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Revista de Smulas

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

PUBLICAO OFICIAL

Revista de SmulasVOLUME 22, ANO 5 AGOSTO 2011

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAGabinete do Ministro Diretor da Revista Diretor Ministro Francisco Falco Chefe de Gabinete Marcos Perdigo Bernardes Servidores Andrea Dias de Castro Costa Eloame Augusti Gerson Prado da Silva Jacqueline Neiva de Lima Maria Anglica Neves SantAna Tcnico em Secretariado Fagno Monteiro Amorim Mensageiro Cristiano Augusto Rodrigues Santos

Superior Tribunal de Justia www.stj.jus.br, [email protected] Gabinete do Ministro Diretor da Revista Setor de Administrao Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2 Andar, Sala C-240, Braslia-DF, 70095-900 Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992 Revista de Smulas do Superior Tribunal de Justia - V. 1 (nov. 2005) -. Braslia: STJ, 2005 -. Periodicidade: Irregular. Repositrio Oficial de Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia. Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justia / Editora Braslia Jurdica, 2005 a 2006, Superior Tribunal de Justia, 2009 -. Disponvel tambm em verso eletrnica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/ revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.sumulas ISSN 2179-782X 1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudncia, peridico, Brasil. I. Brasil, Superior Tribunal de Justia (STJ). II. Ttulo. CDU 340.142(81)(05)

Revista de SmulasMINISTRO FRANCISCO FALCODiretor

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAPlenrio Ministro Ari Pargendler (Presidente) Ministro Felix Fischer (Vice-Presidente) Ministro Francisco Cesar Asfor Rocha (Diretor-Geral da ENFAM) Ministro Gilson Langaro Dipp Ministra Eliana Calmon Alves (Corregedora Nacional de Justia) Ministro Francisco Cndido de Melo Falco Neto (Diretor da Revista) Ministra Ftima Nancy Andrighi Ministra Laurita Hilrio Vaz Ministro Joo Otvio de Noronha (Corregedor-Geral da Justia Federal) Ministro Teori Albino Zavascki Ministro Jos de Castro Meira Ministro Arnaldo Esteves Lima Ministro Massami Uyeda Ministro Humberto Eustquio Soares Martins Ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura Ministro Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin Ministro Napoleo Nunes Maia Filho Ministro Sidnei Agostinho Beneti Ministro Jorge Mussi Ministro Geraldo Og Nicas Marques Fernandes Ministro Luis Felipe Salomo Ministro Mauro Luiz Campbell Marques Ministro Benedito Gonalves Ministro Raul Arajo Filho Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino Ministra Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues Ministro Antonio Carlos Ferreira Ministro Ricardo Villas Bas Cueva Ministro Sebastio Alves dos Reis Jnior

Resoluo n. 19/1995-STJ, art. 3. RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, 1, e 23.

SUMRIOSmulas

286...............................................................................................................................11 287...............................................................................................................................33 288...............................................................................................................................81 289.............................................................................................................................115 290.............................................................................................................................177 291.............................................................................................................................213 292.............................................................................................................................243 293.............................................................................................................................269ndice Analtico ................................................................................................................................................. 429 ndice Sistemtico ........................................................................................................................................... 435 Siglas e Abreviaturas...................................................................................................................................... 441 Repositrios Autorizados e Credenciados pelo Superior Tribunal de Justia ....................................................................................................................... 447

Smula n. 286

SMULA N. 286 A renegociao de contrato bancrio ou a confisso da dvida no impede a possibilidade de discusso sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores. Precedentes: REsp REsp REsp 132.565-RS 237.302-RS 450.968-RS (4 T, 12.09.2000 DJ 12.02.2001) (4 T, 08.02.2000 DJ 20.03.2000) (3 T, 27.05.2003 DJ 28.10.2003) Segunda Seo, em 28.04.2004 DJ 13.05.2004, p. 201

RECURSO ESPECIAL N. 132.565-RS (97.0034802-4) Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior Recorrente: Banco do Brasil S/A Advogados: Pedro Afonso Bezerra de Oliveira e outros Recorrida: Villa Bella Hotis e Turismo Ltda. Advogados: Gustav Lvio Toniatti e outros Sustentao oral: Gustav Lvio Toniatti, pelo recorrido

EMENTA Civil e Processual. Acrdo. Nulidade. Omisso no configurada. Notas de crdito comercial. Repactuao posterior em contrato de confisso de dvida. Prova pericial. Investigao da legimitimidade de clusulas anteriores. Seqncia contratual. Possibilidade. Necessidade da percia. Reexame. Matria de fato. Recurso especial. I. No se configura nulidade quando o acrdo, inobstante no descendo a todos os mltiplos aspectos suscitados pela parte, se acha corretamente fundamentado relativamente aos pontos essenciais ao deslinde da controvrsia. II. Possvel a reviso de clusulas contratuais celebradas antes da novao por instrumento de confisso de dvida, se h uma seqncia na relao negocial e a discusso no se refere, meramente, ao acordo sobre prazos maiores ou menores, descontos, carncias, taxas compatveis e legtimas, limitado ao campo da discricionariedade das partes, mas verificao da prpria legalidade do repactuado, tornando necessria a retroao da anlise do acordado desde a origem, para que seja apreciada a legitimidade do procedimento bancrio durante o tempo anterior, em que por atos sucessivos foi constituda a dvida novada. III. Devidamente justificada pelo Tribunal a quo a imprescindibilidade da realizao da prova tcnica, cuja dispensa levou anulao da sentena por cerceamento da defesa, o reexame da matria recai no mbito ftico, vedado ao STJ, nos termos da Smula n. 7. IV. Recurso especial no conhecido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

ACRDO Vistos e relatados estes autos, em que so partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justia, unanimidade, no conhecer do recurso, na forma do relatrio e notas taquigrficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Slvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como de lei. Braslia (DF), 12 de setembro de 2000 (data do julgamento). Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente Ministro Aldir Passarinho Junior, RelatorDJ 12.02.2001

RELATRIO O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Adoto o relatrio que integra o acrdo recorrido, litteris (fls. 178-179):1. Villa Bella Hotis e Turismo Ltda., interps Ao de Reviso de Contrato contra o Banco do Brasil S/A, alegando que confessou-se devedora da importncia de Cr$ 7.800.000,00, valor a ser pago em parcelas; que houve cobrana indevida dos valores, incidindo juros superiores a 12% a.a., que houve capitalizao de juros e correo monetria descabida. Juntou documentos (fls. 21-44). Citado, contestou o Banco do Brasil S/A. (fls. 74-102), aduzindo, preliminarmente, exceo de incompetncia, pois o foro competente o de Gramado, conforme clusula 13 do contrato; e, quanto ao mrito, que a regra contida no 3 do art. 192, CF no o auto-aplicvel, carecendo de regulamentao; que no houve a capitalizao alegada. Pede a improcedncia da ao. Juntou documentos (fls. 103-122). O juzo a quo prolatou sentena (fls. 141-142), julgando improcedente o presente feito, ficando a autora condenada nos nus sucumbenciais. Inconformada, apelou Villa Bella (fls. 145-152), alegando cerceamento de defesa, pois no atendido seu pedido de percia contbil. No mais, repisa os argumentos da inicial. Houve contra-razes (fls. 154-166). Preparados, subiram os autos.16

SMULAS - PRECEDENTES

O Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul deu provimento apelao para anular a sentena e determinar que seja realizada a prova tcnica requerida pela autora, nos termos de acrdo assim ementado (fl. 178):Ao ordinria para reviso de contratos. Prova pericial. Necessidade. Requerida pela autora a realizao de prova pericial e demonstrada a sua necessidade para a apurao do real valor das obrigaes contradas, o julgamento antecipado da lide se constitui em cerceamento ao direito da apelante obter a completa prestao jurisdicional buscada. Sentena desconstituda. Apelo provido.

Opostos embargos declaratrios (fls. 183-187), foram eles rejeitados s fls. 192-194. Inconformado, o Banco do Brasil S. A. interpe, pela letra a do art. 105, III, da Carta da Repblica, recurso especial em que sustenta, inicialmente, a nulidade da deciso por no haver examinado os dispositivos legais questionados nas contra-razes de apelao, negando a prestao jurisdicional devida nos termos dos arts. 2, 128, 460, 515 e 535 do CPC, e 5, LIV e LV, e 93, IX, da Constituio. Aduz que a dvida cobrada representada por ttulo novo, decorrente de novao, pelo que h impedimento de reviso de contratos antigos extintos, sendo desnecessria a percia, ainda que venham a ser expungidos eventuais excessos, bastando clculos aritmticos, nada alm. Assim, salienta a contrariedade aos arts. 999 e 1.030 do Cdigo Civil, a par de omisso tambm verificada no exame dos arts. 939, 940, 964 e 965 da mesma lei substantiva, e diz que no h nulidade no ttulo e que incabvel a sua desconstituio pela origem primitiva, j que superada com a novao. Assere, mais, que segundo o art. 10 do Decreto-Lei n. 413/1969, a dvida lquida, certa e exigvel, e que faltou ao devedor apresentar os valores cobrados, apontando-se-lhes os defeitos extrapoladores do contrato, o que no fez. Finalmente, amparando-se no disposto nos arts. 330, I, 334, III, 130, 420, 598 e 740, pargrafo nico, do CPC, registra que (fl. 211):O Banco do Brasil S.A. jamais negou tivesse aplicado taxa de juros superior prevista no pargrafo 3 do artigo 192 da Constituio Federal; jamais negou realizar a capitalizao dos juros; jamais negou a possibilidade de cobrarRSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 17

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

seus crditos inadimplidos com taxas de 2,5% a.m., tambm capitalizados mensalmente, bem como o prmio de seguro e outros encargos que constem dos ttulos emitidos quando de operaes de financiamento rural, comercial ou industrial. Jamais negou a possibilidade de novar dvidas rurais mediante a emisso de novas cdulas rurais. Jamais foram negados os fatos. Houve, isso sim, negativa de todos os direitos pretendidos. O demonstrativo de clculo que acompanha o ttulo executado espelha fiel e rigorosamente o resultado dos clculos da dvida segundo os encargos contratados. Se existe algum excesso de execuo este dever ser excoimado, a partir da determinao judicial. No h qualquer necessidade de verificar-se por clculos de perito que as taxas de juros, capitalizao, correo monetria de maro de 1990, etc. esto incorporadas no demonstrativo da dvida, porque isso o Banco j fez, anexando tal demonstrativo ao ttulo em execuo. A questo de direito vem antes da questo de fato, ou seja, definidos literalmente os encargos, passe-se ento ao clculos do contador. Resolvidas as questes de direito, pelos Tribunais Superiores competentes, ante os argumentos aduzidos pelas partes, ser suficiente o clculo do contador para chegar-se ao quantum devido. Esse procedimento ocorre em liquidao de sentena. No havendo fatos controversos, desnecessria qualquer instruo, desnecessria qualquer percia, pois no se trata de estabelecer o quanto poderia o Banco do Brasil cobrar, mas apenas afastar aquilo que no poderia cobrar. Ou seja, caso entendesse a Egrgia Corte Julgadora que o ru utilizava-se de taxas ilegais em seus financiamentos rurais, deveria sobre isso manifestar-se, de tal sorte que ficassem determinados os limites admitidos de acordo com as leis vigentes.

