superior tribunal de justiça - jurisite · 2. a embriaguez do ... constituição federal, alega a...

31
Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.478.648 - PR (2014/0180988-1) RELATOR : MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP) REL. P/ ACÓRDÃO : MINISTRO NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC) RECORRENTE : TATIANA PEREIRA ABDALA ADVOGADOS : JOSÉ RICARDO BAITELLO ROBERTO BRZEZINSKI NETO E OUTRO(S) RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ EMENTA PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME DE FURTO. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA RECONHECIMENTO DA 'DESTREZA' (CP, ART. 155, § 4º, INC. II). RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO APENAS PARA AFASTAR A QUALIFICADORA. 1. Conforme o Código Penal, ocorre "furto qualificado ", entre outras hipóteses, quando é cometido "com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza " (CP, art. 155, § 4º, inc. II). Somente a excepcional, incomum, habilidade do agente, que com movimento das mãos consegue subtrair a coisa que se encontra na posse da vítima sem despertar-lhe a atenção, é que caracteriza, revela, a "destreza". Não configuram essa qualificadora os atos dissimulados comuns aos crimes contra o patrimônio - que, por óbvio, não são praticados às escancaras. 2. A embriaguez do agente constituirá causa especial de diminuição de pena se comprovadas as condições do § 2º do art. 28 do Código Penal. Se as instâncias ordinárias decidiram que elas não se encontram presentes, não como conhecer do inconformismo do recorrente, pois, conforme a Súmula n. 7 do Superior Tribunal de Justiça, "a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial ". 3. Recurso especial parcialmente provido apenas para afastar a qualificadora da destreza. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, conhecer do recurso e lhe dar parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC), relator para o acórdão. Os Srs. Ministros Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Newton Trisotto. Votaram vencidos os Srs. Ministros Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP) e Gurgel de Faria. Brasília (DF), 16 de dezembro de 2014(data do julgamento) Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 de 31

Upload: dangque

Post on 11-Oct-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.478.648 - PR (2014/0180988-1) RELATOR : MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)REL. P/ ACÓRDÃO

: MINISTRO NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC)

RECORRENTE : TATIANA PEREIRA ABDALA ADVOGADOS : JOSÉ RICARDO BAITELLO

ROBERTO BRZEZINSKI NETO E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

EMENTA

PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME DE FURTO. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA RECONHECIMENTO DA 'DESTREZA' (CP, ART. 155, § 4º, INC. II). RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO APENAS PARA AFASTAR A QUALIFICADORA.

1. Conforme o Código Penal, ocorre "furto qualificado ", entre outras hipóteses, quando é cometido "com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza " (CP, art. 155, § 4º, inc. II).

Somente a excepcional, incomum, habilidade do agente, que com movimento das mãos consegue subtrair a coisa que se encontra na posse da vítima sem despertar-lhe a atenção, é que caracteriza, revela, a "destreza".

Não configuram essa qualificadora os atos dissimulados comuns aos crimes contra o patrimônio - que, por óbvio, não são praticados às escancaras.

2. A embriaguez do agente constituirá causa especial de diminuição de pena se comprovadas as condições do § 2º do art. 28 do Código Penal. Se as instâncias ordinárias decidiram que elas não se encontram presentes, não há como conhecer do inconformismo do recorrente, pois, conforme a Súmula n. 7 do Superior Tribunal de Justiça, "a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial ".

3. Recurso especial parcialmente provido apenas para afastar a qualificadora da destreza.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, conhecer do recurso e lhe dar parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC), relator para o acórdão. Os Srs. Ministros Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Newton Trisotto. Votaram vencidos os Srs. Ministros Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP) e Gurgel de Faria.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 2014(data do julgamento)

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015

Página 1 de 31

Page 2: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

MINISTRO NEWTON TRISOTTO(Desembargador Convocado do TJ/SC)

Relator para o acórdão

Acórdão republicado por ter saído com incorreção no Diário da Justiça de 02.02.2015.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015

Página 2 de 31

Page 3: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.478.648 - PR (2014/0180988-1)RELATOR : MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)RECORRENTE : TATIANA PEREIRA ABDALA ADVOGADOS : JOSÉ RICARDO BAITELLO

ROBERTO BRZEZINSKI NETO E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)(Relator):

1. A recorrente foi condenada, em primeiro grau, pela prática do crime

de furto privilegiado/qualificado, em continuidade delitiva (art. 155, § § 2º e 4º, II c/c

o art. 71, todos do Código Penal), à pena de 9 meses de reclusão e 18 dias-multa, em

regime inicial aberto, com substituição da pena privativa de liberdade por uma

restritiva de liberdade, consistente em prestação de serviços à comunidade (fls. e-STJ

434/475).

2. O Acórdão da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado

do Paraná negou provimento ao apelo da ré e proveu a apelação do Ministério Público,

encapsulado na seguinte ementa (fls. e-STJ 592/593):

APELAÇÃO CRIMINAL – (ART. 155, §§ 2º e 4º, INCISO II, C/C ART. 71, CAPUT, AMBOS DO CÓDIGO PENAL) – RECURSO DA APELANTE TATIANA PEREIRA ABDALLA. PEDIDO PELA APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO – IMPUTABILIDADE DA APELANTE EM RAZÃO DA EMBRIAGUEZ INCOMPLETA (§ 2º DO ART. 28 DO CÓDIGO PENAL) – DESCABIMENTO – INCAPACIDADE NÃO DEMONSTRADA – DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES – AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA DA DESTREZA. – INACOLHIMENTO – HABILIDADE DA RÉ EM SUA CONDUTA RECONHECIDA – QUALIFICADORA CONFIGURADA – RECURSO NÃO PROVIDO. APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INCONFORMISMO MINISTERIAL QUANTO AO RECONHECIMENTO DO FURTO PRIVILEGIADO – TESE ACOLHIDA. – REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS – QUANTUM DA RES FURTIVA QUE DEVE TER COMO PARÂMETRO O SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS. – PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. – VALOR, NO CASO, QUE NÃO DEVE SER CONSIDERADO COMO

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 3 de 31

Page 4: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

INSIGNIFICANTE (R$ 740,00). SENTENÇA REFORMADA.- RECURSO DESPROVIDO.

3. Os Embargos de declaração defensivos foram rejeitados em

acórdão encimado pela seguinte ementa:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. – APELAÇÃO CRIMINAL. – (ART. 155, §§ 2º E 4º, INCISO II, C/C ART. 71, CAPUT, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). ALEGADA OMISSÃO. – INOCORRÊNCIA. – PLEITOS ANALISADOS E FUNDAMENTADOS CORRETAMENTE – DECLARATÓRIOS REJEITADOS.

4. Diante do acolhimento do recurso ministerial, a pena da ré foi

estabelecida, em definitivo, em 2 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial aberto,

substituída por duas restritivas de direito, consistentes em prestação de serviços à

comunidade e prestação pecuniária (fls. e-STJ 619/620).

5. Em seu recurso especial, amparado no art. 105, III, alíneas a e c da

Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, violação ao § 2º do art. 28 do CP;

ao inciso II do § 4º do art. 155 do CP; ao § 2º do art. 155 do CP, além de dissídio

jurisprudencial quanto aos dois últimos dispositivos. Afirma a recorrente que a ofensa

ao § 2º do art. 28 do CP não atrai a incidência da Súmula 07 do STJ, no caso concreto.

6. Em contrarrazões, o Ministério Público do Estado do Paraná

manifestou-se pelo não conhecimento ou pela negativa de seguimento do Recurso

Especial, em razão da incidência dos óbices das Súmulas 7 e 83/STJ (fls. e-STJ

704/712).

7. O Ministério Público Federal ofereceu parecer pugnando pelo

desprovimento do recurso (fls. e-STJ 779/793).

É o relatório.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 4 de 31

Page 5: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.478.648 - PR (2014/0180988-1)

VOTO VENCIDO

O EXMO. SR. MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)(Relator):

Inicialmente, destaco o bem elaborado recurso, a dedicação e o afinco

do ilustre Advogado na defesa dos interesses de sua cliente.

8. Analiso.

Violação ao § 2º do art. 28 do CP.

Manifestação expressa sobre o tema no acórdão que julgou a

apelação, bem como nos embargos de declaração.

Necessidade de revolvimento da matéria probatória ou revaloração do

conjunto de provas?

Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas, ontologicamente, de

categorias diferentes. E esta Corte Superior de Justiça, distinguindo, não admite

recurso especial quando “a pretensão é de simples reexame de prova” (Súmula 07),

mas o faz quando se trata de revaloração dos elementos utilizados na apreciação dos

fatos pelo Tribunal a quo e pela sentença, como se colhe, por exemplo, do AgRg no

REsp. n. 103.5550/PR, Relator Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 13/05/2011;

do REsp. n. 856.706/AC, Relatora Ministra Laurita Vaz, Relator p/ acórdão Ministro

Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 06/05/2010, DJe 28/06/2010; e do AgRg no

REsp n. 1046668/SP, Relatora Ministra Jane Silva (Des. Conv. do TJ/MG), Sexta

Turma, DJe 03/11/2008).

Uma coisa é reexaminar a prova, outra é revalorá-la, convindo

colacionar a respeito:

“(...)

