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SOMETHING, MAYBE

E L I Z A B E T H S C O T T

Sinopse:

Todo mundo acha que seus pais são embaraçosos, mas Hannah sabe que supera

todos. O pai dela fez fortuna mostrando garotas bonitas – e seu estilo de “festa” – por

toda a internet, e a mãe dela, que uma vez foi uma das namoradas do pai dela, é agora

a estrela de seu próprio site. Depois de ganhar o tipo errado de atenção por muito

tempo, Hannah aprendeu como ficar fora de vista...

Assim é como ela gosta.

É claro, que ser desconhecida não a esta a ajudando a ser notada pelo lindo e

seguro Josh, quem Hannah tem certeza que é sua alma gêmea. Entre tentar descobrir

um jeito de fazer ele notá-la, lidar com os pais dela, e imaginar por que ela não

consegue parar de pensar sobre outro garoto, Finn, Hannah sente como se fosse ficar

louca. Ela está determinada a fazer as coisas saírem do jeito que ela quer... Só que o

que ela quer talvez não seja o que ela precisa.

Créditos: Comunidade Traduções de Livros

[http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25399156]

Tradução:

> Mariane

> Maýra

> Serena

Revisão: Mariane

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Capítulo 1

Todo mundo viu minha mãe nua.

Bem, quase nua. Lembram daquele anúncio que passou durante o Super Bowl, aquele onde um cara liga e pede uma pizza e abre a porta para ver uma mulher nua com uma caixa de pizza aberta (“A pizza que é tão quente que não pode ser contida!”) cobrindo as partes que você ainda não tem permissão para ver na televisão?

Aquilo era ela. Candy Madison, foi uma das namoradas de Jackson James uma vez, e estrela da comédia de curta duração Cowboy Dad. E agora ela está reduzida (muito raramente) a atuar e fazer anúncios, mas ela ficou relativamente famosa (ou infame) por alguns dias depois do jogo de futebol com um show pré-jogo que durou mais do que o próprio jogo.

Whoo.

Você deve achar que o anúncio me causou nada além de preocupação na escola, mas à parte de alguns comentários falsos das garotas brilhantes (você conhece o tipo: dentes brancos artificiais, cabelos brilhantes, e personalidades de cães raivosos) e alguns dos atletas idiotas (que, é claro, estavam assistindo ao jogo, e gostavam tanto de pizza quanto de mulheres peladas – não precisava se esforçar para saber que eles estariam interessados), ninguém mais disse nada para mim.

Mas então, ninguém realmente falava comigo. Isso era bom, entretanto. Eu trabalhei duro e por muito tempo para ser invisível na Slaterville High, uma estudante anônima dos cerca de 2000 que frequentavam, e eu queria que continuasse assim. (O site da escola na verdade se vangloriava de que nós éramos maiores do que as outras escolas. Eu acho que superlotação agora era uma coisa boa.)

Entretanto, o anúncio me causou nada além de preocupação em casa. Quando foi ao ar, as visitas no site da mamãe, candymadison.net, triplicaram, e ela trabalhou para que isso continuasse, dando conversas grátis (onde ela se sentava de lingerie e respondia perguntas sobre a tão chamada carreira dela e sobre Jackson) e empurrando a autobiografia que ela mesma publicou, Candy Madison: tirando tudo. Na verdade nós vendemos dez das vinte e cinco caixas dessa coisa que estavam paradas na nossa garagem.

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E a cobertura de imprensa? Mamãe adorava isso. O anúncio só passou uma vez, porque o filho de algum senador viu e... você sabe aonde eu quero chegar, certo?

É claro que você sabe, e naturalmente, o anúncio ficou extremamente popular online. A revista Celeb Weekly fez cinco perguntas para ela, e mamãe empurrou o livro e o site dela e depois falou sobre como ela sempre estava procurando por um “papel de um personagem interessante e espirituoso.”

Na semana que saiu a entrevista, mamãe comprou dez cópias da revista no supermercado e perambulou pela casa sorrindo largamente e agitando a entrevista para mim. O telefone tocava quase de hora em hora, o novo agente dela ligando com ofertas (a maioria dos trabalhos não envolvendo roupa, os quais mamãe dispensava) e um convite para aparecer em um talk show.

Não um talk show de classe, imagina, mas ainda assim, era um talk show. Ela disse sim até que ela descobriu que o show era sobre “Mães que ficaram nuas: ao vivo! Nuas! Mães!” e desistiu. Não porque ela objetava ser chamada de mãe. Ou porque ela sabia – porque eu disse a ela – que eu morreria se ela fizesse isso.

Era a coisa do “nua.”

“Eu nunca fiz nenhum trabalho nua!” ela disse para o agente dela. “Eu sou uma artista, uma atriz – está certo, sim, o anúncio. Mas eu estava usando uma caixa de pizza! Eu queria ser levada a sério. Que tal me levar ao talk show da mulher que diz “Wow!” o tempo todo e dá carros para a platéia? Eu podia falar com ela.”

A mulher do “Wow!” não estava interessada. O novo agente da mamãe parou de ligar, e hoje, quando nós vamos ao supermercado, a Celeb Weekly não tem nela uma foto dela.

“Eu não entendo!” ela disse. “Eu recebi tantos emails dos meus fãs depois da entrevista, e todos eles disseram que iam escrever para a revista e pedir mais. Você acha que eu não era memorável o suficiente?”

Eu olhei para ela, vestida em uma blusa rosa apertada, brilhante com CANDYMADISON.NET em lantejoulas na frente, e uma saia branca que mal tocava o topo das coxas dela. Os sapatos dela tinham saltos que provavelmente podiam ser usados para furar coisas.

“Você é muito memorável, mãe. Você pegou o pão?

“Eu não como pão.” Ela está fazendo beicinho? É difícil dizer. Ela teve muita química injetada no rosto dela.

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“Eu sei, mas eu como.” Eu digo, e pego a revista Celeb Weekly que ela confia a mim.

“Desculpa,” ela disse. “Eu só estou de mau humor. Eles podiam ter colocado pelo menos uma foto!”

“Eu sei, mas eles...” eu digo e me arrasto para longe, porque tinha mamãe, na parte de trás da revista embaixo de “Desastre da moda!” A foto dela que eles estavam mostrando foi tirada na estréia de uma peça que ela fez longe da Broadway uma semana atrás. A peça ficou em cartaz por exatamente uma noite. Ela fez uma freira (agora você vê porque a peça só durou uma noite) e usou um vestido com o que ela chamou de “recortes estratégicos” para a festa.

A legenda embaixo da foto dizia, “Observe Candy Madison: às vezes caixas de pizzas SÃO mais lisonjeiras!”

“O quê?” Mamãe diz, tentando olhar para a revista de novo. “Eu perdi alguma coisa? Tem uma foto minha? Ou, espere – Jackson está nela?”

“Hum... Jackson,” eu conto a ela, e ela olha para mim, depois puxa a revista das minhas mãos e vê a foto.

E depois começa a pular para cima e para baixo. Não se importando que todo mundo no supermercado está olhando para ela mais do que costumam olhar, a maioria com expressões resignadas “Oh, por quê ela mora aqui” em seus rostos, e poucos com sorrisos largos “Oh, eu espero que ela pule cada vez mais alto porque aquela saia está cobrindo menos e menos”.

“Eu vou pegar o pão,” eu digo e saio. Ela terá parado de pular quando eu voltar porque ela terá visto a legenda. Pelo menos isso significa que não teremos que comprar dez cópias da revista. Eu preferia pegar comida a olhar fotos de celebridades. (Me chame de louca, mas eu só acho que é uma escolha melhor).

Eu estou feliz que era uma foto da mamãe (embora eu quisesse que fosse uma melhor) porque eu preferia mil vezes olhar para ela do que para Jackson James, fundador do jacksonjamesonline.com, a casa das garotas do JJ, e atual estrela de JJ: Mundo dos sonhos. Ele tem 72 anos, e age como se tivesse 22, e era uma vez mamãe teve uma filha com ele. Verifique em qualquer enciclopédia online (ou site de fofoca) se você não acredita em mim. A foto que você verá – e é sempre a mesma foto – é minha com Jackson. Foi tirada quando eu era um bebê, mas mesmo assim. Ainda está lá.

Quando eu voltei, mamãe tinha visto o que tinham falado dela, mas ainda assim queria uma cópia da revista.

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“Eu não acho que muitas pessoas lêem as legendas, você acha?” Ela diz enquanto nos dirigimos para fora para o estacionamento, acariciando a capa lustrosa da Celeb Weekly. “Eu não posso acreditar que estou aqui de novo.” O sorriso dela é tão bonito, tão brilhante. Tão feliz.

Mamãe quase nunca parece feliz. Não de verdade.

“Eu aposto que muitas pessoas verão a foto,” eu digo, o que não é uma mentira. Tenho certeza que muitas pessoas verão. Mas eu aposto que elas irão ler o que está embaixo também. Ela não precisa ouvir isso, no entanto. Não agora. Coloco o resto dos mantimentos no carro dela e digo, “Vejo você depois do trabalho, okay?”

Ela concorda com a cabeça, e quando ela me abraça, eu puxo com força a camisa dela para baixo.

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Capítulo 2

Quando você é uma garota de 17 anos morando em uma cidade famosa por

nada a não ser a proximidade com a interestadual e a enorme coleção de shoppings e subdivisões, não há muitas oportunidades de emprego de alta potência.

Havia, entretanto, muitos – muitos – trabalhos na indústria de fast-food, e um deles era meu. Eu trabalho para o BurgerTown USA (uma divisão da companhia PhenRen, que faz fertilizantes – me diz que você não pensa duas vezes antes de dar uma grande mordida no seu BurgerTown) como uma especialista em pedidos no drive-thru.

Em outras palavras, as pessoas me dizem o que querem comer, eu enquadro no código/chave adequada, e depois leio para eles o total automatizado. A sacada é, na verdade eu não faço isso no restaurante.

Quando você vai a restaurantes BurgerTown em Nova York ou Califórnia ou Massachusetts ou Wyoming ou Georgia (de verdade, qualquer lugar exceto o Havaí e o Alaska), seu pedido do drive-thru vai para um call center como o meu, e sou eu que pego sua solicitação de batatas fritas extra-grandes.

Bem, eu ou um de meus colegas de trabalho idiotas (isso não inclui o Josh).

BurgerTown tem esses call centers por causa do “custo-benefício”, o que basicamente significa que eles querem que os empregados do local – aqueles presos nos verdadeiros restaurantes – tenham mais tempo disponível para limpar mesas. Ou esfregar o chão. Ou limpar banheiros. A gerência se orgulha muito do fato de não precisar mais contratar funcionários de limpeza de fora.

Não precisa dizer, que os empregados do local não gostam muito de nós, empregados do call center. Mamãe uma vez mencionou que eu trabalhava no BurgerTown quando ela estava trapaceando a dieta do momento comendo batatas fritas, mas relatou que, “A garota que pegou meu pedido fez uma cara quando eu falei que você trabalhava no call center.”

“A sua comida tinha um gosto engraçado?” Eu perguntei.

“Engraçado como?” Mamãe disse. “Ei, você viu minha língua vermelha, branca e azul?”

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“Deixa para lá,” eu disse, mas se alguma vez eu for ao BurgerTown – que eu não vou, porque eu estou tão cansada de perguntar às pessoas se elas querem batatas fritas ou tortas ou combos Grande Mordida que o pensamento de comer lá me deixa sem fome, que normalmente precisa de um grande esforço – eu não podia dizer que trabalhava no call Center do drive-thru. Nunca.

Por quê?

Bom, veja bem, dizer uma coisa como essa é com certeza um jeito de ganhar o especial do BurgerTown – uma refeição cuspida.

Nós até mesmo temos um código para isso no centro. Quando alguém é um verdadeiro imbecil, o tipo de pessoa que diz: “Agora, que tipo de carne vocês usam nos seus hambúrgueres? O meu tomate vai ser fresco? Oh, e eu quero duas folhas de alface, não uma. E faça isso rápido, porque eu estou com pressa!” Nós colocamos o cuspe no pedido deles e depois enviamos.

É só uma das coisas que você descobre depois que trabalha no BurgerTown por um tempo (tá certo, um dia) e todo mundo fazia isso.

Bem, nem todo mundo.

Josh, meu colega de trabalho e alma gêmea (embora ele não saiba disso ainda) diz que comer no BurgerTown já é punição o suficiente.

“Toda aquela carne e graxa e gordura saturada destrói seu corpo,” ele diz, e eu concordo plenamente com ele, de verdade, mas às vezes depois de lidar com um completo idiota que acha que pedir quatro dólares de comida significa que eu devo a ele a leitura dos ingredientes ou o que seja – bem, às vezes eles ainda ganham o especial.

Finn também dá o especial, o que realmente significa que eu deveria parar porque Finn é tão – ele é um garoto mediano de Slaterville de 17 anos de idade, e ele pode ser descrito em uma palavra. Bleagh. Diferente de Josh, os interesses de Finn não incluem fazer planos para ajudar outras pessoas, e até onde eu posso dizer, a coisa favorita dele é ser irritante, especialmente comigo. Eu sou muito boa em ignorar ele.

“Alguém viu a Polly hoje?” Ele perguntou. “Josh? Hannah?”

Josh e eu sacudimos a cabeça e Finn sorriu para mim. “Ela deve estar no intervalo.”

Eu ri. (Okay, na maioria das vezes eu sou muito boa em ignorar Finn).

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Josh não ri, e eu suspiro, desejando que eu pudesse ser séria como ele. Mas a coisa da Polly é engraçada. Ela sempre está “no intervalo” porque mesmo que ela supostamente trabalhe aqui, ela na verdade só esteve aqui umas duas vezes. Eu posso entender porque ela não vem, no entanto. Ela tem 22 anos, e a pretensão de fama dela é que uma vez ela foi rainha do baile, e agora ela trabalha (bem, “trabalha”) aqui. Um pouco de vida.

Ela não dá a mínima de estar aqui porque o pai dela, Greg, é nosso chefe, e eu acho que ele está com medo de dar uma chamada nela sobre não estar trabalhando, porque isso poderia significar discutir a atividade favorita da Polly, que é sair com o namorado de 47 anos casado, cuja esposa acontece de ser a irmã mais nova da esposa do Greg.

Parece uma novela, só mais chata porque Polly é tão esperta quanto uma esponja e Greg gasta o dia de trabalho no armário do escritório dele fumando maconha.

Adultos têm tanta classe.

“São $10,22,” Josh disse, e sorri para mim enquanto ele verifica para ter certeza se o pedido foi encaminhado. Suponho que ele não acha que eu sou horrorosa por rir sobre a Polly. Bom.

Eu sei que eu já mencionei isso, mas Josh realmente é minha alma gêmea. Ele é inteligente, gentil, e, melhor de tudo, não é um completo cachorro como todos os outros garotos do mundo inteiro.

Josh se importa com as coisas. Ele escreve poesia (eu vi ele trabalhando nisso), e está sempre indo a lojas de café para discussões políticas/sociais.

Ele até lê – ele está sempre carregando romances enormes com as letrinhas pequenas e o tipo de capa que você só vê em livros que lê para a escola. Mas ele os lê porque se importa com a mente dele. Eu adoro isso.

Ele também é muito bonito.

Tá certo, ele é lindo. Lindo difícil-de-não-se-encarar. Ele tem cabelos pretos e olhos marrons profundos e o sorriso mais bonito. Além do mais ele é alto – mas não muito alto – e magro (mas não magricela) e ele está. Tão. Fora. Do. Meu. Alcance.

Josh não sai com garotas como eu. Ele sai com garotas altas, magras, de cabelos escuros que se importam com causas políticas e injustiças sociais e usa short, vestidos leves que eu nunca poderia pensar em usar. Nunca. Além disso elas sempre tinham nomes legais como Arugula ou Micah.

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Hannah não é um nome legal. Hannah é um nome comum.

Na verdade eu queria que Hannah fosse meu único nome.

Mas não é. Minha mãe, em toda sua “sabedoria” – e porque ela estava enfrentando um processo de paternidade - me deu o nome de Hannah Jackson James. Antes de me mudar para Slaterville, eu nunca tinha pensado sobre meu nome. Não tinha importado antes. Não na escola, e definitivamente não com Mamãe ou José, que era meu padrasto. Eu até mesmo... Bem, eu até meio que gostava dele.

Eu não gostei dele quando nos mudamos para cá. Jackson era mais popular onde eu morava; o site dele e seu castelo e a coleção de namoradas dele não eram a piada que são hoje, mas em Slaterville, que se orgulha de ser uma comunidade ensolarada e acolhedora (tem até placas quando você sai da interestadual) – bem, vamos dizer apenas que algumas pessoas não querem a ex-namorada de Jackson James ou a filha dele por perto.

Mamãe não se importava – ela estava lidando com outras coisas – mas eu? Eu me importava. Professores levantavam as sobrancelhas. Crianças na minha nova sala de sétima série diziam – bem, eles diziam um monte de coisas. A maioria sobre Jackson, que não me incomodava porque, até então, eu odiava ele.

Mas algumas coisas eram sobre a mamãe, e aquilo me incomodava.

Isso passou depois de um tempo. Não até eu ter um tempo miserável na sétima e oitava séries, não até eu ter decidido me tornar uma garota invisível, mas passou. E agora, se alguém diz alguma coisa, eu posso controlar.

A coisa é, entretanto, eu adoraria uma mãe normal. Uma mãe com um emprego que não envolvesse sentar de roupa de baixo relembrando como uma vez ela e Jackson foram a uma boate e fizeram sexo na pista de dança, ou como ela conseguiu o anúncio de pizza. (O diretor tinha uma foto dela do Cowboy Dad como plano de fundo do computador dele quando ele era uma criança).

Mas eu não tenho uma mãe normal. Quando nos mudamos para Slaterville, tudo que mamãe tinha era um coração partido e eu, e depois de um tempo ela fez o que achava que tinha que fazer. O que ela sabia. E isso envolvia uma webcam, roupa de baixo, e cobrar $24,95 por mês para se juntar ao “Clube da Candy”.

Eu costumava desejar que nós voltássemos para Nova York, de volta para o Queens, mas agora fico feliz que não tenhamos voltado. Jackson vai a Manhatan muito mais do que ele costumava ir, buscando agitação e/ou tramas para o programa de televisão dele, e eu não quero estar em nenhum lugar perto dele.

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“Hannah, você tem um pedido”, Finn diz, e me cutuca com os grandes pés de cavalo dele.

“Eu sei,” eu digo, embora tenha perdido o bip que sinaliza os pedidos, e comecei meu lengalenga. “Bem vindo ao BurgerTown,a casa do Melhor Hambúrguer! O que eu posso pegar para você hoje?”

Quando eu terminei, Finn cutucou meu pé de novo.

“O que você está pensando?”

“Em você, é claro.”

“Sério?” Ele sorriu para mim.

“Ah é. Estou pensando em seu pé enorme pisando no meu. É sensacional.”

“Oh. Bem, você, hum... você sabe o que dizem sobre pés grandes,” ele diz, e depois cora. Essa é a coisa que ele faz que é quase adorável. Quase.

“Sim. Sem cérebro,” eu digo, e ele cora mais.

“Vou pegar um refrigerante,” ele resmunga. “Quer um?”

“Não,” eu digo, mesmo querendo, e assisto ele se levantar. Finn mal tem uma polegada a mais que eu, e no meu primeiro dia, Greg disse que devíamos nos sentar perto um do outro já que nosso cabelo e peso quase se equiparavam.

Isso deve te dar uma idéia do “estilo de gerência” dele, e explica porque a Polly pode se livrar... bem, de tudo.

Finn e eu temos cabelos parecidos, eu acho. Nós dois somos loiros, mas o cabelo de Finn é loiro-escuro, e o meu é claro, a tonalidade que Jackson tinha. (Na verdade, ele ainda tem, mas ele tem 72, então você sabe que ele pinta.)

Nós dois também temos olhos azuis, embora os meus sejam azul-escuro, de novo como os de Jackson, e os de Finn são azul-claros. Na verdade eles não são feios – Teagan até diz que Finn é quente, mas o que ela sabe? Ela não tem que trabalhar com ele.

“Sabe,” Finn diz, se encostando no meu terminal, “um dia você vai me chamar para sair. Fomos feitos para ficar juntos. É o destino. Como manteiga de amendoim e geléia.”

“Como manteiga de amendoim e geléia? Sério? Finn, quando foi a última vez que você comeu?”

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“Eu estou meio com fome,” ele diz, corando de novo. “Mas estou te dizendo, você e eu...”

“Fomos destinados a ficar presos sentados perto um do outro. Acredite em mim, eu sei disso. Agora vá pegar seu refrigerante e comer alguma coisa. E nunca mencione nada envolvendo destino e sanduíches de novo.”

“Trato feito,” Finn diz, e marchou para as máquinas de venda. Nós temos uma “sala de intervalo”, completa com um sofá caindo aos pedaços e uma cadeira que combina, mas ninguém nunca vai lá porque tem que bater o código dos empregados para abrir a porta – e para fechar de novo – e o tempo que você ficar será descontado do seu salário. Nós todos supostamente devíamos ir lá depois de oito horas de expediente, mas quando você é pago com porcaria, você não descansa. Ou pelo menos, os não remunerados não.

“Pedido no posto do Finn,” Josh diz, e eu flutuo por um segundo, deixando a voz dele me banhar. Ele até soa bem. A voz dele é suave, e ele tem esse jeito de fazer tudo soar significativo. Eu podia ouvir ele falar o dia todo.

“Hannah, eu estou meio ocupado aqui,” ele diz e gesticula para o terminal dele, e eu percebo que ele precisa que alguém pegue o pedido.

“Desculpa,” eu digo, e deslizo na cadeira do Finn. Colocando o fone de ouvido dele, eu digo aquelas palavras mágicas. “Bem vindo ao BurgerTown, casa do Melhor Hambúrguer! O que posso pegar para você hoje?”

Eu troquei o pedido de Finn para o meu terminal enquanto eu soco um pedido de três sanduíches de frango, e dou o total assim que deslizo de volta para minha cadeira, meu fone se acomodando no lugar enquanto o cliente se dirige para pegar seu sanduíche BurgerTown Tasty Chicken.

“Intervalo,” Josh diz, e eu concordo com a cabeça, jogando o fone de ouvido do Finn de volta no assento dele. Eu colocaria um nó no fio, mas a última vez que eu fiz isso, Finn colocou a cadeira dele bem perto da minha e começou a fazer barulhos de estática toda vez que eu recebia um pedido, e todos os meus clientes achavam que não estavam sendo ouvidos.

Era na verdade meio engraçado, mas então Josh comentou que ele acabou tendo que pegar todos os pedidos. “Alguns de nós não se importam de trabalhar,” ele disse, olhando para Finn, “mas não é justo não fazer nada.”

“A não ser que você seja a Polly,” Finn disse. “Então é justo. O que significa que tem uma falha no seu argumento. Além do mais alguém tem que fazer alguma coisa para nos salvar de morrer de tédio.”

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Josh só sacudiu a cabeça meio triste, o que eu adorei. Eu queria poder lidar com Finn daquele jeito, mas eu não tinha a habilidade de Josh de não ligar para a irritação comum do Finn.

“Eu adoro essa hora do dia,” Josh diz – falando comigo, ele está falando comigo! – e eu tento pensar na coisa certa a dizer.

“Eu te amo” soa um pouco intenso para a conversa.

“Podemos dar uns amassos?” soa como algo que Jackson diria, e mesmo que eu estivesse pensando nisso, eu nunca iria querer soar como Jackson. Nunca.

“Eu também,” é o que eu consegui.

Brilhante, certo?

“Eu não acredito que tenho que encontrar a Micah depois disso,” Josh diz. “Estou cansado, e tenho uma tonelada de dever de casa para fazer.”

“Eu também. Não encontrar a Micah, quero dizer. Mas a parte do dever de casa,” eu balbucio, e Josh sorri para mim.

Ahhhhhhhhhhhhhh. É quase suficiente para me fazer esquecer sobre a Micah e como ela está esperando por ele.

Quase. Micah é a namorada do Josh, e ela tem cabelos escuros e é intensa e toca violão e tem adesivos políticos/sociais pregados por todo o carro dela e pode usar vestidos esvoaçantes pequenos de retalhos. Você sabe, o tipo de coisa que você só pode deixar de lado se você tem uma aparência longa, magra e etérea sem esforço.

Eu não tenho essa aparência. Eu pareço como se pudesse ser uma stripper, ou poderia se eu usasse meu cabelo solto e não me certificasse sempre de que minhas blusas fossem grandes o bastante para esconder o fato que meus peitos apareceram na nona série. (Até lá, eu parecia uma tábua.)

Mamãe diz que eu devia me orgulhar do meu corpo e não escondê-lo porque quando eu tiver a idade dela, eu terei que trabalhar para mantê-lo, o que significa que eu não vou poder comer o que eu quiser e terei rugas como as pessoas normais.

Mamãe não escondia o corpo dela quando tinha minha idade, e ela acabou com Jackson.

Você provavelmente pode adivinhar o que eu acho do “conselho” dela.

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“Oh, ei, pega,” Josh diz, e me joga uma caixa pequena. Ele sorri para mim. “Eu lembro que você disse que a máquina de comida estava sem esses outro dia, e então eu pensei...”

“Biscoitos Animal,” eu digo, esperando não estar soando fútil, mas sério, isso significa alguma coisa, certo? Tinha que significar.

“Sobre o que você está tão feliz?” Finn pergunta, voltando e desabando na cadeira dele. “Ei, obrigado por pegar meus pedidos.”

“Josh me deu biscoitos Animal,” eu digo, e sorrio para Josh. “Muito obrigada.”

“Não é nada,” Josh diz. “E só os vi e pensei em você.”

“Então Hannah te lembra de um animal de zoológico?” Finn pergunta.

Josh só balançou a cabeça – tão perfeito!

Eu, entretanto, não sou, e chutei o Finn.

“O quê? Era só uma pergunta.”

Eu imaginei o que teria acontecido se o Finn não tivesse voltado quando Josh me deu os biscoitos, ou melhor ainda, se ele tivesse sido esmagado por uma das máquinas de vendas e eu nunca mais tivesse que ver ele de novo. Eu também comi os biscoitos Animal e tentei descobrir um jeito de guardar a caixa sem parecer que eu estava tentando guardá-la.

Eu sei, é estúpido, mas eu só queria alguma coisa para lembrar sobre Josh me dando um presente.

Eu não consigo pensar em um jeito de guardar a caixa sem que fosse totalmente óbvio, mas eu guardei um pedaço dela, enfiando na minha bolsa. Eu olhei de relance para Josh como eu faço, para ver se ele estava olhando, mas ele estava ocupado no terminal dele.

Ele não olhou para mim pelo resto do nosso turno.

Talvez os biscoitos não signifiquem nada. Talvez ele só estivesse sendo legal. Por que ele tinha que ser tão incrível? Por que ele não podia gostar de mim? Além do fato de eu não ser o tipo dele. E de ele ser muito inteligente para se interessar pela filha de Jackson James e Candy Madison. Por que mamãe não podia ser uma ativista social? E por que Jackson não podia ser... bem, como eu tenho que ser relacionada a ele?

Se José fosse meu pai, a vida teria sido muito melhor.

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“Boa noite,” Josh diz enquanto nós saíamos para o estacionamento exatamente às 10:01, quando nossos turnos terminavam, e eu acho que ele sorria para mim.

“Tchau, e obrigada de novo,” eu falo, e assisto enquanto ele entra no carro dele.

“Cuidado, você está babando,” Finn diz. “A sua lata velha vai ligar, ou eu preciso dar um tempo e dar um pouco de carga para a bateria de novo?”

“Minha caminhonete não é uma porcaria...” Eu digo, e saio. É uma lata velha, mas foi barata, e era o que eu podia pagar. “Está andando bem, e eu não estou babando.”

“De qualquer jeito, como você gosta tanto de Josh? Tudo o que ele faz é sentar bebendo café caro e se queixando sobre como as coisas eram terríveis.”

“Ele se preocupa com o mundo.”

“Se ele se preocupasse com o mundo, ele teria doado os dez mil dólares que ele deve gastar em café todo ano para a caridade. Isso seria fazer alguma coisa.”

“E o que você está fazendo para ajudar as pessoas? Oh, certo. Nada.”

“Ei, eu não saio por aí afirmando que eu vou mudar o mundo ou...”

“Exatamente.”

“Posso terminar?”

“Eu não sei. Você pode?”

Finn riu. “Eu ia dizer, que se eu quisesse fazer alguma coisa, eu faria. Eu não tenho que anunciar isso para todo mundo.”

“Exceto durante a temporada de futebol americano. Oh, espera, eu esqueci. Você não joga.”

“Ei, eu não posso controlar o fato de que as pessoas têm medo do meu talento natural. Além disso, eu acho mais fácil deixar todo mundo fazer o trabalho.”

Eu rolei meus olhos. “Tchau, Finn.”

“Você tem certeza de que sua caminhonete vai ligar?”

“Uma vez ela não ligou, UMA, e você tem que trazer isso à tona o tempo todo,” eu digo, e destranco minha porta. Ela abriu rangendo com um lamento, e Finn diz,

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“Soando bem, como sempre,” antes de marchar para o carro dele, que era novo e também era pintado de uma cor só.

“É melhor você ligar, sua droga,” eu sussurrei para a caminhonete enquanto deslizava a chave na ignição, e agradecida, ela ligou. Eu saí do estacionamento, Finn atrás de mim, e virei à direita, indo em direção ao shopping.

Eu não podia esperar para ver Teagan. Ela vai saber se o que aconteceu significa alguma coisa.

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Capítulo 3

“Sim,” Teagan diz depois que eu tinha pegado ela no shopping e contado

tudo sobre Josh e os biscoitos.

“Sim, isso significa alguma coisa e ele gosta de mim, ou sim, eu entendo que ele te deu comida?”

“Fala sério, Hannah. Ele se lembrou de uma coisa que você disse dias atrás e trouxe para você? Esse é o comportamento definitivamente adorável de um cara.”

“Vê, é só isso. Josh é adorável o tempo todo. Então ele só estava sendo adorável normal como sempre, ou foi extra-adorável do jeito ‘eu gosto de você’?”

“Você tem que analisar tudo demais?” Teagan diz, escorando os pés contra o painel. “Se algum cara bonito me comprasse alguma coisa, eu estaria... bem, eu não estaria pegando uma carona com você, isso com certeza.”

“Sim, você estaria.”

Ela suspirou. “Você está certa. Eu sou uma frouxa. Eu também deveria estar descobrindo um jeito de vender vinte pares de jeans amanhã à noite. Como eu posso fazer isso? Eu não posso forçar as pessoas a comprarem coisas!”

“Você também pode. Eu já vi você em ação, lembra? Dez blusas em dez minutos, e aquelas blusas eram feias.”

“Verdade,” Teagan diz, e trapaceia com o sinto de segurança. “Ei, lembra aquele vestido que eu comecei mês passado? Aquele que eu te mostrei os esboços?”

Eu concordei com a cabeça. Teagan fazia roupas – roupas maravilhosas, na verdade, como as coisas que você vê em lojas com um preço de $5.000 escrito numa letrinha pequena. Ela até foi para a faculdade estudar design de moda em Manhattan, mas teve que voltar para casa depois de um ano quando a mãe dela precisou fazer uma cirurgia no quadril.

“Bem, eu terminei ele noite passada,” ela diz. “O que faz outra roupa que ficará empacada no meu armário. Eu sou uma droga.”

“Você não é uma droga. E... bem, tá certo, me chame de louca, mas por que você simplesmente não usa as coisas que você faz?”

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“Onde eu iria usar? No trabalho?” Ela gesticulou para o jeans e para a blusa dela. “Lembra, código de vestir?”

“E que tal um lugar que não seja o trabalho?”

“Como se eu fosse para qualquer outro lugar. Espera... tem o supermercado onde faço compras com meus pais! De algum jeito, entretanto, eu simplesmente não consigo me ver vestida assim para isso. E além disso, isso é Slaterville, não Nova York, e todo mundo da minha idade...”

“Oh, como se você fosse uma anciã com dezenove. Você podia usar o vestido para...” Eu travei. Teagan estava certa. Não só Slaterville era uma droga em termos de coisas para fazer, mas quando Teagan não estava no trabalho, ela está em casa com os pais dela ou se escondendo no quarto dela desenhando e costurando.

“Exatamente,” Teagan diz. “Eu não vou a lugar nenhum. Eu estou em lugar nenhum. O que é ótimo, porque eu não tenho nenhum talento.”

“Pára com isso. Você tem montes de talento. Espera, isso soa estranho. Muito talento. Você tem muito talento. As pessoas não vão à Nova York para estudar moda se não tiverem talento”

“Tá certo, é o suficiente para mim,” Teagan diz, tirando os pés do painel. “Eu vou te trazer algum dinheiro para a gasolina amanhã. Eu sei que te devo.”

Eu sacudi a mão para ela. “Eu tenho o suficiente no tanque para mais algumas viagens. Além disso, não é como se você morasse a mil quilômetros de mim.”

“E ainda assim eu nunca fui na sua casa.”

“Você conhece minha regra. Ninguém vai à minha casa, nem mesmo você. A última coisa de que preciso é as pessoas verem a mamãe no seu... estado natural.”

“Isso é ruim?

“Você quer ver sua mãe andando pela casa de lingerie o tempo todo?”

“Ponto,” Teagan diz. “Ei, o que Finn disse sobre a coisa toda dos biscoitos?”

“Oh, ele foi ele mesmo. Além do mais ele ainda fica me lembrando sobre a vez que ele teve que recarregar a bateria da caminhonete. Toda noite disse: “Você acha que sua caminhonete vai ligar?”

“Merda, meus pais estão esperando por mim,” Teagan diz, olhando para fora da janela. “Vê eles espiando na cozinha?”

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“Você quer dizer sentados à mesa, falando um com o outro e sequer olhando para cá para fora? É, eu estou vendo. Ótima espionagem.

“Engraçada,” ela diz. “Agora me diz o que você vai dizer ao Josh no trabalho amanhã.”

“Obrigada pelos biscoitos?”

“Você já não disse isso?”

“Já, duas vezes. Eu sou patética.”

“Você não é patética,” Teagan diz. “Por que não você pergunta a ele o que ele vai fazer no fim de semana?”

Fico quieta por um segundo enquanto encosto para parar na casa dela, e depois olho para ela.

Nós duas caímos na risada.

“Oh sim,” eu digo. “E depois eu vou dar a ele meu telefone! E dizer a ele para me ligar! Por favor.”

“OK, OK,” Teagan diz. “E que tal... oh! Eu sei! O que ele gosta de comer?”

“Café moca de quatro dólares.”

“Pegue um desses para ele. Tipo, compre um para você e pegue um segundo e diga que você estava comprando um e pensou nele, como ele fez com você.”

“Ooooh, eu gosto disso,” eu digo. “Mas eu odeio café. Você sabe disso.”

“Não seja tão rigorosa de propósito. Pegue um chocolate quente ou alguma coisa.”

“Mas e se ele...?”

“O quê? Te chamar para sair? Dizer que gosta de você? Oh não!”

“Certo, tá bom. Eu vou comprar café para ele.”

“Wow, olha para você falando em alguma coisa que você quer fazer. Isso é um milagre!”

“Ha há.” Eu dei uma cotovelada nela.

Ela sorriu para mim, saiu da caminhonete, e depois virou de volta para mim. “Eu falei sério! Compre café para ele!”

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Eu acenei para ela enquanto ia embora, e tentava me imaginar comprando café para o Josh. Posso me ver fazendo isso, algo assim.

Mas realmente dando o café a ele? Isso eu não consigo ver. E se ele dissesse que não queria? Então eu ia parecer uma idiota.

Quando chego em casa, mamãe está sentada na mesa da cozinha, usando um biquíni prata e comendo um pedaço de torrada.

“Desde quando você está comendo pão de novo?” Eu pergunto. A mudança constante de dietas da mamãe é realmente um saco porque eu gosto de comida, além do mais eu odeio ver ela viver de coisas como bolos de arroz e alface. Isso parecia tão estúpido. Quero dizer, o que é tão ruim sobre comida de verdade?

“Estou faminta,” ela diz. “Eu acabei de fazer um chat com esse grupo de programadores. Todos eles são grandes fãs de Cowboy Dad, e um deles vai se casar, então todos eles racharam por uma hora comigo contando histórias sobre o show. Oh, e olha isso – eles estavam indo para um clube de strip depois, e supostamente uma das dançarinas parece comigo. Pode acreditar nisso? Eu sou uma striper especializada agora!”

Eu começo a fazer um pedaço de torrada para mim. É mais fácil do que dizer qualquer coisa.

Ela suspira. “Estou te dizendo, isso é muito lisonjeiro. Eu não tenho strippers tentando parecer comigo desde que eu estava com Jackson.”

Agora é a minha vez de suspirar. Ao mesmo tempo que eu fico envergonhada por mamãe às vezes (ok, a maior parte do tempo), eu a amo, e eu sei que esse surto repentino meio-que-de-fama fez ela se sentir bem pela primeira vez em anos.

“É ótimo, mãe.”

“Obrigada,” ela diz com um sorriso distorcido. “Como foi o trabalho?”

“O de sempre. Ei, você já pegou seu cheque do último mês?”

Ela concordou com a cabeça.

“E?” Eu olhei para ela. Desde que a mamãe trabalhava online, todo mundo pagava por meio de um site de pagamento que a mamãe não entendia – e que pegava um pouco de tudo que ela ganhava.

“E eu fui bem. E sim, antes que você pergunte, eu posso pagar todas as contas.”

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“Você devia guardar para a aposentadoria também. Lembra?”

“Você age como se eu tivesse sessenta,” ela diz. “Eu tenho muito tempo.”

“Bem, se você precisar que eu ajude, eu posso ir ao banco antes de ir para o trabalho amanhã.”

“Oh não,” ela diz, levantando e ajustando o top. “Eu não vou pegar o seu dinheiro. Eu nunca peguei esmola de Jackson, e eu certamente não vou pegar de você. E agora eu tenho que voltar a trabalhar. Eu pareço bem?”

“Ei, strippers estão copiando você agora, certo?” Eu digo, e ela aperta meu ombro antes de escorregar da sala e entrar no gabinete, fechando a porta atrás dela.

Eu como outro pedaço de torrada e depois vou para o andar de cima fazer meu dever de casa. Quando eu vou para cama às uma, mamãe ainda está de pé, e eu caio no sono ouvindo o som da risada dela, ensolarada e doce e falsa.

Ela fingiu estar feliz por tanto tempo que eu quase esqueci como ela soava quando ela estava feliz de verdade.

Quase.

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Capítulo 4

Quando mamãe e eu viemos para Slaterville, ela estava tão para baixo como

eu nunca tinha visto ela ficar antes. Destruída, realmente. Nós dirigimos para a cidade em um impulso; ela, eu, e as cinzas de José no banco de trás dentro de uma caixa de metal gravada, e ficamos.

Eu não pensei que fossemos ficar no começo; Mamãe estava em uma situação ruim, uma situação que nos mantinha nos mudando, sempre nos mudando, mas nós ficamos. Nós ficamos e mamãe comprou para nós uma casa pequena com o dinheiro da apólice de seguro do José, mas em nosso primeiro ano aqui, quando ela tentou (e falhou) em encontrar um emprego local atuando, ela acabou com contas enormes de cartão de crédito. Depois daquilo, ela teve que hipotecar novamente a casa.

E depois que ela pagou todas as contas, tinha o suficiente para ela construir o site.

O resto é história, mais de dois terços disso é disponível para (pago) download no site dela.

Eu sinto falta de como as coisas eram quando nós morávamos com José? Como as coisas eram antes de ele morrer, quando éramos três e a vida era... bem, normal? Definitivamente. Mas eu sei que mamãe também sente, e isso torna mais fácil.

Não melhor, entretanto. Quanto mais eu odeio ver as cenas dela – até mesmo Cowboy Dad, que não é tão ruim (para uma droga de comédia, de qualquer forma) – pelo menos lá ela não estava...

Bem, tente ter uma mãe cujo trabalho é andar por aí de lingerie na frente da webcam.

Ela diz que gosta disso, e eu acho que ela gosta, na maior parte. Mamãe tem orgulho do corpo dela, e adora trabalhar em casa. Ir ao supermercado é a coisa mais social que ela faz.

