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Sucessões. O livro V dedica-se ao direito das sucessões. Estuda o instituto da sucessão. Todos morrem: só resta saber quando. Ubi homo, ibi societas; ubi societas, ibi ius sucessionis . Sem um ramo que tutelasse a situação jurídica que surge com a morte de alguém instalar-se-ia o caos. Compreende quatro títulos: sucessões em geral; sucessão legítima; sucessão legitimária; testamentária. A contratual não tem autonomia. A sucessão contratual é excepcional. Não se encontram muitos exemplos no CC. O 1700-1707 tem o grosso dessa regulação. O 2024º dá uma noção de sucessão. In ius omni definitio periculosa est. Diz-se que é o chamamento de uma ou mais pessoas a preencher um vazio jurídico. Não há no direito continental direitos sem sujeito. Os bens têm de ser atribuídos a alguém. Não há período de vazio, porque a aceitação tem efeitos retroactivos. É um ramo de direito que vê a morte como um facto que gera problemas carecidos de solução. Mas a pessoa pode continuar após a sua morte, através da sucessão. O direito das sucessões dá uma ideia de continuidade. Quando a pessoa morre, as suas situações jurídicas não ficam sem titular. Fala-se de sucessão mortis causa. Aqui, a morte é um facto principal, não se trata de uma situação com condição suspensiva (em que a morte seria acessória). Pode haver contratos como finalidade sucessória mas que, formalmente, não têm a morte como causa. Estes não são regulados pelo direito das sucessões. O direito das sucessões não regula a extinção de pessoas colectivas, apenas a sucessão por morte de uma pessoa singular. As pessoas colectivas podem herdar (2033/1, que reconhece capacidade sucessória geral ao próprio Estado; 2033/2/b)). O conceito de sucessão traduzir-se-ia numa aquisição derivada translativa (Pamplona Corte Real). A situação jurídica não se origina com a morte. JDP afastou-se desta definição. A ideia não traduz tudo. Se A constituir por testamento usufruto a favor de B, esta situação constituir-se-á no momento da morte: é aquisição derivada constitutiva. Assim, define como uma aquisição por morte de uma liberdade ou vinculação (activo ou passivo) à custa do património do falecido. Há várias figuras que têm finalidades sucessórias, mas que não se enquadram no conceito. O seguro de vida, p. ex., não é à

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Sucessões. O livro V dedica-se ao direito das sucessões. Estuda o instituto da sucessão. Todos morrem: só resta saber quando. Ubi homo, ibi societas; ubi societas, ibi ius sucessionis. Sem um ramo que tutelasse a situação jurídica que surge com a morte de alguém instalar-se-ia o caos. Compreende quatro títulos: sucessões em geral; sucessão legítima; sucessão legitimária; testamentária. A contratual não tem autonomia. A sucessão contratual é excepcional. Não se encontram muitos exemplos no CC. O 1700-1707 tem o grosso dessa regulação.O 2024º dá uma noção de sucessão. In ius omni definitio periculosa est. Diz-se que é o chamamento de uma ou mais pessoas a preencher um vazio jurídico. Não há no direito continental direitos sem sujeito. Os bens têm de ser atribuídos a alguém. Não há período de vazio, porque a aceitação tem efeitos retroactivos.É um ramo de direito que vê a morte como um facto que gera problemas carecidos de solução. Mas a pessoa pode continuar após a sua morte, através da sucessão. O direito das sucessões dá uma ideia de continuidade.Quando a pessoa morre, as suas situações jurídicas não ficam sem titular. Fala-se de sucessão mortis causa. Aqui, a morte é um facto principal, não se trata de uma situação com condição suspensiva (em que a morte seria acessória). Pode haver contratos como finalidade sucessória mas que, formalmente, não têm a morte como causa. Estes não são regulados pelo direito das sucessões.O direito das sucessões não regula a extinção de pessoas colectivas, apenas a sucessão por morte de uma pessoa singular. As pessoas colectivas podem herdar (2033/1, que reconhece capacidade sucessória geral ao próprio Estado; 2033/2/b)).O conceito de sucessão traduzir-se-ia numa aquisição derivada translativa (Pamplona Corte Real). A situação jurídica não se origina com a morte. JDP afastou-se desta definição. A ideia não traduz tudo. Se A constituir por testamento usufruto a favor de B, esta situação constituir-se-á no momento da morte: é aquisição derivada constitutiva. Assim, define como uma aquisição por morte de uma liberdade ou vinculação (activo ou passivo) à custa do património do falecido. Há várias figuras que têm finalidades sucessórias, mas que não se enquadram no conceito. O seguro de vida, p. ex., não é à custa do património do falecido. É um contrato a favor de terceiro, mas o valor é pago pela seguradora. A pensão de sobrevivência não é paga pela herança, mas pelo Estado.Âmbito da sucessão. Há situações jurídicas que cessam com a morte. A lei parece definir sucessão com base em critérios patrimoniais (2024º). As situações jurídicas de carácter pessoal não se transmitiriam. Ora, e os direitos de personalidade? Há vozes dizendo que se transmitem (Capelo de Sousa). De todo o modo, a distinção não é clara. O direito à imagem, tendo vertente pessoal forte, tem também vertente patrimonial (veja-se o caso dos jogadores de futebol, actores, etc.). Na Alemanha, houve decisões importantes sobre este problema. Apesar de, em geral, não se transmitirem situações jurídicas pessoais, há casos de fronteira.Também fora do âmbito sucessório está o testamento vital (documento no qual se indica que não se quer ser reanimado), porque não traduz uma situação mortis causa, mas um acto inter vivos susceptível de contribuir para a morte. Também as disposições em que se diz qual o destino a dar aos órgãos: não diz respeito à determinação e destino de uma coisa mortis causa, porque o cadáver é algo fora do comércio jurídico.O 2024º diz que não são objecto do direito das sucessões situações jurídicas patrimoniais que se extingam como a morte do seu titular: usufruto (1476/1/a)); direito de uso e habitação, pelo seu carácter; direito de alimentos, porque quem precisa dos alimentos é uma pessoa viva; deveres conjugais ou paternofiliais de assistência. Também as situações jurídicas que se extinguem não por força da sua natureza mas por

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força da lei (aquelas por normas injuntivas; estas por normas supletivas). Também as situações que foram tidas como intransmissíveis pelas partes (p. ex., sujeição do proponente em caso de proposta contratual).Será que quando uma pessoa morre os familiares têm direito a indemnização? Sim, pelo desgosto, p. ex. A própria pessoa que quase morrer. Essa indemnização até pode ser pela própria morte. JDP aceita esta ideia. Mas a indemnização não é atribuída no momento da verificação do dano? JDP diz que, no fundo, a indemnização não é necessariamente atribuída nesse momento. Pode haver danos futuros. Em geral, quando uma pessoa perde familiar próximo, isso é susceptível de indemnização. A própria pessoa que percebe que vai morrer sofre. Essa indemnização pode ser-lhe atribuída e transmitida por via sucessória. Menezes Cordeiro diz que isso se dá pelas regras sucessórias normais. Outros dizem que se dá através de regras especiais: sucessão anómala. Contrapõe-se à comum. A anómala será, p. ex., os direitos que o unido de facto sobrevivo tem, já que não é herdeiro.A própria morte (e não o sofrimento): poderá ser indemnizada? JDP, como vimos, defende hoje que sim.Espécies de sucessão e sucessíveis. A sucessão legítima é supletiva. As pessoas podem dispor de parte do seu património em testamento. A parte que não é regulada não fica sem destino: a lei diz o que acontece. Opera na ausência de vontade expressa válida e eficazmente pelo de cuius. Tem como beneficiários o cônjuge e ascendentes, descendentes, parentes mais próximos e Estado. Há ligação óbvia entre o direito da família e o direito das sucessões. Na dúvida, vai para a família.A legitimária (2157º) é uma reserva de bens em que o de cuius não pode tocar. É injuntiva. É atribuída ao cônjuge, descendentes e ascendentes. Os pais têm importância muito grande. Em França, porém, retirou-se a capacidade sucessória aos ascendentes.A voluntária (contratual ou testamentária). Porque só haverá autonomia sucessória do testamento? O direito das sucessões continua agrilhoado ao direito romano. O pater nomeava o seu sucessor em testamento: era uma questão política. A importância que tinha no direito romano é a que ainda hoje se lhe dá. Na idade média admitia-se os pactos sucessórios, dada a influência germânica. Mas com o renascimento do direito romano, veio-se dizer que os pactos só eram válidos em contratos matrimoniais. A justificação é histórica. Mas há países que vão permitindo contratos sobre sucessões, aumentando a autonomia contratual no direito das sucessões.Há uma hierarquia: legitimária, contratual (pacta sunt servanda), testamento (porque é unilateral); legítima (porque é supletiva). Uns revogam os outros.Herdeiro e legatário são coisas distintas. No direito romano, o herdeiro era o continuador pessoal do pater. Este tem de pagar dívidas. Já o legatário, porque só recebe um bem, não pagava. A lei distingue: herdeiro é aquele que recebe uma quota ou totalidade do património (mesmo que seja 1/1 000 000 da herança). Quem recebe bem determinado é legatário. Isto vem da associação que se faz entre a pessoa (alma) e o seu património. Quem dá quota, dá um pedaço da sua alma, dizia-se. Na sucessão voluntária pode haver herdeiro e legatário; na legal pode haver legatário, embora regra geral haja herdeiros.Sucessão pode ser comum ou anómala (regras especiais). Ao contrário do direito da família, o direito das sucessões ficou imóvel. Daí surgem dificuldades: o direito das sucessões é pensado em função da riqueza imobiliária, embora hoje a riqueza mobiliária tneha tanta importância como a outra (sobretudo desde a revolução industrial). O direito das sucessões ignora certas figuras que têm funções sucessórias (seguro de vida, doação com reserva de usufruto, etc.). O direito das sucessões admite a autonomia privada de forma muito restrita: não admite largamente o pacto sucessório e

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tem muitas regras injuntivas. A rigidez deste ramo jurídico é a circunstância de estar pensado como se a família fosse só a conjugal, de os filhos receberem todos a mesma coisa (será justo?). JDP diz que a renovação já começou, mas não no direito português.Conexões entre o direito das sucessões e o da família são óbvias. Diogo Leite de Campos defende uma recondução deste àquele. Mas se A fizer testamento, pode nomear quem quiser, não necessariamente os seus familiares. O direito das sucessões é caracterizado por tradicionalismo técnico (todo o direito das sucessões se reconduz ao confronto entre as ideias de protecção da família – germânica – e a legitimidade testamentária – romana). Diz-se que o direito das sucessões é o latim ou a matemática do direito privado.A situação jurídica típica do direito das sucessões é o direito de suceder, direito subjectivo potestativo. Esgota-se no momento do seu exercício. Não aceita condições ou termos.Sucessível é quem tem título designativo a seu favor. Há títulos negociais e não negociais. Alguém é chamado à sucessão através desses títulos. Os negociais são o testamento e o pacto sucessório; os não negociais são circunstâncias relevadas pela lei (relação de parentesco, cidadania, casamento, união de facto, economia comum). Assentam em relações jurídicas familiares ou para-familiares e no vínculo de cidadania.O título designativo não negocial é contemplado por lei. Quando a sucessão se funda na lei, é legal. Esta pode ser legítima ou legitimária. Se tiver por base título negocial, será testamentária ou contratual. O 2026º diz que a sucessão é definida por lei, testamento ou contrato. O 2027º concretiza a diferença entre sucessão legítima (supletiva – só funciona se não operar outra) e legitimária.Uma pessoa pode ser herdeira ou legatária (critério do objecto deixado). Se A deixa herança a B, este é herdeiro; se deixar bem concreto, é legatário (2030º). O 2030º fala das espécies de sucessores. Sucessor é quem é chamado à sucessão e aceita (o sucessível ainda não aceitou). O 2030/2 diz que é herdeiro quem sucede numa quota ou totalidade do património do de cuius. A deixa a B 20/ da herança, institui herdeiro. Se deixa a casa de Lisboa, nomeia legatário. É bem concreto e determinado. O herdeiro tem vocação universal, ampla.O 2030/2 diz que é havido como herdeiro quem for sucessor do remanescente do património do de cuius. A lógica é a da vocação universal. O remanescente é tudo o que o de cuius tem à data do testamento e (vocação universal) tudo o que tiver adquirido entre esse momento e o da sua morte. A lei salvaguarda a hipótese de haver “especificação” do de cuius em contrário. Só se qualifica como herdeiro se se identificar a vocação universal. Se se disser “deixo o remanescente, que é o bem x”, ainda há legado.O 2030/4 determina que o usufrutuário é sempre tido como legatário. “Deixo o usufruto de toda a minha herança a C” - nomeação de legatário. O direito de usufruto é muito limitado. O 2030/5: não interessam os termos usados pelo de cuius, só a materialidade subjacente. Não passa a ser herdeiro só porque o testador o qualifica assim. Não vincula.Há tendência para achar que o herdeiro recebe muito e o legatário pouco. Não é necessariamente assim. O legatário pode receber mais. Também não é pelo facto de o remanescente ser só um bem que passa a haver legado. O que interessa é a intenção do de cuius: se há ou não vocação universal.O 2030/2 deve ser lido como dizendo “determináveis”. Pode ser uma coisa genérica: “deixo a B as minhas coisas imóveis”. É uma categoria que posso concretizar no momento da morte. É deixada categoria abstracta de bens, mas concretizável.

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Há dois casos duvidosos. No caso de herança ex re certa, há deixas dicotomias ou categoriais ou legado por conta da quota. As deixas categoriais têm de esgotar a herança (não pode sobrar nada). Ex.: deixo a A os bens imóveis, a B os móveis”. A dúvida que se coloca é se A e B são herdeiros ou legatários. G. Telles defendeu que se tratava de legatários, porque estão em causa bens determináveis (2030/2, interpretando como vimos anteriormente). Quem defende que são herdeiros diz que ambas as categoriais funcionam como remanescente da outra (2030/3 – herdeiros).Corte Real e JDP defendem que são herdeiros. Recebem a totalidade da herança e ambos são remanescente do outro. Estão em causa quotas de bens. Outro exemplo: deixo a B os bens presentes e a C os bens futuros”. Também neste caso JDP e Pamplona sustentam que são herdeiros. O. Ascensão entende que um é legatário (o contemplado com os bens presentes) e o outro herdeiro (o dos bens futuros). Os presentes são limitados (vocação limitada). Os futuros revelam vocação universal (todo e qualquer bem que venha a adquirir até ao momento da morte). A Prof. Paula Barbosa não entende que faça sentido falar em duas categorias diferentes neste caso.Não é indiferente ser herdeiro ou legatário. Há um conjunto de efeitos que são distintos. Também o legado por conta da quota: “deixo 1/3 da minha herança e quero que ela seja preenchida com a casa de Lisboa”. Há uma quota e um legado.Aqui temos duas sub-hipóteses. A quota pode valer 100 e a casa 50. O que recebe a pessoa? Qual a intenção do de cuius? Quer deixa 1/3, mas também quer destinar aquele bem àquela pessoa. Contudo, não se trata de uma soma. O sucessor exige o bem (50) e 50 em dinheiro. Se a quota valer 50 e o legado 100, dada a dupla vontade do de cuius, a pessoa recebe o legado mas é herdeiro até ao valor da quota e legatário no valor em excesso. Tem sempre direito a receber a casa, já que era a vontade do de cuius. Mas se a quota só valia 50, o bem só é pagamento da quota até esses 50. No restante é considerado legatário.O que deve prevalecer? Entende-se que prevalece a qualidade de herdeiro, que é mais ampla. O título de legatário é consumido pelo de herdeiro.O legado em substituição da quota é outro caso problemático (2163º - 2165º). O 2163º é um exemplo de legado por conta da quota no âmbito da sucessão legitimária. Implica um acordo. O legado em substituição está no 2165º. Enquanto que naquele se tem direito à quota e ao bem (com aquelas variações), neste tem de se optar obrigatoriamente. É dada ao sucessível a opção.Relevância da qualificação. O s dois grandes efeitos-base são a responsabilidade pelo passivo perante credores e o direito de exigir a partilha. O direito de exigir a partilha (2101º) cabe, regra geral, ao herdeiro. Os legatário não o têm, em princípio. Se A deixa a casa x a B e C, eles são legatários. Só através de uma acção de divisão de coisa comum podem dividi-la (e não por processo de partilha). Excepções: não podem exigir a partilha o herdeiro universal e o herdeiro do remanescente. O universal recebe toda a herança (não há utilidade). No caso do herdeiro do remanescente também não haveria.Também na herança ex re certa não existe direito de exigir partilha, igualmente por uma questão de lógica. O usufrutuário da quota ou da herança, pelo contrário, sendo legatário, pode exigir a partilha. Quer saber quais são os bens sobre que incide o seu usufruto.Responsabilidade externa cabe aos herdeiros (2068º). A herança responde pelas despesas aí referidas. A parte final refere o “cumprimento dos legados”. O legado também é visto como um encargo da herança. O herdeiro terá de pagar aos legatários. O 2071º também trata da responsabilidade pelo passivo. O 2097º e 2098º reforçam a ideia. Mas só responde com a herança (até ao limite das força das herança), não com património pessoal.

