stigar, robson. Ética e justiça para paul ricoeur.pdf

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76 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 9, Edição 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Brasília, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. ÉTICA E JUSTIÇA PARA PAUL RICOEUR ETHICS AND JUSTICE FOR PAUL RICOEUR STIGAR, Robson 1 RUTHES, Vanessa Roberta Massambani 2 RESUMO O presente artigo pretende em linhas gerais, promover uma breve reflexão sobre o conceito de ética e justiça para o filosofo Paul Rocoeur, apresentando a sua relação epistemológica entre elas e ontológica com a finitude humana. Palavras-Chave: Ética; Finitude; Justiça. ABSTRACT This article seeks to broadly promote a brief reflection on the concept of ethics and justice for the philosopher Paul Rocoeur, presenting their epistemological and ontological relationship between them with human finitude. Keywords: Ethics; Finitude; Justice. 1 Licenciado em Ciências Religiosas; Licenciado em Filosofia; Bacharel em Teologia; Aperfeiçoamento em Sociologia Politica; Especialização em História do Brasil; Especialização em Ensino Religioso; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em Educação, Tecnologia e Sociedade; Especialização em Catequetica; Especialização em Filosofia; MBA em Gestão Educacional; Mestre em Ciências da Religião. Professor de Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso. Email: [email protected]. Endereço para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/4543373733309169 2 Graduada em Filosofia, Especialista em Bioética e Espiritualidade, Mestre em Teologia, com ênfase em bioética. Atualmente desenvolve sua pesquisa na área da Teologia, buscando estabelecer correlações entre Bioética, Filosofia e Teologia tendo como principal foco a área da saúde e os processos de humanização. Email: [email protected]. Endereço para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/6496506577875164.

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76 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. TICA E JUSTIA PARA PAUL RICOEUR ETHI CS AND J USTI CE FOR PAUL RI COEUR STIGAR, Robson1 RUTHES, Vanessa Roberta Massambani2 RESUMO O presente artigo pretende em linhas gerais, promover uma breve reflexo sobre o conceito de tica e justia para o filosofo Paul Rocoeur, apresentando a sua relao epistemolgica entre elas e ontolgica com a finitude humana. Palavras-Chave: tica; Finitude; Justia. ABSTRACT This article seeks to broadly promote a brief reflection on the concept of ethics and justice for thephilosopherPaulRocoeur,presentingtheirepistemologicalandontologicalrelationship between them with human finitude.Keywords: Ethics; Finitude; Justice.

1LicenciadoemCinciasReligiosas;LicenciadoemFilosofia;BacharelemTeologia;AperfeioamentoemSociologia Politica;EspecializaoemHistriadoBrasil;EspecializaoemEnsinoReligioso;EspecializaoemPsicopedagogia; EspecializaoemEducao,TecnologiaeSociedade;EspecializaoemCatequetica;EspecializaoemFilosofia;MBA emGestoEducacional;MestreemCinciasdaReligio.ProfessordeFilosofia,SociologiaeEnsinoReligioso.Email: [email protected]. Endereo para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/4543373733309169 2GraduadaemFilosofia,EspecialistaemBioticaeEspiritualidade,MestreemTeologia,comnfaseembiotica. AtualmentedesenvolvesuapesquisanareadaTeologia,buscandoestabelecercorrelaesentreBiotica,Filosofiae Teologia tendo como principal foco a rea da sade e os processos de humanizao.Email: [email protected] para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/6496506577875164.77 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. Consideraes iniciais Olegadodeixadopelopensamento filosficodePaulRicoeuratualmente referncianoquedizrespeitos investigaesdasdiversascincias humanas,sobretudonopensamentotico filosfico contemporneo.Ofilsofofrancs(Valncia,1913-2005)consagrouseupensamento atravessando diversas linhas de pensamento presentes na filosofia contempornea; desse modo,suaobraperpassaoscamposda fenomenologia,dahermenutica,da linguagemedatica,quepoderamos considerarcomoseupontodepartidaede chegada. O Pensamento Ontolgico Seupensamentoconstituiua ontologiadeumserhumanointerpelado pelafinitudeexistencialquedeseja vivenciarumaexistnciarealizada, plenificada,nafinalidadedeconstituir-se um ser humano capaz; porm, isso acontece somente mediante o conhecimento de quem ele prprio , de si mesmo. O conhecimento de si, se aprofundado gerasuspeitaeaconscincianoto exataquantaaoquedefatoconstituioser. Ricoeurpropeumlongocaminhoaser percorrido onde o exame de si assume uma posturaepistmica,umaidentidade, caracterizada como identidade narrativa.O sujeito que narra a si prprio, a sua existncia,realizaaomesmotempouma interpretaodesimesmocomodooutro; nistoficaevidenteaimportnciado reconhecimento histrico e da hermenutica comomtodosparatalempreitada ontolgica. Oexercciodoconhecerrevelauma dialticacomaalteridade,porm,uma alteridadequetememvistanosomenteo outroenquantooutrem,masumoutroque soueuequeviveemmim.Sendoassim umdesafioontolgicoemetafisicoque requer muita humildade intelectual. Estarelaodialticaehermenutica trazemsiamediaodalinguagem,da psicanlise,dasnarrativashistricasede fico, enfim um sujeito que l sua vida e a narra,conseqentementeavaliandosua ao,oquefundamentoparaumaatitude tica diante da problemtica exposta. A abordagem tica AabordagemticaemRicoeur abrange todo o percurso de seu pensamento, sejaelajlogodeincio,ondeseus primeirosestudosdebruaram-sena compreenso da vontade humana atravs da dialtica entre liberdade e natureza, seja nas implicaesticasdanarrativadesi-mesmo,bemcomonaconsumaodeum agirticopautadopelaestimaepelo respeitodesi-mesmocomoumoutroedo outro como um si-mesmo.Assim,aabordagemaqualiremos nosdeterdizrespeitosreflexestico-moraispresentesemsuaobraOSi-mesmo como um outro3.NumolharpanormicodeOSi-mesmocomoumoutroficaevidenteque Ricoeurdeixasuaabordagemticaparao fimdaobra,antesdisto,definidoaquilo quealgunschamarodeenraizamento antropolgico,atuandonoexameda linguagem,daaoedanarrao;assima abordagemticapropriamentedita aparecernoscaptulosVII,VIIIeIXda obra. PaulRicoeuriniciasuareflexo fazendoumadistinoentreospredicados: bomeobrigatrio,ondeoprimeirofaz

