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Socorro militar Técnicas de transporte 01-01-2003 Textos compilados, que têm como objectivo introduzir/debater a temática da intervenção no socorro militar José Eduardo

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Socorrismo militar, técnicas de transporte

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Socorro militar Técnicas de transporte

01-01-2003

Textos compilados, que têm como objectivo introduzir/debater a temática da intervenção no socorro militar

José Eduardo

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Socorro militar – técnicas de transporte

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SOCORRO MILITAR – Técnicas de transporte Prefácio Estas considerações, têm como objectivo introduzir a problemática de improvisação na urgência militar, face à inexistência de material específico, no que concerne ao transporte de vítimas e seus procedimentos em situações de conflitos armados.

Este texto, pode e deve ser complementado, com outras informações, como as disponibilizadas no curso de Tripulante de Ambulância de Transporte da Cruz Vermelha Portuguesa, (publicação de 2007, IBAN 978-989-95164-2-7).

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1. Introdução

Um princípio básico de primeiros socorros é o de avaliar os ferimentos da vítima e estabelecer um plano de actuação de primeiro socorro. Porém, em situações adversas ou em condições difíceis, pode-se comprometer a vida, tanto do socorrista como da vítima, se tal plano de actuação for feito de forma irreflectida. É sempre necessário considerar, antes da acção de salvamento da vítima, garantir a segurança do socorrista em primeira instância. A vida e/ou o bem-estar da vítima, dependerá do estabelecimento de um plano de socorro eficaz e seguro, até a vítima se encontrar com as equipas médicas. Descuido ou manuseamento indevidos sobre a vítima/acidentado, durante as operações de salvamento, podem agravar os seus ferimentos colocando a vítima numa situação ainda pior. 2. Princípios de operações de emergência

O estabelecimento de regras de actuação, torna-se fundamental para uma correcta consecusão na implementação de um salvamento. O afastar o perigo da vítima ou a vítima do perigo, coloca aos socorristas dilemas que devem ser enquadrados individualmente. Assim:

a) Quando confrontados com a necessidade de executar um salvamento a uma vítima que está ameaçada por uma acção hostil, fogo, água, ou qualquer outro dano imediato, NÃO tomar medidas sem primeiro determinar a extensão do perigo e sua capacidade de lidar com a situação. O socorrista NÃO se deve tornar uma vítima.

b) O socorrista, deve avaliar a situação e analisar os factores envolvidos. Essa avaliação envolve três etapas principais:

• Identificar a tarefa, • Avaliar as condições do resgate, • Plano de acção (Parar - Pensar - Agir).

3. Considerações

Para implementar um plano de salvamento, dever-se-á analisar o mais correctamente a situação antes de agir. Parar para pensar, de forma a que, se ponderem as melhores acções a tomar são a melhor forma de agir. Conclusivamente o plano de acção deverá sequencialmente basear-se no Parar, Pensar e Agir. O plano de acção deve ter como plataforma de análise dois vectores fundamentais: familiarização do local e socorristas. Na familiarização do local, ponderar as condições de visibilidade, terreno, luminosidade, chuva, temperatura, em suma como o clima afecta a envolvência. Na familiarização dos socorristas, ponderar/equacionar como estes dominam e conhecem o material de salvamento, condição mental e física ou mesmo como se deixam afectar de forma individual (nervosismo, receios, incertezas, etc), pois por vezes os socorristas já se confrontaram com idênticas situações e obtiveram más experiências.

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Avaliar como a equipa interage entre si e como comunica é sempre

importante. Além do já mencionado à que também ponderar:

a) Em primeiro lugar, determinar se uma tentativa de salvamento é realmente necessária. É um desperdício de tempo, equipamentos e pessoal, salvar alguém que não necessita de emergência. Também é um desperdício procurar alguém que não esteja perdido, assim como é desnecessário correr riscos de vida do(s) socorrista(s). No estabelecimento de um plano de acção, o planeamento de um salvamento, em primeira instância deve obter as seguintes informações:

• Quem, o quê, onde, quando, porquê e como a situação aconteceu? • Quantas vítimas estão envolvidas e qual a natureza das suas lesões? • Qual é a situação táctica? • Quais são as características do terreno e da localização da(s)

vítima(s)? • Haverá uma assistência especializada e disponível para auxiliar no

salvamento e evacuação? • Pode o primeiro socorro e/ou tratamento especializado melhorar as

condições da(s) vítima(s), será necessário movimentar a(s) vítima(s) para um local seguro?