2.- Havendo o Tribunal de origem obedecido as regras jurídicas para apreciação do material probatório, torna-se inadmissível o reexame

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 5 de 31

Page 6: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

de provas em sede de Recurso Especial. Não se tratando de revaloração, mas de reexame de provas, aplica-se a Súmula 07 desta Corte.” (AgRg no AREsp. 549.236/RS, Relator Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, J. 19/08/2014).

Assevera a recorrente, em síntese, que ingeriu medicamentos

controlados e que, antes dos fatos e no próprio bar onde o furto teria ocorrido,

consumiu quantidade expressiva de bebida alcoólica fermentada e destilada, tudo a

atrair a aplicação do disposto no art. 28, § 2º do CP.

A propósito desses fatos, destacou o acórdão recorrido:

“In casu, não há prova cabal a demonstrar a incapacidade da ré de entender o caráter ilícito dos fatos ocorridos, muito menos que tenham sido eles involuntários.

(...).

Outrossim, verifica-se dos autos que o uso do medicamento deu-se 07 (sete) horas antes dos fatos, onde mesmo o parecer médico foi esclarecedor quanto a este quesito, não podendo afirmar, com certeza, se a apelante estava sob efeitos dos medicamentos quando o consumo do álcool, situação esta, inclusive, ante da ausência de comprovação da quantidade de bebida alcoólica, quais foram os remédios efetivamente ingeridos e a quantidade em que foram tomados.”

No corpo do acórdão está assentado:

Assim, da maneira como se deram os fatos não se pode visualizar a alegada falta de capacidade da apelante, a qual, após expor estar 'abalada' com a notícia de que seu pai estaria internado com suspeita de gripe suína, gripe aviária ou GRIPE A, se utilizou de medicamento controlado e 07 (sete) horas depois frequentou dois bares e ingeriu bebida alcoólica.

Da mesma forma, foi precisa na investida contra o patrimônio de três vítimas diferentes, dispensando produtos que não lhe interessavam no lixo do banheiro do bar, e quando os fatos foram descobertos pelo segurança, declarou para as próprias vítimas que já havia sido furtada naquele estabelecimento, sendo sua conduta descoberta quando o celular furtado tocou em sua bolsa e quando revistada pelo pelo policial militar ameaçou processá-lo por esta atitude.

(...).

'A embriaguez acidental proveniente de caso fortuito ocorre quando o agente ignora a natureza tóxica do que está ingerindo, ou não tem

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 6 de 31

Page 7: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

condições de prever que determinada substância, na quantidade ingerida, ou nas circunstâncias que o faz poderá provocar a embriaguez '. (BITTENCOURT, Cézar Roberto, Manual de Direito Penal: Parte Geral, Ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p 318/319).

Destarte, agiu a apelante de modo premeditado e astuto, sendo

inviável o reconhecimento da excludente da imputabilidade prevista no art. 28, § 2º,

inciso II do Código Penal.

A própria sentença já havia examinado a alegação, concluindo o seu

prolator:

“Por fim, em que pese o estado de ebriedade que se instale em consequência de circunstância fortuita ou motivo de força maior, onde a inteligência e vontade estão comprometidas, configurando a existência de incapacidade de discernimento e transtorno da vontade, restou devidamente comprovado que a ré possuía o pleno discernimento necessário para conhecer o caráter ilícito de suas ações na noite dos fatos, pois ele articulou e tomou os cuidados necessários para que não fosse vista durante as ações e tentou disfarçar (esconder o aparelho celular de uma das vítimas no interior de sua bolsa). Além do mais dispensou, no banheiro feminino, a bolsa que furtou de Janaína, retirando apenas o que considerou objetos de valor. Desta forma, caracterizou-se a plena consciência dos seus atos.

"Inaplicável o Artigo 28,§ 2º, do Código Penal no caso em julgamento. Ou seja, a chamada embriaguez involuntária incompleta. O juízo de censurabilidade da conduta da Ré não pode ser menor. Inaplicável a causa geral de redução das penas.”.

Estando as circunstâncias fáticas delimitadas pelo acórdão recorrido,

inclusive naquele que rejeitou os embargos declaratórios, impedido o reexame da

prova, não há razão para, revalorando-a, decidir de forma diferente do que o fizeram

as instâncias ordinárias.

Com efeito, ainda que se proceda a nova avaliação das circunstâncias

fáticas, não se tem como retirar delas outra conclusão senão aquela perfilhada pela

sentença e pelo acórdão impugnados, porquanto não ficou comprovado que o caso

amolda-se a figura prevista no § 2º do art. 28 do Código Penal que permite a

diminuição da pena, qual seja, a embriaguez involuntária completa.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 7 de 31

Page 8: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

Ao contrário, o que ficou registrado é que a recorrente comportou-se

com discernimento suficiente, tomando todos os cuidados necessários para que não

fosse vista pelas vítimas, escolhendo os objetos a serem furtados, descartando aqueles

sem valor econômico, demonstrando, portanto, plena consciência dos seus atos.

2. Ofensa ao inciso II do § 4º do art. 155 do CP.

Irrogou a denúncia à ré a prática de furto qualificado pela destreza,

porque “empregou habilidade manual no momento da retirada dos objetos e dinheiro

do interior das bolsas das vítimas, sem que estas percebessem a ação.”.

Mais uma vez a recorrente invoca a possibilidade de revaloração da

prova, não incidindo, pois, o enunciado da Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça.

Afirma a recorrente, fundamentalmente, que o furto foi facilmente

percebido pelas pessoas que estavam no recinto, inclusive as próprias vítimas, cujos

depoimentos são citados no contexto do julgado, destacando o depoimento da vítima

Tatiane Klingelfus, referido expressamente no acórdão, conclui: “Ora, nessa

perspectiva, onde a vítima percebeu facilmente a ocorrência dos fatos, não há como ser

mantida a qualificadora da destreza. Diante dos depoimentos citados no acórdão.

Diversas pessoas tinham sérias e fundadas suspeitas de que a Recorrente era a autora

das subtrações.”. E mais adiante: “Assim, se o Ministério Público ao descrever a

qualificadora assinalou que a Recorrente subtraiu os objetos das vítimas “sem que

estas percebessem a ação” e tal circunstância não se mostra coerente com o contexto

inserido no acórdão, há violação ao §4º, do art. 155, do CP, devendo o RESP ser

provido.”.

O acórdão recorrido assentou:

“Em que pese a tese defensiva, o afastamento da qualificadora não procede, porquanto, a desconfiança das vítimas em relação a apelante se deu após os delitos já terem sido consumados, o que inviabiliza seu afastamento, porque devidamente caracterizada.

Nota-se pelas declarações das vítimas, em especial, da ofendida Cristiane Fugita, que o delito somente foi percebido após um garçon do estabelecimento lhe perguntar o nome e informar que havia

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 8 de 31

Page 9: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

encontrado sua carteira no lixo do banheiro.

São reproduzidas no aresto as declarações das ofendidas Cristiane

Fugita e Tatiane Klingelfus, havendo a Turma Julgadora:

“Assim, ao revés do que alega a Defesa, as vítimas não perceberam o momento em que ocorreram as subtrações, somente depois que os delitos já haviam sido consumados, o que configura a qualificadora em debate.Neste sentido, temos que a qualificadora de destreza se fez presentes no caso, não havendo como decotá-la. ”.

A sentença, examinando a qualificadora enunciada na denúncia, disse:

“No que se refere ao furto mediante destreza, existem, nos autos, elementos suficientes que permitem a comprovação concreta da habilidade manual , possibilitando a permanência da qualificadora o inciso II, do §4º, do artigo 155 do Código Penal.”

Aqui também, estando as circunstâncias fáticas delimitadas pelo

acórdão recorrido, inclusive naquele que rejeitou os embargos declaratórios, impedido

o reexame da prova, não há razão para, revalorando-a, decidir diferentemente do que o

fizeram as instâncias ordinárias. Não há, em suma, outro valor a se dar à prova

produzida senão aquele que lhe conferem sentença e acórdão recorrido, este,

reafirmado em seus termos pelo acórdão prolatado nos embargos de declaração.

Não comprovado, outrossim, o dissídio jurisprudencial, na forma do

acórdão trazido a cotejo, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, pois, ainda que

os furtos de bolsas tenham ocorrido em ambientes públicos, as situações fáticas não

são semelhantes, a ponto de se dizer que decisões díspares foram dadas a fatos

idênticos.

3. Violação ao § 2º ao art. 155 do Código Penal.

O acórdão recorrido, ao dar provimento ao apelo do Ministério

Público, assinalou que, “não obstante a ré seja, de fato, primária, o total das res

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 9 de 31

Page 10: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

furtiva referente à vitima Janaína de Souza Verges não se verifica ser de pequeno

valor” (R$ 740,00), utilizando como critério o do salário mínimo nacional vigente à

época dos fatos (R$ 465,00), e para isso amparando-se em doutrina e jurisprudência,

tendo asseverado o acórdão que rejeitou os embargos de declaração, que “da simples

leitura do dispositivo legal, observa-se que em nenhum momento o legislador

mencionou que pode ser aplicada a causa especial de diminuição quando o bem é

restituído a vítima, não podendo esta Colenda Câmara predizer a motivação que a

ora embargante requer ”.

