidades e setor privado apontassem cenários atrativos para os investimentos sociais de
empresas, grande parte da literatura gerencial sobre stakeholders distanciar-se-ia da ideia do
63
conflito como estruturante das relações sociais, seja ele de natureza econômica, política, cultural,
social ou de poder. (Teodósio & Carvalho Neto, 2003).
Com isso, é possível afirmar que uma das motivações das empresas é a neutralização dos
atores em conflito. Nesse sentido, as parcerias com OSC’s representariam forte temor às
empresas pelo fato de que estas, ao descobrirem suas debilidades operacionais, poderiam levá-las
a público (Teodósio, 2008). Em contrapartida, as OSC’s correriam o risco de terem seus nomes,
portanto, sua legitimidade e credibilidade, acessados pelas corporações através das parcerias para
certificar práticas, produtos e serviços questionáveis do ponto de vista social e ambiental
(Teodósio, 2008).
A literatura aponta para seis aspectos decisivos que deveriam ser considerados e
operacionalizados para aprimoramento da performance das alianças entre empresas e OSC’s: (1)
identificação de projetos específicos para colaboração e dos recursos requeridos para o processo;
(2) formulação de critérios para a seleção de parceiros; (3) desenvolvimento de procedimentos
mutuamente aceitáveis para a colaboração; (4) definição clara e precisa de problemas e
exploração de soluções viáveis; (5) focalização em tarefas de implementação rápida; (6)
manutenção de confidencialidade por todas as partes (Rondinelli & London, 2003; Meirelles,
2005).
Entretanto, esses aspectos podem reproduzir a visão de que os problemas sociais e
ambientais se dariam de maneira pontual, podendo ser resolvidos por projetos específicos. “Além
disso, situações de conflito são assumidas como indesejáveis e improdutivas, a menos que se
manifestem dentro do fluxo de cooperação das parcerias” (Teodósio, 2008, p. 83). De acordo
com Teodósio (2008), essa visão poderia acabar reforçando a ideia de uma sociedade voltada
apenas para as micro mudanças, subtendendo que caberia ao Estado ou outras OSC’s o combate a
64
fenômenos estruturais que levariam aos problemas sociais e ambientais. As parcerias, nesse
modelo, se dariam com a presença do Estado e as OSC’s assumiriam apenas a função de
fornecedoras de soluções para os problemas empresariais, podendo se transformar em instituições
especializadas em bens concretos, perdendo o foco das lutas sociais mais amplas, muitas vezes
marcadas pelo conflito entre sociedade civil e empresas. Além disso, as comunidades
permaneceriam marginalizadas nesse processo (Teodósio, 2008).
Vasconcellos, Alves e Pesqueux (2012) apontam para duas perspectivas analíticas sobre a
TS a partir das ideias de Habermas. A primeira, trataria da avaliação ético-normativa da
racionalidade, das decisões administrativas por uma racionalidade comunicativa, com base no
envolvimento dos stakeholders em debates travados em condições não distorcidas de “discurso
ideal” (Habermas, 1987a, 1987b, 1984). A segunda compreenderia as ações de responsabilidade
social das empresas em contextos de criação de espaços deliberativos e de globalização, nos quais,
apesar de ainda dominante a visão econômica por influência da TS, muitas empresas passariam a
agir em diversas áreas antes exclusivas ao poder público.
Costa (2002) classifica três esferas para as quais as empresas privadas destinariam seus
investimentos sociais: (1) os esforços estariam voltados para o público interno da organização,
sendo característica deste tipo de investimento a melhoria das condições de trabalho, estrutura
salarial, alimentação fornecida e benefícios aos empregados, dentre outros fatores; (2) a
organização privada destinaria recursos e ações para o público localizado no entorno de suas
atividades, como por exemplo, a manutenção de áreas de esporte e lazer, escolas e outras
instalações de provisão de políticas sociais com restrições maiores ou menores quanto ao público
beneficiário; e (3) os recursos e ações seriam focalizados na luta por direitos sociais,
independentemente do público-alvo estar ou não ligado diretamente à empresa ou às
65
comunidades nas quais opera. Costa (2002) afirma que esse último seria o nível ideal e desejável
para as políticas, estratégias e/ou ações de RSE. No entanto, o autor afirma que grande parte das
empresas brasileiras se encontram na esfera 2, preocupando-se com o entorno geográfico de suas
plantas industriais.
As modalidades de inovação empresarial frente às questões socioambientais poderiam ser
impulsionadas por diversos tipos de capital, conforme apresenta a figura 3:
Figura 3. Inovação Empresarial frente às Questões Socioambientais Nota. Fonte: Gonçalves-Dias, S., & Teodósio, A. S. S. (2011). Perspectivas de análise do ambientalismo empresarial
para além de demonizações e santificações. Revista de Gestão Social e Ambiental, 5 (2), pp. 10.
De acordo com Gonçalves-Dias e Teodósio (2011), a primeira modalidade refere-se à
defesa, por parte das empresas, de um campo em crise e no qual se procura restaurar a confiança
provocada por episódios especialmente marcantes, sem, no entanto, que haja mudanças
66
significativas no padrão de operação das organizações, tendo o capital econômico maior peso que
o capital social ou cultural. A segunda modalidade de intervenção seria definida como
“construção de pontes” como, por exemplo, a criação de instâncias para discutir temas
socioambientais com ONGs e movimentos sociais. A terceira modalidade de intervenção
envolveria a captura, por parte de uma empresa ou grupo de empresas, de questões
socioambientais, sem alterar, porém, as relações entre seus membros ou as relações de poder
existentes no setor. Para tanto, as organizações empresariais precisariam mobilizar capital
cultural capaz de persuadir formadores de opinião de que estas mudanças são reais e
significativas, ainda que não alterem as forças que dominam o mercado em questão. A quarta
modalidade estaria no esforço de criar um novo campo social e, em torno dele, organizar o
mercado.
Autores como Windsor (2001) argumentam que esses discursos são representados e
construídos baseando-se nos interesses corporativos e não nos interesses da sociedade. Para
Abramovay (2009), porém, afirmar que as empresas só tomam estas iniciativas por interesse,
apenas para consolidar sua posição competitiva por razões egoístas e não por uma preocupação
socioambiental legítima, implicaria em um ponto de vista ilusório, parcial e incapaz de
compreender a complexidade que envolve a difusão de práticas de responsabilidade
socioambiental do setor privado. É claro que o setor privado age por interesse. A questão
consistiria em saber de que maneira se formam e se exprimem estes interesses. A principal crítica
que se pode fazer aos que rejeitam, em princípio, o conceito de RSE é que tratam os interesses
empresariais como se fossem imunes à pressão social. Tudo se passa como se os mercados, de
fato, fossem mecanismos de equilíbrio, neutros, impessoais e situados, por assim dizer, acima da
vida social. (Abramovay, 2009).
67
Para Abramovay (2009), a responsabilidade socioambiental refere-se, antes de tudo, a uma
inversão na perspectiva que dominou a formação e o desenvolvimento das ciências sociais desde
o século XVIII. É um convite para que se examinem não apenas os impactos do mercado na
sociedade, mas ao contrário, a maneira como a sociedade, que só poderia ser compreendida de
forma organicamente articulada aos ecossistemas com que interage, produz e transforma os
mercados (Abramovay, 2009). A ideia de que os mercados são mecanismos de equilíbrio, neutros
e impessoais, dão lugar a uma nova visão: a de que os mercados não são autônomos em relação
ao conjunto da vida social e não podem ser encarados como engrenagem de vidas permanentes.
"Quando se abre a caixa-preta dos mercados, o que há dentro é a sociedade" (Abramovay, 2009,
p.2) com seus conflitos e divergências.
A partir dessa perspectiva, o que se observaria é o mercado influenciando o meio ambiente
e a sociedade e a sociedade e o meio ambiente influenciando o mercado. Nesse sentido, o sucesso
empresarial não poderia ser analisado em separado da dinâmica de legitimação ou deslegitimação
social das atividades, atitudes, ações, produtos, serviços, impactos e desdobramentos que as
empresas causam nos territórios (Abramovay, 2009, Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011).
De acordo com Acselrad (2000), é difícil não perceber que o debate sobre sustentabilidade
tem se pautado, predominantemente, pelo recurso a categorizações socialmente vazias. Para o
autor, as noções evocadas costumam não contemplar a diversidade social e as contradições que
perpassam a sociedade quando está em jogo a legitimidade de diferentes modalidades de
apropriação dos recursos territorializados. Essas abordagens embasam muitas discussões sobre a
sustentabilidade, porém, cabe destacar que a abordagem baseada na teoria dos stakekholders
considera as empresas como atores centrais responsáveis pela sustentabilidade. Desconsidera o fato
de que sustentabilidade não é adjetivo de organizações e sim atributo dos territórios, e territórios não
68
teriam stakeholders, ao contrário, apresentam atores em constante interação e ação em seu interior,
ora convergindo, ora divergindo em torno de interesses, valores, motivações e posturas.
O que se propõe com esse trabalho é que se problematize o papel das empresas, poder público e
sociedade na promoção da sustentabilidade dos territórios. Essa sustentabilidade não ocorrerá pelas
mãos das empresas, tão pouco pelas mãos do poder público ou da sociedade civil de maneira isolada e
egocentrada. Ocorrerá sim, quando esses diferentes atores, convergindo ou divergindo, pensarem,
debateram e buscarem desenvolver e suportar processos que visem a sustentabilidade do território.
Dessa forma, poder-se-á vislumbrar um desenvolvimento a longo prazo, pautado em valores
econômicos, sociais, ambientais e culturais que possam contribuir e não fragilizar, a sustentabilidade
dos territórios. A figura 4 esquematiza a proposta teórica dessa pesquisa:
Figura 4. Abordagens Teóricas Norteadoras da Pesquisa Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
69
Dada a importância dos governos, a possibilidade de êxito, ou não, dos territórios estaria
diretamente relacionada ao sucesso das políticas públicas que seriam adotadas. Boa vontade
apenas não bastaria, visto que:
[...] sociedade alguma logrou reformar-se a si mesma, substancialmente, com movimento
partido de cima ou com simples decisão voluntária de uma classe superior, originada com
sua consciência social de tornar-se igual às classes inferiores e permitir-lhes o livre acesso
aos monopólios de classe. Os ideais e a consciência social desempenham papel muito
importante, que não pode ser menosprezado; mas são fracos como forças autopropulsoras
que iniciam reformas sociais em grande escala – necessitam do impulso de reivindicações
que se definem, e com isso passem a exercer pressão. (Myrdal, 1972, p. 112)
É improvável que qualquer revisão radical sobre a RSE vá emergir das organizações
empresariais, dado como o discurso é construída em níveis mais elevados da economia política.
Para que qualquer revisão radical ocorra, seria necessária uma abordagem mais crítica no campo
da teoria das organizações. Novas questões precisariam ser levantadas, não só sobre a
sustentabilidade ecológica e social das corporações de negócios, mas da economia política em si.
Revisões radicais neste nível só poderiam ocorrer se houver uma mudança de pensamento no
nível macro. Seria preciso abrir novos espaços e oferecer novos quadros para diálogos entre
organizações empresariais e os demais atores sociais, bem como analisar, criticamente, as
dinâmicas das relações entre empresas, OSCs, governos e sociedade civil. (Banerjee, 2012).
A RSE não poderia ser avaliada apenas por critérios econômicos. A ética ambiental, por sua
vez, não poderia ser desenvolvida através de uma moralidade "eticamente pragmática de gestão",
que atende, via de regra, aos interesses organizacionais (Fineman, 1998; Snell, 2000). Enquanto
as OSC’s servirem como contrapontos importantes às corporações, a sua relação com as
empresas e os governos poderão ser ambíguas e emolduradas por categorias ditadas por
70
instituições internacionais como as Nações Unidas e o Banco Mundial (Spivak, 1999; Teodósio,
2008; Banerjee, 2012).
O aumento da responsabilidade das organizações (incluindo-se aqui as OSC’s) em relação
as comunidades locais, dotando de concretude e vigor à participação popular em contextos locais,
permanece como um desafio para o futuro (Escobar, 1992; Derman, 1995). As limitações de um
modelo-espelho de RSE e as deficiências do racionalismo econômico baseado no mercado
precisam ser superadas. O próprio termo racionalismo econômico é problemático e precisa ser
descompactado (Banerjee, 2012).
Outro ponto importante a ser destacado, é o de que as empresas não têm a capacidade de
assumir o papel dos governos no bem-estar social, simplesmente porque sua função básica é
inerentemente impulsionada por necessidades econômicas. Se uma empresa, por exemplo,
decidisse encerrar suas atividades em um determinado local (o que provavelmente ocorreria por
razões econômicas ou demandas do mercado, e não por razões sociais ou ambientais), o que
aconteceria com a comunidade local que se tornasse completamente dependente de seu bem-estar
econômico, social e ambiental? Verdade é, que as empresas nem sempre irão agir conforme os
interesses da sociedade, os investimentos sociais e justiça social nunca poderão tornar-se
atividades principais de uma empresa privada, a não ser que essa se constitua como uma Empresa
Social. (Banerjee, 2012).
A economia política que vigora nos dias de hoje influenciam as estratégias corporativas
direcionando-as para a criação de valor para os acionistas e retorno sobre o capital, não para a
justiça social ou moral (Banerjee, 2012). Isso faz com que as tentativas emergentes para
conceituar a responsabilidade social como "capital social" ainda fiquem aquém, ao menos que
71
haja uma reestruturação radical da economia política repensando o papel de uma empresa na
sociedade (Banerjee, 2012).
A perspectiva desse trabalho é discutir as possibilidades de margem de manobra para os
territórios encontrarem uma via alternativa de desenvolvimento. Além disso, busca analisar
profundamente e de forma crítica a atuação de governos, empresas e sociedade civil para o êxito
(ou não) das estratégias de sustentabilidade de territórios mineradores.
72
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com o objetivo de investigar e analisar como os atores locais se relacionam na promoção
da sustentabilidade em um território minerador,s realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa
pelo método de estudo de caso (Greenwood, 1973; Bonoma, 1985; Eisenhardt, 1989; Yin, 2005)
buscando-se identificar os fatores que estimularam a ocorrência de eventos, bem como
compreender a interação que se estabeleceu entre as variáveis, revelando as inter-relações e as
complexidades que poderiam se manifestar (Greenwood,1973; Bonoma, 1985). Através do
método de estudo de caso, pôde-se obter uma visão holística do objeto analisado. Para tanto,
buscou-se identificar uma experiência prática que melhor se apresentasse como fenômeno
relevante para análise, de acordo com o foco delimitado para a pesquisa, ou seja, a
sustentabilidade de territórios marcados pela atividade de mineração.
O estudo de caso foi desenvolvido tendo como unidade de análise o município de
Brumadinho/Minas Gerais, que tem sua história fortemente ligada à exploração mineral. A
proposta desse trabalho é analisar as articulações dos atores com a sustentabilidade desse
território. Com base na abordagem proposta por Yin (2005), foi desenvolvido um estudo de caso
único, contextualizado com sentido interpretativo dos depoimentos dos entrevistados sobre os
fatores que potencializavam ou enfraqueciam, tanto os processos de sustentabilidade do
município, quanto a relação dos três setores com esse desenvolvimento, tomando como base a
compreensão da experiência subjetiva dos atores envolvidos.
A coleta de dados foi composta por representantes das esferas de governo, empresas e
sociedade civil, por se configurarem como os atores que fazem parte da construção do
desenvolvimento do território de Brumadinho. Foram entrevistados funcionários de duas
73
mineradoras com atividades no município, um funcionário de um instituto de cultura de
Brumadinho, representantes de OSC's e comunidades, e membros do poder executivo e
legislativo de Brumadinho.
Velasco e Díaz de Rada (1997) argumentam que a pesquisa de campo, em especial aquela
aplicada em ambientes comunitários, é uma forma de investigação sociocultural que exige a
utilização de um conjunto de procedimentos e normas que possibilitam a organização e a
produção do conhecimento sobre a realidade local permitindo ao pesquisador maior interação
com o objeto pesquisado. Por meio do critério definido pelo processo “bola de neve” (Yin, 1981,
2005; Eisenhardt, 1989; Meyer, 2001), nessa pesquisa buscou-se favorecer a coleta de dados com
entrevistas por indicação, ampliando o acesso aos discursos e diálogos de atores desse território
sobre as questões socioambientais que o envolvem.
As coletas de dados foram feitas através de dados primários e secundários utilizando-se,
preferencialmente, as (1) entrevistas semiestruturadas, (2) pesquisas bibliográfica, (3)
documentos e arquivos e a (4) observação in loco como estratégia de coleta de dados. A
entrevista e a observação in loco foram fontes de evidência importantes nessa pesquisa qualitativa,
especialmente, porque pretendia-se compreender em profundidade uma situação sociocultural e
ambiental complexa a partir da perspectiva dos atores envolvidos, considerando-se o contexto no
qual ela ocorre (Eisenhardt, 1989). Por se tratar de uma técnica que permite captar a percepção,
as experiências e as motivações dos indivíduos, fez-se apropriada à essa pesquisa qualitativa
priorizando o entendimento do fenômeno a partir do sujeito (Godoy & Balsini, 2004).
Para se obter fontes de evidências empíricas, a pesquisadora participou de reuniões mensais
do Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente de Brumadinho
(CODEMA), no período entre os meses de fevereiro a setembro de 2014, assim como audiências
74
públicas de assuntos relevantes à essa pesquisa e agendamentos de entrevistas in loco com os
integrantes da pesquisa. As entrevistas foram estruturadas a partir de um conjunto de perguntas
definidas a priori, porém, essa estruturação foi flexível, contendo apenas um roteiro para orientar
o diálogo durante a coleta de dados e permitindo a alteração da ordem das perguntas, supressão
de algumas questões de acordo com o contexto e andamento de cada entrevista e inserção de
outras indagações, configurando-se o chamado roteiro de entrevista semiestruturadas (Bauer &
Gaskell, 2002). Assim, no momento da entrevista, a pesquisadora teve liberdade para explorar
novas questões não identificadas, mas que se apresentaram relevantes para o estudo em questão.
O roteiro da entrevista dessa pesquisa foi ainda construído considerando os registros dos diálogos
dos participantes já coletados pela pesquisadora em conversas iniciais, como: membros da
prefeitura, mineradoras, comunidades e membros de OSC’s entre os meses de agosto e dezembro
de 2013.
