somos todos de outro planeta
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7/26/2019 Somos Todos de Outro Planeta
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Somos todos de planetas diferentes
por Carla Maiolino
No dia 13/02/2013 teve início a Quaresma cristã, que se encerrou no dia 31/03,
domingo de Páscoa. Nesse dia, os cristãos do mundo todo viveram seu mais profundo
momento de fé: o momento em que Jesus, o Cristo, o Deus Vivo, venceu a morte e naPáscoa trouxe ao mundo a mensagem da redenção. Em todas as quintas-feiras
Santas lembramos a última ceia, que marca o pilar da fé cristã, ou seja, a nova e
eterna aliança feita em Cristo com o Pai.
Todos os cristãos participam da mesma eucaristia, pois a ceia eucarística é um
contínuo, apenas renovada em todas as missas quando o corpo e o sangue de Jesus
são entregues à sua Igreja.
A penitência que o cristão vive na Quaresma deve permear todos os atos de sua vida
e de sua fé, de modo que sua vida seja um hino de reconhecimento e de testemunho
da bondade de Deus.
Dia 09/07/2013 foi o primeiro dia do mês de Ramadã, que se encerrou no dia
07/08/2013. Nesse mês mais de um bilhão e meio de muçulmanos jejuaram a fim de
glorificar a Deus por ter orientado os homens; agradecendo a Allah a revelação do
Alcorão. Durante o mês de Ramadã, mês em que foi revelado o Alcorão, o muçulmano
jejua numa busca da sua fortaleza espiritual. Por esta razão o jejum não deve estar
limitado à comida e a bebida, mas também se deve buscar o sentido real do jejum:
deixar de cometer pecados, deixar de falar o mal, perdoar os maldosos, se ocupar
com penitências e adoração a Deus, praticar boas ações, que devem ser multiplicadas
no Ramadã.
A partir do entardecer do dia 04/09/2013 até o entardecer do dia 06/09/2013, no
calendário gregoriano, o judaísmo comemorará mais um ano novo, ou, Rosh
Hashanah. Será o primeiro dia do mês de Tishrei e o início do ano 5.774. Os rabinos
traduzem a festa como sendo o aniversário da criação. Nos dez dias seguintes o
judaísmo convida a um momento de reflexão, no qual temos a oportunidade de anular
as promessas que fizemos e não cumprimos, nos reconciliarmos com aqueles que
temos alguma pendência, nos arrependermos dos nossos desvios e fazermos a
reparação, ou tikun, nos escrevendo novamente no Livro da Vida.
O ciclo se encerra no dia de Yom Kipur , ou Dia do Perdão, no qual vivemos como
anjos na terra e temos nossa alma renovada para a nossa jornada mais profunda.
Evidente que o resumo acima não abrange toda a complexidade teológica encerrada
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nos eventos tão basilares de cada uma das religiões abraâmicas abordadas. Serve
apenas como uma introdução para o diálogo que pretendemos iniciar.
O mais interessante, a meu ver, é que quando nos dispomos a analisar as filosofias e
religiões sem as lentes do etnocentrismo e livre de qualquer preceito religioso,
podemos encontrar tantos pontos de conexão e sinonímia que depois de tal exercícioé muito difícil entender o motivo de tanta desavença.
Nos três eventos descritos acima, verificamos uma profunda necessidade humana em
reverenciar ao Criador, enaltecer Sua criação e ter a convicção de nossa filiação
divina. Também percebemos que os homens, durante a vida, em diversos momentos,
sentem-se indignos dessa filiação, porém reconhecem a bondade de Deus que se
releva quando orienta Seus filhos, trazendo-os mais uma vez para a unidade da vida
espiritual. A aliança se estabelece e os homens relembram os dias de paz, quando
tinham consciência da sua natureza espiritual.
Todas as religiões preceituam o jejum, como sendo um momento de profunda conexão
com o espiritual, ou no dizer de um cabalista antigo “um dia para ser anjo na Terra”.
Essas ilhas de tranquilidade, na qual os homens procuram multiplicar suas boas ações
e restaurar ou reparar seus enganos, são necessárias para que os crentes possam se
sentir religados à fonte de sua fé.
Orações. Jejum. Meditação. Recolhimento. Prática da caridade. Ações em busca da
serenidade de espírito na jornada da humanidade para a paz. Poderíamos fazer essa
síntese de tudo o que é hodiernamente pregado pelas religiões.
A teoria se distância da prática. Pelo menos é o que vemos nas notícias espalhadas
pelos mais diversos veículos de comunicação. Qual seria a razão disso? Essa
pergunta é tão antiga e gasta que chega a ser um chavão barato. Podemos afirmar
que ninguém tem uma resposta eficaz para ela, pois caso existisse já não seria feita.
No documentário “A convocação: todos pela paz mundial” o arcebispo sul -africano
Desmond Tutu pergunta: “que Deus é esse que precisa que eu O defenda?”. A
pergunta é interessante, pois as guerras religiosas se alternam nos objetivos: ou de
conquistar o mundo para Deus (eliminando todos os infiéis); ou converter os infiéis,
salvando suas almas, se necessário eliminando suas vidas. Saindo das três grandes
religiões monoteístas, incluiremos hordas de intolerância num crescente assustador.
Independente do que os cruzados modernos argumentem, a conversão pela força e a
conquista do mundo são objetivos ligados ao mundo material, pois o aumento de fiéis,
ou o aumento de territórios não deve interessar ao Criador, visto ser Ele quem tudo
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criou.
Aceitando essa premissa, quase pueril, na qual o conflito religioso é fruto do
pensamento humano, devemos procurar no homem as razões da intolerância.
