supremo institucional (1983)
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S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L
S O L E N I D A D E D E P O S S E D O S M I N I S T R O S
J O O B A P T I S T A C O R D E I R O G U E R R A ,
N A P R E S I D N C I A
E
J O S C A R L O S M O R E I R A A L V E S , N A V I C E - P R E S I D N C I A
D O S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L
( S e s s o d e 2 1 - 2 - 1 9 8 3 )
BRASILIA
1983
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S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L
S O L E N I D A D E D E P O S S E D O S M I N I S T R O S
J O O B A P T I S T A C O R D E I R O G U E R R A ,
N A P R E S I D N C I A
E
J O S C A R L O S M O R E I R A A L V E S , N A V I C E - P R E S I D N C I A
D O S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L
( S e s s o d e 2 1 - 2 - 1 9 8 3 )
BRA S L I A
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Palavras do Senhor Ministro Xavier de Albuquerque,
Presidente
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Declaro aberta a presente sesso.
D-lhe o Regimento Interno o t imbre da solenidade, como primeira das
hipteses de reduzido elenco, porque nela se realiza, com circunstncia e pom
pa que sua relevncia inspira e a tradio consagra, a renovao peridica da
mais alta hierarquia do Tribunal.
Na perspectiva do autogoverno da Corte, a importncia do ato ressalta
em sua prpria evidncia. Pe-lhe maior nfase, todavia, o trao de soberana
independncia que reside na livre escolha, pelo sufrgio dos juizes que o inte
gram, daqueles, dentre eles, que devem dirigir o Tribunal em cada binio ad
ministrativo. A temporariedade da investidura e a fonte da qual promana, so
marcas que merecem sublinhadas porque as desconhecem outros regimes, pos
to conspcuos, de grandes democracias ocidentais.
Para os cargos de Presidente e Vice-Presidente, respectivamente, no pero
do que agora se inicia, o Tribunal elegeu, em sesso de 9 de dezembro passa
do ,
os Exmos. Srs. Ministros Joo Baptista Cordeiro Guerra e Jos Carlos
Moreira Alves.
Tenho a honra de convidar o Exmo. Sr. Ministro Cordeiro Guerra a pres
tar o compromisso, tomar posse no cargo de Presidente do Supremo Tribunal
Federal e assumir, em seguida, a presidncia da sesso.
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Saudao do Senhor Ministro Aldir Passarinho
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Senhor Presidente e Senhores Ministros.
Senhores parlamentares.
Senhores Ministros de Estado e seus representantes.
Senhor Procurador-Geral da Repblica .
Senhor Consultor-Geral da Repblica.
Senhor Embaixador de Portugal .
Senhores Presidentes e Ministros dos Tribunais Superiores da Unio.
Senhores Presidentes e membros dos Tribunais dos Estados e do Distrito Fede
ral.
Senhor Governador do Estado do Rio de Janeiro e senhores membros de As
semblias Legislativas.
Senhores Oficiais Superiores das Foras Armadas.
l imos. Srs . Procuradores-Gerais .
Senhores Presidentes dos Conselhos Federais e Seccionais da Ordem dos Ad
vogados do Brasil e do Instituto dos Advogados do Brasil .
Senhores magis trados, advogados e membros do Minis tr io Pblico.
Demais autoridades presentes.
Minhas senhoras e meus senhores .
Ao ingressar um novo Juiz nesta Casa Augusta, a cerimnia de posse se
faz simples, austera mesmo, ausentes os discursos, apenas proferido o compro
misso formal, como um profundo ato de f.
Mas quando assumem os Ministros os cargos de sua direo, admite o Re
gimento que a solenidade se revista de maior realce e gala, em homenagem aos
eleitos. E a magnitude indisfarvel do acontecimento assim, de qualquer sor
te,
imporia, pois a investidura se d nos cargos de Presidente e de Vice-
Presidente do rgo de cpula de um dos Poderes da Repblica, expresso da
soberania nacional.
No me passe o instante para agradecer ao Sr. Ministro Xavier de Albu
querque, figura singular de varo e de Juiz, o seu gesto generoso mais um a
acrescer tantos outros em ter-me convidado, a mim, o mais recente membro
desta Corte, para saudar Suas Excelncias.
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Ainda ao Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, padro de honra, al t ivez e
dignidade, de se lhe dizer que os seus pares lhe tm muito a agradecer pela
maneira ef iciente, serena e superior , uma constante durante os dois anos de
seu mandato.
Senhores.
H vidas que chegam aos seus pontos mais al tos por longos caminhos,
inesperados e dif icultosos. Outras, como que traadas em l inha reta, vo segu
ras , inflexveis como o dest ino, meta gloriosa, ponti lhando o caminho de fei
tos e de luzes. Assim parece ter sido a estrada da vida dos empossados de ho
je.
No que lhes tenha sido suave o percurso palmilhado, mas que todas
as suas horas sempre foram hipotecadas ao labor da cincia jurdica, a possibi
litar o melhor aproveitamento de suas inteligncias vigorosas.
O evento de agora, se pela sua signif icao transpe os prt icos desta Ca
sa, repercutindo por todo o Pas , t raduz, tambm, um dia especial de festa pa
ra o Rio de Janei ro. O nmero de autor idades , magis t rados , procuradores ,
promotores, advogados, representantes de entidades e associaes, e amigos do
carioca Cordeiro Guerra, que de l vieram part icipar da alegria de todos ns,
bem diz do prestgio de Sua Excelncia na terra de origem. E l se formou,
constituiu famlia e deixou insculpida sua passagem nos fastos do Ministrio
Pblico, com sua palavra de ouro, que o cinzel dos favorecidos do Senhor
com o dom da oratr ia .
No me possvel dizer por inteiro, aqui, o seu curriculum, to amplo
ele, tantos os cursos que real izou, os seus trabalhos publicados, as confern
cias proferidas, as honrarias manifestadas em condecoraes e homenagens. E
at um escoro no ser fcil, a escolher, entre ttulos excelentes, os melhores
deles. Mas cumpre pelo menos traar-lhe o perfil em alguns registros, rpidos
que sejam.
Fi lho do Almirante Joaquim Cordei ro Guerra e de Da. Rosina Cordei ro
Guerra, tem em sua esposa, Da. Esteia, a companheira ideal , que tanto o
compreende. So trs os seus filhos e sete os netos, na garantia da perpetuao
do nome. Foi aluno dist into desde os primeiros estudos. Revelando cedo a fa
cilidade da palavra, que de muito viria a servir-lhe, foi escolhido para falar em
nome de sua Turma, ao concluir o ginsio. No curso de Direi to, j se impu
nha como consul tor jur dico do Centro Acadmico, redator jur dico da revis ta
A poca e representante da sua Faculdade no 1? Congresso Jurdico Uni
versi tr io, em Salvador, do qual foi Vice-Presidente. Formou-se em 1937, pela
Faculdade Nacional de Direi to, em Turma que projetou vrios nomes na vida
pblica do pas .
A vida profissional lhe foi de muitos xitos. Desde cedo, advogado de im
portantes empresas, isso lhe proporcionou bagagem de experincia que muitos
s obtm atravs de longos anos. Ingressando no Ministr io Pblico do antigo
Distr i to Federal , o jovem 8? Promotor Substi tuto, olhos voltados para os
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grandes exemplos, de logo distinguiu-se, chegando s culminncias, como
Procurador-Geral da Justia do Estado da Guanabara, em difcil perodo da
vida poltica nacional.
O Jri lhe exercia especial fascnio, tanto nele se agigantou; a oratria, a
nada dever aos melhores, o vigor das palavras no aprimorado da forma; a ar
gumentao segura, a anlise precisa; o empenho altura dos casos memor
veis, inseridos na crnica forense. A toda prova a sua integridade moral, in
sensvel s presses; pensamento voltado para o cumprimento do dever; tica a
merecer o respeito dos mais ferrenhos adversrios.