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Os legatários não respondem, em regra. Há, todavia, excepções (2072º; 2276º; 2277º e 2278º). 2276º. O de cuius pode deixar o cumprimento de um encargo ao legatário. Mas este tem protecção (limites do legado). 2277º: se a herança for toda ela distribuída em legado. Os legatários responderão pelo potencial passivo, na proporção dos seus direitos. 2278º: herança não chega para pagar os encargos. Aí há um certo sacrifício imposto aos legatários. Mais uma demonstração do legado como encargo da herança. Para haver dinheiro suficiente para pagar o passivo, os legatários são sacrificados na proporção dos seus legados (recebendo menos do que o previsto). De forma indirecta, são sacrificados. 2072º: responsabilidade do usufrutuário, que é legatário. Tem de entregar aos herdeiros os meios suficientes para pagar o passivo.Só no 2277º é que os legatários respondem externamente, porque não há mais ninguém. Nos outros três casos a responsabilidade é interna, relação entre herdeiros e legatários (direito de regresso). O herdeiro paga aos credores e faz contas com os legatários. O direito de acrescer, em regra, também só cabe aos herdeiros (2137/2). Na sucessão testamentária está previsto nos 2131º e ss. Mas pode funcionar entre legatários, excepcionalmente (2302º).Termo inicial vale para a nomeação de legatário e não para a instituição de herdeiro (2243º). O direito de protecção da memória do falecido cabe aos herdeiros, já que são estes que continuam a vida e património do de cuius. O princípio da indivisibilidade da vocação também só funciona para herdeiros: ou diz que quer ou que não quer. Ou sim para tudo ou não para tudo.A mesma pessoa pode ter vários títulos designativos. Pode ser chamado como sucessível porque é casado (sucessão legal), como herdeiro, mas também como legatário testamentário, por exemplo. A regra é que, na sucessão legal, as pessoas são instituídas como herdeiras. Mas no caso de união de facto há exemplo de sucessão legítima anómala (não é legitimária porque não está no 2157º; não há testamento; o direito atribuído é sobre um bem concreto e determinado). O direito de arrendamento para o cônjuge por morte do outro é caso de sucessão legitimária anómala.Carvalho Fernandes: resulta do 2154º que o Estado é, entre os sucessores legítimos, o único forçado. Não tem a faculdade de repudiar, reconhecida aos demais sucessíveis. A aquisição hereditária do Estado dá-se oper legis. O verdadeiro fundamento da vocação do Estado à sucessão é assegurar a realização pela do fim que domina o fenómeno sucessório: dar destino aos bens das pessoas falecidas sem outros sucessíveis legais, evitando que eles fiquem ao abandono.Como se garante a injuntividade da sucessão legitimária? Há mecanismos de protecção dos herdeiros legitimários, como a redução das liberalidades por inoficiosidade. Primeiro ataca-se o testamento e só depois as doações. O 2171º não contempla os pactos sucessórios. Mas não quer dizer que eles não estão sujeitos a redução. O 1705/3 prevê a situação. A sucessão contratual prevalece sobre a testamentária, dada a fonte. Ali é bilateral; aqui unilateral. Um testamento não prevalece sobre um contrato. Testamento posterior revoga testamento anterior, também.A base legal para a irrevogabilidade unilateral do pacto sucessório é vasta. Mas há uma situação prevista na sucessão contratual (que só é aceite em convenção antenupcial) em que o pacto sucessório pode ser revogado por testamento. O pacto sucessório feito pelos esposados a favor de terceiro em que se reservou a faculdade de livre revogação.A sucessão legítima é supletiva (2131º), vindo em último lugar.Legitimária. Tem um título próprio no Código Civil. Não se confunde com a sucessão legítima. Há remissão daquela para algumas regras desta. Mas os herdeiros legítimos

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não são os mesmos que os legitimários (cônjuges, descendentes e ascendentes). Na sucessão legítimas ainda são chamados outros. Há mais sucessíveis legítimos do que legitimários.A sucessão legitimária tem um conjunto de mecanismos de protecção dos herdeiros, nomeadamente a redução. Ademais, quando se calcula a herança não se trata só das situações jurídicas que pessoa tinha quando morreu, mas também das doações que fez em vida. De outra forma, uma pessoa poderia desbaratar o seu património, esvaziando a herança. A sucessão legitimária é a mais importante. Pelo menos os familiares mais próximos recebem grande fracção da herança. É a coluna vertebral do sistema sucessório.Os legitimários (2157º) são o cônjuge, ascendentes e descendentes, pela ordem e segundo as regras da sucessão legítima (por remissão). Há três regras: princípio da divisão por cabeça; princípio da preferência de classe e preferência do grau de parentesco.Preferência de classe (2134º). Há várias classes de sucessíveis. Não passamos para a alínea b) sem ver se existem as pessoas da alínea a) e se aceitam. Os parentes mais próximos são chamados em primeiro lugar (preferência do grau de parentesco – 2135º). Esta preferência opera dentro de cada uma das classes. O princípio da divisão por cabeça (2136º): a herança é dividida por todas as pessoas que forem chamadas.Os sucessíveis da primeira classe e de parentesco mais próximo são os sucessíveis prioritários. O 2156º fala da legítima (quota indisponível ou herança legitimária). Não é sempre igual: varia entre 1/3 e 2/3. Será de 1/3 quando os legitimários chamados sejam ascendentes do 2º grau da linha recta ou mais afastados (2168º) e parentes no 2º grau da linha colateral (2161º). Será de ½ quando só sobrar um progenitor, só um descendente ou só o cônjuge. Será de 2/3 quando sobrarem cônjuge e descendentes (situação mais comum). A protecção da família prevalece sobre a liberdade do de cujus.A quota disponível é a que o de cujus pode determinar por testamento ou pacto sucessório. Na página 236 do Manual, JDP apresenta um esquema de resolução de hipóteses. A primeira coisa é saber se há herdeiros legitimários. Se não existirem, não se contam as doações. Depois de calcular o valor total da herança, determinados a quota indisponível. Sobre a quota disponível. Depois de saber qual a quota indisponível, dividimo-la por cabeça. Há excepções.O cônjuge é considerado como o que mais precisa de protecção. É o que tem mais idade, em média, que já não trabalha, etc. O cônjuge tem posição privilegiada. Tem de ter sempre ¼ da herança. Num caso em que há 4 filhos nota-se o privilégio. Da QI dá-se ¼ ao cônjuge e o resto é dividido pelos filhos. Quando concorre com ascendentes, recebe 2/5. É beneficiado. Os direitos atribuídos ao cônjuge na herança não têm a ver com o regime de bens. Não está sujeita à colação. Tem direito de ser encabeçado na casa de morada de família e direito de uso do respectivo recheio. O Prof. Corte Real critica isto.O cônjuge sobrevivo é, para todos os efeitos, o herdeiro legitimário prioritário. Quando se fez o Código Civil partiu-se do princípio que se trataria de uma viúva. Hoje já não faz sentido essa visão.Cálculo da herança. O valor total da herança (VTH) é igual aos bens que a pessoa tinha quando morreu, mais os bens que doou quando vivia, menos o passivo (2162/1): Relictum (R) + Donatum (D) + Passivo (P) = VTH. Os bens deixados em testamento e pacto sucessório fazem parte do R. Nunca se lhe somam. Quando uma pessoa morre, sendo casada, poderá ter bens comuns. O R é o conjunto dos bens próprios mais a sua meação nos bens comuns, após a partilha. O D engloba as doações em vida e as

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despesas sujeitas a colação. O 2110º diz quais são. O 2109º/1 diz que o valor dos bens doados é o que têm na data da morte. O 2162/2 diz que não são contabilizados nas doações os bens perecidos por causa não imputável ao donatário. O P (2068º), com excepção dos legados (que estão no R), integra todas as despesas com o funeral, encargos com a testamentaria, administração e liquidação de património, dívidas do falecido, etc.A primeira coisa a fazer é um esquema do enunciado. A é casado com B, tendo ambos C como filho. A morreu. A tinha doado inter vivos o bem x a T. Tinha feito um testamento em que deixou a M o bem y. O bem x valia 15 na data da doação, mas 10 no momento da morte. Interessa este valor. O y valia 10. O R era 90. O P era 10. O VTH é igual a R (90) + D (10) – P (10) = 90. Este cálculo é feito nos termos do 2162º. Para saber quais os legitimários, o 2132/a), 2134 para preferência de classe, 2136º para divisão por cabeça (tudo por remissão do 2157º).A QI resulta do 2159/1: a legítima dos cônjuges e descendentes, em caso de concurso, é de 2/3. 90 * 2/3 = 60. A QD é a diferença entre o VTH e a QI (30). A seguir faz-se o mapa da partilha (um quadro):Personagens    QI (60)            QD (30)B                     30                    10C                     30                    10T                     -                     - M                    -                     10 T e M não recebem na QI. A QI divide-se por cabeça (60/2=30). Não houve sucessão contratual. Houve testamento. M recebe 10. Sobra 20. Abrimos a sucessão legítima. Chamamos o cônjuge e os filhos, dividindo por cabeça (20/2=10).Consoante as modalidades de sucessão, também se fará um cálculo diferente. Quando não há legitimária não se contam as doações. A herança (2068º) é o R menos o P.Alteremos o caso. Em vez de ser o bem y para M, era 1/10 da herança. 1/10 é 9. mas aqui faz-se um cálculo à parte. VTH testamentária é igual a R – P (90-10). Dá 80. Um décimo de 80 é 8. O M passava a receber 8. Era preciso saber qual a herança testamentária (2068º). Isto é assim mesmo que haja legitimária: é um cálculo sempre à parte.Há uma situação em que o cônjuge recebe mais do que os filhos: quando concorre com mais de 3. No novo caso o R é 180; o D é 20 e o P é 20. C e D eram casados. Ficou o cônjuge mais 4 filhos (1, 2, 3 e 4). O VTH é 180. 2/3 de 180 é 120 (QI).Personagens    QI (120)          QD (60)C                     30                    151                      22,5                 11,252                      22,5                 11,253                      22,5                 11,254                      22,5                 11,25 A lei (2139/1, 2ª parte) diz que o cônjuge nunca pode receber menos do que ¼ da herança (legítima ou legitimária). O cônjuge ficava com 30 (1/4 de 120). Sobra 90, a dividir por 4 (22,5, divisão por cabeça). Os filhos recebem menos do que o cônjuge. Não há sucessão contratual nem testamentária. Abre-se a legítima. O 2139/1 aplica-se por remissão à legitimária e directamente à legítima. 60/4=15 para C. Os outros 45 dividiam-se por 4 (11,25). O cônjuge é quem recebe mais.Imputação de liberalidades. Enquadramento de uma certa liberalidade na quota indisponível ou disponível, desconto. Tratando-se de um terceiro, é imputada na quota

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disponível, porque não têm direito a mais nada. Tratando-se de legitimário prioritário, já que tem direito na quota indisponível e, possivelmente, na quota disponível, podem ser imputadas na quota indisponível ou na disponível. Atende-se, para decidir, à vontade do de cuius e ao tipo de liberalidades. Liberalidades feitas em via a legitimários prioritários (doações) são vistas em regra como antecipação do quinhão hereditário, sendo descontadas na quota indisponível. Se for liberalidade mortis causa (testamento, pacto sucessório), a tendência é para enquadrar na quota disponível.Intangibilidade da legítima. A intangibilidade da legítima tem dimensão qualitativa e quantitativa. A qualitativa consta dos artigos 2163, 2164 e 2165. A quantitativa (redução por inoficiosidade, deserdação) consta do 2166 e ss.Qualitativa: o 2163º fala do legado por conta da legítima. O legitimário tem direito a receber a sua legítima líquida. O de cuius não pode dizer quais os bens que a pagam: intangibilidade qualitativa. Não se pode especificar a legítima a priori. O 2165º fala do legado em substituição da legítima. É outra manifestação. Só com acordo pode haver.Quantitativa: o instituto da redução só pode ser accionado depois da morte do de cuius, já que não se conhece o panorama efectivo da sucessão.2168º: quem tem o direito são, desde logo, os legitimários. Podem reagir a um excesso do poder de disposição por parte do de cuius (excedeu a QI). A inoficiosidade dá-se quando há excesso. Deve-se fazer desaparecer o valor da inoficiosidade. Na redução (2170º) há uma ordem: primeiro sacrifica-se os testamentos a título de herança; depois, os legados testamentários; por fim, liberalidades feitas em vida do de cuius. Ficam de fora os pactos sucessórios. O 2171º tem uma lacuna, já que não faz referência aos pactos. Onde integrar? Os AA. apresentam uma solução coerente com o sistema: deve-se reconduzir à realidade mais próxima. O testamento tem eficácia mortis causa, também. Mas, o que há de prevalecer é o próprio tipo de negócio jurídico em causa. O testamento é unilateral. O pacto não implica aceitação posterior. A doação em vida, bilateral, assemelha-se mais. A lacuna é preenchida dizendo que o pacto sucessório será tratado como se fosse doação feita em vida (é reduzido em último lugar).A faleceu; B e C são os legitimários. Fez uma deixa testamentária de instituição de herdeiro (40), um legado testamentário (20), uma doação em vida a O (10). Imputamos na QD. Dá 70. Imaginemos que o valor da QD era 30. Há inoficiosidade no valor de 40. Dispôs de mais do que podia. Deve-se reduzir (B e C podem reagir, aplicando o 2171º). Começamos pela herança testamentária. Diz-se que não se pode atribuir aquela liberalidade. A herança valia 40, pelo que a herança testamentária resolvia o problema. O legatário pode receber os 20. O donatário pode manter nas suas mãos os 10, já que a doação tinha sido em vida (já havia recebido).Ex.: herança é de 120. A QI é de 60; a QD de 60 (o de cuius tinha apenas B como filho). B recebe os 60 da QI. Há uma doação em vida a X, de 20; um legado testamentário a Y que vale 20 também e outro a Z que vale 60. Imputamos tudo na QD: dá 100. É o valor total das liberalidades. Há uma inoficiosidade de 40. Cabe reduzir. Não existe herança testamentária. Passamos aos legados: há dois. O 2171º remete a resolução para o 2172º. Diz que, neste caso, se se vir que há para reduzir pelos legados, não é preciso ir à doação em vida. Neste caso bastava. A lei diz que se faz redução proporcional (rateadamente), com regra de três simples. O valor total das liberalidades a reduzir é agora de 20+60 (80). A inoficiosidade é, recordamos, 40. O raciocínio é: 80 está para 40 assim como 60 está para x (se em 80 existe 40 de inoficiosidade, na liberalidade em concerto existe x). X= 60*40/80 = 30 (neste caso era metade). No legado que vale 60 retiramos 30. No legado que vale 20, retiramos 10.O 2173º fala da redução das liberalidades feitas em vida. O 2173º diz qual a ordem da sua redução. Apela-se à parte final do 2171º. Os pactos sucessórios são tratados como se

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fossem doações feitas em vida. Começa-se pela doação mais recente (critério cronológico).Meios de tutela dos legitimários. 2162º: somamos as doações em vida ao relictum. É uma forma de proteger os legitimários, já que se amplia a massa da herança.Se o de cuius fez negócio simulado (venda que simula uma doação em vida), a lei permite que os legitimários arguam a nulidade desse negócio. A doação em vida seria o negócio dissimulado. A venda é nula, sendo imputada na herança a doação em vida. É forma de protecção.O 877º prevê que para um pai vender um bem a um filho tem de pedir consentimento aos outros, sob pena de nulidade. Costuma haver compra e venda a fingir, meras doações. O 2029º diz que a partilha em ida tem de contar com a participação de todos os legitimários, sob pena de ineficácia. Se aparecer um legitimário supervenientemente, a partilha tem de ser rectificada. Há tutela mesmo para quem ainda não era legitimário.O 1699/2 diz que não se pode casar na comunhão geral se houver filhos de um dos cônjuges. Excluem-se os filhos comuns. O cônjuge sobrevivo tem direito a metade dos bens, a título de meação nos bens comuns. Só os outros seriam património do defunto, para dividir segundo o direito das sucessões. O cônjuge seria novamente chamado e o filho teria muito menos. O 1699/2 protege os filhos não comuns para evitar isto. Garante que os filhos exclusivos preservam o direito ao património.Sucessão legitimária anómala. É legal, baseada em factos designativos não negociais. É legitimária no sentido de ser imperativa. É anómala porque na legitimária se atribui quota da herança. Aqui, o que é atribuído é um bem concreto e determinado, um legado. Mas também em função dos contemplados. Não são só os clássicos do 2157º.A transmissão do arrendamento por morte, no NRAU, é um caso de sucessão legitimária anómala. É a lei que o prevê (1106º). Atribui ao cônjuge mas também ao unido de facto, que não está no 2157º. É um legado (o arrendamento do bem concreto e determinado). É imperativa: não pode ser afastada pelo de cuius ou pelo senhorio.Na Lei da União de Facto (2010), artigo 5º, prevê-se a protecção da casa de morada em caso de morte. Prevê-se direito real de habitação. Antes era disposição supletiva, afastável no testamento. Com a redacção de 2010, desapareceu a cláusula que ressalvava “disposição em sentido contrário”. Parece que esse direito é hoje imperativo. É legal; legitimária; mas anómala. O unido de facto não está no 2157º e há legado.Sucessão legítima (2131º e ss.). É supletiva: só funciona se sobrar ou se não houver qualquer acto de disposição e não houver legitimários. Regem os princípios da preferência de classe, de grau e divisão por cabeça.Classes de sucessíveis. O 2133/1/a) fala em cônjuge e descendentes; o b) em cônjuge e ascendentes (só se passa a b) se não se preencher a a): os primeiros não sucedem porque não podem ou porque não querem). O 2133º não fala na adopção ou PMA. Mas não é preciso. O adoptado pleno é como se fosse filho. Onde se lê ascendente, pode-se ler adoptante pleno, igualmente. A adopção restrita está no 1996º e 1999º. O 1996º diz que nenhum é herdeiro legitimário do outro, ao contrário do que acontece na plena. São só herdeiros legítimos (1996º e 1999/2 e 3). O adoptado restrito tem mais direitos do que o adoptante. O adoptado vem logo a seguir ao 2133/1/b), antes da alínea c) (irmãos e seus descendentes). O adoptante restrito fica a seguir à c), antes da d). O 1999/3 diz “irmãos e sobrinhos”, ao contrário da alínea c) do 2133/1. Assim, concorre depois dos irmãos e sobrinhos, mas depois de outros colaterais. Está antes da d) e de alguns da c).A PMA não tem especificidade. O filo que nasce aí é filho. O dador numa PMA heteróloga não tem qualquer relação sucessória com o nascido.

