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ISSN 1413-9006 Revista da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada - SOBAMA Editor-chefe Eliane Mauerberg-deCastro Editor-associado Verena Junghähnel Pedrinelli A revista da SOBAMA é um órgão de divulgação da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada (SOBAMA) . © Copyright 2003 Revista da SOBAMA ISSN 1413-9006 Volume 7 Número 1 Dezembro, 2002

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  • ISSN 1413-9006

    Revista da Sociedade Brasileira deAtividade Motora Adaptada - SOBAMA

    Editor-chefeEliane Mauerberg-deCastro

    Editor-associadoVerena Junghhnel Pedrinelli

    A revista da SOBAMA um rgo de divulgao da SociedadeBrasileira de Atividade Motora Adaptada (SOBAMA) .

    Copyright 2003 Revista da SOBAMA

    ISSN 1413-9006

    Volume 7 Nmero 1 Dezembro, 2002

  • ISSN 1413-9006

    Revista da SOBAMASociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada

    Volume 7 Nmero 1 Dezembro, 2002

    Pedro Amrico de Souza SobrinhoPresidente da SOBAMA

    Marco Tlio de MelloVice-Presidente da SOBAMA

    Mey de Abreu van MunsterSecretria Geral da SOBAMA

    Joslei Viana de Souza1a. Secretria

    Daniela Sanches MachadoTesoureira

    Silvio Soares Santos1a. Tesoureira

    Conselho Fiscal

    PresidenteFrancisco Camargo Netto

    MembrosJane Gonzalez

    Elisabeth de Mattos

    Suplentes Sonia Maria Ribeiro

    Carla Dants MacedoManoel da Cunha Costa

    Conselho ConsultivoKathya Augusta Thom Lopes

    Katia Euclydes de Lima e BorgesSidney de Carvalho Rosadas

    Jos Jlio Gavio de AlmeidaValria Manna Oliveira

  • ISSN 1413-9006

    Revista da SOBAMASociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada

    Volume 7 Nmero 1 Dezembro, 2002

    EditoraoEliane Mauerberg-deCastro, Doutora em CinciasDebra F. Campbell, Jornalista e Doutoranda em Comunicao

    ColaboraoCarolina PaioliTatiane Calve

    Apoio:UNESP/IB, Rio Claro

    A revista da SOBAMApublica trabalhos de profissionais e pesquisadores dediferentes reas como educao fsica e esportes, fisiote-rapia, educao especial, psicologia e outras cujos manus-critos tenham perfis direcionados atividade motoraadaptada ou pertinentes aos interesses dos leitores darevista da SOBAMA.

    Direitos AutoraisA revista da SOBAMA reserva os direitos autorais dosartigos aqui publicados. Qualquer reproduo parcial outotal destes est condicionada autorizao escrita doeditor da revista da SOBAMA.

    IndexadorA revista da SOBAMA est indexada na SIBRADID

    Encaminhamento de ManuscritosA remessa de manuscritos para publicao, bem comotoda e qualquer correspondncia dever ser feita para:Secretaria Geral:a/c Mey de Abreu van MunsterSecretria Geral da SobamaRua Guilherme Orlando Sabino, 111Residencial Samambaia, So Carlos, SP CEP: 13565-555e-mail: [email protected]

    ou diretamente com oEditor-chefe da Revista da SOBAMA

    Profa. Dra. Eliane Mauerberg-deCastroDepartamento de Educao Fsica, UNESPAv. 24-A, 1515, Bela VistaRio Claro, SP 13506-900Fone: (x19) 526-4160Fax: (x19) 534-0009e-mail: [email protected]

    visite:http://www.sobama.br

    PeriodicidadeAnual

  • ISSN 1413-9006

    Consultores

    Ademir Gebara - UNICAMP, CampinasAdriana Ins de Paula - UNESP, Presidente PrudenteAlberto Martins da Costa - UFU, UberlndiaAna Claudia Palla - University of Virginia, USAApolonio Abadio do Carmo - UFU, UberlndiaAdriana Ins de Paula - UNESP, Rio ClaroAfonso Antonio Machado - UNESP, Rio ClaroBenedito Srgio Denadai - UNESP, Rio ClaroCatia Mary Volp - UNESP, Rio ClaroClaudio Gobatto - UNESP, Rio ClaroCarolina Paioli - UNESP, Rio ClaroCtia Mary Volp - UNESP, Rio ClaroClia Rossi - UNESP, Rio ClaroCcero Campos - UNESP, Rio ClaroDartagnan Pinto Guedes - UEL, LondrinaEdison Duarte - UNICAMP, CampinasEdison de Jesus Manoel - USP, So PauloElaine Maria Pereira Pringolato - UFES, VitriaEliane Mauerberg-deCastro - UNESP, Rio ClaroElisabeth de Mattos - USP, So PauloFlorindo Stella - UNESP, Rio ClaroFrancisco Camargo - UFRGS, Porto AlegreGabriela Toloi - SUNY Cortland, USAGilberta Jannuzzi - UNICAMP, CampinasGisele Maria Schwartz - UNESP, Rio ClaroHeloisa Turini Bruhns - UNICAMP, CampinasIverson Ladewig - UFPR, CuritibaJos Angelo Barela - UNESP, Rio ClaroJos Franscisco Silva Dias - UFSM, Santa MariaJos Jlio Galvo de Almeida - UNICAMP, CampinasJuliana Schuller - UFMT, Cuiab

    Revista da SOBAMASociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada

    Volume 7 Nmero 1 Dezembro, 2002

    Jlio Romero Ferreira - UNIMEP, PiracicabaLuis Augusto Teixeira - USP, So PauloLuiz Alberto Lorenzetto - UNESP, Rio ClaroLilian T.B. Gobbi - UNESP, Rio ClaroLuzia Mara Silva Lima - FEFISA, Santo AndrLuzimar Teixeira - USP, So PauloMarcia V. Cozzani - UNESP, Rio ClaroMarcos Tlio de Melo - UNIFESP, So PauloMarkus Nahas - UFSC, FlorianpolisMaria Beatriz Rocha Ferreira - UNICAMP, CampinasMaria da Consolao Tavares - UNICAMP, CampinasMarli Nabeiro - UNESP, BauruMauro Betti - UNESP, BauruMey van Munster - UFSC, So CarlosOsvaldo Luiz Ferraz - USP, So PauloPaulo Emerique, UNESP, Rio ClaroRenato de Moraes - University of Waterloo, CanadRosemary Mauerberg de Castro - E. Anjo da Guarda, CuritibaRossana Valria de Souza e Silva - UFU, UberlndiaRuth Eugnia Cidade e Souza, UFPR, CuritibaSara Quenzer Matthiesen - UNESP, Rio ClaroSebastio Gobbi - UNESP, Rio ClaroSrgio Cunha - UNESP, Rio ClaroSrgio Tosi Rodrigues - UNESP, BauruSidney de Carvalho Rosadas, UFES, VitriaSilvana Maria Blascovi Assis - UNIP, SorocabaSonia Maria Toyoshima Lima - UEM, MaringTatiane Calve - UNESP, Rio ClaroVerena Junghhnel Pedrinelli - UCB, So PauloWagner de Campos - UFPR, Curitiba

  • ISSN 1413-9006

    Sumrio

    Relatos de Pesquisa

    Percepo-ao no desenvolvimento motor de crianas portadoras de Sndrome de DownPaula Fvaro PolastriJos Angelo Barela.................................................................................................................................. 1

    Potncia de Membros Superiores e Agilidade em Jogadores de Basquetebol em Cadeirade RodasMrcia Greguol GorgattiMaria Tereza Silveira Bhme.............................................................................................................. . 9

    Reviso da literatura

    Conceituao de Deficincia Visual na Literatura de Educao Fsica AdaptadaMey de Abreu van Munster ................................................................................................................. 15

    Reviso da literatura

    Paraolimpadas: Revisando a HistriaPatrcia Silvestre de FreitasRuth Eugnia Cidade ............................................................................................................................ 21

    Reviso da literatura

    Mulheres e Desporto Adaptado: Revisando as Recomendaes dos OrganismosInternacionaisRuth Eugnia CidadeMaria Beatriz Rocha Ferreira............................................................................................................... 27

    Reviso da literatura

    Realizaes e Perspectivas na rea de Atividade Fsica Adaptada e Contribuies darea do Comportamento MotorEliane Mauerberg-deCastro ................................................................................................................. 33

    Revista da SOBAMASociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada

    Volume 7 Nmero 1 Dezembro, 2002

  • ISSN 1413-9006

    Revista da SOBAMASociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada

    Volume 7 Nmero 1 Dezembro, 2002

    Ponto de Vista

    Proposta de avaliao visual em alunos com baixa viso nas aulas de educao fsicaCiro Winckler de Oliveira Filho.........................................................................................................41

    Autor convidado

    Educao Fsica Adaptada a Servio das Diferenas: Atual Panorama na Amrica do SulVerena Junghhnel Pedrinelli..........................................................................................................45

    Normas para Publicao da Revista da Sobama ................................................................................53

    Informaes sobre a Sociedade..................................................................................................... 59

  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 1-8

    Percepo-ao no desenvolvimento motor decrianas portadoras de sndrome de Down

    Entender como bebs e crianas adquirem e refinam as habi-lidades que fazem parte do repertrio motor e quais os as-pectos que provocam estas mudanas comportamentais tema central no estudo do desenvolvimento motor. Este en-tendimento torna-se ainda mais importante no caso de cri-anas portadoras de necessidades especiais pois possibili-ta a elaborao de programas de interveno melhores emais eficientes. Desta forma, o objetivo deste estudo foiapresentar um modelo terico sobre desenvolvimento mo-tor baseado em princpios dinmicos e alguns resultadosexperimentais de crianas portadoras de sndrome de Down(SD).

