superação

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liguesuavida

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Suplemento produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, 2013, do curso de Jornalismo da Unesp, câmpus Bauru, sob a orientação do Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

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CARTA AO LEITOR

Ninguém está livre das perdas. Vivemos constantemente o risco de

perder movimentos, membros do corpo, visão, ter um trauma cerebral,

psicológico ou contrair alguma patologia. Está aí a importância de abrir

espaço para falar em recuperação, em cidadania e, principalmente, em

superação.

Quandootemaédeficiência,areaçãodasociedadeécomumente

a invisibilidade. Mesmo com o fato de a temática da reabilitação social

estar cada vez mais presente na mídia e nas discussões sociais, ainda falta

muito para quem precisa se sentir, de fato, incluído.

Alémdadeficiênciafísicaemental,vamosabordarasuperaçãode

transtornos mentais, psicológicos e recuperação de dependentes quími-

cos.Históriasdepessoasquedeumjeitooudeoutro,estãoouficaram

fora do convívio social que merecem. Para complementar esse assunto,

queportantasvezesétemadelivrosefilmes,porexemplo,falaremos

dos recursos legais, benefícios e atitudes que os contemplam.

Desejamosquevocê, leitor,aproveiteereflitasobreasquestões

aqui abordadas. Desejamos que ligue sua vida e conecte a com a do pró-

ximo,poisviveremsociedadeéinteragir.

Aperte o “ligar”,

QUEM SOMOS E O QUE PENSAMOS

Andrey Donizete“Pensaremdeficiênciadequalquertipo,deveriaserpoderentender o outro. Deveria ser uma preocupação de visão macro, que instiga a mudar a sociedade, fazer dela mais humana.”

Danielle Demarchi“Aprendi que reclamar não ajuda em nada, pois, apesar de tudo, os seres humanos são incrivelmente fortes e podem superar tudo se tiverem força de vontade e trabalharem pra isso.”

Francielle Kuamoto“Responsabilidade social vai muito além de doações materiais. É preciso o Coração!”

Isabela Ribeiro“Asdeficiênciassugeremlimitações,masnósescolhemosseelasvãonosdefinirounão.Éprecisoencontraraidentidadenaeficiênciadacoragem,sabendoquetudoépossívelaoquecrê.”

Isabelle Hoffmann“Acreditoquecadapessoadeveserelamesma.Nãodeixarnin-guémdefini-la.Poiscadaumsabeexatamentequemé.Então,permaneçafielaquemvocêé.”

Jaqueline Galdino“Incluirnãoésimplesmentedaropçõesparaumdeficiente,esim, capacitá-lo para viver dia a dia com pessoas normais.”

Laís Bianquini“Às vezes, pensamos que temos problemas, até nos deparamos compessoascomdificuldadesreais,quelutamparagarantirseulugar no mundo, só assim aprendemos a dar valor na vida”

Pedro Cardoso“Aprendi que a vontade de viver é a força mais poderosa da natureza.”

Willy Delvalle“As pessoas vão muito além de traumas, doenças e quaisquer circunstâncias.Elastêmumahistória.”

facebook.com/superacao

@superacao

[email protected]

Converse com a gente!Mande suas opiniões.

Conte sua história.

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”Reitor: Dr. Julio Cezar DuriganVice-reitora: Dra. Marilza Vieira Cunha Rudge

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – FAACDiretor: Dr. Nilson GhirardelloVice-diretor: Dr. Marcelo Carbone Carneiro

Departamento de Comunicação SocialChefe: Dr. Juarez Tadeu de Paula XavierVice-chefe: Dr. Angelo Sottovia Aranha

Curso de JornalismoCoordenador: Dr. Francisco Rolfsen BeldaVice-coordenadora: Dra. Suely Maciel

PlanejamentoGráficoEditorialIIProfessores: Dr. Francisco Rolfsen Belda e Tássia Zanini

Jornalismo Impresso IIProfessor e Jornalista Responsável: Dr. Angelo Sottovia Aranha (MTB 12.870)

Equipe SUPERAÇÃO

Laís, Francielle, Danielle, Isabelle, Andrey, Willy, Jaqueline, Isabela e Pedro

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LEIS(pág. 4)

AIDS(pág. 4)

DEFICIÊNCIAFÍSICA

(pág. 5)

PERFIS(pág. 6 - 7)

REABILITAÇÃOSOCIAL(pág. 8)

PROJETOSOCIAL(pág. 9)

ENTREVISTA(pág. 10)

TECNOLOGIA(pág. 10)

DICAS CULTURAIS(pág. 12)

ESPORTE(pág. 11)

ÍNDICEÍNDICE

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Dois benefícios e uma super açãoOs benefícios fiscais que a empresa recebe ao contratar uma PPD e os seus direitos assegurados por lei

Aids, o início de uma nova etapa da vidaA primeira forma de combater o preconceito é se aceitar frente às novas condições

HIV é a sigla em inglês do vírus que causa a Imunodeficiência Humana. Aids é o estágio mais

avançado da doença. Muitas pessoas po-dem ter o HIV, mas não manifestar aids. Transmitido por relações sexuais despro-tegidas, pelo compartilhamento de se-ringas contaminadas ou pela gestação e amamentação, o vírus da doença ataca o sistema imunológico humano.

Segundo o último Boletim Epidemio-lógico, desde o início da epidemia, em 1980 até 2012, ano de realização da pes-quisa, o Brasil possui 656.701 casos de aids registrados. A aids é uma doença que não tem cura, no entanto, é fundamental saber que o tratamento existe. Ele é reali-zado a base de coquetéis que o soroposi-tivo precisa ingerir regularmente.

Há, no entanto, um aspecto que ron-da e amedronta os soropositivos; o pre-conceito moral. Muitas vezes taxados de promíscuos e “sujos”, eles podem se isolar da sociedade, possuindo uma vida solitária, vivendo longe dos amigos e dos familiares. Os soropositivos são, antes de tudo, seres humanos como outros quais-quer, possuem deveres, direitos e cidada-nia. Eleusa Gallo Rosenburg, psicóloga e pós doutoranda de políticas públicas em saúde sexual e reprodutiva, destaca que, para combater essa solidão, é muito im-portante “o indivíduo sentir-se inserido nas atividades da comunidade, ter em-pregabilidade, podendo sentir-se um in-divíduo produtivo, respeitado e cidadão”.

Em 1989, profissionais da saúde e membros da sociedade civil criaram a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids. O documento foi aprovado no Encontro

Nacional de ONGs que Trabalham com Aids (ENONG), em Porto Alegre no Rio Grande do Sul.

Eleusa ressalta que a Psicilogia tem um importante papel no tratamento dos soropositivos e de que “a função do psi-cólogo clínico é auxiliar no processo in-terno deste paciente, descobrir potencia-lidades e enfrentar os problemas a partir do que o paciente traz consigo próprio”.

Auto-conhecimento

A conscientização individual e poste-rior aceitação pode, e deve, ser conside-rada o pontapé inicial para o tratamento. Posteriormente a essa etapa, surge uma nova fase em que os objetivos são pro-longar a sobrevida e melhorar a qualida-de de vida dos soropositivos, por meio da redução da carga viral e então reconsti-tuição do sistema imunológico.

Além de não se levar por esse pre-conceito moral que sofre, é preciso que o soropositivo entenda sua atual situação e se autoaceite. Márcia Pereira da Silva, coordenadora da Sociedade de Apoio a Pessoa com Aids de Bauru (SAPAB), diz que essa é uma parte fundamental do

tratamento; “Existem algumas etapas im-portantes para a pessoa vivendo com aids iniciar o seu tratamento, primeiro ela co-nhecer a sorologia dela e se entender nes-sa nova condição de vida. Não é o fim da vida dela. Ela não tem, daqui para frente, o resto da vida, mas sim toda uma vida.”.

A informação é uma das armas de combate ao preconceito existente. Inú-meras campanhas são feitas pelo governo brasileiro com a finalidade de conscien-tizar a população sobre a patologia, sua transmissão, prevenção e tratamento. Se-gundo Márcia não se trata de preconcei-to, mas sim, de discriminação, pois “não é por falta de informação, uma vez que a informação está aí. O pré-conceito é a falta de informação. Não é preconceito, é discriminação. E como o prórprio nome já diz, discrimnação é crime.”.

