sos-Árvores e jardins do riviera dei fiori

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SOS-ÁRVORES E JARDINS DO RIVIERA DEI FIORI Laudo Técnico Tema: Remoção e Poda de Árvores em Área Particular no Condomínio Residencial Riviera dei Fiori, localizado na Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, 2500, Barra da Tijuca Rio de Janeiro – RJ Setembro, 2013 Responsável Técnico: Tiago de Paula Pilla - CRBio2 nº 45998/02 Biólogo e Mestre em Ciência Ambiental

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SOS-ÁRVORES E JARDINS DO RIVIERA DEI FIORI. Relatório dos danos causados nas árvores e jardins do condomínio Riviera dei Fiori, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, agosto de 2013, pela administração do condomínio e a firma Ponta do Céu.

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Page 1: SOS-ÁRVORES E JARDINS DO RIVIERA DEI FIORI

SOS-ÁRVORES E JARDINS DO RIVIERA DEI FIORI

Laudo Técnico

Tema: Remoção e Poda de Árvores em Área Particular no Condomínio Residencial Riviera dei Fiori, localizado na

Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, 2500, Barra da TijucaRio de Janeiro – RJ – Setembro, 2013

Responsável Técnico: Tiago de Paula Pilla - CRBio2 nº 45998/02Biólogo e Mestre em Ciência Ambiental

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SOS-ÁRVORES E JARDINS DO RIVIERA DEI FIORI

Introdução

O Condomínio Residencial Riviera dei Fiori, foi construído na metade da década de 70, onde o projeto de paisagismo dos seus jardins foi planejado pelo famoso paisagista brasileiro Roberto Burle Marx. Considerado um patrimônio histórico e paisagístico que colaborou para a configuração da paisagem cultural da cidade do Rio de Janeiro, reconhecida nacional e internacionalmente, devido a sua importância cultural e artística foi tombada pelo município pelo DECRETO No 30936 de 4 DE AGOSTO 2009.

O decreto define em seu Art. 2.º que “quaisquer intervenções a serem realizadas nos Bens Tombados deverão ser previamente submetidas ao órgão de tutela”. Salienta também em seu Art. 3.º No caso de alteração, descaracterização ou, ainda, sinistro nos bens tombados, o órgão de tutela poderá estabelecer a obrigatoriedade de sua recomposição, reproduzindo as características originais, conforme o disposto no artigo 133 da Lei Complementar nº16, de 04/06/92 (Plano Diretor Decenal do Rio de Janeiro). Ao qual o órgão municipal responsável é a Fundação Parques e Jardins (FPJ), que regulamenta e autoriza qualquer tipo de intervenção da arborização pública e particular dentro do município de acordo com a LEI Nº 5457 DE 19 DE JUNHO DE 2012. Ou seja, qualquer alteração, intervenção ou descaracterização no plano de paisagismo tombado pelo município, deve ser autorizada de acordo com as definições legais dadas pelo órgão responsável.

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Descumprindo as cláusulas citadas, aconteceram uma série de intervenção na arborização do Condomínio Residencial Riviera dei Fiori, em frente ao bloco 3, entre os dias 12 e 17 de agosto de 2013. Quando foi feita uma poda drástica com uso de moto-serra, de diversos indivíduos arbóreos e a supressão (subtração) de um coqueiro pela administração do condomínio, executada pela firma Ponta do Céu.

Como solicitado pelos moradores do condomínio, foi feita uma vistoria no dia 8 de setembro de 2013, a fim de identificar os indivíduos arbóreos e caracterizar os danos causados pela intervenção (ver imagem 1). Foi feita a identificação botânica das espécies danificadas individualmente, assim como as características fitossanitárias aparentes encontradas no momento da vistoria.

Durante a vistoria, foi efetuada uma caminhada pelos canteiros do condomínio, identificando a situação geral do paisagismo, onde foram observados outros eventos de descaracterização do plano de paisagismo. Demonstrando que os fatos citados anteriormente, não foram isolados ou se caracterizaram como um “acidente”, argumento dado pela administração do condomínio, referente aos fatos ocorridos em frente ao bloco 3.

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Imagem 1 – Situação geral dos indivíduos arbóreos encontrados no momento da vistoria, no canteiro em frente ao bloco

3.

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Considerações: Tabela 1 – Descrição dos indivíduos arbóreos danificados pela intervenção

N° Nome científico Popular Localização Intervenção1 Cocos nucifera L. Coco-da-bahia 1 Supressão2 Terminalia catappa L. Amendoeira 2 Poda drástica3 Terminalia catappa L. Amendoeira 3 Poda drástica4 Terminalia catappa L. Amendoeira 4 Poda drástica5 Terminalia catappa L. Amendoeira 5 Poda drástica6 Terminalia catappa L. Amendoeira 6 Poda drástica7 Terminalia catappa L. Amendoeira 7 Poda drástica

Imagem 2 – Croqui de localização dos indivíduos arbóreos no plano paisagístico dos canteiros em frente ao bloco 3 (ver tabela 1).