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Divisão por cabeça (2136º). A partilha é feita em partes iguais. Há excepções: quando o cônjuge concorre com mais do que três filhos, recebe mais o que estes (tem de haver um mínimo de subsistência para o cônjuge); 2142/1 – aplica-se para a divisão da QI entre o cônjuge e ascendentes. Se a herança é de 900 (600 de QI e 300 de QD), A é filho de C e D e é casado com B. A QD é de 2/3 (600). O 2142/1 diz que não se faz divisão por cabeça. O cônjuge recebe mais do que os ascendentes. Recebe 2/3 dos 600; os ascendentes 1/3. 400 para B; 200 para C e D. O terço é dividido entre os ascendentes em partes iguais (2142º/2).Também o 2146º é excepção. Temos de estar no âmbito do 2133/1/c) (irmãos do falecido). Ex.: A é o morto; tem B e E como irmãos, também filhos de X e Y (são irmãos germanos); tem C e D como irmãos, filhos só de X. Quando A morre, só tem os irmãos vivos: B, E, C e D. Os irmãos B e E são germanos; C e D são unilaterais. O 2146º diz que os germanos recebem o dobro dos outros. O B vale por 2 e o E vale por 2; C vale 1 e D vale 1. Tem de se dividir a massa da herança, neste caso, por 6. O relictum dividir-se-á por 6. B: 2; E: 2; C: 1: D: 1.O cônjuge, quando concorre com ascendentes, tem direito a 2/3 (2142º, ex vi  2157º). Numa herança de 90, sendo a QI 60, o cônjuge recebe 40 e os ascendentes 10 cada um. Na sucessão legítima, o cônjuge tem direito a 2/3 da herança legítima. No caso ficara 20 (2/3 de 30) e 5 para cada ascendente.Na situação em que não há herdeiros legitimários e os irmãos são chamados à herança, sendo dois irmãos inteiros e dois unilaterais, com um relictum de 600, o 2146º diz que estes só recebem metade do que os outros recebem. Cada irmão germano vale por dois unilaterais. Ficaríamos com 6 protagonistas. Dividia-se por seis o relictum, que daria 100. Cada um dos unilaterais recebe 100; os germanos recebem 2*100. Converte-se tudo em irmãos unilaterais e divide-se a herança por esse número.Sucessão do Estado. Os bens não podem ficar no vazio. Não havendo mais herdeiros, chamamos o Estado. É um herdeiro legítimo especial: não pode repudiar nem tem de aceitar (2154º). Primeiro tem de se declarar que há herança vaga.Sucessão legítima anómala. Exemplo disto é o 496º (a pessoa pode ser indemnizada pela consciência de que vai morrer). Considera-se que se trata de sucessão supletiva: a pessoa pode deixar testamento a dizer a quem caberia a indemnização. Mas sem indicação expressa, rege o 496/2 e 3. É um legado, porque há um direito determinado.Outro exemplo é o da lei da convivência em economia comum (5º): atribuição de direitos reais sobre a casa de morada comum à pessoa que viva com o defunto em economia c.O 2103-A e B também são casos. Nestes exemplos em que a pessoa adquire direito real, estamos a falar de direito constituído ex novo, sucessão anómala de carácter constitutivo. A concepção de Galvão Telles, Pamplona, etc., de sucessão como aquisição translativa é assim afastada.O 5º/2 da LEC diz que só em caso de não haver disposição testamentária em contrário é que se aplica o 5/1. É, pois, supletiva (legítima).Sucessão contratual. O 2028º prevê três modalidades de pactos sucessórios: renunciativos; designativos ou aquisitivos (dispõe da sua herança); dispositivos (dispõe de herança de terceiro), pactum de sucessionis terti. Os únicos pactos admitidos na lei portuguesa são os designativos, em sede de convenção antenupcial. São doações mortis causa equiparadas a pactos sucessórios. A doação é contrato; é mortis causa. É, pois, equiparada. Todos os demais serão nulos. A nulidade seria nos termos gerais do  285º. Isto é criticado e discutido há 200 anos, dado o valor da liberdade testamentária. Mas no direito romano tinha mais do que tem hoje. É um argumento falível hoje em dia, porque

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já há vários países que começam a aceitar os pactos sucessórios. A proibição como regra geral é muito discutida.O pacto sucessório é um acto mortis causa, só produz efeitos no momento da morte. Contudo, ao mesmo tempo não é. Quando se faz pacto sucessório fica-se limitado em vida quanto à disposição das coisas lá referidas. Acabam por ter natureza mista, entre o acto inter vivos e mortis causa. Tem alguns efeitos preliminares em vida, sobretudo de limitação.Quando uma pessoa renuncia a uma herança, diz-se, não sabe bem a que está a renunciar, dada a flutuação do património. Fala-se numa certa aleatoriedade nessa renúncia.As doações mortis causa são em geral nulas (946º). Mas a própria lei diz que é convertível em testamento se cumprir as formalidades de tal acto. Uma pessoa que faz doação não faz testamento; assim, como cumprir as formalidades? Só tem aplicabilidade se fizermos interpretação restritiva: basta que se respeite a forma de escritura pública. Pode haver revogação da doação mortis causa por testamento posterior, já que ela foi convertida em acto unilateral, livremente revogável pelo disponente. São admissíveis em convenção antenupcial, dada a ideia de favorecimento matrimonial (1699/1/a), 1700, 1701, 1705 e 1710). Neles têm de figurar um dos esposados, que pode ser doador ou donatário. O 946/2 é ressalvado pelo 1756º, porque quando falamos de doação mortis causa entre esposados vamos ver o regime das doações para casamento. O 1755º prevê as doações mortis causa. O 1746/2 ressalva a situação do 946/2 (conversão).Em convenção antenupcial pode haver cláusula de fideicomissário. Há uma regra particular: a possibilidade de estas cláusulas serem livremente revogáveis, o que é excepção ao regime geral do pacto (por ser bilateral).Os pactos designativos válidos podem ser classificados quanto ao beneficiário: de esposado em favor de terceiro; de um esposado em favor do outro; de terceiro em favor de esposado. Quando são entre esposados são doações para casamento (1753º - 1760º). As doações para casamento são irrevogáveis, mesmo que haja mútuo consentimento. Quando são para terceiros dos esposados só podem ser revogados por mútuo consentimento. Quando são por terceiros a favor dos esposados, o facto de não poder revogar unilateralmente nem prejudicar o donatário posterior e indirectamente (dispondo do bem) significa que não pode haver revogação directa nem indirecta.O pacto sucessório tem efeitos mortis causa. Mas tem, como se vê, efeitos limitativos já em vida. Se é o esposado que faz disposição em favor de terceiro (nomeando legatário ou instituindo herdeiro), 1705/2, o esposado por reservar-se a faculdade de livre revogação. É uma figura estranha, que é excepção à hierarquia: um testamento não pode, normalmente, revogar pacto sucessório. O donatário também fica limitado. Aceita ser instituído herdeiro. No momento da morte já não pode recusar. Existe proximidade entre a sucessão do Estado, em que não existe repúdio.Caducidade. Os pactos sucessórios são inseridos na convenção antenupcial. Se esta caduca, aqueles também caducam. O 1760º é incompatível com algumas das alterações de 2008. A remissão para o 1760º, operada pelo 1703/1, é uma remissão para o 1761/a), já que o 1760º está revogado. Nos termos do 1791º, quando há divórcio, independentemente da culpa, cada cônjuge perde os benefícios para casamento. Os pactos sucessórios designativos caducam também. É outro caso de caducidade. O 1703º/1 refere o caso de pré-morte do donatário (em relação ao doador): caduca. O 1703/2 diz que não caduca quando ao donatário sobreviverem descendentes (mas os que tenham resultado do casamento, há que a ideia é de favor matrimonii). Não se trata de

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distinção entre filhos ilegítimos e legítimos. O regime em si não é inconstitucional, já que a sua ratio é aquela e não uma discriminação (discordo!).O 1706/1 determina que os esposados podem instituir como herdeiros terceiros e ficar estabelecido o carácter correspectivo da disposição. A nomeia sobrinho de B para que este nomeia um seu sobrinho. Se uma é revogada, a outra também desaparece.A classificação também pode ser quanto ao objecto (herança ou legado). O regime é diferente. Se for legado, não se pode dispor em vida do bem deixado. Se for herdeiro, já se pode alienar: o valor da herança só se determina no momento da morte. Neste caso, temos a mesma lógica que preside, na sucessão legitimária, à soma do donatum ao relictum. Aqui, conta-se relictum mais donatum posterior menos passivo. A base legal é o 1702º. Faz-se um cálculo à parte e imputa-se na QD.Quando a instituição abarca a totalidade da herança, a lei diz que a pessoa pode sempre dispor de um terço. A fórmula é a mesma: (R + Dp – P) * 1/3. O doador pode abdicar dessa reserva (1702/3).O 1701º refere-se aos pactos sucessórios a favor de esposados, mas é também aplicável aos que tenham terceiros como beneficiários. O legatário não pode ser prejudicado por acto posterior relativo aos seus bens (1701º). Só pode ser alienado em caso de grave necessidade. Se a alienação for indevida é nula, aplicando-se a lógica da venda de bens alheios. Tudo isto resulta, desde logo, da determinação do bem. Quando aliena por grave necessidade, o legatário tem ainda direito ao valor.Protecção do herdeiro contratual. Tem uma expectativa jurídica, que pode proteger contra alienações indevidas. A sucessão contratual anómala está sujeito a regras especiais. JDP diz que ela não existe. A sucessão contratual anómala seria a resultande de pactos não previstos nos artigos 1700º e seguintes. Exemplo: a doação com reserva de usufruto, que pode ser usada com finalidades sucessórias. Mas é um acto inter vivos. No seguro de vida, o capital não sai da herança. Não é situação de sucessão, porque não é à custa do património do falecido. Os prémios pagos são doações e contam como donatum. O Prof. Daniel Morais entende que, apesar de não serem situações de direito das sucessões, deveria haver neste ramo jurídico, tal como há relações para-familiares no direito da família, relações para-sucessórias.Sucessão testamentária (2179º e ss.). O testamento é negócio jurídico unilateral. A aceitação do testamento só se faz na abertura da sucessão. O único interveniente é o testador. Só é conhecido quando for aberto, após a morte do testador. É um negócio com eficácia mortis causa. Só com a morte do testador é que os contemplados podem exigir a liberalidade. É negócio não receptício. Os beneficiados receberão os bens na altura da partilha. É negócio gratuito (não há contrapartida; há intenção de liberalidade – animus donandi). É formal (tem forma especificada no CC). É negócio livremente revogável (2311º e ss. e 2179º).O testamento pode ter cláusulas por natureza irrevogáveis. Ele tem carácter essencialmente patrimonial (há excepções: uma perfilhação, p. ex.). As cláusulas de natureza pessoal são irrevogáveis. Outro exemplo é a deserdação (instituto que permite ao testador afastar sucessíveis legitimários da sucessão – 2166º). É negócio singular. Esta singularidade decorre do 2181º. A lei proíbe o testamento de mão comum. Tem de se testar sozinho. Pretende-se salvaguardar a liberdade de testar, impedir influências. Há três excepções.946/2: caso de conversão em testamento do que seria pacto sucessório. Há dois intervenientes, é testamento por conversão legal. 1704º: há conversão do que seria pacto sucessório em testamento. Alguém faz deixa mortis causa em convenção antenupcial (diferentemente do que acontece no 946º), mas o contemplado não participou como outorgante. Na convenção antenupcial participam os esposados. São dois. 1695º/3/b):

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para o cônjuge poder dispor de bem comum por morte, o outro tem de autorizar. É possível que o terceiro exija a coisa se o cônjuge tiver autorizado a deixa. Há, novamente, mais do que uma pessoa no acto de testamento.Carácter pessoal do testamento (2182º). Tem de ser o próprio a fazê-lo. O 2182/1 vem dizer que o poder não é, em regra, delegável. A lei exige que se diga quem é contemplado, qual o objecto, etc. O 2182/2 tem as excepções: aspectos que podem ser terceiros a completar. O 2182/2 diz que é o tribunal que resolve se os terceiros não cumprirem. O 2183º prevê outro caso em que é outra pessoa que não o testador.Formas. Há formas comuns e especiais (2204º e ss.). A lei diz que são comuns o testamento público e o testamento cerrado (cabe acrescentar o testamento internacional). Os especiais são os dos 2210º e ss.Público (2205º) é o escrito por notário no seu livro de notas. Não é admitido testamento verbal (só escrito e de forma especial). Não é escritura pública: é escrito no livro dos testamentos públicos. É negócio solene.Cerrado (2206º) é escrito e assinado pelo próprio; escrito e assinado por outra pessoa a pedido dele; escrito por outra pessoa e assinado pelo próprio (1). O 2206/2 diz que só pode deixar de assinar se não o puder ou souber fazer. A doutrina fala em interpretação ab-rogante de uma parte do nº 2. É preciso que a pessoa sabia ler para que possa escrever ou controlar o que o outro escreve. Só se justifica o nº 2 para os casos em que não pode assinar. O 2206/4 diz que se tem de levar o documento ao cartório notarial, para aprovação (essencial para a validade do testamento – nulidade prevista no nº 5). O 2207º considera como data do testamento cerrado (há dois momentos distintos, o da feitura e o da aprovação) a da aprovação. É importante para avaliar a capacidade testamentária (2188º e ss.). Reporta-se ao dia da aprovação e não ao da feitura. O 2209º determina que o testamento cerrado pode ser conservado pelo testador, confiado a terceiro ou ao conservador notarial.No Código do Notariado, regem os artigos 7º e 11º para o testamento público (67/1/a) para os testamentos) e o 107/1 para o cerrado. O notário só lê o testamento se o testador desejar.O testamento internacional (lei uniforme sobre forma do testamento internacional) não é testamento feito no estrangeiro. O testamento internacional e o do 2223º são situações distintas. Este pode ser feito no país da pessoa; tem de ser escrito; assinado pelo testador; certificado (notário, se feito em Portugal; sendo no estrangeiro, pelo agente consular – que é Estado português). O do 2223º é feito por português em outro país, seguindo as regras desse Estado. Só é válido em Portugal se tiver sido observada a forma solene na sua feitura ou aprovação. Nunca se aceita testamento verbal.Especiais (2210º e ss.). Testamento de militares; testamento feito a bordo de navio; testamento feito em caso de calamidade público; feito a bordo de aeronave. O que os justifica é o facto de a pessoa não poder recorrer às formas comuns: é pressuposto do recurso a estes regimes. Qualquer das modalidades pode ter a forma pública ou cerrada.O 2222º tem o prazo de eficácia para estes. É limitado no tempo: fica sem efeitos 2 meses após a cessação da causa que impedia o recurso à forma comum.Testamento per relationem (2184º). Tem de se ler o artigo a contrario. A expressão per relationem significa a existência de remissão de um documento para outro. Não é, à partida, válido. Mas pode-se fazer remissão para outro documento se for autêntico, escrito e assinado pelo testador e tenha data anterior ou contemporânea da do testamento solene. Lê-se o artigo a contrario. Há AA. que entendem que é possível fazer remissão, seja qual for a cláusula que esteja no documento para que se remete. É visão ampla. JDP faz interpretação restritiva. Tem de se fazer leitura a contrario; contudo, articula o 2184º com o 2182/1. Além da remissão ser para documento

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autêntico ou para documento escrito e assinado pelo testador, etc., há a limitação dos elementos essenciais do testamento. Não se pode remeter para o documento a nomeação dos contemplados. Isso tem de estar sempre no testamento solene. Só se pode remeter outros elementos que não os essenciais. É uma questão de dignidade formal necessária.Requisitos materiais (2186º e ss.). O fim tem de ser lícito (não contrário à lei, ordem pública ou ofensivo dos bons costumes). O objecto (280º) tem de ser lícito (física e juridicamente possível, bens que não estejam no domínio público, etc.). Também está prevista no 2188º e ss. a capacidade testamentária activa. Têm capacidade para testar todos os que a lei não exclua. Só as pessoas singulares. Mas os referidos no 2189º (menores não emancipados e interditos por anomalia psíquica) não podem, sob pena de (2190º) nulidade. O 2191º diz que a capacidade de testar se determina pela data do testamento. Aqui, remissão para o 2207º: a data do testamento cerrado é a da aprovação. Há ainda outra situação: inabilidade (2208º) para fazer testamento cerrado. Os que não sabem ou não podem ler não podem fazer testamento cerrado. Podem fazer um público. A sanção é a nulidade (2190º, por analogia).Forma do suprimento da incapacidade. Os incapacitados têm património. Surge a substituição pupilar e quase pupilar. Estão no2297º e ss. Pupilar é para os menores; quase pupilar para os interditos por anomalia psíquica. No caso dos menores, o progenitor com responsabilidades parentais ou quem a tiver pode fazer o testamento em vez do menor, em seu nome. Há alguém a representar o filho, testando sobre os bens do filho (2300º: os bens que o filho venha a adquirir do pai, que o substituído venha a adquirir do testador). Faz testamento em nome do filho quanto aos bens que venha a receber de si, ainda que por via de sucessão legitimária. A lógica é acautelar a possibilidade de o incapacitado morrer em situação de incapacidade testamentária (doente terminal, p. ex.). Acautela-se a hipótese, substituindo-se o incapacitado. É preciso que ambos morram para que o testamento seja accionado (primeiro os pais, depois o filho). Acautela-se o destino do futuro. A substituição pupilar fica (2297/1) sem efeito logo que o incapaz faça 18 anos; se o filho falecer já deixar descendentes ou ascendentes (aqui entende-se que o pai também tem de morrer: se o pai sobrevive ao filho, a substituição pupilar caduca, porque os bens não ficam no vazio, continuam na esfera jurídica do pai).O 2298º tem a mesma lógica: o tutor pode fazer testamento em nome do interdito. Caduca se o interdito adquirir capacidade ou tiver filhos ou cônjuge, que também é herdeiro legitimário (a doutrina integra-o por analogia). O cônjuge só pode existir se casou antes de estar interdito. No 2297º não se fala em cônjuge porque é menor não emancipado. Se for casado está emancipado.Discute-se face a quem os possíveis contemplados têm de ser sucessoriamente capazes. JDP entende que têm de ser capazes face ao substituído. Guilherme de Oliveira diz que tem de ser face ao testador, visto que os bens vêm dele. Mas estamos a falar da sucessão do substituído, entraram na sua esfera. Assim, é face ao substituído.Indisponibilidades relativas. Não se pode receber, incapacidade passiva: é uma questão de ilegitimidade, porque não se pode receber naqueles casos concretos. Há pessoas que não podem ser contempladas no testamento de outros. Por exemplo, 2152º, face ao ascendente psicológico. O 2194º fala de médicos, enfermeiros e sacerdotes em face da pessoa que trataram ou orientaram durante uma doença, dado o risco de influenciarem a vontade. Também o cúmplice do adúltero (lógica punitiva, sancionatória). A estes casos acrescenta-se o 1650/2: sanções patrimoniais por violação de impedimentos impedientes. São casos de indisponibilidades relativas inominadas.