3 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, 1991. 78 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. refernciaintenoticaretomandoa tradioteleolgicadirecionando-sea Aristteles,ondeento,ocorreaexigncia deumavidavirtuosanopropsitoda felicidade.J o segundo predicado nos transporta aKant,tradiodeontolgicaondetem vezoagirmoralesuauniversalizao. Dessamaneira,agrossomodo,oconceito de bom remeter-se- estima de si e o de obrigatrioaorespeitodesi.Ricoeur acredita que h uma relao recproca entre estas duas dimenses.Assim sendo, num primeiro momento temosaquiloqueconsideradooprimado daticasobreamoral(Aristteles);no segundomomentosurgeanecessidadeda moralvalidaraquiloqueconsiderado tico(Kant);eporfimumaespciede retornoticaemcasosnecessrios, situaes singulares onde somente o recurso moralnosejatotalmenteaplicvel, retornandointenoticaedandolugar phronsis,comosoluo,ouseja,a capacidadedeagirdemodoprudentee conveniente frente a estas situaes.Estecaminhotrilhadodsentido constituiodaquiloquedenominado pequenatica,aregradeourode Ricoeur:Viveravidaboa,comeparaos outros,eminstituiesjustas caracterizandoosmomentosacima mencionados.Atradioteleolgicatemseu fundamentoemAristteles,consideradoo primeiroasistematizaraticacomouma cincia(dasvirtudes),sendoqueem Ricoeurestatradioapareceentocomo um horizonte vida tica.Oeudaimonismoaristotlico caracterizado pela busca da Felicidade e do Bemcomofinsltimospressupeopapel fundamentaldaboaao,obemagir intencionandoumavidaboa,umbem viver, conseqncias de uma vida virtuosa, ou seja, guiada pela tica e pela justia. Nestaintenotemospresentea estimadesi,quenaperspectivaticado nossofilsofoestimadesieestimado outro,umdesdobramentoemvistada solicitudeedasolidariedadeembuscada benevolncia presentes no Ente de cada Ser. Aristtelesquandotratadaamizade comoumavirtudeafirmaque:ohomem virtuosoparaoseuamigotalcomo parasiprprio(porquantooamigoum outroeu) 4Ouseja,decertomodo, vemos j o transparecerda solicitude, e em Aristtelesdestacandooconceitode amizade,aquiloquesoacomojustiae igualdadeemconsideraosrelaesde alteridade,pois,comodeclaraRicoeurem relaoamizade:elalevaaoprimeiro plano a problemtica da reciprocidade. 5

