superinteressante fevereiro 2015

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0# CAPA fevereiro 2015SUPERINTERESSANTEwww.superinteressante.com.brEDIO 343 FEVEREIRO / 2015[descrio da imagem: roupa caracterstica do Isl. Um turbante branco, mas no aparece a cabea. Manto verde com detalhes em branco e aparece a mo esquerda, fechada, pousada sobre o lado esquerdo do peito,. Esta figura est frente da representao de uma porta, fundo escuro e paredes com detalhes da cultura.]MAOMA FACE OCULTA DO CRIADOR DO ISLPOR ALEXANDRE VERSIGNASSIEle fundou uma nao baseada em direitos trabalhistas e livre mercado.Tinha uma esposa que ganhava mais que ele e emancipou as mulheres.Conhea o verdadeiro homem por trs do Islamismo.[outros ttulos]BATERIA FRACA: O GARGALO DA ERA DIGITALCOMO CONVENCER OS OUTROSAPRENDA A COZINHAR NA LAVA-LOUASMUSICA E FILME: LA CARTE OU RODZIO?AS ORIGENS GRINGAS DA FEIJOADACADEIRA O NOVO CIGARRO?Passamos o dia sentados. Pode ser que isso esteja arruinando nossa sade.______________________________1# SEES I2# REPORTAGENS3# SEES II_________________________________1# SEES I fevereiro 2015 1#1 AO LEITOR NEGCIO ARRISCADO 1#2 MUNDO SUPER 1#3 SUPER NOVAS 1#4 SUPER NOVAS A CHINA DA CHINA 1#5 CINCIA MALUCA 1#6 SUPER NOVAS A OLIMPADA DOS NDIOS 1#7 PAPO H MUITA VIDA NO SURTO DE EBOLA 1#8 MATRIZ SERIAL KILLERS 1#9 BANCO DE DADOS DESSALINIZAO DE GUA 1#10 COORDENADAS SEDA, GUERRA E PAZ 1#11 ORCULO 1#12 CONEXES BROWSER A BOWSER 1#13 ESSENCIAL VAI DE RODZIO OU LA CARTE?1#1 AO LEITOR NEGCIO ARRISCADO ESSE NOSSO NEGCIO DE PUBLICAR IDEIAS - sejam elas impressas em papel ou traduzidas em bytes - muito arriscado. Afinal, no tem jeito de eu saber, enquanto escrevo por aqui, como que nossas ideias vo soar para voc a. Pode ser que voc se ofenda. Pode ser que algo que dissemos com a melhor das intenes bata em seus ouvidos como uma provocao. Pode ser que alguma ideia nossa se perca num labirinto de mal-entendidos e acabe resultando em tragdia. Para dar um exemplo mais concreto: alguns muulmanos acreditam que representar a imagem do profeta Maom no apenas um sacrilgio para um fiel da religio mas tambm uma ofensa grave mesmo quando cometida pelo seguidor de qualquer outra religio. Embora o Alcoro no diga palavra sobre o tema, nos ltimos anos, com a radicalizao do choque de civilizaes entre o Isl e o "Ocidente", muita gente foi condenada morte pelo simples "crime" de desenhar Maom. Isso posto, talvez seja imprudente da nossa parte imprimir na capa desta edio uma representao visual de Maom - ainda que ele aparea sem rosto. E a? Como faz? Como a gente contorna esse risco? Aqui, na SUPER, a gente acredita que no tem jeito de garantir que ningum v se ofender com algo que publicamos. Assumimos plena responsabilidade pelo que escrevemos, mas no tem como se responsabilizar pelo que os outros entendem daquilo que escrevemos. Seria impossvel tomar decises se ficssemos tendo que responder a mil perguntas antes: "Ser que algum vai se magoar?", "Ser que vo entender?", "Ser que estamos contrariando algum interesse?", "Ser que vo nos atacar/nos processar/nos prender/cancelar a assinatura?". Diante dessa impossibilidade prtica, a gente procura seguir apenas uma nica regra, bem simples. Buscamos responder a uma s pergunta: "Ser que esse tema do interesse do pblico?" Se a resposta for sim, vale a pena correr certos riscos - afinal, essa a nossa misso. Esta edio foi concluda sob o luto do massacre em Paris dos colegas de profisso do Charlie Hebdo. Achamos que, em meio histeria diante desse ataque covarde expresso, algumas coisas deixaram de ser ditas. Supomos que nosso pblico gostaria de saber que homem foi esse em nome do qual uma barbaridade dessas foi cometida - por mais que talvez alguns se chateassem por tratarmos Maom como um homem. Pensamos tambm que era um bom momento para mostrar que a intolerncia no est limitada a nenhum grupo poltico ou religioso - por mais que possa soar irritante para alguns lembrar que atrocidades contra a liberdade de expresso no so uma exclusividade islmica. Lamentamos se algum se ofender com alguma dessas decises editoriais. Mas no tnhamos como no fazer nosso trabalho. Denis Russo Burgierman, DIRETOR DE [email protected]#2 MUNDO SUPERTSUNAMI DE REVOLTA CRISTA ltima capa da SUPER (xodo, jan/15) exaltou leitores religiosos. Foram mais de 750 comentrios no Facebook (on.fb.me/1Gks60C), em discusso acalorada sobre o poder de Deus e a abertura do Mar Vermelho.NO FOI COLAPSO no clima, no. Foi meu Deus que agiu! - CAIO SANTOS O CLIMA deixou os israelitas passarem sem perigo e matou somente os egpcios... Esse meu garoto! Vocs so uma piada quando tentam refutar alguma verdade bblica. - MRIAM ANCILLA DOMINI RODRIGUES FAZEM DE TUDO para excluir Deus, mas ele no ser excludo. Desistam! - VANESSA MENEZES MAIS UMA VEZ a falsa cincia tentando negar a existncia de um Deus soberano, que tem o controle da Histria! - JOS FBIO TANTAS COISAS PRA ESTUDAR, vo perder o precioso tempo da cincia com algo simplesmente indiscutvel. - PRISCILA BERTOGLIA A SUPER S ME DESAPONTA nesse quesito! Poderiam falar de cincia sem tentar derrubar a f e os dogmas religiosos dos outros. - JULIANA BERNABE SILES VOCS AINDA NO CONHECERAM A VERDADE libertadora, por isso blasfemam o nosso Criador. Pobres coitados, se acham superiores em sua prpria ignorncia. - EDSON SOUZA A MDIA TENTA convencer as pessoas de que o que est na Bblia mentira e que nada daquilo aconteceu pela vontade de Deus. Explicar o inexplicvel. - EVELYN GAETE TENHAM VERGONHA na cara, seus ateus de uma figa. - GILSON BESERA RETROSPECTIVASUPER 2014Todo ano, a gente faz uma seleo das coisas mais legais dos ltimos 12 meses. Personalidades que se destacaram, os melhores livros, sites, jogos, HQs, discos, filmes e sries lanados, alm dos melhores momentos da SUPER. As de 2014 renderam 314 mil visualizaes. J conferiu? Vai l no Superblog! abr.ai/1zunuRS FSICA DO FUTURO Sei que gostar da matria revela minha idade, mas quem no viu mais de duas vezes cada filme da srie De Volta para o Futuro? Fiquei pensando: ser que esses filmes so premonies? Como no acredito em nada disso, s sei de uma coisa: a fsica nunca me pareceu to interessante quanto agora. Valeu, SUPER! GLIA S, sobre a reportagem O Futuro do Pretrito (jan/15). TRADUZINDO O ECONOMS Gostaria de parabenizar a SUPER pela abordagem que tem dado aos temas indecifrveis de economia, em especial nos textos O Fantasma da Mquina (dez/14) e Estamos Amarrando Cachorro com Linguia (nov/14). Outra surpresa foi a reportagem Os Verdadeiros Donos do Mundo (dez/14), com a discusso sobre a liberdade de mercado e a desigualdade social. GABRIEL DE LIMA COSTA 5 LEITORES OPINAM NO POST 6 PENAS DE MORTE BIZARRAS 1- Acho que os marginais deveriam morrer da mesma forma como assassinaram suas vtimas. Isso sim seria justia! - RE ESCUDEIRO 2- Vingana no justia. - GABRIEL SILIONI 3- Sei que uma atitude radical, mas em alguns casos a nica opo. S no concordo com a barbrie na aplicao da pena. - GENI SILVA 4- Achei um ninho de assassinos aqui. - FERNANDO KLITZKE 5- Quem dera essa barbrie estivesse fora de moda. Aqui, no Brasil, nunca esteve to em evidncia. - LCIA AQUINO abr.a/1wm30Ss TROFU PIADISTA DO MS J sei que tenho dois ouvidos direitos. - LILIAN SCHETTINI, no post "Ouvido esquerdo entende melhor o sarcasmo".SUPERBANCACOMO PLANTAR, REGAR E COLHER DINHEIRODOSSI SUPERR$ 14Conhea (e entenda) todas as formas de investimento ao seu alcance.O LADO BOM DOS SEUS PROBLEMASLIVROR$ 29,90Defeitos podem ser suas maiores virtudes. Entenda por qu.FOI MALTraduzimos o filme The Perfect Storm como A Tempestade Perfeita, mas o ttulo do filme em portugus Mar em Fria (Cult, jan/15). Na ilustrao, o valor do nmero pi aparece como 3,1415924..., entretanto, esse ltimo nmero da sequncia 6 (Papo, jan/15).SUPERCUPIDONo me encontro efetivamente encalhada, mas foi propcia a matriz Desencalhe.com (dez/14). Me aventurei no OkCupid, que agrupa pessoas por QI. O site faz um primeiro filtro no intuito de "aprender" o seu tipo preferido e ajudar nas prximas selees. Eis que me deparo com um rosto conhecido. Corri para o Facebook e, entre meus amigos, encontro a pessoa em questo. Era um (re)incio de conversa. Fizemos curso tcnico juntas, ambas com 17 anos na poca. Combinamos de sair, bebemos, conversamos. Ns duas nos formamos em letras e no usamos o tcnico para nada em nossa vida. Ela me confessou que era bissexual e acabou rolando um beijo. Hoje? Passamos o Ano-Novo juntas na praia e continuamos a sair! - NATHALIE BERGAMOFALE COM A GENTEREDAO - [email protected], av. das Naes Unidas, 7221, 14 andar, CEP 05425-902, So Paulo, SP, fax 11 3037-5891. PUBLICIDADE - publiabrif.com.br SP 11 3037-5189, RJ 21 2546-8100. Outras praas: 11 3037-5759. Vendas Diretas: 11 3037-5000. SAC - abrilsac.com [email protected] SP 11 5087-2112 Outras Praas 0800-7752112 Segunda a sexta, das 8 s 22h. ASSINATURAS - assineabril.com SP 11 3347-2121 Outras Praas 0800-7752828 Segunda a sexta, das 8 s 22h. Sbado, das 9 s 16h. EDIES ANTERIORES loja.abril.com.br Superinteressante SP 11 5087-2290 Outras Praas 0800-7718990. Ou solicite para seu jornaleiro o preo ser o da ltima edio em banca mais a despesa de remessa.TRABALHE CONOSCO - abril.com.br/trabalheconosco1#3 SUPER NOVASEXPERINCIA RECUPERA MEMRIAS PERDIDASEstudo com lesmas-marinhas consegue destruir e reconstruir uma memria;descoberta d esperana a pacientes de Alzheimer. TEXTO Marcos Ricardo dos Santos QUANDO VOC MEMORIZA alguma coisa - um endereo, por exemplo -, aciona um conjunto de neurnios, que formam conexes (sinapses) entre si. Se esses laos so desfeitos, a informao perdida, e voc no consegue mais se lembrar dela. O esquecimento parte da vida. Mas uma experincia conduzida por neurologistas americanos sugere que, um dia, talvez no precise ser. Eles conseguiram fazer algo considerado impossvel, recuperar memrias perdidas. Pelo menos em animais muito simples: lesmas do gnero Aplysia, que vivem no mar. Primeiro, os cientistas deram choques eltricos nas lesmas. Os neurnios sensoriais, que detectam o choque, formaram conexes com os neurnios motores - que fazem a lesma se retrair. Essa conexo dura alguns dias, mesmo na ausncia do choque. A lesma "se lembra" dele, cria uma memria. S que, logo em seguida, as cobaias receberam queleritina, uma substncia que desfaz as ligaes entre neurnios. As sinapses sumiram, a memria foi destruda. Mas o mais impressionante veio depois. As lesmas tomaram uma injeo de serotonina (neurotransmissor presente tambm em humanos). Consequncia: as conexes entre os neurnios se refizeram espontaneamente. Ou seja, a memria foi recuperada. Alm de provar que possvel recuperar uma memria destruda, o estudo levantou uma hiptese intrigante. Talvez as memrias no sejam armazenadas nas sinapses - e sim dentro dos prprios neurnios. Isso pode ser uma esperana para quem sofre de Alzheimer (doena que bloqueia as sinapses, levando perda de memria). "Se encontrarmos uma maneira de restaurar as sinapses desses pacientes, suas memrias podero retornar", diz o neurocientista David Glanzman, lder do estudo. SANGUE DE BOI TEM PODERUma fazenda de criao de gado em Kiserian, no Qunia, teve uma ideia inteligente para aproveitar o sangue dos