• Que equipamento especializado será necessário para a operação de salvamento?

• A área que envolve a(s) vítima(s) está contaminada? A necessidade de equipamento de protecção individual de forma a garantir a segurança da equipa de salvamento está ponderada?

• Quanto tempo está disponível para o salvamento? • Qual a equipa de destacada para o salvamento?

b) O elemento tempo, pode desempenhar um papel significativo na

forma como o salvamento é equacionado. Se a(s) vítima(s) estão em perigo iminente de vida (como perto de um veículo em chamas ou num prédio em chamas) o tempo disponível será relativamente curto e, às vezes, causar alterações nas acções previamente estabelecidas do plano de acção de socorro. No entanto, se a vítima está numa área relativamente segura e sua condição física é forte, um planeamento ponderado e mais “estático” será aconselhado. A estimativa realista do tempo disponível deve ser feita o mais rapidamente possível, para determinar o tempo de acção restante. Os elementos-chave, são a condição física e mental da(s) vítima(s), a situação táctica e o ambiente envolvente. 4. Plano de Acção O plano de acção, baseado na plataforma de análise dos dois vectores fundamentais (familiarização do local e socorristas), tem como base a melhor gestão na implementação do plano. Para que a acção tenha sucesso é importante analisar um factor relevante: a vítima.

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Assim, deve-se recolher informações tais como:

a) A capacidade de sofrimento da vítima é de primordial importância na

estimativa do tempo disponível da acção. A idade, condição física, e extensão das feridas e/ou lesões, serão diferentes de vítima para vítima. Portanto, para determinar o tempo disponível, dever-se-á considerar:

• Tempo de “resistência” da vítima, • Extensão dos ferimentos, • Tipo de situação, • Pessoal e/ou disponibilidade dos equipamentos, • Previsão climática, • Terreno (natural ou antrópico), • Ambiente (contaminado ou não contaminado).

b) No que diz respeito ao terreno, dever-se-á considerar a altitude e visibilidade. Em alguns casos, a vítima pode ser parte da ajuda, porque ele poderá saber mais sobre o terreno ou sobre situação que o próprio socorrista. Maximizar a utilização de trilhos seguros ou de confiança, assim como o uso de estradas seguras é fundamental.

c) Ao tomar em consideração o clima, garantir que cobertores e/ou capas de protecção à chuva estão disponíveis. Mesmo uma chuva leve pode complicar um simples e normal salvamento. Em altitudes elevadas e/ou em rajadas extremas de ventos frios, o tempo disponível é extremamente reduzido. Dever-se-á estar preparado para fornecer abrigo e calor à vítima, bem como para os socorristas. 5. Tratamento adequado da(s) vítima(s) As competências da equipa de socorristas são fundamentais. Uma evacuação errada (ex.: transportar uma vítima que tenha sofrido um disbarismo, que evacuada em helicóptero, este, esteja a sobrevoar a 1000 m de altura), coloca todo o trabalho da equipa de campo em risco. O conhecimento das equipas envolvidas no salvamento é crucial. Assim, deve-se também considerar:

a) A aplicação de medidas adequadas de primeiros socorros, podem salvar a vida da vítima. No entanto, a vida da vítima pode estar em perigo se forem tomadas acções não ponderadas como o manuseamento brusco ou procedimentos de transporte descuidados. Antes de tentar mover a vítima:

• Avaliar o tipo e a extensão das suas lesões, • Garantir que o primeiro socorro a aplicar nas lesões é adequadamente

reforçados, • Certificar-se que as fracturas são devidamente estabilizadas/apoiadas

e imobilizadas para impedir que a ferida sofra maior extensão (aumentado a lesão sobre os músculos, vasos sanguíneos, e pele).