No ponto, a recorrente sustenta que a ausência de prejuízo pela

recuperação praticamente total dos bens pelas vítimas é causa de aplicação da figura

do furto privilegiado.

Alega que se compararmos os bens descritos na denúncia com os

documentos de fls. 28 e 30 dos autos (autos de apreensão e entrega), constata-se que

sequer existiu prejuízo para as vitimas.

Aponta dissídio jurisprudencial, citando acórdão do extinto Tribunal

de Alçada Criminal de São Paulo, no qual se considerou que para a verificação do

pequeno valor e, consequentemente para a aplicação da causa de diminuição da pena,

o critério é aquele referente ao prejuízo sofrido pela vitima, em oposição ao acórdão

ora recorrido, que, para a análise do cabimento da causa de diminuição da pena do § 2º

do artigo 155 do Código Penal, considerou o valor total subtraído, desconsiderando o

efetivo prejuízo.

A tese, todavia, não encontra respaldo na interpretação majoritária que

se formou em torno da referida norma legal. Os critérios estabelecidos no art. 155, § 2º

do Código Penal para a diminuição da pena, substituição da pena de reclusão pela de

detenção ou para a aplicação apenas da multa são dois, quais sejam, ser o criminoso

primário e de pequeno valor a coisa furtada. Não estabelece o dispositivo legal que a

devolução dos bens à vítima também seja causa de incidência do privilégio.

A propósito, confira-se anotação do Professor Guilherme de Souza

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 0 de 31

Page 11: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

Nucci ao § 2º do art. 155 do Código Penal:

19. Pequeno valor: não se trata de conceituação pacífica na doutrina e na jurisprudência, tendo em vista que se leva em conta ora o valor do prejuízo causado à vítima, ora o valor da coisa em si. Preferimos o entendimento que privilegia nesse caso, a interpretação literal, ou seja, deve-se ponderar unicamente o valor da coisa, pouco interessando se, para a vítima, o prejuízo foi irrelevante. Afinal, quando o legislador quer considerar o montante do prejuízo deixa isso bem claro, como o fez no caso do estelionato (art. 171, § 1º, CP). Por isso, concordamos plenamente com a corrente majoritária, que sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia equivalente ao salário mínimo. De fato, seria por demais ousado defender a tese de que um objeto cujo valor seja superior ao do salário mínimo - auferido por grande parte da população - possa ser considerado de pequeno valor. (...). (NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, 14 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 832).

Verifica-se que o acórdão recorrido encontra-se em consonância com

a orientação há muito perfilhada por este Superior Tribunal de Justiça, que já decidiu o

seguinte:

“RESP – PENAL – FURTO – PEQUENO VALOR – RECUPERAÇÃO DO OBJETO MATERIAL DO DELITO – A RECUPERAÇÃO DO OBJETO MATERIAL DO FURTO NÃO DESCARACTERIZA A CONSUMAÇÃO. EM SE TRATANDO DE PEQUENO VALOR, DAR-SE-Á O TRATAMENTO PRIVILEGIADO.”. (REsp. 66.826/SP. Relator Ministro Vicente Cernicchiaro, Sexta Turma, J. 25/03/1996).

E ainda:

“PENAL. FURTO PRIVILEGIADO.

A CIRCUNSTÂNCIA DE A VÍTIMA NÃO HAVER SOFRIDO PREJUÍZO, DADA A RECUPERAÇÃO DA RES FURTIVA, NÃO INDUZ APLICAÇÃO DO PRIVILÉGIO. PRECEDENTES. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.”. (REsp. 10.161/SP, Relator Ministro Paulo Costa Leite, Sexta Turma, J. 04/061991).

PENAL. FURTO. FURTO PRIVILEGIADO (CP, ART. 155,

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 1 de 31

Page 12: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

PARAG. 2.) PREJUÍZO DA VITIMA. RESTITUIÇÃO DA RES FURTIVA.

1. - A AUSÊNCIA DE PREJUÍZO EM RAZÃO DA RESTITUIÇÃO A VITIMA DOS OBJETOS FURTADOS NÃO CONSTITUI REQUISITO PARA O RECONHECIMENTO DO FURTO PRIVILEGIADO.

2. - O CRITÉRIO LEGAL ESTABELECIDO NO ART. 155, PARAG. 2., E O DO PEQUENO VALOR DA COISA FURTADA E NÃO DO PREJUÍZO SOFRIDO PELA VITIMA.

3. - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO." (REsp. 67.215/SP, Relator Ministro Edson Vidigal, Quinta Turma, julgado em 16/04/1996, DJ 27/05/1996)

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. INOCORRÊNCIA. ART. 557, CAPUT, DO CPC. RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL E IMPROCEDENTE. AFRONTA AO ART. 155, § 2º, DO CP. FURTO PRIVILEGIADO. PARÂMETRO COM BASE NO VALOR DA COISA SUBTRAÍDA. INDIFERENÇA QUANTO AO PREJUÍZO SOFRIDO PELA VÍTIMA. ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. MALFERIMENTO AO ART. 93, IX, DA CF. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. NÃO CABIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. - Não há se falar em ofensa ao princípio da colegialidade, quando a decisão monocrática é proferida em obediência ao artigo 557 do Código de Processo Civil, que franqueia ao relator a possibilidade de negar seguimento ao recurso, quando manifestamente inadmissível e improcedente.

2. - Este Tribunal Superior sufragou entendimento no sentido de que "a ausência de prejuízo em razão da restituição à vítima dos objetos furtados não constitui requisito para o reconhecimento do furto privilegiado", já que "o critério legal estabelecido no art. 155, § 2º, do CP, é o do pequeno valor da coisa furtada e não do prejuízo sofrido pela vítima". (REsp. 67.215/SP, Rel. Min. EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, DJ 27/05/1996)

3. - A análise de matéria constitucional não é de competência desta Corte, mas sim do Supremo Tribunal Federal, por expressa determinação da Constituição Federal.

4. - Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 2 de 31

Page 13: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

AREsp. 153.360/PR, Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 19.9.2013)

Assim, além de não se constatar a ofensa ao artigo do Código Penal,

quanto ao dissídio, inafastável a incidência da Súmula 83 desta Corte.

9. À vista de todo o exposto, nego provimento ao recurso especial.

É o voto.

MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)

Relator

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 3 de 31

Page 14: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUINTA TURMA

Número Registro: 2014/0180988-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.478.648 / PRMATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00097063520098160013 200900130230 201200456896 201300440468 97063520098160013 9948796 994879602

PAUTA: 21/10/2014 JULGADO: 21/10/2014

RelatorExmo. Sr. Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. PAULO DE TARSO BRAZ LUCAS

SecretárioBel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : TATIANA PEREIRA ABDALAADVOGADOS : JOSÉ RICARDO BAITELLO

ROBERTO BRZEZINSKI NETO E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Furto Qualificado

SUSTENTAÇÃO ORAL

SUSTENTOU ORALMENTE: DR. THIAGO GOMES ANASTÁCIO (P/RECTE)

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"Após o voto do Sr. Ministro Relator conhecendo do recurso e lhe negando provimento, pediu vista, antecipadamente, o Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC)."

Aguardam os Srs. Ministros Felix Fischer, Jorge Mussi e Gurgel de Faria.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 4 de 31

Page 15: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.478.648 - PR (2014/0180988-1)

VOTO-VISTAiMINISTRO NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC):

TATIANA PEREIRA ABDALLA foi condenada à pena de 9 (nove)

meses e 18 (dezoito) dias de reclusão e ao pagamento de 4 (quatro) dias-multa, por

infração ao art. 155, §§ 2º e 4º, inc. II, c.c. o art. 71, caput , do Código Penal (por três

vezes). A pena privativa de liberdade foi substituída por uma restritiva de direitos,

consistente na prestação de serviços à comunidade (fls. 434/475).

Pelas razões explicitadas na ementa do acórdão, a seguir

reproduzidas, a colenda Quinta Câmara do Tribunal de Justiça do Paraná deu

provimento ao recurso do Ministério Público e negou provimento àquele da ré:

"APELAÇÃO CRIMINAL. - (ART. 155, §§ 2° E 4°, INCISO II, C/C ART. 71, CAPUT, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). - RECURSO DA APELANTE TATIANA PEREIRA ABDALLA. - PEDIDO PELA APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO. - IMPUTABILIDADE DA APELANTE EM RAZÃO DA EMBRIAGUEZ INCOMPLETA (§ 2° DO ART. 28 DO CÓDIGO PENAL). - DESCABIMENTO. - INCAPACIDADE NÃO DEMONSTRADA. - DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES. - AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA DA DESTREZA. - INACOLHIMENTO. - HABILIDADE DA RÉ EM SUA CONDUTA RECONHECIDA. - QUALIFICADORA CONFIGURADA. - RECURSO NÃO PROVIDO. - APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. – INCONFORMISMO MINISTERIAL QUANTO AO RECONHECIMENTO DO FURTO PRIVILEGIADO. - TESE ACOLHIDA. - REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. - QUANTUM DA RES FURTIVA QUE DEVE TER COMO PARÂMETRO O SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS. - PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. - VALOR, NO CASO, QUE NÃO DEVE SER CONSIDERADO COMO INSIGNIFICANTE (R$ 740,00). - SENTENÇA REFORMADA. - RECURSO PROVIDO.

