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STRESS no meio ambiente do trabalho

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STRESSno meio ambiente do trabalho

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1ª edição — Setembro 2002

2ª edição — Setembro 2011

3ª edição — Outubro 2015

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MARIA JOSÉ GIANNELLA CATALDIAdvogada. Professora universitária, com pós doutoramento em Direitos Fundamentais pelo Ius Gentium

Conimbrigae (IGC/CDH) da Faculdade de Direito de Coimbra. Bacharel, Mestre e Doutora em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito da PUC/SP.

STRESSno meio ambiente do trabalho

3ª edição

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EDITORA LTDA.

© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brOutubro, 2015

versão impressa — LTr 5381.7 — ISBN 978-85-361-8631-3 versão digital — LTr 8821.0 — ISBN 978-85-361-8624-5

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cataldi, Maria José Giannella

Stress no meio ambiente do trabalho / Maria José Giannella Cataldi. — 3. ed. — São Paulo : LTr, 2015.

Bibliografia.

1. Ambiente de trabalho 2. Ambiente de trabalho — Brasil 3. Direito do trabalho 4. Direito do trabalho — Brasil 5. Estresse do trabalho 6. Estresse do trabalho — Brasil I. Título.

15-08654 CDU-34:331.82

Índices para catálogo sistemático:

1. Ambiente de trabalho : Estresse : Direito do trabalho 34:331.82

2. Estresse no ambiente de trabalho : Direito dotrabalho 34:331.82

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Para os meus filhos, Larissa, Marcela e Bruno.

Minha mãe e meus irmãos.

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AGRADECIMENTOS

Desde julho de 2015, quando decidi fazer a 3ª edição do livro Stress no Meio Ambiente de Trabalho, revisada eatualizada, muitas pessoas ajudaram de diversas formas para viabilizar a sua publicação.

O tema abordado é amplo, com conceitos que a cada dia ganham mais espaço no Direito. Então, é impossível falar em uma obra completa e acabada. Pois, a dinâ-mica na relação capital-trabalho a amplia, lançando novos desafios, e desenha os campos de sua aplicação.

Seria difícil pensar a obra, que no momento chega às mãos dos leitores, sem a presença de alguns profissionais e amigos que forneceram o combustível neces-sário à sua conclusão.

Agradeço ao professor Pedro Paulo Teixeira Manus por transmitir sabedoria e fascínio pelo Direito do Trabalho, grandes incentivos para eu perseguir os cami-nhos na reflexão e abordagens com foco no Stress no Meio Ambiente do Trabalho.

Aos meus amigos sempre presentes, que ouso citá-los, pelos momentos e embates diversos: Inês Sleiman Molina Jazzar, Georges Jazzar, Ana Amélia Mascarenhas Camargos, Ana Karina Borin, Otávio Pinto e Silva, Silvana Valadares, Pedro Ernesto Proto, Denise Iandoli Proto, Fabíola Marques, Cláudia José Abud, Gustavo Dabul, Cátia Raposo Novo Zangari, Ricardo Dagre Schimid, Magnus Farkatt, Sílvia Ikeda e Luciana Barcellos Slosbergas.

Aos meus amigos de trabalho e de todos os dias: Oneide Chagas Bezerra, Leandro Girardi, Valéria Reis Zugaiar, Solange Couto Andrade, Isabela Assis e Andréa Tavolaro.

Aos professores e alunos da Turma Edo COGEAE-PUC/SP, em especial aos pro-fessores Paulo Sérgio João e Jurandir Zangari Junior.

Aos créditos da minha colega Solange Couto Andrade, que tanto me ajudou na revisão do texto desta edição. E dos jornalistas Marcela Cataldi, pela foto da contracapa, e Zé Matos, por ter emprestado seu poema social “O Olhar da Escuridão” e contribuído na revisão de alguns textos da edição.

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Olhar da escuridão

Feliz de quem pode ver a tristeza no olhar, Pois mais triste seria se ninguém a pudesse enxergar.

E enquanto assim for o porvir, Há ainda esperança de todos um dia poderem sorrir.

Na escuridão em que minha alma vagueia,

No olhar de uma criança o brilho alimenta e permeia. E na certeza de um novo alvorecer,

Eu não perco da vida o sentido e meu motivo de viver.

De um pai, o sofrimento que grita na alma, Ouve os choros da sua criança, é difícil manter a calma.

De uma mãe, lágrimas no coração, Da injustiça e impunidade de ver o filho caído no chão.

Indigna-me a pompa de fartos banquetes,

De atrocidades que comemoram em festivos palacetes. O alimento que alhures não sacia,

Sublima o sorriso de gente festeira que o moral acaricia.

Olhares famintos que deixam constrangidos, E na impotência de nada poder fazer, envergonhados.

Tiram sorrisos de alívio e não cura, Refletem das migalhas as mentiras da consciência pura.

Nesse palco de silenciosa cena pervertida,

Cativos e libertos flertam em luta voraz e ensandecida. E no silêncio dos bons a satisfação,

A imoralidade dignificada, esplendorosa domesticação.

Torpes realidades de eufemismos exaltados, Na corrupção da alma são os reais valores pervertidos.

Transformam mentiras em verdades, Para em tais proezas justificarem polidas barbaridades.

O brilho que permeia a escuridão não se omite,

Se sacia na esperança e o moral acariciado não permite. De paixão e dor meu coração incendeia,

E ilumina os caminhos por onde a minha alma vagueia.

