sobre a capa - centro ecológico : assessoria e … · tipo de controle, e eles reconhecem...

92

Upload: vudung

Post on 03-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Os novos senhores da biomassa i

Sobre a capa ‘A Nova Colheita de Biomassa’, por BeehiveDesign Collective, 2010 – a partir da obra‘Outono’, de Alphonse Mucha (da série AsQuatro Estações, 1896, conforme imagemabaixo). De acordo com o historiador VaclavSmil, a década de 1890 foi a última na qual aeconomia industrial global dependeubasicamente de biomassa. Para a economiade biomassa de hoje, Mucha teria pintadoalgo muito diferente.

AgradecimentosEste relatório resulta da estreita colaboraçãocom muitos aliados na sociedade civil, queparticiparam ativamente da sua gênese,pesquisa, redação e revisão. Em particular,temos uma grande dívida de gratidão paracom a Dra. Rachel Smolker, daBiofuelwatch, e com seus colegas AlmuthErnsting e Deepak Rughani. Parte dapesquisa original e da estrutura destedocumento foi feita pela Rachel, e muito doque aprendemos sobre biomassa foi atravésdela. Também somos muito gratos aDelphine Deryng e Jose Borras Ferran, quecontribuíram com a pesquisa original e coma redação como estagiários no Grupo ETC.Gratos a David Lee e Lara Lucretia e a todosdo Beehive Design Collective, que não sóforneceram excelentes ilustrações originais,mas também inspiração, camaradagem ealgumas frases geniais. Gratos também aHelena Paul, da Econexus, por comentar asprimeiras versões deste relatório, e a AnnePetermann e Orig Langelle, do GlobalJustice Ecology Project. Este relatório temsuas raízes numa série de encontrosorganizados pela sociedade civil paraexplorar as implicações da convergência detecnologias ou BANG [pelas iniciais debites, átomos, neurônios e genes], incluindoum seminário internacional em Montpellier,França, em novembro de 2008, organizadopelo Grupo ETC, pelo projeto What Next?,pelo BEDE e pela Fondation SciencesCitoyennes. Seguiram-se outros encontrosregionais, organizados por (entre outros)Centro Ecológico (Brasil), FASE (Brasil),

African Biodiversity Network (Etiópia),African Centre for Biosafety (África doSul), CASIFOP (México), Alliance forHumane Biotechnology (EUA),EQUINET, SEARICE (Filipinas), Friendsof the Earth (EUA), ICTA (EUA), Centerfor Genetics and Society (EUA) eMovement Generation (EUA). Somosextremamente gratos a todos osparticipantes e outros que auxiliaram aformar nosso pensamento sobre essasquestões. O Grupo ETC agradeceprofundamente o apoio financeiro daSwedBio (Suécia), HKH Foundation(EUA), CS Fund (EUA), Christensen Fund(EUA), Heinrich Böll Foundation(Alemanha), do Lillian Goldman CharitableTrust (EUA), Oxfam Novib (Holanda), Benand Jerry’s Foundation (EUA) e doNorwegian Forum for Environment andDevelopment (Noruega).

O Grupo ETC é o único responsável pelospontos de vista expressos neste documento.Edição: Leila MarshyDesign: Shtig(.net)Ilustração: Beehive Design Collective e ShtigOs novos senhores da biomassa: Biologiasintética e o próximo assalto à biodiversidadeé o Communiqué # 104 do Grupo ETC.Publicado em inglês em outubro de 2010Traduzido para o português por B&G, comrevisão e diagramação de Amanda BorghettiTodas as publicações do Grupo ETC estãodisponíveis gratuitamente em nosso website:www.etcgroup.org

“Quem quer que produza biocombustíveis em abundânciapode acabar fazendo mais do que apenas pilhas de dinheiro –

fará história... As companhias, os países que tiverem sucesso nisso serão os vencedores econômicos da próxima era, da mesma

forma que hoje o são as nações ricas em petróleo.”J. Craig Venter

Synthetic Genomics, Inc., 20 de abril de 2009

Grupo ETC ii www.etcgroup.org

Os novossenhores dabiomassa

Biologia sintética e o próximo assalto

à biodiversidade

iii

Panorama:

A questão Sob o pretexto de enfrentar a degradação ambiental, amudança climática e as crises de energia e de alimentos, aindústria está prevendo uma “nova bioeconomia” e asubstituição de carbono fóssil por matéria viva, agorarotulada de “biomassa”. A biomassa mais produtiva e maisacessível está no Sul global – exatamente onde, até 2050,deve haver outros 2 bilhões de bocas para alimentar emterras que (graças ao caos climático) devem produzir 20-50% menos. Embora este pareça ser o pior momentopossível para colocar novas pressões sobre osecossistemas, estão dizendo aos governos que a “biologiasintética” – uma tecnologia recém-inventada – poderáproduzir e transformar toda a biomassa necessária parasubstituir todos os combustíveis fósseis queusamos atualmente. Ao mesmo tempo, osnovos mercados de carbono estãotransformando a vida vegetal emestoques de carbono para negociar(em vez de reduzir as emissões). Masas companhias que dizem“acreditem em nós” são as mesmasgigantes da energia, da química, doagronegócio e do florestamento queforam as principais criadoras das crisesclimática e de alimentos que hoje nosafetam.

O que está em jogo Em jogo estão a alimentação, a energia e a segurança dasnações. Como 24% da biomassa terrestre anual domundo já é consumida para uso humano, a convergênciadas crises atuais é uma oportunidade para mercantilizar emonopolizar os 76% restantes (e ainda mais, seconsiderarmos a biomassa nos oceanos) que Wall Streetainda não atingiu. Os setores industriais com interesse emconverter matérias-primas de carbono em biomassaincluem as indústrias de energia e química, plásticos,alimentos, têxtil, farmacêutica, de produtos de papel emateriais de construção – mais o comércio de carbono –um mercado combinado valendo pelo menos 17 trilhõesde dólares.1

Os atores A mídia especializada fala de companhias start-up comoSynthetic Genomics, Amyris Biotechnologies e LS9, mas,por trás das manchetes, o dinheiro para desenvolver abiologia sintética está vindo do Departamento de Energia

dos Estados Unidos e das grandes empresas dossetores de energia, como BP, Shell eExxonMobil, de química, como BASF eDuPont, e de florestamento eagronegócios, como Cargill, ADM,Weyerhaeuser e Syngenta. Enquantoas primeiras unidades experimentaisestão sendo desenvolvidas sobretudona Europa e nos Estados Unidos, nofinal das contas ‘a geografia é o

destino’ para a economia de basebiológica: os países com a maior parte das

plantas vivas também acabarão tendo a maiorparte das plantas de produção (usinas). A indústria já estáfazendo fila no Brasil, México, África do Sul e Malásiacomo campos de testes para a nova tecnologia. Osgovernos da OECD (Organização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico), enquanto isso, estãoinjetando mais de 15 bilhões de dólares em subsídios naeconomia de biomassa.

Em meio à fome crescente e ao caos climático, este pareceria ser o

pior momento possível para colocar novas pressões sobre os ecossistemas.

Os novos senhores da biomassa

Grupo ETC iv www.etcgroup.org

Os fóruns Até mesmo companhias líderes e cientistas envolvidoscom biologia sintética concordam que é necessário algumtipo de controle, e eles reconhecem potenciais novosriscos à biossegurança decorrentes de novos micróbios enovas plantas. Apesar de que a biologia sintética e aeconomia de biomassa vão ter um impacto profundosobre o uso da terra, a diversidade biológica, o ambiente eo bem-estar humano, essas implicações estão sendoignoradas pela maioria dos governos e pesquisadores.

Dentro das Nações Unidas, somente a Convenção deDiversidade Biológica (CBD) está tratando do tema dabiologia sintética. Apesar das implicações para asegurança alimentar, a Organização das Nações Unidaspara Agricultura e Alimentação (FAO) e o GrupoConsultivo sobre Pesquisa Agrícola Internacional(CGIAR) parecem ignorar alegremente osdesenvolvimentos recentes.

Nas negociações da Convenção-Quadro das NaçõesUnidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), osgovernos do Sul parecem não ter consciência de que a“transferência de tecnologia” será otimizada com oobjetivo de estender o monopólio industrial sobretecnologias de biomassa para os territórios e recursos doSul. As implicações da “nova bioeconomia” são tão vastasque deveriam estar na agenda de todas as agências daONU e devem, especialmente, ser tratadas na CúpulaRio+20, a ser realizada no Brasil em 2012.

As políticas Os anúncios em 2010 de que pesquisadores de biologiasintética podem manipular significativamente DNA paraconstruir microrganismos artificiais autorreplicantes quenunca existiram antes na Terra têm implicações imediataspara a biodiversidade, a biossegurança e as economiasnacionais.

As formas de vida sinteticamente construídas nãodeveriam ser liberadas no ambiente, e a ONU e osgovernos nacionais deveriam estabelecer – no mínimo –uma moratória para impedir tais liberações.

E, como medida de similar urgência, é preciso realizarestudos para determinar as implicações, sobre a mudançaclimática, os ecossistemas mundiais, o abastecimento dealimentos e de energia, os meios de vida e os direitossobre a terra, do que o governo dos EUA chama “arevolução de base biológica”.

A sociedade civil e os movimentos sociais organizados emtorno dos temas da agricultura, direitos sobre a terra,proteção das florestas, assuntos marinhos, tecnologiasemergentes, toxinas químicas, mudança climática, justiçaenergética e consumo necessitam, urgentemente,encontrar meios de compartilhar suas análises ecoordenar a resistência para enfrentar as ameaças comunsresultantes da nova bioeconomia.

‘Biomassacre’ por Beehive Collective

Os novos senhores da biomassa v

Conteúdo

1

2

3

3

3

3

3

5

5

6

7

7

8

9

10

10

10

10

11

12

12

12

12

13

13

13

13

13

14

14

14

14

16

17

17

18

19

19

20

21

23

24

25

25

26

26

27

28

29

30

30

Introdução - Cuidado: biomassa

Quadro:Quem são os novos senhores dabiomassa?

O que está sendo mudado? Não se trata apenas de biocombustíveis...

Combustíveis para o transporte

Eletricidade

Químicos e plásticos

Fertilizantes

Primeira parte: Aí vem a bioeconomia

Quadro: Três bioeconomias

O que é a biomassa?

Quadro: A bioeconomia, também conhecidacomo...

Celulose – O açúcar-maravilha

Simplificando – “Ainda é a economia docarbono, imbecil”

Geopoliticando – Está tudo no Sul

A extração de biomassa – Um saqueio global

Florestas naturais

Plantações

Ecossistemas agrícolas

Pastagens

Ecossistemas marinhos

Desertos e áreas úmidas

De volta para o futuro? Carboidratos versushidrocarbonetos…

Do craqueamento do petróleo ao hackeamentode plantas

Vendendo a mudança

1. Doces sonhos: a economia dos carboidratos

2. Verdes sonhos: recursos ‘renováveis’ e aeconomia do hidrogênio

3. Sonhos refrescantes: a economia neutra emcarbono

4. Sonhos patrióticos: independência energética

5. Sonhos de saltar à frente: desenvolvimentolimpo e o movimento pelos ‘empregos verdes’

6. Sonhos tecnológicos: tecnologiasconvergentes e ‘tecnologia limpa’

Quadro:Uma apropriação, não uma mudança

Contabilizando a economia da bioma$$a

Onde está o dinheiro na economia da biomassa?

A biomassa de quem? Uma fábula de duasbioeconomias

Terras marginais para lucros estratosféricos

Quadro:Uma fábula de duas bioeconomias

Uma grilagem legal de terras por biomassa

Um novo comércio na biomassa – embarcandocavacos

Cultivos para energia – mudanças no meio rural

O mito do carbono neutro

Um grave “erro de contabilidade” global

Comercializando carbono de biomassa

Comercializando carbono de biomassaTomada II: grilagem legal REDDobrada

A transferência de tecnologias da biomassa – A iniciativa sobre tecnologias climáticas

A economia verde – um lar aconchegante para abioeconomia

Quadro: InfraREDD - mapeando a biomassa

Estourando o orçamento de biomassa da Terra?

Os ecossistemas vêm primeiro

Quadro:A biomassa é realmente ‘renovável’?

Limites planetários para a extração de biomassa?

Não há biomassa suficiente? Vamos dar um gás nisso...

Grupo ETC vi www.etcgroup.org

31

32

33

34

34

35

39

39

39

39

39

40

40

41

42

43

43

43

44

44

45

46

46

46

46

46

47

47

48

48

48

49

50

51

52

52

55

56

56

57

58

58

59

59

60

60

61

62

64

73

Quadro: Biomassa ou biomassacre?

Geoengenheirando o planeta com biomassa

Depósito de biomassa

Fertilização de oceanos (algas marinhas)

Energia de biomassa com sequestro de carbono

A nova economia da biomassa: 10 mitos

Segunda parte: As ferramentas e os atores

A nova bioalquimia – Equipando-se para oassalto

Combustão

Química

Biotecnologia / Engenharia Genética

Nanotecnologia

Biologia sintética – virando o jogo para abiomassa

Biologia sintética: imprevisível, não testada e pouco compreendida

Organismos sintéticos como biofábricas

Enzimas sintéticas para celulose

Plantas sintéticas – mudando as matérias-primas

Quadro: Devoradores de celulose e fermentadores de combustíveis à solta?

Eletricidade a partir de organismos sintéticos?

O assalto da biologia sintética aos meios de subsistência – A substituição de matérias-primas

Quadro: Nanocelulose – encolhendo a biomassapara aumentar mercados

O que está mudando?

Mudança 1: Energia – queima de biomassa paraaquecimento e bioeletricidade

Presa fácil

Quadro: Queima de biomassa nos EUA

Energia de biomassa no Sul

Os custos da eletricidade derivada de biomassa I: devoração de campos e florestas

Os custos da eletricidade derivada de biomassa II: ameaça à saúde humana

Quadro: Incineração disfarçada

Mudança 2: BioCombustíveis líquidos –liquefação de biomassa para transportes

Tirando nota “F” – Fracassos dos biocombustíveis de primeira geração

“Sobreviventes” da geração F – açúcar e pinhão-manso

Substituindo combustíveis e matérias-primas

Combustíveis celulósicos

Do álcool aos hidrocarbonetos –Biogasolina, butanol, isopentanol, hexadecano, farneseno

Para além da celulose: biocombustíveis de algas

Os novos fãs das algas

Mudança 3: Produtos químicos – bioplásticos eoutros produtos químicos de base biológica

Blocos de construção de base biológica

O futuro é o (bio)plástico?

Os bioplásticos se biodegradam?

Os bioplásticos podem ser reciclados?

Os bioplásticos são tóxicos?

Os bioplásticos são obtidos de forma sustentável?

Cultivos transgênicos, biologia sintética enanotecnologia

Os bioplásticos podem ser feitos corretamente?

Conclusões: um assalto à Terra!

Recomendações: rumo a uma governança global

Anexo: Quem produzirá os biocombustíveis dapróxima geração

Notas

Os novos senhores da biomassa 1

Introdução - Cuidado: biomassa

Em todo o mundo, as estratégias das corporações e dosgovernos para tratar da mudança climática, energia,agricultura, tecnologia e produção de materiais estãoconvergindo, de forma crescente, em torno de um mesmoconceito: biomassa.

A biomassa engloba mais de 230 bilhões de toneladas dematéria viva2 que a Terra produz a cada ano, como árvores,arbustos, pastos, algas, grãos, micróbios e outros. Essa riquezaanual, conhecida como “a produção primária” da Terra, émuito mais abundante no Sul global – nos oceanos, florestas epradarias de crescimento rápido localizados nos trópicos – esustenta os meios de vida, as culturas e as necessidades básicasda maior parte dos habitantes do planeta.

Por enquanto, os seres humanos utilizam apenas um quarto(24%) da biomassa terrestre para satisfazer suas necessidadesbásicas e a produção industrial3 e só consomem umamínima quantidade da biomassa oceânica,deixando 86% de toda produção debiomassa do planeta (da terra e do mar)como ainda não mercantilizada.

Mas, graças às mudanças tecnológicas– particularmente nos campos dananotecnologia e da biologiasintética – esses 86% da biomassapodem agora se converter em alvo daindústria como uma fonte de carbono‘verde’ vivo para suplementar ousubstituir parcialmente os carbonosfósseis ‘pretos’ provenientes de petróleo,carvão e gás que atualmente sustentam aseconomias industriais do Norte global. Da geraçãode eletricidade à produção de combustíveis, fertilizantes equímicos, as mudanças já estão em andamento para afirmar abiomassa como um componente crítico na economiaindustrial global. A Parte I deste relatório fornece uma visãogeral da situação atual e o que o surgimento de uma assimchamada Nova Bioeconomia significa para as pessoas, os meiosde vida e o ambiente. A Parte II fornece um retrato dos“Novos Senhores da Biomassa” – os atores industriais e astecnologias que eles estão armando.

O que está sendo vendido como uma mudança benigna ebenéfica do carbono preto para o carbono verde é, na

verdade, uma forma quentíssima de apossar-se derecursos (do Sul pelo Norte) para asseguraruma nova fonte de riqueza. Se esse assaltose concretizar, o saque da biomassa doSul para baratear o funcionamento daseconomias industriais do Norte seráum ato de imperialismo em plenoséculo XXI que aprofundará ainjustiça e agravará a pobreza e afome. Mais do que isso, pilharecossistemas frágeis em busca de seusestoques de carbono e açúcar é um

movimento assassino contra um planeta jásuperestressado. Ao invés de abraçar as

promessas falsas de uma nova bioeconomia verdee limpa, a sociedade civil deveria rejeitar os novos

senhores da biomassa e seu mais recente assalto à terra, aosmeios de vida e ao nosso mundo vivo.

Biomassa: Coisa viva (ou que foi viva);

literalmente, refere-se ao peso de matériaviva (plantas, animais, bactérias, fungos,

etc.) encontrado em uma determinada área.Hoje, a indústria utiliza o termo biomassa

para se referir à matéria biológica nãofossilizada que pode ser usada comomatéria-prima para a produção de

combustíveis, químicos, calor e energia.

“Fazendo” biomassa Foto: Asea

Grupo ETC 2 www.etcgroup.org

Quem são os novos senhores da biomassa?

As mesmas companhias transnacionais que promoveram adependência do petróleo durante o século XX estão agora seestabelecendo como os novos senhores da biomassa. Quandocompletarem esse golpe, muitos atores corporativos jáconhecidos continuarão sentados na cabeceira da ordemeconômica mundial. Que seus carros sejam movidos abiocombustível, seus computadores funcionem combioeletricidade, e seus cartões de crédito sejam feitos debioplástico não é a questão principal; o problema é que elesterão um controle mais intenso, talvez até mesmo umcontrole mortal, sobre os sistemas naturais dos quais todosnós dependemos.

As gigantes florestais e do agronegócio que já controlamboa parte das terras e dos recursos biológicos em todo omundo estão na linha de frente do desenvolvimento dabioeconomia e do novo mercado da biomassa. Nomesfamiliares incluem Cargill, ADM, Weyerhaeuser, StoraEnso, Tate & Lyle, Bunge e Cosan Ltd.

Companhias de alta tecnologia (biotecnologia,nanotecnologia e software) estão fornecendo as novasferramentas para transformar, medir e explorar o mundobiológico, auxiliando a desenvolver a mercantilização dainformação genética. Entre elas, Microsoft, Monsanto,Syngenta, Amyris Biotechnologies, Synthetic Genomics,Inc., Genencor e Novozymes.

As principais empresas farmacêuticas, químicas e deenergia estão se associando com os novosbioempreendedores para mudar seus processos de produçãoe fontes de matéria-prima. Fique atento a movimentos daDuPont, BASF, DSM, Duke Energy, BP, Shell, Total Oil,Chevron e ExxonMobil.

As companhias de serviços financeiros e bancos deinvestimento estão desenvolvendo novas modalidades detítulos ambientais, mercados de intercâmbio einvestimentos em terras, ainda que as modalidadesanteriores de comércio de títulos estejam colapsando aoredor delas. Entre elas estão: Goldman Sachs, J.P. Morgan eMicrosoft.

Companhias de bens de consumo e alimentos estãomudando para produtos, embalagens e ingredientes de basebiológica para usar argumentos de marketing ‘verdes’:Procter & Gamble, Unilever e Coca-Cola.

Ilustração: Beehive Collective

Os novos senhores da biomassa 3

“Muitos pensam na biomassa principalmente comomatéria-prima para combustíveis líquidos, comoetanol e biodiesel. Mas a biomassa também pode serconvertida numa gama de produtos de uso cotidiano.Na verdade, há muito poucos produtos que hoje sãofabricados a base de petróleo, como tintas de parede ede impressão, adesivos, plásticos, entre outros, quenão podem ser produzidos a partir da biomassa.”– David K. Garman, Subsecretário de Energia daSecretaria de Energia, Ciência e Meio Ambiente dosEstados Unidos na administração George W. Bush4

“Temos objetivos modestos de substituir toda aindústria petroquímica e tornar-nos uma dasprincipais fontes de energia.”– J. Craig Venter, fundador da Synthetic Genomics,Inc.5

Um jeito simples de entender a ambiciosa proposta danova economia da biomassa é dando uma olhada na listade produtos e serviços cuja fabricação atual depende doscombustíveis fósseis. A seguir, vamos imaginar cada setordesses mudando para a adoção de matéria vegetal vivacomo matéria-prima, em vez do petróleo, carvão e gásnatural referentes a matéria vegetal fossilizada:

Combustíveis para o transporte

Atualmente, mais de 72% do petróleo6 acaba comocombustíveis líquidos para carros, caminhões, aviões eaquecimento. Os agrocombustíveis (isto é, osbiocombustíveis), tais como etanol e biodiesel,representam apenas o início da conversão do mercado decombustível líquido para a biomassa. Algunsagrocombustíveis da próxima geração sãohidrocarbonetos que têm as mesmas propriedadesquímicas da gasolina e do combustível de aviação.

Eletricidade

O carvão, o gás natural e o petróleo são, atualmente,responsáveis por 67% da produção mundial deeletricidade.7 Contudo, a queima conjunta de carvão ebiomassa está aumentando, e se registra uma tendênciapara queimar lascas de madeira, óleos vegetais e resíduosmunicipais como combustível para a produção deeletricidade. Enquanto isso, avançam as pesquisas emnanocelulose e bactérias sintéticas para produzir correnteelétrica a partir de células vivas, objetivando transformara biomassa em eletricidade sem a necessidade de turbinas.

Químicos e plásticos

Atualmente, cerca de 10% das reservas globais depetróleo são convertidas em plásticos e substânciaspetroquímicas.8 Entretanto, para compensar os preçoscrescentes do petróleo e esverdear sua imagem pública, asgrandes companhias químicas, como a DuPont, estãoestabelecendo objetivos ambiciosos para matérias-primasde biomassa, como cana-de-açúcar e milho, para aprodução de bioplásticos, têxteis, produtos de químicafina e de química pesada.

Fertilizantes

A produção global de fertilizantes consomeintensivamente gás natural. Os promotores do biochar(biomassa carbonizada) afirmam que eles têm, paramelhorar a fertilidade do solo, um substituto de basebiológica que pode ser produzido em escala industrial.

O que está sendo mudado?Não se trata apenas de biocombustíveis...

Grupo ETC 4 www.etcgroup.org

Ilustração: Beehive Collective

Os novos senhores da biomassa 5

Primeira parte: Aí vem a bioeconomia

“As economias baseadas na caça e coleta dominaram porcentenas de milhares de anos antes de serem ofuscadaspelas economias agrárias, as quais dominaram por cercade 10.000 anos. A seguir, vieram as economias industriais.A primeira iniciou-se na Grã-Bretanha nos anos 1760, e aprimeira a acabar começou a perder força nos EstadosUnidos no início dos anos 1950. Estamos a meio caminhona economia da informação, e ela vai durar entre 75 e 80anos, terminando no final dos anos 2020. Aí, estejamprontos para a próxima: a bioeconomia.”– Futurólogos Stan Davis e Christopher Meyer, revistaTime, maio de 20009

Passaram-se mais de dois anos desde que um drástico aumentonos preços dos alimentos gerou uma crise que saiu nasmanchetes ao redor do mundo. Subitamente, o desvio de grãospara produzir ‘biocombustíveis’ (apelidados de‘agrocombustíveis’ pelos oponentes) tornou-se um tópico deintensa controvérsia e oposição entre comunidades rurais,particularmente no Sul global. Enquanto as manchetesenfocavam o entusiasmo da indústria por óleo de dendê eetanol de milho (a ‘febre do etanol’),10 isso era somente a pontavisível de uma transição e uma trajetória muito mais profundasna política industrial.

Essa trajetória – em direção à economia de base biológica –agora está ganhando velocidade, poder político e muitosbilhões de dólares em subsídios públicos e investimentosprivados. Mesmo que a nova bioeconomia cumpra o quepromete, seu preço carrega a mesma ameaça para os povos, asubsistência e o planeta que a febre do etanol – mas de formaainda mais acentuada.

A retórica de uma ‘nova’ bioeconomia, ainda que imprecisa,está entremeada nas agendas e manchetes atuais e envolta nosclichês pós-milênio que permeiam as políticas ambientais,industriais e de desenvolvimento, como ‘sustentabilidade’, a‘economia verde’, ‘tecnologia limpa’ e ‘desenvolvimento limpo’.

Três bioeconomiasBioeconomia descreve a ideia de uma ordem industrialbaseada em materiais, processos e “serviços” biológicos.Como muitos setores da economia global já são baseadosneles (agricultura, pesca, silvicultura), seus proponentesfrequentemente falam de uma ‘nova bioeconomia’ paradescrever uma reinvenção específica da economia global,ou seja, uma que integre ainda mais a economia emecanismos financeiros neoliberais com novas tecnologiasbiológicas e modos de produção.

Resulta que o termo ‘bioeconomia’ é utilizado paradescrever pelo menos três conceitos distintos mas inter-relacionados e que se reforçam mutuamente, todosbaseados na noção de que os sistemas e recursos biológicospodem ser manipulados para manter os atuais sistemasindustriais de produção, consumo e acumulação de capital:

Insumos: A economia da biomassa – Tambémdenominada, ocasionalmente, de economia de basebiológica ou economia de carboidratos. O conceitochave é que a produção industrial muda do uso derecursos fósseis e minerais (carvão, petróleo e gásnatural) para o uso de matérias-primas biológicas vivas,principalmente a ‘biomassa’ de matéria vegetal, comolascas de madeira, cultivos agrícolas e algas.

Processos: A economia da biotecnologia – À medidaque o DNA encontrado em células vivas é decodificadoem informação genética para uso em aplicaçõesbiotecnológicas, as sequências genéticas estão adquirindoum novo valor como peças para a construção de sistemasprojetados de produção biológica. Com o sequestro de‘instruções genéticas’ de células, plantas e animais paraforçá-los a gerar produtos industriais, a indústriatransforma organismos transgênicos e sintéticos embiofábricas que podem ser instaladas em qualquer lugardo mundo – em tanques privados ou em plantações. Anatureza é alterada para atender a interesses comerciais.

Grupo ETC 6 www.etcgroup.org

Toda esta retórica da bioeconomia esconde um assalto àsancestrais economias de base biológica representadas porbilhões de pessoas com direitos pré-existentes sobre a terra e aságuas costeiras onde cresce a biomassa. Seus sistemas desaberes e modos de vida são interdependentes com umacomplexa série de organismos que nos sustentam a todos: achamada “biomassa” (florestas, solos, plantas e micróbios), daqual esses povos e comunidades têm cuidado por milênios.

Para aqueles que já sofrem as consequências de sucessivasondas industriais, a história da bioeconomia que chega seráfamiliar. Ela é mais um assalto sobre os bens comuns quedestruirá os recursos e territórios e a soberania de agricultoresem pequena escala, camponeses, pescadores, pastores e povosindígenas, ou seja, aqueles que vêm preservando abiodiversidade e produzindo nosso alimento sem contribuirpara o aquecimento global.

Esta nova bioeconomia, da forma como a entendem asempresas florestais, do agronegócio, de biotecnologia, deenergia e químicas, acentua o processo de confinamento edegradação do mundo natural se apropriando de matériavegetal para transformá-la em commodities industriais,engenheirando células de maneira que funcionem comofábricas industriais, e redefinindo e reformando ecossistemaspara que forneçam ‘serviços’ de apoio à indústria.

Serviços: A economia dos biosserviços– À proporção que os ecossistemascolapsam e a biodiversidade declina,novos mercados de “serviços”ecossistêmicos possibilitam o comérciode ‘créditos’ ecológicos inventados. Oobjetivo declarado é “incentivar aconservação” através da criação de ummotivo de lucro para justificarintervenções em sistemas naturais delarga escala, como os cicloshidrológicos, o ciclo do carbono ou ociclo do nitrogênio.11 Como os‘serviços’ de um sistema de produçãoindustrial, esses ‘serviçosecossistêmicos’, criados para privatizarprocessos naturais, serão cada vez maiseficientes em servir aos interessescomerciais.

Ilustração: Beehive Collective

O que é a biomassa?No sentido literal, biomassa é uma medida de peso utilizada naciência da ecologia. Refere-se à massa total de todas as coisasvivas (matéria orgânica) encontradas em um determinadolocal.12 Os peixes, árvores, animais, bactérias e até mesmo oshumanos são todos biomassa. Entretanto, mais recentemente,o termo é usado para se referir a material biológico nãofossilizado, particularmente material vegetal que pode serutilizado como matéria-prima para combustíveis ou para aprodução de químicos industriais.13

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobreComércio e Desenvolvimento (UNCTAD), “a biomassa incluimatéria orgânica disponível e renovável, como florestas eresíduos de moagem, cultivos e resíduos agrícolas, madeira eseus resíduos, resíduos animais, resíduos da produçãoindustrial de animais, plantas aquáticas, árvores e plantas decrescimento rápido, e a porção orgânica de resíduos municipaise de resíduos industriais relevantes.”14

Em um exame mais detalhado, o que os governos e a indústriaconsideram como ‘biomassa’ inclui pneus, lodo de esgoto,plásticos, madeira tratada, materiais de construção pintados eescombros de demolição, estrume de animais industriais,vísceras de operações de abatedouros e vacas incineradas.15

Os novos senhores da biomassa 7

As plantas, em particular, foram uma fonte de combustível eprodução material por milênios, mas o novo uso do termo‘biomassa’ assinala uma mudança industrial específica narelação da humanidade com as plantas. Ao contrário do termo‘planta’, que indica um mundo taxonômico diverso, de variadasespécies e múltiplas variedades, o termo biomassa trata toda amatéria orgânica como se fosse a mesma “coisa de planta”indiferenciada.

Reposicionadas como biomassa, as plantas são semanticamentereduzidas a seus denominadores comuns de tal forma que, porexemplo, pastagens e florestas são comercialmente redefinidascomo fontes de celulose e de carbono. Desse modo, a biomassaopera como um termo reducionista e antiecológico, tratando amatéria vegetal como uma commodity abundante ehomogênea. Assim como os outros ‘bios’ (os biocombustíveis ea biotecnologia), o uso do termo biomassa para descrevercoisas vivas acende o alarme de que há interesses industriais emjogo.

A bioeconomia, também conhecida como…

Neste relatório utilizamos os termos bioeconomia oueconomia da biomassa. Apresentamos, aqui, alguns dostermos utilizados por outras instituições para se referir àvisão industrial de transformar material biológico vivo embens e serviços:

A economia de base biológica – OECDBioeconomia baseada no conhecimento (KBBE, por suasigla em inglês) – União Europeia

Indústria da biorrefinação industrial – Fórum EconômicoMundial

Biotecnologia branca ou biotecnologia industrial –Organização da Indústria de Biotecnologia

A economia verde e serviços da biodiversidade – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente(PNUMA)

A economia dos carboidratos – Instituto para aAutonomia Local (ILSR)

A revolução bioeconômica – Conselho de Pesquisa eDesenvolvimento em Biomassa do governo dos EUA

Celulose – O açúcar-maravilha“O robusto carvalho e a imponente palmeira, o gramadoque cobre a boa Terra, os líquens que vestem as rochas, atémesmo a minúscula alga que floresce no mar, todos estãofabricando celulose. Ela é a grande substância primária detodo o reino vegetal.”– Williams Haynes, Celullose: The Chemical that Grows,195316

Se a fina camada de material vivo que cobre o planeta Terrafosse removida e reduzida aos componentes que a constituem,a maior parte do que se obteria é um açúcar verde chamadocelulose. Ela é encontrada em todas as plantas, como tambémem alguns micróbios, na forma de longas cadeias de glicose emuma estrutura fibrosa ou, ocasionalmente, cristalina.17 Essecomponente molecular comum está rapidamente se tornandoo queridinho da indústria por quatro razões:

Abundância: A Terra produz cerca de 163 bilhões detoneladas de celulose a cada ano.18 Isso a torna o compostoorgânico mais abundante sobre o planeta.

Energia: A celulose é a fonte principal de energia para anutrição animal e a geração de calor para humanos (quandomateriais vegetais são queimados).

Flexibilidade: Muitos dos primeiros plásticos eramproduzidos à base de celulose de plantas. A celulose pode sermodificada e funcionalizada quimicamente de diferentesformas para produzir novos polímeros, revestimentos, óleos ecombustíveis.19 O trabalho recente também mostrou quenanofibras de celulose podem ser modificadas paraapresentar propriedades inovadoras adicionais.20

Celulose não é (necessariamente) alimento: Enquantohortaliças e grãos têm um componente celulósico grande, oscomponentes não alimentares das plantas também o têm. Osdefensores dos biocombustíveis argumentam que a celuloseencontrada nos caules e folhas das plantas pode ser destinadaao uso industrial, enquanto as frutas ou grãos são deixadospara o abastecimento alimentar.

Mas, apesar da celulose ser abundante, uma limitaçãosignificativa tem sido a dificuldade de separá-la de outroscomponentes das plantas (ver diagrama na página ao lado). Namaior parte das vezes, a celulose está ligada a uma matriz decompostos conhecidos como lignocelulose, a qual, por sua vez,é composta de lignina (uma substância dura, rica em carbono)e hemicelulose (uma mistura de outros açúcares).

Para separar a celulose da lignina e reduzi-la a açúcares maissimples é necessário um processo de calor intenso ou aaplicação de químicos fortes ou enzimas, comoas encontradas nos sistemas digestórios devacas e cupins. A tarefa de separarindustrialmente a celulose tornou-seagora uma das mais ativas áreas depesquisa na ciência da energia emateriais.21

Simplificando – “Ainda é a economia do carbono, imbecil”

“É o conteúdo de carbono dessa biomassa e suaaplicabilidade para muitos usos que a torna a matéria-prima preciosa do futuro.”– Energy Matters, Informativo do Programa de TecnologiasIndustriais do Departamento de Energia dos EUA, Verão de2010

“A base para uma bioeconomia é a geração de carbonoutilizando recursos renováveis, como cultivos e outros tiposde biomassa, em vez de depender de carbono nãorenovável baseado em petróleo.”– Georg Anderl, presidente da Associação para oDesenvolvimento BIOWA, 200422

Numa era de reservas de petróleo cada vez mais restritas, não éde surpreender a excitação comercial relativa à celulose comouma nova fonte “não convencional” de carbono. Ascompanhias envolvidas com biocombustíveis e biomateriaisgeralmente se referem a plantas simplesmente como uma fontede moléculas de carbono, deixando invisíveis seus outroscomponentes e funções. O balanço das reservas globais decarbono pelas companhias de energia revela que os bilhões detoneladas de carbono presos nos estoques globais de biomassa

ultrapassam de longe as reservas conhecidas de petróleo egás natural, equiparam-se com xisto e areias de

alcatrão combinados, e só são superadospelos depósitos de carvão.

Em nível global, os estoquesrecuperáveis de carbono contidosem todos os combustíveis fósseissão estimados em 1,1 trilhão detoneladas,23 enquanto a biomassacontém aproximadamente ametade dessa quantia de carbono(503 bilhões de toneladas – ver ográfico Quanto carbono?, napágina seguinte). Como destaca aanalista comercial de

biocombustíveis Rosalie Lober, “osbiocombustíveis são jazidas de petróleo

na superfície, um tipo diferente de reservasverificadas.”24

Grupo ETC 8 www.etcgroup.org

Como os defensores dabiomassa veem as plantas (a composição química típica da ‘biomassa’)

Celulose38-50 %

polímero deglicose,

excelentematéria-prima

bioquímica Hemicelulose23-32 %

polímero de 5 e 6átomos de carbono

por molécula

Lignina15-25 %complexa estrutura aromática,

muito alto conteúdoenergético

Outros5 %

Fonte: USDA

Lignocelulose:

Material lenhoso; uma emaranhada matriz de fibras

de celulose, fibras de hemicelulose e lignina que é o principal componente da parte lenhosa

das plantas.

lignina

celulose

hemicelulose

ésteres

Os trópicos são também onde a biomassa se renova maisrapidamente e onde a biomassa marinha, principalmente ofitoplâncton, é mais produtiva.28

Não por acaso, essas áreas do planeta onde há maiorconcentração de biomassa já estão atraindo o interesse decompanhias que querem produzir biocombustíveis, químicosde base biológica e bioeletricidade. O Brasil, em particular,presenciou um aumento maciço em investimentos dirigidos àbioeconomia. De fato, o Fórum Econômico Mundial sugeriuque “deve surgir uma nova divisão internacional do trabalho naagricultura” entre países tropicais produtores de biomassa epaíses do Norte – embora não esteja claro o que há de tãonovo nessa divisão do trabalho.29

A indústria se deu conta de que “geografia é destino”, diz MarkBünger, que acompanha a bioeconomia como diretor depesquisa na Lux Research. Bünger explicou a AntonioRegalado, da publicação Technology Review, que “apenaspoucos lugares no planeta têm a chuva, o sol e a extensãoterritorial necessários para produzir biocombustíveis na escalae preço que podem ter um impacto real”.30 Assim, enquanto oBrasil está em primeiro lugar, a África Subsaariana é umsegundo lugar bem próximo, o que se evidencia na corrida pelagrilagem legalizada de terras e no crescente interesse emplantar cana-de-açúcar na região.31

Os novos senhores da biomassa 9

Geopoliticando – Está tudo no Sul

“Se olharmos uma foto do globo terrestre… é muitofácil ver onde estão as partes verdes, e esses são oslugares onde se poderiam, talvez idealmente,cultivar matérias-primas.”– Steven Koonin, subsecretário para Ciência doDepartamento de Energia dos EUA e ex-chefe depesquisa na BP, 200925

“É provável que surja uma nova divisãointernacional do trabalho na agricultura, entrepaíses com grandes áreas de terra arável – e,portanto, prováveis exportadores de biomassa ouseus derivados densificados – e aqueles países comáreas menores de terra arável (isto é, importadoresde biomassa, como a Holanda). Há expectativasde que os maiores centros exportadores debiomassa sejam o Brasil, a África e a América doNorte.”– Fórum Econômico Mundial26

Apesar do planeta parecer verde e rico em biomassaquando visto do espaço, o segredinho sujo da economia dabiomassa é que – assim como as reservas de carbonofossilizado (petróleo, carvão, gás natural) – as reservas decarbono vivo não estão equitativamente distribuídas. Emtermos mundiais, estima-se que a vegetação terrestre armazeneuns 500 bilhões de toneladas de carbono. Entretanto, 86%disso (430 bilhões de toneladas) está armazenado nos trópicose subtrópicos, enquanto as ecorregiões boreais e temperadasarmazenam somente 34 bilhões de toneladas e 33 bilhões detoneladas respectivamente.27

Quanto carbono? Estoques globais estimados de carbono‘recuperável’

Estoque de biomassa nos oceanos - 3 GtC

0 500 1000Gigatoneladas de carbono (GtC)

Fontes: Dr. Jeff Siirola (Instituto Americano de EngenheirosQuímicos), Mark Maslin e IPCC

Reservas recuperáveis de gás - 75 GtC

Reservas recuperáveis de petróleo - 120 GtC

Xisto betuminoso estimado - 225 GtC

Areias betuminosas estimadas - 250 GtC

Biomassa terrestre - 500 GtC

Carvão recuperável - 925 GtC

Onde está a biomassa?Densidade de carbono da biomassa superficial e subterrânea

Fonte: http://cdiac.ornl.gov/epubs/ndp/global_carbon/FINAL_DATASETS.jpg

Grupo ETC 10 www.etcgroup.org

A extração de biomassa – Um saqueio globalEm curto prazo, as nações com áreas significativas de florestasremanescentes e áreas crescentes de monocultivos deárvores (Brasil, Estados Unidos, Indonésia,Canadá, Rússia e nações da África Central)competirão entre si para se estabelecer como“a Arábia Saudita da biomassa”.33 Com otempo, entretanto, os ecossistemasagrícolas, as pradarias, os desertos e osecossistemas oceânicos também seconverterão, de forma crescente, emalvos do assalto global sobre a biomassa.Cada um desses ecossistemas temvantagens como uma fonte de biomassa.Apesar de os senhores da biomassa alegaremque um dia serão capazes de usar qualquerbiomassa disponível, hoje eles estão visando asmesmas plantas que já são exploradas pela agricultura esilvicultura industriais – milho, cana-de-açúcar, soja e espéciesde árvores de rápido crescimento, como eucalipto, álamo,dendê e pinus.

Florestas naturais

As florestas naturais, que constituem o maior repositório queexiste de biomassa terrestre, estão sofrendo a maior parte dapressão imediata da nova extração de biomassa. Embora asflorestas tenham sido reduzidas durante séculos por práticasinsustentáveis de corte, elas ainda alojam milhões de indígenas,alguns dos mais diversificados ecossistemas do planeta, e têmum papel crucial na regulação do clima.

Com o passar do tempo, os custos políticos e sociais daremoção de biomassa das florestas naturais remanescentes nomundo podem se revelar demasiado elevados para sustentaruma indústria da biomassa que depende dela. A mudançaclimática já está criando uma enorme pressão sobre osecossistemas florestais, de forma que qualquer volume deremoção de biomassa aumentará o risco de incêndios, depragas e de saturação do solo, entre outras consequênciasnegativas.34

Plantações

As plantações de monocultivos de árvores de rápidocrescimento ricas em celulose, como eucalipto, álamo e pinus,ou de árvores produtoras de óleo, como o dendê e o pinhão

manso, já estão proliferando, particularmente no Sulglobal, com frequência em terras onde anteshavia florestas. Desde 1980, as plantaçõesflorestais tropicais se expandiram em quasecinco vezes,35 e a procura por biomassaestá acelerando essa tendência. Emgrande parte privados, com valormínimo em termos de biodiversidade eimpactos negativos relevantes sobre aágua e os solos, os monocultivos deárvores e agrícolas serão a principal fonte

de biomassa para uso industrial naspróximas décadas, desmantelando

comunidades e ecossistemas, alimentando lutaspor terras e água e aumentando a iniquidade. A indústria

florestal gosta de fingir que tais plantações deveriam serclassificadas como florestas; entretanto, plantações de árvoresem monocultivo, em termos ecológicos, têm muito poucasemelhança com florestas naturais.