aproximadamente 120 bois e 400 ovelhas que abate a cada dia: transform-lo em biogs, que pode ser engarrafado e vendido. O sangue, que at ento era jogado fora (e podia contaminar o meio ambiente), agora recolhido e misturado com as fezes dos animais. A mistura se decompe e produz o biogs, que bastante inflamvel e pode ser usado para alimentar foges e geradores. A fazenda j usa o gs para gerar a prpria energia, mas agora pretende comear a engarraf-lo e vend-lo por US$ 8 o botijo - metade do preo cobrado pelo gs tradicional (GLP). CAI USO DE LCOOL E CIGARRO ENTRE JOVENSPesquisa com 40 mil adolescentes dos EUA revela queda no consumo de bebida e principais drogas; maconha sobe de patamar e ultrapassa cigarro.Quantos % j consumiram pelo menos uma vez na vida:lcool: 49,3%Cigarro: 22,6%Maconha: 33,7%LSD: em torno de 1%Cocana: em torno de 1%Ecstasy: em torno de 1%No Brasil, a pesquisa mais recente foi realizada em 2010, com 50 mil estudantes.LCOOL: 60,5%CIGARRO: 16,9%MACONHA: 5,7%LSD: 1%COCANA: 2,5%ECSTASY: 1,3%GASTRONOMIAma melhora sabor da cerveja - Durante a fabricao dela, possvel submet-la a um campo magntico - e deix-la mais gostosa. Basta colocar um ma sobre um tubo pelo qual a cerveja passa. O campo magntico espalha as partculas de lpulo, que reagem melhor com os demais ingredientes. SADEAps 18 anos, cincia descobre novo antibitico - A teixobactina produzida por micrbios que vivem no solo - e elimina bactrias resistentes aos remdios tradicionais. A ltima famlia de antibiticos foi descoberta em 1997. HISTRIASedes do Projeto Manhattan viram pontos tursticos - Os laboratrios, as fbricas e os reatores onde a bomba atmica foi criada e produzida, nos anos 1940, vo virar patrimnio histrico dos EUA. So 30 lugares, em trs estados, alguns dos quais podero ser visitados. VIADUTO "COME" POLUIO DOS CARROSReator captura CO2 e luz para produzir algas.Instalado num viaduto em Genebra, o sistema usa os gases liberados pelos carros para alimentar uma populao de algas - que podem ser usadas para produzir cosmticos, plsticos e biocombustvel.1- O CO2 entra no sistema por meio de uma abertura que fica na parte de baixo do viaduto.2- Ele chega a uma tubulao com gua e algas - que se alimentam de CO2 e sol. 3- As algas se multiplicam rapidamente. Quando os tubos ficam cheios, elas so coletadas. 100 BILHESde rvores esto sendo plantadas na China para formar o Grande Cinturo Verde: uma faixa que cobrir 4.500 km, no norte do pas, para impedir o avano da areia vinda dos desertos de Taklamakan e Gobi sobre as cidades da regio. O projeto deve terminar em 2050."Essas DIFERENAS DE QI so preocupantes", disse a cientista Robyn Whatt, autora de um estudo que mediu o efeito dos ftalatos (substncias presentes em plsticos, borrachas e cosmticos) sobre 328 grvidas. As mulheres que sofreram maior exposio aos ftalatos tiveram filhos com QI menor, 6 a 7 pontos abaixo das demais crianas. 1#4 SUPER NOVAS A CHINA DA CHINAOs chineses ganham mal. Mas as empresas de l querem pagar menos ainda - e esto indo para a frica. TEXTO Patrcia Noriyassu OPERRIO CHINS COME O PO QUE O DIABO AMASSOU. Ganha pouco, trabalha demais, vive mal. Tanto que, em 2010, houve nada menos do que 14 suicdios na Foxconn, que produz os gadgets da Apple e de vrias outras marcas ocidentais. Preocupado com a repercusso negativa, o governo tem tentado melhorar as coisas - na regio de Shenzen, onde fica a maior parte das fbricas de tecnologia, o salrio mnimo subiu 25% nos ltimos dois anos (e hoje de R$ 766). Mas isso desagradou s empresas, que esto migrando para um lugar onde a mo de obra mais barata: a frica. "Para sobreviver, muitas se deslocaram para o interior da China ou para pases em desenvolvimento, como os africanos", diz a chinesa Xiaofang Shen, professora de estudos internacionais da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. Supostamente, isso necessrio para que as empresas chinesas possam manter sua principal caracterstica; os preos ultrabaixos. Mais de 2.500 empresas chinesas j esto instaladas no continente africano, em pases como Nigria, frica do Sul, Zmbia, Gana e Etipia, onde os salrios so bem pequenos. Na Etipia, por exemplo, um operrio ganha de US$ 30 a US$ 50 por ms. Eles produzem calados, roupas, material de construo, eletrodomsticos e at automveis. possvel que, acomprar alguma coisa bem barata, vejamos cada vez menos a inscrio Made in China - e cada vez mais Made in frica. 1#5 CINCIA MALUCATEXTO Carol CastroABR.AI /CIENCIAMALUCAData de nascimento causa depresso Um grupo de cientistas submeteu 400 pessoas a testes de personalidade, viu em qual poca cada uma tinha nascido e concluiu: a estao do ano em que voc nasce determina o risco de ter transtornos de humor. Nascer no vero ruim: aumenta a chance de ser bipolar. As melhores pocas so outono e inverno. Receber salrio pode matar Nos dias de pagamento, o nmero de mortes sbitas cresce at 23%. A concluso de pesquisadores suecos, que acompanharam por seis anos a vida de trabalhadores do pas. que, com dinheiro no bolso, as pessoas tendem a consumir mais bebida e junk food. E isso pode deflagrar infartos e derrames. Voc igual ao seu carro Cientistas fotografaram 30 pessoas e os carros delas. Um grupo de voluntrios olhou as fotos dos carros - e tinha de adivinhar, entre seis rostos, qual era o dono do automvel. Eles acertaram (mais vezes do que se simplesmente estivessem chutando). que, ao comprar um carro, voc inconscientemente escolhe um cuja frente se parea ao seu rosto.1#6 SUPER NOVAS A OLIMPADA DOS NDIOSPrimeira edio dos Jogos Mundiais dos Povos Indgenas ser realizada em setembro em Palmas, capital do Tocantins, e vai reunir 2.300 atletas indgenas de 23 pases, como Austrlia, Japo, China, Filipinas, Rssia, Noruega e Brasil - que ser representado por 22 etnias. A cidade espera receber 100 mil visitantes para o evento, que ter modalidades de demonstrao e de competio.TEXTO Marcos Ricardo dos SantosJOGOS DE DEMONSTRAOCada modalidade praticada por apenas uma etnia. No h vencedor; o objetivo apenas apresentar os esportes.1- RNKRJOGO DE BOLA USANDO BASTOCOMO : Uma espcie de hquei. Duas equipes de dez jogadores usam uma borduna (basto), de 1,30 metro, para rebater uma bola e tentar fazer gol.QUEM VAI JOGAR:ndios Kayap2- XIKUNAHATIJOGO DE BOLA COM A CABEACOMO : Mais ou menos como o futevlei, mas sem os ps: s permitido tocar na bola com a cabea. Cada equipe tem de 8 a 10 atletas. O jogo acontece num campo de terra batida. A bola pode pingar uma vez antes de ir para o campo adversrio. O campo tem uma linha demarcatria no meio, mas sem rede entre os dois lados.QUEM VAI JOGAR: ndios Pareci (MT)3- JAWARIJOGO DE FLECHA EM MOVIMENTOCOMO : 15 atletas de cada lado. A cada rodada, um de cada time avana - e tenta acertar o outro com uma flecha (cuja ponta de cera e no machuca). Quem for alvejado est fora. Ganha o time que ficar por ltimo.OUEM VAI JOGAR: ndios Kuikuro (MT), Kamayur (MT) e outrosJOGOS DE COMPETIOSo disputados por vrias etnias para ver qual a melhor.1- CABO DE FORACOMO : Prova coletiva, com verses masculina e feminina, uma das mais populares dos jogos. Cada tribo inscreve duas equipes, cada uma com 10 atletas e 2 reservas. Ganha quem puxar o cabo mais forte e derrubar o grupo adversrio. Os times derrotados vo sendo eliminados.FAVORITOS: Enawen naw (MT), Wai Wai (PA) e Patax (BA)2- ARREMESSO DE LANACOMO : Cada etnia inscreve dois atletas, que tm direito a 3 arremessos cada um. Ganha quem conseguir jogar a lana, que tem 1,80 metro de comprimento, mais longe.FAVORITOS: ndios Kanela (TO) e Tikuna (AM)3- CORRIDA DE TORACOMO : Duas equipes, cada uma com 10 atletas, se revezam, carregando toras feitas da palmeira buriti. As mulheres carregam uma tora de 100 kg, e os homens levam 120 kg. O percurso pode chegar a 1 km.FAVORITOS: Kanela (TO) e Gavio Pakatej (PA)1#7 PAPO H MUITA VIDA NO SURTO DE EBOLAPara o mdico brasileiro que enfrentou a doena pessoalmente, quem no quiser o ebola batendo porta deve voltar olhos e recursos para a frica.ENTREVISTA Mariana SgarioniMRCIO SILVEIRA DA FONSECA Mdico infectologista carioca, 42 anos, trabalhou com os Mdicos Sem Fronteiras (MSF) na epidemia de ebola em Bo, Serra Leoa, em 2014. Tratou de HIV, tuberculose e outras doenas infecciosas em Moambique, Camboja e Guiana.H o risco de o ebola sair da frica e se espalhar? O pas que quiser barrar o ebola tem que atuar no corao da epidemia. Um dos jeitos dando dinheiro, mas no s isso. Construir novos centros e principalmente enviar gente para trabalhar essencial. Na Libria, a situao melhorou. Mas em Serra Leoa piorou. E na Guin a transmisso continua. No existe fronteira eficiente contra a transmisso. Mas pases com mais recursos no correm tanto risco como a frica. Por qu? Na frica, talvez pelo estilo de vida, os doentes demoram a procurar o servio de sade. Ficam quatro, cinco dias em casa, com febre, diarreia, vmito e contaminando outras pessoas. Essa demora vem do que sabem da doena. Elas sabem que quase todo mundo que entra no isolamento acaba morrendo. Como o cadver extremamente infectante, em geral, a pessoa acaba no tendo um funeral religioso, o que muito agressivo para eles. E vira um motivo para fugir do tratamento, pois pensam: "J que vai morrer mesmo, melhor que morra em casa, com a famlia e com um funeral digno". A realidade do surto parecida com a fico? Corpos cobertos, caminhes de mortos, pnico? Quando a epidemia foi declarada como emergncia internacional, a situao na Libria era ttrica. Pessoas mortas na rua e tal. Em Bo, em Serra Leoa, onde eu estava, o que eu tive foi a sensao de estar no epicentro do problema. J no aeroporto, temos que responder a questionrios, h pessoas medindo sua temperatura, avisos por todas as partes. O ebola a conversa em todos os lugares. Pessoas evitando de se tocar com medo de infeco. Entre ns, profissionais de sade, costumamos brincar que o lugar mais seguro nessas epidemias dentro da enfermaria junto com os doentes confirmados de ebola. Ali dentro voc est paramentado, no tem um centmetro de pele exposta, no vai pegar. O risco quando voc sai. No desesperador lidar com gente morrendo o tempo todo? O legal perceber como, num ambiente de tanta morte, possvel ver tanta vida. Voc v um familiar apoiando o outro, algum aparecendo para tomar conta com todo carinho da criana que ficou rf, os profissionais locais, apesar de tudo, mantendo o sorriso. Ou pacientes que sobreviveram deixando o centro de isolamento danando. Olhar nos olhos de quem entra naquela enfermaria achando que vai morrer (e muitos morrem mesmo) duro. Ao mesmo tempo, temos a possibilidade de ter contato com o que h de mais belo da solidariedade humana. O ebola no uma novidade. Mas s agora parece que existe um interesse real em vacinas e remdios. Agora comeou a correria mesmo. O ebola, se a gente for relativizar, matou uma quantidade muito pequena de gente em dcadas. Tem doena muito mais importante: HIV, tuberculose, malria. Esto todas l, disputando recursos. De todo modo, no existe uma bala mgica que vai ser a salvao. H terapias promissoras, mas ainda difcil imaginar isso sendo produzido em larga escala. O que a gente v que quem tratado na Europa ou nos EUA no morre. Ou morre pouco. Elas receberam tratamentos de suporte que todos deveriam receber - como hidratao intensa, por exemplo. O ebola nem sempre uma declarao de morte - quem for tratado em um lugar com recursos provavelmente vai sobreviver. 