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Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Lidiane Pereira Raposo de Menezes
Suicídio e Ocupação: análise das publicações no Brasil
Rio de Janeiro
2016
3
Lidiane Pereira Raposo de Menezes
Suicídio e Ocupação: análise das publicações no Brasil Trabalho de Conclusão do Curso apresentado ao curso de Especialização em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/FIOCRUZ) como requisito parcial para a obtenção do Título de Especialista em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Orientadora: Dra. Dayse Assunção Miranda
Rio de Janeiro
2016
2
M543s Menezes, Lidiane Pereira Raposo de
Suicídio e Ocupação: análise das publicações no Brasil/ Lidiane
Pereira Raposo de Menezes — 2016. 79 f.: il. Orientadora: Prof.a Dra. Dayse Assunção Miranda Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Saúde do
Trabalhador e Ecologia Humana) – Fundação Oswaldo Cruz. Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2016. 1. Suicídio. 2. Polícia. 3. Militares. 4. Trabalho. 5. Saúde do
Trabalhador. 6. Riscos Ocupacionais. I. Título.
CDD: 362.28
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por permitir que se conclua mais uma importante
etapa em meu percurso acadêmico.
Agradeço à minha mãe, Nídia Mara, pelo apoio constante e pela força nos
momentos de cansaço. Seu carinho e suas palavras de conforto me deram grande
motivação para prosseguir.
Agradeço ao meu esposo, Anderson, que mesmo se privando da minha presença e
atenção, manteve seu apoio e compreensão.
Agradeço à minha orientadora, Dayse Miranda, por toda dedicação, disponibilidade
e compreensão diante dos obstáculos que surgiram ao longo da realização deste
trabalho. Pela aposta e defesa da qualidade do mesmo.
Agradeço ao Pablo Nunes, pela colaboração e imensa disponibilidade no ensino do
uso do software NVIVO 11 e de outras ferramentas da informática, necessárias para
execução desta pesquisa.
Agradeço aos amigos e aos colegas do curso, que contribuíram para as reflexões
aqui presentes.
Agradeço às instituições que possibilitaram a realização deste Curso de
Especialização – Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e Fundação
Oswaldo Cruz – e aos atores institucionais envolvidos nesta parceria, pela
oportunidade de aprimorar meus conhecimentos em um tema de tamanha
relevância, que com certeza propiciará benefícios para a PMERJ.
Agradeço também aos encontros clínicos com os pacientes, que me fizeram
repensar o tema do suicídio e, com suas dores e angústias, motivaram a realização
deste estudo.
5
Muito já se mostrou com relação à
importância do trabalho para a construção
da saúde, ou ainda para colocá-la em risco.
Risco esse, sobretudo, quando as pessoas
perdem a sua capacidade de pensar sobre o
seu trabalho, de refletir, principalmente de
construir coletivamente pontos de vista e
espaços de troca, de cooperação, que os
ajudem a se apropriar do desejo de
trabalhar, de mudar, de recuperar o poder de
agir sobre a maneira como o trabalho é
organizado, numa dinâmica que leve à
emancipação.
SZNELWAR, LANCMAN &UCHIDA, 2010,
p.10
6
RESUMO O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, reconhecido mundialmente como um problema de saúde pública. Estimativas da Organização Mundial de Saúde apontam que no ano 2000 cerca de 815 mil pessoas cometeram suicídio no mundo e, em 2020, aproximadamente 1,53 milhões de pessoas morrerão por suicídio. Estudos internacionais investigaram as estatísticas do fenômeno em ocupações específicas e os fatores ocupacionais. A categoria policial é tradicionalmente apontada como uma das que apresentam alto risco, diante a frequente exposição à violência, sobrecarga de trabalho e fácil acesso a meios letais. No Brasil ainda são escassos os trabalhos sobre suicídio e o risco ocupacional. O presente estudo visa compreender como a literatura nacional aborda o tema suicídio ocupacional, em particular, o comportamento suicida entre policiais. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica entre os anos de 1980 e 2014. Foram feitas buscas nas bases de dados Scielo Brasil, Capes e Google Scholar (Google Acadêmico) por meio da combinação da palavra “suicídio” e categorias ocupacionais, indicadas pela literatura internacional. Também foram utilizadas as combinações de palavras suicídio e ocupação, suicídio e trabalho, suicídio e risco ocupacional, suicídio e profissão. A pesquisa levantou 17 publicações nas áreas de Administração, Enfermagem, Medicina, Psicologia, Psiquiatria, Saúde Pública, Saúde Coletiva, Saúde Ocupacional e Sociologia, sendo Medicina e Psicologia as áreas com maior número de publicações, com três estudos cada uma. A organização e a análise do conteúdo coletado foram processadas por meio do programa N VIVO versão 11, software de análise de dados qualitativos. A pesquisa revelou que o processo de trabalho, a forma como ele é organizado, e as características de ocupações específicas, por exemplo, o elevado estresse e desgaste emocional e físico decorrente de cobranças excessivas, bem como a precarização e instabilidade no emprego, são fatores associados ao suicídio de trabalhadores, especialmente entre médicos e estudantes de medicina, bancários e policiais. Palavras-chave: Suicídio; Trabalho; Sofrimento no Trabalho; Organização do Trabalho; Saúde do Trabalhador.
7
Suicide is a complex and multifaceted phenomenon, recognized worldwide as a public health problem. World Health Organization estimates that in 2000 about 815,000 people committed suicide in the world and, in 2020, approximately 1.53 million people will die by suicide. International studies have investigated the phenomenon of statistics in specific occupations and occupational factors. The police category is traditionally identified as one of those at high risk, given the frequent exposure to violence, work overload and easy access to lethal means. In Brazil, there are few studies on suicide and occupational risk. This study aims to understand how the national literature approaches the topic occupational suicide, particularly suicidal behavior among police officers. This is a literature between the years 1980 and 2014. Searches were made in the following databases: SCIELO Brazil, Capes and Google Scholar using combinations with the word "suicide" and occupational categories listed in the international literature. They were also used combinations of words suicide and occupation, suicide and work, suicide and occupational risk, suicide and profession. The survey raised 17 publications in the areas of Administration, Nursing, Medicine, Psychology, Psychiatry, Public Health, Collective Health, Occupational Health and Sociology, Psychology and Medicine were the areas with the highest number of publications, with three studies each one. The organization and analysis of the content collected were processed through the N VIVO program 11version, software analysis of qualitative data. The survey revealed that the work process, how it is organized and specific occupations characteristics, for example, high stress and emotional and physical exhaustion due to overcharging, the precariousness and instability in employment, are factors associated with suicide workers, especially among doctors and medical students, bank and police. Keywords: Suicide; Work; Suffering at Work; Labor Organization; Occupational Health.
ABSTRACT
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 - Relação de Profissões e Ocupações Específicas Selecionadas.... 28
Quadro 2 - Resultado da busca de publicações abordando a relação entre
"suicídio e ocupações específicas..................................................
32
Quadro 3 - Resultado da busca de publicações abordando as relações entre
"Suicídio e Ocupação"; "Suicídio e Trabalho"; "Suicídio e Risco
Ocupacional" e "Suicídio e Profissão".............................................
33
Quadro 4 - Relações "Suicídio e Ocupação"; Suicídio e Trabalho; Suicídio e
Risco Ocupacional e Suicídio e Profissão", SCIELO BRASIL e
SCHOLAR, 1980-2014....................................................................
35
Gráfico 1 - Frequência do número de publicações por períodos de 5 anos…. 38
Gráfico 2 - Relação de artigos sobre o tema, publicados no SCIELO,
BRASIL e no SCHOLAR por área de conhecimento, 1980-2014...
39
Figura 1 - Conteúdo completo dos artigos....................................................... 40
Figura 2 - Resumos dos artigos....................................................................... 41
Figura 3 - Árvore de palavras para a palavra sofrimento em todos os
resumos...........................................................................................
43
Figura 4 - Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados
nos artigos sobre policiais...............................................................
43
Figura 5 - Nuvem de palavras mais frequentes nos resumos dos artigos
sobre bancários...............................................................................
45
Figura 6 - Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item processo de
trabalho os artigos sobre bancários................................................
46
Figura 7 - Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item resultados
nos artigos sobre bancários............................................................
48
Figura 8 - Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item fatores
associados nos artigos sobre bancários.........................................
49
Figura 9 - Nuvem de palavras mais frequentes nos resumos dos artigos
sobre policiais..................................................................................
51
Figura 10 - Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item processo de
trabalho nos artigos sobre policiais.................................................
53
Figura 11 - Palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos
sobre policiais..................................................................................
54
9
Figura 12 - Palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos
artigos sobre policiais......................................................................
56
Figura 13 - Palavras mais frequentes nos resumos dos artigos sobre
profissionais de saúde.....................................................................
58
Figura 14 - Palavras mais frequentes a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre profissionais de saúde........................................
59
Figura 15 - Palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos
sobre profissionais de saúde...........................................................
61
Figura 16 - Palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos
artigos sobre profissionais de saúde...............................................
62
Figura 17 - Nuvem de palavras mais frequentes nos resumos dos artigos
sobre suicídio e trabalho.................................................................
64
Figura 18 - Palavras mais frequentes a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre suicídio e trabalho...............................................
65
Figura 19 - Palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos
sobre suicídio e trabalho.................................................................
67
Figura 20 - Palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos
artigos sobre suicídio e trabalho......................................................
69
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Porcentagens das palavras no conteúdo completo dos
artigos..............................................................................................
40
Tabela 2 - Porcentagens das palavras nos resumos dos
artigos.............................................................................................
41
Tabela 3 - Porcentagens das palavras nos resumos dos artigos sobre
bancários.........................................................................................
45
Tabela 4 - Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre bancário.............................................................
47
Tabela 5 - Porcentagens das categorias a partir do item resultados nos
artigos sobre bancários...................................................................
48
Tabela 6 - Porcentagens das Palavras a partir do item fatores associados
nos artigos sobre bancários............................................................
50
Tabela 7 - Porcentagens das categorias nos resumos dos artigos sobre
policiais............................................................................................
52
Tabela 8 - Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre policiais...............................................................
53
Tabela 9 - Porcentagens das palavras a partir do item resultados nos artigos
sobre policiais..................................................................................
54
Tabela 10 - Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados
nos artigos sobre policiais...............................................................
56
Tabela 11 - Porcentagens das palavras nos resumos dos artigos sobre
profissionais de saúde.....................................................................
58
Tabela 12 - Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre profissionais de saúde.......................................
60
Tabela 13 - Porcentagens das palavras a partir do item resultados nos artigos
sobre profissionais de saúde..........................................................
61
Tabela 14 - Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados
nos artigos sobre profissionais de saúde.......................................
63
Tabela 15 - Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre suicídio e trabalho...............................................
64
Tabela 16 - Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho
nos artigos sobre suicídio e trabalho...............................................
65
11
Tabela 17 - Porcentagens das palavras a partir do item resultados nos artigos
sobre suicídio e trabalho.................................................................
67
Tabela 18 - Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados
nos artigos sobre suicídio e trabalho...............................................
69
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13
1.1 O PROBLEMA ............................................................................................... 14
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 15
2 OBJETIVOS .................................................................................................. 17
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 17
3 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 18
3.1 A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR ................ 18
3.2 SUICÍDIO E RISCO OCUPACIONAL ........................................................... 20
4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 28
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 32
5.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO POR CATEGORIA PROFISSIONAL .................. 44
5.1.1 Bancários ...................................................................................................... 44
5.1.2 Policiais ........................................................................................................ 50
5.1.3 Profissionais de Saúde ............................................................................... 57
5.1.4 Categorias Gerais ....................................................................................... 63
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 71
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 75
13
1 INTRODUÇÃO
A concepção da saúde como um dever do Estado e um direito garantido a
todos os cidadãos (BRASIL, 1998), independente de sua condição de trabalhador
com carteira assinada, é uma conquista recente na história brasileira, fruto de um
longo processo político de luta de diferentes movimentos sociais. Essa conquista
vem sendo reafirmada por outras regulamentações que buscam efetivar os
princípios do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2010; 2011; 2012).
Ao longo dos anos 70 e 80 os movimentos sociais cresceram e foram
ganhando maior expressão. Estes movimentos lutavam especialmente pela
democracia, pela liberdade de expressão e pela igualdade de direitos (CRUZ, 2011).
Dentre esses movimentos estava o movimento pela Reforma Sanitária Brasileira,
pautado em uma concepção ampliada de saúde, que inclui fatores como a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda,
a educação, entre outros (BRASIL, 1990). Neste mesmo contexto ganha força o
movimento da Saúde do Trabalhador, inspirado no Movimento Operário Italiano da
década de 60. Este movimento envolveu trabalhadores organizados e profissionais
da área da saúde e da educação na luta por melhores condições de vida e pela
modificação das condições de trabalho, geradoras de adoecimento (DIAS et al.,
2012).
No Brasil o campo da Saúde do Trabalhador foi se constituindo inserido na
área da Saúde Pública. A Saúde do Trabalhador tem como foco as relações de
produção-consumo, considerando o trabalho como organizador da vida social e
determinante do processo saúde-doença e da degradação ambiental (DIAS et al.,
2012). Nesta perspectiva, o campo da Saúde do Trabalhador atenta para a relação
trabalho e saúde, afirmando o direito à dignidade no trabalho, a participação dos
trabalhadores nos processos decisórios, bem como a atenção integral à sua saúde.