Muito se diz e se esteriotipa sobre os portadoras do vírus HIV. Embasados pela Legislação, eles, e todos nós, podemos lutar contra esse preconceito. Como diz Márcia, “A maioria das pessoas acredi-ta que a aids está para todos os outros, e não para elas. Porém, a aids está para todos.”. Somente a partir do momento que as pessoas se conscientizarem é que teremos uma sociedade mais fraternal e acolhedora.

A introdução de pessoas portadoras de deficiência (PPD) no mercado de trabalho mostra-se fundamen-

tal para a inclusão social. A deficiência, dependendo do nível de gravidade, não pode ser taxada preconceituosamente como inútil para o mercado. No Brasil, essa inserção é assegurada por meio da lei, existindo uma porcentagem especí-fica de contratação obrigatória por em-presa. Hoje, existe também benefícios fiscais para tais empresas, incentivando a admissão das PPDs nos diversos cargos disponíveis.

A “lei cotas para Deficientes e Pes-soas com Deficiência”; ela dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência e toma providências pela contratação de portadores de necessidades especiais por empresas brasileiras. O Artigo 93 da lei diz que a empresa com 100 ou mais fun-cionários está obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas

portadoras de deficiência. O projeto de Lei que diminui o Im-

posto de Renda (IR) de empresas que empregam PPDs foi aprovada pela Co-missão de Direitos Humanos e Legisla-ção Participativa do Senado a menos de um ano. O autor do projeto é o senador Mário Couto (PSDB-PA), que argumenta que as empresas enfrentam dificuldades “quase intransponíveis” para seguir a po-lítica de cotas.

“Negar a alguém em-prego ou trabalho, sem justa causa e por motivo derivado de sua deficiên-cia, constitui crime, puní-vel com reclusão de um a

quatro anos e multa”

O maior objetivo era trocar a puni-ção das constantes multas aplicadas pela fiscalização trabalhista por mecanismos de incentivo econômico que façam da empregabilidade de PPDs algo lucrativo. A advogada Margareth Mitie Hashimo-

to diz que “negar a alguém emprego ou trabalho, sem justa causa e por motivo derivado de sua deficiência, constitui cri-me, punível com reclusão de um a quatro anos e multa”.

Existem, hoje, grupos que ajudam e orientam PPDs a encontrar as tais vagas, disponibilizando informações online através das redes sociais como o Face-book e o Twitter. A Deficiente Online (www.deficienteonline.com.br) é uma empresa especializada e possui o maior Banco de Currículos de Deficientes do Brasil. Sua missão é ser a melhor ferra-menta de disponibilização de currículos, com informações sobre a qualificação profissional e educacional para trabalhar as habilidades e competências dos Pro-fissionais com deficiência. Ela comparti-lha essas informações com empresas que buscam novos talentos e potencial huma-no na diversidade, também auxiliando as empresas na adequação a Lei.

Denise Melo, de Varginhas (MG), é portadora de deficiência e diz que “infe-lizmente, no interior de minas, as empre-sas não obedecem à estas cotas. Muitas nem sabem que existem”. Ela acrescenta

que as empresas só observam a idade do concorrente. Denise está desempregada há quatro meses e diz ter feito o seu ca-dastro no site do Deficiente Online, en-tretanto, ainda não teve retorno.

Os benefícios fiscais apresentados por lei são reais, entretanto o nosso mecanis-mo industrial que inclui o deficiente no processo de contratação parece não cum-prir tais obrigações. As dificuldades para as PPDs ainda são grandes e exige maior engajamento e comprometimento para introduzi-los à sociedade e ao mercado de trabalho.

Por Francielle Kuamoto

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Por Andrey Donizete

O preconceito moral é um dos principais estigmas que o

soropositivo pode encontrar

Imagem: Reprodução/Internet

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Reabilitação e superaçãoProfissionais e pacientes que não desistiram de lutar

Reabilitação, de acordo com o Pro-grama Mundial para Pessoas com Deficiência da Organização das

Nações Unidades, ONU, “é um proces-so de duração limitada e com o objetivo definido, com vista a permitir que uma pessoa com deficiência alcance o nível físico, mental e/ou social funcional óti-mo, proporcionando-lhe assim os meios de modificar a sua própria vida. Pode compreender medidas com vista a com-pensar a perda de uma função ou uma limitação funcional, como ajudas técni-cas e outras medidas para facilitar ajustes ou reajustes sociais”. A reabilitação está associada a um conceito mais amplo de saúde, incorporando o bem-estar físico, psíquico e social a que todos os indivídu-os têm direito.

Entendendo a reabilitação

A reabilitação teve um grande im-pulso e desenvolvimento no século XX, sobretudo no período posterior às gran-des catástrofes mundiais, como foram as grandes guerras. Foram, então, atribuídos aos governos os custos econômicos, fa-miliares e sociais decorrentes das lesões e sequelas dos seus cidadãos e exigidas medidas de reparação e integração.

Atualmente, a melhoria das condições de vida, os avanços médico-cirúrgicos, a promoção e a genera- lização dos cui-dados de saúde levaram ao aumento no sucesso desse método de tratamento, per-mitindo a melhoria de vida para um ele-vado número de deficientes, vítimas de acidentes de trânsito, de trabalho, de do-enças cardiovasculares, salvar crianças com graves sequelas neurológicas lesões derivadas da gestação e do parto, e outras lesões.

Assim, a reabilitação constitui um trabalho integrado de diferentes profis-sionais, onde estes devem estabelecer

uma estratégia com objetivos comuns e desenvolver ações conjuntas. Interessa, por isso, à maioria das áreas médicas, particularmente quando estão em causa situações potencialmente incapacitantes.

O fisioterapeuta

Michele Andrade Pignatari, 29, é co-ordenadora da área de fisioterapia na ADEFILP – Associação de Deficientes Físicos de Lençóis Paulista – onde traba-lha na reabilitação e superação no dia-a--dia dos pacientes e formação de atletas, estimulando-os a encontrar o limite do próprio corpo, além da tentativa de pro-porcionar uma maior independência pos-sível na vida de cada um.

Michele conta que escolheu a fisio-terapia por ser uma área onde pode aju-dar nas necessidades de cada paciente, onde cada gesto, cada conquista pode ser o ‘algo mais’ na vida dele, se transfor-mando em uma gratificação enorme para ela. A relação com o paciente também se estreita durante o tratamento. “Acaba se transformando em uma ligação maior do que a de profissional-paciente. Ambos precisam se entender e se ajudar. Difi-culdades, aceitação, superação, evolução sendo partilhadas para a reabilitação ser possível”, declara.

Alguns casos acabam se tornando mais difíceis e marcam a memória da fi-sioterapeuta, como o de um paciente re-cente que, após sofrer um acidente, esta-va internado na UTI, com traqueostomia, desacreditado pelo médico dizendo que ele não poderia mais andar ou ter uma vida útil. Após iniciar a fisioterapia em cadeira de rodas, “após 10 meses de tra-tamento, o paciente consegue andar sem auxílio, com a traqueostomia fechada. Uma superação linda!”, conta Michele, feliz pelo resultado positivo depois de muito sacrifício.

O portador

Eduardo Jannone da Silva, 36 anos, é advogado e faz parte da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com De-ficiência de Bauru. Em feveiro de 2003, na época estava com 26 anos, sofreu um acidente em que o carro em que estava quando viajava para pestar um Concur-so Público na cidade de Campo Grande/MS, caiu em um buraco na pista e capo-tou, resultando em sua deficiência física, a tetraplegia.

Qual foi a maior dificuldade que en-frentou por conta da deficiência?“As maiores dificuldades por mim en-frentadas, em razão da deficiência física, consistiram, sem sombras de dúvidas, nas inúmeras adequações/adaptações que necessitei realizar para viabilizar a ma-nutenção das minhas atividades de vida diária. Conciliar reabilitação com tudo mais que uma pessoa ativa, de 26 anos, faz é um difícil desafio!”

O senhor faz fisioterapia ou reabilita-ção?“Mesmo após quase 11 anos de lesão, digo que permaneço realizando acom-panhamentos médicos periódicos, bem como realizando terapias.”