Além do negócio de falar com as pessoas de lingerie, é a coisa mais social que ela faz.

Eu sei que as coisas não vão mudar magicamente quando eu for para a faculdade – restava mais um ano em Slaterville High, só mais um – mas pelo menos então eu terei alguma distância entre mamãe e eu, como agora eu tenho alguma

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distância entre Jackson e eu. E enquanto eu amo a mamãe, eu estou cansada de como as escolhas dela moldam minha chamada vida.

Por exemplo, quando eu saio para a escola na manhã seguinte, eu vejo nossa vizinha da porta ao lado, Sra. Howard. Assim que ela me vê, ela puxa e fecha a cortina da cozinha dela.

Como se eu fosse uma influência maligna na sociedade em meu jeans folgado e blusa cujos punhos passam das minhas mãos. Como se eu fosse arrancar toda a minha roupa e correr nua pelo jardim.

Jackson nem mesmo faria uma coisa como essa. Ele teria colocado uma das namoradas dele para fazer isso – e elas fariam, também – mas ele nunca faria isso. Mamãe também não faria, mas ela também não percebia coisas como a Sra. Howard – ou se ela percebe, ela ignora quando estou por perto. Eu não posso ignorar, entretanto.

Eu vejo, e eu odeio isso.

Eu dou o dedo para a Sra. Howard antes de entrar na minha lata velha, e eu sei que ela me vê também, porque as cortinas são puxadas de novo.

Bom.

Escola é escola. O ensino fundamental – eu cheguei em Slaterville quase no meio da sétima série – foi o inferno, mas eu gastei tanto tempo tentando ser invisível que agora eu sou. Quero dizer, eu conheço pessoas... bem, ok. Uma pessoa.

Michelle. Ela esteve em pelo menos duas das minhas aulas cada ano desde que me mudei para cá, e às vezes nos falamos, mas é isso. Uma vez em muito tempo eu imaginei o que seria ter uma amiga com quem eu realmente pudesse falar, ou pelo menos comer com ela, mas desde que Teagan e eu começamos a sair ano passado, eu não penso muito sobre isso.

Eu conheci Teagan na última primavera. Eu a vi por aí antes de ela ir para a faculdade, é claro, mas ela era uma aluna do último ano que usava roupas incríveis e falava sobre ir para Nova York o tempo todo. E eu não era – e não fazia – nenhuma dessas coisas.

Mas na primavera passada, eu estava sentada do lado fora uma noite enquanto mamãe estava trabalhando, tentando fingir que eu não me importava que os Howards estivessem olhando para mim pela janela deles a cada cinco segundos como se eu estivesse a ponto de começar a me retorcer pela grama ou algo assim, e Teagan passou.

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“Ei,” ela disse, e eu estava tão surpresa que ela estava de volta em casa – e, tá certo, que ela tinha falado comigo – que eu disse “Ei” de volta. Nós acabamos conversando por algumas horas, e eu tive a informação de que ela só voltou de Nova York para ajudar depois da cirurgia do quadril da mãe dela, e que ela não estava entusiasmada de estar de volta em Slaterville.

“Eu simplesmente odeio tanto esse lugar,” ela disse. “Ele é tão... eu não sei. Ferrador de alma. E por que os seus vizinhos estão nos encarando daquele jeito?”

Eu fiquei tensa. “Porque eles são os Howards. E... bem, você sabe quem minha mãe é, certo?”

“Oh,” ela disse. E depois – e foi isso que me fez realmente gostar dela – ela disse, “Espera, sério, é esse o motivo? Vocês não tem estado aqui por, tipo, anos? Cara, os Howards não devem ter vida. Não que sua mãe não seja interessante ou o que for. É só que... bem, fala sério. Não tem outra coisa que eles possam fazer? No mínimo, a Sra. Howard poderia comprar algumas roupas novas. Alguém devia dizer a ela que ombreiras só ficam bem se você for um jogador de futebol americano.”

Como eu poderia não gostar dela depois daquilo? E quando a mãe dela veio para casa do hospital, e precisou de fisioterapia e não pode fazer o que ela estava acostumada, Teagan ficou. Ela começou a trabalhar em tempo integral no shopping alguns meses atrás, e eu imagino que ela esteja guardando para sair da cidade, voltar para Nova York e a faculdade. Ela não disse com certeza, mas depois, isso é a Teagan. Ela dificilmente sequer fala sobre Nova York. Eu não a culpo. Estar aqui depois de ter estado lá, estar aqui depois de seguir seu sonho? Isso deve ser duro. Eu vou sentir falta dela quando ela for embora.

Mas por agora, pelo menos, eu tenho uma amiga, e então na escola eu na maioria das vezes só imagino como seria fazer coisas do ensino médio. Sair nos fins de semana, e não só trabalhar ou ir ao supermercado com minha mãe. Beijar um garoto.

Ter uma vida normal. Uma de verdade.

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Capítulo 5

Eu tenho uma aula com Josh, e essa é a melhor parte do meu dia.

Eu queria ter todas as minhas aulas com ele, assim eu poderia sentar perto dele e olhar para a parte de trás do pescoço dele e então imaginar ele se virando e levantando e vindo em minha direção e...

De qualquer forma, eu só tenho uma aula. Governo.

Hoje, Josh está escrevendo. Se eu sentar me inclinando para frente e para toda a minha direita, então eu estou me esmagando no lado da minha carteira, eu só posso decifrar um pedaço da página do caderno dele.

Não é a posição mais confortável, mas eu posso ver palavras de verdade, e ele parece estar escrevendo sobre amor porque eu vejo as palavras “coração” e “mente”.

Eu também vejo a palavra “Fyodor,” o que me confunde até que eu me lembro que ultimamente Josh anda lendo Os Irmãos Karamazov. Eu na verdade comprei uma cópia depois da primeira vez que eu o vi com ele, pensando que eu o leria e nós poderíamos conversar sobre ele.

Eu não fui muito longe. As letras eram pequenas e o que eu li pareceu ser meio uma história e meio que um monte de pensamentos sobre coisas complicadas como a natureza humana. Eu honestamente não vi isso como qualquer tipo de história de amor, mas então Josh lê livros grossos em uma média regular e eu não.

E o que Josh escreve... bem, eu nunca vi, além dos relances que eu vejo na aula, mas eu posso dizer que é poesia porque ele nunca escreve mais do que uma página, e umas duas vezes eu decifrei palavras rimando.

Ele poderia ser mais perfeito? Inteligente, doce, quente – e escreve poesia? Eu tenho que comprar café para ele hoje. Isso não vai ser tão difícil.

Eu escrevo “COMPRAR CAFÉ” no meu caderno, para tornar isso mais real, e uma bola de papel destruída pousa na minha carteira. Eu não tenho que adivinhar de quem ela é. Eu sento no fundo da sala, na última cadeira do lado esquerdo da sala – é o meu lugar favorito para sentar em todas as minhas aulas.

Mas nessa aula, Finn senta do meu outro lado.

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Eu queria que ele estivesse lá na frente, mas não, ele está aqui, e tem estado desde que se mudou para conversar cerca de uma semana depois que eu comecei no BurgerTown.

“O que você está fazendo?” o bilhete dele diz. Finn costumava tentar falar comigo fora do trabalho às vezes, costumava se aproximar de mim aqui, na escola, mas ele ficou todo vermelho e eu fiquei possessa que ele estava envergonhado de estar falando comigo e foi embora então eu não poderia esbofetear ele, e depois de um tempo ele desistiu.

Então os bilhetes começaram. No começo eles me deixaram louca porque ele dizia coisas como, “Ei, você está realmente recebendo bilhetes?” como se ele me conhecesse ou alguma coisa. Como se ele se importasse, ou o que seja.

Eu o ignorei, mas eles continuaram vindo, e o quinto bilhete que ele jogou em mim era uma lista de todos os códigos de pedidos do BurgerTown. Greg disse que ele ia me dar um no meu primeiro dia (na verdade ainda não vi um oficial), e se não fosse pelo Finn ter escrito embaixo que “dd” significava “dinheiro” e “cd” significava “cartão de crédito,” eu ainda estaria ferrando com os pedidos.

Então no dia depois que ele me deu os códigos, quando ele jogou um pedaço de papel que dizia, “Dez dólares que a Polly não vai aparecer para trabalhar hoje,” eu escrevi de volta, “Vinte que ela na verdade não existe. PS. Obg pelos códigos.”

Ele realmente me fez pagar a ele os vinte dólares quando a Polly apareceu no trabalho por dez minutos na semana seguinte, mas devolveu quando nosso turno acabou, dizendo que desde que ela na verdade não tinha falado, a existência dela ainda estava em dúvida, ou, nas palavras dele, “Você viu como ela não falou? Eu estou achando que ela provavelmente é um fantasma. Ou uma animação de computador elaborada. Ei, você quer esses biscoitos que eu comprei? Eu achei que eles fossem de chocolate, mas eles são de chocolate com nozes e eu odeio nozes.”

“Fantasmas e animações de computador possivelmente não podem usar tanto perfume com ela usava,” eu disse, e ele riu e eu alegremente peguei meus vinte dólares de volta – e os biscoitos. O dinheiro estava realmente apertado, e eu estava comendo pão e sanduíches de mostarda no trabalho. E na escola. E em casa. Eles tinham o gosto tão ruim quanto pareciam, mas mamãe foi tapeada porque alguma coisa deu errada com o sistema de pagamento online dela e levou alguns dias para ser consertado, e eu ainda estava esperando pelo meu primeiro pagamento no BurgerTown.

Agora eu escrevo de volta, “Eu estou sentada aqui. O que parece que eu estou fazendo?”

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“Tendo um ataque epilético. Eu não sabia que os pescoços humanos podiam se mover desse jeito.”

“Hilário,” eu escrevo de volta, e então o sinal toca.

Café, eu me lembro enquanto saio para o corredor, me movendo rápido, assim eu posso pegar um último, rápido relance do Josh antes de ele desaparecer pelo corredor. (Bem, na verdade nos braços de Micah, mas perto o suficiente.)

Um café moca. Isso é tudo. Eu posso fazer isso. Eu vou fazer isso.

Eu vou.

Exceto que eu não faço.

Eu quero fazer, eu realmente quero, mas quando a escola termina e eu dirijo para o trabalho, eu não posso parar na cafeteria que eu sei que Josh vai.

Ou em qualquer uma das outras três pelas quais eu passei no meu caminho para o call Center.

Quero dizer, eu poderia parar – os freios da minha caminhonete funcionam. Na maioria das vezes. Mas o pensamento de carregar o café e dizer, “Josh, eu comprei isso para você” – e se ele já tiver café? E se ele não bebe mais café moca? E se eu comprar um, oferecer a ele, e ele dizer, “Não obrigado, eu não quero.”

Então eu saberia que ele não gosta de mim.

E tá certo, enquanto eu tenho certeza de que ele não gosta de mim, pelo menos agora eu posso fingir que ele pudesse gostar – e eu gostaria de me segurar nisso.

Entretanto, Josh não tem café quando eu chego para trabalhar, e até diz, “Cara, eu queria ter parado e pegado um café moca antes de vir para cá. Eu odeio que as máquinas de vender não tem nada que não seja preenchido de açúcar e de substâncias químicas.”

“Eu também,” eu digo, agora desejando uma máquina do tempo para que eu pudesse voltar e comprar o café depois de tudo, e então percebendo que minha lata de coca cheia de açúcar estava bem em cima do meu terminal. Eu me inclinei um pouco, como se eu apenas estivesse meio que casualmente me espreguiçando, e bloqueei o refrigerante da visão dele. Ou pelo menos eu esperava que tivesse bloqueado.

“Elas têm água,” Finn diz. “Nada condenável nisso, certo?”

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“Ainda é dinheiro forrando os bolsos de empresas excessivamente ricas.”

“Verdade,” Finn diz. “Não como aqueles artistas batalhadores na Coffee, Inc., com suas lojas a cada metro e tudo.”

“Elas devolvem para a comunidade,” Josh diz, balançando a cabeça para Finn, que bufou, mas diz, “Tá certo, cara, que seja.”

Eu tirei vantagem do momento para colocar meu refrigerante no chão, e então disse, “Eu gosto dos muffins da Coffee, Inc.,” Porque eu queria que o Josh continuasse falando e porque eu sabia que os muffins definitivamente ajudavam as pessoas necessitadas. A caixa tem uma pequena placa perto dela que diz 10 por cento do custo vai para crianças carentes. Teagan diz que ela descobriu que é por isso que eles cobram $3,75 por eles.

“Eles estão ok,” Josh diz. “Nem perto de tão bom quanto os Biscoitos Animal, entretanto.”

Isso significava alguma coisa, certo? Eu acho que devia.

E então ele sorriu.

Meu interior se derreteu e eu juro que vou comprar café para ele amanhã com certeza. E perguntar a ele o que ele vai fazer no sábado, e...

E então ele pega o livro dele e começa a ler.

Esqueça o café. Eu atribuo significado a tudo. Josh só estava falando, o que muitas pessoas fazem, e eu tenho que lembrar disso. Suspiro.

Por que tudo isso é tão difícil? Por que ele tem que ser tão perfeito e doce? Por quê?

Por que ele não pode gostar de mim?

“Ainda lendo sobre os caras russos, hein?” Finn diz.

“Pela segunda vez,” Josh diz, dando ao Finn um olhar paciente. “Ele fala tanta coisa que você tem que lê-lo mais de uma vez para entender.”

“Oh, certo, tipo... espera,” Finn diz, e pega um pedido. Eu peguei um também, e quando terminei, eu praticamente arranquei meu microfone porque Josh estava falando de novo e eu sei que ele está falando alguma coisa intensa. Eu posso dizer porque a testa dele está toda levantada. Ele só faz isso quando ele está falando sobre algo significativo.

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Aposto que ele parece desse jeito quando lê sua poesia. Eu aposto que Micah ouve a poesia dele. Eu queria ser ela.

“É sobre um monte de coisas,” Josh está dizendo. “É... o livro fala de temas universais. É isso que o torna uma ótima literatura.”

“Totalmente,” eu digo, porque mesmo que eu não tenha realmente entendido o livro – ou lido a maioria dele – eu sei que ele deve estar certo.

Josh sorri para mim de novo. “Você o leu?”

Eu concordo com a cabeça, e espero que ele não me pergunte sobre ele. Ou pelo menos sobre nada que acontece depois das primeiras quinze páginas.

“Oh, eu entendo o que você está dizendo agora,” Finn diz. “Como quando a esposa de Fyodor morre, tem toda aquela linha sobre como algumas pessoas o vêem fazendo uma coisa e algumas o vêem fazendo outra, mas só uma coisa é verdade?”

“Exatamente,” Josh diz, e eu o encaro porque eu lembro dessa parte e não era o que achei que tinha acontecido. Depois que a esposa de Fyodor morre, algumas pessoas o vêem fazendo uma coisa – estar triste – e algumas o vêem fazendo outra – estar feliz – e ambas podiam ser verdade porque ele estava feliz de estar livre dela e sentia muito que ela tinha morrido.

Eu entendi essa parte porque parecia exatamente como alguma coisa que Jackson faria.

“Eu não sabia que você tinha lido o livro,” Josh diz, parecendo surpreso.

“Eu posso ler,” Finn diz. “Às vezes eu posso até soletrar palavras complicadas como d-i-s-s-i-m-u-l-a-d-o-r.”

Vê, aqui é quando eu gritaria. Mas Josh não grita. Ele só sorri – um pouco irritado, mas quem poderia culpá-lo? – e diz, “Então qual emoção você acha que era a verdadeira?”

“Ambas,” Finn diz depois de um momento. “Tem toda aquela coisa sobre as pessoas serem mais ingênuas e sem maldade do que pensamos, certo?”

Josh encolhe os ombros e se vira de volta para o terminal dele, a expressão dele parecendo incomodada e eu posso dizer que ele sabe que o Finn está certo.

“Aqui,” Finn diz, pegando meu refrigerante do chão e estendendo para mim.

“Isso não é meu,” eu digo.

“Sim, é sim. Eu vi você entrando com ele e colocando-o...”

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“Não, não é meu,” eu digo, olhando de relance para Josh. Por favor não deixe ele estar vendo isso.

“Oh,” Finn diz, e coloca o refrigerante de volta no chão. Eu olho para ele – está tudo bem, Josh nem mesmo está olhando para mim – e Finn franze a testa e vira de volta para o terminal dele.

Eu meio que esperava mais de uma briga de Finn porque nós dois sabemos que é meu refrigerante, mas está tudo certo. Bom até. E quando ele atendeu um cliente, eu deslizei minha cadeira em direção à Josh.

“Ei,” eu digo, e ele olha para mim.

“Ei.” Ele ainda parece chateado.

“Eu só... eu acho que é realmente legal que você lê, sabe? Em público, quero dizer. Todo outro garoto daqui, todos eles falam sobre esportes e os carros deles e coisas desse tipo. Você fala sobre coisas de verdade.”

“Obrigado,” Josh murmura, e então sorri para mim.

Um sorriso bonito que faz meus joelhos ficarem fracos mesmo que eu esteja sentada. “Eu sei que às vezes eu meio que sigo em frente, mas tem tanto mais para viver do que Slaterville.”

“O que é uma coisa muito boa.”

“Absolutamente,” ele diz. “Eu gosto de pensar na vida como uma chance de explorar tudo, sabe? Você...?”

“Hannah, você tem um pedido.”

Por que o Finn tem que trabalhar aqui? Por quê?

“Eu sei,” eu digo entre dentes, mesmo que eu não soubesse, e deslizei de volta para o meu terminal.

A pessoa fazendo o pedido leva uma eternidade para decidir que tipo de refrigerante diet ela quer com a salada e depois muda seu pedido para um cheeseburguer triplo e anéis de cebola no último minuto. Quando eu finalmente termino e olho por cima do meu terminal, Josh tinha saído da sala.

Droga!

“Ele vai voltar,” Finn diz. “Ele teve que pegar algum café. E provavelmente achar alguém para quem explicar o livro que ele supostamente está lendo assim ele pode ‘ir em frente’ sobre explorar a vida ou o que seja.”

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“Então agora você está ouvindo minhas conversas?”

“Não é como seu eu tivesse qualquer outra pessoa para ouvir,” Finn diz, mas o rosto dele está ficando vermelho. “E olha, eu entendi que você gosta dele ou o que seja, mas você sabe que ele só age como se importasse com as coisas, certo? Se ele realmente se importasse, ele não faria mais do que sentar por aí bebendo café?”

“Ele faz coisas,” eu digo. “Ele vai a reuniões.”

“Reuniões? Oh, você quer dizer como ele vai e bebe café e fala sobre como ele se importa e o grande mistério da vida? Você está certa. Ele é praticamente um santo.”

“E você está fazendo tanto para ajudar... o que é isso de novo? Oh, certo. Nada.”

“Ei,” ele diz, se inclinando em minha direção. “Você pode se importar sem falar para todo mundo. Quero dizer, você não acha que se importar realmente com alguém – alguma coisa – é na verdade sobre fazer coisas e não só falar sobre elas?”

“Claro. Mas você...”

“Hannah,” ele diz, “você realmente acha que eu não posso me importar com as coisas? Com as pessoas?”

“Eu...” eu digo, de repente muito consciente de como ele estava perto e como nós estamos sozinhos e como, de perto, os olhos dele são na verdade mais azul-acinzentados do que azuis. E como meu corpo não parece perceber que eu não estou olhando para o Josh, minha alma gêmea, mas para o Finn, que me deixa louca.

“Hannah,” ele diz de novo, e eu nunca tinha reparado na boca do Finn (bem, talvez um pouco), mas é uma boca bonita, especialmente quando está curvada como está agora, como se ele pudesse estar pensando sobre a minha boca, como se ele pudesse estar...

“Ei, nós tivemos pedidos,” Josh diz, e eu o vejo parado na porta, parecendo meio puto da vida.

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Capítulo 6

“Vocês não viram as luzes piscando?” Ele pergunta, e eu balanço minha

cabeça enquanto o Finn diz, “Ei, pelo menos alguns de nós estavam aqui.”

“Ótimo, que seja, eu vou cuidar disso,” Josh diz, e se senta.

Ele está bravo? Eu acho que ele poderia estar. Ma por que ele está bravo? Porque nós deixamos os pedidos de lado, ou porque ele viu o Finn e eu... olhando um para o outro?

Independente do que fosse, eu comecei a pegar os pedidos imediatamente, e tentei não encarar muito o Josh.

Eu devo não ter feito um bom trabalho, entretanto, porque quando as coisas se acalmaram, ele olha para mim, sorri, e diz, “Ei, Hannah, eu trouxe uma coisa para você.”

“Você trouxe?” Eu ouvi minha voz guinchar e sei que pareci estúpida, mas não me importo. Ele vai me dar outra coisa, ele deve gostar de mim!

Ele me passa uma sacola branca de papel, e eu a abro. Dentro está uma caixa pequena de chocolate de menta. Eca. Eu odeio menta.

Ainda assim, eu sorrio e digo, “Obrigada,” porque dã, ele tinha me dado outra coisa. E eu sempre posso dar o doce para a mamãe. Ela adora essas coisas. Ela não vai comê-los, mas ela pode cheirá-los ou algo assim. Eu nem mesmo quero cheirá-los.

“É por ter sido tão legal antes,” ele sussurra, deslizando para perto de mim, e eu como uma das mentas assim ele vai ficar bem onde está por um tempo a mais.

Ugh. Até chocolate não pode disfarçar o fato que esse chamado doce tem gosto de pasta de dente. Como a mamãe pode listá-los como um dos favoritos dela na seção “Sobre mim” do site dela, está depois de mim.

“Pedidos,” Finn diz, soando irritado, e embora normalmente eu estaria puta da vida com ele por interromper Josh e eu... ou, pelo menos, Josh sentando perto de mim enquanto eu tento terminar a menta sem na verdade sentir o gosto dela – eu tenho que dizer não estou inteiramente sentida de estar sozinha no meu terminal.

Também, eu vou ter que falar com a Teagan sobre o que tudo isso significa.

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E eu especialmente vou ter que falar com ela porque quando o trabalho termina, Josh, ao invés de correr para fora para o estacionamento como ele normalmente faz, caminha para fora comigo (comigo!), Finn se arrastando atrás de nós.

“Hoje à noite foi cheio,” ele diz, “eu estava esperando que nós pudéssemos conversar mais. Mas no meio tempo...” Ele busca dentro da bolsa de mensageiro dele, que é outra coisa que eu adoro sobre ele. Todo mundo carrega uma mochila, mas não o Josh. Ele tem uma bolsa de mensageiro legal e surrada, coberta com adesivos protestando todo tipo de coisas.

“Eu pensei que você fosse gostar disso,” ele diz, e me entrega um CD. A capa tem uma lista de músicas.

Okay, até eu sei que isso significa alguma coisa. Eu olho para baixo para a lista de músicas, tentando imaginar se são músicas de amor.

Elas não eram. É tudo coisa antiga, como de quando eu era pequena. Tem uma tipo new song, entretanto, “Descontente no inverno 4.” É uma daquelas músicas obscuras que todo mundo que gosta de música devia amar. Eu sei disso porque mamãe às vezes conversa com o grupo de bateristas e ela coloca um link para download da música no site dela assim eles colocam um link para ela no site deles.

“Eu sei que a maioria delas é clássica,” Josh diz, “mas eu gosto delas. Uma ótima música é uma musica para sempre, sabe?”

“Totalmente.” Eu tive que começar a pensar em coisas para dizer que não fossem uma palavra só. Ou, pelo menos, que não fossem uma palavra só que me fizessem parecer uma idiota. “Quero dizer, obrigada. Você me trouxe biscoitos e as mentas e... você não tinha que fazer isso.”

“Eu sei,” ele diz. “Eu quis.” E então ele tocou meu rosto. Lá mesmo no estacionamento, com as luzes fazendo o cabelo dele brilhar, e ele está tão perto e está tocando meu rosto, e os olhos dele são grandes e maravilhosos, e ele é tão maravilhoso que eu só quero agarrá-lo.

Puxar ele para baixo, lá mesmo no estacionamento, beijar ele com vontade, e depois tirar a camisa dele e deslizar contra ele e...

Bem, você entendeu a idéia. Muito obrigada pela libido maior que o normal, Jackson. Eu às vezes – está certo, normalmente – tenho medo que se eu na verdade alguma vez faça alguma coisa com um garoto, eu vá... vamos apenas dizer que antes que você saiba, eu estarei andando com cinco garotos nos braços, chamando-os de “meus garotos” e agindo como uma idiota.

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“Ei, Josh, Micah está aqui,” Finn diz, e Josh olha para um carro parando no canto do estacionamento, depois lentamente derruba a mão do meu rosto.

“Tenho que ir,” ele diz, atravessando o estacionamento. A meio caminho do carro que está esperando por ele, ele vira e acena para mim.

Pelo menos eu penso que é para mim. Finn está mais perto, mas por que Josh iria acenar para ele? E também, ele não tinha dado um CD para o Finn. Ou doce.

“Okay, sério, o que é isso sobre ele?” Finn diz. “Como ele pode flertar com você enquanto a namorada dele está sentada no carro, esperando por ele, e isso está tudo bem, mas na vez que uma garota da outra sala de atendimento vem e me pergunta do cupom de códigos, você me chama de Garoto Porco por dois dias?”

“Isso é porque tudo que você fez foi olhar para baixo da blusa dela o tempo todo que ela estava lá.”

“Eu não fiz isso! Pelo menos, não o tempo todo.”

“Você realmente acha que ele estava flertando comigo?”

“Vamos ver. Ele te deu um doce que você odeia – eu vi sua cara – e um CD de músicas...” Ele olhou para o CD. “Todas elas são, tipo, de vinte anos atrás, pelo menos. Imagina. Oh, e ele apalpou seu rosto. Parece amor verdadeiro para mim.”

“Ele não apalpou meu rosto. Nós estávamos conversando. E ele também me comprou biscoitos animal. Eu gosto deles.”

“Você também reclamou sobre eles não estarem na máquina por uma semana. Todo mundo do prédio sabe que você gosta de biscoitos animal.”

“Eu não vi você me trazendo nenhum.”

“Você queria que eu trouxesse?” Finn diz, e a voz dele de algum jeito muda quando ele diz isso, a pergunta quase parecendo como se ele quisesse fazer isso. Por alguma razão, eu pensei sobre mais cedo, e como estávamos perto e como olhar para ele fez eu me sentir toda cambaleante mesmo que eu estivesse sentada.

Agora, eu sei que um lance momentâneo de... o que seja pelo Finn não significava nada na verdade. Ou não significaria, se eu fosse normal. Mas eu sou a filha de Jackson James, e às vezes eu realmente penso que eu poderia me tornar a versão feminina dele.

“Como se você fosse gastar um centavo que você pudesse gastar com você mesmo com outra pessoa, muito menos comigo,” eu digo, e vou para a minha caminhonete.

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Finn espera até que eu ligue a lata velha antes de entrar no carro dele, e enquanto eu assisto ele entrar, eu – está certo, eu admito, eu checo o jeito que a camisa dele se aperta ao longo dos ombros dele e... outras coisas. Isso faz eu me sentir mal, entretanto. Não só porque é o Finn, de todas as pessoas, mas porque eu gosto do Josh.

Mas eu faço isso mesmo assim.

São coisas como essa que me assustam. Isso me faz pensar que talvez, lá no fundo, eu sou como o Jackson, e que eu só vou poder pensar sobre mim e sexo para sempre e sempre e sempre.

Eu preciso falar com a Teagan.

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Capítulo 7

“Então eu realmente gosto do Josh. Quero dizer, realmente gosto dele. E

hoje à noite foi tão perfeito. Mas depois teve essa... coisa com o Finn. Foi só por um segundo, mas você tem que prometer que se eu começar a falar sobre compartilhar meu amor ou alguma coisa do tipo, você me dá um tapa, certo?” Eu apertei minhas mãos no volante e soltei a respiração, feliz por finalmente soltar tudo isso.

Teagan ri.

“O dia que você começar a falar sobre compartilhar seu amor é o dia que o mundo acabar,” ela diz. “Você nem mesmo pode falar com o Josh sem surtar. Quero dizer, olha para você. Você ganhou mais duas coisas do Josh hoje, o que claramente significa que ele gosta de você, e o que você está fazendo? Surtando.”

“Ele tocou meu rosto, também.”

“Espera, o quê? Quando foi isso?”

“Logo depois do trabalho,” eu digo, e quando eu termino de contar a ela tudo sobre isso, ela diz, “Wow. Eu acho que ele ia te beijar.”

“Sério?”

“É. E bem na frente da namorada dele. Isso é um pouco... bem, você diz que ele é intenso, certo?”

“Ele é. Eu vi ele escrevendo poesia na aula da Governo hoje. E ele está sempre falando como as pessoas precisam prestar atenção ao mundo em volta delas e...”

“Okay, ele é intenso. Então ele provavelmente estava tão na sua que esqueceu tudo.”

“Provavelmente?”

“Definitivamente,” Teagan diz, mas olha para fora da janela antes de se virar de volta para mim. “Então me conta mais sobre essa coisa com o Finn.”

“Não foi uma coisa.”

“Você disse que foi.”

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“Realmente não foi... tá certo, foi,” eu digo. “Pára de me encarar! Eu estou tentando dirigir. É mais difícil à noite. Você não sabe disso?”

“Eu sei que você está cheia disso,” ela diz. “Desembucha.”

Então eu desembucho.

“Então você olhou para ele, e pensou sobre você e ele fazendo...”

“Beijando,” eu grito. “Só beijando.” (Okay, foi um pouco mais. Mas não tanto assim. Não realmente.)

“Isso é tudo?” Teagan parece desapontada.

“Isso é tudo? É o Finn, Teagan. Finn.”

“E?”

“E ele... ele joga futebol americano. Eu sei que você lembra como os jogadores de futebol americano de Slaterville são.”

“Eu pensei que você tinha dito que ele fica no banco.”

“Ele ainda está no time, entretanto, e ele sai com garotos como o Brent, o idiota que pensa que correr por um campo batendo na bunda de outros caras significa que ele é melhor que todo mundo. E o Finn é só... eu não sei. Ele é o Finn.”

“Sabe, você certamente fala sobre o Finn terrivelmente demais. Quero dizer, sobre quem nós estamos falando agora?”

“Você trouxe ele a tona!”

“Certo, mas considerando que é bem óbvio que o Josh gosta de você, você gastou o mesmo tanto, se não mais, de tempo se preocupando sobre querer beijar o Finn.”

“Porque eu tenho medo que isso signifique que eu vou virar o Jackson.”

“Uh-humm.”

“Teagan!”

Ela ri.

“Olha, você tem que se superar. Amanhã você vai de verdade comprar o café que você devia ter comprado hoje, e você vai chamar o Josh para sair. E ele vai dizer sim, e você vai, e você vai beijá-lo e o mundo não vai acabar. Depois você pode me agradecer e... ugh. Meus pais estão me esperando de novo.”

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“Eu suponho que sua mãe está realmente melhorando.”

“É,” Teagan diz, olhando pela janela em direção à casa dela.

“Então você perguntou a eles quanto tempo mais eles querem que você fique? Quero dizer, eu sei que você deve sentir falta de Nova York e das coisas lá. Escola”

Ela está quieta enquanto eu paro no fim da entrada de carros dela.

“Teagan, você devia falar para eles que você acha que eles ficarão bem sozinhos. Então você pode ir, sabe?”

“Eu vou.”

“Quando?”

“Logo.”

“Hoje à noite?”

“Logo,” ela diz, e sai da caminhonete. “Vejo você amanhã. E tenha feito o negócio do café!”

Eu dirigi para casa, imaginando se a Teagan está certa. Talvez a coisa toda com o Finn foi só um acaso... que seja.

Depois de pensar nisso, eu estou com bastante fome, e eu não jantei no trabalho porque eu não levei nada e então o Josh me deu o doce e eu não achei que podia ir comprar alguma coisa porque ele tinha me dado comida.

Então eu entrei, e vejo a mamãe no telefone. Ela está usando uma coisa rosa desordenada, o top cortado tão baixo que você pode ver a maior parte do sutiã preto e rosa dela aparecendo.

Talvez eu esteja certa de me preocupar. Quero dizer, eu tenho uma mãe que basicamente usa lingerie enquanto está falando com pessoas que ela nunca viu na vida.

“Aqui,” ela diz, se virando para mim e segurando o telefone. “É o Jackson.”

“Jackson?”

Mamãe assente.

Eu pego o telefone, de repente me sentindo tremer. Eu não tenho falado com o Jackson desde que eu tinha doze anos.

Por que ele está ligando agora?

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Capítulo 8

Ele não está.

Fran, a secretária dele há muito tempo e a mulher que organiza a vida dele para ele, está.

“Oi, anjo,” ela diz. “Como você tem passado?”

Eu não falo com a Fran desde que eu tinha doze anos também. Quando o Jackson não fala com alguém, ninguém em volta dele fala com aquela pessoa também.

“Ótima,” eu digo, minha voz apertada. “O que você quer?”

“Eu sei que faz um bom tempo,” ela disse, “Muito tempo. Eu senti sua falta. E o Jackson... espera. Você aí, sim, você com a bandeja... o Jackson não pediu um picles com aquele sanduíche. Ele nunca come picles. Volte para a cozinha e pegue outro. Não fique só parado aí. Vá!”

Fran grita bastante. Jackson não grita nada. Ele não gosta de confronto de nenhum tipo, então a Fran cuida disso para ele.

“Me desculpe por isso,” ela diz, e eu ouço o som familiar de uma câmera de vídeo ao fundo e sei que ela está sendo filmada agora. Eu seguro minha mão mais apertada no telefone. “Nós tivemos que contratar novos funcionários e eles tem que ser treinados, e de qualquer jeito, o que você fará na sexta?”

“Vou para a escola.”

“Oh, é claro que vai. Eu esqueci que você ainda está na escola. Dezessete agora, certo? Segundo ano? Trabalhando no Burger Town?”

“Certo,” eu digo, e tento não imaginar alguém dizendo a Fran tudo aquilo, tento não me imaginar como parte de uma pesquisa para atualizar o “banco de dados pessoal” do Jackson. Tento não imaginar a Fran lendo toda aquela informação de um dos cartões que Jackson faz ela manter de todo mundo que ele alguma vez conheceu antes das câmeras virem e ela pegar o telefone.

“Então,” Fran diz. “Você sabe que o Jackson...”

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“Não,” eu digo, cortando ela. “Eu não sei. Eu não sei o que o Jackson está fazendo. Não visito o site dele, não assisto o programa dele. Por quê? Ele está morto ou alguma coisa?”

Eu ouço um som suave, como alguém limpando a garganta, e sei que o Jackson está ouvindo, fora das câmeras em outra sala. Imagina. Ele costumava sempre ouvir todos os telefonemas porque ele – bem, porque ele é o Jackson. Isso é o que ele faz. Assim como ele sempre limpa a garganta quando está nervoso ou decepcionado. Logo antes de te ignorar e/ou ir embora.

“Ele está bem,” Fran diz tranquilizadoramente, mesmo que ambas saibamos que eu não soei muito preocupada sobre a possibilidade do Jackson estar morto. “Eu só estava pensando que você poderia gostar de tirar a sexta de folga da escola e voar para Nova York, passar algum tempo na cidade com o Jackson.”

Jackson quer me ver. Eu tenho esperanças por um segundo – eu tenho, mesmo que eu odeie que tenha – e então a realidade bate.

“A audiência deve estar baixa, certo?” Eu digo a Fran. “Então... deixe-me adivinhar, é tempo de relembrar que Jackson James é um homem devotado á família. Diga aos produtores que é doce da parte deles pensarem em mim, mas eu vou passar.”

Tem um silêncio por um momento, depois um som de click, como um dispositivo de gravação sendo desligado. Eu aperto meus dentes e espero, triste e puta da vida, e certa o bastante, um momento depois, eu ouço a voz de Jackson.

“Eu estava esperando contar a você sobre a viagem antes da Fran contar, mas eu suponho que ela superou. Nós dois estamos muito animados sobre ver você de novo.”

A voz dele não está tão alta quanto a de Fran estava, o que significa que a ligação não está mais sendo filmada para o programa. Suponho que o que eu disse deve ter irritado os produtores.

Bom.

“Não, Fran, eu vou olhar aquelas fotos em um minuto,” ele diz. “Agora eu quero falar com a minha filha.”

Ha! Como se o Jackson alguma vez fosse deixar de olhar fotos de mulheres pobremente vestidas por alguém, até por mim. Especialmente por mim. Quão estúpidas são as pessoas que assistem o programa dele? E quão estúpida ele acha

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que eu sou? Ninguém está mais ouvindo a ligação, mas as câmeras ainda estão filmando. Fingir que ele quer falar comigo não significa que eu acredite que ele quer.

Não agora, de qualquer jeito.

“Me desculpe pela interrupção,” Jackson diz. “Eu vou cuidar dos arranjos para a viagem, está certo? E Hannah – eu mal posso esperar para ver a cidade com você de novo.”

Eu não digo nada, sabendo que ele vai continuar. E certa o bastante, ele continua.

“Eu também te amo,” Jackson diz, tão suavemente quanto se eu na verdade tivesse dito isso para ele primeiro. “Eu vou te dizer como me achar quando a limousine trouxer você do aeroporto e deixar você no hotel, mas depois eu sou fácil de localizar – só procure por todas as mulheres bonitas e eu estarei lá!”

Depois ele desligou. Desse jeito, como se cinco anos de silêncio não significassem nada – e não significa, não significa nada para ele, e eu odeio isso – mas eu me forcei a fazer uma cara distorcida para a mamãe e devolvi o telefone para ela. “Porcarias do programa.”

“Eu imaginei assim que a Fran me perguntou o que eu achei do último episódio,” mamãe diz. “Bem, isso e o fato que ela ligou.” Ela limpa a garganta. “Faz um tempo.”

“Cinco anos.”

“É um longo tempo,” mamãe diz, olhando para mim, e eu agarro uma caneta do balcão e rabisco em um pedaço de papel, não olhando para ela. Um pouco mais de cinco anos atrás eu era feliz.

Eu na verdade também gostava do Jackson. Eu era tão estúpida.

“Eu sei que sua última viagem para vê-lo não foi boa, mas talvez...?”

“Não foi boa? Sério? Eu não tinha percebido, até que o Jackson me fez parecer como uma idiota.”

“Jackson é só...”

“Um idiota?”

“Difícil,” mamãe diz, mas ela está sorrindo agora. “Você quer vê-lo?”

“Não,” eu digo, e ela assente uma vez, o sorriso fugindo do rosto dela.

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“Por quê?” eu digo. “Você acha que eu devo?”

Mamãe ajusta as alças da coisa rosa desordenada dela. “Eu acho que você deve pensar sobre isso. Ele não vai estar por perto para sempre, e apesar de... apesar de como ele pode ser, ele é um homem muito adorável e sensível.”

“Uh hum. Você iria vê-lo?”

“Ele nunca me pediria.”

“Mas e se ele pedisse?”

“Ele nunca pediria,” mamãe diz de novo, sua voz muito quieta. “Quando o Jackson termina com alguém, ele termina. E ele e eu... bem, nós não terminamos muito bem, terminamos?”

Ela coloca os ombros para trás, joga o cabelo, e sorri de novo. “Estou indo surpreender meus fãs do outro lado do oceano com uma saudação matutina – deve ser de manhã em algum lugar, certo? – e depois vou para cama. Vejo você na manhã de verdade, okay?”

“Okay,” eu digo, chacoalhada pelo estranho abatimento das últimas palavras dela, pelas coisas que eu sei que ela está pensando agora, e depois que ela saiu, eu despejo minhas velharias no balcão, jogo as mentas na despensa, e faço um sanduíche para mim.

Mamãe tinha dezenove anos quando conheceu o Jackson. Ela foi morar com ele dois dias depois, e estava fora do castelo – e da vida – dele quando tinha vinte e um.

Eu nasci sete meses depois que ela saiu, e então toda a coisa da paternidade aconteceu. Seria legal não saber muito sobre isso – eu era um bebê, depois de tudo, então não é como se eu fosse lembrar, e mamãe e José nunca falaram sobre isso (e é claro que o Jackson nunca fala sobre nada remotamente emocional) – mas era uma coisa que as crianças em Slaterville Grover Cleveland Middle School costumavam adorar me perguntar.