José Matos — Indaiatuba, 26.3.2014

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO • 1ª edição — Ministro Pedro Paulo teixeira Manus ................... 15

APRESENTAÇÃO • 3ª edição ............................................................................................ 17

PREFÁCIO • 2ª edição — dânia Fiorin longhi ............................................................... 21

PREFÁCIO • 3ª edição — túlio oliveira Massoni .......................................................... 25

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 27

Capítulo I A RELAÇÃO DE TRABALHO

1. Alguns aspectos da relação de trabalho na nossa sociedade .................... 29

2. As obrigações decorrentes da relação de trabalho........................................ 31

3. A globalização, a nova relação de trabalho e o perfil do empregado e do empregador no século XXI ............................................................................... 32

4. A importância do direito do trabalho ................................................................. 34

5. A necessidade de proteção ao trabalho ............................................................ 35

6. O Mercosul e o mercado de trabalho .................................................................. 35

7. O perfil do empregado e o do empregador no século XXI e o meio ambiente de trabalho ............................................................................................... 37

8. O novo ritmo de produção...................................................................................... 40

9. As organizações de trabalho conhecidas como prisões psíquicas ........... 43

10. A saúde mental do trabalhador como direito fundamental ....................... 46

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12 Maria José Giannella Cataldi

11. A legislação trabalhista nacional — O velho modelo ................................... 48

12. A flexibilização legal e a sindical — O patamar mínimo civilizatório ...... 50

13. O direito à desconexão............................................................................................. 51

Capítulo II O MEIO AMBIENTE NO DIREITO DO TRABALHO

1. Conceito de meio ambiente ................................................................................... 53

2. O meio ambiente natural ou físico ....................................................................... 54

3. O meio ambiente artificial ....................................................................................... 54

4. O meio ambiente no local de trabalho ............................................................... 55

5. Os princípios constitucionais e a legislação ordinária sobre o meio am-biente .............................................................................................................................. 55

6. O princípio do desenvolvimento sustentável .................................................. 57

7. A legislação ordinária sobre meio ambiente .................................................... 57

Capítulo III O ESTRESSE NO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO

1. O conceito de estresse.............................................................................................. 58

2. O estrago do estresse................................................................................................ 59

3. O eustresse e o distresse .......................................................................................... 60

4. O stress profissional — Síndrome de Burnout ou Síndrome do esgota-mento profissional ..................................................................................................... 60

5. O estresse high-tech................................................................................................... 72

6. As horas extraordinárias e o estresse .................................................................. 74

Capítulo IV ASPECTOS ESTRESSANTES DE ALGUMAS ATIVIDADES LABORAIS

1. Conceito de acidente de trabalho ou doença profissional ......................... 77

2. Doenças consideradas acidentes do trabalho ................................................. 80

3. Os empregados que exercem suas atividades em turnos ininterruptos de revezamento .......................................................................................................... 81

4. O trabalho em turnos e o estresse do trabalhador ........................................ 82

5. O trabalho dos petroleiros e dos petroquímicos e a Lei n. 5.811/1972 .. 85

6. Os trabalhadores com LER — Lesões por Esforços Repetitivos ................. 91

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StreSS no Meio aMbiente do trabalho 13

7. Os trabalhadores e o benzeno ............................................................................... 96

8. A contaminação dos trabalhadores por mercúrio — Hidrargirismo ....... 97

9. A contaminação dos trabalhadores por chumbo — Saturnismo ............. 98

10. As atividades dos profissionais liberais, em especial, dos advogados .... 98

11. A atividade jurisdicional........................................................................................... 99

12. O estresse do professor ............................................................................................ 103

13. A função gerencial e o estresse ocupacional ................................................... 108

Capítulo V O ASSÉDIO MORAL NO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO

1. Conceito ......................................................................................................................... 111

2. As fases e o espaço da humilhação ...................................................................... 112

3. As consequências na saúde da vítima ................................................................ 115

4. O assédio moral vertical e o horizontal .............................................................. 116

5. O nexo causal ............................................................................................................... 117

6. Os danos e sua reparação ........................................................................................ 118

7. O dano material e a sua reparação ...................................................................... 122

Capítulo VI FORMAS DE PREVENÇÃO DAS DOENÇAS

E DOS ACIDENTES DE TRABALHO

1. Algumas medidas preventivas de medicina do trabalho ............................ 134

2. A importância do Estudo Prévio do Impacto do Trabalho .......................... 135

3. O direito à informação .............................................................................................. 136

4. As auditorias ambientais ......................................................................................... 137

5. A fiscalização e a inspeção ao meio ambiente de trabalho ........................ 137

6. O Fator Acidentário de Prevenção — FAP .......................................................... 139

7. O Manual da OIT sobre prevenção do estresse profissional ....................... 140

Capítulo VII A ATUAÇÃO DOS SINDICATOS NA PREVENÇÃO DO MEIO AMBIENTE

1. A importância do sindicato na defesa dos interesses sociais na história mundial .......................................................................................................................... 143

2. Um breve histórico do sindicato no Brasil ......................................................... 145

3. Os sindicatos e a busca de seu espaço na nossa sociedade ....................... 148

4. As Convenções da OIT e o meio ambiente de trabalho................................ 153

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14 Maria José Giannella Cataldi

5. O estresse profissional nas negociações coletivas ......................................... 158

6. A proteção ao meio ambiente de trabalho na Itália ...................................... 159

7. A proteção ao meio ambiente de trabalho na Argentina ............................ 160

8. A proteção ao meio ambiente de trabalho na Alemanha ........................... 162

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 165

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 173

ANEXOS ................................................................................................................................... 177

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APRESENTAÇÃO À 1ª EDIÇÃO

As relações de trabalho, ao longo do tempo, vão se tornando cada vez mais complexas, na medida em que os métodos de trabalho vão se sofisticando, pois refletem a evolução que experimenta o desenvolvimento do modo de produção capitalista.

Desse modo, constatamos as profundas modificações do processo produtivo, que representam, sob a ótica da produção de bens e serviços, uma evolução for-midável.

Contudo, o preço desta evolução é o surgimento de malefícios à saúde dos trabalhadores, em muitos casos fruto da prevalência do interesse do lucro que submete o prestador de serviço a situações desfavoráveis, com risco de sua inte-gridade, sua saúde e até sua vida.

Centrada nesta preocupação com as condições de vida e de trabalho é que Maria José Giannella Cataldi traz a público seu ótimo livro “O Stress no Meio Ambiente de Trabalho”, como resultado de esforço coroado de êxito em seus estudos pós- -graduados na PUC de São Paulo, aliados à experiência de excelente e combativa advogada trabalhista, de marcada atuação no âmbito sindical profissional.