Ecossistemas agrícolas

O assalto mais organizado e eficiente sobre a biomassa doplaneta é representado pelo 1,5 bilhão de hectares de cultivosde alimentos e fibras.36 Existem razões óbvias de preocupaçãose o propósito primário da agricultura for deslocado daprodução de alimentos para a produção de materiais e energia.Mas a indústria vê os ecossistemas agrícolas como atraentesfontes de biomassa, porque eles já são bem projetados para acolheita, armazenamento e transporte para o mercado. Naagricultura, o objetivo em curto prazo para os mercados debiomassa será a apropriação de “resíduos” dos cultivoscomerciais, tais como palhada de milho e de arroz e casca detrigo e de algodão, bem como a introdução de gramíneascelulósicas de rápido crescimento, como bambu, Switchgrass eMiscanthus. Infelizmente, a remoção de resíduos vegetais daslavouras terá efeitos prejudiciais significativos sobre os solosagrícolas; as gramíneas de rápido crescimento poderiamaumentar o uso de água e se tornar invasoras. Enquanto isso, apressão para submeter os solos nobres à produção de biomassairá erodir ainda mais a soberania alimentar e as medidas deconservação.

“Enquantoolhávamos para o mundo e olhávamos onde estava a

biomassa de custos mais baixos emaior escala, descobrimos que o Brasilrealmente era a Arábia Saudita dos

renováveis.”– John Melo, diretor executivo da

Amyris Biotechnologies,Inc.32

Os novos senhores da biomassa 11

Pastagens

Apesar do uso comercial de pradarias, pastagens e campos terse limitado principalmente a alimentar animais de pastoreio, aprocura por biomassa está introduzindo um novo mercadopara essas terras. O corte regular de pastagens diversificadasque normalmente requerem baixo uso de insumos para aprodução de feno foi proposto como uma solução ecológicapara a extração de biomassa que iria, supostamente, manter abiodiversidade nativa in situ.

‘Fluxo global da biomassa’ pelo Beehive DesignCollective

Mas a suposição de que áreas de pradarias podem continuarbiodiversas sob tais condições de manejo é contestada, assimcomo o é o potencial para gerar qualquer ganho real deenergia.37 Entretanto, à medida que se intensifica a busca pornovas fontes de biomassa, as pastagens podem se tornar umfator de importância crescente na equação ou se converter cadavez mais em monocultivos agrícolas ou de árvores – comimpactos sobre a produção de animais, os direitos de pastoreioe a biodiversidade.

Grupo ETC 12 www.etcgroup.org

Ecossistemas marinhos

As algas e a vegetação marinhas nos oceanos do mundo sãoresponsáveis por quase a metade da produção global anual debiomassa (48,5%), que até agora foi difícil de acessar para usosindustriais ou para a produção de alimentos.38 Assim, osoceanos representam um enorme recurso inexplorado, e aprocura por biomassa irá inevitavelmente ter um impactosobre os ecossistemas marinhos.

O atual cultivo industrial de algas e vegetação marinhas é empequena escala se comparado com a vastidão dos recursosdisponíveis. É difícil operar nos oceanos, e eles estãoamplamente sob regimes de governança comum, deforma que a extração de uma quantidade maiorda biomassa oceânica existente ou aampliação da maricultura de algas podemexigir novas tecnologias e,possivelmente, novos acordosjurídicos internacionais.

No curto prazo, o cultivo de algasmuito provavelmente se expandiráem terra firme, particularmente emtanques no deserto. Entretanto, ascompanhias já estão experimentandocom a colheita de algas silvestres nasbaías e áreas costeiras para a produção decombustível e químicos (por exemplo, BlueMarble, Seattle, EUA).39 Outras estãotestando o cultivo de algas em fazendas ao largo dacosta e o “corte” de algas no leito marinho.

Desertos e áreas úmidas

Apesar de não serem o alvo imediato para a extração debiomassa, os desertos, áreas úmidas e outras terras classificadascomo ‘marginais’ se encontram sob pressão à medida que anecessidade de abastecimento de biomassa altera o uso daterra, e outras atividades humanas, como assentamentos, estãosendo movidas para esses ecossistemas mais remotos e maisfrágeis. Os desertos e terras áridas, em virtude da ampladisponibilidade de luz solar, já estão sendo alvos para aprodução em grande escala de algas em tanques e estufas epodem muito bem ser plantados com novas variedades degramíneas e cultivos engenheirados para ser tolerantes à seca.Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de variedades decultivos tolerantes à salinidade pode também invadirecossistemas úmidos.

De volta para o futuro? Carboidratosversus hidrocarbonetos…Do craqueamento do petróleo aohackeamento de plantasOs promotores da economia da biomassa gostam de falar deuma mudança que está chegando, de uma economia dehidrocarbonetos (baseada em combustíveis fósseis) para umaeconomia de carboidratos (baseada em plantas).Quimicamente falando, a diferença entre um hidrocarboneto eum carboidrato se reduz a alguns átomos de oxigênio. Os

carboidratos são açúcares compostos de carbono,hidrogênio e oxigênio e são considerados matéria

orgânica. Os hidrocarbonetos,diferentemente, são compostos somentede hidrogênio e carbono e sãoclassificados como minerais.

Mas, em termos históricos (e,inclusive, na perspectiva atual dascomunidades locais e indígenas),são os carboidratos das plantas queprimam por assegurar a satisfaçãodas necessidades humanas. Tãorecentemente como na década de

1820, a população dos Estados Unidosconsumia duas toneladas de vegetais para

cada tonelada de minerais como matéria-prima para corantes, substâncias químicas,

tintas, solventes e inclusive energia. Pelos anos 1920, arelação tinha se invertido, e, em meados dos anos 1970, osnorte-americanos consumiam 8 toneladas de minerais paracada tonelada de carboidratos de plantas.41 Dois fatorespossibilitaram essa mudança mais recente:

• A maior densidade energética dos combustíveis fósseis: meiatonelada de carvão contém a mesma quantidade de energiaque duas toneladas de madeira verde. O carvão e, mais tarde,o petróleo (o qual é ainda mais denso e mais fácil detransportar) assumiram o controle como os combustíveispreferidos para a revolução industrial.42

• O sucesso da petroquímica: os pioneiros da química sintéticaaprenderam a transformar alcatrão de carvão em lucrativoscorantes e, finalmente, a ‘craquear’ o petróleo em muitasmoléculas que podiam ser refinadas em combustíveis, ceras,explosivos, agrotóxicos, plásticos, tintas, fármacos,cosméticos, têxteis, borracha, gasolina, asfalto e muito mais.43

“Um terço da terramundial não é arável; 11%

são utilizados para o plantio de cereais e outros cultivos, e 55% são de

pastagens, pradarias, savanas e florestas.Parece que há terra de sobra.”

– Steven Koonin, subsecretário para Ciênciado Departamento de Energia dos EUA e

ex-chefe de pesquisa da BP, sobreencontrar terras para os cultivos

de biomassa, 200840

Os novos senhores da biomassa 13

Hoje, contudo, os mercados voláteis, o potencial de lucro dosmercados de carbono, o desenvolvimento de novas tecnologiase as preocupações com o pico do petróleo [esgotamento] estãoajudando a estimular um retorno ao uso de biomassa viva. Emparticular, assim como no século XIX os desenvolvimentos naquímica sintética tornaram possível a economia doshidrocarbonetos, hoje a inovação na biologia sintética permiteàs companhias atualizar a economia dos hidrocarbonetos paraincluir matérias-primas de carboidratos.

Vendendo a mudançaA análise do Grupo ETC indica que o que está realmenteimpulsionando o investimento na nova bioeconomia é o bome velho oportunismo capitalista. Contudo, os proponentesestão cheios de novas roupagens para disfarçar seu velho estiloimperialista. A seguir se expõem apenas algumas das alegaçõescomumente utilizadas para justificar a nova apropriação dabiomassa.

1. Doces sonhos : a economia dos carboidratos

A expressão “economia dos carboidratos” foi originalmentecunhada por ativistas do Instituto para a Autonomia Local(ILSR, por sua sigla em inglês), os quais, no início dos anos1990, descreveram uma visão sobre produzir químicos emateriais industriais com base em plantas em vez de petróleo.44

Seu interesse em materiais vegetais (isto é, biomateriais)derivava da esperança de que tais materiais pudessem serprojetados para se degradar melhor no ambiente, ao contrárioda maioria dos plásticos baseados em petróleo.

2. Verdes sonhos : recursos ‘renováveis’ e aeconomia do hidrogênio

A biomassa foi incluída de forma consistente nas descrições edefinições do que constitui um recurso renovável, já que,teoricamente, plantas e árvores crescem novamente depois dacolheita. A biomassa é também, ocasionalmente, descrita comouma forma de energia solar, uma vez que plantas tiram suaenergia do sol (ver página 29, “A biomassa é realmenterenovável?”). A biomassa também é vista como um recursochave para desenvolver uma outra visão ‘verde’, a noção de uma‘economia do hidrogênio’, já que o hidrogênio também podeser extraído de plantas.

3. Sonhos refrescantes : a economia neutraem carbono

A atual urgência para tratar do problema da mudançaclimática induzida pelas atividades humanas colocou abiomassa no centro das políticas energéticas dos governos. Jáque as plantas conseguem sequestrar dióxido de carbono daatmosfera, os formuladores de políticas consideraram a matériavegetal como matéria-prima ‘neutra em carbono’ para aprodução de energia, argumentando que qualquer emissãoliberada na produção de bioenergia é ressequestrada com oreplantio (ver página 21, “O mito do carbono neutro”). Em2008, a Agência Internacional de Energia (IEA, por sua siglaem inglês) calculou que a energia derivada de biomassarepresentou 77% da produção global de energia “renovável”.45

4. Sonhos patrióticos : independênciaenergética

Pelo menos nos EUA, a ideia de uma bioeconomia nacionaltem forte apelo popular como um baluarte patriótico contra oterrorismo e as guerras pelo petróleo. Através da “redução dadependência de petróleo estrangeiro”, prossegue a ladainha, osbiocombustíveis e os bioplásticos reforçam a soberanianacional ao mesmo tempo que retiram os fundos dos estadospetroleiros extremistas. Essa noção atravessa todas asorientações políticas, penetrando o sentimento antibélico daesquerda e o ufanismo e temores relacionados com segurançada direita.

Definições:

Carboidratos: açúcares e amidos; moléculas orgânicascompostas principalmente por átomos de carbono,hidrogênio e oxigênio encontradas em material deplantas vivas. O carboidrato mais abundante é a celulose.

Hidrocarboneto: mineral rico em carbono; uma misturade carbono e hidrogênio, o termo é frequentementeutilizado para descrever matérias-primas fósseis comocarvão, petróleo e metano (embora haja hidrocarbonetosque não são combustíveis fósseis).

6. Sonhos tecnológicos : tecnologiasconvergentes e ‘tecnologia limpa’

A expressão ‘tecnologias convergentes’ refere-se ao modo comocampos tecnológicos aparentemente distintos como ananotecnologia, a biotecnologia, a tecnologia da informação ea robótica podem se combinar para criar uma poderosaplataforma tecnológica híbrida. Nos círculos políticoscientíficos europeus, propõe-se que as tecnologiasconvergentes poderiam ser direcionadas principalmente paraaplicações ‘sustentáveis’ como a bionergia e ‘tecnologiasclimáticas’ para impulsionar o crescimento econômico.46

Os principais cientistas e capitalistas de risco nos EstadosUnidos batizaram essa próxima onda de tecnologiasambientais de ‘tecnologias limpas’ – uma área multibilionária

de investimentos que inclui biocombustíveis,bioenergia, bioplásticos e, em geral, a maior parte dosmateriais de base biológica, bem como as tecnologiassubjacentes que a possibilitam, como a biologiasintética e a nanotecnologia.

Contabilizando a economia dabioma$$aA transformação de palha (e outras formas decelulose) em dinheiro não é algo novo. Um relatóriode 2008 do Departamento de Agricultura dos EUA(USDA) indica que, em termos mundiais,anualmente já são produzidos derivados de biomassano valor de mais de 400 bilhões de dólares, incluindopolpa e papel, madeira serrada, tintas, graxas elubrificantes.47 A única estimativa combinadadisponível publicamente de quanto dinheiro se podefazer com os novos mercados de base biológica(energia, químicos, plásticos, combustíveis e outrosmercados associados) é do Fórum EconômicoMundial, que estima um mercado de 300 bilhões dedólares em 2020.48 No entanto, os exemplos deprevisões mostrados a seguir totalizam cerca de meiotrilhão de dólares em 2020, e é possível que as cifrassejam ainda maiores.

Eletricidade de bioma$$a – De acordo com a PikeResearch, o valor do mercado de eletricidade gerada apartir de biomassa nos Estados Unidos aumentarágradualmente para 53 bilhões de dólares até 2020,partindo de aproximadamente 45 bilhões de dólaresem 2010.49 O Fórum Econômico Mundial coloca ovalor global combinado de aquecimento e energia debiomassa em 65 bilhões de dólares até 2020.50

Grupo ETC 14 www.etcgroup.org

5. Sonhos de saltar à frente : desenvolvimentolimpo e o movimento pelos ‘empregos verdes’

Como ajudar que as economias mais pobres se ‘desenvolvam’ e,ao mesmo tempo, evitar as indústrias sujas e o consumo derecursos típicos do mundo desenvolvido? Esse é o supostodilema que os defensores de um ‘salto ambiental’ pretendemresolver através do uso de novas tecnologias para criar umdesenvolvimento mais limpo, mais verde. No âmbito da ONU,essa ideia tomou forma na visão de ‘economia verde’ doPNUMA (ver página 26, “A economia verde”). Enquanto isso,um movimento emergente por ‘empregos verdes’ argumentaque as tecnologias verdes da bioeconomia podem resgatar aforça de trabalho industrial estagnada da América do Norte eda Europa.

Uma apropriação, não uma mudançaAtribuir o aumento recente da bioeconomia e o interesse crescente nabiomassa apenas a uma consciência de mentalidade verde ounacionalista é supor erroneamente que os dirigentes das grandescorporações e das economias da OECD são movidos por taispreocupações. Assim como ocorreu nas transições industriaisanteriores, o que está por trás da corrida pela biomassa não são altosideais, mas o interesse calculado do lucro final corporativo. Longe deser uma mudança para uma nova economia, a transição para abiomassa descreve a nova versão da mesma velha economia deprodução, consumo, acumulação de capital e exploração – agorasaqueando uma nova fonte de carbono para manter as máquinasindustriais em movimento.

Em termos econômicos, o efeito de transformar celulose e outrosaçúcares em matérias-primas viáveis para combustíveis, substânciasquímicas e eletricidade significa atribuir potencial de lucro agramíneas, algas marinhas e ramas anteriormente não lucrativas. Deforma ainda mais significativa, qualquer terreno ou corpo de água quepossa sustentar plantas ricas em celulose adquire um maior valor porser uma fonte potencial de biomassa, um fato que já está acelerando agrilagem legalizada de terras global que se iniciou originalmente como propósito de assegurar o abastecimento de alimentos. Se o golpe dabiomassa tiver sucesso, então as tecnologias de transformação dabiomassa (especialmente a nanotecnologia, a biotecnologia e abiologia sintética) se tornam importantes chaves para extrair valor, epromover as indústrias que as controlam.

Não é coincidência nenhuma que os mais fiéis proponentes daeconomia da biomassa na década passada não tenham sido ONGsambientalistas, mas grandes corporações da biotecnologia, química,florestamento e agronegócio.

Os novos senhores da biomassa 15

Combustíveis de bioma$$a – A Pike Research afirma que osmercados de biodiesel e etanol somam vendas de 76 bilhões dedólares em 2010, e que essa cifra deve subir para 247 bilhõesde dólares até 2020. O mercado global total debiocombustíveis poderia ultrapassar 280 bilhões de dólares até2022.51

Bioma$$a e produtos químicos de base biológica – Em2005, a McKinsey & Company estimou que materiais eprodutos de base biológica (por exemplo, bioplásticos,químicos bioderivados e químicos refinados por meio debiotecnologia) responderam por 7%, equivalentes a 77 bilhõesde dólares, das vendas globais do setor químico.52 Até 2008, ovalor tinha aumentado para 170 bilhões de dólares, e previa-seque alcançaria 513 bilhões até 2020.53 Uma estimativa de 2008do USDA (baseado nas cifras de 2006) previu que químicosde base biológica responderiam por 22% de todas as vendas daindústria química até 2025.54 Essas cifras, entretanto, nãofazem distinção entre as substâncias químicas derivadas dabiomassa e a produção através de processos biotecnológicos.Um estudo de Frost & Sulivan, de março de 2009, identificouque o faturamento do mercado global de substâncias químicasbiorrenováveis (isto é, químicos produzidos a partir debiomassa ao invés de petróleo) atingiu apenas 1,63 bilhões dedólares em 2008 (apenas 4% das vendas), mas pode alcançar5,01 bilhões de dólares até 2015.55

O Fórum Econômico Mundial relata que as substânciasquímicas de base biológica devem aumentar sua participaçãona produção total de químicos para cerca de 9% de todos osquímicos até 2020, citando uma cifra de 6 bilhões de dólares.56

De acordo com uma análise otimista da Helmut KaiserConsultancy, os bioplásticos já respondem por 10-15% domercado total de plásticos e poderiam aumentar sua fatia demercado para 25-30% até 2020.57

O elefante branco da bioma$$a – Uma conclusão inevitávelao se analisar a economia da biomassa é que, nesta etapa, seusmais agressivos promotores são, em particular, governos quealocam bilhões de dólares para subsidiar a produção debiocombustíveis. Pesquisas do Banco Mundial e da IniciativaGlobal sobre Subsídios (GSI, por sua sigla em inglês) sugeremque os subsídios governamentais anuais para biocombustíveisexcedem, atualmente, os 15 bilhões de dólares e poderiamsubir para mais de 50 bilhões de dólares até 2020.58 “Para ospróximos anos, parece que os governos sinalizaram que o céu éo limite”, explica Simon Upton, diretor da GSI. De acordocom o Banco Mundial, 24 países têm metas obrigatórias para aprodução de biocombustíveis, enquanto 12 países e mais aUnião Europeia oferecem isenções fiscais e créditos para aprodução e utilização de biocombustíveis.59

Investimentos em (bio)ma$$a – A emergente indústria dabiomassa colocou a si própria numa posição privilegiada parainvestimentos de capital de risco – a chamada ‘tecnologia limpa’.Um estudo da Lux Research de mais de 100 investimentos decapital de risco no setor de biociências documentou umincremento significativo em acordos de investimento embioenergia quando o governo dos EUA fixou metas obrigatóriaspara o etanol em 2005.60

Entre 1998 e 2008, pelo menos 4,17 bilhões de dólares decapital de risco fluíram para esse setor. Muitas das principaisempresas de capital de risco dos EUA que tinham financiado oboom das empresas da Internet mudaram para “tecnologiasambientalmente amigáveis”, principalmente a energia solar ebiocombustíveis.61 A Draper Fisher Jurvetson, do Vale do Silício,que originalmente financiou o Skype e o Hotmail, estava entreos primeiros investidores em biologia sintética, provendo capitalinicial para a Synthetic Genomics, Inc., de Craig Venter(dedicada principalmente aos biocombustíveis).

Dizem que outro investidor de risco do Vale do Silício, a KleinerPerkins Caufield & Byers, cujos sucessos anteriores incluem oGoogle, AOL, Amazon.com e Sun Microsystems, tinhapatrocinado cinco empresas diferentes de biocombustívelcelulósico até 2008,62 aconselhada pelos ilustres Al Gore e BillJoy. Enquanto isso, o ex-parceiro comercial de Bill Joy, VinodKhosla, da Khosla Ventures, é apelidado de “o barão dosbiocombustíveis” por financiar mais de uma dúzia decompanhias start-up de biocombustíveis, a maioria de produçãode etanol, das quais pelo menos cinco são companhias debiologia sintética.

De acordo com dados da Rede sobre Políticas em EnergiasRenováveis para o Século XXI (REN21, por sua sigla eminglês), os biocombustíveis receberam 19,6 bilhões de dólares deativos financeiros em 2007, mas o financiamento caiu para 15,4bilhões de dólares em 2008 e despencou para apenas 5,6 bilhõesde dólares em 2009. Entretanto, a REN21 vê uma reversão natendência, com grandes investimentos hoje em andamento parabiocombustíveis no Brasil. Ao mesmo tempo, investimentosprivados em projetos de bioeletricidade subiram de 9 bilhões dedólares em 2008 para 10,4 bilhões de dólares em 2009.63

Bioenergia: é energia produzida a partir da biomassa. Refere-se a qualquer processo que transforma material biológicoem energia, incluindo a produção e uso de biocombustíveis,a geração de eletricidade a partir de biomassa e a biomassausada para aquecimento e cozimento.

Grupo ETC 16 www.etcgroup.org

Onde está o dinheiro na economia da biomassa?Projeção em 2010 de faturamentos globais na cadeia produtiva da biomassa

Fonte: O Fórum Econômico Mundial prevêque a economia da biomassa valerá 295bilhões de dólares até 2020 (valores por setor,em bilhões de dólares).64

Insumos para abiorrefinação

10 bilhões de dólares

Enzimas, organismos e químicos para pré-tratamentos da biomassa

Produção de biomassa

89 bilhões de dólaresSilvicultura de curta rotação

cultivos para energiacana-de-açúcar

Biorrefinação decombustíveis

80 bilhões de dólaresProdução de biocombustíveis

de primeira e segunda geração

Insumos agrícolas

15 bilhões de dólares

Sementes, proteção de cultivos e

fertilizantes

Biorrefinação de químicos e derivados

6 bilhões de dólares

Fermentação de produtos de química pesada,

polimerização e reações em fases posteriores

Comércio e logísticade biomassa

30 bilhões de dólaresAgregação, logística e comércio de biomassa

Energia eaquecimento a partir

de biomassa

65 bilhões de dólaresCombustão combinadaaquecimento e energia

“E se recolhêssemos a metade da palhada de milho das lavouras [do estado de Iowa, EUA], deixando a outra metadepara o controle de erosão. Quanto teríamos a cada ano? O número chega a 22 milhões de toneladas.Se transformarmos 22 milhões de toneladas em 4,4 centavos de dólar por kg, isso é um bilhão de dólares. E se pudéssemos mover isso mais para cima na cadeia de valor e pegar esses 22 milhões de toneladas e fazê-las valertanto quanto um agriplástico, de cerca de 3,3 dólares por kg? Então, estamos falando de adicionar 72 bilhões dedólares à economia do estado. Estamos, simplesmente, quase dobrando a economia do estado.” – Floyd Barwig, diretor do Iowa Energy Center, 200465

UAU!Esta é realmenteuma tecnologia

verde!

Terras marginais paralucros estratosféricosOs promotores da biomassa referem-se aterras “marginais”, “improdutivas”, “ociosas”,“degradadas”, “abandonadas” e “baldias”como os alvos para extração de biomassa,argumentando que estão disponíveis, emtodo o mundo, cerca de 500 milhões dehectares de terras abandonadas oumarginais nas quais se podem plantarcultivos para biomassa.69 Tais argumentosparecem ser baseados em dados de satélitesmostrando áreas que antes eram terras decultivo. Entretanto, uma olhada mais de

perto, do nível do solo, nessas “terras marginais” revela que,frequentemente, é nelas onde subsistem populaçõesmarginalizadas. Longe de estarem ‘abandonadas’ ou ‘degradadas’,elas têm usos que são simplesmente invisíveis para um sistemaque unicamente reconhece a propriedade privada e a agriculturaindustrial (e faz suas avaliações a partir do espaço sideral).

Como explica uma coalizão de organizações da sociedade civilnuma investigação sobre o mito das terras marginais: “Existemcomunidades que usam essas terras ricas em biodiversidadepara produzir seus alimentos, obter renda, para pastoreio emedicina. Elas reclamam da negação de sua existência e nemsempre concordam que a conversão de suas terras para aprodução de agrocombustíveis trará benefícios de‘desenvolvimento’.”70 Um estudo de Gören Berndes, querevisou 17 estudos de viabilidade de bioenergia, revelou que

“terras identificadas como degradadas são, frequentemente,a base de subsistência para populações rurais”.71

Por exemplo, terras com cobertura degramíneas são descritas como “ociosas”mesmo quando são fonte de subsistênciapara pastores e nômades que necessitamuma extensa área de pastoreio para manterum impacto leve sobre ecossistemasdelicados. Jonathan Davies, coordenadorglobal da World Initiative for SustainablePastoralism, com sede em Nairobi, Quênia,

comenta, “Essas terras marginais não existemna escala que as pessoas acreditam.

Os novos senhores da biomassa 17

A biomassa de quem?Uma fábula de duas bioeconomiasOs pregadores da nova bioeconomia gostam depintá-la como um retorno a uma economiaantiga, sustentável, na qual a civilização humanacontava com a generosidade natural do presenteao invés de roubar dos depósitos minerais dopassado. Mas, enquanto a economia globalcomo um todo pode ter feito um desvio de umséculo de duração daquela economia de basebiológica, bilhões de pessoas não o fizeram. Elas– isto é, camponeses, povos indígenas, pastores,pescadores, habitantes das florestas e outrascomunidades tradicionais – permaneceramindependentes da economia dos hidrocarbonetos. Contudo, àmedida que a mudança climática se acelera, elas estão pagandoo preço disso...

• Dois séculos após a revolução industrial ter começado aqueimar carvão, três bilhões de pessoas, dois terços das quaisvivem no Sul global, ainda dependem da lenha como fonteprimária de combustível para cozinhar e para aquecimento.66

• Cento e trinta anos depois de Edison tornar possível adistribuição de energia, 1,6 bilhões de pessoas não têm acessoa eletricidade, seja ela produzida por carvão, vento, água oulascas de madeira.67

• Cento e quarenta anos depois de Siegfried Marcus acoplarpela primeira vez um motor de combustão a um veículo, 2bilhões de pessoas ainda dependem de animais como suafonte principal de energia para a agricultura e o transporte.Na realidade, a metade das terras agrícolas no Sulglobal é trabalhada exclusivamente poranimais.68

Essas economias baseadas nabiodiversidade dependem exatamentedos mesmos recursos naturais (plantas,terra, água, produtos animais) que anova bioeconomia pretende tomarpara converter em produtos químicosindustriais e energia. Além disso, a assimchamada ‘biomassa’ de que a indústriapretende se apossar não somente já éutilizada como um recurso poressas comunidades, mas tambémestá profundamente interconectadacom suas culturas e sistemas deconhecimento.

“A terra mais aptapara a geração de biomassa(América Latina e África

Subsaariana) é a que está menosutilizada.”

– Apresentação de Steven Chu (atualSecretário de Estado para Energia dosEUA) na Asia Pacific PartnershipConference, Berkeley, EUA,

19 de abril de 2006

Já existe umabioeconomia

que depende debiomassa parasatisfazer suasnecessidades de

combustível,energia e

materiais. Foto:

Adam Jones

A grilagem legal de terras: é a atual corrida para comprar terras no Sul global. Osúltimos anos testemunharam um enorme aumento no número de transações decompra ou arrendamento de terras agrícolas nos trópicos por investidores e países doNorte. O termo [land grab, em inglês, ou acaparamiento de tierras, em espanhol] foicunhado pelo GRAIN, uma organização da sociedade civil.

Na África, a maior parte das terras em questão são ativamentemanejadas por pastores, caçadores-coletores e, algumas vezes,agricultores que dependem do regime de chuvas.”72 Daviescontinua: “Dada a atual arrogância com que se encara aapropriação de terras, ou o desrespeito aos direitos sobre aterra das populações rurais em muitos países, é inevitável que aprodução de agrocombustíveis seja feita por grandesinvestidores à custa das comunidades locais.”

É perturbador que, longe de serem um descuido inocente, anegação dos direitos de pequenos agricultores e pastores e agrilagem legal de suas terras pareçam fazer parte do plano. Porexemplo, um relatório de 2004 de importantes pesquisadoreseuropeus observou que o grosso do potencial debiocombustíveis vem de terras de pastoreio, e afirmou que,“um pré-requisito para o potencial de bionergia em todas asregiões é ... que os atuais sistemas de manejo agrícolaineficientes e pouco intensivos sejam substituídos em 2050pelas melhores práticas de sistemas e tecnologias de manejoagrícola”.73

Grupo ETC 18 www.etcgroup.org

Uma fábula de duas bioeconomias Economias baseadas em biomassa Homogêneas – Definem a vida vegetal e outras vidasorgânicas pelos denominadores comuns mais básicos:como fornecedores indiferenciados de ‘matérias-primas’ –açúcares, amido, celulose, óleo, etc.

Promovem a monocultura – Organizam oabastecimento em larga escala a partir de monocultivosagrícolas e florestais, destruição de florestas edesmatamento.

O objetivo é o mercado – Baseiam-se na transformaçãoindustrial de biomassa para a produção em larga escala decommodities para abastecer o mercado global (porexemplo, eletricidade, biocombustíveis, produtos dequímica pesada, fármacos, têxteis).

Requerem alta tecnologia – Para transformar biomassa,utilizam tecnologias patenteadas, de capital intensivo (porexemplo, biotecnologia, biologia sintética, químicasintética). A inovação ocorre rapidamente e se difundeaceleradamente em larga escala – muitas vezes de maneiraprematura.

Reducionistas – A natureza é vista em termos de seuvalor comercial e potencial de lucro.

Economias baseadas em biodiversidade Heterogêneas – Definem a vida vegetal e outras vidas orgânicasde forma heterogênea, diferenciando espécies individuais e partesde plantas e animais com propriedades e usos específicos.

Promovem a diversificação – Organizam a produção empequena escala de cultivos diversificados e a coleta de produtossilvestres. Quando ocorre, a derrubada é com base em rotação oupousio.

O objetivo é a subsistência – Baseiam-se na transformaçãocomunitária ou individual de materiais vegetais e animais para usopessoal ou comunitário (por exemplo, como medicamentos,alimento, usos culturais e espirituais).

Têm tecnologias adequadas – Utilizam tecnologias em escalahumana, centradas na comunidade, para transformar as plantas(por exemplo, secando, fermentando, cozinhando). A inovaçãopode ocorrer rapidamente, mas em pequena escala, e se difundelentamente para escalas maiores.

Holísticas – A natureza está imbuída de valores culturais eespirituais e frequentemente é vista como sagrada.

Ilustração: Beehive C

ollective

Em outras palavras, “removam o campesinato”. De fato, o quefica evidente com essa ênfase em ter como alvo as terras depopulações marginalizadas é que a assim chamada novabioeconomia só consegue vingar deslocando bioeconomiaspré-existentes.

Os novos senhores da biomassa 19

Uma grilagem legal de terras por biomassa“A visão que temos é de que há uma oportunidadefantástica para auxiliar alguns dos países africanos adesenvolver uma nova indústria mediante umaverdadeira... hum... er... exploração de parte das terrasagrícolas que eles têm e criação de oportunidades deemprego fantásticas. Eu vejo isso como a melhoroportunidade para os trópicos se beneficiarem dademanda de muitos dos países em desenvolvimento e domundo desenvolvido.” – John Melo, diretor executivo da Amyris, Inc.74

Em 2008, a organização da sociedade civil GRAIN expôs umaintensificação maciça das aquisições de terras agrícolas emtodo o Sul global por parte de estados ricos e de investidoresprivados estrangeiros.75 Dois anos depois, um relatório doBanco Mundial, baseado na pesquisa do GRAIN, contabilizou464 projetos cobrindo pelo menos 46,6 milhões de hectares deterra, a maior parte na África Subsaariana.76 De acordo com oGRAIN, os que estão à frente da grilagem legal de terras – emgrande parte investidores buscando um porto seguropara seu dinheiro em meio à quebra de mercadosfinanceiros – buscam comprar terra a preçosbaixos e torná-la economicamenteprodutiva num curto período detempo, o que lhes permite obter algocomo 400% de retorno doinvestimento ao término de apenas10 anos.77

A emergente economia dabiomassa, com sua promessa detransformar açúcares, celulose ecultivos oleaginosos abundantes emcommodities de alto valor, oferece claroincentivo para a grilagem legal de terras.De fato, uma análise de 2010 da organizaçãoAmigos da Terra sobre apropriações de terras em11 países africanos encontrou que pelo menos cinco milhõesde hectares de terra – uma área do tamanho da Dinamarca – jáestá sendo adquirida por companhias estrangeiras paraproduzir biocombustíveis, principalmente para mercados doNorte.78

O Banco Mundial calcula que 21% dos projetos de grilagemlegal de terras são motivados por biocombustíveis79 ereconhece explicitamente que as políticas do Norte, tais comometas obrigatórias de biocombustíveis, tiveram um papelchave: “A obrigatoriedade do uso de biocombustíveis pode tergrandes efeitos indiretos na mudança de uso da terra,particularmente convertendo terras de pastoreio e florestas”.Estima-se que a conversão global de terras para a produção dematérias-primas para biocombustíveis atinja entre 18 e 44milhões de hectares até 2030.80

Um novo comércio na biomassa –embarcando cavacos

“A madeira está muito rapidamente se tornando umaparte muito importante do mix energético e em poucosanos será uma commodity global um tanto parecida com opetróleo.” – Heinrich Unland, diretor executivo da Novus EnergyGmbH, Alemanha82

A grilagem legal de terras para biocombustíveis ésomente uma parte da apropriação de terras e

recursos do Sul por parte das corporações.Isso já está ocorrendo à medida que acelulose (e a biomassa lenhosa emparticular) adquire um valorindustrial crescente. Talvez oexemplo mais claro seja osurgimento de um comércio globalde lascas de madeira, pellets demadeira e serragem como umamatéria-prima comercializada paraqueimadores de biomassa para

produzir eletricidade.

Atualmente, esse comércio é relativamentepequeno e ocorre principalmente na Europa

(70% em países bálticos); entretanto, um relatóriorecente da indústria prevê um aumento de 80 a 150 vezes nospróximos anos,83 e a indústria admite que provavelmentehaverá um movimento para produzir pellets (serragemcompactada) a partir de cultivos energéticos de rápidocrescimento, o que, no final das contas, promoverá odesmatamento.

De acordo com estimativas da indústria, a produção de pelletsde madeira, que praticamente não existia há 15 anos, alcançouaproximadamente 9 milhões de toneladas em 2008. Háexpectativa que essa quantia dobre nos próximos 4-5 anos, ealguns especialistas da indústria preveem um crescimentoanual mundial de 25-30% durante os próximos dez anos.84

“A expansão dosbiocombustíveis no nosso

continente está transformandoflorestas e a vegetação natural em cultivospara combustíveis, reduzindo as terras

agrícolas para produção de alimento dascomunidades e criando conflitos com a

população local sobre a propriedade da terra.” – Marianne Bassey, coordenadora de

alimentação e agricultura daEnvironmental RightsAction/Amigos da Terra

Nigéria.81

O Miscanthus giganteus,uma gramínea de portealto, é uma das maispopulares ‘gramíneasenergéticas’ agorapromovidas junto aosagricultores como umcultivo para biomassa.Foto: Bruce M Walker

Grupo ETC 20 www.etcgroup.org

As metas obrigatórias exigidas pela Europa para aumentar ouso de combustível de biomassa, em particular, estãoestimulando a procura por lascas de madeira mais baratas noSul global bem como sua aquisição nos Estados Unidos.

• A MagForest, uma companhia canadense que opera naRepública Democrática do Congo, estaria embarcandoanualmente 500.000 toneladas de lascas de madeira para aEuropa.

• A IBIC Ghana Limited afirma que pode exportarmensalmente, de Gana, 100 mil toneladas de madeiratropical dura e mole como matéria-prima de biomassa.

• A Sky Trading, com sede nos EUA, oferece o fornecimentode até 600 mil toneladas de lascas de madeira como biomassaproveniente dos Estados Unidos ou do Brasil.

• De acordo com documentos revisados pela The GlobalForest Coalition, o Brasil está se preparando para atender àdemanda europeia de lascas de madeira expandindoplantações de árvores em 27 milhões de hectares,a maior parte com espécies exóticas como oeucalipto.85

Cultivos para energia –mudanças no meio ruralEmbora os defensores da bioeconomiaaleguem que a mudança parabiocombustíveis derivados de celulose nãoprejudicará a produção de alimentos, algumasmudanças drásticas estão programadas para o meiorural. A intenção de remover mais palha e restolho bem comode aumentar a quantidade de terra destinada a cultivosenergéticos, como mais uma commodity agrícola viável,mudará significativamente os padrões de uso da terra e ossistemas de plantio e introduzirá novas tensões nas paisagensrurais.

De acordo com Jack Huttner, anteriormente da DuPontDanisco Cellulosic Ethanol e atual vice-presidente executivopara assuntos comerciais e públicos da Gevo, com sede nosEUA, a qual está desenvolvendo biocombustíveis da próximageração, tornar os biocombustíveis celulósicos viáveis requernão só construir centenas de biorrefinarias, mas também cercarcada uma delas de milhares de hectares de terra plantada comcultivos para energia, como, por exemplo, a gramíneaswitchgrass. “Estamos falando de uma transformação bastantesubstancial do cenário econômico rural”, declarou Huttner àBusinessWeek em 2009. As companhias de biocombustíveisterão que organizar agricultores para plantar milhões dehectares de um cultivo energético como a gramínea switchgrass.

“Minha preocupação é com organizar uma economiabasicamente nova”, ele disse, explicando que são os grandesatores, e não pequenas companhias, os únicos que têm acapacidade para fazer isso.87

Colher, enfardar, secar e armazenar enormes quantidades degramíneas celulósicas e de palhada de milho também apresentanovos desafios. Parte dos lucros iniciais da nova bioeconomiaparecem estar destinados aos fabricantes de equipamentos,como a fabricante de equipamentos agrícolas John Deere, queassinou recentemente um acordo de colaboração em pesquisacom a Monsanto e a Archer Daniels Midland para obterresíduos de cultivos.

Acondicionar a palhada de maneira mais compacta para queseu transporte até a usina de processamento sejaeconomicamente viável, por exemplo, acaba sendo umimportante obstáculo, assim como assegurar que a biomassacoletada seque o suficiente para ser armazenada sem mofar e

não contenha terra, que poderia interferir com osprocessos de fermentação. Sam Acker, diretor decolheita e comercialização da agricultura deprecisão da Case IH North America, disseao Corn and Soybean Digest, emnovembro de 2008, que “pode ser difícilque a palhada se torne uma importantematéria-prima para etanol, devido aosdesafios quanto à umidade e àdensificação.”88

Também não está claro se as novas gramíneaspara energia, como miscanthus e switchgrass, são

benéficas para ecossistemas agrícolas. Em setembro de 2006,uma equipe de pesquisadores escrevendo na Science apontouque tais gramíneas têm alta probabilidade de se tornar espéciesinvasoras. “A maior parte das características que sãorecomendadas como excelentes para cultivos parabiocombustíveis – ausência de pragas ou doenças conhecidas,rápido crescimento, alta eficiência no uso de água – são alertaspara biólogos que estudam invasões de espécies”, disse RobertN. Wiedenmann, professor de entomologia da Universidadede Arkansas, que aponta para o Sorghum halepense como umexemplo de uma espécie “aparentemente inofensiva”introduzida na agricultura dos EUA que se tornou invasora eagora causa prejuízos de mais de 30 milhões de dólares ao anoà indústria de algodão e de soja em apenas três estados.89

“Eu acho que omaior problema para

todos é como vamos cultivar,coletar, armazenar e tratar a

biomassa.” – Brent Erickson, lobista daBiotechnology Industry

Organization.86

Os novos senhores da biomassa 21

Em agosto de 2009, o conselho assessor federal sobre espéciesinvasoras dos EUA fez soar seu próprio alarme. “Na ausênciade esforços estratégicos de mitigação, há risco substancial deque alguns cultivos para biocombustíveis escapem dasáreas de plantio e causem danos socioeconômicose/ou ecológicos, alertou o Comitê Assessorsobre Espécies Invasivas [Invasive SpeciesAdvisory Committee] no relatório especial“Cultivating Energy Not Invasive Species”[Cultivando Energia e não EspéciesInvasoras].90 O documento aponta que“determinadas espécies de plantas propostaspara produção de biocombustível (porexemplo, falaris [Phalaris arundinacea], cana-da-índia [Arundo donax] e miscanthus [Miscanthussinensis]) já são invasivas em regiões dos EUA e/ou emoutros lugares do mundo”.

O mais preocupante é que o comitê repentinamente parou deadvertir contra o uso de cultivos invasores para energia,recomendando, em vez disso, que os melhoristas de tais

cultivos incorporem “características desejáveis” paraevitar invasões, tais como “esterilidade ouprodução reduzida de sementes e incapacidadede regenerar-se a partir de fragmentos decaule.”91 Enquanto isso se refereessencialmente ao desenvolvimento decultivares estéreis de miscanthus através dehibridização, essa linguagem pode tambémrevelar um convite perigoso para dotarcultivos para biocombustíveis com as

chamadas ‘tecnologias genéticas de restrição deuso’ (GURTS, por sua sigla em inglês), como a

tecnologia Terminator.

O mito do carbono neutroNumerosos reguladores e negociadores que participam dasreuniões internacionais sobre as políticas climáticas se guiamhoje pela falsa hipótese de que a energia de biomassa nãocontribui para o aquecimento global porque todo o carbonoliberado da biomassa pode, teoricamente, ser refixado pelasplantas novas que substituem as anteriores. É uma bela teoriaque se desmorona perante um exame mais rigoroso.Consideremos o seguinte:

A queima de biomassa pode liberar mais CO2 do que oscombustíveis fósseis. Isso decorre do fato de ser necessárioqueimar muito mais biomassa para alcançar a mesma geração deenergia. Segundo o Departamento de Informação sobre Energia[Energy Information Administration] do governo dos EUA, aqueima de madeira dura produz um pouco menos de CO2 porunidade de energia do que a combustão do carvão, mas muitomais do que o petróleo ou o gás. Alguns analistas afirmam queas emissões de chaminés da queima de biomassa são até maiselevadas do que as da combustão de carvão quando a umidade (aquantidade de água ainda contida na biomassa) é alta.93

Emissões de CO2 de diferentestipos de combustível Quantidade de CO2 da chaminé ou cano de escapamentoao queimar combustível para produzir 1 milhão de BTUs:

0 100kg CO2 / MMBtu

Fontes: (1) Annual Energy Outlook 2010 with Projections to2035 –11 de maio de 2010http://www.eia.doe.gov/oiaf/aeo/carbon_dioxide.html

(2) EIA Voluntary Reporting of Greenhouse Gases Program FuelCarbon Dioxide Emission Coefficients, online emhttp://www.eia.doe.gov/oiaf/1605/coefficients.html

97,10

90,65

88,45

73,84

73,15

70,88

70,88

65,88

53,06

Carvão betuminoso

Resíduos sólidos municipais

Biomassa de madeira seca

Biodiesel

Diesel

Gasolina para motor

Combustível de aviação

Etanol

Gás natural encanado

Carbono neutro: total líquido de emissões de dióxido decarbono igual a zero. Também chamado de carbono zero,refere-se a processos que no geral não adicionam dióxidode carbono extra à atmosfera. Os defensores da biomassaalegam que o uso industrial de biomassa é carbononeutro porque as plantas em crescimento fixam dióxidode carbono de tal forma que os processos baseados embiomassa absorvem a quantidade de dióxido de carbonoque geram. Isso é enganoso e geralmente impreciso.

