DEFESA CONTESTAO

DEFESA CONTESTAO

A contestao meio de resistncia direta pretenso do autor, seja por motivos de mrito, seja por motivos processuais:

Se o ru pretende que se reconhea a inexistncia do fato jurdico mencionado na inicial como fundamento do pedido do autor, ou que se lhe negue a conseqncia buscada pelo autor, tem-se uma defesa de mrito ou substancial.

Se o ru restringe-se ao processo, procurando invalid-lo, sem atingir a soluo do litgio, tem-se uma defesa processual, formal ou de rito.

Portanto, quando o ru contesta o pedido do autor, tanto pode defender-se no plano da relao processual (preliminares), como no plano do direito material (questo de mrito).

Em respeito ao princpio da eventualidade, importante que na contestao no seja formulada apenas defesa processual, mas tambm de mrito e que, nesta, todas as alegaes do autor sejam especificamente contestadas, sob pena de serem presumidas verdadeiras aquelas que no foram objeto de contestao.

DEFESA DE MRITO OU SUBSTANCIAL

o ataque ao fato jurdico que constitui o mrito da causa (a sua causa petendi), e tal ataque tanto pode atingir o prprio fato argido pelo autor (quando, por exemplo, nega a existncia do dano a indenizar), ou suas conseqncias jurdicas (quando reconhecido o fato, nega-se-lhe o efeito pretendido pelo autor).

Em ambos os casos, diz-se que a defesa de mrito direta, j que se dirige contra a prpria pretenso do autor e objetiva destruir-lhe os fundamentos de fato ou de direito.

Mas a defesa de mrito tambm pode ser indireta, quando, embora se reconhea a existncia e eficcia do fato jurdico invocado pelo autor, o ru invoca outro fato novo que seja impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (artigo 326 do Cdigo de Processo Civil). So exemplo da defesa indireta de mrito a prescrio e a compensao.

DEFESA PROCESSUAL, FORMAL OU DE RITO

a defesa que possui contedo apenas formal.

sempre indireta porque visa a obstar a outorga da prpria tutela jurisdicional pretendida pelo autor, mediante a inutilizao do processo para que fique obstada a apreciao do mrito pelo juiz.

Exemplos de defesa indireta: aquelas que invocam a inexistncia de pressupostos processuais ou de condies da ao (artigo 301 do Cdigo de Processo Civil).

Importante destacar que nem todas as defesas processuais visam total e imediata inutilizao do processo. Da, a classificao das defesas indiretas em peremptrias e dilatrias.

Peremptrias so as defesas processuais que, se acolhidas, levam extino do processo, como: inpcia da inicial, ilegitimidade de parte, litispendncia, coisa julgada, perempo, etc (artigo 267do Cdigo de Processo Civil). Aqui, o vcio do processo to profundo que o inutiliza como instrumento vlido para obter a prestao jurisdicional.

Dilatrias: so as defesas processuais que, mesmo se acolhidas, no provocam a extino do processo, mas apenas a ampliao ou dilao do curso do procedimento. Exemplos: quando se alega nulidade da citao, incompetncia do Juzo, conexo de causas, deficincia de representao de parte ou falta de autorizao para a causa ou ausncia de cauo ou de outra prestao que a lei exige como preliminar, a defesa provoca apenas uma paralisao temporria do curso normal do procedimento, at a remoo do obstculo processual, o qual, uma vez superado, permite a retomada da marcha processual rumo resoluo do mrito.

Eventualmente, uma defesa dilatria pode tornar-se peremptria caso, se acolhida pelo juiz, a parte deixar de cumprir a diligncia saneadora que lhe for determinada, no prazo legal ou fixado pelo juiz, o qual, diante da inrcia da parte, extinguir o feito, sem resoluo de mrito. Exemplo: o juiz determina ao autor que regularize sua representao nos autos em 10 dias e este deixa escoar o prazo sem sanear a falta.