Com a aprovação da Constituição Federal de 1988 e a criação do Sistema
Único de Saúde (SUS), em 1990, as ações de saúde do trabalhador são inseridas
nas políticas de saúde do país e passam a fazer parte de seu novo arcabouço
jurídico-institucional (BRASIL, 1988; 1990). Entretanto a efetivação das ações de
vigilância nos ambientes de trabalho, bem como de promoção da saúde do
trabalhador ainda representa um desafio. Algumas categorias profissionais são
marcadas por elevado sofrimento e parecem mais afetadas por fatores de desgaste,
14
como ambiente de competição e desconfiança entre pares, cobranças excessivas,
longas jornadas de trabalho e riscos à integridade física (DEJOURS; BÈGUE, 2010).
Neste contexto, os trabalhadores podem estar mais expostos a problemas
emocionais, atingindo níveis extremos de sofrimento e desesperança. Dejours e
Bègue afirmam que o cenário pode se tornar tão deletério ao ponto de contribuir
para a ocorrência de suicídios no próprio ambiente de trabalho. Considerando que
um único caso de suicídio afeta cerca de outras seis pessoas em média, quando um
suicídio ocorre no local de trabalho, o impacto pode ser ainda maior (OMS, 2000a) e
as consequências imensuráveis.
1.1 O PROBLEMA
O suicídio é considerado atualmente como um fenômeno multidimensional,
que resulta de uma interação complexa entre fatores ambientais, sociais, biológicos
e psicológicos. É reconhecido mundialmente como um problema de saúde pública e
representa uma das três maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 35 anos
(OMS, 2000b). Estima-se que no ano 2000 cerca de 815 mil pessoas tenham
cometido suicídio em todo o mundo (OMS, 2002) e que em 2020 aproximadamente
1,53 milhões de pessoas morrerão por suicídio (OMS, 1999). O suicídio pode gerar
grande impacto psicológico e social para as pessoas mais próximas das vítimas.
No Brasil dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério
da Saúde (SIM/MS), apontam que 205.990 pessoas morreram por suicídio no
período de 1980 a 2009 A taxa oficial de mortalidade por suicídio era estimada em
3,3 por 100 mil para a população geral em 1980, chegando a 5,1 por 100 mil
habitantes no ano de 2011 (SIM/MS). A taxa aumentou em 56%. Diferentes estudos,
nacionais e internacionais, identificaram fatores demográficos, como gênero e faixa
etária, de grupos com taxas de suicídio mais elevadas (GUIMARÃES, 2012). A
presença de transtornos mentais, isolamento social, perdas recentes, dinâmica
familiar conturbada e traços de impulsividade e agressividade (BRASIL, 2006)
também são fatores de risco de morte de suicídio segundo estudos nacionais e
internacionais.
Estudos internacionais, especialmente da literatura anglo-saxônica do século
XX, investigaram a possível relação entre suicídio e fatores ocupacionais. Stack
(2001), por exemplo, buscou identificar as características ocupacionais que
15
poderiam tornar o trabalhador mais vulnerável ao suicídio, como elevado estresse
ocupacional e facilidade de acesso a meios letais. Embora tais estudos tenham
apontado ocupações com taxas de suicídio elevadas, como policiais, executivos,
químicos, fazendeiros e agentes de segurança (STACK, 2001; BOXER, BURNETT,
SWANSON, 1995), ainda não é possível afirmar que essas ocupações apresentam
maior risco.
As características sócio-demográficas das vítimas de suicídio dentro de
uma determinada categoria ocupacional devem ser levadas em consideração
no momento em que são feitas as comparações com outro grupo, de forma a
produzir análises mais confiáveis. Deste modo, há diferentes fatores
correlacionados às taxas de suicídio elevadas nestas ocupações, como a
composição demográfica do grupo estudado, a presença concomitante de
transtornos psiquiátricos, a facilidade de acesso a meios letais e o estresse
ocupacional (BOXER; BURNETT; SWANSON, 1995). Estes fatores não foram
considerados em alguns estudos, o que pode ter contribuído para a ausência de
consenso na literatura internacional diante da possível relação entre suicídio e
ocupação (BOXER; BURNETT; SWANSON, 1995).
No Brasil essa discussão parece crescer lentamente. Dos 113 estudos
recuperados do período de 1980 a 2014, o presente estudo identificou 17 artigos
publicados abordando a relação entre suicídio e ocupação.
1.2 JUSTIFICATIVA
Dados internacionais apontam a profissão policial como uma das categorias
com elevadas taxas de suicídio (STACK, 2001). Estudos nacionais destacam o
elevado sofrimento psíquico neste grupo e o alto índice de uso de substâncias
psicoativas. O policial vivencia um cotidiano de trabalho conturbado, com frequente
exposição à violência e conflitos nas relações interpessoais, tanto no ambiente de
trabalho, quanto no convívio familiar e social. O policial lida com frequente
sobrecarga de trabalho e vivencia tensões com o Poder Judiciário, em virtude de
atos cometidos no exercício de sua função que podem ser considerados crimes
(SOUZA et. al., 2012).
Além disso, estudos sobre suicídio e fatores ocupacionais, especialmente
com foco na condição policial e perspectiva da saúde do trabalhador, ainda são
16
escassos no Brasil. Nesse sentido, este trabalho se justifica pela relevância do tema
para o campo da Saúde do Trabalhador, bem como pela importância de buscar dar
visibilidade ao problema e fomentar a realização de novas pesquisas na área,
apresentando o estado da arte, no que se refere às publicações nacionais que
abordam a relação entre suicídio e ocupação e possíveis associações entre suicídio
e características ocupacionais da profissão policial.
17
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Investigar como a literatura brasileira aborda os temas suicídio ocupacional e
suicídio policial.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar quais revistas científicas publicaram o assunto no período de 1980
a 2014;
Mapear as áreas de conhecimento das publicações;
Investigar como os temas suicídio e ocupação e suicídio policial são
abordados pela literatura pesquisada.
18
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR
Ao abordar o processo que originou o campo da Saúde do Trabalhador no
Brasil é relevante contextualizar os fatores que contribuíram para este processo.
Para tanto, recorre-se às análises de Dias e colaboradores (2012a), que retomaram
o surgimento da Medicina do Trabalho, na Inglaterra na primeira metade do século
XIX. Este campo surge associado à Revolução Industrial, tendo como principal
finalidade a manutenção do funcionamento do processo produtivo diante de um
quadro de intenso adoecimento e morte dos trabalhadores, mão-de-obra necessária,
que deveria ser minimamente preservada para a manutenção do sistema.
A Medicina do Trabalho trazia apenas a atuação do médico, como alguém de
confiança do empresário, a serviço dele para aprimorar o controle da força de
trabalho. Essa área foi se expandindo pelos outros países nos quais se ampliava o
processo de industrialização e órgãos da área foram criando recomendações e
delineando as atribuições da medicina do trabalho. O interesse deste campo era
principalmente a redução dos riscos decorrentes do trabalho por meio de ações
educativas com os trabalhadores e a adaptação física e mental dos mesmos,
distribuindo-os em função de suas aptidões específicas, o que impunha restrições ao
processo seletivo, de forma a garantir a eficiência da produção.
Mesmo com esta atuação, após a II Guerra Mundial, os efeitos das ainda
precárias condições de trabalho permaneciam contribuindo para morte e
adoecimento dos trabalhadores. Os empresários e as companhias de seguro
passaram a sentir os custos dessa situação ao mesmo tempo em que cresceu a
insatisfação dos trabalhadores. Tal quadro forçou a ampliação da atuação médica
para ações no ambiente de trabalho com auxílio de outros campos de saber,
configurando o campo da Saúde Ocupacional, que embora se propusesse a
desenvolver uma atuação interdisciplinar, não a efetivou, e manteve o
distanciamento em relação aos trabalhadores, que continuavam sendo objeto das
práticas de saúde ocupacional (DIAS et al., 2012a).
Notava-se a insuficiência desta proposta, em termos de capacitação,
produção de conhecimento e tecnologias de intervenção, por não acompanhar o
19
ritmo das profundas transformações no mundo do trabalho associadas ao
crescimento do setor de serviços e à intensificação do uso da automação.
Os movimentos libertários das décadas de 60 e 70 fortaleceram as
discussões sobre a determinação social do processo saúde-doença e a busca pela
participação dos trabalhadores nos processos decisórios em saúde e segurança,
impulsionando mudanças na legislação relacionada ao trabalho. No Brasil o
movimento sindical, influenciado pelo movimento operário Italiano da década de 60,
foi de grande importância para a constituição do campo da saúde do trabalhador, em
um contexto de luta pela democracia e pela garantia da saúde como direito de todos,
no final dos anos 70 e início dos anos 80.
Houve também importante influência da Medicina Social Latino-Americana
sobre o Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira, com a concepção ampliada de
saúde, que inclui fatores como alimentação, moradia, saneamento básico, meio
ambiente, trabalho e renda. Neste contexto foi se constituindo dentro da saúde
pública o campo da Saúde do Trabalhador no Brasil, com foco na promoção de
transformações nos processos produtivos, de modo que produzam saúde e não
adoecimento. Este campo aponta o trabalho como organizador da vida social, que é
espaço de submissão do trabalhador pelo capital, mas também de resistência e
criação por parte dos trabalhadores (DIAS et al., 2012a).
A especificidade da Saúde do Trabalhador em relação aos campos da
Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional consiste na inclusão dos
trabalhadores como agentes de mudanças, com potencial para intervir e alterar
realidades do processo de trabalho. Com a criação da Constituição Federal de 1988
e do Sistema Único de Saúde, em 1990, as ações de saúde do trabalhador ganham
legitimidade e passam a estar inseridas nas políticas de saúde do país. Ao longo dos
anos, outros instrumentos normativos foram criados para efetivar e aprimorar as
ações de saúde do trabalhador no SUS, como a Norma Operacional de Saúde do
Trabalhador, em 1998; a Portaria GM/MS n. 1.679, de 2002, que instituiu a Rede
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador; a Política Nacional de Saúde
do Trabalhador, lançada em 2011, entre outros (DIAS et al., 2012b).
Entretanto, ainda há muitos desafios para a implementação da atenção
integral à saúde do trabalhador e para a redução dos níveis de sofrimento associado
ao trabalho. Uma das contribuições para isso é a realização de novos estudos que
aprofundem as análises da relação saúde-trabalho. A relação entre suicídio e risco
20
ocupacional é um dos temas associados às questões de saúde do trabalhador que
vem ganhando destaque na literatura internacional e nacional. Esse tema será
abordado nos próximos itens.
3.2 SUICÍDIO E RISCO OCUPACIONAL
Estudos internacionais de revisão bibliográfica publicados na década de 90
apontam a ausência de um padrão no comportamento da taxa de suicídio de
categorias ocupacionais específicas (STACK, 2001). Algumas profissões foram mais
citadas como de maior risco, como médicos, agentes de segurança, dirigentes,
gerentes, executivos, químicos e fazendeiros (GUIMARÃES, 2012). As
características ocupacionais identificadas como possíveis fatores de risco nessas
profissões são as longas jornadas de trabalho e o fácil acesso a meios letais. Outro
trabalho de 2002 apontou dentistas, artistas, maquinistas, mecânicos de automóvel
e carpinteiros como categorias de maior risco, em comparação com a população
economicamente ativa (GUIMARÃES, 2012).
Mesmo com esses resultados não é possível afirmar que a ocupação por si só
aumenta o risco de suicídio, pois há outros fatores que devem ser considerados.
Alguns destes fatores estão associados aos aspectos laborais, como a facilidade de
acesso a meios letais ou os altos níveis de estresse ocupacional. Outros fatores
podem ter relação com a composição demográfica do grupo estudado, ou com a
presença concomitante de transtornos psiquiátricos, mais do que a especificidade
das características da ocupação. (BOXER; CAROL; NAOMI, 1995).
A ausência de consenso entre estudos internacionais está relacionada
principalmente a problemas metodológicos, como o fato de não serem controladas
as variáveis demográficas ou pelo fato desses trabalhos realizarem comparações
entre intervalos de tempo longos. Além disso, muitas pesquisas são criticadas pela
generalização de seus resultados em função do reduzido de casos analisados
(STACK, 2001).
Ainda que os referidos achados variem muito de um estudo para outro, os
profissionais de segurança são mencionados como um dos grupos de alto risco de
suicídio, em comparação com outras profissões e com a população geral
(GUIMARÃES, 2012). Entre dezoito trabalhos internacionais sobre suicídio policial,
21
onze identificaram taxa elevada, três encontraram taxa dentro da média e quatro
encontraram taxa de suicídio abaixo a taxa da população geral (STACK, 2001).
Os fatores associados ao alto risco de suicídio entre policiais são: elevado
estresse ocupacional; conflitos organizacionais, como a rigidez na relação
hierárquica e a ambiguidade de políticas institucionais; fácil acesso à arma de fogo;
estar exposto, continuamente, a situações de morte e violência; a percepção
negativa de sua imagem pública e a cultura institucional que retarda a busca de
apoio para conflitos emocionais e alterações psicológicas (GUIMARÃES, 2012).
No Brasil, ainda há poucos trabalhos sobre o tema. Guimarães (2012)
calculou o risco de morte por suicídio a partir dos dados de mortalidade do Sistema
de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS), e classificou
grupos ocupacionais de maior e menor risco. Algumas ocupações classificadas por
este estudo como de maior risco, com taxas de suicídio quase duas vezes superior à
taxa média nacional, também haviam sido destacadas pela literatura internacional.