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É instituto que se aplica ao testamento e às doações inter vivos (963º) e mortis causa. É muito importante nos casos práticos.As indisponibilidades relativas nominadas estão expressamente previstas na lei. As inominadas são previstas noutro ponto do CC. Estão relacionadas com as sanções em sede de impedimentos impedientes. O 1650/1 não constitui caso de indisponibilidade, porque se trata de caducidade. Indisponibilidade significa que alguém não pode dispor a favor de outrem por testamento. É ilegitimidade. As ilegitimidades estão ligadas à ideia de protecção da liberdade testamentária (protecção face a possíveis influências por parte de pessoas em situação de privilégio: pároco que confessa, notário que lavra o testamento, etc.). Também há situação pontual, que diz respeito ao cúmplice do testador adúltero, que não pode beneficiar de deixa testamentária, por força de regra sancionatória. O 1650/2 é que prevê as indisponibilidades inominadas. A lei determina a nulidade das disposições feitas a favor de tutor, curador, etc. (2192º). São pessoa não isentas. O administrador dos bens tem uma certa influência; é interessado na administração do património. O médico ou enfermeiro que trataram do testador e o pároco que o assistiu espiritualmente (2194º) também não têm legitimidade para beneficiar de deixa.O STJ já decidiu que são normas de carácter excepcional, pelo que não poderia haver interpretação extensiva ou analogia (situação de curandeiros, familiares próximos que trataram do testador, etc.). O 2196º prevê que as pessoas que intervieram na feitura e aprovação do testamento também não podem ser beneficiadas. Se a pessoa não falecer da doença por que foi tratada, a deixa já será válida.Quanto ao cúmplice do testador adúltero, visa-se salvaguardar a instituição casamento. É uma situação de oponibilidade erga omnes dos deveres conjugais (JDP: tutela forte). Se o tutor, medido, etc., forem familiares próximos do testador, quid juris? 2192/3 e 2195/b) prevêem a situação: se forem descendentes, ascendentes, colaterais até ao terceiro grau ou cônjuge, a deixa será válida. O 2195º remete para o 2192/3. O 2195/a) determina que a nulidade não abrange os legados remuneratórios às pessoas citadas. Entende-se que esse pagamento é moralmente devido. Se se tratar apenas de assegurar alimentos ao beneficiário, também será válida a deixa.O 2196/2 exceptua a regra se o casamento já estiver dissolvido (não há adultério) ou se houver separação judicial de pessoas e bens ou separação de facto “há mais de seis anos”. É preciso harmonizar com o 1781º: após um ano já se pode pedir divórcio. É uma incompatibilidade: possivelmente revogação tácita ou interpretação ab-rogante. De acordo com a ratio, o que se pretende é que a disposição possa ser válida se o tempo da separação de facto já fundamentasse divórcio.As indisponibilidades do 1650/2 também estão relacionadas com a ideia de situação privilegiada para influenciar e consequente necessidade de evitar esse ascendente. As pessoas aí previstas podem ter influência ou serem beneficiadas apenas por pressão de outros. A adopção plena não é prevista porque há equiparação à filiação biológica.A consequência de uma disposição que contrarie a regra da indisponibilidade é a nulidade. Aplica-se a nulidade, por analogia, às inominadas.O 2198º fala da existência de interpostas pessoas. Seria forma de contraria a lei. A pessoa beneficiada daria depois parte da deixa a quem não a podia receber. O 579º prevê as interpostas pessoas: cônjuge; pessoa de quem este seja herdeiro presumido (o 2198º remete para o 579º). Não podem ser feitas, sob pena de nulidade. Isto não se aplica às indisponibilidades inominadas. As normas de carácter punitivo estão sujeitas ao princípio da legalidade, não cabendo analogia.Vontade no âmbito do testamento. Deve ser esclarecida (2180º). No testamento a pessoa deve estar colocada sozinha perante a morte. Assim, não pode haver influência,

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há forma especial, não pode haver erro, coacção, etc. A forma serve para salvaguardar a idoneidade do conteúdo, das disposições da última vontade. A essencialidade do motivo do erro tem de resultar do próprio testamento. A vontade tem de ser demonstrada de forma declarada. Tudo serve para salvaguardar a liberdade testamentária. O consentimento de ser livre e esclarecido. Há também disposições da parte geral (240º - 257º) que se aplicam subsidiariamente. Mas aí há preceitos que pressupõem a existência de um declaratário. O testamento não é recipiendo.Falta de vontade. A incapacidade acidental permite acorrer a situações de falta de vontade temporária (alcoolismo, drogas, etc.). Há limitações que se reportam a anomalia psíquica judicialmente declarada. Nos casos em que não seja, pode-se recorrer à incapacidade acidental. Tem grande relevância. Vem no 2199º. Tem de ser articulado com o 2189º (menores não emancipados e interditos por anomalia psíquica). Comparando com o 257º, como não há declaratário, basta a prova da incapacidade. O requisito da notoriedade da incapacidade ou do conhecimento pela outra parte caiem.Há mais situações de falta de vontade: declaração não séria; coacção física; falta de consciência da declaração. Mas são casos pouco plausíveis. Como não há declaratário, os terceiros potencialmente prejudicados não podem pedir indemnização.Divergências entre a vontade e a declaração. A simulação está no 2208º. As situações de simulação absoluta são também vício, resultante da parte geral. Não pode haver simulação que origine nulidade e outra que origine anulabilidade. Assim, o desvalor será a anulabilidade. Será que a disposição dissimulada pode valer? O principal instrumento em que nos baseamos para saber a vontade da pessoa é o testamento. Em princípio não. Contudo, há um caso em que a lei admite que valha: legado para pagamento de dívida. Não é propriamente uma liberalidade. Mas pode acontecer que não haja dívida, havendo simulação. Aí (2259º) a lei diz que pode valer, porque é uma liberdade.Se houver interposição fictícia de outra pessoa, poderá valer a favor do terceiro? Não: tem de haver um mínimo de correspondência no testamento, e neste caso não há. A reserva mental está prevista no 232º: será mais facilmente admissível porque não há destinatário. Mas isto acaba por ser limitado pela interpretação do testamento. Não se pode fazer valer a vontade real do testador quando não há correspondência com o texto. Erro na declaração (deixa a B quando queria deixar a A). Rege o 247º. Não se aplicam os requisitos que se destinam a salvaguardar o destinatário. É um erro de carácter menos grave do que o erro-vício (foi só a declaração que foi mal feita). O 2203º diz que, se for possível concluir pelo testamento a quem queria deixar o bem, pode valer a favor dessa pessoa. Até se admite prova complementar (testemunhal, etc.).Vícios na formação da vontade (2201º; 2202º; 251 – 254). O erro-vício (2202º) só é causa de anulação quando resulte do testamento que o testador não faria a deixa se conhecesse o erro. Não se admite prova complementar. O regime da coacção moral não difere, aqui, consoante seja feita por terceiro ou pelo destinatário. Não é necessário que o mal seja grave e que seja justificado o receio da sua consumação (inexistência de declaratário). A exploração de estado de necessidade de outrem é também fundamento. Não se trata de coacção moral. Assim, recorre-se às regras gerais sobre a usura.Interpretação do testamento. Há diferença em relação à interpretação de negócios jurídicos bilaterais: não há que salvaguardar a posição do destinatário. A interpretação é feita de acordo com posição subjectivista: o testador é a peça fundamental. O 2187º espelha essa orientação. Determina que se deve observar o que for mais ajustado à vontade do testador, posto que tenha um mínimo de correspondência verbal. É admitida limitadamente a prova complementar.

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A vontade do testador é real mas também conjectural, já que é feita antes do momento da morte. É feita no presente mas projecta-se no futuro. É negócio solene, o que influencia a interpretação. O. Ascensão é bastante liberal nesta matéria. O testamento, mais do que a lei, tem de ser lido globalmente, no seu contexto total. A orientação subjectivista é limitada por esse contexto. O 2228º trata do caso em que a deixa é a uma pessoa e aos seus filhos, p. ex. A lei considera que, na falta de novos dados, se deve interpretar como sendo uma deixa que visa dividir o bem por todos.Integração de lacunas. Havendo toda esta rigidez, será arriscado integrar. O recurso à vontade hipotética do testador (239º) tem de ser feito em consideração da situação específica do testador. O testamento é um acto pessoal. Tudo o que diz respeito à nomeação de legatário e instituição de herdeiro não pode ser integrado. O. Ascensão fala em muitos casos de analogia, mas verdadeiramente são situações de interpretação extensiva. A lei (2185º) prevê apenas um caso em que se pode integrar. É o caso de deixa feita a pessoa incerta mas que pode ser determinada. Se não for possível que a pessoa se torne certa, a disposição é nula.Não pode haver integração de lacunas quanto aos elementos essenciais do testamento. Não há uma norma própria no sector do testamento quanto à integração. Recorremos ao 239º. Mas o 2182º diz que os elementos essenciais têm sempre de constar. O art.º 2185º tem excepção: “por algum modo”. Pode-se recorrer a meios de prova. Ex.: o testador deixa x à pessoa que lhe salvar a vida. A identificação da pessoa é elemento essencial. Mas a pessoa incerta pode-se tornar certa, integrando a lacuna, com meios de prova.O CC tem várias normas interpretativas que não são de integração (2245º; 2226º e 2271º). O 2226º fala do caso em que se deixa a “parentes”. Não é toda a gente chamada. Assim, segue-se a ordem do 2133º.Conteúdo do testamento. Tem incidência patrimonial. O clássico é fazer deixa de herança ou legado. Pode haver cláusulas de cariz pessoal (perfilhação, p. ex.), que podem também ter efeitos patrimoniais. Também a designação de tutor é opção; disposições sobre o funeral, missas, etc.; deserdação (instituto típico de direito das sucessões); reabilitação tácita (2038/2): reabilitar é perdoar o sucessível por algo que fez no passado e que afectaria a sua capacidade sucessória. Permite-se que afinal seja chamado. As reabilitações expressa e tácita podem ser feitas por testamento.A forma de cálculo da herança testamentára (relictum menos passivo) é a normal. Anormais são os cálculos da legítima e da legitimária. A herança é o património líquido. Somar o donatum é que é um desvio à normalidade dos factos.Os legados podem ser de vários tipos. Há legados que atribuem direito de propriedade ou outro direito real e legados que atribuem direitos de crédito. Os legados dispositivos (a maioria) opõem-se aos obrigacionais. Os dispositivos implicam uma diminuição do activo da herança. Se atribuir um direito de crédito a favor de terceiro também faço legado dispositivo, já que isso é também activo. Os legados obrigacionais implicam um aumento do passivo da herança. Ex.: legado de coisa que pertence a terceiro, válido em alguns casos. Implica a aquisição do bem ou atribuição do valor se não for possível dar o bem. É uma despesa.2258º. Pode-se atribuir o usufruto (é legado dispositivo). Cria-se ex novo sobre um bem da herança, à custa da propriedade que se tem sobre o bem. Considera-se feito vitaliciamente. 2261º. E o caso do legado de crédito (dispositivo, aqui). A lei tem regra: esclarece que só produz efeitos em relação à parte do crédito que subsista à data da morte do testador. 2273º. É o legado de prestação periódica. Também é dispositivo. Trata-se, p. ex., do legado de alimentos. 2272º: legado de bem onerado. Se a coisa legada estiver onerada, o legatário fica com a coisa tal como está, tem de suportar o ónus. 2251º. Legado de coisa (total ou parcialmente) alheia: é um exemplo de legado

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obrigacional. O 2251º é um dos artigos que fala disto (2252º para coisas parcialmente alheias, 2251º para totalmente alheias). O 2254º e 2256º também são importantes neste ponto. A regra é da nulidade destes legados. Mas há excepções.O encargo é a atribuição do legado. O bem em causa não é da propriedade do testador. Pode ser de um terceiro ou pode ser de um sucessível. Este pode ter a qualidade de herdeiro: tem o encargo de entregar o legado ao beneficiário da deixa. Se a pessoa tiver a consciência de que o bem não era seu, é válida a deixa. Tem, pelo menos, a intenção de atribuir algo àquela pessoa. Tem o animus donandi. Pelo menos o valor. Se isto se verificar, o sucessor tem de transmitir o bem ao legatário, nem que o tenha de ir comprar, ou, não sendo possível, pagar-lhe o valor correspondente. Daí o “encargo”. Também (3) se a coisa vier a pertencer ao testador – coisa que, antes, era alheia.2252º: em parte é, desde logo, válida a deixa (a parte que não é alheia). Se tinha consciência de que o bem não lhe pertencia por inteiro, remete-se para o regime do artigo anterior. O nº 2 tem conexão com o direito da família. O 1685/3/b) é excepção à proibição de testamento de mão comum. Se for respeitado esse preceito, dispõe-se do bem que é só seu em ½ (a outra é do cônjuge). O 2254º e 2255º mantêm a lógica: nulidade a não ser que a consciência da alienidade exista, caso em que é válido.Legado de coisa genérica e legado alternativo (2253º e 2267º). O legado de coisa genérica está previsto também no 2266º. Dá-se quando se deixa coisa indeterminada de um género (“um barco”, p. ex.). Há o problema de saber qual é a coisa. A lógica é de validade, em regra. Identifica-se a coisa (2266º): cabe a escolha a quem deve prestá-la (os herdeiros), excepto se o testamento não for silente. Quando nada é dito, só se pode escolher de entre as espécies existentes. Quanto às alternativas (“mota ou barco”), como cumprir? Remissão para o regime das obrigações alternativas (543º e ss.).Condições, termos e encargos. São cláusulas que, em regra, podem ser aposta. São disposições acessórias (2229º e ss.). A condição é livremente admissível, quer na instituição de herdeiro, quer na nomeação de legatário. Admite-se suspensiva e resolutiva. Autonomia da vontade, dentro dos limites da lei (2230º). A condição impossível não afecta a deixa. Considera-se não escrita. Não tem efeitos jurídicos. Não prejudica o beneficiário. Se for contrária à lei, ordem pública ou ofensiva dos bons costumes (2230º/2), a deixa tem-se por não escrita, ainda que o testador haja declarado o contrário, com a excepção do 2186º (fim contrário à lei, ordem pública ou bons costumes). Se a condição for no sentido de fazer algo ilícito, a deixa não tem valor.Há vários casos de condições impossíveis e possíveis. A condição captatória (deixo o bem x se ele me deixar o bem y) é nula (2232º); condição de residir ou não residir em certo lugar, viver ou não viver com alguém; condição de a pessoa entrar para um convento, de seguir uma dada profissão, casar ou não casar (2233º). Britam com a liberdade pessoal. São nulas.O 2133/2 prevê o caso de direitos atribuídos: de usufruto, uso de habitação, etc. Os direitos acompanham as pessoas. Há uma situação de necessidade que justifica aquelas vantagens. A lei admite a condição de manter o estado de necessidade. Se a pessoa sair desse estado, entende-se que deixe de receber.Regime. 2236/1 para condições resolutivas. A deixa tem logo efeitos. Tem eficácia, é exequível. Se o facto se verificar, a deixa resolve-se com eficácia retroactiva (2242/1, também para a suspensiva). É como se nunca tivesse havido deixa. Com a ressalva do 277º: há coisas que não se pode devolver. Tudo o que for possível apagar, apaga-se. Suspensiva (2236º/2): enquanto não se verificar, a deixa não produz efeitos. O bem está na herança ainda.A caução é uma garantia de que haverá património para pagar aos legatários. Se a condição for suspensiva, o tribunal pode impor a obrigação de pagar caução ao herdeiro

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que deve satisfazer o legado. Se for resolutiva, ao beneficiário. A caução não é obrigatória. O testador pode dispensar. Se nada disser, o tribunal pode decidir ou não. O 2237º é aplicado em regra. Pelo contrário, o nº 1 prevê o caso de condição suspensiva. Tem de ser administrado o bem. Se o tribunal decidir que há necessidade de caução, ou o testador a houver imposto, mas ela não tiver sido paga, há cautelas quanto à preservação do património (2237º/2).Termo (2243º). Não é sempre possível. A regra é até de inadmissibilidade (2243º). O que é possível é termo inicial (só tem efeitos a partir do termo). O termo final (extingue, deixa de produzir efeitos) não. O termo inicial só é admitido quando ao legatário. O 2243/2 prevê que termo inicial quanto a herdeiro e termo final para qualquer tem-se por não escrito. Excepto se estiver em causa um direito temporário e um termo final (parte final do nº 2). Aí é possível. Há transitoriedade a prazo do direito.Encargos ou cláusulas modais (2244º). Tem as limitações da lei, ordem pública, bons costumes. A intenção é atribuir a deixa a A, mas também que ele cumpra um encargo. Na condição, usa-se a deixa como meio para atingir um fim. O que realmente se quer é a verificação (ou não verificação) da condição. No encargo quer-se atribuir o bem, mas aproveita-se para atingir um outro fim. O encargo pode ser incumprido, mas tem um regime diferente da não verificação da condição. 2248º: o que fazer no incumprimento? O beneficiário do encargo aposto à deixa pode pedir a resolução (ex tunc) da deixa testamentária. Mas é menos automático do que a condição resolutiva. Aqui só há resolução se for lícito concluir do testamento que a deixa não se teria mantido se o encargo não fosse cumprido ou se o testador o tiver dito expressamente.Substituição directa (2281º). O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro instituído caso este não queira aceitar (“deixo x a B, se A não aceitar). Pode não poder aceitar ou morrer antes do de cuius. Se a pessoa só previr o caso de repúdio, a lei diz que o caso de não poder também se considera abrangido.Substituição fideicomissária (2286º). A deixa x ao cuidado de B, que o terá de transmitir a C quando A morrer. Há proprietário temporário e temporário definitivo. É figura próxima do trust inglês. Fidutia quer dizer confiança em latim. O herdeiro gravado com a oneração é o fiduciário. O que será proprietário definitivo é o fideicomissário.Substituição pupilar é o caso em que há excepção ao princípio da pessoalidade do testamento. A quase pupilar é para incapazes, a pupilar para menores. Só pode ter por objecto bens que o testador deixa ao menor. Criou-se esta figura no direito romano, já que os legítimos tinham tendência a matar os menores que sucederiam ao pater.Ineficácia lato sensu. Engloba caducidade, revogação, invalidade e inexistência. À inexistência aplica-se o regime geral (o acto inexistente não produz efeitos).Invalidade. Há causas específicas de invalidade do testamento que não constam da parte geral. Às vezes a própria invalidade é diferente. No 2200º fala-se de simulação, mas a regra é a anulabilidade (na parte geral é a nulidade). O 2308º tem um regime próprio quanto à caducidade da acção. No regime geral não há prazo. Aqui há: é uma nulidade atípica. JDP entende que há prazo e que não pode ser conhecida oficiosamente. Aplicam-se as regras da suspensão e interrupção da prescrição (3). Quanto à anulabilidade também há prazo: 2 anos (2). Serão interessados em atacar o testamento, desde logo, os herdeiros legítimos. O 2309º fala na possibilidade de confirmação do testamento. Na parte geral, sana-se a invalidade, aqui não. A pessoa que confirmou não pode invocar a confirmação contra terceiros. A liberdade testamentária é o que se pretende salvaguardar com a sanção da invalidade.Revogação e caducidade. A revogação é acto pelo qual se manifesta a vontade de extinguir negócio anterior. A caducidade opera por força de um facto jurídico.

