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ÍNDICE: 3 FRANCO-MAÇONARIA DA PEDRA ANGULAR DA ROSACRUZ 8 REFLEXÃO SOBRE COISAS ESSENCIAIS E ELEVAÇÃO DA ALMA 14 NINGUÉM VIU O QUE IA ACONTECER? 18 “E EIS QUE ESTÁ AQUI QUEM É MAIS DO QUE SALOMÃO27 ENCONTRO COM O ESPÍRITO DIVINO ATRAVÉS DA NATUREZA 28 “FICA EM SILÊNCIO E COMPREENDERÁS30 O QUE OS ROSA-CRUZES ENTENDEM POR... 32 SOFRIMENTO DA CONSCIÊNCIA FRAGMENTADA 37 SOBRE A FELICIDADE 1998 ANO VINTE NÚMERO 3 A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção de seus leitores para a nova era que já se iniciou para o desenvolvimento da humanidade. O Pentagrama tem sido, através dos tempos, o símbolo do homem renascido, do novo homem. Ele também é o símbolo do universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretanto, um símbolo somente tem valor quando se torna realidade. O homem que realiza o Pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, consegue permanecer no caminho da transfiguração. A revista Pentagrama convida o leitor a operar esta revolução espiritual em seu próprio interior. © Stichting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia. PENTAGRAMA

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ÍNDICE:

3 FRANCO-MAÇONARIA DA

PEDRA ANGULAR DA

ROSACRUZ

8 REFLEXÃO SOBRE COISAS

ESSENCIAIS E ELEVAÇÃO

DA ALMA

14 NINGUÉM VIU O QUE IA

ACONTECER?

18 “E EIS QUE ESTÁ AQUI

QUEM É MAIS DO QUE

SALOMÃO”

27 ENCONTRO COM O

ESPÍRITO DIVINO ATRAVÉS

DA NATUREZA

28 “FICA EM SILÊNCIO E

COMPREENDERÁS”

30 O QUE OS ROSA-CRUZES

ENTENDEM POR...

32 SOFRIMENTO DA

CONSCIÊNCIA FRAGMENTADA

37 SOBRE A FELICIDADE

1998 ANO VINTE

NÚMERO 3

A revista Pentagrama propõe-se a atrair

a atenção de seus leitores para a nova era

que já se iniciou para o desenvolvimento da

humanidade.

O Pentagrama tem sido, através dos tempos,

o símbolo do homem renascido, do novo

homem. Ele também é o símbolo do universo

e de seu eterno devir, por meio do qual o plano

de Deus se manifesta.

Entretanto, um símbolo somente tem valor

quando se torna realidade. O homem que

realiza o Pentagrama em seu microcosmo,

em seu próprio pequeno mundo, consegue

permanecer no caminho da transfiguração.

A revista Pentagrama convida o leitor a

operar esta revolução espiritual em seu próprio

interior.

© Stichting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.

PENTAGRAMA

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Muitos, com o passar dos séculos,

se empenharam em buscar, na

terra, a salvação e a libertação de

suas almas. Muitos ainda buscam,

mas somente um pequeno número

consegue encontrar! Na verdade,

são raros os que chegam a perfurar

a fonte de onde corre a água Viva

neste mundo perdido.

normal que este número seja reduzi-do, pois, para descobrir o princípio vitaldivino, é preciso que os olhos se abrampara perceber a vaidade e a auto-sufi-ciência dos homens, e para aprender adiscernir o lamentável engano por trásda fachada. E, principalmente, é precisocompreender que a paz da alma e suasalvação somente podem estabelecer-se sobre uma vida que nada tem emcomum com a existência que provém danatureza dialética. Para que o amor pelaSabedoria seja despertado na alma quebusca, os servidores das escolas demistérios vêm-se esforçando há sécu-los, de todas as maneiras possíveis,para fazer com que os que buscam alibertação possam sair do poço do sofri-mento e sejam guiados para uma novavida, para uma nova luz.

No momento atual, vivemos em umaépoca extremamente crítica, e a Escolados Mistérios da Rosacruz áurea nova-mente levanta sua voz para fazer comque os homens compreendam a neces-sidade de construírem juntos, de acordocom o plano divino, na qualidade delivres construtores, pedras-vivas deconstrução.

Um campo de vida ganha muito maisvalor se for realizado pelos próprios

homens. A fim de apoiar e esclarecereste assunto, pedimos especialmentevossa atenção para a franco-maçonariada Pedra Angular da Rosacruz áurea,que é tão antiga quanto a própria huma-nidade dialética e nasceu diretamentedos Mistérios divinos. Estes últimos, defato, sempre tiveram como objetivo fazercom que o homem pudesse sair dadecadência da vida inferior, para elevá-lo até a luz original. Daí se deduz que afranco-maçonaria original jamais tevecomo objetivo desenvolver uma ética euma sociedade convencionais, ou seja,o humanitarismo. Em outras palavras,ela jamais visou desenvolver uma cultu-ra no plano horizontal. A verdadeirafranco-maçonaria sempre foi (e ainda é)um método que permite ao homemdecaído, que tem a aparência que hojetemos, recuperar sua glória passada.Para quem percorre este caminho, éimprescindível levar uma vida moral esocial elevada, assim como cultivar oamor ao próximo.

A franco-maçonaria original parte doprincípio que nem a religião, nem a ciên-cia, nem a prática de uma forma qual-quer de bondade permitem a um serhumano tornar-se um verdadeirohomem, e que isto somente é possívelgraças a uma construção absolutamen-te nova, edificada de baixo para cima,sobre as ruínas da antiga construção. Jádescrevemos muitas vezes este proces-so de neutralização do sistema vital ter-restre pelo qual o ser nascido da nature-za deve passar a fim de que seu siste-ma vital celeste possa manifestar-se.Em conseqüência disto, toda a práticaou tentativa religiosa, científica ouhumanitária associada às antigas cons-truções, e portanto fundamentada sobre

É

FRANCO-MAÇONARIA DA PEDRA ANGULAR

DA ROSACRUZ

“O justo crescerácomo a palmeira,crescerá como ocedro do Líbano”(Salmo 92:12).Commentarius in Apocalypsin,manuscrito espanhol, 975 d.C.

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a ordem do mundo dialético, continua,sem exceção, sendo negativa. E assimcontinuará sendo!

LEIS DA POLARIZAÇÃO INVERSA

Talvez não seja demais ressaltar quea franco-maçonaria, da qual estamosfalando, admite tanto mulheres comohomens: e, se tendes uma compreen-são correta das coisas, imaginai queeles tomam parte na regeneração emcondição de perfeita igualdade. QuandoPaulo fala da graça que a mulher rece-be do homem, ele não está baseando-se, com certeza, no Antigo Testamento:ele está visando a exata colaboraçãoentre os dois sexos, de acordo com a leida polarização inversa, sem nenhumareferência à religião hebraica que indicauma posição muito secundária àsmulheres. Como prova, citemos umtexto de um antigo irmão da OrdemRosa-Cruz, Dr. Sigismond Bacstroem,em que ele explica: “Não há nenhumaseparação entre os sexos no mundoespiritual. Nem entre os anjos celestes,nem entre os espíritos racionais e imor-tais do gênero humano; além disto, foiuma mulher que tornou possível a sal-vação da humanidade. E, como a beati-tude é concedida tanto ao sexo femininoquanto ao masculino, nossaFraternidade não exclui da iniciaçãonenhuma mulher que seja digna dela,pois o próprio Deus não excluiu amulher de ventura que está por vir nanova vida”.

Afirmamos, com toda a certeza, quea franco-maçonaria que se baseia nasreligiões tradicionais cai neste impasse,inexoravelmente. A franco-maçonariabaseada na ciência sofre o mesmo des-tino e a que se entrega à filantropiacorre em direção à completa esclerose.A verdadeira franco-maçonaria trans-cende tudo isto porque ela provém daDoutrina Universal, de tudo o que era arealidade do gênero humano original.

Para imaginá-lo de maneira correta, épreciso compreender o que é ou não éuma religião natural. Trata-se, na reali-dade, de um conjunto de sentimentosreligiosos mais ou menos apoiados emelementos intelectuais. No decorrer dahistória do mundo, surgiu uma enormequantidade de sistemas religiosos cominúmeras subdivisões.

Nos últimos séculos, inúmeras igrejase seitas discutem infindavelmente sobreo que é preciso entender verdadeira-mente por cristianismo. E, apesar detodos os esforços, é muito difícil estabe-lecer qual fator seria o traço de uniãoentre elas; isto necessitaria ainda demuitas conferências internacionais, oque mostra claramente que o verdadei-ro cristianismo não é conhecido, queestas religiões possuem somentealguns aspectos e conceitos sobre ele.Eis por que a franco-maçonaria que sebaseia em um sistema religioso qual-quer não pode ser uma franco-maçona-ria, no sentido superior do termo.

A franco-maçonaria conhecida naEuropa e na América é baseada emrituais, símbolos e em uma magia queprovém da religião judaica. A ciênciaatual nasceu de imperiosas necessida-des da vida dialética. É uma atividadeintelectual que se apóia em hipóteses eexperiências; em conseqüência, eladeve seguir seu curso sem deixar, por

O Dr. Sigismond Bacstroem foi

admitido pelo conde de Chazal

na Ordem da Rosa-Cruz, em 12

de setembro de 1794, na ilha

Maurício. O relato da cerimônia

faz parte do Diploma de Bacstroem,

documento sobre o qual foi aposto

um selo que representa um homem

em um círculo em que estão

inscritos um triângulo e um

quadrado.

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isso, de experimentar fracassos e pas-sos em falso. A franco-maçonaria quese baseia nesta ciência jamais serálivre. O humanitarismo, tal como oconhecemos, é uma filantropia engen-drada pela compreensão das realidadesmateriais da existência dialética; mas oque um grupo qualifica de “bom” e de“humano” não é aceito por outro grupo.Assim, percebeis que é impossívelencontrar o bem absoluto deste modo.No máximo, podemos desenvolveralguns princípios determinados duranteum certo tempo, mas logo em seguida,irão trazendo com eles, desesperada-mente, seus efeitos contrários.

Quando percebemos isto, podemospenetrar a própria essência da verda-deira franco-maçonaria, e a razão pelaqual a roda gira, infinitamente. Comopedra angular de sua construção, a ver-dadeira franco-maçonaria deve escolherpara si um valor, uma força que sejamsuperiores aos rituais e conceitos dasreligiões tradicionais: e este valor e estaforça são absolutamente independentesda ciência experimental e das normasdo bem inerentes à humanidadecomum. Nas sagradas escrituras, estafranco-maçonaria se caracteriza pelaescolha, pela posse de uma Pedra Viva.Trata-se da escolha de um valor e deuma força que, sem interferência de nin-guém, se revelam total e livremente aoaluno e companheiro construtor.

ULTRAPASSAR TODOS OS LIMITES

E AUTORIDADES

Compreendeis, assim, que tipo deperspectiva é aberta por uma franco-maçonaria sem limitação e sem submis-são a uma autoridade qualquer. Trata-se, portanto, de uma construção livre epessoal, edificada com pedras vivas, daqual faz parte todo o sistema vital. É umaobra que tem como fundamento e obje-tivo o “Ser Absoluto”, Jesus Cristo. Este“Oriente”, este “nascer do sol na Auro-

ra”, não permite que se dê à franco-maçonaria interpretações divergentes.

O verdadeiro franco-maçon não rejei-tará, portanto, esta Pedra Angular viva;ele não pode fazer isto porque sabe queela fará dele um homem “renascido”. Elesabe que a Sabedoria divina, oculta naPedra, a Verdade fundamental, possuiuma força capaz de abater todos osobstáculos dialéticos.