Sem contra-razes (fl. 220). O recurso especial foi admitido na Instncia de origem pelo despacho presidencial de fls. 221-223. o relatrio. VOTO O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): - Cuida-se de recurso especial aviado pela letra a do permissivo constitucional, em que o Banco do Brasil S.A. sustenta uma multiplicidade de ofensas a dispositivos legais do Cdigo de Processo Civil e do Cdigo Civil, em acrdo que anulou sentena que, rejeitando pedido de prova pericial, julgou improcedente ao que visava reviso de clusulas contratuais de contrato de confisso de dvida.18

SMULAS - PRECEDENTES

No tocante nulidade do aresto, rejeito-a, porquanto o que pretende, em essncia, o recorrente, que o Tribunal examine normas legais que conduzem procedncia da tese bancria, com carter nitidamente infringente. No h que se confundir omisso, com deciso desfavorvel. Com relao ao ponto central do recurso, qual seja, a desnecessidade da realizao da prova pericial e, em conseqncia, o aproveitamento da sentena monocrtica que julgou improcedente a demanda revisional, melhor sorte no socorre o recorrente. A possibilidade do reexame de clusulas e condies dos contratos primitivos, que deram origem ao pacto celebrado em 1990, novando a dvida, foi implicitamente rejeitada pelo Tribunal Estadual, e se acha em harmonia com o pensamento desta Corte, como se infere dos seguintes despachos monocrticos exarados pelos eminentes Ministros Nilson Naves e Ruy Rosado de Aguiar, respectivamente nos REsp n. 221.332-RS e n. 230.559-RS. Transcrevo, desse ltimo, o seguinte excerto:De qualquer modo, observo que a renovao dos contratos bancrios, com o pagamento de saldo apurado ou a confisso da dvida, com ou sem renegociao de clusulas e condies, no significa a perda do direito de ir a juzo discutir a eventual ilegalidade do que foi contratado. O direito a declarao de invalidade de clusula contratual no se extingue com a prestao nele prevista, pois muitas vezes o obrigado cumpre a sua parte exatamente para poder submeter a causa a juzo, ou, o que mais freqente, para evitar o dano decorrente da inadimplncia, com protestos, registros no SPC, Serasa e outros efeitos. Por isso, no h razo para limitar o exerccio jurisdicional na reviso de contratos, especialmente quando a dvida, que no ltimo reconhecida, ou que serve de ponto de partida para o clculo do dbito, resulta da aplicao de clusulas previstas em contratos anteriores, em um encadeamento negocial que no pode ser visto isoladamente, apenas no ltimo contrato. Portanto, no tem razo o banco quando pretende estreitar o mbito da reviso judicial. (4 Turma, DJU de 17.11.1999).

Como demonstrado no trecho acima reproduzido, a reviso vivel por se considerar que, em havendo espcie de continuidade na operao, que tambm o caso dos autos, o direito da parte eventualmente lesada pela imposio de condies viciadas no pode ficar afastado pelo pacto posterior, muitas das vezes admitido pelo devedor sob presso dos instrumentos coercitivos de cobrana, para evitar males maiores para si ou sua empresa.RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 19

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

Ademais, e fundamentalmente, o que se busca, em essncia, a legalidade. Assim que, seria razovel o pensamento contrrio, apenas se o contrato renovado trouxesse, em seu bojo, inovaes meramente no campo da livre vontade das partes, da sua discricionariedade em acordar prazos maiores ou menores, descontos, carncias, taxas compatveis e legtimas. At a, em princpio, uma novao seria espcie de p de cal sobre o que ficou para trs. Todavia, se a controvrsia, como na presente hiptese, gira exatamente em torno da ilegalidade ou inconstitucionalidade da taxa de juros, na insero de arredondamentos em operao de desconto de duplicatas (fl. 10, sic, da inicial), no aproveitamento a menor das amortizaes parciais feitas ao longo do tempo pela devedora (fl. 10), etc, exsurge evidente que a matria transcende o momento da repactuao, retroagindo para que seja apreciada a legitimidade do procedimento bancrio durante o tempo anterior, em que por atos sucessivos foi constituda a dvida novada. De outra parte, o acrdo, a, explicitamente, deu pela necessidade da percia para a apurao de tais aspectos, no que a reviso da convenincia ou no da prova descamba para o reexame ftico (Smula n. 7), incomportvel nessa rbita especial, mesmo porque, como visto acima, a discusso no meramente jurdica, mas tambm contbil. Nesse sentido:Civil e Comercial. Embargos execuo. Cdula rural pignoratcia. Alegao de cerceamento de defesa pelo indeferimento de prova pericial. Smula n. 7-STJ. Correo monetria. Juros. Capitalizao. Proagro. I - Deciso sobre a necessidade ou no de dilao probatria, tomada pelas instncias ordinrias, no pode ser revista em sede de Especial, pena de se adentrar em terreno ftico-probatrio. Incidncia da Smula n. 7-STJ. II - Pacificou-se nesta Corte jurisprudncia no sentido de reconhecer o INPC como ndice adequado correo de valores a partir de fevereiro de 1991. III - Capitalizao mensal de juros admitida (Smula n. 93-STJ). IV - Pagamento do Seguro Proagro que resultou em interpretao de clusula contratual (Smula n. 5-STJ). V - Recurso conhecido em parte e, nesta parte, provido. (3a Turma, REsp n. 123.217-PR, Rel. Min. Waldemar Zveiter, unnime, DJU de 14.12.1998).

Ante o exposto, no conheo do recurso especial. como voto.20

SMULAS - PRECEDENTES

RECURSO ESPECIAL N. 237.302-RS (99.0100238-9) Relator: Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira Recorrente: Banco Bradesco S/A Advogados: Clayton Mller e outros Recorrida: Floresta Comrcio de Produtos de Origem Animal Ltda. Advogada: Beatriz Simes Gross

EMENTA Direitos Comercial e Econmico. Financiamento bancrio. Juros. Teto. Lei de Usura. Inexistncia. Lei n. 4.595/1964. Enunciado n. 596 da Smula-STF. Capitalizao mensal. Excepcionalidade. Inexistncia de autorizao legal. TR como ndice de correo monetria. Prequestionamento. Inocorrncia. Possibilidade de reviso de contratos. Recurso parcialmente acolhido. I - A Lei n. 4.595/1964, que rege a poltica econmico-monetria nacional, ao dispor no seu art. 4, IX, que cabe ao Conselho Monetrio Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operaes realizadas por instituies do Sistema Financeiro, salvo excees legais, como nos mtuos rurais, quaisquer outras restries a limitar o teto mximo daqueles. II - Somente nas hipteses em que expressamente autorizada por lei especfica, a capitalizao de juros se mostra admissvel. Nos demais casos vedada, mesmo quando pactuada, no tendo sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4 do Decreto n. 22.626/1933. O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Smula do Supremo Tribunal Federal, no guarda relao com o Enunciado n. 596 da mesma Smula. III - A TR, na dico do Supremo Tribunal Federal, no serve como substituto do ndice constante de contrato, por no ser indicador puro de correo monetria, haja vista incluir taxa de remunerao no seu clculo, no servindo, tambm, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer dbito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situaes em que h norma proibindo a sua utilizao ou estabelecendo a adoo de indexador especfico.RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 21

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IV - O Superior Tribunal de Justia, na esteira dessa orientao firmada pela Suprema Corte, j assentou a valia da TR como ndice, quando eleito pelas partes contratantes. V - A renegociao de contratos bancrios no afasta a possibilidade de discusso judicial de eventuais ilegalidades. VI - Matria no enfrentada pelo Tribunal de origem no pode ser objeto de anlise na instncia especial, por faltar o requesito do prequestionamento, consoante Enunciado n. 282 da Smula-STF. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Jnior. Braslia (DF), 08 de fevereiro de 2000 (data do julgamento). Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira, RelatorDJ 20.03.2000

EXPOSIO O Sr. Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira: Cuida-se de recurso especial interposto contra acrdo do Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul que, nos autos de ao declaratria e de repetio de indbito referente a contratos de abertura de crdito em conta corrente e de refinanciamento, limitou os juros em 12% a.a., com capitalizao apenas anual, afastou a aplicao da TR como ndice de correo monetria, alm de admitir a reviso dos contratos renegociados porque demonstrada a continuidade negocial. Alega o banco, alm de dissdio, violao dos arts. 3 e 4 - IX da Lei n. 4.595/1964, 11 da Lei n. 8.177/1991 e 999-I do Cdigo Civil, sustentando a inexistncia de teto de juros, a prevalncia do fator de correo pactuado e a impossibilidade de reviso de contratos extintos em virtude de novao. o relatrio.22

SMULAS - PRECEDENTES

VOTO O Sr. Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Quanto impossibilidade de reviso judicial de contratos objeto de novao, invivel se apresenta o apelo. Pela alnea a do permissor, no se verifica negativa de vigncia ao art. 999I, CC porquanto o acrdo impugnado no afastou a ocorrncia de novao, assinalando apenas que, havendo relao jurdica continuativa, caracterizada por novaes, renegociaes e confisses de dvida, possvel a reviso dos contratos anteriores. Pela alnea c do permissor, conquanto caracterizado dissdio com o paradigma do Tribunal de Alada do Estado do Rio Grande do Sul, que entendeu que a renovao do contrato de abertura de crdito opera novao ut art. 999, I, CC, que extingue e substitui a dvida anterior e impossibilita a reviso, salvo prova de pagamento por erro, ut art. 965 do mesmo Cdigo, no merece prosperar a irresignao. Conforme assinalou o Ministro Ruy Rosado no REsp n. 230.559-RS (DJ 17.11.1999), a renovao dos contratos bancrios, com o pagamento de saldo apurado ou a confisso da dvida, com ou sem renegociao de clusulas e condies, no significa a perda do direito de ir a juzo discutir a eventual ilegalidade do que foi contratado. O direito a declarao de invalidade de clusula contratual no se extingue com a prestao nele prevista, pois muitas vezes o obrigado cumpre a sua parte exatamente para poder submeter a causa a juzo, ou, o que mais freqente, para evitar o dano decorrente da inadimplncia, com protestos, registros no SPC, Serasa e outros efeitos. Por isso, no h razo para limitar o exerccio jurisdicional na reviso de contratos, especialmente quando a dvida, que no ltimo reconhecida, ou que serve de ponto de partida para o clculo do dbito, resulta da aplicao de clusulas previstas em contratos anteriores, em um encadeamento negocial que no pode ser visto isoladamente, apenas no ltimo contrato. Portanto, no tem razo o banco quando pretende estreitar o mbito da reviso judicial. 2. No que diz respeito capitalizao, a jurisprudncia deste Tribunal uniformizou entendimento no sentido de que somente nos casos expressamente autorizados por norma especfica, como nos mtuos rural, comercial ou industrial, que se admite sejam os juros capitalizados, e, ainda assim, desde que existente pactuao nos contratos.RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 23

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

In casu, conforme asseverou o acrdo impugnado, a espcie dos autos versa sobre contrato de crdito, no includo no elenco das leis especiais que admitem a capitalizao. A propsito, os REsps n. 16.864-SP (DJ 29.03.1993), n. 58.088-PE (DJ 25.11.1996), n. 139.607-MG (DJ 15.12.1997), n. 52.598-RS (DJ 29.06.1998) e n. 178.367-MG (DJ 03.11.1998), este ltimo assim ementado:Direitos Comercial e Econmico. Financiamento bancrio. Capitalizao mensal. Excepcionalidade. Inexistncia de autorizao legal. Recurso acolhido. I - Somente nas hipteses em que expressamente autorizada por lei especfica, a capitalizao de juros se mostra admissvel. Nos demais casos vedada, mesmo quando pactuada, no tendo sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4 do Decreto n. 22.626/1933. II - O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Smula do Supremo Tribunal Federal, no guarda relao com o Enunciado n. 596 da mesma smula.