São elas: policiais, farmacêuticos, veterinários e trabalhadores agrícolas. Um
aspecto comum a estas categorias é o acesso ao meio letal facilitador. Porém o
mesmo estudo encontrou taxas relativamente baixas, próximas à média nacional,
para médicos, enfermeiros e químicos, que também possuem fácil acesso a meios
letais.
Um segundo estudo recente sobre o tema foi realizado em 2011 na Polícia
Militar do estado do Rio de Janeiro. Miranda (2012), ao analisar dados oficiais de
mortes de policiais militares, verificou que no ano de 2008 a taxa de suicídio na
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) foi 2,5 vezes superior à
encontrada na população geral do estado. E em 2009, foi 6,6 vezes superior.1
Esses trabalhos também apresentam limitações metodológicas. A
subnotificação é um dos maiores entraves para se chegar a dados mais confiáveis
sobre suicídio e ocupação no Brasil. A variável “ocupação” é classificada pelo
SIM/MS) como secundária. Esse fato faz da variável ocupação um dado de menor
relevância em comparação a sexo e idade. No período de 2000 a 2009, por
exemplo, o percentual da perda de informação da variável ocupação esteve entre
11,91% e 37,94% (GUIMARÃES, 2012).
1 MIRANDA, D. “Risco Ocupacional: a condição do policial militar do estado do Rio de Janeiro”. Relatório
de Pesquisa sobre Suicídio, CNPQ: 2012.
22
O problema da subnotificação não se restringe aos casos de suicídio, ocorre
de forma mais abrangente em relação às causas violentas de óbito e envolve um
conjunto de fatores que vão além da falta de informações no SIM. Estudos apontam
que 87,1% do total de subnotificações se devem à classificação inadequada da
causa de morte (JESUS; MOTA, 2010).
A dificuldade para obtenção de dados completos e fidedignos sobre as
causas de mortes violentas está associada a problemas em toda a rede composta
pelas delegacias de polícia, serviços de emergência e departamentos de polícia
técnica, que passam pelo preenchimento inadequado das declarações de óbito, com
imprecisões e subnotificação de causas, além do mau preenchimento da guia de
solicitação de necropsia (JESUS; MOTA, 2010).
. Além disso, nota-se um despreparo dos profissionais responsáveis pelo
registro de informações e resistência de legistas em registrar adequadamente as
informações da causa morte na declaração de óbito, além de problemas de
comunicação entre órgãos diferentes:
Alguns fatores que podem estar relacionados ao processo de subnotificação de causa violenta de morte [...] falhas no fluxo de encaminhamento do corpo para a necropsia; ausência de entrosamento entre os órgãos envolvidos com a notificação de mortes violentas; infraestrutura insuficiente em todas as instituições (JESUS; MOTA, 2010, p. 369).
Uma segunda limitação metodológica citada pela literatura está relacionada à
dificuldade no acesso às informações sobre o comportamento suicida em
organizações fechadas, como no caso da Polícia Militar. Tal dificuldade está
associada à resistência da instituição em fornecer os dados, mas também à falta de
organização sistematizada dos mesmos (GUIMARÃES, 2012).
Ocorre ainda a ocultação de situações de mortes por suicídios ou de
tentativas de suicídio, feita por pares, que mascaram o episódio de modo que seja
classificado como acidente ou ato de serviço. Essa ocultação funciona geralmente
como um mecanismo de proteção da família, para que não percam direitos
pecuniários, mas também pode estar relacionada ao estigma social em torno do
suicídio, fazendo com que seja ocultado (MIRANDA, 2012).
Estudos sobre suicídio entre policiais têm sido conduzidos no Brasil e trazem
muitas contribuições para a presente pesquisa. Um deles foi feito por Almeida (2013)
23
com recrutas de ambos os sexos e idades entre 21 e 49 anos, da Academia
Nacional de Polícia, da Polícia Federal. A pesquisadora encontrou os seguintes
temas associados ao suicídio entre policiais: depressão, desespero, morte,
infelicidade, baixa autoestima, tristeza, problemas, desamparo, solução, solidão e
sofrimento.
Almeida (2013) discute as taxas de suicídio elevadas nesta categoria
ocupacional e aponta alguns aspectos relevantes da atividade policial, que podem
contribuir para maior sofrimento emocional. A função do policial exige
frequentemente que ele alterne situações de extremos emocionais, como por
exemplo, usar a força e a agressividade diante de algum criminoso que ofereça
resistência, e, logo em seguida, ser solidário e acolhedor diante de uma vítima.
O policial lida com situações de extrema violência e testemunha de perto a
miséria humana, porém é cobrado dele que atue sem demonstrar emoções. Essa
atuação considerada neutra pode funcionar como um recurso para continuar
trabalhando, uma defesa psicológica para suportar as situações delicadas com as
quais precisa lidar. Entretanto, pode levar à frieza e distanciamento afetivo na
relação com as pessoas, gerando dificuldades para vivenciar/expressar certas
emoções em sua vida particular e até mesmo com os colegas de trabalho
(ALMEIDA, 2013).
Além disso, seu papel social requer muitas vezes objetividade para a
resolução de problemas. Entretanto há situações complexas que não são facilmente
resolvidas. Em muitos casos, o policial passa a julgar as situações como
dicotômicas, pela via do certo x errado, tanto em sua atuação profissional, quanto
em sua vida familiar e social. Geralmente cobra muito de si, pois se identifica com a
função de resolver problemas, e acaba restringindo as possibilidades de
encaminhamento de situações conflituosas.
Com o passar do tempo pode se tornar pouco flexível no trabalho e em sua
vida pessoal, comprometendo suas relações e acumulando o desgaste emocional
dos frequentes conflitos com os quais lida. Almeida (2013) destaca a percepção
constritiva como característica comum entre policiais e também como um dos
aspectos mais comuns no suicídio, que induz uma falha em processar alternativas
diante das tensões da vida. Neste contexto, diante de uma situação que não possa
ser controlada, ou que a princípio pareça sem solução, o suicídio pode ser visto
como a única saída possível. A facilidade de acesso à arma de fogo, instrumento de
24
alta letalidade, é um elemento importante que pode contribuir para saídas mais
radicais diante de problemas percebidos como insolúveis Almeida (2013).
Um quarto estudo que apresenta relevante contribuição é a dissertação de
Nogueira (2005). A autora, preocupada com o crescimento de suicídios entre
policiais militares no Brasil, buscou entender as razões para o fato e as possíveis
relações desse ato com o contexto profissional e com a história de vida dos que
cometeram. Seu objetivo foi investigar a influência da organização do trabalho do
policial militar na sua decisão de pôr fim à própria vida.
Ao abordar a complexidade do suicídio e seu caráter multicausal, a autora
destaca o fenômeno como resultado da confluência de condições psicossociais,
sendo necessário considerar o contexto histórico, cultural e econômico nos estudos
sobre o tema, bem como a singularidade de cada sujeito em questão. O
comportamento suicida pode ser precipitado por fatores situacionais, mas não pode
ser desvinculado da história do sujeito e, neste sentido, o trabalho por ele exercido é
um elemento importante, pois ocupa lugar de destaque na produção de
subjetividade no mundo contemporâneo (NOGUEIRA, 2005).
Entretanto a autora relata ter encontrado poucos estudos sobre a relação
entre suicídio e ocupação. Nesta literatura, as duas categorias profissionais mais
citadas como tendo altas taxas são as de policiais militares e profissionais de saúde.
Ao analisar reportagens sobre a saúde mental dos policiais militares no Brasil, ela
destaca a alta incidência de uso de drogas e o alcoolismo, e a associação da
violência policial ao seu estado psicológico, com elevada presença de impulsividade
descontrolada. As características apontadas nas reportagens que contribuiriam para
que os profissionais desenvolvessem problemas são má remuneração, pouco
treinamento, rigidez extrema das normas da corporação, vivência de tensão extrema
durante o trabalho e o fato de residir em regiões onde atuam quadrilhas organizadas
(NOGUEIRA, 2005).
Nogueira (2005) discute também um estudo realizado na Polícia Militar de
Minas Gerais, em 1981, apontando alguns possíveis aspectos associados ao
incremento do número de suicídios de seus integrantes. São eles, a característica
estressante do trabalho policial militar; a instabilidade de permanência em um
mesmo local de trabalho com transferências frequentes; a mudança repentina do
tipo de atividade exercida; a rotina massacrante do ambiente de trabalho,
principalmente para os que têm mais tempo de serviço; e desajustes familiares.
25
Fatores como estes também são destacados em estudos mais recentes como de
Guimarães (2012) e Souza e colaboradores (2012), já mencionados no presente
trabalho.
Nogueira cita ainda outras duas pesquisas feitas na mesma corporação em
1994 e 2000, buscando respectivamente, identificar o impacto das condições
relativas à organização do trabalho na saúde mental dos policiais e realizar um
diagnóstico da qualidade de vida e estresse no trabalho dos mesmos. Dentre os
resultados encontrados em ambos os estudos citados por Nogueira (2005), se
destacam: o clima organizacional, a carga horária e os inter-relacionamentos como
as maiores fontes de pressão e insatisfação, assim como os baixos salários e a
rigidez disciplinar. Além dos relatos de capacitação inadequada, relacionamento
hierárquico pouco satisfatório e problemas relativos às oportunidades de promoção
na carreira, que, somados os riscos inerentes à atividade policial, poderiam gerar
sobrecarga psíquica compatível com os quadros presentes nos contextos de
suicídio, ideação e tentativa.
Para Nogueira é relevante reafirmar que todos esses aspectos podem ser
extremamente adoecedores, ao considerarmos que as polícias militares de um
modo geral são instituições fechadas, com estilo gerencial pouco flexível, pouco
espaço para a criatividade e pouca valorização do desenvolvimento humano e
profissional. Organizações marcadas por relações de poder voltadas para anular
oposições e dominar subordinados.
Pereira (2015) também contribuiu para o debate, investigando como a
organização policial militar do Rio de Janeiro pode se tornar vulnerável à morte por
suicídio. O estresse presente na atividade policial foi identificado como um dos
fatores mais relevantes no risco de suicídio entre esse grupo. Para essa autora, o
risco de suicídio entre policiais sofre importante influência do tempo de
trabalho, isto é, do tempo de exposição ao risco e a situações estressoras.
Pereira encontrou entre os policiais com manifestações suicidas alguns
fatores em comum: situações de estresse, exposição à violência, abusos sofridos no
interior da corporação, desenvolvimento de doenças físicas e psíquicas,
transferência de unidade por problemas de saúde, pouco interesse ou pouco prazer
nas atividades de trabalho no último ano, ter sofrido de modo frequente algum tipo
de insulto, humilhação ou xingamento no exercício da função, assim como situações
de amedrontamento ou perseguição no trabalho.
26
Os principais estressores mencionados pelos policiais militares desta
corporação no referido estudo foram pressão interna e externa, medo de falhar,
desamparo institucional, relações internas conflituosas, corrupção, más condições
de trabalho e falta de reconhecimento. Pereira (2015) ressalta que o estresse policial
é um dos fatores de risco de suicídio mais citados por especialistas da área e que os
relatos dos policiais do estado do Rio de Janeiro indicam que o estresse gerado
pelas más condições de trabalho está intimamente vinculado às relações internas à
instituição, com impossibilidade de diálogo e ausência de meios para expor
reclamações e necessidades.
A forma como as relações se dão na corporação, a precariedade no processo
de trabalho e o modo como os policiais com problemas de diversas ordens são
tratados – amparo ou punição – são elementos centrais identificados pela autora
que podem atuar como refreadores ou catalisadores de manifestações suicidas no
interior da instituição.
Os resultados desses estudos apontam para a associação entre as
características ocupacionais da atividade policial e o comportamento suicida neste
grupo. Estas publicações não fazem parte da análise de conteúdo do presente
estudo pois não foram localizadas por meio dos procedimentos metodológicos
adotados para realização das buscas nas bases de dados selecionadas. Tais
procedimentos estão descritos no item 4, intitulado Materiais e Métodos.
É possível destacar nesta literatura alguns aspectos do cotidiano da
profissão, como a necessidade de lidar constantemente com situações de extremos
emocionais, violência e sofrimento, e o estresse associado a esta rotina
massacrante. Tais fatores afetam o policial e contribuem nas formas dele agir em
diferentes âmbitos da vida.
Há ainda os aspectos da organização do trabalho e da cultura institucional,
como carga horária, más condições de trabalho, rigidez nas normas disciplinares,
instabilidade de permanência em um posto de trabalho, transferências ou mudanças
repentinas do tipo de atividade exercida, dificuldades nas relações hierárquicas,
vivências de insulto, humilhação ou xingamento no exercício da função, situações de
amedrontamento ou perseguição no trabalho, corrupção e falta de reconhecimento.
Todos estes fatores são importantes fontes de pressão e insatisfação, que,
associados à má remuneração, ao fato de muitos policiais residirem em regiões com
altos índices de criminalidade e apresentarem conflitos nas relações familiares, os
27
tornam mais vulneráveis ao sofrimento emocional, ao uso nocivo de substâncias
psicoativas, dentre elas o álcool, e ao comportamento suicida (NOGUEIRA, 2005;
ALMEIDA, 2013; PEREIRA, 2015). Deve-se destacar a facilidade de acesso à arma
de fogo, que é um instrumento com alto poder de letalidade. Este pode ser utilizado
pelo policial como um recurso para o autoextermínio nos momentos de descontrole
emocional e impulsividade ou quando ele não consegue perceber soluções para
seus problemas.