As principais diretrizes contempladas na elaboração do roteiro das entrevistas envolveram
questões como: a visão dos integrantes dos setores sobre o desenvolvimento do município, a
realidade de conservação (ou não) da diversidade ambiental e sociocultural nos processos de
desenvolvimento do município, as ações de cada setor para que essa diversidade fosse preservada
e valorizada, a percepção dos entrevistados acerca das parcerias intersetoriais e a participação das
empresas mineradoras no processo de sustentabilidade do território de Brumadinho, dentre outros
temas relevantes para o foco da pesquisa. Tais questionamentos auxiliaram na análise das
dimensões que guiaram a coleta dos dados secundários, conforme exemplificado na Figura 5.
75
Figura 5. Estrutura metodológica da pesquisa Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
A pesquisa apresentou algumas limitações relacionadas ao acesso da pesquisadora aos
atores sociais do município considerados importantes para o trabalho. Apesar de ter vivido por 27
anos no território de Brumadinho, a relação da pesquisadora com o município, em especial, com
a sede, sempre foi muito distante. Para superar esse fato e acessar os atores selecionados para a
pesquisa, a pesquisadora contou com o apoio de seu orientador que viveu durante muitos anos na
sede do município e facilitou o acesso a vários entrevistados por suas ligações com Brumadinho.
Entretanto, alguns atores locais não se disponibilizaram para a pesquisa, como a Secretária de
Governo do município que saiu de férias na época das entrevistas e a após retorno as tentativas de
novo contato não foram bem sucedidas, e o representante dos quilombolas que, por conta de sua
luta com uma empresa de mineração que atua no município, atendeu ao pedido de sua família de
não mais se envolver com assuntos relacionados à mineração.
Para conferir maior confiabilidade e qualidade aos resultados da pesquisa, a análise dos
dados obtidos a partir das fontes primárias e secundárias, permitiu comparar e confrontar a
76
percepção de diferentes atores acerca de uma mesma dimensão de análise, bem como realizar a
triangulação das fontes dessas evidências (Eisenhardt, 1989). A pesquisa recorreu a triangulação
como estratégia de análise de conteúdo para auxiliar no tratamento e na interpretação dos dados
coletados sobre o processo. Tanto os documentos e arquivos das fontes secundárias, como os
dados obtidos por meio das entrevistas (fontes primárias) foram gravados, transcritos na íntegra e
analisados para interpretação do conteúdo das informações levantadas, a fim de compreender
melhor o discurso dos entrevistados.
3.1 Participação nas reuniões do CODEMA e Audiências Públicas
O processo da pesquisa em Brumadinho se iniciou com algumas visitas da pesquisadora à
sede do município e com algumas conversas informais com atores mais envolvidas com as
dinâmicas do município. Um desses atores, compunha a mesa do CODEMA e através dele a
pesquisadora era informada sobre as reuniões que aconteciam mensalmente no período da manhã,
com cerca de três horas de duração no, até então, prédio da Secretaria de Meio Ambiente de
Brumadinho, hoje, sede da Secretaria de Planejamento de Brumadinho.
A mesa do CODEMA era presidida pelo Secretário de Meio Ambiente, e composta por
mais dois membros. Um deles representando a rede de empresários do município e o outro
representando as empresas mineradoras que atuam no município. Os demais participantes eram
conselheiros que representavam diversos setores, incluindo-se membros da sociedade civil,
representantes do poder legislativo, e até mesmo do Inhotim, que hoje parece não ocupar mais
cadeiras nos conselhos municipais, segundo relato de um conselheiros do CODEMA. Apesar da
abertura, a participação da pesquisadora em todas as reuniões não foi possível pois, houveram
77
alguns reagendamentos que não chegaram a seu conhecimento. Nas reuniões em que participou, a
pesquisadora percebeu a ausência de representantes das comunidades e um distanciamento da
linguagem utilizada pelos membros do conselho que, a todo momento, se referiam ao CODEMA
como um conselho, cuja função, era discutir aspectos técnicos dos projetos.
A pesquisadora participou de três Audiências Públicas no período entre Fevereiro e Agosto
de 2014 no município de Brumadinho. A primeira aconteceu no dia 23/03, as 19:00, na Câmara
Municipal de Brumadinho e tinha como objetivo colocar em discussão as mudanças pelas quais o
Plano Diretor do município está passando e as leis de Uso e Ocupação do Solo, que tem gerado
diversos impactos ambientais em Brumadinho. Interessante destacar, que nessa reunião colocou-
se em discussão o tipo de desenvolvimento que se queria para Brumadinho: o crescimento
expansivo do território com abertura para novas indústrias ou o desenvolvimento sem
crescimento, ou seja, desenvolver o município a partir dos potenciais já explorados, sem
expansionismo do território. Esse debate tem gerado polêmicas, uma vez que, vai em sentido
oposto aos interesses dos empresariado, em especial, daqueles ligados ao setor da construção civil.
Na época, o debate tinha sido liderado pelo, então Secretário de Planejamento de Brumadinho,
José Bones, que saiu da secretaria pouco tempo depois dessa audiência por motivos que não
ficaram claros à pesquisadora.
A segunda Audiência Pública aconteceu no dia 24 de junho, às 19:00, na Câmara
Municipal e teve como objetivo apresentar os projetos que a Secretaria de Meio Ambiente vinha
realizando até então. A maioria desses projetos estão sendo realizados em parceria com o setor
privado, em especial as empresas de mineração, sendo muitas dessas obras nada mais do que
condicionantes impostas às mineradoras por suas operações na região.
78
A terceira Audiência Pública foi realizada no dia 30 de maio, as 18:30, na Casa Guará em
Casa Branca. Essa audiência tinha como objetivo, o esclarecimento da Vale S/A em relação ao
projeto de expansão da mina da Jangada, operada por ela. A audiência acabou não acontecendo
pois, os representantes da empresa não compareceram. A justificativa dada pela empresa foi a de
que, esse projeto ainda não estava definido e não justificaria, portanto, uma audiência pública
naquele momento. Dessa forma, a reunião seguiu com a apresentação dos estudos de impactos
que o projeto poderia causar, feito por representantes de OSC’s e apresentado à população de
Casa Branca pelo vereador Lucas Machado. Nessa apresentação, mostrou-se o mapa de expansão
da mina da Jangada e os possíveis impactos nas comunidades do entorno, principalmente,
relacionados ao abastecimento de água.
Nas reuniões do CODEMA e nas Audiências Públicas, a participação desta autora
aproximou-se muito do método de pesquisa-ação, considerando-se a solicitação de seu
envolvimento em algumas plenárias e trabalhos em grupo. A pesquisa-ação é normalmente
utilizada, quando o objetivo da investigação é conhecer uma determinada realidade, onde os
dados e as informações necessárias não são encontradas em livros ou em outros trabalhos
científicos, e sim no seio de uma comunidade, um grupo, uma organização ou um movimento
social que esteja sendo estudado (Thiollent, 1987). O método de pesquisa-ação é considerado
adequado ou recomendável, quando a investigação prevê a participação dos sujeitos envolvidos
no estudo para se chegar a uma conclusão do que deve ser feito para solucionar um problema real
(Thiollent, 1987).
Após visitas ao município com observações in loco, dados coletados nas reuniões do
CODEMA e nas audiências públicas, a pesquisadora seguiu para as entrevistas semiestruturadas
79
com os atores representantes dos quatro setores considerados por essa pesquisa e que compõem o
município de Brumadinho: poder públicos, empresas, comunidades e OSC’s.
3.2 Entrevistas semiestruturadas
A segunda etapa da coleta de dados utilizou a aplicação de entrevistas semiestruturadas
como método de natureza qualitativa próprio de pesquisas empíricas. Foram realizadas quinze
entrevistas, gravadas e transcritas, com representantes dos quatro setores de Brumadinho (poder
público, empresas, comunidades e OSC’s). Desses, quatro são representantes do poder público do
município sendo, dois do Poder Executivo e dois do Poder Legislativo, três são representantes de
empresas, sendo dois de mineradoras e um de um instituto cultural, quatro representantes de
OSC’s, sendo um representante de ONG, dois professores universitários e um ex-membro da
política local, e três representantes de comunidades: um da comunidade de Córrego do Feijão, um
da comunidade de Colégio e um da comunidade da Jangada. Dessa forma, tornou-se possível o
estudo de importantes dimensões de uma análise baseada no relato sobre os motivos pelos quais
aquele território era o alvo do estudo de caso da pesquisa.
Por meio de uma lista codificada, descreveu-se o perfil dos públicos, omitindo-se a
identificação nominal dos entrevistados, que foram substituídas pelas seguintes siglas: Poder
Público (PP), Empresa (EM), Organizações da Sociedade Civil (OSC) e Comunidades (COM).
Essas pessoas foram selecionadas pelo método ‘bola de neve’, (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989;
Meyer, 2001) após observações in loco por parte da pesquisadora e conversas informais com
moradores da região sobre as dinâmicas pelas quais o município vem passando.
80
Tabela 1
Caracterização dos entrevistados
Atores Siglas Característica Local de Moradia Tempo de relação com Brumadinho
Empresas EM 1 Mineração Sede 40 anos
EM 2 Mineração Belo Horizonte 47 anos
EM 3 Cultura Belo Horizonte 5 anos
Poder Público PP 1 Executivo Palhano 43 anos
PP 2 Executivo Sede 54 anos
PP 3 Lesgislativo Casa Branca 15 anos
PP 4 Legislativo Sede 51 anos
OSC’s OSC 1 ONG Suzana 7 anos
OSC 2 Professor Sede 60 anos
OSC 3 Professor Belo Horizonte 7 anos
OSC 4 Ex-membro do PP Sede 44 anos
Comunidades COM 1 Córrego do Feijão Morador da comunidade
72 anos
COM 2 Colégio Morador da comunidade
39 anos
COM 3 Jangada Morador da comunidade
6 anos
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
Os roteiros de entrevista (Apêndices A, B, C e D) foram estruturados com base em
dimensões temáticas predefinidas no planejamento do referencial teórico, contendo onze
perguntas objetivas, questões abertas e flexibilidade para reorientar a entrevista durante a coleta
das informações (Bauer & Gaskell, 2002). Foram formulados quatro roteiros, adaptados para
cada grupo de atores locais analisado. No primeiro momento, foram realizadas duas entrevistas
com um ‘roteiro teste’ para dois integrantes de OSC’s, afim de verificar se as questões elaboradas
atendiam requisitos, como: (i) alinhamento com a dimensão teórica; (ii) clareza e entendimento
das perguntas pelo entrevistado; (iii) tempo previsto para a entrevista (até uma hora de duração);
e (iv) respostas correlacionadas com os objetivos específicos da pesquisa. Desde o início, o
81
roteiro se mostrou eficiente e aplicável para a pesquisa mantendo-se o roteiro inicial para dar-se
segmento à pesquisa.
Em relação ao roteiro de entrevistas, teve-se o cuidado de estruturá-lo de forma que, as
perguntas mais polêmicas relacionadas aos conflitos socioambientais no município, fossem feitas
do meio para o final da entrevista. Dessa forma, buscou-se iniciar as entrevistas com perguntas
que permitissem à pesquisadora entender a história de cada entrevistado no município, assim
como seus pontos de vista sobre a trajetória de desenvolvimento do município ao longo dos anos,
desde a sua fundação. A partir daí, buscou-se compreender os pontos positivos e negativos das
diferentes fases do desenvolvimento do município, para então analisar o papel atual dos diversos
atores no desenvolvimento de Brumadinho. Após esse levantamento, o roteiro de entrevistas
abordou a relação dos setores da mineração, do turismo, das ONG’s e do poder público com a
população de Brumadinho e os conflitos socioambientais no município buscando-se compreender
como esses conflitos tem-se dado e como tem sido tratados. Ao final da entrevista, pediu-se para
os entrevistados exporem as suas expectativas sobre o futuro do município, afim de, identificar as
motivações ou desesperanças em relação às dinâmicas que vem sendo traçadas em Brumadinho.
Nesse momento final da entrevista a pesquisadora pode perceber os anseios pessoais de
cada um dos entrevistados, e a relação afetiva com o município para além da racionalidade das
questões anteriores. Foi interessante observar nesse momento, as expressões nos olhares e nas
vozes ao se abrir a possibilidade de falarem livremente sobre os sentimentos em relação à
Brumadinho.
O roteiro de entrevistas foi elaborado com base nos três eixos teóricos: (1)
Desenvolvimento e Sustentabilidade; (2) Políticas Públicas Ambientais; e (3) Empresas e
Territórios, sendo divididos em três dimensões de análise. A primeira dimensão relacionada ao
82
eixo teórico (1), buscou compreender as diferentes noções sobre sustentabilidade e as ações que
tem sido implementadas no território de Brumadinho voltadas para a sustentabilidade do
município (Sachs, 1988; Lélé, 1991; Layrargues, 1998; Barbieri, 2001; Neder, 2002; Rattner,
2010). A segunda dimensão relacionada ao eixo teórico (2), buscou identificar as políticas
públicas voltadas para a proteção ambiental e como os municípios podem se valer de certos
instrumentos para se proteger dos impactos ambientais de empreendimentos cuja atividade fim é
extremamente degradadora, como é o caso da mineração (Carneiro, 2003; Cavalcanti, 2004;
Barbieri, 2007; Zhouri, 2008; Leff, 2009). Dessa forma o foco recaiu sobre a Prefeitura
Municipal de Brumadinho e o seu papel na sustentabilidade do município.
Na terceira e última dimensão, relacionada ao eixo teórico (3), buscou-se compreender o
que é território na visão dos entrevistados, quais características e identidades esse território
carregaria e como as empresas compreenderiam e se relacionariam com essas dimensões
(Freeman, 1970; Friedman; 1984; Santos, 1987; Weiss, 1995; Santos, 1999; Kreitlon, 2004;
Teodósio, 2008; Abramovay; 2007; Abramovay, 2009; Saquet, 2011). Essa última dimensão foi o
ponto alvo dessa pesquisa uma vez que partiu do questionamento sobre o papel das empresas no
território em que atuam, buscando avaliar as práticas de RSE e sua real efetividade. Fato é, que
um território possui diversas dinâmicas e complexidades que devem ser tratadas de maneiras
muito singulares. A compreensão das empresas sobre a RSE muitas vezes se restringe a projetos
padrões que não consideram as particularidades de cada território. Sendo assim, buscou-se com
essa dimensão, analisar a atuação das empresas em Brumadinho.
82
Tabela 2
Diretrizes de análise
Objetivo Geral Objetivos
específicos Eixos Teóricos Principais autores Abordagens teóricas Dimensões de análise
Discutir como os
atores locais se
relacionam na
promoção da
sustentabilidade no
território de
Brumadinho.
1. Identificar atores
relevantes na
dinâmica social,
política, econômica
e cultural de
Brumadinho;
2. Caracterizar as
atividades
mineradoras e
turísticas em
Brumadinho e suas
implicações para os
processos de
desenvolvimento
desse território;
3. Discutir a ação dos
atores da sociedade
civil, do Estado e de
mercado em relação
ao processo de
mineração nesse
território e suas
implicações para a
sustentabilidade do
território
Desenvolvimento
e
Sustentabilidade
Layrargues
(1997,1998);
Sachs (1988, 1993,
2007);
Lélé (1991);
Neder (2002);
Rattner (2010);
Burztyn (2001),
Veiga (2009).
Desenvolvimento Sustentável
e suas contradições
Ecosocioeconomia
Sustentabilidade como
conceito norteador da
pesquisa.
Ações para a sustentabilidade
do território de Brumadinho;
Desafios para a
sustentabilidade do território
de Brumadinho.
Políticas
Públicas
Ambientais
Cavalcanti (2004);
Rezende (2007);
Zhouri (2008);
Leff (2009);
Spink (2001).
Instrumentos de Políticas
Públicas;
O cenário brasileiro;
Contradições e conflitos entre
as relações do poder público
e das empresas com a
sociedade.
Papel da prefeitura e das
políticas públicas na
sustentabilidade do território
de Brumadinho.
Empresas e
Territórios
Santos (1999)
Saquet (2011)
Acselrad (2000,
2001)
Weiss (1995)
Teodósio (2008)
Gonçalves-Dias
(2011)
Abramovay (2004,
2009, 2012)
Definições de território
Conflitos socioambientais
Democratização do espaço
Conceitos clássicos da RSE
Contradições e críticas sobre a
TS
NSE
Participação das ONG’s e
sociedade civil no território;
Conflitos socioambientais do
território de Brumadinho.
Papel das empresas na
sustentabilidade dos
territórios.
Problema: Como os atores locais se relacionam na promoção da sustentabilidade nos territórios?
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
83
Para construir o eixo teórico e, consequentemente, as dimensões de análise dessa pesquisa,
foram consultados livros, artigos, sítios e bases eletrônicas e materiais disponibilizados pelas
instituições envolvidas. Cabe destacar que, a pesquisadora deparou-se com uma certa escassez de
conteúdos produzidos, tanto em idioma portuguesa, quanto em idioma estrangeiro, em relação ao
argumento central desta pesquisa “Sustentabilidade como atributo de territórios”, identificando-se
assim, um espaço aberto à realização de outras pesquisas sobre o tema, a partir da abordagem
desse estudo. Alguns autores foram referenciados com mais frequência do que outros, mesmo
esta autora tendo buscado artigos publicados em datas distintas (como o caso de Milton Santos e
Ricardo Abramovay), o que não deixou de enriquecer este estudo com mais informações sobre as
diferentes abordagens do fenômeno estudado.
A partir dos dados coletados e das análises enunciadas, foi possível destacar considerações
que apontam para alguns resultados identificados na pesquisa de campo, que foram melhor
explorados nos capítulos: Análise de Resultados e Considerações Finais. A seguir, tem-se a
descrição do perfil do território de Brumadinho/MG.
84
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4.1. Das águas e dos minérios, das serras e das minas: Brumadinho
A partir da análise dos dados coletados no período de novembro de 2013 a outubro de 2014,
são explorados, neste capítulo, aspectos da realidade concreta vivenciada e relatada pelos atores
dos diversos setores que compõe o território de Brumadinho em relação à sustentabilidade do
município. Dessa forma, o capítulo foi dividido em cinco subtópicos, cada um tratando de
aspectos relevantes à essa pesquisa, que foram construídos com o levantamento de dados
secundários, com a análise de conteúdo das entrevistas semiestruturadas comparando-se ou
confrontando-se com os eixos teóricos apresentados no capítulo 2.