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Quando pensamos na sucessão testamentária estamos a falar de um dogma que vem do direito romano: a autonomia da vontade só se manifesta, quanto à questão da morte, por testamento. Associada ao testamento sempre esteve a ideia de revogabilidade, sob pena de ser um contrato. O testamento é, por excelência, um acto jurídico revogável (2179º). O 2311º fala na revogação. O testador não pode renunciar à faculdade de revogar, sob pena de a cláusula se considerar não escrita. O testador pode revogar no todo ou em parte (total ou parcial, quanto ao âmbito). Quanto ao modo de operar: real, expressa ou tácita. Os critérios cruzam-se (tácita parcial, expressa total, etc.). Se houver dois testamentos, não se podendo determinar qual é anterior, as disposições contraditórias são tidas por não escritas (tácita). Pode ser expressa (é expressamente dito que fica revogado.O T1 data de 2000. É revogado por T2 em 2008. O T2 é revogado por T3 em 2010. Será que ficam postos em causa os efeitos revogatórios de T2? Não. T1 não repristina.Uma lei nova pode remeter para lei já revogada, apropriando-se do seu conteúdo. No testamento chama-se roboração (2314º). A revogação expressa ou tácita produz o seu efeito mesmo que o testamento revogatório seja revogado. Se a revogação for real, é diferente. A real não implica a existência de outro testamento. O testamento anterior recobra a sua força se o testamento revogatório do que o revogara o disser expressamente – roboração. A revogação pode ser real (2315º - 2316º). Se o testamento cerrado (escrito e assinado pelo próprio testador ou escrito por terceiro e assinado por si) aparecer dilacerado ou feito em pedaços, considera-se revogado, a não ser que se prova que foi feita por pessoa diferente do testador ou que este não teve intenção de o revogar. Quando assim é, caduca (2315/1). O nº 2 diz que se presume que foi feita por pessoa diversa do testador se o testamento não se encontrar no espólio deste à data da morte. O 2316º contempla outro caso de revogação real. A deixa x a B; passados dois anos vende o bem. Se o negócio fosse inválido, operaria à mesma a intenção de revogação. Se entretanto readquirir o bem, como já manifestou vontade de revogar, o testamento não recobra valor. É admissível a prova de que o testador, ao alienar ou transmitir a coisa, não teve intenção de revogar: porque existe legado de coisa alheia.Não se aplica ao testamento público porque neste caso não está na posse do testador. Quando se fala em alienação, há uma nuance. Quando há alienação mortis causa por testamento, não é revogação real, mas tácita. Quando se trata de pacto sucessório, JDP defende que é real. Paula Barbosa não concorda com isto: qualquer disposição mortis causa incompatível é revogação tácita.Caducidade (2317º). As causas aí previstas são exemplificativas. A) morte do sucessível testamentário anterior ao testador (pré-morte). Anterior ou simultânea, bem entendido (dada a presunção de comoriência). A não ser que haja vocação indirecta. B) há condição suspensiva mas o herdeiro falece antes da sua verificação (à condição suspensiva também tem de se sobreviver). C) incapacidade sucessória do herdeiro. D) extinção ou modificação do vínculo matrimonial entre o de cuius e o beneficiário. No direito italiano também caduca quando houver supervenientemente um filho.JDP dá outros exemplos. Instituição testamentária de fundação que não chega a ser reconhecida; situação em que o testador faz deixa a favor do cônjuge que se voltou a casar com desrespeito do prazo internupcial (1650º, perde os benefícios). Há casos de caducidade da própria convenção antenupcial, se tivesse deixas testamentárias. No caso do 1704º, o pacto sucessório que não tenha a participação de terceiro como outorgante adquire carácter testamentário. Quando se altera uma de duas disposições correspectivas, a outra caduca. Também (2059º) dez anos após o conhecimento de se ter sido chamado à herança.

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Qual a situação jurídica do sucessível testamentário em vida do de cuius? Tem a possibilidade de arguir a nulidade e anulabilidade do testamento. Mas não há protecção directa. São interesses reflexamente protegidos. Servem, prima facie, para salvaguardar outras situações (no caso de arguição de invalidade, p. ex., serve para proteger a liberdade testamentária do testador). O testamento é revogável. A situação do herdeiro testamentário é precária. Tem um interesse reflexamente protegido, apenas.O legado por conta da legítima é a excepção ao princípio de que qualquer acto mortis causa é imputado na QD. Trata-se de deixa testamentária que é imputada na QI. Nas doações feitas a descendentes, há AA. que consideram que se deve imputar na QI (não é uma doação verdadeiramente, mas antecipação da herança).Dinâmica sucessória. O que acontece depois da morte do de cuius? Tem de se determinar quem é o sucessor. A primeira fase, da abertura da sucessão, ocorre com a morte do de cuius. Há uma lógica de chamamento e devolução. Vocação e entrega dos bens. A primeira fase é momento decisivo. Temos de nos colocar nesse momento.O 2031º diz que a sucessão se abre no momento e lugar da morte.A segunda fase é a da vocação (2032º). O nº1 tem os pressupostos: existência do chamado; titularidade do título designativo prevalente; capacidade sucessória.Existência do chamado: tem de sobreviver ao de cuius e de ter personalidade jurídica. São as duas vertentes. Titularidade da designação prevalente é prioridade na hierarquia dos sucessíveis. Quanto à capacidade: as pessoas têm de ser capazes (os dois institutos que podem afastar são a indignidade e a deserdação).O momento da morte é importante porque é aí que se determina quem sobrevive. É o diz que importa. Avaliam-se os bens, também, à data da morte do de cuius. Há excepções (2109º), quanto à avaliação dos bens doados em vida.É nesse momento que se fixa o chamado mapa dos sucessíveis. Tudo o resto terá efeitos retroactivos ao momento da morte (aceitação, repúdio, partilha). Tudo se passa como se estivéssemos naquele dia.Existência do chamado. Existência física (estar vivo à data da morte do de cuius). As situações que importam são a pré-morte ou predecesso e a situação de morte presumida à data da morte do de cuius. Este regime está no 114º e ss. É necessária declaração judicial, que retroage ao último dia em que se teve notícias da pessoa. Mas (119º) pode acontecer que a pessoa estivesse viva. Aí, a partilha de ser resolvida: fazer tudo de novo, já que há mais uma pessoa. E quando não se consegue destruir tudo? É na situação em que os bens se encontram…Também a presunção de comoriência (68º): é uma presunção legal. Quando há um acidente em que várias pessoas morrem ao mesmo tempo e o momento da morte tem relevância, presume-se que morreram ao mesmo tempo. Uma não sobrevive à outra. Se se partilha a herança do pai, o filho não sobreviveu ao pai – é o que devemos entender. Não será herdeiro. Se for partilha da herança do filo, dizemos que o pai não lhe sobreviveu. Não existe vocação do sucessível. Resolve-se com as vocações indrectas de alguém que ocupe o seu lugar.Personalidade jurídica (2033º). Na sucessão legal, o nº 1; na sucessão voluntária, o nº 2. Têm capacidade sucessória, para além do Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da morte. A legal é menos ampla. Na voluntária: além do nº 1, também podem concorrer à herança nascidos não concebidos. O de cuius pode deixar bem x a “filho que a minha irmã venha a ter”. Têm é de ser filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da morte do de cuius. Também por pacto sucessório. Na sucessão legal já não pode ser. Se A deixa a pessoa que ainda não existe, como se faz? Há indiferença: ele pode nunca aparecer. Há 3 hipóteses: há quem entenda que se pode avançar com a partilha, que será resolvida se aparecer (Pereira Coelho, condição

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resolutiva). Pamplona diz que se tem de esperar pela certeza de que o filho já não vive. JDP entende que podemos avançar com a partilha mas sem condição resolutiva: se o herdeiro vier a nascer, tendo título a seu favor, a parte dele será composta em dinheiro. Os bens já foram transmitidos: salvaguardam-se os interesses de todos [menos os do de cuius].As pessoas colectivas só têm capacidade sucessória na sucessão voluntária (2033/2/b)). A questão da PMA levanta problemas. A lei proíbe implantação post mortem de embrião. Se o embrião já estava concebido à data da morte, terá de ser sucessível (preenche os requisitos do 2033/1). Se ainda não estiver, até que ponto é admissível, sendo que a lei foi violada? Entende-se que, pelo princípio da não discriminação dos filhos, não se pode afastá-lo da sucessão. Só com outros princípios constitucionais se poderia argumentar contrariamente.Titularidade da designação prevalente. Tem de se ser prioritário. Na sucessão legal é fácil ver (2133º, 2134º e 2135º). Há várias classes, estão por ordem. Uma classe prefere à outra; dentro de cada uma, há preferência de grau. Na sucessão voluntária, quem tem testamento a seu favor ou pacto sucessório tem título designativo para concorrer.Capacidade sucessória. 2033º, em termos gerais. Aqui falamos pela negativa: não ser declarado indigno nem ser deserdado. É legitimidade passiva. Pode-se ser incapaz em relação a A mas não já em relação a B. Indignidade (2034º - 38º). Há várias questões polémicas. As alíneas a) e b) do 2034º, quando comparadas com as do 2166º (deserdação), têm grandes semelhanças. São causas comuns de deserdação e indignidade. As alíneas c) e d) do 2034º são específicas da indignidade. A c) do 2166º é específica da deserdação.Para se ser indigno tem de se cair nas alíneas do 2034º. Será tipicidade taxativa ou delimitativa? Pode-se ampliar as causas de indignidade (O. A.)? O. Ascensão entende que a tipicidade é delimitativa: actos materialmente similares também serviriam. A alínea d): ter escondido o testamento. O. Ascensão e acórdão de 2009 da Relação de Guimarães: se outra pessoa soubesse que aquele escondera, também deverá cair ali. Pela ratio do artigo, deve ser incluída.O crime de violação, igualmente. O pai que viola a filha não é considerado indigno peo 2034º. Mas O. Ascensão tenta encaixar na alínea b) (comportamento que ofenda a integridade moral e física da pessoa).Nas alíneas a) e b) tem de haver condenação, sentença judicial. Todos os autores cabem aqui: autores morais e materiais. O homicida negligente não cabe na a), só o doloso. A mera tentativa (“ainda que não consumado”), condenação por tentativa de homicídio, chega. A alínea c) fala no dolo, coacção que perturbe a liberdade testamentária. Na alínea d) também está em causa o testamento.2035º: a condenação das alíneas a) e b) pode ser depois da morte do de cuius. Fala de condição suspensiva. É relevante o crime cometido até ao momento da verificação da condição (mesmo que depois da morte).O 2036º não fala da condenação das alíneas a) e b) (penal). Fala, sim, da condenação (em processo civil) por indignidade.A polémica: a doutrina discute se a indignidade tem carácter automático ou se é necessária declaração judicial. O. Ascensão, Capelo de Sousa e Carvalho Fernandes defendem que é automática (não necessita de declaração judicial). Excepto no caso de sucessível que está na posse dos bens. JDP e Pamplona entendem que é sempre necessária declaração judicial. A acção de indignidade pode ser proposta em vida do de cuius. A primeira tese apresenta, desde logo, um argumento literal. O 2034º diz que “carecem de capacidade sucessória”. É assertivo. A intenção inicial do legislador era que não houvesse acção. O 2036º só surge depois e só para aquele caso. O 2037º,

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terceiro argumento, é interpretado como apenas vindo esclarecer os efeitos no caso de o sucessível ter a posse dos bens. Está tudo ligado. 4º argumento: 2038/1 (“mesmo que esta já tenha sido judicialmente declarada”): o que significa que não tem de ocorrer. Só vem reconhecer algo que já existe.Contra: Pamplona e JDP. Rebatem um a um. Pamplona: segurança jurídica. A acção é essencial para que se saiba claramente quem é sucessível. Para ter certeza dos factos. Se não há grande litigiosidade (a pessoa contestará a sua exclusão automática). O 2036º estabelece prazos. Tudo isso tem de ser cumprido. Ademais, o 2037º é interpretado como sendo específico para a posse. Não significa que só quando há um possuidor é que se declara. Tem função explicativa. O 2038/1 é interpretado como visando permitir a reabilitação: a ratio é que o sucessível seja reabilitado mesmo que já tenha sido declarado indigno. O 2038/1 permite a reabilitação expressa. O 2038/2 refere-se à tácita. Têm efeitos distintos. Para haver reabilitação pelo testamento ou escrito público, é necessário ter a certeza de que o de cuius sabia da causa da indignidade. Só se pode perdoar o que se conhece. A tácita é menos ampla.A tem filho, condenado por tentativa de homicídio contra ele (2034º/a)). Há causa de indignidade. O pai, sabendo disso, deixa-lhe uma casa. É reabilitação tácita. Não está a perdoar tudo, mas parcialmente (dentro dos limites da deixa). Não concorrerá à sucessão como legitimária, neste caso. Só concorrer para aquela casa. A expressão “dentro dos limites da disposição testamentária” tem duas interpretações possíveis: a já referida ou a de Pamplona. A deixa metade da casa ao filho indigno e a outra a amigo. Para alguma doutrina, o filho só recebe metade da casa. Para Pamplona, poderá receber a outra metade se houver direito de acrescer, porque isso ainda está dentro do testamento (dentro dos limites).O 2041º é também relevante. O 2037º diz que os descendentes do indigno ocupam o seu lugar na sucessão legal. O 2041º diz que na sucessão testamentária prejudica. Já não há direito de representação. A indignidade de B impede, na sucessão testamentária, a representação do indigno pelos seus herdeiros.Deserdação (2166º). A deserdação é para os sucessíveis legitimários. É situação de incapacidade sucessória. O legitimário também pode, contudo, ser considerado indigno. Essa questão está ultrapassada. Houve quem falasse em relação de especialidade (P. Coelho, O. A. só nas causas específicas de indignidade). A tese que vigora hoje em dia é de que os legitimários podem ser deserdados ou indignos, aplicando-se-lhes todo o 2034º. A deserdação condicional é admitida: “deserdo se for condenado pela tentativa de homicídio contra mim”. O regime da indignidade é aplicável por remissão (2166/1) e faz-se analogia com o 2035/1 para a condicional). A deserdação tem de ser feita pelo de cuius em testamento. Poderá ser parcial? Não, em princípio não é possível (princípio da indivisibilidade da vocação). Não faria sentido que houvesse privação só de uma parte.O 2167º prevê o prazo para acção de impugnação de deserdação. Se o testamento não indicar a causa de deserdação, a cláusula é nula (analogia com o 2308º). Se a causa invocado não estiver de facto verificada, o regime já é o da acção de impugnação da deserdação. Tem de se atacar a deserdação.Modalidades de vocação. A vocação tem os seus próprios contornos delimitados pela designação. Também a vocação pode ser legitimária, contratual, testamentária ou legítima. Também pode ser vocação de herdeiro ou de legatário. A vocação pode ser originária ou subsequente. Originária quando se verifica na data da morte; subsequente quando se verifica em momento posterior (quando se chama o sucessível subsequente, tendo sido a vocação do primeiro sucessível a vocação originária). A vocação em momento posterior retroage ao momento da morte, mas é subsequente. Também nos casos em que há deixa a favor de nascituro. Depende do nascituro nascer. A vocação

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verifica-se quando nascer. O regime da condição suspensiva está no 2229º. Mas, quando existe uma, a pessoa beneficiária de deixa com condição tem de sobreviver ao momento da verificação da condição, sob pena de a disposição caducar.O sucessível subsequente é chamado quando o de primeiro linha não quer aceitar. Também a situação de substituição fideicomissária: um fiduciário é investido na confiança de ficar com o bem; com a morte é chamado um terceiro, o fideicomissário. A sua vocação só se verifica quando morre o fiduciário. Se o fideicomissário falecer antes deste, não recebe nada. Ver 2293º e 2294º quanto a esta questão.Algumas destas situações retroagem ao momento da morte (chamamento de sucessível subsequente e condição suspensiva), outras não (fideicomissário: quando o fideicomissário recebe o bem, a sua posição não retroage ao momento da morte do de cuius, porque isso apagaria a intervenção do fiduciário; também o nascituro não retroage: nesse momento ele não tinha ainda personalidade). A vocação pode ser pura, modal, condicional ou a termo, consoante tem ou não cláusula acessória. A normal é a pura. O 2229º fala desta matéria para a sucessão testamentária. Sucessão contratual. Os pactos sucessórios também podem ter condição, termos ou encargos. Aplica-se o regime geral do 270º a 279º; quanto ao modo, os artigos gerais das doações (963º - 67º).A vocação pode ser una (a pessoa é chamada a um único título) ou múltipla (a vários títulos). O princípio da indivisibilidade da vocação releva aqui. Na ideia de indivisibilidade, quando se trata de vocação una, a pessoa ou aceita tudo ou repudia tudo (2054/2 e 2064/2; 2255/1 e 2 e 2250/1). Na vocação múltipla, significaria que a pessoa é chamada a vários títulos e não poderia aceitar um e repudiar outro. Acontece que não é assim tão simples. Há uma ideia de unidade da vocação legal: a sucessão legal é incidível. Mas isto não se reflecte apenas no âmbito da aceitação, do exercício do direito de suceder. Se a vocação legal é uma unidade, se uma pessoa for deserdada (afastada da sucessão legitimária) também não pode suceder como herdeira legítima. Na indignidade passa-se o mesmo (aplica-se para a sucessão legítima mas também para a legitimária, para além de valer para a testamentária). A pessoa não pode ser afastada da sucessão legal só parcialmente.Há outra situação: o legado em substituição da legítima (a pessoa recebe um bem determinado em substituição da quota). O 2265º diz que não recebe a herança legitimária. JDP diz que como a sucessão legal é unitária, perde também o legado. Pamplona diz que se perdesse os direitos como legitimário e também como legítimo, ficaria demasiado prejudicado. Só deveria, na sua visão, perder a legitimária. Mas há uma unidade na sucessão legal. No legado por substituição da legítima, perde a legítima e a legitimária. Há, na realidade, mais excepções do que a própria regra. O 2055º esclarece. Se alguém é chamado como testamentário e legal, entende-se que se aceita o testamento também aceito o título legal, e o mesmo se repudiar. Mas surge logo uma excepção: pode aceitar ou repudiar o testamento, tendo repudiado ou aceitado a sucessão legal, se quando fez isto desconhecesse a existência do testamento. Não se pode presumir que a pessoa repudiou o testamento quando nem sabia que ele existia. E justo que possa vir a aceitá-lo.O 2055/2 também traz excepção: pode repudiar a QD da sucessão legitimária e só aceitar quanto à QI, quando seja simultaneamente legitimário e testamentário. Sucessão legal e sucessão testamentária não formam, sempre, uma unidade.O princípio da indivisibilidade não se aplica na sucessão contratual. Quando há pacto sucessório ele tem de ser aceite, se não vale como testamento. O problema que se coloca é o de querer repudiar uma e aceitar outra. O contrato já foi aceite. Independentemente