    Para que este objetivo fosse alcanado, inicialmente umabreve reviso foi apresentada sobre a viso maturacional dedesenvolvimento motor. Posteriormente, foram apresenta-dos e discutidos os principais pressupostos da viso din-mica de desenvolvimento motor e as implicaes destesprincpios para o entendimento do desenvolvimento motorde crianas com necessidades especiais. Finalmente, algunsresultados experimentais relacionados ao acoplamento en-

    Percepo-ao no desenvolvimento motorde crianas portadoras de

    Sndrome de Down

    Paula Fvaro PolastriJos Angelo Barela

    Universidade Estadual Paulista

    ResumoCompreender os mecanismos que norteiam o desenvolvimento motor da criana crucial para a elabora-o de programas mais eficientes de interveno voltados para populaes com necessidades especiais. O objeti-vo deste estudo foi discutir um modelo terico sobre desenvolvimento motor baseado em uma viso dinmica eapresentar alguns resultados experimentais que suportam este modelo em populaes especiais. Para isto, foramabordados e discutidos alguns princpios da viso dinmica de desenvolvimento motor e suas implicaes empopulaes especiais. Finalmente, resultados experimentais envolvendo crianas portadoras de sndrome de Downforam apresentados e discutidos para exemplificar e suportar esta viso.

    Palavras-chaves: Sistemas dinmicos, interveno, percepo e ao, sndrome de Down.

    AbstractPerception-action in motor development of Down syndrome children. Understanding the mechanismsthat underlie motor development in children is crucial to elaborate more efficient intervention programs for specialpopulations. The purpose of this study was to discuss a motor development theoretical model based on a dynamicalview and to present experimental results that support this model in special populations. Therefore, some of theprinciples of a dynamical view in motor development and their implications in special populations were discussed.Finally, experimental results regarding Down syndrome children were presented and discussed to support thisview.

    Keywords: Dynamical systems, intervention, perception and action, Down syndrome.

    tre informao sensorial e ao motora no controle posturalde crianas portadoras de SD e os efeitos da prtica nesteacoplamento foram utilizados para exemplificar e suportar aviso dinmica de desenvolvimento motor em populaesespeciais.

    Desenvolvimento motor: viso maturacional

    Tradicionalmente, a maturao do sistema nervoso foiconsiderada como o principal e, muitas vezes, o nico fatorresponsvel por provocar mudanas no comportamentomotor (e.g., Gesell, 1928; McGraw, 1945). A universalidade einvarincia da sequncia na aquisio dos principais mar-cos desenvolvimentais (e.g., sentar, engatinhar, ficar em p,andar, correr, etc.) influenciaram decisivamente para a ela-borao de explicaes maturacionais. Neste caso, a ocor-rncia e a similaridade na aquisio das habilidades motoras,principalmente nos primeiros anos de vida, observadas noprocesso desenvolvimental eram geneticamente definidas ea experincia adquirida pelas crianas tinha um papel se-cundrio no desenrolar do processo desenvolvimental(Gesell, 1928). At a dcada de 40, observaes e descries

  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 1-8

    P. F. Polastri & J. A. Barela

    detalhadas do aparecimento e refinamento dos principaismarcos motores de bebs e crianas foram realizadas. Estaviso, segundo Clark e Whitall (1989), influenciou a maioriados estudos da rea por um longo perodo seno, em algunscasos, at nos dias atuais (e.g. Foster, Sveistrup &Woollacott, 1996).

    Da mesma forma, a viso maturacional tambm foi utiliza-da para o entendimento do desenvolvimento motor de crian-as portadoras de necessidades especiais. Nestas popula-es, as crianas apresentam muitas vezes diferenas comrelao ao tempo de aquisio dos principais marcos moto-res quando comparadas crianas neurologicamente nor-mais (NN), embora demonstrem a mesma sequnciadesenvolvimental. Como exemplo, crianas portadoras desndrome de Down (SD) adquirem o sentar independente emmdia aos nove meses (amplitude de 6 a 16 meses) enquantoque crianas NN adquirem o sentar independente em mdiaaos sete meses (amplitude de 5 a 9 meses). Com relao aquisio do andar independente, crianas portadoras deSD adquirem o andar independente em mdia aos 19 meses(amplitude de 13 a 48 meses), enquanto que crianas NNandam em mdia aos 12 meses (amplitude de 9 e 17 meses)(Schwartzman, 1999). Ainda, em crianas portadoras de pa-ralisia cerebral, dependendo do seu grau de comprometi-mento, a aquisio do andar independente ocorre por voltados 24 meses (Sherril, 1998).

    Na viso maturacional, esta demora na aquisio dosmarcos motores atribuda s alteraes do sistema nervo-so refletindo-se na impossibilidade de produzir e controlarativaes musculares apropriadas para a realizao dos mo-vimentos. Embora no se possa negar o importante papel damaturao do sistema nervoso no desenvolvimento motordas crianas e as consequncias quando este sistema estalterado pela ocorrncia de algum trauma, paralisia ou ano-malia, ser que a diferena no curso e na velocidade do de-senvolvimento motor de populaes especiais com relao populao NN estaria unicamente associada maturaodeste sistema? Ser que estas diferenas no poderiam serminimizadas atravs de experincia e/ou interveno?

    Recentemente, Ulrich, Ulrich, Angulo-Kinzler e Yun (2001)demonstraram que interveno apropriada pode antecipar aaquisio do andar independente em crianas portadoras deSD. Neste caso, a aquisio do andar independente nestascrianas foi estimulada atravs da utilizao de um progra-ma de interveno em esteira motorizada. As crianas queparticiparam do programa de interveno adquiriram o an-dar independente em mdia trs meses e meio antes daque-las que no participaram do programa de interveno. Combase nestes resultados, a supremacia da maturao do sis-tema nervoso e, ainda, o papel da experincia (interveno),no curso desenvolvimental, necessitam ser revistos.

    Desenvolvimento motor: viso dinmica

    A viso dinmica aplicada ao comportamento motor foifortemente influenciada pelas idias e questionamentos le-

    vantados por Bernstein (1967) e Gibson (1979). De formageral, estes dois pesquisadores indicaram que comporta-mento motor deve ser entendido a partir de princpios din-micos e que o meio no qual o comportamento ocorre deveser levado em considerao, pois este meio, invariavelmen-te, influencia este comportamento (para uma reviso maisdetalhada ver Barela, 2001).

    Especificamente sobre o desenvolvimento motor, a vi-so dinmica indicou que mudanas comportamentais queocorrem ao longo do processo desenvolvimental necessi-tam ser entendidas a partir da interao de vrios fatores. Arealizao de qualquer comportamento motor fruto dainterao de fatores inerentes ao organismo e ao meio-ambi-ente e mudanas no comportamento motor foram entendi-das como decorrentes de mudanas no conjunto destes fa-tores (Clark, 1994). Newell (1986) melhor definiu estes fato-res denominando-os de restries e classificando-os em trscategorias: restries relacionadas ao organismo, restriesrelacionadas ao ambiente e restries relacionadas tarefaa ser realizada.

    As restries relacionadas ao organismo envolvem osfatores fsicos, psicolgicos e cognitivos do indivduo. Nocaso de um indivduo em desenvolvimento, estes fatoresesto constantemente mudando ao longo do ciclo vital enecessitam ser levados em considerao na anlise do com-portamento motor. As restries relacionadas ao ambienteenvolvem tanto os aspectos fsicos (e.g., fora da gravida-de, clima, iluminao e localizao) quanto scio-culturaisdeste ambiente (e.g., oportunidades para prtica de ativida-des, esportes preferidos na sociedade, etc.). Finalmente, asrestries relacionadas tarefa envolvem caractersticasespaciais, temporais e estruturais especficas da tarefa a serrealizada (p, ex., chute ao gol apresenta uma sequnciamotora diferente da tarefa de arremessar uma bola ao gol). Apartir desta viso, a maturao do sistema nervoso foi con-siderada como uma importante restrio orgnica, influenci-ando e limitando as mudanas comportamentais, mas nocomo o nico fator capaz de causar essas mudanas.

    Como salientado anteriormente, mudanas no comporta-mento motor so decorrentes de mudanas no conjunto derestries. Desta forma, embora populaes especiais apre-sentem diferentes restries relacionadas ao organismo,podendo ser tanto fsicas quanto mentais, as demais restri-es relacionadas ao ambiente e tarefa poderiam ser mani-puladas para promover e facilitar o aparecimento de com-portamentos motores desejados nestas crianas, tendo emvista que estas seriam as restries mais fceis e diretamen-te manipuladas (Barela, 1997) atravs de uma interveno.

    A aplicao deste princpio dinmico pode serexemplificada atravs de experimentos com esteiras rolantesmotorizadas utilizadas para promover o aparecimento depassadas alternadas do andar em crianas portadoras de SD(Ulrich, Ulrich & Collier, 1992) ou paralisia cerebral (Ferreira& Barela, 2001). Mais ainda, Ulrich et al. (2001) demonstra-ram que crianas portadoras de SD submetidas interven-o prolongada neste tipo de esteira, praticando as passa-das alternadas, adquiriram o andar independente mais cedo

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  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 1-8

    Percepo-Ao no Desenvolvimento Motor

    do que em crianas que no haviam sido submetidas a estainterveno. A colocao da criana na esteira (restrio datarefa) foi utilizada como um instrumento facilitador, pro-vocando o aparecimento das passadas nessas crianas(Ferreira & Barela, 2001) e levando, quando a intervenofoi apropriada, aquisio de um novo comportamento mo-tor (Ulrich et al., 2001).

    Desta forma, dever-se-ia levar em considerao que amanipulao de caractersticas da tarefa a ser realizada po-deria ser uma importante estratgia de interveno a ser uti-lizado por pais e profissionais. Manipulaes na tarefa po-dem auxiliar e propiciar condies para que as crianas, me-diante restries no seu organismo, possam manifestar com-portamentos motores desejados com o objetivo de alcanarseu pleno desenvolvimento.

    Princpio de explorao-seleo

    Thelen (1995), alm de assumir a viso multicausal ondeo comportamento fruto do conjunto de restries, propsque mudanas neste conjunto de restries e, conseqente-mente, mudanas desenvolvimentais podem ser entendidasatravs do princpio de explorao-seleo.

