stakeolders - luis andré rico vicente (março/abril - 2011)

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J á se foi o tempo em que a comunicação era considerada apenas custo ou área secundária na empresa. Cada vez mais, as corporações e os gestores conferem papel estratégico à comunicação. É exatamente esta a visão do superexecutivo Luiz André Rico Vicente, que tem mais de 20 anos de experiência à frente de grandes siderúrgicas. Segundo ele, grande parte da trajetória de sucesso se deve ao crédito que sempre depositou na área e na equipe de comunicação corporativa com as quais trabalhou. • Para o senhor, qual a importância da comunicação corporativa? Considero que a comunicação é uma peça indispensável ao melhor desempenho de qualquer corporação. Costumo dizer que se não existe comunicação ou se ela está truncada, estática ou não está azeitada a todo o fluxo da cadeia produtiva, certamente essa corporação terá problemas sérios. Apesar de nunca ter sido um comunicólogo ou ter estudado Comunicação, sou um aficionado pelo tema. Vivi muito de perto essa experiência nas empresas nas quais trabalhei e acho que sem esse investimento o negócio corre riscos. Acredito que a comunicação tem de abranger não só a corporação e todas as áreas, mas todos os stakeholders. Mais do que isso: ela deve ser de responsabilidade do presidente da empresa. Ele não pode delegar a comunicação para ninguém. Ele precisa tê-la nas mãos. • Como avalia as empresas que tratam a comunicação como apenas um custo a mais? O fato de se encarar como um custo é porque boa parte das pessoas não sabe lidar com a comunicação. Sempre tive a percepção da importância dessa área. Como exemplo, lembro de quando entrei em uma empresa que passava por um momento difícil com uma dívida de mais de US$ 500 milhões. Entrei lá para equacionar essa situação. A primeira coisa que montei foi uma “superárea de comunicação”. Se não tivesse uma comunicação absolutamente perfeita com todos os empregados da companhia - mais de 10 mil pessoas - certamente não iria atingir os objetivos e metas. Fiz mais de cem reuniões, ao longo de dez anos, com pelos menos 4 mil pessoas. Era uma comunicação direta com os empregados. Tudo que estava acontecendo dentro da companhia TSX NEWS Publicação da TRANSAEX TSX NEWS | Venda Proibida ANO 3 - Edição 35 • MAR-ABR/2011 STAKEHOLDERS Luiz André Rico Vicente Conselheiro da Ferrous Resources do Brasil

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Luiz André Rico Vicente Conselheiro da Ferrous Resources do Brasil

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Page 1: STAKEOLDERS - Luis André Rico Vicente (Março/Abril - 2011)

J á se foi o tempo em que a comunicação era considerada apenas custo ou área secundária na empresa. Cada vez mais, as corporações e os gestores conferem papel

estratégico à comunicação. É exatamente esta a visão do superexecutivo Luiz André Rico Vicente, que tem mais de 20 anos de experiência à frente de grandes siderúrgicas. Segundo ele, grande parte da trajetória de sucesso se deve ao crédito que sempre depositou na área e na equipe de comunicação corporativa com as quais trabalhou.

• Para o senhor, qual a importância da comunicação corporativa?

Considero que a comunicação é uma peça indispensável ao melhor desempenho de qualquer corporação. Costumo dizer que se não existe comunicação ou se ela está truncada, estática ou não está azeitada a todo o fluxo da cadeia produtiva, certamente essa corporação terá problemas sérios. Apesar de nunca ter sido um comunicólogo ou ter estudado Comunicação, sou um aficionado pelo tema. Vivi muito de perto essa experiência nas empresas nas quais trabalhei e acho que sem esse investimento o negócio corre riscos. Acredito que a comunicação tem de abranger não só a corporação e todas as áreas, mas todos os stakeholders. Mais do que isso: ela deve ser de responsabilidade do presidente da empresa. Ele não pode delegar a comunicação para ninguém. Ele precisa tê-la nas mãos.

• Como avalia as empresas que tratam a comunicação como apenas um custo a mais?