O livro inicia com o estudo da relação de trabalho inserida na nossa realidade, examinando o perfil do empregado e do empregador contemporâneos, detendo-se no fenômeno da globalização, na importância do trabalho e seu caráter protecio-nista. Depois de examinar aspectos do Mercosul, volta-se à postura do empregado e do empregador sob a ótica do meio ambiente do trabalho, examinando o novo ritmo de produção e as chamadas prisões psíquicas. Finaliza este capítulo com o exame do “velho modelo” da nossa legislação do trabalho.

O Capítulo II volta-se ao estudo do meio ambiente, tema hoje de reconhecida importância sob todos os aspectos, conceitua o objeto de sua análise, refere-se ao meio ambiente natural e ao artificial para, a seguir, ocupar-se do meio ambiente do trabalho. Detém-se nos princípios e na legislação ambiental, discutindo o tema do desenvolvimento sustentável.

No Capítulo III, ocupa-se especificamente do tema stress, con ceituando o fenô-meno e refletindo sobre o “estrago” que provoca. Segue examinando os conceitos de eustress e distress, para, em seguida cuidar do stress profissional e do high-tech, traçando panorama amplo do tema que constitui objeto do estudo. Trata-se de

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mal de que somos todos acometidos sem, em muitos casos, dar-nos conta do ocor-rido e de seus efeitos negativos.

Como consequência do estudo conceitual do capítulo prece dente, volta-se o Capítulo IV ao interessante e importante exame de aspectos estressantes de algumas atividades, como o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento; o trabalho dos petroleiros e petroquímicos; os problemas decorrentes de Lesões por Esforços Repetitivos (LER); o trabalho com benzeno, com mercúrio e com chumbo; o trabalho dos profissionais liberais; e a atividade jurisdicional.

Trata-se de excelente panorama da atividade laborativa em seus aspectos estressantes, mostrando, em amplo espectro da atividade humana, como o fenô-meno se faz presente de diferentes formas; estudo este que alia a rica experiência profissional da autora e sua angústia com a realidade que constata.

Segue a obra no Capítulo V ocupando-se do tema do assédio moral no meio ambiente do trabalho, igualmente fator de stress para os trabalhadores. Detém- -se no exame do conceito de humilhação, seu desenvolvimento, as consequências para a saúde da vítima e a reparação do dano.

O Capítulo VI cuida das formas de prevenção das doenças e acidentes do trabalho, tratando de medidas preventivas, da neces sidade de estudo prévio de impacto ambiental e das obrigações a respeito de empregado e empregador, bem como do direito à infor mação, das auditorias ambientais e da fiscalização e inspeção ne cessárias.

Encerra o texto o tema da atuação sindical na preservação do meio ambiente do trabalho, iniciando com um histórico da atividade sindical, seguindo-se o exame da função sindical e estudo do assunto sob a ótica internacional e do direito estrangeiro.

O trabalho excelente com que nos brinda sua autora, Maria José Giannella Cataldi, decorre tanto de sua dedicação ao estudo do Direito, e das questões sociais, quanto de sua riquíssima atividade profissional, como advogada dedicada à causa dos trabalhadores, sempre pautando sua conduta pela ética e pela qualidade de sua atuação pessoal e profissional.

Conheço Maria José desde sua trajetória inicial no curso de graduação e acompanho seus passos acadêmicos no programa de pós-graduação e no magis-tério superior. Identifico a autora, tanto na vida acadêmica quanto na advocacia, como profissional da melhor qualidade, sempre preocupada com a dívida social que cada um de nós tem, fazendo de sua atividade um instrumento eficaz de res-gate desta mesma dívida.

Brinda-nos a autora com este excelente livro que, além de cuidar de importante tema pouco estudado entre nós, tem como qualidade as reflexões sérias sobre experiências profissionais e pessoais, filtradas pela perspectiva científica da análise de aspecto relevante sobre o meio ambiente do trabalho.

Pedro Paulo Teixeira Manus

Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região Livre-docente em Direito do Trabalho pela

PUCSP Professor de Direito do Trabalho da PUCSP

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APRESENTAÇÃO À 3ª EDIÇÃO

Todo livro tem sua história. Este não pretende ser diferente.

Minha formação profissional teve início na advocacia trabalhista, no escritório Mário Carvalho de Jesus, que à época atuava para diversos sindicatos, entre eles, o Sindicato dos Trabalhadores de Perus. Fundou a Frente Nacional do Trabalho (FNT) em 1960 e esteve ligado ao Movimento Justiça e Não Violência, desde 1978, que por ocasião da Ditadura Militar, na década de 80, acolhia as oposições sindicais em ocasiões em que vários sindicatos de trabalhadores tiveram interventores do Governo Federal. E, assim, desde o meu tempo de estagiária, passei a conviver com os conflitos entre o capital e o trabalho.

Em seguida, por mais de uma década e meia, atuei como advogada no Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas, Farmacêuticas e Petroquímicas do ABCD, no Estado de São Paulo. Foi lá que conheci o que era uma doença profissional; e, mais ainda, as consequências dessas moléstias na vida do trabalhador e da sua família. Foi nesse contexto que comecei a pesquisar acerca do trabalho em turnos ininterruptos de revezamento, fator que aumentava absurdamente o número de trabalhadores acidentados e doentes. Na ocasião, junto com a área de Saúde do Trabalhador, passei a identificar os fatores que agravavam a situação de estresse entre os trabalhadores.

Ao terminar o curso de mestrado em 2001, com o apoio do meu querido orientador, Dr. Pedro Paulo Teixeira Manus, comecei a escrever sobre O Stress no Meio Ambiente de Trabalho. Confesso que, à época, esse tema recebeu muitas críticas, até mesmo da banca examinadora, de que não se tratava de estudo de Direito, mas talvez um estudo de Sociologia. Avalio hoje que essa visão perdeu força no meio acadêmico, pois o Direito do Trabalho já não é mais visto como um campo tão restrito.