Estúpida Slaterville.

Eu sei que estou no segundo ano, e não devia ainda estar desapontada com coisas que eu ouvi quando era mais nova. Mas tente você ter acabado de completar treze anos e descobrir que o Jackson uma vez insistiu que eu não podia ser a filha dele porque a mamãe não tinha andado “excitando ele” e que ele também estava “quase certo” que ela andava fazendo sexo com qualquer um que pedisse.

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Isso não era verdade, é claro, mas ouvir isso ainda machuca, e eu gastei as primeiras semanas na escola em Slaterville vindo para casa com os olhos secos (eu jurei que não choraria na frente de ninguém de novo, nunca, e eu estava falando sério) e furiosa. No dia vinte e um, no fim da semana três, eu vim para casa com os olhos secos e com os nós dos dedos rachados.

Os nós dos dedos rachados vieram por dar ao portador de todas as notícias – Brent Wilkins, morador completamente estúpido até então – um nariz sangrando, e quando mamãe perguntou o que eu tinha feito, eu gritei que ela devia ter me contado que o Jackson uma vez tentou dizer que eu não era dele antes mesmo de eu ter nascido, e que a vida seria mais fácil se ela apenas tivesse me dito que ele nunca tinha me amado.

“Eu queria que nós ainda estivéssemos no Queens!” eu disse. “Eu queria que ainda estivéssemos com o José.”

Mamãe fechou os olhos, e os manteve fechados por um longo tempo.

Quando ela os abriu de novo eles estavam vermelhos e molhados, cheios de lágrimas não derramadas. “Eu também queria que estivéssemos,” ela disse. “Mas não estamos. E quanto ao Jackson, sim, ele... ele disse coisas. Mas isso não significa que ele não se preocupa com você. Eu sei que a sua última visita não correu bem, mas eu tenho certeza que ele quer ver você...”

“Não,” eu disse a ela. “Ele não quer. Ele nem mesmo vai ligar. Você vai ver.”

E o Jackson não ligou, do jeito que eu disse.

Mas agora ele ligou.

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Capítulo 9

A coisa é, eu costumava gostar do Jackson. Eu costumava amá-lo, até. Antes

de José morrer, eu até o chamava de pai.

Eu não via o Jackson com frequência, mas quando eu via, era como um feriado. Ele mora em um castelo no norte do estado de Nova York, algumas horas de Manhattan. É um castelo digno-de-Deus, também, algo que ele comprou de algum pobre duque ou conde e tinha embarcado da Inglaterra e sido remontada. Ele podia ter construído um castelo, mas ele queria a coisa real. Os vizinhos não gostaram – muito grande, muito desalinhado, muito estranho – ou do próprio Jackson pelo que importa, mas Jackson nunca se importou com coisas como essa.

Ele tinha um império para comandar. Um império de presente, onde as garotas que posavam para o site dele eram bem recompensadas, e até mesmo encorajadas a terminar a escola ou começar o próprio negócio delas. Ele doava generosamente para a caridade. Ele ia na televisão e argumentava apaixonadamente pela saúde universal, por um fim às violações dos direitos humanos.

Ele era adorado, do jeito que os americanos abraçam celebridades, e sustentado como um homem de gosto, estilo, e bondade.

Ou pelo menos era assim que ele parecia ser. E mamãe jura que ele realmente era assim, pelo menos por alguns anos. Mas então Jackson começou a acreditar que ele era ótimo como todo mundo dizia que ele era, e você pode adivinhar o que aconteceu.

A primeira – e única – esposa dele, a que tinha a idade dele e que tinha apoiado ele enquanto ele alavancava o site, que fingia não ver os olhos e as mãos bobas porque ela o amava? Se foi. Antes mesmo do castelo ter sido terminado, antes que ele – e ela – pudessem se mudar, ele assinou o divórcio.

Ela morreu de câncer antes do caso sequer ir ao tribunal. Ela manteve em segredo o quanto ela estava doente para “evitar que ele sofresse.” Ele chorou no funeral dela e disse que a amaria para sempre.

Quatro meses depois, ele estava morando no castelo com a primeira das cinco “garotas especiais” – garotas que nunca fizeram isso no site mas, como ele colocou, “encontraram um lugar no meu coração.” Elas todas tinham cabelos escuros, olhos

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escuros, e eram magras, nunca maior que tamanho 36. (Exceto pelo peito, é claro. Isso era outra história.)

As “garotas especiais” dele iam na TV com ele quando ele fazia aparições, e depois de três anos, quatro das primeiras que tinham “encontrado um lugar” no chamado coração dele tinham ido embora, substituídas por quatro novas garotas. Mamãe era uma dessas garotas.

Jackson estava nos cinquenta então, o que é ancião e nojento desde que mamãe só tinha dezenove anos, mas ela jura que ele parecia e agia mais jovem. Tem uma seção inteira na autobiografia dela onde ela fala sobre como ele era bonito e ativo. Uma vez eu tentei ler isso, mas fez eu me sentir como se o lado de dentro dos meus olhos estivesse sangrando.

De qualquer jeito, mamãe foi morar com Jackson logo depois que se conheceram, que foi durante a maior festa dele do ano, o que, naturalmente, foi para o aniversário dele. Ela nunca apareceu no site, como todas as outras “garotas especiais” dele, mas ela apareceu nos vídeos diários do Jackson, que ele colocou no site e que aparecia ele andando em volta do castelo com as “garotas especiais” dele.

Apesar do fato de que ela na verdade nunca apareceu no site, mamãe se tornou a favorita dos fãs de Jackson James. Ela admite livremente que era porque ela costumava andar sem blusa. Eu sou apenas agradecida que toda aquela filmagem pertence ao Jackson e que ele não mostra mais isso porque assistir isso torna claro que ele ficou realmente, realmente velho.

E então, na completa idade de vinte e um, mamãe se encontrou chutada do castelo e grávida de dois meses. Sete meses depois, eu nasci e recebi o nome “designado” para provar a verdade. Teve um teste de paternidade, e uma audiência, e a famosa linha de Jackson James “Por que ninguém pega para mim uma foto do bebê?” logo antes que o julgamento estava para começar.

Não teve um julgamento depois disso – eu acho que olhar para alguém que tem o seu cabelo e seus olhos torna meio difícil dizer, “Ei, ela não é minha” – e embora a mamãe nunca tenha me contado os detalhes do que aconteceu, eu sei que ele concordou que era meu pai e ofereceu dinheiro a ela, que ela recusou. Ela disse que não queria dever nada a ele. Ela só queria que ele fosse meu pai.

E ele foi. Por um tempo, de qualquer forma. Uma das minhas primeiras memórias é visitando ele no castelo e o quão grande e mágico ele parecia. Ficou daquele jeito quando fiquei mais velha, era um lugar onde eu podia fazer qualquer coisa que eu quisesse. Ficar acordada a noite toda? Jackson não se importava. Comer sorvete no jantar? Jackson tinha pessoas que iriam me trazer uma grande tigela em

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uma bandeja de prata. Tinham brinquedos, tinha uma piscina, tinha um jardim imenso cheio de garotas que sempre queriam trançar meu cabelo ou me dizer como eu era bonita. Até eu ter cinco anos, e começar a escola, eu honestamente achava que a maioria das mulheres andava por aí sem blusa.

Eu adorava os animais de estimação que viviam lá também, os cachorros e gatos que o Jackson comprou para as garotas, animais que comiam bem e eram levados para passear pelos empregados mas nunca eram realmente notados pelas suas donas exceto pelo rápido toque na cabeça quando a garota que uma vez os quis estivesse de bom humor.

Eu gastava horas com eles, e eles costumavam me seguir onde quer que eu fosse. Por anos, o Jackson mantinha uma foto de uma garotinha magra na mesa dele, sorrindo e acenando para a câmera enquanto eu brincava no gramado, uma bagunça de cachorros e gatos em volta de mim.

Eu não sei se ele ainda a tem ou não – uma das várias “loucuras” do Jackson é que ele não gosta de jogar as coisas fora, então eu aposto que está arquivada em uma caixa em algum lugar – mas o negócio sobre a foto é que ela mostra exatamente o que eu era para o Jackson.

Eu não era uma pessoa para ele, não de verdade. Eu era mais como outro animal de estimação. Adorada quando fosse preciso para as câmeras, ou se ele quisesse provar que ele ainda era jovem o bastante para ser um pai, ou se ele estivesse com humor para atuar como ele se importava com a “família” – e nunca lembrada no resto do tempo.

Eu descobri isso quando José morreu.

Eu visitei o Jackson pela última vez logo depois do funeral, e foi a última vez que eu o vi. A última vez que o chamei de pai.

Eu nunca devia tê-lo chamado disso. Ele nunca mereceu isso, e se não fosse pelo José, eu nunca teria descoberto como realmente era ter um pai de verdade e uma família de verdade. José me mostrou que o amor não é sobre ganhar o que você quiser, mas é sobre estar lá – realmente estar lá – pela nossa família. Amor é sobre pequenas coisas, como ser dito para colocar seu cinto de segurança quando entra no carro, ou um beijo na sua testa quando você passa pela sala. Um roçar gentil da sua mão quando você está chorando depois de ouvir que tudo que você conhece vai acabar.

Eu não sei se eu posso fazer isso. Sentir esse tipo de emoção de novo, quero dizer. Desde que o José morreu, eu quero sair de Slaterville. Eu me preocupo com a

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mamãe. Eu quero o Josh. Mas é isso. Eu não posso conectar tudo isso junto. Eu me sinto com se fosse pedaços de uma pessoa ao invés da coisa de verdade.

Eu não penso realmente que o Josh é minha alma gêmea. Eu quero que ele seja, mas ele não é. Ele é tão bom, tão preocupado. Ele é todas as coisas que eu queria ser, e eu não posso fazer nada a não ser sonhar que se eu puder de alguma forma fazer ele gostar de mim, eu posso aprender a ser como ele.

Eu quero ser feliz, me apaixonar – ser de verdade – mas eu sei, da mamãe, que é muito para se pedir. Demais, talvez.

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Capítulo 10

Alguma coisa está acontecendo quando chego na escola. Eu sei porque as

pessoas estão olhando para mim, e isso não acontece normalmente.

Eu checo minha roupa, mas está tudo certo. Jeans velho e folgado que eu tenho desde sempre, e uma blusa cinza de tricô que eu dei a José no último aniversário dele. Ele não viveu tempo o bastante para usá-la. As mangas têm buracos nelas de onde o tricô começou a esfiapar, e ao longo dos anos, a cor desvaneceu de uma ardósia escura para uma fumaça pálida, mas eu nunca vou me livrar dela.

Meu cabelo está em seu usual rabo de cavalo, e eu até lembrei de colocar no modelo pegajoso que mantém ele no lugar e faz meu cabelo parecer um pouco mais escuro.

Então tudo está o mesmo, mas ainda assim, as pessoas estão olhando, e enquanto eu estou me encaminhando para a primeira aula, o Brent passa por mim, sussurrando alguma música que eu acho que supostamente eu devia conhecer, e diz, “O que você tem embaixo dessa blusa, Hannah?”

“Furúnculos,” eu digo, e gasto um segundo assistindo ele tentar descobrir o que eu quis dizer antes de sair. Idiota.

Na educação física eu sento perto da Michelle. Este ano ela e eu temos esta aula e a de química juntas, e nós sempre acabamos como parceiras em qualquer – e todo – projeto. Às vezes eu quero dizer a ela que sinto muito por ela estar amaldiçoada em ter Jameson como último nome, mas eu nunca disse isso na verdade. Eu não tenho certeza se ela iria rir ou não.

Educação física não era realmente educação física em Slaterville. É metade aula, metade exercícios ocasionais. A coisa toda esteve fora do currículo por anos, na verdade, até que um bando de pais que estavam preocupados que nós todos fossemos ficar gordos reclamassem, então agora nós temos um período extra todo dia. Como se nós já não passássemos tempo suficiente na escola.

Agora nós estamos “estudando” nutrição, o que significa que ao invés de ser mandados para fora para correr para frente e para trás até que a aula termine – ou até que os professores fiquem distraídos com alguma coisa brilhante – nós sentamos discutindo tópicos fascinantes como “por que junk food é ruim.”

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O fato de que há máquinas de lanches há cerca de três metros da porta da sala de aula faz esta aula extra engraçada.

“Então, você pensou em quatro maneiras de comer mais legumes?” Michelle diz.

“Não. E você?”

“Não.” Ela sorri.

Eu sorrio de volta e me pergunto por que ela fala comigo?

Veja, Michelle não é uma aberração ou algo assim. Ela é uma garota bonita. Você sabe o tipo a que me refiro. Ela não é linda, não de verdade, mas ela claramente levanta cedo toda manhã e faz o máximo que pode com o que tem. Ela sorri muito, é legal com todo mundo, e, como resultado, é uma daquelas pessoas raras que pode falar com quase todo mundo e conseguir que lhe respondam.

“Então, certo, e sobre todo esse negócio de colocar cenouras no molho do espaguete?” ela diz, e depois enruga o nariz para o livro. “Ugh, esqueça isso, eu não me importo com nada disso.”

“Eu sei. Você deve achar que eles poderiam nos ensinar algo útil como... eu não sei. O que fazer se te pedirem para colocar cenouras no molho do espaguete.”

Ela sorri. “Ou como dirigir. Eu ainda estou na lista de espera para a auto-escola, e semana passada eu descobri que eu devo ter que esperar até o ano que vem para conseguir. Ano que vem! Eu nunca vou conseguir minha habilitação.”

“Você pode pegar uma daquelas aulas de fora.”

“Meus pais não vão deixar,” ela diz, fazendo uma cara e girando um anel de prata em volta do dedo anular esquerdo. “Eles dizem que não querem pagar por isso, mas eu sei que eles só não me querem dirigindo. Eles são tão irritantes.”

“É,” eu digo, embora eu tenha certeza que minha definição de pais irritantes é muito diferente da dela.

O anel dela pula para fora do dedo dela e aterrissa na minha carteira. Quando eu o pego e devolvo para ela, eu percebo que tem alguma coisa gravada dentro dele.

“Obrigada,” ela diz, apanhando-o de volta e ruborizando um pouco. “Eu aposto que você acha que isso é estúpido, certo?”

“Seu anel?” eu digo, confusa. “Por que eu acharia isso?” Eu não uso nenhuma jóia, é verdade, mas eu não acho que isso é estúpido. Eu só não tenho nenhuma.

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“Oh,” Michelle diz, e então sorri, virando o anel para que eu possa ver a palavra gravada dentro.

Espera.

“Eu me comprometi na igreja tempos atrás, mas o anel da promessa só chegou semana passada. Eu não quero dizer aos meus pais que isso é muito grande porque eu não quero que eles pensem que eu não quero usá-lo.”

“Certo,” eu digo. “Isso é legal de verdade. O anel, quero dizer. E todo o resto. Pena que eu não posso...”

Merda. Merda, merda, merda. Os olhos da Michelle se arregalaram – só um pouco – e agora eu sei que eu tenho que dizer alguma coisa para consertar isso. E consertar realmente rápido.

“Quero dizer, eu podia ter um se quisesse porque eu... hum... você sabe. Mas minha mãe nunca iria aceitar. Ela acha que as pessoas que fazem todo o negócio de ‘prometo esperar’ são bobos, e podiam aprender sobre sexo ao invés de...” – Eu estou tão NÃO me ajudando aqui. – “Eu... eu acho que o anel fica muito bem em você.”

“Claro,” Michelle diz, o rosto dela vermelho, e eu posso ver as pessoas a nossa volta assistindo, se perguntando o que eu fiz para deixar a Michelle – tão legal! Tão fofa! – chateada. “Eu... eu vou pegar um passe para o banheiro.”

E então ela juntou as coisas dela e saiu.

Se eu fosse uma pessoa mais esperançosa, eu teria pensado que não tinha nenhum jeito do dia ficar pior, mas eu não sou esperançosa. Eu sei que o dia vai ficar pior.

E fica.

Eu finalmente descubro – via Brent, de novo, no corredor antes do último período – por que as pessoas andaram olhando para mim. Jackson, em sua infinita estupidez, tinha me mencionado na promo semanal online do programa estúpido dele. O clipe circulou porque uma das garotas dele deixou acidentalmente um dos mamilos escapar, e naturalmente todo mundo quer ver isso.

E antes do mamilo pular para fora, o Jackson aparentemente diz que eu estou indo “festejar” com ele, porque no mundo do Jackson é isso que você faz com a filha de dezessete anos de idade que você não vê há anos.

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E depois as garotas dele “interrompem” e dizem a ele que é hora de ir para a cama e basicamente, eu suspeito que na hora que o mamilo pulou para fora pareceu que eu estava alerta para ver o Jackson e passar o fim de semana fazendo tudo em Nova York, especialmente desde que Brent me disse que o Jackson fechou dizendo, “Para destaque de minhas viagens anteriores à cidade, esteja certo de checar os arquivos e ver como eu dei uma boa mordida na Grande Maçã. Aqui estou esperando que minha filha possa me acompanhar!”

Brent faz uma impressão ótima de Jackson, mas ficando em pé lá assistindo ele olhar malicioso para o pequeno discurso de Jackson, pontuando-o com comentários sobre as “garotas” do Jackson era uma droga.

Eu não saí, entretanto. Eu nem mesmo tentei sair. Caras como o Brent querem que eu vá embora, querem me perseguir e me ver chateada, então eu só fiquei em pé lá encarando a testa dele e esperando ele terminar. E quando ele finalmente termina, quando ele está exausto de todas as “piadas” dele e diz, “Então, me diz exatamente como você vai acompanhá-lo,” isso é quando eu posso reagir.

Então eu faço. Eu sorrio para ele, deslizando minhas mãos para fora como se eu quisesse segurar as dele ou segurá-lo. (Eca, mas necessário.) Ele sorri, e os companheiros dele fazem barulhos estúpidos excitados, e eu pego as mãos dele. Então eu agarro os polegares dele e os dobro para trás o máximo que posso.

Ele grita e se esforça para os destorcer, fazendo os amigos dele rirem, e ele reagir com algumas sugestões gritadas para eles (e eu) chuparem o pinto dele.

Eu o ignoro, mas me viro e olho quando ele é cortado no meio do seu discurso, surpreso que alguma coisa o calou, e vê que Finn se desvia de alguma forma e dá um jeito de bater Brent em um armário.

Ele bateu nele bem forte também, tão forte que eu posso ver o Brent fazendo aquela coisa de pato/careta com a cabeça que os garotos fazem quando eles estão tentando não gritar de dor.

“Eu nunca ouvi que o Finn era um bom jogador de futebol, mas eu acho que ele vai bem quando são os garotos do próprio time dele,” alguém diz.

Alguém que parecia o Josh.

Meu coração começou a socar, e eu me virei, olhando felizmente para longe do Brent, que está esfregando a cabeça e reclamando enquanto Finn dá de ombros, os punhos dele cerrados, e vejo o Josh.

Deixe-me repetir isso.

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Eu vejo o Josh.

Josh está aqui. Josh está falando comigo.

Josh nunca falou comigo na escola.

“Oi,” eu digo. Eu sei que eu devia dizer alguma outra coisa, alguma coisa melhor, alguma coisa inteligente e engraçada e perfeita, mas não consigo. Josh está falando comigo. E sorrindo. E o cabelo dele está caindo nos olhos dele e ele está tão lindo e parecendo tão preocupado, como se ele tivesse visto a coisa toda e decidiu se apressar em meu resgate.

“Eu ouvi o Brent. ‘Estúpido” é uma palavra muito boa para ele. Ele não machucou você ou alguma coisa, não é?”

Eu desejei que Josh não tivesse ouvido nada do que o Brent disse, mas a vergonha disso empalideceu porque ele se importava. Quero dizer, ele quer ter certeza que eu estou bem. Além disso, ele acha que o Brent é estúpido. (Isso é menos do que uma grande coisa, entretanto, porque quase todo mundo acha isso.)

“Eu estou bem,” eu digo. “Eu estou acostumada com ele.”

“É, algumas pessoas são...”

“Ei, Hannah, parabéns pela coisa do dedão,” Finn diz enquanto caminha para perto. “E Josh, belo jeito de ficar em pé lá e assistir, cara.”

“Pelo menos ele disse alguma coisa,” eu digo. “Perguntou se eu estava bem.”

“Ei, eu vi o que você fez com os polegares do Brent,” Finn diz, parando para olhar para mim. “Eu sei que você pode tomar conta de si mesma.”

“Tchau,” eu digo o mais forte que consigo, esperando que ele vá entender o recado e ir embora. Quando ele não vai, eu acrescento, “Eu não iria querer que você se atrase para a aula. Ou fazer outra pessoa terminar como vítima das suas habilidades para andar fora de série.”

“É, bem, Brent é um cara grande e o corredor estava lotado,” Finn diz dando de ombros. “Eu acho que posso dar um jeito de evitar derrubar você, entretanto.”

“Ei, Hannah, eu tenho que ir,” Josh diz enquanto uma das amigas ativistas dele – que eu posso dizer que quer ser a namorada – vem e coloca sua mão no braço dele.

Eu queria poder colocar uma mão no braço dele.

Ele olha para o Finn, depois para mim. “Vejo vocês por aí.”

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Eu aceno, mesmo que a amiga que quer ser a namorada dele está sussurrando no ouvido dele e ele não está mais olhando para mim, e então suspiro e vou para a aula.

Eu estou tão deprimida pela conversa-que-não-era-realmente-uma-conversa com o Josh que eu dou uma passada no shopping para ver a Teagan no meu caminho para o trabalho, mas ela não está interessada em falar sobre o que eu devia ter dito a ele. Ao invés disso, ela quer falar sobre o Finn.

“Você percebeu que ele fez isso de propósito, certo?”

“O que, atrapalhar minha conversa com o Josh? Sim. Ele faz isso o tempo todo no trabalho porque ele fica entediado, e na aula de Governo ele está sempre...”

“Não,não isso,” Teagan diz. “Hannah, é óbvio que ele bateu o Brent no armário para que ele calasse a boca.”

“Por favor. Finn não derrubou o Brent pelo que ele disse. Ele veio para mim depois disso e me disse que eu tinha feito um bom trabalho cuidando de mim mesma. Isso parece como se ele estivesse cuidando de mim?”

“Isso parece como se ele achasse que você pode tomar conta de si mesma, mas queria esmagar a cabeça do Brent mesmo assim. Deus, eu queria que alguém batesse na cabeça de alguém por mim.”

“Você não disse isso.”

“Você sabe o que quero dizer,” Teagan diz. “Eu queria que alguém quisesse, você sabe, cuidar de mim.”

“Eu posso dar seu número para o Finn.”

“Eu não acho que seja o meu número que ele quer.”

“Primeiro, que seja, você está louca. Segundo, ele na verdade tem meu número porque nós temos eles dispostos no trabalho em caso de emergência. E terceiro, você é louca.”

“Você já disse isso.”

“Eu achei que seria pior se repetisse,” eu digo, e ela bate no meu braço enquanto eu me despeço e me dirijo para o trabalho.

Finn batendo no Brent de propósito? Tá, certo. Claro. Teagan está tão... bem, errada. Quero dizer, eu adoro a Teagan, eu realmente adoro, mas ela não estava lá.

E mesmo que... mesmo que ela esteja certa, eu quero o Josh.

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Josh, que é doce e maravilhoso e perfeito. E que falou comigo. Na escola!

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Capítulo 11

E se Teagan estivesse comigo quando entrei no trabalho, eu poderia mostrar

a ela por que Josh é perfeito. E por que uma certa outra pessoa não é.

Finn está todo desleixado na cadeira dele, enchendo a boca de tufos de queijo. E não só um ou dois. Eu juro que ele tem metade do saco lá dentro.

“Ajuda se você mastigar,” eu digo, e ele engole, e depois sacode o saco para mim.

“É tudo ar e queijo falso. Mastigar iria me atrasar.”

“Eu não entendo como você pode comer aquela coisa,” Josh diz para o Finn, e eu olho para ele – ele não está inalando tufos de queijo, é claro – enquanto sento.

Eu espero não estar sendo muito óbvia, mas como eu posso não encarar? E como pode o Josh parecer tão bonito só sentado lá? Eu acho que é o cabelo dele. É tão escuro e encaracolado e claramente não no estilo certinho ou nada disso. É como se ele não se importasse como ele parece, mas ainda assim é perfeito.

Enquanto eu assisto, ele desembrulha uma daquelas barras de comida natural, as feitas de aveia e frutas e grãos silvestres e coisas assim.

“Isso é o tipo de coisa que todo mundo devia... espera, eu tenho um pedido,” ele diz.

Ele olha para baixo para o terminal dele e eu deslizo na minha cadeira e coloco meu fone de ouvido com o microfone. BurgerTown e sua horda de clientes famintos espera. Suspiro. Talvez eu possa terminar os pedidos que estão na espera bem rápido e depois olhar para o Josh um pouco mais.

Talvez eu até seja capaz de controlar os nervos e falar com ele.

Sem sorte, porque aparentemente cada pessoa que mora perto de um BurgerTown decidiu que tinha que visitar o drive-thru. Depois de algumas horas, eu ainda estou pegando pedidos, minha garganta está seca como lixa, e eu não quero nunca mais ouvir ou dizer a palavra “hambúrguer” de novo.

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Além disso, estou faminta. Em algum ponto, Finn sacudiu seu saco de tufos de queijo para mim e eu comi o resto deles, cobrindo meu microfone para que as pessoas fazendo os pedidos não pudessem me ouvir mastigando.

Finn cutuca meu pé enquanto digo, “Obrigada, e dirija para a primeira janela, por favor,” pelo que pareceu a milionésima vez, e quando eu o olhei ele apontou para um pedaço de papel estendido entre nós.

“Sinto muito pelo que o Brent disse antes,” ele diz.

É doce. Mesmo se ele tem pedaços de tufos de queijo num dos cantos.

“Obrigada,” eu digo. “Mas, ummm... olha, por que você é amigo dele?”

Finn corou. “Nós não somos realmente amigos. Nós só somos... nós só estamos juntos no time, e quando eu me mudei para cá, ele realmente saiu do caminho dele para...”

“Bater em você?”

“Não,” Finn diz, ainda corando. “Olha, nós não saímos tanto como antes, e se você achou que eu concordei com o que ele estava dizendo, eu não concordei. Eu não concordo.”

“Essas negativas não cancelam uma a outra?” *

*(coisas da gramática americana... meio difícil de explicar traduzindo... a frase original é: “Look, we don’t hang out that much anymore, and if you thought I agreed with what he was saying, I didn’t. I don’t.”)

Finn sorri para mim.

“Você... você quer...?” ele diz, mas Josh o corta.

“Pedidos,” ele diz, parecendo puto, e Finn suspira dramaticamente e diz, “Oh, certo, essas coisas. Obrigado por lembrar o que meu trabalho é, cara.”

Eu sorri antes de poder me parar – às vezes Finn pode ser bem engraçado – e depois vi o Josh franzindo o cenho para o Finn. E para mim. Eu sacudi o pedaço de papel do Finn para longe e voltei ao trabalho.

Eu posso ser o tipo certo de garota para o Josh. Eu posso, e eu vou ser.

Mas então Finn sacudiu o pedaço de papel de novo para mim alguns pedidos mais tarde e ele tinha um quadro de jogo da velha desenhado, e quando eu coloquei uma mão no meu microfone e sussurrei, “Eu pareço como se tivesse tempo para

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isso?” ele coloca uma mão no microfone dele e diz, “Você só está com medo que eu vá acabar com você como fiz da última vez.”

“Não estou!” Eu digo, e o cara que está me dando o pedido diz, “O quê?”

“Desculpe,” eu digo, e faço barulhos de “ffzzt”. “Dificuldades técnicas.”

E então eu brinco de jogo-da-velha com o Finn. Eu ganho três jogos. Finn ganha dois. Josh suspira muito, e eu me sinto mal porque eu não estou pegando pedidos tão rápido quanto poderia – mas eu ainda assim jogo.

Vê o que eu quero dizer sobre o Josh ser uma boa pessoa? Ele não faz coisas como essa, não joga no trabalho. Eu também não deveria, mas eu só posso ouvir as pessoas dizerem, “Bem, eu acho que quero o número dois. Não, espera, o número seis. Não, espera...” tantas vezes antes de eu ter que fazer alguma coisa para evitar de gritar, “Eu não ligo! Só peça!”

As coisas finalmente ficaram mais devagar por volta das 9:30, e nós três nos afundamos em nossos assentos discutindo quem teve o maior pedido. O ganhador pode sair mais cedo.

“Quatro combos jumbo e seis tortas de limão,” Finn diz. “Você já se perguntou o que tem naquelas coisas?”

“Não,” eu digo. “Desse jeito evita pesadelos.Também,quatorze cheeseburguers sem picles, maionese extra, mostarda extra, e só a parte de cima do pão.”

Finn assobiou. “Ponto para aborrecimento e volume. Eu acho que você...”

“Quatro combos jumbo, três combos normais, duas refeições light e saudáveis, um sanduíche de frango, dez anéis de cebola, e todas as bebidas tinham que ser sem gelo,” Josh diz. “Em um pedido. Além disso eu tive que ouvir tudo sobre como foi o encontro de uma equipe de marketing que durou seis horas. Eu ganho.”

“Eu não sei, cara,” Finn diz. “Tem que ganhar pontos por pedir tantos cheeseburguers de uma vez, sem mencionar o jeito criativo em que eles foram requisitados.”

“Ah, fala sério, eu tive que ouvir conversa de marketing,” Josh diz, sorrindo para mim. “Você sabe que eu ganho, certo, Hannah?”

Eu assinto, hipnotizada pelo sorriso dele. E por como ele está olhando direto para mim. Talvez eu devesse perguntar a ele se ele quer tomar café qualquer hora.

Sim, eu devia fazer isso, especialmente desde que ele ainda está olhando para mim.

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Certo, eu vou fazer isso exatamente...

“Ótimo, eu estou fora daqui,” Josh diz, e se levanta, jogando a bolsa dele sobre os ombros. “Melhor sorte da próxima vez, pessoal. Oh, e ei, Hannah, sobre aquela coisa com seu pai...”

“Meu pai?” Eu digo, pensando sobre José e me perguntando como Josh sabe sobre ele. E então eu percebi a quem ele se referia. “Você fala do Jackson?” Por que o Josh está perguntando sobre o Jackson?

“É. Eu só... eu acho que é realmente maravilhoso que você tenha um pai que... ele só pareceu realmente feliz sobre ver você. Ou pelo menos é o que eu ouvi que ele pareceu. Eu não vi o vídeo na verdade.”

“Eu aposto,” Finn murmura.

“Eu só...” Josh se inclina em minha direção. “Eu queria que meu pai fosse como o seu. Eu queria que ele quisesse passar um tempo comigo, mas ao invés disso tudo que ele faz é trabalhar e falar sobre como ele quer ter certeza que tem dinheiro suficiente para eu ir para a faculdade e porcarias assim. Eu aposto que Jackson não é assim. Eu acho que é legal você chamá-lo assim, a propósito.

“Josh, cara, se você quer sair daqui, é melhor você ir agora porque eu acabei de ver o Greg arrastando o traseiro dele para fora do escritório dele para falar com o expediente da noite.”

“Certo, obrigado,” Josh diz para Finn, e depois olha de volta para mim. “Vejo você por aí, Hannah.”

“Tchau,” eu digo, e estranhamente, eu não estou triste de ver ele ir. Eu não gosto de falar sobre o Jackson, e eu não entendi por que Josh queria falar. Também é estranho Josh achar que de alguma forma eu sou sortuda comparada a ele. Se pelo menos ele soubesse como Jackson realmente era.

“O que você está fazendo aí?” Finn diz, cutucando meu pé. “Caiu no sono?”

“Tipo isso,” eu digo em volta do grande caroço criado por Jackson na minha garganta. “Então Greg saiu do escritório dele? O prédio está pegando fogo ou o quê?”

“Não, Greg ainda está onde ele sempre está. Eu só imaginei que o Josh estava tão afim de ganhar e dar o fora daqui que ele devia ir logo. Além do mais a última coisa que eu quero ouvir é outra história do pobre Josh. Oh, as agonias de ter tudo isso!”

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“Ei, você...?” Eu começo a perguntar, me perguntando se Finn de alguma maneira sabia que eu não queria falar sobre o Jackson, e depois paro porque... bem, como ele poderia saber disso?

“Eu o quê?” Finn diz.

“Você trouxe alguma outra coisa para comer?”

“Não para você,” ele diz, mas então me dá metade de um sanduíche de peru que ele fez “para o caminho de volta para casa.”

“Obrigada,” eu digo a ele enquanto estamos andando para o estacionamento e ele olha para mim por um longo momento, tão longo que meu coração começa a socar loucamente e eu acho que ele vai fazer alguma coisa ou falar alguma coisa, mas ele só diz, “Você devia ter ganhado por aqueles cheeseburguers, sabe,” e depois me pergunta se eu tenho certeza que minha lata velha vai pegar.

Teagan está trabalhando até tarde, e quando ela sai do trabalho ela está quieta, o que significa que alguma coisa ruim aconteceu. Teagan só para de falar quando alguma coisa está errada.

“O que é?” Eu pergunto quando nós viramos na rua dela.

“Me ofereceram uma promoção. Gerente assistente.”

“E?”

“E o quê?”

“E isso é ruim como?” Eu digo.

“Não é exatamente ruim,” ela diz. “Quero dizer, o pagamento é uma porcaria, mas é melhor do que o que estou fazendo agora. É só que quando eu ouvi a oferta... eu não sei. Só me bateu que é isso. Isso é o que eu faço. Eu trabalho na Jeans Hut.”

“Bem, só por enquanto. Você vai voltar para Nova York.”

“Eu não sei se eu vou. Só de pensar em tentar achar outro lugar para morar, e um emprego, e ir para a faculdade de novo...” Teagan suspira. “Eu só... eu sinto como se minha vida tivesse acabado.”

“Fala sério, sua vida não acabou. Você fica no trabalho por seis meses, guarda seu dinheiro, e depois sai. Quero dizer, voltar para a escola é, o quê, preencher alguns moldes? Isso não é tão ruim. E eu sei que você pode encontrar um lugar...”

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“Certo, sem mais conversa sobre meu trabalho de merda ou a escola, por favor. Ao invés disso, vamos falar sobre algo divertido. Me conte sobre o Josh e o que ele disse para você hoje à noite.”

“Teagan.”

“Ei, você tem que me permitir viver vicariantemente*. Você viu a foto do cara que eu gastei meus anos de ensino médio ficando, e Ted era... bem, você viu a foto.”

*Vicariante quer dizer que uma coisa supre a outra que não está funcionando. Como exemplo quando um pulmão não está funcionando, o outro trabalha em dobro, suprindo a necessidade do que não está trabalhando. Nesse caso a Teagan quer dizer que tem que viver pelas emoções da vida Hannah, já que ela não tem nenhuma. Tipo isso...

“Não tem nada a se dizer. Estava muito ocupada, e Josh teve o pedido mais estranho, então ele saiu mais cedo.”

“Ele teve o pedido mais estranho? O que foi? Vinte e sete milkshakes sem tampa e dois canudos cada um como você teve aquela vez?”

“Como você se lembra de coisas como essa?”

“Eu dobro roupas o dia todo. O que mais eu teria para lembrar? Agora, qual foi o pedido?”

Eu digo a ela, e ela faz uma cara. “O que é tão estranho nisso? Qual foi o seu pedido mais estranho hoje à noite?”

Assim que eu termino de falar, ela diz, “Hannah, você ganhou aquela disputa! Ele tapeou você da sua vitória!”

“Certo, calma aí, mulher louca. Não é como se eu tivesse perdido uma fortuna ou algo assim, e o pedido do Josh era bem estranho. Além do mais ele pegou mais pedidos do que qualquer um.”

“Como você sabe que ele pegou mais pedidos?”

Eu encolho os ombros.

“Ele disse a você”, ela diz, sorrindo. “Então, o que você e o Finn fizeram?”

“O que isso quer dizer?”

“Oh, fala sério,” Teagan diz. “Se o Josh estava pegando a maioria dos pedidos isso significa que vocês dois tinham que estar fazendo alguma coisa. E o Finn defendeu sua honra mais cedo.”

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“Você não falou isso de verdade.”

“Ainda não ouvi o que vocês estavam fazendo.”

“Não era nada. Nós brincamos de jogo-da-velha por um tempo. Você sabe que nós fazemos isso às vezes.”

“Oh, eu sei.” Teagan diz.

“Certo, como você faz isso soar como se nós estivéssemos rolando arrancando as roupas um do outro?”

“Interessante que sua mente imediatamente foi para isso.”

“Você é insana. Você sabe disso, certo?”

“Eu vendo jeans para viver. Claro que sou insana. O que mais aconteceu?”

“Josh perguntou sobre o Jackson?”

Teagan fica em silêncio por um momento.

“Ele não parece conhecer você muito bem,” ela finalmente diz. “Você odeia falar sobre o Jackson. O que o Finn disse quando ele perguntou sobre o Jackson?”

“Ele não disse.”

“Huh,” Teagan diz. “O que ele fez quando Josh perguntou?”

“Nada de fato,” eu digo quando encosto para parar em frente a casa dela. “Bem, ele meio que disse ao Josh para ir em frente e sair de lá.”

“Hmmm,” Teagan diz, e sai da caminhonete.

“O que todos esses barulhos significam?”

Ela sorri para mim. “Você sabe o que eles significam. Eu sei que você sabe o que eles significam. O que eu não entendo é como a idéia do Finn gostar de você te assusta tanto?”

“Me assusta? Ha! Sabe de uma coisa? Eu acho que você gosta do Finn.”

“Uh huh.”

“Certo, vou indo agora.”

“Certo,” ela diz, ainda sorrindo.

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Eu estico minha língua para fora para ela antes de sair. Eu não penso sobre o que ela disse, porque é insano, mas eu me pergunto por que o Finn não levantou o assunto do Jackson e o Josh sim.

Não me entenda mal, eu ainda gosto do Josh – como eu não gostaria? – mas talvez ele não seja perfeito.

Então eu lembrei como ele tinha me trazido comida e feito um CD para mim. E como ele aparenta. E, só para mostrar que eu não sou superficial, eu também não tinha esquecido que ele acredita em coisas e escreve poesia.

Eu falo muito com o Finn, entretanto, não falo? Mas depois, é difícil não falar, porque o Finn fala muito.

Grrrr. Teagan! Eu mal posso espera para chegar em casa e relaxar.

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Capítulo 12

Mas eu não posso relaxar quando chego em casa, porque quando eu entro,

mamãe está comendo macarrão com queijo.

Além disso, ela está usando roupas.

“O que está errado?” Eu digo, porque alô, roupas. E também, mamãe nunca cozinha a não ser que ela esteja realmente chateada, e mesmo assim ela só cozinha duas coisas: macarrão de caixa com queijo ou sanduíches de queijo grelhado. José costumava dizer que a mamãe casou com ele só pela comida dele, e então sorria para ela até que ela o beijasse.

“Meu servidor caiu,” ela diz, e eu assinto enquanto pego o resto do que sobrou do pote. Está uma pouco queimado, mas ainda está quente e cheio de queijo e bom.

“O que mais?” Eu digo quando sento perto dela na mesa da cozinha.

“Sem servidor significa sem site. E isso é igual a sem dinheiro.”

“Vamos lá, mãe. Você poderia ter ido ao site reserva e ter feito seu show lá.” Ela fez esse acordo como alguns caras de computador um tempo atrás onde eles ganhavam uma associação grátis como membro e ela tinha um servidor reserva, completo com um lugar que ela poderia ir e fazer um bate-papo se ela precisar. Isso só aconteceu uma vez, quando a Sra. Howard decidiu “consertar” o gramado da frente e “acidentalmente” bateu no nosso serviço de Internet.

“Certo, tem algo mais também,” ela diz, e gesticula para um envelope branco no topo da nossa pilha de contas que nunca diminui.

“O que é isso? Alguma coisa haver com a hipoteca?”

“Não,” ela diz, arrastando outro bocado de macarrão com queijo, e eu sei o que aconteceu.

“Jackson mandou alguma coisa,” eu digo,e mamãe assente uma vez,com força.

“São passagens de avião, certo? Não se preocupe. Eu não vou ver ele,” eu digo a ela, e ela sacode a cabeça.

