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Módulo 8 Sobre todas as coisas...

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Módulo 8

Sobre todas as coisas...

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Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA

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Rede Nacional de Formação e Desenvolvimento da EducaçãoCentro de Pesquisa e Desenvolvimento da EducaçãoÁrea: Gestão e AvaliaçãoPrograma de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica (PRoGED)

Coordenador GeralRobert Evan Verhine

Coordenador ExecutivoPaulo Cezar Vilaça de Queiroz

Coordenadora da Ação 01Ana Maria de Carvalho Luz

Coordenadora da Ação 02Patrícia Rosa da Silva

Série Formação Vol. 3Módulo 8: Sobre todas as coisas...

Elaboração do módulo:Ana Maria de Carvalho LuzTércio Rios

organizadores:Ana Maria de Carvalho LuzPatrícia Rosa da SilvaFernanda Alamino do Amaral

Diagramação e projeto gráfico:Fernanda Alamino do Amaral

Foto da capa:Tobias Leeger

Presidente da República do BrasilLuís Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino FundamentalJeanete Beauchamp

Coordenadora Geral de Políticas de FormaçãoRoberta de Oliveira

Universidade Federal da BahiaReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

Vice-ReitorFrancisco José Gomes Mesquita

Pró-Reitor de ExtensãoEugênio de Ávila Lins

Pró-Reitora de Planejamento e AdministraçãoNádia Andrade de Moura Ribeiro

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoAntônio Alberto da Silva Lopes

Pró-Reitor de GraduaçãoMaerbal Bittencourt Marinho

Pró-Reitora de Desenvolvimento de PessoasJoselita Nunes Macedo

Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público (ISP)DiretorAntonio Virgílio Bittencourt Bastos

Gestão de Unidades Escolares. -[recurso eletrônico] / ISP /PROGED / UFBA. Programa eletrônico. Salvador : ISP, 2008. 1 CD ROM: il ; 43/4 pol. + encarte: il;1 folha solta dobrada; 42 x 30 cm . (Série Formação; n. 2). Sistema requerido: Windows 98, 2000, XP ou Vista; Adobe Reader 6.0 ou versões compatíveis, com atualização gratuita no próprio CD. E-books. Série Formação; n. 3, foi baseada na Série Seminários Organização: Ana Maria de Carvalho Luz, Patrícia Rosa da Silva e Fernanda Alamino do Amaral. Tamanho do CDs: 5,71Mb

Conteúdo: 1 CD com E-books: 1. E-book 1 - A qualidade social da educação escolar 2. E-book 2 - Organização e gestão da escola: planejamento e avaliação 3. E-book 3 - A construção do projeto político-pedagógico da escola 4. E-book 4 - A avaliação da aprendizagem na escola 5. E-book 5- Gestão de pessoas e do ambiente físico da escola. 6. E-book 6 - Autonomia financeira das escolas. 7. E-book 7 - Convivência na escola: o papel do gestor. 8. E-book 8 - Sobre todas as coisas... I. Título. CDD: 371.3

Este módulo faz parte da publicação:

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Caro Cursista

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Dizem os filósofos, que não há um ponto conclusivo. Há sempre reticência! Podemos dizer o mundo após a reticência: (êta que mun-do...). Podemos silenciar sentimentos; insinuar “coisas”; e acender a curiosidade e a imaginação. Ah! Esses três pontinhos... Gosto de reti-cência... Verdade seja dita, é bom demais colocar ... e deixar que cada um pense o que quiser. Porém, podemos colocar um ponto sem que isso signifique o fim. Afinal como diz Leminski:

as coisasnão começamcom um contonem acabamcom um •

Então, vamos ler alguns contos, retomando alguns pontos ao sabor da reticência. Ou seja, vamos refazer nossa caminhada a partir das reflexões que aqui foram feitas sobre as principais questões que envol-vem a política e a gestão da educação na atualidade. E entre contos e pontos... veremos onde isso vai dar.

Imbolar vou imbolar,Eu quero ver rebola bola.Você diz que dá na bola,

Na bola você não dá.(Zeca Baleiro).

Segundo o dicionário, Embolada é um processo musical e poético, que ocorre nas estrofes de cocos e desafios, caracterizado por textos declamados rapidamente sobre notas repetidas. Aqui eu vou embolar um pouco! Um pouquinho só. Mas não se preocupem, não vou fazer repente, nem tampouco fazer coco. Vou imbolar no sentido de improvisar, fazer o bolo, misturar, emaranhar, confundir, enredar. Pôr ...

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Sumário

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Sobre Patativa do Assaré, Fernando Pessoa, Paulo Freire e o nosso papel como educador...• Adiamento / 6 /

Sobre educação para todos e todos pela educação...

Sobre a escola para todos e a qualidade da educação...

Sobre autonomia escolar...

Sobre gestão democrática e participação da comunidade...

Sobre o ambiente educativo da escola...

Sobre a dinâmica curricular e a prática pedagógica...

Sobre as formas de utilização do tempo na escola...

Sobre a avaliação da aprendizagem e da escola...

Sobre a formação e as condições de trabalho dos trabalhadores em educação...

Sobre o sucesso escolar dos alunos...

Sobre o reconhecimento público da escola...

Sobre o apoio externo à escola...

Sobre os caminhos...

Sobre os caminhos de cada um e do coletivo...