28
4 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório
realizada por meio de revisão bibliográfica não sistemática da literatura nacional,
compreendendo o período de 1980 até 2014. Este período foi definido com base no
ano de criação do Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde,
que foi em 1975.2 Foram selecionadas profissões e ocupações específicas indicadas
por Guimarães (2012) como grupos mais suscetíveis a cometer suicídio, ou
seja, grupos de maior risco, com base na literatura internacional (BOXER;
BURNETT; SWASON, 1995; STACK, 2001). No quadro 1, estão as profissões e
ocupações selecionadas3.
Quadro 1 ─ Relação de Profissões e Ocupações Específicas Selecionadas
Profissões Específicas 1 – Médicos
Profissões Específicas 2 – Enfermeiros
Profissões Específicas 3 – Veterinários
Profissões Específicas 4 – Dentistas
Ocupações Específicas 5 - Trabalhadores Agrícolas
Profissões Específicas 6 – Químicos
Profissões Específicas 7 – Farmacêuticos
Ocupações Específicas 8 – Policiais
Ocupações Específicas 9 - Vigilantes & Vigias
Ocupações Específicas 10 – Artistas
Fonte: GUIMARÃES (2012, p. 21;78)
Primeiramente, pesquisou-se a relação entre suicídio e as dez profissões e
ocupações selecionadas. São elas: (I) “suicídio e médicos”; (II) “suicídio e
enfermeiros”; (III) “suicídio e veterinários”; (IV) “suicídio e dentistas”; (V) “suicídio e
trabalhadores agrícolas”; (VI) “suicídio e químicos”; (VII) “suicídio e farmacêuticos”;
2 Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/mortalidade
3 O presente estudo se inspirou nas diferenças conceituais de profissão e ocupação utilizadas por Guimarães
(2012). Em suas palavras “A principal diferença presente nestes dois conceitos é: a existência de uma
formação específica, um certificado de profissionalização e um conjunto de regras passíveis de
verificação externa, atribuídas às atividades de profissionais, estes fatores não são indispensáveis
nas demais atividades exercidas por trabalhadores ocupados em um determinado ofício. Sendo
assim, utilizamos profissionais para as atividades possuidoras destas características acima
enumeradas, já ocupação é um termo genérico e se refere tanto às atividades de profissionais quant o
às de não profissionais” (p.68-69).
29
(VIII) “suicídio e policiais”; (IX) “suicídio e vigias/vigilantes” e (X) “suicídio e artistas”.
A seguir investigou-se as seguintes relações com o uso de categorias gerais: (I)
"suicídio e ocupação"; (II) "suicídio e trabalho”; (III) "suicídio e risco ocupacional";
(IV) "suicídio e profissão”.
Todas essas buscas foram realizadas no Portal de Periódicos Eletrônicos na
base Scientific Electronic Library Online (SCIELO), no Portal de
Periódicos Eletrônicos da CAPES, no Banco de Teses e Dissertações da
CAPES/MEC e no Portal SCHOLAR (Google Acadêmico).
A busca realizada no Portal SCIELO Brasil foi feita com escolha do campo
“todos os índices”. No Portal de Periódicos e no Banco de Teses e Dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/MEC),
optou-se pelo campo “assunto”, em português, pois não havia as mesmas opções de
busca nos três sites. No site SCHOLAR foi feita a busca avançada. Foram utilizadas
sempre as mesmas relações entre categorias.
A busca no Portal de Periódicos da CAPES, utilizando a categoria "suicídio e
trabalho”, identificou dois artigos, porém os mesmos que já haviam sido localizados
na base de periódicos do Portal SCIELO Brasil. Não foram localizados artigos
utilizando-se as categorias "suicídio e ocupação" e "suicídio e risco ocupacional". Na
busca utilizando "suicídio e profissão” foram recuperados dois artigos, porém os
termos não estavam correlacionados, apenas apareciam no texto de forma isolada.
Os resultados de busca que se repetiram nas diferentes bases foram descartados
para evitar duplicações. A busca no Banco de Teses e Dissertações da
CAPES/MEC não encontrou resultados.
A organização e análise do conteúdo de cada artigo selecionado foi realizada
por meio do programa N VIVO versão 11. Essa etapa da pesquisa envolveu os
seguintes procedimentos técnicos: exploração preliminar do material coletado;
classificação e agregação: escolha de grupos ocupacionais; codificação4 do
conteúdo segundo as categorias previamente fornecidas ou as
agregadas/classificadas; análises: (I) presença e ausência de determinados
elementos; (II) busca de frequências de palavras; e (III) busca de conexões entre
palavras.
4 “Processo através do qual os dados brutos são sistematicamente transformados em categorias que permitam
posteriormente a discussão das características relevantes do conteúdo” (FRANCO, 1986).
30
O conteúdo dos artigos foi inserido dentro do programa, separando-se
resumos e corpo do texto para cada categoria profissional abordada nestas
publicações – bancários; médicos e estudantes de medicina5; e policiais. Também
foram inseridos separadamente os resumos e o corpo do texto dos artigos coletados
por meio do uso de categorias amplas – trabalho; profissão; risco ocupacional;
ocupação, que ficaram reunidos em um mesmo grupo denominado “Categorias
Gerais”.
Deste modo, foram criados inicialmente dois grandes grupos para
organização dos dados, contendo o conteúdo dos artigos: Categorias Gerais e
Categorias Específicas. Dentro do grupo Categorias Específicas foram criados três
subgrupos que correspondem ao grupo de bancários, de policiais militares e de
profissionais de saúde. Em seguida foram criados três itens nos quais foram
codificados apenas o conteúdo dos artigos referentes a resultados dos autores,
fatores associados e processo de trabalho6.
Esse formato foi escolhido para possibilitar a realização de análises
comparativas entre os diferentes grupos. Em cada um destes três grupos foram
criados quatro subgrupos que correspondem às três categorias profissionais
localizadas nos artigos - bancários, policiais militares e profissionais de saúde, e ao
grupo nomeado Categorias Gerais, que compreende os artigos encontrados por
meio do uso das categorias gerais já citadas.
Abaixo segue uma lista hierarquizada para facilitar a compreensão da
estrutura montada para a análise de conteúdo.
1. CATEGORIAS GERAIS
a. Trabalho
b. Profissão
c. Risco Ocupacional
d. Ocupação
5 Os dados sobre suicídio entre médicos e entre estudantes de medicina estão aqui agrupados pois já são tratados
em conjunto pela literatura de suicídio e ocupação e pelos artigos localizados na busca bibliográfica deste estudo.
6 Esta categoria foi escolhida pela frequência com que aparece e é discutida em grande parte dos artigos
selecionados para a análise de conteúdo. Além disso, é um conceito central no campo da Saúde do Trabalhador,
definido como “Todo processo de transformação de um objeto determinado em um produto determinado, por
meio de uma atividade humana, utilizando instrumentos de trabalho determinados” (PENA et al., 2012, p.56).
31
2. CATEGORIAS ESPECÍFICAS
a. Bancários
b. Policiais Militares
c. Profissionais de Saúde
3. CONTEÚDO
a. Resultado dos Autores
i. Bancários
ii. Policiais Militares
iii. Profissionais de Saúde
iv. Categorias Gerais
b. Fatores Associados
i. Bancários
ii. Policiais Militares
iii. Profissionais de Saúde
iv. Categorias Gerais
c. Processo de Trabalho
i. Bancários
ii. Policiais Militares
iii. Profissionais de Saúde
iv. Categorias Gerais
Foi possível então codificar separadamente os resultados e discussão dos
dezessete artigos por categorias ocupacionais específicas e agrupar os resultados
encontrados pelos artigos referentes às categorias gerais. Nos artigos que não
apresentaram estes itens definidos isoladamente, foram codificados os trechos que
apresentavam e discutiam os resultados encontrados.
No item fatores associados foram codificados os trechos dos artigos em que
os autores apresentavam fatores associados ao suicídio. No item processo de
trabalho foi codificado o que os autores abordaram sobre características do
processo de trabalho e suas consequências para a saúde mental dos trabalhadores.
32
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No item anterior foram descritos os procedimentos metodológicos adotados
para realização da busca bibliográfica nas bases de dados previamente
selecionadas e da análise de conteúdo dos artigos selecionados. Abordou-se
também os critérios utilizados na análise exploratória dos resumos dos artigos
identificados, para selecionar os artigos que atendiam ao interesse deste trabalho.
Neste item serão apresentados e discutidos os resultados obtidos pelas buscas nas
bases de dados e por meio da análise de conteúdo realizada com auxílio do
programa N Vivo versão 11.
A pesquisa geral da relação entre suicídio e cada uma das dez ocupações
específicas listadas no quadro 1, no item MATERIAIS E MÉTODOS, resultou em
trinta artigos científicos (Quadro 2).
Quadro 2 ─ Resultado da busca de publicações abordando a relação entre "suicídio e ocupações específicas"
Relações Artigos coletados
(n) %
suicídio e médicos 16 53%
suicídio e policiais 4 13%
suicídio e enfermeiros 4 13%
suicídio e químicos 4 13%
suicídio e agricultores 1 3%
suicídio e dentistas 1 3%
suicídio e farmacêuticos 0 0%
suicídio e artistas 0 0%
suicídio e vigilantes/vigias 0 0%
suicídio e veterinários 0 0%
Total 30 100% Fonte: Elaboração própria.
Dos trinta artigos identificados, mais de 50% foram obtidos a partir das
categorias “suicídio e médicos” (16). Entretanto, a análise exploratória dos resumos
dos artigos coletados indicou que apenas um deles aborda a possível relação do
suicídio com a ocupação médica. Os demais artigos apenas possuem as duas
palavras em seu conteúdo, porém ambas não estão relacionadas. Em uma
proporção bem menor, artigos das bases utilizadas tratam “suicídio e polícia” (4),
sendo que dois destes não abordam a relação entre as duas categorias. A leitura
33
dos resumos dos demais artigos encontrados possibilitou verificar que não havia
relação entre as categorias.
Pelas buscas, utilizando as categorias gerais "suicídio e ocupação", "suicídio
e trabalho”, "suicídio e risco ocupacional" e "suicídio e profissão”, a pesquisa obteve
82 artigos, dentre os quais duas possíveis relações se destacaram “suicídio e
trabalho” (66) e “suicídio e profissão” (9). Esse resultado sinalizou a relevância de se
entender como os artigos coletados abordam o suicídio e se questionar sobre as
categorias que mais se destacaram, como no caso da relação entre “suicídio e
trabalho”. O quadro 3 resume os primeiros achados.
Quadro 3 ─ Resultado da busca de publicações abordando as relações entre "Suicídio e Ocupação"; "Suicídio e Trabalho"; "Suicídio e Risco Ocupacional" e "Suicídio e Profissão"
Relações Artigos coletados
(n) %
suicídio e trabalho 66 80%
suicídio e profissão 9 11%
suicídio e risco ocupacional 4 5%
suicídio e ocupação 3 4%
Total 82 100% Fonte: Elaboração própria.
A análise exploratória dos 66 resumos dos artigos coletados a partir da
categoria “suicídio e trabalho” mostrou que oito deles abordam a possível relação do
suicídio com aspectos laborais. Dois já haviam sido encontrados na busca por
profissões específicas e os demais artigos apenas continham as duas palavras em
seu conteúdo, sem que estivessem correlacionadas. Ao analisar os artigos coletados
a partir da categoria “suicídio e profissão” (9), verificou-se que quatro deles já
haviam sido identificados na busca anterior. Outros quatro possuem as duas
palavras em seu conteúdo, mas não estão correlacionadas. Apenas um artigo
apresenta a possível relação entre as duas categorias.
Pela busca da categoria “suicídio e risco ocupacional” foram identificados
quatro artigos. A análise exploratória de seus resumos mostrou que um deles já
havia sido encontrado na busca por profissões específicas e um segundo artigo não
apresenta correlação entre as categorias. Somente dois se tratavam de artigos que
abordam a possível relação entre suicídio e risco ocupacional. A busca utilizando a
combinação "suicídio e ocupação" obteve três resultados. Entretanto, todos se
34
tratavam de artigos contendo as duas categorias citadas em seu conteúdo, sem
estarem correlacionadas.
A análise dos resumos das 112 publicações localizadas, compreendendo o
período de 1980 a 2014, mostrou que somente dezessete discutem especificamente
as possíveis associações entre “suicídio e ocupação”; “suicídio e risco ocupacional;
“suicídio e trabalho”; “suicídio e profissão” e “suicídio” e “ocupações específicas”.
Nas demais publicações, as categorias de referência aparecem como palavras-
chave mais frequentes. Os resultados não necessariamente implicam numa relação
entre as categorias selecionadas. Além disso, algumas destas publicações são
apenas resenhas de livro sobre o tema ou de réplica e tréplica de debates, que
também foram recuperados na busca, mas não foram mantidos para a análise de
conteúdo.
Esse resultado indica uma dificuldade nas buscas nas bases de dados
SCIELO, CAPES e SCHOLAR, para obtenção de artigos que tratam de temas
correlacionados, pois os mecanismos de busca não possibilitam recuperar apenas
artigos em que a relação entre as palavras esteja colocada, mesmo quando se altera
a opção de busca para o campo “palavras do título” ou para “resumo”. Ou seja, é
possível buscar facilmente palavras isoladas, mas para encontrar artigos com
palavras correlacionadas é necessário fazer uma análise aprofundada de cada artigo
obtido, que exige maior dispêndio de tempo do pesquisador.
