spaces and borders of _freedom of expression_ in blogs on the internet

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    Trabalhos em Lingustica AplicadaPrint versionISSN 0103-1813

    Trab. linguist. apl. vol.49 no.2 Campinas July/Dec. 2010

    http://dx.doi.org/10.1590/S0103-18132010000200003

    ARTIGOS

    Espaos e fronteiras da "liberdade de expresso"

    em blogsna internet*

    Spaces and borders of "freedom of expression" in blogson the internet

    Espaces et frontires de la "libert dexpression" dansles blogues sur internet

    Fabiana Komesu

    UNESP, So Jos do Rio Preto (SP), Brasil.

    RESUMO

    Neste artigo, proponho discutir a noo corrente de "liberdade de expresso", comumente associada a prticas

    de escrita na internet, a exemplo de blogs. De uma perspectiva dos estudos da Anlise do Discurso, interessa-me observar questes de ordem lingustica e discursiva que possibilitam a emergncia de certos enunciados emrede, em meio trama da multiplicidade das relaes sociais que condicionam o(s) dizer(es) nacontemporaneidade. De maneira particular, busco caracterizar as condies de produo da linguagem em rede,na constituio de espao, entendido segundo problemtica social (SANTOS, 1996, 2008), em sua relao com aHistria, compreendida segundo descontinuidades (FOUCAULT, 1997).

    Palavras-chave:escrita discurso internet.

    ABSTRACT

    My aim in this paper is to discuss the current notion of freedom of expression, usually associated with internetwriting practices, as for instance in blogs. From the perspective of Discourse Analysis, I am interested in

    examining issues of linguistic and discursive order which may favor the emergence of certain utterances onlineamidst the plot of the multiplicity of social relations which condition the sayings of contemporaneity. Inparticular, I try to characterize the conditions of production of language online, in the constitution of space,understood as a social issue (Santos, 1996, 2008), in its relation with History, understood as discontinuities(Foucault, 1997).

    http://-/?-http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_alphabetic&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0103-1813&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edtla&format=iso.pft&lang=i&limit=0103-1813http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edtla&index=KW&format=iso.pft&lang=i&limit=0103-1813http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edtla&index=AU&format=iso.pft&lang=i&limit=0103-1813http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132010000200004&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132010000200002&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0103-181320100002&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/scielo.php?lng=enmailto:[email protected]://-/?-http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0103-1813&lng=en&nrm=isohttp://www.mendeley.com/import/?url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext%26pid=S0103-18132010000200003%26lng=en%26nrm=iso%26tlng=pthttp://www.altmetric.com/details.php?domain=www.scielo.br&doi=10.1590/s0103-18132010000200003http://www.scielo.br/scieloOrg/php/articleXML.php?pid=S0103-18132010000200003&lang=enhttp://www.scielo.br/readcube/epdf.php?doi=10.1590/S0103-18132010000200003&pid=S0103-18132010000200003&pdf_path=tla/v49n2/03.pdf&lang=pthttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-18132010000200003&lng=en&nrm=iso&tlng=pthttp://www.addthis.com/bookmark.php?v=250&username=xa-4c347ee4422c56dfhttp://www.addthis.com/bookmark.php?v=250&username=xa-4c347ee4422c56df
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    Keywords:writing discourse internet.

    RSUM

    Dans cet article, jtudie la notion courante de "libert dexpression", frquemment associe aux pratiques de lcriture sur internet, par exemple, celle des blogues. Du point de vue de lAnalyse du Discours, je moccupedes questions de lordre linguistique et discursive qui peuvent favoriser lmergence de certains noncs dansle rseau cause de la multiplicit des relations qui permettent que le(s) dire(s) apparaisse(nt) dans la socitcontemporaine. En particulier, je cherche caractriser les conditions de production du language en rseau pourconstituer lespace, compris selon une problmatique sociale (SANTOS, 1996, 2008), par sa relation avec lhistoire, comprise en discontinuit (FOUCAULT, 1997).

    Mots-cls:crit discours internet.

    A INFORMAO DISSEMINADA

    No incio dos anos 2000, quando os blogscomearam a ter notabilidade como nova tecnologia de comunicaono cenrio brasileiro, pensou-se que representariam a continuidade das pginas eletrnicas pessoais (home

    pages),1como verses atualizadas do dirio de papel. A facilidade para edio, atualizao e manuteno dosblogs foi considerada um dos principais fatores para seu sucesso e sua difuso como "ferramenta deautoexpresso". Aspectos textuais e discursivos que identificavam blog a dirio ntimo - a exemplo decabealho de assinatura do texto de contedo temtico ligado ao cotidiano, a relacionamentos familiares,amigveis, afetivos, enfim, narrativa do eu (cf. OLIVEIRA, 2002 SIBILIA, 2003 SCHITTINE, 2004 KOMESU,2004, 2005) - ainda podem ser encontrados na rede. Passados dez anos da "exploso" dos blogs, entretanto, oque se v em relatrios de motores de busca2 como Technorati (2009) que o foco da chamada "blogosfera"est, em particular, em atividades de usurios profissionais, mediante, principalmente, marketing em redessociais e monetizao da informao propagada na internet. Avalia-se tambm o impacto dessa atividade decomunicao digital em eventos de ordem mundial (TECHNORATI, 2009 RECUERO, 2009), a exemplo dautilizao de microblog, em meado de 2009, como modo de expressar a insatisfao dos cidados iranianos porocasio da reeleio do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Dada a censura imposta imprensa daquele pas e aexpulso de parte dos jornalistas estrangeiros, o clamor dos iranianos contra fraude eleitoral, priso e mortes,apenas pde ser "ouvido" via rede.