Reputao grangeada por qualificaes de tal ordem estava a impor-lhe
obrigaes correspondentes, e da sua participao em eventos que ainda re
percutem na memria de todos, distantes embora. Lembro aquele de natureza
poltica, convulsionando a Nao, o chamado caso Tonelero, dio transfor
mado em crime. Ou no caso Aida, terrvel, moa a defender sua pureza ao
limite mximo, episdio a despertar a ateno geral do Pas.
Em tais ocasies, ainda mais elevou-se a figura de Cordeiro Guerra, in
cansvel, cnscio de responsabilidades que, sabia, no eram suas, apenas, mas
de todo o Ministrio Pblico, na necessidade de responder aos reclamos da so
ciedade.
So suas essas palavras, como em uma profisso de f:
Ser Ministrio Pblico no apenas uma honra, um
desafio constante, porque o Ministrio Pblico um servidor
e um mandatr io da comunidade.
Por ele fala a lei, nele repousa a tranqilidade dos cida
dos ,
nele reside a segurana do bem comum.
Assim sempre entendi os meus deveres, que procurei cum
prir, com dedicao e esforo... (discurso proferido no 1?
Congresso Goiano do Ministrio Pblico).
Alado a Ministro da Suprema Corte, por t tulos que lhe sobejavam, logo
demonstrou os atributos que o enriquecem, justificando a sbia convocao do
Chefe do Governo de ento, o eminente Presidente Ernesto Geisel. De igual
modo honrou a confiana dos seus pares, ao ser escolhido para integrar o Eg.
Tribunal Superior Eleitoral, cuja presidncia veio a exercer, no difcil perodo
de organizao dos partidos polticos.
amante das artes, e sendo homem de fino trato e gestos fidalgos, de lo
go aqui formou slidos laos de amizade.
Este,
em traos resumidos, o novo Presidente.
Sobe V. Exa. , Senhor Ministro Cordeiro Guerra, preeminncia mxima
da mais alta Corte Judiciria do Pas, sob o consenso geral de que estar ela
to bem em suas mos, como se encontrou no perodo que acaba de findar-se,
da Presidncia do Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, cujo afastamento desta
Corte, em vias de consumar-se, entristece no s os Juizes deste Pretrio, co
mo todo o mundo jur dico nacional .
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Ao lado de V. Exa. assume o Sr. Ministro Jos Carlos Moreira Alves. A
sua posse na Vice-Presidncia, antes de completar 50 anos de idade, no cons
titui surpresa, pois a cintilante inteligncia de S. Exa., e sua cultura invulgar,
o tm conduzido sempre muito moo s posies mais elevadas. Aos 24 anos
conclua o doutorado, e na faixa dos 27 anos obtinha duas l ivres docncias,
uma na Faculdade Nacional de Direi to e outra na Universidade de So Paulo.
Ali,
tambm, em 1968, alcanava a ctedra de Direito Civil . To altos dotes
levaram-no Procuradoria-Geral da Repblica, cargo que deixou para, che
gando ao auge, investir-se em uma das onze cadeiras desta Corte.
Temperamentos bastante parecidos, inclusive pela vivacidade nos debates,
pelo empenho em que se empregam em tudo que fazem, e pelo mesmo ideal de
justia, ser uma tranqilidade para o Sr. Presidente contar ao seu lado com
um companheiro do porte do Sr . Minist ro Moreira Alves.
De ambos se poderia dizer, como Machado de Assis, que tm a virtude
de no esmorecer com as vasantes, nem alucinar-se com as enchentes.
A posse de V. Exa. , Sr . Minist ro Cordeiro Guerra , ocorre em momento
de grande expectativa para a Justia e, em particular, para a Justia Federal,
nos seus diversos nveis.
Situo-me a opinio pessoal na corrente daqueles que entendem de
va o Su prem o Tribu nal Fe deral assum ir papel de l iderana na cond uo dos
assuntos que, pertinentes competncia legislativa da Unio, se refiram or
ganizao e funcionamento dos rgos judiciais , bem como no tocante aos di
reitos, vantagens, prerrogativas e deveres dos magistrados. mesmo postulado
constitucional o que dita a harmonia entre os Poderes.
No ignoro o que de responsabilidade e desgaste poder isso trazer, pelas
crt icas e incompreenses que fatalmente adviro, mas estou convencido de
que nus a que no devemos fugir.
Sei que ser matria de debate e altamente controvertida, mas tema que,
a mim parece, devemos enfrentar .
Vemos, inclusive, entre rgos judicirios federais, diferenas sensveis,
desequilbrios marcantes, sob diversos ngulos, a imporem a necessidade de
critrios gerais, que no devem deixar de ser examinados tambm no prprio
mbito do Judicir io e , neste , no Supremo Tribunal Federal .
Acredito mesmo que se chegarmos concluso de que deve este Alto Pre-
trio manifestar tal interesse, a idia seria bem acolhida pelos demais Poderes.
J tempo, creio, que nova etapa seja empreendida.
A his tr ia do Supremo Tribunal Federal , que agora ul t rapassou a barreira
do sesquicentenrio, no tem sido sempre t ranqi la at ravs dos tempos.
Aliomar Baleeiro, na sua obra de t tulo to significativo, O Supremo
Tribunal Federal, esse outro desconhecido, bem como essa excelente pesqui
sadora, que Leda Boechat Rodrigues, relembram as suas vicissitudes iniciais,
at que se formasse nele, e fora dele, a conscincia de sua responsabilidade
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consti tucional. E assinala Baleeiro: Vacilou. Errou. Tergiversou. Mas dentro
de pouco tempo o Supremo Tribunal Federal imbuiu-se de sua misso e, aos
poucos, tenazmente, consti tuiu-se realmente o guardio do templo da l iberda
de.
E a seguir, aps rememorar os perodos difceis: Poderia ser outra, sem
esses lances dramticos, a crnica do Supremo. Mas das instituies pode
repetir-se o que j foi dito das Naes: se foram sempre felizes, no tiveram
histria que merea ser contada. E o Supremo tem a dele, com grandezas e
sombras, como todas as instituies humanas sob os cus e no curso de todas
as idades.
Mas as dificuldades em relao a esta Corte e, de um modo geral ao Judi
cirio, no se tm cingido aos momentos de perturbaes institucionais, como
reflexos de perodos de anormalidade poltica. Decorrem, inclusive, das trans
formaes econmicas, sociais e do crescimento populacional do Brasil.
H problemas, e vrios, que urge solucionar. A Vossa Excelncia no pas
sou isso despercebido, tendo acentuado em conferncia que pronunciou, na
Escola de Guerra Naval, embora admitindo que o Poder Judicirio tem autori
dade e estrutura que lhe assegura a realizao de suas funes que, entretan
to ,
entre a lei e a sua aplicao, h dificuldades a superar, bices a vencer e
erros a evitar.
E devemos ter a certeza de que no faltar o apoio, que se fizer necess
r io, do Governo da Repblica e do Congresso Nacional, para a consecuo de
objetivos to essenciais.
Igualmente tenho observado, Sr. Presidente, no lhe passar distante a
preocupao quanto posio do Juiz face s modificaes do mundo moder
no , ante o princpio da continuidade do Direito, conforme tem demonstrado
em pronunciamentos diversos.
De fato. Enco ntram o-no s em um a poca em que transforma es profun
das vm ocorrendo no mundo, alterando-se conceitos, reformulando-se defini
es.
necessrio, por isso mesmo, que o Juiz esteja atento para o momento
que passa, pois, como em outra oportunidade acentuei: qualquer que seja a
posio que assumamos, seja ela social ou psicolgica, no poderemos deixar
de nos fundamentar em uma preocupao temporal.
O Direito, que se impe pela necessidade da coexistncia social, h de ter,
na lei o seu instrumento a adaptao constante s novas realidades. E
quando ela tarda, h de ver o Juiz,
na exegese dos textos vigentes,
se no lhe
possvel, sem violent-los, dar a soluo ajustada aos problemas da hora tran
seunte.