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b) Com base na avaliação do tipo e extensão das lesões da vítima, o

socorrista deverá seleccionar o melhor método possível de transporte manual. Se a vítima está consciente, deverá ser informada, de como será transportada. Isso ajudará a dissipar receios/medos e ganhar confiança, activando um estado de cooperação que é fundamental para a realização das tarefas.

c) Os socorristas envolvidos em planos de acção a vítimas de agressões/agentes químicos, devem adicionalmente possuir equipamentos de protecção individual específicos.

Se a vítima é fisicamente incapaz de se descontaminar ou administrar o antídoto do agente químico, o socorrista deverá auxiliá-lo e deve assumir a responsabilidade pela ajuda. O socorro inclui: • Proceder ao exame primário da vítima,

• Administrar o antídoto do agente químico, • Descontaminação da pele, removendo a roupa da vítima (se esta

estiver incapacitada de o fazer), • Assegurar que o seu grupo de intervenção está protegido

(equipamento de protecção individual estão/permanecem correctamente colocados),

• Manter a calma e respiração, • Controlar as hemorragias, • Proporcionar procedimentos específicos de primeiros socorros, • Transportar a vítima para fora da área contaminada.

6. Posicionamento da vítima

O primeiro passo para realizar qualquer transporte manual, é o posicionamento da vítima, de forma que possa ser levantada. Se a vítima está consciente, conforme já mencionado, ela deverá ser informada de como será posicionada e transportada. Isso ajuda a diminuir o medo do movimento, e a obter a cooperação da vítima. Pode ser necessário, colocar a vítima sobre o ventre ou dorso, dependendo da posição, terreno e declive em que a vítima se encontra.

a) Para fazer um rolamento, sobre o ventre, o socorrista dever-se-á ajoelhar ao lado da vítima,

1- Coloque os braços acima da cabeça; cruze os pés (o pé mais distante fica por cima do pé mais próximo do socorrista),

2- Coloque uma mão sobre o ombro, e a outra mão na área do quadril ou na coxa (Figura 1),

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3- Executar o rolamento suavemente em direcção às coxas do socorrista (Figura 2),

b) Para fazer um rolamento sobre as costas, dever-se-á seguir o mesmo procedimento descrito em acima, executando as naturais adaptações. 7. Evacuação médica e transporte de vítimas

a) A evacuação de vítimas ou de doentes, é da responsabilidade do pessoal treinado, isto é, de socorristas que receberam formação específica (com recurso a validação de competências específicas). A não ser o caso de perigo de vida iminente, somente os socorristas é que devem mexer/transportar as vítimas, de forma a não aumentar a gravidade da situação da vítima,

b) Transportar uma vítima numa maca de transporte adaptada (Figura 3) é mais seguro e eficaz para a vítima, do que por meios manuais.

O transporte manual, no entanto, pode ser o único método viável por causa do terreno, numa situação de combate activo, ou por perigo iminente de vida. Nessas situações, a vítima deve ser transferida para uma maca, logo que aquela possa ser disponibilizada ou improvisada.

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8. Transportes manuais

Vítimas transportadas de forma manual, devem ser preparadas/tratadas de forma correcta, caso contrário as suas lesões podem-se tornar mais graves ou mesmo, serem fatais. O transporte de uma vítima deve ser organizada pressa, respeitando a “ordem unida”. Cada movimento deve ser realizado de forma deliberada e sempre executada de forma suave. As vítimas só devem ser movidas, após se ter avaliado o tipo e a extensão das lesões, assim como o estabelecimento do plano de acção de socorro e evacuação terem sido definidos. A excepção a tais considerações, ocorrem quando a situação pode comprometer a vida da vítima, e por razões de segurança (conforme já referenciado anteriormente), ou seja, a situação exige que a urgência do movimento da vítima supere a necessidade dos primeiros socorros. O transporte manual é cansativo para o socorrista e envolve o risco de aumentar a gravidade das lesões da vítima. Em alguns casos, no entanto, eles são essenciais para salvar a vida da vítima. Embora o transporte manual possa ser realizado por um socorrista, o transporte será sempre mais fácil se for executado por mais do que um socorrista, procedendo-se a um trabalhando de equipa.