É por isso que há uma tarefa única aser cumprida: aquela sobre a qual Pedrofala em sua Primeira Epístola (2:5) “Evós mesmos, como pedras vivas, edifi-cai-vos para formar uma casa espiritual,um santo sacerdócio, a fim de oferecersacrifícios espirituais agradáveis a Deuspor Jesus Cristo”. Quando começamosesta livre construção como franco-maçon, possuímos a preciosa PedraAngular que, para todos aqueles que adesejam, desce do céu como desceu apedra negra da Ka’ba.

A franco-maçonaria da Pedra Angular

Representação bíblica dosquatro riosque afluem dotrono de Deus.

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afirma que ela está em ligação com oReino Original da Luz, e sua atividadetem como objetivo único fazer com queo homem decaído retorne a este Reinoda Luz. Para este fim, o candidato deveconstruir, ele mesmo, uma morada espi-ritual, na qualidade de companheiroconstrutor. Ele deve edificar uma novapersonalidade quádrupla, absolutamen-te de acordo com o tríplice princípio fun-damental da consciência do homemceleste.

Certamente sabeis que o antigo sím-bolo do homem é uma “pedra”, quepode manifestar-se no universo demodo sétuplo, o que explica que a anti-ga sabedoria falava da “pedra de seteolhos”. Compreendeis que se trata aquido homem em sua manifestação espiri-tual sétupla. A “pedra de sete olhos”representa o microcosmo, que com-preende um campo aural sétuplo dotadode sete núcleos de consciência queenvolvem o Espírito central. Esta pedrade sete olhos (que é o sistema sétuplohumano) é a pedra que deve tornar-seviva, e depois disto é preciso que estapedra viva seja introduzida no TemploUniversal, que transcende toda e qual-quer limitação graças à preciosa PedraAngular, que é Cristo.

CONSTRUÇÃO SEM BASE AUTÊNTICA

Como este fato é incontestavelmenteestabelecido, podemos afirmar quequalquer pessoa que quiser construir,que queira ser um verdadeiro maçom(em francês, maçom = pedreiro, cons-trutor), sem levar em conta esta exigên-cia, acabará fracassando e somente iráobter resultados negativos. Apesar detudo isto ser um fato confirmado, é algodifícil e, na realidade, há inúmeras ten-tativas bem intencionadas para edificaruma construção mais ou menos aceitá-vel neste mundo! Nada impede (e osfatos o comprovam) que a preciosaPedra Angular seja muitas vezes rejeita-

da pelos construtores porque é uma“pedra de tropeço, uma rocha de escân-dalo”, segundo as palavras de Pedro(Primeira Epístola, 2:8).

Isto é perfeitamente compreensível!O universo se dirige para um objetivodivino: a realização do plano divino parao mundo e para a humanidade. No cen-tro deste plano grandioso está a PedraAngular: Jesus Cristo. E tudo o que nãose comporta em harmonia com estaPedra Angular entra irremediavelmenteem conflito com ela. As palavras deCristo: “Não vim trazer a paz, mas sim aespada”, (Mateus, 10:34) se justificamplenamente, a partir do momento emque compreendemos que nossa ordemde natureza deve ser rompida, a fim deque o Todo se conforme ao plano deconstrução original. A franco-maçonariada Pedra Angular da Rosacruz áureanão visa humanizar o homem decaído ,nem a torná-lo religioso; ela professa aidéia que irradia de Cristo: que o homemdeve tornar-se uma realidade viva emum campo de vida absolutamente novo,a fim de que ele renasça e se deixeguiar rumo ao Campo de Vida Original.

Talvez estejais perguntando comoesta franco-maçonaria se exerce dentroda Rosacruz áurea. Devemos ressaltar,quanto a isto, que a rosa de sete péta-las, ou lótus, somente poderá edificar,na vida presente, sua construção micro-cósmica sete vezes sétupla, a “pedra desete olhos”, seguindo o caminho dacruz: por uma regeneração.

Para melhor compreender isto, dire-mos mais: que a realização deste cami-nho da cruz deve tornar-se perfeita-mente natural, que vai acontecendo porsi, e que ele exige:

bondade em relação ao próximo,comportamento pleno de humanida-

de,sentimento de fraternidade e de amor

por todos os seus semelhantes.

Catharose de Petri

Manifestaçãodas forças doEspírito nocosmos (The Works of JacobBoehme, the TeutonicPhilosopher,William Law,1754).

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O “Corpus Hermeticum” refere-se a

Hermes Trismegisto, de Pimandro e

de Tat. Hermes é representado co-

mo o homem celeste, o três vezes

grande ou três vezes sublime, ou

seja: o homem verdadeiramente li-

berto que, incontestavelmente, exis-

te e vive em Deus e por Deus.

homem hermético serve o mundo ea humanidade lutando para libertar-seda matéria. Neste sentido, Hermes é o“Novo Homem”, que abre caminhos to-talmente novos. Pimandro é a Sabedo-ria divina, a Palavra, o Verbo do início. Apalavra pimandro significa “pastor, guiade homens”. Em Pimandro se manifestaa estrutura de linhas de força do ho-mem-Hermes, aquele que responde asua missão original. Pimandro é Deusque se dirige em particular à alma quese elevou à dignidade de seu toque; é achama que jorra sobre o santuário dacabeça a partir do momento em queHermes reflete sobre as coisas essen-ciais e eleva seu coração. Tat é a almatão purificada que pode receber o toquedo Espírito, que impulsiona a unidadeda cabeça e do coração. Somente gra-ças a esta unidade Hermes pode refletirsobre as coisas essenciais e elevar seucoração.

Neste primeiro Livro do CorpusHermeticum, o homem hermético per-gunta a Pimandro como a humanida-de se encontra em seu estado dedecadência:

Como se situa a natureza dialéticanessa grandiosa manifestação que pos-so ver por teu intermédio, Pimandro?Que devo pensar a respeito do

Universo dialético? Como caiu ohomem celeste na prisão da naturezadialética, degenerando no que agoraé? A natureza dialética proveio da Es-sência original? Por que esta ordem denatureza tornou-se tão má? (Arquig-nosis Egípcia, Tomo I, p. 52).

Pimandro lhe descreve como a natu-reza foi formada a partir do belo arqué-tipo do mundo, e como Deus havia esta-belecido um laboratório alquímico imen-so em que o homem deveria trabalharem grandiosos projetos da manifesta-ção universal. Neste campo de trabalho,deveria acontecer uma contínua trans-formação da matéria, o que também éfunção do universo dialético. Em sua for-ma original, o sétimo universo, ou séti-ma região cósmica, estava em harmo-nia total com os seis outros campos decriação.

Diz Jan van Rijckenborgh em seuscomentários do Corpus Hermeticum:“Então, foi determinação inicial que to-dos os elementos submersos, todas asrevelações de natureza dialética,devessem permanecer destituídas derazão e que só existisse a matéria.Pois, desde que um elemento, umamatéria, alia-se ao Espírito, nasce umestado quase impossível. Aparece,então, assim diz Pimandro, uma ativi-dade espiritual na matéria e ela, amatéria, estando sujeita a contínuatransformação, ingressa com seu pri-sioneiro, o Espírito, na natureza damorte.

Isto quer dizer: quando a luminosacentelha, o Espírito, une-se à matériade maneira imprópria e inexata, então amatéria e o Espírito fluem um no outro.O Espírito é eterno e imutável, ao passoque a matéria está em contínua trans-

REFLEXÃO SOBRE COISAS ESSENCIAIS

E ELEVAÇÃO DA ALMA

O

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formação, em contínua mutação. Quan-do ambos se unificam, então a matériaarrasta o Espírito, a luminosa centelha.Desta união, não natural, nasce umacristalização. A matéria opõe-se e oEspírito procura manter-se. Da açãoque parte do Espírito, da Luz, no senti-do de permanecer, de continuar, deexistir, aparece uma condensação damatéria, uma cristalização, porque tudoagora opõe-se à mutação. Deste modo,a eternidade está aprisionada em umasucessão de dores”.

(Arquignosis Egípcia, Tomo I, p. 56)

A MATÉRIA ABRAÇA SEU BEM-AMADO

O homem celeste entrou no paraísoda sétima região cósmica degradada.Ele tentou colaborar com as forças dire-trizes desta região, mas esqueceu suamissão e se atolou na matéria. A maté-ria abraçou seu bem-amado e o mante-ve prisioneiro. Assim, o homem celestemergulhou no circuito sem fim dasdores, onde é preciso aprender pormeio de duras experiências.

Aqui, observamos que Pimandrosomente se manifesta a Hermes porque

A dança deShiva (séculoII. Bronze domuseu Guimet,Paris).

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este reflete sobre as coisas essenciaise eleva seu coração. É um ponto crucialno retorno do homem celeste aprisiona-do. De fato, enquanto o ser humano estáperdido, continua apaixonado por suaprópria imagem e sente prazer em suaprópria criação; não sente necessidadede refletir sobre as coisas essenciais danatureza, nem de elevar seu coração.Ele deve, então, atravessar um “vale delágrimas”, para acabar-se dando conta,depois de muitas encarnações micro-cósmicas, de que é “um filho pródigo”, ede que é preciso encontrar o caminhode volta. Esta profunda volta para simesmo e esta humildade superior, quelhe fazem reconhecer que está perdido,diante de seu Deus interior, abrem-lhe anova perspectiva do caminho de volta, ocaminho pelo qual ele entrará novamen-te em sua pátria, no centro da manifes-tação universal.

Na narrativa bíblica, o filho pródigodeve viver no meio de porcos. Na narra-tiva grega, Hércules deve limpar asestrebarias de áugias, o que ele somen-te pode fazer se esvaziar o rio, para quea corrente de água lave todos os cantos.

O INFERNO DOS DESEJOS DO CORAÇÃO

CORROMPIDO

Estas alegorias continuam sempreatuais: o coração, o ponto de toque daSabedoria divina, é corrompido a pontode ser comparado às estrebarias deáugias. O coração do homem de hoje éum inferno de desejos que nunca o dei-xam descansar. Ou são criados e multi-plicados por ele mesmo, ou eles são ati-çados por seu meio ambiente. A publici-dade lhe mostra que é estúpido por seprivar de tal ou tal produto maravilhoso,por ainda não ter adquirido um certodiploma, por andar com sapatos que játêm mais de um ano, por ainda não terganho alguns centavos na Bolsa deValores. A educação e o ensino lhemostram como prender-se a isto para sesair bem e determinam suas preferên-cias, suas idéias, suas atividades.

Mas o homem atual percebe agoraque está cada vez mais difícil dominar amatéria, que ela se esforça por fugir desua direção, que a ciência e tudo o quedela decorre conduz a uma luta gigan-tesca para submetê-la e dirigi-la.

De um lado, os humanos são levadosa acumular coisas materiais; de outro,aprendem como dominar esta matéria,e o coração sofre seguindo este ritmo.Seus desejos, aguçados desde a juven-tude, os obrigam a mergulhar cada vezmais profundamente na matéria, en-quanto que os países desenvolvidos eem via de desenvolvimento obrigam osque não desenvolveram estas tendên-cias a fazerem o mesmo.

Assim, o mundo passa pelo fogo epelo sangue, e cada um luta para imporsua verdade aos outros. E é neste mun-do decaído que Hermes, o três vezessublime, o Novo Homem, fala em refletirsobre as coisas essenciais da naturezae elevar seu coração!

A que corresponde isto? Será que épossível ao homem moderno que seguea matéria refletir sobre as coisas essen-ciais e elevar seu coração?