Quais fatores psicológicos ajudam e quais atrapalham no convívio social?“Aprendi que, para ser possível encarar tudo com mais leveza, necessário se faz assimilar quais são suas limitações im-postas pela deficiência e concluir que sua vida não terminou em razão disso! Com certeza, as opções de convívio social postas à nossa disposição dependerão, preliminarmente, do quanto me disponho para exercitar tais práticas. Vencida essa etapa, existirão meios e pessoas viabili-zando o incremento ou retomada de seu convívio social.”

Como lida com o preconceito das pes-soas?

“Creio que, com o passar dos anos, eu fui assimilando/desvendando como é ser pessoa com deficiência em nosso país. Certamente, por vezes não é uma tarefa fácil. Contudo, acredito que o pior pre-conceito é o atitudinal. Quando me depa-ro com tais situações, busco tentar levar o sujeito a pensar se ele está agindo da melhor forma. E o melhor exercício para isso, no meu entender, é quando busca-mos imaginar “sentir na pele” o que o ou-tro sente. Isso faz com que repensemos os nossos atos e juízos.”

Por que decidiu integrar a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência? Qual o seu papel ali den-tro?“Minha principal função, em conjunto com meus Colegas Membros, é buscar colaborar na efetivação de direitos das pessoas de nosso município, que não estejam sendo respeitados. E, como ad-vogado de formação, estou convencido que a Ordem dos Advogados do Brasil é uma das Instituições Brasileiras que, desde sempre, luta pela consolidação e efetivação dos direitos fundamentais, go-zando sempre do mais elevado respeito e reconhecimento por parte da sociedade. Trabalhar em uma Comissão Temática da OAB é buscar batalhar por fazer algo mais à comunidade, aproximando os su-jeitos de seus direitos, tornando-os mais “alcançáveis”.”

Qual seria, em sua opinião, a primei-ra coisa que deveria ser feita na cidade para melhoria do atendimento aos de-ficientes?“Na minha opinião, a primeira coisa que deveria ser feita na cidade para melhorar o atendimento às Pessoas com Defici-ência seria a idealização e criação, pelo Poder Público Municipal, de políticas públicas que atendessem as demandas das Pessoas com Deficiência não de for-ma parcial (como, aliás e infelizmente, também ocorre com os Estados e com a União).”.

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Atletas da ADEFILP participando de uma competição na cidade de São Carlos

Por Isabelle Hoffmann

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Eduarno não deixou que a deficiência o impedisse de trabalhar com o que gosta.

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Helder era funcionário de uma empresa de embalagens na cida-de de Penápolis (SP). De lá, foi

tentar a vida em São Paulo, onde se tor-nou diretor de transporte público da cida-de. Você vai descobrir como esse Coro-nel nunca para, mesmo diante do câncer de próstata.

Helder Pereira nasceu em Herculândia (SP) no ano de 1950. Aos quatro anos, perdeu a mãe e, então, teve que ir morar com parentes em Penápolis. Lá, ele vi-veu até seus vinte anos, quando decidiu deixar a cidade para tentar um sonho na capital. Ele prestou seus primeiros vesti-bulares; um para a Força Pública, o outro para a Aeronáutica. Foi reprovado.

No ano seguinte, lá estava o jovem Helder, tentando tornar realidade o sonho de ser policial. Dessa vez, ele conseguiu. Era o ano de 1971 quando deu seu pri-meiro passo na Academia da Polícia Mi-litar do Barro Branco. Começava ali uma carreira que duraria quase trinta anos.

Nesse tempo, Helder alcançou pa-tentes cada vez mais altas. Foi Primeiro Tenente, Capitão, Tenente até chegar a Coronel. A cada nova patente, uma nova cidade. A primeira foi Araçatuba. A se-gunda, Bauru. Depois, Sorocaba e, en-tão, Presidente Prudente. Meses depois, era a vez da capital. Numa de suas voltas a Penápolis, Helder conheceu Ivone, com quem se casou e teve três filhos, os quais acompanharam, mesmo que à distância, grande parte desses deslocamentos.

Em 2003, veio a aposentadoria, mas Helder não parou de trabalhar. Muito pelo contrário: trabalhou mais do que nunca! Ao se aposentar, assumiu o car-go de diretor-presidente na Associação de Plano de Saúde da Polícia, a APAS. Além disso, montou junto à família uma empresa de caçambas, a Bauru Caçam-bas e, simultaneamente!, integrou a JARI (Junta de Julgamento de Recursos de Trânsito). Esse período, Helder descreve com uma frase: “eu vivi assoberbado”.

Entretanto, não era nada que o fizesse recusar um convite e tanto, que viria do então prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab. Era 2010 e a proposta era assumir a direção de transporte públi-co da cidade, o que significava coordenar mais de trinta e quatro mil taxis, e mais milhares de outros tipos de transporte de fretamento, públicos e privados. A famí-lia de Helder ficou em Bauru enquanto ele foi pra São Paulo.

Na função que assumiu, encontrou uma série de desafios, como a cultura de corrupção na distribuição de licenças

para funcionamen-to de táxis, além de muita burocracia, pressão da mídia e o dever de lidar com tudo isso ao rigor do jeito Helder de ser. Com a disciplina, a capacidade de gerir pessoas e a noção de coorporativismo que adquiriu ao longo da carreira de policial militar, Helder se destacou no cargo. Para conceder licen-ças a novos taxistas, o que, ilegalmente era feito passando-se a licença de pai para filho, Helder implantou um sistema diferente de sorteio de números. E ele não aconteceria em São Paulo, mas em Brasília. Seria o sorteio da loteria fede-ral. Os números escolhidos diriam para quem seria concedido o alvará (a licença) do táxi. “Era uma função difícil, mas um excelente aprendizado”, analisa.

2013 chegou e, com a mudança de prefeito, Helder retornou a Bauru para viver com a família. Agora, o sossego finalmente chegaria, não fosse uma mar-ca que, para ele, São Paulo lhe deixou: o câncer: “Eu estava lendo um dia desses que X% do câncer vem da genética, Y% de alimentação e 50% de estresse e São Paulo judiou muito na parte de estresse e na parte de alimentação. Tem dia que você não almoça, tem dia que você come num lugar, tem dia que você come no outro. Tem dia que você não janta direi-to. Tem dia que você tá preocupado que vão te questionar por que tá acontecendo aquilo... tudo isso é desgastante”, desa-bafa Helder. A descoberta veio em junho, depois de uma homenagem do Corpo da Polícia Militar por sua trajetória.

Helder demorou a fazer o exame de toque. Segundo ele, isso não aconteceu por preconceito, mas por medo: “medo de médico. A minha tese é de que cada vez que você procura um, ele te acha um defeito”. O resultado foi que o câncer atingiu um nível intermediário. A deci-são sobre a que tratamento recorrer co-locou Helder num verdadeiro dilema. A filha gostaria que ele fizesse o tratamento em Curitiba. Só que depois de conversas com médicos e muitos palpites, Helder decidiu se tratar em Bauru. Segundo ele, a família foi seu parâmetro: “Eu tenho que tomar uma decisão sabendo que no futuro a família pode me dizer ‘olha, você tomou a decisão errada’. Para o apoio da família, Helder dá nota dez. Para o medo, ele admite que é um três: “medo da de-cisão errada, das consequências, de ficar numa cama, dar trabalho pra esposa e os filhos ficarem sofrendo. Eu não tenho medo da morte, mas do processo dela”.

Helder não vê o câncer hoje pelo qual passa com pessimismo, mas como apren-dizado: “você passa a entender melhor as dores das pessoas, suas queixas. Ele já trouxe uma reflexão, um aspecto de sen-timentos em relação às pessoas”.

Esse homem que nunca para e que sempre se desloca, não parou, e a essa hora já decolou. Ele e a família foram co-nhecer a ilha de Malta, onde a filha caçu-la vai passar os próximos meses.

Letícia é uma jovem que trauma de hospitais. Letícia é uma jo-vem que sonha em gerir hospitais.

Num primeiro momento, pode parecer uma contradição. Mas, é o que colocou Letícia num caminho que, a partir de um dia, ela começou a trilhar.