O primeiro subtópico tratará da construção histórica de Brumadinho, apresentando a sua
relação com a atividade de extração mineral e a importância desse setor no desenvolvimento do
município. Em seguida são discutidas as ações da prefeitura no município apontando-se alguns
projetos em andamento no território, analisando-se, a partir dos relatos da entrevista, os
resultados percebidos pelos entrevistados. No terceiro subtópico, são discutidos os papeis de cada
um dos setores selecionados para essa pesquisa no desenvolvimento do município. O quarto
subtópico tratará dos conflitos socioambientais presentes nos municípios: como os setores/atores
os enxergam, como tem sido tratados e quais são os principais conflitos aos olhos dos
entrevistados. Finalizando-se o capítulo, com a apresentação das expectativas de cada ator
entrevistado quanto ao futuro de Brumadinho.
85
4.1.1 Brumadinho e a construção de sua história com a mineração
Sua história está intimamente ligada às bandeiras, quando desbravadores das Bandeiras
Organizadas exploraram vários territórios nas regiões do Vale do Paraopeba e Vale do Rio das
Velhas criando núcleos de abastecimentos e pouso para os tropeiros. Neste contexto, formaram-
se as localidades de São José do Paraopeba, Piedade do Paraopeba e Brumado do Paraopeba
(atual distrito de Conceição do Itaguá), que fazem parte da primeira fase da história de ocupação
do território de Minas Gerais. Aos poucos, esses territórios transformaram-se em pequenos
arraiais de mineradores fugidos da repressão e das altas taxas cobradas pela Coroa Portuguesa
(As Minas Gerais, n.d.; Canabrava, 1984). Era um momento de intenso conflito caracterizado
pela corrida ao ouro, em que a disputa pelas jazidas eram determinantes em um cenário onde
ainda não havia sido implantada de maneira efetiva a ordem político-administrativa da metrópole
(Canabrava, 1984).
No final da década de 1720, floresceu no vale do Rio Paraopeba, na base da atual Serra da
Moeda – nome bastante sugestivo –, o que acredita-se ter sido uma verdadeira fábrica de barras e
moedas de ouro. Alguns historiadores afirmam que a fundição produzia ininterruptamente, e
ganhou fama pela qualidade do ouro utilizado e pelo acabamento das peças. Só tinha um
problema: acredita-se que era totalmente ilegal (Cavalcanti, 2008). Essa casa clandestina de
fundição de moeda, hoje em ruínas, tornou-se patrimônio cultural e turístico da região de
Brumadinho.
86
Figura 6. Ruínas do Forte Nota. Fonte: Empório Fazendinha (2014). Recuperado em:
http://www.emporiofazendinha.com/pontosturisticosdebrumadinho.html
Além disso, a Igreja de Piedade do Paraopeba, uma das mais belas da região com
características arquitetônicas missionário-jesuíticas, indica que a região pode ter sido um dos
maiores centros de mineração do ouro.
Figura 7: Igreja Piedade do Paraopeba Nota. Fonte: Empório Fazendinha (2014). Recuperado em:
http://www.emporiofazendinha.com/pontosturisticosdebrumadinho.html
Desde a época da decadência da mineração do ouro, Minas Gerais passou por um processo
de estagnação econômica, praticando apenas a lavoura de subsistência e uma pequena mineração
de ouro (As Minas Gerais, n.d.). Esse período de estagnação foi então interrompido pelas novas
87
demandas crescentes por café e minério de ferro, o que fez com que a construção ferroviária não
só fosse necessária, como também, uma grande saída para o desenvolvimento. Assim, a
construção do Ramal do Paraopeba fez parte dessa fase "áurea" da construção ferroviária em
Minas e no Brasil. A origem do Distrito Sede de Brumadinho, se deve a construção desse ramal.
O povoado nasceu e se desenvolveu em consequência do estabelecimento da Estação Ferroviária,
em 20 de junho de 1917. Juntamente com a Estação Ferroviária de Brumadinho, foram criadas as
estações de Belo Vale, Fecho do Funil, Sarzedo, Ibirité, Jatobá e Gameleira, concluindo o ramal
(As Minas Gerais, n.d.).
Figura 8: Estação Ferroviária de Brumadinho. Nota. Fonte: Brumadinho em Foco (2013). As históricas estações ferroviárias. Recuperado em:
https://brumadinhoemfoco.wordpress.com/2013/02/06/as-historicas-estacoes-ferroviarias/
O município de Brumadinho foi criado através do Decreto-Lei n° 148, no dia 17 de
dezembro de 1938, desmembrando-se de Bonfim. Nessa nova formação, foram anexados os
distritos de Aranha e São José do Paraopeba, saídos do município de Itabirito, e Piedade do
Paraopeba, desmembrado do município de Nova Lima. O distrito de Brumado do Paraopeba
(atual distrito de Conceição do Itaguá), em 1953, se torna distrito de Brumadinho, que passa a
possuir cinco distritos. (As Minas Gerais, n.d.).
88
Dessa forma, a relação do município com a atividade de extração de minério de ferro foi
cada vez mais se ascendendo e alterando significativamente as dinâmicas das comunidades locais,
conforme o relato abaixo nos demonstra:
As mineradoras entraram com uma vontade de destruir tudo de uma só vez, não deixando
continuar aquele fluxo (agricultura) que poderia durar mais anos, as pessoas desfrutando
daquela renda. Então vieram com a vontade de acabar com tudo! Parece assim, uma coisa
que vai azedar e nós temos que comer, se nós não comermos azeda [...] A Ferro Carvão
começou lá (na sua comunidade) na década de 20. Aí ela (comunidade) tinha uma
expectativa de que o minério de ferro não tinha tanto valor como tem hoje [...] - o pessoal
mais antigo chamava de pedra ferro - então essa pedra ferro para a comunidade não tinha
nenhum valor, porque quando é essa pedra branca ela serve para fazer calçamento, ela serve
pra fazer...então essa pedra tinha valor, a branca, agora a pedra ferro era assim: todo mundo
que tinha um lugar que era cheio de pedra ferro a pessoa "dispunha" daquilo o mais rápido
possível porque plantação nenhuma de valor ali dava, só que a gente não tinha "descobrido"
que esse lugar da pedra ferro era para nós de grande importância, que era aonde fazia a
recarga dos nossos córregos que a gente tinha, quer dizer, a gente só pensava que a pedra
ferro não tinha valor em si pra fazer construção, mas nós não tínhamos ideia que ela era um
bem dado pela natureza que tinha muito haver com a nossa comunidade, com a nossa roça,
com os nossos córregos. [...] Então a Ferro Carvão difundiu, entrou a Ferteco, a Ferteco
também, devagarzinho com os caminhões transportando minério de lá no caminhão, quer
dizer, que dava o emprego para o motorista, que se trabalhava três horários, a família
também, tinha a pessoa que trabalhava de mecânico, tinha a pessoa que vendia o pneu, quer
dizer, era aquela renda pra muita gente através do caminhão. Só que depois que a Ferteco
passou para a Vale, a situação é que a Vale hoje veio com uma sede porque o minério foi
valorizando, ela veio com uma sede que ela não pode perder tempo, quer dizer, uma coisa
que dava pra 50 anos já acabou, quer dizer, não durou 20 anos. Veio com aquela força toda
de destruição [...]. No capitalismo o negócio é o lucro. Nós temos que acabar aqui para
pegar lá. (Entrevistado COM 1)
Com base no relato acima, podemos considerar que a ideia de Sousa Santos (2007) sobre a
Ecologia dos Saberes - que visa recuperar práticas e saberes de grupos sociais diversos que, em
função do capitalismo e dos processos coloniais, ao longo do tempo foram sendo colocados,
social e historicamente, em uma postura de meros objetos ou ainda de matéria-prima dos saberes
que dominavam e foram considerados por muitos séculos como a única verdade ou os únicos
saberes válidos - o entrevistado acima expõe as alterações no modo de vida local que as
empresas mineradoras de ferro impuseram, em um primeiro momento, alterando-se a atividade
89
econômica na região da agricultura para a dinâmica industrial da exploração de recursos naturais
com um mercado aquecido e gerador de empregos, em um segundo momento, quando essas
comunidades perceberam que a moeda de troca era o bem mais precioso que dispunham, a água,
e em um terceiro momento, quando viram que com os avanços da tecnologia e com a sede na
geração do lucro, aquela nova dinâmica se esgotaria antes do tempo previsto por eles.
Não se pode negar no entanto, que a atividade de extração mineral em Brumadinho tornou-
se tão significativa que hoje ela representa cerca de 50% da atividade econômica do município,
apresentando números altíssimos em arrecadação da CEFEM, que no ano de 2014 foi de cerca de
R$200 milhões no total, sendo 65% desse valor destinado para o município. Apesar desses
números impressionarem, principalmente por não se tratar de um município populoso, a
influência das mineradoras no território vai além das fronteiras econômicas.
Brumadinho teve um papel importante, principalmente na Segunda Guerra Mundial, porque
a quantidade de minério exportado do Brasil para o estrangeiro a maior parte saía daqui, do
Quadrilátero Ferrífero, que era 40% do minério exportado pelo Brasil e boa parte saía daqui
de Brumadinho porque graças a estrada de ferro o transporte ficou fácil [...]. Qual foi a
grande contribuição das mineradoras para o município? Na minha opinião eles deixaram
muito pouco. O que as mineradoras deixaram é muito desproporcional ao que eles tiraram
daqui como riqueza. Afora que essas mineradoras interferiram muitas vezes no destino
político do município, tanto é que o primeiro prefeito era um Engenheiro de Minas que vai
governar a cidade, e obviamente que como Engenheiro de Minas ele tinha uma visão mais
tecnocrática da cidade, mas na verdade com um olho na mineração e um olho na cidade o
que causava um certo desequilíbrio ora para um lado e ora para o outro. Mas até 1950 você
vê que a cidade não tinha absolutamente nada. [...]. A cidade tinha um desenvolvimento
muito precário e as mineradoras nunca tiveram uma ação para alterar ou melhorar esse
quadro. (Entrevistado OSC 2)
Ainda hoje é possível perceber a influência das mineradoras nas políticas públicas do
município. Através das observações in loco e em conversas informais no início da pesquisa,
pode-se perceber que alguns membros do poder executivo e/ou legislativo municipais trabalham
em mineradoras da região, ou possuem empresas que prestam serviços para essas mineradoras.
90
Recentemente, no jornal da Câmara Municipal de Brumadinho, foi publicada uma enquete feita
com os vereadores, cujo a pergunta era: "O que as comunidades atingidas por mineradoras em
Brumadinho devem esperar do Novo Código Minerário?" (Câmara em Ação, 2014), lendo-se as
respostas dos vereadores é possível perceber nitidamente em alguns a influência que a atividade
de extração mineral ainda exerce, a exemplo:
A mineração, a meu ver, é o maior legado do Município. Aqui em Brumadinho, mesmo
sendo vereadores, não podemos fazer nada. O novo Código é discussão do Congresso de
Deputados em Brasília e podemos, talvez, cobrar do relator do Projeto [...] um olhar maior
sobre as comunidades atingidas. (Câmara em Ação, p.8, 2014)
A resposta acima, do vereador Daniel dos Reis, retrata a postura de alguns brumadinenses
em relação às mineradoras.
Tem um buraco na serra. Então isso é ruim. [...] E é um dilema porque todo mundo sabe
que precisa de minério, nós usamos, todo mundo que faz discurso contra a mineração usa
produto vindo do minério e por outro lado, também eu sinto que há muito pouca
consistência no discurso das pessoas contra a atividade minerária, ou uma parcela muito
pequena da população, digamos, que dá “bola” para isso. Lógico que ela (população) fica
chateada de ver a serra comida, mas não consegue muito se articular contra. Nos últimos
anos, quando [...] tem audiência publica e a população tem que dizer ok, ela ta dizendo ok.
Todas as vezes ela diz ok. [...] Porque na hora de pesar a questão econômica do município e
as outras questões, a questão econômica pesa muito. (Entrevistado PP 4)
As raízes da mineração se entrelaçam às raízes do território e no fim, o resultado é a
sensação de orgulho e receio. Orgulho pela importância do território para o Estado e para o país
em relação a produção do minério de ferro, e receio de que essa dinâmica econômica se
enfraqueça, seja diante da escassez dos recursos minerários, seja diante de frentes de lutas por
justiça social e/ou ambiental.
91
4.1.2 As ações do poder público para o desenvolvimento de Brumadinho
Brumadinho é um município com uma extensão territorial de 639,434 km², quase o dobro
da capital Belo Horizonte, com 33.973 habitantes e densidade demográfica de 53,13 hab/km²
(IBGE, 2010). Está localizado a cerca de 55 km de Belo Horizonte, mas apesar da proximidade
com a capital mantém características bastante interioranas. Cercado por serras com solos de
cangas ferruginosas, característica do Quadrilátero Ferrífero, Brumadinho, além do minério de
ferro, é um dos principais municípios do entorno de Belo Horizonte em captação e distribuição de
água. Preservando 40% do remanescente de Mata Atlântica, o município é cercado por belas
paisagens, um dos principais atrativos para quem vai conhecer a região.
Com a arrecadação do município vinda principalmente da mineração e dos condomínios,
Brumadinho é uma cidade aparentemente rica, apresentando IDH acima do nível brasileiro, de
0,747 e renda per capta de R$ 910,31 (Atlas Brasil, 2010). De acordo com o entrevistado PP 1,
Brumadinho tem uma boa autonomia financeira e não depende tanto dos repasses do governo
federal, investe o dobro do que a lei permite na saúde e investe na educação apresentando uma
evasão escolar muito pequena.
92
Figura 9. Mapa de Brumadinho Nota. Fonte: SENAC. (2013). Descubra Minas. Recuperado de
http://descubraminas.com.br/Turismo/DestinoMapa.aspx?cod_destino=170
De um modo geral, há um reconhecimento de que a nova gestão do município vem
apresentando alguns avanços em relação às administrações passadas. De acordo com os
representantes do poder público entrevistados nessa pesquisa, um dos principais desafios para a
gestão municipal se encontra na extensão do território. Na tentativa de superar essa dificuldade, a
atual gestão do município criou um programa chamado "Bate-papo com o prefeito" onde o
prefeito do município, junto com os secretários, vão até as comunidades e distritos para em uma
espécie de reunião pública, ouvir as demandas daquele lugar de forma que possam tomar ações
mais pontuais.
Nessa atual gestão municipal, a relação do poder público com as comunidades está sendo a
melhor dos últimos tempos[...]. Ele (o prefeito atual) está indo nas comunidades...conversa
com a população[...]. Lógico, fica muita coisa ainda a desejar, mas já estão dando esse
passo. (Entrevistado COM 2)
93
A ideia do projeto é interessante e de fato essas reuniões tem acontecido, entretanto, na
visão dos representantes de comunidades e OSC's entrevistados nesse pesquisa, as demandas
apresentadas ainda não se transformaram em ações efetivas por parte do poder público. Os velhos
modelos políticos ainda se fazem muito presentes no município. A prefeitura é o órgão que mais
emprega em Brumadinho, por exemplo, sem exigência de concurso público e isso é uma questão
relevante, uma vez que se " [...] enche a prefeitura de trabalhadores, sem concursos público
porque isso garante reeleição, garante voto no meu candidato" (Entrevistado PP4)
Eu vejo Brumadinho como qualquer cidade de pequeno porte no Brasil. Muito centrado nas
relações familiares, muito centrado em uma geração com pouca renovação da geração de
liderança e transmitindo uma forma de fazer política que é uma forma conservadora,
tradicional vinculado a pessoas e não tanto às ideias. (Entrevistado OSC3)
Eu acho que o poder público padece dessa falta de eficiência, de competência, da muita
politicagem, de ser isso: "Vou empregar minha vizinha." É esse fisiologismo político que
tem. [...] Falta compreender o município. (Entrevistado OSC 1)
No desenvolvimento de Brumadinho, ele (poder público) é muito lento, lento porque há
falta de vontade política [...] Para você ter uma idéia, no governo passado nós tínhamos o
desenvolvimento aqui que era o hospital que estava sendo criado [...] só que eu não sei com
que dinheiro que o governo estava fazendo hospital que hoje está parado. Agora aonde o
governo passado tinha dinheiro para tá erguendo hospital e porque hoje parou? Parou a
fonte de renda? (Entrevistado COM 1)
Os depoimentos acima apontam que o município ainda precisa avançar muito em termos de
políticas públicas. Durante as reuniões do CODEMA em que a pesquisadora participou,
percebeu-se uma ausência muito grande das comunidades, contrapondo-se assim ao objetivo dos
conselhos municipais que é justamente a participação popular na gestão pública. Conforme
apontado no tópico 2.2, os conselhos de meio ambiente tem caminhado para uma linguagem e
visões muito tecnicistas, e isso não tem sido diferente no CODEMA de Brumadinho. A
pesquisadora pode perceber que os diálogos que ali se dão são feitos de uma forma verticalizada.
94
Fica desleal né (o diálogo). Porque lá é onde se decide, se encaminha coisas importantes.
Os conselhos são deliberativos e tal. Mas aí você chega lá, você tem várias cadeiras desse
poder econômico de influência das mineradoras, desse vício, e os outros poucos tentando
quebrar uma barreira que não são só das pessoas ali que representam naquele momento,
mas de uma história desenvolvida a partir do município que cresceu naquela lógica. Então é
comum que a maior parte das pessoas esteja nessa lógica, porque "foi assim que eu cresci,
que aprendi, que eu vi que é assim que funciona" e além de ter esse problema, eu acho que
tem o problema de incompetência de gestão deles. Eles não são bem geridos, bem
organizados. As suas pautas não são feitas de forma imparcial. Não é imparcial a gestão do
Conselho. Porque o presidente do conselho já é um secretário que já tem um irmão que já
trabalha na empresa, então ele cumpre uma fachada de participativo e democrático mas ele
efetivamente não é, porque não querem que ele seja, porque ele não é construído para que
seja, e aí o povo tenta aqui, tenta acolá e aí vai ficando difícil e aí a própria sociedade
aaa...E aí o CONDESP todo desestruturado, sendo reestruturado agora, o CODEMA
funciona, mas se não tem uma pauta importante de determinado interesse nem tem reunião,
pula reunião, enfim, o pouco que eu tenho visto aqui é assim. É fachada de que os espaços
democráticos estão aí. (Entrevistado COM 3)
Eu, sinceramente, não acredito no trabalho do CODEMA não. Ele é um conselho viciado,
assim como outros conselhos que existem aqui em Brumadinho que são viciados, que se
tiverem que discutir instigando um conflito, eles não vão fazer isso. Os conselhos
funcionam mais para amortecer os conflitos do que para gerar os conflitos e isso é ruim,
porque o conselho tinha que gerar o conflito, o próprio conselho tinha que gerar o conflito e
ele funciona para acalmar o conflito, para acabar com o conflito. E aí não existindo o
conflito as ideias não aprecem, as discussões não despontam. (Entrevistado OSC 4)
De fato, os conselhos devem ser entendidos como espaços de mediação de conflitos, onde
interesses e visões diversos se encontram para debaterem e chegarem a um consenso (Zhouri,
2008). Entretanto, alguns estudos já apontam para o deslocamento da esfera da política para
esfera do econômico onde sujeitos coletivos são invisibilizados dando lugar aos interesses de um
pequeno grupo de atores particulares (Zhouri, 2008). De fato, isso pode ser percebido no
município, principalmente no discurso dos atores políticos. A influência das empresas é muito
grande, assim como sua contribuição através de impostos para o município. A invisibilidade das
comunidades e distritos rurais é algo perceptível. Apesar dos esforços em ouvir essas
comunidades, as ações efetivas do poder público em Brumadinho tendem a beneficiar muito a
sede, o desenvolvimento da sede, em especial, o desenvolvimento econômico focado nas
95
industrias minerarias, geradoras de empregos, em sua maioria para os moradores da sede. Por isso,
o discurso pró mineração das pessoas que moram na sede do município é tão presente. Entretanto,
quem sofre os danos diretos da mineração, em sua maioria, são os distritos e comunidades rurais,
uma vez que, esses empreendimentos estão instalados nessas regiões. Talvez, falte ainda ao poder
público pensar no município como um todo, superando o desafio da extensão territorial e,
principalmente, a diversidade e especificidade da capacidade produtiva e de desenvolvimento de
cada extensão do território.
