sÉrie descobrindo a palavra o escárnio e a...

33
BILL CROWDER O escárnio e a majestade do calvário SÉRIE DESCOBRINDO A PALAVRA

Upload: vodan

Post on 30-Apr-2018

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

DE247

BILL CROWDER

O escárnio e amajestade do

calvário

I S B N 978-1-60485-196-0

9 7 8 1 6 0 4 8 5 1 9 6 0

SÉRIE DESCOBRINDO A PALAVRA

Para uma lista completa dos endereços de todos os nossos escritórios, acesse: paodiario.org/escritorios.

Brasil: Ministérios Pão Diário, Caixa Postal 4190, 82501-970, Curitiba/PR Email: [email protected] • Tel.: (41) 3257-4028

Com as doações e ofertas voluntárias, mesmo as pequeníssimas, os nossos parceiros e leitores colaboram para que Ministérios Pão Diário alcance outros com a sabedoria transformadora da Bíblia.

O EscárniO E a MajEstadE dO calváriO

Será que um escândalo público, uma batalha militar ou uma iniciativa de paz

mereceria a primeira página, a capa de todos os jornais que já foram publicados? O dia em que Cristo morreu é um desses acontecimentos.

Nada em toda a criação ou na história nos diz mais sobre o coração do nosso Criador — ou sobre nosso próprio coração — do que a maneira como Jesus sofreu e morreu.

Neste trecho de The Path Of His Passion (O Caminho da Sua Paixão), Bill Crowder reflete sobre a tragédia e a maravilha que ocorreu naquele dia. Mostrando não somente o escárnio da cruz, mas também a sua majestade, ele nos ajuda a enxergar porque esse acontecimento, que não esteve nas manchetes das primeiras páginas dos jornais, merece estar no centro de nossos corações todos os dias, pelo resto das nossas vidas.

Martin R. De Haan II

Sumário

A angústia e a glória .............. 2

o escárnio do calvário ......... 4

A tortura da cruz ..................5

A humilhação da cruz ..........8

O espetáculo da cruz ...........9

O escárnio da cruz ............11

A majestade do calvário .....17

A majestade da compaixão......................20

A majestade da corrupção .......................23

A majestade do cumprimento .................27

A majestade do controle ....28

Tudo por causa da cruz ......30

Título original: The Mockery And Majesty Of Calvary iSBN: 978-1-60485-196-0ilustração da capa: © rBC ministries, Terry Bidgood PorTuGuESEAs citações bíblicas são extraídas da Ed. revista e Atualizada de J. F. de Almeida © 1993 Soc. Bíblica do Brasil. © 2009 rBC ministries, Grand rapids, michigan, uSA Printed in USA

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 1 02.09.09 08:59:46

2

a anGÚstia E a GlÓria

Eu amo música. O seu poder, emoção, beleza e energia me envolvem

e transportam a minha mente de uma forma que nenhum outro meio de expressão pode reproduzir com exatidão. Um momento assim surgiu em 1978 num estúdio de gravação. Eu me encontrava no principal estúdio e tinha acabado de participar de uma longa sessão de edição e finalização do segundo álbum do nosso grupo vocal de estudantes. Nosso diretor acabara de convocar um intervalo muito necessário e fiquei sozinho na cabine de controle com o nosso engenheiro. Estávamos discutindo principalmente o projeto do álbum dos estudantes, que estava quase concluído, quando o engenheiro disse: “Quero que você ouça algo que ninguém ouviu ainda. Acabamos de fechar a produção num álbum de Phil Johnson, e ele compôs uma canção que é inacreditável. Vou tocá-la,

apagar as luzes e deixá-lo sozinho para vivenciar a música.” Ele fez isso, e eu sentei estupefato, com os olhos inundados de lágrimas enquanto ouvia estas palavras sobre a cruz de Cristo:

E eu sou o culpado,eu causei toda a dor;

Ele se entregou no dia em que pôs a minha coroa.

O horror do sofrimento físico de alguém numa

cruz somava-se ao estigma da maldição espiritual reservada a qualquer pessoa pendurada num

madeiro.

Enquanto abordamos o assunto do Calvário e refletimos sobre o que o nosso Senhor experimentou quando carregou o nosso pecado e a nossa punição, a nossa coroa de espinhos e a nossa cruz, eu

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 2 02.09.09 08:59:46

3

penso nessas palavras e nas palavras dos versos seguintes. Penso também naquela madrugada, há tanto tempo, quando tive uma experiência muito pessoal de adoração. A crucificação era uma pena de morte incrivelmente brutal. A prática fora inventada centenas de anos antes pelos cartagineses, mas os romanos a tornaram sua obra-prima, refinando-a para prolongar a morte do condenado tanto quanto possível — maximizando o sofrimento do criminoso executado e usando-a como uma advertência poderosa para os espectadores. Qualquer pessoa que tivesse testemunhado a morte numa cruz refletiria cautelosamente antes de testar a paciência de Roma e suas tropas. Qualquer um que fosse tolo o suficiente para opor-se à imposição da lei romana sofreria a mais alta agonia antes de finalmente morrer em miséria e desgraça como punição, verdadeiramente cruel e incomum. Era a perfeita forma de execução para um exército

conquistador, conhecido pelos seus calcanhares de aço. Na realidade, era uma maneira tão brutal, que a morte por crucificação não era permitida como execução para cidadãos romanos.

O Calvário foi a maior angústia de Cristo, no entanto,

foi também o acontecimento

que produziu Sua maior glória.

Tudo isso, porém, adquiriu intensidade ainda maior, quando a crucificação ocorreu em Israel e o criminoso condenado era um judeu. O horror do sofrimento físico de alguém numa cruz somava-se ao estigma da maldição espiritual reservada a qualquer pessoa pendurada num madeiro (Deuteronômio 21:22-23). Ao preparar o cenário para a nossa compreensão

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 3 02.09.09 08:59:46

4

da cruz, será valioso absorver duas ideias-chaves que fluem das diferentes descrições nos evangelhos, sobre os acontecimentos ocorridos no Calvário:• Nosregistrosdostrês

primeiros evangelhos, os autores sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) apresentam a cruz de Cristo como uma ferramenta de dor e humilhação, utilizada pelo carrasco.

• Noquartoevangelho, João, por outro lado, retrata a cruz como um trono de glória.

As duas perspectivas são verdadeiras. O Calvário foi a maior angústia de Cristo, no entanto, foi também o acontecimento que produziu Sua maior glória. Neste segmento veremos como a cruz de Cristo foi relatada pelos autores sinóticos — como uma experiência de horror e agonia. E no próximo, veremos a crucificação do Filho de Deus sob a perspectiva do apóstolo amado — como uma demonstração de glória, poder e graça. Ainda

assim, mesmo nas descrições sobre o sofrimento angustiante descritos pelos escritores sinóticos, os rastros de graça e amor dominam o cenário.