Esse dia era dezoito de junho de dois mil e oito. Letícia estava com a famí-lia, voltando de Monte Santo (MG) para Bauru (SP), depois que a irmã havia prestado vestibular na cidade. Era noi-te. Numa mão da pista, estavam eles. Na outra, um caminhão e uma caminhonete. De repente, sua mãe ouviu: “ vai bater”. E bateu. Foi uma colisão frontal com a caminhonete, cujo motorista, alcooliza-do, tentou ultrapassar o caminhão. No carro em que ele estava, todos morreram. Estavam com ele uma jovem de 17 anos e outra de 13.

No carro da família de Letícia, ela foi quem mais se feriu, pois estava sem cinto de segurança: “meu pai (policial) levou a vida inteira lutando pra que as pessoas usassem cinto e quando a gente estava indo, ele disse ‘vamos, vamos, cinto, cin-to, cinto’. E eu odeio calor. E aí eu pus o cinto. Só que, na volta, estava tarde e eu queria dormir. Eu não pus o cinto e eles não lembraram porque, poxa, eles já tinham falado pra mim o dia inteiro pra por cinto”. Ela fraturou a bacia e o fêmur.

Desacordada, foi levada para o Hos-pital de Base, em Bauru, onde o trauma por hospitais começaria. Primeiro, veio uma infecção hospitalar, que foi mal diagnosticada. Depois, antibióticos tão fortes, que segundo conta, prejudicariam sua recuperação em casa. “O HB era um hospital muito ruim. Não sei como ele está hoje. Mas em compensação, entre muitos enfermeiros ruins, eu encontrei um ou dois bons. Tinha um médico mui-to bom, que foi o que fez minha cirurgia do fêmur. Mas, mesmo assim o que mais marca a gente nunca é o bom. É o ruim”, analisa.

Por Willy Delvalle

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Letícia,movida pela contradição

Letícia,movida pelacontradiçãoPor Willy Delvalle

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A recuperação de Letícia deveria acontecer em quatro meses, nos quais ela teria que passar boa parte sobre uma cadeira de rodas. Ela reconhece que sua reação foi péssima: “eu sou apressada, ansiosa. Eu quero tudo pra ontem. E eu não aguentava esperar. Eu achava contra-ditório o que o médico falava. Então, eu fui e tentei”.

Só que Letícia tentava até demais, como quando fechou a porta do quarto e levantou da cadeira de rodas: “eu quase caí pra trás, meu pai me segurou”, re-corda. Para ajudá-la, os amigos deram uma força. Eles a levavam para passear no shopping, mas não qualquer tipo de passeio: “faziam até corrida de cadeira de rodas comigo. Eles achavam divertido e eu também”. Sua maior preocupação não era a saúde: “com o tempo eu fui me arrumando. Eu tinha um calombo aqui na testa e aí eu escondia com a franja. Era, na verdade, mais a aparência do que algo grave”. Mas, foi com sua aparência que ela aprendeu muito com as pessoas que a ajudaram e com as pessoas que, ao vê-la como tal, deram-lhe as costas.

Do acidente, Letícia só tem flashes. Contudo, foi o suficiente pra mudar mui-ta coisa na sua forma de ser e agir. Como graduação, ela escolheu Relações Públi-cas, onde se formou recentemente pela PUC-PR. Quando estava no segundo ano da faculdade, uma vaga de estágio havia surgido. E adivinhe onde: num hospital. Intrigou o Letícia o fato de que “minha mãe não sabia nem o que era relações pú-blicas e, de repente, pergunta: ‘por que você não tenta trabalhar num hospital?’ Eu tinha dito pra ela que a vaga tinha sido encerrada. Mas, então, eu fui lá tentar. Tinha passado uma filha de um médico, por indicação. Não deu uma semana e ela desistiu da vaga. Então, me escolheram”.

O hospital é uma referência latino-americana de tratamento do câncer e lá Letícia iniciou um trabalho como volun-tária. Ela era um palhaço que animava crianças e adolescentes. Palhaço que co-nheceu histórias como a de garoto de 15 anos, ao qual se apegou. Entretanto, com o passar o tempo, o garoto começou a não responder mais aos tratamentos. En-tão, começou a me dar aquela preguiça de ir e visitar os pacientes. Hoje eu pen-so que foi um mecanismo de autodefesa porque um tempo depois eu fiquei saben-do que aquele paciente morreu”. O pa-lhaço, então, se entristeceu e abandonou o projeto. Contudo, por causa do traba-lho que Letícia desenvolveu com o grupo “Anjos”, ela recebe ligações de pais até hoje. Todas experiências que fizeram um sonho nascer: “Trabalhar em hospital e fazer trabalho voluntário. Eu penso mui-to em fazer trabalho voluntário. Até fora do país”, revela.

O sonho pode estar mais perto do que nunca. Um curso de gestão, ela já come-çou a buscar. O exterior, também. Ago-ra, ela vai passar quatro meses na ilha de Malta, para aperfeiçoar seu inglês. A ideia de ir pra longe buscar um sonho te lembra alguém? Helder? Não é coinci-dência. Helder e Letícia são pai e filha.

A paralisia infantil é um segundo nome dado à poliomelite, uma doença contagiosa causada pelo

poliovírus, que ataca neurônios motores e células, podendo causar paralisia de um dos membros inferiores ou, em ca-sos mais graves, a morte. A doença não tem cura, e com certeza paralisou a vida de muitas pessoas, mas não a do menino Moisés, dono de uma fé enraizada e da convicção de quem ele era, apesar da-quilo que poderia ser, mas não foi uma limitação.

Nascido em uma família cristã pro-testante no dia 07 de maio de 1962, em Muzungu, uma fazenda do interior de Campos-RJ, Moisés Duarte Neves era o penúltimo dos 12 filhos do seu Gediel e da Dona Arlinda. Certo dia, Dona Ar-linda percebeu que o pequeno Moisés estava gripado e com febre. Era o dia na-cional da vacinação contra a poliomelite. Ela o levaria para tomar a vacina, mas resolveu deixá-lo em casa com os outros irmãos que já não precisavam da medica-ção. Alguns meses depois, quando Moi-sés estava com 1 ano e 10 meses, Arlinda estendia roupas no varal quando ele veio correndo, tropeçou e caiu. Com dificul-dades para se levantar o menino pediu ajuda à mãe, que pensou que ele estava fazendo drama. Diante das lágrimas de dor do pequeno, dona Arlinda percebeu que algo estava errado, o pegou no colo e chamou o médico. Moisés estava com poliomelite.

Deste dia em diante grande foi a luta pela vida do nosso herói. Cirurgias, via-gens, tratamentos, e um esforço coletivo da família para auxilia-lo em sua loco-moção. Como se não bastassem os no-vos desafios, certa noite, quando Moisés tinha apenas 5 anos, seu Gediel voltava para casa depois do trabalho e perdeu o controle do trator que dirigia. O veículo virou em cima dele, que morreu na hora. Dona Arlinda estava sozinha.

O corpo de Moisés foi crescendo, mas a perna direita não se desenvolvia. As viagens ao Rio de Janeiro em busca de um tratamento mais eficaz se tornaram rotina.

Muitas foram as cirurgias e estadias no hospital. Ele teria que colocar um apa-relho na perna e aprender a andar de mu-letas, que mais tarde seriam substituídas por uma bengala.

A adolescência chegou, e com ela as dúvidas e o preconceito. Os olhares das

pessoas já começavam a machucar Moi-sés, colocando em cheque seus sonhos e seu valor. O jovem já não sabia se poderia cursar uma faculdade, jogar futebol, ter esposa e filhos. Não sabia nem se poderia servir a Deus em missões, algo que sem-pre ardeu em seu coração. Muitas meni-nas o rejeitaram, o Exército Brasileiro o dispensou. Mas os medos não impediram que ele lutasse. Moisés se adaptou ao aparelho. Subia em árvores, telhados, ca-minhava, jogava vôlei, e adorava nadar. Ele era sonhador! Quis ser presidente da República. Cursou eletrônica no segundo grau e era muito inteligente.

Em 1979, participou de uma escola de evangelismo da JOCUM (Jovens Com Uma Missão), uma organização cristã missionária da qual uma de suas irmãs participava em Contagem-MG. Moisés quis ser um missionário, mas não sabia se seria aceito por conta de suas “limi-tações”. Mais tarde se tornou estagiário na Petrobrás. Chegou a se inscrever no vestibular de medicina, mas desistiu de fazer a prova pois a vontade de ser mis-sionário era maior. Enfim Moisés deixou tudo e em 1982, com apenas 20 anos, foi para Porto Alegre-RS participar de outra escola da JOCUM, dessa vez para ficar.