3. No que toca limitao dos juros compensatrios, com base na Lei da Usura, em relao s operaes realizadas com instituies pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional, a tese esposada pelo acrdo recorrido acha-se em desarmonia com a jurisprudncia dominante nesta Corte, consoante ressai do voto que proferi, como relator do REsp n. 122.777-MG (DJ 23.06.1997):No que concerne possibilidade de se pactuar juros alm do limite estabelecido no Decreto n. 22.626/1933, comumente chamado de Lei de Usura, razo socorre o recorrente. A Lei n. 4.595/1964, que rege a poltica econmica das instituies financeiras, no seu art. 4, IX, dispe que cabe ao Conselho Monetrio Nacional limitar as taxas de juros. Destarte, se foi prevista a referida limitao, lgico admitir que no subsistiriam quaisquer outras restries, notadamente a que dispunha sobre teto mximo. Esta, a causa da edio do Enunciado n. 596 da Smula-STF, que dispe: As disposies do Decreto n. 22.626/1933 no se aplicam s taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operaes realizadas por instituies pblicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional. Neste sentido, o REsp n. 4.285-RJ (DJ 22.10.1990), desta Turma, relator o Ministro Athos Carneiro, assim ementado: Financiamento bancrio. Taxas de juros e encargos. Decreto n. 22.626/1933. No incide a Lei da Usura, quanto taxa dos juros, s operaes firmadas com instituies do Sistema Financeiro. Smula n. 596 do STF. Lei n. 4.595, de 31.12.1964.24

SMULAS - PRECEDENTES

No caso, tratando-se de financiamento obtido em instituio financeira, lcita a pactuao dos juros acima dos 12% ao ano, pelo que merece subsistir a tese posta nos paradigmas.

4. A jurisprudncia deste Tribunal est sedimentada no sentido de admitir a utilizao da TR como ndice de correo monetria quando pactuada pelos contratantes, a exemplo do que se deu no caso em exame. Neste sentido, dentre outros, o REsp n. 55.277-BA (DJ 1.07.1996), assim ementado, no que interessa:III - A TR, na dico do Supremo Tribunal Federal, no serve como substituto do ndice constante de contrato, por no ser indicador puro de correo monetria, haja vista incluir taxa de remunerao no seu clculo, no servindo, tambm, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer dbito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situaes em que h norma obrigando a adoo de um indexador especfico ou ento proibindo a sua utilizao. IV - O Superior Tribunal de Justia, na esteira dessa orientao firmada pela Suprema Corte, j assentou a valia da TR como ndice, quando eleito pelas partes contratantes.

Na espcie dos autos, houve pactuao expressa da TR como ndice de atualizao e, quando da celebrao do instrumento, no havia qualquer vedao legal estipulao da correo monetria tomando-se por base o referido indexador. Assim sendo, torna-se defeso ao Judicirio intervir diretamente na vontade das partes sob o fundamento de no ser o critrio escolhido o melhor para refletir a correo monetria. A propsito, exemplificativamente, dentre muitos precedentes, os REsp n. 98.455-MG (10.06.1996), n. 70.234-RS (DJ 05.02.1996), n. 57.748-RS (DJ 29.09.1997), n. 154.392-RS (DJ 30.11.1998), n. 162.701-MS (DJ 29.06.1998). 5. Em face do exposto, conheo parcialmente do recurso e, nessa parte, dou-lhe provimento para declarar a inexistncia, no caso, do teto de juros e para permitir a adoo da TR na correo monetria da dvida, conforme convencionado. Responder o recorrente por 1/3 (um tero) das despesas processuais, arcando com os restantes dois teros o recorrido, que pagar tambm honorrios advocatcios de R$ 130,00 (cento e trinta reais), j considerada a sucumbncia recproca.

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RECURSO ESPECIAL N. 450.968-RS (2002.0094565-1) Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Recorrente: Newton Danilo Castanho Sard Advogado: Sarjob Aranha Neto e outro Recorrente: Banco ABN Amro Real S/A Advogado: Sirlei Maria Rama Vieira Silveira e outros Recorrido: Os mesmos

EMENTA Recurso especial. Contratos bancrios. Novao. Possibilidade de reviso. Prejudicialidade. 1. A jurisprudncia das Turmas que compem a Segunda Seo desta Corte j pacificou que a renegociao de contratos bancrios no afasta a possibilidade de discusso judicial de eventuais ilegalidades. 2. Deferida a reviso dos contratos anteriores, resta prejudicado o exame das demais matrias tratadas nos especiais. 3. Recurso especial do primeiro recorrente conhecido e provido, em parte, e do segundo recorrente julgado prejudicado. ACRDO Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, conhecer do recurso especial interposto por Newton Danilo Castanho Sard, dar-lhe parcial provimento e julgar prejudicado o recurso da instituio financeira, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antnio de Pdua Ribeiro e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Castro Filho. Braslia (DF), 27 de maio de 2003 (data do julgamento). Ministro Antnio de Pdua Ribeiro, Presidente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, RelatorDJ 28.10.2003 26

SMULAS - PRECEDENTES

RELATRIO O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Banco ABN Amro Real S/A e Newton Danilo Castanho Sard interpem recursos especiais, ambos com fundamento nas alneas a e c do permissivo constitucional, contra acrdo da Dcima Primeira Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:Contrato de composio de dvida. Juros remuneratrios: 12% ao ano. Capitalizao dos juros: anual. Juros de mora: 01% ao ano. Multa: 02%. Correo monetria: IGP-M. Comisso de permanncia: indevida. Compensao de valores: direito inexistente. Apelao provida em parte (fl. 150).

Alega a instituio financeira contrariedade aos artigos 4, inciso IX, da Lei n. 4.595/1964, 115, 1.062 e 1.262 do Cdigo Civil, 51, incisos IV, X e XIII, e 52, inciso II, da Lei n. 8.078/1990, e 27, 5, da Lei n. 9.069/1995, haja vista que os juros no esto limitados em 12% ao ano, permitida a capitalizao mensal e inaplicveis, in casu, as disposies da Lei de Usura e do Cdigo de Defesa do Consumidor. Aduz ser lcita a utilizao da Taxa Referencial como ndice de atualizao monetria; a cobrana de juros moratrios de 12% ao ano e a incidncia da comisso de permanncia no perodo de inadimplncia. Aponta dissdio jurisprudencial, colacionando julgados desta Corte e a Smula n. 596-STF. O segundo recorrente sustenta afronta aos artigos 52, inciso II, da Lei n. 8.078/1990 e 965 do Cdigo Civil. Para o recorrente imperativa a reviso dos contratos anteriores, que deram origem ao instrumento de confisso de dvida. Destaca a possibilidade de compensao ou repetio de indbito sem a prova de que houve o pagamento por erro. Aponta dissdio jurisprudencial, colacionando julgados desta Corte, inclusive no sentido de ser possvel a reviso dos contratos extintos.RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 27

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Contra-arrazoados (fls. 225 a 233 e 234 a 242), os recursos especiais (fls. 159 a 172 e 208 a 215) foram admitidos juntamente com o recurso extraordinrio interposto por Banco ABN Amro Real S/A (fls. 245 a 250). o relatrio. VOTO O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Newton Danilo Castanho Sard ajuizou ao ordinria revisional e de nulidade de clusulas contratuais cumulada com compensao, repetio de indbito e antecipao de tutela contra Banco ABN Amro Real S/A, requerendo a reviso de todos os contratos celebrados entre as partes. O Juzo monocrtico julgou improcedente a demanda. A Dcima Primeira Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul deu parcial provimento apelao para, limitando a reviso composio da dvida, que a contratao que est em vigor entre as partes (fl. 153), fixar os juros de mora em 1% ao ano, a multa contratual em 2% e os juros remuneratrios em 12% ao ano, capitalizados anualmente, vedando, por sua vez, a cobrana da comisso de permanncia. Foram interpostos recursos especiais por ambas as partes. A instituio financeira, primeira recorrente, sustenta ser legal a cobrana dos juros de mora de 12% ao ano, dos juros remuneratrios superiores a 12% ao ano, capitalizados mensalmente, e da comisso de permanncia, bem como a correo monetria com base na Taxa Referencial. O segundo recorrente alega no ser lcita a capitalizao anual dos juros e que possvel a compensao ou repetio de indbito sem a prova de que houve pagamento por erro. Aduz, outrossim, dissdio jurisprudencial, no sentido de ser possvel a reviso dos contratos extintos. Em primeiro lugar, examino o recurso especial de Newton Danilo Castanho Sard, na parte em que busca a reviso de toda a relao negocial, uma vez que a deciso adotada neste ponto, pode prejudicar o exame das demais matrias trazidas em ambos os recursos. Nesta parte, o acrdo recorrido decidiu que a reviso se restringe composio de dvida, que a contratao que est em vigor entre as partes. Por ela foi admitida dvida em valor certo, sendo este valor redutvel por fora da aplicao das concluses do presente acrdo. Segundo entendimento desta Cmara, o juzo revisional opera to somente para abater o saldo devedor28

