sobrames-pe.webnode.com o que é arte? · 2018. 1. 7. · fone (8 1) 3423-0961 e-mail:...

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Casaca de Couro Casaca de Couro Boletim Sobrames Pernambuco Boletim Sobrames Pernambuco Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional de Pernambuco Fundada em 24 de fevereiro de 1972 Memorial da Medicina de Pernambuco Rua Amaury de Medeiros, 206, Derby, 52010-120 - Recife - PE Fone (81) 3423-0961 e-mail: [email protected] sobrames-pe.webnode.com ANO 15 Nº 169 JANEIRO 2018 O que é arte? Recentemente, denúncias de vilipêndio contra a religião cristã e incentivo à pedofilia e zoofilia resulta- ram no fechamento da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira . Houve repúdio e aplauso. De um lado, acusações de censura e incapacidade de aquilatar o que é arte; do outro, alegação de que não se tratava de arte e sim mera afronta aos bons princípios. Impôs-se este últi- mo ponto de vista, certamente por expressar a opi- nião da maioria, pois, de outra forma, o Banco San- tander não teria acatado o embargo; afinal de con- tas, sob o incentivo da Lei Rouanet, investiu oitocen- tos mil reais no evento. A polêmica instigou o interesse em saber o que é arte; entretanto, quem consultou o dicionário ou os sistemas de busca da internet deparou-se com sur- preendente dificuldade. Tal dificuldade, que vem apo- quentando os estudiosos do assunto há séculos, le- vou Benedetto Croce a acenar com a indefinição di- zendo que “arte é aquilo que todos sabem o que é”. A palavra arte vem do latim “ars”, que significa conhecimento técnico, habilidade. Em consequência, tudo que é feito por mentes habilidosas pode ser cha- mado de arte; temos, assim, a arte da medicina, a arte do direito etc. Quando a palavra é usada isoladamente, suben- tende-se referência às belas-artes, que, tradicional- mente, compreendiam literatura, música, dança, ar- quitetura, escultura e pintura, mas uma sétima arte, o cinema, foi acrescentada e, daí em diante, outras modalidades vêm-se juntando. O qualificativo “be- las” expressa o vínculo com a beleza que, durante muito tempo, esteve no cerne da definição de arte. Esse entendimento expandiu-se na segunda metade do século XIX quando se propalou que, na arte, não há finalidade educacional, política, moral ou qualquer outra que não seja produzir o belo. Tal conceito de “arte pela arte” tornou-se lema do Esteticismo e do Parnasianismo. Aos poucos, no entanto, inovações impuseram-se: Dadaísmo, Surre- alismo, Expressionismo e outros movimentos van- guardistas insurgiram-se e reformularam o conceito de arte. Marcel Duchamp destacou-se nesse cenário quando, cem anos atrás, inscreveu sua obra “Fonte” em uma exposição; era um urinol de porcelana bran- ca apresentado como “ready-made” (objeto pron- to), ou seja, transfiguração de um objeto do cotidia- no em arte. Além de não se submeter à tirania da beleza, o artista não era o criador do material expos- to: o urinol foi comprado pronto; sua conotação ar- tística viria de, nas condições em que foi exibido, evo- car um significado diferente do que existe na mente de quem precisa esvaziar a bexiga. “Será arte tudo que eu disser que é arte”, afirmou Duchamp, e a arte contemporânea passou a nutrir-se desse conceito. Mas a questão ainda se impõe: como distinguir o que é arte e o que não é? Para responder tal pergun- ta é comum que os “entendidos” apelem para Arthur Danto, dizendo que algo se torna arte quando é inse- rido no “mundo da arte” e que essa inserção é feita com base em conhecimentos de teoria artística e his- tória da arte. Sem possuir tal saber, o público leigo é compelido a aceitar tacitamente a decisão dos espe- cialistas em arte. Na prática, trata-se de uma atitude de risco, pois ninguém pode garantir que o parecer desses “iluminados” será conduzido com isenção. E existe muito dinheiro envolvido... A discussão há de prolongar-se indefinidamente: nunca haverá uma definição incontestável de arte. Como não tem cabimento valer-se do erário para bancar projetos que são mal vistos pelos pagadores de impostos, é hora de assumir com Croce que “arte é aquilo que todos sabem o que é”, possibilitando ao público decidir quem merece ser chamado de artista, pois, para tomar tal decisão, basta usar o mesmo conhecimento intuitivo que levou longínquos antepas- sados nossos a admirarem os bisões desenhados com ocre e carvão nas paredes da caverna de Altamira, caverna que está no entorno de uma cidade espa- nhola chamada Santander. Luiz Coutinho Dias Filho

