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SUELI AUGUSTI LIRA
SAÚDE MENTAL NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: UMA
ABORDAGEM PARA EDUCADORES
LOANDA – PR
2011
SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL
SUELI AUGUSTI LIRA
SAÚDE MENTAL NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: ABORDAGEM
PARA EDUCADORES
Material Didático Pedagógico (Unidade Didática) para Intervenção Pedagógica na Escola, apresentado à Secretaria Estadual de Educação do Paraná, como requisito à obtenção do título de Professor PDE, sob a responsabilidade da Universidade Estadual de Maringá – UEM tendo como orientadora a Professora Maria Júlia Lemes Ribeiro.
LOANDA – PR
2.011
SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL
SUMÁRIO
APESENTAÇÃO....................................................................................................... 04 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 05 A definição de Deficiência Intelectual e Transtorno Mental na concepção dos educadores .................................................................................. 06 Definindo Deficiência Intelectual e Transtorno Mental........................................ 08 Deficiência Intelectual............................................................................................. 08 Transtorno Mental................................................................................................... 09 1. TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO......................................... 11
1.1. Autismo......................................................................................................... 11 1.2 Transtorno Psicótico.................................................................................... 12
2. ESQUIZOFRENIA................................................................................................. 14
3. TRANSTORNO DE CONDUTA............................................................................ 15
4. TRANSTORNO DEPRESSIVO............................................................................ 17
5. TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO....................................................... 18 Estratégias de Atendimento para a prática pedagógica...................................... 19 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 21
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APRESENTAÇÃO
A Produção Didático - Pedagógica se constitui na organização do material
didático enquanto estratégia/metodologia que sirva aos propósitos do Projeto de
Intervenção Pedagógica na Escola, já apresentado anteriormente. O objetivo
preponderante do PDE é a articulação entre a teoria e prática no contexto específico
da escola, assim a produção didática – pedagógica é uma atividade incorporada
nesse contexto, com objetivos que atendem ao formato pertinente à práxis, ou seja,
capaz de imprimir ao material didático produzido e ao seu uso a reflexão teórica e a
proposta de ação cooperativa entre os professores e os alunos.
Este trabalho servirá de apoio à implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica proposto à professores das Escolas Especiais da Micro Região de
Loanda, que se dará por meio de um curso de extensão.
Pretende-se também que este trabalho possa contribuir para a
fundamentação de educadores, para que compreendam melhor as crianças e jovens
em suas manifestações e sentimentos e melhorem a relação interpessoal. Isto pode
ocorrer, identificando preventivamente os casos que necessitam de uma atenção
especializada e apoiando os tratamentos para o pleno desenvolvimento e preparo
para a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
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INTRODUÇÃO
Historicamente a Educação Especial e Saúde Mental trazem em seu bojo,
mitos e crenças, abordando questões de segregação e exclusão da pessoa com
deficiência e doença mental, em diversos períodos, fases e etapas. A exclusão
desses sujeitos que por muitas décadas geraram a marginalização e exclusão e
muitas vezes foram até banidos da sociedade. No entanto, percebe-se ainda,
muitos resquícios na atualidade, provocando dúvidas no cotidiano escolar,
manifestado pela multiplicidade de alunos com vários problemas de aprendizagem e
comportamento, e que na maioria das vezes não são identificados e atendidos nas
suas reais necessidades. Para tanto é necessária a mudança de paradigmas,
percepções e olhares neste contexto, focando a interlocução entre a Educação
Especial e os conhecimentos que a área da saúde mental podem contribuir na
prática inclusiva. Com esta perspectiva buscar medidas de intervenção compatíveis
com suas necessidades educacionais especiais, procurando alcançar resultados
satisfatórios tanto para o aluno como para o professor.
Esta unidade didática parte da necessidade de respostas educacionais que
contemplem os alunos que por algum motivo ou em algum momento precisem desta
educação especializada, de melhores condições para o seu desenvolvimento,
buscando unir saberes experiências, e assim caminhar numa perspectiva inclusiva
em prol do pleno aprendizado e do bem estar de todos os envolvidos.