O EscárniO dO calváriO

É muito significativo que nenhum dos escritores dos evangelhos jamais

descreveu o verdadeiro ato de execução da crucificação. Ela é retratada em palavras, e profeticamente no Salmo 22. No entanto, os relatos dos evangelhos não a descrevem, talvez porque nenhuma explicação fora necessária para o público de então. Para todos os que viviam sob a Pax Romana era dolorosamente clara a compreensão sobre a morte na cruz. Para nós, que vivemos na era moderna, é uma forma menos comum de violência, portanto, é útil (embora perturbador) compreender a verdadeira extensão do que Cristo estava disposto a sofrer para nos

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 4 02.09.09 08:59:46

5

redimir — incluindo o tormento físico, emocional e espiritual.

A TORTURA DA CRUZ

Onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio (João 19:18).

Os aspectos físicos da crucificação foram acontecimentos excruciantes. A cruz foi deitada ao chão e o condenado esticado sobre ela. Os historiadores acreditam que os pregos — entre 22 e 30 centímetros de comprimento — provavelmente não foram pregados nas palmas das mãos, mas sim nos espaços entre os pequenos ossos dos pulsos. Os nervos atravessariam o principal centro nervoso que leva à mão e evitariam que o indivíduo executado puxasse o prego através do tecido adiposo das mãos e tentasse escapar — como se isso fosse possível. Os pés da vítima seriam então sobrepostos e, com os joelhos levemente flexionados, forçados sobre

um pequeno pedestal na cruz. O motivo para tal ficará evidente mais tarde. Após pregar o condenado à cruz, os algozes a ergueriam com cordas e a colocariam em um buraco cavado no chão onde a cruz seria fincada de um só golpe. Quando estivesse no lugar, os carrascos usariam então, blocos para prender o instrumento de tortura ao solo, com segurança. Parece ridículo e óbvio dizer, mas foi inacreditavelmente doloroso. Os pregos pareciam como se fossem varas de metal incandescente, atravessando os nervos e músculos das mãos e pés. O erguimento da cruz foi desorientador, talvez tenha provocado até mesmo a tontura. Porém, o momento mais doloroso ocorreu quando a cruz foi lançada à terra. O solavanco causou um violento estiramento nos ombros e cotovelos da vítima — que eram incapazes de ceder à distenção forçada do corpo. Muitas vezes este movimento causava a separação dos ombros, ou o deslocamento de ombros ou cotovelos, que

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 5 02.09.09 08:59:46

6

teriam sido horríveis. Embora terrivelmente brutal, foi apenas o começo. O pior ainda estava por vir. A inacreditável dor que a vítima da crucificação sentia, resultava de elementos sadicamente combinados, que demonstravam uma expressão de desumanidade aterrorizante. Primeiro, a morte por crucificação significava, em última análise, a morte por asfixia. Devido à posição dos braços, o peito se comprimia, causando maior dificuldade para a vítima respirar. A única maneira pela qual o condenado conseguiria respirar, seria impulsionar o corpo pelos pregos em seus pulsos e empurrar-se para cima com os pregos atravessados nos pés, apoiando no pequeno pedestal, aliviando desta maneira a pressão sobre o peito. Os pulmões podiam então absorver o ar desesperadamente necessário. O crucificado seria capaz de suportar a dor dos pregos apenas por um curto período. Era este o motivo para que

os pregos fossem cravados em áreas com a maior concentração de nervos.

O sofrimento físico da crucificação

sobrepõe-se ao que a mente civilizada pode compreender.

O alívio daquela dor vinha somente após o relaxamento do puxão dos pregos, porém, mais uma vez, respirar era praticamente impossível. A dor causada pelos pregos seria lentamente exacerbada pela exposição de tantos ferimentos abertos ao ar, e consequente inflamação. Os açoites que Cristo sofreu teriam deixado suas costas em carne viva e em farrapos — expondo pedaços de carne à áspera madeira da própria cruz. Estas feridas doíam ainda mais toda vez que Ele tinha que empurrar-se para cima e para baixo na cruz, para respirar. Não havia uma chance sequer para descansar — apenas o contínuo esforço,

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 6 02.09.09 08:59:46

7

necessário para manter o ar nos pulmões. Cada respiração causava-lhe uma dor intensa. Para cada alívio, Ele sentia o pânico pelo início do sufocamento.

Esta seria uma morte horrível

para o pior vilão, para o mais

impiedoso criminoso e para o assassino mais sanguinário.

[…] Contudo, este tratamento foi dado ao Príncipe da Paz, ao Amado das

nossas almas.

Acrescente-se a esse sofrimento a crise interna crescente que ocorria no corpo do condenado. Como a livre circulação do sangue estava prejudicada pelos danos impostos em tantos vasos sanguíneos, mais sangue subia

ao cérebro do que podia retornar, causando intensa pressão e violenta dor na cabeça. Mais uma vez, era uma punição cruel e incomum — e era assim que deveria ser. O sofrimento físico da crucificação sobrepõe-se ao que a mente civilizada pode compreender. Esta seria uma morte horrível para o pior vilão, para o mais impiedoso criminoso e para o assassino mais sanguinário. Seria uma forma horrorosa de tratar um animal furioso ou um predador selvagem. Contudo, este tratamento foi dado ao Príncipe da Paz, ao Amado das nossas almas, ao Pastor dos nossos corações. É além de nossa compreensão que Cristo tenha suportado tal tratamento e é perturbador pensar que o nosso pecado é tão vil, que esta foi a única maneira de sermos redimidos. Ainda assim o Seu sofrimento físico, tão inimaginável, foi muito provavelmente o elemento menos significativo de Sua angústia.

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 7 02.09.09 08:59:46

8

A HUMILHAÇÃO DA CRUZ

Os soldados, pois, quando crucificaram Jesus, tomaram- -lhe as vestes e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e pegaram também a túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela para ver a quem caberá, para se cumprir a Escritura: REPARTIRAM ENTRE sI As MINHAs vEsTEs E sObRE A MINHA TúNIcA lANçARAM sORTEs (João 19:23-24).

Por mais chocante que possa parecer, o objetivo desta forma de punição não era apenas infligir uma intensa dor física. Era também, impor tanta humilhação quanto possível. No primeiro século, o traje usual para um judeu incluía cinco peças de roupa — sandálias, turbante, cinto, tanga e a túnica externa. Note que os quatro soldados — o quarteto responsável pela execução de Jesus —

repartiram a Sua vestimenta como um benefício por terem executado a tarefa. Cada um ficou com uma peça de roupa, mas restou uma, a túnica. Isto sugere que até mesmo a tanga foi retirada — e o último farrapo de dignidade humana com ela.

A crucificação foi descrita

profeticamente cerca de 600 anos, antes mesmo de que esta

pena de morte fosse inventada.

