sterzi eduardo - Útil vento humano [ciberkiosk]

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01/10/12 Ciberkiosk - Ensaio 1/8 w eb.archive.org/w eb/20050309195153/http://w w w .ciberkiosk.pt/ensaios/murilosterzi.html | Livros | Ensaios | Crónicas | Media | Entrevistas | | Opinião | Artes | Espectáculos | Galeria | Ligações | Mais romance: retórica e ética Nassar par Bachelard, un exil rhétorique Alberto Sismondini Más allá del vacío y del simulacro: el compromiso ético en la obra de José Ángel Mañas y Lucía Etxeberría Jorge Pérez 8 MESES DEPOIS 11-S Fabio R. de la Flor Tektonik Pedro Serra CECÍLIA MEIRELES Poesia completa, de Cecília Meireles: a edição do centenário Antonio Carlos Secchin Crônicas de Uma Vida Valéria Lamego LITERATURA, ÉTICA & MORALIDADE Contra as cidadanias corporativas: Francisco Maciel, Bernardo Carvalho e Hilda Hilst Padua Fernandes Sobre Ética e Poesia em Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andresen Sofia Sousa e Silva Filosofia, Democracia e Educação na Utopia de Thomas More Pedro Miguel Reboredo Marques The Country Wife vs. The Country Girl: distinctive moral visions Rosa Branca Figueiredo POESIA BRASILEIRA Três Vezes Um Vilma Arêas Considerações sobre a Poesia Brasileira em fim de Século Útil vento humano Os limites do sublime em Murilo Mendes Eduardo Sterzi* O que há de mais enigmático na enigmática poesia de Murilo Mendes – e, portanto, de mais essencial – só revela seu significado, conforme argumentei num estudo mais detido e abrangente (1), à luz do conceito de sublime. Tornava-se, pois, necessário investigar de que modo Murilo Mendes transformou essa estrutura experiencial – uma espécie de paralisia extática frente a um objeto de grandeza ou força excepcionais, mas uma paralisia que, como demonstrou Kant na Crítica do juízo (Kritik der Urteilskraft ), prevê a própria anulação num instante posterior, em que as forças vitais suspendidas no momento inicial são recobradas e intensificadas – no princípio de construção de seus poemas. Ademais, eu desejava trazer à luz os imperativos éticos e estéticos que levaram Murilo a escrever uma poesia em que a categoria do sublime, identificada pela primeira vez no início da era cristã, pelo retor que conhecemos pelo nome provavelmente equívoco de Longino, e retomada no século XVIII iluminista de Burke e Kant, uma categoria que o próprio Murilo afirmava estar «fora de moda» (2), é atualizada com uma força tal que se torna o princípio unificador de sua obra, impedindo-a de se desagregar numa diversidade incoerente. De fato, a atualização do sublime é tão vigorosa e imanente em Murilo que, como pude verificar, os expedientes retóricos através dos quais o poeta alcança, segundo a perífrase de Longino, «o ponto mais alto do discurso», ou seja, as figuras do sublime, acabaram concentrando a historicidade dessa poesia, suas ligações com o período histórico que, desde Baudelaire, chamamos «modernidade». Em Murilo, o sublime revela-se, em suma, a categoria estética propícia à expressão de uma crise histórica. E esse vínculo entre sublime e modernidade se mantém mesmo quando especulamos sobre os limites da retórica da catástrofe em Murilo Mendes, como buscarei demonstrar. * * * Em certa medida, e não somente na obra de Murilo, o topos do duplo repropõe a arcaica descoberta de Édipo: o ser humano é um desconhecido não apenas para os outros, mas mesmo para si (3). Recordemos que o Arlequim de Sonetos brancos, precursor do Édipo de Ipotesi , lamenta a perda de sua «antiga unidade». Sempre que o herói-poeta flagra um duplo desprendendo-se de seu corpo, reencena o momento do mito de Édipo em que o velho criado, encarregado por Laio de assassiná-lo logo depois de nascer, reaparece e lhe revela sua verdadeira ascendência. Já notava Freud (o maior apologista de Édipo), baseando-se nas investigações de Otto Rank, que o duplo era considerado, originalmente, «uma segurança contra a destruição do ego», porém, uma vez superado o estágio do narc isismo primário, transformou-se de «defesa contra a extinção» em «estranho anunciador da morte» (4). Um pouco apressadamente, podemos dizer que, em Murilo, o duplo oscila entre ser uma figura de vida e uma figura de morte à proporção que oscila entre representar o impulso sublime (utópico, messiânico) ou uma restrição a ele. E o impulso sublime, devemos lembrar, só existe a partir de uma restrição prévia, anterior a qualquer vazão das forças vitais. Fatalmente, portanto, a ambivalência do duplo preserva- se em Murilo, por força de sua inserção na retórica do sublime. A figura do duplo é perseguida por Murilo desde seu livro de estréia. A passagem do poema «Panorama» a «Os dois lados», consecutivos em Poemas 1925-1929, marca a transição de um eu que teimava em se enganar com fantasias de integridade para um eu vaidosamente fragmentado. O último verso de «Panorama» surpreende pela aparente obviedade: «eu estou no meu corpo» (5). O óbvio, aqui, denuncia a própria ingenuidade. Há uma inconsciente ironia nesses versos: por antífrase, Murilo já está falando de seu próprio tempo, em que nada mais está no seu lugar e em que homem algum pode estar tão seguro de estar no seu corpo. A certeza ironizada em «Panorama» é desbaratada já no primeiro verso de «Os dois lados»:

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| Livros | Ensaios | Crónicas | Media | Entrevistas || Opinião | Artes | Espectáculos | Galeria | Ligações |

Mais romance: retórica eética

Nassar par Bachelard, unexil rhétoriqueAlberto Sismondini

Más allá del vacío y delsimulacro: el compromisoético en la obra de JoséÁngel Mañas y LucíaEtxeberríaJorge Pérez

8 MESES DEPOIS

11-SFabio R. de la Flor

TektonikPedro Serra

CECÍLIA MEIRELES

Poesia completa, deCecília Meireles: a ediçãodo centenárioAntonio Carlos Secchin

Crônicas de Uma VidaValéria Lamego

LITERATURA, ÉTICA &MORALIDADE

Contra as cidadaniascorporativas: FranciscoMaciel, Bernardo Carvalhoe Hilda HilstPadua Fernandes

Sobre Ética e Poesia em Fernando Pessoa eSophia de Mello BreynerAndresenSofia Sousa e Silva

Filosofia, Democracia eEducação na Utopia deThomas MorePedro Miguel ReboredoMarques

The Country Wife vs. TheCountry Girl: distinctivemoral visionsRosa Branca Figueiredo

POESIA BRASILEIRA

Três Vezes UmVilma Arêas

Considerações sobre aPoesia Brasileira em fimde Século

Útil vento humanoOs limites do sublime em Murilo Mendes

Eduardo Sterzi*

O que há de mais enigmático na enigmática poesia de Murilo Mendes – e, portanto,de mais essencial – só revela seu significado, conforme argumentei num estudo mais detidoe abrangente (1), à luz do conceito de sublime. Tornava-se, pois, necessário investigar deque modo Murilo Mendes transformou essa estrutura experiencial – uma espécie de paralisiaextática frente a um objeto de grandeza ou força excepcionais, mas uma paralisia que,como demonstrou Kant na Crítica do juízo (Kritik der Urteilskraft), prevê a própria anulaçãonum instante posterior, em que as forças vitais suspendidas no momento inicial sãorecobradas e intensificadas – no princípio de construção de seus poemas. Ademais, eudesejava trazer à luz os imperativos éticos e estéticos que levaram Murilo a escrever umapoesia em que a categoria do sublime, identificada pela primeira vez no início da era cristã,pelo retor que conhecemos pelo nome provavelmente equívoco de Longino, e retomada noséculo XVIII iluminista de Burke e Kant, uma categoria que o próprio Murilo afirmava estar«fora de moda» (2), é atualizada com uma força tal que se torna o princípio unificador desua obra, impedindo-a de se desagregar numa diversidade incoerente. De fato, aatualização do sublime é tão vigorosa e imanente em Murilo que, como pude verificar, osexpedientes retóricos através dos quais o poeta alcança, segundo a perífrase de Longino,«o ponto mais alto do discurso», ou seja, as figuras do sublime, acabaram concentrando ahistoricidade dessa poesia, suas ligações com o período histórico que, desde Baudelaire,chamamos «modernidade». Em Murilo, o sublime revela-se, em suma, a categoria estéticapropícia à expressão de uma crise histórica. E esse vínculo entre sublime e modernidade semantém mesmo quando especulamos sobre os limites da retórica da catástrofe em MuriloMendes, como buscarei demonstrar.

* * *

Em certa medida, e não somente na obra de Murilo, o topos do duplo repropõe aarcaica descoberta de Édipo: o ser humano é um desconhecido não apenas para os outros,mas mesmo para si (3). Recordemos que o Arlequim de Sonetos brancos, precursor do Édipode Ipotesi, lamenta a perda de sua «antiga unidade». Sempre que o herói-poeta flagra umduplo desprendendo-se de seu corpo, reencena o momento do mito de Édipo em que ovelho criado, encarregado por Laio de assassiná-lo logo depois de nascer, reaparece e lherevela sua verdadeira ascendência. Já notava Freud (o maior apologista de Édipo),baseando-se nas investigações de Otto Rank, que o duplo era considerado, originalmente,«uma segurança contra a destruição do ego», porém, uma vez superado o estágio donarcisismo primário, transformou-se de «defesa contra a extinção» em «estranhoanunciador da morte» (4). Um pouco apressadamente, podemos dizer que, em Murilo, oduplo oscila entre ser uma figura de vida e uma figura de morte à proporção que oscilaentre representar o impulso sublime (utópico, messiânico) ou uma restrição a ele. E oimpulso sublime, devemos lembrar, só existe a partir de uma restrição prévia, anterior aqualquer vazão das forças vitais. Fatalmente, portanto, a ambivalência do duplo preserva-se em Murilo, por força de sua inserção na retórica do sublime.