    Para que ocorra a aquisio e refinamento de um novocomportamento motor, a criana deve descobrir novas solu-es motoras frente s restries relacionadas ao organis-mo, ao ambiente e tarefa. Segundo Thelen (1995), a desco-berta de novas solues motoras envolve, inicialmente, aidentificao das possveis configuraes e relaes dossegmentos corporais no contexto ambiental necessrios pararealizar a tarefa desejada. Por exemplo, na aquisio do sen-tar independente, os bebs devem explorar as novas rela-es entre os segmentos corporais e descobrir as forasnecessrias para manter o tronco alinhado na posio eretae sobre a base de suporte constituda pelo quadril frente sdemandas do ambiente (e.g., fora da gravidade).

    Durante a explorao das possveis configuraes cor-porais, o beb vai selecionando aquelas que tm se mostra-do mais eficientes frente o objetivo de permanecer, por exem-plo, sentado. Desta forma, as solues motoras mais efici-entes so repetidas mais freqentemente e so, ento, pre-feridas em relao a outras solues (Thelen, 1995).

    Essa noo de explorao-seleo traz implcita uma es-treita e dinmica relao entre percepo-ao. Informaessensoriais (e.g. visual, vestibular e somatosensorial) soutilizadas para indicar o relacionamento dinmico entre aposio dos segmentos corporais, a relao de cada um dossegmentos com os demais e a posio do corpo em relaoao ambiente desejado (Horak & MacPherson, 1996) e, nestecaso, as consequncias motoras das aes realizadas pelosbebs no ambiente. Ao explorar as relaes estabelecidasentre as foras internas e externas e as consequncias desuas aes atravs de ciclos contnuos entre percepo eao, os bebs buscam um relacionamento coerente e est-vel entre as informaes sensoriais e a ao motora para amanuteno da posio sentada.

    Nesta viso, o processo desenvolvimental guiado di-namicamente no sentido de que o beb ou a criana partici-pa ativamente das mudanas no seu repertrio motor, pro-vocando movimentos que lhe possibilite vivenciar diferen-tes situaes percepto-motoras e selecionar as mais ade-quadas. Desta forma, esta participao ativa no processopropicia que um novo mapeamento coerente entre percep-o e ao venha a ser descoberto, executando de maneirafuncional a nova tarefa. Ainda, as aquisies destes novoscomportamentos esto diretamente relacionadas motiva-o da criana em realizar uma determinada ao motora (e.g.,alcanar um brinquedo). Assim, a tarefa passa a constituiruma das razes para que ocorram mudanas no repertriomotor da prpria criana (Thelen, 1995).

    Os princpios dinmicos de explorao e seleo podemser exemplificados no estudo de Angulo-Kinzler e Horn(2001) que observaram bebs NN de trs meses de idade, naposio supina, que tiveram os movimentos de suas pernasmonitorados e indiretamente acoplados a um mbile. Embo-ra os bebs apresentassem, preferencialmente, movimentosde pernas amplos, eles aprenderam que flexionando a pernaem uma determinada posio, movimentos e sons no mbilevinham a ocorrer. Sendo assim, estimulados por esta tarefaque provocava movimentaes no mbile, os bebs explo-raram as informaes sensoriais fornecidas pelasconsequncias de movimento naquela situao e seleciona-ram as configuraes apropriadas s demandas da tarefa.Ainda, interessante notar neste estudo que quando estesbebs foram submetidos sesses de prtica e reteno,eles continuaram a movimentar suas pernas a fim de produ-zir movimentos no mbile. Contudo, demonstraram movi-mentos menores do que aqueles preferidos inicialmente.Desta forma, atravs do processo de explorao, estes be-bs encontraram e selecionaram uma soluo motora maiseficiente para responder s demandas da tarefa.

    Procurando verificar estes princpios de explorao eseleo em populaes especiais so apresentados, a se-guir, alguns resultados do relacionamento entre informaosensorial e ao motora em crianas portadoras de SD.

    Percepo-ao em crianas portadoras de SD

    Como mencionado anteriormente, crianas portadoras deSD demoram um tempo maior para adquirir os principaismarcos motores quando comparadas a crianas NN. A per-gunta que surge se esta demora na aquisio, tendo porbase pressupostos de uma viso dinmica de desenvolvi-mento, no poderia estar associada diferenas noacoplamento entre informao sensorial e ao motora? Serque crianas portadoras de SD apresentariam acoplamentoentre informao sensorial e ao motora similar ao obser-vado em crianas NN?

    Para responder estas perguntas um estudo foi recente-mente realizado (Polastri, 2002) e alguns resultados so apre-sentados a seguir. Neste estudo, crianas portadoras de SDcom nveis diferenciados de experincia no sentar indepen-

    3

  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 1-8

    P. F. Polastri & J. A. Barela

    dente foram divididas em dois grupos: novatas, com mdiade idade de 12,2 meses ( 3,11) e 1,6 meses de experincia nosentar ( 0,89) e experientes, com mdia de idade de 17 me-ses ( 2,12) e 7,2 meses de experincia nesta posio (3,03).Todas estas crianas foram colocadas na posio sentadadentro de uma sala mvel (Figura 1) que foi movimentada deforma contnua para frente e para trs, nas freqncias de0,2 e 0,5 Hz.

    A utilizao deste paradigma possibilita verificar o rela-cionamento entre informao sensorial e ao motora, ouseja, o ciclo percepo-ao. Neste paradigma, a sala mvelproduz uma situao em que a manipulao da informaovisual, atravs da movimentao das paredes da mesma, pro-voca percepo ilusria de movimentao corporal nestascrianas que, conseqentemente, leva oscilao corporalcorrespondente.

    4

    Figura 1. Figuras da situao experimental nos planos frontal (a) e lateral (b), com uma criana posicionada dentro da salamvel, e com um experimentador na abertura, da parede do fundo da sala, mostrando objetos e figuras infantis.

    indica a fora do relacionamento entre o movimento da salae as variaes da oscilao corporal das crianas nasfrequncias que a sala foi movimentada (0,2 e 0,5 Hz). Oganho a razo entre a amplitude do espectro do movimen-to da sala e a amplitude do espectro da oscilao corporal,tambm calculado nas frequncias que a sala foi movimen-tada. Valores de ganho prximos 1 indicam que a amplitudede oscilaes corporais das crianas apresentam a mesmamagnitude da amplitude de movimento da sala. Valores mai-ores ou menores que 1 indicam amplitude de oscilao cor-poral maiores ou menores, respectivamente, que a magnitu-de de amplitude de movimento da sala.

    Com base nestes resultados verificou-se que a experin-cia em realizar uma determinada ao motora interfere noacoplamento entre informao sensorial e atividade motoraem crianas portadoras de SD. Neste caso, mais experincia

    Quando expostas situao experimental da sala mvel,crianas portadoras de SD acoplaram informao visual,demonstrando oscilaes corporais correspondentes ao mo-vimento da sala tanto quando a sala movimentou na fre-qncia de 0,2 Hz quanto na freqncia de 0,5 Hz. Esta influ-ncia da sala mvel observada na oscilao corporal de cri-anas portadoras de SD tambm foi verificada em bebs NN(Barela, Godoi, Freitas Jnior & Polastri, 2000; Barela, FreitasJnior, Godoi & Polastri, 2001), crianas NN (Barela, Godoi,Freitas Jnior & Polastri, 2001), adultos NN e idosos NN(Polastri, Barela & Barela, 2001) submetidos mesma situa-o experimental. A Figura 2 apresenta exemplos desta in-fluncia da movimentao da sala mvel na oscilao cor-poral de uma criana novata, na freqncia de 0,2 e 0,5 Hz(Figuras 2a e 2b), ao longo de uma tentativa. Verifica-se queas caractersticas da oscilao corporal dessa criana foraminfluenciadas pelo movimento da sala, apresentando padresdiferenciados nas duas freqncias de movimento da mes-ma (0,2 e 0,5 Hz).

    Embora o estmulo visual tenha influenciado a oscilaocorporal de ambos os grupos, esses resultados indicaramque a natureza do acoplamento entre informao sensorial eao motora foi diferente de acordo com a experincia nosentar apresentada pelos dois grupos. Com mais experin-cia na posio sentada, o acoplamento entre informao vi-sual e oscilao corporal foi mais forte, sendo indicado porvalores maiores de coerncia e ganho (Figura 3, valores cor-respondentes a primeira sesso). A medida de coerncia1

    1 A coerncia definida como:

    )()(

    2)(

    yyPxxPxyPMCQ =

    MCQ um nmero real entre 0 e 1, onde Pxy(w) a correlaoentre os sinais x(t) e y(t),Pxx(w) e Pyy(w) so auto-correlaesde x(t) e y(t), respectivamente,calculados a uma dada freqn-cia, .

  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 1-8

    Percepo-Ao no Desenvolvimento Motor

    5

    no sentar independente refletiu-se em um acoplamento maisforte entre informao visual e oscilao corporal nestascrianas, enquanto que menos experincia nesta posiolevou a um acoplamento mais fraco.

    De forma geral, estes resultados indicaram que crianasportadoras de SD apresentam um acoplamento sensrio-motor quando submetidas estimulao da sala mvel. Ain-da, quando comparados aos resultados observados em ou-tros estudos (Barela et al., 2000; Barela, Freitas Jnior et al.,

    2001) crianas portadoras de SD apresentam um acoplamentosimilar ao observado em populaes NN. Contudo, esteacoplamento entre informao sensorial e ao motora emcrianas portadoras de SD mostrou-se diferente frente sdiferentes experincias que estas crianas haviam tido naposio sentada. Ento, prtica parece ser um fatordeterminante para a aquisio e refinamento de umacoplamento coerente e estvel entre informao sensoriale ao motora tambm em crianas portadoras de SD.

    Figura 2. Exemplos da movimentao da sala e oscilao corporal de uma criana portadora de SD, na direo ntero-posterior,ao longo de uma tentativa, quando a sala foi movimentada na freqncia de 0,2 Hz e 0,5 Hz. Nota: A linha clara correspondeao movimento da sala e linha escura oscilao corporal.