No comovente cumprimento do Salmo 22, os soldados deixaram Jesus nu, e depois apostaram Sua túnica. Em Salmo 22:17-18, a crucificação foi descrita profeticamente cerca de 600 anos, antes mesmo de que esta pena de morte fosse inventada. Davi tinha dito que seria assim: “Posso contar todos os meus ossos; eles me estão

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 8 02.09.09 08:59:46

9

olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes.”

Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe

o que é padecer; e, como um de

quem os homens escondem o rosto, era

desprezado, e dele não fizemos caso.

—isaías 53:3

A expressão: “Posso contar todos os meus ossos” indica que Jesus foi exposto à vista de todos. É impressionante que toda a riqueza terrena acumulada por Jesus consistisse destes trajes simples e quatro soldados romanos fossem Seus herdeiros. Eles apostaram tudo que podiam conseguir

sem, dar-se conta do de que a alguns metros de distância, Cristo estava entregando gratuitamente tudo que tinha por amor — a eles. É um testemunho poderoso para a dureza do coração deles. Estes homens não tinham sentimento, nem piedade. Esta cena deve ter deixado os anjos do céu espantados e horrorizados, entretanto estes homens os ignoraram em sua cobiça e indiferença. Isaías estava certo: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens […] era desprezado, e dele não fizemos caso” (Isaías 53:3).

O ESPETÁCULO DA CRUZ

E, assentados ali, o guardavam (Mateus 27:36).

Em seu comentário sobre o livro de Mateus, o teólogo e locutor de programas radiofônicos J. Vernon McGee (falecido) observou:

Enquanto Cristo sofria na cruz, eles se assentaram e o observaram. Este é o mais sórdido de todos os atos

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 9 02.09.09 08:59:46

10

humanos. […] Aqui na cruz do Calvário, a humanidade atinge o seu abismo mais profundo. Parece que os horrores da crucificação haviam se decomposto em um espetáculo esportivo.

Por que eles se assentaram para observar? Alguns dizem que eles estavam simplesmente cumprindo o seu dever, que estavam lá para preservar a cena ou para impedir interferências. Talvez sim — mas se este fosse o caso, eles estariam em posição de guarda, não sentados. A cena é espantosa. Enquanto estavam sentados para observar, desligados e impassíveis diante da terrível visão da execução por crucificação, estavam assistindo à execução de um Homem considerado inocente! O grande teólogo do século 19, Alexander Maclaren, escreveu em: The Gospel Of st. Matthew (O Evangelho de São Mateus): “Eles assentaram-se unânimes, relaxaram aos pés da cruz e languidamente esperaram, com um olhar que não via nada.” Apesar de tudo, olharam fixamente para

aquele cujos olhos enxergam tudo. Observaram o sofrimento de Cristo como aqueles que nada tinham a ver com isso — aqueles que não tinham qualquer responsabilidade por isso. Todavia, eles o colocaram na cruz! Estes observadores servem para nos lembrar quão facilmente podemos nos autoenganar sobre as consequências e resultados de nossas ações. É um lembrete do quão astuciosamente podemos nos autoabsolver de qualquer responsabilidade por nossas ações destrutivas.

O que você vê quando olha

para Cristo?

Entretanto, não é nem mesmo possível que você comece a honrar o sacrifício da cruz em sua própria vida até compreender a derradeira realidade que você provocou! O que você vê quando olha para Cristo? Reconhece que você (e eu) o colocou lá?

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 10 02.09.09 08:59:46

11

Este era o único antídoto possível para o vírus mortal do pecado humano e da rebelião contra Deus. Você o vê como Senhor e Salvador, ou como os soldados, o seu olhar fixo passa por Ele entorpecido e recusa-se a sentir o peso da Sua agonia por nós?

O ESCÁRNIO DA CRUZ

Por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: EsTE é JEsus, O REI DOs JuDEus. E foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda. Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz! De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. é rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele.

cONFIOu EM DEus; POIs vENHA lIvRá-lO agora, sE, DE FATO, lHE quER bEM; porque disse: sou Filho de Deus. E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele (Mateus 27:37-44).

Jesus… estava pendurado na cruz entre dois ladrões

— morrendo exatamente com o tipo de pessoa

pelo qual Ele veio morrer.

O escritor e teólogo Warren Wiersbe escreve em be loyal (Seja Leal) que a acusação escrita: “Este é Jesus, o rei dos judeus” foi o primeiro folheto evangelístico redigido! Com esta declaração da Sua identidade divina diante deles, a multidão começou a zombar

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 11 02.09.09 08:59:46

12

de Jesus enquanto Ele estava pendurado na cruz entre dois ladrões — morrendo exatamente com o tipo de pessoa pelo qual Ele veio morrer. Três grupos se revezaram escarnecendo o Filho de Deus e todos os seus insultos pareciam estar centrados nas afirmações de Cristo e Sua aparente impotência enquanto estava pendurado na cruz. Três grupos de escarnecedoresTranseuntes: Eles provavelmente não faziam parte da multidão que gritara: “Crucifica-o!” O local da crucificação ficava numa das entradas principais para a cidade de Jerusalém e estas eram as pessoas que entravam na cidade para começar seu dia. No entanto, uniram-se imediatamente aos que atormentavam os crucificados — com pouco ou nenhum senso de misericórdia, compaixão ou piedade pelo sofrimento deles. Não importava por que estes homens estavam na cruz, importava apenas

que eles eram um alvo fácil para as línguas caluniadoras da multidão. Sumo sacerdotes, escribas e anciãos. Estes homens representavam as autoridades religiosas — um grupo de líderes institucionalizados atormentados com frequência pela reprovação e condenação de Jesus. Estes, supostamente, deveriam ser homens formais, profissionais, contudo o relato de Lucas diz que eles zombavam dele — demonstrando pouca dignidade e nenhuma compaixão (Lucas 23:35). Estes líderes espirituais nos dão uma demonstração concreta de como o pecado corrompe o melhor das pessoas. No livro The Gospel Of st. Matthew (O Evangelho de São Mateus), MacLaren diz: “O que é mais misericordioso e terno do que a verdadeira religião? O que é mais impiedoso e maligno do que ódio que chama a si mesmo de religioso!” Ladrões. No início do evento da crucificação, os dois ladrões juntaram-se ao escárnio do povo. Contudo

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 12 02.09.09 08:59:46

13

com o desenrolar do dia, um dos ladrões verá aquilo que a multidão, os soldados e os líderes religiosos não conseguiram enxergar e se arrependerá e crerá em Jesus! Este ajuntamento aleatório de personalidades transformou-se em motim cruel e insensível. Um teólogo destacou que as palavras deles poderiam ser resumidas em três temas distintos. Três temas de escárnioEles negaram o poder de Cristo. “Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!” (Mateus 27:40). Observe que suas palavras levantam uma questão crítica: “se és Filho de Deus,” uma declaração que repete as palavras de Satanás durante a tentação em Mateus 4:3-6. O autor D. A. Carson escreveu no Expositor’s bible commentary (Comentário Expositivo da Bíblia): “Através dos transeuntes, Satanás ainda queria que Jesus não cumprisse a vontade do Pai e evitasse sofrimentos posteriores.”