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Sobre Patativa do Assaré,

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A embolada faz parte da literatura e do cancioneiro popular, que se mantêm vivos através dos folhetos de cordel e dos cantadores, re-pentistas e violeiros do Nordeste. Um dos poetas populares de maior reconhecimento público – em âmbito nacional e internacional – foi Antonio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assa-ré, nascido em 05 de março de 1909 em Assaré no Estado do Ceará e falecido em julho de 2002.

Patativa do Assaré consagrou-se por ter cantado o sertão de forma essencialmente nostálgica e lírica, mas, consciente das possibilidades de mudança e do impacto que a sua voz podia ter. Uma das maiores preocupações expressas por esse poeta, era de um futuro melhor para as gerações vindouras. Ele acreditava que esse objetivo só poderia ser alcançado com uma educação melhor, vendo no livro o seu auxiliar indispensável. Como um dos grandes representantes da tradição oral, Patativa expressou o seu desejo de continuar sua ação por meio da tradição escrita, ao dedicar ao seu afilhado Cainã o seguinte verso:

É por meio da leituraQue poderá a criaturaNa vida desenvolver,O livro é companheiro Mais fiel e verdadeiro Que nos ajuda a vencer.

Patativa do Assaré denunciava a pobreza e a miséria do povo nor-destino, opunha os bens materiais à riqueza interior e reclamava uma educação com qualidade como fator essencial ao desenvolvimento humano, e o livro – a leitura – como seu auxiliar indispensável. O poeta popular disse da sua forma e jeito o mesmo que hoje está posto no cenário educacional. A educação é condição para incluir o cida-dão na sociedade contemporânea, a escola é o lócus privilegiado para a construção de novos valores e de uma nova cultura, carecer dela é ficar excluído da participação social, é ficar sem a “chave” que permite o exercício efetivo e real de uma cidadania democrática.

É disso que estamos tratando quando nos propomos a analisar e refletir sobre o nosso contexto de trabalho, as nossas práticas e ações

Fernando Pessoa, Paulo Freire e o nosso papel como educador...

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políticas individuais e coletivas, as nossas concepções e a nossa par-ticipação na construção de um novo projeto de sociedade. Esse é o ponto de onde deveremos partir para entender e implementar uma política e gestão que assegure à escola, as condições necessárias ao acesso e permanência de indivíduos e coletividades e sua inclusão social, política, econômica e cultural.

Continuando na embolada,Aviso de antemão,Não quero mente fechada,Nem tampouco o coração.E nessa prosa tão boa,Donde a poesia emana,Não pode faltar Fernando Pessoa Pra falar da natureza humana.

AdiamentoDepois de amanhã, sim, só depois de amanhã...Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,E assim será possível; mas hoje não...Não, hoje nada, hoje não posso. (...)Hoje quero preparar-me, Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...Ele é que é decisivo.Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...Amanhã é o dia dos planos.Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo:Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... (...)Depois de amanhã serei outro, A minha vida triunfar-se-á,Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e práticoSerão convocadas por um edital...Mas por um edital de amanhã... (...)Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nun-

ca ser. (...)O porvir...Sim, o porvir...

Bem, como diz o próprio Pessoa: o poeta é um fingidor! Por isso, não dá para acreditar nessa “coisa” de adiamento. Tem coisas que dá para adiar: a dieta que você prometeu ao espelho; a velha promessa de deixar de fumar (que não deveria); aquela arrumação radical nas gavetas, papéis, etc.; uma visita aos parentes distantes... Mas tem coi-

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sas, que não dá para adiar. Não dá mesmo! Não dá nem para pensar em adiar.

Mas, voltemos aos versos,Que têm mais graça e belezura,Vamos procurar outros pontosQue colocamos nessa costura.Pode falar tontura, besteiraOu até mesmo aberração.

Nesse buchichu,Não se separa O racional da emoção.Digam lá colegasDe “cabeça” e “coração”.É possível nessa lida,Adiar ou dar por esquecida,Alguma coisa em educação?

Não pode existir adiamento para algo que acreditamos alavancar o mundo. Não dá para adiar nossos projetos e desejos em educação. A construção de uma visão utópica, que dê sentido e significado à vida e à educação, não pode ser adiada. Não dá para convocar nosso papel, compromisso e responsabilidades de educador somente num edital de amanhã. Em educação, não se pode achar que amanhã ou o dia se-guinte será decisivo, será o dia dos planos ou será o dia de conquistar o mundo. Na educação, tudo que precisa ser feito deve ser feito hoje e agora. Ai sim, o dia seguinte poderá ser decisivo.

E você seu moçoTem que ser ladino, Tomar tento e prestar muita atenção! Pois as posturas da genteMuda os rumos da educação.

E eu aviso logo de cara,Não largo mão sem ter paga.Aqui todo mundo se emenda,Se não se pronunciarTerá que pagar uma prenda.Solta o verbo meu povo,Analisando a sua prática,Digam-me o que vocês têm feito

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Por uma gestão democrática?Esse troço não é fácil,Mexe com a cabeça e o coraçãoE se a gente não lutar juntoPode haver decepção.Por isso peço por obséquio,E façam o favor de não esquecer,Não passem o desafio adiante,Não deixe essa luta esmorecer.E pra que isso não aconteçaÉ importante entender:

A prática político-pedagógica dos educadores progres-sistas ocorre numa sociedade desafiada pela globalização da economia, pela fome, pela pobreza, pela tradiciona-lidade, pela modernidade e até pós-modernidade, pelo autoritarismo, pela democracia, pela violência, pela im-punidade pelo cinismo, pela apatia, pela desesperança, mas também pela esperança.