A forma pela qual as defesas processuais devem ser argidas varia: como preliminares (artigo 301 do Cdigo de Processo Civil), como procedimentos apartados (excees de suspeio, impedimento e incompetncia).

OBSERVAO: tambm as defesas de mrito podem ser dilatrias ou peremptrias, conforme visem total excluso do direito material do autor, ou apenas procrastinao do seu exerccio. Exemplos: quando a defesa de mrito funda-se no direito de reteno por benfeitorias (artigo 1219 do Cdigo Civil) ou na exceo de contrato no cumprido (artigos 476 e 477 do Cdigo Civil).

MATRIA PASSVEL DE ARGIO SOB A FORMA DE PRELIMINAR

PRESCRIO

a perda do direito de ao em virtude da inrcia do autor e do decurso do tempo.

defesa processual (indireta sempre) peremptria, pois leva extino do processo, com resoluo de mrito (artigo 269, inciso IV do Cdigo de Processo Civil).

DECADNCIA

a perda no do direito de ao, mas do prprio direito que, pela lei ou pela conveno, nasceu com um prazo certo de eficcia. Assim, o reconhecimento da decadncia o reconhecimento da inexistncia do prprio direito invocado pelo autor. Exemplo: o artigo 178, inciso I do Cdigo Civil estabelece o prazo decadencial de 4 anos para pleitear-se a anulao do negcio jurdico, contado, em caso de coao, do dia em que esta cessar.

defesa processual (sempre indireta) peremptria, pois, tal como a prescrio, leva extino do processo, com resoluo de mrito, nos termos do artigo 269, inciso IV do Cdigo de Processo Civil.

Os prazos prescricionais e decadenciais encontram-se previstos no Cdigo Civil.

OBSERVAO: no obstante sejam matria de ordem pblica, devendo ser pronunciadas de ofcio pelo juiz, a prescrio (artigo 219, 5o, do Cdigo de Processo Civil) e a decadncia, quando estabelecida por lei (artigo 210 do Cdigo Civil), cabe ao advogado argir tais matrias na contestao, sob a forma de preliminar, sob pena de provocar o desnecessrio prolongamento do feito no tempo.

INEXISTNCIA OU NULIDADE DA CITAO

defesa processual (indireta) dilatria, porque o comparecimento do ru supre a falta de citao (artigo 214, 1o do Cdigo de Processo Civil), mas seu acolhimento pode levar reabertura do prazo de resposta, na hiptese do 2o do artigo 214 do Cdigo Civil.

OBSERVAO: convm, em respeito ao princpio da eventualidade, no se restringir a argir a preliminar de inexistncia ou nulidade de citao, oferecendo tambm adequada defesa de mrito, a fim de evitar prejuzos ao cliente.

INPCIA DA INICIAL

defesa processual (indireta) peremptria, j que enseja a extino do feito, sem resoluo de mrito (artigo 267 c/c artigo 295 pargrafo nico do Cdigo de Processo Civil).

PEREMPO

defesa processual (indireta) peremptria (artigo 267, inciso V do Cdigo de Processo Civil), ocorrendo quando o autor enseja 3 (trs) extines do processo, sobre a mesma lide, por abandono da causa (artigo 268, pargrafo nico do Cdigo de Processo Civil).

Como conseqncia da perempo, embora no haja a extino do direito material, fica o autor privado do direito processual de renovar a propositura da mesma demanda, ficando-lhe reservado, todavia, suscitar a questo em defesa do seu direito.

LITISPENDNCIA

a existncia de uma ao anterior igual atual, o que impede o conhecimento de uma nova causa.

Configura-se quando se reproduz ao anteriormente ajuizada e que ainda esteja em curso, pendendo de julgamento (artigo 301, 3o do Cdigo de Processo Civil).

Aes idnticas, hbeis a configurar litispendncia, so aquelas que possuem as mesmas partes, a mesma causa petendi e o mesmo pedido.