A multidão supunha que a fraqueza mantinha Jesus preso à cruz, quando na verdade era a Sua onipotente força! Maravilhosamente, não eram os pregos ou as cordas ou os guardas que o mantiam ali. Eram as cordas invisíveis do amor divino. Eles negaram o propósito de Cristo. “Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar- -se” (Mateus 27:42). É claro que a perspectiva deles era sem fundamento. Não era uma questão de não poder, mas uma questão que Ele não faria. Eles até mesmo sugeriram (como fizeram em Mateus 9:3-4) que Satanás lhe dava poder para realizar Seus milagres, pois se o poder viesse de Deus, o Deus de milagres o livraria. Claramente, apesar de todas as profecias do Antigo Testamento e de todas as declarações do próprio Cristo, ainda assim eles não compreendiam por que Ele tinha vindo. Ele nada precisava provar, pois Ele já o provara repetidamente. A desconhecida missão de Cristo não era salvar-se: era entregar-se — uma missão que

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 13 02.09.09 08:59:46

14

estava sendo cumprida diante deles mesmo que a negassem. Porém, havia algo mais em suas palavras. O comentário deles foi uma declaração de compromisso que, não estavam dispostos a honrar. Disseram que creriam se Jesus descesse da cruz, mas de fato não fariam isso. Eles nem mesmo creram quando Lázaro foi ressuscitado dos mortos! Não, de fato, eles não creriam. O autor James Stalker escreveu em seu livro The Trial and Death of Jesus christ (O Julgamento e Morte de Jesus Cristo): “Se o cristianismo fosse somente uma fé religiosa para se acreditar, ou um culto em cuja celebração a harmonia e o talento pudessem se alegrar, ou um caminho particular no qual o homem pudesse peregrinar ao céu sem ser notado, as pessoas estariam felizes por crer nele; mas como significa confessar Cristo e suportar sua reprovação… nada querem disso.” Dizem que creriam se Ele descesse, porém, exatamente porque Ele não desceu, que nós cremos.

Eles negaram a pessoa de Cristo: “…DEUS; POIS VENHA LIVRá-LO agora, SE DE FATO LHE QUER BEM…” (Mateus 27:43). Os sumo sacerdotes de modo sarcástico citaram o Salmo 22, que afirmavam acreditar ser messiânico, e usaram suas palavras para atacar o relacionamento de Jesus com Seu Pai. É como se estivessem declarando: “O Seu Pai não o ama, não se preocupa com você, não tem tempo para você.” Davi falou profeticamente sobre a rejeição do Messias dizendo: “Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está?” (Salmo 42:10). Davi profetizou sobre aquilo que seria mais doloroso para o coração do Salvador. Como uma espada esmigalhando Seus ossos, o escárnio deles apunhalou aquilo que era mais precioso para o Filho — O Seu relacionamento com o Pai. Não ignore o fato de que a perspectiva deles estava distorcida pela descrença e

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 14 02.09.09 08:59:47

15

dureza de coração. O que torna isto tão aterrorizante é que todo o seu escárnio era fundamentado em verdades das escrituras, porém, lhes faltava a compreensão do significado dessas afirmações. Eles viram, mas jamais enxergaram. Eles escutaram, mas jamais ouviram.

O Rei do amor era rejeitado pelos

objetos do Seu amor.

O que acontecia com aquele que estava morrendo na cruz, não era a única tragédia, mas trágica também era a condição patética daqueles que o contemplavam com blasfêmia, descrença e ódio. O Rei do amor era rejeitado pelos objetos do Seu amor. Não sabemos por quanto tempo este escárnio continuou, mas provavelmente foram as três primeiras horas da crucificação. Durante a maior parte deste período a Palavra Viva permaneceu em silêncio.

Entretanto, quando Ele falou, as Suas palavras foram impactantes ao ressoar pelas ladeiras da Judéia e reverberar dos muros de Jerusalém: “Pai, perdoa-os!” É esta a profundidade do amor divino. Ele não declarou a Sua inocência. Não clamou por Sua libertação. Não os destruiu em vingança. O Filho de Deus, pendurado num madeiro, chorou por piedade ao homem — e clamou por misericórdia! E até mesmo enquanto falava, Ele estava cumprindo o que era necessário para que essa misericórdia estivesse disponível. Mais uma vez, o amor do Salvador é admirável para nós — amor que vimos em Sua resposta aos Seus inimigos, Seu traidor e as Suas ovelhas espalhadas. Este amor inspirou o autor de hinos Phillip Bliss a escrever:

Suportando a vergonha e o escárnio cruel,

Foi condenado em meu lugar,Selou o meu perdão

com seu sangue;Aleluia! Que Salvador!

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 15 02.09.09 08:59:47

16

Tenho que admitir que mesmo tendo crescido na igreja, nunca entendi o autor de hinos Isaac Watts quando entoávamos “Ao Contemplar a Rude Cruz”. Ficava perdido no vocabulário rebuscado e no tom sombrio, e parecia apenas outra canção antiga, além da compreensão para minha mente imatura. Levaria anos antes que eu pudesse indelevelmente ver o brilho maravilhoso que Watts captara profundamente. Muito antes de Mel Gibson filmar a vívida, dramática e sangrenta cena da crucificação em A Paixão de cristo, um evangelista itinerante visitou a faculdade de teologia que eu frequentava. A visita dele foi um divisor de águas para a minha compreensão e reconhecimento da cruz. Uma noite o evangelista descreveu com cuidado e precisão os fatos que envolveram a crucificação de modo geral, e a de Jesus em particular, com detalhes que eu nunca antes fora forçado a encarar. A cruz tinha sido sempre apresentada de maneira quase

estéril e segura — não como o evento perigoso e de revirar o estômago que foi. Eu ouvia enquanto ele derramava o seu coração sobre o sofrimento de Cristo, e impressionei-me com as realidades diametralmente opostas do extremo amor de Cristo, e a repugnância do ódio humano que estavam em jogo. As palavras do evangelista me levaram a uma percepção clara e definitiva sobre quão malévolo é o pecado e malévolos são os corações dos pecadores. Em nenhum lugar da história vemos com tanta clareza a capacidade do coração humano para a rebelião, ódio e impiedade. Contudo, ressurgindo da escuridão do mal, está a maravilhosa cruz, que triunfalmente proclama a magnitude do amor de Deus! Contemplar a cruz é comemorar mirando o ponto crucial de toda a história humana. É apreciar a mais dramática demonstração de amor que o mundo jamais viu. E é ver como um Deus santo não pode tolerar o pecado,

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 16 02.09.09 08:59:47

17

apesar de amar os pecadores. É começar a reconhecer que toda a eternidade depende dos acontecimentos daquele momento, e compreender que a maior vitória do céu está na morte de Cristo; não na derrota, que mentes desorientadas podem concluir. Enquanto ouvia naquela noite, perdi o fôlego e as palavras pela misericórdia, e fui silenciado pelo amor. Finalmente, nas palavras apaixonadas daquele evangelista, eu vi, senti e compreendi o que Isaac Watts tentava me dizer durante todos aqueles anos que eu confuso cantara o seu hino. Ele escreveu:

Ao contemplar a rude cruz Em que por mim morreu Jesus.