I. A atuação sob estado etílico ou de entorpecentes não se configura excludente da imputabilidade, a menos que comprovada a embriaguez, pelo álcool ou substâncias análogas, completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, II e §§, do CP), que tenha comprometido a capacidade de entendimento da ré. In casu , não há prova cabal a demonstrar a incapacidade de entender o caráter ilícito dos fatos ocorridos, muito menos que tenham sido eles involuntários.

II. Verifica-se dos autos que o uso do medicamento deu-se 07 (sete) horas antes dos fatos, onde nem mesmo o parecer médico foi esclarecedor quanto a este quesito, não podendo afirmar, com certeza, se a apelante estava sob efeitos dos medicamento quando do consumo do álcool,

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 5 de 31

Page 16: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

situação esta, inclusive, ante da ausência de comprovação da quantidade de bebida alcóolica, quais foram os remédios efetivamente ingeridos e a quantidade em que foram tomados.

III. "A embriaguez acidental proveniente de caso fortuito ocorre quando o agente ignora a natureza tóxica do que está ingerindo, ou não tem condições de prever que determinada substância, na quantidade ingerida, ou nas circunstâncias que o faz, poderá provocar a embriaguez". (BITENCOURT, Cézar Roberto. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 318/319).

IV. "Destreza: é a agilidade impar dos movimentos de alguém, configurando uma especial habilidade. O batedor de carteira (figura praticamente extinta diante da ousadia dos criminosos atuais) era o melhor exemplo. Por conta da agilidade de suas mãos, conseguia retirar a carteira de alguém, sem que a vítima percebesse." (NUCCI, Guilherme de Souza, Código penal comentado - 10. ed. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010).

V. Em que pese à tese defensiva, o afastamento da qualificadora não procede, porquanto, a desconfiança das vítimas em relação a apelante se deu após os delitos já terem sido consumados, o que inviabiliza seu afastamento, porquanto, devidamente caracterizada.

VI. "APELAÇÃO. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTOS QUALIFICADOS (4X). DESTREZA. CONTINUIDADE DELITIVA. MANUTENÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO E DO ENQUADRAMENTO TÍPICO. (...). 3. CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA. A destreza restou evidenciada a partir da verificação de que o acusado apresentava extraordinária habilidade manual, que lhe permitia retirar objetos do interior das bolsas portadas pelas vítimas sem que elas percebessem. Acusado bem-sucedido em todos os quatro furtos descritos na peça inaugural, tendo sido flagrado apenas quando tentava retirar mais objetos de valor da bolsa portada pela vítima T. Furtos todos consumados, pois o iter criminis foi percorrido em sua inteireza pelo agente nas quatro subtrações. (...) (TJRS. Apelação Crime N° 70044877207, Oitava Câmara Criminal, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em 03/10/2012).

VII. Não obstante a ré seja, de fato, primária, o total das res furtiva referente a vítima Janaina de Souza Verges não se verifica ser de pequeno valor. A jurisprudência e a doutrina vem entendendo que ao avaliar o "pequeno valor" da res, deve-se ter como parâmetro o salário mínimo vigente à época dos fatos.

VIII. "PENAL. ART. 155, CAPUT , DO CÓDIGO PENAL. ABSOLVIÇÃO. ACERVO PROBATÓRIO ROBUSTO. INVIABILIDADE. CRIME PRIVILEGIADO. IMPOSSIBILIDADE. SUBSTITUIÇÃO. SEGUNDA PARTE DO § 2° DO ART. 44 DO CP. Suficientemente comprovadas a materialidade e a autoria pelo farto acervo probatório, não há de prevalecer a tese absolutória. Indispensável à aplicação do princípio da insignificância que estejam comprovados o desvalor do dano, o da ação e o da culpabilidade, não bastando o pequeno valor da coisa furtada, no caso também inocorrente. Transcendendo o valor da res furtiva ao parâmetro jurisprudencial do salário mínimo incabível o reconhecimento de furto privilegiado. Condenado o réu à pena privativa de liberdade igual a 1 (um)

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 6 de 31

Page 17: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

ano, a substituição será somente por uma restritiva de direitos ou multa (primeira parte do § 2° do artigo 44 do CP). Recurso parcialmente provido. (TJDFT. Acórdão n. 649117, 20080510116490APR, Relator: MARIO MACHADO, Revisor: GEORGE LOPES LEITE, 1° Turma Criminal, Data de Julgamento: 24/01/2013, Publicado no DJE: 31/01/2013. Pág.: 127)" (fls. 592/596)

Em relação à dosimetria da pena, está assentado no acórdão:

"Fora aplicada a pena final a ré em 09 (nove) meses e 18 (dezoito) dias de reclusão e 04 (quatro) dias-multa, em regime inicial aberto.

O douto Juízo a quo, ao sopesar as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal na primeira fase, fixou a pena no mínimo legal, em razão de serem favoráveis às circunstâncias; na segunda fase, não houve a presença de agravantes e atenuantes; na terceira fase, operou a redução de 2/3 da pena em razão da benesse do furto privilegiado (art. 155, § 2°, do Código Penal); Após, em razão do crime continuado, aumentou em 1/5, ou seja, em 01 mês e 18 dias de reclusão.

Desta feita, ante o afastamento da benesse do furto privilegiado, resta a pena no mínimo legal, qual seja, em 02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa. Por consequência, diante de o crime ter sido praticado em continuidade delitiva, mantendo o quantum operado na sentença (1/5), fica a pena em DEFINITIVO em 02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 24 (vinte e quatro) dias de reclusão e 12 (doze) dias-multa, em regime inicial aberto.

O regime aberto foi acertadamente fixado, em conformidade com o art. 33, §, alínea 'a', do Código Penal, razão pela qual, deve permanecer inalterada.

Todavia, tendo em vista o quantum de pena fixado, (02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 24 (vinte e quatro) dias de reclusão e 12 (doze) dias-multa), e por preencher a apelante os requisitos do artigo 44 do Código Penal, substituto a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes na prestação de serviços à comunidade na proporção de uma hora por dia de condenação, nos termos do art. 46 do Código Penal e, a ser cumprida conforme determinação do Juízo da Execução, bem como, em prestação pecuniária, no valor de 02 (dois) salários mínimos vigente na época dos fatos, levando-se em consideração a situação econômica da ré" (fls. 618/619).

Não se conformando com o veredicto, a apenada interpôs recurso

especial (CR, art. 105, inc. III, alíneas "a" e "c"), sustentando, em síntese, que: a)

"diante da ingestão pela Recorrente de remédios controlados e álcool ", impunha-se

o reconhecimento da causa de diminuição prevista no art. 28, § 2º, do Código Penal;

b) deve ser aplicada a regra do § 2º do art. 155 do CP; c) "a qualificadora deve ser

extirpada, pois o quadro fático delineado no acórdão não comporta a sua aplicação "

(fls. 653/687).

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 7 de 31

Page 18: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

O Ministro Marco Aurélio Bellizze deu provimento ao agravo interposto

da decisão que não o admitiu (fls. 796/797).

É o relatório.

VOTO:

01. O relator, eminente Ministro Walter de Almeida Guilherme,

Desembargador convocado do TJ/SP, votou no sentido do desprovimento do

recurso. Em seu judicioso voto, consignou:

"Inicialmente, destaco o bem elaborado recurso, a dedicação e o afinco do ilustre Advogado na defesa dos interesses de sua cliente.

8. Analiso.Violação ao § 2º do art. 28 do CP.Manifestação expressa sobre o tema no acórdão que julgou a

apelação, bem como nos embargos de declaração.Necessidade de revolvimento da matéria probatória ou revaloração do

conjunto de provas?Não se trata de simples 'jeu de paroles', mas, ontologicamente, de

categorias diferentes. E esta Corte Superior de Justiça, distinguindo, não admite recurso especial quando 'a pretensão é de simples reexame de prova' (Súmula 07), mas o faz quando se trata de revaloração dos elementos utilizados na apreciação dos fatos pelo Tribunal a quo e pela sentença, como se colhe, por exemplo, do AgRg no REsp. n. 103.5550/PR, Relator Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 13/05/2011; do REsp. n. 856.706/AC, Relatora Ministra Laurita Vaz, Relator p/ acórdão Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 06/05/2010, DJe 28/06/2010; e do AgRg no REsp n. 1046668/SP, Relatora Ministra Jane Silva (Des. Conv. do TJ/MG), Sexta Turma, DJe 03/11/2008).

Uma coisa é reexaminar a prova, outra é revalorá-la, convindo colacionar a respeito:

'(...) 2.- Havendo o Tribunal de origem obedecido as regras jurídicas para

apreciação do material probatório, torna-se inadmissível o reexame de provas em sede de Recurso Especial. Não se tratando de revaloração, mas de reexame de provas, aplica-se a Súmula 07 desta Corte. ” (AgRg no AREsp. 549.236/RS, Relator Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, J. 19/08/2014).

Assevera a recorrente, em síntese, que ingeriu medicamentos controlados e que, antes dos fatos e no próprio bar onde o furto teria ocorrido, consumiu quantidade expressiva de bebida alcoólica fermentada e destilada, tudo a atrair a aplicação do disposto no art. 28, § 2º do CP.