Por muito tempo foi uma espécie de office-boy da Missão, tendo que andar 6 Km quase todos os dias até a rodo-via, junto com sua bengala, para pegar o ônibus que o levava até a cidade. Ele não reclamava de nada, nunca. Era mui-to grato por ter sido aceito e por poder servir as pessoas. Com o passar do tem-po ele começou a liderar muitas equipes de evangelismo, de trabalhos braçais, a fazer muitas viagens e a liderar também acampamentos de adolescentes. Ele tinha paixão pela nova geração.

Durante este período conheceu Már-cia, um moça meiga e tímida que con-quistou seu coração. Depois de muitos

nãos, Moisés finalmente recebeu um sim e realizou um de seus maiores sonhos. Moisés e Márcia se casaram e tiveram cinco filhas.

Um tempo depois, o casal conhe-ceu um ministério da JOCUM chama-do King’s Kids, o qual realiza trabalhos com jovens e crianças, geralmente para proporcionar a eles uma experiência missionária a curto prazo. King’s Kids nasceu no Hawaii, mas seus fundadores desejavam expandir o trabalho em outros países. Moisés e Márcia decidiram então realizar um acampamento de King’s Kids no Brasil em 1989. A partir de então, o ministério se tornou parte de suas vidas, se expandindo por todo o país e fazen-do de Moisés provavelmente o maior mobilizador de crianças e adolescentes do Brasil, fazendo-os entender o seu va-lor pessoal, o propósito de suas vidas e conhecer o amor de Deus, que para ele sempre foi a razão de sua superação.

Eu conheci Moisés. Uma semana antes dele nos deixar. No ano de 2008, quando era apenas uma adolescente, par-ticipei de um acampamento de King’s Kids em Pitangui-MG, onde ele morou por muitos anos com a família, e estive por 15 dias com o homem mais acessível, grato e bom que já conheci. Uma semana depois do fim do acampamento recebi a notícia de que ele havia sofrido um aci-dente de carro. Alguns dias depois, o tio Moisés, como era conhecido, nos deixou. Seu cortejo foi o maior já visto na cidade onde morava. Vieram pessoas de muitas cidades e países para dar o último adeus. A dor ainda é presente, mas uma coisa é certa: sua morte não foi maior que sua vida. O pouco tempo que o passou en-tre nós foi suficiente para mostrar a todos que o que o definia não era sua deficiên-cia, mas a eficiência de sua fé, o que fez dele um exemplo de coragem, superação e integridade.

Por Isabela Ribeiro

Letícia,movida pela contradição

Moisés,uma vida maiorque a morte

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Reaprendendo a viverVoltar a uma vida em comunidade pode causar traumas e anseio por reclusão

Pessoas que passam muito tempo reclusas da sociedade podem ter dificuldade de se adaptar e precisam de ajuda

Recuperação, ressocialização, rea-daptação, reinserção, reeducação social, reabilitação de um modo

geral são sinônimos que dizem respeito ao conjunto de atributos que permitem ao indivíduo tornar-se útil a si mesmo, a sua família e à sociedade. Há várias situações em que um indivíduo tem dificuldades de enfrentar esses processos, como uma de-pressão, em que a pessoa tem dificulda-des na hora de se inserir no meio em que vive ou após ter cumprido regime penal. Esses dois temas são bastante polêmi-cos e ainda não conseguem ser tratados com a devida seriedade que precisam ser encarados. A pessoa que passa por isso, deve ter um acompanhamento psicológi-co e passar por uma série de tratamentos.

Recuperação de ex-detentos

No Brasil, as penitenciárias se encon-tram em um estado preocupante onde fal-tam, muitas vezes, as condições mínimas necessárias para se tratar da recuperação de seus detentos. Isso faz com que mui-tos, depois de cumprirem suas penas, se sintam “jogados” de volta para um mun-do, no qual eles se desacostumaram a vi-ver.

No código brasileiro de lei, no artigo primeiro da Lei de Execução Penal está determinado que: “Art 1º- Execução pe-nal tem por objetivo efetivar as disposi-ções de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmôni-ca integração social do condenado e do internado.” Portanto, de acordo com esse artigo percebe-se a dupla finalidade da execução penal, que seria não só dar sen-tido e efetivação ao cumprimento da pena decidida criminalmente, mas também dar ao apenado condições efetivas para que ele consiga aderir novamente ao meio so-cial. Essa reinserção é muito importante, pois tem como objetivo a humanização da passagem do detento da instituição carcerária à vida em sociedade, sem que haja traumas, que possam fazer com que o crime volte a ser uma opção na vida dessa pessoa.

“De acordo com a legislação, cada três

dias de trabalho podem resultar em um dia a

menos de pena”

Quando voltam para suas vidas nor-mais, ex-detentos encontram dificulda-des em conseguir trabalho, se readap-tar a uma rotina, viver em comunidade

A depressão é normalmente tratada com antidepressivos. O tratamento deve ser realizado considerando os aspectos biológicos, psicológicos e sociais do pa-ciente. A prescrição profilática de anti-depressivos irá depender da intensidade e frequência dos episódios depressivos. “Não há antidepressivo ideal, entretan-to, atualmente existe uma disponibili-dade grande de drogas atuando através de diferentes mecanismos de ação o que permite que, mesmo em depressões con-sideradas resistentes, o tratamento possa obter êxito”, comenta Vanilda.

Muitos fatores distintos podem acar-retar em depressão, por isso é necessário atenção àquelas pessoas desestimuladas a fazer atividades, que até então eram co-muns em seu dia a dia, com dificuldade em se relacionar e que passam maior par-te do tempo, isoladas. Essa enfermidade pode vir também, depois de um choque emocional ou alguma doença, como é o caso de Gustavo Diccine, atualmente com 23 anos, ele diz sempre ter se sen-tido depressivo, mas após ter passado por alguns problemas de saúde, sentiu-se pior. “Meu físico caiu junto ao meu psi-cológico. Eu tinha desmaios, tive crises de pânico, emocional extremamente de-sorganizado e por isso, resolvi procurar ajuda.”

Algumas vezes a depressão é enca-rada de forma preconceituosa. Parte das pessoas não a encara como doença, e muitos acreditam que quem se encontra nessa situação consegue se recuperar so-zinho. O que não é bem assim. “Acho que ninguém entendeu a amplitude dos meus problemas, ficaram preocupados, mas sinto que ninguém entende como re-almente me senti.” diz Gustavo.Há diversas formas para se melhorar a autoestima que podem ajudar o paciente, isso depende de cada caso. Ele pode pra-ticar atividades que o faça se sentir bem e estimulado. Esse foi o caso de Gustavo. “Encontrei a vontade de viver novamen-te na fotografia, pois ninguém vai enten-der seus motivos, entender o seu mun-do. Busque apoio em algo que acredite ser forte na sua vida, seja isso um deus, uma pessoa, uma atividade. A vida é algo muito amplo pra se tentar entender, então desistir dela não é nem questão de covar-dia, mas sim de falta de curiosidade no dia de amanhã. Acredite que ainda pode existir algo que vale a pena pra se fazer, conhecer, amar e aproveitar.”

Porém, o tratamento com um pro-fissional é essencial para recuperação nesses casos. O paciente deve estar bem atento ao seu modo de viver, levando uma vida mais saudável, com exercícios físicos constantes, e uma alimentação saudável.

e até de se relacionar com as pessoas. Isso pode ser muito traumático, e como muitas vezes, eles são vistos com maus olhos pela sociedade e até por parte dos familiares, encontram-se em uma encru-zilhada sem saída. A. S. S. cumpre pena há três anos, e afirma ter preocupações a esse respeito, “Sei que vai ser difícil, é complicado dar emprego pra ex-presidi-ário, existe preconceito e ninguém quer saber se foi justa ou não sua prisão. Só de você estar lá, na cadeia, alguém que as-saltou uma padaria, é igualado ao maior traficante do morro. Detento é tudo igual pra quem está aqui fora.”

