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_>>> Enxerto Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:46) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Quarta-feira, 18 de novembro de 2015 | F1 Especial Empresas & clima Soluções Com a publicação deste suplemento, o Valor junta-se à Sparknews, organização dedicada a divulgar e multiplicar iniciativas que contribuam para solucionar problemas mundiais. O grupo é formado por mais de 15 jornais de economia de diferentes países, que buscam exemplos de negócios que respondam aos desafios das mudanças climáticas. O fechamento da usina nuclear de Grafenrheinfeld, em junho, é mais um marco na mudança da matriz energética alemã. Entre 2000 e 2014, o uso de fontes renováveis no país evoluiu de 7% para 28% da demanda. F3 O manejo sustentável da castanha em Iratapuru (AP) é uma das faces da valorização da biodiversidade e de comunidades nas operações da Natura. Hoje, o grande desafio da empresa para redução de impacto ambiental são as embalagens. F7 para o futuro Um saco com dez quilos de pedras e areia, uma corda com contrapeso e um mecanismo são suficientes para manter acesa por até 30 minutos uma lâmpada de LED. O sistema da Gravity Light é movido pela gravidade. F2 As conchas descartadas por criadores de ostras são a matéria-prima da Kervellerin, pequena empresa francesa que vende compostos para fabricantes de tintas e pesquisa sua aplicação em impressoras 3D. F5 Instalada em uma antiga fábrica de Næstved, na Dinamarca, uma planta de alta tecnologia para reciclagem de vidro valoriza a matéria-prima recuperada e estimula a economia circular. F5 Com painéis interconectados, o método de construção a seco da iBuiltec promete ser 20% mais barato que o convencional e pode ser uma alternativa para solucionar a falta de moradias no México. F6 NPP GRAFENRHEINFELD GRAVITY LIGHT/DIVULGAÇÃO KERVELLERIN/DIVULGAÇÃO NATURA/DIVULGAÇÃO FINN FRANDSEN/DIVULGAÇÃO NATALIA GAIA/DIVULGAÇÃO

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Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:46) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Quarta-feira, 18 de novembro de 2015 | F1

Es p e c i a lEmpresas & clima

Soluções

Com a publicaçãodeste suplemento, oVa l o r junta-se àS p a r k n ews ,o rg a n i z a ç ã odedicada a divulgare multiplicariniciativas quecontribuam parasolucionar problemasmundiais. O grupo éformado por mais de15 jornais deeconomia dediferentes países,que buscamexemplos denegócios querespondam aosdesafios dasmudanças climáticas.

O fechamento dausina nuclear deG ra fe n r h e i n fe l d ,em junho, é maisum marco namudança damatriz energéticaalemã. Entre2000 e 2014, ouso de fontesrenováveis no paísevoluiu de 7%para 28% dademanda. F3

O manejosustentável dacastanha emIratapuru (AP) éuma das faces davalorização dabiodiversidade ede comunidadesnas operações daNatura. Hoje, ogrande desafio daempresa pararedução dei m p a c toambiental são asembalagens. F7

p a rao futuro

Um saco com dezquilos de pedras eareia, uma cordacom contrapeso eum mecanismosão suficientespara manter acesapor até 30minutos umalâmpada de LED. Osistema daGravity Light émovido pelagravidade. F2

As conchasdescartadas porcriadores de ostrassão amatéria-prima daKe r ve l l e r i n ,pequena empresafrancesa que vendecompostos parafabricantes detintas e pesquisasua aplicação emimpressoras 3D. F5

Instalada em uma antiga fábrica de Næstved, na Dinamarca, uma planta de alta tecnologia parareciclagem de vidro valoriza a matéria-prima recuperada e estimula a economia circular. F5

Com painéisinterconectados, ométodo deconstrução a secoda iBuiltecpromete ser 20%mais barato que oconvencional epode ser umaalternativa parasolucionar a faltade moradias noMéxico. F6

NPP GRAFENRHEINFELD

GRAVITY LIGHT/DIVULGAÇÃO

K E RV E L L E R I N / D I V U LG A Ç Ã O

N ATU RA / D I V U LG A Ç Ã O

FINN FRANDSEN/DIVULGAÇÃO

NATALIA GAIA/DIVULGAÇÃO

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F2 | Valor | Quarta-feira, 18 de novembro de 20 1 5

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:43) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | Empresas & clima

Soluções deimpactono mundointeiro

Às vésperas da 21ªConferência doClima, a CoP-21, amídia mundial estáconcentrada nas

mudanças climáticas e em seusefeitos sobre o planeta. Amaioria dos jornais estápublicando reportagens sobrefuturas catástrofes. Muitopoucos, porém, escrevem sobrepossíveis soluções.

No entanto, há pessoas emtodos os continentes propondomaneiras engenhosas de resolveros problemas ambientais. NoMéxico, por exemplo, ScottMunguía transforma caroços deabacates em bioplástico,enquanto Sandra e Nick Sassowinventaram, no Reino Unido,uma máquina que produzenergia a partir de resíduosalimentares em edifícios deescritórios e hospitais. Seul estáincentivando seus cidadãos aconsumir energia de formaresponsável com um modelo queinspirou diversas cidades,inclusive Nova York.

Hoje, na primeira edição deSolutions&Co, o Va l o r alia-se à“Sparknews” e a mais de 15jornais internacionais deeconomia e negócios parapublicar reportagens sobre essesmais de 50 desses pioneiros. Sãoengenheiros, projetistas,funcionários públicos ouempreendedores. O que todoscompartilham é talento paraencontrar soluções na forma denegócios focados na questão dasmudanças climáticas.

Nos últimos três anos, o“Sparknews” vem desenvolvendoo chamado “jornalismo dei m p a c t o”, com uma redemundial de importantes jornais.A iniciativa convida cada veículoa identificar projetos inovadoreslocais e a compartilhar essashistórias com seus pares. Assim,leitores na Europa podem seinspirar em iniciativas africanas,asiáticas, americanas, evice-versa.

A mídia é essencial paradivulgar essas inovações eampliar seu impacto. Asempresas podem ser aliadas e épor isso que a “Sparknews”trabalha com “The B Team”,organização fundada por SirRichard Branson e Jochen Zeitz ecomposta por 19 líderesempresariais como Paul Polman,Ratan Tata e Muhammad Yunus.Eles estão engajados em um“Plano B” para o capitalismo quecombina lucro, pessoas e planeta.

Nessa mesma linha, atua aTo t a l , da área de energia e umdos sócios fundadores daS o l u t i o n s & C o. Emborareconheça que suas atividadessão parte do problema, aempresa espera desempenharum papel na solução.

Os leitores também podemparticipar da Solutions&Co eajudar a reverter a maré dasalterações climáticas. Para setornar um influenciador, bastacompartilhar uma reportagemsobre um projeto inovador einspirador ou recomendarsoluções de negócios quemereçam ser destacadas nossuplementos Solutions&Co( s o l u t i o n s a n d c o. o r g / g e t - i nv o l v e d /ou #Ideas4Climate no Twitter).Você também pode enviar seuscomentários pelo [email protected]

Os editores da Solutions&Coestarão reunidos na CoP-21, emParis para explicar a abordagemdo projeto. Mudanças positivasestão em andamento. Massomente somando forças serápossível intensificar ritmo eescala para criar um futurom e l h o r.

Christian de Boisredon, Amy Serafin eClémentine Sassolas

Recursos hídricos Projeto desenvolvido na Ilha de Páscoa é alimentado por energia solar

Dessalinizada, água do mar éusada para irrigação de culturasAlejandra MaturanaDo Diario Financiero (Chile)

Localizada em pleno Oceano Pa-cífico, a Ilha de Páscoa é uma dasmaiores atrações turísticas do Chi-le. Suas praias virgens, de areiasmacias, o tom turquesa do mar,seus majestosos vulcões adormeci-dos, alguns com incríveis lagoas, eos enigmáticos moais espalhadospor toda a área atraem todos osanos milhares de visitantes — prin -cipalmente no verão.

É justamente nessa época que afalta de chuva e as temperaturaselevadas reduzem o volume deágua para a irrigação de culturas. Ea ilha é forçada a trazer do conti-nente 52% das frutas e verdurasconsumidas anualmente. “Com afalta de recursos hídricos, os agri-cultores da região precisam dimi-nuir sua produção ou recorrer àágua potável para irrigar as planta-ções, o que eleva o preço dos pro-dutos e os torna menos competiti-vos em relação à oferta do conti-n e n t e”, explica Carolina Cuevas,chefe da área de sustentabilidadeda Fundación Chile.

A organização, dedicada ao fo-mento de iniciativas inovadoras,projetou, com o apoio de parcei-ros locais, uma usina com tecno-logia que dessaliniza a água domar utilizando energia solar pa-ra irrigar das plantações locais.Segundo Carolina, a primeira fa-se do projeto foi um sucesso, jáque foi possível iniciar a opera-ção conforme as condições dailha — além de ter um nível de sa-linidade maior, a costa de RapaNui concentra, após as chuvas,uma quantidade significativa de

sedimentos resultantes do deslo-camento de terra, o que exigiu acriação de protocolos operacio-nais específicos.

Carolina conta que tudo co-meçou no final de 2013, quandoapresentava o andamento deoutras unidades de dessaliniza-ção que a fundação tem no Nor-te do país. Na ocasião, foi conta-tada pela Secretaria do Conselhode Produção Limpa, que apre-sentou o problema enfrentadona ilha e e demonstrou interesseem desenvolver um projeto se-melhante no local.

Rapidamente foi formadauma equipe de trabalho que co-meçou a levantar dados paraelaborar uma proposta e buscarparceiros e recursos para a em-preitada. O financiamento veiodo Fundo de Inovação para aCompetitividade do GovernoRegional de Valparaíso, que ad-ministra a Ilha de Páscoa. A Cor-poración Nacional Florestal (Co-naf) forneceu viveiros exclusivospara testes de replante de espé-cies nativas, que abrigam cercade quatro mil mudas.

O passo seguinte foi instalarno local um pequeno protótipoda usina, com capacidade paraproduzir um metro cúbico deágua por hora. A instalação depainéis fotovoltaicos permitiuque 70% da energia necessáriapara o funcionamento da usinaviesse da energia solar. O primei-ro copo de água dessalinizadacom qualidade de irrigação foiproduzido em maio e desde en-tão o desempenho da unidadevem sendo monitorado.

“Hoje a geração de energia elé-

trica das ilhas vem do diesel, por-tanto tudo o que puder ser gera-do a partir de fontes renováveisajudará a substituir este combus-tível altamente poluente, contri-buindo para a sustentabilidadedo território”, diz, Segundo ela,enquanto a usina alimenta suaoperação com 30% da energiaque vem rede, a captação solarcontinua funcionando e injetan-do energia no sistema, mesmoquando está desligado. Depen-dendo da radiação do dia, 100%da alimentação pode vir do sol.