    Tendo em vista a preocupao de buscar subsdios quepossam influenciar na elaborao de programas de inter-veno mais adequados a populaes especiais verificou-se, tambm, quais seriam os efeitos da prtica sobre oacoplamento entre informao sensorial e ao motora emcrianas portadoras de SD. Sendo assim, as mesmas crian-as portadoras de SD foram submetidas situao experi-mental da sala mvel por mais seis dias consecutivos,totalizando sete dias de prtica.

    Mesmo depois de submetidas estimulao prolongadaao estmulo visual, as oscilaes corporais das crianasportadoras de SD, novatas e experientes no sentar indepen-dente, foram induzidas pelo movimento da sala em ambasfrequncias (0,2 e 0,5 Hz). Resultados similares foram obser-vados em bebs NN de sete meses de idade submetidos ssesses de prtica na sala mvel (Barela, Freitas Jnior etal., 2001).

    Mais interessante, entretanto, foi que os efeitos da pr-

    tica no acoplamento entre informao visual e oscilaocorporal em crianas portadoras de SD foram diferentes deacordo com o nvel de experincia no sentar independente.Os resultados indicaram que crianas experientes no sentarindependente apresentaram um enfraquecimento noacoplamento entre informao visual e oscilao corporal,enquanto que as crianas novatas apresentaram um fortale-cimento deste relacionamento. Estes resultados podem serverificados na Figura 3 comparando os valores de coernciae ganho entre o movimento da sala e a oscilao corporal deambos os grupos, nas duas freqncias de estmulo (0,2 e0,5 Hz) ao longo das sesses de prtica. importante apon-tar que o comportamento observado nos resultados das cri-anas experientes deste estudo foi similar quele verificadopara os bebs NN de sete meses de idade do estudo deBarela, Freitas Jnior et al. (2001), que tinham experincia naposio sentada de at 1,5 meses.

    Uma possvel explicao para o enfraquecimento entre

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    P. F. Polastri & J. A. Barela

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    informao visual e oscilao corporal, aps um perodo deprtica, seria que a sala mvel provoca uma situao ilus-ria e conflitante que as crianas conseguiram identificar. Nasituao da sala mvel, o estmulo visual fornece a informa-o errnea de oscilao corporal, desencadeando oscila-o corporal acompanhando o movimento da sala. Com aexposio contnua a esta situao, pode ter ocorrido que

    as crianas portadoras de SD experientes no sentar inde-pendente, com base em outras informaes sensoriais, con-seguiram discriminar a incoerncia da informao visual pro-duzida por esta situao ilusria. Esta discriminao podeter ocorrido, pois estas crianas j tinham um mapeamentosensrio-motor coerente e, assim, puderam discriminar cor-retamente a informao ilusria provocada pela sala mvel.

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    Primeira Quarta Stima

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    Primeira Quarta Stima

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    c)

    d)b)

    a)

    Figura 3. Valores de coerncia e ganho entre as oscilaes corporais dos grupos de crianas novatas (a e b) e experientes (ce d) no sentar independente e o movimento da sala nas duas freqncias (0,2 e 0,5 Hz) e nas trs sesses de prtica.

    Contrariamente, no caso das crianas novatas, elas ain-da estavam explorando e buscando um relacionamento maiscoerente e estvel entre as informaes sensoriais e as osci-laes do tronco. Desta forma, quando expostas situaoda sala mvel, essas crianas no conseguiram resolver oconflito entre as informaes sensoriais e discriminar as in-formaes relevantes para a manuteno da posio senta-da. Ainda, a prtica nesta situao promoveu um fortaleci-mento no acoplamento, mesmo que incorreto, entre as infor-maes visuais e suas oscilaes corporais.

    Com base nestes resultados, pode-se salientar dois as-pectos importantes. Primeiro, a experincia tem papel crucialno desenvolvimento do acoplamento entre informao sen-sorial e ao motora em crianas portadoras de SD. Neste

    caso, experincia constitui uma possibilidade nica na bus-ca de novos mapeamentos sensrio-motores atravs da iden-tificao de acoplamentos coerentes entre informao sen-sorial relevante e ao motora, conseqentemente, aquisi-o de novos comportamentos motores. Segundo, experin-cia fundamental para o refinamento dos comportamentosmotores j adquiridos. Neste caso, experincia possibilita ofortalecimento do acoplamento entre informao sensorialrelevante e a ao motora, tornando este acoplamento maisestvel.

    Sendo o acoplamento entre informao sensorial e aomotora de crianas portadoras de SD similar ao de popula-es NN, qual seria a causa para as diferenasdesenvolvimentais? Uma possvel causa poderia estar rela-

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    Percepo-Ao no Desenvolvimento Motor

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    cionada s dificuldades dessas crianas em explorar o ambi-ente e selecionar configuraes funcionais para interagir como mesmo. Desta forma, as crianas portadoras de SD neces-sitariam de um tempo maior para o mapeamento sensrio-motor decorrente dos processos de explorao e seleo.

    Pensando de forma mais generalizada, a maioria das po-pulaes especiais apresenta um repertrio motor reduzido,caracterizado por comportamentos estereotipados e rgidos(Sherril, 1998; Schwartzman, 1999). Estas diferenas poderi-am dificultar que estes bebs e crianas interagissem com omeio ambiente. Sendo assim, a possibilidade destes bebs ecrianas em explorar seus movimentos no ambiente estariareduzida e no teriam as mesmas oportunidades em alcanarum relacionamento coerente e estvel entre informao sen-sorial e a ao motora frente s demandas do ambiente. Maisainda, estes bebs e crianas no conseguiriam avanar nocurso desenvolvimental com a mesma velocidade, pois oprocesso de seleo de novos comportamentos motoresestaria tambm sendo influenciado.

    Nesta viso, interveno assume um papel importante epassa a ser um instrumento valioso para minimizar estas di-ficuldades. Interveno preencheria a lacuna deixada pelafalta de explorao dos movimentos que populaes especi-ais apresentam. Interveno deveria, assim, ser direcionadapara promover a experincia e prtica dos movimentos a se-rem incorporados no repertrio motor, pois atravs de ciclosrepetitivos promoveria o mapeamento sensrio-motor ine-rente realizao da ao motora a ser adquirida. Neste sen-tido, pais e profissionais devem, o mais precocemente pos-svel, estimular e intervir continuamente no desenvolvimen-to motor desses bebs e crianas. Esta estimulao e inter-veno potencialmente minimizariam as dificuldades encon-tradas por essas populaes levando, desta forma, aquisi-o de novos comportamentos motores a fim de auxiliar nopleno desenvolvimento destes indivduos.

    Finalmente, crianas com necessidades especiais deve-riam ser expostas a um ambiente rico em possibilidades demovimentos em que esses bebs e crianas possam, pelomaior tempo possvel, explorar novas possibilidades frentea um conjunto variado de tarefas. Contudo, como eles po-dem estar tendo dificuldades em explorar o ambiente, o pa-pel de pais e profissionais deve, alm de proporcionar esteambiente, ser o de auxiliar nesta explorao e seleo dosmovimentos tanto no sentido de encorajar e motivar essesbebs e crianas. Ainda, mostrar o significado e a importn-cia de se realizar movimentos (por ex., de ficar em p e andarao invs de somente engatinhar para alcanar um brinque-do) e oferecer recursos que minimizem as restries para oaparecimento dos marcos motores (por ex., esteiras motori-zadas). Conseqentemente, pais e profissionais estariam aju-dando esses bebs e crianas a discriminar as informaesrelevantes para a realizao dos movimentos frente s de-mandas do ambiente e da tarefa e, desta forma, a encon-trar um acoplamento coerente e estvel entre as informa-es sensoriais e suas aes motoras.

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    Nota do Autor

    Paula Fvaro Polastri mestre em Cincias da Motricidadepelo Instituto de Biocincias da UNESP de Rio Claro. JosAngelo Barela professor assistente doutor do Departa-mento de Educao Fsica no Instituto de Biocincias daUNESP de Rio Claro.Agradecimentos:FAPESP Bolsa de mestrado (processo #00/02155-1)FAPESP Jovem Pesquisador (processo #97/06137-3)

    Endereo:Paula Fvaro PolastriLaboratrio para Estudos do Movimento (LEM)Departamento de Educao Fsica, IB, UNESP/RC.Av. 24-A, n. 1515, Rio Claro, SP 13506-900Fone: (19) 526-4160Fax: 534-0009E-mail: [email protected]

    Manuscrito submetido em maio de 2002Manuscrito aceito em novembro de 2002

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    Potncia de Membros Superiores e Agilidadeem Jogadores de Basquetebol em

    Cadeira de Rodas

    Mrcia Greguol GorgattiUniversidade Paulista

    Maria Tereza Silveira BhmeUniversidade de So Paulo

    ResumoO objetivo deste trabalho foi verificar os valores de potncia de membros superiores e agilidade emindivduos atletas (n = 10) e sedentrios (n = 10), usurios de cadeira de rodas. Para tanto, vinte indivduos comleso medular completa entre T10 e L4, com idades entre 21 e 35 anos, foram submetidos a uma avaliao isocinticade flexo e extenso de cotovelo. O objetivo foi, a velocidades angulares de 60/s, 180/s e 240/s, avaliar torque,trabalho e potncia mxima exercida na extenso do cotovelo. Tambm foi executado um teste de arremesso comuma medicineball de 3 kg, a fim de se verificar a potncia de membros superiores. Por fim, foi executado o testede agilidade em zigue-zague em cadeira de rodas. Os resultados indicaram que o grupo dos atletas apresentouvalores de potncia estimada, torque, trabalho e agilidade significativamente maiores do que os indivduos seden-trios (P

  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 9-14

    M. G. Gorgatti & M. T. S. Bhme

    ses subdesenvolvidos, portadores de seqelas de poliomie-lite.

    Por tratar-se de uma modalidade que exige grande velo-cidade de deslocamento por parte dos atletas nas cadeirasde rodas, associada a mudanas rpidas de direo, o bas-quete sobre rodas requer, alm de agilidade, um bom nvelde fora rpida (potncia) de membros superiores, especial-mente da musculatura especfica envolvida na propulso emcadeira de rodas (Winnick, 1995).