A figura do duplo é perseguida por Murilo desde seu livro de estréia. A passagem

do poema «Panorama» a «Os dois lados», consecutivos em Poemas 1925-1929, marca atransição de um eu que teimava em se enganar com fantasias de integridade para um euvaidosamente fragmentado. O último verso de «Panorama» surpreende pela aparenteobviedade: «eu estou no meu corpo» (5). O óbvio, aqui, denuncia a própria ingenuidade. Háuma inconsciente ironia nesses versos: por antífrase, Murilo já está falando de seu própriotempo, em que nada mais está no seu lugar e em que homem algum pode estar tão segurode estar no seu corpo.

A certeza ironizada em «Panorama» é desbaratada já no primeiro verso de «Os doislados»:

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de SéculoIumna Maria Simon

Do esbarro entre Poesia ePensamento:Uma Aproximação àPoética de Manoel deBarrosAlberto Pucheu

Ele Cala: A Poesia de NunoRamosPadua Fernandes

SILÊNCIOS E ENIGMAS EMGUIMARÃES ROSA EDRUMMOND

Drummond: um ClaroEnigma na Escuridão doMundo e da AlmaMarlise Sapiecinski

À margem do possível:Silêncio e Narração nasPersonagens de HermanMelville e João GuimarãesRosaClara Rowland

FICÇÕES

Le jeu de la memoire et lejeu de l'ecriture dans Infancia deGraciliano RamosJoão Carlos VitorinoPereira

Quando a ficção vive na eda ficçãoAnabela Sardo

Fialho de Almeida:Grotesco, Crítica eRepresentaçãoFernando Matos Oliveira

Da maldição do louva-a-deus à maldição daescritaAna Paula Arnaut

LER OS CLÁSSICOS

Dangerous Acts:Intersections BetweenLove and Violence in theNovels of Camilo CasteloBrancoTimothy McGovern

Mudar o RegistoDa fonografia consideradado ponto de vista poéticoGustavo Rubim

Mensagens & Massagens,LdaOsvaldo Manuel Silvestre

ENSAIO GERAL

Da Inexistência de AlbertoPimentoPadua Fernandes

Testamento Moderno ePoéticas

Deste lado tem meu corpo.tem o sonhotem a minha namorada na janelatem as ruas gritando de luzes e movimentostem meu amor tão lentotem o mundo batendo na minha memóriatem o caminho pro trabalho.

Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vidatem pensamentos sérios me esperando na sala de visitastem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão,tem a morte, as colunas da ordem e da desordem. (6)

A ambivalência inerente ao duplo, defesa contra a extinção e prenunciador da morte,conserva-se mesmo no interior de cada um dos «dois lados», como se eles mesmos sedesdobrassem em outros duplos – e essa fragmentação suplementar tornar-se-ia de regraem Murilo (no «Poema novo», de Poesia liberdade, a «luz do teatro» revela «Os sucessivospalimpsestos que descobrimos em nós» (7)). As «ruas gritando de luzes e movimentos»fornecem o cenário apropriado para a dissociação do eu. Esta não se define por umapolarização absoluta, como espírito contra matéria, alma contra corpo, mas sim pelaoposição entre compromisso e descompromisso, e a preferência de Murilo pelo compromissocom a morte («minha noiva definitiva»), em vez da integração ao mundo do trabalho, sóreitera a negatividade social de sua poesia. As «colunas da ordem e da desordem» podemser compreendidas como uma alusão ao momento utópico e ao frenesi destruidor necessárioà sua instauração. De fato, Murilo definiria como «um signo próprio do nosso modo de ser» ofato de oscilarmos entre «o instinto de construção e o de destruição» (8).

