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63 P O SIAFI PROCESSO ORÇAMENTÁRIO E SIAFI SUMÁRIO • 2.1 Introdução – 2.2 Objetivos do Capítulo – 2.3 Processo orçamentário: 2.3.1 Ciclo orçamentário; 2.3.2 Descentralização orçamentária; 2.3.3 Execução orçamentária: parte inanceira: 2.3.3.1 Relatório de Gestão Fiscal (RGF); 2.3.3.2 Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO); 2.3.4 Órgãos de controle – 2.4 SIAFI – Questões. 2.1 INTRODUÇÃO Este capítulo trata das açõ es, dos processos e das etapas que d evem ser cum - pridas para que ocorra a publicação do orçamento e, posteriormente, a sua exe - cução. Abordaremos a seguir os principais procedimentos, regras e competên - cias que compõem o processo orçamentário do Brasil. 2.2 OBJETIVOS DA UNIDADE 1) Conhecer o ciclo orçamentário e seus detalhes mais relevantes; 2) Conhecer os detalhes mais importantes sobre o SIAFI. 2.3 PROCESSO ORÇAMENT ÁRIO Há alguns procedimentos que devem ser seguidos para se elaborar (estimar receitas e ixar despesas) e executar (receber as receitas e gastá-las) as leis orça - mentárias. O conhecimento desse passo-a-passo é importante para o aprendiza - do de AFO, pois este é um dos fundamentos necessários para que você compreen - da os assuntos posteriores e, consequentemente, seja capaz de resolver grande parte das questões desta disciplina. 2.3.1 Ciclo orçamentário Uma visão geral do processo orçamentário pode ser obtida por meio da aná - lise do ciclo orçamentário, ou seja, do ciclo da LOA propriamente dito. Este pro - cesso é composto por quatro etapas:

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P O SIAFI

PROCESSOORÇAMENTÁRIO E SIAFI

SUMÁRIO • 2.1 Introdução – 2.2 Objetivos do Capítulo – 2.3 Processo orçamentário: 2.3.1 Ciclo orçamentário;2.3.2 Descentralização orçamentária; 2.3.3 Execução orçamentária: parte inanceira: 2.3.3.1 Relatório de GestãoFiscal (RGF); 2.3.3.2 Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO); 2.3.4 Órgãos de controle – 2.4 SIAFI– Questões.

2.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo trata das ações, dos processos e das etapas que devem ser cum-

pridas para que ocorra a publicação do orçamento e, posteriormente, a sua exe-cução. Abordaremos a seguir os principais procedimentos, regras e competên-

cias que compõem o processo orçamentário do Brasil.

2.2 OBJETIVOS DA UNIDADE

1) Conhecer o ciclo orçamentário e seus detalhes mais relevantes;

2) Conhecer os detalhes mais importantes sobre o SIAFI.

2.3 PROCESSO ORÇAMENTÁRIO

Há alguns procedimentos que devem ser seguidos para se elaborar (estimarreceitas e ixar despesas) e executar (receber as receitas e gastá-las) as leis orça-

mentárias. O conhecimento desse passo-a-passo é importante para o aprendiza-

do de AFO, pois este é um dos fundamentos necessários para que você compreen-

da os assuntos posteriores e, consequentemente, seja capaz de resolver grandeparte das questões desta disciplina.

2.3.1 Ciclo orçamentário

Uma visão geral do processo orçamentário pode ser obtida por meio da aná-lise do ciclo orçamentário, ou seja, do ciclo da LOA propriamente dito. Este pro-

cesso é composto por quatro etapas:

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1) Elaboração;

2) Apreciação/votação;

3) Execução;

4) Controle (ou acompanhamento e avaliação).

Na verdade, a etapa do controle ocorre ao longo das fases 1, 2 e 3. Neste livro,optamos por separar esta fase das demais apenas por motivos didáticos, parafacilitar seu estudo.

É importante ressaltar que a elaboração e a votação do orçamento ocorremantes do início do ano a que ele se refere. Essa é a regra, mas, na prática, frequen -

temente o ano começa sem que o orçamento esteja aprovado no Brasil.

O exercício inanceiro corresponde ao período da execução do orçamento(fase 3), que coincide com o ano civil (ou seja, tem início em 1º de janeiro e en-

cerra-se em 31 de dezembro), de acordo com a Lei 4.320/64. A etapa do controleocorre antes, durante e após o exercício inanceiro, pois, mesmo depois do térmi-no do ano, ainda há um prazo para que se elaborem os demonstrativos contábeisque serão analisados e aprovados.