SMULAS - PRECEDENTES

que se mantm em aberto, no atingindo relao jurdica no tanto em que foi cumprida. Isto somente seria possvel em caso de erro quando da contratao, na forma do art. 965 do Cdigo de Processo Civil. No se verificando erro, no se constitui o direito de repetio ou de compensao de valores (fl. 153). O especial sustenta, inicialmente, afronta ao artigo 965 do Cdigo Civil, por ser possvel a compensao ou repetio de indbito sem a prova do pagamento por erro, e destaca, tambm, dissdio jurisprudencial, apoiado em precedente desta Corte, de que foi Relator o Senhor Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Tem razo o recorrente. A Corte j decidiu em diversas oportunidades, ser possvel a reviso dos contratos celebrados antes da novao ou renegociao, estando pacificado na jurisprudncia que a renegociao de contratos bancrios no afasta a possibilidade de discusso de eventuais ilegalidades do que foi contratado. No caso dos autos, a prpria instituio financeira reconhece que as operaes trazidas pelo Autor s fls. 14 a 17 dos autos, foram liquidadas, extintas pela novao face Composio de Dvida n. 15.210259.3, que renegociou os dbitos relativos quelas operaes, sendo, portanto, o nico contrato em aberto (fl. 27), destacando, tambm, que a operao teve por finalidade liquidar dbitos inadimplidos pelo Autor, decorrente da utilizao de crditos rotativos em conta-corrente, assim como de emprstimos concedidos (fl. 27). A propsito, trago os seguintes precedentes:Financiamento para compra de veculo. Renegociao: possibilidade de reviso. Juros. Capitalizao. TR. Precedentes da Corte. 1. Tratando-se de renegociao de dbitos financeiros vlida a apreciao judicial do negcio desde a sua origem. 2. No existe nos contratos de financiamento comum a limitao dos juros remuneratrios. 3. vedada a capitalizao dos juros em contratos de financiamento para os quais no exista previso especfica. 4. Desde que pactuada permitida a utilizao da TR. 5. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (REsp n. 285.827-RS, Terceira Turma, de minha relatoria, DJ de 08.10.2001). Civil e Processual. Acrdo. Nulidade. Omisso no configurada. Notas de crdito comercial. Repactuao posterior em contrato de confisso de dvida. Prova pericial. Investigao da legitimidade de clusulas anteriores. Seqncia contratual. Possibilidade. Necessidade da percia. Reexame. Matria de fato. Recurso especial.

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I. No se configura nulidade quando o acrdo, inobstante no descendo a todos os mltiplos aspectos suscitados pela parte, se acha corretamente fundamentado relativamente aos pontos essenciais ao deslinde da controvrsia. II. Possvel a reviso de clusulas contratuais celebradas antes da novao por instrumento de confisso de dvida, se h uma seqncia na relao negocial e a discusso no se refere, meramente, ao acordo sobre prazos maiores ou menores, descontos, carncias, taxas compatveis e legtimas, limitado ao campo da discricionariedade das partes, mas verificao da prpria legalidade do repactuado, tornando necessria a retroao da anlise do acordado desde a origem, para que seja apreciada a legitimidade do procedimento bancrio durante o tempo anterior, em que por atos sucessivos foi constituda a dvida novada. III. Devidamente justificada pelo Tribunal a quo a imprescindibilidade da realizao da prova tcnica, cuja dispensa levou anulao da sentena por cerceamento da defesa, o reexame da matria recai no mbito ftico, vedado ao STJ, nos termos da Smula n. 7. IV. Recurso especial no conhecido. (REsp n. 132.565-RS, Quarta Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 12.02.2001) Direitos Comercial e Econmico. Financiamento bancrio. Juros. Teto. Lei de Usura. Inexistncia. Lei n. 4.595/1964. Enunciado n. 596 da Smula-STF. Capitalizao mensal. Excepcionalidade. Inexistncia de autorizao legal. TR como ndice de correo monetria. Prequestionamento. Inocorrncia. Possibilidade de reviso de contratos. Recurso parcialmente acolhido. I - A Lei n. 4.595/1964, que rege a poltica econmico-monetria nacional, ao dispor no seu art. 4, IX, que cabe ao Conselho Monetrio Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operaes realizadas por instituies do Sistema Financeiro, salvo excees legais, como nos mtuos rurais, quaisquer outras restries a limitar o teto mximo daqueles. II - Somente nas hipteses em que expressamente autorizada por lei especfica, a capitalizao de juros se mostra admissvel. Nos demais casos vedada, mesmo quando pactuada, no tendo sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4 do Decreto n. 22.626/1933. O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Smula do Supremo Tribunal Federal, no guarda relao com o Enunciado n. 596 da mesma smula. III - A TR, na dico do Supremo Tribunal Federal, no serve como substituto do ndice constante de contrato, por no ser indicador puro de correo monetria, haja vista incluir taxa de remunerao no seu clculo, no servindo, tambm, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer dbito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situaes em que h norma proibindo a sua utilizao ou estabelecendo a adoo de indexador especfico.30

SMULAS - PRECEDENTES

IV - O Superior Tribunal de Justia, na esteira dessa orientao firmada pela Suprema Corte, j assentou a valia da TR como ndice, quando eleito pelas partes contratantes. V - A renegociao de contratos bancrios no afasta a possibilidade de discusso judicial de eventuais ilegalidades. VI - Matria no enfrentada pelo Tribunal de origem no pode ser objeto de anlise na instncia especial, por faltar o requisito do prequestionamento, consoante Enunciado n. 282 da Smula-STF. (REsp n. 237.302-RS, Quarta Turma, Relator o Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 20.03.2000).

Por outro lado, anoto que, com relao compensao ou repetio de indbito, esta Corte j assentou que aquele que recebe pagamento indevido deve restitu-lo para impedir o enriquecimento indevido, prescindindo da discusso a respeito de erro no pagamento em hipteses como a presente. Anote-se:Cartes de crdito. Juros. Limitao. Fundamento ntegro. Capitalizao. Repetio do indbito. 1. No enfrentando o especial a questo central do acrdo recorrido, qual seja, a de que a empresa administradora de carto de crdito no integra o Sistema Financeiro Nacional, fica o especial oco para resistir aos pressupostos de conhecimento. 2. No permitida a capitalizao mensal de juros em contratos da espcie, na forma de precedentes da Corte. 3. Aquele que recebeu o que no devia, deve fazer a restituio, sob pena de enriquecimento indevido, pouco relevando a prova do erro no pagamento. 4. Recurso especial no conhecido. (REsp n. 345.500-RS, Terceira Turma, de minha relatoria, DJ de 24.06.2002). Direito Bancrio. Agravo no agravo de instrumento. Ao de conhecimento sob o rito ordinrio. Contrato de abertura de crdito. Acrdo. Julgamento extra petita. Juros remuneratrios. CDC. Incidncia. Capitalizao. - inadmissvel o recurso especial se no houve o prequestionamento do direito tido por violado. - Nos contratos bancrios, admite-se a capitalizao de juros em periodicidade anual. - A exigncia da prova do erro, para fins de repetio de indbito pago voluntariamente, no se aplica ao contrato de abertura de crdito, uma vez que neste caso os lanamentos em conta so realizados pelo credor. (AgRgAg n. 425.305-RS, Terceira Turma, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, DJ de 03.06.2002).

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Civil. Contrato de abertura de crdito em conta corrente. Acrscimos indevidos. Repetio do indbito. Cabimento. I. Admite-se a repetio do indbito de valores pagos em virtude de clusulas ilegais, em razo do princpio que veda o enriquecimento injustificado do credor. II. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp n. 79.448-RS, Quarta Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 10.06.2002).

Em decorrncia da possibilidade da reviso dos contratos extintos, nos termos da jurisprudncia desta Corte, restam prejudicados o recurso especial do banco e os demais pontos tratados no especial do autor. Ante o exposto, conheo parcialmente do recurso especial interposto por Newton Danilo Castanho Sard e, nessa parte, dou-lhe provimento para permitir a reviso de todos os contratos que deram origem composio de dvida. Julgo prejudicado o recurso especial da instituio financeira.

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Smula n. 287

SMULA N. 287 A Taxa Bsica Financeira (TBF) no pode ser utilizada como indexador de correo monetria nos contratos bancrios. Referncias: Medida Provisria n. 1.053/1995, art. 5. Resoluo n. 2.171/1995-CMN, art. 2. Resoluo n. 2.172/1995-CMN, art. 2. Precedentes: AgRg no REsp AgRg no REsp EDcl no REsp REsp REsp REsp REsp 324.861-RS 332.798-RS 213.982-RS 252.940-MS 311.366-PR 439.882-RS 472.864-PR (3 T, 09.09.2003 DJ 29.09.2003) (4 T, 11.12.2001 DJ 22.04.2002) (3 T, 19.03.2001 DJ 30.04.2001) (4 T, 28.08.2001 DJ 18.02.2002) (4 T, 26.05.2003 DJ 08.09.2003) (3 T, 22.05.2003 DJ 23.06.2003) (4 T, 26.05.2003 DJ 08.09.2003) Segunda Seo, em 28.04.2004 DJ 13.05.2004, p. 201

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 324.861-RS (2001.0058056-1) Relator: Ministro Antnio de Pdua Ribeiro Agravante: BB Financeira S/A Crdito Financiamento e Investimento Advogada: Magda Montenegro e outros Agravado: Miguel Machado Ribeiro Advogado: Ana Candida dos Santos Echevengua

EMENTA Processual Civil. Agravo regimental. Recurso especial. Contrato bancrio. TBF. I - A TBF no pode ser utilizada como ndice de correo monetria de contratos bancrios. Precedentes. II - Agravo regimental desprovido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Braslia (DF), 09 de setembro de 2003 (data do julgamento). Ministro Antnio de Pdua Ribeiro, Presidente e RelatorDJ 29.09.2003

RELATRIO O Sr. Ministro Antnio de Pdua Ribeiro: s fls. 140-145 dei parcial provimento ao recurso especial de BB Financeira S/A Crdito, Financiamento

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e Investimento, afirmando, no ponto que interessa nesta oportunidade, a impossibilidade de adoo da TBF como fator de atualizao do capital. Inconformada, a instituio financeira interpe o presente agravo regimental, sustentando que o STF e o STJ admitem a pactuao da TR como ndice de correo monetria, e que, pelas mesmas razes, deveria tambm ser admitida a utilizao da TBF para a mesma funo. A propsito, afirma o seguinte:ainda que a TBF, a exemplo da TR, seja composta por ndices de remunerao de capital, no h que ser afastada, haja vista que foi criada justamente para adoo nas operaes do mercado financeiro, num perodo em que vedada a estipulao de correo monetria. (fl. 150).

o relatrio. VOTO O Sr. Ministro Antnio de Pdua Ribeiro (Relator): A irresignao no merece prosperar. Com efeito, o posicionamento desta Corte permanece contrrio utilizao da TBF como ndice de correo monetria dos contratos bancrios, conforme se verifica em recentes julgados. ver:Direito Bancrio. Cdula de crdito industrial. Art. 535 do CPC. Ausncia de violao. Nulidade do ttulo. No ocorrncia. Juros remuneratrios. Limitados. Comisso de permanncia. Incabvel na espcie, ademais no pode ser cobrada cumulativamente com a multa contratual. TBF. Impossibilidade de utilizao como ndice de correo monetria. Multa contratual. Reduo para 2% do valor do dbito. - No h afronta ao art. 535 CPC quando todas as questes relevantes foram analisadas pelo julgado hostilizado. - No nula a cdula de crdito industrial emitida para saldar dbito de contacorrente, porque a ningum lcito tirar proveito da prpria torpeza. - Inexistente nos autos a prvia autorizao do CMN para a cobrana de juros remuneratrios acima do limite legal, em valor certo e especificado para cdula de crdito industrial, como no caso, ficam eles adstritos taxa de 12% ao ano.