No poema «Meu duplo», de A poesia em pânico, a réplica humana se manifesta sobo impacto das exigências da sociedade para que o sujeito se integre a ela. O duplo é umaoutra «edição» do eu, edição incorrespondente à verdade, mas que «todo mundo lê ecomenta». Seu poder é avassalador:

O meu duplo com uma única palavraReverte os objetos do mundo ao negativo do FIAT (9)

O poeta não esconde sua inveja:

Quando eu morrer o meu duplo morrerá – e eu nascerei. (10)

O duplo é, na verdade, o eu visceralmente histórico, conclamando o poeta à queda noséculo:

Tenho pena dos poetas futurosQue se integrarão na comunidade dos homensMas que nos momentos de dúvida e terrorSó terão como resposta o silêncio divino. (11)

Outro poema auto-reflexivo, «O poeta julga sua poesia», retoma esse tópico sem o

subterfúgio da projeção dos próprios dilemas na figura dos «poetas futuros»:

Eu sinto crescer em mim e na minha vidaA mórbida poesia que vem da irrealização.Estou detestando esta grande poesia negativa. (12)

É, porém, só essa «grande poesia negativa» que resta a Murilo. Toda sua obra é, de fato,«mórbida poesia» – isto é, poesia historicamente compromissada.

A ambivalência do duplo, a circularidade de vida e morte por ele representada,reproduz-se, em outro plano, na dialética entre desintegração da aura e nostalgia pela auraperdida. Pode parecer estranho que o mesmo poeta, Baudelaire ou Murilo, expresse o êxtaseda dissolução do substrato religioso da obra de arte e a saudade de uma arte ritualística,capaz de congregar homens e deuses em torno de si. Porém, como argumenta Georges Didi-Huberman, não há contradição entre a crítica da aura e a simultânea nostalgia. Parasuperarmos esse dilema, segundo o filósofo, teremos de considerar, na esteira de WalterBenjamin, a aura como uma «instância dialética» (13). É preciso, antes de mais nada,secularizar a aura. A aura ou aparição é «um conceito da imanência visual e fantasmáticados fenômenos ou dos objetos, não um signo enviado desde sua fictícia região detranscendência» (14). Aura, em grego e em latim, «designa apenas uma exalação sensível –portanto, material, antes de se destacar seu sentido ‹psíquico› ou ‹espiritual›» (15). EDidi-Huberman é bem claro ao definir o que está pensando ao sustentar a secularização: aaura, «re-simbolizada», dá origem a uma «nova dimensão do sublime». (16)

Todo o ímpeto de restauração da aura, presente em Murilo do início ao fim de suaobra, concomitantemente à sua desabrida desintegração na «vivência do choque» (para

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PoéticasContemporâneasFrancisco Bosco

A poesia, a tradição líricae a questão central dosujeitoCarlos Jorge FigueiredoJorge

Uma lição de Cosmologiaem O Cândidode VoltaireA. M. Afonso Rodrigues

Entre o Homem e aPersonagem: umaQuestão de NervosAna Bela Almeida

A "auto-mecânicafetichista dos conceitos" -Uma comparaçãofilosófico-estética entreCarl Einstein e FernandoPessoaBurghard Baltrusch

Daniel Faria ou apossibilidade de umaarqueologia da palavraMaria João Cantinho

«Ciberliteratura,Inteligência Artificial eCriação de Sentido»Pedro Barbosa

Cinco Minutos para oinacabadoAndré Monteiro

Raios e TrovõesAntinomia e Modernidadena Obra de Gilberto FreyreRicardo Benzaquen deAraújo

A voz – entre a palavra e osomJúlio Diniz

Autor por Conta deOutremManuel Portela

A Cidade no Bolso:amores e ódios deestimação de MárioCláudioAna Paula Arnaut

Para a Educação dasCiências da EducaçãoPedro Miguel Gon

obra, concomitantemente à sua desabrida desintegração na «vivência do choque» (parafalarmos como Benjamin), está vinculado à exploração do sublime moderno. É claro que opalavrório cristão que permeia toda sua poesia pode complicar um pouco a aceitação dofundamento secular da aura. No entanto, não é difícil vermos como a própria apologia daaura, ao usar extravagantemente os elementos da religião tradicional, pouco a pouco minousua ordem consolidada.