O trabalho compreenderá uma rápida localização da Deficiência Intelectual,
depois, serão trabalhados os Transtornos Mentais, tendo como direcionamento as
propostas políticas educacionais vigentes.
Entende-se como necessário trabalhar a Deficiência Intelectual para
esclarecer aos professores a diferença existente com relação ao Transtorno Mental,
o que parece uma dificuldade recorrente entre os mesmos.
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A definição de Deficiência Intelectual e Transtorno Mental na concepção dos
educadores
Para a realização deste trabalho foi realizada uma pesquisa com professores
de escolas especializadas, que abarcou conhecimentos sobre a Deficiência
Intelectual e Transtornos Mentais, para que fosse programada a intervenção
considerando as demandas dos mesmos.
Com relação às perguntas feitas, pode-se identificar em algumas respostas,
palavras-chave que são coerentes com a temática e em outras percebe-se
claramente a “confusão” que alguns educadores têm em conceituar deficiência
intelectual e transtornos mentais, bem como em pontuar quais são os transtornos
mentais.
1 – Foram questionados: “como você entende a diferença entre doença
mental e deficiência intelectual”:
P1 - Doença mental é qualquer anormalidade, sofrimento ou
comprometimento de ordem psicológica e ou mental, já a deficiência
intelectual é a redução na capacidade intelectual de acordo com sua idade e
nível de experiência.
P2 - Doença mental ligada a transtornos mentais, o indivíduo não se
relaciona bem com outras pessoas, em certos momentos apresenta
nervosismo e agressividade, deficiência intelectual apresenta distúrbios
intelectuais, defasagem na aprendizagem, dificuldades para reter conteúdos.
P3 - A doença mental não deve ser confundida com deficiência intelectual, a
diferença é que na doença mental, a pessoa perde a noção de si mesma e
da realidade a sua volta, é caracterizada como doença e não como
deficiência, na deficiência intelectual a pessoa se relaciona com o mundo de
forma diferenciada da maioria das pessoas. A deficiência intelectual não é
uma doença, mas uma incapacidade intelectual em determinadas áreas de
acordo com o comprometimento de cada indivíduo.
2 - “Quais transtornos (doenças mentais) tem na sua escola”, ficou evidente
pelas respostas dadas, que alguns não têm um entendimento claro a esse respeito.
P5 - Hidrocefalia, paralisia cerebral, síndrome de down, autismo.
P10 - Autismo, hiperatividade, paralisia cerebral, síndrome de down .
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P11 - Paralisia cerebral, síndrome de down, autismo, hidrocefalia,
hiperatividade.
3 – “Que conhecimentos sobre a prática pedagógica você tem para atuar
com estes alunos com transtornos mentais”, nesta questão todos entendem que é
necessário um trabalho multiprofissional, e que sozinhos educadores não
conseguem desenvolver um trabalho satisfatório, que atenda esses alunos.
P4 - Primeiro conhecer bem e fazer juntamente com a equipe
multidisciplinar um estudo e ser repassado para o professor métodos de
como trabalhar. Dentro da minha prática não temos todo o conhecimento,
por isso devemos estudar caso a caso.
P3 - Após diagnósticos (considerando os limites intelectuais e dependendo
dos níveis de comprometimento), o aluno irá precisar de apoio e
oportunidades podendo ser produtivo e integrado socialmente. A prática
pedagógica seria conteúdos curriculares adequados/flexibilidade, adaptação
curricular, metodologias diversificadas, avaliações diferenciadas, respeitando
seu ritmo quanto ao aprendizado acadêmico.
P1 - Por meio de leituras, conversa com a psicóloga e a partir daí oriento-me
para desenvolver o trabalho com os alunos.
4 - “Já participaram de capacitação profissional com o tema Transtornos Mentais,
onde, quando e que tipo de conteúdos foram trabalhados”?
P1 - Sim, mas foi em forma de seminário com duração de oito horas e foi
passado somente noções de algumas doenças e deficiências sendo os
conteúdos de maneira superficial.
P3 - Sim, em curso de capacitação ofertados pela Secretaria Municipal de
Educação, Gerando Saúde Mental, os conteúdos trabalhados, como se
desenvolve (histórico da doença), como agir quando o aluno está em crise.