1#8 MATRIZ SERIAL KILLERSBanho de sangue para ficar jovem, carne humana vendida como lombo de porco e muitos estrangulamentos se misturam no doentio mundo dos assassinos em srie.POR Alexandre de Santi, Marcel Hartmann e Paula BustamanteMONSTRO DOS ANDES (COL)Perodo dos crimes: 1978-1983Assassinatos que renderam condenaes: 110Assassinatos estimados pela polcia: 350+Atacou garotas no Peru, no Equador e na Colmbia. Todoas tinham entre 9 a 12 anos.LAS POQUIANCHIS (MEX)Perodo dos crimes: 1950-1964Assassinatos que renderam condenaes: 91Assassinatos estimados pela polcia: 50Quatro Hermanas donas de bordis. Matavam prostitutas, seus filhos e clientes.DOUTOR MORTE (ING)Perodo dos crimes: 1975-1998Assassinatos que renderam condenaes: 15Assassinatos estimados pela polcia: 250Mdico, usava injees letais de herona. As vtimas eram idosas.MIYUKI ISHIKAWA (JAP)Perodo dos crimes: 1885-1948Assassinatos que renderam condenaes: 103Assassinatos estimados pela polcia: 139Parteira japonesa que tinha gosto por tirar a vida de bebs. Escondia os corpos pela cidade.GILLES DE RAIS (FRA)Perodo dos crimes: 1432-1440Assassinatos que renderam condenaes: 140Assassinatos estimados pela polcia: 140 +Precursor dos serial killers, lutou ao lado de Joana dArcTHUG BEHRAM (IND)Perodo dos crimes: 1790-1840Assassinatos que renderam condenaes: 125Assassinatos estimados pela polcia: 931Matava usando lenos indianos. considerado o maior serial killer da histria.CONDESSA SANGRENTA (HUN)Perodo dos crimes: 1580-1611Assassinatos que renderam condenaes: 80Assassinatos estimados pela polcia: 650Matava servas e lendas dizem que se banhava em seu sangue para se sentir jovem.FRITZ HAARMANN (ALE)Perodo dos crimes: 1918-1924Assassinatos que renderam condenaes: 27Assassinatos estimados pela polcia: 100 +Sodomizava as vtimas, mordia as gargantas e as vendia como carne de porco.JANE TOPPAN (EUA)Perodo dos crimes: 1857-1938Assassinatos que renderam condenaes: 31Assassinatos estimados pela polcia: 100 +Enfermeira que usava pores de morfina e atropina. Desejava liquidar com mais pessoas do que qualquer um na histria.MANACO DO ARCO-RIS (BRA)Perodo dos crimes: 2007-2008Assassinatos que renderam condenaes: 13Dava pauladas e tiros em gays na Grande So Paulo. At hoje ningum sabe quem .MONSTER KILLER (CHN)Perodo dos crimes: 1999-2003Assassinatos que renderam condenaes: 67Levou um p da namorada e quis se vingar da sociedade. Invadia casas com um machado na mo.CHIKATILO (UCR)Perodo dos crimes: 1978-1990Assassinatos que renderam condenaes: 53Cortava a lngua de moas e garotos com os prprios dentes e removia seus rgos.PEDRINHO MATADOR (BRA)Perodo dos crimes: 1960-Assassinatos que renderam condenaes: 71Entre as vtimas, 41 foram na priso. Esfaqueou o pai e arrancou seu corao.MANACO DO PARQUE (BRA)Perodo dos crimes: 1998-Assassinatos que renderam condenaes: 9Prometia transformar mulheres em modelos, mas enforcava as candidatas.AILEEN WUORNOS (EUA)Perodo dos crimes: 1989-1991Assassinatos que renderam condenaes: 6Prostitua-se na estrada, entrava no carro e matava a tiros. Confessou seis mortes e inspirou o filme Desejo Assassino.CAADOR DE RUHR (ALE)Perodo dos crimes: 1955-1976Assassinatos que renderam condenaes: 8A polcia encontrou carne humana em seu freezer e uma mo sendo cozida com batatas.JACK ESTRIPADOR (ING)Perodo dos crimes: 1888Assassinatos estimados pela polcia: 5Cortava a garganta e retirava vsceras de prostitutas na era vitoriana.VAMPIRO DE NITERI (BRA)Perodo dos crimes: 1991-1992Assassinatos que renderam condenaes: 13Assassinatos estimados pela polcia: 14Abusava, estrangulava e bebia o sangue de crianas para ficar bonito e puro como elas.1#9 BANCO DE DADOS DESSALINIZAO DE GUAEla no nova soldados a bebiam na Segunda Guerra. Mas s nos ltimos anos a gua dessalinizada se popularizou. Hoje, ela j beneficia 300 milhes de pessoas. O prximo pode ser voc.Por Inara Negro e Dbora Spitzcovsky150 PASES J USAM A DESSALINIZAO como alternativa para obter gua potvel.A demanda pelo processo cresce a um ritmo de 15% AO ANO.45% DA GUA DESSALINIZADA DO MUNDO produzida na Arbia Saudita, Emirados rabes Unidos, Kuwait, Catar, Barein e Om. Mais de 90% da gua potvel desses pases obtida assim.17 MIL USINAS de dessalinizao de gua do mar existem no mundo.1 DESSAS USINAS est no Brasil, em Fernando de Noronha. ELA PRODUZ 650 m3 DE GUA POR DIA. Isso equivale a 0,1% da produo da maior usina do mundo, em Abu Dhabi, nos Emirados rabes Unidos.100% DA GUA DESSALINIZADA em Noronha consumida pela populao do arquiplago: 2884 pessoas.MAIORES CAPACIDADES INSTALADAS (em milhes de m3 de gua/dia)1 ARBIA SAUDITA 13,32 ESTADOS UNIDOS 10,63 EMIRADOS RABES 8,94 ESPANHA 5,85 CHINA4,76 KUWAIT 2,97 AUSTRLIA 2,18 ARGLIA 2,19 ISRAEL 1,919 BRASIL 1,1300 MILHES DE PESSOAS TM ACESSO GUA POTVEL graas aos mtodos de dessalinizao.R$ 1 a R$ 2,50 PREO PARA DESSALINIZAR 1M3 DE GUA. O custo depende se ela salgada (mais sais) ou salobra (menos sais). O tratamento da gua doce custa R$ 0,75/m3.H DOIS MTODOSUSINAS DE GUA SALGADA Mares e oceanosSISTEMAS DE GUA SALOBRA Aquferos e audes2750 SISTEMAS de dessalinizao em poos subterrneos existem no Brasil. Eles se concentram em 8 ESTADOS.1- BA 32%2- CE 28,5%3- PE 14%4- PB 7,7%5- MG 5,7%6- RN 5,6%7- PI 5,5%8- SE 2%Quanto mais ao sul, mais doce a gua do subsolo.CRESCIMENTO NO BRASILO nmero de sistemas mais que duplicou.2012: 12002014: 2750Fontes: Associao Internacional de Dessalinizao; Kepler Borges Frana, coordenador do Laboratrio Nacional de Referncia em Dessalinizao das guas, da Universidade Federal de Campina Grande; Global Water Intelligence e International Desalination Association GWI/IDA (DesalData; Programa gua Doce, Ministrio do Meio Ambiente.1#10 COORDENADAS SEDA, GUERRA E PAZCasa de Jim Thompson, Bangcoc, Tailndia. O museu que conta a histria de um orgulho nacional e homenageia tempos mais pacficos no pas. TEXTO Fred Di Giacomo NO ESCRITRIO DE JIM THOMPSON, em Bangcoc, h dois horscopos pendurados na parede. Um prevendo sorte em 1959, outro premeditando azar queles nascidos no ano do cavalo ao fazer 61 anos. O americano Thompson era membro da OSS, a precursora da CIA. Na Segunda Guerra, ele desembarcaria na Tailndia de paraquedas, mas o conflito acabou, ento ele resolveu ir de avio mesmo assim. Thompson decidiu viver l e revitalizar a indstria da seda local. A cultura tecel tailandesa estava abandonada, e seus habitantes compravam tecido mais barato (e de pior qualidade) da China. Ele ajudou o pas a reaver esse orgulho, ficou rico e se mudou para um luxuoso imvel. O ano era 1959. Thompson acabou colecionando inimigos, que no gostavam de um estrangeiro que dizia conhecer a Tailndia melhor que muitos locais. Alm disso, o governo americano desconfiava dele, que apoiava democratas tailandeses e o lder comunista Ho Chi Minh, no Vietn. A bela casa de Thompson hoje um museu, onde se assiste produo tradicional de seda. Ela ricamente decorada com porcelanas chinesas e tapearias coloridas, que contam a vida de Buda ao estilo do budismo tailands, muito influenciado pelo hindusmo. O cho do primeiro andar de mrmore italiano e a construo toda cercada por rvores ticas das florestas da regio. Um ecltico paraso tropical, alheio ao golpe de Estado e aos subsequentes protestos que tomaram a Tailndia em 2014. No que seja novidade no pas. Esse foi o sexto golpe desde o dia em que Thompson saiu para uma expedio na mata, em 1967, e nunca mais foi visto. Nascido em 1906, ano do cavalo, ele tinha 61 anos. V - Estao National Stadium do trem de superfcie. O museu fica bem em frente ao estdio.QUANDO - Novembro a fevereiro: o calor no de rachar e no h chuvas de mones.ESTE MS NESTE PLANETA3291' S 6884' 0ENOFESTACerca de 200 mil pessoas, entre turistas e produtores locais, celebram a cultura do vinho em desfiles e espetculos em Mendoza, Argentina. Dia 28.6483'N147'70' 0ARTE RTICAO maior torneio de esculturas de gelo do mundo ocorre em Fairbanks, Alasca. Elas pesam at 20 ton. e usam o chamado "diamante do rtico", gelo de uma lagoa local. Dia 23.UM MOMENTO19/2, 12HIncio do 4L Trophy, rali de 6 mil quilmetros entre a Frana e o Marrocos. Os participantes doam material escolar a colgios marroquinos no caminho. 10.000 homens lutam por bastes atirados de uma janela do templo de Saidai-ji, em Nara, Japo. O vencedor abenoado com 12 meses de sorte. Dia 21.QUE LUGAR ESSE?1- Foi povoado no sculo de dom Pedro.2- Abriga dois teros de um patrimnio.3- conhecido pela Serra da BodoquenaRESPOSTAMato Grosso do Sul, que foi povoado no sc. 19. A maior parte do Pantanal est l, assim como Bonito, na Serra da Bodoquena.1#11 ORCULOEdio Felipe van DeursenABR.AI/BLOGDOORACULOROSQUINHAS E PNEUSExiste mais informao num objeto com um buraco no meio do que sonha nossa barriga apaixonada.DOH!Rosquinha embebida em brigadeiro de delegacias, tirai-me um questionamento que h muito (dez minutos, hehe) me atormenta: o que mudaria se a Terra tivesse forma de rosquinha? - MATEUS PARMA, BELO HORIZONTE, MG Tudo. A Terra donut seria estril e, possivelmente instvel. A incidncia solar seria bem diferente por causa do formato do planeta, o que traria diferenas severas de temperatura. A fora gravitacional variaria horrores de acordo com a regio do planeta. Isso tudo poderia fazer na Terra o que aconteceu em Marte: l, a atmosfera rarefeita se dissipou e os oceanos evaporaram h cerca de 3 bilhes de anos. MICTORIOLOGIAPor que ns, homens, abrimos as pernas quando vamos fazer xixi? - RENATO CARDOZO, SO PAULO, SP Para dar mais estabilidade. Se voc estiver esvaziando a bexiga de pernas coladas, mais fcil ocorrer uma mudana no seu centro de gravidade que o desequilibre. Em termos prticos: se estiver de ps juntos, basta uma ombrada para voc, possivelmente, cair no cho e se emporcalhar todo. Alm disso, com os ps separados, existem menos riscos de urinar em cima do seu sapato lustroso. Quem a pessoa que desenha nosso dinheiro? Como esse processo? - LEONARDO ANDREOLI, PASSO FUNDO, RS um grupo de cerca de dez profissionais, entre eles designers e gravadores de valores, que esculpem as moedas. Primeiro, eles estudam temas e tecnologias de segurana. Depois, desenvolvem as caractersticas do dinheiro, como tamanhos das notas e materiais usados na impresso. O trabalho pode durar muito tempo. A segunda famlia do real, por exemplo, levou seis anos para ser lanada. CORAO DE MELOLorde das respostas, quando estamos areos, por que sentimos frio na barriga ao lembrar da pessoa amada? - VIKTOR FERNANDES, VOLTA REDONDA, RJ O que ocorre que voc no consegue manter o foco. Quando estamos apaixonados, uma rea do crebro chamada tegmental ventral ativada. Ela produz a tal dopamina, neurotransmissor envolvido no controle das emoes. A descarga de dopamina muda os nveis de hormnios, que provocam palpitaes no corao, agitao e perda de apetite - os sintomas tpic do famoso frio na barriga. Pronto, agora voc j tem o que falar na abordagem pessoa amada. De nada. BLECAUTE SINISTROSe o Sol apagasse agora, quanto tempo ns ainda teramos de vida? - VINCIUS DOS