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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO DA MESA ................................................................................. 3

2. APRESENTAÇÃO DO TEMA ................................................................................. 7

3. OS TRANSTORNOS MENTAIS ............................................................................. 8

3.1. O histórico do atendimento a portadores de transtornos mentais: Do

século XIX à Reforma Psiquiátrica ..................................................................... 10

4. O PLANO DE AÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL 2013-2020 .............................. 13

4.1. Os objetivos .................................................................................................. 15

4.2. Os princípios ................................................................................................. 17

4.3. As ações para os países membros e para a OMS...................................... 19

4.4 As metas ......................................................................................................... 20

5. OS RESULTADOS DO PLANO DE AÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL 2013-2020

.................................................................................................................................. 22

5.1. Falhas de abordagem do Plano de Ação Global para a Saúde Mental

2013-2020 .............................................................................................................. 26

6. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ ........................................................................... 28

6.1. A OMS: história e funcionamento ............................................................... 28

7. POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES ............................................... 30

7.1. Anistia Internacional..................................................................................... 30

7.2. Brasil .............................................................................................................. 30

7.3. Japão ............................................................................................................. 31

7.4 Itália................................................................................................................. 31

7.5. Sudão do Sul ................................................................................................. 31

8. QUESTÕES RELEVANTES PARA O DEBATE ................................................... 32

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32

Anexo I ..................................................................................................................... 37

LISTA DE DELEGAÇÕES ........................................................................................ 41

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1. APRESENTAÇÃO DA MESA

Israel Coelho Quirino - Diretor geral

Saudações, caros delegados e caras delegadas! Sejam muito bem vindos ao

MINIONU 20 anos e à OMS (2020), meu nome é Israel e sou, com muita satisfação,

o diretor deste comitê. Tenho vinte anos e estarei cursando o sexto período do curso

de Relações Internacionais durante os dias de simulação. Nasci e cresci na cidade

de Mariana, a primeira capital de Minas Gerais, e, em 2015, me mudei para Belo

Horizonte, onde vivo até hoje.

Foi no ano da minha mudança que tive meu primeiro contato com o

MINIONU, no segundo ano do Ensino Médio. Meu professor de Geografia

apresentou o projeto em sala e convidou aqueles que estavam interessados. Eu não

conhecia o funcionamento de um modelo de simulação e, movido pela curiosidade,

participei como delegado no comitê FIFA (2015), que fez eu me apaixonar por

simulações. Em 2017, voltei a participar do MINIONU como voluntário no comitê

OMS (2018) e em 2018 como diretor assistente na OTAN (2011-2013).

Nas minhas três participações, percebi o impacto que o MINIONU causa na

vida de todos os envolvidos no projeto. Ele é capaz de motivar as pessoas a

trabalharem por um mundo melhor e mais justo, movidas não só pelo tema debatido

durante os dias de simulação, mas também pela percepção de que problemas

complexos podem ser solucionados através do diálogo e da cooperação. Por isso,

decidi montar este comitê e assumir a responsabilidade de ser uma engrenagem no

processo de construção de um futuro promissor, debatendo um tema tão importante,

quanto negligenciado.

Tive meu primeiro contato com o tema através do livro “Holocausto Brasileiro -

vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil” da jornalista mineira

Daniela Arbex. A obra aborda a história do Hospital Colônia, que ficava localizado na

cidade de Barbacena e tratava seus pacientes de forma desumana, violando seus

direitos mais básicos e prejudicando sua situação ao invés de melhorá-la.

Posteriormente, acompanhei minha irmã, também motivada pelo livro da Daniela

Arbex, na elaboração de uma reportagem acerca da situação atual dos portadores

de sofrimento mental na cidade de Belo Horizonte e a busca por tratamentos que

atendam às necessidades dessas pessoas.

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Tal trabalho foi o que me inspirou a abordar este tema no MINIONU. Juntos,

vamos aprender mais sobre os transtornos mentais, as dificuldades enfrentadas por

seus portadores e por profissionais da área. Vamos desconstruir preconceitos e

ultrapassar os muros da PUC Minas, buscando causar um impacto cada vez mais

efetivo no mundo. Desejo a todos e a todas um MINIONU construtivo, divertido e

inspirador. Não hesitem em nos contatar através do e-mail, Facebook ou Instagram

para sanar quaisquer dúvidas. Bons estudos e até outubro!

Luísa Bevilaqua Bassetti - Diretora assistente

Muito obrigada por se disporem a participarem do MINIONU 20 anos e, em

especial, ao comitê OMS (2020), meu nome é Luísa Bassetti e sou diretora

assistente nesse comitê. Tenho 19 anos e, no momento da simulação, vou estar

cursando o quarto período de Relações Internacionais e o primeiro período de

Engenharia de Produção. Além de me dedicar à esse projeto, também divido meu

tempo com trabalhos voluntários, aulas de alemão e liderança em outra atividade na

faculdade, essa na área de engenharia.

Em 2015, no meu primeiro ano do ensino médio, participei pela primeira vez

do MINIONU, já tendo contato anterior com ele através do meu irmão, que havia

participado em 2014. A minha experiência no projeto me marcou profundamente aos

15 anos, tendo representado o Brasil no comitê ONU Mulheres, me encontrei

enquanto feminista, internacionalista e achei forças para superar minha timidez e me

tornar uma boa oradora. Nos dois anos seguintes, retornei à PUC para fazer jus ao

lema dos MINIONUs anteriores, mudar o mundo do meu jeito, que era através dessa

participação.

Em 2017, ao decidir que curso iria fazer, as simulações tiveram papel

fundamental em abrir minha mente para as possibilidades da área de Relações

Internacionais, e chocar a todos, até mim mesma, ao escolher não cursar Medicina,

o curso sobre o qual sempre tive certeza, e me arriscar na área internacional. Em

2018, tive minha primeira participação enquanto equipe MINIONU, tendo sido

voluntária do comitê de Logística, uma experiência que, similar a minha primeira

participação como delegada, moldou profundamente meus interesses e percepções

do mundo. Através do MINIONU tive contato com diversas pessoas, temas e

debates que me fizeram quem sou hoje, e continuam a me influenciar no meu dia a

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dia. Sou grata pelo projeto por me proporcionar isso, e grata a vocês, senhores

delegados, por terem interesse de manter esse projeto funcionando ano após ano.

O tema da saúde mental sempre esteve em meu cotidiano, por ter crescido

com pais e tios médicos, porém só me aprofundei nele em 2015, ao ler o livro

“Holocausto Brasileiro - vida, genocídio e mais de 60 mil mortes no maior hospício

do Brasil”, da jornalista Daniela Arbex. Esse livro, que narra a história do Hospital

Colônia, em Barbacena, foi fundamental para abrir para mim caminhos para me

inteirar do assunto da luta antimanicomial e das questões de saúde mental. Ao ser

convidada a ser Diretora Assistente da OMS (2020) me senti muito honrada, pois a

chance de debater um tema dessa importância em um projeto tão grande é algo

fenomenal. Espero que os senhores aproveitem o evento tanto quanto eu sempre

aproveitei em minhas participações, e nos vemos em outubro.

Maria Amanda Barros de Sousa - Diretora assistente

Olá, senhoras e senhores! Sejam bem-vindos à OMS (2020)! Meu nome é

Maria Amanda e é com imensa honra que sou diretora assistente desse comitê.

Tenho 19 anos e nasci em Barbacena, interior de Minas Gerais e, atualmente, moro

em Belo Horizonte para cursar a faculdade. Ademais, durante os dias de Minionu,

estarei cursando o quarto período de Relações Internacionais.

Em 2017, quando estava no terceiro ano do Ensino Médio, participei do

MINIONU pela primeira vez, como delegada do comitê OMS (2018) e desde então

me apaixonei pelo projeto, que foi fundamental para escolha de cursar Relações

Internacionais. Já em 2018, participei do MINIONU como voluntária no comitê OTAN

(2011-2013), que aumentou o desejo de contribuir cada vez mais para o projeto.

Desde a minha primeira participação no MINIONU, pude perceber o impacto

que o projeto pode causar na vida daqueles que participam. Percebi que após minha

participação como delegada, me tornei uma pessoa mais questionadora e tolerante.

Além disso, percebi a importância de abordar temas que nos cercam o tempo todo,

mas que nem sempre possuem a devida visibilidade. No que tange à isso, a

simulação nos tira da nossa zona de conforto ao abordar questões que precisam ser

tratadas e nos mostra que é possível solucionar os problemas por meio do diálogo.

Por isso, acredito que o MINIONU é um forte instrumento de mudança, uma vez que

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ele proporciona vivências inesquecíveis e enriquecedoras na vida de todos que

participam.