Dos dezessete artigos selecionados, três abordam o comportamento suicida
entre bancários, sete abordam o tema entre profissionais de saúde, sendo que um
aborda a categoria de enfermeiros e seis se referem ao grupo de médicos e
estudantes de medicina; dois tratam do problema em policiais e cinco abordam a
relação entre suicídio e trabalho de modo mais abrangente, sem se ater a categorias
profissionais específicas.
Esses resultados iniciais se aproximam do que foi apontado por Nogueira
(2005). A autora cita estudos que abordam a categoria dos policiais militares e de
profissionais de saúde como categorias profissionais com altas taxas de suicídio. A
presente pesquisa identificou também artigos sobre suicídio em bancários. Esses
estudos destacam as consequências negativas da reestruturação produtiva no setor
e sugerem que a organização do trabalho contribui para o adoecimento e as
manifestações suicidas neste grupo.
35
Os dezessete artigos foram organizados segundo as seguintes informações:
título; área de conhecimento; nome da revista; nome fonte; o ano e a relação entre
categorias utilizada na busca. Todas essas informações estão organizadas no
quadro 4.
Quadro 4 ─ Relações "Suicídio e Ocupação"; Suicídio e Trabalho; Suicídio e Risco Ocupacional e Suicídio e Profissão", SCIELO BRASIL e SCHOLAR, 1980-2014
Título Área de
conhecimento Revista Fonte Ano Relações
Investigadas
Suicídio, “doença das condições do
trabalho” entre médicos e
estudantes de medicina
Medicina
Arquivos Médicos do
ABC, 6 (1-2): 5-7,1983
SCHOLAR 1983 suicídio e médicos
Suicídio entre médicos e
estudantes de medicina
Psiquiatria
Revista da Associação
Médica Brasileira,
44(2): 135-140, 1998 Jun.
SCIELO 1998 suicídio e médicos
Violência no trabalho em
enfermagem: um novo risco ocupacional
Enfermagem
Revista Brasileira de Enfermagem,
57(6): 746-749, ND. 2004 Dez
SCIELO 2004 suicídio e
risco ocupacional
Prevalência de depressão
entre estudantes
universitários
Psiquiatria
Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 55(4): 264-267,
2006
SCIELO 2006 suicídio e
risco ocupacional
O processo de trabalho do
militar estadual e a saúde
mental
Saúde Pública
Saúde e Sociedade [on-
line]. 2008, vol.17, n.4, pp.
161-170
SCIELO 2008 suicídio e policiais
Assistência psicológica ao estudante de medicina: 21
anos de experiência
Medicina
Revista da Associação
Médica Brasileira.
[Online] 2008, vol.54, n.1, pp.
90-94
SCIELO 2008 suicídio e trabalho
36
Tentativas de Suicídio de
Bancários do Contexto das
Reestruturações Produtivas
Administração
Revista de Administração
Contemporânea, Curitiba, v. 14,
n. 5, pp. 925-938, Set./Out.
2010
SCIELO 2010 suicídio e trabalho
Ideação e tentativa de
suicídio entre estudantes de medicina em
uma capital do nordeste do
Brasil
Psicologia
Revista do II Congresso
Internacional de Pesquisa e
Prática Profissional em
Psicologia
SCIELO 2010 suicídio e médicos
O sentido social do
suicídio no trabalho
Sociologia
Revista Espaço
Acadêmico v. 9, n. 108, mai
2010
SCIELO 2010 suicídio e trabalho
Percepção da saúde mental em policiais militares da
força tática e de rua.
Sociologia
Sociologias [online] vol.12,
n.25, pp. 224-250
SCIELO 2010 suicídio e policiais
Sofrimento no trabalho e imaginário
organizacional: Ideação suicida de trabalhadora
bancária
Psicologia
Psicologia & Sociedade 23 (2): 359-368,
2011
SCIELO 2011 suicídio e trabalho
Depressão e trabalho: ruptura de laço social
Saúde Ocupacional
Revista Brasileira de
Saúde Ocupacional.
Jun 2011, vol.36, no.123,
p.84-92
SCIELO 2011 suicídio e profissão
Considerações sobre trabalho e suicídio: um
estudo de caso
Saúde Ocupacional
Revista Brasileira de
Saúde Ocupacional. São Paulo, 36 (123): 71-83,
2011
SCIELO 2011 suicídio e trabalho
37
Burnout e Pensamentos Suicidas em
Médicos Residentes de
Hospital Universitário
Medicina
Revista Brasileira de
Educação Médica, 36 (1):
77-82; 2012
SCIELO 2012 suicídio e médicos
Notas sobre suicídio no
trabalho à luz da teoria crítica da sociedade
Psicologia
Psicologia Ciência e
Profissão 2013, 33 (2), 380-395
SCIELO 2013 suicídio e trabalho
Saúde mental do trabalhador:
Transtornos mentais e do
comportamento relacionados
com o trabalho que podem, em
alguma medida, estar associados ao suicídio laboral
Saúde Coletiva
Revista Interdisciplinar de Estudos em Saúde, v.3, n.1,
p. 105-143, 2014
SCIELO 2014 suicídio e trabalho
Suicídio e trabalho em metrópoles
brasileiras: um estudo
ecológico
Saúde Coletiva
Ciência & Saúde Coletiva.
2014 v.19 (7) SCIELO 2014
suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria.
Os resultados no quadro 4 mostram que do total de publicações selecionadas
sobre o tema, oito foram coletadas utilizando a combinação das palavras “suicídio e
trabalho”. Quatro foram obtidas por meio do uso das palavras “suicídio e médicos”,
duas por meio das palavras “suicídio e risco ocupacional”, duas por meio das
palavras “suicídio e policiais” e uma por meio das palavras “suicídio e profissão”.
É possível notar que entre a data do primeiro e do segundo artigos (1983-
1998) há o intervalo de quinze anos. Neste período também aconteceram as
principais normatizações no que se refere a Saúde do Trabalhador, que foram
discutidas no item 2.1. Essa elevação do número de publicações provavelmente está
relacionada ao crescimento do interesse pelas temáticas pesquisadas, mas também
é importante considerar que os trabalhos anteriores à grande expansão da internet
38
podem não ter sido indexados nos bancos de dados utilizados. O gráfico 1 permite
visualizar este considerável aumento.
Gráfico 1 – Frequência do número de publicações por períodos de 5 anos
Fonte: Elaboração própria
As revistas científicas que publicaram os artigos localizados foram: Revista
Arquivos Médicos do ABC, Revista da Associação Médica Brasileira, Revista
Brasileira de Enfermagem, Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Revista Saúde e
Sociedade [online], Revista da Associação Médica Brasileira [online], Revista de
Administração Contemporânea, Revista do II Congresso Internacional de Pesquisa e
Prática Profissional em Psicologia, Revista Espaço Acadêmico, Revista Sociologias
[online], Revista Psicologia e Sociedade, Revista Brasileira de Saúde Ocupacional
(duas publicações), Revista Brasileira de Educação Médica, Psicologia Ciência e
Profissão, Revista Interdisciplinar de Estudos em Saúde e Revista Ciência e Saúde
Coletiva.
Quatorze trabalhos foram publicados em revistas da área da saúde, tanto
Saúde Pública, Saúde Ocupacional e Saúde Coletiva, quanto em áreas específicas
da saúde, como Psicologia, Psiquiatria e Medicina. Dois desses estudos são da área
de Sociologia e um de Administração. O gráfico 2 mostra o número de artigos por
área de conhecimento.
39
Gráfico 2 ─ Relação de artigos sobre o tema, publicados no SCIELO, BRASIL e no SCHOLAR por área de conhecimento, 1980-2014
Fonte: Elaboração própria
Na leitura dos artigos e na análise das palavras mais frequentes, feita pelo
software N Vivo versão 11, destacou-se a associação entre organização do trabalho
e sofrimento emocional do trabalhador, com possível desdobramento em
manifestações suicidas. Também se destacou a ênfase dada aos temas organização
do trabalho e condições de trabalho, que foram codificados no item processo de
trabalho.
A análise exploratória identificou as palavras mais frequentes nos artigos,
apresentadas por imagens chamadas “nuvens de palavras”. Ao se analisar as cem
palavras mais frequentes no conteúdo do corpo do texto dos artigos, se destacaram
trabalho, suicídio, saúde, trabalhadores, sofrimento e organização (Figura 1). Já nos
resumos desses mesmos artigos, se destacaram trabalho, suicídio, saúde, medicina,
estudantes e burnout (Figura 2).
As duas palavras mais frequentes - trabalho e suicídio - refletem o tema
central do presente estudo, assim como a palavra trabalhadores. A palavra saúde
aparece relacionada majoritariamente à saúde dos trabalhadores e, mais
especificamente, à saúde mental dos mesmos, destacando-se como um tema
relevante nos artigos coletados.
40
Figura 1 – Conteúdo completo dos artigos
Fonte: Elaboração própria
Tabela 1 ─ Porcentagens das palavras no conteúdo completo dos artigos
Fonte: Elaboração própria
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 1,73 suicídio 0,74 saúde 0,36 trabalhadores 0,31 sofrimento 0,27 organização 0,26 morte 0,25 policiais 0,25 fatores 0,24 trabalhador 0,24
41
Figura 2 – Resumos dos artigos
Fonte: Elaboração própria
Tabela 2 ─ Porcentagens das palavras nos resumos dos artigos
Fonte: Elaboração própria
A diferença entre algumas das palavras que mais se destacaram dos resumos
e do conteúdo completo dos artigos pode ser explicada pelo número expressivo de
artigos que abordam o comportamento suicida entre médicos e estudantes de
medicina (seis). O que também explica a maior frequência das palavras medicina,
estudantes e burnout nos resumos.
A palavra burnout, presente em apenas um dos artigos, é seu tema central -
“Burnout e Pensamentos Suicidas em Médicos Residentes de Hospital Universitário”.
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 2,74 suicídio 2,23 estudo 0,69 saúde 0,57 medicina 0,57 estudantes 0,57 burnout 0,51 mental 0,46 objetivo 0,46 resultados 0,46
42
Esse fato contribui para que essa palavra seja citada com elevada frequência ao
longo de seu resumo e seja com isso destacada pelo software como uma das mais
frequentes.
As demais palavras mais frequentes – sofrimento, organização, morte e
policias - indicam a associação entre a organização do trabalho e o sofrimento do
trabalhador. É possível retomar as análises de Almeida (2013), que destaca a
contribuição de aspectos da atividade policial no sofrimento emocional do mesmo.
Dentre tais aspectos podemos citar a necessidade de lidar com situações de
conteúdo emocional completamente divergentes e ao mesmo tempo administrar as
emoções, de modo que estas não sejam expressas e não interfiram em sua conduta
laboral.
Outro aspecto é a cobrança social para que resolva problemas prontamente,
o que contribui para que, com o passar do tempo, o policial perceba as situações de
modo dicotômico e tenha pouca flexibilização nas suas relações com o outro. Estes
fatores podem comprometer os vínculos familiares e sociais e gerar isolamento e
outros quadros de adoecimento emocional entre policiais.
A palavra sofrimento aparece nos resumos vinculada principalmente ao
sofrimento físico e mental de trabalhadores. A palavra aparece com elevada
frequência nos artigos sobre bancários, associada às reestruturações produtivas no
setor e ao contexto de precarização do trabalho. Os artigos trazem uma discussão
do trabalho alienado, decorrente de modelos de gestão que impedem a autonomia
do trabalhador e o seu reconhecimento no trabalho. A figura 3, obtida a partir da
ferramenta do N Vivo chamada “árvore de palavras” contribui para identificar em
quais contextos o termo se insere.
43
Figura 3 ─ Árvore de palavras para a palavra sofrimento em todos os resumos
Fonte: Elaboração própria
A palavra organização aparece nos textos associada a duas abordagens
(Figura 4). Uma delas aparece nos textos inseridos no grupo Categorias Gerais e
discute os efeitos da organização do trabalho sobre a saúde do trabalhador e as
consequências danosas decorrentes das novas formas de gestão e avaliação de
desempenho, com ênfase na qualidade total. Junto a este discurso tem-se o
investimento crescente processo de terceirização, promovendo a fragilidade dos
contratos de trabalho e a perda de direitos dos trabalhadores.
Figura 4 ─ Árvore de palavras para a palavra organização em todos os resumos
Fonte: Elaboração própria
A outra dimensão na qual aparece a palavra organização aborda
organizações específicas, como a Polícia Militar. Discute-se o modo como são
estruturadas, a produção de insatisfação e estresse no trabalho, a dicotomia
marcante entre quem pensa e quem executa, o excesso de demanda, a
responsabilidade e os prejuízos à saúde associados a todos estes fatores. Tais
44
aspectos remetem ao que Nogueira (2005) aborda acerca das fontes de pressão e
insatisfação nas organizações militares, especialmente na polícia militar. A autora
destaca o clima organizacional, a carga horária, as dificuldades nos inter-
relacionamentos, os baixos salários e a rigidez disciplinar.