SANTOS, CASCAVEL, PR Em 8 minutos e 20 segundos veramos que o Sol apagou (esse o tempo que a luz solar demora para chegar Terra). Em poucas semanas, todos morreramos. O calor interno do planeta e o isolamento trmico proporcionado pela atmosfera segurariam as pontas por alguns dias, at o ficar insustentvel. Para completar o quadro, sem Sol no haveria evaporao da gua, chuvas nem ventos. Uma delcia,QUER QUE DESENHE?Por que pneu novo de carro tem pelinhos? - MULLER PIEPER FERREIRA, BAIXO GUANDU, ES1- sobra de fbrica. Primeiro, mquinas misturam a borracha, resultando numa massa pegajosa.2- A massa passa por vrios processos. Depois, j circular, ela vai para a prensa de vulcanizao, onde, com o calor extremo, nasce o pneu.3- Para expelir o ar quente, pequenos furos so feitos. sada do vapor leva um pouco de borracha, formando os cabelinhos.ORDEM NO TRIBUNAL!Qual a do martelo do juiz? Para que ele serve? - GUILHERME BIANCHI, FLORIANPOLIS, SCBasicamente para acalmar os nimos no tribunal. O martelo de madeira uma tradio do common law anglo-saxo, sistema jurdico usado na Inglaterra e nos Estados Unidos, entre outros. No Brasil, onde vigora o sistema romano-germnico, o mais comum do mundo, os tribunais usam uma campainha. MARTELOTECAMARRETA BINICA - Arma clssica de Chapolim Colorado.TUBARO-MARTELO - Sphyrna spp.: 430 kg e feio pacas.MJLLNIR - Trovo infalvel do deus Thor.HAMMER - Arma dos soldados de Bowser (ver "Conexes").P PUMMisturar melancia com vinho mata? - LUCAS DA SILVA, CAMPO DO TENENTE, PRAssim como "manga com leite d dor de barriga" e "mamo com ovo mata", isso puro mito alimentar.NMERO INCRVEL-170 C Temperatura da superfcie da Terra se o Sol morresse. UM DADO RELEVANTE COM ALGUMA LIGAO170 D.C Ano da morte de Ptolomeu, um dos maiores astrnomos da Antiguidade.OUTRO DADO RELEVANTE SEM NENHUMA LIGAO 170% Aumento de casos de dengue na Malsia em 2014.PERGUNTE AO ORCULO!Escreva para [email protected] com o assunto "Orculo" e mencione sua cidade e Estado.1#12 CONEXES BROWSER A BOWSERTEXTO Ana PradoBROWSER - Navegador de internet, uma ferramenta que interpreta linguagens de programao e permite interagir com sites. Essas ferramentas funcionam em um sistema especfico de navegao, a World Wide Web, o famoso "www", criado por... TIM BERNERS-LEE - Fsico britnico e cientista da computao. Dentre as premiaes que ganhou por sua contribuio tecnologia, destaca-se o Prmio Japo, concedido por esse pas, que, apesar de distante, tem coisas em comum com o Brasil, como os... LOVE HOTELS - Locais para encontros sexuais, semelhantes aos nossos motis. Assim como no Brasil, no Japo h vrios motis temticos, com camas em forma de vago de trem e barco, por exemplo. Uma das empresas que investiu no setor foi a... NINTENDO - Fundada por Fusajiro Yamauchi, ela j atuou nos mercados de txi, arroz instantneo, baralho e rede de TV (alm dos motis), antes de apostar em videogames. Nesse ramo, criou personagens famosos, como o inimigo de Super Mrio,... BOWSER - Rei de uma tribo de tartarugas (entre elas os Hammer Bros.) e eterno sequestrador da princesa Peach. Marcou presena em todos os aparelhos da Nintendo, como o DS, que em 2006 ganhou uma inovao: seu prprio browser. 1#13 ESSENCIAL VAI DE RODZIO OU LA CARTE?Em 2014, uma tendncia se consolidou: produtos digitais esto cada vez mais sendo vendidos do mesmo jeito que a maioria das churrascarias serve carne: em sistema de rodzio. Mas isso no quer dizer que o modelo esteja decidido.TEXTO Pedro Burgos NO SE SABE QUAL FOI A PRIMEIRA churrascaria a adotar o modelo "pague uma vez e coma o quanto quiser" , mas ningum duvida de que foi uma grande ideia. Se o preo justo, bom negcio tanto para quem vende quanto para quem come. O mesmo modelo, depois de fazer sucesso com sushi e pizza, virou moda para vender filmes, msica e outros contedos pela internet. essa a aposta da Netflix, que j tem mais de 50 milhes de assinantes no mundo. As pessoas pagam uma mensalidade relativamente baixa (menos de R$ 20 por ms) e podem ver milhares de filmes e sries a hora que quiser no smartphone, no notebook, na TV ou no tablet. O chamado servio de streaming (do termo em ingls para "transmitir dados") tem ajudado os estdios a enfrentar a pirataria, e algumas pesquisas mostram que nos pases onde o Netflix chega o trfego ilegal de dados diminui. Ou seja: parece que as pessoas topam abrir mo do torrent ou do DVD de 5 reais se a alternativa legal for prtica e barata. O mesmo acontece com a msica. Servios como Spotify, Deezer e Rdio permitem ouvir dezenas de milhes de msicas, em alta qualidade, e baixar tudo para o celular por menos que o preo de um CD por ms. Alguns oferecem at a opo de acessar tudo de graa, com intervalos comerciais. Os artistas e a gravadora ganham dinheiro a cada execuo de suas msicas mais de 70% do faturamento do Spotify vai para o pagamento de royalties. Parece a soluo perfeita no mundo ps-CD. Parece. Mas nem todo mundo est feliz com esse novo cenrio porque, mesmo com o crescimento dos servios de streaming - o Spotify saltou de 10 para 15 milhes de assinantes em 2014 -, o faturamento da indstria musical continua caindo. Justamente porque muita gente que pagava la carte pelos downloads em servios como o iTunes, da Apple, passou a adotar o rodzio mais barato do Spotify. As vendas de msica, em todos os formatos, movimentou em 2014 menos que a metade de dez anos atrs, o que assustador. Por isso, os servios de streaming, que eram tidos como a salvao da indstria, comearam a ser vistos como viles por alguns artistas. A principal porta-voz dos descontentes a americana Taylor Swift. Ela foi a sensao da msica pop do ano que passou: teve o clipe mais assistido do YouTube e, em uma poca na qual quase ningum compra lbuns, vendeu mais de 1 milho de cpias apenas na semana de estreia de seu 1989. a melhor estreia no mundo desde 2002. Dias antes de 1989 ser lanado, Taylor decidiu tirar suas msicas do Spotify, o que fez com que a nica maneira legal de ouvir suas novas msicas fosse comprar o disco. O gesto no foi s uma sacada de marketing mas tambm um protesto. A cantora diz que o valor pago aos artistas pelos servios de streaming minsculo: dependendo do contrato, entre US$ 0,006 e US$ 0,0084 (de 1 a 2 centavos de real). Um msico s consegue ganhar o equivalente a um salrio mnimo nos Estados Unidos (cerca de 3.300 reais) se sua msica tocar 4 milhes de vezes por ms no Spotify. Para ganhar o mesmo valor com CDs, bastaria vender 3.800 cpias. O Spotify se defende, em seu blog, dizendo que j pagou mais de 2 bilhes de dlares em royalties e que, quanto mais assinantes houver, maior ser o bolo a dividir entre os artistas. Ou seja, eles pedem pacincia. E no s para os msicos, mas tambm para seus investidores, j que em oito anos de vida o site ainda no deu um tosto de lucro, o que gera dvidas sobre a sustentabilidade da empreitada. Do lado do streaming de vdeo, h outro tipo de problema: quanto mais gente assina o Netflix, mais caro fica para a empresa o acordo com as produtoras de filmes e sries. No toa que o catlogo seja to cheio de velharias - o que d para pagar. A oduo de sries prprias, como as aclamadas House of Cards e Orange Is the New Black, na verdade uma necessidade - comprar os direitos para transmitir uma srie de sucesso custa uma fortuna, mais caro que produzir. Para melhorar a oferta de novidades, o Netflix teria que cobrar mais. A empresa at fez esse experimento no ltimo trimestre, aumentando sua assinatura em dois dlares. O resultado: nunca cresceu to pouco, e suas aes caram quase 30% nos ltimos meses do ano. O Netflix pode, no fim das contas, ser s mais um canal de um novo tipo de TV, e no a soluo para tudo. Em abril, a HBO deve estrear sua verso 100% por streaming, totalmente fora dos pacotes de TV a cabo. No ser barato, mas as pessoas podero ver sries superproduzidas como Game of Thrones, ao mesmo tempo que passam na TV. No Brasil, a Globo tem um servio semelhante, pago. O futuro pode ter, ento, vrios bufes - para diferentes paladares. E a turma de apetite grande vai ter que pagar muitas mensalidades. O modelo rodzio agora est sendo testado com outros contedos. A Amazon lanou no Brasil no fim do ano passado um servio de assinatura de livros digitais. Por 20 reais, o consumidor pode baixar o que quiser de um acervo de 700 mil e-books. A Sony apresentou em janeiro o PS Now: por 20 dlares por ms, o gamer desfruta de um catlogo de 102 jogos. A Abril, empresa que edita a SUPER, tambm est experimentando com o servio de buf - no iba Clube, por R$ 20, possvel baixar quatro ttulos de revista por ms, em quantidades ilimitadas. Esses novos servios tm sido bem aceitos pelo pblico e esto tirando dinheiro dos equivalentes la carte. O iTunes, talvez o maior deles, perdeu 13% das vendas no ano passado. Mas isso no quer dizer que o problema esteja resolvido. Antes de comemorar o sucesso, as empresas de streaming tero que arrumar um jeito de fazer a conta fechar. H dcadas, as churrascarias rodzio sabem que s h duas maneiras de fazer isso: cobrar mais do fregus ou diminuir a qualidade da comida. _____________________________________________2# REPORTAGENS fevereiro 2015 2#1 CAPA MAOM A FACE OCULTA DO CRIADOR DO ISL 2#2 CULTURA ARTE CONDENADA 2#3 COMIDA FEIJOADA DESCRONSTRUDA 2#4 ECONOMIA ALUGO: CASA, FURADEIRA, CARRO, TEMPO, WI-FI, CONHECIMENTO, PRATO, MO DE OBRA, CAMA, MESA, BANHEIRA, FORA BRUTA, SERRA TICO-TICO, PACINCIA, MARTELO, FOGO, IDEIAS, JOIAS, TODA A VIZINHANA. 2#5 TECNOLOGIA BATERIA FRACA 2#6 COMPORTAMENTO COMO CONVENCER QUALQUER PESSOA A FAZER QUALQUER COISA INCLUSIVE A LER ESTA REPORTAGEM 2#7 SADE PARA LER EM P 2#8 COMIDA GUA, SABO E DELCIA2#1 CAPA MAOM A FACE OCULTA DO CRIADOR DO ISLTEXTO Alexandre Versignassi"Quem matar um ser humano (...) ter matado a humanidade inteira. Quem salvar uma vida humana ter salvo toda a humanidade."ALCORO - QUINTA SURATA, VERSCULO 32Ele criou uma nao fundamentada em direitos trabalhistas, juros baixos e livre concorrncia de mercado. Tinha uma esposa que ganhava mais do que ele e emancipou as mulheres quando assumiu o poder. Conhea a face realmente oculta do criador do islamismo. A MAIOR DOR DE CABEA DOS RABES que controlavam Meca, a cidade sagrada, tinha nome e sobrenome: Muhammad ibn Abdallah - Maom, em portugus. O plano era acabar com ele de uma vez. Aquele "poeta insano", como eles diziam, tinha virado uma ameaa. Ele vinha angariando partidrios fervorosos. Agora era questo de tempo at que o poeta, que se dizia profeta, assumisse o poder na cidade. "Maom deve morrer" era a ordem. Mas no era simples matar um poltico em ascendncia. Para evitar que a culpa recasse sobre um assassino especfico, e dificultar retaliaes, eles bolaram um crime perfeito: cada um dos lderes da cidade deveria designar "um soldado forte e bem-nascido" de seu cl. O grupo invadiria a casa de Maom no meio da madrugada, e cada um desferiria sua prpria punhalada. Todos matariam o profeta, diluindo a culpa entre os membros do consrcio de assassinos. No deu certo, claro, se no este texto no estaria sendo escrito. E no s porque se trata de um artigo sobre a vida dele. Mas porque, sem a religio que ele criou, o mundo seria um lugar bem diferente. E bem pior, como vamos ver mais adiante. Por