Foi Heidegger, desembaraçado da dialética materialista que atordoava Benjamin eainda nos atordoa, quem melhor compreendeu a urgência da ressacralização da poesia namodernidade. Ele recorre aos versos de Hölderlin para dizer: «Ser poeta em tempos depenúria significa: cantando, prestar atenção ao rastro dos deuses fugidos» (17). Como frisaHeidegger, esse rastro é o «éter», o «único elemento em que os deuses são deuses». Nãopodemos esperar que os «deuses» regressem se antes não preparamos uma morada paraacolhê-los, se ainda não brilha um «esplendor de divindade» em tudo que nos rodeia. Muriloconsentiria com essa ressalva, como podemos depreender da declaração, em O sinal deDeus, de que seu «ofício» consiste em «sacralizar todas as coisas» (18). Nesse mesmotexto, fica claro o vínculo entre a recuperação da aura e a redenção do sofrimento:«Convidemos os pobres, os famintos, os estropiados, os sem-trabalho, os miseráveis. Eseremos todos um» (19). Como Murilo diz de Sócrates, ele próprio, em sua poesia, «Forçaos deuses à dialética do real» (20). É só frente a um mundo de relações degradadas, emque o poder político parece ter como objetivo a mecanização e o descarte do ser humano,que o poeta sente a urgência de reafirmar, segundo a expressão pedida emprestada aIsmael Nery, «a vocação transcendente do homem» (21). Essa vocação só surge,paradoxalmente, à medida que o poeta percebe, como diz em Ipotesi, que «L’uomo èun’esperienza che Iddio ha abbandonato» («O homem é uma experiência que Deusabandonou») (22). De resto, é o sentimento desse abandono que nos libera para a«vivência do choque», sem a qual, e o paradoxo aqui não é menor, a aura não pode serrestaurada. Como bem aponta Murilo, ao rememorar que o templo dedicado pelos romanos aDiana, na cidade portuguesa de Évora, foi durante muitos anos um matadouro, «o ato dedessacralizar vem de tempos remotos; sabemos que a sacralidade sempre foi reversível»(23).

É precisamente essa reversibilidade que ele assenta no cerne de sua poesia. Dessaforma, ela refaz o percurso da poesia moderna e se dirige ao futuro. Na introdução de suasconsiderações sobre Wordsworth, em O cânone ocidental, Harold Bloom reedita aconcepção cíclica da história de Giambattista Vico, profetizando a iminência de um nova erateocrática posterior ao intervalo caótico em vigor: «presumo que a poesia irá abandonar

igualmente a idolatria aristocrática e a memória democrática, e voltar a uma funçãodevocional mais restrita, embora eu me pergunte se o objeto de devoção continuará sendochamado de Deus» (24). Murilo Mendes concordaria com Bloom. Numa entrevista, no inícioda década de 70, cogitou ser «possível que nós estejamos entrando numa épocaprofundamente religiosa, que não se conhece». E esclareceu: «não é uma aderência a umadeterminada religião, é uma ânsia de superar os limites humanos» (25). Alguns anos antes,arriscara uma previsão semelhante, ao supor que «se voltará a acentuar o caráter‹cósmico› da poesia» (26). O ideal dessa futura poesia cósmica é a congregação do carátermístico e do caráter social (27).

Trata-se, portanto, de restaurar a dimensão ritual da arte, mas consciente de quesobre o altar há uma ausência, e não uma presença. A única presença é a da «coisa»sacralizada, seja o poema ou os objetos do mundo aos quais ele se refere; na sua presençamorta vige não a fé no regresso dos deuses, mas a esperança na reumanização do homem.Somente à medida que testemunhe sobre o sofrimento do homem, sua anulação nasociedade atual, a poesia atualiza a aura. A teologia negativa é a figuração que, em Murilo,melhor exprime esse sofrimento. Em O infinito íntimo, o poeta fala-nos de um «Deusescondido», de um «Deus oculto» (28). Isso ainda é pouco. Em «Janela do caos», escreve:«Só vemos o céu pelo avesso» (29). No «Murilograma ao Criador», chega à síntesedefinitiva: exibe em seu corpo, gravado, o timbre do «céu às avessas» (30). O embate coma transcendência encontra uma apóstrofe invulgar na «Cantiga escura»:

Ó céu de pedra!?Quem até hoje foi ouvidoPor ti, céu feroz. (31)

A ligação entre a teologia negativa e a retórica do sublime fica evidente no «Poemadeslocado»:

Perdi-me no labirintoPara melhor me encontrar.Os destroços do céuDesabam sobre mim

tremor de pensamento. (32)

Resenhando Tempo e eternidade, Lúcia Miguel Pereira observou, com acerto, que,enquanto Jorge de Lima louva a piedade e a misericórdia de Deus, Murilo louva a grandeza e

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enquanto Jorge de Lima louva a piedade e a misericórdia de Deus, Murilo louva a grandeza ea majestade (33). Essa propensão certamente tem a ver com aquela necessidade de«desconforto» que Murilo, conforme admite no poema «Confidência», buscava na religião(34). Santiago Kovadloff ressalta que Deus aparece para o poeta não como uma certezaindiscutível, mas como «uma necessidade sensual e polêmica» (35). (José Paulo Paes, comefeito, reprova-lhe o «catolicismo de grand guignol» (36).) Murilo atribui a Deus, em Tempoe eternidade, o que só o sublime verdadeiramente pode lhe dar: «Dilata poderosamenteminha alma» (37). E a Igreja Católica é descrita como «portadora do sentido da catástrofee, ao mesmo tempo, do sentido da preparação de novas medidas, de novos elementos, denovas alianças» (38).