Um raio sobre pequenospassageiros clandestinosNicholas Le QuesnePara a Sparknews

Em 1991, quando um naviocargueiro chinês chegou ao por-to El Callao, em Lima, não desem-barcou apenas as entregas pre-vistas. Deixou no local água delastro com o vibrião da cólera,originário da Ásia. Em semanas, adoença havia contaminado osfrutos do mar, devastado favelasda capital peruana e se espalha-do por 11 países, dando origemao primeiro surto de cólera emmais de um século na AméricaLatina. Quando a epidemia final-mente perdeu força, já tinha dei-xado cerca de 9 mil mortos.

O caso do Peru é um exemploclássico de um efeito colateralpouco conhecido na atual eco-nomia globalizada: os navios,que transportam mais de 80%das mercadorias do mundo, tam-bém deslocam entre 3 e 5 bilhõesde toneladas de água marinhatodos os anos. É a chamada águade lastro, recolhida pelo navio nomomento em que a mercadoria édescarregada. Armazenada emgrandes tanques, no lastro, aágua garante a estabilidade daembarcação no mar até o próxi-mo porto, quando o navio é re-carregado e a água, descartada.

É aí que está o perigo. A águade lastro contém uma grande va-riedade de microorganismos, co-mo bactérias, vírus e larvas deplantas e animais marinhos. Du-rante o descarregamento, essasespécies não nativas podem sedesenvolver no novo habitat,causando danos devastadores aomeio ambiente, à economia e àsaúde pública da região.

Para enfrentar o problema, aOrganização Marítima Interna-cional das Nações Unidas (IMO) ea Guarda Costeira dos EstadosUnidos adotaram normas queexigem que os navios tratem to-da a água de lastro antes de des-carregá-la nas águas costeiras aoredor do mundo. As exigênciaslevaram várias empresas a desen-

volver métodos de tratamentoque vão desde a utilização deprodutos químicos, calor, eletri-cidade e ultrassom para comba-ter a propagação dessas espéciesinvasoras. Uma das formas maisinovadoras e ecologicamentecorretas criadas recentementetem sua origem associada às pis-cinas residenciais no sul da Fran-ça.

Com as calçadas repletas de ca-fés, telhados de terracota e cigar-ras cantantes, a cidade francesade Lunel fica longe das agitadasrotas marítimas de comércio in-ternacional. Mesmo assim, foi láque Benoît Gillmann, ex-funcio-nário de uma empresa da área deequipamentos médicos e funda-dor da B i o - U V, descobriu a tecno-logia que colocou sua empresana vanguarda do tratamento deágua de lastro, com a marcaBio-Sea.

“Soube de alguém que estavausando uma engenhoca cons-truída na própria garagem paratratar água de piscina sem usarc l o r o”, explica Gillmann. “Gosteida ideia e pedi para que fizesseum aparelho daquele para mim.Deu tão certo que resolvi colo-cá-lo no mercado”, explica.

O Sistema Bio-Sea não utilizaprodutos químicos. É capaz, ape-nas com a luz ultravioleta, de ex-terminar todos os organismos vi-vos presentes na água recebidaou despejada dos tanques de las-tro dos navios. Depois de passarpor um filtro compacto, a água éexposta a uma radiação UV–Ccom onda de 254 nanômetros decomprimento, exatamente o tipode luz ultravioleta da qual a at-mosfera terrestre nos protege.

Em 2000, a empresa começoua comercializar a tecnologia parapiscinas e tratamentos de águaem geral. Dez anos mais tarde, fo-ram observadas novas oportuni-dades nos esforços internacio-nais para combater o problemade água de lastro. Seguido de umprograma de três anos de pesqui-sa e desenvolvimento e um inves-

timento de aproximadamente2,5 milhões, o sistema de trata-mento UV foi adaptado com êxi-to nas aplicações marítimas, ga-nhando certificação integral daIMO em 2013 e aguardando umacertificação americana previstapara 2016.

Nesse processo, a Bio-UV pas-sou de pequena a empresa inter-nacional com subsidiária nos Es-tados Unidos. “Em 2000, nós co-meçamos do nada”, diz Gill-mann. “Éramos apenas três. Hojetemos 49 funcionários na Françae 20 nos Estados Unidos”. Ele de-tém a maioria das ações da em-presa e os 46% das ações restantesestão nas mãos de três fundos deinvestimento. Os dois últimosentraram no capital da empresaem 2010 e 2014, atraídos especi-ficamente por suas perspectivasde crescimento no mercadoemergente de tratamento daágua de lastro. Até o fim de 2018,a expectativa da Bio-UV é que suareceita, atualmente de 12 mi-lhões, aumentem para cerca de30 milhões.

Mas nem tudo vai de vento empopa. “Tratar a água de lastro emescala mundial é um grande de-safio, mas comandar uma em-presa na França, atualmente, éuma empreitada ainda maior”,observa Gillmann. “Não temos osrecursos financeiros que as gran-des corporações têm e o ambien-te regulatório está mais compli-cado a cada ano”, acrescenta.

Mesmo assim, a empresa semantém forte e vem avançando.Em 2013, forneceu o sistema pa-ra tratamento da água de lastrodo novo navio do Grupo CMACGM, a terceira maior empresamarítima do mundo. Com umacapacidade para 18 mil contêi-neres, o CMA CGM Vasco da Ga-ma é um dos maiores navios car-gueiros do mundo. “É um gran-de motivo de orgulho e reconhe-cimento para a empresa”, afirmaGillmann. Certamente, são boasnotícias também para o resto doplaneta.

Pedra vira basepara iluminaçãoClaire BarnesPara a Sparknews

Para a população carente domundo o chão em que vivem é, àsvezes, tudo o que têm. Mas dois de-signers de Londres tiveram umaideia brilhante e acrescentaram al-go mais: a luz, obtida por meio deuma tecnologia que usa poeira epedras. O projeto começou há seisanos, quando a instituição filan-trópica SolarAid desafiou Jim Ree-ves e Martin Riddiford a projetaruma fonte de iluminação de baixocusto, a partir da luz do sol, paraservir de alternativa ao querosene.

Entre 1,3 e 3 bilhões de pessoasno mundo usam lamparinas quefuncionam com querosene, aindaque seus efeitos sejam nocivos àsaúde: de acordo com o BancoMundial, 780 milhões de mulherese crianças em todo o mundo queusam essas lamparinas inalam umvolume de fumaça equivalente afumar dois maços de cigarro pordia. A fumaça pode causar infec-ções oculares e a queda de lampa-rinas é causa comum de queima-duras e incêndios. Além disso, ocusto da querosene consome até30% da renda de algumas famílias.

Enquanto pensavam em alter-nativas movidas a tecnologia solar,os designers se depararam com asbaterias, que são caras e ineficien-tes. Além disso, havia uma ques-tão: como fazer a energia solar du-rar ao longo da noite? Ocorreu aeles então que a gravidade, dife-rentemente da luz solar, está dis-ponível 24 horas por dia.

“Tivemos uma ideia intrigante”,conta Reeves. O sistema criadopor eles utiliza uma saco com dezquilos de pedras e areia, conecta-da a uma corda com um contra-peso. Conforme ele desce lenta-mente, o saco de pedras transfor-ma a energia potencial em ener-gia cinética e um mecanismo, quegera eletricidade suficiente parailuminar uma lâmpada LED poraté 30 minutos. Depois que o sacochega ao chão, ele é elevado pararepetir o processo.

Foi assim que nasceu a Gravity -Light, a empresa que criou a lâm-pada acionada pela gravidade.Em 2013, eles lançaram umacampanha para arrecadar os re-cursos necessários à fabricaçãodas amostras que seriam distri-buídas para testes na Índia e naÁfrica. A meta era obter US$ 55mil, mas, em menos de 40 dias,alcançaram quase oito vezes essevalor. Na metade da campanha,Bill Gates lhes enviou uma men-sagem pelo twitter classificandoa GravityLight como uma “inova -ção muito legal”.

O aporte lhes permitiu colocaros planos rapidamente em prática.Em 2014, realizaram testes com aslâmpadas que envolveram mais de1.300 famílias sem abastecimentode rede elétrica em 27 países. Maisde 90% dos participantes disseramque usariam uma GravityLight emvez de querosene. “Conseguimosuma prova básica do conceito”, dizCaroline Angus, diretora comer-cial da empresa.

Eles também receberam ava-liações dos usuários, que foramusadas para projetar uma versãoaprimorada da lâmpada. A GL01exigia que o usuário se abaixassee pegasse um peso e depois o ele-vasse até o alto. A nova versão, aGL02, tem um sistema de eleva-ção que até crianças podem usar.E permite que as luzes permane-çam acesas o tempo todo — anteselas se apagavam se alguém ele-vava o saco de pedras novamente.

Em 2013 foi criada a Deciwatt,empresa social que desenvolvesoluções de energia limpa e forada rede elétrica para quem amaatividades ao ar livre. Uma partedos lucros da Deciwatt vai para aFundação GravityLight, cuja mis-são é ajudar eliminar lamparinase superar a pobreza.

Em setembro, a GravityLightarrecadou US$ 300 mil com umasegunda campanha de arrecada-ção pública, para subsidiar umaoperação de montagem da GL02no Quênia. Mas o objetivo é quetoda a produção seja local.

FUNDACIÓN CHILE

Desenvolvida pela Fundación Chile, unidade levou em conta características específicas da Ilha de Páscoa

E d i to r i a l

lina lembra, porém, que o objetivoé atender a todos.

“Hoje estamos avaliando o queé mais viável fazer e formulandoum projeto para avançar para asegunda fase, com base no nichoimportante que se abriu com osresultados da primeira. Por en-quanto, não há fundos abertospara financia-mento, entãoaté lá vamoscontinuar a tra-balhar nessa li-nha, diz ela.

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A segunda fase do projeto, comimplementação da tecnologia nolocal onde está o agricultor, no en-tanto, é vista como um desafio. Osgrandes produtores estão localiza-dos longe da rede elétrica, o queexigiria um estudo de viabilidadede instalação de uma usina movi-da exclusivamente a energia solar.O foco inicial, portanto são os pro-dutores de menor porte que estãopróximos da cidade e poderiamobter água para irrigação por meiode um sistema semelhante ao utili-zado atualmente no viveiro. Caro-

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Quarta-feira, 18 de novembro de 2015 | Valor | F3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:44) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Alemanha é modelo demudança energéticaJürgen Flauger e KlausS t rat m a n nDo Handelsblatt (Alemanha)

O dia 25 de julho deste ano foium marco na história da matrizenergética da Alemanha: 78% dademanda de energia do país foramatendidos por fontes renováveis.No total, a produção foi de quase48 gigawatts, o equivalente ao queproduzem 50 usinas de carvão.

A mudança energética alemãacontece de forma contínua.Quase um mês antes, em 27 dejunho, foi suspensa a operaçãoda usina nuclear de Grafenrhein-feld. O reator, que funcionou por33 anos, teria condições técnicasde gerar energia por mais duasdécadas. Mas a decisão de fechá-lo foi política, tomada pelo go-verno da chanceler alemã AngelaMerkel, cuja meta é não usarmais a energia nuclear. “Há déca-das tentamos deixar a terríveltecnologia nuclear. O fechamen-to definitivo de Grafenrheinfeldé motivo de alegria”, diz HubertWeiger, da Associação para oMeio Ambiente e Conservação daNatureza do país.