outro lado, bvio: o que motivou este texto foi a violncia dos extremistas islmicos, uma minoria estridente que comete crimes em nome de sua religio, sem saber que outro grande delito que est perpetrando contra o prprio islamismo e, mais ainda, contra a imagem de Maom, um homem que trabalhou pela civilizao, no pela barbrie. Vamos conhece-lo melhor nas prximas pginas.O TERO Meca j era sagrada quando o beb Maom nasceu ali, no ano de 570. Bem sagrada: recebia peregrinos de todos os cantos da Pennsula Arbica. Tudo por causa de um meteorito; a Pedra Negra, que caiu nas redondezas da cidade sabe-se l quando e acabou virando um objeto de culto. Em algum momento da histria, que nunca foi registrado, os rabes colocaram muros em volta da pedra, cobriram e pronto: a casinha virou um santurio, a Caaba - o Cubo. Junto dela, colocaram 360 deuses, na forma de estatuetas. Um para cada dia do ano - que eles pensavam ter 360 dias. O ritual ali era dar sete voltinhas em torno da Caaba. Provavelmente porque esse o nmero de dias de cada fase da Lua. Os deuses, afinal, podiam no ser astronautas, mas eram astros. A Lua era Hubal, uma divindade que ajudava os humanos a prever o futuro. Vnus, o planeta, era Uzza, a deusa do amor. Acima de todos, na sala da presidncia celestial, sentava-se um deus to poderoso que nem tinha nome. Era apenas "o deus": al-Ilah. E do mesmo jeito que "vossa merc" virou "voc", al-Illah virou Allah. E Allah tambm era Jav. Os judeus tinham escrito a Bblia mil anos antes. Ela j era o texto mais conhecido do mundo. E a ideia central ali, voc sabe, era a de que Jav, o Deus do "d" maisculo, tinha criado o mundo e feito uma aliana com um homem chamado Abrao, o patriarca dos judeus. Graas forte presena de comunidades judaicas na Arbia, essa ideia estava to impregnada ali que os prprios rabes se viam como um povo quase bblico. Acreditavam que tambm eram descendentes de Abrao, o homem que falava com Deus. A diferena que, enquanto os judeus descenderiam de um dos filhos do profeta, Isaac, os rabes viriam do primognito de Abrao: Ismael, o filho que ele teve com a escrava da famlia. Fazia sentido, j que a Bblia dizia que Ismael foi mesmo morar nas bandas da Arbia, ainda que no d mais detalhes alm de dizer que ele "se tornou um bom atirador de flechas e arranjou uma mulher egpcia". S faltou combinar com os rabes que Jav era o nico deus. Na cabea deles, o deus de Abrao convivia com a deusa do amor, o deus da lua, a deusa do destino... E atendia pelo nome de "O deus": Allah. A verdade que cabia de tudo na mente do rabe tpico daqueles tempos - igual cabe na do brasileiro tpico destes tempos, que sincretiza catolicismo com umbanda e espiritismo sem problema nenhum. Havia at quem fosse Caaba prestar culto a Jesus Cristo, uma divindade que vinha ganhando terreno naquele panteo. Em suma, Meca era um tabule de crenas. E foi em meio a esse carnaval religioso que nasceria Maom, o filho do seu Abdallah e da dona Amina.O MENINO Abdallah, rapaz boa pinta, estava indo para a casa da noiva. No era um dia qualquer: logo mais, aconteceria a noite de npcias dele com a jovem Amina. Mas no meio do caminho apareceu uma mulher. Uma estranha interceptou o futuro pai de Maom na rua e o convidou para conhecer sua cama. Uau. Mas ele recusou educadamente e seguiu seu caminho rumo a outra cama, aquela onde consumaria seu casamento. Mas homem voc sabe como . Abdallah cruzou com a estranha no dia seguinte e perguntou se o convite ainda estava de p. No estava. Porque mulher, bom, voc sabe como : "Ontem voc tinha um brilho nos olhos", ela disse. "E hoje no tem mais. No quero." O tal brilho no era uma figura de linguagem. Segundo a tradio islmica de onde vem essa histria, os olhos de Abdullah realmente emitiam luz. E por um motivo claro: naquela noite, ele e Amina conceberiam o embrio de Maom. O brilho era uma manifestao da semente do Profeta, que estava prestes a sair do pai e ser plantada no tero de sua me. Claro que esse episdio da literatura islmica provavelmente to factual quanto a histria dos Reis Magos na literatura crist. s uma lenda composta para dar um carter sobrenatural ao nascimento de Maom, do mesmo jeito que a historinha da Estrela de Belm faz do parto de Jesus um acontecimento transcendente. Com ou sem luz nos olhos, o fato que Abdallah e Amina foram mesmo os pais de Maom. Mas no por muito tempo. O pai nem viu o filho nascer. Morreu enquanto Amina ainda estava grvida. O casal j vivia apertado. Os bens de Addallah somavam cinco camelos e algumas ovelhas - o que fazia dele um membro da "classe mdia baixa", caso existisse um IBGE em Meca. Agora, com ele morto, as perspectivas para Amina eram trgicas. Mas ela segurou a barra. Teve o filho sem problemas e propiciou uma infncia saudvel ao menino, com direito at a um "intercmbio" com uma famlia de bedunos para aprender cedo as agruras do deserto - coisa que toda criana rabe tinha de fazer na poca para "crescer forte". Mas Amina no teve tanto tempo para curtir o filho: morreu antes de ele completar 7 anos. Os dentes de leite do garoto mal tinham cado e ele j era rfo de pai e de me. Ento foi morar com o av. E o av morreu tambm. Agora Maom tinha 8 anos e um destino: virar escravo. Esse era o fado da maior parte dos rfos da poca. Sem uma famlia para ajudar, a nica sada era trabalhar em troca de (pouca) comida pelo resto da vida. Mas Maom escapou dessa sina graas a um tio, Abu Talib, que era irmo do falecido Abdullah. O homem teve pena do sobrinho e decidiu adot-lo. E o garoto finalmente ganhava uma famlia completa. Mais do que isso, na verdade. Abu Talib era um xeique, um chefe de cl. S para situar: estamos na Arbia pr-islmica, uma terra sem rei, onde o que vale a lei tribal. O xeique o cacique, mas no manda sozinho. Para cuidar dos cultos religiosos, voc tem o kahin, sujeito que cuida dos cultos e baixa o santo, servindo de porta voz para os deuses da tribo - deuses que gostavam de falar em rimas, j que recitar poesia nas celebraes era a especialidade dos kahins. No Poder Judicirio, voc tem o hakam, um juiz de pequenas causas. O trabalho do hakam, alis, no era dos mais complicados, porque a tica que reinava ali era a do olho por olho. A lei da retribuio. Quebrou o nariz de algum? Seus dias de simetria facial acabaram. Matou? Morreu. Mas esse sistema tribal estava entrando em crise. quela altura, a vida nmade, com tribos de pastores vagando em busca de pasto e s se cruzando de vez em quando, estava com os dias contados. O comrcio j era forte o bastante para sustentar centros urbanos. E o normal agora era vrias tribos ocuparem a mesma cidade. S tinha um problema: as leis de cada tribo s valiam dentro de cada tribo. Se voc matasse algum de fora, problema do morto. Era como se um morador de Ipanema tivesse carta branca para quebrar narizes no Leblon. No tinha como dar certo. Tanto no tinha que o nico caminho vivel foi a formao de "megatribos". Vrios cls foram se unindo, via casamentos arranjados, que providenciavam laos de sague. Depois de algumas dcadas, vinha o resultado: uma megatribo, que acabava subjugando as menores: podiam quebrar narizes vontade. Sem medo de punio. Em Meca, a megatribo era a dos Quraysh. Eles controlavam o comrcio e as finanas da cidade. Os peregrinos da Caaba, por exemplo, eram uma fonte de renda garantida para os mecanos: propiciavam feiras e mercados vibrantes em volta do santurio. Mas, se voc quisesse fazer parte da festa, abrindo uma barraquinha numa dessas feiras e mercados, no tinha jeito: teria que pagar impostos gordos para os lderes dos Quraysh. Isso concentrava a renda. Ento, se voc precisasse de um cascalho para abrir sua barraquinha, teria que pedir emprestado para os Quraysh mesmo. E eles cobravam juros extorsivos. No porque fossem perversos, ou burros (juro alto demais = inadimplncia = mau negcio para o credor). Eles cobravam juro de agiota porque, quanto mais calotes rolassem, melhor. Explico. que a garantia mais comum da poca para casos de calote era particularmente interessante para o credor: pessoas. Voc pedia um emprstimo e deixava um filho como garantia, ou voc mesmo. Se voc no pagasse, o credor ganhava um escravo. Num tempo sem mquinas, em que o trabalho braal valia bem mais do que hoje, ganhar escravos valia mais a pena do que receber os emprstimos de volta. E, se a garantia fosse uma esposa ou uma filha, melhor ainda: ela acabaria engrossando o harm do credor. Foi nesse cenrio que Maom cresceu. Mas no s nesse. que o tio Abu Talib, alm de Xeique e bem relacionado com os Quraysh, era um exportador, dono de caravanas de camelos que transportavam alimentos, especiarias e objetos preciosos deserto adentro. Ainda criana, Maom comeou a participar dessas viagens. E foi timo: o menino conheceu comunidades crists e judaicas bem mais a fundo do que se tivesse passado a vida em Meca. O fato de ele ter se inteirado bem sobre as duas religies monotestas ajudou l na frente, quando ele criaria a terceira. Mas isso talvez nunca tivesse acontecido se Maom no cruzasse o caminho de uma certa mulher, 15 anos mais velha que ele. A mulher que dominaria seu corao. E salvaria sua mente. O HOMEM Maom estava com 25 anos e sem grandes expectativas. Ainda no tinha um negcio prprio. Dependia da boa vontade do tio para ter casa e emprego. Pelo menos ele j tinha feito uma bela reputao na arte que Henry Ford um dia chamaria de "comprar como se fosse lixo, vender como se fosse ouro". Era um baita negociante. E logo a fama do rapaz lhe renderia frutos. Nessa poca, ele teve a sorte de ser contratado por algum bem mais rico que seu tio. Algum poderoso, respeitado e que, contra todas as normas sociais da poca, cometia o disparate de no ser homem: Khadija. Num tempo em que mulher era propriedade, e nem podia herdar bens se o marido morresse, Khadija era uma mulher emancipada. Uma self-made woman de 40 anos, dona de caravanas extremamente lucrativas, e que, mesmo no sendo mais nenhuma menininha, estava entre as mulheres mais cobiadas da cidade. Bom, Khadija agora precisava de algum para chefiar uma caravana para a Sria, mil quilmetros ao norte de Meca. Ela tinha ouvido falar muito bem de Maom, ento convidou o rapaz. Foi uma aposta vencedora: Maom voltou da Sria com o dobro dos lucros que ela esperava. A foi paixo segunda vista: ela ficou to encantada que pediu o rapaz em casamento. Consta que ele no pensou duas vezes. Agora Maom estava por cima da carne-seca. Ao assumir o controle das caravanas de Khadija, finalmente conseguiu ter seu prprio (e grande) negcio. Virou um comerciante reverenciado at pela elite. Nessa poca, seu melhor amigo passou a ser o prspero Abu Bakr, um Quraysh tambm dono de caravanas. E Maom ganhou a honra de recolocar a Pedra Negra na Caaba, depois de uma reforma que os lderes da cidade tinham feito no santurio. Mas ele no se sentia confortvel com a situao. Se por um lado ele lucrava com o sistema de Meca, j que tinha se tornado um comerciante prspero, por outro, ele simplesmente no engolia a ditadura Quraysh. Os textos islmicos sobre a vida do Profeta, que comearam a ser escritos enquanto ele estava vivo, reiteram que Maom no suportava ver tanta gente se tornando escrava por no conseguir pagar dvidas. Ele tambm achava