Se acolhida, defesa processual (indireta) peremptria (artigo 267, inciso V do Cdigo de Processo Civil), e d ensejo extino, sem resoluo de mrito, da ao mais recentemente ajuizada.

COISA JULGADA

Com a coisa julgada, o dispositivo da sentena torna-se imutvel e indiscutvel (artigo 467 do Cdigo de Processo Civil), de modo que se torna impossvel renovar a propositura de ao sobre o mesmo tema.

necessrio que haja identidade de partes, de causa petendi e de pedido, tal como na litispendncia, da qual se diferencia, entretanto, porque esta ocorre em relao a uma causa anterior ainda em curso, enquanto que a coisa julgada relaciona-se com um feito j definitivamente julgado por sentena, de que j no caiba recurso.

defesa processual (indireta) peremptria (artigo 267, inciso V do Cdigo de Processo Civil).

CONEXO

Ocorre nas hipteses previstas no artigo 103 do Cdigo de Processo Civil (comunho de objeto ou de causa de causa de pedir).

defesa processual (indireta) apenas dilatria, j que visa apenas reunio das causas conexas, como prev o artigo 105 do Cdigo de Processo Civil, a fim de evitar decises contraditrias.

Os autos so apenas remetidos ao juiz prevento (artigos 106 e 219 do Cdigo de Processo Civil).

OBSERVAO: na conexo, prevista no artigo 301, inciso VII do Cdigo de Processo Civil, compreende-se tambm a continncia (artigo 104 do Cdigo de Processo Civil) porque produz processualmente a mesma conseqncia que aquela.

INCAPACIDADE DA PARTE, DEFEITO DE REPRESENTAO OU FALTA DE AUTORIZAO

Trata-se de pressupostos processuais, ou seja, de requisitos necessrios para que a relao processual se estabelea e se desenvolva eficazmente.

defesa processual (indireta) apenas dilatria porque, ao acolh-la, o juiz no extingue desde logo o processo, mas oportuniza ao autor sanar o vcio encontrado. Somente aps o decurso do prazo conferido ao autor, se este houver quedado inerte, sem cumprir a diligncia, que haver a extino do processo, tornando-se peremptria essa figura de defesa (artigo 267, inciso IV do Cdigo de Processo Civil).

CONVENO DE ARBITRAGEM

O juzo arbitral (Lei 9307/96) , nos casos permitidos por lei, modo de excluir a aptido da jurisdio para solucionar o litgio.

Havendo ajuste das partes para julgamento por rbitros, ilegtima ser a propositura de ao judicial sobre a mesma lide.

defesa processual (indireta) peremptria, pois acarreta a extino do feito, sem resoluo de mrito (artigo 267, inciso VII do Cdigo de Processo Civil).

CARNCIA DE AO

Ocorre quando no se verificarem as condies da ao (legitimidade de partes, possibilidade jurdica do pedido e interesse processual).

defesa processual (indireta) peremptria (artigo 267, inciso VI do Cdigo de Processo Civil).

FALTA DE CAUO OU DE OUTRA PRESTAO, QUE A LEI EXIGE COMO PRELIMINAR

defesa de rito (indireta) dilatria, pois, ao acolh-la, o juiz oportuniza ao autor sanar a falha. Se no houver o suprimento, no prazo marcado, a preliminar assumir fora de peremptria e o juiz decretar a extino do processo, sem julgamento de mrito (artigo 267, inciso IV do Cdigo de Processo Civil).

NOMEAO AUTORIA

Modalidade de interveno de terceiros, que consiste na nomeao autoria no incidente pelo qual o mero detentor, quando demandado, indica aquele que o proprietrio ou o possuidor da coisa litigiosa, visando a transferir-lhe a posio de ru (artigo 62 do Cdigo de Processo Civil). Ocorre, por exemplo, nas situaes de dependncia hierrquica, como a do empregado, a do mandatrio, do agente ou do preposto, que exercem poder de fato sobre a coisa, mas em proveito alheio. Corresponde aos casos previstos no artigo 1198 do Cdigo Civil.