Conforme os anos passaram, depois do momento mais convencionalmentedevocional de Tempo e eternidade, indícios de dúvida começaram a despontar na poesia deMurilo. Em Mundo enigma, Deus é cognominado, algo derrisoriamente, «manequim doabsoluto» (39). No poema «1941», de Poesia liberdade, sobre a II Guerra Mundial, Muriloreconhece pela primeira vez: «Nunca mais voltará a fé aos nossos corações» (40). Écurioso o procedimento adotado na segunda edição de Os quatro elementos, quando, nopoema «A Virgem de Lourdes», envolvem-se com aspas as palavras «implacável», «infinita»e «absoluto»:

Quem me dera estar em LourdesQuando a Virgem desapareceu.A «implacável» consciência do abandonoA solidão «infinita»O desespero «absoluto»

E a saudade d’Ela me salvariam para sempre (41).

Murilo anotou em seu exemplar do livro: «Conservar as aspas intencionalmente críticas»(42).

Examinando a poesia de Murilo, Sérgio Milliet especulou: «Deus pode ser a miragemdo próprio eu» (43). O soneto «O espelho» corrobora essa suposição:

O céu investe contra o outro céu.É terrível pensar que a morte estáNão apenas no fim, mas no princípioDos elementos vivos da criação.

Um plano superpõe-se a outro plano.O mundo se balança entre dois olhos,Ondas de terror que vão e voltam,Luz amarga filtrando destes cílios.

Mas quem me vê? Eu mesmo me verei?Correspondo a um arquétipo ideal.Signo de futura realidade sou.

A manopla levanta-se pesada,Atacando a armadura inviolável:Partiu-se o vidro, incendiou-se o céu. (44)

O centro gravitacional do poema encontra-se no primeiro terceto, sobretudo em seuprimeiro verso. «Mas quem me vê? Eu mesmo me verei?»: se o olho de Deus não está maislá para nos vigiar, porque o expulsamos ou ele nos abandonou, finalmente seremosobrigados a olhar para nós mesmos. A inexistência da aura talvez só vigore realmente noínfimo instante – na escala da história, um, dois ou mesmo três séculos não contam deveras– em que o olhar divino se fecha e o olhar humano ainda não se descerrou totalmente. Aaura restaurada será talvez constituída por aquele vento que sopra do cemitério, o «útilvento humano / Que recorda os vivos / – Os vivos sem metafísica nem refúgios» (45).

Se a aura «re-simbolizada» – «nova dimensão do sublime», para além do sublime –continuar demandando distância, ela não mais será uma distância opressiva, como aquelaexigida por uma catedral ou por uma estátua de Michelangelo, mas uma distância defensiva(embora mesmo a idéia de defesa seja, aqui, por demais agressiva). É Jorge Andrade quemconta o episódio. Estava entrevistando Murilo no Museo Nazionale Romano, quando este sedeteve por um momento a admirar uma estátua semi-destruída. O poeta então lhe disse:«Se tivesse cabeça ou braços, não teria, talvez, o mesmo mistério que o tempo conferiu»(46). Prosseguindo a conversa, Murilo saiu-se com uma interrogação bem ao seu gostodramático, e que resume a telecinésia – ou, mais exatamente, a «teléstase» – da aurarestaurada: «Sabe que as estátuas sofrem quando são tocadas?» (47).

Essa aura seguramente não assoma nos poemas sublimes de Murilo, naquelespoemas em que o desconcerto com a era moderna tomou a forma da dramatização de umcancelamento traumático das forças vitais seguido de uma não menos intensa recuperaçãodessas mesmas forças. Esses poemas, que constituem a parcela mais representativa daobra de Murilo, tanto em quantidade quanto em personalidade (o homem Murilo está

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obra de Murilo, tanto em quantidade quanto em personalidade (o homem Murilo estádecalcado sem retoques em tais textos), provavelmente não serão lidos no futuro com amesma deferência e prazer com que leremos Drummond ou João Cabral. Nós, que estamosno futuro em relação a Murilo, hesitamos em lê-lo como um «clássico», e é quase certo queessa situação não mude. Contudo, isso não se deve a um defeito da poesia de Murilo, mas,talvez, ironicamente, à sua virtude mais singular: sua estranheza essencial, que a vinculacom tanta intensidade às tensões de seu próprio tempo e estabelece uma barreira com aqual todo leitor terá de se defrontar se quiser percorrê-la. Esse bloqueio é a senha dosublime para o leitor. Mas até quando? Jorge Luis Borges, ao término de uma reflexão sobreos irônicos caprichos da imortalidade literária, constatou que «a literatura é uma arte quesabe profetizar aquele tempo em que terá emudecido, e enfurecer-se com a própria virtudee enamorar-se da própria dissolução e cortejar seu fim» (48). Murilo soube encarnar esse

furor como poucos, sobretudo entre os escritores brasileiros. À figura precária do homemque emerge da experiência da vida moderna, Murilo respondeu com uma poesia cuja forçaestá exatamente no domínio da forma precária. Seus poemas talvez não tenham umobjetivo mais elevado do que se somarem às ruínas do século XX.