“É... tinha um cartão para mim dentro,” ela diz, sua boca tremendo, e eu levanto e pego o envelope.

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Dentro do envelope estão passagens de trem para Nova York, saindo esta sexta-feira e voltando no mesmo dia. Era muito para Jackson me mandar de avião. Ou me ouvir.

Ou realmente querer me ver. Uma viagem de um dia. Um dia, somente para as câmeras. Somente para o show dele.

Eu sabia, é claro, mas ver a prova... esquece. Eu já sabia como ele era. Eu abaixo as passagens e procuro pelo cartão.

“Eu não consigo encontrar. Você...?” Eu digo, e paro, porque mamãe começa a chorar. Realmente chorar, o tipo de choro que soa como um coração partindo.

Eu não tinha visto ela chorar desde que José morreu.

“Mãe?” Eu digo, minha voz se elevando em um guincho de uma garotinha, como se nós duas tivéssemos sido sugadas de volta no tempo.

“Eu joguei fora,” ela diz, lutando contra as lágrimas. “Queimei na pia, na verdade. Ele... Fran escreveu que ele esperava que eu estivesse bem, e que ele achava que o site parecia fantástico. Você sabe o tipo de coisa que ele diz. Mas no fundo do bilhete Jackson na verdade escreveu alguma coisa, e ele...”

Ela pausa e toma uma respiração profunda. “Ele escreveu que ele esperava... ele disse que ele esperava que José estivesse bem, e nos parabenizava por estarmos juntos por tanto tempo. Como se ele não soubesse que...”

Aquele imbecil. Aquele estúpido, velho imbecil.

“Ele esqueceu,” eu digo a ela. “Ele está velho, mãe, realmente velho, e Fran claramente não leu o que ele escreveu antes de colocar no envelope.”

“É só isso,” ela diz, limpando o nariz na sua manga como uma criança pequena. “Eu sequer posso ficar furiosa com ele. Ele sempre esqueceu coisas – aniversários, nomes – você sabe disso. Mas só de pensar sobre o que poderia ter sido... teriam sido onze anos, Hannah. Nós podíamos ainda estar no Queens, na nossa pequena casa, e eu podia ainda ser...”

Ela começa a chorar de novo, e eu vou até ela e me ajoelho perto dela, colocando meus braços em volta dela.

Feliz. Era isso que ela ia dizer. Ela podia ainda ser feliz.

Como ela costumava ser.

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Capítulo 13

Eu a ajudei a ir para a cama, achando tecidos para que ela pudesse assoprar

seu nariz, colocando os cobertores e dizendo a ela para dormir, que amanhã será melhor.

“Não vai,” ela diz quando fecha os olhos. “Nunca é.”

Ela diz isso tão calmamente e tão cansadamente que meus próprios olhos começaram a arder.

Eu digo boa noite e saio antes que eu mesma possa começar a chorar, gritando pelo que poderia ter sido, por uma vida no Queens com José e mamãe. Eu vou para o andar de baixo e lavo a louça, checo o email dela para ter certeza que ela enviou uma requisição de serviço para o serviço de hospedagem do site dela, e depois abro o armário do corredor, o que a mamãe nunca sequer olha.

Ela finge que não existe porque todas as coisas do José estão aqui dentro. Tudo que sobrou da vida que nós uma vez tivemos está aqui, nesse espaço minúsculo. Eu toco uma das camisas dele. Elas costumavam cheirar como ele.

Agora elas não cheiravam como nada.

Eu ainda gosto de estar perto das coisas do José, entretanto. Eu não consigo mais lembrar realmente como o rosto dele era sem uma fotografia, não consigo lembrar como ele cheirava, mas pelo menos eu tenho as camisetas dele e as fotos. Eu gosto de saber que essa parte do José – a parte de verdade, algo que eu posso tocar e não o que as pessoas dizem que sempre vai estar com você, memórias ou o espírito ou o que seja – está aqui. É real.

Mamãe conheceu o José quando eu tinha seis anos. Eu não me lembro disso, mas então eu não estava lá.

Nós estávamos morando em Los Angeles, quando ela estava filmando o que terminaria sendo os últimos cinco episódios do Cowboy Dad, e o carro dela quebrou no caminho para me pegar na creche.

Ela tentou ligar para todo mundo que ela conhecia para ver se alguém iria me pegar, mas era o fim do dia e todo mundo estava preso no tráfego, ou simplesmente não se incomodavam de atender o telefone.

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José era o motorista do caminhão de reboque que apareceu uma hora e meia depois que ela ligou, e depois do pessoal da Creche Criança Feliz ter informado a ela que eles não toleravam atrasos mais do que três vezes e que ela teria que procurar outra pessoa para cuidar de mim.

José costumava adorar contar a história de como ele e a Mamãe se conheceram, e hoje eu ainda posso lembrar exatamente como aconteceu. Algumas crianças gostam de ter contos de fadas lidos para eles à noite, mas eu nunca queria isso quando eu era pequena. Eu tinha uma história de felizes para sempre de verdade para ouvir.

“Bem,” ele diria, “lá estava eu, no meu caminhão, pensando sobre o quanto eu queria me mudar de volta para Nova York, quando eu vejo a sua mãe. Ela está em pé ao lado do carro dela, gritando com as pessoas que estavam passando que estavam gritando com ela por estarem presos – e ela está furiosa. Eu dou uma olhada nela e é isso. Aquela, eu sei, é a mulher mais bonita que eu vou ver.”

“E então o que aconteceu?” eu perguntaria.

“Bem,” José iria dizer, “Eu vou até essa bela mulher, e quando ela me vê ela aponta um dedo para mim e diz que eu estou atrasado, que a sua garotinha está esperando por ela, e o que eu vou fazer para consertar as coisas?”

“Case com ela,” eu iria dizer, e José iria sorrir para mim.

“Está certo. ‘Eu vou casar com você,’ eu disse, e ela só olhou para mim e disse, ‘Fale sério.’ E eu disse, ‘eu estou.’”

“E então ela olhou para você de verdade,” eu iria dizer.

“Está certo,” José iria me dizer. “Ela olhou para mim de verdade e viu que eu falava sério. Ela viu que eu sabia que ela era para mim como você sabe que amanhã de manhã o sol vai nascer.”

“E então o que aconteceu?”

“Bem, então eu olhei para o carro dela, disse a ela que ele não ia a lugar nenhum, e ofereci levar ela para pegar você.”

“E ela disse não.”

José iria assentir. “Então eu disse, ‘Você pega o meu caminhão. Eu vou esperar aqui. Só volte e me pegue quando você tiver terminado.’”

“E então ela veio e me pegou.”

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“Certo. Ela veio e pegou você e te levou para casa.”

“E eu e Nancy comemos ovos no jantar,” eu iria dizer. Nancy era a colega de quarto da minha mãe, outra atriz esforçada que acabou trabalhando para uma linha de cruzeiros. Nós ainda recebemos cartões postais dela de vez em quando por um tempo, sempre de algum lugar nas Bahamas. “E quando eu acordei, você e a mamãe estavam em Las Vegas.”

José iria assentir. “Ela voltou para me dar meu caminhão, e quando ela devolveu, eu tive que beijá-la, e então...” – Ele iria bater as mãos juntas. – “Boom! Nós soubemos que nós íamos nos casar.”

“E então vocês casaram.”

“E então nós casamos,” ele iria dizer. “E agora nós todos moramos aqui, no Queens, para sempre e sempre.” E então ele iria beijar minha testa e se virar para olhar para a mamãe. Ela sempre vinha assim que ele terminava a história, e ficava parada sorrindo para ele e para mim, um sorriso grande, feliz como se o sol estivesse brilhando dentro dela.

José ficou doente quando tinha doze anos. No começo ele disse que não era nada, mesmo que a sua pele marrom parecesse quase cinza da dor das dores de cabeça que ele estava tendo, e quando ele deu à mamãe a estrela que ele tinha comprado para ela para celebrar o aniversário deles, eles não puderam dirigir para fora da cidade para vê-la porque ele não se sentia bem o suficiente para ir.

Quando a mamãe finalmente fez ele ir ao médico, ele descobriu que todas as dores de cabeça eram de um tumor. Ele era muito grande e muito avançado para se poder fazer alguma coisa, e José pediu alta do hospital e veio para casa. Ele deitou na cama, contando-me histórias quando eu chegava em casa da escola, provocando minha mãe até que ela sorrisse sempre que parecesse como se ela pudesse chorar.

Levou três meses para ele morrer e mamãe teve que ver isso. Teve que assistir isso tudo, sabendo que não tinha nada que ela pudesse fazer. Eu lembro das mãos dele, cerradas e magras contra os lençóis, os olhos dele fechados quando a dor era muito ruim e ele estava esperando pelos seus comprimidos – e em direção ao final uma intravenosa – fazerem efeito.

Naquele tempo eu achava que aqueles momentos quando ele era capaz de abrir os olhos e olhar para nós significassem que ele pudesse melhorar, mesmo que ele me dissesse que ele não ia. Eu só... eu tinha esperança. Eu não achava que as coisas fossem mudar algum dia.

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Na manhã que ele morreu, eu mostrei a ele as novas presilhas que eu estava usando. Eu usava meu cabelo solto.

“Quase tão bonitas quanto você é,” ele disse. “Vem me dar um beijo de despedida.”

“De bom dia, você quer dizer,” eu disse, porque eu dava um beijo nele de bom dia, de boa tarde, e de boa noite todo dia.

“Bom dia,” ele disse com um sorriso. “Eu vejo o brilho do sol nos seus cabelos.”

Quando eu cheguei em casa da escola, ele estava morto. Ele não tinha família, exceto por alguns primos no Arizona. Eles vieram para o memorial, e eu acho que eles estavam surpresos que ele tinha casado com uma mulher branca, que a garotinha que ele chamava de filha dele claramente não era dele. Eles olharam longa e duramente para nós, para a mamãe com o rosto cheio de lágrimas, e nós nunca ouvimos falar deles de novo.

Mamãe não fez nada por semanas depois que ele morreu. Ela se levantava, me mandava para a escola, e depois voltava para a cama. Quando eu voltava para casa ela se levantava, falava comigo por um momento numa voz aborrecida, cansada, e então desaparecia de volta no quarto dela. Eu honestamente acho que ela não queria viver. Mas ela viveu.

Ela viveu, e eventualmente ela começou a fazer planos. Eu vi o Jackson uma vez depois que o José morreu, a última vez que eu o vi, e ele não mencionou o que tinha acontecido. Ele não disse que estava triste ou mesmo que sentia muito. Ele não disse nada sobre o José.

Eu contei a ela isso quando cheguei em casa, e disse que eu nunca mais queria vê-lo de novo.

“Bem, então não há razão para ficar aqui, tem?” Ela disse, e logo depois que aquela outra família comprou a nossa casa, nós carregamos tudo dentro do carro e partimos. Nós dirigimos pela Costa Oeste até que numa noite na interestadual nós passamos por um homem em um caminhão de reboque falando com uma mulher cujo carro tinha quebrado no lado da estrada.

“Nós estamos aqui,” mamãe disse, e pegou a próxima saída.

E foi assim que nós viemos parar em Slaterville. Não porque a mamãe queria estar aqui, mas porque por apenas um momento, ela viu algo que a lembrou do José. Aquilo a lembrou da vida que ela tinha tido.

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Mamãe acredita em sinais como aquele. Se ela não acreditasse, ela nunca teria se casado com o José. Mas olhando no armário, para as roupas dele e as ferramentas dele e os lençóis da cama que ele e a mamãe dividiram, o lençol em que ele morreu, eu queria que ela pudesse ter visto outras coisas também.

Eu queria que ela pudesse ter visto como o José estava doente. Eu queria que ela tivesse feito ele ir ao médico mais cedo. Eu queria que ela não tivesse acreditado tanto nele e no para sempre deles porque perder ele – ela ainda não fala sobre isso. É como se tivesse a vida dela com o Jackson, algum tempo em Los Angeles, e depois uma mancha branca até que nós chegamos aqui.

E então eu vou para cama, porque José estava certo sobre uma coisa. O sol vai nascer amanhã. Ele sempre nasce, e todos os desejos do mundo pelo jeito que as coisas eram, ou pelo jeito que elas poderia ter sido, não vai mudar isso. Isso não muda como as coisas são.

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Capítulo 14

Mamãe parecia bem de manhã. Ela acordou e estava se exercitando quando

eu me levantei, como sempre, e quando eu perguntei para ela como estava se sentindo pela quinta vez, ela suspirou e disse, “Hannah, é normal se sentir triste às vezes. Você sabe disso, certo?”

“Sim, beleza, eu entendi,” eu digo exasperada, porque sei que não vou conseguir arrancar mais nada dela, – além de assistir ela fazer leg lifts*- e saio.

*(tipo de exercício de levantar a perna)

Eu acabo chegando atrasada na escola de qualquer forma, embora, porque a lata velha não quer pegar.

O dia só piora a partir daí. Michelle não me diz oi como ela geralmente faz na educação física, e desesperada, eu digo a única coisa que eu costumava sonhar que as pessoas me diriam quando nos mudamos para cá e a escola era um pesadelo.

“Desculpe-me,” digo “Sobre ontem e seu anel, eu quero dizer. Eu gostei, e gosto da idéia por trás disso. E ele também fica legal em você.”

“Oh,” Michelle diz. “Obrigada.” Ela se mexe um pouco em sua cadeira. “Então, posso te perguntar uma coisa?”

“Claro.” Ela vai me perguntar se sou virgem? Eu não quero falar sobre sexo porque, mesmo que eu não tenha feito nada com ninguém – eu nunca fui nem beijada – o fato da minha mãe fazer o que faz, e do Jackson ser quem é, significa mais do que qualquer coisa que eu possa dizer. Ou não fazer.

“Por que você sempre usa seu cabelo assim?”

“Huh?” Não é o que eu estava esperando.

“É só que... Bem, eu adoraria ter a sua cor de cabelo,” Michelle diz, e torce uma mecha do seu lindo (e naturalmente colorido) cabelo marrom entre os dedos. “Quero dizer, eu fiz luzes no meu, mas ele continua um tédio.” Ela chega mais perto. “Você não tem vontade de fazer outra coisa que não seja mantê-lo em um rabo de cavalo?”

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Eu balanço minha cabeça. “Eu não sou boa com tudo...” Aponto para o meu cabelo. “O seu está sempre legal. O meu é só... Eu pareceria estúpida com o cabelo solto.”

“Não, você não pareceria.”

“Eu iria, confie em mim.”

Ela levanta a mão e diz à professora que tem que pegar algo para a arrecadação de fundos do segundo ano. “E a Hannah pode vir me ajudar?” ela pergunta. “Todas aquelas jujubas são realmente pesadas.”

Nossa professora grunhe algo que deve ser um sim, já que acabei no corredor, sendo guiada por Michelle para o banheiro mais próximo.

“Jujubas?” Pergunto.

“Tem cerca de 5.000 delas em num jarro de vidro enorme e a idéia é que as pessoas paguem três dólares para votar e quem chegar mais perto ganha as jujubas e uma viagem para praia que a mãe de Addison doou. É estúpido porque a viagem não pode acontecer durante o intervalo da primavera (semana de folga em outubro) ou durante o verão, então ninguém vai querer ir e...”

Ela continuou falando, e eu desejei ter a vida dela. Eu desejei me preocupar sobre jujubas e que pudesse falar sobre qualquer coisa – com qualquer um – tão facilmente.

Dentro do banheiro, ela me levou até os boxes, e antes que pudesse impedi-la ela desfez o meu rabo de cavalo. Surpreendentemente, não doeu quando ela o fez. Eu sempre arranco uns dois (ok, vários) fios de cabelo.

Eu me vejo com o cabelo solto, é claro. Em casa, à noite e de manhã, mas eu normalmente não reparo nisso.

É tão longo, ele cai até quase o meio das minhas costas. Não me lembro da última vez que cortei.

“Oh” Michelle diz meio tristemente logo que o meu cabelo não faz cachos ou se arranja artisticamente ao redor do meu rosto.

“Eu falei,” digo, e começo a recolher o meu cabelo.

“Eu acho que eu apenas pensei que ele pareceria com o da sua mãe, com os cachos e o volume. Só loiro, entende?” Michelle diz.

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“Não, sem cachos.” Eu digo. ”Seu cabelo se parece mais com o dela do que o meu.”

“Sério?” Michelle parece ao mesmo tempo horrorizada e intrigada.

“Aham. Você já assistiu Cowboy Dad? Seu cabelo se parece muito com o dela na época.”

“Meu irmão mais velho amava esse programa. Meu pai deu a ele os DVDs de aniversário e todos nós tivemos que assistir um episódio. Era...” Ela parou de falar.

“Terrível,” Eu falo para ela. “Eu tentei assistir os DVDs uma vez. Eu vi quatro minutos do primeiro episódio, onde o Cowboy Dad diz, ‘Yeehaw!’ e a gravação da risada dura pelo que parecem 10 horas.”

“Eu sei!” Ela diz. “Sério, como isso pode ser divertido? Não que – Eu tenho certeza que sua mãe era boa.”

“Ela era bonita,” digo. “Ou pelo menos, ela parecia como uma mulher bonita devia ser na época. De qualquer forma, você pode totalmente fazer seu cabelo parecer com o dela, com os cachos e tudo.” Ela provavelmente não poderia. O cabelo de mamãe em Cowboy Dad era produto de extensões e pessoas seguindo ela o tempo todo e a fazendo parecer perfeita.

“Você acha?”

“Claro” Ela pelo menos poderia chegar mais perto do que eu.

O sinal toca, e ela acena para mim, e então desaparece no corredor. Eu entro em um box e acerto meu cabelo de novo, então vou para minha próxima aula. E eu admito, por cerca dez segundos quando eu vou para o almoço, eu tenho essa idéia que talvez Michelle vai acenar para mim e me pedir para sentar com ela, mas o que acontece é que eu entro, e então caminho de volta para fora.

Eu acabo comendo na biblioteca de informática, cercada por computadores anciãos que fazem barulho enquanto carregam os poucos sites que a escola permite que visitemos.

Depois da escola, eu vou para o shopping para ver Teagan. Ela está mostrando a um cliente o tamanho adequado dos jeans, que é como a Jeans Hut (nome da loja) consegue seus clientes. O que eles fazem, de acordo com Teagan, é fabricar todo tamanho maior do que deveria ser, o que significa que mamãe, que usa tamanho 2*, acha que o tamanho 0 ficaria muito grande para ela. Eu sempre mando ela ir no Jeans Hut quando ela está se preocupando que talvez esteja gorda.

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*Nos EUA funciona assim: quem usa 0 tem a cintura de 60 cm e quem usa 2 tem a cintura de 65 a 65,5 cm, e assim por diante.

“E aí?” Teagan pergunta enquanto a mulher que ela estava atendendo vai experimentar o tamanho 8, sorrindo porque Teagan tinha jurado que o tamanho dez, “Iria ficar caindo em você!”

“Nada”

“O mesmo comigo,” ela diz, e então me olha mais de perto. “Espera um minuto. Alguma coisa aconteceu. Faaala.”

“Eu soltei meu cabelo do rabo de cavalo hoje.”

“Mentirosa.”

“Eu soltei! Bem, quase. Uma garota, Michelle, disse que eu deveria usar meu cabelo solto. Ou devia, até que ela desfez o rabo de cavalo.”

Então Teagan fingiu cambalear para trás. “Você falou com alguém? Você?”

“Hey, você já foi naquela escola. Você se lembra como é.”

“Eu lembro.” Teagan diz. “Mas eu tinha amigos. Certo, eu não falo mais com eles, porque eles tem uma vida real em lugares que não são aqui, mas ainda assim.”

“Eu tenho amigos,” Eu digo, ofendida. “Você é minha amiga.”

“Você pode ter mais do que um amigo. Ou pelo menos foi o que eu ouvi.”

“Teagan.”

“Tudo bem, só estou falando,” ela diz. “Então essa garota do cabelo, Michelle, você falou com ela e...”

“Bom, veja.” Eu digo,e então conto a ela toda a coisa sobre o anel de castidade.

“Oh,” Teagan diz.

“Exatamente. Então você está vendo porque nós provavelmente não vamos começar a sair o tempo todo.”

“Eu não acho que isso é tão ruim, contudo. Eu quero dizer, ela falou com você hoje, certo?”

“Sim, mas...”

“Legal, continue com a rotina ‘Eu estou completamente sozinha.’”

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“Eu não tenho uma rotina, e eu não estou sozinha. Eu só não tenho muito em comum com ninguém na escola.”

“Tão sozinha!” ela diz, sorrindo.

“É isso, estou indo trabalhar,” Eu digo, e bato o seu ombro no meu. “Viu ao que você tem me reduzido? Indo trabalhar cedo.”

“Então comece a falar com Michelle, e então você pode se lamentar de mim com ela,” Teagan diz, e então bate no meu ombro de volta. “Olha, Hannah, eu acho que você não está tão sozinha quanto pensa que está, ok? Eu acho que você só está assustada.”

“Assustada?”

“Você me ouviu”

“Tanto faz,” eu murmuro. “Você sabe, eu odeio quando você fica séria.”

“Tá, tá, vai” ela diz. “E ei, depois do trabalho eu quero novidades sobre a coisa do Josh. Novidades reais. Do tipo você-comprou-café-para-ele novidades.”

“Você ouvirá todo o tipo de coisas,” digo, sorrindo, e saio, dizendo a mim mesma que eu não vou trabalhar cedo e que eu finalmente (finalmente!) estou pronta para começar a agir.

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Capítulo 15

Eu não estou.

Eu não posso me fazer parar e comprar café para o Josh – de novo – e então eu acabo chegando cedo ao trabalho, onde minhas opções são sentar na caminhonete e fingir que eu não estou sentada no estacionamento esperando para ir trabalhar (Eu poderia muito bem tatuar “Oi, eu não tenho vida” na minha testa) ou ir para o trabalho e esperar na sala de descanso até o meu turno começar.

Eu escolho a sala de descanso, onde eu posso sentar sozinha sem que ninguém possivelmente me veja sentada sozinha. Como, digo, Josh quando ele chega ao trabalho. E além do mais, como eu na verdade não tinha começado a trabalhar ainda, não vou perder nenhum pagamento e... bem, essas são todas as vantagens de sentar aqui. O quarto em si está depressivo como sempre, paredes de blocos cinza, cadeiras velhas, um horroroso sofá laranja felpudo com o Finn...

Com o Finn deitado nele, lendo um livro grosso com uma daquelas capas “Sou um clássico!”. (Você sabe das que eu estou falando – elas têm fundos pretos com a figura de uma mulher velha ou flores ou alguma coisa. Nunca alguma coisa boa.)

“Você está lendo?” Eu digo. Não é como se eu pensasse que o Finn não pode ler ou nada disso, mas é só... bem, não é o que eu esperava ver. Eu imaginava que o Finn gastava seu tempo livre fazendo qualquer coisa que caras que não são o Josh fazem quando não estão na escola. Arrotando, ou algo do tipo.

“Tente não parecer tão surpresa,” Finn diz. “Eu leio. Eu posso contar até dez. Algumas vezes eu posso até escrever meu próprio nome.”

“Eu já vi a sua letra, então não estou muito certa sobre essa última parte.”

“Hilário,” ele diz, e abaixa o livro. “O que você está fazendo aqui?”

“Me preparando para o trabalho. Porque você está aqui sentado lendo...?” Eu espio a capa. “Os irmãos Karamazov? O livro de que nós falávamos no outro dia? Isso é o que Josh está lendo! Por que você está lendo isso?”

“Bom, é o que acontece quando duas pessoas estão na mesma aula de inglês.”

“Você não está na sala dele,” eu digo, e então percebo que eu me entreguei.

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Finn ri, e eu o amaldiçôo. “Wow, você é uma perseguidora*. Eu não conhecia essa sua parte. Mas há mais do que uma turma de inglês avançado, você sabe.”

*Em inglês o Finn usa stalker, que é uma pessoa que fica perseguindo a outra para saber coisas sobre ela.

“Eu sei,” eu digo, e eu sabia, mais ou menos. Eu sei que Slaterville tem um monte de turmas avançadas, parte de algum programa que tem algo haver com créditos para faculdade e eu sei que Josh participa de duas, Inglês e Fundação do Pensamento, que Teagan me disse ser um jeito chique de dizer “filosofia”.

Entretanto, eu não tinha ideia que Finn estava em uma turma avançada.

“Sétimo período,” Finn diz, “Se você decidir que quer me perseguir também.”

“Eu já tenho o suficiente de você,” eu digo, e derrubo seus pés do sofá para que eu possa sentar. “Como Josh não sabe que você está em IA (inglês avançado) também?”

“Bem, eu fico esperando para ele trazê-lo a tona durante nossas conversas diárias...” ele põe seus pés em meu colo. “Seu namorado e eu não nos damos bem, obviamente.”

“Ele não é nada meu.”

“Embora, você queira que fosse,” Finn diz. “Certo?”

“Então você, o que, se esgueira cedo para o trabalho e faz o seu dever de casa?” Eu bato em seus pés, e quando ele não os mexe, empurro-os do meu colo. “Espera, você está escondendo a sua genialidade do mundo para que seus amigos não façam graça de você?”

“Sim, exatamente,” ele diz. “Você sabe como funciona para caras como eu. No minuto em que consegue soletrar palavras com mais de duas sílabas, você apanha por gostar de livros e tal.”

“Ooooh, sarcasmo. Agora eu sei que você deve ser super esperto.”

“Panela encontra a tampa” ele diz com um sorriso, e se senta. “Vê que fomos feitos um para o outro?”

“Oh, quieto.” eu digo. “Eu só não pensei que você fosse o tipo de cara que... você sabe. Você não fala sobre estar em classes avançadas.”

“O quê eu deveria dizer?”

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“Eu não sei,” digo, pensando em Josh e em como sempre sei o que está acontecendo com o seu dever de casa, porque ele fala dele pelo menos uma vez por turno. “Eu estaria correndo por ai e esfregando esses livros de 22 quilos na cara das pessoas, com certeza.”

“Não, você não estaria,” ele diz. “Você nunca fala sobre você mesma, Eu nem mesmo sabia que você sabia falar até você começar a trabalhar aqui, e ainda assim levou algum tempo para fazer você falar alguma coisa.”

“Você nem mesmo sabia quem eu era até eu começar a trabalhar aqui.”

“Como você sabe?”

Eu ri, mas saiu estranhamente instável, quase sem fôlego. “Okay, você está de olho em mim desde que se mudou para cá no nono ano. Melhor?”

Ele me olha então, e eu sinto o mesmo estranho puxão que eu tinha sentido ao seu redor antes. Aquela mesma estranha e alarmante sensação onde eu percebo o Finn. Tipo, realmente percebo ele.

“Tudo bem, eu não quero te incomodar enquanto você está lendo,” eu digo, me sentindo um pouco apavorada, e levanto. “Te vejo no trabalho.”

“Hannah,” ele diz, e eu penso em olhar para trás – e eu quero dizer, realmente penso sobre isso. Penso sobre o que teria acontecido se eu tivesse olhado.

Mas eu não olho. Eu só caminho para a minha caminhonete e digo para mim mesma que o que quer que eu tenha sentido na sala de descanso foi provavelmente o resultado do fedor daquele velho – e horrível – sofá.

Eu vejo Josh entrar no estacionamento, e imediatamente me abaixo então ele não pode me ver. Eu deveria sair e tentar caminhar com ele, mas... bem, eu não quero apressar as coisas. Eu quero conseguir conhecer ele. Eu estou levando o meu tempo, isso é tudo.

Eu gosto dessa ideia muito mais do que a teoria de medo da Teagan, com certeza.

Agora se eu pudesse me fazer acreditar nisso, eu estaria muito bem.

Mas eu estou assustada sobre o Josh. Não assustada com ele, porque ele nunca poderia machucar ninguém. Eu posso dizer isso só de olhar para ele, e quando eu finalmente entro no trabalho e o vejo sentado em seu terminal, seu cabelo escuro caindo em sua testa, eu sei que eu estou assustada porque eu – bem, porque alguém

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como ele gostaria de alguém como eu? E pensar sobre isso – encarar isso – é uma merda.

“Ei,” Josh diz, olhando para cima e sorrindo para mim. Ele aponta para uma pilha de livros espalhados pelo chão. “Você não vai acreditar em quanto dever de casa eu tenho.”

“Sinto muito,” eu digo e sento em frente ao meu monitor. Então eu tento pensar em mais alguma coisa para dizer. Porque falar com ele é tão difícil? Deveria ser tão difícil?

Eu queria saber mais sobre essa coisa. Mas além da Teagan, quem eu tenho para perguntar? Ninguém. (Embora, estranhamente, eu penso sobre o Finn por um segundo.)

E falando no Finn, quando ele chega, ele se senta e me olha. Seu cabelo loiro tem pequenos fiapos do sofá. Eu sorrio disso, e seus olhos se alargam por um momento antes dele sorrir de volta e sussurrar, “E aí?”

“Seu cabelo.” Eu digo para ele, e me inclino para escovar os pequenos pedaços laranja.

“Oh, obrigada,” ele diz, e então olha para Josh.

“Então Josh, eu e Hannah estávamos falando sobre amor antes,” ele diz, e eu o encaro.

O que ele está fazendo?

“Sério?” Josh diz, não parecendo muito interessado, e meu coração afunda para os meus tornozelos.

“Sim, Hannah não acredita no amor, mas eu acredito que é possível.”

“Você não acredita no amor?” Josh diz, olhando-me. “De nenhum jeito?” Ele parece interessado agora.

“Eu acredito no amor,” digo.

“Okay, então diga alguém que você ama,” Finn diz. “Eu te desafio.”

Eu vou matá-lo.

“Minha mãe,” eu digo por entre os dentes cerrados, e então olho para Josh. “Desculpe. Finn está só sendo... bem, ele mesmo.”

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“Não, isso é ótimo,” Josh diz. “Eu estava falando sobre isso com a Micah ontem, porque eu e ela não concordamos a respeito do que o amor é realmente. Eu acho que é sobre liberdade e ser você mesmo, e ela pensa ser uma coisa realmente restritiva, onde você tem que estar com uma pessoa só.” Ele olha para os seus pés. “Nós meio que tivemos uma grande briga sobre isso, e ela disse que eu não sou o cara certo para ela.”

Ele não está mais com a Micah? Uau. UAU. Okay, eu tenho que dizer alguma coisa e vamos tentar alguma coisa boa.

“Sinto muito.” Oh, excelente. Material de primeira aqui, Hannah, realmente.

“Obrigado,” ele diz, e olha para cima, um sorriso tímido em seu rosto.

Ele está sorrindo!

Ele não está mais com a Micah!

Ele está sorrindo para mim!

“Então ela te largou?” Finn diz. “Isso é duro, cara. É por isso que eu te vi com aquela amiga dela, Peyton, outro dia?”

“Nós estávamos falando sobre a Micah, sim,” Josh diz, e ele e Finn se olham por um segundo antes de Finn sacudir a cabeça e diz. “Acho que você não vai ter que comprar um presente de aniversário para Micah agora, né?

“Finn, ele foi chutado – quero dizer, terminou com ela. Quero dizer – desculpe.” Eu digo para o Josh, e faço uma cara para o Finn quando pergunto à ele, “Como você sabe quando é o aniversario da Micah, de qualquer forma?”

“Ela está na minha classe de inglês,” Finn diz. “Ela senta perto de mim. E você diz que eu nunca falo sobre a escola.” Josh suspira e eu me viro para ele. “Você está bem?”

Ele tenta dar de ombros, mas acaba parecendo todo quebrado e triste. Eu sei que isso é horrível, mas ele fica incrível quando está miserável. Ele também parece como se precisasse de alguém para ajudá-lo a se reconstruir, e então eu quero que esse alguém seja eu.

“Eu ainda vou dar a ela um presente,” ele me diz, como se o Finn nem estivesse na sala. “Ela ainda está no meu coração, e os melhores presentes vem de lá.”

“Você não quer dizer literalmente, certo?” Finn diz. “Porque eu não acho que alguém queira um coração de verdade. Ou qualquer coisa que esteja dentro dele.”

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“Ele quer dizer algo como um poema, otário,” eu vocifero, e Finn pisca para mim, e depois se torna vermelho brilhante.

“Eu estou pensando em uma música, na verdade,” Josh diz. “Eu tenho escrito muitas músicas para minha banda ultimamente.” Ele chegou mais perto, o que é legal, mas uma música? Ele escreve músicas?”

Eu não estou tão interessada em músicos. Vários músicos velhos se arrastam ao redor de Jackson, e eles parecem pensar que cantando algumas músicas que as pessoas ouviam no tempo em que os dinossauros andavam pela Terra eles vão poder fazer sexo para sempre e sempre.

“Ou talvez eu plante uma árvore no nome dela,” Josh diz. “Alguma coisa realmente significativa. Algo que ajude os outros.”

“Como uma estrela,” eu digo, pensando na cara da mamãe quando José a deu uma. Quando ele ficou realmente doente indo em direção ao fim, ela colocou estrelas que brilham no escuro no teto então os dois poderiam “vê-las”.

Josh sorriu. “Você quer dizer aqueles certificados que dizem que uma estrela é nomeada com seu nome? Micah adora fazer graça desse tipo de coisas cafonas. Obrigada, Hannah.”

“Ela não estava brincando.” Finn diz, quietamente, e eu digo, “Cala a boca, claro que eu estava.” Tão calmamente quanto eu posso, e vejo Josh sorrir para mim.

Mas o negócio é que, Finn está certo. Eu não estava brincando.

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Capítulo 16

Por sorte, a demanda para os hambúrgueres está insana como sempre e nós

todos ficamos bem ocupados depois daquilo. Josh se focou no trabalho como sempre, e embora eu realmente gostasse disso nele, eu meio que desejava que ele quisesse ficar falando comigo.

Mas ao invés disso eu estou presa com o Finn, que me pergunta coisas como “Quanto de peixe você acha que tem na verdade no sanduíche de peixe?” e assim por diante. Surpreendentemente, quando nós terminamos de debater aquilo, bem como a existência ou não do fato de não ter leite no “sorvete” BurgerTown significava que ele devia ser chamado de “Moo o quê?”* ou “Nomeie aquele creme químico,” ** é hora do meu intervalo.

* Moo no sentido de mugido da vaca.

** No original sorvete é Ice cream, eles quiseram fazer uma piada, fazendo uma brincadeira de “name that chemical cream” que traduzindo fica “nomeie aquele creme químico”, que perdeu o sentido original.

Eu escavo todos os trocados que eu encontro nos meus bolsos e então sento na minha caminhonete comendo um pacote de biscoitos de figo. Assim que estou terminando de comer o último, Finn bate na minha janela.

Eu suspiro e abro a porta. “Eu vou voltar para o trabalho, tá? Eu não achava que tinha ido tão longe, mas...”

“Não é isso,” Finn diz. “Greg está procurando você.”

Eu o encaro. Greg nunca procura ninguém. Greg nunca sai do escritório dele.

“Eu sei,” Finn diz. “Vamos.”

Nós vamos para dentro e quase damos um encontrão no Greg, que está caminhando ao lado da porta.

“Eu achei ela,” Finn diz. “Ela estava lá fora olhando a... uh... ligação do terminal. Nós achamos que podia estar apresentando defeito.”

De que diabos ele estava falando? Eu olho de soslaio para ele e ele arregala os olhos para mim, um olhar de confirma-o-que-eu-tô-falando.

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“Oh, certo,” eu digo, lembrando que deveria bater o cartão* se estou no “intervalo”, mesmo se esse intervalo for só eu comendo biscoitos na caminhonete.

* Passar o cartão naquela máquina que marca a hora no cartão dos empregados.

“Bom, bom,” Greg diz. “Aquelas ligações são importantes. De qualquer forma, o negócio é...”

Eu espero, mas ele não termina a frase.

“O negócio é...?” Finn diz.

“O telefonema,” Greg diz, e depois pisca, de olhos vermelhos, para mim. “Seu pai ligou. Quer que você ligue para ele.”

“Meu pai?” Eu digo, mas Greg não responde, já está caminhando vagarosamente de volta para o seu escritório.

“Ele disse que o seu... ele disse que o Jackson ligou,” Finn diz.

“Certo,” eu digo, tentando parecer como se eu não estivesse surtado, mas eu surtei. Jackson me ligou? Jackson me ligou aqui? Quero dizer, eu sei que ele sabe onde eu trabalho porque a Fran sabe, mas ainda assim.

Jackson me ligou?

“Ei,” Finn diz, colocando as mãos embaixo do meu braço. “Você está bem?”

“Eu... sim,” eu digo, e tento não me apoiar nele. Embora eu queira. “Eu acho que eu tenho que ligar para o Jackson. Posso usar seu celular?”

Finn sacode a cabeça. “Quero dizer, você poderia, se eu tivesse um, mas eu deixei o meu na minha calça no outro diz e minha mãe o lavou então eu meio que não tenho um nesse momento.”

“Ei, você pode usar o telefone daqui,” Josh diz, colocando a cabeça para fora no corredor. Quando Finn olha para mim, ele diz, “Eu podia dizer que aconteceu alguma coisa.”

“Eu não acho que eu possa usar aquele telefone,” eu digo ao Josh. “É para ligações para o suporte técnico e essas coisas. Mas...?” Por que é mais difícil pedir isso ao Josh do que foi pedir para o Finn? “Você tem um celular que eu possa usar? Eu posso te pagar pela chamada se isso vai te custar...”

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“Minha bateria acabou,” Josh diz. “Eu esqueci de carregar noite passada. Só vá em frente e use o telefone aqui. Se alguém perguntar, nós vamos dizer que a Polly estava fazendo ligações, certo, Finn?”

“Claro,” Finn diz, e depois se inclina na minha direção; “Você tem certeza que está bem?”

“Estou bem,” eu digo, mesmo que eu não esteja. Eu realmente não quero ligar para o Jackson, especialmente na frente de outras pessoas. Mas ele ligou para cá, no trabalho. Ele me ligou.

Ele nunca tinha me ligado.

E se aconteceu alguma coisa com ele?

“Vamos,” Josh diz, e então ele pega minha mão e me leva ao telefone. A mão dele é legal, e os dedos dele são longos, se encaixaram facilmente em volta dos meus. Ele aperta uma vez, gentilmente, antes de ir, e então meio que fica lá parado.

“Eu estou bem,” eu digo, e ele assente e vai embora.

Eu disco, e olho em volta quando o telefone chama. Finn está de volta no terminal dele, pegando pedidos, e Josh também está. Mas é como se ele soubesse que eu estou olhando para ele porque ele está olhando para mim, e quando nossos olhos se encontram, ele sorri, como se ele estivesse tentando me dar coragem.

Ele é tão doce. Se todos os garotos fossem como ele, o mundo seria muito melhor.

E então alguém atende o telefone.

É a Fran.

“Oi,” eu digo cautelosamente, e ela diz, “Hannah, olá! Como você está?”

“Hum, bem. Eu...” eu olho em volta de novo, mas Finn ainda está trabalhando e o Josh está meio que olhando para mim... não, pensamento desejoso. Ele está olhando para o terminal dele. A cadeira dele está só um pouco mais perto de mim do que o normal. “Eu recebi um recado que o Jackson ligou. Ele está...?”

“Droga,” ela grita, o que não era o que eu estava esperando. “Ron, seu idiota *, eu disse a você para ligar para a Hannah em casa. C-A-S-A. Eu sinto muito, Hannah, eu pedi ao Ron para ligar para você, mas desde que ele é um idiota, ele estragou tudo.”

*No original, a expressão é pin-weasel, que não achei tradução.

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Eu ouço os sons de alguém – homem, e certamente Ron – se desculpando, mas Fran continua falando. “Bem, agora que você ligou, Hannah, eu sei que o Jackson quer falar com você.”

“Então ele está bem?”

“É claro.”

Ele está bem. Ele não ligou. Eu não posso acreditar que eu achei que ele tinha ligado. Que ele ligaria.

Eu sou tão estúpida.

“Eu tenho que ir. Eu estou no trabalho e...”

“É a minha adorável filha?” Jackson diz, de repente lá no telefone. “Como você está? Eu mal posso esperar para ver você em Nova York.” E então ele ri e diz, “Oh, eu também, Hannah.”

Inacreditável. Ele está sendo filmado para o programa. Ele não ligou, ele está bem, ele é o mesmo.

Ele é exatamente o mesmo.