O ciclo orçamentário é um processo contínuo e simultâneo. Enquanto o or-çamento de um ano está em execução (fase 3), o orçamento anterior está sendo

avaliado e submetido a processos de controle (fase 4) ao mesmo tempo em queo orçamento do exercício inanceiro seguinte é elaborado e votado (fases 1 e 2).

A fase da elaboração da proposta é responsabilidade do Poder Executivo.Na esfera federal, o sistema de informática utilizado para elaborar o documen-

to chamado “proposta orçamentária” (orçamento antes de ser aprovado peloCongresso) é o Sistema Integrado de Dados Orçamentários (Sidor). Após a ela-

boração, a proposta orçamentária é tramitada para o Congresso para ser vota-

da pelo Poder Legislativo. Essa tramitação, bem como a análise do documento

pelo Poder Legislativo, também ocorre por meio da utilização do Sidor. Alémde ajudar na elaboração da proposta orçamentária, o Sidor serve como agentecentralizador dos pedidos de alteração do orçamento em execução por meio decréditos adicionais.

O Poder Executivo é o principal responsável pela fase de execução. Nessaetapa, utiliza-se outro sistema de informática, o Sistema Integrado de Adminis-tração Financeira do Governo Federal (Siai).

O controle é realizado principalmente pelo Poder Legislativo, com auxíliodos tribunais de contas, por meio da utilização do mesmo sistema empregado naexecução, o Siai. A igura a seguir ilustra o ciclo orçamentário:

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1Elaboração do Projeto de Lei Orçamentária

SIDOR Poder Execuvo

2Apreciação, aprovação e sanção

SIDOR Poder Legislavo

3Execução

SIAFI Poder Execuvo

4Controle

SIAFI Poder Legislavo

Antes de detalharmos as quatro fases do ciclo orçamentário, é preciso co-

nhecer o sistema de orçamento federal.

O órgão central do orçamento na União é a Secretaria do Orçamento Fede-ral (SOF), do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Essasecretaria é a cabeça desse sistema. Dentre suas responsabilidades estão:

• Fixar os parâmetros a serem adotados nas propostas orçamentárias;

• Centralizar as propostas dos demais órgãos de todos os poderes para, então,elaborar o projeto de lei da proposta orçamentária que irá para o Congresso;

• Cuidar do sistema de informática utilizado pelo MPOG e pelos demais ór-gãos para elaborar o orçamento, o Sidor.

No sistema orçamentário, além do órgão central (SOF, do MPOG), há as Uni-dades Orçamentárias (UOs), que estão presentes no orçamento geral da União

e recebem os créditos orçamentários diretamente do orçamento.Segundo o manual técnico de orçamento de 2012, a UO desempenha o papel

de coordenação do processo de elaboração da proposta orçamentária no seu âm-

bito de atuação, integrando e articulando o trabalho das suas unidades adminis-trativas, tendo em vista a consistência da programação do órgão.

As UOs são responsáveis pela apresentação da programação orçamentáriadetalhada da despesa por programa, ação e subtítulo. Sua atuação no processoorçamentário compreende:

a) estabelecimento de diretrizes no âmbito da UO para elaboração da propostae alterações orçamentárias;

b) estudos de adequação da estrutura programática;

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c) formalização, ao órgão setorial, da proposta de alteração da estrutura pro-

gramática sob a responsabilidade de suas unidades administrativas;

d) coordenação do processo de atualização e aperfeiçoamento das informa-

ções constantes do cadastro de ações orçamentárias;e) ixação dos referenciais monetários para apresentação das propostas or-

çamentárias e dos limites de movimentação e empenho e de pagamento desuas respectivas unidades administrativas;

f) análise e validação das propostas orçamentárias das unidades administrati-vas;

g) consolidação e formalização de sua proposta orçamentária.

Para inalizar, existem as Unidades Administrativas (UAs). Essas unidadesnão são contempladas no orçamento, e recebem os créditos orçamentários deuma Unidade Orçamentária ou de outra Unidade Administrativa.

Vejamos a igura a seguir:

Ministério “A”

 

Ministério “B”

 

Ministério “C”

 

MPOG

Vamos agora detalhar as quatro fases do processo orçamentário.