P6 - Sim, em Nova Londrina, 2004, é importante citar, que este curso foi em
forma de seminário, em apenas um dia, e sem aprofundamento no assunto,
ou seja os conteúdos foram abordados bem no geral.
É possível perceber que muitas mudanças ainda ocorrerão no campo da
saúde mental, no que se refere ao resgate da cidadania do aluno. Para tanto, é
necessário que educadores conheçam os transtornos mentais, suas definições
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científicas, características, e recebam orientações em como trabalhar com esses
alunos.
Definindo Deficiência Intelectual e Transtorno Mental
Deficiência Intelectual
O Conceito de deficiência intelectual construído ao longo da história e tendo
em vista o momento sociocultural, tem se modificado ao longo de tempos e lugares,
em diferentes culturas.
Ao longo da história, muitos conceitos existiram e as pessoas com esta
deficiência, já foram denominadas como: “oligofrênica; cretina, tonta, imbecil, idiota,
débil profunda; criança subnormal; criança mentalmente anormal; mongolóide,
criança atrasada, criança eterna; criança excepcional; retardada em nível
dependente, treinável/adestrável ou educável; deficiente mental em nível leve,
moderado, severo ou profundo” (OMS, 1968).
Segundo a Associação Americana de Retardo Mental – AAMR, no Sistema
2002 adota a seguinte definição de deficiência mental:
Deficiência caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual da pessoa e no seu comportamento adaptativo – habilidades práticas, sociais e conceituais – originando-se antes dos dezoito anos de idade. (AAMR,2002, p.8)
No entanto, conceitos são em geral, limitados, tendo em vista as múltiplas
influências que os circunscrevem, portanto, como outros, o de deficiência intelectual
não é imutável nem estático, variando no compasso da história e a época, por meios
de estudos e pesquisas vão se mudando as visões e os conceitos.
No Decreto nº 3298/99 no seu artigo 4º, inciso IV, baseado no DSM de
1995, deficiência mental refere-se ao funcionamento intelectual significativamente
inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas
a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidados
pessoais, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e
segurança, habilidades acadêmicas, lazer, trabalho, autonomia e independência.
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A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada em 1995,
quando a Organização das Nações Unidas (ONU), realizou em Nova York o
simpósio chamado “Deficiência Intelectual: Programas, Políticas e Planejamento
para o Futuro”, onde o termo intelectual utilizado refere-se ao funcionamento do
intelecto especificamente e não ao funcionamento da pessoa como um todo.
No entanto somente em outubro de 2004, a Organização Pan-Americana da
Saúde e a Organização Mundial de Saúde realizou a Conferência OPS/OMS (no
qual o Brasil participou) em Montreal, Canadá, evento esse que aprovou o
documento “Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual”.
De acordo com a Secretaria de Estado da Educação do Paraná e
Departamento de Educação Especial, uma das características do sujeito com
deficiência intelectual é a “significativa limitação do funcionamento na área
intelectual e, o reconhecimento do atraso desta área, o qual permite elaborar e
desenvolver um trabalho que atenderá suas peculiaridades e limitações, passando,
então a não ser mais concebida como um traço definitivo e imutável, mas como uma
condição, à medida que suas necessidades especiais sejam respondidas, visando
seu desenvolvimento global” (SEED/DEE, 2006, p.1).
Transtorno Mental
De acordo com o CID-10 (OMS, 1993), o termo “transtorno” não é exato,
porém é usado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou
comportamentos clinicamente reconhecíveis, associados na maioria dos casos, a
sofrimento e interferências com funções pessoais. A incidência de transtornos
mentais na infância, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é de 10 a
20% de crianças em idade escolar, o que representa aproximadamente 12 milhões
entre crianças e jovens.
As doenças psíquicas anteriormente eram classificadas basicamente em
neurose e psicose. Sendo que a partir da Classificação Internacional das Doenças
em sua 10ª revisão CID-10 e na obra da última edição do Manual de Diagnóstico e
Estatística de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-
IV-1994), há uma nova classificação e um detalhamento de categorias de
transtornos mentais e de comportamento.