Atualmente, a relação de trabalho não trata apenas das obrigações do empre-gador de pagar salário, horas extras e outros títulos que compõem a remuneração do trabalhador. E, por outro lado, o empregado também não está limitado na sua

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18 Maria José Giannella Cataldi

atuação e subordinação junto ao empregador. No Direito Constitucional, o traba-lho humano deve ser valorizado enquanto direito social fundamental da ordem econômica e financeira (base do capitalismo), como está indicado no art. 1º da Constituição Federal.

Dessa forma, o cidadão é detentor do direito à qualidade de vida sadia; e, enquanto trabalhador, deve ser protegido de todas as formas da degradação no meio ambiente de trabalho, onde exerce atividades profissionais que são essen-ciais à sua qualidade de vida enquanto direito fundamental da pessoa humana.

A promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004 ampliou a competência da Justiça do Trabalho para apreciar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho. Isso fomentou a discussão acerca das reparações de danos em razão de doenças adquiridas no meio ambiente de trabalho; sendo o estresse tratado como doença originada nessa condição.

Assim, podemos afirmar que desde a 1ª edição muita coisa mudou, tanto na legislação como na jurisprudência e na doutrina. A Justiça do Trabalho sedimen-tou o entendimento de que o stress profissional é uma realidade na relação de tra-balho da atualidade. De tal sorte que recebemos, semanalmente, julgados sobre o tema nas diversas regiões onde estão instalados os Tribunais Regionais no país e no Tribunal Superior do Trabalho.

Desde a 2ª edição, incluímos comentários acerca do Decreto n. 6.957, de 9 de setembro de 2009, que introduziu na legislação previdenciária a Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, na lista de Doenças Relacio-nadas com o Trabalho — no grupo que trata dos Transtornos Mentais e de Com-portamento V (CID 10-Z56.6). Entretanto, nesta edição estamos acrescentando a jurisprudência sobre o assunto, além da citação de alguns estudos sobre as causas do stress laboral e formas de prevenção, inclusive, sobre o Manual de Prevenção do Stress no Meio Ambiente de Trabalho, publicado recentemente pela OIT — Organização Internacional do Trabalho.

Desse modo, abordamos no Capítulo I relação de trabalho na sociedade mo-derna, considerando as obrigações do empregador e a necessidade de proteção no meio ambiente laboral. Discorremos, também, sobre os institutos da flexibiliza-ção e da desconexão na relação laboral, enquanto fatores que visam a redução do estresse no ambiente do trabalho, como forma de tornar mais saudável a atividade produtiva, traçando o novo perfil do empregado e empregador no século XXI. É em razão do novo ritmo de produção que os trabalhadores passaram a sofrer do esgotamento profissional. Também, inserimos o subitem que trata da preserva-ção da saúde mental do trabalhador enquanto Direto Fundamental, abordando o tema com enfoque em novos conceitos.

No Capítulo II, discorremos sobre o Meio Ambiente no Direito do Trabalho, in-dicando os princípios constitucionais e a legislação ordinária que regula o assunto, com abordagens sobre a obrigação do empregador de zelar pela saúde de seus

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StreSS no Meio aMbiente do trabalho 19

empregados, como garantia não apenas da segurança no ambiente de trabalho, mas, essencialmente, da promoção de avaliação periódica de sua higidez física, com maior empenho em relação àqueles que labutam em atividades deletérias, extenuantes ou particularmente estressantes.

No Capítulo III, tratamos do estresse no Meio Ambiente de Trabalho, abor-dando os institutos do eustresse e o distresse, o stress profissional e a síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, doenças consideradas aci-dentes de trabalho. Neste capítulo, também, discorremos sobre a relação direta entre as horas extraordinárias e o estresse.

No Capítulo IV, abordamos detalhadamente os aspectos estressantes de algumas atividades laborais. Inicialmente, verificamos o conceito de acidente de trabalho e de doença profissional. Também, pesquisamos sobre as consequên-cias estressantes no trabalho de turnos ininterruptos de revezamento, em especial, nas atividades desenvolvidas pelos petroleiros e petroquímicos; pelos emprega-dos que adquirem a LER — Lesões por Esforços Repetitivos; nas atividades laborais onde existem a contaminação por benzeno, a contaminação por mercúrio — Hidrargirismo e a contaminação por chumbo — Saturnismo; nas atividades desen-volvidas pelos profissionais liberais, sobretudo, pelos advogados, dos professores, da atividade jurisdicional e nas funções gerenciais.

O tema assédio moral no Meio Ambiente de Trabalho está inserido no Capítulo V, na abordagem sobre a existência do nexo causal e as consequências na saúde da vítima; os tipos de assédio moral vertical e o horizontal; e os danos de sua reparação. Nesta edição, incluímos os subitens que tratam sobre o dano mate-rial, a sua reparação e a jurisprudência recente sobre o assunto.

No Capítulo VI, apresentamos formas de prevenção das doenças e dos aciden-tes de trabalho, indicando algumas medidas preventivas de Medicina do Trabalho; a necessidade de estudo prévio do impacto do trabalho; o direito do trabalhador à informação sobre os produtos que manuseia e das atividades que exerce; a im-portância das auditorias ambientais, em especial, nas plantas fabris, da fiscaliza-ção e da inspeção no Meio Ambiente de Trabalho e sobre o Fator Acidentário de Prevenção — FAP. Também, acrescentamos neste capítulo as questões abordadas ela OIT, no Manual de Prevenção do Estresse Profissional.

Finalmente, no Capítulo VII, discorremos sobre a atuação dos sindicatos na prevenção do Meio Ambiente do Trabalho, revendo alguns pontos indispensáveis, como a importância dessas entidades de classe na defesa dos interesses sociais na história mundial; um breve histórico sindical no Brasil atual e sua atuação na nossa sociedade; as Convenções da OIT sobre o Meio Ambiente de Trabalho e como é vista a sua proteção na Itália, na Argentina e na Alemanha. Também, aqui, acrescenta-mos um subitem sobre a necessidade da inserção do tema estresse profissional nos instrumentos coletivos.

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PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO

Prefaciar uma obra traz muita responsabilidade, mas, também, gera um grande prazer, principalmente quando a obra aborda tema de extrema importância para sociedade.