“Nós nos agarramosàs palhas (e outras

biomassas) em nossodesespero de acreditar que há

uma saída fácil.” – George Monbiot, The

Guardian, 200992

Grupo ETC 22 www.etcgroup.org

O dióxido de carbono da biomassa é liberado rapidamente,mas pode levar décadas para ser ressequestrado.Quandoqueimada para energia, uma árvore madura (com 80-100 anosde idade) leva minutos para liberar toda a sua carga de carbonopara a atmosfera, mas a árvore que vai substituí-la, se cultivada,leva um século inteiro para ressequestrar essa quantidade decarbono. Durante esses 100 anos, o CO2 ainda está naatmosfera ajudando a empurrar o clima para o ponto de umamudança perigosa. No entanto, as regras de contabilização decarbono o tratam como se já não existisse (ver a seguir, “Umgrave ‘erro de contabilidade’ global”). Os defensores dabioeconomia propõem substituir árvores maduras porvariedades de rápido crescimento, como álamo e eucalipto,alegando que essas são sumidouros de carbono mais eficientesdo que as florestas antigas. Tais alegações têm sidocategoricamente rejeitadas nos últimos anos, e a nova doutrinaé que as antigas florestas são melhores do que as novas emarmazenar carbono da atmosfera.94

Perturbar solos e mudar o uso da terra para cultivar oucolher biomassa provoca grandes emissões de gases deefeito estufa. Acredita-se que só os 100 cm superiores de soloda crosta terrestre armazenem cerca de 1.555 bilhões detoneladas de carbono, contido em micróbios, raízes de plantas,compostos orgânicos presentes em agregados do solo, insetos edemais fauna do solo.95 Isso é mais do que o dobro (2,5 vezes)da quantidade armazenada em todas as plantas da superfícieterrestre mundial e aproximadamente da mesma magnitude daquantidade já existente na atmosfera.

A perturbação desses solos para exploração agrícola industrial,desmatamento e monocultivos energéticos com uso intensivode químicos, bem como para outras mudanças no uso da terra,é uma das maiores fontes de emissões de carbono. Até mesmoo bem conservador relatório Stern de 2006 sobre custoseconômicos da mudança climática estimou que em 2000 amudança no uso da terra foi a segunda maior fonte de emissõesde gases de efeito estufa, depois do setor de energia.96

De acordo com o relatório Stern, 18% das emissões de gases deefeito estufa foram resultantes de mudanças no uso da terra,sendo o desmatamento o maior contribuinte, responsável pormais de 8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono porano.97 A remoção de material celulósico das áreas cultivadas éresponsável por maior degradação dos solos, reduzindo suacapacidade de armazenar carbono.

Estudos mostraram que solos agrícolas nos EUA, por exemplo,já perderam entre 30% e 50% de seu carbono orgânico desdeque se iniciou o manejo agrícola (em muitos casos, há poucomais de um século). Um estudo de 2009 mostra que a remoçãode qualquer nível de palhada (talos não colhidos) queusualmente é incorporada de volta aos solos agrícolas reduziriaainda mais os níveis de carbono no solo bem como suaprodutividade nos anos seguintes.98

A produção agrícola e o transporte de matérias-primas debiomassa têm emissões elevadas de gases de efeito estufa.De acordo com análises da organização da sociedade civilGRAIN, o sistema industrial de alimentação e agricultura é aprincipal causa da mudança climática, gerando 44-57% dototal das emissões globais de gases de efeito estufa.99 Essaestimativa inclui o desmatamento, a energia usada para aprodução de sementes, maquinaria para plantar, colher etransportar a produção, a irrigação, as emissões dos animais e aperturbação dos solos com a produção agrícola e uso deagrotóxicos e fertilizantes. A destruição de florestas e o manejodas monoculturas de árvores também estão associados comemissões significativas de gases de efeito estufa, incluindo as dotransporte e do uso de equipamentos de corte e carregamento.Transportar biomassa com caminhões gasta mais energia doque transportar carvão, petróleo ou gás em função do baixoconteúdo energético da própria biomassa. Isso ocorreespecialmente com a biomassa destinada à produção debiocombustíveis e de produtos químicos de base biológica,mais do que com a destinada a bioeletricidade. A obtençãodesses produtos finais tem uma taxa de conversão de energiamais pobre do que a combustão, e geralmente há resíduos quetêm que ser levados embora – o que se soma ao custoenergético total.

Retirar material celulósico das áreas agrícolas parabiomassa exigirá mais fertilizantes para manter a fertilidadedo solo.Os fertilizantes a base de nitrogênio e fosfato liberamóxido nitroso – um gás de efeito estufa 298 vezes mais potentedo que o CO2.

100 O uso mundial de fertilizantes já cresceu 31%entre 1996 e 2008, devido, em parte, ao cultivo deagrocombustíveis.101 Além do impacto de suas própriasemissões diretas, os fertilizantes, antes de mais nada,necessitam grandes quantidades de energia (e, portanto, decarbono) tanto quando são produzidos como quando sãoaplicados. Um estudo de 1998102 estimou que a produção defertilizantes é responsável por aproximadamente 1,2% do totaldas emissões de gases de efeito estufa – o equivalente a todas asemissões de gases de efeito estufa da Indonésia ou do Brasil. Sónos Estados Unidos, o uso e a produção de fertilizantesrespondem por 30% do uso de energia na agricultura.

Os novos senhores da biomassa 23

Os fertilizantes também podem ter um impacto posterior(indireto) sobre as concentrações de gases de efeito estufa,quando os nitratos que lixiviam de lavouras fertilizadasformam zonas oceânicas mortas que também podem estarliberando enormes quantidades de CO2, metano e óxidonitroso.

A remoção de vegetação para biomassa pode tambémagravar a mudança climática por alterar a quantidade decalor que é mantida na atmosfera. Na Austrália, porexemplo, cientistas estimam que a perda da vegetação nativareduziu a formação de nuvens e implicou que menos calorfosse refletido de volta para o espaço. Isso exacerbou osimpactos de recentes secas relacionadas com o clima, elevandoa temperatura em mais 2-3º C. Na Austrália, essas alteraçõescontribuíram para o colapso da produtividade agrícola daregião.103

Um grave “erro de contabilidade” global Muitos instrumentos de política nacional e internacional paralidar com a mudança climática estão baseados na falsa hipótesede que a energia derivada de biomassa é intrinsecamente‘carbono neutro’. A raiz desse erro comum está nas práticas decontabilização de carbono consagradas na Convenção-Quadrodas Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC).

Em 2001, o órgão científico assessor da CQNUMC, o PainelIntergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, porsua sigla em inglês), descreveu, pela primeira vez, o uso debiomassa para energia como “sistemas de suprimento deenergia de baixo carbono” e, sem rodeios, estabeleceu que “osbiocombustíveis líquidos que substituírem os combustíveisfósseis reduzirão diretamente as emissões de CO2. Portanto,uma combinação de produção de bioenergia com opções desumidouros de carbono pode resultar num benefício máximodas estratégias de mitigação”.104

Até 2007, o entusiasmo do IPCC tinha se aplacado um pouco:“Os biocombustíveis podem desempenhar um papelimportante para resolver as emissões de gases de efeito estufa nosetor de transportes, dependendo de sua forma de produção.”105

Apesar disso, nas mentes dos formuladores de política, tinhaficado bem sedimentada a impressão de que promover o uso deenergia de biomassa nas estratégias nacionais era um caminholegítimo, e relativamente fácil, para cumprir com oscompromissos relacionados à mudança climática.

De fato, as regras para calcular emissões de carbono sob oProtocolo de Kioto atualmente chegam a isentar totalmente aenergia de biomassa como uma fonte de emissões,independentemente de como a biomassa é obtida e de quantocarbono adicional é liberado nesse processo de produção. Issofoi o resultado de uma decisão tomada pelo IPCC decontabilizar as emissões de carbono associadas à produção debioenergia como relativas a mudanças no uso da terra, ao invésde contabilizá-las como relativas a usos de energia (para evitardupla contabilização). Contudo, o Protocolo de Kiotosomente considerou as emissões do uso de energia e, assim, aenergia derivada de biomassa ganhou um passe livre. Essaexceção estabelece um incentivo econômico poderoso para queas nações mudem para as fontes de energia de biomassa maisbaratas disponíveis, como forma de atingir as metas deemissões de dióxido de carbono e ganhar créditos de carbono.De acordo com um recente estudo de modelação, a política deexcluir a energia derivada da biomassa da conta das emissõespoderia levar as nações a substituir praticamente todas asflorestas e savanas do mundo por cultivos para bioenergia. Talsubstituição maciça de florestas teria o potencial de liberarcentenas de bilhões de toneladas de carbono durante um curtoespaço de tempo (menos de 20 anos) – um cenário queprovocaria uma perda catastrófica de biodiversidade e umaperigosa mudança climática em menos de um século.106

Essa perspectiva alarmou tanto, inclusive os defensores daenergia de biomassa, que, em outubro de 2009, treze cientistase especialistas em políticas, alguns deles bem identificados comos protocolos de contabilização de Kioto originais, alertaramde que a exclusão da biomassa dos protocolos decontabilização de carbono foi uma falha “grave” e “de amploalcance” no acordo global sobre o clima.107 Eles propuseramque esse “erro de contabilização” poderia ser consertado se asemissões da energia de biomassa fossem medidas no cano deescapamento ou na chaminé, da mesma forma que se medemas emissões de combustíveis fósseis, e que quaisquer benefíciosdecorrentes de sequestro de carbono deveriam ser medidos ecreditados separadamente, contabilizando as reais práticas demanejo do solo e de produção para as diferentes tecnologias debiocombustíveis e biomassa.

Grupo ETC 24 www.etcgroup.org

Traçando um paralelo com as recentes crises financeiras, osautores – a maior parte defensores de biocombustíveiscelulósicos – insinuaram que essa questão de falsacontabilização pode eventualmente desacreditar toda a agendada biomassa. “Assim como ocorre com as auditoriasfinanceiras, é importante que as auditorias de carbono sejamcorretas desde o início”, disse Philip Robertson, coautor eprofessor na Universidade do Estado de Michigan. “Apromessa dos combustíveis celulósicos é enorme para nossoclima e economia. Não queremos descobrir depois queconstruímos uma nova indústria em um castelo de cartas.”108

Comercializando carbono de biomassaA CQNUMC não somente abençoou falsamente a biomassacomo carbono neutro na hora de contabilizar suas emissões, aConvenção também estabeleceu mecanismos institucionaispara premiar financeiramente o crescimento da nova economiade biomassa. Apesar de a redução das emissões nacionais degases de efeito estufa (principalmente dióxido de carbono) tersido o ponto central do Protocolo de Kioto, nas negociaçõesfinais os delegados concordaram com propostas dos EstadosUnidos para introduzir os chamados mecanismos deflexibilização (‘flex mex’, em inglês), que permitiriam ocomércio de direitos de emissão dentro de um tetoestabelecido e limitado, bem como opções para monetizar‘sumidouros’ biológicos e geológicos de carbono dentro dessesmecanismos.109

O artigo 3.3 da Convenção permite ainda aos estados recebercréditos ou débitos sobre suas reduções de emissõesdependendo de como eles manejaram seus própriossumidouros de carbono. Por ‘sumidouros’, os entusiastas do‘flex mex’ tinham em mente que as plantas, solos e oceanosnaturalmente sequestram dióxido de carbono da atmosfera, e,portanto, argumentaram que as medidas para proteger emelhorar os sumidouros, tais como plantar mais árvores oureduzir a erosão do solo, deveriam receber créditoscomercializáveis. Esses créditos poderiam ser tratados, porexemplo, sob o novo ‘Mecanismo de Desenvolvimento Limpo’(MDL) do Protocolo ou sob o que é conhecido como projetosde ‘implementaçãoconjunta’. Em particular, oMDL incentivainvestimentos decompanhias e estados doNorte em projetos desequestro ou mitigaçãoclimática localizados noSul global.

Embora projetos agrícolas e florestais fossem inicialmenterestritos a satisfazer somente uma pequena parte dos projetosde MDL, em 2001 foram abertas mais brechas no flex mex,permitindo que a biomassa em florestas existentes pudesse sercreditada e monetizada mais facilmente. Desde então, ascompanhias de bioenergia e de químicos derivados debiomassa têm sido diligentes em fazer lobby para que o MDLestenda seu financiamento a todas as partes da economia dabiomassa. A partir de 2005, foram aprovadas metodologiaspara financiamento da produção de eletricidade derivada daqueima de resíduos de plantações, como cana-de-açúcar,bagaços, casca de arroz e restos dos cachos de dendê. A partirde setembro de 2006, o MDL aceitou o uso de biomassa paraaquecimento de água. A partir de 2009, os projetos queproduziam biodiesel nas chamadas terras degradadas tambémse tornaram elegíveis para créditos do MDL. Em fevereiro de2010, a direção do MDL aprovou também a concessão decréditos a usinas de geração de energia elétrica por queimarembiomassa, incluindo centrais elétricas alimentadas por carvãoque façam queima conjunta de biomassa.110

Em outubro de 2010, 705 projetos de biomassa tinham sidoaprovados ou aguardavam aprovação para 45 milhões decréditos de carbono certificados sob o MDL, com Índia (318projetos), China (101 projetos) e Brasil (94 projetos) tendo amaior fatia. Esses projetos somam 12,75% de todos os projetosdo MDL, sendo superados apenas por projetos eólicos ehidrelétricos.111 A preços atuais, esses créditos valeriam cerca demeio bilhão de dólares somando para o valor total daeconomia da biomassa.112

Enquanto isso, uma indústria de créditos de carbono‘voluntária’ e desregulamentada surgiu paralela ao âmbito deKioto com companhias empreendedoras, como a FutureForests, que vinculam projetos de biomassa e de bioenergia anovos créditos de carbono que poderiam ser vendidos aconsumidores individuais para ‘compensar’ estilos de vida comaltos níveis de emissão de carbono. O Banco Mundial estimaque o comércio de carbono vale atualmente 114 bilhões dedólares, com transações comerciais de carbono, tanto nacionaisquanto regionais, em pleno andamento na Europa, Ásia eAmérica do Norte.113

‘Recortando o céu’, Beehive Collective

Os novos senhores da biomassa 25

Comercializando carbono de biomassaTomada II: grilagem legal REDD-obradaA combinação dos métodos falhos de contabilização decarbono com o financiamento de projetos de bioenergia daCQNUMC já pode ser vista como um assalto mais do quesuficiente à biodiversidade. Mas esse mesmo fóruminternacional está para somar insulto à injúria com aintrodução de um terceiro mecanismo para mercantilizar abiomassa. O REDD (“Redução de Emissões porDesmatamento e Degradação de Florestas”),atualmente em negociação na CQNUMC,pretende dar à biomassa florestal um valorfinanceiro com base no carbono armazenadonela. A ideia por trás do REDD é apoiar ocarbono vivo armazenado na biomassa florestalcom títulos financeiros que podem serconvertidos em dinheiro e comercializados comoqualquer commodity financeira existente.

Os que respaldam o REDD argumentam que issofornecerá um incentivo comercial para prevenir ocorte de madeira e o desmatamento. Mas, àmedida que transforma a biomassa em dinheiro, oREDD intensifica a redução da biodiversidade aestoques de carbono comercializável. Se aindústria de florestamento foi antes acusada de não ver afloresta pelas árvores, o REDD não consegue ver sequer asárvores, porque só enxerga o carbono armazenado nelas. Oresultado de tal reducionismo é que a implementação doREDD provavelmente irá prejudicar tanto a biodiversidadenatural como as comunidades que dependem dela.

Especificamente, o plano de Ação de Bali da CQNUMC pedepor “políticas e incentivos positivos sobre temas relacionadoscom a redução de emissões por desmatamento e degradação deflorestas em países em desenvolvimento; e pelo papel daconservação, do manejo sustentável das florestas, e do aumentodos estoques de carbono florestal em países emdesenvolvimento”. Quando decodificado, esse parágrafo dochamado “REDD+” autoriza a expulsão de povos tradicionaisde suas florestas, com o propósito de ‘conservação’, e subsidiaoperações madeireiras comerciais que cumpram com critériosde “manejo sustentável” previamente acordados. Além disso, aofalar de ‘aumento de estoques de carbono florestal’, o REDD+parece disposto a recompensar financeiramente a conversão deáreas florestais em plantações industriais de árvores com ajustificativa de que essas plantações armazenam mais carbonodo que as florestas conseguem armazenar. Isso tem sériasimplicações para a biodiversidade e para as comunidadeslocais.

Mesmo antes do REDD ser acordado e implementado, governos,corporações, grandes ONGs e instituições globais estão fazendoexperiências com essa forma de financiamento do carbonobaseado em biomassa e tentando estabelecer esquemas tipoREDD. De acordo com o REDD Monitor, de vigilância cidadãdo processo REDD, o Banco Mundial aprovou 25 projetos emseu Fundo Cooperativo para o Carbono nas Florestas (FCPF,por sua sigla em inglês) e 3 através de seu Fundo BioCarbono,enquanto o ONU-REDD (PNUD, PNUMA e FAO) estáexecutando projetos piloto na Bolívia, República Democrática

do Congo, Indonésia, Panamá, Papua Nova Guiné,Paraguai, Tanzânia, Vietnã e Zâmbia, compromessas de mais de 18 milhões de dólares.Governos como os da Noruega, Austrália eAlemanha têm prometido dinheiro para projetosREDD no Sul da mesma forma que um númerocrescente de corporações privadas. Organizaçõescomo a Conservation International, WWF, TheNature Conservancy e Environmental DefenseFund estão se associando com corporações queincluem a BP, Pacificorp, Merril Lynch e MarriottHotels. Já estão surgindo padrões voluntários paradefinir o que é ‘sustentável’ para REDD, ecomerciantes de carbono como a EcoSecurities eCaisse de dépôt estão se preparando para iniciar a

mercantilização e a obtenção de lucros de toda a biomassaflorestal do mundo sobre a qual possam pôr as mãos.114

A transferência de tecnologias da biomassa– A iniciativa sobre tecnologias climáticasA economia da biomassa está recebendo mais outro estímulofinanceiro da CQNUMC através das atividades estipuladas sobretransferência de tecnologias. Em 1995, a Agência de EnergiaInternacional e a Organização para a Cooperação e oDesenvolvimento Econômico (OECD, por sua sigla em inglês)criaram a denominada Iniciativa de Tecnologia do Clima (CTI,por sua sigla em inglês) para facilitar a transferência de tecnologias“amigáveis ao clima” do Norte para o Sul. Sem surpresas, abiomassa desempenhou um papel destacado nas atividades daCTI. Seu braço privado, conhecido como Rede Consultiva deFinanciamento do Setor Privado (PFAN, por sua sigla em inglês),atua como uma agência mediadora, conectando investidores ecorporações tecnológicas do Norte com projetos do Sul, e negociatransações comerciais de “energia limpa”. Mais de um terço dos 60projetos tramitando na PFAN – que representam 823 milhões dedólares – são projetos de energia de biomassa, como geração deeletricidade de biomassa, produção de pellets de madeira paraqueima industrial ou produção de biodiesel.115

“Não ao mercado de carbonopara florestas”

Foto: Orin Langelle, GlobalJustice Ecology Project

Grupo ETC 26 www.etcgroup.org

A economia verde – um laraconchegante para a bioeconomiaAs múltiplas crises que devastaram o mundo em 2007-2008pegaram o sistema multilateral de surpresa. Na luta por umarecuperação, o Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA) lançou em 2008 sua Iniciativa para umaEconomia Verde (Green Economy Initiative), projetada paraauxiliar os governos a reestruturar e reorientar políticas,investimentos e gastos para “negócios e infraestrutura quedeem melhores retornos sobre investimentos de capitalnatural, humano e econômico, e que, ao mesmo tempo,reduzam as emissões de gases de efeito estufa, com menorextração e uso de recursos naturais, gerando menos resíduos ereduzindo as disparidades sociais”.118

A “economia verde” recebeu um selo oficial da ONU com olançamento de seu documento “Nova Política Mundial Verdeem prol do Desenvolvimento Sustentável” em 2009. O acordopretende atingir gastos com incentivos de 1% do PIB mundial(totalizando cerca de 750 milhões de dólares) e estabelecealterações em políticas domésticas e internacionais para apoiar aeconomia verde. Um relatório de 2009 do HSBC GlobalResearch mostrou que os governos do G-20 já alocaram mais de430 bilhões de dólares em incentivos fiscais – valor equivalente acerca de 15% do total de 2,8 trilhões de dólares – em projetosnas áreas de mudança climática e outros temas “verdes”.119

Muitos dos projetos podem não ser novos, mas, sim, ser projetosantigos rerrotulados para atender aos critérios “verdes”.

InfraREDD – mapeando a biomassa

Satélites e aeronaves de asa fixa atualmente podem sercombinados para mapear e monitorar (em três dimensões) abiomassa e as terras a serem identificadas, manejadas eexploradas na nova economia da biomassa. Câmerasmontadas em aeronaves leves, incluindo helicópteros, podemutilizar imagem hiperespectral para analisar comprimentosde ondas visíveis e infravermelhas que revelam variações navegetação. As medições precisas da luz expõem nutrientes dosolo, identificando não somente o tipo de vegetação dasuperfície, mas o que se oculta debaixo e, portanto, o quepoderia crescer lá. A tecnologia foi desenvolvidaoriginalmente para encontrar locais de sepultamento, mas sediversificou para servir a uma batelada de interesses, desdearqueológicos até da CIA.

Para os investidores em grilagem legal de terras, quebuscam ‘melhorar’ economicamente as chamadas terrasmarginais, o valor desse mapeamento biológico éconsiderável. As possibilidades em curto prazo incluem aidentificação aérea de cultivos patenteados e aoportunidade de catalogar solos, insetos e plantas queofereçam usos industriais. Depois da biodiversidade serlocalizada e embolsada, a terra pode ser utilizada paraoutros fins.

Os biomapeadores buscam, particularmente, carbono. Emsetembro de 2010, o Carnegie Institute da Universidade deStanford anunciou que, com o WWF e o governo peruanocomo parceiros, tinha mapeado mais de 4 milhões dehectares de floresta amazônica (quase a área da Suíça).

Enquanto satélites mapeavam a vegetação e registravamperturbações, as imagens satelitais foram complementadas poruma aeronave que, dispondo da tecnologia LiDAR [lightdetection and ranging, por sua sigla em inglês - detecção de luze suas variações], patenteada pela Carnegie, criava mapas 3-D(tridimensionais) da estrutura da vegetação da área. Cientistasconverteram os dados estruturais em dados sobre densidadede carbono, auxiliados por uma modesta rede de parcelaspiloto no solo. O novo sistema da Carnegie combina os dadosgeológicos, de uso da terra, e de emissões para informar aogoverno do Peru – e a qualquer outro com acesso aos dados –que o estoque total de carbono florestal da região pesa cercade 395 milhões de toneladas. A estimativa do PainelIntergovernamental sobre Mudança Climática [IPCC, porsua sigla em inglês] para o estoque de carbono em toda a áreamapeada foi de 587 milhões de toneladas. Sob programas dotipo REDD, o enfoque de alta resolução do Carnegie poderiagerar mais créditos por tonelada de carbono.116 Para aquelesque procuram por matérias-primas de biomassa, ele lhes diz oque está disponível para comprar. O sistema é também barato.O mapa do Peru custou 8 centavos de dólar por hectare, e ummapa similar, em Madagascar, custou somente 6 centavos dedólar por hectare.117 É claro, no mundo das matérias-primasde biomassa e do comércio de carbono, a questão é: quantabiomassa a terra pode produzir?

Ilustra

ção: B

eehive C

ollective

Os novos senhores da biomassa 27

Watts, megawatts (MW), gigawatts (GW) e terawatts(TW): são unidades de potência; um watt descreve ataxa de uso de energia. Megawatts são milhões de watts;gigawatts são bilhões de watts, e terawatts são trilhões dewatts. Normalmente, uma lâmpada doméstica usacontinuamente 25-100 watts; um edifício comercialgrande, como um shopping ou fábrica, consome energiana faixa de megawatts; as maiores usinas de produção deenergia, como as usinas nucleares, podem produzirgigawatts de energia. Terawatts geralmente só sãoutilizados para descrever o uso mundial ou regional totalde energia.

A economia verde recebeu amplo apoio em toda a ONU. OGrupo de Gestão Ambiental das Nações Unidas, que coordenaa direção de todas as agências especializadas relacionadas como ambiente, adotou a Iniciativa para uma Economia Verde emseu programa de trabalho bienal para avaliar como o sistemada ONU pode apoiar com mais coerência os países natransição para uma economia verde. Não é de surprenderque o empurrão para a economia verde tenha sidorecebido com entusiasmo por governos quequerem parecer estar tomando medidas emrelação à mudança climática e recuperarsuas economias. A nova adoção do“verde” pelo sistema ONU asseguraráuma acolhida calorosa para abioeconomia. Junto com governançaambiental internacional, a economiaverde é um dos dois principais temas daConferência sobre DesenvolvimentoSustentável da ONU (Rio+20) em 2012.

Já há pontos de convergência entre abioeconomia e a economia verde. Os arquitetoschave da Iniciativa para uma Economia Verde são também osprincipais autores de A Economia dos Serviços Ecossistêmicose da Biodiversidade (TEEB, por sua sigla em inglês), queoferece a base conceitual para a REDD (e REDD+ e outrasmutações) e o conceito incipiente de “compensações dabiodiversidade”, constituindo uma faceta da bioeconomia: aeconomia dos serviços da biodiversidade. As biorrefinarias e aprodução de base biológica estão entre os modelos de“inovação verde” explicitamente apoiados pela Iniciativa. Comquase meio bilhão de dólares arrecadados num curto espaço detempo de programas de incentivos fiscais estendidos porgovernos ricos, a economia verde é a matéria-prima perfeitapara alimentar os motores da bioeconomia.

Estourando o orçamento de biomassa da Terra?Ao se promover a biomassa como a nova matéria-prima deuma economia mundial pós-petróleo, é essencial fazer apergunta: A biomassa existente no planeta é suficiente para

alcançar essa transição histórica?

Para comparação, no último momento em que asociedade global contou com matéria vegetalcomo fonte primária para satisfazer suasnecessidades de energia, no final dos anos1890, estima-se que o consumo mundialde energia era de 600 gigawatts.121 Hojeo consumo mundial de energia ficaentre 12 e 16 terawatts – demanda pelomenos 20 vezes maior do que na“economia da biomassa” anterior. Essageração de energia é alcançada quase que

inteiramente a partir de combustíveis fósseis,com apenas uma pequena parte oriunda de

energia nuclear, hidrelétrica e de biomassa (cerca de1,5 terawatts).122 De acordo com Daniel Nocera,

economista em energia do MIT, estima-se que o uso global deenergia aumentará em pelo menos mais 19 terawatts até2050.123 Teoricamente, esse uso de energia global poderia seralcançado com biomassa. A cada ano, mais de 100 bilhões detoneladas de carbono, armazenado em 230 bilhões de toneladasde nova biomassa, são adicionados ao planeta, equivalendo acerca de 100 TW de energia do Sol.124 Isso é aproximadamente6 vezes o atual consumo global de energia, ou 3-4 vezes oconsumo global de energia projetado para 2050.125

Entretanto, essa biomassa global não está tão facilmentedisponível:

• Quase a metade (100 bilhões de toneladas) dessa biomassaestá no oceano, a maior parte dela presa em micróbios e algasque não são facilmente acessíveis (por exemplo, em oceanos esedimentos profundos).

• Os restantes 130 bilhões de toneladas crescem na terra, e associedades humanas já consomem 24% (31,2 bilhões detoneladas) desse crescimento anual de biomassa paraalimento, madeira, lenha e outras necessidades humanas - issoé conhecido como Apropriação Humana da ProdutividadePrimária Líquida (HANPP, por sua sigla em inglês).126

• Os 98,8 bilhões de toneladas restantes de biomassa anualestão enfrentado demandas concorrentes. As Nações Unidaspreveem que a população humana crescerá para estimados 9bilhões de pessoas até 2050. Isso significa mais demanda poralimentos para humanos e animais, por fibras e por terra.

“Seria necessáriocobrir quase toda a terra

arável do planeta com os cultivosenergéticos de crescimento maisrápido que se conhecem, comoswitchgrass, para produzir a

quantidade de energia derivada decombustíveis fósseis que se consome

atualmente a cada ano.” – Departamento de Energia

dos EUA120

Grupo ETC 28 www.etcgroup.org

Os economistas preveem, por exemplo, que o uso de madeira(por exemplo, para tábuas) provavelmente cresça 50-75% até2050.127 A indústria de polpa está planejando um aumentototal de mais de 25 milhões de toneladas de capacidade novade produção de polpa, numa média de 5 milhões detoneladas extras por ano.128 Enquanto isso, a FAO prevê queo uso de lenha aumentará, só na África, 34% até 2020.129

• Além disso, como a mudança climática continua a fazer seuestrago, estresses adicionais sobre ecossistemas florestais eagrícolas podem reduzir severamente sua produtividade,enquanto temperaturas globais mais elevadas e eventos comoo El Niño mais frequentes colocarão a biomassa florestalfrente a um maior risco de incêndios. Enquanto isso, surtosde doenças e pragas em cultivos, relacionados à mudançaclimática, e o impacto do nível elevado de CO2 nocrescimento de plantas e nas inundações podem reduzirainda mais a produção real de biomassa.

• Os estudos que medem a apropriação humana da biomassaglobal concluem que, na média, para cada tonelada debiomassa que é diretamente usada pela sociedade humana,outras 5 toneladas são perdidas antes no processo a“montante”, devido a mudanças no uso da terra, aoprocessamento e ao desperdício.130Uma implicação séria é queos cálculos da matéria-prima de biomassa necessária paranovos desenvolvimentos com base biológica podem ter queser multiplicados por seis ou mais para fornecer um panoramareal de seus impactos sobre a biosfera. Uma vez que a energiaarmazenada na produção global anual de biomassa equivale amais ou menos um sexto das atuais necessidades globais deenergia, isso sugere que os impactos prévios derivados de semudar totalmente para bioenergia poderiam consumirintegralmente a produção anual de biomassa da Terra.

Um estudo feito a partir da revisão de 16 avaliações globais dedisponibilidade de biomassa indica que: “Nos cenários maisotimistas, a bioenergia poderia fornecer mais de duas vezes ademanda global atual de energia, sem competir com aprodução de alimentos, com os esforços de proteção deflorestas e com a biodiversidade. Nos cenários menosfavoráveis, entretanto, a bioenergia poderia suprir apenas umafração do uso atual de energia, talvez até menos do que elafornece hoje.”131

Os ecossistemas vêm primeiroPor que existe uma gama tão ampla de estimativas quanto aopotencial da biomassa para atender às necessidades de energia?A resposta resumida é que alguns economistas de energiasimplesmente falharam em ver a floresta, fixando-se só nasárvores. Os estoques de biomassa viva não podem ser contadosda mesma maneira que as reservas fossilizadas de petróleo e decarvão. O valor econômico das plantas colhidas, comomatérias-primas industriais para alimento humano e animal,fibras, produtos químicos e combustível, deve ser pesadocontra o valor ecológico vital das plantas vivas.

Estudos de sistemas da Terra que tentam medir a saúde eresiliência atuais de ecossistemas e da biodiversidade oferecemduras advertências. A Avaliação Ecossistêmica do Milênio, de2005, concluiu que 60% dos ecossistemas do mundo já estãoem declínio.132 Por sua vez, o “Índice Planeta Vivo”, umamedida de tendências na biodiversidade, baseado nomonitoramento de 1.313 espécies terrestres, marinhas e deágua doce, relata que, entre 1970 e 2003, o índice caiu 30%, oque significa que os ecossistemas estão, em geral, em declínioacentuado.133 A União Internacional para a Conservação daNatureza e dos Recursos Naturais (IUCN, por sua sigla eminglês) relatou que, no total, cerca de 40% das espéciesavaliadas estão ameaçadas de extinção.134

Produtividade líquida de diferentestipos de biomassa, expressa comoenergia (terawatts)

Florestas42 TW

Marinha25 TW

Pântanos 3 TW

Savanas e áreasde campo

10 TWDemais

biomassaterrestre (incl.agricultura)

9 TW

Fonte: Avaliação da biomassa pelo GCEP

Produção Primária Líquida: volume anual de biomassa; aquantidade total de crescimento de biomassa nova(principalmente vida vegetal, mas também animais,bactérias e outros) produzida pelo planeta em um ano;equivale a cerca de 230 bilhões de toneladas de matériaviva.

Os novos senhores da biomassa 29

As taxas atuais de extinção são mais de 1.000 vezes maiores doque as taxas típicas presentes ao longo da história da Terra, e asmudanças no uso da terra, incluindo o desmatamento e aexpansão agrícola, são consideradas a causa principal.Enquanto isso, estima-se que pelo menos mais 10-20% dasflorestas e campos remanescentes serão convertidos para usoshumanos até 2050.135 A ONU também estima que dois terçosdos países do mundo estão afetados por desertificação do solo,impactando mais de 4 bilhões de hectares de terras agrícolas, asquais sustentam mais de um bilhão de pessoas.136

São especialmente reveladoras as métricas de outras medidas,por exemplo, a Pegada Ecológica desenvolvida pela GlobalFootprint Network.137 A pegada ecológica medeo (sobre)uso humano da capacidadebiológica da Terra. O termo‘biocapacidade’ refere-se à produçãonatural de biomassa derivada dasterras cultivadas, campos, florestasou locais de pesca ou criação depeixes e à capacidade deabsorver os resíduos humanos.O sobreuso da biocapacidadecausa danos aos ecossistemas eos leva ao declínio. Resulta que,desde o final dos anos 1980,estivemos “excedendo o limite daTerra”,138 com uma pegadaindustrial maior do que abiocapacidade do planeta. De fato,desde mais ou menos 2003, ultrapassamos olimite em chocantes 25%, “transformandorecursos em lixo mais rápido do que a natureza conseguetransformar o lixo de volta em recursos”.139

Se continuarmos na trajetória atual, estaremos utilizando duasvezes a biocapacidade da Terra até 2050 – uma propostainsustentável.

“Propostas recentes de esquemas maciços de bioenergiaestão entre os exemplos mais lastimáveis de pensamentoidealista e de ignorância das realidades e necessidadesecossistêmicas. Quem os promove ou desconhece oudeliberadamente ignora algumas das descobertasfundamentais dos estudos biosféricos modernos.”– Professor Vaclav Smil, eminente professor do MeioAmbiente, Universidade de Manitoba140

A biomassa é realmente ‘renovável’?Como as metas globais de energia renovável acabam sendoquase completamente preenchidas com palha (e outrasformas de biomassa), grupos ambientalistas e comunidadesafetadas por novas usinas de processamento de biomassacomeçaram a pressionar para que a biomassa seja removidada definição de energia renovável, por razões pertinentes.Usar plantas como fonte de energia é diferente de usarenergia solar, eólica e das marés, as quais podem sermelhor denominadas de ‘fontes perpétuas de energia’, umavez que sua utilização não diminui os estoques totais. As

árvores, cultivos e outras formas de vida vegetal,ao contrário, podem se esgotar devido ao

excesso de apoderamento. E, o que éainda mais importante, o mesmopode ocorrer com os solos nosquais elas crescem e com osecossistemas dos quais elasprovêm.

Numerosos estudosmostraram que as mudançasno uso da terra e as práticasde manejo da terra associadascom a extração de biomassapodem enfraquecer e destruir

ecossistemas e aquíferos,tornando-os não renováveis. Tirar a

cobertura vegetal da terra acelera aerosão do solo e priva o solo de nutrientes,

enquanto as plantações de árvores decrescimento rápido ou monocultivos agrícolas podemreduzir os aquíferos.

Em abril de 2009, uma aliança de 25 grupos ambientalistase conservacionistas dos EUA escreveu ao Congressoafirmando que a “biomassa não deveria ser consideradarenovável, porque a remoção da biomassa, até mesmo de‘restos e resíduos’ de florestas, campos ou solos, esgota osnutrientes e resulta em declínio da fertilidade e dabiodiversidade. Apesar de ser possível replantar árvores eoutras espécies vegetais, não é possível recriar ecossistemassaudáveis.”141

Ilustração: BeehiveCollective

Grupo ETC 30 www.etcgroup.org

Limites planetários para a extração de biomassa?À medida que avançam as políticas industriais associadas àeconomia da biomassa, os conservacionistas temem umdesastre. Por exemplo, na Bacia Amazônica, a expansão dacana-de-açúcar e da soja (em parte para biocombustíveis) estálevando o desmatamento a um ponto em que se consideraprovável que ocorra um “definhamento” maciço da floresta (amorte progressiva de árvores em escala regional).142 O impactopotencial de tal morte progressiva da floresta Amazônica seriauma catástrofe global, devido ao seu papel regulador do regimede chuvas e do clima sobre a maior parte da América do Sul,atingindo até o Meio Oeste dos EUA e mesmo tão longe comoa África do Sul.143

O que um impacto tão dramático nos ensina é que as medidasde funções dos ecossistemas e de biocapacidade, apesar deúteis, fornecem um retrato incompleto dos limites reais para aextração de biomassa e uma visão irrealisticamente linear decomo funcionam os ecossistemas e de como eles podemcolapsar. Da mesma forma que a ameaça de uma morteprogressiva da Amazônia não pode ser medida a partir de umíndice de ‘biocapacidade’ mundial, provavelmente há muitosoutros ‘limites ecológicos’ que, uma vez ultrapassados,poderiam levar os ecossistemas ao colapso, causandodevastadores efeitos não lineares. Pode ser que nuncaenxerguemos esses limites chegando até que seja tarde demais.

Numa tentativa de despertar a consciência sobre os limiarescatastróficos, um grupo de cientistas ambientais e do sistemaTerra, liderados por Johan Rockström, do Centro de Resiliênciade Estocolmo, publicou um documento na revista Nature, emsetembro de 2009, propondo o estabelecimento de nove “limitesplanetários”.144 Trata-se de um conjunto de limiares ou pontos deruptura para além dos quais as mudanças nos processosbiofísicos poderiam empurrar o planeta inteiro para uma“mudança ambiental inaceitável”. Os autores descreveram esseslimites como as bordas de um “espaço de operação seguro para ahumanidade”, afirmando que a interferência humana na biosferaprecisa ficar dentro desses limites se quisermos manter o planetamais ou menos no mesmo estado estável e familiar em que eleesteve durante os últimos 10.000 anos.

De acordo com suas estimativas, pelo menos três dos novelimites planetários que eles identificaram já foram ultrapassados.Apesar do documento Rockström não estabelecer nenhumlimite planetário explícito para a apropriação humana debiomassa, manter-se dentro de vários dos limites identificados(como os de mudança no uso da terra e uso excessivo denitrogênio) parece cada vez mais insustentável dadas asprojeções futuras de produção e coleta de biomassa.

Não há biomassa suficiente? Vamos dar um gás nisso…O fato de o planeta Terra não ter suficiente biomassacontabilizada para uma transição segura para uma economia dabiomassa não passa despercebido para os novos senhores dabiomassa. Alguns respondem que mudar para a biomassa éapenas uma medida temporária a caminho de um futuro comenergia solar ou com energia mais efetivamente renovável. Emoutras palavras, entrar no vermelho no banco da biomassa é omesmo que se endividar em um empréstimo-ponte. Outrosestão propondo algo que se parece mais com a inflação –aumentar as quantidades de biomassa global, e especialmentede biomassa celulósica, por meios tecnológicos. Fazer isso traránovos riscos, e não faz sentido acreditar que produzirquantidades industriais de biomassa “extra” poderia, de algumaforma, reverter o declínio da biodiversidade. Como apontamAlmuth Ernsting e Deepak Rughani, da Biofuelwatch, acontradição permanece: “apesar da evidência esmagadora deque a agricultura industrial e os monocultivos de árvores estãorapidamente esgotando a biosfera, os solos e a água doce emtodo o mundo, em um ritmo cada vez mais rápido, propõe-seque ambos podem ser expandidos ainda mais para, de algumaforma, tornar a biosfera muito mais produtiva do que jamaisfoi até agora.145

À medida que se intensifica a busca por biomassa, seguramenteveremos mais das seguintes estratégias para ‘aumentá-la’:

Árvores geneticamente engenheiradas – Companhias debiotecnologia como a Arborgen, com sede nos EUA, estãoavançando com a bioengenharia de árvores de rápidocrescimento para os novos mercados de biomassa. Em maio de2010, a Arborgen recebeu permissão para liberar no ambiente260 mil mudas de eucalipto tolerante ao frio em 9 estadosnorte-americanos, trazendo as espécies de crescimento rápidopara latitudes mais ao norte de onde eram possíveisanteriormente. Enquanto isso, cientistas na Universidade dePurdue desenvolveram um álamo de crescimento rápido commenor conteúdo de lignina que, dizem eles, será perfeito para aprodução de biocombustível celulósico. Argumentam quealterar a composição de lignina das árvores poderia aumentar aprodutividade anual de etanol celulósico obtido de álamo de1.700 galões para 2.500 galões por hectare.146 Ironicamente,reduzir lignina das árvores também parece reduzir suacapacidade de sequestrar carbono. De acordo com um estudo,árvores com baixo nível de lignina acumularam 30% menoscarbono na planta e 70% menos carbono no solo do que asárvores não geneticamente modificadas.147

Os novos senhores da biomassa 31

Cultivos para biomassa geneticamente manipulados – Osmelhoristas de plantas estiveram buscando, por séculos,melhorar a produtividade, focando sempre no aumentodas sementes e dos frutos de cultivos alimentares.Agora, com a biomassa celulósica ganhandovalor, o agronegócio está trabalhando paraaumentar a quantidade de talos, folhas,cascas e outros componentes celulósicosde cultivos agrícolas comuns. Porexemplo, um conjunto de patentesdepositadas pela BASF revela métodosde manipulação genética do milho e deoutros cultivos para aumentar orendimento de biomassa.148 Essas patentestambém reivindicam a propriedade sobre aprópria biomassa obtida quando produzida emmilho, soja, algodão, canola, arroz, trigo ou cana-de-açúcar.

Reprogramando a fotossíntese – De acordo com algunscientistas, o processo natural que transforma luz solar e CO2

em biomassa é lento e ineficiente na maioria das plantas e podeser acelerado com um pequeno ajuste genético.Surpreendentemente, reduzir a quantidade de clorofila nasfolhas é um método, já que mais luz solar passa através dasfolhas mais altas para alcançar as folhas mais baixas. De acordocom a New Scientist, experimentos com sojas mutantes quecontinham somente a metade da clorofila produziram 30%mais biomassa.150

Outros truques, que ainda precisam ser aperfeiçoados, incluemalterar o tipo de fotossíntese para um processo que converte

carbono em açúcar de forma mais eficiente. Experimentosrecentes com arroz pareciam funcionar no

laboratório, mas não no campo. Apesar disso, oInstituto Internacional de Pesquisa de Arroz(IRRI, por sua sigla em inglês), em 2008,lançou uma nova iniciativa, financiadapela Fundação Bill & Melinda Gates,para alterar o mecanismo de fotossíntesedo arroz. Em novembro de 2009, oCentro Internacional de Melhoramentode Milho e Trigo (CIMMYT, por suasigla em inglês) lançou seu Consórcio para

Elevar o Potencial de Rendimento de Trigopara fazer o mesmo com trigo.151 Outros estão

alterando fotossíntese de outras formas. Por exemplo,cientistas no J. Craig Venter Institute estiveram desenvolvendocepas sintéticas de algas e bactérias que usam fotossíntese paraproduzir hidrogênio ao invés de oxigênio. Apesar dessaabordagem não produzir muita biomassa, se tivesse sucesso, elapoderia resultar num combustível altamente apreciado (eprecificado) que, quando queimado, somente produz água.152

Plantas Terminator – De acordo com o especialista emgramíneas transgênicas Albert Kausch, da Universidade deRhode Island, conseguir esterilizar as plantas é um tiro certopara aumentar sua biomassa. Plantas estéreis que não utilizamsua energia para produzir flores podem utilizá-la, em vez disso,para produzir mais biomassa.