A momento atual do município, é de transformação, inclusive com a reformulação do Plano
Diretor. Na reunião pública ocorrida em 20 de março de 2014, na Câmara Municipal, a prefeitura,
através da Secretaria de Planejamento apresentou à população brumadinense a proposta de
alteração da Lei de Uso e Ocupação do solo definindo novas regras para a construção civil no
município. Essa proposta foi feita visando atender ao Estatuto das Cidades e a solicitação do
CONDESP (Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Planejamento de
Brumadinho), que desde 2013, vem discutindo a reformulação do Plano Diretor. Nessa reunião,
foram levantadas questões importantes sobre o desenvolvimento do município e questionou-se
qual seria o melhor desenvolvimento para a cidade: continuar crescendo atraindo cada vez mais
os investimentos da indústria ou optar por não crescer e se manter um município pequeno e
preservado? Esse questionamento, visivelmente, incomodou os empresários e comerciantes,
principalmente, ligados ao mercado imobiliário.
Partindo do principio de que o desejo é a sustentabilidade, o que nós temos? O que garante
a sustentabilidade? Para mim, isso é obviamente um conjunto de discussões que vai gerar
documento. Então nós temos hoje um Plano Diretor que é bastante razoável, agora,
politicamente, é fazer cumprir o que está nele. Esse é o maior desafio que nós temos para o
município. [...] Mas a interferência de diferentes atores sociais nem sempre contribui para o
cumprimento deste Plano Diretor, e nesse Plano Diretor estão previstas uma serie de
atividades regulamentares que, infelizmente, o último secretario de planejamento que nós
tivemos durou 6 meses no cargo porque, obviamente, ele estava no meio de um conflito.
96
Houve inabilidades políticas dele, mas também ele estava no meio de um "tiroteio" de
interesses difusos e interesses confessos que envolvia tanto mineradoras, empreiteiras, o
museu, e imobiliárias aqui no município (Entrevistado OSC 2).
Olha, a gente, vamos falar desse governo que eu posso falar como secretário. A gente tem
um convenio com o Estado de Minas Gerais que classificou a secretaria como a 7º do
Estado no setor de licenciamento que hoje é cargo chefe de qualquer desenvolvimento,
então hoje, a gente consegue auxiliar. Nós temos uma independência de autorização e
temos o controle. O Estado licencia um empreendimento e depois que o município fica
sabendo que empreendimento que está chegando, meramente o município é consultado,
quando muito, transcorre a âmbito estadual. Quando a competência é do município, ele
sabe o que é bom pra ele e o que não é. Então a gente tem tido esse cuidado de não querer
[...]. Pode ser um empreendimento que financeiramente é interessante, que trás um impacto
enorme, tão desgastante, que a gente tem que pensar mesmo assim. Muita gente bate na
nossa porta e a gente vê que aquilo não vai...é bom hoje, mas amanha já não vai ser. Então
ele tem feito isso, ele tem cuidado bem do município pra não deixar ele se deteriorar com
esse crescimento, com essa expansão em todos os sentidos e na questão de investimento em
infraestrutura porque ninguém cresce sem infraestrutura. Ninguém se desenvolve sem
infraestrutura e nós estamos priorizando esse investimento em infraestrutura. (Entrevistado
PP 1)
O desafio de Brumadinho nesse momento é pensar, de fato, no tipo de desenvolvimento que
querem. Optar por não crescer é sim uma maneira de se desenvolver. Etimologicamente, os
termos "crescer" e "desenvolver", significam, respectivamente: "aumentar naturalmente em
tamanho pela adição de material através de assimilação ou acréscimo” e "expandir ou realizar os
potenciais de; trazer gradualmente a um estado mais completo, maior ou melhor”, ou seja,
quando algo cresce fica maior, quando algo se desenvolve torna-se diferente (Daly, 2004). No
caso da economia, ela pode parar de crescer, mas continuar se desenvolvendo, nesse caso, o
termo desenvolvimento sustentável faz sentido para a economia, mas apenas se entendido como
desenvolvimento sem crescimento, ou seja, "a melhoria qualitativa de uma base econômica física
que é mantida num estado estacionário pelo transumo de matéria-energia que está dentro das
capacidades regenerativas e assimilativas do ecossistema" (Daly, 2004, p. 198). Atualmente, o
termo desenvolvimento sustentável é usado como um sinônimo para o oxímoro crescimento
97
sustentável. Oxímoro, porque crescimento e sustentabilidade podem trazer uma contradição nos
seus próprios sentidos. Politicamente, admitir que o crescimento, com suas conotações quase
religiosas, deva ser limitado, pode ser difícil. Mas é exatamente a insustentabilidade do
crescimento que dá urgência ao conceito da sustentabilidade.
4.1.3 O papel de cada ator no desenvolvimento do território
Brumadinho é um município, cujo as principais atividades econômicas tem girado em torno
da mineração e do turismo. Esses atores econômicos tem gerado muitas discussões a respeito dos
caminhos para o desenvolvimento que o município buscará no futuro. Devido a isso, uma das
questões abordadas na entrevista semiestruturada foi o papel desses atores econômicos no
desenvolvimento de Brumadinho e o posicionamento do terceiro setor nessa conjuntura. Além
disso, buscou-se entender nesse momento, a relação desses atores com as comunidades.
4.1.3.1 Mineradoras
Do alto da encosta da Serra da Moeda, a visão que se tem de Brumadinho não deixa restar
dúvidas de que a cidade nasceu em um lugar privilegiado pela natureza. As montanhas que
cercam a região guardam um verde exuberante e uma fauna bastante diversificada, mas também,
concentram o minério de ferro que é responsável por quase toda riqueza produzida na cidade.
Nos seus mais de 600 km² de território que fazem do município o quarto mais extenso do Estado,
estão mineradoras como, Vale, MMX, Ferrous e Vallourec do Brasil, entre outras de menor porte,
que têm contribuído para que os indicadores de desenvolvimento econômico locais alcancem
98
níveis elevados. Não por acaso, Brumadinho tem a terceira melhor colocação no Índice Mineiro
de Responsabilidade Social (IMRS), elaborado pela Fundação João Pinheiro em 2013.
Atualmente, cerca de 50% da arrecadação geral de Brumadinho vem da mineração. A
maior mineradora atuante na cidade é a Vale. O complexo Paraopeba responde pelas operações
de Belo Horizonte, Nova Lima e Sarzedo, contando com as minas Córrego do Feijão e Jangada,
além do terminal ferroviário Alberto Flores. Ao todo, a empresa produziu, somente no primeiro
semestre desse ano, 14,6 milhões de toneladas de minério de ferro (Hoje em Dia, 2014). O setor
de exploração mineral não criou somente empregos diretos em Brumadinho, mas também uma
enorme cadeia de serviços terceirizados que, hoje, ao lado do turismo, responde por quase toda
economia local. A prefeitura adota um discurso otimista e acredita que a atividade mineral ainda
irá se prolongar por muitos anos no município, tempo o suficiente para que alternativas de
arrecadação sejam elaboradas e colocadas em prática.
Como contrapartida à atividade minerária, o município tem conseguido firmar ações de
cooperação socioambiental junto às mineradoras. É o caso da pavimentação da estrada da
Conquistinha, que liga a cidade à BR-381, financiada pela MMX, os projetos de drenagem
pluvial realizados em conjunto com a Mineração Ibirité e a revitalização de praças públicas, feitas
em parceira com a Vale. A Vale também mantém na cidade uma unidade da Estação do
Conhecimento, complexo esportivo e educacional idealizado pela Fundação Vale. No complexo,
457 crianças e adolescentes do município têm acesso gratuito à infraestrutura para o
desenvolvimento de uma série de atividades que vão do atletismo às aulas de música. Além disso,
a empresa é a maior patrocinadora do museu do Inhotim, realizando, junto ao museu, diversos
programas como, por exemplo, o Inhotim para Todos que tem o objetivo de promover o acesso
99
de jovens, adultos e idosos integrantes de programas sociais, associações e grupos comunitários
ao acervo e também ao espaço de forma gratuita (Vale, 2013).
Outra empresa com presença significativa no município é a Ferrous Resources que também
realiza alguns projetos no município como, por exemplo, o Turismo de Base Comunitária (TBC)
que é um projeto desenvolvido pela Ferrous, desde 2011, em parceria com a comunidade de
Brumadinho. O objetivo é estimular produtores e empreendedores locais a se organizarem em
torno de iniciativas que incrementem o turismo, a partir da valorização de seus saberes, fazeres e
de sua produção, contribuindo para a organização de uma rede de empreendedores
economicamente sustentável (Ferrous, n.d)
Mas será que isso seria o suficiente? Discutir a importância econômica da atividade
mineral no município seria "chover no molhado", entretanto, as contrapartidas socioambientais
estariam em equilíbrio com que o município tem gerado de riquezas à essas empresas ao longo de
todos esses anos de exploração mineral? E estariam de acordo com as reais demandas do
município? Ao longo da pesquisa foi possível perceber que a visão das pessoas sobre as
contrapartidas socioambientais das empresas é a de que não suprem o que é tirado do município
em questões ambientais e culturais. Em contrapartida, as mineradoras adotam a postura de que
tais contrapartidas, para além das condicionantes, deveriam ser solicitadas pelo poder público,
conforme demonstrado pelo trecho abaixo:
O poder público tem muita culpa também, porque o poder público nunca procurou muito
também não, só procurava em época de eleição para pedir dinheiro, então não tinha aquela
coisa de ficar exigindo também não. Acho que o poder público teve muita culpa nisso
porque, é aquela coisa né, se eu preciso, eu é que tenho que ir lá e chamar e ver "o que
vocês podem fazer?", "em que podem nos ajudar?". Mas também não é ficar extorquindo
igual fazem né. [...] uma empresa as vezes quer implantar uma coisa lá que custa 50
milhões em projetos e eles querem em outra. Uma empresa não vai fazer isso. Você pega aí
quase 10% do investimento para fazer uma coisa que não é competência dela. Aí fica essa
disputa, fica essa briga lá. [...] eles já conseguiram aproximar das empresas, mas falta ainda
100
essa coerência para implementar as compensações que o município exige. (Entrevistado
EM 2).
O próprio poder público reconhece que durante muito tempo manteve uma postura muito
permissiva em relação às mineradoras e replica a afirmação acima, conforme trecho da fala de
um representante do executivo do município:
Até pouco tempo atrás era muito pouca essa participação[...]. Antes a mineração apenas
cumpria suas obrigações legais dentro do licenciamento e com seus impostos que são muito
pequenos [...], então a compensação era muito pequena. Com a autonomia ambiental do
município, a gente criou essa relação para mostrar para a mineradora que ela realmente
precisa fazer essa compensação no entorno onde ela está instalada[...]. [...] na verdade o que
a gente sempre ouvia da mineração é que nunca deixou nada, mas ninguém nunca foi lá
pedir nada também. (Entrevistado PP 1)
Interessante observar, comparando-se os trechos acima, a permissividade e cumplicidade
entre os discursos ao concordarem que é preciso pedir para que as empresas ajam de forma
responsável, pois, caso contrário, ela não teria como saber em que poderia ajudar. Isso demonstra
como as relações entre o poder público e o poder privado, detentor do desenvolvimento
econômico, permanecem engessadas. Dessa forma, essa relação ganha uma nova face mais oculta,
isso porque muitas vezes os interesses se sobrepõe às reais demandas das comunidades, conforme
relatos abaixo:
Geralmente eles investem em projetos culturais, a maior parte, são projetos culturais,
incentivo a cultura local, mas, assim, muito incipiente, eu acho, muito incipiente. Ajuda.
Não quer dizer que não ajuda, mas, pouco diante do que eles tiram de exploração aqui da
terra e do que eles degradam. (Entrevistado OSC 4).
Eu não vejo nenhum investimento das mineradoras aqui. Tem esse do TBC (Turismo de
Base Comunitária) que é uma estratégia para a Ferrous ter uma anuência aqui nas
comunidades. [...] Vejo só as mineradoras investindo em propaganda (Entrevistado OSC 1)
101
Eu não vejo nenhum investimento deles para tentar recuperar os impactos ambientais
causados por eles mesmos. Eu não conheço nenhum projeto de mineração aqui para dentro
de Brumadinho, nenhum projeto social que está acontecendo aqui dentro de Brumadinho. A
Estação do Conhecimento? Será? [...] Talvez a Vale apoie projetos sociais no município. É
um projeto até bacana, mas é o único. (Entrevistado COM 2)
Elas cumprem algumas coisas se o poder público estiver em cima, a comunidade em si não
tem esse poder de exigir. E tem outra coisa que também acontece que é a questão de "rasgar
a calça no joelho direito e por o remendo no joelho esquerdo". O que eu quero dizer é o
seguinte, se Córrego do Feijão está sendo degradado, quando vem uma mitigação, essa
mitigação vai para um outro setor e Córrego do Feijão fica só com a degradação. [...] Qual
o retorno que lá teve? Quer dizer, o poder público não obriga ela a atuar lá, e ela também
não faz questão de estar fazendo isso. (Entrevistado COM 1)
Muitos dos projetos de responsabilidade social que as empresas vem implementando no
município tem sido muito desconectados das comunidades atingidas por seus empreendimentos.
São implementados na sede, geralmente financiando-se projetos de outras instituições já
existentes, projetos esses, que as comunidades impactadas muitas vezes nem tem acesso. As
relações que se estabelecem ainda são muito verticalizadas e nem empresas, nem o poder público
se movimentam em prol dessas comunidades. O que se vê são problemas socioambientais sendo
tratados como pontuais e modelos prontos de projetos sendo injetados nas comunidades,
desconsiderando-se suas demandas. Em Brumadinho, esse caso se exemplifica na comunidade do
Tejuco, uma comunidade que sofre com a falta e má qualidade da água, provocado pelas
atividades de mineração ali estabelecidas e que recentemente recebeu um investimento
sociocultural de uma das empresas de mineração que ali atua, cujo objetivo, seria retratar o
cotidiano ou o que adolescentes e crianças gostariam de ver ao sair às ruas de sua comunidade
através de pinturas de grafite. Esse projeto foi idealizado para estreitar a relação da empresa com
uma comunidade de outro município que estava em conflito por conta do muro que esta empresa
ergueu para separar a comunidade da ferrovia. Apesar de ser um projeto interessante, e que
alcançou o objetivo de melhorar sua relação com aquela comunidade, tentar replicá-lo a outra,
cujo conflito não é um muro e sim a água, parece uma tentativa de se ocultar uma evidência.
Apesar da acelerada expansão da participação social do setor empresarial, existe forte
resistência ao movimento de responsabilidade social empresarial, tanto em âmbito nacional
quanto em sua atuação global, advindas principalmente das OSC’s. Beghin (2009, p. 65) salienta
que muitas OSC’s, contrárias as práticas de RSE que vem sendo adotadas “se articulam em torno
102
de uma espécie de contramovimento, o da responsabilização das empresas que, embora dividido e
fragmentado, surge como obstáculo à expansão desenfreada da globalização”. Levy e Kaplan
(2008) acreditam que a análise da RSE no âmbito global leva a diferentes visões, representando o
que eles chamam de “terreno contestado”. Deste modo, enquanto os defensores entendem a RSE
como um movimento em direção a uma forma de regulação civil, que é mais sensível para as
questões sociais, os críticos a veem como um sistema privatizado de governança corporativa, que
desloca a autoridade reguladora do Estado e, frequentemente, volta-se para as relações públicas e
marketing da empresa, do que, de fato, para uma mudança social substancial.
4.1.3.2 Inhotim
O Inhotim foi fundado em 2002 como uma fundação sem fins lucrativos que visava a
conservação, exposição e produção de trabalhos contemporâneos de arte e que desenvolvesse ações
educativas e sociais. Em 2005 abriu-se para visitações pré-agendadas para escolas da região e grupos
específicos e, finalmente em 2006, abre-se para o grande público. Em 2008, é reconhecido como uma
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) pelo governo do Estado e no ano
seguinte pelo governo federal (Inhotim, n.d.).
A criação do museu se apresentou como forte impulsionador para uma nova vertente
econômica no município voltada para o turismo. Apesar de já existente em Brumadinho uma rede de
empresários voltados para o turismo, principalmente ecológico e gastronômico, foi com a chegada do
museu do Inhotim que essa corrente veio se fortalecendo e recebendo números cada vez maiores de
visitantes.
Diversos projetos paralelos à exposição de arte contemporânea e projetos paisagísticos são
realizados pelo museu do Inhotim, em parceria com diferentes empresas que o patrocinam, sendo a
principal delas a Vale S/A. Dentre esses projetos destacam-se, a parceria com escolas da rede pública
de Belo Horizonte e região metropolitana promovendo oficinas e atividades multidisciplinares
103
aproveitando a estrutura do museu, com professores capacitados pelos programas de parceria, como é
o caso da Escola Integrada, onde crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos de idade, cursando ensino
fundamental, participam de atividades que acontecem nas terças e quintas-feiras nos jardins e galerias
do Inhotim (Inhotim, n.d.) e projetos voltados para as comunidades brumadinhenses visando articular
[...]diversas atividades em conjunto com a comunidade da cidade de Brumadinho e do seu
entorno. Desde a valorização de manifestações culturais populares, ao incremento de negócios
das redes gastronômica e hoteleira, passando pela mobilização social e pesquisas de resgate
histórico[...]. (Inhotim, n.d).