Minha vaidade e presunçãoEu abandono em contrição.De sua fronte, pés e mãos

Vem um amor que faz irmãosUnem-se nele dor e amor

A coroar o Redentor.(Extraído de HCC 127)

a MajEstadE dO calváriO

O Natal é um dos ápices da fé cristã, cheio de calor, alegria e

boa vontade. Convida-nos a contemplar o Bebê na manjedoura e descobrir que agora a paz é possível, pois o Príncipe da Paz chegou. Cheio de pastores, uma estrela brilhante e reluzente e um coro angelical, o Natal é marcado pela luz e esperança. Contudo, ainda que às vezes seja difícil lembrar, todos os acontecimentos do primeiro Natal anunciavam a cruz. Em uma das minhas canções natalinas favoritas, o autor do hino compreendeu claramente a realidade de que Cristo “nasceu para morrer, para que o homem pudesse viver”. Uma verdade perturbadora, poderosa, gloriosa. Todos os seres humanos nascem sob uma sentença de morte, por causa da desobediência de nossos antigos pais. Como pecadores esta é a nossa penalidade. No entanto, para Jesus a

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 17 02.09.09 08:59:47

18

morte não era sua pena, mas era o Seu destino. Não era a Sua sina na vida: era a Sua missão. Não era o Seu desígnio inevitável; era Seu desejo de vir ao mundo naquele primeiro Natal: “Nasceu para morrer”. Agora chegamos ao terrível e maravilhoso momento em que o cumprimento da missão de Cristo está sobre nós. Vemos o Salvador cumprindo o destino que o fez declarar a Pilatos: “Eu para isso nasci” (João 18:37). Aqui veremos o que isso significava. Vamos nos aproximar e veremos como o Filho de Deus morre — em esplendor e majestade, não em derrota e perda. Vimos na página cuatro que os registros dos evangelhos nos dão duas perspectivas diferentes da cruz de Cristo. Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) descrevem a agonia e a humilhação da cruz por apresentá-la acertadamente, como uma ferramenta de tortura e execução. O Evangelho de João, porém, mostra um retrato muito diferente dos acontecimentos

daquela primeira Sexta-feira Santa. João quer que enxerguemos a cruz como um trono de glória e poder — um trono a partir do qual o Filho de Deus vence a morte, o pecado e Satanás. Ele nos apresenta a prova incontestável da morte do Rei dos reis que estava a ponto de realizar a Sua maior glória, enquanto morria na cruz.

Para Jesus a morte não era sua pena,

mas era o Seu destino. Não era

a Sua sina na vida: era a Sua missão. Não era o Seu

desígnio inevitável; era Seu desejo de vir ao mundo naquele

primeiro Natal: “Nasceu

para morrer”.

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 18 02.09.09 08:59:47

19

A crucificação, durou cerca de seis horas. Durante essas seis horas, os autores dos evangelhos apresentam sete afirmações de Cristo a partir do madeiro da morte — afirmações que algumas vezes são chamadas de as Sete Últimas Palavras. Estas declarações, como os editos de um rei a partir do seu trono real, são cheias de significado, mas também são intencionalmente diretas. As três primeiras declarações são de natureza horizontal e descrevem as conclusões de Cristo sobre seus acordos com a humanidade. São afirmações caracterizadas pelo seguinte: Perdão: “Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Redenção: “Jesus lhe respondeu [ao ladrão na cruz]: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43). Compaixão: “Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois,

disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa” (João 19:26-27). Tendo completado as Suas tarefas terrenas, o Salvador voltou Sua atenção para o céu e a última e sublime tarefa. As Suas quatro últimas declarações são de natureza vertical e envolvem Seu Pai no ato de redenção que está acontecendo na cruz do Calvário. Estas declarações expressam os aspectos espirituais da obra de Cristo enquanto Ele atravessa estes estágios: Abandono: “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: ELI, ELI, LAMá SABACTâNI? O QUE QUER DIzER: DEUS MEU, DEUS MEU, POR QUE ME DESAMPARASTE?” (Mateus 27:46). Prontidão: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!” (João 19:28). Cumprimento: “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado!

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 19 02.09.09 08:59:47

20

E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (João 19:30). Alívio: “Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, NAS TUAS MãOS ENTREGO O MEU ESPíRITO! E, dito isto, expirou” (Lucas 23:46). Na acusação que foi colocada acima de Sua cabeça lia-se: “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS” (Mateus 27:37). E era verdade. Tudo sobre Sua crucificação falava de Sua verdadeira majestade, não apenas como o Rei dos judeus, mas também como o Rei dos reis.

A MAJESTADE DA COMPAIXÃO

…Assim, pois, o fizeram os soldados. E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de clopas, e Maria Madalena. vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa (João 19:24-27).

Observe o contraste. Os soldados, lançando sortes pelas roupas dele reagiram de uma forma ao Filho do Homem. Todavia, as mulheres reagiram de maneira bem diferente. Mesmo na morte, Jesus traçou uma linha na areia e separou as pessoas em grupos com base no modo como se identificavam com Ele. Os soldados estavam lá cheios de cobiça e indiferença, mas as mulheres estavam lá com amor e devoção. Motivos bem diferentes. Corações bem diferentes. Planos bem diferentes. Quatro mulheres estavam presentes — todavia, aparentemente, elas passaram despercebidas pela multidão. Embora elas certamente corressem riscos por se identificar com o condenado nazareno, pode ser que não foram notadas simplesmente porque eram mulheres. Mas Cristo percebeu a presença delas. Quando olhava para baixo a partir da cruz quem Ele via? Maria, Sua mãe: Experimentando o que Simeão havia profetizado muitos anos