Eu tomo uma respiração profunda. “Eu... sabe o que? Eu não vou ver você, e você e sua estúpida horda de câmeras podem ir...”

Ele desliga. Desse jeito, eu ouço um clique, os sons das câmeras se afastando, e então Fran está de volta na linha dizendo, “Hannah,” toda triste.

“Não,” eu digo. “Eu só...não. E eu não tenho permissão para receber chamadas pessoais no trabalho, então não me ligue aqui de novo.”

Eu começo a desligar e então o Jackson diz, “Hannah, espera,” e eu congelo.

Ele não podia ainda estar no telefone. Eu ouvi ele desligar. Além do mais não tem nenhum clique ao fundo agora, nenhum som de câmeras. Por que ele está falando comigo?

“Eu realmente quero ver você”, ele diz. “Você recebeu as passagens de trem?”

“Por que você está agindo como se quisesse...?” Eu paro de falar quando me lembro que não estou sozinha. Que eu já tinha falado terrivelmente demais, mais do que qualquer um, até mesmo a Teagan, nunca tinha me ouvido falar sobre o Jackson, e eu falei com ele.

Eu estou falando com ele.

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Eu olho em volta de novo. Finn não está olhando para mim, mas o Josh está. Ele está sorrindo, como se estivesse me encorajando, mas eu não quero encorajamento. Eu só quero esquecer que eu na verdade pensei que o Jackson iria alguma vez me ligar.

“Eu não tenho te visto em quase cinco anos, Hannah. Eu sinto saudades. Você é minha garotinha e eu...”

Ele continua falando, mas eu não posso ouvi-lo. Eu estou com muita raiva. Eu estou com tanta raiva que estou tremendo.

É isso o que ele tem a dizer? Isso?

Ele realmente acha que eu iria acreditar que ele sente minha falta? Que ele alguma vez sentiu minha falta?

“Pare,” eu digo, expulsando a palavra para fora. “Só... você afastou os limites da credibilidade na segunda frase, e eu não vou ver você nem amanhã ou qualquer outra hora. Fran, o que realmente está acontecendo?”

Jackson limpa a garganta, e então eu ouço outro clique. Ele tinha desligado. De novo.

Imagina.

Eu não sei por que meus olhos estão ardendo. Eu pisco forte para fazê-los pararem de arder.

“Ele quer ver você,” Fran diz, na linha mais uma vez. “Eu tenho certeza que você sabe que ele mencionou a sua visita na promo do programa.”

“Sim, eu ouvi tudo sobre isso, obrigada.”

“Você devia ter orgulho de ser filha dele,” Fran diz suavemente. “Ele é um homem que criou um império. Um mundo inteiro que está sendo mostrado em um programa de televisão...”

“E?” eu digo, cortando ela.

“E a audiência está baixa,” ela diz, e é por isso que eu gosto da Fran. Ela grita muito, mas ela não vem com papo-furado. “Os produtores acham que ter você no programa vai atrair telespectadores mais jovens.”

“Então é tudo sobre ele, como sempre.”

“Não é simples assim.”

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“Claro que é,” eu digo, e desligo, abaixando o telefone com tanta força que faz um barulho de “crack” satisfatório. Jackson é simples porque tudo na mente dele, é sobre ele. Sempre foi, sempre será.

E eu era estúpida o bastante para pensar que ele queria falar comigo. Que ele tinha na verdade me ligado. Idiota! Eu tomo uma respiração profunda, tentando me acalmar, e me viro.

Josh está bem atrás de mim.

“Oh,” eu digo, e ele me abraça. Só passa os braços ao meu redor e me puxa para mais perto.

Josh está me abraçando.

Mas aqui está o negócio: não é maravilhoso. Nem mesmo é bom. Eu na verdade quero ficar sozinha agora, mas eu não posso porque estou no trabalho.

“Eu tenho certeza que as coisas vão dar certo para você e seu pai,” ele diz, e eu me afasto dele.

“É Jackson, okay?”

“Oh, desculpa,” Josh diz. “Como você não chama ele de pai?”

“Ei, eu recebi uma tonelada de pedidos aqui,” Finn diz, e eu estou feliz de só dar de ombros para o Josh e voltar ao trabalho. Eu até mesmo estou feliz de estar pegando pedidos, feliz de ouvir as pessoas pedirem picles extras ou sem maionese ou exigir saber do que nossas batatas fritas são feitas.

Bem, talvez não tanto com relação a essa última.

Depois de eu lidar com a pessoa da batata frita – eu não achava que alguém pensasse que elas fossem feitas de outra coisa que não fossem batatas – alguma coisa me bateu na testa.

“Ow,” eu digo quando o que quer que seja que bateu em mim cai no meu colo. Eu olho para baixo e vejo uma barra de chocolate.

“Comida para o cérebro,” Finn diz antes de pegar outro pedido, e eu cheiro a barra de chocolate. Eu não me importo com o que os médicos dizem, chocolate pode fazer as coisas ficarem melhores.

“Obrigada,” eu digo a ele quando eu tenho uma chance, e por um segundo, quando ele sorri para mim, eu penso que o Finn é... Eu não sei. Alguma coisa. É fácil

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de falar com ele. E ele não é perfeito, mas ele me deu chocolate. Chocolate sem menta até.

Mas então o Josh diz, “Hannah?”

Eu olho para ele, e ele diz, “Podemos conversar? Mais tarde, quero dizer.”

Oh. OH.

Eu assinto.

E então espero, nervosa e impaciente – e na verdade um pouco assustada – para o nosso turno terminar. Quando ele finalmente termina, Josh me puxa de lado.

“Ei, sobre mais cedo, eu só... eu queria dizer que eu acho... bem, eu acho que você é muito especial,” ele diz, meio que tropeçando nas palavras um pouco, como se ele estivesse hesitante em dizê-las, e agora eu quero que ele me abrace de novo. E depois me beije.

Mas ele não faz isso. Ele só acena e vai embora.

Eu suspiro.

“Hannah, eu só... eu quero que você saiba que se eu pausar muito quando eu te disser como você é especial é porque eu quero que você pense que eu sou... muito... muito... profundo,” Finn diz.

“Wow, obrigada. Bom saber que você tem tanta certeza de que ninguém poderia na verdade achar que eu sou especial.”

“Não foi isso que eu disse.”

“Sim, foi sim.”

“Não, não foi,” ele diz.

“Foi.”

“Não foi.”

“Ótimo. Estou indo agora,” eu digo.

“Ei, Hannah?”

“O quê?”

“Você é... quero dizer, eu acho você... você arrebentou no telefone,” Finn diz, corando de novo.

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“Okaaaaay,” eu digo, como ele está sendo estranho, mas eu na verdade gosto do que ele disse. E gosto da ideia de ter arrasado com o Jackson. Mesmo se isso foi pelo telefone.

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Capítulo 17

“O que aconteceu?” Teagan diz assim que eu pego ela no shopping.

“Jackson.” Eu tomo uma respiração profunda. “Ele me ligou no trabalho. Bem, na verdade algum assistente que provavelmente foi despedido ligou, mas eu acabei ligando de volta e foi uma droga. Muito. A ligação só aconteceu porque a audiência do programa estúpido do Jackson estava baixa, mas então o Jackson veio e começou a fazer o seu negócio de ‘Oh, eu quero ver você’. E então eu disse não a ele, ele desligou na minha cara.”

“Oh, Hannah, eu sinto muito,” Teagan diz. “Isso realmente é uma droga, e... espera, como você ligou de volta para ele? Você finalmente ganhou um celular e não me disse?”

“Não, e é aí que as coisas ficam realmente uma merda. Eu tive que ligar do trabalho. Tipo, da sala onde eu sento. Com o Josh e o Finn em volta.”

“Por quê?”

“O que você quer dizer com por quê? Finn deu um jeito de lavar o celular dele, e a bateria do Josh tinha acabado.”

“Mas e um telefone pago? Ou pedir ao Greg?”

“Um telefone pago? Você está brincando? Nós temos sorte de ter duas máquinas de lanches que geralmente funcionam e um banheiro semi-limpo. O BurgerTown não é grande na atmosfera.”

Teagan coloca os pés no painel. “Greg teria deixado você usar o telefone.”

“É, talvez, mas eu não tinha pensado nisso. Eu pensei... quando o Greg me disse sobre a ligação, eu pensei que o Jackson... eu pensei que talvez tivesse acontecido alguma coisa com ele. E então, quando ele falou comigo, eu pensei que – eu pensei que ele quisesse falar comigo.” Eu ouvi a caminhonete ranger quando nós viramos a esquina. “Eu me sinto completamente estúpida a respeito disso agora, entretanto.”

“Você não é estúpida. Ele é seu... você sabe. Pai.”

“É, mas só biológico e ele nem mesmo quis acreditar nisso por um tempo.”

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“Eu realmente sinto muito,” Teagan diz de novo, e bate levemente os pés dela contra o painel. “E sobre o Josh? Aconteceu alguma coisa com ele?”

Eu a examino, agradecida, e sorrio. “Você está tentando mudar de assunto?”

“É obvio,” ela diz, sorrindo de volta. “Então... o que aconteceu com o Josh?”

Eu encolho os ombros.

“Oh, fala sério! Isso não é resposta!”

Então eu conto a ela sobre a conversa do presente.

“Eu não iria me importar de ganhar uma estrela de um cara,” ela diz. “Eu não acho que isso é cafona.”

“Eu também não,” eu digo, pensando na mamãe e no José. “Mas ei, ele também me deu um abraço depois que eu falei com o Jackson.”

Teagan ficou em silêncio.

“Um abraço,” eu digo de novo. “Isso é bem grande, certo?”

“Talvez se você tivesse soado como se estivesse feliz com isso.”

“Eu estou.”

“Wow, entusiasmo monótono. Grande!”

“Eu estou!” Eu digo de novo. “Assim está melhor? Foi só que... Eu tinha acabado de falar com o Jackson. Eu não estava no melhor humor.”

Nós viramos na rua dela e Teagan bate levemente de novo os pés contra o painel quando paramos na casa dela. “Não fique brava comigo pelo que eu vou dizer, okay?”

“Oh, ótimo, mal posso esperar para ouvir isso”

“Olha, Hannah, você gosta do Josh faz um tempo, mas você nunca faz nada a respeito disso. Quero dizer, você trabalha com ele, e ele fala com você, mas ainda assim você nunca...”

“Eu não sou o tipo dele,” eu digo. “Eu vejo as garotas com quem ele está, e elas são tão nada a ver comigo que é...”

“É, mas ele está falando com você. Ele está comprando coisas para você. Ele tem que dizer que te ama antes que você diga, ‘Ei, quer sair alguma hora dessas?’”

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“Eu... olha, eu quero fazer isso. Eu quero ser esse tipo de pessoa. Chamar ele para sair. Falar com ele sem congelar. Mas eu continuo pensando que se nós sairmos, e se...?”

“O quê?”

Eu me mecho no meu banco. “Eu sou a filha de Jackson James, certo? E tudo que ele pensa é sobre sexo. Então se eu e o Josh estivermos sozinhos...”

Teagan ri.

Muito.

“Obrigada,” eu digo, e a alcanço, tirando os pés dela do painel. “De verdade, agora eu me sinto ótima.”

“Desculpa, Hannah,” ela diz, ainda rindo. “é só que aqui está você, preocupada que você seja algum tipo de ninfomaníaca ao ponto de que você não vai fazer nada, e o Jackson iria pensar sobre coisas como essa? Ou ele está ocupado demais tentando pegar minas?”

“‘Pegar minas’? Fabulosa gíria ultrapassada.”

“Entretanto você viu o que eu quero dizer, certo?”

Eu encolho os ombros.

“Isso é um talvez?”

“Talvez,” eu murmuro.

“Então você vai, por favor, só chamar o Josh para sair?”

Eu bato de leve no volante com uma mão. “Eu... okay.”

“De verdade?”

Eu assinto.

“Bom,” ela diz, e acena antes de ir para dentro. Eu posso dizer que ela acha que eu não vou fazer isso, mas eu vou. Eu até pratico o que eu vou dizer enquanto dirijo para casa.

Mas quando eu chego em casa, o telefone está tocando.

E quando eu atendo, é o Jackson.

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Capítulo 18

“Hannah,” ele diz, não era uma pergunta – ele reconhece a minha voz – mas

eu não vou deixar isso me atingir. Não importa que essa seja a primeira vez que ele tenha me ligado. Eu não vou falar nada.

Depois de um momento, ele diz, “Sinto muito sobre antes,” e eu presto atenção aos sons que entregam os barulhos das pessoas filmando e escutando cada movimento dele, incluindo a ligação.

Eu não escuto nada, e eu não entendo por que.

“Onde estão os câmeras e os caras do áudio? Parados esperando pelo teu sinal para fazer um zoom para uma cena onde você faz de conta que se importa para alguma coisa?”

“Você é minha filha. Não uma coisa. E eu me importo.”

Ele parece estar sendo sincero. Mas então, o Jackson sempre soa como se quisesse dizer o que diz, porque ele fala sério quando ele diz.

Ele só não se importa por mais tempo do que ele demora a dizer algo.

“Sério, onde está a equipe de filmagem?”

“Eu estou na cama,” ele diz. “Não há câmeras aqui. Pelo menos, não as do programa.”

Eca. Eu espero pelas risadinhas das suas ‘garotas’, mas de novo, nada.

“Você está... você está sozinho?” o Jackson nunca está sozinho, a menos que ele esteja fazendo algo que ele realmente ama, como arquivar todas as fotos que já estiveram em seu site. Ele consegue passar horas organizando-as, e tem cada uma colocada em uma pasta especial que ele coloca em um scrapbook. (Isso mesmo, o Jackson gosta de fazer scrapbooks. Um animal festeiro, né?)

“Eu estou,” ele diz. “Eu sei que a Fran falou com você sobre a situação, mas eu queria te pedir...”

“Eu não vou para Nova York para ser filmada como uma manobra para conseguir audiência. A última vez que eu te vi, os produtores fizeram parecer como se eu tivesse aparecido do nada, tive um colapso e então você tive que ser mandada

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para casa. E você os deixou fazer isso. Você os deixou fazer isso quando você podia tê-los impedido.”

“Não fique chateada comigo,” ele diz. “Eu não – você sabe que eu não agüento isso. E esta viagem não é sobre o programa. Não haverá nenhuma câmera. É somente por um dia, e eu quero que seja só eu e você. Eu sinto saudades. Já faz cinco anos, Hannah.”

“E quem escolheu isso?”

Ele limpa a garganta e eu espero pelo fim inevitável da ligação.

Isso não acontece.

“Eu quero ver você,” ele diz novamente. “Você é minha única filha, e eu sinto falta de como as coisas costumavam ser. Eu sinto falta de como você corria pelo castelo, como nós comíamos sorvete e assistíamos filmes. E as festas? Lembra delas? Você ficava tão animada com as roupas que eu encomendava para você...”

“Eu era uma criança naquela época,” eu digo. “Eu era burra o bastante para acreditar em você quando você dizia que sempre estaria comigo.” Para o meu horror minha voz falhou nas últimas palavras.

“Eu quero compensar você,” Jackson diz. “Eu quero te recompensar pelo nosso tempo perdido. Eu quero que você venha para Nova York.”

“Me compensar? Depois de cinco anos, você achar que um dia pode consertar as coisas?”

“Eu acho que é um começo, e eu quero tentar. Eu não...é tão difícil para você acreditar que eu quero te ver? Que eu quero ver minha própria carne e sangue?” A voz dele fica trêmula, como a de um velho.

Como ele é. Um velho, cercado por pessoas que fariam qualquer coisa que ele quisesse, mas que vão embora sem olhar para trás quando ele diz que é hora.

Ele não é estúpido. Ele sabe que as pessoas o usam como ele as usa, e se tem uma coisa sobre o Jackson que me faz ter pena dele, é isso. Eu acho que uma grande parte do por que dele gostar de me ter por perto quando eu era pequena era que ele não precisava fazer nada para mim. Ele não tinha que me comprar carros, ou cirurgias plásticas, ou jóias. Eu só gostava de estar com ele.

Eu costumava adorar ir ver ele. Eu costumava amar ele.

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“Por favor,” ele diz, e eu nunca ouvi ele dizer isso antes. Soa errado, estranho, mas logo que ele diz, eu me torno poderosa, eu fiz algo que ninguém mais fez. Eu o fiz pedir algo.

Eu o fiz pedir por mim.

“Sem câmeras quando eu aparecer? Nenhuma câmera mesmo?”

“Nada mais do que eu e você,” ele diz. “Só diga que você estará naquele trem e eu... Hannah, eu ficarei tão feliz.”

E é aí que eu sei que eu vou. Quando ele diz isso, quando eu ouço o quão surpreso ele soa com as suas próprias emoções. Quando eu ouço que ele ficará realmente feliz em me ver. Quando eu percebo que eu significo algo para ele.

“Tudo bem,” eu digo, “eu vou,” e ele diz, “Hannah, obrigado,” com tanta alegria em sua voz que eu sou uma menininha de novo, de pé no castelo do meu pai e me sentindo como se não tivesse nenhum outro lugar que eu quisesse estar.

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Capítulo 19

Eu não devo interromper a mamãe quando ela está trabalhando – como se

eu quisesse ser vista na câmera da candymadison.net – mas eu sei que preciso contar para ela sobre amanhã e o Jackson. Eu escrevo um bilhete e o passo por debaixo da porta da toca.

Ela está no corredor uns cinco segundos depois.

“Você está indo vê-lo?” Ela não parece brava, só surpresa. “Você está... o que aconteceu?”

“Ele me ligou.”

Ela cruza os braços sobre o peito. “Sério?” Eu escuto surpresa, e algo quase como inveja, na sua voz.

Eu assinto.

“Ah,” ela diz, e eu não consigo saber o que ela está pensando com esta única palavra. Ela está chateada?

Eu acho que não, porque ela diz, “Você precisa de uma carona para a estação de trem de manhã?”

“Não, eu vou pegar a caminhonete.”

“Tudo bem. Eu acho que vou voltar ao trabalho.”

“É isso?” Eu digo, surpresa. “Eu não o vejo há cinco anos, você chora quando as passagens chegam, mas quando eu digo que vou, você não liga?”

Ela suspira. “Eu não estava chateada com as passagens e você sabe disso. E também, você tem idade suficiente para tomar suas próprias decisões.”

“Tudo bem, então você está chateada sobre o José. Eu também sinto falta dele, mãe, você sabe. Nós podemos sempre conversar sobre isso, sobre ele. Quero dizer, ele era...”

“Pare,” ela diz, sua voz afiada, e volta para o covil, e volta para a toca, fechando a porta atrás dela.

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Eu passo mais dois bilhetes por debaixo da porta, pedindo para ela voltar e falar comigo, mas ela não volta, e eu finalmente desisto e vou para o meu quarto.

O telefone toca novamente no momento que eu estou indo para a cama. É a Teagan, e ela está chorando.

“O que houve?” eu digo, preocupada porque a Teagan não chora. Pelo menos, eu nunca a vi chorar.

“Meus pais disseram que a minha mãe está finalmente bem o bastante para que eu possa voltar para Nova York.”

“Isso não é... isso não é bom?”

Ela fica em silêncio por um longo tempo. Um longo, longo tempo.

“Teagan?” eu digo.

“Eu... eu não larguei a faculdade para vir para casa,” ela disse com uma voz baixa. “Eu fui expulsa. Eu não posso voltar. E eu nunca contei... meus pais não sabem disso.”

Eu fico em silêncio por um momento, em choque. Teagan foi expulsa da faculdade? “Oh. Tudo bem. Bem... que tal outro lugar? Deve haver outras faculdades na cidade...”

“Não,” ela diz. “Eu só... eu não conseguiria suportar se eu fosse expulsa de novo.”

“Isso nunca aconteceria. Eu vi as suas coisas, você sabe, e elas são incríveis.”

“Eu... espera um pouco.”

Eu ouço vozes abafadas, e então ela volta e diz, “Meu pai acabou de chegar e ele me falou que está indo para cama. O que significa que eu tenho que estar na cama porque é assim que as coisas são aqui. Sinto muito, eu tenho que ir.”

“Mas...”

“Desculpa,” ela diz novamente, e nós nos despedimos. Eu fico acordada por um tempo, me preocupando com a Teagan e imaginando se eu deveria ligar de volta para ela mesmo que o pai dela fique bravo, mas no momento que eu me deito e tento dormir, o telefone toca mais uma vez.

“Eu sabia que você ligaria de volta,” eu digo para ela. “Então, deve haver milhões de faculdades em Nova York, e se você quiser, eu aposto que eu posso passar nelas e pegar alguns formulários ou algo assim. O que você precisar.”

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Uma voz que definitivamente não é da Teagan diz, “Hum, Hannah?”

A voz de um cara.

Um cara está ligando para mim.

Josh?

Ah por favor, seja ele. Ele viu o quanto eu estava chateada essa noite, afinal de contas, e seria bem a cara dele...

“Hannah?” Ele diz novamente.

“Sim. Eu quero dizer, oi.”

Ah, bom trabalho, Hannah. Bela maneira de soar como uma idiota.

“Oi, é o Finn. Eu sei que é tarde, mas eu estava pensando...”

Finn? “Finn?”

“Sim.”

“Ah. Eu pensei que você fosse outra pessoa.”

“Eu já descobri isso,” ele diz. “Então... você está indo para Nova York?”

“Sim.” Eu espero para ver se ele vai me perguntar sobre o Jackson, mas ele só diz, “Oh. Bem, hum, de qualquer forma, eu sei que é tarde e você obviamente tem outras coisas para fazer, mas eu...” Ele limpa a garganta. “Bem, eu... eu só estava pensando o que nós tínhamos de dever para fazer da aula de Governo.”

“Você está me ligando para perguntar sobre dever de casa?”

“Ok, não,” ele diz, sua voz soando meio trêmula. “Olha, eu estive pensando sobre umas coisas, e eu só queria te dizer que eu...”

E é isso. Ele fica em silêncio. Eu espero um momento, mas ele ainda não fala nada.

“Bem?” Eu finalmente digo, e por alguma razão minhas mãos estão suando e minhas entranhas estão estranhamente agitadas.

“Sua caminhonete parece que está precisando de conserto nos cintos. Eu sei que você odeia quando eu falo coisas assim, mas já foi, eu falei,” ele diz, as palavras se atropelando na pressa. “Tchau.”

E então ele desliga.

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Eu olho para o telefone e então desligo também, balançando a cabeça. Os meninos são tão estranhos.

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Capítulo 20

Mamãe me acorda de manhã.

“Eu quero levar você na estação de trem,” ela diz.

E então ela me leva, mas não diz uma palavra o caminho inteiro.

O que está acontecendo?

“Mãe, você está bem?” Eu digo quando ela entra no estacionamento.

Ela ri, mas soa como um soluço. “Não.”

“Isso é... é o Jackson? Eu ir ver ele?”

“Não.”

“Então o que está errado?” Eu penso sobre a noite passada. Sobre o que aconteceu quando as passagens chegaram. “É o José?”

Ela assente. É um movimento pequeno, mas eu vejo.

Eu aliso minhas mãos nos joelhos do meu jeans, nervosa porque ela e eu não falamos sobre isso, sobre o José. Com raiva porque nós não falamos sobre ele, porque sempre que o nome dele surge, ela encontra um jeito de mudar de assunto, volta ao trabalho ou de repente tem alguma coisa para fazer. Ela sempre diz que está triste, mas bem, só bem.

Ela faz eu me sentir mal por querer lembrar dele.

“Eu sei que o cartão te chateou, mas é minha culpa que você não vai olhar as coisas dele? Que nós tenhamos as coisas dele em um armário e você finge que não estão lá? Que você dificilmente fala sobre ele ou como as coisas eram? Quero dizer, mãe, eu sinto saudade dele, e isso é... é difícil para mim também.”

Ela me encara. “Hannah, você não sabe... você não sabe como é difícil. Eu tenho que viver sem ele. Todo dia, eu acordo e penso isso. E todo dia, eu levanto de qualquer forma.” Ela sacode a cabeça. “Eu nem posso pensar no José sem querer chorar, e eu não gosto de falar sobre ele porque eu ainda estou tentando lidar com o fato de viver sem ele.”

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Oh. Eu sabia que ela sentia falta dele, mas eu não sabia que era desse jeito. Eu não sabia que o sofrimento dela estava ainda tão em carne viva. Eu estou tão acostumada a ver Candy Madison, escassamente vestida e sorrindo, sempre sorrindo, que eu esqueci quem ela realmente é. Eu esqueci que ela é uma pessoa. Que ela é a mamãe.

“Eu não... eu sinto muito,” eu digo. “Eu não sabia que isso era tão difícil e eu... eu não sabia.”

“Você vai perder seu trem,” ela diz gentilmente, beijando minha bochecha, e quando eu hesito, ela se inclina e abre a porta do carro para mim. “Vai em frente.”

Quando o trem parte, eu a vejo parada na cerca que separa o estacionamento da via ferroviária, explorando as janelas. Eu bato de leve contra a minha janela, mas ela parece não notar.

Mas ela fica lá, assistindo, até que o trem tenha partido.

Eu penso sobre a mamãe e o José, e como eu preciso lembrar que a mamãe é alguém de verdade, e que Candy Madison não é ela, não tudo dela, até que Nova York começa a entrar em vista e as pessoas a minha volta se mechem nos seus assentos, se preparando para se mover. Parecendo como se eles não pudessem esperar para chegar.

E então eu estou lá, na cidade, saindo do trem e andando pela estação.

Eu sempre soube que Slaterville é um daqueles lugares que você passa na rodovia que parece como todo outro lugar, que não tem nada de especial sobre ela, mas eu tinha percebido como ela é devagar. Todo mundo na estação, com exceção de pessoas como eu, se move como se eles tivessem que estar em outro lugar, e eles tem que estar lá agora.

E o Jackson não está lá.

Eu tento ignorar a pequena, mas miserável voz que começa a gritar dentro de mim, uma que está se lamentando da injustiça de tudo isso, do Jackson me decepcionando de novo. Do Jackson não me amando. Eu tento afastar o que foi deixado da garotinha que uma vez achou que ela era uma princesa, mas isso é difícil.

Cinco anos, e eu ainda não tinha conseguido me livrar dela.

E então eu vejo um cara enorme, tão alto que ele não parecia humano, segurando uma placa que dizia HANNAH.

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Eu ando em direção a ele devagar, e quando eu estou na metade do caminho ele diz, “Hannah?”

“Sou eu,” eu digo. “Eu acho que o Jackson te mandou. Os peitos de uma das namoradas dele está vazando ou alguma coisa?”

O cara nem mesmo deu um sorriso. “O Sr. James está lá fora,” ele diz. “Venha comigo, por favor.”

“Certo,” eu digo, e ele sorri para mim então, todo negócios e dentes, e me passa um pequeno celular, um que eu tinha visto estrelas usando em fotos na Celeb Weekly.

“Você está aqui,” Jackson diz, e pelo telefone, a voz dele está tão calorosa, tão feliz. “Eu estou bem aqui fora, esperando. Não quis causar um tumulto na estação de trem.”

“Oh,” eu digo, e então o cara pega o celular de volta. Eu o sigo para fora, imaginando se alguém iria sequer perceber o Jackson aqui, nesse mar de pessoas todas tentando chegar em algum lugar, e então eu vejo a limousine.

É enorme, um enorme SUV pintado no tom de azul favorito do Jackson. (A cor dos olhos dele, é claro.) É ridícula de aparência, mas não tem câmeras ou equipe de filmagem em volta dela, e quando eu entro, tudo que eu vejo é o Jackson.

“Obrigado, Darryl,” ele diz, e o cara grande que me acompanhou se vira no que parecem quilômetros de distância, no assento da frente, e assente. “Algo mais, Sr. James?”

“Não, obrigado.”

Darryl assente de novo, e uma daquelas telas privativas, toda de vidro preto, se ergue, me deixando sozinha com o Jackson. Eu olho para fora da janela. Toda rua está tão lotada.

“É bom ver você,” ele diz. “Eu senti saudades.”

Eu olho para ele. Ele está vestido no seu jeans usual e blusa de seda azul, seu cabelo cuidadosamente penteado para esconder o fato de que está diminuindo na frente. E dos lados. E atrás.

Ele parece menor do que eu me lembrava também, não mais baixo exatamente, mas quase como se ele tivesse encolhido de alguma forma, e as roupas pendiam folgadamente nele.

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Ele parece com o que ele é, um homem velho, e por alguma razão meus olhos ardem um pouco, minha garganta apertando. Eu balanço minha cabeça para parar isso.

“Você está adorável, Hannah,” ele diz. “Mais e mais parecida com sua mãe a cada dia.”

Eu não vejo como isso é possível, dado que nós não temos a mesma cor de cabelo ou de olhos ou nada mais que eu não mantenha coberto pelas minhas blusas enormes e jeans de costume, mas eu dou de ombros. “Obrigada. Ela está indo bem, a propósito. Legal da sua parte ter perguntado.”

“Eu sei que ela está bem. Nós colocamos um link do site dela no meu, e eu ouço que ela está tendo um pouco de congestionamento. E ela parece tão maravilhosa como sempre.” Ele se inclina para frente, olhando para mim intensamente, tão intensamente que eu não posso olhar para longe.

“Se passou muito tempo. Você cresceu, e eu perdi isso. Eu tenho pensado sobre você todo dia, entretanto. Imaginei como você estava, o que você estava fazendo.”

Eu tinha esquecido como ele soava. Como ele se focava em você como se ninguém mais existisse, como ele faz você se sentir como se você fosse o mundo dele.

Eu me forcei a tomar uma respiração profunda. “Você está certo. Faz um tempo desde que te vi.”

“Cinco anos,” ele diz. “Cinco anos e três meses semana que vem, na verdade. Eu queria que você tivesse vindo me visitar. Você ainda tem um quarto no castelo, você sabe, e isso nunca vai mudar.”

Agora meus olhos ardem de novo. “Sério?”

“É claro. Você é sempre bem vinda. Você sabe disso.”

“Então por que... por que você não me deixaria ficar com você?”

A única coisa que a mamãe não sabe – e nunca vai saber – é a verdadeira razão por que eu parei de falar com o Jackson depois que o José morreu. Não era porque o Jackson não tinha dito nada sobre o José.

É porque eu perguntei ao Jackson se eu podia morar com ele, e ele disse não.

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Capítulo 21

A última vez que eu vi o Jackson foi poucos meses depois do José morrer. Eu

fui visitá-lo no castelo, um presente adiantado de aniversário, e eu estava feliz que o Jackson tinha lembrado que eu estava completando treze anos logo. Ele tendia a esquecer aniversários.

Ir ao castelo era como ir a outro mundo, como sempre. Todo mundo estava feliz de me ver, e o Jackson disse que tinha se passado muito tempo, que ele sentia minha falta, e que ele queria que eu pudesse ficar mais. E eu, estúpida, pensei que eu pudesse escapar da tristeza que envolveu a mim e a mamãe, pensei que eu pudesse morar no castelo e fazer o papel da princesinha do Jackson para sempre.

Então eu perguntei a ele se podia ficar.

Ele fez a Fran me dizer que não. Ele não podia fazer isso ele mesmo, nem estava no castelo quando ela me disse. Ele ficou longe até logo antes de eu ir embora.

É assim e por isso que a filmagem que tem eu com 12 anos gritando com ele, acabou no programa dele. É por isso que as pessoas falaram sobre mim na escola quando eu cheguei em Slaterville, as mais ousadas me perguntando por quê eu gritei que ele nunca tinha sido um pai de verdade, perguntando por quê eu disse que eu queria que ele tivesse morrido ao invés do José. Elas também queriam saber quem era José.

Os malvados só diziam que eu era louca, e riam em silêncio da falta de reação do Jackson. (“Pobre criança,” ele tinha dito para a câmera, e a próxima cena mostrava ele dançando com as namoradas dele em uma boate, sorrindo como se não se importasse com nada. E ele não se importava, não é? Pelo menos, não comigo.)

“Eu não podia deixar você ficar por causa da sua mãe,” ele diz agora, como se isso explicasse tudo. “Eu tive que pensar nela.”

“Claro que tinha. Exceto que a mamãe nem mesmo sabia que eu tinha pedido, Jackson. Então eu sei que ela não te disse para dizer não. Você escolheu dizer isso. Você não me queria vivendo com você.”

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Ele limpou a garganta, parecendo desconfortável, e eu espero ele me dizer que tem que ligar para a Fran ou fingir que tem que pedir ao Darryl alguma coisa. Qualquer coisa para parar de falar comigo.

Mas ao invés disso ele olha direto para mim.

“Eu disse não porque ela teria deixado você se mudar para minha casa,” ele diz.

Eu sabia. Quero dizer, ele nunca tinha me dito que ele disse não porque ele sabia que eu me mudaria e ele não queria isso, mas eu sabia mesmo assim.

Ainda assim, finalmente ouvir isso não é tão bom. Os pais supostamente devem querer você, não devem? Mesmo se for só para visitas de fim de semana? Mas o Jackson nem mesmo fez pressão para isso depois da minha última visita. Ele só... desapareceu. Eu fui para casa, eu e mamãe nos mudamos para Slaterville – e eu nunca ouvi falar dele.

Eu cometi um erro vindo aqui.

“Me leve de volta para a estação de trem,” eu digo, e eu estou orgulhosa de como soei. Minha voz está calma e firme. Eu sôo como se não me importasse.

“Isso não é...” Ele limpa a garganta de novo, e eu encaro as cicatrizes fracas dos lados do rosto dele, linhas mostrando que ele tinha feito uma cirurgia para puxar a pele, esticá-la. Pelo menos a mamãe não tinha feito cirurgia como aquela para fazê-la parecer mais jovem.

Pelo menos a mamãe me queria.

“Ela teria dito sim,” ele diz, “mas então ela teria ficado completamente sozinha. E a Candy – ela precisa de pessoas ao redor dela. Pessoas que a amam. Ela precisava – e ainda precisa – de você. E além disso, você é a melhor coisa da vida dela. Ela sempre me disse isso.”

“Certo, porque vocês dois se falam tão frequentemente.”

“Nós costumávamos,” ele diz. “Nós estivemos juntos por quase dois anos, você sabe. E a Candy passou por muita coisa.”

“Dois anos inteiros? Wow. E eu estou chocada por aprender que a mamãe passou por muita coisa. Oh, espera... não foi muita coisa por sua causa?”

“Hannah,” ele diz, e alisa os meus joelhos, como ele costumava fazer quando eu era pequena. “Eu não disse não quando você pediu para se mudar para te

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machucar. Eu fiz isso porque eu achei que era a coisa certa a fazer. E eu estava tão chateado que você ficou chateada que eu...”

“Não se incomodou de se comunicar por cinco anos?”

“Não sabia como falar com você,” ele diz. “Você não acha...?” Ele limpa a garganta. “Eu odiei ver você chateada. Eu odiei ver você chorar. Mas eu não queria que você odiasse sua mãe. Eu queria que você...”

“Pare,” eu digo. “Eu entendi. Você fez tudo isso por ela, colocou você mesmo na posição de cara mau para ser nobre, e Deus, você sente muito que eu estava chateada e partiu seu coração ver isso. Mas eu vi o programa, Jackson. Eu vi como você se sentiu tão mal que você disse, ‘pobre criança,’ e então foi para uma boate e agiu perfeitamente normal. Para você, de qualquer forma.”

Jackson ri.

Ele na verdade ri, como se tudo isso fosse engraçado, como se eu tivesse contado a ele uma piada ou alguma coisa, e eu odeio ele. Eu queria nunca ter desejado morar com ele.

Eu queria nunca ter pensado que ele era alguma coisa.

“Hannah,” ele diz, e se move para se sentar perto de mim, colocando um braço em volta do meu ombro, “isso foi num programa de televisão. Não era de verdade. Você sabe disso.”

“Oh, então alguém que parecia você disse ‘pobre criança,” e então saiu e se divertiu e se certificou de falar sobre como tinham se divertido?”

“Você sabe o que quero dizer,” ele diz. “Você é uma garota esperta. Depois que você saiu, eu fui para o meu escritório para ficar sozinho, e não sai por... bem, eu precisava ficar sozinho. Mas então eu tinha que voltar ao trabalho. Eu nem mesmo estava falando sobre você quando eu disse ‘pobre criança.’ Eu estava falando sobre uma garota que queria estar no site e nunca ia conseguir. Mas o programa usou isso, e você sabe como eles mudam as coisas. Eu não... eu nunca quis machucar você, Princesa. Eu te amo.”

Eu olho para ele, e posso ver que ele está lutando contra as lágrimas.

Eu olho para fora da janela, meus olhos ardendo. Ninguém além do Jackson me chamou de Princesa, e ninguém tinha dito que me amava em tanto tempo. Mamãe fala, eu sei, mas ela parou de dizer a palavra depois que o José morreu, como se tivesse ficado amaldiçoada.

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“Eu sei que te machuquei, entretanto,” ele continua, sua voz ainda embargada, “e eu juro que vou te compensar. Certo? Eu desliguei todos os meus telefones, deixei instruções que estou fora dos limites para todo mundo, e agora é você e eu.

Eu olho para ele.

“Como nos velhos tempos,” ele diz. “Bem, exceto que agora você provavelmente está muito velha para querer tomar sorvete no almoço. Espera, espera um minuto.” Ele finge segurar um cálice magnífico, e olha para mim. “Foi um sorriso que eu vi? Só por um segundo?”

Eu tinha esquecido como ele podia ser pateta. Como ele não tem medo de ser bobo só para fazer você sorrir.

“Aha!” Ele diz. “Aí está um de verdade. O sorriso mais bonito do mundo todo, com certeza.”

“Certo, pai,” eu digo, e então nós dois meio que congelamos. Eu não tinha chamado o Jackson de pai desde a última vez que eu o vi.

“Obrigado, Hannah,” ele diz, chorando abertamente agora, e beija o topo da minha cabeça. Eu posso sentir as lágrimas dele, molhadas contra o meu cabelo. “Obrigado por me dar essa chance.”

Nós dirigimos pela cidade por um tempo, e Jackson apontava lugares para mim. Eu olho para alguns deles, mas na maioria eu olhava para todas as pessoas. Eu não posso ver a Teagan aqui, mesmo que ela tivesse morado aqui. Todo mundo está se movendo tão rápido e parecem tão seguros, ou pelo menos com pressa, e a Teagan não faz ou parece nenhuma dessas coisas.

“E aqui estamos nós,” Jackson diz, olhando para fora da janela direita quando a limousine começa a diminuir.

Eu olho para fora da janela também, e vejo um restaurante de aparência regular. E então eu vejo uma garçonete passar com uma coisa enorme de chocolate, torres e torres disso salpicadas de chocolate granulado e com chantilly no topo.

Eu espero não estar babando. Eu olho para o Jackson, e ele está sorrindo.

“Eu sei minha Princesa,” ele diz. “Vamos entrar.”

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Capítulo 22

Nós entramos, mas o restaurante está tão lotado que nós acabamos parados

bem perto da porta. À nossa frente, duas garotas estão falando sobre a espera delas.

“Você quer ficar?” uma garota diz.

“Você quer?”

“Vai demorar cerca de uma hora. Nós podíamos fazer outra coisa.”

“É, mas então nós não vamos conseguir aquilo,” a outra garota diz, apontando para um garçom que está passando com um pedaço grande do que parece um bolo de chocolate com chocolate extra.

Eu tento não babar e então o Darryl está empurrando pela multidão, levando eu e o Jackson para a linha de frente, onde uma recepcionista bonita, mas parecendo em frangalhos, pisca para nós. Ela não reconhece o nome do Jackson quando o Darryl o diz – ela só tem alguns anos a mais que eu, e não parece como uma atriz/modelo que quer ser famosa, mas ao invés disso tem a vibração de medo de uma artista, até o cheiro de patchouli.

“Eu sinto muito, mas eu não tenho nada livre...” ela diz, e é então cortada por um homem mais velho, muito bem-vestido que vem de trás.

“Thalia, esse é o homem sobre quem eu te falei essa manhã,” ele diz, atirando um olhar breve e embaraçado para o Jackson. “Lembra?”

“Oh. Certo. Desculpe. Eu não tinha percebido que você era tão ve... quero dizer, deixe eu levá-los a sua mesa, Sr. Jackson.”