Os princpios fundamentais que dizem com os direitos e garantias indivi
duais , certamente mais que outros, tm sido objeto de contnuo revisionamen-
to . Nos Estados Unidos, julgamentos que entraram nas pginas de sua hist
ria , imprimiram modificaes profundas em antigos conceitos. Ainda de
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pouco tempo, pois data de 1954, a deciso memorvel da sua Corte Suprema,
em acrdo redigido pelo Chief Just ice Warren, declarando inconsti tucional a
segregao racial nas escolas pblicas. A essa, outras decises se seguiram, na
mesma es tei ra de pensamento.
Aponto esses fatos histricos, pela significativa influncia do Judicirio
no processo da just ia social .
H de se crer no Direi to como fora permanente de equil brio na constan
te adaptao real idade, embora, e so de Vossa Excelncia essas palavras:
. . . a magis t ratura tem por dever zelar pela t radio, de modo que as t rans
formaes se operem com o mnimo de abalos e sofr imentos para os cida
dos .
que o constante vir a ser em que se consubstancia o confl i to, a diver
gncia e a luta, no pensamento de Hercli to, s pode encontrar sua frmula
na aplicao do Direi to, sob pena de impossibi l idade da convivncia entre os
homens. Assim no sendo, surgir sempre nas suas relaes, aquele muro de
que nos fala Petrarca, antepondo-se entre a mo do campons e a espiga, fru
to do seu labor. E no se cumpriria, na terra, o que diz o livro de Job: Ele
pagar ao homem a sua obra e recompensar a cada um segundo os seus ca
minhos .
A Just ia to necessria vida dos homens como o al imento que lhe sa
cia a fome. do Padre Manuel Bernardes , a t r ibuindo a Xis to V, quando o
aclamava o povo romano pedindo po e jus t ia: Po daremos com graa;
just ia, por natureza. Uma e outra coisa so to preciosas na Repblica que
sem qualquer delas no seria Repblica. No havendo just ia, quem ter po,
nem para seus f i lhos? No havendo po, quem guardar, nem com seus pr
prios f i lhos, Just ia?
E por isso mesmo que Vossa Excelncia, Sr. Presidente, ao receber nesta
Casa A ugu sta o Sr . Chefe do G ov erno do M ali , declarou no discurso de sauda
o que lhe fez:
Sofremos os mesmos percalos de conciliar o ideal com
a realidade, sem perder de vista o objetivo ltimo de criar as
bases de uma sociedade esclarecida, prspera e justa.
Permitam-me, antes de concluir , esta lenda que se perde na distncia dos
tempos: Disputando deuses o solo fr t i l da tica, chamaram para rbitros da
contenda os Imortais . Resolveram estes, porm, que a terra seria daquela di
vindade que pudesse dar aos homens o mais t i l presente. Netuno, o Deus do
mar, i rmo de Jpiter , acorrendo disputa, surgiu das ondas com seu squito
de Golfinhos. Bateu com seu tridente em spero rochedo e dele surgiu belssi
mo corcel , pronto para as l ides da guerra. Minerva, a inspiradora das Artes,
filha de Jpiter e de Mtis, a Prudncia, a sua vez, tocou o solo com sua lana
refulgente, a nascendo uma oliveira de folhagem de prata. Meditaram os Imor
tais sobre quem mereceria o prmio, na considerao do cri tr io elei to. E vie-
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ram a decidir ser muito mais til aos homens aquela rvore de folhas de prata,
cujos ramos deviam ser o smbolo da paz, que o corcel que levaria os carros
de assalto aos horrores da guerra.
O Direito o instrumento da paz. A lei sua exteriorizao formal. Sem
eles,
a guerra, a desarmonia entre os povos e os indivduos.
Que os homens possam sempre compreender que devemos todos optar pe
la oliveira das folhas de prata.
Senhores Ministros Joo Baptista Cordeiro Guerra e Jos Carlos Moreira
Alves. Esta Corte, lhes confiando os seus cargos de Presidente e de Vice-
Presidente, lhes atribui a chefia do Poder Judicirio. Temos a tranqila certe
za de que sempre o conduziro com os olhos voltados para tudo o que ele sig
nifica.
Que Deus os inspire e ilumine.
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Discurso do Professor Inocncio Mrtires Coelho,
Procurador-Geral da Repblica
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Senhor Presidente
Senhores Minis tros do Supremo Tribunal Federal
Dignas autoridades presentes
Senhoras e Senhores
No calendrio das solenidades deste Tribunal Excelso, dois eventos mere
cem especial destaque a posse dos novos Ministros, nomeados para integrar
a Corte, e a investidura daqueles que lhe vo dirigir os destinos, como delega
dos de seus eminentes pares.
Com a chegada de novos Ministros, revitaliza-se o Tribunal, para conti
nuar no desempenho de suas elevadas atribuies judicantes, como definidas
na Constituio Federal; com a posse do Presidente e do Vice-Presidente,
renova-se a direo da Corte, para manter vivo e atuante o papel que os fun
dadores da Repblica atriburam aos dirigentes do Supremo Tribunal Federal,
no mecanismo das nossas instituies.
Num caso, como no outro, a substituio dos Ministros se opera segundo
procedimentos h muito sedimentados, como convm majestade da Corte ,
que se deseja exercida sem surpresas ou sobressaltos, mas com serenidade e
prudncia, porque desse equilbrio que depende, em ltima instncia, a pr
pria tranqilidade de todos quantos nacionais ou estrangeiros , escolhe
ram esta Ptria para viver.
Sob essa tica, em que se destaca o aspecto institucional da solenidade, o
Chefe do Ministrio Pblico Federal vem registrar o seu jbilo pela posse dos
eminentes Ministros Joo Baptista Cordeiro Guerra e Jos Carlos Moreira Al
ves,
respectivamente, como Presidente e Vice-Presidente do Supremo Tribunal
Federal.
De outra parte, e com a mesma sincera alegria, quer o Procurador-Geral
da Repblica deixar consignado o reconhecimento do Ministrio Pblico Fede
ral ao eminente Ministro Xavier de Albuquerque, que ora se afasta da Presi
dncia da Corte, aps dirigi-la, com superior equilbrio, no binio agora encer
rado.
Realar, nesta oportunidade, e mais uma vez, os predicados maiores desse
eminente Ministro, que, para pesar geral, tambm se despede da judicatura
, dizer que Sua Excelncia deixa a Presidncia do Tribunal e os trabalhos
da Corte sob a unnime opinio de que se trata de um dos maiores juristas
que j integraram e dirigiram o Augusto Pretrio, qualidade a que se alia, na
mesma dimenso, a da polida altivez, que todos lhe reconhecem e proclamam
como um dos traos mais fortes de sua fortssima personalidade.
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De seu desempenho na direo do Supremo Tribunal Federal , do-nos
conta os cuidadosos e minuciosos relatrios por ele apresentados ao final dos
exerccios de 1981 e 1982, onde se encontram registrados, para o sereno julga
mento da posteridade, os xitos alcanados e as frustraes que Sua Excelncia
humanamente exper imentou .
Dos votos que proferiu como Presidente do Tribunal relat ivamente
poucos, porque o exerccio da Presidncia restringe essa participao nos jul
gam ento s (p* C or te , ficar a lem bran a d e que semp re o fez na mesma linha
de coerncia e imparcial idade que marcou toda a sua fecunda judicatura, no
sendo raras as vezes em que Sua Excelncia, votando vencido, humildemente
salientava essa circunstncia diante de seus pares, para arrematar dizendo-lhes
que assim o fazia porque, aps novas reflexes, conclura pela necessidade de
alterar o seu ponto de vista e, se possvel, a jurisprudncia da Corte.
De seu discurso de posse na Presidncia do Tribunal, saliente-se esta pas
sagem, que bem define o carter do eminente Ministro e sua plena conscincia
das dimenses e responsabil idades do cargo:
No cult ivo a presuno de realizar obra notvel , senti
mento que sequer se afinaria com as dimenses limitadas dos
poderes e atr ibuies em que me invisto. Guardo, s im, a am
bio de no faltar ao meu dever, de me no omitir em nada
do que hajam feito, com adequao e propriedade, meus emi
nentes antecessores.