    , pois, em 2006 que surge o Twitter, rede social e servio para microblogs, como so conhecidas pginas webque permitem ao usurio enviar e receber, da rede de contatos, mensagens de at 140 caracteres. O servio,que pode ser feito pelo site do Twitter, por SMS3 e por softwares especficos de gerenciamento, ficouconhecido, inicialmente, por fazer com que o usurio respondesse a o que est fazendo naquele momento. Emlngua portuguesa - mas no somente - as rplicas a essa pergunta ainda ecoam pela rede, com comentriosevanescentes sobre mudana de mveis na casa, viagem casa da sogra, dor de dente, falta de amor, emdeclarado exerccio de exposio do privado ou ntimo. Fica evidente, porm, que a celebrao dessaferramenta, na atualidade, tem relao mais forte com o recente lema do servio - descubra o que estacontecendo neste exato momento, em qualquer lugar do mundo. Filtro de notcias e informaes, concentrausurios especializados em diversos temas e permite que o "tuiteiro" receba mensagem apenas de quem elequiser e espalhe informaes vindas de quem ele segue.4

    Dados do site Technoratiapontam para a existncia de mais de 133 milhes de blogs em circulao, at 2009.Estima-se que, por dia, sejam criados 80 mil novos blogs (CATONE, 2010). O Twitter, por sua vez, a segundarede social mais acessada no Brasil, com oito milhes e 300 mil usurios (LEAL, 2009). Pode-se dizer queusurios de blog e/ou microblogescrevem sobre "tudo": de literatura a cinema, msica, mdia, poltica,economia, sade, educao, meio ambiente, informtica, culinria, (des)emprego, consumo, direitos/deveresdo cidado, denncia contra crimes de toda ordem. 5H tambm prtica de plgio calnia, difamao, injriapartilha de receita de bomba caseira e de tcnicas de violncia fsica e psicolgica. Ao imaginar escreverem oque querem, usurios e no usurios dessas ferramentas enaltecem a criao de espao em que a chamadaliberdade de expresso seria facultada a todos. O fenmeno dos blogs- e, mais recentemente, dos microblogs -parece exemplar, neste caso, para refletir sobre efeitos de sentido (de poder) resultantes das relaes entrelinguagem e novas tecnologias. De uma perspectiva dos estudos da Anlise do Discurso de vertente francesa(doravante AD), interessa-me problematizar (romper com) associaes simplificadoras entre espao (facultadopelo suporte material) epotencial (do sujeito)para tudo dizer. Assumo que o modo de enunciao em blogs

    constitui-se como espaoregido por Formao Econmica e Social, cuja base de explicao, segundo Santos(2008, p.22), a produo, "trabalho do homem para transformar, segundo leis historicamente determinadas, oespao com o qual o grupo se confronta".6

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    1. CONDIES DE PRODUO DO(S) DIZER(ES)

    Esta reflexo sobre prticas de escrita na internet est relacionada a tese de doutoramento em Lingustica,defendida em 2005 (KOMESU, 2005),7e tambm a projeto de pesquisa mais amplo, desenvolvido de 2005 a2009, em que se estudou a relao fala-escrita em enunciados produzidos em contexto digital (KOMESU, 2009).De modo distinto do determinista ou do neutralista/instrumental, os quais, de acordo com Buzato (2006),produzem a crena de que a informatizao seria o equivalente do desenvolvimento lgico-cientfico,independentemente das relaes entre sujeitos e prticas sociais envolvidas em seus usos, acredito que asprodues textuais verbais e no verbais so constitudas em processo dialgico fundado no contexto social ehistrico. A discusso sobre prticas de escrita em blogs e microblogsenvolve reflexo que no apenas

    tecnolgica, no sentido de dispositivo material, mas tambm lingustica e discursiva. Proponho, pois, pensar ascondies de produo do(s) dizer(es) na rede, as quais permitem a emergncia de modos de enunciaosegundo possibilidades da lngua(gem) e de acordo com temas/assuntos possveis de ser enunciados nasesferas de comunicao social. Trata-se, portanto, de perspectiva diferente daquela que advogaria a causa da"liberdade de expresso" na internet.

    Com efeito, a noo de condies de produo(doravante CP) tem sua primeira definio emprica geral, nodomnio da AD, com os trabalhos de Pcheux (1990 cf. tambm COURTINE, 1981). Para Pcheux, "um discurso sempre pronunciado a partir de condies de produodadas", que sobredeterminam as aes dos sujeitos,mediante relaes de fora, existentes entre os elementos antagonistas de dado campo de atuao (em suateoria, o campo poltico, por excelncia), e relaes de sentido, nas quais produzido. "Assim, tal discursoremete a tal outro, frente ao qual uma resposta direta ou indireta, ou do qual 'orquestra' os termos principaisou anula os argumentos" (PCHEUX, 1990, p.77).

    Em sua releitura do clssico esquema informacional de Jakobson, Pcheux prope a substituio dos plos doremetente e do destinatrio por dispositivo em que as situaesso desdobradas em representaesimaginrias dasposies do locutor e do interlocutor. Para Pcheux e Fuchs (1990), as regras de projeodessas representaes imaginrias no discurso encontram-se condicionadas por formaes sociais e relaes declasse, como descritas pelo materialismo histrico (PCHEUX E FUCHS, 1990, p.165 e ss.). Elas se constituem,pois, mediantej-ditono processo discursivo, o que se ope tese fenomenolgica de "apreenso perceptiva"por parte do referente, do outro ou de si mesmo (PCHEUX, 1990, p.85). No se trata da transmisso deinformao de plo a outro, como designado no esquema de Jakobson, mas do estudo do discurso como efeitode sentidos entre sujeitos (PCHEUX, 1990, p.82).