Biomassa ou biomassacre? Repetindo a questão: Existe biomassa suficiente no planetapara mudar para uma economia de base biológica? Aresposta é claramente ‘Não’.

A ideia alarmante de “ultrapassar o limite da Terra”, orápido declínio dos ecossistemas globais e a iminenteameaça de limiares catastróficos nos dizem que tentarestabelecer um ‘nível aceitável’ de extração de biomassa étão inapropriado quanto obrigar um paciente comhemorragia a doar sangue. Já lutando para manter osuporte à vida, o planeta simplesmente não tem nenhumasobra de biomassa. Até que a civilização industrial reduzasubstancialmente sua pegada ecológica atual, estamoscriticamente no vermelho no banco da biomassa e nosenterrando ainda mais na bancarrota ecológica e possívelcolapso dos quais não há resgate possível.

“Podemos voarmuito melhor do que os

pássaros, então, por que nãotentar fazer um processo sintético

que transforma dióxido de carbono eluz solar em energia melhor do que

uma folha?” – Dr. Michele Aresta, diretor doConsórcio Nacional sobre

Catálise italiano149

Ilustração: Beehive Collective

Grupo ETC www.etcgroup.org

Esse pelo menos é o argumento usado numa solicitação depatente de plantas estéreis para biocombustível apresentadapelo professor Kausch e um colega.153 A solicitação da patentereivindica propriedade não só dos métodos para aumentarbiomassa através de esterilização, mas também sobre qualquerplanta produzida, apropriando-se assim diretamente daprópria biomassa. Kausch, que está trabalhando com a VekonEnergies da Alemanha, também recebeu 1,5 milhão de dólaresda Agência de Proteção Ambiental dos EUA para financiar seutrabalho no que ele chama de projeto ‘switchgrass dourado’.154

Cultivos climáticos – Outra opção para aumentar a biomassaglobal é equipar geneticamente os cultivos para crescerem emcondições inóspitas – por exemplo, em solos salinos, áreaspantanosas ou desertos. As gigantes do agronegócio estãodesenvolvendo e comercializando cultivos ‘resistentes a estresseabiótico’, que podem sobreviver a sal, solos encharcados, secaou disponibilidade reduzida de nitrogênio e são vendidoscomo cultivos ‘prontos para o clima’, pois poderiam,teoricamente, adaptar-se a mudanças climáticasrápidas. Entretanto, esses cultivos tambémpodem ser considerados como prontos para abiomassa, uma vez que podem tornarprodutivas terras antes consideradas“marginais”, entregando a terratradicionalmente usada por populaçõespobres e camponeses para o lucro dascorporações. A análise do GrupoETC descobriu, por enquanto, 262famílias de patentes de cultivosclimáticos, dominadas por seiscorporações (DuPont, BASF,Monsanto, Syngenta, Bayer eDow) e suas parceiras(principalmente MendelBiotechnology eEvogene). Mais umavez, as solicitações depatentes estendem-se mais além dosmétodos paraabarcar abiomassa emsi.155

Algas – Enquanto uma árvore pode levar décadas para crescer,e gramíneas e cultivos, alguns meses, as algas duplicam suamassa diariamente, o que significa que aumentar a produção dealgas é muitíssimo mais rápido do que tratar de aumentaroutras matérias-primas de biomassa. As algas também podemcrescer em oceanos, tanques, desertos e banhados, e, por isso,os promotores da bioeconomia alegam que matérias-primas dealgas não competem com a produção de alimentos. Isso não ébem verdade, uma vez que a atual produção de algas competepor água, nutrientes e até mesmo por terra (ver mais adianteuma discussão detalhada sobre algas).

“O nome do jogo não é otimização da produção decombustível de biomassa, mas otimização do uso debiomassa para remover carbono da atmosfera.” – Stuart Strand, pesquisador na Universidade deWashington156

Geoengenheirando o planetacom biomassa

O papo de incrementar a biomassa globalou “melhorar” a fotossíntese paraabsorver mais carbono representatentativas de reengenheirar aprodução primária global paraalém das restrições determinadospela natureza. As tecnologiaspara alterar o planeta nessaescala são conhecidas comogeoengenharia e estãoganhando destaque,especialmente no contexto da

crise climática. Enquanto osesquemas de geoengenharia maisdifundidos propõem reduzir a quantidadede luz solar na atmosfera para esfriar oplaneta, governos e cientistas estãoconsiderando, com entusiasmo, umasegunda categoria de projetos, apelidada debiogeoengenharia, que tenta capturar ouaumentar a produção de biomassa terrestrepara sequestrar dióxido de carbono (CO2).

Geoengenharia: engenharia em escala planetária;manipulação intencional de sistemas da Terra,particularmente, mas não necessariamente, numatentativa de combater os efeitos da mudança climática.Ilustração: Beehive

Collective

32

Os novos senhores da biomassa 33

Ironicamente, o próprio planeta provavelmente já respondeu àelevação do carbono atmosférico aumentando a biomassa.“Entre 1982 e 1999, 25% das áreas da Terra com vegetaçãoapresentaram aumento da produtividade das plantas – de cercade 6% no total”,157 explica Ramakrishna Nemani, um cientistade biosfera do Ames Research Center, da NASA. Entretanto, éprovável que existam limites para a produção de biomassa,impostos pela nutrição do solo e oceânica, disponibilidade deágua, calor e luz do sol. Apesar disso, os biogeoengenheirosestão propondo esquemas para acelerar o ciclo do carbono, ocrescimento de biomassa e o sequestro, não para produção deenergia ou de materiais, mas com objetivos de manipular oclima.

Exemplos de biogeoengenharia incluem:

Depósito de biomassa

Dois geoengenheiros sediados nos EUA propõem depositarbiomassa continuamente no oceano profundo como a formamais eficiente de “limpar” CO2 da atmosfera. Os professoresStuart Strand, da Universidade de Washington, e GregoryBenford, da Universidade da Califórnia-Irvine, apelidaram seuprojeto de biogeoengenharia de CROPS (sigla em inglês paraCrop Residue Oceanic Permanent Sequestration – sequestropermanente no oceano por resíduos de cultivos) e calculamque, se 30% dos resíduos dos cultivos agrícolas do mundo(palhas, folhas e restolhos) fossem transportados para o mar edespejados no oceano profundo, 600 milhões de toneladas decarbono seriam removidas anualmente da atmosfera,reduzindo o carbono atmosférico em 15%.

Uma proposta envolve depositar 30% dos resíduos agrícolasdos EUA a 4 metros de profundidade numa área de 260 km2

do leito marinho no Golfo do México. “O que for colocado láficará lá por milhares de anos”, afirma Strand, argumentandoque o leito do mar é demasiado inóspito para a biomassa sedecompor.158 Alguns ecologistas marinhos discordam: “O marprofundo não é um local vazio, escuro, frio e sem vida – eleestá cheio de animais que evoluíram para aproveitar qualqueralimento que derive de cima para baixo, terrestre ou não. Porexemplo, a madeira que cai no mar profundo acaba sendocomida”,159 explica Miriam Goldstein, da Instituição Scripps deOceanografia. Ensaios de campo de depósitos de biomassa jácomeçaram na costa de Monterey, Califórnia, EUA.160 Strande Benford alegam não haver restrições legais que impeçamdepositar material agrícola orgânico no mar.

Ilustração: Liz Snook

Grupo ETC 34 www.etcgroup.org

Fertilização de oceanos (algas marinhas)

Uma forma diferente de depositar material no oceano com finsde geoengenharia propõe jogar ferro, ureia e outros nutrientesna água para estimular o rápido crescimento de plâncton(algas). A teoria da fertilização de oceanos argumenta que aadição de nutrientes nos mares provocará florescimentosmaciços de plâncton, que vai rapidamente absorver CO2 edepois afundar para o leito do oceano, sequestrando ocarbono.161

Que a adição de ferro, fosfato ou ureia a oceanos promove oflorescimento de algas está bem provado, tanto porexperimentos internacionais de fertilização de oceanos comopela existência de vastas zonas mortas oceânicas onde oescoamento superficial de insumos agrícolas dá origem a algas.Que os florescimentos produzidos artificialmente irãosequestrar dióxido de carbono de forma permanente é muitomais controverso.

Os florescimentos artificiais de plâncton parecem ter umaestrutura ecológica diferente da dos naturais, podem darorigem a espécies perigosas e provocar a liberação de potentesgases de efeito estufa, como metano e óxido nitroso.162 Elestambém podem provocar a desoxigenação da água, sufocandoa diversidade biológica. Embora a Convenção sobreDiversidade Biológica tenha declarado, em 2008, umamoratória de fato para as atividades de fertilização de oceanos,companhias privadas como a Climos, Ocean NourishmentCorporation (ONC) e Planktos Science ainda esperam lucrarcom essa atividade. Tanto a ONC quanto a Planktos Sciencetambém estão interessadas em utilizar a biomassa resultantepara outros fins (aumento dos estoques de peixes ebiocombustíveis).

Energia de biomassa com sequestro de carbono

Ainda que a queima de biomassa para eletricidade seja, emgeral, apresentada (erroneamente) como ‘carbono neutro’,alguns defensores da biomassa alegam que o processo, comalgum ajuste tecnológico adicional, poderia até mesmo setornar ‘carbono negativo’. Para conseguir isso, eles sugeremjuntar tecnologia de ‘captura e armazenamento de carbono’(CCS, por sua sigla em inglês) a queimadores de biomassa ou ausinas de produção de biocombustível.163

Enquanto a tecnologia CCS ainda não existe e talvez nuncaexista como uma tecnologia viável comercialmente devido aosgrandes riscos ambientais que implica, a ideia de limparquimicamente o CO2 de chaminés e, então, enterrá-lo naforma líquida ou sólida está à frente e no centro das respostasda OECD para a mudança climática. Para pretensosgeoengenheiros, os argumentos de que a Bioenergia comArmazenamento de Carbono (BECS, por sua sigla em inglês)limpa carbono duas vezes (uma vez quando a biomassa cresce ea segunda vez quando o CO2 é armazenado) são muitoatraentes.

Numa série de ensaios sobre “gestão do estoque de carbono dabiosfera”, Peter Read, da Universidade Massey da NovaZelândia, propôs plantar 1 bilhão de hectares de árvores derápido crescimento para a geração de eletricidade e sequestrode carbono como um esquema de geoengenharia que poderiarestaurar a atmosfera baixando os níveis de carbono.164 Ele eoutros proponentes da obtenção de energia a partir dabiomassa com sequestro de carbono (BECS) sugeriram aindaque converter a biomassa em carvão para depois enterrar nosubsolo (biochar) também poderia esfriar o planeta se efetuadonuma escala grande o suficiente.

O argumento: no passado, nossas economias usarambiomassa como sua matéria-prima principal, e, na realidade,as economias de muitas sociedades tradicionais aindasubsistem em grande parte em função da biomassa. Basearnossas economias em materiais orgânicos, naturais, providospelos ecossistemas é uma opção que está em harmonia comos limites da generosidade da natureza.

O argumento: uma vez que o carbono liberado pela queimade biomassa pode ser sequestrado pelas novas plantas, dereposição, o uso de biomassa para energia tem um totallíquido de emissões de carbono para a atmosfera igual a zeroe, assim, não contribui para o aquecimento globalantropogênico.

O argumento: a biomassa é composta por organismos vivos(ou que já foram vivos), principalmente plantas, que podemcrescer num curto período de tempo, ao contrário derecursos minerais, que só podem ser substituídos em erasgeológicas. A economia da biomassa é, portanto, umaeconomia em “regime permanente”.

Os novos senhores da biomassa 35

A nova economia dabiomassa: 10 mitos

1. Basear nossa economia na biomassa é natural:fizemos isso antes e está na hora de fazer de novo.

A realidade: é hipócrita, ou ingênuo, argumentar queeconomias em pequena escala baseadas na biodiversidade sãoexemplos a seguir para a transformação em escala industrial degrandes quantidades de biomassa indiferenciada visando aomercado global. Nos últimos momentos em que a economiamundial funcionou principalmente a base de matéria vegetal(nos anos 1890), ela precisava de um vigésimo da energia queconsome hoje. Mesmo naquela época, economistascontemporâneos se preocupavam com as consequências sobreo uso da terra devidas ao fato de se ter que manter umabastecimento suficiente de biomassa. Não há nada natural ousustentável na extração de madeira em escala industrial ou nosmodernos monocultivos industriais agrícolas ou de árvores. Ahistória ambiental nos ensina que, quando os recursos naturaissão sobre-explorados, o resultado é frequentemente o colapsoda civilização.

2. A biomassa é uma fonte de energia carbono neutro e umasolução para a mudança climática.

A realidade: a queima de biomassa pode liberar quantidadesde dióxido de carbono ainda maiores nas chaminés ou canosde descarga do que a queima de recursos fósseis, uma vez que omaterial vegetal tem uma menor densidade energética. Osgases de efeito estufa liberados não serão absorvidos pelasnovas plantas de reposição num prazo curto. No caso deespécies de vida longa, especialmente árvores, a quantidade decarbono liberada provavelmente não será absorvida de formasuficientemente rápida para evitar um aumento perigoso dastemperaturas globais. Além do mais, a produção de energia ouprodutos a partir da biomassa envolve aumentar outras fontesde emissões de carbono, que podem ser consideráveis, emparticular as emissões do solo em consequência de mudançasno uso da terra, as emissões de práticas agrícolas - incluindo ouso de fertilizantes e agrotóxicos baseados em combustívelfóssil - e as emissões derivadas de colheita, processamento etransporte da biomassa.

3. A biomassa é um recurso renovável.

A realidade: apesar das plantas poderem ser renováveis numcurto período de tempo, pode não ocorrer o mesmo com ossolos e os ecossistemas dos quais elas dependem. A agriculturaindustrial e a extração de biomassa florestal roubam nutrientes,matéria orgânica, água e estrutura dos solos, reduzindo suafertilidade e tornando os ecossistemas mais vulneráveis ou,inclusive, propensos ao colapso. O uso de químicos industriaisassociado a um manejo deficiente do solo pode piorar as coisasainda mais. Na prática, portanto, em geral a biomassa só éverdadeiramente renovável quando extraída em quantidadestão pequenas que não são interessantes para a indústria.

O argumento: nosso planeta tem abundante produção anualde árvores, plantas, algas, gramíneas e outras fontescelulósicas, que geralmente crescem em terras improdutivas emarginais e estão disponíveis para serem transformadas emcombustíveis, produtos químicos e outros materiaiscelulósicos. A produção primária líquida do planeta é 5 a 6vezes maior do que seria necessário para alimentar toda aeconomia com base em energia derivada de biomassa.

O argumento: ao contrário dos depósitos fósseis e minerais,os quais são finitos, é possível aumentar a produção total debiomassa, através do manejo cuidadoso de terrasimprodutivas, do aumento do uso de fertilizantes, ou atravésda reengenharia de plantas e algas para aumentar aprodutividade. Dessa forma, uma economia baseada embiomassa não tem as mesmas restrições de escassez queeconomias baseadas em combustíveis fósseis.

O argumento: enquanto a utilização de açúcares e óleos decultivos alimentícios como milho, canola e dendê comomatérias-primas de biomassa pode competir diretamentecom os usos para fins alimentares e provocar um aumentonos preços dos alimentos, isso não ocorre quando se usa aparte celulósica dos cultivos, transformando materiaisresiduais (como cascas e palhadas) em uma valiosa segundafonte de ganhos para os agricultores. Além disso, lascas demadeira, gramíneas celulósicas e outros cultivos para energiapodem ser obtidos de terras que não são utilizadas para aprodução de alimentos, favorecendo a economia rural e, aomesmo tempo, protegendo a segurança alimentar.

Grupo ETC 36 www.etcgroup.org

4. Há biomassa suficiente, especialmente biomassacelulósica, para substituir o carbono fossilizado.

A realidade: longe de ter biomassa suficiente para abasteceruma economia baseada nela, já estamos muito afundados novermelho no banco da biomassa. Os seres humanos já usamum quarto da produção primária líquida da terra paraalimento, aquecimento e abrigo. As tentativas de definir umlimite para o uso humano dos recursos naturais, para além doqual os ecossistemas perdem resiliência e começam a colapsar,revelam que há vinte anos consumimos além desses limites eagora estamos severamente ‘excedendo o limite da Terra’.

5. Com o tempo podemos aumentar a produção debiomassa.

A realidade: a produção global de biomassa já está em níveishistoricamente altos, e há limites quanto à quantidade debiomassa de que o planeta pode abrir mão. Esses limites sãoditados pela disponibilidade de água, de determinadosminerais e fertilizantes e pela saúde dos ecossistemas. Aescassez mundial de fosfato, por exemplo, pode não recebertanta atenção quanto o pico do petróleo, mas irá exercer umimpacto significativamente negativo nas tentativas deaumentar artificialmente a produtividade. Também não hátanta terra ‘improdutiva’ disponível. Num exame maisminucioso, em geral tais terras são a base dos meios desubsistência que alimentam a maioria dos pobres do mundo.Tentativas de forçar a terra a produzir mais podem destruircompletamente a fertilidade do solo.

6. Os combustíveis e produtos químicos celulósicosresolvem o dilema “alimento versus combustível”

A realidade: apesar de não podermos comer diretamente aspartes celulósicas das plantas, elas fornecem um serviço demuito valor devolvendo nutrientes, estrutura e fertilidade aossolos agrícolas. A remoção desses ‘resíduos agrícolas’ na escalaprevista provavelmente levará a um declínio na produtividade,a um drástico aumento no uso de fertilizantes sintéticos, ou aambos. Também não é verdade que os cultivos e plantaçõespara celulose não competem com os cultivos alimentares pelouso da terra. Estamos vendo terras que atualmente fornecemalimentos para populações pobres e marginalizadas sendoconvertidas para cultivos bioenergéticos. É de se esperar queessa tendência se intensifique à medida que cultivos celulósicosganham maior valor econômico. Cultivos celulósicos tambémcompetem com cultivos alimentares por água e nutrientes.

Origami: Elkosi

Os novos senhores da biomassa 37

O argumento: à medida que as indústrias de “energia limpa”forem criando raízes em todo o mundo, elas disponibilizarãoempregos qualificados, de alta tecnologia, que também sãoamigáveis ao ambiente. Novos empregos em fábricas queutilizam processos de base biológica são qualificados como‘trabalhos verdes’, oferecendo oportunidades de emprego aomesmo tempo que melhoram as indústrias poluidoras. Oprocesso de produção com biomassa também oferece apossibilidade de estímulo econômico às economias rurais edo Sul, que podem alocar terras para plantar cultivos eplantações para biomassa lucrativos e podem construirinstalações para a biomanufatura perto de grandes fontes decelulose ou de outra biomassa. A bioenergia pode tambémreceber dinheiro extra para desenvolvimento sob oMecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) doProtocolo de Kioto.

8. A biomassa é boa para a economia global, ajudando odesenvolvimento econômico no Sul e criando “empregosverdes” no Norte.

A realidade: as tecnologias da biomassa estão em grandemedida sujeitas a patentes e a outras reivindicações depropriedade, e as tentativas de países para desenvolverindústrias manufatureiras de base biológica estarão sujeitas aroyalties e/ou taxas de licenciamento. A agricultura e asplantações industriais já são controladas por um punhado decompanhias transnacionais. Além disso, não há razão parasupor que as biorrefinarias e os monocultivos para energiasejam de alguma forma ‘verdes’ ou seguros para ostrabalhadores. Somando-se aos efeitos nocivos dos insumosquímicos e das técnicas de produção de monoculturas ahumanos e ao ambiente, os organismos sintéticos tambémpodem se revelar tanto danosos ambientalmente quantoperigosos para a saúde dos trabalhadores. O Brasil oferece umexemplo da vida real que serve de alerta: as condições doscortadores de cana-de-açúcar para bioenergia (atualmenteetanol) envolvem a exposição a altos níveis de agrotóxicos e aperigosa poluição do ar. Longe de auxiliar comunidadesmarginais, as novas plantações para bioenergia, acreditadas peloMDL ou por outros mecanismos, podem invadir diretamenteas terras de camponeses e produtores em pequena escala,roubando deles o controle da produção de alimentos, da água eda saúde dos ecossistemas nos quais eles vivem.

O argumento: como os componentes básicos dos produtosquímicos e plásticos derivados da biomassa são amidos eaçúcares ao invés de minerais fósseis, é mais fácil projetarquímicos e bioplásticos verdes que se decomponhamcompletamente em suas partes constituintes e não tenham atoxicidade dos produtos químicos e polímeros derivados decombustíveis fósseis.

A realidade: enquanto pode ser verdade que, em alguns casos,os plásticos e químicos derivados de biomassa podem serprojetados para ser menos tóxicos e persistentes no ambiente,no geral, isso não é verdade. O polímero propanediol(Sorona), da DuPont, um dos principais bioplásticoscomerciais, transforma anualmente 150 mil toneladas dealimento biodegradável (milho) em 45 mil toneladas deplásticos não degradáveis. De forma crescente, as companhiasquímicas estão concebendo formas de produzir compostosextremamente tóxicos como o PVC a partir de açúcares debiomassa ao invés de hidrocarbonetos. À medida que aindústria química for se movendo para a produção de basebiológica, veremos muitos dos mesmos compostos tóxicos nomercado serem produzidos a partir de carbono novo (plantas)ao invés de carbono fossilizado (petróleo).

7. Plásticos e produtos químicos de base biológica são maisamigáveis para o ambiente do que químicos baseados emcombustível fóssil.

Fotomontagem: Karl Adam

Grupo ETC 38 www.etcgroup.org

O argumento: as guerras por petróleo, gás natural e outrosrecursos fósseis foram uma característica dominante no finaldo século XX e início do século XXI. Os lucrosinflacionados da extração de petróleo no Oriente Médio eem outros lugares reforçaram indiretamente gruposextremistas e alimentaram tensões geopolíticas. Em suacorrida para controlar os bolsões remanescentes de petróleoe gás, as companhias de petróleo têm desprezado os direitoshumanos e as reivindicações territoriais de comunidadesindígenas e tradicionais. Diferentemente de recursos fósseis,a biomassa se distribui de maneira mais uniforme por todo oplaneta e permitiria às economias industriais alcançarindependência energética, cortando o fluxo de caixa pararegiões instáveis do globo.

O argumento: diante dos enormes desafios energéticos, asociedade global deve mudar a forma como produzimosenergia. Entretanto, ainda é muito cedo para saber qual seráa nova matriz energética, pois as tecnologias relevantes aindanão estão prontas. Enquanto a biomassa pode acabar tendoapenas um pequeno papel na nova economia da energia, suavantagem é que ela pode ser rapidamente implementadaagora, como uma fonte de energia tapa-buraco enquanto asociedade se move para soluções de mais longo prazo queainda não estão completamente desenvolvidas ou quenecessitam mais tempo para ganhar escala, como a energia dehidrogênio, a fusão nuclear e o ‘carvão limpo’. A enormidadedo desafio da transição de energia significa que astecnologias de biomassa devem ser exploradas edesenvolvidas como forma de aumentar o espectro de opçõesdisponíveis.

A realidade: eliminar os hidrocarbonetos fósseis da matrizenergética global (ainda que isso fosse possível ou provável)não iria dissolver magicamente as tensões geopolíticas. Damesma forma que os recursos fósseis, a biomassa se distribui demaneira desigual ao redor do globo, e já há uma corrida paraassegurar e controlar a terra, a água e os minerais estratégicos,bem como a propriedade intelectual, que possibilitarão a novaeconomia da biomassa. As lutas pelos escassos recursos de águadoce e pelos oceanos e desertos podem se tornar mais comuns,especialmente à medida que amadureçam as tecnologias debiomassa de algas. O agronegócio, as companhias deflorestamento e a indústria do açúcar não são mais respeitososcom direitos humanos e reivindicações de soberania do que asgrandes petroleiras tem sido: para as comunidades que lutamcontra as plantações celulósicas, a grilagem legal de terras, oroubo de água ou o corte ilegal de árvores, as guerras pelabiomassa já começaram.

9. Uma economia da biomassa reduz a instabilidadepolítica/guerras/terrorismo associados com os petrodólares.

10. As tecnologias de biomassa precisam de apoio como umpasso de transição para uma nova matriz energética, queinclui a energia nuclear, eólica, “carvão limpo”, etc.

A realidade: no fundo, a sociedade global está diante nãoapenas de uma crise de energia, mas de uma crise de produçãoe consumo excessivos. Comparar o valor de uma economiaabastecida por biomassa com outros modelos de produçãoinjustos, como a energia nuclear ou o sequestro earmazenamento de carbono, é entender tudo errado. Aredução em toda a demanda de energia é politicamente maisdifícil de engolir, mas é ecologicamente imprescindível.Aumentar o apoio à agricultura camponesa descentralizada, aqual não alimenta a mudança climática e assegura a soberaniaalimentar, é um outro jeito de resolver nossas crises globais.

Os novos senhores da biomassa 39

Segunda parte:As ferramentas eos atores

A nova bioalquimiaEquipando-se para o assaltoSonhos de transformar biomassa barata em commoditiesvaliosas não são nenhuma novidade. Em um conto popularalemão recolhido no século XIX, um anão chamadoRumpelstiltskin transforma palha em ouro usando uma roca.Rumpelstiltskin era, em parte, uma caricatura dos alquimistasda época (alquimia significa ‘transformação’), que buscavammaneiras de transformar materiais naturais comuns emprodutos altamente valiosos. De fato, todo um ramo daalquimia, a espagíria, dedicava-se a transformar a matériavegetal para fins mais elevados.165 Algumas das buscas centraisda alquimia, como a de desenvolver panaceias e de criar umsolvente universal que reduziria toda matéria a suas partesconstituintes, têm eco nos esforços de hoje para desenvolvercelulases (enzimas que quebram a celulose) de plantas etransformar palha em combustíveis e materiais celulósicos. Háquatro plataformas abrangentes para transformar a biomassa.

CombustãoA maneira mais fácil de obter valor de ummonte de biomassa é jogar um fósforoaceso: a queima extrai a máxima produção

de energia da biomassa. Alguns exemplos de técnicas decombustão incluem a combustão aberta (queima comoxigênio), a pirólise (queima sem oxigênio), a gaseificação debiomassa (queima em temperaturas muito altas comquantidade controlada de oxigênio) e a gaseificação por arcode plasma (aquecimento da biomassa com uma correnteelétrica de alta voltagem).

QuímicaAssim como os químicos do petróleoaperfeiçoaram o ‘craqueamento’ demoléculas complexas de hidrocarbonetos

em moléculas mais simples utilizando calor, pressão ecatalisadores ácidos, é possível usar técnicas similares paraquebrar carboidratos na biomassa para transformá-los emprodutos de química fina, polímeros e outros materiais.Técnicas termoquímicas (como o processo Fischer-Tropsch)transformam material lignocelulósico em hidrocarbonetos. Aextração de proteínas e aminoácidos rende compostos valiosos.Técnicas de fermentação, às vezes combinadas com engenhariagenética e biologia sintética (ver nas páginas seguintes),também podem produzir proteínas que podem ser refinadasainda mais em plásticos, combustíveis e produtos químicos.

Biotecnologia / Engenharia GenéticaTanto a fermentação de açúcares de plantasem alcoóis quanto o melhoramento

tradicional de plantas foram utilizados durante milhares deanos. Agora, foram introduzidas novas tecnologias genéticas,que estão estimulando muito do entusiasmo industrial emtorno da biomassa. Elas incluem novos enfoques da engenhariagenética (DNA recombinante) para modificar plantas paraque expressem mais celulose ou quebrem mais rapidamentepara a fermentação ou cresçam em solos e condições climáticasmenos favoráveis. Mais recentemente, a biologia sintética (vernas páginas seguintes) permite o desenvolvimento de novosorganismos que são mais eficientes em captar a luz solar ou onitrogênio ou que podem gerar enzimas totalmente novas(proteínas biologicamente ativas). Essas enzimas são utilizadaspara realizar reações químicas ou para produzir novoscompostos a partir de matéria vegetal.

Numa fábula apropriada à bioeconomia de hoje, o anãoRumpelstiltskin cobrou um preço com alto custo humano (o

primogênito da fiandeira) por sua tecnologia de transformar palhaem ouro com uma roca. Ilustração de Rumpelstiltskin da Household

Stories dos Irmãos Grimm, 1886

Grupo ETC 40 www.etcgroup.org

Nanotecnologia A nanotecnologiarefere-se a umconjunto de técnicasque usam e manipulam

as propriedades incomuns que assubstâncias exibem quando elas estão naescala de átomos e moléculas (mais oumenos abaixo de 300 nm). Há interessecrescente por parte da indústria emtransformar estruturas em nanoescalaencontradas na biomassa para novos usosindustriais. Os pesquisadores estãointeressados na nanocelulose como umanova matéria-prima, beneficiando-se dalonga estrutura fibrosa da celulose paraconstruir novos polímeros, materiais“inteligentes”, nanossensores ou mesmoprodutos eletrônicos. A pesquisa emnanobiotecnologia visa modificar aspropriedades em nanoescala de madeiraviva e de outras matérias-primas debiomassa para alterar suas propriedades materiais ou deprodução de energia.

Biologia sintética – virando o jogo para a biomassaEnquanto as áreas de rápido crescimentopara a biomassa comercial, ao longo dospróximos anos, são relativamente debaixa tecnologia – por exemplo, queimarbiomassa para produzir eletricidade – nolongo prazo, a biologia sintética prometeexpandir as possibilidades comerciais,acelerando a apropriação da biomassaglobal.

A biologia sintética é uma indústria que cria‘organismos projetados’ para atuar como ‘fábricas vivas’.

A ideia é quemicrorganismos emtanques de fermentaçãotransformarão a biomassanuma ampla gama deprodutos químicos,plásticos, combustíveis,fármacos e outroscompostos de alto valor. Abiologia sintética refere-sea um conjunto de técnicasde ‘engenharia genéticaextrema’ que envolvem aconstrução de sistemasgenéticos inovadoresutilizando princípios deengenharia e DNAsintético.167 A biologiasintética difere das técnicas‘transgênicas’, que ‘cortam ecolam’ sequências de DNA(existentes na natureza) deum organismo para outro

com o objetivo de alterar o comportamento de um organismo(por exemplo, inserindo genes de bactéria em milho ou geneshumanos em arroz).168 Em vez disso, os biologistas sintéticos

constroem DNA do zero, utilizando uma máquinachamada sintetizador de DNA, a qual pode

‘imprimir’ o DNA sob encomenda. Dessamaneira, eles são capazes de alterarradicalmente a informação codificada noDNA, criando instruções genéticastotalmente novas e desencadeando umasérie de reações químicas complexasdentro da célula, conhecidas como umavia metabólica. Na prática, a nova fita deDNA, sintético, ‘sequestra’ a maquinaria

da célula para produzir substâncias que nãosão produzidas naturalmente.

Ao fazer isso, os biologistas sintéticos alegam queestão se tornando especialistas em reprogramar células simplescomo leveduras e bactérias para se comportarem comofábricas. Nos últimos cinco anos, a biologia sintética passou deuma ciência ‘marginal’ – um híbrido de engenharia eprogramação de computadores, distante da biologia – parauma área de intenso interesse e investimento industrial.

Organismo sintético: forma de vida fabricada por umamáquina; um organismo vivo (geralmente levedura oubactéria) ao qual foram adicionados filamentos de DNAconstruídos por uma máquina chamada sintetizador deDNA empregando as técnicas da biologia sintética.

“Nos próximos 20anos, a genômica sintética

vai se tornar o padrão para fazerqualquer coisa. A indústria químicavai depender dela. Com um pouco desorte, uma grande parte da indústria

de energia vai depender dela.” – J. Craig Venter, fundador da

Synthetic Genomics, Inc.166

Montagem por Jim Thomas

Os novos senhores da biomassa 41

Biologia sintética: imprevisível, não testada e pouco compreendida

“Se um microrganismo sintético é construídocombinando-se... elementos genéticos em uma nova forma,faltará a ele uma linhagem genética clara, e poderiamsurgir ‘propriedades novas’ resultantes das interaçõescomplexas de seus genes constituintes. Assim, os riscosdecorrentes da liberação acidental de um organismo dessetipo do laboratório seriam extremamente difíceis deavaliar antecipadamente, incluindo sua possível dispersãopara nichos ecológicos novos e a evolução de característicasnovas e potencialmente perigosas.” – Jonathan B. Tucker e Raymond Zilinskas, “The Promiseand Perils of Synthetic Biology”169

Para observadores da sociedade civil, o que é maissurpreendente em relação à biologia sintética não é tanto suapretensão de refazer as partes da vida, mas a rapidez com queestá entrando em uso comercial – sem qualquer supervisão.Organismos construídos sinteticamente já são empregados naprodução de milhares de toneladas de biocombustíveis e deprodutos químicos de base biológica, muito antes de pesquisaou debate sobre sua segurança e eficácia ou sobre ospressupostos subjacentes às técnicas envolvidas.

Por exemplo, os biologistas sintéticos atuam sob o pressupostode que o DNA – uma molécula de açúcar associada a quatrotipos de compostos químicos organizados em uma sequênciaparticular – forma um código que instrui um organismo vivoem como crescer, funcionar e se comportar. Ao reescrever essecódigo, os biologistas sintéticos afirmam que são capazes deprogramar formas de vida quase como se programa umcomputador. Esses pressupostos são baseados num modelo desistemas genéticos que tem mais de 50 anos, conhecido como o‘dogma central’ da genética. Entretanto, a exatidão dessedogma está se tornando cada vez menos garantida.

Novas pesquisas na ciência genética, particularmente noscampos da teoria dos sistemas de desenvolvimento e daepigenética, questionam a importância dada ao código do DNA.Os teóricos de sistemas de desenvolvimento destacam queelementos complexos de todo tipo, tanto dentro como fora deuma célula viva, influenciam na maneira como um organismovivo se desenvolve, e isso não pode ser determinado a priorienfocando somente o código de DNA.170 Os geneticistasespecializados em epigenética (que estuda os fatores nãogenéticos no desenvolvimento de organismos) argumentam quecomponentes mais sutis, como as substâncias químicas orgânicasque envolvem o DNA (conhecidas como grupos metila), podemter um efeito tão grande na forma como um organismo sedesenvolve quanto tem o DNA. E que fatores ambientais comoestresse e clima também podem interferir na mesma dimensão.

De fato, os biologistassintéticos frequentementerelatam que seus programas deDNA cuidadosamenteprojetados, que funcionamperfeitamente numcomputador (‘in silico’), nãofuncionam em organismosvivos sinteticamenteengenheirados ou apresentamefeitos colaterais inesperadossobre o comportamento de umorganismo.171 Acontece que abiologia é desordenada.

Aplicar a padronização e o rigor da engenharia ao mundobiológico é teoricamente interessante, mas pode não sercompatível com sistemas vivos. “Os engenheiros podem vir ereconectar isso e aquilo. Mas os sistemas biológicos não sãosimples”, explica Eckard Wimmer, um biologista sintético naUniversidade Estatal de Nova Iorque em Stonybrook, eacrescenta, “Os engenheiros vão descobrir que as bactériasestão simplesmente rindo deles.”172 Como admite o biologistasintético James Collins, da Universidade de Boston, “Se vocêtem um conhecimento incompleto, então é bem provável quevocê esteja a fim de algumas surpresas.”173

A probabilidade de que apareçam comportamentos inesperadostorna ainda mais surpreendente o fato de não existir umametodologia para testar as implicações de segurança de umorganismo sintético novo sobre a saúde e o ambiente. Osmecanismos de regulamentação existentes para avaliar asegurança de organismos transgênicos ‘convencionais’ baseiam-senuma ideia controversa conhecida como ‘equivalênciasubstancial’,174 a qual dá um palpite aproximado de como pode secomportar a combinação dos genes inseridos com o organismoreceptor. No entanto, a equivalência substancial é totalmenteinapropriada para avaliar organismos construídossinteticamente: os biologistas sintéticos não estão simplesmentemovendo sequências genéticas distintas entre espécies – elesrotineiramente inserem sequências construídas de DNA retiradode vários organismos diferentes. Eles podem também incluirseções de DNA que nunca existiram antes na natureza, as quaisresultam de mutações provocadas por uma técnica de laboratóriochamada ‘evolução direta’ ou foram desenhadas usando umprograma de computador e, posteriormente, construídas do zeropor uma máquina de síntese de DNA. Por exemplo, a levedurasintética desenhada pela Amyris Biotechnologies, que está paraser utilizada comercialmente em larga escala no Brasil, tem DNAadicional construído a partir de 12 genes sintéticos, tirados emsua maior parte de plantas, mas todos levemente alterados parafuncionar num determinado micróbio.175

Montagem: Jim Thomas, apartir de uma foto de A. J. Can

Grupo ETC 42 www.etcgroup.org

No futuro, esses organismos podem serconstruídos a partir de centenas de fontesdiferentes. Como observou um grupo debiologistas sintéticos em 2007, “como avaliartais construções quanto à segurança biológicapermanece obscuro.”176

Mesmo organismos sintéticos aparentementemais simples apresentam perspectivas“obscuras” quanto à avaliação de segurança.“Em função da falta de evidência empírica, oinventor de um microrganismo sintético nãoconseguiria prever, com nenhum grau deconfiança, os efeitos de sua liberação sobre asaúde humana e o ambiente”, dizem osbiocientistas Jonathan Tucker e RaymonZilinskas, do Instituto Monterey de Estudos Internacionais.“Mesmo se as fontes de todas as partes de um microrganismosintético fossem conhecidas, e cada novo circuito genéticofosse entendido, seria difícil prever antecipadamente se oorganismo teria quaisquer ‘propriedades emergentes’inesperadas.”177 Por exemplo, mesmo se as sequências genéticasadicionadas a um organismo sintético não forem consideradaspatogênicas (causadoras de doenças), ainda há a possibilidadedelas se tornarem patogênicas no interior do organismosintético. O ex-controlador ambiental dos EUAMichael Rodemeyer destacou, em uma resenhasobre questões de segurança em biologiasintética, que a engenharia genéticaresultou em riscos inesperados à saúde nopassado, por exemplo, quando um vírusda varíola murina que se destinava aesterilizar camundongos, pelo contrário,criou uma cepa supervirulenta da varíolamurina.178 Os riscos ecológicos da biologiasintética também são significativos, tanto nocaso de liberação ambiental intencional deorganismos sintéticos (por exemplo, cultivos e algas)quanto no escape acidental das biorrefinarias. Uma vez que asespécies que geralmente estão sendo modificadas (como algas,E. coli e leveduras) são muito comuns no ambiente, existe apossibilidade de cruzamento com espécies naturais e decontaminação de comunidades microbianas no solo, mares eanimais, incluindo os humanos. Os micróbios se propagam emutam rapidamente e também se movem através do solo,cursos de água e outras rotas, então, pode ser especialmentedifícil rastrear os escapes. Os biologistas sintéticos sustentamque suas criações feitas em laboratório provavelmente sãomuito fracas para sobreviver fora das condições otimizadas nasquais elas foram desenvolvidas; contudo, essa hipótese provou-se errada antes.

Quando, nos anos 1990, aprovou-sepela primeira vez a liberação decultivos transgênicos como milho,algodão e soja, as companhias debiotecnologia asseguraram aosregulamentadores que eles tambémseriam muito frágeis para cruzarcom os cultivos convencionais.Duas décadas depois, grande partedos cultivos de milho, canola ealgodão do mundo foramcontaminados com os genesengenheirados devido à mistura desementes e à polinização cruzada.

Organismos sintéticos como biofábricas

A indústria já aproveita rotineiramente as leveduras naturaispara atuarem como diminutas biofábricas. Por exemplo, elastransformam açúcar de cana em etanol ou trigo em cerveja.Contudo, ao se alterar a levedura (ou outros micróbios), amesma matéria-prima de açúcar pode ser transformadaflexivelmente em produtos que são novidades, dependendo de

como a informação genética da levedura foi “programada”.Bilhões de micróbios sintéticos contidos num

único tanque industrial podem ingerirmatérias-primas de açúcar e excretarcombustíveis de hidrocarboneto com aspropriedades da gasolina (em vez do usualetanol). Os mesmos micróbios, seprogramados de forma diferente, podemexcretar um polímero, um produtoquímico para fazer borracha sintética ouum produto farmacêutico. Na prática, o

micróbio se tornou uma plataforma deprodução de diferentes compostos químicos.

“Os engenheiros químicos são bons em juntarmontes de peças ao mesmo tempo para fazer uma fábrica

química de grande escala, e isso é o que estamos fazendo naengenharia biológica moderna. Estamos pegando montes depequenas peças genéticas e colocando elas juntas paraconstruir um sistema completo”, explica o pioneiro da biologiasintética Jay Keasling, do Instituto Misto de BioEnergia doDepartamento de Energia dos EUA. “Realmente, estamosdesenhando a célula para ser uma fábrica química. Estamosconstruindo as fábricas químicas modernas do futuro.”180 Oescritor da Grist, David Robert, explica a visão da biologiasintética de forma mais sucinta: “... micróbios geneticamenteengenheirados vão comer açúcar e cagar petróleo.”181

“A biologia sintéticaproduzirá organismos commúltiplas características de

múltiplos organismos, e, portanto,pode ser difícil prever suas

propriedades.” – Opinião da Comissão Europeia

sobre a ética da biologiasintética179

Ilus

traç

ão: S

tig

Os novos senhores da biomassa 43

Enzimas sintéticas para celulose

Os biologistas sintéticos também estão criando as ferramentasque farão da celulose um açúcar acessível industrialmente.Companhias de enzimas como DSM, Verenium, Genencor,Codexis e Novozymes desenvolvem micróbios alteradossinteticamente para produzir novas enzimas poderosas(proteínas quimicamente reativas), conhecidas como celulases,que quebram o emaranhado molecular da lignocelulose emaçúcares de celulose mais simples.182 Até recentemente, eramnecessários processos que usavam muita energia, envolvendoaquecimento elevado, para liberar a celulose na biomassa parasua posterior fermentação.

Outras companhias, como a Mascoma e LS9, estão tentandoconstruir microrganismos de “dupla função”, que quebrem abiomassa em açúcares disponíveis e então fermentem essesaçúcares em combustíveis (no caso da Mascoma, o combustívelé etanol; para a LS9, sua E. coli sintética pode transformarcelulose numa variedade de produtos químicos, entre eles óleodiesel).183 Christopher Voigt, um biologista sintético naUniversidade da Califórnia – São Francisco, foi além,desenvolvendo um método de ‘matéria-prima flexível’,apelidado de Bio-MeX, no qual os micróbios sintéticos(contendo 89 partes genéticas novas) podem quebrarswitchgrass, palhada de milho, bagaço de cana-de-açúcar oulascas de madeira de álamo não processados e fermentá-losdiretamente numa gama de produtos químicos conhecidoscomo haletos de metila. Os haletos de metila são geralmenteusados como fumigantes agrícolas, mas também são moléculasprecursoras que podem ser convertidas em outros produtosquímicos e combustíveis como a gasolina.184

“Uma característica da indústria atual é que, se você constróiuma usina de milho para etanol, o milho é sua única matéria-prima, e o etanol, seu único produto”, explica Voigt. “Você nãopode mudar de uma hora para a outra. Nós tratamos asquestões matéria-prima e produto separadamente.”185

Plantas sintéticas – mudando as matérias-primas

Um punhado de companhias também estão começando aadicionar sequências de DNA sintético para engenheirarplantas de maneira que tenham um desempenho mais eficientecomo matérias-primas para a bioeconomia. Um exemplo é omilho alfa amilase da Syngenta, o qual incorpora sequênciassintéticas engenheiradas pela Verenium (atualmente depropriedade da BP). Essas sequências fazem o milho produziruma enzima que quebra rapidamente os colmos do milho emcelulose para produzir biocombustíveis celulósicos.188

Devoradores de celulose e fermentadoresde combustíveis à solta?

