sola fide jardim noronha jubasc 28 de outubro de 2016 499 ... · 12 antigamente se impunham as...

30
Sola Fide Jardim Noronha JUbasc 28 de outubro de 2016 499 anos da Reforma Protestante 1. Boa noite! 2. Minha alegria com o Noronha 3. Minha alegria com a JUBASC 4. A importância do tema 5. Minha necessidade de fazer pontes entre a Reforma e nosso tempo Romanos 1: 17 1. O texto vem de Habacuque 2:4. É o grande texto da Reforma. Ele desperta uma das Sola, no caso a Sola Fide. 2. Usualmente, o texto inicial no qual se baseia essa doutrina da justificação pela fé é "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Romanos 3:28), contudo também é comum citar Salmos 84:12, Isaías 64:6, II Crônicas 20:20, Mateus 7:22-23, Lucas 5:20, Lucas 18:10-14,Lucas 23:40-43, João 3:16, João 3:18, João 6:28-29, João 5:24, João 6:40, João 6:47, Atos 10:43, Atos 16:31, Apocalipse 14:12-13 dentre muitos outros. 3. Temos cinco Solas: Sola Scriptura (somente a Escritura) Solus Crhistus (somente Cristo), Sola Gratia (somente a graça), Sola Fide (somente a fé) e Soli Deo Gloria (somente a Deus a Gloria). Uma sola combate os Dogmas da Igreja, outra sola a exclusividade do acesso às Escrituras pelo clero, outra sola a mediação da Igreja na Salvação, outra sola a salvação pela obras, outra sola a ingerência e suposta mediação de santos e padres na vida e na salvação das pessoas e tantas outras consequências e desdobramentos destas ideias. 4. Meu proposito não é recontar a historia, que muitos aqui já conhecem e podem conhecer bem pela Internet. O crescente interesse dos jovens pela Reforma é bem vindo, mas precisamos fazer as pontes porque os desafios de hoje são diferentes, já que as próprias igrejas protestantes, reformadas e

Upload: phamdieu

Post on 12-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Sola Fide – Jardim Noronha JUbasc – 28 de outubro de 2016

499 anos da Reforma Protestante

1. Boa noite!

2. Minha alegria com o Noronha

3. Minha alegria com a JUBASC

4. A importância do tema

5. Minha necessidade de fazer pontes entre a Reforma e nosso tempo

Romanos 1: 17

1. O texto vem de Habacuque 2:4. É o grande texto da Reforma. Ele desperta

uma das Sola, no caso a Sola Fide.

2. Usualmente, o texto inicial no qual se baseia essa doutrina da justificação

pela fé é "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras

da lei" (Romanos 3:28), contudo também é comum citar Salmos 84:12, Isaías

64:6, II Crônicas 20:20, Mateus 7:22-23, Lucas 5:20, Lucas 18:10-14,Lucas

23:40-43, João 3:16, João 3:18, João 6:28-29, João 5:24, João 6:40, João

6:47, Atos 10:43, Atos 16:31, Apocalipse 14:12-13 dentre muitos outros.

3. Temos cinco Solas: Sola Scriptura (somente a Escritura) Solus Crhistus

(somente Cristo), Sola Gratia (somente a graça), Sola Fide (somente a fé) e

Soli Deo Gloria (somente a Deus a Gloria). Uma sola combate os Dogmas da

Igreja, outra sola a exclusividade do acesso às Escrituras pelo clero, outra

sola a mediação da Igreja na Salvação, outra sola a salvação pela obras,

outra sola a ingerência e suposta mediação de santos e padres na vida e na

salvação das pessoas e tantas outras consequências e desdobramentos

destas ideias.

4. Meu proposito não é recontar a historia, que muitos aqui já conhecem e

podem conhecer bem pela Internet. O crescente interesse dos jovens pela

Reforma é bem vindo, mas precisamos fazer as pontes porque os desafios de

hoje são diferentes, já que as próprias igrejas protestantes, reformadas e

suas vertentes, carecem de uma Reforma também. Aliás, é principio

Reformado: Igreja Reformada e sempre reformando.

5. Nós batistas brasileiros, estamos muito aquém destas preocupações e

distantes dos ideais Reformados. Mesmo que sejamos herdeiros da corrente

reformada calvinista que vem por meio dos puritanos, que por sua vez

influenciaram os americanos que evangelizaram o Brasil por meio dos

batistas, com forte ênfase na conversão e mudança de vida e na doutrina.

6. A reforma produziu muita teologia, movimentos, credos, sínodos e concílios e

estamos sempre muito alheios a eles. E aqueles que estão se aproximando

ainda tem uma postura acrítica dos movimentos e exaltam fatos passados

que querem reviver, mas em um mundo completamente diferentes.

7. É sempre bom lembrar que a Justificação pela fé não é doutrina da Reforma,

mas bíblica. Abraão foi justificado pela fé!

8. O mérito de Lutero e de outros Reformadores está no fato de tê-la trazido à

tona de novo. Tudo parece começar com sua visita a Roma. Lutero, como

podemos ver nas suas teses e outros escritos, não estava contra o Papa e

parecia querer combate-lo ou desmerece-lo. Ele era um monge agostiniano

que levava muito a serio os estudos e a mortificação da carne.

9. A igreja estava sufocada e cativa de um clero corrupto, das indulgências, de

formalismo insípido e de uma relação promiscua entre o Estado e a Igreja,

que na verdade se confundiam.

10. Os ideais Reformadores estão presentes muito antes de Lutero na Alemanha,

Calvino na Suíça, Zuinglio na Suiça também, Guilherme Farrel também na

Suiça, e John Knox na Escócia.

11. Dois nomes se destacam nestes movimentos anteriores: John Huss e John

Wycliffe.

12. John Wycliffe (c. 1328 — 31 de dezembro 1384) foi professor da Universidade

de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das

reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI

(ver:Reforma Protestante). Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o

idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe. Ao mesmo

tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos

tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser

limitado às questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo

Estado, representado pelo rei. Seu livro De officio regis defendia que o poder

real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras

Sagradas, quando Cristo aconselhou "dar a César o que é de César". Era

pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas,

inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder

com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis

de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei

atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve

chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um "controle

evangélico" e quem serve à Igreja deve submeter-se às leis do Estado. Os

arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).

Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na

Inglaterra, que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao

Estado e o rei como chefe da Igreja, mas também na Boêmia e na Alemanha.

Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wycliffe

endereça aos reis, para que protejam seus teólogos. Ele sustentava que, já

que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento

da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria

cercar-se de teólogos para aconselha-lo na tarefa de proclamar as leis reais.

13. John Huss (Husinec, 1369 — Constança, 6 de julho de 1415) foi

um pensador e reformador religioso[1]. Ele iniciou um movimento religioso

baseado nas ideias de John Wycliffe. O seus seguidores ficam conhecidos

como os Hussitas. A Igreja Católica não perdoou tais rebeliões e ele foi

excomungado em 1410. Condenado pelo Concílio de Constança, foi

queimado vivo e morreu cantando um cântico [cântico de Davi" Jesus filho de

Davi tem misericórdia de mim] Um precursor do movimento protestante

(ver: Reforma Protestante), a sua extensa obra escrita concedeu-lhe um

importante papel na história literária checa. Também é responsável pela

introdução do uso de acentos na língua checa por modo a fazer corresponder

cada som a um símbolo único. Hoje em dia a sua estátua pode ser

encontrada na praça central de Praga, a Praça da Cidade Velha,

em checo Staroměstské náměstí.