A Alemanha é prova de que atéuma das maiores economias domundo pode orientar sua matrizenergética para fontes renováveis,mas é também exemplo de com-plexidade dessa mudança. Em2014, 28% da demanda energéticaalemã vinham de fontes renová-veis, como a eólica, a solar, a bio-massa e a das hidrelétricas e o ob-jetivo do governo era elevar o per-centual em 35% até 2020.

Em 2000, quando a nova Lei deEnergias Renováveis (EEG, na si-gla em alemão) foi implementa-da e a mudança energética, ini-ciada, a participação não chega-va a 7%. Ao assegurar subsídios ainvestidores em energia eólica esolar, a EEG fez os projetos nessasáreas se multiplicarem. E não fo-ram apenas as empresas queconstruíram aerogeradores. Mi-lhares de domicílios instalaramsistemas de energia solar.

Apesar das mudanças, o país é

um dos que apresenta a menormédia de interrupção de geraçãode energia. O índice em 2014 foide 12,28 minutos. “Nunca a con-fiabilidade da geração de energiaelétrica na Alemanha esteve emum nível tão alto, mesmo compa-rado a outros países europeus”,diz Jochen Homann, presidenteda agência federal responsávelpelas redes de energia. Na Grã-Bretanha, a média é de mais de80 minutos, na França mais de100 e na Itália mais de 150.

O medo de apagões foi grandequando a Alemanha acelerou amudança energética — em 2011,após a catástrofe com o reator deFukushima, o país desativou ra-pidamente oito dos 17 reatoresnucleares do país. Mas a chance-ler Merkel foi incisiva: “A porcen-tagem de energias renováveisdeixou de ser um nicho para tor-nar-se o pilar de nossa distribui-ção enérgica”, disse na ocasião. Oque mais a preocupava era o au-mento dos custos com a energiaelétrica. A solução foi dividir a di-ferença entre os elevados subsí-dios para a energia limpa e ospreços cobrado pelos atacadistasentre as operadoras de rede e osconsumidores.

A acelerada reforma da ener-gia eólica e solar trouxe grandesdesafios às operadoras de rede.Nos períodos máximos, as ener-gias renováveis deveriam cobrirmais de 70% da demanda, comoaconteceu no dia 25 de julho. Noentanto, nos dias cinza de inver-no, quando não há sol e o ventosopra pouco, a potência cai rapi-damente para 5%. E, quanto maisa oferta energética oscila porcausa do clima, mais difícil é evi-tar quedas de energia. Além dis-so, as operadoras de rede preci-

E n e rg i a Tecnologia inovadoracombina GSM e pagamento móvel

Celular tomao lugar daslampar inasHannah McNeishPara a Sparknews

Michael Saitabau, de 11 anos, te-ve muitas vezes de parar de fazer alição de casa mais cedo porque emNgong Hills o sol se põe antes das19 horas e o querosene das lampa-rinas de sua casa acabava, o quesignifica que ele e a sua família ti-nham de ir para a cama. “Eu costu-mava faltar à escola porque seriapunido se não tivesse feito a tare-f a”, lembra ele. No Quênia, ondeapenas 20 a 25% das pessoas po-dem pagar pela rede elétrica, a úni-ca fonte de luz que incide à noitesobre a casa dos Saitabau e as ou-tras casas de metal e madeira da re-gião é a das estrelas.

Quando Faith, a mãe de Mi-chael, encontrava tempo e dinhei-ro para comprar mais querosene,ficava acordada fazendo artesana-to para vender aos turistas. Mas osesforços para aumentar a renda fa-miliar prejudicavam sua saúde. “Afumaça me afetava muito”, diz.“Quando eu tossia, a secreção quesaía era preta.”

Hoje, a principal empresa deenergia solar do Quênia, a M-KO -PA, está vendendo uma alternati-va limpa, renovável e de baixocusto para suprir as necessidadesde energia dos moradores daszonas rurais. As famílias pagamUS$ 35 e recebem um sistema de

produção doméstica de energiasolar formado por um painel so-lar no telhado, duas lâmpadas,uma lanterna, um rádio e um dis-positivo para carregar celulares.Elas pagam US$ 0,43 por diatransferindo dinheiro pelo tele-fone celular, usando um sistemade pagamento móvel. Depois depagar durante um ano, os clien-tes recebem o direito de ficarcom o sistema solar e ter acesso aenergia gratuita.

A M-KOPA foi inaugurada em2012 por uma equipe internacio-nal— M significa “móvel” e KOPAé a palavra em suaíli para “em -p r é s t i m o”. Um de seus co-funda-dores ajudou a dar início ao M-PESA, atualmente o principal sis-tema de transferência de paga-mento por celular do mundo. AM-KOPA usa a tecnologia M-PE-SA para aumentar a concessão decrédito para clientes de baixarenda, muitos dos quais nemmesmo têm contas bancárias.

Apresentando-se como lídermundial em fornecimento deenergia com o sistema “pague porquanto usar” para casassem liga-ção com a rede elétrica, a M-KOPAtem hoje 225 mil clientes no Quê-nia, Tanzânia e Uganda. Ela está co-meçando a implantar seu sistemaem Gana e na Índia e quer se ex-pandir para outras regiões.

Com 650 funcionários, milha-

res de representantes de vendas eUS$ 40 milhões por ano de fatu-ramento, a empresa recolocou aenergia solar no mapa da Áfricaoriental.

“As pessoas têm tentado venderenergia solar na África há muitotempo, mas eu diria que ela só estápronta há cinco anos”, diz ChadLarson, co-fundador e diretor-fi-nanceiro da M-KOPA. Larson expli-ca que, para convencer os clientes apagarem alguns centavos por diaao longo de um ano para ter umsistema solar, usou o mesmo mo-delo que aplicou em Wall Streetpara administrar hipotecas.

Pedro George é um consultorda Global Village Energy Part-nership, uma instituição filan-trópica que trabalha com empre-sas de países em desenvolvimen-to para aumentar o acesso à ener-gia. Ele concorda que o mercadoevoluiu muito nos últimos cincoanos. Antes, o que ele chamava

de “mercado orientado por doa-dores”, envolvia a doação deenergia solar pelos ocidentais,distorcendo o mercado, enquan-to que um afluxo de lâmpadaschinesas baratas, muitas vezesnão regulamentadas, quase aca-bou com tudo.

“As pessoas realmente perde-ram a fé na energia solar”, diz. Mas,acrescenta, empresas como a M-KOPA descobriram como oferecerserviços de financiamento de lon-go prazo usando os avanços da tec-nologia e o pagamento móvel emum modelo que ‘imita os padrõesde gastos com querosene, velas eoutros itens.” O queniano médiosem acesso à rede elétrica normal-mente gasta cerca de US$ 0,50 pordia em energia durante a vida in-teira, e os custos de querosene, ba-terias e cargas de celulares muitasvezes resultam nos maiores gastosmensais para a família, depois dosalimentos.

Cerca de 150 mil clientes da M-KOPA estão pagando os emprés-timos por um sistema que podeser cortado com a tecnologiaGSM se houver inadimplência.Chad Larson diz que cerca de 60%dos clientes pagam seus emprés-timos no prazo de um ano, 30%em 18 meses e o resto fica ina-dimplente. Como a maioria pa-ga, a taxa de perdas da M-KOPAfica em cinco por cento.

Das 75 mil pessoas que agoradesfrutam de energia gratuita, 20mil continuam fazendo paga-mentos diários de US$ 0,43 paraobter outros produtos da M-KO-PA, como fogões, bicicletas e sis-temas de coleta de água de chuva.A empresa está lançando uma te-levisão de baixo custo, e esperaatender em breve aos pedidos portablets e refrigeradores eficientesem termos de consumo de ener-gia. “Acreditamos que cerca demetade do país pode comprar o

nosso produto e economizar di-nheiro com ele”, diz Larson. Taxasextremamente proibitivas de co-nexão à rede elétrica e várias pro-messas eleitorais não cumpridasde implantação de eletricidadeem zonas rurais, levaram a M-KO-PA a mudara sua meta de um mi-lhão de clientes até 2018 paraquatro milhões até 2020.

Quando os Saitabau termina-rem de pagar o empréstimo, elesquerem comprar duas lâmpadasextras para o quarto comparti-lhado por seus três filhos, assimMichael poderá continuar a serum bom aluno . “Eu usaria aslâmpadas para ler muito. Adora-ria ler um livro na cama”, afirma.

Depois disso, Faith quer usar ovalor da economia de energia pa-ra iniciar uma poupança para osestudos de Michael, cujo sonhode se tornar piloto e voar para aAmérica está parece cada vezmais promissor.

M-KOPA SOLAR/GEORGINA GOODWIN

Leah Talam, uma das consumidoras da M-KOPA Solar no Quênia, diz que os filhos não conseguiam às vezes fazer a lição de casa por falta de querosene

Especial | Empresas & clima

As fontes renováveisdeixaram de ser umnicho e se tornaram ogrande foco da matrizde energia alemã

sam redistribuir a energia por-que, enquanto as usinas nuclea-res eram desativadas no sul daAlemanha — onde a demandaenergética é grande, por causa daconcentração industrial — sur -giam na costa norte os parqueseólicos offshore.

A meta é atingir o objetivo deconstruir, nos próximos dezanos, cerca de 4 mil quilômetrosde novas linhas de alta tensão.Para isso serão necessários € 20milhões. O plano prevê a distri-buição a novas regiões por trêsgrandes rotas. A maior, Südlink,cruza a Alemanha de norte a sulpor mais de 800 quilômetros. Oplanejamento e a construção se-rão feitos em quase uma década.Mas a instalação da rede está pa-rada, por causa de protestos demoradores. “Este será um ano de-cisivo para o sucesso da mudançae n e r g é t i c a”, diz Hans-Jürgen Bri-ck, gerente da operadora Am -prion. “Se a construção da redenão começar agora, a mudançaenergética irá por água abaixo”,afirma. O governo nacional estáse esforçando para que o projetoda mudança energética seja umsucesso, propondo novas leis eregulamentações para reequili-brar o mercado.

Mas os esforços não param poraí. É preciso proteger as usinas degás que, com o avanço das ener-gias eólica e solar, estão ameaça-das de sair do mercado pelos re-duzidos preços de energia pagospelos atacadistas. Outro foco éconter as operações das instala-ções de carvão que continuamcomprometendo o meio am-biente local. Além de regulamen-tar o processo de desativaçãodessas usinas, é preciso ainda es-tabelecer normas para o descarteseguro das usinas nucleares. Tu-do isso demonstra que a mudan-ça energética da Alemanha estáno caminho certo, mas permane-ce ainda bem longe de alcançarsuas metas.