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SMULAS - PRECEDENTES

- A cobrana da comisso de permanncia nas cdulas de crdito industrial no admissvel. Ademais, vedada a sua cobrana cumulada com a multa contratual. - A Taxa Bsica Financeira no pode ser usada como ndice de correo monetria. - A multa contratual deve ser reduzida para 2% por ser o contrato posterior edio da Lei n. 9.298/1996. - Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extenso, provido. (REsp n. 332.994-DF, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 24.02.2003). Execuo. Embargos. Negativa de prestao jurisdicional. Cdulas de crdito comercial. Juros. Prova da autorizao do Conselho Monetrio Nacional. Correo monetria: TBF. Precedentes. 1. No h falar em negativa de prestao jurisdicional, com afronta ao art. 535 do Cdigo de Processo Civil, quando o acrdo recorrido desafia toda a matria posta em julgamento, no estando a descoberto o acesso pela ausncia de prequestionamento. 2. J decidiu a Corte, em muitos precedentes, que nas cdulas de crdito comercial, mngua da demonstrao de autorizao do Conselho Monetrio Nacional, que incumbe ao exeqente fazer, os juros esto limitados a 12% ao ano. 3. No desqualificou o especial, que fincou suas razes na legalidade da TBF, o fundamento do acrdo recorrido no sentido de que a aplicao do ndice no cabvel, no caso, diante da limitao dos juros, porque se trata de forma de remunerao do capital e no de atualizao monetria. 4. Recurso especial no conhecido. (REsp n. 326.288-RS, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 17.06.2002). Juros. Capitalizao. Comisso de permanncia. Correo monetria. TBF. A comisso de permanncia no pode ser cumulada com correo monetria. Smula n. 30-STJ. A TBF taxa para remunerar operao financeira, no servindo para calcular a correo monetria, especialmente porque ainda tem uma sobretaxa de 19.560 pontos percentuais efetivos ao ano. Recurso no conhecido. (REsp n. 265.207-PR, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 20.05.2002).

Posto isso, permanecendo ntegros os fundamentos da deciso agravada, nego provimento ao agravo regimental.

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 332.798-RS (2001.0086365-0) Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha Agravante: Banco do Brasil S/A Advogado: Patrcia Netto Leo e outros Agravado: Suitasa Agropecuria Comrcio Indstria e Representaes Ltda. e outros Advogado: Neri Perin e outro

EMENTA Agravo em recurso especial. Crdito comercial. Juros. Limitao. Ausncia de autorizao do CMN. Afastamento da mora. Taxas abusivas e ilegais. TBF. ndice de correo monetria. Impossibilidade. Agravo desprovido. - Inexistente nos autos a prvia autorizao do CMN para a cobrana de juros remuneratrios acima do limite legal, em valor certo e especificado para as cdulas de crdito comercial, como no caso, ficam os mesmos adstritos taxa de 12% ao ano. - A ausncia de mora, decorrente da cobrana de taxas abusivas e ilegais, exclui a cobrana da multa e dos juros moratrios. - A Taxa Bsica Financeira no pode ser usada como ndice de correo monetria. - Subsistentes os fundamentos do decisrio agravado, nega-se provimento ao agravo. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Jnior, Slvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.40

SMULAS - PRECEDENTES

Braslia (DF), 11 de dezembro 2001 (data do julgamento). Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente e RelatorDJ 22.04.2002

RELATRIO O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Agravo contra deciso por mim proferida em conformidade com o autorizativo inserto no artigo 557 do Cdigo de Processo Civil, com a redao da Lei n. 9.756/1998, na qual neguei seguimento a recurso especial, para manter o aresto que limitou os juros remuneratrios em 12% ao ano, excluiu os juros de mora e a multa moratria e proibiu a correo monetria pela TBF e a cobrana da comisso de permanncia, nos seguintes termos:No que tange aos juros remuneratrios, as Turmas integrantes da Segunda Seo vm perfilhando o entendimento, com base no disposto no art. 5, da Lei n. 6.840/1980, combinado com o art. 5, do Decreto-Lei n. 413/1969, de que as cdulas de crdito comercial ou industrial, no pertinente aos juros, tm a mesma disciplina de cdula de crdito rural, sendo-lhes, portanto, aplicvel a limitao de 12% ao ano para os juros remuneratrios, salvo prvia fixao pelo CMN dos juros a serem praticados, em valor certo e especificado para as cdulas de crdito comercial ou industrial, o que no ocorreu na hiptese, sendo insuficiente a invocao da genrica Resoluo n. 1.064-Bacen. A propsito, os REsps n. 132.574-RS, Relator o eminente Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 05.04.1999 e n. 181.051-RS, Relator o eminente Ministro Barros Monteiro, DJ de 14.12.1998. Em relao excluso da multa e dos juros moratrios pela ausncia de mora decorrente da cobrana de taxas abusivas e ilegais, a Quarta Turma j decidiu no sentido de que Mora somente existe quando o atraso resultar de fato imputvel ao devedor (art. 963 do Cdigo Civil). Se a exigncia do credor abusiva, e portanto ilegtima, o devedor que no paga o que lhe est sendo indevidamente cobrado no incide em mora, pois pode reter o pagamento enquanto no lhe for dada quitao regular (REsp n. 150.099-MG, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 08.06.1998). No que tange pretenso de cobrar comisso de permanncia no caso de inadimplemento, este Tribunal fixou o entendimento de que clusula acerca de inadimplemento de nota de crdito comercial deve observar o Decreto-Lei n. 413/1969, que prev a incidncia, no mximo, de juros moratrios taxa de 1% a. a., mais multa contratual, sendo ilegal a previso de aplicao de qualquerRSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 41

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outra taxa, comisso de permanncia ou encargo, tendente a burlar o referido diploma legal. Nesse sentido, os REsps n. 89.294-SP, Rel. o em. Ministro Nilson Naves, DJ 19.08.1996 e n. 122.330-RS, Rel. o em. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 10.11.1997. Por sua vez, a Taxa Bsica Financeira, instituda pela MP n. 1.053/1995, no pode ser usada como ndice de correo monetria, para correo dos dbitos bancrios, ainda que pactuada, pois foi instituda para ser utilizada exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, de prazo de durao igual ou superior a sessenta dias, refletindo os custos de captao do dinheiro no mercado, traduzindo-se, portanto, em verdadeira taxa de juros remuneratrios do capital, camuflada em simples correo monetria. Confira-se, a propsito o REsp n. 252.940-MS, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado no dia 28.08.2001. Diante de tais pressupostos, autorizado pelo artigos 557 do Cdigo de Processo Civil, com a redao da Lei n. 9.756/1998, nego seguimento ao recurso.

O Banco do Brasil S/A ops os presentes embargos de declarao, sustentando, relativamente aos juros, que a Lei de Usura no vige para as instituies financeiras, bem como que a Lei n. 4.595/1964 foi recepcionada com fora de lei complementar e que se desprezou o art. 192, 3, da CF. Quanto aos encargos moratrios, aduz que a cobrana acima dos limites entendidos por legais no afasta a liquidez e certeza da dvida e, por fim, no tocante TBF aduz que foi pactuada e no h qualquer bice que impea a sua contratao e que deve ser admitida por ser similar TR. o relatrio. VOTO O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): O presente agravo no procede, em absoluto. No que tange limitao da taxa de juros em 12% ao ano na cdula de crdito comercial, a controvrsia traz a exame quatro diplomas legais, a saber: o Decreto n. 22.626/1933 (art. 1), a chamada Lei de Usura; a Lei n. 4.595/1964, a denominada Lei da Reforma Bancria; a Lei n. 6.840/1980, que dispe sobre ttulos de crdito comercial; e o Decreto-Lei n. 413/1969 (art. 5), que regula os ttulos de crdito industrial, mas que se aplica queles outros ttulos.42

SMULAS - PRECEDENTES

O Decreto n. 22.626/1933, como de curial sabena, estabeleceu, no seu art. 1, ser vedado, e ser punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal de 6% a.a. A norma inserta em tal dispositivo, contudo, com o advento da Lei n. 4.595/1964, deixou de jactar-se nas operaes financeiras procedidas pelas instituies de crdito integrantes do Sistema Financeiro Nacional controladas pelo Conselho Monetrio Nacional, conforme, alis, a orientao sumulada do Supremo Tribunal Federal, nos termos do Enunciado n. 596, uma vez que, em face do disposto no art. 4, IX, passou a competir ao Conselho Monetrio Nacional limitar, sempre que necessrio as taxas de juros, descontos, comisses e qualquer outra forma de remunerao de operaes e servios bancrios ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da Repblica do Brasil, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos, que indica. Com efeito, a partir da, deixou de prevalecer o limite genrico do velho Decreto n. 22.626, pelo que as taxas de juros ficaram liberadas para serem livremente estabelecidas, em um primeiro momento, pelas foras do mercado, mas sempre sob a tutela do Conselho Monetrio Nacional, pelo poder que lhe foi conferido para limit-las, como rgo competente para formular a poltica da moeda e do crdito, objetivando o progresso econmico e social do Pas (art. 2, da Lei n. 4.595/1964). Vale dizer: as instituies financeiras passaram, desde ento, a indicar livremente as taxas de juros a serem estabelecidas nas suas operaes do dia-adia, sem se sujeitarem ao limite imposto pelo Decreto n. 22.626/1933. Contudo, conferiu-se ao Conselho Monetrio Nacional o poder de, a qualquer momento, como rgo formulador da poltica da moeda e do crdito, limitar, isto , estabelecer o teto mximo, das taxas de juros a serem praticadas. Acontece, todavia, que veio a lume o Decreto-Lei n. 167/1967, cuidando especificamente das operaes de crdito rural, que, pela importncia desse setor na economia nacional, despertou a necessidade de ter um regulamento prprio, tanto que foi exaustivo nas suas previses. E no seu art. 5 ficou dito que as importncias fornecidas pelo financiador vencero juros s taxas que o Conselho Monetrio Nacional fixar. Com isso, a meu sentir, pretendeu o legislador dar ao crdito rural um tratamento diferenciado, retirando-o do foco de incidncia da Lei n. 4.595/1964. E o fez, certamente, por perceber que a voracidade com que certa parcela do Sistema Financeiro se deixava tocar, insaciavelmente, ao estabelecer jurosRSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 43