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do que faça na sucessão contratual, pode-se fazer o que se quiser quanto aos outros títulos. Pode-se suceder contratualmente e repudiar o título legal ou testamentário.Há certas situações que são anómalas, correspondentes às situações de sucessão anómala. A sucessão anómala também não está sujeita ao princípio da indivisibilidade. Pode-se aceitar a sucessão anómala e repudiar outras.O cônjuge tem direito a que, no momento da partilha, lhe seja atribuída com preferência a casa de morada de família. Pode aceitar a herança mas repudiar essa atribuição patrimonial.O 2250/1 diz que o legatário não pode aceitar o legado em parte e repudiar a outra. Mas pode aceitar ou repudiar outro, se este não for onerado por encargos impostos pelo testador. Considera-se razoável que, se não houver encargos, possa repudiar.A situação em que alguém vê a sua parte alargada por via do direito de acrescer. O de cuius deixa a herança a dois sobrinhos. Se um deles repudiar, o outro pode ser chamado a acrescer. Mas pode, também, dizer que não quer a outra metade. Mas só quando na parte que caberia ao outro herdeiro recaírem encargos. Se não houver encargos, recebe tudo. O testador tinha planeado que o encargo ficasse na esfera do outro. Assim, é razoável que o outro possa repudiar (2306º). O direito de acrescer funciona quando não há direito de representação: como não há descendentes, vai para o lado.A vocação pode ser directa ou indirecta. Tem a ver com o critério da pessoa que é o ponto de referência (JDP). Na directa, o chamado tem relação com o de cuius; na indirecta, tem uma vocação que resulta de relação que tem com terceiro. A tem filho B e este tem filho C. Se o B já tinha morrido, chamamos C a suceder a A. O neto nunca é chamado directamente. É sempre chamado a calcçar os sapatos do pai. A vocação de C é determinada pela vocaçaõ de B. Não tem uma posição própria. É chamado em função da relação que tem com terceiro que, por sua vez, foi chamado à sucessão e não quis ou não pôde aceitar. Se fosse B o de cuius, só havendo um filho C, cabia-lhe ½ da QI. Se C repudiar, chama-se A, que, como ascendente, já só recebe 1/3. Se A tinha 3 filhos e B tinha 2, C 3 e D 4, sendo esses os netos de A, se A morre a sua herança é dividida pelos 3 filhos, e a parte de B dividida em 2, a de C em 3 e a de D em 4.Não querer aceitar a herança é repudiar. Não poder pode ser incapacidade, comoriência, declaração de morte presumida, pré-morte. É um não poder jurídico. Um não poder de facto não releva (está em coma, p. ex.). Também situação de divórcio, separação judicial de pessoas e bens e não aquisição de personalidade jurídica. São situações de não poder jurídico.A vocação comum é a normal (originária, pura, etc.). A anómala é tudo o que não corresponder à normalidade. A substituição fideicomissária, substituição indirecta e transmissão do direito de suceder são casos de sucessão anómala.

A deserdação priva a pessoa de toda a herança. Quanto à sucessão contratual, é necessário que haja revogação da doação por ingratidão do donatário. Os pactos sucessórios são susceptíveis de revogação nestes termos. Apela-se ao 970º (ex vi 1705/3): as doações são revogáveis por ingratidão do donatário. O fundamento (874º) é uma das ocorrências que justificam a deserdação. Uma deserdação do sucessível não o priva necessariamente da sucessão contratual.Hipótese: em 2000, A deixa em testamento um barco a C; em 2002, deixa o mesmo, por pacto, a D. Há uma revogação do testamento, por força do conteúdo incompatível. JDP entende que é revogação real (há acto de alienação, já que o pacto é irrevogável). A outra hipótese é (Prof. Paula Barbosa) haver revogação tácita (conteúdo incompatível, mas o pacto não aliena já o bem, só quando o de cuius morrer). O pacto sucessório tem mais força do que o testamento.

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Se fosse ao contrário, em 2000 pacto e em 2002 testamento, o testamento seria inválido. O pacto é um negócio bilateral, o testamento unilateral. Cumpre assinalar, para o justificar, o princípio da irrevogabilidade do pacto sucessório (1701º). Tem excepções. É necessário ver se está alguma preenchida.Os pactos sucessórios a favor de terceiros podem (1705º) ser revogados. Os casos em que se pode revogar são (1701º, ex vi 1705º) casos de mútuo consentimento. Só se o terceiro consentiu é que pode o pacto ser posto em causa. Este caso não preenchia.O outro caso é do 1705/2: haver reserva dessa faculdade. O pacto sucessório é, materialmente, um testamento nesse caso.Se se tratar da revogabilidade de pacto sucessório a favor de um esposado, os casos estão no 1701º. Se for um terceiro a doar por morte, só pode pôr em causa se houver mútuo consentimento. Entre esposados, nunca.Caducidade. É preciso estar atento à validade, revogação e caducidade. Só se imputa o que for válido e eficaz. Se for pacto a favor de esposado, rege o 1703º. Se o beneficiário for o esposado, o 1703º remete para o 1760º, desde logo. Caduca se houver divórcio ou separação de pessoas e bens. Caducam os pactos sempre que o casamento em cujo âmbito foi feita a convenção antenupcial seja abalado ou destruído. A doação queria beneficiar o casamento: se não houve casamento, se este foi declarado nulo ou anulado (1760/a)) ou houve divórcio ou separação de pessoas e bens (1760/b)), o objectivo já não se mantém. Também se o donatário falecer antes, caduca.Se for pacto a favor de terceiro, quando caduca? A lógica já não é a mesma. O terceiro nada tem a ver com o destino daquele casamento. Rege, aqui, o 1705/4. Também se a convenção caducar, caducará a doação por morte. Como caduca a convenção? Remete-se para o 1716º. A convenção caduca se o casamento não tiver sido celebrado, declarado nulo ou anulado. Se o donatário falecer antes, também. Já o divórcio ou separação não afectam as doações a favor de terceiro.Redução das liberalidades. Hipótese: A, de cuius, é casado com B, é filho de E e F, tem como filhos C e D e um irmão G. Havia sucessíveis legitimários. Dada a preferência de classes (2134º), só são chamados B, C e D. Têm de sobreviver ao de cuius, ter personalidade, capacidade sucessória e um título designativo prevalente. São o cônjuge e descendentes (2157º e 2133/1/a)). Assim, E, F e G não são chamados.Calcula-se o VTH legitimária (2162º). Neste caso, a legítima objectiva era de 2/3 (2159/1). A herança era de 900, digamos, QI 600, QD 300. As legítimas subjectivas eram de 1/3 para cada um (divisão por cabeça). 200 para cada um.Sobram os 300 da QD. Havia liberalidades a imputar. Um pacto de 20 para Y; um legado testamentário de 200 para Z; outro legado testamentário de 100 para K; doação em vida para M de 300; 1/10 da herança para T. Aqui faz-se 1/10 do VTH testamentária (r – P). Digamos que 1/10 era 100. Assim, as liberalidades somadas dão 720. Há um excesso do poder de disposição. Houve inoficiosidade de 420. Ordem de redução (2171º): herança testamentária; legados testamentários. O 946/2 só se aplica quando a doação mortis causa não é válida porque não foi feita em convenção antenupcial. Aí passa a valer como testamento. Até houve aceitação. Mas foi violada a forma. É diferente de aproveitamento do pacto como testamento nos termos do 1704º: aí não houve aceitação, apesar de ser em convenção antenupcial. Foi negócio unilateral, verdadeiramente. Só se converte em testamento se tiver observado a forma: escritura pública.É relevante para aplicar o regime da ordem de redução, p. ex. Havia 420 de inoficiosidade. Reduz-se, primeiro, os 100 de herança testamentária, totalmente. Faltam 320. Passamos aos legados testamentários. Havia 200 e 100 (300). Têm de se reduzir na totalidade. Faltam 20. Há um pacto e uma doação em vida. As doações mortis causa são

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enquadradas pela doutrina no 2171º, que só se refere expressamente às doações em vida. Os dois actos têm o mesmo valor para a lei. O critério (2173º) é o cronológico. A doação em vida, digamos, era a mais recente. Valia 200. Reduzimos parcialmente, porque só faltavam 20. A pessoa teria de devolver à herança 20 em dinheiro. A doação em vida já era eficaz. O valor da inoficiosidade é devolvido. Já as deixas mortis causa que reduzimos nunca são entregues aos beneficiários. A única pessoa que recebe no momento da morte do de cuius é o beneficiário do pacto no valor de 100.Se o pacto sucessório for de instituição de herança (1702º), também se faz cálculo à parte (R + Dp – P). Discute-se se entra ou não o passivo (Pamplona).Redução proporcional. Hipótese: há uma QD de 30. Há uma doação em vida de 20; legado testamentário de 10; outro de 20; herança testamentária de 50. Tudo somado dá 100. Inoficiosidade de 70. Reduz-se primeiro a herança, na sua totalidade. Sobram 20. Seguimos para os legados testamentários. Um vale 10, o outro 20. O valor total dos legados é 30. O valor total das liberalidades a reduzir é 30; o valor total da inoficiosidade é 20. Se num universo de 30 tenho de tirar 20, então num de 10 tenho de eliminar 6,67 (10 * 20 / 30). A pessoa recebe 10 – 6,67= 3,33. Recebe só a diferença. No legado de 20 reduzimos 13,34. Recebe 6,67.

Prática. O objectivo é sempre fazer a partilha. Mas vai-se complexificando. Factos designativos. Podem ser negociais ou não negociais. Naqueles há testamento (unilateral) ou pacto sucessório (contrato). Ambos se destinam a fazer liberalidades mortis causa. Os pactos são doações mortis causa. Cabe ver os requisitos de validade. Eles não são em princípio permitidos (946/1). Esse preceito tem de ser conjugado com o 2028/2. Há, pois, tipicidade dos pactos sucessórios. A primeira coisa a fazer é ver se a doação mortis causa é permitida pela lei. São irrevogáveis, ao contrário do testamento. Limita-se grandemente a liberdade do autor da sucessão relativamente aos seus próprios bens. Constituem enorme limitação à disposição de bens pelo autor. O 2028/1 identifica certas categorias de pactos sucessórios, mas nem todas são permitidas pela lei portuguesa. A primeira categoria é a sucessão contratual quando alguém renuncia por contrato à sucessão de pessoa que ainda está viva. O repúdio só pode ser praticado depois de aberta a sucessão (momento da morte do autor da sucessão). A lei prevê, aqui, o pacto sucessório por que alguém renuncia à sua posição sucessória. Não são permitidos.A segunda categoria é a dos pactos através dos quais alguém dispõe sobre a sua própria sucessão (pactos designativos ou aquisitivos). São as doações mortis causa. É um negócio jurídico bilateral gratuito mortis causa. Só são permitidos num caso muito específico.A terceira categoria é a dos pactos pelos quais alguém dispõe sobre sucessão de terceira ainda não aberta. É uma situação em que alguém é sucessível de terceiro e já está a dispor sobre os bens que prevê receber. Poderiam ser admitidos, mas à luz a lei portuguesa não. Trata-se de pactos dispositivos. O bem ainda não é da pessoa. Só existe uma expectativa.Os que são permitidos encontram-se no 1700º. São pactos designativos. O 1701º fala na tendencial irrevogabilidade. Alguns até mesmo que haja mútuo consentimento.Já o testamento é altamente revogável. Qualquer negócio que contrarie expressa ou tacitamente o testamento revoga-o (ou a deixa correspondente). É livremente revogável. Há revogação expressa, tácita e real.Os factos designativos não negociais são as relações jurídicas familiares e, na sucessão anómala, para-familiares. A sucessão legítima e a legitimária são as categorias de sucessão legal. Também o vínculo de cidadania. A sucessão legitimária é indisponível.

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Salvo nos casos tipificados na lei, o herdeiro legitimário não pode ser afastado da sucessão. Associado a esta injuntividade está um conjunto de mecanismos de protecção dos sucessíveis. Os herdeiros legitimários (2157º) são o cônjuge, descendentes e ascendentes (se houver filhos, os pais não são herdeiros). Há uma quota indisponível se existirem legitimários. É a massa de bens de que o autor da sucessão não pode dispor, já que está destinada aos sucessíveis legitimários. O direito das sucessões assenta no princípio da protecção da família. Oscila com a liberdade de as pessoas disporem dos seus bens por morte. A esta chama-se quota disponível. Nesta opera a sucessão contratual, depois a testamentária e finalmente a legítima.A legítima é supletiva. Se nada for disposto em contrário, aplica-se. É o conjunto de regras aplicado na parte do património do autor da sucessão de que este não dispôs válida e eficazmente (2131º). Os sucessíveis legítimos são cônjuge e descendentes; cônjuge e ascendentes; irmãos, descendentes, outros colaterais, Estado.O 1999º atribui ao adoptado e adoptante restritos a posição de herdeiro legítimo. O adoptado entre as alíneas b) e c); o adoptante entre as alíneas c) e d).A primeira coisa a fazer é ver se há herdeiros legitimários e calcular, consequentemente, a quota indisponível. No âmbito da quota disponível está, em último lugar, a sucessão legítima; em primeiro lugar vem a contratual e logo a seguir a testamentária. O pacto sucessório prevalece sempre sobre testamento, a não ser que o pacto seja unilateralmente revogável (reserva de livre revogação) e o testamento posterior o possa revogar.Existe um instituto, o da redução de liberalidades por inoficiosidade, para protecção dos herdeiros legitimários. Serve para resolver casos em que se dispôs de bens indisponíveis. Os primeiros a ser afectados são sempre os previstos em testamento.A legítima é intangível. A legítima está dentro da legitimária. O autor não pode afectar nem quantitativa nem qualitativamente a sucessão legitimária. Não pode dispor de mais do que lhe é permitido; nem, contra a vontade do herdeiro, dizer como é que é preenchida a quota (que bem servirá para preencher a sua quota, o valor a que tem direito).A quota indisponível também é chamada de legítima objectiva. A legítima subjectiva é a parte da quota indisponível que cabe a um dos herdeiros legitimários.As doações em vida não são um tipo de sucessão. Mas também podem ser relevantes na quota disponível.Classificação em função do objecto. Quem é herdeiro, quem legatário? Tem relevância para efeitos de partilha, passivo, direito de acrescer, etc. A grande diferença entre um herdeiro e um legatário é que este sabe qual o bem que vai receber. O herdeiro, tipicamente, sucede numa quota. Sabe qual o valor que vai receber, mas não quais os bens. Em princípio, não sabe o que vai receber. Por isso é que avulta o direito de exigir a partilha na esfera dos herdeiros: é o impulso para, em tribunal, dividir a herança; a partilha só termina com a efectiva transmissão da propriedade. Partilha não é só saber o que cada um vai receber, mas o impulso para os bens saírem da herança para a propriedade de cada um dos sucessores.Caso 50. Trata-se de um caso de herança ex re certa. É um caso de “deixa categorial dicotómica que esgota a totalidade da herança”. A doutrina tem discutido se os seus beneficiários devem ser qualificados como herdeiros: eles recebem o remanescente do outro. O 2030/3 determina que o que sucede no remanescente é herdeiro. JDP e Pamplona defendem esta solução. O. Ascensão defende que o que recebe os bens futuros é herdeiro e o que recebe os bens presentes é legatário, tendo em conta a intenção limitativa. JDP diz que a lei não atribui relevância à variabilidade do direito. O que releva é a questão do remanescente.