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F4 | Valor | Quarta-feira, 18 de novembro de 20 1 5

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:44) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Energia Governos federal e estaduais apostam em geração solar

Na Índia, as microrredessubstituem o queroseneM. RameshHindu Business Line (India)

No vasto interior da Índia, a vi-da ainda adormece e despertajunto com o sol. Se a energia solarfor produzida e fizer o que aenergia elétrica não conseguiufazer, as vantagens serão inúme-ras: as crianças poderão estudar;as mulheres conseguirão organi-zar seu trabalho melhor; as pes-soas não precisarão se engasgarcom a fumaça do querosene.

Também há outras vantagensmenos percebidas, mas igual-mente fundamentais, como apossibilidade de as pessoas po-derem ver e evitar a ameaça de es-corpiões e cobras, instalar umpequeno refrigerador para ar-mazenar medicamentos parasalvar vidas, especialmente antí-dotos contra mordidas de co-bras, que ceifam 50.000 vidas acada ano, principalmente no in-terior do país.

A revolução da energia solar éum sucesso na Índia graças aoforte impulso dado pelos gover-nos federal e estaduais e pela rea-ção entusiasmada do setor priva-do. Em agosto de 2010, Nikhil Jai-singhania, um empreendedornascido nos EUA e um dos pri-meiros a observar a oportunida-de de negócio com “retorno de30%”, começou a implantar ener-gia solar em vilarejos localizadosem Uttar Pradesh, a maior pro-víncia da Índia. Seu modelo erasimples: instalar painéis solaresem um vilarejo, passar os fios pe-las casas, cobrar uma taxa sema-nal das famílias — não muito su-

perior ao que teriam de pagar pe-lo querosene para lamparinas —e embolsar um lucro razoável.

O modelo era fácil de imitar,mas isso não preocupou Nikhil —há cerca de 300 milhões de pes-soas em todo o país que aindanão têm acesso nem à eletricida-de básica. Não é de se admirarque ele tenha dito ao “The Guar-dian” que esperava levar energiasolar a cem mil casas até 2016.

Nikhil está fazendo progres-sos, embora lentos. Desde setem-bro, sua empresa, a Mera GaoPo w e r (que se traduz como “Ele -tricidade do meu vilarejo”), haviacoberto 20 mil famílias em 1.500vilarejos no Norte da Índia.

A diferença entre a meta ambi-ciosa de Nikhil e o resultado é ocusto de fazer negócios na Índia.

A Mera Gao Power teve queaprender muito no caminho:desde identificar, recrutar e retertalentos de qualidade a reduziros custos e manter de bom hu-mor uma grande variedade defuncionários públicos locais quefazem arrecadações semanais.

Sem dúvida, Nikhil subesti-mou a dificuldade imposta pelaregião que estava explorando,mas a ideia é robusta, e, agora nafase de pós-aprendizagem, a Me-ra Gao Power deve começar a ga-nhar dinheiro.

Uma microrrede de energiasolar é claramente uma soluçãointeligente em termos de negó-cios para um problema econômi-co e climático. Todos os anos, azona rural da Índia gasta estima-dos US$ 60 bilhões com a queima

de querosene (que libera dióxidode carbono), causando doenças emortes.

Há alguns meses, uma institui-ção ecológica sem fins lucrativosde Deli, The Council for Energy, En-vironment and Water, estudou o“acesso à eletricidade” em seis Es-tados indianos e descobriu algosurpreendente. Ao serem pergun-tados sobre a preferência entre re-des elétricas controladas pelo Esta-do e microrredes, presumindo queambas custassem o mesmo preço,34% dos entrevistados escolherama última opção. “Essa é uma desco-berta promissora para os defenso-res das energias renováveis”, diz or e l a t ó r i o.

Ar mazenamentolimpo e barato éaposta de startupBill SteigerwaldPara Sparknews

A energia solar é consideradauma das melhores maneiras detornar o planeta mais limpo, masaté pouco tempo era impossívelarmazená-la de uma forma eco-logicamente correta. Se você pre-cisasse da energia solar em umdia chuvoso, ou de eletricidade ànoite, era necessário usar bate-rias de chumbo-ácido ou de íonsde lítio, que contêm materiais tó-xicos ou exigem práticas de mi-neração perigosas e danosas aomeio ambiente.

Graças a uma pequena empresade Pittsburgh (EUA), a AquionEnerg y, encontrar uma bateria pa-ra armazenamento limpo e de altodesempenho para conectar ao seupainel solar é tão fácil quanto aces-sar a internet. A Aquion é uma dasvárias companhias de tecnologiaque esperam obter uma fatia docrescente mercado de armazena-mento em baterias. O que a leva ase destacar entre os concorrentes éa assinatura de seu produto. A ba-teria de íons híbrida aquosa(“Aqueous Hybrid Ion” — AHI),desde a fabricação até o descarte, éindiscutivelmente a mais benéficaao meio ambiente.

A bateria foi desenvolvida peloJay Whitacre, professor de ciên-cias dos materiais da CarnegieMellon University e fundador daAquion Energy. A empresa come-çou a trabalhar com essa tecnolo-gia em 2007. “Nenhuma das tec-nologias atuais foram capazes dearmazenar energia sem apresen-tar impactos negativos ao meio

a m b i e n t e”, lembra Whitacre . “Oprojeto para o desenvolvimentodessa bateria previa utilizar ape-nas materiais e processos de fa-bricação limpos e sustentáveis”.

Trata-se da versão do séculoXXI de uma bateria de água sal-gada originalmente inventadapor Alessandro Volta em 1800. AAHI usa um eletrólito de águasalgada em vez do tradicional co-quetel típico de produtos quími-cos cáusticos. Nenhum de seuscomponentes — água salgada,carbono, manganês, algodão,aço, alumínio e plástico — é tóxi-co. Todos são recicláveis e seudescarte é seguro. Sua químicade íons aquosos significa que elanunca vai explodir ou pegar fo-go, um problema que baterias dechumbo e de íons de lítio podemter quando envelhecem.

A produção em massa é o quetorna a bateria AHI única atual-mente, diz Whitacre. “O grande di-ferencial é que nós somos a únicaquímica de íons de sódio disponí-vel no mercado. Na verdade, é umproduto manufaturado. Ninguémmais pode dizer isso”. Ele esperaque a Aquion cresça e prospere nomesmo ritmo que o setor de arma-zenamento de energia. Especialis-tas preveem que o faturamento daempresa chegue a US$ 20 bilhõesno mundo até 2025. A empresa es-pera lucrar mantendo-se fiel a suafilosofia — tornado o planeta maisverde e mudando a maneira comoo mundo usa a energia.

Claridade natural chegaa espaços sem janelasMatthieu QuiretDo Les Echos (França)

Foi nos bancos da Escola Poli-técnica que Florent Longa eQuentin Martin tiveram a ideialuminosa. Como muitos outrosestudantes confinados em audi-tórios sombrios, os dois alunosde engenharia não se conforma-vam em ter de passar tanto tem-po sob luz artificial. Como per-mitir que “fótons” do sol conse-guissem entrar em salas subter-râneas ou chegar ao centro degrandes edifícios?

Em 2010, aproveitando umprojeto acadêmico que deveriamfazer, os dois investigaram aquestão e revisaram a literaturaaté que encontraram uma inova-ção japonesa dos anos 80. Essatecnologia de domínio públicocapta a luz solar em um painelcolocado no telhado e utiliza len-tes para concentrá-la em um fei-xe de fibras óticas.

Os dois engenheiros se lança-ram ao desafio de tornar maisacessível o produto do fornece-dor japonês, demasiado dispen-dioso. Em 2011, cruzaram o ca-minho da jovem banqueira Sté-phanie Lebeuze, com quem cria-ram a Echy um ano depois. De-senvolveram então seu primeiroproduto, um painel de 6 m2 ca -paz de transmitir até 15.000 lu-mens por uma distância de 30 mpara iluminar uma área de 50 m2.Além de mais eficiente que o ori-ginal, o sistema é seis vezes maisbarato por metro quadrado ilu-minado, segundo seus criadores.

A empresa, voltada para a pro-dução de aparelhos de iluminaçãopara escritórios, supermercados eedifícios comerciais, ainda não po-de colocar todas as fichas em pre-ço. Teoricamente, a invenção podereduzir até 40% do consumo deenergia. Mas, Stéphanie Le Beuzereconhece que apenas 30% de umdia de trabalho podem ser ilumi-nados, já que os painéis só funcio-nam com tempo bom. Portanto,uma iluminação LED extra é indis-pensável e aumenta os custos.

Assim, a Echy prefere utilizarcomo argumento o bem-estardos usuários, uma questão cadavez mais levada em conta pelosarquitetos e empregadores.

A startup afirma que sua luznatural “fortalece as defesas imu-nológicas e ajuda a prevenir o en-velhecimento prematuro”. Ris-cos de diabetes, insônia, obesida-de ou depressão estão associadosà luz néon. O argumento da saú-de já foi pesquisado em outrosprodutos, como as lâmpadasmais usadas nos escritórios oci-dentais ou nos países nórdicos.Com esse argumento, a empresaconsegue ser competitiva: “Os ar-quitetos que planejam escritó-rios muitas vezes projetam átriospara trazer luz natural ao centrode edifícios. Isso, porém, geracustos adicionais para a constru-ção “que podem ser limitados”,diz a co-fundadora da empresa.

Os arquitetos adquiriram o

hábito de colocar nesses espaçosas salas de reuniões, onde osfuncionários normalmente pas-sam menos tempo do que emseus escritórios, que possuemmais portas e janelas. Até nesseslocais, o painel da Echy reinjetaum pouco de ambiente externo.“Durante o dia, a luz muda, tor-nando-se mais ou menos quen-t e”, afirma Stephanie .

Foi assim que a empresa con-venceu o Carrefour a testar o dis-positivo na área de recepção doCarrefour Market de Bonneval. Otrio de empresários busca agoracontratos com grandes varejistas,para implementar gradualmenteseus equipamentos. A startup tra-balha ainda em um projeto depainel duas vezes mais eficientepara compensar a perda de rendi-mento das fibras ópticas longitu-dinalmente. A Echy também so-nha em conquistar um dia até10% do mercado de iluminação.

EC H Y/ D I V U LG A Ç Ã O

Ambiente iluminado pela Echy: redução potencial de 40% no consumo

SOLAR MODULES/DIVULGAÇÃO

Painéis da Solar Modules: 300 milhões de indianos não têm acesso à rede elétrica e queima de querosene custa US$ 60 bi

Especial | Empresas & clima

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Quarta-feira, 18 de novembro de 2015 | Valor | F5

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:45) - Página 5- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Economia circular Næstved, na Dinamarca, quer se transformar na meca da reciclagem

Lixo de um, matéria-prima de outroFINN FRANDSEN/DIVULGAÇÃO

Produto final da reciclagem feita pela Reiling: próximo passo é se transformar em fornecedora de empresas vizinhas

Thomas FærgemanDo Politiken (Dinamarca)

A aparência do lado de fora é deum prédio dos primórdios da Re-volução Industrial inglesa, mas aparte interna é umas das instala-ções mais modernas para o proces-so de triagem de vidro. Na verdade,tão moderna que o proprietárioalemão fica um pouco relutanteem permitir fotografias à curta dis-tância, temendo que seus concor-rentes desvendem o segredo queestá por trás do negócio.