Todavia, talvez resista ao tempo, em Murilo, o sublime sem ênfase, sublimaçãoconcluída, em que a imagem da catástrofe só se imprime em marca d’água. Como em«Algo», de Poesia liberdade:

O que raras vezes a formaRevela.O que, sem evidência, vive.O que a violeta sonha.O que o cristal contémNa sua primeira infância. (49)

Ou «Iniciação», de Parábola:

Constrói-se a linha sem ajuda.Vive de sua lágrima o cristal,A asa do anjo não se traduzEm plástica,E o som ignora o eco.

O espírito no escuro se levantaSem flecha e oriente certo.Vazio de pássaros não se vela o céu,E, sem mover-se, a pura chama arde. (50)

Tais poemas rogam aos seus leitores o mesmo tipo de distância reclamada pelas estátuasdo museu romano. Que nossas mãos impudentes passem ao largo. Há um fosso de silêncioem torno de cada uma de suas palavras, e talvez não devamos transpô-lo, ou profaná-lo.Nessa poesia, o fosso converte-se numa espécie de templo. Porém, não estamos maisdiante dos «sovrumani silenzi» de Leopardi; estes são silêncios demasiadamente humanos,aspirando à inumanidade. Murilo parece acreditar, com Paul Celan, que «ainda há canções acantar além dos homens» («es sind noch Lieder zu singen jenseits der Menschen»).

Há uma estrofe, tão delicada quanto os poemas citados, quiçá mais dolorida, quesintetiza, pelo que nela se diz e pela forma como se diz, a alta exigência dessa músicainumana. São somente três versos, construídos com palavras correntias, mas talvezguardem a chave secreta da poesia de Murilo:

Buquê da noite,Ninguém te respira

Com inocência. (51)

* Jornalista, poeta, mestre em Teoria da Literatura pela Pontificia Universidade Católica doRio Grande do Sul (PUCRS), com dissertação sobre Murilo Mendes, e doutorando em Teoria eHistória Literária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Email:[email protected]

1. Figuras do sublime: a retórica da catástrofe em Murilo Mendes. Dissertação de mestradodefendida, em janeiro de 2000, no Curso de Pós-Graduação em Teoria da Literatura daPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

2. «Cuenca», in Espaço espanhol, p. 1141. Os livros de Murilo Mendes, com exceção deRecordações de Ismael Nery, são citados a partir da Poesia completa e prosa, organização,

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preparação do texto e notas de Luciana Stegagno Picchio, Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994.

3. Como observa Jean-Pierre Vernant: «Édipo é ‹duplo› como a palavra do oráculo: rei‹salvador› a quem, no início da peça, todo o povo implora, como se se dirigisse a um deusque tem nas suas mãos o destino da sua cidade; mas também polução abominável, monstrode impureza, que concentra em si todo o mal, todo o sacrilégio do mundo, e que é precisoexpulsar como um pharmakós, um bode expiatório, para que a cidade, de novo pura, sejasalva» («Édipo sem complexo», in VERNANT, Jean-Pierre, e VIDAL-NAQUET, Pierre, Mito etragédia na Grécia antiga, São Paulo: Perspectiva, 1999, p. 67). E também: «Quando Édipofala, acontece-lhe dizer outra coisa ou o contrário do que ele está dizendo. A ambigüidadede suas palavras não traduz a duplicidade de seu caráter, que é feito de uma só peça, mas,mais profundamente, a dualidade de seu ser. Édipo é duplo. Ele constitui por si mesmo umenigma, cujo sentido só adivinhará quando se descobrir, em tudo, o contrário do que eleacreditava e parecia ser» («Ambigüidade e reviravolta. Sobre a estrutura enigmática deÉdipo rei», idem, p. 76-77). Cf. Nicole Fernandez Bravo, «Duplo», in Dicionário de mitosliterários, p. 261-288 (sobre Édipo, baseando-se em Vernant, p. 261).

4. FREUD, Sigmund, «O ‹estranho›», in História de uma neurose infantil e outros trabalhos,Rio de Janeiro: Imago, 1988, p. 252.

5. «Panorama», in Poemas, p. 98.

6. «Os dois lados», in Poemas, p. 98.

7. «Poema novo», in Poesia liberdade, p. 435.

8. Janelas verdes, p. 1392.

9. «Meu duplo», in A poesia em pânico, p. 305.

10. Idem, p. 305.

11. Idem, p. 306.

12. «O poeta julga sua poesia», in A poesia em pânico, p. 307.

13. DIDI-HUBERMAN, Georges, «A dupla distância», in O que vemos, o que nos olha, Rio deJaneiro: Editora 34, 1998, p. 154.