E quem vos fala sobre isso É um Grande Educador,Que traz toda sabedoriaDe um cabra pensador. Perdoem se ofendo,Com esse jeito de lhe anunciar.Mas o próprio Freire me liberta,E me permite brincar:

Paulinho sem Pau é linho,Paulinho sem linho é Pau.

Tiraram o Pau de Paulinho,Paulinho ficou sem Pau.

Retomemos nossa conversa,Que não foi pedida, foi imposta.Mas nem sempre nessa vida,A gente faz o que gosta.Vamos ver o desafio,Que está em nossa sina,Esse dá até arrepio É coisa de “gente que ensina”:

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O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua pró-pria capacidade para a transformar. (...) Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas e contornos não discirna; (...) Isto é verdade se se refere às forças da natureza (...) isto tam-bém é assim nas forças sociais (...). A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer. (Paulo Freire, 1977).

O desafio tá posto!E carece de uma reflexão.Indicamos com muito gosto,Pra cumprir tal missão,

Aquele que tiver disposto A responder essa provocação.Peço desculpas a vocês Por abusar com essa rima,Mas é bom experimentar Aquilo que desafina.Mas há que se ter todo um zelo,Com tudo que está sendo dito.Senão causa desmantelo,E o discurso fica esquisito.

Sei que ninguém mais me suporta,Nem querem mais me ouvir falar.Mas tem muito o que dizer,E muito pra se escutar.Pra ajudar nessa missão,Falemos com o mestre Freire,Que com gosto e satisfação,Inteligência e requinteFaz uma reflexão necessária,Na afirmação seguinte:

Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as con-dições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam.

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Já que essa fala convida,Não sou de correr de briga,Se eu entro é para apartar,Não gosto de fazer intrigaMas gosto de atiçar.Vamos logo à questão,Pra continuar nossa lidaNão temos talvez, solução.Mas temos alternativa?

Como profissionais de educação, sobre nós repousam grandes responsabilidades, num quadro de problemas desafiadores da nossa compreensão. Assim, além de compromisso e disposição para operar às profundas transformações exigidas pela educação no nosso tempo, é preciso aprofundarmos nossos conhecimentos para que tenhamos uma visão mais ampla do nosso campo de trabalho. A compreensão do contexto educacional brasileiro, numa perspectiva global e local, a partir dos fatores que influenciam e determinam a sua política e ges-tão, é de suma relevância para que possamos exercer com autonomia e consciência o nosso papel na sociedade.

A compreensão do nosso campo de trabalho tem implicações di-retas nas ações que empreendemos. Se de fato a educação desem-penha um papel relevante para desenvolvimento com igualdade so-cial, conforme proclamado pelas políticas educacionais vigentes, nós educadores temos que ter clareza dos motivos e das justificativas que sustentam tal argumento. Para isso, é necessário refletirmos sobre a política e gestão da educação na atualidade e os desafios, perspectivas e implicações para os sistemas de ensino e para a escola no geral, e para cada um de nós em particular. Não esqueçam que os obstáculos não se eternizam. E, se eles surgem é também porque muitos outros foram superados. E isso se dá graças a ação humana, ao papel que cada um de nós desempenhamos na nossa tarefa histórica de mudar o mundo.

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Sobre educação para todos e

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todos pela educação...De novo vou abusarCom minha rima embolada.Mas uso para não dispersar Essa longa caminhada.Sei que essa toada é difícil Tem muita pedra no caminho,Mas ninguém vai tropeçar Se andar devagarzinho.

Os compromissos assumidos pelo Brasil nos acordos internacio-nais é o que fundamenta as políticas públicas que se configuram no cenário educacional. E aqui vale lembrar, que as políticas públicas que nos referimos, são de responsabilidade do Estado quanto à im-plementação e manutenção. É um processo que se define a partir da tomada de decisões e de ações, que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. Daí, a importância de construirmos uma visão mais ampliada das questões que determinam o contexto educacional bra-sileiro e, consequentemente, as nossas ações coletivas e individuais enquanto educadores e educadoras.

Os acordos mediados pela intervenção de organismos como a UNESCO, UNICEF, PNUD, Banco Mundial e outros organismos e agências deram origem à inúmeras Declarações Internacionais que reclamam essencialmente a igualdade de direitos, a liberdade e a digni-dade. Uma das principais declarações, da qual o Brasil é signatário, é a Declaração Mundial de Educação para Todos, aprovada em conferência realizada em Jomtien (1990). A ênfase dessa Declaração, ao contrário dos documentos que a precederam, não reside somente nos princípios de acesso e igualdade de direitos, mas na qualidade da educação.

A Declaração de Jomtien define a educação como instituição social cuja finalidade é satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de todos. Isso significa que os sistemas de ensino e a escola devem ter como horizonte que tais necessidades implicam em assegurar os instrumentos essenciais para a aprendizagem (leitura, escrita, cálcu-lo, solução de problemas) e seus conteúdos básicos (conhecimentos, habilidades, valores e atitudes) necessários à vida. Para isso, é preciso

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uma política e gestão da educação, com base no compromisso, na vontade política e na mobilização correspondente de recursos (PRA-DIME, 2006).