Uma forma de estimular o bom com-portamento dos detentos é através do es-tudo e trabalho para redução da pena. De acordo com a legislação, cada três dias

mana, sendo frequente e relativamente normativo. Ela acontece por uma causa concreta, pode ser o final de uma relação, a perda de um ente querido, ser demitido do trabalho, entre outras situações. Po-rém, todas são causas específicas que ge-ram uma dor momentânea, mas que pas-sa com o tempo. Em geral, em até dois meses.

“A depressão, ao contrário da tristeza, não

tem um prazo para chegar ao fim. O ideal é procurar

uma terapia ou algum médico psiquiatra para se

curar dela”

de trabalho podem resultar em um dia a menos de pena. Desde 2011, o abatimen-to também pode ser obtido com 12 horas de estudo, divididas em três dias. A. S. S. trabalha há seis meses no presídio que cumpre pena. Ele deve conseguir sua li-berdade até 2016, se não fosse isso, fica-ria até 2019.

Presidiários em geral, encaram isso como um estímulo, pois é uma forma de distração para o dia a dia. Eles podem in-teragir com outras pessoas, em um am-biente melhor que suas celas, e ter uma rotina que se aproxima da vida que ti-nham antes de serem presos, além de se-rem melhores vistos pelas empresas aqui fora na hora de uma contratação.

Vida após a depressão

Tristeza é um sentimento muito co-mum, e, que faz parte da condição hu-

Já a depressão é um assunto mais sério. É uma sensação de tristeza, impotência, inadequação, desânimo, falta de cora-gem, falta de concentração, sentimentos de insegurança, irritabilidade, desespero, insônia, sensação de incapacidade, entre outros sintomas. Eles surgem sem causa concreta. É um estado de espírito, um sentimento de frustração interno. “A de-pressão, ao contrário da tristeza, não tem um prazo para chegar ao fim. O ideal é procurar uma terapia ou algum médico psiquiatra para se curar dela” comenta a psicóloga Vanilda Alves Silveira Cos-ta. Vanilda é psicoterapeuta e fundou um instituto filantrópico para a recuperação de pacientes de câncer e de suas famílias. Para ela, doenças como câncer e depres-são exigem o tratamento não só da pessoa enferma, mas de toda a família, pois para a recuperação dessas doenças é essencial o apoio dos entes mais próximos.

Por Laís Bianquini

www.fabishimabukuro.blogspot.com.br

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Movidos pela esperançaFazendas da Esperança auxiliam dependentes químicos a superarem os vícios

Construção marca a esquina de Guaratinguetá que deu início ao projeto social Fazenda da Esperança

Por Danielle Demarchi

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CONTATOS

http://www.fazenda.org.br

Assessoria de imprensaRetorno à Vida (12) [email protected]

Serviço Social(12) 3128-8800

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Caixa postal: 529 CEP 12511-970Guaratinguetá/SP

Projetos sociais são organizados por pessoas ou grupos que visam auxi-liar a sociedade em determinadas

áreas. Existem diversos projetos sociais espalhados pelo Brasil, cada um com seu próprio objetivo e estratégia para manu-tenção, mas todos têm uma coisa em co-mum: o desejo de ajudar o próximo.

Foi a partir desse desejo que o projeto Fazenda da Esperança surgiu na cidade de Guaratinguetá, no interior de São Pau-lo. Tudo começou em uma esquina da ci-dade, quando o morador Nelson Giova-neli, incentivado pelo frei Hans Stapel, fez contato com jovens consumidores e vendedores de drogas que se reuniam frequentemente próximo a sua residên-cia. Era 1983.

Pouco a pouco, Nelson foi conquis-tando a confiança daqueles jovens. A ideia para o projeto surgiu depois do pe-dido de auxílio que um dos jovens fez a Nelson, ele queria ajuda para superar sua dependência química. As mudanças no rapaz fez com que outros pedissem ajuda a Nelson e ao Frei Hans, que era pároco da igreja local desde 1979.

Hans propôs a eles que trocassem seus encontros na esquina por reuni-ões na Igreja. Desse modo, as reuniões passaram a acontecer com frequência e a ideia de viverem juntos e trabalharem para manter a casa partiu dos próprios dependentes. Foi esse o início da Obra Social Nossa Senhora da Glória – Fa-zenda da Esperança que, com o apoio da Igreja Católica, se espalhou para várias regiões do Brasil e chegou até a Alema-nha, terra natal do Frei Hans.

A obra atende dependentes de dro-gas, de álcool e jovens envolvidos com a prostituição. Há atendimento para ho-mens e mulheres, mas em unidades di-ferentes. O atendimento é feito por meio da internação, que tem prazo mínimo de um ano de duração. Os internos vivem em comunidade durante esse período, re-cuperando assim a habilidade para viver em sociedade e a autoestima. Para Jandi-clê Rafael, que auxilia na Fazenda da Es-perança de Piraju, o primeiro passo para a recuperação é a aceitação. “A aceita-

indivíduos que já foram tão prejudicados por seus vícios, em diversos aspectos da vida, que chegam a um ponto crítico no qual não têm mais nada a perder e por isso diminuem suas resistências e acei-tam melhor as mudanças. De acordo com o Programa Terapêutico da Fazen-da da Esperança, que se baseia na defi-nição do psiquiatra sul-africano Maxwell Jones para Comunidades Terapêuticas, estas seriam um “grupo de pessoas que se unem com um objetivo comum e que possuem uma forte motivação para pro-vocar mudanças”.

O trabalho para recuperação possui três pilares como base: a espiritualidade, o convívio com comunidades semelhantes à família e a laborterapia. A última se refe-re aos trabalhos realizados pelos internos para se sustentarem durante a internação. Esses trabalhos são realizados sempre em grupo e são conseguidos por meio de pessoas e instituições que apoiam o pro-jeto. Trabalhar para se sustentar é uma forma de aumentar a autoestima, se sentir útil e se readaptar a vida em sociedade. A readaptação é o maior objetivo da Fa-zenda da Esperança, cujo foco é a reinser-ção social. Para Olíndio, a maior dificul-dade para a readaptação é a intolerância. “Quando uma pessoa passa pela interna-ção na Fazenda da Esperança, ela apren-de a viver um estilo de vida totalmente diferente do que lhe era real. Quando retorna ao seu lar e vida social, ela está vivendo de forma física e espiritual to-

“As unidades da Fazenda funcionam

como comunidades te-rapêuticas, que buscam

recuperar os dependentes químicos”

talmente adversa à sua realidade anterior. Seus familiares e conhecidos continuam com o mesmo estilo de vida que tinham. Daí há certa intolerância de ambas as partes para se readaptarem”, argumenta. Jandiclê pensa parecido e acredita que o apoio da família é fundamental para a readaptação social, “Quando eles termi-nam o seu ano de recuperação, é a sua família que deverá mudar suas atitudes e comportamentos, pois muitos voltam e encontram as famílias desajustadas”.

Para ajuda-los na readaptação social após o período de internação, os ex-de-pendentes químicos podem participar do Grupo Esperança Viva. Esse grupo existe em muitas cidades do país e costuma ser comandado por pessoas que se recupera-ram na Fazenda da Esperança. O grupo é uma forma de continuar com o que foi aprendido durante a internação e se man-ter longe dos vícios, além de trabalhar com a prevenção e o auxílio a dependen-tes químicos e encaminhamento deles à Fazenda. Os encontros acontecem no ter-ceiro domingo de cada mês e são abertos a todos.

“[Os] internos traba-lham como voluntários na Obra depois de se

recuperarem na Fazenda como forma de agradeci-

mento”

ção de que é um doente que contraiu essa doença e precisa para sempre viver em sobriedade, sem esquecer as ferramentas que absorveu na internação, é essencial para o tratamento”, afirma ele.

O trabalho de recuperação não visa só os internos, mas também suas famílias, que são orientadas sobre a melhor forma de apoiar seus entes queridos na difícil tarefa de abandonar os vícios. A comuni-dade também é alertada por meio da Obra sobre os perigos das drogas e do álcool e o quanto o vício pode prejudicar uma vida. As pessoas que se recuperaram de seus vícios na Fazenda costumam auxi-liar nesse trabalho de prevenção através de seus depoimentos e histórias de vida.