O tema sempre se fez presente em minha vida, uma vez que nasci e cresci

em Barbacena e sempre ouvi histórias sobre o Hospital Colônia da cidade. Quando

maior, tive contato com o livro “Holocausto Brasileiro - vida, genocídio e mais de 60

mil mortes no maior hospício do Brasil”, escrito pela jornalista Daniela Arbex, que

retrata a triste história das pessoas que passavam, viviam e morriam no hospital da

cidade e pude conhecer um pouco mais das atrocidades cometidas com essas

pessoas e me conscientizar a respeito do tema. A partir disso, compreendi que a

saúde mental é uma questão que deve ser abordada e que merece total atenção,

para que os episódios de violência e negligência não voltem a ser realidade.

Devido à isso, me sinto imensamente feliz e privilegiada por estar nesse

comitê, tornando possível o aprendizado de todos a respeito da saúde mental.

Tenho certeza que serão dias de grande aprendizado para todos e, acredito que

vamos quebrar barreiras, desconstruir preconceitos e fazer o melhor para

construirmos uma sociedade na qual assuntos relacionados à saúde mental não

sejam, jamais, negligenciados. Estamos à disposição para sanar quaisquer dúvidas

por e-mail, Facebook ou Instagram, será um prazer contribuir com os estudos dos

senhores. O MINIONU 20 anos será uma experiência inesquecível para todos nós.

Desejo-lhes ótimos estudos e nos vemos em outubro!

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2. APRESENTAÇÃO DO TEMA

Para se aprofundar no tema do comitê, são necessários alguns

esclarecimentos acerca dos transtornos mentais (também chamados de sofrimento

mental e desordens mentais), objeto central dos debates. Para falar sobre isso serão

abordados os transtornos mentais de forma geral, o histórico de atendimento para

tais, o Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020, seus resultados e pontos

pouco abordados. O entendimento acerca dos próximos tópicos é fundamental para

a boa compreensão do comitê, uma vez que neles se encontram as explicações

necessárias para entendimento do debate e a problemática apresentada para ser

discutida nos dias de simulação.

Primeiramente, é fundamental apresentar a Organização Mundial da Saúde

(OMS) brevemente, havendo maiores informações sobre a mesma no tópico

Apresentação do Comitê. A OMS é uma agência da Organização das Nações

Unidas (ONU) responsável por tratar de diversas temáticas no que diz respeito à

saúde no mundo. A Organização realiza reuniões anuais entre seus membros para

debater tais temas, incluindo membros observadores que apresentam diferentes

perspectivas sobre a saúde. Os membros da OMS são divididos em seis grupos

regionais, havendo um escritório para cada região, como mostra o Mapa 1.

Havendo maior entendimento acerca da OMS é possível apresentar o tema

que será discutido e o que será debatido durante as sessões do comitê. A OMS

(2020) se dedicará a elaborar um plano de ação global para a saúde mental que se

estenderá até o ano de 2030. Para isso, os delegados discutirão sobre diversos

problemas acerca da temática, como o preconceito contra portadores de transtornos

mentais, as violações de Direitos Humanos dessas pessoas, a necessidade de

reforma nos sistemas de saúde mental de vários países e outras questões que serão

aprofundadas ao longo do Guia.

Com as discussões empreendidas, os delegados proporão ações efetivas

baseadas nos objetivos estabelecidos na agenda do comitê para os países membros

da OMS e para a própria Organização. Além disso, definirão metas para nortearem

as ações dos países e da OMS em busca de melhorar o atendimento e a promoção

da saúde mental no mundo.

Para isso, foram reunidos países de várias partes do globo e de diferentes

realidades, além de organizações internacionais e organizações não

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governamentais capazes de apontar os maiores obstáculos para a saúde mental e

formas para superá-los. Ao final do comitê, estará pronto o Plano de Ação para a

Saúde Mental 2021-2030, com ações efetivas e metas específicas que garantam

uma melhoria global no setor da saúde mental.

Mapa 1

3. OS TRANSTORNOS MENTAIS

Primeiramente, é preciso compreender o significado do termo “saúde”

adotado pela OMS. O conceito é definido na Constituição da OMS (1946) como um

estado de completo bem estar físico, mental e social, não significando simplesmente

a ausência de doenças que afetem o corpo e/ou a mente. Dessa forma, um indivíduo

saudável é capaz de estar bem consigo mesmo e com aqueles a sua volta, sendo a

condição mental de grande importância para alcançar tal estado. Além disso, a

Organização considera que a manutenção da saúde mental é o primeiro passo para

evitar o contágio com doenças que possam afetar o bem estar físico e o social,

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sendo fundamentais os cuidados para tratamento e prevenção dos transtornos da

mente.

Essas desordens são definidas pela OMS (2012) como uma série de

condições que são, frequentemente, caracterizadas por uma combinação de

comportamentos, pensamentos, percepções e emoções anormais. Dentro do

espectro do sofrimento mental, encontram-se a depressão, a esquizofrenia, o

alcoolismo e abuso de outras substâncias, a síndrome de Asperger e todos os

outros transtornos mentais definidos pela CID-11 (2018)1 . É perceptível que tal

espectro agrupa diversas desordens com sintomas e tratamentos diferenciados,

sendo necessário levar esse fator em consideração durante os debates, uma vez

que o plano deve abordar a saúde mental em todos os seus aspectos, englobando

os mais diversos tipos de transtornos.

É importante ressaltar que um transtorno mental não é necessariamente

patológico, ou seja, nem sempre desordena as funções do corpo de seu portador.

Um exemplo disso são os indivíduos que se enquadram no espectro do autismo mas

não têm suas vidas prejudicadas por isso, sendo o autismo, nesse caso, não

patológico. Por conta disso, o conceito utilizado oficialmente pela Organização

Mundial da Saúde é o de “transtorno mental”, e não patologia mental ou doença

mental. A nomenclatura adotada por profissionais da saúde adota como sinônimo o

termo “sofrimento mental” e “desordem mental”, também usado neste guia.

Contrastando com o conceito de transtorno mental, o termo saúde mental

implica na capacidade de realizar atividades diárias com efetividade (APA, 2018).

Assim, uma pessoa saudável mentalmente é capaz de manter relações saudáveis

com outras, engajar-se em atividades produtivas como trabalho e estudo, além de se

adaptar a mudanças e ser capaz de agir sob adversidades (APA, 2018). Por essa

razão, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) alerta que um portador de um

transtorno mental que não é atendido adequadamente por profissionais da saúde

e/ou membros de sua comunidade pode encontrar dificuldades para se relacionar, o

que agrava seu estado de sofrimento e dificulta o processo de atendimento. É

importante notar que um indivíduo portador de um transtorno mental pode ser

considerado saudável, realizando suas atividades diárias com efetividade, reiterando

1 O conceito de sofrimento ou transtornos mentais utilizado neste guia diz respeito a todas aquelas

citadas no Capítulo 06 da Classificação Internacional de Doenças 11 (CID-11) (ver Anexo I, pág. 32), publicada em 2018.

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a ideia apresentada anteriormente de que um transtorno mental não é

necessariamente patológico.

Um ponto em comum entre todos os tipos de sofrimento mental é o histórico

de negligência à qual tais transtornos foram submetidos ao longo da história. Seus

portadores, segundo a ex-diretora geral da OMS, Dra. Margareth Chan, tiveram

diversos direitos negados desde a antiguidade e ainda sofrem com preconceito e

estigmatização dentro de suas comunidades. Por isso, a inserção dos indivíduos

afetados por transtornos mentais em sua sociedade é tão importante quanto o

acesso aos serviços de saúde, podendo ser parte fundamental do processo de

atendimento e/ou estabilização da condição do paciente. No próximo tópico, será

apresentado um breve histórico das formas de atendimento a portadores de

transtornos mentais, importante para reconhecer os avanços realizados no campo.

3.1. O histórico do atendimento a portadores de transtornos mentais: Do

século XIX à Reforma Psiquiátrica

A fim de compreender o progresso alcançado no campo da saúde mental, é

preciso entender a história da psiquiatria no que diz respeito ao atendimento a

pacientes afetados por transtornos mentais. Este tópico visa atender a esta

necessidade, abordando as mudanças propostas pela reforma psiquiátrica,

movimento contrário ao método de tratamento vigente até parte do século XX. É

importante pontuar que o avanço nos métodos de atendimento não foi uma

tendência global, estando ainda muitos países dependentes de iniciativas falhas

para atendimento de portadores de sofrimento mental.