14. Quando em 31 de outubro de 1517, Lutero fixa as 95 teses em Wittemberg,

ele dá o impulso que faltava e acende novas perspectivas dentro da igreja. As

95 teses, que a principio não tinham como intenção abalar ou Reformar a

igreja, por sua precisão, ironia e capacidade de expor os abusos e os

ridículos da igreja, promoveu o novo movimento. Segue algumas delas:

1 Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e

Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse

penitência.

2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência

sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo

ministério dos sacerdotes).

3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência

interior; sim, a penitência interior seria nula, se, externamente,

não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos;

segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos

moribundos.

11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena

do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos

certamente dormiam.

12 Antigamente se impunham as penas canônicas não depois,

mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira

contrição.

13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão

mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das

mesmas.

16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma

que o desespero, o semidesespero e a segurança.

17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o

horror diminua na medida em que cresce o amor.

19 Também parece não ter sido provado que as almas no

purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos

não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena

certeza.

24 Por isso, a maior parte do povo está sendo

necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta

promessa de absolvição da pena.

25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de

modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e

paróquia em particular.

26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo

poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de

intercessão.

28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar

o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende

apenas da vontade de Deus.

31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem

adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à

remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de

indulgência.

37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem

participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva

de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou

emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se

comprassem indulgências.

44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a

pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela

não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o

negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as

indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em

abundância, devem conservar o que é necessário para sua

casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto -

como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de

quem alguns pregadores de indulgências extraem

ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse

necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de

indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio

papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da

pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de

Deus nas demais igrejas.

54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo

sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que

a ela.

56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as

indulgências, não são suficientemente mencionados nem

conhecidos entre o povo de Cristo.

65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com

que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes

com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como

as maiores graças realmente podem ser entendidas como tal,

na medida em que dão boa renda.

68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em

comparação com a graça de Deus e a piedade na cruz.

69 Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a

reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os

dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses

comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do

que lhes foi incumbido pelo papa.

71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade

das indulgências apostólicas.

72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão

e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como

qualquer papa, tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho,

os poderes, os dons de curar, etc., como está escrito em 1 Co

12.

79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa,

insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80 Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que

permitem que semelhantes conversas sejam difundidas entre o

povo.

81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não

seja fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade

do papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos

leigos.

82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por

causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das

almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se

redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo

dinheiro para a construção da basílica - que é uma causa tão

insignificante?

88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia

proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o

faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e

participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a

salvação das almas do o dinheiro, por que suspende as cartas

e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente

eficazes?

90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos

somente pela força, sem refutá-los apresentando razões,

significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e

desgraçar os cristãos.

91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em

conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas

objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo

teriam surgido.

92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de

Cristo: "Paz, paz!" sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao

povo de Cristo: "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir

a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através

de muitas tribulações do que pela segurança da paz.

1517 A.D.

15. O texto de Romanos 1: 17 diz: Porque no evangelho é revelada a justiça de

Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O

justo viverá pela fé.

16. Quando pensamos a partir do exemplo de Habacuque, temos uma melhor

dimensão deste verso.

17. Habacuque está em um ambiente de destruição iminente, há o decreto de

destruição de Judá e ele será executado. Ele se vê sem esperanças, mas sua

fé não se abala. O que isto significa? Que ele se manterá firme em Deus

mesmo quando a destruição vier. Mesmo testemunhando e sofrendo o caos

oriundo da desobediência de seu povo ele afirma: continuarei confiando em

Deus. A fé é o alimento de Habacuque. Ele demonstra que não precisa de

que nada em sua vida esteja dando certo para que sua fé se mostre firme.

Muito pelo contrario. No entanto, ainda em Habacuque a fé ainda é vista do

ponto d vista da força do homem, o que pode não ser verdade, já que

refutamos que tamanha envergadura de fé tenha como fundamento o próprio

Deus.

18. Em Romanos 1:5 Paulo fala de um povo chamado para a obediência por meio

da fé, ou seja, um povo que, por sua fé, seria fiel a Deus e lhe obedeceria em

tudo. Portanto, não uma fé que produz, necessariamente, produtos visíveis no

mundo material, mas que produz obediência.

19. No verso 1: 12 ele fala da fé como meio que encoraja os crentes a

permanecerem firmes em Cristo.

20. A partir do verso 1: 18 ele fala de como o homem, por meio do pecado,

transgrediu a lei e se afastou de Deus. Isto prossegue até o capitulo 3,

quando temos a afirmação de que todos pecaram e estão separados da glória

de Deus.

21. A partir do capitulo 4 temos nosso grande Pai Abraão como modelo de fé e de

obediência: aceitou ir para uma terra distante, fez uma aliança com Deus

ainda que Deus tenha sido o tomador de ambos os lado, creu na promessa

que seria pai depois de velho e com uma esposa estéril e também de uma

grande e incontável nação, trabalhou e cresceu na terra que Deus lhe deu,

teria sacrificado seu Filho Isaac se Deus não tivesse intervindo na situação.

Ainda que sempre nos atenhamos aos aspectos materiais disto tudo, o que

deve ficar é que, a despeito das contrariedades e impossibilidades, ele

prosseguia firma diante de cada estendida de mão de Deus.

22. A fé não pode ser mediada e nem explicada pelos homens. As obras

humanas, terrenas, carnais, não podem dar conta da grandeza do aspecto

espiritual mediado apenas por Deus da fé e da Salvação.

23. Nós nem mesmo podemos falar do justo como alguém perfeito em seus

caminhos, porque o que Romanos nos aponta é que a salvação vem por meio

da justificação pela fé, que nada mais é que um ato declaratório de Deus que

imputa a justiça de Cristo sobre a vida do que crê. E mesmo esta fé que nos

leva a Deus, só pode ser resultado de uma ação sobrenatural dele.

24. A justificação é uma declaração, o rasgar de uma divida contraria, uma

decisão contrária à logica do tribunal que levaria o condenado (réu) a pagar

suas dividas com a própria vida.

25. Nossos valores não dão conta disto – não compreendemos a grandeza de um

ato deste e o julgamos tolo. Como assim? Ele não deve mais nada? Não, não

deve.

26. Se valendo desta prerrogativa pecaminosa humana que na Idade Média, e

até hoje, pessoas em todo mundo são manipuladas e, também por causa

disto, o Evangelho recebe criticas e acusações que não lhe cabem, porque

aqueles que têm como dever conhecer isto e pregar isto, não o fazem.

Precisamos assim, reafirmar valores da Reforma e também assumir posturas:

1. Primeiramente, como dizia meu pai – não somos filho de chocadeira – temos

um passado Reformado e que aponta na direção de uma fé sólida e que

conflita o mundo indulgente, um mundo de aparências e de valores terrenos.

2. A fé que salva é também a fé que nos impulsiona a pregar e viver de maneira

santa e irrepreensível. Estamos muito mais preocupados em ser legais e

politicamente corretos. O mundo precisa de exemplos de fé, amor, coragem e

de uma postura que aponte para o que é certo e para o que é errado.

3. A fé que salva e justifica, nos justifica por sermos pecadores, mas mesmo

depois de salvos continuamos sujeitos ao erro do mesmo modo. Desta forma,

agora que não temos débitos com Deus por causa do que Cristo fez por nós,

devemos nos esmerar em nossa santificação aproximação de Deus.