Trabalhos de conscientização e a luta por mais recursos que possibilitem a am-pliação do número de vagas são cons-tantes entre os membros da Fazenda da Esperança. Segundo Olíndio Argamim Freitas Neto, 66 anos, que foi interno da Fazenda de setembro de 2007 a setembro de 2008 e se tornou voluntário a partir de 2009, a falta de vagas é um proble-ma bastante comum. “De fato, essa rea-lidade acontece. Sempre que atendo uma família e sabendo que não há vagas na unidade onde estou, procuro não desa-nimá-los apresentando a possibilidade de procurarem outra Unidade da Fazen-da nesta região, ou em outro local mais próximo”, afirma. Assim como Olíndio, outros internos trabalham como volun-tários na Obra depois de se recuperarem na Fazenda como forma de agradecimen-to ao que foi feito por eles e principal-mente como uma forma de ajudar outras pessoas que passam por situações seme-lhantes as que eles conseguiram superar. Comunidades Terapêuticas

As unidades da Fazenda funcionam como comunidades terapêuticas, que buscam recuperar os dependentes quími-cos. No entanto, casos graves com alto grau de comprometimento psicológico e orgânico são encaminhados para outras instituições, pois em casos desse tipo a internação não é suficiente. Mesmo as-sim, cada unidade possui pelo menos um profissional (médico, psicólogo ou assis-tente social) que auxilia os internos na busca pela recuperação.

Nas Fazendas, o tratamento é reali-zado por meio das internações. Os inter-nos ficam hospedados em casas comuns que possuem no máximo quatro quartos com seis camas em cada um. O modelo terapêutico é uma forma de auxiliar os

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Em busca de um amanhãApós acidente, Julia Mendes passou por cirurgias e enxergou beleza em meio ao sofrimento

O dia 17 de outubro de 2009 foi um divisor de águas na vida da estudante de Artes

Visuais, Julia Mendes de Olivei-ra. Na época, com 18 anos, sofreu um gravíssimo acidente que alter-aria profundamente toda a sua per-cepção de vida. Uma história que poderia perfeitamente ser um rotei-ro de novela, e ela, Julia, a protag-onista. Uma garota que não tinha uma boa relação com sua família e, após ter flertado com a morte, aprendeu a dar valor aos momen-tos mais singelos da vida. A seguir,

a entrevista em que a moça de 22 anos conta como quase morreu e sente que nasceu novamente.

Como foi o acidente?“Em 2009, eu e meu amigo estáva-mos andando, bêbados, e caímos na rodovia Raposo Tavares. Empurrei ele e me preparei para atravessar. Vi que ele estava caído no chão e tentei acenar para o carro parar. Apaguei.”.

Qual foi a gravidade do aciden-te? “Quebrei os dois fêmures, as duas tíbias, tudo em quatro partes; minha bexiga também estourou. Passei por 6 cirurgias. Eu sentia muita dor, mas a felicidade de estar viva e inteira superava tudo.”.

Houve alguma espécie de acom-panhamento psicológico?“Antes do acidente mesmo meus pais me obrigaram a passar num psicólogo, que disse que não ia

mais me atender se eu não procu-rasse um psiquiatra. Abandonei o tratamento. Depois do acidente re-solvi procurar o tal psiquiatra Fui diagnosticada com Transtorno Bi-polar.”.

Quem mais te auxiliou nesse período?“Minha família foi tudo! No hos-pital minha mãe se revezava com o meu pai para ficar comigo. Vári-os amigos do bar vinham me vis-itar em casa também. Quase todo dia tinha alguém, e isso era minha diversão. Me traziam livros, filmes, músicas, caixas de bombom.”.

Desenvolveu algum tipo de trau-ma ou medo?“Percebi que tenho certo receio em atravessar a rua. Na verdade, graças ao acidente, minhas crises de transtorno diminuíram muito.”.

Você teve algum contato com a pessoa que dirigia o veículo que te atingiu?

“Não. A menina que estava no ban-co de trás do carro me contou que o motorista foi internado por causa de drogas. Prestou socorro, mas se recusou a fazer o teste do bafômet-ro.”

É possível retirar algo de positivo em meio a esse trágico incidente?“Sei que tudo isso é uma lição e sinto até necessidade de passar isso adiante. A relação com os meus pais melhorou incrivelmente depois do acidente. Eu quase não ligava para minhas irmãzinhas e hoje somos muito unidas.. Sofri bastante, mas pensava “como deve ser ficar numa cadeira de rodas para sempre?”. A vida é linda.. Temos que buscar nossos sonhos. Não sabemos o que vai ser do amanhã.”.

Frequentou algum grupo de aju-da?“Não. Achamos que o psiquiatra resolveria.”.

Tecnologia em movimentoMercado tecnológico desenvolve mecanismos para melhorar a vida de deficientes

Muitas tecnologias são desenvolvidas para dar aos deficientes mobilidade e acessibilidade a milhares de serviços. No Brasil, está previsto na Consti-tuição uma lei de fomento da tecnologia de bioengenharia voltada para os

portadores de deficiência, bem como a facilitação da importação de equipamentos.Confira alguns avanços da tecnologia nessa área:

EXOESQUELETO

Uma neuroprótese externa que utiliza impulsos mentais para mobilizar partes do corpo humano. Desenvolvida por brasileiros e ainda em fase de testes, ela terá destaque na COPA de 2014! O primeiro chute do evento, que será sediado no Brasil, será dado por um cadeirante utilizando o exoesqueleto.

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É um projeto que produz próteses personalizadas e exclusivas, tanto realistas para misturarem-se com o corpo, quanto diferenciadas para destacarem-se como uma peça de arte no corpo, refletindo a imagi-nação, personalidade e interesses de cada portador.

THE ALTERNATIVE LIMB PROJECT

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Por Andrey Donizete e Isabelle Hoffmann

Por Pedro Cardoso

Julia e suas irmãs não querem sedesgrudar até na hora da fotoIm

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Exercitar e superarAtravés do esporte o deficiente encontra muito mais do que saúde

Por Jaqueline Galdino

Luana e Hélder se pararam para a aula de tênis adaptado

Claudio Massad é mesatenista e dá aula do esporte para crianças da APAE

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O esporte é uma prática mágica. E só quem pratica entende toda a ma-gia que o esporte faz no corpo e na

mente. A prática do esporte é milenar e de tamanha importância, que por várias vezes na história, foi capaz de silenciar guerras e conflitos. São diversas modalidades, para todos os gostos, que facilmente combina com o estilo de vida de cada indivíduo.

Seja com bola, na água, no ar, em terra firme, individuais ou coletivos, o esporte comporta todo tipo de pessoa, de todas as idades, raças, gêneros e também, porque não, os deficientes físicos ou intelectuais. Essa forma democrática de se exercitar é um caminho de superação, para quem tem em seu corpo seus próprios limites.

“Quando vi minha juventude escorrer pelo ralo, encontrei no esporte um

novo sopro de vida”

Cuidadosamente, Hélder Gouvêa prende a rede, puxa o carrinho com as bolas ver-des e pega as raquetes para a aula de tênis, que será realizada na quadra paraolímpica. Uma quadra poliesportiva totalmente adap-tada para receber alunos deficientes físicos, inaugurada em 2011 em Bauru, a primeira do estado. A aluna chega, conduzindo sua própria cadeira e rapidamente, apesar das suas limitações, muda-se para uma cadei-ra de rodas menor, mais leve e ideal para o esporte. Hélder, que não é cadeirante, faz o mesmo, senta na sua cadeira, conduzindo-a até sua aluna, de igual para igual eles ini-ciam os saques e a partida de tênis

“Novo sopro de vida”

Luana Rodrigues, de 22 anos perdeu os movimentos das pernas aos 15, após um acidente de bicicleta e há quatro anos en-controu no esporte uma forma de superar o trauma de viver sobre duas rodas. Apesar de perder os movimentos da perna, Luana não

tem muito o que se queixar, sua principal dificuldade não está relacionada a nada pessoal e sim ao coletivo, que é se loco-mover pelas ruas da cidade, que dificil-mente tem a acessibilidade mínima que um cadeirante precisa.