As diversas linhas de pensamento que discorrem sobre o assunto apresentam teorias
para todos os gêneros e gostos de pensamento. Desde as teorias conspiracionistas,nas quais tudo é fruto da necessidade humana de acumular capital, passamos pelas
mais amplas possibilidades do pensamento. A religião institucionalizada seria o móvel
de diversas campanhas humanas para a conquista e o controle de tudo no mundo.
Motivos políticos, mercadológicos, sociológicos, antropológicos, comerciais,
estratégicos podem justificar as atrocidades já cometidas em nome de um deus, mas
nunca explicar a necessidade humana de cometê-las, imputando a Deus suas culpas.
Nada disso esclarece de forma elucidadora a nossa necessidade em negar a verdade
do outro. Nada explica o motivo pelo qual o que é diferente pode me ameaçar.
Não pretendo achar a resposta para a questão; apesar de estar absolutamente
convicta de que a solução está próxima de tudo o que é mais simples e óbvio. Todos
que procuram estudar a sabedoria esotérica sabem que as grandes Verdades estarão
sempre esculpidas nas portas de todos os templos, a vista de todos, pois só assim
podem estar ocultas aos olhos dos tolos.
Nos últimos tempos, sempre que ouço falar de fatos tristes causados pela intolerância,
tenho me acalmado muito a seguinte estória:
“Um homem sábio pregava para alguns. Falava das maravilhas da
criação. Contava da infinitude de mundos e da vastidão de universos.
Dizia que o Criador havia feito para cada mundo seu sistema de leis
e os havia feito de forma muito diferentes para que todos pudessem
ser únicos na criação. Um belo dia, o Criador percebeu que muitos
de seus filhos amados tinham esquecido a infinitude de sua criação,
tornando-se cristalizados numa única forma de ser e de pensar,
causando, às vezes, desarmonia até em seus planetas nativos. Para
fazê-los compreender a vastidão e a pluralidade de sua criação, o
Criador escolheu o Planeta da Compaixão, aquele que havia criado
com muito amor, para que recebesse, junto com os habitantes que já
estavam lá, aqueles que haviam esquecido que o universo era belo
por ser multifacetado. Todos teriam a oportunidade de exercitar a
compaixão e a tolerância: os visitantes e os nativos.
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Então, vieram para a Terra seres de todos os rincões do universo, em
caravanas completas. Para que pudessem aceitar a pluralidade
existente, o Criador fez com que todos se esquecessem do seu
planeta de origem e os espalhou sobre a Terra.
Estes seres habitaram a Terra juntamente com os terrestres. Cada
grupamento fez assim sua casa, sua família e sua nação.
Construíram, com a lembrança esfumaçada que tinham no fundo do
seu coração, a réplica imperfeita de sua origem. Em cada nação um
sistema completo de leis, crenças e organização que reproduzia a
origem.
Dessa forma, muitas nações diferentes se ergueram. Muitas religiões
diferentes, para deuses muito diferentes. Contudo, como todos eram
filhos do mesmo Pai, mesmo sob a aparência diferente, cultuavam o
mesmo Deus.
Os visitantes estariam exilados na Terra até o dia que pudessem ver
a completude da criação em milhares facetas da humanidade, tendo
adquirido novamente a virtude da compaixão. No dia em que todos
vivessem em plena compaixão, o paraíso estaria na Terra e todos
viveriam no reino de Deus”.
A poesia contida na fábula nos convida a um exercício imaginativo bastante
interessante. O que me causa estranheza seria alienígena, de uma natureza diferente
da minha. Na época da guerra fria tal metáfora foi muito popular. Hoje, em plena
“guerra ao terror” os cinemas estão novamente invadidos com essa temática, agora
mais variada, visto que além de extraterrestres inclui zumbis, vampiros e outras
criaturas sobrenaturais.
Mais uma vez podemos escolher construir pontes, optar pela conexão ao invés da
separação e eliminação proposta pelos filmes. Podemos pensar que: se tudo foi criado
por Deus, todas as manifestações da criação do universo são manifestações divinas,
ainda que se trate de seres alienígenas. As inúmeras formas de expressão diferente
da minha são alienígenas, portando de natureza – matéria – diferente da minha, ainda
que oriundas da mesma fonte, da mesma origem.
Considerando que somos de planetas diferentes, não é possível nenhuma
comparação entre nós – alienígenas – pois a natureza da matéria que os compõem
impede tal comparação. Não existe nem certo nem errado. Não há o bom e o mau.
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Inexistem salvos ou condenados. Existem apenas seres diferentes, alienígenas entre
si. Criaturas de natureza e matéria diferentes, habitando o mesmo planeta, possuindo
uma origem Una.
Concluímos que, mesmo sendo extremamente difícil um homem aceitar o Deus de
outro homem, pois são homens de planetas diferentes, é possível não haver julgamentos. Os confrontos intermináveis ocorrem quando não percebemos isso,
quando ainda estamos esquecidos que o Universo é belo por ser multifacetado.
De tempos em tempos tenho a comprovação dessa verdade. Todos os surtos de
intolerância que explodem são provas incontestes, para mim, da nossa natureza
alienígena, da pluralidade de colônias alienígenas que povoam a Terra e ainda não
conseguem se enxergar como partes de um todo. Nestes momentos tristes, penso:
“essas pessoas só podem ser de planetas diferentes, por isso não conseguem se
entender!”. Em outros dias, quando ouço algo que para mim soa como absurdo,
suspiro: “ah! Esse aí tem que ser de outro planeta!”.
É bem verdade que agora mesmo, nesse momento, depois de ler todo este texto,
você pode ter chegado a seguinte conclusão: “essa mulher tem que ser de outro
planeta!”. Acredito, sinceramente, que você deva ter razão!