Grande parte do atual trabalho comercial em biologiasintética inclui desenvolver micróbios sintéticos que sejamcapazes de digerir biomassa celulósica em açúcares maissimples ou converter celulose e outros açúcares emplásticos, combustíveis e produtos químicos. Se essesorganismos escaparem dos tanques de fermentação econseguirem sobreviver no ambiente natural, pode havergrandes motivos de preocupação. Se as cepas queescaparem forem capazes de quebrar a celulose e outrosaçúcares que já se encontram no ambiente e fermentá-losem produtos industriais in situ, os resultados podem serevelar um risco ecológico e de saúde.

Tal cenário tem precedente. Em 1999, a cientista de soloElaine Ingham, da Universidade Estadual do Oregon, e oestudante de graduação Michael Holmes relataramexperimentos com uma bactéria de solo geneticamenteengenheirada chamada Klebsiella planticola. Umacompanhia de biotecnologia europeia tinha alterado abactéria para fermentar palha de trigo celulósica em etanole estava preparando seu uso comercial. Ingham e Holmesadicionaram a bactéria engenheirada a diferentes amostrasde solo e descobriram que a bactéria se alimentava deresíduos celulósicos no solo para produzir etanol, o qual,por sua vez, envenenou e matou plantas que cresciamnaqueles solos. Nessa época, a Agência de ProteçãoAmbiental dos EUA estava considerando permitir aadição, em lavouras, de resíduos de lodo do uso deKlebsiella planticola engenheirada.186

O caso é relevante para o uso de organismos sintéticos embiorrefinarias comerciais, as quais também irão produzirresíduos para descarte. Além do mais, atualmente não seespera que tais biorrefinarias estabeleçam medidas debiossegurança muito rigorosas, agindo mais comoinstalações de fermentação industrial do que comolaboratórios de alta tecnologia. De fato, as evidências daindústria de fabricação de cerveja, que utiliza leveduras parafermentação, da mesma forma como fazem as refinariascomerciais de biologia sintética existentes, sugerem que oescape de organismos pode, na realidade, ser bem comum.De acordo com o especialista em fabricação de cervejaHugh Dunn, um estudo envolvendo seis cervejariasinvestigadas durante três anos descobriu que cepascomerciais de leveduras cultivadas escapam para o ambiente.Vinhedos biodinâmicos já levantaram a preocupação de quemesmo cepas não engenheiradas que escapem poderiamafetar o sabor e o caráter de seus vinhos.187

Grupo ETC 44 www.etcgroup.org

A companhia de agrobiotecnologiaAgrivida, em conjunto com biologistassintéticos da Codon Devices189

(atualmente extinta), desenvolveu ummilho similar, enquanto a Chromatin Inc.,em conjunto com a Monsanto e aSyngenta, também está utilizando biologiasintética para ‘reprogramar’ cultivosindustriais como milho, algodão e canolapara serem matérias-primas mais eficientespara a produção de biocombustíveis.190

Eletricidade a partir deorganismos sintéticos?

Por fim, os organismos sintéticos que crescem em tanques deaçúcares de biomassa podem também ser empregados paraproduzir eletricidade. Em 2006, Yuri Gorby, entãocom o Pacific Northwest National Laboratorydo Departamento de Energia dos EUA,demonstrou que muitas cepas de bactériasproduzem naturalmente pequenasquantidades de eletricidade, conduzidapor nanofios naturais.191 Gorbyatualmente trabalha com eletricidadebacteriana no Instituto dirigido pelomagnata da biologia sintética J.CraigVenter.192 Em 2008, uma equipe deestudantes de Harvard se baseou notrabalho de Gorby para participar de umacompetição international de biologiasintética chamada iGEM (a competiçãointernacional de máquinas geneticamenteengenheiradas). A equipe para o iGEM desenvolveu o que eleschamaram de “Bactricidade”[Bactricity], alterandosinteticamente a bactéria Shewanella oneidensis para se unir emforma de fios e transmitir eletricidade. Os pesquisadores dizemque essa tecnologia poderia ser a base de futuras células decombustível ou sensores bacterianos.193

O assalto da biologia sintética aos meios de subsistência – A substituição de matérias-primas

Para entender como a contribuição da biologia sintética para aeconomia da biomassa vai afetar os meios de subsistência doSul, vejamos o plano de negócios da Amyris Biotechnologies,fundada pelo pioneiro da biologia sintética Jay Keasling.

A Amyris se vangloria de que eles“atualmente estão preparados paracomercializar fármacos e outros produtosquímicos finos de alto valor tirados dasflorestas e oceanos do mundo fazendoesses compostos em micróbiossintéticos.”195 O projeto de maior destaqueda Amyris, financiado na ordem de 42,5milhões de dólares pela Fundação Bill &Melinda Gates, foi a reengenharia delevedura industrial para produzir oprecursor da artemisinina, um valiosocomposto antimalária normalmenteextraído da erva-de-são-joão, Artemisia

annua, atualmente cultivada por milhares de pequenosagricultores da África Oriental, do Sudeste da Ásia e do Sul daÁsia.196 Até mesmo os apoiadores do projeto admitem que

mudar a produção da artemisinina dos campos dosagricultores para os tanques de micróbios sob

regime de patentes e controlados pelaAmyris e por sua parceira comercial,Sanofi-Aventis, poderia impactar arenda e os meios de sustento dosagricultores que cultivam a erva-de-são-joão.197 De fato, um relatório doinstituto The Netherlands RoyalTropical, em 2006, destacou aperspectiva da artemisinina sintéticacomo uma das principais ameaças aosprodutores de erva-de-são-joão.198 Os

promotores da artemisinina sintéticasustentam que o benefício à saúde pública de se

produzir artemisinina barata compensa a perda dosmeios de subsistência por alguns milhares de agricultores.199

Os plantadores de erva-de-são-joão da África e da Ásia quepodem perder seus mercados são simplesmente o sinal deadvertência de uma substituição muito maior dos meios desubsistência pelas companhias de biologia sintética e pela novabioeconomia. Além de compostos medicinais, os biologistassintéticos estão de olho em produzir muitas das matérias-primas abundantes e estratégicas das quais as nações do Suldependem hoje para ter renda:

Borracha – Em 2007, o Grupo ETC informou sobretentativas, do laboratório de Jay Keasling, de produzirmicróbios que sintetizassem borracha natural,200 um projetoque o Departamento de Agricultura dos EUA esperava quepudesse ajudar a substituir os 2 bilhões de dólares de borrachaque os EUA importam dos países do Sul.

“Devemos sercapazes de fazer dentro de ummicróbio qualquer composto

produzido por uma planta... Devemoster todos essas vias metabólicas. Você

precisa de tal medicamento: OK! Tiramosda prateleira essa peça, essa parte e essaoutra. Colocam-se em um micróbio, e,

duas semanas depois, sai o seuproduto.”

– Jay Keasling, Amyris Biotechnologies194

A Amyris Biotech está mudando aprodução de artemisinina das mãos dosagricultores para tanques de micróbios

sintéticos de empresas privadas.Foto: Birgit Betzelt/action medeor

Os novos senhores da biomassa 45

Em setembro de 2008, uma das maiores produtoras mundiaisde pneus para carros, a Goodyear, anunciou uma iniciativaconjunta com a Genencor para aumentar a produçãomicrobiana de isopreno, o produto químico utilizado parafazer borracha de pneu sintética, utilizando organismossintéticos que se alimentam com açúcares de biomassa.201 Aprodução comercial dessa borracha foi programada paracomeçar até 2013. Em seu anúncio, a Goodyear deixou claroque a disponibilidade de isopreno sintético forneceria umaalternativa à borracha natural utilizada para pneus.202 Parecerazoável, então, que esse produto poderia impactar o preço daborracha e, portanto, os meios de sustento de produtores deborracha em pequena escala e de trabalhadores em plantaçõesde seringueira. Em março de 2010, foi relatado que aGoodyear já tinha usado o “bioisopreno” da Genencor parafazer borracha sintética, que empregou, então, para fazerdiversos protótipos de pneus, e ia tomar suas próximas decisõessobre a construção de uma planta piloto de produção.203

Saborizantes – A glicirrizina é o composto doce encontrado naraiz do alcaçuz, que é 15-300 vezes mais doce do que a sacarose(açúcar comum) e é amplamente utilizado como um adoçantenatural e também como um medicamento natural tradicional. Araiz de alcaçuz está em alta demanda, e seu abastecimento équase que exclusivamente limitado a espécies nativas silvestres daplanta de alcaçuz encontradas em regiões áridas da China, doOriente Médio e do Oriente Próximo. Em 2009, pesquisadoresno instituto RIKEN do Japão identificaram e sintetizaram todosos genes responsáveis pela produção de glicirrizina.204 De acordocom os pesquisadores, agora deveria ser possível utilizar abiologia sintética para induzir uma planta de soja ou ummicróbio como a levedura a produzir glicirrizina. Se eles tiveremsucesso, será possível mover a produção de alcaçuz do ExtremoOriente e Oriente Médio para as plantações industriais de sojaou mesmo para tanques privados.

Óleo de dendê (parece ficção científica, mas não é) – Emoutubro de 2008, a Synthetic Genomics, Inc., empresa privadadirigida pelo biologista sintético Craig Venter, recebeu uminvestimento de 8 milhões de dólares do conglomerado malaiode óleo de dendê The Genting Group para decodificar ogenoma do dendê.205 Enquanto a injeção de dinheiro eraoriginalmente prevista para ser aplicada na alteração do dendêpara produção de biocombustíveis, pronunciamentos maisrecentes de Venter sugerem um caminho bem diferente.

Nanocelulose – encolhendo a biomassapara aumentar mercadosCom a modificação das fibras de celulose na escalaatômica, os nanotecnólogos estão abrindo a possibilidadede novos usos, e, assim, novos mercados para a biomassaindustrial:

Nanomateriais, energia e fármacos: enquanto osgarotos-propaganda dos nanomateriais, os nanotubos decarbono super-resistentes (NTCs), são geralmenteproduzidos de grafite, também é possível produzir NTCs apartir de etanol de milho.208 Enquanto isso, osnanotecnólogos estão cada vez mais encantados com umanova classe de nanoestruturas conhecidas comonanocristais de celulose (NCC). Derivados da biomassa,esses nanocristais podem ser adicionados a plásticos paratorná-los 3.000 vezes mais resistentes, podem serprojetados para a administração de fármacos e vacinas, epodem ser utilizados como plataformas para produzirnanofios e partículas metálicos a fim de criar diminutossensores e novos materiais fotovoltaicos (que produzemeletricidade solar).209

Roupas blindadas, aparelhos médicos e alimentos:uma forma de nanocelulose produzida de polpa demadeira pela empresa sueca Innventia é promovida comosendo, simultaneamente, tão resistente e leve como oKevlar, capaz de evitar a deterioração de alimentos quandousada na embalagem, adequada para criar próteses departes do corpo humano em aplicações médicas, e tambémcomestível como recheio de baixa caloria para alimentosprocessados. A primeira planta comercial desse ‘material-maravilha’ de biomassa deve entrar em produção emoutubro de 2010.210

Baterias: nanotecnólogos da Universidade de Uppsala, naSuécia, relataram que fibras de celulose da alga filamentosacladofora, revestidas, poderiam fazer baterias de papel dealta qualidade. As baterias de nanocelulose poderiam reterde 50 a 200% mais carga e ser recarregadas muitascentenas de vezes mais rápido do que baterias recarregáveisconvencionais. “Com a técnica totalmente desenvolvida,acredito que podemos ver aplicações com as quais hoje nãopodemos sequer sonhar”, diz Maria Strømme, uma dascientistas que desenvolveram a bateria. “Tente imaginar oque se pode criar quando uma bateria pode ser integradaem papéis de parede, tecidos, embalagens paraconsumidor, aparelhos de diagnóstico, etc.”211

Nanotecnologia: tecnologia diminuta; a nanotecnologiaenvolve engenheirar a matéria na escala de átomos emoléculas (~1-300 nanômetros) com a finalidade deexplorar propriedades novas que só aparecem nessa escala.

Grupo ETC 46 www.etcgroup.org

Em 2010, em declaração a um canal de TV dos EUA, Venterexplicou que sua companhia agora estava tentando usar algassintéticas para fazer substâncias alimentares em lugar de colherplantações de dendê. “Teoricamente, com as algas se temprodutividade 20 vezes maior, num espaço muito menor... Emvez de extrair óleo de peixe matando os peixes, podemosrefazer o óleo nas algas.”206 Venter não é o único procurandoum substituto biossintético para o óleo de palma. Emsetembro de 2010, o maior comprador mundial de óleo dedendê, a gigante dos alimentos Unilever, anunciou uminvestimento multimilionário na companhia de biologiasintética Solazyme para desenvolver óleo de algas quesubstituiria o óleo de palma em alimentos como maioneses esorvetes, bem como em sabões e loções. A Unilever diz quehoje ainda lhe faltam de três a sete anos para lançar um novoingrediente alimentar biossintético, mas enfatiza que “Isso nãoé uma aplicação para um nicho apenas... Isso é algo queacreditamos ter uma tremenda capacidade.” A Solazyme afirmapoderem engenheirar “perfis de óleos” de algas e criarsubstitutos para distintos tipos de óleos. Por enquanto dizemque podem fazer isso com cepas naturais, mas estão esperandoque a oposição dos consumidores aos alimentos transgênicosvá diminuindo até permitir que usem a biologia sintética.207

O que está mudando?

Mudança 1: Energia – queima debiomassa para aquecimento ebioeletricidadeNo momento, a Agência Internacional de Energia (IEA, porsua sigla em inglês) relata que 10,1% da energia primária globalprovém de biomassa, principalmente de madeira, esterco epalhas queimados para cozimento e aquecimento tradicionais.Entretanto, eles preveem que essa quantidade poderia crescerpara 25% até 2030,212 um aumento maciço que reflete a novacorrida comercial para queimar biomassa visando gerareletricidade.

Presa fácil

Em poucos anos, a indústria de eletricidade abraçou a queimade biomassa como uma estratégia não só para cortar custos,mas também para captar créditos de carbono e atingir metasde energia renovável. Usinas de energia de biomassa agoraexistem em mais de 50 países ao redor do mundo e fornecemuma parcela crescente de eletricidade. No final de 2009,estimava-se que cerca de 54 GW de capacidade de energia debiomassa estavam instalados globalmente.213

Queima de biomassa nos EUA

Mais de um terço de toda a eletricidade de biomassa égerada nos Estados Unidos, o que os torna o maiorprodutor mundial de energia de biomassa.214 Em outubrode 2010, o grupo de ativistas Energy Justice Networktinha mapeado mais de 540 instalações industriais deenergia com queima de biomassa nos EUA, além de outras146 programadas para serem construídas.215 Oitenta usinasde energia de biomassa conectadas à rede de eletricidadeem 20 estados dos EUA geram, atualmente, cerca de 10GW de energia,216 o que é a metade de toda a “energiarenovável” do país, em uma indústria que vale 1 bilhão dedólares.217 Desde 2000, a energia gerada a partir debiomassa que entra na rede de eletricidade aumentou 25%,atingindo cerca de 2.500 megawatts, de acordo com aBiomass Power Association.218

De muitas maneiras, a queima de biomassa é a presa fácil domundo da energia renovável. Exige pouca ou nenhumatecnologia nova e pode ser facilmente implementada eminstalações industriais existentes apenas mudando a matéria-prima de óleos minerais para óleos vegetais, ou de carvão parapellets de madeira (serragem compactada). Assim, autoridadesnacionais e regionais frequentemente veem a queima debiomassa como uma forma ‘na transição’ para energiassupostamente renováveis. Em particular, a prática de queimarmadeira junto com o carvão em usinas elétricas que jáfuncionam com carvão está se tornando amplamente utilizada.Isso é feito simplesmente se misturando biomassa com carvãonas câmaras de combustão das centrais, que, por sua vez,movem turbinas a vapor.

Energia de biomassa no Sul

De acordo com a REN21 (Rede de Política EnergéticaRenovável para o Século XXI), a energia de biomassa tambémcresceu significativamente no Sul global, particularmente nospaíses do BRICS (Brasil, Índia, China e África do Sul). Outrospaíses com produção de bioeletricidade incluem a Costa Rica,México, Tanzânia, Tailândia e Uruguai. A parcela da energiade biomassa na China em 2009 era de 3,2 GW, e o país planejaproduzir até 30 GW até 2020. A Índia está tentando atingir1,7 GW de capacidade até 2012. O Brasil tem mais de 4,8 GWde eletricidade de biomassa, quase que inteiramente produzidaa partir de bagaço de cana-de-açúcar nas usinas de açúcar.219

Os novos senhores da biomassa 47

Os custos da eletricidade derivada debiomassa l: devoração de campos e florestas

O impacto mais direto das novas usinas elétricas de biomassa éa exigência crescente de biomassa, principalmente madeira,exigida 24 horas por dia para manter as turbinas emfuncionamento. De acordo com um relatório sobredisponibilidade de biomassa preparado pelo Departamento deRecursos Ambientais de Massachusetts, são necessárias 13 miltoneladas de biomassa verde para gerar um megawatt deenergia de biomassa durante um ano.220 Como colocado peloativista norte-americano Josh Schlossberg, essas instalações são“bocas escancaradas à espera de um suprimento constante defloresta.”221

A maior usina de energia de biomassa com queima de madeirado mundo, a usina Prenergy, em Port Talbot, País de Gales(atualmente em construção), pretende importar mais de 2,7bilhões de toneladas de lascas de madeira dos Estados Unidos,Canadá, América do Sul e Leste Europeu. De acordo com aorganização de controle cidadão Biofuelwatch, a área de terranecessária para produzir toda essa quantidade de biomassapoderia chegar a meio milhão de hectares – o que garante odesmatamento anual de uma área três vezes maior do que otamanho de Liechtenstein.222

Os custos da eletricidade derivada debiomassa Il: ameaça à saúde humana

“Observei associações muito fortes e significativas entreamigdalites, tosse frequente, pseudo-crupe, ofego induzidopor esforço físico, alergias alimentares e exposição àfumaça de madeira nas crianças em idade escolar. Achoque a fumaça de madeira é um dos poluentes do ar maisperigosos que temos na Terra.” – Gerd Oberfeld, M.D., epidemiologista, Departamento deSaúde Pública – Unidade de Saúde Ambiental, Salzburg,Áustria223

Queimar biomassa pode ser ‘natural’, mas continua sendo umgrande risco para a saúde das comunidades que vivempróximas a grandes fábricas.

• Uma estimativa de 1997 da Organização Mundial da Saúdecolocou o número de mortes prematuras provocadas pelainalação de fumaça de madeira, principalmente de fogõesdomésticos, entre 2,7 e 3,3 milhões de pessoas.224 A principalcausa dessas mortes parece ser os efeitos de partículas finas eultrafinas que penetram profundamente nos pulmões.

• O EPA dos EUA estima que o risco de contrair câncer aolongo da vida é 12 vezes maior pela inalação de fumaça demadeira do que por um volume equivalente de fumaça decigarro em fumantes passivos.225 De acordo com um cálculodo EPA, queimar apenas dois cords de madeira (cerca de umquarto de tonelada) produz a mesma quantidade departículas mutagênicas que 13 carros movidos a gasolinarodando 16 mil quilômetros cada um, com uma média de 8,5km/litro.226

• Crianças que vivem em comunidades ondecomumente há fumaça de madeira apresentam reduçãona capacidade pulmonar e aumento de ataques de asma,da frequência e severidade de doenças respiratórias emgeral, de visitas a atendimentos de emergência e deausência escolar.227 A poeira de madeira (não queimada)carregada pelo ar também pode causar irritaçãorespiratória, nos olhos e na pele.• A fumaça de madeira contém mais de 200substâncias químicas e grupos de compostos, algunsdos quais são tóxicos em si mesmos.228 De acordo com ogrupo de interesse público Clean Air Revival, a queimade madeira é, nos Estados Unidos, a terceira maiorfonte de dioxina, reconhecida como um dos compostosmais tóxicos que se conhecem.229

Ilustração: BeehiveCollective

Grupo ETC 48 www.etcgroup.org

Incineração disfarçada

Enquanto lascas de madeira e óleos são apresentados comoo lado limpo e verde da bioenergia, o segredinho sujo daindústria está escondido por trás dos chamados ‘resíduossólidos municipais’. As instalações que têm autorizaçãopara queimar madeira frequentemente podem misturarum percentual de resíduos sólidos municipais, de até 30%em alguns estados dos EUA, e, muitas vezes, são pagaspara fazer isso, tornando a queima de lixo uma opçãoatrativa. Em escala mundial, mais de 12 GW da chamadaenergia de biomassa são produzidos atualmente pelaqueima de lixo.230 Dioxinas, furanos, metais pesadosincluindo mercúrio e chumbo, hidrocarbonetosaromáticos policíclicos (HAPs), matéria particuladaultrafina, monóxido de carbono, dióxido de enxofre,óxidos de nitrogênio e uma gama de outras toxinasperigosas têm sido expelidos de instalações de incineraçãono mundo todo durante anos. Agora, junto com uma sériede novas tecnologias como a pirólise, a gaseificação e aincineração por arco de plasma, os incineradores estãoganhando uma maquiagem verde, como instalações deenergia de biomassa, rebatizados como tecnologias de“resíduos para energia” ou de “conversão de resíduos”. Esses“incineradores disfarçados” afirmam resolversimultaneamente os problemas de “resíduos demais” e“energia renovável de menos”, reduzindo, assim, a retiradade biomassa da natureza.

Mudança 2: BioCombustíveis líquidos — liquefação de biomassa para transportes

“Quem quer que produza biocombustíveis em abundânciapode acabar fazendo mais do que apenas pilhas dedinheiro – fará história... As companhias, os países quetiverem sucesso nisso serão os vencedores econômicos dapróxima era, da mesma forma que hoje o são as naçõesricas em petróleo.” – J. Craig Venter, fundador da Synthetic Genomics, Inc.231

A produção de combustíveis líquidos para transportes feitos apartir de biomassa é a reluzente (e rica) garota-propaganda danova economia da biomassa. Do boom de curta duração doetanol de milho de 2006-2008 até a nova onda de capital derisco e de grandes companhias petroleiras injetando bilhões dedólares em empresas start-up de biocombustíveis, a indústriados biocombustíveis continua sendo vista como uma novafonte maciça de receitas numa era de pico do petróleo e deprecificação do carvão.

Embora as previsões de 2006 de que os biocombustíveisrepresentariam 30% de todo o combustível de transportes até2030232 pareçam hoje exageradas, ainda assim o setor continuacrescendo rapidamente – animado por exigências de governos,fundos de estímulo à ‘energia limpa’ e investimentos pesadosdas grandes petroleiras. A recente atenção despertada peloderramamento de petróleo da BP Deepwater Horizon parecetambém estar dando nova vida à ideia de que um combustívellíquido não fóssil pode ser a panaceia para os problemasambientais.233

Tirando nota “F” – Fracassos dosbiocombustíveis de primeira geração

A primeira ou ‘fracassada’ geração de biocombustíveis refere-setanto a alcoóis fermentados – quase que inteiramente etanolde milho ou de cana-de-açúcar – quanto a biodiesel refinadoobtido de grãos oleaginosos (soja, colza, girassol, mostarda) ede óleos de dendê e pinhão-manso. A primeira geração veioacompanhada de três obstáculos importantes que atrapalharamseu sucesso:

• Competição com alimentos e com a proteção de florestas Em 2008, um relatório interno do Banco Mundial (depoistornado público) revelou que até 75% do aumento nospreços dos alimentos durante a crise alimentar daquele anofoi devido às políticas da Europa e EUA sobrebiocombustíveis, as quais levaram a uma maciça substituiçãode plantio de trigo em favor de colza, somada a umimportante desvio de milho e soja para a produção de etanole biodiesel.234 Uma modelagem anterior realizada peloconservador IFPRI (Instituto Internacional de Pesquisasobre Políticas de Alimentação) havia estimado que 30% doaumento geral nos preços dos grãos durante a crise de preçosdos alimentos em 2008 poderia ser atribuído aosbiocombustíveis. Porém, o IFPRI calculou que, se umamoratória mundial sobre a produção de biocombustíveistivesse sido determinada em 2007, os preços dos cultivosalimentares chave teriam caído significativamente – uns 20%para o milho, 14% para mandioca, 11% para açúcar e 8%para trigo até 2010.235 Os cultivos para biodiesel (soja,girassol, canola) também utilizam água, nutrientes eexcelentes terras agrícolas ou, no caso de plantações decultivos como dendê, estão implicados no desmatamento deáreas de florestas úmidas, impactando espécies ameaçadas eos direitos dos habitantes da floresta.236

Os novos senhores da biomassa 49

• Balanço energético pobreO etanol, particularmente, é um combustívelpobre que, ao ser queimado, produz menosenergia do que a gasolina. Isso afeta negativamenteo chamado ‘balanço energético’ dosbiocombustíveis de primeira geração. Oseconomistas que trabalham com energiacalcularam que, quando são computados os custosenergéticos de insumos agrícolas, a produção deetanol de milho requer 29% mais energia fóssil doque o combustível produzido. O biodiesel de sojarequer 27% mais energia fóssil do que ocombustível produzido, e o biodiesel de girassolrequer 118% mais energia fóssil do que ocombustível produzido.237

• Requer motores e/ou redes de distribuiçãoespeciaisInjetar etanol puro em motores já existentes podecorroer partes do motor e exige ajustes no fluxo dear e de combustível. Como consequência, o etanolnecessita manuseio separado e, portanto, tanquesde armazenamento e mecanismos de distribuiçãomais caros. (O biodiesel adapta-se mais facilmenteaos motores e sistemas de combustível existentes).

Embora essas falhas dos biocombustíveis deprimeira geração sejam amplamente conhecidas, osgovernos da OECD continuam a manter ossubsídios e as exigências de quotas legais para o usode etanol e biodiesel. Os defensores dosbiocombustíveis argumentam que tais exigênciasdevem ser mantidas para permitir a transiçãoharmoniosa para o que eles alegam ser uma próximageração menos problemática (mas, até agora, aindateórica).

“Sobreviventes” da geração F – açúcar e pinhão-manso

Mesmo depois do colapso da febre inicial dos biocombustíveis, hápelo menos dois da ‘primeira geração’ que continuam a receber apoioentusiástico:

Cana-de-açúcar – No Brasil, a cana-de-açúcar tem sido transformadaem etanol combustível em escala industrial há três décadas. Desde2008, mais de 50% do combustível vendido no país para automóveis eoutros veículos leves foi etanol, e o país almeja produzir um recordede 27 bilhões de litros de etanol em 2010.238 A indústria brasileira deetanol alega que seu açúcar de cana tem um balanço energético, delonge, muito melhor que o etanol de milho, e que é possível plantarmais cana-de-açúcar de forma sustentável sem competir com aprodução de alimentos. Em fevereiro de 2010, a Royal Dutch Shellassinou um acordo com a gigante açucareira Cosan para formar umaempresa conjunta valendo 12 bilhões de dólares para produzir etanola partir de cana-de-açúcar brasileira. Esse investimento representa omaior compromisso singular com biocombustíveis que qualquercompanhia petroleira fez até hoje.239

Esses argumentos ‘verdes’ do combustível de açúcar brasileiro sãoenergicamente contestados. Estimativas apontam que os atuais 8,89milhões de hectares de plantações de cana-de-açúcar no Brasil irãodobrar até 2020.240 Em grande parte, isso se dará à custa de regiõesecologicamente sensíveis como a frágil e altamente biodiversa baciahidrográfica do Cerrado, conhecido como o ‘pai da água’, uma vezque é berço das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul,incluindo a Amazônica.

Cortando cana no Brasil Foto: John McQuaid

continua na página seguinte

Grupo ETC 50 www.etcgroup.org

Substituindo combustíveis e matérias-primas

Depois de terem sido pegos de surpresa pelos problemasassociados à primeira onda de biocombustíveis, a indústria,juntamente com os governos da OECD, agora estão injetandouma quantia enorme de dinheiro no que está sendo chamadode a ‘próxima geração’ de biocombustíveis. O alto grau deempenho dá indícios de um desespero político para resgatar asquantias e o compromisso significativos já investidos na área.

Para superar os problemas da geração F, a ‘próxima geração’emprega matérias-primas novas (especialmente celulose ealgas) e tenta produzir líquidos mais ricos em energia,utilizando tecnologias melhoradas de transformação(particularmente biologia sintética). O elixir de segundageração que os bioalquimistas atualmente estão tentandofermentar é idealmente um líquido cujas matérias-primas nãoafetarão o suprimento de alimentos, que terá a mesmacapacidade energética da gasolina (ou mais) e poderá serbombeado para dentro dos atuais tanques de combustível pormeio das redes de distribuição que já existem.

Há informações de que pelo menos 200 companhias tentamconcretizar essa visão do ‘biocombustível perfeito’246 – cadauma trabalhando em peças isoladas do quebra-cabeça da‘próxima geração’. Algumas dessas companhias já estãooperando na produção comercial, mas em pequenasquantidades (ver Anexo). A maior parte está lutando comquestões de aumento da escala.

A expansão do etanol está impulsionando a destruição daAmazônia à medida que novas plantações de açúcarempurram o cultivo de soja e a criação de gado maisadentro do território amazônico. Além de exigir muitaágua, o cultivo de cana-de-açúcar requer aplicaçõesintensivas de agroquímicos e a queima em larga escala dasplantações. De acordo com um estudo recente, essaqueima combinada com o uso de fertilizantes e de outrosinsumos libera anualmente perto de 136 milhões detoneladas de dióxido de carbono241 na atmosfera,contribuindo para que o Brasil seja o sétimo maior emissorde gases de efeito estufa do mundo.242 Os custos sociaistambém são altos. A expansão da fronteira agrícola leva àfalta de terras e a um crescimento rápido da populaçãopobre urbana nas maiores cidades do Brasil. Enquantoisso, a cana-de-açúcar é colhida por um exército brasileirode meio milhão de trabalhadores migrantes – dos quais,uma parte significativa enfrenta condições de trabalhoescravo, problemas de saúde respiratória e morteprematura por exaustão.243

Pinhão-manso – O pinhão-manso é uma família dearbustos tropicais, alguns dos quais produzem sementesnão comestíveis ricas em óleo que são prensadas parafornecer óleos para biodiesel. Companhias como a D1 Oils(de propriedade da BP) e a Daimler estão bancando agora aexpansão maciça de pinhão-manso na África, América doSul e Ásia, aclamando-o como um cultivo maravilhoso. Elaselogiam a capacidade do pinhão-manso de crescer naschamadas terras marginais, em solos pobres, e até mesmoem condições semiáridas. Comunidades na África e Ásiatêm reagido às grilagens legais de terra associadas comnovas plantações de pinhão-manso, muitas das quais estãodeslocando a produção de alimentos e tomando terras ondesubsistem populações pobres. Apesar do pinhão-mansorealmente sobreviver em determinadas condições deescassez hídrica, para poder se desenvolver produzindovolumes úteis de óleo, ele requer quantidades significativasde água. Um estudo recente sobre a pegada na água (oupegada hídrica) dos cultivos para biocombustíveis concluique um único litro de biodiesel de pinhão-manso requer aincrível quantidade de 20 mil litros de água para crescer – oque é muito mais do que o requerido por canola, milho,soja, cana-de-açúcar ou qualquer outro cultivo parabiocombustível comumente usado.244 Outros problemascom o pinhão-manso incluem a toxicidade das sementespara humanos, preocupações sobre sua invasividade, erelatos de que o pinhão-manso não é, no final das contas,tão resistente a doenças como se alega.245

Biorrefinaria: instalação industrial para o processamentode biomassa. Da mesma forma que as refinarias depetróleo, as biorrefinarias são fábricas que quebram abiomassa em suas partes constituintes e então as ‘refinam’utilizando técnicas químicas e biológicas (incluindo afermentação) para produzir compostos industriais comoprodutos químicos e combustíveis e tambémaquecimento e energia.

Usina de etanol Foto: Aaron Brown

Os novos senhores da biomassa 51

Combustíveis celulósicos

“O combustível do futuro vai vir de frutas como aquelesumagre na beira da estrada, ou de maçãs, ervas, serragem– quase qualquer coisa.” – Henry Ford no The New York Times, 1925247

Lembram-se daqueles 180 bilhões de toneladas de açúcar decelulose produzidos anualmente em ramas lenhosas, folhas,gramíneas e algas em todo o mundo? Para uma indústria quenecessita açúcar para fazer combustíveis, essa bonançacelulósica parece ser a matéria-prima não alimentar perfeita.

A legislação dos EUA de 2005 que determinou a produção de100 milhões de galões de etanol celulósico até 2010 teve queser dramaticamente redimensionada para baixo em fevereiro de2010, para apenas 6,5 milhões.248 A mesma legislaçãodetermina que os carros nos EUA consumam 4,3 bilhões degalões de etanol celulósico até 2015 – uma outra meta tambémimprovável de ser atingida.

Há duas formas para fazer combustíveis a partir de celulose:termoquímica e biológica.

Produção termoquímica de combustíveis celulósicos

Os químicos sabem como transformar biomassa emcombustíveis desde os anos 1930, quando o processo Fischer-Tropsch para transformar carvão em líquido foicomercializado pelo governo alemão da época da guerra. Esseprocesso superaquece carvão (ou biomassa) em gás que équimicamente transformado em combustível:

• Após um investimento de pelo menos 320 milhões dedólares, do qual o governo dos EUA e o estado da Geórgiasão responsáveis pela metade, a Range Fuels, do Colorado,EUA, abriu sua primeira usina comercial em grande escala(na Geórgia), que está produzindo 4 milhões de galões demetanol celulósico anualmente – e não o bilhão de galões deetanol que eles originalmente prometeram.249

• A BlueFire Ethanol, da Califórnia, utiliza ácidos fortes paraquebrar a lignocelulose em açúcares disponíveis parafermentação. A primeira biorrefinaria da BlueFiretransformará resíduos previamente selecionados de aterrossanitários para produzir aproximadamente 3,9 milhões degalões de etanol combustível por ano. Uma segunda unidadevisa produzir 19 milhões de galões de etanol por ano a partirde biomassa lenhosa.250

Produção biológica de combustíveis celulósicos

A outra principal forma de criar biocombustíveis celulósicos éatravés da aplicação de enzimas poderosas, chamadas celulases,para quebrar a celulose em açúcares mais disponíveis para suasubsequente fermentação em etanol e outros alcoóis. Micróbiosnaturais, geneticamente engenheirados e sintéticos estão sendodesenvolvidos para quebrar a celulose e fermentá-la.

• A BP criou uma empresa conjunta de 45 milhões de dólarescom a Verenium (ex-Diversa) em 2009 para produzir etanolcelulósico através do uso de enzimas sintéticas daVerenium.251 Em julho de 2010, a BP pagou mais 98 milhõesde dólares para comprar seu negócio de biocombustível,incluindo duas unidades de produção.252

• A Iogen Corporation utiliza enzimas de Trichoderma reesei(fungo que causa bolor) geneticamente modificado paraquebrar material vegetal em sua unidade de demonstraçãocom sede em Ottawa, a qual já produz 170 mil galões deetanol celulósico por ano. Como parte de uma empresaconjunta 50:50 com a Shell, a Iogen está planejando o queela chama de “a primeira usina de etanol celulósico em escalacomercial do mundo” em Saskatchewan, Canadá.253

• A Mascoma reengenheirou micróbios de leveduras ebactérias não só para quebrar celulose para produção deetanol, mas também para realizar a fermentação em etanolcelulósico, num procedimento simplificado em um reatorúnico. A empresa está associada com a General Motors,254

com a Marathon Oil255 e com a companhia de etanol RoyalNedalco,256 e está construindo uma fábrica para produçãocomercial em Michigan. Através de uma associação com aStellenbosch Biomass Technologies, a Mascoma tambémestá levando sua tecnologia para a África do Sul.257

• A Coskata, que se associou com a General Motors e com aTotal Oil,258 desenvolveu micróbios naturais que, emconjunto com um processo de gaseificação, podemtransformar matérias-primas como lascas de madeira oupneus velhos em etanol celulósico.

• A Du Pont associou-se com a companhia de biotecnologiaGenencor para criar a DuPont Danisco Cellulosic EthanolLLC, um projeto de 140 milhões de dólares para usar atecnologia da enzima sintética da Genencor.259 Sua planta dedemonstração no Tennessee atualmente transforma algumasmil toneladas de espigas de milho em etanol. A produçãocomercial está prevista para 2013.

Grupo ETC 52 www.etcgroup.org

• A POET, que afirma ser a maior produtora mundial deetanol, utilizará enzimas comerciais da Novozymes paratransformar espigas de milho em 25 milhões de galões deetanol por ano quando sua biorrefinaria entrar emfuncionamento no final de 2011 ou início de 2012.260

• A Verdezyne, uma companhia de biologia sintética com sedena Califórnia, está desenvolvendo levedura que podetransformar switchgrass, cânhamo, milho e madeira emetanol.261 A companhia tem acordos com a Novozymes,Genencor e Syngenta.262

• Em fevereiro de 2008, a gigante florestal Weyerhaeuserconstituiu uma empresa conjunta com a Chevron, chamadaCatchlight Energy, para produzir etanol celulósico a partirde madeira. Desde que fizeram seu anúncio inicial, foramrevelados muito poucos detalhes.263

• A companhia Qteros, com sede nos EUA, ‘melhorou’ umabactéria de ocorrência natural chamada micróbio Q paratransformar biomassa lignocelulósica em açúcar para etanol eprodutos químicos. Seus atuais financiadores incluem a BP eo Soros Fund. A Qtero espera obter licença para seumicróbio Q no Brasil e na Índia, para transformar bagaço decana-de-açúcar em etanol.264

Do álcool aos hidrocarbonetos– Biogasolina, butanol, isopentanol,hexadecano, farneseno

Seja feito de lascas de madeira, talos de milho ou algas, o maiorproblema no mercado para etanol celulósico é que ele continuasendo etanol, um combustível energeticamente pobre queexige modificações em motores e infraestrutura de distribuiçãoseparada. Como o biologista sintético e empresário dosbiocombustíveis Jay Keasling gosta de dizer, “Etanol é parabeber, não dirigir.”265

Várias companhias já estão deixando de lado o etanol e outrosalcoóis e trabalhando para produzir, em grande escala,hidrocarbonetos similares a diesel ou gasolina que possam serrefinados em refinarias de petróleo tradicionais ou injetadosdiretamente em motores de carros comuns.

Abordagens termoquímicas

1. A companhia alemã de biocombustível Choren abriu aprimeira refinaria comercial de transformação de ‘biomassaem líquido’ para processar anualmente 68 mil toneladas demadeira em 18 milhões de litros de combustível diesel dehidrocarboneto. Os sócios da Choren incluem a Shell,Daimler e Volkswagen.266

2. A Dynamotive Corporation, de Vancouver, Canadá,submete biomassa agrícola e derivada de floresta a ‘piróliserápida’ (queima sem oxigênio), a qual produz um óleohidrocarboneto. Entretanto, a principal planta dedemonstração da Dynamotive, em Ontário, Canadá, fechoue foi à falência em julho de 2010.267

Abordagens com biologia sintética

3. A LS9 desenvolveu micróbios sintéticos patenteados quefermentam açúcares e inclusive celulose em combustíveishidrocarbonetos indistinguíveis de gasolina, diesel ecombustível de aviação. Após um investimento de 25 milhõesde dólares da Chevron, espera-se que uma nova biorrefinariana Flórida produza de 50 a 100 mil galões de seu diesel‘UltraLimpo’ até 2011 e venda comercialmente até 2013.268

4. A Gevo, outra companhia de biologia sintética norte-americana, desenvolveu micróbios que transformam açúcaresagrícolas em isobutanol, um combustível alcoólico com altoteor energético que funciona em motores a gasolina. Acompanhia tem acordos com a Cargil e investimentos daTotal Oil e Virgin Group.269

5. A Amyris Biotechnologies desenvolveu uma levedurasinteticamente modificada para fermentar cana-de-açúcar emequivalentes de diesel, gasolina e combustível de aviação dehidrocarbonetos, com base no produto químico farneseno.Dirigida por um ex-diretor da BP, a Amyris tem numerosasparcerias, incluindo com a Shell, Total, Votorantim,Crystalsev, Mercedes, o Departamento de Defesa dosEUA, Bunge, Cosan e outros. Sua refinaria brasileira iniciaráa comercialização de biodiesel “sem comprometimento” em2011. Ela também está colaborando com a Procter &Gamble para fazer produtos químicos.270

Para além da celulose: biocombustíveis de algas

“Se a humanidade decidisse arar uma parte do Deserto doSaara, irrigá-la com água salgada do Mediterrâneo eentão cultivar biomassa, como algas, poderíamossubstituir todo o combustível de carbono fóssil que nossaespécie usa atualmente e fornecer alimento a custo baixopara uma população global que cresce.” – Dennis Bushnell, cientista-chefe no Langley ResearchCenter da NASA271

Os novos senhores da biomassa 53

Para os que acreditam piamente nos biocombustíveis, odesenvolvimento de combustíveis a partir de algas(cianobactérias, ou algas comuns de lagoas) representa a últimapalavra em fontes sustentáveis de biomassa. O UK CarbonTrust prevê que, até 2030, os combustíveis baseados em algaspoderiam substituir mais de 70 bilhões de litros decombustíveis fósseis utilizados a cada ano para transporterodoviário e aviação.272

São propostos quatro possíveis sistemas para produzir algas:

Lagoas abertas localizadas em desertos ou outras regiões comgrande insolação são o método preferido para cultivar algas.Água servida ou água doce pode ser movimentada através daslagoas usando remos móveis.

Fotobiorreatores são sistemas que encerram algas em tubos devidro ou em sacos plásticos transparentes enquanto sebombeiam água, CO2 e nutrientes através desses recipientes.Podem possivelmente ser utilizados em locais urbanos.

Tanques fechados produzem energia a partir de açúcar em vezde luz solar. As algas podem ser cultivadas em grandes tanquese induzidas a produzir hidrogênio em lugar de óleos.

O cultivo em mar aberto ainda é muito especulativo eapresenta o risco de as cepas escaparem e provocarem danosecológicos. Algumas companhias como a Blue Marblepropõem colher algas silvestres de zonas oceânicas mortas.273

Enquanto isso, pesquisadores do Algae OMEGA Project daNASA propõem instalar fazendas flutuantes de algas de águadoce em sacos fechados no mar, de forma que, se as cepasescaparem, não sobrevivam no ambiente marinho.274

Argumentos a favor de algas como uma fonte decombustível

• As algas produzem um óleo hidrocarboneto que pode serprensado e refinado para uso como biodiesel ou refinado emgasolina, plásticos e produtos químicos.

• As algas também produzem celulose, a qual pode ser extraídapara transformação em combustível celulósico oubioeletricidade.

• As algas podem ser induzidas a produzir hidrogênio.• As algas são mais eficientes do que outras plantas verdes paratransformar luz solar em biomassa.

• As algas crescem rápida e facilmente em águas ricas emnutrientes; e são abundantes e renováveis.

• As algas não são uma fonte importante de alimentos. • As algas podem absorver dióxido de carbono atmosférico ouindustrial.

• As algas podem crescer em águas servidas ou água salgada(dependendo da cepa algal), evitando, assim, a pressão sobrerecursos de água doce.