Como apontado anteriormente, a história do tratamento de transtornos

mentais é permeada por momentos em que os portadores tiveram seus direitos

negados, foram submetidos a práticas violentas e degradantes dentro do ambiente

isolado dos hospitais psiquiátricos e manicômios, além de terem sofrido com o

preconceito da sociedade (ODA e DALGALARRONDO, 2004). O tratamento

oferecido aos pacientes durante o século XIX foi importante para moldar a

percepção preconceituosa que, em parte, vigora até o século XXI. O hábito de

confinar portadores de transtornos mentais ganhou espaço no continente europeu

no início do século XIX e rapidamente se espalhou para os países colonizados e que

sofriam influência da Europa (WRIGHT, 1997). O método consistia em isolar os

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indivíduos que apresentavam comportamentos considerados anormais, limitando-os

a um ambiente degradante, onde violações de direitos eram comuns.

Segundo David Wright (1997), 300 mil pessoas foram internadas em hospitais

psiquiátricos na Inglaterra e País de Gales no século XIX, 250 mil nos Estados

Unidos e um a cada trezentos habitantes da Irlanda viviam em confinamento. Muitas

dessas pessoas passariam anos de suas vidas dentro do manicômio, algumas até

mesmo sem portar nenhum transtorno2, sendo consideradas incuráveis e inaptas

para a vida em sociedade, o que fez com que alguns hospitais triplicassem de

tamanho, aumentando a precariedade e dificultando o atendimento. O autor ainda

aponta que a situação era igualmente ruim nas colônias como África do Sul e Índia,

afirmando que o tratamento atravessava barreiras culturais e religiosas (WRIGHT,

1997).

Cenário semelhante é apresentado por Oda e Dalgalarrondo (2004) que,

descrevendo a realidade brasileira, escrevem que os mais ricos eram mandados

para serem atendidos nos países da Europa, enquanto os mais pobres eram

isolados em cômodos da casa, colocados em celas solitárias, abandonados pelas

cidades ou colocados em grandes hospitais psiquiátricos sem estrutura para atendê-

los, chamados manicômios ou hospícios/. Tal processo de institucionalização do

tratamento psiquiátrico, isto é, a disseminação da crença de que os transtornos

mentais seriam curados com uso de instituições totais (como os manicômios),

começou a perder força no século XX, quando seu uso passou a ser condenado e o

próprio processo de cura passou a ser contestado.

No entanto, durante a primeira metade do século XX, o confinamento de

pacientes ainda era uma prática recorrente e indicada para o atendimento dos vários

tipos de sofrimento mental (FARIA, 2013). Além disso, ganhou força a prática de

psicocirurgias, que visavam tratar o paciente com o uso de processos cirúrgicos,

junto com a prática da terapia por eletrochoque de alta voltagem e a lobotomia3

(FARIA, 2013). Com o tempo, as práticas começaram a ser questionadas por

profissionais da saúde de várias partes do mundo, entre eles o psiquiatra italiano

Franco Basaglia, que defendia a ideia de que o modelo vigente de tratamento

2 Eram comuns a internação de órfãos, mulheres adultas solteiras, gays e lésbicas, além de outras pessoas que não se encaixavam no padrão de vida vigente (WRIGHT, 1997). 3 Processo em que as conexões entre o lobo frontal do e o resto do cérebro são cortadas (BBC,

2011).

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psiquiátrico não visava o atendimento do paciente, e sim a “segregação, a violência

e a exclusão” (AMARANTE, 2018). Pode-se afirmar que a preocupação dos

profissionais com a condição de vida de seus pacientes se dá em um momento de

maior preocupação com os Direitos Humanos, motivada pela Declaração Universal

dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948.

Com Franco Basaglia e a equipe do Hospital Psiquiátrico da cidade de

Trieste, nasce o movimento da Reforma Psiquiátrica, nos anos 1970 (BARBUI,

2018). A ideia chave era de promover a substituição das instituições confinantes por

formas de tratamento humanizadas, enfatizando a liberdade do paciente e atividades

que visassem o atendimento das necessidades do mesmo e/ou a estabilização de

sua condição, estabelecendo a chamada rede de dispositivos clínico-políticos e

sociais (PYCHA, 2011). Para Basaglia e os demais defensores da reforma

psiquiátrica, o tratamento deveria se concentrar em unidades residenciais, que

consistiriam em ambientes semelhantes a residências onde o tratamento dos

transtornos mentais patológicos se dá não só com uso de medicação, mas com

oficinas, lazer, práticas esportivas e ampla convivência com outras pessoas

(PYCHA, 2011). É importante ressaltar que isso não implica no fechamento de todos

os leitos psiquiátricos, mas que estes devem atuar em casos extremos e devem

respeitar os Direitos Humanos do paciente.

Com a aplicação do método de atendimento por meio de unidades

residenciais, foi possível reinserir os indivíduos na sociedade. Isso permitiu que os

mesmos pudessem se relacionar com outros indivíduos de maneira saudável e

expressar suas vontades livremente, o que não era possível dentro dos manicômios.

Em suma, a Reforma Psiquiátrica visava desinstitucionalizar4 a abordagem sobre

saúde mental, o que começou na Itália e se espalhou por todos os continentes.

As ideias de Basaglia inspiraram o Movimento dos Trabalhadores de Saúde

Mental no Brasil, responsável por pressionar o governo brasileiro para dar início à

reforma psiquiátrica no país, uma das mais exitosas do mundo (AMARANTE, 2018).

Basaglia deu o pontapé inicial para que os manicômios fossem gradativamente

4

Segundo Venâncio (2006), desinstitucionalizar é um processo de contraposição ao modelo assistencial de atendimento de portadores de transtornos mentais (como o internamento em hospitais psiquiátricos), substituindo-o por tratamentos terapêuticos que visam a inserção do paciente na sociedade. Significa eliminar os aparatos legal e científico que sustentam os métodos desumanos de atendimento a portadores de sofrimento mental e dar lugar a aparatos humanizados.

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substituídos por outras formas de atendimento e tratamento, tendo grande respaldo

da OMS. No entanto, a substituição dos modelos centrados no isolamento para os

métodos propostos por Basaglia são só uma parte da Reforma Psiquiátrica, sendo

igualmente importante o esclarecimento acerca dos transtornos mentais através do

diálogo com a população, em especial com os chamados públicos vulneráveis, que

consistem na porção da população com maior propensão ao desenvolvimento de

transtornos mentais (CHRISTODOULOU, 2009).

Segundo a organização Mental Health America (organização criada para

promover o tratamento de portadores de transtornos mentais nos Estados Unidos),

os métodos mais modernos utilizados para atendimento de portadores de desordens

mentais são aqueles propostos pela reforma psiquiátrica de Basaglia e raramente

envolvem a hospitalização do indivíduo, sendo utilizada somente em casos de

extrema necessidade. A organização aponta que meios como psicoterapia, uso de

medicação receitada por um profissional, terapia pela arte, terapia com animais e

grupos de apoio são os mais indicados e utilizados por todos os países que

reformaram o sistema de atendimento a transtornos mentais (MHA, 2019).

No entanto, o acesso a tais recursos ainda não é garantido para todos,

estando grande parte dos portadores de sofrimento mental expostos a violações de

Direitos Humanos e tratamentos ineficazes. Nem mesmo países em que a reforma

psiquiátrica foi implementada estão isentos de violações de Direitos Humanos contra

portadores de transtornos mentais. O Brasil, por exemplo, apontado anteriormente

como um país exitoso na adoção da reforma, é denunciado por organizações não

governamentais por violações de Direitos Humanos em hospitais de custódia

(destinados a portadores de sofrimento mental que cometeram crimes), como a

Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo grupo Saúde Mental e Liberdade e

pela organização Pastoral Carcerária.

4. O PLANO DE AÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL 2013-20205

Apesar dos avanços promovidos por Franco Basaglia e diversos movimentos

favoráveis à reforma psiquiátrica, muitos países não foram capazes de implantar

5 Uma versão traduzida dos objetivos, princípios, ações para os países membros e para a OMS e

metas do Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 será postada no blog do comitê.

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métodos de atendimento a transtornos mentais que sejam seguros, eficazes e que

respeitem os direitos dos pacientes, nem formas de esclarecer a população acerca

de tais desordens (WHO, 2018). Por isso, a OMS lançou, em 2008, o Programa

Mundial de Ação para Reduzir as Lacunas em Saúde Mental (mhGAP), que visava

auxiliar países considerados de nível de renda per capita (isto é, por pessoa) baixo e

médio-baixo pelo Banco Mundial a desenvolverem melhores cuidados para pessoas

portadoras de sofrimento mental por meio da cooperação entre a OMS e o país

necessitado. No Mapa 2 é possível analisar quais países deveriam ser beneficiados

pelo mhGAP.

MAPA 2

No entanto, as dificuldades para promoção da saúde mental no mundo não se

encontram somente nos países de baixa renda, exigindo uma coordenação global

envolvendo todos os países na criação de políticas públicas eficientes e no

compartilhamento de conhecimento e experiências. Para isso, a OMS convocou, em

2012, uma reunião entre todos os países-membros, organizações não

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governamentais e organizações internacionais para elaborar um plano de ação com

estratégias definidas para melhorar a situação global em saúde mental até 2020.