    Para o que me interessa, a noo de condies de produo importante na medida em que coloca emevidncia a relao constitutiva entre lngua, sociedade e histria. O objetivo da assuno dessa noo discutir, de uma perspectiva lingustico-discursiva, a emergncia de dizer(es) em blogs. Em trabalho j citado

    (KOMESU, 2005), observou-se, na anlise de conjunto de material, em blogs de pessoas ditas comuns (noconsideradas celebridades ou personalidades em determinado grupo), "quase esvaziamento" da linguagem norecurso banalidade do cotidiano os comentrios emitidos por leitores de blog, por sua vez, tambm no sedistanciaram do lugar-comum, do emprego de clichs e chaves. Retomarei esta questo adiante. Em anlisepreliminar de conjunto de enunciados coletado no Twitter, foi possvel observar que o fato de essa rede socialcongregar usurios especializados em determinados assuntos, visando a atrair a ateno de seguidores(RECUERO, 2010), faz com que a produo dos enunciados seja caracterizada, principalmente, por notcia ourecenso breve de expertos - aparente soluo para a questo de filtragem de informao, apontada por Eco apropsito dos riscos na internet (ECO, 2002) problema evidente para a questo da concentrao de informao,visto que, em pesquisa recente publicada pela revista Info Exame (LEAL, 2009), foi apontado que apenas 5%dos usurios do servio so responsveis por 75% de todas as mensagens postadas no sistema. Permanecem,ainda, em circulao no Twitter, enunciados necessariamente marcados por emoo e juzo de valor explcitos,enfim, marcados pela expressividade da subjetividade do escrevente.

    Parece claro, em blogs e em microblogs, mas tambm em outras prticas em exerccio na sociedade, o valoratribudo a informao especializada vinculada visibilidade de traos da intimidade em pblico. Procuro, pois,discutir a quais restries uma tal constituio da subjetividade est submetida para a emergncia do dizvel narede. Acredito que o pesquisador que leva em considerao a complexidade do fenmeno lingustico, em suarelao constitutiva com outros "discursos possveis", apenas pode enriquecer a anlise do objeto, restituindo-lhe, pelo menos, parcialmente, a complexidade de que (e)feito.

    Avalio a pertinncia da proposta de Pcheux (1990) a respeito do conceito de condies de produo eproponho, a partir da, avanar com a discusso a partir da apropriao de conceitos trabalhados por Foucault(1997). Como sabido, Foucault teve parte de sua produo acadmica utilizada na reflexo sobre a articulaoentre lngua e discurso. Importa-me ressaltar que um dos principais propsitos dos trabalhos de Foucault explicitar as condies histricas para o aparecimento de objeto de discurso. O discurso, em Foucault, "no amanifestao, majestosamente desenvolvida, de um sujeito que pensa, que conhece, e que o diz: , ao

    contrrio, um conjunto em que podem ser determinadas a disperso do sujeito e sua descontinuidade emrelao a si mesmo" (FOUCAULT, 1997, p.61-62).

    Ressalto que as condies histricas por Foucault referidas so fundadas em uma teoria das sistematicidadesdescontnuas, a qual resulta em no fixidez, em no permanncia (de sentidos). Biroli (2008) chama a atenopara o fato de que Foucault um dos autores que, no sculo XX, se preocuparam em romper com a histria-

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    continuidade ou histria-reminiscncia, ou seja, com o conceito de tradio, que no domnio da Histria remetes origens como fontes de sentido, ao ritmo deprogresso. Ora, os estudos em Anlise do Discurso no cessamde repetir, sob a gide dos estudos histricos, muitos deles ligados aos de Foucault, que o sujeito, em suarelao com a atividade da linguagem, no senhor de seu dizer. Trata-se de premissa no-subjetivista daenunciao, um dos fundamentos da AD e da dimenso dialgica da linguagem.

    Biroli discute que o conceito de discurso no pode ser dissociado dos de histria e depoder, ao custo da perdade aspectos importantes das perspectivas assumidas por Foucault em relao prpria histria e historicidade(definida como a experincia que o sujeito pode ter de sua insero na histria) (BIROLI, 2008). Para Foucault,segundo Biroli, a noo de histria assume o valor de "contramemria", na qual dominao e violncia

    substituem o conceito de progresso. Ao contrrio do que se poderia imaginar, porm, a dominao e a violnciano so praticadas mediante noo de poder que castiga ou que impe fronteiras. Foucault nega qualquerassociao entre poder e represso ou lei. O poder circula, funciona, transita pelo indivduo que a prpriainstncia de poder constitui. O poder encontra-se em toda parte "no porque englobe tudo", mas, sim, "porqueprovm de todos os lugares" (FOUCAULT, 1999b, p.88-93). As relaes de poder produzem "discursos deverdade", que funcionam nesse poder, a partir e por meio dele. Os discursos de verdade constituem regras paraa constituio do verdadeiro, para, entre outras coisas, a produo de enunciados e o reconhecimento de seussujeitos-autores.8

    No caminho indicado por Foucault, Biroli enfatiza a necessidade de buscar no sentidos, mas efeitos de poder naconstituio dos enunciados. Procuro, pois, discutir como a ideia geral de liberdade de expressoaparece demaneira marcada em enunciados de blogs, em meio profuso dos dizeres tomados, pelos sujeitos, comoexerccio individual de expressividade.