Existe um mercado bastantecompetitivo entre as empresas dereciclagem de vidro. O lucro de-pende da eficiência e do nível tec-nológico de produção — além deuma pitada de empreendedoris-mo. “As fábricas europeias moder-nas de vidro foram remodeladascom a finalidade de reciclar vidrousado, gerando bastante satisfa-ção para seus donos, pois isso tor-na todo o processo mais barato doque adquirir matéria-prima. Alémde reduzir a conta de energia entre30% a 40%, afirma Kim Lykke, ge-rente de departamento na ReilingGlass Recycling Danmark, partealemã do Reiling Group.

“Diante de tantas vantagens, acompetição pela compra de vidrousado a um preço justo é acirrada,e pode-se fazer bastante dinheirose a triagem de vidro for feita cor-r e t a m e n t e”, afirma ele. Responsá-vel pela compra do material para aempresa, Lykke percebeu que omercado mudou drasticamente.Ficou muito mais caro comprar vi-dro usado. Até mesmo as garrafasde vinho jogadas em depósitos dereciclagem em toda a Dinamarcatornaram-se produtos com valorno mercado. A empresa decidiu seinstalar no meio de Næstved, naantiga fábrica Maglemølle que

produzia papel desde 1930 e en-cerrou as atividades em 2012. A re-gião fica próxima ao porto e ao ca-nal de Næstved, com acesso diretoao Mar Báltico e ao Grande Belt.

É um desafio encontrar formasde manter os prédios antigos bemconservados e, por isso, as autori-dades locais tentam encorajar no-vas empresas a se instalar neles.Kim Lykke está bastante satisfeitocom isso. “Nós temos que reconhe-cer a iniciativa dos agentes deNæstved por serem tão receptivos,eficientes e prestativos quandochegamos aqui. Eles querem trans-formar a cidade em uma meca dar e c i c l a g e m .”

Atualmente, a empresa empre-ga 35 funcionários. “Meus amigosalemães estavam meio receosos.Achavam que não seria possívelque uma empresa como a nossapudesse ficar no meio da cidade,pois isso nunca aconteceria na Ale-manha. No entanto, o municípiode Næstved realizou as adaptaçõesde forma que rapidamente come-çamos a produzir”, conta Lykke.

A fábrica da Reiling funciona 24horas por dia durante a semana etambém está preparada para ope-rar nos finais de semana. “Histori -camente falando, nós sempre tive-mos uma área industrial em Ma-glemølle, e cada cidadão tem pelomenos um parente que trabalhouna fábrica de papel. Já está no san-gue da cidade ter várias indústriaspróximas ao porto”, explica SaraVergo, gerente de projeto da“Res -source City” (Cidade dos Recur-sos), criada em conjunto com aMaglemølle Business Park . O obje-tivo é atrair empresas que reciclemos materiais umas das outras. Oprojeto deve é criar cem empregose atrair pelo menos dez empresasnos próximos anos.

“A Ressource City cabe no par-

I m p r e s s o ra salimentadaspor ostrasStanislas du GuernyDo Les Echos (França)

Em 1999, movida pela preocu-pação com o meio ambiente, a quí-mica Martine Le Lu assumiu a Ker -vellerin, pequena empresa funda-da por seu pai em Cléguer, na Bre-tanha francesa. Investiu todas assuas economias em projeto quealia inovação a produtos naturaisrenováveis. Depois de três anos depesquisa, decidir reciclar conchasde ostras.

“Perto da fábrica há uma verda-deira legião de criadores de ostras.Até há pouco tempo eles descarta-vam as que não estavam prontaspara alimentação. Hoje, pago aeles para usá-las”, conta Le Lu. To-dos os anos, ela trata 4 mil tonela-das de conchas. Elas são limpasuma a uma, purificadas, peneira-das, moídas e aquecidas em umamáquina, cuja concepção “c a s e i r a”permanece em segredo.

O pó inicialmente compostopor carbonato de cálcio e depoismisturado com resina de pinheiroe óleo de soja, é utilizado por fabri-cantes de tintas usadas, por exem-plo, para fazer as marcações de es-tradas e rodovias. É mais cara doque os produtos convencionais,mas dura bem mais.

Le Lu resolveu continuar ino-vando e se aproximou de labora-tórios científicos como os da uni-versidade do Sul da Bretanha.Juntos pesquisam a utilização dopó na fabricação de filamentospara a criação de peças e objetospor impressoras 3D. “Outras apli-cações estão sendo estudadas”,diz ela. As vendas da empresa al-cançam € 5 milhões por ano, 30%no mercado internacional.

que Maglemølle. É possível estabe-lecer novamente a área industrialusando os prédios das antigas fá-bricas — ao mesmo tempo em quese respeita naturalmente o meioambiente — e com localização nomeio de Næstved e acesso direto aoporto, essa região é ideal tanto pa-ra negócios quanto para visitantesregulares”, afirma Sara Vergo.

Localizada próximo a Reiling, asueca Ragn-Sells é outra compa-nhia que tem como especialidadea reciclagem e a reutilização. ARagn-Sells recebe lixo de outras in-dústrias — ao mesmo tempo emque recebe contêineres de locaisde recuperação de resíduos de to-da a Dinamarca. Um deles está lo-tado de portas e janelas velhas, e aRagn-Sells fechou um acordo coma Reiling que permite a aquisiçãodo vidro encontrado nas janelas.

“Nós quebramos as janelas e

portas e fizemos uma triagempreliminar da madeira e dos ma-teriais de metal. Em seguida, aReiling adquire o vidro livre paraser usado em sua produção”, afir-ma Mads Nissen, operador demáquinas e encarregado na fá-brica da Ragn-Sells em Næstved.

“Esse é o tipo de reciclagemque nós queremos promover pormeio da Ressource City”, diz SaraVe r g o.

A Ressource City está atual-mente em processo de instalaçãode um escritório geral que terá afunção de atrair e prestar servi-ços de manutenção a outras em-presas. Por enquanto, os empre-gados estão morando em umbarracão provisório localizadonas proximidades.

O conselho da cidade de Næst-ved enxerga um grande potencialno projeto e destinou 3 milhões de

coroas dinamarquesas (US$ 430,4mil) para o seu financiamento. Odinheiro será utilizado no recruta-mento de empregados para o es-critório geral, desenvolvimento es-tratégico e na criação de estruturaspermanentes em Kraftcentralen, aantiga central elétrica de abasteci-mento, que era utilizada para su-prir eletricidade e aquecimentopara a fábrica de papel.

Além disso, a Agência Nacio-nal para a Proteção do Meio Am-biente destinou 3,5 milhões decoroas dinamarquesas (US$502,1 mil) para o financiamentoda Ressource City. O dinheiro se-rá usado para inovação de com-bustíveis e criação de empregos,tendo como foco o empreende-d o r i s m o.

Os vinhedos são termômetrosfiéis do aquecimento globalMarce RedondoDo Cinco Dias (Espanha)

A viticultura é uma atividade se-cular na Espanha. Os vinhedos sãocultivados em 1,1 milhões de hec-tares, a maior extensão para a cul-tura em todo o mundo, e onde, nasúltimas décadas, houve uma ver-dadeira revolução na qualidadedos vinhos. Mas a situação podemudar, não só porque a China estáno calcanhar da Espanha como se-gunda maior produtora mundialde vinho, mas também porque avideira é extremamente sensível àelevação da temperatura. Os efei-tos do aquecimento global já co-meçam a ser evidentes nos vinhe-dos, um cultivo típico do climamediterrâneo, mas especialmentesensível às alterações ambientais.

“O aumento de apenas um graude temperatura no Penedès, umadas principais regiões produtoras,nos últimos 40 anos, fez com que avindima se tenha adiantado cercade dez dias em média”, asseguraMiguel Ángel Torres, presidente daBodegas Torres, cujas origens re-montam a 1870. “Se a temperaturacontinuar aumentando, a qualida-de dos vinhos será afetada poisocorrerá um desajuste entre a ma-turação da uva e a maturação fenó-l i c a”. Em sua opinião, é a maiorameaça que o setor vitivinícola en-frenta hoje em nível mundial. Tor-

res considera crucial que os gover-nos assumam o compromisso detravar uma batalha contra o aque-cimento global.

Esse objetivo deve começar a serperseguido a partir de dezembro,quando se realiza a Conferênciadas Nações Unidas sobre as Altera-ções Climáticas (CoP-21), em Paris.Torres se prepara para o novo ce-nário climático comprando terrasa uma maior altitude ou latitude,em busca de climas mais frescos (acada cem metros de altitude, atemperatura desce um grau).

Uma pequena adega, a Marquésde Terán, fundada em La Rioja háapenas uma década, é sensível aoproblema e foi pioneira no mundona utilização da geotermia. “Comos nossos cinco poços de mais decem metros de profundidade, ob-tivemos da terra a temperatura ne-cessária para os diferentes proces-sos de elaboração e criação dos vi-nhos. Com isso, reduzimos mais de80% das nossas emissões de carbo-n o”, afirma Manuel García Ortega,diretor-geral da adega.

Ele também fala de ‘uvas loucas’para explicar que, todos os anos, émais complicado encontrar o mo-mento adequado para iniciar a co-lheita. “Já não há problema de graunas uvas, temos sempre tempera-tura suficiente para a maturaçãoalcoólica, mas a maturação polife-nólica é cada vez mais complicada

porque fica difícil encontrar a aci-dez boa. Por vezes, as uvas passamde verdes a podres em apenas doisdias, sem amadurecer corretamen-te. O clima está louco e, portanto,as uvas estão loucas”, conclui.

Para Pau Roca, secretário-geralda Federação Espanhola do Vinho(FEV), os resultados de alguns es-tudos recentes sobre o aquecimen-to global e sobre o seu impacto nosvinhedos, são alarmantes. “Se nãoforem tomadas medidas, os culti-vos vão-se deslocando para terrasmais frescas como, na verdade, jáestá acontecendo”. Para ele, o setorestá consciente do problema.

O grupo Matarromera, presenteem várias regiões vinícolas, liderouum trabalho exaustivo de investi-gação sobre os efeitos das altera-ções climáticas na viticultura. A vi-deira poderia suportar mais um oudois graus de temperatura nesteséculo, mas se o aumento for dequatro ou cinco graus até 2100, co-mo preveem especialistas, as con-sequências serão desastrosas paraa viticultura. “Pode chegar o diaem que teremos de avaliar a possi-bilidade de substituir algumas va-riedades por outras. E é possívelque o mapa de denominações deorigem mude em toda a Europa”,prevê Torres.