Os pólos entreos quais sedesenrola avida do serhumano(UtriusqueCosmi Maioris,Robert Fludd,1617).

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Mas será que nós conseguimos isto?Será que conseguimos refletir sobre ascoisas essenciais e elevar nosso coraçãocom tranqüilidade, sem sermos assalta-dos por algum desejo, sem nos distrair-mos com algum pensamento, sem nosentregarmos a alguma atividade?

MORTE DAS ESTRELAS...

Em um antigo escrito hindu sobre aCriação aparece a seguinte imagem:“Quando Brama criou o mundo e espa-lhou sobre ele as centelhas de seu fogo,os ‘deuses contrários’ elaboraram umplano para reter as centelhas divinas, eos deuses assustados viram um monstrode fogo ardente subir até os confins domundo. Ele elevou milhares de cabeçasmonstruosas contra a montanha celeste,e de suas milhares de goelas ele fez jor-rar línguas de fogo que lamberam a mon-tanha celeste semeada de diamantesfaiscantes, de tal modo que as estrelasmorreram. Ele avançou sobre o marbatendo nele com suas garras...

Então, surgiu Shiva, o eterno dança-rino. Com a força de seu poder divino,que ele havia acumulado pouco apouco, de acordo com a lei inabalávelestabelecida pelos próprios deuses, eleatacou o monstro. Ele rodeou os limitesda terra com seu corpo gigantesco,abriu sua boca, abocanhou o fogo infer-nal, e apagou-o mastigando-o, e entãoo engoliu”.

Esta narrativa mostra que as cente-lhas divinas correm o risco de se perde-rem no mundo que elas criaram, mastambém que elas não estão abandona-das a sua própria sorte, a sua infelicida-de. E na região em que as centelhas doEspírito mergulharam na matéria, de-senvolve-se a luta entre o divino, imutá-vel, e o humano, que está sempre setransformando.

O homem original era masculino-fe-minino e gerava a si mesmo. Assim, elepovoou o universo com as sete raças

originais sobre as quais se fala naDoutrina Universal. O homem foi ligan-do-se passo a passo a sua própria cria-ção (na cosmologia de Pimandro esteprocesso de desenvolvimento na maté-ria durou milhares de anos); depois,houve a separação dos sexos, que é asituação em que nos encontramosainda hoje.

Ora, quando alguém recusa descerainda mais na matéria e resolve purificarseus desejos até o extremo, atinge oponto de toque da força salvadora daGnosis. O fogo divino vem até ele, oabraça e o livra da prisão da naturezada morte, com a condição de que real-mente vá em busca do auxílio divino eque se esforce por si mesmo para esca-par às chamas mortais do monstro defogo dos “deuses contrários”.

FIM DOS DESEJOS PROFANOS

De que modo? Para começar, não sedeixando guiar por seus desejos, paran-do de alimentá-los, neutralizando-os e

A TábuaEsmeraldina,segundo umadescrição doDr. Bacstroemno livroOriginalAlchemicalManuscripts(Manly Hall).

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finalmente os rejeitando; limpando den-tro de si as estrebarias de áugias emque seu coração se transformou e, nes-te campo de trabalho, purificado, refle-tindo sobre as coisas essenciais e ele-vando seu coração. Em seus comentá-rios do Livro de Pimandro, Jan vanRijckenborgh diz que a purificação docoração é a própria base de uma reno-vação total. De fato, se o coração estápurificado e já não se alimenta de dese-jos profanos, esta purificação se projetano santuário da cabeça. Então, coraçãoe cabeça se fundem em unidade total,necessária para “poder refletir sobre ascoisas essenciais e elevar seu cora-ção”, até o momento em que seja pos-sível a cada um encontrar seu próprioPimandro.

Na manifestação de miríades de for-mas que a humanidade original criouquando abandonou o reino de Deus,cada criatura, por menor que seja, édotada da força do Espírito, força quetorna possível o retorno ao Espírito. Emcada entidade está oculto o princípio daLuz.

Quem tornar-se consciente de tudoisto e quiser escapar do inferno em quevive e onde se mantém distraído, devecomeçar purificando seu coração: nãopara refinar e cultivar seu eu, mas paracolocar um ponto final a seus impulsosbásicos. Em seguida, vêm seus pensa-mentos. Se a cabeça e o coração cola-borarem, nenhum karma será criado a

partir de então e tudo o que é velho sedissolverá sistematicamente e assimserá liberada a força que elabora econstrói a nova base de vida, sobre aqual pode ser edificado o Templo divinoque é mencionado pelo CorpusHermeticum. Somente será possívelseparar, dentro de seu ser, a luz das tre-vas, o bem do mal, o Espírito da maté-ria quando o coração for um santuáriopurificado, tal como era no início damanifestação da humanidade original.

Este Templo é a morada da centelhade Luz semeada no coração do homem,mas que agora foi engolida pela matériae está completamente sujeita a ela.Quem purificar seu coração e restabele-cer a ligação entre o coração e a cabe-ça poderá dizer, como Hermes: “Vi emmeu Nous (Alma-Espírito), como a Luz,composta de inumeráveis potências,converteu-se num mundo realmente ili-mitado, enquanto o fogo era cercado edominado por uma força muito podero-sa e, assim, posto em equilíbrio”.

(Arquignosis Egípcia, Tomo I, p. 28)

Em 1960 Jan van Rijckenborgh

publicou pela Rozekruis Pers, em

Haarlem, o primeiro tomo da

Arquignosis Egípcia e seu chamado

no eterno presente, onde ele comen-

ta a sabedoria hermética da Tábua

Esmeraldina e do Corpus Herme-

ticum, de Hermes Trismegisto (a tra-

dução brasileira foi sendo editada

entre 1984 e 1991).

Quem busca averdade não sedeixa desviar pornada (Tenjin Engi,século XIII,MetropolitanMuseum of Art,New York).

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No dia 14 de abril de 1912, o majes-

toso transatlântico inglês “Titanic”

chocou-se contra um iceberg e afun-

dou, levando à morte 1.513 pes-

soas. O naufrágio deste navio “ina-

fundável” inspirou diversos escrito-

res e cineastas. Foi somente em se-

tembro de 1985 que encontraram os

destroços e que foi, então, possível

reconstituir esta grande catástrofe

de forma impressionante. Em con-

seqüência disto, um filme tocante

acaba de ser realizado, como uma

seqüência de imagens que provo-

cam a reflexão dos espectadores...

Titanic era a jóia da “White Star Line”.Com seus 272 metros de comprimento,suas 46.000 toneladas, suas quatro cha-minés e suas duas caldeiras, ele era opróprio modelo da força e da potência, oúltimo grito da técnica para sua época. Oluxo era extremo. De acordo com osconstrutores, seus dezesseis comparti-mentos estanques permitiam mantê-lo nasuperfície em todos os momentos,mesmo se quatro deles sofressem infil-tração de água. No entanto, ele chocou-se contra um iceberg que flutuava a 153km de Grand Banks, perto de New-foundland, e cinco compartimentosestanques foram arrebentados. Em trêshoras, o potente Titanic desaparece. Dos2.224 passageiros, 711 conseguiram alo-jar-se em barcos salva-vidas. Os outrosmorreram afogados dentro dele, naimpossibilidade de sair das cabinesreservadas à classe econômica, ou mor-reram de frio na água gelada.

NINGUÉM VIU O QUE IA ACONTECER?

O

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MANTENDO O EU ACIMA DA ÁGUA

A catástrofe do Titanic esclareceumuitas coisas e isto é sempre verdadei-ro para nossa sociedade atual: imprevi-dência, perda do senso de responsabili-dade, materiais defeituosos, luta paratomar um lugar à força em um barcosalva-vidas, corrupção. O que predomi-na é a luta para manter o eu fora daágua e ter um bom fôlego.

O Titanic representa muito bem suaépoca: loucos sonhos de grandezas, oreinado da riqueza, a condição deplorá-vel dos pobres (pois os emigrantes eramamontoados nos andares inferiores),estrita separação entre classes, posi-ções, status. Quem tinha dinheiro viviacom largueza para mostrar o mais quepodia todas as suas vantagens. O pobrenada tinha a perder e devia lutar parasubir a escala social. Hoje, encontramo-nos no mesmo ponto! A sociedade atualtambém dá a imagem de um luxo consi-derável ao lado de uma miséria de dardó.

O naufrágio do Titanic fez com quecertos conceitos se mexessem e as coi-sas começaram a andar de um modoum pouco diferente. Agora, cada navioprevê um lugar para cada passageiroem seus barcos salva-vidas, o rádio fun-ciona permanentemente, e as coorde-nadas dos icebergs são registradas etransmitidas em âmbito internacional.

As experiências da Segunda GuerraMundial abriram também a oportunida-de de deslocar certas barreiras em cer-tas regiões, principalmente na Europa.Naturalmente, o que ainda funcionavabem não mudou tão rapidamente. Masas transformações indispensáveis que

resultavam de movimentos sociais, deuma visão mais ampla do futuro, ou delutas encarniçadas acabaram. Estastransformações aconteceram no passa-do: hoje em dia já não são possíveis.

O homem moderno está no seu limi-te. Já não há distâncias. Tudo deveacontecer cada vez mais rapidamente.Pressão, tensão e super tensão! O res-tabelecimento da situação está voltadounicamente para a saúde “financeira” daempresa, da instituição ou do país. Atensão não pára de aumentar, e a comu-nicação entre indivíduos diminui à medi-da que as personalidades estão cadavez mais voltadas para seus própriosinteresses. Para perdermos nosso “eu”,podemos, talvez, mergulhar de cabeçana vida social. Ora, isto não trarianenhuma liberdade interior, mas trariacomo resultado uma espécie de escravi-dão.

Os países socialmente estruturados jáatingiram uma caricatura de igualdade, aponto de terem programas de partidospolíticos muito semelhantes. Mas, na prá-tica, a realidade é outra! E poderíamosdizer: “A distribuição é igual, os pobrestêm gelo no inverno, os ricos no verão”. Épróprio do homem somente preocupar-se consigo mesmo e esforçar-se paraenriquecer, quando pode. Cada umpensa, sente, trabalha dentro de sua pró-pria maneira de ver o mundo, e busca seproteger por todos os lados (somos obri-gados!) graças a novas técnicas e anovos dispositivos de segurança.

E se chegasse a hora da grande provafinal? Todas estas técnicas de sobrevi-vência tão sofisticadas poderiam impedira morte? Qual seria o resultado?

A história do Titanic nos fornece indi-cações e pontos de comparação. Este

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Narciso seapaixona porseu próprioreflexo namatéria (água-forte de Michelde Marolles,1655, Quadrosdo Templo dasMusas, Paris).

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navio era indestrutível: mas logo todosperceberam que sua construção nãoera verdadeiramente perfeita. Enquantoa catástrofe acontecia, o orgulho, aestupidez e o desejo de ter razão cons-tituíram muitos obstáculos para a fuga eisto durou até o momento em que todosperceberam claramente que o navio“inafundável” já estava afundando. Osque perceberam isto, tentaram fugir.Uns deixaram que seu destino os guias-se. Mas a maioria brigou por lugaresnos barcos salva-vidas, cujo númerohavia sido limitado para dar mais espa-ço para a ponte do deck. Havia apenas1.178 lugares disponíveis ... para ospassageiros da classe de luxo!