    2. UMA SOCIEDADE IMPELIDA A FALAR

    Sibilia (2003) e Schittine (2004) so autoras que formulam hipteses sobre as condies de produo deescritos ntimos expostos na internet. Sibilia considera que h certo declnio de interioridade que costumavadefinir o homo psychologicus, em proveito de cultura do individualismo cada vez mais depurada e atravessadapor modelos sedutores identitrios, ditados pelo mercado. A hiptese de Sibilia a de que computadores eredes digitais surgiriam como cenrio para a colocao em prtica da "tcnica da confisso", modalidade deconstruo da verdade, em vigor h sculos no Ocidente, estudada por Foucault (1976 apud SIBILIA, 2003, p.144-147). Schittine (2004) discute aspectos que estariam relacionados ao surgimento dos blogs: o semprecitado exibicionismo e o desejo de visibilidade na sociedade o voyeurismo proveniente da solido apossibilidade de se expressar com liberdade e para o pblico o estabelecimento de uma relao de confiana

    entre "diarista" e leitor, se a distncia fsica for fator de desinibio para quem escreve. Aliado a essesaspectos, Schittine avalia a importncia do suporte material, o computador, como aparelho do individualismomoderno. A autora problematiza a introduo do aparelho no interior dos lares e o consequente aumento doshorrios de trabalho em espao fsico que seria privado e destinado famlia. Ao mesmo tempo, nos ambientesde forte relao com o pblico, como os prprios locais de trabalho, o computador permitiria a construo deesfera privada (no mais vinculada famlia, mas a amigos), mediante atividades como a dos blogs. ParaSchittine, a confuso entre a esfera pblica e a esfera privada justificada, dentre outros fatores, por questessociais como o aumento do desemprego, a maior difuso do trabalho informal (uma das explicaes para tercomputador dentro do lar) e a necessidade de ter "tempo para si". A hiptese de Schittine a de que o usurioimagina ter encontrado esse tempo para si no uso do computador pessoal e da internet. Devido ao suportematerial, h o "desdobramento" do tempo em "ambiente" (entendido como espao) que permite s pessoastrabalharem e cumprirem suas obrigaes dirias com a famlia e os amigos, alm de cuidarem de seusprprios interesses (SCHITTINE, 2004, p.57-62).

    A questo do suporte como fator para a emergncia dos blogs considerada tambm por Oliveira (2002). Paraessa autora, a mudana de suporte dos dirios manuscritos e impressos (papiro - pergaminho - papel) para osuporte computador implicou modificaes importantes na "tradio do diarismo". Oliveira defende que amudana do suporte est vinculada "ruptura com a ordem do privado", dada a publicizao do contedodesses "novssimos dirios".9O principal trao do blog que ele seria escrito com a "inteno de serpublicizado", sem a necessidade de intermedirios para sua veiculao (OLIVEIRA, 2002, p. 191-192).

    Concordo com parte das hipteses levantadas por essas pesquisadoras de blogs. H, de fato, fatores diversos,enumerados por essas autoras, relacionados s descontinuidades entre o pblico, o privado e o ntimo nasociedade atual. Da perspectiva dos estudos discursivos, acredito que a ao de falar de si, expressa em algunsblogs (microblogs, em diversas outras prticas sociais), mais bem discutida a partir de uma aproximao doconceito de vontade de verdadeque emerge das relaes de poder institudas na sociedade. Segundo Foucault(1996), a vontade de verdade um dos sistemas de excluso que atingem o discurso de maneira incontestvel

    para os indivduos, pois ela que permite a constituio deles como sujeitos do (ao) discurso. Nem mesmo odiscurso verdadeiro, que produz os enunciados, pode reconhecer a vontade de verdade que o atravessa(FOUCAULT, 1996, p. 20).

    Talvez seja essa uma das caractersticas mais notveis do conceito genealgico do poder em Foucault: o poderno objeto natural - aparelho, instituio -, mas prtica social, historicamente constituda a partir e atravs de

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    todos os indivduos de uma sociedade. Foucault explicita que no h poder que se exera sem srie de metas eobjetivos as relaes de poder so, porm, ao mesmo tempo intencionais e no subjetivas. Desse modo, nose deve procurar a suposta fonte do poder - "nem a casta que governa, nem os grupos que controlam osaparelhos do Estado, nem aqueles que tomam as decises econmicas mais importantes" (FOUCAULT, 1999b,p.90-91) no caso dos blogs, nem o Ministrio da Cincia e Tecnologia ou o Ministrio das Comunicaes, nem oComit Gestor da Internet no Brasil, nem o criador de Blogger, Twitter, de provedores de internet ou Bill Gatese Steve Jobs - a racionalidade do poder, segundo Foucault, est em grandes estratgias annimas, "quasemudas", que se encadeando entre si delineiam dispositivos em conjunto do poder.

    Portanto, a propsito do conceito de vontade de verdade, no se trata, aqui, de pensar os blogs como a

    instituio que definiria um verdadeiro prpriopara a poca atual. A utilizao desse conceito por Foucault aquela voltada a discutir as passagens histricas de um verdadeiro para outro. Nada de semelhante comrelao aos blogs. O que se pode observar nesse ato (incessante) de falar , por procedimento externo aodiscurso, a localizao do dizer em um verdadeiro no questionvel - e at mesmo impalpvel -, mas que seexemplifica em atos compulsivos de enunciao pelo retorno doj-enunciado, por procedimento interno aodiscurso que caracterizado, em seguida, pelo sentido particular que dou ao conceito de comentrio, propostopor Foucault.

    Ainda a respeito da vontade de verdade em blogs- acredito que o mesmo fenmeno possa ser pensado para ocaso dos microblogs-, destaco que ela d lugar ao fazer repetido que caracteriza esse modo de enunciao,tomado como atos ritualsticos que mais significam por seu fazer do que por seu dizer. Pode-se pensar, quandomuito, numa afirmao de uma vontade de verdade pela denegao de horizonte para o verdadeiro. No setrata, pois, de estabelecer um verdadeiro, mas de faz-lo emergir na multiplicidade de atos de sua repetio. Avontade de verdade deixa-se observar, portanto, mais como procedimento interno ao discurso do que como luta

    pelo estabelecimento de um verdadeiro a se legitimar.

    A propsito da noo de comentrio, Foucault (1996) observa que um dos procedimentos de controle edelimitao dos discursos nas sociedades por meio dele, ocorre uma espcie de desnivelamento entre o texto

    primeiro, discurso que estaria na origem de certo nmero de atos novos de fala que o retomam, o transformamou dele falam, e o texto segundo, discurso que "se diz" na banalidade da ao cotidiana, e que passa com oprprio ato que o pronunciou.