4. A fé que justifica é a fé que vem pela Graça de Deus. Somos, como diz

Brenan Maning, Maltrapilhos, ou seja, mendigos diante de Deus e que

precisamos de sua mão estendida. Não deve haver em nós espaço para o

orgulho, para inveja, para brigas, para disputas.

5. A fé que salva, salva pessoas, mas salva grupos e famílias, assim, esta

mesma fé é que nos leva a compreender que somos um como igreja e como

povo de Deus. Este princípio de unidade encontra respaldo e fundamento na

própria fé que salva.

Sola fide – anotações e considerações

Sola fide (do Latim: por fé somente), também conhecida, historicamente, como

doutrina da justificação pela Fé, é a doutrina que distingue

denominações protestantes da Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa e outras.

A doutrina da sola fide ou "fé somente" afirma que é exclusivamente baseado

na Graça de Deus, através somente da fé daquele que crê, por causa da obra

redentora do Senhor Jesus Cristo, que são perdoadas as transgressões da Lei de

Deus. Ou seja, afirma que aquele que crê que Jesus é o Cristo, creu porque Deus

lhe deu essa graça, e por essa graça, através dessa crença, é salvo dos pecados e

da condenação que receberia por causa dos pecados. Pela fé, aquele que crê

compreende o sacrifício do Filho de Deus e os méritos, a retidão de Jesus Cristo é

aplicada a esse pecador que crê.

A posição oposta, afirma que aqueles que creem recebem perdão baseado apenas

nas obras da Lei, tal posição é chamada Legalismo.

História

Historicamente, o conceito de sola fide foi a base para Martinho Lutero desafiar a

cobrança de indulgências pela Igreja Católica Romana e, por essa razão, é chamada

de Princípio Material da Reforma Protestante, enquanto a Doutrina sola scriptura é

considerada Princípio Formal. É um dos cinco solas da Reforma Protestante.

A Reforma Protestante, ainda que afirme que a obediência às Leis de Deus não é

necessária para ser perdoado por Deus, não desconsidera as boas obras. Essa

obediência é entendida como consequência e não causa de Deus ter outorgado a

sua graça.

Usualmente, o texto inicial no qual se baseia essa doutrina é "Concluímos, pois, que

o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Romanos 3:28), contudo

também é comum citar Salmos 84:12, Isaías 64:6, II Crônicas 20:20, Mateus 7:22-

23, Lucas 5:20, Lucas 18:10-14,Lucas 23:40-43, João 3:16, João 3:18, João 6:28-

29, João 5:24, João 6:40, João 6:47, Atos 10:43, Atos 16:31, Apocalipse 14:12-

13 dentre muitos outros - Lutero contra os tomistas e os aristotélicos Carson

Amordaçado 66.

Só a fé

A grande descoberta do frade Martin Lutero nas Escrituras foi que ―o justo viverá por

fé‖ (Rm 1.17). Essa verdade bíblica chegou a ser um grito de batalha na Reforma.

A fé é a mão que recebe a dádiva de Deus em Jesus Cristo. Certamente para o

evangelista João, receber a Cristo parece ser um equivalente de crer nele (Jo 1.12).

Por meio da fé fazemos nossos os benefícios de Cristo crucificado e ressuscitado. É

nesses benefícios que descansa nossa segurança eterna de salvação.

A fé mediante a qual somos justificados não é cega, não é mera credulidade.

Tampouco é a fé um mero assentimento à verdade revelada. É muito mais que um

mero exercício intelectual. Ter fé é confiar, é abandonar-se nas mãos de Jesus

Cristo, reconhecendo a enormidade de nossa culpa e a totalidade de nossa

incapacidade para libertar-nos por nós mesmos do pecado. É admitir que os méritos

humanos são inúteis para fins de justificação. É lançar mão do valor infinito da

pessoa e obra do Filho de Deus. Ter fé em Jesus Cristo é deixar-se salvar por Ele.

A fé implica também obediência. Quando o homem crê que o Evangelho é a

verdade, sente-se na obrigação de obedecê-lo. Segundo a doutrina da Reforma, o

pecador é justificado só pela fé, mas a fé que justifica não permanece só. Não é uma

fé estéril, muito menos morta. O ensino de Tiago (2.14-26) se harmoniza plenamente

com o ensino de Paulo, o qual afirma que não somos salvos por obras, mas sim,

para obras que Deus ―de antemão preparou para que andássemos nelas‖ (Ef 2.10).

Estas boas obras são o fruto da salvação, não a causa dela.Crer em Jesus Cristo

significa, além do mais, entrar em sério compromisso com Ele, com sua Igreja e com

a sociedade. Não aceitamos Jesus Cristo para evadir nossas responsabilidades

morais e viver como nos agrada, depois de haver adquirido uma apólice de seguro

para a eternidade. No Evangelho há reclamos de caráter ético. Jesus teve o cuidado

de advertir as multidões sobre as dificuldades do caminho que Ele lhes propunha.

Não guardou silêncio sobre as exigências do discipulado. Ninguém poderia queixar-

se de que Ele lhes enganara com a oferta de uma ―graça barata‖. Seu interesse

estava na qualidade, não na quantidade de seus seguidores.

Sola Fide

J. V. Fesko17 de Outubro de 2013 - Teologia

Em 1647, um grupo de pastores e teólogos reformados reunidos na Abadia de

Westminster, em Londres, elaborou um conjunto de documentos que hoje

conhecemos como os Padrões de Westminster, que incluem a Confissão de Fé, o

Catecismo Maior e o Breve Catecismo. Os teólogos procuraram sistematizar o

ensino reformado a fim de criar uma igreja Reformada unificada nas Ilhas Britânicas.

Na pergunta e resposta 33 do Breve Catecismo, eles resumem um dos principais

pilares da tradição reformada:

O que é a justificação? Justificação é um ato da livre graça de Deus, através da qual

ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si, somente

pela justiça de Cristo a nós imputada e recebida pela fé somente.

Introdução

O ponto decisivo da Reforma Protestante e da doutrina da igreja em geral, foi a

experiência de um monge agostiniano em cela monástica - Martinho Lutero. Pois

não apenas ensinou doutrinas diferentes, outros já o haviam feito, como Wycliffe e

Huss, mas nenhum destes precursores da Reforma contra o sistema papado

conseguiu a sua meta. O único homem que conseguiu romper com o catolicismo

romano e transformou o mundo inteiro, foi Lutero1. Isso se deu em sua ênfase

doutrinária. Justificação somente pela fé em Cristo foi um divisor das águas entre

igreja católica romana e a igreja protestante ou evangélica. Ou seja, o

protestantismo nasceu da luta pela doutrina da justificação pela fé somente.

Segundo Lutero, essa não era meramente uma doutrina entre demais, mas o

―resumo da toda doutrina cristã‖, o artigo pelo qual a igreja se mantém ou cai2. Em

1537, Lutero vigorou este artigo, onde afirma ―nada neste artigo pode ser

abandonado ou atingido, mesmo no céu e na terra, e as coisas temporais devem ser

destruídas‖. Porém, ele estava ciente de que essa doutrina era rara de ser mantida e

que poucas pessoas estavam aptas a ensiná-la fielmente.