Aintenoticaestassociadaao reconhecimento do outro, no somente pelo fatodequeasrelaesdeamizadeso coisasnecessriasvida,maspelofatode que da emergem conceitos to importantes vivnciaticanaatualidade,sejameleso respeito,aconsiderao,oteremcontaa dignidadedooutroenquantoserhumano insubstituvel, etc.Dessaforma,nosepodeterestima de si, sem ter em vista o outro, assim sendo oquedevepredominaroprincpiode similitude.Taisconceitosnosremetemjao campodasinstituies,enocaso,uma vivnciaeminstituiesjustasoqueno fundonosremeteaoethosemseusentido original.Assim, o viver-bem no se limita s relaesinterpessoais,masestende-se vida das instituies. 6 A vivncia justa de umsujeitoparacomooutroimplicana possvelvivnciajustadotodoondea dimensopolticaganhapesoepor conseqncia o poder. A Justia Oconceitodejustiaganhadestaque

4 ARISTTELES, tica a Nicmaco. So Paulo: Abril Cultural, IX, 9, 1170 B, 5, 1973. 5 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, p.215, 1991. 6 Idem, p.227. 79 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. nasinstituieseRicoeuroabordanesta perspectivateleolgica,reconhecendoque primeiramenteoquesefazsentirsentido dainjustia.Noentanto,valeretomar Aristtelesqueconsideraajustiacomoa principaldasvirtudes,ondeelenosmostra omodelodejustiadistributivaaqualse encarrega da comunidade poltica.Assim sendo, para Ricoeur o conceito dejustiaestligadoaoconceitode igualdade no plano das instituies e isto de certomodosacramentaaquesto.A igualdade,dequalquermaneiraquea modulemos,paraavidanasinstituies aquiloqueasolicitudenasrelaes interpessoais. .

Osegundomomentodasreflexes ticasadentraaopensamentokantianoe consequentementetradiodeontolgica, onde aparece com intensidade o domnio da moral. Aqui ocorre o momento onde a viso tica passa pelo crivo da moral, da norma.Consistenumaavaliaogeraldo imperativocategricokantianoondepode servistoaimportnciadosconceitosde universalizao, de respeito e de autonomia, bemcomo,odehumanidade.Assim, apareceavida-boacomoobrigao,a solicitudecomonormaeajustiacomo princpios de justia.Aintenodavida-boaressoaem Kantcomoboavontade,ouseja,obem nadamaisdoqueboavontade,obem comodesignaodavontade;decerto modo,mantendoaindatraosdatradio teleolgica. Aquilo que serve como impulso vida tica para Kant a vontade, que tem comobasealiberdade,condioprimeira para qualquer ao moral.Aboavontade,naterminologia kantiana boa pelo querer em si. A nosso ver,oqueRicoeurpropeaquiqueda mesmaformaquenatradioticaquea vidaboaassumasignificncia,tambm namoralelaaparece:Ora,seaticase manifestaparaouniversalismoatravsde algunstraosqueacabamosdelembrar,a obrigaomoraltambmnoexistesem ligaes na perspectiva da vida boa 7. A boa vontade universal e aqui se tornaobrigao,umaaorealizadapor dever;ouseja,osujeitopensaasuaao comoalgouniversalizvel,aquiloque bomecorretoparamimdeveserparaos demais. Isso sustenta o imperativo ao passo queimplicanoconceitodehumanidade, reconhecerahumanidadedooutro,t-lo como fim e no como um meio. Diantedasinclinaes,do constrangimento(segundoRicoeuro constrangimento aquilo o que determina a formadoimperativoquedeterminaaregra deuniversalizao) 8,avontade,aboa vontade,carecedanormaetalsentimento resultanaautolegislao,naautonomiada ao, a vontade autolegisladora.Aautonomiaadquireumpapel singularnosujeitodaao.Comoafirma Ricoeur: (...) j no somente da vontade quesetrata,masdaliberdade9A autonomiaseriaabasedoagirmoral,a verdadeiraobedincia.Dessemodo,a vontade boa sem restrio ser igualada vontadeautolegisladora,segundoo princpio supremo de autonomia. Doconceitodeautonomiarevelada anaturezadoconceitoderespeito.O respeitofunde-senorma,orespeitodeve ser norma em qualquer sociedade que tenha porprincpiosumasolicitudeemvistade valoresuniversais,ouseja,noplanoda obrigaoedaregraqueorespeito desenvolve-se,caracterizandouma estruturadialogaldatica.Revela-sej caractersticas de uma reciprocidade tica (e moral) em si mesma, de uma solicitude que tementocomoequivalentemoralo respeito.Paul Ricoeur aborda as problemticas daviolncia,apontando,oriscopresente