“Velho,” ela ia dizer. Velho. Eu posso dizer, e Jackson também, porque quando estamos sendo levados para nossa mesa, que é no meio do restaurante e poderiam sentar umas doze pessoas, o homem, que deve ser o gerente, está se desculpando.

“É claro que eu entendo,” Jackson diz, o cortando. “Mas é de grande ajuda ter funcionários que podem se preparar para esses tipos de coisas, não é? Eu conheço várias pessoas que falaram com você...”

“Sim, e eu sinto muito por qualquer problema,” o gerente diz. “Eu me certificarei de trazer a sua comida eu mesmo.”

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“Excelente,” Jackson diz. “Eu quero alguma coisa especial para a Hannah. O melhor da casa.” Ele toca meu braço, e o gerente sorri para mim, um sorriso grande, brilhante que não atingia seus olhos.

“É claro.”

Ele desaparece, levando a recepcionista ofensora de reboque, eu vejo ela ser mandada para a parte de trás. Uma garota atrás do balcão longo e polido, que está amontoada de pessoas pedindo bebidas de café de chocolate é chamada, e ela se move suavemente para frente, se curvando para perto do gerente enquanto ele fala, e então assente.

Ela está na nossa mesa cerca de cinco segundos depois, sorrindo para o Jackson e dizendo a ele que ela é uma grande fã sua e do programa e está “Tão emocionada!” de conhecê-lo.

“Eu adoraria,” Jackson diz. “Qual é o seu nome, amada?”

“Megan.”

“Sabe, eu vou jantar às nove essa noite e eu adoraria se você pudesse se juntar a nós,” Jackson diz, tirando um cartão do bolso da sua camisa. “Só ligue para esse número e a Fran, minha assistente, vai te dar os detalhes.”

“Eu definitivamente vou tentar estar lá,” Megan diz. “Nesse meio tempo, se você precisar de alguma coisa, me avise.” Ela pisca para ele antes de ir embora.

“Adorável,” Jackson diz. “Me lembra de uma garota que eu conheci em 1985. Ela acabou tendo uma filha que posou para nós no ano passado. Você acha que aquele homem que acabou de acenar para mim gostaria de autógrafo?”

“Eu...” eu digo, e olho de relance para o homem, que não parece estar fazendo nada exceto destruir um sundae enorme e encarar o corpo da nova recepcionista enquanto ela conduz as pessoas aos seus lugares. Ele nem mesmo está olhando na nossa direção. “Eu acho que ele está provavelmente respeitando a sua privacidade.”

“Os nova-iorquinos são ótimos nisso,” ele diz. “Entretanto no passado, eu costumava ser cercado por uma multidão em todo lugar.”

Ele soou triste – não muito, mas eu ouvi isso – e eu percebo que ele sabe que não é a estrela que foi um dia. Eu achava que o Jackson nunca via as coisas que ele não queria ver. Mas ele vê isso, e ele viu que a mamãe precisava de mim todos aqueles anos atrás. Ainda precisa de mim.

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Talvez eu tenha sido um pouco dura demais com ele. Eu me inclino para ele então, meio que num abraço. Isso parece estranho, mas familiar também, e ele coloca um braço ao me redor e sussurra, “Obrigado, Princesa.”

Eu estou feliz de ter vindo. Estou feliz de ter pegado a chance com o Jackson. Com meu pai.

Eu sorrio para ele, e ele sorri de volta.

Eu acho que alguém – provavelmente a nova recepcionista – virá e nos dará os cardápios, mas ao invés disso a comida simplesmente aparece. É entregada pelo chef que é dono e comanda o restaurante, um homem pequeno, ruivo que sacode a mão do Jackson entusiasticamente, delira sobre alguma garota de quem ele viu uma foto no site cerca de uma década atrás, e então diz, “Eu devo repetir isso quando as câmeras chegarem?”

“Receio que não tenham câmeras hoje,” Jackson diz, e o chef endurece e dá uma olhada para o gerente, que fica pálido quando o chef abruptamente volta para a cozinha.

“Sr. James, me disseram que...” o gerente fala, e Jackson diz, “É esse negócio todo de leite que vocês me deram? Porque não tem gosto disso.”

“É sim,” o gerente diz rigidamente.

“Você tem certeza?”

“Sim, senhor, eu tenho.”

“Jackson balança a cabeça e abaixa a taça, então se vira para mim, dispensando o gerente, que não sai até que Darryl se incline e sussurre alguma coisa para ele que faz o gerente ir embora até mais pálido, antes que ele se lance na cozinha.

“E o que você ganhou?” Jackson diz.

“Eu não sei.” Eu na verdade queria o bolo de chocolate que eu vi quando entramos, mas o que eu ganhei é algum tipo de torre de pedaços de chocolates quebrados que eu não conseguia descobrir como comer. Um garfo os despedaçaria, e eu não vejo ninguém mais comendo com as mãos.

“Bem, parece maravilhoso,” Jackson diz. “E vendo você sentada aqui, sabendo que você está... é mágico, realmente é.” Ele sorri para mim. “Sabe o que? Você devia passar a noite. Eu vou pegar um quarto no hotel para você e a Fran pode arranjar para você voltar de manhã em vez de hoje à noite. O que você diz?”

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“Eu achei que você fosse sair hoje à noite.”

“Eu mando as garotas saírem e fico com você,” ele diz. “Vamos mandar alguém pegar meus filmes favoritos e então nós vamos relaxar, comer uma pipoca, e continuar nos atualizando. Eu vou ligar para a Fran e mandar ela tomar conta de tudo, certo, Princesa?”

“Bem...”

“Jackson!” uma voz guincha, e eu viro e vejo uma garota de cabelos escuros entrando pela porta, a saia subiu bem alto pelas suas coxas bronzeadas, blusa cortada baixo nos seus peitos generosos. Tinham mais quatro garotas quase idênticas atrás dela. Tinha também uma equipe de filmagem, que está dando zoom no Jackson.

E então em mim.

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Capítulo 23

“Brandi, querida, o que você está fazendo aqui?” Jackson diz, soando

surpreso, e Brandi parece confusa e diz, “Você disse que deveríamos estar aqui às...”

“Brandi, o que você vai pedir?” Sandi – outra ‘garota especial’ – diz, sentando do outro lado do Jackson e atirando nela um olhar rápido e duro.

“Eu vou pedir TUDO,” Brandi diz, e sorri para a câmera.

Sandi é a única das garotas do Jackson que eu reconheço de antes, e ela está exatamente igual e de alguma forma mais dura, como se ela estivesse congelado no seu ‘look’.

“É uma surpresa maravilhosa te ver,” ela diz. “E você está fantástica.”

Eu posso quase sentir a câmera fazer um zoom em mim, e eu olho para o Jackson. “Posso falar com você?”

“Eu pensei que era isso que estávamos fazendo,” ele diz, e sorri para as garotas e a câmera. Eu não conheço nenhuma delas fora a Sandi, mas todas elas têm a aparência de ‘garota especial’ do Jackson: longos cabelos escuros, corpo miúdo, e grandes seios. Uma delas não pode ser mais do que um ano mais velha que eu, apesar de ser difícil de dizer com toda a maquiagem que ela está usando. Sandi, que deve ter cerca de vinte e três agora, tem tanta maquiagem que parece que ela está usando uma máscara.

“Terri, Alli e Mindi,” Jackson diz, olhando para as três garotas que eu nunca vi antes, “esta é minha filha, Hannah. Brandi e Sandi, eu acho que vocês já a conheceram antes.”

“Não, eu estou aqui há apenas um ano, lembra, querido?” Brandi diz com o que parece uma revirada de olhos para as câmeras, e então olha para mim. “Você totalmente deveria usar seu cabelo solto. Você seria gostosa se usasse. Você quer que eu te ajude com isso antes de nós sairmos?”

Ele mentiu para mim. Ele mentiu para mim e eu realmente caí na dele. Eu me convenci que eu não seria arrastada nisso, mas eu fui.

Eu sou tão burra.

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Eu coloco o meu garfo na mesa. Eu me levanto. Eu assinto quando a Sandi diz, “Você está bem?” e a câmera dá um zoom nela e então em mim.

“Só preciso usar o banheiro,” eu digo, e Brandi e uma das outras garotas diz, “Ah, eu também!” e antes de eu perceber, eu sou levada para o banheiro em uma nuvem de perfume e conversação.

“Ah meu Deus, meus peitos doem que vocês não fazem idéia,” a garota que não parece muito mais velha que eu, diz, logo que entramos. Ela levanta a camiseta e começa a esfregar os lados dos seus peitos.

Ela vira para mim. “Desculpa, mas eu estou, tipo, morrendo. Eu pus implantes enormes, e eu não sei se tenho pele suficiente para cobri-los. Mas eu penso, quando eu vou ter dezenove outra vez? E quem mais me daria um presente desse? Seu pai é tão maravilhoso, por falar nisso. Viver com ele é um sonho que virou realidade.”

“As câmeras não estão aqui, idiota,” Brandi diz, e olha para mim. “Você não sabia que estávamos vindo, certo? Eu tentei te avisar quando eu entrei porque eu vi o que aconteceu da última vez que você esteve no programa. Eu tinha, tipo, quinze, e foi tudo sobre o que eu e minhas amigas falamos por uma semana.”

“Ele planejou isso,” eu digo, e minha voz saiu embargada e sufocada.

“Bem, mais ou menos. O pessoal da TV queria que acontecesse, então...” Brandi para de falar. “Mas ele fala sobre você. E será divertido sair juntas e eu realmente arrumarei seu cabelo e tudo isso, porque você pode ser gostosa se quiser. Só não conte a Sandi que eu contei qualquer coisa a você sobre as câmeras serem planejadas, ok? Ela fofoca tudo para o Jackson e ele já está bravo comigo por dizer ao Darryl que ele estava gostoso no outro dia.”

“Eu não vou contar,” eu digo, e saio do banheiro.

Eu não volto para o restaurante. Eu vou para a cozinha, que é barulhenta e tumultuada. Pelo menos três pessoas me mandam sair – gritam, na verdade – mas eu as ignoro. Tem que haver um jeito de sair daqui.

Alguém agarra o meu braço.

É o chef, o cara ruivo que veio nos ver antes. “Me fale que a porra das câmeras apareceram,” ele diz. “Me prometeram publicidade no ar por fornecer essa mesa por duas horas.”

“As câmeras apareceram,” eu digo, e ele praticamente me derruba ao sair do restaurante.

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A recepcionista que o Jackson havia mandado embora antes está de pé em um lado da cozinha, parecendo chateada, e quando ela me vê, ela me dá um aceno.

“Oi, aquele cara é o seu pai?” ela diz.

“Sim.” Eu estou muito chateada para mentir.

“Ele é tão velho. Quero dizer, ele parece legal, mas ele é tão...”

“Ele é velho,” eu digo. “Ele é ancião. E sinto muito por antes. Ele não pensa nas coisas que ele faz, ou em como isso afeta outras pessoas. Você não foi demitida, foi?”

Ela nega com a cabeça. “Nós recebemos pessoas como ele o tempo todo aqui e é tipo, alô, isso é Nova York, têm pessoas tão mais famosas que você por perto.”

Eu assinto. “Tem alguma porta dos fundos por aqui?”

“Procurando um jeito de fugir?”

“Sim.”

Ela sorri. “Venha comigo.”

Ela me leva para uma porta que dá para um corredor estreito.

“Vai levar você para a rua,” ela diz. “Você sairá mais para baixo, longe do restaurante.”

“Obrigada,” eu digo para ela, e então sigo pelo corredor. Eu não estou muito certa de onde eu estou, mas eu sei que a Estação Penn é perto da Rua 34 e eu tenho certeza que eu posso ir caminhando até lá daqui. Manhattan não é tão grande, afinal de contas, e eu vi o mapa do metrô que a Teagan tem na parede de seu quarto.

Não que eu me lembre de algo sobre o metrô. Ou tenha dinheiro para pagá-lo. Mas, pelo menos eu sei para onde eu estou indo.

O corredor é bem comprido, e eu imagino que terminarei bem longe do restaurante. Talvez eu nem tenha que andar muito até a Estação Penn.

Eu alcanço o final, abro a porta, e saio.

“Aí está você,” Jackson diz, e eu o encaro, chocada. “Eu estava tão preocupado quando você não voltou.” Ele vira para alguém perto dele – a garota que eu havia acabado de falar, a recepcionista que ele tinha maltratado antes. “Obrigado por me avisar que ela havia dado a volta.”

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“Claro,” ela diz. “Eu sabia que você ia querer saber. E bem, eu sei que isso é meio ousado mais eu adoraria te mandar uma foto minha. Eu acho que seria perfeita para o seu site. Na verdade, se você quiser, você pode ver o meu book de modelo no thaliaatart.com.”

E a câmera, a câmera estúpida e sempre presente, dá um zoom nela enquanto ela sorri. Ganhando os seus três segundos de fama.

Eu nem sei por que eu ainda escuto alguém.

A câmera volta para mim, e eu fico parada lá, olhando para ela, quando o Jackson diz, “Hannah, você está bem? Eu sei que você não vem para a Cidade desde que o seu padrasto morreu, mas não se preocupe, eu estou cuidando de você.”

Aquele bastardo. Ainda fingindo se importar.

Sempre fingindo.

Eu tomo uma respiração profunda, e ouço a câmera zunir quando ela dá um zoom em mim, esperando.

Eles podem esperar o mundo acabar porque eu não darei a eles ou ao Jackson a satisfação do que todos eles querem. Eu não darei a eles nada que eles possam usar nesse programa idiota.

Eu passo pelo Jackson como se ele não fosse nada – e ele não é, não é nada – e saio para a rua. É mais tarde do que eu pensei, o sol está começando a se pôr, e mesmo assim está lotada, a calçada cheia de pessoas com passos rápidos.

Eu me sinto lenta, estúpida, e me forço a caminhar, fingir que eu não noto as pessoas olhando incomodadas enquanto elas passam por mim.

“Hannah?” É o Jackson. Ele está me chamando, mas eu sei que isso é tudo que ele vai fazer. Ele não vai vir atrás de mim. Ele é muito velho para correr.

E eu não valho a pena. Não para ele.

“Hannah,” outra pessoa diz, agarrando o meu braço, e eu viro para ver o Darryl, com a Sandi do seu lado. Ela parece um pouco sem fôlego e vacilante.

“Muita bebida no almoço,” ela diz, e pisca para a câmera que está seguindo ela. “Hannah, querida, seu pai quer saber o que está acontecendo. Você está brava com ele ou algo assim?”

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“Eu tenho que ir,” eu digo. “Ele sabe disso. Ele só me trouxe aqui por um dia.” Eu não vou dizer nada mais. “Talvez você devesse consultar o médico dele para ter certeza que ele não está ficando senil ou alguma coisa assim.”

Bem, eu imagino que dizer uma coisa está tudo bem.

“Você está brava com ele. Mas por quê?” Sandi diz, de olhos bem abertos, e eu me obrigo a sorrir para ela enquanto eu me afasto do Darryl.

“Eu não estou brava. Eu só preciso chegar à estação de trem.”

“Mas nós tínhamos planos de sair e...”

“Sério? Jackson não disse nada sobre sair para mim. Você pode até perguntar para o Darryl... quer dizer, ele estava conosco o tempo todo.”

O sorriso de Sandi permanece, mas seus olhos gritam para-de-ser-tão-chata para mim. “Isso é tão estranho, porque ele comprou um vestido para você e tudo. E... bem, prometa que você não contará para o Jackson que eu te contei, mas ele planejou um jantar especial para você também. Você quer... você quer estar aqui, certo? Você quer ver o seu pai?”

Ah, agora eu posso ver porque ela durou tanto com o Jackson. Ela é tão boa atriz quanto ele.

“Bem, olha, minha passagem de trem diz claramente que eu estou indo embora hoje,” eu digo, e tiro a passagem para fora, apertando-a contra a câmera quando ela não se aproxima. “Daqui a pouco, aliás. Estranho como essa festa parece ser de última hora, né? Quase como se... não sei. Uma manobra para ganhar audiência, ou algo do tipo. De qualquer forma, eu devia ir.”

E então eu me viro e saio andando. Eu ando o mais rápido possível, e logo a Sandi se foi, porque ficou sem fôlego ou tropeçou ou saiu correndo para contar ao Jackson. Não sei. Não me importa. A câmera ainda está lá, apesar disso, e a mulher segurando-a diz, em uma voz simpática, “Ele não te contou que estávamos vindo te encontrar, contou?”

Eu finjo não escutá-la e continuo andando. A placa diz que eu estou nas ruas 20, e eu não sei que caminho tomar quando chegar à Rua 34. Mas, não importa. Eu não vou voltar.

“Espera, aguenta aí,” outra voz feminina grita, e Brandi me alcança, respirando forte e segurando a cintura. “Eu odeio andar nestas merdas de saltos. Deveria ser um esporte profissional,” ela ri, virando para a câmera.

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E então, ainda rindo, ela diz, “Desliga essa droga ou eu vou contar ao Jackson sobre a noite que você deu em cima de mim.”

A mulher da câmera endurece, parece irritada, e então se afasta.

“Câmera abaixada e desligada de verdade,” Brandi diz, e me segura, segurando o meu braço enquanto ela vê a câmera e a mulher que a segurava.

“Todo mundo acha que eu sou burra,” Brandi diz uma vez que a câmera está desligada e nós andamos por alguns metros. “É tão irritante. Eu juro, quando o meu contrato de dois anos com o programa terminar, estou fora daqui. Fingir que o Jackson é gostoso e que as histórias dele não são uma droga – eu não sou tão boa atriz. Não ainda, pelo menos.”

Ela se vira para mim. “E você sabe, ele nunca pergunta como eu estou, ou algo assim, e eu vivo com ele. É como se ele realmente acreditasse que está tudo bem para ele nem fingir que ele liga para alguma merda. Tanto faz, bem você faz em ir embora.”

“Eu...”

“Sem tempo,” ela diz, balançando a cabeça, e aperta algo em minha mão. “Eu tenho que voltar, mas se você andar duas ruas para a esquerda, erga seu braço, e – espere...” Ela alcança o elástico que está prendendo o meu rabo de cavalo, para que o meu cabelo caia em volta de mim. “Pronto. Agora você conseguirá pegar um táxi.”

E então ela se vira novamente e corre de volta para a câmera, sorrindo aos pedestres enquanto a mulher pega a câmera de volta e a liga novamente.

Eu ando, acompanhando os passos das pessoas a minha volta, e a Brandi estava certa. Duas quadras depois, e com o meu cabelo solto, eu consigo pegar um táxi. E com os vinte dólares que ela me passou, eu consigo pagar uma corrida para a Estação Penn.

Eu espero pelo meu trem em um silêncio miserável, sozinha numa multidão que muda constantemente. Jackson não vem me procurar.

Eu não me deixo chorar até que eu entro no trem, e mesmo lá eu o faço no banheiro, onde eu tenho certeza de que ninguém vai me ver. Eu choro e olho para mim mesma no espelho pequeno e quebrado, e eu me odeio por ser tão estúpida. Por pensar que o Jackson podia ser alguma vez sincero.

Por pensar, mesmo que fosse por pouco tempo, que ele realmente queria me ver, e o quanto dói que ele não queria.

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Capítulo 24

Mamãe está esperando por mim quando eu saio do trem, e apesar de eu ter

jogado aquela água tépida, com cheiro de metal no meu rosto no banheiro – imediatamente me arrependendo porque tudo que eu conseguia cheirar era aquela água pelo restante do caminho para casa – ela pode notar que eu estive chorando.

“O que aconteceu?” é a primeira coisa que ela diz, e quando eu não respondo, ela diz, “Ah, Hannah,” e coloca o braço em volta de mim.

Eu abraço ela, pela primeira vez não ligando que ela esteja usando uma saia do tamanho de um lenço e uma blusa que só é um pouquinho maior. Eu só estou feliz em saber que eu estou com alguém que se preocupa comigo de verdade.

“Mãe, sobre esta manhã...”

“Shhh,” ela diz. “Nós não temos que falar sobre isso agora. Fran me ligou há um tempinho atrás, provavelmente um pouco antes de você ter ido embora. Ela me contou que você havia ficado chateada sobre as câmeras, e que o Jackson sentia muito que você não podia ficar mais. Eu podia notar que ela estava sendo filmada. Eu acho que ele...”

“Sim,” eu digo. “Mentiu.”

“Sinto muito,” mamãe diz, e no caminho para casa, ela pára no Taco Town e compra um grande pacote de nachos, o tipo que vem com queijo e creme azedo e carne e toneladas de outras coisas, tudo parecia ter saído de uma espécie de grande arma industrial de comida.

“Você deve estar faminta,” ela diz, e me entrega o pacote. Eu o abro e arrumo tudo no assento entre nós. Eu gosto de nachos, mas a mamãe gosta mais. Depois que o José morreu, ela os comia todos os dias, duas vezes por dia, por duas semanas, até que ela não conseguia caber mais nas calças de moletom que ela estava usando.

“Eu sinto muito que o Jackson tenha mentido para você como ele fez,” ela diz enquanto voltamos para a estrada. “Eu pensei...fazia tanto tempo que ele não te via que eu esperava...”

“Mas você achou que ele poderia fazer o que ele fez.”

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Ela comeu uma batata, daí duas, e então uma mão cheia, demais para caber na boca dela e havia algo quase maníaco na maneira que ela mastigava tão rapidamente, como se ela estivesse tentando preencher algo dentro dela.

Ou não falar.

“Mãe?” eu digo, enquanto ela suspira, derrubando as batatas que ela havia pegado de volta no pacote.

“Eu acho que ele acredita no que ele diz no momento que ele diz,” ela fala. “Esta é uma das coisas que faz ser tão difícil conhecer o Jackson. Ele só... o mundo dele é tão diferente do resto de nós. É...”

“É tudo sobre ele,” eu digo, as palavras amargas em minha boca. “Ele apenas presumiu que eu ficaria tão feliz de estar com ele que eu veria as câmeras e todo o resto que ele fez como – sei lá.”

“Ele acha isso porque ele quer algo, você vai querer isso também,” mamãe diz. “Mas, Hannah, ele não é...”

“Não,” eu digo, pegando as batatas, muito brava para comer – o que não é algo que acontece normalmente comigo. “Por favor, não diga que ele não é um cara ruim.”

“Não era isso que eu ia dizer.”

“Oh.”

“Ele é charmoso, e quando você está com ele, você se sente... eu sempre senti como se o Jackson precisasse de mim. Como se eu fosse importante para ele, e não somente por causa do sexo.”

Eca. “Mãe.”

“Eu realmente pensei que ele gostava de estar comigo,” ela diz. “E você não estaria aqui se eu e ele não tivéssemos...”

“Eu sei. Mas eu ainda não quero ouvir sobre isso.”

Ela suspira. “De qualquer forma, o problema é que enquanto o Jackson liga, ele não é capaz de...”

“Dizer a verdade?”

“É mais como se ele não suportasse ficar perto de pessoas que estão chateadas. Ele só... isso incomoda ele, e então ele acha que se ele for em frente com

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o que ele quer, tudo vai dar certo. E normalmente dá, porque ele é um homem generoso e doce...”

Eu bufo, mas sai mais como um soluço, e eu penso no Jackson, sorrindo para mim e me dizendo que hoje tudo era sobre mim. Como parecia que ele realmente estava falando sério.

“Por que você me deixou ir ver ele? Você deveria saber o que aconteceria.”

“Eu esperava que não acontecesse. Eu só... eu pensei que poderia dar certo. Quer dizer, ele ligou para você. Isso é uma grande coisa.”

Eu amassei algumas batatas nos meus dedos, não olhando para ela, mas ela devia saber o que eu estava pensando porque ela diz, “Eu acho que você pensou isso também,” sua voz estava triste.

“Sim. Quer dizer, ele ligou, e ele... ele foi tão legal comigo quando eu cheguei lá. Ele disse que queria passar o dia comigo. Disse que seria somente eu e ele. Ele até me perguntou se eu poderia passar a noite lá. Claro, daí as câmeras apareceram.”

“Ele pediu para você ficar? Para não vir para casa? Você... você queria fazer isso?” Sua voz subiu um pouco nas últimas palavras, e eu olhei para ela. Havia um pouco de queijo no queixo dela, e o Jackson estava certo sobre uma coisa.

Não que a mamãe não pudesse viver sem mim, mas que ela me amava. Me amava o suficiente que se o Jackson tivesse dito sim todos aqueles anos atrás, ela teria me deixado ir morar com ele. Teria machucado ela, mas ela me ama o bastante para pensar em mim antes de pensar nela.

Ela me ama de verdade, e não para as câmeras e pela audiência.

Ela me ama o bastante para ser a minha mãe.

“Eu não queria ficar,” eu digo. “E agora eu só quero ir para casa e esquecer que o Jackson existe.”

“Ele pode ligar e dizer que ele...” mamãe pára de falar.

“Sim, nós duas sabemos que ele não vai pedir desculpa,” eu digo. “Eu tenho certeza que ele ligará novamente, mas não até a próxima vez que ele quiser alguma coisa.”

“Ele se importa com você sim, Hannah,” mamãe diz. “Eu realmente acredito nisso. Ele só...”

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“Se importa mais com ele mesmo,” eu digo, e ela alcança a minha mão e a aperta.

“Você está brava comigo?”

“Não,” eu digo, porque eu não estou. Eu nem estou brava com o Jackson agora. (Tudo bem, eu estou, mas é mais como uma raiva exaurida, o tipo de raiva que faz você ficar cansada e triste, e eu sei, de experiências passadas, que pensar sobre isso não leva a lugar nenhum.)

Uma vez que estamos em casa, eu passo o final de semana na cama. Eu não posso encarar nada ou ninguém agora, então eu ligo para o trabalho e digo que estou doente e não vou ao meu turno de sábado para imaginar cenários elaborados nos quais a viagem para Nova York acontecia de uma maneira bem diferente, a maior parte terminando comigo dizendo ao Jackson...

Nada. Eu não tenho nada. Como você pode magoar alguém que não se importa o bastante com ninguém – com você – para serem magoadas?

Teagan me liga uma vez, na noite de sábado, mas eu digo para mamãe falar para ela que eu estou doente, e ela me traz macarrão com queijo depois disso. “Por quanto tempo você está planejando ficar aqui?”

“Um tempo.”

Ela senta perto de mim na cama e espeta um pouco de macarrão e queijo do pote. “Eu queria ter algo inteligente para dizer.”

“Você está aqui, e você fez algo para eu comer.” Mas eu secretamente desejava que ela tivesse algo inteligente para dizer também. Algo que me fizesse parar de repassar todos aqueles momentos em Nova York quando eu era feliz, quando eu acreditava que o Jackson queria me ver.

Quando eu era tão estúpida.

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Capítulo 25

No domingo à tarde, eu não estou pronta para sair de casa, mas eu estou

mais do que pronta para um banho. Depois, eu pego os vinte dólares que eu guardo para emergências na gaveta de cima da minha cômoda e peço uma pizza.

Mamãe sai de dentro da toca quando a pizza chega, vestida em uma roupa de enfermeira extremamente abreviada, que tinha sido desabotoada o bastante para mostrar um sutiã vermelho brilhante.

“Não me conta,” eu digo quando ela me vê olhando, e abro a caixa da pizza.

“Posso pegar metade de uma fatia?” ela diz.

“Claro,” eu digo, e vou pegar uma faca para que ela possa cortar um pedaço no meio. Eu pego o queijo que ela tira da pizza e coloco no meu pedaço.

“Eu queria ainda poder comer desse jeito,” ela diz.

“Você poderia.”

“Não se eu quisesse que as pessoas pagassem para...” Ela gesticula para si mesma. “Ei, isso significa que você está de pé de verdade agora?”

“Eu acho.”

“Que bom,” ela diz, e se inclina e beija minha bochecha. “Você vai me deixar te pagar por isso?”

Eu balanço a cabeça. “É só uma pizza. Guarde seu dinheiro, e vamos ter luz por mais um mês.”

Ela ri. “Não está tão ruim assim. Não esse mês, de qualquer forma. Certo, de volta ao trabalho.”

“Obrigada por fazer um intervalo e comer... bem, parte de um pedaço de pizza.”

Ela sorri para mim, então volta, se curva, e beija o topo da minha cabeça. É legal, mas isso me lembra do Jackson, o estúpido mentiroso do Jackson.

Isso também me lembra que eu não preciso ver tanto do decote da minha mãe.

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“Mãããããããe,” eu digo, e ela recua e ri.

Eu faço uma cara para ela, mas não é sério, e ela sabe, porque ela está cantarolando quando ela volta ao trabalho. Eu como outra fatia de pizza, então coloco o resto na geladeira e vou fazer algum dever de casa. Eu calculo que vou trabalhar nele até por volta das dez, e então ligar para a Teagan e contar a ela sobre o desastre que foi a sexta-feira.

Então eu tenho a minha tarde toda planejada, e eu faço meu dever de casa e como outra fatia de pizza. Ninguém me liga, mas está tudo bem. Não é como se eu esperasse que o Jackson ligasse. Eu sei que ele não vai se desculpar ou nada disso, e eu realmente não achava que ele se importaria se eu cheguei bem em casa ou não.

Exceto que eu achava. Só um pouco, mas ainda assim, eu achava. Eu sou a filha dele, e ele não ligar me lembra que tem uma razão para eu chamá-lo de Jackson e não de pai. Que tem uma razão por eu não ter falado com ele por cinco anos.

Mas agora acabou. Esse capítulo da minha vida acabou.

Ou assim eu penso até 22:03, que é quando a mamãe aparece no meu quarto e diz, “Hannah, tem algo que é melhor você ver.”

“O quê?”

“Só vem comigo,” ela diz, soando muito infeliz, e eu a sigo para o andar de baixo e para dentro da toca.

Mamãe se senta no computador, e um momento depois uma promo do programa do Jackson aparece. A rede coloca um clipe novo toda semana, destacando o próximo episódio.

No minuto que eu vejo as palavras “Jackson James: família,” eu sei o que vou ver.

Eu sei e ainda assisto enquanto o Jackson “conversa” com as “garotas especiais” dele, que estão todas vestidas de lingerie ou cobertas de tarjas pretas colocadas pela rede, e fala sobre como ele sente saudade dos seus queridos pais falecidos. E como ele ama a sua doce, querida filha.

Corta para uma foto minha gritando com ele quando eu tinha doze anos.

“Faz muito tempo desde que eu a vi,” Jackson diz para a câmera, seus olhos cheios de lágrimas.

Corta para o áudio da sexta-feira em que eu estou dizendo que estou indo embora enquanto uma imagem do rosto magoado do Jackson está congelada na tela.

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Corta para o Jackson sorrindo para a Sandi enquanto ela finge brincar em roupas que são muito curtas e apertadas para permitir um movimento de verdade.

“Eu sinto com se tivesse isso tudo,” ele diz. “Mas às vezes eu queria...” Ele suspira.

Corta para o Jackson desligando o telefone e dizendo, “Ela está vindo me ver! Hannah está vindo. É um sonho que vira realidade.”

E então tem nós no restaurante. Tem uma foto do choque no meu rosto quando as garotas aparecem?

É claro que não. Só eu dizendo que estou indo ao banheiro, a câmera dando zoom na minha cara de chateada, e então aquela horrível, recepcionista mentindo dizendo, “Se Jackson James fosse meu pai, eu seria bem menos arrogante com ele. Quero dizer, ele é uma lenda, sabe?”

Corta para o Jackson parecendo preocupado, e Sandi dizendo, “Vai ficar tudo bem, nós vamos encontrá-la, querido,” enquanto uma das outras garotas diz, “Oh meu Deus, ela simplesmente saiu sem dizer nada?”

Eu noto que a Brandi não está em nenhuma das tomadas.

Então tem eu, saindo do restaurante na saída dos fundos e vendo o Jackson. Eu indo embora. Jackson parecendo surpreso e magoado.

A promo termina com a Sandi dizendo, “Ele a ama tanto. Eu não entendo como a Hannah pode ser tão cruel,” e uma última foto minha encarando, com puro ódio, a câmera. Como se eu estivesse olhando para o Jackson, só que eu não estava. Eu estava olhando para a terrível mulher da câmera que a Brandi tinha se livrado.

Mas isso não importa. Essa é a verdade do Jackson, e isso vai passar para um inferno de muito mais pessoas do que a minha verdade.

A promo desaparece, e a mamãe está segurando minha mão. “Hannah?”

“Eu estou bem,” eu digo, e me forço a sorrir para ela. “Eu sabia assim que vi as câmeras que tudo iria acabar... bem, desse jeito.”

“Tem mais.”

“Mais?”

Mamãe perde tempo com o colar da roupa de enfermeira dela. “Eu... Teagan está aqui, na cozinha. Ela acabou de sair do trabalho. Aparentemente ela estava trabalhando até tarde hoje porque a loja dela estava tendo uma noite de domingo

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especial de liquidação e um monte dos clientes dela estavam... eu acho que eles estão na mesma escola que você. E eles tinham visto o que você acabou de ver.”

“Teagan está aqui?” Ela sabe como eu me sinto sobre as pessoas virem aqui, e as coisas devem ser muito, muito ruins se ela fez isso. E disse a mamãe o que estava acontecendo.

Mas como alguém saberia sobre a minha viagem? Eu não decidi ir até o último minuto. A única vez que falei disso em qualquer lugar foi no trabalho e...

Trabalho. Onde o Josh e o Finn me ouviram falando com o Jackson. E onde eu mencionei a viagem.

Finn. Ele sabia que eu ia para Nova York.

Não, Finn não faria esse tipo de coisa. Ele pode ser um saco às vezes, mas no geral ele é... bem, legal. Doce, até.

Mas se ele tiver mencionado a ligação que eu recebi no trabalho, mesmo que por um segundo, para o Brent, ou qualquer um dos amigos trogloditas do Brent...

É, isso teria causado isso.

Exceto que eu não posso sequer ver o Finn fazendo isso, só porque ele nunca disse a ninguém sobre a vez há dois meses atrás quando a mamãe apareceu no trabalho, frenética porque ela tinha esquecido de pagar nossa conta de luz e nós íamos ficar sem luz se ela não levasse para eles $290 dólares até as dezoito horas.

Finn nunca tinha mencionado a visita dela, ou como eu tive que sair com ela por um tempo para poder tirar o dinheiro da minha conta no caixa eletrônico mais perto. Na verdade, a única coisa que ele fez foi me dar sanduíches da loja que ficava descendo a rua toda noite aquela semana porque a garota que trabalhava atrás do balcão conheceu a irmã mais velha dele e continuava dando comida de graça para ele.

E o Josh nunca iria dizer nada. Ele só não é esse tipo de cara. Ele é melhor do que um cara normal. Ele foi além de legal quando a mamãe veio também, e até se ofereceu para levar ela ao carro dela quando nós voltamos do caixa eletrônico porque fica meio escuro no estacionamento. Mamãe recusou, mas o chamou de “doce” e soprou um beijo para ele antes de sair. Eu me desculpei depois, e Josh foi muito legal sobre isso. Ele até perguntou como a mamãe estava no outro dia.

“É melhor eu ir falar com a Teagan,” eu digo para a mamãe agora.

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Mamãe abre a boca, como se ela fosse dizer alguma outra coisa, mas então só aperta minha mão e diz, “Venha me chamar se você precisar de alguma coisa, está bem?”

O que só serve para mostrar o quão ruins as coisas estão. Mamãe nunca me disse para chamá-la se eu precisar de alguma coisa enquanto ela está trabalhando. Nunca.

Eu definitivamente tenho te falar com a Teagan, e me encaminho para a cozinha.

“Você viu?” ela diz quando eu entro. Ela está sentada na mesa da cozinha, parecendo chateada.

“Acabei de ver. Eu acho que você viu também?”

“É,” ela diz. “Bem, um pedaço. Eu ouvi tudo, entretanto. Tinha um monte de pessoas do colégio Slaterville às oito, sem se importar que nós fossemos fechar às oito e meia, e eles ficavam desdobrando jeans e não os experimentando até que eu quis estrangular eles, ou, melhor ainda, fazê-los dobrar todos os jeans e...”

“Teagan.”

“Desculpe. Eles estavam falando da promo, e a assistindo no celular. Eu acho que alguém viu quando foi postado e contou para alguém, e eles disseram para mais alguém, e... bem, você sabe.”

“Quem estava lá?”

“Um bando de garotas e uns dois caras, incluindo um idiota que me chamou de lésbica quando eu disse que não queria o número do telefone dele.”

“Deixa eu adivinhar,” eu disse, medo borbulhando no meu estômago. “O nome dele era Brent.”

Ela assente. “Esse é o Brent de quem você me falou? Ele realmente é um imbecil.”

“É,” eu digo, sentando perto da Teagan. “Eu mal posso esperar pela escola amanhã.”

“Sinto muito. E me desculpa ter vindo desse jeito, mas eu sabia que você ia gostar de saber. Isso é...”

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“É. É uma droga,” eu digo, descansando minha cabeça na mesa. “Eu perguntaria como as pessoas descobriram, mas eu já sei. O que eu tenho que descobrir é, quem contou ao Brent?”

“Talvez ninguém tenha contado,” Teagan diz, e eu olho para ela. “Quero dizer, é óbvio, que alguém contou, mas eu não acho que ele soube primeiro. Uma das garotas lá... bem, ela parecia realmente não gostar de você. Ou da sua mãe. Ela fez a maioria dos comentários sobre você, na verdade.”

“Uma garota? Como ela era?”

“Bonita. Cabelos escuros. O que eu sei que não ajuda muito, mas ela não comprou nada então eu não tenho um nome ou nada disso.”

“E você acha que foi ela que descobriu o clipe?”

Teagan encolhe os ombros. “Eu não sei. Eu só sei que ela não é sua fã. E que ela realmente não gosta da sua mãe.”

“Mas como ela saberia que eu fui para Nova York?”

“Eu não sei,” Teagan diz de novo. “Eu sinto muito.”

Eu me levanto e apanho a pizza da geladeira. “Você quer algo para comer?”

“Diabos, sim. Quero dizer, sim, por favor.”

Eu sorrio para ela e passo a caixa. “Me desculpe por não falar com você no sábado, mas eu só...”

“Precisava se esconder?”

“Exatamente.”

“Logo, logo você vai poder fazer isso no meu lugar, se você quiser.”

“Seu lugar?”

“Eu consegui um apartamento. Um quarto, uma cozinha, e uma sala. Tudo por cerca de um quarto do que eu pagava pelo meu armário apertado em Nova York. Vou me mudar na próxima semana.”

“E a faculdade?”

“Eu não vou voltar,” ela diz. “Eu disse aos meus pais que não estou pronta. Eu espero contar a eles sobre a parte da expulsão mais tarde. Bem mais tarde.”

“Mas você podia ir para outra faculdade e...”

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“Eu não vou voltar,” ela diz de novo.

“E se eu for amanhã e te ajudar a preencher requerimentos?”

“Você não vai para a escola?”

“Você iria?”

“Bem, não, mas desde quando você se importa como o que qualquer um em Slaterville pensa de você?”

“Eu não me importo, mas eu só não estou afim de lidar com nenhuma merda,” eu digo, mas o negócio é, eu me importo. E eu sei o que as pessoas dizem sobre não escutar insultos ou como você deve deixar as coisas passarem por você, mas não é tão fácil.

Eu não estou dizendo que as palavras são grandes pedras irregulares ou nada disso, mas eu já estou em carne viva pelo Jackson. Gozação por ser transformada em um monstro por meu chamado pai não vai ajudar.

“Você devia ir,” ela diz. “Vai e quando eles disserem merda, imagine eles onde eu estou. Você acha que o Brent vai se tornar uma estrela do futebol americano? Ele vai para uma faculdade de quarta categoria, nunca vai jogar um jogo, e então ficar noivo de alguma garota das redondezas que lembra de quando ele era alguma coisa. Daqui a vinte anos, você vai voltar totalmente bem sucedida e...”

“Eu vou parecer perfeita e ele vai ter que colocar gasolina no meu carro e então ele vai confessar que sempre foi apaixonado por mim... fala sério, Teagan. Ele vai para a faculdade e se formar e arranjar um emprego e se tornar o tipo de cara que é promovido porque ele puxa o saco do chefe e passando a perna em todo mundo. Mas obrigado por tentar.”

“Tudo bem então, aqui está porque você tem que ir,” ela diz. “Você não aparece, e eles saberão por que. Tubarões sentem o cheiro de sangue, e eu passei todo o ensino médio sangrando na água por fazer minhas próprias roupas e por...”