Os salva-vidas não estavam à alturade sua tarefa e abandonaram seu cargodiante do afluxo de vítimas. E, quando omajestoso navio desapareceu, enquan-to 1.500 náufragos esperavam a mortenas águas geladas, um só e único barcosalva-vidas (na versão cinematográfica)tentou procurá-los. Os outros, carrega-dos de homens meio paralizados de frio,flutuavam ao sabor das ondas e foramdescobertos um pouco mais tarde pelonavio a vapor Carpathia que havia cap-tado o sinal de alarme.

Este único barco salva-vidas é a maistrágica imagem do filme: um marinheiroescuta com atenção a resposta a seuschamados. Somente um homem seesforça para auxiliar seus semelhantesno sofrimento e na morte. Um sóhomem, enquanto que todos os outrosjá não sabem o que fazer e não queremarriscar suas vidas. Um só e único barcosalva-vidas no meio de 1.500 pessoasprestes a se afogar para salvar algumasvidas nesta desordem espantosa.

Como se apresenta nossa socieda-de? Ela é bem estruturada e provida detodas as comodidades, desde o neces-sário até o supérfluo. Mas, nesta socie-dade moderna endurecida surge tam-bém um fenômeno evidente: ninguémousa ajudar ninguém, porque todos

temem por sua própria pele. O homemou a mulher que se arrisca a isto geral-mente é advertido sem piedade. E quemestaria pronto a auxiliar seus semelhan-tes se, segundo as predições, “o barcoda humanidade” logo irá arrebentar-sesobre seu próprio iceberg, logo que des-cobrimos que ele não é indestrutível?

Há cerca de oitenta anos, algumashoras eram suficientes para aniquilar opróprio símbolo de todas as performan-ces técnicas da época; entretanto, hojeo homem está cada vez mais orgulhosode seus próprios méritos. Orgulho, pre-tensão, ostentação, voluptuosidade deexercer o poder constituem inúmerosobstáculos no caminho da vida superior.Apesar de estar aumentando o númerode pessoas que se opõem à idéia deque a humanidade é infalível, as autori-dades agem como se nada pudesseacontecer. Como no caso do Titanic, há“compartimentos estanques” que devemassegurar uma boa navegação. Comono caso do Titanic, não se saberia pre-ver nenhum desastre.

ESFORÇOS INÚTEIS PARA ELEVAR

A HUMANIDADE

Sempre houve seres humanos queadvertiram seus semelhantes sobre ascalamidades futuras que resultam desua temeridade e de suas concepçõeserrôneas. Muitos tentaram fazê-losmudar de idéia. Se os tempos não esta-vam maduros, eles falavam a surdos,tudo continuava como antes, e o apelodestes corajosos pioneiros, que sabiamo que aguardava a humanidade, perdia-se ao longe.

Agora que o fim do século XX seaproxima para as sociedades cristãs,está ficando cada vez mais evidente queo poder pelo poder desemboca nanegação crescente dos valores huma-nos e engendra manobras e manipula-

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ções que acabarão em um banho desangue, e não na elevação do homem.

Não estamos mesmo na terra paramassacrarmos uns aos outros? Paradominarmos uns aos outros com nossosaber e nosso poder? A educação e oesporte preparam as crianças para lutaruns contra os outros. O que começacom simples exames e concursosacaba na dura posição do EU no campode batalha da vida cotidiana. Estará aí onosso futuro? Ser o melhor de todos?Ou será que a felicidade está na uniãoprofunda de todas as almas humanas?

A NOVA ALMA ROMPE SEUS LAÇOS

Se a cultura da personalidade so-mente gera a luta, o objetivo está malescolhido. As grandes cabeças devotamsuas vidas à pesquisa de sistemas paraajudar a humanidade, cada vez mais.Quando a bomba atômica caiu sobreHiroshima, os adversários do Japãoexultaram porque esta destruição totaldevia fazer nascer a “paz”. Hoje, temosum pouco mais de circunspecção...

Um escolhe o eu impiedoso, geral-mente levado pelas circunstâncias;outro, o desenvolvimento de uma almasuperior. Um baseia-se na matéria, queé nosso terreno de experiências; ooutro, cansado da luta, volta-se para aeternidade, que, nos bastidores de todaesta agitação, espera como uma rochainabalável aquele que se elevará alémdeste “vale de lágrimas” que é nossaterra.

Em nossa época está surgindo umnovo aspecto: a oferenda consciente doeu ao princípio superior da alma. A almaé um princípio contestado. Há muitasespécies de alma: a alma material, avegetal, a animal. A alma que habita oser humano é de origem divina, mashoje ela está acorrentada ao mundo dasexperiências do homem-animal. Desde

sua origem divina, ela tornou-se latentee, para muitos, perfeitamente teórica.Para o filósofo, ela é impossível de serconhecida. Para qualquer outra pessoa,ela pode ser uma idéia digna de riso.Para aqueles que estão percebendocada vez mais que estão prisioneiros damatéria e que a vida cotidiana é o tristeobstáculo que impede que a luz de suaalma brilhe, o chamado da alma é umarealidade cada vez mais clara e mani-festa. Presentemente, a alma ainda estácravada na matéria, mas ela se debatecada vez mais violentamente para desli-gar-se dela. Ela faz sentir sua presença,pois seu tempo chegou, sua libertaçãoestá sendo anunciada e somente um euteimoso e irredutível pode ainda retar-dar esta evolução.

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A história da rainha de Sabá remon-

ta a cerca de mil anos antes de

Jesus Cristo. Ela inspirou muitos

artistas no decorrer dos séculos,

cujas obras estão ligadas a sua

época, como por exemplo o vitral da

igreja de São João de Gouda.

ma narrativa detalhada deste encon-tro aparece no Antigo Testamento, noLivro dos Reis e nas Crônicas. Aslendas associam a rainha de Sabá, o reiSalomão e Hiram Abiff, o mestre-con-strutor. Salomão era conhecido por suasabedoria e por sua justiça. No PrimeiroLivro dos Reis (4: 29 e 34), diz “E Deusdeu a Salomão sabedoria, e muitíssimo

entendimento, e largueza de coração,como areia que está na praia do mar.[...]E vinham de todos os povos a ouvir asabedoria de Salomão, e de todos osreis da terra que tinham ouvido da suasabedoria”.

Salomão tinha feito o projeto de con-struir um templo magnífico, e a rainhade Sabá veio a Jerusalem com umséquito numeroso para encontrá-lo e“veio prová-lo por enigmas. [...] ESalomão lhe declarou todas as suaspalavras: nenhuma coisa se escondeuao rei, que não lhe declarasse”.(Primeiro Livro dos Reis, 10:1-3).

Todos os acontecimentos que tratamdo encontro de Salomão, da rainha deSabá e de Hiram, o rei de Tiro, assimcomo o laço que foi estabelecido entre

“E EIS QUE ESTÁ AQUI QUEM É MAIS DO QUE SALOMÃO”

U

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estes três personagens têm um grandesignificado esotérico, tanto para odesenvolvimento espiritual individualquanto para o da humanidade em geral.O Evangelho de Mateus (12:42), sublin-ha esta importância com estas palavrasde Jesus: “A rainha do meio-dia se lev-antará no dia do juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confinsda terra para ouvir a sabedoria deSalomão. E eis que está aqui quem émais do que Salomão”.

Não precisamos deter-nos em dadoshistóricos, mas sim nesta última frase:“E eis que está aqui quem é mais doque Salomão”, que, sem dúvida, fazalusão ao trabalho cumprido por Hiram,o rei de Tiro. Certas fontes esotéricasaprofundam mais o significado deste

texto que a Bíblia (pois esta lenda foiacrescida a ela) porque a construção dorei Hiram é considerada aqui como umapedra importante de toda a obra espiri-tual empreendida em prol dahumanidade. Entre outras obras, Hiramhavia construído um “mar de bronze”.Segundo os especialistas, este “mar”era uma bacia de bronze com diâmetrode cerca de 5 metros, com uma alturade aproximadamente dois metros emeio. Seu peso, quando vazia era detrinta toneladas e podia conter cerca de40.000 litros de água. Apesar deinúmeras descrições desta bacia, nen-hum vestígio dela jamais foi encontrado.

Hiram tinha preparado cuidadosa-mente todas as misturas necessárias nafonte deste “mar”, mas seus três com-

Os cruzados trans-formaram a mesqui-ta que, segundo osjudeus, os muçul-manos e oscristãos, foi con-struída sobre oSanto dos Santosdo Templo deSalomão (Chronicle,Hartman Schedel,1493).

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HIRAM ABIFF, OMESTRE-CONSTRUTOR

No livro O Caminho Universal*, Janvan Rijckenborgh diz o seguinte sobreHiram Abiff e o Templo de Salomão:Não devemos pensar aqui em um per-sonagem histórico chamado Hirammas em um irmão construtor quesabia construir um templo. Hiram é osublime mestre-construtor que sabeexpressar o verbo criador. Ele é “ani-mador”, ou, segundo as palavras dePaulo, na Epístola aos Coríntios: “DeAlma vivente ele passou a ser Espíritovivificante”. Tal é Hiram, rei de Tyro ede Sidon. (...) Como Hiram alcançoueste estado de ser e como tornou-sedigno de auxiliar os outros na constru-ção de seus templos? Para com-preendermos isto, devemos fixar ummomento nossa atenção em uma dasnarrativas sagradas que tratam destepersonagem. Lemos que Hiram éacompanhado por três assassinosque o fazem passar por uma morte trí-plice. Aqui também está oculta amorte trípice segundo a natureza, aque o aluno deve sujeitar-se; a mesmamorte do eu de que fala a Rosacruzáurea, e a mesma morte pela endurados tão injustamente odiados Cátaros.

O primeiro assassino golpeiaHiram com uma régua de 24 polega-das. Às vezes se diz também que oprimeiro assassino estrangula Hiramcom uma corda de agrimensor devinte e quatro polegadas. Este símbo-lo nos indica que Hiram, o aluno, vaidesprender-se da natureza e libertar-se do aprisionamento do tempo... A

partir do momento em que o processochega a este ponto, chega o segundoassassino. Este dá um vigoroso golpeem Hiram com uma esquadria de ferroem forma de cruz. No centro destacruz, está plantada uma ponta agudaque lhe traspassa o coração. Quandoo sangue do coração é tocado, demaneira correta, o aluno, nestasegunda fase, ultrapassa todas aslimitações que até então mantinham-no ligado ao tempo. Na Segunda fase,ele adquire, em primeiro lugar, a liber-dade, antes de empreender a viagemde volta ao lar. A viagem de regressonão pode iniciar-se se o centro docoração não estiver perfurado e a rosaaberta no santuário do coração. Porconseguinte, a viagem de voltasomente termina quando a rosa flo-resce no santuário do coração.

Quando a rosa irradia sua glória nocoração do candidato, vem o terceiroassassino. Ele dá um golpe final emortal na cabeça, com um martelo emforma de círculo. O símbolo da terceirafase pode ser visto como o círculo daeternidade; o aluno participa da vidaoriginal. Hiram, o sublime, constrói otemplo e quer auxiliar os outros nestaconstrução, com um amor infinito.

Jan van Rijckenborgh, O Caminho Uni-versal, Rozekruis Pers, Haarlem, Holanda,edição revista, 1996.

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panheiros aindanão estavam com-pletamente prontos;trata-se, simbolica-mente, do coração,da cabeça e dasmãos. Por isso, noúltimo momento, eleteve oposição, trai-ção. A fonte não pô-de ser realizadaconforme o previs-to, pois a água e ofogo se encontra-ram em má propor-ção e a bacia ex-plodiu.

Uma das lendasconta que Hiramtinha recebido osmeios de vencertodos os obstácu-los, ou seja, um martelo e um triânguloem ouro puro. Ele escondeu o triângulode ouro em uma fonte, em local seguro,e divulgou que seus inúmeros filhoscontinuariam sua obra até o final.Também se diz que o triângulo de ourodevia ser guardado no santuário maisinterior, e ser mostrado somente a quemcompreendesse o sentido profundodesta lenda.