    Interessa-nos destacar, com Biroli (2006), dois aspectos relacionados noo de comentrio e seufuncionamento no mbito discursivo. De um lado, o comentrio, como procedimento de "ordem do discurso",estabelece formas de positivao que produzem "o verdadeiro, o sensato", isto , "o que dizvel emcircunstncias especficas". Trata-se, uma vez mais, de negar a busca das origens do dizer - ponto fundamentalpara os estudos da Anlise do Discurso - e da tradio na Histria, com a percepo das relaes de poder que

    constituem os discursos - digamos, a linguagem - e a prpria noo de histria (BIROLI, 2006). De outro,importa-me ressaltar que o paradoxo do comentrio em Foucault est no desnvel entre o texto primeiro("aqueles que so retomados inmeras vezes, demonstrando permanncia") e o texto segundo ("oscomentrios, que podem, por vezes, tomar o lugar de 'textos primeiros' sem que, no entanto, o desnvel entreesses dois funcionamentos dos discursos se desfaa") (BIROLI, 2006, grifo no original). O paradoxo da noo decomentrio, segundo o autor, seria permitir que se diga algo alm dos textos j-ditos, "mas com a condio deque o texto mesmo seja dito e de certo modo realizado", restringindo o novo, no ao que dito, mas ao"acontecimento de sua volta" (FOUCAULT, 1996 BIROLI, 2006).

    A aproximao da noo de comentrio me parece produtiva para o estudo dos blogs. Utilizo a noo decomentrio numa tentativa de operacionalizao do conceito elaborado por Foucault, que, como se sabe, naqualidade de procedimento interno ao discurso, aplica-se relao entre textos de domnios bem estabelecidos,como o jurdico, o religioso, o literrio, o cientfico. Na operacionalizao que proponho, procuro captar araridadedos discursos, colocada em evidncia por Foucault mediante a noo de comentrio. Para o autor, os

    comentrios reintroduziriam umj-ditocaracterizado como aquilo que passvel de repetio no interior dediscursos j-institucionalizados. Como trato de modo de enunciao que no apresenta contornos to claramenteestabelecidos como os de outros domnios legitimados da produo do saber, tomo a noo de comentrio -repito, de ponto de vista operacional - no sentido da raridade dos enunciados produzidos nos blogs em funode um repetvel que ora se encontra no discurso do lugar-comum, ora se encontra em domnios discursivosmais claramente delimitados. Essa raridade dos enunciados se apresenta tambm nos blogs como modo deinterdio, j que a necessidade (incessante) de falar define-se mais por ser falado do que falar. No se leia,portanto, na noo de comentrio o sentido inicial que o autor props.

    As oportunidades de "falar" nos blogsso apresentadas como infindveis - ou "indefinidas", se se levar emconta a profuso de tipos de blogsexistentes. O mesmo raciocnio parece poder ser aplicado no caso demicroblogsna internet. Nos blogs, h, na escrita da banalidade do cotidiano, na escrita de informao replicadade fonte escolhida, uma estranha repetiodo ser humano. A nfase na expressividade pblica da vida

    (ntima, profissional) partilhada em mbito global.

    3. A LIBERDADE A(E)NUNCIADA EM BLOGSNA INTERNET

    Levando-se em considerao o contexto social e histrico das novas tecnologias de comunicao e discursos que

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    tornam concreta a atividade de dizer na rede, de meu interesse discutir a noo corrente de liberdade deexpressoassociada a prticas de escrita no contexto digital. Os enunciados que analiso, de modo qualitativo-interpretativo, foram extrados de frum virtual de acesso pblico na internet. O excerto seguinte rplica aotpico Limite dos blogs:

    Texto 01

    P/ qu ter um blog se nele voc no pode expressar a sua opinio sem ser censurado?

    Quando deixo comentrios no costumo omitir a minha opinio e se discordo critico mesmo.

    Acho importante a pessoa se informar a respeito do assunto se quiser criticar algo, para no correro risco de fornecer informaes falsas. A que est o problema. (Muitas pessoas falam do que nosabem)

    Mas no dia que deixar de expressar minha opinio com medo de sofrer alguma "punio", no vaiter sentido continuar blogando, pois estaria apenas interpretando mais um personagem e sendototalmente hipcrita.

    Liberdade de expresso acima de tudo!

    (D., 29 abr. 2006.

    Disponvel em: . Acesso em: 16 ago. 2006)

    Destaco a associao entre expresso de opinio, liberdade de expresso e blog. O suposto vnculo entreliberdade de expressoe internet quase consenso nas sociedades que querem ser reconhecidas como digitais,por acreditarem se integrar ao processo de globalizao proporcionado pelas novas tecnologias, mediantepossibilidade de contato que no mais conhece as restries antes impostas por espao geogrfico. Ao mesmotempo, o distanciamento fsico e a possibilidade de assuno de anonimato so quase sempre lembrados comocondio para o exerccio de uma capacidade individual de escolher com autonomia o que quiser, visando satisfao de necessidades individuais, independentemente de amarrasque determinariam o que dito/realizado pelo sujeito.

    De minha perspectiva, uma crtica primeira noo corrente de liberdade de expresso em enunciados nainternet (mas no somente) pode ser feita com base no conceito de lngua(gem). Torna-se, de fato, impossvelconceber liberdade (irrestrita) de expresso isso se deve ao fato de toda atividade verbal pressupor,necessariamente, uma lngua, como sistema de formas lingusticas convencionalmente estabelecido em um

    grupo e como modo de interao verbal social marcado pelo espao e pela histria. Assumir essa noo delngua implica pensar que a natureza social obrigatria para todos os membros de uma comunidade, sob penade se tratar de fenmeno natural e no de fenmeno humano (BAKHTIN, 1997, p.331).