É verdade que avançamos muito no que diz respeito a essa com-preensão, mas, muito mais no plano do discurso do que da ação. Não se observou desde a aprovação dessa Declaração, resultados muito concretos dos esforços até então empreendidos. Na prática, os in-dicadores de qualidade da educação apontam para um desempenho muito abaixo do nível desejado.

Roda mundo, roda giganteRoda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante...(Chico Buarque)

E 10 anos depois... o Marco de Ação de Dacar, Senegal estabeleceu

um conjunto de metas de Educação para Todos a serem alcançadas até 2015, após a avaliação e retomada dos compromissos firmados em Jomtien.

Não vou fazer arrodeio Pois temos que adiantarAinda estamos no meioDe onde devemos chegar.Assim vou logo diretoNo que diz esse Documento,É só ficar bem esperto E seguir o pensamento.

• Expandir e melhorar o cuidado da criança pequena, especial-mente das mais vulneráveis e em maior desvantagem.

• Assegurar que todas as crianças, em particular as meninas e as crianças que vivem em circunstâncias difíceis e de minorias étnicas, completem a educação primária gratuita, de boa qualidade.

• Assegurar que as necessidades de aprendizagem de todos os jo-vens e adultos sejam atendidas pelo acesso eqüitativo à aprendizagem apropriada e às habilidades para a vida.

• Alcançar uma melhoria de 50% nos níveis de alfabetização de adultos, especialmente para as mulheres, e acesso eqüitativo à Educa-ção Básica e continuada para todos os adultos.

• Eliminar disparidades de gênero na educação primária e secun-dária até 2005 e alcançar a igualdade de gênero na educação até 2015, com enfoque na garantia ao acesso e ao desempenho pleno e eqüita-tivo de meninas na Educação Básica de boa qualidade.

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• Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e assegurar excelência para todos, de tal modo que todos alcancem resultados mensuráveis de aprendizagem, sobretudo na alfabetização, na aquisi-ção de conhecimentos matemáticos e habilidades essenciais à vida.

Os desafios são postos,Chega a dar calafrio.Mas aqui eu apostoTodo mundo tem brio. Ter coragem é bom,Mas não dá conta do recado.Pra conquistar tudo isso Tem que trabalhar um bocado.

Para vencer os desafios propostos pelo Marco de Ação de Dacar, é preciso investir significativamente na educação; promover políticas de educação para todos, ligadas à eliminação da pobreza e às estratégias de desenvolvimento; e envolver a sociedade civil na formulação, im-plementação e acompanhamento das estratégias de desenvolvimento. Essas são as premissas que aparecem no ordenamento político-jurí-dico da educação brasileira, que se materializa nos dispositivos de caráter normativo e/ou orientador, cuja maior expressão é a LDB n.º 9.394/96 e a Lei n.º 10.172/01.

Os compromissos que esses instrumentos buscam cumprir, repre-senta uma tarefa não só dos sistemas de ensino e da escola, como também de cada um de nós. Verdade seja dita:

Essa é uma tarefa herculana,Tem peso, porte e medida.E a soma dos nossos esforços Parece ser a saída.Agora respire um poucoE pense com precisão.O que é Educação para TodosE Todos pela Educação?Se topar essa empreitada,Comece pela definiçãoDo que vem a ser qualidade,E também participação.

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Sobre a escola para todos e a qualidade da educação...

Essa embolada tem cheiro,Brilho, cor e sabor.Mas tem verdade que dói Incomoda que é um horror.A escola para todos, Que sempre se desejou,Tá distante da realidadeQue a nossa política traçou.E essa tal qualidade?Onde anda, onde pousou?Porque no “chão” da escola,Ela ainda não passou. Mas ela não chega pronta,Embrulhada pra presente.Nasce do esforço coletivoE de uma política decente.Sei que o que foi dito não basta,Para entender esse jogoPor isso vou botar lenhaPara acender esse fogo.

Em função das demandas que hoje são colocados para a educação, o grande desafio é a redefinição da função social da escola, transfor-mando suas práticas, sua relação com a cultura, com a cidadania, com a democracia, revendo também, seus limites e possibilidades no enfrentamento das questões que lhes são postas na atualidade. Para tanto, é preciso que a escola busque uma nova forma de organização e gestão que contemple suas necessidades e as necessidades do grupo ao qual ela serve.

O trabalho que a escola desenvolve hoje deve ter como referência valores fundamentais para aprendizagem e a convivência na cultura global, por isso, deve se fundamentar no respeito à diversidade, to-lerância, necessidade de reconhecimento, aceitação e pertencimen-to, solidariedade, participação e cooperação, autonomia e liberdade. Com base nesses valores a escola deve buscar desenvolver nos sujeitos competências como: pensamento crítico e criativo, clareza na expres-são de idéias, domínio da linguagem oral e escrita, etc. de forma a

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lhes permitir lidar com as contradições sociais, políticas, econômicas e culturais como cidadãos ativos e responsáveis. Nesse sentido, é pre-ciso resignificar a prática educativa na condução dos processos e fe-nômenos que se constituem e se desenvolvem dentro da escola e que concorrem para uma aprendizagem efetiva e significativa.