1) Elaboração

O orçamento começa a ser elaborado na Secretaria de Orçamento Federal(SOF) do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), órgão cen-

tral do sistema de orçamento. No MPOG, são ixadas as diretrizes, orientações eparâmetros que os demais órgãos e entidades pertencentes ao sistema de orça-

mento devem seguir ao elaborarem suas propostas. Essas orientações são base-

adas, principalmente, nas previsões de arrecadação, nas diretrizes da LDO e noplanejamento do Governo (PPA), que estabelecem, entre outros parâmetros, ameta de resultado iscal.

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As demais unidades que compõem o sistema de orçamento federal, após rece-

berem as orientações do MPOG, elaboram suas propostas parciais de orçamento.Os ministérios e órgãos dos demais poderes (Legislativo, Judiciário e Ministério Pú-

blico) consolidam as propostas das UOs subordinadas, e as encaminham ao MPOG.

MPOG

Proposta de

orçamentoDiretrizes

Ministério “B”

Proposta de

orçamentoDiretrizes

O MPOG recebe as propostas parciais e as consolida na proposta do orçamen-

to da União para o exercício seguinte. Nessa etapa de consolidação, também sãorealizados ajustes, seguindo as orientações da LDO, inclusive em relação às metasiscais. Essa proposta é encaminhada, então, ao presidente da República, que, porsua vez, encaminha o projeto de lei orçamentária ao Congresso Nacional. A iniciati-va das leis orçamentárias é de competência exclusiva do chefe do Poder Executivo

(presidente, governador e prefeito), segundo a Constituição Federal. Note que é naetapa de elaboração que o valor dos créditos orçamentários (dotações) é deinido.

MPOGProposta

de orçamentoPRESIDENTE

DA REPÚBLICA

Propostade orçamento

CONGRESSO

NACIONAL

O Congresso Nacional (CN) também elabora sua proposta orçamentária. En-

tretanto, repare que é ele mesmo que vota o projeto de LOA. Assim, surge a pergun-

ta: “será que o Congresso precisaria enviar sua proposta ao MPOG? Ele não poderiaaguardar as demais propostas e simplesmente anexar a sua?” A resposta é “sim”para a primeira pergunta e “não” para a segunda. O Congresso Nacional precisa en-

viar a proposta orçamentária ao Poder Executivo, pois é de competência exclusiva do chefe do Poder Executivo a iniciativa de leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA).

O Poder Executivo deve disponibilizar aos demais Poderes e ao MinistérioPúblico as estimativas das receitas para o exercício subsequente, inclusive a re-

ceita corrente líquida (receita corrente à disposição do ente. Esse conceito será

visto em detalhes em um capítulo próprio) e as respectivas memórias de cálculo(metodologia de cálculo), até 30 dias antes do prazo inal para encaminhamentode suas propostas.

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Caso o chefe do Poder Executivo não encaminhe o projeto de lei, ele terá co-

metido crime de responsabilidade. Como solução para este caso, a Lei 4.320/64determina que o orçamento corrente seja utilizado também no ano seguinte. Éuma solução que ignora o fato de o orçamento ser associado ao planejamento,

ou seja, é uma solução voltada para o orçamento tradicional, que simplesmenteprevê receitas e ixa despesas. Mas, como a Constituição Federal de 1988 não sepronunciou sobre essa questão tão complicada, essa é a alternativa legal para aomissão do Presidente.

Caso não seja possível que o projeto de lei orçamentária seja sancionadopelo Presidente da República ao inal do ano civil (inal do ciclo orçamentárioanterior), a LDO deverá regulamentar a forma como será executado provisoria-

mente o orçamento.

A LDO 2012, lei 12.465/2011, traz as seguintes diretrizes relacionadas aessa regulamentação.

 Art. 65. – Se o Projeto de Lei Orçamentária de 2012 não for sancionado

 pelo Presidente da República até 31 de dezembro de 2011, a programação

dele constante poderá ser executada para o atendimento de:

I – despesas com obrigações constitucionais ou legais da União relaciona-

das na Seção I do Anexo IV desta Lei;

II – bolsas de estudo no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientíico e Tecnológico – CNPq, da Fundação Coordenação de Aperfeiçoa-

mento de Pessoal de Nível Superior – Capes e do Instituto de Pesquisa Eco-

nômica Aplicada – IPEA, bolsas de residência médica e do Programa deEducação Tutorial – PET, bolsas e auxílios educacionais dos programas de

 formação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE,

bem como Bolsa Atleta e bolsistas do Programa Segundo Tempo;