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 20 02.09.09 08:59:47

21

antes, quando disse a ela que “…uma espada traspassará a tua própria alma…” (Lucas 2:35). Salomé, irmã de Maria: (Marcos 15:40), aparentemente a esposa de zebedeu e a mãe de Tiago e João (Mateus 27:56). Maria, a esposa de Clopas: Alguns estudiosos defendem que Clopas era o mesmo nome de Alfeu. Se isto estiver correto, esta Maria teria sido a mãe de Tiago “o Menor” (Mateus 10:3), Mateus (Marcos 2:14) e talvez até mesmo Judas (não o Iscariotes). Maria Madalena: Falaremos dela adiante. A presença dessas mulheres demonstra a profundidade do seu amor por Cristo. Jesus havia repreendido Salomé (Mateus 20:22) severamente, mas ainda assim ela estava lá. Jesus havia libertado Maria Madalena de sete demônios, e ela jamais se esqueceu da Sua graça (Lucas 8:2). Agora, no que certamente parecia o fim, ambas estavam ao Seu lado. Todavia, enquanto o Salvador

olhava para estas mulheres ao pé da cruz, foi Sua mãe quem conquistou Seu coração. Embora Ele com certeza fora tocado pelo amor e devoção das outras mulheres, Sua atenção permanecia em Maria. No livro As Epístolas de João, James M. Bolce cita um poeta que descreve o amor de Maria por seu filho desta forma:

Perto da cruzMantendo-se em vigília,

Estava a mãe,Exausta com o choro,Onde Ele pendurado,O Senhor moribundo;Através da sua alma,

Em gemidos angustiantesProstrada de tristeza,

suspirando, lamentandoPassou a espada afiada

e penetrante.Oh, o peso da sua aflição!

Dela que conquistou a benção de Deus,

Dela que deu à luz ao Santo de Deus:

Oh, aquele relato mudo e incessante!

Oh, aqueles olhos apagadosJamais se desviavamDo seu maravilhoso,

Filho sofredor.

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 21 02.09.09 08:59:47

22

Como deve ter intensificado o Seu próprio sofrimento vê-la em lamento. No túmulo de Lázaro, Jesus havia chorado pelas lágrimas de Marta e Maria — deve ter sido maior Sua comoção com o choro da Sua mãe. Finalmente, falou com ela — ainda sob controle. Chamando-a de “Mulher”, Ele rompeu o antigo relacionamento de mãe e filho. Embora não seja um termo desrespeitoso, não é tampouco um termo carinhoso. Ele sinalizava uma mudança na maneira como deviam se relacionar um com o outro. Em João 2:4, Ele também a havia chamado de “Mulher” e disse-lhe, que Sua hora ainda não havia chegado. Agora aquela hora estava aqui — e ela também precisava que Ele morresse pelos seus pecados! Contudo, mesmo na dissolução do antigo relacionamento deles, Cristo se preocupava com esta mulher sofredora. Em compaixão pela sua solidão e perda, Jesus se voltou para João — o único discípulo disposto a ficar com

as mulheres à cruz do Mestre. Aparentemente, José já havia falecido nesta época e os meio-irmãos de Jesus ainda não haviam crido (apesar de que virão a crer). Como resultado, Cristo confiou Maria a um verdadeiro membro da Sua família e garantiu o seu bem-estar entregando-a a João, o discípulo que Ele amava.

Ao final do dia, mesmo na cruz,

Jesus pensava mais no sofrimento dos outros do que no

Seu próprio. —Wiliam Barclay

Sobre este cuidado carinhoso e compaixão amorosa, James Stalker escreve no The Trial and Death of Jesus christ (O Julgamento e Morte de Jesus Cristo): “Do púlpito da cruz, Jesus prega um sermão para todas as gerações sobre o quinto mandamento.”

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 22 02.09.09 08:59:47

23

O teólogo Wiliam Barclay concorda, à medida que escreve em seu comentário sobre o evangelho de João:

Existe algo infinitamente comovente no fato de Jesus, na agonia da cruz, quando a salvação do mundo estava em jogo, pensar sobre a solidão de Sua mãe nos dias seguintes. Ele jamais esqueceu os deveres que estavam em Suas mãos. Ele era o filho mais velho de Maria e mesmo no momento da Sua batalha cósmica, não esqueceu as coisas simples que se relacionavam a Seu lar. Ao final do dia, mesmo na cruz, Jesus pensava mais no sofrimento dos outros do que no Seu próprio.

Esta é a definição de compaixão. Em meio aos Seus intensos sofrimentos, Jesus cuidou daqueles que amava e, fazendo isso, concluiu Seu envolvimento com os homens. Com o cuidado de Maria garantido, seu foco mudou para as coisas do alto, para o propósito por trás de tudo — a enorme tarefa de se tornar o Cordeiro de Deus,

o sacrifício pelo pecado da raça humana perdida.

A MAJESTADE DA CORRUPÇÃO

Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: ElI, ElI, lAMá sAbAcTâNI? O quE quER DIzER: DEus MEu, DEus MEu, POR quE ME DEsAMPARAsTE? (Mateus 27:45-46).

A “hora sexta” (v.45) representava a metade do dia — meio-dia. Entretanto, no momento em que o sol deveria brilhar mais forte, na hora em que o céu da Judéia deveria resplandecer, é como se a luz da própria criação fosse apagada. O céu escureceu e foi como um compositor expressou: “meia-noite no meio do dia”. Algo impressionante estava acontecendo na cruz central — o que era? O apóstolo Paulo mais tarde descreveria desta forma: “Aquele que não conheceu pecado [Cristo], ele [o Pai] o [Cristo] fez pecado por nós; para que, nele, [Cristo]

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 23 02.09.09 08:59:47

24

fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). É o que Isaías profetizou quando escreveu: “…o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Isaías 53:6). Naquele momento terrível o Sacerdote tornou-se o Cordeiro. Pedro comentou que “[Cristo] carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados… (1 Pedro 2:24). Ele estava completamente envolvido pelo pecado da humanidade. Deus escolheu depositar nossos pecados sobre o Cordeiro que era sem pecado e puro — e ambos; a criação e o Criador responderam a esta considerável transação.

Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele

fôssemos feitos justiça de Deus. —2 Coríntios 5:21

A resposta da natureza. O sol escureceu porque a Luz do mundo estava coberta com a nossa maldade. Toda a criação gemia pela sua redenção enquanto a terra tremia e as pedras clamavam. No entanto, através daqueles acontecimentos, Deus estava trabalhando. O véu que guardava o Santo dos Santos no templo de Jerusalém rasgou-se durante o terremoto, possibilitando a todos que em nome de Cristo tivessem “acesso pela fé” (Efésios 3:12) à própria presença de Deus. Tudo isto aconteceu enquanto o Pai estava trabalhando na escuridão. O escurecimento do sol foi entendido como um símbolo de lamento e os líderes religiosos judeus sentiram que tal acontecimento estivesse ligado de alguma forma à vinda do Messias. Ainda assim, este fato sobrepunha-se às explicações naturais. Não foi um eclipse, porque ocorreu durante a Páscoa na lua cheia. Era uma escuridão intensa demais para ser uma mera tempestade. Deus fez isso para permitir que