O plano foi nomeado “Plano de Ação para a Saúde Mental 2013- 2020”

(originalmente Mental Health Action Plan 2013-2020). Ele estabelece quatro

objetivos gerais para melhorar a situação global em saúde mental, seis princípios e

abordagens que baseiam o Plano, define metas específicas para alcançar os

objetivos gerais e apresenta ações que devem ser tomadas pelos Estados e pela

OMS para alcançar tais metas (WHO, 2013). As ações devem, por sua vez, respeitar

os princípios também definidos pelo Plano. O acompanhamento dos avanços de

cada país-membro foi realizado pela OMS e compilado no Mental Health Atlas nos

anos de 2014 e 2017.

4.1. Os objetivos

Os quatro objetivos apontados anteriormente são: 1. Fortalecer liderança e

governança efetivas para a saúde mental; 2. Prover serviços de saúde mental e

cuidado social que sejam compreensivos, integrados e responsáveis em ambientes

desinstitucionalizados; 3. Implementar estratégias para promover e proteger a saúde

mental, incluindo ações para prevenir transtornos mentais e autoextermínio6 ; 4.

Fortalecer sistemas de informação, evidências e pesquisas sobre saúde mental

(WHO, 2012). O entendimento acerca dos objetivos é fundamental para a

compreensão das demais partes do Plano de Ação, uma vez que é a base para os

princípios, ações propostas e metas.

O primeiro objetivo diz respeito ao planejamento, organização e

financiamento dos sistemas de saúde mental (WHO, 2012). Para o Plano de Ação

para a Saúde Mental 2013-2020, é necessário que haja uma coordenação entre

diversos níveis de organização para melhorar tais sistemas, isto é, os governos

federais de cada país não devem agir sozinhos para promover a saúde mental,

devem buscar apoio em organizações internacionais, não governamentais, outros

países etc. Formar parcerias promove o intercâmbio de experiências, o que reduz os

custos de desenvolvimento das políticas e amplia a rede de atuação para o

6 Autoextermínio refere-se ao ato de tirar a própria vida, popularmente conhecido por suicídio.

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atendimento de pessoas portadoras de transtornos mentais. Cumprir o primeiro

objetivo significa promover tais arranjos cooperativos de forma efetiva.

O segundo objetivo busca promover melhores formas de tratamento de

transtornos mentais, o que inclui a transição do tratamento dos sofrimentos mentais

baseado no confinamento para uma forma de tratamento que seja

desinstitucionalizada, que respeite os Direitos Humanos (como direito à liberdade,

ao trabalho, à educação, etc.) e que seja baseado em evidências (WHO, 2012). Tal

objetivo não visa dar fim ao tratamento em hospitais psiquiátricos, uma vez que a

medicação e a internação podem ser necessárias em casos extremos, mas

compreender as demais formas de tratar transtornos mentais e reconhecer que seus

portadores possuem direitos fundamentais que não devem ser violados.

O segundo objetivo ainda visa expandir os cuidados com a saúde mental,

atentando para o papel fundamental de não-profissionais da saúde que lidam com

tais questões, como líderes comunitários e religiosos, professores, policiais,

curandeiros tradicionais etc. (WHO, 2012). Além disso, aponta-se que a integração

da saúde mental com o sistema geral de saúde facilita os cuidados com pessoas

que podem desenvolver transtornos mentais em decorrência de uma outra doença

(como câncer e AIDS).

Enquanto o segundo objetivo aborda o atendimento a portadores de

transtornos mentais, o terceiro diz respeito à prevenção de tais transtornos, além da

prevenção ao autoextermínio, que tem forte relação com o desenvolvimento de

sofrimento mental. De acordo com o terceiro objetivo, as estratégias para a

prevenção de desordens mentais e autoextermínio devem levar em conta as

especificidades de cada fase da vida, compreendendo as necessidades de crianças,

jovens, adultos e idosos. Além disso, tais estratégias devem buscar identificar os

fatores estressantes que favoreceram o desenvolvimento do sofrimento mental, que

muitas vezes está ligada à condição social e/ou física de seu portador, suas

vivências e seu padrão de vida (WHO, 2012).

O quarto e último objetivo é crucial para o cumprimento de todos os

anteriores. Ampliar a pesquisa na área de saúde mental e sobre o estado mental da

população, o que facilita a criação de políticas públicas, uma vez que se sabe quais

métodos são mais efetivos e quais áreas devem ser priorizadas. Além da pesquisa

realizada por sistemas de informação, o Plano atenta para a pesquisa realizada por

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profissionais da saúde, que são capazes de desenvolver formas de atendimento e

prevenção que auxiliam no cumprimento dos demais objetivos.

A formulação dos objetivos é um processo minucioso e de grande importância

para a elaboração de um plano de ação. Eles serão os responsáveis por nortear as

ações propostas e as metas a serem criadas no Plano de Ação para a Saúde Mental

2021-2030, sendo a base do mesmo. Os objetivos serão estabelecidos com base

em alguns dos maiores desafios enfrentados pelo campo da saúde mental

globalmente, que estão expostos neste guia.

4.2. Os princípios

Paralelamente aos objetivos, a OMS também estabeleceu princípios para

pautarem as ações propostas e as metas. Tais princípios dizem respeito à forma

como os transtornos mentais devem ser abordados para garantir efetividade,

respeito e os devidos direitos daqueles afetados por algum tipo de sofrimento

mental. Para o Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 foram estabelecidos

seis princípios: 1- acesso universal aos serviços de saúde; 2- Direitos Humanos; 3-

prática baseada na evidência; 4- abordagem ao longo da vida; 5- abordagem

multisetorial; 6- empoderamento de pessoas portadoras de sofrimento mental e

distúrbios psicossociais (WHO, 2012). Este subtópico visa explicar resumidamente

cada princípio.

O princípio do acesso universal aos serviços de saúde implica no devido

atendimento de todas as pessoas portadoras de transtornos mentais. Isso quer dizer

que cada país deve prover condições para que todos seus cidadãos, independente

de qualquer discriminação (gênero, raça, nível de renda etc.), possam buscar apoio

dos serviços de saúde em caso de necessidade.

Tal princípio dialoga com o segundo, uma vez que o acesso à saúde é um

direito humano assegurado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,

2009). No entanto, o segundo princípio diz respeito a outros direitos além do direito

ao acesso aos serviços de saúde. Como já apontado, são comuns violações de

Direitos Humanos de pessoas portadoras de transtornos mentais (como o direito à

liberdade, ao acesso à educação etc.). Por isso, o Plano atenta, neste princípio, que

as estratégias definidas para a saúde mental devem preservar os Direitos Humanos,

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como aqueles definidos na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência

(2007) (WHO, 2012).

O terceiro princípio definido pelo Plano de Ação Para a Saúde Mental 2013-

2020 entende que as práticas para o atendimento de portadores de transtornos

mentais devem ser baseadas em evidências científicas e/ou nas melhores práticas

possíveis, respeitando a cultura do indivíduo a ser atendido (WHO, 2012). Além

disso, o atendimento, as estratégias e as políticas para saúde mental devem adotar

uma abordagem que leve em consideração as particularidades de cada fase da vida,

dos mais jovens aos mais idosos, que é a base do quarto princípio (WHO, 2012).

O quinto princípio também diz respeito ao atendimento de pessoas com

transtornos mentais e tratamento das mesmas (WHO, 2012). Abordagem

multisetorial significa que a saúde mental não é uma questão meramente da área da

saúde de cada país, mas que pode ser promovida com o apoio de outras áreas. Um

exemplo de abordagem multisetorial é a promoção do diálogo sobre saúde mental

nas escolas, coordenando as áreas de saúde e da educação. Além disso, criar

políticas que atendam grupos marginalizados de uma sociedade são uma forma de

promover a saúde mental, uma vez que esses grupos são mais propensos ao

desenvolvimento de transtornos mentais, como será visto mais adiante. Dessa

forma, é possível tratar os fatores estressantes que podem originar transtornos

mentais (como a pobreza, a discriminação, a privação injusta da liberdade etc.), em

vez de meramente atender seus portadores.

O sexto e último princípio diz respeito ao planejamento de políticas e planos

para a saúde mental. Nele, é apontado que portadores de transtornos mentais

devem ser incluídos em tais planejamentos, para que atendam às necessidades

apresentadas por eles (WHO, 2012). Dessa forma, por meio do empoderamento

dessas pessoas, é possível criar meios para que os problemas sejam mais

facilmente identificados e solucionados com base nas propostas dos mais

interessados.

Os princípios são ideias simples utilizadas para armar outras mais complexas.

São pontos iniciais básicos para desenhar ações e metas condizentes com as

crenças e ideais das delegações. Partir de bons princípios é importante para facilitar

a formulação de ações e metas eficazes para o Plano de Ação para a Saúde Mental

2021-2030 que sejam capazes de solucionar as questões postas em debate.