“Ser você mesma.”

“Esse é um jeito muito legal de dizer ‘estranha’,” ela diz. “Mas eu era estranha, Hannah, e você...”

“Eu sei. Com minha mãe e o Jackson, eu sou estranha também.”

“É,” ela diz. “Mas o fato de que você tenta tanto ser imperceptível faz você se destacar ainda mais.”

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“Eu não tento ser imperceptível. Eu só...”

“Por favor, sou eu,” Teagan diz. “Além disso, quantas garotas usam o cabelo longe do rosto sem maquiagem e roupas que parecem pertencer a um gigante perdido?”

“É um rabo de cavalo, e eu gosto de roupas confortáveis.”

Ela ri. “Certo, tudo bem, eu retiro o que disse. Suas roupas parecem com se pertencessem a um quase gigante. Melhorou?”

Eu mostro a língua para ela.

“Não vai ser tão ruim se você for,” ela diz.

“Mentirosa.”

“Bem, está certo, vai ser uma droga. Mas você pode conversar com o Josh sobre isso. Ele foi legal com você no outro dia, certo?”

“Então amanhã eu devo ver se ele vai falar comigo por pena, e esperar que pena se traduza nele me convidando para sair?”

“O quê, você não pode fazer isso?”

“Não, infelizmente, eu posso,” eu digo. “Pena é tudo que eu tenho a meu favor. Eu acho que poderia muito bem usá-la.”

“Você tem muito mais do que pena a seu favor... oh, esquece isso,” Teagan diz. “Você é tão terrível em receber elogios que eu nem vou tentar.”

“Obrigada,” eu digo. “E ei, isso não prova que eu posso receber um elogio?”

“Não, sua aberração,” ela diz, se levantando. “Vejo você amanhã depois do trabalho?”

“Sim,” eu digo, e decido que vou superar a mim e as minhas preocupações e vou finalmente realmente e verdadeiramente falar com o Josh. Eu não tenho nada mais a perder, depois de tudo, e talvez, no fim, amanhã não será tão ruim.

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Capítulo 26

Mas, é claro, é sim bem ruim.

Assim que eu chego na escola eu recebo o olhar do que parece ser todo mundo. Eu não via o olhar desde que eu me mudei para cá, mas ainda é o mesmo, um sorriso que é todo forçado seguido de riso ou de alguém me encarando. Ou ambos. Eu estou acostumada a me misturar – e eu gosto disso – então o olhar é um visitante muito, muito indesejável. Mas não uma surpresa.

Obrigada, Jackson.

“Hey,” Nikki White diz, e eu congelo. Nikki é uma daquelas meninas delicadas, bonitas que são como flores atravessadas por alguma coisa espinhosa e venenosa, aquelas que todo mundo diz que gosta, mas estão na maioria apavorados. Ela definitivamente tem o olhar, e normalmente eu evito esse tipo de coisa fingindo que eu não escuto ou vejo nada. Eu não posso fazer isso hoje, entretanto, então eu paro e a enfrento porque se eu não fizer isso as coisas vão ficar piores. Eu aprendi isso no ensino fundamental, ainda uma outra lição que provou que as pessoas estão erradas sobre tantas coisas. Ignorar alguma coisa não faz isso ir embora quando acontecem coisas assim – isso só faz as pessoas gritarem mais alto ou serem mais maldosas até que você escute e pegue sua humilhação.

“Me enviaram esse vídeo essa manhã,” Nikki diz, segurando o telefone dela para que eu possa ver uma foto da minha cara com raiva. “É você, certo? Eu me mataria se esse velho assustador fosse meu pai. E você foi vê-lo? Eca. Você quer ser uma daquelas garotas no site patético dele ou algo do tipo?”

Eu fico em silêncio – acredite em mim, falar não vai ajudar aqui – e ela finalmente se esgotou de repassar o que ela tinha acabado de dizer de jeitos diferentes e vai embora rebolando. Eu queria saber que era ela que a Teagan tinha visto noite passada, a que supostamente me odeia e realmente odeia a mamãe, mas eu sei que não é ela. Ela não tem idéia de quem eu sou, não de verdade. Ela é só alguém que me notou por causa do vídeo e ela vai esquecer o que ela disse antes que o dia tenha acabado.

Eu? Não tão cedo, mas eu vou em frente, minhas pernas balançando e um misto de raiva e desespero queimando dentro de mim.

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Eu passo pelo Brent no caminho para o meu armário, mas tudo que ele tem a dizer é que o Jackson é um “velho estranho” com “bebês sexys que claramente queriam que estivessem com um homem de verdade.” Isso não é nada depois do que eu tinha ouvido, e quando ele vai embora em uma tangente sobre o que ele gostaria de fazer com as “garotas especiais” do Jackson, eu dou uma escapulida.

Tudo isso, e ainda nem é o primeiro período.

Eu vou para as minhas aulas e também encaro a minha carteira ou o quadro o tempo inteiro. E quando eu vejo pessoas que eu conheço – o que significa Michelle – eu me certifico que ela não tenha que lidar comigo. Eu espero até depois do sinal ter tocado para a educação física antes de ir, e quando eu finalmente chego lá, o único lugar vago é bem na frente e bem longe dela. Eu acho que ela parece agradecida quando eu me sento, mas então ela vem falar comigo no corredor depois da aula.

“Eu vi o vídeo,” ela diz, e eu olho para ela, surpresa e meio... bem, meio magoada. Quero dizer, eu não acho que a Michelle vá falar nada tão ruim quantos todos os “vai se matar”, mas eu achei que ela gostasse de mim pelo menos um pouco.

“Seu... hum, pai parece... diferente,” ela diz. “Quero dizer, tudo que ele falou foi sobre como ele se sentia, e ele não parecia realmente... eu não sei. Pensar sobre as coisas. Eu na verdade achei que ele parecia um...” Ela pausa, e então sussurra, “Imbecil.”

Isso não é o que eu esperava ouvir. “Sério?”

“É, mas eu não conheço ele, então eu acho...”

“Não, você está certa,” eu digo. “Ele é um imbecil.”

“Sinto muito. Isso realmente é uma droga,” ela diz, e vai para a próxima aula dela.

Wow. Alguém disse alguma coisa legal para mim. Na escola. Hoje.

Eu sou capaz de passar pelo almoço por isso, embora comer um chamado hambúrguer enquanto eu sento perto dos calouros desamparados não seja muito divertido.

Eu ouço por acaso eles dizendo que alguém deu um soco no Brent, entretanto, e isso é divertido.

Na aula de Governo, o Finn me atira um olhar preocupado quando ele senta, e eu retorno com um olhar suave, fingindo que estou totalmente bem.

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O negócio é, até fingir é difícil agora, então eu rapidamente olho para longe.

Ele joga um bilhete para mim cerca de dez minutos depois que a aula começou.

“Você está bem?”

Eu olho para ele e não me importo de escrever de volta.

Outro bilhete aterrissa na minha carteira cerca de um minuto depois.

“Sinto muito sobre tudo. Eu ouvi o Brent dizer que alguma garota contou a ele sobre o negócio do Jackson ontem.”

Quem é essa menina? Eu escrevo de volta. “Você sabe quem é ela?”

“Não,” ele escreve de volta, e então levanta a mão e diz que tem que ir falar com o Sr. Landon, um dos técnicos de futebol.

“Está certo,” nossa professora diz, “Mas, por favor, lembre o Sr. Landon que ele deve falar comigo antecipadamente sobre esse tipo de coisa, especialmente já que a temporada de futebol acabou.” Ela está tentando soar dura, mas ela está corando porque – como todo mundo sabe – ela tem uma queda pelo Sr. Landon. (Eu acho que a fonte de namoro é realmente pequena quando você é um professor.)

“Obrigado,” Finn diz. “O negócio é, eu tenho esse...” Ele se inclina e pega uma bolsa obviamente pesada. “Eu tinha que levar isso para ele, e eu tenho outra no meu armário, então eu estava pensando que alguém devia vir comigo.”

“Bela tentativa, Finn,” nossa professora diz, suspirando. “No entanto, eu não vou deixar você e um dos seus amigos saírem juntos.”

“Certo, eu vou com... eu não sei,” Finn diz, e então aponta para mim. “Hannah, eu acho. Ela pode vir?”

A professora assente, e eu olho fixamente para ele, mas tenho que levantar agora porque todo mundo está olhando para nós. Para mim. Na nossa saída, um dos colegas de time dele diz, “Cara, pergunte a ela sobre aquele vídeo,” e Finn tropeça e derruba o livro dele contra o joelho do garoto.

“Merda, isso dói,” o cara diz, e a professora diz, “Olha a linguagem!” enquanto ela nos enxota para o corredor.

Quando nós chegamos lá, Finn joga a bolsa pesada para mim. Eu saio do caminho automaticamente, mas ela ainda aterrissa no meu pé.

“Ow,” eu digo, e então percebo que meu pé não doeu. Na verdade, a bolsa parece vazia.

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“O que tem aqui?” Eu pergunto a ele.

“Nada agora,” ele diz, agarrando-a e andando corredor abaixo. “Antes tinha um monte de folhetos para uma venda de comida que os pais do pessoal do time vão fazer no próximo fim de semana, mas eu prendi eles no meu armário assim eu não teria que arrastar eles por aí.”

“Então por que você fez tudo aquilo na sala agora a pouco?”

“Para sair, é óbvio.” Ele se vira e olha para mim. “Vamos.”

Eu sigo, um pouco cautelosa, mas alcanço rápido quando o Finn para em uma máquina de lanches. Ele compra dois sacos de batatas chips, uma barra de granola, um suco de laranja, e um saco de biscoitos animal.

“Aqui,” ele diz, e me estende um saco de batatas, a barra de granola, e o suco de laranja.

“Oh,” eu digo. “Obrigada, mas eu realmente não posso pegar...”

“Sim, você pode. Eu vi você na lanchonete com um daqueles chamados hambúrgueres. Você não vai agüentar nem uma hora de trabalho com aquilo. E eu não vou pegar todos os seus pedidos.”

“Você me viu no almoço?”

“Sim, nós compartilhamos outra coisas além de Governo,” ele diz. “Eu vou tirar aqueles folhetos do meu armário e colocar no meu carro assim o técnico Landon não vai explodir. Come, okay? Você não tem outra utilidade para mim senão para isso.”

Eu meio que quero abraçá-lo. Muito. Isso é estranho – mas legal – e eu sorrio para ele. “Como eu não ganho os biscoitos animal?”

“Gananciosa,” ele diz, sorrindo, e me entrega eles. “Você tem certeza que está bem?”

Eu assinto, e ele olha para a minha boca, então cora e diz, “Vejo você depois.”

Eu não consigo dizer nada porque estou muito ocupada estando abalada que o Finn olhou para a minha boca. E que eu definitivamente percebi ele olhando.

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Capítulo 27

Pela Escola Slaterville ser tão grande, eles não deixam todo mundo sair de

uma vez quando as aulas terminam. Se eles deixassem, atrapalharia o tráfego por séculos, e como está agora, eu estou no último sinal e ainda passo cerca de dez minutos esperando para sair do estacionamento.

Normalmente, eu não me importo em sentar e esperar na última aula para ir embora, mas hoje eu estou mais do que pronta para sair daqui. Eu me remexo no meu lugar e olho para o relógio. Dois minutos mais. Eu me viro novamente, mas não antes de ver outra versão do olhar. Eu desejei ter ido embora da escola depois do Finn ter me tirado da aula de Governo. Eu não sei por que não fui embora, agora. Eu acho que estava ocupada demais pensando nas coisas.

Tipo como o Finn foi legal hoje. Como ele na verdade normalmente não é nada mal, até.

E como ele olhou para mim.

Eu olho para o relógio novamente. Mais um minuto. Ainda recebendo o olhar. Ugh.

Finalmente, o último sinal toca, e eu saio em direção ao estacionamento, imaginando se eu tenho tempo para ir para casa me esconder embaixo das cobertas por um tempo antes de ir trabalhar, e se isso me torna patética, ou estranha, ou os dois.

“Hannah?”

“Josh?” eu digo, me virando.

É ele, e ele está maravilhoso, como sempre. Eu tento não encarar tanto, mas é difícil.

“Hey, o que você vai fazer agora?” ele diz.

“Vou trabalhar. Bem, vou para casa primeiro, por um tempinho, e então eu vou para o trabalho.” Ah bom, eu estou finalmente falando – só que eu estou dizendo as coisas mais entediantes do mundo. Por que essas coisas acontecem perto dele? Por quê?

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“Eu devia ir trabalhar hoje também,” ele diz. “Mas eu acho que vou ligar e dizer que eu estou doente.”

“Oh. Eu não sabia – você não parece – quer dizer, sinto muito que você esteja doente.” Ele não havia mencionado o Jackson ou o estúpido vídeo ou nada assim, mas então, eu sabia que ele não comentaria. Pena que o meu plano de sentir pena de mim mesma não está funcionando tão bem. A menos que ele decida ter pena de mim pelo fato de eu não saber falar frases completas.

“Bem, o negócio é,” ele diz, dando um passo para mais perto, e ele é tão lindo que é quase irreal, com aqueles olhos e cabelos escuros. Sem mencionar, que ele é alto e esbelto e até tem cotovelos bonitos, sua pele é toda macia e dourada.

Espera, ele havia parado de falar? Merda, ele parou, e eu totalmente perdi o que ele falou! O que eu faço agora? Sorrio e concordo? Sorrio? Pareço preocupada? Eu não posso dizer, “Desculpa, eu estava tão ocupada olhando para você que eu não te ouvi.”

“Ok,” ele diz, soltando o ar e parecendo tão adoravelmente nervoso que eu juro, é como se ele tivesse praticado ou algo assim. “Eu acho que isso é um não, então?”

“Não é isso, é que...” Por favor, volte e repita o que você falou. Por favor.

“Você sabe que o Greg nem vai notar se você ligar e falar que está doente,” Josh diz. “Ele nunca escuta as suas mensagens de qualquer forma. E Finn sabe como direcionar os pedidos extras para outra sala. Eu só... eu pensei que seria legal se nós saíssemos, só isso.”

Ele me chamou para sair.

Josh me chamou para sair!

“Eu vou ligar para o Greg,” eu digo. “Eu tenho que ligar de casa porque eu não tenho um celular, mas então talvez nós pudéssemos...” O que eu devo dizer agora? Eu não sei nada sobre sair com garotos.

“Ótimo,” Josh diz. “Eu vou até a sua casa lá pelas quatro, tudo bem?”

Eu assinto, e ele sorri para mim e começa a se afastar.

Josh! Eu! Josh e eu! Está acontecendo de verdade, finalmente. Josh vai à minha casa. Ele está vindo para a minha casa. Ele vai estar na minha casa.

Ah não, ele vai estar na minha casa. Comigo.

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E a mamãe.

“Espere,” eu digo, em pânico, e ele se vira.

“Você não tem que vir até em casa. Nós podíamos nos encontrar em outro lugar ao invés disso. Quer dizer, eu nem te dei o endereço ou...”

“Eu sei onde você mora,” ele diz, e pisca para mim. “Vejo você logo.”

Ele sabe onde eu moro?

Ele sabe onde eu moro!

Eu vou correndo para casa, sonhando com o Josh sentado perto de mim no sofá, colocando seus braços ao meu redor enquanto nós assistimos a um filme (mamãe e eu ainda tínhamos TV a cabo?) e então ele me traria para perto e...

E então mamãe passaria desfilando de roupas íntimas.

Ok, eu posso consertar isso.

Eu acho.

Eu encontro mamãe deitada no chão da sala fazendo os seus exercícios para as pernas e os agachamentos. Ela está usando um sutiã esportivo e shorts, o que é mais do que o normal, mas mesmo assim. Não o bastante.

“Oi,” ela diz. “O que você está fazendo em casa antes do trabalho?”

“Eu não vou trabalhar. E você tem que se vestir. Usando roupas de verdade, mãe.”

“O que? E por que você não está indo trabalhar?”

“Alguém está vindo aqui.”

Mamãe pára os exercícios e senta. “Alguém está vindo aqui? Agora? Mas você nunca traz as pessoas aqui. Eu fiquei espantada pela Teegan ter vindo aqui.”

“Mãe, por favor. Você pode apenas se vestir?”

“Tudo bem, calma,” ela diz, “Qual é o nome dele?”

Como ela sabia que era um garoto?

“Josh. Mas ele não é... não é grande coisa. Ele só está vindo aqui para passar um tempo junto.”

“Aham.”

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“Mãe!”

Ela diz algo mais, mas eu não ouço porque eu corro para a cozinha, onde eu ligo para a Teagan no trabalho e aviso que não posso buscá-la hoje à noite.

“Por causa de um certo alguém?” ela pergunta.

“Sim.”

“Finalmente!” ela diz. “E também, eu espero ouvir todos os detalhes mais tarde. Feito?”

“Feito,” eu digo, e então ligo para o Greg. Ele não atende, claro, então eu digo para a sua caixa-postal que eu sinto muito que eu não havia ido no sábado e que eu ainda estava doente e não podia sair da cama.

“Na verdade, eu tenho que ir vomitar agora,” eu digo, e desligo.

“Bem, o que você acha?” Mamãe diz, e eu olho para ela.

Ela está usando roupas. E não só qualquer roupa, mas algo que se aproxima de uma roupa de ‘mãe’. Suas calças não estão apertadíssimas e sua blusa realmente cobre tudo e não é vermelho ou rosa brilhante.

“Você parece...” Na verdade, ela parece estranha. Eu estou acostumada á maior parte da mamãe estar exposta, que ter ela toda coberta é... bem, parece errado de alguma forma. Como se ela estivesse sendo ela mesma.

“Eu presumo que isso signifique que pareço aceitável,” mamãe diz, sorrindo. “Agora vá se arrumar, e eu vou tentar enfiar a pior parte da poeira embaixo de algo antes do Josh chegar aqui. E Hannah, eu tenho que começar a trabalhar às nove no mais tardar, então ou você faz ele ir embora ou leve ele para outro lugar, ok?”

Levar ele para outro lugar. Fazer ele me levar para outro lugar. Sim, isso seria legal. Seria a coisa mais magnífica do mundo, na verdade.

Eu assinto, e então corro escada acima para o meu quarto, onde eu rodopio. Isso realmente está acontecendo. Josh está vindo aqui. Bem, não aqui. Eu não vou trazê-lo para o meu quarto.

Mas eu gostaria, entretanto.

Eu realmente gostaria.

Enquanto estou me vestindo, eu tento pensar em coisas que não sejam eu e Josh no meu quarto. Eu consigo mais ou menos, só porque eu percebi que não tinha

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nada para vestir. Quer dizer, eu tenho roupas, mas pelo menos uma vez eu meio que gostaria de...

Eu meio que quero provar o fato de que eu tenho curvas. Então eu visito o guarda-roupa da mamãe, onde eu experimento uma saia curta preta e uma blusa que combina.

Uma olhada no espelho confirma que eu não posso usar essa roupa. Pelo menos, eu não posso usar isso onde alguém pode me ver. Eu pareço...

Eu não estou mal ou nada assim. Eu só pareço – eu não tinha percebido como os meus seios se destacavam quando eu estava usando uma camiseta que não fosse larga. E também, eu não mostrava muito minha perna desde... bem, nunca. A saia volta para o guarda-roupa, e eu pego um jeans meu. A blusa não cai sobre o jeans como as minhas blusas fazem, e há um pedaço de pele aparecendo um pouco abaixo do meu umbigo.

Eu puxo a camiseta para baixo. Volta para cima. Eu coloco uma das minhas camisetas por cima dela.

Agora eu pareço comigo. De cima a baixo.

Pela primeira vez, eu não gosto. Eu não quero parecer desse jeito. Eu tiro a camiseta de cima, e olho para mim na pequena blusa preta da mamãe e nos meus jeans.

Não está mal. Eu acho que pareço bem. Bonita, até. Talvez.

Eu olho para mim no espelho novamente, e então eu tiro o elástico do meu rabo de cavalo e solto meu cabelo.

Eu me inclino para frente e mexo um pouco no meu cabelo. E volto para trás.

Ah, nada bom. Eu escovo meu cabelo, e então enfio atrás das orelhas. Melhor.

Eu me sinto um pouco estranha vestida assim, no entanto. Como se não fosse eu.

Estranho. Entretanto, eu não tenho tempo para uma crise existencial agora, então eu respiro fundo e começo a descer as escadas.

“Hannah?” mamãe diz quando me vê. “Você está... ah, Hannah. Você está tão parecida comigo.”

Antes que eu consiga formular como responder direito a isso “Hum, ok,” ou simplesmente sair correndo para me trocar, a campainha toca.

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“Ele está aqui?” eu digo. “Como ele pode estar aqui?”

“Você está se vestindo por quase uma hora,” mamãe diz, e sorri para mim. “Suba as escadas novamente. Eu atendo a porta, e então você desce e deixa ele ver você.”

“Uh...” Meu cérebro ainda está preso no fato dele estar aqui.

Mamãe ri e me guia em direção às escadas. Eu começo a subi-las, e então paro no meio do caminho, nervosa e feliz.

“Oi, Josh,” eu escuto mamãe dizer. “Eu sou a mãe da Hannah. Nós nos conhecemos uma vez, eu acho. De qualquer forma, entra! Hannah está descendo agora mesmo.”

Ele está aqui. Ele realmente está aqui. Ele veio me ver.

Talvez eu possa gritar e dizer que estou doente. Ou morrendo. Ou os dois. Eu só vou...

“Hannah, o Josh está aqui,” mamãe diz, e então Josh está bem na minha frente, parado de pé no final das escadas e sorrindo.

E uma vez que eu o vejo sorrindo daquele jeito, nada mais importa.

Por quê?

Porque ele não está sorrindo para mim. Ele nem está olhando para mim.

Ele está sorrindo para a mamãe.

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Capítulo 28

Sabe como às vezes você tem um sonho que é ruim – não tem monstros

assustadores esperando para comer você, mas é plausivelmente ruim, como você ficar em frente da sala de aula e esquecer o que você ia dizer e todo mundo ri?

Agora é bem assim. Só que não é um sonho.

Josh trouxe presentes. Ele os entrega para mim, mas eu estou bem certa que na verdade eles não são para mim. Ele me dá margaridas, listadas no site da mamãe como as flores favoritas dela, e chocolate com cobertura de menta, igual àquelas que ele me deu antes.

Do jeito que a mamãe gosta.

“É tão bom ver você novamente,” ele diz para a mamãe. “Meu irmão mais velho – ele acabou de fazer vinte e sete – ama Cowboy Dad. Quando eu era pequeno, nós costumávamos assistir aos episódios que ele gravava, e eu achava você a mulher mais linda do mundo.”

“Oh, bem, obrigada,” mamãe diz, cintilando como ela sempre faz quando ganha um elogio até mesmo depois de ver a minha cara. “Eu não imaginava que alguém da sua idade tivesse ouvido falar de mim.”

“Você está brincando? Todo mundo viu aquele comercial incrível que você fez para a Pizza! Pizza! Torta! Todos os caras na minha banda amaram. Nós até escrevemos uma música, ‘Garota dos Sonhos,’ sobre isso.”

Isso não está acontecendo. Eu olho para ele. Ele ainda está olhando para a mamãe.

Está acontecendo.

“Hannah, deixa eu levar todas essas coisas,” mamãe diz, e alcança os meus ‘presentes’. “Eu tenho certeza que você e Josh querem conversar. Josh, foi muito amável ver você, e eu sei que você e a Hannah vão... oh, isso são mentas?"

“Elas são,” Josh diz. “O capítulo na sua autobiografia onde você fala sobre sentar no chão e comer uma caixa delas no dia que você soube que o Cowboy Dad foi cancelado... realmente me afetou.”

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Aposto que afetou. Isso e a foto que a mamãe pôs dela com a roupa do Cowboy Dad logo em seguida disso, uma foto colorida dela sorrindo e quase estourando o seu vestido ‘velho-oeste autêntico’.

“Bem, obrigada,” mamãe diz. “Eu não acredito que você leu esse livro.” Ela olha para mim, e então morde o seu lábio e vai para a cozinha.

“Uau, ela é incrível,” Josh diz, e finalmente olha para mim. “Eu estava louco para conhecer ela... de verdade, sabe... e quando você concordou em me deixar vir aqui... bem, obrigado. Você é muito especial.”

“Eu...”

“Não, realmente você é,” ele diz, me cortando, e então sorri para mim e se inclina.

Ele vai...?

Ele vai.

Ele faz.

Ele me beija.

Ele realmente tem a cara de pau de me beijar.

E eu sou realmente patética para querer isso. Eu sei que na verdade eu sou além de patética, mas é o Josh e ele é tão lindo e ele quer me beijar.

Então nós nos beijamos.

É horrível.

Eu não posso acreditar, mas é. Eu tinha imaginado beijar o Josh pelo menos três vezes por dia desde que eu comecei a trabalhar no BurgerTown, e aqueles beijos iam do experimental, lábios gentis encostando delicadamente até as sessões de amasso completas, o tipo que começa quando ele me pega saindo da caminhonete e me agarra e me beija.

Eu não imaginei a sua língua sendo enfiada na minha boca e então se movendo energeticamente pela minha boca sem nenhuma preliminar. Parece que eu estou sendo lambida por algo de uma forma muito incômoda e desconfortável.

Eu me afasto e digo, “Hum,”, mas antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, Josh está me ‘beijando’ novamente, com mais entusiasmo ainda dessa vez. Sua língua está cutucando minhas gengivas (eca) e é muito úmido e eu não posso

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acreditar que eu uma vez me preocupei que um beijo fosse me transformar no Jackson.

Agora eu estou mais preocupada que isso vai me fazer sair gritando no caminho de um convento.

“Tudo bem,” eu digo, me afastando. “Isso é realmente...”

“Eu sei,” Josh diz, sorrindo para mim. “Eu sabia que seria assim. A Peyton está brava comigo, mas valeu a pena. Então, nós podemos ficar no lugar que sua mãe trabalha enquanto ela grava o programa, ou nós temos que assistir do seu computador ou algo assim?”

“O programa dela?”

“Sim,” ele diz, ainda sorrindo. “Eu mal posso esperar. Ela fez um chat um tempo atrás em uma roupa de alienígena, e era tão quente que...” ele pára de falar enquanto eu me afasto. “Quer dizer, era quente de um jeito irônico, claro.”

“Claro,” eu digo. Ele está afim da minha mãe. Tipo, realmente afim dela.

“Então eu só vou ligar para a Peyton e dizer que eu vou ficar aqui com você essa noite, ok?” ele diz, e tira o celular para fora.

“Espera,” eu digo. “A Peyton sabe que você... ela sabe que você é um... fã da minha mãe?”

“E de você.” Ele tenta tocar o meu rosto.

Eu saio do alcance dele. “Certo. Ela sabe?”

Ele concorda. “Ela não entendeu no começo, mas nesse final de semana, quando você estava em Nova York, nós tivemos uma longa conversa e ela entendeu isso agora.”

“Ela sabe que eu fui para Nova York?”

“Sim. Quando você não foi trabalhar no sábado, eu imaginei que você tinha ido. Eu aposto que foi incrível.”

Bem, agora eu sei como todos ficaram sabendo sobre o vídeo, e eu posso adivinhar exatamente que garota odeia a mim e à mamãe o bastante para fazer isso.

Eu olho para Josh, e é como se tudo o que eu vi nele tivesse sumido e sobrasse só um idiota bonitinho fazendo uma ligação para uma garota para que ele possa fazer o que quer que ele pense que vá fazer enquanto está comigo esperando para ver a minha mãe de lingerie.

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“Você sabe de uma coisa?” eu digo quando ele está no telefone. “Minha mãe tem uma monte de material promocional que ela já fez na garagem. Eu tenho certeza que ela adoraria te mostrar.”

“Sério?”

“Sim. Vai na cozinha e peça para ela,” eu digo. “Eu já vou lá em dois minutos. Eu só tenho que fazer uma ligação para o trabalho porque eu esqueci de fazer antes.”

Ele já está indo para a cozinha antes que eu termine de falar, e quando ele foi eu pego as minhas chaves e vou embora.

Eu podia dizer a ele para ir embora, mas o negócio é, eu estou tão chocada por quem o Josh realmente é que eu não quero ficar perto dele agora. Eu só quero sair.

Eu acho uma camiseta velha na caminhonete que eu havia usado no trabalho uma noite e tinha derramado mostarda nela, eu a coloco por cima do top estúpido que eu estava usando e saio dirigindo, juntando meu cabelo em um rabo de cavalo no semáforo.

Eu imagino Josh morrendo de vários jeitos terríveis, mas eu não choro. Essa é a segunda vez que eu caí em um monte de mentiras no que deve ser um recorde em período tão curto de tempo.

Eu não acredito que eu achei que ele gostava de mim.

Mas eu acreditei. Até que ele chegou em casa e eu vi ele sorrindo para a mamãe, eu pensei que ele...

Eu não posso acreditar nas coisas que eu pensei. Almas gêmeas? Eu sou uma idiota.

Eu dirijo até o trabalho. Eu sei que liguei avisando que eu estava doente, mas eu podia usar o dinheiro, e... eu não sei. Eu estou aqui. Eu estaciono a caminhonete, e então eu abaixo minha cabeça no volante e choro. Ninguém pode me ver aqui, e agora ninguém vai saber o quão estúpida eu fui. Pelo menos eu tenho isso.

Não é muito, mas agora é tudo o que eu tenho, e eu digo a mim mesma isso várias vezes até que eu paro de chorar. E então eu saio da caminhonete e vou trabalhar.

O Greg está dentro do escritório, encostado em sua cadeira encarando o teto.

“Hey, desculpa pela mensagem que eu deixei antes,” eu digo. “Eu achei que ainda estava doente, mas eu não estou, então agora eu estou aqui.”

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“Você estava doente?” Greg diz. “Quando? Você não comeu nenhuma daquelas batatas fritas que estavam na sala de descanso mais cedo, certo? Porque elas estavam lá por um longo tempo e o BurgerTown não pode ser responsável por...”

“Não, eu quis dizer quando eu... esqueça,” eu digo, e vou para a sala de atendimento. E quando eu entro, Finn diz, “Hannah? O que você está fazendo aqui? Josh ligou e disse que vocês dois estavam juntos.”

Eu respiro fundo. “Ele... isso não deu certo,” eu digo, e sento. “Você pode mandar alguns pedidos aqui em um segundo. Eu só tenho que bater o ponto.”

“O que aconteceu?” Finn diz.

“Nada.”

“Oh. Você só parece... esqueça.”

“O quê?”

“Eu não sei. Está tudo bem?”

“Vamos só dizer que o Josh acha que minha mãe é... bem, vamos só dizer que ela tem uma base de fãs definida na faixa etária dos homens mais jovens.”

“Sério?” Finn ri, mas pára quando ele vê meu rosto e fica vermelho igual tomate. “Eu não quis dizer isso. Hannah, eu...”

“Cala a boca,” eu digo. “Uma palavra, uma palavra remotamente provocativa, e eu juro que eu vou enfiar algo dolorido no seu olho. Repetidamente.”

Então o Finn fica quieto, e nós trabalhamos.

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Capítulo 29

Josh não aparece – ele provavelmente nem mesmo percebeu que eu tinha

saído da minha própria casa – e quando eu ligo para casa para dizer a mamãe onde eu estou no caso de ela estar preocupada, ela sussurra, “Por que você saiu? Eu não consigo fazer esse garoto ir para casa e ele é...”

“Um babaca?”

“Bem... sim. Mas eu achei que você quisesse que ele viesse.”

“Bem, agora eu não quero.”

“Você saiu porque ele... hum, porque ele...?”

“Sim, eu sei que ele pensa que você é gostosa, mãe. Está tudo bem. Eu descobri isso cerca de dois segundos depois que ele apareceu.”

“Eu juro que não tentei...”

“Eu sei.”

“E Hannah, você é tão maravilhosa, e eu sei...”

“Eu tenho que ir,” eu digo, e desligo antes que ela possa dizer outra coisa. Eu sei que a Mamãe não encorajou e não está encorajando o Josh, mas nesse momento eu não preciso ouvir ela dizer o quão “maravilhosa” ela acha que eu sou depois que tive que assistir o garoto que eu fui estúpida o bastante para gostar babar por ela toda.

“Não,” eu digo ao Finn, que está olhando para mim.

“O quê?”

“Não diga nada.”

“Certo,” Finn diz. “Sinta pena de si mesma pelo estranho* perdedor que escreve músicas ruins.”

“Estranho?”

“É uma palavra,” Finn diz. “Mais ou menos.”

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*Hinky: uma gíria, que quer dizer alguma coisa suspeita, que parece errada, estranha.

“Bem, ela cabe a ele. E eu não estou sentindo pena de mim mesma. É só que eu não percebi que o Josh é...”

“Um enorme pretensioso imbecil?”

“É,” eu digo. “Isso.”

Finn sorri para mim. “Bem, agora você sabe. Quer um intervalo?”

“O quê, agora?”

“Bem, eu sei que tem sido insanamente atarefado,” ele diz, e gesticula para os nossos terminais, que tinham ficado brancos devido à inatividade.

“Por que estão tão devagar, de qualquer jeito?”

“Eu... bem, depois que o Josh ligou, eu configurei para que todos os pedidos fossem para a sala C começando cerca de cinco minutos atrás.”

“Por que você faria...? Você ia sair mais cedo!”

“Oh, isso é da garota que ligou dizendo que estava doente para sair com...” Finn para de falar. “De qualquer forma, vamos comprar alguma coisa na máquina de lanches. Eu estou morrendo de fome, e vai demorar pelo menos outros trinta minutos antes de alguém da sala C descobrir o que está acontecendo.”

“O que você ia fazer quando eles descobrissem que você não estava aqui?”

“Eu não sei. Ser despedido, eu acho.”

“Por que você faria isso?”

Ele encolhe os ombros. “Eu vi batatas chips de sal e vinagre lá. Você sabe, elas geralmente acabam depois de um dia, então...”

Então o Finn e eu vamos e compramos comida. Na verdade, ele acaba comprando porque eu saí de casa com minhas chaves e oitenta centavos no bolso da minha calça.

“Okay, já chega,” eu digo quando ele me entrega uma terceira barra de chocolate. “Eu não consigo comer tudo isso.”

“Então guarde algumas para mais tarde,” ele diz, e nós voltamos ao trabalho.

Quando eu sento, eu automaticamente olho para o terminal do Josh.

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“Ainda pensando nele?” Finn diz. “Por quê?”

Eu encolho os ombros. “Eu só... por que você não vai em frente e vai para casa, okay? Eu posso cuidar de tudo.” Para o meu horror, minha voz se parte um pouco nas últimas palavras.

“Hannah,” Finn diz, e vem na minha direção, colocando seus braços nos dois lados da minha cadeira. “Josh é um idiota, okay? E você... você sabe o que você é?”

“Estúpida?”

“Linda,” ele diz, o rosto ficando vermelho, e é só o Finn parado lá, só o Finn, mas eu não consigo respirar; não tem ar suficiente nesta sala, dentro de mim, e eu não posso parar de olhar para ele, observando o seu rosto e seus olhos e sua boca e a pequena cicatriz do lado do olho esquerdo dele e as sardas ao longo das maçãs do rosto dele, e ele está olhando direto para mim, não como se ele estivesse olhando para outra pessoa, mas como se ele estivesse gostando do que vê.

“Eu...” eu digo, e ele me beija.

Não é nada como beijar o Josh. Essa é a primeira coisa que eu penso.

É a única coisa que eu penso.

Eu não posso pensar em mais nada. Eu não consigo pensar. É tudo sensação, e aqueles sentimentos que eu estava preocupada em ter, mas então percebi que não tive depois de beijar o Josh?

Eu os tenho.

Eu tenho muitos deles.

Eu os tenho, e Finn e eu acabamos no chão, forçados contra o terminal, metal escavando minhas costas. Finn está pressionado contra a minha frente e eu enganchei minhas pernas em volta das dele, nos puxando para mais perto, e isso não é o suficiente. Eu quero mais, eu quero a pele dele tocando a minha, minha pele tocando a dele, e...

“Oh, eu vou mandar as suas chamadas de volta.”

Eu olho para cima, e através da cortina do meu cabelo (quando isso saiu do meu rabo de cavalo? Por que uma das minhas mãos está embaixo da camisa do Finn? Por que as duas mãos dele estão embaixo da minha camisa?) eu vejo uma mulher da sala C nos olhando fixamente.

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“Isso não é o que parece, Angie,” Finn diz, se deslocando um pouco, e bate sua cabeça contra o fundo do terminal. “Ow!”

“Oh, por favor,” Angie diz. “Eu tenho trinta e cinco anos. Eu lembro o que é sexo, mais ou menos. Eu vou enviar as suas ligações de volta agora, mais as minhas, porque eu acabei de lembrar que eu tenho uma emergência familiar exatamente como você disse que tinha.”

“Eu não disse emergência familiar,” Finn diz. “Eu disse que tinha algumas coisas de família e eu tinha que ir para a sala de emergência.”

“É, bem, eu tenho algumas coisas de família envolvendo eu e uma margarita,” Angie diz. “Vocês tem cerca de trinta segundos antes dos pedidos começarem a vir.”

Eu sento então, e o Finn também. Angie volta para a sala C, e certa o bastante, nossos terminais começam a piscar. E então a Angie volta, com a bolsa e chave do carro na mão.

Finn olha para mim. Eu olho para ele. Para minha surpresa, o rosto dele fica de um vermelho profundo, doloroso, o mais envergonhado que eu já o vi parecer.

“Eu...” ele diz, e então para. E então nós só sentamos lá. Ele, com a cara vermelha, e eu percebendo que a primeira camisa – a folgada que eu coloquei depois do desastre com o Josh – está empurrada em volta dos meus ombros.

Está tão quieto. E provavelmente não passou tanto tempo desde que a Angie entrou, mas parece uma eternidade e é horrível porque claramente ele está com vergonha pelo que aconteceu, mas isso é por causa do que aconteceu? Ou porque alguém nos viu? Ou...?

Eu não sei.

Eu sei que não posso acreditar no que acabou de acontecer, mas aconteceu, e com o Finn.

Finn. Eu só... eu não penso nele desse jeito.

Exceto que eu claramente penso.

Eu me forço a levantar, sentar na minha cadeira, e dizer, “Oi, bem vindo ao BurgerTown, casa do melhor hambúrguer, posso pegar seu pedido?” Eu não olho para ele. Eu não posso.

Na verdade, eu posso, mas eu só não quero que ele me veja olhando. Eu dei uma espiada de qualquer maneira. O rosto dele ainda está vermelho. O que ele está pensando?

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“Alô? Alô! Você pegou meu pedido?” um cliente diz.

“É claro,” eu digo, e tento prestar atenção e não pensar no Finn. Ou no que aconteceu. Ou como foi ótimo.

Ou o quanto eu queria que a Angie não tivesse entrado.

Por sorte, fica atarefado – o tipo de atarefado que eu normalmente odeio, com as pessoas querendo pedidos especiais e detalhes sobre os ingredientes, e eu não tenho nenhuma chance de pensar sobre o Finn ou no que aconteceu.

Não tanta chance, de qualquer maneira, e quando o pessoal do turno da noite entra, nós ainda estamos pegando pedidos. Eu encerro o meu primeiro e escapulo para o estacionamento. Eu acho que ouço o Finn dizer alguma coisa quando eu saio da sala, mas eu não fico perto para ouvir.

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Capítulo 30

Mamãe não está em casa quando eu chego, mas ela tinha deixado um

bilhete na minha cômoda.

“Tive que me livrar do Josh, então eu disse a ele que eu faço o programa em outro lugar. Estou no site reserva se você precisar de mim.”

Wow. Mamãe odeia o site reserva porque ele é limitado e cheira a caras de computador. Josh deve realmente ter deixado ela louca.

Bom.

O telefone toca. Eu não me incomodo de atender, mas eu checo e vejo se tem uma mensagem depois.

Tem. É do Josh.

“Eu só queria te agradecer por conversar comigo, Candy,” ele diz, “Eu passei um tempo maravilhoso, e meu irmão vai adorar o livro autografado. Eu também queria que você soubesse que eu fiquei inspirado para escrever três novas músicas essa noite e isso é tudo graças a você. Oh, e diga a Hannah que eu mal posso esperar para vê-la na escola.”