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 24 02.09.09 08:59:47

25

a criação lamentasse a morte do Criador e para evitar que os olhos humanos pecadores assistissem à assombrosa, maravilhosa expressão de graça dedicada por Cristo na cruz. A resposta do Pai. O Pai respondeu com mais do que mera escuridão, contudo Ele estava silente — um silêncio que para aquele que carregava o pecado foi interpretado como abandono. Martinho Lutero descreveu este desamparo declarando: “Deus abandonado de Deus, quem pode sabê-lo?” Um pregador declarou: “A ira de Deus exigia isso, e a graça de Deus o supriu; o Filho de Deus o assegurou; Deus o Pai permitiu.” Mesmo com os exércitos celestiais à Sua disposição, Cristo submeteu- -se ao plano eterno, que, todavia, desenrolou-se sem interrupções. Pois este era o plano da eternidade, e este era o objetivo da encarnação. Por essa razão Jesus veio, e o Pai o enviou. A resposta de Cristo. O Filho de Deus também respondeu, com duas

declarações de dor — ambas eu creio, dirigidas ao Seu Pai! “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Aqui as palavras de Davi no Salmo 22:1 tornam-se vivas. A expectativa do Getsêmani atingiu os horrores da realidade, pois os terrores do jardim tornaram-se a corrupção do Calvário. Os indescritíveis sofrimentos de Cristo vinham das mãos do Seu próprio Pai! Isaías 53:10 profetizou que tudo isto vinha do Pai. “…ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar…” Cristo clamou aterrorizado, a Sua rejeição nas mãos dos homens foi infinitamente intensificada por estar separado de Seu Pai — pela primeira vez em toda a eternidade! O clamor “Meu Deus” representa o apelo de um pecador desesperado, embora Ele jamais tenha pecado. Jesus sentiu todo peso do Seu isolamento, porque no intenso silêncio e afastamento de Seu Pai, Ele experimentou a solidão absoluta. “Suspenso entre o céu e a terra, contudo,

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 25 02.09.09 08:59:47

26

rejeitado por ambos.” Stalker escreveu com autoridade sobre a solidão do Salvador neste momento em O Julgamento e Morte de Jesus cristo:

Como Ele está próximo de nós! Talvez nunca em toda a Sua vida Ele tenha se identificado tão completamente com os Seus pobres irmãos humanos. Pois aqui Ele desce para ficar ao nosso lado, não apenas quando temos que encontrar a dor e o infortúnio, desolação e morte, mas quando enfrentamos a dor que vai além de todas as dores; aquele horror em cuja presença o cérebro se enrola, e a fé e o amor, os olhos da vida, são apagados — o horror de um universo sem Deus, um universo que é uma grotesca, retorcida e esmagadora massa confusa, sem razão para guiá-la e sem amor para sustentá-la.

“Tenho sede.” João 19:28-29 nos diz: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! Estava ali

um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca”. Durante Seu ministério, Jesus abordou diversas vezes o assunto da sede: “Bem-aventurados os que têm […] sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6); “…Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37); “…tive sede, e me destes de beber…” (Mateus 25:35). Que ironia — a água Viva clamando sedenta! Agora quando Ele clamou sedento, um caniço de hissopo foi usado para levar uma esponja embebida em vinagre até a Sua boca. (O hissopo era utilizado na celebração da Páscoa para aplicar o sangue do cordeiro nos umbrais e batentes da porta de entrada da casa). Mas por que — por que Ele teve sede? Eu sugeriria que Ele não sentiu sede de água ou vinagre. Estava sedento pelo cálice de sofrimento que tinha pedido que passasse dele nos sofrimentos no jardim do

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 26 02.09.09 08:59:47

27

Getsêmani. Porém, além disso, Ele ansiava pela restauração da comunhão e presença do Pai! Ele sentiu a profundidade das palavras do Salmo 42:2: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” Se o choro de abandono, “Deus meu” anunciava o início do carregar de pecados, então talvez essas palavras representassem o seu final. Separadas por três horas, as palavras do Cordeiro descreviam extraordinária saudade do Pai. Sedento mais uma vez pela comunhão e companhia do Pai, Jesus pagara a penalidade — o sofrimento estava completo. Certamente o olhar de horror no semblante do Cristo abandonado sozinho na escuridão agora fora substituído pela calma do Filho, que novamente experimentava a luz da presença do Pai. Tudo o que restou foi anunciar a vitória — uma vitória que solucionou o problema do pecado para todas as pessoas de todas as gerações.

A MAJESTADE DO CUMPRIMENTO

quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito (João 19:30).

“Está consumado!” No grego “te telestai,” “Está cumprido!”, “Eu o fiz!” Mateus 27:50 diz que as últimas palavras de Jesus foram proferidas em alta voz — é um brado de vitória! Spurgeon escreveu:

Seriam necessárias todas as palavras que já foram ditas para explicar esta única palavra. É totalmente imensurável. É elevado, não posso compreendê-la. É profunda, não posso discerni-la!

O compromisso de Jesus com o plano do Pai ficou evidente durante todo o Seu ministério terreno, e Ele cumpriu esse compromisso até o fim — “…obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2:8). “Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 27 02.09.09 08:59:47

28

realizar a sua obra” (João 4:34). “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (João 17:4).

Ele havia completado a

salvação — jamais seria necessário outro

sacrifício. Nenhum outro ritual precisaria

ser realizado. Nenhum esforço

humano seria exigido. Como a dádiva da

eterna graça, Jesus completou

a salvação, de uma vez por todas

— por todos nós.

Ele completou tudo! Ele não deixou qualquer profecia para ser cumprida, nenhuma obra inacabada,

nenhum amor para ser compartilhado, nenhum sofrimento incompleto. Ele completou tudo o que o Pai o enviara para fazer. Então Ele descansou. Porém como em Gênesis 2 após a criação, Jesus não experimentou o descanso da fadiga. Foi o descanso da missão cumprida. Ele havia completado a salvação — jamais seria necessário outro sacrifício. Nenhum outro ritual precisaria ser realizado. Nenhum esforço humano seria exigido. Como a dádiva da eterna graça, Jesus completou a salvação, de uma vez por todas — por todos nós.

A MAJESTADE DO CONTROLE

Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou (lucas 23:46).