E é com grande satisfação e responsabilidade que posso afirmar que a autora percorre com muita lucidez e propriedade os caminhos que levam ao reconhe-cimento de uma doença fortemente presente em nosso cotidiano, entretanto, somente agora reconhecida como doença profissional, o estresse. E o faz, não só pela experiência que adquiriu no decorrer de uma respeitada e fortemente atuante carreira na advocacia, mas também pelos caminhos trilhados na academia.

Maria José Giannella Cataldi é advogada que exerce suas atividades nas áreas preventiva e consultiva, sobre questões de meio ambiente do trabalho, relações trabalhistas e sindicais. É titulada como doutora e mestre em direito das relações sociais, subárea Direito do Trabalho, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Observa-se que sua atuação na advocacia foi desenvolvi-da com excelência, deu-lhe sustentação suficiente em sua obra, demonstrando ao leitor, com muita propriedade, a origem dos danos causados às vítimas dessa doença profissional; tudo isso de forma muito clara e objetiva, sem perder o cientificismo.

A primeira edição da obra foi publicada em 2002, e, pela importância do tema, a autora nos brinda com esta segunda, revista e atualizada, ainda mais centrada nas preocupações com a precarização das condições de vida no trabalho, que leva à destruição das saúdes psíquica e física do trabalhador.

Como afirma a autora: “o estresse consiste no conjunto de reações do organis-mo em razão de qualquer agressão de ordem física, psicológica, etc.”. A violência nas relações de trabalho está cada vez mais presente e por muitas vezes passa des-percebida; sua existência se faz de forma velada, sob a argumentação da busca de uma maior competitividade em um mundo globalizado, levando os trabalhadores às exaustões física e emocional.

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22 Maria José Giannella Cataldi

A obra, centrada nesta preocupação, inicia-se tratando sobre os aspectos da relação de trabalho, passando pelo poder de direção, inclusive quanto às nor-mas de preservação ambiental. Traça o perfil do empregado e do empregador do século XXI, os aspectos da globalização, e esta nova forma de “pressão” à qual o empregado tem sido submetido, de maneira, muitas vezes, velada, o que a autora desvenda com muita propriedade. Demonstra que o estresse tornou-se um dos problemas de saúde mais sérios do século XX. E, ainda, no primeiro capítulo, faz a necessária abordagem da dignidade da pessoa humana diante do modo da relação entre a tecnologia e o trabalho.

Nos capítulos que seguem, trata sobre o meio ambiente do trabalho, sem deixar de observar o princípio do desenvolvimento sustentável. Passa, então, a conceituar o estresse e os fenômenos estressores, advindos tanto do ambiente externo como do ambiente social. Especificamente, no Capítulo III, é que seu estu-do se define o tema da obra, com a descrição de síndromes de esgotamento profis-sional, com abordagens legais e jurisprudenciais.

No Capítulo IV, traz os aspectos estressantes de algumas atividades laborais, elencando doenças consideradas acidentes de trabalho, com impressionante des-crição destas, sem deixar de abordar a legislação pertinente. É nesse capítulo que trata de uma doença tão comum, que, além de trazer sofrimento ao trabalhador, apresenta sérios efeitos psicológicos, a LER (Lesão por Esforços Repetitivos). É admirável o estudo que apresenta sobre a referida doença, e tenho certeza de que será muito útil para aqueles que tratam do tema, não só nas ações judiciais, como também para os estudiosos nas universidades. É, ainda, nesse capítulo que trata das atividades dos profissionais liberais, em especial, dos advogados. Assim, afirmo que, diante das estatísticas apresentadas, o operador do direito deve se preocupar seriamente e mais do que isso, estar alerta para uma nova postura diante dessas relações laborais com as quais estamos profundamente envolvidos. Depois de abordar a atividade do professor “nestes novos tempos”, com muita propriedade, encerra com um quadro estatístico de estresse ocupacional em gerentes. Desta forma, fecha o capítulo, com uma profundidade que poucos doutrinadores tiveram até então.

O assédio moral no ambiente do trabalho é descrito no Capítulo V, o espaço de humilhação e todas as fases de sua manifestação, bem como as consequências na saúde da vítima. Apresenta o dano e sua forma de reparação.

No capítulo seguinte, indica as formas da prevenção das doenças e dos aciden-tes de trabalho; trata da importância do estudo prévio do impacto ambiental e da inspeção ao meio ambiente do trabalho. Como se observa, a autora não se restringe ao surgimento das doenças, mas apresenta também meios pelos quais se pode evitá-las e repará-las. E é neste norte que se apresenta o sétimo e último capítulo, ao abordar a atuação dos sindicatos na preservação do meio ambiente do trabalho.

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Como profissional atuante e estudiosa do direito sindical, a autora encerra a obra indicando reflexões sobre o papel do sindicato, notadamente, na tutela dos interesses coletivos e individuais homogêneos dos trabalhadores, atuando não só em ações de reparação de dano moral coletivo, como também na defesa do associado por ocasião de doença adquirida no trabalho. Não deixa a autora de transitar pelo direito estrangeiro, trazendo a proteção do meio ambiente na Itália, na Argentina, na Alemanha, passando também pelas convenções da OIT.

Como se observa nestas linhas, a forma de abordagem feita pela autora é ímpar. Senti-me extremamente privilegiada ao ler a obra, em ter a oportunidade de desfrutar um trabalho tão diferenciado, e muito mais privilegiada em prefaciá-la. Eu, como advogada militante há mais de vinte anos e na docência há quinze, posso afirmar com toda a propriedade que esta é uma obra que merece ser tida como referência para o tema.

dânia Fiorin longhi

Professora de Direito e Processo do Trabalho da Universidade Mackenzie. Mestre em Direito das Relações Sociais, subárea Direito do Trabalho da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Advogada associada do escritório Mascaro Nascimento Advogados.

Autora de obras e artigos jurídicos na área trabalhista.

