sobre o suicidio

5
1 SOBRE O SUICÍDIO¹ ANA PAULA MARTINS² Neste ensaio, Marx aborda o suicídio e suas causas, e nos propõe uma possível solução. Logo no início, elogia a crítica francesa, afirma ser esta suprema, pois não apenas os escritores “socialistas” abordam a condição social de forma crítica, mas todos os estilos literários franceses fazem isso. Destaca uma ideia fundamental contida na crítica francesa, a qual afirma que para os filantropos o mundo está ruim apenas para a classe proletária, quando na verdade todas as classes sociais são afetadas pela configuração caótica mundial. Exemplifica com as memórias de Peuchet focalizando o suicídio, que chegou a acometer a França de forma até epidêmica no final do século XIX. A taxa de suicídios considerada normal não o deveria ser, pois ela é um reflexo da deficiência da organização vigente, prova disso é que quando há um descontrole de um problema como o aumento incontrolável de falências, do desemprego etc. há um aumento diretamente proporcional de suicídios, é nesses casos que este se torna uma epidemia. É evidente que a miséria é a principal causa do suicídio, mas não é a única; pelo contrário, o suicídio é um fato diverso, suas causas são muitas e as mais diversas, como traição, rejeição social, ¹ Resenha apresentada à disciplina de Interfaces com a Antropologia, relativa ao texto MARX, K. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006. ² Acadêmica do curso de bacharelado em Psicologia, da Universidade Federal do Pará. Matrícula 12712000401. [email protected]

Upload: ana-paula-martins

Post on 09-Jul-2016

3 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Resenha de texto homônimo.

TRANSCRIPT

Page 1: Sobre o Suicidio

1

SOBRE O SUICÍDIO¹

ANA PAULA MARTINS²

Neste ensaio, Marx aborda o suicídio e suas causas, e nos propõe uma possível

solução. Logo no início, elogia a crítica francesa, afirma ser esta suprema, pois não apenas os

escritores “socialistas” abordam a condição social de forma crítica, mas todos os estilos

literários franceses fazem isso. Destaca uma ideia fundamental contida na crítica francesa, a

qual afirma que para os filantropos o mundo está ruim apenas para a classe proletária, quando

na verdade todas as classes sociais são afetadas pela configuração caótica mundial.

Exemplifica com as memórias de Peuchet focalizando o suicídio, que chegou a acometer a

França de forma até epidêmica no final do século XIX.

A taxa de suicídios considerada normal não o deveria ser, pois ela é um reflexo da

deficiência da organização vigente, prova disso é que quando há um descontrole de um

problema como o aumento incontrolável de falências, do desemprego etc. há um aumento

diretamente proporcional de suicídios, é nesses casos que este se torna uma epidemia. É

evidente que a miséria é a principal causa do suicídio, mas não é a única; pelo contrário, o

suicídio é um fato diverso, suas causas são muitas e as mais diversas, como traição, rejeição

social, incriminação e até o próprio amor à vida, pois quem o suicida crê ser indigno viver sob

a condição humana etc. visto essa diversidade de causas, torna-se evidente que ele afeta a

todas as esferas sociais.

A opinião da maior parte da sociedade é a de que o suicídio é um ato de covardia,

pois é muito mais fácil desistir da vida do que lutar contra o desespero por ela (MARX, 2006),

mas Marx critica essa opinião afirmando que o suicídio é um ato natural, pois, se fosse

antinatural não ocorreria, e na sociedade parisiense daquela época o suicídio era cada vez

mais frequente, logo, estava na natureza desta sociedade gerar suicídio. Então, a raiz do

problema estava na configuração social, tanto que outras sociedades naquela mesma época

tinham o suicídio como antinatural de fato. Sua proposta foi a de uma reforma na

configuração da sociedade.

¹ Resenha apresentada à disciplina de Interfaces com a Antropologia, relativa ao texto MARX, K. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006.² Acadêmica do curso de bacharelado em Psicologia, da Universidade Federal do Pará. Matrícula 12712000401. [email protected]

Page 2: Sobre o Suicidio

2

Devemos considerar que cada ser humano é único e diferente de todos, mesmo

possuindo semelhanças com a sociedade na qual convive, mas é inviável padronizarmos os

¹ Resenha apresentada à disciplina de Interfaces com a Antropologia, relativa ao texto MARX, K. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006.² Acadêmica do curso de bacharelado em Psicologia, da Universidade Federal do Pará. Matrícula 12712000401. [email protected]

Page 3: Sobre o Suicidio

3

sentimentos. Então devemos olhar para o suicídio a partir da ótica do suicida, pois, com

certeza, a partir da nossa ótica, não vai fazer sentido algum, já que não passamos pelas

mesmas coisas que o suicida e não vemos o mundo da mesma maneira que ele. É justamente

por olharmos para o suicídio a partir da nossa ótica que a sociedade vê este ato como um

crime, como covardia, como fuga e critica o cadáver. Só há uma maneira de conseguirmos

enxergar pelo olhar do outro: é conhecendo o homem. Pois “o homem parece um mistério

para o homem; sabe-se apenas censurá-lo, mas não se o conhece.” (MARX, 2006, p. 26).