De seu ltimo Relatrio, vale ressaltar estes trechos, que emprestam car
ter proftico s expectat ivas da posse, ao mesmo tempo em que fornecem aos
seus sucessores a mais positiva contribuio que Sua Excelncia lhes poderia
prestar, ainda que ao preo de reconhecer que no conseguiu levar a bom ter
mo aquela que lhe parecia ser a mais relevante das misses inerentes Presi
dncia da Corte:
Creio poder afirmar, s vsperas do trmino de meu
mandato, que a administrao ordinria da Casa realizou-se a
contento e chegou a marcar modestos xitos.
-me sumamente penoso, todavia, reconhecer que no lo
grei levar a bom termo aquela que, transcendendo dos limites
acanhados da gerncia interna, considerei a mais alta e rele
vante das tarefas inerentes ao exerccio da Presidncia do Tri
bunal e da chefia, que ela simboliza, do Poder Judicirio na
cional: a de dot-lo, pela consagrao constitucional, de efeti
va e real auto no m ia, assim no plan o da suficincia financeira
e oramentria como no organizacional e administrat ivo,
fortalecendo-o e capacitando-o a realizar , em grande parte por
si mesmo, a chamada reforma judiciria, pela qual tanto an
seia a Nao.
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Mais no precisamos dizer para justificar a nossa admirao e o nosso re
conhecimento ao digno Ministro Xavier de Albuquerque, no instante em que
ele deixa a Presidncia do Supremo Tribunal Federal e o exerccio da judicatu-
ra, passando galeria dos servidores maiores que tm feito a grandeza da Re
pblica.
Se esse o porte da gesto que se encerra, de igual dimenso a auspicio
sa invest idura do eminente Ministro Cordeiro Guerra na Presidncia da Corte.
Homem de slida formao intelectual, a que se aliam uma excepcional
coragem moral e uma notvel experincia no trato da coisa pblica sedi
mentadas na severa austeridade de quem dedicou mais de 40 anos de uma fe
cunda vida profissional causa do Ministrio Pblico e da Justia , traz sua
Excelncia para a presidncia do Supremo Tribunal Federal e para a chefia do
Poder Judicirio nacional, que ela encarna, todo um lastro de sucessos que faz
antever, seguro, um binio de grandes realizaes.
Exemplo singular de homem prtico, dotado de fina sensibilidade polt ica,
o eminente Ministro Cordeiro Guerra, no dia mesmo em que foi eleito para a
Presidncia da Corte j se fazia ouvir muito alm do recinto do Tribunal, por
toda a magistratura nacional , quando, em rpidas palavras, ao agradecer a
seus pares a suprema honraria, declarou-se consciente das angstias e das afli
es por que passam os juizes brasileiros.
A instantaneidade com que foram compreendidas aquelas palavras, des
pertando anseios e renovando esperanas, d-nos a exata medida da grave res
ponsabil idade que hoje pesa sobre os ombros do Presidente do Supremo Tri
bunal Federal , como Chefe do Poder Judicirio e intrprete maior dos anseios
da magistratura nacional .
A certeza, porm, de que a extenso e o peso dessa enorme responsabil i
dade encontram correspondncia exata na envergadura daquele que a vai su
portar , permite associarmo-nos a todos quantos, na Magistratura como no Mi
nistr io Pblico, deposi tam nas mos do eminente Ministro Cordeiro Guerra
as suas mais vivas esperanas.
Dispensando-nos de emprestar maior relevo aos excepcionais atr ibutos
profissionais desse notvel Juiz que se consagrou como jurista tanto na
efervescncia do Jri , quanto na serenidade deste Tribunal , permit imo-nos
destacar este outro ngulo de sua promissora investidura, que tem a ver com o
futuro, porque sabemos que assim agindo interpretamos um dos seus mais ca
ros e permanentes anseios, que o de corajosamente enfrentar e vencer desa
fios,
com a fora de sua inquebrantvel vontade.
Como Vice-Presidente do Tribunal , toma posse, igualmente, o preclaro
Ministro Jos Carlos Moreira Alves.
A biografia de Sua Excelncia j o dissemos mais de uma vez, e aqui
se impe repetir a prpria trajetria do mrito, eis que tudo em sua vida,
de uma forma ou de outra, tem o t imbre da disputa e da conquista, do embate
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e da vitria, a que ainda se aliam, para lhes conferir maior realce, juventude,
erudio e talento.
Os concursos memorveis, que lhe ensejaram legtimo acesso s ctedras
mais difceis; as inmeras obras que j publicou com sucesso, sobre temas da
mais alta complexidade; os profundos e alentados pareceres, que produziu co
mo Procurador-Geral da Repblica; os brilhantes votos que tem proferido no
Plenrio e nas Turmas deste Excelso Tribunal, muitos dos quais ordenados no
aceso dos debates, que no raro deliberadamente estimula ou provoca, tudo
enfim, nesse jurista de escol, pode servir de exemplo aos que pretendam trilhar
a senda do direito sem atalhos, nem expedientes menores.
Do trabalho conjunto desses dois grandes Juizes, em harmnica reunio
de esforos, muito h que se esperar para a causa do Direito e da Justia, por
que se trata de homens pblicos da melhor estirpe, como o so todos aqueles
que ascendem a esta judicatura suprema, satisfazendo os requisitos substanti
vos de sabedoria e honradez, em que repousam a grandeza da Corte e a con
fiana dos seus jurisdicionados.
_A^
i lustres Ministros Co rdeiro Gu erra e Mo reira Alves, por tan to, os nos
sos votos de felicidade pessoal no desempenho da nova misso, para cujo xito
eles possuem sabedoria e honradez na mais alta medida.
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Discurso do Doutor Srgio Bermudes, representante
do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
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Senhor Presidente
Senhores Ministros,
Os advogados brasileiros, cuja presena, nesta solenidade, a fidalguia e a
justia dessa Corte consideraram indispensvel, proclamam a sua f no Supre
mo Tribunal, que respeitam e veneram, insti tudo por nosso patrono, com pa
lavras da tragdia grega, repetidas desta tribuna altssima, guarda vigilante
desta terra, atravs do sono de todos, e anunciado aos cidados, para que as
sim fosse, pelo futuro adiante.
Para a tranqilidade e segurana da nao, que dele se orgulha, o Supre
mo Tribunal Federal tem sido, atravs dos anos, conforme os desgnios, que presi
diram sua insti tuio, no apenas a mais alta , seno a melhor Corte de Jus
tia do Brasil. Seduzido pela excelncia das suas decises, pela cultura e probi
dade de seus juizes, cada jurisdicionado se empenha em trazer seu pleito ao
julgamento desta Casa, confiante em que aqui sempre obter justia.
As compreensveis medidas, tomadas com o fito de debelar a crise do Su
premo Tribunal, analisada, faz tantos anos, em termos candentes, por VIC
TOR NUNES LEAL, um dos seus notveis juizes, e a impedir a transforma
o da Corte em simples rgo revisor dos julgados das instncias ordinrias
aum entam as responsabilidades dos advog ados, que, hoje, ingressam nos pr o
cessos j preocupados em trazer ao debate questes hbeis a transpor o cipoal
de obstculos, que o Regimento e a Smula erguem atividade cognitiva e de-
cisria de Vossas Excelncias.
E a insistncia em trazer as causas ao julgamento desse Tribunal se agi
ganta, na medida em que, por motivos de diversa ordem, se deteriora a quali
dade da prestao jurisdicional das instncias menores. Na saudao, que, h
dois anos, em nome da Ordem, fez desta tr ibuna aos eminentes Ministros XA
VIER DE ALBUQUERQUE e LEITO DE ABREU, com a au to r idade de
advogado, na comemorao do jubileu de sua mili tncia, de pensador, de ho
mem pbl ico e de Minis t ro desse Tr ibunal , EVANDRO LINS E SILVA de
nunciou a crise do Judicirio no Brasil , declarando, de modo categrico: Na
verdade, a justia est se tornando invivel.. . A justia totalmente hermtica
para os pobres, sendo ilusrio, nesse terreno, o princpio consti tucional da
igualdade perante a lei . Atualmente prosseguia a justia est se tornando
invivel at para os ricos, com a criao de taxas e custas insuportveis, s na-
ra se ter o direito de ingressar em juzo.