D I V U LG A Ç Ã O

Vinhedo da Bodegas Portia: se a temperatura subir quatro ou cinco graus até 2100 as consequências serão desastrosas

Especial | Empresas & clima

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F6 | Valor | Quarta-feira, 18 de novembro de 20 1 5

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:45) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

E c o c o n st r u ç ã o Na Bélgica, uma pequena empresa usa CO2 recuperado em fábricas como matéria-prima

Carbono é base para blocos de alvenariaLAURIE DIEFFEMBACQ/DIVULGAÇÃO

Cowez: 240 quilos por m3 de CO2 economizados com a supressão de cimento

Luc Van DriesscheDo L’Echo (Bélgica)

A forma mais direta de lutarcontra o aquecimento global éreduzir as emissões dos gases deefeito-estufa. Há também pes-quisas sobre o armazenamentosubterrâneo do dióxido de car-bono. Alguns fabricantes estãoexplorando uma terceira via: autilização de CO2 como matéria-prima. É o caso da Covestro (an -tiga Bayer MaterialScience). Aempresa se prepara para produ-zir, em pequena escala, uma es-puma de poliuretano que utilizaCO2 como substituto parcial dop e t r ó l e o.

Como a gigante B a y e r, umapequena empresa belga, a Reco -val, também apostou no merca-do. Seu nicho: captação de CO2

nas escórias de siderúrgicas paraa fabricação de blocos, lajes, te-lhas e outros materiais de cons-trução. Desde 2005, a empresa,que emprega 35 pessoas, traba-lha no tratamento e recuperaçãode sobras siderúrgicas. Localiza-da no centro da usina siderúrgi-ca Aperam em Châtelet, perto deCharleroi, na Bélgica, a Recovalfaz o pré-tratamento das escó-rias de aço inoxidável produzi-das pela fábrica.

Antes, a Recmix, localizada em

Genk (Limbourg), só separava osresíduos de metal. Como o rea-proveitamento das escórias finasera difícil, elas eram empilhadas.

A ideia de usar o dióxido decarbono surgiu 2002. “De ma-neira muito simples”, segundoSerge Celis, CEO da empresa. “Tí -

nhamos uma enorme pilha departículas de escórias difíceis demovimentar porque se torna-ram muito duras. Um dos nos-sos geólogos explicou que issoacontece por causa do cabonocaptado pelo material. Coloca-mos, então, pelotas de escóriasfinas em um tambor e adiciona-mos CO2 puro. Após dois dias, aescória estava dura.”

Foi aí que começou a investi-gação sobre a carbonatação. Oprojeto Carmat, apoiado pela Re-gião da Valônia no âmbito doPlano Marshall, feito em colabo-ração com diversas organizaçõese universidades belgas, foi lança-do em 2010. Sediada em um am-plo complexo industrial em Far-ciennes, a Recoval já tinha umgrande estoque de escórias, oque facilitou testar sua recupera-ção coma adição de CO2.

O processo, que consiste na hi-dratação das partículas de escó-ria e injeção de CO2, produz ummaterial que serve como liga nolugar do cimento. Os mineraissão soldados entre si por meio dacarbonatação. “É preciso umequipamento parecido com umliquidificador para hidratar emisturar as escórias, uma prensae um molde para lhes dar forma euma autoclave, que funciona co-mo uma panela de pressão”, ex-

plica Baptiste Cowez, engenheirode projeto e responsável pelaunidade de carbonatação.

O benefício em termos deemissões é duplo. Em primeirolugar, a carbonatação permitecaptar o CO2 na mistura com asescórias, em vez de deixá-lo esca-par para a atmosfera. Ganho lí-quido em termos de emissões deCO2: 220 quilos por metro cúbi-co. Acrescentam-se a isso 240quilos por m3 economizadoscom a supressão de cimento, pro-duzidos em fornos aquecidos a1.450 graus (em comparaçãocom os 200 graus, no máximo, nocaso da autoclave).

“Uma aplicação industrial queproduz 25 mil toneladas de blo-cos por ano reduziria em 46 miltoneladas as emissões de CO2 emcomparação com uma unidadede produção de blocos de con-creto tradicional”, diz FrédériqueBouillot, responsável pela pes-quisa e desenvolvimento na Re-coval. Este valor é irrisório com-parado aos colossais 89,5 mi-lhões de toneladas de CO2 emiti -das pela Bélgica em 2014. Mas jáé um avanço.

O movimento para a produçãoindustrial continua. O problema:o CO2 só é transportado em esta-do líquido, e isso é caro. E a con-centração de CO2 no ar é insufi-

ciente. Por isso, é necessário utili-zar o CO2 industrial. “Na Holan-da, onde em caso de produtosequivalentes se dá preferência aoque apresenta uma menor pega-da de carbono, encontramosuma usina produzindo blocos sí-lico-calcários, localizada próxi-mo a uma estação de tratamentode esgoto, emissora de CO2. Essaseria a situação ideal para uma li-nha industrial”, diz Serge Celis.

Segundo o gerente da Reco-val, o projeto Carmat aproxima-se da meta. “Não desisto da ideiade poder iniciar o processo deindustrialização este ano”, afir-ma. Todas as atividades de pes-quisa e desenvolvimento, queexigiram até agora um investi-mento de € 25 milhões, ajuda-ram a desenvolver um processopara a produção de blocos comuma resistência à compressãomaior do que a de blocos deconcreto semelhantes.

Para desenvolver o seu proces-so patenteado, a Recoval temduas possibilidades: ou vende alicença para a indústria ou cons-trói fábricas em parceria com osprincipais fa-bricantes. É osegundo cená-rio que está severificando naHolanda.

Moradia do tipo “L e g o” reduz oscustos de construção no MéxicoAngélica PinedaDo El Economista (México)

“Quero que você veja isso!”, in-siste Emilio Cohen Zaga antes decomeçar a entrevista e clicar emum vídeo do Yo u t u b e . Nele pode-se ver como uma residência dedois andares foi construída em 85horas, com todos os seus acaba-mentos, utilizando painéis —, pa-ra uma exposição. Por este proje-to, a Builtec, empresa com sedeem Schaumburg, Illinois (EUA),dirigida por Cohen, recebeu umamenção de reconhecimento daComisión Nacional de Vivienda(Conavi) em 2013.

MagPanel é um sistema de cons-trução a seco, por meio de painéisinterconectados por perfis. Ele eli-mina o uso de materiais conven-cionais como cimento, tijolos ebarras de ferro, com a redução em20% nos custos de construção deuma casa, estima o CEO da Builtec.

Os painéis são formados porduas placas fabricadas principal-

mente com magnésio e fibra devidro, e também com poliestire-no expandido. Na fabricação dospainéis, Cohen Zaga retomouuma fórmula utilizada pelo go-verno chinês para isolar depósi-tos de munições. O resultado foiuma espécie de concreto maisdurável, flexível, térmico e à pro-va de fogo, tremores de terra e fu-racões, garante o diretor.

“É como construir com um Le-go. Se uma peça não se encaixa éporque não é dali. O sistema émuito fácil de montar. Quem de-sejar construir pode fazê-lo como manual de instalação. Não háforma, nem lixo ou desperdício.”

Ele garante que com esse siste-ma é possível construir 300 casasem um mês, e resolver assim a cri-se de moradia em zonas afetadaspor inundações e outros desas-tres, como aconteceu em Guerre-ro (no México), onde os furacões“Ingrid” e “Manuel” destruíramcerca de 12.000 casas.

Além de eliminar o uso de mate-

riais convencionais, a fabricaçãodos painéis pode ser feita no mes-mo local da obra, já que a planta étransportável e operada por nomáximo de três pessoas. O sistematambém foi premiado na Europa econta com o certificado da Agên-cia Nacional Mexicana de Padroni-zação e Certificação de Construçãoe Edificações (ONNCCE).

Além dos benefícios às zonasafetadas, Cohen não perde de vistaseu verdadeiro mercado: os 70%dos mexicanos que decidem am-pliar suas casas ou construí-las porconta própria, por não terem aces-so ao crédito do Instituto del Fun-do Nacional de la Vivenda para losTrabajadores (Infonavit) ou ao fi-nanciamento das construtoras.

Para esse grupo, o empresárioformou uma aliança com o gru-po Tu Meta de Guadalajara parafinanciar residências ao gostodo cliente.

Tinta feita com insumo ecológicoagrada o consumidor europeuClaude KargerDo Lëtzebuerger Journal( Lu xe m b u rg o )

Sem cheiro nenhum. No peque-no laboratório do grupo Pe i n t u r e sRobin, o CEO Gérard Zoller mostraum pote da tinta Verdello, que aempresa apresenta como a “pri -meira tinta 100% à base de fontesnaturais”. O produto foi lançadono mercado há um ano, após trêsanos de desenvolvimento na fábri-ca, às margens do rio Attert, nomunicípio de Useldange, a noroes-te de Luxemburgo. O aglutinanteescolhido para a produção da tintaé o óleo de tall, um subproduto doprocesso de fabricação de polpa decelulose, na indústria de papel. “Oingrediente principal na tinta é oa g l u t i n a n t e”, explica Gérard Zol-ler. “Encontramos uma substânciaque combinou perfeitamente comos nossos objetivos.”

O chamado tall oil, ou óleo detall, é basicamente um resíduo doprocesso de fabricação de bens fei-

tos a partir de fontes renováveis. Astintas acrílicas contêm resinas,pigmentos, solventes e aditivosprovenientes da indústria petro-química. A tinta Verdello não con-tém nenhum desses insumos.

Além disso, como os compo-nentes são produzidos na Euro-pa, isso reduz a distância detransporte e, consequentemente,a pegada de carbono. Os insumospara a produção de óleo de tallvêm em grande parte da França, eos pigmentos minerais da Fran-ça, Alemanha ou Finlândia. “Issoreduz a nossa dependência da in-dústria de petróleo e dos forne-cedores de matérias-primas daÁ s i a”, explica Gérard Zoller.

O Laboratório Nacional de Saú-de de Luxemburgo certificou que aVerdello não representa ameaçapara a saúde ou meio ambiente. Aqualidade técnica do Verdellotambém se compara a qualquertinta acrílica quanto ao poder decobertura, segundo a empresa. Háapenas uma restrição: a escolha de

corantes biológicos minerais re-duz o número de tons disponíveis.Há 33 cores disponíveis nas prate-leiras de Luxemburgo, França, Bél-gica e Alemanha, onde o sucesso écrescente entre clientes profissio-nais e privados.

“Há muito tempo a demandapor produtos ‘verdes’ se firma ec r e s c e”, diz Gérard Zoller. “Te m o stentado encontrar maneiras deatender a essa demanda.” A pe-quena empresa de Luxemburgofoi fundada em 1927 e produztintas para interior e exterior, so-luções anticorrosivas, vernizespara a indústria automobilísticae da madeira e atende por enco-menda também as grandes em-presas do mercado de tintas. Já re-cebeu em 2002 o prêmio de meioambiente da Federação das In-dústrias de Luxemburgo para asua linha Robinhyd, uma novageraçãode tintasdiluídascom água.