Compete às equipes gestoras, seja no âmbito do sistema de ensino ou da escola, no desenvolvimento do seu trabalho ter como foco a aprendizagem do aluno. Essas, devem ter como horizonte das suas ações a qualidade social da educação.Mas afinal, quais são os fatores que podem assegurar a qualidade da educação oferecida nas escolas públicas? O que vem a ser uma escola de qualidade? Boa pergunta. Alguém sabe responder?

Eu já tava conformado,De só aparecer no final.Mas já que foi provocadoResolvi dá um sinal.Isso já foi dito é redito,Será que ninguém aprendeu?Nisso eu não acredito,Mas acho que alguém esqueceu.Para traçar o perfil de uma escola para todos, uma escola de qua-

lidade, de uma escola ideal no nosso tempo e no nosso espaço, pre-cisamos fazer um exercício de análise de características e fatores que constituem indicadores de qualidade da escola, a partir do que es-tudiosos dessa questão têm levantado. Esses indicadores podem ser tomados como referência para a caracterização do grande desafio de coordenação de esforços em busca de uma educação de qualidade. E também podem servir para uma comparação entre a escola que jul-gamos ideal e aquela em que estamos atuando, no sentido de traçar metas de aproximação sucessiva desse patamar.

Esse tal de indicadorÉ bicho brabo do mato,Ou é coisa de doutor?O que é isso minino?Explica mais por favor.A instituição escolar, desde sua infra-estrutura à sua cultura or-

ganizacional, se apóia em um conjunto de fatores que são essenciais ao cumprimento da sua função social. Tais fatores, de caráter intra-escolar e extra-escolar, são indicativos do tipo de resposta educativa que a escola pode oferecer. A presença ou a falta de determinados as-pectos influenciam positiva ou negativamente na dinâmica da escola e, consequentemente, na aprendizagem do aluno.

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Não vou seguir adianteFalando pelos cotovelos. Vou chamar outra pessoa Pra desenrolar o novelo.

Usualmente chamados de indicadores de qualidade da escola, esses aspectos podem-se constituir na base para a construção de critérios orientadores do trabalho da Se-cretaria de Educação, bem como em referenciais para o acompanhamento e a avaliação da qualidade da escola. Se, por um lado, esses indicadores trazem referências tes-tadas e discutidas pela literatura nacional e internacional, por outro, eles não podem ser utilizados como padrões homogeneizadores e, mesmo, empobrecedores da própria dinâmica escolar. Eles devem-se constituir apenas em re-ferências que se vão expressar das formas as mais diversas, a partir do contexto de cada município, de cada escola, das suas condições específicas e dos diferentes momentos do seu trabalho (PORTELA e ATTA, 1997, p. 180).

Os indicadores de qualidade a que nos referimos, são para a equipe gestora, tanto de sistemas de ensinos como de unidades escolares, ob-jeto de seu trabalho. A organização, o planejamento, a avaliação, o fi-nanciamento da educação, enfim, a política e gestão educacional, têm tais indicadores como norte referencial das suas ações. E ai, alguém já se lembrou quais os indicadores utilizados com maior freqüência para avaliar a qualidade da escola?

Não devia fazer isso,Dá tudo assim mastigado.Devia era pôr reticênciaE dá o assunto por encerrado.Mas como vocês demonstraramInteresse e satisfação.Vamos retomar esse conto,Pra pôr um ponto nesta lição.

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Sobre autonomia escolar...

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A autonomia da escola, se olhada do ponto de vista das secretarias de educação, não se caracteriza apenas pela transferência de responsa-bilidades, de recursos financeiros, ou pela possibilidade de eleição de diretores... Se a escola está vinculada a um sistema público de educa-ção, municipal ou estadual, ela tem o dever de, no seu âmbito, tornar concretas as políticas públicas definidas para o país, o estado, o mu-nicípio, considerando as normas e a legislação em vigor. Para tanto, em primeiro lugar, lhe deve ser assegurada a autonomia pedagógica, que se materializa na prerrogativa de cada escola elaborar seu próprio projeto político-pedagógico, seus planos de trabalho, considerando, de um lado, as diretrizes nacionais e locais e, de outro lado, as carac-terísticas particulares do contexto em que está situada,

A autonomia da escola deve ser exercida nos quatro campos da gestão: pedagógico, de pessoal, de recursos materiais e de recursos financeiros (art. 15 da LDB). É essencial para que seja assegurada a qualidade social da educação, que a escola tome decisões de nature-za pedagógica a serem assumidas pelo coletivo da escola, tais como a definição de parâmetros de avaliação, a escolha do livro didático, a elaboração e execução de projetos específicos, as medidas a serem tomadas para reduzir índices de repetência, etc. Cabe à escola, por-tanto, definir, utilizando o seu espaço de autonomia, os elementos que contribuam para a qualidade do ensino e, consequentemente, o sucesso escolar de seus alunos.

Sobre gestão democrática e

>>>participação da comunidade...

Acreditamos que, no quadro atual, para que a escola atinja patama-res superiores de qualidade, é preciso construir um comprometimen-to coletivo nessa direção, e isso só se consegue através da participação responsável na gestão da escola, dentro de um clima democrático. Isso implica promover o compartilhamento de responsabilidades, a busca compartilhada de soluções para os problemas. a gestão escolar

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democrática, com vistas à excelência dos processos pedagógicos que conduzem à aprendizagem, constitui a referência fundamental nos processos que se desenvolvem no contexto das escolas públicas. Trata-se do desafio de construir parâmetros a partir dos quais se consiga gradualmente atingir o ideal de uma escola pública que assegure aos alunos a formação comum indispensável para o exercício da cidada-nia, uma escola articulada com a cultura, a cidadania e a democracia.