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A reforma do Judicir io, imposta nao, no entendimento da Ordem
dos Advogados do Brasi l , a t ravs de processo t raumtico, de nenhum modo
solucionou a crise da jurisdio entre ns. A administrao da justia continua
onerosa, falha e demorada. E assim ser, para desespero nosso, enquanto per
durar o modelo vigente, no qual no h lugar para a inverso macia de recur
sos no Judicirio, que exerce o mais indispensvel e essencial dos servios p
blicos.
Relegado ao abandono, o juiz de direito , neste pas, um solitrio e um
desassistido. Por isso, minguam as vocaes para a magistratura. Os profissio
nais que, em outras circunstncias, se integrariam ao Judicirio, preferem bus
car alhures a sua realizao e os meios de subsistncia. Exemplo vigoroso des
se panorama afli t ivo oferece a Justia do Estado do Rio de Janeiro, que, para
tornar possvel o preenchimento de seus quadros, se viu na triste contingncia
de reduzir para trs pontos e meio a mdia de aprovao, no concurso de juiz,
quando, conforme critrios seculares e universais, somente cinco pontos po
dem aprovar, num total de dez.
No se acoime de imprpria a manifestao destas inquietaes, nesta ho
ra e neste recinto nobre e severo. Conforme a verdade evanglica, a boca fala
da abundncia do corao. Por isso, h que se condescender com que os ad
vogados brasileiros, que, habitualmente, sobem a este pdio, para tratar de
questes especficas, se valham de oportunidades como esta, para externar aos
juizes do Supremo Tribunal e s autoridades da Repblica a sua angstia. So
mos,
afinal, o elo, que liga o Judicirio nao. Sobre ns recai a tarefa mag
na de preservar a crena dos jurisdicionados nas insti tuies incumbidas de ad
ministrar a justia. E o judicirio no continuar merecendo a confiana dos
cidad os, com o rg o capaz de proteger-lhes os direitos, se no en con trar
frmulas expeditas para se recompor, salvando-se a si mesmo.
Do que representa o Supremo Tribunal Federal , na comunho da ptr ia ,
DARIO DE ALMEIDA MAGALHES, ass duo ocupante des ta t r ibuna , que
manteve nas culminncias a que a elevou o patrono dos advogados brasileiros,
deu eloqente testemunho, nestas palavras, que ningum diria melhores, nem
mais exatas e atuais, proferidas, em 1949, na solenidade de homenagem a RUI
BARBOSA:
A marca judiciria do nosso regime , hoje, mais acen
tuada do que nunca. Restaurou-se e ampliou-se o vosso poder
e, com ele, a vossa responsabilidade e a vossa influncia sobre
os nossos destinos. Aqui estamos, de novo, na casa da cons
ti tuio. Acima de todos, a vs continua a pertencer a pala
vra derradeira. rbitros entre os poderes, sob a constituio,
continuais a ser os rbitros da vossa competncia; os guardas
que ningum guarda, seno a vossa prpria conscincia, os
advogados, que vos devemos a colaborao da crt ica leal, e a
opinio pblica, que, nos regimes livres, a todos vigia e a to
dos pede contas .
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Sem a investidura de um mandato popular direto, repre
sentais o rgo, por excelncia, de defesa da democracia
sobranceiro s correntes e s faces para proteger os direi
tos da minoria contra o arb t r io da maioria . Compondes
como ainda hoje o vosso paradigma norte-americano, apesar
das vrias crises que sofreu, vitoriosamente mais que uma
corte judiciria, um rgo de governo, para o qual refluem,
sob forma de pleitos e controvrsias, os mais graves proble
mas da coletividade.
Tal , Senhor Presidente e Senhores Ministros, o perfil do Supremo Tri
bunal Federal, na viso dos advogados brasileiros. E a misso da Corte adqui
re significado especialssimo, nestes dias, marcados pelo empenho da nao em
preservar as conquistas democrticas, fruto da conjugao de esforos de go
vernados e governantes, unidos na tarefa sublime da reconciliao nacional;
dias de crise, de depresso e de convulses, diante das quais nenhum rgo ou
pessoa pode quedar-se inerte, ou insensvel.
Nesta quadra sombria, Vossa Excelncia assume, Senhor Ministro COR
DEIRO GUERRA, a chefia do Poder Judicirio do Brasil . Se os fados o qui-
nhoaram com honrar ias e postos , na exata dimenso do seu ta lento , tambm
no foram av aros em co nferir-lhe, na mesm a prop or o , misses e responsa
bi l idades. Sua vida de homem pblico desconhece momentos amenos. At ho
je,
os xitos, que amealhou, no tiveram o sabor do prmio fcil . Tudo resul
tou de esforos exaustivos, de vigilncia, de diligncia e de tenacidade.
Forjaram-lhe a tempera condies, tanto mais adversas quanto a elas se ante
punha a sua vontade indmita, a constncia dos seus propsitos, a coerncia
das suas atitudes, a firmeza da sua crena. O pelejar incessante a saga dos
grandes homens, sobre os quais sempre se abatem cleras e incompreenses.
natural que assim ocorra . GONALVES DIAS cantou essa predest inao lu
ta dos homens assinalados pelo destino:
Rasteira grama, exposta ao sol, chuva,
L murcha e pende.
Somente o tronco, que devassa os ares,
o raio ofende.
O Ministrio Pblico, de cujos quadros Vossa Excelncia, em caso nico
na histria da Corte, ascendeu diretamente ao Supremo Tribunal, era, ao tem
po em que o exerceu, como ainda hoje, esquecido e deserdado. Arrostando as
vicissitudes, Vossa Excelncia ergueu a instituio, que, mais tarde, em perodo
de turbulncia, ir ia chefiar com serenidade e firmeza, s cumeadas que a
Constituio lhe reservou, em posio singular, no concerto dos poderes do
Estado. Hoje, ainda, o Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro cele
bra os fe i tos do Promotor e Procurador CORDEIRO GUERRA, que no co
nheceu rival, nem na tribuna do jri , nem no exerccio de outros cargos do r-
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go ,
todos eles desempenhados com zelo, dignidade e independncia absoluta,
que a independncia, Senhor Minis t ro, a marca da sua atuao de homem
pblico, submissa apenas lei, sua conscincia e fidelidade aos seus ideais.
No se faa, no entanto, nem a Vossa Excelncia, nem a ns, a injustia
de relegar , seno ao esquecimento, a plano secundrio a sua faina de advoga
d o ,
de mil i tncia diria no foro da cidade, que o viu nascer . Por dcadas,
Vossa Excelncia exerceu a advocacia, em todas as instncias, na conquista
das imarcescveis vi trias , que alcanou, manejando a pena e a palavra com
destemor, determinao e com a mesma elegncia com que, na primavera da
vida, jogou o sabre, a espada e o f lorete, sagrando-se campeo nacional de es-
gr ima.
Para o Supremo Tribunal Federal , Vossa Excelncia carreou sua experin
cia de membro do Ministr io Pblico, r igoroso na defesa da sociedade e no
exigir o respeito s normas jurdicas e s inst i tuies. Mas trouxe tambm, e
com igual intensidade, a sua contr ibuio de advogado, pronto ao debate e
cr t ica, presto em rever posies, gil em engendrar frmulas de adaptao do
direi to a novas real idades e exigncias.
Vossa excelncia compreendeu, desde a primeira hora, a misso delicada,
que a Consti tuio reserva aos juizes do Supremo. Os fulgentes votos, que
proferiu, nos oi to anos de permanncia na Corte, revelam o seu propsito de
fortalec-la, para que ela desempenhe, adequadamente, a sua funo de tr ibu
nal pol t ico, que paira, augusto e sagrado, acima de qualquer outro poder da
Repblica, com a incumbncia de velar pela hegemonia da Consti tuio e pela
inteireza positiva do direito federal.
O seu empenho em robustecer a autor idade do Supremo t ransparece em
passagem admirvel do voto, proferido na Reclamao 126: Ns no pode
mos admitir , na interpretao do Regimento Interno, que motivo de orgulho
desta Casa afirmava Vossa Excelncia que as decises do Tribunal , ao
declarar a lei , em tese, inconsti tucional , ao dar interpretao correta de uma
controvrsia jurdica, ou ao reconhecer a indenidade consti tucional de um ato
jurdico, possam vir a ser contestadas por qualquer modo, pois seria reconhe
cer a negao da autor idade dos nossos julgados . Acho que, quando a deciso a declaratria consti tucional , normativa, faz coisa julgada
erga omnes,
nos termos do nosso Regimento.
A sua preocupao constante com os grandes temas, de profunda reper
cusso social , que apaixonam a nao e demandam a palavra nor teadora e a
orientao definitiva desse Tribunal est refletida no voto inesquecvel, que,
em defesa do Estatuto da Terra, proferiu, como relator para o acrdo, no
Recurso Extraordinr io 85.333, julgado no Tr ibunal Pleno, quando procla
mou: O que a lei fez, a meu ver , foi ensejar , aos contratantes, pactuarem,
expressamente, e por escri to, prazos superiores ao mnimo havido como neces
srio nas exploraes agropecurias. Aceito esse entendimento, que se baseia
na interpretao teleolgica da lei agrria, ter-se-o respeitados os princpios
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que regem os contratos de Direi to Comum, no que concerne ao acordo de
vontades e ao objeto, observados os princpios cogentes de Direi to Agrrio.
Permanentemente inquieto com os graves problemas do seu tempo, e ho
mem afirmativo, coerente, e fiel s suas idias, Vossa Excelncia, entendendoa necessidade de moldar as instituies jurdicas s exigncias sociais, susten
tou, no Recurso Extraordinrio Criminal 89.830, que, quando a noo de cri
me continuado surgiu, na Idade Mdia, na poca dos delitos famlicos, era
uma evoluo. Mas hoje aduziu quando homens se organizam para vi
ver do roubo, do assalto mo armada, j esse sentimento generoso deve ser
aplicado em relao s vt imas, porque no se tem mais segurana de andar na
rua.
A fortaleza de suas convices determinou que Vossa Excelncia permane
cesse isolado no Recurso Extraordinrio 89.876, quando se discutiu tormento
sa questo tr ibutria, que afetava toda a populao carioca. O voto, dado en
to,
enriquecido por copiosos argumentos his tricos, belamente expostos, de
monstra o firme domnio das instituies de direito pblico. Suas decises em
matria f iscal primam pelo respeito ao contr ibuinte, consubstanciado na decla
rao, tantas vezes repetida, de que tr ibuto como pena: sua incidncia de
pende de lei prvia. Seu conceito de correo monetria, que hoje corre mun
do e que v o inst i tuto como fator de preservao da identidade da moeda
atravs do tempo, testemunha a sua invulgar capacidade de fazer com que o
direi to se transforme, ao sabor das necessidades sociais , independentemente de
reforma da legislao.
Zeloso na tutela dos interesses difusos, Vossa Excelncia no hesitou em
decidir , no Recurso Extraordinrio 88.705, que, nos trabalhos cientf icos, o
direito autoral protege a forma de expresso, e no as concluses cientficas de
seus ensinamentos, que pertencem a todos, no interesse do bem comum.
De olhos postos na Consti tuio, guia e farol de seus votos, que entende,
na es tei ra da doutr ina de CARL SCHMITT, a norma das normas e a forma
das formas, Vossa Excelncia, no Recurso Extraordinrio 80.004, sustentan
do a tese da revogabilidade do tratado pela lei, deu vigorosa lio, sintetizada
neste passo do seu voto admirvel: Mesmo no caso em que a Consti tuio
manda incorporar ao direi to interno as normas do direi to internacional ou as
disposies dos tratados, a recepo do direi to internacional no quadro do direito interno no significa que o corpo legislativo fique impedido de editar no
vas leis , contrrias ao disposto nos tratados.
Eis alguns poucos votos, recolhidos ao acaso, entre os milhares que Vossa
Excelncia proferiu, que exprimem a dimenso de suas at ividades na Suprema
Corte e lhe traam o perfil de grande juiz.
E se seus votos refletem a perfeita compreenso da tarefa de juiz desse
Tribunal, se se encontram repletos de manifestaes da sua cultura jurdica in-
comum, que lhe permite transitar , com desafogo e conforto, por-todos os am
plos domnios do direito, eles no escondem a sua delicada . nibilidade de
humanista, pronto a introduzir, com leveza e bom gosto, refrfreias literrias
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na muitas vezes extenuante rotina dos servios da Corte. Oua-se, dentre mui
tos, este voto, proferido no Recurso Extraordinrio 88.716:
Senhor Presidente ,
O erudito e preciso voto do eminente Relator me trouxe
lembrana um conceito de Ea de Queiroz sobre a crt ica por
tuguesa, a respeito, no sei se de um livro de poemas de Guer
ra Junqueiro ou de Antero de Quental, de que h certas obras
literrias que o mximo que a crtica pode fazer dizer onde
se encontram e quanto custam.
O voto de S. Exa. foi to primorosamente deduzido e
fundamentado, que, a rigor, me bastaria dizer, com simplici
dade, que estou plenamente de acordo com os seus fundamen
tos e as suas concluses.
Com essas palavras, que revelam a sua capacidade de admirar e aplau
dir, Vossa Excelncia enalteceu o voto inconstil , que versou, com maestria,
ao lado de questes processuais de relevo, a formao do contrato preliminar,
profer ido, em caso rumoroso e in tr incado, pelo eminente Minis tro MOREIRA
ALVES, que, hoje , assume, na sua i lustre companhia a adminis trao do Su
premo Tribunal, no relevante posto de Vice-Presidente. Naquele voto, que
manteve a Corte fiel s tradies de PEDRO LESSA e de seus grandes juizes,
incandescem as qual idades do Minis tro MOREIRA ALVES, que os advogados
brasi le iros reconhecem e proclamam, no momento em que exprimem, em sau
dao, que a praxe quer breve, os seus elevados sentimentos a esse juiz insig
ne,
professor consagrado, autor das melhores obras que ornamentam a l i tera
tura jurdic a brasileira h odi erna , codificador, que , nesse Tribunal, faz hon ra
classe de que proveio, pela altivez e pugnacidade com que sustenta suas deci
ses , destaque luminoso no panorama judicir io do nosso tempo.
Vossa Excelncia substitui, na chefia do Supremo Tribunal, o incuto Mi
nis tro XAVIER DE ALBUQUERQUE, de cuja luzente passagem pela Corte e
por sua Presidncia dir, em sesso prxima, voz mais poderosa. No momento
em que ele deixa as suas funes, a Ordem, que ele serviu em cargos de relevo,
nos seus Conselhos do Amazonas e do Distrito Federal, se apresta a acolher,
de novo, em seu regao, o advogado, que honrou a toga de juiz, envergada
com nobreza e auster idade.
Aos seus dotes de jur is ta e de Juiz , Senhor Minis tro CORDEIRO GUER
RA, somam-se virtudes carssimas ao nosso povo. A devoo famlia, a vo
cao da am izad e, a lhaneza de tra to , o gosto pela conversa, pelos casos e di
tos de esprito. E a extrema bondade, a bondade que, segundo o EA da sua
predileo, faz os homens preferidos de Deus; a mesma suave bondade com
que orientou tantos moos, com que estimulou, mediante exemplos, l ies e
cobranas, h quase vinte anos, os primeiros passos da carreira de um jovem,
chegado da provncia, sem conhecer quem lhe firmasse os atestados, que a bu
rocracia transformava em requisito de ingresso na vida universitria, aturdido
e esmagado, d iante da metrpole desaf iadora e mister iosa .
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Todos esses dons os seus excelentes predicados de juiz e de homem
infundem nos advogados do Brasil a convico irrefragvel de que, no binio,
iniciado hoje, Vossa Excelncia conduzir o Supremo Tribunal Federal, ref
gio,
fortaleza e esperana de cada cidado desta terra, ao encontro do seu des
tino.
Consinta que, ao saud-lo por honroso encargo do Presidente BERNAR
DO CABRAL, em nome da minha classe, indissociavelmente vinculada insti
tuio , que Vossa Excelncia integra, expressan do o jbilo da Ord em do s
Advogados do Brasil normalmente sbria e recatada nas suas manifestaes
por sua asceno Presidncia do Supremo Tribunal Federal, do Conselho
Nacional da Magistratura e Chefia do Poder Judicirio brasileiro, eu renove
os votos, muito sinceros e vibrantes, que lhe levou a carta, escrita no dia glo
rioso de sua posse nessa Corte sacratssima: auguro-lhe todas as felicidades e
desejo que, do Alto, lhe venha a luz, que faz dos juizes a mo de Deus sobre
a terra.
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Discurso do Senhor Ministro Cordeiro Guerra,
Presidente
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Excelncias
Egrgio Tribunal
Minhas Senhoras. Meus Senhores.
Li, atentamente, os discursos de posse dos eminentes juizes que me prece
deram na honrosa funo que ora assumo, por deliberao soberana de meus
eminentes pares, e observei que, mesmo os maiores magistrados que a Nao
j produziu e consagrou, acostumados a julgar com serenidade e f irmeza, se
sentem possudos de emoo indisfarvel pela magnitude do encargo e o peso
das responsabil idades que recebem.
Deram-me a impresso de ver corajosos alpinistas vitoriosos na escalada
dif ci l e perigosa meditando absortos na contemplao do grande panorama.
Acodem-lhes as reminiscncias guardadas do caminho percorrido e procu
ram traduzir as esperanas de um futuro melhor para o povo de nossa terra e
para a justia que o serve.
No escapo regra geral agravada pelas limitaes que me so prprias,
acrescidas ainda agora pela generosidade evidente dos ilustres oradores que me
saudaram, o Senhor Min i s t ro ALDIR PASSARINHO, o Procurador -Gera l da
Repblica , Dr . INO CN CIO M RT IRES C OE LH O, e o Profes sor SRG IO
B E R M UDE S .
Profunda a minha emoo. Grande o meu reconhecimento. Guardo na
memria o estranho sentimento que, em minha longnqua juventude, me pro
duziram as cerimnias mili tares do arr iar e hastear da bandeira e as de trans
misso de comandos a que assistia levado pela mo segura e protetora de meu
pai.
S agora tenho conscincia de que elas traduziam a continuidade da P
tr ia e a permanncia do princpio da autoridade.
Vejo nesta solenidade a nica exceo singeleza das sesses desta alta
Corte algo de semelhante, porque menos se comemora a posse dos elei tos
que a grandeza da inst i tuio judicante e a continuidade do princpio da sua
autor idade.
O Supremo Tribunal Federal soberano no aplicar a Consti tuio e as
leis.
O seu Presidente o representa, no o dir ige. Traduz um pensamento, no
o cria, nem o impe. Composto de vares i lustres , provados em longa vida
pblica, no tem aspiraes prprias . Inspiram-no o bem comum e o ideal da
legalidade e justia.
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Sabiamente a Consti tuio da Repblica, ao consagrar o carter nacional
do Poder Judicirio, defere-lhe a posio de rgo prminente, de superposi
o a todos os juzos e tribunais do Pas, quer os da justia ordinria, quer
aqueles das justias especiais, com jurisdio em todo o territrio nacional.
Ponto culminante da Magis t ratura bras i lei ra .
JOS FREDERICO MARQUES, com propr iedade , r esumiu:
Corte Consti tucional , no mais amplo sentido da palavra
(v., infra, n? 172); rgo de controle da aplicao do Direito
Federal pela Justia Militar e pela justia federal ordinria;
tribunal especial para processar e julgar conflitos de atribui
es e de jurisdio, e ainda para o processo e julgamento de
litgios ou causas de grande interesse nacional, o Supremo Tri
bunal Federal , alm do mais e, neste passo, em grande des
taque, o Tribunal da Federao, como acertadamente o disse
o notvel magistrado que tanto o honrou, Ministro Eloy
Jos da Rocha (v., infra, n? 170).
Por meio, ainda, da avocatria e do habeas corpus, sua
jurisdio se estende sobre qualquer categoria ou setor da ma
gistratura nacional , at ingindo, alm disso, mediante o ci tado
writ at mesmo as decises de rgos no judicirios, e com o
mandado de segurana, atos emanados dos rgos de cpula
do Poder Pblico (Const , da Repblica, ar t . 119, I ,h e / ) .
Para o exerccio de funes to variadas e relevantes, o
Supremo Tr ibunal goza da mais ampla autonomia, achando-se
invest ido, para isso, de extenso poder normativo. (A REFOR
MA DO PODER JUDICIRIO, ps . 301/302) .
Tem amplssima competncia originria e recursal e ainda, por intermdio
do Conselho Nacional da Magistratura, competncia discipl inar sobre os mem
bros da Magistratura Nacional , nos casos especif icados.
Penso que ao Supremo Tribunal Federal cabe zelar pelo cumprimento dos
deveres da Magistratura e, tambm, assisti-la na defesa de suas prerrogativas
consti tucionais .
A Consti tuio da Repblica expressa:
A rt . 6? So Pod eres da Un io, independ entes e harm nico s, o Legislati
vo,
o Executivo e o Judicirio.
CHESTER J . ANTIEU, moderno cons t i tucional is ta amer icano, observou:
A doutr ina da separao de poderes foi considerada ne
cessria pelos constituintes americanos, por duas razes prin
cipais:
primeiro, para proteger a l iberdade dos cidados; se
gundo, para proteger a independncia de cada ramo do gover
no e defend-lo da dominao e interferncia dos outros.
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MONTESQUIEU escreveu:
Quando os poderes legislativo e executivo esto reunidos
numa s pessoa, ou no mesmo corpo de magistrados, no po
de haver l iberdade.. . Do mesmo modo, no h l iberdade se o
Poder Judicirio no for separado do Legislativo ou do Exe
cu tivo (MOD ERN CO NS TITU TIO NA L LAW vo l. I I ,
11:13, p. 200 1969).
PONTES DE MIRANDA, com a acuidade habi tual , ass inalou:
Os poderes so teoricamente independentes e harmni
cos.
No h, em princpio, predominncia de qualquer deles.
O exerccio de cada um dos trs que pode fazer um de
les preponderar, ou porque tal exerccio seja demasiado, de
modo que um dos poderes passe a superar os outros, ou por
que os outros no dem ao exerccio a intensidade que seria
n o rm a l (C O M EN T R IO S C O N S TITU I O D E 1 96 7,
com a EC n? 1/69, tomo I, p. 547).
Acrescentando,
no mundo jurdico, os t rs poderes tm a mesma al tura; no
mundo ftico, mais alto o que mais merece, ou o que se
conservou onde devia estar, enquanto os outros baixaram de
nvel, (idem, p. 548).
No creio que tal entendimento seja integralmente correto, pois, se ver
dade que ALEXANDER HAMILTON considerou o Poder Judic ir io Indis
cut ivelmente o mais fraco dos t rs poderes, no n? 78 do THE FEDERA
LIST, deu outras razes:
O Judicirio, pela natureza de suas funes, sera o me
nos perigoso para os direi tos pol t icos da Const i tuio, porque
ser o menor para prejudic-los ou feri-los. O Executivo no
somente outorga as honras, como detm a espada da comuni
dade. O Legislat ivo no somente controla a bolsa, como pres
creve as normas pelas quais os direitos e deveres dos cidados
so regulados. O Judicirio, pelo contrrio, no tem influn
cia quer sobre a espada, quer sobre a bolsa; no tem ao so
bre a fora ou a riqueza da sociedade; e no pode tomar a ini
ciativa. Pode-se dizer com verdade, que no tem fora e von
tade, mas to-s o poder de julgar.