É curioso saber que, o ódio do reformador Martinho Lutero, não estava na pessoa do

Papa, mas apenas o conteúdo do que estava sendo propagado superficialmente

sem nenhum compromisso com o evangelho. Nota-se bem como Lutero afirma em

sua obra Explanações das Noventa e Cinco Teses, na qual mostrou a luta interna

pela qual estava passando, tentando se apegar à tradicional doutrina católica acerca

da supremacia papal e o poder das chaves; pois Lutero percebeu a existente do

sistema papado na prática, raramente era conciliável com o evangelho da graça3:

Eu não posso negar que tudo o que papa faz deve ser suportado, mas me entristece

que eu não possa provar que o que ele faz é o melhor. Embora, se eu fosse discutir

a intenção do papa, sem me envolver com sua prestação de serviço mercenária, eu

diria, brevemente e com confiança, que se deve assumir o melhor sobre ele. A igreja

necessita de uma reforma, que não é o trabalho de um homem, a saber, o papa, ou

de muitos homens, a saber, os cardeais, o que o mais recente concílio demonstrou,

mas é o melhor de todo o mundo, de fato, é trabalho de Deus somente. Entretanto,

somente Deus, que criou o tempo, sabe o tempo para esta reforma. Nesse meio

tempo, não podemos negar tais erros manifestos. O poder das chaves é abusado e

escravizado pela cobiça e ambição.

A expectativa de Lutero em sua obra Explanações enviada ao então papa Leão,

com um espírito da humildade de pedir desculpas, seria o término da questão. Ele

não sabia que por esse momento, o papa e sua corte decidira condená-lo e

excomungá-lo. Felizmente a agenda não foi concretizada, no momento, e foi adiada

por causa de agitações políticas vigentes entre a igreja e o sacro Império Romano.

Entretanto, era urgente eleger um imperador que sucederia Maximiliano; o candidato

mais forte era o Rei Carlos I, da Espanha – mais tarde foi batizado com o nome de

Carlos V – porém sua eleição fosse uma catástrofe para a política do papa Leão4.

Em 1519, em um debate em Leipzip com João Eck von Ingolstadt, Lutero foi

conduzido pelo ardiloso a declarar que a supremacia da Bíblia é superior à do Papa

e dos concílios, e que esses últimos tinham errado. Eck o acusou de ser o discípulo

de João Huss.

Em 1520, Lutero publicou três obras importantes para sua vida reformada, tratam se

de: A Liberdade de um Cristão, Discurso à Nobreza Germânica e O cativeiro

Babilônico da Igreja. Segundo Gonzalez5, Lutero endereçou a obra ao papa Leão

junto a uma magna carta reconciliadora na qual ele reivindicava que Leão era como

―um cordeiro no meio dos lobos‖, ou ―Daniel entre a cova dos leões‖. Tendo um

espírito de conciliador, em nome da liberdade cristã, Lutero explica seu

entendimento fundamental da vida cristã e as outras duas obras, entretanto, o

guiaram ainda mais longe da igreja romana6.

Martinho Lutero

Martinho Lutero, sem dúvida alguma foi o mais importante teólogo cristão do século

16, e um dos pensadores cristãos mais pesados na tradição evangélica. De modo

que, merece uma breve descrição bibliográfica, para que possa saber de fato quem

era ele. Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, na Alemanha; seu

pai camponês e minerador de cobre, que queria que o seu filho fizesse a Faculdade

de Direito. Conforme registra Heikon Oberman apud Piper7 ―Não existe quase

nenhuma informação sobre os primeiros 18 anos que guiaram Lutero à Universidade

de Erfurt‖. O preparo religioso de Lutero teve como base aquela piedade simples da

família alemã na Idade Medieval. Na sua infância até a idade adulta, foi radicalmente

piedoso, mas sem exageros, mostrando alegria de viver. Segundo Nichols,8 Lutero

obedeceu ao pedido de seu pai e, aos dezoito anos, ingressou na mais famosa

Universidade alemã, a de Erfurt, com o propósito, como era o desejo do seu pai, de

estudar Direito. Durou quatro anos nos estudos preliminares da sua futura carreira

profissional, aprofundando-se na filosofia medieval, a profissão que não foi exercida

devido a sua vocação monástica.

Em 1501, nesta Universidade, iniciou a estudar filosofia de Aristóteles sob a

influência de professores que seguiram as teorias nominalistas de Guilherme de

Ocam. Ocam ensinava que a revelação era o único meio no campo da fé, mas a

razão era o guia absoluto da filosofia. Nestes estudos filosóficos o convenceram-no

da necessidade da intervenção divina para que o homem alcançasse a razão

espiritual e se salvasse. Em 1502, ele recebeu o seu grau de bacharel em artes e,

em 1505, o de mestre em artes9. No dia 2 de julho de 1505, aconteceu uma

experiência com Lutero parecida à de Paulo em Damasco, a caminho de casa, vindo

da Universidade Erfurt, no qual foi atingido num temporal e derrubado no chão por

um relâmpago e gritou: ―Ajude-me, santa Ana, virei um monge‖. Ele tinha medo de

morrer e ser lançado no inferno, porque não tinha ainda certeza da sua salvação.

Isso lhe fez escolher segunda via, ir para o mosteiro agostiniano. Duas semanas

mais tarde, mesmo com tristeza do pai, Lutero honrou o seu voto.

Em 17 de julho de 1505, bateu no portão dos eremitas agostinianos em Erfurt e

pediu ao chefe do convento para aceitá-lo na ordem. Mais tarde, confessou que

essa decisão fora um pecado vergonhoso, pois havia sido tomada contra a vontade

de seu pai e por medo de morrer e ser lançando no Inferno, Nichols nos registra a

situação de Lutero antes de se tornar o reformador10:

Antes de se revelar como reformador, Lutero teve uma vida muito agitada. Entrou no

mosteiro em 1505, foi ordenado em 1507, em 1508 foi a Wittenberg, em 1509 a

Erfurt, em 1511 foi convidado para ensinar na Universidade de Wittenberg, cidade

em que residiu daí por diante. No verão de 1511, a negócios de sua Ordem, fez uma

visita a Roma, visita que tem sido muito mal entendida. Rezou em muitas igrejas e

lugares sagrados de santos e de mártires. Viu muitas relíquias e ouviu muitas

histórias dos seus poderes milagreiros. Para livrar seu pai do purgatório subiu de

joelhos a Scala Sancta, a escala que se diz ter sido trazida da casa de Pilatos,

repetindo em cada degrau, o Pai Nosso. Ao chegar ao topo surgiu-lhe uma pergunta:

―Quem sabe se tudo isto é verdade?‖ Mas isso logo passou, apesar de

escandalizado com muita coisa que vira em Roma. Não obstante, sua fé na igreja

não sofreu arrefecimento.Voltou ao mosteiro e ao seu ensino. Em 1512, tornou-se

doutor em teologia em Wittenberg. Depois ele próprio confessou, que a esse tempo

era ainda ignorante do Evangelho.

Nesta visita de Lutero a Roma via ali uma fé mecânica e daí fazia tudo para obtê-la

―subiu a escala de Pilatos, em que Cristo supostamente caminhou. Lutero orava e

beijava degrau à medida que prosseguia [...]‖, contudo suas dúvidas ainda

fervilhavam; poucos anos depois voltou para Wittenberg onde terminou o seu

doutorado em 151211. Nota-se que o que Lutero fazia em sua época estava em base

da sua educação paterna e tradição da igreja romana e tendo o estilo medieval

como o único guia da segurança da salvação. No período patrisco, a vida monástica

era tida com evidência da força própria no que se refere a matéria da salvação,

levando em conta, as renúncias dos bens, isolamento do mundo e viver mais perto

de Deus. Lutero, na verdade era um candidato de primeira mão que poderia passar

neste critério humano e sem necessariamente saber do quão valor e significado da

morte expiratória de Cristo à humanidade.