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PREFÁCIO DA 3ª EDIÇÃO

É com muita alegria e honra que cumpro a prazerosa missão de prefaciar a presente obra da professora, advogada e amiga Maria José Giannella Cataldi, cuja importância e aceitação de público se confirma nesta 3ª edição, a qual cuidou de incorporar questões candentes, renovadas apreciações do Poder Judiciário Traba-lhista brasileiro sobre o tema e, ainda, estudos específicos da Organização Interna-cional do Trabalho (OIT), elementos todos — tenho a plena convicção — atestam cuidar-se de tema essencial e atual provavelmente pelas próximas décadas.

O trabalho, na democracia, é um direito fundamental. Por meio dele o cidadão trabalhador participa efetivamente da organização política, econômica e social do país. O trabalho, com o que tudo que dele deriva, passa a significar o patamar de onde o homem cidadão se valora a si mesmo e se transcende. Desde a sua criação, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) pontua que “o trabalho não é uma mercadoria”, princípio nela consagrado em diversos diplomas.

Não obstante, é no plano da efetividade concreta de tais princípios que o desafio se coloca no século XXI. Em um contexto produtivo de extremo controle sobre o indivíduo que trabalha, de desemprego, de gestão por meio do medo e da insegurança, de cobrança de metas excessivas, de competição incentivada entre os próprios trabalhadores, de intensificação dos ritmos, de volume de informações desmedidas, os direitos constitucionais sociais básicos e a própria dignidade do “cidadão trabalhador” deixam de ser adimplidos e tornam-se verdadeira letra morta.

Desencadeiam-se doenças psíquicas e emocionais de nítida correlação com o trabalho, dentre elas a síndrome do “burn out”. Desenha-se uma institucionalidade perversa que busca o “engajamento” do empregado “colaborador” e, ao mesmo tempo, o “coisifica” e o descarta. Emerge, no mundo do trabalho, um novo perfil patológico de doenças e moléstias, antes desconhecidas (ou negligenciadas) pe-los operadores do direito, de matriz psicossomática e com repercussão trágica na saúde do trabalhador, muitas vezes ocasionando suicídios.

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Impõe-se, assim, repensar e reinventar a relação do homem com a organiza-ção do trabalho. Inegável, pois, a contribuição das reflexões desta obra ao universo jurídico, o qual deve espraiar-se para além de seus tradicionais confins dogmá-ticos, estabelecendo chegados contatos com a psicologia, sociologia, medicina, caminho necessário e que ainda está sendo trilhado. Limitar o Direito do Trabalho a uma abordagem estritamente normativista, contratual e patrimonialista, negli-genciando o contexto ambiental e psíquico do cidadão que trabalha é uma pers-pectiva frágil, insuficiente e ilusória, que deve ser superada.

Como advertia I. Kant, “Uma coisa que tem um preço pode ser substituída por qualquer outra coisa equivalente; pelo contrário, o que está acima de todo preço e, por conseguinte, o que não admite equivalente, é o que tem uma dignidade” (Fundamentos para a metafísica dos costumes. São Paulo: Nacional, 1964, p. 90-91). O trabalhador é um ser humano, é um cidadão, dotado de dignidade!

Desvelar a teia das nocivas relações que se enredam na subjetividade do tra-balhador, denunciar abusos, levantar questões, enfim, conhecer, discutir e tornar público o tema é o caminho para a necessária prevenção. E esta é, sem dúvida, a grande contribuição da autora ao elaborar a presente obra, com grande sensibili-dade, ao erigir a saúde mental do trabalhador como direito fundamental.

Meus cumprimentos à LTr por mais esta edição da obra. Meu abraço e meus parabéns à autora e amiga. Meus votos de esperança ao cidadão trabalhador que, por meio do trabalho, integra-se à vida econômica e social.

São Paulo, setembro de 2015.

túlio de oliveira Massoni

Doutor em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito da USP. Bacharel em Ciências Sociais pela FFLCH — USP. Professor de Direito do Trabalho da UNIFESP.

Professor convidado dos programas de Pós-graduação da PUC-SP, da FGV-RJ e da Universidade Mackenzie. Professor convidado em Cursos de Extensão da Universidade Roma II (Tor Vergata).

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INTRODUÇÃO

Direito é também política, considerando tudo aquilo que pertence ao processo social de decisão e denominação. O direito participa desse processo com a sua forma própria de expressão: a norma jurídica. O conteúdo político de uma norma jurídica deve se identificar com a organização social.

O nosso trabalho tem a preocupação com o meio ambiente e, portanto, com a preservação da espécie humana, que vem sendo frontalmente destruída diante dos interesses do mundo globalizado.

A globalização é uma fase nova do velho capitalismo. O mercado aberto e o fim da ideia de soberania, com as linhas de produção mundiais, são alguns fatores da drástica alteração estrutural no modo de produção capitalista deste século.

Em matéria de Direito do Trabalho, essas alterações vieram acarretar enormes mudanças na relação de emprego e, mais especificamente, no meio ambiente de trabalho, que será o objeto do nosso estudo.

Com a mudança dos padrões de produção e os novos sistemas de especiali-zação flexível, tornaram-se mais fáceis a produção local e as atividades econômicas em muitas partes do mundo, facilitando o deslocamento da atividade econômica de um país para o outro contribuindo para o surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho.

A união dos mercados financeiros e a criação de mercados de capital unidos globalmente facilitam o livre fluxo de investimento entre as nações dos diversos continentes.

Nesse cenário, passam a ter grande importância as empresas multinacionais, pois estão mais capacitadas para se expandir, tanto na produção, como no seu potencial de negociação ante a economia nacional.

Essas empresas têm utilizado a mão de obra de terceiros, trabalho temporário e por obra certa, podendo flexibilizar cada vez mais os direitos trabalhistas, sem a participação efetiva dos sindicatos.

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Diante dessas mudanças na ordem econômica mundial, há uma preocupação especial com a proteção dos direitos humanos, com os direitos individuais, inte-resses ambientais e sociais, que são direitos soberanos, e não têm necessidade de estar no ordenamento jurídico nacional, pois são direitos inerentes à pessoa.