A propósito desses fatos, destacou o acórdão recorrido:“In casu, não há prova cabal a demonstrar a incapacidade da ré de entender

o caráter ilícito dos fatos ocorridos, muito menos que tenham sido eles involuntários.

(...).Outrossim, verifica-se dos autos que o uso do medicamento deu-se 07 (sete)

horas antes dos fatos, onde mesmo o parecer médico foi esclarecedor quanto a

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 8 de 31

Page 19: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

este quesito, não podendo afirmar, com certeza, se a apelante estava sob efeitos dos medicamentos quando o consumo do álcool, situação esta, inclusive, ante da ausência de comprovação da quantidade de bebida alcoólica, quais foram os remédios efetivamente ingeridos e a quantidade em que foram tomados.”

No corpo do acórdão está assentado:Assim, da maneira como se deram os fatos, não se pode visualizar a alegada

falta de capacidade da apelante, a qual, após expor estar 'abalada' com a notícia de que seu pai estaria internado com suspeita de gripe suína, gripe aviária ou GRIPE A, se utilizou de medicamento controlado e 07 (sete) horas depois frequentou dois bares e ingeriu bebida alcoólica.

Da mesma forma, foi precisa na investida contra o patrimônio de três vítimas diferentes, dispensando produtos que não lhe interessavam no lixo do banheiro do bar, e quando os fatos foram descobertos pelo segurança, declarou para as próprias vítimas que já havia sido furtada naquele estabelecimento, sendo sua conduta descoberta quando o celular furtado tocou em sua bolsa e quando revistada pelo policial militar ameaçou processá-lo por esta atitude.

(...).'A embriaguez acidental proveniente de caso fortuito ocorre quando o agente

ignora a natureza tóxica do que está ingerindo, ou não tem condições de prever que determinada substância, na quantidade ingerida, ou nas circunstâncias que o faz poderá provocar a embriaguez '. (BITTENCOURT, Cézar Roberto, Manual de Direito Penal: Parte Geral, Ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p 318/319).

Destarte, agiu a apelante de modo premeditado e astuto, sendo inviável o reconhecimento da excludente da imputabilidade prevista no art. 28, § 2º, inciso II, do Código Penal.

A própria sentença já havia examinado a alegação, concluindo o seu prolator:

'Por fim, em que pese o estado de ebriedade que se instale em consequência de circunstância fortuita ou motivo de força maior, onde a inteligência e vontade estão comprometidas, configurando a existência de incapacidade de discernimento e transtorno da vontade, restou devidamente comprovado que a ré possuía o pleno discernimento necessário para conhecer o caráter ilícito de suas ações na noite dos fatos, pois ele articulou e tomou os cuidados necessários para que não fosse vista durante as ações e tentou disfarçar (esconder o aparelho celular de uma das vítimas no interior de sua bolsa). Além do mais dispensou, no banheiro feminino, a bolsa que furtou de Janaína, retirando apenas o que considerou objetos de valor. Desta forma, caracterizou-se a plena consciência dos seus atos.

"Inaplicável o Artigo 28, § 2º, do Código Penal no caso em julgamento. Ou seja, a chamada embriaguez involuntária incompleta. O juízo de censurabilidade da conduta da Ré não pode ser menor. Inaplicável a causa geral de redução das penas' .

Estando as circunstâncias fáticas delimitadas pelo acórdão recorrido, inclusive naquele que rejeitou os embargos declaratórios, impedido o reexame da prova, não há razão para, revalorando-a, decidir de forma diferente do que o fizeram as instâncias ordinárias.

Com efeito, ainda que se proceda a nova avaliação das circunstâncias fáticas, não se tem como retirar delas outra conclusão senão aquela perfilhada pela sentença e pelo acórdão impugnados, porquanto não ficou comprovado que o caso amolda-se a figura prevista no § 2º do art. 28 do

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 1 9 de 31

Page 20: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

Código Penal que permite a diminuição da pena, qual seja, a embriaguez involuntária completa.

Ao contrário, o que ficou registrado é que a recorrente comportou-se com discernimento suficiente, tomando todos os cuidados necessários para que não fosse vista pelas vítimas, escolhendo os objetos a serem furtados, descartando aqueles sem valor econômico, demonstrando, portanto, plena consciência dos seus atos.

2. Ofensa ao inciso II do § 4º do art. 155 do CP.Irrogou a denúncia à ré a prática de furto qualificado pela destreza,

porque “empregou habilidade manual no momento da retirada dos objetos e dinheiro do interior das bolsas das vítimas, sem que estas percebessem a ação.”.

Mais uma vez a recorrente invoca a possibilidade de revaloração da prova, não incidindo, pois, o enunciado da Súmula 07 do Superior Tribunal de Justiça.

Afirma a recorrente, fundamentalmente, que o furto foi facilmente percebido pelas pessoas que estavam no recinto, inclusive as próprias vítimas, cujos depoimentos são citados no contexto do julgado, destacando o depoimento da vítima Tatiane Klingelfus, referido expressamente no acórdão, conclui: “Ora, nessa perspectiva, onde a vítima percebeu facilmente a ocorrência dos fatos, não há como ser mantida a qualificadora da destreza. Diante dos depoimentos citados no acórdão. Diversas pessoas tinham sérias e fundadas suspeitas de que a Recorrente era a autora das subtrações.”. E mais adiante: “Assim, se o Ministério Público ao descrever a qualificadora assinalou que a Recorrente subtraiu os objetos das vítimas “sem que estas percebessem a ação ” e tal circunstância não se mostra coerente com o contexto inserido no acórdão, há violação ao §4º, do art. 155, do CP, devendo o RESP ser provido.”.

O acórdão recorrido assentou: 'Em que pese a tese defensiva, o afastamento da qualificadora não procede,

porquanto, a desconfiança das vítimas em relação a apelante se deu após os delitos já terem sido consumados, o que inviabiliza seu afastamento, porque devidamente caracterizada.

Nota-se pelas declarações das vítimas, em especial, da ofendida Cristiane Fugita, que o delito somente foi percebido após um garçon do estabelecimento lhe perguntar o nome e informar que havia encontrado sua carteira no lixo do banheiro.

São reproduzidas no aresto as declarações das ofendidas Cristiane Fugita e Tatiane Klingelfus, havendo a Turma Julgadora:

“Assim, ao revés do que alega a Defesa, as vítimas não perceberam o momento em que ocorreram as subtrações, somente depois que os delitos já haviam sido consumados, o que configura a qualificadora em debate.

Neste sentido, temos que a qualificadora de destreza se fez presentes no caso, não havendo como decotá-la. ”.

A sentença, examinando a qualificadora enunciada na denúncia, disse:“No que se refere ao furto mediante destreza, existem, nos autos, elementos

suficientes que permitem a comprovação concreta da habilidade manual , possibilitando a permanência da qualificadora o inciso II, do §4º, do artigo 155 do Código Penal. ”

Aqui também, estando as circunstâncias fáticas delimitadas pelo Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 0 de 31

Page 21: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

acórdão recorrido, inclusive naquele que rejeitou os embargos declaratórios, impedido o reexame da prova, não há razão para, revalorando-a, decidir diferentemente do que o fizeram as instâncias ordinárias. Não há, em suma, outro valor a se dar à prova produzida senão aquele que lhe conferem sentença e acórdão recorrido, este, reafirmado em seus termos pelo acórdão prolatado nos embargos de declaração.

Não comprovado, outrossim, o dissídio jurisprudencial, na forma do acórdão trazido a cotejo, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, pois, ainda que os furtos de bolsas tenham ocorrido em ambientes públicos, as situações fáticas não são semelhantes, a ponto de se dizer que decisões díspares foram dadas a fatos idênticos.

3. Violação do § 2º ao art. 155 do Código Penal.

O acórdão recorrido, ao dar provimento ao apelo do Ministério Público, assinalou que, 'não obstante a ré seja, de fato, primária, o total das res furtiva referente à vítima Janaína de Souza Verges não se verifica ser de pequeno valor ' (R$ 740,00), utilizando como critério o do salário mínimo nacional vigente à época dos fatos (R$ 465,00), e para isso amparando-se em doutrina e jurisprudência, tendo asseverado o acórdão que rejeitou os embargos de declaração, que 'da simples leitura do dispositivo legal, observa-se que em nenhum momento o legislador mencionou que pode ser aplicada a causa especial de diminuição quando o bem é restituído a vítima, não podendo esta Colenda Câmara predizer a motivação que a ora embargante requer '.

No ponto, a recorrente sustenta que a ausência de prejuízo pela recuperação praticamente total dos bens pelas vítimas é causa de aplicação da figura do furto privilegiado.

Alega que se compararmos os bens descritos na denúncia com os documentos de fls. 28 e 30 dos autos (autos de apreensão e entrega), constata-se que sequer existiu prejuízo para as vítimas.

Aponta dissídio jurisprudencial, citando acórdão do extinto Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, no qual se considerou que para a verificação do pequeno valor e, consequentemente para a aplicação da causa de diminuição da pena, o critério é aquele referente ao prejuízo sofrido pela vítima, em oposição ao acórdão ora recorrido, que, para a análise do cabimento da causa de diminuição da pena do § 2º do artigo 155 do Código Penal, considerou o valor total subtraído, desconsiderando o efetivo prejuízo.