Arquitetos ajudam a remodelar Kigali, em RuandaDavid ThomasDo African Business (Reino Unido)

Em 2010, o mundo atingiuum marco importante: o núme-ro de pessoas que vivem emáreas urbanas passou a excedera população rural global pelaprimeira vez. As cidades, queabrangem menos de 2% da su-perfície da Terra, consomemquase 80% da energia mundial esão responsáveis por mais de50% das emissões.

Na luta contra a mudança cli-mática, o espaço urbano pode servisto como um campo de batalha.Em nenhum outro lugar a neces-sidade de desenvolvimento urba-no sustentável é mais acentuadado que na África Subsaariana —uma das regiões com processo deurbanização mais acelerado domundo. Apesar de ser responsá-vel por menos de 10% das emis-sões globais, o continente parecedestinado a ter que suportar omaior impacto dos efeitos da mu-dança climática.

Lutando para acomodar a po-pulação diante da rápida urbani-zação no continente, algumas ci-dades na África estão buscandosoluções na arquitetura inovado-ra. Kigali, a capital de Ruanda, éuma dessas cidades. Nos subúr-bios, imagine prédios de aparta-

mentos de quatro andares sur-gindo em meio a avenidas arbo-rizadas, pátios espaçosos e lotesbem cuidados. Em outra parte dacidade, trabalhos de terraplana-gem proporcionam aos especta-dores a vista de um campo de crí-quete apresentando alguns dosmelhores times do mundo.

À medida que Ruanda lidacom um dos maiores índices deurbanização do continente, ar-quitetos estrangeiros e locais es-

tão sendo recrutados para traba-lhar em projetos ambiciosos quepoderiam servir de modelo parauma vida sustentável na África.

A necessidade de tal inovaçãonão pode ser superestimada. Deacordo com um novo relatório di-vulgado pela Comissão Mundialsobre Economia e Clima, 22 mi-lhões de pessoas estão sendo adi-cionadas às cidades africanas to-dos os anos. Como resultado, os ur-banistas e arquitetos irão desem-

penhar um papel importante naconstrução de cidades — responsá -veis pela grande maioria das emis-sões e do consumo energéticomundialmente — que evitem as ar-madilhas da expansão de favelas,da infraestrutura decrépita e dapoluição que altera o clima.

“Os problemas atuais que cida-des como Lagos e Nairobi enfren-tam são resultantes do planeja-mento inicial, que não levou emconsideração o futuro urbano da

África, bem como décadas de regi-mes de planejamento que foramincapazes de controlar o rápidocrescimento urbano”, disse KellyDoran, gestora dos programas doleste africano no MASS DesignGroup de arquitetos dos EUA.

“A incrível oportunidade viven-ciada por Kigali e outros pequenoscentros urbanos emergentes en-volve o planejamento e desenvol-vimento de formas totalmentei n o v a d o r a s .” Essa oportunidadeestá sendo abraçada por arquite-tos atraídos pela agenda ecológicaambiciosa do governo de Ruanda,por planos concretos e reputaçãode execução de políticas rígidas.

O MASS Design Group, sediadoem Boston, foi fundado em 2008durante o processo de design doHospital Butaro no distrito de Bu-rera e, desde então, se ramificouem escolas primárias, clínicasmédicas e unidades neonatais. ALight Earth Designs, uma empre-sa com raízes britânicas e sul-afri-canas, está no país há mais de 5anos e é responsável pelo planeja-mento habitacional e do estádiode críquete de Ruanda.

O que as práticas têm em co-mum, além dos escritórios em Ki-gali, é um crescente conhecimentoespecializado na elaboração de so-luções sustentáveis para os espa-ços urbanos de rápido crescimen-

to da África. Ambas as empresasenfatizam, especialmente, a im-portância do uso de materiais deconstrução locais para reduzir adependência de Ruanda, total-mente cercada por terra, das im-portações onerosas do ponto devista ambiental.

“Eles perceberam que a aborda-gem do ‘produto local’ é muito im-portante, senão ficam totalmentedependentes dos materiais impor-tados com alta emissão de carbo-n o”, disse Tim Hall, sócio fundadorda Light Earth Designs.

O impacto desta filosofia “defabricação local” já está evidentena paisagem de Kigali. Na escolaprimária Umubano, um projetodo MASS Design, tijolos locais epapiros substituíram os mate-riais estrangeiros em uma estru-tura projetada para reduzir oconsumo de energia. Ainda as-sim, a troca de materiais estran-geiros por alternativas locais éapenas uma pequena parte da vi-são geral de Ruanda.

Com uma população projetadapara mais que dobrar e atingir 26milhões até 2050, as soluções ha-bitacionais ecológicas estarão àfrente dos esforços para evitar a ex-pansão de-senfreada e adegradaçãoambiental.

IWAN BAAN/DIVULGAÇÃO

Moradias em Kigali, Ruanda: 22 milhões de pessoas estão sendo adicionadas às cidades africanas todos os anos

Especial | Empresas & clima

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Quarta-feira, 18 de novembro de 2015 | Valor | F7

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 18/11/2015 (16:45) - Página 7- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Papel e celulose Brasil possui o maior estoque decarbono do mundo, com 12% das florestas do planeta

Produção limpa dáo tom na indústria

JOÃO RABELO/DIVULGAÇÃO

Floresta e eucaliptos: 65% de cada hectare plantado com árvores para fins industriais são destinados à preservação

Paulo VasconcellosPara o Valor, do Rio

O Brasil é o maior produtormundial de celulose de fibra curtae o nono colocado na produção depapel, mas ganha evidência noranking pela sustentabilidade dasflorestas plantadas e do processode transformação da madeira comum baixo custo de produção e ele-vado índice de produtividade.

O desafio de ter um ciclo deprodução limpa impulsionou asempresas a buscar a autossufi-ciência energética e a utilizaçãode fontes renováveis, que ajudama garantir o balanço ambientalequilibrado. Os resultados têmgrandes impactos sociais. A di-versificação no uso econômico dafloresta plantada e o envolvimen-to de pequenos produtores, pormeio de programas de parcerias,criam oportunidades de geraçãode emprego e renda, moderni-zam as relações de trabalho e am-pliam a troca de conhecimento.

Os números são exemplares. Aindústria de papel e celulose repre-senta 5,5% do PIB industrial brasi-leiro e gera 4,2 milhões de empre-gos. Os 7,74 milhões de hectares deárvores plantados no país foram

responsáveis no ano passado porum estoque de aproximadamente1,69 bilhão de toneladas de dióxi-do de carbono (tCO2).

Sozinho, de acordo com a In-dústria Brasileira de Árvores (Ibá),que representa as empresas do se-tor, o Brasil possui o maior esto-que de carbono do mundo, com12% das florestas do planeta. Temainda 65% de cada hectare planta-do com árvores para fins indus-triais destinados à preservação,em comparação a apenas 7% daagropecuária. Segundo o Ibá, o se-tor contabiliza 5,8 milhões dehectares de áreas recuperadas.

“O setor ajudou muito na recu-peração das áreas de Mata Atlânti-c a”, diz Mauro Armelin, superin-tendente de conservação da WWFBrasil. O esforço é significativodiante da perda de cobertura vege-tal no planeta. Em 1990, a Terra ti-nha 4,128 milhões de hectares defloresta. Em 2015 são 3,999 mi-lhões de hectares. As áreas verdes,que ocupavam 31,6% da área ter-restre, em 1990, caíram para30,6%, em 2015, de acordo com oestudo “Global Forest ResourcesAssessment 2015 – How are theworld’s forest changing?”, das Na-ções Unidas (ONU).

“Se a pecuária adotasse o pa-drão da indústria de papel e celu-lose, a Amazônia estaria em situa-ção muito melhor”, diz Armelin.“O Brasil é o primeiro do mundoem expertise no setor de papel ecelulose. Isso tudo já é sustentabili-dade econômica e social”, afirmaElizabeth Carvalhaes, presidenteda Ibá, que representa 61 empre-sas e nove entidades estaduais deprodutos originários do cultivo deárvores plantada.

A avaliação de Carvalhaes sobrea excelência tem lastro. Um hecta-re no Brasil produz 39 metros cú-bicos de eucalipto de fibra curtaem um ciclo de seis anos. O segun-do colocado é o Chile, que produzcerca de vinte metros cúbicos porhectare, mas em um ciclo no qual aárvore leva vinte anos para crescer,de acordo com o relatório “Papel eC e l u l o s e”, do Departamento dePesquisas e Estudos Econômicosdo B r a d e s c o, de setembro.

Na Suécia e Finlândia a planta-ção leva de 35 a 40 anos para se de-senvolver e a produtividade porhectare é de sete metros cúbicos.

A Fibria, que produz 5,3 mi-lhões de toneladas anuais de ce-lulose e papel em quatro unida-des industriais, que geraram re-

ceita líquida de R$ 7,084 bilhõesem 2014, elaborou no ano passa-do um mapa de risco de ocorrên-cia de doenças do eucalipto eações de manejo das florestas,para evitar, por exemplo, erosãoprovocada por inundações.

Em todas as suas unidades, acompanhia desenvolve espéciescom a capacidade de suportar cli-mas extremos. Ferramentas tecno-lógicas acompanham o cresci-mento do plantio segundo a se-gundo, com balanços de carbono emedição da eficiência no uso deágua e energia. A companhia ava-lia sua vulnerabilidade à mudançaclimática do ponto de vista de todaa cadeia de valor e adota o princí-

pio da precaução no gerenciamen-to e na operação de atividades in-dustriais e florestais.

A S u z a n o, que opera em 897 milhectares de áreas florestais e seisunidades industriais, e registroureceitas de R$ 7,3 bilhões em 2014,avançou por meio da subsidiáriaFu t u r a G e n e na liberação para usocomercial de uma variedade de eu-calipto geneticamente modifica-do, que promete ganhos de produ-tividade e menor emissão de gáscarbônico. Na fábrica de Impera-triz, no Maranhão, no Nordeste,um sistema de queima permiteque o lodo primário da caldeira debiomassa seja utilizado comocombustível alternativo. Desde o

ano passado, conselhos comunitá-rios da empresa estimulam o de-senvolvimento local, incentivandoa capacitação profissional.

Parte dos R$ 5,8 bilhões que aKlabin investe na nova fábrica decelulose de Ortigueira, no Paraná,que será inaugurada no ano quevem, com capacidade para produ-zir 1,5 milhão de toneladas, desti-na-se a uma usina térmica própriaque irá garantir a sustentabilidadeenergética de todo o grupo. Acompanhia já reduziu para umquarto o consumo de combustí-veis fósseis na geração de vapor pa-ra o cozimento da madeira. Pro-cessos de reúso de água reduziramo consumo do recurso à metade.

