sociedade da informação e inclusão digital: implicações das novas tecnologias na sociedade...
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SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL:
IMPLICAÇÕES DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Jennyfer da Silva Schmidt1
Keith Wentz Marroni2
RESUMO
O presente artigo analisa o surgimento da sociedade da informação e a forma de sua
difusão em nível mundial, estuda os reflexos na sociedade contemporânea, em especial
no que refere a necessidade de inclusão digital e quais as formas pelas quais ela pode
ser desenvolvida. Para a realização deste estudo utilizou-se o método de abordagem
monográfico e a técnica de pesquisa em fontes secundárias, utilizando-se bibliografia
especializada na área. Constatou-se que a Sociedade da Informação, nascida nos anos
80, representou fator determinante para a reestruturação do capitalismo que, na época,
encontrava-se em plena expansão, estabelecendo, destarte, um novo paradigma, o da
tecnologia da informação com relação à economia e à sociedade. Nessa seara, destaca-
se o surgimento da Rede Mundial de Computadores – Internet. Entretanto, percebe-se
que, grande parcela da população, não possui condições econômicas ou técnicas/
didáticas de acesso às novas ferramentas tecnológicas, o que ensejou a necessidade de
criar programas que possibilitem a esses indivíduos, a aquisição do conhecimento
necessário para uso e manuseio das novas tecnologias, por meio do processo de inclusão
digital. Assim, tem-se que a inclusão digital, considerada como meio de desenvolvimento
social, haverá de efetivar-se por meio do desenvolvimento de políticas públicas, voltadas
para a educação digital, abrangendo de forma massiva, possibilitando que seus
benefícios se estendam de forma homogênea, a todos os indivíduos interessados em
1 Acadêmica do Curso de Graduação em Direito; IX nível; membro do grupo de pesquisa: Novas Tecnologias, marcos regulatórios e reconhecimento de direitos na diversidade cultural; Coordenação da Professora PhD Salete Oro Boff; Faculdade Meridional – IMED. 2 Acadêmica do Curso de Graduação em Direito; VII nível; membro do grupo de pesquisa: Novas Tecnologias, marcos regulatórios e reconhecimento de direitos na diversidade cultural; Coordenação da Professora PhD Salete Oro Boff; Faculdade Meridional – IMED.
aprender, em adquirir conhecimento, a qualificar-se, adequando-se e adaptando-se à Era
Informacional.
Palavras-chave: Inclusão digital. Políticas Públicas. Sociedade da Informação.
ABSTRACT
This article analyses the beginning of information society and how its spread worldwide,
studying the reflections in contemporary society, in particular as regards the need for
digital inclusion and which ways it can be developed. For this study, we used the method
of approach and technique of monographic research on secondary sources, using
specialized literature in the area. It was found that the Information Society, born in 1980’s,
represent a determinant factor for the restructuring of capitalism that, at the time, was in
full expansion, establishing, thus, a new paradigm, that of information technology with
respect to economy and society. In this area, there is the emergence of the World Wide
Web - Internet. However, it is clear that a large portion of the population has no economic
conditions or technical / educational access to new technological tools, which caused the
need to create programs that enable these individuals to acquire the necessary knowledge
to use and handle new technologies, through the process of digital inclusion. Thus, it has
been that digital inclusion is considered as a means of social development, there will
manifest itself through the development of public policies, focused on digital education,
including on a massive scale, enabling its benefits extend homogeneously to all individuals
interested in learning, acquiring knowledge, to qualify, adjusting and adapting to the
Informational Era.
Keywords: Digital inclusion. Public Policy. Information Society.
1 INTRODUÇÃO
A evolução tecnológica interfere diretamente na sociedade, fazendo com que esta
se voltasse para o conhecimento e a troca de informação. Esse novo meio social se
desenvolveu objetivando utilizar a tecnologia de forma rápida e expansiva, visando obter e
disseminar a informação, e através dela deter poder. Com a sociedade de informação
surgiu a problemática acerca daqueles “excluídos” dos meios tecnológicos, que não
fazem parte da sociedade em rede e vivem à margem deste contexto. Para tanto, surgiu o
termo inclusão digital, que visa básica e puramente incluir estes indivíduos na rede, dando
a estes, acesso ao mundo digital e inseri-los na sociedade de informação.