Mas qual é, portanto, o significadodesta narração para a humanidade emgeral e para o indivíduo, em particular?O que representam Salomão e a rainhade Sabá? Parece possível aprofundar-mos um pouco o segredo deles se fizer-mos a relação entre seus nomes e asfases de desenvolvimento da alma.Seus mantos púrpuras poderiam repre-sentar o estado da veste astral. A partirdeste ponto de vista, a rainha de Sabá

simbolizaria abusca e Salomão, acompreensão purada origem e dodestino da hu-manidade. O pro-fundo desejo daVerdade (Sabá) e apura compreensãoda Verdade (Sa-lomão) estão certa-mente ligados umao outro. Eles seencontram, e com-preendem pouco apouco sua missãomútua e evoluemum em direção aooutro. Nesta situ-ação, uma terceiraforça pode ligar-sea esta síntese do

puro desejo e da pura compreensão: aforça representada por Hiram, o rei deTiro, o mestre-construtor capaz de edi-ficar o templo do Novo Homem.

Nos períodos em que a humanidademergulha na matéria e tem muita dificul-dade para se direcionar para a vidasuperior, se tentar desligar-se damatéria, fica fraca e impotente. Então,muitos buscam um ponto de apoio emcoisas perecíveis e direcionam sua con-sciência unicamente para a vida materi-al, negligenciando, assim, a construçãodo templo interior do Espírito divino.Eles tentam dar forma a uma ética e aseus sonhos, construindo edifícios quelogo são levados pelo tempo. Estãosempre em conflito, assim como suasidéias, seus sentimentos e suas obras,que sofrem contínuos ataques; e, aomesmo tempo, sempre são impulsiona-

A rainha de Sabásurge diante deSalomão (vitralda igreja de SãoJoão em Gouda,Holanda, porWouter Crabeth,século XVI).

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dos a pensar novamente que a vidadeve ter um objetivo mais elevado.Então, aquele que está buscando acabareconhecendo que seus esforços noplano terrestre não o farão ir muito longee que não é o “templo do eu” que eledeve construir, mas o Templo doEspírito, que está fora do tempo e doespaço.

É assim que, no decorrer do proces-so de desenvolvimento da humanidade,chega um momento em que a almadeve dar o grande passo, que consisteem voltar as costas para as limitaçõesdo eu para devotar-se à construção doTemplo de Salomão. Trata-se de umprocesso de desenvolvimento anuncia-do há muito tempo pelos verdadeirosgnósticos, e realizado no século XX.Impulsionados por um grande sofrimen-to interior, os homens que aspiram auma consciência completamente nova(comparável àquela em que Salomãobebeu sua sabedoria legendária) foram-se agrupando, e para eles a construçãodo templo interior tornou-se a tarefamais importante de suas vidas.

A cada crise que a humanidade

atravessa, inúmeros são aqueles quechegam ao limite de sua consciênciaterrestre. É um estado indicado pelotermo “Galiléia” ,no Novo Testamento,ou seja, a região em que a consciênciacomeça a transformar-se. A rainha deSabá, que nas lendas expressa o dese-jo de renovação, torna-se, portanto, umpersonagem que podemos considerarcomo símbolo do buscador da Verdadeno plano espiritual. Neste sentido, é osímbolo da busca da Verdade, que estátomando um grande impulso neste finalde século XX.

Quais são as circunstâncias quefazem com que o eu afrouxe os laçosque prendem a alma original?+ Comoesta pode despertar de seu sono mortale preparar-se para receber a sabedoriasuperior?

A Bíblia descreve Sabá como sendoum reino próspero rodeado por umdeserto inacessível. Mil anos antes deCristo, Sabá era um importante cruza-mento de várias rotas comerciais quevinham da China, da índia, do Egito, daBabilônia, da Assíria e de Canaã. Suacapital, Marib, era uma das cidades

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O Templo deSalomão,segundo ogravadorMattheewMerian(Amsterdam,1675).

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mais ricas da Arábia antiga. Neste sen-tido, Sabá é o símbolo que fala de umlocal em que se encontram diversas cul-turas, e também onde se encontra umaescola importante.

Nestes tempos modernos tãofugazes, esta imagem pode ser muitoesclarecedora. Para muitos, a vida par-ticular é como um local perdido em umdeserto, onde se encontram abatidospelas preocupações, pela aridez espiri-tual e pelos esforços infrutíferos paraatingir o inacessível. Entretanto, algunsnão se deixam dominar pelo jugo davida cotidiana e se voltam para um obje-tivo superior, a fim de liberar dentro desi a alma real. Logo que se tornam con-scientes de sua situação, eles decidemencarar a vida de uma maneira total-mente nova e adotam uma nova atitude,desviando sua consciência das coisasexteriores, ao mesmo tempo em que seaprofundam cada vez mais na fonte davida interior. Neste processo, o papelmais importante é desempenhado pelodesejo crescente por uma outra vida,gerado por uma sabedoria superior.

Invadida por uma grande inquietudeinterior, a alma experimenta seu apri-sionamento no deserto da vida e poucoa pouco adquire a capacidade de sedesligar desta esfera de influênciaestéril, que é tão degradante para ela.Ela percebe a voz da vida original,reconhece seu chamado e “volta suaface” para ela. Seu desejo profundo adirige para o caminho do entendimentosuperior.

Todas as almas, quando chegam àmaturidade, são atraídas e elevadaspara a união com as almas irmãs,preparadas para este encontro. Quandoos buscadores da verdade se encon-

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TEMPLO CONSTRUÍDOCOM CARVALHO

A realeza clássica de que os mis-térios nos falam pereceu muito antesde nossa era e não tem, por conse-guinte, nenhum sentido discorrerainda mais sobre isto. Desejamosporém dirigir vossa atenção para ofato de que todo o verdadeiro sacer-dote e iniciado da antiguidade foi, nalinguagem dos mistérios, indicado ecomparado a uma árvore. Sabendodisto, podemos retornar imediata-mente a nosso ponto de partida eentender Hermes, quando ele diz queDeus é uno em essência com o can-didato nele despertado e que a estecandidato ele se dirige, entre outrascoisas, por intermédio de carvalhos: otermo velado que indicava os inicia-dos da Fraternidade Universal.

Com isto, entramos imediatamen-te em terreno bíblico, pois pensai tão-somente nos cedros do Líbano, oscedros com cuja madeira, segundo omito, o templo de Salomão deveriaser construído. Esse templo nunca foidestruído! Ele nunca existiu naJerusalém conhecida pela geografia,pois o templo de Salomão é um dosverdadeiros templos viventes docampo divino da vida, construído emantido por árvores viventes, pormeio dos homens-almas viventes emDeus.

A Arquinosis Egícia, Tomo IV, Jan vanRijckenborgh, p. 132, 1ª edição brasilei-ra, 1991, Lectorium Rosicrucianum, SãoPaulo, Brasil.

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tram desta forma, percebem que, mes-mo que seus caminhos tenham sidomuito diferentes nos detalhes, elesseguiram a mesma via principal. Noponto de encontro, eles podem reunir-seem grupo, o que reforça seu desejo fun-damental. Eles procuram ter umaimagem clara da criação da qual elesfazem parte, assim como todos os seusirmãos humanos. Suas almas, se elesforem realmente libertados, conhecerãoprofundamente a sabedoria que não édeste mundo. O Antigo Testamento fala,a este respeito, da sabedoria dos julga-mentos de Salomão.

O coração que já se tornou receptivo(Sabá) encontra a compreensão ilumi-nada da cabeça (Salomão) em cadabuscador da Verdade, e, a partir desteencontro, constrói-se um novo mundo.Cabeça e coração, prestes a realizar agrande obra, aprendem a colaborar har-

moniosamente para a construção dotemplo. Mas, a todo o momento,Salomão deve continuar consciente deque ele nada pode por suas própriasforças; o mesmo vale para o coração, arainha de Sabá. É preciso que eles man-tenham total humildade para poderservir a humanidade.

Portanto, é importante que o bus-cador da Verdade se aprofunde noaspecto espiritual de sua vida, e vá-seimportando cada vez menos com seusimpulsos dialéticos. Boa vontade e res-oluções sublimes não são suficientes: épreciso agir, libertar sua alma das cor-rentes do ego e orientar-se a partir daforça que age além dos podereshumanos. O rei Hiram simboliza estaforça: é o construtor que dá sua formaao templo do Espírito.

A ALIANÇA ENTRE HIRAM E SALOMÃO

É preciso que Salomão, o mestre deobras, aprenda que deve deixar que oexecutante Hiram trabalhe, incondi-cionalmente, a fim de obter um bomresultado, pois Hiram conhece o planoe as exigências da construção. Estacolaboração faz nascer uma relaçãoharmoniosa entre a natureza divinaoriginal e a natureza terrestre degrada-da, o que explica as palavras: “E eis queestá aqui quem é mais do queSalomão”.

Toda a alma buscadora acaba en-contrando a luz, desde que seja per-severante: é o bálsamo que lhe é ofer-tado quando ela segue o caminho delibertação. No final de sua procura, elarecebe o toque do Espírito. Sua aspi-ração pelo trabalho interior se desper-ta: é um desejo depurado e purificadoenquanto se faz a construção do tem-plo interior; é um desejo que se liberagraças à experiência dos limites dodesejo terrestre. De fato, é possívelultrapassar estes limites renunciando-se a tudo o que é inferior, assim como

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O faraó indicao lugar em quedeve ficar onovo templo,segundo osdados cósmi-cos (templo deEdfou, noEgito).

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a seu próprio ego.Quando os que buscam seriamente a

Verdade se encontram em um campopreparado para seu trabalho, eleschegam com suas naturezas dialéticas,e também com suas boas intenções esuas ambições, que geralmente aindasão totalmente egocêntricas. É atravésdestes obstáculos que é preciso liberaras forças e os valores presentes emprincípio. Se as influências viessem adominar, a construção do templo interiore o coroamento da obra iriam tornar-seimpossíveis: a fonte do mar de bronzenão poderia ser realizada. O ser aural,

que mantém o eu sob seu jugo, tenta,secretamente, de maneira profunda-mente refinada, imitar o rei Hiram, con-struindo um templo segundo suaspróprias idéias, fazendo, principalmente,entrar em jogo o ciúme, a inveja e aambição. Estes sentimentos são os quemais retardam o processo de libertação,pois os materiais fornecidos pelos pen-samentos, sentimentos e comportamen-tos do eu não podem ser utilizados paraconstruir o templo do Espírito. Todo ocandidato que se encontra no caminhoespiritual deve tomar consciênciadestes três traidores dos quais ninguém

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Salomão (961-922 a.C.), rei deIsrael, é mencionado na literaturajudia e islâmica como o maior sábioque já existiu. A ele são atribuídos,especialmente, o livro bíblico dosProvérbios, o Cântico dos Cânticos, oEclesiastes, Sabedoria, Salmos e asOdes, apesar de não terem sidoescritos na mesma época. Pesquisasrecentes mostraram que as Odesforam redigidas muitos séculos depoisda morte de Salomão e seriam de ins-piração gnóstica cristã. Também seacreditava que Salomão tinha podersobre os espíritos dos mundos invisí-veis. Com a ajuda de Hiram, ele cons-truiu em sete anos um templo comonunca se havia visto. A crônica etiópi-ca que trata de Salomão e de suadescendência, o Kebra Nagast (AGlória dos Reis), relata em detalhes avisita da rainha de Sabá a Salomão. ODr. E. A. Wallis Budge, no livro TheQueen of Sheba and her Only SonMenyelek (1922), diz: “O KebraNagast reúne uma série de lendastradicionais: algumas são históricas,outras puramente folclóricas. Elasvêm do Antigo Testamento, de escri-tos hebraicos mais tardios, de fontesegípcias (pagãs e cristãs), árabes eetiópicas. Sobre a origem, a composi-ção, o autor e os que arranjaram este

texto mais tarde, nada se sabe. Aforma mais antiga mostra, entretanto,uma certa semelhança com tradiçõessírias, palestinas, árabes e egípciasque remontam aos quatro primeirosséculos da era cristã... O primeirotexto em língua etíope data do séculoVI”.