III – pagamento de estagiários e de contratações temporárias por excepcio-

nal interesse público na forma da Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993;

IV – ações de prevenção a desastres classiicadas na subfunção Defesa Civil;

V – formação de estoques públicos vinculados ao programa de garantia

dos preços mínimos;

VI – realização de eleições pela Justiça Eleitoral;VII – outras despesas correntes de caráter inadiável;

VIII – importação de bens destinados à pesquisa cientíica e tecnológica,

no valor da cota ixada no exercício inanceiro anterior pelo Ministério da

Fazenda;

IX – concessão de inanciamento ao estudante; e

 X – ações em andamento decorrentes de acordo de cooperação internacio-

nal com transferência de tecnologia.

 § 1º – As despesas descritas no inciso VII deste artigo serão limitadas a

1/12 (um doze avos) do valor previsto em cada ação no Projeto de LeiOrçamentária de 2012, multiplicado pelo número de meses decorridos até

a sanção da respectiva Lei.

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 § 2º – Aplica-se, no que couber, o disposto no art. 52 desta Lei aos recursos

liberados na forma deste artigo.

 § 3º – Na execução das despesas liberadas na forma deste artigo, o ordena-

dor de despesa poderá considerar os valores constantes do Projeto de Lei Or-

çamentária de 2012 para ins do cumprimento do disposto no art. 16 da LRF. § 4º – Considerar-se-á antecipação de crédito à conta da Lei Orçamentá-

ria de 2012 a utilização dos recursos autorizada neste artigo.

 § 5º – Os saldos negativos eventualmente apurados em virtude de emen-

das apresentadas ao Projeto de Lei Orçamentária de 2012 no Congresso

Nacional e do procedimento previsto neste artigo serão ajustados por de-

creto do Poder Executivo, após sanção da Lei Orçamentária de 2012, por

intermédio da abertura de créditos suplementares ou especiais, mediante

remanejamento de dotações, até o limite de vinte por cento da programa-

ção objeto de cancelamento, desde que não seja possível a reapropriação

das despesas executadas.

Assim, percebe-se que a LDO permite a execução de algumas despesas, ge-

ralmente as de caráter inadiável, por duodécimos, isto é, 1/12 (um doze avos) dovalor previsto em cada ação no Projeto de Lei Orçamentária de 2012. É importan-

te lembrar que tais execuções serão colocadas no orçamento no momento da suaaprovação, não ferindo qualquer dos princípios orçamentários.

Outro importante ponto a se considerar é que o Poder Executivo deve, ematé 30 dias após a publicação dos orçamentos, desdobrar as receitas previstas

em metas bimestrais de arrecadação, com a especiicação em separado e, quandocabível, das medidas de combate à evasão e à sonegação, da quantidade e valoresde ações ajuizadas para cobrança da dívida ativa (casos em que pessoas ísicas oujurídicas devem ao governo – a dívida está ativa, ou seja valendo), bem como daevolução do montante dos créditos tributários passíveis de cobrança administra-tiva (que não precisam ir à justiça).

Cabe ainda destacar que os estados, o Distrito Federal e os municípios sãoobrigados a elaborar, submeter aos respectivos Poderes Legislativos e aprovarsuas próprias LOA, LDO e PPA, independentemente do processo orçamentário

da União.2) Apreciação e votação

A etapa de apreciação e votação do orçamento é de responsabilidade do Po-

der Legislativo (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras de Ve-

readores).

No caso da União, há uma comissão mista permanente de orçamento, querecebe o projeto de lei orçamentária, analisa seu conteúdo e emite parecer paraque a lei seja votada no plenário do Congresso Nacional. Essa comissão é mista

porque é formada por 63 deputados e 21 senadores. Além disso, ela também échamada de permanente, pois não se dissolve; ela não trabalha só com o projetode lei orçamentária, mas também acompanha sua execução.

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A comissão mista de orçamento, enquanto está analisando e votando o pro-

jeto de lei orçamentária, pode receber solicitações do Presidente da Repúblicapara alterar algumas partes do projeto. É a chamada mensagem retificadora do

Executivo. Entretanto, é importante observar que a mensagem retiicadora só

poderá ser encaminhada à comissão enquanto não houver sido iniciada a vota-ção da parte que ela pretende alterar. Isso ocorre para que os parlamentares nãotenham que votar duas vezes a mesma coisa.