Muitos desses projetos são voltados para os jovens de Brumadinho, como é o caso do
primeiro emprego. O Inhotim hoje é o segundo maior empregador do município (Inhotim, n.d),
ficando atrás apenas da prefeitura de Brumadinho. Muitos desses empregos são oferecidos aos jovens
que estão se inserindo no mercado de trabalho. Além disso, diversos projetos culturais são realizados
para esse público-alvo como a Escola de Cordas, que oferece formação instrumentalista gratuita para
os jovens de Brumadinho, os Corais e o projeto "Brumadinho pelos Caminhos da Educação Musical",
responsável pela formação musical de quase 200 crianças e jovens matriculados, desenvolvido em
parceria com as bandas Nossa Senhora da Conceição de Brumado, Santa Efigênia, Santa Efigênia,
Santo Antônio de Suzane e São Sebastião (Inhotim, n. d.). O museu do Inhotim também trabalha em
parceria com a Rede de Artesãos de Brumadinho e com a Rede de Empresários de Turismo de
Brumadinho visando o fortalecimento dessas atividades.
A relação do Museu Inhotim com Brumadinho nem sempre foi harmônica e ainda é
controversa. Existia um sentimento de não pertencimento dos brumadinhenses em relação ao
museu. Muitos ainda veem o museu com muita resistência pela forma como chegou na região.
104
Primeira coisa super importante é que o Inhotim deu visibilidade para Brumadinho, embora
no começo era uma reclamação que nós tínhamos com o Inhotim em como o Inhotim se
recusava a admitir que ele estava em Brumadinho. E a imprensa regional, nacional e
internacional se referia ao Inhotim como se não existisse Brumadinho. Eu tenho contato
com eles desde 2004, então eu sentia um barrismo, eles tratavam a gente como se a gente
fosse a província. Mas acho que isso mudou. A ultima vez que estivemos com o Bernardo
(Bernardo Paz, dono do Inhotim) ele pediu pelo amor de Deus para aceitar o Inhotim
(Entrevistado PP 4).
O museu foi fundado em um espaço onde antes existia uma comunidade chamada Inhotim.
Localizada na zona rural do distrito de Conceição do Itaguá em Brumadinho, a comunidade
Inhotim foi fundada em 1870. A partir de 2002 até 2009 o proprietário do museu, Bernardo Paz,
que tinha uma propriedade na comunidade e ali residia desde o final da década de 80, começou a
comprar as casas do entorno de sua propriedade, já como um prenúncio do que viria a acontecer
(Oliveira, 2010). Nesse período, a comunidade Inhotim tinha cerca de 300 habitantes e 70
moradias (Oliveira, 2010). Apesar de as negociações terem sido feitas de forma respeitosa e, de
certa forma, pacíficas, pagando-se um preço justo pelas propriedades, o sentimento de
pertencimento de alguns moradores daquela comunidade se mostrou como uma frente de conflito.
Muitos não aceitavam o fim da comunidade, criticando o museu pela interferência na paisagem
local e pela destruição dos bens comunitários, construídos, muitas vezes, em regime de mutirão
durante os anos de existência (Oliveira, 2010).
É possível perceber que, mesmo em empreendimentos voltados para a cultura e o turismo,
que intencionalmente são fundados para promover um tipo de desenvolvimento mais harmônico,
a ideia do topocídio, tratada acima, se manifesta de forma bastante evidente. Uma das
características fundamentais do topocídio é a sua implementação de forma suave, sem que a
população envolvida perceba o que está acontecendo e quando percebem, já é tarde (Porteous,
1988).
Em 2000, ele (Bernardo Paz) começou a fazer umas construções lá que espantou os
moradores do Inhotim, construções que ninguém sabia o que era. Na verdade, era o
prenúncio do museu que estava sendo construído por ele, já colocando algumas obras de
arte lá e ele passou a interferir na geografia do lugar. (Entrevistado OSC 2)
105
Após matéria de um jornalista, morador da comunidade, no jornal local criticando as
interferência do empresário na comunidade, o mesmo expôs sua intenção em criar o museu,
porém, informando que seria algo de pequeno porte, conforme trecho da entrevista abaixo:
Ele foi lá em casa [...] e disse: 'Eu queria era te explicar qual é o meu projeto'. [...] Então ele
explicou qual era o projeto dele: 'Eu vou construir um museu, só que pequeninho e tal, e eu
quero é conviver com essa comunidade aqui, fazer parceria com a comunidade. Você como
liderança da comunidade, eu quero que você me ajude.' E eu falei: se é isso, vamos ajudar
né. [...] A partir daí continuei ajudando em muita coisa porque achava o projeto dele
interessante e trocava ideia com o Bernardo Paz sobre a perspectiva do meio ambiente,
desenvolvimento, do futuro. Mostrava para ele o que de negativo as mineradoras estavam
fazendo, que ele não deveria repetir aquilo e que ele deveria ter uma convivência boa com a
comunidade [...], só que com o passar do tempo o projeto Inhotim se tornou incompatível
com a comunidade e aos poucos o próprio museu foi pressionando os moradores a vender
suas propriedades[...] (Entrevistado OSC 2)
O processo de desvanecimento dessa comunidade foi chamado por Oliveira (2010) de
diáspora devido ao desmembramento dessa comunidade e a dispersão dos antigos moradores
após a venda das propriedades. Oliveira (2010), em seu livro "Réquiem para o Inhotim", conta
através de poesias, a história dessa comunidade e expressa o sentimento dos moradores da
seguinte forma:
Inhotim
Inhotim
O que estão fazendo aí?
- Estão construindo estrada de ferro!
[...]
Inhotim
Inhotim
O que estão fazendo aí?
- Estão levando nosso chão de ferro!
Inhotim
Inhotim
O que estão fazendo aí?
- Estão instalando museu de arte contemporânea!
[...]
Inhotim
Inhotim
O que estão fazendo aí?
- Estão comprando nossas terras!
106
Inhotim
Inhotim
O que estão fazendo aí?
- Levaram nosso chão,
nosso ferro,
nossos projetos
nosso nome
nossos sonhos! (Oliveira, 2010, p. 111)
Em 2007 é criada a diretoria de Inclusão e Cidadania que era responsável pela relação do
museu com os diversos setores do município: comunidades, setor político, empresas e etc.
Foi um trabalho onde buscou-se realmente reconhecer todos os atores que assumiam algum
papel econômico ou social ou cultural no município e como eles poderiam pensar o
desenvolvimento do município. Então trabalhou-se com três eixos principais que era o eixo
de música, parte mais cultural; um eixo que era de organização do empresariado de turismo;
e um eixo que era o desenvolvimento das associações, dos grupos coletivos que tinham lá.
(Entrevistado OSC 3).
O trabalho dessa diretoria foi aos poucos aproximando o museu da população de
Brumadinho e esse trabalho parece ter apresentado resultados positivos. Em recente pesquisa de
opinião feita pelo museu, o resultado mostrou que a população de Brumadinho já o reconhece
como parte do município, conforme relato abaixo:
Mostrou (a pesquisa) que a população de Brumadinho tem orgulho de Inhotim, sabe que é
um bom empregador, sabe que é uma oportunidade para os jovens, as pessoas veem o
aspecto positivo da instalação do Inhotim lá [...]. (Entrevistado EM 3)
Entretanto, o museu hoje, reconhece o distanciamento inicial e os fatores de resistências por
parte da população:
Teve sim (uma distancia entre Brumadinho e Inhotim) no início, e tem relatos e
documentos que mostram isso [...]. Arte contemporânea não é uma arte que as pessoas tem
um repertório já consolidado de uma pintura, essa coisa mais comum quando você pensa
107
em arte né. [...] é o novo né. E o novo sempre contrapõe. Além disso, para se criar o
Inhotim, para se ampliar - e o Bernardo é uma pessoa muito visionária - ele comprou
aquelas áreas ali no entorno do Inhotim, onde era a vila, e pagou super bem. Inclusive a
terra ali é super valorizada em função do Inhotim, então, mesmo que as pessoas tenham
vendido e vendido bem as suas propriedades, tem uma perda né. Tem uma perda histórica.
Então tem uma parte da população que olha para o Inhotim e fala: 'Olha! Lá era uma igreja.'
A gente tem um funcionário que foi batizado na capela que tem dentro do Inhotim. Agora,
isso é negativo? Não! É um processo mesmo de estranhamento. Além disso, querendo ou
não, final de semana quando as pessoas vão para o Inhotim elas tem que passar por
Brumadinho e uma coisa que eu sempre escutei o pessoal da cidade falando é que o pessoal
passa de vidro fechado e nem olha. São os ricos que vão para o Inhotim e fecham os vidros
para não ver a cidade. Não olham. Não param. E não ficam por aqui. (Entrevistado EM 3)
Recentemente foi aprovada a construção de uma estrada que irá ligar a MG-040 à
Brumadinho, facilitando o acesso ao museu do Inhotim. Dois pontos precisam ser analisados
nesse projeto: (1) por um lado a importância do museu na visibilidade que tem dado ao município
facilitando captações de recursos, principalmente, para investimento na infraestrutura do
município; (2) por outro lado, e contraditoriamente, as queixas da população em relação à
invisibilidade do município pelos turistas que visitam o museu e não ficam na cidade, não
consomem, não utilizam seus serviços, tem fundamento se pensarmos que uma alça que dará
acesso direto ao museu não passará por dentro da cidade.
O que eu percebo é que o desenvolvimento é essencialmente do território Inhotim, mas pelo
menos este território Inhotim já se percebeu dentro de um outro território que é
Brumadinho, mas o desenvolvimento de Brumadinho é, desde que, seja bom para o
território Inhotim (Entrevistado COM 3)
De toda forma, a presença do Inhotim em Brumadinho vem movimentando uma rede de
empresários focados no desenvolvimento do turismo na região, se colocando como uma
alternativa de reconversão econômica para o município, frente à dependência da mineração.
Resta saber, se as relações políticas e econômicas do Inhotim, não seguirão os mesmos padrões
colonizadores das mineradoras.
108
4.1.3.3 Empresas de Turismo
Conforme apresentado anteriormente, Brumadinho possui um potencial turístico que vem
sendo encarado pelo poder público e pelos empreendedores com cada vez mais seriedade. A
chegada do museu do Inhotim, em 2006, impulsionou fortemente esse setor estimulando os
empresários do turismo a investirem mais em seus negócios. Buscando o desenvolvimento
contínuo, em 2008 foi criada a Rede de Empresários do Turismo, incluindo empresários do setor
das regiões do médio e alto Paraopeba, visando fortalecer as relações entre os parceiros,
potencializar os empresários, garantir a sua autonomia e sustentabilidade (Portal de Brumadinho,
n.d).
Com a criação da Rede diversas práticas foram sendo adotadas buscando profissionalizar e
estruturar melhor o setor. Dentre elas, pesquisas tem sido feitas junto aos hotéis, pousadas, bares
e restaurantes do município de Brumadinho, com a finalidade de levantar a capacidade instalada
nos empreendimentos do município. Dessa forma, um banco de dados é alimentado permitindo o
diagnóstico de pontos positivos, pontos críticos e necessidades dos empreendimentos, sendo
possível conhecer, com detalhes, tanto as condições dos empreendimentos, quanto as
potencialidades da região, para fornecer informações e referências aos turistas que demandam
serviços de qualidade (Portal de Brumadinho, n.d).
Alguns estabelecimentos da Rede participam do programa "Amigos do Inhotim" firmando
parcerias com o museu para divulgação de seus estabelecimentos no site do Instituto Inhotim,
oferecendo desconto a todos os visitantes do museu que fazem parte do programa mediante
apresentação de uma carteirinha personalizada (Portal de Brumadinho, n.d).
109
Por meio do convênio 733314/2010 entre o Instituto Inhotim e o Ministério do Turismo,
foram realizadas ações de qualificação da Rede, de acordo com a demanda dos próprios
empresários (Portal de Brumadinho, n.d). Os cursos de qualificação profissional em
Hospitalidade e Hotelaria beneficiaram diretamente cerca de 50 alunos:
Tabela 3
Cursos de qualificação profissional
Cursos Nº de alunos
Camareira (30 horas) 12
Garçom (175 horas) 20
Auxiliar de cozinha (175 horas) 20 Nota. Fonte: Portal de Brumadinho. (n.d). Rede Empresarial do Turismo em Brumadinho e entorno. Recuperado em
http://www.portaldebrumadinho.com.br/v2/exibir_secao.asp?CodSecao=3
Outra ação importante para a Rede de Empresários foi o curso “Desenvolvimento de Plano
Estratégico para Empresários da Cadeia Produtiva do Turismo de Brumadinho, Bonfim, Moeda e
Rio Manso” em 2011, que aconteceu por meio do mesmo convênio beneficiando cerca de 70
empresários envolvidos na ação (Portal de Brumadinho, n.d).
O município de Brumadinho conta hoje com cerca de 30 pousadas e hotéis, além de
restaurantes e atrativos turísticos como cachoeiras, museus, trilhas, rampa de voo livre, atividades
de aventura, cavalgada, igrejas históricas, empregando hoje cerca de 3 mil pessoas diretamente e
8 mil indiretamente (Brumadinho, 2014). Além disso, esses empreendimentos tem como
característica o perfil familiar e investimentos feitos por pessoas de fora do município que
mudam-se para lá em busca de melhor qualidade de vida.
110
Figura 10. Empreendimentos turísticos em Brumadinho Nota. Fonte: Portal de Brumadinho. (n.d). Rede Empresarial do Turismo em Brumadinho e entorno. Recuperado em
http://www.portaldebrumadinho.com.br/v2/exibir_secao.asp?CodSecao=3
Apesar dos esforços em ampliar cada vez mais o setor do turismo, Brumadinho ainda
enfrenta alguns desafios, cabendo destacar a infraestrutura atualmente oferecida pelo município.
Em maio de 2014, o prefeito de Brumadinho, através do "Bate-papo com o Prefeito", recebeu a
Rede de Empresários que expuseram as carências e dificuldades que o setor encontra quando
esbarra nas deficiências de infraestrutura do município, principalmente, relacionadas ao
asfaltamento dos principais trechos de interligação turística do município, sistema de sinalização
com informações turísticas em bilíngue, alvarás de funcionamento, serviços de telefonia celular,
transporte público, coleta de lixo e políticas públicas voltadas para o setor (Brumadinho, 2014).
No distrito sede de Brumadinho, os investimentos voltados para esse setor ainda são muito
incipientes, concentrando-se a maior parte dos pólos turírsticos nos distritos rurais,
principalmente em Casa Branca e na Serra da Moeda. A maioria dos hotéis, pousadas e
111
restaurantes de Brumadinho encontram-se nos distritos rurais. Isso faz com que os turistas
acabem buscando essas regiões ao invés da sede. A reclamação dos moradores da sede em
relação aos turistas que vão ao Inhotim e não ficam na cidade, respalda também na precariedade
de sua infraestrutura.
Se por um lado o setor minerário é bastante presente na memória dos brumadinhenses da
sede e, de certa forma, com um discurso favorável à esse setor, por outro, o turismo ainda é algo
que se encontra no imaginário ideológico, pouco concretizado. Já na visão dos moradores de
Casa Branca e comunidades da Serra da Moeda, o turismo é algo concreto e vivenciado e a
ameaça ali é a mineração.
Todos os funcionários são das comunidades (dos restaurantes, pousadas e condomínios). [...]
Hoje uma pessoa, por exemplo, que toma conta de uma casa dentro de um condomínio, tipo
o Retiro do Chalé e toma conta de um jardim e pega 3 casas para tomar conta, no final ele
tem uma renda de mais de dois mil reais mensais. Enquanto o funcionário que é contratado
pelo Inhotim ganha uns 800 reais, as mineradoras também, 800, 800 e pouquinho. É muito
fácil você comparar. Compara um funcionário que está dentro do Inhotim hoje, o padrão de
vida dele, um que está dentro da mineradora e um que está dentro de um condomínio. Hoje
o que trabalha em condomínio tem uma casinha muito boa e ainda vai ter na garagem dele
um carro, vai ter uma moto e vai ter uma bicicleta para o menino dele. Agora faz essa
pesquisa com os funcionários do Inhotim e com os funcionários dessas mineradoras [...].
(Entrevistado COM 2).
É possível observar que há um movimento crescente em Brumadinho para a via do turismo
e uma compreensão de que o território tem importantes possibilidades a serem exploradas por
esse setor. Esse movimento tem ganhado forte apoio de algumas organizações do terceiro setor e
de alguns representantes de comunidades. O que talvez ainda falte, na percepção da pesquisadora,
é um interesse maior, principalmente por parte do poder público nesse sentindo. Os olhares sobre
o turismo ainda estão muito periféricos no município e o discurso da mineração ainda é muito
forte para alguns representantes do poder público.
112
Tem um caso recente agora em Rio Acima, onde a Vale foi praticamente expulsa de um
projeto lá. Faltou força política na época para defender, coerência[...]. Então poderia
conciliar sim. Hoje está lá o prefeito doido atrás da Vale, querendo que ela volte, os
vereadores, as associações. Quer dizer, tão sentindo falta do recurso. Eu converso com o
prefeito de Ouro Preto, com o prefeito de Tiradentes, com o prefeito de Mariana. Fala com
eles, que são hoje os precursores de turismo em Minas Gerais, para fechar as minerações?
Dá falência! Quem sustenta ainda hoje Ouro Preto, Tiradentes e Mariana é a mineração. E
sustenta Minas Gerais. Então, eu falo que a mineração está para Minas Gerais igual a soja e
o boi estão para o Mato Grosso. Você vai tirar aquilo de lá, ela vai virar o que? Então é uma
atividade assim muito importante, agora, precisamos ter esse equilíbrio. (Entrevistado PP 2)
Há um receio de que esse movimento focado no turismo atropele a transição econômica de
um segmento para o outro. De fato, é preciso considerar que Brumadinho ainda é
economicamente dependente da mineração e essa transição não deve acontecer de maneira
abrupta. Entretanto, é preciso considerá-la de maneira mais estratégica dentro das políticas
públicas municipais, visando o desenvolvimento do município como um todo, tanto nas
comunidades rurais, que em geral, anseiam pela conservação e valorização do seu modo de vida,
quanto ampliando-o para dentro da sede, hoje, muito aderente ao discurso insustentável da
mineração.