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extorsivos, que no se coadunava com o tratamento diferenciado e estimulante que imperiosamente se deveria e deve conferir atividade rural. No fosse essa a inteno legislativa, e se esse novo diploma legal no tivesse o condo de excluir o emprstimo rural do campo de incidncia genrico dos juros liberados (para o Sistema Financeiro) estabelecido pela Lei n. 4.595/1964, seria incua a insero da expresso s taxas que o Conselho Monetrio fixar, pois que as taxas do emprstimo rural j estariam tambm sob a regncia do art. 4, IX, da Lei n. 4.595/1964, como antes do Decreto-Lei n. 167 se encontravam. Sendo assim, em princpio, as taxas de juros referentes ao crdito rural sero as de que trata o Decreto n. 22.626/1933, aplicvel analogicamente ao caso concreto, sendo indispensvel na hiptese a fixao pelo Conselho Monetrio Nacional de outra taxa de juros. Omitindo-se o referido rgo governamental na fixao dos juros a serem praticados, em valor certo e especificado para as cdulas de crdito rural, prevalece a limitao de 12% ao ano. Tal entendimento foi vencedor, com a minha modesta participao ao proferir voto-desempate, na egrgia Segunda Seo no julgamento do REsp n. 111.881-RS, (Relator o eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, in D.J. de 16.02.1998), cuja ementa transcrevo, no que relevante:Crdito rural. Taxa de juros. Correo monetria no ms de maro/1990. Precedentes da Corte. 1. O Decreto-Lei n. 167/1967, art. 5, posterior Lei n. 4.595/1964 e especfico para as cdulas de crdito rural, confere ao Conselho Monetrio Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados. Ante a eventual omisso desse rgo governamental, incide a limitao de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), no alcanando a cdula de crdito rural o entendimento jurisprudencial consolidado na Smula n. 596-STF. (... omissis ...) 3. Recurso especial no conhecido.

Aliceradas nessas mesmas premissas, ambas as Turmas integrantes da Segunda Seo deste Tribunal vm perfilhando o entendimento, com base no disposto no art. 5, da Lei n. 6.840/1980, combinado com o art. 5, do DecretoLei n. 413/1969, de que as cdulas de crdito comercial ou industrial, no pertinente aos juros, tm a mesma disciplina de cdula de crdito rural, sendolhes, portanto, aplicvel a limitao de 12% ao ano para os juros remuneratrios, salvo prvia fixao pelo CMN dos juros a serem praticados, em valor certo e especificado para as cdulas de crdito comercial ou industrial. A propsito, os seguintes acrdos, cujas ementas transcrevo, no que interessa:44

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Crdito comercial. Taxa de juros. Limitao. Autorizao do Conselho Monetrio Nacional. Capitalizao mensal dos juros. I - O art. 5, da Lei n. 6.840/1980, combinado com o art. 5, do Decreto-Lei n. 413/1969, posterior Lei n. 4.595/1964 e especfico para as cdulas de crdito comercial, confere ao Conselho Monetrio Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados. Ante a eventual omisso desse rgo governamental, incide a limitao de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), no alcanando a cdula de crdito comercial o entendimento jurisprudencial consolidado na Smula n. 596-STF. Precedente da Corte. (... omissis ...) (REsp n. 132.574-RS, Relator o eminente Ministro Waldemar Zveiter, in DJ 05.04.1999) Cdula de crdito comercial. Taxa de juros. Limitao. A cdula de crdito comercial, no tocante limitao dos juros, tem a mesma disciplina da cdula de crdito rural (art. 5 da Lei n. 6.840, de 03.01.1980, c.c. o art. 5 do Dec. Lei n. 413, de 09.01.1969). mngua de fixao pelo Conselho Monetrio Nacional, incide a limitao de 12% ao ano prevista no Dec. n. 22.626/1933 (Lei de Usura). Precedentes da 2 Seo e da C. Terceira Turma. Recurso especial no conhecido. (REsp n. 181.051-RS, Relator o eminente Ministro Barros Monteiro, in DJ 14.12.1998).

Destarte aplicvel na hiptese dos autos a Lei de Usura, sendo necessria autorizao do CMN para se cobrar juros acima dos 12% ao ano, por tratarse de atividade incentivada, que tem regramento prprio, qual seja, a Lei n. 6.840/1980 e o Decreto-Lei n. 413/1969. Em relao excluso da multa e dos juros moratrios pela ausncia de mora decorrente da cobrana de taxas abusivas e ilegais, a Quarta Turma j decidiu, no precedente j citado, no sentido de que Mora somente existe quando o atraso resultar de fato imputvel ao devedor (art. 963 do Cdigo Civil). Se a exigncia do credor abusiva, e portanto ilegtima, o devedor que no paga o que lhe est sendo indevidamente cobrado no incide em mora, pois pode reter o pagamento enquanto no lhe for dada quitao regular (REsp n. 150.099-MG, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 08.06.1998). Registro que a cobrana de encargos acima dos limites entendidos por legais, apesar de no retirar a executividade do ttulo, afasta a mora, segundo orientao desta Turma. Quanto Taxa Bsica Financeira, instituda pela MP n. 1.053/1995, repito que no pode ser usada como ndice de correo monetria, para correo dos dbitos bancrios, ainda que pactuada, pois foi instituda para ser utilizadaRSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 45

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exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, de prazo de durao igual ou superior a sessenta dias, refletindo os custos de captao do dinheiro no mercado, traduzindo-se, portanto, em verdadeira taxa de juros remuneratrios do capital, camuflada em simples correo monetria. A questo foi amplamente debatida no citado REsp n. 252.940-MS, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado no dia 28.08.2001, prevalecendo o entendimento da impossibilidade de utilizao da TBF para a correo monetria da dvida, mesmo que pactuada e a despeito do entendimento desta Corte acerca da TR. Quanto assertiva de violao ao artigo 192, 3, da CF e de recepo pela Carta Magna da Lei n. 4.595/1964 como lei de natureza complementar, verifica-se que o agravo regimental tirado de recurso especial no se presta para invocar novas questes de ndole constitucional com o fito de acesso instncia suprema, razo pela qual no merece acolhida tambm nesse aspecto. Assim, reitero integralmente as razes do decisrio hostilizado e nego provimento ao agravo.

EMBARGOS DE DECLARAO NO RECURSO ESPECIAL N. 213.982-RS (99.0041546-9) Relator: Ministro Antnio de Pdua Ribeiro Embargante: Banco do Brasil S/A Advogados: Luiz Antnio Borges Teixeira e outros Embargados: Rui Schuster e outros Advogados: Antnio Nelson Nascimento e outro

EMENTA Processo Civil. Embargos de declarao. Recurso especial. TBF. Correo monetria.46

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I - A TBF foi instituda para ser utilizada exclusivamente como base de remunerao e no como encargo moratrio. II - Embargos de declarao conhecidos, mas rejeitados. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que so partes as acima indicadas. Decide a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas anexas, por unanimidade, rejeitar os embargos de declarao nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito e Nancy Andrighi. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler. Braslia (DF), 19 de maro de 2001 (data do julgamento). Ministro Antnio de Pdua Ribeiro, Presidente e RelatorDJ 30.04.2001

RELATRIO O Sr. Ministro Antnio de Pdua Ribeiro: Trata-se de embargos de declarao interpostos contra acrdo de relatoria do eminente Ministro Nilson Naves ementado nos seguintes termos:Contrato de abertura de crdito. Embargos do devedor. Comisso de permanncia. Juros. Embargos de declarao (multa). 1. Em lugar da correo monetria, admite-se a cobrana da comisso de permanncia, desde que pactuada. Precedente da 3 Turma do STJ: REsp n. 172.243, DJ de 28.02.2000. 2. No se aplica o limite do Decreto n. 22.626/1933, quanto s operaes realizadas por instituies bancrias. Duplo fundamento: constitucional e infraconstitucional. Caso em que a Turma afastou o fundamento infraconstitucional. 3. Embargos de declarao manifestados com notrio propsito de prequestionamento no tm carter protelatrio (Smula n. 98). Portanto, injustificvel a aplicao da multa. 4. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido (fl. 171).RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 47

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Aduz o embargante que, apesar de ter suscitado nas razes do especial matria atinente a possibilidade de contratao da TBF como indexador da correo do dbito, o aresto incorreu em omisso ao no apreciar o tema. o relatrio. VOTO O Sr. Ministro Antnio de Pdua Ribeiro (Relator): De fato, omitiu-se o acrdo recorrido em apreciar o tema referente substituio da TBF pelo IGP-M como ndice de correo monetria, tendo em vista o seu devido prequestionamento a fl. 63 e a alegao de ofensa ao art. 115 do Cdigo Civil e MP n. 1.053/1995 nas razes do especial (fl. 26-33). Dessarte, conheo dos embargos e passo a examin-los. Quanto matria atinente TBF, incabvel a pretenso do agravante, na medida que confunde remunerao do capital com a atualizao do dbito. De fato, indubitvel a existncia regular da TBF, entretanto o recorrente traz legislao (MP n. 1.053/1951 que manda a taxa ser utilizada exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro (grifo). Sabe-se que aquilo auferido por correo monetria no fruto de remunerao alguma, mas sim da prpria recomposio do capital depreciado no decurso do tempo. Assim, invocar legislao que autorize a aplicao da TBF exclusivamente sob auspcios remuneratrios no legitima seu uso com vistas correo de dbito. Ante o exposto, rejeito os embargos.