Para se alcançar a inclusão digital é preciso criar instrumentos concisos e efetivos
que englobem a população excluída, dando à ela as mesmas oportunidades de acesso e
utilização da rede para criar, obter e utilizar informação. Deste modo, cria-se um contexto
de igualdade e cidadania no mundo digital, levando-se em conta que este está atrelado à
realidade social, tornando-se fator fundamental no seu desenvolvimento.
O presente trabalho visa justamente analisar e discutir, através da pesquisa
bibliográfica as raízes históricas em que se desenvolveram a sociedade e a tecnologia e
que culminaram na instituição da sociedade em rede. Bem como, fazer uma análise
acerca da realidade que se instaurou com a sociedade de informação, ou seja, a
necessidade da inclusão digital para abranger aqueles que foram excluídos da
possibilidade de acesso à rede.
Busca-se, ainda, discutir de que forma a sociedade da informação condiciona a
vida em sociedade, e se há a necessidade de haver efetividade da inclusão digital para
que a sociedade em rede tenha sucesso no objetivo a que se propõe, e através de que
instrumentos e formas essa inclusão digital e social pode ser efetivada.
Salienta-se que, atualmente, a tecnologia tem sido tema recorrente, seja no mundo
político, jurídico, econômico ou educacional. Dominar a tecnologia é sinônimo de ser
detentor de informação e poder, deste modo, deve ser analisado no contexto social como
um todo, considerando-se as conseqüências que esta forma de organização e
desenvolvimento acarreta em relação à população e todas as esferas da vida em
sociedade.
2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Desde o momento em que o homem passou a ter a concepção de ser o detentor de
conhecimento, pelo poder do aprendizado e da criação, instaurou-se a necessidade de
disseminar o conhecimento, ou seja, que a informação pudesse chegar a qualquer
pessoa, em qualquer parte. Para alcançar este propósito, a tecnologia mostrou-se
fundamental, um alicerce na sociedade da informação, pois possibilitou que o
conhecimento se desenvolvesse e se difundisse.
O conceito “sociedade da informação” tomou conta do cenário mundial com força
por volta dos anos 80, com o capitalismo em expansão e em plena reestruturação. Nesse
período, a lógica capitalista voltou-se para o aumento da lucratividade e competitividade,
deixando o qualitativo da produção em segundo plano, buscando, na lógica trazida pela
Revolução da Tecnologia Informacional, uma forma de atingir a economia em dimensão
global.
Desse modo, necessário referir que a Revolução da Tecnologia Informacional se
deu com o advento de numerosos fatores que contribuíram de forma significativa para o
desenvolvimento da tecnologia da informação, dentre os quais se destacam a
microeletrônica, a computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, a
optoeletrônica e a criação da internet3.
A microeletrônica surgiu em 1947 com a invenção do transistor, pelos físicos
Bardeen, Brattain e Shockley, mas seu passo decisivo ocorreu em 1957, com a criação de
circuito integrado (CI), por Jack Kilby (engenheiro do Texas Instruments) em parceria com
Bob Noyce (um dos fundadores da Fairchild). A difusão da microeletrônica teve imenso
avanço no ano de 1971, quando Ted Hoff, engenheiro da Intel, lançou o
microprocessador, ou seja, o computador em um único chip. Dessa forma, tornou-se
possível o processamento de informações em qualquer lugar4.
No que tange à computação, sabe-se que o primeiro computador nasceu em 1946
na Filadélfia e foi desenvolvido por Mauchly e Eckert. Entretanto, devido às suas
dimensões, era inapropriado para ser utilizado comercialmente. Posteriormente, em 1951,
Mauchly e Eckert lançaram a primeira versão comercial do computador, alavancando de
forma substancial o mercado de exploração desta máquina. Um dos resultados obtidos a
partir da pesquisa dirigida a esta nova área da computação, foi a criação, em meados dos
anos 70, de um software para PCs, desenvolvido por Bill Gates e Paul Allen que,
verificando o potencial de sua invenção tecnológica, fundaram a Microsoft, que hoje
domina o mercado de software de sistema operacional para microcomputadores5.
3 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. p. 67.
4 Idem, p. 76-77.
5 Ibidem, p. 78-80.
A telecomunicação tem seu princípio histórico por volta do século XVIII, quando os
principais sistemas de transmissão a de informações foram empregados, como o telégrafo
eletromagnético (1837), o telefone (1876) e o rádio (1895). Contudo, o grande salto dado
pela telecomunicação ocorreu na segunda metade do século XX, justamente em virtude
do desenvolvimento da eletrônica/microeletrônica e demais ciências ligadas à
automatização6.