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Neste caso, A está a dispor da totalidade dos seus bem. No caso não há herdeiros legitimários. Assim, poderia dispor de tudo. Se não houvesse testamento, o irmão e a irmã seriam chamados à sucessão (2133/1/c) – herdeiros legítimos).Caso 51. Primeiro: deixa bens determináveis (imóveis sitos em Portugal). Nomeia, pois, legatário. Não basta dizer “bens imóveis” ou “bens presentes” para dizer que é herdeiro. Em princípio é legatário. Só não o é se a deixa esgotar a realidade. Segundo: o usufruto é de uma quota. Ainda assim, é legatário (2030/4). Terceiro: é um legado por conta da quota (outro caso de herança ex re certa). Sucede simultaneamente numa quota e em bens determinados – esse são os indicados para preencher a quota. O legatário por conta da quota recebe sempre os bens, não vai ter de discutir com os outros se vai ou não recebê-los: tem ainda direito de receber a quota. O legatário por conta da quota é qualificado como herdeiro, porque recebe uma quota.Quarto: o que recebe o remanescente é herdeiro, salvo se houver especificação dos bens (2030/3). Não houve especificação, pelo que é herdeiro.Caso 52. No 1 há outro legado por conta da quota. Sucede em quota e em bens concretos e determinados. Se o valor do barco e da casa for inferior ao valor da quota, tem direito a exigir a diferença. Recebe o barco, a casa de férias e o que falta. Ainda terá de, no âmbito da partilha, concretizar os bens a que ainda tem direito. Se o valor for maior, fica com o bem. Responde como herdeiro até ao valor do bem e como legatário no que sobra, para efeitos, p. ex., de responsabilidade pelo passivo. O traço essencial do legado por conta da quota é que o beneficiário tem direito à quota e aos bens. Se a quota for de valor inferior, tem direito a receber ainda os bens. A justificação do regime é o 2030/2: a ideia é que não pode ser prejudicada, nem enquanto legatário por ser herdeiro, nem enquanto herdeiro por ser legatário.O facto de o autor da sucessão dizer que um bem determinado corresponde a um dado valor (1/3 do património, p. ex.) não é a mesma coisa que deixar legado por conta da quota. Não é suficiente para concluir que lhe quer deixa uma quota do património, instituindo herdeiro. Tem sempre direito a receber a casa, independentemente de corresponder ou não ao valor que o de cuius entendeu ter. Não tem relevância.Pergunta 2. Há um problema de caducidade: houve perecimento superveniente da coisa deixada. O 2317º é exemplificativo, não contemplando esta situação. Mas não é exaustivo. E este é precisamente um dos exemplos aventados pelos Professores Pires de Lima e Antunes Varela em anotação ao 2317º. Apesar de C receber o único bem que sobrou, mantém-se legatário.Caso 53. Os legitimários são (2157º) X, Z, B, C, D, E e F. Os ascendentes não são chamados se houevr descendentes (2134º). O 2157º remete para a regras da sucessão legítima. O 2134º estabelece a preferência de classes. O 2133º/1 prevê as classes de sucessíveis. No caso, temos a alínea a) e a b) (cônjuge e descendentes; cônjuge e ascendentes). Quando há mais do que uma classe, aplicamos o 2134º: só se chama a primeira. Os ascendentes não são titulares da designação prevalente quando existem descendentes.A preferência de grau é diferente. A lei fala em descendentes: filhos, netos, etc. Quando, dentro da mesma classe, temos parentes de graus diferentes, pretere-se o grau mais próximo (filho sobre neto). É o regime do 2135º.Identificámos os herdeiros legitimáros. Cabe calcular o valor total da herança legitimária. Para calcularmos a legítima objectiva temos de saber o VTH legitimária. Corresponde (2162º) à diferença entre a soma do relictum e donatum e o passivo. Temos em primeiro lugar em conta o activo (valor dos bens existentes no património do autor da sucessão à data da sua morte): 110. O donatum corresponde às doações feitas em vida. As doações mortis causa estão no relictum. As deixas testamentárias não são

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doações. O donatum só pode incluir bens que já não estão no património do autor da sucessão no momento da morte. As liberalidades mortis causa ainda estão.In casu, não há donatum. Há 20 de dívida. O VTH legitimária é 90. O passivo fica de fora porque antes de o herdeiro receber liquida o passivo.A legítima objectiva ou QI acha-se, in casu, no 2158º e ss. No caso de concurso de cônjuge e descendentes, é de 2/3 (2159/1). A QI é de 60; a QD é de 30. Seguidamente, cumpre calcular a legítima subjectiva. Temos de voltar a recorrer às regras da sucessão legítima (ex vi 2157º). A regra é a da divisão por cabeça (2136º). Há excepções. Uma delas dá-se quando se está perante cônjuge e mais do que 3 filhos: o 2139/1 diz que o cônjuge recebe sempre 1/4 , nunca menos. É um mínimo. Só tem relevância quando há mais de 3 filhos. Pontualmente, há normas que privilegiam o cônjuge em relação aos demais. Enquanto herdeiro legal nunca recebe menos do que os restantes; pode até receber mais. Parece resultar de uma preocupação com um nível mínimo de subsistência do cônjuge. O B (cônjuge) tem direito a 15 (1/4). Os descendentes dividem por cabeça, recebendo 11,25 cada.Quanto à QD, não havendo sucessão contratual ou testamentária, nem doações em vida, rege (2131º) a sucessão legítima. Sempre que há sucessão legitimária, a sucessão legítima é a “quota disponível livre”. É o remanescente da QI. É a quota disponível livre porque pode haver parte do remanescente que esteja disposto de forma válida e eficaz (doações mortis causa, p. ex.). Voltamos a aplicar o 2139º: B recebe ¼, 7,5; os filhos dividem os restantes ¾ entre si, por cabeça (5,625). A quota hereditária legal é a soma das quotas a que tem direito cada um dos herdeiros legais da herança legal (legitimária e legítima). B recebe 22,5; cada filho recebe 16,875.Caso 69. B, o de cuja, é casado com A e tem filho X. Em 2001, faz disposição testamentária a favor de D, de um anel; a E, aparelho fotográfico; a F, relógio. Em 2003, é a G que deixa o anel. Morre em 2004, deixando bens no valor de 200. O anel vale 15, o aparelho 3 e o relógio 2. Em 1999 tinha doado a C um terreno, no valor de 100. Há legitimários (2157º). Deve-se calcular o VTH legitimária, para saber a QI e QD (2162º). Não há passivo. Assim, temos relictum (200) + donatum (100). Dá 300. Porque contamos com o donatum? As doações são inter vivos, não parecem estar relacionadas à partida com o fenómeno sucessório. A lei está a tentar proteger os herdeiros: os legitimários e os contratuais. Protege-se a expectativa do legitimário. Se não contabilizarmos as doações em vida, estaria aberta a porta para todas as fraudes, esvaziando-se a herança. É uma operação, desde logo, contabilística. Só se o valor das doações em vida for superior ao valor da QD é que os donatários ficam prejudicados.A QI é de 2/3 (2159/1 – concurso de cônjuge e descendentes). A QI é de 200; a QD é de 100. Calculamos a legítima subjectiva: o 2136º, confirmado pelo 2139/2, manda dividir por cabeça. 100 a cada um dos legitimários. A seguir à sucessão legitimária imputamos as liberalidades. Significa preencher uma quota com determinados bens ou liberalidades. Por agora, todas são imputadas na QD. 2313º - o testamento é livremente revogável. Qualquer declaração que contrarie o testamento revoga-o. O testamento de 2003 revoga a deixa de 2001. O anel vai para G. Foi revogação tácita. O testamento só revoga o anterior na estrita medida em que o contraria. Se tivesse disposta apenas de ½, D e G ficavam em regime de compropriedade.C tem o terreno (100); E recebe 3; F recebe 2; G recebe 15. Cumpre ver a relação entre as liberalidades imputadas e a QD livre. Excedemos: 120, quando a QD era de 100. Há uma inoficiosidade de 20. São sempre os testamentários que vêem a sua liberalidade afectada, já que o testamento é negócio unilateral. C era parte num negócio bilateral. As

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liberalidades testamentárias somam 20 (2+3+15). Reduzimos totalmente, fica resolvido. Não há sucessão legítima, porque sobram precisamente 100 (o valor do terreno para C).Caso 60 (sem legitimários). Neste caso já não tem relevância o donatum. As doações são conferidas para protecção de herdeiros legitimários e contratuais. As doações em vida não contam quando se trata de sucessão legítima ou testamentária. O VTH legítima será relictum – passivo, mas não só. A sucessão legítima é o que sobra. O que sobra não é 200 (200 – 0), porque ele tinha deixado um legado. A QD é 200. Temos de imputar as liberalidades (E – 3; F – 2; G – 15). O VTH da herança legítima é relictum – passivo – liberalidades. A sucessão legítima é a QD livre. Dá 120 (200 – 0 – 200).Agora, chamamos os herdeiros legítimos: 2133/1/c), porque não há cônjuge, descendentes (a)), ascendentes (b)), adoptados restritivamente ou adoptantes restritivamente (1999º). Chamamos os irmãos e seus descendentes. Resulta da parte geral da sucessão legítima que a sobrinha não é chamada: preferência de grau. Mas também o 2145º esclarece que os descendentes dos irmãos só são chamados a título de representantes. Só são chamados os irmãos, herdeiros legítimos. O valor era 180. O 2145º manda fazer divisão por cabeça. Cabem 60 a cada um. E fica com 63; F fica com 62 e D com 60. G mantém-se com 15.No caso em que há irmãos com diferentes “legitimidades” verifica-se excepção à divisão por cabeça. Os germanos valem por 2. D era germano; E e F eram unilaterais. D (2) + E (1) + F (1) = 4. 180/4 = 45. E e F recebem 45. D recebe 90.Na ideia de continuidade da massa humana familiar, os unilaterais recebem menos porque se o seu progenitor que ainda não morreu falecer também receberão por aí. É por esse motivo que se atribui mais aos irmãos germanos.A primeira cláusula constitui um pacto renunciativo. É nulo porque não está prevista na lei a sua admissibilidade (2028/1, princípio de tipicidade). Há dois tipos de pactos sucessórios previstos no 1700º. São pactos designativos (os renunciativos e os dispositivos não são válidos). A diferença entre a alínea a) e os da alínea b) é que estes são a favor de terceiros, enquanto que aqueles são a favor de esposado. É possível a doação mortis causa a favor de terceiros. Mas os pactos sucessórios só são válidos se um dos esposados participar como doador. Um exemplo de terceiro a favor de terceiro é um caso de pacto designativo, mas inválido porque não previsto.Os pactos sucessórios a favor de esposado mais não são do que doações para casamento mortis causa (1753/2). Podem ser feitas por outro esposado ou por terceiro. O regime legal distingue, na revogabilidade, os dois casos.A 2ª cláusula institui H como herdeiro (1/4 da herança). É um pacto designativo, válido nos termos do 1700/1/b), de instituição de herdeiro (2030º).Na 3ª cláusula há um pacto designativo de um esposado a favor do outro (António), válido nos termos do 1700/1/a), de nomeação de legatário (um bem concreto e determinado). A. quer repudiar a parte da herança que B lhe deixou no pacto sucessório. A é herdeiro legitimário. Uma pessoa que é legitimária e simultaneamente sucessor contratual pode repudiar uma deixa e aceitar outra. A vocação é o direito de aceitar ou repudiar a herança. Tendencialmente, uma pessoa ou aceita tudo ou repudia tudo (indivisibilidade da vocação). JDP tem uma posição particular quanto aos pactos sucessórios. O 2055º contém as normas sobre a indivisibilidade. Mas não se refere à sucessão contratual. JDP diz que isso é natural, porque, sendo um contrato, no pacto sucessório existe uma declaração de que alguém doa e outra em que alguém aceita (se esta não houver, converte-se em testamento). Se se vincular por contrato, não teria de vir aceitar. A aceitação já ocorreu. Não pode repudiar (irrevogabilidade do pacto).Se aplicássemos esta tese, diríamos que não pode repudiar. Pamplona entende que a aceitação e repúdio são transversais, assistindo a qualquer sucessível. A lógica do

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2055º é que a legítima subjectiva está sempre salvaguardada. Pode aceitar esta e repudiar tudo o resto. O A não pode impor ao sucessível que ou aceita tudo ou repudia tudo, porque isso implicaria que, para repudiar a deixa contratual teria de repudiar a legítima subjectiva.Na 2ª cláusula também se faz doação a terceiro. C só descobre depois que tinha sido contemplada. Significa que não participou como outorgante no pacto. O 1704º prevê esta situação. O pacto reveste-se de carácter testamentário. A lei veio salvar este negócio da nulidade (forma exigida para o testamento), valendo, ainda assim, como testamento. É um regime diferente do previsto no 946/2.Isto tem relevância porque houve doações em vida. B decide doar o carro a Eduardo. Como é sucessão testamentária, não rege o 1701º. Aplica-se o regime do testamento. Quando o autor da sucessão faz uma doação do bem que tinha deixado em testamento, faz revogação real (2316º). A deixa a C desaparece.B também faz uma doação de bem que já deixara a A. Contraria um pacto sucessório. Há 3 regimes de revogabilidade dos pactos. Há um tipo de pactos que é totalmente irrevogável (nem por mútuo consentimento); há, também, pactos revogáveis por mútuo consentimento; e, finalmente, há pactos que são unilateralmente revogáveis.O 1701º prevê este regime. Os casos do 1700/1/a) são os que o 1701º regula. Não podem ser unilateralmente revogáveis depois da aceitação, nem é lícito ao doador prejudicar o donatário por actos gratuitos de disposição. Quer dizer, desde logo, que são revogáveis por mútuo consentimento. A lei vem dizer quando podem ser revogados por mútuo consentimento: quando é são feitos por terceiro a favor de um esposado.Há um outro tipo de pactos, o de esposado a favor de esposado, que é totalmente irrevogável (1701/1, a contrario, e 1758º).O 1705º prevê o caso de doação mortis causa a favor de terceiro, mas remete para o 1701º. Assim, a doutrina tem entendido que são revogáveis por mútuo consentimento. Não se pode incluir no mesmo regime as doações entre esposados. A sua irrevogabilidade resulta, é certo, de uma interpretação do 1701º; mas também directamente do 1758º.O 1705º/2 prevê que os pactos sucessórios feitos por esposado a favor de terceiro com ressalva de livre revogabilidade são unilateralmente revogáveis.O 2196º refere-se ao cúmplice do testador adúltero. É nula a deixa a favor dele. É norma da sucessão testamentária. Contudo, aplica-se às doações por remissão do 953º, do regime das doações. O 953º manda aplicar às doações em vida o regime das indisponibilidades relativas do testamento. A consequência é a nulidade (2196/1), a não ser que caia nas alíneas do nº 2.Os legitimários eram o cônjuge e ascendentes (2133/1/b)). Cabe calcular o VTH legitimária (2162º). O relictum era de 95, o passivo de 20. O donatum era de 15. Resulta em 90 de VTH legitimária. Há concurso de cônjuge e ascendentes, pelo que a herança legitimária é de 2/3. A QI é de 60, a QD é de 30. 2141/1, o cônjuge tem direito a 2/3, os ascendentes a 1/3 (40 e 20).Cabe agora imputar as liberalidades. A tem direito a 25 e E a 5. Falta calcular o VTH contratual. Para que isso seja necessário, é preciso que haja um herdeiro contratual (atribuição de quota num pacto sucessório). Para além disso, tem de se ter um herdeiro contratual cuja quota seja referida em relação à herança. Ou seja, se for definida por referência à quota disponível não se terá de calcular o VTH contratual. O autor da sucessão tem de dizer que deixa parte da herança.In casu, o de cuius deixa ¼ da herança. Temos de saber o VTH contratual (relictum + donatum posterior – passivo). O R é de 95; o P de 20. A lei manda adicionar o donatum posterior no 1702/1. Posterior ao pacto sucessório. É de 5, o valor do carro. Contamos

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com o donatum posterior: é a consequência prática do 1701/1 (“não é lícito ao doador prejudicar o donatário por actos gratuitos de disposição”). Protege-se um legado protegendo o bem. Já o herdeiro tem direito a uma quota. Assim, tem de se proteger o valor da herança, somando o valor do donatum posterior. Se não o fizéssemos, o autor da sucessão poderia deixar o herdeiro sem nada. Tem uma expectativa jurídica que cabe proteger.Há uma questão doutrinária quanto ao passivo. Se contamos com o passivo para efeitos de VTH legitimária, também teremos de contar para efeitos de VTH contratual. Os herdeiros contratuais não podem ser menos protegidos do que os legitimários. Ademais, aumentaria o risco de inoficiosidade não contar com o passivo. Isto é o que diz o Prof. JDP, em resposta a Pamplona, que dizia que não se deveria contar com o passivo porque o 1702º não o prevê. O VTH contratual era 80 (95 + 5 – 20). H recebe 20 (1/4 de 80).Somadas as liberalidades (10 para G, 20 para H, 25 para A e 5 para E), dava 60. A QD era de 30. Há inoficiosidade de 30. Cumpre reduzir. Há duas doações em vida e dois pactos designativos. O 2171º prevê a ordem de redução: 1º a herança testamentária (não há); 2º legados testamentários (não há); 3º liberalidades feitas em vida (doações em vida). As doações em vida (10 e 5) só dão 15. Faltam 15. Os pactos sucessórios também estão sujeitos a redução por inoficiosidade, apesar de nunca serem referidos. Por força do princípio da intangibilidade quantitativa da legítima, nunca poderia ser de outra forma. A herança contratual é hierarquicamente inferior à legitimária.O 1705/3 diz que a irrevogabilidade do pacto sucessório não o isente do regime geral da redução por inoficiosidade. Mas só se refere aos pactos sucessórios a favor de terceiros. O 1759º aplicar o regime da redução aos pactos sucessórios a favor de esposado. Assim, resolve-se com base legal o problema: o 1705º/3 para os pactos a favor de 3º; o 1759º para os pactos a favor de esposado.E quanto à ordem? Estão depois das deixas testamentárias, claro. A doutrina tem entendido que estão ao mesmo nível que as doações em vida. Têm o mesmo regime quanto à protecção das expectativas dos beneficiários, daí serem reduzidos ao mesmo tempo. Têm o mesmo valor. Parece chocante que alguém que já recebeu o bem tenha a mesma protecção que quem ainda não recebeu. Mas existe harmonia de regime legal. Para saber como proceder agora, o 2173º consagra o critério cronológico. Quem recebeu há menos tempo é atacado primeiro. E foi quem recebeu há menos tempo. Reduz-se totalmente a liberalidade (5). As liberalidades seguintes (2173/2) são reduzidas proporcionalmente, porque foram feitas na mesma data e porque a redução é parcial (a inoficiosidade é menor do que a soma das duas). Faltava reduzir 25. É o valor total das liberalidades a reduzir. As duas liberalidades somavam 45. Assim, se em 45 precisamos de tirar 25, a 20 (o de H) precisamos de tirar x. 20 * 25 / 45 = 11,1. Retiramos 11,1 a 20 (sobra 8,9 para H). Para o A bastaria tirar 11,1 a 25. Dá 13,9 (o mesmo valor que se fizéssemos a regra de 3 simples com o seu valor). Assim, reduz-se a deixa de A em 13,9, sobrando 11,1. Assim:

QI (60) QD(40) VTH (90)A 40 11,1 51,1F 20 - 20G - 10 10H - 8,9 9,9Caso 56. O 2157º identifica os legitimários. Neste caso, 2133/1/b): ascendentes e cônjuge. A e B estavam separados de facto. Só se estivessem separados de pessoas e bens (2133/3) é que não seria legitimária. Só perde a qualidade de herdeira legitimária nessa medida. Cabe calcular o VTH legitimária (2162º): 97 + 3 – 10 = 90. A legítima objectiva é de 2/3 (2161º). A QI é de 60, a QD de 30. 2142º para cálculo da legítima