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4.3. As ações para os países membros e para a OMS

Após o estabelecimento dos objetivos e dos princípios, é necessário que seja

definido como os países membros da OMS e a própria Organização vão agir para

garantir o cumprimento dos objetivos. As ações propostas são a forma de alcançar o

sucesso do Plano de Ação, sendo divididas em quatro blocos, referentes ao objetivo

a que dizem respeito. Este subtópico visa abordar de forma simples os quatro blocos

de ações, apresentando de forma sucinta cada um deles.

Quanto ao primeiro objetivo, que busca fortalecer governança e liderança

para saúde mental, são propostas oito ações no total, quatro para países membros

da OMS e quatro para a própria Organização. As ações propostas para os países

focam na elaboração de políticas, planos e estratégias para a saúde mental, além da

alocação de recursos e participação de portadores de transtornos mentais no

processo de decisão (WHO, 2012). Para a OMS, são propostas formas de auxiliar os

países na promoção da saúde mental e atendimento de portadores de sofrimento

mental, apoiando a cooperação internacional e fornecendo materiais e formas de

atuação para os países (WHO, 2012).

Para o objetivo dois, que visa prover atendimento de saúde mental

compreensivo, integrado e responsável, são feitas cinco recomendações para os

países membros e cinco para a OMS. Para os países, são recomendadas formas de

substituir o atendimento em hospitais psiquiátricos de longa internação por unidades

residenciais de tratamento, ressaltando a importância da formação de profissionais

da saúde mental e da atenção especial necessária em casos de emergência

humanitária e grupos de risco (WHO, 2012). Para a OMS, também são propostas

ações para atuar em casos de emergências humanitárias e grupos de risco, além de

compartilhar conhecimento para reformar os sistemas de saúde mental nos países

(WHO, 2012).

São propostas quatro ações no total para o terceiro objetivo, que busca

implementar estratégias para promoção e prevenção em saúde mental. Para os

países, são recomendadas ações para redução de estigmas, além da elaboração de

estratégias multisetoriais e de prevenção de autoextermínios (WHO, 2012). Para a

OMS, são recomendadas ações visando dar apoio técnico aos países necessitados,

cooperando na elaboração e/ou fortalecimento de projetos (WHO, 2012).

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Para fortalecer sistemas de informação, evidência e pesquisa em saúde

mental (quarto objetivo do Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020), também

foram pensadas quatro ações no total. As duas ações propostas para os países

membros consistem na integração do sistema de saúde mental ao sistema integral

de saúde e investimento em pesquisas estatísticas e acadêmicas para ampliar o

conhecimento do governo acerca de sua população e fomentar novos métodos de

atendimento a portadores de transtornos mentais por meio de pesquisas na área da

saúde (WHO, 2012). Para a OMS, recomendou-se que a Organização

desenvolvesse indicadores capazes de monitorar a saúde mental no mundo, além

de propor que organizações importantes da sociedade ligadas à saúde mental

fossem incluídas no desenvolvimento e promoção de uma agenda global para a

saúde mental (WHO, 2012).

É notável que as ações recomendadas para os países membros da OMS e

para a Organização são vagas, carecendo de especificidade para serem executadas

com eficiência e alcançarem os objetivos desenvolvidos. Além disso, algumas ações

não podem ser aplicadas em todos os países sem que haja esforços para a

construção de arranjos de cooperação internacional entre os próprios países e suas

relações com organizações, que são apresentadas como recomendações, mas não

exploradas com a profundidade apropriada. Isso pode ser apontado como um erro

de origem do Plano de Ação, impossibilitando seu completo sucesso desde o início

de sua aplicação.

4.4 As metas

As metas definidas no Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 são

realidades específicas a serem alcançadas por meio das ações indicadas para os

países e para a OMS. Cumprir tais metas por meio dessas ações seria um passo

fundamental para que os quatro objetivos gerais fossem alcançados, atingindo o

propósito do Plano de Ação. Assim como as ações, as metas também são divididas

de acordo com os objetivos estabelecidos, estando todo o Plano conectado em volta

dos quatro objetivos iniciais. Todas elas estão contidas na Tabela 1.

Tabela 1: Metas do Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020

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Objetivo 1 Objetivo 2 Objetivo 3 Objetivo 4

80% dos países devem desenvolver ou atualizar suas estratégias em saúde mental, respeitando os Direitos Humanos até 2020.

Os serviços para atendimento de transtornos mentais severos deve ser ampliado em 20% até 2020.

80% dos países devem ter ao menos dois programas em funcionamento sobre saúde mental que sejam multisetoriais até 2020.

80% dos países devem coletar e reportar dados sobre saúde mental de forma rotineira a cada dois anos por meio dos sistemas de informação do país até 2020.

50% dos países devem desenvolver ou atualizar suas leis sobre saúde mental para estarem de acordo com os Direitos Humanos até 2020.

A taxa global de autoextermínios deve ser reduzida em 10% até 2020.

Fonte: WHO (2012)

É perceptível que todas as metas estabelecidas são muito importantes e bem

definidas, estando de acordo com os objetivos já citados. No entanto, cumprir as

metas estabelecidas não necessariamente implicaria em atingir os objetivos, como é

perceptível na meta estabelecida para o objetivo 2, haja vista que definir somente

uma meta é incompatível com o alcance de um objetivo tão complexo, o que indica

uma falha na elaboração das metas por parte das delegações envolvidas. Além

disso, as ações definidas anteriormente devem propiciar o alcance das metas, o que

não é o caso, por exemplo, do objetivo 3. Por isso, apesar de ser a última parte do

Plano de Ação, definir as metas não é uma tarefa simples.

O estabelecimento de metas é importante para que as ações dos países

possam se pautar em dados empíricos a serem alcançados. Ainda, a comparação

com o que foi estabelecido para se alcançar é a forma para avaliar o sucesso ou

fracasso do Plano de Ação, sendo a base da análise do Atlas da Saúde Mental. É

importante que as metas sejam condizentes com o contexto em que os países estão

inseridos, não sendo inalcançáveis e nem simples demais ao ponto de não

promoverem um impacto profundo. Dessa forma, a última parte do Plano de Ação é

o que guiará a ação dos países e da OMS para o cumprimento dos objetivos gerais

e, consequentemente, o sucesso do Plano.

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5. OS RESULTADOS DO PLANO DE AÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL 2013-2020

O Atlas da Saúde Mental (originalmente Mental Health Atlas) é um

instrumento importante criado pela OMS para avaliar o progresso dos países em

alcançar os objetivos estabelecidos pelo Plano de Ação. Em sua versão mais

recente, Atlas da Saúde Mental 2017 (Mental Health Atlas 2017), publicada em

2018, são encontrados dados capazes de elucidar quais objetivos foram alcançados

e quais ainda não foram. Uma análise destes dados é feita neste tópico, com a

intenção de proporcionar maior entendimento acerca dos sucessos e fracassos do

Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020.

O primeiro objetivo do Plano buscava atender à necessidade de melhoria na

governança e na liderança para saúde mental. Quanto a isso, o Gráfico 1 apresenta

a porcentagem dos países que atualizaram seus planos em saúde mental desde

2013 por região da OMS7. É importante ressaltar que uma política atualizada não

necessariamente significa que um país atende melhor a sua população, uma vez

que, como já apontado, é frequente que apenas uma porção mais privilegiada da

população desfrute dos métodos mais avançados de tratamento.

Fonte: Mental Health Atlas (2017)

Ainda no que diz respeito ao primeiro objetivo do Plano, 97% dos 177 países

que participaram do processo de coleta de dados para o Atlas da Saúde Mental

2017 alegaram que suas políticas promovem a transição para um tratamento que

não seja focado na internação do paciente, e sim nas propostas de Franco Basaglia,

7 As regiões da OMS e suas respectivas siglas são as seguintes: Região Africana (AFR), Região

Americana (AMR), Região do Mediterrâneo Oriental (EMR), Região do Sudeste Asiático (SEAR) e Região do Pacífico Oriental (WPR)

58% 65% 76% 79% 80% 86%

72%

AFR AMR EMR EUR SEAR WPR MédiaGlobal

Gráfico 1: Porcentagem de atualização de políticas em saúde mental por região da OMS

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representando um avanço de 5% desde 2014 (WHO, 2018). Além disso, 89%

declararam que suas políticas visam respeitar os direitos das pessoas portadoras de

sofrimento mental, contra 85% após um ano de implementação do Plano (WHO,

2018). No entanto, a prática nem sempre condiz com o que é definido pelas políticas

públicas, como apontam relatórios da Anistia Internacional, atentando ao fato de que

ainda ocorrem, em diversos países, violações de Direitos Humanos que podem

agravar a situação do portador de sofrimento mental ou prejudicar a saúde mental

de um ser humano saudável (AMNESTY INTERNATIONAL, 2018).