absurda a ideia de a elite de Meca ser imune lei da retribuio. Mas no protestava. E ainda tinha um comportamento contraditrio; apesar de fazer doaes frequentes aos mais pobres e ser contra o escravagismo, tinha seu prprio escravo, Zayd. Alm das doaes, outra coisa que ele fazia para aplacar a conscincia era sair para meditar sozinho nas montanhas em volta da cidade. E foi num desses retiros, quando j tinha 40 anos, que Maom teve a maior de todas as experincias, segundo a liturgia islmica. Ele sentou numa caverna para meditar, quando ouviu uma voz, que lhe surgiu na cabea. Uma voz autoritria, que dizia; - Recita! - Recitar o qu?, perguntou. - Recita!! Ento Maom recitou, mesmo sem saber o que iria recitar. Entrou numa espcie de transe e sentiu as palavras flurem: "Recita, em nome do seu Senhor que criou/ Criou a humanidade a partir de um cogulo de sangue/ Recita, que seu Senhor generoso/ Aquele que ensinou pela escrita/ Ensinou humanidade o que ela no sabia". No era um texto duro e seco, como est aqui. Em rabe, so versos gostosos de ouvir, feitos para cantar, j que tm uma mtrica sofisticada e rimam. Os dois primeiros, por exemplo, fecham com palavras terminadas em "laq" (pronuncia-se "lco"). Os trs ltimos, com palavras que acabam em "am". Poesia, em suma. Ao estilo dos kahins. Essa foi a primeira das vrias recitaes que Maom faria nos 23 anos seguintes. E que dariam origem ao Alcoro (literalmente, "A Recitao"). Mas, segundo a tradio islmica, no foi fcil para ele. Maom ficou atordoado com a experincia de ver os versos sarem pela sua boca sem que ele soubesse o que estava acontecendo. Ele suava, tremia. E saiu da caverna direto para casa. S relaxou depois de ser ninado nos braos da mulher. "Khadija...", ele suspirou, mais calmo. "Acho que fiquei louco." Hoje, 1,6 bilho de pessoas discorda dessa afirmao. Mas naquele dia, bastava Khadija. Ela confortou o marido. Depois, para que Maom entendesse melhor o que tinha acontecido com ele na caverna, decidiu lev-lo a um especialista, digamos assim. Era Waraqa, um primo cristo de Khadija, versado nas escrituras judaicas e nos Evangelhos. E o diagnstico foi imediato: aquelas eram palavras de Deus, Waraqa disse. O Criador estava se manifestando pela boca de Maom. Ele era seu Mensageiro. Seu Profeta. E as mensagens tinham um intuito: deixar claro para o povo rabe que s existia um Deus. O Deus: Allah. Todas as outras divindades seriam ilusrias. Dali em diante, Maom passaria a pregar o monotesmo vorazmente. Ia at a Caaba e discursava para os politestas. Alm de vociferar que os deuses deles no existiam, deixava claro que ele prprio era uma parte da histria entre Deus e os homens. Allah, ele dizia, contou com vrios profetas: Ado, No, Abrao, Moiss, Davi, Jesus. E agora tinha mais um, ali, diante deles: Maom. Na prtica, a religio que Maom criava naquele momento era um reflexo do prprio caldo cultural de Meca: tinha um pouco de cristianismo, muito judasmo e um belo tempero rabe, com a poesia que remetia cultura ancestral dos kahin. S que Maom tinha muito mais do que poesia para entregar. Foi a que comearam os seus problemas. E sua ascenso. O PROFETA O Maom resignado, que tentava aplacar a conscincia fazendo caridade e isolando-se nas montanhas, estava morto. Agora nascia outro homem: o Profeta vivo, que peitava os Quraysh sem medo, descendo a lenha na cobrana de juros e, heresia mxima, pedindo a libertao dos escravos. Comeou libertando o seu, diga-se. Mesmo com esse discurso, Maom angariou seguidores entre os homens ricos de Meca. Provavelmente pela beleza das recitaes, muitos realmente o viam como um novo Abrao, um novo Moiss. A comear por seu amigo Abu Bakr, o comerciante Quraish. Seu primeiro ato como seguidor de Maom, inclusive, foi gastar uma fortuna comprando escravos de seus colegas comerciantes para libert-los. Some tudo isso ao fato de que a prpria mensagem monotesta de Maom tambm tinha um potencial destrutivo: se aquele homem continuasse convencendo gente na Caaba de que os deuses ali dentro eram de mentira, os peregrinos que se convencessem poderiam no voltar mais. Pssimo negcio para os Quraysh, que controlavam o comrcio em torno do santurio. Pois . Tinha chegado a hora de tomar uma providncia contra o recitador. Mas no seria fcil, porque o nmero de seguidores dele s crescia. No comeo, eram s Abu Bakr, Zayd, seu escravo alforriado, Khadija, claro, e o menino Ali, de 13 anos - um primo de Maom. Mas agora era diferente. Ele somava centenas de fies. Alm disso, seu tio Abu Talib era prximo demais dos Quraysh. Isso ajudava a manter as espadas deles longe do pescoo de Maom. Mas no por muito tempo. Quando Maom tinha 50 anos, no ano de 620, Abu Talib morreu, deixando o caminho mais livre para os Quraysh. E pior ainda: Khadija tambm faleceu, aos 65. Sem suas duas maiores referncias na vida, e ciente de que o pior se avizinhava, Maom comeou a tecer um plano para deixar Meca, mas sem largar seus seguidores. Lderes de outra cidade, Medina [*A cidade ainda se chamava Yathrib nessa poca. Foi rebatizada como Medina no incio do sculo 7 pelo prprio Maom], tinham convidado Maom para servir como haran, julgando uma disputa interna entre os cls locais. O Profeta, ento, orientou seus seguidores a se mudar para Medina, 300 quilmetros ao norte, sem alarde, para no chamar a ateno. Mas logo que os Quraysh perceberam o movimento decidiram agir. O temor agora era que Maom estivesse formando um exrcito. Foi a que, em setembro de 622, decidiram mat-lo, lanando mo daqueles soldados "fortes e bem-nascidos". Mas os ces de aluguel dos Quraysh tiveram uma surpresa. Quando arrombaram a casa do Profeta, quem estava na cama era seu primo Ali. Maom tinha acabado de fugir para Medina, junto com Abu Bakr. Ali, poupado, logo mais se juntaria aos dois. Esse dia da fuga se tornou to importante para o islamismo que o ano de 622 ficaria marcado para sempre. Tornaria-se o ano 1 da nova religio. O ano 1 d.H. (depois da Hjira, "Fuga", em rabe). E isso no aconteceria simplesmente porque o Profeta escapou da morte. Mas porque foi em Medina que Maom fez sua maior obra: criou sua prpria civilizao. Maom agora era xeique. Longe de Meca, seus seguidores formavam uma tribo de fato: a Ummah ("comunidade"). Uma tribo que no era unida por laos de sangue, mas por uma ideologia. Ideologia que Maom logo tiraria do mundo das ideias. Uma de suas primeiras medidas no campo das coisas prticas foi baixar a Selic. Ou quase isso. O Profeta achava que os juros extorsivos estavam no cerne dos problemas de Meca, certo? Ento ele criou um BNDES em Medina: os membros da Ummah concediam emprstimo a juro zero para outros "afiliados". Outro problema que ele via em Meca era o monoplio dos Quraysh no comrcio. Medina tambm tinha uma tribo que dominava o comrcio, a Banu Qaynuca, de origem judaica. Ningum podia vender nada em Medina sem pagar uma taxa a eles. Maom acabou com isso. No na pancada, mas criando uma feira concorrente, que no cobrava taxa nenhuma. Nisso, ele quebrou o monoplio e forou uma baixada nos preos. Capitalismo de raiz. De raiz mesmo; a Ummah abastecia seus mercados emboscando caravanas nos arredores de Meca. Os saques tambm alimentavam outra novidade; um Bolsa Famlia. Todo membro da Ummah deveria pagar um imposto de acordo com suas posses, o zakat. E o dinheiro ia para seguidores mais pobres, que nem tinham como pagar imposto nenhum. Zakat significa "purificao". Ou seja, o imposto tinha um sentido religioso: os mais ricos "purificavam-se" ao doar sistematicamente uma porcentagem dos seus ganhos. Mas vale lembrar: a religio era to intrincada com todo o resto da vida social que nem havia uma palavra para "religio". E ainda houve as reformas jurdicas. A lei principal continuava sendo o olho por olho, mas Maom introduziu uma mudana fundamental ali. "A retribuio por uma injria uma injria igual", diz o Alcoro, refletindo as leis tribais da Arbia. Mas tinha um complemento interessante ali: "Aqueles que esquecerem a injria e buscarem uma reconciliao sero recompensados por Deus" (42:40). Alm disso, a lei deixava claro que, dentro da igualdade da Ummah, no existiam fiis "mais iguais", como acontecia com a elite de Meca. Um bandido poderoso, portanto, deveria ter o mesmo tratamento de um ladro p-de-chinelo, pelo menos no papel. Outra mudana importante foi no campo dos direitos das mulheres. Maom tinha se tornado polgamo em Medina. Como qualquer xeique da poca, tinha vrias esposas e concubinas. Mas era natural que, como vivo de uma mulher poderosa, ele tambm entendesse que mulheres no eram camelos. Ento ele concedeu um direito importantssimo s mulheres da Ummah: elas poderiam herdar propriedades, pela primeira vez na histria das Arbias. Ele tambm proibiu que maridos se apropriassem dos dotes de casamento, pagos pelo pai da noiva no ato do casrio. O dinheiro deveria ser mantido como uma poupana exclusiva da mulher, funcionando como um seguro em caso de divrcio. Em suma: se Maom ressuscitasse hoje, deveria ser chamado para dar palestras de gesto pblica. Seu pacote de reformas deu to certo que vrios habitantes de Medina entraram para a Ummah. At porque era fcil: bastava aceitar que s havia um deus e que Maom era seu profeta, estar disposto a pagar o zakat e pronto: voc se tornava membro da tribo do Profeta. Tribo que, conforme foi ganhando mais membros, comeou a ser conhecida por outro nome: Isl ("subordinar-se a Deus"). E seus membros passariam a ser chamados de "muulmanos" ("aqueles que se renderam a Deus"). Mas quem no tinha se rendido a nada eram os Quraysh, l em Meca. Eles no tinham esquecido a ameaa que Maom representava. Ainda queriam mat-lo de todo jeito. A primeira batalha entre os Quraysh e a Ummah aconteceu dois anos depois da Hjira, em 624. Foi num daqueles roubos de caravana. O pessoal de Meca soube, via espies infiltrados em Medina, que os muulmanos iriam saquear uma caravana especfica, que vinha da Palestina. Ento colocaram um exrcito de mil homens para proteg-la. Maom chegou com 300. Deveria ser o seu fim. No foi. Talvez por excesso de confiana dos Quraysh, talvez por muito mais excesso de confiana dos muulmanos, o fato que Maom venceu. Dali para a frente, seguiram-se anos de batalhas. Entre uma luta e outra, Maom continuava tendo seus transes e recitando o futuro Alcoro. Os versos mais belicosos do livro sagrado so justamente dessa poca. O mais conhecido a surata (captulo) 9, versculo 5: "Matem os idlatras, onde quer que eles estejam; capturem, acossem, embosquem". O contexto real deste texto o da guerra contra os Quraysh, que infiltravam espies em Medina. "Idlatra" (ou "politesta", ou "infiel", dependendo da traduo) no qualquer um que no seja muulmano. A palavra est ali para representar um inimigo especfico, e de um conflito que aconteceu h quase 1.500 anos. E isso no significa que o Isl tenha mais apreo pela violncia que outras religies. Algumas partes do Antigo Testamento parecem ter sido escritas por Quentin Tarantino, dada a torrente de sangue. E o prprio Cristo, que aconselhava dar a outra face em caso de agresso, chegou a dizer: "No pensem que vim trazer paz ao mundo. No vim trazer paz, mas a espada" (Mateus, 10,34). E isso no significa que o cristianismo pregue a