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subjectiva do cônjuge: 2/3 porque concorre com os ascendentes. É de 40. Os ascendentes em conjunto recebem 1/3: 20. Fica 10 para cada.Cabe analisar as liberalidades. A deixa a favor de E foi determinada por erro. O 2201º manda aplicar o regime do dolo, coacção e erro, com as especificidades do 2202º e 2203º. O erro-vício é o do 2202º - vício na formação da vontade (esta não foi esclarecidamente formada). No erro-obstáculo há divergência entre a vontade real (correctamente formada) e a vontade declarada – é o caso do 2203º.O CC distingue vários tipos de erro. O que temos de pensar é o que significa o facto de o legislador ter consagrado um regime especial. A limitação que a lei introduz tem a ver com a prova da essencialidade. Tem de resultar do próprio testamento que se conhecesse o vício não teria feito a deixa. Tudo o que na parte geral tem a ver com a protecção do declaratário não se aplica no testamento porque não há declaratário.In casu, há erro sobre os motivos. A essencialidade do erro resulta do testamento. A doutrina tem feito uma interpretação restritiva deste requisito. Expressamente, não resulta do testamento que não faria a deixa se conhecesse o erro. Todavia, a doutrina tem entendido que basta revelar o motivo.A disposição é anulável (2201º e 2202º). O 2203 tem um efeito positivo: os bens são entregues à pessoa que o de cuius queria ter referido. No caso do erro vício não acontece. Neste caso não se pode aplicar o 2203º, na medida em que há vício na formação da vontade. Contudo, o Prof. O. Ascensão aplica analogicamente o 2202º a casos de erro sobre as qualidades da pessoa e sobre o objecto (entende que há lacuna porque não há regras específicas no livro das sucessões, havendo na parte geral distinção entre essas várias figuras). Quando resultar do testamento a que pessoa ou bem é que se referiria se não estivesse em erro, poder-se-á aplicar o 2203º, com o efeito positivo referido. Mas é uma posição minoritária.A disposição é anulável. O 2308º traz o regime. O 2202º não traz requisitos especiais. Aplicamos os do 255º: ameaça ilícita que causa medo, que causou declaração. O 256º não é aplicável porque não há tutela do declaratário. Traz alguma razoabilidade. Mas não interessa se houve consumado receio de consumação do mal ou se este era grave. Esses requisitos existem para proteger o declaratário, dificultando a arguição da invalidade.Há coacção moral (2201º e 255º, ressalvando que o 256º não é aplicável porque o testamento é um negócio unilateral). Assim, partimos do princípio de que houve acção de anulação procedente: retiramos as deixas anuláveis.Liberalidades: C – 3; B – 0,5; D – 5. A QD era de 30. Só imputámos 8,5. Há 21,5 ainda para distribuir: é o valor total da herança legítima. 2131º e ss.: aquilo de que o autor da sucessão não dispôs válida e eficazmente. Os herdeiros legítimos são os mesmos (2133/1/b)). 2142º para saber que o cônjuge recebe 2/3, enquanto os ascendentes ficam com 1/3 em conjunto. O cônjuge tem sempre direito a 2/3 da herança legal (legitimária e legítima), neste caso. O cônjuge recebe 14,4 (21,5 / 3 = 7,2. 7,2 * 2 = 14,4). Os ascendentes recebem 1/3 (7,2). Assim, cada um recebe 3,6.Nota: da natureza não recipienda do testamento retiramos que não se aplicam normas cuja ratio seja a protecção do declaratário. Contudo, há casos em que, mesmo sendo unilateral, o testamento só existe porque há outro. Aí poder-se-á, na minha opinião, ponderar a aplicação daquelas normas.Caso 54. E, J e L são os legitimários (2157º, 2133º/1/b)). O relictum é 200, o passivo é 20. O de cuius tinha feito uma doação em vida à notária que tinha lavrado o testamento. O 953º manda aplicar o regime das indisponibilidades relativas (2192º - 98º). Mas é com as devidas adaptações. Ora, só se a pessoa tiver tido intervenção na doação

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como notária é que haveria indisponibilidade. A aplicação do 2197º exigiria uma tal participação no acto que lhe é favorável. Não aconteceu. A doação a favor de I é válida.O donatum é de 150. O VTH é 200 + 150 – 20 = 330. A QI é de 2/3 (2161º, cônjuge e ascendentes). Dá 220. O cônjuge fica com 2/3 e os ascendentes com 1/3 (2142º). O pacto sucessório é válido. É pacto designativo, de instituição de herdeiro (1/ da herança – 2030/2). É a favor de terceiro (1700/1/b)). Para calcular o VTH contratual (1702º) deve-se somar o relictum e o donatum posterior e subtrair o passivo. O donatum posterior é de 40. Assim, o VTH contratual é 220. 1/8 é 27,5.Há uma deixa testamentária de nomeação de legatário, G. A deixa a favor de H é nula. H era marido da notária. Está em situação de indisponibilidade relativa (i. e., ilegitimidade passiva). A lei não prevê expressamente no 2197º o caso de familiares do notário. Faz remissão para o 579/2, quanto às interpostas pessoas. I não poderia receber (2197º), H também não poderia (2198º e 579/2). A consequência é a nulidade.Falta imputar as liberalidades. D tinha 110 (doação em vida); F tinha 27,5 (pacto sucessório); G tinha 20 (legado testamentário) e I tinha 40 (doação em vida). A QD era de 110. O valor das liberalidades era de 197,5. Há inoficiosidade de 87,5. Cumpre reduzir. O 2171º traz a ordem. Não há herdeiro testamentário. Há um legatário testamentário. Corta-se totalmente. Faltam 67,5. O 2173/1 manda aplicar critério cronológico. O I é o primeiro: tem doação em vida no valor de 40. Faz-se redução total. Faltam 27,5. E tinha 27,5 de herança contratual. É totalmente reduzida. Só sobram 110 para D. É o valor exacto da deixa a seu favor.O critério cronológico é uma cedência que o legislador faz. Protege os que retêm o direito de propriedade há mais tempo. O critério cronológico não se aplica às deixas testamentárias. Um testamento de 1980 e um de 2000 são reduzidos ao mesmo tempo. A lei faz uma cedência à vontade do de cuius na redução por inoficiosidade: 2172/2. É, obviamente, para casos de herança testamentária (são livremente revogáveis). Aí pode contar uma declaração do testador quanto à forma de reduzir.Substituição pupilar e quase pupilar. Estamos a falar de menores não emancipados e interditos por anomalia psíquica. Estamos a falar de incapacidade activa, para testar (2189º). Interditos com outros fundamentos podem testar. A substituição vem permitir que outras pessoas testem por eles. O progenitor que não estiver inibido total ou parcialmente da responsabilidade parental (pupilar); quanto à quase pupilar, pode ser feita (2298º) pelos do 2297º (é remissão para a pupilar). Assim, o progenitor que representa o filho. A questão que se coloca é o que significa a remissão? Só os progenitores que exercem poder tutelar ou os outros? JDP diz que, aplicando o 2297º com as adaptações necessárias, terá de ser o progenitor que exerce o poder tutelar. e o tutor não progenitor? Não, porque a lógica da substituição pupilar prende-se com o facto de o testador ser um e o de cuius ser outro. Que bens podem ser objecto? 2300: os bens que haja recebido por via do testador. Só podem ser deixados os bens que o substituído tenha recebido do testador. A lógica é a manutenção dos bens na massa patrimonial da família. A preocupação da lei é que os bens não sejam dispersos por herdeiros legítimos só porque o de cuius não tinha capacidade. O mais frequente é não terem filhos. Se tiverem, a substituição caduca e tudo funciona normalmente. Mas se não tiverem, sem a substituição a manutenção dos bens na linha recta ficaria em causa.Caso 55. Há herdeiros legitimários: E (cônjuge) e os filhos Z, H, I, J e L. Os últimos 4 são germanos. Z é unilateral. Não tem relevância, porque o 2146º só se aplica quando se trata da sucessão de um irmão. Aqui estamos a fazer a sucessão de um seu ascendente. Não há meios filhos.Cônjuge de descendentes (2157º, 2133/1/a)). A legítima objectiva é de 2/3 (2159º/1). O relictum é 260, o donatum é 45, o P é 5. O VTH legitimária é 300. A QI é de 2/3 (200);

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a QD é 1/3 (100). O 2139, 2ª parte, traz excepção ao princípio da divisão por cabeça. Ao cônjuge cabe sempre ¼: aqui, 50. Temos mais de 3 filhos. Os restantes ¾ são divididos entre os 5 filhos. Cada um fica com 30 (150/5).Falta 100 de QD. Há liberalidades. Há sucessão contratual. É válido o pacto sucessório porque é um pacto designativo de esposado a favor de terceiro (1700/1/b)), de instituição de herdeiro. Deixa 1/5 da herança. Significa que temos de saber quanto é o VTH contratual (1702º). O donatum posterior é de 30. Só há uma doação em vida depois do pacto sucessório. O VTH contratual é 285. F tem direito a 1/5 = 57. O pacto sucessório com G é a mesma coisa mas de nomeação de legatário (bem concreto e determinado). O caso diz que F aceitou, mas nada diz sobre G. Assim (1704º), assume valor testamentário. B fora nomeado legatário. 2313º - houve revogação tácita, porque a deixa a favor de G contrariou esta deixa.Quanto a C, trata-se de instituição de herdeiro. Deixou-lhe 1/10 da QD. Se tivesse dito “1/10 da “herança””, ter-se-ia de calcular o VTH testamentária (R – P). Na sucessão testamentária limitamo-nos a conferir o activo e o passivo. A lei só confere o donatum para protecção de certos herdeiros. A sucessão testamentária não é irrevogável, não há nada para proteger.Neste caso não era necessário porque deixou 1/10 da QD. O C era o padre da paróquia. O 2194º só se aplica ao sacerdote quando haja doença e se o testador morrer dela. Não há indisponibilidade. É válida a deixa. Se o autor não vier a falecer da doença, poderá revogar. Se não o fizer, é porque quis mesmo (e não por influência). O 2195º prevê excepções: legados remuneratórios a favor daquela pessoa; e (b)) casos de predominância da relação de parentesco relativamente à função exercida (a pessoa era enfermeira mas também era irmã): a lei dá preferência à relação de parentesco, presume-se que há maior proximidade.Somando tudo, temos liberalidades de 137. A QD era de 100, há inoficiosidade de 37 (não há bens suficientes para atribuir os valores aos herdeiros legitimários). O 2171º manda reduzir primeiramente as heranças testamentárias. Há uma, a de C. É no valor de 10, faz-se redução total. Sobram 27. Legados testamentários: há um legado de 25, o de G. Reduz-se totalmente. Faltam 2. O 2173/1 manda aplicar a ordem cronológica às liberalidades em vida e doações mortis causa. A mais recente é a favor de M. Reduz-se parcialmente, M fica com 28 (tinha 30 a receber).O 2174/2 prevê o caso de ser um bem não pecuniário: uma casa, p. ex. O bem indivisível pertence a quem tenha a mais valiosa das prestações. O restante paga ao outro em dinheiro.Caso 52. Os legitimários são o cônjuge (B) e o filho D. Será que a vocação se concretiza? Reúnem os pressupostos da vocação sucessória? Há casos em que não se concretiza. Há casos em que se concretiza mas a pessoa repudia. A partir de agora, analisaremos que à partida é sucessível mas também se se concretiza a sua vocação. B já não era cônjuge de A à data da morte. O 2133/3 determina que ele não é herdeiro legitimário se houver divórcio ou separação de pessoas e bens.Em relação à sucessão testamentária, se o casamento se extinguir (2317º/d)) a disposição testamentária caduca se o beneficiário era cônjuge, mas à data da morte está separado de pessoas e bens ou divorciado.Na sucessão contratual também releva. Mas só nos casos de doações mortis causa entre esposados. A relevância que tem (1703º, 1760/b)) é a caducidade da disposição.Requisitos da vocação sucessória são a existência do chamado (personalidade jurídica, sobrevivência ao cônjuge), capacidade e titularidade da designação prevalente).Quem não tem capacidade sucessória são os deserdados e os declarados indignos. A deserdação e a indignidade distinguem-se. A deserdação é feita pelo autor da sucessão;

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a indignidade é declarada judicialmente. Quanto aos destinatários, só os legitimários podem ser deserdados (prioritários ou não). Os requisitos para a validade são a verificação da situação; indicação expressa da causa e inclusão em testamento.No caso, não temos fundamentos (tem de ser um dos do 2166º) e, mesmo que houvesse, A não o referia expressamente. Pamplona diz que a deserdação sem fundamento é inexistente por falta de elemento essencial. JDP aplica o regime da nulidade. B não recebe porque se tinha divorciado, e não por suposta deserdação. D, na altura da morte, é titular da designação prevalente, capacidade sucessória e sobreviveu ao de cuius. Assim, a sua vocação concretizou-se. O 2058º fala no direito a suceder: transmissão do direito a suceder. Transmite-se porque aquele que tem a vocação directa não chegou a exercer o direito. É um caso de pós-morte sem aceitação. Desde que não seja possível aplicar a presunção de comoriência, há pós-morte. Na transmissão do direito de suceder, transmite-se para os seus herdeiros. Partimos do princípio de que A não chegou a aceitar. Assim, rege o 2058º. Não é um problema de vocação sucessória de D, mas de aceitação. O 2058º está no capítulo IV, dedicado à vocação da herança. Alguém terá de exercer o direito. Com a pós-morte sem aceitação, E (cônjuge de D), passa a ter uma vocação derivada. Como é vocação derivada, ela terá de reunir os pressupostos da vocação em relação a A. O 2058º diz que o direito de suceder cabe aos herdeiros. Os herdeiros de D eram E e F.A relação de capacidade entre D e A: D tem de ser capaz perante A para ter direito a suceder. Um pressuposto da transmissão do direito de suceder é que tenha havido concretização da vocação, e, como tal, havido direito de suceder. O F tem de ser capaz perante o D, já que o 2058º diz que são os herdeiros do titular do direito a suceder que podem ocupar a sua posição. Assim, F tinha de ter capacidade quanto a D.F tinha sido deserdado por A. Todos têm de ser capazes perante todos. F não era capaz perante A. A deserdação é para os herdeiros legitimários. A indignidade aplica-se a qualquer. A indignidade está na parte geral das sucessões; a deserdação está na parte específica da sucessão legitimária. Daí alguns AA. falarem numa relação de especialidade. Assim, indignidade não se aplicaria aos legitimários. Essa posição foi abandonada, porque havia situações ridículos: o de cuius é morto por um legitimário. Já não pode deserdar. Como se retiraria o direito sucessório ao que matou? Só por declaração de indignidade. Daí entender-se hoje que a indignidade serve para qualquer sucessível.A tinha doado mortis causa 10 a B. Trata-se de doação entre esposados, cai no 1700/1/a). Tinha, em testamento, deserdado (invalidamente).Eles vieram a divorciar-se. Os pactos sucessórios caducam. O 1700º prevê a caducidade dos pactos sucessórios entre esposados se ocorrer o divórcio. O 1703º prevê o regime da caducidade das doações para casamento: feitas por um dos esposados a favor do outro ou do terceiro a favor de um dos esposados. O 1760º, independentemente do 1703º/1, já era aplicável. O 1755/2 prevê que as doações que hajam de produzir efeitos depois da morte são havidas como pactos sucessórios.O divórcio só implica a caducidade dos pactos sucessórios a favor de esposado. A favor de terceiro tem o seu próprio regime (1705º). O 1705º manda aplicar o 1701º e 17’2º, sem prejuízo da sua ineficácia se a convenção caducar. A convenção caduca nos casos do1716º. As doações mortis causa só foram feitas por força do casamento. Se o casamento se dissolver, caducam. Se for a favor de terceiro, isso não já faz sentido. Não tem a ver com o divórcio, mas com o facto de o casamento, p. ex., nem se celebrar.Assumindo que a deserdação era válida, que relevância tinha para a sucessão contratual? A deserdação só é aplicável a herdeiros legitimários. Mas será que só os afecta? Se o legitimário for também sucessível a outros títulos, também afastará esses

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títulos? Quanto à extensão para a sucessão testamentária, o que dizer? O 2166/2 equipara o deserdado ao indigno. Se A for deserdado, é incapaz para a sucessão testamentária também. Isto já é revelado pelo 2166/2. Mas também um argumento a fortiori (quem faz o mais faz o menos: legitimária é mais do que testamentária). Não se é obrigado a deserdar, mesmo havendo fundamento. Até se pode dizer que, havendo fundamento, se quer expressamente que não seja deserdado. Não faria sentido dizer que podia afastá-lo da legitimária e não da testamentária. A deserdação não limita o autor da sucessão. Até pode reabilitar.E quanto à sucessão contratual? Os AA. entendem que a indignidade não distingue indignidade contratual e testamentária, e o 2166º equipara o deserdado ao indigno. Só JDP faz distinção entre indigno testamentário e indigno contratual. Não entende que a deserdação afecte todos os restantes títulos. O 1705/3 faz remissão para o regime geral da revogação das doações por ingratidão. Os fundamentos da revogação por ingratidão (974º) são a incapacidade por indignidade e algum dos fundamentos da deserdação. A revogação por ingratidão é judicial. Também tem de ser declarada judicialmente. Havendo forma específica de afectar a doação mortis causa, é esse o regime que se deve aplicar (JDP). Mas há um conjunto de doações mortis causa que ficam de fora (975º), expressamente afastadas pela lei: mesmo em caso de ingratidão (os que levam à deserdação e declaração judicial de indignidade), a doação para casamento não pode ser revogada. Assim, a sucessão testamentária é afectada pela deserdação e declaração de indignidade. Os pactos sucessórios só podem ser afectados pela revogação por ingratidão, salvo os que são feitos a favor de esposados. Isto cria uma distorção.Um cônjuge, por mais que pratique um facto que nos termos da lei é fundamento para afastar a sua posição enquanto legitimário, não pode ver a sua doação para casamento revogada. É difícil de entender o 975/a).Quanto a C, há uma doação mortis causa (1700/1/b)). Há também uma deixa testamentária com uma condição. O regime das condições, termos e encargos consta do 2229º e ss. No 2229º, a regra geral é de possibilidade de condição suspensiva e resolutiva. O 2229º contrasta com o 2243º, cuja regra geral já não é a admissibilidade. O testador pode sujeitar a nomeação de legatário a termo inicial. A instituição de herdeiro não pode ter qualquer termo. O termo final nunca é admitido. A excepção é de a disposição versar sobre direito temporário. Permitir termo inicial a instituição de herdeiro levanta problemas quanto aos credores, pagamento de legados, partilha (já que se tem de esperar pelo termo inicial para que o herdeiro possa actuar). O termo final também traria problemas à nomeação de legatário. A propriedade não está sujeita a termo. Mas há direitos reais com natureza temporária, daí a excepção.A condição não era válida (2232º), porque era de conviver ou não com certa pessoa. O 2232º não é taxativo: prevê que se aplique a casos semelhantes. A lei entende que é possível haver condições mas que não podem ofender a liberdade pessoal das pessoas.O VTH legitimária era 210. A QI era 105; a QD 105. D recebe 105 de legitimária. C recebe toda a QD (105) e 5 de pacto sucessório. Havia 5 de inoficiosidade. A disposição testamentária a título de herança é a primeira a ser reduzida. Mas como ele tem direito a ficar com os bens, materialmente ele entregaria os 5 do pacto sucessório em dinheiro. Todavia, formalmente, o que seria reduzido (de 105 para 100) seria a herança.