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  • Casaca de CouroCasaca de CouroBoletim Sobrames PernambucoBoletim Sobrames Pernambuco

    Sociedade Brasileira de Médicos EscritoresRegional de PernambucoFundada em 24 de fevereiro de 1972

    Memorial da Medicina de PernambucoRua Amaury de Medeiros, 206, Derby, 52010-120 - Recife - PEFone (81) 3423-0961 e-mail: [email protected]

    sobrames-pe.webnode.comANO 15 Nº 169JANEIRO 2018

    O que é arte?Recentemente, denúncias de vilipêndio contra a

    religião cristã e incentivo à pedofilia e zoofilia resulta-ram no fechamento da exposição Queermuseu –Cartografias da Diferença na Arte Brasileira.Houve repúdio e aplauso. De um lado, acusações decensura e incapacidade de aquilatar o que é arte; dooutro, alegação de que não se tratava de arte e simmera afronta aos bons princípios. Impôs-se este últi-mo ponto de vista, certamente por expressar a opi-nião da maioria, pois, de outra forma, o Banco San-tander não teria acatado o embargo; afinal de con-tas, sob o incentivo da Lei Rouanet, investiu oitocen-tos mil reais no evento.

    A polêmica instigou o interesse em saber o que éarte; entretanto, quem consultou o dicionário ou ossistemas de busca da internet deparou-se com sur-preendente dificuldade. Tal dificuldade, que vem apo-quentando os estudiosos do assunto há séculos, le-vou Benedetto Croce a acenar com a indefinição di-zendo que “arte é aquilo que todos sabem o que é”.

    A palavra arte vem do latim “ars”, que significaconhecimento técnico, habilidade. Em consequência,tudo que é feito por mentes habilidosas pode ser cha-mado de arte; temos, assim, a arte da medicina, aarte do direito etc.

    Quando a palavra é usada isoladamente, suben-tende-se referência às belas-artes, que, tradicional-mente, compreendiam literatura, música, dança, ar-quitetura, escultura e pintura, mas uma sétima arte, ocinema, foi acrescentada e, daí em diante, outrasmodalidades vêm-se juntando. O qualificativo “be-las” expressa o vínculo com a beleza que, durantemuito tempo, esteve no cerne da definição de arte.Esse entendimento expandiu-se na segunda metadedo século XIX quando se propalou que, na arte, nãohá finalidade educacional, política, moral ou qualqueroutra que não seja produzir o belo.

    Tal conceito de “arte pela arte” tornou-se lemado Esteticismo e do Parnasianismo. Aos poucos, noentanto, inovações impuseram-se: Dadaísmo, Surre-alismo, Expressionismo e outros movimentos van-

    guardistas insurgiram-se e reformularam o conceitode arte.

    Marcel Duchamp destacou-se nesse cenárioquando, cem anos atrás, inscreveu sua obra “Fonte”em uma exposição; era um urinol de porcelana bran-ca apresentado como “ready-made” (objeto pron-to), ou seja, transfiguração de um objeto do cotidia-no em arte. Além de não se submeter à tirania dabeleza, o artista não era o criador do material expos-to: o urinol foi comprado pronto; sua conotação ar-tística viria de, nas condições em que foi exibido, evo-car um significado diferente do que existe na mentede quem precisa esvaziar a bexiga. “Será arte tudoque eu disser que é arte”, afirmou Duchamp, e a artecontemporânea passou a nutrir-se desse conceito.

    Mas a questão ainda se impõe: como distinguir oque é arte e o que não é? Para responder tal pergun-ta é comum que os “entendidos” apelem para ArthurDanto, dizendo que algo se torna arte quando é inse-rido no “mundo da arte” e que essa inserção é feitacom base em conhecimentos de teoria artística e his-tória da arte. Sem possuir tal saber, o público leigo écompelido a aceitar tacitamente a decisão dos espe-cialistas em arte. Na prática, trata-se de uma atitudede risco, pois ninguém pode garantir que o parecerdesses “iluminados” será conduzido com isenção. Eexiste muito dinheiro envolvido...