Como um dos traços da gestão democrática, a participação da comunidade na escola representa um elemento básico de controle e acompanhamento de sua função social. No caso dos pais ou da fa-mília do aluno, é fundamental o reconhecimento da importância da educação da criança, o que cria um ambiente que encoraja a apren-dizagem, fazendo com que o aluno se saia melhor na escola. Fica evi-denciado, também, que a construção de uma visão positiva a respeito da educação depende, em grande parte, da participação que os pais ou responsáveis têm na vida escolar dos seus filhos.

Sobre o ambiente educativo

>>>da escola...

Esse indicador corresponde a dois desafios: a gestão do ambiente físico e a constituição de um ambiente favorável à convivência, ou seja, o clima de trabalho existente na escola.

O primeiro é representado pela disponibilidade e qualidade dos espaços ou equipamentos e o seu uso pedagógico adequado. Um de-safio para os gestores escolares é a utilização dos recursos disponíveis para a criação e manutenção de um espaço escolar com características que favoreçam a aprendizagem e a interação da comunidade intra e extra-escolar. Esse espaço não é só definido por um bom projeto arquitetônico, mas pelo uso pedagógico que dele é feito. Um espaço limpo, organizado, bonito e atraente é um elemento educativo de grande força, que estimula a sensibilidade artística e criativa do aluno. Um cuidado especial deve ser dispensado à criação e manutenção das salas de leitura ou bibliotecas, mas a sala de aula deve merecer atenção especial, por ser o lugar em que os alunos permanecem mais tempo.

O segundo constitui o desafio de criar um clima de trabalho pro-pício à satisfação das expectativas da comunidade escolar e caracte-rizado como participativo grupal, em que as relações são permeadas

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de amizade, solidariedade, respeito à diversidade, reconhecimento e valorização das diferenças, combate à discriminação, clareza quanto a direitos e deveres, além de bom humor, alegria e motivação.

Sobre a dinâmica curricular

>>>

e a prática pedagógica...

Quanto mais a escola se preocupa com o quê ensinar e o como en-sinar, maior a probabilidade de ela se tornar eficaz. Daí ser o currículo um dos elementos centrais da escola, um indicador de sua eficiência e eficácia. Constitui, então, um desafio para as equipes gestoras enca-minhar o trabalho da escola para uma vivência curricular que envolva a todos e que amplie as possibilidades de os alunos desenvolverem, no espaço da escola, as competências necessárias à integração na vida contemporânea e ao exercício da cidadania.

Assim, integra esse desafio a criação das condições para que a prática pedagógica dos professores corresponda a uma ação cuidadosamente planejada para o sucesso da aprendizagem dos alunos, e não para sim-plesmente aprová-los ou reprová-los. É preciso desenvolver, na escola, processos de construção coletiva e compartilhada de uma proposta pedagógica permanentemente atualizada, de um planejamento cuida-doso das aulas ou atividades, definindo-se as melhores estratégias e os melhores recursos de ensino-aprendizagem a serem utilizados.

Sentiram saudade dos versos,Ou não fiz falta nenhuma?Não sejam comigo perversos,Deus tá sendo testemunha.Só entrei para lembrar,Que até aqui foi calmaria,Depois vem a tempestadeMas não precisa agonia.

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Sobre as formas de utilização

>>>

do tempo na escola...

Inicialmente é preciso entender que esse tempo não se refere ape-nas ao número de horas que alunos e professores passam na escola, mas à maneira como esse tempo é utilizado, ou melhor, a qualidade desse tempo. Por isso, deve-se atentar para a forma como o tempo escolar está organizado; os aspectos que são privilegiados dentro desse tempo; a diversidade dos conteúdos trabalhados dentro desse tempo; a oportunidade de uso efetivo do tempo disponível com atividades significativas para os alunos.

Por isso, o desafio para a escola é propiciar aos alunos um tempo rico em oportunidades de trocas, de interações que envolvem não apenas o conteúdo escolar, mas aprendizagens de convivência social.

Sobre a avaliação da

>>>aprendizagem e da escola...

O tipo de acompanhamento que a escola faz do desempenho dos seus alunos indica a sua eficácia, a qualidade do seu trabalho.Para fazer bem esse acompanhamento, a escola deve ter clareza do que significa “bom desempenho”, ou seja, ter parâmetros de avaliação definidos, a partir dos quais possa estabelecer o processo de avanço ou não dos seus alunos e identificar as formas de superação das dificuldades que eles estão encontrando.

Uma escola eficaz evita o fracasso de seus alunos pelo acompanha-mento contínuo e pela identificação imediata das dificuldades que merecem uma atenção especial. Assim, o processo de recuperação pa-ralela faz parte do cotidiano da escola e não ocorre apenas ao final das unidades ou do período letivo.

Mas a avaliação diz respeito também à atuação da própria escola como um todo, de seu currículo, de seus profissionais, de suas instala-ções, de seus processos de gestão, de suas relações com a comunidade. Assim, todos as atividades desenvolvidas na escola devem ser objeto

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de avaliação contínua por parte de todos os envolvidos, no sentido não de indicar “culpados”, mas de descobrir formas de superação dos problemas detectados.