Apesar dos avanços supracitados, cumprindo a meta 1.1 definida pelo Plano8,

o Atlas afirma que somente 53% dos países reportam que os recursos (humanos e

financeiros) aplicados em saúde mental estão de acordo com o que foi definido

pelas políticas públicas criadas pelo país (WHO, 2018). A situação é ainda mais

crítica nos países considerados de baixa renda pelo Banco Mundial, dos quais

apenas seis (21% do grupo) afirmam que os recursos são aplicados como definido

pela política (WHO, 2018).

Quanto à disponibilidade de tais recursos, a OMS levanta um alerta. A média

global de gastos com saúde mental per capita, isto é, por indivíduo, é de 2,5 dólares,

chegando a 0,1 dólar na região africana (WHO, 2018). Quanto aos recursos

humanos, a média global de profissionais da saúde mental é de nove para cada cem

mil habitantes, variando entre 0,9 na região africana até 50 na região europeia

(WHO, 2018). Estes dados apontam para a necessidade de coordenação global

para a solução destas questões, evidenciando a importância da cooperação

internacional entre os países junto a organizações internacionais9 e organizações

não governamentais (ONGs). Além disso, os dados apresentam uma clara falha em

cumprir os objetivos 2 e 3 do Plano de Ação para a Saúde Mental10, uma vez que,

sem os devidos recursos, não é possível prover serviços de saúde mental nem

implementar estratégias para promovê-la.

8 Meta 1.1 estipula que 80% dos países teriam desenvolvido políticas para saúde mental que

respeitam os Direitos Humanos até o ano de 2020 (WHO, 2012). 9 Órgãos supranacionais, ou seja, para além dos países, que são formados pelos próprios países,

estabelecendo uma área de negociação e atuando com certa autonomia no contexto global (HERZ, HOFFMAN, 2004). A exemplo: OMS, Banco Mundial, Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), etc. 10 Objetivo 2: Prover serviços de saúde mental e cuidado social que sejam compreensivos, integrados

e responsáveis. Objetivo 3: Implementar estratégias para promover e proteger a saúde mental, incluindo ações para prevenir doenças mentais e autoextermínios.

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A região europeia também apresenta bons índices de cuidado com a saúde

mental no que diz respeito às acomodações disponíveis para tratamento de

transtornos da mente. Ela possui mais de 90 acomodações para cada cem mil

habitantes, sendo a maior parte delas (58,5) não baseadas na internação (WHO,

2018). A média global mostra um cenário contrário, com menos de 20 acomodações

para atender pessoas necessitadas e a maior parte delas (11,3) centradas na

internação do paciente, apresentando mais uma falha no cumprimento dos objetivos

2 e 3 do Plano.

Especificamente sobre o objetivo 3, são perceptíveis os avanços realizados

nos últimos anos, assim como a necessidade de persistir na luta contra o

autoextermínio. A média global de autoextermínios caiu de 11,4 em 2012 (OMS,

2014) para 10,6 em 2016 (OMS, 2018), mas algumas regiões do planeta

apresentam dados alarmantes sobre tal questão que merecem maior atenção. A

região europeia apresenta a maior média de autoextermínios do mundo (13,2 por

100 mil habitantes), sendo a Lituânia o país onde mais ocorrem casos de

autoextermínios na região (31,9 por 100 mil habitantes) (OMS, 2018). A situação não

é só preocupante na Europa, já que, em cinco das seis regiões da OMS, existem

localidades com uma concentração de autoextermínios maior que 20 por cem mil

habitantes, ou seja, o dobro da média global (Lesoto: 21,2; Suriname: 22,8;

Bielorrússia: 26,2; Coreia do Sul: 26,9). No Mapa 3 está representada as taxas de

autoextermínio para cada 100 mil habitantes no mundo, segundo dados da OMS.

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MAPA 3

Quanto ao objetivo 411, houve relativo sucesso, uma vez que o fornecimento

de dados acerca da saúde mental melhorou em todos os países, mas ainda é

possível alcançar melhores resultados. Um exemplo desta melhora é a maior

participação dos países membros da OMS no processo de coleta de dados para o

Atlas da Saúde Mental com o passar dos anos, culminando na participação de 177

dos 194 países membros no ano de 2017, o que significa que 91% dos membros

promoveram o devido acompanhamento dos avanços do Plano de Ação para a

Saúde Mental 2013-2020 (WHO, 2018). No entanto, pouco foi feito para uma análise

qualitativa das políticas públicas adotadas pelos países, o que poderia impulsionar o

compartilhamento de conhecimento entre os países e fomentar maiores cuidados

quanto aos transtornos mentais em países que encontram dificuldades para

melhorar o sistema de atendimento, tratamento e prevenção.

11 Objetivo 4: Fortalecer sistemas de informação, evidências e pesquisas sobre saúde mental.

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5.1. Falhas de abordagem do Plano de Ação Global para a Saúde Mental 2013-

2020

Como apontado no último tópico, o Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-

2020 não é perfeito, evidenciando que muito precisa ser feito para aprimorar a saúde

mental no mundo. Além disso, novos obstáculos para a promoção da saúde mental

surgiram nos sete anos que sucederam o estabelecimento do primeiro plano. Por

conta disso, faz-se necessária uma reunião para elaborar um novo plano de ação,

dessa vez compreendendo os anos de 2021 a 2030. Neste tópico serão apontadas

questões que não são aprofundadas no Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-

2020 e que merecem maior atenção na elaboração do novo plano.

É perceptível o avanço de certos países frente a outros no que diz respeito

aos cuidados fornecidos no campo da saúde mental. Segundo dados do Atlas da

Saúde Mental (2017) apresentados no último tópico, existe uma grande diferença

entre a região europeia e as demais, como explicitado no número de acomodações

disponíveis para tratamento de transtornos mentais. Assim, é importante que os

países cooperem entre si para que aqueles com sistemas de saúde mental já

desenvolvidos possam ajudar os outros a se desenvolverem. Tal processo de apoio

para o desenvolvimento de um país recebe o nome de Cooperação Internacional ao

Desenvolvimento e é definida por Bruno Ayllón (2006) da seguinte forma:

“Conjunto de atuações de caráter internacional realizadas pelos atores públicos e privados, entre países de diferentes níveis de renda, para promover o progresso econômico e social dos Países em Vias de Desenvolvimento (PVD). […] A finalidade primordial da Cooperação ao Desenvolvimento deve ser a erradicação da pobreza e da exclusão social e o incremento permanente dos níveis de desenvolvimento político, social, econômico e cultural nos países.” (AYLLÓN, 2006).

A definição de Ayllón aponta que a ações com objetivo de fomentar o

desenvolvimento nos PVD não se restringem apenas a uma relação entre países,

podendo envolver entes privados (como empresas, por exemplo) e atores públicos

no geral (países, organizações internacionais etc.). Isso significa que a própria OMS

pode atuar na busca para alcançar a finalidade da Cooperação ao Desenvolvimento,

realizando atividades e elaborando projetos para promoção da saúde mental e

atendimento aos portadores de transtornos mentais.

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A Cooperação Internacional ao Desenvolvimento não é aprofundada no Plano

de Ação para a Saúde Mental 2013-2020, em especial no que diz respeito à

interação entre países, focando em ações individuais de cada nação para promover

a saúde mental no ambiente doméstico e em arranjos de cooperação bilaterais entre

os países-membros e a OMS. Uma das formas de cooperação é a cooperação

técnica para o desenvolvimento, isto é, “transferência e intercâmbio de tecnologias

aplicadas a serviços básicos de educação, saúde e saneamento” (AYLLÓN, 2006),

sendo capaz de impulsionar os cuidados com saúde mental em países que não

dispõem dos recursos necessários para fazê-lo no tempo estipulado pelo novo

plano.

Além disso, o Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 não apresenta

ações significativas específicas para o atendimento a grupos vulneráveis, ou seja,

aqueles que estão mais propensos a sofrerem com algum tipo de sofrimento mental

(WHO, 2010). Nestes grupos enquadram-se indivíduos que passaram por traumas

ou fortes perdas, como refugiados, civis envolvidos em conflitos armados, população

carcerária, veteranos de guerra, perseguidos políticos etc. Segundo a OMS (2010),

a estigmatização e marginalização levam a uma propensão maior a desenvolver

algum transtorno mental. No livro “Mental Health and Development: Targeting people

with mental health conditions as a vulnerable group” (2010), a Organização aponta

que até 63% das pessoas portadoras do vírus HIV sofrem com depressão.