4.1.3.4 Organizações da Sociedade Civil (OSCs)
Durante a pesquisa pode-se perceber que o terceiro setor em Brumadinho é muito fraco,
principalmente no que diz respeito à participação política. De acordo com o Entrevistado OSC 2,
já houve uma movimentação maior dessas entidades no município. Ele acredita que a sociedade
civil se acomodou e, apesar de terem vários conselhos temáticos institucionalizados como, o
Conselho de Saúde, o Conselho de Assistência Social, o Conselho dos Idosos que tem um
funcionamento positivo, possuem pouca efetividade na interferência das políticas públicas em
113
Brumadinho. Tendo em vista essas fragilidades, a pesquisa focou-se em dois movimentos
ambientalistas que foram apontados como os mais atuantes pela maioria dos entrevistados:
Movimento Abrace a Serra da Moeda e os movimentos/instituições de Casa Branca: Movimento
pelas Águas e Serras de Casa Branca, Instituto Casa Branca e Casa Guará.
O Movimento Abrace a Serra da Moeda surgiu em 2008 como um movimento de oposição
ao projeto de reativação da mina Vista Alegre, chamada agora de Serrinha, pela Ferrous
Resources do Brasil e que estava a 15 anos com suas atividades interrompidas deixando um
enorme passivo ambiental e social na região. O objetivo do Movimento é reivindicar dos
representantes políticas públicas concretas voltadas para a preservação integral da Serra da
Moeda de maneira a constituí-la como um monumento natural, alegando que o projeto coloca em
risco espécies endêmicas da vegetação de canga e espécies da fauna ameaçadas de extinção
(Abrace a Serra da Moeda, n.d).
A região da Serra da Moeda dividi-se entre os condomínios fechados de luxo, comunidades
de agricultura familiares, comunidades quilombolas e espaços para a prática de esportes radicais
e de aventura. Hoje, é um importante polo turístico para o município, onde se concentram
construções históricas, como a Fazenda dos Martins, e importantes mananciais que abastecem a
região. A Serra da Moeda faz parte do complexo da Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa que
atravessa os estados da Bahia e Minas Gerais e que recebeu o título de Reserva da Biosfera em
2005 pela UNESCO. De acordo com o Movimento Abrace a Serra da Moeda, a área afetada pelo
empreendimento que se constituirá, além da cava, de uma planta de beneficiamento, de uma
barragem de rejeitos e pilha de estéril, encontra-se inserida em uma zona de transição nos limites
de Mata Atlântica e Cerrado, considerada por especialistas como áreas frágeis, de alta
vulnerabilidade ambiental (Abrace a Serra, 2010).
114
Enquanto o Movimento Abrace a Serra da Moeda se caracteriza como uma frente de
resistência à implantação de um empreendimento minerário, as reivindicações das OSCs de Casa
Branca já convivem com a mineração e sua luta se configura pela cobrança de condicionantes não
cumpridas, pela poluição e escassez de água, pela mitigação dos impactos ambientais e uma
atuação socioambiental mais responsável da mineradora que lá atua e contra o projeto de
expansão de uma mina que, recentemente, tem provocado um forte debate entre os moradores da
região.
Essas organizações de Casa Branca nasceram a partir de iniciativas dos moradores e
ganharam apoio dos admiradores da região. Aos pés da Serra do Rola Moça, tanto o Instituto
Casa Branca, quanto o Movimento pelas Águas e Serras de Casa Branca se voltam para a
proteção da fauna e da flora da região lutando por sua preservação e contra a degradação da
mineração. O Centro de Referência da Infância e Preservação da Vida - Casa Guará é uma
instituição de natureza filantrópica, que visa oferecer alternativas à comunidade de Casa Branca e
adjacências do município, buscando suprir a carência dos instrumentos culturais, artísticos,
sociais e ambientais da região, através do desenvolvimento de projetos voltados paras as crianças,
adolescentes e jovens (Casa Guará, n.d). A Casa Guará já recebeu recursos da Vale, mineradora
que atua na região, mas que recentemente retirou o incentivo financeiro alegando o corte de
alguns custos por conta do atual cenário econômico desfavorável.
Ambos os movimentos tem uma atuação muito pontual no município, um atuando
especificamente na Serra da Moeda e o outra na região de Casa Branca. Para algumas pessoas,
esse fato é visto de maneira negativa, conforme aponta o relato abaixo:
115
A atuação das ONGs está muito fraca. Tem muito interesse pessoal. Não é um interesse
global. Então cria a ONG defendendo o seu território e eu acho que a ONG tem que
defender o município como um todo. (Entrevistado COM 1)
Assim como apontando pelo poder público como justificativa para a dificuldade de atuação
no município como um todo, a extensão territorial também é apontada pelas OSC’s como um dos
fatores que desfavorecem a expansão e integração desses movimentos. Além disso, alegam que as
complexidades dos conflitos com os quais tem lidado e a falta de recursos não as permite
expandir o seu foco de atuação.
A gente tem uma atuação muito focada. Nós não trabalhamos em Brumadinho, nós
trabalhamos na Serra da Moeda, na vertente de Brumadinho da Serra da Moeda. A gente se
posiciona contra um projeto de mineração que é insustentável e que vai secar a principal
nascente que abastece mais de 10 mil famílias que é a Mãe D'água. [...] Por mais que hoje
tenha uma tentativa de uma interlocução com outros movimentos que estão trabalhando
outras partes da Serra da Moeda ou outras partes de Brumadinho, como é o caso que a
gente tem feito agora com Casa Branca tentando fazer um trabalho mais conjunto em Casa
Branca, a nossa atuação é focada na Serrinha. [...] A gente gostaria muito de trabalhar em
outros projetos pela sustentabilidade do município, de educação ambiental, mas não tem
jeito [...]. (Entrevistado OSC 1)
Em contrapartida, é possível perceber que há uma certa adesão das comunidades do entorno
à esses movimentos, como por exemplo, no caso do Movimento Abrace a Serra da Moeda onde
um movimento paralelo encabeçado pelos representantes dos quilombolas e dos pequenos
agricultores se uniram aos representantes do Movimento Abrace a Serra da Moeda constituindo-o
assim, como uma ONG e não apenas um Movimento.
Ai do Vale do Paraopeba se não fosse a fusão dos dois movimentos que a gente tinha há 5
anos para criar a ONG Abrace a Serra. Se a gente não tivesse criado essa ONG, as 17
comunidades já tinham sido varridas do mapa. Hoje elas estariam embaixo de uma
barragem de rejeitos. [...] Para mim a ONG Abrace a Serra da Moeda tem um papel
fundamental nesse município, tanto na questão ambiental, quanto na questão cultural e
social desse município. [...] Se naquela ocasião a gente não tivesse criado essa ONG de
resistência ambiental, lá hoje era zero, socialmente os moradores tinham saído dessas
116
comunidades com o dinheiro e estariam morando em uma favela, as filhas e filhos
envolvidos com drogas, vivendo na periferia, as filhas já estariam criando um, dois, três
meninos [...]. (Entrevistado COM 2)
Entretanto, existe um movimento contra a atuação dessas ONG's, principalmente na sede,
que os enxerga como movimentos de ricos por atuarem em áreas onde se localizam os
condomínios de luxo. Os próprios representantes do poder público replicam esse argumento,
conforme trecho abaixo:
Eu acho até demagogo porque a maioria mora com asfalto na porta, carro de luxo, celular
do melhor, tem chuveiro a gás, elétrico... São altamente consumistas. Eu não vejo nenhum
líder de ONG morar dentro de favela ou num ranchinho pobre na beira do matinho,
bebendo água da bica. A maioria que eu conheço estão dentro de condomínios e ficam
fazendo uma apologia em cima de um mundo que a cultura é essa mesma, então eu acho
que falta razão, falta conhecimento, falta maturidade para essas ONGs. (Entrevistado PP 1)
A apologia ao qual o representante acima se refere seria a preservação e o desenvolvimento
do turismo? Sim, os projetos de mineração são importantes para o município e isso é inegável,
entretanto, a tentativa de deslegitimar a atuação local dessas ONG's argumentando que são
movimentos de ricos e por isso, são utópicos, parece mais um discurso de desconstrução política-
econômica do que uma realidade em si.
Eu acho que, tomando como exemplo a maioria delas, primeiro que todo dia você vê um
escândalo relacionado a ONG: lavagem de dinheiro, corrupção, desvio de dinheiro, ou seja,
gente se aproveitando, outros querendo se promover politicamente, então a filosofia da
ONG que é uma organização não governamental, é de ser imparcial, a ONG não pode ter
lado. (Entrevistado PP 1)
De acordo com os representantes dessas ONG's, existe um movimento que tenta
deslegitimá-las e acusam o poder público municipal de encabeçar uma dessas frentes de oposição:
117
Nos temos dois movimentos de oposição: o primeiro liderado pelo poder público que, com
articulação da empresa, tenta disseminar a ideia de que ter um monumento vai impedir o
desenvolvimento da região. É uma mentira mesmo...disseminar uma mentira.[...] Há uma
conivência, uma atuação conjunta da secretaria de meio ambiente, no caso, do secretário de
meio ambiente [...] querendo desmobilizar. As críticas que se fazem a nós, lá, o pessoal da
sede, é que são esses ricos do Retiro do Chalé querendo defender o quintal, como se
quisessem tirar a legitimidade [...] A gente sempre foi nas comunidades, mas nunca
tínhamos ido nos condomínios, agora nós estamos começando a ir nos condomínios e é
legal como as pessoas reconhecem o nosso trabalho. (Entrevistado OSC 1)
A Abrace a Serra tem uma boa relação com as comunidades porque quando ela nasceu, ela
não nasceu uma ONG burguesa igual meia dúzia pregam aqui, ela nasceu uma ONG mista.
Desde quando ela nasceu ela tem mais diretor das comunidades do que dos condomínios
dos ricos. E a bem da verdade, a Beatriz quando era presidente e a Cristina Vignoli que é
hoje é a presidente, o poder de decisão dela é tanto quanto o meu e do (representante) dos
quilombolas. [...] Ela é mais uma ONG comunitária do que uma ONG de condomínio, de
burguesia. (Entrevistado COM 2)
A fraca participação política das ONG's no município, conforme exposto acima, pode ter
sido agravada por essa rixa entre o poder público e as ONG's. De um lado, o poder público
reclama do radicalismo e falta de equilíbrio e sensatez das ONG's, utilizando-se do discurso de
classes para deslegitimar a sua pauta de reivindicações e aderindo ao discurso conservador e
economicista das sociedades industriais, por outro as ONG's reclamam da conivência do poder
público com as mineradoras. Ao final, o sentimento que permanece aos representantes da
sociedade civil é:
Nadando contra a corrente. Tem um esforço, tem um trabalho, mas a corrente é forte e é
difícil vencê-la. Então eu acho que não se consegue tanta penetração, tanta expressividade.
[...]. (Entrevistado COM 3)
Interessante observar que essas organizações, tanto o Movimento Abrace a Serra da Moeda,
quanto as OSC’s de Casa Branca, atuam nos principais polos turísticos do município.
Contraditoriamente, essas mesmas regiões turísticas são as que tem protagonizado os conflitos
118
socioambientais mais significativos dentro do município, uma vez que, tem que conviver com a
ameaça de novos projetos minerários, ou seja, em um território tão extenso, duas regiões tem sido
disputadas pelas principais frentes econômicas que tem se estabelecido no município: mineração
e turismo.
4.1.4 Os conflitos socioambientais e a responsabilidade socioambiental das empresas
Durante a pesquisa, através das andanças por Brumadinho com conversas informais com
algumas pessoas e pelas entrevistas semiestruturadas, pode-se levantar os principais conflitos
socioambientais que o território enfrenta e que estão mais presentes na memória das pessoas. Três
desses conflitos foram apontadas pela maioria das pessoas, sendo eles: (1) expansão imobiliária;
(2) arbitrariedades da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA); e, em especial, os
(3) impasses com mineradoras.
Em relação a expansão imobiliária, por estar um pouco mais distante da capital, somente
nas últimas décadas Brumadinho entrou no circuito da expansão metropolitana. Sua grande
extensão territorial coloca o município entre dois eixos de articulação viária: o vetor oeste através
da BR-381 e o vetor sul através da BR-040 dando-lhes as mais diversificadas características. Essa
articulação diversa permitiu ao município que se relacionasse, através de sua sede, com a região
industrial do aglomerado metropolitano e gozasse de certo desenvolvimento enquanto polarizava
municípios vizinhos que tinham seu único acesso à Belo Horizonte através de Brumadinho
(Gaspar, 2005). Ao mesmo tempo, mantinha em sua porção leste regiões com fortes
características rurais entremeadas por pequenos povoados (Gaspar, 2005). A topografia difícil e
as más condições de acesso a algumas áreas do município fizeram com que sua ocupação fosse
119
menos intensa, ao longo dos anos, nas áreas próximas a Serra da Moeda que circunda todo o
limite do município com Nova Lima e a Rodovia BR-040, deixando, essa parte em especial do
município, por muito tempo fora da rota de expansão da metrópole. O crescimento populacional
observado na última década em Brumadinho, mostra que o relevo montanhoso, não somente, não
tem mais se configurado em empecilho para ocupação dessa região, como tem se transformado
em atrativo para os seus novos moradores, colocando Brumadinho no eixo sul da expansão
metropolitana (Gaspar, 2005).
Um dos principais pontos a se destacar nesse processo de expansão imobiliária é o aumento
dos condomínios horizontais de luxo na região leste do município. Casa Branca, Serra da Moeda
e adjacências tiveram, a partir da década de 80 um "boom" no número de condomínios. Ao
mesmo tempo em que esses condomínios, de certa forma, blindam o meio ambiente, provocam a
privatização da natureza, que transforma cachoeiras e cursos d’água, antes abertos ao uso público,
em áreas privadas e de acesso bastante restrito (Gaspar, 2005). Além disso, transformam a
dinâmica da vida rural de seu entorno, onde, distritos como Piedade do Paraopeba, por exemplo,
passam a ser cenário de padrões de consumo mais sofisticados e que em nada tem haver com a
cultura local.
Dessa forma, cria-se um território dentro de outro território, pois esses condomínios
possuem uma administração própria, com leis de uso e ocupação próprios e muitas vezes com
poucos vínculos com o resto do município. Se formam "ilhas" dentro do território, desconectadas
das dinâmicas locais, onde, muitas vezes, nem os serviços públicos do município chegam.
[...] a área disponível que tem para crescimento da região de Belo Horizonte é Brumadinho,
e se realmente isso acontecer sem um planejamento, sem uma devida adequação das áreas a
serem divididas, construídas, vai ser um dos maiores impactos do meio ambiente em
Brumadinho. Já é! Porque você sabe que um condomínio gera lixo e esgoto complexos para
120
o meio ambiente. E até hoje o Retiro do Chalé não tem sistema de esgoto. São fossas, o lixo
não tem coleta seletiva organizada [...] (Entrevistado OSC 3).
A postura da administração municipal é de não interferência nas áreas internas dos
condomínios, deixando a esses a responsabilidade pela implantação da infraestrutura e
administração dos serviços. Se por um lado, essa isenção do poder municipal atende ao interesse
da comunidade local se eximindo de gastos em áreas que abrigam, principalmente, população
externa (no caso de sítios de fim de semana), por outro, tal atitude se mostra irresponsável diante
do dever de gerir o desenvolvimento urbano de seu território e garantir o bem estar de seus
cidadãos. A prefeitura perde assim, o poder de controle quanto às questões que são de interesse
público, como a destinação final do lixo e do abastecimento de água.
E é justamente o abastecimento de água e tratamento de esgoto que tem sido uma
reclamação dos brumadinhenses em relação à COPASA. Brumadinho é um município com mais
de 33 mil habitantes, com uma extensão territorial de mais de 600 km², muito próximo à capital
do estado, polo minerador e sem nenhuma estação de tratamento de esgoto. Mesmo assim, a
partir de 2008, a COPASA começou a cobrar da população uma taxa para tratamento de esgoto
nas contas mensais. Em 2013, o vereador eleito Reinaldo Fernandes, entrou com uma
representação junto ao Ministério Público Estadual contra a COPASA, exigindo a suspensão da
taxa e a devolução, em dobro, do valor cobrado (Jornal De Fato, 2013) obtendo êxito no processo.
Entretanto, a COPASA recorreu da decisão e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais derrubou a
liminar que suspendia a cobrança dessa taxa. Dessa forma, a Câmara de Vereadores de
Brumadinho aprovou, por unanimidade, uma lei que proibia a empresa de cobrar tal taxa no
município estando sujeita a multa caso descumprisse. Essa lei entrou em vigor em janeiro do ano
seguinte, porém, a empresa não a cumpriu e desde então vem cobrando ilegalmente a Taxa de
121
Esgoto. O processo continua em aberto no Ministério Público, mas até ao final dessa pesquisa,
sem desfecho.
O maior conflito socioambiental de Brumadinho, entretanto, se configura na relação das
mineradoras com o território. Brumadinho tem cerca de cinco grandes mineradoras atuando em
seu território e que protagonizam conflitos pontuais no local onde estão suas operações, uns de
menores e outras de maiores proporções. Interessante observar como esses conflitos são vistos
pelos entrevistados dentro município, ou não são vistos, ao serem perguntados se haviam
conflitos socioambientais em Brumadinho. Para os representantes do poder executivo municipal a
relação das mineradoras no município não chega a se configurar como um conflito. Eles apontam
que a única resistência percebida é em relação às questões ambientais, mas que o município tem
atuado de forma incisiva e as mineradoras tem se posicionado positivamente, demonstrando-se
mais responsáveis, conforme apontado pelos trechos abaixo transcritos:
Hoje o que eu posso te dizer é que a gente praticamente não tem (conflitos socioambientais).
Você pode até não acreditar porque nós temos hoje uma área bem definida. A nossa
indústria, que é a mineração, ela tem territórios próprios que foram comprados a mais
tempo onde ela atua. Ela tem por exemplo uma área que usa apenas 10% do território, o
resto são áreas preservadas, então você quase não vê. (Entrevistado PP 1)
Elas não fogem não. São extremamente responsáveis quando são chamadas. É por isso que
é importante que você tenha um poder público bem armado. Quando você faz um
chamamento a todas essas empresas elas atendem prontamente. Elas vem. Elas conversam e
propõe ajuda. (Entrevistado PP 2)
Convergindo com essa visão, os representantes das empresas reconhecem que antigamente
a postura das mineradoras era muito ruim e nociva ao município, e sua relação com a população
era muito distante, se configuravam apenas como postos de trabalho, mas hoje já constroem uma
relação de pertencimento com o território. Além disso, apontam que a legislação ambiental está
122
cada vez mais exigente e, por isso, precisam cumprir essas leis para que possam ter seus projetos
aprovados.