RECURSO ESPECIAL N. 252.940-MS (2000.0028220-0) Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar Recorrente: Banco do Brasil S/A Advogado: Patrcia Netto Leo e outros Recorrido: Manoel Paula de Almeida Advogado: Antnio Csar Jesuino48

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EMENTA Crdito bancrio. Contrato de abertura de crdito. Correo monetria. TBF. Comisso de permanncia. Capitalizao. Multa. - A TBF (taxa bsica financeira) foi instituda para a remunerao do capital, no podendo ser usada para a correo dos dbitos. MP n. 1.053/1995. - A comisso de permanncia, calculada por ndices fixados pelo credor, exigncia abusiva. Alm disso, no pode ser cumulada com juros e correo monetria. - A capitalizao mensal s admitida quando prevista na lei, situao em que no se encontra o contrato de abertura de crdito. - No se aplicam multa as disposies da legislao superveniente ao contrato, para a defesa do consumidor. - Recurso conhecido em parte, quanto multa, e nessa parte provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, prosseguindo no julgamento, aps o voto vista do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha, acompanhando o voto do Sr. Ministro Relator, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, vencidos em parte os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro, que lhe davam provimento em maior extenso. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Slvio de Figueiredo Teixeira votaram com o Sr. Ministro Relator. Braslia (DF), 28 de agosto de 2001 (data do julgamento). Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, RelatorDJ 18.02.2002

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RELATRIO O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: - Manoel Paula de Almeida props ao revisional de contrato de abertura de crdito fixo, cumulada com declaratria, contra o Banco do Brasil S/A, pretendendo a reviso das clusulas que determinaram a cobrana de juros remuneratrios superiores a 12% a.a. e moratrios acima de 1% a.a., bem como das referentes cobrana de comisso de permanncia e de correo monetria com base na TBF. Julgado procedente o pedido, o Banco apelou, e a eg. Terceira Turma Cvel do TJMS negou provimento ao recurso:Apelao cvel. Ao revisional de clusula contratual cumulada com declaratria. Contrato de abertura de crdito fixo. Taxa Bsica Financeira (TBF). Ilegalidade. Art. 192, pargrafo 3, da Constituio Federal. Auto-aplicabilidade. Comisso de permanncia. Invalidade. Multa contratual. 2% sobre o valor da prestao. Capitalizao mensal dos juros. Inaplicabilidade. Recurso improvido. A Taxa Bsica Financeira (TBF) imprestvel como indexador da correo monetria, porquanto a sua incidncia restringe-se remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro. O art. 192, pargrafo 3, da Constituio Federal auto-aplicvel, razo pela qual os juros moratrios no podem ser superiores a 12% ao ano. No vlida a comisso de permanncia pactuada genericamente como taxa de mercado e calculada conforme as convenincias do banco-credor. O negcio existente entre as instituies financeiras e seus clientes tambm est sujeito s disposies do Cdigo de Defesa do Consumidor, razo pela qual, a multa contratual aplicada deve ser aquela prevista neste Cdigo, ou seja, 2% sobre o valor da prestao. vedada a capitalizao de juros, ainda que expressamente convencionada. (fls. 179-180).

Inconformado, o Banco apresentou recursos extraordinrio e especial, este pelo art. 105, III, a e c, da CF. Recorre o Banco da parte do julgado que declarou a ilegalidade da correo monetria pela TBF, da comisso de permanncia e da capitalizao mensal dos juros; e, ainda, da parte em que reduziu a multa contratual a 2%. Aponta violao ao ato jurdico perfeito, Lei n. 4.595/1964, art. 4, XVII, aos arts. 81, 82, 1.262 do CCB e 5 da MP n. 1.053/1995 e Circular n. 1.129-Bacen, alm de divergncia jurisprudencial, especialmente com a Smula n. 596-STF. Cita as Leis n. 7.770/1989, n. 7.892/1989, n. 8.056/1990, n. 8.127/1990, n. 8.201/1991 e n. 8.392/1991.50

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Diz o recorrente que o ttulo encontra-se revestido dos requisitos essenciais de validade do negcio e que inexiste nulidade nas clusulas que compem o contrato, no que pertine aos encargos pactuados: a) o ndice utilizado na correo dos valores utilizados pelo autor na situao de normalidade (TBF) foi institudo atravs da MP n. 1.053/1995, mais precisamente pelo art. 5, com competncia do CMN para legislar sobre operaes financeiras; b) os encargos que atualizaram o saldo devedor na anormalidade (comisso de permanncia) foram divulgados pelo Bacen atravs da Res. n. 1.129/86, com amparo na Lei n. 4.595/1964, art. 4 XVII; c) no tocante correo pela TBF, o Tribunal a quo utilizou argumento econmico para o qual no est habilitado, alterando o ndice pactuado na correo monetria ao invs de fundamentar o r. decisum com argumento jurdico; d) comprova-se nos ttulos e inclusive nos clculos acostados que a cobrana de encargos com base na comisso de permanncia no est cumulada com nenhum outro ndice de atualizao do dbito, razo por que merece reforma a deciso a quo. Quando prevista a cobrana de comisso de permanncia, h de se perceber que no agride o Enunciado da Smula n. 30STJ. A comisso de permanncia, uma vez contratada, desde que no cumulada com outro ndice de atualizao, legal a sua exigibilidade; e) no tocante proibio da capitalizao mensal dos juros, o acrdo diverge da jurisprudncia; f ) quanto reduo da multa moratria, sustenta ser inaplicvel o Cdigo de Defesa do Consumidor, porque este no aplicado nas relaes bancrias, que ao contrrio do que afirma o r. acrdo, o ttulo exeqendo no uma nota de prestao de servio, porm um contrato firmado entre as partes de acordo com o disposto no art. 82 do CCB. Por fim, argumenta que devem ser aplicados os princpios do pacta sunt servanda e da intangibilidade do contedo dos contratos, de forma a afastar a violao que se deu ao art. 82 do CCB e CF, em seu art. 5, XXXVI. Admitidos os recursos, sem as contra-razes, vieram-me os autos. o relatrio. VOTO O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): - 1. Observo, inicialmente, que muito embora tenha o r. acrdo examinado o tema da taxa de juros, que limitou em 12%, usando, para isso, tambm de argumento infraconstitucional (faltou autorizao do CMN para a cobrana de taxas superiores legal, comRSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 51

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citao de precedentes do STJ), o banco recorrente no incluiu esse tpico no seu recurso especial. 2. A Taxa Bsica Financeira foi instituda pelo art. 5 da MP n. 1.053/1995, para ser utilizada exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, de prazo de durao igual ou superior a sessenta dias. Evidentemente, o que serve para remunerar o capital no pode ser utilizado tambm para corrigir o saldo devedor, pois para isso existem os juros. A no ser que o banco credor abra mo dos juros, a incidncia cumulada da TBF anatocismo. Alm dessa dupla incidncia, ainda deve ser dito que a correo do dbito feita para manter a equivalncia do seu real valor, por isso deve ser medida pelas taxas de desvalorizao da moeda, e no pelo lucro do capital. Reproduzo a fundamentao expendida no REsp n. 253.157-RS, de minha relatoria:5. A questo relacionada com a TBF est restrita aplicao de textos que no se definem como lei federal, da a inadmissibilidade do recurso especial. De qualquer forma, um ndice que indica o custo do dinheiro e por isso no pode ser usado para a atualizao dos dbitos. Somar a diferena obtida com a TBF aos juros significa anatocismo. A Taxa Bsica Financeira foi instituda pela MP n. 1.053, de 30.06.1995, cujo art. 5 assim disps: Fica instituda a TBF para ser utilizada exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, de prazo de durao igual ou superior a sessenta (60) dias. A mesma norma veio a ser repetida na MP n. 1.950, de 26.07.2000. Como se v, uma taxa para remunerar operaes financeiras. Tratando de regular a sua aplicao, o CMN adotou a Resoluo n. 2.172, de 30.06.1995, na qual ficou bem explcito que servia ao clculo da remunerao de depsitos bancrios: Art. 2. Os depsitos a prazo de reaplicao automtica tero por remunerao a Taxa Bsica Financeira - TBF divulgada pelo Banco Central do Brasil. Pargrafo 1. Os depsitos podero receber prmio, em funo de seu prazo de permanncia na conta, na forma acordada entre as partes. Pargrafo 2. Os depsitos tero como aniversrio o dia de abertura da conta. Pargrafo 3. Os depsitos faro jus a remunerao a cada intervalo de 3 (trs) meses.52

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E isso porque a TBF definida a partir da remunerao mensal das operaes passivas dos bancos: Art. 2 - A TBF ser calculada a partir da remunerao mensal mdia dos certificados e recibos do depsito bancrio (CDB/RDB) emitidos a taxas de mercado prefixadas, com prazo entre 30 (trinta) e 35 (trinta e cinco) dias, inclusive. (Res. n. 2.171-CMN, de 30.06.1995). Portanto, o Banco que quera cobrar a TBF sobre suas operaes ativas deve dispensar os juros. A cobrana cumulativa, penso eu, indevida.

3. A comisso de permanncia uma parcela que o banco est cobrando em razo da inadimplncia, a ser acrescida aos demais encargos de acordo com ndices variveis, a critrio do credor. Tem sido por isso considerada abusiva por decises mantidas por este STJ (REsps n. 256.109-RS, n. 230.318-RS, n. 229.073-RS, n. 219.274-RS, n. 212.724-RS e n. 256.113-RS). A capitalizao mensal somente tem sido permitida nos casos previstos em lei, entre os quais no se inclui o contrato de financiamento bancrio, na modalidade de abertura de crdito fixo.II. Nos contratos de mtuo firmados com instituies financeiras, ainda que expressamente pactuada, vedada a capitalizao mensal dos juros, somente admitida nos casos previstos em lei, hiptese diversa dos autos. Incidncia do art. 4 do Decreto n. 22.626/1933 e da Smula n. 121-STF. III. Recurso especial conhecido em parte, e provido. (REsp n. 187.499-SP, Quarta Turma, Rel. em. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 22.05.2000). II - A capitalizao dos juros somente permitida nos contratos previstos em lei, entre eles as cdulas de crdito rural, comercial e industrial, mas no para o contrato de mtuo bancrio. (REsp n. 164.526-RS, Terceira Turma, Rel. em. Min. Waldemar Zveiter, DJ 29.05.2000).

4. No que diz com a multa, o recorrente tem razo. A aplicada reduo, por fora da incidncia do Cdigo de Defesa do Consumidor, no pode ser mantida porque os contratos foram celebrados antes da vigncia do CDC e da lei posterior, que veio reduzir o percentual da multa contratual. Posto isso, conheo em parte do recurso, quanto multa, para manter a fixada no contrato. o voto.

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VOTO-VISTA O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Pedi vista dos autos para examinar exclusivamente a matria alusiva ao afastamento da chamada Taxa Bsica Financeira (TBF) prevista em contrato de abertura de crdito - Cheque Ouro, questionada em ao revisional e declaratria movida pelo correntista. As demais questes - comisso de permanncia, capitalizao dos juros e incidncia de multa - foram resolvidas com base na jurisprudncia assente desta Turma, colocando-me de logo em acordo com a soluo dada pelo ilustre relator. No tocante TBF, disse o acrdo a quo o seguinte (fls. 167-168):Da aplicao da Taxa Bsica Financeira (TBF) como ndice de correo monetria: Pretende-se a incidncia da TBF (taxa bsica financeira) como fator de correo monetria do crdito. Sobre esse ponto, colho breve trecho da Apelao Cvel n. 58.864-1, rel. Des. Hildebrando Coelho Neto, julgada em 19.05.1998, que adoto com razes de decidir: A Taxa Bsica Financeira prevista no art. 5 da Medida Provisria n. 1.053, de 30 de junho de 1995 (RT 717/535), onde se l: Fica instituda Taxa Bsica Financeira - TBF, para ser utilizada exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, de prazo de durao igual ou superior a sessenta dias. V-se, pois, que sua utilizao dar-se- de forma exclusiva como base na remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, o que evidencia seu descabimento como indexador da correo monetria em determinado perodo. Tal como Taxa Referencial (TR), que j foi declarada pelo Supremo Tribunal Federal como imprestvel para ser utilizada para ndice de correo monetria, a Taxa Bsica Financeira (TBF) no pode servir para atualizar o valor monetrio da dvida executada. A aplicao do IGPM como parmetro de correo da moeda no traz nenhum prejuzo ao credor, pois este o ndice que melhor reflete a variao do poder aquisitivo da moeda num determinado perodo, conforme atestam inmeras decises do nosso Tribunal. Tome-se como exemplo, colhidos ventura, os Acrdos n. 59.3804, n. 55.0574, n. 55.8574, n. 54.0683, n. 55.1997, n. 52.7015. Assim, afasto a argumentao do apelante no sentido de que deve ser aplicada a Taxa Bsica Referencial, como ndice de correo monetria do crdito.