A Organização Mundial da Saúde alerta, no mesmo livro, que a pobreza pode

ser um fator determinante para o surgimento de transtornos mentais. A OMS alega

que a vida em ambientes estressantes como localidades de risco, áreas sem

saneamento básico, locais violentos, entre outros, podem acarretar no

desenvolvimento de depressão, ansiedade, síndrome do pânico e outras desordens

(WHO, 2010). Assim, comprova-se a necessidade de uma abordagem multisetorial

para cuidados com a saúde mental, isto é, englobando mais setores para além da

área da saúde.

Além dos novos desafios, antigos obstáculos também devem ser retomados

na discussão do Plano de Ação para a Saúde Mental 2021-2030. O mais

fundamental deles é a necessidade de reforma do sistema de atendimento em

saúde mental em certas localidades do mundo. Países recentemente saídos de

conflitos armados, nações em que o sistema de saúde não é bem desenvolvido e

localidades que, por qualquer razão, não atualizaram suas formas de atendimento a

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pessoas portadoras de transtornos mentais devem fazê-lo, podendo contar com o

apoio de outros países e organizações em arranjos de cooperação internacional

para o desenvolvimento, além de elaborar ações efetivas para o novo plano de ação.

Outro antigo obstáculo no campo da saúde mental é o preconceito e a

estigmatização dos transtornos mentais e seus portadores. Essas são atitudes que

atuam como porta de entrada para violações de Direitos Humanos em diversas

sociedades, uma vez que o preconceito leva, em muitos casos, à marginalização e

privação de direitos básicos, como direito à educação e ao trabalho. É papel dos

países membros da OMS e organizações internacionais e não governamentais

defensoras dos Direitos Humanos atuar para impedir que isso aconteça, propondo

ações efetivas e específicas para superar tal obstáculo.

6. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ

Após uma maior compreensão acerca do tema e da problemática a ser

debatida, é necessário apresentar a Organização Mundial da Saúde, sua história,

seu funcionamento e sua relação com o tema. Este tópico visa atender a tais

necessidades, abordando tanto a estrutura da OMS como organização internacional

quanto a estrutura desta simulação.

6.1. A OMS: história e funcionamento

A história da OMS se inicia poucos anos depois da criação da Organização

das Nações Unidas (ONU) em 1945. A Organização Mundial da Saúde foi criada em

7 de abril de 1948 para tratar de assuntos envolvendo a saúde no âmbito da ONU e

fomentar a cooperação internacional para o desenvolvimento entre os países no

campo em questão (BRITANNICA, 2018). Desde sua criação, a OMS realiza tais

atividades através de reuniões entre países membros, elaboração de estratégias por

especialistas e trabalho de campo no controle de epidemias (BRITANNICA, 2018).

A OMS não foi a primeira organização internacional a lidar com a saúde.

Antes dela, existiram a Organização de Saúde da Liga das Nações (oficialmente

Health Organization of the League of Nations), fundada em 1923, e o Escritório

Internacional de Saúde Pública (oficialmente International Office of Public Health).

As duas organizações eram responsáveis pelo controle de epidemias, em especial

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cólera, febre amarela e peste bubônica, como apontado no tratado de criação do

Escritório Internacional de Saúde Pública em 1907. A OMS herdou as atividades de

ambas organizações, extintas no século XX, com a adição da missão de promover o

maior nível de saúde possível (BRITANNICA, 2018), ou seja, além de se preocupar

em tratar os pacientes, era preciso impulsionar os cuidados com a saúde, com base

no conceito já definido na Apresentação do tema.

A Organização define suas ações, como a luta contra a varíola que levou à

erradicação da doença em 1980, através de decisões tomadas pela Assembleia

Mundial da Saúde, o órgão decisório da OMS (WHO, 2019). Em reuniões anuais

com seus 194 membros, são escritos documentos recomendatórios aos países (isto

é, sem caráter obrigatório) e definidas ações da própria Organização, como o início

de uma nova campanha ou o estabelecimento de um trabalho de campo para

controle de alguma epidemia (WHO, 2019).

As reuniões acontecem, frequentemente, entre a terceira e a quarta semana

do mês de maio, na cidade de Genebra, na Suíça (WHO, 2019). Assim como nas

reuniões oficiais da Organização, a simulação contará com a participação de

membros observadores (sem poder de voto), que podem ser organizações ou

territórios não membros da OMS, como Palestina e Coreia do Norte. O número de

delegações não obedecerá ao formato oficial de 194 países votantes, sendo uma

quantidade reduzida de participantes a ser conduzida por moderação grega. Neste

tipo de moderação, as delegações que desejarem se pronunciar devem erguer as

suas placas e aguardar o reconhecimento pela mesa12.

A reunião a ser simulada é uma sessão da Assembleia Mundial da Saúde de

caráter excepcional, uma vez que não é prática da mesma a elaboração de planos

de ação como o a ser definido. O Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020,

por exemplo, não foi elaborado pela Assembleia. No entanto, tal iniciativa é

justificável por permitir maior troca de experiências entre os países, o que viabiliza a

formulação de um documento que atenda às necessidades e diferenças de cada

membro.

O objetivo final da sessão é elaborar o Plano de Ação para a Saúde Mental

2021-2030, estabelecendo ações específicas por parte dos países e de

12 Mais informações sobre o tipo de moderação podem ser encontradas no Guia de Regras, dúvidas

não esclarecidas pelo Guia de Regras devem ser encaminhadas à equipe do comitê por meio das redes sociais e/ou e-mail.

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organizações, incluindo a OMS, e as metas a serem alcançadas nos próximos dez

anos com base em objetivos e princípios definidos previamente pela mesa. O

documento, para ser adotado, deverá ser aprovado por dois terços dos países

membros da OMS, também chamados de membros votantes, e será

recomendatório. As organizações presentes e territórios não membros da OMS,

denominados observadores, auxiliam na criação do plano de ação mas não votam

para sua aprovação.

7. POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES

7.1. Anistia Internacional

A Anistia Internacional é uma ONG internacional responsável por realizar

denúncias de violações de Direitos Humanos em diversas localidades do mundo,

desde 1961 (ANISTIA INTERNACIONAL, 2018). Segundo a ONG, em alguns

países, o atendimento dado para portadores de transtornos mentais envolve

situações de violação dos Direitos Humanos, como tortura, aprisionamento arbitrário,

privação do acesso ao ensino etc. Dessa forma, a participação da Anistia

Internacional nos debates como membro observador é fundamental, apontando as

violações mais comuns cometidas por diversos países e auxiliando nas discussões

sobre formas de contorná-las no novo plano de ação.

7.2. Brasil

O Brasil completa, em 2020, 19 anos de sua reforma psiquiátrica, apontada

por alguns especialistas como uma das mais exitosas do mundo. O processo de

desinstitucionalização é constante e ainda não foi terminado, tendo realizado até

então o fechamento de 46 hospitais psiquiátricos e a abertura de 275 unidades

residenciais de tratamento, efetivando a substituição indicada para conduzir a

reforma (WHO, 2014, 2018). A experiência brasileira pode ser compartilhada e

implementada em outros países através da OMS, mas o Brasil não está livre de

críticas. O questionamento acerca da atuação dos chamados manicômios judiciários

é feito por diversas ONGs em diversos países, incluindo o Brasil, e alternativas

podem ser propostas em um novo plano de ação.

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7.3. Japão

O Japão, apesar de apresentar uma expectativa de vida que figura entre as

mais altas do mundo, é exemplo de país desenvolvido que não reformou seu

sistema de atendimento em saúde mental. O país não realizou a substituição dos

métodos de tratamento e, segundo a OMS (2018), interna compulsoriamente uma

grande parte dos japoneses portadores de transtornos mentais, configurando uma

violação do direito humano à liberdade. A justificativa para isso, para o professor

japonês Tomoko Kanata (2016), é que a cultura japonesa segrega aqueles que não

se encaixam na ordem da sociedade em prol da manutenção da ordem. Tal

segregação abre espaço para violação de Direitos Humanos de portadores de

transtornos mentais, o que agrava o estado dessas pessoas e pode levar a

situações extremas como autoextermínios, que tira a vida de 18,5 a cada cem mil

japoneses.

7.4 Itália

A Itália apresenta um dos melhores sistemas de tratamento de transtornos

mentais do mundo, segundo o psiquiatra estadunidense Allen J. Frances (2015).

Frances aponta que a razão para isso é reforma psiquiátrica iniciada por Franco

Basaglia, na cidade de Trieste, nos anos 1970. Basaglia começou a trabalhar para

que o tratamento de pessoas portadoras de transtornos mentais se tornasse mais

humanizado, dando fim ao isolacionismo, às violações de Direitos Humanos e

buscando minimizar o preconceito sofrido por essas pessoas no retorno à vida em

sociedade (SADE, 2014). A experiência italiana serviu de exemplo para vários

países que buscam melhorias em seus sistemas de atendimento e prevenção de

transtornos mentais, tendo a OMS incorporado alguns de seus elementos no Plano

Integral de Saúde Mental da OMS 2013-2020.