A tese, todavia, não encontra respaldo na interpretação majoritária que se formou em torno da referida norma legal. Os critérios estabelecidos no art. 155, § 2º do Código Penal para a diminuição da pena, substituição da pena de reclusão pela de detenção ou para a aplicação apenas da multa são dois, quais sejam, ser o criminoso primário e de pequeno valor a coisa furtada. Não estabelece o dispositivo legal que a devolução dos bens à vítima também seja causa de incidência do privilégio.

A propósito, confira-se anotação do Professor Guilherme de Souza Nucci ao § 2º do art. 155 do Código Penal:

19. Pequeno valor: não se trata de conceituação pacífica na doutrina e na jurisprudência, tendo em vista que se leva em conta ora o valor do prejuízo

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 1 de 31

Page 22: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

causado à vítima, ora o valor da coisa em si. Preferimos o entendimento que privilegia nesse caso, a interpretação literal, ou seja, deve-se ponderar unicamente o valor da coisa, pouco interessando se, para a vítima, o prejuízo foi irrelevante. Afinal, quando o legislador quer considerar o montante do prejuízo deixa isso bem claro, como o fez no caso do estelionato (art. 171, § 1º, CP). Por isso, concordamos plenamente com a corrente majoritária, que sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia equivalente ao salário mínimo. De fato, seria por demais ousado defender a tese de que um objeto cujo valor seja superior ao do salário mínimo - auferido por grande parte da população - possa ser considerado de pequeno valor. (...). (NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, 14. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 832).

Verifica-se que o acórdão recorrido encontra-se em consonância com a orientação há muito perfilhada por este Superior Tribunal de Justiça, que já decidiu o seguinte:

'RESP – PENAL – FURTO – PEQUENO VALOR – RECUPERAÇÃO DO OBJETO MATERIAL DO DELITO – A RECUPERAÇÃO DO OBJETO MATERIAL DO FURTO NÃO DESCARACTERIZA A CONSUMAÇÃO. EM SE TRATANDO DE PEQUENO VALOR, DAR-SE-Á O TRATAMENTO PRIVILEGIADO.'. (REsp. 66.826/SP. Relator Ministro Vicente Cernicchiaro, Sexta Turma, J. 25/03/1996).

E ainda:'PENAL. FURTO PRIVILEGIADO.A CIRCUNSTÂNCIA DE A VÍTIMA NÃO HAVER SOFRIDO PREJUÍZO,

DADA A RECUPERAÇÃO DA RES FURTIVA, NÃO INDUZ APLICAÇÃO DO PRIVILÉGIO. PRECEDENTES. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.'. (REsp. 10.161/SP, Relator Ministro Paulo Costa Leite, Sexta Turma, J. 04/061991).

PENAL. FURTO. FURTO PRIVILEGIADO (CP, ART. 155, PARAG. 2.) PREJUÍZO DA VITIMA. RESTITUIÇÃO DA RES FURTIVA.

1. - A AUSÊNCIA DE PREJUÍZO EM RAZÃO DA RESTITUIÇÃO A VITIMA DOS OBJETOS FURTADOS NÃO CONSTITUI REQUISITO PARA O RECONHECIMENTO DO FURTO PRIVILEGIADO.

2. - O CRITÉRIO LEGAL ESTABELECIDO NO ART. 155, PARAG. 2., É O DO PEQUENO VALOR DA COISA FURTADA E NÃO DO PREJUÍZO SOFRIDO PELA VITIMA.

3. - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO." (REsp. 67.215/SP, Relator Ministro Edson Vidigal, Quinta Turma, julgado em 16/04/1996, DJ 27/05/1996)

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. INOCORRÊNCIA. ART. 557, CAPUT, DO CPC. RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL E IMPROCEDENTE. AFRONTA AO ART. 155, § 2º, DO CP. FURTO PRIVILEGIADO. PARÂMETRO COM BASE NO VALOR DA COISA SUBTRAÍDA. INDIFERENÇA QUANTO AO PREJUÍZO SOFRIDO PELA VÍTIMA. ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. MALFERIMENTO AO ART. 93, IX, DA CF. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. NÃO CABIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. - Não há se falar em ofensa ao princípio da colegialidade, quando a decisão monocrática é proferida em obediência ao artigo 557 do Código de

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 2 de 31

Page 23: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

Processo Civil, que franqueia ao relator a possibilidade de negar seguimento ao recurso, quando manifestamente inadmissível e improcedente.

2. - Este Tribunal Superior sufragou entendimento no sentido de que "a ausência de prejuízo em razão da restituição à vítima dos objetos furtados não constitui requisito para o reconhecimento do furto privilegiado", já que "o critério legal estabelecido no art. 155, § 2º, do CP, é o do pequeno valor da coisa furtada e não do prejuízo sofrido pela vítima". (REsp. 67.215/SP, Rel. Min. EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, DJ 27/05/1996)

3. - A análise de matéria constitucional não é de competência desta Corte, mas sim do Supremo Tribunal Federal, por expressa determinação da Constituição Federal.

4. - Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp. 153.360/PR, Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 19.9.2013)

Assim, além de não se constatar a ofensa ao artigo do Código Penal, quanto ao dissídio, inafastável a incidência da Súmula 83 desta Corte.

9. À vista de todo o exposto, nego provimento ao recurso especial. É o voto".

Pelas razões que passo a alinhavar, divergi de Sua Excelência apenas

quanto à qualificadora da destreza.

01.01. Dispõe o Código Penal que a pena relativamente ao crime de

furto será de "dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido ", entre outras

hipóteses, "com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza "

(art. 155, § 4º, inc. II).

Em sua formação (morfologicamente), "destreza" significa "destro +

-eza – facilidade e ligeireza de movimentos, esp. das mãos " (Houaiss).

Sobre essa qualificadora, preleciona Cezar Roberto Bitencourt:

“Significa especial habilidade capaz de impedir que a vítima perceba a subtração realizada em sua presença. É a subtração que se convencionou chamar de punga. A destreza pressupõe uma atividade dissimulada, que exige habilidade incomum, aumentando o risco de dano ao patrimônio e dificultando sua proteção.”

[...]“Sintetizando, a destreza constitui a habilidade física ou manual

empregada pelo agente na subtração, fazendo com que a vítima não perceba o seu ato. É o meio empregado pelos batedores de carteira, pick-pockets ou punguistas, na gíria criminal brasileira. O agente adestra-se, treina, especializa-se, adquirindo habilidade tal com as mãos e dedos que a subtração ocorre como um passe de mágica, dissimuladamente. Por isso, a prisão em flagrante (próprio) do punguista afasta a qualificadora, devendo responder por tentativa de furto simples; na verdade, a realidade prática comprovou exatamente a inabilidade do incauto ” (Código Penal Comentado.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 3 de 31

Page 24: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 651/652)

Com ele consoa Guilherme de Souza Nucci:

"Destreza: é a agilidade ímpar dos movimentos de alguém, configurando uma especial habilidade . O batedor de carteira (figura praticamente extinta diante da ousadia dos criminosos atuais) era o melhor exemplo. Por conta da agilidade de suas mãos, conseguia retirar a carteira de alguém, sem que a vítima percebesse. Não se trata do 'trombadinha', que investe contra a vítima, arrancando-lhe, com violência, os pertences " (Código Penal Comentado. 9. ed. São Paulo: Editora RT, 2008, grifo nosso).

Em suma: somente a excepcional, incomum, habilidade do agente,

que, com movimento das mãos, consegue subtrair a coisa que se encontra na

posse da vítima sem despertar-lhe a atenção, é que caracteriza, revela, a

"destreza". Não configuram essa qualificadora os atos dissimulados comuns aos

crimes contra o patrimônio – que, por óbvio, não são praticados às escâncaras.

Inexiste nos autos prova de a denunciada deter qualquer "habilidade

incomum" de que se tivesse valido para perpetrar os furtos.

Na sentença, ao examinar a prova testemunhal, principalmente as

declarações das vítimas, consignou o eminente magistrado:

"A vítima CRISTIANE FUGITA disse que estava num bar (Garota Carioca) e deixou a bolsa em cima da mesa onde estavam as outras pessoas. Momentos depois, chegou um garçom perguntando se ela era Cristiane Fugita, cujo falou estava com sua carteira, pois a havia encontrado dentro do lixo do banheiro feminino.

Aí quando ela foi conferir seus pertences, verificou que estava faltando seu dinheiro. Comunicou o fato aos demais, e todos começaram a olhar se estava faltando algo, então a Tatiane Klingelfus sentiu falta da bolsa.