Algumas pessoas criticam por não estarem dentro do processo, e outras realmente não
conhecem o processo [...]. As vezes eu digo, quando eu defendo, a empresa de mineração
tem todas as normas, as ISO's que são necessárias ter para fazer o processo de mineração.
Acredito que anos atrás realmente houve um descuido das mineradoras, mas com a
evolução das pessoas que trabalham no meio ambiente a cobrança se tornou muito grande.
(Entrevistado EM 1)
A relação de dependência do município para com essa atividade econômica, também é
destacada pelos representantes das empresas.
[...] As mineradoras são partes essenciais do processo e muitas vezes as pessoas não veem
isso. [...] Se cortar essa CEFEM, acabou Brumadinho...as pessoas vão trabalhar aonde? [...]
Uma relação de dependência. As pessoas precisam da mineração e ela agora está mais
presente. Está divulgando mais o que ela está fazendo [...] eu acho que são ações que
aproximam mais a população da mineração.[...] Não vejo um conflito forte no município."
(Entrevistado EM 1)
A inserção social do setor privado não é uma consequência indireta, não antecipada de sua
submissão ao sistema de preços: é uma decisão da qual pode depender a própria sobrevivência da
empresa. Para Porter e Kramer (2006) as empresas não devem escolher aleatoriamente, ou com
base apenas em operações de marketing os investimentos sociais, e sim como questões
estratégicas, assim como o fazem quando se trata, por exemplo, da ampliação de seus mercados
ou seus investimentos. As companhias precisam encontrar nichos específicos em que o
preenchimento de necessidades sociais de natureza não imediatamente mercantil (doar recursos a
uma iniciativa cultural, por exemplo) tenha repercussão de longo prazo.
É preciso compreender que a relação de Brumadinho com a mineração é de muitas décadas,
e as pessoas que trabalham, ou trabalharam, direta ou indiretamente, para essas empresas trazem
123
consigo um discurso bastante favorável, pois, foram essas empresas, através do emprego, da
profissionalização, que proporcionaram a essas pessoas terem perspectivas de vida que antes não
tinham. Entretanto, dizer que Brumadinho não tem conflitos socioambientais, ou que esses não
são fortes, não é algo real. Esses conflitos não acontecem, conforme exposto acima, no distrito
sede de Brumadinho. Esses conflitos estão no entorno, nas zonas rurais, e estão invisibilizados.
Muitas desses comunidades impactadas não são organizadas, como no caso do Tejuco ou
Córrego do Feijão, por exemplo, por isso, é difícil avalia-las sem um mergulho mais profundo
para dentro do território.
Para os representantes das OSCs e comunidades, o principal desafio na tratativa desses
conflitos está na relação política que se desenha dentro do município:
O principal desafio é do ponto de vista político. [...] A articulação política, tendo em vista
que o poder público está articulado com as empresas [...]Acho que o principal problema é o
poder público defender os interesses das mineradoras porque são elas que bancam as
campanhas. (Entrevistado OSC 1)
Um dos principais conflitos de Brumadinho se configura junto às comunidades da Serra da
Moeda que temem a chegada de um novo empreendimento minerário na região. Além de
alegarem ser ali, uma região onde o município possa explorar mais o potencial turístico, as
comunidades receiam perder seus vínculos com o lugar com a implementação de um
empreendimento minerário que demandaria o esvaziamento de áreas, hoje, ocupadas por
comunidades rurais.
Essa comunidade que eu moro é uma comunidade de pequenos produtores, como todo o
Vale do Paraopeba. E no Vale do Paraopeba hoje a atividade que mais consiste lá é a
produção da mexerica Ponkan e parece que Brumadinho hoje é o 1º ou 2º município de
Minas Gerais que produz a Ponkan. Contudo, tanto a minha quanto as comunidades
vizinhas de interior sofre porque o poder público ainda deixa muito a desejar. Mas para
mim, e para a grande maioria de lá, a grande maioria é uns 90% ou mais, ainda acha muito
124
interessante continuar morando nessas comunidades rurais onde a violência não chegou
ainda, onde ainda tem um significado de vida. Um se preocupa com o outro. E por mais que
o pequeno produtor não tenha muito incentivo ainda, não só em Brumadinho como no
Brasil todo, os pequenos produtores da minha região preferem estar trabalhando e
ganhando menos, mas tem uma qualidade de vida bem melhor do que a dos moradores da
cidade. A gente considera sim, e se não ganha muito para comprar tudo, ganha o suficiente
pra viver e viver uma vida mais tranquila. (Entrevistado COM 2)"
O depoimento acima, de um pequeno agricultor da região da Serra da Moeda, expressa,
claramente, o ideal de desenvolvimento almejado. Cabe ao poder público ouvir os anseios da
população e planejar, estrategicamente, os caminhos para o desenvolvimento de Brumadinho.
Além disso, a discussão de Topocídio (Santos, & Machado, n.d.; Tuan, 1980), que já era algo
vivido por essas comunidades, ultrapassa as fronteiras dos distritos atingidos pela mineração e
começa a ser vivenciado pela população que reside na sede do município, conforme depoimento
abaixo de um dos representantes do poder legislativo residente na sede.
Tava te dizendo que em 100, 70 anos de mineração, a menos de 2 anos eu vi a serra
acabando. Nunca tinha visto a serra acabar, mesmo com a mineração a gente olhava e a
gente via a serra. Hoje tem lugar que a gente olha e não vê a serra mais. Tem um buraco na
serra. Então isso é ruim. Isso desagrada. Eu até começo a desconfiar que seja muito do
sentimento do mineiro, do brumadinhense também, eu acho que talvez o que mais
incomoda a gente é a beleza quando você começa ver o buraco na serra. [...] (Entrevistado
PP 4)
Esse fator, por si só, já seria um forte gerador de conflitos entre as empresas e a sociedade,
somado à falta de transparência por parte das empresas que os representantes dessas comunidades
alegam sofrer na relação delas com as comunidades. As estratégias territoriais de capital, dotadas
de mobilidade potencial acrescida às empresas, aprisionaria parcelas importantes de populações
locais na “alternativa” de promessa de emprego e renda, mesmo ao custo de submissão a riscos
sociais e ambientais (Acselrad & Bezerra, 2009). Esse aumento da mobilidade do capital seria,
então, um dos “pivôs” dos conflitos ambientais locais por “desregulação” nas áreas de chegada
125
dos investimentos – “denúncias e resistências à despossessão ambiental de populações locais,
observada em áreas de expansão de fronteira capitalista, ou à imposição de riscos ambientais aos
grupos sociais mais destituídos, em áreas de ocupação intensa” (Acselrad & Bezerra, 2009, p. 3).
Atores da resistência acabariam entrando em um embate, não apenas com as empresas
geradoras dos conflitos, como também com parte da população interessada nos avanços que estes
podem gerar a outros setores. Os portadores do poder, portanto, ganhariam uma força a mais,
sendo suas pressões dadas através de dois meios: (1) pela ameaça de retirada do investimento
para outro local; ou (2) pela ameaça de que, não se aceitando o empreendimento tal como a
empresa o deseja, nenhuma outra atividade ali se implantaria (Acselrad & Bezerra, 2009). Com a
imposição das condições mais acessíveis para si, os empreendimentos acabam tornando-se
““quase-sujeitos” das políticas de regulação dos territórios e “quase-sujeitos” dos limites de
aceitabilidade dos riscos para a própria população local” (Acselrad & Bezerra, 2009, p.4).
Quando a gente olha na lei que os direitos são iguais, será que você teria uma resposta para
mim para me informar quais são os direitos iguais? Ou isso é só papel? [...] Esse tal de
direitos iguais é falância. Porque está escrito na constituinte que qualquer firma que explora
um lugar a mais de meio século, tem que cuidar do entorno. (Entrevistado COM 1).
O entrevistado EM 1 afirmou durante a entrevista, com bastante clareza, que para as
empresas não é interessante o conflito. E quando se deparam com o conflito, quando percebem
que a empresa tem dificuldades de aceitação, ela se desloca para o município vizinho. Utilizam o
discurso da Chantagem Locacional (Acselrad & Bezerra, 2009), apresentado acima, de maneira
muito clara e espontânea. Dessa forma, para não perderem os recursos provenientes dessa
atividade, o poder público se articula de forma que consiga viabilizar os projetos, mesmo que
esses causem impactos irreversíveis ao município. Se articula pois, sabe que ainda não tem como
substituir essa atividade sem maiores danos econômicos a Brumadinho. Enquanto isso, as
126
comunidades veem o seus diretos serem abafados alegando que os interesses atendidos são
sempre os das empresas.
É preciso compreender, no entanto, que o mercados influenciam o meio ambiente e a
sociedade, e a sociedade e o meio ambiente influenciam o mercado. Nesse sentido, o sucesso
empresarial não poderia ser analisado em separado da dinâmica de legitimação ou deslegitimação
social das atividades, atitudes, ações, produtos, serviços, impactos e desdobramentos que as
empresas geram nos territórios (Abramovay, 2007, Gonçalves-Dias & Teodósio, 2012). Por isso,
elas vem atuando dentro de práticas de RSE, porém, trazendo noções que costumam não
contemplar a diversidade social e as contradições que perpassam a sociedade.
Quando acontece (espaço de dialogo) é conflito por ponto de vistas mesmo divergentes.
[...]Eles não chegam e falam: "O que vocês querem comunidade?" [...] O que eles fazem?
[...] Projeto Fred, mulheres fazendo tapete. Isso é um projeto deles! O Fred é um ideal, um
projeto que eles criaram! Que eles levam para a comunidade. Não é o que a comunidade
quer. É uma coisa já padronizada que eles fazem em todas as comunidades. [...] as pessoas
que sofrem os impactos e que querem melhorias falam: eu preciso de estrada decente e eu
não quero fazer tapete. Essa é a demanda social que deveria ser atendida. (Entrevistado
COM 3)
Ainda que as possibilidades de ganhos compartilhados entre comunidade e setor privado
apontem cenários atrativos para os investimentos sociais de empresas, grande parte da literatura
gerencial sobre stakeholders voltada ao tema distancia-se da ideia do conflito como estruturante
das relações sociais, seja ele de natureza econômica, política, cultural, social ou de poder.
(Teodósio & Carvalho Neto, 2003). Com isso, é possível afirmar que uma das motivações das
empresas é a neutralização dos atores em conflito e para isso elas acabam muitas vezes atendendo
certas demandas sociais, quando a sociedade se organiza e cobra a resolução dos problemas
causados por elas, apropriando-se assim do discurso de RSE:
127
Até atendem demandas aqui e acolá. [...] A nascente que abastece as famílias do bairro da
Jangada é dentro da área da Vale. Aí a gente precisava de um papel para poder mexer, para
arrumar a captação, até para ter a outorga porque a nascente é dentro da área deles [...] a
gente foi lá, muita luta, muita luta, muitos anos...conseguiu finalmente os canos, fez tudo
em mutirão, os usuários pagaram e a Vale cedeu a máquina para cavar. A prefeitura apoiou.
A prefeitura deu os canos e a prefeitura apoiou com a mão de obra. A população fez no
braço e a Vale cedeu a máquina. E fica linda na foto porque ela cedeu a máquina e divulga
no seu jornalzinho "Boa vizinhança", o título da matéria do jornal da Vale: "A vale cede
máquinas para a rede de águas..." Depois de 8 anos de luta ferrenha! De reuniões e reuniões!
De conflitos e conflitos! E ainda falam: "Não! Para liberar a máquina eu tenho que chamar
o presidente lá no Rio de Janeiro." E dá 1 bilhão para o Inhotim e enrola, enrola, enrola...
(Entrevistado COM 3)
As ações de RSE pelas empresas ainda são muito desconectadas das demandas sociais. Os
impulsos ainda são muito voltados para o público externo, para os “olhos do mundo”. Essa
discussão ainda é bastante nova para as empresas e apesar de haver uma tentativa, ainda que
tímida, em atuar de forma mais responsável buscando a legitimidade, o conceito de RSE e
sustentabilidade ainda não está enraizado dentro das empresas.
Não tem um real envolvimento. Tem um trocado e uma foto, porque a linha é a propaganda.
Aí é que está o eixo central. Não é ter um bom relacionamento e ser responsável com a
comunidade. É parecer ser. (Entrevistado COM 3)
O aumento da responsabilidade das empresas para com as comunidades locais dotando de
concretude e vigor à participação popular em contextos locais permanece como um desafio para o
futuro (Derman, 1995; Escobar, 1992). As empresas nem sempre irão agir conforme os interesses
da sociedade e os investimentos sociais e justiça social nunca poderão tornar-se atividades
principais de uma empresa privada enquanto vigorar uma economia política que influencia as
estratégias corporativas direcionando-as para criação de valor para os acionistas e retorno sobre o
capital, não para a justiça social ou moral.
128
4.1.5 E o futuro, qual será?
Brumadinho tem apresentado um cenário de transformação, potencializado pela chegada do
museu do Inhotim, onde outras vias econômicas tem se apresentado para além da atividade de
extração mineral. Ao final das entrevistas, visando identificar o ponto de vista dos entrevistados
quanto ao desenvolvimento que considerariam ideal ao município, esse processo de
transformação fica evidente. O turismo é a atividade que mais se coloca como a alternativa
econômica que vislumbram para o município como complementar, ou até mesmo para alguns,
substituta da atividade minerária.
O poder público municipal adota em seu discurso o turismo como um potencial que deve
ser explorado em Brumadinho apresentando projetos nesse sentido, entretanto, ações pouco
efetivas tem sido implementadas. Entendem que o município precisa de uma atividade industrial,
em especial, da indústria “limpa”, e que essa sim, poderá complementar o déficit econômico e
ambiental que a mineração deixará no município quando o minério de ferro se exaurir. Esse
movimento tem começado no município com a chegada recente de uma empresa, chamada Green
Metals, que irá recuperar os rejeitos da empresa Mineral do Brasil.
Uma empresa recentemente veio para cá, a Green Metals que é uma empresa de
recuperação de rejeito, que é a sobrevivência da atividade. A empresa vai recuperar o que
era rejeito, que ta ali impactando o meio ambiente, transformando em dinheiro, em recurso.
Além disso, ela vai investir 8 milhões no seu entorno. Então essa participação agora,
começou na pratica a valer. (Entrevistado PP 1)
Em relação ao turismo, os discursos são controversos. Apesar de os representantes do poder
público executivo o utilizarem em seu discurso sobre o desenvolvimento do município, a fala
129
transmite uma sensação de um cenário quase que utópico, ou seja, a distância entre o que é falado
e o que é praticado ainda é muito grande.
O poder público continua sem o menor interesse em turismo e a sensação é que o pessoal
fica até com raiva de falar de turismo: "Isso é coisa do pessoal de Casa Branca, de
Palhano...". Em uma reunião pública na Câmara uma vez, discutindo sobre mobilidade
urbana [...] aí um sujeito que é uma pessoa esclarecida pegou o microfone e falou assim:
"[...] nós estamos conversando sobre Brumadinho. Esse negócio de Casa Branca, de
turismo, isso aí não nos interessa." [...] e essa é a noção que as pessoas da sede tem em
relação ao interior de uma maneira geral (Entrevistado PP 3)
Além disso, não vislumbram o esgotamento do minério como algo que mereça ações
emergentes, conforme declarações abaixo:
Eu tenho 54 anos e quando eu era criança eu já ouvia falar “tá acabando o minério” [...] eu
sei que vai acabar um dia, mas provavelmente quem vai ver isso serão meus bisnetos
(Entrevistado PP 2)
O minério não acaba. Os processos é que tem que evoluir. (Entrevistado EM 1)
O processo de reconversão de um território que tem cerca de 50% de seus recursos
financeiros advindos da mineração, mesmo tendo a noção de que o município ainda tem
capacidade de exploração por mais cerca de 40 anos, deveria ser encarado de maneira mais séria.
Não se modifica um modelo econômico de uma hora para outra. É preciso planejamento,
experimento, e uma política que encare esse processo de maneira mais séria.
Nós não estamos tendo consequências desastrosas (do turismo) porque nem consequência
tem. Nós não estamos desenvolvendo o turismo [...] o município não tirou proveito disso
(Inhotim). (Entrevistado PP 4)
A atividade do turismo no município ainda é vista com muita descrença, por que, o poder
público municipal ainda não o encarou verdadeiramente, e ainda mantém os mesmos laços fortes
130
com a mineração. A visão da população do interior, que vivencia na prática essa atividade
desenvolvendo-se no entorno de Brumadinho, é bem mais inovadora do que a dos governantes.
Mineração é do século XVIII gente! Já passou da hora de fechar e descobrir uma nova
forma que não seja tão degradante. No atual século XXI já era para a gente ter descoberto
outra forma de não destruir nossas montanhas e não rebaixar o nosso lençol freático...já era
para ter um avanço muito forte nisso. E qual é esse avanço? Incentivar o pequeno agricultor,
o homem do campo. Brumadinho é um município tão fácil de ser bem cuidado porque 80%
dele é interior, é roça e o morador do interior não pede muito do poder público a não ser
atendimento a saúde, escola para os seus filhos e estradas para se locomover...ele não pede
mais nada. É um povo muito fácil de ser cuidado. Se apoiar a pequena agricultura e o
turismo, Brumadinho dá um salto e não fica preso a esse sistema ultrapassado que é a
mineração. (Entrevistado COM 2)
E empresas que vem atuando e potencializando o desenvolvimento do turismo em
Brumadinho o consideram como um município que tem todos os elementos necessários para
fazer dessa atividade, um modelo de desenvolvimento econômico mais integrado e sustentável do
que a mineração:
Você forma quase que um lugar ideal [...] você tem memória, você tem tradição, você tem
um povo generoso, você tem um povo trabalhador, você tem um recurso mineral, quando
você não tem isso você tem outros recursos naturais que pode ser no turismo ecológico ou
no turismo em função do Inhotim (Entrevistado EM 3)
Entretanto, o fato de o poder público estar tão desarticulado com os povos do campo, do
interior, e tão articulado com o setor industrial, da indústria do minério, gera duvidas e um
sentimento de desanimo por parte da população em relação ao futuro do município:
Olha, eu costumo ter fé né! Se não tiver fé pode desistir da vida. Boto fé que tem chance de
melhorar muito, mas confesso que no meu ideal de ocupação de território, de
sustentabilidade do território, em Brumadinho em não tenho muito fé que vá acontecer
como um todo. (Entrevistado COM 3)
131
A responsabilidade do poder público em relação ao desenvolvimento futuro do município é
muito grande. Como é comum às cidades de interior, Brumadinho possui grupos econômicos e
políticos que se revezam nas cadeiras e que trocam favores entre si, conduzindo o município a
uma política desarticulada com as demandas do território em si. Se a previsão de exploração de
minério no município é por mais 40, 50 anos, Brumadinho já deveria estar pensando em sua
reconversão econômica. Potenciais que podem levar o município de Brumadinho a se tornar um
modelo de reconversão com o foco na sustentabilidade, existem. Características para o
desenvolvimento de diversas atividades econômicas no território, como: indústria limpa,
agricultura familiar e orgânica e o turismo, existem. E uma população, em especial rural, que luta
pela valorização de sua cultura, de sua terra e que pensa na sustentabilidade do território, existe.