Cabe, ainda, nas aes de indenizao, quando o ru, causador do dano, alega que praticou o ato por ordem ou em cumprimento de instrues de terceiro (artigo 63 do Cdigo de Processo Civil).

No h uma obrigatoriedade de se fazer a nomeao autoria juntamente com a contestao, mas deve ser feita no prazo de defesa. Entretanto, conveniente que seja feita naquela oportunidade, a fim de evitar o trabalho de elaborar duas peties.

No faculdade, mas dever do demandado, sob pena de se responsabilizar por perdas e danos.

Importante destacar que a nomeao autoria suspende o curso processual. Se feita juntamente com a contestao, esta somente ser apreciada se a nomeao no for aceita. Mas, caso haja sido oferecida em pea apartada da contestao, e sendo recusada, ensejar a reabertura do prazo de defesa ao nomeante.

DENUNCIAO DA LIDE

Tal como a nomeao autoria, medida obrigatria, que leva a uma sentena acerca da responsabilidade do terceiro em face do denunciante, de par com a soluo normal do litgio de incio deduzido em juzo, entre autor e ru.

Consiste em chamar o terceiro, denunciado, que mantm um vnculo de direito com a parte denunciante (que tanto pode ser o autor como o ru), para vir responder pela garantia do negcio jurdico, caso o denunciante saia vencido na demanda.

As hipteses de cabimento encontram-se no artigo 70 do Cdigo de Processo Civil.

A denunciao da lide feita pelo autor deve ocorrer no momento da propositura da ao, constando da inicial o pedido de citao do denunciado, juntamente com a do ru.

A denunciao da lide feita pelo ru, tal qual a nomeao autoria, deve ocorrer no prazo de defesa, mas no obrigatoriamente juntamente com a contestao, o que, todavia, conveniente pelos mesmos motivos j mencionados.

CHAMAMENTO AO PROCESSO

Consiste no chamamento dos coobrigados pela dvida para integrar o mesmo processo, de modo a faz-los tambm responsveis pelo resultado do feito (artigo 77 do Cdigo de Processo Civil). Assim, o ru obtm sentena que pode ser executada contra o devedor principal ou os co-devedores, se tiver de pagar o dbito.

faculdade, e no obrigao do devedor demandado, a ser exercida no prazo de contestao (artigo 78 do Cdigo de Processo Civil).

Somente o ru pode promover o chamamento ao processo e nos casos previstos no prprio artigo 77 do Cdigo de Processo Civil.

INCOMPETNCIA ABSOLUTA

Apesar de ser matria de ordem pblica, em respeito ao princpio da eventualidade, e para evitar o desnecessrio prolongamento do feito no tempo, incumbe ao demandado, na contestao (que a primeira oportunidade de se manifestar no feito), sob a forma de preliminar, argir a incompetncia absoluta.

A incompetncia absoluta pode ser alegada em qualquer fase do processo e grau de jurisdio.

OBSERVAO: Somente a incompetncia absoluta ser argida na contestao, como preliminar. A incompetncia relativa dever ser argida, obrigatoriamente, no prazo de defesa, mas em petio apartada, sob a forma de exceo, que ser apensada ao principal, suspendendo-a at o julgamento daquela (artigo 306 do Cdigo de Processo Civil). A ausncia de interposio da exceo de incompetncia, no prazo legal, implica na prorrogao da competncia. O procedimento da exceo de incompetncia (relativa) encontra-se previsto nos artigos 307 a 311 do Cdigo de Processo Civil.

Material elaborado a partir da obra Curso de Direito Processual Civil, de Humberto Theodoro Jnior, Editora Forense, volume I.

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