• O cultivo de algas evita terras agrícolas e, ao contrário, ocorreem desertos, terras marginais, no mar, e inclusive emambientes urbanos.

Argumentos contra algas como uma fonte de combustível

Longe de serem uma panaceia, os biocombustíveis baseadosem algas têm muitos dos mesmos problemas de outrosbiocombustíveis:

• Aumentar a escala – Em mais de 40 anos de experimentaçãocom algas para biocombustíveis, nenhuma companhiaconseguiu produzir quantidades comerciais de óleo ou debiomassa de algas capazes de rivalizar com os combustíveis depetróleo. Em geral, especula-se que conseguir isso exigiráalguma forma de engenharia genética.

• Terra – Como a maior parte da produção de algas necessitaluz solar como fonte de energia, as lagoas de cultivo de algasdevem ser rasas para permitir que a luz alcance todos osorganismos. Como consequência, a produção se estendecomo uma capa fina sobre áreas de terra extremamentegrandes, impactando ecossistemas, direitos territoriais e usostradicionais, especialmente nas regiões desérticas. Oespecialista em renováveis Saul Griffiths calculourecentemente que, mesmo que uma cepa de algas conseguisseser quatro vezes mais eficiente em absorver a luz solar paraenergia, ainda seria necessário encher de algas uma piscinaolímpica a cada segundo durante os próximos vinte e cincoanos,275 o que supriria somente 3% do consumo global deenergia.

Algas: algas de lagoas ealgas marinhas; o termorefere-se a uma ampla ediversa variedade deorganismosfotossintetizantes,semelhantes a plantas,que crescem em água,variando desdecianobactériasunicelulares até algaspardas e algas marinhas,de tamanho maior.

Foto: Yersinia Pestis

Grupo ETC 54 www.etcgroup.org

• Balanço de energia e água – Dependendo do sistema deprodução, cultivar algas pode necessitar consumo intenso deenergia. Em grande parte, isso se deve ao fato de que cultivaralgas em lagoas abertas ou em biorreatores fechados demandao uso contínuo de fertilizantes. Numa recente avaliação dociclo de vida de biocombustíveis algáceos publicada noperiódico Environmental Science and Technology,pesquisadores concluíram que a produção de algas consomemais água e energia que outras matérias-primas parabiocombustíveis, como milho, canola e switchgrass, e tambémtem maiores emissões de gases de efeito estufa.276 A produçãode fertilizantes, em particular, requer grandes quantidades deenergia. Além disso, a produção e o funcionamento contínuodos fotobiorreatores, das bombas d’água e equipamentos demistura, bem como a tecnologia de colheita e extração,aumentam o consumo total de energia. “Com base naquiloque conhecemos a respeito de projetos piloto de produção dealgas durante os últimos 10 a 15 anos, descobrimos que apegada ambiental das algas é maior do que a de outroscultivos terrestres”, disse Andres Clarens, do DepartmentoCivil e Ambiental da Universidade da Virgínia e autorprincipal do estudo.277 Os autores sugeriram que ascompanhias poderiam utilizar águas servidas, ricas emnutrientes, para reduzir o uso de fertilizantes.

• Pico dos fertilizantes e competição com alimentos – Ocusto energético associado ao uso elevado de fertilizantes nãoé o único grande entrave à expansão de biocombustíveis dealgas. Estima-se que os estoques globais de fosfato com graude fertilizante tenham diminuído para somente 8 bilhões detoneladas. Um comentarista observou que, se mudássemos daprodução de petróleo para a produção de algas, teríamosfertilizantes fosfatados suficientes para apenas mais 37anos.278 Dada a iminente escassez desse mineral chave, osestoques de fosfato direcionados à produção debiocombustíveis estão competindo diretamente com afertilização de cultivos para alimentos – um clássico dilemaalimento versus combustível.

• Riscos de invasão ecológica e de contaminação genética –A ideia de transladar cianobactérias para produção ao ar livreem grande escala tem alarmado muitos ecologistas, uma vezque as algas se reproduzem extremamente rápido, dobrandosua massa diariamente. Cepas silvestres de algas já sãoresponsáveis por alguns dos piores eventos de invasãoecológica, das vastas ‘zonas mortas’ desoxigenadasencontradas em áreas costeiras, provocadas pelo escorrimentosuperficial de fertilizantes, até florescimentos de algas verde-azuladas que sufocam ecossistemas de água doce e ameaçam asaúde humana. A manipulação genética da cianobactériaaumenta os riscos ecológicos, pois não só a alteração docódigo genético provavelmente trará efeitos colaterais nãoprevistos, como também o objetivo dessa manipulação é criarcepas de ‘superalgas’ que possam absorver mais energia solardo que as cepas naturais. Numa reunião em 2010 da novacomissão de bioética do presidente Barack Obama, Allison A.Snow, um ecologista da Universidade Estadual de Ohio,testemunhou que “o pior cenário hipotético” seria que as algasengenheiradas para ser extremamente resistentes escapassempara o ambiente, tomando o lugar de outras espécies ecausando uma invasão devido ao supercrescimento queprivaria as águas de oxigênio, matando os peixes.279

• A geoengenharia e o clima – As algas são fundamentaispara regular a vida na Terra. São responsáveis por entre 73% e87% da produção global líquida de oxigênio através dafixação de dióxido de carbono atmosférico.280 Reengenheirara biologia de algas, ou alterar a população global de algas emgrande escala podem, portanto, impactar diretamente osciclos globais de oxigênio, de carbono, de nitrogênio e aprodução de ozônio – potencialmente de formasimprevisíveis e perigosas. As propostas de cultivar algas emzonas costeiras e em mar aberto levantam as mesmaspreocupações ecológicas, climáticas e de justiça que os planosde geoengenharia de fertilizar os oceanos com ferro ou ureiapara provocar florescimentos de plâncton.

Lagoas de algas paraprodução de combustívelFoto: Agrilife Inc.

Os novos senhores da biomassa 55

Os novos fãs das algas

Embora nenhuma companhia já esteja vendendo quantidadescomercialmente viáveis de combustíveis derivados de algas, ogrupo de pesquisa de mercado Global Information calcula quemais de 100 companhias em todo o mundo estão tentandofazer combustível e produtos químicos a partir delas.

Pelo menos nos EUA, essas companhias são generosamenteapoiadas com mais de 70 milhões de dólares do governo dosEUA e outros fundos estatais. A Global Information afirmaque o mercado de combustíveis de algas alcançou um valor de271 milhões de dólares em 2010 e poderia valer mais de 1,6bilhões de dólares até 2015.281

As empresas a serem observadas incluem:

Synthetic Genomics, Inc. – companhia de biologia sintéticaamplamente conhecida fundada pelo magnata dos genes J.Craig Venter, tem uma empresa conjunta de 600 milhões dedólares com a ExxonMobil para desenvolver cepas de algasaltamente eficientes e aumentar sua escala para produçãocomercial. A ExxonMobil afirma que, atualmente, esse é um deseus maiores projetos de pesquisa tecnológica.282 Em 2010,abriram uma estufa de demonstração em San Diego,Califórnia, e estão desenvolvendo uma instalação de tamanhomuito maior para testes, em local não divulgado, a seranunciado em 2011.283 Em maio de 2010, Venter disse aoCongresso dos EUA que a Synthetic Genomicsestá buscando construir instalações tão grandesquanto a cidade de São Francisco.284 Outrosfinanciadores de Venter incluem a BP, oGenting Group da Malásia, a Novartis e a LifeTechnologies Corporation, bem como muitosinvestidores individuais.

Sapphire Energy – a companhia declara queaté 2011 estará produzindo anualmente ummilhão de barris de diesel e combustível deaviação algáceos, alcançando 100 milhões até2018. Eles levantaram 100 milhões de dólaresde importantes investidores, incluindo BillGates,285 mais 100 milhões de dólaresadicionais de financiamento federal paraconstruir um local de demonstração de cerca de120 hectares no deserto do Novo México. ASapphire está trabalhando com cepas de algastanto naturais quanto sintéticas. Seus diretoresincluem o ex-presidente da Monsanto, RobertShapiro, e também um ex-diretor executivo daBP.286

Transalgae – companhia norte-americana com sede em Israel,anuncia que pretende ser “a Monsanto das sementes dealgas”.287 Está desenvolvendo algas geneticamente modificadaspara combustível e alimentação animal em colaboração com aEndicott Biofuels, do Texas, EUA, e também com a Raanan,a maior produtora de alimentos para peixes de Israel. Aprimeira geração de algas transgênicas da Transalgae estáatualmente sendo testada a campo numa estação de energia agás natural de 400 MW em Ashdod, Israel, em colaboraçãocom a Companhia Elétrica de Israel. A companhia disse àimprensa que adicionou um gene terminator mutável em suaalga, de forma que as algas teoricamente se ‘autodestruirão’dentro de seis horas;288 entretanto, suas patentes sugerem ummecanismo muito mais frágil, que apenas torna a alga menosresistente no ambiente natural.289

Solazyme – com sede em São Francisco, EUA, aplica biologiasintética para produzir biodiesel em tanques fechados onde asalgas se alimentam de açúcar em vez de dióxido de carbono.Tem uma empresa conjunta com a gigante petroleira Chevronpara aumentar a produção de seu combustível algáceo até2013, e também acordos com a Unilever para desenvolveróleos de algas alternativos ao óleo de dendê. Depois deentregar 20 mil toneladas de diesel de algas para a Marinhados EUA em setembro de 2010, a companhia anunciou umsegundo contrato naval para mais 150 mil galões.290 ASolazyme também tem acordos com a negociante de grãosBunge para cultivar algas em bagaço de cana-de-açúcar, bem

como investimentos de Sir Richard Branson,do Virgin Group, e da San-Ei Gen, grandecompanhia japonesa de ingredientesalimentares.291

Joule Biotechnologies – empresa nascida doMassachusetts Institute of Technology, emBoston, EUA, afirma ter desenvolvido umacianobactéria (alga verde-azulada) sintéticaaltamente engenheirada que secreta parafinas,um produto químico geralmente refinado dopetróleo. O produto atual da Joule secretaetanol diretamente dentro da água na qual seuorganismo cresce, mas, de acordo com acompanhia, “Diferentes variantes podemtambém fazer polímeros e outros produtosquímicos de alto valor que normalmente sãoderivados de petróleo.”292 A Joule estáconstruindo uma planta comercial para entrarem operação em 2012, com a previsão de gerar37 mil galões de diesel por hectare.

Ilustração: Beehive Collective

Grupo ETC 56 www.etcgroup.org

Algenol – da Flórida, EUA, está associada com a DowChemical para construir uma biorrefinaria de algas no Texas.Cepas de algas híbridas da Algenol produzem etanol embiorreatores. Outras associadas incluem a Agência deProteção Ambiental dos EUA e a Valero EnergyCorporation, uma líder na produção de etanol.293

Cellana – empresa conjunta entre Royal Dutch Shell e HRBioPetroleum para selecionar e cultivar cepas naturais de algaspara biocombustíveis e alimentação animal. Tem acordos depesquisa com diversas universidades internacionalmente eopera uma pequena instalação experimental no Havaí, EUA,que cultiva algas oceânicas em sistemas fechado e aberto.294

Mudança 3: Produtos químicos –bioplásticos e outros produtos químicosde base biológicaA mudança da indústria química global295 – que tem valor de 3trilhões de dólares – para açúcar e matérias-primas de biomassaé provavelmente a que recebeu menos atenção crítica dasociedade civil e dos movimentos de base e, no entanto, é amais evidente – especialmente no setor de plásticos e deprodutos químicos finos de base biológica. Fazer produtosquímicos ao invés de combustíveis para transportes a partir debiomassa é atraente, porque os mercados são menores e,portanto, mais fáceis de serem ocupados, e os preços dosprodutos químicos são, em média, de duas a quatro vezesmaiores. De fato, investidores de capital de risco estão cada vezmais aconselhando as companhias de biocombustíveis desegunda geração a diversificar para produtos químicos (etambém alimentares) como uma fonte secundária, ou atémesmo primária, de receitas.

A indústria química global é responsável por cerca de 10% douso de petróleo,296 e muitos dos milhares de produtos químicossintéticos atualmente incorporados em produtos de usocotidiano têm como base o craqueamento e refino de petróleoem moléculas de hidrocarbonetos cada vez mais elaboradas.No entanto, a indústria química sempre obteve parte de suamatéria-prima de carbono a partir do açúcar e está bemestruturada para voltar aos carboidratos. No início do séculoXX, os primeiros plásticos comerciais e muitos produtosquímicos cotidianos eram baseados em biomassa, inclusive aceluloide e o rayon. Em sua história da ‘economia docarboidrato’, o economista David Morris relata que, em 1945, amaior indústria química britânica, a ICI, ainda mantinha trêsdivisões de produção – uma baseada em carvão, outra baseadaem petróleo, e a terceira baseada em melado.297

Um punhado de produtos químicos de alto valor já têm basebiológica, incluindo a lisina (largamente utilizada paraalimentação animal), o ácido glutâmico (utilizado emrealçadores de sabor de alimentos, como o glutamatomonossódico) e corantes e tintas baseados em soja, queatualmente abastecem mais de 90% da produção de jornais dosEUA e 25% das impressoras comerciais.298 Entretanto, como odesenvolvimentos da biologia sintética torna possível processare refinar açúcares de plantas dentro de células em vez de dentrode fábricas químicas, mais organismos sintéticos estão sendodesenhados para secretar produtos químicos que antes teriamsido refinados a partir de fontes fósseis. Atualmente, aprodução de base biológica está sendo aplicada em todos ossetores da indústria química, incluindo aromas e flavorizantes,fármacos, produtos de química pesada, produtos químicosfinos e especiais, como também polímeros (plásticos). Apesardos produtos químicos de base biológica, especialmente osbioplásticos, serem promovidos como verdes e limpos, algunssão indistinguíveis de seus primos derivados de petróleo noque se refere à biodegradabilidade e à toxicidade.

Blocos de construção de base biológica

Os biologistas sintéticos e os químicos, em particular, estãotentando fabricar o que chamam de ‘substâncias químicas deplataforma’ a partir de um açúcar ou matéria-prima de biomassa.São moléculas químicas chave [blocos de construção químicos],que podem, por sua vez, ser refinadas em centenas de outrosprodutos químicos úteis, que, atualmente, são produzidos emrefinarias comerciais. A petroquímica comercial já faz algosimilar, ‘craqueando’ o petróleo em moléculas químicas oublocos de construção essenciais, como etileno, butadieno,propileno e xileno, e em intermediários flexíveis, como amônia,ácido acético, fenol e butileno, para seu posterior refino emmilhares de outros. Obtendo essas substâncias químicas deplataforma chaves ou outras novas, os cientistas que desenvolvemsubstâncias de base biológica são capazes de converter dezenasou centenas de produtos químicos anteriormente feitos decarbono fóssil para produção a partir de carbono vegetal.Exemplos de substâncias químicas de plataforma de basebiológica que atualmente chegam ao mercado incluem:

Petroquímica: faz materiais a partir de petróleo; um braçoda química industrial que transforma óleo cru (petróleo)e gás natural em produtos úteis e materiais primários. Apetroquímica inicia pelo ‘craqueamento’ de moléculascomplexas de petróleo transformando-as em moléculasmais simples para, na sequência, recombiná-las.

Os novos senhores da biomassa 57

Isoprenoides ou terpenoides – são uma classe de compostosde ocorrência natural que inclui borracha, taxol, neem,artemisina e canabinoides. Alguns desses compostos foramproduzidos em leveduras sintéticas pela AmyrisBiotechnologies, Inc. A Amyris focou em um isoprenoidechamado farneseno (o qual produz o cheiro acre em maçãs),que eles dizem poder ser mais refinado em “uma ampla gamade produtos, variando de aplicações químicas especiais, comodetergentes, cosméticos, perfumes e lubrificantes industriais,até combustíveis para transportes, como o diesel.”299 A Amyris,cuja levedura sintética atualmente come cana-de-açúcarbrasileira, tem um acordo com a Procter & Gamble300 paratransformar farneseno em cosméticos e produtos de usodoméstico. Eles têm outro acordo com a M&G Finanziaria, amaior fornecedora mundial de plástico para garrafas, parautilizar farneseno de base biológica na produção de plásticoPET.301 A Genencor também engenheirou sinteticamente a E.coli para produzir isopreno, utilizado na produção de borracha.Em 2008, eles se associaram com a fabricante mundial depneus Goodyear, Inc. para produzir quantidades industriaisde borracha para pneus. Eles afirmam que seu ‘bioisopreno’substitui os sete galões de petróleo cru necessários atualmentepara fazer um pneu de borracha sintética.302

1,3-Propanediol é uma substância química básica que podeser utilizada para plásticos, compostos, adesivos, laminados,revestimentos e como um solvente em anticongelantes e emtintas para madeira. Embora geralmente seja produzido apartir de óxido de etileno (um derivado do petróleo),atualmente tem sido produzido pela Genencor em levedurasintética como Bio-PDO, um precursor do bioplásticoSorona, da DuPont. A DuPont, em associação com a Tate &Lyle, produz hoje 45 mil toneladas por ano de Bio-PDO emsua unidade de produção em Loudon, Tennessee, EUA,consumindo anualmente 152 mil toneladas de milho (quecobrem uma área de cerca de 16 mil hectares, quase dotamanho de Liechtenstein).303 Em junho de 2010, a DuPontanunciou uma expansão de 35% na produção.304 A companhiafrancesa de produtos de base biológica METabolicExplorertambém faz Bio-PDO, convertido do glicerol, um óleo vegetal.A companhia estima que o mercado global de PDO alcançará1,3 bilhões de euros até 2020.305 O ácido succínico é umsubproduto de ocorrência natural na fermentação de açúcar. Éum primo químico próximo do anidrido maleico – umproduto químico derivado de petróleo utilizado como umamatéria-prima comum para produtos alimentares efarmacêuticos, tensoativos, descongelantes, substânciasrefrigerantes, detergentes, plásticos, agrotóxicos, fibras têxteis esolventes biodegradáveis.

Como é possível transformar ácido succínico em anidridomaleico, diversas empresas estão, atualmente, competindo paraproduzir grandes quantidades de ácido succínico, buscandoconquistar um mercado que pode valer 2,5 bilhões de dólarespor ano.306 Entre os que estão desenvolvendo ácido succínicode base biológica estão a DSM e a Mitsubishi Chemicals. ABASF e a Purac estão construindo uma fábrica de produçãode ácido succínico na Espanha, e uma unidade com capacidadede 2 mil toneladas por ano já está operando em Pomacle,França, utilizando bactérias E. colimutantes para produzir oácido succínico a partir de açúcares de trigo. A fábrica éoperada pela Bioamber – uma empresa conjunta entre acompanhia norte-americana de biotecnologia DNP e afrancesa ARD (Agro-industrie Recherches etDeveloppements).307 Em 2010, a companhia de biologiasintética Myriant, com sede nos EUA, recebeu uma doação de50 milhões de dólares do Departamento de Energia dosEUA para construir uma unidade de produção de bioácidosuccínico com capacidade de 14 mil toneladas na Louisiana.308

Etileno é o material primário gasoso utilizado na fabricação deplásticos como polietileno (PE), poliéster, cloreto depolivinila (PVC) e poliestireno, como também de fibras e deoutros produtos químicos orgânicos. Geralmente feito a partirde nafta ou gás natural, o etileno também pode ser obtidocomo um produto secundário da produção de etanol.Realmente, nos anos 1980, companhias brasileiras produziram160 mil toneladas de PVC e polietileno (PE) a partir deetanol, até que os preços mundiais do petróleo caíram, e asfábricas foram fechadas. Em 2008, três companhias químicasdistintas, a Braskem, a Solavay e a Dow Chemical,anunciaram que recomeçariam a produção de PVC e PE debase biológica no Brasil e na Argentina, a partir de cana-de-açúcar, chegando a 860 mil toneladas por ano.309

Outras companhias a serem observadas, que estão utilizandoquímica e biologia sintética para criar produtos químicos eplásticos de base biológica, incluem:

ADM/ Metabolix, BASF, Blue Marble, CargillNatureworks, Codexis, Draths Corporation, DSM,DuPont, Genomatica, LS9, OPX Biotechnologies, Segetis,Solazyme, Qteros e Zeachem.

O futuro é o (bio)plástico?

“Há um grande futuro nos plásticos. Pense nisso.” Esse foi oconselho sussurrado no ouvido de Dustin Hoffmann no filmede 1967 “A Primeira Noite de um Homem”. Cinquenta anosdepois, a área da indústria de plásticos cujo futuro ainda parecebrilhante é a dos bioplásticos.

Grupo ETC 58 www.etcgroup.org

De acordo com fontes qualificadas, a indústria de bioplásticospoderia ter um valor de 20 bilhões de dólares até 2020.310 Oatual uso mundial de bioplásticos atinge pouco mais de meiomilhão de toneladas em 2010, o que poderia encher mais decinco vezes o Empire State Building. Apesar de se esperar queseu uso aumente para 3,2 milhões de toneladas até 2015,311 issoainda é apenas uma pequena fração dos 200 milhões detoneladas de resina plástica produzidos a cada ano312 (apesar dealguns analistas dizerem que é tecnicamente possível mudar até90% dos plásticos para matérias-primas de base biológica).313

Para a indústria de plásticos, tornar-se verde tem a ver tantocom a oportunidade de mercado para melhorar sua imagemquanto com proteger-se contra a elevação dos preços dopetróleo. Em geral os consumidores pensam (e a indústria deplásticos gostaria que eles acreditassem) que os bioplásticosautomaticamente alcançam um padrão-ouro em matéria deproteção ambiental, rompendo com o legado tóxico dosprodutos de vinil, bisfenol A (BPA) e poliestireno que hojeentulham os lixões, aterros sanitários e oceanos do mundo.Apesar das tentativas de se promoverem no mercado como ‘daterra’ e ‘próximos da natureza’, os produtores de bioplásticossão as mesmas corporações poluentes do agronegócio e dosprodutos químicos. A Cargil e a ADM – que monopolizamentre si a maior parte do comércio mundial de grãos – sãotambém dois dos maiores atores em bioplásticos, controlandoas linhas Natureworks e Mirel, respectivamente. A DuPont,DSM, BASF e Dow Chemical – quatro das maiorescompanhias químicas do mundo – também são atores chave.

Os bioplásticos se biodegradam?

Alguns bioplásticos – como o bioplástico Mirel da ADM eaqueles fabricados pela Plantic – degradam-se no ambiente ouem composteiras domésticas, enquanto outros bioplásticos,mesmo alguns vendidos como compostáveis, podem ser dedifícil degradação exceto no longo prazo. Isso é particularmenteverdadeiro em plásticos de base biológica que reproduzemprodutos químicos existentes derivados de petróleo. O Soronada DuPont, por exemplo, não afirma que se degrada noambiente, e tampouco o fazem o cloreto de polivinila (PVC) eo polietileno da Braskem. O principal bioplástico, o ácidopolilático (PLA) da Cargill, comercializado sob a marca‘Natureworks’, é um assim chamado plástico ‘compostável’ quenão se degrada em composteiras domésticas, ou no ambiente,necessitando ser transportado para composteiras industriais queempregam altas temperaturas.

Também não está claro o quanto os bioplásticosbiodegradáveis se decompõem. Estudos meticulosos doschamados plásticos degradáveis mostraram que alguns apenasse quebram em partículas plásticas menores, menos visíveis,que são mais facilmente ingeridas por animais. Na realidade,pequenos fragmentos plásticos desse tipo também podem termaior capacidade de atrair e concentrar poluentes como DDTe PCB. Como observou uma fonte bem informada daindústria de plásticos “projetar plásticos degradáveis sem secertificar de que os fragmentos degradados sejamcompletamente assimilados pelas populações microbianas nainfraestrutura de descarte de resíduos em um curto período detempo tem o potencial de prejudicar o ambiente mais do quese não fossem feitos para se degradar”.314

Os bioplásticos podem ser reciclados?

Teoricamente, os bioplásticos podem ser reciclados, mas, narealidade, há poucas (se é que existe alguma) instalaçõesrecicladoras que separarão os novos biopolímeros dos outrosplásticos. A Cargill Natureworks, por exemplo, insiste que oPLA pode, em teoria, ser reciclado. Na realidade, esse plásticopode ser confundido com Polietileno Tereftalato (PET)utilizado para garrafas plásticas e, portanto, pode na verdadedificultar esforços de reciclagem ao contaminar as cadeias dereciclagem existentes. Em outubro de 2004, um grupo derecicladores e defensores da reciclagem lançou um pedidoconjunto para a Natureworks parar de vender o PLA para usoem garrafas até que fossem resolvidas questões chaverelacionadas com a reciclagem de PLA. Em janeiro de 2005, acompanhia estabeleceu uma moratória sobre a venda “adicional”de PLA para a produção de garrafas, mas voltou a vendê-lo paragarrafas, alegando que os níveis de PLA na cadeia de reciclagemeram muito baixos para serem considerados contaminantes.Garrafas plásticas Foto: Shea Bazarian

Os novos senhores da biomassa 59

Na América do Norte, as embalagens de bioplásticos devemter o número 7 e o símbolo do triângulo de três setas, emboraprotocolos da indústria estipulem que o símbolo deve serdiscreto o suficiente para que não afete as decisões de comprados consumidores.315

Os bioplásticos são tóxicos?

Uma das razões pelas quais os ativistas contra produtosquímicos tóxicos estão encorajando vigorosamente odesenvolvimento do setor de bioplásticos é que épossível inventar novos polímeros a partir deamido e açúcar que se degradem maisfacilmente no ambiente ou no corpo humanosem apresentar subprodutos tóxicos.Contudo, à medida que os químicos ebiologistas sintéticos aperfeiçoam a criaçãode produtos químicos idênticos aos ‘blocosde construção’ derivados do petróleo, estamoscomeçando a ver os mesmos velhos produtosquímicos tóxicos serem produzidos a partir de umafonte diferente de carbono (baseada em plantas). OPVC de base biológica da Solvay é um exemplo claro disso. OPVC tem estado sob ataque constante de ativistas de saúdeambiental por seu uso de ftalatos, um agente plastificantedisruptor hormonal, e pela produção de dioxinas altamentetóxicas na sua fabricação, reciclagem e descarte. Da mesmaforma que o PVC baseado em petróleo, o processo deprodução de PVC de base biológica ainda necessita de cloro.Como um grupo de pesquisa comissionado pela EuropeanBioplastics Association foi forçado a admitir, “É improvávelque o uso de etileno de base biológica reduza o impactoambiental do PVC quanto à sua toxicidade potencial”.316

Os bioplásticos são obtidos de formasustentável?

Se alguém pesquisar na Internet em busca de pistas sobre aorigem dos bioplásticos, pode ser perdoado por pensar que aindústria de plásticos de hoje se tornou um negócio dejardinagem. Lá está o Mirel da ADM, por exemplo, um“bioplástico” feito a partir de milho ou cana-de-açúcar, mascujo website exibe fotos de gramíneas aquáticas. Ou a SphereInc., produtora de biofilme mais importante da Europa, cujahomepage está adornada com tulipas, apesar de seus plásticosserem feitos de batatas. O Sorona, bioplástico carro-chefe daDuPont, é promovido por imagens de colinas verdejantes,enquanto o website do “Natureworks” da Cargill exibe umamontagem de folhas de árvores.

Na verdade, tanto o Natureworks quanto o Sorona derivamprincipalmente de milho transgênico cultivadoindustrialmente, ensopado de agrotóxicos e, no caso doSorona, transformado por tanques de organismos sintéticos –sem folhas de árvores ou gramados à vista. E, em relação àcompetição com alimentos, os bioplásticos a base de milhotrazem as mesmas preocupações que os biocombustíveis deprimeira geração. De acordo com Bob Findlen, da companhiade bioplástico Telles, empresa conjunta Metabolix/ADM,“Se a indústria de bioplásticos crescer chegando a 10% da

indústria tradicional de plásticos, cerca de 45 bilhõesde toneladas de amido serão necessárias, e não hádúvida de que isso terá um efeito sobre ascommodities agrícolas.”317

Da mesma forma que os fabricantes debiocombustíveis, os fabricantes debioplásticos estão tentando sair da linha defogo da batalha alimento versus combustívelmigrando para outras matérias-primas. A

cana-de-açúcar brasileira está particularmentena mira deles. A Dow Chemical, maior produtora

mundial de polietileno, associou-se com a giganteaçucareira Crystalsev, do Brasil, e, em 2011, iniciará aprodução de polietileno (o mais amplamente usado de todosos plásticos) derivado de cana-de-açúcar em uma unidade deprodução com capacidade para 317 mil toneladas por ano.318 Afábrica irá consumir 7,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano, equivalente a pelo menos 1.000 quilômetrosquadrados de terra agrícola.319

Em outubro de 2010, a maior empresa petroquímica do Brasil,a Braskem, abriu uma fábrica de 278 milhões de dólaresprojetada para produzir 181 mil toneladas anuais depolietileno a partir de etanol de cana-de-açúcar. A Braskem játem contratos assegurados para fornecer produtos para aJohnson & Johnson, Proctor & Gamble, para a companhiade cosméticos Shiseido e para o Toyota Group.320 Enquantoisso, a Coca-Cola está fazendo um terço de sua nova assimchamada “Garrafa Planta” a partir de bioPET de cana-de-açúcar brasileira – um movimento que recebeu o entusiásticoaval do WWF (World Wide Fund For Nature), cujo diretorexecutivo o declarou “mais um outro grande exemplo de sualiderança em questões ambientais”.321

Como já mencionado anteriormente, as plantações de cana-de-açúcar brasileiras são objeto de críticas ferozes devido a seusimpactos sociais e ambientais. Mas, mesmo plásticos feitos damodesta batata, como o ‘Bioplast’ da Stanelco, tambémlevantam preocupações quanto à sua produção.

Se é inaceitáveltransformar alimento emcombustível numa época defome extrema, deveria serduplamente inaceitável

transformar alimentos emsacos plásticos.

Grupo ETC 60 www.etcgroup.org

A organização de vigilância Environmental Working Group,com sede nos EUA, considera as batata como tendo um dosmais altos limites de resíduos de agrotóxicos em alimentos.322

Cultivos transgênicos, biologia sintética enanotecnologia

Os vínculos entre a engenharia genética e os bioplásticos sãoabundantes. Em março de 2010, o primeiro cultivogeneticamente modificado a obter aprovação na Europa emmais de uma década foi uma batata transgênica de alto teor deamido da BASF destinada diretamente ao mercado debioplásticos.323 Enquanto isso, o milho, a matéria-primaprincipal para os bioplásticos, é quase universalmente obtidode cultivos transgênicos. Na prática, apenas três grandesprodutores de bioplásticos, a Novamont, da Itália, a PyramidBioplastics, da Alemanha, e a EarthCycle, do Canadá,promovem seu produto como não transgênico, embora oNatureworks da Cargill ofereça um esquema bizarro onde oscompradores podem “compensar” o uso de transgênicosem seu produto pagando à Cargill para compraruma quantidade determinada de milho nãotransgênico.

A engenharia genética também estásendo aplicada para criar um bioplásticode próxima geração, no qual o plásticoé produzido diretamente na própriaplanta. A Metabolix Inc., com sede emBoston, empregou biologia sintéticapara engenheirar uma variedade deswitchgrass que produz o bioplásticopolihidroxibutirato (PHB) em 3,7% dotecido de suas folhas. A Metabolix diz que asfolhas necessitarão produzir 5% de PHB para queele seja comercialmente viável. O switchgrass sinteticamenteengenheirado já está em testes em estufas.324

O risco de contaminação da cadeia de abastecimento dealimentos por “cultivos plásticos” é uma óbvia preocupaçãoambiental e de saúde. Enquanto isso, as mesmas sequênciasengenheiradas de genes estão incorporadas em micróbiossintéticos que transformam milho em 50 mil toneladas debioplástico Mirel em uma fábrica em Iowa (EUA), numaempresa conjunta entre a Metabolix e a ADM. O bioplásticoSorona da DuPont é, de forma similar, produzido por leveduraque tem DNA sintético, e a Amyris Biotechnologies tambémestá utilizando levedura sintética para transformar cana-de-açúcar em garrafas PET através de sua colaboração com aM&G, o maior fabricante mundial de garrafas plásticas.

A nanotecnologia também aparece com destaque no admirávelmundo novo dos bioplásticos. Preocupadas com o fato depolímeros de base biológica poderem ter baixas propriedadesde barreira (isto é, poderem deixar vazar ar ou líquido), ascompanhias de bioplástico estão adicionando nanopartículasem seus plásticos para melhorá-los. Por exemplo, a Cereplast,que produz talheres, canudinhos, pratos e copos debioplástico, utiliza nanopartículas para melhorar a resistênciado plástico PLA ao calor.325

Os bioplásticos podem ser feitoscorretamente?

Bioplásticos: de propriedade de corporações, competem comos alimentos, não são biodegradáveis, reforçam a agriculturaindustrial e nos levam ainda mais para a engenharia genética, abiologia sintética e a nanotecnologia. É difícil se empolgarcom o futuro supostamente verde que a indústria dosbioplásticos está vendendo. No entanto, existem tentativas

sérias de botar os bioplásticos na linha.

Um passo para isso é a Sustainable BiomaterialsCollaborative (SBC) – uma rede de 14grupos da sociedade civil e ‘empresaséticas’ que trabalham para definir umbioplástico verdadeiramente sustentável.Um de seus fundadores, Tom Lent, daThe Healthy Building Network, explicaque a SBC começou porque “apromessa dos bioplásticos não estavasendo cumprida”. Sua colega da SBC,

Brenda Platt, do Institute for Local Self-Reliance, reconhece que, no momento, a

expressão “plástico sustentável” é mais umparadoxo do que uma realidade, mas é otimista em

relação a mudar isso.

“Não há dúvidas de que temos um longo caminho a percorrer,mas temos estado bastante ativos e eu acredito que já estamosfazendo uma diferença”, diz ela.326 A SBC publicou extensasdiretrizes para bioplásticos sustentáveis [Sustainable BioplasticGuidelines], disponíveis online, baseadas em 12 princípios, quevão desde evitar cultivos transgênicos, agrotóxicos enanomateriais até garantir os meios de sustento dosagricultores. Os princípios, contudo, não abordam asimplicações em matéria de justiça global, a competição comalimentos, os direitos sobre a terra, ou a propriedade econcentração corporativas. O uso de organismos sintéticos embiorrefinarias também é considerado aceitável pela SBC.327

Bioplásticos: depropriedade de corporações,

competem com os alimentos, nãosão biodegradáveis, reforçam a

agricultura industrial e nos levamainda mais para a engenharia genética,a biologia sintética e a nanotecnologia.

É difícil se empolgar com o futurosupostamente verde que aindústria de bioplásticos

está vendendo.

Os novos senhores da biomassa 61

Conclusões: um assalto à Terra! Contradições da biomassa: os defensores da biomassa queinsistem que uma mistura de matérias-primas de biomassa comnovas tecnologias trará a solução para nossas crises de energia,alimentos e ambiental deveriam cair na real ou, pelo menos,tratar de conciliar sua própria retórica. O apoio desprovido desenso crítico em relação à economia da biomassa provém, deforma esmagadora, das mesmas agências e grupos depensadores [think-tanks] que também nos disseramrepetidamente que, até 2050, a população mundial poderiacrescer 50%, e a demanda de alimentos, quase 100%.

Eles alertam (corretamente) que a mudança climática irá, nomínimo, tornar as colheitas instáveis e, no pior cenário, reduzirentre 20-50% a produção industrial de alimentos. Eprescrevem (erroneamente) que precisamos usar mais produtosquímicos em nossas áreas de cultivos para salvaguardar daexpansão agrícola as terras marginais e os habitats em risco.Mas, ao mesmo tempo, esses formuladores de políticas estãodizendo que as tecnologias ainda em experimentação não sófarão tudo bem, mas tornarão aceitável impor novas demandasmonumentais sobre nossos solos e água em nome dasubstituição de carbono fóssil por biomassa viva.

A bolha da bioeconomia? Tendo falhado em prever ocolapso da bolha ‘ponto com’, a bolha dos títulos hipotecários,o pico dos preços dos alimentos e o colapso do sistemabancário – todos em apenas uma década – os países da OECDagora apregoam uma nova “Economia Verde” como a“próxima grande coisa” que vai resgatar suas indústrias.Fazendo isso, eles estão criando uma nova mitologia em tornoda noção de que a biomassa viva pode ser aproveitada parauma nova revolução industrial, que manterá os níveis atuais deprodução e consumo sem causar dano ao planeta.

Esse colonialismo econômico mais ’bonzinho’ precisa do soloe da água do Sul global. Estão fazendo com que pareça umpresente tecnológico que permitirá à África, Ásia e AméricaLatina lucrar com a mudança climática. No processo, abioeconomia poderia desestabilizar mercados de commodities– e concentrar o poder da OECD – com base em um recursoque pode colapsar devido ao uso excessivo.

Apostando na biologia sintética: O absurdo aumentaexponencialmente quando se considera o conserto tecnológicoque está sendo proposto. A biologia sintética afirma ser capazde redesenhar o DNA para construir novas espécies,potencialmente com características nunca antes vistas nanatureza. Supondo que isso seja mesmo possível, estão nospedindo que acreditemos que esses organismos experimentaisnão serão uma ameaça nem para nossa economia e nem paranossos ecossistemas.

Se contidos em biorrefinarias – apesar da proliferação dosestabelecimentos e das quantidades envolvidas –dizem-nos quehá pouco perigo de contaminação ambiental, e que essas novasbiofábricas podem ser alimentadas de forma sustentável. Outros,com soberba similar, já nos disseram que a energia nuclear seriasegura e também barata de controlar; que a era da químicaacabaria com a fome e as doenças; que a biotecnologia acabariacom a fome e as doenças, também – e não contaminaria; e –agora há pouco – que a mudança climática é provavelmente umfruto da nossa imaginação. Em outras palavras, estão nosdizendo que arrisquemos a sorte com Gaia (e com nossos netos)utilizando formas de vida experimentais a partir de hipótesesnão testadas. Mais do que um apossamento da biomassa ou umagrilagem legal de terra, isso é um assalto à Terra.

Ilustração: Beehive Collective

Grupo ETC 62 www.etcgroup.org

Recomendações: rumo a uma governança global

Recomendações imediatas:

1. Sociedade civil: a sociedade civil e, especialmente, osmovimentos sociais – que estão sendo ou serão afetados pelanova bioeconomia – precisam se unir. Isso englobacomunidades indígenas e camponeses que lutam contra aexpansão do agronegócio no movimento por soberaniaalimentar, e aqueles e aquelas preocupados com a proteção deflorestas, justiça climática, produtos químicos tóxicos,conservação marinha, proteção dos desertos, direitos à água emuitos outros mais. Precisamos urgentemente ter umaconversa entre os movimentos e estabelecer uma grandecoalizão para analisar, enfrentar e confrontar os novossenhores da biomassa.

2. Exigências, metas e subsídios: os governos nacionaisdevem revisar seu apoio aos biocombustíveis, à biotecnologiaindustrial e ao resto da bioeconomia à luz dos prováveisimpactos sobre o Sul e a biodiversidade e de outroscompromissos internacionais de desenvolvimento. Asexigências, metas e subsídios existentes para osbiocombustíveis, a produção de base biológica e a produçãode bioeletricidade deveriam ser abandonados em favor demetas para reduzir a produção e o consumo gerais. Osrecursos financeiros dos governos para pesquisa deveriam serredirecionados para avaliar os custos ecológicos e sociais dabioeconomia, especialmente da próxima geração debiocombustíveis (como combustíveis de algas, celulósicos ede hidrocarbonetos) e da biologia sintética.

3. Definições legítimas: o uso da biomassa não é “carbononeutro” e raramente é ‘renovável’ numa perspectivaecossistêmica, e não deveria ser apresentado como tal. Asregras de contabilização de carbono, tanto em níveisnacionais como internacionais, devem ser revisadas pararefletir o custo real sobre a biodiversidade – e do carbono –devido à remoção, processamento e uso de biomassa,incluindo as emissões pela mudança do uso da terra econsiderando o tempo que leva para sequestrar novamente ocarbono. O custo para as comunidades que já dependemdessa vida vegetal também deve ficar claro e ser calculado.

4. Mudança climática: a Convenção Quadro das NaçõesUnidas sobre Mudança Climática (CQNUMC) deveriareverter seu apoio institucional e financeiro à bioenergia e àmercantilização da biomassa. A CQNUMC deveria rever asregras de contabilização de carbono do Protoloco de Kiotopara refletir o fato de que as estratégias de biomassaindustrial não são carbono neutro (ver item 3 acima).Também devem ser tomadas medidas para remover abiomassa das metodologias aprovadas sob o Mecanismo deDesenvolvimento Limpo, das propostas REDD+ e doprograma PFAN da Climate Technology Initiative. Novastecnologias sobre a biomassa e novos usos da biomassa nãodeveriam ser elegíveis para apoio financeiro através denenhum mecanismo de mudança climática nem de nenhummecanismo futuro vinculado à biodiversidade que mobilizerecursos financeiros para a inovação.

5. Biodiversidade: a Convenção sobre Diversidade Biológicada ONU deveria ser elogiada por sua apreciação precocesobre a biologia sintética e a economia da biomassa, e deveassumir um papel de liderança na investigação dasimplicações potenciais para a diversidade biológica. Noespírito do princípio da precaução, a CDB deveriaestabelecer uma moratória de fato sobre a liberaçãoambiental e uso comercial de novas formas de vidaconstruídas com biologia sintética pendente de maioresestudos e acordos de governança transparentes eacauteladores.

6. Alimentos, florestas, água e agricultura: a FAO e,especialmente, sua Comissão sobre Recursos GenéticosVegetais para Alimentação e Agricultura e o Órgão Gestordo Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos Vegetaispara Alimentação e Agricultura deveriam estudar asimplicações da biologia sintética e do apossamento aceleradode biomassa sobre a segurança alimentar, os cultivos, osanimais de criação, as espécies aquáticas e as florestas. Juntocom a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobreComércio e Desenvolvimento), a FAO também deveriaexaminar as implicações sobre os mercados e o monopólio dematérias primas.

Os novos senhores da biomassa 63

7. Direitos humanos: os procedimentos especiais doConselho de Direitos Humanos das Nações Unidas,incluindo os relatores especiais sobre o direito à alimentação,o direito à água, os direitos dos Povos Indígenas, assim comoo Representante Especial do Secretário Geral sobrecorporações transnacionais e direitos humanos, e oespecialista independente sobre pobreza extrema, deveriamempreender uma investigação conjunta sobre as implicaçõesda biologia sintética e da nova bioeconomia para o plenogozo dos direitos humanos, particularmente para aquelesindivíduos, comunidades e países cujas terras serão afetadaspela busca de novas fontes de biomassa.

8. Propriedade: a Organização Mundial da PropriedadeIntelectual (OMPI) deveria empreender uma investigaçãoimediata sobre a abrangência e implicações de patentes epedidos de patente recentes envolvendo biologia sintética,com base em preocupações de ordem pública.

9. A “Economia Verde”: os governos devem considerarcuidadosamente o papel proposto e as implicações potenciaisda Economia Verde como ela está sendo apresentada para aCúpula Rio+20 no Brasil em 2012. O processo preparatórioconduzindo à Rio+20 deveria encorajar um debate públicoglobal abrangente sobre todas as questões socioeconômicas,ambientais e éticas relacionadas ao uso da biomassa, àbiologia sintética e à governança de tecnologias novas eemergentes em geral.