7 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, p.215, 1991, p.239. 8 Idem, p.243. 9 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, p.215, 1991,p.245. 80 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. nasrelaesinter-humanas,daexplorao, da violncia e o do que da se deriva,10 pois comoapontaonossofilsofoaviolncia equivalepercadaliberdadedooutro, diminuio ou destruio do poder fazer de outrem.11

Aqui tambm se d a universalizao, luzdoconceitodepessoacomofim ltimodehumanidadevemosum prolongamentodauniversalidadequeregia a autonomia. Universalizao e humanidade complementam-se,demodo,queest contidonoconceitodehumanidadea expressopluraldodesejode universalizao; o que garante tambm uma pluralidade autonomia. Talformulaocomplementa-sena passagemdosensodejustiaaos princpiosdejustia.Ricoeurconsidera instituiesasestruturasvariadasdoviver junto, que vo podemos dizer da famlia at a vivncia de uma comunidade nacional.Ajustiaestligadasinstituies comoavirtudedocidadojusto,como excelnciacentraleunificadorada existnciapessoalepoltica,presentena tradioteleolgica,comovisto anteriormente,passandopelasvirtudes morais e ticas. Oconceitotrabalhadonestaterceira parte das investigaes deontolgicas o de justiadistributiva,umamodalidadede justiadadaporAristteles,conceitoeste queocentrodaproblemticadajustia levantada aqui por Ricoeur.Resultamdestapropostade distribuioalgumasambigidades,poisa questodadistribuiotorna-se problemticaemmeiosociedadeepara solucion-lasquesefaznecessriaa anliseecontribuiodadeontologiaeda fenomenologia.

10 CESAR, Constana M. & VERGINIRES S, A Hermenutica Francesa Paul Ricoeur a Vida feliz em Aristteles e Ricoeur. Porto Alegre-RS: EDIPUCRS, 2002, p.125. 11 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, p.258, 1991. Ajustia,aindamais,deveinvestigar como so aplicados os seus princpios, deve debruar-sesobraaeqidade,enfim, tambmsobresimesmaemvistada vivncia efetivamente justa. A autonomia e o conflito Oterceiromomentodatica ricoeurianaaquelequeapontandoos riscoseconflitospresentesnuma abordagem restrita moral da obrigao, ao rigordoformalismorecorrerdimenso ticadosidandoespaoaoconceitode sabedoria prtica Phronsis.Trata-senosomentedeuma apropriaodaPhronsisaristotlica,mas simagoraenquantosuperaodeconflitos deumaPhronsisCrtica.Ouseja,a complementaonaregradeourode Ricoeur da vida boa com e para os outros e tambm nas instituies justas.AsabedoriaprticasegundoRicoeur consistenanicasadadisponvels situaesconflitantes.Diantedisso,afirma elequenosetratadeconstituiruma terceirainstncia,nemmesmouma tentativaderedimiramoraltica,ao contrrio,trate-seagoraderetornarauma ticafortalecidaeamplificadavistoque sujeita foi ao crivo da moral.Trata-seaquidaaplicaodeum juzoemsituaoondeaconvicoacaba tendomaiorimportnciaquearegra.Cair numformalismocomarfariseuuma possibilidadeemmeiossituaesque diversasvezesseapresentam,oolhar direcionadosomenteeexcessivamente regradispersaasparticularidadesdas situaes, acabam nos cegando; e isto nos dado,segundoonossofilsofo,pelo exemplotrgicodaaonamitologia grega,utilizando-sedaAntgonade Sfocles,porfimasabedoriatrgica devolveasabedoriaprticaprovado nico julgamento moral em situao.12

12 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, p.283, 1991. 81 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. A anlise de Ricoeur agora se debrua justamentesobreaaplicaodasabedoria prticaaostrsestgios,pormdemodo inverso: a instituio e o conflito; respeito e conflito e autonomia e conflito.Umprimeiroproblemanoque confereInstituioeconflitoeao pensamentodeRawlssedaindana questodajustiadistributivacomo poderiaserpossveluniversalizarvalores, ttulos, bens? Ainda mais, o conflito se dar naquestodasprioridades-noquese refereaosbenssociaisprimrios, primordiais.Comosoluo,adiscusso,odebate dasesferaspblicasganhadestaque, Ricoeurlembraqueosconflitossociais tendemaaumentardiantedasdiversidades em ascenso e no plano do debate pblico quetodosterovozevez.Oexerccioda sabedoriaprticamarcaaimportante ligao entre tica e poltica. Osegundopontoabordando:respeito econflito,mostraqueoequivalentemoral daticaatreladoaoconceitode humanidade(segundoimperativokantiano) levanta outro risco.PaulRicoeurnovamentealertaa possibilidadedetermosrespeitopelalei somenteenopelomotivoepessoaaqual elaseaplica.Aqui,nocampodaalteridade o conceito de solicitude deve ser grifado, ao passoqueestenoslevadeencontrocomo outrocomoeste,emsuasingularidade; Ouseja,oimperativocategricoproduz umamultiplicidadederegras,queo universalismopresumidodessasregras podeentraremcolisocomaspetiesda alteridade, inerentes solicitude.13 Comosoluo,asabedoriaprtica dar enfoque as singularidades, tendo como pressupostoasolicitude,conhecendoem cada caso, em cada pessoa sua real situao, emsuadignidadeinsubstituvel,oquepor vezes o formalismo no daria conta.