A Bíblia mostra Hiram, rei de Tiro,como o mestre-construtor do Templode Salomão, que ele decorou magni-ficamente, segundo o Livro dos Reis,capítulo 8. Hiram surge nas lendasesotéricas como Hiram Abiff, o cons-trutor do templo místico em que seencontra o mar de bronze, ou mar devidro.

A rainha de Sabá, ou Seba, reinouna época de Salomão em uma regiãoque corresponde ao atual Iemen. Atécerca de 115 a.C. este foi um dosmais poderosos estados do Sul daArábia.

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está livre, pois, quando não pode tornar-se o mestre, o eu escuta com bomgrado os bons conselhos que são o ecode seus críticos secretos.

Hiram possui o Espírito de Deus: eleserve à esfera divina, e portanto é inat-acável. Ele moldou o mar de bronzedentro de si mesmo e por isso podedirigir interiormente o grupo que aspiraao mesmo objetivo; mas, na fasepreparatória, as forças naturais domi-nantes podem arruinar, aniquilar aatividade do princípio superior. Então,a palavra do mestre se retira e a con-strução do templo se perde. Somentequando a antiga natureza mortal seapagar inteiramente é que o entendi-mento superior pode tomar seu lugarpara garantir a construção do templo.As narrativas que dizem respeito aPrometeu, Hércules, Mitra, Osíris emuitos outros mencionam os obstácu-los enviados pela antiga natureza.Estes “traidores” tentam desviar aforça renovadora para oferecê-la à an-tiga natureza, anulando, assim, a ativi-dade do Espírito divino. Entretanto, aluz triunfa! Assim é o mistério do “SolInvictus”, o sol espiritual invencível,que cada um deve seguir um dia esobre o qual deve dar testemunho.

É dito que o mistério da terra traiu afusão harmoniosa da água Viva da almae do Fogo puro do Espírito. Sob ainfluência de três companheiros indig-nos, a alma fica turva e não pode rece-ber de maneira correta o Espírito puro, oFogo puro. A fonte do mar de bronze fra-cassa por falta de bons materiais, osmateriais vivos.

O MAR DE BRONZE SIMBOLIZA TAMBÉM

PONTO MAIS ALTO DA PIRÂMIDE

Da fusão espiritual da água pura e doFogo puro se forma o campo devibrações superior, o campo sagrado, apedra do ponto mais alto da pirâmide.Todas as comunidades espirituais queaspiram a este objetivo elevado devemrealizar, na hora certa, um campo devibrações perfeitamente puro de talmodo que as forças do campo de vidaoriginal possam aí se derramar semobstáculos. É por isso que um campo devibrações como este será sempre prote-gido por trabalhadores vigilantes, deacordo com as leis simples do triângulode ouro de Hiram, o Trigonum Igneum,onde todos os elementos estão em per-feito equilíbrio, o que significa:

1. um aprofundamento cada vez maiordo plano pela pura compreensão rece-bida;

2. o devotamento a este plano, em amor,pela auto-rendição;

3. a execução do plano, baseada em umcomportamento puro, segundo a leiinterior.

No ser que aspira à renovação, o con-hecimento, o amor e o comportamentosão, portanto, os componentes do triân-gulo equilátero.

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Constatamos que nosso domínio de

vida é temporal, pois estamos aqui

somente de passagem. Por isso, o

homem deve aprender que sua

vocação é trilhar o caminho rumo à

vida superior, em direção à vida do

reino imutável. Eis por que o homem

deve libertar-se de seu cativeiro.

fim de tornar possível nosso ingres-so no reino imutável, Cristo penetranosso domínio de vida. Ele permite quea lei superior brilhe diante de nossa con-sciência a fim de que possamos rece-ber, nessa luz, as diretrizes necessáriasà orientação. Portanto, Cristo explorapara nós, primeiramente, um caminho.

Em seguida, a humanidade, inciden-talmente aprisionada nesta ordem denatureza, deve ser demolida segundo anatureza. Ela deve vigiar, sofrer e lutarconstantemente, durante esse processode demolição, não segundo a naturezasuperior, mas em concordância com alei inferior à qual pertence.

Esta lei deve também ser cumprida,dinamizada e acelerada, pois é a únicapossibilidade de libertação futura. Estaé a verdade do trabalho de libertação. Ohomem não é retirado desta natureza,pois isto é impossível. Ele é conduzidoatravés desta natureza, através da real-ização da lei da natureza. Assim, ele seprepara para entrar na terceira fase delibertação: a verdadeira nova vida.

Na primeira fase, Cristo é o homemdivino, que desce no charco daperdição, o ser radiante sem pecadoque da esfera serena do reino imutávelvem para nos revelar o caminho, paraestabelecê-lo e confimá-lo por meio de

seu sacrifício de sangue.Na segunda fase, Cristo é o realista,

que, de acordo com a lei, persegue ahumanidade através do lodaçal de suaspaixões e com isto a purifica e torna-amadura para assimilar a substância div-ina da vida.

E na terceira fase, Cristo é o caminhoe, por isso, a própria vida.

A livre-maçonaria mística dosrosacruzes está perfeitamente sin-tonizada com este realismo trifásico. Porisso encontramos a mística Rosacruzno caminho! Por isso encontramos aRosacruz áurea realista no processo daverdade, segundo a lei. Por isso, tam-bém, encontramos os hierofantes daRosacruz na senda da verdadeira vida.

Em conclusão, compreendei estamensagem como sendo a diretriz cen-tral na vida de um servidor da Rosacruz:amar a humanidade não é protegê-lacontra a lei da natureza, mas é umaprova de amor libertador, impeli-laatravés da natureza, porque é mediantea natureza que encontramos o Espírito!”

* Texto extraído do livro O Caminho Universal,de Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri,páginas 88-90, 1ª edição brasileira, 1984,Lectorium Rosicrucianum, São Paulo, Brasil.

ENCONTRO COM O ESPÍRITO DIVINO ATRAVÉS

DA NATUREZA*

A

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“Gostaria de renunciar a este mundo

e abrir totalmente meu coração, a

fim de descobrir se existe um outro

mundo que possui uma verdade

mais elevada”

s linhas acima foram tiradas de umcanto flamenco tradicional daAndaluzia, região do Sul da Espanha.Seu conteúdo sempre atual não é tãosurpreendente se pensarmos que geral-mente os ciganos não tinham a vidafácil.

O mesmo acontece com o resto dahumanidade, nos tempos modernos tãoelogiados, enquanto uma onda de sofri-mentos e confusão se derrama em pro-fusão sobre ela. Inúmeros são aquelesque buscam desesperadamente umaresposta para todas as perguntas sobrea criação, o Criador e o lugar do homemna criação.

Em debates no rádio e na televisão,no decorrer de entrevistas e reporta-gens, na imprensa, nos congressoscientíficos e filosóficos, sempre sãoabordadas as mesmas questões, mas écomo se ninguém quisesse ouvir ouaceitar a resposta!

Indo ao encontro deste turbilhão ator-doante de interpretações e opiniões,gostaríamos de apresentar algumaspalavras de duas personalidades excep-cionais do século XX: o poeta indianoRabindranath Tagore (1861-1841) e seupai, Devendranath Tagore, consideradosanto na índia.

Um cético perguntou a DevendranathTagore:

“Sempre falas de Deus, mas tens pro-vas de sua existência?”

Devendranath apontou para uma luz:“Sabes o que é isto?”“‘É uma luz”, respondeu o cético.“Como sabes que é uma luz?”, per-

guntou Devendranath.“Eu a vejo”, respondeu o homem,

“portanto, não há necessidade deprova.”

“Então”, respondeu o sábio, “omesmo se dá com a existência de Deus.Eu o vejo em mim, e fora de mim, eu ovejo dentro e através de cada coisa.Portanto, não há necessidade de prova.”

E continuou: “Enquanto a abelha seencontra no exterior das pétalas do lírioe não experimentou ainda a doçura deseu suco, ela plana em volta da flor eemite um zumbido. Mas, logo que elapenetra em seu interior, ela bebe silen-ciosamente o néctar. Quando alguémainda estiver discutindo e especulandosobre uma doutrina e os dogmas religio-sos, é por que ainda não experimentouo néctar da verdadeira fé.

Por isso, faz silêncio e compreende-rás! Onde o Espírito Eterno vem comsua Luz, nossa lâmpada terrestre já nãoé necessária. Pobres homens quecrêem que as miseráveis lâmpadas dointelecto humano dão mais luz que odoce cintilar das estrelas divinas!

PRIMAZIA DO AUTOCONHECIMENTO

“Conhece tua alma: põe para traba-lhar dentro de ti o grande princípio daunidade que está em cada pessoa. Seaprendermos a conhecer nossa verda-deira alma, aprenderemos a conhecer aparte verdadeira de nosso ser, que tem

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“FICA EM SILÊNCIO E COMPREENDERÁS”

A

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uma estreita afinidade com o Universo.Quem quiser adquirir o conhecimentode Deus e do mundo deve, antes detudo, aprender a conhecer a si mesmo.

Deus se oferece a nós em seu Amorinconcebível. Portanto, que tua alma fla-meje como um fogo diante dele; que elacorra como um riacho até ele; deixa-tepenetrar por sua essência como as flo-res se deixam penetrar pelo perfume.

Que o obreiro no Universo faça res-soar a corda de sua energia universal,como o vento da primavera sopra jubilo-so como a tempestade. Que ela ressoesobre os vastos campos da vida huma-na trazendo consigo o perfume das flo-res; que ela umideça nossas almas res-secadas, a fim de que nosso amor ter-restre acabe desejando lutar para seelevar totalmente até o Amor universal”.

A nostalgia do coração que seexpressa no canto flamenco dos ciga-nos espanhóis se encontra, idêntica, emum dos poemas de RabindranathTagore:

“Meu coração aspira dia e noiteA Ti e ao encontroQue será como a morteQue tudo consuma.Varre-me como a tempestade,Toma tudo o que tenho,Penetra meu sonoDesordena meus sonhos...Priva-me de meu mundo.E neste deserto,Nesta nudez absolutaDo Espírito, que eu me una a tua mag-nificência.Ah, que vaidade, um voto como este!Onde reside esta esperança de uniãoSenão em ti, ó meu Deus?”

Não há, nas palavras destes doisautênticos buscadores de Deus, nenhu-ma erudição inútil, nenhum alarde deinformação supérflua. Elas dão testemu-nho de um coração ardente, de umaalma sedenta e de uma intensa aspira-ção de realizar uma vida pura.

Quem esvaziou até a última gota ataça do sofrimento, quem já está fartodo mundo e de sua confusão desespe-rada pode libertar-se deste turbilhão desabedoria fingida e de aparente erudi-ção. Uma voz dá testemunho, em seuforo íntimo:

Quero abandonar este mundo (e por-tanto a mim mesmo). Quero abrir meucoração totalmente, a fim de descobrirse existe um outro mundo, o mundo daVerdade vivente!