Sobre a formação e as

>>>

condições de trabalho dos

A ressignificação do papel da escola passa por uma nova compre-ensão do trabalho pedagógico, antes responsabilidade exclusiva do professor, que passa a ser tarefa de todos os que constituem a co-munidade escolar, trabalhadores docentes e não docentes: gestores, secretários, coordenadores pedagógicos, bibliotecários, professores, porteiros, merendeiras, etc. E a existência de profissionais qualifica-dos é condição essencial para o sucesso da escola.

Cabe, portanto, à equipe gestora, no âmbito do sistema de ensino e da escola, as iniciativas de estimular a formação inicial e continuada em serviço desses profissionais, através de cursos de ampliação e atu-alização de conhecimentos específicos e técnico-pedagógicos. As pes-quisas mostram que as escolas que, de modo formal ou informal, se constituem em espaços de formação permanente de seus profissionais apresentam melhor desempenho.

A qualidade do trabalho do professor está vinculada a uma série de condições, tais como: tamanho das turmas a que atende, horário de trabalho, tempo disponível para preparação das aulas, presença de profissional preparado para o acompanhamento e apoio sistemático da sua prática educativa, qualidade dos recursos didáticos existentes na escola e local próprio para reuniões de estudo.

A remuneração dos professores é outro ponto essencial. O professor bem remunerado pode realizar um trabalho melhor por várias razões: não precisa acumular horas excessivas de trabalho, nem dispersar sua energia atendendo a escolas diferentes; pode se concentrar mais, ter um melhor conhecimento dos seus alunos, ter mais tempo e disposi-ção para se dedicar tanto à preparação das aulas quanto à correção dos trabalhos individuais dos alunos. Um bom salário melhora a auto-estima, a aquisição materiais de aperfeiçoamento profissional, além de lhe possibilitar o acesso a bens culturais como teatro, cinema etc.

trabalhadores em educação...

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Sobre o sucesso escolar

>>>

dos alunos...

O sucesso escolar precisa constituir o objetivo central de uma es-cola e, como tal, deve ser cuidadosamente acompanhado pela equipe gestora, a partir dos dados gerados pela avaliação dos alunos e pela avaliação da escola como um todo.

Onde e em que condições vivem os alunos? Como vêm sendo tratados os alunos com necessidades educativas especiais? Como se configura a sua estrutura familiar? Qual a história do aluno na sua inserção na rede escolar? Que alunos apresentam maiores dificulda-des de aprendizagem? Por que estão sendo reprovados? Que medidas estão sendo tomadas em relação à reprovação? Por que estão faltando às aulas? Por que estão deixando a escola? Essas e outras perguntas devem constituir motivo de análises de toda a comunidade escolar, liderada pelo gestor.

Alguém ficou pela estrada?Me abandonou já faz tempo?Não me deixem só nessa toada,Pois não é só meu seu intento.

Sobre o reconhecimento >>>

A imagem pública da escola é um indicador de sua eficácia. Uma escola torna-se reconhecida publicamente por sua competên-

cia, quando é capaz de realizar um bom trabalho com seus alunos e com a comunidade que a cerca. Prédios novos ou reformados, bons equipamentos, professores qualificados e um clima escolar voltado para o sucesso dos alunos são aspectos que podem determinar o reco-nhecimento da eficácia de uma escola.

Esse reconhecimento vai acontecer também entre os professores, alunos e funcionários, que passam a se identificar com o conjunto de valores comuns que regem a organização escolar e a se comprometer

público da escola...

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com a manutenção e ampliação do padrão de atendimento que foi construído.

Sobre o apoio externo

>>>

à escola...O apoio do poder público se expressa, por exemplo: na aparência

física, nas condições das instalações e do mobiliário; na disponibili-dade de equipamentos necessários à modernização dos processos pe-dagógicos; na existência de acompanhamento sistemático ao trabalho dos professores; na garantia do tempo de aprendizagem; no forneci-mento regular de uma alimentação nutritiva aos alunos; na disponi-bilidade de livros e de outros materiais didáticos; na qualificação dos docentes; na garantia de transporte seguro para os que freqüentam escolas distantes de suas casas.

É desejável que a escola, quando comprovados os limites e conheci-das as impossibilidades de um apoio mais amplo e imediato do poder público, busque outras formas de parceria, a título de complementa-ção de recursos, a fim de assegurar as condições mínimas necessárias para o pleno cumprimento dos objetivos de suas ações. Essas parcerias não envolvem apenas recursos financeiros. É possível constituir um quadro externo de apoio à escola a partir de contribuições de diversa natureza, que vão desde o apoio de empresas ao de pessoas físicas que disponibilizam seu tempo para ajudar a escola.

Para alguns isso tudo é novidade,Para outros apenas revisão.Mas tudo que aqui foi ditoFaz parte da nossa missão.Mas pra ninguém reclamarNem me chamar de ladino.Vou promover mais um papoCom outro astuto menino.

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Sobre os caminhos...