Depois de votar o orçamento e emitir o parecer, a comissão mista encaminha oprojeto de LOA ao plenário, para que seja feita a votação. Na União, esta votação éfeita de forma conjunta pelas duas casas (Câmara e Senado), na forma do regimen-

to comum. Isso signiica que a discussão e a eleição são feitas no mesmo momentoe local, para que todos possam trocar ideias sobre o projeto em questão. Entretan-

to, a apuração dos votos é feita separadamente. Contam-se os votos de uma casa, e

depois da outra. Para ser aprovado, o projeto de lei deve conseguir o voto da maio-

ria simples (maioria dos presentes), tanto na Câmara como no Senado.

Durante a votação na comissão ou no plenário, poderão ocorrer propostasde emendas que alterem o projeto de lei. As emendas são apresentadas à comis-são mista de orçamento, que analisará e emitirá parecer sobre cada uma delas. Asemendas serão, então, remetidas ao plenário para serem votadas.

É importante não confundir as emendas solicitadas por parlamentares com a mensagem retiicadora do Executivo.

Há algumas restrições para a sugestão de emendas por parlamentares. Pri-meiro, elas precisam estar de acordo com a LDO e com o PPA. E, segundo, de-

vem indicar a origem dos recursos necessários, que devem ser provenientes daanulação de outras despesas (dotações). Vale ressaltar que, nessa etapa, não sepode anular as despesas com pessoal e seus encargos e com serviços da dívida,e nem alterar a destinação das transferências tributárias constitucionais. Essasrestrições reletem a preocupação dos setores responsáveis pelas inanças públi-cas com os gastos relativos a pessoal e dívida pública, pois são despesas muitograndes e que só tendem a crescer.

Veja o que a Constituição Federal de 1988 traz sobre o assunto:

 Art. 166. (...)

 § 3º – As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos

que o modiiquem somente podem ser aprovadas caso:

I – sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes

orçamentárias;

II – indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes

de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:

a) dotações para pessoal e seus encargos;

b) serviço da dívida;

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c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e

Distrito Federal; ou

III – sejam relacionadas:

a) com a correção de erros ou omissões; ou

b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.

 § 4º – As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não pode-

rão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano plurianual.

Ao inal do processo, a comissão mista de orçamento será a responsável pelaelaboração da redação inal do projeto de LOA. Depois de votada pelo plenáriodo Congresso Nacional, a LOA é encaminhada ao Presidente da República parasanção ou veto.

CONGRESSO NACIONAL

PRESIDENTEDA REPÚBLICA

Comissão MistaPermanente do

Orçamento

Plenário –

Senadores eDeputados

3. Parecer

2. Emendas

4. Projeto de LOA aprovado

5. Sanção e publicação da LOA

 1. Mensagem refcadora

Observe que a LOA possui um processo legislativo especial, diferente das leiscomuns, em relação à tramitação e aos prazos e, por isso, é considerada uma leiespecial. Entretanto, uma vez encaminhada ao Presidente, o processo passa a ser

idêntico ao de qualquer lei, ou seja:1) O Presidente da República terá 15 dias úteis a partir do recebimento para

sancioná-lo (aprovando-o) ou vetá-lo (rejeitando-o, no todo ou em parte);

2) Em caso de veto, o chefe do Executivo terá 48 horas para justiicá-lo ao pre-

sidente do Senado. Se não o izer, isso implicará na sanção tácita do projetode lei (aprovação em função do silêncio, da ausência de motivação ao veto);

3) Se houver veto e ele for devidamente motivado, o projeto de lei será devol-

vido ao Congresso. O veto só poderá ser derrubado pelo voto da maioriaabsoluta (maioria dos que existem, e não apenas dos presentes) de cadauma das duas casas do Congresso.

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O processo legislativo da LOA é o mesmo adotado para o PPA, para a LDO epara os créditos suplementares e especiais; apenas será diferente para o caso doscréditos extraordinários. O mesmo processo legislativo é válido também para osdemais entes federados, com a diferença de que, nos estados e municípios, as

comissões orçamentárias não são mistas, pois apenas a União possui duas casaslegislativas.

Os créditos extraordinários podem ser formalizados por meio de medidaprovisória (MP) na União e nos entes federativos onde este instrumento é pre-

visto e por decreto nos demais.

A Constituição Federal de 1988 traz uma informação importante sobre esseassunto, que será também tratado novamente em capítulo seguinte com maisdetalhes.