Paralelo à institucionalização das telecomunicações, somam-se avanços
importantes em optoeletrônica e radiodifusão foram definitivos nos anos 70, pois com o
seu aperfeiçoamento, permitiu-se que a capacidade de transmissão de dados e
informações se desse em quantidade muito maior e com melhor qualidade e velocidade.
Como conseqüência do paralelo telecomunicação/optoeletrônica/radiodifusão, viu-
se o nascimento da telefonia celular, que difundiram-se por todo o mundo na década de
1990, revolucionando o cenário internacional em termos de comunicação, no qual, agora,
as pessoas poderiam comunicar-se em tempo real, a qualquer distância, carregando
consigo, para todo lugar, o aparelho responsável pela transmissão dos dados e
informações. Ademais, no mesmo sentido, diante da invenção do aparelho televisor, viu-
se, também, a difusão da mídia que, desde logo, passou a ser forte elemento de
influência social7.
O desenvolvimento de todas estas tecnologias eletrônicas desempenhou papel
fundamental para a criação da Internet que, por sua vez, deu-se na década de 60, quando
Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de defesa dos Estados
Unidos, a fim de impedir que o sistema norte-americano de comunicações fosse tomado
ou destruído pelos soviéticos em caso de guerra nuclear, a desenvolveu. O resultado
desta medida foi a produção de uma rede arquitetada de tal forma que não poderia ser
controlada de um centro, pois composta por milhares de redes de computadores
independentes entre si, com inúmeras formas de conexão. Com o passar do tempo, a
Internet aperfeiçoou-se, revestindo-se, de qualidade, de praticidade, de velocidade e,
conseqüentemente, conquistando mais usuários, atingindo dimensões de acesso
imensuráveis8.
6____________.Cronologia das Telecomunicações. Disponível em: <http://www.sarmento.eng.br/Telecomunicacoes.htm>. Acesso em: 17 mai. 2011. 7 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. p. 82.
8 Idem, p. 44.
Destarte, todas essas novas invenções revolucionaram o mundo em termos de
tecnologia, permitindo, assim, meios pelos quais a informação poderia ser transmitida de
forma instantânea. Além disso, a sociedade da informação possibilitou uma rede
integrada, por meio da qual o mundo inteiro poderia se comunicar e estabelecer relações.
Ademais, há que se considerar também, que tão logo estes novos inventos foram
inseridos no mercado, a possibilidade de ganhos financeiros despontou no cenário da
economia internacional.
Desta forma, tem-se que o capitalismo passou a ter nova estrutura, na qual a
produtividade e a competitividade passaram a depender da capacidade de os agentes
gerarem, processarem e aplicarem a informação no processo de produção de forma
eficiente. Constata-se, portanto, que as transformações rumo à sociedade da informação
constituíram tendência predominante, definindo o estabelecimento de um novo
paradigma, o da tecnologia da informação com relação à economia e à sociedade.
Fez-se evidente que a base da economia mundial atingiu uma nova Era, a da
Economia Informacional, na qual a incorporação de conhecimento e informação em todas
as etapas do processo e distribuição das mais diversas mercadorias forma o alicerce para
que o resultado desta produção atinja o almejado sucesso comercial. Assim, iniciou-se a
corrida mundial pelo domínio das novas tecnologias.
Nesse sentido, foi possível verificar imensa vantagem dos países desenvolvidos
em relação aos países em desenvolvimento, visto que, sendo aqueles detentores de
elevado capital sociais, puderam não só adquirir as tecnologias já disponíveis, como
investir em estudos e pesquisas a fim de aperfeiçoar o já existente e, mesmo, lançar
novas invenções. Papel de destaque deve-se a atuação norte-americana, que participou
da Revolução da Tecnologia da Informação e conseqüente reestrutura do capitalismo e
da sociedade mundial desde o princípio, na década de 70 e continuou liderando o
processo de expansão da infotecnologia na Era Informacional.
Contudo, muitos países buscaram acompanhar o desenvolvimento dos Estados
Unidos, como a China e o Japão, que contribuíram de forma significativa para o
aperfeiçoamento e difusão das tecnologias da informação, resultando, com o passar do
tempo, na alteração da liderança da exploração destas novas tecnologias.