A distância à qual uma vítima pode ser transporte, depende de muitos factores, tais como:

• A natureza das lesões da vítima, • Força e resistência do(s) socorrista(s), • Peso da vítima, • Obstáculos encontrados durante o transporte (naturais ou artificiais), • Tipo de terreno.

a) Transporte a um socorrista

Estes transportes devem ser usados quando apenas um socorrista está

disponível para transportar a vítima. (1) O transporte á bombeiro (figura 4) é uma das formas mais fáceis de transporte. Aquando de uma inconsciência ou com dificuldade de locomoção da vítima, estabelecer a sequência seguinte: (A) Após o rolamento ventral da vítima, colocar os membros superiores do socorrista sobre o tórax da vítima, em forma de anel (agarrando as mãos), (B) Levantar a vítima sobre os joelhos, enquanto o socorrista se move para trás, (C) Continuar a mover-se para trás, endireitando os membros inferiores da vítima “travando” os joelhos, (D) Endireitar a vítima, levando-a até à posição vertical; inclinar a vítima ligeiramente para trás, para evitar a flexão dos joelhos, (E) O socorrista deverá manter o apoio constante da vítima, com o braço livre agarar rapidamente o pulso da vítima, e levantar o braço. Imediatamente o socorrista passa a cabeça sob o braço levantado,

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(F) Mover rapidamente a vítima, até ficar numa posição frente-a-frente, e assegurar a vítima em redor de cintura. O socorrista deverá colocar o pé entre os da vítima e afasta-los (cerca de 16 cm), (G) Segurar o pulso da vítima e levantar o membro superior da vítima bem alto, (H) O socorrista deverá baixar-se, e puxar o braço da vítima sobre o corpo. Ao mesmo tempo, passe o braço entre as pernas, (I) Segurar o pulso da vítima com uma mão e coloquar a outra mão sobre o joelho de apoio, (J) Levantar-se com a vítima posicionada correctamente.

Figura 4. Transporte á bombeiro (Ilustrado A-J).

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(2) Um variante na elevação da vítima do transporte á bombeiro (figura 5) é uma forma alternativa do transporte á bombeiro, é ilustrado na seguinte figura; no entanto, deve ser usado apenas quando o socorrista acredita ser mais seguro, tendo em conta a localização das lesões da vítima. Quando este método alternativo é usado, deve-se reforçar a atenção para evitar que a cabeça da vítima “rode” em torno do pescoço da vítima (este mesmo princípio deverá ser aplicado no método anterior). (A) O socorrista ajoelhe-se (um joelho para cima e outro para baixo); levanta a vítima apoiando-a contra o joelho que está para cima; segura em redor do tórax da vítima, conforme figura, (B) O socorrista, levanta-se com a vítima, forçando os joelhos da vítima entre os pés do socorrista, bloqueando-os.

Figura 5. Variação da elevação no transporte á bombeiro (Ilustrado A-B).

(3) No transporte com prisão de braço e coxa (figura 6), a vítima deve ser capaz de andar ou subir pelo menos em uma perna, utilizando o socorrista como uma muleta.

(A) Levantar a vítima do solo para uma posição vertical (como se fosse um transporte à bombeiro),

(B) Segure o pulso da vítima e colocar o braço ao redor pescoço do socorrista,

(C) Coloque o braço em redor da cintura da vítima é iniciar a locomoção em apoio.

Figura 6. Transporte com prisão de braço e coxa.

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(4) O transporte a braços (figura 7) é útil para transportar uma vítima

durante uma curta distância (até 50 metros), com o intuito de a colocar numa maca.

(A) Levantar a vítima do chão para uma posição em pé, como o levantamento á bombeiro,

(B) Coloque um braço em volta dos joelhos da vítima e o outro braço em torno do tórax da vítima,

(C) Levantar a vítima, (D) Transportar a vítima (o mais

próximo do corpo do socorrista, maximizando a força, minimizando a carga sobre as costas).

Figura 7. Transporte a braços.

(5) O transporte às cavalitas, deve-se aplicar apenas às vítimas conscientes (figura 8), porque a vítima deverá ser capaz de se segurar ao pescoço do socorrista. Para usar esta técnica, deve-se:

(A) Levantar a vítima para uma posição vertical, como no levantamento á bombeiro,

(B) Apoiar a vítima, colocando os braços em torno do seu pescoço,

(C) Promover um ligeiro abaixamento e deixar a vítima “cavalgar” o socorrista.