    A discussão há de prolongar-se indefinidamente:nunca haverá uma definição incontestável de arte.Como não tem cabimento valer-se do erário parabancar projetos que são mal vistos pelos pagadoresde impostos, é hora de assumir com Croce que “arteé aquilo que todos sabem o que é”, possibilitando aopúblico decidir quem merece ser chamado de artista,pois, para tomar tal decisão, basta usar o mesmoconhecimento intuitivo que levou longínquos antepas-sados nossos a admirarem os bisões desenhados comocre e carvão nas paredes da caverna de Altamira,caverna que está no entorno de uma cidade espa-nhola chamada Santander.

    Luiz Coutinho Dias Filho

    mailto:[email protected]

  • Sobrames-PE com nova diretoriaNo dia 2 de dezembro último, a Sobrames-PE realizou seu já tra-

    dicional almoço de confraternização, dessa vez nas dependências dorestaurante-livraria Cultura Nordestina.

    Como ocorre a cada dois anos, realizou-se naquele momento aposse da nova diretoria, que regerá a entidade no biênio 2018-2019,assim constituída:Presidente: Luiz Coutinho Dias Filho;Vice-presidente: Paulo Camelo de Andrade Almeida;Secretário: José Arlindo Gomes de Sá;Tesoureiro: Paulo Afonso Correia de Paiva;Diretor cultural: Cláudio Renato Pina Moreira.

    No momento, também foi empossado o conselho diretor.

    Luiz Coutinho, momentos antes da reunião deposse, em selfie com sua esposa Silvana.

    Entregues cestasdos funcionários

    A tradicional cesta dos funci-onários do Memorial da Medici-na, anualmente entreque pela So-brames, teve neste ano a presen-ça do novo presidente empossa-do Luiz Coutinho e sua esposa Sil-vana, juntamente com o ainda pre-sidente José Arlindo com Tânia.Presentes também Luiz Barreto eMariluce.

    Foto: Luiz Barreto

    Turma de 1968

    Nosso colega José Arlindoparticipou das comemorações de49 anos de formatura, juntamentecom seus colegas de turma. Oevento ocorreu em 8 de dezem-bro, sendo aqui registrada umafoto do seu acervo.

    Noventa anos deMário Guimarães

    No dia 15 de dezembro omédico sobramista Mário Vascon-celos Guimarães completou 90anos de existência.

    A Sobrames registrou seu ani-versário no número anterior de Ca-saca de Couro e agora vem cum-primentare parabe-nizar o no-nagenárioassociado,desejan-d o - l h emuita saú-de nosanos queainda es-tão por vir. Foto: Paulo Camelo

    Falas de despedida e posse. Fotos: Fátima Almeida

    Confraternização. F

    otos: Luiz B

    arreto

  • Sobrames-PE presente nadiretoria da UMEAL

    Na Assembleia Geral ocor-rida durante o XI Congresso daUmeal, na cidade de Macau, de1 a 4 de novembro, aconteceu aeleição de novos corpos geren-tes, tendo sido aprovada por acla-mação a seguinte constituição:

    Direção:- Presidente: Josyanne Rita Franco (SP - Brasil)- Vice-Presidentes:

    Maria José Leal (Portugal);Shee Vá (Portugal/Macau);João Schwalbach ( Moçambique)

    - 1º Secretário: Paulo Camelo (PE - Brasil)- 2ºSecretário: Júlio Pego (Portugal)- Tesoureiro: Luiz de Gonzaga Barreto (PE - Brasil)Assembleia Geral:- Presidente: Luísa Quintela (Portugal)- Vice-Presidente: José Maria Chaves (CE - Brasil)- Secretários: José Simões Fernandes (Portugal)

    Jorge Sales Marques (Macau)Conselho Fiscal:- Presidente: Filipe Matusse (Moçambique)- Vogais: Arlinda Frota (Portugal/Macau);

    Dulce Trindade (Macau);José Sampaio (Portugal);Rosiclélia Matuk (RJ - Brasil).

    Fonte: Boletim da SOPEAM Nº 86 Dezembro 2017

    Aniversariantes de janeiroO Casaca de Couro, parabenizando os escrito-

    res, principalmente os sobramistas, apresenta a listados aniversariantes do mês de janeiro, em que des-tacamos os seguintes:3 - Lucídio Oliveira4 - Charles Fonseca11- Ildo Simões Ramos13- Aída Dal Sasso Begliomini17- Esmeralda Moura Camacho18- Alvacir Raposo Filho19- Antonio Nunes

    Carlos Vieira Reis23- Gustavo Trindade Henriques

    Maria de Fátima Souza25- Zília Codeceira

    Maria Betania Andrade Lima27- Verônica Neri Freire.