>>>

Lá vem o viandante com seus incertos passos a seguir os seus ca-minhos certos. Trôpego e cansado, deixa escorrer gotas por suas faces escurecidas pelo sol de todo o tempo, levemente enrugadas e man-chadas do pó do seu trabalho. Por entre folhagens e arbustos ergue-se frondoso e altaneiro o velho Jequitibá. Plantado à beira do caminho, sua enorme copa com suas robustas raízes que brotam do chão e abra-çam fortemente a base enorme do seu tronco, contam não apenas sua história centenária mas igualmente a luta desencadeada para so-breviver. Seu tronco e raízes revelam o vigor despendido para não ser arrancado por tempestades e ventos durante o seu crescimento. O velho Jequitibá é testemunha de muitas histórias. Árvore frondosa, sob sua sombra, centenas, milhares de viandantes recobram as forças gastas em muitas andanças. Os “caminhos dos homens do campo” passam por sob seus ramos. Ali está ele, forte, altaneiro, preso ao chão. Não teme mais a força das intempéries. E oferece proteção fres-ca e saudável aos caminhantes cansados. A ameaça de ser arrancado e lançado ao sabor dos ventos, ficou esquecida no passado. Moldado na adversidade do tempo, pode, hoje, exibir a segurança de suas raízes. Elas foram se enterrando em busca da seiva e da água, e quanto mais se aprofundavam se fortalecia o tronco.

Nos caminhos da educação, somos, hoje, ao mesmo tempo, vian-dantes e Jequitibás. Seguimos estradas errantes e caminhos tortuosos, sempre à procura do lugar que nos ofereça possibilidade de criar raízes tão fundas que permitam ao tronco e folhas crescer cada vez mais alto à cata do sol. Viandantes e Jequitibás, estamos construindo a vida sob o impacto das tempestades e ventanias do cotidiano. Muitas vezes, sonhamos lançar nossas raízes em lugar protegido. Somos tentados a buscar a tranqüilidade do trabalho certo e dos caminhos sem conflito. Nestes momentos, não queremos confrontar nossa esperança de vida com os perigos das intempéries. Preferimos o sol sereno, brisa suave, água molhando as raízes plantadas nos jardins. Desejamos o cresci-mento disciplinado dos arbustos podados.

Mas tudo isso são devaneios passageiros. É que desenvolver-se a céu aberto e sob o impacto das incertezas ameaçadoras assusta apenas a espíritos acomodados... Os arbustos dos jardins que emolduram o contorno das habitações, não têm história. Sua segurança não depen-de da força de suas raízes mas das estacas que lhes colocam os jardi-neiros. (Neidson Rodrigues)

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Desembolando: na vida não dá para adiar, também não dá para fingir. E na educação, há que se criar raízes, mas, não dá para se acomodar...

Agora acabou a molezaFindo aqui minha procissão.Quero ver cada um de vocêsAssumir uma posição.Pensaram que era só festa?Que iam ficar se abanando?Agora quem conta é vocêsE eu ficarei apreciando.

Sobre os caminhos de cada um

>>>

e do coletivo...Caros cursistas, a atividade final deste módulo é uma atividade de

síntese. Consideramos que os indicadores de qualidade apresentados no módulo 1 e retomados aqui, foram transversalmente tratados ao longo desse Curso de Formação Continuada de Equipes Gestoras de Unidades Escolares e são a base de um padrão de gestão com foco na aprendizagem do aluno. Agora, ao final desse percurso solicitamos que cada um analise em seu contexto de trabalho quais são os princi-pais desafios enfrentados para que tais indicadores sejam consolida-dos. Não é necessário escrever um texto longo para cada indicador, basta apenas registrar, através de tópicos, para todos os indicadores, as suas percepções sobre as questões que dificultam sua concretização.

Bem, a segunda etapa dessa atividade será desenvolvida no último en-contro presencial. Serão constituídos grupos e sorteados para cada um deles um ou mais indicadores. Por isso, prepare-se! Você pode ser con-vidado a aprofundar qualquer um dos indicadores apresentados. Uma vez constituído os grupos e sorteados os indicadores, cada grupo irá se reunir para discutir, sistematizar as discussões e apresentar em plenária.

Estamos combinados? Ficou claro? Resumindo, a avaliação final do curso constará de:

1. Registro das percepções de cada cursista sobre a operacionali-zação – desafios, possibilidades, expectativas... dos indicadores de qualidade da educação no seu contexto de trabalho (atividade in-dividual, elaborada em casa para ser entregue à Equipe de Coorde-nação no final do último encontro);

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2. Texto síntese da discussão feita pelo grupo em relação a um ou mais indicadores (construído em grupo no último encontro presen-cial e entregue à Equipe de Coordenação, nesse mesmo encontro);3. Apresentação do texto elaborado pelo grupo para apreciação e avaliação dos demais colegas (apresentação feita por um membro do grupo e comentada pelos demais ou feita por todos do grupo).

Só para lembrar, os indicadores são: autonomia escolar; gestão demo-crática e participação da comunidade; ambiente educativo da escola; di-nâmica curricular e prática pedagógica, formas de utilização do tempo; avaliação da aprendizagem e avaliação da escola; formação e condições de trabalho dos trabalhadores da educação; sucesso escolar dos alunos; reconhecimento público da escola; e apoio externo à escola.

Tá vendo que não foi difícilAté aqui ninguém morreu.Agora se me dão licença,Quem encerra a história sou eu.

Tércio Rios + Ana Luz + Patrícia Rosa + Paulo Freire + Adélia Portela + Dilza Atta + Zeca Baleiro + Chico Buarque + Fernando Pessoa + Neidson Rodrigues + Patativa do Assaré + todos nós = a EMBoLADA...