Mais tarde foi nomeado para a cadeira de teologia e filosofia de Wittenberg, que se

achava vaga. A nomeação foi feita por Staupitz, vigário geral da ordem agostiniana

de Saxônia, por conselho de Frederico, o sábio, Eleitor de Hanover. Lutero era agora

até um certo ponto senhor de seu tempo, e podia dedicar-se ao estudo da Bíblia. A

solidão da sua cela era muito convincente para esse fim, e ele estudava com um

zelo pouco vulgar. Fazia esforços extraordinários para reformar o seu modo de viver,

e para expiar o passado por meio de orações e penitências, e foram muitos os votos

que ele fez para se abster do pecado, mas estes esforços nunca o satisfizeram, e

quebrava sempre os seus votos. ―E em vão‖, dizia Lutero tristemente a Staupitz,

―que eu faço tantas promessas a Deus: o pecado é sempre o mais forte‖. Staupitz

discutia brandamente com ele, e falava-lhe de amor de Deus e que Deus não estava

zangado com ele, como Lutero suponha; mas o monge continuava desconsolado.

―Como posso eu ousar crer na graça de Deus‖, dizia ele ―se é certo que ainda não

se operou em mim uma conversão? Preciso necessariamente mudar de vida para

ser aceito por Ele‖.

A sua ansiedade tornou-se mais profunda do que nunca, e os seus esforços para

apaziguar a justiça divina continuavam com um zelo incansável. ―Eu era na realidade

um monge piedoso‖, escreveu anos depois, ―seguia os preceitos da minha ordem

com mais rigor do que posso exprimir. Se fosse possível a um monge obter o Céu

por suas obras monacais eu era, certamente um dos que tinha direito a isso. Todos

os frades que me conheceram podem ser testemunhas. Se tivesse continuado por

muito mais tempo as minhas penitências ter-me-iam levado à morte, a força de

vigílias, orações, leituras e outros trabalhos12.

Com toda piedade do monge agostiniano, Martinho Lutero, mesmo assim, não

conseguia dar-lhe descanso o qual estava em busca. Pois essa verdade foi

alcançada quando teve um encontro com a palavra de Deus, e daí foi achado pela

justiça divina presente nas Santas Escrituras.

Lutero e a Epístola aos Romanos

Torna-se difícil negar que a experiência de Paulo não era parecida a de Lutero.

Paulo julgava que estava certo em busca da sua vida impecável diante dos preceitos

que ali rodeavam ―quando ao zelo perseguia a igreja, quanto à justiça que há na lei,

eu era irrepreensível‖13. Mais diante deixou claro que não foi convertido mediante

este cumprimento fervoroso mas ―a ser achado nele, não tendo por minha justiça

que procede da lei, mas sim a que procede da fé em Cristo, a saber, a justiça que

vem de Deus pela fé‖14. E Lutero se achava impecável em seus esforços de

cumprir na íntegra toda exigência monástica, contudo consciente de que diante de

Deus nada era. A genuína conversão de Lutero se deu quando começou ensinar

disciplinas relacionadas às Escrituras. Em 1515 iniciou a lecionar sobre carta de

Paulo aos Romanos, onde a sua alma foi consumida pelas palavras de Paulo.

Lutero podia explicar como se achava diante dos homens ―Minha situação era que,

apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador

perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos

poderiam satisfazê-lo‖. Entretanto, consciente da limitação dos méritos humanos

perante o Todo Criador, lhe fez voltar meditar na Bíblia, particularmente na Epístola

aos Romanos, com vista de conseguir uma resposta sólida na qual pudesse acalmar

duma vez para toda a sua alma:

Noite e dia eu ponderava, até que via conexão entre a justiça de Deus e a afirmação

de que ‗o justo viverá pela sua fé‘. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão

pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão

desta descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso.

Toda Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo

tornou-se para mim, o portão para o Céu15.

Quando Lutero descobriu a justiça de Deus em Rm 1.17 ―o justo viverá pela sua fé‖,

foi ali que o monge lançou de fora todas as suas vestiduras das obras meritórias e

rendendo assim a graça salvadora mediante a fé somente em Jesus Cristo.

É curioso saber que o contexto pelo qual Lutero descobriu esta doutrina salvífica

somente em Cristo, e não pelas obras. Foi convocado a lecionar na Universidade de

Wittenberg, a cidade em que residiu daí em diante. Este convite era uma estratégia

da autoridade eclesiástica do sistema papado, no sentido de tapar a voz do Lutero

contra as autoridades exploratórias dos pobres, as quais eram compostas pelas

classes altas e médias da igreja Romana. Contudo, foi nesta Universidade que

Lutero encontrou com a verdade acerca da graça divina para com os pecados na

literatura de Bernardo de Claraval. Mas uma coisa mais impressionante: ele era de

fato devoto leitor das Escrituras, sobretudo naquilo que se relaciona com o seu

ensino teológico em Erfurt.

A venda das Indulgências

O grande traficante do evangelho da graça, o monge dominicano de Leipzig João

Tetzel, tinha vendido as indulgências no mesmo lugar onde estava o próprio Lutero

cumprindo com os deveres de confessor do povo de Wittenberg, portanto, era

inevitável uma explosão insatisfatória contra o traficante da graça salvadora. Foi

assim que Tetzel fez o seu discurso16:

Subindo ao púlpito, perto do qual estava colocada uma grande cruz vermelha

encimada pelas armas papais, Tetzel começou o seu discurso. Falava alto e

animadamente, e fazia do Purgatório uma discrição medonha que fascinava o

auditório, despertando em todos a maior solicitude pelas almas dos amigos já

falecidos. Falou das grandes vantagens da comodidade que ele proporcionava aos

seus ouvintes, pois não havia pecado algum que tivessem cometido que não

pudesse lavar com uma indulgência. Ainda mais, estas indulgências eram eficazes

não somente com respeito aos pecados presentes, mas também sobre os pecados

passados e futuros. E ainda os pecados que os seus ouvintes tivessem o desejo de

cometer podiam ser perdoados com antecedência pelas suas cartas de absolvição

―eu não trocaria o meu privilegio‖, disse o monge Loquaz, ―pelo de S. Pedro no Céu,

porque eu tenho salvo mais almas com as minhas indulgências do que o apóstolo

com seus discursos‖.

O discurso do monge dominicano Tetzel tinha um impacto tremendo aos seus

ouvintes, pois conseguia persuadir o auditório que ali estavam presentes corpos

clérigos e leigos, para que eles escutassem os gritos insolentes de seus familiares já

mortos sofrendo no Inferno. Portanto, há ainda chance para lhes libertar daqueles

castigos eternos, com exclusividade uma única via ―colocar quantia de dinheiro na

caixa‖. Letzel pregava com tanta eloquência distorcidamente a natureza da

salvação. Pois insistia que quando coloca moeda na caixa, inevitavelmente a alma

da família já morta liberta-se do Purgatório dirige-se para o Céu. Segundo ele, quem

não pagar o dinheiro, é ele mesmo que detém ou que mantêm a alma da família do

Inferno.

Estas observações eram escutadas com uma atenção extraordinária, mas os seus

apelos a favor dos mortos produziram ainda mais resultado ―Padres, nobres,

mercadores, esposas, moços, moças‖, exclama ele ―ouçam a vossos pais e amigos

já mortos, gritando-vos do abismo profundo: ‗Nós estamos sofrendo um martírio

horrível! Uma pequena esmola nos poderia salvar; vós podeis dá-la, e contudo não

quereis fazer!. Ouçam estes gritos, e saibam que logo soa uma moeda no fundo da

caixa a alma solta-se do Purgatório e dirige-se em liberdade para o Céu... Como sois

surdos e desleixados! Com uma insignificante quantia podeis livrar o vosso pai do

Purgatório, e apesar disso sois tão ingratos que não comprais sua liberdade! No dia

do juízo eu serei justificado, mais sereis castigados tanto mais severamente por

terdes desprezados tão grande salvação17.