14. Idem, p. 157-158.

15. Idem, p. 166.

16. Idem, p. 159.

17. HEIDEGGER, Martin, «¿Y para qué poetas?», in Caminos de bosque, Madrid: Alianza,1995, p. 244.

18. «Genealogia», in O sinal de Deus, p. 761.

19. Idem, p. 761.

20. Retratos-relâmpago, p. 1197.

21. NERY, Ismael, «Testamento espiritual de Ismael Nery», apud MENDES, Murilo,Recordações de Ismael Nery, São Paulo: Edusp e Giordano, 1996, p. 144. O próprio Murilousa a expressão na p. 36 deste livro. Em O discípulo de Emaús, p. 871: «Através dosséculos o poeta é encarregado, não só de revelar aos outros, mas de viver praticamente noseu espírito e no seu sangue, a vocação transcendente do homem». E num texto sobreInvenção de Orfeu (Murilo Mendes, «A luta com o anjo», in LIMA, Jorge de, Invenção deOrfeu, Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1952, p. 421).

22. «Il gran cinese», in Ipotesi, p. 1548.

23. Janelas verdes, p. 1382.

24. BLOOM, Harold, O cânone ocidental, Rio de Janeiro: Objetiva, 1995, p. 233.

25. Murilo Mendes em entrevista a Leo Gilson Ribeiro, «Não quero ser popular», Veja, n. 209,1972, p. 4. Grifo meu.

26. MENDES, Murilo, «A poesia e o nosso tempo», in GUIMARÃES, Júlio Castañon (org.),Catálogo da exposição Murilo Mendes: acervo, Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz deFora, 1999, p. 54.

27. Murilo Mendes, em entrevista a Homero Senna, «Lição de poesia», in República deletras, Rio de Janeiro: São José, 1968, p. 254.

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28. «Décima terceira meditação», in O infinito íntimo, p. 784.

29. «Janela do caos», in Poesia liberdade, p. 437.

30. «Murilograma ao Criador», in Convergência, p. 661.

31. «Cantiga escura», in Poesia liberdade, p. 416.

32. «Poema deslocado», in Mundo enigma, p. 386.

33. PEREIRA, Lúcia Miguel, «Jorge de Lima e Murilo Mendes: harmonia e diferenças», in Aleitora e seus personagens, Rio de Janeiro: Graphia, 1992, p. 134.

34. «Confidência», in As metamorfoses, p. 366.

35. KOVADLOFF, Santiago, «Murilo Mendes al vaivén de lo uno y lo múltiple», CuadernosHispanoamericanos, n. 466, abr. 1989, p. 59.

36. PAES, José Paulo, «Adeus ao pânico», in Mistério em casa, São Paulo: ConselhoEstadual de Cultura, 1961, p. 96. Segundo Paes, em Contemplação de Ouro Preto, Murilo dáadeus ao «pânico» que predominara em sua obra anterior e despede-se das característicasde sua personalidade que o nutriam – «o egocentrismo, a irreverência, a gratuidade» (p.96). José Paulo Paes revisaria depois sua avaliação negativa das primeiras obras de MuriloMendes, a ponto de afirmar que “o Murilo essencial” não está na poesia das últimas obras,como Convergência, mas, ao contrário do que pensam alguns críticos (entre os quais,esquece de dizer, ele mesmo), nos livros que vão de Poemas (1925-1929) a Sonetosbrancos («O poeta/profeta da bagunça transcendente», in Os perigos da poesia, Rio deJaneiro: Topbooks, 1997, p. 170).

37. «Salmo nº 2», in Tempo e eternidade, p. 251.

38. Murilo Mendes, Recordações de Ismael Nery, p. 151.

39. «Poema claro», in Mundo enigma, p. 387.

40. «1941», in As metamorfoses, p. 349.

41. «A Virgem de Lourdes», in Os quatro elementos, p. 266.

42. PICCHIO, Luciana Stegagno, «Notas e variantes», in Poesia completa e prosa, p. 1631.

43. MILLIET, Sérgio, Diário crítico, v. 3, São Paulo: Martins, 1945, p. 266.

44. «O espelho», in Sonetos brancos, p. 443.

45. «O cemitério», in Poesia liberdade, p. 421.

46. Murilo Mendes, em entrevista a Jorge Andrade, «Murilo, um poeta da liberdade»,Realidade, n. 77, abr. 1972, p. 85.

47. Idem, p. 85.

48. Jorge Luis Borges, «La supersticiosa ética del lector», in Obras completas, v. 1, BuenosAires: Emecé, 1989, p. 205.

49. «Algo», in Poesia liberdade, p. 428.

50. «Iniciação», in Parábola, p. 550.

51. «Cantiga escura», in Poesia liberdade, p. 416.

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