Figura 8. Transporte às cavalitas.

(6) No transporte às costas (figura 9), o peso da vítima repousa nas costas do socorrista. Isto torna mais fácil para o socorrista carregar a vítima em maiores distâncias (50 a 300 metros). Para eliminar a possibilidade de lesão nos braços da vítima, o socorrista deve manter os braços de quem transporta com as palmas da mão viradas para baixo.

(A) Levantar a vítima do solo para uma posição vertical, como no levantamento á bombeiro,

(B) Apoiar a vítima com os seus braços e colocá-los em redor, agarrando o pulso da vítima, mais perto do socorrista.

(C) Coloque o braço sobre sua cabeça e em torno dos ombros,

(D) Avançar na frente da vítima, enquanto ainda apoiar o seu peso contra suas costas,

Figura 9. Transporte às costas.

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(E) Segure o outro pulso e colocar o braço sobre o seu ombro, (F) O socorrista dobra-se para a frente e levanta a vítima.

NOTA

Uma vez que a vítima esteja posicionada nas costas do socorrista, aquele deverá permanecer o mais erecto possível, para evitar esforços adicionais ou cair.

(7) O transporte com a correia (figura 10) é o tipo de transporte que melhor se adapta para que um só socorrista possa percorrer uma longa distância (mais de 300 metros). A vítima deverá estar bem apoiado nas costas do socorrista e presa por um cinto. As mãos (do socorrista e da vítima, se consciente) estão livres para carregar uma arma ou equipamento, ou mesmo para subir obstáculos. Com as mãos livres e garantida a vítima nas costas, o socorrista é também é capaz de rastejar através de arbustos ou mesmo sob galhos baixos. (A) A correia, poderá ser constituída por duas cintas das pistolas (ou três, se necessário) para formar um anel. Coloque o anel com uma das cintas pelas coxas da vítima e a outra cinta pela parte inferior das costas, para que o anel se estende de cada lado,

NOTA Se os cintos das pistolas não estão disponíveis, outros itens, como a

precinta de uma carabina, duas ligaduras em forma de gravata, duas tiras de serapilheira, ou qualquer outro material adequado, tendo em consideração que, não irá ferir a vítima. (B) Deite a vítima em decúbito dorsal, com as pernas estendidas. Coloque a correia nas áreas definidas anteriormente. O socorrista deverá colocar os braços pelas alças da cinta e agarrar os antebraços da vítima, (C) O socorrista deverá rolar para o lado ileso da vítima, sobre o abdómen, colocando a vítima sobre as suas costas. O socorrista, deverá/poderá, agora, ajustar a cinta, se necessário,

Figura 10. Transporte com correia (Ilustrado A-F).

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(D) O socorrista coloca-se numa posição de joelhos, segurando os antebraços da vítima e a outra mão de apoio ao levantamento. (a correia irá manter a vítima sobre as costas do socorrista. (E) O socorrista coloca uma mão sobre o seu joelho, para apoiar, e eleva-se para uma posição vertical (a vítima é apoiada sobre os seus ombros.), (F) O transporte pode ser feito com as mãos do socorrista livres para uso da arma ou para escalada.

(8) O arrastar por prisão de braços (figura 11) é útil no combate, porque o socorrista pode transportar a vítima, estando ambos “protegidos” atrás de um muro, matagal, por baixo de um veículo, ou através de um “bueiro”. Se a vítima estiver inconsciente, a cabeça deverá ser protegida ao nível do solo. Este tipo de transporte, não deverá ser usado se a vítima tiver um braço fracturado.

NOTA Se a vítima estiver consciente, esta poderá fechar as mãos em torno do

pescoço do socorrista.

(A) amarrar os punhos da vítima (com um cinto, ou gravata), (B) Cavalgar a vítima numa posição face-a-face, (C) Colocar mãos atadas da vítima, em redor do pescoço do socorrista, (D) Executar o rastejamento.

NOTA

Se a vítima estiver inconsciente, executar o rastejamento protegendo a cabeça da vítima sobre o solo.

Figura 11. Arrastar por prisão de braços.

(9) O arrastar pelo dorso (técnica tipo Chave de Rautek - figura 12) é eficaz na movimentação da vítima de forma rápida ou para descer degraus.

(A) O socorrista baixe-se, podendo-se ajoelhar junto à cabeça da vítima (com ela deitada). O socorrista deverá deslizar as mãos, com as palmas viradas para cima, sob os ombros da vítima e fixando-se sobre as axilas,

(B) Elevar (parcialmente), apoiando a cabeça da vítima entre os antebraços do socorrista,

(C) Ascenda a vítima para trás até estar em posição de sentado, (D) Apoiando a cabeça da vítima, executar a deslocação.

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NOTA

Se a vítima tiver de ser movida subindo as escadas, o socorrista deverá usar o mesmo procedimento.

Figura 12. Chave de Rautek (Ilustrado A-C).

(10) O transporte com cinto porta carga (munições), conhecido por load bearing equipment (LBE) também pode ser usado quando disponível, como meio de transportar uma vítima, desde que esta esteja consciente (figura 13).

(A) Solte os suspensórios do seu LBE,

(B) A vítima colocará uma perna entre um dos lados suspensórios,

(C) O socorrista ajoelha-se, frente à vítima em pé. A vítima colocará a outra perna no outro lado dos suspensórios,

(D) A vítima coloca os braços, de forma a que, o socorrista possa bloquear as mãos,

(E) O socorrista levante-se inclinando-se para a frente ocupando uma posição confortável,

(F) Iniciar o transporte. Figura 13. Transporte com cinto porta carga (Ilustrado A-C..).

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Figura 13. Transporte com cinto porta carga (Ilustrado …D-F). (11) O transporte com cinto porta carga (munições), LBE, também pode ser usado quando a vítima está inconsciente (figura 14):

(A) Posicionar a vítima no solo em decúbito dorsal, (B) Remova o LBE e soltar todas as tiras do suspensório, (C) Eleve a perna da vítima e colocá-la através do anel formado pelo seu

cinto e suspensórios. Seguidamente, coloque a outra perna por meio do mesmo ciclo. O LBE é deslocado para cima até que o cinto porta carga esteja por trás das coxas vítima,

(D) O socorrista deve-se colocar entre as pernas da vítima; colocando os seus braços através do suspensório do LBE,

(E) Apertar a mão da vítima (do lado lesionado), executando um rolamento para o lado não lesionado,

(F) O socorrista apoiar-se-á num joelho e elevar-se-á até à posição erecta,

(G) Levar os braços da vítima sobre os ombros do socorrista, segurando as mãos da vítima inconsciente. Se a vítima está consciente, ela poderá ajudar nesta tarefa,

(H) O socorrista deverá inclinar-se para a frente colocando-se numa posição confortável e transportar.

Figura 14. Transporte com cinto porta carga (Ilustrado A-H).

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(12) O transporte com cinto porta carga (munições), LBE, em vez de se

usar o do socorrista, também pode ser usado o da vítima, consciente ou inconsciente, tornando-se mais prático. (figura 15).

(A) Posicione a vítima em decúbito dorsal, (B) Alivie as precintas dos dois suspensórios da frente, (C) Posicione-se entre as pernas da vítima, e deslizamento os seus

braços por dentro dos dois suspensórios frontais da vítima (até os ombros) reajustando os suspensórios. Segurar os membros superiores da vítima e rolar,

(D) De joelhos segurar ambas as mãos da vítima, (E) O segurar da mão,

reporta-se ao lado não lesionado,

(F) Colocar-se numa posição erecta,

(G) Segure as mãos da vítima se esta se encontra inconsciente. Se a vítima estiver consciente, esta ajudará na melhor posição das mãos e transportar.

Figura 15. Transporte com cinto porta carga (Ilustrado A-G).

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b) Transporte a dois socorristas

Estes tipo de transporte deverá ser utilizado sempre que possível. Ele

oferece mais conforto à vítima, e é menos propenso ao agravamento das lesões e é acima de tudo, menos cansativo para os socorristas.

Aqui abordam-se cinco diferentes formas de dois socorristas transportarem uma vítima.