O entrave se encontra no jogo político e nos interesses difusos que beneficiam pequenas redes,
fazendo com que o município, politicamente, ainda se mantenha dentro dos mesmos modelos
insustentáveis de desenvolvimento.
132
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do presente estudo, que se baseou em analisar como os atores locais se relacionam
na promoção da sustentabilidade de um território minerador é dada ênfase na análise do papel das
empresas nessa dinâmica através de um estudo crítico sobre a RSE, em especial, sobre a TS,
inferindo-se que essa abordagem coloca as empresas como atores centrais responsáveis pela
sustentabilidade de um território desconsiderando o fato de que sustentabilidade não é adjetivo de
organizações e sim atributo dos territórios, e territórios não teriam stakeholders, ao contrário,
apresentam atores em constante interação e ação em seu interior, ora convergindo, ora divergindo
em torno de interesses, valores, motivações e posturas.
Tal conclusão é atestada, neste estudo, pela comprovação de que as discussões clássicas
sobre a TS e RSE presentes na literatura acadêmica e praticadas pelas empresas através de
documentos de orientação, e indicadores de sustentabilidade, apresentam lacunas teóricas que
distorcem o conceito de sustentabilidade restringindo-o ao desenvolvimento econômico,
centralizando as empresas nesse processo, e muitas vezes adotando a prática do lobby junto ao
poder público, marginalizando a sociedade. Tais lacunas puderam ser identificadas pelos
apontamentos dos estudos críticos sobre RSE utilizados na construção teórica desse projeto, além
de dialogar com os conceitos teóricos de territórios apresentados pela Geografia e os símbolos e
significados sociais desses territórios discutidos pela Sociologia.
O estudo definiu três objetivos específicos que foram alcançados ao final da pesquisa.
Juntamente com seu orientador, a pesquisadora definiu os segmentos do território de Brumadinho,
que seriam importantes para a análise do território. Através das visitas ao município e conversas
iniciais com pessoas indicadas pelo orientador, a pesquisadora pode ir conhecendo as dinâmicas
133
do município e ir traçando um mapa dos atores por cada segmento. Dessa forma, foram
incorporados no estudo representantes das comunidades apontadas como principais focos de
conflitos com as empresas mineradoras, representantes de OSC’s envolvidas com as dinâmicas de
conflito do município, representantes do poder público, tanto legislativos quanto executivo, o que
permitiu à pesquisadora perceber os conflitos de interesses políticos em Brumadinho,
representantes das empresas de mineração que, atualmente, estão no foco dos conflitos com
comunidades, e representante de uma organização cultural que se coloca hoje como um
potencializador da dinâmica turística-cultural em Brumadinho.
Durante o processo inicial de identificação de atores descrito acima, a pesquisadora pode
identificar as atividades econômicas que mais impactavam no município e as implicações dessas
empresas na construção política, econômica e social de Brumadinho. As atividades de mineração
compõem ainda, grande parte da arrecadação do município e, por sua longa relação com
Brumadinho, se coloca como parte da história das pessoas que, de alguma forma e em algum
momento, criariam vínculos com essas empresas. É notória a diferença de discursos entre a
população da sede do município e a população dos distritos. De uma forma geral, há um certo
tom de conformidade por parte dos moradores da sede em relação as atividades de mineração,
justificado pelo bônus econômico que essa atividade tem trazido para o município. Em
contrapartida, quem sofre com ônus da mineração se articula em um contra-movimento
reivindicando seus direitos violados pelas empresas com o aval do poder público, como é o caso
das comunidades rurais que se localizam no entorno das minas. Esses últimos, encabeçam uma
discussão em prol do desenvolvimento da atividade turística no município e valorização da
agricultura familiar, tendo como aliado, até certo ponto, o Museu do Inhotim que tem projetado o
município internacionalmente.
134
O incentivo ao turismo em Brumadinho ainda é tímido, especialmente por parte do poder
público, muito por conta das amarras nas estruturas econômicas conservadoras. Tanto as
mineradoras, quanto o Museu do Inhotim, apesar de atuarem em ramos diferentes e terem
propostas diferentes, possuem uma dinâmica de influência nas políticas públicas similares. Os
interesses desses atores imperam sobre os interesses da sociedade e as práticas sociais, não raras
as vezes, estão desconectadas das demandas da população. A atuação da atual gestão municipal,
com iniciativas de aproximar essas comunidades da administração pública local, ainda não se
converteu em ações concretas para essas comunidades. Em contrapartida, a relação das
mineradoras com o poder público se dá na medida em que a gestão pública entende que dificultar
a atuação dessas empresas no município o levaria ao risco de perder tais investimentos, dessa
forma, a literatura acadêmica sobre a chantagem locacional, pode ser comprovada na prática.
Essa chantagem não seria expressa de maneira explícita, tampouco, encarada como algo amoral
por parte das empresas. Apenas como uma estratégia de barganha para minimizar os conflitos e
resistências em relação às suas atividades, com os quais elas não conseguem e não querem lidar.
Nessa relação é possível identificar duas linhas de interesse que se exprimem: por um lado,
o poder público municipal vem tentando fortalecer-se atuando de maneira conjunta com as
empresas afim de ter mais acesso a elas e estreitar as estratégias de investimento dentro do
município, seja em infraestrutura, seja em projetos socioculturais, por outro lado, os interesses de
pequenos grupos político-econômicos que se revezam nas cadeiras, impulsionam essa
aproximação do público com o privado. No final, o que se percebe, são interesses econômicos se
sobrepondo aos interesses sociais cobertos pela cortina da RSE.
Foi possível perceber nesse trabalho que, por mais que as mineradoras invistam em projetos
sociais e culturais, esses estão desconectados das demandas das comunidades. Eles acontecem
135
aonde “os olhos” da maioria possam enxergá-los. Enquanto isso, os problemas com a água, os
acessos em más condições de uso, as ameaças ao modo de vida local com a expansão ou
implantação de empreendimentos sem uma consulta séria à população, permanecem.
Na tentativa de construir espaços de diálogos com as comunidades e OSC’s que atuam em
zonas de conflitos socioambientais, as empresas não tem tido sucesso, uma vez que, as
comunidades e OSC's alegam falta de transparência e manipulação de números por parte delas.
Além disso, foram relatados casos em Brumadinho, em audiências públicas, em que
representantes de ONG's foram impedidos pelas empresas de participarem. Os espaços
democráticos são dominados por interesses que se dão na relação entre empresas e poder público.
A sociedade tem assistido como espectadora, motivada, basicamente, por três questões: (I) Por
não enxergar os conflitos ou não querer se envolver, que é o caso, principalmente, da população
que reside na sede do município; (II) por não conseguir se articular, que é o caso de grande parte
das comunidades rurais; ou (III) por não acreditar mais no diálogo com as empresas e com o
poder público, se posicionando assim, como uma oposição de confronto.
O cenário em Brumadinho, que pôde ser alcançado por essa pesquisa, é o de um município
que tem diante de si muitas possibilidades para se desenvolver. Entretanto, é preciso considerar a
heterogenia do território e explorar essa diversidade para que a sustentabilidade entre na pauta
das estratégias de desenvolvimento. Para avançar nesse sentido entende-se que (I) o poder
público poderia atuar mais em prol do município em si, e menos para os interesses de pequenos
grupos político-econômicos; (II) as comunidades poderiam se articular e se organizar mais, para
que consigam ter voz frente às amarras econômicas que as afetam direta ou indiretamente,
participando, mais ativamente, das tomadas de decisão; (III) o terceiro setor em Brumadinho
136
poderia se fortalecer e as ONG's atuarem de maneira mais integrada, tentando alcançar o
município como um todo.
Pensar na sustentabilidade em um território minerador parece um paradoxo, porque, por sua
natureza fim, a mineração nunca será sustentável. Além disso, conforme proposto pelo constructo
teórico dessa pesquisa, sustentabilidade precisa ser compreendida como atributo de territórios, e
não como adjetivo de empresas, caso contrário, as ações de RSE continuarão vazias de sentido e
de ações efetivas que contribuam com a promoção da sustentabilidade. Essa compreensão,
centralizaria o território nas estratégias da sustentabilidade, exigindo um mergulho profundo em
suas dinâmicas, particularidades e complexidades. Diante disso, é possível concluir que as
empresas ainda não incorporaram em seus modelos de gestão o sentido mais profundo da RS,
compreendendo-se como parte de um território específico e singular.
Novos campos e novas agendas de investigação sobre a sustentabilidade dos territórios e o
papel das empresas nesse processo ainda precisam ser construídos, visto que os registros
científicos que tratam do tema ainda são tímidos e pouco expressivos, principalmente, nos
estudos organizacionais. Tais sugestões atestam o vasto campo de investigação científica em
territórios com alta diversidade de fatores que, certamente, favoreceriam a ampliação do
conhecimento nessa área de estudo, e como os estudos de RS em territórios ainda estão distantes
de serem algo incorporado nas ações empresariais. Diante da complexidade dos fatores que
envolvem a vida humana e a sua relação com a natureza, a busca por mecanismos que possam
incorporar a sustentabilidade, não apenas como um discurso, mas como uma prática do dia a dia
de cada um, conduzindo a políticas que englobem o todo, é um desafio ainda longe de se tornar
palpável. Isso exigiria a construção de um novo modelo econômico, pois nenhum dos modelos
atuais conseguiriam dar conta.
137
Como estudo futuro, espera-se que a pesquisa sobre a sustentabilidade de territórios possa
ser melhor explorada dentro dos conceitos da NSE, analisando-se as interações entre sociedade e
mercado, e avançando no sentido de entender as complexidades das dinâmicas dos territórios e
das relações que ali se estabelecem entre o homem com o homem, entre o homem com a natureza
e entre a natureza com a natureza, através das dimensões políticas, sociais, econômicas,
ambientais, culturais e espirituais na busca pelo equilíbrio. No caso de Brumadinho, as dinâmicas
que se desenvolvem ainda podem ser melhor exploradas. Por se tratar de um município com uma
grande extensão territorial, a pesquisa limitou-se a analisar o cenário configurado pelas principais
atividades de mineração de ferro que, atualmente, estão no centro dos conflitos. Entretanto, outras
dinâmicas que influenciam as ações de desenvolvimento do município podem ser melhores
exploradas, especialmente, no que concerne as vertentes políticas que, no presente, estão
enfrentando o difícil dilema de decidir para qual sentido do desenvolvimento Brumadinho irá
seguir.
Leff (2004) aponta que a racionalidade ambiental reconstrói o mundo a partir de uma linha
do tempo de vida e de morte entrópica do planeta, mas também a partir da capacidade de integrar
e organizar os sistemas e redefinir a natureza através da cultura. A condição existencial do
homem é feita pela relação complexa entre a temporalidade da vida frente à erosão das condições
ecológicas e termodinâmicas de sustentabilidade. Espera-se que esta pesquisa possa servir de
inspiração e fonte para futuros pesquisadores do campo de conhecimento da gestão
socioambiental, voltando-se para o desenvolvimento de um modelo que leve à sustentabilidade
com foco no território.
138
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(orgs.), A insustentável leveza da política ambiental: desenvolvimento e conflitos
socioambientais,Belo Horizonte: Autêntica.
147
APÊNDICE
A Roteiro de entrevistas - Integrantes OSC's
1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,
Trajetória, Expectativas...)
2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases
do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de
Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do
desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da
realidade atual de Brumadinho?)
3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?
4. Qual a visão da sua organização sobre a sustentabilidade em Brumadinho? (Quais
as propostas?; O que tem dado certo em Brumadinho em termos de
sustentabilidade? E os desafios a superar?)
5. Como a sua organização compreende o desenvolvimento de Brumadinho? (Quais
são os principais projetos e ações para o desenvolvimento de Brumadinho?) -
Como você enxerga o papel da sociedade civil organizada no desenvolvimento
de Brumadinho? (Quais são os principais projetos e ações da sociedade civil
organizada para o desenvolvimento de Brumadinho?)
6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação da sua organização em
Brumadinho? E os fatores dificultadores?
7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de
Brumadinho:
148
a. Poder público;
b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,
resultados, ...);
c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);
d. Museu Inhotim;
e. Sociedade e ONGs.
8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de
Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de
Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais
democrática e participativa efetivamente?):
a. Poder público;
b. Mineradoras;
c. Setor de turismo;
d. Museu Inhotim;
e. ONGs e lideranças comunitárias.
9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles
acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua
expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para
uma boa resolução desses conflitos?)
10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o
desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras
saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo
na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da
sustentabilidade?
11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?
149
Caracterização
Local de moradia:
Tempo de moradia no município, caso more:
Profissão:
Idade:
Escolaridade:
Setor que representa:
150
B Roteiro de entrevistas - Integrantes das empresas
1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,
Trajetória, Expectativas, ...)
2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases
do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de
Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do
desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da
realidade atual de Brumadinho?)
3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?
4. Qual a visão da sua empresa sobre a sustentabilidade em Brumadinho? (Quais as
propostas?; Qual a visão da prefeitura sobre a sustentabilidade?; O que tem
dado certo em Brumadinho em termos de sustentabilidade? E os desafios a
superar?)
5. Como a sua empresa compreende o desenvolvimento de Brumadinho? (Quais são
os principais projetos e ações para o desenvolvimento de Brumadinho?)
6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação da sua empresa em
Brumadinho? E os fatores dificultadores?
7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de
Brumadinho:
a. Poder público;
b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,
resultados, ...);
151
c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);
d. Museu Inhotim;
e. Sociedade e ONGs.
8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de
Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de
Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais
democrática e participativa efetivamente?):
a. Poder público;
b. Mineradoras;
c. Setor de turismo;
d. Museu Inhotim;
e. ONGs ambientais e lideranças comunitárias.
9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles
acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua
expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para
uma boa resolução desses conflitos?)
10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o
desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras
saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo
na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da
sustentabilidade?
11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?
Caracterização
Local de moradia:
152
Tempo de moradia no município, caso more:
Profissão:
Idade:
Escolaridade:
Setor que representa:
153
C Roteiro de entrevistas - Integrantes das comunidades
1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,
Trajetória, Expectativas, ...)
2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases
do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de
Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do
desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da
realidade atual de Brumadinho?)
3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?
4. Qual a visão da sua comunidade sobre a sustentabilidade em Brumadinho?
(Quais as propostas?; Qual a visão da prefeitura sobre a sustentabilidade?; O
que tem dado certo em Brumadinho em termos de sustentabilidade? E os
desafios a superar?)
5. Como a sua comunidade colabora para o desenvolvimento de Brumadinho?
(Quais são as principais atividades desenvolvidas pela comunidade?)
6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação o desenvolvimentos dessas
atividades em Brumadinho? E os fatores dificultadores?
7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de
Brumadinho:
a. Poder público;
b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,
resultados, ...);
154
c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);
d. Museu Inhotim;
e. Sociedade e ONGs.
8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de
Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de
Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais
democrática e participativa efetivamente?):
a. Poder público;
b. Mineradoras;
c. Setor de turismo;
d. Museu Inhotim;
e. ONGs ambientais e lideranças comunitárias.
9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles
acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua
expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para
uma boa resolução desses conflitos?)
10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o
desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras
saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo
na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da
sustentabilidade?
11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?
Caracterização
Local de moradia:
155
Tempo de moradia no município, caso more:
Profissão:
Idade:
Escolaridade:
Setor que representa:
156
D Roteiro de entrevistas - Integrantes do Poder Público
1. Fale-me sobre a sua história de vida em Brumadinho. (Quanto tempo vive,
Trajetória, Expectativas, ...)
2. Como você vê a história de Brumadinho? Como você avalia as diferentes fases
do desenvolvimento de Brumadinho? E a fase atual de desenvolvimento de
Brumadinho? (Quais os aspectos positivos e negativos das diferentes fases do
desenvolvimento de Brumadinho?; Quais os aspectos positivos e negativos da
realidade atual de Brumadinho?)
3. Qual seria o desenvolvimento ideal para Brumadinho?
4. Qual a visão do poder público sobre a sustentabilidade em Brumadinho? (Quais
as propostas?; Qual a visão da prefeitura sobre a sustentabilidade?; O que tem
dado certo em Brumadinho em termos de sustentabilidade? E os desafios a
superar?)
5. Como o poder público colabora para o desenvolvimento de Brumadinho? (Quais
são as principais atividades desenvolvidas pela comunidade?)
6. Quais são os fatores que mais facilitam a atuação do poder público em
Brumadinho? E os fatores dificultadores?
7. Como você analisa o papel dos seguintes setores no desenvolvimento de
Brumadinho:
a. Poder público;
b. Mineradoras (investimento social empresarial, projetos desenvolvidos,
resultados, ...);
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c. Empresas de turismo (pousadas e restaurantes);
d. Museu Inhotim;
e. Sociedade e ONGs.
8. Como você analisa a relação dos seguintes setores atores com a população de
Brumadinho? (Como você analisa o diálogo e a participação da população de
Brumadinho em relação a/ao? Existe diálogo efetivo? Existe uma relação mais
democrática e participativa efetivamente?):
a. Poder público;
b. Mineradoras;
c. Setor de turismo;
d. Museu Inhotim;
e. ONGs ambientais e lideranças comunitárias.
9. Quais são os principais conflitos socioambientais em Brumadinho? (Por que eles
acontecem ou aconteceram? Como estão sendo ou foram tratados? Qual a sua
expectativa em relação à evolução desses conflitos? O que precisa ser feito para
uma boa resolução desses conflitos?)
10. Quais as suas expectativas quanto ao futuro de Brumadinho? (Como será o
desenvolvimento do município? O que acontecerá quando as mineradoras
saírem do município? Existem projetos de reconversão? Como será o turismo
na cidade? E o papel do Museu Inhotim? Como ficará a questão da
sustentabilidade?
11. Você gostaria de fornecer alguma informação adicional?
Caracterização
Local de moradia:
158
Tempo de moradia no município, caso more:
Profissão:
Idade:
Escolaridade:
Setor que representa: