supremo institucional (1983)

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  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

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    S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L

    S O L E N I D A D E D E P O S S E D O S M I N I S T R O S

    J O O B A P T I S T A C O R D E I R O G U E R R A ,

    N A P R E S I D N C I A

    E

    J O S C A R L O S M O R E I R A A L V E S , N A V I C E - P R E S I D N C I A

    D O S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L

    ( S e s s o d e 2 1 - 2 - 1 9 8 3 )

    BRASILIA

    1983

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    S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L

    S O L E N I D A D E D E P O S S E D O S M I N I S T R O S

    J O O B A P T I S T A C O R D E I R O G U E R R A ,

    N A P R E S I D N C I A

    E

    J O S C A R L O S M O R E I R A A L V E S , N A V I C E - P R E S I D N C I A

    D O S U P R E M O T R I B U N A L F E D E R A L

    ( S e s s o d e 2 1 - 2 - 1 9 8 3 )

    BRA S L I A

    1983

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    Palavras do Senhor Ministro Xavier de Albuquerque,

    Presidente

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    Declaro aberta a presente sesso.

    D-lhe o Regimento Interno o t imbre da solenidade, como primeira das

    hipteses de reduzido elenco, porque nela se realiza, com circunstncia e pom

    pa que sua relevncia inspira e a tradio consagra, a renovao peridica da

    mais alta hierarquia do Tribunal.

    Na perspectiva do autogoverno da Corte, a importncia do ato ressalta

    em sua prpria evidncia. Pe-lhe maior nfase, todavia, o trao de soberana

    independncia que reside na livre escolha, pelo sufrgio dos juizes que o inte

    gram, daqueles, dentre eles, que devem dirigir o Tribunal em cada binio ad

    ministrativo. A temporariedade da investidura e a fonte da qual promana, so

    marcas que merecem sublinhadas porque as desconhecem outros regimes, pos

    to conspcuos, de grandes democracias ocidentais.

    Para os cargos de Presidente e Vice-Presidente, respectivamente, no pero

    do que agora se inicia, o Tribunal elegeu, em sesso de 9 de dezembro passa

    do ,

    os Exmos. Srs. Ministros Joo Baptista Cordeiro Guerra e Jos Carlos

    Moreira Alves.

    Tenho a honra de convidar o Exmo. Sr. Ministro Cordeiro Guerra a pres

    tar o compromisso, tomar posse no cargo de Presidente do Supremo Tribunal

    Federal e assumir, em seguida, a presidncia da sesso.

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    Saudao do Senhor Ministro Aldir Passarinho

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    Senhor Presidente e Senhores Ministros.

    Senhores parlamentares.

    Senhores Ministros de Estado e seus representantes.

    Senhor Procurador-Geral da Repblica .

    Senhor Consultor-Geral da Repblica.

    Senhor Embaixador de Portugal .

    Senhores Presidentes e Ministros dos Tribunais Superiores da Unio.

    Senhores Presidentes e membros dos Tribunais dos Estados e do Distrito Fede

    ral.

    Senhor Governador do Estado do Rio de Janeiro e senhores membros de As

    semblias Legislativas.

    Senhores Oficiais Superiores das Foras Armadas.

    l imos. Srs . Procuradores-Gerais .

    Senhores Presidentes dos Conselhos Federais e Seccionais da Ordem dos Ad

    vogados do Brasil e do Instituto dos Advogados do Brasil .

    Senhores magis trados, advogados e membros do Minis tr io Pblico.

    Demais autoridades presentes.

    Minhas senhoras e meus senhores .

    Ao ingressar um novo Juiz nesta Casa Augusta, a cerimnia de posse se

    faz simples, austera mesmo, ausentes os discursos, apenas proferido o compro

    misso formal, como um profundo ato de f.

    Mas quando assumem os Ministros os cargos de sua direo, admite o Re

    gimento que a solenidade se revista de maior realce e gala, em homenagem aos

    eleitos. E a magnitude indisfarvel do acontecimento assim, de qualquer sor

    te,

    imporia, pois a investidura se d nos cargos de Presidente e de Vice-

    Presidente do rgo de cpula de um dos Poderes da Repblica, expresso da

    soberania nacional.

    No me passe o instante para agradecer ao Sr. Ministro Xavier de Albu

    querque, figura singular de varo e de Juiz, o seu gesto generoso mais um a

    acrescer tantos outros em ter-me convidado, a mim, o mais recente membro

    desta Corte, para saudar Suas Excelncias.

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    Ainda ao Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, padro de honra, al t ivez e

    dignidade, de se lhe dizer que os seus pares lhe tm muito a agradecer pela

    maneira ef iciente, serena e superior , uma constante durante os dois anos de

    seu mandato.

    Senhores.

    H vidas que chegam aos seus pontos mais al tos por longos caminhos,

    inesperados e dif icultosos. Outras, como que traadas em l inha reta, vo segu

    ras , inflexveis como o dest ino, meta gloriosa, ponti lhando o caminho de fei

    tos e de luzes. Assim parece ter sido a estrada da vida dos empossados de ho

    je.

    No que lhes tenha sido suave o percurso palmilhado, mas que todas

    as suas horas sempre foram hipotecadas ao labor da cincia jurdica, a possibi

    litar o melhor aproveitamento de suas inteligncias vigorosas.

    O evento de agora, se pela sua signif icao transpe os prt icos desta Ca

    sa, repercutindo por todo o Pas , t raduz, tambm, um dia especial de festa pa

    ra o Rio de Janei ro. O nmero de autor idades , magis t rados , procuradores ,

    promotores, advogados, representantes de entidades e associaes, e amigos do

    carioca Cordeiro Guerra, que de l vieram part icipar da alegria de todos ns,

    bem diz do prestgio de Sua Excelncia na terra de origem. E l se formou,

    constituiu famlia e deixou insculpida sua passagem nos fastos do Ministrio

    Pblico, com sua palavra de ouro, que o cinzel dos favorecidos do Senhor

    com o dom da oratr ia .

    No me possvel dizer por inteiro, aqui, o seu curriculum, to amplo

    ele, tantos os cursos que real izou, os seus trabalhos publicados, as confern

    cias proferidas, as honrarias manifestadas em condecoraes e homenagens. E

    at um escoro no ser fcil, a escolher, entre ttulos excelentes, os melhores

    deles. Mas cumpre pelo menos traar-lhe o perfil em alguns registros, rpidos

    que sejam.

    Fi lho do Almirante Joaquim Cordei ro Guerra e de Da. Rosina Cordei ro

    Guerra, tem em sua esposa, Da. Esteia, a companheira ideal , que tanto o

    compreende. So trs os seus filhos e sete os netos, na garantia da perpetuao

    do nome. Foi aluno dist into desde os primeiros estudos. Revelando cedo a fa

    cilidade da palavra, que de muito viria a servir-lhe, foi escolhido para falar em

    nome de sua Turma, ao concluir o ginsio. No curso de Direi to, j se impu

    nha como consul tor jur dico do Centro Acadmico, redator jur dico da revis ta

    A poca e representante da sua Faculdade no 1? Congresso Jurdico Uni

    versi tr io, em Salvador, do qual foi Vice-Presidente. Formou-se em 1937, pela

    Faculdade Nacional de Direi to, em Turma que projetou vrios nomes na vida

    pblica do pas .

    A vida profissional lhe foi de muitos xitos. Desde cedo, advogado de im

    portantes empresas, isso lhe proporcionou bagagem de experincia que muitos

    s obtm atravs de longos anos. Ingressando no Ministr io Pblico do antigo

    Distr i to Federal , o jovem 8? Promotor Substi tuto, olhos voltados para os

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    grandes exemplos, de logo distinguiu-se, chegando s culminncias, como

    Procurador-Geral da Justia do Estado da Guanabara, em difcil perodo da

    vida poltica nacional.

    O Jri lhe exercia especial fascnio, tanto nele se agigantou; a oratria, a

    nada dever aos melhores, o vigor das palavras no aprimorado da forma; a ar

    gumentao segura, a anlise precisa; o empenho altura dos casos memor

    veis, inseridos na crnica forense. A toda prova a sua integridade moral, in

    sensvel s presses; pensamento voltado para o cumprimento do dever; tica a

    merecer o respeito dos mais ferrenhos adversrios.

    Reputao grangeada por qualificaes de tal ordem estava a impor-lhe

    obrigaes correspondentes, e da sua participao em eventos que ainda re

    percutem na memria de todos, distantes embora. Lembro aquele de natureza

    poltica, convulsionando a Nao, o chamado caso Tonelero, dio transfor

    mado em crime. Ou no caso Aida, terrvel, moa a defender sua pureza ao

    limite mximo, episdio a despertar a ateno geral do Pas.

    Em tais ocasies, ainda mais elevou-se a figura de Cordeiro Guerra, in

    cansvel, cnscio de responsabilidades que, sabia, no eram suas, apenas, mas

    de todo o Ministrio Pblico, na necessidade de responder aos reclamos da so

    ciedade.

    So suas essas palavras, como em uma profisso de f:

    Ser Ministrio Pblico no apenas uma honra, um

    desafio constante, porque o Ministrio Pblico um servidor

    e um mandatr io da comunidade.

    Por ele fala a lei, nele repousa a tranqilidade dos cida

    dos ,

    nele reside a segurana do bem comum.

    Assim sempre entendi os meus deveres, que procurei cum

    prir, com dedicao e esforo... (discurso proferido no 1?

    Congresso Goiano do Ministrio Pblico).

    Alado a Ministro da Suprema Corte, por t tulos que lhe sobejavam, logo

    demonstrou os atributos que o enriquecem, justificando a sbia convocao do

    Chefe do Governo de ento, o eminente Presidente Ernesto Geisel. De igual

    modo honrou a confiana dos seus pares, ao ser escolhido para integrar o Eg.

    Tribunal Superior Eleitoral, cuja presidncia veio a exercer, no difcil perodo

    de organizao dos partidos polticos.

    amante das artes, e sendo homem de fino trato e gestos fidalgos, de lo

    go aqui formou slidos laos de amizade.

    Este,

    em traos resumidos, o novo Presidente.

    Sobe V. Exa. , Senhor Ministro Cordeiro Guerra, preeminncia mxima

    da mais alta Corte Judiciria do Pas, sob o consenso geral de que estar ela

    to bem em suas mos, como se encontrou no perodo que acaba de findar-se,

    da Presidncia do Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, cujo afastamento desta

    Corte, em vias de consumar-se, entristece no s os Juizes deste Pretrio, co

    mo todo o mundo jur dico nacional .

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    Ao lado de V. Exa. assume o Sr. Ministro Jos Carlos Moreira Alves. A

    sua posse na Vice-Presidncia, antes de completar 50 anos de idade, no cons

    titui surpresa, pois a cintilante inteligncia de S. Exa., e sua cultura invulgar,

    o tm conduzido sempre muito moo s posies mais elevadas. Aos 24 anos

    conclua o doutorado, e na faixa dos 27 anos obtinha duas l ivres docncias,

    uma na Faculdade Nacional de Direi to e outra na Universidade de So Paulo.

    Ali,

    tambm, em 1968, alcanava a ctedra de Direito Civil . To altos dotes

    levaram-no Procuradoria-Geral da Repblica, cargo que deixou para, che

    gando ao auge, investir-se em uma das onze cadeiras desta Corte.

    Temperamentos bastante parecidos, inclusive pela vivacidade nos debates,

    pelo empenho em que se empregam em tudo que fazem, e pelo mesmo ideal de

    justia, ser uma tranqilidade para o Sr. Presidente contar ao seu lado com

    um companheiro do porte do Sr . Minist ro Moreira Alves.

    De ambos se poderia dizer, como Machado de Assis, que tm a virtude

    de no esmorecer com as vasantes, nem alucinar-se com as enchentes.

    A posse de V. Exa. , Sr . Minist ro Cordeiro Guerra , ocorre em momento

    de grande expectativa para a Justia e, em particular, para a Justia Federal,

    nos seus diversos nveis.

    Situo-me a opinio pessoal na corrente daqueles que entendem de

    va o Su prem o Tribu nal Fe deral assum ir papel de l iderana na cond uo dos

    assuntos que, pertinentes competncia legislativa da Unio, se refiram or

    ganizao e funcionamento dos rgos judiciais , bem como no tocante aos di

    reitos, vantagens, prerrogativas e deveres dos magistrados. mesmo postulado

    constitucional o que dita a harmonia entre os Poderes.

    No ignoro o que de responsabilidade e desgaste poder isso trazer, pelas

    crt icas e incompreenses que fatalmente adviro, mas estou convencido de

    que nus a que no devemos fugir.

    Sei que ser matria de debate e altamente controvertida, mas tema que,

    a mim parece, devemos enfrentar .

    Vemos, inclusive, entre rgos judicirios federais, diferenas sensveis,

    desequilbrios marcantes, sob diversos ngulos, a imporem a necessidade de

    critrios gerais, que no devem deixar de ser examinados tambm no prprio

    mbito do Judicir io e , neste , no Supremo Tribunal Federal .

    Acredito mesmo que se chegarmos concluso de que deve este Alto Pre-

    trio manifestar tal interesse, a idia seria bem acolhida pelos demais Poderes.

    J tempo, creio, que nova etapa seja empreendida.

    A his tr ia do Supremo Tribunal Federal , que agora ul t rapassou a barreira

    do sesquicentenrio, no tem sido sempre t ranqi la at ravs dos tempos.

    Aliomar Baleeiro, na sua obra de t tulo to significativo, O Supremo

    Tribunal Federal, esse outro desconhecido, bem como essa excelente pesqui

    sadora, que Leda Boechat Rodrigues, relembram as suas vicissitudes iniciais,

    at que se formasse nele, e fora dele, a conscincia de sua responsabilidade

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    consti tucional. E assinala Baleeiro: Vacilou. Errou. Tergiversou. Mas dentro

    de pouco tempo o Supremo Tribunal Federal imbuiu-se de sua misso e, aos

    poucos, tenazmente, consti tuiu-se realmente o guardio do templo da l iberda

    de.

    E a seguir, aps rememorar os perodos difceis: Poderia ser outra, sem

    esses lances dramticos, a crnica do Supremo. Mas das instituies pode

    repetir-se o que j foi dito das Naes: se foram sempre felizes, no tiveram

    histria que merea ser contada. E o Supremo tem a dele, com grandezas e

    sombras, como todas as instituies humanas sob os cus e no curso de todas

    as idades.

    Mas as dificuldades em relao a esta Corte e, de um modo geral ao Judi

    cirio, no se tm cingido aos momentos de perturbaes institucionais, como

    reflexos de perodos de anormalidade poltica. Decorrem, inclusive, das trans

    formaes econmicas, sociais e do crescimento populacional do Brasil.

    H problemas, e vrios, que urge solucionar. A Vossa Excelncia no pas

    sou isso despercebido, tendo acentuado em conferncia que pronunciou, na

    Escola de Guerra Naval, embora admitindo que o Poder Judicirio tem autori

    dade e estrutura que lhe assegura a realizao de suas funes que, entretan

    to ,

    entre a lei e a sua aplicao, h dificuldades a superar, bices a vencer e

    erros a evitar.

    E devemos ter a certeza de que no faltar o apoio, que se fizer necess

    r io, do Governo da Repblica e do Congresso Nacional, para a consecuo de

    objetivos to essenciais.

    Igualmente tenho observado, Sr. Presidente, no lhe passar distante a

    preocupao quanto posio do Juiz face s modificaes do mundo moder

    no , ante o princpio da continuidade do Direito, conforme tem demonstrado

    em pronunciamentos diversos.

    De fato. Enco ntram o-no s em um a poca em que transforma es profun

    das vm ocorrendo no mundo, alterando-se conceitos, reformulando-se defini

    es.

    necessrio, por isso mesmo, que o Juiz esteja atento para o momento

    que passa, pois, como em outra oportunidade acentuei: qualquer que seja a

    posio que assumamos, seja ela social ou psicolgica, no poderemos deixar

    de nos fundamentar em uma preocupao temporal.

    O Direito, que se impe pela necessidade da coexistncia social, h de ter,

    na lei o seu instrumento a adaptao constante s novas realidades. E

    quando ela tarda, h de ver o Juiz,

    na exegese dos textos vigentes,

    se no lhe

    possvel, sem violent-los, dar a soluo ajustada aos problemas da hora tran

    seunte.

    Os princpios fundamentais que dizem com os direitos e garantias indivi

    duais , certamente mais que outros, tm sido objeto de contnuo revisionamen-

    to . Nos Estados Unidos, julgamentos que entraram nas pginas de sua hist

    ria , imprimiram modificaes profundas em antigos conceitos. Ainda de

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    pouco tempo, pois data de 1954, a deciso memorvel da sua Corte Suprema,

    em acrdo redigido pelo Chief Just ice Warren, declarando inconsti tucional a

    segregao racial nas escolas pblicas. A essa, outras decises se seguiram, na

    mesma es tei ra de pensamento.

    Aponto esses fatos histricos, pela significativa influncia do Judicirio

    no processo da just ia social .

    H de se crer no Direi to como fora permanente de equil brio na constan

    te adaptao real idade, embora, e so de Vossa Excelncia essas palavras:

    . . . a magis t ratura tem por dever zelar pela t radio, de modo que as t rans

    formaes se operem com o mnimo de abalos e sofr imentos para os cida

    dos .

    que o constante vir a ser em que se consubstancia o confl i to, a diver

    gncia e a luta, no pensamento de Hercli to, s pode encontrar sua frmula

    na aplicao do Direi to, sob pena de impossibi l idade da convivncia entre os

    homens. Assim no sendo, surgir sempre nas suas relaes, aquele muro de

    que nos fala Petrarca, antepondo-se entre a mo do campons e a espiga, fru

    to do seu labor. E no se cumpriria, na terra, o que diz o livro de Job: Ele

    pagar ao homem a sua obra e recompensar a cada um segundo os seus ca

    minhos .

    A Just ia to necessria vida dos homens como o al imento que lhe sa

    cia a fome. do Padre Manuel Bernardes , a t r ibuindo a Xis to V, quando o

    aclamava o povo romano pedindo po e jus t ia: Po daremos com graa;

    just ia, por natureza. Uma e outra coisa so to preciosas na Repblica que

    sem qualquer delas no seria Repblica. No havendo just ia, quem ter po,

    nem para seus f i lhos? No havendo po, quem guardar, nem com seus pr

    prios f i lhos, Just ia?

    E por isso mesmo que Vossa Excelncia, Sr. Presidente, ao receber nesta

    Casa A ugu sta o Sr . Chefe do G ov erno do M ali , declarou no discurso de sauda

    o que lhe fez:

    Sofremos os mesmos percalos de conciliar o ideal com

    a realidade, sem perder de vista o objetivo ltimo de criar as

    bases de uma sociedade esclarecida, prspera e justa.

    Permitam-me, antes de concluir , esta lenda que se perde na distncia dos

    tempos: Disputando deuses o solo fr t i l da tica, chamaram para rbitros da

    contenda os Imortais . Resolveram estes, porm, que a terra seria daquela di

    vindade que pudesse dar aos homens o mais t i l presente. Netuno, o Deus do

    mar, i rmo de Jpiter , acorrendo disputa, surgiu das ondas com seu squito

    de Golfinhos. Bateu com seu tridente em spero rochedo e dele surgiu belssi

    mo corcel , pronto para as l ides da guerra. Minerva, a inspiradora das Artes,

    filha de Jpiter e de Mtis, a Prudncia, a sua vez, tocou o solo com sua lana

    refulgente, a nascendo uma oliveira de folhagem de prata. Meditaram os Imor

    tais sobre quem mereceria o prmio, na considerao do cri tr io elei to. E vie-

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    ram a decidir ser muito mais til aos homens aquela rvore de folhas de prata,

    cujos ramos deviam ser o smbolo da paz, que o corcel que levaria os carros

    de assalto aos horrores da guerra.

    O Direito o instrumento da paz. A lei sua exteriorizao formal. Sem

    eles,

    a guerra, a desarmonia entre os povos e os indivduos.

    Que os homens possam sempre compreender que devemos todos optar pe

    la oliveira das folhas de prata.

    Senhores Ministros Joo Baptista Cordeiro Guerra e Jos Carlos Moreira

    Alves. Esta Corte, lhes confiando os seus cargos de Presidente e de Vice-

    Presidente, lhes atribui a chefia do Poder Judicirio. Temos a tranqila certe

    za de que sempre o conduziro com os olhos voltados para tudo o que ele sig

    nifica.

    Que Deus os inspire e ilumine.

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    Discurso do Professor Inocncio Mrtires Coelho,

    Procurador-Geral da Repblica

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    Senhor Presidente

    Senhores Minis tros do Supremo Tribunal Federal

    Dignas autoridades presentes

    Senhoras e Senhores

    No calendrio das solenidades deste Tribunal Excelso, dois eventos mere

    cem especial destaque a posse dos novos Ministros, nomeados para integrar

    a Corte, e a investidura daqueles que lhe vo dirigir os destinos, como delega

    dos de seus eminentes pares.

    Com a chegada de novos Ministros, revitaliza-se o Tribunal, para conti

    nuar no desempenho de suas elevadas atribuies judicantes, como definidas

    na Constituio Federal; com a posse do Presidente e do Vice-Presidente,

    renova-se a direo da Corte, para manter vivo e atuante o papel que os fun

    dadores da Repblica atriburam aos dirigentes do Supremo Tribunal Federal,

    no mecanismo das nossas instituies.

    Num caso, como no outro, a substituio dos Ministros se opera segundo

    procedimentos h muito sedimentados, como convm majestade da Corte ,

    que se deseja exercida sem surpresas ou sobressaltos, mas com serenidade e

    prudncia, porque desse equilbrio que depende, em ltima instncia, a pr

    pria tranqilidade de todos quantos nacionais ou estrangeiros , escolhe

    ram esta Ptria para viver.

    Sob essa tica, em que se destaca o aspecto institucional da solenidade, o

    Chefe do Ministrio Pblico Federal vem registrar o seu jbilo pela posse dos

    eminentes Ministros Joo Baptista Cordeiro Guerra e Jos Carlos Moreira Al

    ves,

    respectivamente, como Presidente e Vice-Presidente do Supremo Tribunal

    Federal.

    De outra parte, e com a mesma sincera alegria, quer o Procurador-Geral

    da Repblica deixar consignado o reconhecimento do Ministrio Pblico Fede

    ral ao eminente Ministro Xavier de Albuquerque, que ora se afasta da Presi

    dncia da Corte, aps dirigi-la, com superior equilbrio, no binio agora encer

    rado.

    Realar, nesta oportunidade, e mais uma vez, os predicados maiores desse

    eminente Ministro, que, para pesar geral, tambm se despede da judicatura

    , dizer que Sua Excelncia deixa a Presidncia do Tribunal e os trabalhos

    da Corte sob a unnime opinio de que se trata de um dos maiores juristas

    que j integraram e dirigiram o Augusto Pretrio, qualidade a que se alia, na

    mesma dimenso, a da polida altivez, que todos lhe reconhecem e proclamam

    como um dos traos mais fortes de sua fortssima personalidade.

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    De seu desempenho na direo do Supremo Tribunal Federal , do-nos

    conta os cuidadosos e minuciosos relatrios por ele apresentados ao final dos

    exerccios de 1981 e 1982, onde se encontram registrados, para o sereno julga

    mento da posteridade, os xitos alcanados e as frustraes que Sua Excelncia

    humanamente exper imentou .

    Dos votos que proferiu como Presidente do Tribunal relat ivamente

    poucos, porque o exerccio da Presidncia restringe essa participao nos jul

    gam ento s (p* C or te , ficar a lem bran a d e que semp re o fez na mesma linha

    de coerncia e imparcial idade que marcou toda a sua fecunda judicatura, no

    sendo raras as vezes em que Sua Excelncia, votando vencido, humildemente

    salientava essa circunstncia diante de seus pares, para arrematar dizendo-lhes

    que assim o fazia porque, aps novas reflexes, conclura pela necessidade de

    alterar o seu ponto de vista e, se possvel, a jurisprudncia da Corte.

    De seu discurso de posse na Presidncia do Tribunal, saliente-se esta pas

    sagem, que bem define o carter do eminente Ministro e sua plena conscincia

    das dimenses e responsabil idades do cargo:

    No cult ivo a presuno de realizar obra notvel , senti

    mento que sequer se afinaria com as dimenses limitadas dos

    poderes e atr ibuies em que me invisto. Guardo, s im, a am

    bio de no faltar ao meu dever, de me no omitir em nada

    do que hajam feito, com adequao e propriedade, meus emi

    nentes antecessores.

    De seu ltimo Relatrio, vale ressaltar estes trechos, que emprestam car

    ter proftico s expectat ivas da posse, ao mesmo tempo em que fornecem aos

    seus sucessores a mais positiva contribuio que Sua Excelncia lhes poderia

    prestar, ainda que ao preo de reconhecer que no conseguiu levar a bom ter

    mo aquela que lhe parecia ser a mais relevante das misses inerentes Presi

    dncia da Corte:

    Creio poder afirmar, s vsperas do trmino de meu

    mandato, que a administrao ordinria da Casa realizou-se a

    contento e chegou a marcar modestos xitos.

    -me sumamente penoso, todavia, reconhecer que no lo

    grei levar a bom termo aquela que, transcendendo dos limites

    acanhados da gerncia interna, considerei a mais alta e rele

    vante das tarefas inerentes ao exerccio da Presidncia do Tri

    bunal e da chefia, que ela simboliza, do Poder Judicirio na

    cional: a de dot-lo, pela consagrao constitucional, de efeti

    va e real auto no m ia, assim no plan o da suficincia financeira

    e oramentria como no organizacional e administrat ivo,

    fortalecendo-o e capacitando-o a realizar , em grande parte por

    si mesmo, a chamada reforma judiciria, pela qual tanto an

    seia a Nao.

  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

    16/33

    21

    Mais no precisamos dizer para justificar a nossa admirao e o nosso re

    conhecimento ao digno Ministro Xavier de Albuquerque, no instante em que

    ele deixa a Presidncia do Supremo Tribunal Federal e o exerccio da judicatu-

    ra, passando galeria dos servidores maiores que tm feito a grandeza da Re

    pblica.

    Se esse o porte da gesto que se encerra, de igual dimenso a auspicio

    sa invest idura do eminente Ministro Cordeiro Guerra na Presidncia da Corte.

    Homem de slida formao intelectual, a que se aliam uma excepcional

    coragem moral e uma notvel experincia no trato da coisa pblica sedi

    mentadas na severa austeridade de quem dedicou mais de 40 anos de uma fe

    cunda vida profissional causa do Ministrio Pblico e da Justia , traz sua

    Excelncia para a presidncia do Supremo Tribunal Federal e para a chefia do

    Poder Judicirio nacional, que ela encarna, todo um lastro de sucessos que faz

    antever, seguro, um binio de grandes realizaes.

    Exemplo singular de homem prtico, dotado de fina sensibilidade polt ica,

    o eminente Ministro Cordeiro Guerra, no dia mesmo em que foi eleito para a

    Presidncia da Corte j se fazia ouvir muito alm do recinto do Tribunal, por

    toda a magistratura nacional , quando, em rpidas palavras, ao agradecer a

    seus pares a suprema honraria, declarou-se consciente das angstias e das afli

    es por que passam os juizes brasileiros.

    A instantaneidade com que foram compreendidas aquelas palavras, des

    pertando anseios e renovando esperanas, d-nos a exata medida da grave res

    ponsabil idade que hoje pesa sobre os ombros do Presidente do Supremo Tri

    bunal Federal , como Chefe do Poder Judicirio e intrprete maior dos anseios

    da magistratura nacional .

    A certeza, porm, de que a extenso e o peso dessa enorme responsabil i

    dade encontram correspondncia exata na envergadura daquele que a vai su

    portar , permite associarmo-nos a todos quantos, na Magistratura como no Mi

    nistr io Pblico, deposi tam nas mos do eminente Ministro Cordeiro Guerra

    as suas mais vivas esperanas.

    Dispensando-nos de emprestar maior relevo aos excepcionais atr ibutos

    profissionais desse notvel Juiz que se consagrou como jurista tanto na

    efervescncia do Jri , quanto na serenidade deste Tribunal , permit imo-nos

    destacar este outro ngulo de sua promissora investidura, que tem a ver com o

    futuro, porque sabemos que assim agindo interpretamos um dos seus mais ca

    ros e permanentes anseios, que o de corajosamente enfrentar e vencer desa

    fios,

    com a fora de sua inquebrantvel vontade.

    Como Vice-Presidente do Tribunal , toma posse, igualmente, o preclaro

    Ministro Jos Carlos Moreira Alves.

    A biografia de Sua Excelncia j o dissemos mais de uma vez, e aqui

    se impe repetir a prpria trajetria do mrito, eis que tudo em sua vida,

    de uma forma ou de outra, tem o t imbre da disputa e da conquista, do embate

  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

    17/33

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    e da vitria, a que ainda se aliam, para lhes conferir maior realce, juventude,

    erudio e talento.

    Os concursos memorveis, que lhe ensejaram legtimo acesso s ctedras

    mais difceis; as inmeras obras que j publicou com sucesso, sobre temas da

    mais alta complexidade; os profundos e alentados pareceres, que produziu co

    mo Procurador-Geral da Repblica; os brilhantes votos que tem proferido no

    Plenrio e nas Turmas deste Excelso Tribunal, muitos dos quais ordenados no

    aceso dos debates, que no raro deliberadamente estimula ou provoca, tudo

    enfim, nesse jurista de escol, pode servir de exemplo aos que pretendam trilhar

    a senda do direito sem atalhos, nem expedientes menores.

    Do trabalho conjunto desses dois grandes Juizes, em harmnica reunio

    de esforos, muito h que se esperar para a causa do Direito e da Justia, por

    que se trata de homens pblicos da melhor estirpe, como o so todos aqueles

    que ascendem a esta judicatura suprema, satisfazendo os requisitos substanti

    vos de sabedoria e honradez, em que repousam a grandeza da Corte e a con

    fiana dos seus jurisdicionados.

    _A^

    i lustres Ministros Co rdeiro Gu erra e Mo reira Alves, por tan to, os nos

    sos votos de felicidade pessoal no desempenho da nova misso, para cujo xito

    eles possuem sabedoria e honradez na mais alta medida.

  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

    18/33

    Discurso do Doutor Srgio Bermudes, representante

    do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

    19/33

    Senhor Presidente

    Senhores Ministros,

    Os advogados brasileiros, cuja presena, nesta solenidade, a fidalguia e a

    justia dessa Corte consideraram indispensvel, proclamam a sua f no Supre

    mo Tribunal, que respeitam e veneram, insti tudo por nosso patrono, com pa

    lavras da tragdia grega, repetidas desta tribuna altssima, guarda vigilante

    desta terra, atravs do sono de todos, e anunciado aos cidados, para que as

    sim fosse, pelo futuro adiante.

    Para a tranqilidade e segurana da nao, que dele se orgulha, o Supre

    mo Tribunal Federal tem sido, atravs dos anos, conforme os desgnios, que presi

    diram sua insti tuio, no apenas a mais alta , seno a melhor Corte de Jus

    tia do Brasil. Seduzido pela excelncia das suas decises, pela cultura e probi

    dade de seus juizes, cada jurisdicionado se empenha em trazer seu pleito ao

    julgamento desta Casa, confiante em que aqui sempre obter justia.

    As compreensveis medidas, tomadas com o fito de debelar a crise do Su

    premo Tribunal, analisada, faz tantos anos, em termos candentes, por VIC

    TOR NUNES LEAL, um dos seus notveis juizes, e a impedir a transforma

    o da Corte em simples rgo revisor dos julgados das instncias ordinrias

    aum entam as responsabilidades dos advog ados, que, hoje, ingressam nos pr o

    cessos j preocupados em trazer ao debate questes hbeis a transpor o cipoal

    de obstculos, que o Regimento e a Smula erguem atividade cognitiva e de-

    cisria de Vossas Excelncias.

    E a insistncia em trazer as causas ao julgamento desse Tribunal se agi

    ganta, na medida em que, por motivos de diversa ordem, se deteriora a quali

    dade da prestao jurisdicional das instncias menores. Na saudao, que, h

    dois anos, em nome da Ordem, fez desta tr ibuna aos eminentes Ministros XA

    VIER DE ALBUQUERQUE e LEITO DE ABREU, com a au to r idade de

    advogado, na comemorao do jubileu de sua mili tncia, de pensador, de ho

    mem pbl ico e de Minis t ro desse Tr ibunal , EVANDRO LINS E SILVA de

    nunciou a crise do Judicirio no Brasil , declarando, de modo categrico: Na

    verdade, a justia est se tornando invivel.. . A justia totalmente hermtica

    para os pobres, sendo ilusrio, nesse terreno, o princpio consti tucional da

    igualdade perante a lei . Atualmente prosseguia a justia est se tornando

    invivel at para os ricos, com a criao de taxas e custas insuportveis, s na-

    ra se ter o direito de ingressar em juzo.

  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

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    A reforma do Judicir io, imposta nao, no entendimento da Ordem

    dos Advogados do Brasi l , a t ravs de processo t raumtico, de nenhum modo

    solucionou a crise da jurisdio entre ns. A administrao da justia continua

    onerosa, falha e demorada. E assim ser, para desespero nosso, enquanto per

    durar o modelo vigente, no qual no h lugar para a inverso macia de recur

    sos no Judicirio, que exerce o mais indispensvel e essencial dos servios p

    blicos.

    Relegado ao abandono, o juiz de direito , neste pas, um solitrio e um

    desassistido. Por isso, minguam as vocaes para a magistratura. Os profissio

    nais que, em outras circunstncias, se integrariam ao Judicirio, preferem bus

    car alhures a sua realizao e os meios de subsistncia. Exemplo vigoroso des

    se panorama afli t ivo oferece a Justia do Estado do Rio de Janeiro, que, para

    tornar possvel o preenchimento de seus quadros, se viu na triste contingncia

    de reduzir para trs pontos e meio a mdia de aprovao, no concurso de juiz,

    quando, conforme critrios seculares e universais, somente cinco pontos po

    dem aprovar, num total de dez.

    No se acoime de imprpria a manifestao destas inquietaes, nesta ho

    ra e neste recinto nobre e severo. Conforme a verdade evanglica, a boca fala

    da abundncia do corao. Por isso, h que se condescender com que os ad

    vogados brasileiros, que, habitualmente, sobem a este pdio, para tratar de

    questes especficas, se valham de oportunidades como esta, para externar aos

    juizes do Supremo Tribunal e s autoridades da Repblica a sua angstia. So

    mos,

    afinal, o elo, que liga o Judicirio nao. Sobre ns recai a tarefa mag

    na de preservar a crena dos jurisdicionados nas insti tuies incumbidas de ad

    ministrar a justia. E o judicirio no continuar merecendo a confiana dos

    cidad os, com o rg o capaz de proteger-lhes os direitos, se no en con trar

    frmulas expeditas para se recompor, salvando-se a si mesmo.

    Do que representa o Supremo Tribunal Federal , na comunho da ptr ia ,

    DARIO DE ALMEIDA MAGALHES, ass duo ocupante des ta t r ibuna , que

    manteve nas culminncias a que a elevou o patrono dos advogados brasileiros,

    deu eloqente testemunho, nestas palavras, que ningum diria melhores, nem

    mais exatas e atuais, proferidas, em 1949, na solenidade de homenagem a RUI

    BARBOSA:

    A marca judiciria do nosso regime , hoje, mais acen

    tuada do que nunca. Restaurou-se e ampliou-se o vosso poder

    e, com ele, a vossa responsabilidade e a vossa influncia sobre

    os nossos destinos. Aqui estamos, de novo, na casa da cons

    ti tuio. Acima de todos, a vs continua a pertencer a pala

    vra derradeira. rbitros entre os poderes, sob a constituio,

    continuais a ser os rbitros da vossa competncia; os guardas

    que ningum guarda, seno a vossa prpria conscincia, os

    advogados, que vos devemos a colaborao da crt ica leal, e a

    opinio pblica, que, nos regimes livres, a todos vigia e a to

    dos pede contas .

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    Sem a investidura de um mandato popular direto, repre

    sentais o rgo, por excelncia, de defesa da democracia

    sobranceiro s correntes e s faces para proteger os direi

    tos da minoria contra o arb t r io da maioria . Compondes

    como ainda hoje o vosso paradigma norte-americano, apesar

    das vrias crises que sofreu, vitoriosamente mais que uma

    corte judiciria, um rgo de governo, para o qual refluem,

    sob forma de pleitos e controvrsias, os mais graves proble

    mas da coletividade.

    Tal , Senhor Presidente e Senhores Ministros, o perfil do Supremo Tri

    bunal Federal, na viso dos advogados brasileiros. E a misso da Corte adqui

    re significado especialssimo, nestes dias, marcados pelo empenho da nao em

    preservar as conquistas democrticas, fruto da conjugao de esforos de go

    vernados e governantes, unidos na tarefa sublime da reconciliao nacional;

    dias de crise, de depresso e de convulses, diante das quais nenhum rgo ou

    pessoa pode quedar-se inerte, ou insensvel.

    Nesta quadra sombria, Vossa Excelncia assume, Senhor Ministro COR

    DEIRO GUERRA, a chefia do Poder Judicirio do Brasil . Se os fados o qui-

    nhoaram com honrar ias e postos , na exata dimenso do seu ta lento , tambm

    no foram av aros em co nferir-lhe, na mesm a prop or o , misses e responsa

    bi l idades. Sua vida de homem pblico desconhece momentos amenos. At ho

    je,

    os xitos, que amealhou, no tiveram o sabor do prmio fcil . Tudo resul

    tou de esforos exaustivos, de vigilncia, de diligncia e de tenacidade.

    Forjaram-lhe a tempera condies, tanto mais adversas quanto a elas se ante

    punha a sua vontade indmita, a constncia dos seus propsitos, a coerncia

    das suas atitudes, a firmeza da sua crena. O pelejar incessante a saga dos

    grandes homens, sobre os quais sempre se abatem cleras e incompreenses.

    natural que assim ocorra . GONALVES DIAS cantou essa predest inao lu

    ta dos homens assinalados pelo destino:

    Rasteira grama, exposta ao sol, chuva,

    L murcha e pende.

    Somente o tronco, que devassa os ares,

    o raio ofende.

    O Ministrio Pblico, de cujos quadros Vossa Excelncia, em caso nico

    na histria da Corte, ascendeu diretamente ao Supremo Tribunal, era, ao tem

    po em que o exerceu, como ainda hoje, esquecido e deserdado. Arrostando as

    vicissitudes, Vossa Excelncia ergueu a instituio, que, mais tarde, em perodo

    de turbulncia, ir ia chefiar com serenidade e firmeza, s cumeadas que a

    Constituio lhe reservou, em posio singular, no concerto dos poderes do

    Estado. Hoje, ainda, o Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro cele

    bra os fe i tos do Promotor e Procurador CORDEIRO GUERRA, que no co

    nheceu rival, nem na tribuna do jri , nem no exerccio de outros cargos do r-

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    go ,

    todos eles desempenhados com zelo, dignidade e independncia absoluta,

    que a independncia, Senhor Minis t ro, a marca da sua atuao de homem

    pblico, submissa apenas lei, sua conscincia e fidelidade aos seus ideais.

    No se faa, no entanto, nem a Vossa Excelncia, nem a ns, a injustia

    de relegar , seno ao esquecimento, a plano secundrio a sua faina de advoga

    d o ,

    de mil i tncia diria no foro da cidade, que o viu nascer . Por dcadas,

    Vossa Excelncia exerceu a advocacia, em todas as instncias, na conquista

    das imarcescveis vi trias , que alcanou, manejando a pena e a palavra com

    destemor, determinao e com a mesma elegncia com que, na primavera da

    vida, jogou o sabre, a espada e o f lorete, sagrando-se campeo nacional de es-

    gr ima.

    Para o Supremo Tribunal Federal , Vossa Excelncia carreou sua experin

    cia de membro do Ministr io Pblico, r igoroso na defesa da sociedade e no

    exigir o respeito s normas jurdicas e s inst i tuies. Mas trouxe tambm, e

    com igual intensidade, a sua contr ibuio de advogado, pronto ao debate e

    cr t ica, presto em rever posies, gil em engendrar frmulas de adaptao do

    direi to a novas real idades e exigncias.

    Vossa excelncia compreendeu, desde a primeira hora, a misso delicada,

    que a Consti tuio reserva aos juizes do Supremo. Os fulgentes votos, que

    proferiu, nos oi to anos de permanncia na Corte, revelam o seu propsito de

    fortalec-la, para que ela desempenhe, adequadamente, a sua funo de tr ibu

    nal pol t ico, que paira, augusto e sagrado, acima de qualquer outro poder da

    Repblica, com a incumbncia de velar pela hegemonia da Consti tuio e pela

    inteireza positiva do direito federal.

    O seu empenho em robustecer a autor idade do Supremo t ransparece em

    passagem admirvel do voto, proferido na Reclamao 126: Ns no pode

    mos admitir , na interpretao do Regimento Interno, que motivo de orgulho

    desta Casa afirmava Vossa Excelncia que as decises do Tribunal , ao

    declarar a lei , em tese, inconsti tucional , ao dar interpretao correta de uma

    controvrsia jurdica, ou ao reconhecer a indenidade consti tucional de um ato

    jurdico, possam vir a ser contestadas por qualquer modo, pois seria reconhe

    cer a negao da autor idade dos nossos julgados . Acho que, quando a deciso a declaratria consti tucional , normativa, faz coisa julgada

    erga omnes,

    nos termos do nosso Regimento.

    A sua preocupao constante com os grandes temas, de profunda reper

    cusso social , que apaixonam a nao e demandam a palavra nor teadora e a

    orientao definitiva desse Tribunal est refletida no voto inesquecvel, que,

    em defesa do Estatuto da Terra, proferiu, como relator para o acrdo, no

    Recurso Extraordinr io 85.333, julgado no Tr ibunal Pleno, quando procla

    mou: O que a lei fez, a meu ver , foi ensejar , aos contratantes, pactuarem,

    expressamente, e por escri to, prazos superiores ao mnimo havido como neces

    srio nas exploraes agropecurias. Aceito esse entendimento, que se baseia

    na interpretao teleolgica da lei agrria, ter-se-o respeitados os princpios

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    que regem os contratos de Direi to Comum, no que concerne ao acordo de

    vontades e ao objeto, observados os princpios cogentes de Direi to Agrrio.

    Permanentemente inquieto com os graves problemas do seu tempo, e ho

    mem afirmativo, coerente, e fiel s suas idias, Vossa Excelncia, entendendoa necessidade de moldar as instituies jurdicas s exigncias sociais, susten

    tou, no Recurso Extraordinrio Criminal 89.830, que, quando a noo de cri

    me continuado surgiu, na Idade Mdia, na poca dos delitos famlicos, era

    uma evoluo. Mas hoje aduziu quando homens se organizam para vi

    ver do roubo, do assalto mo armada, j esse sentimento generoso deve ser

    aplicado em relao s vt imas, porque no se tem mais segurana de andar na

    rua.

    A fortaleza de suas convices determinou que Vossa Excelncia permane

    cesse isolado no Recurso Extraordinrio 89.876, quando se discutiu tormento

    sa questo tr ibutria, que afetava toda a populao carioca. O voto, dado en

    to,

    enriquecido por copiosos argumentos his tricos, belamente expostos, de

    monstra o firme domnio das instituies de direito pblico. Suas decises em

    matria f iscal primam pelo respeito ao contr ibuinte, consubstanciado na decla

    rao, tantas vezes repetida, de que tr ibuto como pena: sua incidncia de

    pende de lei prvia. Seu conceito de correo monetria, que hoje corre mun

    do e que v o inst i tuto como fator de preservao da identidade da moeda

    atravs do tempo, testemunha a sua invulgar capacidade de fazer com que o

    direi to se transforme, ao sabor das necessidades sociais , independentemente de

    reforma da legislao.

    Zeloso na tutela dos interesses difusos, Vossa Excelncia no hesitou em

    decidir , no Recurso Extraordinrio 88.705, que, nos trabalhos cientf icos, o

    direito autoral protege a forma de expresso, e no as concluses cientficas de

    seus ensinamentos, que pertencem a todos, no interesse do bem comum.

    De olhos postos na Consti tuio, guia e farol de seus votos, que entende,

    na es tei ra da doutr ina de CARL SCHMITT, a norma das normas e a forma

    das formas, Vossa Excelncia, no Recurso Extraordinrio 80.004, sustentan

    do a tese da revogabilidade do tratado pela lei, deu vigorosa lio, sintetizada

    neste passo do seu voto admirvel: Mesmo no caso em que a Consti tuio

    manda incorporar ao direi to interno as normas do direi to internacional ou as

    disposies dos tratados, a recepo do direi to internacional no quadro do direito interno no significa que o corpo legislativo fique impedido de editar no

    vas leis , contrrias ao disposto nos tratados.

    Eis alguns poucos votos, recolhidos ao acaso, entre os milhares que Vossa

    Excelncia proferiu, que exprimem a dimenso de suas at ividades na Suprema

    Corte e lhe traam o perfil de grande juiz.

    E se seus votos refletem a perfeita compreenso da tarefa de juiz desse

    Tribunal, se se encontram repletos de manifestaes da sua cultura jurdica in-

    comum, que lhe permite transitar , com desafogo e conforto, por-todos os am

    plos domnios do direito, eles no escondem a sua delicada . nibilidade de

    humanista, pronto a introduzir, com leveza e bom gosto, refrfreias literrias

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    na muitas vezes extenuante rotina dos servios da Corte. Oua-se, dentre mui

    tos, este voto, proferido no Recurso Extraordinrio 88.716:

    Senhor Presidente ,

    O erudito e preciso voto do eminente Relator me trouxe

    lembrana um conceito de Ea de Queiroz sobre a crt ica por

    tuguesa, a respeito, no sei se de um livro de poemas de Guer

    ra Junqueiro ou de Antero de Quental, de que h certas obras

    literrias que o mximo que a crtica pode fazer dizer onde

    se encontram e quanto custam.

    O voto de S. Exa. foi to primorosamente deduzido e

    fundamentado, que, a rigor, me bastaria dizer, com simplici

    dade, que estou plenamente de acordo com os seus fundamen

    tos e as suas concluses.

    Com essas palavras, que revelam a sua capacidade de admirar e aplau

    dir, Vossa Excelncia enalteceu o voto inconstil , que versou, com maestria,

    ao lado de questes processuais de relevo, a formao do contrato preliminar,

    profer ido, em caso rumoroso e in tr incado, pelo eminente Minis tro MOREIRA

    ALVES, que, hoje , assume, na sua i lustre companhia a adminis trao do Su

    premo Tribunal, no relevante posto de Vice-Presidente. Naquele voto, que

    manteve a Corte fiel s tradies de PEDRO LESSA e de seus grandes juizes,

    incandescem as qual idades do Minis tro MOREIRA ALVES, que os advogados

    brasi le iros reconhecem e proclamam, no momento em que exprimem, em sau

    dao, que a praxe quer breve, os seus elevados sentimentos a esse juiz insig

    ne,

    professor consagrado, autor das melhores obras que ornamentam a l i tera

    tura jurdic a brasileira h odi erna , codificador, que , nesse Tribunal, faz hon ra

    classe de que proveio, pela altivez e pugnacidade com que sustenta suas deci

    ses , destaque luminoso no panorama judicir io do nosso tempo.

    Vossa Excelncia substitui, na chefia do Supremo Tribunal, o incuto Mi

    nis tro XAVIER DE ALBUQUERQUE, de cuja luzente passagem pela Corte e

    por sua Presidncia dir, em sesso prxima, voz mais poderosa. No momento

    em que ele deixa as suas funes, a Ordem, que ele serviu em cargos de relevo,

    nos seus Conselhos do Amazonas e do Distrito Federal, se apresta a acolher,

    de novo, em seu regao, o advogado, que honrou a toga de juiz, envergada

    com nobreza e auster idade.

    Aos seus dotes de jur is ta e de Juiz , Senhor Minis tro CORDEIRO GUER

    RA, somam-se virtudes carssimas ao nosso povo. A devoo famlia, a vo

    cao da am izad e, a lhaneza de tra to , o gosto pela conversa, pelos casos e di

    tos de esprito. E a extrema bondade, a bondade que, segundo o EA da sua

    predileo, faz os homens preferidos de Deus; a mesma suave bondade com

    que orientou tantos moos, com que estimulou, mediante exemplos, l ies e

    cobranas, h quase vinte anos, os primeiros passos da carreira de um jovem,

    chegado da provncia, sem conhecer quem lhe firmasse os atestados, que a bu

    rocracia transformava em requisito de ingresso na vida universitria, aturdido

    e esmagado, d iante da metrpole desaf iadora e mister iosa .

  • 7/24/2019 Supremo Institucional (1983)

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    31

    Todos esses dons os seus excelentes predicados de juiz e de homem

    infundem nos advogados do Brasil a convico irrefragvel de que, no binio,

    iniciado hoje, Vossa Excelncia conduzir o Supremo Tribunal Federal, ref

    gio,

    fortaleza e esperana de cada cidado desta terra, ao encontro do seu des

    tino.

    Consinta que, ao saud-lo por honroso encargo do Presidente BERNAR

    DO CABRAL, em nome da minha classe, indissociavelmente vinculada insti

    tuio , que Vossa Excelncia integra, expressan do o jbilo da Ord em do s

    Advogados do Brasil normalmente sbria e recatada nas suas manifestaes

    por sua asceno Presidncia do Supremo Tribunal Federal, do Conselho

    Nacional da Magistratura e Chefia do Poder Judicirio brasileiro, eu renove

    os votos, muito sinceros e vibrantes, que lhe levou a carta, escrita no dia glo

    rioso de sua posse nessa Corte sacratssima: auguro-lhe todas as felicidades e

    desejo que, do Alto, lhe venha a luz, que faz dos juizes a mo de Deus sobre

    a terra.

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    Discurso do Senhor Ministro Cordeiro Guerra,

    Presidente

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    Excelncias

    Egrgio Tribunal

    Minhas Senhoras. Meus Senhores.

    Li, atentamente, os discursos de posse dos eminentes juizes que me prece

    deram na honrosa funo que ora assumo, por deliberao soberana de meus

    eminentes pares, e observei que, mesmo os maiores magistrados que a Nao

    j produziu e consagrou, acostumados a julgar com serenidade e f irmeza, se

    sentem possudos de emoo indisfarvel pela magnitude do encargo e o peso

    das responsabil idades que recebem.

    Deram-me a impresso de ver corajosos alpinistas vitoriosos na escalada

    dif ci l e perigosa meditando absortos na contemplao do grande panorama.

    Acodem-lhes as reminiscncias guardadas do caminho percorrido e procu

    ram traduzir as esperanas de um futuro melhor para o povo de nossa terra e

    para a justia que o serve.

    No escapo regra geral agravada pelas limitaes que me so prprias,

    acrescidas ainda agora pela generosidade evidente dos ilustres oradores que me

    saudaram, o Senhor Min i s t ro ALDIR PASSARINHO, o Procurador -Gera l da

    Repblica , Dr . INO CN CIO M RT IRES C OE LH O, e o Profes sor SRG IO

    B E R M UDE S .

    Profunda a minha emoo. Grande o meu reconhecimento. Guardo na

    memria o estranho sentimento que, em minha longnqua juventude, me pro

    duziram as cerimnias mili tares do arr iar e hastear da bandeira e as de trans

    misso de comandos a que assistia levado pela mo segura e protetora de meu

    pai.

    S agora tenho conscincia de que elas traduziam a continuidade da P

    tr ia e a permanncia do princpio da autoridade.

    Vejo nesta solenidade a nica exceo singeleza das sesses desta alta

    Corte algo de semelhante, porque menos se comemora a posse dos elei tos

    que a grandeza da inst i tuio judicante e a continuidade do princpio da sua

    autor idade.

    O Supremo Tribunal Federal soberano no aplicar a Consti tuio e as

    leis.

    O seu Presidente o representa, no o dir ige. Traduz um pensamento, no

    o cria, nem o impe. Composto de vares i lustres , provados em longa vida

    pblica, no tem aspiraes prprias . Inspiram-no o bem comum e o ideal da

    legalidade e justia.

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    Sabiamente a Consti tuio da Repblica, ao consagrar o carter nacional

    do Poder Judicirio, defere-lhe a posio de rgo prminente, de superposi

    o a todos os juzos e tribunais do Pas, quer os da justia ordinria, quer

    aqueles das justias especiais, com jurisdio em todo o territrio nacional.

    Ponto culminante da Magis t ratura bras i lei ra .

    JOS FREDERICO MARQUES, com propr iedade , r esumiu:

    Corte Consti tucional , no mais amplo sentido da palavra

    (v., infra, n? 172); rgo de controle da aplicao do Direito

    Federal pela Justia Militar e pela justia federal ordinria;

    tribunal especial para processar e julgar conflitos de atribui

    es e de jurisdio, e ainda para o processo e julgamento de

    litgios ou causas de grande interesse nacional, o Supremo Tri

    bunal Federal , alm do mais e, neste passo, em grande des

    taque, o Tribunal da Federao, como acertadamente o disse

    o notvel magistrado que tanto o honrou, Ministro Eloy

    Jos da Rocha (v., infra, n? 170).

    Por meio, ainda, da avocatria e do habeas corpus, sua

    jurisdio se estende sobre qualquer categoria ou setor da ma

    gistratura nacional , at ingindo, alm disso, mediante o ci tado

    writ at mesmo as decises de rgos no judicirios, e com o

    mandado de segurana, atos emanados dos rgos de cpula

    do Poder Pblico (Const , da Repblica, ar t . 119, I ,h e / ) .

    Para o exerccio de funes to variadas e relevantes, o

    Supremo Tr ibunal goza da mais ampla autonomia, achando-se

    invest ido, para isso, de extenso poder normativo. (A REFOR

    MA DO PODER JUDICIRIO, ps . 301/302) .

    Tem amplssima competncia originria e recursal e ainda, por intermdio

    do Conselho Nacional da Magistratura, competncia discipl inar sobre os mem

    bros da Magistratura Nacional , nos casos especif icados.

    Penso que ao Supremo Tribunal Federal cabe zelar pelo cumprimento dos

    deveres da Magistratura e, tambm, assisti-la na defesa de suas prerrogativas

    consti tucionais .

    A Consti tuio da Repblica expressa:

    A rt . 6? So Pod eres da Un io, independ entes e harm nico s, o Legislati

    vo,

    o Executivo e o Judicirio.

    CHESTER J . ANTIEU, moderno cons t i tucional is ta amer icano, observou:

    A doutr ina da separao de poderes foi considerada ne

    cessria pelos constituintes americanos, por duas razes prin

    cipais:

    primeiro, para proteger a l iberdade dos cidados; se

    gundo, para proteger a independncia de cada ramo do gover

    no e defend-lo da dominao e interferncia dos outros.

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    MONTESQUIEU escreveu:

    Quando os poderes legislativo e executivo esto reunidos

    numa s pessoa, ou no mesmo corpo de magistrados, no po

    de haver l iberdade.. . Do mesmo modo, no h l iberdade se o

    Poder Judicirio no for separado do Legislativo ou do Exe

    cu tivo (MOD ERN CO NS TITU TIO NA L LAW vo l. I I ,

    11:13, p. 200 1969).

    PONTES DE MIRANDA, com a acuidade habi tual , ass inalou:

    Os poderes so teoricamente independentes e harmni

    cos.

    No h, em princpio, predominncia de qualquer deles.

    O exerccio de cada um dos trs que pode fazer um de

    les preponderar, ou porque tal exerccio seja demasiado, de

    modo que um dos poderes passe a superar os outros, ou por

    que os outros no dem ao exerccio a intensidade que seria

    n o rm a l (C O M EN T R IO S C O N S TITU I O D E 1 96 7,

    com a EC n? 1/69, tomo I, p. 547).

    Acrescentando,

    no mundo jurdico, os t rs poderes tm a mesma al tura; no

    mundo ftico, mais alto o que mais merece, ou o que se

    conservou onde devia estar, enquanto os outros baixaram de

    nvel, (idem, p. 548).

    No creio que tal entendimento seja integralmente correto, pois, se ver

    dade que ALEXANDER HAMILTON considerou o Poder Judic ir io Indis

    cut ivelmente o mais fraco dos t rs poderes, no n? 78 do THE FEDERA

    LIST, deu outras razes:

    O Judicirio, pela natureza de suas funes, sera o me

    nos perigoso para os direi tos pol t icos da Const i tuio, porque

    ser o menor para prejudic-los ou feri-los. O Executivo no

    somente outorga as honras, como detm a espada da comuni

    dade. O Legislat ivo no somente controla a bolsa, como pres

    creve as normas pelas quais os direitos e deveres dos cidados

    so regulados. O Judicirio, pelo contrrio, no tem influn

    cia quer sobre a espada, quer sobre a bolsa; no tem ao so

    bre a fora ou a riqueza da sociedade; e no pode tomar a ini

    ciativa. Pode-se dizer com verdade, que no tem fora e von

    tade, mas to-s o poder de julgar.

    Esse pensar , no d izer de C. HERMANN PRITCHETT, professor da Uni

    versidade de Chicago, ainda razoavelmente atual, mais de 180 anos aps a

    sua emisso, porm, acrescenta:

    No obstante , para o momento presente o ju lgamento

    mais que a fora e a vontade, que o mais importante.

    (THE AMERICAN CONSTITUTION 2? ed . 1968 p .

    115).

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    Negar execuo s decises dos Tribunais transigir com a anarquia e a

    dissoluo da Unio, disse o Presidente EISENHOWER, em 1957, ao determi

    nar o envio de fora para tornar efetivo o aresto da Suprema Corte que ps

    termo segregao racial nas escolas do Arkansas.

    De fato, j assinalava ALEXIS DE TOCQUEVILLE que os governos s

    tm dois meios de impor a sua vontade: pela fora ou pela autoridade dos jul

    gados dos Tribunais.

    Urge, portanto, sejam estes assist idos, prestigiados e honrados porque

    s pode haver bom governo onde h boa justia.

    Da a necessidade da harmonia e cooperao entre os poderes da Repbli

    ca, para que o bem comum seja preservado e os cidados se sintam garanti

    dos.

    No h divergncias possveis e muito menos insuperveis entre os Pode

    res da Unio, pois todos visam ao mesmo objetivo a preservao dos direi

    tos fundamentais do homem, a propriedade, a l iberdade e a segurana dos ci

    dados .

    J t ive oportunidade de assinalar que o mundo moderno exige de todos

    compreenso e clarividncia para que se preserve a Constituio, de modo que

    o desenvolvimento do pas se faa com liberdade, dentro da ordem jurdica

    que comporta aperfeioamentos, mas no deve ser subvertida.

    Penso como PORTALIS, no admirvel discurso preliminar do Cdigo Ci

    vil,

    que o esprito reformador deve ser inspirado pela prudncia e ter o senso

    da opor tunidade .

    til conservar tudo o que no necessrio destruir.

    Pois ,

    como ens ina GEORGES RIPERT:

    A obra do jurista a nica que permanece quando cessa

    o tumulto das revolues . (ASPECTS JURIDIQUES DU

    CA PI TA LI SM E M O D ER N E p . 3 42 ).

    Em conseqncia, o Magistrado deve obedincia lei.

    Uma tomada de posio pblica contra a lei diz

    MAURICE AYDALOT, Pr ime i ro Pres iden te Honor r io da

    Corte de Cassao Francesa privaria o juiz do capital de

    imparcialidade e neutralidade que a sua fora. Quando a

    parte se apresenta perante o seu juiz, deve estar segura de que

    a lei ser aplicada, em seu favor ou contra ela, mas sem restri

    es ou preconceitos. Se o juiz descumpre a lei, a parte ser

    tentada a desprez-lo. Ser o f im da justia.

    (M AG IST RA T Laffont, 1976) .

    Julgar, como j t ive oportunidade de dizer, por certo, no um atributo

    divino, um ato humano, que exige claro entendimento, um reto proceder,

    acendrado amor ao trabalho, elevado respeito s leis e seguro senso de justia.

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    Exigem-se dos Magistrados virtudes especialssimas, a renncia e a cora

    gem, o desprezo pela incompreenso freqente, a serenidade diante do apodo e

    da malcia dos vencidos, e constante atual izao de conhecimentos adquir idos

    atravs dos tempos.

    No passou despercebida ao i lus t re Pres idente THOMPSON FLORES, no

    seu discurso de posse, a necessidade de se atender ao recrutamento dos juizes.

    Renovo essa preocupao com as palavras que proferi na Associao dos

    Magistrados Brasileiros.

    Foi LA BRUYRE quem, no LES CARACTRES, no sculo XVII , ob

    servou:

    Il n'y a aucun mtier, qui n'ait son apprentissage ...

    Il y a l 'cole de la guerre, ou est l 'cole du magistrat?

    O Ministro das Relaes Exteriores cedo se apercebeu da necessidade de

    preparar diplomatas para a representao do Brasi l no exterior e fundou o Ins

    t i tuto Rio Branco.

    No IV Congresso Interamericano do Ministr io Pblico, real izado em

    Braslia, em maio de 1972, salientei, seno a necessidade, pelo menos a conve

    nincia de se criar, para a Magistratura, o Instituto Teixeira de Freitas, com a

    mesma final idade.

    Dizia, ento, que no era possvel deferir a algum, cuja personalidade,

    cujo passado se ignorava, os maiores poderes do Estado, sem que se pudesse

    prever ou pressentir o modo por que viriam a ser usados.

    A Lei Orgnica da Magistratura Nacional abordou o tema e abriu pers

    pectivas para a cr iao e valorizao de uma escola de magistrados.

    Ao ensino tcnico-jurdico, h de se acrescentar a formao moral do ma

    gistrado, do juiz, que deve ser preparado para enfrentar as agruras do ofcio.

    claro que o homem bem instrudo para a misso de julgar , julgar mais

    e melhor; e o homem educado para o sacrif cio e a independncia melhor en

    frentar os perigos a que se expe.

    S assim, teremos bons magistrados, moralmente fortes e intelectualmente

    preparados . Juizes como o POPINOT, que descreve BALZAC que era juiz

    como a mor te a mor te.

    Um juiz no Deus, seu dever de adaptar os fatos aos

    princpios, de julgar espcies variveis ao infinito, em se utili

    zando de uma medida determinada. Se o juiz t ivesse o poder

    de 1er as conscincias e penetrar os motivos de modo a dar

    sentenas equitat ivas, cada juiz seria um grande homem

    dizia BALZAC, que acrescentava, em seu tempo:

    A Frana tem necessidade de cerca de seis mil juizes; ne

    nhuma gerao tem seis mil grandes homens a seu servio,

    com mais forte razo no pode ela encontr-los para a sua

    mag i s t r a t u r a . ( L ' I NTERDI CTI ON) .

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    No obs tan te , como d iz ia HERMANN HESSE:

    Se a sabedoria se adquire, a experincia se transmite.

    Essa a funo da Escola de Magistrados. Transmitir aos novos a experin

    cia adquirida pelos mais antigos, de modo que afaste, dos que se iniciam, per

    plexidades que os mais velhos j venceram, custa de muitos estudos e sa

    crifcios.

    uma sugesto que apresento aos demais poderes da Unio, no momento

    culminante de minha vida pblica.

    O Magistrado um servidor e um mandatr io da comunidade, no um

    senhor feudal de barao e cutelo.

    O seu enorme poder no deve ser um motivo de orgulho, mas um apelo

    humildade pelo risco de mal aplic-lo.

    preciso ter f no Direito, na nobreza mpar de suas funes, exerc-las

    com serenidade, energia e discrio.

    Tenho para mim, no momento em que ascendo Presidncia desta Corte,

    uma certeza e uma esperana.

    A certeza de que no me faltar o apoio do Egrgio Tribunal, nem o con

    selho prudente e amigo deste grande Magistrado, que foi eleito Vice-Presidente

    desta Casa, o eminente Minis tro JOS CARLOS MOREIRA ALVES, dos

    mais ilustres cultores do Direito que o Brasil j teve; e a esperana de ver a

    justia de minha terra cada vez mais altiva, sobranceira, independente e forte,

    na compreenso dos demais poderes e no respeito de seus jurisdicionados, pela

    inteligncia, saber e austeridade de seus juizes.

    Procurarei, com a ajuda de Deus, cumprir o meu dever, sem brilho, po

    rm com todo empenho de corresponder generosa confiana de quantos me

    honram com sua presena nesta solenidade.

    Que assim seja

    Agradeo s Eminentssimas autoridades civis, militares e eclesisticas da

    Repblica o comparecimento a esta sesso solene. Ao encerr-la, peo a todos

    os presentes que aguardem a retirada da Corte para o salo anexo, onde esta

    ter o prazer de receber aqueles que desejarem manifestar sua estima e solida

    riedade aos eleitos.

    A todos, muito obrigado.

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    IMP/