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Popularmente os termos “loucura”, “doença mental”, utilizados
historicamente, eram carregados de discriminação e preconceitos. A nomenclatura
utilizada hoje pelo Ministério da Saúde é Transtorno Mental, e pelo Ministério da
Educação é Transtornos Globais do Desenvolvimento utilizado a partir do
documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva – Portaria nº 555 de 07/01/2008, que define esses alunos como aqueles
que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na
comunicação, um repertório de interesses e atividades restritos, estereotipados e
repetitivos.
A nomenclatura utilizada na Educação até 2007 era, Condutas Típicas, que
começou a ser amplamente divulgada na década de 90, para referenciar alunos que
apresentavam distúrbios de comportamento.
Segundo documentos oficiais do Ministério da Educação o conceito
Condutas Típicas, refere-se: “manifestações típicas de síndromes e quadros
psicológicos, neurológicos e ou psiquiátricos persistentes que ocasionam atrasos no
desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira
atendimento educacional especializado”( Brasil, 1994, MEC – SEESP p.14).
A partir de 2008, Transtornos Globais de Desenvolvimento refere-se
especificamente a alunos com diagnósticos de autismo, síndromes do espectro de
autismo, como por exemplo: Síndrome de Asperger e Rett e Psicose Infantil.
Nessa produção da Unidade Didática que tem como objetivo preparar o
professor da escola especializada para o atendimento do aluno com transtorno
mental será estudado os transtornos mais encontrados e citados na pesquisa
realizada com professores que atuam nas escolas especiais.
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1. TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO
Segundo o DSM-IV esse grupo de transtornos é caracterizado por
anormalidades qualitativas em interações sociais recíprocas, em padrões de
comunicação, por um repertório de interesses e atividades restrito, esteriotipado e
repetitivo. Essas anormalidades qualitativas são um aspecto invasivo de
funcionamento do indivíduo em todas as situações, embora possam variar em grau.
Na maioria dos casos, o desenvolvimento é “anormal” desde a infância e, com
poucas exceções, as condições se manifestam nos primeiros quatro anos de vida. O
transtorno é diagnosticado com base nos aspectos comportamentais, independente
da presença ou ausência de quaisquer condições médicas associadas: Autismo
Infantil, Autismo Típico, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da
Infância,Transtorno de Hiperatividade associado a retardo mental e movimentos
esteriotipados, Transtorno de Asperger, entre outros.
1.1. Autismo
O termo autista origina-se do grego autós, que significa “de si mesmo”.
Sendo empregado pela primeira vez pelo psiquiatra suíço E. Bleuler, no ano de
1911, o qual buscava descrever a fuga da realidade e o retraimento interior dos
pacientes acometidos de esquizofrenia.
Porém, só em 1943, Leo Kanner, psiquiatria austríaco, naturalizado
americano, publicou as primeiras pesquisas relacionadas ao autismo. Através de
seus estudos, constatou uma nova síndrome na psiquiatria infantil denominada, a
princípio de distúrbio autístico do contato afetivo. A denominação de Kanner deve-se
à observação clínica de crianças que não se enquadravam em nenhuma das
classificações existentes na Psiquiatria Infantil.
Segundo o psiquiatra Gustavo Teixeira, autismo é um Transtorno Invasivo
do Desenvolvimento caracterizado por prejuízos na interação social, atraso na
aquisição da linguagem e comportamentos esteriotipados e repetitivos. É uma
patologia grave, que se manifesta por toda a vida, frequentemente aparece nos três
primeiros anos de vida. Conforme o DSM-IV, a taxa média de prevalência do
Transtorno Autista em estudos epidemiológicos é de cerca de quinze casos por dez
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mil indivíduos, e é quatro a cinco vezes mais comum entre os meninos do que entre
as meninas.
Não há um único adjetivo que possa definir a pessoa autista, pois ela se
manifesta de várias formas, sendo assim, apesar de sabermos dos sintomas e
critérios diagnósticos, devemos levar em conta que cada criança é única.
Quando bebês apresentam grande déficit no comportamento social, evitando
contato visual e mostrando pouco interesse na voz humana, não colocando seus
braços à frente para serem levantados pelos pais, são indiferentes ao afeto e não
demonstram expressão facial ao serem acariciados.