Um aspecto dessa organização relacionado à insatisfação e estresse laboral
tem a ver com o fato de serem instituições fechadas, com estilo gerencial pouco
flexível e pouco espaço para a criatividade. Estas instituições são marcadas por
relações de poder que buscam anular oposições e perpetuar a submissão, com
clara cisão entre quem planeja e quem executa. Todos esses aspectos
organizacionais, discutidos nos artigos identificados na busca bibliográfica, estão
presentes na estrutura e funcionamento da organização policial militar e se
constituem como importantes fontes de sofrimento no trabalho.
5.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO POR CATEGORIA PROFISSIONAL
5.1.1 Bancários
Ao analisar os artigos de cada categoria profissional separadamente,
verificou-se que nos artigos sobre suicídio em bancários as palavras mais frequentes
refletem a ênfase dada ao sofrimento do trabalhador no contexto das
reestruturações produtivas (Figura 5). Estas publicações apontam que o
comportamento suicida aparece associado, especialmente, ao contexto de assédio
moral e absenteísmo, característicos dos novos modelos de organização do
trabalho.
45
Figura 5 ─ Nuvem de palavras mais frequentes nos resumos dos artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
Tabela 3 ─ Porcentagens das palavras nos resumos dos artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
Por meio da leitura dos artigos verificou-se que o isolamento social e o
assédio moral foram citados como elementos relevantes na decisão de cometer
suicídio e que é comum as empresas atribuírem a causa de suicídios de funcionários
a conflitos pessoais ou familiares, eximindo-se da responsabilidade que possam ter
sobre o fato. Essa responsabilidade tem a ver com as crescentes exigências e
controle rigoroso provenientes da organização do trabalho. Muitas vezes para que
tais exigências sejam cumpridas, danos são gerados à saúde física e mental dos
trabalhadores.
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 4,12 suicídio 2,47 bancário 1,37 análise 1,10 empresa 1,10 fatores 1,10 contexto 0,82 bancários 0,82 produtivas 0,82 reestruturações 0,82
46
Em relação ao processo de trabalho neste grupo ocupacional, a análise das
palavras mais frequentes (Figura 6) e a leitura dos artigos possibilitam identificar a
associação entre suicídio e a devoção excessiva do trabalhador à empresa, o que
vem sendo cada vez mais estimulado como símbolo de sucesso e realização
profissional. Segundo um dos autores (SANTOS e SIQUEIRA, 2011), o contexto do
suicídio pode envolver a interação entre o trabalho e a história de vida do sujeito,
com destaque para os casos em que o ritmo pessoal do trabalhador se subordina
integralmente às obrigações profissionais.
Figura 6 ─ Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item processo de trabalho os artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
47
Tabela 4 ─ Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
Os textos abordam também o estímulo ao sucesso desenfreado, a
competição individual, o culto à excelência e o orgulho irrestrito ao trabalho como
fatores que podem produzir o quadro de servidão voluntária, enquanto os sujeitos
que não resistem à competição são rejeitados (VENCO e BARRETO, 2010). Define-
se então o suicídio como uma patologia da solidão, em um coletivo desestabilizado
pelas novas formas de gestão do trabalho, que esvaziam os movimentos políticos e
democráticos (SANTOS e SIQUEIRA, 2011). Esse processo dificulta a construção
de estratégias de transformação da realidade e pode intensificar o sofrimento no
trabalho, diante da fragilidade e vulnerabilidade que a solidão provoca no ser
humano.
Há casos de suicídio de trabalhadores em que o quadro de desespero é
consequência de episódios traumáticos inseridos no contexto laboral, com reflexos
na vida privada do sujeito. O suicídio pode se apresentar para alguns como
alternativa diante do insuportável desse sofrimento; um gesto brutal representando o
abuso nas relações de poder que sujeita a parte mais fraca à subserviência, sob o
risco de descarte (SANTOS e SIQUEIRA, 2011).
No que se refere aos resultados apresentados pelos artigos, os modos de
gestão da organização do trabalho são destacados como possíveis responsáveis
pelo adoecimento (Figura 7). As pressões, a desqualificação e as imposições feitas
ao trabalhador podem inviabilizar a criação de mecanismos para lidar com o
sofrimento gerado nestas situações, restando a morte como a alternativa, mas
também um modo radical de denunciar o sofrimento contra a opressão.
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 2,16 sofrimento 1,23 suicídio 1,08 empresa 0,77 organização 0,77 patologia 0,77 processo 0,77 formas 0,62 novas 0,62 sujeito 0,62
48
Figura 7 ─ Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
Tabela 5 ─ Porcentagens das categorias a partir do item resultados nos artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
Um dos artigos também ressalta que diariamente um bancário tenta suicídio e
a cada vinte dias um suicídio nesta categoria ocupacional é consumado. Mais de
60% dos bancários que se mataram entre 1996 e 2005 tinham 40 anos ou mais, o
que corresponde à faixa de trabalhadores mais afetados pelos programas de
desligamento decorrentes dos processos de reestruturação produtiva (SANTOS et
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 1,36 empresa 0,56 setor 0,53 banco 0,50 morte 0,48 tempo 0,40 forma 0,37 sofrimento 0,32 agência 0,26 relações 0,24
49
al., 2009). Os dois casos de tentativa de suicídio estudados ocorreram por
envenenamento e apresentam forte ligação com alterações no contexto laboral.
Quanto aos fatores associados ao suicídio entre Bancários, a ferramenta de
nuvem de palavras mais frequentes possibilitou destacar temas como separação,
problemas familiares e aposentadoria (Figura 8). Para melhor identificação de outros
fatores, a leitura dos artigos permitiu destacar o vínculo entre problemas familiares e
o trabalho, com deterioração do convívio familiar e social que acompanha o aumento
das exigências profissionais e da dedicação irrestrita ao trabalho.
Figura 8 ─ Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos artigos sobre
bancários
Fonte: Elaboração própria
50
Tabela 6 ─ Porcentagens das Palavras a partir do item fatores associados nos artigos sobre bancários
Fonte: Elaboração própria
A aposentadoria seria um marco no qual os trabalhadores, após longos anos
de rotina de trabalho e identificação com sua profissão, poderiam se sentir sem
referência, experimentando a redução do convívio social e, possivelmente,
dificuldades para se adaptar ao novo estilo de vida sem o trabalho como ponto
central.
No que se refere ao absenteísmo, os distúrbios musculoesqueléticos e os
transtornos mentais foram destacados como principais causas de adoecimento
neste grupo profissional, o que sugere associação com o elevado número de
suicídios de bancários. Além do sentimento de desamparo, isolamento social,
assédio moral e individualismo. Todos estes fatores estariam relacionados ao
trabalho fragmentado, com pouca significação, chefias autoritárias e pouco
propensas ao diálogo, excesso de trabalho e pouco auxílio do setor de recursos
humanos para superação das dificuldades.
5.1.2 Policiais
No grupo de policiais as palavras que se destacam como as mais frequentes
nos resumos dos dois artigos localizados são trabalho, saúde mental, militar e
organização. A Figura 9 sugere ênfase no tema saúde mental, e, mais
especificamente, estresse, alcoolismo e consumo de outras substâncias, depressão,
suicídio e ideação suicida. Tais elementos aparecem nos artigos como possíveis
Categorias % em relação ao total de palavras
trabalho 0,85 empresa 0,73 saúde 0,61 tempo 0,61 aposentadoria 0,49 bancários 0,49 familiares 0,49 sociais 0,49 óbitos 0,49 bancário 0,37
51
efeitos da organização do trabalho e dos conflitos presentes no ambiente
ocupacional.
O uso elevado de substâncias psicoativas pelos policiais, incluindo o álcool,
também foi identificado nos estudos de Nogueira (2005), Souza e colaboradores
(2012) e Almeida (2013), discutidos na seção 2.2. Os artigos relatam outros efeitos
da organização do trabalho sobre a saúde do policial que também foram abordados
por Almeida. Os principais são desespero, tristeza, desamparo e solidão. Estes
fatores estariam associados ao contexto laboral de má remuneração, pouco
treinamento, rigidez das normas e vivência de tensão excessiva.
Figura 9 ─ Nuvem de palavras mais frequentes nos resumos dos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
52
Tabela 7 ─ Porcentagens das categorias nos resumos dos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
Em relação ao processo de trabalho (Figura 10) as palavras que mais se
destacam são trabalho, militar, organização, estrutura e precarização. A leitura dos
trechos codificados neste item sugere a complexidade resultante da interação de
todos esses aspectos no processo de trabalho do policial militar, com equipamentos
e instrumentos inadequados, falta de capacitação profissional e salários
desproporcionais ao tipo de atividade.
Os artigos apontam os possíveis danos decorrentes da conjugação desses
elementos, somados à dificuldade na comunicação interna e no relacionamento
interpessoal entre aqueles que exercem funções de liderança e os que são
liderados. Tudo isso em uma rotina na qual a morte comparece como uma realidade
constante, seja a morte de vítimas atendidas, de criminosos, dos companheiros de
trabalho e a possibilidade da própria morte.
Os artigos ressaltam que as críticas constantes à polícia, feitas pela
sociedade, estão relacionadas em parte à ineficiência da segurança pública diante
do crescimento assustador da criminalidade. Mas também estão relacionadas à
estrutura burocrática da instituição polícia militar, pautada no modelo de organização
do exército, voltado para o combate de guerra, com ênfase na hierarquia, total
separação entre quem planeja e quem executa as ordens, além da dificuldade de
diálogo entre subordinado e superior hierárquico e ausência de meios para
expor reclamações e necessidades.
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 3,00 saúde 1,50 militar 1,50 mental 1,12 polícia 1,12 policiais 1,12 organização 1,12 forças 0,75 serviço 0,75 objetivo 0,75
53
Figura 10 ─ Nuvem de palavras mais frequentes a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
Tabela 8 ─ Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
Esses dados confirmam o que Nogueira (2005) aponta sobre as maiores
fontes de pressão e insatisfação dos policiais - o clima organizacional, a carga
horária, os baixos salários, a capacitação inadequada, problemas para promoção na
carreira e rigidez disciplinar, com relacionamentos hierárquicos muitas vezes
problemáticos.
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 2,58 militar 1,61 organização 1,61 polícia 1,61 aspectos 0,97 corporação 0,97 estrutura 0,97 precarização 0,97 própria 0,97 atividade 0,65
54
A análise dos resultados apresentados pelos artigos indicou a necessidade de
reler aos textos para melhor compreensão, para além do uso da ferramenta de
nuvem de palavras mais frequentes (Figura 11). Nela identificam-se os termos
centrais relacionados ao tema – policiais e trabalho -, mas também as palavras força
tática e grupo, que se referem a termos utilizados pelos estudos para classificar a
amostra.
Figura 11 ─ Palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
Tabela 9 ─ Porcentagens das palavras a partir do item resultados nos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
Palavras % em relação ao total de palavras
policiais 2,10 trabalho 1,47 força 0,70 tática 0,65 organização 0,51 grupo 0,44 profissionais 0,42 falta 0,40 policial 0,40 condições 0,28
55
Os termos organização e condições remetem às discussões já realizadas
acima, acerca do que apareceu nos resumos desses artigos e no item processo de
trabalho, abordando a organização do trabalho, a organização policial militar e as
difíceis condições laborais nela. Outros termos que se destacam na figura 11 são
relativos aos questionários aplicados nos estudos, como por exemplo sempre,
vezes, nunca e responderam.
Os autores apontam que o policial militar está no centro de uma conjugação
de forças advindas da sociedade contemporânea, da organização do trabalho e da
precarização do mesmo. O modo como ocorre esta interação gera danos à saúde
física e mental destes trabalhadores, que podem se desdobrar em alcoolismo,
transtornos psicológicos e suicídio (SILVA, 2008; OLIVEIRA e SANTOS, 2010).
Dentre os resultados relativos aos danos decorrentes da ocupação, segundo
a percepção dos policiais militares, destacam-se a carga excessiva de trabalho, as
condições desfavoráveis para execução da tarefa, o intenso cansaço físico e
emocional após o dia de trabalho, os lapsos de memória, a falta de concentração, o
aumento na agressividade e a presença de ideação suicida.
Chama a atenção o percentual de mais de 25% de aposentadorias por
invalidez devido a transtornos psiquiátricos, com mais de 75% dos policiais deste
grupo situados na faixa de 20 a 29 anos (SILVA, 2008). Tudo isso corrobora os
resultados que Pereira (2015) encontrou em relação ao desenvolvimento de
doenças físicas e psíquicas entre policiais em decorrência de sua atividade.
Em relação aos fatores associados, a leitura dos artigos complementa as
análises das palavras mais frequentes (Figura 12). Os autores apontam como
principais fatores associados ao sofrimento e adoecimento do policial o ambiente de
trabalho perigoso, o baixo controle sobre o processo de trabalho, o frequente contato
hostil com o público e as longas jornadas de trabalho. Destacam também os
recursos insuficientes para realização das tarefas, a insatisfação com a
remuneração, a dificuldade de ascensão profissional, a exposição ao sofrimento
alheio e os frequentes problemas familiares.
Todos estes fatores associados se aproximam da discussão feita por Pereira
(2015) acerca do estresse característico da atividade policial, que é agravado pelas
más condições de trabalho, cenário de corrupção e falta de reconhecimento social e
institucional. Deste modo ela afirma que o estresse gerado neste contexto é um dos
fatores mais relevantes de risco de suicídio neste grupo, que pode aumentar com o
56
passar do tempo na medida em que amplia o período de exposição a tais
circunstâncias.