    Barbanti (1996), Mathews (1980) e Sale (1991) definem apotncia muscular como a capacidade motora onde se bus-ca realizar o mximo de fora no menor tempo possvel. Da,como destaca Sharkey (1990), a potncia envolve tanto for-a quanto velocidade, sendo essencial em muitos esportes.A potncia dos membros superiores, associada habilidadedo atleta de transferi-la para situaes esportivas especfi-cas, determinante para o xito competitivo e, portanto, deveser alvo de estudos mais aprofundados. J a agilidade definida por Costello e Kreis (1993) como a capacidadecoordenativa de mudar de direo sem perda de velocidade,fora, equilbrio ou controle do corpo.

    A rea do esporte adaptado ao portador de deficinciafsica muito recente e apenas nos ltimos anos algunspesquisadores tm demonstrado interesse em estudar asbases cientficas do treinamento desses atletas e suas impli-caes biomecnicas e fisiolgicas (Goosey, Campbell &Fowler, 2000). Muitos indivduos portadores de paraplegiano tm conscincia ainda dos inmeros benefcios que aatividade fsica e/ou esportiva regular podem trazer s suasvidas. Estas atividades so pouco divulgadas e muitos indi-vduos portadores de deficincia no acreditam que sejamcapazes de execut-las.

    Dessa forma, o objetivo desse estudo foi avaliar a potn-cia de membros superiores e a agilidade de indivduos por-tadores de deficincia, ambos atletas de basquetebol emcadeira de rodas e sedentrios. Ainda, comparar os resulta-dos obtidos por ambos os grupos, correlacionar os resulta-dos obtidos nos testes de potncia muscular e agilidade einferir se de fato o treinamento esportivo em cadeira de ro-das pode implementar essas capacidades motoras.

    Mtodo

    Para o presente estudo foi avaliada uma amostra com-posta de 20 indivduos lesados medulares, com nveis deleso completa variando da dcima vrtebra torcica at aquarta lombar, idades entre os 21 e 35 anos e pelo menos 1ano de leso. Do total dos indivduos da amostra, 10 eramatletas de basquetebol em cadeira de rodas e 10 eram seden-trios.

    Os indivduos foram classificados em dois grupos: G1 =atletas de basquetebol em cadeira de rodas com pelo menos1 ano de experincia prtica e competitiva na modalidade(n=10); G2 = indivduos sedentrios que no realizavam ati-vidade fsica regular a pelo menos 3 anos (n=10). No casodos jogadores de basquetebol em cadeira do rodas, estes

    faziam parte das principais equipes paulistas da primeira di-viso que disputavam campeonatos nacionais da modalida-de.

    A fim de se estimar a potncia exercida pelos membrossuperiores dos sujeitos da amostra, foi realizada uma avalia-o isocintica de flexo e extenso de cotovelo, utilizando-se um dinammetro isocintico tipo NORMA, localizado naclnica de fisioterapia da Universidade da Cidade de SoPaulo. O grupo muscular principal que foi avaliado foi o dosextensores do cotovelo (trceps), por ser este muitoparticipativo na propulso em cadeira de rodas (Souza, 1994).Alm deste procedimento, para se estimar a potncia dosmembros superiores tambm foi realizado um teste de arre-messo de medicineball, utilizando-se uma bola de 3 kg.Para verificar a agilidade em cadeira de rodas, foi utilizadauma adaptao do teste em zigue-zague do Texas FitnessTest.

    Avaliao isocintica de cotovelo

    Apesar de algumas crticas quanto capacidade dos tes-tes isocinticos de predizerem o desempenho esportivo(Ugrinowitsch, Barbanti, Gonalves & Peres, 1998), algunsestudos comprovam que as correlaes entre a potnciaestimada neste tipo de avaliao e o desempenho em habili-dades esportivas podem ser elevadas (Tricolli, 1994).

    Os avaliandos neste estudo foram posicionados de for-ma deitada com o trax e a cintura plvica estabilizados. Obrao dos indivduos foi posicionado a 45 de abduo a fimde ajudar a eliminar os efeitos da depresso e elevao doombro. Foi utilizado um protocolo onde se buscou avaliar otorque mximo, o trabalho realizado e a potncia muscularna ao concntrica, constando 5 repeties a 60/s, 5 a180/s e 5 a 240/s, com 1 minuto de descanso entre cadasrie.

    As velocidades foram administradas na ordem da maislenta para a mais rpida e foi permitido aos indivduos rea-lizaram trs tentativas submximas em cada velocidade paraaquecimento e familiarizao com o movimento a ser reque-rido no teste. Antecedendo este momento, foi realizado umaquecimento e alongamento da musculatura a ser solicitadadurante a avaliao isocintica.

    Na velocidade mais baixa (60/s) foram avaliados especi-ficamente o torque mximo e o trabalho total realizado. J navelocidade mais elevada (240/s) avaliou-se a potncia mus-cular. Em cada velocidade foi verificado o torque mximo, otrabalho realizado e a potncia no grupo muscular dosextensores do cotovelo, assim como o dficit bilateral detorque e potncia. Para a determinao dos resultados detorque e potncia, foram considerados os valores do braodominante. O torque, que descreve a fora desempenhadaao redor da articulao, foi verificado por tratar-se de umdos componentes da potncia muscular dos indivduos(Perrin, 1993).

    O controle do erro na avaliao isocintica de cotovelofoi realizado atravs do uso de amarras de estabilizao, asquais foram utilizadas no trax e na cintura plvica, a fim de

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  • Potncia e Agilidade em Basquetebol sobre Rodas

    Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 9-14

    se evitar movimentos prejudiciais avaliao correta dosdados obtidos.

    Arremesso de medicineball

    Outro teste utilizado para estimar a varivel potncia foio teste de arremesso de medicineball de Johnson e Nelson(1979). O objetivo desse teste medir a fora explosiva, ouseja, a potncia de membros superiores e cintura escapular.Pode ser realizado em indivduos de ambos os sexos desdeos 12 anos at a idade adulta.

    Os equipamentos necessrios para a realizao do testeforam: uma medicineball de trs quilos, fita adesiva, cordae trena. Como o teste realizado na posio sentada e com oapoio para o tronco no foi necessria nenhuma adaptaopara sua execuo pelos indivduos portadores de paraplegia.Tambm importante lembrar que os indivduos da amostrano apresentavam nenhum acometimento nos membros su-periores ou tronco alto. Dessa forma, pode-se concluir quetal teste no necessita de validao especfica para ser utili-zado com a populao deste estudo.

    O indivduo que foi sujeito ao teste ficou sentado emuma cadeira com uma corda colocada na altura do peito paramant-lo seguro e eliminar a ao de embalo durante o arre-messo. O avaliando deveria segurar a medicineball com asduas mos contra o peito e logo abaixo do queixo com oscotovelos o mais prximo possvel de tronco. Foi necess-rio evitar a participao de outras partes do corpo utilizandopara o esforo apenas a ao dos braos e da cinturaescapular.

    Para o clculo do desempenho foi computada a distnciaem metros da melhor das trs tentativas executadas peloavaliando. Anterior ao teste, foi permitida uma tentativa pr-via a fim de que o indivduo se familiarizasse com o movi-mento a ser executado.

    Teste de agilidade em cadeira de rodas

    Para a determinao da medida da agilidade dos indiv-duos da amostra foi adotado o teste ziguezague de agilida-de (Texas Fitness Test). O objetivo do teste percorrer a suadistncia, que requer mudanas de direo, com o mximode velocidade e eficincia possvel.

    Os equipamentos e local necessrios para a realizaodo teste foram: uma rea para o percurso do teste de tama-nho apropriado, um cronmetro com preciso de dcimos desegundo, uma cadeira de rodas prpria para o basquetebol ecinco marcadores para delimitar o percurso do teste, toman-do-se o cuidado para que estes no pusessem em risco aintegridade fsica dos avaliandos.

    Ao sinal, o avaliando comeava atrs da linha de incio eimpulsionava a cadeira atravs do percurso to rpido quantopossvel. Se o avaliando batesse em um marcador ou errasseo percurso, poderia repetir a tentativa. O resultado do avali-ando foi o tempo com preciso de dcimos de segundos.Foram dadas cinco chances. A primeira foi para o reconheci-mento do percurso e deveria ser realizada em velocidade

    lenta. A segunda foi para o reconhecimento do percurso emalta velocidade e as trs seguintes foram consideradas vli-das para o teste. O resultado final foi a melhor dessas trsltimas tentativas. O descanso entre cada tentativa foi am-plo (cerca de 5 minutos), a fim de se evitar os efeitos dafadiga. Os tempos foram colhidos por trs cronometristasde cada vez e o tempo de cada tentativa foi a mdia dos trscronmetros. Importante destacar que todos os indivduosda amostra realizaram o teste com a mesma cadeira de rodas,prpria para o basquetebol, a fim de se evitar que o tipo decadeira influenciasse os resultados.

    A Figura 1 a seguir ilustra o percurso a ser percorridopelos indivduos da amostra. O teste em ziguezague muitoutilizado para a medio da agilidade para pessoas que tma habilidade de correr. A populao testada dependentede cadeira de rodas para a sua locomoo, logo o teste origi-nal precisou sofrer adaptaes para possibilitar sua realiza-o. A adaptao fundamental foi o aumento da distnciado percurso do teste. Originalmente, o percurso deveria serpercorrido dentro de um retngulo de 3,8 x 4,0 m. Para quefosse possvel sua realizao em cadeira de rodas, BelascoJr. e Silva (1998) elevaram as distncias para 6,0 x 9,0 m.

    Figura 1. Percurso do teste de ziguezague modificado (adap-tado por Belasco Jr & Silva, 1998).

    A fim de que o teste pudesse ser utilizado nesse estudo,foi verificada a autenticidade cientfica do mesmo analisan-do-se sua objetividade, reprodutibilidade e validade de con-tedo. Os trs critrios foram observados a contento e aautenticidade foi comprovada (Greguol & Bhme, 2001).

    Resultados e Discusso

    As Tabelas 1 e 2 a seguir mostram os resultados mdios,medianos, mnimos, mximos e os desvios padres obtidospara o torque, trabalho e potncia de membros superioresna avaliao isocintica (PotIso), potncia no arremesso demedicineball (Arremesso) e agilidade em cadeira de rodastanto para o grupo dos atletas quanto dos sedentrios.