A sociedade de hoje se move para a cultura da informação; cada vez mais produzir bens será relativamente fácil e terá cada vez menos intervenção humana. Portanto, na nossa era no mundo do trabalho, o mais importante é “conhecer, criar, cuidar e transformar”. Nesta órbita, aparece a nova natureza do trabalho, que exige o autoconhecimento e o respeito nas relações humanas.

Assim, os impactos deste processo de globalização sobre o mercado de em-prego, sobre a proteção aos direitos sociais, o direito ao trabalho, sobretudo as consequências na vida da pessoa, seja ela um trabalhador sem qualificação técnica ou uma pessoa que faz parte da gestão da empresa, são temas abordados neste livro.

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Capítulo I A RELAÇÃO DE TRABALHO

1. ALGUNS ASPECTOS DA RELAÇÃO DE TRABALHO NA NOSSA SOCIEDADE

O trabalho humano é tão antigo quanto a história da humanidade. O direito moderno impôs a necessidade da criação de direitos sociais no contexto da evolução dos direitos fundamentais clássicos, na medida em que a relação capital--trabalho passou a ser mais intensa.

Com o surgimento do Direito do Trabalho, na segunda fase do direito moderno, a partir da primeira década do século XX, com o aparecimento do capitalismo industrial e com a evolução tecnológica, as relações sociais passaram e ainda passam por turbulências de ordem econômica, social e cultural.

Nosso ordenamento jurídico atual, em que ainda vigora a legislação da Consolidação das Leis do Trabalho, estabelece a definição de empregado, nos moldes tradicionais, como aquela pessoa que, uma vez admitida na empresa, tem celebrado e formalizado o contrato laboral com o empregador.

O art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho afirma que “considera-se em-pregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empre-gador, sob a dependência deste mediante salário”.

O disposto legal estabelece alguns requisitos identificadores da condição de empregado: ser pessoa física; o trabalho deve ser não eventual; estar presente nessa relação à subordinação ao empregador; é indispensável o recebimento de salário pelo empregado, pois não existe contrato de trabalho gratuito; e o desempenho das atividades pelo empregado deve ser feito com pessoalidade.

Nesse sentido, o prof. Amauri Mascaro Nascimento(1) define empregado como a pessoa física que presta serviços de natureza contínua a empregador, sob subor-dinação deste mediante pagamento de salário.

(1) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Saraiva. p. 84.

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O art. 2º do Estatuto Consolidado define empregador da seguinte forma: “Considera-se empregador a empresa individual ou coletiva que, assumidos os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços”.

O empregador é a pessoa que utiliza o trabalho do empregado. Para essa defi-nição, é essencial que o empregador (pessoa natural ou jurídica) tenha contratado o empregado.

Na prática, costuma-se chamar o empregador de patrão, empresário, dador do trabalho, e o § 1º do mesmo artigo equipara assim o empregador:

“Para os efeitos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados”.

Já a empresa tem característica eminentemente econômica, pois pressupõe a combinação destes fatores da produção: terra, capital e trabalho. Modernamente, a empresa tem suas atividades voltadas para o mercado, sendo, portanto, um cen-tro de decisões, no qual são adotadas as estratégias econômicas.

Podemos assim dizer que a empresa é a atividade organizada para a produção de bens e serviços para o mercado, com a principal finalidade de alcançar o lucro.

A relação entre as pessoas e os meios para o exercício da empresa leva à abs-tração, em que a figura mais importante seria, em verdade, a do empresário, cujo interesse principal é administrar a relação capital/trabalho, visando ao lucro.

É certo dizer que a empresa normalmente é o empregador. A própria Conso-lidação das Leis do Trabalho equivale o empregador à empresa (art. 2º). No Direito Comercial, é de fundamental preocupação o estudo da empresa, como ela nasce, vive e morre, inclusive nas situações em que ocorrem falências e concordatas. No Direito Econômico, também se estuda a empresa, pois esta é um dos principais polos da atividade econômica.

A empresa, entretanto, não se confunde com o estabelecimento, que é o lugar em que o empresário exerce suas atividades. O estabelecimento pode ser consi-derado como o lugar onde são fabricados os produtos, a distribuição dos recursos, onde ficam os estoques. O estabelecimento ou fundo de comércio (azienda) é o conjunto de bens operados pelo comerciante, sendo uma universalidade de fato, ou seja, objeto e não sujeito de direitos. O estabelecimento compreende as coisas corpóreas existentes em determinado lugar da empresa, como instalações, máqui-nas, equipamentos, utensílios etc., e as incorpóreas, como a marca, as patentes, os sinais etc.

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Modernamente, a ideia de empresa se equipara à de uma instituição que perdura no tempo. Nela, o empresário é a pessoa que exercita profissionalmente a atividade economicamente organizada, visando à produção de bens ou de serviços para o mercado. Nesse conceito apresentado pelo prof. Magano(2), verifi-ca-se que o empresário não é aquele que exerce sua atividade eventualmente, mas habitualmente, com características profissionais. Quem assume os riscos do em-preendimento é o empresário, que se beneficia dos lucros e se expõe ao prejuízo.

Desse modo, a empresa é fonte de condições de trabalho e de organização em decorrência de situações jurídicas. Nesse sentido, a sua posição subjetiva compreen-de o desenvolvimento profissional de uma atividade e a organização dos meios para tanto, como da produção, visando à prestação de serviços ou à produção de bens. A empresa administra a combinação do capital e do trabalho na produção.

A atividade pressupõe continuidade, duração e, ao mesmo tempo, orienta-ção, que tem por objetivo dirigir a produção para o mercado. O empresário seria, entretanto, o sujeito da empresa. Esta seria a atividade, e o estabelecimento, o meio destinado à consecução dos objetivos da empresa.

A posição objetiva entende que tanto a empresa como o estabelecimento constitui a finalidade do empresário. A empresa também poderia ser a forma do exercício do estabelecimento. O estabelecimento seria estático, e a empresa seria compreendida por um conceito dinâmico, correspondendo, portanto, a um bem imaterial. Seria possível ver a empresa não como pessoa jurídica, mas como objeto, e não como sujeito de direito, porque a empresa é uma forma de atividade do empresário. O sujeito de direito, assim, seria o empresário. Se entendermos, porém, que a atividade pode constituir-se em objeto de direito sob certa tutela jurídica, a empresa pode ser considerada como objeto de direito.