(1) O transporte a braços (Figura 16) pode ser usado, quer em vítimas conscientes ou inconsciente. Se a vítima for mais alta do que os socorristas, haverá necessidade de levantar as pernas da vítima deixo-as apoiar nos braços dos socorristas. Os socorristas devem: (A) ajudar a vítima a colocar-se de pé e, apoiá-la com os braços dos socorristas em torno de cintura da vítima, (B) Segure os punhos da vítima e ajudar a colocar os braços em torno dos pescoços dos socorristas.

Figura 16. Transporte a braços.

(2) O transporte horizontal a braços (colher a dois socorristas) (Figura 17) é útil para transportar uma vítima numa distância moderada (50 a 300 metros), com o objectivo de a colocar numa maca. Para diminuir a fadiga, os socorristas devem realizar o transporte com a vítima o mais próximo dos seus corpos, reduzindo o peso da carga. Sempre que possível, a existência de um terceiro socorrista será sempre bem-vinda, de forma a manter a cabeça da vítima estável (cabeça, dorso e pernas alinhadas). Os socorristas devem alinhados por alturas (do mais alto para o mais baixo). Os socorristas devem: (A) Os socorristas ajoelham-se ao lado da vítima, e em seguida, colocam os braços por trás da vítima, cintura, quadris e joelhos, (B) Elevar a vítima até às coxas dos socorristas,

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(C-D) A vítima deverá ser rolada em direcção ao peito dos socorristas; elevando-se até uma posição erecta. Iniciar o transporte.

Figura 17. Transporte a colher.

(3) O transporte a braços e pernas (Figura 18) é um transporte útil pois pode-se transportar a vítima por uma longa distância (mais de 300 metros). O mais alto dos dois socorristas deve-se posicionar na cabeça da vítima. Os socorristas devem progredir na posição alinhada (no mesmo sentido), no entanto na altura de colocar a vítima numa maca, os socorristas poderão faze-lo, colocando-se de frente um para o outro. (A) O socorrista mais baixo, afasta as pernas da vítima, segurando nos joelhos, fica pronto para o levantamento (de costas para a vítima). O outro socorrista baixa-se na cabeça da vítima, deslizando as mãos debaixo das axilas, até ao tórax, (B) Os dois socorristas levantam em conjunto a vítima.

Figura 18. Transporte a braços e pernas (Ilustrado A-B).

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(4) O transporte a quatro mãos, deverá ser executado perante uma

vítima consciente (Figura 19), pois aquela deverá ajudar a sustentar-se colocando os braços em volta dos ombros dos socorristas. Este transporte é especialmente útil, quando a vítima tem uma lesão no pé, cabeça, e o transporte é feito numa distância moderada (50 a 300 metros). Também é útil no levantamento de uma vítima para uma maca.

(A) Cada socorrista agarra um dos seus próprios pulsos. Em seguida, agarram-se entre os pulsos dos socorristas,

(B) Os dois socorristas baixam-se o suficientemente para que a vítima se possa sentar sobre as quatro mãos. De seguida, a vítimas coloca os braços em torno dos ombros dos socorristas, para o apoio. Podem agora iniciar o transporte.

Figura 19. Transporte a quatro mãos (Ilustrado A-B).

(5) O transporte recostado (Figura 20) é usado para curtas distâncias ou para colocar a vítima numa maca. Com a vítima deitada em decúbito dorsal ou sentada, os socorristas ajoelham-se lado a lado. Cada socorrista passa os braços por baixo das coxas e dorso da vítima, esta agarra os pescoços dos socorristas. Os socorristas elevam-se, podendo executar o transporte.

Figura 20. Transporte recostado (Ilustrado A-B).

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9. Macas improvisadas

Quando não há equipamento específico, os socorristas devem fazer um transporte improvisado, e apenas para curtas distâncias. Deve-se usar materiais disponíveis com o objectivo de improvisar equipamento de transporte (com o recurso a cordas, pode-se considerar percorrer maiores distâncias).

a) Há momentos em que uma vítima pode ter que ser movida, e não há uma maca disponível. A distância, pode ser grande demais para manualmente se poder transportar a vítima com várias lesões (como por exemplo, traumatismo crânio-encefálicos, vertebro-medulares, torácicos, abdominais ou das extremidades), que seriam agravadas pelo transporte manual. Nestas situações, pode-se improvisar uma maca, com recurso a materiais disponíveis. O improviso de macas deve ter em conta a estabilidade e segurança da vítima evitando o risco de queda ou de ruptura da maca improvisada (considerar que macas improvisadas somente devem ser aplicadas em medidas excepcionalmente emergentes).