10. Governança ambiental: o Grupo de GerenciamentoAmbiental do Sistema ONU deveria empreender um estudoaprofundado das implicações da nova bioeconomia,particularmente sobre os meios de vida, a biodiversidade e osdireitos das comunidades afetadas. O estudo deve engajartodos os governos e a mais ampla gama de partes interessadas,especialmente os povos indígenas e as comunidadescamponesas e das florestas.

Recomendações para o futuro próximo:

11. Governança tecnológica: reconhecendo que as novasferramentas de transformação da biomassa, como a biologiasintética, são apenas parte de um conjunto de poderosasnovas tecnologias em nanoescala que têm vastas aplicaçõespara a economia e para o ambiente, os governos que sereunirão na Rio+20 deveriam adotar um processo denegociação que conduza a um Tratado Internacional para aAvaliação de Novas Tecnologias (ICENT, por sua sigla eminglês), de caráter juridicamente vinculante. Esse tratadodeveria permitir o monitoramento das novas tecnologiasmais importantes por parte dos governos e de todas aspessoas afetadas.

Grupo ETC 64 www.etcgroup.org

Anexo: Quem produzirá os biocombustíveis da próxima geração

Abengoa Bioenergy usinas de bioenergia naEspanha, Brasil e EUA

cereais incluindo trigo /palha de trigo, restolho demilho

etanol celulósico CIEMAT (Espanha),Universidade de Lund,NREL (EUA),Universidade de Auburn

AE Biofuels Montana, EUA switchgrass, sementes degramíneas, palhas degramíneas, talos de milho,bagaço, milho, cana-de-açúcar

etanol celulósico

AlgaeLink N.V. Yerseke, Holanda algas biopetróleo KLM (projeto paraproduzir combustível deaviação a partir de algas)

Algafuel Lisboa, Portugal algas biopetróleo INETI (InstitutoNacional de Energia,Tecnologia e Inovação dePortugal)

Algasol Renewables Baleares, Espanha algas biopetróleo

Algenol Biofuels Flórida, EUA e México algas etanol celulósico BioFields, Dow ChemicalCompany, Valero Energy,Linde Gas, Georgia Tech,Florida Gulf CoastUniversity

Aurora Algae Califórnia, EUA, Perth,Austrália

algas biopetróleo Noventi Ventures, GabrielVenture Partners

Amyris Biotechnologies,Inc. (Amyris Brasil S.A. eAmyris Fuels, LLC)

São Paulo, BrasilCalifórnia, EUA

açúcares fermentáveis,cana-de-açúcar

hidrocarbonetos(farneseno)

Crystalsev, Santelisa Vale,Votorantin, Total,Mercedes Benz, Procter &Gamble, Departamentode Defesa dos EUA,Bunge, Cosan, M&GFinanziaria

BBI BioVentures LLC Colorado, EUA matérias-primas do fluxode resíduos existente queexigem pouco / nenhumpré-tratamento (emdesenvolvimento)

etanol celulósico Fagen, Inc.

BFT Bionic FuelTechnologies AG

Gross-Gerau, Alemanha pellets de palhas hidrocarbonetos: diesel,óleo para aquecimento

OFT Aarhus(Dinamarca)

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Os novos senhores da biomassa 65

BioFuel Systems SL Alicante, Espanha algas biopetróleo

BioGasol Ballerup, Dinamarca gramíneas variadas,resíduos de jardinagem,palhas, fibras de milho

etanol, biogás, hidrogêniode metano

Siemens, Alfa Laval,Grundfos, Universidadede Aalborg, Ostkraft, Tate& Lyle, Agro Tech AS,NNE Pharmaplan

BioMCN Delfzijl, Holanda glicerina bruta metanol Waterland, Econcern,Teijin, NOM

BioMex, Inc. Califórnia, EUA lascas de madeira,switchgrass

haletos de metila,biogasolina

BlueFire Ethanol Califórnia, EUA e Izumi,Japão

lascas de madeira etanol celulósico

Borregaard Industries,LTD

Sarpsborg, Noruega licor sulforoso decorrentedo processamento dapolpa da madeira deabeto-vermelho

celulose, lignina,bioetanol

BP Biofuels Louisiana, Califórnia,Texas, EUA; Brasil

Miscanthus etanol celulósico Em 2010, a BP Biofuelsadquiriu os negócios debiocombustíveis daVerenium, GalaxyBiofuels LLC e VercipiaBiofuels; tem empresaconjunta com a DuPont(ver Butamax)

Butamax AdvancedBiofuels

Delaware, EUA gramíneas, talos de milho biobutanol Empresa conjunta: BPBiofuels e DuPont;Kingston Research Ltd(Hull, Reino Unido)também é uma empresaconjunta BP-DuPont quefaz biobutanol

Carbona, Inc. Finlândia e EUA resíduos florestais combustíveis Fischer-Tropsch

GTI (Gas TechnologyInstitute), UPM-Kymmene (fábricas depolpa e papel)

Catchlight Energy Washington, EUA madeira suplementadacom gramíneas perenes,resíduos

etanol celulósico Empresa conjunta:Chevron e Weyerhaeuser

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Grupo ETC 66 www.etcgroup.org

Cellana Havaí, EUA algas biocombustíveis ealimentação animal

Empresa conjunta: RoyalDutch Shell e HRBioPetroleum; diversasuniversidades dos EUA +Bodø University College,Noruega

Chemrec AB Pitea, Suécia subprodutos de fábrica depolpa e papel

bioDME (dimetil éter) Volvo, Haldor Topsoe,Preem, Total, Delphi,ETC

CHOREN TechnologiesGmbH

Freiberg, Alemanha lascas de madeira secas eresíduos florestais

combustível sintético debiomassa a líquido

Shell, Daimler,Volkswagen

Colusa Biomass EnergyCorporation

Califórnia,EUA palha de arroz, casca dearroz, palha e sabugos demilho, palha e casca detrigo, lascas e serragem demadeira

etanol celulósico, óxido desílica/sódio, lignina

Coskata, Inc. Pensilvânia, Flórida,Illinois, EUA

resíduos agrícolas eflorestais, lascas demadeira, bagaço, resíduossólidos municipais

etanol celulósico GM, Globespan, CapitalPartners, BlackstoneGroup, Sumitomo,Arancia Industrial, KhoslaVentures, Total

CTU (Clean TechnologyUniverse)

Winterthur, Suíça; fábricade demonstração emGüssing, Áustria

madeira, milho,gramíneas, silagem decultivos inteiros

gás sintético Universidade deTecnologia de Viena, PaulScherrer Institute (Suíça),Repotec (Áustria)

Cutec-Institut GmbH Clausthal-Zellerfeld,Alemanha

palha, madeira, silagemseca, resíduos orgânicos

combustíveis Fischer-Tropsch

DuPont DaniscoCellulosic Ethanol, LLC(DDCE)

Tennessee, EUA palha, sabugos e fibras demilho, switchgrass

etanol celulósico Genera Energy(Universidade doTennessee)

Dynamic Fuels, LLC Louisiana, EUA gorduras animais, óleos decozinha usados

diesel, combustível deaviação

Empresa conjunta 50-50:Syntroleum Corporatione Tyson

ECN (Energy ResearchCentre of theNetherlands)

Alkmaar e Petten,Holanda

lascas de madeira SNG (gás naturalsintético / substitutivo)

HVC

Enerkem fábricas comerciais emAlberta e Quebec,Canadá, e Mississippi,EUA

resíduos municipais,resíduos florestais eagrícolas

etanol e bioetanol Braemar Energy Ventures,Departamento de Energiados EUA, NaturalResources Canada,GreenField Ethanol, Inc.

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Os novos senhores da biomassa 67

EtanolPiloten (fábricapiloto de etanol)

Örnsköldsvik, Suécia resíduos florestais etanol celulósico Universidade de Umeå,Universidade deTecnologia de Luleå e aUniversidade Sueca deCiências Agrícolas

Flambeau River Biofuels,LLC

Wisconsin, EUA cascas de árvores,serragem, madeira, eresíduos florestais

energia elétrica, vapor eaquecimento, combustíveldiesel, cera

Departamento de Energiados EUA

Frontier RenewableResources, LLC

Michigan, EUA lascas de madeira etanol, lignina Subsidiária da Mascoma

Fulcrum BioEnergy Califórnia, EUA resíduos sólidosmunicipais

etanol celulósico US Renewables Group eRustic Canyon Partners

Gevo Califórnia, EUA milho bioisobutanol Cargill, Total, VirginGroup, Lanxess

Green Star Products, Inc. Califórnia, EUA,Naboomspruit, África doSul

algas biodiesel De Beers Fuel Ltd.

Gulf Coast Energy, Inc. Flórida, EUA lascas de madeira etanol

HR Biopetroleum Havaí, EUA algas biodiesel Royal Dutch Shell (verCellana)

IMECAL Valência, Espanha resíduos cítricos (casca,sementes e polpa)

bioetanol CIEMAT, Ford Espanha eAVEN

Inbicon (subsidiária daDONG Energy)

Kalundborg, Dinamarca palha de trigo, pellets demadeira

etanol Genencor (Danisco),Novozymes e Statoil

Envergent Technologies Illinois, EUA resíduos florestais eagrícolas

óleo de pirólise avançadapara atuar como gasolina,diesel, combustível deaviação

Empresa conjunta: Ensyne UOP (Honeywell)

Joule Biotechnologies Massachusetts, EUA alga que converte luz solare CO2

diesel

Karlsruhe Institute ofTechnology (KIT)

Karlsruhe, Alemanha palha gás sintético Lurgi GmbH

Iogen Idaho, EUA, Ontário eSaskatchewan, Canadá

palha de trigo, palha decevada, palha de milho,switchgrass, palha de arroz

etanol celulósico Royal Dutch Shell, Petro-Canada e Goldman Sachs

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Grupo ETC 68 www.etcgroup.org

LanzaTech New ZealandLtd.

Auckland, Nova Zelândia(fábricas na China, NovaZelândia, EUA)

gases residuais industriais etanol Henan Coal e ChemicalIndustrial Corporation,Boasteel (China), QimingVentures, Softbank ChinaVenture Capital, KhoslaVentures, K1W1

Lignol EnergyCorporation

British Columbia,Canadá, e Colorado, EUA

madeira e resíduosagrícolas

etanol, lignina Departamento de Energiados EUA, Novozymes,Klingspan Group PLC

LS9 Califórnia e Flórida, EUA xarope de cana-de-açúcar,lascas de madeira, resíduosagrícolas, e sorgo

biogasolina, biodiesel Chevron, Procter &Gamble, Khosla Ventures

Mascoma New Hampshire e NovaIorque, EUA

lascas de madeira,switchgrass, resíduosagrícolas

etanol, lignina Flagship Ventures,General Motors, KhoslaVentures, Atlas Venture,General Catalyst Partners,Kleiner Perkins Caufield& Byers, VantagePointVenture Partners,Marathon Oil

M&G (Gruppo Mossi &Ghisolfi) / Chemtex

Rivalta, Itália palha de milho, palha,casca, biomassa lenhosa

etanol celulósico

M-real Hallein AG Hallein, Áustria licor sulforoso decorrentedo processamento dapolpa da madeira deabeto-vermelho

etanol celulósico

Neste Oil Porvoo, Finlândia;Rotterdam, Holanda;Tuas, Singapura

óleo de dendê, óleo decolza e gordura animal

biodiesel Conselho deDesenvolvimentoEconômico de Singapura

NSE Biofuels Oy Varkaus, Parvoo e Imatra,Finlândia

resíduos florestais combustíveis Fischer-Tropsch

Empresa conjunta: NesteOil e Stora Enso, JV;Foster Wheeler, Centrode Pesquisa Técnica daFinlândia (VIT),Ministério da Indústria daFinlândia

KL Energy Corporation Wyoming, EUA madeira (Ponderosa pine),bagaço de cana-de-açúcar

etanol celulósico Petrobras America, Inc.

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Os novos senhores da biomassa 69

Procethol 2GConsortium

Marne, França fontes variadas debiomassa

etanol celulósico Membros do consórcio:Agro industrieRecherches etDéveloppements (ARD),Confédération Généraledes Betteraviers (CGB),Champagne Céréales,Crédit Agricole du Nord-Est, Institut Français duPétrole (IFP), InstitutNacional de la RechercheAgronomique (INRA),Lesaffre, Office Nationaldes Forêts (ONF), Tereos,Total e Unigrains

Pacific Ethanol Oregon, EUA palha de trigo, palha demilho, resíduos de álamo

etanol, biogás, lignina BioGasol, LLC,Departamento de Energiados EUA (DOE) ,Instituto Conjunto deBioenergia (LawrenceBerkeley NationalLaboratory e SandiaNational Laboratories)

PetroAlgae Flórida, EUA algas biopetróleo Asesorias e InversionesQuilicura (Chile),EcoFrontier (Coreia),Foster Wheeler (EUA)

Petrosun Arizona, EUA algas óleo, etanol

POET Dakota do Sul, EUA sabugos de milho etanol celulósico Novozymes

Qteros, Inc. Massachusetts, EUA resíduos municipais etanol celulósico Camros Capital, LLC,BP, Soros Fund, LongRiver Ventures, ValeroEnergy Corporation,Venrock Associates,Battery Ventures

Queensland University ofTechnology

Brisbane, Austrália bagaço de cana-de-açúcar etanol celulósico Mackay Sugar Ltd., SugarResearch Ltd., Viridianpty Ltd., Hexion

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Grupo ETC 70 www.etcgroup.org

Range Fuels Colorado e Geórgia, EUA Georgia pine, madeiras delei e Colorado beetle killpine

etanol celulósico, metanol Khosla Ventures,Departamentos deEnergia e de Agriculturados EUA, PassportCapital, BlueMountain,Leaf Clean EnergyCompany, MorganStanley, PCG CleanEnergy & TechnologyFund, Geórgia

Sapphire Energy Arizona, EUA algas biopetróleo ARCH, Wellcome Trust,Cascade Investment (BillGates), VenrockAssociates

SEKAB IndustrialDevelopment AB

Örnsköldsvik, Suécia lascas de madeira e bagaçode cana-de-açúcar

etanol celulósico

SGC Energia Portugal, Áustria e NovoMéxico, EUA

algas Global Green Solutions,Oxford Catalysts GroupPLC

Syngenta Centre forSugarcane BiofuelsDevelopment

Brisbane, Austrália bagaço de cana-de-açúcar etanol celulósico Universidade deTecnologia deQueensland (QUT),Farmacule Bioindustries,Governo de Queensland,Governo Federal daAustrália e Syngenta

Synthetic Genomics, Inc. Califórnia e Maryland,EUA

algas, açúcar biopetróleo, biogasolina,combustível de aviação

Exxon Mobil, BP,Genting Group, LifeTechnologies, Novartis,Draper Fisher Juvetson,Meteor Group,Biotechonomy, Plenus,Centro Asiático deTecnologia Genômica

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Solazyme Califórnia, EUA algas biodiesel, biogasolina,combustível de aviação

Chevron, Unilever,Marinha dos EUA,Bunge, Virgin Group,San-Ei Gen, Harris &Harris Group, BraemarEnergy Ventures,Lightspeed VenturePartners, VantagePointVenture Partners, RodaGroup

Os novos senhores da biomassa 71

SynGest, Inc. Iowa, EUA palha de milho bioamônia Iowa Power Fund e IowaOffice of EnergyIndependence

Technical University ofDenmark (DTU)

Copenhague, Dinamarca palha de trigo, fibra demilho

etanol, biogás, lignina BioSystems, Cambi A/S,Novozymes

Tembec Chemical Group Quebec, Canadá matéria-prima de licorsulforoso (subproduto defábrica de polpa)

etanol celulósico

Terrabon, Inc. Texas, EUA resíduos sólidosmunicipais, lodo detratamento de esgotos,estercos, resíduos agrícolas

etanol, alcoóis diversos,químicos variados

Texas A&M University,Valero Energy Corp.

TerraVitae Bioscience Illinois, EUA matérias-primascelulósicas

biobutanol

TMO Renewables, Ltd. Surrey, Reino Unido inicialmente milho,depois matérias-primascelulósicas diversas

etanol celulósico Fiberight, LLC

TransAlgae, Ltd. Texas, EUA, e Ashdod,Israel

algas farinha de peixe, óleo Raanan, Endicott,Biofuels, Israeli ElectricCompany

United States Envirofuels,LLC

Flórida, EUA sorgo-doce, cana-de-açúcar

etanol celulósico

Verenium Corporation Massachusetts, EUA (em julho de 2010, a BPcomprou o negócio debiocombustíveiscelulósicos da Verenium,mas a Verenium continuaa vender enzimas paraprodutores debiocombustíveis)

enzimas BASF, Bunge, Cargill,Danisco

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

SunDrop Fuels Colorado, EUA palha de arroz, palha detrigo, miscanthus, sorgo,switchgrass, madeira

gasolina, diesel,combustíveis de aviação

Kleiner Perkins Caufield& Byers e Oak InvestmentPartners

Solix Biofuels Colorado, EUA algas biopetróleo Los Alamos NationalLaboratory, Valero EnergyCorp., Hazen Research

Southern ResearchInstitute

Carolina do Norte, EUA North Carolina pine óleos, lignina, açúcaresfermentáveis

HCL CleanTech (Israel)

Grupo ETC 72 www.etcgroup.org

Verdezyne, Inc. Califórnia, EUA switchgrass, cânhamo,palha de milho, madeira

etanol celulósico Novozymes, Genencor,Syngenta, LallemandEthanol Technology,OVP Venture Partners,Monitor Ventures, TechCoast Angels e LifeScience Angels

Virent Energy Systems Wisconsin, EUA açúcares e amidos gasolina, combustível deaviação, diesel

Shell, Cargill

Weyland AS Blomsterdalen, Noruega madeira de coníferas,serragem, palha de arroz,sabugos de milho ebagaço

etanol celulósico The Norwegian ResearchCouncil, Fana Stein &Gjenvinning AS, SarsiaSeed, Bergen UniversityCollege

Xethanol Corporation Flórida, EUA cascas de cítricos etanol celulósico Renewable Spirits, LLC

ZeaChem Inc. Oregon, Colorado, EUA árvores, cana-de-açúcar etanol celulósico,químicos variados

GreenWood Resources,Departamento de Energiados EUA, Stark VentureInvestors, Cargill, Honda,Advantage Capital

Vienna University ofTechnology

Güssing, Áustria gás sintético derivado degaseificador

combustíveis Fischer-Tropsch

Repotec GmbH,Biomasse KraftwerkGüssing

Companhia Localização Matérias-primas /Matérias-primasprevistas

Produtos /Produtos Futuros

Associados eInvestidores

Os novos senhores da biomassa 73

1 O valor de 17 trilhões de dólares é a estimativa mais aproximada dosmercados afetados, derivada do conjunto das vendas estimadas dosseguintes setores: gastos globais em alimentos - 8,5 trilhões dedólares; mercado global de energia - 5 trilhões de dólares; mercadoglobal de químicos - 3 trilhões de dólares; mercado têxtil global -577 bilhões de dólares; mercado global de produtos de papel - 100bilhões de dólares; comércio global de carbono - 144 bilhões dedólares; mercado global de aditivos para alimentação animal - 15,4milhões de dólares

2 Rede de Informação sobre Matéria-Prima de Bioenergia do governodos EUA, Bioenergia e Biomassa. Perguntas Mais Frequentes,online em: http://bioenergy.ornl.gov/faqs/index.html#resource

3 H. Haberl, et al., 2007, “Quantifying and mapping the humanappropriation of net primary production in earth’s terrestrialecosystems”, Proceedings of the National Academy of Sciences of theUSA 104, pp. 12942-12947.

4 Depoimento de David K. Garman no Comitê sobre Agricultura,Nutrição e Florestas, Programa de Biomassa do Departamento deEnergia do Senado dos Estados Unidos, 6 de maio de 2004.Disponível online em:www1.eere.energy.gov/office_eere/congressional_test_050604.html

5 Michael Graham Richard, “Geneticist Craig Venter Wants toCreate Fuel from CO2”, Treehugger, 29 de fevereiro de 2008.Disponível online em: www.treehugger.com/files/2008/02/craig-venter-fuel-co2-tedconference.php

6 US Energy Information Administration, “International Petroleum(Oil) Consumption”, Independent Statistics and Analysis,International Energy Annual 2006. table 3.5 “World ApparentConsumption of Refined Petroleum Products, 2005” Disponívelonline em:www.eia.doe.gov/emeu/international/oilconsumption.html

7 International Energy Agency, Key World Energy Statistics, IEA,Paris, 2008. Documento disponível em:www.iea.org/textbase/nppdf/free/2008/key_stats_2008.pdf

8 H. Danner e R. Braun. “Biotechnology for the Production ofCommodity Chemicals from Biomass”, Chemical Society Review,28: 395.405, 1999.

9 Stan Davis, Christopher Meyer, “What Will Replace the TechEconomy?” TimeMagazine, 22 de maio de 2000. Disponívelonline em:www.time.com/time/magazine/article/0,9171,997019,00.html

10 Timothy Gardner, “U.S. ethanol rush may harm water supplies:report”, Reuters,10 de outubro de 2007. Disponível online em:www.reuters.com/article/idUSN1036472120071010

11 Ver para exemplo, The Economics of Ecosystems and Biodiversity:Ecological and Economic Foundations. Editado por Pushpam Kumar.An output of TEEB: The Economics of Ecosystems and Biodiversity,Earthscan, outubro de 2010.

Notas

12 Glossary of Climate Change Terms, US Environmental ProtectionAgency. Disponível online em:www.epa.gov/climatechange/glossary.html

13 Glossary, Biotechnology Industry Association (BIO). Disponívelonline em: www.bio.org/speeches/pubs/er/glossary_b.asp

14 Simonetta Zarilli, ed. “The Emerging Biofuels Market:Regulatory, Trade and Development Implications”, UNCTAD(United Nations Conference on Trade and Development). NovaIorque, 2006. Disponível para download online em:www.unctad.org/templates/webflyer.asp?docid=7754&intItemID=2068&lang=1&mode=downloads

15 Planet Ark, “UK builds 5th power plant to burn cattle carcasses”,27 de fevereiro de 2001. Disponível online em:www.planetark.org/dailynewsstory.cfm?newsid=9931

16 Williams Haynes, Celullose: The Chemical that Grows, NovaIorque: Doubleday and Company, 1953.

17 Klemm, D., et al., “Cellulose: Fascinating biopolymer andsustainable raw material”, Angewandte Chemie, 2005, 44 (22), p3358-3393

18 Mariam B. Sticklen, “Plant genetic engineering for biofuelproduction: towards affordable cellulosic ethanol”, Nature ReviewsGenetics 9, junho de 2008, 433-443.

19 Klemm, D. op. cit., pp 3358-3393.20 Theodore H. Wegner, Philip E. Jones, “Advancing cellulose-basednanotechnology”, Cellulose. Vol. 13, 2006, páginas 115-118.

21 US Department of Energy Office of Science, “Breaking theBiological Barriers to Cellulosic Ethanol: A Joint ResearchAgenda, A Research Roadmap Resulting from the Biomass toBiofuels Workshop”, 7-9 de dezembro de 2005. Disponível onlineem:http://genomicscience.energy.gov/biofuels/b2bworkshop.shtml

22 Jeff Caldwell, “Bioeconomy development key to future of Iowa,the world”, High Plains/Midwest AG Journal, 4 de abril de 2004.Disponível online :www.hpj.com/archives/2004/apr04/Bioeconomydevelopmentkeytof.CFM

23 Dr. Jeffrey Siirola, “Vignettes on Energy Challenges”, apresentaçãoem PowerPoint, AICHE Energy Forum, Cincinnati, OH, EUA,30 de outubro de 2005. Disponível online em:www.aiche.org/uploadedFiles/Energy/Forum_Vignettes.pdf

24 Rosalie Lober, “Big oil and Biofuels. Are you out there?” BiofuelsDigest, 21 de setembro de 2010. Disponível online em:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2010/09/21/big-oil-and-biofuels-%E2%80%93-are-you-out-there/

25 Richard Brenneman, “BP Chief Scientist Named Undersecretaryof Energy”, Berkeley Daily Planet, 25 de março de 2009.

Grupo ETC 74 www.etcgroup.org

26 David King, “The Future Of Industrial Biorefineries”, ForumEconômico Mundial 2010.

27 Aaron Ruesch e Holly K. Gibbs, “New IPCC Tier-1 GlobalBiomass Carbon Map For the Year 2000”, Carbon DioxideInformation Analysis Center (CDIAC), Oak Ridge NationalLaboratory, Oak Ridge, Tennessee. Disponível online em:http://cdiac.ornl.gov/epubs/ndp/global_carbon/carbon_documentation.html

28 Kisaburo Nakata, “Characterization of Ocean Productivity Usinga New Physical-Biological Coupled Ocean Model GlobalEnvironmental Change in the Ocean and on Land, from GlobalEnvironmental Change in the Ocean and on Land”, Eds, M.Shiyomi et al, Terrapub, 2004, pp. 1.44. Disponível online em:http://www.terrapub.co.jp/elibrary/kawahata/pdf/001.pdf

29 David King, op. cit.30 Antonio Regalado, “Searching for Biofuel’s Sweet Spot”,Technology Review, abril de 2010. Disponível online em:http://www.technologyreview.in/energy/24979/

31 Ibid.32 John Melo, Nasdaq CEO Shareholder series, entrevista em vídeo,setembro de 2010. Disponível online em:www.shareholder.com/visitors/event/build2/mediapresentation.cfm?companyid=NSDSIG&mediaid=44068&mediauserid=4760447&player=2

33 A expressão “Árabia Saudita da biomassa” aparece em muitoslugares, usualmente como uma afirmação espúria de interesses deindústrias florestais locais. Ver, por exemplo, as afirmações em JoeBelanger, “Canada poised to become the Saudi Arabia of biomassenergy”, ditas em conferência, London Free Press, 11 de março de2009. Arquivado online em: http://checkbiotech.org/node/25081

34 Ver Elizabeth A. Nelson, et al., “Combating Climate ChangeThrough Boreal Forest Conservation: Resistance, Adaptation, andMitigation”, Relatório para o Greenpeace Canadá, Faculdade deEngenharia Florestal, Universidade de Toronto, 2008, 52 p.Disponível online em:www.greenpeace.org/canada/en/campaigns/boreal/resources/documents/combating-cc-boreal-forest-preservation

35 Jeremy Hance, “Monoculture tree plantations are ‘green deserts’not forests, say activists”, mongabay.com, 19 de setembro de 2008.Disponível online em: http://news.mongabay.com/2008/0919-plantations_hance.html

36 FAO (Food and Agriculture Organization of the UnitedNations), “World Agriculture: Towards 2015/2030”, Disponívelonline em: www.fao.org/docrep/005/y4252e/y4252e06.htm

37 Michael P Russelle et al., Comment on “Carbon-NegativeBiofuels from Low-Input High-Diversity Grassland Biomass”,Science, Vol. 316. no. 5831, 15 de junho de 2007, p. 1567.Disponível online em:www.sciencemag.org/cgi/content/full/316/5831/1567b

38 FAO, “World Agriculture: Towards 2015/2030”, op. cit.39 Ann Dornfeld, “Company Turns Toxic Blooms into AlternativeEnergy”, VOA News, 10 de novembro de 2008. Disponível onlineem: www.voanews.com/english/ news/a-13-2008-11-10-voa30-66735142.htm

40 Steven Koonin et al., “Industrial Biotechnology: SustainableClimate Change Solutions, Summary proceedings of the 5thAnnual World Congress on Industrial Biotechnology andBioprocessing”, Chicago, 27-30 de abril de 2008.

41 David Morris, “The Once and Future Carbohydrate Economy”,The American Prospect, 19 de março de 2006. Disponível onlineem: www.prospect.org/cs/articles?articleId=11313

42 David Morris e Irshad Ahmed, “The Carbohydrate Economy:Making Chemicals and Industrial Materials from Plant Matter”,The Institute for Local Self Reliance, 1993.

43 Neil McElwee, “Products from Petroleum”, Oil 150, 2008.Disponível online em:www.oil150.com/essays/2008/04/products-from-petroleum

44 David Morris e Irshad Ahmed, op. cit.45 IEA (International Energy Agency), 2010 Key World EnergyStatistics, Paris, 2010, p. 37. Disponível online em:www.iea.org/textbase/nppdf/free/2010/key_stats_2010.pdf

46 Alfred Nordmann, et al., “Converging Technologies. Shaping theFuture of European Societies”, Informe Preliminar do Grupo deTrabalho sobre Cenários, Grupo de Especialistas de Alto Nível,2004, p 3. Disponível online em:http://ec.europa.eu/research/conferences/2004/ntw/pdf/final_report_en.pdf

47 USDA, “U.S. Biobased Products: Market Potential andProjections Through 2025”, Office of the Chief Economist, Officeof Energy Policy and New Uses, Departamento de Agricultura dosEUA, 2008.

48 David King, “The Future of Industrial Biorefineries”, FórumEconômico Mundial, 2010.

49 Pike Research, “Market Value of Biomass-Generated Electricity toReach $ 53 Billion by 2020”, comunicado de imprensa, 27 de julhode 2010.

50 David King, op. cit.51 Alex Salkever, “Global biofuels market to hit $247 billion by2020”, Daily Finance, 24 de julho de 2009. Disponível online em:http://srph.it/9WK10g

52 Clay Boswell, “Bio-based chemicals take a steadily increasingportion of the chemical market as environmental issues come tothe fore”, ICIS.com, 5 de fevereiro de 2007. Disponível online em:www.icis.com/Articles/2007/02/12/4500686/bio-based-chemicals-sales-climb-with-environmental-issues.html

53 BIOtech-Now.org, “Green Is Good: Industrial BiotechnologyMakes Headway with Renewable Alternatives”, 18 de agosto de2010. Disponível online em: http://biotech-now.org/section/industrial/2010/08/18/green-good-industrial-biotechnology-makes-headway-renewable-alternatives

54 “U.S. Biobased Products, Market Potential and ProjectionsThrough 2025”, Office of the Chief Economist, Office of EnergyPolicy and New Uses, Departamento de Agricultura dos EUA.Elaborado conjuntamente pelo Office of Energy Policy and NewUses, o Center for Industrial Research and Service of Iowa StateUniversity, Informa Economics, Michigan Biotechnology Institute,e The Windmill Group. OCE-2008-1.

Os novos senhores da biomassa 75

55 “Bio-renewable Chemicals Emerge as the Building Blocks of theChemical Industry, Finds Frost & Sullivan”, Comunicado àimprensa, Frost & Sullivan, 17 de março de 2009. Disponívelonline em:www.frost.com/prod/servlet/pressrelease.pag?docid=162155942

56 David King, op. cit.57 Helmut Kaiser, “Bioplastics Market Worldwide 2007-2025”,Helmut Kaiser Consultancy, hkc22.com market study. Disponívelonline em: www.hkc22.com/bioplastics.html

58 Simon Upton, “Subsidies to biofuels: A time to take stock”,Global Subsidies Initiative, outubro de 2007. Disponível onlineem: www.globalsubsidies.org/en/subsidy-watch/commentary/subsidies-biofuels-a-time-take-stock

59 Gobvinda R. Timilsina, “Biofuels in Developing Countries:Policies and Programs”, The World Bank – apresentação naTerceira Conferência de Berkeley sobre Bioeconomia,Universidade da Califórnia, Berkeley, 24-25 de junho de 2010Disponível online em:www.berkeleybioeconomy.com/presentations-2/govinda-biofuel-policies-and-programs

60 Mark Bunger e Samhitha Udupa, apresentação em webconferência“Lux Research Biosci State of the Market: Finding Exits forBiofuels and Biomaterials Investors”, 17 de novembro de 2009.

61 Jim Carlton, “Investment in Clean Technology Suffers SteepQuarterly Decline”, Wall Street Journal Technology Blog, 7 dejaneiro de 2009.

62 Rebecca Buckman, “Betting on Green”, Wall Street Journal, 11 defevereiro de 2008.

63 REN21 (Renewable Energy Policy Network for the 21stCentury), “Renewables 2010: Global Status Report”, Paris: REN21Secretariat, 2010.

64 David King, op.cit.65 Jeff Caldwell, op.cit.66 Gary Hutton et al, “Evaluation of the costs and benefits ofhousehold energy and health interventions at global and regionallevels”, World Health Organization (WHO), 2006. Disponívelonline em:www.who.int/indoorair/publications/household_energy_health_intervention.pdf

67 Joe DeCapua, “U.N. Report says 1.6 Billion Still Lack Access toElectricity”, VOA News, 28 de abril de 2010. Disponível online em:www.voanews.com/english/news/africa/decapua-un-energy-28apr10-92323229.html

68 Paul Starkey, “Animal Power in Development: Some Implicationsfor Communities”, Community Development Journal, 1987, 22(3):219-227. Disponível online em:http://cdj.oxfordjournals.org/content/22/3/219.extract

69 Gaia Foundation, et al., “Agrofuels and the Myth of MarginalLands”, Briefing, setembro de 2008. Disponível online em:www.watchindonesia.org/Agrofuels&MarginalMyth.pdf

70 Ibid.

71 Goran Berndes, et al., “The contribution of biomass in the futureglobal energy supply: a review of 17 studies”, Biomass andBioenergy, 28 de outubro de 2002. Disponível online em:www.chem.uu.nl/nws/www/publica/Publicaties2003/E2003-40.pdf

72 Gaia Foundation et al., op. cit.73 Edward Smeets, et al., “A quickscan of global bio-energypotentials to 2050”, Bio-EnergyTrade, março de 2004. Disponívelonline em:www.bioenergytrade.org/downloads/smeetsglobalquickscan2050.pdf

74 John Melo, op. cit.75 GRAIN, “¡Se adueñan de la tierra! El proceso de acaparamientoagrario por seguridad alimentaria y de negocios en 2008”, artigo doGRAIN, 25 de outubro de 2008. Disponível online em:www.grain.org/article/entries/142-se-aduenan-de-la-tierra-el-proceso-de-acaparamiento-agrario-por-seguridad-alimentaria-y-de-negocios-en-2008

76 Banco Mundial, “Rising Global Interest in Farmland: Can It Yieldsustainable and equitable benefits?”, Washington DC, setembro de2010, p. 35. Disponível online em:www.donorplatform.org/component/option,com_docman/task,doc_view/gid,1505

77 GRAIN, op. cit.78 Friends of the Earth Europe, “Africa: up for grabs”, FOE, agosto de2010, online em:www.foeeurope.org/agrofuels/FoEE_Africa_up_for_grabs_2010.pdf

79 World Bank, “Rising global interest in farmland: can it yieldsustainable and equitable benefits?”, op. cit., p.35.

80 World Bank, “Rising global interest in farmland: can it yieldsustainable and equitable benefits?”, op. cit., p.8.

81 Friends of the Earth International, “Biofuels for Europe drivingland grabbing in Africa”, comunicado à imprensa, FOEI, 30 deagosto de 2010.

82 Heinrich Unland, citado em “Old Wood is New Coal as PollutersEmbrace Carbon-Eating Trees”, Bloomberg News, 1º de junho de2009. Disponível online em:www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&sid=ardNIC7rNzQE

83 Econ Poyry, “Global Aspects of Bioenergy Imports”,Commissionado pelo Nordic Energy Research, Report 2008-056.Disponível online em: www.nordicenergy.net/_upl/report_6_r-2008-056.pdf

84 Gero Becker, et al., “Mobilizing Wood Resources: Can Europe’sForests Satisfy the Increasing Demand for Raw Material andEnergy under Sustainable Forest Management?”, Geneva Timberand Forest Discussion Papers 48, Nações Unidas, Anais doSeminário, janeiro de 2007. Disponível online em:www.unece.org/timber/docs/dp/dp-48.pdf

85 Stephen Leahy, “Trees: Out of the Forest and Into the Oven”, IPS(Inter Press News Agency), 24 de setembro de 2009. Disponívelonline em: http://ipsnews.net/news.asp?idnews=48574

Grupo ETC 76 www.etcgroup.org

86 John Cary, “The Biofuel Bubble”, Business Week, Bloomberg, 16de abril de 2009. Disponível online em:www.businessweek.com/magazine/content/09_17/b4128038014860.htm

87 Ibid.88 Lynn Grooms, “Corn Stover to Ethanol: No Slam Dunk, Cornand Soybean”, Digest, 30 de novembro de 2008. Disponível onlineem:http://cornandsoybeandigest.com/corn/corn_stover_ethanol_1108/

89 “Add invasive species to list of biofuels concerns”, Mongabay.com.Disponível online em: http://news.mongabay.com/2006/0922-invasive.html

90 Comitê Assessor para Espécies Invasoras, “Biofuels: CultivatingEnergy, not Invasiveness”, adotado em 11 de agosto de 2009 edisponível online em:www.doi.gov/NISC/home_documents/BiofuelWhitePaper.pdf

91 Hilda Diaz-Soltero, “U.S. Department of Agriculture Report tothe Invasive Species Advisory Council”, Departamento deAgricultura dos EUA, 22 de abril de 2010. Disponível online em:www.invasivespeciesinfo.gov/docs/resources/usdaisac2010apr.doc

92 George Monbiot, “Woodchips with everything. It's the Atkinsplan of the low-carbon world”, The Guardian, 24 de março de2009. Disponível online em:www.guardian.co.uk/environment/2009/mar/24/george-monbiot-climatechange-biochar

93 Gregory Morris, “Bioenergy and Greenhouse Gases”, Green PowerInstitute, The Renewable Energy Program of the Pacific Institute,maio de 2008. Disponível online em:www.pacinst.org/reports/Bioenergy_and_Greenhouse_Gases/Bioenergy_and_Greenhouse_Gases.pdf

94 Universidade do Estado do Oregon, “Old Growth Forests AreValuable Carbon Sinks”, Science Daily, 14 de setembro de 2009.Disponível online em:www.sciencedaily.com/releases/2008/09/080910133934.htm

95 World Resources Institute, “Global Carbon Storage in Soils”,EarthTrends: The Environmental Information Portal. Ver os níveisde solo como indicado no mapa. Disponível online em:http://earthtrends.wri.org/text/climate-atmosphere/map-226.html

96 Arquivos Nacionais, “Stern Review final report”, Tesouro doReino Unido Disponível online em:http://webarchive.nationalarchives.gov.uk /+/http://www.hm-treasury.gov.uk/stern_review_report.htm. Ver também página 1 doAnexo 7.f disponível online em: http://www.hm-treasury.gov.uk/d/annex7f_land_use.pdf

97 Ibid.

98 Palhada de milho: o que é deixado sobre o solo depois da colheitaé essencial para fornecer nutrientes para as plantas e é umamortecedor contra perturbações naturais e provocadas peloshumanos. Sua remoção indiscriminada para usos industriais podeimpactar negativamente a fertilidade do solo e a produtividade. Odocumento, “Corn Stover Removal for Expanded Uses ReducesSoil Fertility and Structural Stability”, de Humberto Blanco-Canquia e R. Lal, publicado no Society of American Soil ScienceJournal 73:418-426 (2009), documentou o impacto da remoçãosistemática de palha durante quatro anos em solos selecionados,medindo indicadores de fertilidade e a estabilidade estrutural emtrês tipos diferentes de solos em Ohio. A remoção completa dapalha reduziu o nível de nitrogênio total em 820 kg/ha, na média,nos solos limosos. Reduziu o fósforo disponível em 40% e afetou acapacidade de troca de cátions. O potássio trocável (K+) diminuiuem 15% nos solos limosos em que a remoção de palha foi menorque 75%, e em 25% quando houve remoção total. O impacto maisnegativo da remoção da palha foi observado em solos inclinados epropensos à erosão.

99 GRAIN, “La agricultura campesina puede enfriar el planeta”,GRAIN, 30 de dezembro de 2009. Apresentação multimídiadisponível em: www.grain.org/article/entries/4170-la-agricultura-campesina-puede-enfriar-el-planeta

100 GWP (Global Warming Potential) O Potencial de AquecimentoGlobal para o óxido nitroso (N2O) é equivalente a 298 vezes o doCO2 para um horizonte mensurável de 100 anos, segundo o IPCC(2007). Para maiores detalhes sobre potenciais de aquecimento doIPCC atualizados, ver:www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/en/ch2.html

101 Keith Bradsher e Andrew Martin, “Shortages Threaten Farmers’Key Tool: Fertilizer”, New York Times, 30 de abril de 2008.

102 G. Kongshaug, “Energy Consumption and Greenhouse GasEmissions in Fertilizer Production”, IFA (Conferência Técnica daAssociação Internacional da Indústria de Fertilizantes), Marrakech,Marrocos, 28 de setembro – 1º de outubro de 1998.

103 Science Daily, “Land Clearing Triggers Hotter Droughts”,Australian Research Shows, ScienceDaily, 31 de outubro de 2007.Disponível online em:www.sciencedaily.com/releases/2007/10/071027180556.htm

104 IPCC, IPCC Third Assessment Report: Climate Change 2001,WG III Section3.6.4.3, Energy Cropping. Disponível paradownload online em:www.grida.no/publications/other/ipcc%5Ftar/?src=/climate/ipcc_tar/

105 IPCC, IPCC Fourth Assessment Report, WGII, p. 13, ponto 11.106 Marshal Wise, et al., “Implications of Limiting CO2Concentrations for Land Use and Energy”, Science, AAAS, 29 demaio de 2009, Vol. 324. no. 5931, pp. 1183 . 1186. Disponívelonline em:www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/324/5931/1183

107 Timothy Searchinger, et al., “Fixing a Critical ClimateAccounting Error”, Science, Vol 326, 23 de outubro de 2009.Disponível online em:www.princeton.edu/~tsearchi/writings/Fixing%20a%20Critical%20Climate%20Accounting%20ErrorEDITEDtim.pdf

Os novos senhores da biomassa 77

108 Universidade de Princeton, “Study: Accounting Errorundermines climate change laws”, comunicado à imprensa, 22 deoutubro de 2009.

109 Jutta Kill, “Sinks in the Kyoto Protocol. A Dirty Deal forForests, Forest Peoples and the Climate”, Sinkswatch, julho de2001.

110 Diretrizes e tecnologias de monitoramento aprovadas daUNFCC. Disponível online emhttp://cdm.unfccc.int/methodologies/PAmethodologies/approved.html

111 Jorgen Fenhann. The UNEP Risoe CDM Pipeline, atualizadoem 01/01/11. Disponível online em http://cdmpipeline.org/cdm-projects-type.htm#3

112 Em 30 de setembro de 2010, um CER era comercializado porcerca de 13,70 euros. Fonte: “EEX Trading Results For NaturalGas And CO2 Emission Rights In September”, disponível onlineem:www.mondovisione.com/index.cfm?section=news&action=detail&id=93324

113 Oscar Reyes, “Carbon market ‘growth’ is mainly fraudulent,World Bank report shows”, Carbon Trade Watch, 20 de julho de2010. Disponível online emwww.carbontradewatch.org/articles/carbon-market-growth-is-mainly-fraudulent-world-bank-report.html

114 Chris Lang, “REDD: An Introduction”, REDD Monitor.Disponível online em www.redd-monitor.org/redd-an-introduction/

115 CTI PFAN Development Pipeline: Project Summary. maio-julho de 2010.

116 “Carbon mapping breakthrough”, comunicado à imprensa,Carnegie Institute, Universidade de Stanford, 6 de setembro de2010.

117 Rhett A. Butler, “Peru’s rainforest highway triggers surge indeforestation, according to new 3D forest mapping”,mongabay.com, 6 de setembro de 2010.