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O flamenco é uma espécie de

canto e dança ciganos. Originário

da índia, esta arte popular viu-se

misturada, no decorrer dos sécu-

los, com influências mouriscas,

andaluzas e, principalmente,

européias. Somente no século

XIX o flamenco foi reconhecido

em diversos lugares.

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Alma-Espírito: quando a alma original édespertada e começa a crescer, elapode atingir o ponto em que viverá emtotal harmonia com o Espírito divino.Esta ligação faz dela uma alma-espírito;e o Espírito divino se manifesta atravésdesta alma imortal.

Arqueus: éter nervoso, fluido nervoso ouforça astral que é atraída para dentro dosistema vital humano por meio da glân-dula pineal, em perfeita conformidadecom sua natureza.

Astral: a esfera astral da terra é a regiãoonde tomam forma os pensamentos eos sentimentos. O desenvolvimento sec-ular destas “imagens” fez nascer umapoluição astral que, por interação entreeste domínio e a esfera material cainovamente sobre a terra. No homem,estas influências astrais se fazem sentirfortemente no sangue, na consciência,no sistema nervoso automático e men-tal.

Aura: o campo de irradiação queenvolve o ser humano e onde seinscrevem seus pensamentos, seussentimentos e suas ações.

Céu: um céu é um campo de atraçãoque se forma ao redor de uma criação.A esfera terrestre vive graças a um céucomo este. Os três mistérios do qual falaa Escola Espiritual trata dos três céusou campos que envolvem a nova terra.

Corpo mental: é o quarto corpo dohomem, onde deve desenvolver-se omental. Geralmente, este corpo mentalestá começando a se desenvolver, a seestruturar; e o homem “pensa” combi-

nando as idéias esteriotipadas que lheinculcaram. O pensamento gnósticoautêntico somente pode crescer se oantigo poder mental, purificado, já não édirigido pela natureza dialética.

Dialética (natureza): o mundo dos opos-tos que se geram mutuamente. Trata-seda unidade que explodiu e de onde sur-giram dois pólos. Entre estes dois pólos(bem e mal, luz e trevas) os sereshumanos oscilam até encontrar o cam-inho da unidade.

Dualismo: dois princípios opostos um aooutro, mas que emanam um do outro.Por exemplo: o corpo e o espírito, a con-sciência e o ser, a matéria e a forma. Doponto de vista gnóstico, muitasoposições dualistas não são pólosopostos.

Endura: conceito de origem cátara quetrata do processo resumido por estaspalavras: “É necessário que ele cresça eque eu diminua” (João, 3: 30). Esteprocesso deve reduzir ao mínimo aesfera de influência do eu a fim de quea Alma possa ser liberada, comoalicerce do Novo Homem imortal. Aendura é, portanto, um comportamentoque permite romper conscientementecom tudo o que, por outro lado, reforçao eu em circunstâncias comuns. O cam-inho da endura é o caminho dasupressão do eu.

Inferno: não é a região onde se encon-tra o homem “mau” depois de suamorte, mas sim a região que ahumanidade criou para si mesma eonde sua vida se desenrola. Este infer-no se encontra tanto nas regiões

O QUE OS ROSA-CRUZES ENTENDEM POR...

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visíveis quanto invisíveis da terra.

Eternidade: este termo é freqüente-mente associado à imortalidade. Nestesentido, ele se refere a este estado emque já não há opostos e onde o espaçoe o tempo já não desempenham seupapel. Assim, a eternidade é ilimitada eatemporal.

átomo-Centelha-do-Espírito: princípiocentral fundamental do microcosmoonde está inteiramente inscrito o planodivino. A centelha do Espírito é consid-erada o último vestígio do homem espir-itual original. A purificação e o restab-elecimento do microcosmo podem rea-cender esta centelha a fim de que ela semanifeste em seguida como princípiocentral do homem original.

Hermetismo: filosofia que veio dos ensi-namentos da antiga Sabedoria egípciade Hermes Trismegisto. A origem dafilosofia hermética ainda não foi deter-minada.

Natureza original: região que ahumanidade abandonou para seguirseu próprio caminho. Por ocasião desta“queda”, ela desceu na matéria e mer-gulhou na região do espaço e do tempo.O ser humano guarda a lembrança danatureza original no princípio central deseu ser, e é isto que o impulsiona a bus-car o caminho de volta.

Natureza da morte: região das ilusões,dos opostos, do nascimento, do cresci-mento e da morte. A esta região per-tence também o local onde ficam osmortos, o além. É no interior danatureza da morte que o homem viven-

cia suas experiências, que vão forman-do pouco a pouco sua consciência.Quando esta consciência atinge seuslimites, uma outra vivificação entra emjogo. Vista sob a luz da realidade gnós-tica superior, a “vida” na natureza damorte não passa de uma caricatura devida (ver Natureza original).

Santuário da cabeça: originalmente, eraa sede do Espírito divino. O mentalvoltado para o eu fez com que o Espíritose tornasse inativo. Quando os san-tuários do coração e da cabeça purifica-dos agem em harmonia, então se abreo caminho de transfiguração.

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Há dois campos de vida. Em um

deles mora o homem em seu esta-

do decaído; em outro, expressam-

se a perfeição e a essência divina

da vida eterna. Estes dois campos

coexistem no tempo e no espaço,

aqui e agora. Mas o eu não pode

ultrapassar o limite que os separa: o

acesso ao campo da eternidade é

reservado à alma imortal, que deve

nascer no homem que sofre e que

deve alimentar a fonte da luz eterna.

uando perguntaram a Jesus se eleera realmente o Cristo, ele respondeu:“Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As

obras que eu faço em nome de meu Pai,estas testificam de mim. Mas vós nãocredes porque não sois das minhasovelhas, como já vo-lo tenho dito. Asminhas ovelhas ouvem a minha voz, eeu conheço-as , e elas me seguem; eeu dou-lhes a vida eterna, e nunca hãode perecer, e ninguém as arrebatará daminha mão. Meu Pai, que mas deu, émaior do que todos; e ninguém podearrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e oPai somos um”. (João, 10: 25-30).

No texto do Evangelho de João, aVontade toda-poderosa do Pai é mani-festada pelo Filho, Cristo, que é a Luzonipresente, a Sabedoria divina e oEspírito Santo. Quem reconhece asobras desta Luz reconhece as obras doPai. Quem obedece a Vontade toda-

SOFRIMENTO DA CONSCIÊNCIA FRAGMENTADA

e acabou-se

etem o céu, oosmi Historia,

Q

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poderosa e caminha no Amor e na Luzé um aluno da Luz. Em seu coraçãopurificado, ele ouve então a voz deCristo que tenta recuperá-lo como aovelha desgarrada, rumo à unidade detudo o que é. “O Pai e eu somos um.”

ROMPIMENTO ENTRE A CONSCIÊNCIA E A

UNIDADE UNIVERSAL

A consciência fragmentada nãoconhece a unidade de Cristo e do Pai,nem Cristo como Sol espiritual, nemCristo dentro de seu próprio coração. Épor isso que a consciência fragmentadabusca uma prova e pergunta a Jesus seele é realmente o Cristo. Mas a respos-ta dele não a satisfaz.

Quem chega aos limites da consciên-cia fragmentada e vivencia a luz da novaconsciência sabe que ultrapassou oslimites antigos e pode entrar em um pro-cesso de desenvolvimento totalmentenovo. Muito se escreveu e se filosofousobre este assunto. No entanto, o tempodas descrições e especulações estáconsumado. As condições de vida sobrea terra mudam rapidamente. A densifi-cação da matéria atingiu um limite ecoloca a humanidade diante da necessi-dade de uma consciência inteiramentenova. A luz crística deve nascer nohomem e rasgar as nuvens do egocen-trismo. O princípio fundamental nohomem, Cristo, deve-se unir ao Espírito.O eu (a alma imortal), e o Pai (Espíritooriginal) devem novamente tornar-seum. Então o Espírito irá comunicar-secom a alma que se tornou receptiva, oEspírito divino irá manifestar-se pormeio da alma imortal e o ser humanoentrará no processo de transfiguração eo conduzirá ao bom fim.

Quando a alma e o Espírito se fun-dem em unidade e a pessoa começa adar testemunho disto, ela é atacada poraqueles que não têm nem vontade nemcapacidade para libertar a alma mortal,e portanto não podem reconhecer o

Espírito. Para eles, este novo estado devida interior não passa de uma teoriaque não pode ser demonstrada. Então,eles pegam as pedras da vida terrestrepara tentar aniquilar a luz. Pode-se con-siderar a pedra como símbolo de umadensificação e de um extremo endureci-mento interior. Quem quiser captar a luzcom seu eu duro como pedra, sentiráque caminha diante de grotescos confli-tos. Durante a Segunda Guerra Mundial,alguns prisioneiros de um campo deconcentração se reuniram para acusar aDeus pela miséria em que se encontra-vam. No final do processo contra seuCriador, eles o declaram culpado;depois, eles começaram a rezar parafazer com que Deus se arrependesse!...

É claro que isto é absurdo! Mas tam-bém é sinal de que o homem não perce-be que na verdade ele está denuncian-do sua própria criação e suplicando a simesmo para tudo mesmo.

Como está preso à ilusão a esteponto, ele projeta sua ignorância emseu próprio firmamento microcósmico.Seus pensamentos formam nuvens queacabam obscurecendo sua consciênciaaté se encontrar na obscuridade totalpara a escolha que ele deve fazer: ouescapar rumo à luz, ou mergulhar emsuas ilusões. Se ele não encontrar asaída, a dualidade, a desarmonia seráimpulsionada dentro dele até o paroxis-mo, sua consciência irá fracionando-secada vez mais, e, como um animal feri-do, ele começará a resistir àquele queo quer salvar. Em sua escuridão, seumedo e sua angústia, ele se opõe aosalvador. No entanto, o animal feridopercebe que seu salvador é digno deconfiança e se rende, enquanto que ohomem ferido em seu coração entra emluta e arma seu intelecto, argumentandopara se conservar a todo o custo talcomo ele é. Então ele pega as pedraspara apedrejar a luz.

DUALISMO E CONSCIÊNCIA FRAGMENTADA

Rei AmenotepIV, conhecidocomoAkhenaton.Escultura emuma coluna doTemplo deAton, emKarnak(Museu doCairo).

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O dualismo aproxima-se da filosofiaprópria do budismo, da antiga religiãoegípcia, dos ensinamentos deZaratustra e Mani, das filosofias dePitágoras e Platão, da filosofia neopla-tônica, de Basílio e Valentino, ambosmembros da escola de Alexandria. Estadoutrina é tão antiga quanto a consciên-cia fragmentada e explica a realidadeda vida por meio de dois elementoscontrários. Do lado oposto encontra-seo monismo: Deus e a criação são ape-nas um. Em si, o dualismo e o monismosão dois sistemas contrários.

Fraternidades como a dosPaulicianos, Priscilianos, Cátaros eBogomilos baseavam suas crenças nopensamento dualista. Para eles, exis-tiam dois campos de vida: a ordem divi-na perfeita e o reino do mundo ondevive o homem decaído. A Escola daRosacruz áurea, centrada em Cristo,fala de uma “ordem de socorro” paraindicar que a região na qual o homemdecaído vive é apenas temporária. Nomomento em que sua queda se trans-forma em elevação espiritual, a ordemde socorro vai sendo destruída pouco apouco.

Há muitas discussões entre dualistase monistas, mas a Verdade não precisaser discutida: ela está bem viva, apesardas opiniões e especulações dos teólo-gos. Ela é como a branca flor de lótusque se eleva da lama para, assim, ima-culada, mostrar sua glória.