    At mesmo o suposto "caos" atribudo a prticas de escrita como o chamado "internets" - como ficouconhecido o portugus digitado na internet em determinados chats, blogs, fruns virtuais, redes sociais -apresenta regularidades regidas pelo sistema de regras da lngua e pelo modo de interao entre os sujeitos naatualidade.10No caso de abreviaturas, por exemplo, Fusca (2008) busca mostrar que ocorrncias de "tc", "vc","blz", "xau", dentre outras, no esto fundadas, como se supe no senso comum, na liberdade de o escrevente"transcrever" a fala na escrita, mas, sim, em processos formadores de natureza lingustica, com predomnio deredues grficas, de acordo com organizao silbica dos vocbulos originais. Em sua Dissertao de Mestradoem Estudos Lingusticos, Fusca prope refletir sobre a prtica de abreviao em bate-papos virtuais como modode abreviar distncias (fsicas, emocionais) entre sujeitos. Luiz Sobrinho (2010), por sua vez, ao estudar o usono-convencional de vrgulas e de "quebra de linhas" em enunciados escritos em bate-papos virtuais, mostracomo essas prticas de escrita so orientadas pela prosdia e pelo ritmo da prpria lngua, dentre usurioscompetentes, em nvel lingustico-discursivo, para esse tipo de comunicao. Em parceria com Tenani, tenhoprocurado discutir que as prticas de escrita do "internets" no so "interferncia da fala" na escrita ou escrita"fonetizada", tampouco so resultantes apenas do uso de certo suporte material ou de urgncia do usurio ouda sociedade. De nosso ponto de vista, trata-se de possibilidade da lngua edo discurso, mediante prticasorais/faladas e letradas/escritas, considerando-se a heterogeneidade como trao constitutivo da linguagem edas atividades verbais humanas (KOMESU & TENANI, 2009 2010 no prelo).

    Considero, portanto, que a lngua como sistema de regras sintticas, fonolgicas, morfolgicas, semnticas,pragmticas, discursivas, permite a emergncia de determinadas estruturas, em detrimento de outras quesimplesmente no teriam funo na comunicao humana. Ressalto, pois, que o usurio de "ferramentas deautoexpresso", como falante da lngua, no pode dizer (ou escrever) tudo (ou qualquer coisa). importanteressaltar que a ausncia de liberdade (irrestrita) de expresso em blogs no se d mediante formas(vazias) de

    palavras e oraes submetidas a regras, mas segundo enunciados constitudos na lngua segundo deslizamentosde sentido, apagamentos de significados, interincompreenso, confrontos entre formaes discursivas eformaes ideolgicas.

    Blogueiros creem que tanto na produo depostsquanto na de comentrios preciso fazer valer o (seu) pontode vista, sem interveno externa ou censura. Embora seja defensor da liberdade de expresso, acima de tudo,

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    o sujeito escrevente sabeque h dispositivos que regulam as prticas sociais. Ao questionar o motivo de ter umblogse pode haver censura, e ao retomar que as pessoas apenas podem se pronunciar se estivereminformadas, se no fornecerem informaes falsas, o sujeito escrevente do Texto 01 constitui-se nainterdiscursividade que juridicamente regulamenta liberdade de expresso11 e procedimentos para (no)emergncia dos dizeres.12No se trata, porm, como diz Foucault (1999b), de represso, mas de efeito de

    poder resultante da vontade de verdadeque emerge das relaes sociais, ao mesmo tempo, intencionais e nosubjetivas, as quais tornam concretas prticas na contemporaneidade.

    O Texto 02 extrado do frum de discusso citado anteriormente:

    Texto 02Desde que seja com argumentos plausveis e maduros, a opinio a ser escrita em um blog no temlimites. Desde que seja com uma linguagem apropriada (quanto questo de palavres edifamaes) o texto pode sim ser veiculado na rede sem maiores problemas.

    (A., 09 abr. 2006.

    Disponvel em: . Acesso em: 16 ago.2006.)

    Destaco, no Texto 02, as ressalvas acerca das fronteiras para as prticas de escrita no espao dos blogs. Para osujeito escrevente, argumentos plausveis e maduros em linguagem apropriada - ou seja, sem palavres edifamaes- so critrios para a expresso da opinio pessoal, sem maiores problemas, em blogs na internet.Do ponto de vista discursivo, como delimitar o conceito de argumento plausvel e maduro? Isso se deve ao fato

    de a linguagem ser fundada em um social que abrange as mais diversas prticas humanas, segundo interessesscio-historicamente marcados na constituio das relaes de poder entre os sujeitos. Por outro lado, como noTexto 01, o autor do Texto 02 reconhece que a liberdade de expresso atribuda escrita digital blogs no irrestrita. O autor sabe, por exemplo, que pelas prticas sociais o uso inapropriado de palavres ou a ao dedifamao pode custar, ao responsvel pelo blog, sano penal, isto ,problem a com a instituio jurdica.

    Concomitantemente ao incentivo expresso da opinio pessoal, h dispositivos e procedimentosregulamentados pelas sociedades, os quais limitam a emergncia de quaisquer dizeres. H fronteiras entre oaceitvel e o inaceitvel, entre o que provoca reconhecimento e o que leva rejeio, que constituem modos deenunciao e formas de expresso, mesmo quando no se tem conscincia de sua existncia.