Que imbecil.

“Diga a Hannah que eu mal posso esperar para vê-la na escola,” e ele até soa como se falasse sério. Eu não acho que poderia ter escolhido um cara pior para ser minha alma gêmea. Eu não posso acreditar que eu achei que ele fosse minha alma gêmea. Quero dizer, ele é charmoso e ele sabe como fazer você se sentir especial, mas ele só está interessado no que ele quer, igual ao Jackson.

Huh.

E ecaaaa.

Eu vou para a cama, mas é claro que eu não consigo dormir. Eu deito lá pensando sobre o Josh. E sobre a Mamãe. E sobre o Jackson, E como tudo tinha sido tão louco que eu dificilmente sei...

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Está certo, eu não estou na verdade pensando sobre nenhum deles. Estou pensando sobre o Finn. Sobre suas sardas, seus olhos, sua boca. Sobre como eu me senti quando ele olhou para mim.

Sobre beijar ele.

É nisso em que estou pensando, e apesar dos meus esforços para pensar em outra coisa, meu cérebro não vai ouvir. Ele só fica voltando para o beijo.

E como soa como se alguém estivesse atirando pedras na minha janela.

Josh.

Só o Josh faria alguma coisa tão estupidamente “romântica” quanto atirar pedras na minha janela. Um milhão de dólares diz que ele pensa que é o quarto da mamãe. Eu saio da cama, pegando um geodo* que o José me deu quando eu fiz nove anos porque naquele tempo minha cor favorita era roxo e eu gostava de coisas brilhantes.

*Cavidade arredonda revestida por cristais ou outros minerais (uma pedra)

Eu avalio o peso nas minhas mãos quando abro a janela. Eu acho que vou dizer ao Josh que ele deve escrever uma musica e chamá-la de “Pedra do amor” logo antes de bater nele na cabeça.

Eu me inclino para fora, o geodo preparado – e um seixo me bate na testa.

“Ow,” eu digo no escuro. “Eu devo ir para fora para que você possa atirar pedras maiores em mim?”

“Eu te atingi?”

“Finn?” O que ele está fazendo aqui?

“É,” ele diz, dando um passo para frente então a luz eu que eu deixei acesa na cozinha atinge o rosto dele. “Eu realmente te atingi?”

“Não, eu disse ‘ow’ porque é divertido. É claro que você me atingiu. O que você está fazendo aqui?”

“Eu queria falar com você. Espera, o que você está segurando?”

“Um geodo.”

“Por quê?”

“Eu pensei que você fosse o Josh.”

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“Você pensou que eu fosse o Josh?”

“Bem,atirar pedras em janelas parece com uma... bem,parece um clichê. Então eu imaginei que fosse ele.”

“E você ia jogar isso nele? Legal,” Finn diz.

“Eu podia jogar isso em você.”

“Você poderia, mas eu preferia falar com você.”

Oh. Ele quer falar comigo. Isso é muito... eu não sei.

Por dentro estou toda agitada, entretanto.

“Okay,” eu digo, minha voz tremendo um pouco, e espero.

Ele não diz nada. Eu espero mais um pouco.

“Eu noto que você não está falando,” eu finalmente digo.

“Bem, tanto quanto eu tenho certeza que as pessoas da porta ao lado que estão fingindo que não estão olhando para mim gostariam de ouvir o que eu tenho para dizer, eu preferia dizer isso só para você.”

“Oh,” eu digo, e coloco minha cabeça para fora da janela. Certo o bastante, o Sr. e a Sra. Howard estão olhando para nós de uma das janelas deles. Quando eles me vêem, eles rapidamente fingem que estão olhando para rua e fecham a janela. “Okay, eu acho que você pode entrar.”

“Um, Hannah, você tem que, você sabe, abrir a porta da frente para que eu possa entrar.”

“Eu achei que você fosse... você está parado debaixo da minha janela. Você não deveria escalar até aqui ou algo assim?”

“Minha escada está em casa. E também, você chama de clichê atirar pedras na sua janela?”

“Caramba, Finn, deixa só eu correr para o andar de baixo e deixar você entrar agora mesmo.”

“Fala sério, Hannah,” ele diz. “Eu sinto muito sobre mais cedo, okay? E eu realmente quero conversar. Me desculpar ou o que seja. Então você poderia por favor me deixar entrar?”

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Eu coloco o geodo embaixo de um braço. Ele sente muito. Ele está arrependido que nos beijamos. Ele até quer se desculpar por isso. É uma coisa legal de se fazer, não é?

Eu não posso acreditar que ele está arrependido.

Eu não estou.

“Hannah?”

“Certo, estou indo,” eu digo, e desço para o andar de baixo para deixar ele entrar.

Quando eu abro a porta, o Finn está parado lá com as mãos enfiadas nos bolsos. Uma vez que ele me vê, o rosto dele lentamente começa a ficar vermelho.

Oh, ótimo.

“Hey,” ele finalmente diz.

“Hey,” eu digo, e então nós dois meio que ficamos lá parados por um tempo.

“Eu achei que você quisesse entrar,” eu finalmente digo.

“Eu quero,” ele diz. “É só... bem, eu posso entrar o bastante para você poder fechar a porta? Seus vizinhos estão olhando para nós de novo.”

Eu espreito pelo lado dele, e vejo a Sra. Howard nos assistindo de outra janela. Eu me movo para o lado e ele entra, acenando para a Sra. Howard enquanto eu fecho a porta. Ela não acena de volta.

“Vizinhos,” eu digo a ele. “Cinco anos aqui, e eles nunca disseram nada para mim além de ‘Diga a sua mãe para comprar persianas melhores’ e ‘Você tem que estacionar tão perto da nossa entrada de carros?’”

“Eu vejo que hoje você deu um jeito de fechar o carro deles de jeito,” ele diz, sorrindo, e eu encolho os ombros.

“Você é desviada,” ele diz. “Eu gosto disso.” E então ele cora de novo.

“Por que você está fazendo isso?”

“Fazendo o quê?” ele diz, ficando ainda mais vermelho.

Eu transfiro o geodo do meu braço para a minha mão, cansada de como está escavando minha pele. “Olha, se você veio aqui para me dizer que o... negócio que aconteceu mais cedo foi um erro ou o que seja, está bem. Eu entendi. Eu concordo.”

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“Eu não acho... você acha que foi um erro?”

“Bem, não é como se eu tivesse dito para mim mesma, ‘Caramba, por que eu não vou para o trabalho e rolo pelo chão com o Finn?’”

Ele sorri para mim, sua vermelhidão desaparecendo um pouco. “O quê? Você quer dizer que não esteve planejando isso por semanas? Eu imaginei que você finalmente tinha percebido que nós fomos feitos um...”

“Finn, está tarde, eu estou cansada, eu tive uns dias ferrados. Só diz o que quer que seja que você vai dizer e então vai embora para eu poder dormir.”

“Oh,” ele diz. “Okay. Eu não queria... eu só... eu queria...” Ele sopra uma respiração. “Você poderia talvez abaixar a pedra?”

“Finn...”

“Sério,” ele diz,olhando diretamente para mim.“Eu... eu não saio normalmente por aí jogando pedras nas janelas das pessoas. Ou dizendo que eu quis beijar você desde seu primeiro dia no trabalho, quando você quis saber por que nós temos três códigos para sanduíches de peixe quando nós só vendemos um tipo.”

“O quê?” eu digo, abalada, e derrubo o geodo.

Ele aterrissa no pé do Finn. Ele suga a respiração, faz uma careta, e então deixa escapar uma longa – longa – série de palavrões.

“Vê?” ele diz. “Isso não é... eu queria que isso fosse diferente. Melhor. Eu pensei sobre beijar você desde sempre e eu realmente não queria beijar você e ter a Angie entrando pela porta e nos chantageando para fazer trabalho extra. Eu não queria que você ficasse pensando sobre o Josh. Eu nem mesmo queria que você gostasse dele. Mas eu quero, e eu realmente... espera. Eu acho que um dos meus dedos está quebrado.”

“Você pensou sobre me beijar?”

“Sim,” ele diz, e cora de novo. “E certo, eu estou quase certo de que tenho um dedo quebrado. Você vê sangue? Está escorrendo do meu sapato?”

“Eu mal bati no seu pé. E eu não gosto do Josh.”

“É, agora.”

“Eu não sabia que ele era... eu achei que ele era diferente.” Eu digo. “Especial.”

“Sim, eu sei. Ele bebe um monte de café. Ele escreve músicas. Ele...”

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“Eu estava errada, entretanto,” eu digo. “Quando ele estava aqui, mesmo quando ele não estava babando na minha mãe, eu não... é como se eu gostasse da ideia dele, não dele. E quando você e eu...”

Finn olha para mim, e a expressão dele é tão intensa que eu sinto um arrepio - um tipo legal de arrepio, aquele tipo de arrepio – pulsar por mim. “Você e eu o quê?”

“Nada.”

Ele anda na minha direção. Eu me movo para trás, colidindo com o corrimão no fim da escada. “Você ia dizer alguma coisa,” ele diz.

“Eu não ia.”

“Ia.”

“Não ia.”

“Hannah,” ele diz, e nós estamos tão perto de novo, tão perto que eu posso ver as suas sardas e tocar o cabelo dele. Eu toco, e ele fecha o olho e treme, treme de verdade, e o jeito que eu me senti quando ele olhou para mim agora a pouco volta cerca de cem vezes mais forte.

“Eu gostei de beijar você,” eu digo a ele, e os olhos dele se abrem.

“Você gostou?”

Eu assinto. Os olhos dele se arregalam e agora eu sinto um rubor queimar através do meu próprio rosto.

Ele começa a dizer alguma coisa.

“Não,” eu digo, e coloco uma mão sobre a boca dele. Os lábios dele são macios e quentes embaixo da minha pele, e eu curvo minha mão para longe, escondo ela contra o meu lado.

“Mas você estava pensando sobre o Josh...”

“Agora você lê mentes?”

“Não estava?”

“Era para eu estar?” eu digo.

“Então você realmente quis me beijar?”

“Eu já disse isso, não disse?”

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“Você não disse nada depois disso, entretanto.”

“Você também não. E normalmente nada pode calar você.”

“Você não é normal,” ele diz. “Quero dizer... bem, você não é, mas o que eu quero dizer é que eu... oh, inferno,” ele diz.

E então ele me beija de novo.

Nós acabamos na cozinha, onde ele tira os sapatos e nós determinamos entre beijos que nenhum dos dedos dele está quebrado.

“Essa tem sido a noite mais estranha da minha vida,” ele diz, a respiração dele quente contra a minha orelha, e arrepios formigam minha pele.

“A minha também,” eu digo, e me viro na direção dele, puxando-o para outro beijo.

“Eu realmente gosto da sua cozinha,” ele diz com uma arfada um pouquinho depois. Eu estou inclinada contra o balcão, os braços enrolados em volta dele enquanto ele se inclinava para mim, a boca dele no meu pescoço. “Quero dizer, eu realmente, realmente gosto...”

“Você fala demais às vezes,” eu digo, uma batida de tambor fabulosa, explosiva martelando dentro de mim. As mãos do Finn são quentes e cuidadosas na minha pele, como se eu fosse alguma coisa preciosa.

“Não o tempo todo,” ele murmura entre um beijo, e então pega a minha risada com a boca dele, me puxando ainda mais perto. Ele alisa uma mão sobre o meu cabelo, os olhos fechando enquanto eu empurro meu quadril contra o dele.

“Hannah,” ele diz, tão suavemente, tão docemente, um gentil contra-ponto ao abalado “Hannah?” que eu escuto do outro lado do ambiente. O que é estranho porque eu não tinha ouvido nada exceto nós, mas agora...

“Eu... hum. Oi,” Finn diz, e eu abro meus olhos para ver a mamãe, vestida em um robe azul brilhante, nos encarando.

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Capítulo 31

Eu acho que a mamãe deve estar brava. Eu posso dizer que está. Ela encara a

mim e o ao Finn como se ela não pudesse acreditar no que ela está vendo quando nós nos separamos, e ela pisca para o Finn enquanto ele ajeita sua camisa, corre uma mão pelo cabelo, e diz, “Eu sou o Finn. Eu só vim para...”

Minha mãe levanta as sobrancelhas para ele. Eu não sabia que ela ainda podia fazer isso.

“Para conversar,” ele diz, corando. “Com a Hannah. Sobre o trabalho. E sobre a escola. E, hum, sobre pedras.”

Eu dou uma cotovelada nele, mas é tarde demais.

“Pedras?” Mamãe diz, sua voz ligeiramente mais alta que o normal.

“Não pedras,” eu digo a ela. “Ele está tentando ser engraçado. E ele já estava de saída.”

“Eu... certo,” Finn diz. “Só me dá um minuto.”

Eu olho para ele, e ele me dá um olhar significativo.

“Oh,” eu digo.

“Eu vou fazer queijo grelhado,” Mamãe diz, a voz dela irritadiça. “Sim, é isso que eu vou fazer. Na verdade, agora eu vou me virar e pegar uma frigideira, e vocês dois não vão estar parados perto um do outro quando eu me virar de volta.”

“Hey, eu adoro queijo grelhado,” Finn diz, e então olha para mim quando eu dou uma cotovelada nele de novo. “O quê?”

“Você disse que precisava ir embora, lembra?”

“Você pode ficar para um sanduíche, Finn, se você quiser,” mamãe diz, largando a frigideira no fogão. Ela aterrissa com um baque sólido, pesado.

“Ele não pode. Ele...”

“Eu adoraria,” Finn diz, e se afasta do alcance do meu cotovelo.

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Então a mamãe faz sanduíches, sem olhara para mim ou para o Finn o tempo todo. Eu continuo checando para ver se o Finn está olhando para ela, mas toda vez que eu olho, ele também está olhando para mim ou olhando para uma foto minha que a mamãe moldurou e pendurou na parede. José a tirou quando eu tinha sete anos, e eu estou sentada nos degraus da frente da nossa casa no Queens, mostrando os dentes de leite que eu perdi com um sorriso enorme.

“Essa é você, certo?” ele me pergunta.

“É.”

“Bonitinha. Não que eu, hum, ache que criancinhas sejam bonitas. Só que você era bonitinha. Quero dizer, você pode ver como ficou tão... oh. Obrigado,” ele diz quando a mamãe entrega a ele um sanduíche.

Depois de um momento, ele olha para mim. “Eu posso pegar um prato?”

Eu corto alguns papéis-toalha e os entrego a ele. “Nós realmente não temos pratos aqui.”

“Oh,” Finn diz. “Como?”

“Porque eu não como muito,” mamãe diz, deslizando o próprio sanduíche dela em um papel toalha e sentando na mesa da cozinha. Tem uma pequena túnica que vai em cima do robe de seda dela, e ela colocou ela em cima e a abotoou até em cima no pescoço. Ela teria uma aparência de mãe se o robe não fosse azul brilhante. Ou não tivessem plumas em volta da gola.

“Aqui,” ela diz, me entregando dois sanduíches, e então olha para mim e então para o Finn e então para mim de novo. “Por que vocês dois não se sentam?”

Finn se senta, seu sanduíche quase acabado. “Você vai comer os dois?” ele me pergunta.

“Sim,” eu digo, e então dou a ele metade de um sanduíche de qualquer forma.

“Então, você trabalha com a Hannah,” Mamãe diz para o Finn, que assente.

“E você estuda com ela?”

Finn assente de novo, e termina de cheirar a metade do sanduíche que eu dei a ele. “Desde a nona série. Que foi quando eu me mudei para cá. Bem, não só eu. Eu e minha família. Meu pai conseguiu um emprego ensinando francês na universidade pública, e minha mãe trabalha para o Dr. Thomas, o dentista da terceira rua. Você não vai nele, vai? Você não deveria, porque ele faz todo mundo esperar uma eternidade. Minha mãe diz que ela passa a maior parte do tempo dizendo às pessoas

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que ela sente muito que elas tenham que esperar tanto.” Ele cora. “Isso provavelmente é mais do que você queria saber. Eu falo demais às vezes.”

Eu bufo. Ele sorri para mim, e bate um pé contra o meu embaixo da mesa, só que ao invés te tirar de lá como ele normalmente faz, ele só o deixa lá.

É agradável.

Bem, melhor do que agradável. Isso me faz pensar sobre o que nós estávamos fazendo antes de a mamãe entrar.

“Bem, é bom te conhecer,” Mamãe diz. “Hannah não traz muitas pessoas aqui. Mas está tarde, então você provavelmente devia ir para casa.”

Okay, quem é essa mulher? Ela parece com a minha mãe, mas ela está fazendo comida e dizendo às pessoas que elas devem ir para casa em um jeito distintamente de mãe.

“Oh, certo,” Finn diz. “Eu só estava esperando falar com a Hannah bem rápido sobre...”

“Eu acho que vocês já conversaram demais por uma noite,” mamãe diz – rosna, na verdade – e então sorri. “Quero dizer, está tarde, e eu estou cansada, e eu tenho certeza que seus pais estão se perguntando onde você está.”

“Oh não, eles sempre dormem antes de eu chegar em casa. Eu podia ficar fora a noite toda se eu quisesse... hum. Eu só vou pegar meus sapatos,” Finn diz, e se levanta.

Eu o levo até a porta da frente, mamãe como uma presença azul brilhante atrás de nós. E eu penso que ela está na verdade com um olhar fulminante.

“Okay, é melhor eu ir,” ele diz, hesitando na porta, e eu posso dizer que ele quer mais um beijo.

Bem, na verdade, eu não posso dizer. Eu sei, entretanto, que eu quero mais um, e digo, “Eu vou te levar até seu...”

“Não, você devia deixar o Finn ir para casa,” mamãe diz. “Eu tenho certeza que ele está cansado.”

“Na verdade, eu...” Finn diz, e para de falar quando a mamãe dá um passo à frente. “Certo. Eu estou bem cansado, na verdade.” Ele olha para mim. “Te vejo depois?”

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“Claro.” Eu odeio essa frase porque você nunca sabe o que significa. “Vejo você depois” pode significar qualquer coisa, ou nada, porque quem sabe o que depois realmente é?

“Amanhã,” ele diz, como se ele soubesse o que eu estou pensando, e então olha para a mamãe. “Posso falar com você um segundo?”

Mamãe pisca para ele, e então os dois saem para a varanda. Ele sorri para mim, e então puxa a porta e a fecha firmemente.

Eu não consigo ouvir nada – e eu estou prestando atenção o máximo que eu posso – mas quando a mamãe volta para dentro ela parece... eu não sei. Triste, e perdida, e um pouco como se ela fosse chorar.

“Mãe?” eu digo. “Você está bem?”

Ela assente.

“O que vocês estavam fazendo lá fora?”

“Conversando.”

Grrr. Isso é como arrancar os dentes. “Sobre o quê?”

Ela olha para mim como se eu fosse louca. “Você, Hannah.”

“Oh,” eu digo, e quando ela não responde, eu acrescento, “E?”

“Bem, eu... certo,” Mamãe diz. “Ele começou a dizer alguma coisa, mas eu disse a ele que eu queria saber por que ele achou que era aceitável vir na casa de alguém e dar uns amassos com a filha de 17 anos desse alguém quando ninguém estava em casa.”

“Você está brincando, certo?” Eu digo quando ela vai para a sala de estar. “Você está... o que você está aqui? Com raiva? Triste? Eu não entendi. Nós tivemos a conversa sobre sexo e – bem, vamos encarar isso, eu já vi coisas. Quero dizer, alô, Jackson.”

“Essa noite foi só... Hannah, você traz um garoto para casa pela primeira vez na vida essa tarde, e então você vai embora, e deixa ele aqui. Então eu vou trabalhar – para fugir daquele garoto, eu devo acrescentar – e venho para casa para encontrar você com outro garoto. Você consegue ver como isso deve ser um pouco confuso para mim? Você nunca tinha mencionado gostar de ninguém, e de repente você está trazendo um garoto para casa e depois briga de língua...”

“Briga de língua?”

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Ela suspira. “Eu não sei o que eu devia dizer aqui, Hannah. Eu sempre achei que quando você mostrasse interesse em sexo, isso não iria me perturbar. Mas você é tão... você é tão nova, querida. E se eu não tivesse vindo para casa quando eu vim, eu acho que você e o Finn podiam ter...”

“Você não acha que eu sei como ser responsável? Sério? Por favor.”

“Eu acho que você é responsável, mas eu também acho...” Mamãe diz, e então afunda no sofá. “Eu só... e sobre o garoto de antes?”

“Você quer dizer o Josh, o que gostava de você? É sobre isso que se trata? Você está brava que o Finn não encarou você quando ele estava aqui?”

“Não,” mamãe diz, soando chocada e magoada, “Eu não... você sabe que é assim que eu me visto para...”

“É, eu sei que isso é para o trabalho. Mas não é como se você colocasse mais roupas quando você sai. Mas então, eu acho que isso é publicidade gratuita, certo?”

“Então você está brava,” ela diz. “Hannah, eu sinto muito que o Josh fosse... bem, eu não sei o que você achou que ele fosse. Mas eu prometo que eu não o encorajei, e se tudo com o Finn foi por causa disso, eu quero que você realmente pense sobre o que aconteceu, porque tentar se vingar de mim...”

“Espera, você acha que o que aconteceu com o Finn é sobre você?” Eu digo. “Oh, eu entendi. É claro que é, porque Candy Madison, a estrela menor da web, deve ser a razão de tudo que acontece. Ela deve ser a pessoa que todo mundo quer.”

“Eu não disse...”

“Mãe, para. Eu não estou brava com você sobre o Josh. Eu nem mesmo estou brava com o Josh. E o que aconteceu com o Finn não teve nada a ver com o Josh. Ou mesmo – e eu sei que isso vai ser uma surpresa – com você. Isso só... aconteceu.”

“Sexo não só acontece,” mamãe diz. “E as pessoas que dizem isso...”

“Primeiro, nós não fizemos sexo, e segundo, você ouviu a si mesma falando sobre como conheceu o Jackson?” Eu digo, e então a imito. “Eu o vi, e eu estava toda molhada...”

“Isso não é a mesma coisa.”

“Como não?”

Ela joga as mãos para o ar. “Okay, tá certo. Eu fiz algumas coisas estúpidas no meu tempo. Muitas delas. E eu não quero.... eu quero algo melhor do que aquilo

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para você, e tudo o que aconteceu nos últimos dias tem sido tão difícil que eu tenho medo que você possa fazer uma escolha que você vá se arrepender. Eu fiz coisas como essa no passado, e eu...”

“É, mas aqui está o negócio,” eu digo. “Eu não sou você. Eu não... eu gostava do Josh, você está certa. Mas eu não conhecia ele. Eu só o vi no trabalho e na escola e eu pensei... eu pensei que ele era o cara perfeito. O oposto do Jackson. Mas ele não era. E quando eu descobri isso, eu fui embora. Eu não devia ter deixado você presa com ele, mas eu deixei. E eu sinto muito sobre isso. Mas eu não estou arrependida de nada mais.”

“Hannah...”

“Espera,” eu digo. “Eu não acabei. Eu não sou você, eu também não sou o Jackson. Eu posso finalmente... eu posso finalmente ver isso agora. Sabe, Teagan diz que eu tenho medo, e eu continuo dizendo a ela que eu não tenho, mas talvez...”

“Espera, a Teagan diz que você tem medo? De quê?”

“De mim,” eu digo, sentando perto dela. “Do Finn. A ideia de estar com alguém que é de verdade, que eu realmente conheço. Que me conhece.” E assim que eu digo isso, parece certo. Não, mais do que isso. Parece verdade.

“Você não parecia com medo quando eu vim para casa e achei você na cozinha. E talvez você devesse estar. Você não quer acabar...”

“Sentada por aí de lingerie agindo com se pessoas que eu nunca conheci fossem as pessoas mais interessantes e atraentes que eu conheço?”

“Não,” mamãe diz, sua voz muito suave. “Eu gosto do meu trabalho. Eu sei que você não entende isso, mas eu gosto. O que eu quero dizer é que eu não quero que você... eu não quero que você acabe sozinha. Eu não me arrependo de ter tido você, e eu espero que você saiba disso. Mas mais do que qualquer outra coisa, eu me arrependo de ter...”

“Eu sei, conhecido o Jackson.”

“Não,” ela diz. “O José.”

“José?” eu digo, chocada. “Mas você e ele... vocês dois...”

“Sim,” ela disse. “Nós nos amávamos. Jackson adorava a ideia sobre mim, mas o José...” Ela olha para o chão. “José realmente olhava para mim. Realmente me via. Realmente me amava. E eu o amava.”

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Ela olha para mim. “Eu o amava, e nós íamos ficar juntos para sempre. E então ele tinha ido e eu...” Ela puxa com força o fundo da túnica dela. “O amor machuca. Ele é... o amor não é maravilhoso ou mágico ou nenhuma dessas coisas. É como perder uma parte de você mesmo e você nunca pode...” Ela pisca uma vez, duas, e então morde seu lábio tão forte que eu posso ver as marcas deixadas pelos dentes dela. “Você não pode pegar de volta. José se foi há anos e eu ainda não estou... eu ainda não estou inteira. Ele levou parte de mim com ele, e eu não quero isso para você.”

Ela se move para mais perto, tão perto que eu posso ver que mesmo todas as injeções cosméticas que ela fez não tinham apagado completamente as linhas finas em volta dos olhos dela, a pequena prega triste ao lado da boca dela. “Eu quero que você mantenha seu coração seguro. Você sempre... você sempre foi tão esperta sobre isso. Você sempre foi tão forte, e eu quero que você fique assim. Eu quero que você permaneça segura.”

“Então, não é o sexo que te incomoda,” eu digo. “É... você não quer que eu goste de ninguém?”

“Não, não,” ela diz. “Goste das pessoas, Hannah. Só não... só tenha cuidado. Jamais esqueça que isso tudo pode acabar.” A boca dela está tremendo e eu entendo o que ela está dizendo. Eu sempre acreditei nisso. Eu nunca quis ser como a mamãe, nunca quis ser o brinquedo de algum homem velho rico ou, pior, me importar com um cara o bastante que perdê-lo fosse importar para mim.

Mas agora que ela disse isso em voz alta, isso parece tão... isso parece tão triste. Tão solitário.

Tão assustado.

Eu tomo uma respiração profunda. “Você está realmente arrependida?”

“Sobre você? Hannah, não, eu nunca fiquei arrependida de ter...”

“Não,” eu digo. “Sobre o José. Você realmente está arrependida de tê-lo conhecido? De tê-lo amado?”

Ela está em silêncio por um longo tempo.

“Não,” ela finalmente diz, sua voz tão suave, mal um sussurro, e então diz isso de novo, mais alto, surpresa na voz dela. “Não. Eu não me arrependo de ter conhecido o José. Eu não me arrependo de ter me apaixonado por ele e de termos nos casado. Eu sei que nós acabamos aqui por causa disso, mas eu não retiraria nada porque eu...”

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“Porque você o amava,” eu digo.

“Eu o amo,” ela diz. “Não é passado. Não acabou. Eu nunca vou amar outra pessoa. Oh, eu sei que não é assim que as coisas deviam funcionar. Eu sei que nós só ficamos juntos poucos anos, mas eu sei como eu me sinto. Como eu sempre vou me sentir.” Ela balança a cabeça. “Olha só. Aqui estou eu falando e falando e você está fazendo eu me sentir melhor quando eu devia estar falando com você sobre sua vida amorosa...”

“Mãe, não chame desse jeito, por favor.”

Ela perde tempo com a bainha do robe dela de novo. “Finn disse alguma coisa para mim antes. Ele... bem, ele disse que você precisava que olhassem o motor da sua caminhonete, que parecia que tinha alguma coisa errada com a sua marcha ou algo assim.”

“Com a correia,” eu digo. “Ele me disse isso também.”

“E ele... ele disse que gosta de você,” ela diz, se inclinando contra mim. “Isso foi muito fofo, na verdade. Ele é...”

“Eu sei,” eu digo. “Ele é de verdade.”

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Capítulo 32

Mamãe já está de pé quando meu me arrasto para fora da cama de manhã,

fazendo exercícios no chão do quarto dela. Com o cabelo amarrado, e usando calças de ioga e uma camiseta regata que realmente cobre o umbigo dela, ela parece mais jovem que o normal.

Ela faz uma cara quando eu digo isso. “Não tem sentido fazer tudo isso...” ela diz, gesticulando para a barriga dela, “Se eu vou perambular por aí toda coberta. Eu trabalho duro para ficar bonita, e outras pessoas deviam apreciar isso.”

Ela está sorrindo quando ela diz o último pedaço. Ou fazendo caretas pelo exercício. Eu não posso distinguir. Meus olhos ainda estão secos com sono. Eu os esfrego e faço a última pergunta que eu preciso de resposta.

“Você já quis que o Jackson te ligasse?”

Ela para de se exercitar e olha para mim. “Às vezes,” ela diz, a voz dela suave. “Ele sempre era capaz de fazer eu me sentir como se eu... Ele foi o primeiro homem que fez eu me sentir bonita. Especial.” Ela se senta, passando os braços em volta dos joelhos. “Você quer que eu ligue para ele? Eu tenho certeza que se eu falasse com a Fran, ela poderia...”

“Não,” eu digo. “Eu só... eu só estava imaginando se você já quis falar com ele mesmo que você soubesse que ele não – não pode – realmente falar sério quando ele diz.”

“A Fran daria um jeito de fazer ele te ligar.”

“É, mas eu não quero que a Fran faça ele ligar para mim,” eu digo a ela. “Eu quero...”

“Ele vai ligar,” ela diz. “Ele não vai... ele não vai se desculpar, mas ele vai ligar um dia.”

“Talvez,” eu digo, e dói dizer isso, mas é a verdade.

Ela olha para mim. “Você está certa. Talvez ele ligue. Eu sinto muito. E Hannah, você sabe que eu amo...”

“Eu sei,” eu digo. “Eu amo você também.”

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Quando eu termino de me vestir, eu olho para o elástico de cabelo na minha mão, e então para o meu cabelo. Eu tento me imaginar andando na escola com ele solto. Eu iria andar pelo corredor e ver o Finn e ele iria...

Ele provavelmente iria me perguntar o que estava errado. E então ele iria sorrir para mim e dizer...

Ele iria sorrir para mim e dizer...

Eu não sei. O que ele diria?

O que ele vai dizer para mim hoje?

“Eu sabia!” Teagan diz quando ela atende o telefone e eu conto a ela sobre o que aconteceu com o Josh e então com o Finn no trabalho e peço um conselho. “Eu sabia que você ia acabar com o Finn.”

“Você não sabia! Ontem você disse que você sabia que eu não podia te pegar por causa...”

“De um certo alguém,” ela diz. “Você simplesmente presumiu que eu me referia ao Josh, mas eu sabia que seria o Finn. Era totalmente óbvio pelo jeito que você falava dele.”

“Sem chance, você não sabia... Você realmente sabia?”

“Sim,” ela diz. “Você gosta do Finn.”

“Eu... sim, eu gosto,” eu digo, e então conto a ela todo o resto sobre a noite passada.

“Me conta a parte da pedra de novo,” ela diz quando eu termino.

“A parte da pedra? Ele e eu acabamos sendo pegos pela minha mãe, que ficou dando uma de mãe para cima de mim, e você quer que eu conte sobre as pedras de novo?”

“Você sabe quantas pessoas tem garotos aparecendo e jogando pedras na janela delas para que eles possam falar sobre como eles se sentem? Uma. Você. Você é essa pessoa no mundo todo, Hannah. Eu aposto que isso foi bem mais romântico do que você fez parecer, também.”

“É, ter a minha mãe dando uma de mãe foi quente.”

“Oh, só admita isso,” ela diz. “Você gosta dele. Ele gosta de você. Você tem uma coisa toda romântica acontecendo.”

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“Ótimo. Nós vamos fugir e viver felizes para sempre e você pode vir ficar com a gente no nosso grande castelo... oh, espera, o Jackson tem um desses e a vida dele não é um conto de fadas para ninguém mais exceto ele.”

“Ouça o que está dizendo,” ela diz. “Você não sabe exatamente o que vai acontecer quando você o ver e isso está deixando você louca. Bem, mais louca que o normal. Você só vai ter que confiar que quando ele disse que gosta de você ele falava sério e...”

“Pare de ser tão... você,” eu digo, rindo, e então acrescento, “Você acha que ele falou sério?” numa pressa.

“Sim,” ela diz. “Então você vai até ele quando você o ver e vai sorrir e então...”

“Ir até ele? Eu não vou até as pessoas e começo a falar. Você sabe disso.”

“Ele veio falar com você, certo?” Quando eu não digo nada ela diz, “Você sabe que eu estou certa. Então vai e finalmente coloque tudo na mesa, Hannah.”

“Okay, eu vou. Mas você tem que encontrar três faculdades que você queira ir e comece a fazer o requerimento.”

“Hannah...”

“Não, eu vou falar com o Finn, e então hoje à noite você pode me contar sobre as faculdades, e quando você der o fora de Slaterville eu vou te visitar e...”

“Eu não vou fazer isso,” ela diz.

“Você vai também. Você ainda tem seu caderno de esboços e não é como se você tivesse esquecido como costurar. Quero dizer, você ainda está fazendo roupas, então...”

“Você não entende. Isso não vai acontecer, okay? Eu não vou fazer isso. Eu não quero fazer isso. Eu não quero... eu não quero falhar de novo.”

“Teagan...”

“Não fique com medo sobre o Finn,” ela diz. “Pegue a chance e tente ser feliz, okay? Então você pode me contar como é isso.”

“Mas...”

“Eu falo com você mais tarde,” ela diz, e desliga.

Não era assim que as coisas deveriam ser. Teagan devia sair de Slaterville. Ela devia voltar para a faculdade. Ela não devia...

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Ela não devia estar com medo também. Mas ela está. Eu termino amarrando o cabelo e vou para a escola.

Eu não falo com o Finn quando chego lá. Na verdade, eu não falo com ninguém quando eu chego lá. Eu passei tanto tempo conversando com a mamãe e depois com a Teagan que eu acabo chegando na escola depois do último sinal para o primeiro período já ter tocado.

Michelle está no escritório quando eu entro para pegar um cartão de atraso, conversando com a secretária. “Eu sei que essa é a terceira vez eu estou atrasada esse semestre, mas eu não pude evitar,” ela diz. “Meu pai está reformando nossa casa e minha irmã e eu temos que dividir o banheiro. É como morar na era das cavernas ou alguma coisa.”

“Isso não é uma desculpa muito boa,” a secretária diz.

“E é por isso que você sabe que não pode ser uma mentira,” Michelle diz, e a secretária balança a cabeça, sorrindo.

“Quantos anos ela é mais nova?”

“Dois anos.”

“A minha é um ano e meio,” a secretária diz, e entrega a Michelle um cartão de atraso com um sorriso. “Tente levantar antes dela. Isso funcionou comigo.”

“Obrigada,” Michelle diz. “Hey, a Hannah pode pegar um passe também? Ela me deu uma carona até aqui e então ela teve que achar um lugar para estacionar, então não é culpa dela que ela está atrasada. Ela teve que esperar por mim.”

A secretária suspira, mas me dá um passe também.

“Irmã?” Eu pergunto a Michelle quando nós estamos fora no corredor. “Desde quando você tem uma irmã?”

“Desde que eu não podia pegar mais nenhum cartão de atraso,” Michelle diz com um sorriso. “Te vejo depois?”

Normalmente eu só iria assentir e ir embora. Eu não iria sequer pensar sobre o que ela disse. Mas eu penso sobre isso agora, e me deixo acreditar que ela falava sério. Que ela realmente quer me ver depois.

“Claro,” eu digo, e quando ela acena para mim antes de entrar na sala, eu aceno de volta.

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Eu vejo o Josh no corredor antes do segundo período, de mãos dadas com a Peyton assim como um grupo de pessoas, na maioria meninas andavam com eles. Ele está carregando o caderno dele, a capa esfarrapada apenas o suficiente para que todo mundo possa ver que tem montes de coisas escritas por baixo, e ele está falando realmente alto sobre como nossa geração não sabe como sentir as coisas. Ele me vê, sorri, e diz, “Obrigado pela noite passada, Hannah. Foi maravilhosa.”

O sorriso da Peyton fica obscuro e ela me olha fixamente. Todas as garotas em volta dele estão olhando para mim, metade com desejos escritos por todo o rosto delas, a outra metade com um misto de tristeza e raiva.

Josh é só um cara. E nem mesmo um muito legal. Eu não posso acreditar que eu não vi isso.

Eu não quis ver isso. Eu não achei que ele alguma vez fosse me notar, e no final, ele não notou.

E agora? Bem, agora eu acho – não, eu sei – que eu mereço algo melhor.

“Eu sinto muito que eu tive que ir embora logo depois que você chegou, mas, bem, o trabalho é mais importante do que você,” eu digo. “Oh, e minha mãe disse que se você quiser aparecer de novo e falar o quanto você gosta do antigo programa de TV dela e essas coisas, você deve ligar primeiro, porque ela está realmente muito ocupada. E ela também falou para te dizer que é legal que a música ‘Garota dos sonhos’ é sobre ela, mas é a décima sexta ou décima oitava música que foi escrita para ela e então ela não está interessada em ouvi-la.”

As garotas com os rostos cheios de desejos pareceram surpresas. Algumas das que pareciam com raiva sorriam. Peyton parecia desorientada, e então diz, “Você disse que ‘Garota dos sonhos’ era sobre mim’.”

“Eu...” Josh diz, e eu vou embora. Eu não preciso ouvir o que ele tem para dizer. Eu não quero ouvir. Eu tenho certeza que eu vou ouvir tudo sobre a versão dele sobre isso no trabalho de qualquer forma.

Talvez eu pare no caminho e compre alguns protetores de ouvido.

E então eu vejo o Finn. Ele está parado do lado de fora da minha sala, com as mãos nos bolsos e encolhendo os ombros para algo que o Brent está dizendo. Enquanto eu assisto, ele se vira e de alguma forma dá um jeito de derrubar um refrigerante da mão do cara parado perto dele.

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O refrigerante aterrissa no Brent, que passa como um furacão por mim, praguejando e fazendo careta para a camiseta molhada dele. Ele também tem um olho roxo.

Eu ando até o Finn. “Você faz essas coisas de propósito,” eu digo.

Finn encolhe os ombros. “Brent foi a única pessoa que falou comigo quando eu me mudei para cá, e às vezes ele ainda é aquele cara, mas outras vezes... bem, outras vezes ele precisa de um refrigerante derramado nele.”

“Ou ser empurrado em um armário? Ou ganhar um olho roxo?”

“É,” ele diz, e sorri para mim.

Eu queria ter percebido como o sorriso dele era doce antes. Eu queria ter realmente visto isso. Mas pelo menos eu vejo isso agora.

“Hey, eu, hum... aqui,” ele diz, e puxa um pedaço de papel dobrado do bolso dele.

Eu o abro. Ele diz que Hannah James possui a estrela 4356473, e tem um pequeno mapa de como encontrá-la no céu à noite.

“Você comprou uma estrela para mim?”

Ele cora. “Lembra quando você disse...?”

“Eu lembro. Eu não achei que você lembrasse. Eu não achei que você tivesse... eu não posso acreditar que você fez isso.” Eu traço a localização da estrela com um dedo. “Obrigada.”

Ele encolhe os ombros, mas ele ainda está corando. “Eu estava pensando...”

Um professor passando diz, “A frequência na aula não é opcional, você sabe,” e Finn diz, “Sim, certo,” e se vira, pronto para ir embora.

“Hey,” eu digo, e ele para e me encara. “Você iria... talvez alguma hora dessas nós pudéssemos procurar a minha estrela ou alguma coisa.”

“É?” ele diz, e eu tomo uma respiração profunda.

“Eu gostaria,” eu digo, e no fim, não é difícil falar com alguém que eu gosto. Não quando o Finn está sorrindo para mim como ele está agora.

“Eu te disse que nós fomos feitos uma para o outro,” ele diz, ainda sorrindo, ainda tão Finn, que sempre esteve aqui, mas que eu simplesmente não via, e agora...

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Bem, agora eu o beijo.

E só por um segundo, vale totalmente a pena o cartão de atraso que eu acabei ganhando.

Fim

Créditos:

Comunidade Traduções de Livros

[http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25399156]

Tradução:

> Mariane

> Maýra

> Serena

Revisão: Mariane