Olhar sustentável em todas as pontas do processoVívian SoaresPara o Valor, de São Paulo

O ano era 1992 e os olhos domundo se voltavam para o Rio deJaneiro, sede da Eco 92 — Confe -rência do Clima da Organizaçãodas Nações Unidas que chamou aatenção de sociedade e empresaspara a necessidade da conservaçãoambiental e do consumo cons-ciente. Alguns anos antes, porém,uma companhia brasileira já davaos primeiros passos rumo a um ne-gócio sustentável. Fundada em1969 como uma pequena loja decosméticos em São Paulo, a Natura,hoje uma indústria multinacionalde higiene pessoal, produtos debeleza e perfumaria é uma das lí-deres desse mercado no país e refe-rência em projetos de valorizaçãoda biodiversidade, relacionamen-to com comunidades amazônicase pesquisas de viabilidade econô-mica e preservação da flora.

A preocupação com o impactoambiental dos produtos foi umprocesso gradual. Apesar de utili-zar matérias-primas vegetais e bio-degradáveis em suas formulaçõesdesde os primeiros anos de ativi-dade, a Natura só conquistou sta-tus de empresa engajada com omeio ambiente nas últimas duasdécadas. Antes disso, conta o dire-

tor de sustentabilidade MarceloAlonso, a companhia apostava emconceitos como o da reutilizaçãode embalagens e o da comunica-ção transparente. “Ao contrário dapropaganda que prometia a eter-na juventude, a Natura trouxe parao mercado brasileiro o princípioda verdade em cosmética, semcampanhas de marketing miran-do o impossível”. Em 1983, a in-

dústria passou a oferecer refis paraembalagens de desodorante. Aideia era consumir menos maté-ria-prima e oferecer alternativasmais baratas para os clientes – osrefis custam cerca de 30% menosque as embalagens originais.

Foi a partir de 1990 que a Naturacomeçou a se envolver mais forte-mente em questões como pesqui-sa do bioma brasileiro, projetos de

apoio à educação e desenvolvi-mento na região amazônica. Hoje,2 mil famílias de ribeirinhos e pe-quenos agricultores são fornece-dores de matérias-primas para aempresa, coletando ou fazendo oplantio sustentável de ingredien-tes da flora brasileira. “Além de fo-mentar a economia local e pagarum preço justo pelo produto, mos-tramos à comunidade que é im-portante preservar a floresta paraque eles mantenham a sua fontede renda”, afirma Alessandro Men-des, diretor de desenvolvimentode produtos da empresa.

Uma das comunidades parcei-ras é a de Cotijuba, no Pará, regiãoNorte do país, uma ilha de 10 milhabitantes em que o comércio e aagricultura são as atividades prin-cipais. As mulheres são o grupo so-cial mais frágil — 90% delas rece-bem ajuda social do governo e amaioria não consegue terminar osestudos. Um contrato fechado em2002 com a Natura para o plantiode priprioca — uma semente aro-mática da região que está presenteem sabonetes, óleos, perfumes eoutros itens do portfólio da em-presa — emprega todos os anos en-tre 10 e 17 famílias da ilha, garantea compra da produção e gera ren-da para a comunidade.

Sete anos depois, outra propos-

ta, para a extração da semente deucuuba, uma árvore ameaçada deextinção por causa da exploraçãopredatória dos troncos, trouxeoportunidade de coleta sustentá-vel para as mulheres da ilha. As se-mentes passaram a valer mais quea madeira. “Nosso objetivo semprefoi trazer igualdade de gênero pa-ra a comunidade, e essa parceriatrouxe mudança de vida para asmulheres. Muitas passam a teracesso ao próprio dinheiro, se em-polgam e mudam de vida, buscamestudo, ganham autonomia”, afir-ma Adriana Lima, líder do Movi-mento de Mulheres das Ilhas deBelém (MMIB), que fornece ucuu-ba e priprioca para a Natura.

Garantir que o extrativismo sejasustentável exige investimento empesquisa e treinamento. Alessan-dro Mendes conta que uma equipede agrônomos e antropólogos éresponsável pelo mapeamento dabiodiversidade da região, pelasparcerias com associações locaispelo e treinamento dos agriculto-res que fazem a extração ou plan-tio das matérias-primas. “Todos osmeses, fazemos consultorias e au-ditoria do processo. É preciso ga-rantir, por exemplo, que só 30%das sementes de determinada es-pécie sejam coletadas do chão, pa-ra garantir a sua reprodução”, diz.

Isso inclui espécies ameaçadas deextinção, que também são alvo deprojetos de reflorestamento.

Mas o grande desafio ainda é aembalagem. Em sintonia com a es-tratégia de usar materiais fáceis dereciclar e reutilizar, lançou no anopassado, refil de perfume feito100% de PET reciclável pós-consu-mo. Algumas linhas de perfumariausam vidro reciclado e polietilenoverde, um material renovável feitode cana-de-açúcar.

Outro desafio é o de manter a es-tratégia de sustentabilidade emum cenário de concorrência acir-rada e desaceleração econômica.No ano passado, o faturamento daNatura caiu 3,5%, para R$ 1,73 bi-lhão e a empresa perdeu 1,4 pontopercentual de market share.

Mas, segundo o diretor de sus-tentabilidade Marcelo Alonso oscompromissos ambientais estãomantidos. A meta, até 2020 é re-duzir em 33% as emissões de car-bono, coletar 50% das embala-gens para reciclagem e elevar pa-ra dez mil o número de famíliasenvolvidas na atividade. Até lá oinvestimento na compra de pro-dutos desse bioma deve chegar aR$ 1 bilhão. “O objetivo é deixarde ser uma empresa que mitiga oseu impacto ambiental e passar agerar resultado positivo”, afirma.

Linhas de fomento estimulam inovação nas PMEsMartha San Juan FrançaPara o Valor, de São Paulo

Nascida na incubadora de negó-cios tecnológicos da Universidadede São Paulo (USP), uma pequenaempresa brasileira, a Brasil Ozô-n i o, aproveitou o potencial do oxi-gênio enriquecido de desinfecçãode água para desenvolver equipa-mentos pequenos, portáteis e debaixo custo em diferentes aplica-ções. O alto poder germicida dogás já era conhecido e sua utiliza-ção era considerada segura nos Es-tados Unidos e países europeus,mas não havia ainda equipamen-tos dirigidos para diversas finali-dades e em pequena escala.

Com acesso a laboratórios e cé-rebros da universidade, o empre-sário Samy Menasce, fundador epresidente da empresa, utilizou aslinhas de fomento do governo àexecução de pesquisas científicas etecnológicas, com essa finalidade.

Para isso, desenvolveu equipa-

mentos que captam o ar do am-biente e quebram a molécula deoxigênio (O2) por meio de descar-ga elétrica, que é transformada emozônio pela adição de um átomo(O3). O gás é aplicado na água ouno material a ser tratado, da mes-ma forma que o cloro, antes usadonesses casos, mas sua ação é cemvezes mais potente.

Passados dez anos, e depois dereceber aportes de R$ 5 milhões, aempresa está na sexta geração deequipamentos, com mais de 3 milsistemas modulares instalados pa-ra usos tão variados como a deso-dorização de cigarro em hotéis atéa esterilização de materiais cirúr-gicos. Ao aplicar a sua tecnologiana limpeza de água contaminadacom metais pesados no entorno damina de urânio em Poços de Cal-das que abasteceu os reatores dasusinas nucleares de Angra 1 e 2, aBrasil Ozônio recebe agora mais R$9,6 milhões de financiamento doBanco Nacional de Desenvolvi-

mento Econômico e Social (BN-DES), administrado pela FundaçãoPátria da Marinha do Brasil.

“Sem essas linhas de fomentonão teríamos chegado onde esta-mos”, afirma Menasce. A BrasilOzônio hoje tem 14 empregados efaturamento de R$ 2,4 milhões em2014. “Para uma empresa como anossa, que tinha apenas uma boaideia, estar dentro da universidadetrouxe credibilidade” Outra vanta-gem foi desenvolver um produtoque não agride o meio ambiente.

A Brasil Ozônio é um bomexemplo de como a demanda cres-cente da sociedade por produtos eserviços ligados ao meio ambientechama a atenção de clientes e dasagências interessadas em apoiarpequenas empresas inovadorasque se destacam nessa área. A co-meçar pelo Serviço Nacional deApoio a Médias e Pequenas Empre-sas (Sebrae), um dos apoiadoresdo Centro de Inovação Empreen-dedorismo e Tecnologia (Cietec)

da USP.“O tema sustentabilidade é es-

tratégico para nós, não só comoprática como condição de com-p e t i t i v i d a d e”, afirma AlexandreAmbrosini, gestor de sustentabi-lidade do Sebrae Nacional. Nãopor coincidência, cerca de umterço das empresas abrigadas noCietec desenvolve soluções nocampo da tecnologia ambiental.

Trajetória semelhante à da Bra-sil Ozônio está sendo seguida pelaUmwelt Biotecnologia Ambiental,de Blumenau, no Estado de SantaCatarina, com 30 funcionários. Aespecialidade da Umwelt é o mo-nitoramento da qualidade deáguas, efluentes, análises de sedi-mentos e produtos químicos paradeterminação de ecotoxicidade. Aempresa utiliza como indicadoresorganismos que têm um limite pe-queno de tolerância ecológica eapresentam alguma alteraçãoquando expostos a determinadospoluentes. Entre eles, uma bactéria

marinha, a Vibrio fischeri, queemite luminescência ao entrar emcontato com substâncias tóxicas.

A Umwelt nasceu em 1996 co-mo resultado de pesquisas em bio-tecnologia ambiental e sua moti-vação foi a possibilidade de usarrecursos naturais nos processosprodutivos e na adequação dasoperações industriais a práticasmais sustentáveis. “Nossos produ-tos são inovadores por não teremreferenciais no mercado nacional,e sustentáveis porque garantem aredução dos custos de processo eum melhor controle ambiental”,diz o sócio diretor Gerson Zimmer.A Umwelt usa recursos próprios ede programas como o Pappe Ino-vação, bancado pelo órgão finan-ciador de pesquisas científicas etecnológicas de Santa Catarina(Fapesc), e do Ministério da Ciên-cia e Tecnologia (Finep).

Outra pequena inovadora é aA m b i e v o, de descontaminação desolo. Criada há quatro anos por

Fernando Pecoraro, em São Paulo,desenvolve uma linha de produtosdesengraxantes, testada em conta-minações de óleos, gasolina, pe-tróleo, usando o óleo da casca delaranja que passa por um processoquímico para se tornar um super-solvente. Seu carro-chefe é a des-contaminação do solo por um pro-cesso móvel. A planta automatiza-da é colocada na carreta de um ca-minhão para se locomover até aárea contaminada. Uma das vanta-gens é que o solvente não só recu-pera o solo como separa o óleo queestava misturado, de forma que elepode ser reaproveitado.

Com projetos potenciais de R$400 milhões e oito funcionários,o empresário conseguiu o apoiodo Banco Santander que adqui-riu 23% de participação na star-tup por meio de sua carteira comfoco em negócios sustentáveis; eatraiu a parceria da Haver&Boe-cker para o fornecimento deequipamentos.

N ATU RA / D I V U LG A Ç Ã O

Manejo sustentável da priprioca na comunidade de Moju, no Pará

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