    Retomo o Texto 01 para observar a afirmao elaborada pelo escrevente a respeito daqueles que tm direito aodizer. Apesar de colocar em evidncia as liberdades individuais, mediante concordncia ou discordncia dostemas, no terceiro pargrafo, o escrevente avalia a importncia de a pessoa se informar sobre o assunto quevai criticar, sob o risco de fornecer informaes falsas. A veiculao de informaes falsas, segundo oescrevente, seria o principal problema dos limites de dizer nos blogs, j que muitas pessoas falam do que nosabem. A partir dessa afirmao, possvel pensar que pessoas que falam sobre assuntos desconhecidos nodeveriam ter direito expresso de sua opinio, pois representariam espcie de ameaa social, a qual agiriacontra as verdades legitimadas pelas instituies. Pode-se, ainda, pensar que essa afirmao atribui ao prprioblogueiro liberdade legtima, fundada em um conhecimento que o investiria de autoridade diante daqueles queno a teriam. H variaes dessa projeo em blogsespecializados e, atualmente, em microblogs no Twitter. sabido, porm, da perspectiva dos estudos do discurso, que no h como falar/escrever e ser ouvido/lido portodos de maneira similar ou equnime.

    Ocorre que a maioria dos textos que circulam por blogs mera reproduo de textos coletados na rede.Aparentemente, o mesmo ocorre no caso de microblogs. Como o blogueiro sabeque a informao, sobre noimporta qual assunto, verdadeira ou falsa? Como elaborar, em blogs, argumentos plausveis e maduros, para

    a legitimao do direito enunciao? Os usurios costumam buscar fontes que eles avaliam como fidedignas,a exemplo de blogueiros/tuiteiros referendados pelo crculo da web e/ ou pela grande imprensa de portais denotcia de sitesde universidades renomadas, entre outras. Se a fonte selecionada diz X, reproduz-se X, nacondio de comentrio, com a certeza de que a informao verdadeira e inquestionvel. Ignoram-se, dessemodo, os procedimentos de formao de dizeres e de saberes em prticas sociais, sobredeterminadas pelasrelaes de poder.

    Manuais de redao de blogs, em circulao pela internet, recomendam aos usurios que o sucesso do textoeletrnico depende de conjunto de fatores, como: (i) resposta imediata aos comentrios enviados por outrosblogueiros (ii) facilitao da leitura do texto do blog, com a insero de textos no verbais (iii) utilizao delinks, para que o endereo eletrnico tambm seja citado por outros sites (iv) publicao incessante de textos,composts enviados a todo o momento.

    Parece pouco importante, no modo de circulao da opinio daquele que escreve, se ele refletiu sobre supostaverdade ou falsidade dos acontecimentos, ou sobre a complexidade de suas relaes e, a partir dessa reflexo,foi capaz de construir um seu lugar de opinio, em funo dos confrontos smicos constitutivos das posiesocupadas pelos interlocutores. Chamo a ateno, pois, para o fato de o blogueiro acreditar que livre paradizer o que quer, mas sua liberdade de expresso est condicionada reproduo de verdades j-ditas,legitimadas pelas instituies sociais e, muitas vezes, por lugares comuns que permitem a interao e aidentificao com os internautas. A profuso de textos sobre vidas individuais dos sujeitos e sobre infinidade de

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    temas, na internet, no implica variedade de perspectivas e de pontos de vista sobre o mundo, mas a raridadede seu comentrio, a relativa escassez e a homogeneidade de modos de dizer a vida e de refletir sobre asrelaes com o outro na sociedade.

    4. DA NECESSIDADE DE FALAR: A IMPOSSIBILIDADE DE DIZEr?

    Sob a presso do tempo hegemnico (SANTOS, 1996), buscam-se em blogs e microblogscondies ideais paraque o sujeito possa exprimir o que bem entender. Trata-se, pois, da valorizao de atividade verbal por meioda qual se imagina tudo dizer, efeito de uma sociedade em que o espao digital comumente concebido comolivredas coeres que regem demais mbitos sociais.

    "Mas, o que h, enfim, de to perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferaremindefinidamente? Onde, afinal, est o perigo?", indaga Foucault sobre a produo dos discursos (FOUCAULT,1996, p.8). Acreditamos que blogs- a exemplo do que defende o autor para a produo dos discursos - soefeitos de poder de uma sociedade que positiva suas aes na consolidao da ideia de liberdade de expressodo indivduo que tudo pode falar em pblico. O prprio meio, mediante servios como os do Twitter, facultanovas formas de acesso informao para que o indivduo possa comentar ininterruptamente todo e qualquerassunto a todos (a qualquer um) na sociedade. Ocorre, porm, que cada vez mais ficam conhecidos processospor dados morais movidos contra blogueiros que criticam pessoas, produtos ou servios. Mecanismos de buscamais eficientes rastreiamposts antes restritos a contatos do usurio (LEONARDI, 2005 MAMBRINI, 2009) e ocomentrioadquire nova dimenso na esfera jurdica.

    Acredito que a necessidade (incessante) de falarqualquer coisa modo de permanncia dos sujeitos no campoda visibilidade na sociedade contempornea. Essa necessidade de falar radicalmente fundada naimpossibilidade(histrica) de dizer (depensar, de criticar) o novo na e pela linguagem dos sujeitos.

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    Recebido: 25/07/2010

    Aceito: 27/11/2010

    *Uma verso deste texto foi apresentada como parte da tese de doutoramento em Lingustica, intitulada Entreo pblico e o privado: um jogo enunciativo na constituio do escrevente de blogs da internet, defendida emmaio de 2005, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),sob orientao da Profa. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre (UNICAMP), coorientao do professorDominique Maingueneau (Universidade de Paris XII) e financiamento da CAPES. A produo deste artigo estvinculada ao processo CNPq 400183/2009-9, sob responsabilidade do Prof. Dr. Loureno Chacon(UNESP/Marlia).1Da perspectiva da tcnica, home page pgina principal de site, a qual rene conjunto de informaes em