Marx critica o evangelho por este não deixar nossos direitos tão claros como deixa

nossos deveres, afirma que o evangelho critica profundamente os suicidas, pois estes, ao

realizarem o ato, estão declarando não crer no que as escrituras sagradas propõem. Culpa

aqueles que não tornaram as escrituras sagradas inteligíveis. Na verdade o problema não está

no que as escrituras nos dizem, e sim na interpretação destas, que, infelizmente, até na

atualidade, século XXI, não é plenamente livre, pois geralmente os indivíduos leem-nas

baseados na interpretação dos líderes da doutrina que seguem.

Outro equívoco nesta opinião marxista é que o que está escrito no evangelho

concerne a moral e não ao campo legislativo, não é um tratado entre homens, e sim entre cada

homem e Deus. A moral não concede direitos diante de pessoas, pois, se assim fosse a

sociedade jamais seria livre de religião, como tanto almejava Marx, e recairíamos num Estado

teocrático, como são muitos do Oriente Médio, por exemplo. Marx recaiu numa contradição

neste aspecto. A bíblia não se refere diretamente ao suicídio em nenhum momento e, sim, em

qualquer forma de destruição do corpo, podendo ser esta a automutilação, o descaso com a

saúde física etc. E este, segundo as escrituras, não constitui um pecado imperdoável – sendo

este, de acordo com elas, unicamente a blasfêmia contra o Espírito Santo.

A questão não é encontrar o culpado, pois não há apenas um culpado pela ocorrência

do suicídio, as próprias pessoas com as quais o suicida convive antes de executar o ato são

culpadas, de certa forma, pois o tratam de maneira preconceituosa, escorraçam-no, castigam-

no, discriminam-no pelo seu modo de ser e agir. Tratam-no de maneira excludente e fria, estes

fatores contribuem para alguém exterminar a própria vida, pois se o suicida estiver inserido

numa sociedade compreensiva e harmoniosa a sua tendência para o suicídio com certeza será

inibida. Então há um conjunto de culpados, não cabendo apenas ao suicida esta posição.

A idéia acima é restrita e, devido a isso, facilmente contestada em vários exemplos.

Entre eles, está um fato recente: o episódio ocorrido em Realengo, no Rio de Janeiro. O ex-

aluno Wellington Menezes cometeu suicídio após assassinar vários alunos da escola em que

estudou na infância. Estas crianças não o hostilizaram, até porque nem sequer o conheciam, já

Page 4: Sobre o Suicidio

4

que este crime foi realizado depois de nove anos que ele havia saído da instituição, então este

suicídio após os homicídios foi um ato de covardia, pois o medo da punição pelo crime

cometido fez com que a solução para ele fosse exterminar a própria vida.

Para fundamentar que um passo importante para a diminuição na frequência de

suicídios é uma revolução da ordem social, o autor cita casos nos quais as regras de uma

instituição social, o casamento, foram de extrema relevância para a ocorrência dos suicídios.

Um deles foi o caso no qual a moça desposou antes do matrimônio, quando isto foi descoberto

pela sociedade esta julgou, injuriou, constrangeu a moça. Os próprios pais desta moça fizeram

isso, até que chegou um ponto crítico no qual ela preferiu acabar com a própria vida. Uma

contradição nisto é que com certeza entre as pessoas que julgaram a moça, havia mulheres

que um dia transgrediram a mesma regra.

Outro problema é que as pessoas julgam por qualquer coisa, até mesmo por uma

mera suposição, isto causa uma convivência desarmônica entre os homens, fazendo com que

estes sobrevivam e não vivam de fato, tornando a vida um fardo a carregar. A natureza social é

o espaço no qual a natureza humana mais expressiva encontra pra se manifestar, e o bem-estar

individual é pré-condição para o bem-estar de todos. A consciência coletiva, a preocupação

com o "todo" é, de fato, importante, mas problemas como o suicídio exigem um despertar da

consciência individual, de valorizar o outro não só em suas virtudes, mas também em suas

diferenças, ajudando-o na superação delas.