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Descrição individual das intervenções na arborização:

1- Supressão (subtração) total do indivíduo da espécie Cocos nucifera L., sendo efetuado o corte raso ao nível do solo (imagem 3), impossibilitando a averiguação de qualquer característica fitossanitária apresentada pelo indivíduo que justificasse a sua supressão.

Imagem 3 – Detalhe da base do estipe onde fora efetuado o corte raso do coqueiro.

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2- Poda drástica do indivíduo da espécie Terminalia catappa L., com o corte de todos os eixos principais formados a partir da ramificação do tronco principal onde a casca na ramificação principal foi danificada, expondo o tronco a ação de elementos externos (imagem 4). Uma das ramificações apresenta brotamento de ramos epicórmicos, identificando a ocorrência de podas drástica anteriores. Esse tipo de ramificação proporciona problemas ao indivíduo cuja fragilidade pode pôr em risco a estabilidade total ou parcial da árvore. O indivíduo não apresentava no momento da vistoria, qualquer problema fitossanitário ou a presença de iluminação pública, linha de energia ou construção próxima que se justifica uma ação tão drástica.

Imagem 4 – Detalhe da poda drástica efetuada em todas as ramificações da árvore.

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3- Poda drástica do indivíduo da espécie Terminalia catappa L., com o corte de quase todos os eixos principais formados a partir da ramificação do tronco, permanecendo apenas uma ramificação (imagem 5). Causando o desequilíbrio estrutural e a descaracterização total da estrutura natural de ramificação do indivíduo, e colocando em risco a estabilidade total ou parcial da árvore. No momento da vistoria não apresentou qualquer elemento fitossanitário ou a presença de iluminação pública, linha de energia ou construção próxima que se justifica uma ação tão drástica.

Imagem 5 – Detalhe do corte quase total da árvore com a sua única ramificação poupada.

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4- Poda drástica do indivíduo da espécie Terminalia catappa L., com o corte de uma das únicas três ramificações que permaneceram a partir do tronco principal e as ramificações verticais superiores da copa. A ramificação vertical retirada aparentemente não comprometia o equilíbrio estrutural ou oferecia qualquer risco ao entorno. No momento da vistoria não apresentou qualquer elemento fitossanitário ou a presença de iluminação pública, linha de energia ou construção próxima que se justifica uma ação tão drástica.

Imagem 6 – Detalhe do corte das ramificações horizontais suprimidas.

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5- Poda drástica do indivíduo da espécie Terminalia catappa L., com o corte das ramificações horizontais que partiam do eixo principal do tronco e de parte das sub-ramificações horizontais superiores voltadas para a parte externa ao canteiro, juntamente com algumas ramificações verticais integrantes da copa (imagem 6). Permanecendo apenas parte das ramificações superiores do indivíduo. A intervenção diminuiu drasticamente a área de sombreamento e preenchimento da copa natural da árvore (imagem 7). No momento da vistoria não apresentou qualquer elemento fitossanitário ou a presença de iluminação pública, linha de energia ou construção próxima que se justifica uma ação tão drástica.

Imagem 7 – Detalhe do corte das ramificações superiores da copa..

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6- Poda drástica do indivíduo da espécie Terminalia catappa L., com o corte de parte das sub-ramificações horizontais superiores e das ramificações verticais que formavam a copa. A intervenção diminuiu drasticamente a área de sombreamento e preenchimento da parte central da copa, permanecendo apenas uma fração da área folhar da copa, comprometendo o desenvolvimento natural do indivíduo. No momento da vistoria não apresentou qualquer elemento fitossanitário ou a presença de iluminação pública, linha de energia ou construção próxima que se justifica uma ação tão drástica.

Imagem 8 – Detalhe da abertura efetuada na copa da árvore.

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7- Poda drástica de indivíduo da espécie Terminalia catappa L., com o corte de parte das sub-ramificações horizontais superiores que formavam a copa. Diminuindo ainda mais a área de copa total do indivíduo que já se encontra bastante comprometida por podas anteriores. No momento da vistoria não apresentou qualquer elemento fitossanitário ou a presença de iluminação pública, linha de energia ou construção próxima que se justifica uma ação tão drástica.

Descrição botânica das espécies danificadas pela intervenção:

1 - Amendoeira-da-praia ou chapéu-de-sol (Terminalia catappa L.) da família Combretaceae. Caracteriza-se por ser uma árvore de grandes dimensões, que pode atingir 35 metros de altura. É exótica a flora brasileira, sendo típica das regiões tropicais da Índia e Nova Guiné. Tem a copa bastante larga, fornecendo bastante sombra e possui as folhas caduca e muito procurada como árvore ornamental, principalmente nas áreas litorâneas. Os seus frutos são comestíveis, embora um pouco ácidos, e muito apreciados pelos morcegos. A sua madeira é vermelha, sólida e resistente à água e ao ataque de xilófagos, utilizada para fazer canoas na antiga Polinésia.