13 RICOEUR, PAUL. O Si-mesmo como um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, p.283, 1991.p.307. Oterceiroeltimopontoanalisado porRicoeur:autonomiaeconflito,traz comoconceitodeterminanteoderegrade ao.Vemosqueaautonomiaocritrio doagirmoral(Kant),porm,a universalizaodeumaautonomiafixada naleipodeopor-seliberdadeento necessrio que a estima tica esteja presente napropostadeuniversalidade.Estimaesta quesejacapazderegularestarelao paradoxal. Nistoconsiste,nosaqui,masao longo de todos os momentos mencionados a tentativa,porpartedonossofilsofode integrarocontextualismocomoapelo universalizaoaconstituiodeuma dialticaentreaticaejustia,objetivando um equilbrio nas relaes humanas. Apropostaqueaintenotica enquantoestimaeautonomiasejadada tambmnaesferapoltica,somenteassim ocorrerumaefetivavivnciatica-moral dos cidados e do Estado em concordncia, reconhecimento e reciprocidade. Aospoucososiinterpeladopela finitudesedesdobranoreconhecimento histricodesi,reconheceasiereconhece tambmooutroenestereconhecimento mtuo v a edificao de uma subjetividade edeumaalteridadealiceradassobrea sabedoriaquesedesdobraemfelicidade, reconhecimento,respeito,tolerncia,enfim sobre aquilo que a ele assegurar a vivncia do bem-viver. Consideraes finais Reconhecerooutro,fazerprevalecer asolicitude,aalteridadenotarefafcil emmeioaopredomniodo multiculturalismo,dasdesigualdades,da mudanadevaloresedeoutrosfenmenos atuais;porm,aonosdepararmoscoma ticaricoeuriana,emmeioao entrelaamentodavirtudeedodever caracterizadosemsuaregradeouro:Viver avida-boa,comoeparaosoutros,em instituiesjustas,parecequeencontramos uma soluo.Nestesentidoopensamentoticode 82 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613Vol. 9, Edio 16, Ano 2014. Revista Filosofia Capital RFC ISSN 1982-6613, Braslia, vol. 9, n. 16, p. 76-82, jan/dez2014. PaulRicoeurconstituiparaaatualidade, paraomundops-moderno,quesevpor vezesemmeioatantosconflitos,uma possibilidadedereflexoeao.Implcita noprojetodeumserhumanocapaz,a dimensoticadopensamentoricoeuriano entoparteconstitutivadeconhecimento e vivncia tica de si e do outro. Referncias ARISTTELES,ticaaNicmaco.So Paulo: Abril Cultural, 1973 CESAR,ConstanaM.&VERGINIRES S,AHermenuticaFrancesaPaul RicoeuraVidafelizemAristtelese Ricoeur.PortoAlegre-RS:EDIPUCRS, 2002 DAZ,GuillermoZapata.LaHermneutica PolticadePaulRicoeur.InUniversitas Philosophica59,ano29,Bogot,jul-dez 2012. GEUSS, Raymond. A dialtica e o impulso revolucionrio.In:RUSH,Fred.Teoria Crtica. Trad. Beatriz Katinsky. Aparecida: Ideias & Letras, 2008. KANT,Immanuel.Fundamentaoda MetafsicadosCostumes.Trad.Tania MariaBernKopf.In:Coleoos Pensadores.SoPaulo:AbrilCultural, 1980.RICOEUR, PAUL.O Si-mesmocomo um outro. Trad.Luci Moreira Cesar, Campinas: Papirus, 1991. ___. Emtornoaopoltico. SoPaulo: Loyola, 1995. ___. Histriaeverdade. RiodeJaneiro: Forense, 1968.