Figura 12 – Palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
Tabela 10 ─ Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados nos artigos sobre policiais
Fonte: Elaboração própria
A vivência praticamente diária deste contexto de conflitos no interior da
organização e com a população, numa sociedade marcada pela insegurança, junto
ao pouco espaço para reflexões sobre aspectos emocionais dos policiais e para o
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 4,48 fatores 2,24 mental 1,49 profissionais 1,49 sofrimento 1,49 organização 1,12 policiais 1,12 saúde 1,12 ambiente 0,75 atividade 0,75
57
diálogo com os chefes, pode gerar danos sistemáticos à saúde mental do policial
militar.
Esses fatores têm consonância com o que identificou Pereira (2015) em
relação às constantes situações de estresse e exposição à violência e aos abusos
sofridos no interior da corporação. A autora destaca as transferências de unidade
motivadas por problemas de saúde, para não ter no seu efetivo - quadro de pessoal
- o policial que não está apto para exercer a atividade fim, a vivência frequente de
insultos, humilhação ou xingamento no exercício da função e situações de
amedrontamento no trabalho.
A busca pela total eficácia no cumprimento do dever, com a pressão
constante e a falta de abertura para questionar ordens inapropriadas também podem
constituir fatores que, a longo prazo, geram desconforto e angústias no ambiente
laboral. Do mesmo modo, equipamentos e instrumentos inadequados, restrição de
recursos orçamentários para manutenção das unidades e equipamentos, salários
desproporcionais e falta de capacitação configuram um quadro desfavorável tanto
para a eficiência do trabalho, quanto para a saúde dos trabalhadores policiais
(OLIVEIRA e SANTOS, 2010).
5.1.3 Profissionais de Saúde
Os sete artigos sobre suicídio entre profissionais de saúde abordam
majoritariamente o comportamento suicida em médicos e estudantes de medicina
(seis deles). O elevado número de artigos identificados sobre esta categoria
ocupacional em relação ao total (17) remete ao que cita Guimarães (2012) sobre os
médicos, como um grupo que possui elevadas taxas de suicídio.
Grande parte das palavras mais frequentes nos resumos lidos reflete o tema
central da busca realizada: medicina, suicídio, estudantes, suicidas, risco, alunos,
estudo e trabalho. A palavra burnout destacou-se em um dos artigos, que aborda a
relação entre burnout e pensamentos suicidas em médicos.
58
Figura 13 ─ Palavras mais frequentes nos resumos dos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
Tabela 11 ─ Porcentagens das palavras nos resumos dos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
Outras duas palavras que se destacam na imagem gerada pela nuvem de
palavras mais frequentes são violência, depressão e fisioterapia. A primeira aparece
em um artigo que aborda a violência física e verbal no trabalho da enfermagem e
dentre as possíveis consequências do sofrimento presente nestas situações
menciona o suicídio do profissional. A palavra depressão aparece em diferentes
Palavras % em relação ao total de palavras
medicina 1,79 suicídio 1,79 burnout 1,61 estudantes 1,61 prevalência 1,43 suicidas 1,25 risco 1,08 alunos 1,08 estudo 1,08 trabalho 1,08
59
artigos como um dos quadros frequentes entre médicos e estudantes de medicina.
Já o termo fisioterapia está relacionado ao artigo que aborda a prevalência de
depressão entre estudantes universitários e compara os índices de depressão e
risco de suicídio entre estudantes de medicina, fisioterapia e terapia ocupacional.
Em relação ao processo de trabalho, ganham destaque artigo que aborda o
grupo de enfermeiros questões sobre violência (acidentes de trabalho e agressões
físicas provocadas por pacientes e desconhecidos) e assédio moral. No grupo de
médicos e estudantes de medicina aparecem questões sobre estresse que aparece
já durante o curso, além de transtornos de ansiedade, que poderiam estar ligados à
intensa competição existente entre os alunos pelas melhores notas e por vagas em
estágios e residências, ou dificuldades de adaptação às exigências do curso (Figura
14).
Figura 14 ─ Palavras mais frequentes a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
60
Tabela 12 ─ Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
Tais exigências incluem dedicação intensiva aos estudos e consequente
redução do lazer e dos vínculos sociais. Os artigos afirmam que esse contexto se
intensifica na fase de residência médica, com aumento do desgaste físico e
emocional associado a sobrecarga horária, com plantões longos e algumas vezes
sem descanso entre eles e com privação de sono. Ocorre também o contato mais
frequente com a dor, o sofrimento, a intimidade corporal e emocional dos pacientes;
acompanhados por incertezas e limitações do conhecimento médico, que perduram
por toda a carreira (SOARES et al., 2012).
No que se refere aos resultados dos artigos, a figura 15 evidencia a elevada
frequência da palavra alunos, que reflete o interesse no estudo do suicídio entre os
estudantes de medicina. Neste grupo o suicídio é a segunda causa de morte. São
destacadas também as palavras violência, que, conforme já mencionado, aparece
no artigo sobre enfermeiros (CONTRERA-MORENO, 2004), e risco, relacionada ao
risco de desenvolvimento de burnout em médicos residentes (SOARES et al., 2012).
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 1,60 fatores 1,24 médica 1,24 profissional 1,24 violência 1,06 médico 0,89 residência 0,89 condições 0,71 curso 0,71 estresse 0,71
61
Figura 15 ─ Palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos sobre profissionais de
saúde
Fonte: Elaboração própria
Tabela 13 ─ Porcentagens das palavras a partir do item resultados nos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
Por meio de entrevistas realizadas com alunos do curso de medicina,
Cavestro e Rocha (2006) identificaram uma quantidade significativa de relatos de
alunos que viveram uma fase de depressão após o início do curso. Esse fato pode
estar associado às perdas com que os alunos se deparam desde o início da
graduação, como a redução do convívio social e familiar, o fim da idealização do
curso e da fantasia de onipotência do médico, e o contato com os problemas
cotidianos da profissão. Quase 20% dos alunos relatou ter ideação suicida. O uso de
Palavras % em relação ao total de palavras
suicídio 0,98 alunos 0,95 trabalho 0,85 violência 0,69 médicos 0,54 risco 0,51 medicina 0,50 estudo 0,43 fatores 0,37 paciente 0,36
62
drogas também se mostrou elevado, o que, juntamente com os demais resultados,
sugere que os estudantes de medicina entrevistados se encontravam em uma
condição de risco.
Um dos artigos (MELEIRO, 1998) cita estudos que sugerem maiores taxas de
suicídio em determinadas especialidades: anestesista, psiquiatra, oftalmologista e
patologista. Uma possível explicação seria que após ter longo e árduo treinamento
médico para doenças físicas durante o curso, os psiquiatras têm exigido uma
espécie de recomeço em um campo com expectativas, demandas e imposições
sociais maiores. Para as demais especialidades, os textos examinados não indicam
possíveis explicações.
Os principais fatores associados (Figura 16) que se destacam neste grupo
ocupacional são o conhecimento farmacológico que o médico possui e a facilidade
de acesso aos meios de cometer suicídio, tornando qualquer tentativa altamente
letal (MELEIRO, 1998). Essas análises confirmam a literatura internacional e
brasileira acerca dos principais fatores de risco, apontados por Stack (2001) e
Guimarães (2012). Além desses, o uso abusivo de álcool e outras drogas também
são apontados (AGARIE et al., 1983), o que se aproxima dos fatores associados
entre o grupo de policiais.
Figura 16 ─ Palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
63
Tabela 14 ─ Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados nos artigos sobre profissionais de saúde
Fonte: Elaboração própria
A leitura dos artigos permite identificar outros efeitos negativos para a saúde,
como tensão muscular, estresse, fadiga, irritabilidade, distúrbios de sono e de
alimentação, que podem ter relação com conflitos internos em ligados a sentimentos
negativos para com o paciente e seus familiares (MELEIRO, 1998), ou o vínculo
excessivo e a identificação com aquele que é atendido. Esses sentimentos confusos
podem contribuir para baixa autoestima, falta de motivação, e, nos casos mais
graves, manifestações suicidas e distúrbios psicossomáticos.
É importante ressaltar que estes profissionais precisam lidar frequentemente
com a morte, que remete aos limites da medicina e aos próprios limites, além da
tensão diante do risco de se cometerem erros graves em sua atuação. Estes dois
aspectos aproximam características da atividade do médico e do policial, indicando a
relevância de se discutir tais questões no contexto profissional de cada grupo.
5.1.4 Categorias Gerais
Nos cinco artigos que abordam a relação entre suicídio e trabalho de forma
abrangente, sem discutir profissões específicas, as dez palavras mais frequentes
refletem os temas principais – trabalho, suicídio, saúde, laboral, pessoas,
mortalidade, mundo, estudo, mental, social (Figura 17). A palavra social aparece
associada com maior frequência ao sentido social do suicídio cometido no trabalho,
ou ao contexto social do mundo contemporâneo, com diferentes exigências feitas ao
homem e crescente insegurança no que se refere aos vínculos empregatícios.
Palavras % em relação ao total de palavras
médicos 2,28 suicídio 2,28 risco 0,98 medicina 0,87 população 0,87 suicida 0,87 burnout 0,76 drogas 0,76 colegas 0,65 suicídios 0,65
64
Em todos os artigos deste grupo é discutida a saúde mental do trabalhador,
em articulação com os efeitos da organização e da precarização do trabalho,
palavras que também são localizadas na figura 17. As categorias sofrimento no
trabalho, organização do trabalho, precarização, depressão e alcoolismo também se
destacam na maioria desses estudos.
Figura 17 ─ Nuvem de palavras mais frequentes nos resumos dos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria Tabela 15 ─ Porcentagens das palavras nos resumos dos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 3,39 suicídio 3,21 saúde 0,71 laboral 0,71 pessoas 0,71 mortalidade 0,71 mundo 0,54 estudo 0,54 mental 0,54 social 0,54
65
Sobre o processo de trabalho, as palavras que se destacam como mais
frequentes, além das categorias centrais (suicídio e trabalho/trabalhador) são
mundo, clima, controle, formas, laboral, mental e pessoas (Figura 18).
Figura 18 ─ Palavras mais frequentes a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
Tabela 16 ─ Porcentagens das palavras a partir do item processo de trabalho nos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
A leitura dos artigos permite identificar a que contexto estas palavras se
referem. A palavra Mundo aparece associada aos dados sobre suicídio no mundo,
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 3,40 trabalhador 1,26 suicídio 0,97 mundo 0,78 clima 0,49 controle 0,49 formas 0,49 laboral 0,49 mental 0,49 pessoas 0,49
66
mas também está relacionada ao mundo do trabalho, que passou por
reestruturações importantes na segunda metade do século XX. Tais modificações
teriam contribuído para maior tensão e sofrimento do trabalhador, que é exigido em
termos de flexibilidade e adaptação à lógica do mercado.
Clima tem a ver com clima organizacional, clima de competição entre
profissionais e clima de tensão nas empresas devido às cobranças excessivas
provenientes dos novos métodos de gestão. A palavra controle aparece associada a
contextos diversificados, como controle de variáveis nas pesquisas, controle das
condições de trabalho pelos órgãos de fiscalização, controle da execução do
trabalho pelos modelos de gestão e instrumentos de controle sobre o trabalhador.
Formas têm a ver mais frequentemente com formas de gestão, racionalização e
organização do trabalho. Estas são apontadas como importantes fontes de
adoecimento físico e mental do trabalhador, ao exigirem metas cada vez mais
inalcançáveis e priorizarem o lucro em detrimento da saúde do profissional.
O termo laboral se refere às discussões sobre o contexto laboral
contemporâneo, principalmente nas grandes empresas, nas quais a avaliação
individual de desempenho e as ameaças de desemprego contribuem para maior
competição entre pessoas de um mesmo setor, extinguindo os laços de
solidariedade e reforçando a submissão do trabalhador a condições cada vez mais
adoecedoras. A palavra se articula também com o suicídio laboral, que, segundo os
artigos, tem crescido em muitos países.
A palavra Mental aparece associada às análises que os autores fazem
acerca da saúde mental do trabalhador e a palavra pessoas aparece na maioria das
vezes associada a resultados de pesquisas e dados estatísticos, como por exemplo,
número de pessoas que cometeram suicídio, pessoas desempregadas, pessoas
ocupadas; ou associada ao termo gestão de pessoas.
Todas estas palavras mostram o tipo de abordagem dos autores acerca do
mundo do trabalho e sua relação com o suicídio, diferindo-se de uma discussão
psicológica que atribuiria os fatores associados ao fenômeno apenas a conflitos
psicológicos, sem questionar os aspectos sociais, políticos e econômicos que
compõem todo o cenário de adoecimento e o aumento do número de suicídios
vinculados ao contexto laboral.
No que se refere aos resultados, além de avaliar as palavras mais frequentes
(Figura 19), foi necessário ampliar a análise por meio da leitura dos artigos. Os
67
autores apontam que o sofrimento mental resultante da organização do trabalho
pode atingir níveis extremos como a depressão e o suicídio. Todos os cinco artigos
fazem uso das considerações do psicanalista Christophe Dejours, por isso seu nome
aparece com frequência na nuvem de palavras na figura 19.