Segundo dados da UNRIC – Centro Regional de Informação das Nações Unidas, o
domínio das exportações de tecnologia da informação e comunicação está nas mãos dos
países asiáticos, sendo que mais de um terço das exportações deste setor têm origem na
China continental e em Hong Kong. Já, no que tange às importações, o primeiro lugar
está por conta dos Estados Unidos, seguidos pela China e Hong Kong, Índia, Ásia
Oriental e Sudeste Asiático e alguns países latino-americanos, quais sejam Costa Rica,
México e Paraguai.
A tecnologia não foi fator determinante na evolução histórica, as sociedades
evoluíram através da história independente do fator tecnológico, mas sim pelas
necessidades e características de cada época, pois o que determina a evolução são os
fatores sociais, culturais e econômicos de cada época e das necessidades que se vem a
atender. Porém, apesar de não determinar essas transformações em si, a tecnologia
integra-se a transformação, pois aumenta a capacidade de mudança da sociedade, bem
como, principalmente na atualidade, além de ser meio de desenvolvimento também se
mostra meio de exercer poder sobre outras sociedades.
A produção e o uso da tecnologia da informação constituem-se, enquanto elemento
estratégico e decisivo da evolução da sociedade, sendo certo que, considerando a
estrutura de concorrência globalizada, quem controla a informação e detêm conhecimento
tem superioridade destacada em vários setores.
Sobre isso, Castells escreve:
Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como o uso que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico9.
Assim, visível a predominância da tecnologia da informação na sociedade mundial,
visto que sua influência se estende, cada vez mais, nos setores da economia, política,
relações internacionais, e outros, inovando os métodos de desenvolvimento dos países
que, para movimentar seus sistemas financeiros devem se adaptar a esta nova realidade
da tecnologia informacional.
9 Ibidem, p. 44.
O que se vê atualmente, é que a tecnologia tornou-se imprescindível para a vida
cotidiana, em todas as esferas, é esta que impulsiona o desenvolvimento e a
transformação, numa época onde se alcança o ápice da globalização, e o mundo
encontra-se quase que instantaneamente interligado.
Acerca do tema, Oliveira e Bazi afirmam:
A revolução informacional, neste início de século, tem se constituído num instrumento imprescindível ao desenvolvimento social, político e econômico dos países. Tem tomado esta proporção em virtude do processo de globalização e ao uso cada vez maior de ferramentas tecnológicas que, numa visão otimista, deveriam objetivar o bem-estar-social além de facilitar as atividades cotidianas 10.
Contudo, em que pese a sociedade da informação traduzir-se em inúmeros
benefícios conforme já elucidado, percebe-se que muitas deficiências precisam ser
solucionadas, dentre as quais destaca-se, invariavelmente, a desigualdade de
disponibilização do acesso das novas tecnologias, que deveria se dar de forma uniforme,
de forma a estender estes benefícios trazidos pela nova estrutura social a toda população.
O que se tem na realidade é uma grande parcela da população mundial excluída
deste contexto. Onde antes somente havia uma preocupação com o índice de
analfabetismo em relação aqueles que não sabiam ler e escrever, hoje esta condição
ganhou nova definição, e os índices passaram a falar dos analfabetos digitais, se
referindo àqueles que não tem alcance aos instrumentos tecnológicos, que mais do que
nunca, se referem a rede mundial de computadores, maior símbolo da era globalizada,
era esta, que integra o mundo inteiro e exclui, ao mesmo tempo, muitos indivíduos. Está-
se, portanto, diante de um grande desafio, o desafio da inclusão digital.
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INCLUSÃO DIGITAL
A sociedade da informação, em seu formato atual, faz da informação importante
instrumento político, econômico e social, e, nesse contexto, deter o conhecimento sobre
os meios de informação tornou-se substancial para exercer qualquer atividade. Deste
10
OLIVEIRA, Antônio Francisco M; BAZI, Rogério Eduardo R. Sociedade da informação, transformação e inclusão social: a questão da produção de conteúdos. Campinas: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação. v.5, n. 2, p.115-131. Jan/jun. 2008. ISSN 1678-765X. Disponível em:<http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/include/getdoc.php?id=600>. Acesso em: 13 mai. 2011. p. 124.
modo, aqueles que não têm o alcance à tecnologia estão desfavorecidos em relação aos
demais, constituindo, portanto, o quorum dos chamados excluídos digitais.