    Sobramistas integram aAgenda do Poeta 2018

    Os sobramistasLuiz Coutinho e ZéliaMonte tiveram a satisfa-ção de ver seus escritospublicados, junto comos de outros autorescontemporâneos, na“Agenda do poeta2018”. O lançamentoocorreu dia 22 de de-zembro. Trata-se demais uma iniciativa daLivraria Cultura Nor-

    destina, edição de Salete Rego Barros, publicaçãoNovo Estilo, visando a divulgar a literatura regional.

    Paulo Camelo comemora os70 anos com dois livros

    O sobramista Paulo Camelo produziu dois livrospara distribuir como brinde nas comemorações deseus 70 anos. Trabalha, Adão, um cordel de crítica

    social ilustrado por Fábio Maia, e Foinuma segunda-feira, um poema au-tobiográfico, são livros no formatobolso, produções artesanais do au-tor.

    O lançamento ocorreu duranteas festividades de seu aniversário, nodia 22 de dezembro, às 20 horas, noBDay Recepções, concomitante comenvio pelos correios para muitos quenão estiveram presentes ao evento.

    Sem discursos ou performances poéticas, e aosom de músicas variadas executadas por Ricardo dosTeclados, o evento transcor-reu em clima ameno e festi-vo, com o público presentelimitado pelo espaço físico.

    Sendo produções espe-cíficas para as comemora-ções dos 70 anos do autor,com tiragem de 300 exem-plares de cada, a distribuiçãocontinuará a ocorrer até ex-tinção da edição.

  • EXPEDIENTEDIRETORIAPresidente:

    Luiz Coutinho Dias FilhoVice-presidente:

    Paulo Camelo de Andrade AlmeidaSecretário:

    José Arlindo Gomes de SáTesoureiro:

    Paulo Afonso Correia de PaivaDiretor Cultural:

    Cláudio Renato Pina Moreira

    CORPO REDATORIALPaulo Camelo de Andrade Almeida

    Luiz de Gonzaga Braga BarretoJosé Arlindo Gomes de Sá

    Luiz Coutinho Dias Filho

    EDITORAÇÃO ELETRÔNICAE IMPRESSÃO

    Paulo Camelo de Andrade Almeida

    Indicação de leituraCanto da Pedra do NavioJosé Arlindo iniciou o Século XXI com a publi-

    cação do livro “Canto da Pedra do Navio”, que tra-zia o subtítulo “Poema dos Navieiros”.

    Livro telúrico, como ocorre com as obras dosertanejo José Arlindo, traz o prefácio do tambémnavieiro Carlos Ferraz, que, em determinado momen-to, diz:

    “Sobressaem o lirismo, o romantismo, o bem-querer, a saudade e a crítica social de um alenta-do humanismo.”

    Destacamos, entre tantos, o poema

    Cantiga do vaqueiroVaqueiro sou, por destinoque a terra áspera amadureceuprovado no fel, chamado do sinodaqueles que a dor me deu.

    Vaqueiro sou, por destinoque muito longo é o meu passo,a força do vento que imaginome arrastando pro rio pelo braço.

    Vaqueiro sou, por destino,assim como a pedra do meu chãono carrascal deserto, o sol a pinona mais desafortunada solidão.

    Vaqueiro sou, por destinoque minha gente navieira reconheceucom uma prenda de ouro finoe uma oração que nunca se perdeu.

    Poeta do carrascal, José Arlindo tem publicadosoutros livros: “Recital do Sertão do Rio Pajeú”, Águas

    do Pajeú”, “Rochedo”, “O sopro do vento da Abada Serra”, “Andanças do Pajeú”.

    Pertencente ao quadro titular da Sobrames-PEdesde 1990, já fez parte de sua diretoria em váriosmandatos como secretário: 1992-1993, 1994-1997,2002-2003, além de presidente nos mandatos 2014-2017, retornando atualmente à função anterior de se-cretário.

    Referência bibliográficaSÁ, José Arlindo Gomes de – Canto da Pedra do

    Navio : Poema dos Navieiros. Coleção Tremdas Letras - Recife: CEPE, 2001. 138p.