Neste momento, Tatiane ligou para o próprio celular para tentar localizar. Foi então que perceberam que a Ré se manifestou, de forma diferente, de modo que pegou a bolsa e segurou, aparentemente, tentando abafar o som. Devido a esta reação da acusada, dirigiram-se até o gerente para pedir a ele que solicitasse à Tatiana que abrisse a bolsa. Porém, ele informou que não havia tal possibilidade e que teriam que chamar a polícia. Cristiane, então, ligou para a polícia e ficou aguardando do lado de fora do bar. Os policiais chegaram e entraram no estabelecimento. Aí, ela só viu a acusada novamente quando os policiais a levaram para fora. Os policiais realizaram a revista na bolsa da denunciada e localizaram os objetos. Foram encontrados na bolsa da ré, o perfume de uma das vítimas, dinheiro e o celular da Tatiane. Posteriormente, na Delegacia de Polícia, cada uma das vítimas, identificou seus pertences. Por fim, disse que foi restituído o dinheiro furtado.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 4 de 31

Page 25: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

A vítima TATIANE KLINGELFUS contou que, no dia dos fatos, foi ao bar Garota Carioca com amigas. Posteriormente, conheceram a ré que 'puxou' papo e parecia estar bêbada. Momentos depois, o garçom veio e perguntou para sua amiga Cristiane qual era o seu nome e informou que havia encontrado a carteira dela no lixo do banheiro. Aí, Cristiane informou aos demais que haviam furtado seus pertences e falou para todos ficarem atentos, pois subtraíram R$ 100,00 (cem reais) de dentro da bolsa dela. Então, ela foi verificar a sua bolsa e percebeu que não estava mais onde havia deixado. Falou com o gerente e informou que havia sumido sua bolsa com o aparelho celular, carteira com cartão de crédito, documento e dinheiro. Como ela ficou nervosa, as amigas ligaram para o celular dela. Aí, ela começou a prestar a atenção nas pessoas ao redor e então viu a ré olhar para a própria bolsa, de modo que colocou a mão por cima e tentou disfarçar. Disse que, em determinado momento, a acusada se levantou para pegar bolo. Então ela pediu para a amiga ligar para o celular novamente, pois a ré havia deixado a bolsa sobre a cadeira. Aí ela colocou a mão sobre a bolsa da ré e vibrou bem na hora que ela estava ligando. Contou que fiou observando TATIANA e, de repente, ela pegou outra bolsa que estava sobre a mesa. Depois descobriram ser uma das outras vítimas. Contou que a ré pegou a bolsa, levou até o lugar onde estava sentada, ficou com ela em seu colo e depois saiu com foi até o banheiro. Ela então seguiu TATIANA até o banheiro e, por intermédio de um vão, viu-a 'abaixada' no chão, mexendo na bolsa. Avisou a gerente que a acusada havia pegado mais uma bolsa. Chamaram a polícia e posteriormente foi encontrada a bolsa dentro do lixo do banheiro. Relatou que quando a acusada e o noivo pretendiam pagar a conta, para irem embora, o bar teve a iniciativa de dizer que o sistema estava fora do ar, motivo pelo qual demoraram para sair. Então, foi para o lado de fora do bar com outro colega, para tentar impedir que eles fossem embora antes da polícia chegar. Com a chegada dos policiais, ela indicou quem era a pessoa suspeita e os policiais a retiraram do local, pedindo para ver a bolsa, onde foi encontrado o celular e bastante dinheiro. Contou ainda, que no interior da Delegacia de Polícia, a ré subtraiu seu cartão de crédito e a carteira de habilitação. A carteira de habilitação foi encontrada dentro da bota da ré e o cartão dentro do lixo do banheiro. Por fim, afirmou que seu prejuízo ficou entre R$ 20,00 (vinte) e R$ 30,00 (trinta) reais.

A vítima JANAÍNA DE SOUZA VERGES relatou que foi a um aniversário e, de repente, surgiram boatos que haviam sumido bolsas; que quando foi procurar seus pertences, não encontrou. Ela entrou no banheiro e avistou sua bolsa, pegando-a, mas seus pertences não estavam mais no interior. Disse que as coisas que estavam dentro da bolsa não eram suas, eram de outra pessoa. Havia dinheiro, perfume e creme. Em dinheiro havia em média a quantia de RS 700,00 (setecentos reais), os quais pertenciam à ÂNGELA, que não estava junto no dia. Afirmou que os objetos estavam na posse da ré, pois quando ela foi retirada do bar, verificaram o interior da bolsa dela e encontraram os objetos (perfume, dinheiro, carteira, celular das pessoas). Pelo que soube, concluíram que era TATIANA quem havia furtado os objetos, vez que ela, Tatiane, sentiu falta do celular. Ela tentava ligar para o telefone e não conseguia. Aí, pelo que se recorda,

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 5 de 31

Page 26: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

estava na bolsa da ré, pois em:uma das tentativas de ligação, enquanto o telefone tocava, a ré quis atender, mas que quando viu que estava todo mundo olhando, não atendeu e colocou a bolsa no colo. A partir disso começaram a ficar de olho nela. Quando a ré se levantou e foi pegar o bolo, na volta ela engatou em uma bolsa e levou para o banheiro. Relatou que a ré, disse que não ter nada a ver com o ocorrido. Ao chegarem até a viatura, verificaram que todos os objetos estavam com ela. Em relação ao dinheiro apreendido, disse que tinha certeza que era o dinheiro dela, pois o guardou enrolado e, quando foi encontrado na carteira da Ré, ele estava enrolado exatamente como ela havia deixado, inclusive o valor era compatível. Informou que teve de prejuízo de menos de R$ 100,00 (cem reais).

Como se vê, as vítimas foram firmes em apontar a Ré como autora dos furtos narrados na denúncia, relatando detalhadamente a ação dela, todas em consonância e com riqueza de detalhes.

Convém mencionar que em delitos desta natureza - as palavras das vítimas assumem elevada eficácia probatória, mormente quando em consonância com os demais elementos de prova carreados aos autos.

A testemunha ÂNGELA CRISTINA DE SOUZA disse que é amiga da vítima Janaína e que havia, em torno de R$ 700,00 (setecentos reais) pertencentes a ela, no interior da bolsa de Janaína, cujo valor era para pagar a mensalidade da faculdade e que tal quantia foi subtraída. Declarou que Janaína contou para ela que observaram que estava tocando o celular delas dentro da bolsa de uma moça, mas que ela não era convidada da aniversariante, porém, estava sentada "na mesma mesa". Observaram, então, que tal mulher pegou a bolsa de sua amiga e levou para o banheiro. Então, as vitimas notaram que a ré estava pegando as coisas de dentro das bolsas. Disse que viu serem retirados da bolsa da ré todos os objetos, inclusive o seu perfume. Por fim, afirmou que o dinheiro foi restituído.

A testemunha DARCI BAPTISTIM JÚNIOR relatou que, na noite dos fatos, havia um grupo de pessoas festejando um aniversário e, em determinado momento, informaram que havia uma pessoa furtando os objetos delas e solicitando que ele fizesse a abordagem da referida pessoa. Porém, ele falou que não poderia fazer isso e os orientou a chamar a polícia. A polícia chegou e a mulher, que estava sendo acusada de cometer os furtos, estava pagando a conta no caixa e efetuou o pagamento com cartão de crédito. Então, quando TATIANA estava indo embora, a polícia chegou e procedeu a abordagem, constatando que dentro da bolsa dela havia objetos de propriedades das vítimas. Contou que o que foi encontrado era compatível com o relato das vítimas, pois uma delas disse que havia sido subtraído seu aparelho celular e outra reclamou seu dinheiro, que era proveniente de um cachê. Relatou que foi informado pela outra empregada do estabelecimento que viu a ré no banheiro e mexendo na bolsa. Contou que a ré aparentava ter ingerido bebida alcoólica, mas não excessivamente e não têm como precisar a quantidade. Disse que quando a polícia chegou ela, a Ré, ficou nervosa, mas acredita que o nervosismo era proveniente da situação.

A testemunha CLAUDENICE RODRIGUES DA COSTA contou que, na data dos fatos, algumas clientes fizeram reclamações de que estavam

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 6 de 31

Page 27: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

sumindo bolsas e que queriam que fosse tomada alguma atitude, mas a única coisa que podiam fazer era observar. Alguns empregados acharam a atitude da acusada suspeita e então, no momento em que a ré foi ao banheiro, ela a seguiu. Ficou no banheiro e verificou por baixo que ela estava sentada no chão e fazendo alguns movimentos. Assim que Tatiana saiu entrou no banheiro e observou que a bolsa estava atrás do lixo. Não mexeu em nada, fechou o banheiro e aguardou a chegada da polícia. A vítima, então, pegou a bolsa e a polícia levou a acusada para fora, encontrando todos os pertences furtados no interior da bolsa da ré. Havia celular, perfume e dinheiro. Disse que a suspeita, em relação à denunciada, deu-se devido ao fato de que uma das vítimas informou que seu celular havia desparecido e ligou para aparelho, cujo tocou dentro da bolsa da acusada e em razão de que ela ficava com a bolsa o tempo todo no colo e se dirigia muitas vezes ao banheiro. Então, com base nessas atitudes, dirigiu-se até o banheiro para averiguar. Por fim, relatou que as vítimas reconheceram seus bens na presença dos policiais.