Essa denominação trata da parcela da população mundial que não conhece, utiliza
e domina os meios tecnológicos e de informação, e deste modo, tem menos chances no
mercado, seja ele educacional ou de trabalho. O domínio digital transformou-se em poder
e em nível crescente vem se transformando em requisito básico, deixando, assim, de ser
visto como um diferencial. Contudo, mesmo assim, o número de indivíduos que não tem
alcance a esse mínimo ainda é muito elevado11.
Em face da importância dos meios digitais e da informação, a exclusão digital é
fator que aumenta a miséria e desigualdade social, e impede o desenvolvimento. A
tendência é de que o mercado exclua da sua circulação esses sujeitos que não atendem
às suas necessidades imediatas. Isso, visivelmente, impede o desenvolvimento e
aumenta o volume de cidadãos que estão à margem desta sociedade, que têm sido
chamados de analfabetos digitais.
Sobre isso, escreve Martini:
Os excluídos digitais estão à margem da sociedade em rede – muitos têm chamado tal fenômeno de analfabetismo digital. Sem inclusão digital, como uma decisiva política pública, os programas de governo elet rônico acabariam privilegiando o atendimento das elites econômicas, das elites regionais, e apenas ampliando as desigualdades. Assim sendo, a velocidade da inclusão é decisiva para que a sociedade tenha recursos humanos preparados em número suficiente para aproveitar as brechas de desenvolvimento em nosso país12.
O uso da tecnologia é uma questão de cidadania, combate a pobreza e a
discriminação daqueles que não integram a sociedade da informação. Para tanto, o termo
inclusão social ganha relevância, consistindo justamente, na inserção da parcela
populacional que não integra a sociedade em rede, nos meios tecnológicos e de
informação, criando para alcançar esse objetivo formas, instrumentos e programas que
dêem efetividade a esta inclusão, que necessariamente deve ocorrer em velocidade
considerável para que a sociedade esteja preparada para atender as necessidades do
11
Ibidem, p. 124. 12
MARTINI, Renato. Inclusão Digital e inclusão social. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 1, p. 21-23, out./mar., 2005. Disponível em: <http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/article/viewFile/7/14> Acesso em: 17 mai. 2011. p. 21-22.
desenvolvimento. Ademais, levando-se em conta a rapidez com que a tecnologia se
desenvolve, deve no mesmo viés crescer a inclusão digital para que haja equidade entre
o desenvolvimento de ambos, pois somente assim, a inclusão será efetiva e eficaz.
Nesse contexto, destaca-se que, mesmo existindo a necessidade de
desenvolvimento de formas de proporcionar à população a almejada inclusão digital, é
também preciso que, de forma paralela, se prepare esta parcela de indivíduos tidos como
excluídos ou analfabetos digitais, para o recebimento dos instrumentos que permitem o
acesso à rede, afinal, de nada adianta entregar a ferramenta nas mãos do indivíduo se ele
não sabe como utiliza-la.
Desse modo, estabelece-se como ponto crucial para efetivar a inclusão digital o
desenvolvimento de projetos que permitam que o cidadão adquira habilidades e
capacidade para manuseio e utilização da tecnologia disponível, conscientizando-os de
que o acesso à rede deve ter como princípios básicos a responsabilidade e a cidadania.
Ademais, impera evidente que a internet possui inúmeros conteúdos inapropriados
e, por isso, é preciso ensinar à população como e onde buscar as informações desejadas
e mais, educar os cidadãos para que tenham consciência da maneira como devem se
comportar diante das inúmeras ferramentas e possibilidades encontradas na rede.
Nesse sentido, Clediana Dantas Calixto e Jane Cleide Cardozo dos Santos, apud
Le Coadic, destaca que: “O montante de informação na Internet leva a que se proponham
questões sobre as habilidades necessárias para aprender a se informar e aprender a
informar, sobre onde adquirir a informação e chama a atenção de que essa aprendizagem
é totalmente inexistente no sistema de ensino13.”
Por conseguinte, visível a necessidade de proporcionar a todos a alfabetização
digital para que seja possível a efetivação da inclusão digital, pois o objetivo primordial da
inclusão digital é permitir e liberar o acesso a rede mundial de computadores, à Internet, à
troca rápida de informação e à linguagem básica da sociedade de informação.