violncia. No caso do Isl, vale o mesmo raciocnio. De qualquer forma, Maom foi mais feliz que seus predecessores bblicos quando empunhou sua espada: ele passou por cima dos adversrios. Em 629, com os Quraysh cansados de guerra e o Isl mais forte do que nunca, o Profeta reuniu um exrcito de 10 mil homens e marchou para Meca. Acabou conquistando a cidade sagrada sem nem derramar sangue, j que o inimigo se rendeu na hora. Pronto. Com Meca sob seu controle, Maom agora era o homem mais poderoso da Arbia. Um destino que parecia distante do menino que nasceu sem pai e perdeu a me to cedo. Seu primeiro ato foi libertar todos os escravos de Meca. O segundo, despejar os deuses da Caaba, destruindo as imagens deles e consagrando o santurio a Allah - a Pedra Negra ficou, para a alegria de quem gosta de meteoritos. Maom tambm poupou as esttuas de Jesus e da Virgem Maria, os nicos personagens do Alcoro representados por imagens dentro da Caaba. Mas Maom no se aproveitou do poder. No corou-se "rei de Meca" nem nada. Voltou para Medina, que tinha se tornado sua cidade de fato, e morreu em paz, aos 62 anos, deixando 12 vivas, 3 filhos, 4 filhas e uma nova nao. EPLOGO Abu Bakr assumiu a liderana do Isl aos 58 anos, tornando-se o primeiro Califa ("sucessor", em rabe). O jovem Ali, que ainda tinha 30, era o favorito de uma parte dos seguidores. E ainda . A sucesso criou uma dissidncia pr-Ali hoje conhecida como "xiita", que forma uma minoria de 10% dentro do Isl. Os descendentes dos que apoiaram Abu Bakr so a maioria "sunita", que segue a suna, a "tradio", iniciada naquela poca. Os sucessores do Profeta no pararam em Meca. Continuaram a expanso da Ummah e, 50 anos depois da morte de Maom, seus domnios estendiam-se at o Ir. Mais 50 anos e o norte de frica e um pedao da ndia j era deles. Outros 50, e eles j dominavam a Espanha - uma terra to distante que, quando era meio-dia nessa ponta ocidental do imprio, o Sol j estava se pondo nos domnios mais orientais. Mas esse no foi s um dos maiores imprios do mundo. Foi um dos mais criativos tambm: enquanto a Europa se afundava na escurido da Idade Mdia, o Isl construiu sua prpria "Europa" alguns graus de latitude mais abaixo. Um continente unificado por uma nova religio, e que deixou como maior legado a cincia: boa parte da matemtica que conhecemos hoje veio de gnios que nasceram sob a religio de Maom. Uma religio humanitria, que, ao propor uma sociedade menos desigual e mais aberta ao dilogo, encarnou muito do que a humanidade tem de melhor. Que meia dzia de psicopatas no acabem com esse legado. VELHO TESTAMENTOA mitologia do islamismo tem razes profundas no judasmo, que surgiu mais de mil anos antes do nascimento de Maom e tinha presena forte na Pennsula Arbica. O rol de figuras sagradas das duas religies o mesmo: No (Nuh, em rabe), Moiss (Musa), Abrao (Ibrahim)... "Deus escolheu Ado, No e a famlia de Abrao [...] acima de todas as Suas criaturas." "A Moiss, ns demos o Livro, e depois dele enviamos uma sucesso de Mensageiros." - ALCORO - SURATAS 3, VERSCULO 33, E 2, VERSCULO 87EVANGELHOSJesus, no Alcoro, retratado como um dos profetas que precederam Maom. Mas trata-se de um homem comum, sem carter divino. Maria, sua me, aparece mais no livro sagrado do islamismo do que nos Evangelhos. vista como um exemplo mximo de virtude."Os anjos disseram: Maria, Deus te escolheu e te purificou. Ele escolheu voc entre todas as mulheres do seu tempo." - ALCORO - SURATA 3, VERSCULO 42O ROSTO PROIBIDONo existe lei alguma no Alcoro proibindo a representao do rosto de Maom. O problema que, meros 200 anos aps a morte do Profeta, j havia 700 mil leis islmicas em voga pelo mundo. Algumas delas realmente proibiam a representao, para que Maom no fosse idolatrado como um deus (j que s existiria um Deus). Seja no Isl, seja na vida laica, tem lei que pega e lei que no pega. Essa pegou."Chame a humanidade para a Peregrinao [ Meca]. Eles viro a voc a p, montados em camelos, de todo lugar, por longnquo que seja. Que eles se purifiquem, cumpram seus votos e circungirem a Antiga Casa [a Caaba]." - ALCORO - SURATA 22, VERSCULO 42ESPADA E CINCIAOs judeus viveram enclausurados entre superpotncias. O cristianismo virou a religio de Roma com o Imprio em decadncia. O Isl no: surgiu como nao e como religio ao mesmtempo e foi bem-sucedido ao expandir suas fronteiras (como todas as naes tentavam fazer). Suas fronteiras estendiam-se da Espanha ndia, e serviram de lar para a cincia de ponta, enquanto a Europa se afundava nas trevas das Idade Mdia.", Profeta, combata aqueles que negam a verdade e os hipcritas e seja implacvel com eles. O inferno ser sua morada." - ALCORO - SURATA 9, VERSCULO 42PARA SABER MAISNo God But God - The Origins, Evolution, and Future of Islam. Reza Aslam, Random House, 2011The Oxford History of Islam. John L. Esposito, Oxford University Press, 19992#2 CULTURA ARTE CONDENADAO JORNAL FRANCS GHARLIE HEBDO FOI ATACADO POR SATIRIZAR MAOM. DOZE MORRERAM. NO FOI A PRIMEIRA VEZ QUE O MERO EXERCCIO DA LIBERDADE DE EXPRESSO TERMINOU EM TRAGDIA. LEMBRAMOS OUTROS CASOS EM OUE O EXTREMISMO TENTOU IMPOR O SILNCIO. SEM SUCESSO. AFINAL, UMA OBRA DE ARTE JAMAIS SILENCIADA.TEXTO Camila Almeida 1- O CARMA DO PROFETAKURT WESTERGAARD foi o primeiro cartunista a sofrer represso por retratar Maom. O dinamarqus, em 2005, foi convidado pelo jornal Jyllands-Posten a desenhar o profeta como ele o imaginava. Colocou uma bomba sob o turbante. Embaixadas dinamarquesas foram incendiadas. Ele precisou se exilar com a esposa e se mudaram nove vezes. Quando voltaram, a casa foi invadida por um muulmano com um machado. O artista se escondeu no banheiro e escapou, mas vive alerta e cercado por seguranas. 2- DE ALIADO A PERSEGUIDO SONG BYEOK um pseudnimo. O artista norte-coreano, que hoje precisa viver na Coreia do Sul, convive com a perseguio por suas imagens crticas ao regime comunista. Quase impossvel acreditar que, antes de satirizar Kim Jong-il, o artista o pintava como o "Estimado Lder" nas propagandas do governo. Quando a fome se alastrou pelo pas nos anos 1990, Byeok tentou fugir em busca de comida, mas acabou capturado. Como punio, agravada pela traio, terminou num campo de trabalho forado. Teve dentes e ossos quebrados e perdeu um dedo. Em 2001, conseguiu fugir e, desde ento, ataca o regime em suas obras. No mesmo dia em que finalizou esta imagem de Kim Jong-il vestido de Marilyn, em 2011, o dspota morreu. 3- NOTAS PERIGOSASANNA POLITKOVSKAYA era uma reprter de um jornal russo conhecido por coberturas investigativas. As reportagens dela sobre a Segunda Guerra na Chechnia alertavam para os abusos cometidos pelas autoridades russas. Em 2001, foi detida pelo exrcito acusada de ter acesso a informaes secretas. Se refugiou em Viena depois de ser ameaada vrias vezes por e-mail. Em 2004, publicou A Rssia de Putin, um relato pessoal, que revela a face tirana do presidente. No mesmo ano, foi envenenada com ch num avio, mas sobreviveu. Dois anos depois, foi assassinada no prdio onde morava, em 7 de outubro, dia do aniversrio de Putin. 4- CONTRA A SUBMISSO O cineasta holands THEO VAN GOGH produziu, em 2004, um curta-metragem que questionava a violncia sofrida pelas mulheres muulmanas, j enraizada na cultura e na lei. Submission, como o filme foi intitulado, tambm uma das tradues para a palavra "Isl", em rabe. No mesmo ano, o cineasta foi assassinado por um muulmano enquanto ia, de bicicleta, para o trabalho. Theo Van Gogh foi baleado oito vezes e quase foi degolado. Duas facas foram deixadas, enfiadas no corpo dele. Nas investigaes, a polcia descobriu que o assassino tinha ligaes terroristas. 5- CINCIA VS. IGREJA GIORDANO BRUNO tinha vnculos profundos com a Igreja. Alm de filsofo, era tambm telogo e frade da ordem dominicana. Mas passou seis anos preso e, em 1600, foi queimado vivo pela Inquisio. Sua maior heresia foi a publicao do livro Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos, de 1584, que tem como base os estudos do astrnomo e matemtico Nicolau Coprnico. Bruno afirmava que a Terra, afinal, no era o centro de tudo e acreditava num Universo infinito, com mundos cheios de seres inteligentes. Para a Igreja, era uma ameaa: haveria mais de um Deus? O autor considerado precursor da filosofia moderna. 6- ORGIA DA CONTESTAONo toa, o aristocrata francs e escritor MARQUS DE SADE deu origem palavra sadismo. Sua libertinagem lhe rendeu inmeras prises, perseguies e a internao num hospcio, onde morreu. Retratou banquete de fezes, tortura, incesto e orgias sem fim em 120 Dias em Sodoma, escrito enquanto ele estava preso na Bastilha, em 1785. Foi produzido em letras mnimas, num rolo de pergaminho, por medo de que o confiscassem. 7- UM SOLDADO ABALADO NO REIGH OTTO DIX era um jovem alemo quando foi convocado para a Primeira Guerra. Mas foi ferido em batalha e precisou se afastar das trincheiras. Comeou a pintar, com traos expressionistas, as tragdias que presenciou. Chegou a se tornar professor de arte, mas foi obrigado a se demitir quando o nazismo assumiu a Alemanha. Suas pinturas foram queimadas e ele foi forado a trabalhar como artista do Reich. Na imagem, o quadro A Guerra de Trincheiras, da srie World War I. 8- REPRESSO COMUNISTA O renomado artista AI WEIWEI, conhecido por criticar o autoritarismo na China, foi confinado em casa em 2010, quando o regime engrossou. Passou trs meses sob vigilncia ininterrupta de guardas. Em 2011, desapareceu por mais trs meses, seu estdio foi invadido e vrias obras foram confiscadas. Aps libertado, recebeu uma multa de US$ 2,4 milhes por evaso tributria. Mais de 30 mil pessoas fizeram doaes para ajud-lo (dinheiro que o artista devolveu). At hoje, vive supervisionado pelo estado. Esta foto faz parte do ensaio Fuck Off e foi usada como pster do filme sobre sua vida, Never Sorry, traduzido em portugus como Sem Perdo. 