O autista pode, se sentir incomodado por pequenas mudanças em sua rotina
diária, resultando às vezes em violentos ataques de raiva. Observa-se também uma
resistência em aprender ou a praticar novas atividades, bem como não demonstram
interesse em brincar com familiares ou com outras crianças, não há interesse por
jogos ou atividades em grupos. Suas ações se limitam a atos repetitivos e
esteriotipados.
1.2.Transtorno Psicótico
Segundo o DSM-IV – Diagnóstico de Saúde Mental, a psicose é entendida
como uma perda dos limites do ego ou um amplo prejuízo no teste da realidade. Na
primeira edição do Manual de Psiquiatria Infantil, Ajuriaguerra (1970), definiu psicose
infantil como um transtorno de personalidade dependente de um transtorno da
organização do eu e da relação da criança com o meio ambiente.
O termo psicose refere-se a delírios, alucinações proeminentes, discurso
desorganizado ou catatônico. Psiquiatras geralmente definem o termo como um
distúrbio da realidade, em contrapartida, numa visão psicodinâmica, a psicose seria
uma desorganização da personalidade, podendo então ser compreendida como uma
confusão entre o mundo imaginário e perceptivo na ausência do ego, segundo
Freud, estrutura limitante entre os dois mundos.
O índice mais evidente das características psicóticas presentes numa
criança seriamente perturbada é dificuldade de brincar. Destaca-se aqui em termos
estritos, não se trata de uma brincadeira como atividade lúdica, já que brincar
implica na possibilidade de simbolizar.
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Devemos levar em conta que a criança pode ter partes de sua personalidade
mais preservadas ou que conseguiram uma organização não psicótica e, a
possibilidade de expressar seu conflito dependerá da quantidade, da qualidade e da
inter-relação destas partes. Esta dificuldade vai desde a inibição total ou parcial do
brincar até a desorganização da conduta. Outros elementos costumam ser a
perseverança ou estereotipia na conduta verbal e pré-verbal, atitudes bizarras, as
dificuldades de adequação a realidade, tolerância a frustração e aprendizagem.
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2. ESQUIZOFRENIA
As manifestações iniciais da esquizofrenia são delírios, alucinações,
linguagem e comportamentos desorganizados, apatia marcante, pobreza de
discurso, embotamento ou incongruência de respostas emocionais e retraimento
social com falta de iniciativa. É uma situação que leva a pessoa a confundir fantasia
com realidade, e coloca em crise suas relações consigo e com o mundo.
De acordo com o Código Internacional de Doenças CID-10, os transtornos
esquizofrênicos são caracterizados, por distorções fundamentais e características
do pensamento, da percepção e também por afeto inadequado ou embotado. A
consciência clara e a capacidade intelectual são usualmente mantidas, embora
certos déficits cognitivos possam surgir ao longo do tempo. A perturbação envolve
as funções mais básicas que dão à pessoa normal senso de individualidade,
unicidade e de direção de si mesmo. Os pensamentos, sentimentos e atos mais
íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros e podem
desenvolver delírios explicativos, a ponto de que forças naturais ou sobrenaturais
trabalhem influenciando os pensamentos e as ações do indivíduo atingido de formas
bizarras.
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3. TRANSTORNO DE CONDUTA
Na base do transtorno de conduta está a tendência permanente para
apresentar comportamentos que incomodam e perturbam, além do envolvimento em
atividades perigosas e muitas vezes até mesmo ilegais. Não apresentam sofrimento
psíquico ou constrangimento com as próprias atitudes e não se importam em ferir
sentimentos de pessoas ou desrespeitar seus direitos. Portanto, seu comportamento
apresenta maior impacto nos outros do que em si mesmo.
Os comportamentos anti-sociais tendem a persistir, parecendo faltar a
capacidade de aprender com as consequências negativas dos próprios atos.