    multimdia, contidas em arquivo de hipertexto ou por ele referenciadas.2Motor de busca softwareprojetado para encontrar informaes armazenadas em documentos ou endereosde pginas web, com base em palavras-chave indexadas. A vantagem do uso de motor de busca a reduo dotempo necessrio para encontrar a informao pretendida.3Short Message Service(SMS) funo disponvel em aparelhos celulares, a qual permite ao usurio enviare/ou receber mensagens alfanumricas curtas. Em lngua portuguesa, popularmente conhecido como"torpedo".4 O Twittertambm conhecido como "mural de classificados" e servios na internet. Segundo Leal (2009),sitesde emprego e as prprias empresas tm divulgado vagas antes oferecidas apenas nas respectivas pginaseletrnicas. Empresas e corporaes tambm tm utilizado o servio do Twitter como forma de promover evender produtos on-line(LEAL, 2009). Da perspectiva das instituies pblicas, ministrios, secretariasestaduais e municipais, universidades tm se valido do servio com a funo explcitade divulgar informaopara os cidados. Do ponto de vista do funcionamento implcito, observo que se trata de importante apropriao

    de espao de dizer na rede.5Blogueiros e tuiteiros expressam (sua) opinio mediante prticas de escrita digital, mas tambm por outrassemioses (som, foto, animao, cor, design), com auxlio de diversos suportes materiais (celular,cmera/filmadora digital, gravador porttil) que constituem a produo de sentidos.6 Santos (1996), retomando Debray (1993), lembra que "a mdia, antes de ser comunicao, espao". Para ogegrafo, "a percepo do espao est ligada velocidade das pessoas, das coisas e das mensagens. O espaodistingue-se, certamente, em funo do grau de fluidez entre coisas, objetos, mensagens. Ento chegamos aeste final de sculo em que somos capazes de participar da contemporaneidade simultnea" (SANTOS, 1996,p.178).7 No estudo, iniciado em 2002, acompanhei, por meio de leitura, 150 blogs de escreventes brasileiros, dentreos disponveis em rede para livre acesso, em um perodo de seis meses. Desse conjunto, selecionei 53 blogs. Otrabalho foi fundamentado na hiptese de que a escrita dos blogs emerge em meio a condies de produo dodiscursoque possibilitam prticas sociais de exposio pblica da intimidade - como narrativas sobre cotidiano

    e histrias pessoais - no espao de interao da internet. Propus refletir sobre o fato de que o modo deenunciao dos escreventes de blogs caracterizado pela relao dinmica entre a publicizao de si e aintimidade construda com o leitor, relao que estabelecida mediante a instaurao de um lugar devisibilidade do enunciador em uma cenografiada intimidade compartilhada com o coenunciador. A prtica dosblogsque so associados aos dirios ntimos engendra elementos verbais e no-verbais que retomam, naqualidade de runas do enunciado genrico, a intimidade pressuposta na prtica diarista, mas segundo efeitos de

    http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://technorati.com/blogging/feature/state-of-the-blogosphere-2009/page-2/#ixzz0xoeYWAtS
  • 7/23/2019 Spaces and Borders of _freedom of Expression_ in Blogs on the Internet

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    01/10/2015 Spaces and bor der s of "fr eedom of expr ession" in blogs on the inter net

    poderdistintos, como procurarei explicitar neste artigo.8Segundo Biroli, a reflexo de Foucault sobre o poder possibilita chegar crtica do conceito de ideologia. Oconceito de ideologia pressupe, segundo essa autora, oposio entre verdade e no-verdade, referncia aosujeito (da ao e da dominao) e posio secundria em relao a determinaes materiais. Para Biroli, omodo como Foucault prope pensar a noo de poder nega a produtividade desses trs pontos constitutivos doconceito marxista de ideologia (BIROLI, 2008). Trata-se de observao importante, j que o conceito deideologia de Marx frequentemente utilizado - muitas vezes, reproduzido por meio da leitura do clssico

    Aparelhos Ideolgicos do Estado, de Althusser - em trabalhos de Anlise do Discurso.9Oliveira considera que a "tendncia de a tenso privado x pblico se desfazer" j havia sido iniciada com apublicao de escritos ntimos de autores como Anne Frank, que manifestaram, em vida, o desejo de ter seus

    textos publicados (OLIVEIRA, 2002, p. 190). De meu ponto de vista, a deliberao sobre a publicao ou no dedirios ntimos por seus escreventes no argumento vlido para a legitimao da autoriade uma obra. Hcritrios outros, relacionados aosposicionamentos enunciativos dos sujeitos e s relaes de fora dasinstituies, que constituem a noo autor em uma sociedade. O fato de ter o texto veiculado como hipertextono implica que ele ser lido ou reconhecido pelo outro (POSSENTI, 2002 MELO, 2004).10Se alarmistas da "morte da lngua portuguesa" na internet pudessem ter percepo e compreenso dasregularidades lingusticas e, portanto, dos processos formadores das prticas de escrita na rede, a instituioescolar, talvez, pudesse ser mais aberta para acolher essas novas prticas, discutindo-as segundo suasfinalidades de formao. A propsito da questo da "morte da lngua" decorrente de seus usos diversos, ver ostrabalhos de Canut (2007) e Ladjali (2007), em lngua francesa, e Crystal (2005), em lngua inglesa.11"Todo ser humano tem direito vida, liberdade e segurana pessoal" (artigo III da Declarao Universaldos Direitos Humanos") " livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao,independentemente de censura ou licena" (Artigo 5. inciso IX da Constituio Federal).

    12"Ningum ser sujeito interferncia em sua vida privada, em sua famlia, em seu lar ou em suacorrespondncia, nem a ataque sua honra e reputao. Todo ser humano tem direito proteo da lei contratais interferncias ou ataques" (artigo XII da Declarao Universal dos Direitos Humanos) " assegurado odireito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem"(Artigo 5. inciso V da Constituio Federal) "so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagemdas pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao"(Artigo 5. inciso X da Constituio Federal).

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