Observe a compostura real de Cristo. Ele fez o que disse que faria. Ele pagou pelo pecado e garantiu a redenção. Ele tornou-se o resgate para o sofrimento e a morte — tudo

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 28 02.09.09 08:59:47

29

“…em troca da alegria que lhe estava proposta…” (Hebreus 12:2). Tudo que lhe restava era finalizar todas as coisas — morrendo. Mas até mesmo aqui, Ele estava no controle. Observe com atenção como Jesus se dirigiu ao Deus do céu durante estas seis horas de sofrimento na cruz. No início da crucificação, Ele voltou-se para o Seu Pai buscando o perdão para os homens pecadores. No instante em que os pecados do mundo foram colocados sobre Ele, Ele clamou: Deus meu! com um choro de desamparo e abandono. Uma vez realizada a obra, novamente Ele clamou: Pai! Missão cumprida. Relacionamento restaurado. Completamente consciente de que tudo aquilo tinha que acontecer, Jesus entregou Seu espírito aos cuidados do Pai exatamente às 15h — a hora do sacrifício da tarde. E morreu. Entretanto, nenhum dos evangelhos registra que Ele morreu. Ele pura, simples e poderosamente cumpriu Suas próprias palavras de propósito, palavras que por completo

revelaram o Seu controle quando Ele disse:

Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai (João 10:17-18).

Sempre submisso ao amor do Pai e sempre obediente a vontade do Pai, agora no final, Jesus entregou o Seu espírito ao Pai e morreu. O compositor de hinos Thomas Kelly escreveu:Cabeça de espinhos coroada,

Um coroa de glória tem;Celestial diadema real adorna

A frente do Vitorioso.O lugar mais alto

que o céu temé seu, é seu direito,

O Rei dos reis, Senhor de senhores,

é a celestial luz eterna!

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 29 02.09.09 08:59:47

30

tUdO POr caUsa da crUZ

Eu cresci indo à igreja. Todos os domingos minha família estava lá

e todos os domingos os meus irmãos e eu nos sentávamos em silêncio (a maior parte do tempo) e ouvíamos coisas que não entendíamos. No entanto, em todos aqueles anos, não me lembro de ter ouvido alguma explicação sobre a mensagem de Cristo. Nunca ouvi o evangelho. O Natal era sobre presentes e a Páscoa era um mistério, nenhum destes dias causava qualquer impacto espiritual em minha vida. Ao crescer desliguei-me dessas raízes de um cristianismo institucional e cultural e desviei-me dos ancoradouros da religião, que pareciam incrivelmente ocos e vazios de significado, poder ou vida. Após minha formatura do ensino médio, mudei de igreja à procura de respostas, sem encontrá-las. Então, em 1972, ocorreu algo que mudaria o rumo da minha vida. Fiz parte

de uma equipe de pesquisa na companhia de gás onde eu trabalhava. Éramos responsáveis por pesquisar tubulações, localizar poços e uma variedade de projetos de engenharia civil. Em um dia frio de janeiro, fomos escalados para pesquisar um orifício central onde os engenheiros fariam perfurações em busca de carvão — carvão que poderia ser usado em experimentos para a gasificação do carvão. A busca precisava começar com base em parâmetros do governo americano para garantir que estávamos começando numa altitude correta. O parâmetro em questão ficava no encontro da ponte de uma ferrovia sobre o leito seco de um rio perto de Fort Gay em Virgínia do Oeste. Como eu era o mais jovem da equipe, tive que escalar a ponte enquanto meus colegas se aqueciam no carro. Uma vez na ponte, encontrei facilmente o disco de parâmetro implantado no concreto do ponto de encontro. Foi então que aconteceu o pior.

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 30 02.09.09 08:59:47

31

Não me lembro com clareza como aconteceu, mas as reportagens dos noticiários indicavam que os ventos estavam atingindo cerca de 110 km por hora naquele dia. Então presumi durante todos estes anos que uma rajada de vento veio num estrondo por trás de mim e me derrubou da ponte. Eu caí do ponto de encontro que estava estudando cuidadosamente alguns momentos antes, e aterrissei no leito seco do rio sobre o meu pescoço 11,5 m abaixo. Os meus colegas de trabalho me tiraram do desfiladeiro e me levaram ao hospital onde passei a semana seguinte em tração — e três meses de licença médica. Durante o período em que estive hospitalizado, fiquei numa enfermaria com quatro leitos e o homem na cama perto da minha era mais velho e estava mal. Um dia, enquanto sua esposa o visitava, eu podia ouvi-los cochichando e chorando. Deduzi que tinham acabado de receber más notícias dos médicos e que estavam

sofrendo por causa delas. Como me enganei! No final do horário de visitas, a esposa começou a sair, mas parou perto da minha cabeceira. Olhou em direção ao meu rosto e eu podia ver as lágrimas em seus olhos quando ela disse: “Meu marido acabou de contar-me o que aconteceu com você. Cremos que Deus poupou sua vida porque Ele quer usá-lo. Estamos orando por você e continuaremos”. Eu jamais pensara em algo assim, mas ficar deitado em uma cama de hospital com o pescoço tracionado deu-me muito tempo para pensar. Nos meses que se seguiram, minha busca me levaria a uma igreja diferente — uma igreja que ensinava a Bíblia; um emprego diferente — com um colega cristão que me apoiouem assuntos relacionados a Cristo; e um destino diferente. Minha jornada terminou em uma faculdade cristã — de todos os lugares. Lá, em um culto na capela, em 12 de outubro de 1973, ouvi uma explicação sobre o evangelho e acolhi o Cristo da cruz como meu

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 31 02.09.09 08:59:47

32

Salvador. Ele conquistara meu coração com Sua graça e tornei-me um seguidor de Cristo. Muitas vezes olho para trás no caminho por onde andei e penso no vazio da religião. Porém, isso foi substituído pela plenitude do Calvário. Penso naquele querido casal no hospital que orou por mim, penso em sua bondade e preocupação por mim. Mas isto ainda é menor se comparado à compaixão do Calvário. Pensei sobre o colega de trabalho que delicada e pacientemente me fez voltar aos assuntos da fé. Contudo isso é quase esquecido pela paciência e amor bondoso do santo Deus que viu meus pecados e enviou o Seu Filho para morrer na cruz porque Ele “não querendo que nenhum pereça, (inclusive eu) senão que todos cheguem ao arrependimento” (veja 2 Pedro 3:9). Agora, mais de 30 anos depois, valorizo profundamente todos aqueles marcos ao longo do caminho. Entretanto, Cristo e Seu amor poderoso deram

o sentido e o significado que minha vida nunca teve. Tudo devido à cruz. Tudo por causa da Sua majestade. Ele veio para ser meu Salvador. O compositor expressou-se bem ao perguntar:

Precioso amor!Não sei explicar,

Porque JesusMorreria por mim?

Este livreto é um trecho extraído de The Path of His Passion (O Caminho da Paixão de Cristo) de Bill Crowder, publicado pela Discovery House Publishers, membro da família de Ministérios RBC. Bill foi pastor durante 20 anos, e hoje é professor bíblico associado de Ministérios RBC. Ele e sua esposa Marlene têm cinco filhos.

o texto inclui o acordo ortográfico conforme Decreto n.º 6.583/08.

DE247_EscarnioMagestadeCalvario.indd 32 02.09.09 08:59:48