7.5. Sudão do Sul

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O Sudão do Sul, por ter enfrentado um período de conflito entre sua

população, encontra dificuldades para atender as necessidades dos portadores de

sofrimento mental. Além disso, como já apontado anteriormente, o contexto de

guerra prejudica a saúde mental dos habitantes da região afetada e eleva a taxa de

desenvolvimento de transtornos mentais. O relatório “‘Our Hearts Have Gone Dark'”

(“Nossos Corações Escureceram”, tradução nossa) da Anistia Internacional, relata

as dificuldades dos sul-sudaneses em lidar com sua saúde mental em um cenário

como o atual. A participação da delegação visará propor iniciativas a serem incluídas

no novo plano de ação para elevar a saúde mental em um ambiente de risco, isto é,

onde é maior a propensão para se desenvolver um transtorno mental.

8. QUESTÕES RELEVANTES PARA O DEBATE

O que pode ser feito para combater o preconceito e a estigmatização de

pessoas portadoras de transtornos mentais?

Como reduzir a lacuna existente no que diz respeito ao tratamento de

transtornos mentais e promoção da saúde mental entre os países?

Como melhorar a situação dos grupos vulneráveis nos próximos dez anos?

Quais iniciativas devem ser tomadas para evitar que portadores de sofrimento

mental sofram violações de Direitos Humanos?

Como reduzir a taxa de autoextermínio em países acima da média global

(10,6 por cem mil habitantes)?

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Anexo I

Tipos de transtornos mentais, comportamentais e neurodesenvolvimentais

apresentados na Classificação Internacional de Doenças 11, publicada em 2018,

apresentando descrição adaptada de cada tipo de patologia e alguns exemplos.

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TIPO DESCRIÇÃO EXEMPLOS

Transtornos neurodesenvolvimentais

Transtornos comportamentais e cognitivos que surgem no período de desenvolvimento, envolvendo problemas intelectuais, motores e sociais. Por mais que outras doenças podem apresentar tais transtornos, apenas aquelas que os têm como sintomas centrais se enquadram neste grupo.

Espectro do autismo, hiperatividade, distúrbio de motricidade orofacial.

Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos

Caracterizados por deficiências na percepção da realidade e alterações no comportamento. Apresentam sintomas como ilusões, alucinações persistentes e dificuldades psicomotoras.

Esquizofrenia, transtorno da personalidade esquizotípica.

Catatonia Síndrome envolvendo dificuldades psicomotoras que é caracterizada por uma série de sintomas como agitação psicomotora; catalepsia; maneirismos; ecolalia e ecopraxia.

Catatonia.

Transtornos de humor

Definidos de acordo com tipos de humor e seu padrão com o tempo. Os episódios de humor primários são: depressivo, maníaco, misto e hipomaníaco.

Depressão, transtorno bipolar.

Ansiedade e transtornos associados ao medo

Transtornos caracterizados por episódios de medo (reação a uma possível ameaça do presente) e/ou ansiedade (reação a uma possível ameaça do futuro) excessivos que são severos o bastante para resultar em angústia no meio social.

Ansiedade, síndrome do pânico, agorafobia, transtorno da ansiedade social.

Obsessão compulsiva e outros transtornos relacionados

Caracterizados por pensamentos (especialmente os intrusivos) e comportamentos repetitivos. Aqui também se incluem os transtornos que envolvem ações repetitivas sem esforço cognitivo, que podem prejudicar a performance do indivíduo em outras atividades.

Hipocondría, transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

Transtornos associados especificamente ao estresse

Especialmente associados a um ou mais episódios traumatizantes e/ou estressantes, recorrentes ou isolados. Nem todos aqueles que enfrentarem tais experiências desenvolverão os transtornos, mas somente aqueles que viveram episódios desse tipo as desenvolvem.

Estresse pós-traumático, distúrbio de luto prolongado.

Transtornos dissociativos

Caracterizados por perturbações involuntárias ou descontinuidade da integração normal de um ou mais dos seguintes: identidade, sensações, percepções, pensamentos, memórias, controle sobre movimentos do corpo ou comportamento.

Amnésia dissociativa, transtorno dissociativo de identidade.

Transtornos alimentares

Doenças relacionadas ao ato de comer ou de alimentar um terceiro que não são explicados por nenhuma outra condição de saúde nem aceito culturalmente. Não incluem somente transtornos decorrentes de problemas com a própria imagem e/ou peso, mas também transtornos envolvendo consumo de substâncias não comestíveis ou regurgitação voluntária.

Anorexia nervosa, bullimia nervosa, alotriofagia, transtorno da ruminação e regurgitação.

Transtornos da excreção

Transtornos envolvendo emissão involuntária de urina (enurese) e a passagem repetida das fezes em locais inapropriados (encoprese). São considerados transtornos a partir da idade que é esperado que o indivíduo desenvolva capacidade de continência de sua excreção (cinco anos para enurese e quatro para encoprese).

Enurese, encoprese.

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Transtornos de angústia com o corpo

Associados à experiência do indivíduo com seu próprio corpo.

Disforia de integridade do corpo.

Transtornos devidos a abuso de substância ou comportamentos viciantes

Resultantes do uso abusivo de, principalmente, substâncias psicoativas, incluindo medicamentos, além de drogas ilícitas e substâncias lícitas como café e álcool, ou comportamentos repetitivos que são recompensadores, como vício em apostas e jogos digitais.

Compulsão em apostas, alcoolismo.

Transtorno de controle de impulsos

Caracterizado por falhas repetidas a resistir a impulsos. Envolvem comportamentos incluindo roubos e furtos, comportamento sexual, entre outros.

Piromania, cleptomania, transtorno explosivo intermitente.

Comportamento disruptivo ou transtorno dissociativo

Caracterizados por persistente comportamento desafiador, desobediente, maldoso, provocativo. Comportamentos que frequentemente violam direitos básicos de terceiros e/ou regras e normas de uma sociedade. Desenvolvidos comumente durante a infância.

Transtorno opositivo desafiador, transtorno de conduta.

Transtornos de personalidade

Caracterizados por problemas no funcionamento de aspectos do indivíduo (como identidade) e/ou disfunções interpessoais (incapacidade de se relacionar e/ou de compreender diferentes pontos de vista). Pode variar de transtornos leves a transtornos severos.

Transtorno de personalidade, padrão Borderline.

Transtornos parafílicos

Transtornos caracterizados por padrões intensos e persistentes de atípicas excitações sexuais, manifestados por pensamentos, fantasias, e desejos que podem incluir outros que, por idade ou estado, não são capazes de consentir o ato sexual.

Transtorno pedofílico, voyeurismo, frotteurismo.

Transtornos factícios

Caracterizados pela falsificação, indução ou agravamento intencional de uma condição médica, psicológica ou comportamental em si mesmo ou em outra pessoa (comumente uma criança dependente).

Síndrome de Münchhausen.

Transtorno neurocognitivo

Caracterizados principalmente por déficits cognitivos que não são apresentados no momento do nascimento, mas adquiridos com o passar do tempo, representando um declínio de um nível de funcionamento cognitivo anterior. Outras doenças provocam déficits cognitivos (esquizofrenia, por exemplo), mas somente aquelas que têm esse fator como principal são colocadas neste grupo.

Delírio, demência, amnésia.

Transtornos mentais ou comportamentais associados a gravidez, parto ou pós-parto

Transtornos associados à gravidez ou ao período pós-parto (até seis semanas após o parto) que envolvem significativas características mentais e comportamentais.

Depressão pós-parto.

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LISTA DE DELEGAÇÕES

Alto Comissariado das Nações

Unidas para Refugiados (ACNUR) Anistia Internacional Banco Mundial

Comunidade da Austrália

Conselho de Direitos

Humanos das Nações

Unidas

Estado da Palestina

Estados Unidos da América Federação Russa Japão

Médicos Sem Fronteiras Reino Hashemita da

Jordânia

Reino Unido da Grã-

Bretanha e Irlanda do

Norte

Reino da Suécia Reino do Butão República Árabe da Síria

República Centro-Africana República da África do

Sul República da Angola

República de Belarus República da Coreia República da Guiné-

Equatorial

República da Índia República da Indonésia República Islâmica do

Paquistão

República da Turquia República de Cuba República Democrática

Federal da Etiópia

República do Chade República do Equador República do Haiti

República do Iêmen República do Sudão do

Sul República do Suriname

República do Zimbábue República Federativa da

Alemanha

República Federativa do

Brasil

República Francesa República Islâmica da

Mauritânia República Islâmica do Irã

República Italiana República Oriental do

Uruguai

República Popular da

China

República Popular Democrática da

Argélia

República Popular do

Bangladesh Ucrânia