―Tão logo a moeda no cofre ressoa, a alma sai do Purgatório‖. Essa era a curta frase

musicada do propagado de João Tetzel (morreu no ano 1519), o homem autorizado

para conseguir dinheiro para construir uma nova basílica em Roma seu esquema

para o levantamento de fundo era vendas de indulgências. Era assim, dizendo, o

trafico da salvação.

Justificação Pela Fé Somente

Segundo Berkhof18 ―Foi sobretudo o sistema de penitências, desenvolvido pela

Igreja católica romana, e o trafico das indulgências, intimamente vinculado àquele

sistema, que deu ímpeto a Lutero para iniciar sua obra reforma‖. Lutero teve contato

com a Epístola aos Romanos em 1513, foi convidado em 1511 para ensinar na

Universidade Wittenberg, onde ali obteve o seu grau de doutorado em 1512.

Contudo, contatado já com seus anos de agitações, dúvidas, ódios sobre poderes

papados de forma pelos quais exploravam os pobres e vendiam a salvação. Lutero

já estava revoltado com estas práticas, que sua forma de pregar na Capela de

Wittenberg, atraia multidão para escutá-lo, pois não contava as tradições como os

outros pregadores costumavam fazer, mas podia expor as Escrituras de maneira

impressionante ao auditório. Pode se afirmar que, a reforma não aconteceria no ano

1517, se não houvesse um propagador daquilo que Lutero já estava questionando

alguns anos anteriores.

Neste mesmo ano, Lutero apresentava uma tese ao público, com caráter de babate

contra os poderes eclesiásticos, expondo claramente suas discordâncias e dúvidas

sobre os pensamentos teológicos/filosóficos. Lessa nos registra o momento exato

em que a tese foi apresentada19:

Para o dia 4 de setembro de 1517,quando da formatura de Franz Guenther de

Nordheusen20Lutero organizou uma série de teses que, em sua grandeza, puseram

em dúvida os fundamentos teológicos e filosóficos da escolástica. O próprio Lutero

as remeteu (certamente impressas) a Erfurt e Nuremberg, disposto a defende-

las diante de ilimitado publico, consciente que sai teologia não deveria perder-se

sem eco. Trata-se de noventa e oito sentenças curtas altamente significativas.

Pode se constatar alguns artigos, de forma que Lutero ataca francamente os

aristotélicos: ―Quase toda ética de Aristóteles é ruim e enigma da graça‖ (tese 41). ―É

engano julgar que a opinião de Aristóteles sobre a bem-aventurança não contraria a

doutrina católica‖ (tese 42) . ―Também é engano dizer: sem Aristóteles, ninguém

pode ser teólogo‖(tese 43). ―Acontece, porém, que ninguém poderá chegar a ser

teólogo se não souber sê-lo sem Aristóteles‖ (tese 44). Foi assim, que Lutero

resumiu a suposta teologia aristotélica a qual era adotada pelo movimento

escolástico surgido desde século 12. ―Em suma todo Aristóteles vala para a teologia

o que representam as trevas para a luz‖ (tese 50)21.

Segundo Curtis22 quando João Letzel propagava as indulgências Lutero ―redigiu uma

lista de 95 queixas e a afixou na porta da igreja, também servia quadro de avisos a

comunidade. O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia

Lutero, uma vez que Deus oferece gratuitamente‖. Para Nichols23 nas universidades

medievais era costume apor-se, em lugares públicos, a defesa ou ataque de certas

opiniões. Esses escritos denominados ―teses‖ nas quais se debatiam as ideias e se

convidavam todos os interessados para o debate. ―Em 31 de Outubro, véspera de

Dia de todos os santos, quanto enorme multidão comparecia à Igreja do Castelo, na

cidade de Wittenberg, Lutero colocou às portas dessa igreja as 95 teses que travam

de caso das indulgências‖. Lutero ataca fortemente o sistema papado ―O papa não

quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em

acordo com os cânones, que são estatutos papais‖ (tese 6). E continua ―O papa não

pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoada por Deus

[...]‖ (tese 7).

Lutero julgava que seria bom ―ensinar aos cristãos que dando ao pobre ou

emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem

indulgências‖ (tese 43). Lutero chegou ao fundamento da doutrina das indulgencias,

ao definir o tesouro da igreja. Não estariam em questões as obras humanas

excedente de Jesus, mas ―o verdadeiro tesouro da igreja é o santíssimo evangelho

da glória da graça de Deus‖ (tese 62). É por isso que seria falso limitar a pregação

do evangelho no conjunto das igrejas, enquanto se propagam as indulgências (tese

53-55). Ou seja, Lutero evocou as incertezas teológicas quanto ao assunto das

almas no Purgatório e do poder da Igreja a seu respeito. No máximo poder-se-ia

falar sobre a intercessão do papa, porém não da remissão das penas em virtude do

poder das chaves (tese 27)24.

Para Lienhard todo o sistema parece ter sido posto em questão quando Lutero disse

que ―qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão plena de

pena e culpa, mesmo sem carta de indulgências‖ (tese 36). Destaquemos

principalmente a relativização do ministério sacramental do papa e do clero de forma

geral quando Lutero afirmar que ―o papa não pode remitir culpa alguma senão

declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus‖ (tese 6). A remissão que

ele dá, não passa de ―um anúncio da remissão divina‖ (tese 38). Todos estes temas

podem ser canonizados como ortodoxos, como uma crítica justificada aos abusos da

prática de indulgências e como contribuição à debate de questões teológicas

decisivas, ainda não solucionadas25.

Berkhof nos registra como explodiu o apego de Lutero em Romanos 1.17, diante da

troca da salvação, pelo recurso humano, disse ele que Lutero estava26:

Mesmo profundamente imerso em obras penitenciais quando com base em

Romanos 1.17, raiou-lhe verdade que o homem é justificado exclusivamente pela fé,

e ele pôde entender que o arrependimento, exigido em Mateus 4.17, nada tem em

comum as obras de preparação postuladas pelo romanismo; antes, o

arrependimento consiste de real contrição íntima do coração, como o fruto da graça

de Deus com exclusividade.

Segundo Beeke27 (1995, p.47) ―A frase ‗justificação pela fé somente‘ foi a chave que

abriu a Bíblia para Lutero. Ele veio a entender cada uma dessas quatro palavras em

relações às outras à luz da Escritura e do Espírito‖. Berkhof28 sustenta que Lutero foi

iluminado para entender que a questão realmente no arrependimento não é

confissão auricular parente de um ―padre‖, o que não encontra base nas Escrituras,

nem reparação alguma prestada pelo homem, todavia, Deus perdoa gratuitamente

ao pecado; mas o que vale é o pesar de todo o coração devido ao pecado, é a

convicção firme de levar uma vida nova; é a graça perdoadora de Deus em Cristo.

Porquanto, Berkhof entendeu que Lutero centralizou uma vez mais a doutrina do

pecado e da graça dentro da doutrina de salvação, afirmando que a doutrina

da justificação exclusivamente pela fé, é ―o artigo de uma igreja que permanece de

pé ou cai‖. O resultado disto tudo segundo Berkhof é que, a Reforma rejeitou tudo

quanto era mais distintivamente medieval, teologicamente falando, como as

indulgencias, as penitencias expiatórias, a absolvição sacerdotal da crença do

catolicismo romano, as obras de supererrogação e a doutrina dos méritos humanos.