2. AS OBRIGAÇÕES DECORRENTES DA RELAÇÃO DE TRABALHO

Como o empregado é um trabalhador subordinado, está sujeito a alguns pode-res do empregador, tais como: os poderes de direção, de organização e de controle.

O poder de direção é a forma como o empregador define como será desen-volvida a atividade do empregado, decorrente do contrato de trabalho.

O fundamento legal do poder de direção é encontrado no art. 2º da Consoli-dação das Leis do Trabalho, na definição de empregador, pois este é quem dirige as atividades do empregado.

Para alguns autores, o poder de direção seria um direito potestativo, ao qual o empregado não poderia fazer oposição. Esse poder, porém, não é limitado, pois a própria lei determina as limitações do poder de direção do empregador.

(2) MAGANO, Octavio Bueno. Curso de direito individual do trabalho. São Paulo: LTr, 1992. p. 31.

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O poder de direção compreende não só o de organizar suas atividades, como também o de controlar e disciplinar o trabalho, de acordo com os fins do empreen-dimento.

O empregador tem todo o direito de organizar seu empreendimento, decor-rente até mesmo do direito de propriedade. O empregador estabelecerá qual a ati-vidade que será desenvolvida na sua empresa, bem como a sua estrutura jurídica, o número de empregados, os cargos, as funções, o local de trabalho etc.

Pelo seu poder de organização, ao empregador é facultado regulamentar o trabalho, elaborando o regulamento da empresa, inclusive no tocante a normas de preservação ambiental.

3. A GLOBALIZAÇÃO, A NOVA RELAÇÃO DE TRABALHO E O PERFIL DO EMPREGADO E DO EMPREGADOR NO SÉCULO XXI

O processo da globalização tem rapidamente alcançado um dinamismo como resultado da combinação de vários fatores: o rápido progresso na liberali-zação de políticas de comércio e investimento em muitos países, incluindo políti-cas de ajuste estrutural dos países em desenvolvimento e políticas de reforma de transição econômica; um deslocamento em direção a políticas globais por parte das empresas, ao fazer uso das novas oportunidades criadas por esse novo modelo econômico; e o rápido progresso tecnológico que tornam possível a operação em nível mundial.

A globalização permitiu uma mobilidade muito maior de bens, serviços e flu-xos de capital entre os países, deu início a uma importante intensificação da com-petição internacional e desencadeou uma busca da eficiência máxima por parte das empresas, assim como programou a racionalização que levaram à dispensa em massa de trabalhadores, ao aperto das condições sociais por todo o mundo e a uma nova forma de atuação do empregado e do empregador diante dos graves riscos quanto à manutenção no emprego.

Os empresários e os trabalhadores também estão expostos a novos desafios. As empresas nacionais estão sujeitas a uma pressão competitiva muito mais forte. Elas enfrentam os riscos de serem absorvidas pelos grandes líderes do mercado mundial. Por sua vez, os trabalhadores se submetem à grande pressão, em razão da exigência de maior produtividade e da necessidade de manter o emprego.

A globalização tem aumentado significativamente no Brasil como conse-quência da “política de abertura”. A rápida intensificação do comércio estrangeiro e da integração da economia brasileira em mercados regionais e mundiais endure-ceu as condições de competição para as empresas nacionais, o que lhes exigiu um esforço considerável para se ajustar e transferir os seus recursos produtivos para atividades de exportação.

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Há muito tempo, existe uma presença firme de multinacionais importantes no Brasil e um investimento externo direito e significativo feito por algumas grandes empresas brasileiras. Não obstante o desempenho do Brasil no mercado mundial, a crescente redução da taxa de emprego no Brasil é incontestável, principalmente quando tratamos do contrato de trabalho nos moldes tradicionais da Consolidação das Leis do Trabalho.

Diante da nova ordem econômica mundial, as empresas se adequaram inter-namente, com inovações tecnológicas e novas formas de produção, sendo que a maior parte do ônus desse ajuste estrutural e da racionalização no setor produtivo e comercial das empresas foi colocada sobre o emprego, ou melhor, sobre o tra-balhador, que de uma forma ou outra — por meio do contrato de trabalho nos moldes da Consolidação das Leis do Trabalho — CLT ou de outro tipo de contrata-ção informal — continua prestando suas atividades profissionais. A indústria bra-sileira alcançou consideráveis aumentos na produtividade, incorporando novas tecnologias. O resultado não apenas se refletiu no desemprego, mas principalmente no crescimento rápido do setor informal, para onde a mão de obra excessiva foi predominantemente encaminhada.

Pode-se esperar que a competição mais acirrada no mercado do Mercosul e, no âmbito mundial, suas maiores escalas estimularão a eficiência na produção, o aumento na produtividade e intensificarão a competitividade internacional das empresas, com uma consequente simplificação e aumento na eficiência da estru-tura empresarial, inclusive no tocante à relação capital e trabalho.

No contexto atual de globalização, concorrência e comparações internacio-nais, os trabalhadores, de maneira geral, sejam chefes, engenheiros ou operadores estão passando por um aumento de sua carga de trabalho e por outras dificul-dades decorrentes das políticas de redução da mão de obra. Quem continua no emprego tem de fazer mais e com um custo menor ou com menos recursos.

Um desafio com repercussões no nível da saúde dos indivíduos tais como: crises de estafa e stress.

Os trabalhadores estressados têm maiores dificuldades em se integrar ao mercado de trabalho. Estamos vivendo a época em que, sob a égide de uma sociedade moderna, os empregados cada vez mais vêm perdendo os seus direitos, renunciando, inclusive, ao direito de preservarem a sua saúde.

Lembrando, também, que a saúde é direito indisponível, não podendo ser afetado pela “onda” de diminuições de direitos em razão da pretensão de redução de custos dos empregadores.