Esse pensar , no d izer de C. HERMANN PRITCHETT, professor da Uni
versidade de Chicago, ainda razoavelmente atual, mais de 180 anos aps a
sua emisso, porm, acrescenta:
No obstante , para o momento presente o ju lgamento
mais que a fora e a vontade, que o mais importante.
(THE AMERICAN CONSTITUTION 2? ed . 1968 p .
115).
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Negar execuo s decises dos Tribunais transigir com a anarquia e a
dissoluo da Unio, disse o Presidente EISENHOWER, em 1957, ao determi
nar o envio de fora para tornar efetivo o aresto da Suprema Corte que ps
termo segregao racial nas escolas do Arkansas.
De fato, j assinalava ALEXIS DE TOCQUEVILLE que os governos s
tm dois meios de impor a sua vontade: pela fora ou pela autoridade dos jul
gados dos Tribunais.
Urge, portanto, sejam estes assist idos, prestigiados e honrados porque
s pode haver bom governo onde h boa justia.
Da a necessidade da harmonia e cooperao entre os poderes da Repbli
ca, para que o bem comum seja preservado e os cidados se sintam garanti
dos.
No h divergncias possveis e muito menos insuperveis entre os Pode
res da Unio, pois todos visam ao mesmo objetivo a preservao dos direi
tos fundamentais do homem, a propriedade, a l iberdade e a segurana dos ci
dados .
J t ive oportunidade de assinalar que o mundo moderno exige de todos
compreenso e clarividncia para que se preserve a Constituio, de modo que
o desenvolvimento do pas se faa com liberdade, dentro da ordem jurdica
que comporta aperfeioamentos, mas no deve ser subvertida.
Penso como PORTALIS, no admirvel discurso preliminar do Cdigo Ci
vil,
que o esprito reformador deve ser inspirado pela prudncia e ter o senso
da opor tunidade .
til conservar tudo o que no necessrio destruir.
Pois ,
como ens ina GEORGES RIPERT:
A obra do jurista a nica que permanece quando cessa
o tumulto das revolues . (ASPECTS JURIDIQUES DU
CA PI TA LI SM E M O D ER N E p . 3 42 ).
Em conseqncia, o Magistrado deve obedincia lei.
Uma tomada de posio pblica contra a lei diz
MAURICE AYDALOT, Pr ime i ro Pres iden te Honor r io da
Corte de Cassao Francesa privaria o juiz do capital de
imparcialidade e neutralidade que a sua fora. Quando a
parte se apresenta perante o seu juiz, deve estar segura de que
a lei ser aplicada, em seu favor ou contra ela, mas sem restri
es ou preconceitos. Se o juiz descumpre a lei, a parte ser
tentada a desprez-lo. Ser o f im da justia.
(M AG IST RA T Laffont, 1976) .
Julgar, como j t ive oportunidade de dizer, por certo, no um atributo
divino, um ato humano, que exige claro entendimento, um reto proceder,
acendrado amor ao trabalho, elevado respeito s leis e seguro senso de justia.
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Exigem-se dos Magistrados virtudes especialssimas, a renncia e a cora
gem, o desprezo pela incompreenso freqente, a serenidade diante do apodo e
da malcia dos vencidos, e constante atual izao de conhecimentos adquir idos
atravs dos tempos.
No passou despercebida ao i lus t re Pres idente THOMPSON FLORES, no
seu discurso de posse, a necessidade de se atender ao recrutamento dos juizes.
Renovo essa preocupao com as palavras que proferi na Associao dos
Magistrados Brasileiros.
Foi LA BRUYRE quem, no LES CARACTRES, no sculo XVII , ob
servou:
Il n'y a aucun mtier, qui n'ait son apprentissage ...
Il y a l 'cole de la guerre, ou est l 'cole du magistrat?
O Ministro das Relaes Exteriores cedo se apercebeu da necessidade de
preparar diplomatas para a representao do Brasi l no exterior e fundou o Ins
t i tuto Rio Branco.
No IV Congresso Interamericano do Ministr io Pblico, real izado em
Braslia, em maio de 1972, salientei, seno a necessidade, pelo menos a conve
nincia de se criar, para a Magistratura, o Instituto Teixeira de Freitas, com a
mesma final idade.
Dizia, ento, que no era possvel deferir a algum, cuja personalidade,
cujo passado se ignorava, os maiores poderes do Estado, sem que se pudesse
prever ou pressentir o modo por que viriam a ser usados.
A Lei Orgnica da Magistratura Nacional abordou o tema e abriu pers
pectivas para a cr iao e valorizao de uma escola de magistrados.
Ao ensino tcnico-jurdico, h de se acrescentar a formao moral do ma
gistrado, do juiz, que deve ser preparado para enfrentar as agruras do ofcio.
claro que o homem bem instrudo para a misso de julgar , julgar mais
e melhor; e o homem educado para o sacrif cio e a independncia melhor en
frentar os perigos a que se expe.
S assim, teremos bons magistrados, moralmente fortes e intelectualmente
preparados . Juizes como o POPINOT, que descreve BALZAC que era juiz
como a mor te a mor te.
Um juiz no Deus, seu dever de adaptar os fatos aos
princpios, de julgar espcies variveis ao infinito, em se utili
zando de uma medida determinada. Se o juiz t ivesse o poder
de 1er as conscincias e penetrar os motivos de modo a dar
sentenas equitat ivas, cada juiz seria um grande homem
dizia BALZAC, que acrescentava, em seu tempo:
A Frana tem necessidade de cerca de seis mil juizes; ne
nhuma gerao tem seis mil grandes homens a seu servio,
com mais forte razo no pode ela encontr-los para a sua
mag i s t r a t u r a . ( L ' I NTERDI CTI ON) .
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No obs tan te , como d iz ia HERMANN HESSE:
Se a sabedoria se adquire, a experincia se transmite.
Essa a funo da Escola de Magistrados. Transmitir aos novos a experin
cia adquirida pelos mais antigos, de modo que afaste, dos que se iniciam, per
plexidades que os mais velhos j venceram, custa de muitos estudos e sa
crifcios.
uma sugesto que apresento aos demais poderes da Unio, no momento
culminante de minha vida pblica.
O Magistrado um servidor e um mandatr io da comunidade, no um
senhor feudal de barao e cutelo.
O seu enorme poder no deve ser um motivo de orgulho, mas um apelo
humildade pelo risco de mal aplic-lo.
preciso ter f no Direito, na nobreza mpar de suas funes, exerc-las
com serenidade, energia e discrio.
Tenho para mim, no momento em que ascendo Presidncia desta Corte,
uma certeza e uma esperana.
A certeza de que no me faltar o apoio do Egrgio Tribunal, nem o con
selho prudente e amigo deste grande Magistrado, que foi eleito Vice-Presidente
desta Casa, o eminente Minis tro JOS CARLOS MOREIRA ALVES, dos
mais ilustres cultores do Direito que o Brasil j teve; e a esperana de ver a
justia de minha terra cada vez mais altiva, sobranceira, independente e forte,
na compreenso dos demais poderes e no respeito de seus jurisdicionados, pela
inteligncia, saber e austeridade de seus juizes.
Procurarei, com a ajuda de Deus, cumprir o meu dever, sem brilho, po
rm com todo empenho de corresponder generosa confiana de quantos me
honram com sua presena nesta solenidade.
Que assim seja
Agradeo s Eminentssimas autoridades civis, militares e eclesisticas da
Repblica o comparecimento a esta sesso solene. Ao encerr-la, peo a todos
os presentes que aguardem a retirada da Corte para o salo anexo, onde esta
ter o prazer de receber aqueles que desejarem manifestar sua estima e solida
riedade aos eleitos.
A todos, muito obrigado.
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