O quadro clínico do transtorno de conduta é caracterizado por
comportamento anti-social persistente com violação de normas sociais ou direitos
individuais. Os critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais – DSM-IV para esse transtorno incluem quinze possibilidades
de comportamento anti-social:
Frequentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros;
Frequentemente inicia lutas corporais;
Já usou armas que podem causar ferimentos graves (pau, pedra, caco de
vidro, faca, revólver);
Foi cruel com pessoas, ferindo-as fisicamente;
Foi cruel com animais, ferindo-os fisicamente;
Roubou ou assaltou, confrontando a vítima;
Submeteu alguém a atividade sexual forçada;
Iniciou incêndio deliberadamente com a intenção de provocar sérios
danos;
Destruiu propriedade alheia deliberadamente;
Arrombou e invadiu casa, prédio ou carro;
Mente e engana para obter ganhos materiais ou favores, ou para fugir de
obrigações;
Furtou objetos de valores;
Frequentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais (início
antes dos 13 anos);
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Fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora enquanto
morava com os pais ou pais substitutos, ou fugiu de casa uma vez,
ausentando-se por um longo período;
Falta na escola sem motivo, matando aulas frequentemente (início antes
dos 15 anos).
Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno de conduta aplicam-se
a indivíduos com idade inferior a 18 anos e requerem a presença de pelo menos três
desses comportamentos nos últimos doze meses e de pelo menos um
comportamento anti-social nos últimos seis meses.
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4. TRANSTORNO DEPRESSIVO
A depressão é considerada pela Organização Mundial de Saúde, uma das
dez principais doenças causadoras de incapacidade. Estimativas apontam que em
2020 a depressão será a segunda causa dentre todas as doenças.
Segundo artigo da Revista Brasileira de Psiquiatria, esclarece que a idade
de uma criança e o grau de desenvolvimento psíquico exercem papel importante nos
sintomas e nas manifestações clínicas da depressão, ela ainda considera que antes
da aquisição da linguagem verbal, uma criança manifesta depressão pela
expressão facial, pela postura corporal e pela falta de resposta aos estímulos
verbais e visuais. Quando deprimidas, podem apresentar humor irritadiço ou
instável. Enquanto algumas têm explosões descontroladas, outras aparentam
estarem tristes e choram à toa. Geralmente perdem interesse nas atividades de
lazer, não têm iniciativa de brincar e queixam-se de estar entediadas por não saber
do que brincar. Pode ocorrer indiferença afetiva, pouca reação a estímulos, queixas
inespecíficas e vagas dores de cabeça, musculares ou abdominais frequentes. Além
de apresentarem cansaço excessivo ou falta de energia.
Podem ainda ter dificuldade para adquirir o peso esperando para a idade,
mas algumas podem ter aumento de apetite e engordar demais.
Há queixas de pesadelo ou de despertar noturno, assim como insônia
acompanhada de ansiedade ou rituais noturnos, agitação psicomotora ou
hiperatividade com controle precário de impulsos. Além do aumento de
distraibilidade e dificuldade de memorização, baixa auto-estima, fala em ritmo
devagar e de forma monótona, falta de motivação e pensamento lentificado são
comuns e levam a uma piora no desempenho escolar.
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5. TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO
A característica essencial deste transtorno é um padrão recorrente de
comportamento negativista, desafiador, desobediente e hostil para com figuras de
autoridade em geral, pais, tios, avós, professores, que persiste por pelo menos seis
meses e se caracteriza pela ocorrência frequente de pelo menos quatro dos
seguintes comportamentos:
Perder a paciências;
Discutir, desafiar ativamente ou, recusar-se a obedecer à solicitação ou
regra dos adultos;
Deliberadamente fazer coisas que aborreçam outras pessoas;
Responsabilizar outras pessoas por seus próprios erros ou mau
comportamento;
Ser suscetível ou facilmente aborrecido pelos outros;
Mostrar-se enraivecido e ressentido;
Ser rancoroso ou vingativo.
Tais sintomas causam prejuízo significativo na vida social, acadêmica e
ocupacional da criança ou adolescente. Geralmente o transtorno tem seu início por
volta dos sete anos de idade, sendo mais prevalente em meninos. Apresentam com
frequência baixa auto-estima, fraca tolerância às frustrações, humor deprimido,
ataques de raiva, possuem poucos amigos pois são comumente rejeitados devido a
seus comportamentos impulsivos, opositivos e de desafio às regras sociais do
grupo. O desempenho escolar fica comprometido e reprovações escolares são
frequentes. Não participam de atividades em grupo, recusam-se a pedir ou aceitar
ajuda dos professores e querem sempre solucionar os seus problemas sozinhos.