Figura 19 ─ Palavras mais frequentes a partir do item resultados nos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
Tabela 17 ─ Porcentagens das palavras a partir do item resultados nos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 2,66 suicídio 0,60 trabalhador 0,57 saúde 0,49 sofrimento 0,43 organização 0,35 doença 0,32 Dejours 0,31 social 0,31 transtornos 0,31
68
Dejours é um dos grandes nomes da chamada Psicodinâmica do Trabalho e,
em 2009, publicou um livro, juntamente com a psicóloga Florence Bègue, sobre
suicídios cometidos no trabalho. Nesta obra são discutidos os danos à saúde mental
do trabalhador, relacionados às novas técnicas de gestão de pessoal e ao intenso
processo de terceirização.
Os autores (DEJOURS E BÈGUE, 2009) destacam que os trabalhadores que
mais sofrem com estas alterações são os profissionais mais envolvidos com o
trabalho. Podem adoecer gravemente diante de situações de impasses da
organização do trabalho, como excesso de demanda e responsabilidade,
desproteção e culpabilização em situações de violência, chantagens e ameaças por
parte de superiores na hierarquia, humilhações e rechaços no ambiente de trabalho.
Os artigos que abordam as Categorias Gerais também apresentam resultados
de outros estudos nos quais a precarização e o estresse pelo trabalho parecem
estar de fato associados ao suicídio, principalmente aqueles que são cometidos no
local de trabalho, como uma mensagem endereçada àquele contexto. Além do
crescimento do trabalho temporário e com vínculo frágil, que exerce papel
importante para neutralizar a mobilização coletiva, contribuindo para a
individualização de comportamentos (VENCO e BARRETO, 2010).
O clima de permanente competição, tanto individual quanto coletiva, vai se
mantendo suportável pela perspectiva da manutenção do emprego, entretanto,
alguns sujeitos chegam ao limite do sofrimento e adoecem em decorrência do
trabalho. Podem chegar ao quadro de depressão severa e também de suicídio.
Corroborando com esta colocação, um dos artigos aponta que nos últimos anos
cresceu o número de pessoas que cometeram suicídio no local de trabalho. A
análise de casos permitiu encontrar elevado índice de transtornos de humor,
especialmente depressão.
Um dos artigos (GOMIDE, 2013) faz a relevante análise de que a impotência
daquele que dá fim à própria vida no ambiente laboral acaba por perpetuar as forças
que o fizeram adoecer: o poder das novas organizações de trabalho calcadas no
que os autores chamam de gestão do terror, que impele ao desvio da atuação ética
em prol do cumprimento dos padrões exigidos, sob ameaças de exclusão e de
demissão.
69
Os principais fatores associados foram desemprego e doenças mentais,
principalmente a depressão (Figura 20). No caso do desemprego, mostrou-se
especialmente associado ao suicídio entre homens, que ainda são vistos por grande
parte da sociedade como provedores do sustento da família. Perder este lugar pode
ser subjetivamente desestruturante para alguns sujeitos.
Figura 20 ─ Palavras mais frequentes a partir do item fatores associados nos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
Tabela 18 ─ Porcentagens das palavras a partir do item fatores associados nos artigos sobre suicídio e trabalho
Fonte: Elaboração própria
Palavras % em relação ao total de palavras
trabalho 3,98 suicídio 2,34 desemprego 1,17 associado 0,94 população 0,94 setor 0,94 doenças 0,70 emprego 0,70 inversamente 0,70 mentais 0,70
70
A imagem possibilita identificar também sofrimento no trabalho, estresse,
burnout e absenteísmo. O assédio moral é um dos fatores presentes no novo
modelo de organização do trabalho denominado nos artigos de gestão do terror
(GOMIDE, 2013; MINGHETTI et. al. 2014), com cobranças excessivas que
mobilizam e fortalecem nos indivíduos seus traços autoritários, características
individuais tornadas necessárias à produção e adequadas ao clima social com
tendências destrutivas.
Medidas punitivas e falta de valorização também são apontados como fatores
associados, especialmente nos casos em que o trabalhador é muito envolvido com o
alcance das metas e não obtém reconhecimento pelo seu empenho (MINGHETTI et.
al., 2014). O sentimento de injustiça pode produzir isolamento, quadros depressivos
e comprometer ainda mais o desempenho do trabalhador.
Os artigos também indicam que o contexto de instabilidade comum em muitas
ocupações configura-se como terreno favorável para o surgimento de patologias do
medo, cujas características de angústia frente às incertezas podem ser comparadas
às vivenciadas pela situação de desemprego (VENCO e BARRETO, 2010).
Deste modo é possível perceber que a nova realidade do mundo do trabalho -
precarizado, flexível, fragmentado e produtor de desemprego - usa frequentemente a
ameaça e as cobranças sistemáticas como instrumento de controle, podendo
desestruturar emocionalmente o trabalhador. Evidencia-se que estes autores
(VENCO e BARRETO, 2010; MINGHETTI et. al., 2014) entendem o sofrimento
laboral e o suicídio a ele associado como reflexos das grandes mudanças
decorrentes da reestruturação produtiva no final do século XX, que têm produzido
efeitos extremamente danosos aos sujeitos, inclusive o suicídio como último recurso
diante das frustrações e do sentimento de desamparo social.
71
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho investigou como a literatura brasileira, da área da saúde e afins,
aborda os temas suicídio ocupacional e suicídio policial. Buscou-se analisar a
existência de consenso entre os estudos encontrados, quais as categorias
ocupacionais seriam apontadas como grupo de risco e os possíveis fatores
ocupacionais associados ao suicídio nesses grupos. Foram identificadas as revistas
científicas que publicaram sobre o tema no período de 1980 a 2014. O mapeamento
das áreas de conhecimento dessas publicações e o modo como os temas suicídio e
ocupação são abordados pela literatura também foram objeto de investigação.
É importante destacar que alguns estudos acadêmicos já existentes no país
sobre o tema não foram localizados por meio das buscas nas bases de dados
previamente definidas, o que pode estar relacionado ao fato de alguns trabalhos
ainda não terem sido incluídos nelas.
Além disso, algumas instituições de ensino não enviam suas teses e
dissertações para estas bases, o que sugere que futuros estudos sobre o tema
realizem busca em cada uma das revistas acadêmicas das diferentes instituições de
ensino e pesquisa, e nos catálogos de teses e dissertações das bibliotecas de
universidades e institutos. Há ainda os estudos que abordam o tema de forma
indireta, sem destacar em seus objetivos a busca da relação entre suicídio e
ocupação e sem apresentar nos resumos as categorias selecionadas pelo presente
estudo para realização das buscas.
Em relação às publicações sobre suicídio policial, foram localizados apenas
dois artigos nas bases selecionadas, o que pode estar relacionado tanto às
dificuldades de acesso aos dados em instituições militares, quanto ao próprio tema,
que pode é um tabu em toda a sociedade. Além disso, explorar o tema pode trazer à
tona os conflitos emocionais associados ao processo de trabalho do policial,
lançando luz também sobre as mazelas institucionais que geram adoecimento em
sua tropa. O que sugere que as manifestações suicidas estão associadas tanto a
conflitos psicológicos quanto a fatores ocupacionais e às relações estabelecidas no
trabalho. Com isso, é relevante fomentar a realização de outros estudos que
ampliem as buscas já realizadas sobre o tema, de forma que a relação ente suicídio
e ocupação seja incluída na agenda de pesquisa do campo da Saúde do
Trabalhador.
72
A análise dos resultados indicou que a maior parte das 17 publicações
localizadas trata do tema entre profissionais de saúde (7). O segundo conjunto de
publicações mais frequentes aborda a relação entre suicídio e trabalho de modo
geral (5). Outros 3 artigos abordam o comportamento suicida entre bancários e 2
entre policiais. Tratam-se basicamente de estudos de caso e revisões bibliográficas.
Deve-se destacar que a produção acadêmica localizada não reflete totalmente as
taxas de suicídio discutidas no item Revisão da Literatura. Contextos distintos
operam na obtenção e divulgação de dados e na publicação de artigos científicos.
Na análise exploratória se destacaram os temas trabalho, suicídio, saúde,
trabalhadores, sofrimento e organização, o que pode sugerir que algo da instituição
e da organização do trabalho contribui para o quadro de sofrimento que pode
culminar em suicídio. As análises detalhadas sobre os conjuntos de temas mais
abordados nos artigos indicam associação entre sofrimento e as reestruturações
produtivas ocorridas no mundo do trabalho no final do século XX, em um contexto de
precarização e crescente terceirização.
Nos artigos sobre suicídio em bancários destacam-se o sofrimento do
trabalhador e o comportamento suicida associado ao aspecto laboral, especialmente
no contexto de assédio moral e absenteísmo, característicos dos novos modelos de
organização do trabalho deste setor, com crescentes exigências e controle rigoroso
sobre o processo de trabalho. Ganham destaque os casos de devoção excessiva do
trabalhador à empresa, aspecto estimulado como símbolo de sucesso e realização
profissional, mas que pode gerar intenso adoecimento quando metas não são
alcançadas ou quando os esforços não são reconhecidos.
Nos dois artigos sobre suicídio entre policiais militares destacam-se estresse,
depressão, alcoolismo e consumo de outras substâncias químicas. Fatores
associados ao processo de trabalho do policial militar, com equipamentos e
instrumentos inadequados, baixos salários e falta de capacitação profissional. Nota-
se aqui a complexidade das manifestações suicidas neste grupo resultante da
interação de todos esses aspectos juntamente com conflitos nas relações familiares,
a morte comparecendo como uma realidade constante, a falta de valorização interna
– com grandes barreiras nos relacionamentos interpessoais – e externa, a carência
de espaço para o diálogo e para reflexões sobre aspectos emocionais, o ambiente
de trabalho perigoso, o baixo controle sobre o processo de trabalho, as longas
jornadas de trabalho em razão das escalas e dificuldades de ascensão profissional.
73
Entre os profissionais de saúde no grupo dos enfermeiros são destacadas
como fatores associados às questões sobre violência (acidentes de trabalho e
agressões físicas provocadas por pacientes e desconhecidos) e assédio. No grupo
de estudantes de medicina aparecem questões sobre estresse, morte, risco, burnout
e ansiedade. Este quadro aparece associado às perdas com que os alunos se
deparam no transcorrer do curso, como a redução do convívio social e familiar, o fim
da idealização do curso e da fantasia de onipotência, e o contato com os problemas
da profissão médica.
Entre os médicos, além dos fatores citados acima, ganham destaque o
elevado uso de drogas, o desgaste físico e emocional relacionado à sobrecarga
horária, à privação de sono, ao contato frequente com a dor e o sofrimento, bem
como às incertezas e limitações do conhecimento médico.
Nos artigos que abordam a relação entre suicídio e trabalho de forma geral,
ganha destaque a discussão sobre o processo de trabalho que pode gerar intenso
sofrimento mental a ponto de resultar em depressão e o suicídio. Destaca-se assim
o quanto a organização do trabalho pode atingir níveis extremos de adoecimento. Os
fatores associados mais discutidos foram assédio moral, medidas punitivas,
sentimento de injustiça, desemprego e instabilidade no trabalho.
Todos os cinco artigos sobre suicídio e trabalho fazem uso das considerações
do psicanalista Christophe Dejours, que é um dos grandes nomes da Psicodinâmica
do Trabalho e contribui de maneira significativa para a discussão dos efeitos
deletérios à saúde mental do trabalhador, advindos dos novos métodos de avaliação
individual de desempenho e das técnicas ligadas à chamada “qualidade total”. O
autor aponta que este novo modelo de gestão tem como um de seus efeitos o
incentivo ao alcance de metas a qualquer custo, ainda que comprometa a
cooperação entre pares e fomente a concorrência entre pessoas e entre equipes.
Este modelo vem acompanhado da intensificação do processo de
terceirização e precarização das condições de trabalho, com aumento dos contratos
temporários, que contribui para a instabilidade do emprego. Com a exigência de
flexibilidade para o exercício de múltiplas funções, o trabalhador precisa se submeter
a padrões coercitivos, o que contribui para a neutralização da mobilização coletiva e
para a individualização de comportamentos. Esta forma de apropriação do trabalho e
da subjetividade do trabalhador pode gerar isolamento e adoecimento.
74
Existe um consenso entre os artigos investigados em relação à complexidade
e ao caráter multifatorial do comportamento suicida, assim como em relação ao
sofrimento decorrente do trabalho, apresentado como um importante fator associado
ao fenômeno. Estes estudos indicam que o processo de trabalho, a forma como ele
é organizado, e as características de ocupações específicas, produtoras de elevado
estresse e desgaste emocional e físico, decorrente de cobranças excessivas, pouco
tempo de descanso e dificuldades nas relações no ambiente de trabalho, são fatores
associados ao suicídio de trabalhadores, especialmente entre médicos e estudantes
de medicina, bancários e policiais. Este cenário parece ser agravado pela
precarização e pela instabilidade no emprego ou no posto de trabalho.
As áreas de conhecimento que publicaram esses estudos são: Administração,
Enfermagem, Medicina, Psicologia, Psiquiatria, Saúde Pública, Saúde Coletiva,
Saúde Ocupacional e Sociologia. As áreas que mais publicaram foram Medicina e
Psicologia, com três estudos cada uma.
Muitos dos trabalhos acadêmicos aqui estudados, especialmente teses e
dissertações sobre o tema, não estavam inseridos nas bases de dados SCIELO e
CAPES. Por essa razão, recomenda-se que novos estudos façam busca de
publicações em revistas de instituição acadêmica específicas, e nas bibliotecas dos
cursos de pós-graduação. Espera-se que este procedimento possa enriquecer as
análises sobre as publicações brasileiras.
75
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