Além disso, a inclusão digital e o livre acesso a essas tecnologias vão gerar a
capacitação da população, a cidadania, a diminuição da pobreza e a não discriminação,
gerando assim desenvolvimento.
13
CALIXTO, Clediana D; SANTOS, Jane Cleide C. A Inclusão digital em áreas de assentamento rural no
município de Juarez Távora-PB. Recanto das letras, 2011. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2742088> Acesso em: 18 mai. 2011. p. 112.
2.2 FORMAS DE INCLUSÃO DIGITAL
A inclusão digital deve, primeiramente, ser considerada uma necessidade para o
desenvolvimento local e nacional da população. Sendo assim, os entes públicos precisam
incorporar a inclusão digital como política pública, assim como fez com a educação, pois
somente deste modo pode englobar de forma massiva a população14.
Esta inclusão é necessária para a qualificação da população, somente assim, pode
viabilizar o desenvolvimento do país de forma decisiva, e não somente em pequenos
centros através das elites qualificadas. Através de políticas públicas é possível abranger
os grandes grupos e incluí-los na era digital, gerando cidadania e desenvolvimento, pois
atualmente sabemos que a rede é instrumento para se obter diversos serviços privados e
estatais, além de informação. Não gerar a inclusão digital e desenvolvê-la é criar barreiras
para que essas pessoas não tenham alcance esse conhecimento.
A inclusão digital começou a ser discutida com a criação do chamado Governo
Eletrônico, que consistia no fornecimento de informações, serviços e produtos estatais
através dos meios eletrônicos. Porém, essa iniciativa só teria validade com a inclusão da
população do meio digital, do contrário só favoreceria uma pequena parcela.
Acerca atesta Takarashi apud COSTA:
Na era da Internet, o Governo deve promover a universalização do acesso e o uso crescente dos meios eletrônicos de informação para gerar uma administração eficiente e transparente em todos os níveis. A criação e manutenção de serviços eqüitativos e universais de atendimento ao cidadão contam-se entre as iniciativas prioritárias da ação pública. Ao mesmo tempo, cabe ao sistema político promover políticas de inclusão social, para que o salto tecnológico tenha paralelo quantitativo e qualitativo nas dimensões humana, ética e econômica. A chamada “alfabetização digital” é elemento chave nesse quadro15.
A partir disso, em 2000 o decreto presidencial de 03 de abril de 2000, criou o Grupo
de Trabalho Interministerial para analisar e apresentar políticas, diretrizes e normas
14
MARTINI, Renato. Inclusão Digital e inclusão social. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 1, p. 21-23, out./mar., 2005. Disponível em: <http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/article/viewFile/7/14> Acesso em: 17 mai. 2011. p. 21-22. 15
COSTA, Dartganan L; FRANTZ, Diogo; MASCHIO, Daniela. Governo Eletrônico: a interlocução necessária entre sociedade e o poder local, na construção da inclusão digital. XV Congresso Nacional do CONPEDI. Manaus: 2006. p. 1181-1193. ISBN:978-85-87995-80-3. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/dartagnan_limberger_costa.pdf>. Acesso em: 14 mai. 2011. p. 1188.
referentes as novas formas eletrônicas de interação. Nesse viés, em 2003 o governo
brasileiro criou através do Decreto 29 de outubro de 2003 um comitê técnico de inclusão
digital que integrou o programa interministerial de governo eletrônico. O decreto supra
citado dispunha que:
Art. 1º - Ficam instituídos Comitês Técnicos, no âmbito do Comitê Executivo do Governo Eletrônico, criado pelo Decreto de 18 de outubro de 2000, com a finalidade de coordenar e articular o planejamento e a implementação de projetos e ações nas respectivas áreas de competência, com as seguintes denominações: I - Implementação do Software Livre; II - Inclusão Digital; III - Integração de Sistemas; IV - Sistemas Legados e Licenças de Software; V - Gestão de Sítios e Serviços On-line; VI - Infra-Estrutura de Rede;
Pela primeira vez, o termo inclusão digital foi positivado como uma política pública
a ser atendida pelos projetos governamentais. Outrossim, foi desenvolvido o programa
Casa Brasil, que consiste em um local de acesso à Internet, e mais do que isso, um local
voltado para cultura digital, a inclusão e a cidadania, dando acesso aos mais diversos
instrumentos tecnológicos e digitais, alem de telecentros comunitários, espaços culturais,
e núcleos de informação tecnológica.
Tais espaços possibilitaram aos cidadãos desenvolver projetos comunitários,
sociais, culturais, educacionais e profissionalizantes. O mais importante para a
implantação e sucesso deste projeto, se dá com relação de que não se trata só da
participação do Estado, mas também pela importância que se dá ao envolvimento da
população, pois somente assim, empreendimentos como este, podem alcançar os
objetivos a que se propõe16.
As diversas formas de inclusão digital visam trazer à essa nova realidade aquela
parcela populacional que não tem alcance aos meios tecnológicos e de informação, e
portanto, são excluídas deste contexto, ficando desfavorecidas em relação aos demais
em todas as esferas, seja de trabalho ou educação, por exemplo. A exclusão digital faz
16
MARTINI, Renato. Inclusão Digital e inclusão social. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 1, p. 21-23, out./mar., 2005. Disponível em: <http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/article/viewFile/7/14> Acesso em: 17 mai. 2011. p. 22.
com que a margem de desigualdade social e pobreza seja alargada, marginalizando estes
cidadãos com relação a sociedade em rede17.
Sendo assim, o que se vê é que todas as formas de inclusão digital perpassam
pelo poder público, juntamente com a sociedade, e para se alcançar a efetivação desta
inclusão faz-se necessário o envolvimento dos entes públicos em todas as esferas,
principalmente na esfera municipal, pois esta é a que se encontra mais próximo da
população alvo, e tem mais condições de analisar as necessidades e de que forma os
projetos terão mais alcance e eficácia. Claro que isso só é possível através do incentivo
federal e estadual que além de criar formas de inclusão, podem dar respaldo e solidificar
as bases desses projetos18.
Deste modo, as formas de inclusão digital devem devolver a estas pessoas a
cidadania em seu sentido mais amplo, onde cidadãos são aqueles que detêm os
direitos de participar não só da vida em sociedade, mas também do governo de seu país.
É instituir uma cidadania efetiva e ativa, onde os sujeitos participam da construção e
desenvolvimento do governo e da sociedade, uma cidadania emancipatória onde os
cidadãos são integrados ao sistema, numa interação entre governo e sociedade.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a pesquisa realizada, pode-se empreender que a história tecnologia leva
à evidência que o surgimento da Sociedade da Informação só foi possível em virtude das
descobertas tecnológicas que, ao longo do tempo, foram ganhando o cenário
internacional enquanto meio de exploração econômica e desenvolvimento.
Assim, a Sociedade da Informação, que se traduz na capacidade de adquirir,
armazenar, processar e distribuir a informação pelos meios eletrônicos disponíveis, foi
conquistando cada vez mais espaço, o que resultou, em meados dos anos 70, em uma
reestruturação do capitalismo baseada na tecnologia da informação.
Daí depreende-se que a sociedade contemporânea vive na Era Informacional, na
qual a tecnologia da informação constitui-se como ingrediente decisivo em vários
segmentos sociais, inclusive no que tange ao comportamento dos indivíduos. Setores
como economia, política, educação, entre outros, baseiam-se, mais do que nunca,na 17 Ibidem, p. 21. 18 Ibidem, p.22.
capacidade de exportar, importar, ou simplesmente usufruir dos benefícios
proporcionados pela tecnologia informacional.
Dessa forma, faz-se necessário que o acesso às novas tecnologias disponíveis
deve ser encarado enquanto direito de todos e, por isso, é preciso primar pela inclusão
digital, ensinando a todos a maneira correta de utilização destas ferramentas, a fim de
que os benefícios trazidos pelas mesmas possam ser inteiramente aproveitados.
Ademais, a positivação da inclusão digital no ordenamento jurídico brasileiro trouxe
novas perspectivas para a concretização dos objetivos da sociedade em rede, por meio
do planejamento e implementação de projetos e ações que visem dar efetividade a esta
forma de inclusão.
Destarte, encontra-se nas políticas públicas a melhor alternativa para efetivar-se a
inclusão digital, posto que, assim, será possível alcançar grande parte da população,
promovendo a cidadania, a qualificação dos indivíduos e diminuindo as desigualdades e a
pobreza. Portanto, cabe aos entes públicos criar e desenvolver projetos que possibilitem a
inclusão digital de forma efetiva e homogênea, fazendo com que o desenvolvimento social
acompanhe o tecnológico.
REFERÊNCIAS
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