Muitos partidários do dualismo res-tringiam sua doutrina aos pólos opostosque existem no interior da vida humana.Na Doutrina Universal, o dualismo e omonismo coexistem. O dualismo é,então, considerado como sendo dialéti-co: bem e mal, luz e trevas, vida emorte; ou então dá a imagem das duasordens de natureza: o reino da luz e odas trevas. Estes dois reinos não semisturam, como, por exemplo, o bem eo mal dialéticos.

SÍMBOLOS DOS CONFLITOS INTERIORES

Palavras e conceitos como “Maia”(ilusão), Arhiman (poderes das trevasno antigo sistema persa), Seth (deusegípcio da noite e do mal), Satã (pólooposto do divino) são a tradução do fun-cionamento interior da consciência frag-mentada. Para quem vive no mundo deMaia, é impossível alcançar o Nirvana;para quem se entrega a Arhiman, éimpossível receber a Luz; para quem seinclina diante das forças de Satã, éimpossível encontrar o Cristo dentro desi mesmo; para quem se deixa arrastarpelas ondas do oceano dialético, éimpossível encontrar o ponto de toquedo divino dentro de seu próprio coração.

FILOSOFIA: PONTE TEMPORÁRIA RUMO À

VERDADE

Muitos filósofos e fraternidades queensinavam o dualismo como prepara-ção do caminho interior que conduz aoReino divino falavam aos alunos maisadiantados sobre a unidade de toda acriação. É por isso que não podemosdizer que um destes dois sistemas(dualismo ou monismo) esteja errado.Eles podem constituir uma ponte para aalma que busca seu Criador. Nomomento em que a alma aprende afazer a distinção entre um deus criadopor ela mesma e o Criador do universo,ela encontra a Verdade que está emtoda a parte e é sempre a mesma.

Uma filosofia digna deste nome devesomente servir para estabelecer conta-to entre o divino e a alma vivente. Apartir deste contato, desta ligação coma luz, a alma vivente prossegue seucaminho e recebe a Verdade que estádestinada a ela a fim de obter uma novaconsciência restabelecida e santificada.

O ser humano faz parte da ordem desocorro que se manifesta em cada umde nós, seja sob a forma da harmoniaperfeita da natureza, seja sob a formade um grande conflito entre a naturezaterrestre e a alma originalmente divina.

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Separação e fragmentação são pró-prios do homem e, para reencontrar aunidade, ele deve ultrapassar as oposi-ções e alçar-se até a Verdade.

Muitos dos grandes iniciados pronun-ciaram um “Sermão da Montanha”, afim de dar diretrizes que permitissem àalma atingir o ponto mais alto ou reen-contrar-se com o Espírito. Eles faziamisto de acordo com o conhecimentointerior que tinham da unidade de suasalmas com a Fonte original de vida.

Falar sobre uma “montanha” significafalar com consciência de viver as pala-vras: “o Pai e eu somos um”. Esta cons-ciência não tem nenhuma relação coma consciência fragmentada: ela senteque por toda a parte, no mundo doscontrários, o alento do Tudo-em-Umestá presente. Aqui e agora.

A doutrina do filósofo grego Heráclito(cerca de 500 anos antes de Cristo) nãonasceu de especulações sem fim, masde uma experiência interior, o que pro-vocou incompreensão e por isso ele foiqualificado de “obscuro”. Heráclito via aunidade na multiplicidade da criação.Para ele, a dualidade não existia: tudoera uno em sua consciência. O mundodo devir era, para ele, apenas uma apa-rência enganosa, um véu que encobriaa Verdade e a Realidade da Vida eter-na.

Segundo ele, o homem se encontraem um riacho. Quem se agarra às mar-gens não vai para a frente, mas quemse deixa levar pela correnteza eterna daVida renovadora jamais segue em fren-te no mesmo riacho. Para Deus, o velhonão existe, pois o que é velho pertenceao passado e o passado pertence aotempo. Tudo passa, nada fica. “Pantarhei”.

NA FRENTE DE SEU TEMPO

A vida da forma passa. A correnteinterior da vida real nasce da Fonte sem

fonte, da Causa sem causa, da Luz queemana das trevas. Nada fica (o nadaque é aquilo que não é). A realidade ésempre diferente daquilo que imagina-mos: ela não depende de pensamentosnem de opiniões humanas. Heráclitoaprofundava-se no mistério da forma edo tempo que, para ele, eram dados fic-tícios e relativos, ilusão. Com esta com-preensão, ele antecipava Einstein.

Por detrás da vida da forma temporá-ria corre a unidade da Vida original,fonte única, perpétua, luminosa, quenão pára de afluir e de preencher. Tudoem todos. A unidade se manifesta namultiplicidade. A consciência desviadavê apenas a multiplicidade. Heráclito viaque a energia original incomensurávelpenetra e alimenta tudo em todos. Estaenergia divina domina toda a criação:ela é o centro dela, mesmo sem ter umcentro próprio, e harmoniza em simesma todas as oposições. A Gnosisnão conhece a dualidade. O que semanifesta no grande está presente noque é pequeno. “O que está embaixo é

Rei AmenotepIV, conhecidocomoAkhenaton.Escultura emuma coluna doTemplo deAton, emKarnak(Museu doCairo).

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como o que está em cima”, diz o axiomahermético. “Deus é dia e noite, inverno everão, guerra e paz, saciedade e fome”,diz Heráclito.

Este filósofo grego introduziu o termo“dialética” no pensamento ocidental.Este termo foi utilizado por Hegel,Spencer, Nietzsche, Darwin, Marx emuitos outros. Mas, o que Heráclitoensinava nem sempre era aceito. Comoos gnósticos, ele não se limitava às res-trições e limitações do dualismo. Quema elas se limita cai inevitavelmente noabismo de suas próprias contradições.É sem dúvida, por isso que o filósofo“obscuro” dizia: “Por mais longe que vosaprofundeis e por qualquer caminhoque sigais, não encontrareis o limite daalma de tanto que este limite é profun-do”.

Se estudarmos a filosofia dualistacomo uma doutrina, negligenciaremos ocoração. Ora, este poderoso centro con-tém a chave que permite neutralizartodas as contradições! Se quisermosconhecer nosso ser mais profundo,Deus em nós, é preciso parar de pensar“com a cabeça” para pensar “com ocoração”. Quando a luz entra no cora-ção, todos os problemas vão-se resol-vendo aos poucos. Não se trata de umnovo método para ter sucesso, elabora-do por um filósofo especializado, nemde uma nova doutrina, mas do novopensamento que emana da nova cons-ciência, pois a religião do coração,“inflamada pelo Espírito divino”, abre aprisão na qual estão aprisionadas asalmas humanas. E é assim que ela nosinterpela de uma maneira tão particular,nestes tempos modernos e anárquicos,em que muitos percebem que a soluçãopara seus sofrimentos se encontra nocentro divino oculto no fundo delesmesmos.Alquimia (gnóstica): processode transformação espiritual que preparaa alma para um desenvolvimento supe-rior.

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Fizeram esta pergunta aos alunos

de um colégio: “Será que alguém

pode ser feliz se não tiver oportuni-

dade?” A expressão dos rostos

marca espanto, incredulidade.

Finalmente, uma jovem responde:

“Tudo depende da visão de vida que

esta pessoa tem. Se ela possui

alguma coisa mais importante a

seus olhos do que uma simples feli-

cidade comum, ela pode ser feliz,

apesar de tudo”.

ue força é esta que dá a um ser aliberdade de se elevar para além dainfelicidade exterior ou interior e devivenciá-la como felicidade? O poeta efilósofo alemão Schiller (1759-1805) dizem seu tratado Sobre o Sublime que o

sentimento de estar acima de algo trazuma mistura de alegria e de tristeza. Apartir da “combinação destes dois senti-mentos contraditórios”, ele deduz que ohomem é dotado de duas naturezasopostas. Quando uma pessoa consegueelevar-se acima de uma determinadasituação, seu espírito, na maior parte dotempo, se bem menos dm suas percep-ções sensoriais. Segundo Schiller, asleis da natureza não prendem forçosa-mente o homem, pois ele possui dentrode si mesmo um princípio autônomo,independente das experiências dossentidos. Ele chega à conclusão de queo homem está submetido como umescravo à violência dos sentimentos.

Quem se desprende da influênciados sentidos experimenta um estado deelevação infinita, enquanto que, gover-nado por eles, ele ficaria profundamen-te abatido nas mesmas circunstâncias.

O astrólogomede e calcu-la as influên-cias quedeterminam avida (GiulioCampagnola,1569, NewYork PublicLibrary).

SOBRE A FELICIDADE

Q

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Através de influências sempre cambian-tes do mundo exterior e de reações dasensibilidade, é possível descobrir quecarregamos em nós um princípio espiri-tual e que assim se abre o caminho daliberdade interior. E esta compreensãoconduz à descoberta da verdadeira feli-cidade. Em princípio, esta verdadeirafelicidade está presente em cada um enenhum golpe de sorte pode suprimi-la.Esta fonte de felicidade, o núcleo daalma imortal, deve ser despertada paraa vida e pode dirigir o eu daquele que aexperimenta conscientemente, de talmodo que assim dispõe de um instru-mento capaz de neutralizar os efeitos dodestino.

O TERRENO EM QUE CRESCEM AS DECEP-ÇÕES

De fato, ele vê agora a origem daspreocupações, das misérias e os laçosque o acorrentaram tão dolorosamente,e ele pode reconduzi-los a seu justovalor, sem preconceitos nem emotivida-de. Ele vê, então, a insignificância delesao lado do grande objetivo que ele visa.Ele descobre também que muitas vezesfoi o artesão de sua própria personalida-de, mesmo quando se considerava víti-ma. Logo que este fato for reconhecido,ele se libertará da idéia obsessiva deque “é sempre culpa dos outros”.

JÁ NÃO RAZÃO DE SER DA ASTROLOGIA

Graças a esta percepção, quembusca obtém uma visão clara e objetivado estado de sua vida. Vê as forçasopostas da vida, suas ações recíprocas,e agora percebe como agir positivamen-te, ou seja, de modo autolibertador, pararasgar esta teia de aranha. Já não teránecessidade de pedir à astrologia quelhe forneça argumentos pró ou contra,pois ele percebe que a vida lhe traz tudo

de que tem necessidade para seguir emseu caminho espiritual. Iria parecer-lheabsurdo ir buscar uma outra coisa emoutro lugar. Depois de ter chegado aeste ponto em sua vida, somente teráque dizer adeus, com reconhecimento egrande humildade a todas estas expe-riências que até então foram mestrasseveras.

Quando a pessoa pode olhar sua vidaa partir deste ponto de vista, ela se dáconta de toda a energia que empregoupara conservar sua infelicidade. Se elativesse servido para ultrapassá-la real-mente, a pessoa teria conseguido apro-ximar-se mais rapidamente do objetivoespiritual. No momento em que o busca-dor for liberado do sofrimento, ele podeentregar-se a uma atividade inteligentee criadora proveniente da região da Vidaoriginal. Ele se põe a serviço das idéiase das forças que vão contribuir para odesenvolvimento espiritual do mundo eda humanidade. Então, a felicidade setorna sua propriedade.

Oh, como eusonhava comcoisas impos-síveis!(William Blake,1757-1827),BritishMuseum,Londres).

RETIFICAÇãO

Pentagrama 1-1998, p. 26, Sutton:

O Centro de Sutton fica a 100 km deMontreal, perto da fronteira de Vermont,e não perto do Lago Ontário.

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