2 – Coco-da-bahia, coqueiro (Cocos nucifera L.) da família Arecaceae. Caracteriza-se por apresentar um estipe único e reto ou levemente curvado e sem perfilhação, podendo atingir 20 metros de altura em alguns casos. Folhas de até 3 metros de comprimento, pêndulas com muitos folíolos, que caem completamente quando senescentes. Fruto do tipo drupa, fibroso e de endocarpo comestível. Distribuição tropical ao longo do litoral de todo o mundo, sendo originária do litoral norte da América do Sul. Tolerante a solos salinos e pouco drenados e de dispersão pela água. No Brasil se distribui naturalmente do nordeste até o litoral de São Paulo. Espécies de grande importância comercial, sendo os seus frutos muito utilizados para o consumo humano, como medicinal e para a produção de cosmético e biocombustível. De grande utilidade paisagística, talvez a espécie mais utilizadas nos ambientes litorâneos de todo o mundo.

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Conclusão:

Toda poda realizada de forma inadequada pode provocar um desequilíbrio entre a superfície assimilatória da copa (folhas) e a su¬perfície de absorção de água e nutrientes (raízes finas), causando assim uma perda proporcional no sistema radicular como forma de compensação pela própria planta.

Muitas vezes a planta tende a recompor a sua folhagem original a partir do desenvolvimento de gemas epicórmicas. Geradas por um estímulo de gemas dormentes na casca do tronco, dando origem a galhos que apresentam uma ligação deficiente com a parte central do tronco, podendo se constituir em fator de risco no futuro que com o pas-sar do tempo, exigirão uma nova ação de manutenção.

Imagem 9 – Modelo arquitetônico de crescimento meristemático da amendoeira e esquema de formação de ramos epicórmicos.

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O direcionamento de crescimento da arquitetura de uma árvore representa a estratégia de ocupação do espaço e de desenvolvimento no seu ambiente florestal. Para que a condução do seu crescimento seja respeitada, a sua estratégia arquitetônica deve ser levada em conta. As espécies onde o seu o meristema cresce de forma horizontal, se denomina crescimento plagiotrópico. Quando o crescimento é vertical se denomina ortotrópico. Os indivíduos da espécie que sofreram as intervenções se caracterizam por apresentar ambos os eixos de crescimento (primeira figura na imagem 9), sendo uma espécie de copa ampla e densa que oferece muita sombra.

O seu crescimento múltiplo deve ser respeitado, não subtraindo os eixos de crescimento meristemático, que originarão um desequilíbrio do crescimento natural da espécie. A mutilação desse padrão se mostra bem clara na imagem 10, feita pelos moradores na ocasião da “poda” em 12 e 17 de agosto de 2013. Assim como da formação de gemas epicórmicas, geradas por intervenções anteriores, que descaracterizaram completamente a estrutura arquitetônica natural da espécie.

Imagem 10 – Ramo principal cortado, mostrando claramente ambos os eixos de desenvolvimento vertical e horizontal, característico da estrutura arquitetônica da espécie.

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As ramificações hoje presentes na estrutura das árvores evidenciam que a prática de podas drásticas é antiga, como da presença de ramificações provavelmente originadas de gemas epicórmicas, bem desenvolvidas (detalhe imagem 10), descaracterizando a estrutura arquitetônica natural da espécie. Os indivíduos existentes não apresentam mais ambos os eixos de desenvolvimento, como exemplificados no tronco tombado no solo na imagem acima.

Durante a escolha das espécies para compor o paisagismo planejado por Roberto Burle Marx. Ele levou em conta as definições naturais de sua arquitetura e as escolheu justamente pelo seu porte amplo, de grande ramificação e sombreamento, que define um dos seus nomes populares “sombreiro”. A recorrente descaracterização da sua estrutura natural devido as constantes podas feitas de forma inadequada também descaracteriza o seu plano de paisagismo. Além da perda das qualidades do microclima oferecido pelo sombreamento, o seu apelo estético pelo paredão verde produzido por sua vigorosa copa e o abrigo a fauna. Fatores estes que agregavam qualidade de vida aos moradores do condomínio. As intervenções ocorridas foram feitas a revelia da legislação reguladora e dos órgãos responsáveis, causando danos irreparáveis para o patrimônio paisagístico da cidade do Rio de Janeiro.

Essa prática vem demonstrando a necessidade de uma definição clara de quais as intenções por parte da administração do condomínio, quanto à gestão do patrimônio paisagístico ao quais os mesmos são responsáveis. Os principais atingidos pelos fatos recentemente ocorridos são os moradores que paulatinamente se sentem cerceados por ações que ferem o patrimônio natural e paisagístico e as suas relações simbólicas.

É importante salientar que podas mal executadas de forma drástica e repetida constantemente podem acelerar a morte da árvore. Também se realizadas sem levar em consideração as técnicas apropriadas e a estrutura arquitetônica de cada espécie, podem criar situações futuras de risco e acidentes provocados pela queda de galhos ou mesmo da árvore inteira.

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FIM