118 Sobre a Iniciativa da Economia Verde, verwww.unep.org/greeneconomy/AboutGEI/tabid/1370/Default.aspx

119 HSBC Global Research, “A Climate for Recovery: The colour ofstimulus goes green”, 25 de fevereiro de 2009, emwww.globaldashboard.org/wp-content/uploads/2009/HSBC_Green_New_Deal.pdf

120 Departmento de Energia dos EUA: Basic Research Needs forSolar Research Energy. Disponível online emwww.sc.doe.gov/bes/reports/files/SEU_rpt.pdf

121 Vaclav Smil, “Global Catastrophes and Trends:The Next FiftyYears”, Boston, MIT Press, 2008, p. 83.

122 Saul Griffith, “Climate Change Recalculated”, Shoulder HighProductions, DVD, 2009, 90 minutos.

123 Daniel G Nocera, “On the future of global energy”, Daedalus,outono de 2006, Vol. 135, No. 4, Páginas 112-115. Disponívelonline em: www.mitpressjournals.org/toc/daed/135/4

124 Christopher B. Field, et al., “Primary Production of theBiosphere: Integrating Terrestrial and Oceanic Components”,Science, 10 de julho de 1998, Vol. 281, no. 5374, pp. 237-240.

125 Bioenergy Feedstock Information Network. Disponível onlineem: http://bioenergy.ornl.gov/faqs/index.html#resource

126 Helmut Haberl, et al., “Quantifying and mapping the humanappropriation of net primary production in earth’s terrestrialecosystems”, PNAS (Anais da Academia Nacional de Ciências dos),104, 12942-12947. Disponível online em:www.pnas.org/content/104/31/12942.abstract

127 Brent Sohngen, et al., “Forest Management, Conservation, andGlobal Timber Markets”, American Journal of AgriculturalEconomics, Vol 81, No. 1, fevereiro de 1999.

128 Chris Lang, “Banks, Pulp and People: A Primer on UpcomingInternational Pulp Projects”, Urgewald EV, junho de 2007.Disponível online em: www.greenpressinitiative.org/documents/BPP_A_FIN_2.pdf

129 FAO (Organização para Alimentação e Agricultura da ONU),“African forests: a view to 2020”, Forestry Outlook Study for Africa,2003. Disponível online em:www.fao.org/forestry/outlook/fosa/en/

130 Haberl et al., “Global human appropriation of net primaryproduction (HANPP)”, The Encyclopedia of the Earth, 29 de abrilde 2010. Haberl observa que o uso da biomassa está associado comconsideráveis requisitos prévios na cadeia produtiva: a quantidadede biomassa que realmente entra no processamentosocioeconômico (6,07% C/ano) e é depois reprocessada paraconverter-se em produtos derivados da biomassa, como alimentospara humanos e para animais, fibras têxteis ou energia, é apenas umpouco mais de um terço (39%) da apropriação humana global daprodução primária líquida (HANPP, por sua sigla em inglês). Naverdade, estimativas apresentadas em Krausnamm et al., sugereminclusive que, na média global, o consumo final de uma tonelada debiomassa requer a colheita de 3,6 toneladas de biomassa primária eestá associado com uma produção primária líquida derivada damudança de uso do solo (NPPLC, por sua sigla em inglês) de 2,4toneladas. Essas estimativas, tomadas em conjunto, implicam que,na média global de todas as regiões e produtos baseados embiomassa, uma tonelada de biomassa usada na produção significa 6toneladas de apropriação humana da produção primária líquida,medida em termos de matéria seca. Artigo disponível em:www.eoearth.org/article/Global_human_appropriation_of_net_primary_production_(HANPP)

131 Worldwatch Institute, “Biofuels for Transport: Global Potentialand Implications for Sustainable Energy and Agriculture Energy inthe 21st Century”, agosto de 2007, p. 79.www.worldwatch.org/bookstore/publication/biofuels-transport-global-potential-and-implications-sustainable-agriculture-a

132 Millennium Ecosystem Assessment Synthesis Report (2005),“Ecosystems and Human Well Being: Biodiversity Synthesis.”World Resources Institute. Disponível online em:www.maweb.org/en/Synthesis.aspx

133 WWF, “Living Planet Report 2006”, Sociedade Zoológica deLondres e Global Footprint Network, 2006. Disponível online em:http://assets.panda.org/downloads/living_planet_report.pdf

Grupo ETC 78 www.etcgroup.org

134 IUCN, Red List of Threatened Species, União Internacionalpara a Conservação da Natureza, 2008. Lista disponibilizadaonline em: www.iucnredlist.org/

135 Millenium Ecosystem Assessment, “Ecosystems and HumanWell- Being”, World Resources Institute, 2005.

136 FAO, “State of the World’s Forests 2007”, Roma, 2007.Disponível online em:www.fao.org/docrep/009/a0773e/a0773e00.HTM

137 Global Footprint Network website, At a Glance.www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/at_a_glance/

138 Global Footprint Network, op. cit.139 MSNBC, “Humans will need two Earths: Global footprint leftby consumption is growing, conservationists argue”, website,último accesso em 8 de outubro de 2010. Disponível online em:www.msnbc.msn.com/id/15398149/

140 Vaclav Smil, op. cit.141 Carta de Grassroots Groups aos presidentes Henry Waxman andEdward Markey, 23 de abril de 2009.

142 DC Nepstad, et al., “Interactions among Amazon land use,forests and climate: prospects for a near-term forest tipping point”,Philosophical Transactions of the Royal Society of London,fevereiro de 2008.

143 TN Chase, et al., “Teleconnections in the Earth System”,Encyclopedia of Hydrological Sciences, Reino Unido, John Wileyand Sons, 2007, 2849-2862.

144 Johan Rockstrom, et al., “A Safe Operating Space for Humanity”,Nature, 461, 472-476, 24 de setembro de 2009.

145 Almuth Ernsting e Deepak Rughani, “Climate GeoengineeringWith Carbon Negative Bioenergy: Climate saviour or climateendgame?” website do Biofuelwatch. Disponível online em:www.biofuelwatch.org.uk/docs/cnbe/cnbe.html

146 Universidade de Purdue, “GM Tree Could be Used forCellulosic Ethanol, Fast-Growing Trees Could Take Root asFuture Energy Source”, comunicado à imprensa, 24 de agosto de2006. Disponível online em:http://news.mongabay.com/2006/0824-purdue2.html

147 Jessica Hancock, et al., “Plant growth, biomass partitioning andsoil carbon formation in response to altered lignin biosynthesis inPopulus tremuloides”, New Phytoligist, 2007, 173(4), 732-42.

148 Solicitação de patente WO2010034652A1, Transgenic Plantswith Increased Yield, BASF, maio de 2010.

149 Phil McKenna, “Emission control”, New Scientist, 25 de setembrode 2010.

150 Debora McKenzie, “Supercrops: fixing the flaws inphotosynthesis”, New Scientist, 14 de setembro de 2010.

151 Ibid.152 “Hydrogen from Water in a Novel Recombinant CyanobacterialSystem”, J Craig Venter Institute. Disponibilizado online em:www.jcvi.org/cms/research/projects/hydrogen-from-water-in-a-novel-recombinant-cyanobacterial-system/overview/

153 Solicitação de patente WO07140246A2, Methods andcompositions for increasing biomass in genetically modifiedperennials used for biofuel, Board of Governors for HigherEducation, State of Rhode Island, junho de 2009.

154 Betsy Cohen, “URI professor turns on biofuel ‘switch’”, TheGood 5 Cigar, Jornal Estudantil da Universidade de Rhode Island,13 de junho de 2009. Ver também, “Switchgrass research aims tocreate ethanol to power vehicles for $1 per gallon”, website daUniversidade de Rhode Island, 4 de dezembro de 2006. Disponívelonline em: www.uri.edu/news/releases/?id=3793

155 Comunicado do Grupo ETC, “A la caza de genes ‘climáticos’,’”Disponível na internet em: www.etcgroup.org/es/node/5252.

156 Mensagem de e-mail de Stuart Strand para a Lista Eletrônicasobre Geoengenharia, 17 de setembro de 2010. Arquivado onlineem: www.mail-archive.com/[email protected]/msg03809.html

157 Rebecca Lindsay, “Global Garden Gets Greener”, Observatórioda Terra da NASA, Artigo de Fundo, 5 de junho de 2003.Disponível online em:http://earthobservatory.nasa.gov/Features/GlobalGarden/

158 Universidade de Washington, “Global Warming Fix? Some OfEarth’s Climate Troubles Should Face Burial At Sea”, Scientists Say,ScienceDaily, 29 de janeiro de 2009. Disponível online em:www.sciencedaily.com/releases/2009/01/090128212809.htm

159 Miriam Goldstein, “Will dumping cornstalks into the oceansequester carbon?” The Oysters Garter, website, disponibilizado em11 de fevereiro de 2009. Disponível online em:http://theoystersgarter.com/2009/02/11/will-dumping-cornstalks-into-the-ocean-sequester-carbon/

160 Mensagem de e-mail de Gregory Benford para a Lista Eletrônicasobre Geoengenharia, 10 de setembro de 2010. Arquivado onlineem: www.mail-archive.com/[email protected]/msg03777.html

161 Para mais informações sobre fertilização de oceanos ver GrupoETC, Communiqué, “Geopiratería: Argumentos contra lageoingeniería”, Número 103, outubro de 2010.

162 A. Strong, J. Cullen, e S. W. Chisholm. Ocean Fertilization:Science, Policy, and Commerce, Oceanography: Vol. 22, No. 3,2009 236-261.

163 Almuth Ernsting e Deepak Rughani, op. cit. 164 Peter Read, “Biosphere Carbon Stock Management”, ClimaticChange, Vol 87, No. 3-4, 2007, p. 305-320.

165 Espagíria é o nome dado à produção de medicamentos à base deervas utilizando procedimentos alquímicos.

166 Peter Aldhous, “Interview: DNA’s messengers”, New Scientist,Número 2626, 18 de outubro de 2007.

167 Para uma Introdução à Biologia Sintética, ver Grupo ETC,“Ingeniería genética extrema, una introducción a la biologíasintética”, janeiro de 2007. Disponível online em:www.etcgroup.org/es/node/603

Os novos senhores da biomassa 79

168 Para genes de bactérias em milho, ver Ric Bessin, “Bt Corn:What it is and How it Works”, Escola de Agricultura daUniversidade de Kentucky, janeiro de 2004. Disponível online em:www.ca.uky.edu/entomology/entfacts/ef130.asp. Para geneshumanos em arroz, ver Bill Freese, et. al., “Pharmaceutical Rice inCalifornia: Potential Risks to Consumers, the Environment andthe California Rice Industry”, Departamento de Serviços de Saúdeda Califórnia, julho de 2004. Disponível online em:www.consumersunion.org/pdf/rice04.pdf

169 Tucker, JB e Zilinskas, RA, “The Promise and Perils of SyntheticBiology”, New Atlantis, primavera de 2006.

170 Para uma descrição introdutória aos campos da Teoria dosSistemas de Desenvolvimento e da Epigenética, ver Jason ScottRobert et al, “Bridging the gap between developmental systemstheory and evolutionary developmental biology”, Bio-Essays23:954 }962, 2001

171 Ver, por exemplo, W. Wayt Gibbs, “Synthetic Life”, ScientificAmerican, maio de 2004.

172 Holger Breithaupt, “The Engineer’s approach to biology”,EMBO Reports, Vol 7 No1 (2006) pp21-23.

173 Ibid.174 Erik Millstone et al, “Beyond Substantial Equivalence”, Nature, 7de outubro de 1999. Disponível online em:www.mindfully.org/GE/Beyond-Substantial-Equivalence.htm

175 Roger Highfield, “Malaria drug to be made from ‘syntheticbiology’ organism”, The Daily Telegraph, (UK) 03 de junho de2008.

176 M. Garfinkel et al, “Synthetic Genomics: Options forGovernance”, outubro de 2007.

177 JB Tucker e RA Zilinskas, op. cit.178 Michael Rodemeyer, “New Life in old bottles: Regulating firstgeneration products of synthetic biology”, relatório publicado peloWoodrow Wilson Centre for Scholars, março de 2009. Ver nota derodapé p28.

179 Comunicação do Grupo Europeu sobre Ética na Ciência e nasNovas Tecnologias (European group on Ethics in Science and NewTechnologies) à Comissão Europeia, “Ethics of Synthetic Biology:Opinion no 25”, 17 de novembro de 2009.

180 Robert Sanders, “Keasling e Cal: A perfect fit”, UC Berkley News,13 de dezembro de 2004. Disponível online em:http://berkeley.edu/news/media/releases/2004/12/13_keasling.shtml

181 David Roberts, “LS9 Promises Renewable Petroleum”,Huffington Post, 30 de julho de 2007.

182 Craig Rubens, “DOE Cultivating Cellulosic Biofuels”, GigaOm,27 de fevereiro de 2008. Disponível online em:http://gigaom.com/cleantech/doe-cultivating-cellulosic-biofuels/

183 Mascoma, “What is Consolidated Bioprocessing (CBP)?”Disponível online em: www.mascoma.com/pages/sub_cellethanol04.php. Para informações sobre LS9, verwww.ls9.com/technology/

184 Susanna Retka Schill, “UCSF engineers microbes to producemethyl halides”, Biomass Magazine, abril de 2009. Disponívelonline em:www.biomassmagazine.com/article.jsp?article_id=2582

185 Anna Austin, “Cutting-Edge Co-Culture”, Biomass Magazine,julho de 2009. Disponível online em:www.biomassmagazine.com/article.jsp?article_id=2815&q=&page=all

186 Holmes, M.T., E.R. Ingham, J.D. Doyle e C.W. Hendricks,“Effects of Klebsiella planticola SDF20 on soil biota and wheatgrowth in sandy soil”, Applied Soil Ecology 11, 1999, 67-78.

187 Sharon Kennedy, “No risk from microbrewery to winemaker”,ABC News, 31 de março de 2010. Disponível online em:www.abc.net.au/local/stories/2010/03/31/2861391.htm

188 “Biofuel enzyme developer Verenium achieves technicalmilestone, receives $500,000 from Syngenta”, Biopact, 8 de janeirode 2008. Disponível online em:http://news.mongabay.com/bioenergy/2008/01/biofuel-enzyme-developer-verenium.html

189 “Agrivida and Codon Devices to partner on third-generationbiofuels”, Biopact, 3 de agosto 2007. Disponível online em:http://news.mongabay.com/bioenergy/2007/08/agrividia-and-codon-devices-to-partner.html

190 Daphne Preuss, “Synthetic Plant Chromosomes”, Chromatin,Inc., Apresentação na Synthetic Biology 4.0, Universidade deCiência e Tecnologia de Hong Kong, 10 de outubro de 2008.

191 Pacific Northwest National Laboratory, "Live Wires:Microbiologist Discovers Our Planet Is Hard-Wired WithElectricity-Producing Bacteria." Science Daily, 10 de julho de 2006.Disponível online em:www.sciencedaily.com/releases/2006/07/060710181540.htm

192 Yuri Gorby, biografia, J. Craig Venter Institute. Disponívelonline em: www.jcvi.org/cms/about/bios/ygorby/

193 Para uma visão geral do projeto Bactricity, verhttp://2008.igem.org/Team:Harvard/Project

194 Michael Specter, “A Life of Its Own”, The New Yorker, 28 desetembro de 2009. Disponível online em:www.newyorker.com/reporting/2009/09/28/090928fa_fact_specter?currentPage=2

195 Perfil da empresa Amyris Biotechnologies emArtemisininproject.org (agora extinto) Arquivado online em:http://web.archive.org/web/20061011032357/ ehttp://www.artemisininproject.org/Partners/amyris.htm

196 Uma boa discussão sobre artemisinina pode ser encontrada em:www.amyrisbiotech.com/markets/artemisinin

197 Ver, por exemplo, esta mensagem do defensor da bioeconomiaRob Carlson, Comissão Presidencial para o Estudo de AssuntosBioéticos, Synthesis, website de Rob Carlson, 8 de julho de 2010.Disponível em: www.synthesis.cc/2010/07/presidential-commission-for-the-study-of-bioethical-issues.html

198 Willem Heemskerk, et. al., “The World of Artemisia in 44Questions”, Foreign Ministry (DGIS), Holanda, Royal TropicalInstitute, 2006. Disponível online em:www.kit.nl/smartsite.shtml?id=5564

199 Rob Carlson, op. cit. 200 Grupo ETC, “Ingeniería genética extrema, una introducción a labiología sintética”, janeiro de 2007, p. 40-41. Disponível online em:www.etcgroup.org/es/node/603

Grupo ETC 80 www.etcgroup.org

201 “Genencor and Goodyear to co-develop renewable alternative topetroleum-derivesd isoprene”, comunicado à imprensa, Genencor,16 de setembro de 2008. Disponível online em:www.genencor.com/wps/wcm/connect/genencor/genencor/media_relations/news/frontpage/investor_265_en.htm

202 Ibid. Especificamente, a Goodyear escreveu: “o bioisoprenopode ser usado para a produção de borracha sintética, que, por suavez, é uma alternativa à borracha natural e a outros elastômeros.”

203 Katherine Bourzac, “Rubber from Microbes: A plant enzymeimproves the yield of renewable rubber made by bacteria”,Technology Review, 25 de março de 2010. Disponível online em:www.technologyreview.com/biomedicine/24862/

204 Toshiya Muranaka, “Replicating the biosynthetic pathways inplants for the production of useful compounds”, InnovationsReport, 28 de setembro de 2009. Disponível online em:www.innovationsreport.de/html/berichte/biowissenschaften_chemie/replicating_biosynthetic_pathways_plants_production_140571.html

205 Craig Rubens, “Venter's Synthetic Genomics Adds $8M forPalm Oil Research”, GigaOm, 20 de outubro de 2008. Disponívelonline em: http://gigaom.com/cleantech/venters-synthetic-genomics-adds-8m-for-palm-oil-research/

206 Craig Venter falando no programa “Creating Synthetic Life -Your Questions Answered”, coprodução ABC/Discovery Channel,transmitida pela primeira vez na quinta-feira, 3 de julho de 2010, às20h00 ET, Discovery Science Channel, EUA.

207 Paul Sonne, “To Wash Hands of Palm Oil Unilever EmbracesAlgae”, Wall Street Journal, 7 de setembro de 2010.

208 Philip Ball, “Yarn spun from nanotubes”, Nature News, 12 demarço de 2004. Disponível online em:www.nature.com/news/2004/040312/full/news040308-10.html

209 Michael Postek e Evelyn Brown, “Sustainable, renewablenanomaterials may replace carbon nanotubes”, SPIE Newsroom, 17de março de 2009. Disponível online em:http://spie.org/x34277.xml?ArticleID=x34277

210 “Innventia: nanocellulose plant to be built in Stockholm,Sweden”, Lesprom.com, comunicado à imprensa, Moscou, 20 demaio de 2010. Disponível online em:http://wood.lesprom.com/news/44275/

211 Michael Berger, “Truly green battery is algae powered”,Nanowerk News, 16 de setembro de 2009. Disponível online em:www.nanowerk.com/spotlight/spotid=12645.php

212 GBEP (Global Bioenergy Partnership), “A Review of theCurrent State of Bioenergy Development in G8 +5 Countries”,FAO, 2007.

213 REN21 (Renewable Energy Policy Network for the 21stCentury), Renewables 2010: Global Status Report, Paris: REN21Secretariat, 2010.

214 Ibid.215 O mapa atualizado das instalações para biomassa, da Rede deJustiça Energética, está disponível em:www.energyjustice.net/map/biomassproposed

216 Global Data, “The US Biomass Power Market Analysis andForecasts to 2015”, 18 de maio de 2010. Disponível online em:www.articlesbase.com/business-articles/the-us-biomass-power-market-analysis-and-forecaststo-2015-2395476.html

217 US Biomass Power Association FAQ. Disponível online em:www.usabiomass.org/pages/facts.php

218 Jim Carlton, “(Bio)Mass Confusion”, Wall Street Journal, 18 deoutubro de 2010.

219 REN21, op. cit.220 Innovative Natural Resource Solutions, Biomass AvailabilityAnalysis, Springfield, Massachusetts: “Renewable Biomass fromthe Forests of Massachusetts”, Relatório preparado para oMassachusetts Division of Energy Resources e o MassachusettsDepartment of Conservation and Recreation, janeiro de 2007.Disponível online em:www.mass.gov/Eoeea/docs/doer/renewables/biomass/bio-08-02-28-spring-assess.pdf

221 Josh Schlossbert, “Here is a Bad Idea: Biofuel Gas from Trees”,The Register-Guard, Eugene OR, 27 de abril de 2008. Disponívelonline em: www.grassrootsnetroots.org/articles/article_11861.cfm

222 Graham Mole, “Who says it’s green to burn woodchips?” TheIndependent, 25 de outubro de 2009.

223 M.I. Asher, et al., “International Study of Asthma and Allergiesin Childhood, (ISAAC): rationale and methods”, InternationalStudy Protocol, European Respiratory Journal, Salzburg, 1995, 8483-491.

224 Carlos Corvalan, et al., “Health and Environment in SustainableDevelopment: Identifying Links and Indicators to PromoteAction”, Departamento de Proteção do Ambiente Humano,Organização Mundial de Saúde, 1999, p.242.

225 Departamento de Ecologia do Estado de Washington, “TheHealth Effects of Wood Smoke”, Departamento de Ecologia,Programa de Qualidade do Ar, março de 1997.

226 Dr. Joellen Lewtas, “Contribution of Source Emissions of theMutagenicity of Ambient Urban Air Particles”, Agência deProteção Ambiental dos Estados Unidos, #91-131.6, 1991.

227 Jane Koenig e Timothy Larson, “A Summary of EmissionsCharacterizations and Non-Cancer Respiratory Effects of WoodSmoke”, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos,#453/R-93-036, 1992.

228 John A. Cooper, “Environmental Impact of Residential WoodCombustion Emissions and Its Implications”, APCA Journal,Vol.30 No.8, agosto de 1980.

229 Ver Dioxin From Wood Burning, Burning issues. Disponívelonline em: www.burningissues.org/dioxin.htm

230 REN21. 2010. Op, cit.231 Melinda Wenner, “The Next Generation of Biofuels”, ScientificAmerican, 20 de abril de 2009.

232 Philip New, “World market for Biofuels: An acceptable andpositive impact”, BP Biofuels, Theme 10, World Market forBiofuels, 2006. Disponível online emwww.conservacao.org/publicacoes/files/13_Biofuels_Phil_New.pdf

Os novos senhores da biomassa 81

233 OilWakeUpCall.com, Wake Up America! Disponível online em:www.oilwakeupcall.com/alt_fuels.html

234 Tony Philpott, “World Bank finally releases ‘secret’ report onbiofuels and the food crisis”, Grist, 31 de julho de 2008. Disponívelonline em: www.grist.org/article/biofuel-bombshell/

235 Mark W. Rosegrant, “Biofuels and Grain Pries: Impacts andPolicy Responses”, International Food Policy Research Institute, 7de maio de 2008.

236 Ian MacKinnon, “Palm oil: the biofuel of the future driving anecological disaster now”, The Guardian, 4 de abril de 2007.

237 Ver a entrada na Wikipedia para Ethanol fuel in Brazil,http://en.wikipedia.org/wiki/Ethanol_fuel_in_Brazil

238 William Lemos, “Brazil ethanol exports to drop 30% on closedUS arb”, artigo e vídeo disponibilizados em ICIS.com, 23 de marçode 2010. Disponível em:www.icis.com/Articles/2010/03/23/9345185/brazil-ethanol-exports-to-drop-30-on-closed-us-arb.html

239 Dr Rosalle Lober, “Big Oil and Biofuels: Are you out there?”Biofuels Digest, 21 de setembro de 2010. Disponível online em:http://biofuelsdigest.com/bdigest/2010/09/21/big-oil-and-biofuels-%E2%80%93-are-you-out-there/

240 Matilda Lee, “Will sugar be the oil of the 21st century?” TheEcologist, 1º de dezembro de 2009.

241 Eduardo Barreto de Figueiredo et al., “Greenhouse gas emissionassociated with sugar production in Southern Brazil”, CarbonBalance and Management, junho de 2010.

242 Maggie L. Walser, ed., “Greenhouse gas emissions: perspectiveson the top 20 emitters and developed versus developing nations”,Encyclopedia of Earth, 2 de setembro de 2009.

243 http://climateandcapitalism.com/?p=209244 Winnie Gerbens-Leenes, et al., “The water footprint ofbioenergy”, Proceedings of the National Academy of Science and ofthe United States of America, 12 de dezembro de 2008.

245 Helen Burley e Hannah Griffiths, “Jatropha: Wonder crop?Experience from Swaziland”, Friends of the Earth, maio de 2009.

246 John Carey, “The Biofuel Bubble”, Bloomberg Businessweek, 16de abril de 2009.

247 Bill Kovarik, “Solar, wind, water, bioenergy”, The Summer Spirit.Disponível online em:www.radford.edu/~wkovarik/envhist/RenHist/

248 Lisa Gibson, “RFS2 reduces 2010 cellulosic ethanolrequirement”, Biomass Magazine, março de 2010.

249 Robert Rapier, “Diminishing Expectations from Range Fuels”,Forbes Blogs, 25 de fevereiro de 2010. Disponível em:http://blogs.forbes.com/energysource/2010/02/25/diminishing-expectations-from-range-fuels/

250 Green Car Congress, “BlueFire Renewables Signs 15-Year Off-Take Agreement for Cellulosic Ethanol”, 20 de setembro de 2010.Disponível online em:www.greencarcongress.com/2010/09/bluefire-20100920.html

251 “BP and Verenium Form Leading Cellulosic Ethanol Venture toDeliver Advanced Biofuels”, BP, comunicado à imprensa, 18 defevereiro de 2009. Disponível online em:www.bp.com/genericarticle.do?categoryId=2012968&contentId=7051362

252 Matylda Czarnecka, “BP Buys Verenium’s Biofuel Business for$98 Million”, GreenTech, 15 de julho de 2010. Disponível onlineem: http://techcrunch.com/2010/07/15/bp-biofuel-verenium-98-million

253 Iogen Corporation, Iogen Energy Saskatchewan PlantCommunity Information Sessions, 2009. Mais informaçãodisponível online em:www.iogen.ca/news_events/events/2009_06_27.html

254 “Mascoma, General Motors Enter Biofuels Pact”, Boston BusinessJournal, 28 de maio de 2008. Disponível online emhttp://boston.bizjournals.com/boston/stories/2008/04/28/daily45.html

255 Boston Globe, "Marathon Invests in Mascoma, Which Raises $61M.” Business Updates, Boston.com. Disponível online emwww.boston.com/business/ticker/2008/05/marathon_invest.html

256 Royal Nedalco, “Mascoma Royal Nedalco Signs Agreement toLicense Technology to Mascoma for Lignocellulosic Ethanol”,comunicado à imprensa da Mascoma, março de 2007. Disponívelonline em: www.mascoma.com/download/3-1-07%20-%20NedalcoMascomaNewsRelease%20Final.pdf

257 “Stellenbosch Biomass Technologies forms to commercializeMascoma technology in South Africa”, Biofuels Digest, 14 de julhode 2010.

258 Emma Ritch, “Total dives further into biofuels with Coskatainvestment”, Cleantech Group, Cleantech Forum, 11-13 deoutubro de 2010. Artigo disponibilizado em 27 de abril de 2010.Disponível online em: http://cleantech.com/news/5787/total-biofuel-investment-cleantech-coskata

259 “DuPont and Genencor Create World-Leading CellulosicEthanol Company”, comunicado à imprensa da Genencor, 14 demaio de 2008. Disponível online em:www.danisco.com/wps/wcm/connect/genencor/genencor/media_relations/investor_257_en.htm

260 POET, Cellulosic Ethanol Overview. Disponibilizado nowebsite POET em: www.poet.com/innovation/cellulosic/

261 Anna Lynn Spitzer, “Building a Better Biofuel”, CAlit2,Universidade da Califórnia - Irvine, 30 de abril de 2009.Disponível online em: www.calit2.uci.edu/calit2-newsroom/itemdetail.aspx?cguid=372f1edb-dd0d-4fc0-815d-671b153fdf74

262 “Verdezyne Lands Gene Optimization Contract withNovozymes”, comunicado à imprensa, Green Car Congress, 13 deabril de 2009. Disponível online em:www.greencarcongress.com/2009/04/verdezyne-lands-gene-optimization-contract-with-novozymes.html

263Ver o website Catchlight Energy em:www.catchlightenergy.com/WhoWeAre.aspx

264 Jim Lane, “Portrait of a Transformative Technology: Qteros andits Q Microbe”, Biofuels Digest, 24 de junho de 2010.

Grupo ETC 82 www.etcgroup.org

265 David Roberts, et al., “4 Technologies on the Brink”, WiredMagazine, Número 15-10, 24 de setembro de 2007.

266 Robert Rapier, “A Visit to the New Choren BTL Plant”, The OilDrum, 6 de maio de 2008. Disponibilizado online em:www.theoildrum.com/node/3938

267 Hank Daniszewski, “Green gem goes bust”, Lfp (London FreePress), 9 de julho de 2010. Disponível online em:www.lfpress.com/news/london/2010/07/08/14651701.html

268 Camille Ricketts, “Biofuel leader LS9 buys demo plant to churnout renewable diesel”, Venture Beat, 3 de fevereiro de 2010.Disponibilizado online em:http://venturebeat.com/2010/02/03/biofuel-leader-ls9-buys-demo-plant-to-churn-out-renewable-diesel-2/

269 Katie Fehrenbacher, “What You Need to Know from Gevo’sIPO Filing”, GigaOm, 13 de agosto de 2010. Disponibilizadoonline em: http://gigaom.com/cleantech/what-you-need-to-know-from-gevos-s-1/

270 Para um perfil recente da Amyris Biotech, ver “SyntheticSolutions to the Climate Crisis: The Dangers of Synthetic Biologyfor Biofuels Production”, Friends of the Earth USA, setembro de2010. Disponível online em: www.foe.org/healthy-people/synthetic-biology

271 Dennis Bushnell, “Algae: A Panacea Crop? World FutureSociety”, The Futurist, março-abril de 2009. Disponível online em:www.wfs.org/index.php?q=node/665

272 Alok Jha, “UK announces world’s largest algal biofuel project”,The Guardian, 23 de outubro de 2008.

273 Ann Dornfeld, op. cit.274 Katie Howell, “NASA bags algae, wastewater in bid for aviationfuel”, New York Times, Greenwire, 12 de maio de 2009.Disponibilizado online em:www.nytimes.com/gwire/2009/05/12/12greenwire-nasa-bags-algae-wastewater-in-bid-for-aviation-12208.html

275 Saul Griffith, op. cit.276 Andres F. Clarens, Eleazer P. Resurreccion, Mark A. White e LisaM. Colosi, Environmental Life Cycle Comparison of Algae toOther Bioenergy Feedstocks, Environmental Science & Technology,2010.

277 Universidade da Virgínia, “Engineers find significantenvironmental impacts with algaebased biofuel”, Science Daily, 25de janeiro de 2010. Disponível online em:www.sciencedaily.com/releases/2010/01/100121135856.htm

278 Chris Rhodes, “Could Peak Phosphate be Algal Diesel’s AchillesHeel?” Energy Balance, 6 de abril de 2008. Disponibilizado onlineem: http://ergobalance.blogspot.com/2008/04/peak-phosphate-algal-diesels-achilles.html

279 Bioethics.gov, “Benefits and Risks of Synthetic Biology”,Comissão Presidencial para o Estudo de Assuntos Bioéticos,Transcrições, 8 de julho de 2010. Disponível online em:www.bioethics.gov/transcripts/syntheticbiology/070810/benefits-and-risks-of-synthetic-biology.html

280 “Possible Fix for Global Warming? Environmental EngineersUse Algae to Capture Carbon Dioxide”, Science Daily, Vídeocientífico, 1º de abril de 2007. Disponibilizado online em:www.sciencedaily.com/videos/2007/0407-possible_fix_for_global_warming.htm

281 Zach Patton, “States Test Algae as a Biofuel”, Governing, outubrode 2010. Disponibilizado online em:www.governing.com/topics/energy-env/states-test-algae-biofuel.html

282 Emil Jacobs, da Exxon Mobil, falando numa conferência paraimprensa promovida pela Synthetic Genomics Inc e pela ExxonMobil sobre Algas Sintéticas, 14 de julho de 2010, Torrey PinesMesa, San Diego, Califórnia.

283 J. Craig Venter, da Synthetic Genomics Inc., falando numaconferência para imprensa promovida pela Synthetic Genomics Ince pela ExxonMobil sobre Algas Sintéticas, 14 de julho de 2010,Torrey Pines Mesa, San Diego, Califórnia.

284 J. Craig Venter, declaração preparada ante o Comitê de Energia eComércio da Câmara de Deputados do Congresso dos EUA, 27 demaio de 2010.

285 Katie Fehrenbacher, “Investors Fuel Solazyme With $52M forAlgae”, GigaOm, 9 de agosto de 2010. Disponibilizado online em:http://gigaom.com/cleantech/investors-fuel-solazyme-with-52m-for-algae/

286 Sapphire Energy, “Top Industries Converge on SapphireEnergy’s Algae-Fuel Plans”, comunicado à imprensa, 5 de abril de2010.

287 Karin Kloosterman,“TransAlgae Seed a Need for Green Feed”,Green Prophet, 16 de maio de 2010. Disponibilizado online em:www.greenprophet.com/2010/05/transalgae-biofuel-algae-seed/

288 Ibid.289 Solicitação de patente US20090215179A1, Transgenicallypreventing establishment and spread of transgenic algae in naturalecosystems, John Dodds e associados, março de 2003.

290 Dana Hull, “Solazyme to announce Navy contract for algae-based fuel”, San Jose Mercury News, 15 de setembro de 2010.

291 Marc Gunther, “Gee whiz, algae!” The Energy Collective, 12 desetembro de 2010. Disponibilizado online em:http://theenergycollective.com/marcgunther/43293/gee-whiz-algae

292 Matthew L Wald, “Biotech Company to Patent Fuel-SecretingBacterium”, New York Times, 13 de setembro de 2010.

293 Joshua Kagan, “Valero Invests in Algenol: What’s Going On?”Greentech Media, 10 de maio de 2010. Disponibilizado online em:www.greentechmedia.com/articles/read/valero-invests-in-algenol/

294 http://www.cellana.com295 Pesquisa do Deutsche Bank estimou as vendas da indústriaquímica global em 2,3 trilhões de euros em 2007. Ver “Worldchemicals market asia gaining ground”, Deutsche Bank Research,28 de julho de 2008. Também, em 2007, a cotação do euro era emtorno de 1,3 dólares. A cifra inclui as vendas farmacêuticas.Estimativas do CEFIC desagregaram as vendas de químicos em2007 (excluindo farmacêuticos) em 1,82 trilhões de euros. Fonte:Conselho Europeu da Indústria Química. Disponibilizado onlineem: www.cefic.org/factsandfigures/level02/profile_index.html

Os novos senhores da biomassa 83

296 Herbert Danner e Rudolf Braun, “Biotechnology for theProduction of Commodity Chemicals from Biomass”, ChemicalSociety Review, 28: 395.405, 1999.

297 David Morris e Irshad Ahmed, op. cit.298 “U.S. Biobased Products, Market Potential and ProjectionsThrough 2025”, Office of the Chief Economist, Office of EnergyPolicy and New Uses, U.S. Department of Agriculture. Elaboradoem conjunto por Office of Energy Policy and New Uses, Centerfor Industrial Research and Service of Iowa State University,Informa Economics, Michigan Biotechnology Institute, e TheWindmill Group. OCE-2008-1, 293 pp. Disponível online em:www.usda.gov/oce/reports/energy/index.htm

299 “Amyris: Farnesene and the pursuit of value, valuations,validation and vroom”, Biofuels Digest, 25 de junho de 2010.Disponível online em:www.biofuelsdigest.com/biotech/2010/06/25/amyris-the-pursuit-of-value-valuations-and-validation/

300 “Amyris Enters into Multi-Producs Collaboration and Off-TakeAgreements with the Procter and Gamble Company”, comunicadoà imprensa da Amyris, 24 de junho de 2010.

301 “Amyris and M&G Finanziaria Enter into Off-Take Agreement”,comunicado à imprensa da Amyris, 24 de junho de 2010.

302 “Goodyear, Genencor Partner on True Green Tire Project”, TireReview, 1º de abril de 2010. Disponibilizado online em:www.tirereview.com/Article/72334/goodyear_genencor_partner_on_true_green_tire_project.aspx

303 Peg Zenk, “Biotech’s Third Wave”, Farm Industry News, 1º defevereiro de 2007. Disponível online em:http://farmindustrynews.com/biotechs-third-wave

304 Doris de Guzman, “DuPont Tate & Lyle expands bio-PDO”,ICIS Green Chemicals, 4 de maio de 2010. Disponível online em:www.icis.com/ blogs/green-chemicals/2010/05/dupont-tate-lyle-expands-bio-p.html

305 Ibid.306 Bioamber, Succinic Acid and its Industrial Applications, website.Disponibilizado em: www.bio-amber.com/succinic_acid.html

307 Al Greenwood, “Bio-succinic acid can beat petchems on price”,ICIS.com, 18 de fevereiro de 2010. Disponível online em:www.icis.com/Articles/2010/02/18/9336112/corrected-bio-succinic-acid-can-beat-petchems-on-price.html

308 “Myriant Technologies Receiving Funds under $50 MillionDOE Award for Succinic Acid Biorefinery Project”, comunicado àimprensa da Myriant Technologies, 7 de abril de 2010.

309 Plastemart.com, “Newer investments and developments inpolymers from renewable resources”, Disponibilizado online emwww.plastemart.com/upload/Literature/Newer-investments-and-developments-polymers-from-renewable-%20resources.asp

310 Will Beacham, “Algae-based bioplastics a fast-growing market”,ICIS, 18 de junho de 2010. Disponibilizado online emwww.icis.com/Articles/2010/06/21/9368969/algae-based-bioplastics-a-fast-growing-market.html

311 Douglas A. Smock, “Bioplastics: Technologies and GlobalMarkets”, BCC Research, setembro de 2010.

312 IBAW, “Highlights in Bioplastics”, Publicação da IBAW, janeirode 2005.

313 L. Shen, “Product Overview and Market Projection of EmergingBio-Based Plastics”, PRO-BIP 2009, Relatório Final, junho de2009.

314 Chandler Slavin, “Bio-based resin report!” Recyclable PackagingBlog, 19 de maio de 2010, Disponibilizado online emhttp://recyclablepackaging.wordpress.com/2010/05/19/bio-based-resin-report/

315 SustainablePlastics.org, “Will Bioplastics ContaminateConventional Plastics Recycling?” Disponibilizado online em:www.sustainableplastics.org/bioplastics/issues-with-recycling

316 L. Shen, op. cit.317 Jon Evans, “Bioplastics get Growing”, Plastics Engineering,fevereiro de 2010, www.4spe.org, p. 19

318 “Dow and Crystalsev Announce Plans to Make Polyethylenefrom Sugar Cane in Brazil” Comunicado à Imprensa da DowChemical, 19 de julho de 2007. Disponibilizado online emhttp://news.dow.com/dow_news/prodbus/2007/20070719a.htm

319 A estimativa de 8 milhões de toneladas é do Biofuels Digest,“Dow, Crystalsev in ethanol-to-polyethylene project in Brazil”,junho de 2008.. Disponibilizado online emwww.biofuelsdigest.com/blog2/2008/06/05/dowcrystalsev-in-ethanol-to-polyethylene-project-inbrazil/ A cana-de-açúcarbrasileira produz aproximadamente 86 toneladas/ha.

320 Susanne Retka Schill, “Braskem starts up ethanol-ethylene plant”,Ethanol Producer Magazine, 1º de outubro de 2010.

321 “New PlantBottle brings eco-friendly packaging to waterbrands”, Packaging Digest, 14 de maio de 2009. Disponível onlineem: www.packagingdigest.com/article/345481-Coca_Cola_Company_introduces_bioplastic_bottle.php

322 New 2010 Dirty Dozen Produce List Update Released by EWGWellsphere.com, 29 de abril de 2010. Disponibilizado online em:www.wellsphere.com/healthy-living-article/new-2010-dirty-dozen-produce-list-update-releasedby-ewg/1093286

323 GMO Compass, website online em: www.gmo-compass.org/eng/gmo/db/17.docu.html

324 Jerry W. Kram, “Metabolix grows plastic (producing) plants”,Biomass Magazine, outubro de 2008. Disponibilizado online emwww.biomassmagazine.com/article.jsp?article_id=2054

325 Sustainable Biomaterials Collective Bioplastics andNanotechnology Disponibilizado online emwww.sustainableplastics.org/bioplastics/bioplastics-and-nanotechnology

326 Jim Thomas, “Plastic Plants”, New Internationalist, Número 415.setembro de 2008. Disponibilizado online emwww.newint.org/features/2008/09/01/plastic-plants/

327 Sustainable Biomaterials Collaborative, Guidelines forSustainable Bioplastics Version 1.0 – maio de 2009.Disponibilizado online emwww.sustainablebiomaterials.org/index.php?q=bioplastics

Grupo ETC www.etcgroup.org

Grupo ETC Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração

O Grupo ETC é uma organizaçãointernacional da sociedade civil.Trabalhamos investigando os impactosambientais, sociais e econômicos relativos anovas tecnologias, em nível global e,particularmente, sobre povos indígenas,comunidades rurais e a biodiversidade.Investigamos a erosão ecológica (incluindo aerosão cultural e de direitos humanos), odesenvolvimento de novas tecnologias e monitoramosquestões de governança global incluindo a concentraçãocorporativa e o comércio em tecnologias. Operamos em nívelpolítico global e temos status consultivo junto a várias agênciase tratados da ONU. Trabalhamos com outras organizações dasociedade civil e movimentos sociais, especialmente na África,Ásia e América Latina. Temos escritórios no Canadá, EstadosUnidos, México e Filipinas.

Outras publicações do Grupo ETC sobre biologia sintética estãodisponíveis online:www.etcgroup.org/es/issues/synthetic-biology

Contato:431 Gilmour St, Second FloorOttawa, ON K2P 0R5, Canada Tel: 1-613-241-2267 (Zona Leste Americana)Email: [email protected]: www.etcgroup.org

BANG!Em 2008, o Grupo ETC e seus parceiros

organizaram um encontro internacional deativistas da sociedade civil em Montpellier,França, sob o título de BANG –significando a convergência de tecnologiasem nanoescala – especificamente, Bits,Átomos, Neurônios e Genes. No encontro,o Grupo ETC se comprometeu a prepararuma série de documentos sobre asprincipais novas tecnologias, os quais

poderiam auxiliar nossos parceiros e governosno Sul global a entender esses desenvolvimentos e

responder a eles. Este relatório é um desses estudos.

O conjunto total é:

Geopiratería: argumentos contra la geoingeniería (Communiqué 103)

Los nuevos amos de la biomasa: biología sintética y el próximoasalto a la biodiversidad(Communiqué 104)

¿Qué pasa con la nanotecnología? Regulación y geopolítica (Communiqué 105)

O Grupo ETC também concluiu um livro, BANG,descrevendo os impactos da convergência tecnológica nospróximos 25 anos. Enquanto o livro não é ficção científica, eleutiliza ficção para descrever quatro cenários diferentes para opróximo quarto de século. “BANG” foi publicado naAlemanha pela Oekom com o título de “NextBANG”.

O Grupo ETC pretende publicar todos esses relatórios em inglês,francês e espanhol.