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O eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, confirmando a orientao daquele Sodalcio, concluiu:2. A Taxa Bsica Financeira, foi instituda pelo art. 5 da MP n. 1.053/1995, para ser utilizada exclusivamente como base de remunerao de operaes realizadas no mercado financeiro, de prazo de durao igual ou superior a sessenta dias. Evidentemente que o que serve para remunerar o capital no pode ser utilizado tambm para corrigir o saldo devedor, pois para isso existem os juros. A no ser que o banco credor abra mo dos juros, a incidncia cumulada da TBF anatocismo. Alm dessa dupla incidncia, ainda deve ser considerado que a correo do dbito feita para manter a equivalncia do real valor do dbito, que se mede com as taxas de desvalorizao da moeda, e no pelo lucro do capital.

Discusso assemelhada j aconteceu, antes, quando da instituio da Taxa Referencial (TR) como fator de atualizao monetria. O Superior Tribunal de Justia, em inmeros precedentes, admitiu que desde que formalmente prevista no contrato assinado aps a vigncia da Lei n. 8.177/1991, pode o dbito ser atualizado pela variao da aludida taxa, servindo de exemplo os seguintes arestos:TR. Adoo como fator de correo. No h impedimento sua utilizao, quando assim convencionado. Hiptese em que estabelecido dever-se adotar o fator que viesse a ser usado para remunerao das cadernetas de poupana, que exatamente a TR (Lei n. 8.177/1991, artigo 12, I). (3a Turma, REsp n. 39.616-GO, Rel. Min. Nilson Naves, unnime, DJU de 03.06.1996). Recurso especial. Cdula rural. Correo monetria. Incidncia da TR. 1. No h violao ao art. 535, CPC quando o acrdo que desafiou os declaratrios repele as teses do embargante. 2. Quando pactuada possvel a aplicao da Taxa Referencial Diria - TRD, na linha de precedente desta Corte. 3. Recurso especial no conhecido. (3a Turma, REsp n. 71.005-MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, unnime, DJU de 09.12.1996). Crdito rural. Incidncia da correo monetria. TR. Possibilidade de ser utilizada como indexador se assim convencionado. (3a Turma, AgR-AG n. 98.455-MG, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, unnime, DJU de 10.06.1996).55

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Crdito rural. Juros. Limite. Falta de autorizao. Precedentes. TR. Aplicao para correo. Ressalva do Relator. Multa. Excluso. Recurso conhecido em parte e provido. (4 Turma, REsp n. 205.740-RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unnime, DJU de 23.08.1999). AgRg(Ag) Agravo regimental. Processual Civil. Embargos execuo. Fazenda Pblica. Agravo. Efeito suspensivo apelao. Arts. 475, II e 520, V, ambos do CPC. Precedentes. Jurisprudncia unssona das turmas integrantes da Terceira Seo. 1 - Conforme unssona jurisprudncia das Turmas integrantes da Terceira Seo: de rigor o recebimento da apelao interposta contra sentena que julgou improcedente embargos execuo apenas em seu efeito devolutivo, ex vi do art. 520, V, do CPC, prosseguindo-se a execuo provisria contra a Fazenda Pblica nos termos do art. 730. Precedentes: REsp n. 226.228-RS, DJ 28.02.2000, REsp n. 233.695-SC, DJ 21.02.2000. 2 - Agravo regimental desprovido. (5 Turma, AgR-AG n. 246.332-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, unnime, DJU de 09.10.2000). Direito e Processo Civil. Ao de repetio de indbito. Cdulas de crdito rural. Correo monetria. Alegao da violao dos arts. 965 CC, 1., 2., 515 e 535 CPC, 10 da Lei n. 7.827/1989 e 11 da Lei n. 8.177/1991. FNE - Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste. Unanimidade quanto a inocorrncia de ofensa ao dispositivo do Cdigo Civil e s normas processuais. Recurso provido, por maioria, por vulnerao da legislao especial e dissdio com o Enunciado n. 16 da Smula STJ. I - A correo monetria, que o Tribunal tem afirmado constituir imperativos econmico, jurdico e tico, incide nas operaes de financiamento com recursos do FNE, em face do disposto na Lei n. 7.827/1989. A demais, neg-la, sobretudo em perodo de inflao acentuada, ensejaria enriquecimento indevido, que o direito repudia. II - A Lei n. 8.177/1991, sob cujo imprio foi firmado o ajuste, - embora tenha vedado a pactuao, nos contratos referidos em seu art. 6, com durao inferior a um ano, de indexador calcado em variao de preos -, preservou a possibilidade de estabelecer-se salvaguarda contra a desvalorizao da moeda. III - A TR, na dico do Supremo Tribunal Federal, no serve como substituto do ndice constante de contrato, por no ser indicador puro de correo monetria, haja vista incluir taxa de remunerao no seu clculo, no servindo, tambm, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer dbito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situaes em que h norma obrigando a adoo de um indexador especfico ou ento proibindo a sua utilizao.

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SMULAS - PRECEDENTES

IV - O Superior Tribunal de Justia, na esteira dessa orientao firmada pela Suprema Corte, j assentou a valia da TR como ndice, quando eleito pelas partes contratantes. V - Tendo o acrdo local se arrimado em dois fundamentos, um dos quais relativos a no-incidncia da correo monetria no crdito rural, caracterizado restou o dissdio com o Enunciado n. 16 da jurisprudncia sumulada do Tribunal. (4a Turma, REsp n. 55.277-RS, Relator para Acrdo Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, por maioria, DJU de 1.07.1996). Comercial. Reviso. Cdula de crdito industrial. Correo monetria. TR. Previso contratual. Incidncia. Juros na inadimplncia. Limites I - No h vedao legal para utilizao da TR como indexador de cdula de crdito industrial, desde que livremente pactuada. II - Havendo inadimplncia, admite-se a elevao da taxa de juros em apenas 1%. III. Recurso especial conhecido em parte, e parcialmente provido. (4a Turma, REsp n. 259.596-GO, Relator Min. Aldir Passarinho Junior, unnime, DJU de 30.10.2000).

A posio do ilustre relator, tambm em alguns desses precedentes, era de ressalva. No julgamento do REsp n. 205.74-RS, S. Exa. afirmou, verbis:4. A utilizao da TR para a correo de financiamentos contratados depois da edio da Lei n. 8.177/1991 tem sido admitida nesta Quarta Turma, tese que deve ser reiterada no presente recurso. Ressalvo a posio pessoal, pois entendo que uma taxa que serve para medir o custo do dinheiro no pode, de nenhum modo, servir para calcular a atualizao do valor do dbito, concluso cujo acerto cada vez mais se evidencia, medida que diminui sensivelmente a inflao e o custo do dinheiro cada vez mais se eleva; cobrar juros - que o custo do dinheiro - e, ainda, atualizar o saldo por ndice que mediu o custo do dinheiro cobrar juros duas vezes, alm de corrigir o valor da dvida por ndice que no se limita a refletir a inflao.

Verifico que, basicamente, a argumentao restritiva se repete. A Taxa Referencial - TR foi instituda pela Medida Provisria n. 294/1991, convertida na Lei n. 8.177/1991, nos seguintes termos:Art. 1. O Banco Central do Brasil divulgar Taxa Referencial - TR, calculada a partir de remunerao mensal mdia lquida de impostos, dos depsitos a prazo57

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fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos mltiplos com carteira comercial ou de investimentos, Caixas Econmicas, ou dos Ttulos Pblicos Federais, Estaduais e Municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetrio Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao Senado Federal.

J a Taxa Bsica Financeira foi citada pela Medida Provisria n. 1.053, de 30.06.1995, que incumbiu o Conselho Monetrio Nacional de expedir as instrues necessrias apurao da sua base de clculo. O Conselho Monetrio Nacional, ento, na sesso de 30.06.1995, deu cumprimento ao pr-falado art. 5, e, por intermdio da Resoluo n. 2.171, tambm de 30.06.1995, do Bacen, estabeleceu:Art. 1. Para fins de clculo da Taxa Bsica Financeira - TBF de que trata o art. 5, da Medida Provisria n. 1.053, de 30.06.1995, ser constituda amostra das 30 (trinta) maiores instituies financeiras do pas, assim consideradas em funo do volume de captao de depsitos a prazo, dentre bancos mltiplos com carteria comercial ou de investimento, bancos comerciais, bancos de investimento e Caixas Econmicas. (...) Art. 2. A TBF ser calculada a partir da remunerao mensal mdia dos certificados e recibos de depsito bancrio (CDB/RDB) emitidos a taxas de mercado prefixadas, com prazo entre 30 (trinta) dias e 35 (trinta e cinco) dias, inclusive.

Do cotejo entre as normas legais e regulamentares que criaram tanto a TR como a TBF, constata-se que ambas buscam a remunerao do capital ou dinheiro, variando, apenas, quanto forma de apurao. So, em essncia, a mesma coisa. Destarte, se assim , no vejo razo para no se aplicar, tambm Taxa Bsica Financeira, o mesmo tratamento que o Superior Tribunal de Justia, em sua pacfica jurisprudncia, vem dando TR, para admitir aquela primeira como vlida, quando prevista no contrato celebrado entre as partes. Ante o exposto, com a mxima vnia do eminente relator, conheo em parte do recurso, para dar-lhe provimento, porm em maior extenso, para determinar a aplicao da TBF ao contrato. como voto.58

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VOTO O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, rogo vnia a V. Ex. e ao Sr. Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira para acompanhar o voto divergente do Sr. Ministro Aldir Passarinho Jnior. E o fao na linha dos precedentes desta Corte em torno da aplicao da Taxa Referencial, conhecida TR. Penso que a TR, como j salientado pelo Sr. Ministro Aldir Passarinho Jnior, tem a mesma natureza da Taxa Bsica Financeira, a TBF, que foi instituda pela Medida Provisria n. 1.053/1995. No caso, penso que no h cumulao de cobrana de juros, uma vez que a TBF foi pactuada como fator de atualizao. E em face dessas circunstncias e da pactuao expressa, penso que se aplica o mesmo entendimento dado por esta Corte em relao TR, ou seja, desde que haja conveno, a TBF funciona como fator de atualizao, como indexador, sendo possvel assim a cobrana dos juros contratuais. Conheo em parte do recurso para dar-lhe provimento. VOTO O Sr. Minist