O fato de se encarar como um custo é porque boa parte das pessoas não sabe lidar com a comunicação. Sempre tive a percepção da importância dessa área. Como exemplo, lembro de quando entrei em uma empresa que passava por um momento difícil com uma dívida de mais de US$ 500 milhões. Entrei lá para equacionar essa situação. A primeira coisa que montei foi uma “superárea de comunicação”. Se não tivesse uma comunicação absolutamente perfeita com todos os empregados da companhia - mais de 10 mil pessoas - certamente não iria atingir os objetivos e metas. Fiz mais de cem reuniões, ao longo de dez anos, com pelos menos 4 mil pessoas. Era uma comunicação direta com os empregados. Tudo que estava acontecendo dentro da companhia

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Publicação da TRANSAEX TSX NEWS | Venda ProibidaANO 3 - Edição 35 • MAR-ABR/2011

StakeholderSLuiz André Rico Vicente

Conselheiro da Ferrous Resources do Brasil

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era comunicado. imagina demitir 3 mil pessoas sem uma perfeita comunicação com a sociedade, com os empregados? Como se faz isso sem ruído? No meu modo de ver, não tem condições de tocar qualquer coisa sem que se tenha essa arma na mão. Também é preciso perceber, sentir o que está ocorrendo em todos os sentidos, avaliar e depois formular a comunicação. O planejamento é muito importante não só para conduzir os processos dentro da empresa quanto para se autoconduzir.

•Quais as ferramentas para garan-tir essa comunicação?

A comunicação direta com todos: diretores, gerentes, chefes e demais empregados. Nada de cafezinho ou fazer proselitismo, o importante é abrir o jogo e tratar com todos. Tam-bém é importante dispor de um jornal interno, focado nas realizações dos empregados como forma de eles se sentirem pertencentes ao negócio. A intranet também deve ser usada para atingir todas as unidades. Outra ferra-menta é o uso de murais interativos e de campanhas focadas, longas e ajustadas a cada área, como, por exemplo, programas de segurança e saúde. A TV interna é outro veícu-lo muito útil e um grande facilitador da comunicação, dando visibilida-de ao trabalho de todos. Também já usei o teatro, ferramenta que trouxe excelentes resultados porque, em algumas situações, o conhecimen-to cognitivo não era suficiente para garantir o aprendizado, tínhamos de apelar para o emocional. Outra es-tratégia que sempre usei era levar pessoas de destaque para falar com a equipe. Trazer essas figuras é uma

forma de avalizar as nossas campa-nhas e as nossas estratégias, validar o que fazemos. Com tantas ferramen-tas, não tinha rádio peão dentro da empresa. O maior inimigo da rádio peão chama-se comunicação bem feita. Para mim, em comunicação, o bom é usar todas as ferramentas, o que você tiver disponível. Tudo que for possível ser usado como elemen-to facilitador da comunicação tem de ser usado.

• Como tornar a comunicação efi-ciente dentro de uma empresa?

Sempre tive um grupo de gestores comigo. Prezávamos pelo planeja-mento de comunicação, acompa-nhávamos a execução, corrigíamos os desvios e nivelávamos o produto a ser comunicado. Era um grupo de gestão da comunicação. Acabamos percebendo que o segredo é que a comunicação deve ser um negócio de todos. Todos têm de estar alinha-dos no mesmo pensamento e a co-

municação precisa estar intimamen-te ligada à estratégia do negócio. O processo tem de ser traçado e dese-nhado por todo mundo e recomuni-cado a todos. Mais do que isso: todos têm de tomar conhecimento de tudo para que essa orquestra funcione di-reito.

• Qual o papel que a comunicação desempenha no mundo corporativo?

Fundamental. Ela tem de ser sólida, fazer parte do negócio, sentender o negócio porque ela é profilática, ela percebe, diagnostica e tem a solu-ção. É para tudo.

• A unidade entre as unidades de uma empresa favorece esse cres-cimento?

Com as pessoas juntas, examinando o conjunto, o sucesso e o problema de cada um, as limitações, as dife-renças, é possível criar a unidade en-tre as unidades. Ou seja, o importan-te é ter como objetivo a meta central do todo.

• Quais estratégias de comunica-ção o senhor elege como mais efe-tivas?

É a comunicação direta do chefe, espontânea e com todos. Essa é a que puxa a comunicação. O chefe não pode ser um “ser” guardado no sacrário. Acho que a comunicação dele, a liderança, a simpatia, o caris-ma, a proximidade, todas essas virtu-des que o chefe deveria ter, devem ser compartilhadas com a equipe. Deve ser uma comunicação pessoal, de preferência de contato.

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