    Como j mencionado na descrio dos procedimentosmetodolgicos do estudo, o pico de torque e o trabalho fo-ram analisados na velocidade de 60/s e a potncia a 240/s,pois nestas velocidades so esperados os resultados maissignificativos de cada uma das capacidades motoras cita-

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    M. G. Gorgatti & M. T. S. Bhme

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    Tabela 2. Descrio dos valores relativos potncia, torque etrabalho isocintico, potncia no arremesso de medicineballe agilidade para o grupo de indivduos sedentrios.

    Sedentrios

    Mdia Desvio Mnimo Mximo Mediana

    PotIso (W) 78,9 18,2 39,3 102,9 79,2Arremesso (m) 3,8 0,2 3,5 4,3 3,8Torque (N/m) 53,9 11,9 37,0 74,0 51,5Trabalho (J) 88,9 22,5 56,0 126,0 85,0Agilidade (s) 25,4 3,3 22,1 33,3 24,7

    Tabela 3. Resultados das comparaes entre as mdias depotncia, torque e trabalho isocintico absolutos e relativos,potncia no arremesso de medicineball e agilidade emcadeira de rodas para o grupo dos atletas e dos sedentrios.

    Estatstica t Nvel descritivo (P)

    PotIso Absoluta 4,534 0,000*PotIso Relativa 5,116 0,000*Arremesso -9,444 0,000 *Torque 3,783 0,001*Torque Relativo 4,168 0,001*Trabalho 2,934 0,009*Trabalho relativo 3,241 0,005*Agilidade 5,628 0,000*

    * significativo (P< 0,05)

    Tabela 1. Descrio dos valores relativos potncia, torque etrabalho isocintico, potncia no arremesso de medicineballe agilidade para o grupo de indivduos atletas.

    Atletas

    Mdia Desvio Mnimo Mximo Mediana

    PotIso (W) 123,1 24,9 81,2 165,0 124,9Arremesso (m) 5,2 0,7 4,5 7,0 5,1Torque (N/m) 92,0 29,7 58,0 143,0 79,5Trabalho (J) 129,2 37,1 88,0 201,0 118,0Agilidade (s) 14,8 1,1 13,3 16,6 14,8

    das (Cybex, 1988). A velocidade de 180/s foi administradapara controlar possveis resultados fora dos padres.

    No arremesso de medicineball, o resultado mximoobtido pelo grupo dos sedentrios (4,3 m) foi inferior aoresultado mnimo obtido pelo grupo dos atletas (4,5 m). Deacordo com Johnson e Nelson (1979), que realizaram esteteste com universitrios do sexo masculino, os valores m-dios apresentados pelos atletas nesse trabalho se enqua-drariam em um nvel intermedirio de desempenho. Certa-mente, o ideal seria uma tabela de valores de referncia es-pecfica para indivduos portadores de leso medular j que,apesar da estabilizao do tronco com a corda e da posiosentada durante o teste, provvel que o desequilbrio pro-veniente da falta de apoio dos ps no solo, assim como ano funcionalidade da musculatura inferior do tronco, te-nham ocasionado um prejuzo execuo mais apropriadado teste.

    No teste de agilidade em cadeira de rodas, o padro dosresultados foi semelhante ao de arremesso de medicineballe o valor mximo de tempo dos indivduos atletas para arealizao do percurso (16,6 segundos) foi menor do que oagilidade em cadeira de rodas.

    A fim de se verificar possveis diferenas significativasentre os grupos de atletas e sedentrios foi realizado o testet-student para amostras independentes, cujos resultadosesto resumidos na Tabela 3.

    Os valores de potncia (expressos em Watts), torque (ex-presso em N/m) e trabalho (expresso em Joules) na avalia-o isocintica foram demonstrados tanto em termos abso-lutos quanto em termos relativos. Neste ltimo caso, os va-lores foram corrigidos pelo valor do peso corporal de cadaindivduo.

    Em todos os casos foi constatada diferena estatistica-mente significativa (P< 0,05) da potncia de membros supe-riores entre os indivduos atletas e os sedentrios. Estesresultados indicam que os indivduos lesados medularesatletas apresentaram resultados de potncia de membrossuperiores e agilidade em cadeira de rodas significativamen-te mais elevados do que os sedentrios. Tal resultado eraesperado uma vez que, com o treinamento especfico emcadeira de rodas, essas capacidades motoras tendem a serincrementadas. Tendo em vista que o aprimoramento de taiscapacidades pode tornar os indivduos em cadeira de rodasmais independentes para suas atividades dirias, os resulta-dos desse estudo reafirmam a importncia da prtica de umaatividade fsica regular para esta populao.

    A potncia no caso de indivduos em cadeira de rodasest intimamente relacionada propulso que estes irodesenvolver. Segundo Vanlandewijck, Theisen e Daly (2001),a capacidade de se acelerar a cadeira de rodas a partir daposio principais: a configurao da cadeira de rodas, afora explosiva (potncia) e o ajuste da cadeira de rodas classificao especfica do jogador.

    Em um estudo especfico com dinamometria isocintica,Samuelsson, Larsson e Tropp (1989) tambm encontraramdiferenas significativas entre os valores de potncia mxi-ma exercida no teste de flexo e extenso de cotovelos entreindivduos atletas e sedentrios. Os autores utilizaram umprotocolo com velocidades angulares variando de 15/s a300/s e verificaram que os valores de potncia aumentavamjunto com a velocidade angular. Entretanto, o torque mxi-mo mostrou-se inversamente proporcional velocidade an-gular.

    No caso especfico do torque e do trabalho estimado naavaliao isocintica, as diferenas significativas tambmeram esperadas. Para todos os indivduos testados dos gru-

  • Potncia e Agilidade em Basquetebol sobre Rodas

    Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 9-14

    pos dos atletas e sedentrios, os valores de pico de torquee trabalho realizado decaram com o aumento da velocidadeangular, enquanto que os da potncia elevaram-se. Essesachados vo de encontro a outros na literatura sobre o as-sunto (Cybex, 1988) e justificam a escolha das velocidadesangulares para as anlises estatsticas.

    Camels, Berthouse, Barral, Domenach e Minaire (1992)encontraram valores mdios de 58 N/m a 60/s para 10 lesa-dos medulares atletas de basquetebol em cadeira de rodas,enquanto que, nesse trabalho, a mdia da mesma medidapara atletas foi de 92 N/m. Importante ressaltar que a amos-tra do estudo anteriormente citado incluiu indivduos porta-dores de paraplegia com leses entre T5 e L4.

    A diferena significativa de valor encontrada no traba-lho entre indivduos atletas e sedentrios pode ser devidatambm diferena observada na amplitude de movimentodurante a avaliao isocintica. Em todas as velocidadesangulares analisadas a maioria dos indivduos sedentriosapresentou uma amplitude de movimento mais restrita doque os atletas.

    Os dficits bilaterais de fora e potncia foram seme-lhantes para os dois grupos (10% e 15% em mdia para osatletas, respectivamente no torque e na potncia; 14% e 12%em mdia para os indivduos sedentrios, respectivamenteno torque e na potncia). Esses resultados encontram-seresumidos na Tabela 4. De acordo com Shinzato (s.d.), osvalores considerados normais de dficit para membros su-periores so de at 20%. Esses resultados se tornam coeren-tes devido ao fato de que todos os indivduos realizam dia-riamente atividades simtricas relacionadas propulso nacadeira de rodas com os membros superiores.

    Concluses

    Conclui-se dessa forma que o basquetebol em cadeira derodas parece incrementar a potncia de membros superiorese a agilidade em cadeira de rodas e que estas, por sua vez,so fundamentais no desempenho da modalidade. Vale-seevidenciar que os indivduos sedentrios apresentaram,durante todo o processo de avaliao, muito mais dificulda-de do que os atletas em locomoverem-se e transferirem-seda cadeira de rodas. Tambm exibiram dificuldades paraposicionarem-se de forma equilibrada na cadeira durante oarremesso de medicineball. Este fato demonstra que, con-siderando esses dois grupos, os indivduos atletas porta-dores de leso medular demonstraram muito mais indepen-dncia na realizao das suas atividades em geral do que osfisicamente inativos.

    Quanto s relaes entre as variveis pesquisadas, anica relao tida como estatisticamente significativa foi ada potncia de membros superiores estimada no arremessode medicineball e a agilidade em cadeira de rodas para osindivduos atletas. A relao negativa explica-se pelo fatode que quanto maiores os resultados obtidos nos testes depotncia, menores os tempos para a realizao do percursono teste de agilidade em cadeira de rodas. Assim, pode-sepresumir que o treinamento de potncia dos membros supe-riores para os atletas de basquetebol em cadeira de rodaspode ser de grande importncia para a melhora dos movi-mentos geis na cadeira, fundamentais para a modalidade.Para os indivduos sedentrios, a mesma relao no foi es-tatisticamente significativa. Embora tenha existido uma ten-dncia relao negativa (-0,551), esta foi abaixo do espera-

    13

    Tabela 4. Descrio dos valores relativos aos dficits bilate-rais fora (torque) e potnciana avaliao isocintica para osindivduos atletas e os sedentrios.

    Atletas Sedentrios

    Mdia Desvio Mdia Desvio

    Dficit bilateraldo torque 10% 2,9 14% 4,5Dficit bilateralda potncia 15% 3,3 12% 5,8

    (Observao: sem diferena significativa entre os dois grupos,P>0,05)

    Tambm foram verificadas as possveis relaes entre osvalores obtidos nos testes de potncia de membros superi-ores e o de agilidade em cadeira de rodas a fim de se inferir oquanto a primeira capacidade motora poderia influenciar asegunda em cada um dos grupos da amostra. As Tabelas 5 e6 trazem uma matriz de correlao entre os resultados bemcomo destacam as relaes estatisticamente significativaspara cada um dos grupos pesquisados.

    Tabela 5. Matriz dos coeficientes de correlao linear dePearson e dos seus respectivos nveis de significncia para ogrupo dos atletas.