b) Dependendo dos materiais disponíveis, diferentes tipos de macas podem-se improvisar. Considera-se uma maca improvisada satisfatória, quando esta tem vários pontos de apoio, completada com cobertores, lonas, capas de colchões, casacos, camisas, bolsas e sacos (figuras 21 e 22). Quando se recorre aos cobertores, podem-se reforçar a estrutura preenchendo os cobertores com galhos fortes (varas de apoio), suporta tendas, esquis, tubos comprimentos ou outros objectos, que possam garantir uma maca mais plana e forte.

Macas improvisadas, também podem ser construídas com o recurso a portas, placas, portadas das janelas, bancos, escadas, camas e cadeiras. Se possível, esses objectos deve ser acolchoado para o conforto da vítima.

(1) Para improvisar uma maca com um cobertor e varas de apoio (figura 21), devem-se seguir os passos:

(A) O socorrista deve abrir o cobertor e colocar uma vara de apoio no centro do cobertor. Seguidamente, dobra novamente o cobertor,

(B) Colocar a segunda vara de apoio no novo centro, e voltar a dobrar.

Figura 21. Maca improvisada com cobertores.

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(2) Improvisar uma maca usando camisas ou casacos (figura 22), deve-

se abotoar todos os botões da camisa ou do casaco e virá-lo do avesso, deixando as mangas pela parte de dentro (o recurso a mais de uma camisa ou casaco podem ser necessários). Passar as varas de apoio através das mangas.

Figura 22. Maca improvisada com casacos (Ilustrado A-B).

(3) Para improvisar uma maca com sacos cama (figura 23), deve-se rasgar os cantos dos sacos cama (se necessário), malas ou sacos, e depois passar as varas de apoio através deles.

Figura 23. Maca improvisada a partir de sacos de cama.

(4) Se não houver varas de apoio (figura 24), uma alternativa é enrolar um cobertor, uma lona, ou algo similar, de ambos os lados em direcção ao centro. Pode-se colocar uma pedra nas extremidades dos cobertores (como se de pegas se tratasse) e garrar pelas pontas dos cobertores.

Figura 24. Cobertor enrolado utilizado como maca

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Socorro militar – técnicas de transporte

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ATENÇÃO Em caso de não existir uma situação de risco de vida imediata (tais

como incêndio, explosão, ou outra), não se deve mover uma vítima com suspeita de traumatismos (especialmente os traumatismo crânio-encefálico e vertebro-medulares). Procurar pessoal treinado ou médico, para que este supervisione/oriente, sobre a melhor forma de transporte.

c) O recurso a material de imobilização para vítimas de traumatismo crânio-encefálico e/ou vertebro-medular, é fundamental. Porém, em caso de excepcionalidade (material não estar disponível), faz com que se tenha de recorrer a medidas de improviso. Assim, descreve-se como fazer um colar cervical improvisado, recorrendo-se a uma gravata (lenços triangulares ou panos - figura 25) e a um jornal.

(1) Medir com os dedos da mão (do socorrista) o pescoço da vítima, e dobrar o jornal com o mesmo tamanho,

(2) Fazer uma gravata improvisada com recurso a lenços triangulares ou panos. Na fase A, colocar o jornal, de forma a criar a altura do colar cervical desejada,

(3) Arredondar esta gravata reforçada com o jornal, de forma a criar um círculo com a gravata,

(4) Envolver este colar cervical improvisado, no pescoço da vítima, e dar um nó nas pontas da gravata, eliminando folgas.

Figura 25. Gravata com recurso a lenços triangulares.

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Socorro militar – técnicas de transporte

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d) Dois, três ou quatro socorristas (cabeça/pés) podem ser utilizados

para levantar uma maca. Para se levantar uma maca, devem-se seguir os seguintes procedimentos: (1) Levantar a maca ao mesmo tempo que os outros socorristas, usando uma voz de comando, (2) Manter a vítima o mais nivelada possível.

NOTA O transporte deverá ter cuidados redobrados aquando de um declive ou

sobre terreno acidentado.