Nos esportes, ela encontrou muito mais que uma forma de lazer e distração, conquistou novas amizades e se apoiou em histórias parecidas com a dela. Luana conta sobre as modalidades que pratica: “O basquete adaptado foi o primeiro que comecei a praticar por sugestão do fisio-terapeuta, mas me apaixonei mesmo pelo handebol, achei mais fácil e mais gosto-so. Agora estou no tênis, é bem difícil, mas estou gostando. No início, quando vi minha juventude escorrer pelo ralo, encontrei no esporte um novo sopro de vida. Tenho vontade de competir, quem sabe pelo handebol, são planos, que vou manter vivos dentro de mim.”.

Hélder também concorda com a visão de Luana e acredita que se houvesse um investimento maior em projetos e mate-riais o cenário do deficiente hoje seria bem diferente: “Falta muita oportunidade para os deficientes, em todos os setores e através do esporte eles saem mais de casa, cria um vínculo social aumentam sua independência e a autoconfiança, além claro, de se manter saudável.”.

Superando barreiras

Todo atleta tem seus próprios desafios e limites para vencer e superar. Daniel Pestana conhece de perto essa realidade.Há cinco anos ele é professor de natação para amputados, através de um projeto e suas aulas são ministradas para sete atle-tas na sede do Bauru Tênis Clube.

As aulas de natação sofrem poucas al-terações para atender quem tem deficiên-cia. Os métodos e os instrumentos são os mesmos. Aprender a flutuar é o principal desafio, vencido isso, pular na piscina e

nadar fica extremamente prazeroso, além de fazer bem para os músculos, coorde-nação motora e respiração.

Apesar da capacidade de atender um número bem maior de alunos e treiná-los para competições, formando verdadeiros profissionais do esporte, Daniel conta qual a principal barreira que afasta os deficientes das piscinas: “Muitos ampu-tados tem vergonha do próprio corpo, se sentem constrangidos, principalmente ao praticar a natação, que é um esporte que expõe um pouco mais o corpo. É preci-so uma aceitação muito grande para eles começarem a praticar o esporte. Depois disso, melhorar a autoconfiança e acre-ditar que é capaz, apesar das limitações”, afirma Daniel.

Quando a deficiência é intelectual o cenário muda um pouco, mas nada é im-pedimento pra que a pessoa se exercite. Cláudio Massad atende cerca de 30 alu-nos da APAE e oferece para eles aula de tênis de mesa, também a fim de formar atletas à nível de competição. “Eles são espertos e capazes, mas a aula não pode se estender muito pois o deficiente inte-lectual tem uma certa dificuldade de se manter atento, por mais que goste da ati-vidade. É uma barreira natural, mas fácil de controlar.” diz Massad, a respeito dos alunos.

O esporte é o caminho

Uma deficiência certamente muda a vida de uma pessoa, o esporte também, mas de uma maneira muito positiva. A atividade física é importante para qual-quer pessoa e acima de tudo para um de-ficiente que através da prática, exercita o

corpo e se previne de doenças secundá-rias que poderiam facilmente sua saúde. A prática ainda revigora os músculos, facilitando os movimentos, melhorando a coordenação e a locomoção. Para um deficiente visual, por exemplo, o esporte ajuda a desenvolver ainda mais os outros sentidos e auxilia na noção de espaço.

Cláudio fala com orgulho de Paulo Salmin, ex-aluno de sua equipe, que faz parte da seleção brasileira de mesatenis-tas e que competiu nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012: “Ele é um exemplo para todos, não só para os meus alunos, esforçado e dedicado, começou a trilhar sua história de sucesso mas ainda tem muito caminho pela frente.” Atualmente, Paulo teve que trocar a cidade de Bau-ru por Piracicaba, onde o COI (Comitê Olimpíco Internacional) mantém um centro de treinamento. A mudança foi ne-cessária para que ele continuasse na sele-ção brasileira e também mantendo a bol-sa que o auxilia a se manter no esporte.

Muito mais do que uma ferramenta para o corpo, a magia do esporte está na capacidade de explorar e trabalhar ain-da mais ativa a mente, possibilitando e capacitando o portador de deficiência a se transformar em um verdadeiro atleta, quem sabe até um profissional compe-tidor. O esporte é uma foma de supera-ção, de inclusão social, de conviver com pessoas que tem os mesmos problemas, e ainda, se deparar com outras que estão dispostas a estender a mão e ajudar os outros a superar seus desafios. O coletivo no esporte, fala muito mais alto, mesmo quando a modalidade é individual.

Escolha o que te melhor satisfaz e en-contre uma nova vida repleta de possibi-lidades e de prazeres. Não há limitação que nos prenda, não há barreiras invencí-veis, existe o medo e a insegurança, que podem ser vencidos se for despertada a coragem que existe em cada um de nós.

“É preciso uma aceitação muito grande para eles

começarem a praticar o esporte”

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liguesuavida

Uma vida sem limitesNicholas James Vujicic

Nascido sem os braços e sem as pernas, Nick conta a história de sua deficiência física e da batalha emo-cional que travou para conviver com isso na infância, adolescência e vida adulta. Compartilha com o leitor a força de sua fé e explica que, depois que encon-trou seu propósito - inspirar as pessoas a melhorar sua vida e o mundo - , achou confiança para construir uma vida produtiva e sem limites. Nick encoraja o leitor mostrando como aprendeu a aceitar o imponde-rável e se concentrar em suas habilidades possíveis.

A culpa é das estrelasJohn Green

O livro narra o romance de dois adolescentes que se co-nhecem e se apaixonam. Hazel, uma jovem de dezesseis anos que sobrevive graças a uma droga revolucionária que detém a metástase em seus pulmões, e Augustus Waters, de dezessete, ex-jogador de basquete que perdeu a perna para o osteosarcoma. Como Hazel, Gus é inteligente, tem ótimo senso de humor e gosta de brincar com os clichês do mundo do câncer - a principal arma dos dois para en-frentar a doença que lentamente drena a vida das pessoas.

O escafandro e a borboletaJean-Dominique Bauby

Em 08 de dezembro de 1995, um acidente vascular cerebral mergulhou brutalmente Jean-Dominique Bauby em coma profundo. Ao sair dele, todas as suas funções motoras estavam deterioradas. Em seu corpo inerte, só um olho se mexia. Esse olho - o esquerdo - é o vínculo que ele tem com o mundo, com os outros, com a vida.

Para SempreKim e Krickitt Carpenter

A vida que Kim e Krickitt Carpenter conheciam mu-dou completamente, dois meses após o seu casamento, quando estiveram em um acidente. Um ferimento sé-rio na cabeça deixou Krickitt em coma por várias se-manas. Quando finalmente despertou, parte da sua memória estava comprometida e ela não conseguia se lembrar de seu marido. Ela não fazia a menor ideia de quem ele era. Essencialmente, a “Krickitt” com quem Kim havia se casado morreu no acidente, e naquele mo-mento ele precisava reconquistar a mulher que amava.

Intocáveis31 de agosto de 2012

Comédia

Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiên-cia em cuidar de pessoas no seu estado. Aos poucos ele aprende a função, apesar das diver-sas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais a Driss por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Aos poucos a amizade entre eles se estabelece, com cada um conhecendo melhor o mundo do outro.

Uma prova de amor11 de setembro de 2009

Drama

Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são informados que Kate (So-fia Vassilieva), sua filha, tem leucemia e pos-sui poucos anos de vida. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Anos depois, cansada dos procedimentos médicos, ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação médica, de for-ma a que tenha direito a decidir o que fazer com seu corpo. Para defendê-la ela contrata um advogado que cuidará de seus interesses.

Hebert Vianna

Vocalista do Paralamas do Sucesso, ficou para-

plégico após um acidente de ultraleve em 2001.

Dilma Rousseff

Começou a luta contra o câncer em 2009, quando

foi diagnosticado um linfo-ma em fase inicial.

Roberto Carlos

Perdeu parte da perna direita aos 6 anos de idade em um acidente envolven-

do uma locomotiva.

Stevie Wonder

O nascimento prematuro do cantor causou o deslocamento da retina, fazendo-o perder a

visão.

Imagem: Divulgação

Robert Downey Jr.

Nos anos 2000 o ator foi preso e internado numa

clínica devido ao seu vício em álcool e drogas.

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Imagens: Internet/Reprodução