O policial militar CLÁUDIO SÉRGIO DE SOUZA disse que foi acionado via Copom, solicitando o deslocamento até o bar (Garota Carioca) onde teriam possíveis vítimas de furto. Na frente do bar, as vítimas aguardavam os policiais e relataram que, dentro do estabelecimento havia um casal e que a moça estaria praticando furto de bolsas e objetos, dispensando-os no banheiro. Ao entrar no bar, foi informado quem era a suspeita. Solicitou que o casal saísse e o rapaz o acompanhou de imediato e Tatiana tentou sair do local, para tirar algo da bolsa. Então, ele pediu novamente para que Tatiana o acompanhasse e ela falou que iria processá-lo. Ele a retirou do bar. Do lado de fora do estabelecimento, as vítimas a apontaram como suspeita e ele pegou a bolsa da ré, pedindo para que uma das mulheres revistassem, onde foram encontrados um celular, uma carteira marrom, carteira de habilitação de uma das vítimas e dinheiro, sendo os objetos reconhecidos imediatamente pelas vítimas. Diante da localização de um celular e da carteira de habilitação de uma das vítimas na bolsa da ré, ficou caracterizado o flagrante. Relatou que as vítimas informaram que chegaram à conclusão de que era Tatiana a suspeita, porque uma das pessoas que estavam no local viu a ré se deslocando até o banheiro, pegando as coisas de valor de dentro da bolsa e dispensando-a lá mesmo. Contou ainda, que as vítimas acusaram Tatiana sem sombra de dúvidas. Ainda, relatou que no interior da Delegacia, enquanto eram tomados os depoimentos, a ré tentou furtar a carteira de habilitação de uma das vítimas. Disse que como a Tatiana havia sido a última a ser ouvida, ele pediu para que ela fosse revistada, ocasião em que foi encontrado dentro da sua bota o documento. Por fim, disse que Tatiana aparentava ser uma pessoa bem esclarecida, com bom nível de instrução e boa condição financeira e na ocasião parecia estar levemente alcoolizada.

O Policial MARCOS VINICIUS PEDROSO confirmou a versão apresentada pelo seu companheiro.

A testemunha BRUNO FERNANDO JANTSCH MANSUR relatou que é noivo da ré e que, no dia dos fatos, foi até o bar 'Garota Carioca' na companhia dela, onde encontraram um casal de amigos. Tatiana então ficou conversando com a namorada do seu amigo e ele (Bruno) ficou

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 7 de 31

Page 28: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

conversando com o amigo em outro lugar do bar. Ficaram em média 40 minutos no local. Quando se dirigiu até o caixa para pagar a conta, a ré já estava lá e ele percebeu que estava havendo uma discussão, então pagou a conta dele e a dela e, enquanto isso os policiais a retiraram do bar. Disse que quando foi dada voz de prisão a ela e ele perguntou; o que havia acontecido, o policial o indagou se estavam juntos, e ao confirmar, foi dado voz de prisão a ele e foram para a delegacia. Contou que não viu retirarem objetos do interior da bolsa de Tatiana. Quando o policial esvaziou a bolsa de Tatiana sobre o capô do carro, ele apenas viu um celular que não era dela. Disse que Tatiana não falou nada sobre os fatos no momento e, na Delegacia de Polícia, alegou que não se lembrava de ter pegado o celular e não falou nada sobre os demais objetos, restringindo-se a dizer que não lembrava de nada.

[...]" (fls. 439/448).

01.02. Tenho que a Súmula n. 7 desta Corte ("A pretensão de simples

reexame de prova não enseja recurso especial" ) não impede exame da presença ou

não da "destreza". Não é preciso revolver a prova, mas apenas verificar se ela

autoriza aferir se para a consecução do crime a acusada atuou com "destreza".

Ademais, no caso em exame, nem sequer é necessário perquirir a

prova produzida. Ocorre que a denúncia não especifica em que teria consistido a

"destreza". Descreve a ação da agente comum aos crimes de furto, os quais não

são praticados às escâncaras. Transcrevo-a parcialmente:

"[...] 'No dia 09 do mês de agosto do ano de 2009, no interior do estabelecimento

denominado 'Bar Garota Carioca', situado na Rua Conselheiro Laurindo, nº 2.348, Bairro Prado Velho, nesta Capital, a denunciada TATIANA PEREIRA ABDALLA, agindo com inequívoco ânimo de assenhoreamento definitivo, subtraiu, para si, da vítima Tatiana Klingelfus 01 (um) aparelho celular, marca Samsung, modelo SGH-E250, com chip da operadora Claro, avaliado em R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais), 01 (uma) carteira em couro marrom, avaliada em R$ 50,00, (cinquenta reais) e R$ 23,00 (vinte e três reais); da vítima Cristiane Fugita subtraiu R$.72,00 (setenta e dois reais) e, por último, da vítima Janaína de Souza Verges subtraiu 01 (um) frasco de perfume marca Burberry, avaliado em R$ 30,00 (trinta reais) e R$ 710,00 (setecentos e dez reais), perfazendo os objetos um total de R$ 1.035,00 (hum mil e trinta e cinco reais), conforme Auto de Apreensão de fls. 19 e Auto de Avaliação de fls. 22.

Segundo consta nos autos, a denunciada praticou as subtrações mediante destreza, vez que empregou habilidade manual no momento da retirada dos objetos e dinheiro do interior das bolsas das vítimas, sem que estas percebessem a ação.

Pelas condições de tempo, lugar e maneira de execução, as subtrações subsequentes podem ser consideradas como continuação da primeira.'

Assim agindo, incorreu a denunciada TATIANA PEREIRA ABDALLA nas sanções previstas no artigo 155, § 4º, inciso II, c/c o art. 71, caput, ambos do Código Penal, razão pela qual é oferecida a presente, que se

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 8 de 31

Page 29: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

espera seja recebida e autuada, citando-se a denunciada para que responda a acusação, nos termos do art. 396 do Código de Processo Penal (alterado pela Lei nº 11.719/2008), notificando-se as testemunhas adiante arroladas para deporem, sob as penas da lei, seguindo-se o rito previsto no artigo 394, inciso I, do Código de Processo Penal (alterado pela Lei nº 11.719/2008), tudo com ciência do Ministério Público até final julgamento" (fls. 3/5, o destaque não consta do original).

02. Afastada a qualificadora, impõe-se redimensionar a pena.

Mantidos os parâmetros utilizados nas instâncias ordinárias, fixo a

pena-base no mínimo legal – 1 (um) ano de reclusão e pagamento de 10 (dez)

dias-multa –, sobre a qual deve incidir apenas a fração de 1/5 (um quinto) referente

à continuidade delitiva. Não havendo qualquer outra agravante, atenuante ou

causas especiais de aumento ou diminuição de pena, torno-a definitiva em 1 (um)

ano, 2 (dois) meses e 12 (doze) dias de reclusão e pagamento de 12 (doze)

dias-multa, mantidos os demais termos do acórdão recorrido.

03. À vista do exposto, conheço do recurso especial para dar-lhe

parcial provimento, desclassificando a conduta atribuída à recorrente para a

descrita no artigo 155, caput , combinado com o artigo 71, caput , por três vezes,

ambos do Código Penal, e redimensionando a reprimenda para 1 (um) ano, 2 (dois)

meses e 12 (doze) dias de reclusão e pagamento de 12 (doze) dias-multa, mantidos

os demais termos do acórdão recorrido.

É o voto.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 2 9 de 31

Page 30: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUINTA TURMA

Número Registro: 2014/0180988-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.478.648 / PRMATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00097063520098160013 200900130230 201200456896 201300440468 97063520098160013 9948796 994879602

PAUTA: 21/10/2014 JULGADO: 23/10/2014

RelatorExmo. Sr. Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)

Relator para AcórdãoExmo. Sr. Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC)

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA

SecretárioBel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : TATIANA PEREIRA ABDALAADVOGADOS : JOSÉ RICARDO BAITELLO

ROBERTO BRZEZINSKI NETO E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Furto Qualificado

SUSTENTAÇÃO ORAL

SUSTENTOU ORALMENTE NA SESSÃO DE 21/10/2014: DR. THIAGO GOMES ANASTÁCIO (P/RECTE)

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"Prosseguindo no julgamento, a Turma, por maioria, conheceu do recurso e lhe deu provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC), que lavrará o acórdão."

Votaram com o Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC) os Srs. Ministros Felix Fischer e Jorge Mussi.

Votaram vencidos os Srs. Ministros Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP) e Gurgel de Faria.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 3 0 de 31

Page 31: Superior Tribunal de Justiça - Jurisite · 2. A embriaguez do ... Constituição Federal, alega a recorrente, em síntese, ... Não se trata de simples “jeu de paroles”, mas,

Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUINTA TURMA

Número Registro: 2014/0180988-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.478.648 / PRMATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00097063520098160013 200900130230 201200456896 201300440468 97063520098160013 9948796 994879602

PAUTA: 21/10/2014 JULGADO: 16/12/2014

RelatorExmo. Sr. Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)

Relator para AcórdãoExmo. Sr. Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC)

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS

SecretárioBel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : TATIANA PEREIRA ABDALAADVOGADOS : JOSÉ RICARDO BAITELLO

ROBERTO BRZEZINSKI NETO E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Furto Qualificado

SUSTENTAÇÃO ORAL

SUSTENTOU ORALMENTE NA SESSÃO DE 21/10/2014: DR. THIAGO GOMES ANASTÁCIO (P/RECTE)

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

RETIFICAÇÃO DE PROCLAMAÇÃO DE RESULTADO DE JULGAMENTO:"Prosseguindo no julgamento, a Turma, por maioria, conheceu do recurso e lhe deu

parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC), que lavrará o acórdão."

Votaram com o Sr. Ministro Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC) os Srs. Ministros Felix Fischer e Jorge Mussi.

Votaram vencidos os Srs. Ministros Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP) e Gurgel de Faria.

Documento: 1358289 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/02/2015 Página 3 1 de 31