Segundo MacArthur29 ―Não há doutrina mais importante para a teologia evangélica

do que a justificação pela fé somente — o princípio sola fide da Reforma [...]‖. Essa

doutrina foi defendida pelo apóstolo Paulo no primeiro século da era cristã, sem

dúvida alguma, na pregação paulina a doutrina justificação pela fé predominou o

aspecto soterológico. Talvez, foi nesta perspectiva que alguns teólogos afirmaram

que justificação pela fé é o tema central de todo pensamento paulino. No quarto

século depois de Cristo, Agostinho de Hipona, foi conhecido como o doutor da

graça de forma como ele defendia a justificação pela fé somente por meio da graça.

Por volta de 1500 anos Deus agiu na história do cristianismo, como sempre faz na

história do seu povo quando querem inverter seu propósito.

Não é demais afirmar que, a reforma protestante conquistada pelo veterano da fé da

igreja evangélica conservadora, o padre e professor Martinho Lutero, em sua

iniciativa de resgatar a graça salvadora que dantes era trocada pelas obras

(indulgências) nas mãos dos papas ou autoridades eclesiásticas. Segundo ele,

nenhum homem ou Papa, seja quem for, pode deter a salvação ou ser libertador do

homem, garantindo-lhe a vida eterna. Lutero queria dizer que o homem é apenas

proclamador do reino para que as pessoas possam ser salvas pela fé mediante a

graça salvadora em Jesus. Venden30 afirma que ―o repentino vislumbre, de Martinho

Lutero, na famosa escadaria, de que o justo viverá pela fé, foi um importante marco

na reforma protestante‖. Se não queremos desviar a verdade podemos definir os

evangélicos como aqueles que creem na justificação pela fé somente, como está

escrito na Bíblia: ―Ora o salário daquele que trabalha não lhe é atribuído como o

favor, mas como dívida; contudo, ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica

o ímpio, sua fé lhe é atribuída como justiça‖31.

Segundo Ridderbos32 na teologia da reforma a justificação pela fé que governa todo

pensamento paulino, tendo Lutero como preeminente, em sua luta contra a visão

católica romana, sobretudo nas declarações judiciais encontradas nas cartas aos

Romanos e Gálatas eram de suma importância fundamental. Essa concepção

reformada nas cartas de Paulo foi determinada particularmente por sua doutrina da

justificação pela fé. Para Lutero, esta doutrina foi ―único princípio e critério para toda

a doutrina da salvação do Novo Testamento, o cânon do cânon...‖. João Calvino por

sua vez, defendia a doutrina de Paulo como a chave para entender todo o conteúdo

do evangelho; pois a tradição calvinista no que se refere à matéria da fé, sustentava

que evangelho da justificação somente pela fé sem as obras da lei, assumiu o

lugar de ser o único poderoso meio de libertar a consciência de seus fardos.

Para pôr em prática a essência da justificação pela fé somente, Lutero teria que

pagar o preço; pois após da fixação da sua tese, sem demora, houve reação de

mediata quando ao teor das ideias divulgadas por Lutero chegaram ao papa Leão e

passou a condenar severamente, exigindo mudanças em sua posição. Ao contrário,

Lutero dá mais fôlego às suas ideias reformistas ao publicar uma série de obras,

entre elas ―Da liberdade Cristã‖ e ―Do Cativeiro Babilônico da Igreja‖, passando a

atacar fortemente os sacramentos e o papado de modo mais incisivo que de início.

O marco de sua total separação da igreja deu-se em 1521, quando foi

excomungado. Lutero passou a ser severamente perseguido, tendo sido obrigado a

refugiar-se no Castelo de Wartburg. O movimento reformista, desencadeado por

suas ideias, tornou-se então independente de sua participação, passando inclusive

por várias divisões internas. Em Wartburg, Lutero dedicou-se à célebre tradução do

Novo Testamento para o alemão, a tradução que se tornou o padrão para a língua

alemã33 .

Contudo, Lutero recebeu dura crítica pelos papistas e exegetas católicos, após da

publicação da tradução da bíblia, principalmente em Romanos 3.28 onde em sua

versão se consta a seguinte tradução: ―Sustentamos que o homem é justificado

somente pela fé, sem as obras da lei‖. A crítica tinha sido levada por ter verificado o

termo ―somente‖ que Paulo não tinha escrito, a não ser o termo ―sem‖, Lutero

escreve uma carta aberta respondendo essa crítica destrutiva34:

Recebi sua carta com as duas questões ou perguntas, sobre as quais solicita minha

posição: primeiramente, por que eu, no terceiro capítulo da Epístola aos Romanos,

versículo 28, traduzi as palavras de Paulo [...], como ―Sustentamos que o homem é

justificado somente pela fé, sem as obras da lei‖; e além disso, nela também observa

que os papistas se enfurecem extremamente porque no texto de Paulo não consta a

palavra sola (somente) e não se poderia tolerar um tal acréscimo de minha parte à

Palavra de Deus etc.

No decorrer desta carta, Lutero explica que apesar de ter acrescentado sola fide,

não era intenção humana, mas faz no máximo possível para entender a linguagem

paulina na língua alemã35:

A vocês, porém, e aos nossos quero mostrar por que eu quis usar a palavra sola,

embora em Romanos 3, 28 não tenha utilizado sola, mas solum ou tantum. Com

quanta exatidão veem meu texto, os asnos! Contudo, utilizei em outro lugar sola fide,

e quero manter ambas, solum e sola. Ao traduzir, esforcei-me em escrever um

alemão puro e claro. E aconteceu-nos muitas vezes passarmos catorze dias, três,

quatro semanas, buscando e perguntando-nos por uma única palavra, e, contudo, às

vezes não a encontramos.

O Dr. Lutero, foi muito duro com seus adversários, papistas até no ponto de lhes

considerar como sinônimo do jumento, pois nega qualquer relação educacional ao

submisso papal, contrapondo, os papistas deveriam ser os seus alunos. Para

fundamentar sua vangloria humana, Lutero faz menção do apóstolo Paulo em sua

vangloria contra seus contemporâneos cristãos insensatos36:

Voltando novamente à questão. Se o seu papista quer incomodar-se bastante com a

palavra sola-somente, diga-lhe logo: o doutor Martinho Lutero quer assim e diz que

papista e asno é a mesma coisa. ―Sic uolo, sic iubeo, sit pro ratione

uoluntas‖ [―assim quero, assim ordeno, tome-se a vontade por razão‖]. Pois não

queremos ser alunos nem discípulos dos papistas, mas seus mestres e juízes.

Queremos por uma vez também gabar-nos e vangloriar-nos com essas cabeças de

asno. E como São Paulo se gloria contrapondo-se aos santos insensatos, assim

também eu quero gloriar-me contrapondo-me a esses meus asnos. Eles são

doutores? Eu também. Eles são eruditos? Eu também. Eles são pregadores? Eu

também. Eles são teólogos? Eu também. Eles são argumentadores? Eu também.

Eles são filósofos? Eu também. Eles são dialéticos? Eu também. Eles são

preletores? Eu também. Eles escrevem livros? Eu também.