 Art. 166. § 8º – Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do

 projeto de lei orçamentária anual, icarem sem despesas correspondentes

 poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou

suplementares, com prévia e especíica autorização legislativa.

No caso da União, a medida provisória (MP) referente a créditos extraordiná-

rios é recebida pela comissão mista permanente de orçamento, que emite um pa-

recer sobre ela. A diferença em relação à tramitação descrita anteriormente – paraa LOA, PPA, LDO, créditos suplementares e especiais – é que a medida provisória

de créditos extraordinários também é analisada por outra comissão, a Comissãode Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que avalia a constitucionalidade da MP.O Artigo 62 da CF/88 exige que a MP apenas seja utilizada em caso de urgência erelevância. Em seguida, a MP é analisada pelo plenário da Câmara. Após essa pri-meira votação, a MP vai para a CCJ do Senado e, por im, para o plenário do Senado.

É importante lembrar que as duas primeiras fases do ciclo orçamentário(elaboração e aprovação) são feitas no Sistema Integrado de Dados Orçamen-

tários (Sidor). Já as duas últimas fases (execução e controle) são executadas noSistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siai). O Si-

dor é responsabilidade do MPOG; e o Siai, da Secretaria do Tesouro Nacional,subordinada ao Ministério da Fazenda.

3) Execução

No dia 1º de janeiro, após a publicação da LOA, começa o ano e também oexercício inanceiro.

Na LOA, a parte que trata das despesas é estruturada da seguinte forma: há otítulo de uma despesa, como a construção de uma escola, e um valor correspon-

dente. Esse valor é chamado de dotação orçamentária. As despesas são dotadas

com valores em reais. A dotação não é dinheiro, é uma autorização para que segaste o dinheiro. O conjunto formado pelo título da despesa e pelo valor (dota-

ção) é o crédito orçamentário.

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Vejamos um exemplo:

(LOA – ANO 20XX)

RECEITA DESPESA

Receitas correntes. ............. xxxxx

Receitas de capital. ........... xxxxx

Crédito público (dinheiro tomado em-

prestado). .................... xxxxx

Despesas correntes. ............. yyyy

(salários, conta de luz, etc)

Despesas de capital. ........... yyyyy

Construção do prédio da escola modelodo Governo Federal. ... R$ 2.000.000,00.

Assim, temos que:

• A despesa corresponde à construção do prédio da escola modelo;

• A dotação orçamentária, no caso, é de R$ 2.000.000,00;

• O crédito orçamentário corresponde à construção do prédio da escola mo-

delo por R$ 2.000.000,00.

O crédito orçamentário é uma autorização. O Ministério da Educação podeexecutar a obra, mas não é obrigado a isso. O valor de R$2.000.000,00 é o máxi-mo que poderá ser gasto com a construção da escola. Para que o Ministério gastemais com esse im, deverá ser utilizado um crédito suplementar que, como o pró-

prio nome diz, suplementa a dotação de uma despesa já existente.

Na fase da execução, que começa após a publicação da LOA, a Secretaria de

Orçamento Federal (SOF) transfere a cada órgão contemplado no orçamento asdotações para que as despesas de cada um deles possam ser executadas. Essatransferência é feita de uma só vez, abrangendo todo o valor destinado à UnidadeOrçamentária (UO) para o exercício, por meio do SIAFI, sistema que será trata-

do com mais detalhes no item 2.4 deste capítulo. O documento que formaliza atransferência da dotação para os órgãos é a nota de dotação (ND). Somente po-

derão ocorrer novas transferências de dotação da SOF para os órgãos se houvercréditos adicionais.

Se a LOA trouxesse em detalhes todas as despesas de todos os órgãos do

Governo, esse documento seria gigantesco. Além disso, todo esse detalhamentoseria inútil, pois os parlamentares não têm como veriicar cada pequena despesade todos os órgãos; eles analisam apenas um documento, que traz as despesas deforma consolidada, agrupada. Todas as despesas e valores precisam constar naLOA, mas de forma sintética. Por isso, os órgãos menores, subordinados a outros,nem mesmo aparecem na LOA. Todavia eles precisam executar suas despesas e,para isso, precisam receber dotações orçamentárias, o que é feito por meio dadescentralização orçamentária.

É importante lembrar que a ausência de dotação orçamentária prévia em

legislação especíica não autoriza a declaração de inconstitucionalidade de leique implique despesas orçamentárias, impedindo tão somente a sua aplicaçãonaquele exercício inanceiro.