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Estratégias de Atendimento para a prática pedagógica
Todas as pessoas podem apresentar sinais de transtorno mental em alguma
fase de sua vida, principalmente as crianças, os adolescentes, as mulheres na
gestação, no pós-parto, na menopausa e os idosos.
Ninguém tem uma saúde mental excelente o tempo todo, mas algumas
pessoas têm mais dificuldade para manter sozinha seu bem estar. Sintomas como
fraco rendimento, desatenção, apatia ou agressividade são facilmente confundidos
por professores e até mesmo pelos próprios pais, como preguiça, desinteresse,
rebeldia ou pouco caso.
Os alunos podem trazer consigo para a escola, um conjunto de situações
emocionais intrínsecas ou extrínsecas, próprias de sua constituição emocional ou
personalidade, e extrinsecamente podem apresentar as consequências emocionais,
suas vivências sociais e familiares.
Como exemplo da condição emocional intrínseca estão os problemas
psíquicos inerentes à própria pessoa, próprias do desenvolvimento da
personalidade, dos traços herdados e das características pessoais de cada um.
Exemplos: Ansiedade de separação na infância, os transtornos obsessivo-
compulsivo, autismo infantil, déficit de atenção, depressão, entre outros.
Em relação as questões extrínseca encontram-se as dificuldades
adaptativas da adolescência e puberdade, do abuso sexual infantil, gravidez na
adolescência, violência doméstica, problemas de separações conjugais dos pais,
morte na família, doenças graves.
A observação do professor é de extrema importância, uma vez que tem
contato estreito com o aluno em diversas situações, suas informações costumam ser
essenciais, porque um mesmo sintoma pode ser indício de vários transtornos
diferentes.
Fazer com que o professor possa enxergar mais e melhor os seus alunos e
suas necessidades tem sido uma luta árdua e duradora, e agora precisa se tornar
ainda mais intensa, pois a inclusão cobra de todos nós este comportamento.
Assim a inclusão deve ser, além de um conceito, um ato. E atos devem ser
transformados em ações, para que contribuam de fato em um trabalho escolar
inclusivo. A valorização das pessoas é uma das ações fundamentais para que o
sistema escolar possa contar com profissionais capacitados e habilitados a
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responder aos desafios e exigências da sociedade. Sabemos que a educação
inclusiva com seus determinantes complexos, é uma oportunidade para a revisão
das práticas escolares e para a reflexão das competências a serem desenvolvidas
pelos educadores.
Pensando em propor ações e criar ambientes de fato inclusivos podemos:
Estabelecer metas e objetivos a serem alcançados em parceria com
equipe multiprofissional;
Buscar informações relevantes, e manter o diálogo com todos os
profissionais envolvidos;
Ter iniciativas e visão de futuro em relação às ações educacionais
planejadas;
Ser criativo;
Trabalhar em equipe;
Mudar a forma como elaboramos nossos posicionamentos críticos;
Desenvolver a inteligência emocional: autoconsciência, reflexão,
gerenciamento de emoções, lidar com strees, empatia, comunicação,
responsabilidade pessoal, assertividade, dinâmica de grupo;
Desenvolver a inteligência emocional dos alunos como: perceber as
emoções dos alunos e as suas próprias, ouvir com empatia e legitimar os
sentimentos dos alunos, reconhecer a emoção como uma oportunidade
de intimidade e orientação, ajudá-los a verbalizar sua emoções, impor
limites, ajudando a encontrar soluções para seus problemas.
Entendemos que alunos com necessidades educacionais especiais no
campo da deficiência e da saúde mental desafiam educadores a repensar a vida ,
estigmas, ordem, métodos e paradigmas, no entanto exigem de nós uma nova
postura e atitudes inovadoras, que permita, abordar essas dificuldades e encará-las
junto transpondo dificuldades , tornando-nos assim pessoas mais humanas.
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6. REFERÊNCIAS
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inclusão. Curitiba: Pró-Infantil, 2008.
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