Em espírito do apóstolo Paulo, nesta luta pelo resgate da doutrina central da Bíblia,

que o próprio Paulo já estava combatendo contra estes inimigos do evangelho da

justiça, de modo que Lutero elegeu Paulo como o maior defensor de sola fide, Lutero

apud Armstrong37:

Observe, então, se Paulo não afirma mais veementemente do que eu, que a fé

somente justifica, embora ele não use a palavra ―somente‖ (sola), que eu venho

usando. Porque quem diz: As obras não justificam, mas a fé justifica,

suficientemente afirma ridículo argumentar dessa maneira sofista: A fé somente

justifica; portanto o Espírito Santo não justifica. Ou O Espirito justifica, portanto não

é a fé somente. Pois a questão aqui não é essa. Ao contrário, a questão é só sobre

a relação de fé e obras, se algo vai ser atribuído às obras na justificação. Visto que

o apostolo não atribui nada a elas, ele sem dúvida atribui tudo à fé somente.

O que Lutero tinha em mente a respeito do que apóstolo quis dizr realmente é tão

obvio. A questão aqui não se refere apenas o termo ―somente‖, mas acima de tudo é

questão da relação de fé e as obras. Ou seja, em Paulo as obras não tiveram papel

quando o pecador fosse justificado por Deus em Cristo, que na verdade essa

exclusividade das obras na salvação do homem não se limitava apenas em Paulo,

porém teria que ser vivida de geração a geração. Para Paulo as obras tais como:

obediências das leis na sua integra, e inclusive cumprimento do ritual da circuncisão

de forma alguma garantem a salvação. E segundo Lutero, as obras como: pagar as

indulgências e cumprir as normas monásticas em sua totalidade não era o caminho

ideal para a salvação do homem; ambos viam o único meio para a salvação é

justificação pela fé somente, sem as obras da lei. E, foi isso que Lutero acrescentou

―somente‖, já que Paulo tinha escrito ―o homem é justificado pela fé, sem as obras

da lei‖ E Lutero disse: ―o homem é justificado pela fé somente‖. Portanto, se

queremos ter um cristianismo puro e sólido numa sociedade tão obscura como essa,

só nos basta ter a única fonte da verdade – as Escrituras Sagradas – o único meio

da salvação, isto é, somente pela fé em Cristo.

Incluída nesta breve declaração está a ideia de que os pecadores são

justificados sola fide - somente pela fé. Mas o que significa sola fide? Antes de

mergulhar em seu significado, um pouco de contexto histórico é essencial para

entender a sua importância. Uma pessoa só pode apreciar verdadeiramente uma luz

brilhante contra o pano de fundo da escuridão.

Um Pano de Fundo das Trevas

Quando Martinho Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja do

Castelo em Wittenberg, em 1517, demorou algum tempo para que as implicações da

sua ação reverberassem ao longo da história. O fruto de seu trabalho emergiu em

algumas confissões luteranas e reformadas, as quais afirmaram que os pecadores

são declarados justos aos olhos de Deus, não com base em suas próprias boas

obras, mas somente pela fé, somente em Cristo e pela graça de Deus somente -

sola fide, solus Christus e sola gratia. A Igreja Católica Romana foi compelida a

responder, e o fez no famoso Concílio de Trento, quando realizou uma série de

pronunciamentos sobre a doutrina da justificação em sua sexta sessão, em 13 de

janeiro de 1547.

Dentre os muitos pontos que Roma apresentou, vários deles reivindicações-chave,

os principais foram: (1) que os pecadores são justificados pelo seu batismo, (2) que

a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa, (3) que os

pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo, e

(4) que uma pessoa pode perder sua posição de justificação. Todos esses pontos se

fundem na seguinte declaração:

Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é

necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da

justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e

seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema. (Canon IX)

A Igreja Católica Romana claramente condenou a sola fide - não confessou que os

pecadores são justificados somente pela fé.

Uma Luz na Escuridão

Em contraste com esse pano de fundo, podemos apreciar como o Breve Catecismo

define biblicamente a doutrina da justificação e explica o que é sola fide. Para Roma,

os pecadores são justificados pela fé e obras. Sua doutrina da fé é introspectiva -

uma pessoa deve olhar para dentro de suas próprias boas obras, a fim de ser

justificado. O Breve Catecismo, por outro lado, argumenta que a fé é extrospectiva -

os pecadores olham para fora de si, para a obra perfeita e completa de Cristo para a

sua justificação. Mas o que, especificamente, os pecadores recebem somente pela

fé?

O primeiro benefício da justificação é que Deus perdoa todos os nossos pecados

passados, presentes e futuros. Os teólogos mencionam a citação que Paulo fez do

Salmo 32: ―Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é

coberto‖ (Romanos 4:7, Salmo 32:1). O segundo benefício da justificação é a

aceitação do pecador como justo aos olhos de Deus "apenas pela justiça de Cristo

imputada a nós". Ter o status de ―justo‖ conferido a si mesmo é bastante

surpreendente. Quando um juiz declara uma pessoa inocente, isso simplesmente

significa que ele não é culpado de ter quebrado a lei. Mas, se um juiz declara uma

pessoa justa, significa que não somente ela é inocente de violar a lei, mas também

que ela cumpriu a exigência da lei. Tomemos como exemplo o roubo. Para uma

pessoa ser justa nesse caso, ela deve abster-se de roubar. Mas, além disso, ela

também deve proteger os bens dos outros. Ela deve atender as demandas negativas

e positivas da lei contra o roubo. Por justificação, um pecador é aceito como justo,

não por uma parte da lei, mas por toda a lei - cada mandamento, cada jota e til. Ele

é contado como aquele que guardou todas as dimensões de toda a lei. De onde

surge essa justiça?

A justiça, ou obediência, pertence a Cristo. Os teólogos citam duas passagens-

chave das Escrituras para fundamentar a imputação, ou confirmação, da justiça de

Cristo para o crente. Primeiro, eles citam 2 Coríntios 5:21:―Aquele que não conheceu

pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus‖.

De acordo com as Escrituras, Cristo era o Cordeiro imaculado, perfeito e sem

pecado (1 Pedro 1:19; Hebreus 4:15). Ainda, Cristo carregou o pecado do seu povo -

foi imputado a ele e ele o carregou. A maneira pela qual Cristo foi imputado com o

nosso pecado para que ele pudesse suportar a maldição da lei (imputação) é a

mesma maneira pela qual recebemos a perfeita obediência de Cristo - seu

cumprimento de todas as exigências da lei. Os teólogos citam Romanos 5:19 para

este efeito: ―Porque, como pela desobediência de um só homem muitos foram

constituídos pecadores, assim, pela obediência de um só homem muitos serão

constituídos justos‖ (versão do autor). A desobediência de Adão foi imputada a todos

os que estão unidos a ele, e a obediência de Cristo, o último Adão, é imputada a

todos aqueles unidos a Jesus (1 Coríntios. 15:45).

Nunca os dois devem se encontrar

Se já não estiver aparente, a visão dos teólogos de Westminster sobre a justificação

é diametralmente oposta à visão da Igreja Católica Romana. Para Roma, a

justificação do pecador é uma tentativa de alquimia doutrinária, tentando misturar as

obras de Cristo com as do crente, a fim de produzir o ouro da justificação. A teologia

reformada, por outro lado, sistematizada no Breve Catecismo Menor e refletindo o

ensino das Escrituras, repousa a justificação do pecador somente sobre a obra de

Cristo. O único meio pelo qual a perfeita obra de Cristo é recebida é pela fé somente

- sola fide. Nós não temos outra embaixada de paz para encontrar abrigo da justa ira

de Deus, a não ser na perfeita justiça e sofrimento de Cristo, e não há outra ponte

entre o homem e Cristo, somente a fé.