    Potncia Potncia Agilidade (isocintico) (arremesso) em cadeira

    Potncia r = 0,545 r = -0,480(isocintico) P = 0,163 P = 0,234Potncia r = - 0,797*(arremesso) P = 0,006

    Tabela 6. Matriz dos coeficientes de correlao linear dePearson e dos seus respectivos nveis de significncia para ogrupo dos sedentrios.

    Potncia Potncia Agilidade (isocintico) (arremesso) em cadeira

    Potncia r = 0,501 r = -0,192(isocintico) P = 0,140 P = 0,594Potncia r = - 0,551(arremesso) P = 0,099

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    M. G. Gorgatti & M. T. S. Bhme

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    do. Talvez isto se deva ao fato de que a amostra foi reduzidae de que os indivduos sedentrios tenham apresentado maiordificuldade em coordenar movimentos geis na cadeira derodas.

    Ao contrrio do que se esperava, a relao entre os doistestes de potncia aplicados no foi significativa para ne-nhum dos dois grupos. Embora fosse percebida uma ten-dncia de relao positiva (r = 0,545 para os atletas e r =0,501 para os sedentrios), essa foi muito baixa e estatistica-mente no significante. As explicaes para estes resulta-dos tornam-se difceis. Talvez com um nmero amostral mai-or as relaes entre os dois testes aumentasse.

    No entanto, dos dois testes realizados para a estimativade potncia, o de arremesso de medicineball mostrou-semais relacionado com os valores obtidos no teste de agilida-de em cadeira de rodas. Alm disso, muito mais prticopara a realizao pelo tcnico ou preparador fsico da equi-pe e, portanto, parece ser o mais recomendado. Alm disso,a avaliao isocintica estima a potncia de forma indireta emuitas vezes o resultado prejudicado pela falta de coorde-nao do avaliando em realizar o movimento em velocidadesmais elevadas. Alm disso, o fato do teste ser monoarticulardificulta sua relao com o desempenho em cadeira de ro-das, j que este realizado de forma simtrica. O teste dearremesso de medicineball, embora tambm estime a po-tncia de membros superiores de forma indireta, realizadocom ambos os braos simultaneamente e no necessita devalidao especfica para indivduos portadores de lesomedular, j que no so feitas modificaes para a aplicaodo teste nessa populao.

    Sugere-se que mais estudos sejam realizados com outrosprotocolos de avaliao e com amostras maiores, a fim deque os resultados obtidos possam ser comparados com ou-tros indivduos portadores de deficincia e que as relaesencontradas sejam mais significativas. Tambm seria inte-ressante avaliar-se como diferentes mtodos de preparaofsica poderiam contribuir para o ganho das capacidades defora rpida e agilidade, fundamentais no jogo do basquete-bol sobre rodas.

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    Nota do Autor

    Mrcia Greguol Gorgatti mestre pela Escola de EducaoFsica e Esporte da USP; LADESP/EEFEUSP; UniversidadePaulista; Universidade Bandeirante. Profa. Dra. Maria Tere-za Silveira Bhme professora doutora da Escola de Educa-o Fsica e Esporte da USP; LADESP/EEFEUSP.

    Endereo:Rua Oneyda Alvarenga, 35, apto. 81-A, Sade, So Paulo,SP, 04146-020.Email: [email protected]

    Manuscrito submetido em junho de 2002Manuscrito aceito em novembro de 2002

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    Reviso da literatura

    Conceituao de Deficincia Visual naLiteratura de Educao Fsica Adaptada

    Mey de Abreu van MunsterUniversidade Federal de So Carlos

    ResumoVisando refletir sobre a questo conceitual envolvendo a deficincia visual nas publicaes em educa-o fsica adaptada, foi realizada uma reviso crtica de literatura a partir de obras publicadas em mbito nacional einternacional. Na maioria dos textos analisados foi possvel constatar uma predominncia de parmetros clnico,legal e esportivo em contraste com a escassez de referencial educacional sobre a deficincia visual. Este artigopretende demonstrar a necessidade de descartar as definies que assumem o modelo de cegueira e baixa visocomo dficit, e priorizar aquelas que focam as capacidades e potencialidades do indivduo, pautando-se nasnecessidades especiais envolvidas no processo ensino-aprendizagem.

    Palavras-chaves: Deficiente visual, cegueira, baixa viso, educao fsica adaptada.

    AbstractThe concept of visual impairment in the literature of adapted physical education. In order to analyzeconceptual questions about visual impairment in the field of adapted physical education we review current nationaland international publications. For the majority of papers herein analyzed, we found that there is a dominance ofclinical, legal and sports parameters, but seldom are there educational references to visual impairment. The purposeof this study was to bring attention to the importance of opposing conventional definitions that consider blindnessand low vision as deficit conditions, and to give priority to those concepts that emphasise the individuals abilityand potential, while observing the special needs involved in the teaching-learning process.

    Keywords: Visual impairment, blindness, low vision, adapted physical education.

    Introduo

    O presente artigo consiste numa reviso crtica da literaturaacerca da conceituao de deficincia visual adotada naspublicaes em educao fsica adaptada de mbito nacio-nal e internacional. Nesse sentido foram analisados aspec-tos conceituais e terminolgicos que desencadeiam diferen-tes interpretaes por diferentes autores, bem como foramapresentados alguns dos parmetros utilizados para a clas-sificao da deficincia visual no mbito da educao fsicaadaptada.

    A preocupao em abordar a questo conceitual envol-vendo a deficincia visual parte da anlise dos dados obti-dos no censo IBGE (Folha de SP, 2002) que indicam umsignificativo aumento na porcentagem de pessoas portado-ras de deficincia visual. Em 1980 estimava-se que 0,7% dapopulao brasileira, correspondente a 910 mil pessoas, se-riam portadoras de deficincia visual (Melo, 1986). Segundoos resultados do ltimo censo, 14,5% da populao brasilei-ra, ou 24,5 milhes de pessoas apresentam deficincias fsi-cas, sensoriais e mentais, sendo que aproximadamente 48,1%desse total, o equivalente a 11,8 milhes de pessoas, refe-rem-se exclusivamente deficincia visual, o que

    corresponde a 7% da populao do Brasil (Folha de SP, 2002).A considervel alterao da estimativa de 0,7% para o

    ndice de 7% de pessoas portadoras de deficincia visualdentro da populao brasileira nos leva a pressupor que adiferena encontrada entre a estimativa inicial e os dadosrecentemente levantados pelo IBGE deve-se ao desconheci-mento acerca do que realmente vem a ser o impedimentovisual e as implicaes decorrentes do mesmo, e no propri-amente ao aumento da incidncia da deficincia visual napopulao brasileira. A falta de clareza e contradies acer-ca da conceituao de deficincia visual transcendem o en-tendimento do senso comum, podendo ser constatadas in-clusive na literatura cientfica da rea.

    Aspectos conceituais

    Foram analisadas algumas obras da educao fsica adap-tada onde definies, critrios de classificao e termos es-pecficos referentes deficincia visual foram comentadose posteriormente interpretados segundo a referncia de al-guns autores da rea educacional. Para ilustrarmos nossoposicionamento, utilizamos as informaes de Craft (1980),

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    M. A. van Munster

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    Seaman e DePauw (1982), e Eichstaedt e Kalakian (1987),autores de trs diferentes estados dos Estados Unidos daAmrica, os quais citam a lei pblica PL 94-142, sesso 121a.5(b) que estabelece que:

    Deficincia visual significa uma perda visualque, mesmo aps correo, prejudica o desem-penho educacional da criana. O termo incluitanto crianas cegas como com visosubnormal.

    Alguns autores brasileiros (Melo, 1986; Nabeiro, 1992)tambm adotam definies semelhantes citada lei pblicanorte americana. Neste ponto possvel identificar algumasdiferenas: enquanto alguns consideram que pessoas ce-gas e pessoas com baixa viso so ambas deficientes visu-ais, outros encaram estes termos como referentes a diferen-tes condies de deficincia (Corn & Koenig, 1996).

    Os autores anteriormente citados exemplificam tal situa-o atravs da observao de nomes de revistas, organiza-es e escolas que do a entender que o termo deficinciavisual refere-se apenas viso subnormal, empregando otermo cegueira separadamente, como se este ltimo no es-tivesse sendo abrangido pelo termo deficincia visual. Exem-plos: Journal of Visual Impairment & Blindness ;Association for Education and Reabilitation of the Blindand Visually Impaired; Texas School for the Blind andVisually Impaired.

    As diferentes abordagens do ponto de vistaterminolgico tambm podem ser observadas em obras rela-tivas ao desporto adaptado para essa clientela: Deportespara ciegos y deficientes visuales (Espanha, 1994, p.83).

    Corn e Koenig (1996) tambm comentam o fato de queoutras escolas e organizaes utilizam apenas os termoscego/cegueira em seus nomes, apesar de atender tanto pes-soas nestas condies como tambm pessoas com baixa vi-so. Por exemplo: a ABDC (Associao Brasileira de Des-porto para Cegos) e a prpria IBSA (International BlindSports Association) dedicam sua ateno tanto pessoasna condio de cegueira como portadoras de baixa viso,embora sua denominao refira-se apenas ao primeiro grupocitado.

    Uma vez que a definio de deficincia visual envolvetanto a perda parcial como a perda total da viso, tantoas pessoas que possuem cegueira como aquelas que possu-em baixa viso deveriam ser consideradas portadoras dedeficincia visual. No bastassem as diferenas na utiliza-o coloquial destes termos, Corn e Koenig (1996) aindaapontam para a origem e definio do termo cegueira le-gal, criada pela Associao Mdica Americana em 1934 eincorporada ao Ato de Segurana Social em 1935:

    Acuidade visual central de 20/200 ou menosno melhor olho com correo tica ou acuidadevisual central de mais de 20/200 se houver umdficit no campo visual no qual o campo peri-frico to restrito que o alcance do mais lar-

    go dimetro do campo visual esteja compreen-dido numa distncia angular inferior a 20 grausno melhor olho. (Koestler citado por Corn &Koenig, 1996, p.6)

    Embora tenha por finalidade determinar a elegibilidadede pessoas que necessitam cuidados especiais devido aocomprometimento visual, a definio de cegueira legal bas-tante difundida em obras de educao fsica adaptada(Arnheim, Auxter & Crowe, 1973; Seaman & DePauw, 1982;Adams, Daniel, Cubbin & Rullman, 1985; Auxter e Pyfer,1985; Buell, 1987; Eichstaedt & Kalakian, 1987; Rainbolt &Sherrill, 1987; Menescal, 2001).