2#3 COMIDA FEIJOADA DESCRONSTRUDAA saga dos ingredientes que surgiram separados por eras e continentes e se encontraram em restaurantes do Rio e do Recife no sculo 19, onde criaram o cozido mais famoso do Brasil.POR Felipe van Deursen, Inara Negro, Arthuzzi e Luiz Felipe SilvaA CONSTRUO DO PRATOOs ingredientes vm de vrios lugares e chegaram ao Brasil de feitos diversos15.000 A.C.FEIJO-PRETOOrigem: Amrica do SulFeijo preto era comum entre os ndios, que o chamavam de coman.FARINHAOrigem: Amrica do SulTradicionalmente indgena, foi incorporada pelos imigrantesPIMENTA-MALAGUETAOrigem: Amrica Central e do SulJ existia na Amaznia, nos Andes e no Caribe. Colombo a levou europa em 1494.10.000 A.C.ARROZOrigem: siaQuem trouxe: Imigrantes europeus (sc. 18)4000 A.C.PAIO E LINGUIAOrigem: GrciaQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)A linguia portuguesa surgiu na regio de Trs-os-Montes, onde nasceu o cozido transmontano, espcie de pai da feijoada.3000 A.C.CARNE SECAOrigem: EgitoQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)Segundo alguns estudiosos, os neandertais j consumiam carne seca.CEBOLA E ALHOOrigem: siaQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)Persas e egpcios usavam cebola e alho em receitas.2000 A.C.LARANJAOrigem: siaQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)Base da alimentao dos escravos, que a incorporaram feijoada1500 A.C.BACONOrigem: ChinaQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)Defumar e salgar carne suna ficou popular na Europa medieval.SC 3 A.C.COUVEOrigem: EuropaQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)A couve manteiga, espcie mais comum, ficou popular na Europa na Idade Mdia.SC. 2P, RABO ETC.Origem: EuropaQuem trouxe: Imigrantes europeus (sc. 19)COSTELAOrigem: EuropaQuem trouxe: Imigrantes europeus (sc. 19)Comemos porco h milnios. Mas esses cortes s surgiram no Imprio Romano.Do uso dessas carnes nasceu o cassoulet, o primeiro cozido moderno.SC. 5LOUROOrigem: FranaQuem trouxe: Colonizadores portugueses (sc. 16)Em Portugal, era usado em receitas com longo tempo de cozimento. Virou tempero de feijo e, consequentemente, da feijoada.SC. 18TORRESMOOrigem: EuropaQuem trouxe: Imigrantes europeus (sc. 19)Comum em Portugal, onde era frito a seco. Acredita-se que a fritura banhada emleo seja uma adaptao dos escravos do Brasil.PARENTES DA FEIJOADA1- Locro ARGENTINA 2- Manioba BRASIL3- Cachupa CABO VERDE4- Cozido transmontano PORTUGAL5- Cassoulet FRANA6- Fabada asturiana ESPANHA7 Cassouela ITLIA8- Fassulha ORIENTE MDIO9- Feijoada Ib MOAMBIQUE2#4 ECONOMIA ALUGO: CASA, FURADEIRA, CARRO, TEMPO, WI-FI, CONHECIMENTO, PRATO, MO DE OBRA, CAMA, MESA, BANHEIRA, FORA BRUTA, SERRA TICO-TICO, PACINCIA, MARTELO, FOGO, IDEIAS, JOIAS, TODA A VIZINHANA.Estamos entrando em uma nova era da economia, em que tudo pode ser compartilhado. Com menos intermedirios, menos desperdcio e mais oportunidades. Mas tambm menos direitos, menos privacidade e mais desigualdade. Seja bem-vindo. A casa sua (e de todo mundo). REPORTAGEM Pedro Burgos EDIO Karin Hueck DEPOIS DE SEGUIDAS QUEDAS, a Petrobras chegou ao incio do ano de 2015 com o mesmo valor de mercado que tinha em 2004; cerca de 40 bilhes de dlares. Por essa medida, a gigante brasileira virou uma empresa menor que a novata Uber, que apesar de ainda no estar na bolsa, avaliada em 41 bilhes de dlares. Se voc nunca ouviu falar, no se preocupe. A Uber foi criada em 2009 nos EUA e , essencialmente, um aplicativo para celular que compete com os txis e est dobrando de tamanho a cada 6 meses. Ela j est presente em mais de 53 pases, inclusive no Brasil. Ambas, de alguma forma, esto ligadas indstria automotiva. A Petrobras fornece o combustvel para os carros rodarem. A Uber permite que qualquer pessoa se cadastre como "taxista". Nela, de um lado, qualquer um pode usar seus prprios carros para ganhar sustento como motorista e, de outro, clientes garantem um servio superior (em conforto e muitas vezes preo) em relao ao txi. Hoje a Uber o maior exemplo de empresa que possibilita o que os estudiosos chamam de "economia compartilhada" ou "economia sob demanda". Os termos so novos e ainda esto aguardando definies exatas, mas s dar uma olhada em centenas de empresas parecidas para entender como elas esto mudando profundamente a nossa economia. Ao lado da Uber, o AirBnB a mais famosa face do movimento. Tambm baseado em um aplicativo (ou site), ele conecta pessoas que querem passar alguns dias em alguma cidade do mundo com donos de quartos, casas, apartamentos e at barcos dispostos a alug-los - e cobra uma pequena comisso. Em poucos anos, ele j vale mais que qualquer rede de hotis e tem 1 milho de casas catalogadas na sua plataforma. Dezenas de empresas parecidas pipocaram ao redor do mundo. Pessoas se ajudando, freando o consumismo desenfreado parece uma utopia hippie. Mas na verdade s a confirmao da ideia bem capitalista de maximizar a eficincia do que temos nossa disposio: dinheiro parado no banco, carro na garagem ou tempo no final do dia. um pouco a volta da ideia de uma biblioteca, onde os livros passam pela mo de mais gente e tm uma vida til muito maior. Com a diferena de que no o governo ou uma escola gerenciando esses bens, mas os prprios indivduos atravs de aplicativos no celular ou redes sociais - da muitos chamarem isso de "economia peer-to-peer" (pessoa para pessoa). Todas essas empresas s existem graas tecnologia. Mas isso no seria problemtico para as velhas empresas? primeira vista, sim. Uma enorme parte delas fez a sua fortuna apostando na ideia de que as pessoas queriam possuir coisas. A economia compartilhada marca uma mudana de mentalidade: para uma quantidade crescente de gente, especialmente mais jovem, melhor ter acesso do que posse. Por essa lgica, no queremos mais carros, exatamente, mas a utilidade do carro. Ter o aplicativo da Uber no celular a garantia que voc chegar rpido e confortavelmente a qualquer lugar. E, se fizer a conta de gasolina, estacionamento e estresse gastos atrs do volante, ver que possivelmente mais barato. primeira vista, a economia colaborativa reduz o consumo - o que poderia, em tese, machucar a economia. Mas no necessariamente. "Podemos ver esse fenmeno como uma busca para outro tipo de economia, uma em que os negcios se preocupam mais com o reso, o reparo e o acesso a bens de alta qualidade, em vez da manufatura de bens baratos e descartveis", diz Yassi Eskandari-Qajar, diretora do Centro de Leis para Economia Sustentvel, da Califrnia. No difcil provar esse argumento: uma casa bem decorada no AirBnB mais confortvel do que um hotel fajuto. A mesma ideia vale para os servios. H uma infinidade de novas plataformas que ligam demandas especficas a prestadores de servios rpidos. Quer algum para buscar comida em um restaurante que no oferece delivery? H o Postmates, nos EUA, que emprega 6 mil entregadores. Precisa de algum para traduzir um documento de coreano para espanhol? No Mechanical Turk, da Amazon, algum faz isso no mesmo dia cobrando centavos por frase. Precisa de algum que pinte sua casa amanh? O site brasileiro Getninjas mostrar uma lista, com avaliaes de clientes anteriores. Algum para gerenciar todas essas outras pessoas? H o Alfred, que oferece (adivinhe) mordomos que podem at separar a sua roupa suja. Alguns especialistas defendem que esse tipo de contratao de servios diferente da economia compartilhada, que troca bens. Por isso, o movimento chamado de "on-demand economy" (economia sob demanda). Da mesma forma que clientes podem usar diversos aplicativos da nova economia ao mesmo tempo, pessoas tambm podem oferecer diferentes servios. Segundo informaes da Freelance Union, espcie de "sindicato dos freelancers", um tero dos americanos j faz algum trabalho fora do "emprego", o que permite horrios flexveis, por exemplo, para pais que querem cuidar dos filhos em casa. Com a facilidade de conseguir vrios freelancers com os aplicativos, no difcil imaginar que essas pequenas demandas, somadas, virem o trabalho da pessoa. "Muitos freelancers veem essa forma de trabalho como a melhor maneira de tomar controle de sua vida", definiu Sara Horowitz, diretora executiva da Freelance Union, revista Fast Company. Ou seja: a economia colaborativa reduz o consumismo exagerado, cria carreiras com mais liberdade e tira o poder de grandes corporaes para devolv-lo s pessoas - tudo isso enquanto oferece servios e produtos melhores e mais baratos. "Os fundamentos econmicos dessa transio apontam para implicaes positivas; taxas de crescimento econmico mais altas, um melhor padro de vida, mais inovao e menos barreira de entrada para empreendedorismo", resume Arun Sundarajan, professor de economia digital da New York University, um dos muitos na academia simpticos ideia. S h o que comemorar, certo? HMM, NO BEM ASSIM Os americanos podem estar deslumbrados com as possibilidades dessa nova economia, mas para pessoas de pases mais "atrasados" relativamente fcil e barato para algum um pouco mais rico achar pessoas para cuidar do cachorro, passar a roupa ou levar o carro para oficina. s achar algum imigrante/ migrante/menos favorecido disposto a aceitar um salrio baixo em troca de um servio. Da mesma forma, a ideia de trocar roupas de criana ou pegar todo tipo de objeto emprestado com os vizinhos no novidade para quem mora na periferia - o uso consciente dos recursos j prtica corriqueira. No h nada de revolucionrio nisso. Em um artigo para a revista online Quartz, o indiano Leo Mirani escreveu que tinha todas essas convenincias da nova economia em Bombaim, na ndia, bem antes do smartphone. "No foi a tecnologia que acelerou a economia sob demanda. Mas uma enorme massa de pessoas pobres", conclui, dizendo que a "economia da Uber" s possvel graas desigualdade. No surpresa que muitas das empresas dessa nova economia tenham surgido, ou ganhado trao, logo depois da crise de 2008. "As pessoas que esto dirigindo para estranhos entre meia-noite e oito da manh, ou executando todos esses trabalhos de meio-perodo, fazem isso porque no tm uma alternativa melhor", diz Steven Strauss, professor de polticas pblicas de Harvard. Para ele, basta ver que a maior parte de quem vai atrs dessas novas oportunidades - que ele chama de gig economy ("economia do bico") - so os americanos que no tm ensino superior, para quem a renda caiu at 20%, em termos reais, na ltima gerao. Em um cenrio econmico incerto, dirigir para a Uber parece uma boa oportunidade. Pelas contas da empresa, os motoristas chegam a ganhar 6 mil reais por ms, ou at 90 mil dlares por ano nos EUA, especialmente se trabalharem em horrios com menos oferta, como de madrugada. Parece atraente, mas nenhum desses trabalhos configura o que convencionou-se chamar de emprego. No h frias remuneradas, 13, plano de sade, previdncia ou mesmo garantia de servio. Por isso Guy Standing, economista da Universidade de Londres, chama essa crescente classe de freelancers de "precariado" - em oposio ao proletariado. Em um livro influente (Precariat, sem traduo para o portugus), ele diz que as lutas dos movimentos trabalhistas, as CUTs do mundo, ainda precisa alcanar a nova realidade. Se o conceito de "firma" perde sentido, tambm vai com ele o "plano de sade da firma". Isso coloca mais presso para que os sistemas pblicos de sade funcionem bem. Para a economia sob demanda ser bem sucedida, Standing argumenta, preciso que os governos criem redes de seguridade social mais robustas. Se por um lado as empresas da nova economia exigem que os governos cuidem mais dos cidados, por outro elas querem que nenhuma lei atrapalhe a sua entrada nos mercados. Experimente, em uma cidade como So Paulo, conversar com um taxista sobre a Uber. Durante esta reportagem, conversei com trs. Eles reclamam que os carros da Uber no so vistoriados pelos rgos oficiais, que os motoristas no precisam passar por checagens de antecedentes criminais e que falta segurana ao passageiro. Para ser to bom e barato, taxistas argumentam, eles no concorrem em igualdade com os negcios antigos. De fato, como qualquer pessoa pode se cadastrar no aplicativo, a Uber j registrou casos criminosos ao redor do mundo: em Londres, passageiros foram vtimas de homofobia durante uma carona e, em Chicago, uma mulher foi estuprada pelo motorista depois de pedir um carro alcoolizada e desmaiar no trajeto. A presso dos grupos de taxistas fizeram a Uber se adequar a leis locais em diversos pases da Europa e dos EUA - isso para no falar de onde foram banidos, como Espanha e ndia. A adequao deve acontecer no Brasil tambm. A mesma batalha se d p