    A definio de cegueira legal utiliza termos como me-nos, dficit, restrito e inferior, ressaltando sempre alimitao da capacidade visual. preocupante verificarque muitas obras no mbito da educao fsica adaptadaadotam tal definio como referencial, pois torna-se compli-cado pautar aes educativas em definies que focam alimitao e no a capacidade ou potencial visual. Deacordo com esta definio, pessoas podem ser considera-das legalmente cegas em duas situaes: limitaes naacuidade visual e/ou no campo visual.

    A pessoa legalmente cega aquela cuja acuidade visual 20/200 ps ou menos. O primeiro nmero significa que elaprecisa estar a no mnimo 20 ps ou 6 metros de um objeto,usando sua melhor correo tica para conseguir enxergar oque uma pessoa com acuidade visual normal pode identifi-car a 200 ps ou 60 metros (indicado pelo segundo nmero).A medida de acuidade visual no uma frao, nem tampoucorepresenta uma porcentagem da viso normal, mas baseia-se na relao entre distncia e tamanho do objeto que sepretende visualizar. Um indivduo pode ainda ser enquadra-do nesta mesma categoria se, independentemente daacuidade visual, apresentar um campo visual igual ou inferi-or a 20 graus, visto que o campo visual total de uma pessoacom viso normal corresponde a 180 graus.

    A anlise da literatura referente a deficincia visual res-salta a insipincia dos termos cego e legalmente cego.Tais termos deixam uma lacuna muito grande para interpre-tao a respeito de quanto e de que forma esta pessoa en-xerga.

    Na nona reviso da Classificao Internacional de Dis-trbios da Organizao Mundial de Sade, o nvel de perdavisual inicialmente conhecido como cegueira legal pas-sou a ser denominado perda visual severa.

    Chamar uma pessoa com perda visual severade legalmente cega to sem propsito comochamar uma pessoa com uma doena grave delegalmente morto. (Colembrander, 1996,p.viii)

    Nesta citao o autor chama a ateno do leitor para acarga estigmativa do termo legalmente cego, e afirma quemais do que uma simples troca de palavras, a atual termino-logia aponta para uma mudana de atitudes.

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    Conceituao de Deficincia Visual

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    Da mesma forma que a definio de cegueira legal, a de-finio de viso subnormal tambm bastante vaga. EmArnheim et al. (1973), Seaman e DePauw (1982), Adams et al.(1985), Auxter e Pyfer (1985), e Eichstaedt e Kalakian (1987)podem ser encontradas definies semelhantes sobre visosubnormal:

    O termo viso subnormal refere-se a pessoasque possuem acuidade visual menor que 20/70no melhor olho aps correo, que possuemum distrbio progressivo na viso que prova-velmente reduzir a viso abaixo de 20/70, ouque possuam viso perifrica que subentendaum ngulo inferior a 20 graus. (Arnheim etal., 1973, p.309)

    Embora o termo viso subnormal ainda seja emprega-do por muitos profissionais, atualmente recomenda-se o ter-mo baixa viso (Corn & Koenig, 1996).

    Tanto a definio de cegueira legal como a de visosubnormal so baseadas em medidas de acuidade visualobtidas por meio da escala de Snellen, identificadas por meiode uma avaliao clnica. No item subsequente possvelobservar que tais medidas exercem influncia determinantenos diversos parmetros e diferentes tipos de classificaoda deficincia visual adotados nas obras de educao fsicaadaptada.

    Parmetros e diferentes tipos de classificao

    A escala de Snellen descrita em trs obras de educaofsica adaptada como um dos parmetros para classificaoda deficincia visual (Craft, 1980; Seaman & DePauw, 1982;Sherrill, 1986):

    Cegueira legal (20/200): capacidadepara ver a 20 ps o que uma pessoa com visonormal enxerga a 200 ps. Viso de percurso (5/200 a 10/200): ca-pacidade para ver de 5 a 10 ps o que umapessoa com viso normal enxerga a 200 ps. Percepo de movimento (3/200 a 5/200): capacidade para ver de 3 a 5 ps o queuma pessoa com viso normal enxerga a 200ps. Percepo de luz (inferior a 3/200): ca-pacidade para distinguir uma luz forte dis-tncia de 3 ps o que uma pessoa com visonormal enxergaria a 200 ps. Incapacidade paradetectar o movimento de uma mo a trs ps. Cegueira total: incapacidade de reco-nhecer ou responder a uma luz forte apontadadiretamente para os olhos.

    Outra forma de categorizao da deficincia visual en-contrado nos livros de educao fsica adaptada (Adams et

    al., 1985; Auxter & Pyfer, 1985; Sherrill, 1986; Rainbolt &Sherrill, 1987; Craft, 1990; Menescal, 2001; Cidade & Freitas,2002) a classificao esportiva proposta pela USABA(United States Association for Blind Athletes) e atualizadaem 1989 pela IBSA (International Blind Sports Association):

    B1: Desde a inexistncia de percepoluminosa em ambos os olhos at a percepoluminosa, mas com incapacidade para reconhe-cer a forma de uma mo a qualquer distnciaou direo. B2: Desde a capacidade para reconhe-cer a forma de uma mo at a acuidade visualde 2/60 metros e ou campo visual inferior a 5graus. B3: Acuidade visual entre 2/60 e 6/60metros, ou um campo visual entre 5 e 20 graus.

    Embora adaptada s finalidades esportivas, tal defini-o, e assim como a definio legal de cegueira e visosubnormal, segue ainda um parmetro clnico baseando-sena medida de acuidade e campo visual.

    Poucas obras de educao fsica adaptada (Arnheim etal. 1973; Seaman & DePauw, 1982; Auxter & Pyfer, 1985;Craft, 1990; Menescal, 2001; Cidade & Freitas, 2002) demons-traram preocupao em mencionar tambm o critrio educa-cional:

    A definio educacional de cego inclui aque-les que possuem comprometimento visual tosevero que precisam ser ensinados pelo Braille.Os que possuem viso subnormal so aquelesque podem ler impresso, mesmo quando ne-cessria a utilizao de livros com impressosgrandes ou recursos para ampliao. (Seaman& DePauw, 1982, p.130)

    Considera-se extremamente importante conhecer a abor-dagem clnica (que norteia as definies legais e esportiva),principalmente pela necessidade de utilizar uma linguagemcomum dentro de equipes interdisciplinares. Tal abordagemtorna possvel, por exemplo, a elaborao de critrios paracriar subcategorias que permitem a participao da pessoaportadora de deficincia visual em competies esportivasem situaes que visam a igualdade de condies ou a ten-tativa de amenizar as possveis vantagens/desvantagensdentro do esporte de rendimento.

    Entretanto, a delimitao pela acuidade ou campo visualtem demonstrado ser pouco adequada ao contexto da edu-cao fsica adaptada por no deixar claro as potencialidadesdas pessoas envolvidas. Tal especificao pauta-se na res-trio das capacidades visuais enfatizando as limitaes doindivduo ao invs de ressaltar as possibilidades de apro-veitamento da viso remanescente.

    A adoo de parmetros educacionais para a classifica-o da deficincia visual na educao fsica adaptada pode

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    M. A. van Munster

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    fornecer indicaes a respeito da eficincia visual1 do indi-vduo ao professor de educao fsica conforme pode serobservado nas definies a seguir:

    Pessoa portadora de baixa viso: aquela que possui dificuldade em desempenhartarefas visuais, mesmo com prescrio de len-tes corretivas, mas que pode aprimorar suacapacidade de realizar tais tarefas com a utili-zao de estratgias visuais compensatrias,baixa viso e outros recursos, e modificaesambientais.(Corn & Koenig, 1996, p.4) Pessoa portadora de cegueira aque-la cuja percepo de luz, embora possa auxili-la em seus movimentos e orientao, insufi-ciente para aquisio de conhecimento pormeios visuais, necessitando utilizar o sistemaBraille em seu processo ensino-aprendizagem.(Barraga,1985, p.18)

    A definio educacional volta-se assim, para as possibi-lidades do aluno pois, como afirma Masini (1994, p.83): Aoinvs de estabelecer precocemente uma delimitao num-rica e rgida de seu potencial, focaliza-o primeiramentenaquilo que sabe e pode fazer e posteriormente, naquelesque so seus limites. Implicitamente fica assinalada a im-portncia de conhecer a criana na sua totalidade, voltan-do-se antes para o que ela tem em comum com as demaiscrianas para depois focalizar as diferenas existentes entreelas.

    Concluso

    A preocupao com a conceituao e classificao dadeficincia visual s passa a ter sentido a partir do momentoque desperta no profissional a conscincia da necessidadede individualizao no processo educativo. Esta conscin-cia reflete-se numa interveno adequada s necessidadesde cada um pois, mesmo tendo o comprometimento visualem comum, cada criana nica.

    A partir da convico de que a adoo de uma determi-nada conceituao reflete-se diretamente na postura do pro-fissional, pretende-se chamar a ateno do professor de edu-cao fsica adaptada para os diferentes referenciais de de-ficincia visual adotados na literatura. Espera-se que o pre-sente artigo tenha fornecido alguns subsdios crticos paraque o professor reflita sobre os parmetros que vmnorteando aes pedaggicas dentro da perspectiva da edu-cao fsica adaptada. Ainda, que o mesmo tenha alertado

    para a necessidade de descartar as definies que assumemo modelo de cegueira e baixa viso como dficit e priorizaraquelas que situam o foco nas capacidades e potencialidadesdo indivduo, pautando-se nas necessidades especiais en-volvidas no processo ensino-aprendizagem.

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  • Revista da Sobama Dezembro 2002, Vol. 7, n.1, pp. 15-19

    Conceituao de Deficincia Visual

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